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1 RODRIGO MORETTO COMPETÊNCIA PENAL, SENTENÇA, RECURSOS E AÇÕES DE IMPUGNAÇÃO Doutrina e Jurisprudência

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RODRIGO MORETTO

COMPETÊNCIA PENAL, SENTENÇA,

RECURSOS E AÇÕES DE IMPUGNAÇÃO Doutrina e Jurisprudência

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Índice 1. DA COMPETÊNCIA - ASPECTOS RELEVANTES (artigos 69 a 91 CPP) ......................................................................3 1.1. Princípios ...........................................................................................................................................................................3 1.2. Competência Absoluta e Relativa......................................................................................................................................4 1.3. Como Fixar a Competência ...............................................................................................................................................5 1.4. Competências Específicas..................................................................................................................................................5

1.4.1. Justiça Competente (competência de jurisdição) .......................................................................................................5 1.4.1.1. Justiça Eleitoral (artigo 121 CF/88; artigos 22, 29 e 35, lei 4.737/65)....................................................................5 1.4.1.2. Justiça do Trabalho .................................................................................................................................................5 1.4.1.3. Justiça Militar Federal ............................................................................................................................................6 1.4.1.4. Justiça Militar Estadual ...........................................................................................................................................7 1.4.1.5. Justiça Federal.........................................................................................................................................................9 1.4.1.6. Justiça Estadual .....................................................................................................................................................17 1.4.2. Órgão Competente (Hierarquia por Prerrogativa da Função) ..................................................................................17 1.4.2.1. Competência do Supremo Tribunal Federal..........................................................................................................20 1.4.2.2. Competência do Superior Tribunal de Justiça.......................................................................................................26 1.4.2.3. Competência dos Tribunais Regionais Federais ...................................................................................................27 1.4.2.4. Competência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul .................................................................29 1.4.2.5. Função e Competência ..........................................................................................................................................31 1.4.3. Foro Territorial Competente (competência de foro) ................................................................................................33 1.4.3.1. Local da Infração ..................................................................................................................................................33 1.4.3.2. Local do Domicílio ou Residência do Réu (Norma Subsidiária) ..........................................................................35 1.4.4. Vara Competente (competência de juízo) ................................................................................................................35 1.4.5. Juiz Competente (competência interna) (Caso haja mais de um Juiz em uma mesma vara)....................................37 1.4.5.1. Por Distribuição (artigo 75 do CPP) .....................................................................................................................37 1.4.5.2. Por Conexão (artigo 76 do CPP)...........................................................................................................................37 1.4.5.3. Por Continência (artigo 77 do CPP)......................................................................................................................37

1.5. Preponderância entre Competências (Atração)................................................................................................................37 1.6. Concurso de Jurisdições de mesma categoria ou diversa.................................................................................................38 1.7. Exceções ao Simultaneus Processus ................................................................................................................................38 1.8. Casos de Perpetuatio Jurisdictionis (artigo 81 do CPP)..................................................................................................38 1.9. Avocação (artigo 82 do CPP) ..........................................................................................................................................39 1.10. Prevenção (artigo 83 do CPP)........................................................................................................................................39

1.10.1. Casos de prevenção................................................................................................................................................39 1.10.2. Caso de não configuração de prevenção ................................................................................................................40

1.11. Demais casos .................................................................................................................................................................40 2. DA SENTENÇA.................................................................................................................................................................42 2.1. Classificação das decisões ...............................................................................................................................................42

2.1.1. Decisões interlocutórias ...........................................................................................................................................42 2.1.2. Decisões definitivas .................................................................................................................................................42

2.2. Conceito de sentença .......................................................................................................................................................43 2.3. As sentenças são classificadas em ...................................................................................................................................44 2.4. Natureza jurídica..............................................................................................................................................................44 2.5. Requisitos da sentença (artigo 381 do CPP) ....................................................................................................................44 2.6. Intimação da sentença (artigo 392 do CPP) .....................................................................................................................48 2.7. Efeitos da sentença ..........................................................................................................................................................49 2.8. Coisa Julgada ...................................................................................................................................................................49

2.8.1. Espécies de coisa julgada.........................................................................................................................................50

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1. DA COMPETÊNCIA - ASPECTOS RELEVANTES (ARTIGOS 69 A 91 CPP)

A jurisdição é a função do Estado de aplicar o Direito no caso em concreto – para nosso estudo, o Direito Penal, competência é o poder conferido aos juízes de processar e julgar determinados lití-gios1. Temos assim que todos os juízes, devidamente empossados em seus cargos, têm jurisdição, porém sua competência é restrita. Segundo Ada Pellegrini Grinover2, a função jurisdicional é una, atribuída ao Poder Judiciário que, através de um processo gradativo, concretiza-se chegando à determinação do juiz competente para julgar um determinado processo.

O Estado, segundo Miguel Reale Júnior3, quando violada a norma penal, não tem o direito de pu-nir o infrator, mas tem o poder-dever, visto que não se trata de obrigação.

Há regras que determinam a medida da jurisdição, delimitando o exercício do poder-dever de exer-cer a jurisdição, ou seja, regulando a competência de cada órgão do Poder Judiciário.

Por um lado, o Poder Judiciário tem sua competência delimitada na Constituição Federal4, nas Constituições Estaduais5, nas leis ordinárias e nos Regimentos Internos6.

Por outro lado, alguns princípios devem ser levados em conta na análise da competência, pois a i-nobservância deles poderá, se verificado o prejuízo, gerar nulidades processuais.

1.1. Princípios

a) Unidade: o Poder Judiciário, como órgão competente para dirimir conflitos, é único em todo o território nacional.

b) Indeclinabilidade: o juiz competente, para dirimir o conflito, não poderá abster-se de julgar, exceto nos casos legais, como forma de não ferir o princípio constitucional do juiz natural. Há casos legais em que o julgador poderá declinar de sua competência, desde que ocorra de o juiz ser suspeito, impedido ou corrupto. A parte poderá requerer, seguindo-se o processo estabelecido para exceção de suspeição, o seu impedimento7.

c) Indelegabilidade: o juiz natural não poderá delegar a função de julgar a outro juiz, como forma de preservação do juiz natural, porém certos atos processuais podem ser efetuados por outros juízes, tal como ocorre nas precatórias.

d) Improrrogabilidade: a competência fixada pela norma não pode ser prorrogada, vindo a inva-dir competência alheia. Porém a nulidade da competência prorrogada, nos casos de atribuição territorial, por exemplo, deve ser declinada pela defesa no prazo oportuno, caso contrário o ato torna-se válido8. Co-mo lembrado por Maria Lúcia Karan, o que indica se a competência é absoluta ou relativa é o caráter im-perativo da regra que atribui a competência.9 Se a competência estiver determinada na Constituição Fede-ral, sua não observância gera nulidade absoluta.

1 Como lembra a Maria Lúcia Karan, a jurisdição é primordialmente exercida pelo Poder Judiciário, mas excepcionalmente cabe a outros órgão estatais, como, por exemplo, o Senado Federal (Art. 52, I e II da CF/88). 2 GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antonio Scarance; GOMES FILHO, Antonio Magalhães. As nulidades no processo penal, p. 47. 3 REALE JÚNIOR, Miguel. Instituições de direito penal, pp. 13-16. 4 Exemplo: artigos 102, 105, 108, 114 e 124 da Constituição Federal/88. 5 Exemplo: artigo 93 da Constituição Estadual do Rio Grande do Sul. 6 RITJRS, RITRF4,.. 7 Art. 112 CPP. 8 “Em matéria criminal, a incompetência absoluta se define ratione materiae ou ratione personae”. CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, p. 167. 9 Competência no processo penal, p. 52.

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e) Ne procedat judex ex officio (nemo judex sine actore): se não há acusador, não há juiz. Logo, esse princípio diz respeito ao início do processo, que ele não pode iniciar sem que a parte interessada o provo-que. Cabe lembrar de dois casos: os de concessão de ofício de habeas corpus (ação penal popular) e de decre-tação de ofício da prisão preventiva (ação penal cautelar)10.

f) Nulla poena sine judicio: Como o próprio nome explica, é o fato de não poder ser imposto ao réu uma pena sem o processo11.

g) Juiz Natural12: O juiz natural é aquele competente, desde a origem, para processar e julgar de-terminado delito. A competência está determinada na Constituição Federal, nas Constituições Estaduais, nas Leis Infraconstitucionais, bem como nos Regimentos Internos.

Segundo Fauzi Hassan Choukr13, citando a Constituição Federal, o conceito de juiz natural existe em função de dois grandes princípios: o da legalidade e o da igualdade. Assim, trazendo Mello Filho, tal princípio acarreta “conseqüências jurídicas: a) ficam vedados os juízos extraordinários, constituídos após o fato, para o julgamento de determinados casos ou pessoas. Prescrevem-se, destarte os juízos ad hoc e os tribunais de exceção (art. 5º, LIII CF/88); b) fica subtraído ao controle do Poder Executivo o mecanismo de substituições, convocações e designações de juízes, a ser exercido exclusivamente pelo Poder Judiciário; c) a independência e a imparcialidade dos juízes e tribunais são uma decor-rência natural do princípio do juiz legal; d) somente os órgãos dotados de poder jurisdicional, previstos pela Constituição, é que se conformam ao princípio do juiz natural; e) o princípio do juiz natural também diz respeito a outros órgãos, estabelecidos na Constituição, com poder de julgar, situados, porém, fora do âmbito do Judiciário, tais como o Senado Federal, nos casos de impeachment e os tribunais administrativos,na [sic] hipóteses de contencioso administrativo em sentido próprio”.

O importante é saber com antecedência qual a autoridade competente para processar e julgar de-terminado delito, limitando o direito do Estado frente ao cidadão.

1.2. Competência Absoluta e Relativa

a) Absoluta: em regra, em nosso Código de Processo Penal, a competência é absoluta, isto é, não pode ser modificada. Quanto a ela, é necessário saber que é improrrogável, isto é, gera uma nulidade insa-nável e, portanto, pode ser argüida a qualquer tempo ou grau de jurisdição, pelas partes ou ex officio, não precluindo e podendo ser reconhecida por via do habeas corpus14.

b) Relativa: é quando ocorre a intercorrência de certos fatores modificando as regras ordinárias de competência territorial15. Ela é prorrogável.

Dentre os casos de competência, devemos lembrar que ela pode se dar em razão da matéria (ratione materiae - poder jurisdicional leva em conta a natureza da lide) e as que se definem em razão da pessoa (rati-one personae). Há, também, o chamado ratione loci, que nada mais é do que saber quem tem a competência em razão do local. Isto se dá pelo fato de que nosso país é muito vasto, devendo ser dividido em áreas ter-ritoriais, que são os Estados e o Distrito Federal, os quais têm seus próprios órgãos representativos de to-das as justiças16.

10 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, pp. 75-76. 11 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, p. 77. 12 Artigo 5º, XXXVII, CF/88. 13 Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, p. 162. 14 CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, pp. 167-168. 15 GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antonio Scarance; GOMES FILHO, Antonio Magalhães. As nulidades no proces-so penal, p.52. 16 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, p. 82.

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1.3. Como Fixar a Competência

Para fixarmos a competência, devemos seguir alguns critérios, tais como: I) Justiça competente (competência de jurisdição): Militar Federal Militar Militar Estadual Especial Eleitoral Trabalho Federal Comum Estadual

II) Órgão competente (competência hierárquica): deve-se procurar qual o órgão competente, ou seja, inferior ou superior.

III) Foro territorial competente (competência de foro): determinado pelo local da infração, ou, até mesmo, o domicílio do réu, nos casos em que não seja conhecido o local da infração. Por outro lado há casos em que a competência de foro fica a critério da parte como ocorre nos crimes de ação penal privada em que tanto pode ser o local da infração ou o domicílio do réu17.

IV) Vara competente (competência de juízo): comum, especializada ou Júri.

V) Juiz competente (competência interna): juiz que tem a competência para julgar o caso.

1.4. Competências Específicas

1.4.1. Justiça Competente (competência de jurisdição)

1.4.1.1. Justiça Eleitoral (artigo 121 CF/88; artigos 22, 29 e 3518, lei 4.737/65)

Competente para julgar os crimes eleitorais e seus conexos, exceto crimes dolosos contra a vida, pois estes serão julgados pelo Tribunal do Júri (artigo 5º, XXXVIII, d, da CF/88).

1.4.1.2. Justiça do Trabalho

Competente para julgar habeas corpus quando a matéria envolvida da privação da liberdade for da jurisdição da Justiça do Trabalho, segundo determina a nova alteração constitucional EC/45/04 (artigo 114, IV, CF/88)19. Em caso de impetração anterior a EC/45/04, assim se manifestou o STF:

17 Artigo 73 do CPP. 18 Art. 35. Compete aos juízes: II - processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos, ressalvada a com-petência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais. 19 IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; (EC nº 45/04).

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“Habeas corpus contra decreto de prisão civil de Juiz do Trabalho: coação atribuída ao Tribunal Re-gional do Trabalho: coexistência de acórdãos diversos para o mesmo caso, emanados de tribunais de idêntica hierarquia (STJ e TST): validade do acórdão do STJ, no caso, dado que as impetrações foram julgadas antes da EC 45/04. Até a edição da EC 45/04, firme a jurisprudência do Tribunal em que, sendo o habeas corpus uma ação de natureza penal, a competência para o seu julgamento ‘será sempre de juízo criminal, ainda que a questão material subjacente seja de natureza civil, como no caso de infidelidade de depositário, em execução de sentença’; e, por isso, quando se imputa coação a Juiz do Trabalho de 1º Grau, compete ao Tribunal Regional Federal o seu julgamento, dado que a Justiça do Trabalho não possui competência criminal (v.g., CC 6.979, 15/8/91, Vello-so, RTJ 111/794; HC 68.687, 2ª T., 20/8/91, Velloso, DJ 4/10/91).” (STF, HC 85.096, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ14/10/05)

1.4.1.3. Justiça Militar Federal 20

Competente para julgar os crimes militares cometidos contra as forças armadas21, independen-temente se praticado por civil ou militar. Assim, sua competência permite julgar militar ou civil, uma vez que a sua competência é em razão da matéria. Neste sentido:

“Crime militar praticado por civil. Competência para processo e julgamento. Art. 9º, III, a, do Có-digo Penal Militar. Receptação culposa: art. 255 do Código Penal Militar. Competência da Justiça Militar da União para processar e julgar crime contra o patrimônio sob administração militar prati-cado por civil.” (STF, HC 86.430, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 16/12/05)

Por um lado, em caso de crime praticado por militar contra militar, mesmo não estando em servi-ço, trata-se de crime militar, segundo posição do Supremo Tribunal Federal.

“Crime praticado por militar da ativa contra militar na mesma situação: mesmo não estando em serviço os militares acusados, o crime é militar, na forma do disposto no art. 9º, II, a, do CPM. Competência da Justiça Militar. CF, art. 124. Precedentes do STF: RE 122.706-RJ, Velloso, Plená-rio, RTJ 137/418; CC nº 7.021-RJ, Velloso, Plenário, DJ 10/08/95; RHC 69.065-AM, O. Gallotti, 1ª Turma, RTJ 139/248; HC 69.682-RS, Velloso, 2ª Turma, RTJ 144/580.” (STF, CC 7.046 RJ, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 25/04/97)

20 Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.

“A Lei de Organização Judiciária do Estado de Rondônia não viola o art. 124 da CF/88 ao atribuir a juiz de direito, investido excepcionalmente no cargo de juiz auditor, a competência para processar e julgar feitos criminais genéricos. Com base nesse entendimento, a Turma negou provimento a recurso ordinário em habeas corpus, em que se pretendia a declaração da incompe-tência de vara da Auditoria Militar do Estado de Rondônia para processar acusado pelo crime de estupro.” (STF, RHC 86.805, Rel. Min. Carlos Britto, Informativo 417).

“A atividade, desenvolvida por militar, de policiamento naval, exsurge como subsidiária, administrativa, não atraindo a inci-dência do disposto na alínea d do inciso III do artigo 9º do Código Penal Militar. A competência da Justiça Militar, em face da configuração de crime de idêntica natureza, pressupõe prática contra militar em função que lhe seja própria. Competência da Justiça Federal — strito sensu.” (STF, CC 7.030, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 31/05/96). Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar. “Caracteriza-se, em tese, como crime militar o de concussão, quando praticado por funcionário público municipal, agindo na

qualidade de Secretário de Junta de Serviço Militar, em face do que conjugadamente dispõem o parágrafo único do art. 124 da Constituição Federal, o art. 9º, inc. III, a, do Código Penal Militar, e o art. 11, § 1º, da Lei nº 4.375, de 17/8/1964, já que, de certa forma, o delito atinge a ordem da administração militar, ao menos em sua imagem perante a opinião pública, mesmo que vítimas, sob aspecto patrimonial, sejam outros cidadãos e não a administração. Compete à Justiça Militar o processo e julgamen-to de imputações dessa natureza e espécie, em face dos mesmos dispositivos constitucional e legais. Havendo-se limitado o Juiz-Auditor Militar, atuando no 1º grau de jurisdição, nesse caso, a rejeitar a denúncia, por incompetência da Justiça Militar (art. 78, alínea b, do Código de Processo Penal Militar), o Superior Tribunal Militar podia afastar a declaração de incompetência, como fez, mas não, desde logo, receber a denúncia, já que o Magistrado não chegou a decidir sobre seus demais requisitos (artigos 77 e 78).” (STF, HC 73.602, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 18/04/97). 21 “Não se tem por configurada a competência penal da Justiça Militar da União, em tempo de paz, tratando-se de réus civis, se a ação delituosa a eles atribuída, não afetar, ainda que potencialmente, a integridade, a dignidade, o funcionamento e a respeita-bilidade das instituições militares, que constituem, em essência, nos delitos castrenses, os bens jurídicos penalmente tutelados - O caráter anômalo da jurisdição penal castrense sobre civis, notadamente em tempo de paz. O caso ‘Ex Parte Milligan’ (1866): um precedente histórico valioso.” (STF, HC 81.963, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 28/10/04).

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“Soldado que, de posse da senha do cartão magnético de outro soldado, transferiu, pelo serviço te-lefônico da instituição bancária, quantia em dinheiro para a conta corrente de uma terceira pessoa. Crime cometido por militar em atividade contra militar na mesma situação (art. 9º, I, a do CPM). Competência da Justiça Castrense para julgar a ação penal (art. 124, caput da CF).” (STF, RHC 81.467, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 15/03/02) “O delito de calúnia, cometido por militar em atividade contra outro militar em igual situação fun-cional, qualifica-se, juridicamente, como crime militar em sentido impróprio (CPM, art. 9º, II, a), mesmo que essa infração penal tenha sido praticada por intermédio da imprensa, submetendo-se, em conseqüência, por efeito do que dispõe o art. 124, caput, da Constituição da República, à com-petência jurisdicional da Justiça castrense.” (STF, HC 80.249, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 07/12/00)

Por outro lado, os crimes praticados por militar federal reformado contra militar estadual são de competência da Justiça Comum.

“Tendo em vista o decidido pelo Plenário, no HC 72.022, quanto a militar federal reformado, é da Justiça comum a competência para julgar policial militar reformado que é acusado de ter cometido crimes de desacato e de desobediência a policial militar em serviço de policiamento ostensivo e de manutenção da ordem pública.” (STF, HC 75.988, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 27/03/98)

1.4.1.4. Justiça Militar Estadual

Competente para julgar os crimes militares cometidos por militares (inclusive corpo de bombeiro), não julgando civil. (artigo 125, § 4º da CF/88 redação dada pela EC/45/04)22. Se ocorrer co-autoria o militar será julgado pela Justiça Militar Estadual, enquanto o civil, pela Justiça Comum Esta-dual. Este entendimento, apesar de ser aplicado, parece-nos ferir o princípio da unicidade.

“A Justiça Militar estadual não dispõe de competência penal para processar e julgar civil que tenha sido denunciado pela prática de crime contra a Polícia Militar do Estado. Qualquer tentativa de submeter os réus civis a procedimentos penais-persecutórios instaurados perante órgãos da Justiça Militar estadual representa, no contexto de nosso sistema jurídico, clara violação ao principio cons-titucional do juiz natural (CF, art. 5º, LIII). A Constituição Federal, ao definir a competência penal da Justiça Militar dos Estados-membros, delimitou o âmbito de incidência do seu exercício, im-pondo, para efeito de sua configuração, o concurso necessário de dois requisitos: um, de ordem objetiva (a prática de crime militar definido em lei) e outro, de índole subjetiva (a qualificação do agente como policial militar ou como bombeiro militar). A competência constitucional da Justiça Militar estadual, portanto, sendo de direito estrito, estende-se, tão-somente, aos integrantes da Po-

22 § 4º - Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação da EC nº 45/04).

“Por outro lado, o Plenário desta Corte, ao julgar o RE 199.800, apreciando caso análogo ao presente, decidiu, quanto à ale-gação de ofensa ao artigo 125, § 4º, da Constituição, que a prática de ato incompatível com a função militar pode implicar a perda da graduação como sanção administrativa, não se havendo de invocar julgamento pela Justiça Militar Estadual, porquanto a esta compete decidir sobre a perda da graduação das praças somente como pena acessória dos crimes que a ela coube decidir.” (STF, RE 283.393, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 11/05/01).

