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Análise Custo-Benefício da Construção da Usina Hidrelétrica Castanheira DOCUMENTO DE TRABALHO Maio 2018

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Análise Custo-Benefício da Construção da Usina Hidrelétrica Castanheira

DOCUMENTO DE TRABALHO

Maio 2018

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DOCUMENTO DE TRABALHO

Maio 2018

Análise Custo-Benefício da Construção da Usina Hidrelétrica Castanheira

Thaís Vilela Pedro Gasparinetti

Foto: Michel de Andrade

Todas as opiniões, posições e quaisquer erros são de responsibilidade dos próprios autores, e não refletem necessariamente a posição do Conservação Estratégica. Salvo indicação do contrário, direitos autorias dos materiais desse relatório são de responsibilidade dos autores.

Conservação Estratégica

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Agradecimentos

AConservaçãoEstratégica(CSF)agradeceàsinstituiçõesOperaçãoAmazôniaNativa,InstitutoCentrodeVidaeInternationalRiverspelarealizaçãodesteestudo

ACSFagradecetambémaopesquisadorPhilipFearnside(InstitutoNacionaldePesquisasdaAmazônia),professorWilson Cabral de Sousa Junior (Instituto de Tecnologia da Aeronáutica), à Nelson FlausinoJunior(UniversidadeEstadualdeSãoPaulodeBotucatu)eFrankMerry(CSF)pelarevisãodesteestudo.AoprofessorFranciscodeArrudaMachado(assessorespecialnoMinistérioPúblicodoEstadodeMatoGrosso), ao professor Evandro Mateus Moretto (Universidade de São Paulo), ao Daniel RondinelliRoquetti(UniversidadedeSãoPaulo)eàprofessoraCarolinaDoria(UniversidadeFederaldeRondônia)aCSFagradeceadisponibilidadeevontadedenosajudaraolongodoestudo.

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Conteúdo

Agradecimentos...........................................................................................................................................1

Sumárioexecutivo.......................................................................................................................................7

Executivesummary......................................................................................................................................9

1Introdução..............................................................................................................................................10

1.1ÁreadeEstudo.................................................................................................................................12

1.2Motivaçãodoestudo.......................................................................................................................14

1.3Empreendimento.............................................................................................................................15

2AnálisefinanceiradaUHECastanheira...................................................................................................18

RelaçãoBenefício-Custo........................................................................................................................19

ValorPresenteLíquido...........................................................................................................................19

TaxaInternadeRetorno........................................................................................................................19

PeríododeRetorno...............................................................................................................................20

Custonivelado.......................................................................................................................................20

ÍndiceCustoBenefício...........................................................................................................................21

2.1Resultadosdaviabilidadefinanceira...............................................................................................24

2.2AnálisedeSensibilidade..................................................................................................................25

2.3UsodeFontesAlternativas..............................................................................................................30

3ImpactossocioambientaisdaUHECastanheira......................................................................................32

3.1Contexto..........................................................................................................................................32

3.1.1Áreadoreservatório.................................................................................................................36

3.2Quantificaçãodosimpactos.............................................................................................................38

3.2.1EmissãodeGasesdeEfeitoEstufa...........................................................................................38

3.2.2Custodeoportunidadedasáreasalagadas..............................................................................44

3.2.3Impactossobreaatividadepesqueira......................................................................................48

3.3.1Metodologiaeresultadosdaavaliaçãodaatividadepesqueira...............................................49

3.2.4Impactosnãomensuradossobreosindígenasesobreacomunidadelocal............................56

3.2.4.1Indígenas................................................................................................................................56

3.2.4.2Comunidadelocal..................................................................................................................58

4AnáliseCusto-BenefíciodaUHECastanheira.........................................................................................59

4.1Custos..............................................................................................................................................59

4.1.1CustodeimplementaçãoeoperaçãodaUHECastanheira......................................................59

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4.1.2Custossocioambientais............................................................................................................59

4.2Benefícios.........................................................................................................................................61

4.3Custo-benefício................................................................................................................................61

5Conclusão................................................................................................................................................63

Referências................................................................................................................................................64

Apêndice1–Atividadedecampo.............................................................................................................70

Apêndice2–Questionário(roteiro)..........................................................................................................71

Apêndice3–Custoprevistocomaçõessocioambientais........................................................................73

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Lista de FigurasFigura1-UHECastanheiraeaBaciadoRioJuruena................................................................................10

Figura2-LocalizaçãodaUHECastanheira................................................................................................12

Figura3-UHECastanheira........................................................................................................................16

Figura4-FluxodeCaixa............................................................................................................................18

Figura5-PreçodeVendadeEnergiaElétricaporEmpreendimento.......................................................26

Figura6-PreçodeVendadeEnergiaElétricaentre2005e2015.............................................................27

Figura7-PreçoRealdeVendadeEnergiaePotênciaInstalada...............................................................28

Figura8-AnálisedeSensibilidade:VPL....................................................................................................29

Figura9-MapadasUHEs,PCHseCGHsplanejadasparaabaciadorioJuruena.....................................33

Figura10-UsodaterranaáreadoreservatórioenoentornodaUHECastanheira................................36

Figura11-PropriedadesafetadaspeloprojetodeconstruçãodaUHECastanheira................................37

Figura12-DistribuiçãodasfontesdeemissãodeGEE.............................................................................38

Figura13-TrajetóriadasEmissõesdeCO2-equivalenteedaQuantidadedeCarbonoPresentenoReservatório..............................................................................................................................................43

Figura14-ApreciaçãodopreçodaterranomunicípiodeJuaraentre2010e2015................................46

Figura15-Custodeoportunidade:rentabilidadelíquidadapecuáriamaisaapreciaçãodaterra..........47

Figura16-NúmerodePescadoresregistradosnaColôniaZ-16...............................................................50

Figura17-Preçomédiodevendadas5principaisespéciespescadasnaregiãodeJuara.......................52

Figura18-Participaçãodapescanarendafamiliar..................................................................................53

Figura19-Quantidadeconsumidadepeixesporfamília(kg/mês)..........................................................54

Figura20-Mapadasáreasdepesca,berçárioseilhasnorioArinos.......................................................56

Figura21-TerraIndígenaApiaká-Kayabi..................................................................................................57

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Lista de Tabelas

Tabela1-DadosTécnicosdaUHECastanheira.........................................................................................16

Tabela2-DadosOficiaisdoProjetodeConstruçãodaUsinaHidrelétricaCastanheira...........................22

Tabela3-HipótesesNecessáriasparaoCálculodosIndicadoresFinanceiros.........................................24

Tabela4-SíntesedosResultadosObtidosnaAvaliaçãoFinanceiradoProjeto........................................25

Tabela5-Análisedesensibilidadeàtaxadedesconto.............................................................................26

Tabela6–Análisedesensibilidadeaopreçodevendadeenergia...........................................................29

Tabela7-ParâmetrostécnicosparaocálculodasemissõesdeGEEresultantesdasupressãodeáreas 40

Tabela8-Emissõesdecarbono,C-CO2eC-CH4de10UHEslocalizadasnabaciaAmazônica.................41

Tabela9–ParâmetrosutilizadosnocálculodasemissõesdosGEEdosreservatórios.............................42

Tabela10-EmissõespotenciaisdeGEEdaUHECastanheiradurante50anos(tdeCO2-eq.).................43

Tabela11-Quantidadeevalordosprodutos:carvãovegetal,lenhaemadeiraemtora........................48

Tabela12–TamanhomédiodascincoprincipaisespéciespescadaspelospescadoresdacolôniaZ-16.51

Tabela13–Receitabrutaanualestimadadaatividadepesqueiraporpescador.....................................55

Tabela14-Valorpresentedoscustossocioambientais(preçosde2015)................................................61

Tabela15-BenefíciolíquidadaUHECastanheira(preçosde2015).........................................................62

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Siglas

@ Arroba

C Carbono

CH4 Metano

CO2 Dióxidodecarbono

CO2-eq Dióxidodecarbonoequivalente

EIA EstudodeImpactoAmbiental

EPE EmpresadePesquisaEnergética

EVTE EstudodeViabilidadeTécnicaeEconômica

ha Hectare

ICB ÍndiceCustoBenefício

ICV InstitutoCentrodeVida

IUCN InternationalUnionforConservationofNature

kg Quilograma

km2 Quilômetroquadrado

MMA MinistériodeMeioAmbiente

MW Megawatt

MWh Megawatt-hora

O&M OperaçãoeManutenção

PCHs Pequenascentraishidrelétricas

PDE PlanoDecenaldeExpansãodeEnergia

SIN SistemaInterligadoNacional

TI TerraIndígena

t Tonelada

UHE Usinahidrelétrica

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Sumário executivo

Existem atualmente mais de 100 empreendimentos hidrelétricos, incluindo hidrelétricas epequenas centrais hidrelétricas, previstos para a bacia do rio Juruena no estado de MatoGrosso.1Dentretodosessesempreendimentos,aUHECastanheirasedestaca.PrevistaparaserconstruídanorioArinos–importantetributáriodorioJuruena–aUHECastanheiraéumadaspoucasUHEspriorizadasnoestudodeinventáriodabaciahidrográficadorioJuruenaquenãoinundaria diretamente Terras Indígenas e Unidades de Conservação.2 Contudo, ainda que oprojeto não preveja o alagamento destas áreas, a análise de viabilidade financeira doempreendimentoeaidentificaçãoequantificaçãodosimpactossocioambientaispotenciaissãonecessáriasparaatomadadedecisão.3

Comumapotênciainstaladaiguala140MW,oprojetodaUHECastanheiraprevêoalagamentode94,7km2.Oinvestimentoprevistoparaaconstruçãodestausina,incluindoaconstruçãodalinhadetransmissão,éaproximadamenteR$1,3bilhões(preçosde2015)–valorquenãoincluios custos associados aos impactos socioambientais que seriam potencialmente provocadospela implantação e operação desta usina.4 Dentre os impactos negativos potenciais,destacamos,nesteestudo, asemissõesdegasesdeefeitoestufa, aperdaeconômicageradapela inundação de áreas produtivas e a diminuição da renda econômica dos pescadoresprofissionaisexistentesnorioArinos.5Dentreosimpactospositivos,destacamosageraçãodeenergiaelétrica.

OrganizaçõesdasociedadecivilargumentamqueosefeitosadversosprovocadospeloprojetodeconstruçãodaUHECastanheiraseriammaioresdoqueosbenefíciosqueausinairiagerar.De fato, os resultados do nosso estudo sugerem que o projeto de construção da UHECastanheira pode não ser viável financeiramente. Usando os dados do empreendimentoapresentados no EVTE e analisando os indicadores tradicionais de viabilidade do projeto,concluímos que, se construída, a UHE Castanheira poderá gerar um prejuízo deaproximadamente R$ 239milhões (US$ 81 milhões) aos investidores. Ao acrescentarmos oscustos dos impactos negativos – considerando os três impactos que destacamos – a perdapotencialdoprojetopoderáatingirR$419milhões(US$142milhões).

ParaqueoprojetodeconstruçãodaUHECastanheirasejaviávelfinanceiramente,opreçodevendadeenergia–aserdeterminadoemleilão–deveriaserigualoumaiordoqueR$165por

1OmapacomtodasosempreendimentoshidrelétricosnaregiãoestádisponívelemICV(2017).2OprojetodeconstruçãodaUHECastanheiranãoprevêoalagamentodeTerrasIndígenasregularizadas.Porém,3 O estudo de viabilidade financeira e ambiental é necessário, mas não suficiente para a tomada de decisão.Qualquerdecisãosobreaviabilidadedoprojetodeverespeitarodireitoaconsultapréviadospovosindígenas.4 IncluindooscustoscomaçõessocioambientaisprevistosnoEVTE,o investimentototaléaproximadamenteR$1,5bilhões.5EsteestudoérestritoàanálisedosimpactosnorioArinos.OsimpactospotenciaisdoprojetosobreosafluentesdorioArinoscomo,porexemplo,oriodosPeixes–importanteparaospovosindígenas--nãosãoquantificadosnesterelatório.

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MWh.Seincluirmosasexternalidadesidentificadasequantificadasnesteestudo,entãoopreçomínimo de venda de energia deveria ser R$ 187 por MWh para que o projeto seja viáveleconomicamente.Certamente,oprocessodedecisãodeconstruçãodehidrelétricasébastantecomplexo envolvendo não apenas análises de projetos específicos, como a realizada nesteestudo,mastambémomercadonacionaleasalternativasdisponíveisparaatenderademandaporenergiaelétrica.

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Executive summary

Therearecurrentlymorethan100hydroelectricprojects,includinglargeandsmallhydropowerplants, in the Juruena basin in the state of Mato Grosso. Among all these projects, theCastanheiraDam,proposedforconstructionontheArinosRiver–animportanttributaryoftheJuruenaRiver- isoneofthefewhydropowerprojectsthatwouldnotfloodIndigenousLandsandConservationUnits.However,despitenotfloodingtheseareas,theanalysisofthefinancialfeasibility of this project and the identification and quantification of potential socio-environmentalimpactsarenecessaryforthedecision-makingprocess.6

Withaninstalledcapacityof140MW,theCastanheiraDamisprojectedtoflood94.7km2.Theinvestment, includingtheconstructionofthetransmission line, isestimatedatR$1.27billion(2015prices)-anamountthatdoesnotincludethesocio-environmentalimpactsthatwouldbepotentially caused by the implementation and operation of this dam.7 Among the negativeimpacts, this study focuseson three:greenhousegasemissions,economic loss from floodingproductiveareas,and fromdiminishing theamountof fishdownstream.8Amongthepositiveimpacts,wehighlightthegenerationofelectricenergy.

CivilsocietyorganizationsarguethattheadverseeffectsoftheCastanheiraDamprojectwouldoutweigh the benefits that this damwould generate. In fact, the results found in this studysuggestthattheproposedCastanheiraDammightnotbefinanciallyfeasible.Usingofficialdatafromtheproject’sEVTEandanalyzingtraditional feasibility indicators,wefoundthat, ifbuilt,theCastanheiraDamcouldgeneratealossofapproximatelyR$239million(US$81million)toinvestors.Whenweaddthecostsofthenegativeimpacts-consideringthethreeimpactswehighlightedabove-thepotentiallossgeneratedbythisprojectcouldincreasetoR$419million(US$142million).

Tobefinanciallyfeasible,theenergyprice-tobedeterminedinanauction-shouldbeequaltoorgreaterthanR$165perMWh.Ifweincludetheexternalitiesidentifiedandquantifiedinthisstudy,thentheminimumpriceshouldbeR$187perMWhfortheprojecttobeeconomicallyfeasible. Surely, the decision-making process is quite complex involving not only analyses ofspecificprojects,suchastheanalysiscarriedoutinthisstudy,butalsothenationalmarketandthealternativesavailabletomeetthedemandforelectricity.

6Thefinancialandenvironmentalfeasibilitystudyisnecessary,butnotsufficientforthedecision-makingprocess.Any decision on the feasibility of the project should respect the right of indigenous people and traditionalcommunitiestopriorconsultation.7 Including the socio-environmental costs estimated in the EVTE, the total investment is approximately R$1.5billion.8ThisstudyisrestrictedtotheArinosriver.PotentialeffectsofthisprojectonthetributariesoftheArinosRiver,suchasthePeixesRiver-crucialforindigenouspeoples-arenotquantifiedinthisreport.

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1 Introdução

EsteestudoserefereaoprojetodaUHECastanheiraprevistaparaserconstruídanorioArinos,umdosformadoresdorioJuruena(tributáriodorioTapajós)noestadodeMatoGrosso.

AconstruçãodaUHECastanheirafazpartedaúltimaversãodoPlanoDecenaldeExpansãodeEnergia–PDE2026–dogovernofederal(EPE,2017)eéconsideradapelomesmoestratégicapara o setor elétrico brasileiro. Além de sua contribuição à matriz de geração de energiaelétrica, a UHE Castanheira é uma das poucas UHEs priorizadas no estudo de inventário dabaciahidrográficadorioJuruena(EPE,2010)quenãoimplicaemrestriçõeslegaisassociadasaoalagamentodeTerrasIndígenase/ouUnidadesdeConservação(Figura1).9

Figura1-UHECastanheiraeaBaciadoRioJuruena

Fonte:EPE(2010)Notas: TI nomapa corresponde a Terras Indígenas.Nestemapa, selecionamos apenas o trechoda bacia do rioJuruenaquecontémausinahidrelétricaCastanheira(ouARN-120).AbaciadorioJuruenaocupaumaáreamaiordoqueamostradanestafigura.DeacordocomoestudodeinventáriodabaciadorioJuruena,aáreaocupadaporesta bacia corresponde a aproximadamente 190.391 km2. Cabe mencionar, que existem outras UHEs e PCHsprevistasparaaregiãoquenãosãoapresentadasnoestudodeinventárioutilizadopelaEPEparafazeraAvaliaçãoAmbiental Integradadabacia do rio Juruena. Paramais detalhes verAlarcon,Millikan, Torres,& colaboradores(2016).

