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DEFINIÇÃOPor droga entende-se toda substância seja ela natural ou sintética que,
quando introduzida no organismo, exerce modificações funcionais, tendo como
consequência mudanças fisiológicas e de comportamento.
As drogas sintéticas são aquelas produzidas em laboratório através de
técnicas próprias. Já as drogas naturais são resultantes de determinados
animais, alguns minerais e plantas, como a cafeína e o THC tetrahidrocarbiol.
Existem as drogas lícitas e ilícitas. As ilícitas são as que têm
comercialização proibida, já as lícitas são as drogas permitidas ou que tem seu
uso controlado, como é o caso de alguns medicamentos.
São classificadas em três categorias: depressores, estimulantes e
perturbadores. As drogas depressoras deixam o organismo mais lento por
diminuírem o nível de atividade cerebral, ou seja, inibem ou retardam a
atividade do sistema nervoso central. Como consequência dessa diminuição,
há sonolência, lentificação psicomotora, sedação, entre outras. Algumas
dessas drogas são utilizadas como medicamentos em casos em que o sistema
nervoso central do indivíduo está muito agitado, como no caso de excessos de
ansiedade e epilepsias. O álcool e tranquilizantes são exemplos de
depressores.
Estimulantes aumentam a atividade do cérebro, estimulando seu
funcionamento, entrando em conflito com a ação do sistema reticular ativador
ascendente, como cocaína, cafeína e anfetaminas.
Perturbadores modificam qualitativamente a atividade cerebral, fazendo-o
funcionar de maneira anormal, estando relacionados aos quadros alucinatórios.
O termo "alucinógeno" foi originalmente estabelecido por causa da noção de que essas substâncias produzem alucinações. Porém, atualmente o termo se transformou em uma categoria que representa substâncias como canabinóides, agentes anticolinérgicos, 3,4-metilenedioximetanfetamina (MDMA, ecstasy), e muitos outros. O que há de comum entre essas substâncias, é que eles causam alterações na consciência, freqüentemente de forma dramática e imprevisível, e em altas doses podem produzir delírio, alucinações verdadeiras, perda do contato com a realidade e, em alguns casos, a morte1
1 NICHOLS, D.E Hallucinogens. Invited review for Pharmacology & Therapeutics, Indiana, 2004
As drogas podem ser injetadas, inaladas, absorvidas por via oral e até
mesmo via retal.
Segundo a OMS, o uso de drogas pode ser classificado em: uso na vida,
quando a pessoa utiliza qualquer droga ao menos uma vez na vida; uso no
ano, quando o indivíduo utilizou alguma droga ao menos uma vez num período
de um ano; uso no mês ou recente, quando utilizou ao menos uma vez nos
últimos 30 dias; uso frequente, quando há utilização de no mínimo seis vezes
em um período de um mês; uso de risco, que trata-se de um padrão de uso
persistente implicando em alto risco futuro, mas que não teve como resultado
efeitos mórbidos orgânicos e/ou psicológicos e uso prejudicial, quando se dá
um padrão de uso causando fortes danos a saúde.
A OMS, ainda, classifica as pessoas quanto ao uso de drogas. O não
usuário é aquele indivíduo que nunca utilizou drogas. O usuário leve já fez uso
de drogas, mas no último mês não fez uso diário ou semanal. O usuário
moderado utiliza drogas toda semana, mas não todo dia durante o último mês.
Já o usuário pesado utilizou drogas todo dia no mês.
MACONHA
A Cannabis, ou cânabis (português brasileiro), chamada e conhecida
popularmente por maconha, é proveniente da palavra cânhamo (espécie da
qual a planta pertence), pela simples mudança de sílabas e letras, para
inicialmente ocultar o uso ilícito de tal. A planta, arbusto anual que atinge até
três metros de altura, tem como constituinte de suas flores maduras
unicamente femininas (pistiladas) não germinadas (os machos têm quantidade
mínima da psicoatividade), o psicoativo tetrahidrocanabinol (THC) (dentre os
400 compostos da planta, como também o canabidiol ou CBD, canabinol ou
CBN e tetrahidrocanabivarin ou THCV), tendo uma concentração de
aproximadamente até 8%.
O consumo da cânabis esteve presente inicialmente entre o terceiro e
quarto milênio a.C. na China, onde foram achados os primeiros resquícios da
fibra da planta. Depois, esteve presente na sociedade hindu, da Índia, do
Nepal, na religião védica arcaica (designava a cânabis como “fonte de
felicidade e de vida”), sendo primeira e unicamente utilizado como um
estimulante sagrado, apenas.
As tradições bramânicas posteriores consideram que seu uso agiliza a mente, concede saúde, valor e potência sexual. O budismo viu nela um auxiliar para a meditação transcendental. Herótodo menciona que era usada por escitas e persas (...). A Europa céltica (...) tinha grandes extensões dedicadas ao cânhamo.2
Em meados dos anos 60, a contestação psicodélica se instalou,
acabando com a ideia “apenas sagrada e espiritual” do uso da cânabis, sendo
até então pouco habitual. A partir dessa época, houve uma rápida explosão e
extensão no numero de usuários e produtores da maconha, sendo o primeiro
produtor a América do Norte. Agora, passaria a ser utilizada, com uma
presença excepcional em setores juvenis do mundo ocidental, já para fins
recreativos e como agente intensificador de atividades lúdicas. A ilegalidade
perante a posse, uso ou venda da maconha, na maior parte dos países do
mundo teve seu início no começo do século XX; desde então, a intensificação
de leis rigidamente regulamentadoras da proibição da droga tem crescido em
alguns países, mas, em contra partida, outros reduzem cada vez mais a
prioridade na aplicação das mesmas.
2 ESCOHOTADO, Antônio. Derivados do Cânhamo. In: ESCOHOTADO, Antônio. O Livro das Drogas: Usos e abusos, desafios e preconceitos. São Paulo: Dynamis Editorial, 1997. P. 196.
A visão da maconha, a partir do histórico há muito tempo “lúdica” de
seus efeitos, vem sendo cada vez mais pragmática, como uma droga que não
faria mal algum, já que os usuários (no total são 224 milhões em todo o mundo,
sendo que cerca de 60% são adolescentes) não constatam, em meio aos seus
efeitos, uma deficiência no decorrer das atividades corriqueiras. Assim, há um
grande conflito jurídico a despenalização da posse e utilização da maconha. Os
defensores da legalização alegam que, cultivada dentro da lei, a oferta
aumentaria e os preços cairiam, tornando o papel dos traficantes insignificantes
e ainda gerando imposto sobre o comércio da droga.
O uso medicinal da maconha, indicada para pacientes submetidos a
quimioterapia e no tratamento de fobias, se restringe a um grupo muito seleto
de pessoas e que, ao ver da comunidade em geral, é tida como um remédio de
caráter homeopático, que resolveria diversos problemas, o que de fato não
ocorre. A utilização do uso medicinal está passível de corrupções a cerca das
receitas que podem ser comercializadas nas mãos de alguns médicos,
tornando essa prática necessária a ser vista com olhares meticulosos.
Os estudos mais recentes baseado na observação do cérebro em
funcionamento por exames de imagem sobre os efeitos da maconha nas
sinapses demonstrou que a maconha interfere na função dos
endocanabinoides (grupo de neuromoduladores lipídicos e receptores
envolvidos no apetite, na sensação de dor, no humor e na memória ).Incluem
as bases lipídicas arachidonate, anandamide (N-arachidonoylethanolamide,
AEA) e o 2-arachidonoylglycerol (2-AG);. Endocannabinoides são
eicosanoides.
As enzimas que sintetizam e degradam os endocanabióides são os
ácidos graxos amido hydrolase ou a lipase monoacylglvcerol. Os receptores
canabióides são os Cb1 e Cb2, são duas G-proteínas conectas que se
localizam no sistema nervoso central e periférico.
Segundo pesquisas da Universidade Hebraica de Jerusalém revelaram
que os endocanabióides estão espalhados por todo o cérebro, o que explicaria
a ação difusa da maconha. O princípio de ação da maconha nos
neurotransmissores se dá quando ela pega o lugar dos endocanabióides nos
receptores dos compostos no neurônio, os receptores como são como porta de
entrada para os endocanabioides quando são inibidos tornam ineficiente a
sinapse. Em alguns casos pode se observar até a perda da função dos
neurônios e em estudos recentes foi descoberto que os receptores que estão
sob a ação da substância se comportam de maneira diferente do normal. E
isso também se atém quanto a quantidade em que eles se comportam de
maneira difusa.
A afinidade química da maconha é muito grande, pois diferentemente de
outras drogas a maconha encontra muitos receptores para interagir com ela
devido ao fato que ela imita a ação de compostos que são fabricados
naturalmente pelo organismo. Quando é interrompido o seu uso a maconha
ainda fica retida no organismo, passível ainda de conferir danos as sinapses.
As outras drogas cessam o seu efeito a partir do momento em que o individuo
cessa seu consumo.
