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ESTUDO DE CONSOLIDAÇÃO DA AVALIAÇÃO DA PROBLEMÁTICA DAS
LINHAS ELÉCTRICAS NA CONSERVAÇÃO DA ABETARDA (OTIS TARDA)
E DO SISÃO (TETRAX TETRAX) NA ZPE DE CASTRO VERDE
RELATÓRIO FINAL
NOVEMBRO DE 2008
INSTITUTO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E DA BIODIVERSIDADE
EDP – DISTRIBUIÇÃO S.A.
Equipa técnica: Ana Teresa Marques
Pedro Rocha
João Paulo Silva
Citação recomendada: Marques, A.T. Rocha, P. Silva, J.P. (2008) Estudo de consolidação da
avaliação da problemática das linhas eléctricas na conservação da Abetarda (Otis tarda) e Sisão
(Tetrax tetrax) na ZPE de Castro Verde. Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade.
Lisboa. Relatório não publicado.
ÍNDICE
1. Introdução...............................................................................................................................................1
Enquadramento......................................................................................................................................1
Objectivos...............................................................................................................................................1
2. Metodologia............................................................................................................................................3
2.1. Área de estudo................................................................................................................................3
2.2. Monitorização da mortalidade em linhas eléctricas.........................................................................3
2.2.1. Selecção dos troços.....................................................................................................................3
2.2.2. Prospecção de cadáveres............................................................................................................4
2.3. Análise dos dados...........................................................................................................................5
2.3.1. Análise dos dados de mortalidade................................................................................................5
2.3.2. Análise do efeito das medidas correctivas...................................................................................6
2.3.3. Modelação dos factores indutores de mortalidade na ZPE de Castro Verde...............................6
3. Apresentação dos resultados.................................................................................................................9
3.1. Caracterização da mortalidade de aves..........................................................................................9
3.1.1. Variação anual da mortalidade...................................................................................................12
3.1.2. Mortalidade por colisão...............................................................................................................13
3.1.3. Mortalidade por electrocussão....................................................................................................13
3.1.4. Análise por tipologia...................................................................................................................13
3.1.5. Mortalidade de abetarda.............................................................................................................15
3.1.6. Mortalidade de sisão...................................................................................................................16
3.2. Efeito das medidas correctivas......................................................................................................17
3.2.1. Sinalização dos cabos com BFD................................................................................................17
3.2.2. Dispositivos contra a electrocussão...........................................................................................18
3.3. Modelação dos factores indutores de mortalidade........................................................................18
3.4. Mapa de sensibilidade à colisão e electrocussão na ZPE de Castro Verde.................................19
4. Discussão dos resultados....................................................................................................................20
5. Conclusões...........................................................................................................................................25
6. Referências bibliográficas....................................................................................................................27
Anexo I - Estatutos de conservação, Legislação e Fenologia das espécies referidas...................................I
Anexo II - Caracterização dos troços estudados e da mortalidade detectada.............................................IV
1
1. INTRODUÇÃO
1.1. Enquadramento
Este documento constitui o relatório final do “Estudo de consolidação da avaliação da problemática das
linhas eléctricas na conservação da Abetarda (Otis tarda) e Sisão (Tetrax tetrax) na ZPE de Castro
Verde”, executado pelo ICNB e enquadrado do projecto “2º Protocolo relativo à minimização dos impactes
resultantes da interacção entre linhas eléctricas de alta e média tensão e a avifauna”, estabelecido entre
o ICNB, EDP-Distribuição S.A., SPEA e Quercus ANCN.
A mortalidade de aves por colisão e electrocussão em linhas de transporte e distribuição de energia tem
sido alvo de estudos internacionais (e.g. Janss & Ferrer 1998, Bevanger & Brøseth 2004, BirdLife 2003) e
nacionais (e.g. Infante et al. 2005, Neves et al. 2005). Estes trabalhos têm demonstrado que este factor
de mortalidade pode atingir valores elevados, fazer-se sentir sobre diferentes grupos de espécies e
ocorrer em diferentes habitats. Chega mesmo a ser apontado como o principal factor de mortalidade
adulta de espécies com estatuto de ameaça, como a abetarda (Alonso et al. 1995; Alonso & Alonso 1999)
ou a águia de Bonelli (Real et al. 2001).
Os Gruiformes, grupo onde se encontram espécies como a abetarda e o sisão, encontram-se entre as
aves mais susceptíveis a colidirem com linhas eléctricas (BirdLife 2003, Bevanger 1994) e estudos
realizados em Portugal vêm corroborar que estas espécies se encontram entre as mais afectadas.
Neves et al. (2005), num estudo realizado no território continental português, apontam a Zona de
Protecção Especial de Castro Verde como a região do país com maior número de casos de mortalidade
envolvendo espécies com elevado estatuto de conservação.
Recentemente foi realizado na ZPE de Castro Verde um estudo sobre o impacto da linha eléctrica de
muito alta tensão Ferreira do Alentejo – Ourique (Marques et al. 2007). Este trabalho reportou elevados
valores de mortalidade de aves e os maiores valores conhecidos de mortalidade de abetarda e sisão
neste tipo de infra-estrutura.
Face aos dados recolhidos anteriormente e tendo em conta que a ZPE de Castro Verde é uma área
fulcral para a conservação da abetarda e do sisão no país, o presente trabalho surge da necessidade de
aprofundar a problemática da mortalidade de aves em linhas eléctricas na área, nomeadamente pela
aplicação de medidas de seguimento intensivas.
1.2. Objectivos
De modo a consolidar o conhecimento sobre a problemática das linhas eléctricas na conservação da
abetarda e sisão na ZPE de Castro Verde este estudo tem como principais objectivos:
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a) Estimar a mortalidade de aves por colisão e electrocussão em linhas de alta e média tensão na
ZPE de Castro Verde;
b) Determinar o efeito das medidas de correcção aplicadas nas linhas;
c) Construir um modelo de susceptibilidade de mortalidade de aves por colisão e electrocussão em
linhas de alta e média tensão;
d) Traçar um mapa de sensibilidade de colisão e electrocussão por parte de espécies prioritárias na
ZPE de Castro Verde.
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2. METODOLOGIA
2.1. Área de estudo
Este trabalho realizou-se na Zona de Protecção Especial de Castro Verde, no Baixo-Alentejo, área que
abrange os concelhos de Aljustrel, Almodôvar, Beja, Castro Verde, Mértola e Ourique. Pertence à região
bioclimática Mesomediterrânea, caracterizada por Invernos frios e húmidos e Verões quentes e secos
(Rivas-Martinez 1981).
Trata-se de uma extensa área de relevo aplanado e de baixa altitude, onde se pratica uma agricultura
dirigida principalmente para a produção extensiva de cereais de sequeiro e para o pastoreio de gado
ovino. É a principal área pseudo-estepária de Portugal (Moreira 1999), tem elevada importância para a
conservação de aves estepárias como a abetarda e o sisão (Costa et al. 2003) e é mesmo a zona do país
mais importante para a conservação da abetarda (Pinto et al. 2005) e do sisão (Silva & Pinto 2006).
2.2. Monitorização da mortalidade em linhas eléctricas
2.2.1. Selecção dos troços
Para estimar a mortalidade de aves por colisão e electrocussão realizaram-se prospecções em diferentes
troços de linhas da ZPE. A selecção das tipologias a estudar teve como base a problemática da colisão
de aves, pois este é o factor de mortalidade relevante para as espécies alvo do projecto: abetarda e
sisão. Assim, foram comparadas as principais tipologias existentes na área de estudo – Pórtico (alta
tensão), Galhardete e Triângulo (ambos média tensão) e nos dois últimos casos, também foram
amostradas linhas sinalizadas com BFD (Bird Flight Diverters). Algumas das linhas presentes na ZPE,
quer da tipologia galhardete como triângulo, foram sinalizadas com BFD de modo a minimizar a
mortalidade de aves por colisão. Tratam-se de espirais com 8 cm de diâmetro, que são colocados com
um espaçamento de três metros, alternadamente nos cabos condutores. Refere-se que em alguns dos
apoios das linhas com a tipologia triângulo foram corrigidos com dispositivos anti-electrocussão, de modo
a impedir a electrocussão de aves quando estas pousam nos apoios.
Para cada uma das cinco tipologias (Pórtico, Galhardete, Galhardete sinalizado, Triangulo e Triangulo
sinalizado) foram seleccionados 10 km (Tabela I e Figura 1), o que representa uma amostragem de 50km
de linhas na área de estudo.
De forma a diversificar a amostragem seleccionaram-se troços de linhas e de áreas distintas da ZPE, no
entanto, este pressuposto esteve condicionado pela representatividade e distribuição de cada uma das
tipologias estudadas. No caso do Pórtico apenas existe uma linha na área, pelo que a sua amostragem
teve que ser repartida por duas zonas de amostragem da mesma linha. Por sua vez, no caso da tipologia
Triangulo sinalizado apenas existem dois troços na ZPE, um deles com 600m e outro com uma extensão
maior, pelo que a amostragem apenas pôde ser repartida por estes dois troços.
4
No caso das restantes tipologias foi possível repartir a amostra de forma a recolher dados de diferentes
realidades. Assim, para cada uma foram seleccionados de 4 a 5 troços, entre os 1500m e 3000m.
Tabela I – Tipologia, respectivos apoios e extensão das linhas de alta e média tensão monitorizadas na ZPE de Castro Verde.
Tipologia Designação dos
troços Nomenclatura da linha
Código da linha
Apoios Extensão
(m)
Pórtico a) Desgastes 0201 L5008700 41-69 7 000
b) Filipeja 0201 L5008700 110-122 3 000
Galhardete c) Mouras R Sta. Bárbara (Entradas) 0206 L2001665 28-43 3 000
d) Mestras Interligação SE AJT – SE Port / Aivados 0206 L2001660 10-28 3 000
e) Serrão Variante Namorados Prox Azinhal 0209 L20018B4 80-86 1 500
f) Albernôa 0201 L2008500 69-80 2 500
Galhardete sinalizado g) Achada 0206 L2001682 6-15 1 500
h) Barrigoa Monte Barrigoa / Montinhos 0206 L2001663 0-12 2 000
i) Mealheira Monte da Mealheira Nova 0201 L2001690 1-9 1 500
j) Peso Variante Namorados Prox Azinhal 0209 L20018B4 98-110 2 000
l) Viseus SE Cerro do Calvário – Castro Verde 0209 L2001800 162-177 3 000
Triângulo rígido
m) Guerreiro Monte do Guerreiro 0206 L2001865 3-17 2 000
n) Benviúda Monte Navarro 0209 L20018C2 0-12 2 000
o) Brunheiras SE Aljustrel - Odemira 0211 L3008300 22-40 3 000
p) São Marcos Salto 0206 L2001858 24-32 1 500
q) Laranjo Monte Laranjo 0206 L2001859 1-10 1 500
Triângulo rígido sinalizado
r) Lagoa da Mó SE Aljustrel – SE Porteirinhos 0201 L2001600 54-112 9 500
s) Salto Salto 0206 L2001858 38-42 500
2.2.2. Prospecção de cadáveres
O período de amostragem teve a duração de um ano e decorreu entre Maio de 2007 e Abril de 2008.
