economia urbana em moçambique

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Introdução Embora a África seja a região menos urbanizada do mundo, com apenas 40% da população morando em cidades e vilas, esta taxa deve crescer para mais de 50% em torno de 2030. Com a taxa de urbanização crescente de 4% quase o dobro das mesmas na América Latina e na Ásia, torna-se urgente a necessidade de se enfrentar os desa os da urbanização e promover o desenvolvimento urbano sustentável. Governos locais são frequentemente fracos e mal equipados de recursos ecómicos e capital humano adequados face aos problemas criados pela rápida urbanização. Funcionários municipais necessitam accessar a instrumentos e informações que possam contribuir para aumentar suas capacidades de satisfazer as necessidades de uma crescente população urbana, assim como dar conta das novas responsabilidades repassadas para a esfera municipal pelos governos nacionais. As oportunidades económicas são consideradas a pedra angular da urbanização. Migrantes chegam nas cidades buscando melhorar o padrão de vida, mas em geral se confrontam com a dura realidade do ambiente urbano e a falta de oportunidades económicas productivas. Encarar o potencial económico das cidades africanas é uma tarefa avassaladora. As autoridades municipais necessitam desatar e desenvolver os nós urbanos existentes de infra-estrutura e dos transportes, assim como assistir com treinamento a força de trabalho já existente. As melhorias na qualidade de vida e no bem estar humano em 1

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Page 1: Economia Urbana em Moçambique

Introdução

Embora a África seja a região menos urbanizada do mundo, com apenas 40% da

população morando em cidades e vilas, esta taxa deve crescer para mais de 50% em torno de

2030. Com a taxa de urbanização crescente de 4% quase o dobro das mesmas na América

Latina e na Ásia, torna-se urgente a necessidade de se enfrentar os desafios da urbanização e

promover o desenvolvimento urbano sustentável. Governos locais são frequentemente fracos

e mal equipados de recursos ecómicos e capital humano adequados face aos problemas

criados pela rápida urbanização. Funcionários municipais necessitam accessar a instrumentos

e informações que possam contribuir para aumentar suas capacidades de satisfazer as

necessidades de uma crescente população urbana, assim como dar conta das novas

responsabilidades repassadas para a esfera municipal pelos governos nacionais.

As oportunidades económicas são consideradas a pedra angular da urbanização.

Migrantes chegam nas cidades buscando melhorar o padrão de vida, mas em geral se

confrontam com a dura realidade do ambiente urbano e a falta de oportunidades económicas

productivas. Encarar o potencial económico das cidades africanas é uma tarefa avassaladora.

As autoridades municipais necessitam desatar e desenvolver os nós urbanos existentes de

infra-estrutura e dos transportes, assim como assistir com treinamento a força de trabalho já

existente. As melhorias na qualidade de vida e no bem estar humano em quarteirões urbanas e

nos assentamentos rurais não podem ser efectivas enquanto os pobres tiverem pouco accesso à

infra-estrutura e a sistemas de serviços urbanos. Especialistas urbanos concordam que os

serviços para a população mais pobre podem ter confiável êxito apenas quando incluam toda a

população e quando seus planificadores e administradores tenham uma visão inclusiva do

desenvolvimento.

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Economia Urbana em Moçambique

Em África e, precisamente em Moçambique é discutível senão impossível falar de

desenvolvimento económico sem associá-lo aos sectores económicos estritamente ligados, ou

seja dois sectores dinamizadores da economia africana nomeadamente: formal e informal.

Ora, falar de desenvolvimento da economia nos induz a concluir que seria também quase que

inútil falar do mesmo enquanto não lançarmos uma vista de olho e sem marginalizar o que

designadamente chamamos economia urbana.

Na maioria dos países em desenvolvimento a população economicamente activa, está

experimentado uma rápida expansão como resultado do rápido crescimento da população, esta

expansão muitas vezes supera a capacidade de absorção laboral do sistema económico. Tal

desequilíbrio tem sido particularmente sério nas áreas urbanas, onde o crescimento natural da

população tem sido acelerado, pelas migrações de origem rural. Este problema tem como

consequências o desemprego e, em geral está na origem de situações de emergência e

crescimento do chamado sector informal. Não obstante de notar outro factor importante sobre

a distribuição da população economicamente activa, por posição no processo de trabalho, é o

facto de mais de metade do total dessa população trabalhar por conta própria.