“Esta Corte já firmou o entendimento de que a perda de graduação de praça da polícia militar, como sanção disciplinar admi-nistrativa, não se dá por meio de julgamento da Justiça Militar Estadual, mas mediante processo administrativo na própria cor-poração, assegurando-se direito de defesa e o contraditório (assim, a título exemplificativo nos RREE 199.600, 197.649 e 223.744). No caso, por equivocada interpretação do acórdão desta Corte prolatado no RE 121.533, o Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo se deu por competente para julgar a perda de graduação de praça provocado por meio de representação do Comandante-Geral da Corporação diante do apurado em processo disciplinar sumário.” (STF, RE 206.971, Rel. Min. Morei-ra Alves, DJ 09/06/00).

“Refere-se à perda de graduação como pena acessória criminal e não à sanção disciplinar administrativa a competência confe-rida à Justiça Militar estadual pelo § 4º do art. 125 da Constituição (RE 199.800, Tribunal Pleno).” (STF, AI 210.220-AgR, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ 18/09/98).

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licia Militar ou dos Corpos de Bombeiros Militares que hajam cometido delito de natureza militar.” (STF, HC 70.604, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 01/07/94) “A Constituição Federal (art. 125, § 4º) só outorga competência à Justiça Militar estadual para pro-cessar e julgar policiais militares quando se tratar de crime militar definido em lei (…).” (STF, HC 71.926, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 01/12/95) “No caso, a Justiça Militar Estadual é a competente, pois - na esteira da orientação já firmada por esta Corte a partir da Emenda Constitucional. - os ora pacientes praticaram os crimes que lhe são imputados quando em serviço, na qualidade de policiais militares, com fardamento e veículo da corporação, que é o quanto basta para a fixação dessa competência.” (STF, HC 70.189, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 06/08/93) “Delito tipificado no Código Penal Militar, praticado por policial militar em serviço e mediante o uso de arma de propriedade da corporação. (CPM, art. 9º, II, c e f). Competência da Justiça Militar estadual (CF/67, com a redação da EC 7/77, art. 144, § 1º, d; CF/88, art. 125, § 4º).” (STF, HC 69.688, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 16/04/93)

Os crimes dolosos contra a vida de civil, praticados por militares serão julgados pelo Tri-bunal do Júri.

“A Justiça Militar não comporta a inclusão, na sua estrutura, de um júri, para o fim de julgar os crimes dolosos contra a vida. CF/67, art. 127; art. 153, §18. CF/88, art. 5º, XXXVIII; art. 124, pa-rágrafo único.” (STF, RE 122.706, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 03/04/92) “No artigo 9º do Código Penal Militar que define quais são os crimes que, em tempo de paz, se consideram como militares, foi inserido pela Lei nº 9.299, de 7 de agosto de 1996, um parágrafo único que determina que ‘os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e come-tidos contra civil, serão da competência da justiça comum’. Ora, tendo sido inserido esse parágrafo único em artigo do Código Penal Militar que define os crimes militares em tempo de paz, e sendo preceito de exegese (assim, Carlos Maximiliano, ‘Hermenêutica e Aplicação do Direito’, 9ª ed., nº 367, ps. 308/309, Forense, Rio de Janeiro, 1979, invocando o apoio de Willoughby) o de que ‘sempre que for possível sem fazer demasiada violência às palavras, interprete-se a linguagem da lei com reservas tais que se torne constitucional a medida que ela institui, ou disciplina’, não há dema-sia alguma em se interpretar, não obstante sua forma imperfeita, que ele, ao declarar, em caráter de exceção, que todos os crimes de que trata o artigo 9º do Código Penal Militar, quando dolosos contra a vida praticados contra civil, são da competência da justiça comum, os teve, implicitamen-te, como excluídos do rol dos crimes considerados como militares por esse dispositivo penal, compatibilizando-se assim com o disposto no caput do artigo 124 da Constituição Federal. Corro-bora essa interpretação a circunstância de que, nessa mesma Lei 9.299/96, em seu artigo 2º, se modifica o caput do artigo 82 do Código de Processo Penal Militar e se acrescenta a ele um § 2º, excetuando-se do foro militar, que é especial, as pessoas a ele sujeitas quando se tratar de crime doloso contra a vida em que a vítima seja civil, e estabelecendo-se que nesses crimes ‘a Justiça Mili-tar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum’. Não é admissível que se tenha pretendido, na mesma lei, estabelecer a mesma competência em dispositivo de um Código — o Penal Militar — que não é o próprio para isso e noutro de outro Código — o de Processo Penal Militar — que para isso é o adequado.” (STF, RE 260.404, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 21/11/03) “Os crimes militares situam-se no campo da exceção. As normas em que previstos são exaustivas. Jungidos ao princípio constitucional da reserva legal — inciso XXXIX do artigo 5º da carta de 1988 — Hão de estar tipificados em dispositivo próprio, a merecer interpretação estrita. Compe-tência — Homicídio — Agente: militar da reserva — Vítima: policial militar em serviço. Ainda que em serviço a vítima — Policial militar, e não militar propriamente dito — A competência e da jus-tiça comum. Interpretação sistemática e teológica dos preceitos constitucionais e legais regedores da espécie.” (STF, HC 72.022, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ 28/04/95)

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Cabe alertar que, nos Estados em que não se tiver Tribunal de Justiça Militar, o recurso das deci-sões de primeiro grau dar-se-ão pelos Tribunais de Justiça dos Estados, sendo incabível recurso direto ao Superior Tribunal Militar. (artigo 125, § 3° da CF/88, redação dada pela EC/45/04).

“Compete ao Conselho Permanente de Justiça Militar o processo e julgamento respectivos, em 1º grau de jurisdição, e, em 2º, ao Tribunal de Justiça do Estado, quando não houver, na unidade da Federação, Tribunal de Justiça Militar (art. 125, caput e 3º da Constituição Federal e art. 85 da Constituição do Estado do Maranhão). Não é, pois, do Superior Tribunal Militar a competência para o julgamento da apelação nesse caso (art. 124, parágrafo único, da Constituição Federal e art. 40, inc. X, letra b, da Lei de Organização Judiciária Militar Decreto-Lei nº 1.003, de 21/10/1969).” (STF, HC 73.676, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 17/05/96)

Nos casos de perda da graduação de militar, esta poderá ocorrer em procedimento administrativo. Súmula 673 STF “O art. 125, § 4º, da Constituição não impede a perda da graduação de militar mediante procedimento administrativo”.

Os crimes de abuso de autoridade competem à Justiça Comum, mesmo que praticados em ser-viço.

Súmula 172 STJ “Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de auto-ridade, ainda que praticado em serviço”.

1.4.1.5. Justiça Federal

Competente para julgar: (art. 109, CF/88)

I - as causas em que União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interes-sadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho23;

Súmula 235 STF “É competente para a ação de acidente do trabalho a Justiça Cível comum, inclu-sive em segunda instância, ainda que seja parte autarquia seguradora”. Súmula 508 STF “Compete à justiça estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em que for parte o Banco do Brasil S.A.”. Súmula 511 STF “Compete à Justiça Federal, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas entre autarquias federais e entidades públicas locais, inclusive mandados de segurança, ressalvada a ação fiscal, nos termos da Constituição Federal de 1967, art. 119, § 3º”.

23 Até o julgamento do CC 7.204, o entendimento do Tribunal era no sentido de ser da justiça comum estadual a competência para o julgamento da ação de reparação de danos por acidente do trabalho. Após a referida decisão, a competência passou a ser da Justiça do Trabalho.

“A circunstância de o paciente, simples motorista da Polícia Federal, utilizar-se de apetrechos subtraídos da instituição, para a prática do crime de extorsão mediante seqüestro, não atrai a competência da Justiça Federal, porquanto não há ofensa a bens, serviços ou interesse da União. Situação diversa é a que respeita ao delito de peculato, pelo qual, aliás, o paciente foi condena-do.” (STF, HC 87.376, Rel. Min. Eros Grau, DJ 24/03/06).

“O dispositivo contido na parte final do § 3º do art. 109 da Constituição é dirigido ao legislador ordinário, autorizando-o a a-tribuir competência (rectius jurisdição) ao Juízo Estadual do foro do domicílio da outra parte ou do lugar do ato ou fato que deu origem à demanda, desde que não seja sede de Varas da Justiça Federal, para causas específicas dentre as previstas no inciso I do referido artigo 109. (...) Considerando que o Juiz Federal também tem competência territorial e funcional sobre o local de qual-quer dano, impõe-se a conclusão de que o afastamento da jurisdição federal, no caso, somente poderia dar-se por meio de refe-rência expressa à Justiça Estadual, como a que fez o constituinte na primeira parte do mencionado § 3º em relação às causas de natureza previdenciária, o que no caso não ocorreu.” (STF, RE 228.955, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 24/03/00).

“Sendo ratione personae, a competência prevista no artigo 109, I, da Constituição, e não integrando a União a presente vistoria ad perpetuam rei memoriam na qualidade de autora, ré, assistente ou opoente, inexiste ofensa ao citado dispositivo constitucional, porquanto a simples alegação da existência de interesse da União feita pela ora recorrente não desloca, só por isso, a competên-cia para a Justiça Federal.” (STF, RE 172.708, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 12/11/99).

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Súmula 556 STF “É competente a Justiça Comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista”. “A competência outorgada à Justiça Federal possui extração constitucional e reveste-se, por isso mesmo, de caráter absoluto e improrrogável, expondo-se, unicamente, às derrogações fixadas no texto da Constituição da República. Somente à Justiça Federal compete dizer se, em determinada causa, há, ou não, interesse da União Federal. A legitimidade do interesse jurídico manifestado pela União só pode ser verificada, em cada caso ocorrente, pela própria Justiça Federal (RTJ 101/881), pois, para esse específico fim é que a Justiça Federal foi instituída: para dizer se, na causa, há, ou não, interesse jurídico da União (RTJ 78/398). O ingresso da União Federal numa causa, vindican-do posição processual definida (RTJ 46/73 — RTJ 51/242 — RTJ 164/359), gera a incompetên-cia absoluta da Justiça local (RT 505/109), pois não se inclui, na esfera de atribuições jurisdicionais dos magistrados e tribunais estaduais, o poder para aferir e dizer da legitimidade do interesse da União Federal, em determinado processo (RTJ 93/1291 — RTJ 95/447 — RTJ 101/419 — RTJ 164/359). A competência para processar e julgar recurso interposto pela União Federal, contra de-cisão de magistrado estadual, no exercício da jurisdição local, que não reconheceu a existência de interesse federal na causa e nem determinou a remessa do respectivo processo à Justiça Federal, pertence ao Tribunal Regional Federal (órgão judiciário de segundo grau da Justiça Federal co-mum), a quem incumbe examinar o recurso e, se for o caso, invalidar o ato decisório que se apre-senta eivado de nulidade, por incompetência absoluta de seu prolator. Precedentes.” (STF, RE 144.880, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 02/03/01)

II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País;

III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou or-ganismo internacional;

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as con-travenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Súmula 516 STF “O serviço social da indústria (SESI) está sujeito à jurisdição da Justiça Estadual”. “É da jurisprudência desta Corte que, em regra, os crimes praticados em detrimento da Caixa E-conômica Federal, por ser esta empresa pública federal, devem ser processados e julgados pela Jus-tiça Federal — CF, art. 109, IV (vg, HC 68.895, Celso de Mello, 1ª T., DJ 21/2/92; 71.027, Ilmar Galvão, 1ª T., DJ 9/9/94; 70.541, Sydney Sanches, 1ª T., DJ 18/3/94), regra geral da qual o pre-sente caso não constitui exceção.” (STF, RE 332.597, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 11/02/04) “O tema relativo à incompetência da Justiça Federal para julgar os crimes de estelionato e falsidade de documentos, em detrimento de empresa pública federal, pode ser examinado de ofício, ante a possibilidade de ocorrer nulidade. O estelionato e a falsidade de documentos, quando come-tidos em detrimento de empresa pública federal, são da competência da Justiça Federal. Precedentes. O silêncio da defesa, ante a declaração de prevenção do Juiz Federal para julgar refe-ridos crimes, leva à preclusão da matéria.” (STF, RHC 82.059, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ 25/10/02) (g.n.) “A competência penal da Justiça Federal comum, que possui extração constitucional, re-veste-se de caráter absoluto, está sujeita a regime de direito estrito e apenas deixa de inci-dir naquelas hipóteses taxativamente indicadas no texto da própria Carta Política: (...) O comportamento delituoso de quem usa documento falso, em qualquer processo judiciário federal, faz instaurar situação de potencialidade danosa, apta a comprometer a integridade, a segurança, a confiabilidade, a regularidade e a legitimidade de um dos serviços essenciais mais importantes pres-tados pela União Federal: o serviço de administração da Justiça. A locução constitucional ‘serviços (...) da União’ abrange, para efeito de definição da competência penal da Justiça Federal comum, as atividades desenvolvidas pela magistratura da União nas causas submetidas à sua apreciação. Nesse contexto, o bem jurídico penalmente tutelado, cuja ofensa legitima o reconhecimento da compe-

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tência da Justiça Federal, é o próprio serviço judiciário mantido pela União.” (STF, RHC 79.331, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 29/10/99) (g.n.) “Competência da Justiça Federal se cometido perante a Justiça do Trabalho — art. 109, IV, CF. O legislador ao incluir o crime de patrocínio infiel no capítulo dos Crimes Contra a Administração da Justiça deixou caracterizado o funcionamento regular da justiça como o bem jurídico precipua-mente custodiado, sem embargo, do bem particular também agredido. Se a suposta ação delituosa, por ter ocorrido em uma reclamação trabalhista, atingiu a Justiça do Trabalho, que é federal, à Jus-tiça Federal cabe processar e julgar a referida ação penal.” (STF, RE 159.350, Rel. Min. Paulo Brossard, DJ 12/11/93)

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execu-ção no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro24, ou reciprocamente (tráfico internacional de entorpecentes);

V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; Súmula 522 STF “Salvo ocorrência de tráfico com o exterior, quando, então, a competência será da justiça federal, compete à justiça dos estados o processo e o julgamento dos crimes relativos a entorpecentes”. Lei 6.368/76 (Entorpecentes) REVOGADA Art. 27. Se não houver Justiça Federal na comarca, o crime será julgado pelo juiz estadual, porém eventual recurso será dirigido ao TRF. Lei 11.343/06 (Nova lei de drogas) Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos artigos 33 a 37 desta Lei, se caracteri-zado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal. Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva. (...) Art. 75. Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, e a Lei no 10.409, de 11 de janeiro de 2002. “Tráfico de entorpecentes. Tráfico interno. Lei nº 6.368/76, art. 12. Competência. Súmula 522-STF. Tráfico interno de entorpecentes: competência da Justiça Comum Estadual.” (STF, HC 74.479, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 28/02/97 “Justiça Federal: competência: tráfico internacional de entorpecentes: critério. Na linha da orienta-ção firmada no CJ 4.067, da qual proveio a Súmula 522 e o vigente art. 109, V, CF, ao caráter in-ternacional do tráfico de entorpecentes - a ditar a competência da Justiça Federal - não é necessá-rio que à circunstância objetiva de estender-se o fato - na sua prática ou em função dos resultados reais ou pretendidos - a mais de um país, se some a cooperação de agentes situados em territórios nacionais diversos.” (STF, HC 76.288, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 06/02/98)

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro (lei 7.492/86) e a ordem econômico-financeira (lei 8.176/90);

Súmula 208 STF “Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal”.

24 “Na dicção da ilustrada maioria, entendimento em relação ao qual divergi, na companhia do Ministro Ilmar Galvão, estando ausente, na ocasião, justificadamente, o Ministro Celso de Mello, compete ao Superior Tribunal de Justiça, e não ao Supremo Tribunal Federal, dirimir o conflito, enquanto não envolvido o Superior Tribunal Militar. (...) A competência para dirimir o con-flito é do Supremo Tribunal Federal, ante o fato de, em curso as ações penais alicerçadas nos mesmos dados, o Superior Tribu-nal Militar haver conhecido e indeferido habeas corpus, versando sobre a custódia, impetrado contra ato do Juízo da Circunscrição Militar. (...) A ressalva constitucional da competência da Jurisdição Especializada Militar, incisos IV e IX, não se faz presente no inciso V do artigo 109 da Constituição Federal. Cuidando-se de crime previsto em tratado ou convenção internacional, iniciada a execução no Brasil e o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente, a competência é da Justiça Federal estrito senso.” (STF, CC 7.087, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 31/08/01).

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Súmula 209 STF “Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal”. “A competência da Justiça Federal para o processo e julgamento dos crimes contra o sistema fi-nanceiro e a ordem econômico-financeira encontra-se fixada no art. 109, VI, da Constituição Fe-deral. O inciso VI do art. 109 da Constituição é a norma matriz da competência da Justiça Federal, tratando-se de crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, que afasta dis-posições outras para o fim de estabelecer a competência do juízo federal, como, por exemplo, a inscrita no inc. IV do art. 109, CF.” (STF, RE 454.735, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 18/11/05) “O prejuízo não se restringiu aos particulares, mas também atingiu o Sistema Financeiro Nacional. Crime contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei nº 7.492/86). Competência da Justiça Federal. Precedentes da Corte. Ordem denegada.” (STF, HC 84.111, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 20/08/04) “Considerou-se que compete à Justiça Federal julgar os crimes contra o Sistema Financeiro (CF, art. 109, VI) e que, em face da prerrogativa de foro do deputado estadual, a competência é do Tri-bunal Regional Federal.” (STF, HC 80.612, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 04/05/01)

VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangi-mento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;

“Trata-se de habeas corpus, com pedido de medida cautelar, impetrado com o objetivo de impedir a deportação do ora paciente, que é súdito do Estado Islâmico do Afeganistão. (...) Vê-se, portanto, que, sendo, das autoridades policiais federais, a competência para determinar e efetivar a deportação do estrangeiro, incumbe a magistrado federal de primeira instância, quando ocorrente tal hipótese, a atribuição de processar e julgar a ação de habeas corpus, eis que incide, nessa situação, a norma inscrita no art. 109, VII, da Constituição da República. Cabe adver-tir, no entanto, que, em ocorrendo situação caracterizadora de extradição indireta — como sucede na hipótese prevista no art. 63 do Estatuto do Estrangeiro, notadamente quando o Su-premo Tribunal Federal tenha indeferido o pedido extradicional —, o deportando, presen-te esse específico e excepcional contexto, se impetrar ordem de habeas corpus, deverá fa-zê-lo, originariamente, perante esta Suprema Corte, pois só este Tribunal — consoante ex-pressamente reconhecido no julgamento plenário do HC 54.718/DF, Rel. Min. Bilac Pinto (RTJ 82/370) — tem competência para dizer se se registra, ou não, caso de deportação fraudulenta que importe ‘em extradição inadmitida pela lei brasileira’.” (STF, HC 87.007, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 08/11/05) (g.n.)

VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, exce-tuados os casos de competência dos tribunais federais;

IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves25, ressalvada a competência da Justiça Militar;

“Conflito negativo de jurisdição. - Fato ocorrido a bordo de pequena embarcação, que não se equipara a navio. - Questão tributaria da esfera exclusiva do estado. Competência da Justiça Es-tadual.” (STF, CJ 4707, Rel. Min. Eloy da Rocha, DJ 14/08/70) (g.n.) “Penal. Conflito de competência. Crime de homicídio culposo. Art. 109, inciso IX, da CF/88. Cri-me cometido a bordo de navio. Circunstância não configurada. Competência da justiça estadual. 1. A expressão ‘a bordo de navio’, constante do art. 109, inciso IX, da CF/88, significa interi-or de embarcação de grande porte. 2. Realizando-se uma interpretação teleológica da locução,

25 Art. 106, lei 7.565/86: “considera-se aeronave todo aparelho manobrável em vôo, que possa sustentar-se e circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas”. Para que se considere de competência da Justiça Federal a aeronave deverá ser de grande ou médio porte, ficando assim afastado desta sua competências as de pequeno porte, como monomotores e bimotores. Neste sentido DEMO, Roberto Luis Luchi. Competência penal originária da Justiça Federal: desenho constitucional na jurisprudência e a novidade da Reforma do Judiciário. In: Revista de Doutrina da 4ª Região, ed. 006, EMAGIS, 16/05/05.

