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Terra Viva Publicação de Informação Ambiental Boletim Informativo N° 2, Agosto 2015
DUAT ATRIBUIDO À RBLL É ILEGAL E PASSÍVEL DE IMPUGNAÇÃO JUDICIAL
CTV estende advocacia de interesse público a mais
Comunidades de Afungi
Impacto social e ambiental da Portucel discutido
em Washington
Debate sobre o direito à informação atrai centenas
em Maputo
CTV pesquisa métodos de baixo custo para a
titulação de terras
Ordem dos Advogados e CTV promovem debate
sobre o reassentamento no contexto dos mega-
projectos
Mozal instada a prestar atenção na saúde das
comunidades ao seu redor
Exiguidade de fundos limita esforços de monitoria
de tartarugas marinhas no país
Governo encoraja o uso de cestos biodegradáveis
ao invés do saco plástico
Cooperação suíça reúne-se com parceiros nacionais
em Nampula
Com o apoio de:
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Boletim Informativo – Terra Viva
Terra Viva – Boletim Informativo
DISP.REG/GABINFO - DEC
Ficha técnica
Propriedade e Edição: Centro Terra Viva – Estudos e
Advocacia Ambiental
Editor: Lino Manuel
Redacção: Lino Manuel, Renato Uane, Raquel
Fernandes e Manuela Wing
Revisão: Marcos Pereira
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Boletim Informativo – Terra Viva
Índice
1. Duat atribuido à RBLL é ilegal e passível de impugnação judicial ........................................................... 4
2. CTV estende advocacia de interesse público a mais comunidades de Afungi ........................................ 6
3. Impacto social e ambiental da Portucel discutido em Washington ........................................................... 8
4. Debate sobre o direito à informação atrai centenas em Maputo .............................................................. 10
5. CTV pesquisa métodos de baixo custo para a titulação de terras ............................................................ 14
6. Ordem dos advogados e CTV promovem debate sobre o reassentamento no contexto dos mega-
projectos............................................................................................................................................................ 15
7. Mozal instada a prestar atenção na saúde das comunidades ao seu redor ............................................ 17
8. Exiguidade de fundos limita esforços de monitoria de tartarugas marinhas no país ........................... 19
9. Governo encoraja o uso de cestos biodegradáveis ao invés do saco plástico ......................................... 21
10. Cooperação Suíça reúne-se com parceiros nacionais em Nampula......................................................... 22
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Boletim Informativo – Terra Viva
DUAT ATRIBUIDO À RBLL É ILEGAL E PASSÍVEL DE IMPUGNAÇÃO
JUDICIAL
O Direito de Uso e
Aproveitamento da Terra
(DUAT) atribuído à Rovuma
Basin LNG Land, Limitada
(RBLL), para a implantação da
Fábrica de Liquefacção de Gás
Natural, na Península de
Afungi, Distrito de Palma, em
Cabo Delgado é ilegal, podendo
vir a ser impugnado
judicialmente, a qualquer
momento.
O alerta consta do relatório da
avaliação jurídica independente
aos processos de licenciamento
daquele empreendimento,
realizada em Janeiro do corrente
ano, por uma equipa de juristas
séniores nacionais, composta
pelo Juiz Conselheiro Jubilado,
João Carlos Trindade e pelos
advogados, Lucinda Cruz e
André Cristiano José.
A RBLL é uma sociedade
comercial constituída em 2012
pela Anadarko Moçambique
Área 1 (AMA1) e pela Empresa
Nacional de Hidrocarbonetos
(ENH, E.P) tendo como objecto,
dentre outros, a aquisição do
(DUAT), numa área de sete mil
hectares, na Península de
Afungi, para a implantação
daquela fábrica e de outras
infra-estruturas de apoio,
incluindo uma cidadela
industrial.
O documento indica que a
ilegalidade do DUAT da RBLL
explica-se, por um lado, pelo
facto de ter sido atribuído sem a
celebração de contratos de
cessão de exploração, entre
aquela sociedade comercial e as
comunidades e pessoas
singulares que ocupam, há
várias gerações, a área dos sete
mil hectares. Tais contratos de
cessão de exploração não seriam
sobre a terra em si, mas sobre as
infra-estruturas, construções e
Momento de apresentação do Mapa da área abrangida pelo
projecto às comunidades afectadas Membros da Comunidade de Maganja apreciando o mapa da área
do DUAT
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Boletim Informativo – Terra Viva
benfeitorias existentes,
pertencentes às comunidades e
pessoas singulares.
Por outro lado, por ter sido
atribuído sem a extinção do
direito de uso e aproveitamento
da terra, pertencente às
comunidades locais e pessoas
singulares, conforme o
estipulado na Lei de Terras e no
seu respectivo regulamento,
esclarece, o relatório que temos
vindo a citar.
Num outro desenvolvimento, o
documento acrescenta que a
ilegalidade do DUAT da RBLL
não se cinge apenas nos
aspectos da legislação sobre
terras, acima indicados, como
também, do ponto de vista do
Código Comercial.
Citando este instrumento legal,
o relatório refere que as
sociedades comerciais têm que
ter como objecto o exercício de
uma actividade económica
destinada à produção, para a
troca sistemática e vantajosa.
Este princípio legal contrasta
com o objecto social da RBLL
que é, entre outros, a aquisição
do Direito de Uso e
Aproveitamento da Terra, para
o desenvolvimento do projecto
de gás natural liquefeito.
No entender dos autores do
relatório supra citado, a
aquisição do Direito de Uso e
Aproveitamento da Terra não
pode, de forma alguma, ser
considerada, por si só, como
uma actividade económica
destinada à produção.
Apesar de admitirem que com a
terra se organiza a produção,
negam que a aquisição do
DUAT seja uma actividade
económica em si.