O uso da maconha em jovens entre 12 e 23 anos interfere no
desenvolvimento cerebral, já que nesta idade ainda não foi formado a
mielinização completa do individuo. Nesse período de desenvolvimento ante a
mielinização o cérebro faz uma seleção com as conexões que não são uteis
para o seu funcionamento e as dispensa e enfatiza as que serão uteis
futuramente. Porém com o uso da cannabis ocorre um quadro desorganizador
dessa função, onde as sinapses que deveriam ser enfatizadas são deixadas de
lado e as que deveriam ser extintas ganham força.
As áreas que são afetadas pela maconha são muitas. Dentre elas o
córtex, que é a área da cognição fica prejudicado e o individuo apresenta falta
de atenção, dificuldade de raciocínio e problemas de comunicação. No
hipotálamo a área da sensação e da saciedade traz um aumento no apetite,
que o individuo apresenta após o uso da maconha, que é popularmente
chamado por larica. O hipocampo a área da memória traz a perda das
lembranças, sobretudo as de recente e de longa duração. Os núcleos da base
e o cerebelo, áreas do movimento corporal com a maconha trazem a falta de
coordenação motora e o desequilíbrio. A amígdala, área do controle das
emoções podem aumentar ou diminuir o nível de ansiedade sob o efeito da
maconha.
Os efeitos físicos da maconha se dão no congestionamento ocular,
redução da saliva, aumento da frequência do pulso e aumento de pressão
arterial. E os efeitos psicológicos podem se dar na forma de ansiedade , temor,
distorção na percepção do espaço e do tempo, ilusões e alucinações ou
sensações de bem estar, relaxamento, tranquilidade e riso fácil.
COCAÍNA
A cocaína é uma substância natural, um alcaloide, extraída das folhas da
Erythroxylon coca.
A folha da coca já era utilizada há mais de mil anos pelos índios da
América do Sul, que a mascando com intuito de saciar a fome, sede e cansaço,
ganhando energia. Os incas e povos dos Andes também utilizavam a folha da
coca para saciar a fome, pois ela é supressora da fome. Na Europa, a coca
chegou por voltar de 1600 e era utilizada pelo espanhóis no tratamento de
feridas e ossos quebrados, pois ela tem efeito anestésico. A folha da coca,
mesmo quando consumida em grandes quantidades, faz com que haja
absorção de uma dose ínfima de cocaína, tanto que em forma de chá, seu uso
é legal em alguns países até hoje.
A extração da cocaína só ocorreu no ano de 1859, por Albert Niemann
Em 1863, um químico italiano, Angelo Mariani, teve acesso a folha e
desenvolveu um vinho a partir da folha de coca. Esse vinho era evidentemente
mais forte que a folha da coca, pois o álcool tem poder extrativo. Esse vinho se
tornou muito popular na época, fazendo com que seu princípio fosse
popularizado. Freud utilizada a cocaína em seus pacientes devidos aos efeitos
psicotrópicos. No século XIX era ainda utilizada para tratar a dependência em
morfina. A droga já estava bastante difundida pelo mundo, sendo utilizada
como remédio, quando começaram a notar seus malefícios: dependência e
outros problemas. Apenas a partir daí é que começou o processo de proibição
da droga.
Hoje as pessoas a utilizam para conhecer novas sensações, por
curiosidade, pela facilidade de acesso, por influência, por achar que não
viciarão, para tentar fugir da realidade, pela dependência, etc.
Pesquisas têm mostrado o perfil do usuário de cocaína e crack. São
em sua maioria pessoas com baixa escolaridade (ensino fundamental
incompleto), na verdade essa baixa escolaridade pode ser resultado do
uso de drogas.
Jovens usuários de substâncias acabam abandonando o ambiente escolar, não somente para fazer o uso da droga, mas também motivados pelo baixo desempenho e pela dificuldade de aprendizado, consequentes dos prejuízos cognitivos desencadeados pelo uso frequente da droga.3
Outro dado apontado por essa pesquisa é que a maior parte dos usuários
de cocaína é solteira. Esse fator também pode ser decorrente do uso da droga,
já que os usuários apresentam dificuldade de relacionamento, pois, em busca
da droga, passam a deixar a família de lado e podem apresentar
comportamento agressivo. Outro ponto mostrado pela pesquisa foi de que há
histórico de drogas na família do usuário, sendo decorrente muitas vezes de
comportamento imitativo do familiar.
Mesmo diante das consequências do uso da cocaína, pesquisas apontam
que o número de usuários vêm aumentando gradativamente
No mundo, estima-se que 14 milhões de pessoas façam uso abusivo de cocaína.1 No Brasil, de acordo com o I Levantamento Domiciliar sobre o uso de Drogas, realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), constatou-se que 7,2% dos indivíduos do sexo masculino, entre 25 e 34 anos de idade, já usaram a droga,2 e dados epidemiológicos recentes mostram que o uso de cocaína/crack vem crescendo nos últimos anos entre os estudantes do ensino médio e fundamental.4
A cocaína pode consumida de algumas maneiras: as folhas da planta, a
pasta de coca, o cloridrato de cocaína e o crack e merla. No caso das folhas,
que não trazem dano a saúde, é consumida mascando ou como chá. A pasta
3 SHEFFER, M. et al. Dependência de Álcool, Cocaína e Crack e Transtornos Psiquiátricos. Brasília, 2010.4 CUNHA, Paulo. Et al. Alterações neuropsicológicas em dependentes decocaína/crack internados: dados preliminares. São Paulo
normalmente é fumada quando misturada ao tabaco e seus efeitos encontram-
se entre os do chá e do cloridrato. O cloridrato de cocaína é o mais comum
entre os usuários de cocaína, sendo ele um sal resultante do refinamento da
pasta. Pode ser também injetada depois de diluída em água. O crack é feito da
mistura da cocaína com bicarbonato de sódio e outras substâncias e é
normalmente fumado, assim como a merla, que é a cocaína em base.
A cocaína atua no sistema nervoso central e dentre seus efeitos estão:
euforia, bem-estar, sociabilidade, paranoia, diminuição da fadiga, diminuição da
necessidade de sono, pode aumentar a libido sexual, reduz o apetite e
aumenta a energia. Fisicamente, produz tremor nas mãos, agitação e
taquicardia, podendo causar náusea e vômito, pupilas dilatadas, aumento da
pressão arterial e aumento da temperatura corporal.
A ação da cocaína no organismo está diretamente ligada ao
neurotransmissor dopamina, que é produzido pela substância nigra e secretado
pela área tegmental. A dopamina é responsável pelas sensações de prazer e
motivação e age sobretudo na área pré-frontal Em seu processo normal, a
dopamina é sintetizada e fica armazenada nas vesículas sinápticas, que, com a
chegada de um impulso elétrico no terminal nervoso, se locomovem para a
membrana do neurônio pré-sináptico e liberam a dopamina na fenda sináptica.
A dopamina se liga aos seus receptores específicos localizados no neurônio
pós-sináptico, do outro lado da fenda, onde ocorrerá a entrada e saída de íons
e a liberação e eliminação de enximas. Feito isso, a dopamina deve retornar ao
neurônio pré-sináptico, sendo então recaptada pelos sítios transportadores de
dopamina.
A cocaína, ao chegar ao cérebro, acaba bloqueando os sítios
transportadores de dopamina, com isso, a dopamina não será recaptada e
ficará livre pelo cérebro até que a cocaína saia. A medida que novos impulsos
chegam, o cérebro vai liberando mais dopamina, que sai do neurônio pré-
sináptico e não consegue voltar, acumulando no cérebro.
Cocaína bloqueando os sítios receptadores de dopamina
Graças a esse acúmulo de dopamina no cérebro é que ocorrerão as
sensações provenientes do uso da cocaína, como a sensação de prazer. Por
isso pode-se dizer que a cocaína tem maior atuação sobre as áreas frontais. O
excesso de dopamina no cérebro pode provocar mania, fazer com que a
pessoa aja por impulso.
Tanto a dopamina como outras substâncias aumentadas no cérebro podem produzir vasoconstrição e causar lesões. Estas lesões podem incluir hemorragias agudas e infarto no cérebro (zona de morte celular, causada por falta de oxigênio), bem como necrose do miocárdio, podendo levar à morte súbita.5
Se o individuo usar a droga por muito tempo, pode ocorrer uma
adaptação do cérebro, fazendo com que ele precise da substância para
diminuir a quantidade de dopamina no neurônio. No caso da abstinência, o
organismo sente falta do excesso de dopamina, que era o que estava
acostumado graças a cocaína, fazendo com que haja sintomas contrários aos
efeitos da droga.
Pesquisas feitas com dependentes de cocaína apontaram para alterações
em testes de atenção, de fluência verbal, de memória visual e verbal e danos
na capacidade de aprendizagem e funções executivas.