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tem-se que a norma visa abranger as hipóteses em que tripulantes e passageiros, pelo potencial ma-rítimo do navio, possam ser deslocados para águas territoriais internacionais. 3. Se à vitima não é implementado este potencial de deslocamento internacional, inexistindo o efetivo ingresso no na-vio, resta afastada a competência da Justiça Federal. 4. Conflito conhecido para declarar a compe-tência do Juízo de Direito da 6ª Vara Criminal da Comarca de Santos/SP, suscitante.” (STJ CC 43404, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ 02/03/05) (g.n.) “I. Competência para o processo de crime de tráfico internacional de entorpecente apreendido no interior de aeronave que pousou em Município que não é sede de Vara da Justiça Federal: Alegada competência da Justiça Estadual (art. 27 da Lei nº 6.368/76): nulidade relativa: preclusão: Prece-dente. Conforme o decidido no HC 70.627, 1ª T., Sydney Sanches, DJ 18/11/94, é federal a juris-dição exercida por Juiz estadual na hipótese do art. 27 da Lei nº 6.368/76. Corrobora a tese o dis-posto no art. 108, II, da Constituição, segundo o qual cabe aos Tribunais Regionais Federais ‘jul-gar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercí-cio da competência federal da área de sua jurisdição’. É territorial, portanto, o critério para saber se ao Juiz federal ou estadual, na hipótese do art. 27 da Lei nº 6.368/76, cabe o ‘exercício de compe-tência federal’; e, por isso, se nulidade houvesse seria ela relativa, sanada à falta de argüição opor-tuna. II. Competência da Justiça Federal: crime praticado a bordo de navios ou aeronaves (art. 109, IX, da Constituição): Precedente (HC 80.730, Jobim, DJ 22/03/02). É da jurisprudência do STF que, para o fim de determinação de competência, a incidência do art. 109, IX, da Constituição, independe da espécie do crime cometido ‘a bordo de navios ou aeronaves’, cuja persecução, só por isso, incumbe por força da norma constitucional à Justiça Fede-ral.” (STF, HC 85.059, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 29/04/05) (g.n.) “O tráfico internacional de entorpecentes, praticado a bordo de aeronave, é da competência da Justiça Federal (CF, art. 109, IX). Quando a aeronave ingressa no espaço aéreo brasileiro, in-cide a referida competência. Ela não se desloca para a Justiça Estadual porque a apreen-são foi feita no interior de aeronave. A Justiça Estadual tem competência se, no lugar onde o delito for praticado, não houver Vara da Justiça Federal (L. 6.368/76, art. 27). Não se confunde o momento de consumação com o da apreensão da droga. A consumação ocorre quando tem início o transporte, por ser delito de natureza permanente. Precedente.” (STF, HC 80.730, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ 14/12/01) (g.n.)

X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta ro-gatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

XI - a disputa sobre direitos indígenas. Súmula 140 STJ “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima”. “Os crimes cometidos por silvícolas ou contra estes, não configurando disputa sobre direi-tos indígenas e nem, tampouco, infrações praticadas em detrimento de bens e interesse da União ou de suas autarquias e empresas públicas, não se inserem na competência privati-va da Justiça Federal (CF, art. 109, inc. XI).” (STF, RE 263.010, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 10/11/00) (g.n.) “Não configurando os crimes praticados por índio, ou contra estes, ‘disputa sobre direitos indíge-nas’ (art. 109, inc. XI, da CF) e nem, tampouco, ‘infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas’ (inc. IV ib.), é da competência da Justiça Estadual o seu processamento e julgamento. É de natureza ci-vil, e não criminal (CF arts. 7º e 8º da Lei nº 6.001/73 e art. 6º, parágrafo único, do CC), a tutela que a Carta Federal, no caput do art. 231, cometeu à União, ao reconhecer ‘aos índios sua organi-zação social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tra-dicionalmente ocupam’, não podendo ser ela confundida com o dever que tem o Estado de prote-ger a vida e a integridade física dos índios, dever não restrito a estes, estendendo-se, ao revés, a to-das as demais pessoas. Descabimento, portanto, da assistência pela FUNAI, no caso.” (STF, HC 79.530, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 25/02/00)

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“A Constituição promulgada em 1988 introduziu nova regra de competência, ampliando a esfera de atribuições jurisdicionais da Justiça Federal, que se acha, agora, investida de poder para também apreciar ‘a disputa sobre direitos indígenas’ (CF, art. 109, XI). Essa regra de competência jurisdi-cional — que traduz expressiva inovação da Carta Política de l988 — impõe o deslocamento, para o âmbito de cognição da Justiça Federal, de todas as controvérsias, que, versando a questão dos di-reitos indígenas, venham a ser suscitadas em função de situações específicas. (...) A disputa pela posse permanente e pela riqueza das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios constitui o nú-cleo fundamental da questão indígena no Brasil. A competência jurisdicional para dirimir contro-vérsias pertinentes aos direitos indígenas pertence à Justiça Federal comum.” (STF, RE 183.188, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 14/02/97)

IMPORTANTE:

Não pertencem à competência da Justiça Federal os crimes praticados contra o Banco do Brasil, pois este não é empresa pública.

“Compete à Justiça Comum Estadual o processo e o julgamento de crime praticado contra o Ban-co do Brasil”. (STF, HC 70808, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 18/03/94)

Os delitos contra o Banco do Brasil que serão processados e julgados pela Justiça Federal são aqueles em relação à matéria, por exemplo, gestão fraudulenta (artigo 4º, caput, lei 7.492/86)26 e gestão temerária (artigo 4º, § único, lei 7.492/86)27, segundo determinação do artigo 26, lei 7.492/86.

“Uma vez constatada a omissão, impõe-se o provimento dos embargos declaratórios, suprindo-a. Assim ocorre quanto à competência da Justiça Federal para as ações penais previstas na Lei nº 7.492/86, conforme disposto no artigo 26 dela constante. Embargos Declaratórios - Dúvida. A dúvida há de estar explicitada à luz do que decidido, sob pena de se transformar o julgador em ór-gão consultivo” (STF, RHC-ED 84182, Min. Marco Aurélio, DJ 04/03/05)

As contravenções não são julgadas pela Justiça Federal. Súmula 38 STJ “Compete à Justiça Estadual comum, na vigência da Constituição de 1988, o pro-cesso por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades”. “A competência penal da Justiça Federal comum - que possui extração constitucional - reves-te-se de caráter absoluto, está sujeita a regime de direito estrito e apenas deixa de incidir naque-las hipóteses taxativamente indicadas no texto da própria Carta Política: (a) nos crimes e-leitorais, (b) nos crimes militares e (c) nas contravenções penais em geral. - Compete à Jus-tiça Federal comum processar e julgar, dentre outros ilícitos penais, os crimes praticados contra os serviços organizados e mantidos pela União (CF, art. 109, IV), nestes incluídos os serviços judiciá-rios federais. - O comportamento delituoso de quem usa documento falso, em qualquer processo judiciário federal, faz instaurar situação de potencialidade danosa, apta a comprometer a integrida-de, a segurança, a confiabilidade, a regularidade e a legitimidade de um dos serviços essenciais mais importantes prestados pela União Federal: o serviço de administração da Justiça. - A locução cons-titucional ‘serviços (...) da União’ abrange, para efeito de definição da competência penal da Justiça Federal comum, as atividades desenvolvidas pela magistratura da União nas causas submetidas à sua apreciação. Nesse contexto, o bem jurídico penalmente tutelado - cuja ofensa legitima o reco-nhecimento da competência da Justiça Federal - é o próprio serviço judiciário mantido pela Uni-ão.” (STF, RHC 79331, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 29/10/99) (g.n.)

Em caso de conexão ou continência de contravenção com crime de competência da Justi-ça Federal, deverá haver o desmembramento do processo.

“As contravenções, mesmo que praticadas em detrimento de interesse da União, são apreciadas na Justiça Estadual (Súmula nº 38-STJ). Na hipótese de conexão ou continência, prevalece a regra

26 Gerir fraudulentamente Instituição Financeira: Pena – Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa. 27 Se a gestão é temerária: Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.

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constitucional (art. 109, inciso IV), indicando a necessidade do desmembramento”. (STJ, CC 20454, Félix Fischer, DJ 14/02/00)

Exceção: apesar de a Justiça Federal não ter competência para julgar contravenções pe-nais, não encontra-se outra solução do que manter a sua competência em caso de ter o autor do delito prerrogativa de função federal, tendo em vista a competência ratione personae. Ex. contra-venção cometida por juiz federal.

Não são da competência da Justiça Federal os crimes que tiverem competência específica da Justiça Militar ou da Justiça Eleitoral.

“A competência penal da Justiça Federal comum - que possui extração constitucional - reveste-se de caráter absoluto, está sujeita a regime de direito estrito e apenas deixa de incidir naquelas hipó-teses taxativamente indicadas no texto da própria Carta Política: (a) nos crimes eleitorais, (b) nos crimes militares e (c) nas contravenções penais em geral (...)”. (STF, RHC 79331, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 29/10/99)

Os crimes ambientais contra a fauna silvestre só serão de competência da Justiça Federal se o crime for praticado em terras da União ou de suas entidades e se estiverem presentes interes-ses específicos destas28. Caso contrário, pertence à Justiça Estadual a competência para processar e julgar tais crimes. 28 “Destaco do acórdão recorrido esta parte: ‘... A míngua de previsão legal específica (o proposto parágrafo único do art. 26 da Lei n. 9.605/98, que previa a competência privativa da Justiça Federal, foi vetado e o veto mantido), aplica-se a regra geral da repartição de competência, em que a competência da Justiça Estadual é ampla e residual, reservados à Justiça Federal os crimes em que caracterizada lesão a, ou em detrimento de, bens, serviços ou interesse da União ou de suas enti-dades autárquicas ou empresas públicas (CF, art. 109, IV), especificamente pertinentes e objetivamente demonstra-dos. Mesmo porque, a Lei nº 9.605/98, ao revogar a Lei nº 5.197/67, afastou do ordenamento jurídico a norma que definia como propriedade do Estado os animais silvestres (art. 1º da citada Lei), não havendo, pois, interesse absoluto da União em todas as questões que envolvem o meio ambiente.’ (fls. 88) ... ‘... Por fim, o recentíssimo julgado do STF: ‘Competência. Crime previsto no artigo 46, parágrafo único, da lei nº 9.605/98. Depósito de madeira nativa proveniente da Mata Atlântica. Artigo 225, § 4º, da Constituição Federal. - Não é a Mata Atlântica, que integra o patrimônio nacional a que alude o artigo 255, § 4º, da Constituição Federal, bem da União. - Por outro lado, o interesse da União para que ocorra a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IV, da Carta Magna tem de ser direto e específico, e não, como ocorre no caso, interesse genérico da coleti-vidade, embora aí também incluído genericamente o interesse da União. - Conseqüentemente, a competência, no caso, é da Jus-tiça Comum Estadual. Recurso extraordinário não conhecido.’ (STF, RE 300.244-9/SC, Rel. Min. Moreira Alves, T1, ac. un., DJ 19/12/2001).’ (fls. 89) Não conformado o MPF interpõe RE em que alega ofensa ao inciso IV do art. 109 da CF. Decido. Não obstante os argumentos do recorrente, razão não lhe assiste. Primeiramente, cabe ressaltar a manifestação da PGR: ‘... 1. O Mi-nistério Público Federal, narrando o envolvimento de Gildevan Araújo Coelho e Gelvan Pereira da Silva, o primeiro porque abatera três (3) veados catingueiros numa fazenda no município de Sandolândia, e o segundo porque transportava os animais abatidos, solicitou diligências visando o aperfeiçoamento de transação penal (fls. 66/67). 2. O pleito não é acatado a conta da incompetência da jurisdição federal a seu exame (fls. 68/70). 3. Sucedeu recurso em sentido estrito - fls. 10/24 improvido (fls. 91). 4. O Ministério Público Federal apresenta recurso extraordinário (fls. 97/105), de processamento admitido (fls. 124). 5. No caso, certo fica que a fiscalização foi exercida pelos servidores estaduais: o fiscal da Naturatins - órgão da fiscalização estadual do Tocantins - Leicyr Pinheiro Batista, no desempenho de seu trabalho, conduziu o flagrante (fls. 27 e Auto de Infração a fls. 36). 6. Por essa perspectiva, não há que se falar em conduta posta em detrimento de serviço público federal. 7. Resta a indaga-ção: está revogado o artigo 1º da Lei 5197/67, com o advento da Lei 9605/98, como proclamou o julgado da Corte recursal ordinária (ementa a fls. 91)? 8. O artigo 1º da Lei 5197/67 não está revogado pela Lei 9605/98. 9. A Lei 9605/98 é de alcance limitado. Cuida, exclusivamente, de definir sanções ‘penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente’, como mesmo está em sua ementa. 10. A Lei 5197/67, a seu turno, se traz definições de condutas ilícitas, todavia não se particulariza no plano das sanções, mas normatiza situações gerais protetivas da fauna, daí porque principia dizendo que os animais são 'propriedade do Estado’. 11. É certo que autorizada doutrina tem se conduzido a fixar a competência, a despeito da propriedade estatal da fauna, pelo âmbito territorial e a propriedade, também, das unidades de conservação onde aconteçam as condutas (referência na transcrição a fls. 16). 12. No caso, o abate deu-se em fazenda particular, no município Sandolândia. 13. O próprio § 2º, do artigo 1º da Lei 5197/67 prioriza a vontade particular, a despeito do caput da norma, como vi-mos retro, dizer da propriedade estatal dos animais de quaisquer espécies. Está em dito § 2º, verbis: § 2º A utilização, perseguição, caça ou apanha de espécies da fauna silvestre em terras de domicílio privado, mesmo quando permiti-das na forma do parágrafo anterior, poderão ser igualmente proibidas pelos respectivos proprietários, assumindo es-tes a responsabilidade de fiscalização de seus domínios. Nestas áreas, para a prática do ato de caça, é necessário o consen-timento expresso ou tácito dos proprietários, nos termos dos arts. 594... do Código Civil.’ (grifamos).’ (fls. 131/134) Conforme

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Súmula 91 STJ CANCELADA “Conflito de competência. Crimes contra a fauna. Súmula 91/STJ. Inaplicabilidade após o advento da lei 9.605/98. Inexistência de lesão a bens, serviços ou interesses da união. Competência da justiça comum estadual. 1 Conflito de competência entre as Justiças Es-tadual e Federal que se declaram incompetentes relativamente a inquérito policial instaurado para a apuração do crime de comércio irregular de animais silvestres. 2 Em sendo a proteção ao meio ambiente matéria de competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-cípios, e inexistindo, quanto aos crimes ambientais, dispositivo constitucional ou legal expresso sobre qual a Justiça competente para o seu julgamento, tem-se que, em regra, o processo e o jul-gamento dos crimes ambientais é de competência da Justiça Comum Estadual. 3 Inexistindo, em princípio, qualquer lesão a bens, serviços ou interesses da União (artigo 109 da CF), afasta-se a competência da Justiça Federal para o processo e o julgamento de crimes cometidos contra o meio ambiente, aí compreendidos os delitos praticados contra a fauna e a flora.4 Inaplicabilidade da Súmula nº 91/STJ, editada com base na Lei 5.197/67, após o advento da Lei nº 9.605, de fevereiro de 1998. 5 Conflito conhecido para que seja declarada a competência do Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal do Foro Regional V - São Miguel Paulista - São Paulo/SP, o suscitado”. (STJ, CC 27848/SP)

Crimes contra animais domésticos e de propriedade particular ou praticados contra ani-mais que não se enquadrem na fauna silvestre nacional são de competência da Justiça Estadual. Por outro lado será da Justiça Federal se o crime for praticado contra espécies ameaçadas de ex-tinção, contrabando de animais silvestres para o exterior, introdução ilegal no país de espécies exóticas, se for praticado no mar territorial brasileiro, em rio interestadual, nos lagos e rios per-tencentes à União, suas autarquias ou empresas públicas29.

“Criminal. Conflito de competência. Crime contra a fauna. Manutenção em cativeiro de espé-cies em extinção. IBAMA. Interesse de autarquia federal. Competência da Justiça Federal. I - A teor do disposto no art. 54 da Lei 9.985/2000, cabe ao IBAMA, autarquia federal, autorizar a captura de exemplares de espécies ameaçadas de extinção destinada a programas de criação em ca-tiveiro ou formação de coleções científicas. II - Compete à Justiça Federal, dado o manifesto inte-resse do IBAMA, o processamento e julgamento de ação penal cujo objeto é a suposta prática de crime ambiental que envolve animais em perigo de extinção. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 3a Vara Federal de Uberlândia (MG).” (STF, CC 37137, Rel. Min. Felix Fischer, DJ 14/04/2003) (g.n.)

Os crimes ambientais contra a flora só serão de competência da Justiça Federal se o crime for praticado contra bens pertencentes à União ou às suas entidades se estiverem presentes inte-resses específicos destas. Assim a competência é em regra da Justiça Estadual, mesmo que caiba a um órgão federal, IBAMA, a fiscalização em sistemas ecológicos elencados no artigo 225, § 4° da Constituição Federal. No mesmo sentido os crimes ambientais, do artigo 3930, lei 9.605/98, em terra particular31.

“Crime previsto no artigo 50 da Lei 9.605/98. Competência da Justiça estadual comum. - Esta Primeira Turma, recentemente, em 20.11.2001, ao julgar o RE 300.244, em caso semelhante ao presente, decidiu que, não havendo em causa bem da União (a hipótese então em julgamento dizia respeito a desmatamento e depósito de madeira proveniente da Mata Atlântica que se entendeu não ser bem da União), nem interesse direto e específico da União (o interesse desta na proteção do meio ambiente só é genérico), nem decorrer a competência da Justiça Federal da circunstância

destacado no acórdão recorrido, o STF (RE 300.244) já se pronunciou sobre a questão tratada nos autos. Foram julgados, ainda, os RREE 349189, 349.196 e 349.184, em que se concluiu pela competência da Justiça Estadual Comum. Por tais funda-mentos, nego seguimento ao RE.” (STF, RE 349190, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ 03/06/03). (g.n.) 29 DEMO, Roberto Luis Luchi. Competência penal originária da Justiça Federal: desenho constitucional na jurisprudência e a novidade da Reforma do Judiciário. In: Revista de Doutrina da 4ª Região, ed. 006, EMAGIS, 16/05/05. 30 Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. 31 DEMO, Roberto Luis Luchi. Competência penal originária da Justiça Federal: desenho constitucional na jurisprudência e a novidade da Reforma do Judiciário. In: Revista de Doutrina da 4ª Região, ed. 006, EMAGIS, 16/05/05.

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de caber ao IBAMA, que é órgão federal, a fiscalização da preservação do meio ambiente, a com-petência para julgar o crime que estava em causa (artigo 46, parágrafo único, da Lei 9.605/98, na modalidade de manter em depósito produtos de origem vegetal integrantes da flora nativa, sem li-cença para armazenamento) era da Justiça estadual comum. - Nesse mesmo sentido, posteriormen-te, em 18.12.2001, voltou a manifestar-se, no RE 299.856, esta Primeira Turma, no que foi seguida, no RE 335.929, por decisão do eminente Ministro Carlos Velloso da 2ª Turma. - A mesma orien-tação é de ser seguida no caso presente. Recurso extraordinário não conhecido”. (STF, RE 349189, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 14/11/02) “Conflito negativo de competência. Juízo Estadual x Juízo Federal. Crime ambiental. Extração de areia em pequeno rio a céu aberto. Propriedade particular. Inexistência de interesse da união. Competência da justiça estadual. Não atenta contra bens, serviços ou interesses da União Federal, a extração, sem autorização do órgão competente, de areia de pequeno rio denominado ‘Ribeirão dos Paiva’, localizado em propriedade particular. O citado ribeirão não está entre os bens da Uni-ão, haja vista que o mesmo não está situado em seu terreno de domínio, não banha mais de um Estado, não serve de limite com outro país e não se estende à Estado estrangeiro, conforme dis-põe o art. 20, inciso III, da CF/88. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direi-to da Comarca de Belo Vale/MG”. (STF, CC 36206, Rel Min. Paulo Medina, DJ 16/06/03)

1.4.1.6. Justiça Estadual

Sua competência é residual, ou seja, julga os casos em que não houver competência em nenhuma das justiças especiais ou comum federal. Em caso de concorrência entre a Justiça Federal e a Justiça Esta-dual, prepondera a Federal segundo posição do Superior Tribunal de Justiça.

Súmula 122 STJ “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes cone-xos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Pro-cesso Penal”.

1.4.2. Órgão Competente (Hierarquia por Prerrogativa da Função)

Neste momento deve-se verificar se o processo inicia-se no primeiro grau ou diretamente nos Tri-bunais. Segundo Tourinho Filho, “determinadas pessoas, em face da sua importância no cenário jurídico político da nossa pátria, são processadas e julgadas, privativamente, pelos órgãos superiores da nossa justiça”. É, portanto, o foro pela prerrogativa de função.

O julgamento quando iniciado em um tribunal, segundo nossa posição, afeta diretamente o princí-pio do duplo grau de jurisdição32, vez que não permite o reexame da prova, porém o Supremo Tribunal Federal já se manifestou que não há inconstitucionalidade33, pois, mesmo que não caiba o recurso Apela-ção, caberia, em tese, Recurso Especial e Extraordinário.

