dos crimes de trânsito

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  • 7/27/2019 Dos crimes de Trnsito

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    DOS CRIMES DE TRNSITO- CAPTULO XIX DA LEI 9.503/97

    DISPOSIES GERAIS

    De acordo com o disposto no artigo 291 do CTB, aos crimes cometidos

    na direo de veculos automotores, previstos neste Cdigo, aplicam-se as

    normas gerais do Cdigo Penal e do Cdigo de Processo Penal, se este

    captulo no dispuser do modo diverso, bem como a Lei 9.099/95, no que

    couber.

    No 1, elenca situaes em que na leso corporal culposa no

    incidiro alguns artigos da lei 9.99/95, os da composio civil, da transao

    penal e da representao penal, tornando-a incondicionada.

    1o Aplica-se aos crimes de trnsito de leso corporal culposa odisposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de1995, exceto se o agente estiver:I - sob a influncia de lcool ou qualquer outra substncia psicoativaque determine dependncia;II - participando, em via pblica, de corrida, disputa ou competioautomobilstica, de exibio ou demonstrao de percia em manobrade veculo automotor, no autorizada pela autoridade competente;III - transitando em velocidade superior mxima permitida para a via

    em 50 km/h (cinquenta quilmetros por hora). 2o Nas hipteses previstas no 1o deste artigo, dever serinstaurado inqurito policial para a investigao da infrao penal.

    Art. 292. A suspenso ou a proibio de se obter a permisso ou ahabilitao para dirigir veculo automotor pode ser imposta comopenalidade principal, isolada ou cumulativamente com outraspenalidades.

    Art. 293. A penalidade de suspenso ou de proibio de se obter apermisso ou a habilitao, para dirigir veculo automotor, tem adurao de dois meses a cinco anos. 1 Transitada em julgado a sentena condenatria, o ru ser

    intimado a entregar autoridade judiciria, em quarenta e oito horas,a Permisso para Dirigir ou a Carteira de Habilitao. 2 A penalidade de suspenso ou de proibio de se obter apermisso ou a habilitao para dirigir veculo automotor no se iniciaenquanto o sentenciado, por efeito de condenao penal, estiverrecolhido a estabelecimento prisional.

    Art. 294. Em qualquer fase da investigao ou da ao penal,havendo necessidade para a garantia da ordem pblica, poder ojuiz, como medida cautelar, de ofcio, ou a requerimento do MinistrioPblico ou ainda mediante representao da autoridade policial,decretar, em deciso motivada, a suspenso da permisso ou dahabilitao para dirigir veculo automotor, ou a proibio de suaobteno.

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm#art74http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm#art76http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm#art88http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm#art88http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm#art88http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm#art88http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm#art74http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm#art76http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm#art88http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm#art88
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    Pargrafo nico. Da deciso que decretar a suspenso ou a medidacautelar, ou da que indeferir o requerimento do Ministrio Pblico,caber recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo.

    Art. 295. A suspenso para dirigir veculo automotor ou a proibio dese obter a permisso ou a habilitao ser sempre comunicada pela

    autoridade judiciria ao Conselho Nacional de Trnsito - CONTRAN,e ao rgo de trnsito do Estado em que o indiciado ou ru fordomiciliado ou residente.

    Art. 296 do CTB. Se o ru for reincidente na prtica de crimeprevisto neste Cdigo, o juiz aplicar a penalidade de suspenso dapermisso ou habilitao para dirigir veculo automotor, sem prejuzodas demais sanes penais cabveis.

    A penalidade de suspenso da permisso ou habilitao para dirigir

    veculo automotor, no consta de todos os crimes de trnsito. Com a previsodeste artigo, a partir da alterao do texto legal, em 2008, em sendo o ru

    reincidente na prtica destes crimes, o Juiz dever lhe aplicar tal penalidade,

    sem prejuzo das demais sanes penais tipificadas em cada artigo da seo II

    deste captulo. No texto anterior, o Juiz tinha a discricionariedade em poder

    aplicar.

    Art. 297 CTB. A penalidade de multa reparatria consiste nopagamento, mediante depsito judicial em favor da vtima, ou seussucessores, de quantia calculada com base no disposto no 1 doartigo 49 do Cdigo Penal, sempre que houver prejuzo materialresultante do crime.

    Art. 49 1 do CP. O valor do dia-multa ser fixado pelo Juiz nopodendo ser inferior a um trigsimo do maior salrio mnimo mensalvigente ao tempo do fato, nem superior a 5 vezes esse salrio.1 Art. 297. A multa reparatria no poder ser superior ao valor doprejuzo demonstrado no processo.2 Aplica-se multa reparatria o disposto nos arts. 50 a 52 do CP.

    Art. 50 do CP. A multa deve ser paga dentro de 10 dias depois detransitada em julgado a sentena. A requerimento do condenado, econforme as circunstncias, o Juiz pode permitir que o pagamento serealize em parcelas mensais. 1 A cobrana da multa pode efetuar-se mediante desconto no vencimento ou salrio do condenadoquando: a) aplicada isoladamente; b) aplicada cumulativamente compena restritiva de direitos; c) concedida a suspenso condicional dapena. 2 O desconto no deve incidir sobre os recursosindispensveis ao sustento do condenado e de sua famlia.

    Art. 51 do CP: Transitada em julgado a sentena condenatria, amulta ser considerada dvida ativa da Fazenda Pblica, inclusive noque concerne s causa interruptivas e suspensivas da prescrio.

    Art. 52 do CP: suspensa a execuo da pena de multa se

    sobrevm ao condenado doena mental.

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    3 Art. 297 do CTB: Na indenizao civil do dano, o valor da multareparatria ser descontado.

    H de se registrar que a multa reparatria no exclui a multa penal, eis

    que seus destinatrios so diversos. A multa reparatria tem como destinatrio

    a vtima ou seus sucessores e a multa penal, o Estado.

    Art. 298 do CTB. So circunstncias que sempre agravam aspenalidades dos crimes de trnsito ter o condutor do veculo cometidoa infrao:I- com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com granderisco de grave dano patrimonial a terceiros;II- utilizando o veculo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;III- sem possuir Permisso para Dirigir ou Carteira de Habilitao;IV- com Permisso para Dirigir ou Carteira de Habilitao decategoria diferente da do veculo;

    V- quando a sua profisso ou atividade exigir cuidados especiais como transporte de passageiros ou de carga;VI- utilizando veculo em que tenham sido adulterados equipamentosou caractersticas que afetem a sua segurana ou o seufuncionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos nasespecificaes do fabricante;VII- sobre faixa de trnsito temporria ou permanente destinada apedestres.

