Download - Processo Civil II _ Marcha Do Processo
Francisco Pimentel 1
Processo Civil II – Marcha do Processo Juíza Conselheira Mª dos Prazeres Beleza Dra. Rita Lynce
Francisco Pimentel 2
I. Marcha do processo A marcha do processo é, de forma sumária, a tramitação do processo civil, da sequência de actos ordenados tendentes a um determinado fim. Esta varia em função da forma do processo
1. Tipos e formas de processo
As acções podem ser declarativas ou executivas. Dentro das declarativas temos as acções de simples apreciação, constitutivas e de condenação.
As distinções dos dois tipos de acções dá-‐se pelo objecto. Estas são delimitadas pelo pedido formulado pelo autor. Ou seja, pelo tipo de pedido, declarativo (e seus sub-‐tipos) ou executivo.
As formas de processo têm que ver com a tramitação da acção. O objecto da acção exige
por natureza um determinada tramitação. Enquanto os tipos se relacionam com o pedido do autor (exactamente o efeito jurídico que pretende), a tramitação tem que ver com o objecto global (art. 546º e seguintes).
As formas, no processo de tipo declarativo, podem ser: • No processo declarativo comum – forma única • Nos processos especiais
o As formas estão reguladas nos arts. 878º e ss e em legislação avulsa. o Estas devido ao seu objecto geral (direitos de personalidade – independentemente
do efeito que deles se pretende retirar; acções de divisão de coisa comum, etc) 2. Forma única da acção declarativa comum (art. 548º)
Até 2013 existiam três formas de processo dentro do processo declarativo comum. O critério
de diferenciação das formas de processo era o do valor da causa. Tinha de se fazer um juízo de comparação do valor da causa com o valor da alçada e a partir daí concluía-‐se qual seria a forma utilizada. As três formas possíveis eram as de processo:
• Ordinário o Exaustivamente regulado pelo legislador como modelo global. Os demais
eram apenas regulados naqueles aspectos em que se afastavam do modelo. • Sumário; • Sumaríssimo;
! Este era o mais expedito devido à repetição das acções, tinha uma tramitação menos solene
! Além do critério do valor complementava-‐se com o critério do objecto (tipo de pretensão deduzida) visto apenas ser aplicável a três tipos de causas:
• Entrega de coisa móvel; • Cumprimento de obrigações pecuniárias;
Francisco Pimentel 3
• Indemnização por danos Com o novo Código de Processo Civil de 2013 as três formas de processo foram reduzidas a
uma tramitação única. Esta aplica-‐se a todas os processos, o que pode ser contra-‐produtivo pois haverá uma tramitação idêntica para todos os processos, mesmo com objecto e complexidades diferentes. Para contornar este problema o legislador, apesar de ter previsto uma só forma de processo, criou meios de o aligeirar. Estes são os seguintes:
• Acção especial para pagamento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato (DL 269/98);
o Objecto – cumprimento de obrigação pecuniária com fonte contratual de valor não superior a 15.000 euros, e ainda a transacções comerciais.
o Utilizada quando o credor pretende obter a condenação do devedor no cumprimento de obrigação pecuniária de origem contratual cujo montante não exceda 15.000 euros, ou quanto a transacções comerciais.
o Regula ! A acção declarativa especial ! E a injunção – é um procedimento administrativo com imposição de
fórmula executória (v. Art. 857º) o Criticas
! Devia ter sido introduzida no código junto dos declarativos especiais; ! Campo de aplicação muito amplo, que inclusive se sobrepunha ao do
processo sumaríssimo; ! Saber se é ou não obrigatória:
• Sim é – art. 546º, nº 2; • Até 15.000
o Alternativa, sempre, entre acção declarativa especial (art. 442º a contrario) ou injunção
• Valor superior a 15.000 o Sempre acção declarativa comum
• No caso de transações comerciais o Nas acções de valor superior a 15.000 acção declarativa
comum ou apenas injunção; • Aligeiramento da tramitação em acções de menor valor (ex: arts. 604º, nº 5; 597º e
511º, nº 1) o Nas acções de valor não superior a metade da alçada da Relação (15.000€) –
art. 597º -‐ pode ser dispensada a audiência prévia. Em acções de valor não superior ao da alçada da 1ª Instância (€5.000) número de testemunhas, etc. Lembra a antiga distinção. O valor da alçada convém lembrar que é indicativo do valor das causas dentro do qual o tribunal julga sem admissibilidade de recurso;
Francisco Pimentel 4
• Princípios da gestão processual e da adequação formal o A lei quer que o juiz adeqúe a tramitação a seguir em cada processo, quer que
ele adeqúe a sequência de actos. Dirige-‐se à sequência em geral, mas também aos actos em concreto. O principio da gestão processual (art. 6º) inclui a ideia de que o juiz deve agilizar o processo, adequar ao caso concreto. Na prática podemos acabar com tramitações diferentes de acordo com a complexidade da causa em acção;
o O principio da gestão processual visa suprir as faltas de pressupostos é mais geral;
o O principio da adequação formal diz respeito à tramitação adaptando-‐a ao objecto da acção.
3. Momentos do processo
Todos os processos devem ter três fases:
• Fase introdutória o As partes explicam ao tribunal o que querem; o O autor deduz a pretensão e o réu apresenta a sua defesa; o O objecto da disputa é definido;
• Fase instrutória; o Recolha e produção de prova;
• Fase decisória; o Sentença (ainda que certas acções possam terminar antes, negócios privados
ou despacho saneador, ineptidão da PI, etc) 4. Fases do processo comum I. Articulados II. Julgamento antecipado ou saneamento e condensação III. Instrução IV. Discussão V. Julgamento
I. Articulados
O nome articulados deriva da forma como os articulados (peças em que as partes expõem os fundamentos da acção e da defesa e formulam os pedidos correspondentes) são apresentados, a matéria de facto é deduzida por artigos (art. 147º). A cada artigo deve corresponder um facto. A razão de ser desta forma é a facilidade de apreensão da peça e do seu conteúdo que deriva desta separação. A dedução da matéria de facto em que assenta a pretensão ou a defesa em artigos é obrigatória, em regra (art. 147, nº 2). Essa obrigatoriedade não se estende aos fundamentos de
Francisco Pimentel 5
direito da decisão por aplicação das normas jurídicas aos factos alegados. Caso a dedução em artigos da matéria não seja feita a PI é irregular.
A fase dos articulados tem como função definir a pretensão do autor e a defesa do réu, definir o objecto do processo.
Actos processuais que constituem os articulados. Até ao CPC 2013 existiam os articulados normais e os articulados supervenientes. Como
articulados normais tínhamos a Petição Inicial (PI) e a Contestação, como eventuais a réplica e a tréplica.
A contestação é o articulado através do qual o réu se defende do pedido do autor. Neste o réu pode:
• Negar o que o autor afirma, não trazendo novas questões ao processo – defesa por impugnação;
• Trazer novas questões ao processo – defesa por excepção o Peremptória – factos extintivos, impeditivos ou modificativos do direito;
factos constitutivos; o Dilatória – que impede o conhecimento do mérito da questão pelo juiz
• Formular um pedido contra o autor – pedido reconvencional Nas acções de simples apreciação negativa, os factos constitutivos do direito não aparecem
na petição inicial. O autor quer que o Tribunal declare que o direito do réu não existe. Na lei antiga quando o réu se defendia por excepção ou pedido reconvencional ou
estávamos perante uma acção de simples apreciação negativa a réplica era sempre admitida por força do principio do contraditório. Ao autor tinha de ser dada uma oportunidade de defesa perante os novos factos trazidos para o processo.
Havendo réplica era admissível ao autor alterar o pedido e a causa de pedir, desde não criasse uma acção nova. Havendo réplica também era sempre admissível a tréplica.
No presente Código, a réplica é apenas admissível no caso do réu ter deduzido um pedido
reconvencional, limitando-‐se a uma resposta a esta, e sempre nos casos de acções de simples apreciação negativa. A letra da lei é, então, bastante limitativa. Isto levanta a questão de saber o que fazer quando o réu se defende por excepção (princípio do contraditório, art. 3º)? Como pode o autor responder a tais excepções aos novos factos trazidos para o processo. De facto, a defesa não é admissível nos termos do art. 584º, porém, tal solução não deixa de ser duvidosa e deve ser afastada.
As hipóteses de conjugação de tal preceito com o previsto no art. 3 são as seguintes: • Resposta na audiência
o Prévia, se a ela houver lugar; o Na final
• Forma?
Francisco Pimentel 6
o Oral ou escrita? o Pode o juiz, dentro dos seus poderes, determinar a forma?
MPB defende que havendo réplica deve o autor aproveitar a mesma para responder às excepções deduzidas pelo réu na sua defesa. Faz uma interpretação ab-‐rogante da letra. Não havendo defesa pode o juiz admitir uma peça escrita de resposta à excepção, ao abrigo do seu poder de adequação formal. Caso contrário na audiência, se na final pode dar azo a uma confusão geral.
O Prof. Lebre de Freitas, também defende que havendo lugar a réplica, motivada pela existência de um pedido reconvecional (art. 584º), o autor não só pode como deve responder às excepções nesse articulado. Caso não o faça defende o Prof. que haverá uma preclusão do seu direito de defesa, não podendo mais alegar as excepções.
O art. 588 e ss. Tratam da admissibilidade de articulados supervenientes. Estes servem para
alegar factos de que a parte só tem conhecimento depois do momento normal que a parte tem para os alegar ou daqueles que só ocorrem após esse momento.
A. Petição inicial (art. 552º e ss.) Nesta o autor identifica a acção que está a propor. A sua função específica consiste em
definir o litígio. • Do ponto de vista subjectivo – identifica a as partes
o Identifica contra quem a acção está a ser proposta (ainda que os sujeitos possam alterar-‐se)
o A acção contra o réu apenas se torna eficaz a partir da citação, consiste no chamamento do réu à acção – art. 260º)
• Do ponto de vista objectivo – define o objecto do processo o O objecto do processo consiste no pedido e na causa de pedir
O art. 259º trata do momento em que a acção se considera proposta. A acção inicia-‐se com
a entrada em juízo da PI. Mas só se torna eficaz contra o réu a partir da citação. O momento do início da acção é de suma importância devido à contagem de prazos de caducidade e de prescrição.
