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Terra Viva Publicação de Informação Ambiental Boletim Informativo N° 2, Agosto 2015 DUAT ATRIBUIDO À RBLL É ILEGAL E PASSÍVEL DE IMPUGNAÇÃO JUDICIAL CTV estende advocacia de interesse público a mais Comunidades de Afungi Impacto social e ambiental da Portucel discutido em Washington Debate sobre o direito à informação atrai centenas em Maputo CTV pesquisa métodos de baixo custo para a titulação de terras Ordem dos Advogados e CTV promovem debate sobre o reassentamento no contexto dos mega- projectos Mozal instada a prestar atenção na saúde das comunidades ao seu redor Exiguidade de fundos limita esforços de monitoria de tartarugas marinhas no país Governo encoraja o uso de cestos biodegradáveis ao invés do saco plástico Cooperação suíça reúne-se com parceiros nacionais em Nampula Com o apoio de:

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Terra Viva Publicação de Informação Ambiental Boletim Informativo N° 2, Agosto 2015

DUAT ATRIBUIDO À RBLL É ILEGAL E PASSÍVEL DE IMPUGNAÇÃO JUDICIAL

CTV estende advocacia de interesse público a mais

Comunidades de Afungi

Impacto social e ambiental da Portucel discutido

em Washington

Debate sobre o direito à informação atrai centenas

em Maputo

CTV pesquisa métodos de baixo custo para a

titulação de terras

Ordem dos Advogados e CTV promovem debate

sobre o reassentamento no contexto dos mega-

projectos

Mozal instada a prestar atenção na saúde das

comunidades ao seu redor

Exiguidade de fundos limita esforços de monitoria

de tartarugas marinhas no país

Governo encoraja o uso de cestos biodegradáveis

ao invés do saco plástico

Cooperação suíça reúne-se com parceiros nacionais

em Nampula

Com o apoio de:

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Boletim Informativo – Terra Viva

Terra Viva – Boletim Informativo

DISP.REG/GABINFO - DEC

Ficha técnica

Propriedade e Edição: Centro Terra Viva – Estudos e

Advocacia Ambiental

Editor: Lino Manuel

Redacção: Lino Manuel, Renato Uane, Raquel

Fernandes e Manuela Wing

Revisão: Marcos Pereira

Fotos: Lino Manuel e Raquel Fernandes

Concepção original: Belmiro Come e Pedro Louro

Arranjos Gráficos e impressão: CTV

Tiragem: Distribuição Online

Periodicidade: Trimestral

Distribuição: Gratuíta

Centro Terra Viva – Estudos e Advocacia Ambiental

Sede

Cidade de Maputo

Rua Daniel Tomé Magaia, N ° 60

Website: www.ctv.org.mz

Email: [email protected]

Tel: +25821321257

Delegação Regional Sul

Cidade da Maxixe

Bairro Mazambanine

Av. De Moçambique, N ° 1058

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Tel: +25829330065

Delegação Regional Norte

Cidade de Pemba

Ex – Rua Capitão Curado, N °253

Email: [email protected]

Tel: +258865638808

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Boletim Informativo – Terra Viva

Índice

1. Duat atribuido à RBLL é ilegal e passível de impugnação judicial ........................................................... 4

2. CTV estende advocacia de interesse público a mais comunidades de Afungi ........................................ 6

3. Impacto social e ambiental da Portucel discutido em Washington ........................................................... 8

4. Debate sobre o direito à informação atrai centenas em Maputo .............................................................. 10

5. CTV pesquisa métodos de baixo custo para a titulação de terras ............................................................ 14

6. Ordem dos advogados e CTV promovem debate sobre o reassentamento no contexto dos mega-

projectos............................................................................................................................................................ 15

7. Mozal instada a prestar atenção na saúde das comunidades ao seu redor ............................................ 17

8. Exiguidade de fundos limita esforços de monitoria de tartarugas marinhas no país ........................... 19

9. Governo encoraja o uso de cestos biodegradáveis ao invés do saco plástico ......................................... 21

10. Cooperação Suíça reúne-se com parceiros nacionais em Nampula......................................................... 22

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DUAT ATRIBUIDO À RBLL É ILEGAL E PASSÍVEL DE IMPUGNAÇÃO

JUDICIAL

O Direito de Uso e

Aproveitamento da Terra

(DUAT) atribuído à Rovuma

Basin LNG Land, Limitada

(RBLL), para a implantação da

Fábrica de Liquefacção de Gás

Natural, na Península de

Afungi, Distrito de Palma, em

Cabo Delgado é ilegal, podendo

vir a ser impugnado

judicialmente, a qualquer

momento.

O alerta consta do relatório da

avaliação jurídica independente

aos processos de licenciamento

daquele empreendimento,

realizada em Janeiro do corrente

ano, por uma equipa de juristas

séniores nacionais, composta

pelo Juiz Conselheiro Jubilado,

João Carlos Trindade e pelos

advogados, Lucinda Cruz e

André Cristiano José.

A RBLL é uma sociedade

comercial constituída em 2012

pela Anadarko Moçambique

Área 1 (AMA1) e pela Empresa

Nacional de Hidrocarbonetos

(ENH, E.P) tendo como objecto,

dentre outros, a aquisição do

(DUAT), numa área de sete mil

hectares, na Península de

Afungi, para a implantação

daquela fábrica e de outras

infra-estruturas de apoio,

incluindo uma cidadela

industrial.

O documento indica que a

ilegalidade do DUAT da RBLL

explica-se, por um lado, pelo

facto de ter sido atribuído sem a

celebração de contratos de

cessão de exploração, entre

aquela sociedade comercial e as

comunidades e pessoas

singulares que ocupam, há

várias gerações, a área dos sete

mil hectares. Tais contratos de

cessão de exploração não seriam

sobre a terra em si, mas sobre as

infra-estruturas, construções e

Momento de apresentação do Mapa da área abrangida pelo

projecto às comunidades afectadas Membros da Comunidade de Maganja apreciando o mapa da área

do DUAT

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Boletim Informativo – Terra Viva

benfeitorias existentes,

pertencentes às comunidades e

pessoas singulares.