“Constitucional. Competência por prerrogativa de função. Arts. 5º, LIV e 96, III da CF. Exame da causa pelo órgão colegiado. Intenta reconhecimento ao direito de apelação. Inexistência de ofensa

32 Garantido pela Convenção Americana de Direitos Humanos (8, II, h). 33 “...Toda vez que a Constituição prescreveu para determinada causa a competência originária de um Tribunal, de duas uma: ou também previu recurso ordinário de sua decisão (CF, arts. 102, I, a; 105, II, a e b; 121, 4°, III, IV e V) ou, não tendo estabeleci-do, é que proibiu. Em tais hipóteses, o recurso ordinário contra decisões de Tribunal, que ela mesma não criou, a Constituição não admite que o institua o direito infraconstitucional.... Lá, como aqui, pressupõe a impetrante que o princípio do duplo grau de jurisdição seja garantia constitucional inafastável. Haveria, então, necessidade de norma que agregasse ao procedimento nas ações penais originárias o recurso ordinário. A questão é prejudicial deste mandado de injunção. Sobre ser ou não o princípio do duplo grau de jurisdição garantia inerente ao processo, houve vários pronunciamento anteriores deste Tribunal. Prevalece a ori-entação que entende não ocorrer violação à ampla defesa nestes casos: RE 86709 (MOREIRA); HC 68846 (GALVÃO); HC 71124 (PERTENCE) De fato, as garantias do devido processo legal são exercidas com a plenitude que prevêem as normas pro-cessuais e regimentos dos tribunais. A inexistência de duplo grau é minimizada pelo exame colegiado. Pressuposto do mandado de injunção é a impossibilidade do exercício de direito pela ausência de norma regulamentadora prevista (MIQO 97, SYDNEY). A CF não prevê recurso ordinário de tais decisões. O pedido não é cabível.” (STF, MI 635-1, Rel. Min. Nelson Jobim).

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ao princípio do duplo grau de jurisdição. Ausência dos pressupostos ensejadores do mandado de injunção. Precedentes. Mandado de injunção não conhecido”. (STF, MI-QO 635, Rel. Min. Nel-son Jobim, DJ 25/10/02)

IMPORTANTE:

Os órgãos superiores que têm competência privativa para o julgamento dos crimes proces-sados no foro por prerrogativa de função devem obedecer ao rito das leis 8.038/90 e 8.658/9334, tendo em vista o julgamento do pleno do Supremo Tribunal Federal nas ADINS n° 2860 e n° 2797 (15/09/2005), in verbis:

“O Tribunal, por maioria, julgou procedente a ação, nos termos do voto do relator, para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 10.628, de 24 de dezembro de 2002, que acresceu os §§ 1º e 2º ao artigo 84 do Código de Processo Penal, vencidos os senhores Ministros Eros Grau, Gilmar Men-des e a Presidente. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o senhor Ministro Nelson Jobim (presidente). Presidiu o julgamento a senhora Ministra Ellen Gracie (vice-presidente). Plenário, 15.09.2005. ADIN Nr.2860 e ADIN Nr.2797”.

O crime de improbidade administrativa da lei 8.429/92 não mais será julgado por foro com prerrogativa de função, em decorrência da declaração de inconstitucionalidade do artigo 84, §2º do Código de Processo Penal.

“O Tribunal concluiu julgamento de duas ações diretas ajuizadas pela Associação Nacional dos Membros do Ministério Público – CONAMP e pela Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB para declarar, por maioria, a inconstitucionalidade dos §§ 1º e 2º do art. 84 do Código de Processo Penal, inseridos pelo art. 1º da Lei 10.628/2002 — v. Informativo 362. Entendeu-se que o § 1º do art. 84 do CPP, além de ter feito interpretação autêntica da Carta Magna, o que seria re-servado à norma de hierarquia constitucional, usurpou a competência do STF como guardião da Constituição Federal ao inverter a leitura por ele já feita de norma constitucional, o que, se admiti-do, implicaria submeter a interpretação constitucional do Supremo ao referendo do legislador or-dinário. Considerando, ademais, que o § 2º do art. 84 do CPP veiculou duas regras — a que esten-de, à ação de improbidade administrativa, a competência especial por prerrogativa de função para inquérito e ação penais e a que manda aplicar, em relação à mesma ação de improbidade, a previ-são do § 1º do citado artigo —, concluiu-se que a primeira resultaria na criação de nova hipótese de competência originária não prevista no rol taxativo da Constituição Federal, e a segunda estaria atingida por arrastamento. Ressaltou-se, ademais, que a ação de improbidade administrativa é de natureza civil, conforme se depreende do § 4º do art. 37 da CF, e que o STF jamais entendeu ser competente para o conhecimento de ações civis, por ato de ofício, ajuizadas contra as autoridades para cujo processo penal o seria.” (ADI 2.797 e ADI 2.860, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Informativo STF 401)

a) crime cometido durante o exercício da função Súmula 394 STF CANCELADA “Cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam ini-ciados após a cessação daquele exercício”.

a.1) será julgado pelo foro especial da prerrogativa de função somente enquanto estiver no cargo, uma vez que foi considerado inconstitucional o artigo 84, § 1° do Código de Processo Penal.

a.2) o processo será remetido ao primeiro grau, quando o agente não estiver mais na função, visto a inconstitucionalidade do artigo 84, § 1° do Código de Processo Penal.

“Ação Penal. Questão de ordem sobre a competência desta Corte para prosseguir no processa-mento dela. Cancelamento da súmula 394. - Depois de cessado o exercício da função, não de-ve manter-se o foro por prerrogativa de função, porque cessada a investidura a que essa

34 Art. 1° As normas dos arts. 1° a 12, inclusive, da Lei n° 8.038, de 28 de maio de 1990, aplicam-se às ações penais de compe-tência originária dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, e dos Tribunais Regionais Federais.

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prerrogativa é inerente, deve esta cessar por não tê-la estendido mais além a própria Cons-tituição. Questão de ordem que se resolve no sentido de se declarar a incompetência desta Corte para prosseguir no processamento desta ação penal, determinando-se a remessa dos autos à Justiça comum de primeiro grau do Distrito Federal, ressalvada a validade dos atos pro-cessuais nela já praticados”. (STF, AP-QO 319, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 31/10/00) (g.n.)

b) crime cometido antes de iniciada a função: o processo deve ser remetido do juiz de origem ao Tribunal que julga por prerrogativa de função quando se iniciar a função, voltando a vara de origem caso cesse o exercício da função.

c) crime cometido após encerrado o exercício da função: neste caso não há mais prerrogativa de função, devendo ser julgado sem o foro especial, tal como já sumulado pelo Supremo Tribunal Federal.

Súmula 451 STF “A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime co-metido após a cessação definitiva do exercício funcional”.

Na conexão ou continência prevalece o foro por prerrogativa de função, assim em caso de co-autoria o foro por prerrogativa de função chama a competência, mesmo que o co-autor não tenha foro especial.

Súmula 704 STF “Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo le-gal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de fun-ção de um dos denunciados”.

Exceção: no caso de crime doloso contra a vida, o agente que tem foro especial pela prer-rogativa de função pela Constituição Federal será julgado pelo Tribunal competente, já o co-autor que não tem foro especial será julgado pelo Tribunal do Júri.

“Quando há conexão ou continência, prevalece o foro por prerrogativa de função. Assim, se al-guém é acusado de crime cometido em co-autoria com prefeito municipal, ambos serão julgados pelo Tribunal de Justiça. Será, contudo, o co-autor, no exemplo citado, submetido a julga-mento pelo Tribunal do Júri se acusado de crime doloso contra a vida, pois, neste caso, prepondera a regra constitucional sobre competência do júri à norma de lei ordinária sobre competência por conexão ou continência” 35 (g.n.)

Em sentido contrário já se manifestou o Supremo Tribunal Federal. “Tendo em vista que um dos denunciados por crime doloso contra a vida é desembargador, detentor de foro por prerrogativa de função, todos os demais co-autores serão processados e julgados perante o Superior Tribunal de Justiça, por força do princípio da conexão. Inci-dência da Súmula 704/STF. A competência do Tribunal do Júri é mitigada pela própria Carta da República. Precedentes.” (STF, HC 83.583, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 07/05/04)

Em caso de crime doloso contra a vida x prerrogativa de função, prevalece a prerrogativa de função se esta for estabelecida na Constituição Federal, caso contrário prevalecerá a competência do Tri-bunal do Júri. Neste sentido Ada Pellegrini Grinover ensina que “a linha da jurisprudência brasileira é correta: tratando-se de duas competências constitucionais, deve prevalecer a garantia da prerrogativa de função”36.

Súmula 721 STF “A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual”.

Tratando-se de jurisdição de foro especial, quando houver prerrogativa de função, por ser a função o aspecto relevante, a competência é fixada no Tribunal natural, apesar de o crime ter sido cometi-

35 GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antonio Scarance; GOMES FILHO, Antonio Magalhães. As nulidades no proces-so penal, p.64. Na mesma seara TOVO, Paulo Cláudio e TOVO, João Batista. Primeiras linhas sobre o processo penal em face da nova Constituição, p. 35. 36 GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antonio Scarance; GOMES FILHO, Antonio Magalhães. As nulidades no proces-so penal, p. 64.

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do fora da jurisdição de tal Tribunal37. Como se trata de competência originária, não importa saber se a infração é apenada com reclusão, detenção, prisão simples ou multa, ou se a infração penal é, por exemplo, eleitoral, comum, cometida por meio de imprensa, ou dolosa contra a vida. O que interessa é o sujeito pas-sivo da pretensão punitiva38.

Nos crimes em que couber exceção da verdade39, a doutrina e a jurisprudência apresentam mais de uma posição: Segundo Tourinho Filho40, trata-se do mesmo órgão ao qual compete tanto a análise da exceção quanto o processamento da ação principal; um exemplo seria o Tribunal. Porém, o Supremo Tri-bunal Federal entende que o Tribunal apenas julga a exceção, devolvendo-a ao órgão inferior para julgamento da causa principal (posição majoritária). Quanto à aplicação do artigo 85, segundo o Supremo Tribunal Federal só ocorre nos crimes de calúnia; já no caso de difamação, a exceção é julgada pelo próprio juiz de origem.

Súmula 396 STF “Para a ação penal por ofensa à honra, sendo admissível a exceção da verdade quanto ao desempenho de função pública, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que já tenha cessado o exercício funcional do ofendido”. “Exceção da verdade. Crime contra a honra. Competência para julgamento do STF — art. 102, I, b da CF c/c art. 85 do CPP. Imputação de fato definido como crime. Exceto — Querelante depu-tado federal.” (STF, Inq 475, Rel. Min. Paulo Brossard, DJ 29/06/90)

1.4.2.1. Competência do Supremo Tribunal Federal

A sua competência encontra-se delimitada pelo artigo 102 da Constituição Federal. Não julga crime de responsabilidade. Pelo princípio da simetria todas as autoridades do primeiro escalão dos três poderes são julgados pelo Supremo Tribunal Federal (Presidente, Vice, Ministro, Senador, Deputados Federais, Ministros dos Tribunais Superiores, Ministros do STF, Comandantes, Procurador Geral da República, ...)

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, caben-do-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação decla-ratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente- Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da Re-pública; c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os che-fes de missão diplomática de caráter permanente; d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Me-sas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território; f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro; h) revogada

37 Exemplo: prefeito de Canoas, que comete crime pela lei de imprensa em Florianópolis, durante o exercício da função, será julgado pelo Tribunal de Justiça do RS. 38 A única distinção a ser feita cinge-se entre crime comum e de responsabilidade, pois nestes casos a competência e, por via de conseqüência, o procedimento são deslocados, via de regra, para outro poder público (casa legislativa). 39 Crimes que admitem exceção da verdade: CALÚNIA: cabível, exceto no caso do art. 138, § 3º, I, II e III, do CP. DIFAMA-ÇÃO: cabível no caso de difamação contra funcionário público tendo a ofensa o exercício das funções. NÃO CABE NA IN-JÚRIA. 40 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado, p. 85.

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i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o pacien-te for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados; l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atri-buições para a prática de atos processuais; n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados; o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal; p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade; q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Pre-sidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal; r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Pú-blico; II - julgar, em recurso ordinário: a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção de-cididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; b) o crime político; III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última ins-tância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. § 1.º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.

1.4.2.1.a. Competência originária

a.1) infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República (artigo 102, I, b, CF/88) 41.

“Processo criminal contra ex-deputado federal. Competência originária. Inexistência de foro privi-legiado. Competência de juízo de 1º grau. Não mais do Supremo Tribunal Federal. Cancelamento da Súmula 394. Interpretando ampliativamente normas da Constituição Federal de 1946 e das Leis nºs 1.079/50 e 3.528/59, o Supremo Tribunal Federal firmou jurisprudência, consolidada na Sú-mula 394, segunda a qual, ‘cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competên-cia especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício’. A tese consubstanciada nessa Súmula não se refletiu na Constituição de 1988, ao menos às expressas, pois, no art. 102, I, b, estabeleceu competência originária do Su-premo Tribunal Federal, para processar e julgar ‘os membros do Congresso Nacional’, nos crimes comuns. Continua a norma constitucional não contemplando os ex-membros do Congresso Nacional, assim como não contempla o ex-Presidente, o ex-Vice-Presidente, o ex-Procurador-Geral da República, nem os ex-Ministros de Estado (art. 102, I, b e c). (...) Aliás,

41 Constituição segundo STF.

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a prerrogativa de foro perante a Corte Suprema, como expressa na Constituição brasileira, mesmo para os que se encontram no exercício do cargo ou mandato, não é encontradiça no Direito Cons-titucional Comparado. Menos, ainda, para ex-exercentes de cargos ou mandatos. Ademais, as prer-rogativas de foro, pelo privilégio, que, de certa forma, conferem, não devem ser interpretadas am-pliativamente, numa Constituição que pretende tratar igualmente os cidadãos comuns, como são, também, os ex-exercentes de tais cargos ou mandatos.” (STF, Inq 687-QO, Rel. Min. Sydney San-ches, DJ 09/11/01) “A competência penal originária do Supremo Tribunal Federal, para processar pedido de explica-ções em juízo, deduzido com fundamento na Lei de Imprensa (art. 25) ou com apoio no Código Penal (art. 144), somente se concretizará quando o interpelado dispuser, ratione muneris, da prerro-gativa de foro, perante a Suprema Corte, nas infrações penais comuns (CF, art. 102, I, b e c).” (STF, Pet 1.249-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 09/04/99) “O Supremo Tribunal Federal — mesmo tratando-se de pessoas ou autoridades que dispõem, em razão do ofício, de prerrogativa de foro, nos casos estritos de crimes comuns — não tem compe-tência originária para processar e julgar ações civis públicas que contra elas possam ser ajuizadas. Precedentes.” (STF, Rcl 1.110-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 07/12/99)

a.2) infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente42.

“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de definir a locução consti-tucional crimes comuns como expressão abrangente a todas as modalidades de infrações penais, estendendo-se aos delitos eleitorais e alcançando, até mesmo, as próprias contravenções penais.” (STF, Rcl 511, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 15/09/95) “Representação contra Ministro de Estado, imputando-lhe crime eleitoral. Competência do Su-premo Tribunal Federal, de acordo com o artigo 102, I, c da Constituição. Não se caracterizando crime eleitoral na conduta do representado, na fase de escolha de candidato pela convenção parti-dária.” (STF, Inq 449, Rel. Min. Carlos Madeira, DJ 25/08/89) “Supremo Tribunal Federal: competência penal originária: ação penal (ou interpelação preparatória dela) contra o Advogado-Geral da União, que passou a ser Ministro de Estado por força da última edição da MPr 2.049-20, de 29/06/2000.” (STF, Inq 1.660-QO, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 06/06/03) “Para efeito de definição da competência penal originária do Supremo Tribunal Federal, não se consideram Ministros de Estado os titulares de cargos de natureza especial da estrutura orgânica da Presidência da República, malgrado lhes confira a lei prerrogativas, garantias, vantagens e direi-tos equivalentes aos dos titulares dos Ministérios: é o caso do Secretário Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República. Precedente: Inq 2.044-QO, Pleno, Pertence, 17/12/2004.” (STF, Rcl 2.356-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 10/06/05)

Equiparação do cargo de natureza especial de Presidente do Banco Central ao cargo de Ministro de Estado.

“Ação direta de inconstitucionalidade contra a Medida Provisória nº 207, de 13 de agosto de 2004 (convertida na Lei nº 11.036/2004), que alterou disposições das Leis 10.683/03 e 9.650/98, para equiparar o cargo de natureza especial de Presidente do Banco Central ao cargo de Ministro de Es-tado. Prerrogativa de foro para o Presidente do Banco Central. Ofensa aos arts. 2º; 52, III, d; 62, § 1º, I, b, § 9º; 69 e 192; todos da Constituição Federal. Natureza política da função de Presidente do Banco Central que autoriza a transferência de competência. Sistemas republicanos comparados possuem regulamentação equivalente para preservar garantias de independência e imparcialidade. Inexistência, no texto constitucional de 1988, de argumento normativo contrário à regulamentação infraconstitucional impugnada. Não-caracterização de modelo linear ou simétrico de competências

42 Constituição segundo STF.

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por prerrogativa de foro e ausência de proibição de sua extensão a Presidente e ex-Presidentes de Banco Central. Sistemas singulares criados com o objetivo de garantir independência para cargos importantes da República: Advogado-Geral da União, Comandantes das Forças Armadas, Chefes de Missões Diplomáticas. Não-violação do princípio da separação de poderes, inclusive por causa da participação do Senado Federal na aprovação dos indicados ao cargo de Presidente e Diretores do Banco Central (art. 52, III, d, da CF/88). Prerrogativa de foro como reforço à independência das funções de poder na República adotada por razões de política constitucional. Situação em que se justifica a diferenciação de tratamento entre agentes políticos em virtude do interesse público evidente. Garantia da prerrogativa de foro que se coaduna com a sociedade hipercomplexa e plura-lista, a qual não admite um código unitarizante dos vários sistemas sociais. Ação direta de inconsti-tucionalidade julgada improcedente”. (STF, ADI 3.289 e ADI 3.290, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 24/02/06)

a.3) habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas a, b, ou c do artigo 102, I da CF/88; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal43.

Súmula 510 STF “Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial”. Súmula 622 “Não cabe agravo regimental contra decisão do relator que concede ou indefere limi-nar em mandado de segurança”. Súmula 624 “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer originariamente de mandado de segurança contra atos de outros tribunais”. “Comissão Parlamentar de Inquérito — Competência originária do Supremo Tribunal Fede-ral. Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, em sede originária, manda-dos de segurança e habeas corpus impetrados contra Comissões Parlamentares de Inqué-rito constituídas no âmbito do Congresso Nacional ou no de qualquer de suas Casas. É que a Comissão Parlamentar de Inquérito, enquanto projeção orgânica do Poder Legislativo da União, nada mais é senão a longa manus do próprio Congresso Nacional ou das Casas que o com-põem, sujeitando-se, em conseqüência, em tema de mandado de segurança ou de habeas corpus, ao controle jurisdicional originário do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, d e i).” (STF, MS 23.452, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 12/05/00) (g.n.) “O Supremo Tribunal Federal é manifestamente incompetente para julgar mandado de segurança contra decisões de juizados especiais, diversamente do que ocorre em relação a habeas corpus. É o que a Corte, interpretando o restritivo rol de suas competências constitucio-nais, extraiu do sentido do disposto no art. 102, I, d, da Constituição Federal. Nesse sentido, reite-radas decisões, a saber: MS 24.691-QO (Rel. para o acórdão min. Sepúlveda Pertence, Pleno, j. 04/12/03), MS 24.674 (Rel. para o acórdão min. Carlos Velloso, Pleno, j. 04/12/03), MS 24.516-AgR (Rel. min. Sepúlveda Pertence, Pleno, j. 31/03/04), MS 25.173 (Rel. min. Gilmar Mendes, DJ 25/02/05) e MS 25.412 (Rel. min. Celso de Mello, DJ 24/06/05).” (STF, MS 25.523, Rel. Min. Jo-aquim Barbosa, DJ 16/09/05). No mesmo sentido: STF, MS 25.544-MC, Rel. Min. Celso de Mel-lo, DJ 23/09/05. (g.n.)

a.4) habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o pacien-te for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância44.

Súmula 208 STF “O assistente do Ministério Público não pode recorrer, extraordinariamente, de decisão concessiva de habeas corpus”.