Para detectar aves mortas ou feridas os diferentes troços foram percorridos a pé com periodicidade
quinzenal. Em cada apoio, verificou-se a existência de cadáveres num raio de 5 metros. Entre os apoios,
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o observador deslocou-se por baixo dos cabos mais exteriores, tendo como banda de busca 5 metros
para o exterior da projecção vertical dos cabos. De modo a cobrir toda a área a prospectar, o observador
deslocou-se nos dois sentidos.
De modo a aumentar a eficácia de detecção de aves mortas no terreno, a partir do mês de Agosto o
observador foi acompanhado por uma cadela da raça Labrador Retriever, que estava treinada para
detectar cadáveres no terreno.
Cada ave detectada foi identificada, georeferenciada com o auxilio de um GPS, tendo-se anotado o tipo
de uso do solo, a distância e a orientação em relação à linha e, quando possível, o local de embate. Foi
também assinalado se o cadáver foi detectado pelo observador ou pelo cão. Todos os cadáveres e/ou
restos encontrados foram removidos do local, de modo a evitar duplicações de contagens, em saídas
distintas.
Figura 1 – Mapeamento das linhas de alta e média tensão das linhas monitorizadas na ZPE de Castro Verde.
2.3. Análise dos dados
2.3.1. Análise dos dados de mortalidade
Os dados de mortalidade de aves são apresentados segundo a espécie, tipologia de linha e tipo de
mortalidade. São também analisados os grupos taxonómicos afectados e o estatuto de conservação das
espécies envolvidas segundo o Novo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al. 2005).
6
Para cada uma das variáveis consideradas é calculado o valor de mortalidade de aves por quilómetro
num ano (aves/km/ano).
2.3.2. Análise do efeito das medidas correctivas
No caso da mortalidade por colisão foi comparado o valor de mortalidade obtido nos diferentes troços em
linhas sinalizadas com BFDs e não sinalizadas, entre galhardete sinalizado e não sinalizado e entre
triangulo sinalizado e não sinalizado. Para isso foram realizados testes não paramétricos Mann-Whitney
(Zar 1996).
Dos apoios amostrados em que se verificou mortalidade por electrocussão (triângulo e seccionadores),
apenas no caso do triângulo a dimensão da amostra permitiu a realização de testes estatísticos para
análise do efeito das medidas anti-electrocussão que têm vindo a ser adoptadas. Por outro lado, é
apenas neste tipo de apoios que são colocados dispositivos que impedem a electrocussão de aves.
2.3.3. Modelação dos factores indutores de mortalidade na ZPE de Castro Verde
Para modelar a mortalidade de aves em linhas eléctricas na ZPE de Castro Verde dividiram-se as linhas
estudadas em troços de 500m, num total de 100. Testaram-se modelos para as seguintes variáveis
dependentes:
• mortalidade anual;
• mortalidade anual por colisão;
• mortalidade anual por electrocussão;
• presença / ausência de mortalidade;
• presença / ausência de mortalidade de abetarda;
• presença / ausência de mortalidade de sisão.
As variáveis foram modeladas de acordo com vários factores (variáveis independentes), que estavam
relacionadas com as características da linha, com factores geográficos ou com factores biológicos
(Tabela II). As variáveis independentes foram recolhidas na bibliografia disponível para a área e junto a
investigadores e foram incorporadas num SIG.
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Tabela II – Variáveis independentes utilizadas para modelar a mortalidade, respectivo código, unidade e fonte da informação.
Variáveis independentes / explicativas Código Unidade Fonte da informação
nome da linha estudada Cod_linha
Nº de apoios presentes no troço de 500m n_apoios 1-5
Tipologia da linha (pórtico; galhardete; galhardete sinalizado; triangulo ou triangulo sinalizado
tipologia
Presença / ausência de seccionadores secc 0-1
Características da linha
Cumprimento total de linhas eléctricas numa quadrícula 1x1Km
d_linhas m
Presença do habitat pseudo-estepe cerealífera habitat 0-1
Distância a estradas D_est m Rocha 2008
Distância a localidades D_loc m Rocha 2008
Distância a pontos de água D_agua m Rocha 2008
Factores do meio
Índice de complexidade de relevo relevo Rocha 2008
Distância a áreas de lek de abetarda D_lekOtis m Rocha 2008
Distância a áreas utilizadas por abetardas. Estas áreas foram obtidas a partir de dados de oito contagens, realizadas trimestralmente durante
dois anos
D_bOtis m Rocha 2008
Distância a áreas utilizadas pelo sisão fora da época de reprodução
D_tetrax m Rocha et al. 2004
Distância a colónias de peneireiro-das-torres D_naum m Henriques et al.
2006
Distância a ninhos / colónias de cegonha-branca. Dados do censo nacional de cegonha-branca de
2004
D_cic m Rosa 2004
Factores biológicos
Distância a dormitórios de grous D_grous m dados do ICNB
As variáveis de distância foram determinadas em função do ponto médio de cada troço de 500m e os
cálculos foram realizados no software ArcGis 9.1.
Para modelar a mortalidade efectuaram-se Generalized Linear Models (GLM), tendo-se utilizado a
distribuição Poisson para as variáveis com o valor de mortalidade e a distribuição Binomial para as
variáveis que descrevem a presença / ausência de mortalidade (Zur et al. 2007). Começou-se por
efectuar uma análise exploratória aos dados, em que se verificou a ocorrência de outliers, a normalidade
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dos dados e a presença de variáveis correlacionadas. Às variáveis que não apresentavam uma
distribuição normal aplicou-se uma transformação logarítmica (Lnx+1) (Zar 1996). Posteriormente,
efectuaram-se análises univariadas para determinar quais as variáveis a incorporar no modelo, tendo-se
excluído aquelas com probabilidade superior a 0.1 (P>0.1). O melhor modelo foi escolhido com base no
valor de AIC Akaike Information Criterion (Burnham & Anderson 2002). As análises foram efectuadas no
software estatístico R 2.6.0. (R Project 2007).
9
3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
No decorrer deste trabalho não foram calculados factores de correcção para obter uma aproximação ao
valor da mortalidade real. Assim, os dados apresentados dizem respeito aos dados recolhidos nas
prospecções no terreno e consistem na mortalidade observada.
3.1. Caracterização da mortalidade de aves
No total dos troços estudados detectaram-se 208 indícios de mortalidade de aves, de 34 espécies
diferentes (Tabela III). Tendo em conta que foram amostrados 50km de linhas obteve-se um valor de
mortalidade de 4.16 aves/km/ano em linhas eléctricas de alta e média tensão na ZPE de Castro Verde,
sendo este o valor de mortalidade observado.
A espécie mais afectada foi o trigueirão (n=31), seguida pela garça-boieira (n=21), o sisão (n=15), o abibe
(n=12) e a codorniz (n=11). É de destacar também a ocorrência de mortalidade de abetarda (n=5), de
peneireiro-das-torres (n=4), de cortiçol-de-barriga-preta (n=1) e de calhandra-real (n=1), aves estepárias
com estatuto de Ameaça ou de Quase Ameaça, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal
(Cabral e tal, 2005).
Detectaram-se aves de diferentes dimensões e de diversos grupos taxonómicos. A grande maioria das
espécies afectadas são Passeriformes (45%), seguidos pelos Ciconiformes (16%) e pelos Gruiformes
(10%). A maioria das aves afectadas não estão ameaçadas, no entanto, 20% apresentam estatuto de
conservação de Ameaça ou de Quase Ameaça, segundo o Novo Livro Vermelho dos Vertebrados de
Portugal (Cabral et al. 2005), sendo estas maioritariamente aves estepárias ou aves de presa (Figura 2).
Figura 2 – Grupos taxonómicos e estatutos de conservação (segundo o Novo Livro Vermelho) das aves que morreram por colisão e electrocussão nos 50 km de linhas eléctricas estudados na ZPE de Castro Verde.
Ciconiformes
15%
Gruiformes
10%
Galliformes
7%
Charadriiformes
7%
Passeriformes
45%
Outros
16%
Quase Ameaçado
6%
Vulnerável
11%Em perigo
3%
Pouco
Preocupante
80%
10
Tabela III – Mortalidade anual de aves em linhas eléctricas na ZPE de Castro Verde. Valores de mortalidade total, por colisão, por electrocussão e por tipologia de linha.
