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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente Estatuto da Criança e do Adolescente Anotado e Interpretado Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (atualizado até a Lei nº 12.010, de 03 de agosto de 2009) Murillo José Digiácomo e Ildeara de Amorim Digiácomo Curitiba maio de 2010

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  • 1. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DO PARANCentro de Apoio Operacional das Promotoriasda Criana e do AdolescenteEstatuto da Criana e do AdolescenteAnotado e InterpretadoLei n 8.069, de 13 de julho de 1990(atualizado at a Lei n 12.010, de 03 de agosto de 2009)Murillo Jos Digicomo eIldeara de Amorim DigicomoCuritibamaio de 2010

2. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DO PARANProcurador-Geral de JustiaOlympio de S Sotto Maior NetoSubprocuradores-Gerais de Justia:Assuntos JurdicosLineu Walter KirchnerAssuntos AdministrativosSergio Renato SinhoriAssuntos de Planejamento InstitucionalBruno Srgio GalattiCorregedor-GeralMoacir Gonalves Nogueira NetoSubcorregedor-GeralGeraldo da Rocha SantosCentro de Estudos e Aperfeioamento FuncionalSamia Saad Gallotti BonavidesCentro de Apoio Operacional das Promotorias da Criana e do Adolescente:Luciana LineroMurillo Jos DigicomoFicha CatalogrficaDigicomo, Murillo Jos, 1969-Estatuto da criana e do adolescente anotado e interpretado /Murillo Jos Digicomo e Ildeara Amorim Digicomo.-Curitiba .. Ministrio Pblico do Estado do Paran. Centro deApoio Operacional das Promotorias da Criana e doAdolescente, 2010.1. Direitos da criana - legislao - Brasil 2. Direitos dacriana - jurisprudncia - Brasil I. Digicomo, Ildeara AmorimCDU 347.63(81)(094.46)Ministrio Pblico do Estado do ParanCentro de Apoio Operacional das Promotorias da Criana e do Adolescente(Subsede Marechal)Av. Marechal Floriano Peixoto, n 1.251Rebouas - Curitiba - ParanCEP 80230-110Fones(41) 3250-4701 / 4702 / 4725 [email protected]/490 3. PREFCIO com extraordinria satisfao e indisfarvel orgulho que me vejo na condio de prefaciarobra que o Promotor de Justia Murillo Jos Digicomo produziu, em parceria com sua esposa, aProfessora Ildeara de Amorim Digicomo, consistente em comentrios sobre o Estatuto da Criana e doAdolescente.Para alm de uma amizade de longa data, minha admirao pelo autor reside no fato deestar ele, como jurista orgnico que , dedicando sua existncia causa da infncia e juventude, com acrena sincera de que a instalao de desejada sociedade melhor e mais justa s se dar com a realimplementao das promessas de cidadania contempladas no ordenamento jurdico - especialmente naConstituio Federal e na Lei n 8.069/1990 - para as nossas crianas e adolescentes. Esse verdadeiroideal de vida tambm compartilhado por sua esposa, professora das disciplinas Direito da Criana e doAdolescente e Direito de Famlia, que tem sido sua parceira de todas as horas na busca de uma melhorcompreenso e de uma adequada aplicao da lei por todos aqueles que militam na rea infanto-juvenil.Assim, a qualidade dos comentrios do casal Murillo e Ildeara ultrapassa aquela que adviriaapenas de um mero conhecimento acadmico, completando-se sobremaneira com a oriunda da labutacotidiana de ambos para a efetivao - seja na esfera administrativa ou judicial - dos direitos dascrianas e adolescentes.Com o orgulho do reconhecimento de que estamos diante de situao em que o alunosuplantou o mestre, recordo-me dos dilogos acerca de temas importantes para nossa luta pela infnciae juventude e que, desde logo, a afirmao do Murillo me tranquilizava: J escrevi um artigo sobre isso.A presente obra contempla ento, de forma compilada, as corretas reflexes de Murillo eIldeara sobre as matrias mais relevantes para a rea da infncia e juventude, especialmente aquelasque surgem no cotidiano da aplicao da Lei n 8.069/1990 (especialmente diante das recentesalteraes introduzidas a seu texto pela Lei n 12.010/2009), complementada pela legislao nacional einternacional correlata, por parte de todos aqueles que integram o denominado Sistema de Garantia dosDireitos da Criana e do Adolescente.Como melhor doutrina, a significativa contribuio para o encaminhamento correto dasquestes pertinentes ao Estatuto da Criana e do Adolescente se apresenta indisputvel, assim como sualeitura exsurge indispensvel aos operadores do direito, integrantes dos Conselhos de Direitos eTutelares, professores, equipes tcnicas vinculadas rea da infncia, entidades da sociedade civilorganizada, enfim a todos que militam no campo da infncia e juventude.Como se sabe, o Estatuto da Criana e do Adolescente comparece no nosso ordenamentojurdico enquanto forma de regulamentao do art. 227, da Constituio Federal, que absorveu osditames da doutrina da proteo integral e contempla o princpio da prioridade absoluta.Formulado com o objetivo de intervir positivamente na tragdia de excluso experimentadapela nossa infncia e juventude, o Estatuto da Criana e do Adolescente apresenta duas propostasfundamentais, quais sejam: a) garantir que as crianas e adolescentes brasileiros, at entoreconhecidos como meros objetos de interveno da famlia e do Estado, passem a ser tratados comosujeitos de direitos; b) o desenvolvimento de uma nova poltica de atendimento infncia e juventude,informada pelos princpios constitucionais da descentralizao poltico-administrativa (com a consequentemunicipalizao das aes) e da participao da sociedade civil.Entretanto, no quadro real de marginalidade em que se encontra a grande maioria dapopulao brasileira (integrante do pas que se transformou em campeo mundial das desigualdadessociais), sabemos que padecem especialmente as nossas crianas e adolescentes, vtimas frgeis evulneradas pela omisso da famlia, da sociedade e, principalmente, do Estado, no que tange aoasseguramento dos seus direitos fundamentais.Diante de um contexto de desassistncia e abandono (calcula-se a existncia de cerca de 40milhes de carentes e abandonados), almeja-se que as regras de cidadania contempladas noordenamento jurdico em prol da populao infanto-juvenil no permaneam meras declaraes1/490 4. retricas, exortaes morais, singelos conselhos ao administrador e, porque assim tomadas,postergadas na sua efetivao ou relegadas ao abandono. que as crianas e adolescentes vtimas do holocausto permanente ditado pelas absurdastaxas de mortalidade, as que apresentam leses celebrais irreversveis decorrentes da subnutrio, asque sobrevivem nas ruas atravs da esmola degradante, bem como as que no tm acesso educaoou sade, no podem mais aguardar que a natureza das coisas ou o processo histrico venham aintervir para a materializao daquilo que lhes foi prometido no ordenamento jurdico brasileiro comogarantia de dignidade a quem se encontra em peculiar fase de desenvolvimento.Ento, convm admitir que a lei - ainda que de reconhecida excelncia - no tem o condode, por si s, alterar a realidade social. O que transforma a sociedade , na verdade, o efetivo exercciodos direitos previstos na lei, a partir de uma atuao firme e decidida daqueles que, de uma forma ou deoutra, detm o poder e, por via de consequncia, a responsabilidade para criar as condies e os meiosindispensveis ao exerccio de tais direitos.Dessa maneira, consideradas nossas iniquidades (polticas, sociais e econmicas) e naperspectiva da construo de condies mais justas e igualitrias (capazes, por isso mesmo, de instalarrelaes sociais solidrias e pacficas), pretende-se, nessa atual quadra histrica, que as forasprogressistas da sociedade brasileira venham a intervir de maneira mais incisiva (e positiva) naimplementao das regras do Estatuto da Criana e do Adolescente, como por diversas vezes destacadoao longo da presente obra.Tambm, para alm da espontnea atividade do administrador pblico em favor das crianase adolescentes (afinal, como sempre dizem eles, no delas que depende o futuro do Pas?), o Sistemade Justia - sob a gide do princpio constitucional da prioridade absoluta criana e ao adolescente (art.227, caput, da Constituio Federal) - deve atuar, quando necessrio, com efetiva preferncia, afinco eeficincia na materializao das promessas de cidadania para a populao infanto-juvenil existentes naConstituio Federal e, principalmente, no Estatuto da Criana e do Adolescente (cumprindo osoperadores do direito com responsabilidade no s profissional, mas tambm poltica, social e tica), demolde a elevar em dignidade especialmente as funes do Poder Judicirio, do Ministrio Pblico e daDefensoria Pblica. Assim sendo, se verdade que, como dito acima, por si s a lei nada transforma, noresta dvida que um Sistema de Justia atuante rene plenas condies de fazer dela um importanteinstrumento de transformao da realidade de descaso em que vive boa parte da populao infanto-juvenil, chamando responsabilidade (e mesmo responsabilizando civil e administrativamente, tal qualprevisto nos arts. 208 e 216, da Lei n 8.069/1990) os governantes que se omitem em cumprir seusdeveres legais e constitucionais para com nossas crianas e adolescentes.Em outro ngulo, necessrio ampliar cada vez mais a participao da sociedade civil nasinstncias democrticas dos Conselhos Tutelares, a quem incumbe fiscalizar o adequado funcionamentode todo o sistema de atendimento infncia e juventude (podendo inclusive requisitar servios pblicospara viabilizar a execuo das medidas que aplica) e dos Conselhos dos Direitos da Criana e doAdolescente.No que diz respeito poltica de atendimento infncia e juventude - a ser deliberada pelosConselhos dos Direitos enquanto espaos de democracia participativa - de se reforar o raciocnio de que,alm da escola, da famlia e de outros espaos adequados para o seu desenvolvimento, lugar de criana nos oramentos pblicos, cumprindo-se o princpio constitucional da prioridade absoluta no que tange preferncia na formulao e execuo das polticas pblicas, assim como, especialmente, destinaoprivilegiada de recursos para a rea (art. 4, par. nico, alneas c e d, da Lei n 8.069/1990).O acompanhamento da elaborao e execuo das leis oramentrias (comeando pelosplanos plurianuais, passando pela lei de diretrizes oramentrias, at o oramento propriamente dito)surge assim indispensvel para a melhoria - sob todos os aspectos - das condies de vida das nossascrianas e adolescentes.Para o eventual embate jurdico, cabe registrar que o princpio da prioridade absoluta (aquitraduzido como preferncia na formulao e na execuo de polticas pblicas, bem assim na destinaoprivilegiada de recursos) e o da democracia participativa (arts. 1, par. nico, 204, inc. II e 227, 7,todos da Constituio Federal e concretizados com a atuao dos Conselhos dos Direitos da Criana e doAdolescente na formulao da poltica - municipal, estadual e nacional - de atendimento aos interessesda populao infanto-juvenil - v. art. 88, inc. II, da Lei n 8.069/1990) so limitadores e condicionantesao poder discricionrio do administrador pblico.2/490 5. No se tenha dvida de que esse o caminho: o fortalecimento dos Conselhos dos Direitosda Criana e do Adolescente, de maneira a que, como verdadeira revoluo em todas as localidades eEstados, seja efetuado um diagnstico acerca da efetiva situao da infncia e da juventude para, emseguida, restar traada adequada poltica de atendimento s necessidades detectadas. Mais que isso: oreconhecimento (judicial, se for o