    As sete situaes previstas nos incisos sempre iro agravar as

    penalidades dos crimes de trnsito, exceo de quando tambm estiverem

    previstas como qualificadoras do crime, de acordo com o artigo 61 do CP, sob

    pena de violao ao princpio non bis in idem.

    Princpio da confiana

    Este princpio de extrema importncia para a anlise concreta dos

    crimes de trnsito. Com efeito, trata-se de requisito para a existncia do fato

    tpico, no devendo ser relegado para o exame da culpabilidade. Funda-se na

    premissa de que todos devem esperar por parte das outras pessoas que estas

    sejam responsveis e ajam de acordo com as normas da sociedade, visando a

    evitar danos a terceiros. Por essa razo, consiste na realizao da conduta, na

    confiana de que o outro atuar de modo normal, j esperado, baseando-se na

    justa expectativa de que o comportamento das outras pessoas se dar de

    acordo com o que normalmente acontece. Por exemplo: nas intervenes

    mdico cirrgicas, o cirurgio tem de confiar na assistncia correta que

    costuma receber dos seus auxiliares, de maneira que, se a enfermeira lhe

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    passa uma injeo com medicamento trocado e, em face disso, o paciente vem

    a falecer, no haver conduta culposa por parte do mdico, pois no foi sua

    ao, nas sim de sua auxiliar, que violou o dever objetivo de cuidado. O mdico

    ministrou a droga fatal impelido pela natural e esperada confiana depositada

    em sua funcionria. Outro exemplo o do motorista que, trafegando pela

    preferencial, passa por cruzamento, na confiana de que o veculo da via

    secundria aguardar sua passagem. No caso de um acidente, no ter agido

    com culpa.

    Assim, no realiza conduta tpica, aquele que, agindo de acordo com o

    direito, acaba por envolver-se em situao em que um terceiro descumpriu seu

    dever de cuidado e de lealdade. Porm, o princpio da confiana no se aplica

    quando era funo do agente compensar eventual comportamento defeituoso

    de terceiros. Por exemplo: motorista que passa bem ao lado de um ciclista no

    tem porque esperar uma sbita guinada deste em sua direo, mas deveria ter-

    se acautelado para no passar to prximo, a ponto de criar uma situao de

    perigo, chamado abuso da situao de confiana. Desse modo, surge a

    confiana permitida, que aquela que decorre do normal desempenho das

    atividades sociais, e a confiana proibida, quando o autor no deveria ter

    depositado no outro toda a expectativa, agindo no limite do que lhe era

    permitido.

    DOS CRIMES EM ESPCIE

    1. HOMICDIO CULPOSO ARTIGO 302 DO CTB.

    Art. 302 CTB. Praticar homicdio culposo na direo de veculoautomotor. Penas: deteno, de 2 a 4 anos e suspenso ou proibio

    de se obter a permisso ou a habilitao para dirigir veculoautomotor.

    crime que especializa em relao figura anloga ao CP, mas com

    pena mais severa.

    As penas cominadas ao tipo (PPL e PRD) so cumulativas. A pena

    restritiva de direitos tem durao de 2 meses a 5 anos. Suspenso direito de

    dirigir: essa suspenso pode se dar por: pena, efeito da condenao e por

    medida cautelar.

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    Este crime no exige para a consumao, que o condutor esteja

    conduzindo o veculo em via pblica. O que se exige que o condutor esteja

    direo do veculo, e venha a agir com culpa.

    Tipo objetivo:

    Prev o artigo em estudo a conduta de praticar homicdio culposo na

    direo de veculo automotor. A tcnica legislativa empregada pelo legislador

    para descrever a conduta tpica no foi apropriada. Melhor seria se ele tivesse

    descrito: Matar algum culposamente na direo de veculo automotor.

    O tipo fere o princpio da taxatividade, na medida que no descreve a

    conduta, limitando-se a fazer referncia a outra figura tpica.

    Ao fazer referncia ao homicdio culposo o tipo classificado com tipo

    remetido.

    O crime de homicdio culposo um tipo penal aberto em que se faz a

    indicao pura e simples da modalidade culposa, sem fazer meno conduta

    tpica (embora ela exista) ou ao ncleo do tipo (CP, art.18 II). A culpa no est

    descrita nem especificada, mas apenas prevista genericamente no tipo, isso

    porque impossvel prever todos os modos em que a culpa pode apresentar-

    se na produo do resultado morte. O Cdigo Penal, assim, no define a culpa,

    mas o seu art. 18 II, traz as suas diversas modalidades, quais sejam: a

    imprudncia, a negligncia e a impercia. O homicdio culposo nos crimes de

    trnsito deve ser analisado em combinao com esse dispositivo legal.

    Estaremos ento diante de um homicdio culposo sempre que o evento morte

    decorrer da quebra do dever de cuidado por parte do agente mediante conduta

    imperita, negligente ou imprudente, cujas consequncias do ato descuidado,

    que eram previsveis, no foram previstas pelo agente, ou, se foram, ele no

    assumiu o risco do resultado.Imprudncia: consiste na violao das regras de conduta ensinadas pela

    experincia. atuar sem precauo, precipitado, imponderado. H sempre um

    comportamento positivo. Ex: trafegar na contramo, realizar ultrapassagem

    proibida com veculo automotor, dirigir em velocidade excessiva em local

    movimentado. assim, a prtica de um fato perigoso.

    Negligncia: a culpa na forma omissiva. Implica, pois a absteno de um

    comportamento que era devido. O negligente deixa de tomar, antes de agir, ascautelas que devia. Desse modo, ao contrrio da imprudncia, que ocorre

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    durante a ao, a negligncia d-se sempre antes do incio da conduta. Por

    exemplo, a falta de manuteno do freio ou de outros mecanismos de

    segurana do automvel.

    Impercia: a falta de aptido para a realizao de certa conduta. a prtica

    de certa atividade, de modo omissivo ou insensato, por algum incapacitado

    para tanto, quer pela ausncia de conhecimento, quer pela falta de prtica. A

    jurisprudncia reconhece existir impercia quando o motorista perde o controle

    do automvel e provoca acidente, sem que tenha havido excesso de

    velocidade ou qualquer outro motivo que justifique o evento.

    Podemos definir o crime culposo como a conduta humana voluntria que

    provoca de forma no intencional um resultado tpico e antijurdico, que era

    previsvel e que poderia ter sido evitado se o agente no tivesse agido com

    imprudncia, negligncia ou impercia. (Capez)

    Veja-se que a caracterizao da culpa nos delitos de trnsito provm,

    inicialmente, do desrespeito s normas disciplinares contidas no prprio CTB.