CRACK
O crack surge da pasta básica de coca ou “cocaína freebase”, mistura
definida como “sulfato de cocaína”. É feita a pulverização/maceração da folha
5 CARDOSO, S; SABBATINI, R. Os efeitos da cocaína no cérebro. Disponível em http://www.cerebromente.org.br/n08/doencas/drugs/anim1.htm
de coca com solvente. Por ser produzido de forma clandestina, é encontrado
na mistura diversas impurezas e substancias como cal, álcool, benzina,
parafina, querosene, ácido sulfúrico e bicarbonato de sódio. Após fazer a
mistura, é separada a parte liquida e sólida, depois essa parte sólida é posta
para secar, dando origem às pedras de crack. O crack é um derivado de
cocaína em formato de pedra e produzido para consumo inalatório. Provoca
dependência rápida e de forma devastadora. Seu custo é significantemente
baixo em relação a cocaína refinada, seu efeito é curto porém é de maior
intensidade. O efeito da cocaína pode chegar a atingir 45 minutos e o do crack
5 minutos. A fumaça inalada entra no pulmão, vai para a corrente sangüínea e
por fim chega ao cérebro.
Nos EUA, nos bairros mais pobres de Miami, Los Angeles e Nova York a
cocaína era vendida de forma injetável- endovenosa, e inalável- intranasal. Há
relatos que as drogas vendidas, inclusive a “cocaína freebase” ou “cocaína
freebasing” eram vendidas por “minorias étnicas culturalmente coesas”, com a
venda das drogas faziam sua economia dentro de comunidades. Logo veio o
surgimento do crack, em meados de 1985, e aos poucos a cocaína vendida
nesses bairros tornou-se menos popular, seu preço era muito mais alto em
relação ao do crack que era muito mais acessível. Antigos usuários de cocaína
endovenosa se tornaram usurários de crack, o qual era em forma de pedra e
fumado em um cachimbo, usado dessa forma o crack se apresentava “seguro”,
pois não havia como contaminar-se com o vírus HIV, como na cocaína
injetável.
Inicialmente, o perfil dos usurários dava-se por jovens, já usuários da
cocaína intranasal, usuários de maconha e poliusuários, que adotaram o crack
como sua droga padrão e por jovens que adotaram como sua primeira
substancia de uso. Logo, o perfil cresceu para usuários, geralmente mais
velhos, que antes faziam o uso da cocaína injetável, e que após adquirir AIDS
buscavam métodos mais “seguros” para administrar a droga.
No começo dos anos 80 a cocaína já havia se popularizado entre diversos
países. O crack se espalhou em meados da década de 90. Para os demais
países como Espanha, Itália, Reino Unido, Alemanha, logo teve sua chegada
no Brasil.
Hoje, o perfil do dependente da droga caracteriza-se principalmente pela
predominância masculina, com idade entre 20 e 40 anos, de renda e
escolaridade baixas, provenientes de famílias desestruturadas, desempregados
não abandonam o vicio e não têm acesso a tratamento adequado.
Comparando com usuários da cocaína intranasal, há mais envolvimento em
atividades ilegais por parte dos usuários de crack, maior envolvimento com a
prostituição, moram ou já moraram na rua, além de apresentarem maiores
problemas relacionados a saúde e sociais. A maioria dos usuários, tanto
mulheres quanto homens se desligam da família, saem de casa precocemente
ou problemas relacionados a drogas, casamento e desentendimentos
familiares. Têm antecedente de uso de outras substancias. Em relação as
mulheres, pesquisas apontam que a sua primeira relação sexual ocorreu
precocemente, pequena porcentagem dessas mulheres, antes de usar o crack,
fez uso de preservativo. O uso inicia-se com drogas ilícitas – tabaco, e álcool.
A sensação causada pelo uso da droga compreende euforia, sensação de
autoconfiança, ilusão de onipotência, prazer. O efeito leva de 10 a 15
segundos para se efetivar, tem duração máxima de 5 minutos. No término do
efeito e sensações prazerosas, vem sensação de disforia, a compulsão e a
fissura, também chamada de craving– que seria a vontade extrema de
administrar a droga novamente.
No momento em que ocorre a fissura os usuários acabam correndo riscos
de vida, se envolvendo em roubos e diversas situações perigosas. Para
suportar esse efeito fazem uso do álcool e da maconha. A fissura é um
sintoma que faz parte da primeira(crash) e da ultima das três fases da
síndrome da abstinência. A primeira fase, chamada Crash, tem duração de 4
dias, apresentando disforia, ansiedade, FISSURA. A segunda fase, a
abstinência, tem duração de até 10 semanas, caracterizada por ansiedade,
anedonia, hipossonia e memórias de euforia pelo uso da droga. Na última fase,
antes falado, o sintoma que reside é a fissura, podendo levar anos para seu
desaparecimento.
A maior parte dos autores considera o craving e o estresse, que parecem possuir íntima relação (Sinha 1999, Weinstein 1998, Sinha, 2006), os mais importantes precipitadores das recaídas. Existem evidências que a cocaína/crack, assim como o estresse, estimula o eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal através do fatos liberador de corticotrofinas hipotalâmico, e que os níveis aumentados de corticosterona participam no desenvolvimento da busca à droga (Goeders, 2002)
Segundo a pesquisa feita com mulheres usuárias de crack, relatou que essas
mulheres fizeram seu primeiro programa em troca de dinheiro/droga enquanto
passavam pela fase de fissura, na maioria das vezes não lembravam como
ocorreu a situação.
“Dizem que quem usa droga não tem mais cérebro. Eu acredito que não tenho nenhum. Realmente eu sei que fiz, até aprendi afazer um programa... mas não lembro com quem foi nem onde.No começo eu deitava na cama, o homem deitava em cima de mim, aquilo, eu... Mas a aflição de querer fumar eu não via a hora que acabasse, nem olhava prá cara do sujeito.” (FD27) (Comportamento de Risco de Mulheres Usuárias de Crack em Relação as DST/AIDS, Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas P56)
A pesquisa também revelou que boa parte dessas mulheres usuária de
crack fazem programas para conseguir dinheiro/droga todos os dias. Essas
usuárias contataram que não há como escolher o parceiro na hora do
programa, a única exigência é que ele tenha dinheiro ou que tenha a droga, e
que o maior medo não é de contaminação por alguma DTS e sim do parceiro
não pagar pelo serviço.
Num período de dias de administração do crack, o usuário deixa de cuidar
das suas necessidades básicas - higiene, alimentação, sono- e também não dá
importância para sua aparência física. Logo depois vem uma série de efeitos
que se acarretam, surgem a partir do uso crônico da droga. A paranóia se
destaca, é o medo incontrolável que o usuário sente medo em relação a ser
descoberto pela policia ou por parentes. Doenças sexualmente transmissíveis
se associam ao uso da droga, pois os usuários, tanto homens quanto mulheres
se prostituem para adquirir a droga, ou o dinheiro para efetuar a compra. Junto
as doenças sexualmente transmissíveis, está incluso o HIV e a gravidez de
grande risco. Além da prostituição em troca da droga, o roubo, assaltos, tráfico
e violência se associam ao uso de crack.
Episódios como AVC, Infarto do Miocárdio, pneumonia, Estado de Mal
Epilético, aumento da pressão arterial, Hepatite C, disfunções pulmonar,
paralisias respiratórias e também episódios psicóticos paranóides acontecem
em função ao uso do crack. Depressão, ansiedade, déficits cognitivos
(memória verbal e visual, atenção, fluência verbal, aprendizagem, funções
executivas- raciocínio, tomada de decisões, estratégias), perda de apetite e
sono, transtornos de humor, conduta e personalidade também estão
relacionados com a dependência do crack.
Assim como a cocaína, o crack também age no sistema dopaminérgico,
noradrenérgico, serotoninérgico, potencializando a liberação desses três
neurotransmissores. Fazendo parte da classe de anfetaminas também se
classifica como anorexígeno. Com o aumento desses neurotransmissores nas
fendas sinápticas, o sono e a fome se reduzem. Em relação ao déficit de
tomada de decisões, há alterações pré-frontais. A falha ligada a consistência
da recuperação de memória e aprendizagem verbal associa-se a alterações
ocorridas nos lobos frontal e temporal. A área responsável pelas funções
executivas é no córtex pré-frontal.
Estudos têm demonstrado que a cocaína atua e promove alterações emregiões hipocampais, modificando o mecanismo de Long-TermPotentiation (LTP), envolvido no processo de formação de novasmemórias.15 A diminuição na disponibilidade de dopamina eserotonina nestas áreas, durante a abstinência, tem sido associada com déficits de aprendizado e memória.6
Os medicamentos utilizados no tratamento dos usuários de crack, segundo
Diretrizes Gerais Médicas Para a Assistência Integral ao Crack (Conselho
Federal de Medicina) , assim como no tratamento de usuários de cocaína, se
resume em:
6 CUNHA, Paulo. Et al. Alterações neuropsicológicas em dependentes decocaína/crack internados: dados preliminares. São Paulo
Anticonvulsivantes – Carbamazepina, Topiramato, Gabapentina, Lamotrigina,
Valproato de Sódio.
Agentes Aversivos - Dissulfiram (Antietanol).
Antidepressivos - Triciclicos: Imipramina. Inibidores seletivos da recaptação da
serotonina, noradrenalina e duais: Fluoxetina, Sertralina, Reboxetina, -
Mirtazapina, Venlafaxina, Bupropiona.
Estabilizadores de humor – Lítio.
Antipsicóticos – Haloperidol, Risperidona, Olanzapina, Propanolol.