caso) de que a poltica deliberada em todos os nveis federativos pelosConselhos dos Direitos vincula o administrador, que obrigado a canalizar - e em carter prioritrio - osrecursos indispensveis implementao e/ou adequao dos servios pblicos, programas e aesdefinidos como indispensveis ao atendimento dos direitos da populao infanto-juvenil.Ento, fundamental a interveno de todos no sentido da existncia de polticas pblicascapazes de fazer das crianas e adolescentes efetivamente sujeitos de direito, garantindo-se a plenaefetivao de seus direitos fundamentais, com a mais absoluta prioridade, tal qual preconizado demaneira expressa pelo art. 4, caput e pargrafo nico, da Lei n 8.069/1990, como reflexo direto docomando supremo emanado do j citado art. 227, caput, de nossa Carta Magna.Nesse contexto (e lembrando sempre que a realidade social e a Justia devem estarpresentes em todos os momentos da vida do Direito), no se tenha dvida de que a presente obraservir de importante ferramenta de trabalho para a efetiva implementao de tais polticas e paraconsequente concretizao dos direitos arrolados na Lei n 8.069/1990, na Constituio Federal e emtodas as demais normas - inclusive de Direito Internacional - correlatas, a todas as crianas eadolescentes paranaenses e brasileiras.Por tudo isso, com o auxlio da obra que o Promotor de Justia Murillo Jos Digicomo e aProfessora Ildeara de Amorim Digicomo agora nos brindam, possvel imaginar a ampliao doexerccio dos direitos relacionados no Estatuto da Criana e do Adolescente, concretizando-se cada vezmais o comando legal pertinente proteo integral infanto-juvenil h tanto prometida, e colaborando-sedecisivamente para que a Nao brasileira venha a alcanar um dos seus objetivos fundamentais: o deinstalar - digo eu, a partir das crianas e adolescentes - uma sociedade livre, justa e solidria.Olympio de S Sotto Maior NetoProcurador-Geral de Justia doMinistrio Pblico do Estado do Paran3/490 6. SUMRIOAPRESENTAO .............................................. 1ESTATUTO DA CRIANA E DO ADOLESCENTELei n 8.069, de 13 de julho de 1990(atualizado at a Lei n 12.010, de 03 de agosto de 2009)LIVRO I - PARTE GERAL....................................3TTULO I - DAS DISPOSIES PRELIMINARES [1]...........................3TTULO II - DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS.................................10CAPTULO I - DO DIREITO VIDA E SADE [18]..................10CAPTULO II - DO DIREITO LIBERDADE, AO RESPEITO E DIGNIDADE........................................................................19CAPTULO III - DO DIREITO CONVIVNCIA FAMILIAR ECOMUNITRIA [60].............................................................21Seo I - Disposies Gerais......................................................21Seo II - Da Famlia Natural [79]...............................................28Seo III - Da Famlia Substituta [86].........................................30Subseo I - Disposies gerais.....................................................30Subseo II - Da guarda [103]......................................................34Subseo III - Da tutela [116]......................................................39Subseo IV - Da adoo [124].....................................................41CAPTULO IV - DO DIREITO EDUCAO [229], CULTURA [230], AO ESPORTE [231] E AO LAZER [232]............73CAPTULO V - DO DIREITO PROFISSIONALIZAO E PROTEO NO TRABALHO [261]...........................................82TTULO III - DA PREVENO [281]..............................................87CAPTULO I - DISPOSIES GERAIS......................................87CAPTULO II - DA PREVENO ESPECIAL...............................88Seo I - Da Informao, Cultura, Lazer, Esportes, Diverses eEspetculos.............................................................................88Seo II - Dos Produtos e Servios..............................................92Seo III - Da Autorizao para Viajar.........................................94LIVRO II - PARTE ESPECIAL...........................97TTULO I - DA POLTICA DE ATENDIMENTO..................................97CAPTULO I - DISPOSIES GERAIS......................................97iv 7. CAPTULO II - DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO [339]........109Seo I - Disposies Gerais.....................................................109Seo II - Da Fiscalizao das Entidades....................................125TTULO II - DAS MEDIDAS DE PROTEO...................................127CAPTULO I - DISPOSIES GERAIS....................................127CAPTULO II - DAS MEDIDAS ESPECFICAS DE PROTEO [419]......................................................................................128TTULO III - DA PRTICA DE ATO INFRACIONAL..........................145CAPTULO I - DISPOSIES GERAIS [469]...........................145CAPTULO II - DOS DIREITOS INDIVIDUAIS [474].................147CAPTULO III - DAS GARANTIAS PROCESSUAIS.....................152CAPTULO IV - DAS MEDIDAS SCIO-EDUCATIVAS [493].......154Seo I - Disposies Gerais.....................................................154Seo II - Da Advertncia........................................................161Seo III - Da Obrigao de Reparar o Dano...............................161Seo IV - Da Prestao de Servios Comunidade.....................162Seo V - Da Liberdade Assistida..............................................163Seo VI - Do Regime de Semiliberdade [531]............................164Seo VII - Da Internao........................................................166CAPTULO V - DA REMISSO [574]......................................185TTULO IV - DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSVEL............................................................................................190TTULO V - DO CONSELHO TUTELAR..........................................194CAPTULO I - DISPOSIES GERAIS [595]...........................194CAPTULO II - DAS ATRIBUIES DO CONSELHO..................200CAPTULO III - DA COMPETNCIA........................................208CAPTULO IV - DA ESCOLHA DOS CONSELHEIROS.................208CAPTULO V - DOS IMPEDIMENTOS.....................................209TTULO VI - DO ACESSO JUSTIA...........................................209CAPTULO I - DISPOSIES GERAIS....................................209CAPTULO II - DA JUSTIA DA INFNCIA E DA JUVENTUDE [644]......................................................................................212Seo I - Disposies Gerais.....................................................212Seo II - Do Juiz...................................................................213Seo III - Dos Servios Auxiliares............................................222CAPTULO III - DOS PROCEDIMENTOS.................................223Seo I - Disposies Gerais.....................................................223Seo II - Da Perda e da Suspenso do Poder Familiar [691]........226Seo III - Da Destituio da Tutela..........................................232v 8. Seo IV - Da Colocao em Famlia Substituta [715]..................233Seo V - Da Apurao de Ato Infracional Atribudo aAdolescente [741]...................................................................240Seo VI - Da Apurao de Irregularidades em Entidades deAtendimento [807]..................................................................262Seo VII - Da Apurao de Infrao Administrativa s Normas deProteo Criana e ao Adolescente..........................................264Seo VIII - Da Habilitao de Pretendentes Adoo [832].........267CAPTULO IV - DOS RECURSOS...........................................271CAPTULO V - DO MINISTRIO PBLICO [861]......................276CAPTULO VI - DO ADVOGADO [897]...................................283CAPTULO VII - DA PROTEO JUDICIAL DOS INTERESSESINDIVIDUAIS, DIFUSOS E COLETIVOS [904].........................284TTULO VII - DOS CRIMES E DAS INFRAES ADMINISTRATIVAS. .296CAPTULO I - DOS CRIMES.................................................296Seo I - Disposies Gerais.....................................................296Seo II - Dos Crimes em Espcie.............................................298CAPTULO II - DAS INFRAES ADMINISTRATIVAS [999].......315DISPOSIES FINAIS E TRANSITRIAS.....................................324vi 9. APRESENTAOO Estatuto da Criana e do Adolescente - Lei n 8.069/1990, reconhecido internacionalmente como um dos mais avanados DiplomasLegais dedicados garantia dos direitos da populao infanto-juvenil.No entanto, suas disposies - verdadeiramente revolucionriasem muitos aspectos - ainda hoje so desconhecidas pela maioria dapopulao e, o que pior, vm sendo sistematicamente descumpridas porboa parte dos administradores pblicos, que fazem da prioridade absoluta eda proteo integral criana e ao adolescente, princpioselementares/mandamentos contidos tanto na Lei n 8.069/1990 quanto naConstituio Federal, que como tal deveriam ser o foco central de suaspreocupaes e aes de governo, palavras vazias de contedo, paraperplexidade geral de toda sociedade. preciso, pois, fazer com que os direitos e garantias legais econstitucionais assegurados a crianas e adolescentes sejam melhorconhecidos, compreendidos e, acima de tudo, cumpridos, para o que fundamental uma viso global do microssistema que a Lei n 8.069/1990encerra e das disposies correlatas contidas na Constituio Federal eoutras normas, inclusive de alcance internacional que, em ltima anlise,integram o Direito da Criana e do Adolescente.A presente obra, embora em linhas gerais, tem por objetivoproporcionar ao leitor esta viso global da matria, fornecendo subsdiospara que todos os operadores do Direito da Criana e do Adolescente,pertencentes ou no rea jurdica, possam cumprir e fazer cumprir asnormas e princpios institudos em benefcio da populao infanto-juvenil,assegurando-lhes o efetivo exerccio de seus direitos e, por via deconsequncia, o acesso cidadania plena que h tanto lhes foi prometida.Atravs de breves comentrios, notas remissivas a outrasnormas e exemplos das mais acertadas e avanadas decises de nossosTribunais, o leitor poder melhor conhecer e compreender toda sistemticaestabelecida pela Lei n 8.069/1990 para proteo integral da criana e doadolescente, que vai desde a expressa previso do direito, no plano material,at a responsabilizao nas esferas civil, administrativa e mesmo criminaldaqueles que, por ao ou omisso, de qualquer modo o violam, passandopor inmeros mecanismos judiciais e extrajudiciais que permitem suaexigibilidade, tanto na esfera individual, quanto coletiva.Ildeara de Amorim Digicomo eMurillo Jos DigicomoAutores1 10. LEI N8.069, DE 13 DE JULHODE 1990Dispe sobre o Estatuto da Criana e doAdolescente, e d outras providncias.O PRESIDENTE DA REPBLICA:Fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte LeiLIVRO I - PARTE GERALTTULOI - DAS DISPOSIES PRELIMINARES [1]Art. 1. Esta Lei dispe sobre a proteo integral criana e ao adolescente [2] .1 As disposies preliminares, relacionadas nos arts. 1 a 6, do Estatuto daCriana e do Adolescente, trazem regras (conceito de criana e adolescente,abrangncia da Lei etc.) e princpios (como os relativos proteo integral eprioridade absoluta), a serem observados quando da anlise de todas asdisposies estatutrias, que por fora do disposto nos arts. 1 e 6, deste TtuloI, devem ser invariavelmente interpretadas e aplicadas