economia e negocios_unidade iii

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90 Unidade III Unidade III 7 A ECONOMIA E OS NEGóCIOS NO SéCULO XX 7.1 A inflação dos anos 1970 No mundo pós‑guerra, os avanços da ciência podiam ser traduzidos em técnicas e tecnologias que não necessitam ser compreendidos pelos usuários finais (HOBSBAWM, 1995). A física quântica, desenvolvida por Einstein no começo do século, estava agora aplicada nos produtos do cotidiano e, para utilizá‑los, não era necessário entender a teoria subjacente. A luta pela existência na Terra, impulsionada pela Guerra Fria, lançou as sementes para a corrida espacial: americanos e soviéticos disputavam, senão um lugar ao sol, ao menos um lugar na imortalidade do espaço. A segunda metade do século XX também assistiria ao debate e à especulação sobre o próprio caráter do processo de conhecimento científico. Das teorias sobre falseabilidade de Popper, passando pela investigação das revoluções cientificas e quebras de paradigma de Kuhn, os cientistas se perguntariam: o conhecimento leva à certeza ou apenas nos aproximamos, probabilisticamente, da verdade? É possível algum conhecimento certo e seguro sobre o mundo que nos cerca? Existe avanço no conhecimento científico? É a história da ciência uma linha de sucessivos aprimoramentos ou estamos sempre rompendo com o pensamento do passado? Como lidar com esse saber que, ao mesmo tempo em que se produz em circunstâncias e processos ainda desconhecidos, pode provocar o fim da humanidade? Aos poucos, formava‑se uma nova mentalidade que tinha como escopo compreender os impactos sociais dos desenvolvimentos científicos, e que se construía a partir da percepção de que vivíamos em um mundo destinado ao progresso e, ao mesmo tempo, à destruição. Já o sistema de mercado na segunda metade do século XX é sinônimo de inconteste riqueza e desenvolvimento. Para os Estados Unidos, os anos posteriores ao final da II Guerra haviam sido nada mais do que a continuidade da estupenda performance que beneficiou o país nos anos de conflito armado, embora tenha sido notável o fato de que as taxas de crescimento fossem lentas, comparativamente às de outras nações. As economias dos países desenvolvidos caminhavam em direção ao plano emprego, finalmente atingido nos anos 1960: a crença era de crescimento e prosperidade contínua, não havendo por que duvidar que o desenvolvimento dessa década não se reproduzisse na década posterior (HOBSBAWM, 1995). Mesmo as nações do bloco não capitalista cresciam, e a fome e miséria ainda não se faziam visíveis, apesar dos indícios de explosão populacional e de exclusão dos povos do Terceiro Mundo na repartição do bolo dourado do capitalismo (e essa exclusão se confirmaria nos anos 1980, apesar das taxas elevadas de crescimento na década de 1970 de países como o Brasil). Na década de 1960, a produção de manufaturas produzidas no mundo já havia se quadruplicado e o comércio mundial dos produtos da industrialização havia se multiplicado por dez (HOBSBAWM, 1995).

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    Unidade III7 A EconomiA E os nEgcios no sculo XX

    7.1 A inflao dos anos 1970

    No mundo psguerra, os avanos da cincia podiam ser traduzidos em tcnicas e tecnologias que no necessitam ser compreendidos pelos usurios finais (HOBSBAWM, 1995). A fsica quntica, desenvolvida por Einstein no comeo do sculo, estava agora aplicada nos produtos do cotidiano e, para utilizlos, no era necessrio entender a teoria subjacente. A luta pela existncia na Terra, impulsionada pela Guerra Fria, lanou as sementes para a corrida espacial: americanos e soviticos disputavam, seno um lugar ao sol, ao menos um lugar na imortalidade do espao.

    A segunda metade do sculo XX tambm assistiria ao debate e especulao sobre o prprio carter do processo de conhecimento cientfico. Das teorias sobre falseabilidade de Popper, passando pela investigao das revolues cientificas e quebras de paradigma de Kuhn, os cientistas se perguntariam: o conhecimento leva certeza ou apenas nos aproximamos, probabilisticamente, da verdade? possvel algum conhecimento certo e seguro sobre o mundo que nos cerca? Existe avano no conhecimento cientfico? a histria da cincia uma linha de sucessivos aprimoramentos ou estamos sempre rompendo com o pensamento do passado? Como lidar com esse saber que, ao mesmo tempo em que se produz em circunstncias e processos ainda desconhecidos, pode provocar o fim da humanidade? Aos poucos, formavase uma nova mentalidade que tinha como escopo compreender os impactos sociais dos desenvolvimentos cientficos, e que se construa a partir da percepo de que vivamos em um mundo destinado ao progresso e, ao mesmo tempo, destruio.

    J o sistema de mercado na segunda metade do sculo XX sinnimo de inconteste riqueza e desenvolvimento. Para os Estados Unidos, os anos posteriores ao final da II Guerra haviam sido nada mais do que a continuidade da estupenda performance que beneficiou o pas nos anos de conflito armado, embora tenha sido notvel o fato de que as taxas de crescimento fossem lentas, comparativamente s de outras naes. As economias dos pases desenvolvidos caminhavam em direo ao plano emprego, finalmente atingido nos anos 1960: a crena era de crescimento e prosperidade contnua, no havendo por que duvidar que o desenvolvimento dessa dcada no se reproduzisse na dcada posterior (HOBSBAWM, 1995).

    Mesmo as naes do bloco no capitalista cresciam, e a fome e misria ainda no se faziam visveis, apesar dos indcios de exploso populacional e de excluso dos povos do Terceiro Mundo na repartio do bolo dourado do capitalismo (e essa excluso se confirmaria nos anos 1980, apesar das taxas elevadas de crescimento na dcada de 1970 de pases como o Brasil). Na dcada de 1960, a produo de manufaturas produzidas no mundo j havia se quadruplicado e o comrcio mundial dos produtos da industrializao havia se multiplicado por dez (HOBSBAWM, 1995).

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    Ainda, os Estados Unidos impulsionavam o crescimento de outras naes, particularmente os perdedores da II Guerra Alemanha Ocidental e Japo , e as guerras intervencionistas (Coreia e Vietn, por exemplo) saciavam as necessidades expansionistas e de mercado das grandes corporaes transnacionais. Mesmo os organismos internacionais criados ao final da dcada de 1940 (Fundo Monetrio Internacional FMI e Banco Mundial) estavam a servio das polticas hegemnicas norteamericanas, at porque justificadas pelo xito econmico de tais polticas.

    No havia tampouco qualquer temor em relao ao esgotamento dos recursos ambientais, esgotamento esse provocado pelo uso indiscriminado de fontes fsseis de energia: apenas anos depois, o primeiro choque do petrleo impulsionaria, de forma mais institucionalizada, as preocupaes ambientais que se alastrariam pelo mundo nos anos 1980 e 1990, embora, a princpio, a fragilidade e dependncia das economias industrializadas em relao ao petrleo tenham gerado apenas revolta pelo aumento absurdo do preo do combustvel; mesmo programas de pesquisa de fontes alternativas de energia no seriam geradas em funo de preocupaes ambientais, mas to somente para diminuir os impactos dessa relao de dependncia que parecia mortalmente ameaada (como o programa de lcool no Brasil, explicitado no II PND).

    Tanto quanto em outros momentos da histria, o progresso se fazia perceber pelas inovaes tecnolgicas decorrentes dos desenvolvimentos cientficos, e o uso da terra e de seus recursos nada mais era do que fruto do direito legtimo de o ser humano habitar o mundo e dele retirar o necessrio, ou o mais que necessrio. Os nmeros relativos posse de automveis, telefones e outros bens industrializados (grande parte deles usando a tecnologia desenvolvida durante os anos de guerra) provavam o crescimento econmico e a disseminao do bemestar para todos aqueles que houvessem adotado (por bem ou por mal) o modelo capitalista como exemplo. O crescimento desmedido camuflava outra realidade, a de que parcelas cada vez maiores da populao estariam desempregadas em breve, especialmente em funo do uso intensivo da tecnologia.

    Nesse cenrio, portanto, no havia por que se duvidar de que o sistema de mercado no fosse a razo de ser da prpria economia e, a partir desse ponto de vista, tudo aquilo que teria sido obstculo ao surgimento da economia de mercado tambm seria responsvel pelos obstculos ao desenvolvimento da economia como cincia.

    Essa situao iria mudar? A crise se faria anunciar em meados da dcada de 1970, com o esgotamento das polticas que combinavam liberalismo econmico e bemestar social (que, na Europa, significou a eleio de vrios governos socialdemocratas), e com o esquecimento das lies do perodo entreguerras e da Depresso.

    O frgil equilbrio entre o crescimento da produo e a capacidade de consumir a riqueza estava por implodir (HOBSBAWM, 1995). A aliana entre o livre mercado e os mecanismos de controle do Estado (desde que no socialista ou comunista) havia sustentado os anos dourados do capitalismo no sculo XX, e as teorias econmicas keynesianas agora j no conseguiriam mais salvar as economias beira de processos inflacionrios, desemprego e queda de produo.

    Que processo inflacionrio esse?

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    Ou em funo do aumento do petrleo, da Guerra do Vietn, ou por causa da quebra mundial de safras em 1973, os preos apresentaram violenta variao naquele perodo, elevandose de forma generalizada.

    Embora a histria j houvesse contabilizado outros momentos de inflao, eram apenas passageiros e transitrios, diferentes daqueles que penalizavam todas as economias do mundo, independentemente do grau de desenvolvimento. Agora, a inflao passava a ser considerada como crise. Uma crise monetria de excesso de moeda em circulao.

    Aquela inflao de meados da dcada de 1970 parecia ter se transformado em problema crnico: em vez da vulnerabilidade depresso, parecia agora que o capitalismo estava diante de outra vulnerabilidade, a da inflao.