A caducidade extingue o direito, sendo indiferente, em regra, a posição do sujeito. Deste modo a contagem para com a entrada da PI em juízo.
A prescrição concede ao sujeito passivo de uma relação jurídica o poder de se opor ao exercício de um direito pelo sujeito activo. Assim, o prazo interrompe-‐se com a citação do réu. O que é importante é a citação do réu para saber se ele pode ou não invocar este meio de defesa, art. 323º CC.
A partir da PI constitui-‐se a instância, como relação jurídica entre o auto e o tribunal, dizendo-‐se a partir daí pendente a acção. A partir deste momento a caducidade vê-‐se impedida.
Francisco Pimentel 7
a.1. Objecto do processo Há agora que tratar dos pressupostos relativos ao objecto do processo – pedido e causa de
pedir. A.1.1. Pedido (art. 581º) A definição de pedido aparece a propósito da contestação, na repetição das acções, porque
é o que o réu invocará para possivelmente escapar da acção. O pedido é o efeito jurídico pretendido pelo autor. Esta definição há que ligá-‐la aos poderes
do tribunal. Este está limitado pelo pedido do autor, tanto em termos quantitativos (não pode condenar em quantidade superior) como em termos qualitativos (nem em coisa diferente).
Quanto ao pedido, como vimos, relativamente à decisão vigora o seu principio. O tribunal apenas pode julgar dentro daquilo que o autor “pede”. Assim, não poe julgar em coisa diferente (limite qualitativo), nem em quantidade superior (limite quantitativo)(mas pode em quantidade inferior).
A questão que se pode colocar é a de saber até que ponto pode o tribunal convolar a qualificação jurídica feita pelo autor. A jurisprudência do STJ tem dito que o que é exigível ao autor e ao tribunal é o respeito pelos efeitos jurídicos-‐práticos. No plano da qualificação jurídica o tribunal pode requalificar dentro do mesmo pedido se a nova qualificação se mover dentro dos mesmos efeitos jurídico-‐práticos. Por exemplo, será que o caso em que o autor pede a nulidade com base numa impugnação pauliana pode ser requalificado, visto o efeito ser a ineficácia? STJ – sim. (ver aulas práticas)
O STJ decidiu no Assento 4/95 quando se viu confrontado perante dois acórdãos em sentido diverso, a questão de saber se podia conhecer oficiosamente da nulidade de um contrato e retirar dela todas as consequências jurídicas e em que medida isso não viola o principio do dispositivo, o dispositivo. Esta questão surge porque o pedido num acórdão pressupõe a validade e é pedida a restituição do indevido. O tribunal determinou a invalidade do contrato porque do direito sabe o tribunal, considerou que era um problema de qualificação jurídica. No segundo acórdão o pedido também assenta na validade do contrato, assim sendo o contrato nulo haveria absolvição do pedido, assentou que o contrato era nulo, então que o problema seria de pedido e já não de qualificação jurídica.
Assim nestes casos o pedido era idêntico. Há que distinguir o plano fáctico e o plano jurídico, ou das consequências jurídicas, se a decisão mantém os efeitos jurídico práticos (art. 5º, nº 3). O legislador visa a busca da verdade material, se o que o autor quer é procedente então deve ser mantido, dentro dos efeitos práticos ainda se diz que há o mesmo pedido, não há violação do princípio do pedido. A decisão foi correcta quanto ao pedido, ou seja, foi ordenada a restituição (efeito prático). O que interessa é o pedido de facto. Ainda que a causa de pedir seja dependente do contrato válido, na nulidade seria um vício de forma. Todavia, há problemas de economia processual e contraditório, assim quanto ao primeiro deve ser decidido no mesmo processo, e
Francisco Pimentel 8
quanto ao segundo não pode haver requalificação jurídica sem dar oportunidade às partes para se pronunciarem. A conversão é forçada. Todavia, para que serviria a possibilidade de conhecimento oficioso da nulidade pelo juiz se deste conhecimento não pudesse retirar todas as consequências jurídicas da nulidade. Se não tivesse conhecimento para nada serviria. Fundamento – conhecimento da eficácia da oficialidade do conhecimento.
No Ac. 3/2001 a questão é a de saber se há um erro na qualificação (em que há poderes de
cognição do juiz) ou uma verdadeira convolação do pedido. O caso é o de saber se pedida a impugnação pauliana e a restituição do imóvel ao património do devedor é um erro na qualificação jurídica ou um pedido errado.
A simples qualificação jurídica implica um erro na qualificação, que pode ser convolado pelo juiz (art. 5º). Já uma alteração oficiosa do pedido é proibida, art. 609º, não pode condenar em pedido qualitativamente diferente nem quantitativamente superior. A questão é saber se a decisão de nova qualificação se situa no plano dos efeitos práticos ou altera o efeito prático requerido pelo autor. O autor pediu a restituição da coisa ao património do devedor, devendo ter pedido a ineficácia da doacção e a execução no património do exequente. Chamar anulação ou ineficácia será, sem dúvida, um erro na qualificação jurídica cabendo nos poderes de cognição do juiz. O que difere são os efeitos no plano de facto, uma coisa é a execução no património do adquirente, outra é a restituição ao património do devedor.
Pode argumentar-‐se que, como fez o STJ, que sendo pedida a restituição do imóvel e o juiz declarar a alteração no património dos adquirentes o juiz não muda o pedido. Que se situa no plano do direito. Sendo que o juiz apenas está vinculado pelo pedido (art. 609º) e não pelo direito (art. 5º, nº 3). Se se situasse no plano dos factos a alteração do pedido é proibida. Apenas a modificação jurídica é permitida, e apenas é possível quando tivermos um erro na qualificação. O que me parece não ser o caso.
Em suma, os princípios em causa são os da justiça material e o contraditório. Tem de ser
dada à outra parte uma oportunidade para se defender. Nestes casos há que delimitar se se trata de um erro na qualificação, ou uma qualificação errada ou um pedido ou causa de pedir errada. Nos primeiros casos pode haver uma requalificação ex officio, segundo o STJ, quando os efeitos jurídicos práticos se mantêm, no segundo o juiz está limitado pelo pedido de facto.
Cumulação de pedidos (art. 553º e ss.) A cumulação de pedidos permite que no mesmo processo o tribunal aprecie vários pedidos.
Isto acontece por exemplo na coligação. Quando existe coligação existe necessariamente cumulação de pedidos, é a chamada cumulação complexa (subjectiva + objectiva). Pode, porém, apenas existir cumulação objectiva, vários pedidos do mesmo autor contra o mesmo réu (cumulação simples).
Mas existem várias situações em que se admite a apreciação de vários pedidos na mesma acção.
Francisco Pimentel 9
• Cumulação de pedidos – simples o Art. 555º o Circunstância em que o autor pretende a procedência simultânea de dois ou
mais pedidos; o Requisitos:
! Compatibilidade substantiva e processual. Não podem ser contraditórios porque o autor quer que todos sejam declarados procedentes
! Art. 555º + 37º ! O art. 36º não é aplicável porque já há uma relação material com as
mesmas partes. O art. 36º apenas garante na coligação que há uma relação entre os pedidos. No art. 555º estamos num caso em que o autor e o réu serão os mesmos pelo que a conexão está garantida.
! A compatibilidade processual (art. 555º + 37º) • Competência absoluta – internacional; hierarquia; matéria • Identidade das formas de processo
o Princípio da adequação formal (ver aulas) ! A compatibilidade substantiva
• Dois pedidos simultaneamente procedentes • Cumulação em alternativa
o O autor não pretende que todos os pedidos sejam simultaneamente procedentes;
! Real • Pedidos alternativos -‐ art. 553º
o Apenas quando a situação substantiva ela própria comporta a alternativa. Não se pode pedir ao juiz que decida entre uma ou outra, que decida como quiser. Apenas quando a lei substantiva permite. Ex: art. 543º
! Aparente • Pedidos subsidiários – art. 554º
o O autor faz dois ou mais pedidos, mas estabelece, entre eles, uma hierarquia. Alternativa aparentemente vinculativa para o tribunal.
o Requisitos ! Mesmos que para a coligação ! Competência do tribunal, tem de ser compatível
para todos os pedidos ! Forma de processo, identidade e
compatibilidade processual
Francisco Pimentel 10
Quanto ao caso dos pedidos subsidiários coloca-‐se o problema dos seus requisitos não estarem expressos no art. 553º. Não obstante, diz MPB, dificilmente seria admissível a cumulação quando tais requisitos não se verificassem. Ainda que não estejam lá são de exigir:
• Competência do tribunal o Que o tribunal seja absolutamente competente (matéria e hierarquia e
internacional). Quando a lei reduz a competência à necessidade destes critérios é porque tende a admitir a cumulação, quer admitir a cumulação. A lei dispensa a competência relativa, em razão do valor e território. Assim, tal critério de competência tem de ser aplicável à cumulação em alternativa aparente (subsidiária);
o A exigência da forma. A lei quer garantir que todos os pedidos são tramitados da mesma forma, excluindo a possibilidade de um ser tramitado por forma inadequada. Quer garantir uma forma de tramitação adequada a todos os pedidos.
O artigo 556º admite a formulação de pedidos genéricos. Nestes ainda se terá de determinar
o resultado. Apenas são admitidos quando a lei substantiva os admite por anda não ser possível determinar de modo definitivo o prejuízo.
Alteração do pedido (art. 264º e 265º) Até 2013 havendo réplica o autor podia sempre alterar o pedido. Com o novo CPC a réplica deixou de ter esta função. Assim, havendo acordo das partes o
pedido pode ser livremente, salvo se a sua alteração perturbar a tramitação do processo (art. 264º). Não havendo acordo pode o autor reduzir ou ampliar o pedido inicial se tal alteração resultar (“for o desenvolvimento ou a consequência”) do pedido inicial (art. 265º, nº 2). A redução do pedido equivale a uma desistência parcial, o que é sempre admissível – art. 283º).