LSD
A dietilamida do ácido lisérgico chamado popularmente como LSD, vindo
do acrônimo da palavra alemã Lysergsäurediethylamid e é um derivado do
alcaloide do fungo Claviceps purpúrea, produzido por cravagem e foi
sintetizado pelo químico suíço Albert Hoffman em 1938. Inicialmente foi
designado ao LSD poderia ser utilizado em tratamento de alcoolismo e
disfunções sexuais e obteve grandes êxitos, porém devido aos seus efeitos
alucinógenos foi logo incorporada como uma droga recreativa. Os alucinógenos
foram usados em vários rituais e devido a sua propriedade alucinógena foi
dado caráter místico. O LSD foi utilizado em larga escala por volta dos anos 60
com o movimento psicodélico na Inglaterra e passou ser difundido nas noites
londrinas e no cenário musical inglês. O consumo do LSD difundiu-se nos
meios universitários norte-americanos, hippies, grupos de música pop,
ambientes literários, gerando um grande sucesso nos festivais de Woodstock.
Atualmente o consumo de LSD é mais difundido por jovens entre 18 e 25 anos
no ambiente de festas de música eletrônica “raves”. Normalmente são jovens
de classe média alta, com a intenção de obter sensações novas, coloridas e
com intuito de uma introspecção a fim de conhecer o seu eu.
O LSD pode ser encontrado em várias formas. Dentre elas a forma mais
popular é em uma solução e é aplicada em papéis absorventes, onde figuras
coloridas são impressas para encobrir a oxidação e torná-lo um atrativo.
Também podem ser encontrados como tabletes de gelatina, cubos de açúcar,
encapsulados e na forma de micropontos e podem ser consumidas via oral, na
forma injetada ou inalada.
O uso do LSD foi proibido em 1965 nos Estados Unidos e em 1971 no
resto do mundo. Essas proibições também resultaram na interrupção de
pesquisas científicas sobre possíveis usos terapêuticos do LSD. Por volta da
década de 80, quase não existiam mais estudos. Das pesquisas anteriores,
existem dados contraditórios e insuficientes que dificultam o trabalho dos
estudos atuais. Entretanto, hoje ainda existem pesquisadores empenhados em
encontrar provas para os usos clínicos do LSD. Espera-se que a droga possa
ser útil no tratamento de alcoolismo, da cefaléia em salvas, do transtorno
obsessivo-compulsivo e que possa aliviar o sofrimento em pacientes com
câncer terminal (MANGINI, 1998).
A droga, que foi usada e abusada em seu auge de consumo nos anos
60, é caracterizada por causar visões coloridas, criativas, de fantasias
inimagináveis e com significados lunáticos. Há uma deformação na percepção
e visão do mundo externo, parecendo alterado em sua forma, com a
intensidade acentuada na coloração do que está à volta, o efeito é semelhante
também com os sons. Assim pode também haver uma confusão do aparelho
sensorial e as sensações interferirem entre si, como ouvir cores ou ver sons
(sinestesia).
Tudo pode parecer extraordinário aos olhos do indivíduo sobre o efeito
do LSD, até mesmo em relação as atividades mais corriqueiras, fazendo com
que a percepção obtenha um significação mais profunda. A noção de tempo;
de espaço, percebendo uma alteração de forma dos objetos (macropsia ou
micropsia); noção corporal; identidade (possível despersonalização); “a
habilidade para cálculos e para raciocínio lógico é prejudicada”
(GRAEFF,1989), tanto quanto o nível de tônus (hipervigilante ou retraído,
assim como pode se encontrar entre os dois estados). Portanto, se ingerido em
doses maiores, o usuário poderá ter uma terrível experiência de uma total
perda da noção de realidade, vivenciando apenas o mundo derivado da
imaginação intensificada pelo seu estado de consciência alterada, podendo
ocorrer de a pessoa não saber diferenciar fantasia de realidade, assim como a
fonte dos sons da qual escuta, porém, ainda consegue responder a indagações
vindas do “mundo de fora”, de um observador.
Os estados de humor podem oscilar ou acontecerem ao mesmo tempo
(passar da extrema euforia a depressão, ou a ocorrência de surtos de pânico),
mas a sensação que tem a tendência de predomínio no indivíduo é a euforia,
“Se não ocorrer ataque de pânico, uma sensação de desapego e convicção de
que está sob controle podem aparecer. (...) Ocorre também aumento da libido.”
(TRNKA; PERRY,2005) Durante o efeito da droga, pensamentos e memórias
(flashbacks) podem surgir repentina e inesperadamente. As reações de pânico
ou medo excessivo, caracterizado por uma perda súbita de controle são os
efeitos indesejados quando consumido o LSD, que muitos denominam por
“viagem ruim”.
"Viagem ruim" é um termo empregado por usuários, que descreve efeitos adversos do LSD como reações agudas de pânico, sentimento de perda de controle, distorções da imagem do corpo, alucinações bizarras e aterrorizantes, medo da loucura e da morte, desespero e tendência suicida. A "viagem ruim" pode levar a distúrbios mentais mais persistentes e ao comportamento violento e o usuário pode se machucar de forma severa. Podem ocorrer também alguns sintomas físicos como suor, palpitação, náuseas e parestesias.7
Na tentativa de um estudo das causas da reação adversa a droga, “25 pessoas
internadas num hospital psiquiátrico com a "viagem ruim" foram comparadas
com 25 usuários freqüentes de LSD em doses de 250-1000 μg de uma a três
vezes por semana por 18 meses, que não apresentaram essa reação adversa”
(UNGERLEIDER; FISHER; FULLER, 1968). Com a análise da idade, sexo,
estado civil, filhos, ocupação, religião, antecedentes criminais, nível de
escolaridade, histórico de doenças psiquiátricas e de abuso de outras drogas,
obteve-se a conclusão que não existe isoladamente fator algum que possa
provocar, acarretar ou impedir tal efeito. “O experimento sugeriu que fatores
psicológicos e sociais possam não ser essenciais para o desenvolvimento das
chamadas viagens ruins” (UNGERLEIDER; FISHER; FULLER, 1968).
7 CAZENAVE, 1996, RANG, e tal. 2004
O LSD (dietilamida do ácido lisérgico) é estruturalmente semelhante aos
neuroreceptores de serotonina (5-HT), como 5-HT2A; 5-HT2C; 5-HT1A; isso,
pois a estimulação de um subtipo de receptor pode exercer influências sobre a
atividade de outro, assim como a funções serotoninérgicas centrais, podendo
tanto quanto agir efetivamente sobre tais receptores. Essa ação é referente ao
efeito de acréscimo do nível de serononina no cérebro, mas, em contra partida,
inibem o disparo de neurônios contendo serotonina. “Vários estudos
demonstraram que o LSD e outros alucinógenos como a psilocibina, aumentam
a taxa de 5-HT no cérebro ou impedem sua retirada” (ANDEN, et al. 1968),
“caracterizando uma hiperestimulação de receptores serotoninérgicos pós-
sinápticos” (BOYER; SHANNON, 2005). Ou seja, trata-se de um sistema de
feedback negativo, em que, como o nível de serotonina aumenta, a atividade
dos neurônios serotonérgicos diminui, revertendo a direção da mudança,
tentando manter estáveis as variáveis e uma nivelação homeostática.
Os alucinógenos ativam também, além das serotonérgicas, as vias
dopaminérgicas diretamente ou indiretamente, pois os compostos
dopaminérgicos atuam produzindo efeitos estimulantes. O LSD ocorre em duas
fases, sendo que a primeira é composta pela ação da serotonina e a segunda
fase consiste na mediação pelos estímulos dos receptores dopaminérgicos D2.
O que embasa a teoria que a atividade dopaminérgica pode ser a causa das
psicoses.
Além de todos os efeitos neuronais ocasionados pelo uso do LSD, não é
apenas no cérebro que aparecem suas consequências, todo o corpo responde
ao agir da dietilamida do ácido lisérgico. Entre os sintomas somatotrópicos da
droga, estão: dilatação da pupila; aumento da temperatura corporal, pressão
sanguínea e batimentos cardíacos; sudorese; perda de apetite; boca seca;
sonolência; tremores.
A dietilamida do ácido lisérgico (LSD) é rapidamente absorvida no trato gastrintestinal, se liga fortemente às proteínas plasmáticas, é distribuída nos tecidos, aparecendo em altos níveis no cérebro. O LSD é amplamente metabolizado pelo fígado a 2-oxo-LSD, que é inativo. Sua excreção é renal, sendo que menos de 1% da droga inalterada é eliminada pela urina.8
8 TRNKA; PERRY, 2005.
ECSTASY
A metileniodioxioximetanfetamina (MDMA) ou popularmente conhecido
como ecstasy provêm de óleos voláteis contidos na noz moscada, nas
sementes do cálamo, açafrão, endro, salsa e da baunilha. É obtido a partir do
tratamento da substância retirado das sementes com amoníaco em forma
gasosa. Foi sintetizado pelo químico alemão Anton Köllisch em Darmstadt e foi
pedida a patente da substância em 24 de Dezembro de 1912 pela empresa
farmacêutica Merck. A patente foi aceita em 1914 quando Anton veio a falecer.