    O que se seguiu do conhecimento de todos: ativos monetrios sofrendo eroso, falncias, tentativas de conter o processo via tributao ou via recesso, adoo de estratgias ortodoxas e heterodoxas. Tudo se tentou para secar a gua que transbordava sem parar dos diques financeiros.

    observao

    O que inflao? A inflao caracterizada pela contnua, persistente e generalizada expanso do nvel geral de preos. O processo de expanso dos preos, por sua vez, resulta em uma perda do poder aquisitivo da moeda e pode, com isso, causar srios distrbios economia e sociedade de forma geral.

    Geralmente, o processo inflacionrio prejudica as classes mais pobres da populao, na medida em que beneficia as classes mais ricas, levando ao aumento do nvel de desigualdade social (MANKIW, 2008).

    Em perodos de inflao elevada, a moeda deixa de desempenhar uma de suas funes. Por funes da moeda entendemse meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. Com a inflao, a ltima funo da moeda, reserva de valor, fica prejudicada em decorrncia do poder de compra ao longo do tempo. Imagine a seguinte situao: hoje voc adquire um artigo qualquer, digamos uma bolsa, e paga por esse artigo o valor de R$ 100,00. Se amanh, para adquirir a mesma bolsa, for necessrio pagar o valor de R$ 130,00, houve inflao e, dessa forma, tornase necessrio maior quantidade de moeda para adquirir a mesma mercadoria.

    O excesso de moeda na economia pode ocorrer quando o governo incorre em dficit no oramento ou aplica uma poltica expansionista com o interesse de aumentar a liquidez da economia. BresserPereira e Nakano (1991, p. 74) explicam bem a relao dficit, moeda e inflao:

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    A forma mais linear de explicar a inflao aquela que parte do dficit do oramento do Estado para explicar o aumento da quantidade de moeda, o qual, por sua vez, determinaria a elevao dos preos. Na verdade, da mesma forma que a moeda, o dficit pblico tambm pode ser considerado um fator endgeno, uma consequncia mais do que uma causa da inflao. O dficit pblico s seria uma causa ou fator acelerador de inflao se o aumento das despesas governamentais (ou a reduo dos impostos) levar a uma presso da demanda agregada sobre a oferta em condies de pleno emprego e plena capacidade.

    Nos grficos 3 e 4, a seguir, podemos ver a inflao americana e as estatsticas de sua conta corrente.

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    Grfico 3 Inflao nos Estados Unidos

    Vse claramente que, entre 1960 e 1966, a inflao americana apresenta basicamente o mesmo patamar; entre 1968 e 1970, h ligeira elevao e, no perodo que se seguiu at meados de 1973, uma posterior queda. Com a ecloso da crise do petrleo, h uma subida expressiva nos ndices de inflao que, apesar de arrefecer entre 197576, mostra nova tendncia de subida na dcada seguinte. Possivelmente, a explicao para tal fato envolve a expanso de gastos pblicos para financiar a produo, expanso essa que vinha se acumulando desde o perodo do New Deal e desde a ao deliberada do Estado em recuperar a economia. Tais polticas expansionistas, combinadas com novas emisses de moeda para pagamentos mais vultosos em barris de petrleo, contriburam para o excesso de moeda em circulao e, dessa forma, para o crescimento dos preos das mercadorias. O grfico 3 retrata os recorrentes dficits em contacorrente que a economia americana novamente experimentaria.

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    Grfico 4 Contacorrente nos Estados Unidos

    Com efeito, percebese que, at o incio da dcada de 1970, a economia americana apresentava supervits em contacorrente, saldos modestos, mas positivos. Desse perodo em diante, percebese grande oscilao de dficits e supervits.

    Agora: por que existe inflao? Quais suas causas? Podemos dizer que h, genericamente, trs tipos de inflao: de demanda, de custos e inercial.

    observao

    Por inflao de demanda, entendese uma subida de preos de produtos influenciada pelo crescimento da demanda desse produto hipottico.

    Conforme Samuelson (1979), a inflao de demanda, ou de consumo, causada pelo crescimento dos meios de pagamento no acompanhado pelo crescimento da produo. Nesse caso, os preos tendem a aumentar devido limitao da oferta de bens, levando assim a um novo patamar de preos.

    Conforme destaca Ribeiro (1990), uma das caractersticas da inflao de demanda que ela ocorre em perodos de expanso da economia. Exemplo disso foi o milagre econmico brasileiro, no qual o governo investiu fortemente na industrializao do pas, elevando os nveis de produo e superando perodos anteriores. Como consequncia direta, ocorreu queda no desemprego e aumento do consumo, este ltimo caracterizado pelo poder de compra dos agentes em razo do aumento de renda acompanhado da crescente oferta de trabalho.

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    H tambm a inflao causada por um choque de oferta.

    observao

    A inflao de oferta ocorre quando os custos de produo aumentam, ou seja, quando se paga mais para produzir determinados bens ou para ofertar determinados servios.

    Esses aumentos podem ser causados por pagamento de salrios, se forem reajustados acima da correo monetria do perodo, ou por fora dos sindicatos, ou pela carga tributria incidente sobre a produo ou sobre os custos dos insumos bsicos de produo, ou pelos preos dos aluguis, ou pela condio climtica desfavorvel que diminui a produo de produtos agrcolas, entre outros. A esse tipo de inflao chamamos inflao de custos.

    Outro ponto que merece ateno o poder que as empresas monopolistas possuem de causar uma alta generalizada dos preos: por terem o domnio do mercado, elevam o preo de seu produto, obrigando a populao a gastar mais em determinado bem. Nesse caso, o aumento dos preos no diminuir a quantidade demandada do bem por se tratar de um produto inelstico, ou seja, aquele produto que sofre pouca ou nenhuma variao nas quantidades demandadas em funo de qualquer variao em seu preo.

    O outro tipo de inflao, a inercial, caracterizada por evoluir mesmo em perodo de recesso.

    observao

    A inflao inercial difere das outras justamente por atingir determinado estgio inflacionrio e ser alimentada pela capacidade das empresas de manter seus lucros, mesmo com o aumento dos custos, situao essa que gera um conflito distributivo.

    Uma observao a ser feita acerca da inflao inercial que ela tende a se manter em determinado patamar por um determinado perodo, depois volta a crescer e, finalmente, estabilizase em um novo patamar por algum tempo. Esse processo ocorre porque as correes dos preos satisfazem os agentes por um determinado tempo, ou seja, essas correes elevam a participao dos agentes na renda.

    Pases da Amrica Latina sofreram muito com todo o processo inflacionrio desenvolvido pelas economias mundiais durante a dcada de 1970 e a seguinte, 1980. Chegaram a desenvolver um fenmeno conhecido como hiperinflao. At a dcada de 1980, o Brasil viveu sob um padro de desenvolvimento que promoveu a industrializao e proporcionou elevadas taxas de crescimento do produto. Nesse modelo, o Estado promovia o desenvolvimento, mas custa da fragilizao da economia, j que o endividamento externo aumentava cada vez mais. A crise da dvida externa causou o fim do padro de financiamento anterior, bem como do modelo de desenvolvimento.

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    saiba mais

    Para que voc possa compreender melhor o processo inflacionrio no Brasil, sugerimos a leitura de alguns textos complementares.

    Sobre o Plano Cruzado, leia Inflao inercial e Plano Cruzado, de Luiz Carlos BresserPereira. Disponvel em: . Acesso em: 23 mar. 2011.

    Sobre o Plano Collor, leia Hiperinflao e estabilizao no Brasil: o primeiro Plano Collor, de Luiz Carlos BresserPereira e Yoshiaki Nakano. Disponvel em: . Acesso em: 23 mar. 2011.

    Sobre o Plano Real, sugerimos a leitura de A economia e a poltica do Plano Real, de Luiz Carlos BresserPereira. Disponvel em: . Acesso em: 23 de mar. 2011.

    Na mesma Amrica Latina, por exemplo, s se conseguiu efetivar o controle da inflao j em meados da dcada de 1990, com a compreenso do mecanismo de inrcia inflacionria. Para o mundo, ficou a herana do fim dos acordos de Bretton Woods: pressionados pela inflao de sua prpria moeda, os Estados Unidos no podiam mais manter a paridade com o ouro. Um novo mundo estava prestes a surgir.

    7.2 o discurso globalizador

    Durante o sculo XVI, perodo em que se desenvolve a Revoluo Comercial e ocorre a consolidao do pensamento mercantilista, as teorias explicativas das relaes comerciais prescreviam que cada nao deveria exportar o mximo e importar o mnimo para que fosse mantido saldo positivo em sua balana comercial. Nesse contexto, o comrcio longnquo era visto como fonte de riqueza dos pases. Conforme Dowbor (1990) e Singer (1989), esse comrcio trazia dois efeitos sobre a estrutura sociopolticoeconmica da Europa.

    O primeiro desses efeitos era o fluxo de metais preciosos para a Europa, pois a quantidade de ouro chegou a dobrar em meados do sculo XVI. Como a produo de bens pouco se alterava, havia uma elevao de preos e reduo dos rendimentos dos senhores feudais, pois

    nessa poca, os senhores feudais recebiam as contribuies anuais dos servos ainda em trabalho e em produtos, mas a forma dominante j era de simples pagamento, em moeda, de uma taxa fixa por pessoa. Ao dobrar a quantidade de ouro, enquanto a produo de bens permanecia pouco alterada, os preos duplicaram (...), reduzindo pela metade os rendimentos dos senhores feudais (DOWBOR, 1990, p. 2627).

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    O segundo desses efeitos era o reforo da produo, uma vez que

    a rpida acumulao de capital nas mos dos comerciantes e a abertura dos mercados internos criam uma situao em que h ao mesmo tempo a procura pela produo e a procura pelos meios para desenvolver esta produo (idem).

    O comrcio internacional, por meio da abertura dos portos, passava a ser encarado como uma disputa por uma quantidade, necessariamente limitada, de metal precioso, disputa na qual cada pas s poderia obter vantagens custa dos demais.

    Enquanto no sculo XVI os mercantilistas ainda viam a aquisio de ouro e da prata como forma mais importante de enriquecer o pas, a prpria necessidade de dispor de cada vez mais produtos para exportar e adquirir o ouro gerou outra viso em relao ao que seria a fonte de riqueza: a capacidade de produzir.