Espécie Nº
mortalidade Colisão Electrocussão Pórtico Galhardete
Galhardete sinalizado
Triângulo Triângulo sinalizado
Garça-boieira Bubulcus ibis 21 16 5 18 3
Cegonha-branca Ciconia ciconia 9 5 4 5 4
Marrequinho Anas crecca 1 1 1
Pato-real Anas plathyrynchos 3 3 1 1 1
Milhafre-real Milvus milvus 1 1 1
Grifo Gyps fulvus 2 2 2
Águia-cobreira Circaetus gallicus 3 3 1 2
Águia-de-asa-redonda Buteo buteo 4 4 3 1
Águia-calçada Hieratus pennatus 1 1 1
Peneireiro Falco tinnunculus 5 2 3 1 2 1 1
Peneireiro-das-torres Falco naumanni 4 1 3 1 3
Codorniz Coturnix coturnix 11 11 2 6 2 1
Perdiz Alectoris rufa 4 4 1 2 1
Sisão Tetrax tetrax 15 15 1 4 4 5 1
Abetarda Otis tarda 5 5 1 2 2
Tarambola-dourada Pluvialis apricaria 2 2 1 1
Abibe Vanellus vanellus 12 12 2 3 1 3 3
Cortiçol-de-barriga-preta Pterocles orientalis 1 1 1
Pombo-domestico Columba livia 6 6 2 1 2 1
Coruja-das-torres Tyto alba 3 3 1
Poupa Upupa epops 2 2 1 2 1
Calhandra-real Melanocorypha calandra 1 1 1
Cotovia-do-monte Galerida theklae 2 2 1 1
Laverca Alauda arvensis 7 7 3 2 1 1
Petinha-dos-prados Anthus pratensis 1 1 1
Fuinha-dos-juncos Cisticola juncidis 1 1 1
11
Espécie Nº
mortalidade Colisão Electrocussão Pórtico Galhardete
Galhardete sinalizado
Triângulo Triângulo sinalizado
Toutinegra Sylvia sp. 1 1 1
Felosa-musical Phylloscopus trochilus 3 3 1 1 1
Picanço-real Lanius meridionalis 2 2 1 1
Picanço-barreteiro Lanius senator 1 1 1
Gralha Corvus corone 2 2 2
Corvo Corvus corax 4 4 1 2 1
Estorninho-preto Sturnus unicolor 8 4 4 1 1 1 5
Trigueirão Miliaria calandra 31 31 3 9 9 8 2
Passeriforme não identificado 26 26 4 11 6 4 1
Ave não identificada 3 3 1 1 1
Total 208 171 37 27 68 44 50 19
12
3.1.1. Variação anual da mortalidade
Verificou-se mortalidade de aves durante todo o ano, todavia o valor mensal variou entre as 6 e as 42
aves (Figura 3). Durante o mês de Novembro registou-se um pico de mortalidade, valor que está em parte
relacionado com os elevados números de indivíduos das espécies codorniz, trigueirão e garça-boieira. De
Fevereiro a Abril verificou-se uma ligeira quebra nos valores de mortalidade.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Maio
Junh
o
Julho
Agosto
Setembro
Outub
ro
Novem
bro
Dezem
bro
Jane
iro
Fevereiro
Março
Abril
cão
observador
Figura 3 – Mortalidade mensal de aves em linhas de alta e média tensão na ZPE de Castro Verde. Aves detectadas pelo observador e pelo cão.
Na Figura 3 estão representados as aves detectadas pelo observador e as que foram registadas graças à
presença do cão nos percursos. A utilização de um cão nas prospecções a partir do mês de Agosto
revelou-se bastante proveitosa e complementar ao observador, uma vez que permitiu um aumento de
detecção na ordem dos 29%. É de referir que as aves atribuídas ao cão não estavam visíveis para o
observador, pelo que essa proporção dos indícios de mortalidade (29%) não teria sido detectada se o
observador tivesse realizado as prospecções sozinho. Por outro lado, salienta-se que grande parte dos
cadáveres registados pelo observador também foi assinalada pelo cão.
A actuação do cão teve particular expressividade em situações de difícil visibilidade, especialmente na
detecção de cadáveres de aves mais pequenas ou de cadáveres presentes em áreas de vegetação alta
e/ou densa. No entanto, a sua eficácia parece estar condicionada pelas condições do vento, em particular
pela direcção, e também pelo tempo de permanência do cadáver no terreno. Aves que morreram apenas
há poucas horas parecem ser menos detectáveis.
13
3.1.2. Mortalidade por colisão
A maior parte dos indícios de mortalidade registados neste trabalho dizem respeito a acidentes por
colisão com os cabos aéreos das linhas (n=171; 82.2%) (Tabela IV). Obteve-se um valor de mortalidade
de aves por colisão de 3.42 aves/km/ano.
As espécies mais afectadas por este tipo de mortalidade foram o trigueirão (n=31), a garça-boieira (n=16),
o sisão (n=15), o abibe (n=12) e a codorniz (n=11). A maior parte dos casos de mortalidade de aves
estepárias, como a abetarda (n=5), o peneireiro-das-torres (n=1), o cortiçol-de-barriga-preta (n=1) e a
calhandra-real (n=1), também ocorreram por colisão com estas infra-estruturas.
3.1.3. Mortalidade por electrocussão
O valor de mortalidade por electrocussão foi bastante inferior ao determinado para a colisão (n=37;
17.8%) (Tabela IV). Obteve-se um valor de mortalidade por electrocussão de 0.13 aves/apoio/ano e de
0.74 aves/km/ano.
Neste caso, as espécies mais afectadas pertencem ao grupo das aves de presa (Accipitriformes n=11 e
Falconiformes n=6), que utilizam frequentemente os apoios das linhas eléctricas como local de poiso, aos
Ciconiformes (n=9) e aos Passeriformes (n=8). A garça-boieira, com 5 cadáveres, juntamente com a
cegonha, a águia-de-asa-redonda, o corvo e o estorninho, cada uma com 4, foram as espécies mais
detectadas.
É de referir que também foi registada mortalidade por electrocussão de espécies com estatuto de
conservação de Ameaça ou de Quase Ameaça como o peneireiro-das-torres (n=3), a águia-cobreira
(n=3), a águia-calçada (n=1), o milhafre-real (n=1) e o corvo (n=1).
3.1.4. Análise por tipologia
A tipologia com maior mortalidade foi o galhardete, com 68 acidentes, seguido do triângulo (n=50) e do
galhardete sinalizado (n=44) (Tabela IV). Considerando apenas os casos de colisão estes valores são de
58, 31 e 43 aves, respectivamente. Num dos troços da tipologia galhardete (Mouras) verificou-se uma
elevada mortalidade de aves devido à presença de uma colónia de cegonha-branca e de garça-boieira, a
menos de 50 metros da linha. Se ao número total de aves acidentadas na tipologia galhardete retirarmos
o número de aves dessas espécies que morreu no sector próximo à referida colónia, verifica-se que o
valor para a colisão na tipologia galhardete desce para as 43 aves, que é o mesmo valor da tipologia
galhardete sinalizado.
No caso da electrocussão foram as linhas com a tipologia triangulo que apresentaram um valor superior
de mortalidade (18 aves), seguido pelo galhardete (n=10) e pelo triângulo sinalizado (n=6). Analisando o
14
tipo de apoios envolvidos verifica-se que 19 dos casos de mortalidade ocorreram em apoios do tipo
triangulo e 16 em seccionadores. Tal como referido na tabela IV a mortalidade em linhas de galhardete
ocorreu em seccionadores, pelo que o problema não está nos apoios em galhardete, mas sim nos apoios
onde se encontram seccionadores horizontais.
Apenas foi detectado uma situação de electrocussão em pórtico, uma coruja-das-torres, que foi
encontrada debaixo de um apoio. À partida, este tipo de mortalidade não é previsto num apoio deste tipo,
dadas as suas características. Trata-se de uma situação isolada que pode ter ocorrido devido à
conjugação de factores pouco comuns ou aquando do momento em que a ave se aproximava, em voo,
do apoio.
Tabela IV – Mortalidade por colisão e electrocussão em cada tipologia estudada.
Quando se analisam os diferentes troços em separado verifica-se uma grande variabilidade entre eles
(Tabela V). O valor de mortalidade anual para a ZPE foi de 4.16 aves/km, no entanto, esse valor variou
entre 1.6 e 12.7 consoante o troço. Os troços de São Marcos e das Mouras destacam-se nitidamente dos
restantes, apresentando valores bastante elevados, 12.7 e 11.3 aves/km, respectivamente.
Dentro da mesma tipologia os valores chegam a ser também bastante variáveis, como é o caso do
triangulo com valores anuais que oscilam entre os 2.5 e 12.7 aves/km, ou do galhardete que apresenta
valores desde as 3.2 até às 11.3 aves/km.
As grandes variações entre os troços da mesma tipologia sugerem que existem outros factores para além
da tipologia a condicionar a mortalidade de aves.
No Anexo II encontra-se toda a informação referente aos troços estudados.
Electrocussão
Nº mortalidade
Colisão
total apoios seccionadores poste de
transformação
Pórtico 27 26 1 1 Galhardete 68 58 10 10
Galhardete sinalizado 44 43 1 1 Triangulo 50 31 19 18 1
Triangulo sinalizado 19 13 6 1 4 1
15
Tabela V – Mortalidade de aves em cada troço estudado.
3.1.5. Mortalidade de abetarda
No total detectaram-se 5 indícios de mortalidade de abetarda por colisão com linhas de alta e média
tensão, o que corresponde a um valor de 0.1 abetardas/km/ano (Tabela VI). Estes indícios foram
registados na tipologia pórtico (n=1), galhardete (n=2) e galhardete sinalizado (n=2). Verificou-se uma
concentração de acidentes durante os meses de Outubro e Novembro.
É de referir que duas das aves morreram no mesmo troço (Serrão) e no mesmo sector (área
compreendida entre dois apoios), em alturas do ano distintas. Nas proximidades deste troço existe uma
pequena barragem que é utilizada regularmente pela espécie, o que explica uma elevada utilização da
área pelas abetardas. Por outro lado, no terreno verifica-se que este sector está perto a um ponto alto,
numa cota mais baixa, e que os cabos, por estarem mais baixos que a referida elevação, podem não ser
visíveis para as aves quando em voo. A conjugação destes dois factores pode ser responsável pelo
elevado valor de acidentes no sector.
Impacte das linhas de alta e média tensão na população de abetarda
Considerando apenas o número de quilómetros de linhas de alta e de média tensão presentes obtém-se
um valor de mortalidade de 23.4 abetardas por ano na ZPE. É necessário ter presente que este valor foi
obtido sem ter em conta factores relacionados com a biologia e a distribuição da espécie na área de
estudo. A dimensão dos dados recolhidos durante um ano de trabalho não permite uma análise de
modelação específica para a abetarda, pelo que a extrapolação que os dados permitem pode estar tanto
sub como sobrestimada.
Tipologia Troço Código da linha nº aves/km/ano
Pórtico a) Desgastes 0201 L5008700 3.1 b) Filipeja 0201 L5008700 1.6
Galhardete c) Mouras 0206 L2001665 11.3 d) Mestras 0206 L2001660 6.7 e) Serrão 0209 L20018B4 4 f) Albernôa 0201 L2008500 3.2
Galhardete g) Achada 0206 L2001682 5.3 sinalizado h) Barrigoa 0206 L2001663 3.5
i) Mealheira 0201 L2001690 3.3 j) Peso 0209 L20018B4 5.5 l) Viseus 0209 L2001800 4.3
Triangulo m) Guerreiro 0206 L2001865 2.5 n) Benviúda 0209 L20018C2 3.5 o) Brunheiras 0211 L3008300 2.6 p) São Marcos 0206 L2001858 12.7 q) Laranjo 0206 L2001859 7.3
Triangulo r) Lagoa da Mó 0201 L2001600 1.8 sinalizado s) Salto 0206 L2001858 3.3
16
Apesar do valor ser reduzido para a análise estatística o valor de mortalidade observado representa
1,93% da população estimada para a área (população estimada em 1212 aves, na contagem de 2008,
Rocha com. pess). Se tivermos em consideração que a população de abetardas sofre várias variações ao
longo do ano e que durante os meses em que se verificou mortalidade (Outubro a Novembro) o número
de aves na zona está estimado em 70% das aves observadas durante a Primavera, a percentagem de
população afectada sobe para 2,76 %.