O MDMA foi desenvolvido inicialmente para ser usada com militares, pois
combatia o sono e a fome. Em 1960 surgiu um grande interesse em volta da
substância que foi indicada como elevador do estado de ânimo, desejos
sexuais e complemento nas psicoterapias. O uso recreativo surgiu em 1970
nos EUA com jovens que frequentavam a vida noturna e nessa época a droga
ficou conhecida como a droga do amor. No final da década de 80 o ecstasy
ganhou os jovens dos Estados Unidos e Europa, especialmente na Inglaterra e
na Holanda. Em 1977 foi proibida no Reino Unido e em 1985 nos EUA. O uso
do ecstasy é mais frequente em festas rave, boates, e casas noturnas.
Normalmente é produzido em países Europeus em laboratórios especializados.
A sua administração é de forma oral, porém nos últimos anos ela tem sendo
usada de forma injetável.
O ecstasy é vendido normalmente em comprimidos e não possuem uma
cor definida, são denominadas pastilhas e podem possuir diversas cores,
porém existe predomínio da cor branca. O MDMA em pó se apresenta na cor
branca e depois é prensada para formar os comprimidos, que possuem
diversos nomes, formatos e muitas vezes apresentam desenhos impressos.
Podem ser chamados por bala, love, star trek, volkswagem, 8 ½, Mickey
mouse, Adam, Essence, Twister azul (pílula em forma de "flor" composta em
mais da metade por cocaína, é muito forte e por conter muita cocaína passa a
ser mais barata do que as outras).As pílulas normalmente podem conter outras
substâncias além do MDMA, como anfetaminas e LSD por exemplo.
Dependendo da quantidade ingerida, o MDMA demora tipicamente 30 minutos
e o tempo de duração aproximado é de 4 a 8 horas.
Os efeitos psicológicos da droga se dão inicialmente por uma tontura
semelhante à de embriaguez e em seguida uma sensação de estar flutuando e
a partir dai o indivíduo se sente acolhido em meio às pessoas conhecidas que
o cercam e sente uma tração física por estas. Podem ocorrer formigamentos
que se assemelham a espasmos por todo o corpo. O humor pode permanecer
instável, pois a substância age nos níveis serotonérgicos. Além disso, as
reações ao uso da droga dependem do ambiente e do estado emocional da
pessoa.
Os efeitos físicos se dão no aumento da pressão arterial, aceleração dos
batimentos cardíacos, diminuição do apetite, pupilas dilatadas, boca seca. O
metabolismo se acelera e a temperatura do corpo fica elevada.
A maioria das células de serotonina (que estão representadas na imagem
pela cor vermelha) começa numa zona específica do cérebro chamada de
"núcleos da rafe." Seus dendritos e seu corpo celular estão localizados aqui, e
eles têm axônios longos que se estendem para todas as outras partes do
cérebro. Os neurônios de serotonina são muito densos e tem muitos ramos. A
serotonina desempenha um papel importante nas funções cerebrais, tantas
como: a regulação do humor, freqüência cardíaca, sono, apetite, dor e outras
coisas.
O Ecstasy provoca nos neurônios a liberação de grandes quantidades de
serotonina, que são armazenados nos terminais dos axônios. Esta liberação
maciça de serotonina é responsável pelos efeitos subjetivos primários do
MDMA. O MDMA (3,4-metilenodioxi-N-metilanfetamina) é uma droga
empatogênica da fenetilamina e das classes das drogas da anfetamina. O
MDMA tornou-se amplamente conhecido como o "ecstasy" (abreviado para "E",
"X", ou "XTC"), referindo-se normalmente a sua forma de comprimido de rua,
ainda que este termo pode também incluir a presença de adulterantes. O termo
"molly" (ou "mandy" no Reino Unido) refere-se a coloquialmente MDMA em pó
ou em forma cristalina, o que implica geralmente um maior grau de pureza.
Dentro do terminal do axónio existem pequenas vesículas que contêm
moléculas de serotonina. Quando uma carga elétrica é desparada no axônio,
estas vesículas se fundem com a membrana exterior do terminal axonal e
liberam serotonina na sinapse.
Está imagem abaixo demonstra uma visão das vesículas jogando
serotonina na sinapse. É uma das razões onde ocorrem os primeiros efeitos
subjetivos no uso do ecstasy. No outro lado da sinapse ligado na membrana do
dendrito estão os receptores. A imagem está demostrando receptores de vários
neurotransmissores. Os de cor rosa são os receptores de serotonina e os
verdes são os da dopamina. Observemos que a molécula de serotonina podem
se encaixar perfeitamente nos receptores de serotonina, porém não nos de
dopamina.
Quando a serotonina encontra com seu receptor ele manda uma resposta
química no dendrito para o corpo do neurônio. O corpo celular então decide
baseado na informação se desencadeia o impulso nervoso ou não no axônio.
Se houver um acumulo nos receptores de serotonina o axônio dispara o
estímulo elétrico causando o disparo em outros neurônios para ocorrer outras
sinapses.
Quando pessoa está sob o efeito do ecstasy uma grande quantidade de
serotonina é liberada em meio à sinapse. Isto aumenta significativamente a
ligação ao receptor de serotonina (mais serotonina na sinapse significa uma
maior chance de parte desses neurotranmissores se ligarem aos
neuroreceptores). Esse aumento na atividade do neuroreceptores leva a
significativas mudanças na descarga elétrica cerebral e é o principal
responsável pela experiência de MDMA (felicidade, empatia, sensação do tato
aprimorada, socialididade incrementada, etc). Nota-se também que há tanto
quanto certa quantidade de dopamina nas sinapses. MDMA também causam
liberação da dopamina (a partir das células dopaminérgicas).
COMORBIDADES
TRANSTORNOS RELACIONADOS A SUBSTÂNCIAS
Segundo o DSM-IV, “os transtornos relacionados a substâncias incluem
desde transtornos relacionados ao consumo de uma droga de abuso, até os
efeitos colaterais de um medicamento e a exposição a toxinas” (DSM-IV p.
207.).
Os transtornos relacionados a substâncias são classificados em
transtornos por uso de substância e transtornos induzidos por substâncias. Nos
transtornos por uso estão inseridas a dependência e o abuso de substância.
Nos transtornos induzidos encontram-se a intoxicação, abstinência e
transtornos mentais induzidos, a saber: delirium, demência, transtorno
amnéstico, transtorno psicótico, transtornos de humor, transtorno de
ansiedade, disfunção sexual e transtorno do sono.
Quando um indivíduo, mesmo sofrendo uma série de problemas em
decorrência da droga, continua a utilizando, apresentando sintomas físicos,
cognitivos, comportamentais e fisiológicos diz-se que é um caso de
dependência.
O diagnóstico de dependência é aplicável a qualquer substância, exceto à
cafeína. Importante ressaltar que os sintomas da dependência são parecidos
entre as mais diversas substâncias, como é o caso de quando há fissura: o
dependente sente necessidade da droga e tem um impulso subjetivo para usá-
la. Além disso, o usuário pode desenvolver tolerância e abstinência, que são
quadros apresentados pelo dependente.
A tolerância consiste na necessidade de crescentes quantidades da substância para atingir a intoxicação (ou efeito desejado) ou em uma diminuição acentuada do efeito com o uso continuado da mesma quantidade da substância. O grau em que a tolerância se desenvolve varia imensamente entre as substâncias. Além disso, para uma droga específica, vários graus de tolerância podem ser desenvolvidos para diferentes efeitos sobre o sistema nervoso central. 9.
A tolerância é então caracterizada pelo alto índice de substância no corpo
sem que haja intoxicação. Isso é decorrente de um aumento gradativo da
quantidade da droga utilizada. Ou seja, o quanto o individuo utiliza depois de
anos, se usasse nas primeiras vezes, poderia causar efeitos devastadores.
9 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION.: DSM – IV- TR. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre, Artmed, 2002, p 208
O quadro de abstinência é resultante da falta que o organismo sente da
droga, após muito de tempo de uso. O usuário apresentará alterações
comportamentais com elementos fisiológicos e cognitivos. Os sintomas
apresentados no período de abstinência são normalmente opostos aos efeitos
da droga e divergem bastante de uma droga para outra. Pode-se dar o
diagnóstico de dependência para quem utiliza álcool, anfetaminas, cocaína,
nicotina, opióides, sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos.
A abstinência é típica de quadros de dependência, mas é classificada como
transtorno induzido por substância.
O DSM-IV apresenta sete critérios para a dependência em substância.
Para dar o diagnóstico, o indivíduo deve apresentar ao menos uma vez em um
período de um ano no mínimo três dos critérios. Entre eles encontram-se a
abstinência, a tolerância, a redução de atividades sociais em função da droga,
a consciência de que ela faz mal e mesmo assim o individuo não consegue
largar, entre outros.
Entre os transtornos por uso de substância ainda encontra-se o abuso,
caracterizado por um padrão mal adaptativo do uso da droga, que acarreta em
prejuízos e sofrimento. Segundo o DSM-IV existem quatro critérios para
diagnosticar alguém que apresenta abuso de substância, tendo a pessoa que
apresentar no mínimo um deles em um período de um ano. Os critérios incluem
o uso recorrente da droga expondo-o a perigos físicos, a problemas legais, uso
contínuo mesmo diante problemas sociais e queda na capacidade de cumprir
obrigações.