    No sculo XVIII, a Inglaterra tinha um mercado interno comparativamente muito desenvolvido, em que se procurava produzir cada vez mais, para vender a preos mais baixos e obter lucros crescentes. Alm disso, a busca por maiores lucros, conjugada com o aumento das vendas, foi tambm estimulada pela demanda externa por bens produzidos na Inglaterra, dando motivos para a exploso de inovaes tecnolgicas ento ocorridas (HUNT, 2005).

    Como vimos em pginas anteriores, a Revoluo Industrial fez com que se generalizasse a utilizao da tecnologia ao desenvolver a produo de ferramentas, especializando e modernizando a produo manufatureira, promovendo nos pases desenvolvidos o processo de enriquecimento cumulativo, conquistando novos mercados a cada progresso tcnico da sua indstria, invadindo diversas partes do mundo com produtos manufaturados e estimulando a industrializao (DOWBOR, 1990).

    Em 1776, com A riqueza da naes, de Adam Smith e, em 1817, com Princpios de economia poltica e tributao, de David Ricardo, ocorre uma transformao no pensamento econmico. Incorporando os fatos e os valores da Revoluo Industrial, formase a teoria clssica do liberalismo. Segundo ela, entre outros aspectos, os capitalistas no deviam buscar a interveno do Estado central na economia, dado o declnio de polticas mercantilistas que dependiam de forte regulamentao do Estado. Assim, o sistema econmico livre do Estado permitia que cada capitalista e cada trabalhador buscasse o seu prprio interesse no mercado. H o incio do perodo em que se aconselha o laissefaire, laissezpasser, que Dowbor (1990) identifica como a recomendao da irrestrita abertura dos portos, mercados entre as naes , fato que, na poca, favorecia o poder industrial ingls.

    A abertura dos portos, ou dos mercados, seria importante, pois, como enfatiza Smith (1996, p. 77),

    quando o mercado muito reduzido, ningum pode sentirse estimulado a dedicarse inteiramente a uma ocupao porque no pode permutar toda a parcela excedente de sua produo que ultrapassa seu consumo pessoal pela parcela de produo do trabalho alheio, da qual tem necessidade.

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    Ainda para Smith (1996, p. 420),

    (...) com plena segurana, achamos que a liberdade do comrcio, sem que seja necessria nenhuma ateno especial por parte do governo, sempre nos garantir o vinho de que temos necessidade; com a mesma segurana podemos estar certos de que o livre comrcio sempre nos assegurar o ouro e a prata que tivermos condies de comprar ou empregar, seja para fazer circular nossas mercadorias, seja para outras finalidades.

    O que possvel depreender disso? Com esse argumento podemos concluir que o comrcio externo beneficiaria todos os pases participantes, j que, em primeiro lugar, daria escoamento para a produo excedente de manufaturados caso no existisse demanda interna; em segundo lugar, valorizaria, no mercado externo, mercadorias que poderiam tornarse suprfluas no mercado interno, e em terceiro lugar, o comrcio externo provocaria a elevao da produo, aumentando assim a renda e a riqueza reais da sociedade (SMITH, 1996, p. 430).

    Conforme Manzalli (2000), j na segunda metade do sculo XIX a economia dos pases ento desenvolvidos atingiu a maturidade e, nos tempos e nos padres de um capitalismo industrial ainda caracterizado por mercados dominados por empresas de porte relativamente pequeno, alcanou tambm um grau elevado de evoluo tecnolgica. Importantes mudanas se verificam nos setores de siderurgia, metalurgia, mecnica e ferrovias e, com a capacidade produtiva crescente nessas indstrias, aumentase a necessidade de mercados para o escoamento da produo e a necessidade de matriasprimas baratas. um tempo em que os pases desenvolvidos passam a fornecer aos pases subdesenvolvidos estradas de ferro e pequeno equipamento industrial. Assim, as economias capitalistas mais avanadas conseguiam exportar os processos que haviam sido o eixo principal de sua expanso e modernizavam a extrao de matriasprimas via explorao intensiva.

    Se fosse possvel aqui fazer um apanhado das teorias explicativas da importncia das relaes internacionais entre pases, retomaramos a teoria das vantagens absolutas, de Smith, e a teoria das vantagens comparativas, de David Ricardo: cada pas deveria se especializar na produo de mercadorias com maiores vantagens naturais ou adquiridas na produo. Poderamos nos apoiar tambm nas ideias dos mercantilistas que pregavam que o comrcio exterior era uma maneira de obter mais metais preciosos. Ademais, com as teorias neoclssicas do comrcio internacional, bem como com as teorias marxistas, veramos que a tendncia internacionalizao da economia seria uma ideia e um fato antigo e, conforme as economias se especializavam em determinados produtos e trocavam esses produtos entre si, conseguiam atingir um nvel mais elevado de produtividade, consumo e acumulao de capital, ainda que com distribuio no homognea entre os pases envolvidos no processo (MANZALLI, 2000). Desse modo, o conceito de internacionalizao est ligado possibilidade de comrcio entre pases, facilitado pelo desenvolvimento dos meios de transporte, e resultando na interdependncia de uma economia s outras, com relao a mercados.

    Por que estamos tratando disso? Porque vivemos na era da globalizao, se assim for possvel chamla.

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    O filme Wall street, poder e cobia (dir. Oliver Stone, 126 minutos, 1987) icnico: nele so retratadas as atitudes e os novos valores morais do perodo da globalizao. Vale a pena assistir e entrar em contato com a cultura do tatcherismo e do reaganismo daquele momento.

    De acordo com Chesnais (1996) e Mattei (1997), o termo globalizao surgiu no incio dos anos 1980, nas escolas americanas de administrao de empresas, dando significado a uma nova ordem mundial nica, representando um processo de interdependncia e interao entre pases e povos no que diz respeito s relaes produtivas, comerciais, financeiras, tecnolgicas e culturais, interligando o mundo a partir dos meios de comunicao.

    Conforme Manzalli (2000), podemos entender que o processo de internacionalizao diz respeito capacidade de os pases manterem relaes comerciais entre si, seja no mbito da produo, no das informaes ou no financeiro, na medida em que se d o desenvolvimento do capitalismo e, portanto, da concorrncia: afinal, tornase necessria a manuteno de boas relaes internacionais.

    J o processo de globalizao, para o mesmo autor, pode ser entendido como um aprofundamento do processo de internacionalizao, uma vez que as relaes internacionais so um processo extremamente antigo. A diferena que, agora, h o desenvolvimento de um maior padro tecnolgico e concorrencial, bem como h maior facilidade advinda dos meios de comunicao e transportes: visto dessa forma, o processo de globalizao significaria, portanto, maior intensidade na interdependncia entre economias.

    lembrete

    Da mesma forma que estamos vivendo a era da globalizao, vivemos tambm a era em que o Estado no mais se apresenta como nos tempos do welfare state. Vemos agora um retorno s prticas liberais de perodos anteriores.

    Inspirado no liberalismo dos sculos XVIII e XIX, o neoliberalismo de agora reafirma valores que defendem a menor intromisso do Estado na dinmica de mercado, devendo o poder pblico se voltar para um conjunto limitado de tarefas, tais como a defesa nacional, a regulao jurdica da propriedade e a execuo de algumas polticas sociais (BARBOSA, 2006, p. 88). Quase que em oposio ao estado do bemestar, aqui se preconiza o estado mnimo: mnima interveno, mnimas barreiras ao livrecomrcio, impostos mnimos, benefcios sociais mnimos. Sobrevivero os pases que melhor souberem aproveitar as oportunidades do mercado. Sobrevivero as empresas que mais rapidamente encontrarem vantagens competitivas. Sobrevivero os que forem mais capazes.

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    Tal mudana no comportamento do Estado, de interventor para neoliberal, dse por causa do perodo de crise vivenciado pelas economias capitalistas dos anos 1980, da dcada perdida e do perodo de elevao do endividamento pblico. Tambm concorre para essa mudana o processo de inflao galopante, sendo ela a maior caracterstica do perodo.

    Como o Estado acaba assumindo, de forma generalizada, boa parcela de culpa em relao estagnao que se seguiu ao perodo psmilagres, a dcada de 1990 ser a dos ajustes: fiscal, monetrio e administrativo. Tais ajustes requerero certo distanciamento do Estado como produtor de mercadorias que, para tanto, adotar a privatizao como regra dominante. Da mesma forma, o Estado no mais se coloca como o pai da sociedade, mas apenas como regulador da economia. Assim, retornaremos ao perodo do marginalismo e da liberdade ao agente econmico, ficando para este ltimo as decises de produo e de comercializao da produo.

    O perodo do neoliberalismo ser bemvisto por uns, como uma nova forma de gerenciamento da economia, e, por outros, como um retrocesso com relao s conquistas sociais do passado. Da mesma forma que a era da globalizao solicita modernidade, no s em termos de produo e comercializao da produo, mas tambm no mbito poltico, deixa em seu rastro terrorismo, fome, guerra, governos ditatoriais. Todos esses so fatores que criam obstculos globalizao econmica.

    Entre outros conceitos de globalizao, Ianni (1997) traz para discusso conceitos inovadores que nos remetem a diferentes pontos de vista sobre aspectos sociais, econmicos, polticos e at religiosos. Vejamos:

    O problema da globalizao, em suas implicaes empricas e metodolgicas, ou histricas e tericas, pode ser colocado de modo inovador, propriamente heurstico, se aceitamos refletir sobre algumas metforas produzidas precisamente pela reflexo e imaginao desafiadas pela globalizao. Na poca da globalizao, o mundo comeou a ser taquigrafado como aldeia global, fbrica global, terraptria, nave espacial, nova Babel, entre outras expresses. So metforas razoavelmente originais, suscitando significados e implicaes. Povoam textos cientficos, filosficos e artsticos. So emblemticas, formuladas precisamente no clima mental aberto pela globalizao. Dizem respeito s distintas possibilidades de prosseguimento de conquistas e dilemas da modernidade e expressam inquietaes sobre o presente e iluses sobre o futuro (IANNI, 1997, p. 1516).