43 Constituição segundo STF. 44 Constituição segundo STF.

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Súmula 395 STF “Não se conhece de recurso de habeas corpus cujo objeto seja resolver sobre o ô-nus das custas, por não estar mais em causa a liberdade de locomoção”. Súmula 606 STF “Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisão de Turma, ou do Plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso”. Súmula 690 STF “Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus contra decisão de Turma recursal de juizados especiais criminais”.45 Súmula 691 STF “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar”. Súmula 693 STF “Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada”. Súmula 694 STF “Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública”. Súmula 695 STF “Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade”. “Compete originariamente ao STF — e não ao STJ — processar e julgar habeas corpus contra acór-dão de Tribunal de Justiça, que indeferiu revisão criminal requerida pelo paciente (art. 102, I, i, da CF).” (STF, HC 67.867, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 27/04/90) “Habeas corpus contra ato de desembargadores como juiz de instrução em ação penal originária. Competência. Em face da atual Constituição Federal, a competência para processar e julgar origi-nariamente habeas corpus contra ato de desembargador é do Superior Tribunal de Justiça (inter-pretação dos artigos 102, I i, e 105, I, c, da Carta Magna).” (STF, HC 67.854, Rel. Min. Moreira Al-ves, DJ 01/06/90) (g.n.) “Habeas corpus: incompetência do STF para conhecer originariamente do HC no qual se imputa co-ação ao Procurador-Geral da Justiça Militar e ao Procurador-Corregedor da Justiça Militar (CF, art. 102, I, i).” (STF, HC 86.296-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 16/09/05) “Como já ressaltei em outras oportunidades, há muito a jurisprudência do Supremo Tribunal ad-mite a possibilidade de extensão ou ampliação de sua competência expressa quando esta resulta implícita no próprio sistema constitucional. (...). De igual modo, no que se refere à competência do STF, adotou-se a interpretação extensiva ou compreensiva do texto constitucional, nas seguintes hipóteses: (...) e) O Tribunal, ao examinar a Questão de Ordem no HC 78.897/RJ, Plenário, em sessão de 09/06/99, Rel. Nelson Jobim, ‘entendeu que o STF é competente para examinar pedido de habeas corpus contra acórdão do STJ que indeferiu recurso ordinário de habeas corpus. Considerou-se que o STF é a última instância de defesa da liberdade de ir e vir do cidadão, podendo qualquer decisão do STJ, desde que configurado o constrangimento i-legal, ser levada ao STF”. (Informativo STF 152).” (STF, Pet 3.433, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 01/08/05) (g.n.) “Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, pedido de habeas cor-pus, quando impetrado contra o Ministro da Justiça, se o writ tiver por objetivo impedir a instaura-ção de processo extradicional contra súdito estrangeiro. É que, em tal hipótese, a eventual conces-são da ordem de habeas corpus poderá restringir (ou obstar) o exercício, pelo Supremo Tribunal Fe-deral, dos poderes que lhe foram outorgados, com exclusividade, em sede de extradição passiva,

45 Em posição contrária a sua própria súmula o Supremo Tribunal Federal em 23/08/06, decidiu: “O Plenário do Supremo Tri-bunal Federal (STF) decidiu, por oito votos a três, declinar da competência para julgar habeas corpus impetrado contra decisão de Turma Recursal. A decisão foi adotada no julgamento do Habeas Corpus (HC) 86834, impetrado por Miguel Ân-gelo Micas contra a Turma Recursal do Juizado Especial Criminal da Comarca de Araçatuba, município do Estado de São Pau-lo” (...) “Dessa forma, nos termos do voto do relator, a interpretação de que se deve seguir a hierarquia funcional dos tribunais e, por isso, o processamento de habeas impetrado contra decisão de Turma Recursal nos Tribunais de Justiça foi vencedor.” (STF, HC 86834, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 23/08/06). (g.n.)

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pela Carta Política (CF, art. 102, I, g). Conseqüente inaplicabilidade, à espécie, do art. 105, I, c, da Constituição. Precedentes.” (STF, HC 83.113-QO, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 29/08/03)

a.5) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados. Súmula 249 STF “É competente o Supremo Tribunal Federal para a ação rescisória, quando, em-bora não tendo conhecido do recurso extraordinário, ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questão federal controvertida”. Súmula 515 STF “A competência para a ação rescisória não é do Supremo Tribunal Federal, quando a questão federal, apreciada no recurso extraordinário ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisório”.

1.4.2.1.b. Competência em grau de recurso

b.1) habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção de-cididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão.

Súmula 691 STF “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar”. “A Turma deferiu habeas corpus, impetrado contra decisões denegatórias de pedidos liminares for-mulados em idênticas medidas perante o STJ, para revogar prisão preventiva decretada contra de-nunciado pela suposta prática dos crimes de corrupção ativa (CP, art. 333) e associação para o trá-fico (Lei 6.368/76, art. 14). Tendo em conta as peculiaridades do caso, afastou-se a aplicação do enunciado da Súmula 691 do STF, por se entender presente manifesto excesso de prazo na prisão cautelar do paciente, em ofensa à garantia fundamental da razoável duração do processo (CF, art. 5º, inc. LXXVIII, introduzido pela EC 45/2004).” (STF, HC 87.164, Rel. Min. Gilmar Mendes, Informativo 422) (g.n.)

b.2) o crime político. “O Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu que, para configuração do crime político, pre-visto no parágrafo único do art. 12 da Lei nº 7.170/83, é necessário, além da motivação e os obje-tivos políticos do agente, que tenha havido lesão real ou potencial aos bens jurídicos indicados no art. 1º da citada Lei nº 7.170/83. Precedente: RCR 1.468-RJ, Maurício Corrêa para acórdão, Plená-rio, 23/3/2000.” (STF, RC 1.470, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 19/04/02)

1.4.2.1.c. Competência para julgar, mediante recurso extraordinário

As causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

c.1) contrariar dispositivo da Constituição Federal;

c.2) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

c.3) julgar válido lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição Federal;

c.4) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. Súmula 634 STF “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem”. Súmula 653 STF “Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de admissibilidade”.

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1.4.2.2. Competência do Superior Tribunal de Justiça

A sua competência encontra-se delimitada pelo artigo 105 da Constituição Federal. Julga crimes comuns de Governadores, Vice-governadores (depende da Constituição Estadual), Desembargadores, Juí-zes do TRFs, TREs, TRTs...

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Dis-trito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Públi-co da União que oficiem perante tribunais; b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, ‘o’, bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diver-sos; e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados; f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre au-toridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da União; h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de ór-gão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal; i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias; II - julgar, em recurso ordinário: a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a deci-são for denegatória; b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País; III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Terri-tórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

1.4.2.2.a. Competência originária

a.1) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais46.

46 Constituição segundo STF.

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“A Turma indeferiu habeas corpus impetrado por Juiz Federal denunciado com terceiros, com base em investigações procedidas na denominada ‘Operação Anaconda’, pela suposta prática dos crimes de formação de quadrilha, falsidade ideológica, peculato, corrupção passiva e prevaricação (CP, arts. 288; 299; 312; 317, caput e 319, respectivamente). Alegava-se, na espécie, a ocorrência de constrangimento ilegal pelas seguintes razões: a) incompetência absoluta do TRF da 3ª Região para julgar os fatos imputados ao paciente-impetrante, tendo em vista a suposta participação de Subprocurador-Geral da República nos fatos investigados, o que, por força do art. 105, I, a, da CF implicaria a competência originária do STJ (...)”. (STF, HC 84.301, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Informativo 369) (g.n.) “A expressão crime comum, na linguagem constitucional, é usada em contraposição aos impropri-amente chamados crimes de responsabilidade, cuja sanção é política, e abrange, por conseguinte, todo e qualquer delito, entre outros, os crimes eleitorais. Jurisprudência antiga e harmônica do STF. Competência originária do Superior Tribunal de Justiça para processar e julgar Go-vernador de Estado acusado da prática de crime comum, Constituição, art. 105, I, a”. (STF, CJ 6.971, Rel. Min. Paulo Brossard, DJ 21/02/92) (g.n.) “A responsabilidade dos governantes tipifica-se como uma das pedras angulares essenciais à confi-guração mesma da idéia republicana (RTJ 162/462-464). A consagração do princípio da responsa-bilidade do Chefe do Poder Executivo, além de refletir uma conquista básica do regime democrá-tico, constitui conseqüência necessária da forma republicana de governo adotada pela Constituição Federal. O princípio republicano exprime, a partir da idéia central que lhe é subjacente, o dogma de que todos os agentes públicos, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, em particular, são igualmente responsáveis perante a lei. Responsabilidade penal do governador do estado. Os Governadores de Estado, que dispõem de prerrogativa de foro ratione muneris, perante o Superior Tribunal de Justiça estão sujeitos, uma vez obtida a necessária licença da respec-tiva Assembléia Legislativa (RTJ 151/978-979 - RTJ 158/280 — RTJ 170/40-41 — Lex/Jurisprudência do STF 210/24-26), a processo penal condenatório, ainda que as infra-ções penais a eles imputadas sejam estranhas ao exercício das funções governamentais”. (STF, HC 80.511, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 14/09/01)

a.2) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados.

Vice-governador do estado do Rio Grande do Sul deverá ser julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado, segundo artigo 95, X da Constituição do Estado.

Art. 95 Ao Tribunal de Justiça, além do que lhe for atribuído nesta Constituição e na lei, compete: (...) X - processar e julgar o Vice-Governador nas infrações penais comuns;

1.4.2.3. Competência dos Tribunais Regionais Federais

A sua competência encontra-se delimitada pelo artigo 108, da Constituição Federal. Pelo princípio da regionalidade serão julgados pelos TRFs os Juizes Federais, do Trabalho, Procurador da República, Procurador Regional do Trabalho, Prefeitos e Deputado Estaduais47 quando cometerem crimes federais.

Súmula 702 STF “A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos cri-mes de competência da Justiça Comum Estadual; nos demais casos, a competência originária cabe-rá ao respectivo tribunal de segundo grau”. Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Traba-lho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, res-salvada a competência da Justiça Eleitoral; b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região; c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal;

47 A imunidade que a CF prevê para o Deputado Estadual só pode ser aplicada no TJ, ou seja, se o crime for federal não é ne-cessário comunicar a Assembléia.

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d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal; e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal; II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de traba-lho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domicili-ada ou residente no País; III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou inte-resse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no Pa-ís, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o siste-ma financeiro e a ordem econômico-financeira; VII – os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento pro-vier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Mi-litar; X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionali-dade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI - a disputa sobre direitos indígenas. § 1º - As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte. § 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal. § 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou be-neficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual. § 4º - Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau. § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Jus-tiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.

1.4.2.3.a. Competência originária

a.1) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

“A jurisprudência desta Casa de Justiça firmou a orientação de que, em regra, a competência para o julgamento de habeas corpus contra ato de autoridade é do Tribunal a que couber a apreciação da a-ção penal contra essa mesma autoridade. Precedente: RE 141.209, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence (Primeira Turma). Partindo dessa premissa, é de se fixar a competência do Tribunal Re-gional Federal da 1ª Região para processo e julgamento de ato de Promotor de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios com atuação na primeira instância. Com efeito, a garantia do juízo natu-ral, proclamada no inciso LIII do art. 5º da Carta de outubro, é uma das mais eficazes condições

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de independência dos magistrados. Independência, a seu turno, que opera como um dos mais cla-ros pressupostos de imparcialidade que deles, julgadores, se exige. Pelo que deve prevalecer a regra específica de competência constitucional criminal, extraída da interpretação do caput do art. 128 c/c o caput e a alínea d do inciso I do art. 108 da Magna Carta, em face da regra geral prevista no art. 96 da Carta de outubro. Precedente da Segunda Turma: RE 315.010, Relator o Ministro Néri da Silveira. Outras decisões singulares: RE 352.660, Relator o Ministro Nelson Jobim, e RE 340.086, Relator o Ministro Ilmar Galvão”. (STF, RE 418.852, Rel. Min. Carlos Britto, DJ 10/03/06)

a.2) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região.

a.3) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal. “Habeas corpus contra decreto de prisão civil de Juiz do Trabalho: coação atribuída ao Tribunal Re-gional do Trabalho: coexistência de acórdãos diversos para o mesmo caso, emanados de tribunais de idêntica hierarquia (STJ e TST): validade do acórdão do STJ, no caso, dado que as impetrações foram julgadas antes da EC 45/04. Até a edição da EC 45/04, firme a jurisprudência do Tribunal em que, sendo o habeas corpus uma ação de natureza penal, a competência para o seu julgamento ‘será sempre de juízo criminal, ainda que a questão material subjacente seja de natureza civil, como no caso de infidelidade de depositário, em execução de sentença’; e, por isso, quando se imputa coação a Juiz do Trabalho de 1º Grau, compete ao Tribunal Regional Federal o seu julgamento, dado que a Justiça do Trabalho não possui competência criminal (v.g., CC 6.979, 15/8/91, Vello-so, RTJ 111/794; HC 68.687, 2ª T., 20/8/91, Velloso, DJ 4/10/91)”. (STF, HC 85.096, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 14/10/05)

1.4.2.4. Competência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul48

A sua competência encontra-se delimitada pelos artigos 93 e 95, ambos da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul.

Art. 93 - Compete aos Tribunais de segunda instância, além do que lhes for conferido em lei: (...) V - processar e julgar: a) as habilitações incidentes nas causas sujeitas a seu conhecimento; b) os embargos de declaração apresentados a suas decisões; c) os mandados de segurança, mandados de injunção e habeas data contra atos do próprio Tribunal, de seu Presidente e de suas Câmaras ou Juízes; d) os embargos infringentes de seus julgados e os opostos na execução de seus acórdãos; e) as ações rescisórias de seus acórdãos e as respectivas execuções; f) a restauração de autos extraviados ou destruídos, de sua competência; g) os pedidos de revisão e reabilitação relativos às condenações que houverem proferido; h) as medidas cautelares, nos feitos de sua competência originária; i) a uniformização de jurisprudência; j) os conflitos de jurisdição entre Câmaras do Tribunal; l) a suspeição ou o impedimento, nos casos de sua competência; (...) VIII - processar e julgar, nos feitos de sua competência recursal:

48 “O Órgão Especial do TJRS aprovou, em sessão administrativa realizada nesta segunda-feira (28/08/06), nova distribuição de matérias entre as Câmaras Criminais. O texto alterando os dispositivos contidos na Resolução nº 1/98 objetiva sanar desequilí-brio observado na distribuição entre as Câmaras integrantes do 3º e 4º Grupos e as do 1º e 2º Grupos Criminais. As 1ª, 2ª e 3ª Câmaras Criminais, além da competência atual, passarão a julgar os processos relativos aos crimes da Lei de Armas, crimes de trânsito e crimes contra a honra. A 4ª Câmara Criminal passará também a ter a competência recursal para julgamento de cri-mes contra a fé pública, falimentares e contra a propriedade intelectual.Os recursos relativos aos delitos de furto e roubo em todas as suas modalidades serão distribuídos a todas as oito Câmaras Criminais do TJRS e atuarão como fator de equalização na igualdade da distribuição entre os Desembargadores. Quanto aos demais crimes contra o patrimônio, continuarão a serem apre-ciados pelas 5ª, 6ª, 7ª e 8ª Câmaras Criminais”. (g.n.)

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a) os habeas corpus e os mandados de segurança contra os atos dos juízes de primeira ins-tância; b) os conflitos de competência entre os juízes de primeira instância; c) a restauração de autos extraviados ou destruídos; d) as ações rescisórias de sentença de primeira instância; e) os pedidos de correição parcial; f) a suspeição de Juízes por estes não reconhecida; (...) Art. 95 - Ao Tribunal de Justiça, além do que lhe for atribuído nesta Constituição e na lei, compete: (...) X - processar e julgar o Vice-Governador nas infrações penais comuns; XI - processar e julgar, nas infrações penais comuns, inclusive nas dolosas contra a vida, e nos crimes de responsabilidade, os Deputados Estaduais, os Juízes estaduais, os membros do Ministério Público estadual, os Prefeitos Municipais, o Procurador-Geral do Estado e os Secretários de Estado, ressalvado, quanto aos dois últimos, o disposto nos incisos VI e VII do art. 53; XII - processar e julgar: a) os habeas corpus, quando o coator ou o paciente for membro do Poder Legislativo es-tadual, servidor ou autoridade cujos atos estejam diretamente submetidos à jurisdição do Tribunal de Justiça, quando se tratar de crime sujeito a esta mesma jurisdição em única instância, ou quando houver perigo de se consumar a violência antes que outro Juiz ou Tribunal possa conhecer do pedido; b) os mandados de segurança, os habeas data e os mandados de injunção contra atos ou omissões do Governador do Estado, da Assembléia Legislativa e seus órgãos, dos Secretários de Estado, do Tribunal de Contas do Estado e seus órgãos, dos Juízes de primeira instância, dos membros do Ministério Público e do Procurador-Geral do Estado; c) a representação oferecida pelo Procurador-Geral de Justiça para assegurar a observância dos princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, ordem ou decisão judicial, para fins de intervenção do Estado nos Municípios; d) a ação direta da inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual perante esta Constitui-ção, e de municipal perante esta e a Constituição Federal, inclusive por omissão; (ADIn 409-3) e) os mandados de injunção contra atos ou omissões dos Prefeitos Municipais e das Câmaras de Vereadores; XIII - julgar, em grau de recurso, matéria cível e penal de sua competência; (...)

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1.4.2.5. Função e Competência

Função Crime comum Crime de responsabilidade

Presidente da República STF Senado Federal Vice-presidente STF Senado Federal Senador STF Senado Federal Deputado Federal STF Câmara dos Deputados Ministros STF STF49 Procurador-Geral da República STF Senado Federal Advogado-Geral da União STF Senado Federal Ministro do STF STF STF Ministro do STJ, TSM e TST STF STF Membros do CNJ STF Senado Federal Membros do CNMP STF Senado Federal Missão Diplomática permanente STF STF Juízes Federais ou Membro do MPF TRF TRF Desembargador Federal (EC/45) STJ STJ Membro do MP que atua no TRF50 STJ STJ Desembargador Estadual STJ STJ Conselheiro do TCE STJ STJ Governador do RS51 STJ Assembléia Legislativa52

49 Exceto se conexo com Presidente da República, pois nesse caso será julgado pelo Senado. 50 “Os membros do Ministério Público da União, que atuam perante quaisquer Tribunais judiciários, estão sujeitos à jurisdição penal originária do Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I, a, in fine), a quem compete processá-los e julgá-los nos ilícitos penais comuns, ressalvada a prerrogativa de foro do Procurador-Geral da República, que tem, no Supremo Tribunal Federal, o seu juiz natural. (CF, art. 102, I, b). A superveniente investidura do membro do Ministério Público da União, em cargo ou em função por ele efetivamente exercido ‘perante tribunais’, tem a virtude de deslocar, ope constitutionis, para o Superior Tribunal de Justiça, a competência originária para o respectivo processo penal condenatório, ainda que a suposta prática delituosa tenha ocorrido quando o Procurador da República se achava no desempenho de suas atividades perante magistrado federal de primei-ra instância.” (STF, HC 73.801, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 27/06/97). 51 “A jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal, atenta ao Princípio da Federação, impõe que a instauração de per-secução penal, perante o Superior Tribunal de Justiça, contra Governador de Estado, por supostas práticas delituosas perseguí-veis mediante ação penal de iniciativa pública ou de iniciativa privada, seja necessariamente precedida de autorização legislativa, dada pelo Poder Legislativo local, a quem incumbe, com fundamento em juízo de caráter eminentemente discricionário, exercer verdadeiro controle político prévio de qualquer acusação penal deduzida contra o Chefe do Poder Executivo do Estado-Membro, compreendidas, na locução constitucional ‘crimes comuns’, todas as infrações penais (RTJ 33/590 — RTJ 166/785-786), inclusive as de caráter eleitoral (RTJ 63/1 — RTJ 148/689 — RTJ 150/688-689), e, até mesmo, as de natureza meramente contravencional (RTJ 91/423). Essa orientação - que submete, à Assembléia Legislativa local, a avaliação política sobre a conve-niência de autorizar-se, ou não, o processamento de acusação penal contra o Governador do Estado - funda-se na circunstância de que, recebida a denúncia ou a queixa-crime pelo Superior Tribunal de Justiça, dar-se-á a suspensão funcional do Chefe do Poder Executivo estadual, que ficará afastado, temporariamente, do exercício do mandato que lhe foi conferido por voto popu-lar, daí resultando verdadeira ‘destituição indireta de suas funções’, com grave comprometimento da própria autonomia político-institucional da unidade federada que dirige.” (STF, HC 80.511, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 14/09/01).

“Processamento e julgamento de crime comum, atribuído ao governador. Art. nº 107 da Constituição Estadual, que condicio-na o respectivo processamento e julgamento a admissão da acusação por 2/3 dos membros da Assembléia Legislativa. Consti-tucionalidade reconhecida pelo Superior Tribunal de Justiça. Decisão que teria ofendido os arts. 25; 51, I; 86 e 105, I, da Consti-tuição Federal. Alegação descabida. A norma do art. 105, I, a, primeira parte, da Constituição Federal, que prevê a competência do Superior Tribunal de Justiça para processar e julgar os crimes em referência, não pode ser interpretada senão em consonân-cia com o principio da autonomia dos Estados-Membros, e, portanto, sem contrariedade ao disposto no art. 25, da mesma Car-ta, segundo o qual serão eles organizados e regidos pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios estabeleci-dos no Texto Fundamental Federal, entre os quais figura, desenganadamente, o de que o julgamento do Chefe do Poder Execu-tivo há de ser precedido de manifestação política do Poder Legislativo (art. 51, I), que diga da conveniência, ou não, de que se

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Vice-governador RS TJ53 Assembléia Legislativa54 Procurador-Geral de Justiça, o Procurador-Geral do Estado e o Titular da Defensoria Pública

TJ55 Assembléia Legislativa56

Deputados Estaduais TJ TJ Juízes Estaduais TJ TJ Membro do MP Estadual TJ TJ Prefeitos TJ57 TJ58 Prefeito (Crime contra União) Há posição jurisprudencial de ser TRF. Prefeito (Crime Eleitoral) Há posição jurisprudencial de ser TRE. Vereador Não possuem prerrogativa de Função.

proceda contra quem exerce a suprema magistratura do Estado, com risco de perda da liberdade e, pois, de destituição indireta de suas funções.” (STF, RE 153.968, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 10/12/93).