A intoxicação encontra-se em transtornos induzidos por substâncias. Ela
é caracterizada por desenvolver algum problema reversível diante o uso
recente da droga. A substância age sobre o sistema nervoso central, causando
alterações comportamentais e psicológicas, como prejuízo cognitivo e humor
instável.
A intoxicação pode estar ligada ao abuso e dependência, mas vale
ressaltar que não significa que quando a pessoa apresenta um quadro de
intoxicação seja um dependente.
O quadro clínico específico na Intoxicação com Substância varia drasticamente entre os indivíduos, dependendo também da substância envolvida, da dose, da duração ou cronicidade do uso, da tolerância do indivíduo à substância, do período de tempo decorrido desde a última a última dose, das expectativas do indivíduo quanto aos efeitos da substância e do contexto ou ambiente no qual ela é consumida.10
A medida que as doses diminuem ou quando o indivíduo para de usar
determinada substância, os sintomas da intoxicação melhoram, enquanto no
quadro de abstinência, há uma piora evidente.
Além desses quadros apresentados pelos usuários de substâncias,
existem os transtornos mentais associados, que estão divididos em transtornos
induzidos por substância- quando os sintomas evidentemente são resultados
fisiológicos de dada substância- e em transtornos relacionados a sustância.
Delírio, demência persistente, transtorno amnéstico persistente,
transtorno psicótico, transtorno do humor, transtorno de ansiedade, disfunção
sexual e transtornos do sono são induzidos pelo uso de substância. Ou seja,
em períodos de uso de droga ou de interrupção do uso (no caso das
abstinências), o usuário poderá apresentar os mais diversos sintomas, mas
sempre considerando que eles podem variar de uma droga para a outra, ou
seja, em casos de algumas drogas o indivíduo terá mais sono e em outros terá
insônia, por exemplo. Nesses casos, o indivíduo passa a apresentar os
sintomas de outros transtornos mentais devido ao uso da droga. Importante
ressaltar também que o usuário poderá não apresentar qualquer desses
quadros, evidenciando as diferenças individuais de como os organismos
reagem de maneiras distintas.
Os transtornos relacionados a substância envolve um dos quadros mais
frequentes em usuários: transtornos de conduta. Muitas vezes a pessoa já
apresentava esse quadro antes de começar a utilizar a droga e ela apenas o
acentua, e por vezes o uso de drogas é consequência do transtorno. Pode
também o transtorno ser decorrente do uso.
10 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION.: DSM – IV- TR. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre, Artmed, 2002, p 215
O transtorno de conduta está relacionado a tendência da pessoa a se
comportar de modo a incomodar/perturbar os outros. Esses indivíduos acabam
se envolvendo em atividades de alto risco e/ou ilegais. Eles não se importam
com o sentimento alheio e não se sentem mal frente a atos moralmente
reprováveis. Quando apresenta esse quadro, o uso de drogas muitas vezes é
mera consequência e serve para acentuar as características do transtorno, ou
seja, as mentiras, típicas do transtorno de conduta, podem aumentar devido ao
uso das drogas.
O Transtorno da Conduta freqüentemente está associado com um início precoce de comportamento sexual, consumo de álcool, uso de substâncias ilícitas e atos imprudentes e arriscados. O uso de drogas ilícitas pode aumentar o risco de persistência do Transtorno da Conduta. Os comportamentos do Transtorno da Conduta podem levar à suspensão ou expulsão da escola, problemas de ajustamento no trabalho, dificuldades legais, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez não planejada e ferimentos por acidentes ou lutas corporais.11
O DSM-IV apresenta os critérios diagnósticos para transtorno de conduta,
sendo que para que seja diagnosticada, a pessoa deve apresentar no mínimo
três deles num período de 12 meses, sendo ao menos um nos últimos seis
meses, entre eles: frequentemente provoca, ameaça ou intimida outros,
frequentemente inicia lutas corporais, utilizou uma arma capaz de causar sério
dano físico a outros, foi fisicamente cruel com pessoas, entre outros. Deve-se
avaliar também se o transtorno afeta sua vida social e acadêmica.
Outro transtorno apresentado por usuários de drogas é o transtorno
desafiador opositor, caracterizado por comportamentos que visam agir de
forma contrária ao que se espera, discutindo com os outros, perdendo a
paciência, responsabilizando os outros por erros próprios e desafiando outras
pessoas.
Observa-se a semelhança entre transtorno de conduta e transtorno
desafiador opositor, pois este apresenta realmente características daquele. A
diferença consiste no fato de que em transtorno de conduta há um padrão
persistente das formas mais sérias de comportamento. Os desafiadores
opositores não vão agredir, destruir propriedades ou furtar, por exemplo.
11 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION.: DSM – IV- TR. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre, Artmed, 2002
Há enfim uma série de comorbidades relacionadas ao uso de drogas,
cabendo ressaltar que existem consequências físicas irreversíveis, como
envelhecimento precoce, danos aos mais diversos órgãos, etc. Essas
consequências variam de acordo com a frequência e intensidade do uso da
substância e de qual substância se trata, pois notadamente algumas trazem
mais danos em menor tempo, como o crack. Além de problemas trazidos pelo
compartilhamento de seringas, por exemplo, podendo a pessoa adquirir o vírus
de HIV, etc.
Tratamento Farmacológico e Psicoterápico do dependente químico
Até a década de 70 o tratamento da dependência química era
caracterizado quase que exclusivamente como intervenções não
farmacológicas, com exceção, por exemplo, do dissulfiram, o qual já vem
sendo utilizado há meio século e com um papel bastante definido no
organograma de opções das intervenções farmacológicas no tratamento do
alcoolismo. Atualmente há um crescente interesse pela busca de novas
medicações que auxiliem os usuários de substâncias psicoativas no processo
de obtenção da abstinência da droga de abuso. É importante notar que o
tratamento medicamentoso, apenas, é insuficiente para o tratamento de um
transtorno complexo e multifatorial como a dependência química. Para
qualquer medicamento ser efetivo ele deve ser tomado regularmente. A não
adesão medicamentosa é muito comum na prática médica; não sendo somente
um problema entre pacientes com abuso de drogas. Entre as razões para a
não adesão pode-se citar: a negação da doença, os efeitos colaterais
desagradáveis, falsas crenças sobre a medicação, ect. Assim sendo, parte da
farmacoterapia precisa incluir uma intervenção pro-ativa que ajude os
pacientes aderir ao regime medicamentoso diário. É intuitivo, mas sempre bom
lembrar aos pacientes que o medicamento só ajuda se este for tomado como
prescrito.
Dentre os principais objetivos da intervenção farmacológica destaca-se: o
auxílio na aquisição da abstinência; controle dos estados de intoxicação;
tratamento de comorbidades psiquiátricas; controle sobre a fissura ou “craving”;
auxílio na recuperação do controle sobre os impulsos (ou compulsão) para
iniciar o comportamento de busca e de uso da substância, os quais muitas
vezes leva o indivíduo a recaídas frequentes.
A demanda para tratamento de problemas relacionados à maconha em
programas de abuso de substâncias duplicou entre 1992 e 1998 nos Estados
Unidos, de tal forma que a porcentagem de admissões para tratamento de
maconha (23%) aproximou-se das admissões para tratamento de cocaína
(27%) e heroína (23%) (SAMHSA, 1999). O desenvolvimento de estudos sobre
a eficácia dos tratamentos da dependência de maconha começou a
aparecer na literatura científica somente a partir da década de 1990.
Maconha
Até o momento pouca publicação científica avaliou medicações para o
tratamento da dependência de maconha como um resultado primário. No
entanto, há dados limitados que examinaram os efeitos do tratamento
farmacológico em dependência de maconha através de análises secundárias
de estudos que avaliaram outras dependências. Por exemplo, há relato de
diminuição do uso de maconha em um subgrupo de pacientes dependentes do
álcool com depressão que receberam fluoxetina. (Cornelius et al., 1998). Os
pacientes que receberam placebo usaram quase 20 vezes mais cigarros de
maconha quando comparados com aqueles que usaram fluoxetina, e o número
de dias de uso de maconha foi cinco vezes mais alto no grupo placebo.
Semelhantemente, um estudo que examinou a buspirona para o tratamento de
ansiedade em pacientes dependentes de opióide revelou que embora o
tratamento com buspirona não tenha reduzido os sintomas de ansiedade; os
pacientes que receberam buspirona tiveram uma redução estatisticamente
significativa quanto ao uso de maconha quando comparado ao grupo que
recebeu placebo (McRae et al., 2000). Estes estudos sugerem que os
antidepressivos ou medicamentos ansiolíticos podem ter um papel no tratando
da dependência de maconha.
Ecstasy ou MDMA (metilenodioximetanfetamina)
As chamadas “agências da droga” são conhecedoras do risco de
hipertermia e aconselham os consumidores a retirar a roupa e a tomarem
muitos líquidos para facilitar a termoregulação. Aconselham também a pararem
de dançar quando se sentem cansados, descansando em locais frescos.
