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CARIRI REVISTA 1

caririRevistaO Mundo para o Cariri. O Cariri para o Mundo

edição 01

ESpEditoSElEiro

chapadado araripE

#sertão fashion

#meio ambiente

as peças exclusivas de mestre seleiro, artesão contemporâneo e habitante de Nova Olinda, já desfilaram na são Paulo Fashion Week e conquistaram admiradores do Brasil inteiro.

@caririrevista

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Promover a região do Cariri, divulgando as conquistas concretas da economia, as potencialidades do desen-volvimento, a capacidade empreendedora da popu-lação, a riqueza cultural, a exuberância da natureza. Mostrar ao mundo o que é o Vale do Cariri – presente e futuro – é a motivação que concretiza esta revista.

Uma iniciativa que pretende oferecer aos leitores de outras paragens – inicialmente Fortaleza e Brasília – histórias do Cariri que cresce, que se torna cosmopolita, que participa da modernidade. Nesta primeira edição apresentamos um panorama do desenvolvimento eco-nômico dos últimos anos e das políticas públicas vol-tadas para a dotação de infraestrutura. Empreendemos uma aproximação da Chapada do Araripe para evoluir em todos os seus detalhes nas edições subsequentes.

Contamos a história do casario de Barbalha, dos cinemas do Crato, da arte em couro de Espedito Se-leiro de Nova Olinda. Na expressão do turismo religioso que possui múltiplas datas no calendário, descobrimos quem é o romeiro do século XXI e o que o leva ao Cariri em caravanas diversas.

Um roteiro de compras, a feira do Crato e a visita-ção ao centenário de Juazeiro do Norte empreendida pelo escritor Daniel Walker são outros pontos da nos-

Editora-Geral: Tuty Osório

#caririeditorial

DO CaRiRiPaRa O muNDO

sa viagem por esse vale verde que está no centro do Nordeste, e compreende, além do Ceará, espaços do Piauí, Paraíba e Pernambuco.

DO muNDOPaRa O CaRiRiAo mesmo tempo em que mostramos o Cariri, nos co-locaremos em sintonia com outros centros, exibindo o que há de relevante para o nosso foco principal — es-tabelecer conexões com o mundo de protagonistas de opiniões e decisões que agreguem informação de valor à nossa região.

Na nossa estreia, revelamos pinceladas do trabalho do designer de moda Mário Queiroz, conversamos a respeito de desenvolvimento regional com o empre-sário e secretário Ivan Bezerra e lançamos os números e as reflexões dos desafios em torno dos transplantes de órgãos. Ainda sobre saúde, trazemos aos nossos leitores os conselhos cotidianos do Dr. Drauzio Varela, médico que compartilha o seu conhecimento para a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros.

Cariri que se revela. Cariri que amplia o seu olhar.

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#edição o1

MEIO AMbIEnTE

COTIdIAnO

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CAPA DESTA EDIçÃO: Espedito SeleiroFOTO: Rafael Vilarouca

EXPEDIENTE

DIrETOrES Isabela BezerraRenato Fernandes

EDITOrA-GErAL Tuty Osório | [email protected]

EDITOr DE ArTE Fernando Brito

EDIçÃO DE TEXTOSClaudia Albuquerque

rEPOrTAGEM E rEDAçÃO Raquel ParisSarah Coelho

FOTOGrAFIARafael Vilarouca

PubLICIDADE88 | 3085.1323 88 | [email protected]

rEDAçÃOredaçã[email protected]

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dESIgn

Fé E TRAdIçãO

dESEnVOlVIMEnTO ECOnôMICO

PERFIl

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POlítiCas PúBliCas

CONveRsa

CultuRa

aRquitetuRa

saúDe

liteRatuRa

gastRONOmia

ROteiRO De COmPRas

estilO

esPeCial

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Com mais de 300 fontes de água perene em meio a uma rica e variada vegetação,a Chapada do Araripe acolhe uma Floresta Nacional, uma Área de Proteção Ambientale um Geopark. Sua beleza, porém, não está aí apenas para o deslumbre de moradores do Cariri e ecoturistas brasileiros. A Chapada abriga tesouros capazes de melhorar a vida das comunidades mais carentes.

tesOuROs e segReDOs

Da CHaPaDa

#caririnatureza

Chapada do araripe: oásis no sertão

RAFAEl VIlAROUCA

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De longe, o sertão nordestino parece uma coisa só. Seco, inóspito, rústico. A imensa faixa de semi-árido dá a impressão, para os mais apressados, de que o Nordeste, à ex-

ceção do litoral, é um imenso e monótono deserto, com uma vegetação retorcida e animais à míngua. Parece.

Um erro comum associado à imagem do Nordeste e de seu povo. Não é de hoje que se retrata o nordestino como um eterno retirante, sempre pronto a abandonar a terra seca e degradada em busca de oportunidades. Um homem nômade, mudando de região para região à medida que a seca avança.

Tal imagem, alimentada durante décadas de histó-ria, gerou uma quadro imutável na cabeça de muitos: um Nordeste sem água, sem terras férteis, sem vege-tação úmida. Nesse processo de criação de discursos e mitos que caricaturam a região, a despersonalização do nordestino é um caminho lógico. “Retirante” e “para-íba” são as denominações frequentes que uniformizam milhões de homens e mulheres, tão diversos quanto a região que habitam.

uMA SurPrESA PArA OS OLHOSPara espanto de alguns e maravilhamento de muitos, incrustado em meio à caatinga há um ecossistema sur-preendente, tão rico quanto pouco estudado. Para todo canto que se olhe, lá está ela: a Chapada do Araripe ergue-se orgulhosa e imemorial sobre o Vale do Cariri. Presença quase humana que todo caririense aprende a amar e a respeitar. Um paredão que se estende por mais de 10.000 km2 e abarca os estados do Ceará, Per-nambuco e Piauí.

Chamada de FlONA, a Floresta Nacional do Ara-ripe tornou-se, em 1946, a primeira Floresta Nacional do Brasil. Cinco décadas depois, em 1997, foi criada a Área de Proteção Ambiental do Araripe – APA, e em 2006, delimitado o Geopark do Araripe, que se esten-de por seis municípios do Cariri (Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri), com nove geossítios de valor histórico, geo-lógico e paleontológico. A extensão é de aproximada-mente 3.520 Km2.

Com enorme potencial paisagístico, ambiental e turístico, a área oferece trilhas ecológicas e uma vege-tação diversificada de florestas úmidas, cerrados e flo-restas secas, além de animais de grande porte, como a onça pintada, e de pequeno porte, como o soldadinho do Araripe, pássaro símbolo da região.

bELEZA AMEAçADA, HISTÓrIA ANTIGAFormada há mais de 130 milhões de anos, a Chapada do Araripe é constituída basicamente por rochas sedi-mentares. Trata-se de um dos principais sítios paleon-tológicos do planeta, com fósseis de diversas espécies, a exemplo do pterossauros (réptil voador do período Mesozóico) e de pelo menos dois dinossauros, o Santa-naraptor e o Irritator, encontrados na região.

A bacia sedimentar favorece também o apare-cimento de fontes perenes por todo o Vale do Cariri. O epíteto “oásis do sertão” não é à toa. São mais de 300 fontes de água que jorram dos canais fluviais que irrigam todo o Vale. Nesta área, o clima ameno se evi-dencia devido à vasta floresta que recobre a Chapada.

São 39.262,326 hectares de floresta, onde vivem muitas espécies de mamíferos, 23 espécies de anfí-bios e 59 espécies de répteis – entre estes há espécies raras como o lagarto Stenocercus squarrosus, com apenas um espécime encontrado, e a serpente Atrac-tus ronnie. Já as aves aparecem em um número ainda maior. São 280 espécies, sendo que destas, 14 estão ameaçadas de extinção.

O soldadinho do Araripe, ave símbolo da região, é um exemplo de como a depredação da floresta chegou a um nível crítico. Ele foi descoberto em 1996 pelo então estudante de biologia Weber Girão, numa expedição à Chapada do Araripe em companhia do professor Galileu Coelho, da Universidade Federal de Pernambuco. Mal foi encontrado e o soldadinho do Araripe já figura na lista de aves em extinção, com uma população estimada em 50 a 250 indivíduos. Localizado apenas nos municípios de Crato, Barbalha e Missão Velha, seu habitat é restrito a 28 km2 nas encostas da Chapada do Araripe. “Lá há uma ressurgência das águas absorvidas pelo platô da Chapada, o que propicia o aparecimento de uma mata bem úmida, com árvores altas, bem diferente da caatinga e do cerrado”, explica Thieres Pinto, biólogo do Aquasis, entidade sem fins lucrativos que congrega pesquisadores em torno da questão ambiental.

S.O.S SOLDADINHO

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Há um milhão de anos atrás, uma floresta úmida que ia do Amazonas ao Rio Grande do Norte, formava um imenso corredor ecológico por toda região Norte e Nordeste do país. Com as mudanças climáticas ocorridas no planeta, essa vegetação se retraiu. Da imensa floresta sobraram pequenos nichos isolados. Um deles é a Floresta Nacional do Araripe. Lutando contra o processo alarmante de desmatamento, a FLONA instiga nos cidadãos o desafio de pôr em prática um desenvolvimento capaz de conciliar crescimento sócio-econômico à conservação dos recursos naturais. Temido por alguns e sonhado por muitos, o desenvolvimento sustentável é a única alternativa viável para as próximas gerações.

PRESERVAR É PRECISORA

FAEl

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CIÊNCIA E rArIDADE NA FLOrESTAHá tesouros escondidos na Chapada que os nossos olhos não captam. Uma descoberta feita pelo profes-sor e pesquisador Waltécio Almeida, da Universidade Regional do Cariri, promete contribuir com as pesqui-sas em torno da evolução das espécies. Encontrado apenas na Chapada do Araripe, a espécie de onycho-phora Epiperipatus cratensis, pertence a um grupo in-termediário entre anelídeos e artrópodes.

Conhecido popularmente como onicóforo, é um animal raro que já foi considerado o “elo perdido” entre os anelídeos (minhocas e sanguessugas) e os artrópodes (insetos, aranhas e crustáceos), por pos-suir características comuns aos dois grupos. Para os leigos, a aparência é de uma minhoca com antenas e patas carnosas.

Os onicóforos podem ser os animais mais antigos ainda vivos no planeta, pois seu aparecimento data de 500 milhões de anos atrás. São muito mais antigos que os dinossauros, que teriam aparecido há 150 mi-lhões e 200 milhões de anos. Neste tempo todo, eles sobreviveram às mudanças climáticas e geográficas da Terra, perdendo pouca ou nenhuma característica original. Por isso, são considerados fósseis vivos e chamam a atenção de toda a comunidade científica.

No mundo inteiro são conhecidos 50 gêneros e 150 espécies, que vivem na Oceania, África, Ásia, e Américas Central e do Sul. Estes animais ajudam a comprovar a teoria do Pangea, segundo a qual o pla-neta seria uma única porção de terra, que se dividiu e formou os atuais continentes. Outra evidência apon-tada por alguns cientistas é a da evolução das espé-cies, já que os onicóforos possuem características de dois tipos de animais.

SAbEDOrIA POPuLAr COMPrOVADAEssa é apenas uma das descobertas dos pesquisado-res que compõem o Programa de Pós-Graduação em Bioprospecção Molecular da Universidade Regional do Cariri – URCA. liderado pelos professores Waltécio Almeida, Galberto Martins e Irwin Menezes, o labora-tório pretende compreender a biodiversidade do semi-árido nordestino e reconhecer aspectos importantes da biodiversidade regional, inclusive caracterizando, planejando e modificando moléculas bioativas com potenciais sócio-econômicos.

Trata-se, portanto, de um projeto que ultrapassa a fronteira institucional e se apresenta como um fator de interesse regional, suprindo as necessidades de pes-quisa de alto nível e a formação de recursos humanos. No centro das atenções estão plantas e animais de re-conhecida utilidade na medicina popular, que agora ga-nham respaldo científico através de um conjunto de pes-quisas que buscam a certificação dos produtos obtidos.

Exemplo disso é o óleo extraído da gordura do lagarto Tupinambis merianae, popularmente chama-do de teiú. Muito encontrado na Chapada do Araripe, a gordura do teiú é usado na medicina popular para a cura de reumatismo, problemas de pele, doenças res-piratórias e inflamações.

Recentemente, pesquisas feitas no laboratório pelo prof. Irwin Menezes comprovaram que o óleo re-tirado da gordura do lagarto reduz, de fato, a produção da atividade inflamatória no organismo. O estudo foi publicado na principal revista de etnofarmacologia do mundo, Journal of Ethno-pharmacollogy, e deixa cla-ra a importância do conhecimento científico andar de mãos dadas com o saber popular.

Segundo o prof. Galberto Martins, esse conheci-mento é um dos pilares para a conservação e compre-ensão da Chapada. Além disso, através das pesquisas desenvolvidas no laboratório, o conhecimento do povo pode ser confirmado, produzindo extratos de im-portância econômica para as comunidades.

“A Chapada do Araripe não é apenas um jardim para nosso deslumbramento. Ela é uma fonte inesgo-tável de pesquisas científicas sérias, que engrande-cem, conservam e melhoram a vida de sua população”, finaliza Waltécio Almeida.

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O DeseNvOlvimeNtO

Campus da Universidade leão Sampaio: a educação como propulsora do desenvolvimento

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O escritor português Eça de Queiroz era um observador sagaz do seu tempo. Di-plomata, teve oportunidade de viver em Paris no final do século XIX e, assim, olhar

o mundo a partir de seu centro – a capital francesa era a capital do mundo. De lá partia a divulgação exube-rante das experimentações do progresso, pautadas pela velocidade e por tentativas – hoje consideradas rudimentares – de automação da indústria, dos servi-ços públicos e até da vida privada. Em seu romance “A Cidade e as Serras”, publicado em 1901, um ano após o seu falecimento, Eça descreve uma série de gerin-gonças bizarras destinadas a agilizar atividades coti-dianas como o “abotoador de ceroulas” e o “colador de estampilhas”. Expõe o deslumbramento com a luz elétrica e com o automóvel, convivendo com a dúvida perturbadora se as múltiplas conquistas tecnológicas corresponderiam a um mundo melhor de se viver. Na visão crítica do escritor, ricos seguiam entediados com o progresso e os pobres das cidades não usufruíam de quaisquer vantagens dele advindas.

Quase 120 anos depois, após a virada de mais um século, que aconteceu concomitante à virada do milênio, a ironia criativa de Eça de Queiroz revela-se surpreendentemente atual. Ainda nos questionamos a respeito das virtudes do progresso e a “fuligem que sujava as vidraças de Paris” transformou-se numa pe-rigosa ameaça que atinge a camada de ozônio, dese-quilibra o clima, prolifera ameaçadoras bactérias cada vez mais resistentes aos modernos medicamentos. Em 2011 não existe alternativa a continuar avançando, enquanto consertamos as mazelas que o avanço vai deixando. Como vantagem temos um mundo que am-plia o desenvolvimento, mesmo sem ter equacionado as desigualdades.

É nesse contexto que se insere o recente cresci-mento econômico da região do Vale do Cariri. Com-preendendo os estados do Ceará, Piauí, Pernambuco e Paraíba, o Cariri encontra-se geograficamente locali-zado, exatamente, no centro do Nordeste brasileiro. O panorama aqui exposto aborda, nesta primeira edição

#cariridesenvolvimento

da Cariri Revista, o Cariri cearense, onde o espírito em-preendedor da população local, aliado a investimentos públicos e privados, conferiu à região um salto nos resultados da economia, com impactos na vida social significativos, embora, ainda, abaixo do desejável.

“O desenvolvimento é mais visível quando o con-teúdo social é mais evidente. Ainda temos no Cariri focos de pobreza, analfabetismo e mazelas como a violência, entre outras. Entretanto, para a continuidade do crescimento, se faz necessário maiores investimen-tos públicos em infraestrutura, especialmente educa-ção formal e profissional voltadas para a juventude”, sublinha Erasmo Mendonça, empresário responsável pela EBM consultoria, que se dedica à formatação de projetos para captação de investimentos em segmen-tos diversos. Em operação há 16 anos, a EBM é uma expressão eloquente do Cariri que cresce velozmente e busca excelência na expressão desse crescimento. Sua atuação viabiliza incentivos de crédito, estruturais e fiscais e, extrapolando fronteiras, já tem escritório além-mar, em Portugal.

liderando uma das maiores indústrias brasileiras no segmento de medicamentos, a Farmace — instala-da em 1996 no Cariri em função da boa qualidade da água e da excelência da localização geográfica —, o deputado federal Manuel Salviano também defende a educação como grande aliada e propulsora na conti-nuidade do crescimento da região. “Na minha visão, o Cariri começou a se desenvolver depois da chegada da

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Tânia Meire do Sebrae: o desenvolvimento econômico passa pela educação

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escola de medicina da Barbalha e do Juazeiro, que in-centivou a vinda de outros cursos e marcou o processo de crescimento da iniciativa privada. Hoje temos mais de 60 cursos de terceiro grau no Cariri. Sabemos que as regiões que mais crescem no Brasil são aquelas que recebem incentivos. A vinda da Universidade Federal para a região vai, com certeza, incrementar o desen-volvimento, porque o que falta aqui é mão-de-obra es-pecializada. Essa é a nossa maior dificuldade”, analisa Salviano. A Farmace é uma das maiores captadoras de mão-de-obra da região e sua expansão nacional pos-sibilitou o avanço da pesquisa científica, da aplicação de alta tecnologia e da capacitação de profissionais formados localmente. Além da absorção de pessoal qualificado de outros centros, com o consequente in-cremento dos referenciais de qualidade.

Na avaliação de Tânia Meire, articuladora regional do Sebrae no Cariri, de fato, o desenvolvimento econô-mico da região nos últimos 15 anos passa pela educa-ção. Ela lembra que nesse período houve uma explosão de faculdades, cursos técnicos e de formação de mão-de-obra. Mais recentemente instalou-se o Campus Avançado da Universidade Federal do Ceará-UFC, que tem atraído pessoas de todo o Brasil.“Grande parte dos cursos ofertados vão ao encontro dos vários segmen-tos empresariais da região, por ordem de prioridade a indústria, o comércio e os serviços”, explica Tânia.