Por outro lado, por ter sido

atribuído sem a extinção do

direito de uso e aproveitamento

da terra, pertencente às

comunidades locais e pessoas

singulares, conforme o

estipulado na Lei de Terras e no

seu respectivo regulamento,

esclarece, o relatório que temos

vindo a citar.

Num outro desenvolvimento, o

documento acrescenta que a

ilegalidade do DUAT da RBLL

não se cinge apenas nos

aspectos da legislação sobre

terras, acima indicados, como

também, do ponto de vista do

Código Comercial.

Citando este instrumento legal,

o relatório refere que as

sociedades comerciais têm que

ter como objecto o exercício de

uma actividade económica

destinada à produção, para a

troca sistemática e vantajosa.

Este princípio legal contrasta

com o objecto social da RBLL

que é, entre outros, a aquisição

do Direito de Uso e

Aproveitamento da Terra, para

o desenvolvimento do projecto

de gás natural liquefeito.

No entender dos autores do

relatório supra citado, a

aquisição do Direito de Uso e

Aproveitamento da Terra não

pode, de forma alguma, ser

considerada, por si só, como

uma actividade económica

destinada à produção.

Apesar de admitirem que com a

terra se organiza a produção,

negam que a aquisição do

DUAT seja uma actividade

económica em si.

Segundo eles, aceitar este

objecto, como legítimo para

uma sociedade comercial, seria

o mesmo que constituir uma

sociedade cujo objecto fosse o

de obter o alvará para o

exercício da actividade, mas não

a actividade em si.

Outro aspecto que justifica a

ilegalidade daquele DUAT,

prende-se com o facto de o

objecto da RBLL referir, ainda,

que a sociedade pode celebrar

Residências ao redor do litoral de Milamba, em Afungi Grupo de Pescadores artesanais de Milamba, em Afungi

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Boletim Informativo – Terra Viva

contratos de exploração do

DUAT, facto que é

manifestamente ilegal, por

violar a Constituição da

República e a Lei de Terras.

Sobre esta matéria, o relatório

explica que, nunca poderá, o

conceito de contrato de cessão

de exploração ser aplicado à

terra propriamente dita, a não

ser que algum diploma legal

venha a permiti-lo, sem que

viole os princípios da

Constituição. O documento

elucida ainda que, se a terra

virgem, isto é, livre de infra-

estruturas, construções,

benfeitorias, pudesse ser cedida

a alguém para a explorar e, mais

ainda, mediante o pagamento

de um valor pecuniário, isso

traduzir-se-ia, não somente na

violação dos princípios

constitucionais e legais sobre o

uso e aproveitamento da terra,

como seria o mesmo que

permitir que, qualquer pessoa,

se poderia substituir ao Estado,

na atribuição do direito de uso e

aproveitamento da terra a

terceiros e a fazer dinheiro,

ilegalmente, à custa deste

recurso, de que todos os

moçambicanos têm direito.

Refira-se que o DUAT da RBLL,

referente à área dos sete mil

hectares, em Afungi, foi

emitido, pelo Ministério da

Agricultura, a 12 de Dezembro

de 2012 e a autorização consta

do Decreto-Lei nº 2/2014 de 2

de Dezembro.

A avaliação jurídica

independente aos processos de

licenciamento da fábrica de

liquefacção de gás natural da

Bacia do Rovuma foi

encomendada pela Plataforma

da Sociedade Civil sobre

Recursos Naturais e Indústria

Extractiva, após constatar no

terreno, que nem todos os

procedimentos impostos por lei,

quer no âmbito do processo de

atribuição do DUAT, como do

estudo de impacto ambiental,

tinham sido cumpridos.

Por: Lino Manuel

CTV ESTENDE ADVOCACIA DE INTERESSE PÚBLICO A MAIS

COMUNIDADES DE AFUNGI

Subiu para doze o número de

comunidades assistidas pelo

Centro Terra Viva (CTV) na

península de Afungi, Distrito

de Palma, em Cabo Delgado,

na salvaguarda dos seus

direitos, em relação à terra e a

outros recursos naturais, nas

diferentes etapas do processo

de licenciamento da fábrica

de liquefação do gás natural,

a ser implantada naquela

região do país, pela

Anadarko.

O apoio jurídico do CTV às

famílias afectadas por aquele

empreendimento iniciou em

2013 com a disseminação da

legislação ambiental e sobre

terras, nas comunidades de

Quitupo, Senga, Maganja e

Patacua, clarificando os direitos

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Boletim Informativo – Terra Viva

e os deveres dos cidadãos, à luz

das leis em apreço.

Na ocasião, fez-se a preparação

dos membros dos quatro

povoados, de modo a

participarem activa e

conscientemente nas consultas

organizadas pela empresa,

inerentes ao processo do

licenciamento daquela unidade

industrial, com ênfase no de

reassentamento a que estão

sujeitos.

A expansão das actividades do

CTV para outras oito (8) aldeias

de Afungi, nomeadamente,

Macala, Muangaza,

Namanengo, Monjane, Ncumbi,

Matapata, Ncalanga e Mute,

ocorreu no passado mês de

Maio de 2015 e surge em

resposta à solicitação do

Governo do Distrito de Palma e

das próprias populações, face à

crescente demanda pela terra

que se regista naquele ponto do

país, sem que as comunidades

estejam suficientemente

preparadas para esta nova

realidade.

Antes de qualquer intervenção

no terreno, o CTV apresentou ao

Governo do Distrito de Palma

um plano de actividades

referente ao presente ano, bem

como os técnicos encarregues de

implementá-lo, tendo solicitado

a inclusão de um elemento da

Administração do Distrito na

equipa que irá trabalhar nas

comunidades beneficiárias do

apoio jurídico.