A.1.2. Causa de pedir (art. 581º) A causa de pedir é o facto jurídico do qual o autor deduz o pedido. Este tem de estar definido
na PI (arts. 5º + 552º). O autor tem de definir o núcleo essencial do facto no qual assenta a pretensão, o pedido. Este núcleo há de corresponder a um regime normativo que o autor tem em mente. O autor refere-‐se a esta previsão normativa, pois considera que os factos a preenchem. O autor tem o ónus de alegar os factos que integram a causa de pedir. As deficiências de alegação dos factos que integram a causa de pedir não são supríveis – art. 5. A causa de pedir limita os poderes do juiz e o caso julgado. O juiz apenas pode basear a sentença na causa de pedir (art. 608º + art. 5º)
Francisco Pimentel 11
O pedido tem de estar assim fundamentado de facto e de direito. Tem de indicar os factos constitutivos do seu direito. A causa de pedir é assim “o núcleo fáctico essencial tipicamente previsto por uma ou mais normas como causa do efeito de direito material pretendido”1. Na causa de pedir as razões de direito também têm de ser invocadas, as razões pelas quais o autor entende que o seu pedido merece acolhimento. Trata-‐se de aplicar o direito aos factos que constituem a causa de pedir , de modo a permitir a conclusão constante do pedido.
No âmbito da qualificação jurídica o juiz nunca está limitado. Se o autor configurar todos os factos necessários a outra causa de pedir, o autor alega responsabilidade extra-‐contratual, mas pode o juiz ex officio requalificar com base nos factos alegados responsabilidade contratual.
A lei ao definir que nas acções reais a causa de pedir é o facto jurídico de que deriva o direito
real adopta a teoria da substanciação. Esta contrapõem-‐se à teoria da individualização. A teoria da substanciação diz que é o autor que tem de alegar a matéria de facto sob pena
de o tribunal não apreciar a questão. Tem de alegar o facto concreto que dá origem à sua situação jurídica. A teoria da individualização diz que basta que o autor identifique a relação jurídica em causa.
Vejamos os seguintes exemplos, se A move uma acção de reivindicação do prédio X e outra do prédio Y, as acções são distinguíveis pelo objecto, totalmente diferentes. Todavia, se A pede ao tribunal, numa acção de condenação, que condene B ao pagamento de 5.000€ e noutra pede a condenação no mesmo valor não se consegue distinguir as acções pelo objecto, não se consegue distingui-‐las se não se identificar a causa, as diferentes causas das dívidas. Assim, há acções em que independentemente da alegação do facto concreto o julgador as consegue individualizar. Não obstante, noutras sem tal alegação a distinção torna-‐se impossível.
A lei apesar desta possibilidade de individualização em algumas acções adoptou o mesmo conceito de causa de pedir para todas as acções. Isto é perceptível que no nº 4 do art. 581º se faz quanto às acções reais. O autor de uma acção de reivindicação deve formular o pedido de tal modo que indique a causa que legitima o seu direito “que se declare que sou proprietário do prédio x ... porque o adquiri em virtude de tal facto”. A causa de pedir individualiza o pedido a uma situação concreta, conforma o objecto do processo.
Para que a causa de pedir esteja completa tem, o autor, de alegar o facto concreto de onde nasce o seu direito, que fundamente a sua pretensão. Tal é importante porque influencia os poderes de cognição do tribunal e a extensão do caso julgado.
Nas acções de simples apreciação negativa, do ponto de vista do autor esta teoria tem um
alcance um pouco diferente. O autor pede ao tribunal que declare que um suposto direito do réu não existe. Ao indicar a causa de pedir tem de indicar o facto concreto de que resulta a extinção ou qualquer outra causa que impede o direito do réu? A doutrina divide-‐se e surgem três possíveis soluções: ver pg 41 e 42
• Anselmo de Castro
1 vide, Lebre de Freitas, pg. 41
Francisco Pimentel 12
o Apenas tem de afirmar/alegar a inexistência do direito do réu. Deste modo caberia ao réu alegar os factos constitutivos do seu direito.
• Prof. Antunes Varela o Não encontramos no CPC nenhuma regra especial quanto às acções de
simples apreciação negativa, logo, tendo em conta a posição do réu (de preclusão da defesa na contestação), vale a posição geral. O autor tem de alegar os factos necessários ao seu pedido.
o Arts. 5º, nº 1 e 552º, nº 1, al. d) • Prof. Castro Mendes
o Fundamenta a sua posição no CC, art. 343º, nº 1, no ónus da prova relativo a estas acções. Quando o réu se arroga da titularidade do direito há uma inversão tanto do ónus da prova como do ónus de alegação, cabe ao réu alegar e provar o direito de que se arroga. Assim, nas acções propostas contra o réu que se arroga da titularidade de um direito contra o autor aplica-‐se, por analogia, a solução propugnada no CC. Esta solução, ainda que substancialmente bem fundamentada, dificilmente se encaixa no CPC.
Assim como o pedido, a causa de pedir pode ser alterada. (arts. 265º). Na falta de acordo, só
se pode dar uma alteração quando o autor quer aproveitar um facto confessado pelo réu, aqui falamos de confissão prova. O autor limita-‐se a aproveitar deste facto, podendo apenas ser alterada nesta hipótese. Segundo MPB é uma má solução.
A.2. Vícios da Petição Inicial Quando a PI não cumpre a sua função de definir o objecto do processo é inepta. A ineptidão
dá-‐se quando a PI não define de forma inteligível o pedido e/ou a causa de pedir. O tribunal não se pode substituir ao autor na definição do objecto do processo, logo, não aprecia a questão.
Art. 186, nº 2: • A) quando a causa de pedir ou o pedido são ininteligíveis ou faltam
o Nestes casos o juiz não sabe o objecto sobre o qual se terá de pronunciar. Há um problema quanto ao direito de defesa do réu, não saberá sobre o que se defender.
o Quando o réu não identifica o facto concreto que dá origem à sua situação jurídica – ou seja, não cumpre a substanciação há uma violação deste principio e a PI é inepta.
o O nº 3 permite a sanação nestes casos se o réu contestar e se concluir que interpretou convenientemente a PI à partida inepta, depois de ouvido o autor:
! Rita Lynce – apenas poderá haver sanação nos casos de ininteligibilidade da PI para o juiz do pedido ou causa de pedir, e não é só o réu que tem de a perceber, mas também o juiz;
Francisco Pimentel 13
! LF – admite que também possa acontecer em casos de falta, ainda que admita a sua dificuldade
o quando o autor pede a execução de uma garantia bancária autónoma. Se o tribunal concluir que o que existia era uma fiança a PI é inepta, não há causa de pedir;
• B) contradição insanável entre o pedido e a causa de pedir o Alegação da nulidade de um contrato e pedir a condenação do réu no seu
cumprimento ou a declaração de validade; alguém que está na posse de um prédio e pede a restituição da posse.
• C) cumulação substancialmente incompatíveis o A, arrendatário, pede numa mesma acção a declaração de nulidade por
simulação de um contrato de compra e venda e uma acção de preferência. São incompatíveis, só há acção de preferência sobre uma compra e venda.
Nos casos previstos no art. 186º, nº 4 e art. 186º nº 2, al. c) a queda de um dos pedidos
implica ainda a nulidade do processo, quando este caia em virtude de incompetência do tribunal ou por erro na forma do processo. A questão que se coloca é a de saber se o vício do art. 186º, nº 2, al. c) e sanável. Pensamos que não. Aqui há que pensar por maioria de razão, ou seja, se a lei no caso em que dos pedidos decai mesmo assim mantém a nulidade de todo o processo, porque razão poderia o autor escolher um deles para manter o processo. A nulidade terá de se manter, mesmo sendo válidos. Nunca poderá escolher. Mesmo mantendo-‐se dois, por maioria de razão, a lei não permite face à nulidade que estabelece. Esta também é a opinião de MPB. Já o Prof. LF entende que o autor poderá escolher mantendo o processo.
A ineptidão da PI leva à nulidade de todo o processo pois o acto de propositura foi nulo. Isto é uma excepção dilatória que leva à absolvição da instancia – art. 577º -‐ 186º -‐ 272º.
A.3. Ónus de alegação O art. 555º, nº 2, al. d) diz que o autor deve expor os factos essenciais que constituem a
causa de pedir. Este artigo deve ser lido em conjugação com o art. 5, nº 1. Mas tal não significa que o autor se deva reter à exposição dos factos essenciais. Os factos essenciais são os necessários à procedência da acção
Diz-‐se que há um ónus de alegação dos factos essenciais porque o autor ou alega ou não alega e neste segundo caso o tribunal não pode estender os seus poderes de cognição, substituindo-‐se ao autor.
Quanto aos factos complementares e instrumentais (aqueles com valor probatório, que indiciam a verdade dos factos essenciais ) o regime de conhecimento pelo tribunal é diferente. o tribunal pode conhece-‐los se ao vieram ao seu conhecimento em virtude da instrução, aqui não há ónus de alegação.
Francisco Pimentel 14
MPB interpreta o art. 552º, nº 2, al. d) como apenas requerendo a alegação dos factos essenciais pelo autor. Mas acrescenta que nenhum autor prevenido deixa de alegar todos os factos que lhe sejam favoráveis na PI. Isto sob pena de ficar refém do andamento do processo e daquilo que for apurado na instrução.
Os factos que não são essenciais à identificação da causa de pedir, ou seja, os complementares, importa saber se o autor os tem de alegar na PI. MPB entende que não, ainda que seja insensato não o fazer. Apenas se fala no art. 552º, nº 2, d) dos factos essenciais, mas deve o autor avisado alegar todos os factos necessários à procedência da acção.
Os factos concretizadores devem ainda ser alegados se houver lugar a isso em aperfeiçoamento da PI, havendo audiência prévia e convite ao aperfeiçoamento (art. 591º). Depois pode o juiz, nos termos do art. 5, nº 2, al. b) considerar o facto desde que este dê à outra parte oportunidade de se pronunciar sobre o facto e este resulte da instrução. Já houve preclusão da alegação que não pode ser directa.
B. Tramitação subsequente Entrando a PI em juízo, electronicamente começa o processo. A data de entrada em juízo é a
data da expedição electrónica – art. 144º. Esta data é a que se considera a data da prática do acto praticado.