A indústria de calçados é um destaque importante destes últimos anos no Cariri. Hoje, essa indústria é o maior polo exportador de calçados do país e o terceiro polo produtor, só ultrapassado por Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul e por Franca, no estado de São Paulo. Segundo dados do Sindindústria, o Cariri produz anualmente 90 milhões de pares de calçados. Parte

dessa produção é destinada aos mercados da Bolívia, Argentina, Uruguai, Itália, França e Portugal.

Outras indústrias. como a de alumínio (artigos para o lar), semi-joias, cerâmica e pedras calcárias, metalúrgica, medicamentos e confecções, são repre-sentativas na geração de emprego e renda, todas com visibilidade nacional. No âmbito do agronegócio, o Cariri detém produção significativa de mel orgânico e destaca-se pela comercialização no mercado externo a preços competitivos. “O Ceará, aliás, é o segundo maior exportador de mel do país, ficando atrás apenas do estado de São Paulo. A produção de mel do Cariri em 2010 foi de 866 toneladas, geradas por mais de mil apicultores, a grande maioria componentes da agricul-tura familiar”, enfatiza, ainda, Tânia Meire.

O comércio conta com grandes redes de distri-buição de alimentos, shoppings, lojas de material de construção e de varejo de produtos alimentícios. No setor de serviços, o turismo religioso é o campeão de resultados no impacto positivo sobre a economia da região (ver detalhes no espaço Cariri de Fé). No seg-mento de turismo, lazer e ciência evoluem em busca de incrementar a estrutura de recepção de visitantes. Certificado pela Unesco, o Geopark Araripe detém um território de excepcional valor geológico, paleontoló-gico, cultural e social, cuja área definida compreende os municípios de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri.

As redes de ensino superior proliferaram com grande variedade de cursos de formação profissional e acadêmica (ver Cariri Educação). Juazeiro do Norte abrigou a primeira faculdade particular de medicina do Ceará, antecipando-se à capital. Hospitais e clínicas médicas enfatizam a medicina praticada na região, que se nivela aos centros avançados do Nordeste. Os transplantes de córnea e rins são um exemplo impor-tante (ver Cariri Saúde).

AS AçÕES DE FOMENTOA presença do Banco do Nordeste na região do Cariri tem papel decisivo na mobilização de recursos finan-ceiros e no apoio a novas atividades. Somando-se os valores contratados em operações de crédito de longo e de curto prazos, foram aplicados R$ 125,2 milhões

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Jaime Romero: o Cariri num contexto globalizado

ção de indústrias fornecedoras de matéria-prima”, sem esquecer o grande apoio do Banco ao setor de serviços médicos.

AS AMEAçASContudo, a explosão do crescimento é vista com cautela por seus protagonistas, preocupados em apri-morar essa tendência e em prevenir a dispersão de esforços na arriscada perda do foco. Jaime Romero, presidente das Faculdades leão Sampaio, sintetiza a preocupação, advertindo que “é preciso considerar que para o cenário desenhado – o Cariri como uma força econômica, inserida num contexto comercial globalizado –, o ambiente certamente será muito mais competitivo, com concorrência cada vez mais acirra-da, clientes muito mais exigentes, pressionando por qualidade superior, menores preços e fatores de aten-dimento e conveniência. Desta forma, a manutenção da vantagem competitiva se dará somente se os seg-mentos locais mais representativos desenvolverem competências para atuarem nesta nova arena”.

Jaime Romero sabe bem do que fala, pela própria experiência. Sua história no Cariri começou com a im-

somente na economia do município de Juazeiro do Norte, no ano passado. O resultado representa incre-mento de 12% em relação a 2009, quando foram con-tratados R$ 111,8 milhões.

Os micro e pequenos empresários de Juazeiro contrataram financiamentos da ordem de R$ 56,7 milhões em 2010, por meio de 946 operações, que beneficiaram 360 clientes. Além disso, o programa de microcrédito, Crediamigo, conta atualmente com 13 mil clientes ativos, pulverizando o crédito e fomentando o comércio informal que abastece, principalmente, o turismo religioso. Em 2011, as operações já somam R$ 164,5 milhões. Desse montante, R$ 60 milhões destinam-se à indústria de calçados. Outras duas ope-rações, no valor de R$ 30 milhões cada uma, serão destinadas à ampliação de um shopping center e à implantação de um outro.

O gerente da agência do Crato, nos últimos anos à frente da agência de Juazeiro Norte, conta que “o Banco do Nordeste tem estado muito mais presente na concessão de negócios e na atração de novas indústrias, bem como no fortalecimento do setor de calçados, que está recebendo apoio para a instala-

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plantação da Singer, multinacional fabricante de má-quinas de costura, que após cinco anos de trabalhos voltados ao aperfeiçoamento dos processos e dos recursos humanos, conquistou posição de destaque que a credenciou a exportar para mais de 120 países. Romero cita esse exemplo como bem sucedido no desenvolvimento de uma nova vocação. A Faculdade leão Sampaio nasceu exatamente da constatação dessa necessidade em buscar diferencial competitivo na região, por meio da melhor qualificação e capacita-ção das pessoas, aprimorando os talentos contextuali-zados na cultura local.

A hora agora é de organização das cadeias produ-tivas, incremento de investimentos e de capacitação de pessoal. Manuel Salviano sintetiza o que deve ser prio-rizado, defendendo que “os empresários precisam ur-gentemente desse apoio na formação de mão-de-obra. Hoje temos toda a condição de fortalecer o polo univer-sitário na região, e isso, sem dúvida, impulsiona o cresci-mento.” Erasmo Mendonça estende a reflexão a fatores sociais amplos, como expressão do desenvolvimento consistente. “Nós somos uma federação de estados de tamanho gigantesco. Ao mesmo tempo em que isto favorece a grandeza do país, estabelece verdadei-ros abismos entre regiões. Entretanto, o Nordeste vem numa escalada histórica nunca antes vivenciada quanto ao seu desenvolvimento econômico, por exemplo. En-tretanto, acredito que o grande desafio está centrado no tripé saúde, educação e trabalho para todos. Isto torna a sociedade mais consciente, integrada e exigente quanto ao seu estilo de vida”, pondera Mendonça.

O professor Jaime Romero refere-se ao contexto nacional e internacional como cenários a serem con-siderados na avaliação do crescimento do Cariri, su-blinhando mais uma vez a urgência na qualificação de todos os atores – empresários, executivos, técnicos, gestores públicos, trabalhadores dos vários setores. Se-gundo ele, “o Brasil, por projeções internacionais, estará entre as cinco maiores economias do mundo até 2020. Esse crescimento também impulsionará a região do Ca-riri. A grande restrição, o grande desafio, será superar a falta de recursos humanos qualificados, tanto para ativi-dades técnicas e operacionais quanto para a gestão das empresas em atendimento a essa demanda.”

AS OPOrTuNIDADESErasmo Mendonça evidencia o manancial de água cor-tando todo o subsolo caririense, as regiões vocaciona-das para a agricultura e pecuária com solos adequados para a produção de cerqueiro e irrigação, os arranjos pro-dutivos locais diversificados – calçados, galvanotecnia, confecções, saúde e educação – o comércio presente em todas as cidades da região, a estrutura de atendimen-to para financiamento e a política de incentivos fiscais estabelecida pelo governo do Ceará como componen-tes da lista de oportunidades que proliferam na região.

Além disso, Erasmo destaca a riqueza cultural, a estrutura de lazer, as estradas, a expansão da energia elétrica. “Passou o tempo das grandes catástrofes, dos flagelados pela fome e sede dos anos 50,60 e 70. Te-mos de trabalhar uma conjuntura complexa envolven-do todas as potencialidades com múltiplas políticas, adequadas e efetivamente atuantes para cada seg-mento, numa conjunção difícil de apontar prioridades. Todas são exigentes quanto ao governo e à sociedade civil organizada”, conclui.

Erasmo Mendonça: “o grande desafio está centrado no tripé saúde, educação e trabalho para todos”

SARAH COElHO

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O empresário Manuel Salviano, da Farmace, con-tinua apostando no segmento de medicamentos. “Temos todo o potencial para desenvolver um polo qui-micofarmacêutico na região, buscando incentivos do poder público municipal, estadual e federal e o incre-mento da Universidade Federal. Tornando-se um polo, você traz o investidor de fora”, exemplifica. Ele preco-niza uma expansão maior ainda do setor da construção civil, impulsionada pela explosão imobiliária. Também defende a exploração de gás natural, com a implan-tação de um gasoduto para atender à demanda de energia das indústrias. “Estamos perdendo tempo em não agilizar essa iniciativa, que ajudaria a preservar a Chapada do Araripe”, sentencia.

Para o gestor do BNB, Albery Viana, o grande po-tencial é a vocação do povo para produzir e criar. Ele explica que “isso tem seu início na lógica implantada pelo Padre Cícero, quando disse que cada casa devia ter uma oficina e um oratório”. Albery acrescenta que com o grau de evolução que as indústrias de calçados têm atingido, o potencial maior está em dar mais um passo para atender à demanda criada por elas, no sentido da indústria de máquinas para suprir o setor. Albery destaca ainda a grande reserva de minério e de calcário na região, que comporta outra fábrica de cimento. Um turismo diferenciado também compõe a avaliação de potencialidades feita pelo gestor. “Temos o Geopark, que nos dará uma divisa muito grande em turismo, principalmente turismo palentológico, com seus diversos sítios, da cidade de Jardim à cidade de Santana do Cariri”, conclui.

O professor Jaime Romero reforça a sua tese, comprovada na prática: tudo começa pela vocação local. Reconhecendo que novas vocações podem ser desenvolvidas, como ocorreu com o polo calçadista, Romero adverte que não se pode desviar o foco do co-mércio, já que o Cariri conta com um grande número de visitantes, além de localização e vias de acesso privile-giadas. “O turismo tem grande potencial, mas ainda é tratado com muito amadorismo por alguns segmentos da gestão pública e privada”, comenta. “O próprio seg-mento líder, o calçadista, precisa de um plano regional com atração de fornecedores de matérias primas e equipamentos, assistência técnica, desenvolvimento tecnológico e qualificação de mão-de-obra especiali-zada”, acrescenta, ressaltando também a importância da manutenção e ampliação das principais vias de acesso e escoamento, como as estradas e o aeropor-to. Para Jaime Romero, é essencial que empresários e gestores públicos avaliem suas estratégias atuais e implementem imediatamente correções e adequações onde desvios de foco estejam evidenciados.

“Já a Educação Superior é a base de todo projeto de desenvolvimento. Podemos citar Estados Unidos, Japão e Coréia como estrategistas que basearam suas principais ações na educação, pois eles também constataram que o grande desafio ao aperfeiçoamen-to passa pelas pessoas, com o desenvolvimento de competências técnicas e gerenciais. Cristóvam Bu-arque, senador e ex-ministro da Educação, indignado com o pouco investimento em Educação, disse em certa oportunidade: enquanto os países desenvolvidos investem em pesquisa e desenvolvimento, no Brasil se aprova o voto do analfabeto”, conclui Jaime Romero.

Como podemos constatar, longe de qualquer risco de acomodação ou de deslumbramento diante da ten-dência de prosperidade do Cariri, as lideranças empre-sarias da região aguçam o senso crítico e perseguem consistência e consolidação de resultados.

FONtes : Banco do Nordeste e seBRae.

linha de produção da Farmace. Polo de medicamentos em expansão.

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www.newland.com.br

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O panorama que expusemos em Cariri Desen-volvimento Econômico revela uma região que cresce empresarialmente, sempre em busca de mudanças positivas nos indica-

dores sociais. Mudanças que só são possíveis a partir de uma consistente prosperidade econômica.

Crescer 157%. Tal meta pode parecer inalcançável no contexto do semi-árido brasileiro. Mas não é. É realida-de. O nome do desafiante: Juazeiro do Norte. Entre 2004 e 2008, o PIB juazeirense cresceu de R$ 770 milhões para R$ 1,986 bilhão, o que propiciou ao município a se-gunda colocação no ranking de crescimento do Estado.

Os números ilustram a região da qual Juazeiro faz parte, o Cariri. Chegar ao Cariri é deparar-se com a rea-lidade consequente de mais de uma década de grande desenvolvimento na região, com investimentos em in-dústria, comércio, turismo, construção civil, educação, além da implantação de dezenas de faculdades, públicas e particulares. A perspectiva é de um futuro promissor.

Atenta a esse futuro, a gestão pública estadual, liderada pelo governador Cid Gomes, em seu segundo mandato, planejou e executa uma série de obras im-portantes, em todas as áreas pertinentes à viabilização de condições objetivas para o crescimento avançar. As prioridades foram estabelecidas em conjunto com as lideranças da região, em seminários abertos, realizados ainda no início do primeiro mandato, conduzidos pelo governador, pessoalmente.

Assim, vêm-se concretizando ações que estão fazendo a diferença na região, com impacto para todo

O FutuRO é agORa

o Ceará e para o Brasil – na perspectiva de que a inte-riorização do desenvolvimento estabelece um círculo virtuoso no país. Detém a migração para as capitais, fixa a população nas suas localidades de origem, impulsiona a expansão do conhecimento, incrementa os investi-mentos em equipamentos sociais. Invertendo sauda-velmente o movimento histórico, técnicos e acadêmicos deslocam-se das grandes metrópoles em direção a esse interior que desponta. E consigo levam saber, experiên-cia, transferência de capacitação.

A criação da Região Metropolitana do Cariri, em ju-nho de 2009, integrando as cidades de Juazeiro do Nor-te, Crato e Barbalha, tem estendido o desenvolvimento para as cidades próximas. Além de usufruírem da expan-são dos negócios, criando novos postos de trabalho e gerando renda, podem contar com a nova infraestrutura que chega, em áreas diversas.

VIAJAr, PrODuZIr E rEZArBase ancestral da comunicação entre as comunidades, desde os primórdios das civilizações do mundo, as estra-das são a concretude do desenvolvimento. Componente de um programa amplo de melhoria da malha viária do Ceará, numa parceria com o BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Rodovia Padre Cícero interligará o Cariri à capital, Fortaleza. Conta com um investimento total de R$ 94,6 milhões e teve seu primeiro trecho inau-gurado em março deste ano. São 50 quilômetros unindo os municípios de Banabuiú e Solonóple, em pleno sertão. A nova interligação abreviará tempo e distância no trajeto. Além do que, por onde passa, amplia as oportunidades de escoamento de mercadorias e de circulação de pessoas.

Também este ano, será realizada a integração total do Metrô do Cariri, que está operando comercialmente desde maio de 2010, articulado às linhas de ônibus inter-municipais. Com isso, haverá um incremento em torno de 20% a 30% de passageiros no sistema. A integra-ção será tarifária, operacional, temporal e física. A lógica da integração é que com o mesmo bilhete eletrônico que hoje existe no acesso aos ônibus, os usuários possam ter acesso ao Metrô do Cariri, ou vice-versa.

Marcante traço caririense, o turismo religioso cons-titui-se numa importante fonte de renda para a região. Pensando nisso, o governo estadual investiu mais de

#cariripolíticaspúblicas

O recém inaugurado Hospital Regional do Cariri.

RAFAEl VIlAROUCA

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R$ 9 milhões nas obras da Praça dos Romeiros, em Ju-azeiro do Norte, um espaço destinado à comercialização de produtos da região e artigos religiosos, principalmen-te durante as romarias na cidade.

Com mais de 41 mil metros quadrados de área cons-truída, a praça conta com 1.100 quiosques, divididos em quatro tipos de forma e tamanho. Destes, 1.052 serão utilizados para a comercialização de produtos religiosos, além de 48 sanitários integrados e ainda mais quatro blo-cos de sanitários independentes.

O equipamento proporcionará maior organização e conforto no atendimento aos turistas, que, no Ceará, chegam a aproximadamente 915 mil durante a alta esta-ção. O turismo tem sido um dos principais vetores eco-nômicos do Estado. Somente no período de dezembro a fevereiro a renda gerada na cadeia produtiva do seg-mento foi de R$ 2,3 bilhões.

A construção do Centro de Convenções do Cariri também será decisiva para aumentar o espaço da ati-vidade turística. Segundo o Secretário do Turismo do Estado, Bismarck Maia, “a necessidade da construção de um Centro de Convenções no Cariri é uma realidade”, tendo em vista a vocação para eventos agropecuários e industriais da região. O local deverá contemplar diversas atividades culturais e sociais, atraindo seminários, cur-sos profissionalizantes, exposições, feiras, teatro, entre outros eventos. A finalização das obras está prevista ainda para este semestre.

No prédio haverá um auditório com capacidade para abrigar 600 pessoas, além de outros três, com 160 lu-gares cada, recepções, subsolo para depósito e casa de máquinas, quatro salas de reunião e multiuso, além de estacionamento com 208 vagas. Também vão ser cons-truídos espaços cobertos e ao ar livre para exposições, e jardins paisagísticos com espelhos d’água.

EDuCAr, SALVAr E ESTruTurArNa chamada área social, que muitas vezes é descartada ou minimizada quando o investimento em infraestrutura é exuberante, o Cariri tem recebido, também, relevante atenção governamental.

Em 2011, R$ 17,3 milhões já foram investidos em educação. De 2007 a 2010, o montante atingiu R$ 206,7 milhões. Entre as principais ações, deve-se citar o incremento das Escolas Profissionalizantes, com a construção de novas unidades, ampliação das já exis-tentes, aquisição de material didático, mobiliário e equi-

pamentos para laboratórios de informática e de ciências. Destaca-se também a implantação do Projeto “Primeiro, Aprender!”, que visa a aumentar o aprendizado de portu-guês e matemática.

Na área da saúde já é concreta uma grande trans-formação. O Cariri acaba de ganhar o Hospital Regional, construído para atendimento de urgência e emergên-cia, bem como para a realização de serviços e exames de média e alta complexidade. “Nós não queremos mais que as pessoas saiam do interior para a capital para fazerem cinco, seis, dez horas de viagem antes de ter acesso aos procedimentos. Eu acredito que seja uma grande marca do processo de interiorização, pelo padrão do hospital. Eu fiquei muito impressionado com o HRC, ele não deixa a desejar a nenhum hospital públi-co e privado de todo o país”, vibra o ministro da saúde, Alexandre Padilha.