Segundo eles, aceitar este
objecto, como legítimo para
uma sociedade comercial, seria
o mesmo que constituir uma
sociedade cujo objecto fosse o
de obter o alvará para o
exercício da actividade, mas não
a actividade em si.
Outro aspecto que justifica a
ilegalidade daquele DUAT,
prende-se com o facto de o
objecto da RBLL referir, ainda,
que a sociedade pode celebrar
Residências ao redor do litoral de Milamba, em Afungi Grupo de Pescadores artesanais de Milamba, em Afungi
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Boletim Informativo – Terra Viva
contratos de exploração do
DUAT, facto que é
manifestamente ilegal, por
violar a Constituição da
República e a Lei de Terras.
Sobre esta matéria, o relatório
explica que, nunca poderá, o
conceito de contrato de cessão
de exploração ser aplicado à
terra propriamente dita, a não
ser que algum diploma legal
venha a permiti-lo, sem que
viole os princípios da
Constituição. O documento
elucida ainda que, se a terra
virgem, isto é, livre de infra-
estruturas, construções,
benfeitorias, pudesse ser cedida
a alguém para a explorar e, mais
ainda, mediante o pagamento
de um valor pecuniário, isso
traduzir-se-ia, não somente na
violação dos princípios
constitucionais e legais sobre o
uso e aproveitamento da terra,
como seria o mesmo que
permitir que, qualquer pessoa,
se poderia substituir ao Estado,
na atribuição do direito de uso e
aproveitamento da terra a
terceiros e a fazer dinheiro,
ilegalmente, à custa deste
recurso, de que todos os
moçambicanos têm direito.
Refira-se que o DUAT da RBLL,
referente à área dos sete mil
hectares, em Afungi, foi
emitido, pelo Ministério da
Agricultura, a 12 de Dezembro
de 2012 e a autorização consta
do Decreto-Lei nº 2/2014 de 2
de Dezembro.
A avaliação jurídica
independente aos processos de
licenciamento da fábrica de
liquefacção de gás natural da
Bacia do Rovuma foi
encomendada pela Plataforma
da Sociedade Civil sobre
Recursos Naturais e Indústria
Extractiva, após constatar no
terreno, que nem todos os
procedimentos impostos por lei,
quer no âmbito do processo de
atribuição do DUAT, como do
estudo de impacto ambiental,
tinham sido cumpridos.
Por: Lino Manuel
CTV ESTENDE ADVOCACIA DE INTERESSE PÚBLICO A MAIS
COMUNIDADES DE AFUNGI
Subiu para doze o número de
comunidades assistidas pelo
Centro Terra Viva (CTV) na
península de Afungi, Distrito
de Palma, em Cabo Delgado,
na salvaguarda dos seus
direitos, em relação à terra e a
outros recursos naturais, nas
diferentes etapas do processo
de licenciamento da fábrica
de liquefação do gás natural,
a ser implantada naquela
região do país, pela
Anadarko.
O apoio jurídico do CTV às
famílias afectadas por aquele
empreendimento iniciou em
2013 com a disseminação da
legislação ambiental e sobre
terras, nas comunidades de
Quitupo, Senga, Maganja e
Patacua, clarificando os direitos
7
Boletim Informativo – Terra Viva
e os deveres dos cidadãos, à luz
das leis em apreço.
Na ocasião, fez-se a preparação
dos membros dos quatro
povoados, de modo a
participarem activa e
conscientemente nas consultas
organizadas pela empresa,
inerentes ao processo do
licenciamento daquela unidade
industrial, com ênfase no de
reassentamento a que estão
sujeitos.
A expansão das actividades do
CTV para outras oito (8) aldeias
de Afungi, nomeadamente,
Macala, Muangaza,
Namanengo, Monjane, Ncumbi,
Matapata, Ncalanga e Mute,
ocorreu no passado mês de
Maio de 2015 e surge em
resposta à solicitação do
Governo do Distrito de Palma e
das próprias populações, face à
crescente demanda pela terra
que se regista naquele ponto do
país, sem que as comunidades
estejam suficientemente
preparadas para esta nova
realidade.
Antes de qualquer intervenção
no terreno, o CTV apresentou ao
Governo do Distrito de Palma
um plano de actividades
referente ao presente ano, bem
como os técnicos encarregues de
implementá-lo, tendo solicitado
a inclusão de um elemento da
Administração do Distrito na
equipa que irá trabalhar nas
comunidades beneficiárias do
apoio jurídico.
Como ponto focal do Executivo
de Palma, no grupo actividades
do CTV nas comunidades de
Afungi, o Administrador do
Distrito, Pedro Romão Jemusse,
indicou a Directora dos Serviços
Distritais de Planeamento e
Infraestruturas, Verónica
Pancrácio e destacou um técnico
da Secretaria Distrital para
integrar a equipa conjunta,
durante o período em que esta
trabalhou nos oito povoados
recentemente incorporados e
noutros dois, onde o CTV vinha
trabalhando.
No encontro mantido com o
Governo daquele Distrito, os
técnicos do CTV apresentaram,
ainda, o Relatório da Avaliação
jurídica independente, feita aos
processos de licenciamento do
projecto da fábrica de
liquefacção do gás natural em
Palma. A referida avaliação
jurídica, analisou os
procedimentos legais seguidos
Pormenor do encontro entre os membros da Comunidade de
Quitupo e a equipa do CTV
Momento de auscultação das preocupações dos
moradores de Quitupo
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Boletim Informativo – Terra Viva
Plantação Florestal de Eucaliptos em Rotanda - Manica
no processo de atribuição do
direito de uso e aproveitamento
da terra (DUAT) à Anadarko,
bem como no do Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) sobre
o referido empreendimento.
