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E-book Material editado por Talita Moretto www.salaaberta.com.br É permitido compartilhar e adaptar este material, desde que citada a fonte. Ano 2015. Formando Leitores Dicas para conduzir práticas de leitura em sala de aula.

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E-book

Material editado por Talita Moretto

www.salaaberta.com.br

É permitido compartilhar e adaptar este material, desde que citada a fonte.Ano 2015.

Formando Leitores

Dicas para conduzir práticas de leitura em sala de aula.

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O que é, realmente, leitura? A leitura talvez seja a melhor forma de um cidadão entrar no processo de participação social. É a leitura que vai garantir que a criança, o jovem e o adulto possam acessar, participar, interferir e, portanto, modificar realidades existentes. Sendo assim, a leitura não significa apenas decodificar signos linguísti-cos, mas dar-lhes significados mais amplos, profundos e interligados.

A leitura do mundo pode surgir da con-fluência entre aquilo que se lê com aquilo que se viveu e, por isso, jamais se caracteriza como um ato dissociado da política ou da cidadania. Quando o indivíduo aprende o processo de leitura, ele pode desencadear leituras do mundo, seja pela sua experiên-cia, seja por sua percepção ou por sua formação.

A leitura não é passiva nem pacífica; ela cobra participação efetiva do leitor. Porém, é necessário formar este leitor dando-lhe ferramentas, ajudando no léxico e no semântico. Muitas vezes, a dificuldade do aluno para se concentrar em um texto dá-se exatamente por ele não possuir ferramentas suficientes para se apossar de determinado gênero (ou temática) que lhe foi apresenta-do para ler, ou por não ter sido despertado para tal. Isso abre uma nova reflexão: a importância de o aluno ler, ler de tudo, ler qualquer que seja o seu interesse. A partir dessa primeira etapa, ele poderá seguir para outras mais criteriosas, mais concentradas e mais críticas.

Cada pessoa possui uma demanda, seja ela subjetiva ou objetiva, que leva ao texto, a qual deve ser respeitada. Antes, porém, é importante preparar o aluno-leitor para que esta escolha possa estar pautada em argumentação, objetividade, finalidade, gosto pessoal e necessidade.

É importante lembrar que a rotina da escola

se faz na multiplicidade. Não se faz o dia a dia escolar só com textos informativos ou somente com textos literários ou didáticos. Esses textos devem estar presentes em todas as disciplinas e nos vários momentos escola-res, pois é na confluência deles e na multipli-cidade das linguagens por eles utilizadas, que acontecerá a reflexão, o posicionamen-to, a interferência ou a modificação, por parte do leitor, naquilo que desejar. Formar um leitor também passa pelas questões de interesse, responsabilidade, usabilidade e pertinência.

O aluno neoleitor - os novos leitores

As adaptações da temática e da linguagem devem acontecer todas as vezes em que a ocasião ou a situação pedir, pois o desen-volvimento do senso crítico acontece na medida em que o aluno neoleitor consegue associar à leitura sua vida, suas experiências, suas leituras de mundo, seus olhares e suas possíveis percepções.

Todos os leitores devem acessar todos os tipos textuais, mas a escola precisa trabalhar com uma sequência didática para garantir uma formação. É esta sequência didática que irá desencadear um processo em que o aluno poderá distanciar-se do texto e criticá-lo, reorganizá-lo e transformá-lo. Dessa forma, muitas vezes, o neoleitor, em uma biblioteca, pode escolher seus livros pela capa, pelo formato, pelo cheiro ou pela ilustração, mas é a partir destes ele-mentos que ele acabará chegando à escolha dos textos que também o terão seduzido a partir das palavras e das imagens que se desprendem delas. A escola passa a ter um papel importante, o de disponibilizar uma diversidade de textos para o consumo do aluno.