9TerrasIndígenasjádemarcadas.

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No entanto, a viabilidade financeira e os impactos socioambientais da construção da UHECastanheira têm sido questionados por entidades não-governamentais, povos indígenas,agricultores familiares e outros movimentos de base da bacia do rio Juruena. O principalargumentoéqueaquantidadedeenergiaaserproduzidanãoserásuficienteparasuperaroscustos econômicos e socioambientais, ainda que as externalidades positivas, como, porexemplo,ageraçãodeempregos,sejamconsideradas.10Afimdecontribuirparaestedebate,esteestudotemtrêsobjetivos:

• Avaliaraviabilidadefinanceiradoprojeto;• Contribuir para a análise dos impactos socioambientais associados à construção de

hidrelétricas;• Subsidiarodiálogoentregovernoesociedade;e• Auxiliaratomadadedecisãoatravésdeumaanálisecusto-benefícioqueconsideranão

sóosaspectosfinanceiros,comotambémospotenciaisimpactossocioambientais.

Dentreosimpactossocioambientais,esteestudoanalisatrêsimpactospotenciais:

• Asemissõesdegasesdeefeitoestufa;• Aperdaeconômicaresultantedoalagamentodeáreasprodutivas;e• Aalteraçãodadinâmicaerentabilidadedaatividadepesqueira.

É importante mencionar que estes impactos representam apenas uma fração dos impactospotenciaisquepoderãoocorrer casoaUHECastanheira seja construída.Exemplosdeefeitosadversos causados por hidrelétricas que não serão quantificados neste estudo incluemalteraçãonaqualidadedaáguaenaqualidadedevidadasfamíliasqueserãopotencialmentedeslocadas.Pornão considerarmos todosestesefeitos,os resultadosdaanálisede impactosrealizadanesteestudonãodevemserinterpretadoscomoumamedidadosimpactostotaisdaUHECastanheira.

Os dados para a realização deste estudo foramobtidos nos estudos de viabilidade técnica eeconômicaede impactoambientaldivulgadospelaEPE,assimcomoda literaturaacadêmicarelacionada à construção de hidrelétricas na região Amazônica e à valoração econômica debens e serviços ambientais. Para o estudo dos potenciais impactos econômicos sobre apopulação de pescadores, além de usarmos dados secundários, usamos os dados coletadospela Operação Amazônia Nativa (OPAN), em parceria com a CSF, junto aos pescadoresprofissionais,amadoreseindígenas.Apesquisadecampocomospescadoreseindígenassobrea situação atual da pesca e os potenciais impactos resultantes da construção da UHECastanheirafoirealizadaemjulhode2017.

10 Além disso, existe a possibilidade de sobrecusto devido a esquemas de corrupção, atrasos na construção emudançasnaproduçãoprevistadeenergianãocontabilizadaspeloprojetoemfunção,porexemplo,demudançasclimáticas.Apesardeimportante,taisfatoresnãoforamquantificadosnesteestudo.

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1.1 Área de Estudo

AUHECastanheiraestáplanejadaparaserconstruídanorioArinosaaproximadamente120kmda sua foz no rio Juruena, no município de Juara, no estado de Mato Grosso (Figura 2). AconstruçãodaUHEimpactariadiretamenteosmunicípiosdeJuaraeNovoHorizontedoNorte.Mas, se considerarmos a área de abrangência regional (área delimitada pela sub-baciahidrográficadorioArinos),entãoototaldemunicípiosafetadosseriaiguala14,representandouma área de aproximadamente 86,4 mil km2. Deste total, 22,6 mil km2 correspondem aomunicípiodeJuara.

Figura2-LocalizaçãodaUHECastanheiraFonte:EPE(2017)

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Omunicípiode Juara, situadoa730kmdacapitaldeCuiabá,éosétimomaior (emárea)doestadodeMatoGrossoepossuiumapopulaçãoestimadade33.731habitantes,sendoamaiorparte da população residente na área urbana.11 De acordo com o IBGE (2010), 20% dapopulação vive nas áreas rurais. Deste total, a maior parte corresponde às populaçõesindígenasecomunidadestradicionais(ex.ribeirinhos).

Conforme o relatório do EIA, 555 pessoas (208 famílias) poderiam ser afetadas diretamentepela construção da UHE.12,13 Contudo, podemos argumentar que o número de pessoasdiretamenteimpactadaémaiordoqueoapresentadopeloestudodeimpactoambiental.Porexemplo,apopulaçãoindígenadaregiãodependediretamentedapescaparasobrevivência.Aformação do reservatório, como previsto pelo próprio EIA, impactaria a quantidade e adiversidade de peixes existentes no rio Arinos, assim como nos demais rios da bacia do rioJuruena.14

Emtermoseconômicos,asatividadespredominantesnaregiãoondeseráconstruídaaUHEsãoapecuária, principalmentebovina–oque justifica suadenominaçãodeCapital doGadoemMatoGrosso–eoextrativismovegetalemineral.Asatividadesagrícolaseapescaartesanalestãotambémpresentes,masemmenorescala.Sobreapesca,oEIAidentificouapresençadepescadores artesanais e de população ribeirinha nas proximidades do rio Arinos que, assimcomoospescadoresprofissionais,dependemfundamentalmentedapesca.Apescaesportivaétambémumaatividade importantenasáreasde influênciadaUHE,atraindodiversos turistasparaaregião.

Comrelaçãoàsáreasvegetadas,oEIA identificouumaáreade4.546hadevegetaçãonativaquesofreria intervençõesparaaconstruçãodaUHECastanheira.Deste total,294ha (6,47%)correspondem à Floresta Ombrófila Densa Aluvial e 4.252 ha (93,53%) à Floresta OmbrófilaAberta Submontana. Além da limpeza para o reservatório, parte da cobertura vegetal seriaremovidaparaa implantaçãodocanteirodeobras,dasviasdeacesso, terraplanagem,eetc.Dentreaspopulaçõesvegetaispresentes,oEIAidentificouquatroespécies:Amburanaacreana(cerejeira),Ocotea tabacifolia (canelão), Bertholletia excelsa (castanheira) e Cedrela odorata(cedro-rosa)queestãoempelomenosumadaslistasdeespéciesameaçadas.15

11Populaçãoestimadaem2016.Maisinformaçõesemhttps://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/mt/juara/panorama.12OEstudodeImpactoAmbientalapontaqueparaaformaçãodoreservatório,implantaçãodeestruturadeapoioea constituiçãodaÁreadePreservaçãoPermanente serãonecessários14.215hade terrasebenfeitorias.Paraatender essa demanda,156 propriedades serão afetadas. Em termos de habitantes, foram identificadas 555pessoas(ou208famílias)queserãoafetadas.13DeacordocomoEIA,impactodiretoocorre“quandoosefeitosdoaspectogerador(atividadeouação)sobreofatorambientaldecorremdeumarelaçãodiretadecausaeefeito”(EIA-Volume3,2015).14DeacordocomoIBGE,apopulaçãoindígenaemJuaraem2010correspondiaa1.141pessoas.Maisinformaçõesver:http://indigenas.ibge.gov.br/mapas-indigenas-215Comexceçãodocanelão,queconstacomoespécieemperigo,asdemaisespéciesarbóreasestãoemsituaçãovulnerávelconformeaslistasIUCNRedList2015ePortariaMMANo.443,2014.

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1.2 Motivação do estudo

A principal razão para a construção daUHE Castanheira é a geração de energia elétrica. Deacordocomogoverno federal,aconstruçãodaUHECastanheiraénecessáriaparaatenderademanda futura por energia elétrica no país (PDE 2026). Contudo, como mencionamosanteriormente, organizações da sociedade civil argumentam que a quantidade de energiaelétrica a ser produzida pela UHE Castanheira não será suficiente para superar os custoseconômicosesocioambientaisgeradospelamesma.

Aanálisedosdadosdegeraçãodeenergiaelétrica,disponibilizadosnoPDE2026,mostraqueaUHECastanheirapoderácontribuircom1,02%daexpansãohidrelétricaentre2016e2026,eapenas 0,22% da expansão da potência instalada considerando todas as fontes de energiaelétrica.16 Ainda de acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia, a expansãohidrelétrica deverá ser priorizada e a região hidrográfica amazônica – região com maiorpotencial hidrelétrico do país – contribuirá com 57% da expansão capacidade instalada até2026.17 Portanto, o debate sobre a construção da UHE Castanheira, apesar de localizada naregiãoCentro-Oeste,insere-senumadiscussãomaisamplasobreaexpansãodosetorelétricona região amazônica. O desafio consiste não só em atender a demanda, mas também emconservaráreasdevegetaçãonativaerespeitarosdireitosdepopulaçõestradicionaisdaregiãocomo,porexemplo,ospovosindígenas.

Nestecontexto,paradiminuiros impactossocioambientais,ogovernofederal tempriorizadousinashidrelétricasafiod’água,ouseja,usinascaracterizadaspelageraçãodeenergiaatravésdofluxodeáguadorio(Tancredi&Abbud,2013).Taisusinaspodemounãoterreservatóriosextensos. Itaipu, por exemplo, é uma usina a fio d’água e possui uma área de reservatório(1.350km2)comparávelàsusinasdeacumulação.18AUHECastanheiraétambémumausinaafio d’água, e seu reservatório possui uma área prevista igual a 94,68 km2.19 Com algumasexceções, como Itaipu,os reservatóriosdasusinasa fiod’águanãosãocapazesdeacumularáguaparageraçãodeenergianaestaçãoseca(Montalvão,Faria,&Abbud,2012),diminuindoacapacidadederegularizaçãodoSistemaInterligadoNacional(FIRJAN,2013).

Emfunçãodesua localização,aUHECastanheiranãoéparticularmentesuscetívelaperíodosde seca, como ocorre com as usinas construídas na região Nordeste do país. No entanto,projeçõesrealizadasnoâmbitodoprojetoBrasil2040(SAE,2014)apontamque,emfunçãodasmudançasclimáticas,avazãodosriosnasregiõesCentro-OesteeNortedevediminuirauma

16Paraestecálculo,usamososdadosdivulgadospeloPDE2026.Deacordocomoplanodecenal,aexpansãodapotênciainstaladaentre2016e2026seráiguala64.130MW,eaexpansãohidrelétricaseráiguala13.768MW(estevalornãoconsideraaexpansãoresultantedasPCHseCGHsquesãoincluídasnoPDEemoutracategoria).17EPE(2017)página251.18 Sobre os impactos sociais e ambientais causados pela UHE Itaipu ver Serraglio (2016) e Mamed, Lemos, &Rossito(2016).19Adeterminaçãodotipodeusinadependeprincipalmentedascaracterísticasdaregião.

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taxa superior a 5% nos próximos 30 anos (no cenário mais otimista), aumentandoconsideravelmenteavulnerabilidadedasusinasnestasregiões.20

Além dos prováveis impactos causados pelas mudanças climáticas, a construção da UHECastanheirairiaafetardiretamenteavazãodorioArinosàjusante,incluindoseusafluentes(ex.riodosPeixes).DentreosriosexistenteseavaliadospeloestudodeinventáriodabaciadorioJuruena, o rio Arinos distingue-se por sua piscosidade, principalmente durante a piracema(época de migração) quando cardumes de diferentes espécies vencem a barreira do SaltoAugusto(Arrolho,etal.,2015).Defato,tantooEVTEquantooEIAmostramqueaconstruçãodabarragemprejudicariaodesenvolvimento reprodutivodospeixesmigratórios, alterandoariquezaeabundânciadepeixesnaregiãoenãosónaáreadoreservatório.Oimpactosobreapopulaçãoediversidadedepeixesseria,segundooEIA,deocorrênciacerta,delongoprazo,decaráterpermanenteeirreversível.

Estudoscomoopropostoaquipodemcontribuirparaodebate sobrea construçãodeUHEs,apresentando de forma transparente e simples os cálculos de viabilidade financeira e depotenciaisimpactossocioambientais.

1.3 Empreendimento

De acordo com a descrição técnica do projeto apresentada no estudo de viabilidade, a UHECastanheira, caso construída, terá uma capacidade instalada igual a 140megawatts (MW) einundará94,7km2,considerandooníveldeáguamáximonormaliguala230metros(Figura3).

Duranteoperíododeenchimentodoreservatório,65%davazãomédiamensaldecadamêsserialiberadaafimdemanteroregimefluvialajusante.Comoofuncionamentodausinaseriaafiod’água,oprojetonãoprevêalteraçõessignificativasnoregimefluvialduranteoperíododeoperaçãodausina,masreconhecequeaconstruçãodoreservatórioimpactariaapopulaçãodepeixesenasrotasmigratórias.21

20 Ver também BancoMundial (2017) para umamaior discussão sobre os impactos do clima no setor elétricobrasileiro.21OprojetodaUHECastanheiraprevêaconstruçãodeumsistemadetransposiçãodepeixes.DeacordocomoEIA, o dispositivo selecionado é a escada tipo vertical slot. A escada possui comprimento total deaproximadamente650metroseécomposta“porquatropartesprincipais:osistemapropriamentedito-escadadepeixestiporanhuravertical(verticalslot);ocanaldeentrada,quefazaligaçãoentreaescadaeocanaldefuga;o canal de saída, que faz a ligação entre a escada e o reservatório; e o sistema de água de atração, quecomplementaasvazõesdaescadaparamelhoratraçãodepeixesaocanaldeentrada”(EIA,volume2,pág.13).

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Figura3-UHECastanheiraFonte:http://www.uhecastanheira.com.br/o-empreendimento/

NaTabela1,apresentamososdadostécnicosassociadosaUHECastanheira.

Tabela1-DadosTécnicosdaUHECastanheira

CARACTERÍSTICAS INFORMAÇÃO UNIDADENÍVELMÁXIMODAÁGUADORESERVATÓRIO 230 mNÍVELMÁXIMODAÁGUAAJUSANTE 214,5 mPOTÊNCIAINSTALADA 140 MWENERGIAFIRME 98,43 MWmédioENERGIAFIRMAAGREGADAAOSIN 98,18 MWmédioÁREADORESERVATÓRIO 94,7 km2

MUNICÍPIOSCOMÁREAALAGADAJuarae

NovoHorizontedoNorte22

TIPODEOPERAÇÃO Afiod’água Fonte: Elaboração própria com base nas informações técnicas disponibilizadas pela Empresa de PesquisaEnergética(EPE,n.d.)

22Dototaldaáreaalagada,99,8%seránomunicípiodeJuarae0,2%nomunicípioNovoHorizontedoNorte.

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Para construir a usina, o investimento total previsto é igual a R$1.472.342.000,00 (preçocorrespondente a junho de 2015).23,24 Tal valor considera os juros durante a construção, aconstruçãodalinhadetransmissãoeaçõessocioambientais.

Especificamente sobre a linha de transmissão, a energia gerada escoaria pela linha detransmissão que conectaria a subestação da UHE Castanheira à subestação do circuitoBrasnorte-Juína, segundo uma extensão de aproximadamente 109 km (EPE, 2016). A UHECastanheira seria interligada ao Sistema Interligado Nacional (SIN), sendo a energia geradapassíveldeserconsumidaemqualquerlocalidadenopaís,abrangidapelosistema.

23EstudodeViabilidadeTécnicaeEconômica.Nãoháinformaçãosobreovalordoseguroeresseguro.24Épossívelqueos investimentos iniciaisdoprojetosejam,naprática,maioresdoqueosprevistos.Ansaretal.(2014)apresentaevidênciasdequeoscustosassociadosàsgrandeshidrelétricassãoviesadosparabaixo.