em benefcio dascrianas e adolescentes. Princpios adicionais quanto interpretao e aplicaodas disposies da Lei n 8.069/1990 esto relacionados no art. 100, caput epar. nico, do ECA.2 Vide arts. 6 e 227, da CF e art. 100, par. nico, incisos II e IV, do ECA. Oenunciado deste dispositivo um reflexo direto da Doutrina da ProteoIntegral Criana e ao Adolescente, adotada pela Constituio Federal de 1988(arts. 227 e 228) e pela Assemblia Geral das Naes Unidas, em 20/11/1989,por intermdio da Conveno das Naes Unidas Sobre Direitos da Criana(Resoluo XLIV). No Brasil este texto foi aprovado pelo Dec. Legislativo n28/1990, de 14/07/1990 e promulgado pelo Decreto n 99.710/1990, de21/11/1990 (passando assim, por fora do disposto no art. 5, 2, da CF, a terplena vigncia no Pas). O Estatuto da Criana e do Adolescente, portanto, vemem resposta nova orientao constitucional e normativa internacional relativa matria, deixando claro, desde logo, seu objetivo fundamental: a proteointegral de crianas e adolescentes. Da porque a anlise conjunta do contidoneste e nos arts. 3, 4, 5, 6 e 100, par. nico (notadamente seu inciso II), doECA, nos leva concluso lgica (e teleolgica) de que nenhuma disposioestatutria pode ser interpretada e muito menos aplicada em prejuzo decrianas e adolescentes, servindo sim para exigir da famlia, da sociedade e,acima de tudo, do Poder Pblico, o efetivo respeito a seus direitos relacionadosneste e em outros Diplomas Legais, inclusive sob pena de responsabilidade (cf.arts. 5, 208 e 216, do ECA). Ainda sobre a matria, vide o contido naDeclarao dos Direitos da Criana, adotada pela Assemblia das NaesUnidas de 20/11/1959 e ratificada pelo Brasil. Nunca esquecer, ademais, quequando se fala em direitos da criana, estamos falando de direitos humanos,razo pela qual de se ter tambm em conta o disposto na Declarao3 11. Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assemblia Geral das NaesUnidas em 10/12/1948, assim como o Decreto n 1.904/1996, de 13/05/1996,que institui o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH.Art. 2. Considera-se criana, para os efeitos desta Lei, a pessoa at doze anos deidade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade [3] .Pargrafo nico. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente esteEstatuto s pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade [4] .3 O presente dispositivo conceitua, de forma objetiva, quem considerado crianae quem considerado adolescente, para fins de incidncia das disposiescontidas no ECA (que em diversas situaes estabelece um tratamentodiferenciado para ambas categorias - vide, por exemplo, o disposto nos arts. 45,2 e 105, do ECA). Trata-se de um conceito legal e estritamente objetivo,sendo certo que outras cincias, como a psicologia e a pedagogia, podem adotarparmetros etrios diversos. Interessante observar que o legislador (a exemplodo que j havia feito o constituinte, quando da promulgao do art. 227, denossa Carta Magna) deixou de utilizar, propositalmente, o termo menor, quepossui uma conotao pejorativa e discriminatria, incompatvel, portanto, coma nova orientao jurdico-constitucional, que alm de alar crianas eadolescentes condio de titulares de todos os direitos fundamentais inerentes pessoa humana (dentre os quais os direitos dignidade e ao respeito),tambm imps a todos (famlia, comunidade, sociedade em geral e PoderPblico, o dever de respeit-los com a mais absoluta prioridade, colocando-os asalvo de qualquer forma de discriminao ou opresso (cf. arts. 4, caput e 5,do ECA e art. 227, caput, da CF), o que compreende, obviamente, a prpriaterminologia utilizada para sua designao. Embora imprprio, o termo menorcontinua, no entanto, a ser utilizado em outros Diplomas Legais, como aConsolidao das Leis Trabalhistas (CLT) e o Cdigo Civil (CC). Importantetambm mencionar que eventual emancipao de jovens entre 16 (dezesseis) e18 (dezoito) anos de idade, nos moldes do permitido pelo art. 5, par. nico, doCC, no desvirtua sua condio de adolescentes, para fins de incidncia dasnormas de proteo contidas no ECA e em outros Diploma Legais correlatos.Neste sentido versa enunciado aprovado por ocasio da Jornada de Direito Civildo Centro de Estudos Judicirios-CEJ, do Conselho da Justia Federal-CJF: Art.5. A reduo do limite etrio para definio da capacidade civil aos 18 anos noaltera o disposto no art. 16, inc. I, da Lei n 8.213/91, que regula especficasituao de dependncia econmica para fins previdencirios e outras situaessimilares de proteo, previstas em legislao especial.4 Este artigo tem relao direta com duas disposies estatutrias: a) o dispostono art. 40, do ECA, que prev a aplicao da adoo estatutria em se tratandode jovens entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos de idade que poca dopedido respectivo j se encontravam sob a guarda ou tutela dos adotantes (oumelhor, que ao completarem 18 anos de idade se encontravam sob a guarda oututela dos pretendentes adoo, vez que aquelas se extinguem pleno jure como advento da maioridade civil). Em tais casos, o procedimento a ser adotado oregido por esta Lei Especial (arts. 165 a 170, do ECA), e a competncia para oprocesso e julgamento ser da Justia da Infncia e da Juventude (conforme art.148, inciso III, do ECA), tendo ainda como importante reflexo a iseno dopagamento de custas e emolumentos (art. 141, 2, do ECA), e b) o art. 121,5, do ECA, que fixa em 21 (vinte e um) anos o limite etrio da aplicao damedida socioeducativa de internao (que como melhor veremos adiante, emcomentrios ao art. 104, par. nico, do ECA, tambm se estende s demaismedidas socioeducativas, e ainda se encontra em pleno vigor, apesar da reduoda idade da plena capacidade civil pelo art. 5, caput, do CC). Excludas as4 12. hipteses acima referidas, a Lei n 8.069/1990 somente se aplica a crianas eadolescentes, estejam ou no emancipados, embora as polticas pblicas e osprogramas de atendimento a serem desenvolvidos (vide arts. 87, 88, inciso III e90, do ECA), devam tambm contemplar o atendimento de jovens adultos, demodo a evitar que o puro e simples fato de o indivduo completar 18 (dezoito)anos, acarrete seu desligamento automtico dos programas de proteo epromoo social aos quais estava vinculado enquanto adolescente. Nestesentido, vide tambm o disposto na Lei n 11.129/2005, de 30/06/2005, queinstitui o Programa Nacional de Incluso de Jovens - ProJovem, destinado apessoas entre 18 (dezoito) e 24 (vinte e quatro) anos; cria o Conselho Nacionalda Juventude - CNJ e a Secretaria Nacional de Juventude, bem como o dispostono art. 227, da CF (com a redao que lhe deu a Emenda Constitucional n 65,de 13/07/2010), que estende aos jovens maiores de 18 (dezoito) os mesmosdireitos fundamentais assegurados a crianas e adolescentes.Art. 3. A criana e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentaisinerentes pessoa humana [5] , sem prejuzo da proteo integral de que trata estaLei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros, meios, todas as oportunidades efacilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento fsico, mental, moral,espiritual e social, em condies de liberdade e de dignidade [6] .5 Vide art. 5, caput e inciso I, da CF e art. 100, par. nico, incisos I e XII, doECA. Apesar de dizer aparentemente o bvio, o presente dispositivo traz umaimportante inovao em relao sistemtica anterior ao ECA, na medida emque reconhece a criana e o adolescente como sujeitos de direitos, e no merosobjetos da interveno estatal. Tal disposio tambm reflexo do contido noart. 5, da CF/88, que ao deferir a todos a igualdade em direitos e deveresindividuais e coletivos, logicamente tambm os estendeu a crianas eadolescentes. O verdadeiro princpio que o presente dispositivo encerra, temreflexos no apenas no mbito do direito material, mas tambm se aplica naesfera processual, no sendo admissvel, por exemplo, que adolescentesacusados da prtica de atos infracionais deixem de ter fielmente respeitadastodas as garantias processuais asseguradas aos acusados em geral, seja qual forsua idade (vide comentrios aos arts. 106 a 111, do ECA). A condio decrianas e adolescentes como sujeitos de direitos torna ainda obrigatria suaoitiva sempre que em jogo estiver a necessidade de salvaguarda de seusdireitos, seja por parte dos pais ou responsvel, seja por parte do Estado (latosensu), em especial quando da aplicao das medidas de proteo relacionadasno art. 101, do ECA (desde que, logicamente, a criana ou adolescente tenhacondio de exprimir sua vontade), tal qual expresso pelo art. 12, da Convenoda ONU sobre os Direitos da Criana, de 1989 e art. 100, par. nico, inciso XII,do ECA.6 Vide Princpios 1 e 2, da Declarao dos Direitos da Criana, de 1959 e arts.1, 4, 6 e 15 a 18, do ECA.Art. 4. dever da famlia, da comunidade, da sociedade em geral e do PoderPblico [7] assegurar, com absoluta prioridade [8] , a efetivao dos direitosreferentes vida, sade, alimentao, educao, ao esporte, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivnciafamiliar e comunitria [9] .Pargrafo nico. A garantia de prioridade compreende [10] :a) primazia de receber proteo e socorro em quaisquer circunstncias [11] ;b) precedncia do atendimento nos servios pblicos ou de relevncia pblica [12] ;5 13. c) preferncia na formulao e na execuo das polticas sociais pblicas [13] ;d) destinao privilegiada de recursos pblicos nas reas relacionadas com aproteo infncia e juventude [14] .7 O dispositivo, que praticamente reproduz a primeira parte do enunciado do art.227, caput, da CF, procura deixar claro que a defesa dos direitos fundamentaisassegurados criana e ao adolescente, no tarefa de apenas um rgo ouentidade, mas deve ocorrer a partir de uma ao conjunta e articulada entrefamlia, sociedade/comunidade e Poder Pblico (em todas as esferas de governo- cf. arts. 86 e 100, par. nico, inciso III, do ECA). Importante mencionar que,no por acaso, a famlia foi relacionada como a primeira das instituiesconvocadas a atuar na defesa dos direitos de crianas e adolescentes, haja vistaque todo o trabalho desenvolvido em benefcio destes deve ocorrerpreferencialmente no mbito familiar (vide tambm os princpios relacionados noart. 