As principais acções a serem
desenvolvidas nas oito aldeias
integradas, consistirão na
capacitação dos seus membros
em matérias de uso sustentável
da terras e de outros recursos
naturais e sobre mecanismos de
participação nos processos de
tomada de decisões, em
questões que lhes dizem
respeito. Estes aspectos estão
reflectidos na legislação sobre
terras, ambiente, ordenamento
territorial, reassentamento
resultante das actividades
economicas, bem como nas Leis
de Minas e Petróleo,
recentemente aprovadas.
Por: Lino Manuel e Renato Uane
IMPACTO SOCIAL E AMBIENTAL DA PORTUCEL DISCUTIDO EM
WASHINGTON
O Centro de Informação ao
Público do Banco Mundial
reuniu, em Washington DC,
representantes de algumas
instituições que actuam na área
do ambiente e desenvolvimento
sustentável, em diferentes países
em vias de desenvolvimento,
incluindo Moçambique.
O Centro Terra Viva (CTV),
organização não-governamental
moçambicana, de defesa do
ambiente, foi uma das
instituições convidadas a
participar neste encontro, tendo
sido representado pela sua
Directora Geral, Alda Salomão.
O evento realizou-se no dia 30
de Junho de 2015 e tinha como
objectivo a criação de um grupo
de trabalho sobre florestas, o
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Boletim Informativo – Terra Viva
qual irá reflectir sobre as
implicações sociais e ambientais
das iniciativas e
empreendimentos no sector
florestal, desenvolvidos com o
apoio do Banco Mundial.
No nosso país, esta instituição
financeira, através da
International Finance
Corporation (IFC), financiou a
Portucel Moçambique com 1.7
mil milhões de euros, para
desenvolver um projecto
integrado de plantação de
eucalipto, nas províncias de
Manica e Zambézia, numa área
que totaliza 356.000 hectares,
destinado à produção de papel e
energia, eléctrica e de biomassa.
Considerando a dimensão
territorial deste projecto e o
facto de que, nas duas
províncias, o mesmo será
implantado em áreas ocupadas
por comunidades locais, ao
longo de gerações, os seus
possíveis impactos sociais e
ambientais mereceram a atenção
dos participantes do encontro
acima referido.
Sobre o projecto da Portucel, a
IFC apresentou um relatório da
avaliação social e ambiental do
mesmo, no qual indica a
existência de um grande
potencial de impactos negativos
nos dois domínios. No entanto,
ainda assim, o IFC aprovou o
financiamento daquele
empreendimento, sem que os
aspectos sociais e ambientais
tivessem sido devidamente
salvaguardados, conforme
determina o Banco Mundial,
para impedir que projectos com
elevado potencial pernicioso
sejam implementados.
Segundo Alda Salomão, no caso
vertente, há uma contradição
entre as constatações do
relatório da IFC, sobre o
projecto da Portucel e a decisão
de autorizar o seu
financiamento.
Sobre este aspecto, disse ter
chamado a atenção do Banco
Mundial e da IFC sobre a
necessidade de rigor na
implementação dos padrões de
salvaguardas sociais e
ambientais que as duas
instituições adoptaram.
Adiantou que, no seu entender, a
equipa da IFC que avaliou o
projecto da Portucel não tinha o
domínio sobre os mecanismos
nacionais que devem ser
seguidos para acautelar questões
ambientais e sociais daquele
projecto e, não se preocupou em
saber e assegurar se estes dois
aspectos foram adequadamente
tratados pela empresa, antes de
se avançar, tanto para o
licenciamento do projecto como
para o seu financiamento.
A fonte disse que na sua
intervenção mencionou as
negociações em curso entre a
Portucel e o CTV, para uma
possível parceria e destacou o
facto de que a sua instituição
impõe, como condição para a
sua adesão à qualquer proposta
de parceria, a clarificação e a
confirmação de que o processo
de ocupação de terras foi legal e
legítimo.
“Colocamos esta condição à
Portucel e a posição daquela
empresa foi sempre no sentido
de insistir que o processo de
ocupação de terras tinha sido
bem feito”, frisou, Alda
Salomão, acrescentando que
“Chamei a atenção para o facto
10
Boletim Informativo – Terra Viva
de que esta afirmação é muito
genérica e tem de ser testada à
luz daquilo que são os
procedimentos legais para o
licenciamento e ocupação de
terras e mencionei os passos
essenciais e procedimentais que
todos os licenciamentos devem
seguir e que nós sabemos que
não foram seguidos pela
Portucel”, sublinhou.
O pronunciamento da directora
geral do CTV em Washington
DC, em relação à
inconformidades legais, havidas
no processo de atribuição do
direito de uso e aproveitamento
da terra (DUAT), à Portucel,
levou a equipa da IFC, que
trabalha com aquela empresa, a
visitar o escritório do CTV em
Maputo, para se inteirar melhor
sobre os detalhes do
posicionamento da instituição.
Na ocasião, os integrantes do
grupo deram a indicação de que
chamariam a atenção da empresa
sobre a necessidade de esta
tomar a iniciativa de corrigir as
irregularidades mencionadas,
pelo CTV, a começar pelas
consultas comunitárias, para o
licenciamento do uso da terra,
que não foram conduzidas nos
moldes estabelecidos por lei.
Por: Lino Manuel
DEBATE SOBRE O DIREITO À INFORMAÇÃO ATRAI CENTENAS EM
MAPUTO Cerca de duas centenas de
pessoas, entre diplomatas,
jornalistas, políticos,
parlamentares, académicos e
representantes de organizações
profissionais e da sociedade
civil, juntaram-se no dia 27 de
Maio de 2015, na capital do país,
numa reflexão em torno do
direito dos cidadãos à
informação, como um dos
requisitos do exercício da
cidadania.