    Baumann (1996) sustenta que a dificuldade em conceituar o que realmente designa o processo de globalizao est na variedade de significados que se tm atribudo s transformaes, j que se trata de um processo que impacta diversas reas da economia. Para ele, o start inicial para a globalizao ocorreu por causa de alguns acontecimentos e das condies favorveis ao crescimento do comrcio internacional psII Guerra Mundial. A economia mundial tem passado por transformaes desde o psguerra: na esfera tcnicoprodutiva, dado o avano tecnolgico; na esfera financeira, dado o movimento de financeirizao da riqueza, ou, como chama Chesnais (1996), dada a indstria das finanas; na esfera comercial, cujo fluxo do comrcio mundial altamente crescente; e, na esfera

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    organizacional das empresas, provocando uma mudana de paradigma produtivo nas economias capitalistas.

    Conforme Manzalli (2000), todas essas transformaes so decorrentes de um ajuste macroeconmico e industrial que foi efetuado por pases centrais leiase Estados Unidos, Japo e Alemanha logo aps a II Guerra Mundial, como resposta crise financeira internacional derivada do primeiro choque do petrleo em 1973.

    A crise do petrleo, promovida pelo cartel da Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo (Opep), fez com que diversas economias capitalistas entrassem em decadncia por conta dos elevados endividamentos gerados pela subida do preo desse fator de produo. Com o aumento do preo do barril do petrleo, diversos pases passaram por crises recorrentes em balano de pagamentos devido maior quantidade de dlares que eram requeridos para pagamento de importaes de petrleo, insumo de produo utilizado de forma intensa por empresas.

    Baumann (1996) sustenta que algumas reas sofreram mudanas advindas dos movimentos da globalizao e diz ser necessrio conhecer seus aspectos estritamente econmicos. No campo comercial e produtivo, importante levar em considerao os fluxos de investimentos externos diretos entre empresas transnacionais e suas subsidirias, j que essas ltimas contribuem em grande parte para a atividade econmica mundial.

    Mas, se o fim da histria o aqui e agora, se a Guerra Fria teve fim, se o receiturio de Washington to bom, como ser possvel que um modelo como o globalizador possa encontrar dificuldades na sua propagao pela aldeia global? Talvez porque, mesmo em tempos de paz (se que se pode chamar de pacfico o sculo em que vivemos), a construo de uma economia de mercado e instituies democrticas no tarefa fcil (BARBOSA, 2006, p. 84). Corrupo, desmandos e eleies fraudulentas parecem conspirar contra os valores democrticos. Alguns adversrios dos valores neoliberais, se no conspiram, ao menos torcem para que o projeto globalizador d com os burros ngua. Mas, afinal, o que neoliberalismo?

    O termo surge na escola austraca do pensamento econmico com a figura de Friedrich August von Hayek e seu O caminho da servido, mas, como prtica, somente anos mais tarde. Essa escola de pensamento pregava, inicialmente, a menor participao do Estado na conduo da economia, dando total importncia s leis de mercado como aquelas que levariam as economias capitalistas ao equilbrio.

    A crena de que problemas recorrentes como subdesenvolvimento, inflao e endividamento pblico so consequncias da ineficincia da gesto governamental levada a cabo diante das polticas de privatizao e transferncia ao capital privado de empresas estatais, at ento consideradas no rentveis por alguns e, por outros, verdadeiros elefantes. Somamse a isso polticas fiscais contracionistas, como a elevao de tributao e a diminuio de despesas e investimentos, e as polticas monetrias tambm restritivas (caracterizadas pela elevao das taxas de juros com o interesse de diminuir investimentos produtivos e de aumentar a expanso do crdito favorvel ao capital especulativo).

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    Outro tipo de poltica tambm ser usado, o da poltica cambial, em favorecimento s importaes de mercadorias com o objetivo de fazer com que o empresariado nacional baixe os preos de venda de sua produo. Outro objetivo dessa poltica ser o de aumentar a sada de dinheiro do pas, via pagamento de importaes, fazendo com que seja diminuda a renda interna e, consequentemente, diminuda a circulao de moeda nas economias nacionais.

    observao

    Como resultado das polticas neoliberais, vse avano em questes econmicas como a da estabilidade de preos, mas poucos avanos com medidas e consequncias favorveis esfera social. No mbito do neoliberalismo, a sociedade fica em segundo plano. O que importa, realmente, a estabilidade financeira.

    Aparentemente, muito da fala neoliberal no encontrou eco nos diversos continentes em que se propagou, quer dizer, muito do receiturio neoliberal se perdeu no caminho em funo da recusa do paciente ao qual se pretendeu administrlo: assim que, apesar do discurso globalizador, os Estados nacionais continuam firmes e fortes. Assim que, apesar da defesa da mo invisvel do mercado, o Estado vem sendo chamado para apagar o fogo das crises cclicas e globais do capital. Contrariamente teoria do fim das barreiras geogrficas, ao Estado que foi atribuda a tarefa de

    impedir que o processo de globalizao instaure uma sociedade segmentada entre includos e excludos. Para isso, os Estados nacionais (...) [investem] em cincia e tecnologia, qualificao profissional, (...) [e estimulam] os seus sistemas produtivos, aumentando a competitividade do pas, alm de erradicar os bolses de misria (BARBOSA, 2006, p. 92).

    A ao conjunta de organismos internacionais e multilaterais tambm , ao mesmo tempo, disseminadora e controladora do fenmeno da globalizao. Embora a interveno econmica acontea por meio do FMI e do Banco Mundial, outros organismos vm buscando formas alternativas de auxlio aos pases em desenvolvimento ou em dificuldades: so os fruns, as organizaes no governamentais, as diversas agncias da ONU e at mesmo bancos e instituies privadas. A OMC, herdeira dos primeiros acordos do GATT (sigla em ingls para Acordo Geral de Tarifas e Comrcio), tambm tem se pautado no sentido de funcionar como tribunal das contendas comerciais entre pases. Afinal, se no forem criadas novas leis e mecanismos que permitam maior autonomia e maior participao no crescimento do comrcio para os pases subdesenvolvidos, cedo ou tarde estes pases (BARBOSA, 2006, p. 97) podero optar por outros modelos de desenvolvimento.

    O discurso neoliberal tambm encontra dificuldades para garantir sua hegemonia ideolgica ao no responder de forma adequada ao problema da fome e da misria que assolam o mundo. Segundo Judensnaider (2009), informaes da Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e a Alimentao (FAO) revelam que

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    so aproximadamente 920 milhes de famintos no mundo e, desse total, aproximadamente trinta por cento so crianas. Na Cpula do Milnio, a meta estabelecida era de reduzir a fome pela metade at o ano de 2015. Entre as recomendaes da ForaTarefa Contra a Fome, preconizouse o planejamento e execuo de polticas integradas para agricultura, nutrio e desenvolvimento rural, acesso terra, intensificao de pesquisas, apoio pequena propriedade e agricultura de subsistncia, programas de assistncia e proteo com foco nas grvidas, lactantes, bebs e crianas, restaurao e conservao dos recursos naturais essenciais para a segurana alimentar. Ao final de 2008, j se considerava a meta impossvel de ser atingida (...)18

    a fome que pode ser mapeada e o quadro revelado por esse mapa extremamente desfavorvel do ponto de vista da desigualdade social: evidncia emprica disso a ocorrncia de verdadeiros bolses de fome nas regies centrais da frica e da sia.

    saiba mais

    Sugerimos fortemente que voc assista Diamantes de sangue. Dir. Edward Zwick, 143 minutos, 2006. O filme mostra a situao de misria e vulnerabilidade de Serra Leoa.

    Misria gera mais misria. Coincidentemente, tambm a regio africana a que mais sofre com a escassez de gua, esse bem que um dia foi livre de valor econmico e que, no futuro, provavelmente ser o mais precioso da humanidade. a contrapartida promessa de um mundo justo, em que as riquezas se distribuiriam naturalmente, sob a fora das mos invisveis da economia do mercado. Segundo Barbosa (2006, p. 107),

    o aumento da desigualdade entre pases ricos e pobres e o crescimento da pobreza tanto nos pases desenvolvidos como nos subdesenvolvidos esteve relacionado abertura dos mercados e ao crescimento desordenado da esfera financeira, propiciando a expanso do desemprego e do emprego informal na grande maioria dos pases, ainda que em ritmos e com significados diferentes.

    Segundo Ianni (1997, p. 205), a sociedade global o cenrio mais amplo do desenvolvimento desigual, combinado e contraditrio (...), que se expressa em diversidades, localismos, singularidades, particularismos ou identidades. E, to complexas so as suas caractersticas que, desde 1990, economistas

    18Qual o custo de um programa srio como esse? Algumas fontes mensuram que seriam necessrios aproximadamente 25 milhes de dlares por ano para a obteno dessas metas at 2015. Bem menos que os 3 trilhes de dlares estimados por Joseph Stiglitz e Linda J. Bilmes em relao ao custo da guerra no Iraque at agora e detalhadamente estudados em A guerra de US$ 3 trilhes o custo real do conflito no Iraque.

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    vm procurando estudar as diferenas sociais a partir de outros parmetros que no os de Produto Interno Bruto (PIB) ou renda mdia.

    Assim, desenvolveuse o ndice de Desenvolvimento Humano (IDH), que busca medir o desenvolvimento humano a partir de algumas variveis:

    Alm de computar o PIB per capita, depois de corrigilo pelo poder de compra da moeda de cada pas, o IDH tambm leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educao. Para aferir a longevidade, o indicador utiliza nmeros de expectativa de vida ao nascer. O item educao avaliado pelo ndice de analfabetismo e pela taxa de matrcula em todos os nveis de ensino. A renda mensurada pelo PIB per capita, em dlar PPC (paridade do poder de compra), que elimina as diferenas de custo de vida entre os pases (PNUD Brasil)19.