Assim, é habitual verem-se os consumidores de ecstasy sempre com uma
garrafa na mão e até com outros artefactos com o intuito de se precaverem de
alguns efeitos indesejáveis como o uso de chupetas para evitarem o trismo
(contracção dos maxilares) e o bruxismo (ranger de dentes).
Em casos de intoxicação aguda é fundamental a reposição de fluidos de
modo a permitir a termorregulação. Essa reposição de fluidos é urgente em
indivíduos com marcada hipotensão e taquicardia atribuída à deplecção do
volume intravascular. O abaixamento da temperatura corporal também é
essencial e em alguns casos pode mesmo haver necessidade de paralisar o
paciente de modo a interromper o ciclo de formação de calor. Alguns autores
recomendam o uso de carvão activado até 1 hora após a ingestão aguda de
MDMA no entanto é improvável detectar essa intoxicação tão precocemente
pois não se esperam efeitos adversos sérios nesse tempo. O tratamento
farmacológico surge na tentativa de controlar essencialmente os efeitos
simpaticomiméticos da MDMA sendo comum a administração de um
bloqueador simultaneamente alfa e beta adrenérgico, como o labetalol.
Cocaína
Até meados da década de 70 o tratamento da dependência de cocaína
tinha um enfoque exclusivamente em métodos não - farmacológicos, quando
então pesquisadores mostraram que o abuso crônico de cocaína levava a
adaptações neurofisiológicas. 1
Sabe-se que o uso de cocaína causa um aumento inicial na
neurotransmissão de dopamina e serotonina, os quais são largamente
responsáveis pelos efeitos prazerosos e reforçadores da droga. A
desregulação destes neurotransmissores durante a síndrome de abstinência
tem um importante papel no desenvolvimento da “fissura” ou craving. 2,3,4
Assim sendo, o envolvimento da neurotrasmissão da dopamina no
sistema de recompensa cerebral da cocaína incentivou a realização de vários
ensaios clínicos nas últimas décadas com agonistas e antagonistas
dopaminérgicos. 2,3,4,5
Outras intervenções farmacológicas que afetam a neurotransmissão
glutamatérgica têm sido potenciais candidatos para investigações, devido ao
envolvimento do glutamato em regiões cerebrais de recompensa e evidência
da desregulação glutamatérgica induzida pelo uso de cocaína. 6 Dados
recentes sugerem que o transportador de cystine-glutamato seria um alvo
para medicamentos que poderiam prevenir a recaída de cocaína.7
O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do cérebro e vem sendo
analisado como um alvo em potencial no tratamento para dependência de
cocaína. Estudos pré - clínicos demonstraram que neurônios GABAergicos
modulam o sistema dopaminérgico e os efeitos recompensadores da cocaína.
Além disso, a exposição crônica à cocaína pode afetar o funcionando do
sistema GABA.
Dado a magnitude e complexidade da Síndrome de Dependência de
Cocaína; vários agentes farmacológicos têm sido intensamente investigados
para este transtorno a fim de melhorar as respostas ao tratamento
principalmente através da diminuição da “fissura”, obtenção da abstinência e
assim possibilitar um maior envolvimento dos pacientes ao programa
terapêutico proposto.
A carbamazepina (TegretolÒ), uma droga largamente utilizada para tratar
alguns problemas neurológicos e psiquiátricos, tem sido algumas vezes
também usada para dependência de cocaína.
Nos últimos anos, o topiramato (topamax) medicação inicialmente
avaliada no tratamento de alguns tipos de epilepsias têm sido usado para o
tratamento de dependência á cocaína, como também, a Gabapentina; A
Desipramina, um antidepressivo tricíclico com propriedades noradrenérgicas; A
Fluoxetina; A Reboxetina; A Bupropiona; A Mirtazapina; A Venlafaxina.
Também usados agonistas dopaminérgicos; Litio; Antipsicóticos; agentes
gabaérgicos, agonistas do ácido gama-aminobutirico (gaba) podem atenuar os
efeitos comportamentais da cocaína e podem ser uma farmacoterapia efetiva
para abuso e dependência de cocaína. antagonistas opióides. Agentes
Aversivos como o dissulfiram, anfetaminas, bloqueadores adrenérgicos, drogas
nootrópicas também são usadas.
Recentemente, uma vacina de cocaína (TA-CD) foi desenvolvida para ser
usada em humanos. A vacina de cocaína age produzindo anticorpos de
cocaína, o qual isola e sequestra a cocaína no soro e como resultado retarda a
entrada da mesma no cérebro. Assim, a vacina de cocaína objetiva a cocaína
em si, em contraste com as estratégias prévias as quais objetivam ações no
sistema nervoso.
CRACK
A dose de crack no tratamento ou outro estimulante é gradualmente
diminuída. Se forem desenvolvidos distúrbios psiquiátricos, devem ser tratados
com antipsicóticos e antidepressivos. É possível que os agonistas do receptor
da dopamina amantadina, sejam úteis no futuro, para minimizar as síndromes
de privação. A imunização ativa é uma nova terapia que poderá ser
promissora. Consiste em "treinar" o sistema imunitário para destruir a cocaína
como se fosse um invasor. Vale lembrar que todo o processo de
desintoxicação e tratamento da toxicodependência é longo e penoso. Cada
paciente reage de uma forma e nem sempre estes fazem o tratamento por
vontade própria, o que dificulta ainda mais o sucesso. Existem pessoas que
usaram drogas durante anos e conseguem parar, e também existem pessoas
que em meses chega ao limite, tem overdose e acabam morrendo. Alguns
sofrem muito durante o tratamento, com crises de abstinência que geram
agressividade, descontrole e comportamentos bizarros (paranóia), preferindo
desistir e voltar a usar droga.
Tratamento Psicológico
O tratamento psicológico pode auxiliar e/ou complementar o tratamento
psiquiátrico/medicamentoso e funcionar como suporte motivacional e auxiliar
na manutenção da abstinência. O psicólogo pode seguir diferentes linhas e
independente da linha que siga irá sempre procurar trabalhar o lado emocional
ligado ao problema sem receitar medicamentos. Muitas linhas psicológicas
consideram a família do paciente um componente importante do tratamento e
por isso o seu envolvimento é bastante frequente. Existem diversos tipos de
tratamentos psicológicos, em grupo ou individuais, que atendem às diferentes
necessidades/características das pessoas. A linha mais utilizada atualmente é
a chamada cognitiva. Pode-se usar também a linha comportamental, com
treinamento de habilidades, entre outras. A psicanálise clássica, não se
mostrou eficaz. É importante deixar claro que, se o paciente precisar ser
medicado ou passar por uma desintoxicação, deverá procurar um psiquiatra.
A internação domiciliar apresenta-se como uma alternativa no tratamento
da dependência química, onde o paciente permanece em sua residência com
uma intervenção articulada junto com sua família e com a rede de atenção
básica de sua região, visando assim, o processo de descentralização do
atendimento a saúde mental.
Esse tipo de tratamento requer certo nível de motivação, o paciente
precisa aceitar a proposta de internação e comprometer-se à ela, deve possuir
também um bom suporte social e familiar. Neste período ele fica dentro de sua
própria casa, sem sair, restringe-se o paciente, só sai de lá com familiar ou
acompanhante terapêutico.
Os Terapeutas, além de realizarem todas as atividades e reuniões
terapêuticas, são responsáveis em auxiliar o paciente no que for necessário,
como ouvir o dependente com dificuldade no convívio do dia a dia, fornecer
ferramentas que ajudam a modificar o comportamento e manter a abstinência
de substancias psicoativas. Os terapeutas na Clínica Terapêutica Cantareira
têm grande envolvimento com os pacientes durante todo o dia, o que gera uma
grande interação com o paciente e propicia o atendimento individual.
Sendo assim, a atuação do Neuropsicólogo vai ocorrer no diagnóstico da
dependência e do usuário; no acompanhamento com a aceitação do paciente e
o saber do agravamento e no tratamento da dependência e do uso o trabalho
da terapia em determinada área.
ESTUDO DE CASO
(retirado de http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44461999000300009&script=sci_arttext- cópia integral)
Vasculite cerebral e uso de cocaína e crack
Fernando Madalena Volpe1, Almir Tavares2, Antônio Pedro Vargas3, Paulo
Roberto Rocha4
RESUMO
O abuso de cocaína e crack está associado com importante parcela dos
acidentes vasculares cerebrais, especialmente em pacientes jovens. O
presente estudo relata o caso de um usuário de cocaína e crack que
desenvolveu vasculite do sistema nervoso central, resultando em infartos
cerebrais e edema extensos, levando à demência com alterações
comportamentais e convulsões. Ressalta-se a importância de suspeitar do uso
de drogas em jovens que se apresentam com acidente vascular cerebral, assim
como avaliar possíveis lesões cerebrais em usuários de drogas com
deterioração cognitiva.