O debate sobre a matéria foi
promovido pelas embaixadas
dos cinco países nórdicos
acreditadas em Moçambique,
nomeadamente, Dinamarca,
Finlândia, Islândia, Noruega e
Suécia. O evento teve três
sessões. A primeira debruçou-se
sobre os princípios do acesso à
informação, tendo como
oradores o professor Helge
Ronning, da Noruega, e Tomás
Vieira Mário, presidente do
Conselho Superior da
Comunicação Social. Helge
Ronning falou do acesso à
informação nas sociedades
transparentes, servindo-se da
experiência do seu país, neste
domínio, enquanto que Tomás
Vieira Mário, fez uma
dissertação sobre o significado
de um maior acesso à
informação para um
Moçambique democrático.
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Boletim Informativo – Terra Viva
Oradores da 2ª Sessão que abordou os desafios para a implementação da Lei do Direito á Informação em Moçambique
O orador norueguês destacou os
três conceitos essenciais do
direito à informação,
designadamente, a abertura,
que a considerou como pré-
requisito para o acesso livre e
democrático à informação, a
transparência, como uma
prática fundamental que
garante ao cidadão monitorar as
acções do Estado e o acesso à
informação que, no seu
entender, pode contribuir para
limitar o abuso do poder, pelos
agentes do Estado. Segundo
Helge Ronning, este triângulo
constitui a base do acesso à
informação, nas sociedades
transparentes.
Por seu turno, Tomás Vieira
Mário salientou que entre os
pilares fundamentais da Lei do
Direito à Informação, aprovada
o ano passado pela Assembleia
da República, destacam-se os
princípios da transparência das
actividades das entidades
públicas e privadas e o da
participação do cidadão na vida
pública. A este respeito,
prosseguiu, "importa sublinhar
que ao fazê-lo, a Lei do Direito à
Informação cria premissas
indispensáveis para o exercício da
cidadania. Se por um lado, esta lei
destaca a transparência dos actos
das entidades públicas e privadas
que funcionam com fundos públicos
e, por outro, a participação do
cidadão no debate democrático, ela,
na verdade, ordena a função pública
e o Estado, de um modo geral, a
organizar-se de tal forma que os
seus actos sejam escrutináveis pelos
cidadãos, de modo a que estes
possam se pronunciar sobre a
gestão da coisa pública com firme
conhecimento de causa”,
sublinhou.
Para Tomás Vieira Mário, a Lei
do Direito à Informação impõe
mudança de paradigma nos
órgãos do Estado e no sector
privado a ele vinculado e exige
reformas adicionais na função
pública, principalmente ao nível
do Tribunal Administrativo e da
Inspecção-Geral de Finanças.
Por sua vez, o jornalista
Fernando Gonçalves, disse não
ser fácil operar mudanças no
seio da administração pública
porque a sua criação inspirou-se
num modelo de governação de
um movimento de guerrilha e,
“como sabemos, os movimentos de
guerrilha são conhecidos por
manter os seus actos sigilosos”. Ele
considera que uma das grandes
lacunas que a Lei do Direito à
Informação tem, é o não
estabelecimento, como
recomenda a Lei-quadro da
União Africana, de uma
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Boletim Informativo – Terra Viva
entidade própria e
independente vocacionada para
a sua implementação. O
mecanismo que esta lei prevê é
a submissão de recurso, caso o
pedido de informação seja
rejeitado, à mesma instituição
que se recusou a prestar
informação e, em última
instância, ao Tribunal
Administrativo. Ela não prevê,
igualmente, penalização para
quem se recusar a fornecer
informação, facto tido como
sendo uma das grandes
fragilidades da mesma.
A segunda sessão incidiu sobre
os desafios para a
implementação da Lei do
Direito à Informação em
Moçambique e, teve como
oradores, sete individualidades
que apresentaram igual número
de temas.
A Directora Geral CTV, Alda
Salomão, foi uma das
palestrastes desta sessão. Na sua
intervenção ela destacou o facto
de o país possuir um bom
quadro legal, mas registar
fracassos na implementação das
diferentes leis aprovadas.
Perante esta realidade, apelou à
mudança de paradigma na
actuação dos diferentes actores,
com destaque para o Estado.
Disse ser urgente, por um lado,
operar mudanças na
mentalidade e atitude dos
funcionários públicos e da sua
consciência de responsabilidade
pública, em relação à legislação
e, por outro lado, ao nível do
cidadão, que se encontra no
centro das atenções de todas as
leis. “O Estado, ele próprio, é
constituído para responder aos
interesses dos cidadãos e as leis
também. Então temos que ver até
que medida nós, como cidadãos,
estamos preparados para fazer o uso
dos direitos, dos privilégios e das
oportunidades que a legislação nos
oferece, frisou.
Alda Salomão sublinhou que o
conhecimento dos cidadãos, a
todos os níveis, em relação à
legislação deve ser melhorado,
porque as leis, ainda que
tenham boas disposições, se os
seus destinatários não as
conhecem, não as percebem,
não sabem como usá-las, não
sabem como implementá-las e
nem sequer conhecem o papel
que cada um joga no processo
de sua implementação, elas não
surtem nenhum efeito.
Acrescentando, disse que no
caso vertente, se estes aspectos
não forem melhorados “não me
parece que agora iremos ver um
milagre a acontecer, simplesmente
porque estamos a falar da Lei do
Direito à Informação. O que vai Professor Helge Ronning intervindo
13
Boletim Informativo – Terra Viva
acontecer com esta lei,
provavelmente será o mesmo que
acontece com as demais leis. Repare
que a Lei do Direito à Informação é
só mais uma das várias leis que o
país tem. Esta lei cristaliza e
sistematiza princípios que já
vinham plasmados na Constituição
da República de 1990 e na de 2004
e em outras leis existentes, no
país”, concluiu.
Para aquela oradora, a
centralidade que os cidadãos
têm, em relação à legislação,
deve ser transformada e
traduzida em capacidades,
conhecimento, educação e
poder, para que estes possam
beneficiar dos direitos que a
legislação assegura e cumprir
com os deveres, igualmente
previstos nas leis. A Lei do
Direito à Informação levou cerca
de cinco anos a ser aprovada,
após ter sido depositada em
2005 na Assembleia da
República, pelo Instituto de
Comunicação Social para África
Austral (MISA-Moçambique).