    Essas condutas, entretanto, no constituem as nicas hipteses de

    reconhecimento do crime culposo, pois o agente, ainda que no desrespeite as

    regras disciplinares do Cdigo, pode agir com inobservncia do cuidado

    necessrio e, assim, responder pelo crime. A ultrapassagem, por exemplo, se

    feita em local permitido, no configura infrao administrativa, mas, se for

    efetuada sem a necessria ateno, pode dar causa a acidente e implicar

    crime culposo.

    A existncia de culpa exclusiva da vtima afasta a responsabilizao do

    condutor, pois, se ela foi exclusiva de um, porque no houve culpa alguma do

    outro; logo, se no h culpa do agente, no se pode falar em compensao.

    Por exemplo: indivduo que trafegava normalmente com seu veculo automotor,dentro da velocidade permitida, cuja sinalizao do semforo lhe era favorvel,

    e acabou por atropelar um pedestre que atravessava correndo a avenida fora

    da faixa de pedestre. Nesse caso, a culpa exclusiva do pedestre, no

    podendo o motorista ser responsabilizado pelo delito, j que as culpas no se

    compensam. Alis, quando dois motoristas agem com imprudncia, dando

    causa, cada qual, a leses no outro, respondem ambos pelo crime, pois, no

    existe compensao de culpas em direito penal. Por sua vez, quando a soma

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    das condutas de dois condutores provoca a morte de terceiro, existe a

    chamada culpa concorrente, em que ambos respondem pelo crime.

    Sujeitos do crime:

    O sujeito ativo ser o condutor, e o sujeito passivo, qualquer pessoa.

    Concurso

    Quando o crime resultar em mais de uma vtima, incidir a regra do

    concurso formal, com aumento da pena de um sexto at a metade, nos termos

    do artigo 70 do CP.

    Tentativa:

    No se admite a tentativa de praticar esse crime, se o agente desejou,

    ou com sua atitude admitiu a possibilidade da ocorrncia do evento morte, ter

    cometido o crime de homicdio do CP. Se doloso, o criminoso ser levado a

    Jri Popular, a fim de que se julgue se o acusado matou propositalmente uma

    pessoa utilizando de automvel.

    Culpa consciente ou dolo eventual?

    Em situaes em que o agente, embriagado, conduz veculo

    automotor, e d causa morte de outrem, sempre se discutiu qual o elemento

    subjetivo que informaria sua conduta, isto , se agiria com culpa consciente ou

    dolo eventual.

    Em muitos casos de homicdio no trnsito, em que o condutor estava

    embriagado, ou em excesso de velocidade ou em decorrncia de racha, osdelegados de polcia tm concludo pela tipificao do homicdio doloso (dolo

    eventual) e muitos promotores de justia tm seguido a mesma linha de

    conduta.

    Via de regra, os delitos praticados na conduo de veculo automotor

    so culposos. Assim, no homicdio culposo, o evento morte decorre da quebra

    do dever de cuidado por parte do agente mediante conduta imperita, negligente

    ou imprudente, cujas consequncias do ato descuidado, que eram previsveis,no foram previstas pelo agente, ou, e foram, ele no assumiu o risco do

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    resultado. Geralmente resta, assim, caracterizada a culpa consciente ou com

    previso que aquela em que o agente prev o resultado, embora no o

    aceite. Consigne-se que no se admite responsabilidade objetiva, no tendo

    sido comprovada a imprudncia, negligncia ou impercia. No pode dizer que,

    em caso de acidente com vtima, o motorista seja presumidamente culpado.

    De qualquer modo, j decidiu o STJ no sentido de que, a pronncia do

    ru, em ateno ao brocardo in dbio pro societate, exige a presena de

    contexto que possa gerar dvida a respeito da existncia de dolo eventual.

    Inexistente qualquer elemento mnimo a apontar para a prtica de homicdio,

    em acidente de trnsito, na modalidade dolo eventual, impe-se a

    desclassificao da conduta para a forma culposa. (STJ, 6 Turma, REsp

    705.416/SC, Rel. Min. Paulo Medina, j. 23-05-2006, DJ, 20-8-2007, p.311.)

    Vide ementa do STF, julgado em 2011:

    Ementa: PENAL. HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JRI.PRONNCIA POR HOMICDIO QUALIFICADO A TTULO DE DOLOEVENTUAL. DESCLASSIFICAO PARA HOMICDIO CULPOSONA DIREO DE VECULO AUTOMOTOR. EMBRIAGUEZALCOLICA. ACTIO LIBERA IN CAUSA. AUSNCIA DECOMPROVAO DO ELEMENTO VOLITIVO. REVALORAO DOS

    FATOS QUE NO SE CONFUNDE COM REVOLVIMENTO DOCONJUNTO FTICO-PROBATRIO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Aclassificao do delito como doloso, implicando pena sobremodoonerosa e influindo na liberdade de ir e vir, merc de alterar oprocedimento da persecuo penal em leso clusula do dueprocess of law, reformvel pela via do habeas corpus. 2. Ohomicdio na forma culposa na direo de veculo automotor (art. 302,caput, do CTB) prevalece se a capitulao atribuda ao fato comohomicdio doloso decorre de mera presuno ante a embriaguezalcolica eventual. 3. A embriaguez alcolica que conduz responsabilizao a ttulo doloso apenas a preordenada,

    comprovando-se que o agente se embebedou para praticar o ilcito ouassumir o risco de produzi-lo. 4. In casu, do exame da descrio dosfatos empregada nas razes de decidir da sentena e do acrdo doTJ/SP, no restou demonstrado que o paciente tenha ingeridobebidas alcolicas no af de produzir o resultado morte. 5. A doutrinaclssica revela a virtude da sua justeza ao asseverar que Oanteprojeto Hungria e os modelos em que se inspirava resolviammuito melhor o assunto. O art. 31 e 1 e 2 estabeleciam: 'Aembriaguez pelo lcool ou substncia de efeitos anlogos, aindaquando completa, no exclui a responsabilidade, salvo quandofortuita ou involuntria. 1. Se a embriaguez foi intencionalmenteprocurada para a prtica do crime, o agente punvel a ttulo de dolo; 2. Se, embora no preordenada, a embriaguez voluntria ecompleta e o agente previu e podia prever que, em tal estado, poderia