100, par. nico, incisos IX e X, do ECA). Outra tambm no foi a razo de odireito convivncia familiar ter sido expressamente relacionado como um dosdireitos fundamentais a serem assegurados com absoluta prioridade criana eao adolescente (arts. 4, caput c/c 19 e sgts., do ECA e art. 227, da CF), tendo olegislador estatutrio, como resposta ao enunciado do art. 226, caput, da CF,estabelecido inmeros mecanismos de proteo famlia (vide arts. 19, 3, 23,par. nico, 101, inciso IV e 129, incisos I a IV, todos do ECA), que tambm seencontram presentes em outros Diplomas (neste sentido, vide arts. 2, inciso I,primeira parte c/c 23, par. nico, ambos da Lei n 8.742/1993 - LOAS). Sobre odever de toda e qualquer pessoa zelar pelo bem estar e pelo respeito aosdireitos de crianas e adolescentes, vide ainda o disposto nos arts. 18 e 70, doECA.8 A presente disposio legal, tambm prevista no art. 227, caput da CF, encerra oprincpio da prioridade absoluta criana e ao adolescente, que deve nortear aatuao de todos, em especial do Poder Pblico, para defesa dos direitosassegurados a crianas e adolescentes. A clareza do dispositivo em determinarque crianas e adolescentes no apenas recebam uma ateno e um tratamentoprioritrios por parte da famlia, sociedade e, acima de tudo, do Poder Pblico,mas que esta prioridade seja absoluta (ou seja, antes e acima de qualqueroutra), somada regra bsica de hermenutica, segundo a qual a lei nocontm palavras inteis, no d margem para qualquer dvida acerca da reaque deve ser atendida em primeirssimo lugar pelas polticas pblicas e aes degoverno, como alis expressamente consignou o pargrafo nico, do dispositivosub examine. O dispositivo, portanto, estabelece um verdadeiro comandonormativo dirigido em especial ao administrador pblico, que em suas metas eaes no tem alternativa outra alm de priorizar - e de forma absoluta - a reainfanto-juvenil, como vem sendo reconhecido de forma reiterada por nossosTribunais (exemplos dessa jurisprudncia se encontram compilados ao longo dapresente obra). Vide tambm os comentrios ao art. 259, par. nico, do ECA.9 Vide arts. 5, 98, 131, 148, inciso IV, 201, inciso VIII, 208 e 216, do ECA. OTtulo II do ECA (arts. 7 a 69), procura melhor explicitar no que exatamenteconsistem, um a um, os direitos fundamentais aqui relacionados, cuja violao,por ao ou omisso, d ensejo tomada de medidas, de ordem administrativae/ou judicial, para sua efetivao, sem prejuzo da responsabilidade, civil,administrativa e mesmo criminal do agente respectivo.10 De modo a deixar claro o alcance da norma imperativa contida no caput dodispositivo e no art. 227, caput, da CF, o legislador procurou explicitar em que,concretamente, se traduz a garantia de prioridade absoluta criana e aoadolescente, evitando assim maiores controvrsias sobre o tema. A enumerao6 14. do que compreende a garantia de prioridade absoluta, no entanto, meramenteexemplificativa.11 Vide Princpio 8, da Declarao dos Direitos da Criana, de 1959. Em caso deacidentes e catstrofes naturais, portanto, os primeiros a serem socorridos ereceberem cuidados mdicos devem ser as crianas e os adolescentes, inclusivedada presuno legal de que, sozinhos, estes no tm condies de se proteger.O teor do dispositivo ainda reforado pelo disposto nos arts. 4, 5, 18 e 70,do ECA e 227, caput, da CF, que impem a todos o dever de colocar crianas eadolescentes a salvo de qualquer perigo.12 Vide art. 259, par. nico, do ECA. Todos os servios pblicos ou de relevnciapblica devem se adequar ao atendimento prioritrio (e em regime de prioridadeabsoluta) a crianas e adolescentes, para tanto melhor organizando asestruturas j existentes e/ou criando novas, contratando e capacitando pessoaletc. Esse tratamento especial (e preferencial) visa evitar que os interesses decrianas e adolescentes caiam na vala comum dos demais atendimentos ou - oque pior - sejam relegados ao segundo plano, como usualmente ocorre. Comoresultado, servios pblicos como os CREAS/CRAS e CAPS devem disponibilizarum atendimento diferenciado e prioritrio para crianas, adolescentes e suasrespectivas famlias, de modo que os exames, percias, avaliaes e sesses quese fizerem necessrias sejam realizados com o mximo de celeridade, porintermdio de uma equipe interprofissional habilitada (a interdisciplinariedade eo profissionalismo so da essncia da sistemtica de atendimento preconizadapela Lei n 8.069/1990), e que o tratamento recomendado seja iniciado deimediato, com o acompanhamento devido, at a efetiva (e definitiva) soluo doproblema respectivo (que, desnecessrio dizer, o objetivo precpuo dainterveno realizada). O atendimento de crianas, adolescentes e suasrespectivas famlias prestado pelos CREAS/CRAS, CAPS ou por qualquer outroservio pblico, portanto, deve primar pela celeridade e pela especializao, nosendo admissvel, por exemplo, que sejam aqueles submetidos mesmaestrutura e sistemtica destinada ao atendimento de outras demandas, de modoa aguardar no mesmo local e nas mesmas filas que estas a realizao deexames ou tratamento, mxime por tcnicos que no possuam a qualificaoprofissional devida. Os problemas enfrentados por crianas e adolescentes nopodem esperar, devendo ser enfrentados e solucionados com o mximo deurgncia possvel, evitando assim o agravamento da situao e dos prejuzos poraqueles suportados, sendo certo que a omisso do Poder Pblico os coloca emgrave situao de risco (cf. art. 98, inciso I, do ECA), tornando o agente pblicoresponsvel passvel de punio (cf. art.5 c/c arts.208 e 216, do ECA). Se jno bastasse tal constatao, a necessidade de um atendimento diferenciadotambm abrange o espao fsico onde este deve ser prestado, no apenas paratornar o ambiente mais agradvel e propcio ao acolhimento de crianas eadolescentes (estimulando seu retorno, nos casos de exames mltiplos ou de umtratamento prolongado), mas tambm para coloc-los a salvo de situaespotencialmente vexatrias ou constrangedoras, que podem resultar da utilizaodo mesmo local destinado ao atendimento de outras demandas. No que dizrespeito atuao do Poder Judicirio (que logicamente tambm est sujeito aeste princpio), vide art. 152, par. nico e comentrios aos arts. 146 e 198,inciso III, do ECA.13 Vide art. 87, incisos I e II, 101, 112 e 129, do ECA. A garantia de prioridadeabsoluta criana e ao adolescente j comea quando da elaborao daspolticas sociais bsicas (sade, educao, habitao, saneamento etc.), a teordo disposto no art. 87, inciso I, do ECA, passando pelas polticas de assistnciasocial (cf. art. 87, inciso II, do ECA e arts. 2 e 23, da LOAS), polticas deproteo especial (incluindo a preveno) e socioeducativas (cf. arts. 101, 112 e129, do ECA). Mais uma vez devemos nos reportar ao art. 259, par. nico do7 15. ECA, cabendo ao Poder Pblico efetuar a adequao dos programas e servios jexistentes (sem prejuzo da obrigatria implementao de outros), aoatendimento preferencial e prioritrio populao infanto-juvenil, conformeprevisto nos citados art. 227, caput, da CF e art. 4, caput, do ECA. Importantemencionar que, face o princpio jurdico-constitucional da prioridade absoluta criana e ao adolescente, o administrador pblico (que na forma do art. 37, daCF, est vinculado ao princpio da legalidade) fica obrigado a implementar assupramencionadas polticas pblicas destinadas garantia da plena efetivaodos direitos infanto-juvenis assegurados pela lei e pela Constituio Federal, nopodendo invocar seu suposto poder discricionrio para privilegiar rea diversa,no amparada por semelhante mandamento constitucional. Neste sentido, eapenas a ttulo de exemplo, vale transcrever o seguinte aresto, dentre tantosoutros de teor semelhante contidos ao longo da presente obra: RECURSOESPECIAL. AO CIVIL PBLICA. MATRCULA E FREQUNCIA DE MENORES DEZERO A SEIS ANOS EM CRECHE DA REDE PBLICA MUNICIPAL. DEVER DOESTADO. 1. Hiptese em que o Ministrio Pblico do Estado de So Paulo ajuizouAo Civil Pblica com o fito de assegurar a matrcula de duas crianas emcreche municipal. O pedido foi julgado procedente pelo Juzo de 1 grau, porma sentena foi reformada pelo Tribunal de origem. 2. Os arts. 54, IV, 208, III, e213 da Lei 8.069/1990 impem que o Estado propicie s crianas de at 6 (seis)anos de idade o acesso ao atendimento pblico educacional em creche e pr-escola. 3. legtima a determinao da obrigao de fazer pelo Judicirio paratutelar o direito subjetivo do menor a tal assistncia educacional, no havendofalar em discricionariedade da Administrao Pblica, que tem o dever legal deassegur-lo. Precedentes do STJ e do STF. 4. Recurso Especial provido. (STJ. 2T. R.Esp. n 511645/SP. Rel. Min. Herman Benjamin. J. em 18/08/2009).14 Vide art. 227, caput da CF e arts. 90, 2, 100, par. nico, inciso III e 260, 5,do ECA. O cumprimento deste verdadeiro comando normativo, decorrente doprincpio constitucional da prioridade absoluta criana e ao adolescente, exigea adequao dos oramentos pblicos dos diversos entes federados snecessidades especficas da populao infanto-juvenil, atravs da previso dosrecursos indispensveis implementao de polticas bsicas (art. 87, inciso I doECA), polticas e programas de assistncia social (art. 87, inciso II, do ECA) eprogramas de preveno, proteo especial e socioeducativos (arts. 88, inciso IIIc/c 90, 101, 112 e 129, todos do ECA), com foco prioritrio no atendimento decrianas, adolescentes e suas respectivas famlias. Os oramentos dos diversosrgos pblicos (cf. art. 90, 2, do ECA) devem contemplar os planos de ao ede aplicao de recursos destinados criao, manuteno e ampliao de umarede de proteo criana e ao adolescente, nos moldes do que for deliberadopelos Conselhos de Direitos da Criana e do Adolescente (art. 88, inciso II, doECA e arts. 227, 7 c/c 204, da CF), de acordo com as demandas e prioridadesapuradas junto aos Conselhos Tutelares (art. 136, inciso IX, do ECA), Justia daInfncia e da Juventude e demais rgos de defesa dos direitos infanto-juvenis,bem como aquelas apontadas nas Conferncias dos Direitos da Criana e doAdolescente, periodicamente realizadas. No Paran, vide ainda o disposto naResoluo n 14/2009, de 30/07/2009 e a Instruo Normativa n 36/2009, de27/08/2009, ambas do Tribunal de Contas do Estado do Paran, relativas aosprocedimentos a serem observados pelas administraes municipais paracomprovao do efetivo respeito ao aludido princpio constitucional da prioridadeabsoluta criana e ao adolescente, determinando sejam identificadas asdespesas com aes, programas e servios voltados ao atendimento dapopulao infanto-juvenil em sede de previso e execuo oramentrias,inclusive sob pena de desaprovao das contas prestadas. Vale dizer que, face oprincpio jurdico-constitucional da prioridade absoluta criana e aoadolescente, o administrador pblico (que na forma do art. 37, da CF, estvinculado ao princpio da legalidade) fica obrigado a destinar, no oramento8 16. pblico, os recursos necessrios implementao das supramencionadaspolticas pblicas destinadas garantia da plena efetivao dos direitos infanto-juvenis assegurados pela lei e pela Constituio Federal, no podendo invocarseu suposto poder discricionrio para privilegiar rea diversa, no amparadapor semelhante mandamento constitucional. Neste sentido, e apenas a ttulo deexemplo, vale transcrever o seguinte aresto, dentre tantos outros de teorsemelhante contidos ao longo da presente obra: AO CIVIL PBLICA. INPCIAPODER DISCRICIONRIO DA ADMINISTRAO PBLICA. DESCUMPRIMENTOORAMENTRIO. A pea vestibular do processo e muito clara e precisa aoindicar que pleiteia a formao de estrutura suficiente para concretizao dosprogramas regionalizados de atendimento ao menor infrator, privado deliberdade. Apresenta, inclusive, mincias sobre a postulao. Invoca o ECA, paraamparar o pedido. Ademais, a matria focada na preliminar, se confunde com omrito. No h um laivo sequer de afronta ou negao ao poder discricionrio daadministrao pblica, mas simples exigncia do cumprimento da lei.Discricionariedade administrativa jamais poder ser confundida comarbitrariedade at irresponsabilidade. Para ela existe o controle das leis. Opoder judicirio, no estrito cumprimento de sua funo, estabelecida pela leiestadual acima mencionada, tomou todas as medidas cabveis e colocou empleno funcionamento aqueles juizados regionais. A administrao pblicaestadual, de sua parte, no proporcionou as condies necessrias eimprescindveis, para viabilizar que as decises desses juizados pudessem sercumpridas adequadamente. Sentena mantida. Recurso improvido. (TJRS. 8 C.Cv. Ac. n 595133596. Rel. Des. Jos Ataides Siqueira Trindade J. em18/03/1999).Art. 5. Nenhuma criana ou