Afigura-se importante fazer uma abordagem profunda sobre a importância do sector

formal na economia urbana moçambicana. Porém, está provado que nas cidades dos países em

desenvolvimento, com manifestas dificuldades do Estado e do sector formal darem respostas

às necessidades básicas da população, o sector informal vem suprindo essas manifestas faltas.

Temos como exemplos, as áreas da produção (agricultura urbana e formas industriais

simples), da distribuição (comércio e serviços), da construção (habitação), dos serviços

sociais (educação e saúde) e, sobretudo, do emprego gerador de oportunidades salariais.

Estima-se que esse sector emprega uma percentagem elevada da população activa, permitindo

a sua sobrevivência. Ele constitui, deste modo, um fenómeno estruturante e é inegável a sua

importância estratégica.

Questão importante que se tem levantado é a da tipologia das actividades (comércio,

artesanato, construção, transportes, prestação de serviços, intermediação financeira).

Consoante a forma de localização e meios de acção dos seus agentes: produtores e vendedores

de rua; produtores e vendedores em oficinas, em lojas, em mercados fixos ou móveis, em

pátios colectivos, etc., as relações de mercado interno e externo. O problema agrava-se devido

à grande mobilidade de produtores e vendedores, quer no terreno quer no tipo de actividade.

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Um trabalho recente sobre o sector informal urbano em Luanda e em Maputo (LOPES,

2003), mostra bem a complexidade das situações. A proposta deste autor, é de uma economia

oficial (pública e privada) e de uma economia não oficial, incluindo-se nesta a informal, a não

declarada, a ilegal e a não mercantil. Assim reacende-se uma antiga discussão sobre como

definir, exactamente, o que é o informal, que tem servido de cobertura a uma grande

heterogeneidade de actividades, com segmentos muito diversificados (HUGON, 1999).

Os produtores e vendedores de rua, porque totalizam percentagens elevadas e

continuam em expansão, porque testemunham a forte atomização do sector informal, têm

merecido atenção especial. Por isso mesmo selecciono os trabalhadores de rua para

acrescentar algumas notas. Há os sedentários, os semi-sedentários e os ambulantes, os que

expõem os seus artigos em bacias, em cestos ou sobre esteiras, sobre banquetas, mesas ou

padiolas, os que possuem veículos (carretas, bicicletas, txopelas, etc.) ou pequenas barracas.

Existem especializações entre os vendedores ambulantes, a que os autores de língua

inglesa, referindo-se a alguns casos específicos, têm dado certa importância, como, por

exemplo, os hawkers e os peddlers (GEERTZ, 1963). De uma maneira muito geral, os

primeiros caracterizavam-se pela venda de objectos manufacturados como jóias, tapetes, etc.,

e os segundos pela de quinquilharias ou bugigangas, agulhas, linhas, rendas, sabonetes, etc.

A perspectiva tradicional defende que o sector informal é constituído por uma grande

percentagem de empresários de subsistência e uma percentagem bastante pequena de

empresas viradas para o crescimento. Como resultado, tem sido prestada pouca atenção à

potencialidade dos sectores rural e informal enquanto motores do crescimento. À primeira

vista, os sectores rural e informal parecem, de facto, ter pouco a oferecer ao desenvolvimento

e ao crescimento. Contudo, é de realçar o seu papel fulcral no desenvolvimento da economia

urbana, pois, embora a maioria dos empresários trabalhem a níveis muito reduzidos de capital

e de produtividade estes sectores contribuem na geração de emprego e alívio à fome.

De acordo com alguns entrevistados por sinal funcionários, o CMCM, vê o actual

estágio do sector informal como um braço capaz de minimizar o sofrimento da população

moçambicana a aliviar o sofrimento do exército de desempregados. Isto explica a razão pela

qual o CMCM, ficou bastante sensível quanto o comércio informal, entretanto colocando

condições acessíveis aos informais, como por exemplo varrer os pátios, passeios e mercados.

Esta atitude é para mim uma forma implícita de reconhecer o contributo deste sector de

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economia não somente na redução dos índices de pobreza absoluta, mas também na

dinamização da economia urbana nacional.

Algumas das características do sector informal que me chamam atenção e me atraem

muito é a perenidade e a vitalidade, as capacidades inventivas e produtivas dos seus agentes.