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    vir a cometer crime, a pena aplicvel a ttulo de culpa, se a estettulo punvel o fato. (Guilherme Souza Nucci, Cdigo PenalComentado, 5. ed. rev. atual. e ampl. - So Paulo: RT, 2005, p. 243)6. A revalorao jurdica dos fatos postos nas instncias inferioresno se confunde com o revolvimento do conjunto ftico-probatrio.Precedentes: HC 96.820/SP, rel. Min. Luiz Fux, j. 28/6/2011; RE99.590, Rel. Min. Alfredo Buzaid, DJ de 6/4/1984; RE 122.011, relatoro Ministro Moreira Alves, DJ de 17/8/1990. 7. A Lei n 11.275/06 nose aplica ao caso em exame, porquanto no se revela lex mitior, mas,ao revs, previu causa de aumento de pena para o crime sub judice eem tese praticado, configurado como homicdio culposo na direo deveculo automotor (art. 302, caput, do CTB). 8. Concesso da ordempara desclassificar a conduta imputada ao paciente para homicdioculposo na direo de veculo automotor (art. 302, caput, do CTB),determinando a remessa dos autos Vara Criminal da Comarca deGuariba/SP. (STF, 1Turma,HC 107801 / SP - So Paulo - HabeasCorpus, Relator(a): Min. Crmen Lcia, Relator(a) p/ Acrdo:

    Min. Luiz Fux, Julgamento: 06/09/2011).

    No entanto, caber ao julgador avaliar as circunstncias concretas, a fim

    de delimitar o elemento subjetivo.

    Ao Penal:

    A ao penal pblica incondicionada.

    Casos de aumento de pena:

    H quatro situaes que majoram a pena, sendo de um tero metade.

    Desta forma a pena mxima a ser aplicada ao homicdio culposo, poder ser

    de 6 anos. No poder, entretanto, ao reconhecer mais de uma das causas de

    aumento, aplicar duas elevaes autnomas, uma vez que o art. 68, pargrafo

    nico, do CP veda tal atitude.

    Pargrafo nico, artigo 302 CTB. No homicdio culposo cometido na direo deveculo automotor, a pena ser aumentada de um tero metade, se o agente:

    I- no possuir Permisso para Dirigir ou Carteira de Habilitao; Neste caso,

    no poder ser reconhecido o crime autnomo de dirigir veculo na via pblica

    sem permisso ou habilitao (art. 309);

    II- pratic-lo em faixa de pedestre ou na calada; Pode ser tanto, o motorista

    que perde o controle e adentra na calada, vindo atingir a vtima, como quando

    estiver saindo da garagem ou efetuando qualquer outra manobra e acaba por

    colher o pedestre.

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    III- deixar de prestar socorro, quando possvel faz-lo sem risco pessoal,

    vtima do acidente; O instituto no ser aplicado se a vtima for, de imediato,

    socorrida por terceira pessoa.

    IV- no exerccio de sua profisso ou atividade, estiver conduzindo veculo de

    transporte de passageiros. O instituto no deixar de ser aplicado mesmo que

    o veculo de transporte de passageiros esteja vazio ou quando est sendo

    conduzido at a empresa aps o trmino da jornada.

    2- LESO CORPORAL CULPOSA ART. 303 CTB.

    Art. 303 CTB. Praticar leso corporal culposa na direode veculo automotor.

    Penas - deteno, de seis meses a dois anos e suspenso ouproibio de se obter a permisso ou a habilitao para dirigir veculoautomotor.Pargrafo nico. Aumenta-se a pena de um tero metade, seocorrer qualquer das hipteses do pargrafo nico do artigo anterior.

    Mais uma vez a tcnica legislativa empregada pelo legislador para

    descrever a conduta tpica no foi apropriada. A leso corporal consiste em

    qualquer dano ocasionado integridade fsica e sade fisiolgica ou mental

    do homem. Estaremos diante de uma leso corporal culposa sempre que oevento decorrer da quebra do dever de cuidado por parte do agente por meio

    de conduta imperita, negligente ou imprudente, cujas consequncias do ato

    descuidado, que eram previsveis, no foram previstas pelo agente, ou, se

    formam, ele no assumiu o risco do resultado. (Capez)

    No crime de leses culposas continua a no existir diferenciao em

    face da gravidade das leses para fim de tipificao da infrao penal. Assim,

    aquele que, em acidente de trnsito, culposamente provocou um pequeno

    machucado no brao da vtima dever sujeitar-se s mesmas penas de quem

    deu causa imputao de um brao. Deve a gravidade ser considerada como

    circunstncia judicial no momento da fixao da pena-base (consequncias do

    crime).

    As demais regras referentes ao homicdio culposo aplicam-se s leses

    culposas, e tambm no necessrio que este crime seja praticado em via

    pblica. necessrio resaltar, entretanto, que a ao penal depende de

    representao nos termos do art. 88 da Lei 9.099/95. Excepcione-se que, nas

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    hipteses do 1 do artigo 291, com redao determinada pela lei

    11.705/2008, a ao penal ser pblica incondicionada.

    A lei 11.705 de 2008 alterou o 1, artigo 291:

    Art. 291 1 Aplica-se aos crimes de trnsito de leso corporalculposa o disposto nos art. 74, 76 e 88 da Lei 9.099/95, exceto se oagente estiver:I- Sob a influncia de lcool ou qualquer outra substncia psicoativaque determine dependncia;II-Participando, em via pblica, de corrida, disputa ou competioautomobilistica, de exibio ou demonstrao de percia em manobrade veculo automotor, no autorizada pela autoridade competente;III-Transitando em velocidade superior mxima permitida para a viaem 50 km/h (cinquenta quilmetros por hora).

    Desse modo, em tais situaes, a ao penal ser pblica incondicionada,

    no sendo cabveis os benefcios contemplados nos artigos 74 e 76 da Lei

    9.099/95:

    Art. 74. Lei 9.099/95: a composio dos danos civis ser reduzida aescrito e, homologada pelo Juiz mediante sentena irrecorrvel, tereficcia de ttulo a ser executado no juzo civil competente. Pargrafonico. Tratando-se de ao penal de iniciativa privada ou de aopenal pblica condicionada representao, o acordo homologadoacarreta a renncia do direito de queixa ou representao.