adolescente ser objeto de qualquer forma denegligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso [15] ,punido na forma da lei qualquer atentado, por ao ou omisso, aos seus direitosfundamentais [16] .15 Trata-se do desdobramento do contido no art. 227, caput, da CF e arts. 34 e 36,da Conveno da ONU sobre os Direitos da Criana, de 1989. Vide tambm arts.18 e 70, do ECA, que impem a todos o dever de velar pelos direitosassegurados a crianas e adolescentes, auxiliando no combate a todas as formasde violncia, negligncia ou opresso.16 Vide Princpios 9, primeira parte e 10, da Declarao dos Direitos da Criana,de 1959; arts. 2, n 2, 19 e 36, da Conveno da ONU sobre os Direitos daCriana, de 1989; arts. 208 e par. nico, 216, 228 a 244-A e 245 a 258-B, doECA. O ECA relaciona inmeras condutas atentatrias aos direitos de crianas eadolescentes que, se praticadas, podem caracterizar crimes (arts. 228 a 244-A)e outras que constituem as chamadas infraes administrativas (arts. 245 a258-B). Ainda segundo os arts. 5 c/c 208, caput e par. nico do ECA, aviolao, por ao ou omisso, dos direitos infanto-juvenis, pode levar responsabilidade civil e administrativa do agente respectivo, cuja apurao deveser inclusive provocada pela autoridade judiciria que impuser condenao aoPoder Pblico, ex vi do disposto no art. 216 do ECA. A defesa dos direitosinfanto-juvenis, na forma da lei, deve ser proporcionada tanto pelos seus pais ouresponsvel legal (vide comentrios ao art. 129, do ECA), quanto por qualquercidado (cf. arts. 18 e 70, do ECA). Existem, no entanto, rgos oficiais quepossuem tal incumbncia de forma mais especfica (como os Conselhos deDireitos da Criana e do Adolescente - art. 88, inciso II, do ECA, ConselhosTutelares - art. 131, do ECA e Ministrio Pblico - art. 201, do ECA). Para defesados direitos infanto-juvenis no plano judicial, vide arts. 141, 142, 148, inciso IV,201, incisos III, V, VIII, IX, X e XI, e 210, todos do ECA. Vide tambm art. 227,4, da CF e art. 98, incisos I e II, do ECA. Ainda sobre a matria, vide o9 17. Decreto n 6.230/2007, de 11/10/2007, que estabelece o compromisso pelareduo da violncia contra crianas e adolescentes, com vista implementaode aes de promoo e defesa dos direitos da criana e do adolescente, porparte da Unio Federal, em regime de colaborao com Municpios, Estados eDistrito Federal, institui o Comit Gestor de Polticas de Enfrentamento Violncia contra Criana e Adolescente, e d outras providncias; e tambm oDecreto n 6.231/2007, de 11/10/2007, que institui o Programa de Proteo aCrianas e Adolescentes Ameaados de Morte - PPCAAM.Art. 6. Na interpretao desta Lei levar-se-o em conta os fins sociais e a que elase dirige, as exigncias do bem comum, os direitos e deveres individuais ecoletivos, e a condio peculiar da criana e do adolescente como pessoas emdesenvolvimento [17] .17 O presente dispositivo, que guarda alguma semelhana com o contido no art. 5da Lei de Introduo ao Cdigo Civil (Dec. Lei n 4.657/1942), traz umaimportante regra de interpretao, que por sua vez deve ser analisada emconjunto com os arts. 1, 5 e 100 caput e par. nico (notadamente seu incisoII), do ECA. Como resultado, reputa-se inadmissvel que qualquer dasdisposies estatutrias seja interpretada - e muito menos aplicada - emprejuzo das crianas e/ou adolescentes que, em ltima anlise, so asdestinatrias da norma e da integral proteo por parte do Poder Pblico(inclusive do Poder Judicirio). Vide tambm art. 121, caput, terceira parte, doECA. Neste sentido: ESTATUTO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE -INTERPRETAO. O Estatuto da Criana e do Adolescente h de ser interpretadodando-se nfase ao objetivo visado, ou seja, a proteo e a integrao do menorno convvio familiar e comunitrio, preservando-se-lhe, tanto quanto possvel, aliberdade. ESTATUTO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE - SEGREGAO. O atode segregao, projetando-se no tempo medida de internao do menor, surgeexcepcional, somente se fazendo alicerado uma vez atendidos os requisitos doartigo 121 da Lei n 8.069/90. (STF. 1 T. HC n 88945/SP. Rel. Min. MarcoAurlio Melo. J. em 04/03/2008).TTULOII - DOSDIREITOS FUNDAMENTAISCAPT U L O I - DO DIREIT O VID A E SA D E [18]Art. 7. A criana e o adolescente tm direito a proteo vida e sade, mediantea efetivao de polticas sociais pblicas [19] que permitam o nascimento e odesenvolvimento sadio e harmonioso, em condies dignas de existncia [20] .18 Vide Princpios 4 e 5, da Declarao dos Direitos da Criana, de 1959; arts. 6e 24, da Conveno da ONU sobre os Direitos da Criana, de 1989; arts. 196 a200 e 227, 1, da CF e art. 77, do Ato das Disposies ConstitucionaisTransitrias. Vide tambm Lei n 8.080/1990, de 19/09/1990, que dispe sobreas condies para a promoo, proteo e recuperao da sade, a organizaoe o funcionamento dos servios correspondentes e d outras providncias e Lein 8.142/1990, de 28/12/1990, que dispe sobre a participao da comunidadena gesto do Sistema nico de Sade (SUS) e sobre as transfernciasintergovernamentais de recursos financeiros na rea da sade e d outrasprovidncias. Ainda sobre a matria, vide Portaria n 3.277/2006/GM/MS, de22/12/2006, que dispe sobre a participao complementar dos serviosprivados de assistncia sade no mbito do Sistema nico de Sade e Portarian 2.048/2009, de 03/09/2009, que aprova o Regulamento do Sistema nico deSade.10 18. 19 Vide arts. 4, caput e par. nico, alneas b, c e d, e 87, inciso I, do ECA. OPoder Pblico, em todos os nveis (municipal, estadual e Federal), tem o deverde desenvolver polticas pblicas voltadas proteo integral da sade decrianas e adolescentes, em regime da mais absoluta prioridade. Para tanto,deve prever os recursos necessrios diretamente junto ao oramento dos rgospblicos encarregados da sade, que por fora do disposto no art. 198, da CF(com a nova redao que lhe deu a Emenda Constitucional n 29/2000, de13/09/2000), devem ser contemplados com determinados percentuais mnimosdo produto da arrecadao dos impostos, hoje (e at a promulgao da LeiComplementar a que se refere o 3, do citado dispositivo constitucional) fixadospelo art. 77, do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias. Os referidosrecursos oramentrios devem ser utilizados tanto para implementao dapoltica social bsica de sade, cujo planejamento e aes priorizem crianas eadolescentes, quanto para as polticas de proteo especial correlatas, como ocaso de programas de orientao e tratamento psicolgico e psiquitrico,preveno e tratamento para drogadio etc., nos moldes do previsto nos arts.101, incisos V e VI e 129, incisos II, III e IV, do ECA. Sobre a matria, valetranscrever o seguinte aresto: APELAO CVEL. AO CIVIL PBLICA.ORAMENTO ESTADUAL. SADE PBLICA. APLICAO DE PERCENTUALMNIMO. REGRA CONSTITUCIONAL. APLICAO IMEDIATA. DESNECESSIDADEDE REGULAMENTAO. 1. A norma constitucional determinou a aplicao de ummnimo, de doze por cento do produto da arrecadao dos impostos a que serefere o artigo 155 e dos recursos de que tratam os artigos 157 e 159, inciso I,alnea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aosrespectivos Municpios. 2. Em se tratando de direito fundamental, a regra queestabelece um gasto mnimo tambm ostenta a mesma natureza fundamental,e, como tal, tem aplicabilidade imediata. 3. No possvel restringir direitosfundamentais, como tambm no se pode interpretar um direito fundamental demaneira restritiva. Em outras palavras, normas constitucionais devem serinterpretadas luz do princpio da mxima eficincia. Apelao Cvel provida.Maioria. (TJPR. 5 C. Cv. Ac. n 567006-8. Rel. Des. Rosene Aro de CristoPereira. J. em 01/09/2009).20 Vide arts. 17, 18, 101, incisos V e VI, 112, 3 e 129, incisos II e III, c/c art.208, inciso VII, todos do ECA, bem como art. 227, 1 e 3, inciso VII, da CF.Art. 8. assegurado gestante [21] , atravs do Sistema nico de Sade [22] , oatendimento pr e perinatal [23] . 1. A gestante ser encaminhada aos diferentes nveis de atendimento, segundocritrios mdicos especficos, obedecendo-se aos princpios de regionalizao ehierarquizao do Sistema [24] . 2. A parturiente ser atendida preferencialmente pelo mesmo mdico que aacompanhou na fase pr-natal [25] . 3. Incumbe ao Poder Pblico propiciar apoio alimentar gestante e nutriz quedele necessitem [26] . 4. Incumbe ao poder pblico proporcionar assistncia psicolgica gestante e me, no perodo pr e ps-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar asconsequncias do estado puerperal [27] . 5. A assistncia referida no 4 deste artigo dever ser tambm prestada agestantes ou mes que manifestem interesse em entregar seus filhos paraadoo [28] .11 19. 21 Vide art. 226, 7 e 8, da CF; art. 2, do CC e Portaria n 426/2005/MS, de22/03/2005, que institui, no mbito do SUS, a Poltica Nacional de AtenoIntegral em Reproduo Humana Assistida e d outras providncias.Interessante observar a preocupao do legislador em garantir o bem estar dofeto, atravs do cuidado prestado me, que deve ocorrer tanto no plano fsicoquanto emocional, comeando j pelo planejamento familiar, valendo sobre amatria observar o disposto na Lei n 9.263/2003, de 12/01/2003, que regula oart. 226, 7, da CF.22 Vide art. 198, da CF e art. 4, da Lei n 8.080/1990, de 19/09/1990 e Portarian 2.048/2009/MS.23 No estado do Paran, a Lei Estadual n 14.523/2004, de 26/10/2004, assegura gestante o direito de realizao de exames de deteco do HIV durante o pr-natal e/ou parto, bem como, em sendo positivada a enfermidade, o direito aacompanhamento especializado. A referida lei tambm assegura a crianasrecm-nascidas, de mes portadoras de HIV, direito assistncia adequada queinclua: investigao diagnstica e monitoramento para HIV at o segundo ano devida; garantia de fornecimento de frmula infantil para alimentao at o sextoms de vida, bem como o uso correto de teraputica anti-retroviral conformeindicao mdica.24 Vide Lei n 8.080/1990, de 19/09/1990.25 Vide Lei n 11.634/2007, de 27/12/2007, que dispe sobre o direito da gestanteao conhecimento e a vinculao maternidade onde receber assistncia nombito do Sistema nico de Sade.26 Vide art. 203, inciso I, da CF; art. 87, inciso II, do ECA e art. 2, inciso I, da Lein 8.742/1993 (Lei Orgnica da Assistncia Social - LOAS). Vide tambm odisposto na MP n 2.206-1/2001 (Cria o Programa Nacional de Renda Mnimavinculado sade: Bolsa-Alimentao e sua regulamentao pelo Decreto n3.934/2001), Lei n 11.265/2006, de 03/01/2006, que regulamenta acomercializao de alimentos para lactentes e crianas de primeira infncia e Lein 11.346/2006, de 15/09/2006, que cria o Sistema Nacional de SeguranaAlimentar e Nutricional - SISAN com vistas em assegurar o direito humano alimentao adequada e d outras providncias. Sem prejuzo do auxlio oficial, tambm possvel gestante pleitear alimentos junto ao pai da criana, nosmoldes do previsto na Lei n 11.804/2008, de 05/11/2008, que disciplina odireito a alimentos gravdicos e a forma como ele ser exercido e d outrasprovidncias. De acordo com a referida lei, a gestante pode pleitear do supostopai de seu filho as verbas necessrias ao custeio das despesas adicionais doperodo de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepo ao parto,inclusive as referentes a alimentao especial, assistncia mdica e psicolgica,exames complementares, internaes, parto, medicamentos e demaisprescries preventivas e teraputicas indispensveis, a juzo do mdico, almde outras