Quando o aluno apresenta dificuldade em realizar um trabalho de leitura a partir do texto a ele apresentado, deve-se à questão

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A FORMAÇÃO DO LEITORPor Geraldo Peçanha de Almeida

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do conhecimento morfológico, da origem e dos significados das palavras que, naquele momento, não são de domínio do neolei-tor. Sempre que essa dificuldade aparecer, o professor deve estar pronto a auxiliar o aluno em pesquisas, na busca por informa-ções relativas àquelas palavras desconheci-das.

Restrição de temática

A restrição temática é a dificuldade inicial, prévia à leitura, quando o leitor desconhece o tema abordado no texto. É necessário prestar atenção nisso porque seja ele narrativo, opiniático ou descritivo, o texto acaba por transferir ao leitor certas condi-ções persuasivas ou informativas. Porém, percebe-se que muitas temáticas são desen-volvidas sob determinados alicerces e com determinadas condições que, devido à falta de conhecimento, o leitor acaba por nive-lar, desprezar ou considerar, muito superfi-cialmente, o seu desenvolvimento. Por lhe faltar contextualização e outras informa-ções a respeito de determinados campos do conhecimento, os textos são apresentados com restrições que antecedem o processo da leitura.

No que tange às temáticas políticas, finan-ceiras, geográficas, filosóficas, culturais entre outras, é bom verificar quais são as restrições que o texto pode apresentar que devem ser sanadas antes, durante ou logo após a leitura para um melhor aproveita-mento.

Muitas vezes, quando estamos diante dos jornais televisivos, percebemos que uma notícia retransmitida ali se difere daquela que, durante o dia, ouvimos no rádio ou lemos no jornal. Frequentemente, o neolei-tor, por não ter essa diversificação de veículos, acaba restringindo a informação recebida. No final do dia, esse fato pode levar o aluno a se tornar dependente de determinado veículo. Neste caso, o ideal é fazer com que o aluno desenvolva a habili-dade de comparar os textos sobre um

mesmo tema, exemplo ou fato, nos diferen-tes veículos.A comparação de uma mesma temática, evento ou situação, em vários veículos, é imprescindível no mundo de hoje onde a quantidade de informação faz com que o leitor tenha preguiça intelectual em procu-rar uma mesma informação nos diferentes canais. Afinal, para alguns desses leitores e neoleitores, a Internet ou a rádio ou a televisão é fonte única de informação. É preciso diversificar e ampliar para dialogar.

É importante para o professor que o aluno perceba que a opinião e os aspectos persua-sivos apresentados no texto precisam ser criteriosamente discutidos, avaliados e discernidos pelo próprio aluno, pois, se assim não for, este se coloca na frente do texto de forma passiva e o senso crítico não é desenvolvido.

Os debates são momentos importantes para que os alunos possam confrontar suas ideias. No entanto, para a realização de um debate, é importante ter bem delimitado os grupos contrários e os favoráveis para que a discussão possa efetivamente acontecer.

É importante o professor compor os grupos com posicionamentos diferentes, alimentar cada um desses grupos com recursos intelec-tuais, discursivos e outras condições técni-cas, como retórica, oratória, provas subs-tanciais, etc., para que os alunos possam realizar, a contento, essa discussão. Caso não haja uma boa preparação para o debate, além de descaracterizar o gênero, também estaremos realizando um desservi-ço, uma desconstrução do tipo textual que havíamos previsto para trabalhar.

Ler para os alunos

Os professores acabaram esquecendo o quanto é importante ler para que seus alunos possam ouvi-los. Quando eles ouvem, começam a desenvolver o hábito de prestar atenção ao processo de leitura diário. Assim, seja diante de uma notícia de

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jornal, de um noticiário televisivo, de duas pessoas conversando, de um locutor de rádio ou mesmo diante do professor, os alunos não terão uma postura passiva, mas se colocarão de forma que sua escuta esteja sendo efetivamente realizada, a fim de poder criticar e contribuir com as ideias apresentadas.