Como ponto focal do Executivo

de Palma, no grupo actividades

do CTV nas comunidades de

Afungi, o Administrador do

Distrito, Pedro Romão Jemusse,

indicou a Directora dos Serviços

Distritais de Planeamento e

Infraestruturas, Verónica

Pancrácio e destacou um técnico

da Secretaria Distrital para

integrar a equipa conjunta,

durante o período em que esta

trabalhou nos oito povoados

recentemente incorporados e

noutros dois, onde o CTV vinha

trabalhando.

No encontro mantido com o

Governo daquele Distrito, os

técnicos do CTV apresentaram,

ainda, o Relatório da Avaliação

jurídica independente, feita aos

processos de licenciamento do

projecto da fábrica de

liquefacção do gás natural em

Palma. A referida avaliação

jurídica, analisou os

procedimentos legais seguidos

Pormenor do encontro entre os membros da Comunidade de

Quitupo e a equipa do CTV

Momento de auscultação das preocupações dos

moradores de Quitupo

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Boletim Informativo – Terra Viva

Plantação Florestal de Eucaliptos em Rotanda - Manica

no processo de atribuição do

direito de uso e aproveitamento

da terra (DUAT) à Anadarko,

bem como no do Estudo de

Impacto Ambiental (EIA) sobre

o referido empreendimento.

As principais acções a serem

desenvolvidas nas oito aldeias

integradas, consistirão na

capacitação dos seus membros

em matérias de uso sustentável

da terras e de outros recursos

naturais e sobre mecanismos de

participação nos processos de

tomada de decisões, em

questões que lhes dizem

respeito. Estes aspectos estão

reflectidos na legislação sobre

terras, ambiente, ordenamento

territorial, reassentamento

resultante das actividades

economicas, bem como nas Leis

de Minas e Petróleo,

recentemente aprovadas.

Por: Lino Manuel e Renato Uane

IMPACTO SOCIAL E AMBIENTAL DA PORTUCEL DISCUTIDO EM

WASHINGTON

O Centro de Informação ao

Público do Banco Mundial

reuniu, em Washington DC,

representantes de algumas

instituições que actuam na área

do ambiente e desenvolvimento

sustentável, em diferentes países

em vias de desenvolvimento,

incluindo Moçambique.

O Centro Terra Viva (CTV),

organização não-governamental

moçambicana, de defesa do

ambiente, foi uma das

instituições convidadas a

participar neste encontro, tendo

sido representado pela sua

Directora Geral, Alda Salomão.

O evento realizou-se no dia 30

de Junho de 2015 e tinha como

objectivo a criação de um grupo

de trabalho sobre florestas, o

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Boletim Informativo – Terra Viva

qual irá reflectir sobre as

implicações sociais e ambientais

das iniciativas e

empreendimentos no sector

florestal, desenvolvidos com o

apoio do Banco Mundial.

No nosso país, esta instituição

financeira, através da

International Finance

Corporation (IFC), financiou a

Portucel Moçambique com 1.7

mil milhões de euros, para

desenvolver um projecto

integrado de plantação de

eucalipto, nas províncias de

Manica e Zambézia, numa área

que totaliza 356.000 hectares,

destinado à produção de papel e

energia, eléctrica e de biomassa.

Considerando a dimensão

territorial deste projecto e o

facto de que, nas duas

províncias, o mesmo será

implantado em áreas ocupadas

por comunidades locais, ao

longo de gerações, os seus

possíveis impactos sociais e

ambientais mereceram a atenção

dos participantes do encontro

acima referido.

Sobre o projecto da Portucel, a

IFC apresentou um relatório da

avaliação social e ambiental do

mesmo, no qual indica a

existência de um grande

potencial de impactos negativos

nos dois domínios. No entanto,

ainda assim, o IFC aprovou o

financiamento daquele

empreendimento, sem que os

aspectos sociais e ambientais

tivessem sido devidamente

salvaguardados, conforme

determina o Banco Mundial,

para impedir que projectos com

elevado potencial pernicioso

sejam implementados.

Segundo Alda Salomão, no caso

vertente, há uma contradição

entre as constatações do

relatório da IFC, sobre o

projecto da Portucel e a decisão

de autorizar o seu

financiamento.

Sobre este aspecto, disse ter

chamado a atenção do Banco

Mundial e da IFC sobre a

necessidade de rigor na

implementação dos padrões de

salvaguardas sociais e

ambientais que as duas

instituições adoptaram.

Adiantou que, no seu entender, a

equipa da IFC que avaliou o

projecto da Portucel não tinha o

domínio sobre os mecanismos

nacionais que devem ser

seguidos para acautelar questões

ambientais e sociais daquele

projecto e, não se preocupou em

saber e assegurar se estes dois

aspectos foram adequadamente

tratados pela empresa, antes de

se avançar, tanto para o

licenciamento do projecto como

para o seu financiamento.

A fonte disse que na sua

intervenção mencionou as

negociações em curso entre a

Portucel e o CTV, para uma

possível parceria e destacou o

facto de que a sua instituição

impõe, como condição para a

sua adesão à qualquer proposta

de parceria, a clarificação e a

confirmação de que o processo

de ocupação de terras foi legal e

legítimo.

“Colocamos esta condição à

Portucel e a posição daquela

empresa foi sempre no sentido

de insistir que o processo de

ocupação de terras tinha sido

bem feito”, frisou, Alda

Salomão, acrescentando que

“Chamei a atenção para o facto

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Boletim Informativo – Terra Viva

de que esta afirmação é muito

genérica e tem de ser testada à

luz daquilo que são os

procedimentos legais para o

licenciamento e ocupação de

terras e mencionei os passos

essenciais e procedimentais que

todos os licenciamentos devem

seguir e que nós sabemos que

não foram seguidos pela

Portucel”, sublinhou.

O pronunciamento da directora

geral do CTV em Washington

DC, em relação à

inconformidades legais, havidas

no processo de atribuição do

direito de uso e aproveitamento

da terra (DUAT), à Portucel,

levou a equipa da IFC, que

trabalha com aquela empresa, a

visitar o escritório do CTV em

Maputo, para se inteirar melhor

sobre os detalhes do

posicionamento da instituição.