“A necessidade da autorização prévia da Assembléia Legislativa não traz o risco, quando negadas, de propiciar a impunidade dos delitos dos Governadores: a denegação traduz simples obstáculo temporário ao curso de ação penal, que implica, enquanto durar, a suspensão do fluxo do prazo prescricional. Precedentes do Supremo Tribunal (RE 159.230, Pl, 28/03/94, Pertence, RTJ 158/280; HHCC 80.511, 2ª T., 21/08/01, Celso, RTJ 180/235; 84.585, Jobim, desp., DJ 04/08/04). A autorização da As-sembléia Legislativa há de preceder à decisão sobre o recebimento ou não da denúncia ou da queixa. Com relação aos Governa-dores de Estado, a orientação do Tribunal não é afetada pela superveniência da EC 35/01, que aboliu a exigência da licença prévia antes exigida para o processo contra membros do Congresso Nacional, alteração que, por força do art. 27, § 1º, da Cons-tituição alcança, nas unidades federadas, os Deputados Estaduais ou Distritais, mas não os Governadores.” (STF, HC 86.015, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 02/09/05). 52 Art. 53, VI da Constituição Estadual: VI - processar e julgar o Governador e o Vice-Governador do Estado nos crimes de responsabilidade, e os Secretários de Estado nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; VII - processar e julgar o Procurador-Geral de Justiça, o Procurador-Geral do Estado e o Titular da Defensoria Pública nos crimes de responsabilidade. 53 Art. 95, X da Constituição Estadual: X - processar e julgar o Vice-Governador nas infrações penais comuns. 54 Art. 53, VI da Constituição Estadual. 55 Art. 95, XI da Constituição Estadual. XI - processar e julgar, nas infrações penais comuns, inclusive nas dolosas contra a vida, e nos crimes de responsabilidade, os Deputados Estaduais, os Juízes Estaduais, os membros do Ministério Público estadual, os Prefeitos Municipais, o Procurador-Geral do Estado e os Secretários de Estado, ressalvado, quanto aos dois últimos, o disposto nos incisos VI e VII do art. 53. 56 Art. 53, VI da Constituição Estadual. 57 Art. 95, XI da Constituição Estadual, inclusive crime doloso contra a vida. 58 Art. 95, XI da Constituição Estadual.

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1.4.3. Foro Territorial Competente (competência de foro)

1.4.3.1. Local da Infração

Segundo preceitua o artigo 70 do CPP, o foro competente para processar e julgar é o do lugar on-de vier a se consumar a infração, o que não quer dizer o exaurimento da infração penal. Nos crimes de mera conduta e nos formais o local da consumação é o próprio local da conduta, nos materiais, omissivos impróprios e culposos no local do resultado. Nos omissivos próprios no local da omissão.

A incompetência territorial, segundo a jurisprudência majoritária, deve ser requerida pela parte em momento oportuno, caso contrário haverá a prorrogação da competência.

Súmula 33 STJ “A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”. “Pleito de extinção da punibilidade, bem como de concessão de perdão judicial. Temas que não foram objeto de debate e decisão pelo Tribunal a quo. O exame da matéria por esta Corte ocasio-naria indevida supressão de instância. Tratando-se de incompetência relativa, cabe à defesa opor a respectiva exceção, no prazo legal, sob pena de preclusão, prorrogando-se a com-petência firmada. A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício (Súmula 33/STJ). (...)”. (STJ, HC 31032, Rel. Min. Gilson Dipp, DJ 14/06/04) “A inobservância da competência ratione loci pode ocasionar nulidade relativa, que, não sofrendo impugnação no momento oportuno (art. 108 do CPP), com a demonstração do efetivo prejuízo, ficaria abrangida pela preclusão e conseqüente prorrogação do juízo. (Precedentes). Ordem dene-gada”. (STJ, HC 53457, Rel. Min. Felix Fischer, DJ 02/05/06)

Concordamos com a crítica trazida por Fauzi Hassan Choukr59, pois não há como subsistir a natu-reza relativa da competência territorial no sistema processual acusatório, porque se tratando de resquícios da teoria geral do processo, a qual confunde processo penal com processo civil. Sendo a competência pe-nal matéria de ordem pública, é absolutamente improrrogável, uma vez que o princípio do juiz natural é um direito fundamental, não cabendo sua flexibilização.

CASOS ESPECIAIS:

Estelionato sob a modalidade de cheque sem fundo: local da recusa do pagamento pelo saca-do.

Súmula 521 STF “O foro competente para o processo e o julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado”.

Apropriação indébita: no local em que o agente inverte a posse em propriedade, isto é, quando exterioriza seu “animus rem sibi habendi”.

Falso testemunho por precatória: no local do ato falso. No caso de falso testemunho no próprio local da ação principal, considera-se este o local do fato, portanto, local para processar e julgar o delito.

Acidentes de trânsito: no local do resultado. Há, contudo, decisões em contrário, isto é, possibili-tando o ajuizamento da ação não no local do resultado, mas, sim, no local do acidente de trânsito. Exem-plo de homicídio culposo de trânsito na comarca A, porém o cidadão só vem a falecer na cidade B.60

59 Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, p. 171. 60 Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, p. 173.

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Crimes de imprensa: local da impressão do jornal ou da estação da rádio ou televisão, segundo artigo 4261 da lei 5.250/67.

“Competência do Juiz do lugar onde estão localizadas a redação e administração do veículo de comunicação em que publicadas as alegadas ofensas. Art. 42 da Lei nº 5.250/67. Nulidade do pro-cesso”. (STF, HC nº 75.477-5, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 10/10/97).

Duplicata simulada: a consumação somente se dá quando as notas são postas em circulação, isto é, quando apresentadas à outra pessoa jurídica.

Frustração de direito assegurado por lei trabalhista: no local em que o detentor do direito está impedido de exercê-lo.

Crime de genocídio: não é de competência do Tribunal do Júri e, sim, do juízo singular. Tal cri-me, previsto na lei 2.889/56, não é um crime doloso contra a vida; o bem juridicamente protegido por esta norma é a existência de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, protegendo bem supranacional ou coletivo e, sendo assim, seu julgamento não se dará pelo Tribunal do Júri, salvo se o delito de genocídio estiver em conexão com algum delito doloso contra a vida.

“Inicialmente, asseverou-se que o objeto jurídico tutelado imediatamente pelos crimes dolosos contra a vida difere-se do bem protegido pelo crime de genocídio, o qual consiste na existência de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Assim, não obstante a lesão à vida, à integridade físi-ca, à liberdade de locomoção etc. serem meios de ataque a esse objeto jurídico, o direito positivo pátrio protege, de modo direto, bem jurídico supranacional ou coletivo. Logo, no genocídio, não se está diante de crime contra a vida e, por conseguinte, não é o Tribunal do Júri o órgão compe-tente para o seu julgamento, mas, sim, o juízo singular. Desse modo, não se negou, no caso, ser a Justiça Federal competente para a causa. Ademais, considerou-se incensurável o entendimento conferido pelas instâncias inferiores quanto ao fato de os diversos homicídios praticados pelos re-correntes reputarem-se uma unidade delitiva, com a conseqüente condenação por um só crime de genocídio. Esclareceu-se, no ponto, que, para a legislação pátria, a pena será única para quem pra-tica as diversas modalidades de execução do crime de genocídio, mediante repetições homogêneas ou não, haja vista serem consideradas como um só ataque ao bem jurídico coletivo. Ressaltou-se, ainda, que, apesar da cominação diferenciada de penas (Lei 2.889/56, art. 1º), a hipótese é de tipo misto alternativo, no qual cada uma das modalidades, incluídos seus resultados materiais, só signi-fica distinto grau de desvalor da ação criminosa”. RE 351487/RR, rel. Min. Cezar Peluso, 3.8.2006. (RE-351487) Informativo 434 STF.

Crimes penais de menor potencial ofensivo: local da prática da infração (conduta), segundo ar-tigo 6362 da lei 9.099/95 c/c artigo 2º da lei 10.259/01.

Tentativa: no local em que se deu o último ato de execução.

Crime cometido entre duas comarcas: a competência se dará pela prevenção, segundo artigo 83 do CPP.

Crime iniciado no território nacional, porém com consumação no estrangeiro: a competên-cia será do local em que se deu o último ato de execução no território brasileiro ou o local em que produ-ziu o resultado no território brasileiro.

Crime cometido no estrangeiro: nos crimes praticados fora do território brasileiro, será compe-tente o juízo da Capital do Estado de sua última residência. Em caso de nunca ter residido no território brasileiro, será competente o juízo do Distrito Federal, segundo artigo 88 do CPP.

61 Art. 42. Lugar do delito, para a determinação da competência territorial, será aquele em que for impresso o jornal ou periódi-co, e o do local do estúdio do permissionário ou concessionário do serviço de radiodifusão, bem como o da administração prin-cipal da agência noticiosa.

Parágrafo único. Aplica-se aos crimes de imprensa o disposto no art. 85, do Código de Processo Penal. 62 Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal.

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Crime cometido a bordo de navio ou avião: competência da Justiça Federal do local de onde partiu ou decolou ou atracou ou pousou, segundo artigos 89 e 90 do CPP.

Crime continuado: se o crime continuado envolver várias comarcas, a competência se dará pela prevenção, segundo artigo 71 do CPP. Se forem julgados em separado, a continuidade delitiva deverá ser reconhecida em fase de execução.

Crime permanente: se o crime permanente envolver várias comarcas, a competência se dará pela prevenção, segundo artigo 71 do CPP.

“O delito de receptação na modalidade de transportar é crime permanente: a consumação se pro-trai no tempo. A prevenção surge como a solução para determinar a competência (CPP, art. 71). Agravo regimental provido”. (STJ, AgRg no CC 29566, Rel. Min. Laurita Vaz, DJ 10/03/03)

1.4.3.2. Local do Domicílio63 ou Residência64 do Réu (Norma Subsidiária)

A norma do artigo 72 do CPP compreende determinação subsidiária que somente pode ser aplica-da quando não se souber o local da consumação da infração penal. Se ocorrer um delito sobre o qual não se consegue precisar a comarca em foi consumado, mas se conhece o autor, então se utiliza esta norma, ou seja, será ajuizada a ação no local do domicílio ou residência do réu.

Se o acusado possuir mais de uma residência, a competência se dará pela prevenção, segundo o ar-tigo 72, § 1º do CPP.

Se não tiver residência, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato, segundo artigo 72, § 2º do CPP.

IMPORTANTE

Nas ações penais privadas, a regra é alternativa, ou seja, o querelante poderá optar entre o local da infração ou do domicílio do querelado, segundo artigo 73 do CPP.

1.4.4. Vara Competente (competência de juízo)

Trata-se de matéria na qual não se analisa o foro, mas, sim, quais as varas competentes para julgar determinada infração penal.

Tribunal do Júri: a sua competência está elencada na Constituição Federal, em seu art. 5º, XXXVIII, d, ou seja, julgar os crimes dolosos contra a vida (artigos 121 a 128 do CP), bem como seus conexos. O Tribunal do Júri pode ser Federal ou Estadual, dependendo da Justiça competente.

Juizados Especiais Criminais: por um lado, todos os crimes com pena máxima não superior a dois anos ou multa, segundo nova redação dada pela lei 11.313/06 a lei 9.099/95. Exceção: Nos crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher, a competêcia dos Juizados Especiais Criminais só atinge aos crimes praticados até 21/09/0665. Após, a competência será dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher66, segundo a lei 11.340/06, e, enquanto estes não estiverem estruturados, a

63 Local que reside com ânimo definitivo de ter sua base. 64 Local que reside sem ânimo definitivo. 65 Lei 11.340/06 Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. 66 Lei 11.340/06 Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência do-méstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual perti-nente.

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competência será das varas criminais que acumularão as competências cível e criminal, para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem compe-tência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofen-sivo, respeitadas as regras de conexão e continência. Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis. Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informa-lidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

Por outro lado, quanto à dúvida de aplicação da competência do Juizados Especiais aos crimes que têm rito próprio, entendemos que a competência dos Juizados Especiais atinge a todos os crimes de menor potencial ofensivo, independentemente de rito67, visto que a nova redação da lei 9.099/95 não excetua. Divergimos, portanto, do posicionado do Supremo Tribunal Federal na decisão do HC 86102.

“Habeas corpus. Crime de imprensa. Incompetência do juizado especial. Competência territorial: de-finição. 1. O artigo 61 da Lei n. 9.099/95 é categórico ao dispor que não compete aos Juizados Especiais o julgamento dos casos em que a lei preveja procedimento especial. É a hipótese dos crimes tipificados na Lei n. 5.250/67. 2. A competência territorial é definida em razão do local on-de é realizada a impressão do jornal ou periódico (Lei de Imprensa, artigo 42). Ordem concedida”. (STF, HC 86102, Min. Rel. Eros Grau, DJ 03-02-2006)

Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher: instituídos pela lei 11.340/06, a qual entra em vigor em 22/09/06, têm competência para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. Até o momento de sua estrutura-ção o julgamento compete às varas criminais, não se aplicando a lei 9.099/95.

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordiná-ria com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. (...) Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mu-lher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as cau-sas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previ-sões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente. Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas no caput. (...) Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independen-temente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Varas de Trânsito: crimes de trânsito.

Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das causas referi-

das no caput. 67 Enunciado nº 46. Cancelado o Enunciado nº 5 (Além dos crimes contra a honra, são excluídos da competência do Juizado Especial todos os crimes para os quais a lei preveja procedimento especial). Nova redação: (Alteração aprovada no XII Encon-tro – Maceió-AL) A lei nº 10.259/01 ampliou a competência dos Juizados Especiais Criminais dos Estados e Distrito Federal para o julgamento de crimes com pena máxima cominada até dois anos, com ou sem cumulação de multa, independente do procedimento.

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1.4.5. Juiz Competente (competência interna) (Caso haja mais de um Juiz em uma mesma vara)

1.4.5.1. Por Distribuição (artigo 75 do CPP)

Uma vez distribuído o inquérito policial, já temos fixado o juízo competente.

1.4.5.2. Por Conexão (artigo 76 do CPP)

Quando há mais de uma infração com vínculos (conexão) entre elas, haverá reunião das ações pe-nais em um processo e um julgamento único. Haverá também a prorrogação da competência já que todos os processos serão unidos.

Conexão intersubjetiva: quando há vários crimes cometidos no mesmo momento por pessoas reunidas ou em concurso ou entre várias pessoas. Exemplo: vários roubos em tempos e lugares diversos mas em co-autoria.

Conexão objetiva: quando um crime é cometido para assegurar a vantagem de outro crime ou pa-ra facilitar a execução de outro crime ou para alcançar a impunidade de outro crime ou para ocultar outro crime. Exemplo: o agente comete um homicídio para facilitar outro crime.

Conexão instrumental: quando a prova de um crime é indispensável para o reconhecimento de outro crime. Exemplo: Prova de um tráfico de entorpecentes que é prova de uma lavagem de dinheiro.

1.4.5.3. Por Continência (artigo 77 do CPP)

Quando há um crime que absorve outros por continência, haverá reunião das ações penais em um processo e um julgamento único. Haverá também a prorrogação da competência já que todos os processos serão unidos.

Continência por cumulação subjetiva: quando mais de uma pessoa é acusada por um mesmo crime.

Continência por cumulação objetiva: ocorre quando se estiver frente a um caso de concurso formal próprio ou impróprio. Cabe salientar que o importante é que, com uma conduta, o agente comete mais de um delito.

1.5. Preponderância entre Competências (Atração)

Em determinados momentos, temos mais de um crime ou vários autores; neste caso deve-se verificar se há atração por um determinado juízo, como por exemplo:

Crime doloso contra a vida e crime comum conexo: ambos serão julgados pelo Tribunal do Júri.

Crime doloso contra a vida e crime eleitoral: o crime doloso contra a vida irá para o Tribunal do Júri; o crime eleitoral, para a Justiça Eleitoral.

Crime doloso contra a vida tendo o agente prerrogativa de função: se a prerrogativa é está na Constituição Federal, será julgado pela prerrogativa. Se a prerrogativa é proveniente de Constituição Estadual, será julgado pelo Tribunal do Júri.

Súmula 721 STF “A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual”.

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1.6. Concurso de Jurisdições de mesma categoria ou diversa

1.6.1. Se estivermos frente a concurso de jurisdições de mesma categoria, devemos seguir algumas regras:

a) a do local do crime mais grave (maior pena em abstrato), artigo 78, II, a, do CPP.

b) a do local em que ocorreu o maior número de crimes, quando não há crime mais grave, artigo 78, II, b, do CPP

c) a do local em que primeiro houver manifestação do Juízo se os crimes forem de igual gravidade e em mesmo número, artigo 78, II, c, do CPP

1.6.2. Se estivermos frente a concurso de jurisdições de categorias distintas, devemos verificar:

a) a da competência por prerrogativa de função se ambas forem da mesma jurisdição, por exemplo: duas Estaduais ou duas Federais.

b) a competência da Justiça Federal, se em concurso com a Justiça Estadual, prevalece. Súmula 122 STJ “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes cone-xos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Pro-cesso Penal”.

c) a competência da justiça especial (Eleitoral), em relação a comum, prevalece, exceto se crime doloso contra a vida, pois neste caso há separação.

1.7. Exceções ao Simultaneus Processus

a) quando ocorrer concurso entre crime da Justiça Militar Estadual e Justiça Comum em face dos agentes, o militar será julgado pela Justiça Militar; o civil, pela Justiça Comum, ferindo frontalmente os princípios constitucionais de proporcionalidade.

b) quando tivermos um crime em concurso de agentes, sendo um dos membros menor e outro maior, haverá separação, o primeiro será julgado pela Vara da Infância e Juventude; o segundo, por uma Vara Criminal.

c) quando, em crime doloso contra a vida, um dos réus não aceitar um jurado sendo que o outro aceita bem como o Ministério Público, haverá cisão do julgamento para o primeiro.

d) quando houver superveniência de doença mental para um dos réus, haverá cisão do processo, segundo institui o artigo 152 do CPP.

e) quando um dos réus é citado por edital, o processo para ele fica suspenso, segundo determina o artigo 366 do CPP.

f) havendo motivo relevante, como, por exemplo, excesso de réus, o juiz poderá fazer a separação dos processos, segundo preceitua o artigo 80 do CPP, desde que fundamentado.

1.8. Casos de Perpetuatio Jurisdictionis (artigo 81 do CPP)

a) Nos casos de conexão ou continência, quando um dos réus tiver foro por prerrogativa de função e o outro agente não, os autos serão julgados pela prerrogativa, mesmo que aquele venha a ser absolvido.

b) Mesmo que o agente venha a ser absolvido no Plenário do Tribunal do Júri, o crime conexo, não doloso contra a vida, continua a ser julgado pelo Tribunal do Júri, apesar de posições contrárias.

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1.9. Avocação (artigo 82 do CPP)

Em caso de conexão ou continência, o juiz prevalente deverá avocar todos os processos, porém, caso isto não ocorra, não haverá nulidade absoluta.

1.10. Prevenção (artigo 83 do CPP)

Quando dois juízes forem competentes para julgar determinado caso, o juiz que primeiro praticar um ato no processo será prevento.

Súmula 706 STF “É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção”.

Segundo a posição de Aury Lopes Júnior68, o juiz prevento deveria se declarar suspeito, pois, como ele já tomou conhecimento da causa de forma antecipada, já teria pré-julgado o caso (contaminação)69.

1.10.1. Casos de prevenção

a) quando houver busca e apreensão;

b) quando houver pedido de fiança;

c) distribuição do inquérito policial ou termo circunstanciado;

d) casos do art. 144 CP.