Tabela VI – Mortalidade de abetarda em linhas eléctricas de alta e média tensão na ZPE de Castro Verde.
3.1.6. Mortalidade de sisão
Registaram-se 15 indícios de mortalidade de sisão por colisão e um valor de 0.3 sisões/km/ano (Tabela
VII). Observou-se mortalidade em todas as tipologias consideradas no estudo, sendo de realçar o
triangulo (n=5), o galhardete (n=4) e o galhardete sinalizado (n=4). Dos troços amostrados o de Viseus,
com 4 cadáveres de sisão, destaca-se pelo elevado e discrepante valor de mortalidade. Os troços Mouras
e Mestras também se distinguem com 2 aves desta espécie. No que diz respeito à distribuição da
mortalidade ao longo do ano verifica-se que grande parte dos registos se concentra durante o período de
reprodução e início da pós-reprodução entre Abril e Julho. (Figura 4).
Impacte das linhas de alta e média tensão na população de sisão
Se se extrapolar o valor obtido neste estudo para o nº total de quilómetros de linhas de alta e média
presentes na ZPE, obtém-se uma valor de mortalidade de 70 sisões por ano, o que corresponde a
1.03% da população estimada para a espécie na área (população estimada em 3390 machos
reprodutores (Silva & Pinto 2006) e extrapolada para 6780 aves, considerando um sex ratio de 1:1). Tal
como no caso da abetarda é de realçar que esta extrapolação pode estar sub ou super-estimada.
Troço Tipologia Mês
Desgastes P Outubro Serrão GAL Novembro Serrão GAL Abril Peso GAL sin Julho Viseus GAL sin Outubro
17
Tabela VII – Mortalidade de sisão em linhas eléctricas de alta e média tensão na ZPE de Castro Verde.
0
1
2
3
4
5
6
Maio
Junh
o
Julho
Agosto
Setembro
Outub
ro
Novem
bro
Dezem
bro
Jane
iro
Fevereiro
Março
Abril
Figura 4 – Variação sazonal da mortalidade de sisão em linhas de alta e média tensão na ZPE de Castro Verde.
3.2. Efeito das medidas correctivas
3.2.1. Sinalização dos cabos com BFD
Nos troços sinalizados com BFD encontraram-se 56 cadáveres de aves, enquanto que nos não
sinalizados o valor foi de 74 (Tabela VIII). Apesar de se terem detectado menos acidentes nos troços
sinalizados com BFD essas diferenças não são significativas (P=0.470 Z=-0.742).
No caso da tipologia triângulo detectaram-se 31 aves nos troços não sinalizados e 13 nos sinalizados,
diferença que não foi comprovada estatisticamente (P=0.245 Z=-1.162). Por sua vez, no galhardete foi
Troço Tipologia Mês
Desgastes P Junho Mestras GAL Maio Mestras GAL Junho Mouras GAL Maio Mouras GAL Novembro Viseus GAL sin Maio Viseus GAL sin Maio Viseus GAL sin Junho Viseus GAL sin Novembro
Guerreiro TR Maio São Marcos TR Julho Benviuda TR Julho Laranjo TR Junho
Brunheiras TR Abril Salto TR sin Março
18
encontrado o mesmo número de aves e também não se detectaram diferenças estatísticas significativas
(P=0.624 Z=-0.490).
No caso das espécies abetarda e sisão verificou-se o mesmo valor das duas tipologias de galhardete
(n=2 e n=4 respectivamente). No caso da tipologia triangulo observaram-se mais acidentes com sisão nos
troços sinalizados (n=5) do que nos não sinalizados (n=1).
Tabela VIII – Mortalidade de aves por colisão em linhas da tipologia galhardete, galhardete sinalizado, triangulo e triangulo sinalizado. Nº total, nº de abetardas e nº de sisões.
* não foram incluídos os dados do sector 29-30 do troço das Mouras para as espécies cegonha-branca e garça-boieira, devido à proximidade de uma colónia destas espécies.
3.2.2. Dispositivos contra a electrocussão
Nos 70 apoios da tipologia triângulo sem medidas correctivas amostrados foram detectados 18 cadáveres
de aves electrocutadas, enquanto que nos 59 apoios com dispositivos anti-electrocussão apenas foi
encontrado 1. É de referir que o apoio corrigido em que foi encontrado esta ave possuía também uma
derivação para outra linha e nessa amarração não estavam presentes esses dispositivos. Assim, os
dispositivos que têm sido utilizados nestes apoios para prevenir episódios de electrocussão de aves estão
a ser eficazes.
3.3. Modelação dos factores indutores de mortalidade
Não se observaram correlações entre as variáveis consideradas, pelo que todas foram consideradas na
construção do modelo. Devido à dimensão da amostra não foi possível modelar as variáveis “presença /
ausência de mortalidade de abetarda” e “presença / ausência de mortalidade de sisão”. Na tabela IX são
apresentados os resultados da análise univariada para cada uma das variáveis.
Mortalidade total
Das variáveis definidas apenas a distância a áreas de lek de abetarda foi seleccionada para explicar o
valor de mortalidade anual. No entanto, o modelo que incorpora esta variável apenas explica 4,9% da
variância dos dados.
Não sinalizado Sinalizado
total abetarda sisão total abetarda sisão
Galhardete 43* 2 4 43 2 4
Triângulo 31 0 5 13 0 1
19
Mortalidade por colisão
No caso da mortalidade por colisão, a análise univariada seleccionou duas variáveis, a distância a leks de
abetarda e a distância a bandos de abetarda. Na escolha do melhor modelo, verificou-se que o valor de
AIC é menor para D_lekOtis do que quando se juntam as duas variáveis significativas. Assim, segundo os
testes estatísticos o modelo que inclui a variável D_lekOtis é o que explica melhor o valor de mortalidade
por colisão obtido neste trabalho, explicando 6% da variância dos dados.
Mortalidade por electrocussão
Por sua vez, quando se considera o valor de mortalidade de aves por electrocussão, em cada troço de
500m, foram seleccionadas três variáveis: número de apoios, tipologia de apoios e distância a colónias de
peneireiro-das-torres. O melhor modelo para esta variável dependente é o que incorpora estes três
factores, que juntos explicam 34% da variância.
Presença / ausência de mortalidade
A presença / ausência de mortalidade de aves nos troços de 500m é explicada pelo modelo que incorpora
as variáveis habitat e distância a leks de abetarda, que explica 4,5% da variância dos dados.
3.4. Mapa de sensibilidade à colisão e electrocussão na ZPE de Castro Verde
Uma vez que não foram obtidos bons modelos explicativos a partir dos dados recolhidos no âmbito deste
trabalho não foi possível desenhar um mapa de sensibilidade à colisão e electrocussão na ZPE de Castro
Verde.
20
Tabela IX – Resultados da análise univariada, coeficiente β (β é + se as duas variáveis variam no mesmo sentido e, β é – na situação inversa) e significância (* - 0.1<P<0.5) para cada uma das variáveis definidas.
mortalidade mortalidade por
colisão mortalidade por electrocussão
presença / ausência de mortalidade
Código β P β P β P β P
Cod_linha ns ns ns ns
n_apoios ns ns + * ns
tipologia ns ns + * ns
secc ns ns ns ns
Características da linha
d_linhas ns ns ns ns
habitat ns ns ns + *
D_est ns ns ns ns
D_loc ns ns ns ns
D_agua ns ns ns ns
Factores do meio
relevo ns ns ns ns
D_lekOtis - * - * ns - *
D_bOtis ns - * ns ns
D_tetrax ns ns ns ns
D_naum ns ns + * ns
D_cic ns ns ns ns
Factores biológicos
D_grous ns ns ns ns
21
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Mortalidade de aves na ZPE de Castro Verde
Os dados obtidos num ano de trabalho revelaram elevados valores de mortalidade em linhas de
distribuição de energia da ZPE, sendo que 20% dos casos envolvem espécies com estatuto de Ameaça
ou de Quase Ameaça, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados (Cabral et al. 2005). A colisão foi
responsável por mais de 80% dos valores de mortalidade. As espécies ou grupos de espécies mais
afectados estão de acordo com as classes de sensibilidade descritas noutros trabalhos (e.g. Janss 2000,
BirdLife 2003, Infante et al. 2005).
Realça-se, no entanto, que o valor de mortalidade real é superior ao apresentado neste relatório, uma vez
que nem todos os acidentes são detectados pelos observadores, quer por erro de detecção, como pela
acção de espécies necrófagas que removem as carcaças do terreno, muitas vezes sem deixar vestígios.
Por outro lado, também é relevante o facto de nem todas as aves morrerem na área prospectada
(Bevanger 1999).
A comparação dos dados apresentados no presente relatório com os obtidos noutros estudos deve ser
feita com algumas precauções, uma vez que cada trabalho utiliza metodologias de recolha de dados
própria, nomeadamente o intervalo entre as prospecções, e aplica diferentes factores de correcção. Neste
contexto, assinala-se que no presente estudo, o valor de mortalidade observado apresenta um
enviesamento relativamente aos estudos que têm sido realizados em Portugal, uma vez que se utilizou
um cão durante as prospecções, o que aumentou a capacidade de detecção dos indícios de mortalidade
presentes no terreno em cerca de 29%.
De modo a tornar dos resultados obtidos neste trabalho mais comparáveis e, uma vez que a grande parte
dos estudos realizados ao nível nacional apenas apresenta dados de mortalidade reais (obtidos através
da aplicação de factores de correcção), calculou-se o valor de mortalidade real aplicando os factores de
correcção utilizados por Marques et al. (2007), para uma linha de muito alta tensão na ZPE de Castro
Verde 1. Assinala-se que para o cálculo da mortalidade real apenas se utilizou o número de aves
detectadas pelo observador, como valor de mortalidade observado, tendo-se excluído as detectadas
exclusivamente pelo cão.