Na ocasião, os integrantes do

grupo deram a indicação de que

chamariam a atenção da empresa

sobre a necessidade de esta

tomar a iniciativa de corrigir as

irregularidades mencionadas,

pelo CTV, a começar pelas

consultas comunitárias, para o

licenciamento do uso da terra,

que não foram conduzidas nos

moldes estabelecidos por lei.

Por: Lino Manuel

DEBATE SOBRE O DIREITO À INFORMAÇÃO ATRAI CENTENAS EM

MAPUTO Cerca de duas centenas de

pessoas, entre diplomatas,

jornalistas, políticos,

parlamentares, académicos e

representantes de organizações

profissionais e da sociedade

civil, juntaram-se no dia 27 de

Maio de 2015, na capital do país,

numa reflexão em torno do

direito dos cidadãos à

informação, como um dos

requisitos do exercício da

cidadania.

O debate sobre a matéria foi

promovido pelas embaixadas

dos cinco países nórdicos

acreditadas em Moçambique,

nomeadamente, Dinamarca,

Finlândia, Islândia, Noruega e

Suécia. O evento teve três

sessões. A primeira debruçou-se

sobre os princípios do acesso à

informação, tendo como

oradores o professor Helge

Ronning, da Noruega, e Tomás

Vieira Mário, presidente do

Conselho Superior da

Comunicação Social. Helge

Ronning falou do acesso à

informação nas sociedades

transparentes, servindo-se da

experiência do seu país, neste

domínio, enquanto que Tomás

Vieira Mário, fez uma

dissertação sobre o significado

de um maior acesso à

informação para um

Moçambique democrático.

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Boletim Informativo – Terra Viva

Oradores da 2ª Sessão que abordou os desafios para a implementação da Lei do Direito á Informação em Moçambique

O orador norueguês destacou os

três conceitos essenciais do

direito à informação,

designadamente, a abertura,

que a considerou como pré-

requisito para o acesso livre e

democrático à informação, a

transparência, como uma

prática fundamental que

garante ao cidadão monitorar as

acções do Estado e o acesso à

informação que, no seu

entender, pode contribuir para

limitar o abuso do poder, pelos

agentes do Estado. Segundo

Helge Ronning, este triângulo

constitui a base do acesso à

informação, nas sociedades

transparentes.

Por seu turno, Tomás Vieira

Mário salientou que entre os

pilares fundamentais da Lei do

Direito à Informação, aprovada

o ano passado pela Assembleia

da República, destacam-se os

princípios da transparência das

actividades das entidades

públicas e privadas e o da

participação do cidadão na vida

pública. A este respeito,

prosseguiu, "importa sublinhar

que ao fazê-lo, a Lei do Direito à

Informação cria premissas

indispensáveis para o exercício da

cidadania. Se por um lado, esta lei

destaca a transparência dos actos

das entidades públicas e privadas

que funcionam com fundos públicos

e, por outro, a participação do

cidadão no debate democrático, ela,

na verdade, ordena a função pública

e o Estado, de um modo geral, a

organizar-se de tal forma que os

seus actos sejam escrutináveis pelos

cidadãos, de modo a que estes

possam se pronunciar sobre a

gestão da coisa pública com firme

conhecimento de causa”,

sublinhou.

Para Tomás Vieira Mário, a Lei

do Direito à Informação impõe

mudança de paradigma nos

órgãos do Estado e no sector

privado a ele vinculado e exige

reformas adicionais na função

pública, principalmente ao nível

do Tribunal Administrativo e da

Inspecção-Geral de Finanças.

Por sua vez, o jornalista

Fernando Gonçalves, disse não

ser fácil operar mudanças no

seio da administração pública

porque a sua criação inspirou-se

num modelo de governação de

um movimento de guerrilha e,

“como sabemos, os movimentos de

guerrilha são conhecidos por

manter os seus actos sigilosos”. Ele

considera que uma das grandes

lacunas que a Lei do Direito à

Informação tem, é o não

estabelecimento, como

recomenda a Lei-quadro da

União Africana, de uma

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Boletim Informativo – Terra Viva

entidade própria e

independente vocacionada para

a sua implementação. O

mecanismo que esta lei prevê é

a submissão de recurso, caso o

pedido de informação seja

rejeitado, à mesma instituição

que se recusou a prestar

informação e, em última

instância, ao Tribunal

Administrativo. Ela não prevê,

igualmente, penalização para

quem se recusar a fornecer

informação, facto tido como

sendo uma das grandes

fragilidades da mesma.

A segunda sessão incidiu sobre

os desafios para a

implementação da Lei do

Direito à Informação em

Moçambique e, teve como

oradores, sete individualidades

que apresentaram igual número

de temas.

A Directora Geral CTV, Alda

Salomão, foi uma das

palestrastes desta sessão. Na sua

intervenção ela destacou o facto

de o país possuir um bom

quadro legal, mas registar

fracassos na implementação das

diferentes leis aprovadas.

Perante esta realidade, apelou à

mudança de paradigma na

actuação dos diferentes actores,

com destaque para o Estado.

Disse ser urgente, por um lado,

operar mudanças na

mentalidade e atitude dos

funcionários públicos e da sua

consciência de responsabilidade

pública, em relação à legislação

e, por outro lado, ao nível do

cidadão, que se encontra no

centro das atenções de todas as

leis. “O Estado, ele próprio, é

constituído para responder aos

interesses dos cidadãos e as leis

também. Então temos que ver até

que medida nós, como cidadãos,

estamos preparados para fazer o uso

dos direitos, dos privilégios e das

oportunidades que a legislação nos

oferece, frisou.

Alda Salomão sublinhou que o

conhecimento dos cidadãos, a

todos os níveis, em relação à

legislação deve ser melhorado,

porque as leis, ainda que

tenham boas disposições, se os

seus destinatários não as

conhecem, não as percebem,

não sabem como usá-las, não

sabem como implementá-las e

nem sequer conhecem o papel

que cada um joga no processo

de sua implementação, elas não

surtem nenhum efeito.