68 LOPES JÚNIOR, Aury. Introdução Crítica ao processo penal: fundamentos da instrumentalidade garantista, pp. 86-89. 69 “O ministro Eros Grau pediu vista do Habeas Corpus (HC) 86963 levado para julgamento, hoje (20/6), na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo relator da ação, ministro Joaquim Barbosa. O HC foi impetrado pelos advogados de Roger Magno de Castro Dias, contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a demissão de cargo público da Justiça Estadual. Com o pedido de vista o julgamento fica suspenso. A defesa pede a anulação da decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que confirmou a demissão de Roger Dias do cargo de serventuário da justiça, pois o mesmo ma-gistrado atuou como julgador nas duas esferas, administrativa e penal, que o condenaram. Segundo os advogados do servidor, este fato estaria em desacordo com o disposto no inciso III, do artigo 252 do Código de Processo Penal (CPP). Esse dispositivo impede a jurisdição de magistrado que tiver se pronunciado, em outra instância, funcionar como juiz sobre a questão. O relator, ministro Joaquim Barbosa, ao votar, observou que STJ entendeu, no acórdão recorrido, que a causa de impedimento do juiz ‘resulta da sua atuação, no mesmo processo, em diferentes graus de jurisdição, não ocorrendo tal evento em relação às esferas administrativa e judicial’. Barbosa ressaltou que a jurisprudência do STF é no mesmo sentido, pois as causas de impedimento são somente aquelas elencadas no artigo 252 do CPP. ‘Entretanto, o presente caso é complexo porque, efetivamente, o desem-bargador mencionado se pronunciou, de direito, sobre a questão, embora na via administrativa’, afirmou o relator. Para Barbosa houve a impedimento do magistrado, pois a situação é similar àquela em que o juiz, no primeiro grau de jurisdição, não decide o mérito da ação penal, mas adota medida que interfere na esfera jurídica do acusado, vindo, posteriormente, a participar do jul-gamento no segundo grau. ‘Neste caso, seu impedimento é tranqüilamente reconhecido’, entendeu o ministro. Joaquim Barbosa entendeu não ser possível afastar a hipótese do impedimento do caso em análise, já que as considerações realizadas pelo desem-bargador no julgamento administrativo, relacionavam-se com o mérito do julgamento penal. ‘Após aquele julgamento, que cul-minou na pena de demissão, a perspectiva que se anunciou para o apelante foi a de que um voto, de pronto, lhe seria desfavorá-vel. Isto, a meu sentir, fere o princípio do due process of law’, afirmou o relator. Por fim, o ministro Joaquim Barbosa votou pela concessão do HC, para anular o acórdão do TJ fluminense, determinando que novo julgamento fosse realizado, em razão do impedimento do Desembargador Sérvio Túlio Vieira. O ministro Celso de Mello afirmou que o artigo 252 traz um rol exaustivo [de impedimentos] por isso não se poderia ampliá-lo. ‘Agora a questão é [saber] se a expressão ‘juiz de outra instância’ diz res-peito a juiz de outro grau de jurisdição, ou se instância pode ser interpretada como esfera [esfera administrativa e esfera jurisdi-cional]’. Frente à complexidade do assunto o ministro Eros Grau pediu vista” STF, HC 86963/RJ, Rel. Min. Joaquim Barbosa, 20.6.2006. (HC-86963)”.

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1.10.2. Caso de não configuração de prevenção

a) julgar habeas corpus;

b) comunicação do flagrante.

1.11. Demais casos

a) execução da multa penal: competência da Vara da Fazenda Pública;

b) crime cometido por militar contra outro militar fora do serviço: Justiça Comum;

c) posse de arma de uso privativo das forças armadas: Justiça Comum;

d) crimes contra a fauna: Justiça Estadual, salvo quando envolve patrimônio da União (foi cancela-da a Súmula 91 do STJ);

Súmula 91 STJ CANCELADA “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a fauna”.

e) habeas corpus contra Turmas Recursais70: Supremo Tribunal Federal, segundo súmula 690, porém cabe alertar que o Supremo Tribunal Federal declinou sua competência em julgamento pelo pleno em 23/08/06;

“O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por oito votos a três, declinar da competência para julgar habeas corpus impetrado contra decisão de Turma Recursal. A decisão foi adotada no julgamento do habeas corpus (HC) 86834, impetrado por Miguel Ângelo Mi-cas contra a Turma Recursal do Juizado Especial Criminal da Comarca de Araçatuba, município do Estado de São Paulo” (...) “Dessa forma, nos termos do voto do relator, a interpretação de que se deve seguir a hierarquia funcional dos tribunais e, por isso, o processamento de habeas impetrado contra decisão de Turma Recursal nos Tribunais de Justiça foi vence-dor.” (STF, HC 86834, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 23/08/2006) (g.n.)

f) prefeito que desvia verba federal: verba sujeita a prestação de contas em âmbito federal: Tribunal Regional Federal;

Súmula 208 STJ “Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal”.

g) prefeito que desvia verba federal, mas já incorporada ao patrimônio municipal: Justiça Estadual; Súmula 209 STJ “Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba trans-ferida e incorporada ao patrimônio municipal”.

70 “Ato de Turma Recursal de Juizado Especial Criminal e Competência: O Tribunal, por maioria, mantendo a liminar deferida, declinou da sua competência para o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a fim de que julgue habeas corpus impetrado contra ato da Turma Recursal do Juizado Criminal da Comarca de Araçatuba - SP em que se pretende o trancamento de ação penal movida contra delegado de polícia acusado da prática do crime de prevaricação — v. Informativo 413. Entendeu-se que, em razão de competir aos tribunais de justiça o processo e julgamento dos juízes estaduais nos crimes comuns e de responsabi-lidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral (CF, art. 96, III), a eles deve caber o julgamento de habeas corpus impetrado contra ato de turma recursal de juizado especial criminal. Asseverou-se que, em reforço a esse entendimento, tem-se que a com-petência originária e recursal do STF está prevista na própria Constituição, inexistindo preceito que delas trate que leve à con-clusão de competir ao Supremo a apreciação de habeas ajuizados contra atos de turmas recursais criminais. Considerou-se que a EC 22/99 explicitou, relativamente à alínea i do inciso I do art. 102 da CF, que cumpre ao Supremo julgar os habeas quando o coator for tribunal superior, constituindo paradoxo admitir-se também sua competência quando se tratar de ato de turma recur-sal criminal, cujos integrantes sequer compõem tribunal. Vencidos os Ministros Sepúlveda Pertence, Cármen Lúcia e Celso de Mello que reconheciam a competência originária do STF para julgar o feito, reafirmando a orientação fixada pela Corte em uma série de precedentes, no sentido de que, na determinação da competência dos tribunais para conhecer de habeas corpus contra coação imputada a órgãos do Poder Judiciário, quando silente a Constituição, o critério decisivo não é o da superposição admi-nistrativa ou o da competência penal originária para julgar o magistrado coator ou integrante do colegiado respectivo, mas sim o da hierarquia jurisdicional. HC 86834/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, 23.8.2006. (HC-86834)” . Informativo 437 STF.

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h) exceção da verdade contra governador: Superior Tribunal de Justiça;

i) crime contra flora: Justiça Estadual, salvo quando envolve interesse concreto da União;

j) lavagem de dinheiro: Justiça Estadual, exceto quando há outro crime conexo de competência fe-deral: Justiça Federal;

l) habeas corpus contra juiz do trabalho: Tribunal Regional do Trabalho71 (quando envolve matéria pertencente à sua jurisdição - EC 45/04);

m) homicídio contra Policial Rodoviário Federal em serviço: Tribunal do Júri Federal;

n) crime praticado contra patrimônio de sociedade de economia mista (Banco do Brasil): Justiça Comum Estadual;

o) aplicação de penas substitutivas após o trânsito em julgado: Vara das Execuções Criminais;

p) recurso contra a Justiça Militar da União de primeira instância: Superior Tribunal Militar;

q) falsificação de moeda corrente: Justiça Federal;

OBSERVAÇÃO

Aprovado o Projeto de Lei do Senado nº 115, de 200272, e tendo sido ele convertido na lei 11.343/06, a qual entrará em vigor 08/10/06, a competência nos crimes de tráfico ilícito transnacional de drogas ficou restrita à Justiça Federal.

Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracteriza-do ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal. Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva.

71 Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (...) IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição. 72 Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências.

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2. DA SENTENÇA

O modelo processual brasileiro divide os atos jurisdicionais em Despacho e Decisão.

Despacho: é um mero ato de movimentação do processo e, portanto, em regra não cabe recurso73, exceto, segundo Luiz Flávio Gomes, se este despacho for tumultuário. Neste caso caberia Correição Parci-al. (ex. inversão na oitiva das testemunhas). Só serão permitidos Embargos de Declaração de um despacho se ele se mostrar profundamente confuso; nesta forma o juiz deverá aclarar o seu despacho74. Exemplos de meros despachos: citação do réu, intimação de testemunhas, vista às partes para que se manifestem sobre desistência de testemunhas, abertura dos prazos dos artigos 499 e 500 do CPP.

Decisões: para Tourinho Filho, os atos jurisdicionais como recebimento de uma denúncia, a de-terminação para se proceder à citação do réu, o saneamento do processo, a designação da data para a reali-zação de audiência, o julgamento sobre o meritum causae são denominados decisões75. De modo geral, são todos os atos deliberativos do juiz, desde que envolvam um julgamento76.

2.1. Classificação das decisões

2.1.1. Decisões interlocutórias

São as decisões que não julgam o mérito do processo. Estas se dividem em:

2.1.1.1. Decisões interlocutórias simples: não encerram o processo ou fase deste. Resolvem questões relativas à regularidade do processo, exigindo uma decisão sem penetrar no mérito da causa. Em regra essas decisões não comportam recurso, mas são normalmente atacáveis por Ações Constitucionais de Impugnação, como o habeas corpus, o Mandado de Segurança e a Correição Parcial. Exemplo: decisão que decreta preventiva, que recebe denúncia ou queixa, que indefere o pedido de assistência ao Ministério Público, que concede a fiança.

2.1.1.2. Decisões interlocutórias mistas: também chamadas de decisões com força de definitivas, são aquelas que encerram a relação processual sem julgamento do mérito ou, então, põem termo a uma etapa do procedimento77. Estas decisões se dividem em terminativas ou não terminativas.

2.1.1.2.a. Decisões interlocutórias mistas terminativas: extinguem o processo, porém não jul-gam o mérito da causa. Exemplo: decisões que acolhem exceções de coisa julgada ou litispendência.

2.1.1.2.b. Decisões interlocutórias mistas não terminativas: decisões que encerram uma fase do procedimento, mas não o extingue. Exemplo: decisão de pronúncia.

2.1.2. Decisões definitivas

Tecnicamente são conhecidas por sentenças, ou seja, é a decisão que julga o mérito da causa. As sentenças se apresentam de quatro espécies: condenatória, absolutória, declaratória extintiva de punibilida-de e constitutiva. Tourinho Filho, divide-as em três modalidades: condenatórias, absolutórias e decisões definitivas em sentido estrito78.

2.1.2.1. Sentença definitiva condenatória: quando o juiz condena o réu, ou seja, julga procedente a ação, mesmo que o Ministério Público tenha requerido a absolvição, uma vez que pela doutrina clássica o juiz não está vinculado ao pedido da defesa ou da acusação. Entretanto, entendemos diversamente, pois, através de uma leitura constitucional, com a interpretação do artigo 129, I da CF/88, não há como subsis-

73 Como se percebe, se o direito de ir e vir do cidadão está suprido ou na iminência de ser suprido, há a possibilidade de impe-tração de habeas corpus. 74 Para uma visão crítica da definição normativa da sentença indicamos CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de processo penal: comentá-rios consolidados e crítica jurisprudencial, pp. 570-583. 75 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, p. 473. 76 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, p. 474. 77 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, p. 475. 78 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, p. 476.

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tir uma condenação quando o próprio acusador não verifica tal possibilidade, visto ser ele quem detém o ius acusationis .79

2.1.2.1.a. Sentença condenatória imprópria: segundo alguns autores, dentre eles Julio Fabbrini Mirabete80, a sentença condenatória imprópria é aquela que aplica a sanção penal sem processo penal con-traditório, por consentimento do réu, como no caso da transação penal instituída pela lei 9.099/95. Por outro lado, há quem divirja desta posição, dentre eles Ada Pellegrini Grinover81, a qual entende ser esta sentença não condenatória, mas sim homologatória.

2.1.2.2. Sentença definitiva absolutória: considera-se a sentença que o juiz julga improcedente o pedido formulado ou, segundo Tourinho Filho82, a pretensão punitiva.

2.1.2.2.a. Sentença definitiva absolutória própria: quando o juiz julga improcedente o pedido. Absolve nos termos do artigo 386, I, II, III, IV, V e VI, do CPP83.

2.1.2.2.b. Sentença definitiva absolutória imprópria: quando o juiz absolve o réu, mas deter-mina uma medida de segurança, por ser ele inimputável. Absolve o imputado, mas impõe medida de segu-rança nos termos do artigo 386, § único, III, do CPP84.

2.1.2.3. Sentença definitiva declaratória extintiva da punibilidade (sentença em sentido es-trito): quando o juiz declara extinta a pretensão punitiva ou executória, não condenando nem absolvendo o réu. Tourinho Filho entende que as decisões definitivas em sentido estrito ou decisões terminativas de mérito são aquelas que encerram a relação processual, julgam o mérito, mas não são nem absolutórias nem condenatórias. Exemplo: decisão que reconhece a ausência de condição objetiva de punibilidade85.

2.1.2.4. Sentença definitiva constitutiva: quando a sentença constitui uma nova situação jurídica como na reabilitação criminal.

2.2. Conceito de sentença

Sentença é o ato pelo qual o Juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa. É ato de inteligência e ato de vontade. Fauzi Hassan Choukr86 entende como conceito dogmático de senten-ça a citação de Aramis Nassif: “é o ato de reduzir a um espaço documentado, estrito, oficial, praticado por juiz competen-te, toda a gama de circunstâncias e emoções visíveis e descritíveis informadas com as garantias constitucionais do processo, ocor-rentes em um fato praticado com a necessária intervenção humana, que a lei traduz como crime, para efeito de confirmar ou desconstituir, impondo sanções legais, o estado de inocência do cidadão-acusado”.

Sentença, Acórdão e Veredicto: a sentença é a decisão proveniente de um juiz monocrático, já o acórdão emana de um colegiado. Quando o acórdão transita em julgado, chamamos de aresto. A decisão proveniente do Tribunal do Júri ganha o nome de veredicto.

79 CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, p. 576. 80 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais, p. 95. 81 GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antonio Scarance; GOMES FILHO, Antonio Magalhães. Juizados especiais cri-minais, p. 144. 82 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, p. 476. 83 Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:

I - estar provada a inexistência do fato; II - não haver prova da existência do fato; III - não constituir o fato infração penal; IV - não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; V - existir circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena; VI - não existir prova suficiente para a condenação.

84 III - aplicará medida de segurança, se cabível. 85 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, p. 477. 86 Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, p. 571.

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2.3. As sentenças são classificadas em87

I. Simples: decisão do juiz monocrático.

II. Plúrima: decisão proveniente do órgão colegiado. Exemplo: Tribunal.

III. Complexa: como nos casos das decisões proferidas pelo Tribunal do Júri, uma vez que o mé-rito é decidido pelos jurados, enquanto a pena é aplicada pelo juiz.

IV. Material: sentença que julga o mérito da causa.

V. Formal: sentença que decide apenas questões processuais. Segundo Luiz Flavio Gomes, esta terminologia estaria incorreta, pois, se só decide sobre questões processuais, deveria ser decisão interlocu-tória.

VI. Autofágica: sentença que reconhece a culpabilidade, porém julga extinta a punibilidade no ca-so concreto, por reconhecer, por exemplo, o perdão judicial.

Súmula 18 STJ “A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilida-de, não subsistindo qualquer efeito condenatório”.

VII. Vazia: sentença nula, pois não consta nenhuma fundamentação, o que é proibido pela Cons-tituição Federal.

VIII. Suicida: sentença nula, pois há divergência entre a fundamentação e o dispositivo.

2.4. Natureza jurídica

A sentença jurídica não só declara o direito como cria o direito, uma vez que o juiz no caso concre-to cria regras dentro dos limites autorizados pelo legislador. A doutrina clássica entendia que a sentença só declarava o direito, não o criava.

2.5. Requisitos da sentença (artigo 381 do CPP)

2.5.1. Relatório: é parte obrigatória da sentença, exceto em casos de menor potencial ofensivo (JECRIM), por expressa disposição legal (artigo 81, § 3°, lei 9.099/95)88. Consiste em um histórico do pro-cesso com o resumo do procedimento. Em regra é nula a sentença que não apresenta o nome das partes, porém tal erro pode ser sanado se há a possibilidade de identificação física das partes. Alerta-se que a data do evento criminoso e suas circunstâncias devem estar presentes, como forma de manter a correção entre a denúncia e a sentença. O relatório deve conter os seguintes requisitos:

I. nomes da partes;

II. exposição dos acontecimentos do processo;

III. pedido das partes.

2.5.2. Fundamentação ou motivação89: segundo determina a CF/88 no artigo 93, IX todas as decisões serão fundamentadas, sob pena de nulidade. A sentença sem fundamentação, em princípio, é nu-la. Trata-se de uma sentença vazia. Deverão constar na fundamentação, ainda que sucintamente90, todas as teses da acusação e da defesa. É dever do juiz, para preservar o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório que exteriorize o seu raciocínio para chegar à decisão, de forma a possibilitar eventual recur-so. Como ensina Uadi Lammêgo Bulos, para que não haja nulidades nas decisões e para que se garanta a publicidade dos atos administrativos, deverá a Administração fundamentar seus atos. “O dever de observância

87 Utilizamos a classificação apresentada por Luiz Flávio Gomes por ser mais didática. GOMES, Luiz Flávio. Direito processual penal, p. 321. 88 § 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz. 89 Conforme TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, p.479 e CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de pro-cesso penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, p. 572. 90 CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, p. 572.

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do princípio estampado no art. 93, IX e X, da Constituição não é apenas do Poder Judiciário. Incube aos Poderes Públicos em geral a obrigação de fundamentar os seus atos.”91 Em verdade, motivar decisões não significa reproduzir pare-ceres ou termos legais. Na prolação da sentença há necessidade de motivar pontualmente cada prática do sujeito tida como delituosa.

Neste sentido Salo de Carvalho92, seguindo a Teoria do Garantismo de Ferrajoli, assevera que “o controle material-substantivo, ou seja, daquilo que pode ou não ser objeto de valoração, é imprescindível, pois a subjetivação das hipóteses gera uma perversão inquisitiva do processo,... em convencimento intimamente subjetivo e, portanto, irrefutável do julgador. Afinal, o princípio constitucional do artigo 93, IX, da Constituição não está traçando uma regra de caráter mera-mente procedimental, pois, como conseqüência, a falta de fundamentação formal ou substancial, das decisões jurisdicionais acarreta nulidade”.

No mesmo sentido Magalhães Gomes Filho93, “(...) a exigência de motivação dos provimentos penais integra e completa todo um sistema de garantias penais e processuais penais cuja rigorosa observância constitui condição de legitimida-de da imposição de qualquer medida punitiva no Estado de Direito”.

E, ainda, para Tourinho Filho não basta a fundamentação, é necessário haver coerência no desen-volvimento dela. Uma fundamentação contraditória equivale à sua ausência94.

2.5.3. Dispositivo: deve ser a conclusão coerente com a fundamentação, pois caso contrário ter-se-ia uma sentença suicida e, portanto, nula. No dispositivo hão de constar os artigos da lei aplicados, se-gundo o artigo 381 do CPP. A falta da indicação dos artigos afeta a sentença no seu todo, constituindo uma nulidade absoluta (artigo 564, III, m, CPP), apesar de alguns julgados posicionarem-se no sentido de que deve estar demonstrado o prejuízo do réu.

“I – (...). III - Não há que se anular a decisão condenatória, sob a alegação de omissão, na fundamentação da pena, quanto ao dispositivo legal a ser aplicado no caso, se a toda evi-dência se sabia que a condenação se referia ao delito previsto no art. 157, §2º, I e II, do CP. Writ denegado.” (STF, HC 34127, Rel. Min. Felix Fischer, DJ 03/11/04) (g.n.)

2.5.4. Autenticação: trata-se da indicação do lugar, da data e assinatura. Sentença sem assinatura é sentença inexistente, segundo Tourinho Filho95, apesar da posição majoritária entender como uma mera irregularidade.

“Júri - compromisso do conselho de sentença - falta de assinatura do juiz e dos jurados - nuli-dade do julgamento ante a ausência de formalidade essencial.” (Apelação Crime nº 684008543, Primeira Câmara Criminal, TJRS, Rel.Jorge Alberto de Moraes Lacerda, Julgado em 06/08/86) “A falta de assinatura do representante do Ministério Público em alguns termos do processo não significa necessariamente ausência, mas mera irregularidade; sobretudo se neles se certifica seu comparecimento, sem prova em contrário.” (STF, HC 67.979, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 08/03/91).

2.5.5. Clareza e precisão96: a sentença deve se fazer clara e precisa. Se houver pequenos erros como aritméticos, obscuridade, contradição, omissão, ambigüidade, qualquer das partes poderá pedir ao juiz, dentro do prazo legal, a correção para que a sentença se torne clara97.

91 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada, p. 836. 92 CARVALHO, Amilton Bueno de; CARVALHO, Salo de. Aplicação da pena e garantismo, pp. 34-35. 93 GOMES FILHO, Antônio Magalhães. A Motivação das decisões penais, pp. 97-98. 94 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, p. 479. (RTJ, 43: 818, 36:302 e 36:572) 95 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal, p. 458. 96 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal, pp. 479-480. 97 Conforme artigo 382 do CPP.