que o juiz considere pertinentes.27 Acrescido pela Lei n 12.010/2009, de 03/08/2009. O objetivo da norma identificar e tratar, com a devida antecedncia, casos de gestantes e mes que,por apresentarem distrbios de ordem psicolgica, que acabam por rejeitar seusfilhos e, em situaes extremas, podem levar a seu abandono e mesmo prticade infanticdio (este como decorrncia do estado puerperal), conforme previstono art. 123, do CP.28 Acrescido pela Lei n 12.010/2009, de 03/08/2009. Vide arts. 226, caput e 7e 8, da CF; arts. 13, par. nico e 19 e sgts., do ECA e Lei n 8.560/1992, de29/12/1992 (Averiguao Oficiosa de Paternidade). A assistncia psicolgica emtais casos visa, num primeiro momento, fazer com que a gestante reflita melhoracerca de seu intento de entregar seu filho para adoo (afinal, o direito queest em causa - o direito convivncia familiar - tem como titular a criana, e12 20. na forma da lei deve ser exercido preferencialmente no seio de sua famlianatural ou extensa - cf. art. 19 e sgts., do ECA), devendo ser acompanhada deorientao acerca das consequncias do ato (cf. arts. 100, par. nico, incisos X eXI; art. 166, 2 e art. 6, do ECA) e do fato de em jogo estar o direito dacriana em saber de sua origem biolgica (cf. art. 48, do ECA), inclusive quanto sua paternidade (que pode ser objeto de demanda especfica, manejada, senecessrio, pelo Ministrio Pblico, nos moldes do previsto na Lei n8.560/1992). Caso a me esteja decidida a promover a entrega de seu filho paraadoo, deve ser orientada a proceder na forma da lei, devendo serencaminhada Justia da Infncia e da Juventude (cf. art. 13, par. nico, doECA), sob pena da prtica da infrao administrativa prevista no art. 258-B, doECA.Art. 9. O Poder Pblico, as instituies e os empregadores propiciaro condiesadequadas ao aleitamento materno [29] , inclusive aos filhos de mes submetidas amedida privativa de liberdade [30] .29 Vide arts. 389, 1 e 396, caput e par. nico, todos da Consolidao das Leis doTrabalho - CLT. O aleitamento materno, cujos benefcios para as crianas, aomenos at o sexto ms de vida, dispensam comentrios, deve ser estimulado,atravs de campanhas de orientao (cf. art. 129, inciso IV, do ECA). A CLTprev, em seu art. 389, 1 e 2, que os estabelecimentos em que trabalharempelo menos 30 (trinta) mulheres com mais de 16 (dezesseis) anos de idade,devero ter local apropriado onde seja permitido s empregadas guardar sobvigilncia os seus filhos no perodo de amamentao. Tal exigncia poder sersuprida por meio de creches, mantidas diretamente pela empresa ou medianteconvnios com outras entidades pblicas ou privadas, em regime comunitrio,ou a cargo do SESI, do SESC ou de entidades sindicais. Sobre creches, videcomentrios ao art. 54, inciso IV, do ECA.30 Vide art. 5, inciso L, da CF e art. 89, da Lei n 7.210/1984 (Lei de ExecuoPenal).Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de ateno sade de gestantes,pblicos e particulares, so obrigados [31] a:I - manter registro das atividades desenvolvidas, atravs de pronturios individuais,pelo prazo de dezoito anos [32] ;II - identificar o recm-nascido mediante o registro de sua impresso plantar edigital e da impresso digital da me, sem prejuzo de outras formas normatizadaspela autoridade administrativa competente [33] ;III - proceder a exames visando ao diagnstico e teraputica de anormalidades nometabolismo do recm-nascido [34] , bem como prestar orientao aos pais [35] ;IV - fornecer declarao de nascimento onde constem necessariamente asintercorrncias do parto e do desenvolvimento do neonato [36] ;V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanncia junto me [37] .31 Vide arts. 4 e 5, do ECA. So aqui estabelecidas algumas obrigaesespecficas aos estabelecimentos de ateno sade de gestantes, pblicos eparticulares, cujo descumprimento pode trazer consequncias nas esferas civil,administrativa e mesmo criminal.32 Vide art. 228 do ECA - a omisso do registro, em tese, caracteriza crime.13 21. 33 A norma visa impedir a ocorrncia de troca de bebs ou mesmo a subtrao deincapazes, no mbito dos estabelecimentos de ateno sade. Em ocorrendoqualquer destas situaes, surge o dever de indenizar a(s) famlia(s)prejudicada(s). Neste sentido: APELAO CVEL. AO DE INDENIZAO. DANOMORAL. TROCA DE BEBS NO HOSPITAL EM SEGUIDA AO NASCIMENTO.NEGLIGNCIA DA INSTITUIO. DANO MORAL CARACTERIZADO. INDENIZAODEVIDA. Restando comprovada a troca dos bebs e o nexo de causalidade entreo ato e o sofrimento suportado pelas vtimas, devida a indenizao. (TJMG. 12C. Cv. Ap. Cv. n 2.0000.00.489705-8/000. Rel. Des. Jos Flvio de Almeida. J.em 17/01/2007). No Paran, foi editada a Lei Estadual n 14.991/2006, de06/01/2006, dispondo sobre adoo de medidas de segurana, pelos hospitais,casas de sade e maternidades, que evitem, impeam ou dificultem a troca derecm-nascidos em suas dependncias, tornando obrigatrio: I - a utilizao depulseiras de identificao numeradas para me e filho na sala de parto; II - autilizao de grampo umbilical enumerado com o nmero correspondente ao dapulseira; III - a utilizao de kit de coleta de material gentico de todas as mese filhos ali internados, coletados na sala de parto para arquivamento na unidadede sade a disposio da Justia, e IV - a apresentao do devido registro denascimento quando da sada do recm-nascido da instituio, bem como aidentificao dos responsveis pela liberao em livro de controle fornecido peloestabelecimento (cf. art. 2, do referido Diploma Legal). A falta da corretaidentificao do recm-nascido e sua me, em tese, caracteriza o crime tipificadono art. 229 do ECA.34 Vide Portaria n 1.069/2002/GM, de 05/06/2002, que cria o mecanismo queregulamenta o tratamento da fenilcetonria, do hipotireoidismo congnito e daanemia falciforme. O mais conhecido dos exames realizados para deteco detais doenas o teste do pezinho. No Estado do Paran, a Lei Estadual n14.588/2004, de 14/12/2004, estabelece ainda a obrigatoriedade da realizaodo exame para diagnstico precoce de surdez nos bebs nascidos nasmaternidades e estabelecimentos hospitalares pblicos e privados do Estado(exame de Emisses Otoacsticas Evocadas, mais conhecido por Teste daOrelhinha), a Lei Estadual n 14.601/2004, de 28/12/2004, estabelece aobrigatoriedade do exame de diagnstico clnico de catarata congnita em todasas crianas nascidas nos mesmos estabelecimentos de sade, atravs da tcnicaconhecida como reflexo vermelho (tambm chamado Teste do Olhinho,regulamentado pela Resoluo n 367/2009/SESA), e a Lei Estadual n15.360/2006, de 17/12/2006, dispe que as maternidades e estabelecimentoshospitalares congneres do Estado ficam obrigados a encaminhar, para examede diagnstico de retinoblastoma, todas as crianas nascidas em suasdependncias. Consta que o exame ser orientado pelo pediatra e realizado pelooftalmologista. Os resultados positivos de retinoblastoma, sero encaminhadospara tratamento, para em prazo no superior a 30 (trinta) dias.35 A no realizao dos exames a que se refere o dispositivo, em tese, caracteriza ocrime tipificado no art. 229 do ECA.36 O no fornecimento - gratuito - da declarao de nascimento (que ser inclusiveutilizada para fins de registro civil da criana), em tese, caracteriza o crimetipificado no art. 228 do ECA.37 Vide art. 12, do ECA e art. 19-J, da Lei n 8.080/1990, de 19/09/1990, com aredao que lhe deu a Lei n 11.108/2005, de 07/04/2005, segundo o qual: osservios de sade do Sistema nico de Sade - SUS, da rede prpria ouconveniada, ficam obrigados a permitir a presena, junto parturiente, de 1(um) acompanhante durante todo o perodo de trabalho de parto, parto e ps-parto imediato, incumbindo parturiente a indicao deste acompanhante (cf.14 22. 1, do referido dispositivo). No mesmo sentido, vide Portaria n 2.418/2005, de02/12/2005, do Ministrio da Sade.Art. 11. assegurado atendimento integral sade da criana e do adolescente,por intermdio do Sistema nico de Sade, garantido o acesso universal eigualitrio s aes e servios para promoo, proteo e recuperao dasade [38] . 1. A criana e o adolescente portadores de deficincia recebero atendimentoespecializado [39] . 2. Incumbe ao Poder Pblico fornecer gratuitamente queles que necessitaremos medicamentos, prteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitao oureabilitao [40] .38 Artigo com redao dada pela Lei n 11.185/2005, de 07/10/2005. Vide arts. 4,caput e par. nico, alnea b (precedncia de atendimento), do ECA, bem comoarts. 196 e sgts. c/c 227, caput e 1, da CF. Vide tambm Resoluo n41/1995, do CONANDA e Lei n 10.216/2001, de 06/04/2001, assim comoPortarias ns 336/2002/GM, de 19/02/2002 e 245/2005/GM, de 17/02/2005,que dispem sobre os Centros de Ateno Psicossocial - CAPs. A previso deacesso igualitrio s aes e servios de sade no significa deva o gestor doSistema de Sade deixar de disponibilizar um atendimento diferenciado eespecializado a crianas, adolescentes e suas respectivas famlias. Com efeito,necessrio se faz o desenvolvimento de uma metodologia prpria para oenfrentamento das diversas demandas e situaes peculiares que iro ocorrer,tendo sempre por norte o princpio da proteo integral criana e aoadolescente, que se constitui na razo de ser da interveno estatal. Talsistemtica diferenciada dever necessariamente contemplar instalaes fsicasadequadas, em local diverso (ou isolado) daquele destinado ao atendimento dasoutras demandas a cargo do SUS, de modo a preservar a imagem, a identidadee a intimidade das crianas e adolescente atendidas (cf. arts. 17 e 18, do ECA),a qualificao profissional de todos aqueles que atuam no setor, a articulao deaes com outros rgos e servios municipais (como o CREAS/CRAS), bemcomo autoridades encarregadas do atendimento e/ou defesa dos direitos decrianas e adolescentes, como o Conselho Tutelar, o Ministrio Pblico, a Justiada Infncia e da Juventude, os rgos policiais encarregados de atendimento decrianas e adolescentes vtimas de crime, bem como de adolescentes acusadosda prtica de ato infracional etc.39 Vide Princpio 5, da Declarao dos Direitos da Criana, de 1959; arts. 24 e 25,da Conveno da ONU sobre os Direitos da Criana, de 1989 e art. 227, 1,inciso II, da CF. No mesmo sentido, dispe o art. 112, 3, do ECA. Videtambm o Dec. Legislativo n 186/2008, de 09/07/2008, que aprova o texto daConveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia e de seu ProtocoloFacultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de maro de 2007 e Decreto n6.949/2009, de 25/08/2009, que a promulga; Lei n 10.048/2000, de08/11/2000, que d prioridade de atendimento s pessoas que especifica; Lei n10.098/2000, de 19/12/2000, que estabelece normas gerais e critrios bsicospara a promoo da acessibilidade das pessoas portadoras de deficincia ou commobilidade reduzida, bem como Decreto n 5.296/2004 de 02/12/2004, que aambas regulamenta, e Lei n 11.133/2005, de 14/07/2005, que institui o dia 21de setembro como o Dia Nacional de Luta da Pessoa Portadora de Deficincia.No Paran, vide tambm o disposto na Lei Estadual n 15.984/2008, de27/11/2008, que dispe que os hospitais e maternidades estaduais prestaroassistncia especial s parturientes cujos filhos recm-nascidos apresentem15 23. qualquer tipo de deficincia crnica que implique tratamento continuado,constatado durante o perodo de internao para o parto, conforme especifica.40 Vide Portaria n 1.820/2009/GM, de 13/08/2009, que dispe sobre os direitos edeveres dos