Acrescentando, disse que no

caso vertente, se estes aspectos

não forem melhorados “não me

parece que agora iremos ver um

milagre a acontecer, simplesmente

porque estamos a falar da Lei do

Direito à Informação. O que vai Professor Helge Ronning intervindo

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Boletim Informativo – Terra Viva

acontecer com esta lei,

provavelmente será o mesmo que

acontece com as demais leis. Repare

que a Lei do Direito à Informação é

só mais uma das várias leis que o

país tem. Esta lei cristaliza e

sistematiza princípios que já

vinham plasmados na Constituição

da República de 1990 e na de 2004

e em outras leis existentes, no

país”, concluiu.

Para aquela oradora, a

centralidade que os cidadãos

têm, em relação à legislação,

deve ser transformada e

traduzida em capacidades,

conhecimento, educação e

poder, para que estes possam

beneficiar dos direitos que a

legislação assegura e cumprir

com os deveres, igualmente

previstos nas leis. A Lei do

Direito à Informação levou cerca

de cinco anos a ser aprovada,

após ter sido depositada em

2005 na Assembleia da

República, pelo Instituto de

Comunicação Social para África

Austral (MISA-Moçambique).

Aproveitando a presença de

alguns deputados da

Assembleia da República, a

Directora Geral do CTV

recordou que havia outras leis

importantes que foram

submetidas àquele órgão há

muitos anos e que aguardam

pela aprovação, dando como

exemplo a Lei da Acção

Popular. Segundo ela, em

paralelo ao acesso à informação,

há também a necessidade do

acesso à justiça, que seria

melhor assegurado pela

implementação da Lei da Acção

Popular.

Os restantes oradores da

segunda sessão foram, Irina

Schoulgin-Nyoni, Embaixadora

da Suécia, Conceita Sortane,

Presidente da Comissão dos

Assuntos Sociais, do Género,

Tecnologia e Comunicação,

Alfredo Gamito, antigo

Deputado da Assembleia da

República, Inocêncio Impissa,

Director Nacional-adjunto de

Organização do Território,

adstrita ao Ministério da

Administração Estatal e Função

Pública e Danilo Bay, Director

Nacional-adjunto dos Registos e

Notariado.

Irina Schoulgin-Nyoni falou da

experiência Sueca no direito à

informação e, Conceita Sortane,

debruçou-se sobre como o

Parlamento pode contribuir

para um diálogo aberto, diante

da nova Lei do Direito à

Informação e para uma maior

abertura na sua relação com a

imprensa.

Alfredo Gamito apresentou os

fundamentos essenciais deste no

instrumento legal enquanto que

Inocêncio Impissa, deu a

conhecer a forma como o

Governo irá implementa-lo. Por

último, Danilo Bay, falou do

Regulamento desta nova Lei do

Direito à Informação, em

elaboração.

A última sessão do debate sobre

o direito à informação avaliou o

papel que os mídia jogam para

garantir o direito dos cidadãos à

informação, olhando para as

oportunidades que a mesma

oferece para o jornalismo

investigativo, maior isenção e

abrangência da imprensa e

transparência na administração

pública. A reflexão sobre o

direito à informação, havida na

capital, marcou a passagem do

“Dia Nórdico”, que se assinala a

27 de Maio de cada ano.

Por: Lino Manuel

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Boletim Informativo – Terra Viva

CTV PESQUISA MÉTODOS DE BAIXO CUSTO PARA A TITULAÇÃO DE

TERRAS

O CTV pretende lançar na

comunidade de Gondo, Distrito

de Zavala, Província de

Inhambane, um projecto de

pesquisa aplicada sobre a

formalização do direito

costumeiro de ocupação da

terra, pelas famílias daquele

povoado.

A iniciativa piloto pretende

contribuir para reduzir a

vulnerabilidade das famílias

rurais em relação à terra que

ocupam, face à crescente

demanda por este recurso que,

nos últimos anos, se regista no

país.

Dados da Direcção Nacional de

Terras (DNT), mostram que

mais de noventa e cinco por

cento das famílias

Moçambicanas não registaram

as parcelas de terra nas quais

vivem e trabalham, ao longo de

gerações.

Vários factores são apontados

como estando na origem desta

situação, começando pelo

desconhecimento dos

procedimentos para a obtenção

do título de Uso e

Aproveitamento da Terra

(DUAT), por parte dos

cidadãos, até ao elevado custo

que este processo acarreta, para

além da demora das instituições

públicas responsáveis pela

emissão destes documentos, na

tramitação dos mesmos. Para

inverter o actual cenário, o CTV

propõe a criação de cadastros

comunitários de terras, em

comunidades delimitadas onde

existam Comités de Gestão dos

Recursos Naturais a funcionar.

O processo começaria com a

capacitação dos membros destes

órgãos comunitários em

matérias de legislação de terras

e de ordenamento do território,

bem como do processo de

Grupo de mulheres esboçando a área dos terrenos familiares Encontro de divulgação da legislação sobre terras na

comunidade de Gondo em Zavala

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Boletim Informativo – Terra Viva

delimitação e demarcação de

parcelas.

Os mesmos seriam responsáveis

pela identificação de limites,

colocação de marcos, resolução

de conflitos e outras actividades

que podem ser realizadas neste

nível. Por sua vez, os técnicos

do Estado fariam o

georeferenciamento, consultas

comunitárias, esboços e

lançamento dos dados no

cadastro nacional de terras, para

além da emissão dos respectivos

títulos, que formalizam a

ocupação costumeira da terra.

Com esta iniciativa inovadora, o

CTV espera desenvolver um

método que possa massificar o

registo de terras das famílias

rurais, contribuindo deste modo

para o reforço da segurança de

posse da terra. A pesquisa, caso

alcance os objectivos definidos,

poderá contribuir para acelerar

a “Campanha Terra Segura”,

recentemente lançada pelo

Presidente da Republica, cuja

meta é de titular cinco milhões

de parcelas, nos próximos cinco

anos.

Antes de iniciar com as

actividades no campo, o CTV

tem vido a apresentar o projecto

de pesquisa de titulação de

terras a baixo custo à diferentes

parceiros, entre organizações da

sociedade civil e instituições

governamentais, de modo a

colher subsídios que permitam

melhorá-lo.

