É urgente tornar os portos mais competitivos

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  • 8/2/2019 Urgente tornar os Portos mais Competitivos

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    Cooperar e coordenar para termos portos mais competitivos

    Tem-se ouvido recentemente falar sobre a falta de massa crtica nos portos portugueses esobre a necessidade de Portugal possuir apenas trs grandes terminais de contentores, uma norte, um em Lisboa e um em Sines, sendo que s em Lisboa existem quatro terminais

    que no possuem escala para serem competitivos (Pimentel, APP, 2010). Este um bommote para voltar a discutir a questo do desempenho e competitividade dos portosportugueses. Estaro os portos portugueses a alavancar ao mximo a economiaportuguesa? Ou poderiam alavancar mais com maior cooperao e coordenao?

    Obviamente que os problemas dos portos no so de emergncia como nos restantessetores dos transportes. Os portos tm realizado melhorias substanciais nas ltimasdcadas, no do prejuzo, no carecem de ajudas de estado para a sua operao, no

    possuem grandes dvidas, no apresentam grandes razes de queixa por parte dos clientesquanto ao seu servio, tm crescido bem. Deste ponto de vista nada seria necessriomudar nos portos portugueses.

    Mas a economia est numa situao de emergncia, o consumo interno e a procura naEuropa tem vindo a diminuir, necessrio orientar a economia para a exportao paranovos mercados alm mar atravs dos portos, necessrio que as empresas exportadorassejam competitivas l fora, em todos os continentes, concorrendo com empresas de todo omundo.

    Ento, a comparao no deve ser feita entre portos e restantes setores de transportes emPortugal, mas entre os portos portugueses e os portos que servem as empresasconcorrentes das nossas nos mercados externos. E neste caso j no temos razes para

    baixar os braos, antes pelo contrrio. De facto, as empresas concorrentes possuem portosmuito competitivos perto de si, seja em Espanha, na Itlia, na Holanda, na Blgica, naFrana, na Alemanha e noutros continentes. E estas empresas so concorrentes das nossasno Brasil, em frica ou no Extremo Oriente.

    Assim se justifica que deva ser feita qualquer coisa e rapidamente. Temos que ver para ldas notcias positivas locais, do que temos de bom, para perceber que precisamos sermelhores a nvel global para ajudarmos a combater a crise nacional. Ser pessimistademais pode levar depresso, mas ser optimista demais pode levar a que no se veja arealidade. As boas notcias constantes podem enganar-nos a ns prprios, pelo menos atque a realidade nos bata na testa.

    Mas afinal como podem os portos e os terminais de contentores ser to ou maiscompetitivos que os portos e terminais que servem as empresas concorrentes das nossasno mercado global? Podemos fazer alguma coisa ou tem que ser mesmo assim? Devemoselevar a fasquia? Para responder a isso, importa primeiro estudar os restantes portos eterminais de contentores concorrentes no resto do mundo e perceber quais os factores ecaractersticas que tornam uns mais competitivos e bem sucedidos que outros.

    O desempenho e a competitividade dos portos e dos terminais de contentores depende, deacordo com os estudos dos investigadores internacionais, de cinco fatores: a localizao,os fatores pesados do porto, os fatores pesados dos terminais de contentores, os fatores de

    software do porto e os fatores de software dos terminais de contentores.

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    No que respeita localizao, importa a distncia a grandes mercados continentais, adistncia a mercados e zonas de produo locais e regionais, a distncia a grandes eixos

    pendulares intercontinentais e a eixos norte-sul e a importncia do desempenhoeconmico do hinterland onde se localiza o porto.

    No que se refere aos fatores pesados do porto, importa a qualidade das acessibilidadesmartimas (fundos), rodovirias e ferrovirias, a dimenso fsica do porto (escala), aexistncia de reas logsticas adjacentes, a existncia de reas de expanso e a existnciade terminais concorrentes (o que s permitido em portos grandes).

    No que respeita aos fatores pesados do terminal de contentores, interessam os fundos docais, a dimenso do cais (escala), o nmero de prticos de cais por quilmetro de cais, otipo e nmero de equipamentos de parque, a profundidade do terrapleno do terminal e olay-out do terminal.