Aproveitando a presença de
alguns deputados da
Assembleia da República, a
Directora Geral do CTV
recordou que havia outras leis
importantes que foram
submetidas àquele órgão há
muitos anos e que aguardam
pela aprovação, dando como
exemplo a Lei da Acção
Popular. Segundo ela, em
paralelo ao acesso à informação,
há também a necessidade do
acesso à justiça, que seria
melhor assegurado pela
implementação da Lei da Acção
Popular.
Os restantes oradores da
segunda sessão foram, Irina
Schoulgin-Nyoni, Embaixadora
da Suécia, Conceita Sortane,
Presidente da Comissão dos
Assuntos Sociais, do Género,
Tecnologia e Comunicação,
Alfredo Gamito, antigo
Deputado da Assembleia da
República, Inocêncio Impissa,
Director Nacional-adjunto de
Organização do Território,
adstrita ao Ministério da
Administração Estatal e Função
Pública e Danilo Bay, Director
Nacional-adjunto dos Registos e
Notariado.
Irina Schoulgin-Nyoni falou da
experiência Sueca no direito à
informação e, Conceita Sortane,
debruçou-se sobre como o
Parlamento pode contribuir
para um diálogo aberto, diante
da nova Lei do Direito à
Informação e para uma maior
abertura na sua relação com a
imprensa.
Alfredo Gamito apresentou os
fundamentos essenciais deste no
instrumento legal enquanto que
Inocêncio Impissa, deu a
conhecer a forma como o
Governo irá implementa-lo. Por
último, Danilo Bay, falou do
Regulamento desta nova Lei do
Direito à Informação, em
elaboração.
A última sessão do debate sobre
o direito à informação avaliou o
papel que os mídia jogam para
garantir o direito dos cidadãos à
informação, olhando para as
oportunidades que a mesma
oferece para o jornalismo
investigativo, maior isenção e
abrangência da imprensa e
transparência na administração
pública. A reflexão sobre o
direito à informação, havida na
capital, marcou a passagem do
“Dia Nórdico”, que se assinala a
27 de Maio de cada ano.
Por: Lino Manuel
14
Boletim Informativo – Terra Viva
CTV PESQUISA MÉTODOS DE BAIXO CUSTO PARA A TITULAÇÃO DE
TERRAS
O CTV pretende lançar na
comunidade de Gondo, Distrito
de Zavala, Província de
Inhambane, um projecto de
pesquisa aplicada sobre a
formalização do direito
costumeiro de ocupação da
terra, pelas famílias daquele
povoado.
A iniciativa piloto pretende
contribuir para reduzir a
vulnerabilidade das famílias
rurais em relação à terra que
ocupam, face à crescente
demanda por este recurso que,
nos últimos anos, se regista no
país.
Dados da Direcção Nacional de
Terras (DNT), mostram que
mais de noventa e cinco por
cento das famílias
Moçambicanas não registaram
as parcelas de terra nas quais
vivem e trabalham, ao longo de
gerações.
Vários factores são apontados
como estando na origem desta
situação, começando pelo
desconhecimento dos
procedimentos para a obtenção
do título de Uso e
Aproveitamento da Terra
(DUAT), por parte dos
cidadãos, até ao elevado custo
que este processo acarreta, para
além da demora das instituições
públicas responsáveis pela
emissão destes documentos, na
tramitação dos mesmos. Para
inverter o actual cenário, o CTV
propõe a criação de cadastros
comunitários de terras, em
comunidades delimitadas onde
existam Comités de Gestão dos
Recursos Naturais a funcionar.
O processo começaria com a
capacitação dos membros destes
órgãos comunitários em
matérias de legislação de terras
e de ordenamento do território,
bem como do processo de
Grupo de mulheres esboçando a área dos terrenos familiares Encontro de divulgação da legislação sobre terras na
comunidade de Gondo em Zavala
15
Boletim Informativo – Terra Viva
delimitação e demarcação de
parcelas.
Os mesmos seriam responsáveis
pela identificação de limites,
colocação de marcos, resolução
de conflitos e outras actividades
que podem ser realizadas neste
nível. Por sua vez, os técnicos
do Estado fariam o
georeferenciamento, consultas
comunitárias, esboços e
lançamento dos dados no
cadastro nacional de terras, para
além da emissão dos respectivos
títulos, que formalizam a
ocupação costumeira da terra.
Com esta iniciativa inovadora, o
CTV espera desenvolver um
método que possa massificar o
registo de terras das famílias
rurais, contribuindo deste modo
para o reforço da segurança de
posse da terra. A pesquisa, caso
alcance os objectivos definidos,
poderá contribuir para acelerar
a “Campanha Terra Segura”,
recentemente lançada pelo
Presidente da Republica, cuja
meta é de titular cinco milhões
de parcelas, nos próximos cinco
anos.
Antes de iniciar com as
actividades no campo, o CTV
tem vido a apresentar o projecto
de pesquisa de titulação de
terras a baixo custo à diferentes
parceiros, entre organizações da
sociedade civil e instituições
governamentais, de modo a
colher subsídios que permitam
melhorá-lo.
Por: Lino Manuel
ORDEM DOS ADVOGADOS E CTV PROMOVEM DEBATE SOBRE O
REASSENTAMENTO NO CONTEXTO DOS MEGA-PROJECTOS
A reflexão em torno dos
aspectos legais e institucionais a
ter em conta nos processos de
reassentamento resultantes de
actividades económicas, bem
como das implicações sociais
daí decorrentes, junto das
comunidades afectadas, teve
lugar na quinta-feira, 28 de
Maio de 2015, na Cidade de
Pemba, capital provincial de
Cabo Delgado.