Por: Lino Manuel

ORDEM DOS ADVOGADOS E CTV PROMOVEM DEBATE SOBRE O

REASSENTAMENTO NO CONTEXTO DOS MEGA-PROJECTOS

A reflexão em torno dos

aspectos legais e institucionais a

ter em conta nos processos de

reassentamento resultantes de

actividades económicas, bem

como das implicações sociais

daí decorrentes, junto das

comunidades afectadas, teve

lugar na quinta-feira, 28 de

Maio de 2015, na Cidade de

Pemba, capital provincial de

Cabo Delgado.

O evento decorreu, a partir das

14.00 horas, na Sala Magna da

Faculdade de Turismo e

Informática da Universidade

Católica de Moçambique.

O debate sobre o tema acima

indicado, reuniu representantes

do Governo Provincial, de

algumas empresas do sector

extractivo a operar em Cabo

Delgado e de Organizações da

Sociedade Civil que trabalham

na monitoria dos processos de

licenciamento de mega-

projectos, ao nível daquela

província nortenha do país.

Contam, ainda, com a

participação de dois

representantes da Comunidade

de Quitupo, Distrito de Palma,

um dos povoados abrangidos

pelo projecto da fábrica de

liquefação de gás natural,

proposto pela Anadarko.

A reflexão sobre os aspectos

legais, institucionais e sociais

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Boletim Informativo – Terra Viva

dos reassentamentos, no

contexto dos mega-projectos no

país, justifica-se pelo facto de a

implantação de projectos de

exploração dos recursos

naturais implicar, quase sempre,

a transferência das

comunidades locais, das suas

zonas de origem para novos

destinos.

O reassentamento é apresentado

como um caminho inevitável e

as comunidades pouco, ou em

nada, participam na escolha do

novo local de residência.

Em muitas ocasiões, sem as

salvaguardas adequadas, os

Direitos do Uso e

Aproveitamento da Terra e de

outros recursos naturais, de

milhares de cidadãos

reassentados, têm sido

afectados.

Este procedimento, por um

lado, viola os Direitos de Uso e

Aproveitamento da Terra das

comunidades, consagrado na

Lei de Terras e por outro, tem

sido a principal razão da

existência de conflitos, opondo

as comunidades locais e os

investidores.

A ocupação de terras

pertencentes às comunidades,

em Moçambique, atingiu

índices muito altos, quando

comparado com outros países

africanos. Um estudo do Banco

Mundial mostra que, de 2004 a

2009, cerca de 2,5 milhões de

hectares de terra ocupada pelas

comunidades locais, foram

cedidos pelo Governo a

terceiros.

Adicionalmente, nos últimos 5

anos, extensas parcelas de terra,

nas Províncias de Tete e Cabo

Delgado, foram concessionadas

à multinacionais, para a

exploração de recursos naturais,

tendo resultado em

reassentamento de centenas de

famílias.

Para perceber melhor este

fenómeno o CTV realizou, em

2014, um estudo sobre a

ocupação da terra por

empreendimentos económicos

em todo o país, com base na

análise da informação sobre as

áreas ocupadas por projectos

económicos, produzida pela

Direcção Nacional de Terras e

Florestas (DNTF) e pelo

Ministério dos Recursos

Minerais (MIREM).

Deste exercício concluiu-se que,

de um modo geral, os

empreendimentos económicos,

nas dez províncias do país, com

excepção da Cidade de Maputo,

ocupam uma área total de

10,100,281 hectares (ha) e

afectam 389,991 pessoas.

Grupo de homens de Maganja apreciando a proposta de plano de uso da

terra na área do projecto

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Boletim Informativo – Terra Viva

Os projectos mineiros, por si

sós, ocupam 84.9% desta área,

correspondente a 8,578,040 ha e

estão localizados em parcelas

ocupadas por um total de

180,949 pessoas.

As áreas concessionadas para a

exploração florestal absorvem

3.4%, do território,

correspondente a 338,836 ha da

área total ocupada pelos

empreendimentos económicos.

Estes afectam 125,310 pessoas.

Os empreendimentos multiuso,

que incluem agricultura,

silvicultura e turismo, ocupam

8.2%, correspondente a 827,538

ha da área ocupada pelos

empreendimentos económicos e

afectam 95,561 pessoas.

O relatório deste estudo

encontra-se disponível Online,

no portal do CTV.

O quadro legal vigente no país e

as normas internacionais

determinam que o

reassentamento deve resultar na

melhoria das condições de vida

da população abrangida,

particularmente o acesso aos

meios de subsistência, aos

serviços sociais e aos recursos

disponíveis, assim como deve

ser garantida a auscultação das

comunidades locais e de outras

partes interessadas e afectadas

pela actividade.

A prática mostra que o

reassentamento em

Moçambique tem levado á

deterioração das condições de

vida das pessoas afectadas.

Tal, traduz-se pela perda de

bens, serviços e meios de vida,

pela exclusão das pessoas

afectadas nos processos de

negociação e tomada de

decisões, bem como na falta de

informação e preparação da

comunidade hospedeira, o que

resulta na pouca receptividade

dos transferidos.

Por: Lino Manuel

MOZAL INSTADA A PRESTAR ATENÇÃO NA SAÚDE DAS COMUNIDADES

AO SEU REDOR Participantes da reunião pública

entre a direcção da fundição de

alumínio MOZAL e as partes

interessadas, desafiaram os

responsáveis daquela fábrica a

monitorar os impactos dos

poluentes sobre a saúde das

pessoas, nas comunidades ao

redor da empresa. A MOZAL

funciona desde o ano 2000 em

Beluluane, Distrito de Boane,

Província de Maputo e é a única

o género e maior unidade

industrial no país. O repto foi

lançado a 10 de Junho do

corrente ano, após os executivos

da MOZAL terem afirmado, no

encontro com representantes de

algumas organizações da

sociedade civil, de instituições

públicas e dos moradores dos

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Boletim Informativo – Terra Viva

Presidente da Mozal Danie Murray,

usando da palavra

bairros vizinhos da fábrica, que

as emissões daquela fundição

não estão a causar impactos

significativos sobre o ar, água e

solos, no ambiente circundante.