1 Utilizou-se a fórmula: ME = MO x 1/(TD x TR x PAP) em que:
• ME é a Mortalidade Estimada; • MO é a Mortalidade Observada. Este é o valor detectado no decorrer do trabalho de campo. Foram apenas incluídas
as aves detectadas pelo observador, tendo-se excluído as detectadas pelo cão; • TD é a Taxa de Detecção por parte do observador, valor determinado para a área de estudo por Marques et al. 2007; • TR é a Taxa de Remoção, valor determinado para a área de estudo por Marques et al. 2007; • PAP é a Proporção de aves que morre na área prospectada. Considerou-se que 75% das aves que morrem por
colisão permanecem na área prospectada (Bevanger 1999).
22
O valor de mortalidade real calculado para os 50km de linhas amostradas neste trabalho é de 11 809
aves, das quais 43 são sisões e 18 são abetardas, o que corresponde a um valor de mortalidade de 236.2
aves/km/ano
Infante et al. (2005) identificam a ZPE de Castro Verde como a área do país com mais casos de
mortalidade em linhas eléctricas de espécies sensíveis, e com 10 e 13% da mortalidade verificada ao
nível nacional, para a colisão e electrocussão, respectivamente. Este trabalho apresenta um valor de
mortalidade real de 4,79 aves/km/ano, valor ligeiramente superior ao de mortalidade observado no
presente trabalho (4,16) e bastante inferior ao da mortalidade real (236.2 aves/km/ano). Por outro lado, os
mesmos autores apontam valores de mortalidade real de abetarda e sisão na área da ZPE (20 e 70 aves,
respectivamente) bastante inferiores aos extrapolados por este estudo (84,2 e 201,2 aves,
respectivamente, tendo em conta os valores de mortalidade real).
Efeito das medidas correctivas
No caso da mortalidade por colisão têm sido colocados BFD em espiral de fixação simples na ZPE de
Castro Verde como medidas de minimização. Estes dispositivos têm vindo a ser utilizados em diferentes
locais e segundo diferentes estudos podem ser responsáveis por uma redução de mortalidade na ordem
dos 50% (Alonso et a.l 1994, Brown & Drewien in Janss & Ferrer 1998) ou mesmo dos 75% (Janss &
Ferrer 1998). No entanto, um estudo realizado em Portugal indicia que os sinalizadores que têm sido
utilizados no nosso país apresentam uma eficácia bastante mais reduzida, tendo-se determinado uma
redução no valor de mortalidade entre os 4 e os 27% (Neves & Infante, 2008).
No presente trabalho apenas se verificou uma diminuição no valor de mortalidade de aves em linhas
sinalizadas da tipologia triângulo, sendo essa diferença na ordem dos 58% (quando comparado com a
tipologia triangulo não sinalizado), no entanto, a análise estatística não considerou esta diferença
significativa. Uma vez que a amostragem na tipologia triangulo sinalizado se restringiu, por motivos de
representatividade na área de estudo, a duas linhas (uma com 9,5km e outra apenas com 600m), é
possível que estes dados se encontrem enviesados. Assim, devido à baixa representatividade da
amostragem em triângulo sinalizado e, consequentes enviesamentos da amostra, os resultados obtidos
não são consideram conclusivos sobre a eficácia da sinalização desta tipologia.
No caso da tipologia galhardete o valor de mortalidade foi igual nos troços sinalizados e não sinalizados.
Segundo os dados recolhidos neste estudo, os BFD colocados nas linhas com a tipologia galhardete não
foram eficazes na redução dos valores de mortalidade de aves por colisão. Por sua vez, para a tipologia
triângulo, os dados não são suficientes para tirar conclusões.
No caso particular da electrocussão, os dispositivos que têm vindo a ser colocados na ZPE para evitar
este tipo de mortalidade estão a ser muito eficientes. Ao longo do ano de trabalho apenas foi detectado
23
um cadáver de ave num apoio com dispositivos anti-electrocussão, todavia este apoio também possuía
uma derivação que não estava protegida.
Modelação da mortalidade
Os modelos obtidos no âmbito deste trabalho revelaram-se insuficientes para explicar a mortalidade de
aves na ZPE de Castro Verde. Tal verificou-se para todas as variáveis dependentes consideradas:
mortalidade anual; mortalidade anual por colisão; mortalidade anual por electrocussão e presença ou
ausência de mortalidade.
Apesar de não se ter obtido bons modelos multivariados, a análise univariada permite tecer algumas
considerações sobre a importância das variáveis utilizadas para a mortalidade de aves em linhas
eléctricas na área de estudo.
No caso particular das variáveis independentes incluídas nas características da linha, a linha (Cod_linha),
a presença de seccionadores no troço (secc) e o cumprimento total de linhas na quadrícula 1x1 km
(d_linhas) não se revelaram significativas para qualquer uma das variáveis dependentes consideradas na
análise. Por outro lado, as variáveis número de apoios no troço (n_apoios) e tipologia de apoios
(tipologia) estão relacionadas com a mortalidade anual de aves por electrocussão. Este resultado está
dentro do esperado, uma vez que reflecte que os episódios de electrocussão ocorrem em tipos
específicos de apoios (triângulo e seccionadores) e que quanto maior é o número de apoios num troço,
maior a probabilidade de ocorrerem electrocussões de aves.
Das variáveis que caracterizam o meio, a distância a elementos da paisagem, como estradas, localidades
e planos de água (D_est, D_loc e D_agua) e o índice de relevo (relevo) não tiveram um resultado
significativo. Estas variáveis são frequentemente seleccionadas em modelos de distribuição de espécies
estepárias e em estudos de selecção de habitat, pelo que era esperado que tivessem influência na
mortalidade de aves. O facto de nenhuma delas ter sido considerada significativa pode dever-se a terem
sido utilizados dados de várias espécies em simultâneo como variáveis dependentes. Deste grupo de
variáveis apenas o habitat foi considerado significativo para a presença/ausência de mortalidade, o que
reflecte que a mortalidade foi superior nos troços de 500m localizados em habitat aberto, quando
comparados com os do montado.
Por outro lado, dos factores biológicos, a distância a áreas utilizadas pelo sisão fora da época de
reprodução, a distância a colónias ninhos e/ou colónias de cegonha-branca e a distância a dormitórios de
grous não apresentaram resultados significativos para qualquer uma das variáveis dependentes
analisadas.
Acrescenta-se que as variáveis utilizadas para o grupo factores ecológicos dizem respeito, na sua grande
maioria, a espécies com estatutos de ameaça, que são aquelas para as quais existe mais informação
24
para a área de estudo. Assim, as variáveis independentes do grupo “factores biológicos” apenas
representam uma pequena porção dos indivíduos detectados na área de estudo e não são as mais
adequadas para a maioria das espécies envolvidas. O que pode justificar os resultados obtidos e a baixa
significância dos modelos construídos com estas variáveis.
O facto de se ter utilizado os dados de todas as espécies em simultâneo pode ter condicionado os
resultados da modelação, uma vez que cada espécie tem características próprias, tais como a
distribuição na área de estudo, aspectos comportamentais e diferente susceptibilidade à colisão e/ou
electrocussão com linhas eléctricas. Face ao exposto é espectável que os factores que induzem a
mortalidade possam variar de espécie para espécie.
Apesar de se ter verificado um valor elevado de mortalidade neste ano de trabalho, a dimensão dos
dados não permitiu a realização de modelos explicativos por espécie. Tal apenas será possível com um
maior esforço de amostragem. Adicionalmente é de equacionar a construção de modelos para a área de
estudo juntando os dados deste trabalho com os obtidos noutros estudos, nomeadamente nos recolhidos
por Infante et al. (2005) 2. No entanto, ressalva-se que a construção de um modelo através da junção de
dados de diferentes estudos revela alguns problemas, nomeadamente quando o esforço de amostragem
e os troços amostrados são distintos, o que acontece no caso destes dois trabalhos.
2 Tal pode ser realizado no âmbito deste projecto, num relatório adicional. Para tal, a informação sobre mortalidade de aves na ZPE (mortalidade observada) deve ser disponibilizada de um modo georeferenciado ou, alternativamente, a informação deve ser fornecida por sector de linha eléctrica.
25
5. CONCLUSÕES
• Obteve-se um valor geral de mortalidade observado de 4.16 aves/km/ano;
• 20% dos acidentes registados envolvem espécies com estatuto de ameaça: abetarda (Otis tarda)
e cortiçol-de-barriga-preta (Pterocles orientalis) com estatuto Em Perigo, sisão (Tetrax tetrax) e
peneireiro-das-torres (Falco naumanni) classificados como Vulnerável, e águia-cobreira
(Circaetus gallicus), corvo (Corvus corax), águia-calçada (Hieraaetus pennatus), picanço-
barreteiro (Lanius meridionalis) e calhandra-real (Melanocorypha calandra) designados como
Quase Ameaçados;
• A maior parte dos acidentes registados correspondem a mortalidade por colisão – 3.42
aves/km/ano e as espécies mais afectadas foram o trigueirão (Miliaria calandra), a garça-boieira
(Bubulcus ibis), o sisão (Tetrax tetrax), o abibe (Vanelus vanelus) e a codorniz (Coturnix
coturnix);
• Para a electrocussão determinou-se um valor de 0.74 aves/km/ano e de 0.13 aves/apoio/ano. As
espécies mais afectadas pertencem ao grupo das aves de presa;
• A mortalidade na tipologia pórtico foi inferior às outras duas tipologias, triangulo e galhardete,
que apresentaram valores semelhantes entre si;
• Os dados revelam que os BFDs não estão a reduzir o valor de mortalidade de aves por colisão
na tipologia galhardete;
• Os dados sobre a eficácia das medidas de correcção para o triângulo não são conclusivos. De
modo a aferir a eficácia da sinalização utilizada nas linhas de média e alta tensão sugere-se que
se crie um novo desenho experimental, em que se monitorize diferentes traçados, durante um
período alargado, antes e depois da sua sinalização. Por outro lado, recomenda-se que sejam
utilizados troços controlo (que não sejam sinalizados) de modo a comparar a eficácia da medida
de minimização e a consolidar os resultados obtidos;
• Sugere-se igualmente que se testem outros dispositivos de sinalização em alternativa aos BFD
em espiral, de modo a testar quais os mais eficientes;
• Os dispositivos que têm sido utilizados para evitar acidentes por electrocussão estão a ter bons
resultados e devem ser colocados nos apoios da tipologia triângulo presentes na ZPE;
• Recomenda-se a utilização de cães treinados de modo a aumentar a eficácia da detecção de
cadáveres durante as prospecções (na ordem dos 29% no presente estudo);
• Verificaram-se valores de mortalidade bastante variáveis consoante a linha, destacando-se os
troços de São Marcos (Salto, 0206 L2001858) e das Mouras (R Sta. Bárbara – Entradas, 0206
L2001665) com valores superiores aos restantes. Recomenda-se a adopção de medidas de
26
minimização nestes troços, no entanto, dado que os BFD em espiral de cor cinza não têm
diminuído os valores de mortalidade de uma forma favorável, recomenda-se a utilização de
outros tipos de BFD e o respectivo teste no terreno. Como exemplo indicam-se os BFD em
espiral coloridos.