    No que concerne aos fatores software do porto, consideram-se a especializao do porto

    em contentores ou carga geral/granis, a qualidade dos servios de reboque e pilotagemdo porto, o dinamismo da comunidade porturia e da autoridade porturia e o nvel dastaxas porturias em termos gerais.

    J na vertente fatores de software do terminal, podem-se encontrar fatores relacionadoscom os servios martimos: a dimenso dos navios, a frequncia e nmero de servios defeeder, shortsea e intercontinentais de armadores globais (com impacto nos respetivosfretes), o tempo de espera dos navios, o tempo de operao mdio.

    No software do terminal, podem ainda analisar-se os fatores relacionados com aorganizao interna do terminal: os sistemas de informao, o servio ao cliente, o tipo degesto, se os accionistas so empresas operadoras globais em rede ou locais, se a gesto

    privada ou pblica.

    O fator software dos terminais de contentores que mais tem sido estudado recentementepelos investigadores a integrao logstica do terminal, j que os portos deixaram defocar apenas na sua gesto, para passarem a olhar a cadeia logstica de forma integrada.

    Neste caso, temos fatores importantes como a agilidade, flexibilidade, fiabilidade doterminal, a existncia de servios logsticos de valor acrescentado no interior do terminal,a qualidade geral dos servios, o grau de integrao nas cadeias logsticas, o nvel de

    preos e a ligao a parques de segunda linha no hinterland.

    Importa ter dimenso, uma dimenso mnima por terminal e por porto face aos elevadosinvestimentos fixos, mas tambm face s sinergias que se criam em todas as vertentes donegcio, importa ter terminais com as caractersticas correctas para aproveitar a nossalocalizao junto aos eixos sia-Mediterrneo-Norte da Europa-Amrica (Norte e Sul) efrica, importa estudar os portos em conjunto comparando com os concorrentes, importaconsiderar estas caractersticas e reformular os terminais e os prprios portos, conhecendoo que se passa l fora e no apenas olhando c para dentro.

    Importa traar um plano nacional ou planos regionais de longo prazo que coloquem passoa passo os portos portugueses no caminho da competitividade face aos portos que servem

    as empresas exportadoras dos outros pases.

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    Importa estudar, debater livremente sem ideias pr-concebidas e responder a questes deinteresse nacional e regional como por exemplo:

    a) Em Lisboa dever existir um nico terminal de short-sea e feeder com escala, reas deexpanso e acessos desimpedidos? Dever ser Setbal, Alcntara, Santa Apolnia ou a

    Trafaria? Isto deve ser estudado com critrios adequados econmicos, financeiros, deengenharia e ambientais. Onde existem acessibilidades e reas de expanso? Onde maisbarato fazer? Onde existem ou podem existir fundos com baixo investimento?

    b) Deve apostar-se no investimento pblico num novo grande terminal de guasprofundas em Lisboa na Trafaria, competindo com o investimento pblico realizado emSines. Ou deve deixar-se que Sines ganhe dimenso no trfego de transhipment para sercompetitivo e apoiar as empresas exportadoras, com fretes baixos das escalas diretas, jque possui fortes concorrentes em Tanger, Algeciras e Valncia?

    c) E a Norte existem dois terminais de contentores em Leixes, norte e sul? O terminal de

    contentores deve ser short-sea e feeder ou de escala direta para grandes naviosintercontinentais, para servir melhor os exportadores do Norte, ou deve ter as duasvalncias? Onde fazer um novo terminal moderno e ampliado? Em Leixes, retirando acarga geral e granis para Aveiro (que deve ser aprofundado, se for o caso)? Ampliando o

    porto de Leixes para fora, ganhando fundos para os novos navios de maior dimenso?Ser to caro? Aprofundando o porto interior, j quase sem largas reas de expanso?Criando um novo porto no Norte? Onde fazer os 3 ou 4 cais graneleiros de 20 metros decalado que as minas de Moncorvo podero precisar? No conheo em grande

    profundidade a questo dos portos do Norte e Centro, mas admito que devero sertambm pensados em conjunto, para se dar um salto qualitativo substancial nas prximasdcadas. Os portos mudam muito lentamente, com investimentos pesados, pelo que ofuturo distante deve comear a ser pensado j.