Na ocasião, Lote Mulate,

director do departamento de

saúde, segurança no trabalho,

ambiente e comunidades, disse

que as quantidades de fluoretos

de hidrogénio, óxidos de

enxofre, dióxido de carbono e

de poeiras expelidos para a

atmosfera por aquela fundição

de alumínio, situavam-se abaixo

dos parâmetros legalmente

estabelecidos. O mesmo

acontecendo em relação aos

efluentes, contendo fluoretos

que, depois de tratados são

lançados no leito do rio Matola.

Por sua vez, o presidente da

MOZAL, Danie Murray,

sublinhou que o actual cenário

se deve à monitoria constante

das principais fontes de emissão

de poluentes, existente na

fábrica, o que levou à sua

certificação com as normas ISO

9001 e 14001.

O alegado bom desempenho

ambiental da MOZAL,

apresentado pelo presidente e

directores da empresa, não

afastou o receio dos

participantes do encontro, de

considerar que a exposição

constante aos poluentes

libertados por aquela fábrica,

embora em pequenas

quantidades, esteja a afectar a

saúde das pessoas, nas

comunidades ao redor da

mesma.

Para Yolanda Costa, do

Programa Nacional de Saúde

Ocupacional, junto ao

Ministério da Saúde, a

disposição particular do

organismo humano para

contrair doenças varia de pessoa

para pessoa. Segundo ela, há

organismos que reagem perante

a mínima inalação de poluentes

e outros que suportam uma

exposição para além dos limites,

legalmente estabelecidos.

“Quando dizem que as

quantidades de poluentes emitidos

pela MOZAL não geram impactos

significativos sobre o ambiente, por

estarem dentro dos parâmetros

estabelecidos, para os seres

humanos não é bem assim; é por

isso que existe a susceptibilidade

individual. Todos não reagimos da

mesma maneira, perante estas

substância químicas” explicou.

Com base neste argumento, ela

sugeriu que a MOZAL, no

âmbito da responsabilidade

social corporativa, juntamente

com as autoridades sanitárias,

monitorasse possíveis alterações

na saúde das pessoas nos

bairros localizados ao redor da

fábrica.

A sugestão foi secundada pela

directora do Centro de Saúde de

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Boletim Informativo – Terra Viva

Beluluane, Amymableth dos

Santos Moniz, que propôs a

realização de um estudo sobre a

insidência de doenças

respiratórias nos bairros

localizados na vizinhança da

MOZAL. Segundo ela, o

levantamento deveria

contemplar, igualmente, os

trabalhadores daquela fábrica. “

Sei que a MOZAL se preocupa com

questões de saúde ocupacional dos

seus trabalhadores, tanto é que tem

um posto médico ou uma clínica a

funcionar nas instalações da

fábrica. Porém, como médica,

ficaria satisfeita se no

apresentassem dados quantitativos

e qualitativos de casos de doenças

respiratórias, entre os trabalhadores

da fábrica e populares das

comunidades ao redor desta”,

concluíu.

Refira-se que a cadeia produtiva

do alumínio apresenta um

elevado potencial poluidor com

emissões constituídas

principalmente por poeiras ou

material particulado, de

diferentes tamanhos, gases com

efeito de estufa, ácidos e

vapores alcalinos.

A poluição do ar é a que mais

afecta o meio ambiente e a

saúde dos trabalhadores das

fundições de alumínio.

No caso da MOZAL, os

responsáveis da fábrica dizem

que estes problemas estão

controlados, mercê da alegada

aplicação de medidas eficientes

de gestão ambiental e de saúde

ocupacional.

Por: Lino Manuel

EXIGUIDADE DE FUNDOS LIMITA ESFORÇOS DE MONITORIA DE

TARTARUGAS MARINHAS NO PAÍS

Em Moçambique, a monitoria e

conservação das tartarugas

marinhas iniciou em 1988 na

Ilha da Inhaca, província de

Maputo. Durante a época de

nidificação de 2010/11 o

programa cobriu cerca de 12%

dos 2470 km de extensão da

costa litoral de Moçambique,

correspondendo a 25% da área

de nidificação de tartarugas.

Na presente época houve uma

redução da área de nidificação

monitorada para 5% do total da

área de nidificação,

evidenciando a limitação de

recursos financeiros e técnicos.

Grupo de pessoas interessadas durante o encontro promovido pela Mozal

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Boletim Informativo – Terra Viva

Tartaruga Fêmea retirando-se do ninho após a desova

Esta limitação é crítica em

algumas áreas de conservação

marinha, nomeadamente o

Parque Nacional das Quirimbas,

a Área de Protecção Ambiental

das Ilhas Primeiras e Segundas,

Parque Nacional do

Arquipélago do Bazaruto e a

Reserva Nacional de Pomene.

Na região norte o período de

nidificação das tartarugas verde

e bico-de-falcão começa em

Agosto e prolonga-se até finais

de Maio do ano seguinte,

enquanto no extremo sul, ocorre

a nidificação de tartarugas

cabeçudas e gigantes desde

Setembro a finais de Março do

ano seguinte.

O CTV tem colaborado com

diversas organizações, sendo de

destacar a Reserva Marinha

Parcial da Ponta do Ouro

(RMPPO), a IUCN, Tartarugas

para o Amanhã e Santuário

Bravio de Vilankulo, para a

recolha de dados de nidificação

e marcação de tartarugas

marinhas. Actualmente, os

programas mais consistentes

decorrem na RMPPO, na

província de Maputo, e à Ilha

Vamizi, em Cabo Delgado.

A recolha de dados de

nidificação nas praias de

Inhambane (Vilankulo, Tofo e

(Závora) ocorre

esporadicamente. Apesar das

dificuldades sentidas pelas

instituições envolvidas na

monitoria de tartarugas

marinhas, na última época de

desova foram registados um

total de 1054 ninhos, dos quais

885 na RMPPO e 132 na Ilha

Vamizi.