    O IDH varia de zero a um, de tal forma que, quanto mais prximo de zero, menor o desenvolvimento humano, e quanto mais prximo de um, maior o desenvolvimento do ponto de vista no apenas do avano econmico, mas de outras caractersticas, como as sociais, as culturais e as polticas, indicadoras da qualidade de vida. A tabela 3 indica a posio dos pases com maior, menor e mdio IDH.

    ndice de desenvolvimento humano 2005

    Desenvolvimento humano alto Desenvolvimento humano mdioDesenvolvimento

    humano baixo

    1 Noruega 11 Japo 63 Brasil 169 Burundi

    2 Islndia 15 Reino Unido 72 Albnia 170 Etipia

    3 Austrlia 16 Frana 75 Venezuela171 Repblica CentroAfricana

    4 Luxemburgo 18 Itlia 85 China 172 GuinBissau

    5 Canad 20 Alemanha 88 Paraguai 173 Chade

    6 Sucia 34 Argentina 113 Bolvia 174 Mali

    7 Sua 37 Chile 127 ndia 175 Burkina Fasso

    8 Irlanda 46 Uruguai 176 Serra Leoa

    9 Blgica 47 Costa Rica 177 Nger

    10 Estados Unidos 52 Cuba

    53 MxicoTabela 3 ndice de Desenvolvimento Humano, 2005

    a aldeia global, o grande cinema multidimensional em que cidados de primeira linha assistem ao mundo das primeiras poltronas confortveis, enquanto os restantes se comprimem para tentar enxergar algo. o capitalismo em que se observam diferentes riquezas e semelhantes misrias, e que chega aos nossos olhos como uma fotografia precisa das diferenas e desigualdades sociais desse admirvel mundo novo que, por enquanto, reside apenas nas nossas esperanas.

    19Disponvel em: . Acesso em: 23 mar. 2011.

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    8 o quE AindA h pArA discutir?

    8.1 As fronteiras de possibilidade de produo

    Se a crise de 2008 j nos parece coisa do passado, suas repercusses, especialmente em termos dos ndices de emprego, ainda no o so. Segundo Marco Cintra, economista,

    o relatrio da OIT aponta que em economias ricas como os Estados Unidos, Canad, Unio Europeia, Japo, entre outras, os desempregados adicionais podero variar entre 4 milhes e 11 milhes de pessoas. No Leste e Sul da sia, o desemprego pode atingir entre 8 milhes e 26 milhes de trabalhadores. Na Europa Oriental, Oriente Mdio e frica, esse contingente ficaria entre 3 milhes e 10 milhes. (...) Os dados da OIT revelam que a turbulncia econmica mundial iniciada nos Estados Unidos ter um impacto mais devastador sobre o mercado de trabalho nos pases ricos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o nmero de desempregados hoje j de 12,5 milhes de pessoas, sendo que esse contingente era de pouco mais de 7 milhes em 2007. Na Europa, o desemprego atingiu 8% em dezembro do ano passado, a mais alta dos ltimos dois anos, e no Japo, a indstria anuncia com frequncia cortes de funcionrios e a estimativa que cerca de 30 mil dekasseguis voltem ao Brasil por conta disso20.

    Alm disso, outros dados e estatsticas no nos permitem vislumbrar o futuro brilhante outrora anunciado pelo Consenso de Washington. Embora o sistema capitalista esteja mais vivo do que nunca, vozes de polticos, economistas e demais cientistas vm se pronunciando no sentido de alertar: h que se tomar cuidado com os desnveis criados pela prpria atividade econmica, desnveis esses que funcionam quase como desconexes criadas pelo prprio sistema de mercado.

    So trs os principais focos do problema. O primeiro se refere relao entre produo e emprego. Num mundo onde a concorrncia e o mercado impelem as empresas em direo inovao e produtividade, esperado que o aumento da produo no necessariamente esteja correlacionado ao aumento do emprego. A tecnologia aumenta a produo, mas no cria postos de trabalho, ao menos no na mesma proporo. O uso de maquinrio na agricultura e indstria diminui as oportunidades de uso intensivo de mo de obra e o desemprego tornase alarmante, relegando margem milhes e milhes de trabalhadores que deixam de consumir at mesmo o mnimo necessrio para a sobrevivncia.

    O segundo problema diz respeito ao desnvel entre produo e recursos naturais. So esses os recursos que, juntamente com o capital, a mo de obra, a tecnologia e a capacidade empresarial, determinam as combinaes possveis das curvas de possibilidades de produo, bem como os avanos ou retrocessos de suas fronteiras.

    20Disponvel em: . Acesso em: 1 nov. 2010.

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    Para Judensnaider (2009),

    segundo o WWFBrasil, o balano das condies ambientais revela que caso o modelo atual de consumo e degradao ambiental no seja superado, possvel que os recursos naturais entrem em colapso a partir de 2030, quando a demanda pelos recursos ecolgicos ser o dobro do que a Terra pode oferecer21. A mesma fonte afirma: nossa pegada ecolgica (rea necessria para produzir o que consumimos em termos de recursos naturais e absorver as emisses de carbono) excede perto de 30% a capacidade de regenerao do mundo. Essa a crise real. Uma estatstica interessante (tambm divulgada pelo WWFBrasil) mostra que uma camiseta de algodo requer 2.900 litros de gua para ser produzida. A permanecerem as atuais taxas de consumo e crescimento populacional, o esgotamento dos recursos hdricos mundiais pode ocorrer por volta de 2053. A calota de gelo polar no rtico est desaparecendo em funo do aquecimento global, e s no desaparecer totalmente porque provvel que as reservas mundiais de petrleo e gs natural no sejam suficientes para produzir a quantidade necessria de dixido de carbono que possa derretla por completo. Mesmo as fontes mais otimistas so categricas ao afirmar: ainda que possamos identificar e explorar novos poos de petrleo, quase certo que este sculo ser o ltimo da era do petrleo.

    observao

    Como continuar produzindo, e cada vez mais, se os estoques de recursos naturais so finitos? Essa se torna uma questo fundamental em economia, e da sua resposta dependemos para traar as curvas de fronteiras de possibilidades de produo.

    Vejamos: as necessidades dos indivduos so renovadas a cada momento e, por isso, ilimitadas. No entanto, os recursos pertencentes a um sistema econmico so escassos, limitados. Portanto, necessrio escolher para ter as respostas quelas trs perguntas bsicas: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir?

    Nosso problema de escolha em funo da escassez. De acordo com Wessels (2002, p. 11), escassez significa que no podemos satisfazer todos os nossos desejos. Ela nos obriga a escolher quais necessidades iremos satisfazer e quais no. Mas como fazemos essa escolha?.

    Um instrumento que pode nos auxiliar representado pela curva de possibilidade de produo (CPP), visto abaixo:

    21Sugerimos a consulta aos dados disponveis em < www.wwf.org.br/informacoes/index.cfm?uNewsID=16180>. Acesso em: 1 nov. 2010. Nesse site, encontrase disponvel tambm o download do Relatrio Planeta Vivo 2008.

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    B

    A

    C

    D

    E

    caf

    milho

    Grfico 5 Curva de possibilidade de produo

    Vamos supor, inicialmente, que num sistema econmico exista somente a produo de duas mercadorias: caf e milho. As quantidades de caf esto representadas no eixo vertical e as quantidades de milho, no eixo horizontal. Portanto,

    Y = toneladas de caf

    X = toneladas de milho

    Essa CPP, tambm chamada de curva de transformao, mostra as quantidades mximas que podem ser produzidas das duas mercadorias em um sistema econmico, dadas as combinaes timas entre os seus fatores de produo disponveis.

    Dito de outra forma, ao simplificarmos demasiadamente a realidade, estamos supondo que, para a produo de caf e de milho, seja necessria a utilizao de quantidades de fatores de produo e que, nesse caso, todos os recursos disponveis na economia estejam sendo usados na produo dessas duas mercadorias. Estamos afirmando que todas as quantidades disponveis de terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial foram destinadas produo das mximas quantidades de cada uma dessas mercadorias em atendimento s necessidades de consumo da populao.

    Vejamos o que representa cada um dos pontos marcados. Os pontos A, B e C so as combinaes possveis (e mximas) de produo das duas mercadorias. O ponto B mostra que h produo das duas mercadorias, tanto de caf quanto de milho, e o ponto C indica que h produo das duas mercadorias, mas que a produo de uma s pode aumentar em detrimento da produo da outra.

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    A origem dos dois eixos mostra que no h qualquer produo, nem de caf nem de milho. Dessa forma, se houvesse um ponto situado na origem, ele representaria o total desemprego de recursos.

    J o ponto D mostra a capacidade ociosa da economia, pois seria como se por ele passasse uma CPP imaginria, ou seja, um ponto para dentro daquela CPP que representa as quantidades mximas que essa economia pode produzir diante da disponibilidade total de fatores de produo. O ponto D indica que h fatores de produo disponveis que no esto sendo utilizados.

    Por fim, temos o ponto E, posicionado direita na CPP. Ele seria alcanado em uma situao de longo prazo, quando fossem aumentadas as quantidades de fatores de produo disponveis na economia. O ponto E demonstra que houve um deslocamento das possibilidades de produo da economia no sentido de um aumento simultneo nas quantidades produzidas das duas mercadorias. Vejamos outro exemplo numrico (tabela4 ):

    Pontos Toneladas de milho Toneladas de caf

    A 0 14

    B 1 12

    C 2 10

    D 3 7

    E 4 0Tabela 4 Possibilidades alternativas de produo de caf e milho

    A tabela mostra que podemos produzir tanto milho quanto caf. Caminhando entre os pontos marcados, teremos que, no ponto A, enquanto essa economia hipottica produz catorze toneladas de caf, nenhuma produo de milho possvel, pois todos os fatores de produo (terra, capital, trabalho, tecnologia e capacidade empresarial) foram empregados para a produo do primeiro.

    No ponto B, temos uma diminuio na quantidade produzida de caf para ocorrer um aumento na quantidade produzida de milho. Nesse caso, a produo de caf foi diminuda em duas toneladas para que fosse aumentada uma tonelada na produo de milho.