• Realça-se também o troço Viseus (SE Cerro do Calvário – Castro Verde, 0209 L2001800) que
apresentou um elevado número de acidentes envolvendo espécies prioritárias. Uma vez que
esta linha está sinalizada e que se continua a registar mortalidade de espécies como o sisão, a
abetarda e o cortiçol-de-barriga-preta é de equacionar alterar o traçado desta linha ou o seu
enterramento;
• As grandes variações entre os troços da mesma tipologia sugerem que existem outros factores
para além da tipologia a condicionar a mortalidade de aves. Pelo que se recomenda o
aprofundar desta temática. Para modelar os dados de mortalidade de aves na ZPE de Castro
Verde e construir um mapa de susceptibilidade à mortalidade em linhas eléctricas é necessário
dispor de um maior volume de dados e, se possível, modelar os dados consoante cada espécie
ou grupos de espécies. Para isso recomenda-se que se prossiga com a amostragem pelo
período mínimo de um ano, mantendo o mesmo desenho experimental utilizado neste trabalho.
27
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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28
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I
Anexo I – Estatutos de conservação, Legislação e Fenologia das espécies referidas.
ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO EM PORTUGAL (segundo o Novo Livro Vermelho dos Vertebrados de
Portugal (Cabral et al. 2005)):
EX – Extinto
EW – Extinto na Natureza
CR – Criticamente em Perigo
EN – Em Perigo
V – Vulnerável
NT – Quase Ameaçado
LC – Pouco Preocupante
DD – Informação Insuficiente
NE – Não Avaliado
CONVENÇÃO DE BERNA (82/71/CEE; Decreto-Lei nº 316/89, de 22 de Setembro):
Anexo II: espécies de fauna que devem ser estritamente protegidas.
Anexo III: espécies protegidas de uma forma menos estrita, sendo possível a sua captura ou
abate, se bem que com restrições.
CONVENÇÃO DE BONA (Decreto-Lei nº 103/80, de 11 de Outubro):
Anexo I: espécies migradoras que deve ser imediatamente protegidas e cujo habitat deve ser
reconstruído.
Anexo II: espécies cujo estado de conservação é desfavorável e para as quais se devem
programar acordos internacionais de conservação.
DIRECTIVA AVES (79/409/CEE; Decreto-Lei nº 140/99 de 24 de Abril):
Anexo AI: espécies de aves de interesse comunitário cuja conservação requer a designação de
zonas de protecção especial.
Anexo AII: espécies de aves cujo comércio é permitido sob dadas condições.
II
Anexo AIII: espécies de aves cujo comércio pode ser objecto de limitações.
FENOLOGIA
R: Residente
I: Invernante
E: Estival
MP: Migrador de passagem
Espécie LVVP Convenção
Bona Convenção
Berna Directiva Aves
Fenologia
Ciconiformes
Garça-boieira (Bubulcus ibis) LC II R
Cegonha-branca (Ciconia ciconia) LC II II R/E
Anseriformes
Marrequinho (Anas crecca) LC II III D I
Pato-real (Anas plathyrynchos) LC II III AII; AIII R
Accipitriformes
Milhafre-real (Milvus milvus) NT II II AI I
Grifo (Gyps fulvus) LC II II AI R
Águia-cobreira (Circaetus gallicus) NT II II AI E
Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) LC II II R
Águia-calçada (Hieratus pennatus) NT II II AI E
Falconiformes
Peneireiro (Falco tinnunculus) LC II II R
Peneireiro-das-torres (Falco naumanni) VU II II AI E
Galliformes
Codorniz (Coturnix coturnix) LC II III AII E/R
Perdiz (Alectoris rufa) LC III D R
Gruiformes
Sisão (Tetrax tetrax) VU II AI R
Abetarda (Otis tarda) EN II II AI R
Charadriiformes
Tarambola-dourada (Pluvialis apricaria) LC II III AI I
Abibe (Vanellus vanellus) LC II III I
Pteroclidiformes
Cortiçol-de-barriga-preta (Pterocles orientalis) EN II AI R
III
Strigiformes
Coruja-das-torres (Tyto alba) LC II R
Coraciformes
Poupa (Upupa epops) LC II R/E
Passeriformes
Calhandra-real (Melanocorypha calandra) NT II AI R
Cotovia-do-monte (Galerida theklae) LC II AI R
Laverca (Alauda arvensis) LC III I/R
Petinha-dos-prados (Anthus pratensis) LC II I
Picanço-real (Lanius meridionalis) LC II R
Picanço-barreteiro (Lanius senator) NT I E
Gralha (Corvus corone) LC R
Corvo (Corvus corax) NT III R
Estorninho-preto (Sturnus unicolor) LC I R
Trigueirão (Miliaria calandra) LC III R
IV
Anexo II – Caracterização dos troços estudados e da mortalidade detectada
TROÇO – DESGASTES
Cired: 0201 L5008700
Tipologia: Pórtico
Extensão: 7000 m
Apoios: 41-69
Nº aves / km / ano: 3.1
Caracterização do troço: este troço corre paralelamente à estrada que liga Castro Verde e Aljustrel (a Este da estrada), seguindo uma orientação Norte-Sul, aproximadamente. Atravessa um mosaico composto por culturas de cereal, pastagens (de gado bovino e ovino) e pousios.
Caracterização da mortalidade: Foram detectados 22 cadáveres de aves, entre as quais um sisão e uma abetarda. O grupo mais afectado foi o dos passeriformes. A mortalidade foi maioritariamente por colisão, tendo-se registado apenas um episódio por electrocussão, num apoio da tipologia pórtico.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Anas plathyrynchos Novembro II colisão 60-61
Falco naumanni Agosto I colisão 42-43
Tetrax tetrax Junho I colisão 50-51
Otis tarda Outubro I colisão 58-59
Pluvialis apricaria Janeiro II colisão 50-51
Vanellus vanellus Janeiro II colisão 67-68
Vanellus vanellus Março I colisão 65-66
Columba livia Novembro II colisão 67-68
Columba livia Março II colisão 51-52
Tyto alba Dezembro I electrocussão 59
Upupa epops Agosto II colisão 68-69
Alauda arvensis Dezembro I colisão 43-44
Alauda arvensis Dezembro II colisão 48-49
Alauda arvensis Janeiro I colisão 55-56
Anthus pratensis Novembro I colisão 49-50
Lanius meridionalis Julho II colisão 63-64
Miliaria calandra Novembro I colisão 63-64
Miliaria calandra Janeiro I colisão 48-49
Passeriforme ni Novembro I colisão 51-52
Passeriforme ni Novembro I colisão 51-52
Passeriforme ni Fevereiro II colisão 50-51
Passeriforme ni Março I colisão 62-63
V
TROÇO – FILIPEJA
Cired: 0201 L5008700
Tipologia: Pórtico
Extensão: 3000 m
Apoios: 110-122
Nº aves / km / ano: 1.6
Caracterização do troço: este troço pertence à mesma linha que o troço dos Desgastes. A linha corre paralelamente à estrada que liga Castro Verde e Almodôvar (a Este da estrada), seguindo a orientação Norte-Sul. O habitat é composto por montado de azinho disperso e por pastagens.
Caracterização da mortalidade: Apenas foi detectada mortalidade por colisão, num total de 5 indícios.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Falco tinnunculus Dezembro II colisão 120-121
Galerida theklae Janeiro II colisão 115-116
Sturnus unicolor Agosto II colisão 120-121
Miliaria calandra Novembro I colisão 115-116
Ave ni Novembro I colisão 115-116
V
TROÇO – MOURAS
Cired: 0206 L2001665
Tipologia: Galhardete
Extensão: 3000m
Apoios: 28-43 (inclui 2 seccionadores que não foram alvo de medidas anti-electrocussão)
Nº aves / km / ano: 11.3
Caracterização do troço: este troço acompanha a estrada secundária entre o Carregueiro e Entradas, a sul. Atravessa áreas de seara, pousio e pastagem. Possui um seccionador horizontal no meio do traçado, bem como um seccionador horizontal na derivação do apoio 43 para a linha que passa no Monte Pestanas.
Caracterização da mortalidade: dos troços estudados foi o que apresentou maiores valores de mortalidade. No total foram detectados 34 cadáveres de aves, 24 de mortalidade por colisão e 10 por electrocussão. Parte da elevada mortalidade registada neste troço está relacionado com a presença de uma colónia de cegonha-branca e de garça-boieira a menos de 50 metros do sector 29-30. Realça-se também a mortalidade de 2 sisões.
Nove dos casos de electrocussão ocorreram em seccionadores (S30 e S43). Apenas num dos casos se observou electrocussão no meio do sector, devido ao contacto entre a ave e dois dos cabos condutores da linha.
*os apoios com seccionadores são assinalados com um S.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios*
Bubulcus ibis Maio II colisão 29-30
Bubulcus ibis Maio II colisão 29-30
Bubulcus ibis Junho I colisão 29-30
Bubulcus ibis Junho II colisão 29-30
Bubulcus ibis Junho II colisão 29-30
Bubulcus ibis Julho I colisão 29-30
Bubulcus ibis Julho II electrocussão 29-30
Bubulcus ibis Agosto I electrocussão S30
Bubulcus ibis Agosto I electrocussão S30
Bubulcus ibis Agosto II electrocussão S30
Bubulcus ibis Agosto II electrocussão S30
Bubulcus ibis Agosto II colisão 28-29
Ciconia ciconia Maio I colisão 29-30
Ciconia ciconia Maio I colisão 29-30
Ciconia ciconia Maio II colisão 29-30
Ciconia ciconia Julho I colisão 29-30
Falco tinnunculus Maio II electrocussão S43
Falco tinnunculus Maio II electrocussão S43
Coturnix coturnix Novembro I colisão 35-36
Coturnix coturnix Novembro I colisão 35-36
Alectoris rufa Novembro I colisão 32-33
Tetrax tetrax Novembro I colisão 34-35
Tetrax tetrax Maio I colisão 28-29
Columba livia Dezembro II colisão 35-36
Tyto alba Maio I electrocussão S43
Tyto alba Maio II electrocussão S43
Alauda arvensis Novembro II colisão 31-32
Corvus corax Setembro I electrocussão S30
Miliaria calandra Outubro II colisão 34-35
Passeriforme ni Novembro I colisão 35-36
Passeriforme ni Novembro I colisão 31-32
Passeriforme ni Novembro I colisão 30-31
Passeriforme ni Dezembro I colisão 32-33
Passeriforme ni Janeiro I colisão 30-31
V
TROÇO – MESTRAS
Cired: 0206 L2001660
Tipologia: Galhardete
Extensão: 3000m
Apoios: 10-28
Nº aves / km / ano: 6.7
Caracterização do troço: este troço atravessa área com características pseudo-estepárias, onde estão presentes parcelas agrícolas utilizadas para cultivo de cereal e para pastagem de gado bovino. Esta linha não acompanha outras estruturas lineares da paisagem.