O HRC fica em Juazeiro do Norte, estrategicamen-te localizado entre os municípios de Barbalha e Crato, para facilitar o acesso à população dos 41 municípios da macrorregião do Cariri e das microrregiões de Iguatu e Tauá. A inauguração do equipamento, com 294 leitos, aconteceu no início de abril. No total, uma população de 1 milhão e 335 mil habitantes terá assistência na própria região. Foram investidos R$ 96 milhões. “O Brasil gasta percentuais ínfimos na saúde, comparado a países mais desenvolvidos. Precisamos investir mais”, enfatizou o governador Cid Gomes, na inauguração do HRC.

Ainda na área social, investimentos em consultorias relativas a temas diversos somam R$ 66 milhões. Apli-cados em desenvolvimento de sites, estudos relativos ao Geopark da Chapada do Araripe e ao plano de in-clusão de catadores nos municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Santana do Cariri, Nova Olinda, Mis-são Velha, Jardim, Farias Brito e Caririaçu, dentre muitas outras ações e projetos.

Em “A Retórica da Intransigência”, o sociólogo po-lonês Hirchman, naturalizado americano após a segun-da guerra mundial, defende que não devemos rejeitar resultados positivos parciais só porque não resolvem estruturalmente os problemas sociais. Uma longa cami-nhada começa com um primeiro passo, ensina a filosofia chinesa de Confúcio. Não é possível fazer tudo. Contu-do, é viável colocar muitas coisas em prática, debelando as dificuldades de crescer prodigiosamente em meio ao desafio de eliminar as desigualdades. É o caso do Brasil. Do Ceará e do Cariri.

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O empresário Ivan Bezerra é um cidadão de Juazeiro do Norte que ocupa hoje espaço no mundo. Fundador da TBM, uma das maiores indústrias têxteis do país, hoje ge-

rida pelo filho, também Ivan, sua trajetória compreende desafios, superações, muito trabalho e muito sucesso. “Não há obstáculo que eu já não tenha passado e apren-dido a ultrapassar”, define, quando comenta a sua expe-riência como empreendedor e líder empresarial.

Hoje totalmente dedicado às atividades do Conse-lho de Desenvolvimento Econômico, órgão estadual responsável pelas estratégias de atração de inves-timentos e de articulação com os empresários, Ivan Bezerra comemora os bons resultados dessa gestão. Nos últimos quatro anos são 86 empresas implanta-das, que totalizam mais de R$ 910 milhões captados para o Ceará, gerando 9.713 empregos diretos. No

Cariri foram 16 empresas, mais de R$ 56 milhões em investimentos e 2 mil empregos diretos. Só a Trevo In-dustrial de Gesso, implantada em Juazeiro do Norte, e atuando a partir de uma tecnologia de ponta aplicada à construção civil, trouxe para a região mais de R$ 15 milhões em investimentos.

Ivan Bezerra fala com entusiasmo, porém com simplicidade, do seu trabalho à frente do Conselho de Desenvolvimento Econômico. Planejamento, dedica-ção e criatividade são, na sua compreensão, os gran-des aliados do esforço para a atração de investimen-tos. “O investidor só vem para cá botando a máquina para calcular e vendo o lucro que ele tem. Ele não vem para ter prejuízo. Então é preciso o incentivo para valer a pena. Com isso, ele incrementa o retorno”, explica, referindo-se à isenção de ICMS oferecida às empresas que se dispõem a trazer suas operações para o Ceará. E esclarece que há outras vantagens, tanto para o in-vestidor como para o estado que o recebe.

“O Norte e o Nordeste não produzem 30% do que consomem, tudo vem do Sul e do Sudeste, com uma mão-de-obra mais difícil e mais cara. A indústria que se instala aqui fica perto desse mercado consumidor e ainda desonera o transporte, que é em torno de 8%. Ele tem incentivo, mão-de-obra farta e barata e o mer-cado consumidor. Estamos trazendo muitas empresas

a missãO DePROmOveR O DeseNvOlvimeNtO RegiONal

#caririconversa

Ivan bezerra: “ O investidor nao vem para cá para ter prejuízo”.

FERN

ANDO

BRI

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de Santa Catarina para cá, na área de têxtil, por esses fatores. Eles têm os clientes e a mão-de-obra aqui. Nós damos o incentivo. Já temos um histórico nisso. Impacta sobre a geração de emprego e renda e sobre a economia como um todo, porque os produtos ficam mais próximos de nós.”

Sobre a geração de empregos decorrente da atra-ção de investimentos externos – maior objetivo desse tipo de política –, Ivan Bezerra enfatiza o círculo virtuo-so decorrente dos empregos diretos. “A gente fala de 8.000, 10.000 empregos diretos. E os indiretos? Uma empresa que tem 1.000 funcionários consome 3.000 refeições por dia. E há quantas empresas desse porte, gerando restaurantes industriais para atender os operá-rios? São rendas que vão se multiplicando.” Outra con-seqüência positiva relaciona-se com a educação. “Está havendo também uma concepção dos industriais de que é preciso dar estudo aos funcionários, o que é ou-tro benefício dessa vinda de investidores. Isso faz com que os pais incentivem mais os filhos a estudarem”.

Para o Cariri, além do que já existe de concreto, Ivan Bezerra revela os projetos de curto prazo, alguns já em implantação. “Estamos construindo um distrito indus-trial no território entre Juazeiro e Barbalha. Vamos lotá-lo praticamente em dois meses. Hoje o Cariri é calçados, depois é confecção. A confecção vai ter um potencial muito grande, porque as lojas Marisa vêm para cá com um centro de distribuição para todo o Norte e Nordeste. Eles querem comprar o produto de lingerie todo aqui, então vamos incentivar o Cariri para ter a produção. Estamos mobilizando as prefeituras, a FIEC e o SENAI, para oferecer a capacitação e ampliar as oportunidades. O segmento do alumínio está crescendo muito também, vamos criar um distrito, dentro do distrito, só para o alu-mínio. Em cada setor vou criar um distrito específico, uma cadeia produtiva para cada setor.”

Outro segmento interessante e para o qual a região do Cariri tem vocação, na visão de Ivan Bezerra, é o de artesanato de mobiliário. ”Há uma cidade no interior de

São Paulo, Embú, para onde se viaja com esse objeti-vo, de comprar mobiliário artesanal. As cidades do Ca-riri podem ser um destino assim, de um determinado tipo de turismo. Temos planos de revitalizar o Centro de Artesanato Mestre Noza, em Juazeiro, para esse fim. Nossos artesãos são talentosos, com capacitação, podem usar a sua genialidade para isso.”

Quanto ao desafio de estar no Ceará, um estado deslocado do eixo Sul/Sudeste, com a missão de promover o desenvolvimento regional, Ivan Bezerra sente-se privilegiado. “A única coisa que nos atrapa-lhava era a seca. Temos o clima ideal, o mesmo guarda roupa o ano inteiro, mão-de-obra em abundância com enorme facilidade em absorver novas capacitações. Com um PIB maior que o do Brasil, somos o segundo estado brasileiro que mais cresce. E o nosso merca-do consumidor é próspero” . Ivan acredita que “com a perenização das águas, a partir de 2014, através da transposição do Rio São Francisco, não nos faltará nada para sermos um lugar qualificado a receber cada vez mais investimentos”.

Porém, há sempre uma relutância do investidor em atender a essa interiorização do desenvolvimento. Ivan explica: “as distâncias, por exemplo, dificultam. O inves-tidor vem para cá e quer estar dentro do porto, dentro da comunicação. Um interior como o Cariri, que já tem facilidade em transporte, saúde e educação, possui to-das as condições de convencer o investidor a se fixar na região. Estamos atentos às oportunidades. Recente-mente incentivamos uns investidores paulistas a ir para Jaguaribe, através de uma política de incentivos. Articula-mos com as prefeituras, mobilizamos as entidades. Só as-sim serão superados os problemas da falta de estrutura. Instalando uma fábrica numa região dessas os impactos positivos são enormes. Estamos fazemos tudo para faci-litar, para vencer essa resistência e mostrar que é com-pensador investir no sertão. Estou aqui para dar minha contribuição no sentido de fazer o Ceará desenvolver-se cada vez mais. Essa é a minha função.”

FERNANDO BRITO

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Ser expedito é agir velozmente, porém sem perder a precisão. Santo Expedito era um militar ágil e habilidoso, hoje padroeiro das causas urgentes, protetor dos que não podem abrir mão da pressa nas graças. Espedito Seleiro, o mestre do couro de Nova Olinda, encarna com S a desenvoltura e a precisão do santo. Espedito homem é tradição, contemplação e modernidade. Em algumas horas de conversa com a Cariri Revista, o artesão contemporâneo, habitantedo sertão, contou as suas histórias de coureiro, artista e designer de estilo em peças apresentadasno São Paulo Fashion Week para a grife Cavalera.

#caririperfil

a mODeRNiDaDemeDieval De mestRe

seleiRO

No começo, em 59, quando era só ele e a mulher Francisca, grávida do primeiro fi-lho, era diferente. Muita dureza, dinheiro, nenhum. Nem ferramenta para o ofício

tinha. De importante só a feira e a missa no domingo. “Como eu já vinha quebrado, sem dinheiro, resolvi botar a oficina aqui. E oficina, você sabe, a gente começa só com a cara. Pega uma ponta de ferro e faz uma sovela, pega uma faca de mesa e amola, bem amoladinha. Foi assim que eu comecei, nem máquina tinha, costurava tudo na mão. Só eu e minha mulher, enquanto eu fazia sela, ela costurava, e assim a gente ia até quando des-se sono” conta o mestre.

Espedito Seleiro no ateliê é tão essencial quanto as peças que vende. Se ele não está, o cliente man-da chamar. E não adianta ter pressa. Aperto de mão, foto, muita conversa. A camisa desabotoada, bermuda e chinela de dedo. Cada sandália, bota, bolsa, é feita sem precisar medir, e leva dias sendo confeccionada. Trabalho feito totalmente à mão, olhos atentos e muitas horas envergado sobre a máquina de costura. As peças únicas, originalíssimas, contêm a sabedoria de um ofício passado de geração em geração. O pai, Francisco Se-leiro, e antes dele o avô, Manoel Seleiro, passaram para Espedito a alcunha e o saber milenar de tratar, tingir, cortar, modelar e costurar o couro. Um ofício tão antigo quanto a arte de montar e adestrar um cavalo.

Por Raquel Paris

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RAFA

El V

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Detentor dessa sabedoria, transformou-a em de-sign arrojado, de finos pontos, tão pequenos e per-feitos que é impossível copiar. Além da arte, quando faleceu, seu pai legou-lhe duas importâncias: a pri-meira foram as peças para sua oficina. A máquina de costura, alguns utensílios para modelar o couro e os moldes de selas e vestimentas dos vaqueiros — alfor-jes, gibão, perneira, chapéu, bornal, sela e arreios. O segundo legado, esse ainda mais importante, foram seus seis irmãos mais novos que ele teria que cuidar dali por diante. Ensinou-lhes o ofício e os tem até hoje trabalhando no ateliê.

Foi numa tarde de 1980 que Alemberg Quindins, seu amigo e hoje presidente da Fundação Casa Gran-de, também em Nova Olinda, lhe disse: “Espedito eu quero que você faça uma sandália diferente das sandá-lias que você já fez e tem por aí afora, a bicha pode ser feia, pode ser o que for.” Seu Espedito comenta que “Alemberg é cheio de presepada... “Aí eu pensei num modelo que meu pai fazia e dizia que era pro próprio lampião. Ele contava isso pros amigos. Eu estava com os modelos guardados, ainda... E fiz um diferente pra Alemberg...” Nessa época o mestre vivia no sufoco.

Era obrigado a ir para a feira vender, e cada um pa-gava como queria. Um dia dona Violeta Arraes viu e perguntou quem tinha feito a sandália. Violeta Arraes Gervaiseau, que foi reitora da Universidade Regional do Cariri, secretária de cultura do Estado do Ceará, irmã do político Miguel Arraes, era uma intelectual dos círcu-los eruditos de artistas do Brasil e da Europa. “Quando eu dava fé ela chegava com os artistas amigos dela, só aquele povo importante”, lembra o mestre.

Em 2006 o trabalho ganhou expressão nacional e internacional, quando a marca Cavalera o descobriu e o convidou para integrar a coleção de verão, com seus sapatos, sandálias, botas e bolsas. “Um dia eu tava tra-balhando quando um carro estacionou aqui na frente e eu só ouvi alguém dizendo: pode descer. É aqui mes-mo que o homem mora”, relata seu Espedito. “Eram seis estilistas da Cavalera dizendo que queriam fazer negócio comigo, me encomendar 40 peças, mas que eu só tinha um mês de prazo. Aí a menina começou a fazer um desenho de um sapato. Eu disse a ela que me desculpasse mas que só fazia sapato de modelo meu. Se eles quisessem eu desenhava uns modelos, fazia e mandava pra eles ver. Se gostasse tudo bem, se não, eu vendia aqui mesmo”. Gostaram tanto que compra-ram todas as peças enviadas e encomendaram mais para fazer parte da coleção.

Espedito em seu ateliê

Pontos pequenos e perfeitos, difíceis de copiar

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O mestre em casa, em nova Olinda

culturas e povos diferentes. Muito pelo contrário, se atualiza e ganha uma linguagem mundial”, enfatiza.

A sandália que lhe deu fama, “lampião”, inspirada no modelo de Virgulino e seus cabras, ganhou requin-tes e cores ao longo do tempo, inspiradas nas memó-rias afetivas do artista. Espedito conta que quando criança via bandos de ciganos passarem por Arneirós, cidade na região dos Inhamuns, onde nasceu. “A maio-ria dos ciganos andava esculhambada, mas o chefe não. Esse andava todo pronto e a montaria também. Eu ficava admirando aqueles desenhos e, baseado no que eu me lembrava, criei meus próprios modelos”.

Espedito confessa que não gostava de fazer pro-dutos para o público feminino por uma boa razão. “Porque mulher é um bicho complicado. O modelo de homem que é essas botona que meu pai fazia, até hoje eu faço. Os homem compram, botam no pé e vão sim-bora. As mulher não. De 15 em 15 dias elas querem usar um modelo diferente. E eu digo: não vou fazer nada pra vocês não, são muito complicada. Você leva o tempo só fazendo modelo e no fim da semana, cadê o di-nheiro? E não fazia a sandália. Mas aí eu fui castigado

logo depois a marca Cantão também convidou o artista a elaborar peças para a sua coleção. Quando os pedidos começaram a se tornar maiores que a produ-ção, seu Espedito resolveu encerrar as parcerias. “Só a Cantão tem mais de 700 lojas, pra dar de conta tinha que ser uns 10 Espedito”, esclarece. Em 2007 Guel Arraes pediu-lhe que confeccionasse a vestimenta que Marcos Palmeira usaria em seu próximo filme, “O Homem que Desafiou o Diabo”. Fã confesso do artesão, o diretor foi um dos famosos que mais difundiu a sua arte.

A designer Juliana loss, professora da Universida-de Federal do Ceará, explica que essa arte é diferencia-da devido às leituras extremamente contemporâneas que o artesão faz do mundo à sua volta. “Espedito Seleiro está antenado com tudo o que o rodeia. É um artista antropofágico que absorve e retira o que há de melhor na moda contemporânea, conservando a au-tenticidade da cultura do couro”.

Os desenhos circulares que vemos na produção de Espedito são representações pictóricas que mui-to remetem aos expressivos volteios da iconografia andaluza, conforme interpretação de Juliana loss. “É neste momento que percebemos toda a genialidade de Espedito. Ele prova que a tradição não perde sua autenticidade ao ser misturada com inspirações de

FOTOS: RAFAEl VIlAROUCA

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Sandálias ganharam requinte e cores com o tempo

São 12 mil pessoas vivendo em Nova Olinda. Não tem fumaça, não tem poluição, não tem trânsito engarrafado, não tem roubo à mão armada, não tem sequestro... Nada disso tem em Nova Olinda. Tem a igreja matriz com a pracinha domingueira. As ruas calçadas de pedra, impossível de se perder. Tem cadeira na calçada, fanfarra de cinco pessoas fazendo barulho no coreto, meninada brincando despreocupada. Isso tudo tem em Nova Olinda. E tem em Nova Olinda, bem no meio da rua Monsenhor Alencar, n° 190, o ateliê e a casa de Espedito Veloso Carvalho, seu Espedito ou Espedito Seleiro, que da profissão tirou a alcunha, o sustento e a fama. É só entrar na cidade que lá está. Suspenso a uns dez metros do chão, o rosto de seu Espedito estampado num outdoor. É a primeira coisa que a gente vê.

NOVA OLINDA

porque hoje só o que eu faço são coisas pras mulher, porque vende bem. A sandália a gente não tem produ-ção pra dar conta”.

Seu Espedito ainda se sente o mesmo depois de todo esse sucesso? Afinal, até destaque do desfile da Cavalera, no 19° São Paulo Fashion Week, ele foi. Falta mais alguma coisa?

Suas palavras são de prazer, de harmonia e cons-ciência do espaço que seu trabalho alcançou. “Eu me sinto como uma pessoa que tava morrendo afogada e foi puxada pra cima. Eu sentia como se tivesse uma coisa entalada dentro de mim. Eu sabia que tinha uma estrela, sabia que minhas coisas eram boas, bonitas e ficava pensando: meu Deus do céu, mas será que eu vou morrer e ninguém vai saber disso aqui? Era muita humilhação. Tentava vender minhas coisas, mas que-riam pagar umas mixaria porque sabe que o cabra tá precisado e é o jeito você aceitar. Hoje não. Não en-riquei porque não era pra enricar mesmo, mas minhas coisas tão aí no mundo. Todo mundo sabe onde é Nova Olinda, quem é Espedito Seleiro. Hoje eu sou um homem muito feliz e realizado. Graças a Deus”.