A PI é recebida na secretaria (art. 558º). Esta faz uma apreciação externa da PI, contendo o art. 558º as causas que justificam a sua recusa pela secretaria.
Após passar no crivo da secretaria há a distribuição (art. 203º). Esta destina-‐se a determinar o juiz da causa. A distribuição funciona como um sorteio. Determina-‐se o juiz que prepara e julga a causa, este deve ser escolhido ao acaso.
C. Citação Até 1995 depois da distribuição devia o juiz lavrar o despacho liminar. Neste fazia as
verificações necessários às alegações do autor (único documento de que naquele momento processual dispunha). Podia negar a procedência do processo indeferindo liminarmente o processo. Havendo irregularidades de conhecimento oficioso podia proceder a um despacho de aperfeiçoamento. Apenas dirigido ao autor e não ao réu. não havendo nada a assinalar na PI proferia um despacho de citação.
Hoje em dia o juiz só toma conhecimento das peças depois da entrega dos articulados, todos.
Arts. 590º + 226º (a citação é feita pela secretaria sem necessidade de despacho prévio). MPB entende que a lei, no art. 590º, permite a existência de um despacho liminar se o juiz
assim entender necessário. Assim pode o juiz dar em qualquer caso indicações gerais à secretaria. Volta a ser possível um indeferimento liminar. A acção pode “morrer” logo na PI. Isto quando o juiz
Francisco Pimentel 15
entender que a questão de fundo é manifestamente improcedente ou em termos de forma não deve proceder.
Entende o Prof. Lebre de Freitas que após a distribuição o processo é apresentado a juiz para despacho liminar nos seguintes casos:
• Nos termos do art. 226º, nº 4 o Citação edital o Litisconsórcio necessário
• Quando à secretaria se afigure manifesto que ocorre fundamento de indeferimento liminar, por manifesta improcedência do pedido ou falta insanável dum pressuposto processual (art. 590º). Apesar do artigo não referir a secretaria normalmente a iniciativa virá da mesma. Mas não impede como diz MPB que o juiz possa dar instrução genéricas à secretaria e ter a iniciativa de despachar.
A citação do réu é uma espécie de notificação, art. 219º. As notificações são os actos que
servem para levar qualquer acto ao conhecimento de alguém ou chamar alguém a juízo num processo pendente.
A citação consiste em dar conhecimento ao réu de que uma acção foi contra ele proposta, o qual tem um prazo para defesa e as consequências da sua inacção ou defesa fora de prazo. Garante a defesa e o contraditório.
Só a partir da citação a acção se torna eficaz contra o réu. Alteração da citação. Pois é difícil garantir que o reu conheceu da propositura da acção
contra si. Os interesses em jogo são os da continuação da acção, economia processual contrapostos à garantia de defesa do réu. Até 1985 a regra era a da citação pessoal, ou seja, pelo funcionário do tribunal. Em 1985 a citação de pessoas colectivas passou a ser por correio. A partir de 1995 a citação por correio passou a ser a regra.
O art. 225º hoje regula a citação. Esta pode ser pessoal ou edital. Na pessoal é feita, em regra, por correio. Se esta não lograr o seu efeito esta prevê que seja feita pelo correio ou agente de execução. Noutros casos (apenas quando se desconhece o paradeiro de réu certo ou são incertas as pessoas a citar) a citação é edital. Mas como esta não dá muitas garantias do seu conhecimento há garantias do réu (como os efeitos da revelia – art. 568º).
Outras notificações (art. 247º) e 256º -‐ notificação judicial avulsa, não corresponde a
processo pendente. Efeitos da citação Os efeitos da citação podem distinguir-‐se em efeitos materiais (que se produzem na relação
substantiva) e efeitos processuais (que se verificam na relação processual a partir da citação). Os efeitos materiais – art. 564º são os seguintes:
• Art. 564º, al. a) o Faz cessar a boa fé do possuidor
Francisco Pimentel 16
• Regime da prescrição – interrupção da prescrição (art. 323º) o Norma de protecção do autor que não controla a data da citação. o Prazo de caducidade – há uma extinção do direito, apenas interessa a
segurança jurídica, não se suspende nem interrompe. o A prescrição não extingue o direito. O decurso do prazo não o extingue, veja-‐
se o exemplo das obrigações naturais. Oferece ao sujeito passivo o poder de se opor ao exercício do direito, por isso se suspende e interrompe.
• Art. 805º CC o Constituição do devedor em mora em obrigações sem prazo. É uma forma
possível de interpelação, mas não convém por força do art. 609º (pagamento de custas).
Os efeitos processuais estão regulados nos art. 564º, al. b) e c)
• Al. b) – estáveis os elementos essenciais da causa (art. 260º) o Não significa inalteráveis, a alteração destes elementos está a partir deste
momento sujeita a regras. Até à citação o autor faz o que quer, o reu afinal de nada sabe.
o Incidentes da intervenção de terceiros o Alteração da causa de pedir e pedido
• Al. c) inibição o Não pode ser proposta outra acção sobre a mesma questão jurídica que se
fosse procedente seria incompatível com a primeira o Propondo o réu a acção haveria litispendência, pendência de duas acções
onde se discute a mesma causa. Para efeitos de litispendência a 2ª em que réu foi citado é aquela em que há lugar à excepção dilatória. Aquela em que o réu é citado por último.
Francisco Pimentel 17
Contestação Ao réu cabe contestar, dar uma nova versão da história ao juiz, há um interesse nesta outro
lado da história. Assim, cabe ao réu o ónus de contestar, não um dever. A contestação interessa não apenas para satisfazer o interesse do réu, mas principalmente o interesse do legislador em que haja uma versão bilateral para que possa haver uma boa administração da justiça e que a decisão seja o mais justa possível.
A contestação pode ser tida em 2 sentidos: • Em sentido material
o Enquanto acto de oposição do réu à pretensão do autor • Em sentido formal
o Enquanto trâmite, como se apresenta, etc.
A contestação em sentido material pode ser: • Contestação – defesa – visa a absolvição do réu
o Defesa por impugnação – o réu ataca os factos alegados pelo autor o Defesa por excepção
! Dilatória ! Peremptória
• Contestação – reconvenção – circunstância de haver um pedido autónomo do réu, passam a existir duas acções cruzadas, ambas as partes são autores e réus
Contestação defesa A contestação defesa pode apresentar uma linha de defesa que seja uma defesa por
impugnação ou por excepção. A contestação vem organizada no CPC em função do esquema doutrinal. Esta organiza-‐se nos arts. 569º e ss. No art. 571º está a definição de defesa por impugnação e por excepção. Esta diferença é importante devido às diferenças de regime.
A defesa por impugnação acontece quando o réu se defende não saindo fora dos factos
constitutivos do direito do autor, por ele alegados. Na impugnação o autor vai por em causa esses factos, negando directa ou indirectamemente os mesmos ou os efeitos jurídicos que o autor pretende deles retirar. O réu contradiz os factos ou nega justificadamente os efeitos pretendidos pelo autor decorrentes dos factos alegados. A negação dos factos pode ser:
• Directa – A diz que fez, vendeu, constituiu, o réu nega dizendo que A não... • Indirecta – o R dá uma conotação diferente aos factos que o autor alega. A diz que
entregou x a R, mas R diz que sim, todavia, a título de doação. o Nesta o réu oferece outra versão dos mesmos factos que choca com os
alegados pelo autor. O objecto não deixa de ser a negação da versão dos factos do autor.
Francisco Pimentel 18
A impugnação pode ser de facto ou de direito. Ou seja, o réu pode apenas impugnar (contradizer) os factos ou os efeitos jurídicos decorrentes desses factos. Se apenas impugnar os efeitos jurídicos decorrentes dos factos significa que aceita os factos.
Na defesa por excepção, estas podem ser dilatórias ou peremptórias. Nas excepções o réu
traz matéria nova ao caso. Nas excepções dilatórias tratam-‐se de obstáculos ao conhecimento do mérito da causa, funcionam na relação processual. As excepções peremptórias funcionam na relação material, são aquelas em que o réu alega uma facto extintivo, impeditivo ou modificativo do direito do réu.
Hoje em dia o regime da defesa alterou-‐se porque apenas existe réplica (art. 584º) no caso
de ASAN e de reconvenção (e estritamente para responder a esta). Não significa que o princípio do contraditório não tenha de funcionar e que portanto possa haver uma réplica mais alargada, na linha defendida por MPB. Apenas não se encontra necessidade no caso de defesa por impugnação, art. 3º, nº 4. Isto porque a defesa por impugnação não significa algum ónus da prova, enquanto a defesa por excepção já implica. Trazendo novos factos para o processo, o réu traz factos que são desfavoráveis à pretensão do autor, mas que lhe são favoráveis a si. Assim, tem de os alegar e provar.
Quanto à defesa por excepção dilatória (art. 576º) O art. 576º define-‐a como uma excepção que obsta a que o juiz conheça do mérito da causa.
Estas levam à absolvição da instancia. O art. 577º prevê uma lista não taxativa de excepções dilatórias, na sua quase totalidade processuais, uma vez que estas actuam sobre a relação processual. São pressupostos do exercício da função jurisdicional.
As excepções dilatórias são em regra de conhecimento oficioso, art. 577º. Não são de conhecimento oficioso o conhecimento de 3 excepções:
• Incompetência absoluta: o Pacto privativo de jurisdição o Preterição de tribunal arbitral voluntário
• Casos de incompetência relativa nos casos não previstos no art. 104º o Territorial, naqueles casos
A razão de ser da necessidade de invocação da excepção é a permissão legal de convenção destas regras. Ou seja, a lei permite que as regras relativas à jurisdição ou arbitragem ou mesmo competência territorial sejam acordadas pelas partes, a lei permite um pacto directo, logo a lei deixa na disponibilidade das partes o exercício da sua autonomia privada. Se existe uma convecção arbitral, mas uma parte instaura uma acção em tribunal e a outra contesta nada dizendo quando à arbitragem há uma presunção” de renuncia a esse acordo. Dai o não conhecimento oficioso.