Caracterização da mortalidade: foi um dos troços em que se detectaram mais acidentes, tendo-se registado apenas mortalidade por colisão. Destaca-se a ocorrência da mortalidade de dois sisões. Por outro lado, salienta-se que cinco das garças-boieira morreram na mesma noite e no mesmo sector. Esta é uma espécie gregária, que efectua frequentemente voos nocturnos, o que pode explicar este episódio.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Bubulcus ibis Agosto I colisão 24-25
Bubulcus ibis Novembro I colisão 10-11
Bubulcus ibis Novembro I colisão 10-11
Bubulcus ibis Novembro I colisão 10-11
Bubulcus ibis Novembro I colisão 10-11
Bubulcus ibis Novembro I colisão 10-11
Anas plathyrynchos Maio I colisão 14-15
Tetrax tetrax Maio II colisão 14-15
Tetrax tetrax Junho II colisão 17-18
Vanellus vanellus Novembro I colisão 15-16
Vanellus vanellus Novembro II colisão 13-14 Melanocorypha
calandra Outubro I colisão 20-21
Lanius meridionalis Junho II colisão 20-21
Miliaria calandra Setembro I colisão 21-22
Miliaria calandra Setembro II colisão 19-20
Miliaria calandra Novembro I colisão 19-20
Miliaria calandra Novembro I colisão 10-11
Passeriforme ni Outubro II colisão 13-14
Passeriforme ni Novembro I colisão 10-11
Passeriforme ni Janeiro I colisão 18-19
V
TROÇO – SERRÃO
Cired: 0209 L20018B4
Tipologia: Galhardete
Extensão: 1500m
Apoios: 80-86
Nº aves / km / ano: 4
Caracterização do troço: o traçado amostrado localiza-se paralelo à estrada secundária que passa na Corte Pequena e, no sector amostrado mais a norte, chega mesmo a cruzar a estrada. Atravessa maioritariamente área aberta, com parcelas de cultivo de cereal e de pastagem de gado ovino. No sector mais a Norte está presente uma área de matos e alguns bosquetes de eucaliptos.
Caracterização da mortalidade: Apenas se detectou mortalidade de aves por colisão, sendo de referir que se verificou a morte duas abetardas, exactamente no mesmo sector. Adianta-se também que já existiam registos anteriores de mortalidade de abetarda nesta zona.
Nas proximidades deste troço existe uma pequena barragem que é utilizada regularmente pela espécie, o que explica uma elevada utilização da área pelas abetardas. Por outro lado, no terreno verifica-se que o sector em questão está perto a um ponto alto, numa cota mais baixa, e que os cabos, por estarem mais baixos que a referida elevação, podem não ser visíveis para as aves quando em voo. A conjugação destes dois factores pode ser a responsável pelo elevado valor de acidentes no sector.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Otis tarda Novembro I colisão 82-83
Otis tarda Abril II colisão 82-83
Alauda arvensis Outubro II colisão 84-85
Sturnus unicolor Janeiro II colisão 83-84
Miliaria calandra Julho I colisão 82-83
Passeriforme ni Março II colisão 84-85
V
TROÇO – ALBERNÔA
Cired: 0201 L2008500
Tipologia: Galhardete
Extensão: 2500m
Apoios: 69-80
Nº aves / km / ano: 3.2
Caracterização do troço: este foi o troço amostrado mais a Norte da ZPE. Nesta zona o relevo é mais ondulado, quando comparado com os restantes locais amostrados. Atravessa áreas de pastagem, searas e também de olival. O seu traçado não acompanha outras infra-estruturas presentes na paisagem.
Caracterização da mortalidade: neste troço apenas se detectou mortalidade por colisão, não tendo sido registados episódios envolvendo espécies prioritárias. Refere-se que a cerca de 50 metros do local onde a cegonha-branca foi detectada está presente um ninho da espécie.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Ciconia ciconia Junho I colisão 78-79
Vanellus vanellus Dezembro II colisão 72-73
Phylloscopus trochilus Setembro II colisão 79-80
Miliaria calandra Novembro II colisão 77-78
Miliaria calandra Fevereiro I colisão 74-75
Miliaria calandra Março II colisão 75-76
Passeriforme ni Outubro I colisão 77-78
Passeriforme ni Outubro II colisão 70-71
V
TROÇO – ACHADA
Cired: 0206 L2001682
Tipologia: Galhardete sinalizado
Extensão: 1500m
Apoios: 6-15
Nº aves / km / ano: 5.3
V
Caracterização do troço: este troço atravessa áreas de pastagem de gado bovino e parcelas de cultivo de cereal.
Caracterização da mortalidade: foram detectados 8 indícios de colisão de aves neste troço, que não envolveram espécies prioritárias. Assinala-se o elevado número de codornizes detectado nesta área, três aves, em apenas 1500m.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Bubulcus ibis Junho II colisão 6-7
Bubulcus ibis Julho I colisão 13-14
Coturnix coturnix Outubro II colisão 9-10
Coturnix coturnix Novembro II colisão 9-10
Coturnix coturnix Novembro I colisão 11-12
Miliaria calandra Maio I colisão 8-9
Miliaria calandra Setembro II colisão 12-13
Passeriforme ni Julho II colisão 12-13
VI
TROÇO – BARRIGOA
Cired: 0206 L2001663
Tipologia: Galhardete sinalizado
Extensão: 2000m
Apoios: 1-12 (inclui 1 seccionador horizontal, que não foi alvo de medidas anti-electrocussão).
Nº aves / km / ano: 3.5
Caracterização do troço: este troço acompanha, na zona mais a noroeste do traçado, um caminho utilizado com regularidade. Atravessa áreas de pastagem de gado bovino e ovino, searas e uma horta.
Caracterização da mortalidade: Apenas foi detectada mortalidade por colisão, tendo sido encontradas 7 aves de espécies comuns no país e na área de estudo.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Bubulcus ibis Março II colisão 5-6
Columba livia Março I colisão 4-5
Columba livia Maio I colisão 2-3
Upupa epops Setembro II colisão 6-7
Miliaria calandra Setembro I colisão 4-5
Miliaria calandra Junho II colisão 6-7
Ave ni Fevereiro II colisão 2-3
VII
TROÇO – MEALHEIRA
Cired: 0201 L2001690
Tipologia: Galhardete sinalizado
Extensão: 1500m
Apoios: 1-9 (inclui 1 seccionador horizontal que não apresenta medidas anti-electrocussão)
Nº aves / km / ano: 3.3
Caracterização do troço: este troço localiza-se paralelamente a um estradão de terra batida bastante utilizado pela pelos proprietários dos terrenos. Atravessa áreas de cultivo de cereal e de pastagens, utilizadas por gado ovino e bovino.
Caracterização da mortalidade: Foram detectados cinco indícios de colisão de aves, maioritariamente passeriformes. Não foram detectados casos de electrocussão.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Coturnix coturnix Outubro II colisão 2-3
Alauda arvensis Novembro I colisão 3-4
Sylvia sp Setembro I colisão 1-2
Phylloscopus trochilus Dezembro II colisão 3-4
Passeriforme ni Janeiro I colisão 1-2
VIII
TROÇO – PESO
Cired: 0209 L20018B4
Tipologia: Galhardete sinalizado
Extensão: 2000m
Apoios: 99-108
Nº aves / km / ano: 5.5
Caracterização do troço: este troço atravessa uma ribeira e áreas de pastagem de gado ovino, bem como searas. Na sua proximidade destaca-se também a presença de um açude.
Caracterização da mortalidade: detectaram-se 11 indícios de mortalidade de aves por colisão, um deles de abetarda. Não foram detectados casos de electrocussão. Neste troço já tinham sido detectados casos de mortalidade de abetarda, o que levou à sua sinalização no âmbito dos protocolos realizados entre a EDP-Distribuição, ICNB, SPEA e Quercus. Apesar da proximidade da ribeira os acidentes não envolveram espécies ligadas ao meio aquático.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Coturnix coturnix Agosto I colisão 99-100
Alectoris rufa Outubro I colisão 105-106
Alectoris rufa Abril II colisão 101-102
Otis tarda Julho I colisão 105-106
Vanellus vanellus Janeiro II colisão 100-101
Miliaria calandra Agosto I colisão 99-100
Miliaria calandra Outubro I colisão 106-107
Miliaria calandra Setembro I colisão 99-100
Miliaria calandra Setembro II colisão 99-100
Passeriforme ni Novembro I colisão 105-106
Passeriforme ni Abril I colisão 102-103
IX
TROÇO – VISEUS
Cired: 0209 L2001800
Tipologia: Galhardete sinalizado
Extensão: 3000m
Apoios: 162-177 (inclui um seccionador sem medidas anti-electrocussão)
Nº aves / km / ano: 4.3
Caracterização do troço: o troço estudado inicia-se na proximidade da localidade de Viseus e atravessa uma extensa área de pastagem e de culturas de cereal. Foi amostrado 1 seccionador horizontal na derivação do apoio 175, para a linha que passa em Santa Bárbara de Padrões, que não foi alvo de medidas anti-electrocussão.
Caracterização da mortalidade: dos troços estudados foi o que apresentou maior mortalidade de espécies com estatuto de ameaça: 4 sisões, 1 abetarda, 1 cortiçol-de-barriga-preta e 1 águia-cobreira. A maioria dos registos de mortalidade dizem respeito a colisões, no entanto, verificou-se um caso de electrocussão no seccionador que não foi alvo de medidas anti-electrocussão, localizado na derivação do apoio S175. Apesar de atravessar uma ribeira não foram detectados indícios de mortalidade de espécies com hábitos aquáticos.