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FERNANDO BRITO

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A cadeira design da Aspecttus que custa r$ 2.178,99

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DesigN: FaZ tODa a DiFeReNÇa

#cariridesign

Beleza, funcionalidade, segurança, estilo, conforto, qualidade e, acima de tudo, imagem diferenciada. O design pode ser a alma do negócio, visto que o mercado, cada vez mais competitivo, exige inteligência na escolha das melhores e mais adequadas soluções visuais. Quer seja uma bolsa, um relógio ou um automóvel, os profissionais do design garantem a harmonia entre a forma e a função, sempre pensando na interação cotidiana dos seres humanos com os seus artefatos.

aprimorar o design é garantir a maior inser-ção do produto nos hábitos individuais de consumo, enfrentando a concorrência com uma identidade visual marcante e di-

ferenciada. O Cariri, com a riqueza e variedade do seu artesanato, xilogravuras e trabalhos em ferro e couro – que se transformam nos mais diferentes produtos, com destaque para joias e calçados – é conhecido Brasil afora pelo talento natural de seus artesãos.

Terceiro maior polo calçadista do país, o Ceará tem em Juazeiro, Crato e Barbalha um triângulo geográfico de intensa produção, cuja atividade se expandiu a par-tir de 1997, quando foi criado o Sindicato das Indústrias de Calçados e Vestuário de Juazeiro do Norte e Região (Sindindústria), com parceria firmada com o SEBRAE no Ceará. Calçados femininos representam a maior fatia do mercado, mas há bastante espaço para os sa-patos masculinos e infantis. As bolsas também atraem consumidores de todo o Brasil.

LINHAS bEM TrAçADAS NA uFCEm 2010, o Cariri deu um salto fundamental na bus-ca por novas e criativas soluções para produtos de qualidade. A inauguração da Escola de Design da UFC-Campus Cariri deu início a uma etapa distinta no aprimoramento da linha de produção que abastece o mercado interno, nacional e internacional. O curso de Design de Produto acontece no campus de Juazeiro do Norte e oferece duas habilitações: joias e calçados.

O objetivo do curso é formar profissionais, em nível superior, com conhecimentos dos processos industriais e tecnológicos, assim como domínio das linguagens visuais e culturais alinhadas às características locais. A meta final é contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico da região, preparando cidadãos capazes de atuar de maneira ética, crítica e reflexiva, interagindo com o meio onde vivem e respeitando o diálogo entre as práticas tradicionais e a metodologia projetual.

“Implantado no ano passado, o curso de Design de Produto ainda tem muitos desafios pela frente. Acredito que o potencial cultural e econômico do Cariri é um for-te impulsionador para estabelecer uma relação de troca de saberes muito rica entre Universidade e a comuni-dade caririense”, defende a professora Aura Celeste Cunha, que integra o corpo docente da instituição.

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MuLHErES DA PALHAAté agora são sete professoras no curso de Design de Produto desenvolvendo um projeto de extensão cha-mado “Mulheres da Palha”, coordenado pela professo-ra Jeanine Torres Geammal.

O objetivo geral é melhorar as condições econô-micas e sociais das mulheres ligadas à Associação dos Artesãos de Juazeiro do Norte. O trabalho junto às mulheres pretende estimular o sentimento de coletivi-dade, cooperativismo e empreendedorismo no grupo,

“um CENÁRIO FORtE DE mANIFEStAçõES ARtíStICAS E CuLtuRAIS.” AURA CElESTE

A professora Aura Celeste da Cunha é uma entu-siasta do Curso de Design de Produto do Cariri. Ela enfatiza que a universidade ajuda os artesãos na medida em que qualifica os produtores locais, apre-senta novas tecnologias e estimula a inovação. O curso também vem promover a conquista de novos mercados e a ampliação dos existentes, por meio da inovação tecnológica e artística aplicada aos pro-dutos, melhorando a renda dos trabalhadores. Na entrevista a seguir, a prof. Aura explica como criar

uma sociedade sustentável através do design.

Cariri revista: Por que é tão importanteter um curso de design no Cariri?

aUra: A região do Cariri é, inegavelmente, um cená-rio forte de manifestações artísticas e culturais. Basta ver a diversidade e intensidade com que a comunida-de envolve as tradições religiosas e a cultura indígena, entre outros tantos elementos. Além disso, a região tem uma indústria em crescente expansão, com destaque para o polo calçadista. Todos esses fatores justificam a presença, em Juazeiro, do curso de De-sign promovido pela Universidade Federal do Ceará. Estamos lidando com um processo de formação pro-

fissional orientado para o desenvolvimento de pro-jetos associados a várias disciplinas. Essas discipli-nas visam constituir uma matriz de desenvolvimento social, econômico e político através da geração de produtos e serviços que carreguem consigo atribu-tos, valores e padrões de qualidade mais coerentes, em consonância com uma sociedade sustentável.

Cariri revista: Como o design podeajudar na profissionalização dos artesãos?

aUra: Os artesãos do Cariri são conhecidos pela profusão de técnicas que utilizam. São exímios na escultura, trançado, xilogravura, pintura e modela-gem. Incorporam às diversas técnicas elementos de forte identidade cultural. A união de uma metodolo-gia projetual, proposta pelo design, à manualidade característica do artesanato, será capaz de ampliar essa alternativa de renda aos arranjos produtivos locais, a fim de gerar produtos mais competitivos e promover sua maior aceitação no mercado. Vamos agregar valor pautado na funcionalidade (design) e nesse fazer manual único

que passa por dificuldades de sustentabilidade do ne-gócio de artesanato em palha de carnaúba.

O trabalho deverá ser desenvolvido em 12 meses e constitui um projeto de interação entre alunos e co-munidade através de grupos focais, oficinas e outros instrumentos. Ao final do projeto, a universidade espe-ra ter contribuído para a inserção do grupo de artesãs, com a criação de novos produtos e a construção de canais de divulgação e de distribuição da produção.

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Apuro manual, linhas sinuosas, perfeito acabamento: o designer de joias produz peças únicas, como um artesão, mas é auxiliado por técnicas sofisticadas e estudos de materiais, como manda as regras do design. Essa mistura foi levada em conta pelas experientes designers Ana Neuza Videla e Jeanine Geammal, quando da montagem da habilitação em joias do Curso de Design de Produto do Cariri.

Um estudo feito pela Secretaria do Desenvolvimento Local e Regional do Governo do Estado indica que existem cerca de 45 produtores formais e mais de 200 produtores informais em Juazeiro do Norte, sendo o município nacionalmente conhecido pela produção de joias folheadas.

Até nesse setor, o Padre Cícero figura como personagem importante. Dizem que foi devido à insistência dos devotos em se casarem sob as bênçãos do padim que o Juazeiro começou a desenvolver uma pródiga linha artesanal de alianças e outras joias. Hoje existe na cidade um polo significativo do comércio de joias folheadas que atua como distribuidor para as demais cidades da região, empregando aproximadamente 4.000 pessoas e gerando um faturamento anual de R$ 60 milhões.

É JOIA

Jeanine geammal, professora do curso de design de Produto

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ainda é madrugada e já os faróis dos ca-minhões carregados de farinha de Arari-pina, abacaxis de Tabocas, rapadura de Jardim, iluminam as estradas embaçadas

pela garoa serrana. Seu destino é a feira livre do Crato, onde irão se encontrar com outros chegados de vés-pera. Animais e ambulantes transportando caçoás, ba-laios , malas de couro cru, abarrotados de mercadorias diversas a se misturar com ”paus-de-galinha”, bodes, carneiros, jumentos, burros, rezes.

É segunda-feira. Dia de feira livre. O vai-e-vem das pessoas carregando cestas e sacolas, na labuta sema-nal para abastecer suas despensas, lembra um formi-gueiro na faina de fornir seus caseiros. Tida como a mais importante feira da região, numa época em que não se contavam com os supermercados e os centros de abas-tecimento, ela aglomerava comerciantes de todos os estados do Nordeste. No Almanaque do Ceará, de 1953, eis a descrição do autor sobre o comércio da cidade:

“O município do Crato fica situado na zona sul do Estado, no ubérrimo Vale do Cariri e é talvez, a cidade mais importante do estado, no ponto de vista intelectu-al, social e econômico. A sua maior fonte é a agricultu-ra, em virtude da fertilidade do solo. O produto principal é a rapadura e produz ainda farinha, goma, aguardente, algodão, mamona, fumo e grande variedade de frutas. É por isso o mercado mais abundante e de melhores preços do Ceará, dando margem a uma larga exporta-ção para fora do estado.”

Esperava-se a semana toda por esse dia, um dia de trabalho, muita andança e muita canseira, verdadeiro dia de festa, num entusiasmo que durava da manhã ao fim da tarde e que nem o sol do meio-dia desanimava. Para os solteiros, uma festa de roupas novas, perfume e flertes que vez por outra findavam aos pés do padre. Ou do juiz.

amOR à liBeRDaDe

#cariricotidiano

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Frutas, verduras, cereais, galinhas, perus, peixes, carne-seca, jogos de dados, confecções, objetos de cerâmica, ferramentas... De tudo que se necessitava, até mesmo pílulas e unguentos medicinais de larga procedência e utilidade, que tanto serviam para gen-te como para animais, curando até dor de “chifre” – conforme apregoavam os “representantes”. Ou doutores de ocasião.

Não faltava nem mesmo o famoso homem da cobra, que falava pelos cotovelos, sem parar, sempre ameaçando retirar de uma caixa ou de um cesto en-coberto com um pano preto uma pretensa serpente venenosa, que jamais alguém viu. A isso tudo junta-va-se a voz dos cordelistas, cantando seus versos, e pelos recantos, a dos pedintes, implorando pelo amor de Deus uma ajuda, que agradeciam com um sonoro “Deus lhe pague” ou com um incompreensível resmun-gar, dependendo do peso da oferta.

Para completar, o cheiro convidativo dos pratos feitos, numa variedade de comida que ia de buchada, panelada de vísceras de boi, galinha na cabidela, baião de dois com carne de porco, linguiça assada na brasa, caldo de costela e mungunzá, ao conhaque São João da Barra e aguardente brejeira temperada com raízes e cascas de plantas.

Há trinta anos vendendo goma em sua banca, seu Raimundo Aniceto, mestre da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, lembra de tudo isso e muito mais. Quando não está fazendo show, vem para a feira para complementar a renda da família. De teimoso, ainda continua, segunda após segunda, insistindo na venda da goma que vai fazer tapioca quentinha, uma iguaria que se come da maneira que a imaginação permitir. “Essa feira aqui também já me deu muita inspiração. Já fiz muita música com o povo e o produto que se vende aqui”, conta Aniceto, sintetizando a importância me-morial daquele sobrevivente espaço.

A feira do Crato, por força das conveniências urba-nas, foi ao longo do tempo se deslocando de um canto para o outro, a começar pela Rua Dr. João Pessoa, indo esbarrar e quase agonizar às margens do Canal do Granjeiro, onde hoje luta pra sobreviver, entre super-mercados, mercearias, restaurantes, mercados públi-cos, industrias de confecções. Tudo aquilo, afinal, para onde se encaminham os tempos modernos, com suas praticidades, seus artifícios e suas urgências. Moder-nidade importante, mas que ficará bem mais atraente na romântica companhia da velha feira, testemunha da história, palco da cultura.

FOTOS: RAFAEl VIlAROUCA

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O ROmeiRO,esse DesCONHeCiDO

#cariridefé

Abordar o sagrado e suas diversas formas de apropriação em uma região cercada pelo misticismo, como é o Cariri, é sempre matéria complexa e instigante, constantemente explorada pelos meios acadêmicos e midiáticos. muito já se falou, e ainda há de se falar, de Cícero Romão Batista, o Padre. Cícero, um homem que virou mito ainda em vida. mas poucos se perguntam quemé o romeiro, esse eterno peregrino das promessas cumpridas e esperanças inabaláveis. A Cariri Revista seguiu o rastro dos caminhantes e encontrou novas tintasnas personagens que todos os anos vêm a Juazeiro.

No dia 24 de março de 1844, na cidade do Crato, dona Joaquina Vicência Romana, mulher de Joaquim Romão Batista, entra-va em trabalho de parto. Mais conhecida

como dona Quinô, ela haveria de dar à luz ao próprio Cristo reencarnado, conforme professaria anos mais tarde a crença popular.

“O Menino Jesus redivivo chegou dos céus em meio a uma explosão de luz, com a força de mil sóis, no meio do sertão. Foi trazido por um anjo de asas cintilantes, que na mesma hora levou embora a filhinha recém-nascida de uma católica fervorosa [...]. De tão intenso, o clarão deixou a mulher temporariamente cega, bem na hora do parto, o que a impediu de per-ceber a troca das duas crianças. Como sinal de que era um iluminado, o menino santo acabava de regressar ao mundo em um 24 de março, véspera da data em que se celebra a Anunciação de Nossa Senhora, exatos nove meses antes do Natal.”

O trecho acima, retirado do livro “Padre Cícero – Poder, Fé e Guerra no Sertão” (Editora Cia. das letras, 2009), do jornalista lira Neto, narra o que para milhares de pessoas é a exata história do nascimento de Cícero Romão Batista, um homem em cuja biografia a verdade e a fantasia se entrelaçam de forma reiterada, perpetu-ando um mito que se alimenta da devoção popular.

Os devotos acreditam que chegada de Cícero, aos 28 anos, na então vila de Tabuleiro Grande, foi outro fato precedido por inspiração divina. Já ordenado pa-dre, em sonho, Cícero teria recebido a visita de Jesus Cristo acompanhado de uma multidão de flagelados. Cristo dizia estar decepcionado com a humanidade, mas estaria disposto a conceder uma segunda chan-ce, proferindo então essas palavras: “E você, Padre Cícero, tome conta deles”.

Hoje, 139 anos após a primeira visita de Cícero, a antiga vila é uma cidade bem diferente daquela que o sacerdote ajudou a criar. De algumas centenas de

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casas de taipa em um lugar esquecido, Juazeiro do Norte transformou-se na segunda cidade mais im-portante do Ceará.

São 250 mil habitantes espremidos no caos de carros, motocicletas, carroças e caminhões que devo-ram suas ruas largas com pressa e barulho, sobrando pouco espaço para as calçadas e menos ainda para os pedestres, que não encontrando espaço suficiente, pulam das calçadas para o meio das avenidas. E em tempos de romaria, de 250 mil a população de Jua-zeiro agiganta-se. 750 mil, dizem as autoridades. Mas para quem se aventura a peregrinar nas ruas durante as romarias de Finados e Candeias, a sensação de algo na casa do milhão seria mais apropriado.

CAPITAL DA FÉ E DO DINHEIrOJuazeiro, porém, aceita o desafio de ser a Capital da fé e abriga, alberga, escancara-se para a confusa chegada dos romeiros que a tomam de assalto. São pequenos agricultores, comerciantes de “uma porta”, gente que vive de todo tipo de expediente e que che-ga à cidade para gastar à larga o dinheiro trocadinho da colheita do milho, arroz ou feijão – o que em ano de seca prolongada é ainda mais suado.

Romeiros movimentam a economia da região

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Em tempos de chuva farta, o dinheiro escoa a ro-dos, literalmente. Conta-se que na igreja do Socorro, padres munidos de rodos arrastam as notas para den-tro de sacos, que saem de lá estufados. Boato ou não, o caso é que o romeiro é o grande convidado dessa festa. Todos ali sabem que as notinhas trocadas irão irrigar, farta e largamente, desde o comércio de santi-nhos até o orçamento municipal, já distendido pelo mi-lagre de lucrar, há mais de um século, com as benesses em torno da imagem do Padim.

São mais de dois milhões e meio de pessoas que todo ano passam pela cidade, gastando uma média de R$ 500 a R$ 2.500, distribuídos em hospedagem, alimentação e doações para a Igreja. Um dos setores privilegiados é o comércio de imagens e santinhos. Só um fabricante de velas na cidade calcula um retorno de meio milhão por quase todo o ano.

POr TrÁS DO MITOMas afinal, quem na verdade é o romeiro? Fazemos essa pergunta ao fotógrafo sergipano, Alejandro Zam-brana, que pela sexta vez vem a Juazeiro registrar as romarias. “Com certeza não é mais o romeiro típico, vestindo bata e de véu na cabeça que a gente vê nos jornais. O romeiro que vem a Juazeiro dispensa o pau-de-arara e viaja de avião ou carro próprio. É o cara ou mulher que vem a Juazeiro fazer turismo, não só pagar promessas. Porta câmera digital ou, como eu vi, prefe-re jogar mini-game a assistir missa”.

Fácil topar com jornalistas, cineastas, fotógrafos espalhados por todos os cantos da cidade. Com câ-meras, flashes, microfones, disposição e muito filtro solar, lá se vão os profissionais da mídia, estes soció-logos de batente que possuem a sagrada e irrevogável tarefa de nos dizer, com objetividade e precisão, quem

Um novo perfil de romeiro visita a capital da fé

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na verdade é esse ilustre desconhecido. “Quando vim a Juazeiro pela primeira vez ficava buscando esse ro-meiro que eu via nos jornais, até que me dei conta de que eu estava apenas reproduzindo uma idéia equivo-cada em uma imagem congelada”, explica Zambrana.

Retratados, filmados, virados do avesso, os ho-mens, mulheres e crianças que chegam a Juazeiro de tantos lugares, sotaques, costumes e feições, no fim são reduzidos a uma só palavra: romeiros. logo eles, tão an-siosamente esperados, louvados e festejados aparecem nos jornais como uma imagem congelada no tempo, rostos sofridos e batas marrons que se limitam a núme-ros na matéria do dia seguinte e fotos em paus-de-arara.

É só dar uma volta por Juazeiro para percebemos o quão distante essa caracterização está da realidade. Os romeiros vestindo bata e ornados de crucifixos são figuras tradicionais da cidade e estão em todos os can-tos. Ao observarmos homens e mulheres envergando roupas de tecidos grossos e escuros, a sensação imediata é voltar ao passado, a uma época em que o Padre Cícero ainda andava cercado por uma multidão de beatos vindos de todos os lugares. Esses homens e mulheres, que já fazem parte do imaginário coletivo de Juazeiro, são essenciais para criar uma atmosfera pi-toresca e reafirmar a idéia de que as romarias resistem à modernidade, conservando seus traços de cultura tradicional e imutável.