A constatação desse sector não ser um entrave para a expansão da economia urbana, e, muito

pelo contrário, contribuir para ela, ganham relevo a necessidade de elaboração de métodos da

análise rigorosa da realidade e de procura de soluções de integração. Pois, desde há muito se

concluiu que as análises sócio-económicas do emprego subestimam o sector informal, uma

vez que aqueles que aí trabalham não correspondem ao critério usual de pessoa empregada.

Ora, ademais, são considerados, na maior parte dos casos, como desempregados, sem

profissão ou inactivos. Testemunha isso a forma como são tidas (ou não são consideradas) as

actividades do sector informal.

Dado o acentuado crescimento populacional, o papel do sector público enquanto

entidade empregadora tem estado a diminuir. Entretanto, sendo o sector privado formal

demasiado pequeno para absorver a mão-de-obra crescente, os governantes, deverão

certamente encontrar soluções no empreendedorismo juvenil para o desenvolvimento da

economia urbana. Alternativamente, os jovens que não podem dar-se ao luxo de estar no

desemprego nem de procurar emprego indefinidamente ficam confinados ao sector informal e

a empregos de baixa qualidade.

Das entrevistas tidas com alguns operadores informais cidade de Maputo, constatou-se

que o custo de vida, a falta de emprego no moderno sector formal são questões que os levam a

praticar actividades informais. Afirmam também que a prática das actividades informais lhes

garante uma renda por mais que não sejam estáveis, eles conseguem suprir com parte das suas

necessidades quotidianas. Estudos ainda revelam a importância primária do emprego e do

rendimento para fazer face a um ambiente urbano onde o dinheiro faz parte da maioria das

relações. São escassas as oportunidades de emprego formal e a maior parte das pessoas está

dependente de uma frágil economia informal com baixos retornos. A mobilidade social a um

nível mais elevado é também coibida pelo elevado custo da terra, da habitação, dos serviços

públicos e dos transportes. Apesar dos relativamente mais elevados níveis de educação,

comparados com Moçambique rural, a economia urbana torna difícil para os pobres converter

tais níveis de educação em emprego e mais rendimento e consumo.

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Pois embora, seja um sector instável como se referiu no parágrafo anterior,

atentamente pode se depreender que o sector informal tem características que lhes são

próprias e que tornam-no atrativo e não menos importante para a economia urbana e até rural.

O sector informal caracteriza-se por ser dinâmico, o que faz com que os seus operadores

sejam também dinâmicos e economicamente agressivos na busca de rendimentos alternativos

às suas famílias. Este se manifesta em quase todos os sectores de economia, seja a agricultura,

transformação, comércio, construção, serviços e outros.

Dada a sua importância e dinamismo, é importante citar algumas das características

com ele relacionadas. (CHICHAVA, 1998, p. 18):

Existe em quase todo o País, mas com maior intensidade nos centros urbanos;

É formado por pequenas unidades económicas e familiares;

Não beneficia tanto como no sector formal de crédito bancário oficial, mas

dependem maioritariamente de poupanças pessoais, de amigos, familiares,

normalmente através de colectas monetárias (Xitique, que é aprincipal fonte de

financiamento do sector informal);

É um mercado competitivo, mas irregular, e sem exclusividade no exercício de

actividades;

Emprega mão-de-obra jovem, e com predominância do sexo feminino, em

certas actividades como a venda de produtos hortículas, vegetais e outros

produtos agrícolas, confecção de comida, comes e bebes, cabeleireiro, atc;

Comercializa uma vasta gama de produtos e presta serviços diversos que não

envolvem grande tecnologia ou equipamento: reparação de viaturas,

canalização, electricidade, carpintaria, serralharia, construção e reparação de

imóveis, vendas ambulantes, transforte de passageiros e carga, engraxadores,

polidores de carros, curandeirismo, guardas, prostiuição, etc;

Dadas as características no parágrafos anterior, constata-se que o facto do sector

informal mobilizar crianças, jovens, adultos e velhos, as actividades por eles desempenhadas

tornam-se dinâmicas e com implicações sociais notórias. Estas implicações sociais, podem se

manifestar de forma positiva, e negativa na economia do país.