Francisco Pimentel 19
As excepções de litispendência e de caso julgado vêm previstas no art. 577º, al. i), art. 580º e art. 581º. Estas aparecem tratadas em conjunto porque têm a mesma função. Pretendem evitar que o tribunal seja colocado numa situação em que pode contradizer ou reproduzir uma decisão anterior. Ou seja, pretendem evitar repetições e/ou contradições. A decisão posterior será inútil (art. 625º) pois a primeira decisão transitada em julgado (que já não admita recurso, será a que vale).
A questão que se coloca é a de saber quando é que as questões são iguais para saber se o tribunal está na tal posição de se poder repetir ou contradizer outro tribunal.
Em termos formais fala-‐se da tríplice identidade (art. 581º), ou seja, quando os sujeitos , o pedido e a causa de pedir são idênticos. Nestes casos há sem dúvida identidade de acções.
Porém, haverá os mesmos sujeitos quando o processo é iniciado por A que na sua pendência morre, sendo sucedido por B, e este propõe uma nova acção contra o réu? A resposta não pode deixar de ser positiva no sentido de haver identidade de acções. O que interessa não é o sujeito em si, mas a identidade jurídica, a sua qualidade jurídica (art. 581º, nº 2), se a mesma haverá igualdade. Pensemos no caso de sucessão, ou mesmo transmissão intervivos do direito.
Existem ainda outros casos em que acções aparentemente distintas são juridicamente idênticas para efeitos de litispendência e caso julgado. Pensemos no caso em que A vende um livro a R, R não paga e A instaura uma acção de condenação contra R pedido o pagamento do preço. Um tribunal julga a acção procedente, transitando a mesma em julgado, ou seja, não admite mais recurso ordinário. R, mais tarde, inconformado, propõe uma acção contra A pedido a anulação do contrato com tendo como causa de pedir o erro. Poderá esta segunda acção ser julgada? O objecto é diferente, enquanto na primeiro a causa de pedir era a validade do contrato e o pedido o pagamento do preço, na segunda a causa de pedir era o erro e o pedido a anulação. A resposta negativa é a que se afigura correcta. O objecto ainda que distinto leva a que em caso de procedência das duas acções a execução das sentenças seja incompatível. Assim, se na prática a execução das sentenças for incompatível haverá identidade de acções, adopta-‐se um critério funcional – art. 580, nº 2.
Ambas estas excepções são excepções dilatórias. No caso da litispendência o desfecho só pode ser a absolvição da instância quanto aquela acção em que o réu foi citado em último lugar.
Quanto ao caso julgado o regime mudou. Até 1995 era uma excepção peremptória, o que implicava que julgava a acção improcedente, o que significa que havia uma absolvição do pedido. Era uma decisão de mérito, formava caso julgado material. Hoje, havendo igualdade o juiz absolve da instancia, não adquirindo essa decisão a força de caso julgado material, não impedindo que posteriormente outro tribunal discorde e julgue a questão.
Nestas excepções ao contrário das outras a questão de fundo já está decidida. As excepções peremptórias atacam a relação material. Estas consistem em factos extintivos,
impeditivos ou modificativos dos direitos invocados pelo autor. São excepções de direito substantivo e destroem a pretensão do autor. A sua procedência leva à absolvição do pedido.
As excepções peremptórias são de conhecimento oficioso (art. 579º), salvo se a lei substantiva faça o seu conhecimento dependente da vontade do interessado.
Francisco Pimentel 20
O art. 5 também vale para as excepções como o artigo onde se distinguem os factos para o
réu. O réu deve invocar os factos essenciais para a excepção, tem assim o ónus de alegar os factos que fundamentam a sua excepção. Já os factos complementares e instrumentais devem resultar da instrução.
Para além das classificações legais das excepções a doutrina têm mais classificações para as
mesmas. • Excepções em sentido próprio vs. Excepções em sentido impróprio.
o Critério de distinção é saber se as mesmas são de conhecimento oficioso. o Serão excepções em sentido próprio aquelas que não são de conhecimento
oficioso, ou seja, que correspondem a um direito do réu, estão na disponibilidade da sua vontade. Serão excepções em sentido impróprio aquelas que são de conhecimento oficioso.
• Excepções de direito substantivo vs. Excepções de direito processual o Critério é o direito em que encontram o seu fundamento o Excepções de direito substantivo
! Dilatórias • Não implicam a improcedência definitiva do direito do autor • Ex: moratória – extensão dos prazos
! Peremptórias • Provoca a improcedência definitiva
o Excepções de direito processual (apenas têm efeito na relação jurídica processual)
! Dilatória – absolvição da instancia ! Peremptória – absolvição do pedido
Princípios a que obedece a contestação defesa • Princípio da concentração da defesa na contestação – art. 573º
o Manifestação do principio da preclusão quanto à oportunidade de defesa • Principio da impugnação definitiva (art. 574º)
O principio da concentração da defesa implica que o réu tem o ónus de concentrar toda a
sua defesa na contestação, ou seja, na mesma peça física. E tem de apresentar toda a sua defesa no prazo para a contestação.
Assim a resposta a questão de saber se o réu pode ir invocando, ao longo do processo, a sua defesa não pode deixar de ser peremptoriamente negativa. Neste sentido o art. 573º. Não trazendo o réu toda a sua defesa na contestação preclude-‐se esse seu direito. Não obstante, esta regra comporta excepções (art. 573º, nº 2):
• Factos supervenientes o Estes são factos que:
Francisco Pimentel 21
! Ocorrem depois do prazo da entrada para a contestação (factos supervenientes objectivos)
! Os que a parte apenas tem conhecimento posterior ao prazo para apresentar a contestação
o Logo são facto posteriores ao momento normal de sua alegação, a contestação. Esta possibilidade de alegação de factos supervenientes existe, também para a PI, para permitir que o juiz os considere porque a situação de facto pode alterar-‐se até à sentença.
• Defesa separada o Tem como prazo de dedução o da contestação, mas deve aparecer
fisicamente dela separada. Isto porque será sujeita a uma tramitação separada. A hipótese do réu levantar suspeita do juiz (art. 119º e seguintes, garantias de imparcialidade do julgador. Estas garantias são meio de defesa que visam evitar que o juiz seja colocado numa posição de decidir na medida em que possa ter a sua equidistância comprometida. Têm de ser invocados antes da decisão final. Existem dois tipos, os impedimentos (mais graves, pelo que de conhecimento oficioso) e as suspeições (o juiz pode pedir escusa, ou uma das partes invocá-‐la – art. 122º, 1). Os impedimentos podem ser invocados até à sentença (art. 116º), a suspeição até ao depacho saneador???
• Defesa superveniente de conhecimento oficioso o Ex: ineptidão da PI; o Enquanto a questão possa ser conhecida oficiosamente pode a parte suscitar
a questão, outro regime não fazia sentido Outra questão é a do ónus da impugnação (art. 574º). Na sua contestação, o réu tem de tomar uma posição definida perante os factos alegados
pelo autor sob pena de os factos serem dados como admitidos por acordo. Este artigo atribui ao silencio valor declarativo. Assim o réu encontra-‐se perante uma situação em que ou impugna ou factos (só vale para matéria de facto), ou os factos têm-‐se como admitidos por acordo.
A grande questão deste artigo é a de saber o que quer o legislador significar por impugnação definida. Quando o réu impugna não traz novos factos ao processo, apenas os contradiz ou lhes dá uma nova conotação, tendo por fim negar aquele acontecimento (impugnação indirecta, ver exemplos). O réu não traz contra factos.
Até 1990 a lei exigia uma impugnação especificada, proibindo a impugnação geral por negação (“nada do que o autor alega corresponde à realidade”). Com a reforma de 1995 foi substituída essa expressão por impugnação definida, desaparecendo a proibição de impugnação por negação.
Assim, a doutrina interpreta o preceito partindo da ideia de que o réu não se pode limitar a negar a PI. A lei quer que o juiz perceba a posição do réu quanto aos factos alegados pelo autor, a contestação tem de ser globalmente interpretada de modo a que se perceba a relação entre os
Francisco Pimentel 22
factos impugnados. Isto é, não podem ter-‐se como admitidos factos que não foram impugnados directamente, mas que são incompatíveis com outros que o foram. MPB entende que basta que o réu demonstre a sua visão, globalmente interpretada na contestação, desde que perceptível para o juiz que contradiz os factos alegados na PI para que se considerem impugnados os factos. E pela mesma lógica, não considerar impugnados factos que o réu afirma estar a impugnar quando a versão global da contestação assenta numa lógica incompatível. A ratio será a de responsabilizar a parte pelos factos alegados, funcionalizando-‐os ao principio da litigância de boa fé, não contradizendo factos que sabe que aconteceram ou alegando factos falsos.
MPB entende que não vale como impugnação a negação global, genérica dos factos. Deste modo é necessário saber que factos, de entre os factos alegados pelo autor, devem
ser impugnados, sob pena de serem admitidos por acordo? Conjugando os arts. 572º e 574º entende-‐se que os factos que são necessários impugnar são
aqueles que constituem causa de pedir. Ou seja, os factos essenciais, mas também os factos complementares ou concretizadores daqueles e os instrumentais.
Entende MPB que tal ónus vale quanto a todos os factos alegados pelo autor, sob pena de serem admitidos por acordo. O autor avisar alegará todos os factos de cuja prova depende a procedência da acção, logo irá além da alegação dos factos essenciais. Assim, caberá ao réu impugnar todos estes, ou seja, todos os que poderão levar à procedência da acção se admitidos por acordo.
Quanto aos factos instrumentais a sua não impugnação, logo, a admissão por acordo, não é definitiva pois admite-‐se quanto a eles prova em contrário (art. 574º, nº 2).
A consequência da não impugnação é que os factos se consideram admitidos por acordo. Esta admissão por acordo significa que os factos se têm por assentes, a lei não diz que se
têm por confessados como na revelia. A lei presume inilidivelmente que se consideram assumidos, que não se querem discutir, que se consideram assentes. Admissão ficta. MPB considera que confissão e admissão são figuras distintas. Isto porque não impugnar apenas significa que não se quer discutir os factos.