    Em C, temos a produo de duas toneladas de milho e dez toneladas de caf. Ao passarmos a economia para o ponto D, temos uma nova combinao da produo dessas duas mercadorias. Agora, so trs toneladas de milho para a produo de sete toneladas de caf. Finalmente, em E teremos quatro toneladas de milho para nenhuma produo de caf, situao contrria do ponto A, ou seja, em E todos os fatores de produo foram destinados produo de milho e nenhum para caf.

    Ao olharmos novamente para a tabela anterior, percebemos que, medida que aumentamos a produo de uma das mercadorias, necessariamente diminumos a da outra. O que isso quer dizer? Conforme aumentamos a produo de caf, deixamos de utilizar fatores para a produo de milho e, portanto, uma menor quantidade de milho deve ser produzida. Dito de outra forma, quando aumentamos a produo de caf, mostramos que uma maior quantidade de fatores de produo foram empregados na produo deste e, assim, restam poucos fatores disponveis para a produo de milho. Logo, a produo deste diminui.

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    Ainda sobre a tabela, podemos perceber que, na passagem de A para o ponto B, aumentamos em uma quantidade a produo de milho, porm diminumos em duas toneladas a produo de caf. Algo parecido acontece quando a economia passa do ponto B para o ponto C. Agora, para produzir duas toneladas de milho, tornase necessrio diminuir em mais duas unidades a produo de caf, passando ento de uma produo de doze para dez.

    Continuando a observar os dados da tabela, percebemos que a passagem do ponto C para o ponto D requer sacrificar ainda mais a produo de caf para que a produo de milho aumente. A relao agora que, para poder produzir trs toneladas de milho necessrio diminuir em trs toneladas a produo de caf. Em E, anulase a produo de caf e todos os fatores de produo disponveis na economia foram destinados produo de milho.

    Da CP e da tabela apresentada, chegamos a mais um importante conceito em economia: o de custo de oportunidade.

    observao

    De acordo com Wessels (2002, p. 11), o custo de qualquer recurso (incluindo dinheiro, tempo, energia e bens) o valor que os economistas chamam de custo de oportunidade: o valor mais alto daquilo que os mesmos recursos poderiam ter se fossem produzidos em outro lugar.

    Assim, o conceito de custo de oportunidade diz respeito s quantidades de uma mercadoria que deixam de ser produzidas para que sejam produzidas maiores quantidades de outra mercadoria. O custo de oportunidade pode ser entendido tambm como uma taxa de sacrifcio: para satisfazer s necessidades de consumo da sociedade por uma maior quantidade de determinada mercadoria, devemos sacrificar essa mesma sociedade com a menor produo de alguma outra mercadoria.

    Podemos dizer que, quando aumentamos em uma unidade a produo de milho, ou seja, quando passamos a economia do ponto A para o B, sacrificamos a sociedade em duas toneladas de caf. H, portanto, um custo de oportunidade de duas toneladas de caf para a produo de uma tonelada de milho.

    Quando essa economia avana do ponto C para o D, o custo de oportunidade de se produzir milho aumenta. Passa agora a ser de trs toneladas de caf, ou seja, foram aumentadas as taxas de sacrifcio ao trocar a produo de caf pela de milho.

    Ainda para Wessels (2002, p. 11),

    devido escassez, no podemos fazer tudo o que queremos nem podemos resolver todos os nossos problemas. Em outras palavras, estamos diante de compensaes ou, no jargo econmico, de tradeoffs. Podemos fazer alguma coisa, mas no outras. O custo de oportunidade uma medida

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    daquilo que poderia ter sido feito de outra maneira. Ele nos orienta na realizao das compensaes corretas.

    Podemos ainda conceituar o custo de oportunidade como o que deixamos de produzir de uma mercadoria para que seja aumentada a quantidade produzida de alguma outra. A pergunta que voc deve estar se fazendo agora : como calcular o custo de oportunidade da degradao ambiental?

    8.2 A determinao do ponto de equilbrio entre oferta e demanda

    Dizemos que a demanda reflete a escolha do consumidor. Quais as variveis que afetam essa escolha? De forma simplificada, so as seguintes:

    a) A renda: quanto o consumidor tem disponvel para a aquisio de bens e servios necessrios;

    b) Os preos dos bens e servios: quanto custaro, para o consumidor, os bens e servios dos quais ele tem necessidade;

    c) Suas preferncias: que marcas o consumidor prefere. Das alternativas existentes no mercado, quais so as suas prediletas;

    d) A relao de substitutibilidade ou complementaridade entre os bens e os servios que o consumidor deseja comprar: o bem que ele deseja pode ser substitudo por outro? O bem que ele quer consumir precisa ser consumido em conjunto com outro?

    Como voc pode ver, so muitos os fatores que determinam a demanda de um bem ou de um servio. Para simplificar mais, faremos o seguinte: consideraremos, para a nossa anlise, apenas a quantidade demandada de um bem em relao ao seu preo. Ao representarmos essa relao, teremos a curva abaixo:

    P1P2

    P3

    P4

    P5

    P6

    P7

    P8

    Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Quantidade

    Preo

    Grfico 6 A curva de demanda

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    O grfico da pgina anterior nos permite visualizar que medida que o preo sobe, a quantidade de demandada diminui. Isso possvel de ser constatado no mundo real: quanto maior o preo, menos as pessoas iro consumir determinado bem ou servio. Por isso a inclinao da curva de demanda negativa.

    O que pode provocar um deslocamento da curva de demanda? Mudanas naquelas variveis que havamos deixado de fora da nossa anlise. Dessa forma, mudanas na renda, nos preos dos bens substitutos e complementares e mudanas nos padres de preferncia provocaro deslocamentos da curva de demanda.

    Da mesma forma como a curva de demanda formada a partir das preferncias dos consumidores, a de oferta se explica pelas escolhas que as empresas fazem no esforo de oferecer bens e servios ao mercado.

    Como as empresas decidem quais as quantidades a ofertar ao mercado? So inmeras as variveis:

    a) Os preos praticados no mercado;

    b) O quanto de lucro elas pretendem no mercado;

    c) A estrutura de custos da produo dos bens e servios;

    d) A concorrncia;

    e)A oferta e os preos dos fatores de produo.

    Para que possamos simplificar nossa anlise, consideraremos a quantidade ofertada de um bem ou servio como funo nica e exclusiva dos preos. Se representarmos essa relao, teremos a curva abaixo.

    O

    Pv

    Px

    Preo

    0 Qx Qv Quantidade

    Grfico 7 A curva de oferta

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    Como voc pode verificar, a curva de oferta tem inclinao positiva. Isso quer dizer que quanto maiores os preos praticados no mercado, mais a empresa ter interesse em ofertar os bens e servios. O que pode provocar um deslocamento da curva de oferta? Mudanas naquelas variveis que havamos deixado de fora da nossa anlise. Dessa forma, mudanas na concorrncia e na oferta de fatores de produo podem deslocar a curva da oferta para a direita ou para a esquerda.

    Como ocorre ento a situao de equilbrio entre a demanda e a oferta? Graficamente, ela se identifica com o ponto de encontro entre as duas funes. Veja no grfico abaixo:

    Preo

    p1

    p*

    p2

    E

    QS

    QD

    0 QD1 QD2 Q* QS2 QS1 Quantidade

    Grfico 8 O encontro entre as curvas de oferta e procura

    importante ressaltar que essa situao de equilbrio uma construo terica. No mercado real, no mundo real, o que temos so movimentos em torno desse ponto de equilbrio. Quer dizer, esse ponto de equilbrio uma meta ideal para o mercado consumidor e para o mercado vendedor. Do ponto de vista terico, o ponto de equilbrio representa a situao em que, a um determinado preo e a uma determinada quantidade, compradores e ofertantes ficam igualmente satisfeitos.

    8.3 crescimento versus desenvolvimento

    Outro fator ainda deve ser considerado: h tempos, economistas percebem que so imensas as diferenas entre crescimento e desenvolvimento. Se o primeiro significa apenas o aumento da renda per capita, o segundo implica conhecer os beneficirios do aumento da renda. Em outras palavras, desenvolvimento requer distribuio de renda, para que o crescimento no seja concentrador ou excludente. Ainda, desenvolvimento requer respeito ambiental, j que isso est intrinsecamente ligado s condies de sustentabilidade da atividade econmica.

    Vejamos com mais detalhes. H muito os economistas discutem as diferenas entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento. O debate nasceu da percepo de que, apesar das elevadas taxas de desempenho econmico, vrios pases apresentavam baixos nveis de qualidade de vida dos seus habitantes. Essa anlise fez com que os economistas elaborassem outras medidas de mensurao que no as meramente quantitativas de produo, ou de crescimento. Quer dizer, buscouse entender

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    o que poderia determinar o padro de qualidade de vida, estabelecendose, ento, que esse padro seria mensurador do desenvolvimento humano (includo a o desenvolvimento econmico); a partir da, criaramse indicadores para que o padro pudesse ser determinado. De uma forma extremamente simplificada, buscouse entender no apenas o tamanho do bolo (representativo da produo de bens e servios), mas o quanto ele poderia saciar a fome das pessoas.

    O raciocnio simples: o fato de um bolo ser grande ou pequeno no significa que ele tem condies de saciar a fome das pessoas. Se forem poucas pessoas, possvel que todas fiquem satisfeitas; se o bolo for pequeno, se as pessoas forem poucas, mas uma delas ficar com metade, a satisfao ser menor. O mesmo raciocnio vale para um bolo grande e um contingente enorme de pessoas. Ainda, se o bolo aumentar, mas o nmero de pessoas aumentar mais do que o crescimento do bolo, bem provvel que a insatisfao persista.

    observao

    O crescimento seria dado pelo tamanho do bolo; em contrapartida, o desenvolvimento seria dado pela saciedade das pessoas ao se alimentarem dele. Mais: no seria suficiente o tamanho mdio de cada fatia do bolo para que se pudesse concluir pela saciedade ou no das pessoas; precisaria se saber o quanto de justia teria sido utilizada para a diviso do bolo.