Porém, tal sensação é reavaliada ao nos depara-mos com uma família de classe média vestindo shorts floridos e camisas regatas para combater o calor in-tenso. A filmadora digital, peça essencial do pacote, é direcionada para tudo que se mova, e as expressões de surpresa são uma constante. Eles não são beatos. Mal conhecem a história que cerca o Padre Cícero. Re-presentam o novo perfil do turista que vai a Juazeiro do Norte para contemplar a catarse popular que cerca o mito e, por que não?, fazer parte dela. Em um mundo em que todas as crenças e valores se dissolvem com a rapidez de um sonho, estar em contato com a fé sólida, cega e persistente é uma experiência tão surpreenden-te quanto a novidade da última semana.

Exemplo desse novo perfil de romeiro, Cícero Ba-tista lopes, que já veio 28 vezes de Floresta, em Per-nambuco, até Juazeiro, prova que essa história de ro-meiro só viajar pendurado em pau-de-arara não é bem a verdade. “Vim de carro com meus filhos e noras, que estão por aí conhecendo a cidade”. Cícero alcançou a graça de ver sua mulher sobreviver a um parto difícil, e desde então vem todos os anos deixar 100 reais para a caridade. “Não é esmola, veja lá, é para ajudar nos tra-balhos do pessoal”, faz questão de explicar. Depois de pegar as fotos da família no lambe-lambe, sai apressa-do. “Tchau. Já tá ficando tarde pra pegar a estrada”.

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sOB a luZ Das CaNDeias

em Juazeiro do Norte, as festividades de Nossa Senhora das Candeias marcam a primeira grande procissão do ano numa cidade repleta de manifestações e prá-

ticas religiosas. Tradicionalmente invocada pelos cegos, Nossa Senhora das Candeias, ou da luz, tornou-se muito querida em Portugal a partir do sé-culo XV. Foram os colonizadores lusos que trouxe-ram as primeiras imagens e o sentido da devoção a essa santa para o Brasil.

Os iluminados festejos de Juazeiro se iniciam no dia 29 de janeiro e se encerram no dia 02 de feve-reiro, quando acontece a romaria das Candeias, cujo ponto de partida é a Capela do Socorro. Dali saem os romeiros, levando nas mãos as velas que formam um enorme cordão de luz. Contritos, homens e mulheres

entoam hinos e pedem graças, repetindo em unísso-no: “Valei-me meu Padim Ciço e a mãe de Deus das Candeias”. O ponto de chegada da procissão é a Basí-lica Santuário de Nossa Senhora das Dores.

Vários dias antes dessa festa, que representa a terceira maior romaria do ano, Juazeiro e seus arredo-res recebem levas intermitentes de peregrinos, muitos deles vindos de Alagoas, Pernambuco, Parnaíba e outros estados vizinhos. Em 2011, mais uma vez, as comemorações transcorreram com enorme afluência popular, sendo abertas por uma missa campal na Pra-ça do Romeiro. Por causa dos 100 anos da cidade, o tema escolhido foi: “Mãe das Candeias, ilumine o Jua-zeiro centenário, terra de oração e trabalho”. Um lema que o Padre Cícero, grande incentivador da procissão e do progresso, certamente aprovaria.

#cariridefé

devotos seguem até a basílica de nossa Senhora das dores

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A origem da festa das Candeias está ligada a uma história repassada de geração em geração. Conta-se que quando a eletricidade chegou em Juazeiro, os comerciantes de candeeiro sofreram muito, devido ao encalhe da mercadoria nas lojas. Um deles foi até o Padre Cícero solicitar aconselhamento. O Padre então mandou que continuasse fabricando candeeiros. Frente à incredulidade do comerciante, o “padim” apenas reafirmou o conselho. Após fabricar mil candeeiros, o comerciante foi até Padre Cícero. Este disse que mil ainda era pouco, que podia fazer mais. Quando já haviam sido finalizados cinco mil candeeiros, o padre finalmente deu ordem para parar. Logo depois, ao fim de uma missa, Padre Cícero informou aos fiéis que a partir daquele ano a congregação iria comemorar o dia de Nossa Senhora das Candeias com uma grande procissão. Detalhe: para que a procissão ficasse bonita, todos deveriam levar um candeeiro na mão.

O PADRE QuE ILumINOu A PROCISSÃO

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A devoção a Santo Antônio existe na região de Barbalha desde o século XVIII. No ano de 1778, o então proprietário da Fazenda Barbalha, capitão Francisco Magalhães Barreto e Sá, idealizou a construção de uma capela em louvor ao santo medieval português, nascido em Pádua. Erigida a capela, o crescimento de Barbalha se deu em torno desse pequeno núcleo, que pouco tempo depois foi elevado à categoria de vila, desmembrando-se do Crato. Já em 1876 Barbalha era considerada uma cidade.

ANtIGA DEVOçÃO

Irreverência popular na festa do Pau da bandeira

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quaNDOO sagRaDOe O PROFaNOse uNem

Não é Olinda (PE), mas bem que podia ser. Nas ruas de Barbalha, à sombra dos imensos casarões, milhares de pessoas se divertem bebendo, dançando e pa-

querando, enquanto esperam a passagem do tronco que servirá para o hasteamento da bandeira de Santo Antônio, padroeiro da cidade. A festa, barulhenta e ani-mada, seduz tanto os moradores quanto os forasteiros, revivendo anualmente uma antiga tradição. Desde o ano de 1928, o carregamento e hasteamento do Pau da Bandeira abre oficialmente os festejos dedicados ao santo casamenteiro, que acontecem em junho.

Nessa colorida mistura do profano ao sagrado, a primeira providência é a escolha do tronco de uma árvore de grande porte, cujo fim é receber a bandeira com a imagem do padroeiro. Depois de secar ao sol por alguns dias, o mastro é transportado por centenas de devotos, que o levam nos ombros até o Cento da cidade, onde então é erguido diante da bela Igreja Ma-triz de Santo Antônio.

A festa começa no ultimo domingo de maio ou pri-meiro de junho e se estende até 13 de junho, Dia de Santo Antônio, quando se realizam os ritos celebrati-

#carirideféRAFAEl VIlAROUCA

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vos finais. Se por um lado o festejo é uma realização da Igreja e das elites locais, com a manutenção dos aspectos rituais da liturgia cristã e dos valores da socie-dade rural, por outro, a imensa participação das cama-das populares faz desta celebração uma ocasião para todos. Trabalhadores, pequenos comerciantes, donas de casa, biscates, mestres de obras, pintores de pare-des, operários da construção: a afluência é grande, e a balbúrdia também.

PASSOS FESTIVOSNo contexto “instituído” da Festa de Santo Antônio, a abertura oficial consiste numa missa no início da ma-nhã, seguida pelo desfile folclórico, que sai da Igreja Matriz percorrendo as principais ruas da cidade, sem-pre sob o alarido dos grupos de capoeiristas, reisados, maneiro-pau, lapinhas, quadrilhas, bandas cabaçais, guerreiros, cocos, mateus e até penitentes.

À frente destes vão as autoridades da festa: clé-rigos, representantes políticos e o “capitão do pau”. Nas calçadas e seguindo o desfile, o povo em geral. O comércio fervilha no Centro da cidade, onde se pode comprar de tudo, incluindo imagens de santos e bone-cos pornográficos. Também é possível brincar em par-ques montados para crianças ou divertir-se nos vários prostíbulos disfarçados de bares.

Enquanto se desenvolvem os ritos instituídos, a alguns quilômetros dali, na Chapada do Araripe, os homens devotos se preparam para transportar nos ombros o gigantesco mastro de aproximadamente duas toneladas até a Igreja Matriz. O percurso é cha-mado de “cortejo” e se configura numa festa dentro da festa de Santo Antônio. Na preparação do cortejo, be-bidas, comidas, brincadeiras, banhos e muita diversão têm lugar no meio do povo. As mulheres solteiras ou descasadas se apressam em retirar lascas da madeira

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para fazer chás e simpatias, no intuito de garantir bom casamento. Trata-se de um contraponto à ordem e à hierarquia do desfile folclórico e da missa, elementos de domínio da Igreja. Uma aliança harmoniosa, embora improvável, entre os desejos dos homens e as bên-çãos dos céus.

Como bem observou o pesquisador Gilmar de Carvalho: “Talvez, por isso, Barbalha seja um lugar tão privilegiado, ameno, e doce, com sua rapadura preta, seus mestres da cultura, seus santos penitentes do Sítio Batateiras e água das fontes termais do Caldas. Talvez por isso, quando a festa passa, a cidade conti-nue, no cotidiano, com seus encantos, sem precisar da festa o ano inteiro, como se bastassem os 13 dias para que a catarse e a purificação se dêem e, ainda, a paz volte a reinar às margens do Rio Salamanca”.

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O Crato perdeu sua última sala de exibição no início da década de 90, mas houve um tempo em que a cidade se reunia no escurinho do cinema, para ver filmes nas muitas salas existentes – a primeira delas aberta há 100 anos. Vamos recordar essa história e conhecer os jovens cineastas do Cariri, que já estão dando o que falar.

aNtigas sessÕes De CiNema

em 1911, o italiano Vittorio Di Maio, após passar pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza, levou seu cinematógrafo para o Crato, abrin-do nas imediações da Praça da Sé – defronte

ao atual Museu Municipal –, o Cinema Paradiso, primeira sala de exibição do interior do Ceará. Com o filme “Bor-boletas Douradas”, o Paradiso encantou uma plateia

#cariricultura

que finalmente conhecia as emoções da tela grande. Ao longo dos anos a cidade teve outras salas im-

portantes, como o Cine Moderno, o Cassino Sul Ame-ricano e a sala Cine Educadora. Os moradores mais ve-lhos recordam com saudades daquele tempo em que os cinemas criavam círculos de amizade, instigavam namoros e possibilitavam uma festiva interação social.

neste lugar já funcionou um dos muitos cinemas do Crato

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o memorialista cearense tomé cabral, remetendo ao cinema paraíso, oferece uma atenta descrição do interior de uma salade cinema:

“Havia duas classes distintas: a primeira, logo em seguida ao salão de entrada, e a segunda ou geral, perto da tela, provinda apenas de compridos bancos sem encosto, nesta o ingresso custava apenas a metade da primeira. As classes ficavam separadas por uma grade de madeira, antes do início do espetáculo, a orquestra encostava a bateria e vinha-se postar no fim da primeira classe, junto à grade, tocava durante o desenrolar do filme, de preferência valsas, choros e dobrados, conforme a natureza do enredo. Durante a exibição, havia três, quatro e até mais intervalos, para a mudança das partes do filme no projetor” .

NO ESCuRINHO DO PARAíSO

Por décadas, as salas de projeção foram perso-nagens importantes nas tranqüilas noites cratenses, mesmo enfrentando concorrentes de peso como o volteio das garotas em torno da Praça Siqueira Cam-pos, com a rapaziada perfilada na beira da calçada formando uma plateia de pretendentes.

Outros rivais de peso eram as nove noites de fes-tejos em honra à padroeira da cidade, que no mês de setembro explodiam luminosamente em forma de bar-racas, parques de diversões, leilões e namoros passa-geiros com gosto de cachorro quente, pipoca, roletes de cana e tapioca com fígado.

LEMbrANçAS QuE NÃO SE APAGAM Dentre os quatro cines de passagem mais recente – Araripe, Educadora, Cassino e Moderno –, os últimos tiveram uma vida relativamente longa, lutando brava-mente contra a correria das “carruagens” do tempo, abarrotadas de novidades, que iam influindo com mui-ta ênfase no ramo de diversões.

Muitos recordam do Cine Moderno e do Cassino, cada um com seu amplo salão lotado de cadeiras dobráveis, entrada controlada por funcionário da em-presa, um “comissário” para coibir a frequência de menores nos filmes sob censura, as carteirinhas dos prováveis associados, que davam direito ao pagamen-to da metade do preço cobrado pelo ingresso...

A legenda ficará com esta formatação

RAFAEl VIlAROUCA

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Nas manhãs e tardes de domingo, invariavel-mente formavam-se longas filas para as matinês e as vesperais, quando eram exibidos, além das películas normais, os famosos “seriados” em que os mocinhos eram hipoteticamente instigados pelos gritos e palmas da plateia aflita. Entre os espetáculos de romance e aventura, exibidos nas fitas de celulose que chegavam nos enlatados redondos, duas películas, embora re-petidas anualmente, figuravam sobejamente como campeãs temporárias de bilheteria.

“Paixão de Cristo”, no período de Semana Santa, e “O Ébrio”, cujo astro-produtor era o inesquecível “tenor” Vicente Celestino, deixavam na “poeira” to-dos os outros filmes, lotando suas diversas sessões diárias com aficionados não só de Crato, mas de ci-dades vizinhas e até mesmo de outros estados, prin-cipalmente Pernambuco.

Desses bravos heróis, Cassino e Moderno, nos restam boas e saudosas lembranças que as novida-des, substituídas mal chegam a se conhecer, não con-seguem apagar. De 1911, quando apareceu o primeiro cinematógrafo, até no início da década de 90,quando o derradeiro cinema apagou as luzes, foram 80 anos de exibições diárias no Crato. Atualmente estuda-se a possibilidade do retorno de uma dessas salas, jus-tamente o Cine Moderno, que parece representar o futuro, em exibições de filmes na cidade.

LuZ, CÂMArA, AçÃO:JOVENS rEALIZADOrESPassado tantos anos, as salas de cinema que vierem a ser abertas na cidade servirão para não só exibir filmes estrangeiros, mas também para abraçar as produções de jovens cineastas caririenses Provenientes de facul-dades de cinema ou de cursos de iniciação fomenta-dos pelo Centro Cultural Dragão do Mar, nomes como Franklin lacerda, Orlando Pereira, Ythallo Rodrigues e Alisson Gomes já figuram como realizadores de diver-sas produções premiadas dentro e fora da região.

Ythallo Rodrigues desponta com um dos desta-ques do cinema caririense. Seus mais recentes traba-lhos como diretor são os curtas “Amor” (2010) e “lam-pião” (2010). Ele também colaborou com os longas “O Céu de Suely” (Karim Aïnouz) e “Bezerra de Menezes - o Diário de um Espírito” (Joe Pimentel e Glauber Filho). Em “Estrada para Ythaca” (Irmãos Pretti e Primos Pa-rente), Ythallo atuou e fez câmeras e sons adicionais.

Há também promessas como o fortalezense, radicado no Cariri, Glauco Vieira, com dois filmes no currículo: “Cerca” (2006) e “Sete Almas Santas Va-queiras (2008), e o cratense Judson Jorge, com seu primeiro curta-metragem, “Assentamento” (2011). O documentário “Também Sou Teu Povo”, dos diretores Orlando Pereira e Franklin lacerda, corajosamente retrata o outro lado das romarias. O filme tem como protagonistas travestis de Juazeiro do Norte, que em época de romaria transcendem a fronteira do social-mente permitido e saem às ruas para fazer programas ou simplesmente exibir-se.

Sem as salas de cinema o que esses realizadores do audiovisual fazem é provar que o axioma “uma câ-mera na mão, uma idéia na cabeça” ainda é válido. Ao exibir suas produções em praças ou organizar seus pró-prios festivais independentes, eles mostram que é pos-sível realizar e consumir cinema no Cariri cearense.

Veja onde funcionavam as antigas salasde cinema do crato:

cine cassino: O prédio ainda mantém o mesmo nome, Cassino Sul Americano. Fica na PraçaSiqueira Campos, Centro.cine Moderno: É atualmente o Teatro Salviano Arrais, no calçadão, Centro.cine Educadora: O prédio ainda existe. É onde funciona a Rádio Educadora. Hoje o espaço da salaé conhecido como Teatro da Educadora. Na rua Coronel Antônio Luís, 1068, Pimenta.cine paraíso: O prédio fica na Praça da Sé. Já foia Biblioteca municipal. Hoje abriga diversas lojas.

O mAPA DA mINA

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Alisson Gomes é o realizador do curta-metragem “Do Paraíso ao Moderno”, que conta a história das antigas salas de cinema no Crato. Antes disso ele já havia participado da produção de vários filmes e assinado a direção de dois curtas: “Adeus, Meu Bem” e “Quarta Parede”. Em entrevista à Cariri Revista, Alisson explica por que ficou tão fascinado pelos antigos cinemas do Crato, a ponto de querer fazer um documentário sobre eles.

Cariri revista: Fale um pouco do percurso do seu filme, “Do Paraíso ao Moderno”.aLissON: Dirigir um documentário seria um desafio, e eu já tinha vontade de me expressar em relação às salas de cinema do Crato. Conhecia um pouco da historia e fiquei surpreso ao descobrir o quanto já foi rica a historia do cinema aqui. Quando tinha uns nove anos, vi uns três filmes no Cine Cassino, e depois disso, só no shopping do Juazeiro. Então fiz um projeto e o inscrevi no Prêmio Ceará de Cinema e Vídeo (da Secult), no qual fui contemplado. Com o financiamento obtido, realizei uma pesquisa, descobri vários personagens, fiz uma visita prévia, montei minha equipe e fui a campo gravar os depoimentos. Todos falaram emocionados e muito saudosos sobre suas experiências naquelas salas, destacando como é diferente a relação das pessoas com o cinema hoje, comparando-se com o que havia antes. Consegui fotos antigas das salas para ilustrar os depoimentos. Hoje o vídeo está em fase de coleta de imagens e edição de vídeo e áudio.

“FOI EmOCIONANtE OuVIR A HIStÓRIA DOS ENtREVIStADOS”AlISSON GOMES:

Cariri revista: O que foi mais bacana na realização desse curta?aLissON: Eu nasci no Crato e amo essa cidade. Também amo cinema. Vejo muitos filmes desde criança, mas quase não vi filmes em um cinema da minha terra. E sempre me inquietou o fato do Crato não ter cinema. Conversar com pessoas que viveram a época áurea das salas de exibição foi muito gratificante. Era emocionante sentir a alegria dos entrevistados quando eles lembravam as histórias, quando mostravam onde ficava cada coisa, onde se formava a fila. Foi muito bom ouvi-los e compartilhar da sua nostalgia.

Cariri revista: Qual a sensação de lançar um filme sobre as salas de cinema de uma cidade que não possui mais cinema?aLissON: O fato do Crato não ter mais cinema foi uma das coisas que me impulsionaram a produzir esse curta. Eu me senti muito envolvido com as histórias, porque eu faço parte disso, e me emocionei bastante durante as gravações. Na verdade, vou divulgar agora, em primeira mão, minha vontade de fazer um longa sobre o mesmo assunto. Durante a produção desse curta notei que preciso de mais tempo para contar essa historia, num próximo projeto, quem sabe até em película. Os editais estão aí. Posso ter sorte de novo... vamos ver no que dá.