Hoje em dia o juiz não faz um questionário onde se assentam os factos controvertidos a ser provados. Apenas há referencia a temas de prova (art. 596º). MPB, tem a mesma função. A lei não quer a lista pormenorizada, mas na sentença podem aparecer se dados como provados (art. 607º, nº 4). A prova na instrução apenas pode recair sob os factos que foram impugnados, sob estes há que estabelecer a verdade. Quanto aos demais estão assentes, não podendo recair sobre eles a prova, salvo instrumentais.
Esta regra da admissão comporta excepções, ou seja, apesar de não impugnados não se
consideram assentes (art. 574º, nº 2 e 4): • “se os factos não definitivamente impugnados estiverem em oposição com a defesa
no seu conjunto o necessidade de interpretação global da contestação, de não a tornar
intrinsecamente contraditória;
Francisco Pimentel 23
• se não for admissível confissão sobre eles o quanto aos factos alegados pelo autor e não impugnados pelo réu o art. 354º CC;
• se só puderem ser provados por documentos escritos o art. 364º CC
! exigido por lei como requisito de prova ou de forma, ou por convenção das partes
• se o réu for incapaz, ausente ou incerto, quando representado pelo MP ou advogado oficioso
Art. 574º. Existem ainda casos em que o réu afirma desconhecer se um facto alegado pelo
autor aconteceu. A alegação deste desconhecimento vale como confissão quando o facto é pessoal e o réu deva dele ter conhecimento. Nos demais casos, ou seja, quando não é pessoal ou dele não deva conhecer equivale a impugnação. A razão de ser é a boa fé que deve existir no processo e a dificuldade de prova quanto aos primeiros por parte do autor.
Contestação reconvenção (arts. 266º, 93º e 583º) O pedido reconvencional é um pedido autónomo formulado pelo réu contra o autor. Os
artigos que regulam esta matéria são os arts. 266º, 93º, e 583º. O primeiro quanto à alteração do objecto do processo (casos em que é admissível) e o art. 93º relaciona-‐se com a extensão da competência para o conhecimento do pedido reconvencional.
A reconvenção não é livre, tem de existem uma conexão suficiente entre os pedidos que
justifique o aproveitamento da mesma acção para conhecer o pedido reconvencional. É por natureza facultativa, como se depreende do art. 266º, nº 1, “o réu pode”.
Os requisitos para poder haver pedido reconvencional são os seguintes: • conexão entre os pedidos (art. 36º e 266º) • competência (art. 37º)
o o mesmo tribunal tem de ter competência para julgar o pedido reconvencional em termos de matéria, hierarquia e competência internacional;
• identidade das formas de processo (art. 266º, nº 3) o forma processualmente adequada para todos os pedidos; o poderes de adequação formal do art. 37º, por remissão do art. 266º, nº 3.
Quanto à identidade das partes, o art. 366º, nº 4 manda aplicar as disposições relativas à
pluralidade de partes aos casos de pedido reconvencional. Se houver litisconsórcio necessário pode e deve chamar o litisconsorte a juízo.
Francisco Pimentel 24
Os casos em que a lei admite a existência de conexão substantiva, admitindo o pedido reconvencional vêm regulados no nº 2 do art. 266, estes são os seguintes:
• a) quando o réu aproveita a causa de pedir do autor para formular um pedido reconvencional
o ex: qualquer contrato sinalagmático; o acidente de viacção
• b) acções relativas a benfeitorias; • d) quando o réu pretende obter o efeito que o autor quer em seu benefício
o ex: acções de divórcio intentada pela mulher, mas em que o marido propõe contra a autora, formula um pedido autónomo.
• C) compensação de crédito Quanto à compensação de créditos A compensação é a extinção reciproca de créditos. Pode o réu, numa acção declarativa de
condenação em que o autor pede o pagamento de certa quantia em dívida pelo réu, querer que esse crédito do autor seja extinto simultaneamente por um crédito seu que detém contra o autor. Assim, pode querer em pedido reconvencional extinguir simultaneamente e reciprocamente os créditos.
Antes do CC de 1966 a compensação, como ensinava o Prof. Alberto dos Reis, operava se estivessem reunidos os requisitos de extinção automática dos créditos na parte comum. Se não se pudesse verificar a extinção automática por iliquidez do crédito uma decisão judicial operava a compensação. A primeira correspondia a uma excepção peremptória e a segunda a uma compensação judiciária.
Com o CC de 1966 a compensação deixou de ser automática ou judiciária, este instituto foi construído como um direito potestativo. A extinção dos créditos dá-‐se por declaração unilateral de extinção dos créditos por uma parte à outra. Nesse momento há uma extinção retroactiva ao momento em que os créditos se tornaram compensáveis.
Assim coloca-‐se a dúvida, quando o réu se defende invocando a compensação temos um
problema. Será que esta defesa é uma defesa por excepção ou por reconvenção. Quanto ao excesso nenhum problema alguma vez se pôs, corresponde a um pedido autónomo do réu contra o autor, pelo que sempre foi configurado como pedido reconvencional. Nesta há verdadeiramente um pedido de condenação no excesso. Já a parte comum levanta problemas, na medida em que reúne características semelhantes, tanto com as excepções como o pedido reconvencional. Parece uma excepção peremptória na medida em que o réu quer a absolvição do pedido, mas o meio é diferente dos factos extintivos do direito pois nestes é, normalmente, invocado um facto que já extinguiu um direito. Por outro lado, parece um pedido autónomo porque trago uma nova relação creditícia ao processo e quero extingui-‐la, pagando-‐a.
As posições doutrinárias de então divergiam.
Francisco Pimentel 25
• Castro Mendes: art. 274º inclui na reconvenção a compensação. Então seja qual for o valor relativo dos créditos aplica-‐se sempre a reconvenção, quer se queira a condenação no excesso ou não.
• Vaz Serra: se o crédito do réu for superior ao do autor e o réu pretendia a condenação do autor no excesso, pedindo a condenação na diferença, então haveria reconvenção. Se o crédito do réu fosse inferior ao do autor, ou o réu não pede a condenação na diferença, o réu quer é ser absolvido da instancia pelo que será uma excepção peremptória.
• AV: reconvenção
O art. 266º, nº 2, al. c) resolveu a questão estabelecendo que seria um pedido reconvencional quanto à totalidade, parte comum e excesso.
A lei é mais exigente quanto ao pedido reconvencional que quanto às excepções, nos
seguintes pontos: • Competência (arts. 91º vs. 93º)
o Quanto à reconvenção é mais restritiva, ou seja, exige competência absoluta do tribunal, caso inexista o tribunal não poderá conhecer deste pedido autónomo do réu. Assim o autor é absolvido da instância reconvencional. Esta sentença será desconforme com o direito substantivo.
o As excepções podem ser deduzidas nos termos do art. 91º, no mesmo tribunal competente para a acção.
• Extensão do caso julgado material (arts. 91º, nº 2, vs. 619º e 621º) o Quanto ao pedido reconvencional apenas constitui caso julgado se a questão
de mérito foi julgada. Assim seria o caso de haver um julgamento já sobre o pedido reconvencional, a ser proposta outra acção com o mesmo objecto (pedido e causa de pedir) e partes esta seria inadmissível pela excepção do caso julgado. Não sendo admitido o pedido reconvencional por incompetência ou qualquer outro motivo há uma absolvição da instância.
o Já no casos das excepções peremptórias a decisão não constitui caso julgado fora do processo, salvo tal seja requerido.
• Nas acções para PdOPEC não são admitidos pedidos reconvencionais, apenas excepções.
Segue ainda um regime especial nos seguintes pontos: • Valor da causa (art. 299º, nº 2)
o O momento a que se atende para fixar o valor da causa é o momento em que a acção é proposta, ou seja, o momento em que a secretaria recebe a PI (art. 259º e 144º).
o Havendo pedido reconvencional somam-‐se os valores dos dois pedidos, podendo a alteração ter repercussões na competência dos tribunais e admissibilidade de recurso. A solução da lei actual resulta da conjugação do
Francisco Pimentel 26
art. 299º, nº 2 com o art. 530º, que estabelece que a parte comum não se soma, mas apenas o excesso, aquela parte em que o réu pede a condenação do autor.
• Desistência do pedido (art. 286º) o A desistência do pedido pelo autor equivale à sua renuncia ao direito. A
desistência é livre e não prejudica a reconvenção, salvo quando a mesma depender do pedido do autor
! Mesmo quanto à parte comum, é analisada? Ou só o excesso??? • Nº de articulados
o Havendo reconvenção é sempre admitida réplica art. 584º O art. 266º, nº 2, al. c) é sempre reconvenção. A contestação em sentido formal. A contestação vista em sentido formal não é mais que um trâmite, um acto processual. Uma
questão que se coloca é a de saber se só é admissível a contestação articulada, art. 572º. Admite a contestação ou por mera junção de documentos?
Quanto a contestação por mera junção de documentos pergunta-‐se se a mesma será válida, ou seja, se se admite que o réu respondeu, ou se será aplicável o regime da revelia. Entende a doutrina que é admissível dentro da força probatória do documento, ou seja, que prova o que nele se consubstancia. Pela apresentação do documento alego um facto extintivo implicitamente.
Uma contestação por mera negação é inadmissível. Segundo o art. 572º, o réu deve individualizar as excepções. Ónus de contestar – revelia (art. 566º) Em teoria a falta de contestação pode não ter nenhum efeito em especial, como acontece
por exemplo no direito italiano. Porém, no nosso direito, a lei interessa-‐se não apenas em saber a versão do réu, mas na boa administração da justiça. A falta de contestação tem como consequência que se consideram confessados os factos alegados pelo autor. A lei atribui valor declarativo ao silêncio, presumindo inilidivelmente a confissão, dai que quanto a estes casos se fale de confissão ficta.
O art. 566º trata da revelia absoluta. Esta acontece quando o réu citado não intervém de
modo algum no processo. Nesses casos deve o juiz verificar se a citação foi feita e bem feita, pois se o réu nada diz pode de nada saber. No caso de se confirmar que foi bem feita o réu encontra-‐se em revelia absoluta.
Francisco Pimentel 27
Para que da revelia se retirem as consequências normais, ou seja, que se deem os factos alegados pelo autor como confessados são necessários que se preencham determinados pressupostos.