    Vejamos ento as medidas de crescimento e desenvolvimento.

    a) Medidas de crescimento: o Produto Nacional Bruto (PNB) e o PIB

    O PNB e o PIB so medidas que possibilitam mensurar o tamanho do bolo. O PNB per capita e o PIB per capita do a noo de mdia de apropriao do produto por habitante: o PNB per capita d o valor de cada parcela de PNB apropriada por habitante; da mesma forma, o PIB per capita d o valor de cada parcela do PIB apropriada por habitante. Vejamos, ento, a diferena entre os dois conceitos:

    O PIB representa a soma, em valores monetrios, de todos os bens e servios produzidos no pas (ou na regio considerada) em determinado perodo de tempo. Para o seu clculo, ele descarta a renda do exterior, tanto a recebida quanto a enviada. Considerandose N o nmero de habitantes, o PIB per capita ser dado por:

    PIB per capita = PIB/N

    O PNB difere do PIB porque considera tanto as rendas enviadas para o exterior quanto as recebidas do exterior. Assim:

    PNB = PIB Ree (receita enviada para o exterior) + Rre (receita recebida do exterior).

    O PNB per capita ser dado por:

    PNB per capita = PNB/N

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    Nos pases em desenvolvimento, o PNB menor do que o PIB. Isso ocorre porque, nessas naes, h considervel remessa de lucros para o exterior.

    b) Medidas de desenvolvimento: o IDH, a curva de Lorenz e o ndice de Gini

    O IDH

    A mensurao do desenvolvimento humano, feita por meio do IDH, sobre o qual j falamos, contrapese ao conceito de crescimento econmico. Partese do princpio de que, para aferir o avano de uma populao no se deve considerar apenas a dimenso econmica, mas tambm outras caractersticas sociais, culturais e polticas que influenciam a qualidade da vida humana (PNUD Brasil).

    O ndice desenvolvido pelos economistas Mahbub ul Haq e Amartya Sen leva em conta:

    a) O PIB per capita (corrigido pelo poder de compra da moeda);

    b) A longevidade (medida pela expectativa de vida ao nascer);

    c) A educao (avaliada pelo ndice de analfabetismo e pela taxa de matrcula em instituies de ensino).

    O IDH interpretado da seguinte forma:

    IDH de 0,9 a 1,0 = desenvolvimento humano muito elevado

    IDH de 0,8 a 0,899 = desenvolvimento humano elevado

    IDH de 0,5 a 0,799 = desenvolvimento humano mdio

    IDH de 0,1 a 0,499 = desenvolvimento humano baixo

    Portanto, quanto mais prximo de um, maior ser o desenvolvimento humano.

    Segundo o relatrio do ndice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado em novembro do ano passado, o Brasil ocupa a 73 posio entre 169 pases no IDH 201022. Os cinco primeiros colocados so, pela ordem, Noruega, Austrlia Nova Zelndia, Estados Unidos e Irlanda. Os cinco ltimos so Zimbbue, Repblica Democrtica do Congo, Nger, Mali e Burkina Faso. (...) Segundo o documento, o IDH do Brasil apresenta tendncia de crescimento sustentado ao longo dos anos. (...) Ainda de acordo com o relatrio, o rendimento anual dos brasileiros de US$ 10.607 e a expectativa de vida de 72,9 anos. A escolaridade de 7,2 anos de estudo e a expectativa de vida escolar de 13,8 anos.

    22A equipe de profissionais que elaboraram o IDH 2010 adotou metodologia nova para chegar aos ndices publicados. Veja em Notas Tcnicas o clculo dos ndices de desenvolvimento humano apresentao grfica. Disponvel em: .

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    A curva de Lorenz

    A curva de Lorenz, representada a seguir, formase pela unio dos pontos bidimensionais obtidos pelos eixos X e Y: no eixo X, temos a proporo acumulada da populao; no eixo Y, a da renda apropriada (IPECE, 2006).

    a

    b

    A

    B

    C

    100%

    y

    90%

    80%

    70%

    60%

    50%

    40%

    30%

    20%

    10%

    0%

    0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

    xGrfico 9 Curva de Lorenz

    Se a distribuio for perfeita, teremos a curva na forma de uma reta de 45 graus: por exemplo, 20% da populao se apropriaro de 20% da renda. Assim, quanto maior a barriga (a rea representada por a), mais desigual ser a distribuio de renda. Na figura, por exemplo, aproximadamente 50% da populao se apropria de 20% da renda.

    O ndice de Gini

    O ndice de Gini, segundo o PNUD Brasil,

    mede o grau de desigualdade existente na distribuio de indivduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de zero, quando no h desigualdade (a renda de todos os indivduos tem o mesmo valor), a um, quando a desigualdade mxima (apenas um indivduo detm toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivduos nula).

    Assim, o ndice uma medida que objetiva corrigir os valores mdios obtidos por meio do quociente entre produto e populao. Ele no representa o tamanho mdio da fatia do bolo, mas quo justa a diviso do bolo.

    Veja novamente a figura relativa curva de Lorenz. Geometricamente, o ndice de Gini obtido pelo quociente entre a e a soma entre a e b, da seguinte forma:

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    G = a / (a + b)

    Se a desigualdade zero, quer dizer, se a distribuio de renda perfeita, a igual a zero; portanto, G = 0. Se, hipoteticamente, um nico indivduo se apropriar de toda a renda, tender a zero e G tender a um. Quanto maior a barriga representada por a, maior ser o valor de G.

    Um exemplo interessante para compreendermos, na prtica, a diferena entre crescimento e desenvolvimento o caso da China. H anos, esse pas vem conquistando elevados ndices de crescimento do seu PIB, como se pode ver no grfico 10:

    Mdia do perodo = 10,1%

    Previso

    %

    16

    14

    12

    10

    8

    6

    4

    2

    0

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    1992

    1993

    1994

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    9,2

    14,2 14,0 13,1

    10,910,0

    9,37,8 7,6

    8,4 8,39,1

    10,0 10,1 9,98,6 8,2

    Grfico 10 PIB na China, de 1991 a 2007

    provvel que esse crescimento tenha implicado melhora no padro de qualidade de vida da populao, especialmente porque o crescimento populacional no pas vem se mantendo constante e porque o seu IDH se situa no bloco daqueles pases de desenvolvimento mdio. Ainda, a China foi a nao cujo IDH alcanou maiores taxas de crescimento nos ltimos anos: em 1990, era de 0,607; em 2006, de 0,762. No entanto, esse crescimento significa desenvolvimento sustentvel? No necessariamente. Segundo Thomas e Calan (2010, p. 25),

    o rpido crescimento econmico da China tornouse uma faca de dois gumes. Embora os 1,3 bilho de residentes estejam gozando de maior prosperidade, a qualidade dos recursos, como ar, gua e solo do pas, tem se deteriorado severamente. Apesar de significantes somas terem sido dedicadas limpeza ambiental, alguns danos ecolgicos ainda ocorrem, praticamente sem fiscalizao alguma. De fato, muitos dos esforos atuais para mitigar a poluio focaram os pontos altamente visveis, os grandes centros urbanos, como Pequim e Xangai, deixando as cidades menores e as comunidades rurais amargurarem uma desproporcional exposio gua contaminada e ao ar poludo naquele pas. (...) Na China, o dano ambiental tem se tornado to severo que seu avano econmico est sendo comprometido

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    pela falta de gua limpa, produtividade baixa associada a problemas de sade induzidos pela poluio e outros danos que limitam a produo. Economistas estimam que esse efeito seja de at 7% do PIB chins ao ano, um considervel aumento, se considerarmos os 3% ao ano na dcada de 1990.

    8.4 Estado mnimo versus welfare state

    Finalmente, o terceiro problema est relacionado aos conflitos entre os modelos de Estado mnimo e welfare state (estado do bemestar).

    observao

    Entre o Estado que nada intervm na economia e o Estado que chama para si a tarefa de planejar e orientar a atividade econmica h variantes.

    Segundo Sachs (1994, p. 1112), so necessrias

    formas de articulao entre as esferas de ao pblica e privada, transcendendo a dicotomia simplista Estado x mercado e explorandose diversos modi operandi com a participao de formas de organizao, propriedades lucrativas (pblicas, cooperativas, comunitrias) e no lucrativas (privadas, individuais e coletivas); [ necessria a] busca por novas formas de parceria entre os protagonistas sociais do desenvolvimento, com ateno especial cooperao entre autoridades pblicas, empresas e organizaes civis que ofeream proposies concretas ao postulado de participao popular em processos de desenvolvimento, explorando com esse fim as vrias experincias sociais passado e presente em autoorganizao, ajuda mtua e ao coletiva.

    Dessa forma, necessria a percepo dos seguintes aspectos:

    a) Desenvolvimento pressupe interdependncia entre a democracia social, a ambiental e a econmica;

    b) O emprego deve ser estimulado, seja pela valorizao do trabalho de alto valor social agregado, seja pela concesso de emprstimos aos pases em desenvolvimento condicionados pela aplicao dos recursos em projetos de mo de obra intensiva;

    c) Os pases devem fazer acordos sobre proteo ambiental: o desrespeito e a degradao ambiental no podem permitir vantagens comparativas e de mercado. Segundo Yunus (2008, p. 223), a dinmica da concorrncia capitalista tal que as organizaes que no prejudicam o meio ambiente e as relaes sociais podem ter uma desvantagem no mercado, pelo menos no curto prazo, ao passo que aquelas que economizam dinheiro poluindo vontade podero levar vantagem;

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    d) O pequeno empreendimento deve ser fortalecido, em detrimento aos investimentos em empresas de grande porte. Ainda, devese estimular a agricultura familiar e os minifndios;

    e) O fim da fome e da pobreza deve ser a meta de todos os pases, e os desenvolvidos devem escolher formas de alocao de recursos que obedeam aos critrios de sustentabilidade social, ambiental e econmica, especialmente avaliadas a partir do prisma social.

    observao

    Entre a crena na eficcia da mo invisvel do mercado e a f na centralizao e na planificao econmica h outras possibilidades.