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2 Análise financeira da UHE Castanheira

Para analisar a viabilidade financeiradaUHECastanheira, calculamos inicialmenteo fluxodecaixa gerado pelo projeto e, em seguida, os seis indicadoresmais utilizados na literatura deavaliaçãodeprojetos,quaissejam:25

• RelaçãoBenefício-Custo• ValorPresenteLíquido• TaxaInternadeRetorno• PeríododeRetorno• CustoNivelado• ÍndiceCustoBenefício

Paraocálculodofluxodecaixa,consideramososseguintesfatores:

• Oscustosdeoperaçãoemanutenção;e• Osbenefícios(determinadospelovaloreconômicodaenergiagerada)

Esteestudo,assimcomooEVTE,assumequeotempodeoperaçãodaUHECastanheirasejade50anoseoperíododeconstruçãode3,4anos.Combasenestadistribuiçãodotempo,temosque𝑡(indicadordeanos)variaentre0e52anos(Figura4).

Figura4-FluxodeCaixa

25 Esses indicadores foram selecionados com base no Guia de Melhores Práticas de Avaliação Econômico-FinanceiradeProjetosdeEnergiaRenovável(Owens,2002).

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Relação Benefício-Custo

ArelaçãoBenefício-Custo(B/C)édefinidadaseguinteforma:

𝑏𝑒𝑛𝑒𝑓í𝑐𝑖𝑜𝑠/( 1+ 𝑖 !)!"!!!

𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜𝑠/( 1+ 𝑖 !)!"!!!

Onde𝑖éigualataxadedescontoe𝑡representaotempo,nestecasoemanos.

Este indicador visa identificar a relação entre os benefícios e os custos descontados de umprojeto. Sea relaçãoB/Cdeumprojetoémaiordoque1,entãoosbenefíciosdescontadosgeradospeloprojetosuperamoscustosdescontados.Se,porexemplo,arazãoB/Céiguala5,entãoissosignificaquepoderíamosesperarR$5,00debenefícioparacadaR$1,00gasto.Casocontrário,searelaçãoB/Cformenordoque1,entãooprojetonãoéviável,poisoscustossãomaioresdoqueosbenefíciosdescontados.QuandoarelaçãoB/Céiguala1,então,dopontodevistafinanceiro,nãoháganhosnemperdas.

Valor Presente Líquido

O Valor Presente Líquido (VPL), expresso em Reais, é o principal indicador de avaliação deprojetoseédeterminadodaseguinteforma:

𝑉𝑃𝐿 = 𝐵𝑒𝑛𝑒𝑓í𝑐𝑖𝑜 − 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 !

1+ 𝑖 !

!"

!!!

Onde𝑖éigualataxadedescontoe𝑡representaoano.

Quando o VPL émaior do que 0 (ou positivo), então o projeto é viável. Idealmente, quantomaioroVPL,melhor (em termos financeiros) éoprojeto. CasooVPL sejanegativo, entãooprojeto não deve ser considerado, pois os benefícios esperados serão menores do que oscustosassociadosaoprojeto.QuandooVPLéiguala0,entãodizemosqueoprojetoestáemequilíbrio.

Taxa Interna de Retorno

ATaxaInternadeRetorno(TIR),expressaempercentual,éataxadedescontoquefazcomqueoVPLseja iguala0,ouseja,éa taxaque fazcomqueo investimento inicial (em𝑡 = 0) sejaigualaosomatóriodosfluxosdecaixadescontados.ATIRédeterminadapelaseguintefórmula:

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0 = 𝐵𝑒𝑛𝑒𝑓í𝑐𝑖𝑜 − 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 !

1+ 𝑇𝐼𝑅 !

!"

!!!

Comoregradedecisão,temosqueaTIRdevesermaiordoqueataxamínimadeatratividade(taxaderetornoesperadapeloinvestimento).Nesteestudo,comparamosaTIRcomataxadedescontoutilizadana análise de investimentos.A TIR émais utilizadapara a comparaçãodeprojetos.Idealmente,quantomaioraTIR,melhoroprojeto.

Período de Retorno

O período de retorno identifica o tempo necessário, medido em anos, para que osinvestimentossejamrecuperados,ouseja,queosfluxosdecaixaacumuladosdoprojetosejammaioresouiguaisaoinvestimentoinicial.Quantomenorotempoderetorno,entãomelhoréoprojeto.Esteindicadorécalculadodeacordocomaseguintefórmula:

𝑡 =𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝐼𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙𝐹𝑙𝑢𝑥𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑖𝑥𝑎

Nesteestudo,comoveremosaseguir,supomosqueofluxodecaixa,definidocomoadiferençaentre os benefícios e os custos, seja constante ao longo do tempo. Tal hipótese ésimplificadora, o que significa que para determinados anos, as nossas estimativas estarãosubestimadas e para outros anos, superestimadas. A fim de considerarmos os valoresmonetários dos benefícios e custos ao longo do tempo, calculamos também o período deretornodescontado.Paratanto,usamosofluxodecaixadescontado.

Custo nivelado

Ocustonivelado,maisconhecidopelasuaterminologiaeminglês“levelizedcostofelectricity”,representaocustopormegawatt-hora(R$/MWh)daconstruçãoeoperaçãodausinaaolongode todo o seu ciclo de vida (EIA, 2013). Este indicador identifica o preço no qual a energiaproduzida ao longo do ciclo de vida do projeto deve ser vendida para que os benefíciosesperados sejam iguais aos custosde construçãoeoperação.O custoniveladoédefinidodaseguinteforma(DOEOfficeofIndianEnergy,n.d.):

𝑝 =

𝐼! + 𝑂&𝑀! + 𝐶𝑜𝑚𝑏𝑢𝑠𝑡í𝑣𝑒𝑙!1+ 𝑖 !

!"!!!

𝐸!1+ 𝑖 !

!"!!!

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Onde𝐼éoinvestimentoemt;𝑂&𝑀!éocustodeoperaçãoemanutençãoemt;𝐶𝑜𝑚𝑏𝑢𝑠𝑡í𝑣𝑒𝑙!representaocustodocombustívelem𝑡;𝐸!representaaquantidadedeenergiageradaem𝑡;𝑖éataxadedescontoe𝑡representaoano.

Tradicionalmente,o custonivelado temsidoutilizadoparaaavaliaçãodeprojetos.Contudo,este indicador possui algumas simplificações que comprometem a comparação entre asdiferentes alternativas tecnológicas (Romeiro,Almeida,& Losekann, 2015). Estemétodo,porexemplo, não leva em consideração a natureza da oferta de energia, ou seja, se essa édespachável ou intermitente. A fim de superar esta limitação, o governo brasileiro definiu oÍndiceCustoBenefício(ICB),ouÍndicedeMérito.

Índice Custo Benefício

OindicadorICBmedearelaçãoentreoscustosassociadosaoprojetoeobenefício,emtermosde energia firme.26 Este indicador é utilizado para comparar projetos de geração de energiaelétrica de diferentes fontes de energia, pois indica o custo de produzir e entregar à rede 1MWh.

SeguindoametodologiaapresentadanoEVTETomoII,oICB,expressoemR$/MWh,édefinidodeacordocomaseguintefórmula:

𝐼𝐶𝐵 =𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙8.760 ∗ ∆𝐸𝑓

Ocustototal(CT)écalculadopelaexpressão:

𝐶𝑇 = 𝐶 ∗ 𝐹𝑅𝐶 + 8.760 ∗ ∆𝐸𝑓 ∗ 𝐶𝑂𝑀

Onde:

𝐶 Custodoaproveitamentoincluindojurosduranteaconstrução;𝐹𝑅𝐶 Fatorderecuperaçãodocapital;∆𝐸𝑓 Acréscimodeenergiafirme;e𝐶𝑂𝑀 CustoanualdeO&M.8760 Númerodehorasem1ano

Ofatorderecuperaçãodecapital,porsuavez,édefinidopelaseguinteexpressão:

𝐹𝑅𝐶 =𝑖 ∗ 1+ 𝑖 !

1+ 𝑖 ! − 1

26Paraosdemaisindicadores,ocálculoéfeitocombasenapotênciainstalada,ouseja140MW.ParaocálculodoICB,usamosaenergiafirmeagregadaaosistema,ouseja98,18MWmédio.

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Onde:

𝑖 Taxadedesconto;e𝑇 Vidaútildausina.

Para o cálculo dos indicadores apresentados acima, usamos os dados oficiais disponíveis noEVTE.ATabela2mostraessesdados.

Tabela2-DadosOficiaisdoProjetodeConstruçãodaUsinaHidrelétricaCastanheira

PARÂMETROSTEMPORAIS UNIDADE

Períodobase 2015 Entradaemoperação 2023 Tempototaldeconstrução 3,4 anos Tempodeconstruçãoatégeraçãodaprimeira

unidade*3 anos

Tempodeconstruçãoatégeraçãodasegundaunidade

3,2 anos

Tempodeconstruçãoatégeraçãodaterceiraunidade

3,4 anos

Períododeanálise 50 anos Cronogramadedesembolso: CONSTRUÇÃODAUSINA(%CUSTOTOTALS/JUROS)

Ano1 9,3 %Ano2 33,5 %Ano3 42,7 %Ano4 14,6 %

SISTEMADETRANSMISSÃOASSOCIADO(%

CUSTOASSOCIADOALT)

Ano1 0 %Ano2 5 %Ano3 70 %Ano4 25 %

PARÂMETROSECONÔMICOS(BASEJUNHODE2015)

Investimentototal,incluindolinhadetransmissão

1.472.342 milR$

CustototalS/JDC 1.195.948 milR$ CustototalC/JDC 1.369.962 milR$ Sistemadetransmissão 102.380 milR$ O&M 5 R$/MWh Custoprevistocomaçõessocioambientais 196.910 milR$ Taxadejuros 10 %Fonte:EPE(2016)Nota: AdatadeconstruçãodausinapeloempreendedorserádefinidasomenteapósarealizaçãodoleilãodaUHECastanheira.Mas, de acordo como PDE 2026, a usina está prevista para entrar em operação em 2023, o que

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implicaria em iniciar a construção em 2019. O custo previsto com ações socioambientais inclui: aquisição deterrenos e benfeitorias, realocações e outras ações socioambientais (a planilha com a descrição dos custosencontra-senoApêndice3).*Otempoprevistodeconstruçãoatégeraçãodaprimeiraunidadepodeserultrapassado.VerAnsaretal.(2014).

Além dos dados apresentados na Tabela 2, para o cálculo dos indicadores financeiros,assumimosquatrohipóteses,quaissejam:

1. InvestimentoprivadoParacalcularmosaviabilidadefinanceiradesteempreendimento,subtraímosdo investimentototal, os custos associados aos programas socioambientais. O objetivo desta análise éidentificarmosaviabilidadedoprojetodesconsiderandoasexternalidadespotenciais.

2. Ataxadedescontoé10%aoano.A taxa de desconto utilizada neste estudo coincide coma taxa adotada no EVTE. A taxa dedescontoéumadasvariáveismaisimportantesnasestimativasdoscustosedosbenefícios.Elaéutilizadaparaatualizartodososvaloresmonetáriosdeumprojetoparaopresente.Quantomaiorataxadedesconto,menoraimportânciadosbenefíciosecustosfuturos.Osindicadoresfinanceiroscomo,porexemplo,oVPL,sãobastantesensíveisaalteraçõesnataxadedesconto.Comoaanálisefinanceiracorrespondeaumaanálisedopontodevistadoinvestidorprivado,ousodataxadejuroscomotaxadedescontosejustifica.Naanálisedeviabilidadeeconômica,que leva em consideração a sociedade, a taxadedesconto social –menordoque a taxadejuros – é, em geral, utilizada. Neste estudo, como combinamos a análise financeira com aanálise econômica (Capítulo 3), optamos por utilizar a taxa de juros a fim de sermosconsistentesentreasanálises.

3. OpreçodaenergiaéigualaR$130/MWh.Consideramos que o preço de venda da energia é igual ao Custo Unitário de Referência deEnergiadeterminadopelaEPEeapresentadonoEVTE.Opreçodevendadaenergiaé,emgeral,determinadonosleilõesdevendadeenergia–principalmecanismodecontrataçãodeenergiaelétricanoBrasil.

4. Ofatordecapacidadeéiguala70%.Assumimos que o fator de capacidade da UHE Castanheira, ou seja, a proporção entre aprodução efetiva em um determinado período e a produção total máxima neste mesmoperíodo, é igual a 70%. Este valor é uma simplificação. No caso das hidrelétricas, a energia

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geradadependedavazãodosriosemcadainstantedotempoe,portanto,évariável.Contudo,emmédia,ofatordecapacidadedageraçãohidráulicapúblicanoBrasilé50%(45%em2015,49%em2014,e57%em2012).27OfatordecapacidadeprevistoparaaUHECastanheiraé69%,considerandotantooperíodocríticoquantooperíodohistórico.

5. O cronograma do pagamento dos juros segue o cronograma de desembolso previstopeloEVTE

ATabela3apresentaumsumáriodashipótesesutilizadasnestecapítulo.

Tabela3-HipótesesNecessáriasparaoCálculodosIndicadoresFinanceiros

HIPÓTESES UNIDADE

Fatordecapacidade 70 % Preçodevendadaenergia 130 R$/MWh Taxadedesconto 10 % Númerodehorasem1ano 8.760 %

CRONOGRAMADEPAGAMENTODOS

JUROS

Ano1 9,3 %Ano2 33,5 %Ano3 42,7 %Ano4 14,6 %

2.1 Resultados da viabilidade financeira

Com base nas fórmulas e nos dados apresentados na seção anterior, calculamos os seisprincipais indicadores financeiros utilizados na avaliação de projetos. Os resultados sãoapresentados na Tabela 4. Os resultados sugerem que o projeto de construção da UHECastanheira não é viável financeiramente, corroborando o argumento de que os benefíciosgerados pela geração de energia elétrica não serão suficientes para superar os custosfinanceirosassociadosàconstruçãodestaUHE.

27MinistériodeMinaseEnergia.CapacidadeInstaladadeGeraçãoElétrica–BrasileMundo(2016).

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Tabela4-SíntesedosResultadosObtidosnaAvaliaçãoFinanceiradoProjeto

INDICADOR: RESULTADO UNIDADERELAÇÃOCUSTO-BENEFÍCIO 0,78 VALORPRESENTELÍQUIDO -238.558.270 R$TAXAINTERNADERETORNO 7.8 %TEMPODERETORNOSIMPLES 11,89 anosTEMPODERETORNODESCONTADO - CUSTONIVELADO 164.98 R$/MWhICB 177,66 R$/MWh

Dentreosindicadoresfinanceiroscalculados,podemosdestacartrês:oVPL,ocustoniveladoeo ICB.O VPL calculado neste estudo indica que o projeto não deve ser considerado. Caso oprojeto de construção da UHE Castanheira seja aceito, então, dadas as hipóteses definidasacima,oprojetogeraráumprejuízodeaproximadamenteR$239milhões.

O custo nivelado, apesar de suas limitações como método de comparação de projetos degeração de energia elétrica, indica o preço de venda de energia que faz com que os custossejamiguaisaosbenefícios.IssosignificaqueparaoprojetodeconstruçãodaUHECastanheira,opreçodevendadeveriaser27%maiordoqueopreçodevendaesperado,R$130,00.Casocontrário,osbenefíciosnãoserãosuficientesparacobriroscustosincorridospeloprojeto.

ComrelaçãoaoindicadorICBcalculadonesteestudo,temosqueseuvaloréexatamenteigualao valor apresentado no EVTE, R$177,66/MWh. Tal resultado é esperado, pois estamosutilizando os dados oficiais do projeto. No entanto, nos chama a atenção o fato de o customédio de geração (R$177,66/MWh) ser maior do que o preço de venda esperado,R$130,00/MWh. Tal fato implica que a UHE Castanheira incorrerá em perda a cada 1MWhproduzido.

Desta forma, os resultados encontrados neste estudo sugerem que, do ponto de vistafinanceiro,aUHECastanheiranãodeveserconstruída,ouseja,nãoháracionalidadefinanceiraparaqueuminvestidorprivadoconstruaestausinahidrelétrica.

2.2 Análise de Sensibilidade

Os indicadores financeiros calculados neste estudo são sensíveis a determinadas variáveiscomo,porexemplo, a taxadedescontoeopreçodevendadeenergia.Assim,para testararobustezdosresultadosencontradosaqui,recalculamosovalorpresentelíquidoconsiderandodiferentestaxasdedescontoepreçosdeenergia.