• Quanto a forma de citação (art. 567º) o A citação tem de ser pessoal (ou quase pessoal), nos termos do art. 225º o Ou se o réu tiver intervindo de qualquer modo no processo, “constituição de
advogado”; • Art. 567º, nº 1 + 568º, al. b)
o O réu citado editalmente não dá garantias ao processo que de facto soube que corre uma acção contra si. Deste modo, se o réu citado editalmente não intervém no processo (absolutamente) e apenas nestes casos não se verificam os efeitos da revelia, a confissão dos factos. Se o reu foi citado editalmente, mas de algum modo intervem no processo deixa de estar em revelia absoluta e está sujeito ao regime da revelia.
A revelia provoca também um salto na marcha do processo, art. 563º, nº 3. Da fase dos
articulados passa-‐se directamente para a fase de discussão e julgamento da matéria de direito. Deve, porém, advertir-‐se que terem-‐se os factos alegados pelo autor dados como provados não significa que a acção se considera procedente. A confissão não dispensa que o juiz vá verificar se os factos são suficientes para o efeito que o autor pretende. Não dispensa também o conhecimento dos pressupostos processuais.
O réu que não contesta conserva todos os direitos compatíveis, ou seja, aqueles que o art. 573º permite que sejam deduzidos após a contestação, ou seja, as excepções ao principio da concentração da defesa. Quanto ao demais funciona o principio da preclusão.
O art. 568º prevê os casos em que não se verificam os efeitos da revelia, ou seja, os factos
não se dão como provados e o processo segue a sua marcha normal. • Havendo vários réus e apenas alguns contestarem. Nestes casos a contestação
apresentada por um ou por vários dos réus aproveita ao réu que não contestou quanto aos factos contestados. A contestação apresentada vale para todos, nos termos em que é apresentada. Como se a contestação fosse para todas. Isto porque a consequência seria a confissão dos factos, assim, um facto seria dado como provado para um réu e não para outro. A revelia implica um salto no processo, a partir da contestação e falta dela teríamos duas tramitações simultâneas e paralelas. A contestação apresentada para um vale assim para todos.
• Quanto aos incapazes é preciso que a acção se situe no âmbito da sua incapacidade. Só recorremos a esta consequência quando a incapacidade está regularmente suprida, pelo MP, nos termos do art. 15º. Não sofre os efeitos da revelia.
• Quanto à citação edital tem de estar em revelia absoluta. • Quanto a direitos indisponíveis, ou seja, quanto a eles não vale a confissão (art. 354º
CC). Se não se pode confessar expressamente quanto mais de modo ficto. Estes casos
Francisco Pimentel 28
dizem respeito a relações jurídicas subtraídas à vontade das partes. (anulação de casamento civil, divórcio, etc).
• Quanto a factos que apenas podem ser provados por documento escrito – art. 364º. o Ex: execução especifica de contrato promessa quando o autor não apresente
o documento.
Nas AECOEC, o art. 2º do seu regime prevê que o réu revel é condenado no pedido. Há ainda que analisar os casos especiais em que o autor promete ao réu que desistirá do
pedido, e desse modo o réu não contesta. Todavia, o mesmo A não desiste do pedido e o R é dado como revel e sofre as consequências da revelia, art. 567º. Ademais é condenado. A questão que se coloca é a de saber se o réu pode desfazer os efeitos da revelia, alegar que não contestou por erro, ou por acordo com A.
Quanto à primeira questão tem de se saber se a confissão pode ser anulada por vícios da vontade. O art. 359º CC determina que a confissão é anulável por vícios e falta da vontade. Mas este regime vale para a confissão expressa, será analogicamente aplicável à confissão tácita?
A lei trata de modo distinto uma e outra. Comparemos os arts. 568º b) e 453º, nº 2. Se um incapaz fica sujeito à sua confissão, o mesmo não fica sujeito aos efeitos da revelia, à confissão ficta. Posso obter uma confissão expressa do incapaz (seu representante), se se situar no âmbito dos poderes de representação vincula o representado. Consigo uma confissão expressa que vincula o incapaz, como vimos – art. 453º, nº 2, mas não consigo que valha contra ele uma confissão ficta.
Outro caso é o do art. 568º, al. d) e o art. 364º CC. No art. 568º a lei não permite a confissão ficta quanto a factos que apenas possam ser provados por documento escrito, mas o regime substantivo permite que a mesma seja substituída por uma confissão expressa. Mais uma vez posso obter uma confissão expressa, mas não uma ficta.
Por fim o caso do art. 465º em que se consagra o principio da irretratibilidade da confissão expressa. Se a confissão expressa for feita é irretratável, salvo sendo feita nos articulados e ainda não tiver sido aceite pela parte contrária.
Deste regime parece que a lei considera mais gravosa a confissão ficta do que a confissão expressa. A lei quer que o juiz conheça as duas versões dos factos, da história, daí prever um regime tão gravoso para a confissão ficta. Parece deste modo que não poderá ser anulada a confissão ficta nos termos do art. 359º CC. Não obstante, a doutrina entende que há que distinguir as razões que levaram o réu a não contestar:
• Se foi induzido a não o fazer pelo autor, nestes casos entende-‐se que a confissão ficta é anulável em recurso de revisão;
• Se esses motivos nada tiverem a ver com o autor nada se poderá fazer. Réplica (art. 584º)
Francisco Pimentel 29
A réplica apenas existe quando há reconvenção ou em casos de acções de simples apreciação negativa. Se o réu se tiver defendido por excepção e tiver formulado pedido reconvencional haverá réplica. Ainda que a letra da lei seja restritiva e apenas circunscreva a mesma a uma resposta ao pedido reconvencional a doutrina entende que o autor deverá aproveitar a réplica para responder também às excepções. Convém ainda lembrar a posição do Prof. LF que entende que a resposta às excepções deverá ser feita na réplica sob pena de preclusão. MPB entende que o art. 3, nº 4, que prevê a possibilidade de resposta às excepções, é um ónus que poderá ser feito na réplica.
Havendo defesa por excepção na réplica a resposta às mesmas (por força do principio do contraditório previsto no art. 3) deverºa ser feita posteriormente.
Articulados supervenientes (art. 588º) A lei permite para que a sentença seja útil que sejam alegados factos supervenientes. Estes
são aqueles factos de que o autor ou réu apenas têm conhecimento posteriormente ao momento normal para apresentar o articulado em que deveriam ter sido articulados, ou que objectivamente apenas acontecem posteriormente.
Francisco Pimentel 30
II. Saneamento e condensação e julgamento antecipado
O julgamento antecipado ou saneamento e condensação tem a particularidade de permitir
que o processo acabe já nesta altura, contrapondo-‐se ao final. Pode ser um julgamento de forma, ou seja, por razões processuais a questão de fundo fica por decidir, estes são os casos de absolvição da instância. Termina o julgamento no despacho saneador. Acontece quando a relação processual está irremediavelmente mal formada.
Pode decidir-‐se logo, no despacho saneador, a questão de fundo, ficando resolvido o litígio. Pode resultar da conciliação das partes, se disser respeito a direitos disponíveis, há uma tentativa de conciliar as partes com base na equidade. Ou por negocio processual, desistência, confissão do pedido ou transação. Pode terminar com o julgamento antecipado quando a direitos indisponíveis ou porque não se consegui conciliar as partes. Normalmente há confissões nos articulados, os documentos são logo apresentados, assim estes elementos podem ser suficientes para que se tome uma decisão final quanto ao litígio.
julgamento antecipado
de forma absolvição da instancia
com resolução da questão de
fundo
por conciliação
por julgamento
Saneamento e condensação
Saneamento
regularidade da relação
processual
nulidades
pressupostos processuais questões que
possam ser já decididas
condensação
deIinição do objecto do litígio
temas de prova
Francisco Pimentel 31
Se não houver julgamento antecipado há uma preparação de julgamento. Quando se fala em
saneamento verificação da regularidade da instância. Se faltarem pressupostos processuais há uma tentativa de sanação, se esta for impossível existe um julgamento antecipado de forma. Também deve nesta fase o juiz verificar se existem nulidades processuais.
Quando falamos em condensação fala-‐se numa redução do processo àquilo que deve ser decidido. Até 2013 a condensação da matéria de facto fazia-‐se em 2 peças processuais, uma relativa a factos assentes outra aos factos controvertidos. Hoje não se prevê a lista dos factos assentes e o questionário, mas deve enunciar-‐se posteriormente ao despacho saneador os temas de prova e a definição do objecto do litígio.
Gestão inicial do processo Num primeiro momento pode existir um despacho liminar onde se recusa a PI, nos termos
do art. 286º. De acordo com a interpretação de MPB e Prof. LF. Nos termos do art. 590º, nº 1. O art. 590º regula o despacho pré-‐saneador. Neste momento o juiz deve convidar as partes
a sanar os problemas da relação processual que existam. Tendo havido ou não despacho saneador deve seguir-‐se a audiência prévia. Esta vem
regulada no art. 591º. O processo desenvolve-‐se à volta de duas audiências, a audiência prévia e a audiência final. Até 1995 a audiência prévia tinha um outro nome e era obrigatória. Na prática não se realizava. A reforma de 2013 reforçou a ideia da sua obrigatoriedade. O legislador quer que ela se realize.
Antes distinguiam-‐se as funções essenciais das funções acessórias desta audiência: • Funções essenciais – razão de ser desta audiência:
o Art. 594° -‐ na audiência deve ser discutida a causa e, se esta for sobre direitos disponíveis, deve haver uma tentativa de reconciliação. Pode tentar conciliar-‐se as partes e consegui-‐lo. Mas pode também não se conseguir. Se não conseguir e a conciliação for frustrada, deve ficar em ata porque é que não houve solução e qual a solução proposta pelo juiz.
o Se houver elementos suficientes, pode haver julgamento imediato da matéria e o despacho saneador funciona como decisão de mérito.
o Acontece, muitas vezes, que o juiz dispõe dos elementos suficientes para julgar parte do pedido, caso em que o juiz decide parcialmente da questão de mérito no despacho saneador.
o Havendo excepções dilatórias devem ser conhecidas
Despacho saneador (art. 595º)
Francisco Pimentel 32
O despacho saneador tem por função verificar a regularidade da instancia ou relação processual. A verificação da regularidade da instância compreende:
• A verificação dos pressupostos processuais; • Verificação das nulidades processuais (distintas das nulidades da sentença)
As nulidades processuais são tratadas nos arts. 186º e ss. (remissão no art. 595º). A lei prevê
formalidades especiais para a generalidade dos actos praticados ao longo do processo (ex: citação). Pode acontecer que a tramitação efectivamente prosseguida no processo se afaste do formalismo previsto na lei. As nulidades processuais são precisamente desvios ao formalismo previsto na lei para a realização dos actos processuais. Para que os desvios ao formalismo previstos na lei tenham relevância é preciso que tenham um efeito invalidante. Quando o juiz utiliza o poder-‐dever de adequação formal, o desvio deve ser verificado relativamente ao formalismo definido pelo juiz.