O evento decorreu, a partir das
14.00 horas, na Sala Magna da
Faculdade de Turismo e
Informática da Universidade
Católica de Moçambique.
O debate sobre o tema acima
indicado, reuniu representantes
do Governo Provincial, de
algumas empresas do sector
extractivo a operar em Cabo
Delgado e de Organizações da
Sociedade Civil que trabalham
na monitoria dos processos de
licenciamento de mega-
projectos, ao nível daquela
província nortenha do país.
Contam, ainda, com a
participação de dois
representantes da Comunidade
de Quitupo, Distrito de Palma,
um dos povoados abrangidos
pelo projecto da fábrica de
liquefação de gás natural,
proposto pela Anadarko.
A reflexão sobre os aspectos
legais, institucionais e sociais
16
Boletim Informativo – Terra Viva
dos reassentamentos, no
contexto dos mega-projectos no
país, justifica-se pelo facto de a
implantação de projectos de
exploração dos recursos
naturais implicar, quase sempre,
a transferência das
comunidades locais, das suas
zonas de origem para novos
destinos.
O reassentamento é apresentado
como um caminho inevitável e
as comunidades pouco, ou em
nada, participam na escolha do
novo local de residência.
Em muitas ocasiões, sem as
salvaguardas adequadas, os
Direitos do Uso e
Aproveitamento da Terra e de
outros recursos naturais, de
milhares de cidadãos
reassentados, têm sido
afectados.
Este procedimento, por um
lado, viola os Direitos de Uso e
Aproveitamento da Terra das
comunidades, consagrado na
Lei de Terras e por outro, tem
sido a principal razão da
existência de conflitos, opondo
as comunidades locais e os
investidores.
A ocupação de terras
pertencentes às comunidades,
em Moçambique, atingiu
índices muito altos, quando
comparado com outros países
africanos. Um estudo do Banco
Mundial mostra que, de 2004 a
2009, cerca de 2,5 milhões de
hectares de terra ocupada pelas
comunidades locais, foram
cedidos pelo Governo a
terceiros.
Adicionalmente, nos últimos 5
anos, extensas parcelas de terra,
nas Províncias de Tete e Cabo
Delgado, foram concessionadas
à multinacionais, para a
exploração de recursos naturais,
tendo resultado em
reassentamento de centenas de
famílias.
Para perceber melhor este
fenómeno o CTV realizou, em
2014, um estudo sobre a
ocupação da terra por
empreendimentos económicos
em todo o país, com base na
análise da informação sobre as
áreas ocupadas por projectos
económicos, produzida pela
Direcção Nacional de Terras e
Florestas (DNTF) e pelo
Ministério dos Recursos
Minerais (MIREM).
Deste exercício concluiu-se que,
de um modo geral, os
empreendimentos económicos,
nas dez províncias do país, com
excepção da Cidade de Maputo,
ocupam uma área total de
10,100,281 hectares (ha) e
afectam 389,991 pessoas.
Grupo de homens de Maganja apreciando a proposta de plano de uso da
terra na área do projecto
17
Boletim Informativo – Terra Viva
Os projectos mineiros, por si
sós, ocupam 84.9% desta área,
correspondente a 8,578,040 ha e
estão localizados em parcelas
ocupadas por um total de
180,949 pessoas.
As áreas concessionadas para a
exploração florestal absorvem
3.4%, do território,
correspondente a 338,836 ha da
área total ocupada pelos
empreendimentos económicos.
Estes afectam 125,310 pessoas.
Os empreendimentos multiuso,
que incluem agricultura,
silvicultura e turismo, ocupam
8.2%, correspondente a 827,538
ha da área ocupada pelos
empreendimentos económicos e
afectam 95,561 pessoas.
O relatório deste estudo
encontra-se disponível Online,
no portal do CTV.
O quadro legal vigente no país e
as normas internacionais
determinam que o
reassentamento deve resultar na
melhoria das condições de vida
da população abrangida,
particularmente o acesso aos
meios de subsistência, aos
serviços sociais e aos recursos
disponíveis, assim como deve
ser garantida a auscultação das
comunidades locais e de outras
partes interessadas e afectadas
pela actividade.
A prática mostra que o
reassentamento em
Moçambique tem levado á
deterioração das condições de
vida das pessoas afectadas.
Tal, traduz-se pela perda de
bens, serviços e meios de vida,
pela exclusão das pessoas
afectadas nos processos de
negociação e tomada de
decisões, bem como na falta de
informação e preparação da
comunidade hospedeira, o que
resulta na pouca receptividade
dos transferidos.
Por: Lino Manuel
MOZAL INSTADA A PRESTAR ATENÇÃO NA SAÚDE DAS COMUNIDADES
AO SEU REDOR Participantes da reunião pública
entre a direcção da fundição de
alumínio MOZAL e as partes
interessadas, desafiaram os
responsáveis daquela fábrica a
monitorar os impactos dos
poluentes sobre a saúde das
pessoas, nas comunidades ao
redor da empresa. A MOZAL
funciona desde o ano 2000 em
Beluluane, Distrito de Boane,
Província de Maputo e é a única
o género e maior unidade
industrial no país. O repto foi
lançado a 10 de Junho do
corrente ano, após os executivos
da MOZAL terem afirmado, no
encontro com representantes de
algumas organizações da
sociedade civil, de instituições
públicas e dos moradores dos
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Boletim Informativo – Terra Viva
Presidente da Mozal Danie Murray,
usando da palavra
bairros vizinhos da fábrica, que
as emissões daquela fundição
não estão a causar impactos
significativos sobre o ar, água e
solos, no ambiente circundante.