usurios da sade, incluindo o fornecimento de medicamentos e dotratamento que necessitar. Vide tambm arts. 4, par. nico, alneas b e c e259, par. nico, do ECA, relativo ao atendimento prioritrio que deve serdispensado a crianas e adolescentes. A responsabilidade dos Entes Federadospela plena efetivao do direito sade de crianas e adolescentes (o queabrange o custeio de tratamento em outros municpios/estados ou mesmoentidades particulares, se no disponvel o equipamento pblicocorrespondente), solidria, nos moldes do previsto no art. 100, par. nico,inciso III, do ECA. Neste sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ECA.INTERNAO POR DROGADIO. ILEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICPIO.DESCABIMENTO. Em se tratando de pedido de internao compulsria deadolescente para tratamento de drogadio severa, existe solidariedade passivaentre a Unio, os Estados e os Municpios, cabendo ao necessitado escolherquem dever lhe fornecer o tratamento pleiteado. O fornecimento de tratamentomdico ao menor, cuja famlia no dispe de recursos econmicos, independe depreviso oramentria, tendo em vista que a Constituio Federal, ao assentar,de forma cogente, que os direitos das crianas e adolescentes devem sertratados com prioridade, afasta a alegao de carncia de recursos financeiroscomo justificativa para a omisso do Poder Pblico. Aplica-se o Princpio daReserva do Possvel quando demonstrada a carncia oramentria do PoderPblico e o atendimento solicitado (tratamento mdico) no se enquadra entreos casos de extrema necessidade e urgncia. RECURSO DESPROVIDO. (TJRS. 8C. Cv. A.I. n 70027420009. Rel. Des. Claudir Fidelis Faccenda. J. em24/11/2008); REEXAME NECESSRIO. AO CIVIL PBLICA COM PEDIDO DEANTECIPAO DE TUTELA. Estado condenado a prestar acesso e o servio desade a menor em outra unidade da Federao. Sentena monocrticaconfirmada. dever do Estado custear as despesas para tratamento mdico emoutra Unidade da Federao quando no proporciona, em seu territrio, otratamento requerido pelo menor, pois cabe-lhe assegurar o direito vida e sade de todos, em especial, criana e ao adolescente, nos termos dos arts.196 e 227 da Constituio Federal c/c os arts. 4, 7 e II, do Estatuto da Crianae do Adolescente, e arts. 135 e 138 da Constituio Estadual. (TJPR. C.M. Reex.Necess. n 004/01. Rel. Des. Roberio Nunes. Publ. DJ de 16/05/2001, pg. 03);e APELAO. ECA. SADE. FORNECIMENTO DE CADEIRA DE RODAS. Ne-cessidade. A necessidade do tratamento vem comprovada atravs de laudosmdicos, onde consta que a menor portadora de Paralisia Cerebral do tipoTetraparesia Espstica Moderada (CID G80) e que necessita fazer uso de cadeirade rodas especial (Star Juvenil 36 cm Baxmann Jaguaribe) em face do seu de-ficitrio controle de tronco e cervical. Pedido Administrativo e interesse de agir.A inafastabilidade do controle jurisdicional, afirmada no inciso XXXV, do artigo5, da Constituio da Repblica, assegura o acesso justia,independentemente de esgotamento ou provocao da via administrativa, salvoexceo do 1, do artigo 217, da mesma Constituio. Direito Sade,Separao de Poderes e Princpio da Reserva do Possvel. A condenao doPoder Pblico para que fornea tratamento mdico ou medicamento criana eao adolescente, encontra respaldo na Constituio da Repblica e no Estatuto daCriana e do Adolescente. Em razo da proteo integral constitucionalmenteassegurada criana e ao adolescente, a condenao dos entes estatais aoatendimento do direito fundamental sade no representa ofensa aosprincpios da separao dos poderes, do devido processo legal, da legalidade ouda reserva do possvel. Direito, Poltica e Indisponibilidade Oramentria. A faltade previso oramentria do estado para fazer frente s despesas comobrigaes relativas sade pblica revela o descaso para com os16 24. administrandos e a ordem constitucional, e que no afasta ou fere aindependncia dos poderes. Substituio da marca do produto. No possvel asubstituio do produto por outro mais vivel economicamente, porquanto noh prova de que ter o mesmo efeito daquele indicado nos autos. (TJRS. 8 C.Cv. Ap. Cv. n 70030919344. Rel. Des. Rui Portanova. J. em 13/08/2009).Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento sade devero proporcionarcondies para a permanncia em tempo integral de um dos pais ou responsvel,nos casos de internao de criana ou adolescente [41] .41 Vide art. 101, inciso V, do ECA e Lei n 11.104/2005, de 21/03/2005, que dispesobre a obrigatoriedade de instalao de brinquedotecas nas unidades de sadeque ofeream atendimento peditrico em regime de internao. Vide tambmitem n 5 da Resoluo n 41/1995, do CONANDA.Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmao de maus-tratos contra criana ouadolescente sero obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar darespectiva localidade, sem prejuzo de outras providncias legais [42] .Pargrafo nico. As gestantes ou mes que manifestem interesse em entregar seusfilhos para adoo sero obrigatoriamente encaminhadas Justia da Infncia e daJuventude [43] .42 Vide arts. 18, 56, inciso I, 70, 130 e 245, do ECA e art. 136, do CP. A simplessuspeita de maus-tratos (termo que deve ser interpretado de forma ampliativa,compreendendo a violncia, em todas as suas formas e/ou o abuso sexual) jtorna a comunicao obrigatria. A omisso da comunicao, em tese, importana prtica de infrao administrativa prevista no art. 245, do ECA. Em que pesea aluso ao Conselho Tutelar, mais adequado que os casos de suspeita ouconfirmao de maus-tratos (e outros crimes praticados contra crianas eadolescentes) sejam comunicados diretamente ao Ministrio Pblico, ao qualincumbe, em ltima anlise, propor ao penal contra os autores da infrao,requerer o afastamento do agressor da moradia comum (cf. art. 130, do ECA) emesmo a suspenso ou destituio do poder familiar (cf. arts. 201, inciso III c/carts. 155 a 163, do ECA), medidas que somente podero ser decretadas pelaautoridade judiciria. Ademais, como no incumbe ao Conselho Tutelar ainvestigao criminal acerca da efetiva ocorrncia de maus-tratos e/ou a decisoacerca da propositura, ou no, das aludidas aes, uma vez acionado somentecaberia ao rgo proceder na forma do disposto no art. 136, inciso IV, do ECA,ou seja, encaminhar a notcia do fato ao Ministrio Pblico. admissvel, noentanto, a articulao de aes (cf. art. 86, do ECA) entre o Conselho Tutelar e oMinistrio Pblico e os rgos de investigao policial, de modo que possa aqueleintervir, em regime de colaborao com estes, no para investigar o fato, maspara aplicar vtima e sua famlia eventuais medidas de proteo (arts. 136,inciso I e II c/c 101, incisos I a VII e 129, incisos I a VII, do ECA) e/ou mesmosolicitar (e, se necessrio, requisitar - cf. art. 136, inciso III, alnea a, do ECA)a interveno de profissionais que podero auxiliar o Ministrio Pblico e aautoridade policial na coleta das declaraes da vtima e na coleta de outrasprovas. Interessante tambm observar que o art. 245, do ECA no se refereespecificamente ao Conselho Tutelar, apenas, mas sim autoridadecompetente, que no caso para apurao da prtica de infrao penal contracriana ou adolescente, ser o Ministrio Pblico (poder-se-ia falar tambm dapolcia judiciria, porm, pela sistemtica estabelecida pelo ECA, e pelosdesdobramentos do fato, que podem, como dito, resultar em medias de cunhoextrapenal, prefervel acionar diretamente o MP). De uma forma ou de outra, asimples suspeita da ocorrncia de maus-tratos j torna obrigatria a aludidacomunicao, sob pena da prtica da infrao administrativa respectiva. As17 25. denncias de abuso ou violncia sexual contra crianas e adolescentes podemser efetuadas tambm atravs do telefone 100, que o nmero do Disque-Denncia Nacional de Combate ao Abuso e Explorao Sexual contra Crianase Adolescentes, mantido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH.Nos estados, denncias podem ser tambm encaminhadas ao nmero 181, e aLei n 12.003/2009, de 29/07/2009 criou um nmero de telefone nico para oConselho Tutelar em todo Brasil, ainda a ser definido.43 Acrescido pela Lei n 12.010/2009, de 03/08/2009. Vide arts. 8, 5, 238 e258-B, do ECA. O objetivo do legislador foi coibir prticas ilegais, abusivas emesmo criminosas como a adoo brasileira e a entrega de filho com vista adoo mediante paga ou promessa de recompensa. As gestantes quemanifestam interesse em entregar seus filhos para adoo devem receber adevida orientao psicolgica e tambm jurdica, de modo que a criana tenhaidentificada sua paternidade (nos moldes do previsto na Lei n 8.560/1992) e lhesejam asseguradas condies de permanncia junto famlia de origem ou, seisto por qualquer razo no for possvel, seja ento encaminhada para adoolegal, junto a pessoas ou casais regularmente habilitados e cadastrados (cf. art.50, 3 e 13, do ECA).Art. 14. O Sistema nico de Sade promover programas de assistncia mdica eodontolgica para a preveno [44] das enfermidades que ordinariamente afetam apopulao infantil, e campanhas de educao sanitria para pais [45] , educadores ealunos [46] .Pargrafo nico. obrigatria a vacinao das crianas nos casos recomendadospelas autoridades sanitrias [47] .44 Vide art. 70, do ECA. A preveno, tanto sob o prisma geral (coletivo), quantono plano individual, uma preocupao constante da sistemtica introduzidapelo ECA, na perspectiva de evitar a ocorrncia de danos a crianas eadolescentes. O no oferecimento ou a oferta irregular deste programa (que naverdade se constitui num servio pblico, que deve possuir um carterpermanente), pode levar responsabilidade civil e administrativa do gestor dasade, conforme previsto pelo art. 208, inciso VII, do ECA).45 Vide arts. 100, par. nico, incisos IX e XI e 129, inciso IV, do ECA.46 Vide art. 205, da CF e arts. 53, caput e 101, inciso II, do ECA. O dispositivoevidencia a necessidade de articulao entre os setores da educao e sade(nos moldes do previsto no art. 86, do ECA), para que as aes de sade sejamexecutadas no mbito das escolas, numa perspectiva eminentementepreventiva. No Paran, vide Lei Estadual n 16.105/2009, de 18/05/2009, queinstitui a Semana de Orientao Sobre a Gravidez na Adolescncia, na primeirasemana do ms de maio.47 Vide Lei n 6.259/1975, que dispe sobre a organizao das aes de vigilnciaepidemiolgica, sobre o Programa Nacional de Imunizaes, estabelece normasrelativas notificao compulsria de doenas, e d outras providncias;Decreto n 78.231/1976 e Portaria n 1.602/2006/GM (que institui oscalendrios de vacinao).CAPTULOII - DODIREITO LIBERDADE, AORESPEITO E DIGNIDADEArt. 15. A criana e o adolescente tm direito liberdade, ao respeito e dignidadecomo pessoas humanas [48] em processo de desenvolvimento [49] e como sujeitosde direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituio e nas leis [50] .18 26. 