    Art. 76. Lei 9.099/95. Havendo representao ou tratando-se de

    crime de ao penal pblica incondicionada, no sendo caso dearquivamento, o Ministrio Pblico poder propor a aplicaoimediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificadana proposta. 1 Nas hipteses de ser a pena de multa a nicaaplicvel, o juiz poder reduzi-la a metade. 2 No se admitir aproposta se ficar comprovado: I- ter sido o autor da infraocondenado, pela prtica de crime, pena privativa de liberdade, porsentena definitiva; II- ter sido o agente beneficiado anteriormente, noprazo de 5 anos, pela aplicao de pena restritiva ou multa, nostermos deste artigo; III- no indicarem os antecedentes, a condutasocial e a personalidade do agente, bem como os motivos e ascircunstncias, ser necessria e suficiente a adoo da medida. 3Aceita a proposta pelo autor da infrao e seu defensor, ser

    submetida apreciao do juiz. 4 Acolhendo a proposta doMinistrio Pblico aceita pelo o autor da infrao, o juiz aplicar apena restritiva de direitos ou multa, que no importar emreincidncia, sendo registrada apenas para impedir novamente omesmo benefcio no prazo de cinco anos. 5 Da sentena previstano pargrafo anterior caber a apelao referida no art. 82 desta lei.6 A imposio da sano de que trata o 4 deste artigo noconstar de certido de antecedentes criminais, salvo para os finsprevistos no mesmo dispositivo e no ter efeitos civis, cabeno aosinteressados propor ao cabvel no juzo civel.

    Art. 88. Lei 9.099/95. Alm da hipteses do Cdigo Penal elegislao especial, depender de representao a ao penal

    relativa aos crimes de leses corporais leves e culposas.

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    Assim, conforme o 2 do artigo 291 do CTB, embora o artigo 303 do

    CTB continue a ser um delito de menor potencial ofensivo, em razo de sua

    pena no exceder a dois anos, em razo deste pargrafo, o autor no poder

    simplesmente comprometer-se a comparecer junto ao Juizado Especial

    Criminal em data e hora designados, mas sim, dever o condutor ser preso e

    apresentado Autoridade Policial, sempre que encontrar-se em situao de

    flagrante delito, no tenha providenciado o pronto e integral socorro vtima,

    nos termos do art. 301 do CB e as circunstncias do momento assim

    possibilitarem.

    2 art. 291 CTB: Nas hiptese previstas no 1 deste artigo, dever ser

    instaurado inqurito policial para a investigao da infrao penal.

    Reflexos da lei seca:

    REGRA SE: (*)

    Procedimento policial TC I.P

    Ao penal pblica Condicionadarepresentao

    Incondicionada

    Composio danos civis Admite No admite

    Transao penal Admite No admite

    (*): Se: - Embriaguez

    - Racha

    - Velocidade acima 50 km do previsto.

    Consumao e tentativa:A consumao ocorre no momento em que a vtima morre ou sofre as

    leses corporais. Tratando-se de crime material, a materialidade delitiva ser

    comprovada mediante exame de corpo de delito direto ou indireto (CPP,

    arts.156 e 167). No existe tentativa nos crimes culposos prprios.

    Perdo Judicial:

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    No menciona a nova legislao a possibilidade de perdo judicial para

    hipteses em que as circunstncias do delito atinjam o agente de forma to

    grave que a imposio da penalidade se torne desnecessria (morte de

    cnjuge ou parente prximo, graves leses no prprio autor do crime, etc.).

    Mas, o Superior Tribunal de Justia j decidiu pela possibilidade de aplicao

    do perdo judicial nos delitos de trnsito.

    Reparao do dano:

    Em relao ao homicdio culposo tem-se admitido a aplicao do

    instituto do arrependimento posterior previsto no art. 16 do CP, que permite a

    reduo da pena de 1/3 a 2/3 nos crimes cometidos sem violncia ou grave

    ameaa quando a reparao do dano feita antes do recebimento da

    denncia. Entende-se que no homicdio culposo, por ser involuntria a

    violncia, no fica afastada a possibilidade de incidncia dessa causa de

    diminuio de pena.

    Existem vrias opinies acerca do critrio a ser utilizado para apurar o

    quantum da reduo. Damsio de Jesus, por exemplo, sustenta que se deve

    levar em conta a presteza da reparao do dano, ou seja, quanto mais rpida a

    conduta reparadora, maior a diminuio da pena. De outro lado, Heleno

    Cludio Fragoso entende que a reduo deve manter relao de

    proporcionalidade com o quantum da reparao prestada.

    Para Fernando Capez, o melhor critrio o primeiro, uma vez que

    entende que incabvel a aplicao do instituto quando a reparao no

    integral.

    Por outro lado, a reparao do dano, antes do recebimento da denncia,

    no crime de leso culposa implica renncia ao direito de representao (art. 74da Lei 9.099/95). Ressalta-se que, no caso do crime de leso corporal culposa,

    praticada nas condies do 1 do artigo 291, com a redao determinada pela

    lei n 11.705/2008, no h que se falar em renncia ao direito de

    representao, por sujeitar-se ao penal publica incondicionada.

    Em ambos os crimes, entretanto, se a reparao do dano ocorre aps o

    recebimento da denncia e antes da sentena de primeira instncia, aplica-se a

    atenuante genrica do art. 65, III, c, do CP.Concurso de crimes e absoro

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    H que ressaltar que a lei 9.099/95 criou diversos crimes que se

    caracterizam por uma situao de perigo (dano potencial) e que ficaro

    absorvidos quando ocorrer o dano efetivo (leses corporais ou homicdio

    culposo na direo de veculo automotor). Haver, entretanto, concurso

    material quando as condutas ocorrerem em contextos fticos distintos, como

    acontece, por exemplo, quando o condutor, em razo de sua embriaguez,

    expe pessoas a perigo em determinado momento e, posteriormente, em outro

    local, provoca leses corporais culposas em pessoas diversas.

    O artigo 70 do Cdigo Penal, que trata do concurso formal de crimes,

    aplica-se ao Cdigo de Trnsito de tal modo que, havendo mais de uma vtima,

    o juiz aplica uma nica pena, acrescida de 1/6 at a metade. O concurso formal

    pode ser homogneo (morte e leso em pessoas distintas). No ltimo caso,

    ser aplicada a pena do homicdio culposo (crime mais grave), aumentada de

    1/6 at a metade.

    Concurso de pessoas em crime culposo

    Discute-se na doutrina e na jurisprudncia acerca da possibilidade da

    participao em crime culposo. H duas posies. Vejamos:

    a) Tratando-se o tipo culposo de tipo aberto, em que no existe

    descrio de conduta principal, dada a generalidade de sua definio, mas to

    somente previso genrica (se o crime culposo...), no h falar em

    participao, que acessria. Desse modo, toda concorrncia culposa para o

    resultado constituir crime autnomo. Exemplo: motorista imprudente

    instigado, por seu acompanhante, a desenvolver velocidade incompatvel com

    o local, vindo a atropelar e matar uma pessoa. Ambos sero autores de

    homicdio culposo, no se podendo falar em participao, uma vez que, dada anatureza do tipo legal, fica impossvel detectar qual foi a conduta principal.

    b) Mesmo no tipo culposo, que aberto, possvel definir qual a

    conduta principal. No caso do homicdio culposso, por exemplo, a descrio

    tpica matar algum culposamente, logo, quem matou o autor e quem

    auxiliou, instigou ou induziu conduta culposa partcipe. Na hiptese acima

    ventilada, quem estava conduzindo o veculo o principal responsvel pela

    morte, pois foi quem, na verdade, matou a vtima. O acompanhante no matouningum, at porque no estava dirigindo o automvel. Por essa razo,

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    possvel apontar uma conduta principal (autoria) e outra acessria

    (participao). Assim, mesmo possvel coautoria e participao em crime

    culposo.