Na ocasião, Lote Mulate,
director do departamento de
saúde, segurança no trabalho,
ambiente e comunidades, disse
que as quantidades de fluoretos
de hidrogénio, óxidos de
enxofre, dióxido de carbono e
de poeiras expelidos para a
atmosfera por aquela fundição
de alumínio, situavam-se abaixo
dos parâmetros legalmente
estabelecidos. O mesmo
acontecendo em relação aos
efluentes, contendo fluoretos
que, depois de tratados são
lançados no leito do rio Matola.
Por sua vez, o presidente da
MOZAL, Danie Murray,
sublinhou que o actual cenário
se deve à monitoria constante
das principais fontes de emissão
de poluentes, existente na
fábrica, o que levou à sua
certificação com as normas ISO
9001 e 14001.
O alegado bom desempenho
ambiental da MOZAL,
apresentado pelo presidente e
directores da empresa, não
afastou o receio dos
participantes do encontro, de
considerar que a exposição
constante aos poluentes
libertados por aquela fábrica,
embora em pequenas
quantidades, esteja a afectar a
saúde das pessoas, nas
comunidades ao redor da
mesma.
Para Yolanda Costa, do
Programa Nacional de Saúde
Ocupacional, junto ao
Ministério da Saúde, a
disposição particular do
organismo humano para
contrair doenças varia de pessoa
para pessoa. Segundo ela, há
organismos que reagem perante
a mínima inalação de poluentes
e outros que suportam uma
exposição para além dos limites,
legalmente estabelecidos.
“Quando dizem que as
quantidades de poluentes emitidos
pela MOZAL não geram impactos
significativos sobre o ambiente, por
estarem dentro dos parâmetros
estabelecidos, para os seres
humanos não é bem assim; é por
isso que existe a susceptibilidade
individual. Todos não reagimos da
mesma maneira, perante estas
substância químicas” explicou.
Com base neste argumento, ela
sugeriu que a MOZAL, no
âmbito da responsabilidade
social corporativa, juntamente
com as autoridades sanitárias,
monitorasse possíveis alterações
na saúde das pessoas nos
bairros localizados ao redor da
fábrica.
A sugestão foi secundada pela
directora do Centro de Saúde de
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Boletim Informativo – Terra Viva
Beluluane, Amymableth dos
Santos Moniz, que propôs a
realização de um estudo sobre a
insidência de doenças
respiratórias nos bairros
localizados na vizinhança da
MOZAL. Segundo ela, o
levantamento deveria
contemplar, igualmente, os
trabalhadores daquela fábrica. “
Sei que a MOZAL se preocupa com
questões de saúde ocupacional dos
seus trabalhadores, tanto é que tem
um posto médico ou uma clínica a
funcionar nas instalações da
fábrica. Porém, como médica,
ficaria satisfeita se no
apresentassem dados quantitativos
e qualitativos de casos de doenças
respiratórias, entre os trabalhadores
da fábrica e populares das
comunidades ao redor desta”,
concluíu.
Refira-se que a cadeia produtiva
do alumínio apresenta um
elevado potencial poluidor com
emissões constituídas
principalmente por poeiras ou
material particulado, de
diferentes tamanhos, gases com
efeito de estufa, ácidos e
vapores alcalinos.
A poluição do ar é a que mais
afecta o meio ambiente e a
saúde dos trabalhadores das
fundições de alumínio.
No caso da MOZAL, os
responsáveis da fábrica dizem
que estes problemas estão
controlados, mercê da alegada
aplicação de medidas eficientes
de gestão ambiental e de saúde
ocupacional.
Por: Lino Manuel
EXIGUIDADE DE FUNDOS LIMITA ESFORÇOS DE MONITORIA DE
TARTARUGAS MARINHAS NO PAÍS
Em Moçambique, a monitoria e
conservação das tartarugas
marinhas iniciou em 1988 na
Ilha da Inhaca, província de
Maputo. Durante a época de
nidificação de 2010/11 o
programa cobriu cerca de 12%
dos 2470 km de extensão da
costa litoral de Moçambique,
correspondendo a 25% da área
de nidificação de tartarugas.
Na presente época houve uma
redução da área de nidificação
monitorada para 5% do total da
área de nidificação,
evidenciando a limitação de
recursos financeiros e técnicos.
Grupo de pessoas interessadas durante o encontro promovido pela Mozal
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Boletim Informativo – Terra Viva
Tartaruga Fêmea retirando-se do ninho após a desova
Esta limitação é crítica em
algumas áreas de conservação
marinha, nomeadamente o
Parque Nacional das Quirimbas,
a Área de Protecção Ambiental
das Ilhas Primeiras e Segundas,
Parque Nacional do
Arquipélago do Bazaruto e a
Reserva Nacional de Pomene.
Na região norte o período de
nidificação das tartarugas verde
e bico-de-falcão começa em
Agosto e prolonga-se até finais
de Maio do ano seguinte,
enquanto no extremo sul, ocorre
a nidificação de tartarugas
cabeçudas e gigantes desde
Setembro a finais de Março do
ano seguinte.
O CTV tem colaborado com
diversas organizações, sendo de
destacar a Reserva Marinha
Parcial da Ponta do Ouro
(RMPPO), a IUCN, Tartarugas
para o Amanhã e Santuário
Bravio de Vilankulo, para a
recolha de dados de nidificação
e marcação de tartarugas
marinhas. Actualmente, os
programas mais consistentes
decorrem na RMPPO, na
província de Maputo, e à Ilha
Vamizi, em Cabo Delgado.
A recolha de dados de
nidificação nas praias de
Inhambane (Vilankulo, Tofo e
(Závora) ocorre
esporadicamente. Apesar das
dificuldades sentidas pelas
instituições envolvidas na
monitoria de tartarugas
marinhas, na última época de
desova foram registados um
total de 1054 ninhos, dos quais
885 na RMPPO e 132 na Ilha
Vamizi.
Na província de Inhambane,
foram identificados 25 ninhos. A
tartaruga cabeçuda foi a espécie
dominante, seguida pela
tartaruga verde.