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Comrelaçãoàtaxadedesconto,temosqueessaéumafunçãodataxadejurosutilizadapelobanco, ou outra instituição financeira, que emprestará o dinheiro (ou parte do dinheiro)necessário aos investidores para a realização do projeto. No Brasil, assim como em outrospaíses em desenvolvimento, a participação do governo em obras de infraestrutura podeocorrer via o empréstimo de capital a taxas subsidiadas. Portanto, para a análise desensibilidade,consideraremosduastaxasalémdataxadedescontoutilizadacomoreferêncianesteestudo–10%aoano.Supondoumamaiorparticipaçãodosetorpúblico,consideraremosumataxadedescontoiguala6%aoano.Poroutrolado,considerandoumaparticipaçãomaiordosetorprivado,entãoassumiremosumataxadedescontode13%aoano.ATabela5mostraosvaloresdoVPLassociadosàstaxasdedesconto.

Tabela5-Análisedesensibilidadeàtaxadedesconto

TAXADEDESCONTO(%AOANO)

VALORPRESENTELÍQUIDO(MILHÕESDER$)

6 31710 -23913 -425

Adeterminaçãodospreçosutilizadosnaanálisedesensibilidadeéfeitacombasenospreçosdevenda obtidos nos últimos leilões de energia elétrica. Em termos reais (junho de 2015), ospreçosvariamentreR$78,70/MWheR$200,94/MWh.AFigura5mostraopreçodevendadeenergiaelétricaporempreendimento.28

Figura5-PreçodeVendadeEnergiaElétricaporEmpreendimentoFonte:Aneel–ResultadodeLeilões

28Paracalcularmosopreçodevendadeenergiaelétricaemtermosreais,consideramosqueosleilõesocorreramnomêsdedezembro.UsamosoIPCA,divulgadopeloIBGE,paratrazerospreçosavalorpresente.

0

50

100

150

200

250

UHE

FozdoRioClaro

UHE

SãoJo

UHE

PassoSãoJo

ão

UHE

Sim

plício

UHE

Retiro

Baixo

UHE

Baguari

UHE

Dardane

los

UHE

Mauá

UHE

SantoAntôn

io

UHE

BaixoIguaçu

UHE

Jirau

UHE

BeloMon

te

UHE

Ferreira

Gom

es

UHE

Colider

UHE

Garibaldi

UHE

SantoAnton

iodo

UHE

TelesPire

sUHE

Jirau(Ampliação)

UHE

SãoRoq

ue

UHE

SantoAnton

iodo

UHE

Cacho

eirado

UHE

Sinop

UHE

SaltoApiacás

UHE

SãoM

anoe

lUHE

SantoAnton

io

UHE

ItaocaraI

UHE

TibagiM

ontante

Preço(Ju

nhode

2015)-R$/MWh

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Aoanalisarmosospreçosdevendaao longodosanos(Figura6),percebemosumatendênciaclara de queda entre 2005 e 2012. Nos últimos anos, porém a tendência parece ter sidorevertida. Para a construção deste gráfico, utilizamos os preços médios de cada ano. Noentanto, dada a grande variabilidadedasUHEsnoBrasil, o usodamédia como indicadordepreçonãoéideal.

Figura6-PreçodeVendadeEnergiaElétricaentre2005e2015Fonte:Aneel–ResultadodeLeilões

Defato,comoilustradonaFigura7,asUHEsvariamtantoemtermosdepotênciaquantoemtermosdepreçodevendadeenergia.Acorrelaçãoentreestasduasvariáveisé iguala-0.31,sugerindo uma correlação fraca.29 Especificamente sobre o sinal, temos que esse está deacordo com a teoria econômica: quanto maior a potência, menor o preço (em média). Talresultadofazsentidosepensarmosemtermosdeeconomiadeescala.Contudo,acorrelaçãoépequena,sendodifícildeterminarmosumpadrão,ouumatendência.30AUHEdeBeloMonte,porexemplo, temumapotência instalada iguala11.233MW,porémseupreçodevendadeenergiaelétrica(emtermosreais)ésimilaraodasUHEsquepossuemmenosde4.000MW(ex.UHEJirau).

29Ocoeficientedecorrelaçãofoicalculadausandoaseguintefórmula:𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑙𝑎çã𝑜 𝑋,𝑌 = !!! !!!

!!! ! !!! !,onde

𝑥e𝑦sãoapotência instaladaeopreçodevendadeenergia.Estecoeficientemedeograudecorrelaçãoentreduasvariáveiseassumevaloresentre-1(correlaçãoperfeitanegativa)e1(correlaçãoperfeitapositiva).30Ospreçosobtidosnosleilõessãomuitasvezesconjunturaiseserelacionamcom,porexemplo,otetodefinidopelosreguladoreseopreçorelativodasalternativasdegeraçãoenvolvidosnoleilão.

0

50

100

150

200

250

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

PreçoMéd

iodeVe

ndade

Ene

rgia

Elétrica(Ju

nhode

2015)-R$

/MWh

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(a) RelaçãoentrePreçoRealdeVendadaEnergiaePotênciaInstalada

(b) RelaçãoentrePreçoRealdeVendadaEnergiaePotênciaInstalada(Menorou

Iguala700MW)Figura7-PreçoRealdeVendadeEnergiaePotênciaInstalada

Fonte:Aneel–ResultadodeLeilõesNota:NoPainel(b)truncamososdadosdepotênciaparamelhorvisualizaçãodarelaçãoentrepotênciaepreço.Opreçodaenergiaestáemtermosreais(junhode2015).Portanto,dadaaincertezaemrelaçãoaopreçodevendadeenergiaelétricaesuaimportânciana análise de viabilidade de investimentos, testamos a robustez dos resultados usandodiferentes preços. Comomencionado anteriormente, os preços de venda de energia obtidosnos últimos leilões variam de R$78,70/MWh a R$200,94/MWh. Escolhemos cinco valoresdentrodestafaixadepreços,sendotrêsdelesescolhidosaleatoriamente.Sãoeles:

0

50

100

150

200

250

0 2,000 4,000 6,000 8,000 10,000 12,000

Preço(ju

nhode

2015)-R$

/MWh

0

50

100

150

200

250

0 100 200 300 400 500 600 700

Preço(ju

nhode

2015)-R$

/MWh

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• 80R$/MWh• 100R$/MWh• 130R$/MWh• 164.98R$/MWh• 177,66R$/MWh• 200R$/MWh

AFigura8eaTabela6mostramoresultadodaanálisedesensibilidade.Valoresmenoresdoque164.98R$/MWhimplicamemperdafinanceiraparaaempresa.OVPLnestecasoésemprenegativo,indicandoqueosbenefíciosgeradospelaenergiaproduzidanãosãosuficientesparasuperaremoscustosassociadosaesseprojeto.Destaforma,paraqueoprojetodeconstruçãoda UHE Castanheira seja viável financeiramente, o preço deve ser maior ou igual a 164.98R$/MWh. Este valor, no entanto, é acima damédia obtida nos leilões que ocorreram entre2005e2015.

Figura8-AnálisedeSensibilidade:VPL

Tabela6–Análisedesensibilidadeaopreçodevendadeenergia

PREÇODEVENDADAENERGIA(R$/MWH)

VPL(MILHÕESR$)

80 -280100 -443130 -239

-700

-600

-500

-400

-300

-200

-100

0

100

200

300

80 100 130 165 178 200

VPLem

milhõe

sdeR$

Preçodevendadeenergiaelétrica(R$/MWh)

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164.98 0177.66 86200 239

2.3 Uso de Fontes Alternativas

A decisãode construir umaUHE, assim comooutras usinas elétricas, é bastante complexa edependedediversosfatoresassociadosnãosóaoprojeto,mastambémaosetorelétricocomoum todo. Idealmente, ao concluirmos que uma usina não é viável financeiramente e que osimpactos socioambientais serão negativos, recomendamos, alémdo uso eficiente da energiaelétrica, a construção de usinas alternativas para atender a demanda futura por energia.Contudo, para que possamos fazer tais recomendações, precisaríamos entender melhor oprocessode tomadadedecisão.Atualmente,oprocessodedecisãonãoé transparenteeosmodelosdeotimizaçãoutilizadoscomoferramentadedecisãodeinvestimentosdelongoprazosãoverdadeiras“caixas-pretas”paraasociedadeemgeral.

Nesteestudo,a fimdeavaliarapossibilidadedealternativas,usamosummétododeanálisebastantesimples.ComparamosopreçodevendaprevistodaUHECastanheiracomospreçosdevendaaoSIN–determinadosnosleilõesdeenergia–detrêsfontesalternativasdeenergia(eólica,solarebiomassa/cana-de-açúcar).31UmadasrazõesparaaconstruçãodehidrelétricasnoBrasil – alémdopotencial hidrológicoexistente–éo seupreço relativo. Emcomparaçãocomopreçodevendasdasfontesrenováveiscomoeólicaesolar,opreçodevendasdeenergiadashidrelétricastendeasermenor.

No entanto, a competitividade dos empreendimentos de fontes alternativas (eólica, solar ebiomassa)estáaumentandonamedidaemqueoscustosde investimentoeproduçãodessasfontesestãodiminuindo.Defato,seconsideramosapenasos leilõesde2015(FA,A-3eLER),temosqueopreçodevendadaenergiaeólicavariouentreR$177,47/MWheR$212,39/MWh.32Com relação aos preços de venda de energia solar, temos que o preço variou deR$290,00/MWh a R$305,51/MWh. Especificamente sobre a energia proveniente de usinastermelétricas a biomassa, os resultados dos leilões de 2015 indicam que o preço variou deR$206,52/MWhaR$278,50/MWh.

31Os valoresutilizadosnesta comparaçãonão consideramos custos associados àdistribuiçãoe transmissão, àsperdaseaosencargos.32ExistemdiferentemodalidadesdeleilõesdeenergianoBrasil,entreeles:oleilãodefontesalternativas(FA)–para atender ao crescimento domercado e aumentar a participação de fontes renováveis – eólica, biomassa eenergiaprovenientedePequenasCentraisHidrelétricas(PCHs)–namatrizenergéticabrasileira;oleilãodeenergiadereserva(LER)--criadoparaelevarasegurançanofornecimentodeenergiaelétricanoSIN;eleilãoA-3–criadopara viabilizar empreendimentos de médio prazo de maturação, como, por exemplo, os empreendimentostermelétricos(CCEE,n.d.).

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Assim,combasenospreçosdosleilõesqueocorreramem2015elevandoemconsideraçãoqueopreçomínimodevendaparatornaroprojetodaUHECastanheiraviávelé,aproximadamente,R$190/MWh,asfontesalternativas(principalmenteaeólica)sãobastantecompetitivas.Nestaetapa do estudo, não estamos incluindo o custo das externalidades associado ao projeto daUHECastanheira.A inclusãodasexternalidadestendeaelevaroscustose,comoresultado,opreçomínimoparatornaroprojetoviáveldeveaumentar,tornandoalternativascomousinaseólicasaindamaisatraentes.

Ousode fontes alternativas, comoasmencionadas aqui, pode ser vantajosoparao sistemaelétrico brasileiro ao diminuir o risco hidrológico, reduzir a dependência de hidrelétricas emperíodonaturaisdesecaediminuirousodetermelétricasemergenciais.Usinastermoelétricasàbiomassa,porexemplo,têmumcaráterbastantecomplementaràsusinashidrelétricas,umavezqueoperíododesafradecana-de-açúcar(entreosmesesdemaioenovembro)coincidecomoperíododesecadosistemaelétrico(CastroN.J.,2008).

Certamente,ousode fontes intermitentes,comoaspropostasaqui,pode levaraumamaiorvulnerabilidade do sistema elétrico, sendo necessário avaliar os riscos associados a cadaempreendimento. Este tipo de estudo não será feito aqui, mas podemos concluir que, emtermos de preço de venda de energia elétrica ao SIN, há opções à construção da UHECastanheira.

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3 Impactos socioambientais da UHE Castanheira

O EVTE não é claro quanto aos métodos utilizados para calcular os potenciais impactossocioambientais associados ao projeto de construção da UHE Castanheira. Por esta razão,fazemosumaanáliseindependentedealgunsdessespotenciaisefeitos.

Analisamos quantitativamente três impactos potenciais socioambientais daUHE Castanheira.Sãoeles:

1. Asemissõesdegasesdeefeitoestufa;2. Aperdaeconômicaresultantedoalagamentodeáreasprodutivas;e3. Aalteraçãodadinâmicaerentabilidadedaatividadepesqueira.

Ostrêsimpactospotenciaisanalisadosnesteestudorepresentamumapequenafraçãodototaldosefeitosadversosque seriampotencialmentegeradospeloprojetode construçãodaUHECastanheira. Impactos sobre os povos indígenas e as comunidades tradicionais, assim comosobreodesenvolvimentolocal(dosmunicípiosafetados)sãoexemplosigualmenteimportantesequedevemsertambémconsideradosnoprocessodedecisãodeconstruçãodeUHEs.Assim,apesardenãoquantificarmostaisimpactos,descrevemosbrevemente,nofinaldestecapítulo,possíveisconsequênciasdaconstruçãodaUHECastanheiraparaospovosindígenaspresentesnaregiãoeparaosmunicípiossedecombasenaliteraturaeemexperiênciasanteriores.

Aescolhaparaanalisarostrêsimpactosfoibaseadaemquatrofatores,quaissejam:

1. Arelevânciaparaasociedade;2. Ametodologiadeanálisedisponívelnaliteratura;3. Adisponibilidadededados;e4. Adisponibilidadedetempoparaarealizaçãodesteestudo.

3.1 Contexto

Existe um consenso na literatura de que empreendimentos hidrelétricos geram impactossignificativos à sociedade e ao meio-ambiente (Winemiller, et al. (2016), Fórum Teles Pires(2017), Forsberg, et al. (2017)).Noentanto, apesar de reconhecidos estes impactos, existemdiversos projetos de construção deUHEs na região hidrográfica amazônica, uma das regiõescom maior biodiversidade do mundo. Na bacia do rio Juruena, por exemplo, existematualmente mais de 100 empreendimentos hidrelétricos previstos para os próximos anos,incluindoaconstruçãodepequenascentraishidrelétricas(Figura9).

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Figura9-MapadasUHEs,PCHseCGHsplanejadasparaabaciadorioJuruenaNotas: Estemapa foi elaborado por Ricardo Costa Carvalho da OPAN. Algumas das PCHs representadas nestemapa foramreclassificadascomoCGHs(microusinasdeaté5MW).

O processo de decisão de construção de UHEs é baseado em diversos estudos, sendo oEIA/RIMAumdosmaisimportantesaoidentificarosimpactospotenciaissocioambientaisqueresultarão da construção do empreendimento. No entanto, apesar de identificados, taisimpactos não são quantificados e incorporados na relação custo-benefício, que leva emconsideraçãoapenasosaspectos financeiroseosbenefíciosenergéticosdoempreendimentocomomostradonocapítuloanterior.Comoresultadodetalprocesso,atomadadedecisãonãoreflete as expectativas da sociedade, que valoriza outros aspectos como, por exemplo, apreservaçãoeconservaçãodeecossistemasfluviais.Paragarantirqueatomadadedecisãosejaótima, os estudos devem medir não só os impactos financeiros, mas também os impactossocioambientais.

Especificamente sobre a UHE Castanheira, o EIA identificou 43 impactos ambientais esocioeconômicos.33 As alterações previstas foram identificadas nas diversas fases doempreendimento:planejamento,instalação,enchimentoeoperação.Abaixolistamostodososimpactosidentificadospeloestudo.

33 A elaboração do EIA da UHE Castanheira não considerou o Estudo do Componente Indígena (ECI), que foirealizado somente após a sua conclusão. Como resultado é provável que os impactos identificados no EIA nãorepresenteototaldosimpactos.