48 Vide art. 1, inciso III, da CF e art. 1 da Declarao Universal dos Direitos doHomem, Adotada e proclamada pela Resoluo n 217-A (III), da AssembliaGeral das Naes Unidas em 10/12/1948. O princpio da dignidade da pessoahumana universalmente consagrado, sendo inerente a todo ser humano,independentemente da idade.49 Vide art. 6, in fine, do ECA.50 Vide arts. 1, inciso III, 5, 227, caput e 3, inciso V, da CF e arts. 3, 4,caput, 5, 6, 100, par. nico, inciso I e 121, caput, terceira parte, do ECA. Aviolao de tais direitos, assim como ocorre em relao aos demais, passvelde reparao, inclusive, a ttulo de danos morais, ainda que os agentes sejam osprprios pais da criana ou adolescente. Neste sentido: INDENIZAO DANOSMORAIS. RELAO PATERNO-FILIAL. PRINCPIO DA DIGNIDADE DA PESSOAHUMANA. PRINCPIO DA AFETIVIDADE. A dor sofrida pelo filho, em virtude doabandono paterno, que o privou do direito convivncia, ao amparo afetivo,moral e psquico, deve ser indenizvel, com fulcro no princpio da dignidade dapessoa humana. (TA/MG. 7 C. Civ. Ap. Civ. n 408.550-5. Rel. Juiz Unias Silva.J. em 01/04/2004).Art. 16. O direito liberdade compreende os seguintes aspectos:I - ir, vir e estar nos logradouros pblicos e espaos comunitrios, ressalvadas asrestries legais [51] ;II - opinio e expresso [52] ;III - crena e culto religioso [53] ;IV - brincar, praticar esportes e divertir-se [54] ;V - participar da vida familiar e comunitria, sem discriminao [55] ;VI - participar da vida poltica, na forma da lei [56] ;VII - buscar refgio, auxlio e orientao [57] .51 Vide art. 5, inciso XV, da CF. Vide tambm arts. 106 e 230, do ECA. Sobre asrestries ao acesso de crianas e adolescentes aos locais de diverso videcomentrios aos arts. 74, 75, 80 e 149, do ECA.52 Vide arts. 12, 13 e 14, da Conveno da ONU sobre os Direitos da Criana, de1989; art. 5, incisos IV e IX, da CF e arts. 28, 1, 45, 2, 111, inciso V, 100,par. nico, inciso XII, 124, incisos I, II, III e VIII, 161 2 e 168, do ECA. Taldispositivo reafirma a obrigatoriedade da oitiva da criana ou adolescentequando da aplicao de medidas de proteo e socioeducativas, conforme arts.101 e 112, do ECA, tambm prevista no princpio contido no art. 100, par. nico,inciso XII, tambm do ECA.53 Vide art. 12, ns 1 e 2, da Conveno da ONU sobre os Direitos da Criana, de1989; art. 5, incisos VI, VII e VIII, da CF e arts. 94, inciso XII e 124, incisoXIV, do ECA. Embora a religiosidade e a espiritualidade se constituam emvalores positivos, que meream ser cultivados, no admissvel que a religioseja o foco central das atividades desenvolvidas com crianas e adolescentes emsituao de risco ou vinculados a medidas socioeducativas, muito menos quedeterminada crena ou culto religioso seja imposto s crianas, adolescentes efamlias atendidas por determinada entidade, ainda que seja esta vinculada aalguma igreja, congregao ou seita. Devem os Conselhos Municipais de Direitosda Criana e do Adolescente (cf. arts. 88, incisos II e III, 90, 1 e 3 e 91,caput e 1, do ECA), zelar para que os programas de atendimentodesenvolvidos por qualquer entidade sejam de carter laico ou ecumnico (ou ao19 27. menos que no tenham a religio como foco central de sua atuao e nemobriguem a pessoa atendida frequentar cultos, adotar determinada religio oudeixem de aceitar/excluam aqueles que professam religio diversa), ficando cadacriana, adolescente e/ou famlia atendidos livres para seguirem (ou no) areligio ou crena que melhor lhes aprouver.54 Vide art. 31, da Conveno da ONU sobre os Direitos da Criana, de 1989; arts.71 e 94, inciso XI, do ECA. Vide tambm Lei n 10.891/2004, de 09/07/2004,que institui a Bolsa-Atleta, destinada aos atletas praticantes do desporto derendimento em modalidades olmpicas e paraolmpicas, bem como naquelasmodalidades vinculadas ao Comit Olmpico Internacional - COI e ao ComitParaolmpico Internacional, disponvel a atletas a partir dos 14 (quatorze) anos,para a obteno das Bolsas Atleta Nacional, Atleta Internacional Olmpico eParaolmpico, e a partir dos 12 (doze) anos, para a obteno da Bolsa-AtletaEstudantil.55 Vide art. 5, do ECA. Mais uma vez dada nfase ao direito convivnciafamiliar e comunitria (art. 4, caput c/c arts. 19 a 24, 92, inciso VII, 94, incisoV e 100, caput, todos do ECA e art. 227, caput, da CF), em contraposio institucionalizao de crianas e adolescentes.56 Vide art. 14, 1, inciso II, alnea c da CF (alistamento eleitoral e votofacultativo para maiores de dezesseis anos de idade e menores de 18 anos) eart. 53, inciso IV, do ECA. Vale enfatizar que, alm de no ser obrigatrio o votopara adolescentes (ainda que emancipados), no existe, em nosso ordenamentojurdico, cargo ou funo poltica para o/a qual pessoas com idade inferior a 18(dezoito) anos possam ser eleitas.57 Vide arts. 93 e 101, incisos II a VII e 1, do ECA. Um dos direitos maiselementares de todas as crianas e adolescentes o de ter, prximo de si, umadulto responsvel por sua orientao, estabelecendo regras e limites, corrigindoeventuais desvios, dando bons exemplos, enfim, educando (no sentido mais puroda palavra, cf. art. 53, do ECA e art. 205, da CF). Tal tarefa incumbeprimeiramente famlia da criana ou adolescente, que no raro, para exerc-lade forma adequada e responsvel, ter de receber o apoio e a orientao dergos e programas especficos de atendimento (cf. arts. 101, inciso IV e 129,inciso IV, do ECA).Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade fsica,psquica e moral da criana e do adolescente, abrangendo a preservao daimagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idias e crenas, dos espaos eobjetos pessoais [58] .58 Vide arts. 7, 8 e 16 da Conveno da ONU sobre os Direitos da Criana, de1989; art. 5, incisos VI, X, XII e XXII, e LX da CF; arts. 53, inciso II, 94, incisosIV e XVII, 100, par. nico, incisos I e V, 125, 143, 178 e 247, todos do ECA, eDecretos ns 6.230/2007, de 11/10/2007 e 6.231/2007, de 11/10/2007. Aindasobre a matria vide tambm o disposto na Smula n 403, do STJ, de24/11/2009, segundo a qual: "Independe de prova do prejuzo a indenizaopela publicao no autorizada de imagem de pessoa com fins econmicos oucomerciais".Art. 18. dever de todos velar pela dignidade da criana e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatrio ouconstrangedor [59] .59 Vide art. 227, caput, da CF e arts. 4, caput, 5, 17, 70, 87, inciso III, 108 epar. nico e 232 todos do ECA. A lei, com base na Constituio Federal, impe atodos a obrigao de respeitar e fazer respeitar os direitos de crianas e20 28. adolescentes, tendo cada cidado o dever de agir em sua defesa, diante dequalquer ameaa ou violao. A inrcia, em tais casos, pode mesmo levar responsabilizao daquele que se omitiu (valendo neste sentido observar odisposto no art. 5, in fine, do ECA), sendo exigvel de toda pessoa que tomaconhecimento de ameaa ou violao ao direito de uma ou mais crianas e/ouadolescentes, no mnimo, a comunicao do fato (ainda que se trate de merasuspeita), aos rgos e autoridades competentes. Ainda sobre a matria, videarts. 13 e 56, do ECA e Decretos ns 6.230/2007, de 11/10/2007 e6.231/2007, de 11/10/2007.CAPT U L O III - DO DIREIT O CON VI V N C I A FAMI LI A R ECO M U N I T RI A [60]Seo I - Disposies GeraisArt. 19. Toda criana ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio dasua famlia e excepcionalmente, em famlia substituta [61] , assegurada aconvivncia familiar e comunitria, em ambiente livre da presena de pessoasdependentes de substncias entorpecentes [62] . 1. Toda criana ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimentofamiliar ou institucional ter sua situao reavaliada, no mximo, a cada 6(seis) meses, devendo a autoridade judiciria competente, com base em relatrioelaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de formafundamentada pela possibilidade de reintegrao familiar ou colocao em famliasubstituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei [63] . 2. A permanncia da criana e do adolescente em programa de acolhimentoinstitucional no se prolongar por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovadanecessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pelaautoridade judiciria [64] . 3. A manuteno ou reintegrao de criana ou adolescente sua famlia terpreferncia em relao a qualquer outra providncia, caso em que ser esta includaem programas de orientao e auxlio, nos termos do pargrafo nico do art. 23,dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129desta Lei [65] .60 Vide Princpio 6, da Declarao dos Direitos da Criana, de 1959; arts. 9 e 18,da Conveno da ONU sobre os Direitos da Criana, de 1989; arts. 226 e 227,caput, da Constituio Federal e arts. 4, caput, 87, incisos VI e VII, 88, incisoVI, 90, incisos I a III, 100 caput, segunda parte e par. nico, inciso IX, 101,incisos I e IV, 129, incisos I a IV e 208, inciso IX, do ECA. Trata-se de um dosdireitos fundamentais a serem assegurados a todas as crianas e adolescentescom a mais absoluta prioridade, tendo a lei criado mecanismos para, de um lado(e de forma preferencial), permitir a manuteno e o fortalecimento dos vnculoscom a famlia natural (ou de origem) e, de outro, quando por qualquer razo istono for possvel, proporcionar a insero em famlia substituta de formacriteriosa e responsvel, procurando evitar os efeitos deletrios tanto dachamada institucionalizao quanto de uma colocao familiar precipitada,desnecessria e/ou inadequada. Na forma da lei, a garantia do pleno e regularexerccio do direito convivncia familiar por todas as crianas e adolescentes,21 29. como de resto ocorre em relao aos demais direitos previstos no citado art.227, caput, de nossa Carta Magna e Lei n 8.069/1990, reclama a elaborao eimplementao de uma poltica pblica especfica, de carter intersetorial einterinstitucional, pois ir demandar aes nas reas da assistncia social,sade, educao etc., com uma atuao conjunta e coordenada nas apenasentre os respectivos setores da administrao, mas tambm entre estes e oConselho Tutelar, o Ministrio Pblico e o Poder Judicirio, alm de entidadesno governamentais que executem (ou venham a executar) os programas deatendimento quela relacionados. Dentre as aes a serem implementadas comodecorrncia natural (e obrigatria) desta poltica, podemos citar os programas deorientao e apoio sociofamiliar (cf. arts. 90, inciso I, 101, inciso IV e 129,incisos I a IV, do ECA), destinados fundamentalmente a evitar o afastamento dacriana ou adolescente de sua famlia de origem e os programas colocaofamiliar (cf. arts. 90, inciso III, 101, incisos VIII e IX e 260, 2, do ECA) eacolhimento institucional (cf. arts. 90, inciso IV e 101, inciso VII e 1, do ECA),este ltimo de carter eminentemente subsidirio aos demais (cf. art. 33, 1,do ECA). Em todas as aes a serem desenvolvidas, necessrio ter em mente erespeitar, o quanto possvel, os princpios da autonomia da famlia e daresponsabilidade parental (cf. art. 100, par. nico, inciso IX, do ECA), cabendoao Estado auxiliar e jamais substituir esta no desempenho de seu imprescindvelpapel no desenvolvimento saudvel de uma criana ou adolescente.61 Vide arts. 7, n 1 e 20, da Conveno da ONU sobre os Direitos da Criana, de1989; arts. 6 e 226, da CF e arts. 28, 100, caput e par. nico, incisos IX e X, doECA e Instruo Normativa n 02/2010, de 30/06/2010, da CorregedoriaNacional de Justia. Note-se a preocupao do legislador em dar preferncia permanncia da criana ou adolescente no seio de sua famlia de origem, quepara tanto deve receber a orientao, o apoio e o eventual tratamento de queporventura necessite (conforme art. 226, caput e 8, da CF e arts. 101, incisoIV e 129, incisos I a IV do ECA), a partir de uma poltica pblica especfica, quetodo municpio tem o dever de implementar (cf. art. 87, inciso VI e 208, incisoIX, do ECA). Apenas em carter excepcional, aps frustradas as tentativas demanuteno da criana e/ou adolescente em sua famlia de origem, que secogitar de sua colocao em famlia substituta (conforme disposto de maneiraexpressa no art. 1, 1, da Lei n 12.010/2009 e tambm consigna