    Casos de aumento de pena

    Os mesmos do homicdio culposo, artigos 302, pargrafo nico e 303,

    pargrafo nico.

    Leso Corporal culposa e princpio da insignificncia

    Aplica-se o princpio da insignificncia ao delito de leso corporal

    sempre que a ofensa integridade fsica ou sade da vtima for considerada

    mnima, inexpressiva, de modo que se mostre irrelevante para o direito penal.

    Os tribunais superiores tem admitido a incidncia do princpio da insignificncia

    no delito de leso corporal, em especial quando produzidas equimoses de

    absoluta inexpressividade em acidente de trnsito.

    3- OMISSO DE SOCORRO artigo 304 CTB

    Art. 304. Deixar o condutor do veculo, na ocasio do acidente, de

    prestar imediato socorro vtima, ou, no podendo faz-lodiretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxlio da autoridadepblica: Pena deteno, de 6 meses a um ano, ou multa, se o fatono constituir elemento de crime mais grave.Pargrafo nico. Incide nas penas previstas neste artigo o condutordo veculo, ainda que a sua omisso seja suprida por terceiros ou quese trate de vtima com morte instantnea ou com ferimentos leves.

    Objetividade jurdica

    a vida e a sade das pessoas. Com a incriminao da conduta

    omissiva, o legislador cria uma obrigao jurdica, de modo a possibilitar que as

    consequncias do evento sejam reduzidas ao mximo possvel.

    Sujeito ativo

    O crime s pode ser cometido por condutor de veculo envolvido em

    acidente. Assim, se na mesma oportunidade motoristas de outros veculos, no

    envolvidos no acidente, deixam tambm de prestar socorro, incidem no crime

    genrico de omisso de socorro descrito no art. 135 do CP. O mesmo ocorre

    em relao a pessoas que no estejam na conduo de veculos automotores.

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    tambm requesito desse crime que o agente no tenha agido de forma

    culposa, pois, caso o tenha, o crime ser de homicdio ou leses culposas com

    a pena aumentada (arts. 302 e 303, pargrafo nico, II, CTB).

    possvel o concurso de pessoas, em ambas as modalidades

    (coautoria- e participao), no crime omissivo prprio. A participao, no caso,

    consiste em uma atitude ativa do agente, que auxilia, induz ou instiga o

    condutor do veculo a omitir a conduta devida. A coautoria tambm possvel,

    desde que haja adeso voluntria de uma conduta a outra. Assim, se diversos

    condutores de veculos, sem que tenham obrado com culpa no acidente, se

    recusam, em conluio, a prestar assistncia vtima, respondero em coautoria

    pelo crime em estudo. Ausente a adeso de uma conduta outra, cada agente

    responder autonomamente pelo delito de omisso de socorro.

    Sujeito passivo: a vtima do acidente que necessite de socorro.

    Tipo objetivo

    Trata-se de crime omissivo puro, para o que a lei descreve duas

    condutas tpicas. A primeira consiste em deixar de prestar imediatamente

    socorro vtima. Cuida-se aqui do dever de assistncia imediata. O agente,

    podendo diretamente prestar socorro vtima, desde que sem risco pessoal,

    no o faz.

    A segunda conduta incriminada deixar de solicitar auxlio autoridade

    pblica (quando, por justa causa, no for possvel o socorro direto). Cuida-se,

    no caso, de dever de assistncia mediata. Assim, s se admite que o agente

    solicite ajuda da autoridade quando no houver condies para o auxlio direto

    e imediato.Por outro lado, possvel que tanto o socorro quanto o pedido de auxlio

    autoridade pblica sejam inviveis, nesse caso no haver crime.

    O consentimento do ofendido irrelevante, devendo o socorro ser

    prestado mesmo que a vtima se recusa ao socorro, sob pena de o agente

    responder por omisso.

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    Consumao. Tentativa

    D-se a consumao no momento da omisso. Ao contrrio do que

    ocorre na legislao comum, no existe previso legal de aumento de pena,

    quando, em face da omisso, a vtima sofre leses graves ou morre.

    Tratando-se de crime omissivo prprio, no se admite a figura da

    tentativa.

    Ao penal. Lei 9.099/95

    Trata-se de crime de ao penal pblica incondicionada. Por se tratar de

    infrao de menor potencial ofensivo, est sujeito s disposies da lei

    9.099/95.

    Comentrios ao pargrafo nico do artigo 304 do CTB

    Nos termos do artigo 304 do CTB, persiste a omisso mesmo

    que a vtima seja socorrida por terceiros, ferimentos leves ou morte

    instntanea.

    a) Socorro por terceiro: o condutor somente responder pelo crime no caso de ser

    a vtima socorrida por terceiros, quando a prestao desse socorro no chegou

    ao conhecimento dele, por j se haver evadido do local. No h delito quando,

    logo aps o acidente, terceira pessoa se adianta ao condutor e presta socorro.

    (Capez, em sentido contrrio Marcelo Cunha de Arajo)

    b) Morte instantnea: no caso de vtima com morte instantnea, o dispositivo no

    aplicado, uma vez que o delito no tem objeto jurdico; afinal, o socorro seria

    absolutamente incuo. Temos aqui a previso legal de um crime impossvel por

    absoluta impropriedade do objeto, que o torna inaplicvel. (Capez, no mesmo

    sentido Damsio de Jesus)c) Vtima com leses leves o conceito de leses corporais de natureza leve

    muito extenso, de sorte que o crime de omisso somente ser aplicvel

    quando, apesar de os ferimentos serem leves, esteja a vtima necessitando de

    algum socorro. evidente que o socorro no se faz necessrio quando a vtima

    sofre simples escoriaes ou pequenos cortes.

    HIPTESE RESPONSABILIDADE PENAL

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    Motorista causador do acidente Homicdio (302 CTB) ou leso culposa(303 CTB) com majorante omissosocorro (302, , III, CTB)

    Motorista sem culpa Omisso de socorro (304 CTB)

    Pessoa no envolvida no acidente Omisso Socorro Comum (135 CP)

    Garantidor. Ex. mdico- crimecomissivo omissivo

    Responde pelo resultado (13, 2CP)

    OBS1: S incide a responsabilidade quando o socorro possvel e

    deliberadamente o agente deixa de presta-lo. Assim, o perigo de linchamentopor exemplo, afasta a imputao.