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• Impactosambientais:

1. Alteraçãodapaisagem2. Perdadacoberturavegetal3. Interferênciasobreáreasdeconcessãodedireitosminerários4. Intensificaçãodosprocessoserosivosnafasedeinstalação5. Alteraçãodaqualidadedosolo6. Perdadehabitatnaturalparaafaunaterrestreapartirdafasedeinstalação7. Alteraçãodaqualidadedoarnafasedeinstalação8. Intensificaçãodosníveisderuídosnafasedeinstalação9. Interferênciasobreafaunaterrestrenafasedeinstalação10. Alteraçãodaqualidadedaáguanafasedeinstalação11. Alteraçãodadinâmicahidrossedimentológicanafasedeinstalação12. Alteração da biota aquática (comunidades planctônica e bentônica) na fase de

instalação13. Interferêncianaictiofaunanafasedeinstalação14. Alteraçãodoregimefluvialnafasedeenchimentodoreservatório15. Alteraçãonadisponibilidadedehabitatparaafaunasemiaquática16. Intensificaçãodosprocessoserosivosnoenchimentoeoperação17. Alteraçãodaqualidadedaáguanafasedeenchimentoeoperação18. Alteraçãodadinâmicahidrossedimentológicanasfasesdeenchimentoedeoperação19. Alteração na biota aquática (comunidades planctônicas e bentônicas emacrófitas) na

fasedeoperação20. Interferêncianaictiofaunanafasedeoperação21. Interrupçãoderotasmigratóriasdepeixesnafasedeoperação22. Aumentonadisponibilidadedehabitatparaespéciesdefaunadeinteressemédico23. Alteraçãonosníveisdolençolfreáticonasfasesdeenchimentoedeoperação24. OcorrênciadeSismicidadeInduzidanasfasesdeenchimentoeoperação25. Alteraçãonomicroclimaeemissãodegasesdeefeitoestufa

• Impactossocioeconômicos:

1. Geraçãodeexpectativasnapopulação2. Reduçãodeterrasebenfeitoriasnoentornodoreservatório3. Alteraçõesnomercadoimobiliário4. Aumentodoafluxopopulacional5. Geraçãodeempregoerenda6. Fortalecimentodasatividadesdecomércioeserviços7. Aumentodareceitatributária8. Interferêncianosistemaviário

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9. Interferêncianaatividadedepescaprofissionalnafasedeinstalação10. Interferêncianocotidianodapopulação11. Potencialaumentodaincidênciadedoençasnapopulaçãolocal12. Pressãosobreainfraestruturaexistentedeserviçosessenciais13. Interferênciasnoturismoelazer14. Interferênciasobrebensculturais15. Contribuiçãoaoconhecimentotécnico-científico16. Interferêncianaatividadedepescaprofissionalnafasedeoperação17. Aumentodareceitamunicipaldevidoàcompensaçãofinanceira18. Aumentodaofertadeenergiaelétricaeestabilidadedosistema

Do total de impactos ambientais identificados pelo estudo, todos são negativos.34 Dos 18impactossocioeconômicosidentificadosnoEIA,seisforamconsideradospositivos, incluindoageração de empregos e o aumento das atividades de comércio e serviço. Contudo, estudoscomoMorettoetal. (2015)questionama relaçãopositivaentredesenvolvimentoeconômiconosmunicípiossedeeaconstruçãodeUHEs(verSeção3.2.4).

NoquetangeàextensãodosefeitospotenciaisdoprojetodeconstruçãodaUHECastanheira,oEIA identificou que 14 dos 25 impactos ambientais se farão sentir localmente. As demaisalteraçõesalcançarãoumamaioramplitude,mudandopotencialmenteoecossistemadeoutrosriosnasub-baciahidrográficadorioArinos.Aextensãodoefeitosobreasemissõesdegasesdeefeitoestufaémaisdifícildeserdelimitada,podendooefeitoserglobal.

Apesar de importante, a identificação destes impactos não é considerada no processodecisório.AsalteraçõesambientaisesocioeconômicasidentificadasnoEIAsãoutilizadasparaaelaboração demedidas e programas voltados para amanutenção da qualidade ambiental esocial da região afetada. Contudo, existem diversas críticas ao EIA como exemplificado emMagalhães&Hernandez(2009),que,juntamentecomdiversosespecialistasnaárea,analisamcriticamenteoEIAdaUHEBeloMonte.Algumadascríticasapresentadasnesteestudocomo,por exemplo, o subdimensionamento das comunidades afetadas, incluindo a populaçãoindígena,eafaltadeconsultaeconsentimento35seaplicamaoEIAdaUHECastanheira.Destaforma, as medidas e os programas mitigatórios e de compensação propostos serãopotencialmenteinadequadosparagarantiramanutençãodascondiçõesambientaisesociais.

34AlgunsdosimpactosambientaisdescritosnosestudosdoEIAedoRIMAsãoconsideradosdebaixamagnitudeereversíveis.35ComonostermosdaConvenção169(OIT,s.d.).

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3.1.1 Área do reservatório

O projeto de construção da UHE Castanheira prevê a inundação de áreas de floresta e depastagem.Paracalcularmosasáreascorrespondentesacadausodaterra,georreferenciamosomapadoreservatórionomapadeusodaterradivulgadopeloIBGE(Figura10).36Combasenogeorreferenciamento, a área total do reservatório seria aproximadamente 9.429 hectares –0,4%menordoqueaáreadoreservatórioapresentadanosestudosdeviabilidadee impactoambiental,9.468hectares.

Figura10-UsodaterranaáreadoreservatórioenoentornodaUHECastanheiraFonte:ElaboraçãoprópriaapartirdosmapasdoIBGEeEmpresadePesquisaEnergética(2016).

A maior parte do reservatório previsto é composta por áreas de pastagem: 1.726 hectarescorrespondem à área de floresta e o restante, 7.703 hectares, à área de pastagem. Para aformaçãodoreservatóriotodaaáreadeflorestaseráalagada.Áreasdeflorestanoentornodoreservatório seriam removidaspara a implantaçãodo canteirodeobras, de vias de acessoe36 O mapa do reservatório divulgado pela EPE e pelas empresas Habtec Mott MacDonald e Nova terra,responsáveispeloestudodeviabilidadeedeimpactoambiental,estáemformatodefigura.Já,omapadeusodaterradivulgadopeloIBGEestánoformatoshapefile.

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paraobrasdebarramentoemgeral,aumentandoasáreasdeflorestaimpactadaspeloprojetode construção da UHE Castanheira. Apesar da potencial contribuição à extinção de espéciesnativas, o projeto de construção da UHE Castanheira considerou que a perda de coberturavegetalseriademédiaimportânciaenão-cumulativo.37

Para os habitantes da região, em suamaioria pequenos e médios proprietários (Figura 11),além da perda ambiental e a necessidade de realocação, existiria a perda econômica. Asprincipais atividades econômicas na área do reservatório são a pecuária e o extrativismovegetal(carvãovegetal,lenhaemadeiraemtora).

Figura11-PropriedadesafetadaspeloprojetodeconstruçãodaUHECastanheiraFonte:HabtecMottMacDonaldeNovaterra(2015)

37DeacordocomoEIA,não-cumulativosignifica:nãoacumulanotempoounoespaçoenãoapresentainteraçãodequalquernaturezacomoutro(s)impacto(s)(EIA,volume3,pág.5).

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3.2 Quantificação dos impactos

3.2.1 Emissão de Gases de Efeito Estufa

Nestaseção,calculamosasemissõespotenciaisdoprojetodeconstruçãodaUHECastanheira.Medimosasemissõesdegasesdeefeitoestufa(GEE)apartirdeduasfontes(Figura12):

1. Asupressãodeáreasdeflorestaepartedaáreadepastagematravésdaqueima;e2. Adecomposiçãopeloalagamentodematériaorgânicarestantenoreservatório.

Figura12-DistribuiçãodasfontesdeemissãodeGEEIdealmente, as emissões de GEE do reservatório devem ser discriminadas em emissões desuperfície(ou“amontante”)eemissõesdeáguaquepassapelasturbinasepelosvertedouros(desgaseificaçãoou“ajusante”).Nesteestudo,porém,nãofazemosdistinçãoentreasformasdeemissãoporfaltadedados.Porisso,apresentamosocálculoeosresultadosassumindoqueafontedeproduçãodasemissõesnoreservatório(biomassa)éamesma.

Outro ponto importante consiste namensuração das emissões. Em geral, amensuração dosGEEemitidosporUHEséfeitaapartirdemediçõeslocaisecomparaçõesdasemissõespré-epós-barragem. No entanto, neste estudo, para calcular as emissões potenciais da UHECastanheira,utilizamososdadostécnicosdivulgadospelosestudosdeviabilidadeedeimpactoambientaledadossecundáriosobtidosnaliteratura.

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3.2.1.1 Supressão de áreas de floresta e parte da pastagem e emissões de GEE

O projeto de construção da UHE Castanheira prevê a supressão de 40,6% da área que seráalagada.38Estamedidatemporobjetivoreduzirototaldebiomassavegetalaserdegradadonoreservatórioe,consequentemente,diminuirasemissõesdeGEEdestafonte.

Para calcularmos as emissões resultantes da supressão de áreas de floresta e pastagem,utilizamosasseguintesinformações:

• Asáreascorrespondentesdeflorestaepastagemqueserãosuprimidas;e• Oconteúdodecarbonoemcadaumadasáreas.

Do total da área do reservatório, 3.828 hectares de floresta e pastagem seriam suprimidosantes do início da inundação.Deste total (3.828 ha), toda a área de floresta seria suprimida(EPE, 2015). Desta forma, as áreas de floresta e pastagem que seriam limpas antes doenchimentodoreservatóriocorrespondema1.726hae2.102harespectivamente.

O conteúdo de carbono é determinado pelo tipo de vegetação presente em cada uma dasáreas.Nocasodasáreasdefloresta,sabemosqueaFlorestaOmbrófilaAbertaSubmontanaépredominante e, por isso, a utilizamos como referência na determinação do conteúdo decarbono. Segundo o Inventário Brasileiro de Emissões Antrópicas de GEE, a quantidade decarbonopresentenestetipodeflorestaenestaregiãodoMatoGrossoéiguala118toneladasporhectare(tdeC/ha)(Scolastrici,etal.,2010).39Nocasodasáreasdepastagem,oconteúdodecarbonoéconsideravelmentemenor.Aindasegundoorelatório,aquantidadedecarbonoemáreasdepastageméiguala8tdeC/ha(Scolastrici,etal.,2010).40

A Tabela 7 sintetiza os parâmetros utilizados para calcular as emissões resultantes dasupressãodeáreasdeflorestaepastagem.

38DadodivulgadonoEstudode ImpactoAmbiental.Noentanto,seconsiderarmosqueaáreadoreservatórioé94,68km2(ou9,468hectares),então40,6%daáreaalagadacorrespondea3.844hectaresenão3.108hectarescomoreportadonoEIA.Oestudoreportaquedestetotal(3.108ha),1.800correspondemaáreasdeflorestaquedeverãosertotalmentesuprimidas.39Nesteestudo,optamosporutilizarumvalormaisconservadorparaaconcentraçãodecarbono.OutrosestudoscomoMalhi, Saatchi, Girardin,& Aragão (2013) sugeremuma concentração equivalente a 150-175 t por ha naAmazônia.40Assimcomoacontececomaáreadefloresta,oconteúdodecarbononaáreadepastageméumafunçãodotipode pastagem. Contudo, por não termos informação sobre o tipo de pastagem na área do reservatório,consideramosovalordefaultdecarbonoapresentadonoSegundoInventárioBrasileirodeEmissõeseRemoçõesAntrópicasdeGasesdeEfeitoEstufa(Scolastrici,etal.,2010).

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Tabela7-ParâmetrostécnicosparaocálculodasemissõesdeGEEresultantesdasupressãodeáreas

PARÂMETROS UNIDADE

Áreatotaldoreservatório 9.429 ha Fraçãodaáreadoreservatórioqueserá

suprimidaantesdainundação40,6 %

FLORESTA Tipodefloresta FOASubmontana Áreadefloresta 1.726 haConteúdodecarbono 118 tdeC/ha

PASTAGEM Áreadepastagem 2.102 haConteúdodecarbono 8 tdeC/ha

Notas: FOA é abreviatura para Floresta Ombrófila Aberta. Os dados de área foram calculados com base nogeorreferenciamento do mapa do reservatório no mapa atual de uso da terra divulgado pelo IBGE. Os dadosrelativos ao conteúdo de carbono foram obtidos na literatura. O conteúdo de carbono das áreas de floresta epastagemforamobtidosnoprojetoRADAMBRASIL.

Combase nos dados apresentado na Tabela 7, o projeto de construção daUHE Castanheiraemitirá 809 mil t de CO2-equivalente com a supressão das áreas de floresta e pastagem,assumindo que essa ocorrerá via o desmatamento da vegetação presente nessas áreas. Oscálculosdasemissõessãoapresentadosemseguida.

Emissão de 𝐶𝑂! !"#$%&!"#$%&'( = 118 ∗ 1.726 ∗ 3,67 = 747.461,56

Emissão de 𝐶𝑂! !"#$%&!"#$"%&' = 8 ∗ 2.102 ∗ 3,67 = 61.714,72

Em ambos os casos,multiplicamos as emissões de carbono por 3,67 (fator de conversão decarbonoparaCO2)paraobtermosasemissõesemtermosdeCO2-equivalente.

3.2.1.2 Decomposição de matéria orgânica restante e emissões de GEE

Para o cálculo das emissões potenciais de GEE resultantes da decomposição de matériaorgânicanoreservatório,utilizamosomodeloBiomeCarbonLoss (BCL)deLima,Bambace,&Ramos(2007)baseadonotrabalhodeAbriletal.(2005).Apartirdoestoquedecarbonoinicialexistentenaáreaaseralagada,omodeloprevêaquantidadedecarbononoreservatórionomomento𝑡.Aequaçãoseguintedescreveomodelo:

𝐶! = 𝐶! ⋅ 𝑒𝑥𝑝 ( −0.3 ⋅ 𝑡 )

5 + 𝑒𝑥𝑝 ( −0.03 ⋅ 𝑡 )

3 + 12

Onde:

• 𝐶!éaquantidadedecarbono,emtoneladas,noinstantedetempot;

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• 𝐶!éaquantidadeinicialdecarbonoemtoneladas;e• 𝑡éoano.

A decomposição da biomassa inundada nos reservatórios é considerada a principal fonte deemissãodeGEEnosprimeirosanosdevidaútildasUHEs (Abriletal.,2005;Zanoni,Zanatta,Dieckow,Kan,&Reissmann,2015).AemissãodeGEEéinfluenciadapordiversosfatorescomopressão,temperaturaeprofundidadedoreservatório.Napartemaisprofundadoreservatório,todoooxigênioéconsumidopelasatividadesbiológicas,formandoumestratosemoxigênioefavorecendoaaçãodebactériasanaeróbicasqueemitemmetano(CH4)egáscarbônico(CO2)–os dois principais GEE. A liberação destes gases ocorre por ebulição ou difusão (através debolhas)epelasturbinasepelosvertedouros.

Utilizando o modelo BCL, calculamos a quantidade de carbono liberada decorrente dadecomposição dematéria orgânica no reservatório,mas, como vimos, o carbono é liberadopara a atmosfera em forma de CH4 e CO2. Neste estudo, assumimos que a proporção decarbono liberada como CH4 e CO2 é igual a média das proporções encontradas em Lima,Bambace,&Ramos (2007), i.e., C-CH4é igual a27%eC-CO2é igual a73% (Tabela8).Ousodestas proporções não é ideal para o cálculo das emissões de GEE. Porém, utilizamos estesvalores para calcular as emissões potenciais dado que a UHE Castanheira ainda não foiconstruídae,portanto,mediçõesnãosãopossíveisnestecaso.

Tabela8-Emissõesdecarbono,C-CO2eC-CH4de10UHEslocalizadasnabaciaAmazônica

Fonte:Lima,Bambace,&Ramos(2007)

Alémdousodasproporções, para a conversãodogásCH4emCO2-equivalente, utilizamosopotencialdeaquecimentoglobal(eminglêsGWP)equivalenteaumperíodode20anos.Nestecaso, assumimos que uma tonelada de CH4 equivale ao impacto de 84 toneladas de CO2. OPainel Intergovernamental sobreMudançaClimáticas (em inglês IPCC)apresentadois valoresparaoGWP:84e28(IPCC,2013).Oprimeirovalor,comovimos,estáassociadoaumperíodo

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detempoiguala20anos.Osegundovalorécalculadosobreumintervalodetempoiguala100anos.OIPCCnãomencionaqualdessesdoisvaloresdeveserutilizadocomoreferênciaparaocálculodasemissões.Contudo,corroboramoscomFearnside(2015)dequeparadiminuirmososefeitosdoaquecimentoglobaleevitarmosconsequênciasmaisseveras,atomadadedecisãodeve ser baseada na escala de tempo mais curta – 20 anos. Considerando ainda aretroalimentaçãoentrecarbonoeclima,ovalorparaoGWPassociadoaesteperíodoéiguala86(IPCC,2013).41

A Tabela 9 apresenta os parâmetros utilizados para o cálculo das emissões potenciaisresultantesdadecomposiçãodematériaorgânicapresentenoreservatório.Comotodaaáreade floresta foi desmatada para a construção do lago, a matéria orgânica presente noreservatóriodecorredasáreasdepastageminundadas.