As nulidades podem classificar-‐se em nulidades principais e nulidades secundárias. Estas distinguem-‐se pela sua gravidade.
• Nulidades principais – art. 196º o Ineptidão da petição inicial – art. 186º
! Quando não define adequadamente o objecto do processo; o Falta de citação do réu (diferente da nulidade da citação)
! A falta de citação verifica-‐se quando haja citação, ou haja citação edital fora dos casos em que esta é legalmente admitida;
o Erro na forma de processo – art. 193º; o Falta de vista ou exame ao MP (art. 194º)
! O MP intervém a título principal quando representa uma parte, mas também pode intervir a título acessório, quando, por exemplo, intervém num processo relativo a um menor para verificar o modo como as responsabilidades parentais são exercidas.
Estas nulidades principais distinguem-‐se, em termos de regime, de todas as demais.
• Nulidades secundárias (art. 195º) o A lei não prevê uma lista de nulidades secundarias, mas um critério geral de
relevância invalidante dos desvios às formalidades exigidas por lei. O regime destas nulidades secundarias é ditado por razões de economia processual, a começar na sua própria definição ou critério de relevância das irregularidades. Nos termos do art. 195º, nº 1, um desvio só produz a nulidade quando possa influir no exame ou na decisão em causa. É necessário verificar, em cada caso, se um desvio pode, em concreto, influir no exame ou na decisão em causa.
o Quando um acto é anulado os actos de parcialmente dependem dele são também anulados;
Francisco Pimentel 33
o Pode haver nulidades parciais (ex: a réplica é parcialmente nula por responder à impugnação, deve o juiz anular e desconsiderar esta parte)
o Recurso do despacho de anulação – art. 630º O art. 595º, nº 3 estabelece o valor do despacho saneador. Relativamente a questões
processuais (excepções dilatórias e nulidades processuais) o despacho saneador constitui caso julgado formal (art. 620º) quanto às questões concretamente apreciadas. Isto significa que quanto a estas questões a decisão tem força obrigatória no processo, mas apenas quanto às questões concretamente apreciadas. Se fizer um julgamento genérico das questões processuais não tem força de caso julgado formal. Quanto ao julgamento concreto das questões de mérito o despacho saneador tem força de caso julgado material. Este regime existe para proteger aspartes e as suas expectativas impedindo que o juiz altere a decisão que já proferiu. Mas apenas quanto às questões já concretamente apreciadas por levantadas pelo réu. Se o despacho for genérico pode ainda apreciar essas questões nos termos do art. 608º.
O art. 596º (+410º) estabelece que após ser proferido o despacho saneador deve o juiz
estabelecer os temas de prova. Não se podem contrariar os factos já assentes, sendo os temas de prova os temas controvertidos. O juiz deve a partir dessa fase estabelecer o que se vai passar.
II. Audiência final (art. 604º) Na audiência final reúnem-‐se o tribunal, as partes e os intervenientes acidentais necessários
à produção de prova, assim como à ajuda técnica ao tribunal e às partes, para, com imediação oral e concentradamente, bem como em contraditório realizarem os actos conducentes ao apuramento de prova da matéria de facto e discussão da matéria de direito.
“Fase da instrução” Esta fase destina-‐se à recolha e produção de prova. O art. 410º delimita o objecto da
instrução, ou seja, os factos que integram os temas de prova. Embora, por regra, a instrução se faça na audiência final, pode haver prova relevante num
processo que é feita fora do mesmo. deve juntar-‐se o documento ao articulado em que se referem os factos provados pelo documento. Pode requerer-‐se ao juiz prova antecipada, antes do processo ou proposta acção. À instrução segue-‐se a discussão da acção.
Discussão da causa Nesta fase deve haver um debate contraditório sobre o resultado da actividade probatória.
Após a conclusão da mesma, cada parte tentará convencer o tribunal de que determinados factos ficaram provados ou por provar. A discussão de direito pressupõe que se diga que, num quadro de
Francisco Pimentel 34
direito, a solução deve ser x. O CPC 2013 deixou de prever a ordem cronológia – discussão de facto, julgamento da matéria de facto – discussão de direito. Hoje o julgamento é todo feito na sentença.
Na parte das alegações relativas à matéria de facto os advogados farão uma análise critica da prova produzida, de modo a concluir sobre os factos que devem ser dados como provados.
Na mesma alegação devem ser indicadas as normas que deverão ser aplicadas ao caso concreto, a sua interpretação e subsunção nelas dos factos dados como provados. Devem, porém, prevenir a probabilidade de entendimento diverso da matéria de facto. Defende o Prof. LF que o juiz à luz do seu poder de adequação formal deve dividir as alegações de facto e de direito, remetendo as segundas para um articulado escrito quando a complexidade das questões assim o indicar.
Aula do dia 14 de Abril de 14 Tribunal coletivo Discussão em audiência final. Art. 604° retrata o que se passa nesta fase, os vários momentos/fases. 605° -‐ plenitude da assistência do juiz. No fundo, a prova só deve ser julgada pelos juízes que assistiram à respetiva produção. princípio da concentração – prova produzida no tempo tão concentradamente quanto possível. 606° "206° CRP. por princípio, as audiências nos tribunais são públicas. Tem de se fundamentar expressa e casualmente as razões para o caso não ser público. Casos de privacidade da vida íntima das pessoas. Julgamento
Temos de distinguir julgamento de facto do julgamento de direito – seleção, interpretação e aplicação do direito subjectivo. No CPC de 2013 a sentença já não trata apenas da matéria de direito, mas também da matéria de facto.
Na decisão de facto o tribunal declara quais os factos que julga provados e quais os que julga
não provados. Esta decisão tem de ser fundamentada. Isto para facilitar o reexame da causa e reforçar o autocontrolo do julgador, como elemento de transparência da justiça.
No julgamento de direito, a aplicação do mesmo pressupõe a delimitação das parcelas da
realidade a subsumir na norma jurídica, isto é, o apuramento de todos os factos da causa, que, tidos em conta os pedidos e excepções deduzidas sejam relevantes para o preenchimento das respectivas previsões normativas, sejam elas de normas processuais ou de direito material. Aos
Francisco Pimentel 35
factos assentes o juiz aplica o direito, pois deste sabe o tribunal, ainda que sejam proibidas decisões surpresa.
A sentença deve começar com a apreciação das excepções dilatórias ainda não apreciadas seguidas do mérito da causa.
Sentença – 607°ss Quem faz a sentença é quem prepara o processo. Mesmo depois de ter sido arguida a intervenção do coletivo, continua a haver distinção entre juiz que faz a sentença e ... Entre as várias alterações do CPC há a ideia de concentração no mesmo juiz. O relatório é a identificação do litígio, das partes, etc. O juiz, quando julga os factos relevantes, vai ter os temas da prova perante si. Depende da forma como foram apresentados os temas da prova – tendo em conta os factos assentes ou provados, o juiz tem de ir aos temas de prova e fazer lista dos factos provados, por muito que os temas estejam fixados genericamente. Art. 156° CPC – decisões judiciais são fundamentadas. Nulidade por causa da fundamentação. Pressupostos processuais – exceções dilatórias como art. em ressalva: pode acontecer que se verifique no julgamento não estarem verificados os pressipostos processuais, devendo logo ser declarada a absolvição da instancia. 608°/2. O tribunal deve conhecer todas as questões suscitadas pela parte e só pode conhecer das exceções apresentadas. 609°/3 factos supervenientes – possibilidade de conhecer factos princípio do art. 613° que é, na prática, muito importante: uma vez proferida uma decisão, esgota-‐se o poder jurisdicional do juiz quanto à decisão. Tal vale quanto às várias decisões proferidas no processo, que respeitam aos vários actos. A imparcialidade seria posta em causa se as partes pedissem ao juiz para voltar atrás nas suas decisões. A sentença pode apresentar vícios que geram a nulidade tornando-‐a totalmente inaproveitável para a realização da função que lhe compete e vícios de conteúdo que podem afectá-‐la total ou parcialmente. Estes podem respeitar à estrutura, limites ou inteligibilidade da decisão, gerando anulabilidade ou em erro material a rectificar, consusbbtnaciand errores in procedendo ou in iudicando. O tribunal não pode voltar atrás e dar o dito por não dito, excepto:
Francisco Pimentel 36
1. Erros materiais – erros de cálculo ou de escrita, art 614 – detetam-‐se pela leitura da sentença. O que se faz é julgar as várias parcelas.
2. Nulidades das decisões em geral – regime válido para o despacho saneador. Distingue-‐se a inexistência da invalidade, nulidade da anulabilidade. Importa a distinção do ponto de vista da teoria geral. A decisão deve ter como objecto, para não ser inexistente:
a. Partes existentes b. Decisão c. juiz
Do ponto de vista do direito constituído, o CPC fala de Nulidades que, na verdade, desaparecem com o trânsito em julgado. Art. 615° tem lista taxativa de nulidades:
a. assinatura b. fundamentação tem de ser expressa c. partes obscuras ou ambíguas na sentença – atrasava-‐se o trânsito em julgado da
sentença, beneficiando uma parte e beneficiando a outra. A partir de 2013, pedido autónomo para não atrasar a sentença.
d. Nulidade por omissão ou por excesso de pronuncia -‐ 608° CPC e. Limites da condenação – 609°
3. Não há recurso!