Diferentes realidades

É importante lembrar que cada comunida-de possui aspectos culturais próprios, sendo assim, antes de se fazer uma crítica a deter-minadas questões, é necessário conhecer as particulares do ambiente onde vive o alu-no, entender quais são as suas vivências e o que ele pensa a respeito das situações viven-ciadas por ele em sua comunidade, no bair-ro, com seus familiares.

As diferenças de interpretação existentes na sala de aula é que vão dar ao neoleitor a percepção de que, em uma sociedade, todos podem pensar de uma maneira dife-rente e que essas diferenças precisam ser respeitadas. Esse entendimento resultará em uma discussão crítica, porém sem confli-tos.

Dicas para organizar debates em sala de aula

» Selecione o assunto que considere impor-tante para ser debatido naquele momento;

» Oriente os alunos a fazerem uma leitura individual do texto e, depois, divida-os em pequenos grupos para que conversem a respeito do assunto;

» Amplie a discussão relacionando o texto com outras notícias do mesmo assunto que tenham sido publicadas em jornais, em revistas, na Internet, entre outras fontes. Utilize letras de música, filmes e livros rela-cionados ao assunto - quando possível;

P.S.: O debate precisa ser pla-nejado com antecedência para que o professor consiga juntar esses materiais comple-mentares.

» Peça para que cada grupo faça uma apre-sentação para o restante da turma colocan-do sua opinião a respeito do assunto. Eles podem relacionar a opinião de cada um antes de unir-se ao grupo e depois de con-versar com os colegas, comentando se mudou (ou não) e o porquê da mudança no ponto de vista. Esta apresentação pode ser oral, em forma de painel, teatro, jornal fala-do, charge, histórias em quadrinhos, etc. Deixe-os à vontade para expor.

Os temas expostos nas notícias de jornal também podem ser úteis em debates nas reuniões de professores, em semanas de planejamento. Alguns assuntos abordados estão relacionados com o cotidiano da esco-la, da comunidade e/ou dos próprios alu-nos.

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Este texto foi adaptado por Talita Moretto. Fonte original:

ALMEIDA, Geraldo Peçanha de. Práticas de leituras para neoleito-res. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Edi-tora, 2010.

Indicação de leitura complemen-tar:

ALMEIDA, Geraldo Peçanha de. Ler, escrever e pensar: Práticas de produção de textos a partir do hipertexto e da intertextualidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.

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CONSTRUINDO O LEITOR COMPETENTE

A metodologia apresentada a seguir foi ela-borada pelas autoras do livro:

Esta primeira etapa deve preceder a leitura do texto. Está relacionada com o reconhecimento do assunto que será abordado.

É necessário que, antes da leitura, da distribuição do texto, de qualquer contato com ele, o professor intervenha realizando a pré-leitura - momento em que se ativa o conhecimento prévio do aluno-leitor, medi-

ante habilidades de investigação: adivinhar, formular hipóteses, fazer previsões, buscar alter-nativas, selecionar possibilidades, imaginar.

É necessário compreender que cada indivíduo lê com o que tem dentro de si. E se o professor desafiar, fizer emergir o que seu aluno sabe, haverá envolvimento, interação, e a atividade de leitura cumprirá seu papel de confirmar, ampliar ou transformar seu conhecimento.

Ao realizarmos estratégias que ativam o conhecimento prévio do aluno, descobrimos, portan-to, o quanto eles sabem ou o quanto eles não sabem a respeito do assunto que será abordado no texto. Por isso, ao elaborar as atividades de pré-leitura, o professor deve orientá-las de maneira a favorecer uma melhor antecipação do sentido do texto a ser trabalhado.

Para despertar esse conhecimento, o professor revela qual é o assunto que será abordado. Depois, pode disponibilizar outros textos relacionados ou deixar que os estudantes, em gru-pos, conversem sobre o que cada um sabe a respeito.