Hoje só restam as fachadas das velhas salas de exibiçãoAntigos projetores aindaresistem ao tempo

FOTOS: RAFAEl VIlAROUCA

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58 CARIRI REVISTA

Barbalha, cidade que habita os altiplanos da Chapada do Araripe, carrega em suas vias as marcas de memórias de pedra. Eri-gida ainda no tempo do Brasil Colônia, foi

a mais próspera e rica cidade do Cariri até a primeira década do século passado. Responsáveis por isso, os canaviais ainda resistem ao que um dia foi o principal elemento da economia barbalhense e região.

Com o dinheiro que corria farto, proveniente da cana-de-açúcar, ergueu-se uma cidade inteira, com igrejas, casarões e sobrados. Com seus 165 anos, Bar-balha ainda mantém um ar colonial. A população revive os áureos tempos, disposta a preservar a memória da única cidade do Cariri em que o modelo monarquista ganhou, e com folga, o plebiscito sobre a escolha entre república e monarquia, em 1893.

Ao se chegar à Rua da Matriz, encontramos a Igre-ja Matriz, consagrada a Santo Antônio. Datada de 1799, a Igreja é a mais antiga que a cidade. É no seu entorno que todos os anos se concentram as festividades do corte do pau da bandeira, na festa de Santo Antônio. A poucos passos dali, um sobrado amarelo com mui-tas janelas azuis chama a atenção. Hoje abrigando a Faculdade de Artes da Universidade Regional do Cariri, era o sobrado de Antônio Sampaio, rico canavieiro que construiu nos fundos de sua casa uma senzala com um túnel que a ligava ao canavial. Até a anexação da facul-dade de artes ao local, conta-se que ainda era possível ver o tronco e os nichos de ferros onde eram presas as correntes dos escravos.

Em frente ao sobrado, deparamo-nos com um imenso casarão que servia como a mais importante casa de venda de tecidos da região. Construído em 1859, o casarão foi saqueado pelo bando de lampião quando este, em 1926, dirigia-se a Juazeiro do Norte para receber das mãos do Padre Cícero a patente de Capitão. Dobrando a esquina há um prédio inusitado. Saindo da estética colonial, o antigo Cine São José é

eNgeNHOs, sOBRaDOse Ruas De PeDRa

#caririarquitetura

estilo Art Nouveau. Erguido na era Vargas, carrega con-sigo símbolos característicos do Estado Novo e do na-zismo, como um “H” que faz referência a Hitler e outros emblemas muito usados por essa estética.

O professor e historiador Josier Ferreira da Silva lamenta não ter havido uma sensibilidade municipal para a preservação do patrimônio arquitetônico. “Não há nenhum projeto concreto para tombamento de nível municipal em Barbalha. Os únicos prédios tombados são o sobrado de Antonio Sampaio e o Palácio 3 de Ou-tubro, em nível estadual. E o pior é que as pessoas não se vêem no patrimônio materializado, devido à falta de um trabalho pedagógico de educação patrimonial nas

Memórias de pedra nos sobrados

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escolas que tente agregar o valor simbólico e histórico do prédio à vida da cidade. Daí as novas gerações não se identificarem com esse patrimônio”, define.

Apesar das dificuldades em se preservar o patri-mônio arquitetônico de Barbalha, o que vemos nos edifícios históricos é um reflexo singular da diversi-dade cultural que ocorre em toda a região do Cariri. Os mais de 30 edifícios de valor histórico, incluindo casarões e sobrados, narram a saga de uma cidade que viu o florescimento da riqueza e da prosperidade, numa época em que bandos de cangaceiros, padres santificados pelo povo, coronéis e retirantes protago-nizavam sua história.

A preservação do patrimônio de barbalha também depende do interesse das novas gerações

A história vive nas esquinas

FOTOS: RAFAEl VIlAROUCA

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60 CARIRI REVISTA

tRaNsPlaNtes De ÓRgãOs: avaNÇOs e PROmessas

#caririsaúde

Com o aporte do Sistema Nacional de Transplantes, cujos braços abarcam 548 unidades de saúde em 25 estados do país, o Brasil possui um dos maiores programas públicos de transplantes de órgãos e tecidos do mundo. O Cariri foi o primeiro centro credenciado no interior do Norte e Nordeste a realizar transplantes de rins. É também uma das regiões brasileiras que mais fez transplantes nos últimos anos. Ainda assim, há grandes obstáculos a serem vencidos nessa corrida contra o tempo e em favor da vida.

200 transplantes renais já foram realizados no cariri

ARQUIVO/SHUTTERSTOCK

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é um motivo de grande orgulho! O Cariri atin-giu a marca de 200 transplantes renais, des-de que começamos a realizá-los, em 1994. Nós fomos os pioneiros no serviço de trans-

plantes no interior”, comemora o nefrologista Valêncio Carvalho, coordenador do serviço de transplante renal do hospital São Raimundo, no Crato, e presidente da I Jornada Médica de Transplantes do Cariri. Exultante com os números, ele nem por isso está satisfeito com a realidade. A marca atingida poderia ser ainda melhor.

“O nosso problema é exatamente a captação de órgãos, fundamental para o sucesso dos transplantes. No ano passado, em 30 possibilidades de captação, só conseguimos efetivar cinco”, lamenta o Dr. Valên-cio, reconhecendo que são muitos os preconceitos que cercam o tema. Inúmeras famílias vêem com re-servas os procedimentos indispensáveis à doação, au-mentando com isso a fila dos pacientes que aguardam um doador compatível.

““O corpo do doador é totalmente recomposto an-

tes de ser entregue à família. Todos os procedimentos observam a dignidade humana. Eu penso que há uma conexão solidária entre todos nós. Podemos comple-mentar uns aos outros através da ação consciente da doação, compreendendo que o conceito de estar vivo ultrapassa, de fato, a vida efetiva de um corpo específi-co”, finaliza o Dr. Valêncio.

rEGrAS CLArAS NO JOGO DA VIDACom todos os entraves, o Ceará está muito bem colo-cado no ranking nacional de transplantes renais, assim como o Cariri, que só fica atrás de Fortaleza e Recife. Os transplantes podem ser feitos com doadores vivos ou com pacientes que tenham tido morte cerebral comprovada. A ideia agora é avançar para outras fren-tes, viabilizando um grande número de transplantes de córnea (que já acontecem na região), fígado e coração.

No primeiro trimestre de 2010, segundo a Associação Brasileira de Transplantes e Órgãos (ABTO), o Ceará obteve o segundo melhor desempenho do País na doação de órgãos. Também bateu recordes em realização de transplantes, ficando com o quarto melhor desempenho no setor. Somente no ano passado, foram realizadas 875 intervenções: 229 de rins, 463 de córnea, 113 de fígado e 14 de medula óssea. Isso significa 108 a mais que em 2009 e 100% a mais que em 2007.

Em 2009, o Hospital Geral de Fortaleza fez o primeiro transplante de pâncreas do Ceará, procedimento que se repetiu seis vezes no ano passado e que deve ser duplicado este ano. Aliás, 2011 promete vida nova para muita gente. Somente nos primeiros 13 dias do ano, o número

OS NÚmEROS DO EStADO

de transplantes chegou a 36. Desse total, 12 de rins, 12 de córneas, oito de fígado, três de coração e um de medula óssea.

A União de forças entre a Central de Transplantes e as comissões intra-hospitalares tem sido fundamental para a detecção precoce da morte encefálica. Outro fator que contribuiu para o aumento de procedimentos foi a descentralização das doações, que antes eram realizadas apenas na capital.

Com a inauguração do Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro, as equipes médicas acreditam que haverá um aprimoramento no processo de captação de órgãos. A Secretaria da Saúde do Estado já divulgou em sua página eletrônica que pretende superar este ano a marca de 1.000 transplantes no Ceará.

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62 CARIRI REVISTA

umA QuEStÃO DE SOLIDARIEDADE

Uma cadeia de fatores precisa ser contemplada simultaneamente para a captação de doadores em potencial e a viabilização dos transplantes. Antes de qualquer procedimento, é imprescindível que as famílias se conscientizem de que doar é um ato solidário cuja finalidade é salvar vidas. “Cada pessoa com morte encefálica representa a vida de pelo menos seis outros pacientes”, informa o cirurgião Valêncio Carvalho.

Muitas famílias ainda resistem porque, com exceção da córnea, que pode ser retirada seis horas após o falecimento do doador, os demais órgãos têm que ser extraídos com o coração ainda batendo. “Precisamos esclarecer que a morte encefálica – ou cerebral – é a morte definitiva. O coração só segue batendo por causa dos aparelhos, mas isso não significa qualquer possibilidade de volta à vida. Se o cérebro não é mais irrigado, não há retorno. O que podemos fazer é aproveitar os órgãos para salvar outras pessoas”, enfatiza o doutor Valêncio.

Dentro dos hospitais também há dificuldades, por causa da demora na notificação à central de captação, ou devido ao tempo de constatação da morte cerebral. Essa morte só pode ser atestada oficialmente por um neurologista ou por um neurocirurgião, juntamente com o intensivista, que é o médico plantonista da UTI. Se o paciente

Em recente Jornada Médica de Transplantes, o Cariri reuniu profissionais e estudantes da área, além de pacientes transplantados há mais de 10 anos. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, Ben-Hur Ferraz Neto, que atua no Hospital Albert Einstein de São Paulo, defen-deu a manutenção de regras claras e previamente estabelecidas, como acontece hoje, para que ninguém seja privilegiado na fila de espera. Paralelamente, ele considera que é possível pensar num processo de regionalização dos transplantes, desde que isto não prejudique a transparência do sistema.

Atualmente, as captações dos órgãos aconte-cem em Barbalha, no Hospital Santo Antônio, e os transplantes são feitos no Crato, no Hospital São Raimundo. Na mesma cidade, o Banco de Olhos do Hospital São Francisco foi o primeiro do interior a reali-zar com sucesso uma cirurgia de córnea. Em Juazeiro, o Hospital Santo Inácio também está apto a cumprir este tipo de procedimento. As cirurgias para os trans-plantes hepáticos acontecem na capital cearense. A sobrevida do rim transplantado gira em torno de 95 a 97% no primeiro ano após o transplante, de acordo com o doutor Valêncio Carvalho.

chega ao hospital sem qualquer possibilidade de sobreviver, é preciso agir rápido, fazendo os exames que irão mostrar se ele é um doador em potencial. A retirada dos órgãos só é realizada após a autorização dos familiares.

O retardo na realização dos exames, bem como a demora no protocolo de morte encefálica, impedem que muitas pessoas recebam novos órgãos. “Os órgãos doados devem passar imediatamente a condições rigorosas de conservação – um fígado deve ser transplantado, no máximo, em oito horas, um rim em 24 horas, o coração quase que imediatamente após a morte do doador”, contabiliza o cirurgião Valêncio Carvalho.

A instalação das unidades OPO (Organização para Procura de Órgãos) pelo Governo Federal promove um alento no setor, porque concretiza uma busca ativa por órgãos, num grande elo que inclui desde a educação e conscientização da população, dos pacientes e de seus familiares, até a prática intra-hospitalar, com exames de compatibilidade, cuidados com o doador em potencial, constatação de morte cerebral e conservação dos órgãos. Essas unidades OPO funcionam a nível regional e são supra-hospitalares. No Cariri, atuam em nove hospitais com potencial de captação de órgãos. Cada hospital, por sua vez, tem uma comissão intra-hospitalar de transplante.

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A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas, que funciona como fonte de energia para a entrada da glicose nas célu-las. Os quadros de hipoglicemia se instalam, quando aumenta a quantidade de insulina no sangue, ou diminui a quantidade dos hormônios de contrarregulação (glucagon, hormônio do crescimento, adrenalina e cortisol). Esses hormônios são produzidos quando se esgota o estoque disponível de glicose no sangue, e ajudam a liberar o gli-cogênio armazenado no fígado.

Níveis baixos de glicose no sangue comprometem o funcionamento de mui-tos órgãos, especialmente, o funciona-mento do cérebro.

TIPOS E CAuSASExistem dois tipos principais de hipogli-cemia: a hipoglicemia de jejum e a pós-prandial, ou reativa, que ocorre depois das refeições. Entre as causas da hipogli-cemia de jejum destacam-se: 1) produção exagerada de insulina pelo pâncreas, 2) medicamentos utilizados no tratamento de diabetes, 3) insuficiência hepática, car-díaca ou renal, 4) tumores pancreáticos, 5) consumo de álcool, 6) deficiência dos hormônios que ajudam a liberar glicogênio.

A hipoglicemia pós-prandial ou reati-va ocorre por volta de três a cinco horas depois das refeições, como resultado do desequilíbrio entre os níveis de glicose e de insulina no sangue. Em geral, ela se

Hipoglicemia é um distúrbio provocado pela baixa concentração de glicose no sangue, que pode afetar pessoas portadoras ou não de diabetes.

manifesta em pessoas predispostas de-pois da ingestão de alimentos ricos em açúcar e nos pacientes submetidos à ci-rurgia do estômago, ou em fase inicial da resistência à insulina. SINTOMASOs sinais da hipoglicemia podem ser pro-duzidos pelos hormônios de contrarregula-ção e pela redução da glicose no cérebro. No primeiro caso, os sintomas são: tre-mores, tonturas, palidez, suor frio, nervo-sismo, palpitações, taquicardia, náuseas, vômitos e fome. No segundo, confusão mental, alterações do nível de consciên-cia, perturbações visuais e de comporta-mento que podem ser confundidas com embriaguez, cansaço, fraqueza, sensação de desmaio e convulsões. DIAGNÓSTICOPara fazer o diagnóstico, é preciso con-siderar os sintomas e o resultado dos exames de glicemia, curva glicêmica e glicemia capilar. Este último permite medir o nível de glicose a partir de uma gota de sangue extraída da ponta do dedo. Outro indício importante para o diagnóstico é a melhora dos sintomas após a ingestão de alimentos ou de açúcar. TrATAMENTOO tratamento da hipoglicemia está dire-tamente associado à causa do distúrbio.

A retirada cirúrgica de tumores, a abstinên-cia de álcool em jejum, um novo esquema medicamentoso, por exemplo, são formas diferentes de solucionar o problema.

Quanto à hipoglicemia reativa, o me-lhor é prevenir as crises. Por paradoxal que possa parecer, assim como nos casos de diabetes, é fundamental restringir ao máxi-mo a ingestão de açúcares.

No entanto, uma vez instalada a crise hipoglicêmica, o paciente deve tomar um copo de suco de laranja, ou de refrigerante não dietético, ou meio copo de água ado-çada com uma colher de açúcar, ou chupar balas para repor os níveis de glicose. O efeito será mais rápido se esses alimentos forem ingeridos junto com carboidratos de longa duração, como pães, pipocas, biscoitos, etc. Se o nível de consciência estiver comprometido, o paciente deve ser encaminhado para atendimento médico, a fim de receber a medicação adequada. rECOMENDAçÕES• Refeições menores e mais próximas

umas das outras ajudam a prevenir a queda da glicose no sangue;

• Refeição leve, à base de carboidratos e proteínas, antes de dormir ajuda a pre-venir crises noturnas de hipoglicemia.

• A prática de exercícios físicos pode exigir o consumo de carboidratos para evitar a queda brusca dos níveis de gli-cose no sangue.

#cariricolunadesaúde

HiPOgliCemia

Por drauzio Varella

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64 CARIRI REVISTA

#caririliteratura

Por Cláudia Albuquerque

PODeR, Fé e gueRRaNO seRtãO

lançado com grande sucesso em 2009, o livro “Padre Cícero – Poder, Fé e Guerra no Sertão”, do jornalista lira Neto, é mais uma contribuição valiosa para o entendimento de uma fi gura ímpar na história nacional. Resultado de exaustivas investigações e leituras de documentos exclusivos, além de centenas de entrevistas e viagens para pesquisa de campo, o livro vem iluminar, em mais de 500 páginas, o homem e o mito contidos na frágil silueta de Cícero Romão Batista.

Uma excelente oportunidade para de-votos, estudiosos, admiradores, detratores ou simples curiosos conferirem, no estilo vibrante que caracteriza as obras de lira, os pormenores do longo percurso do Pa-dre Cícero, falecido aos 90 anos: as origens simples; o início da carreira eclesiástica no Seminário da Prainha; a nomeação como vigário de Juazeiro, em 1872; a reação aos fenômenos misteriosos que alarmaram a Igreja; a suspensão da ordem em 1894; o ingresso na carreira política e os acordos com as oligarquias da região.

lira Neto, biógrafo também de José de Alencar, Castello Branco, Rodolfo Teófi lo e Maysa, reconstrói de maneira magistral episódios como o “Milagre da Hóstia”, de 1889, quando o então jovem Cícero vê a hóstia transformar-se em sangue na boca da beata Maria de Araújo. O jornalista con-

tou com o acervo da Cúria do Crato e suas mais de 900 cartas para reconstruir o diálo-go entre autoridades da Igreja no Brasil e o tribunal do Santo Ofício.

Em várias entrevistas pós-lançamento, lira Neto revelou que sempre quis es-crever sobre Cícero, mas considerava o personagem “grande demais”. Só mudou de posição ante a promessa de lidar com documentos inéditos. Experiente, 47 anos, lira foi repórter, editor e ombudsman do Jornal O POVO, onde trabalhou por dez anos. Também já atuou como coordena-dor editorial das Edições Demócrito Rocha (Fortaleza) e da Editora Contexto (São Pau-lo). Radicado na capital paulista, escreve atualmente a biografi a de Getúlio Vargas, que será publicada pela Cia. das letras em três volumes.

Enquanto o cineasta Sérgio Machado prepara um fi lme inspirado no livro de lira sobre Cícero, com previsão de estreia para

2012, o Vaticano estuda a reabilitação do Padim. O próprio papa Bento 16 já mostrou simpatia pela causa, que seria também uma forma de inibir o crescimento da cor-rente evangélica no Brasil. Afi nal, Cícero é um mito capaz de atrair 2,5 milhões de fi éis todos os anos a Juazeiro do Norte. A sa-gacidade na costura de alianças, a perícia na acomodação de interesses, a simplici-dade com que concebia o mundo, a força de trabalho e o invencível carisma fi zeram dele um líder popular capaz de sobreviver a todos os obstáculos e perseguições.