    4- FUGA DO LOCAL DO ACIDENTE ART. 305 CTB

    Art. 305. Afastar-se o condutor do veculo do local do acidente, parafugir responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuda:Penas - deteno, de seis meses a um ano, ou multa.

    O tipo penal pune o agente que se afasta do local do acidente para se

    eximir da responsabilidade civil ou criminal que possam decorrer.Penas:

    deteno de 6 meses a um ano, ou multa.

    Parte da doutrina entende que o dispositivo fere o princpio da no auto-

    incriminao, segundo o qual ningum obrigado a fazer prova contra si

    mesmo.

    Objetividade jurdica

    Cuida-se de infrao penal que tutela a administrao da justia, que

    fica prejudicada pela fuga do agente do local do evento, uma vez que tal atitude

    impede sua identificao e a consequente apurao do ilcito na esfera penal e

    civil.

    Sujeito ativo

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    Trata-se de crime prprio, que somente pode ser cometido pelo condutor

    do veculo envolvido no acidente e que fogem do local. Entretanto, todas as

    pessoas que tenham estimulado a fuga ou colaborado diretamente para que

    ela ocorresse respondero pelo crime na condio de partcipes.

    Sujeito passivo

    o Estado e, secundariamente, a pessoa prejudicada pela conduta.

    Tipo objetivo

    A conduta incriminada o afastamento, a fuga do local do acidente, com

    a inteno de no ser identificado e, assim, no responder penal ou civilmente

    pelo ato.

    Somente responde pelo delito aquele que se envolve culposamente no

    acidente, pois apenas este pode ser responsabilizado pela conduta. Em razo

    disso, a punio do agente pressupe que se prove, ainda que

    incidentalmente, que o ru foi responsvel pelo ocorrido.

    Na hiptese em que o agente obrigado a afastar-se do local do

    acidente em virtude de grave risco a sua integridade fsica, por exemplo,

    poder haver a excluso da ilicitude da conduta ante a presena do estado de

    necessidade. (Capez, no mesmo sentido Damsio de Jesus)

    Consumao. Tentativa.

    A consumao d-se com a fuga do local, ainda que o agente seja

    identificado e no atinja a sua finalidade de eximir-se da responsabilidade pelo

    evento. Trata-se de crime formal.

    A tentativa possvel, desde que o agente no obtenha xito em seafastar do locus delicti.

    Concurso

    a) O agente que, na direo de veculo automotor, culposamente provoca

    leses corporais na vtima sem prestar socorro responde pelo crime de leses

    corporais com a pena aumentada (art. 303, pargrafo nico, II) em concurso

    material com o crime de fuga. No se pode falar em absoro ou em postfactum impunvel, uma vez que os bens jurdicos so diversos. Ademais, se o

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    crime de leses corporais culposas absorvesse o delito de fuga, este ficaria

    praticamente sem aplicao concreta.

    b) O agente que se envolve em acidente sem ter agido de forma culposa e foge

    sem prestar socorro vtima responde apenas pelo crime de omisso de

    socorro do art. 304. No se pode aplicar o crime de fuga do local do acidente,

    uma vez que, em relao ao fato antecedente, no existe responsabilidade

    penal ou civil por parte do indivduo.

    c) A pessoa que, em estado de embriaguez, provoca choque de veculo em

    muro de residncia e foge responde pelo crime de embriaguez ao volante (art.

    306) em concurso material com o crime de fuga do local do acidente (art. 305).

    Ao penal. Lei n. 9.099/95

    Trata-se de crime de ao pblica incondicionada. Por se tratar de

    infrao de menor ofensivo, est sujeita s disposies da Lei n. 9.099/05.

    5- EMBRIAGUEZ AO VOLANTE ART. 306 CTB

    Art. 306. Conduzir veculo automotor, na via pblica, estando comconcentrao de lcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis)decigramas, ou sob a influncia de qualquer outra substnciapsicoativa que determine dependncia: Penas - deteno, de seismeses a trs anos, multa e suspenso ou proibio de se obter apermisso ou a habilitao para dirigir veculo automotor.Pargrafo nico. O Poder Executivo federal estipular a equivalnciaentre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterizao docrime tipificado neste artigo.

    REDAO ANTERIOR REDAO ATUAL (lei 11.705/2008)

    Direo de veculo automotor idem

    Via pblica idem

    Sob influncia de lcool ou substnciaefeitos anlogos

    Concentrao de 6 ou + decigramasde lcool por litro de sangue ouinfluncia de substncias psicoativas

    Gerando perigo concreto ------

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    Com a nova redao legal, no mais necessrio que a conduta do

    agente exponha a dano potencial a incolumidade de outrem, bastando que

    dirija embriagado, pois presume-se o perigo.

    A prova da embriaguez se d por etilmetro e exame de sangue.

    Conforme princpio da no auto- incriminao, no h obrigatoriedade em fazer

    tais testes, assim:

    Faz etilmetro At 0,5 decigramas Infrao administrativa

    Faz etilmetro 0,6 decigramas ou + Infrao administrativa +crime

    Se recusa ---------- Infrao administrativa

    Sujeito ativo

    o sujeito que dirige veculo automotor, estando com concentrao de

    lcool por litro de sangue igual ou superior a 6 decigramas, ou sob influncia de

    qualquer outra substncia psicoativa que determine dependncia.

    Sujeito passivo

    A coletividade, considerando que o bem jurdico protegido a segurana

    viria. Secundariamente, pode-se considerar como vtima a pessoaeventualmente exposta a risco pela conduta.

    Tipo objetivo

    O primeiro requisito do crime conduzir veculo automotor. Considera-se

    ter havido conduo ainda que o veculo esteja desligado (mas em movimento)

    ou quando o agente se limita a efetuar uma pequena manobra.

    O segundo requisito que o agente esteja com concentrao de lcoolpor litro de sangue igual ou superior a 6 decigramas, ou sob a influncia de

    qualquer outra substncia psicoativa que determine dependncia, como

    maconha, ter, cocana etc.

    No momento em que o nvel de alcoolemia foi inserido como elementar

    do tipo incriminador, tornou-se imprescindvel a comprovao cabal dessa

    dosagem sob pena da atipicidade da conduta. O nvel de lcool, por se tratar

    de medida tcnica, necessita de demonstrao pericial.