    Importa incentivar este debate. No conheo as respostas certas, mas vejo que precisocooperar e estudar mais de forma coordenada, apenas presa ao interesse nacional. nemque seja para concluir que na perspectiva coordenada afinal estava tudo bem.

    Uma outra questo estratgica que importava analisar com detalhe o que pode vir arepresentar afinal o canal do Panam para os portos portugueses com o alargamento ecomo podero os portos portugueses usar a ferrovia para alargarem a sua rea deinfluncia. Isto deve ser estudado com realismo e optimismo em simultneo, para que no

    se justifiquem e criem castelos no ar, bonitos para a populao, mas sem basesustentvel econmica de apoio, nem se percam eventuais oportunidades futuras compessimismos e velhos do Restelo. Existem bons tcnicos internacionais. Algumasquestes a analisar:

    a) A rota da sia pelo canal do Panam muito mais distante do Norte da Europa oude Sines, que pelo Suez. Ainda assim pode vir a ser uma alternativa?

    b) Passar o canal do Panam poder ficar muito caro com as novas obras, quandocomparado com o Suez, segundo referem os especialistas?

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    c) O canal do Panam alargado no permitir a passagem dos navios acima de13.000 TEU, que afinal sero o que dominaro a rota da sia-Europa no futuro,como se sabe pelas encomendas em curso?

    d) Nos estudos da autoridade do canal do Panam sobre o alargamento no

    vislumbram previses para a rota sia-Europa, mas sim para a rota Amricas-Europa e Amricas-sia, concorrendo com o comboio entre as costas Oeste eLeste dos EUA, com a rota do Cabo para o Brasil e com a rota do Suez para acosta Leste dos EUA. Estaro incorrectos?

    e) Mesmo que venha a verificar-se trfego na rota sia-Europa pelo Panam, esteser dominado pelos hubs das Carabas na distribuio para todo o Atlntico nortee sul, concorrendo com a rota do Suez que serve o atlntico a partir de portos darea do Mediterrneo, como o caso de Sines, ou seja pode ser uma ameaa paraos portos portugueses em vez de ser uma oportunidade?

    f) Se for uma oportunidade, como aproveitar da melhor forma? Apostar na MSC?Apostar tambm na Maersk? Noutra?

    g) A carga do sia-Europa que passe por Sines, oriunda do Suez ou do Panam,manter-se- certamente como negcio dos armadores fazendo transhipment entrenavios neste hub intermdio, nunca procurando alcanar o Norte da Europa porferrovia, seno o armador perderia o mercado, o que ele no permite. Os portos

    podem ter como hinterland a Europa ou a Espanha? Triestre e outros os portositalianos prximos do Suez no conseguem servir a Alemanha ou Frana por terra,nem Le Havre consegue servir a Alemanha, seja por rodovia ou ferrovia. Para acarga dos portos europeus, o comboio usado para percursos mximos de 600km, excepto a partir dos portos super-hubs da Blgica e Holanda, e usado, porexemplo, apenas em cerca de 2 a 5% pelos portos espanhis, e mais para graneis.

    h) Mesmo que no se verifique como muito elevado o potencial do Panam, Sinespossui um forte interesse para Portugal e interessa investir, atrair investimentos eligar a Espanha por ferrovia. Sines um enorme valor para os exportadoresnacionais acederem directamente a fretes baixos e servios directos, aproveitandoas vantagens dos operadores globais e seus navios gigantes. Se se verificar

    potencial do Panam em Sines, ento haver que no perder a oportunidade e estarpreparado.

    i) Mesmo que os portos no enviem cargas por ferrovia para a Europa, enviaro paraEspanha, a meio caminho e existe um forte potencial de passagem de carga deexportao nacional da rodovia para a ferrovia na ligao Europa. So cerca de30 milhes de toneladas de potencial que justificam a bitola europeia at Frana,no futuro. A bitola no ser a principal condicionante do uso da ferrovia, mas uma delas. Faz sentido criar linhas em bitola europeia para ligar os portos

    portugueses at Espanha e ligar as empresas portuguesas at Europa, j queEspanha planeia mudar tudo para bitola Europeia. Mas importa acertar ostimmings. At que a rede espanhola se altere, no valer a pena completar o troovora-Caia em bitola ibrica? Importa certamente coordenar os portos com a

    ferrovia.