Na província de Inhambane,

foram identificados 25 ninhos. A

tartaruga cabeçuda foi a espécie

dominante, seguida pela

tartaruga verde.

A nível global, as tartarugas

marinhas são vulneráveis a uma

série de ameaças. Em

Moçambique, a principal

ameaça é a captura ilegal para o

consumo da carne e ovos destas

espécies marinhas protegidas.

Na presente época de monitoria

foi registada a morte de 26

indivíduos, dos quais 6 por

causas antropogénicas. Catorze

ninhos foram destruídos por

inundação em Vamizi, e 161

pela acção dos porcos do mato,

registada na secção de praia

entre a Ponta Malongane e a

Ponta Dobela na RMPPO.

Para mais informação sobre a

época de nidificação de

2014/15, consulte o relatório

anual de monitoria e

conservação das tartarugas

marinhas

Por: Raquel Fernandes

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Boletim Informativo – Terra Viva

GOVERNO ENCORAJA O USO DE CESTOS BIODEGRADÁVEIS AO INVÉS

DO SACO PLÁSTICO

As celebrações do Dia Mundial

do Ambiente, no presente ano,

foram marcadas por apelos à

utilização de cestos

biodegradáveis, no lugar de

sacolas plásticas, para

acondicionar produtos diversos,

adquiridos no mercado, quer

formal como no informal.

No país, a efeméride foi

comemorada sob o lema “Eu sou

Bio Agradável, Uma Família, Um

Cesto”, uma medida que o

Ministério da Terra, Ambiente e

Desenvolvimento Rural

(MITADER) adoptou para

consciencializar os cidadãos

sobre os impactos que o saco

plástico causa no ambiente,

quando descartado como lixo.

A preocupação do Governo e

das organizações de defesa do

ambiente, em relação ao saco

plástico, justifica-se pelo facto

de este material levar centenas

de anos para se decompor

naturalmente e, quando

incinerado, libertar toxinas

perigosas para a saúde.

Outra inquietação surge da

crescente utilização do saco

plástico, principalmente nos

centros urbanos do país, onde

causa, dentre outros impactos

ambientais, o entupimento das

sargetas, dificultando a

drenagem das água pluviais

pelos canais aproriados, facto

que concorre para as

inundações em períodos de

chuvas.

O CTV associou-se às

comemorações do dia do

Ambiente, promovendo, num

dos canais de televisão da

capital, uma reflexão sobre a

importância da reciclagem dos

resíduos sólidos urbanos.

Paralelamente a esta acção, a

instituição realizou um Sarau

Cultural, no qual foram

declamados poemas sobre o

ambiente e exibidos alguns

números de dança

contemporânea. A sessão teve

lugar, das 16:00 às 18:00 horas,

no Museu de História Natural,

na Cidade de Maputo. No local,

esteve patente uma exposição

de materiais reciclados,

produzidos a partir dos

resíduos sólidos urbanos não

biodegradáveis.

Por: Lino Manuel e Manuela

Wing

Cesto de palha ideais por serem

biodegradáveis

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Boletim Informativo – Terra Viva

COOPERAÇÃO SUÍÇA REÚNE-SE COM PARCEIROS NACIONAIS EM

NAMPULA

Representantes de quatro

instituições da sociedade civil

Moçambicana que, com base

nos fundos da Cooperação

Suíça, apoiam comunidades

rurais a materializar o seu

direito de posse segura e uso

sustentável da terra e deste e de

outros recursos naturais,

reuniram-se na cidade de

Nampula para estudar formas

de criação de sinergias entre si,

de modo a maximizar impactos.

Trata-se da Fundação Iniciativa

para Terras Comunitárias (iTC-

F), em formação, Centro Terra

Viva (CTV) e Observatório do

Meio Rural (OMR). O evento

contou também com técnicos do

projecto Inovação para

Agronegócios (InovAgro),

igualmete financiado pela

Cooperação Suíça. Durante os

trabalhos, as organizações

apresentaram os seus

programas de actividades , na

sequência deste exercício, foi

produzida uma matriz

espelhando as oportunidades de

sinergias existentes, a partir das

acções desenvolvidas pelas

instituições, de forma singular.

Depois de identificadas as áreas

de intervenção de cada uma das

instituições e os principais

produtos daí resultantes, foi

acordado que, entre a InovAgro

e a iTC-F, as sinergias advirão

da integração das Associações

Agropecuárias, criadas com o

apoio da iTC-F, na cadeia de

valor de culturas como

gergelim, soja, feijões e milho e

da intervenção, desta última

organização, junto aos

produtores agropecuários

apoiados pela InovAgro, no

acesso à insumos e na ligação

com os mercados.

Ao abrigo do novo quadro de

conjugação de esforços entre as

organizações, o OMR passará a

trabalhar com a iTC-F, CTV e

InovAgro, na identificação de

assuntos para a realização de

pesquisas científicas, com base

nos trabalhos desenvolvidos, no

terreno.

Esta organização vai, ainda,

assegurar a disseminação de

relatórios técnicos e de outros

documentos produzidos pelas

restantes instituições parceiras,

na sua biblioteca virtual, bem

como promover debates sobre

questões relacionadas com o

acesso à terra e com o uso

sustentável dos recursos

Participantes do Encontro em visita de campo

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Boletim Informativo – Terra Viva

naturais, ao nível das

províncias.

Ao CTV foi confiada a missão

de integrar a equipa que

trabalha no aprofundamento

das metodologias de

delimitação e demarcação de

terras comunitárias, em

coordenação com a Direcção

Nacional de Terras (DNT). O

encontro dos quatro parceiros

nacionais da Cooperação Suíça

decorreu nos dias 30 de Junho e

01 de Julho.

No segundo dia, os

participantes efectuaram uma

visita de campo ao posto

administrativo de Namina, no

distrito de Mecubúri onde

testemunharam os desafios e

participação da comunidade

num projecto de plantação

florestal de eucalipto, a ser

implantado pela empresa Green

Resources.

Por: Lino Manuel