*os apoios com seccionadores são assinalados com um S.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios*
Circaetus gallicus Setembro I electrocussão S175
Falco tinnunculus Agosto I colisão 165-166
Coturnix coturnix Julho I colisão 173-174
Tetrax tetrax Maio I colisão 176-177
Tetrax tetrax Maio I colisão 174-175
Tetrax tetrax Novembro II colisão 170-171
Tetrax tetrax Junho I colisão 175-176
Otis tarda Outubro I colisão 171-172
Pterocles orientalis Novembro II colisão 171-172
Cisticola juncidis Março II colisão 167-168
Miliaria calandra Março II colisão 171-172
Passeriforme ni Outubro II colisão 170-171
Passeriforme ni Janeiro II colisão 171-172
X
TROÇO – GUERREIRO
Cired: 0206 L2001865
Tipologia: Triangulo
Extensão: 2000m
Apoios: 3-17
Nº aves / km / ano: 2.5
Caracterização do troço: localiza-se a sul da estrada que liga as localidades Alcaria do Coelho e Guerreiro, atravessando um mosaico agrícola de pastagens, pousios e searas.
Caracterização da mortalidade: verificaram-se 3 casos de electrocussão, um deles de grifo e 2 indícios de colisão, incluindo um sisão. Os casos de electrocussão ocorreram em apoios da tipologia triângulo. O apoio 3, onde se verificou mortalidade por electrocussão de duas cegonhas-branca, localiza-se num ponto alto que se destaca na paisagem, pelo que deve apresentar características favoráveis para ser utilizado como poiso por algumas espécies da avifauna.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Anas plathyrynchos Agosto I colisão 13-14
Ciconia ciconia Maio I electrocussão 3
Ciconia ciconia Junho II electrocussão 3
Gyps fulvus Julho II electrocussão 9
Tetrax tetrax Maio I colisão 5-6
XI
TROÇO – BENVIÚDA
Cired: 0209 L20018C2
Tipologia: Triangulo
Extensão: 2000m
Apoios: 1-12
Nº aves / km / ano: 3.5
Caracterização do troço: localiza-se a sul da estrada que liga Castro Verde e Mértola, nas imediações do Monte da Benviúda. Atravessa áreas de pousio e pastagem de gado ovino, e passa da proximidade de uma ribeira.
Caracterização da mortalidade: detectaram-se 7 indícios de mortalidade, 4 por colisão e 3 por electrocussão. Os casos de electrocussão ocorreram em apoios da tipologia triângulo. É de realçar as espécies sisão, grifo e águia-calçada.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Gyps fulvus Maio I electrocussão 5
Circaetus gallicus Julho I electrocussão 7
Buteo buteo Maio I electrocussão 4
Coturnix coturnix Julho I colisão 1-2
Tetrax tetrax Julho I colisão 4-5
Miliaria calandra Novembro I colisão 1-2
Passeriforme ni Dezembro I colisão 1-2
XII
TROÇO – BRUNHEIRAS
Cired: 0211 L3008300
Tipologia: Triangulo
Extensão: 3000m
Apoios: 22-40 (inclui 1 seccionador horizontal)
Nº aves / km / ano: 2.6
Caracterização do troço: atravessa áreas de pastagem de gado bovino, searas e pousios. Foi estudado 1 seccionador horizontal na derivação do apoio 27.
Caracterização da mortalidade: apenas se detectou mortalidade por colisão, sendo de realçar um sisão. Foi o único troço da tipologia triângulo em que não se detectou mortalidade por electrocussão, no entanto, é de realçar que se verificou um pequeno incêndio dia 7 de Junho, que possivelmente teve início junto ao apoio 34. Apesar de ter sido feito uma prospecção pouco tempo depois desta ocorrência não foi detectado qualquer cadáver de ave na área queimada.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Tetrax tetrax Abril II colisão 32-33
Vanellus vanellus Janeiro I colisão 28-29
Vanellus vanellus Janeiro II colisão 35-36
Alauda arvensis Novembro II colisão 35-36
Galerida theklae Agosto I colisão 37-38
Miliaria calandra Junho II colisão 36-37
Miliaria calandra Agosto II colisão 37-38
Ni Julho II colisão 34-35
XIII
TROÇO – SÃO MARCOS
Cired: 0206 L2001858
Tipologia: Triangulo
Extensão: 1500m
Apoios: 23-32 (1 seccionador horizontal).
Nº aves / km / ano: 12.7
Caracterização do troço: atravessa áreas de pousio, de pastagem de gado ovino e uma florestação recente de Quercíneas.
Caracterização da mortalidade: foram detectados 19 indícios de mortalidade, 10 por colisão e 9 por electrocussão, dos quais se realçam as espécies sisão e peneireiro-das-torres. É de assinalar que a maior parte da mortalidade por electrocussão ocorreu em apoios da tipologia triângulo, em particular no apoio 32, apenas um dos acidentes registados ocorreu no seccionador.
*os apoios com seccionadores são assinalados com um S.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios*
Anas crecca Julho II colisão 26-27
Ciconia ciconia Julho II electrocussão S24
Milvus milvus Janeiro I electrocussão 30
Circaetus gallicus Junho I electrocussão 32
Buteo buteo Maio I electrocussão 27
Buteo buteo Novembro I electrocussão 31
Falco tinnunculus Outubro I electrocussão 32
Falco naumanni Julho I electrocussão 32
Falco naumanni Julho I electrocussão 32
Coturnix coturnix Outubro I colisão 30-31
Tetrax tetrax Julho I colisão 31-32
Pluvialis apricaria Fevereiro II colisão 26-27
Vanellus vanellus Dezembro II colisão 27-28
Sturnus unicolor Junho II electrocussão 32
Miliaria calandra Setembro II colisão 27-28
Miliaria calandra Outubro I colisão 29-30
Miliaria calandra Fevereiro II colisão 28-29
Passeriforme ni Agosto I colisão 28-29
Passeriforme ni Setembro II colisão 26-27
XIV
TROÇO – LARANJO
Cired: 0206 L2001859
Tipologia: Triangulo
Extensão: 1500m
Apoios: 1-10 (1 seccionador horizontal)
Nº aves / km / ano: 7.3
Caracterização do troço: o troço está presente em áreas de pastagem de gado ovino e pousios. A meio do trabalho de campo, na área mais a noroeste do traçado, verificou-se uma alteração no uso do solo, devido à implementação de um olival de regadio.
Caracterização da mortalidade: detectou-se mortalidade por colisão (7) e electrocussão (4), sendo de destacar as espécies sisão, corvo e peneireiro-das-torres. Não se verificou mortalidade por electrocussão no seccionador, apenas nos apoios da tipologia triângulo.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Ciconia ciconia Maio I electrocussão 6
Falco naumanni Julho I electrocussão 4
Alectoris rufa Julho II colisão 5-6
Tetrax tetrax Junho II colisão 2-3
Phylloscopus trochilus Setembro I colisão 4-5
Lanius senator Agosto I colisão 5-6
Corvus corax Maio I electrocussão 5
Corvus corax Novembro II electrocussão 5
Miliaria calandra Janeiro I colisão 8-9
Miliaria calandra Janeiro II colisão 4-5
Passeriforme ni Abril I colisão 8-9
XV
TROÇO – LAGOA DA MÓ
Cired: 0201 L2001600
Tipologia: Triangulo sinalizado
Extensão: 9500m
Apoios: 54-112 (inclui 1 seccionador horizontal onde foram aplicadas medidas anti-electrocussão, 1 seccionador vertical – alvo de medidas correctoras, 1 poste de transformação, 1 seccionador horizontal na derivação do apoio 61, para a linha que passa no Monte da Chaiça Nova, que não foi alvo de medidas correctoras e 1 seccionador horizontal na derivação do apoio 87, para a linha que serve o Monte da Chaminé de Baixo, que não foi alvo de medidas correctoras).
Nº aves / km / ano: 1.8
Caracterização do troço: este troço acompanha, a oeste, a estrada que liga Castro Verde e Aljustrel. Cruza várias parcelas agrícolas com características pseudo-estepárias, como pousios, searas e restolhos, consoante o ciclo anual, e pastagens utilizadas por gado ovino e bovino.
Caracterização da mortalidade: Detectou-se mortalidade de aves por colisão (11) e por electrocussão (6), sendo de realçar as espécies águia-calçada e corvo. O grupo mais afectado foi o dos passeriformes. O caso de electrocussão de corvo ocorreu no apoio 87, que foi alvo de medidas correctivas, mas que possui uma derivação onde essas medidas não foram aplicadas, pelo que é espectável que o caso de electrocussão tenha ocorrido nessa derivação. Os casos de electrocussão ocorreram em 2 seccionadores sem medidas correctivas e num apoio com um transformador.
*os apoios com seccionadores são assinalados com um S.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios*
Buteo buteo Agosto II electrocussão S87
Hieraetus pennatus Abril I electrocussão PT88
Coturnix coturnix Novembro I colisão 71-72
Vanellus vanellus Janeiro II colisão 55-56
Vanellus vanellus Janeiro II colisão 109-110
Vanellus vanellus Fevereiro II colisão 99-100
Columba livia Outubro II colisão 93-94
Corvus corone Junho I colisão 98-99
Corvus corone Janeiro I colisão 98-99
Corvus corax Agosto I electrocussão 87
Sturnus unicolor Junho I electrocussão S61
Sturnus unicolor Junho II electrocussão S61
Sturnus unicolor Junho II electrocussão S61
Sturnus unicolor Novembro II colisão 87-88
Miliaria calandra Outubro I colisão 85-86
Miliaria calandra Novembro I colisão 93-94
Passeriforme ni Outubro II colisão 59-60
XVI
TROÇO – SALTO
Cired: 0206 L2001858
Tipologia: Triangulo sinalizado
Extensão: 600m
Apoios: 38-42
Nº aves / km / ano: 3.3
Caracterização do troço: este foi o troço com menor extensão amostrado e está localizado paralelamente à estrada do Salto. Atravessa uma bolsa de habitat aberto, numa área dominada por montado disperso.
Caracterização da mortalidade: apenas foram detectados dois indícios de mortalidade, ambos por colisão, sendo de realçar a detecção da espécie sisão. Apesar de no período em que decorreu este trabalho não terem sido detectados acidentes envolvendo abetardas, refere-se que nesta bolsa de habitat aberto já ocorreu um acidente por colisão da espécie, facto que levou à sua sinalização com BFD.
Espécie Mês Visita Tipo mortalidade Apoios
Tetrax tetrax Março II colisão 41-42
Sturnus unicolor Novembro II colisão 41-42