Tabela9–ParâmetrosutilizadosnocálculodasemissõesdosGEEdosreservatórios

PARÂMETROS UNIDADE Períododeanálise 50 anos Tipodevegetação Pastagem Áreadepastageminundadapeloreservatório 5.600 ha Densidadedecarbono 8 tdeC/ha Fatordeconversão:carbonoparaCO2 3,67 Fatordeconversão:carbonoparaCH4 1,34

HIPÓTESES Potencialdeaquecimentoglobaldometano 86 ProporçãodeCO2presentenocarbono 73 %

ProporçãodeCH4presentenocarbono 27 %Fontes:OsparâmetrosforamobtidosnoEVTE,IBGE,IPCC(2013)eemLima,Bambace,&Ramos(2007)

O resultado da aplicação do modelo BCL sugere que as emissões de GEE oriundas doreservatório ao longo de toda a vida útil da UHE é igual a 644.379,39 toneladas de CO2-equivalente. A Figura 13 mostra a trajetória das emissões dos GEE ao longo de 50 anos. Atendênciadeemissõescorroboracomoencontradona literaturadeque,diferentedeoutrasusinasde geraçãodeenergia, as emissões sãomaioresno iníciodasoperaçõesedecrescemexponencialmentecomopassardotempo.

41VejaFearnside(2015)paraumadiscussãomaisaprofundadasobrehidrelétricaseIPCC.

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Figura13-TrajetóriadasEmissõesdeCO2-equivalenteedaQuantidadedeCarbonoPresentenoReservatório

3.2.1.3 Emissões potenciais de GEE da UHE Castanheira AsemissõespotenciaisdeGEEdaUHECastanheiratotalizam1,3milhõesdetoneladasdeCO2-equivalenteaolongodetodoavidaútildausina(50anos)–equivalentea29miltoneladasdeCO2-equivalenteporano.(Tabela10).

Tabela10-EmissõespotenciaisdeGEEdaUHECastanheiradurante50anos(tdeCO2-eq.)

FONTEDEEMISSÃODESMATAMENTO* 809.176,28RESERVATÓRIO** 644.379,39TOTAL 1.453.555,67

*Desmatamentode40,6%daáreadoreservatório(florestaepastagem).**Degradaçãodabiomassarestanteapósdesmatamento.Com base nas emissões anuais de GEEmais conservadoras e na geração de energia elétrica(assumindoeficiênciade70%),temosqueofatordeemissãodaUHECastanheiraseriaiguala34 kg de CO2-equivalente/MWh.42 Este valor émenor do que as emissões deGEE de fontespoluentescomogás,óleoecarvãocujosfatoresdeemissãosão470kgdeCO2-eq/MWh,840kgdeCO2-eq/MWhe1.000kgdeCO2-eq/MWhrespectivamente(FariaF.A.,Jaramillo,Sawakuch,Richey,&Barros, 2015). Em comparação com fontes renováveis, o fator de emissão daUHE42Estecálculonãoincluiasperdasdetransmissão,sendo,portanto,ovalornolocaldabarragem.

0

10,000

20,000

30,000

40,000

50,000

60,000

70,000

80,000

0

5,000

10,000

15,000

20,000

25,000

30,000

35,000

40,000

45,000

50,000

1 4 7 10 13161922 25283134 3740 434649

EmissãodeGa

sesd

eEfeitoEstufa(em

tone

ladas)

Estoqu

ede

Carbo

nonoRe

servatório

(emto

neladas)

EstoquedeCarbononoReservatório EmissãodeGasesdeEfeitoEstufa

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Castanheira é equivalente ao fatormédio de emissões das fontes eólica e biomassa (Castro,Brandão,&Dantas,2012).

3.2.2 Custo de oportunidade das áreas alagadas

Nesta seção, calculamos o custo de oportunidade das áreas que seriam inundadas para aconstruçãodoreservatório.DeacordocomYoungetal.(2007),ocustodeoportunidadepodeserdefinidocomoovaloreconômicoqueumagentedeixadereceberpelousodeumfatordeproduçãoporterescolhidoutilizarestefatordeproduçãodeformaalternativa.NocasodaUHECastanheira, o custodeoportunidadeé determinadopelo rendimento líquidodas atividadeseconômicasquedeixarãodeserexercidascomainundaçãodaárea.

Como destacado anteriormente, a principal atividade econômica na região do projeto deconstrução da UHE Castanheira é a pecuária. Porém, atividades extrativistas nas áreas deflorestaqueserãoinundadassãocomunsnaregiãotambém.Destaforma,paracalcularmosocusto de oportunidade das áreas alagadas, calculamos o rendimento líquido resultante dacriaçãodegadoedaextraçãovegetal.

3.2.2.1 Rentabilidade líquida da pecuária

Paracalculararentabilidadelíquida(receitamenoscusto)dapecuária,osseguintesdadossãonecessários:

• Tamanhodorebanho;• Composiçãodorebanho(machosefêmeas);• Proporçãodorebanhoabatida;• Custodeprodução;e• Preçodoboigordoedavacagorda

Os dados relativos ao tamanho e à composição do rebanho foram obtidos no IBGE e noInstituto Mato-Grossense de Economia da Pecuária (IMEA). De acordo com a pesquisa deProduçãodaPecuáriaMunicipal(IBGE,2015),em2015,omunicípiodeJuarapossuía945.566cabeças de gado, sendo a taxade crescimentodo tamanhodo rebanho igual a 0.6%ao anoentre 2006 e 2015. Isso significa que, tudo o mais constante, o tamanho do rebanho nomunicípiodeJuaraem2016e2017éiguala951.461e957.393respectivamente.Destetotal,32%correspondemamachos(Schneider,Arima,Veríssimo,Barreto,&SouzaJúnior,2000).TalproporçãocorroboracomoapresentadonoIMEAem2010.SegundodadosdoInstituto,33%dorebanhoemJuaraeracompostodemachosentre4e24meses(IMEA,2011).

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AindadeacordocomoIMEA,aproporçãodeabatesdemachosedefêmeaséiguala8%e6%respectivamente.Issoimplicaqueototaldemachosabatidosem2017nomunicípiodeJuaraéiguala24.509,26 = 0,32 ∗ 957.393 ∗ 0.08.Deformasimilar,ototalabatidodefêmeaséiguala39.061,63 = 0,64 ∗ 957.393 ∗ 0.06.

OscustosdeproduçãosãoobtidosdiretamentenoIMEA,quedivideosistemadeproduçãoemdoistipos:criaerecria/engorda.Nesteestudo,seguindoYoung,Mac-Knight,Muniz,Zylberberg,&Rocha(2007),supomosqueosistemadeproduçãoédotiporecria/engorda.Nestecaso,ocustodeproduçãoéigualaR$133,03porarroba(@)(preçosde2016).Especificamentesobreaarroba, a convenção na literatura sobre criação de gados é assumir que o boi gordo padrã[email protected],noentanto,consideradopelocompradorepagoaoprodutoréopesodacarcaçadoanimal,quecorrespondea50%dopesodoanimalvivo,i.e.,[email protected]ém,dadosrecentesdoIMEAsugeremqueopesodoboigordoaumentouaolongodosúltimosanose,atualmente,[email protected],nesteestudo,utilizamoscomoreferência18@paraoboigordoe15@paraavacagorda.

Enquanto o preço corrente do boi gordo é igual a R$114,38/@, o preço da vaca gorda é deR$108,75/@(IMEA,2017).Porseremprodutostransacionadosnabolsadevalores,ospreçossão bastante voláteis,mudando a rentabilidade do produtor diariamente.No entanto, nesteestudo,assumimosqueestespreços refletembemomercadodoboigordonomunicípiodeJuara.Trazendoestesvaloresapreçosde2015–preçodereferênciautilizadonesterelatório–temos que a rentabilidade do pecuarista no município de Juara é negativa e igual aR$23.277.388,15.

𝑟𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜!"# !"#$" = 24.509,26 ∗ 105,27− 124,98 ∗ 18 = −8.694.280,57

𝑟𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜!"#" !"#$" = 39.061,63 ∗ 100,09− 124,98 ∗ 15 = −14.583.107,57

A rentabilidade líquida negativa associada a criação de gado é coerente com os resultadosobtidos na literatura. Por exemplo, Young, Mac-Knight, Muniz, Zylberberg, & Rocha (2007)encontram rentabilidades negativas para diversos municípios no estado do Amazonas. Deacordocomosautores,estepuzzleeconômicoéexplicadoempartepelavalorizaçãodaterra.Os pecuaristas, sejam eles pequenos ou grandes produtores, decidem converter áreas devegetaçãonativaempastagemnaexpectativadevalorizaçãodopreçodaterra.43Nestecaso,aapreciação do preço da terra auxiliaria de forma significativa a viabilidade econômica dapecuária.

Defato,osdadosdoInstitutoNacionaldeColonizaçãoeReformaAgrária(INCRA)sobreopreçoda terra nomunicípio de Juara entre 2010 e 2015 – descontando a inflação –mostramquehouve uma apreciação significativa do preço da terra. O preço médio da terra passou deR$2.227,32/ha em 2010 (preços de 2015) para R$4.500/ha em 2015. A Figura 14 mostra a

43Outrasexplicaçõessãopossíveistambém.Ousodogadocomopoupançaecomomeioinformaldeobtençãodecréditosãoexplicaçõesbastanteaceitasnaliteraturaacadêmica.

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valorização do preço da terra entre 2010 e 2015, considerando os preçosmínimo,médio emáximo.

Figura14-ApreciaçãodopreçodaterranomunicípiodeJuaraentre2010e2015Notas:ElaboraçãoprópriabaseadanosdadosdoINCRAdepreçodaterranomunicípiodeJuara.Paracalcularaapreciaçãodopreçodaterra,comparamosospreçosdaterraem2010(trazidosavaloresde2015)comopreçodaterra em 2015. A valorização da terra é maior quando comparamos os valores médios e menor quandocomparamososvaloresmáximos.Issosignificaqueaapreciaçãodaterraemáreas“maisvaliosas”foimenorentre2010e2015quandocomparadocomáreaspróximaaovalormédio.Portanto, dada a complementariedade entre as duas atividades, somamos a valorização daterraaocustodeoportunidadedecorrentedacriaçãodegado.Comoresultado,obtemosumcustodeoportunidadepositivo,variandodeR$882/haaR$2.250/ha.AFigura15apresentaocustodeoportunidadeporhectare.

904.26

2,272.68

1,702.20

-

500

1,000

1,500

2,000

2,500

Valormínimo/ha Valormédio/ha Valormáximo/ha

R$/ha(preçosd

e2015)

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Figura15-Custodeoportunidade:rentabilidadelíquidadapecuáriamaisaapreciaçãodaterraNota:Paraocálculodorendimentolíquidodapecuáriaporhectare,dividimosorendimentolíquidototalpelaáreadepastagemdomunicípiodeJuara,que,segundoo IMEA,era iguala1.050.716hectaresem2010.Assumimos,portanto,quearentabilidadelíquidaéamesmaparatodosospecuaristasdomunicípiodeJuara.

Destaforma,utilizandoopreçomédiodaterracomoreferência,orendimentolíquidototaldasáreasdepastagemexistentesnoreservatórioéiguala17milhõesdereais(preçosde2015).44

𝑅𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜!"#$"%&' = 7.703 ∗ 2.250,53 = 17.335.832,59

3.2.2.2 Rentabilidade líquida da atividade extrativista

Paracalculararentabilidadedaatividadeextrativista,utilizamososdadosdoIBGEedoServiçoFlorestalBrasileiro.Apesardaatividadeincluiraextraçãodemadeiraemtora,carvãovegetal,lenha e outros produtos extrativistas como castanha, calculamos apenas a rentabilidadereferenteàextraçãodemadeiraemtoraporumaquestãodedisponibilidadededadosrelativoaoscustosdeprodução.

SegundooIBGE,omunicípiodeJuarasedestacacomoosextomaiorprodutordemadeiraemtora do país. Em 2015, Juara produziu 320.850m3 demadeira em tora – 2,6% da produçãonacional. Dado o preço de R$150/m3, o valor desta produção, definido como preço vezesquantidade,alcançou48milhõesdereais(Tabela11).

44 Este valor representa uma estimativa média. Para o cálculo do rendimento, pressupomos que todos osproprietários criadores de gado têm os mesmos custos e receitas. Idealmente, uma pesquisa de campo serianecessáriaparacoletarosdadosdecadacriadorafimdeobterumaestimativamaisprecisa.

882.11

2,250.53

1,680.04

-

500

1,000

1,500

2,000

2,500

Valormínimo/ha Valormédio/ha Valormáximo/ha

R$/ha(preçosd

e2015)

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Tabela11-Quantidadeevalordosprodutos:carvãovegetal,lenhaemadeiraemtora

ExtraçãodemadeirasMunicípio Madeiraemtora

Quantidade(m3)

Valor(1.000R$)

Juara 320.850 48.128Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdosdadosdoIBGE(2015)

Nota:OvalordeproduçãoédefinidocomopreçovezesquantidadePeloladodocusto,osdadosdoServiçoFlorestalBrasileiro(SFB,2017)mostramqueocustodeprocessamento da madeira em tora varia significativamente no estado de Mato Grosso.EnquantoopreçomédioéigualaR$86/m3,ospreçosmínimoemáximosãoiguaisaR$30/m3eR$396/m3(preçosde2010).Utilizandoopreçomédiocomoreferência,temosqueopreçodamadeiraemtoraéigualaR$119,72/m3(preçosde2015).

Combasenestas informações,orendimento líquidodaatividadeextrativistanomunicípiodeJuaraéiguala9,7milhõesdereais.

𝑅𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜!"#$%#&'&()* = 320.850 ∗ 149,99− 119,72 = 9.711.838.

EstevalorconsideraaproduçãototaldomunicípiodeJuara,quepossuicercade70%desuaárea territorial em florestas.45Porém,não temos informação sobreaquantidadedemadeiraem tora produzida na área a ser alagada. Assim, assumindo que a produção é distribuídaigualmenteao longodasáreasde floresta,o rendimentodaatividadeextrativistaemJuaraéigual a R$ 6,13/ha.46 Dado que o reservatório previsto possui 1.726 ha de área de floresta,entãoorendimentolíquidopotencialdamadeiraemtoraseriaR$10.585,38.

3.2.3 Impactos sobre a atividade pesqueira

DeacordocomDoriaetal.(2014),aconstruçãodeUHEsmudaascondiçõesfísico-químicasdoambiente, alterandoas característicasnaturaisdos rios e, consequentemente, a composição,distribuição e abundância de peixes na região. Tal transformação impacta diretamente orendimentodospescadoresquedependemdapescaparasobreviver.

Naáreadoreservatório,ascondiçõesambientais seaproximamdascondiçõesexistentesemlagoas.Comoresultadodestamudança,espéciesdepeixes(edeoutrosanimaisaquáticos)com

45Cálculoaproximadodaáreadefloresta,15.835,645 𝑘𝑚! = 0,7 ∗ 22.622,350 𝑘𝑚!.46 Para o cálculo do rendimento por hectare, supomos que todas as áreas de floresta são passíveis de seremexploradas. Porém, namaior parte das terras indígenas (exemplo, TI Japuíra e TI Apiaká-Kayabi) a extração demadeira não é permita. Por estemotivo,mantendo todas as demais variáveis constantes e alterando apenas aáreadisponível,temosqueorendimentoporhectarecalculadonesteestudoestáprovavelmentesubestimado.

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exigênciaambientalmaisrestritivaecomumaalimentaçãomenosvariadanãoconseguemseadaptar às novas condições. Por outro lado, existem espécies que conseguem se adaptarfacilmentee,comoresultado,devemosobservarumaumentodapopulaçãodestasespéciesnoreservatório.Esteprocessodehomogeneizaçãoécontínuo,nãosendo limitadoaosprimeirosanosapósaconstruçãodoreservatório(Petesse&PetrereJr,2012).

Àjusantedabarragemosimpactosnegativossãomuitos.Nesteestudo,destacamoscinco,combaseemBazzoli(2016).Sãoeles:

• Alteraçõestérmicasehidrológicas;• Modificaçãonacomposiçãodaictiofauna;• Interrupçãodoprocessomigratório47;• Facilidadedeintroduçãodeespéciesexóticas;e• Interferêncianasáreasdealimentaçãoerecrutamentodefilhotes.