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2.5.6. Estrutura Lógica: Relatório (exceto JECRIM); Fundamentação; Dispositivo e Parte Auten-ticativa.

Se a sentença apresentar error in procedendo, esta será nula98, porém se apresentar error in judi-cando esta será reformada pelo órgão competente para julgar o recurso.

Princípio da correção entre acusação e sentença: a sentença deve estar dentro dos parâmetros (fatos) estabelecidos na peça acusatória, uma vez que o réu se defende dos fatos ali constantes. Não se permite julgamento ultra, extra ou citra petita. Por outro lado o Código de Processo Penal autoriza a emenda-tio libelli e a mutatio libelli.

Emendatio libelli (artigo 383 do CPP): o termo emendatio significa emendar. Na emendatio o fato provado está de acordo com o descrito na denúncia, porém a classificação jurídica dada está incorreta. Como a classificação não vincula o juiz, este pode alterá-la, sem ter que ouvir a defesa, mesmo que desta resulte pena mais grave. A emendatio pode ocorrer no segundo grau e no Júri, porém cabe lembrar que, se só ocorreu recurso pela defesa, a sua pena não pode ser agravada (proibição de reformatio in pejus). A emenda-tio só pode ser dada na sentença, pois, se verificado o erro no recebimento, deveria ser rejeitada a denún-cia.

Mutatio libelli (artigo 384 do CPP): o termo mutatio significa mudança. A mutatio ocorre quando o fato narrado na denúncia é diferente do provado, ou seja, surge durante a instrução processual circuns-tância elementar, não constante da denúncia, explícita ou implicitamente, que altera o delito. Assim, na sentença três hipóteses podem ocorrer:

a) Pena do novo fato é igual à do fato narrado: o juiz abre prazo de 8 dias para a defesa se ma-nifestar e produzir provas.

b) Pena do novo fato é menor que a do fato narrado: o juiz abre prazo de 8 dias para a defesa se manifestar e produzir provas. Se, com a nova classificação, couber algum direito como, por exemplo, suspensão do processo, esta deve ser ofertada, apesar de posições em contrário.

c) Pena do novo fato é superior à do fato narrado: segundo o parágrafo do artigo 384, deverá a denúncia ser aditada pelo Ministério Público. Caso esse venha a se negar, deverá ser aplicado o que deter-mina o art. 28 do CPP, ou seja, remete ao Procurador-Geral. Depois de aditada a denúncia, a defesa tem 3 dias para requerer provas.

CRÍTICAS

Segundo Paulo Rangel99, deverá haver aditamento da denúncia em todos os casos de mutatio libelli, independentemente se a pena do novo delito for maior, menor ou igual ao do constante da denúncia, pois o réu não se defende da pena aplicada ao fato, mas, sim, do próprio fato, pois caso contrário o réu poderá ser condenado pelo fato de que não se defendeu.

Fauzi Hassan Choukr100 entende que os artigos 383, 384 e 385 do CPP não foram recepcionados pela Constituição Federal, posição com a qual se concorda. Os artigos 383 e 384 do Código de Processo Penal deixam clara a violação ao sistema acusatório, dando ao juiz o poder de modificar (emendatio libelli e mutatio libelli) a imputação do delito até a hora da sentença condenatória, não importando se esta é mais prejudicial ao réu. Utiliza para tanto da posição de Geraldo Prado, quando este afirma que “mesmo o simples ajustamento da qualificação jurídica da infração penal, em obediência ao princípio jura novit curia, ainda quando a petição inicial acusatória descreva minuciosamente o fato, haverá de ser promovida antes da emissão da sentença, assim como as partes têm de ser provocadas para manifestar-se sobre circunstâncias que agravam ou diminuem a pena, tornando-se a matéria alvo do debate contraditório, núcleo fundamental da máxima acusatoriedade”. Em conformação ao modelo processual à

98 Sentença sem réu ser defendido por advogado. 99 RANGEL, Paulo. Direito processual penal, p. 300. 100 CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, pp. 573-576.

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Constituição Federal, Fauzi comenta que “a demanda deve estabilizar-se no início da relação processual (e não ao final, no momento da sentença!), sendo o mecanismo por excelência para tanto, uma fase de admissibilidade substancial e não meramente formal como a existente no rito ordinário”.

O artigo 385 do CPP que autoriza ao magistrado condenar o réu, mesmo que Ministério Público tenha requerido a absolvição do réu, também vai de encontro ao sistema acusatório determinado pela Constituição Federal.

IMPORTANTE

Pode ser aplicada mutatio libelli na ação penal privada? A doutrina majoritária entende que sim, porém, caso o querelante se negar a aditar, deverá ser julgada perempta se ficar inerte por mais de 30 dias ou se o querelante não pedir a condenação, segundo artigo 60 do CPP.

Pode a mutatio libelli ser aplicada em segundo grau? Conforme posição sumulada do Supre-mo Tribunal Federal, não pode ser aplicada no segundo grau, exceto se esta for a competência originária para julgamento como, por exemplo, se o réu tiver prerrogativa de função. Se o Tribunal verificar que o caso provado tem pena menor que o narrado, pode anular a sentença e remeter ao primeiro grau para que seja dada uma nova sentença pelo novo fato.

Súmula 453 STF “Não se aplicam à segunda instância o artigo 384 e parágrafo único do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de cir-cunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa”.

Atenuantes e agravantes: o reconhecimento de agravantes e atenuantes não enseja mutatio libelli, uma vez que o seu reconhecimento está adstrito à segunda fase da aplicação da pena e cabe exclusivamen-te ao juiz.

Há a possibilidade, segundo parte da doutrina, de o Ministério Público recorrer desde que não te-nha sido aplicada a mutatio libelli no primeiro grau, podendo neste caso o Tribunal anular a sentença e de-terminar que seja proferida outra.

2.5.7. Publicação da sentença: a sentença deve se tornar pública, pois é com a sua publicação que ela se torna, em princípio, imodificável. A publicação pode ocorrer quando:

I. o escrivão junta aos autos, certificando;

II. proferida em audiência ela se torna pública na própria audiência;

III. proferida no Tribunal do Júri, é na própria sessão que ela se torna pública;

IV. o Código de Defesa do Consumidor autoriza, em determinados casos, a publicação de senten-ça em jornal (artigo 78, II, do CDC).

2.5.7.1. A sentença será modificável após a publicação somente em alguns casos, dentre eles:

I. para corrigir inexatidão material, tal como o nome de alguém que apresenta grafia incorreta;

II. para ajustar mero erro de cálculo, tal como pode ocorrer no somatório da pena;

III. através de Embargos de Declaração (artigo 382 do CPP). Os Embargos de Declaração podem ser interpostos em 2 dias quando a sentença apresentar obscuridade, omissão, contradição ou ambigüida-de. A interposição dos Embargos de Declaração interrompe o prazo dos demais recursos, exceto no JE-CRIM, pois, neste caso, suspende-o. Se os Embargos tiverem efeito infringente (alterar a decisão), então deverá ser, para assegurar o contraditório, a parte contrária ouvida;

IV. se advir lei mais favorável ao réu, é o próprio juiz que sentenciou quem deverá aplicá-la, se o processo ainda estiver em primeiro grau, porém, se já estiver em segundo grau, caberá ao Tribunal aplicar

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a lei nova mais benéfica ou ainda, se em fase de execução, caberá ao juiz da execução, segundo posição sumulada do Supremo Tribunal Federal. Cabe ao juiz agir de ofício quando surgir lei nova mais benéfica.

Súmula 611 STF “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna”.

2.6. Intimação da sentença (artigo 392 do CPP)

É através da intimação da sentença que se dá conhecimento para as partes. Isto se torna crucial, pois é a partir da intimação que se contam os prazos para recurso. Se a intimação for por precatória conta-se o prazo da intimação não da juntada, segundo posição do Supremo Tribunal Federal.

Súmula 710 STF “No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem”.

A intimação de acórdão dá-se pela imprensa oficial, exceto se Defensor Público, Dativo ou Minis-tério Público. A intimação pode se dar:

I. defensor dativo, defensor público e Ministério Público (artigo 370, § 4° do CPP): pessoalmente; “Penal. Processual penal. Habeas corpus. Defensor Público. Intimação pessoal: falta. Nulidade. Lei 1.060/50, art. 5., PAR. 5., com a redação dada pela lei 7.871/89. I. - O defensor público, ou quem exercer cargo equivalente, deverá ser intimado pessoalmente do acórdão que negou provimento ao recurso do réu, sob pena de nulidade. (Lei 1.060/50, art. 5., par. 5.,com a redação dada pela Lei 7.871/89). II. - HC deferido”. (STF, HC 73293, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 26/04/96) “Revisão criminal. Júri. Defensor dativo. Intimação por nota de expediente. Nulidade caracteriza-da, desatendida a regra do art. 370, § 4°, do CPP que determina a intimação pessoal do defensor nomeado e art. 5°, § 5°, da lei n° 1060/50, acrescentado pela lei n° 7871/89, pela qual defensor público, ou quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de todos os atos do pro-cesso, em ambas as instâncias resta decretada a nulidade do processo a partir da ausência de inti-mação da defesa para julgamento em segundo grau, com fundamento no art. 564, III, letra ‘o’, do CPP”. (Revisão Criminal Nº 70005605027, Primeiro Grupo de Câmaras Criminais, TJRS, Rel. Marcel Esquivel Hoppe, Julgado em 25/04/03)

II. defensor constituído (artigo 370, §1°, do CPP): imprensa oficial;

III. réu (artigo 392 do CPP):

III.a. sentença absolutória: pessoalmente ou na pessoa de seu defensor se o réu não for encontra-do.

III.b. sentença condenatória:

III.b.1. réu preso: intimação pessoal, mais intimação do seu defensor. “Tentativa de latrocínio. Crime hediondo. Regime integral fechado. HC impetrado em nome pró-prio e deferido pelo STJ para garantir a progressão com base na Lei 9455/97, que prevê o benefí-cio para os condenados por crime de tortura. Recurso extraordinário do Ministério Público provi-do com base no artigo 557, § 1º-A, do CPC, para restabelecer o regime integral de cumprimento da pena. Intimação pela imprensa, de réu preso, para contra-arrazoar. Constrangimento ilegal ca-racterizado, uma vez que na hipótese a intimação deve ser pessoal. HC deferido” (STF, HC 82867, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 27/06/2003)

III.b.2. réu solto: pessoalmente ou por edital, mais a intimação do seu defensor.

III.b.3. réu foragido: a intimação pode ser dada exclusivamente na figura do defensor101. “No caso do réu não ser encontrado para intimação pessoal da condenação por delito inafiançável, em razão de se achar foragido, conforme Certidão do Oficial de Justiça, é suficiente a intimação do

101 CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, p. 582.

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defensor constituído a teor do art. 392, III, do CPP, para que se opere o trânsito em julgado da sentença” (RJTACRIM 02/246), sendo que ‘somente após certificar o Oficial de Justiça não ter encontrado o réu, é que se justifica a intimação da sentença ao defensor constituído por ele, con-soante dispõe o art. 392, III, do CPP’”. (RT 534/458)

IV. réu inimputável: na pessoa do curador.

IMPORTANTE

O prazo recursal conta a partir da última intimação, independentemente se foi o réu ou o defensor.

Intimação por edital e nulidade: conforme a JUTACRIM 01/139 é “Nula a certidão de trânsito em julgado se o acusado não é procurado nos endereços constantes dos autos para a intimação pessoal da sentença, máxime se o dia em que foi publicado o edital não está certificado no processo”. Assim, se o réu era revel e foi condenado, deverá ser diligenciada sua intimação, por um dos modos explicitados no art. 392 do CPP. Portanto o edital de citação, prematuramente expedido, ressente-se de nulidade, que deve ser reconhecida102.

2.7. Efeitos da sentença

2.7.1. Sentença absolutória (artigo 386 do CPP): caso o réu esteja preso, deve ser posto em li-berdade. Se agente for inimputável a sentença será absolutória imprópria e lhe será aplicada medida de se-gurança. Em caso de fiança, esta deve ser devolvida.

A sentença absolutória não impede ação civil de indenização, exceto se:

a) provada a inexistência do crime;

b) provado que o acusado não participou dos fatos;

c) quando reconhecida uma excludente de antijuridicidade (exceto se: o estado de necessidade atin-ge terceiro, legítima defesa real com aberratio ictus (erro na execução artigo 73 do CP), legítima defesa que afeta inocente. Na legítima defesa putativa há obrigação de indenizar.

2.7.2. Sentença Condenatória (artigo 387 do CPP): a sentença condenatória apresenta os se-guintes efeitos:

a) prisão, exceto se primário e com bons antecedentes. Ocorre que a jurisprudência do RS adota o critério segundo o qual, se o agente respondeu o processo em liberdade, pode recorrer em liberdade, se respondeu preso, recorre preso;

b) seu nome será lançado no livro rol103 dos culpados. Este efeito só ocorre após o trânsito em jul-gado, pois presume-se inocência, segundo artigo 5°, LVI, da CF. Neste sentido Fauzi declara:

“O lançamento do nome do réu no rol dos culpados só será efetivado com o trânsito em julgado da sentença, sendo ainda passível de retificação em segunda instância”. (RJTACRIM 27/97).

c) é pressuposto de reincidência;

d) cria a obrigação de indenizar;

e) suspende direitos políticos (15, III, da CF/88).

2.8. Coisa Julgada

Há coisa julgada quando a sentença se tornar irrecorrível; isto não quer dizer que não possa mais vir a ser alterada, pois há casos em que é possível desfazer a coisa julgada através da Revisão Criminal ou,

102 CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial, p. 582. 103 “A finalidade da existência de um “rol de culpados” está assim dita na RTJACRIM 22/195: “providência que servirá para eventuais averiguações futuras, pesquisa e apuração de primariedade ou reincidência, até que, por prescrição ou reabilitação, se apaguem os registros pertinentes ao seu passado deliqüencial.”” CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de processo penal: comentários con-solidados e crítica jurisprudencial, p. 583.

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em outros, através de habeas corpus. Assim, a coisa julgada, em princípio, não é absoluta, pois pode ser res-cindida pela Revisão ou habeas corpus (usa-se habeas corpus se a nulidade é absoluta e evidente, por ser mais célere104). Após o trânsito em julgado da Revisão Criminal favorável, esta se torna soberana. A sentença absolutória transitada em julgado torna-se, também, soberana, ou seja, não pode ser alterada. A coisa jul-gada surge para dar segurança jurídica.

A coisa julgada só ocorre, quando há necessidade de recurso de ofício (absolvição sumária, conce-der habeas corpus, reabilitação criminal, nas hipóteses do artigo 7° da lei 1.521/51) e quando este subir para superior instância, segundo o Supremo Tribunal Federal.

Súmula 423 STF “Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ‘ex officio’, que se considera interposto ‘ex lege’”.

Segue-se a posição também trazida por Fauzi Choukr de que a Constituição Federal não recepcio-na o recurso ex officio, explícito no artigo 574, em razão de a ação penal ser privativa do Ministério Público, posição esta ainda minoritária.

“A Constituição Federal de 1988 estabeleceu ser a iniciativa da ação penal privativa do Ministério Público. Sendo o recurso de ofício uma forma de iniciativa da ação, que faz prosseguir o exercício da jurisdição, tem-se como revogados os dispositivos da lei processual penal que determinam a o-brigatoriedade da sua interposição pelo Juiz... baniu da administração da Justiça Criminal o sistema inquisitivo e implantou o sistema acusatório”. (TRF 4ª Reg., 1ª T., RC “EX OFFICIO”, 96.04.08026-1-PR, Rel. Juiz Vladimir Freitas, j. 9.4.96, v.u., DJU 2.5.96, p. 27.998)

OBSERVAÇÃO

Não produz efeitos a sentença que é inexistente, como a proferida por juiz sem jurisdição.

2.8.1. Espécies de coisa julgada

2.8.1.1. Formal: impede que o próprio juízo da causa reexamine a sentença.

2.8.1.2. Material: impede que qualquer outro juízo ou Tribunal reexamine a causa, exceto através da Revisão Criminal.

Salienta-se que o que transita em julgado é a decisão final do juiz que consta no dispositivo, ou se-ja, não transitam em julgado os fundamentos.

IMPORTANTE

Determinada a extinção da punibilidade com base em documento falso, segundo a doutrina majori-tária, se já transitou em julgado, fez coisa julgada, não pode ser alterado. Em sentido contrário posiciona-se o Supremo Tribunal Federal.

“Penal. Processual penal. Habeas corpus. Extinção da punibilidade amparada em certidão de óbito falsa. Decreto que determina o desarquivamento da ação penal. Inocorrência de revisão pro societate e de ofensa à coisa julgada. Fundamentação. Art. 93, IX, da CF. I. - A decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, dado que não gera coisa julgada em sentido estrito. II. - Nos colegiados, os votos que acompanham o posicionamen-to do relator, sem tecer novas considerações, entendem-se terem adotado a mesma fundamenta-ção. III. - Acórdão devidamente fundamentado. IV. - H.C. indeferido”. (STF, HC 84525, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 03/12/04)[sic]

104 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado, v. 2, 239. No mesmo sentido: TOURINHO FI-LHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal, p. 703.

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Réu, processado como executor de um crime e absolvido, mas que posteriormente se des-cobre que ele foi partícipe, pode ser processado? Mesmo problema anterior, há quem entenda que pode ser processado, pois a causa de pedir é outra105.

Sentença que homologa transação penal: há, como já apresentado, uma divergência na doutrina e na jurisprudência quanto à natureza da sentença que homologa a transação penal. A primeira corrente entende ser ela condenatória imprópria106, a segunda trata de homologatória com eficácia de título executi-vo107, a terceira considera a sentença meramente declaratória108, a quarta corrente caracteriza tal sentença como declaratória constitutiva109 e a quinta corrente pensa ser ela simplesmente condenatória110. O Supre-mo Tribunal Federal já se posicionou entendendo que se trata de sentença simplesmente homologatória, enquanto o Superior Tribunal de Justiça reconhece como sentença condenatória imprópria.

Assim o Supremo Tribunal Federal decidiu: “Habeas Corpus - Legitimidade - Ministério Público. A legitimidade para a impetração do habeas corpus é abrangente, estando habilitado qualquer cidadão. Legitimidade de integrante do Ministé-rio Público, presentes o múnus do qual investido, a busca da prevalência da ordem jurídico-constitucional e, afim, da verdade. Transação - Juizados Especiais - Pena Restritiva de Direitos - Conversão - Pena Privativa do Exercício da Liberdade - Descabimento. A transformação automá-tica da pena restritiva de direitos, decorrente de transação, em privativa do exercício da liberdade discrepa da garantia constitucional do devido processo legal. Impõe-se, uma vez descumprido o termo de transação, a declaração de insubsistência deste último, retornando-se ao estado anterior, dando-se oportunidade ao Ministério Público de vir a requerer a instauração de inquérito ou propor a ação penal, ofertando denúncia” (STF, HC 79572, Min. Marco Aurélio, DJ 22/02/02) (g.n.)

Em sentido oposto o Superior Tribunal de Justiça: “Criminal. Juizado Especial Criminal. Transação. Pena alternativa. Descumprimento. Conversão em pena restritiva de liberdade. Legitimidade. 1. A transação penal prevista no art. 76, da Lei nº 9.099/95, distingue-se da suspensão do processo (art. 89), porquanto, na primeira hipótese faz-se mister a efetiva concordância quanto à pena alternativa a ser fixada e, na segunda, há apenas uma proposta do Parquet no sentido de o acusado submeter-se não a uma pena, mas ao cumprimento de algumas condições. Deste modo, a sentença homologatória da transação tem, também, caráter condenatório impróprio (não gera reincidência, nem pesa como maus antecedentes, no caso de outra superveniente infração), abrindo ensejo a um processo autônomo de execução, que pode - legitimamente – desaguar na conversão em pena restritiva de liberdade, sem maltrato ao princípio do devido processo legal. É que o acusado, ao transacionar, renuncia a alguns direitos perfeitamen-te disponíveis, pois, de forma livre e consciente, aceitou a proposta e, ipso facto, a culpa. 2. Recurso de Habeas Corpus improvido. Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, negar provimento ao recurso. Vencido o Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro. Votaram com o Relator os Ministros Hamilton Carvalhido e Vicente Leal. Ausente, por motivo de licença, o Ministro William Patterson”. (STJ, RHC 8198/GO, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ 01/07/99)

105 Luiz Flavio Gomes, entende que sim, pois a causa de pedir seria outra, inclusive assim exemplifica: seria possível o proces-samento de senhora do filme “Risco Duplo”, que pagou pena por uma morte que não ocorreu, mas depois mata aquele que, a princípio, estaria morto. 106 MIRABETE, Julio Fabbrini. 107 GRINOVER, Ada Pellegrini. 108 JESUS, Damásio Evangelista de. 109 BITENCOURT, Cezar Roberto. 110 PRADO, Geraldo.