“Padre Cícero – Poder, Fée Guerra no Sertão”, de Lira Neto. Cia das Letras,557 páginas.

SERVIçO

lira neto: documentos exclusivos e pesquisa aprofundada

PADRE CíCERO:

lAIlSON SANTOS

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CARIRI REVISTA 65

vaRgas llOsa e Os eNCaNtOs Da FalaNa onda de relançamentos e reedições do peruano Mario Vargas llosa, prêmio No-bel de literatura de 2010, um dos títulos fundamentais é “O Falador”. lançado em 1987, quando Vargas llosa já era mundial-mente conhecido por obras como “Con-versa na Catedral” (1969), “Pantaleão e as Visitadoras” (1973) e “Tia Júlia e o Escre-vinhador” (1977), “O Falador” não obteve o mesmo êxito comercial dos seus pares, mas contém todas as qualidades reconhe-cidas do autor: exuberância de estilo, ca-pacidade de surpreender e técnicas narra-tivas extremamente sofi sticadas, sempre a serviço de histórias arrebatadoras.

No livro, um narrador cuja biografi a se confunde, em parte, com a de Vargas llosa, recorda sua amizade de juventude com Saul Zuratas, o Mascarita, um judeu de lima cuja paixão pelos índios Machi-guenga resultaria num futuro inesperado e assombroso. Em suas refl exões, o narra-dor mistura um período de sua vida com a história de Mascarita, a imersão no cotidia-no dos Machiguenga e uma análise sem preconceitos da situação das sociedades indígenas numa Amazônia convulsiona-da. Tais refl exões são substituídas, em

quem lÊ O quÊ

está lendo: galiléia autor: Ronaldo Correia de Britoeditora: alfaguaraas impressões que fi cam deste romance vêm de encontro com uma idéia idealiza-da e criada por outros escritores que li no passado do que é “sertão” e a partir dele pude pensar numa pespectiva contempo-rânea do mesmo, só que acompanhada por personagens densas de forte memória oral que habitam um “não lugar”.

está lendo: a mulher sem túmulo autor: Nilze Costa e silvaeditora: armazém da culturaDesde criança que escuto histórias sobre a beata maria de araújo, famosa beata dos fenômenos ocorridos em Juazeiro, terra de mãe das Dores, e nesta narrativa a escri-tora consegue construir um forte universo simbólico e imagético que está sendo fon-te para uma pesquisa artística de um futu-ro projeto em parceria com uma artista de são Paulo, erika mizutani.

“O Falador”, de Mario Vargas Llosa. Editora Leya, 251 páginas.

SERVIçO

capítulos alternados, por uma segunda e misteriosa voz narrativa, que recria a tradi-ção oral e a maravilhosa cosmogonia dos Machiguenga.

uMA CuLTurA E SuASPOSSIbILIDADESDispersos na selva peruana em pequenos núcleos nômades, sem líderes, os índios Machiguenga mantêm contato entre si através da fi gura de um contador de his-tórias, el hablador, ou o falador, que visita as famílias e seduz a audiência narrando lendas, recriando mitos, revivendo situa-ções passadas e informando sobre casa-mentos, nascimentos e mortes. Tímidos, arredios e frugais, eles vivem em delicado equilíbrio com a selva. Equilíbrio este ame-açado por interferência dos brancos e mestiços, acusados de “contaminar” a cul-tura indígena, sob o pretexto de “civilizá-la”. Vargas llosa não prega o isolamento a todo custo nem se perde em elucubrações românticas sobre os povos da fl oresta, mas observa a realidade a partir da histó-ria, refl etindo junto com os leitores os per-calços do crescimento e as possibilidades de uma cultura solidária entre os povos.

uNINDO O QuE É DISTINTOMario Vargas llosa nasceu em Arequipa, Peru, em 1936. Sua vasta obra inclui livros como “A Cidade e os Cachorros” (1963), sobre os dois anos de internato no Colé-gio Militar de la Perla; “A Guerra do Fim do Mundo” (1981), que conta a saga de Canudos e “As Travessuras da Menina Má” (2006), uma história de amor tumultuada por 40 anos de idas e vindas. Cidadão do mundo, Vargas llosa é considerado um dos maiores escritores latino-americanos de todos os tempos. Ele concorreu à presidência do Peru em 1939, perdendo para Alberto Fujimori. No discurso em que agradeceu a Academia Sueca pelo prêmio Nobel de 2010, resumiu um pouco de sua crença literária: “A boa literatura cria pon-tes entre povos distintos e, fazendo-nos gozar, sofrer ou surpreendermo-nos, nos une por baixo das línguas, crenças, usos, costumes e desgraças que nos separam”.

CarLa Prata (Gerente Operacional do sesC Crato)

aDriaNO BritO (artista visual)

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66 CARIRI REVISTA

bOAS INFLuÊNCIASPOrTuGuESAS“Além do refinamento, o colonizador por-tuguês introduziu alguns ingredientes importantes na culinária brasileira: o coco (trazido da Índia), o sal, e a canela em pó misturada com açúcar. O sarapatel, o sar-rabulho, a panelada, a buchada, o cozido, não fazem parte da culinária africana, mas, sim, portuguesa. Os dois primeiros vieram, também, da Índia através dos colonizado-res. A doçaria lusa trouxe: pudim de iaiá, arrufos de sinhá, bolo de noiva, pudim de veludo. Vieram, ainda, muitos quitutes mouriscos e africanos, como o alfenim e o cuscuz, e frutas como a manga, a jaca, a fruta-pão e a carambola, que foram trazidas do Oriente. Do já famoso cozido português é que partiu a idéia de se incluir feijão preto ou mulatinho, carnes e muitas verduras, a fim de fazer um prato único: a feijoada”.

trecho do texto “Culinária Brasileira”, de semira adler vainsencher, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

Mistura, variação, aproveitamento: a alqui-mia dos ingredientes transforma a cozinha num território de saborosas surpresas. Com seus muitos temperos, o vasto mundo da gastronomia nos proporciona uma viagem instigante, colorida e reveladora através dos tempos e dos costumes.

No Nordeste, a buchada é um desses pratos que evocam conjunção. Isso porque o tipo mais tradicional é feito com os miú-dos (coração, bofe, rins, garganta, sangue coagulado e fígado) de bode.

Tais miúdos são picados, temperados e colocados dentro de uma bolsa feita a partir da barrigada do animal. Com ou sem pi-menta, o prato é servido fumegante, muito bem acompanhado de pirão e arroz branco.

alquimia De saBOResNa mesa NORDestiNa

Pesquisa: Ruth Marinho[Pesquisadora em gastronomia e praticantede maravilhosas receitas]

No Cariri é possível degustar as buchadas em diversos restaurantes. O espaço Coisas do Sertão, em Juazeiro do Norte, oferece inclusive a de peixe, num ambiente decorado com as corese os símbolos da região.

Restaurante Coisas do sertãoav.Padre Cícero 3020(88) 35717676Juazeiro do Norte -Ce

ONDE COmER

É uma iguaria que lembra reunião fami-liar, festança entre amigos, gula de domin-go. Com seu gosto forte e inconfundível, vai bem com cachaça e pede uma boa rede após a ingestão. Todas as receitas exis-tentes demandam “ciência de tempero e intuições misteriosas de cálculo”, como fri-sa o pesquisador Câmara Cascudo, grande estudioso da cozinha brasileira.

A buchada não é uma receita origina-riamente nordestina. Na verdade, ela é he-rança dos portugueses que desembarca-ram no Brasil em 1500 (ver box). Porém, o prato conquistou definitivamente o paladar do nosso povo, adquirindo sotaque local, permitindo variações regionais e arreba-tando os paladares mais exigentes.

O que nem todos sabem é que existem tipos inusitados de buchada, como as de peixe e de camarão. A seguir, a Cariri Re-vista ensina como preparar essas delícias. É fazer e delirar!

#caririgastronomia

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CARIRI REVISTA 67

Tradicional Buchada de Bode

Ingredientes:• 1 fussura de cabrito completa • 2 tomates picados • 1 pimentão verde picado • 1 cebola grande picada • Coentro a gosto • Limão• Sal a gosto• 3 dentes de alho picado• 1 colher de sopa de cominho com coentro ralado• 3 dentes de alho amassados no pilão• Agulha e linha de costura

Modo de preparo: 1. Limpe e escalde as tripas e vísceras. 2. Limpe o bucho, esfregando limão por dentro

e por fora. Deixe de molho em água fria com o suco de 1 limão por algumas horas.

3. Coloque em uma panela todas as vísceras, cortadas em cubos bem pequenos. Adicione o tomate, a cebola, o cheiro-verde, o pimentão, o coentro com cominho ralado, o sal e o alho. Misture bem, refogando em azeite ou óleo quente.

4. Junte o sangue coagulado já picado5. Retire o bucho do molho de limão para

aferventar inteiro.6. Coloque o refogado de vísceras no interior do

bucho e costure com agulha e linha.7. Leve ao fogo uma panela com bastante água

e sal e deixar ferver. Cozinhe o bucho em fogo brando durante 4 h.

8. Sirva com molho de pimenta, arroz branco e farinha.

Buchada de Peixe

Esta receita foi criada pelo cozinheiro Josimar Mateus, inspirado na variedade de peixes do Orós. A buchada de peixe já é uma iguaria de muito sucesso entre os bons de garfo.

Ingredientes:• Filé de 5 tilápias de tamanho médio• ½ copo de creme de leite • 1 vidro de leite de coco • ¼ de copo de óleo • Pimenta do reino e sal a gosto• 2 limões• ½ fruta pão cozida• 1 travessa de cheiro verde

Modo de Preparo:1. Abra o peixe, tire a pele e conserve.2. Corte os files em pedaços médios e tempere

com sal, pimenta do reino e colorau.3. Faça um refogado à parte, com tomate,

cebola picada, cheiro verde picado e alho triturado e um pouco de óleo.

4. Prepare as peles para encher com a mistura de tilápia. Costure bem. Leve ao fogo, juntando aos temperos já refogados, por 5 minutos.

5. Coloque então as buchadas e cubra-as com água por mais 5 minutos de fogo.

6. Ao final, adicione o leite de coco e o creme de leite por mais 20 minutos .

7. Sirva com baião de dois e pirão.

RAFAEl VIlAROUCA

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68 CARIRI REVISTA

ROteiRODe COmPRas

Centro de Artesanatos mestre Noza.Rua São Luiz, s/n. CentroJuazeiro do Norte Fone: (88) 3511.3133

Caminho de mesa bordadoem rechelieu (2,40 m cumprimento /

para mesas de 6 lugares)Origem: Juazeiro do Norte

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3 piso, Box 541, Fone: 3511.6396

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Origem: Juazeiro do Norte $: de 25,00 a 45,00

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escultura em madeira de lampião Artesão: KalysteneOrigem: aurora$: 900,00Onde encontrar: Centrode artesanato mestre Noza

escultura em madeirade luiz gonzaga

Artesão: KalysteneOrigem: aurora

$: 700,00 Onde encontrar: Centro

de artesanato mestre Noza

escultura em madeirade Padre CíceroArtesão: everaldo$: 1.000,00 Origem: Juazeiro do NorteOnde encontrar: Centrode artesanato mestre Noza

mercado CentralRua São Pedro com a Rua Santa Luzia, CentroJuazeiro do Norte - De segunda à sexta de 8:00às 18:00h. Aos sábados, de 8:00 às 13:00h.

Cachaça Kariri com KOrigem: Juazeiro do Norte$: 7,00 Onde encontrar: mercado Central / Beco do alemão

manta artesanalOrigem: Juazeiro do Norte / várzea alegre / Jaguaruana

$: de 7,00 a 35,00Onde encontrar: mercado

Central / Box 130

RedeOrigem: Juazeiro do Norte / várzea alegre / Jaguaruana$: de 10,00 a 250,00 Onde encontrar: mercado Central / Box 130

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CARIRI REVISTA 69

Bolsa (azul marinho) Onde encontrar: sagian

Origem: Juazeiro do Norte$: 339,90

Ivo Pita (folheados)Rua São Pedro, 612. CentroJuazeiro do NorteFone: (88) 3511.4423

Corrente e pingente banhadosa ouro 8.9 gramas (masculino)Onde encontrar: ivo Pita Origem: Juazeiro do Norte$: 89,00 (corrente)$: 12,10 (pingente)

Conjunto feminino: gargantilha de aço / pingente e brincos (Nossa senhora) folheados a prataOnde encontrar: ivo PitaOrigem: Juazeiro do Norte$: 17,20

redes, cachaças, quadros de argila, bolsas, sandálias e esculturas de mestres artesãos. produtos populares e artigos finos se misturam nos mercados e esquinas do cariri. Saiba onde encontrar os tesouros da região.

SagianRua São Pedro, 634. CentroJuazeiro do NorteFone: (88) 3511.2766

sandália (branca com laço azul)Onde encontrar: sagianOrigem: Juazeiro do Norte$: 69,90

FOTOS: RAFAEl VIlAROUCA

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70 CARIRI REVISTA

a inauguração da mais completa unidade de saúde do Cariri reuniu profissionais de saúde e autoridades.

#cariripersonasgratas

eNtRega DO HOsPital RegiONal DO CaRiRi

O ministro da saúde Alexandre Padilha, o governador Cid gomes, os secretários estaduais Arruda bastos (saúde) e Camilo Santana (Cidades) na inauguração do HRC Ministro da saúde, Alexandre Padilha

governador Cid gomes apresenta as instalações ao ministro Padilha Ministro conversa com equipe do novo hospital

Primeira-dama e o governador Cid gomes

Estrutura garante atendimento a toda a região

Ministro Padilha e o prefeitode Juazeiro, Manoel Santana

Arnon e Elise bezerra, Arruda bastos e Valério Saheina do Hospital São Raimundo

FOTOS: NETA BUlHÕES

RAFAEl VIlAROUCA

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Moda é linguagem, expressão de comportamento, código para transmitir mensagens de um tempo, de uma estação, de um estado de espírito. Para comentar esse momento contemporâneo da moda que se faz no Brasil e no mundo, convidamos o consultor, professor e designer de moda mário Queiroz. Do mundo para o Cariri.

#caririestilo

A geração de adolescentes, em torno de 15 anos, apesar de ser muito ligada em marcas com visibilidade, valoriza o estilo próprio, preconizando tendências que se consolidarão quando forem adultos. Até que ponto ter um estilo próprio e não se-guir cegamente a moda pode prejudicar o consumo? “A moda caminha para a di-ferenciação cada vez maior atenden-do os diferentes estilos. O que deve acontecer é as empresas de moda se ocuparem cada vez mais da criativi-dade, buscando atender este público que valoriza o estilo e demonstrando que está cada vez mais antenada”, diz Mário Queiroz.

Em seu livro “O Herói Desmascarado – A Imagem do Homem na Moda” o desig-ner faz uma abordagem nova a respeito da moda, tratando-a como uma expressão de comportamento e até como linguagem. É um olhar específico. Mário conta que “o livro é o resultado do mestrado em comunicação e semiótica. A discus-são sobre o masculino me interessa porque dediquei mais de vinte anos de trabalho como designer a este setor. A intenção é tentar entender porque o homem do século XX foi tão ‘engessado’ em relação à moda e como neste novo XXI ainda sofre-mos com isto”.

Mário Queiroz atua na moda brasileira desde os anos 80. São destaques do seu trabalho a marca Vision Street Wear, a consultoria à Renner e à Avon. Especializou-se em moda masculina e hoje destaca-se com a marca que leva o seu nome e como pesquisador. Com uma trajetória intensa, no mercado e na academia, é hoje uma referência na criação, concepção e compreensão do universo da moda. Em si mesmo e em suas múltiplas conexões com outros universos.

CONEXÃO

Mário Queiroz cria a partir de referên-cias da cultura brasileira, sempre em sinto-nia com o contexto internacional. Avalia a convivência dos regionalismos brasileiros e da multiplicidade de culturas, que são a marca do Brasil, com a contemporaneida-de das megalópoles que ditam as tendên-cias, como Nova York, Milão,Tóquio, Paris e londres, refletindo que “através das mídias, principalmente a internet, recebemos as mesmas informações que todos os outros países do mun-do. Apesar de jovens e com muitos problemas econômicos nosso de-sign ganhou força, como nos países mais desenvolvidos, então é natural que pensemos a moda como inter-nacional. Ao mesmo tempo, quando

máRiO queiROZ

criamos, deixamos que nossa cul-tura brasileira se manifeste. Afinal é o nosso DNA”.

Pensando nos estilistas que atuam regionalmente, muitas vezes vivendo o dilema entre abandonar suas referências locais e partir para o mundo ou desconhe-cer o mundo, mantendo-se fiel às suas influências culturais, Mário Queiroz reflete que “primeiro precisamos entender que as referencias devem ser pon-to de partida e não interpretações literais. Acho importante um tema que fale de nossa cultura, especifi-camente, mas é importante a ‘tradu-ção’ para algo universal: que a pes-soa esteja bem vestida em qualquer lugar do mundo”.

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No Brasil, o processo de eman-cipação política dos povoados e sua transformação em mu-nicípios é basicamente igual.

Geralmente é assim: em dado momento, a comunidade percebe que o povoado cres-ceu e é chegada a hora de deixar de pagar impostos ao município-sede, pois o retorno social dos recursos remetidos nem sempre corresponde aos anseios da população. En-tão, alguém, não necessariamente um líder, se sente no direito de representar a coletivi-dade e convoca a população para desenca-dear o movimento de independência.

Com o povoado de Juazeiro foi desse mesmo jeito. Porém, a forma de desen-volvimento do processo foi diferente, daí porque a história da independência de Jua-zeiro é singular.

Em 1907 o povoado estava em franco desenvolvimento e pagando pesados im-postos ao Crato. Um cidadão filho da terra, chamado major Joaquim Bezerra de Me-nezes, rico fazendeiro, divulgou um boletim no qual convocava a população para uma reunião cívica em que a emancipação do po-voado era o principal tema da pauta.