A contribuição dada pelo autor CHICHAVA (1998), no que concerne a caracterização

das actividades informais em Moçambique na sua obra Sector Informal e as Economias

Locais, torna-se num instrumento relevante para as autoridades. Ou seja, autoridades que

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tratam de questões relacionadas com as actividades praticadas pelos agentes informais,

poderem tomar decisões de acordo com as especificidades que este tem. Apesar das vantagens

e do contributo trazido pelo sector informal, a sua contínua proliferação traz consigo

problemas que preocupam de maneiras o Governo, a sociedade em geral, e o funcionamento

da economia como um todo:

Apesar deste cenário o Governo, já nota uma preocupação sobre as

actividades do sector informal. Para além da falta de registo administrativo, o

que não permite a arrecadação de receitas pelo Estado, é preocupação do

Governo o facto dos agentes informais operarem em locais não apropriados. A

precaridade em termos de infra-estruturas como é o caso do desenvolvimento

de actividades informais em locais sem sanitários ou ausência de uma

organização adequada para o desenvolvimento de actividades é uma

preocupação bastante. (MUENDANE, A. 2000, p. 18).

É preciso não perder de vista que embora tenhamos que ter em rigor de soluções

técnicas, sócio-económicas e ambientais viáveis, não nos podemos deixar apaixonar pela

técnica em si mesma ou pelo resultado material do esforço. É preciso ver que atrás disso há

um problema maior, um problema de distribuição, um problema de equidade, um problema de

resgate da miséria, um problema de solidariedade, fraternidade. E é isso que torna o

desenvolvimento um processo integral.

Francisco (2003:173-174) afirma que Moçambique acumula actualmente três activos

públicos preciosos: um crescimento económico positivo, elevado, elevado optimismo do

mercado e paz e estabilidade política. Mas Moçambique possui também três passivos

extremamente pesados: mais de metade da população vivendo em condições de pobreza

absoluta, em endividamento externo asfixiante e um dos índices de desenvolvimento mais

baixos do mundo. É perante este quadro devem ser equacionados os esforços com vista a

relançar a economia urbana e rural para que a economia nacional possa desenvolver-se de

forma mais rápida porque fragilizará dois grandes obstáculos a saber: o desemprego e as

desigualdades sociais e territoriais. A mensagem que se procura transmitir é que as próximas

duas décadas deverão ser orientadas para a reestruturação da economia urbana e rural com

base em padrões que valorizem e potenciem as lógicas e dinâmicas daqueles produtores.

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Conclusão

A economia urbana em Moçamique, tem se mostrado crescente, na medida em que em

tudo que é canto encontramos pessoas que praticam o comércio quer formal assim como

informal. Não obstante, estes operadores tanto formais como informais aproveitam qualquer

aglomerados populacionais para exercerem sua actividade comercial contribuindo desta feita

para o desenvolvimento da economia nacional.

O sector informal em Moçambique mostra hoje que acaba estando directa ou

indirectamente associado aos principais objectivos do desenvolvimento (aumento da

produção, criação de emprego e combate à pobreza).

Tendo como origem a actividade económica não licenciada, ele constitui a base de

subsistência de milhares de cidadãos sem emprego no sector formal ou, estando empregados,

os níveis salariais não permitem obter condições de subsistência condignas.

Em jeito de conclusão a economia urbana em Moçambique é fortemente influenciada

pelo sector informal e este tem contribuído positivamente para o crescimento económico, pois

este contribui para o alívio da pobreza absoluta, visto que este cria oportunidades de emprego,

rendimentos, amplia as possibilidades de escolha dos consumidores e fomenta o

empreendedorismo e a concorrência no mercado.

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Referências Bibliográficas

LOPES, C. (2003) – O Sector Informal Urbano em Luanda e Maputo: Contrastes e

Semelhanças. In I. CASTROHENRIQUES, coord., Novas Relações com África: que

Perspectivas? Actas do III Congresso de Estudos Africanos no Mundo Ibérico, 2001.

Vulgata, Lisboa.

HUGON, PH. (1999) – A Economia de África. Vulgata, Lisboa.

GEERTZ, C. (1963) – Peddlers and Princes: Social Change and Economic Modernization

in Two Indonesian Towns. The University of Chicago Press, Chicago.

CHICHAVA, J. (1998), O Sector Informal e as Economias Locais, Ministério de

Administração Estatal, Maputo.

FRANCISCO, António (2003), “Reestruturação Económica e Desenvolvimento de

Moçambique”, – In: Conflito e Transformação Social; Uma Paisagem das Justiças em

Moçambique: Edições Afrontamento, p. 173-174.

BIBLIOTECA on-line. Disponível em: «http://pt.wikipedia.org/wiki/Economia urbana»

Acesso em: 07 jun. 2012.

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