Comoresultadodestesefeitos,apescarealizadaàjusantedaUHEéimpactadanegativamentetanto no curto quanto no longo prazo. No reservatório, o efeito do represamento pode serpositivoparaospescadoresnocurtoprazo.A literaturamostraqueaprodutividadedapescanosprimeirosanosdoreservatóriotendeasermaiordoqueamédiaanterioràconstruçãodolago. Porém, no longo prazo, os efeitos são negativos.Devido ao processo dematuração doambiente – com redução dos nutrientes e mudança na qualidade da água – a riqueza eabundância de peixes no reservatório diminui, reduzindo a produtividade e aumentando oesforçodapesca(Petesse&PetrereJr,2012).

Para avaliarmos o impacto potencial do projeto de construção da UHE Castanheira sobre apesca, entrevistamos pescadores profissionais e amadores, assim como lideranças indígenaspresentesnaregião.Oobjetivoéidentificaremensuraraimportânciaeconômicadapescanorio Arinos – no trecho onde possivelmente será construída a UHE. Cabe mencionar que aatividadepesqueiraestáassociadanãosóàgeraçãoderendaesubsistência,mastambémaolazereàcultura(paraosindígenas).Contudo,apesardeimportantes,lazereculturanãoserãoquantificadosnesteestudo.

3.3.1 Metodologia e resultados da avaliação da atividade pesqueira

A metodologia utilizada para mensurar a importância da pesca para as comunidades locaiscompreendeduasetapas.AprimeiraetapaconsistenacoletadedadosdisponíveisnacolôniadepescadoresZ-16(CapataziaJuara)48.Asegundaetapaconsistenarealizaçãodeentrevistas

47 O projeto da UHE Castanheira prevê a construção de um sistema de transposição de peixes. No entanto, aexistênciadestesistemanãonecessariamentegaranteofluxomigratório.48 De acordo com AdrianaMonteiro, responsável pela Colônia Z-16 desde 2004, existia uma colônia em JuaradenominadaZ-12,quefoiextintaem1998porfaltadeapoiodaprefeituraedepescadorescadastrados.Apenas

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pormeiodeumquestionário semiestruturadoedaparticipaçãovoluntáriadospescadoreseindígenas.ParamaioresdetalhessobreametodologiaverApêndice.

OsdadosdisponíveisnacolôniasãoagregadosnaDeclaraçãodePescaIndividual(DPI).49Estedocumento é emitido pela colônia e, além do número do cadastro do pescador namesma,contém informações como: a quantidade de peixes capturados; os locais de pesca e osapetrechospermitidos.

AanálisedosDPIs,disponíveisdesde2007,mostraqueonúmerodepescadorescadastradosvariaanualmente,sendo,portanto,importanteparaaelaboraçãodeprogramasdemitigaçãoecompensação o acompanhamento deste número. A Figura 16 mostra o número total depescadores registradosemcadaano.Deacordo comestes valores,onúmerodepescadorescadastradosatualmentecorrespondea28–diferentedoapresentadonoEIA,queconsidera32pescadoresprofissionais(EPE,2015).

Figura16-NúmerodePescadoresregistradosnaColôniaZ-16Fonte: Elaboração própria a partir da série histórica do número de pescadores cadastrados na colônia Z-16(capataziaJuara)Com relação à produção, temos que cada pescador pesca, em média, 87 quilos (kg) porsemana.Parafinsdecomparação,omáximopermitidoporleiéiguala125kgporsemana,oque significa que os pescadores pescam em média 70% do permitido. Alguns pescadoresconseguempescaraté100kgporsemana.Nestecaso,aproporçãoaumentapara80%.Dentreasrazõesparaisso,ousodeequipamentosmelhorespodeexplicarpartedestadiferença.

em2004, foiabertaacapataziadaColôniaZ-4 (Nobres)emJuara,masasede ficadistantea590km.Em2007,apósnegociações,acapataziadeJuarapassouparaaColôniaZ-16(Sinop),municípiomaispróximodeJuara.49Cadapescadorpoderetiraraté4DPIspormês.

11 12 13

16 16 1618

27 27

31

28

0

5

10

15

20

25

30

35

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

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Dentreasespéciesmaispescadas,temos:

• Matrinchã50• Cachara• Traíra• Piau• Jaú• Corvina

O tamanhomédiodasprincipaisespéciesdepeixespescadosapresentagrande influênciadotamanhomínimodecaptura–determinadopelaLeiNo.9.096de16dejaneirode2009(Tabela12).

Tabela12–TamanhomédiodascincoprincipaisespéciespescadaspelospescadoresdacolôniaZ-16

ESPÉCIE PESOMÉDIO(KG) TAMANHOMÉDIO(CM)

TAMANHOMÍNIMOPERMITIDO(CM)*

MATRINCHÃ 2 49 35CACHARA 3 86 80CORVINA 2,5 55 40PIAU 0,4 32 25TRAÍRA 2,5a3 75 60*Leinº9.096de16/01/2009,quedispõesobreapolíticadepescanoEstadodeMatoGrosso.

Opreçomédiodevendadascincodasprincipaisespéciesaumentounosúltimosanos.Osdoismaisvaliosossãoomatrinchãecachara.Em2015,porexemplo,opreçodestasduasespéciesera20%maiordoqueopreçoporquilodoJaú;e29%maiordoqueospreçosdatraíraedopiau.AFigura17apresentaaevoluçãodospreços(emtermosnominais)entre2005e2017.

50Matrinchãmato-grossense.

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Figura17-Preçomédiodevendadas5principaisespéciespescadasnaregiãodeJuaraFonte:ElaboraçãoprópriaapartirdosdadosdaColôniaZ-16.Nota:Osanosquenãoaparecemnasequênciasãoanosnosquaisnãohouvealteraçãonospreçosdevendadopescado.

3.3.1.1 Entrevistas

Nestaseção,apresentamososprincipaisresultadosdasentrevistasqueforamrealizadasentreosdias07e14dejulhode2017.51Nototalforamentrevistados,14pescadoresprofissionais–50%dospescadorescadastradosnaColôniaZ-16–5pescadoresamadorese4 indígenasdasaldeiasMairobeTatuídaTIApiaká/Kayabi.52,53Diferentementedospescadoresentrevistados,osindígenascostumampescarnoriodosPeixes,afluentedorioArinos.

Deformageral,háumconsensoentreosentrevistadossobreospossíveisimpactosqueaUHECastanheirairágerarcasosejaconstruída.Dentreospotenciaisefeitosnegativosmencionados,destacamos:

• Areduçãodaquantidadedepeixes;• Ofimdospeixesmigratórios(exemplo,matrinchã);e• Ofimdaatividadepesqueira.

51Paramaioresdetalhes,verApêndice.52OspescadoresprofissionaiscadastradosnacolôniadepescadorespagamumamensalidadenovalordeR$38epossuemumdescontodoINSSdeR$19,50.Noperíododapiracema,ospescadoresrecebemosegurodefeso,queacompanhaovalordosaláriomínimo.53ApesardefocarmosnaTIApiaká-Kayabi,é importantemencionarqueopovoRikbaktsatambémseráafetadopelaconstruçãodaUHECastanheira.

810

12

15

1820

23

57

911

1415 15

6

9

12

15 15

18 18

0

5

10

15

20

25

2005 2007 2012 2014 2015 2016 2017Preçono

minaldasprin

cipaisespé

ciesde

peixe(R$/kg)

Matrinchã/Cachara Traíra/Piau Jaú

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Como efeito positivo, um dos entrevistados ressalta que o projeto de construção da UHECastanheirairiapotencialmenteaumentarageraçãodeempregonaregião.

Como esperado, a pesca é fundamental para a sobrevivência dos pescadores profissionais eindígenas. Para amaior parte dos pescadores profissionais, a atividadepesqueira representa100% da renda da família. A Figura 18mostra que para 10 pescadores profissionais dos 12entrevistados,aatividadepesqueirarepresentapelomenos70%darendafamiliar.54

Figura18-ParticipaçãodapescanarendafamiliarNota: Não temos informação da participação da pesca na renda familiar de dois pescadores profissionaisentrevistados.

A pesca é também importante como fonte de alimentação para as famílias. Existe bastantevariabilidade(Figura19),mas,emmédia,asfamíliasconsomem23kgdepeixepormês,i.e.,7%da média dos peixes pescados pelos pescadores profissionais.55 No caso dos indígenas,observamosqueoconsumodepeixeséumpoucomenor,variandode4a10kg.

54 Não temos informação da participação da pesca na renda familiar de dois entrevistados (pescadoresprofissionais).55Paraestecálculo,assumimosqueummêspossuiquatrosemanas.

50%

70%

100%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2 4 6

Participaçãodape

scanare

ndafamiliar

Númerodepescadoresprofissionais

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Figura19-Quantidadeconsumidadepeixesporfamília(kg/mês)Nota:Cadapontonográficorepresentaumafamília(umentrevistado).OscustosdaatividadepesqueiravariamdeR$200aR$500porsemanaentreospescadoresprofissionais.AmédiadoscustoscorrespondeaR$380porsemana.Comoesperado,oscustosda pesca sãomaiores para os pescadores profissionais do que os custos para os pescadoresamadoreseparaosindígenas,quegastamentreR$20eR$40.

ParacalculamosoimpactopotencialdaUHECastanheirasobreaatividadepesqueira,dividimosa análise emduas etapas. Primeiro, calculamos o rendimento líquido da atividade pesqueirautilizandoasinformaçõesobtidasnaColônia-Z-16.Segundo,simulamosumcenárioalternativonoqualaquantidadedepeixesdiminui60%nosmesesmaisprodutivos(fevereiroajulho).Estevalorébaseadonarespostadeumdosentrevistadosqueafirmaquequandoorioestábaixo,onúmerodepeixesdisponíveisdiminui50a70%.Portanto,ahipóteseédequeaconstruçãodaUHECastanheiradiminuiriaavazãodorio,deixandoomesmonumasituaçãopermanente“debaixa”.

Idealmente, a receita da pesca deve ser uma função das espécies pescadas, da quantidadepescada de cada espécie e dos preços associados a cada espécie. No entanto, apesar desabermosquaissãoospeixesmaispescados,nãosabemosquantodecadapeixeépescadoporsemana. Desta forma, assumimos arbitrariamente que os pescadores pescam matrinchã,cachara, jaú, trairá e piau na mesma proporção entre os meses de fevereiro e julho. Issosignificaquedos87kgpescadosporsemana,17,4kgcorrespondemaquantidadepescadadecadaumadestasespécies.Entreagostoesetembro,aprodutividadedapescadiminui.Nestecaso, supomos que diminui em 60%. Isso significa que ao invés de pescarem 17,4 kg, ospescadorespescam6,96kgpor semana. Entreoutubroe janeiro,ospescadoresnãopescam(períodododefeso).Combasenestesdados,areceitatotal,considerandoospreçosde2015,éigualaR$37.389porpescador(Tabela13).

0

10

20

30

40

50

60

70

Quantidadeconsum

idade

peixesp

or

família(kg/mês)

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Tabela13–Receitabrutaanualestimadadaatividadepesqueiraporpescador

FEVEREIROAJULHO

AGOSTOASETEMBRO

ESPÉCIE DEPEIXE

Preço(R$/kg) Quantidade(kg/semana) Receitaanual(R$)

MATRINCHÃ 18 17,4 6,96 8.519,04CACHARA 18 17,4 6,96 8.519,04JAÚ 15 17,4 6,96 7.099,20TRAIRÁ 14 17,4 6,96 6.625,92PIAU 14 17,4 6,96 6.625,92TOTAL 37.389,12

Orendimentolíquidodaatividadepesqueiraéigualàreceitamenosocusto.DadoqueamédiadoscustoséigualaR$380porsemana,temosqueorendimentolíquidoéigualaR$25.229,12porano– supondoqueos custos ficamconstantesao longodosmeses. Éprovávelqueestaestimativaestejasuperestimada,poisconsideramosnãosóqueospescadorespescamapenasospeixesmaisimportantes(caros),mastambémqueospreçosnãomudamdeacordocomoperíododesecaechuva.

SupondoqueoprojetodeconstruçãodaUHECastanheirairáreduziraprodutividadedapescaem 60% nos meses mais produtivos, temos que, considerando tudo o mais constante, orendimentolíquidoanualdecadapescadordiminuiriadeR$25.229,12paraR$5.434,88–umareduçãode80%.Nestecaso,considerandoqueototaldepescadoresprofissionaiséiguala28,o custo social do projeto de construção da UHE Castanheira seria igual a 𝑅$ 554.238,72 =28 ∗ (25.229,12− 5.434,88)

Alémdaperdafinanceiracalculadanesteestudo,oimpactopotencialdaUHECastanheirapodeseraindamaiorparaospescadores.AFigura20,porexemplo,mostraqueaUHECastanheiraimpactariadiretamentenãosóoslocaisdepesca,mastambémosberçáriosparaareproduçãodeespéciesexistentesnorioArinos,afetandoprovavelmenteapescafuturanaregião.

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Figura20-Mapadasáreasdepesca,berçárioseilhasnorioArinosNotas:EstemapafoielaboradoporRicardodaCostaCarvalhodaOPAN.OsindígenaspescampreferencialmentenoriodosPeixes,principalafluentedorioArinos.

3.2.4 Impactos não mensurados sobre os indígenas e sobre a comunidade local

3.2.4.1 Indígenas

Deacordocomogovernobrasileiro,oprojetodeconstruçãodaUHECastanheiranãoafetariadiretamenteaspopulações indígenasquevivemnabaciadorio Juruena,poisnãoalagariaasterras indígenas existentes na região. Contudo, as mudanças potenciais provocadas peloempreendimentonoecossistemafluvialafetariamdiretamenteascomunidadesindígenascujasatividadesprincipaissão:agricultura,pescaecaça.

OterritórioindígenamaispróximodolocalprevistoparaaconstruçãodaUHECastanheiraéaTIApiaká-Kayabi (Figura21).Oprocessodereconhecimentodesteterritório foiconcluídoem1991 (Decreto 394 de dezembro de 1991). Desde então, a população indígena (Apiaká,KawaiweteeMunduruku)presentenestaTIpassoude250pessoaspara885(ISA,2014).

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Figura21-TerraIndígenaApiaká-KayabiAtualmente,asprincipaisameaçasaestascomunidadessãoaexploraçãoderecursosnaturais(por exemplo, amadeira) e o desmatamento para a criação de gados. Dentre asmudançasambientais provocadas por estas ameaças está a piora da qualidade da água nos rios e,consequentemente,adiminuiçãodaquantidadeequalidadedepeixes.Defato,deacordocomos próprios indígenas a coloração do rio estámais barrenta (em função provavelmente dosavanços agrícolas) e o tamanho dos peixes menor. Com a construção de inúmerosempreendimentos hidrelétricos planejados para a região (incluindo a UHE Castanheira), asituaçãodosriostendeaseagravar.

Combase em experiências recentes (Fórum Teles Pires, 2017), os impactos provocados pelaimplantaçãoeoperaçãodeUHEsnorioTelesPiressobreascomunidadesindígenasincluem:

• Areduçãodavazãodorio;• Apioradaqualidadedaágua;• Alteraçãodrásticadeecossistemasaquáticos,inclusiveflorestasinundadas(igapós)• A diminuição da quantidade de peixes e animais de caça (impactados também pelas

mudançasambientais);• Amodificaçãonaqualidadedevidadascomunidades;• Adeterioraçãodaestruturasocialdascomunidades;• Oaumentodademandaporserviçoseinfraestruturafísica;

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• Oaumentodeconflitosentreindígenasenão-indígenas;e• Aperdadepatrimônioculturaledeáreassagradas.

Estesefeitossãosentidospelascomunidadesindígenasindependentementedoalagamentodeáreas em TIs para a construção dos reservatórios. O relatório sobre empreendimentoshidrelétricos e povos indígenas, elaborado por integrantes do Fórum Teles Pires, analisa, deforma bem mais detalhada, as consequências da implantação das UHEs Teles Pires e SãoManoel para as comunidades indígenas. Além da análise de dados e relatórios oficiais, odocumento apresenta diversos dados empíricos e percepções indígenas sobre os impactos(FórumTelesPires, 2017).Amensuraçãodemuitosdestes impactos, noentanto, ébastantedifícil,aumentandoacomplexidadedasituação(exemplo,arelaçãoentreosrioseaidentidadeculturaldaspopulaçõesindígenas).

3.2.4.2 Comunidade local

Assimcomoocorrecomosindígenas,ascomunidadeslocaissãotambémdiretamenteafetadaspelaconstruçãodeUHEs.Deacordocomosproponentesdehidrelétricasnogovernofederalesetorprivado,asUHEs,incluindoaUHECastanheira,estimulamodesenvolvimentoeconômicolocal. Dentre os fatores que supostamente contribuem para a possível dinamização daeconomialocal,tipicamentesãodestacadosdois:

• Ageraçãodeempregos;e• Oaumentodarendamunicipal.