Outra opção é promover um bate papo com a turma e fazer questionamentos, estimulando que todos reflitam sobre o tema. Essas estratégias provocam a curiosidade e, consequentemen-te, a vontade de ler e conhecer o texto.

Etapa 1PRÉ-LEITURA

Na etapa anterior, trabalhamos com o repertório da classe, com o conheci-mento que cada um tem a respeito das questões levantadas, independente-

mente de estar certo ou errado. Por isso, é um momento descontraído, envolvente, provoca no aluno a curiosidade, vontade de conferir suas hipóteses, desejo de ler. Estabelece-se, assim, uma primeira relação entre o leitor e o texto, fundamental para a etapa que vamos abordar

agora: a leitura-descoberta.

Na pré-leitura, a intenção é gerar o maior número de "possibilidades de leituras", abrir um

Etapa 2LEITURA-DESCOBERTA

BRAGA, Regina Maria; SILVESTRE, Maria de Fátima Barros. Construindo o leitor competente: Atividade de lei-tura interativa para a sala de aula. 3. ed. São Paulo: Global, 2009.

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leque de opções para, nesta Segunda etapa, entrarmos, especificamente, no texto que quere-mos que o aluno descubra. Voltamos, assim, aos motivos que levaram à escolha de determina-do texto - à intenção da leitura.É hora de deixar o aluno ler o texto na íntegra para ele próprio verificar o quanto realmente já sabia sobre o assunto.

Para elaborar atividades de leitura-descoberta - fase de reconhecimento do código, da proje-ção dos conhecimentos do leitor (processador ativo) sobre o texto, da verificação das hipóte-ses, da construção de sentidos - o professor precisa ter em mente que essas atividades deverão se processar passo a passo. A leitura não é feita de uma só vez, indiscriminadamente, mas sim de modo seletivo.

Por isso, não se pode esperar que o aluno enxergue uma simultaneidade de aspectos, de infor-mações ou responda a uma série de perguntas, sem ter concentrado o olhar em alguma ou algu-mas intenções mais específicas. Portanto, ele precisa da mediação do professor, necessita ter claro o que deve buscar no momento da leitura.

Nesta etapa, também, o professor deve lembrar-se de que o texto é a produção de um discurso e, como tal, há todo um contexto, inclusive a intencionalidade de quem o escreveu, E, para construir o texto, o autor combina diferentes recursos da língua, seleciona palavras, privilegia certas construções sintáticas, a fim de construir a sua intenção.

Se na pré-leitura é importante fazer uma antecipação do sentido e na leitura-descoberta, a partir das intenções estabelecidas pelo mediador-professor,

ocorre a construção do sentido pelo leitor, é na pós-leitura que o aluno-leitor poderá utilizar criticamente o sentido construído, refletir sobre as informações recebidas e, assim, construir conhecimento.

A pós-leitura é uma outra importante etapa da leitura, pois consiste na fase de ampliação, con-firmação ou transformação da visão de mundo do leitor, na fase do confronto do sentido cons-truído com seu próprio sistema de valores.

As atividades de leitura, em sala de aula, devem ter compromisso com a formação de leitores críticos, capazes de refletir sobre os discursos e também de produzir outros.

Este é o momento de ampliar o debate sobre o tema e propor atividades que permitam que o aluno se expresse e opine sobre o assunto. É nesta etapa que ele desenvolve as habilidades para formar a crítica diante do texto e adquire um novo conhecimento.

Etapa 3PÓS-LEITURA

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1. o direito de não ler.3. o direito de não acabar um livro.

10. o direito de não falar do que se leu.

2. o direito de saltar páginas.

4. o direito de reler.5. o direito de ler não importa o que.

6. o direito de confundir um livro com a vida real.

7. o direito de ler em qualquer lugar.

8. o direito de ler trechos soltos.

9. o direito de ler em voz alta.

O S D I R E I T O S D O L E I T O R 1 0 Texto: Daniel PennacIlustrações: Quentin Blake