A nível global, as tartarugas
marinhas são vulneráveis a uma
série de ameaças. Em
Moçambique, a principal
ameaça é a captura ilegal para o
consumo da carne e ovos destas
espécies marinhas protegidas.
Na presente época de monitoria
foi registada a morte de 26
indivíduos, dos quais 6 por
causas antropogénicas. Catorze
ninhos foram destruídos por
inundação em Vamizi, e 161
pela acção dos porcos do mato,
registada na secção de praia
entre a Ponta Malongane e a
Ponta Dobela na RMPPO.
Para mais informação sobre a
época de nidificação de
2014/15, consulte o relatório
anual de monitoria e
conservação das tartarugas
marinhas
Por: Raquel Fernandes
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Boletim Informativo – Terra Viva
GOVERNO ENCORAJA O USO DE CESTOS BIODEGRADÁVEIS AO INVÉS
DO SACO PLÁSTICO
As celebrações do Dia Mundial
do Ambiente, no presente ano,
foram marcadas por apelos à
utilização de cestos
biodegradáveis, no lugar de
sacolas plásticas, para
acondicionar produtos diversos,
adquiridos no mercado, quer
formal como no informal.
No país, a efeméride foi
comemorada sob o lema “Eu sou
Bio Agradável, Uma Família, Um
Cesto”, uma medida que o
Ministério da Terra, Ambiente e
Desenvolvimento Rural
(MITADER) adoptou para
consciencializar os cidadãos
sobre os impactos que o saco
plástico causa no ambiente,
quando descartado como lixo.
A preocupação do Governo e
das organizações de defesa do
ambiente, em relação ao saco
plástico, justifica-se pelo facto
de este material levar centenas
de anos para se decompor
naturalmente e, quando
incinerado, libertar toxinas
perigosas para a saúde.
Outra inquietação surge da
crescente utilização do saco
plástico, principalmente nos
centros urbanos do país, onde
causa, dentre outros impactos
ambientais, o entupimento das
sargetas, dificultando a
drenagem das água pluviais
pelos canais aproriados, facto
que concorre para as
inundações em períodos de
chuvas.
O CTV associou-se às
comemorações do dia do
Ambiente, promovendo, num
dos canais de televisão da
capital, uma reflexão sobre a
importância da reciclagem dos
resíduos sólidos urbanos.
Paralelamente a esta acção, a
instituição realizou um Sarau
Cultural, no qual foram
declamados poemas sobre o
ambiente e exibidos alguns
números de dança
contemporânea. A sessão teve
lugar, das 16:00 às 18:00 horas,
no Museu de História Natural,
na Cidade de Maputo. No local,
esteve patente uma exposição
de materiais reciclados,
produzidos a partir dos
resíduos sólidos urbanos não
biodegradáveis.
Por: Lino Manuel e Manuela
Wing
Cesto de palha ideais por serem
biodegradáveis
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Boletim Informativo – Terra Viva
COOPERAÇÃO SUÍÇA REÚNE-SE COM PARCEIROS NACIONAIS EM
NAMPULA
Representantes de quatro
instituições da sociedade civil
Moçambicana que, com base
nos fundos da Cooperação
Suíça, apoiam comunidades
rurais a materializar o seu
direito de posse segura e uso
sustentável da terra e deste e de
outros recursos naturais,
reuniram-se na cidade de
Nampula para estudar formas
de criação de sinergias entre si,
de modo a maximizar impactos.
Trata-se da Fundação Iniciativa
para Terras Comunitárias (iTC-
F), em formação, Centro Terra
Viva (CTV) e Observatório do
Meio Rural (OMR). O evento
contou também com técnicos do
projecto Inovação para
Agronegócios (InovAgro),
igualmete financiado pela
Cooperação Suíça. Durante os
trabalhos, as organizações
apresentaram os seus
programas de actividades , na
sequência deste exercício, foi
produzida uma matriz
espelhando as oportunidades de
sinergias existentes, a partir das
acções desenvolvidas pelas
instituições, de forma singular.
Depois de identificadas as áreas
de intervenção de cada uma das
instituições e os principais
produtos daí resultantes, foi
acordado que, entre a InovAgro
e a iTC-F, as sinergias advirão
da integração das Associações
Agropecuárias, criadas com o
apoio da iTC-F, na cadeia de
valor de culturas como
gergelim, soja, feijões e milho e
da intervenção, desta última
organização, junto aos
produtores agropecuários
apoiados pela InovAgro, no
acesso à insumos e na ligação
com os mercados.
Ao abrigo do novo quadro de
conjugação de esforços entre as
organizações, o OMR passará a
trabalhar com a iTC-F, CTV e
InovAgro, na identificação de
assuntos para a realização de
pesquisas científicas, com base
nos trabalhos desenvolvidos, no
terreno.
Esta organização vai, ainda,
assegurar a disseminação de
relatórios técnicos e de outros
documentos produzidos pelas
restantes instituições parceiras,
na sua biblioteca virtual, bem
como promover debates sobre
questões relacionadas com o
acesso à terra e com o uso
sustentável dos recursos
Participantes do Encontro em visita de campo
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Boletim Informativo – Terra Viva
naturais, ao nível das
províncias.
Ao CTV foi confiada a missão
de integrar a equipa que
trabalha no aprofundamento
das metodologias de
delimitação e demarcação de
terras comunitárias, em
coordenação com a Direcção
Nacional de Terras (DNT). O
encontro dos quatro parceiros
nacionais da Cooperação Suíça
decorreu nos dias 30 de Junho e
01 de Julho.
No segundo dia, os
participantes efectuaram uma
visita de campo ao posto
administrativo de Namina, no
distrito de Mecubúri onde
testemunharam os desafios e
participação da comunidade
num projecto de plantação
florestal de eucalipto, a ser
implantado pela empresa Green
Resources.
Por: Lino Manuel