A reunião foi um fiasco! Pouca gente compareceu. Alguém aventou a hipótese de que a população, embora desejosa de ver o povoado livre, estava dividida devido a divergências ideológicas e, por isso, vez por outra se desentendia. Na verdade, a população juazeirense, ontem como hoje, é formada por dois tipos de habitantes: os filhos da terra, chamados nativos, e os ad-ventícios, chamados genericamente de ro-

meiros, pois para aqui vieram atraídos pelas pregações de um padre, líder carismático autêntico, e pela crença num fato que todos acreditam como sendo milagre. Este fato, basicamente, consistiu no sangramento da hóstia na boca de uma beata quando a mes-ma comungava, além de outros fenômenos igualmente estranhos.

O filho da terra e rico fazendeiro, referido acima, conseguiu a adesão de dois destemi-dos adventícios para engrossar as fileiras do movimento: um padre cratense fugido de sua cidade por questões políticas com o prefeito (Padre Joaquim Marques de Alencar Peixoto) e um médico baiano (Dr. Floro Bartolomeu da Costa) com habilidade em advocacia, embora não fosse advogado formado, que para aqui veio se oferecer para resolver pen-dências jurídicas referentes a umas minas de cobre do padre que vivia no lugar, mas estava suspenso das ordens eclesiásticas, o líder carismático já citado. Por coincidência, os dois forasteiros também eram jornalistas.

Assim, melhor preparado, o grupo re-solveu fundar um jornal, cujo objetivo seria servir de ponta-de-lança do movimento de independência do povoado.

Mas, apesar de todo o empenho o empreendimento não crescia da forma desejada. Algumas razões impediam-no: o fazendeiro rico não se dava bem com o prefeito do município-sede e os adventícios chamados romeiros se achavam discrimina-dos pela população nativa.

Era preciso, então, o surgimento de um fato novo, porém forte o suficiente para es-quentar os ânimos da população e capaz

de deixar todos com os nervos à flor da pele, prontos para fazer valer a reivindica-ção tão justa.

E, por incrível que pareça, em vez de um apenas, surgiram três. Um atentado de morte contra o médico baiano; uma frase insultuosa ao povo juazeirense proferida no Crato durante uma visita pastoral do bispo auxiliar de Fortaleza, dom Manuel, por um padre da comitiva (Padre Tabosa) e, final-mente, a determinação desastrosa do pre-feito cratense (coronel Antônio luís Alves Pequeno) que ameaçou de forma ostensiva usar a força policial para receber os impos-tos atrasados que os contribuintes resolve-ram não pagar mais. A ordem do prefeito era severa: em caso de resistência, bala!

Pronto, estava criado o ambiente propí-cio para o líder carismático do lugar (Padre Cícero Romão Batista) agir. Ele até então se encontrava receoso, pois era adepto da política da boa vizinhança, e também não queria se indispor com o prefeito cratense, seu amigo, cujo pai havia contribuído de for-ma bastante efetiva para sua ordenação. E como se não bastasse, era ele próprio um cratense da gema.

A situação era dramática e clamava por uma decisão imediata, pois um conflito ar-mado estava prestes a ocorrer.

O líder carismático, o padre dos romeiros, estava num dilema: honrar sua naturalidade cratense ou defender a terra que adotou, optando, assim, pela cidadania juazeirense.

#caririespecial

JuaZeiRO CeNteNáRiOPor daniel Walker[escritor, morador e estudioso da história e da cultura de Juazeiro do Norte]

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Com a frase pronunciada em tom enérgi-co - “Sou filho do Crato, mas Juazeiro é meu filho” -, Padre Cícero desfraldou finalmente a bandeira de independência, e o povoado se tornou livre. Aqui o fato é contado em rápidas pinceladas, mas no livro História da indepen-dência de Juazeiro do Norte, ele é mostrado com riqueza de detalhes.

É importante ressaltar, porém, que ne-nhum povoado, no Brasil, teve um movimen-to de emancipação política como o de Jua-zeiro. Ele é singular por três motivos: não foi um movimento religioso, mas teve a partici-pação de dois padres - Cícero Romão Batis-ta e Alencar Peixoto. Começou com um líder e terminou com outro e fundou um jornal, O Rebate, para ser o porta-voz dos anseios de liberdade do povoado.

O POVOADO ANTESDA INDEPENDÊNCIA Em 1909 o povoado de Juazeiro já se en-contrava em franco desenvolvimento e não suportava mais pagar impostos ao municí-pio-sede, Crato, pois o retorno social desses tributos não correspondia aos anseios da população. Um documento apresentado à Assembleia legislativa do Ceará, existente nos arquivos do Padre Cícero em poder de seus herdeiros (Congregação Salesiana), em apoio ao pedido de autonomia municipal para Juazeiro, mostra uma radiografia fiel do estado do povoado aspirante à emancipa-ção política naquela época. Segundo esse documento, graças à ação do Padre Cícero o povoado já possuía uma farmácia, um mé-dico residente, um jornal, várias instituições religiosas, como o Apostolado da Oração, fundado diretamente por ele, um escritório de intercâmbio comercial com a capital e uma instituição civil para cuidar do engrande-cimento do lugar.

A zona rural de Juazeiro possuía 22 en-genhos de açúcar empenhados na produção de rapadura e subprodutos alcoólicos e cerca de 60 locais equipados para preparar farinha

de mandioca. Além do cultivo de arroz, feijão e milho, Juazeiro já se destacava na produ-ção de borracha de maniçoba e algodão. Foi Padre Cícero quem introduziu a borracha no Cariri, na primeira década do século XX. E graças ao seu empenho, o algodão, cuja cul-tura havia sido quase totalmente abandona-da, reapareceu entre 1908 e 1911. Ele chegou a comprar uma máquina de beneficiamento de algodão, movida a vapor. A borracha e o algodão foram os principais responsáveis pelo intercâmbio econômico de Juazeiro com o comércio exportador das grandes casas comerciais da capital cearense, espe-cialmente com a firma francesa Boris Frères e a companhia brasileira de Adolfo Barroso.

Mas o crescimento urbano do povoado foi ainda maior do que sua expansão agríco-la. A população do povoado era de 15.050 habitantes. A zona urbana compreendia 22 ruas e duas praças públicas iluminadas a querosene. No setor de serviços havia duas padarias, três barbearias, duas farmácias, quinze alfaiatarias, dezoito escolas particula-res e duas públicas, uma tipografia, uma es-tação de telégrafo, uma agência de correios, um tabelião e uma repartição da Coletoria de Impostos do Estado.

O comércio pulsava com a realização de uma feira semanal, todos os domingos, em frente à Igreja de Nossa Senhora das Dores. Existiam dez lojas de tecidos e artigos de ar-marinho, igual número de armazéns e cerca de 30 pequenas mercearias, bares e lojas de miudezas. Muitos dos comerciantes tinham imigrado para Juazeiro provenientes de pe-quenas cidades vizinhas e de outros Esta-dos. Mas a atividade econômica principal do povoado provinha de suas indústrias artesa-nais de onde saía uma grande e diversificada produção de produtos utilitários e decora-tivos, além de produtos religiosos. Tudo se desenvolveu tendo em vista atender às de-mandas de consumo em ascensão e como uma resposta oportuna à incapacidade das limitadas áreas rurais de Juazeiro em absor-

ver os imigrantes nas atividades agrícolas, de imediato, após a chegada. Chegando ao povoado, os romeiros, orientados pelo Padre Cícero, trabalhavam na manufatura de vários artigos de uso doméstico confeccionados com matéria-prima local: louças de barro, vasos, panelas, cutelaria, sapatos, objetos de couro, chapéus, esteiras de fibras vegetais, corda, barbante, sacos e outros receptáculos para estocar e expedir gêneros alimentícios. As habilidades manuais do povo e as neces-sidades do sertão levaram, eventualmente, à fabricação e exportação de instrumentos rurais típicos, tais como, enxadas, pás, facas, punhais, rifles, revólveres, balas e pólvora.

logo cedo, devido à grande procura de seus produtos, muitos artesãos saíram de suas casas e passaram a produzir em maior escala em oficinas amplas e equipadas de máquinas, localizando-se no centro da cidade para ficarem mais ao alcance dos clientes. Naquela época, o lugarejo possuía 40 mestres-de-obras, 8 ferrarias e 7 oficinas de latoeiro, 15 fogueteiros, 20 oficinas de sa-pateiro, 2 ourivesarias, 35 carpintarias e até mesmo uma fundição que produzia sinos de igreja, relógios de parede e de torre de igreja destinados à exportação no Nordeste.

Os reflexos do desenvolvimento do povoado estavam bem evidentes nos impostos arrecadados... principalmente para o Crato. Por isso, o desejo de se tornar independente nasceu.

JuAZEIrO NA ATuALIDADEO município de Juazeiro do Norte ocupa atualmente uma área de 249 km2. Pela última estimativa do IBGE (2009) a população resi-dente é de 249.829 habitantes.

A população de Juazeiro do Norte se concentra praticamente na zona urbana e é formada por pessoas procedentes de muitos Estados da Federação, sendo a grande maio-

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ria do Nordeste que para aqui vem como ro-meiros, atraídos pelo Padre Cícero, de quem são afilhados. O número de juazeirenses na-tos é inferior a 50% do total. Na zona rural moram menos de 10% da população total.

Juazeiro do Norte é uma das mais impor-tantes cidades do Nordeste. Foi a primeira cidade do interior cearense a ter shopping (mais dois estão em construção), emissora de rádio FM e canal de televisão. O parque industrial é representado por indústrias de sandálias de plástico e couro, bebidas, refri-gerantes, alumínio, alimentos, confecções, móveis, jóias, laticínios, etc. Seu polo calça-dista é um dos maiores da América latina. O movimentado comércio possui unidades de grandes cadeias de lojas nacionais e ata-cadões, mas ainda permanece muito forte a presença da economia informal, representa-da principalmente por empresas de fundo de quintal, vendedores autônomos e artesãos, cujos produtos, pela beleza artística que ostentam, são bastante apreciados. Aqui de tudo se vende.

Afora uma grande rede de ensino funda-mental e médio, Juazeiro do Norte se desta-ca atualmente por sediar o maior polo univer-sitário do interior cearense, com mais de 60 cursos superiores, entre os quais Medicina,

Odontologia, Engenharia, Administração, Fi-sioterapia, Direito, Enfermagem, Jornalismo, História, Educação Física, Serviço Social, Biomedicina, Psicologia e Filosofia. Juazeiro é também um grande celeiro de cultura geral e popular. Possui vários centros culturais, diversos grupos de danças, música e teatro, de onde têm saído nomes famosos, e publica anualmente dezenas de livros sobre os mais variados assuntos. Na literatura de Cordel e xilogravura é destaque nacional e internacio-nal, possuindo também grandes nomes nas artes plásticas.

No setor de saúde, Juazeiro dispõe de vários hospitais (inclusive um regional, inaugurado recentemente), clínicas médi-cas, laboratórios de diagnóstico por ima-gem dotados de modernos equipamentos, e profissionais atuando nas mais diversas especialidades.

No ramo das comunicações existem vá-rias estações de rádio AM e FM, dois canais de televisão e vários jornais, inclusive com circulação diária. O setor de transporte inter-liga a cidade com o Brasil e o mundo, através de ônibus e avião, e seu aeroporto regional é um dos mais movimentados do interior brasi-leiro. Recentemente foi inaugurado um metrô de superfície servindo à linha Juazeiro-Crato.

No segmento de turismo, Juazeiro é uma cidade com muitos atrativos, sendo, por isso visitada por romeiros e turistas do Brasil e do Exterior, numa média anual de dois milhões de pessoas. A rede hoteleira conta com bons hotéis e pousadas, além de dezenas de ranchos para hospedagem de romeiros. Eis algumas atrações turísticas: Serra do Horto, Monumento do Padre Cícero, Museu Vivo do Padre Cícero, Santo Sepulcro, Memorial Padre Cícero, Museu Padre Cícero, Basílica de Nossa Senhora das Dores, Casa dos Mi-lagres, Capela do Socorro, Santuário de São Francisco, Igreja do Sagrado Coração de Je-sus, luzeiro da Fé, Centro de Apoio aos Ro-meiros, Praça Padre Cícero e Mosteiro Nossa Senhora da Vitória (Monjas Beneditinas). A cidade de Juazeiro do Norte é conhecida nacionalmente como “A terra do Padre Cícero”. É uma cidade santuário. um dos maiores centros de romarias e turismo religioso do Brasil. A cidade cresce e se moderniza, mas não perde a sua identidade romeira tão decantada por seu fundador.

Oficina de espeditO seleirOOnde fica: Rua Monsenhor Tavares, 190Nova Olinda

cOmO chegar: Em Nova Olinda, todos os caminhos levam à oficina de Espedito Seleiro, basta perguntar!

Onde cOmer: Uma boa pedida é o restaurante da Fundação Casa Grande. Além de se deliciar com uma comidinha caseira, o freguês pode conhecer melhor esse belo projeto. Rua Jeremias Pereira, 444, Centro.Fone: 3546-1333

Onde ficar: A Fundação Casa Grande também oferece serviço de hospedagem. São quartos nas casas dos próprios meninos da fundação. O hóspede se sente em casa, tal o acolhimento com que é recebido.Rua Jeremias Pereira, 444, Centro.Fone: 3546-1333

cOntatO: www.espeditoseleiro.comFone: (88) 3546.1432Fone: (88) 9927.0402

BarBalhaOnde ficar: Barbalha fica a 610 km de Fortaleza e a 9 km de Juazeiro do Norte. O trajeto até a cidade é tranqüilo e agradável,

com extensos canaviais margeando a rodovia. O clima serrano torna a viagem ainda mais prazerosa.

Onde cOmer: Restaurante Restor Jardim Av. Leão Sampaio 5460 - Centro(88) 3532-1495

Restaurante Lá em CasaRua Vídeo, 24, Centro.(88)3532-1169

Restaurante Padre Cícero R Pinto Madeira 114 - Centro(88) 3532-0230

Onde ficar: Hotel das Fontes CaldasSituado dentro do complexo do Balneário do Caldas - Barbalha-CE(88) 3532-9066/ 3532-9104www.hoteldasfontescaldas.com.br

Imperial Palace HotelRodovia Juazeiro - Barbalha , Km 04 Fone: (88) 3532.0786 / Fax: (88) 3532.0735www.imperialpalacehotel.tur.br

pOr aí: Uma boa dica é ir a Barbalha sem marcar horário de retorno. Um passeio tranquilo pelas ruas de pedra ladeadas pelos imensos casarões é uma ótima maneira de conhecer e apreciar a arquitetura da cidade.www.barbalha.ce.gov.br

rOmaria de finadOsOnde: Juazeiro do Norte

QuandO: De 29 de outubroa 02 de novembro

nãO perca: A chegada dos paus-de-arara. São milhares de caminhões provenientes de todos os estados do Nordeste, trazendo os romeiros. Ao ver o imenso cortejo de caminhões com homens, mulheres e crianças abanando seus chapéus , o observador se sente transportado ao passado. Outro momento inesquecível é a bênção dos chapéus, na basílica menor de Nossa Senhora das Dores, no dia 02. Os romeiros portando chapéus, rosários e todo tipo de objetos, pedem a bênção de Padre Cícero e um retorno seguro a seus lares.

rOmaria de candeiasOnde: Juazeiro do Norte

QuandO: De 29 de janeiro a 02 de fevereiro

nãO perca: O espetáculo das luzes na procissão de Nossa Senhora das Candeias. Centenas de milhares de fiéis se reúnem na Capela do Socorro para em procissão, à luz de velas, encandeando toda Juazeiro do Norte.

Onde ficar em JuazeirO:Verde Vale Hotel Avenida Plácido Aderaldo Castelo - Lagoa Seca, Juazeiro do Norte Fone: (88) 3566-2544

Panorama HotelRua Santo Agostinho, 58, Juazeiro do Norte. Fone (11) 2244-7097Resort Pousada Recanto da LagoaRua Firmino A Sousa, 150 - Lagoa Seca, Juazeiro do NorteFone: (88) 3571-4122

festa de santO antôniOOnde: Barbalha.

QuandO: De 31 de maio à 12 de junho.

nãO perca: No dia 31, é o dia do Pau da Bandeira. É quando centenas de homens e mulheres carregam nas costas uma imensa tora de madeira, por toda a cidade, para servir de mastro a ser colocado em frente à Igreja Matriz. É o dia mais característico da festa. Imperdível!

hOráriO de funciOnamentO:De Terça a Sexta, das 13h às 22h. Fone: (88) 3512.2855 / Fax: (88) 3511.4582www.bnb.gov.br

chapadafiQue pOr dentrO:Geopark – Araripewww.geoparkararipe.org.br

Fundação Araripewww.fundacaoararipe.org.br

designpOr aí: Uma dica para se conhecer a diversidade do artesanato e do comércio de Juazeiro do Norte é visitar o Mercado Central. A diversão está em se perder em meio a suas galerias com uma infinidade de produtos a venda. Dezenas de box vendendo folheados e peças em ouro, por precinhos camaradas, são encontrados por lá.

Onde fica: Esquina da Rua São Pedro com a Rua Santa Luzia, Centro.

cinemaassista: Para ver alguns dos filmes citados basta acessar o youtube, alguns já estão à disposição.

VOOsJuazeiro do Norte possui um aeroporto com vôos regulares da Gol e da Avianca.

principais destinOs: gol: Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro - com conexões para os diversos destinos nacionais e internacionais operados pela cia. avianca: Brasília, Fortaleza, Porto Alegre, São Paulo (Guarulhos) - com conexões para os diversos destinos operados pela cia.

aerOpOrtO dO cariri : Av. Virgílio Távora, 4000 - Juazeiro do Norte Fone: (88) 3572-0700

empresa de taxi aéreO: Fone: (85) 3572-1397

principais agências de ôniBus:empresa gontijo de transportes ltda Fone: (88) 3571-2857 empresa lobo transportes coletivos ltda Fone: (88) 3572-1571empresa Viação itapemirim s/a Fone: (88) 3571-1177expresso açailândia ltda Fone: (88) 3571-3311expresso guanabara PABX: (88) 3571-2143

#CaRiRi ENDEREçOS E tELEFONES

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leve Peso

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séRie FOtOgRáFiCa DO aRtista visual aDRiaNO BRitO

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