DESCRITORES
Cocaína; crack; vasculite cerebral; complicações
Introdução
Complicações cerebrovasculares associadas a drogas de abuso vêm
sendo descritas nas últimas duas décadas. Sloan et al. encontraram
associação entre o abuso de drogas e acidentes vasculares cerebrais (AVC)
em 9,5% dos casos.1 Entre pacientes com menos de 35 anos, o abuso de
drogas foi o fator de risco mais importante para AVC, estando presente em
47% de uma população de 214 casos.2 A cocaína foi a droga mais
freqüentemente associada a AVC (57% dos AVC associados ao uso de
drogas), especialmente em pacientes jovens, com idades entre 30 e 40
anos.2 Além de AVC, a cocaína e o crack podem induzir convulsões, atrofia
cerebral difusa3 e lesões cardiovasculares sistêmicas.4
A primeira descrição de AVC associado à cocaína se deu há duas
décadas.5 Esses AVC são, na maioria das vezes, hemorrágicos, podendo
também ser embólicos ou isquêmicos. No uso exclusivo de sua forma alcalóide
(crack), encontram-se AVC isquêmicos e hemorrágicos, com freqüências
semelhantes.6
A vasculite do sistema nervoso central (SNC) foi identificada inicialmente
nos usuários de anfetamínicos.7,8 Mais recentemente, foi descrita uma dezena
de outros casos de vasculite associada a cocaína ou crack.7, 9-15
Apresentação
Identificação do paciente
O paciente é do sexo masculino, 30 anos, feodérmico, separado, artesão
e estudou até a terceira série do primeiro grau. Em março de 1995 foi
encaminhado ao Serviço Especial de Saúde Mental do HC - UFMG para
esclarecimento de quadro demencial e foi avaliado conjuntamente com o
Serviço de Neurologia.
História pregressa
O início dos seus sintomas se deu em 1990, aos 25 anos, com crises de
cefaléia incaracterísticas. Três anos depois, começou a apresentar crises
convulsivas tônico-clônicas generalizadas. Teve um episódio de diplopia por
paresia do reto lateral esquerdo, com remissão espontânea. Em 1994, teve
prejuízo abrupto e grave da fala e da motricidade. Com a progressão da
deterioração cognitiva, deixou o trabalho, descuidou-se da higiene e evoluiu
para uma incapacidade para realizar as atividades da vida diária. Dois meses
antes da admissão, já apresentava dificuldades em reconhecer familiares e o
contato verbal era precário.
Antecedentes pessoais e familiares
Nascido de parto normal, domiciliar, seu desenvolvimento psicomotor na
infância foi adequado. Largou os estudos na terceira série, após reprovação.
Passou a adolescência trabalhando em fazenda. Sua vida adulta era errante.
Teve várias namoradas. Casou-se aos 21 anos, teve uma filha, separando-se
quatro anos depois, devido à sua agressividade com a esposa, especialmente
quando sob efeito de drogas. Usava regularmente etanol e canabináceos. O
início do uso de cocaína intranasal e na forma de crack se deu aos 23 anos –
dois anos antes do início de seus sintomas neurológicos – com um padrão
quase diário de consumo. Não há informações quanto às doses utilizadas.
Evolução
Na admissão em janeiro de 1995 evidenciou-se bradipsiquismo,
puerilidade, pobre contato com o meio, afasia de Wernicke, paresia do olhar
vertical para cima, bradicinesia, marcha atáxica bizarra, rigidez, sinais de
Babinski e Hoffman bilaterais, hiperreflexia e incontinência urinária. A
fundoscopia mostrou vasculopatia com múltiplas obstruções vasculares e áreas
de infarto retiniano branco, sugestivas de vasculite.
Durante a internação apresentou três crises convulsivas tônico-clônicas
generalizadas e, enquanto se submetia à propedêutica, observou-se
agravamento do quadro cognitivo e motor, desenvolvendo grave afasia global e
espasticidade de membros. Em nenhum momento foi observada elevação dos
níveis pressóricos ou arritmia cardíaca.
A tomografia computadorizada e a ressonância magnética do encéfalo
revelaram lesões hipodensas (tálamo direito, núcleos da base e região
periventricular) e amplas áreas irregulares e difusas de edema (região fronto-
temporo-parietal esquerda, occipital direita, periventricular, centros semi-ovales
e braço da ponte à esquerda). Constatou-se extravasamento de gadolínio em
áreas de edema. A arteriografia carotídea foi normal. O eletroencefalograma
demonstrou padrão de ondas lentas difusas. A angiofluoresceinografia retiniana
mostrou vasculite difusa. O líquor, cristalino, não apresentou alterações
bioquímicas, citológicas ou presença de bactérias ou fungos, mas à
imunoeletroforese de proteínas houve precipitação de IgG e cadeia leve kappa.
O VHS foi de 25mm/1h, as provas reumáticas, o anti-HIV e o VDRL foram
negativos. A dosagem sérica de imunoglobulinas e as proteínas séricas foram
normais, mas C3 e ácido fólico estavam levemente diminuídos. Os hormônios
tireoideanos e a vitamina B12 não estavam alterados. O eletrocardiograma
estava normal.
O paciente foi tratado com fenobarbital (200 mg/dia), fenitoína
(200mg/dia) e ácido fólico (2 mg/dia), com controle adequado das convulsões.
Recebeu metilprednisolona (1g/dia, por três dias), seguida de prednisona (80
mg/dia, com decréscimo gradual da dose). Apresentou melhora parcial da
afasia, permanecendo disfásico, embora mais fluente. Passou a movimentar-se
com mais desenvoltura, inclusive deambulando e realizando tarefas simples
sem assistência (alimentação, arrumar a cama, por exemplo). Permaneceu, no
entanto, com importante comprometimento da capacidade cognitiva.
Discussão
Os mecanismos de AVC por cocaína e crack são variados. A cocaína é
potente vasoconstritora e causa picos hipertensivos, arritmias e contração das
coronárias. Ademais, pode alterar a função plaquetária, levando a hipo ou
hipercoagulabilidade. A associação com etanol pode potencializar o espasmo
em arteríolas corticais, assim como reduzir a degradação da
cocaína.7,11 Canabináceos não foram consistentemente associados a vasculite
ou AVC.
A vasculite central por cocaína é rara e decorre de lesão celular em
pequenos vasos, com a subseqüente exposição de antígenos. A vasculite por
hipersensibilidade, comprometendo pequenos vasos cerebrais, é descrita em
usuários de cocaína.7,11 Daras et al. ponderam que a vasculite pode estar
associada a anfetamínicos que são encontrados como contaminantes da
cocaína intranasal.16 Vasculite central é freqüentemente descrita em usuários
de anfetamínicos.
O paciente do presente relato era usuário de cocaína intranasal, crack,
etanol e canabináceos. Não há história de uso de anfetamínicos. O
comprometimento cerebral difuso evidenciado pela ressonância magnética foi
sugestivo de vasculite, mostrando infartos difusos, denotando lesão em artérias
de circulação terminal. Krendel et al. alertaram para o diagnóstico de vasculite
em quadros vasculares cerebrais progredindo por semanas e com provas
inflamatórias aumentadas.11 Merkel et al. relatam casos de vasculite cerebral
sem sinais clínico-laboratoriais de vasculite difusa.14 O paciente em questão
não tem história de hipertensão arterial e não foram observados picos
tensionais ou arritmias, fatores comumente associados ao AVC. Suas provas
inflamatórias sistêmicas também não se mostraram significativamente
alteradas.
Cefaléia, distúrbios visuais, alterações da marcha, associados a quadros
confusionais e alterações comportamentais, sintomatologia presente neste
paciente, foram descritos em outros casos de vasculite por cocaína.9,11,12,14
O comprometimento da ponte está associado com oftalmoplegia
internuclear e diplopia.17 O paciente apresentou diplopia e paresia do olhar para
cima, provavelmente associados à lesão pontina observada na ressonância
magnética.
Talvez por não avaliar adequadamente os pequenos vasos, a angiografia
cerebral é um exame pouco sensível para as alterações vasculares cerebrais
pela cocaína. Resultados normais são encontrados em aproximadamente
metade dos casos.18 O paciente em questão não apresentou alteração
angiográfica cerebral, embora a distribuição difusa das lesões na ressonância e
o comprometimento da vasculatura retiniana (documentados por
angioflueresceinografia) tenham sido típicos de vasculite. O paciente não
apresentava sinais de vasculite em outros órgãos.
Não foram efetuadas dosagens séricas ou urinárias da cocaína ou de
seus metabólitos porque o paciente, já demenciado, há meses não fazia uso
dessa droga. Mas o próprio paciente e seus familiares revelaram uso freqüente
de cocaína e crack. Não foi possível determinar o exato intervalo entre a última
administração da droga e o AVC.
O tratamento com corticóides tem sido a escolha nos casos de vasculite
por cocaína e, no presente caso, vem trazendo algumas melhoras nas funções
cognitivas, embora persista grave comprometimento.
O uso de cocaína e crack pode desencadear acidentes vasculares
cerebrais. Em pacientes jovens com quadros de AVC ou vasculite central, o
uso de cocaína, crack e outras drogas deve ser investigado. Toxicômanos com
quadros súbitos de deficiência cognitiva devem ser avaliados para detectar
possíveis lesões vasculares cerebrais.
REFERÊNCIAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION.: DSM – IV- TR. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre, Artmed, 2002
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