    Horrorizado com a fome e com a imobilidade social em Bangladesh, um economista acabou criando um banco especializado no fornecimento de emprstimos a pobres. Esses emprstimos, concedidos preferencialmente a mulheres (j que elas seriam mais prdigas na utilizao dos recursos em prol do bemestar da famlia), hoje j atingiram 80% das famlias pobres, e a expectativa que a totalidade seja alcanada at 2010.

    Hoje, o Banco Grameen oferece emprstimos a praticamente sete milhes de pobres, 97% deles mulheres, em 73 mil aldeias de Bangladesh. O Banco Grameen oferece s famlias pobres emprstimos sem cauo para a gerao de renda, para a habitao, emprstimo estudantil e financiamento de microempresas, alm de fornecer a seus clientes uma srie de produtos atraentes, como poupana, fundos de previdncia e seguros. Desde que surgiram em 1984, os emprstimos habitacionais foram usados para a construo de 640 mil casas. (...) Desde a inaugurao, o banco concedeu emprstimos num total aproximado de seis bilhes de dlares. A taxa de liquidao dos emprstimos de 99%. Em geral, o Banco Grameen obtm lucro. Ele no depende financeiramente de terceiros e no recebe dinheiro de doaes desde 1995. Os depsitos e os recursos prprios do Banco Grameen atualmente chegam a 143% de todos os emprstimos em aberto. De acordo com uma pesquisa interna do banco, 58% dos nossos tomadores de emprstimo ultrapassaram a linha da pobreza (YUNUS, 2008, p. 240).

    saiba mais

    Pelo projeto do Banco Grameen, Muhammad Yunus ganhou o Prmio Nobel da Paz em 2006. A trajetria da criao do banco est brilhantemente escrita na obra O banqueiro dos pobres, de autoria dele e de Alan Jolis, So Paulo: tica, 2008. Sugerimos fortemente sua leitura, j que se trata de uma iniciativa bemsucedida de erradicao da pobreza dentro dos termos da prpria economia de mercado.

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    Para refletir

    Vamos pensar um pouco mais?

    Veja a situao a seguir e reflita.

    Situao:

    Acredito que podemos criar um mundo sem pobreza, porque ela no criada pelos pobres. Ela criada e mantida pelo sistema econmico e social que elaboramos para ns mesmos; as instituies e os conceitos que fazem parte desse sistema; as polticas que seguimos. (YUNUS, 2008, p. 246)

    Proposta: O que voc pensa a respeito da afirmao de Yunus?

    resumo

    Antes que voc faa os exerccios, vamos relembrar os pontos mais importantes j discutidos at agora:

    A partir de 1970, as economias de todo o mundo passam a sofrer com o processo de inflao (processo caracterizado pelo aumento do nvel de preos e pela perda do poder aquisitivo da moeda).

    A inflao surge sob diferentes formas: inflao de demanda, de oferta e inercial.

    Resolvido o problema inflacionrio, o mundo desenvolvido passa a disseminar o discurso globalizador: tambm conhecido como neoliberalismo, esse discurso defender o receiturio de no interveno do Estado na economia.

    Como consequncia da globalizao, notase o aumento da pobreza e da desigualdade social. Em razo disso, os economistas desenvolvem parmetros que, em vez de mensurar o crescimento, buscam medir o desenvolvimento econmico.

    Assim, temos uma srie de problemas ainda a resolver:

    a) Dado que os recursos so finitos e escassos, h que se equacionar as dificuldades de expanso das fronteiras de produo;

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    b) Considerando que o modelo de oferta e de demanda que nos permite a identificao do ponto de equilbrio apenas terico e ideal, temos que criar as condies que se traduzam em satisfao para consumidores e ofertantes de bens e servios;

    c) Considerando as diferenas entre crescimento e desenvolvimento, temos que criar as condies para que esses dois processos ocorram simultaneamente;

    d) Considerando a distncia entre o Estado mnimo e o Welfare State, temos que criar as condies mais adequadas para a participao do Estado na economia.

    EXErccios

    Questo 1. Analise o seguinte texto:

    (...) no grfico 1, temos a evoluo da renda mdia da populao economicamente ativa para as dcadas de 60, 70, 80 e 90, tendo 1960 como base. No grfico 2, temos as Curvas de Lorenz para os mesmos perodos. Lembrese: a Curva de Lorenz a curva que se forma pela unio dos pontos bidimensionais onde em um eixo (eixo y) temos a proporo acumulada da renda apropriada, e no outro eixo (eixo x) a proporo acumulada da populao. Quando a distribuio perfeita, a Curva de Lorenz assume a forma de uma reta de 45. Nesse caso, a proporo da renda apropriada sempre igual proporo acumulada da populao: 10% da populao ganha 10% da renda, 20% da populao ganha 20% da renda etc (adaptado de BARROS e MENDONA, s. d.).

    1960 1970 1980 19900

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    Grfico 11: Nvel de renda mdia da populao economicamente ativa

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    19901980

    1960

    Grfico 12: Curva de Lorenz

    FONTES: Construdo com base nos dados dos Censos Dermogrficos de 1960, 1970, 1980 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domcilios de 1990 (a distribuio utilizada a da populao economicamente ativa segundo a renda individual).

    A anlise do texto e dos grficos apresentados permite afirmar que:

    I Entre 1960 e 1970, a desigualdade social aumentou, embora a renda mdia tenha crescido.

    II Entre 1960 e 1970, a desigualdade social diminuiu em funo do aumento da renda mdia.

    III A renda mdia um bom indicador de igualdade social.

    Assinale a alternativa que contm a(s) afirmativa(s) correta(s):

    A) I.

    B) II.

    C) III.

    D) I e III.

    E) I e II.

    Resposta correta: alternativa A.

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    Anlise das afirmativas:

    Afirmativa I: correta.

    Justificativa: a renda mdia efetivamente cresceu da dcada de 1960 para 1970; ainda, como o segundo grfico nos mostra, a barriga da Curva de Lorenz aumentou, indicando um aumento da desigualdade social.

    Afirmativa II: incorreta.

    Justificativa: embora a renda mdia tenha crescido no perodo indicado, a desigualdade social aumentou, conforme pode ser observado no segundo grfico.

    Afirmativa III: incorreta.

    Justificativa: como vimos no livrotexto, a renda mdia, per si, no um bom indicador de igualdade social. Afinal, na mdia, a populao pode ter ficado mais rica; no entanto, se a riqueza ficou concentrada, a desigualdade social s fez aumentar.

    Questo 2. Leia o texto, o grfico e a tabela que seguem:

    (...) O objetivo da elaborao do ndice de Desenvolvimento Humano oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimenso econmica do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul Haq, com a colaborao do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prmio Nobel de Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral, sinttica, do desenvolvimento humano. No abrange todos os aspectos de desenvolvimento e no uma representao da felicidade das pessoas, nem indica o melhor lugar no mundo para se viver. Alm de computar o PIB per capita, depois de corrigilo pelo poder de compra da moeda em cada pas, o IDH tambm leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educao. Para aferir a longevidade, o indicador utiliza nmeros de expectativa de vida ao nascer. O item educao avaliado pelo ndice de analfabetismo e pela taxa de matrcula em todos os nveis de ensino. A renda mensurada pelo PIB per capita, em dlar PPC (Paridade do Poder de Compra, que elimina as diferenas de custo de vida entre os pases). Essas trs dimenses tm a mesma importncia no ndice, que varia de zero a um (...). (adaptado de SEM, 1999).

    A seguir, so apresentados o grfico de IDH e a tabela com a expectativa de vida ao nascer nos estados brasileiros em 2005:

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    IDH

    RO AC AM RR PA AP TO MA PI CE RN PB PE AL SE BA MG ES RJ SP PR SC RS MS MT GO DF

    0,9

    0,85

    0,8

    0,75

    0,7

    0,65

    0,6

    Estados brasileiros

    Grfico 13 IDH Estados brasileiros 2005

    Fonte: PNUD/Fundao Joo Pinheiro.

    Esperana de vida ao nascerAnos de vida esperados Brasil (2005)

    UF Anos de vida esperados

    Rondnia 70,63

    Acre 70,81

    Amazonas 71,03

    Roraima 69,3

    Par 71,39

    Amap 69,75

    Tocantins 70,69

    Maranho 66,83

    Piau 68,17

    Cear 69,58

    Rio Grande do Norte 69,75

    Paraba 68,26

    Pernambuco 67,52

    Alagoas 65,95

    Sergipe 70,27

    Bahia 71,44

    Minas Gerais 74,1

    Esprito Santo 73,14

    Rio de Janeiro 72,44

    So Paulo 73,66

    Paran 73,51

    Santa Catarina 74,78

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    Rio Grande do Sul 74,5

    Mato Grosso do Sul 73,19

    Mato Grosso 72,57

    Gois 72,82

    Distrito Federal 74,87

    Quadro 5 Fonte: IBGE/Projees demogrficas preliminares

    Aps a anlise dos dados anteriores, julgue as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta.

    I No existe relao entre o IDH e a expectativa de vida ao nascer, pois os nicos fatores utilizados para o clculo do IDH so a longevidade, a educao e a renda.

    II Em 2005, o estado brasileiro com menor IDH foi o que apresentou a menor expectativa de vida ao nascer, e o estado brasileiro com maior IDH foi o que apresentou a maior expectativa de vida ao nascer.

    III Em 2005, os estados brasileiros com mesmos IDHs apresentavam as mesmas expectativas de vida ao nascer.

    IV Em relao aos estados brasileiros, em 2005, a diferena percentual do menor IDH para o maior IDH, e a diferena percentual da menor expectativa de vida ao nascer para a maior expectativa de vida ao nascer, so iguais.

    Assinale a alternativa que contm a(s) afirmativa(s) correta(s):

    A) II.

    B) II e III.

    C) I.

    D) II, III e IV.

    E) Todas as afirmativas esto corretas.

    Resoluo desta questo na Plataforma.