Entretanto,observaçõesempíricasnãovalidamestahipótese.EstudoscomoGomes (2014)eMoretto et al. (2015) mostram que osmunicípios afetados diretamente pela construção deUHEsnãoapresentam,deformageral,melhorianosindicadoreseconômicosesociais.Seporumladoarendamunicipaltendeaaumentaremfunçãodascompensaçõesedaarrecadaçãotributária, por outro, estes recursosnão sãodistribuídos igualitariamente eos investimentosprevistos,muitas vezes, não ocorrem. De fato, Assunção, Szerman,& Costa (2016)mostramque, tanto no curto quanto no longo prazo, o aumento da receita municipal não altera osindicadoresdesaúdeesaneamento(taxademortalidade,densidadedarededeáguaeesgoto)dosmunicípiosafetados.

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4 Análise Custo-Benefício da UHE Castanheira

Neste capítulo, comparamos os custos e os benefícios do projeto de construção da UHECastanheiraincorporandoasdimensõesfinanceiraesocioambiental.Oobjetivodestaanáliseédeterminar a viabilidadedesteempreendimentohidrelétricodopontode vistadobem-estarsocial,atravésdasomadosseuscustosebenefíciosdescontadosaolongodotempo.

4.1 Custos

Oscustos identificadosnesteestudocorrespondemaoscustosde implantaçãoeoperaçãodaUHECastanheiraeaos custos socioambientaisassociadosaos impactosnegativos resultantesdaoperaçãodoempreendimento.

4.1.1 Custo de implementação e operação da UHE Castanheira

OscustosfinanceirosassociadosaoprojetodeimplementaçãoeoperaçãodaUHECastanheiraforamcalculadosnoCapítulo1desteestudo.Paracalculamosestescustos,utilizamososdadostécnicosapresentadosnoEVTEeassumimosduashipótesesadicionais.Sãoelas:

1. Ataxadedescontoé10%aoano;e2. O cronograma do pagamento dos juros segue o cronograma de desembolso previsto

peloEVTE.

AjustificativaparaessasduashipótesesestánaSeção5doprimeirocapítulo.Combasenestashipótesesenosdadostécnicos,temosqueasomadosvalorespresentesassociadosaoscustosdeimplantaçãoeoperaçãoéigualaR$1.125milhões(preçosde2015).

4.1.2 Custos socioambientais

Dentreosimpactosnegativosidentificadosemensuradosnesteestudo,temos:

• AsemissõesdeGEE;• Aperdaeconômicaresultantedoalagamentodeáreasprodutivas;e• Aalteraçãodadinâmicaerentabilidadedaatividadepesqueira.

NocasodasemissõesdeGEE,calculamosocustodesteimpactoutilizandoopreçodemercadodeCO2, i.e.,US$10/tdeCO2-equivalente (ouR$30,68por toneladadeCO2).56Ospreçosde56US$1equivaleaR$3.0681.Fonte:BCB-http://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao.

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mercadoutilizadosnaliteraturavariamdeUS$4portdeCO2-equivalente(Jericó-Daminello,etal.,2016)aUS$15portdeCO2-equivalente(SousaJúnior,Reid,&Leitão,2006).

Alguns estudos, no entanto, ressaltamque o preço demercado não representa o custo realmedidodosdanoscausadospelasemissões,porexemplo,pelovalormonetárioassociadoàsperdasdevidahumana(FearnsideP.M.,1998).Nestecaso,ousodocustosocialdoCO2seriamaisadequadoparamedirosimpactossocioambientaisdosGEE.Diferentementedopreçodemercado, o custo social do CO2 é o preço estimado dos danos (globais) causados por cadatonelada de CO2 liberada na atmosfera. Os valores observados na literatura sãoconsideravelmente maiores quando comparados com os preços de mercado. Por exemplo,estudoscomoMoore&Diaz(2015)mostramqueocustosocialdocarbonoéigualaUS$220portoneladadeCO2em2015.Nesteestudo,optamosporumaestimativamaisconservadoraeutilizamosopreçodemercadoparacalcularocustoeconômicodasemissõesdeCO2.

Calculamosos custos anuais das emissões,multiplicandoaquantidadepelo custo (oupreço)emcadaano.Paraobtermosopreçodocarbonoemcadaano,utilizamosataxadedescontode3%sugeridapelaagêncianacionalamericana(EPA,2016).

NocálculodaquantidadeemitidadeGEE,asemissõesresultantesdasupressãodasáreasdefloresta são contabilizadas apenas uma vez. Porém, as emissões de GEE resultantes dadecomposição de matéria orgânica no reservatório são contabilizadas ao longo de todo operíodode funcionamentoprevistopara aUHE castanheira (50 anos). Assim, utilizandoumataxa de desconto de 10% ao ano, temos que a soma dos valores presentes dos custosassociadosàsemissõesdestasduasfonteséigualaR$34milhões(preçosde2015).

Nocasodaperdaeconômica resultantedoalagamentodeáreasprodutivas,a construçãodaUHECastanheira implicarianumaperdaanual igualaR$17milhõeseR$11milnocasodasatividadespastagemeextrativistarespectivamente.Assumimosqueestesvaloresserepetemaolongodosanos.Idealmente,paraqueoscustosdeoportunidadeanuaisfossemcalculadoscommaiorprecisão,precisaríamosincorporarprojeçõescomrelaçãoaotamanhodorebanho,preço do boi gordo e da vaca gorda, preço da madeira em tora e à valorização da terra.Contudo, tais projeções são bastante complexas e fora do escopo deste trabalho. Utilizandouma taxa de desconto de 10%, temos que o valor presente da soma dos custos deoportunidadeéaproximadamenteR$142milhões(preçosde2015)

Nocasodaatividadepesqueira,oprojetodeconstruçãodaUHECastanheiratemopotencialparadiminuirarendalíquidadecadapescadorprofissionalemR$19.794,24porano(preçosde2015). Assumindo que esta perda ocorreria a partir da construção do reservatório, o valorpresente deste impacto seria igual a R$ 4 milhões, considerando o total de pescadoresprofissionaisexistenteem2017eumataxadedescontoiguala10%aoano.

ATabela14apresentaovalorpresentedoscustosdecadaumadas três fontesde impactossocioambientais identificadosnesteestudo.Osomatóriodoscustossocioambientaisé igualaR$181milhões.

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Tabela14-Valorpresentedoscustossocioambientais(preçosde2015)

IMPACTOSSOCIOAMBIENTAIS VALORPRESENTEDOCUSTOEMISSÃODEGEE R$34.088.413CUSTO DE OPORTUNIDADE (PASTAGEM E ATIVIDADEEXTRATIVISTA)

R$142.137.617

PERDAECONÔMICADAATIVIDADEDEPESCA R$4.541.466TOTAL R$180.767.496Nota:OscustosdasemissõesdeGEEconsideramasemissõesresultantesdodesmatamentoedadecomposiçãodematériaorgânicadoreservatório.

Em comparação com os resultados obtidos no EVTE, temos que os custos socioambientaisobtidosnesteestudosão9%menordoqueoscustosprevistosnoEVTE(R$196.910.000).Talcomparação, no entanto, deve considerar que a análise realizada neste estudo considerouapenas três impactos potenciais, incluindo as emissões de gases de efeito estufa nãoconsideradasexplicitamentenocálculorealizadonoEVTE.Nestesentido,épossívelqueovalorprevistonoEVTEestejasubestimado.

4.2 Benefícios

Como benefícios do projeto de construção da UHE Castanheira temos a geração de energiaelétrica.ParacalcularovalormonetáriodestebenefícioalémdosdadostécnicosapresentadosnoEVTE,assumimosduashipóteses,quaissejam:

1. OpreçodevendadaenergiaéigualaR$130/MWh;e2. Ofatordecapacidadeéiguala70%.

Ajustificativaparaessasduashipótesesencontra-senaSeção5doprimeirocapítulo.

CombasenestashipótesesenosdadosdivulgadosnoEVTE,asomadosvalorespresentesdosbenefícios associados a geração de energia elétrica seria igual a R$ 886milhões (preços de2015),considerandoumataxadedescontoiguala10%aoano.

4.3 Custo-benefício

UmavezconhecidososcustoseosbenefíciosdoprojetodeconstruçãodaUHECastanheira,calculamos a diferença entre ambos. A Tabela 15 apresenta os valores presentes de cadacomponentedaanálisecusto-benefício,assimcomoobenefíciolíquidodaUHECastanheira.

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Tabela15-BenefíciolíquidadaUHECastanheira(preçosde2015)

VALORPRESENTECUSTOS Custosfinanceiros R$1.125.085.695 Custossocioambientais R$180.767.496BENEFÍCIOS Geraçãodeenergiaelétrica R$886.527.424BENEFÍCIOLÍQUIDODAUHECASTANHEIRA -R$419.325.767

Os resultados apresentados na Tabela 15mostram que o benefício líquido do projeto serianegativoemaproximadamenteR$419milhões (preçode2015).Este resultadosugerequeaUHECastanheiranãoéviáveldopontodevistadobem-estarsocial.Emtermosmonetários,osimpactos negativos potenciais identificados e mensurados aqui seriam maiores do que osbenefíciosprevistoscomaconstruçãodaUHE.

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5 Conclusão

EsteestudoanalisouaviabilidadedoprojetodeconstruçãodaUHECastanheiranorioArinosno estado de Mato Grosso. Para o cálculo da viabilidade do empreendimento hidrelétrico,consideramos inicialmente o aspecto financeiro e posteriormente incluímos na análisefinanceira os impactos socioambientais potenciais. Identificamos e quantificamos trêsimpactos.Sãoeles:

1. Asemissõesdegasesdeefeitoestufa;2. Aperdaeconômicaresultantedoalagamentodeáreasprodutivas;e3. Aalteraçãodadinâmicaerentabilidadedaatividadepesqueira.

CombasenosdadosapresentadosnoEVTE,mostramosqueoprojetodeconstruçãodaUHECastanheirapodenãoserviável.OsbenefíciosqueaUHEiriageraremtermosdeenergianãoseriam suficientes para superar os custos de construção e operação deste projeto. Seconstruída,aperdaparao investidorprivadoseriaaproximadamenteR$239milhões (preçosde2015).Considerandooscustosebenefíciosparaasociedade,aperdaeconômicaaumentariaparaR$419milhões(preçosde2015)

Utilizandoosdadostécnicosdoempreendimento,calculamosasemissõesdeGEE.Aestimativamais conservadora, que não discrimina as fontes de emissões do reservatório, sugere que aUHE Castanheira emitiria aproximadamente 1,4milhões de toneladas de CO2-equivalente aolongode50anos.Ocustodessasemissõesseria igualaR$34milhões (preçode2015).Comrelaçãoaos custoseconômicosassociadosàsperdas resultantesdoalagamentodasáreasdefloresta e pastagem e da diminuição da produtividade da pesca, temos que esses seriamequivalentesaR$142milhõeseR$4,5milhõesrespectivamente(preçosde2015).

Tudomaisconstante,paraqueoprojetodeconstruçãodaUHECastanheirasejaviável,opreçodevendadeenergiaelétrica–aserdeterminadoemleilão–deveriaserigualaoumaiorqueR$165porMWh.Seinternalizarmososcustossocioambientaiscalculadosnesteestudo,então,opreçodeenergiadeveriaser,nomínimo,R$187porMWh.Taispreçossãomaioresdoqueamédia dos preços obtidos nos últimos leilões de energia. Assim, com base nos resultadosencontrados, sugerimos que o projeto de construção da UHE Castanheira seja analisado deformacomparativaa fimdequeos trade-offs entreasdiversasalternativas, incluindooutrasfontesdeenergia,sejamavaliados.

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Apêndice1–Atividadedecampo

Entre os dias 07 e 14 de julho de 2017, a OPAN, parceira da CSF neste estudo, entrevistoupescadores(profissionaiseamadores)eindígenasdosmunicípiosdeJuara,NovoHorizontedoNorte e Porto dos Gaúchos. O objetivo das entrevistas foi o de fazer um levantamento docontextolocaledapercepçãodessesmoradoressobreospossíveisimpactosdoprojetodaUHECastanheira no rio Arinos. As entrevistas foram realizadas pelo indigenista Ricardo da CostaCarvalho(responsávelpelapesquisa),eoscolaboradoresMichelAndradeeAguinaldoBorges.

Aabordagemutilizadafoi:

1) Apresentação oral da equipe sobre contexto da instalação de empreendimentoshidrelétricoselicenciamentoambientalnasub-baciadoJuruena,bemcomoosriscosdeimpactosparaascomunidadesdaregião.

2) Apresentaçãodoestudoemelaboração.3) Rodadadeconversascasaporcasa,comautilizaçãodequestionáriosemi-estruturado

(apêndice2).4) Visita à sede da capatazia da colônia Z-16 para conversa com a coordenadora e

obtençãodedadosarespeitodaproduçãopesqueiraregistradanacolônia.

Amaior parte dos pescadores entrevistados (profissionais e amadores) são domunicípio deJuara. Os demais são dos municípios Novo Horizonte do Norte e Porto dos Gaúchos. OsindígenasentrevistadossãodasaldeiasMayrob,dopovoApiaká,eTatuí,dopovoKayabi.

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Apêndice 2 – Questionário (roteiro)

1. Informaçõespessoais:a) EmquecomunidadeoSr.mora?b) Quantaspessoasmoramnasuacasa,incluindooSr.?

2. Informaçõessobreapesca/atividadeeconômica:a) OSr.possuicadastronaColôniadePescadores?b) Qualéasuafunçãonapesca?Pescadorprofissionalouamador?c) Quaissãoasprincipaisespéciescapturadas,aquantidadeeopreçodevendaporperíodosecoe

decheia?d) Dentreospeixespescados,quaissãodepiracema?e) QualéaparticipaçãodapescanarendatotaldoSr.?Semenorque100%,entãoquaissãoas

outrasatividadeseconômicasexercidaspeloSr.?f) Do totalpescado,quantoévendidoequantoéconsumidopeloSr.e sua família? (a resposta

podeseremquilosouemtermospercentuais)

3. Informaçõesadicionaissobreapesca:a) QualadistânciaentreacomunidadeondeoSr.viveeopontodepesca?b) OSr.saiparapescarmaisdeumavezpordia?Sesim,quantasvezes?c) Qualéamelhorépocadoanoparapescar?d) Existe algum período em que o Sr. não pesca? Se sim, pedir para especificar. Durante este

período,comooSr.complementaasuarenda?e) QuaissãoosprincipaisapetrechosqueoSr.utiliza?f) Quaissãooscustosassociadosacadaapetrecho?(sepossível,responderemtermosmonetários

-- ou pelomenos identificar os apetrechosmais caros emais baratos dentre os listados pelopescador)

g) OSr.mudadeapetrechodependendodoperíodo(secaoucheia)?

4. Informaçõessobreospeixes:a) OSr.sabequaissãooslocaisdereproduçãoeberçáriodospeixes?Sesim,pedirparaidentificar

oslocaiscomaajudademapas.

5. PercepçãodaatividadepesqueiraedaUHE:a) OSr.tempercebidomudançasnapesca(emtermodequalidadedaágua,espécies,quantidade

epesodospeixescapturados)nosúltimosanos?Sesim,pedirparaidentificarb) ParaoSr.,qualéaprincipaldificuldadeenfrentadanoexercíciodaatividadepesqueira?c) OSr.sabeoqueéumausinahidrelétrica?Sabequeexisteumprojetodeconstruçãodeuma

usinanorioArinos?

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d) Em sua opinião, quais serão os impactos da construção da usina hidrelétrica no rio Arinos?ComooSr.achaqueissoafetaráaatividadepesqueirae,principalmente,oSr.esuafamília?

6. Informaçõessobreapopulaçãoindígena(óticadospescadores):a) Emtermosgerais,oSr. saberiadizerqualéa relaçãoentreospescadoreseos indígenasque

vivemnaregião?QualéaimportânciadorioArinosedapescaparaosíndios?

7. Sepossível,identificar:a) Seavegetaçãociliarestáboaounão.b) Possíveis impactos causados pelo homem. Por exemplo, pelo mapa da região, é possível

identificarquehámuitasáreasdesmatadas.

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Apêndice 3 – Custo previsto com ações socioambientais

Fonte:EPE(2016)