  • 7/27/2019 Dos crimes de Trnsito

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    Capez, menciona que no h como substituir a prova pericial, que

    detecte 6 decigramas de lcool por litro de sangue pelo etilmetro, vulgarmente

    bafmetro, devido o tipo falar em sangue por litro, mesmo o artigo 277, caput,

    autorizar esse e outros meios de aferio.

    J Ordeli Savedra Gomes, salienta que o pargrafo nico remete ao

    Poder Executivo Federal a responsabilidade em estipular a equivalncia entre

    distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterizao deste delito. O

    Decreto 6.488, de 19.06.2008, em seu art. 2 regulamenta a equivalncia,

    determinando que quando o teste ocorrer em aparelho de ar alveolar pulmonar

    (etilmetro), a concentrao de lcool deva ser igual ou superior a trs dcimos

    de miligrama por litro de ar expelido dos pulmes. No mesmo diploma legal, em

    seu art. 1, refere-se que as margens de tolerncia de lcool no sangue sero

    definidas em resoluo do CONTRAN, nos termos de proposta formulada pelo

    Ministro de Estado da Sade e at que isto ocorra, valem os valores definidos

    no respectivo Decreto.

    Ainda, o STF, j se manifestou pela aplicabilidade do etilmetro, vulgo

    bafmetro e por ser o delito crime de perigo abstrato, vide jurisprudncia:

    EMENTA: Recurso ordinrio em habeas corpus. Embriaguez aovolante (art. 306 da Lei n 9.503/97). Alegada inconstitucionalidade dotipo por ser referir a crime de perigo abstrato. No ocorrncia. Perigoconcreto. Desnecessidade. Ausncia de constrangimento ilegal.Recurso no provido. 1. A jurisprudncia pacfica no sentido dereconhecer a aplicabilidade do art. 306 do Cdigo de TrnsitoBrasileiro delito de embriaguez ao volante , no prosperando aalegao de que o mencionado dispositivo, por se referir a crime deperigo abstrato, no aceito pelo ordenamento jurdico brasileiro. 2.Esta Suprema Corte entende que, com o advento da Lei n11.705/08, inseriu-se a quantidade mnima exigvel de lcool nosangue para se configurar o crime de embriaguez ao volante e seexcluiu a necessidade de exposio de dano potencial, sendo certoque a comprovao da mencionada quantidade de lcool no sanguepode ser feita pela utilizao do teste do bafmetro ou pelo exame desangue, o que ocorreu na hiptese dos autos. 3. Recurso noprovido. (Recurso Ordinrio em Habeas Corpus RHC 110258/ DF.Relator: Min.Dias Toffoli. rgo Julgador: 1 Turma. Julgamento:08/05/2012. Publicao:24/05/2012)

    O terceiro requisito que o veculo seja conduzido na via pblica, ou

    seja, em local aberto a qualquer pessoa, cujo acesso seja sempre permitido. As

    ruas dos condomnios particulares pertencem ao Poder Pblico, portanto, dirigirembriagado nesses locais pode caracterizar a infrao. Por outro lado, no se

  • 7/27/2019 Dos crimes de Trnsito

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    considera via pblica o interior de fazenda particular, o interior de garagem da

    prpria residncia, o ptio de um posto de gasolina, o interior de

    estacionamentos particulares, os estacionamentos de shopping centers etc.

    Consumao. Tentativa

    Consuma-se com a prova da embriaguez, com a conduo do veculo estando

    embriagado. A tentativa no admissvel.

    Elemento subjetivo

    a inteno de conduzir o veculo estando embriagado.

    Concurso

    Se o autor do crime de embriaguez ao volante (art. 306) tambm no

    habilitado para dirigir veculo (art. 309), responde apenas pelo primeiro,

    aplicando-se, entretanto, a agravante genrica do art. 298, III, do CTB. No se

    poderia cogitar da aplicao do concurso material ou formal, porque a situao

    de risco produzida uma s.

    Ao Penal

    Trata-se de crime de ao penal pblica incondicionada. No se aplicam as

    disposies da Lei 9.099/95, com exceo do instituto da suspenso

    condicional do processo (art.89), o qual perfeitamente cabvel, dado que a

    pena mnima cominada ao delito de 6 meses de deteno.

    6- VIOLAO DA PROIBIO OU SUSPENO DO DIREITO DE DIRIGIR-

    ARTIGO 307 CTBArt. 307. Violar a suspenso ou a proibio de se obter a permissoou a habilitao para dirigir veculo automotor imposta comfundamento neste Cdigo:Penas - deteno, de seis meses a um ano e multa, com novaimposio adicional de idntico prazo de suspenso ou de proibio.

    O tipo penal une o agente que viola a suspenso do direito de dirigir

    imposta com base no CTB, que pode ser imposta judicial ou

    administrativamente s pessoas legalmente habilitadas. Trata-se de umaespcie de desobedincia.

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    Objetividade jurdica

    o respeito penalidade imposta por transgresso criminal cometida na

    direo de veculo automotor.

    Tipo objetivo

    A conduta tpica, consistente em violar a suspenso ou proibio,

    implica dirigir veculo automotor durante o perodo em que essa conduta est

    vedada. Basta a conduta de dirigir o veculo automotor, independentemente de

    expor algum a perigo.

    Em razo de ser consequncia inevitvel do delito, inaplicvel a

    agravante genrica do art. 61, I, do CP (ser o agente reincidente).

    Sujeito ativo

    o condutor do veculo que se encontra proibido da conduo.

    Sujeito passivo

    o Estado, em face do desrespeito penalidade imposta.

    Consumao. Tentativa

    Consuma-se com a conduo, colocar o veculo em movimento.

    A tentativa inadmissvel.

    Ao Penal

    Trata-se de crime de ao pblica incondicionada. crime de menor

    potencial ofensivo, sujeito s disposies da lei 9.099/95.

    PARGRAFO NICO ARTIGO 307 CTB OMISSO NA ENTREGA DA

    PERMISSO OU HABILITAO

    Pargrafo nico. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixade entregar, no prazo estabelecido no 1 do art. 293, a Permissopara Dirigir ou a Carteira de Habilitao.

    O pargrafo nico contempla pela hiptese de crime a prazo ou de

    tipicidade condicionada a elemento temporal. Artigo 293 CTB, tem 48 horas

    para devolver o documento.

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    O termo a quo a cincia da obrigao de fazer a entrega do

    documento.

    Ao contrrio do que ocorre no crime previsto no caput, a conduta

    incriminada dispensa a transgresso efetiva da penalidade imposta. Basta, na

    verdade, que o agente no colabore com o incio do cumprimento da

    reprimenda, deixando de entregar autoridade judiciria, no prazo de 48 horas

    a contar da intimao, a permisso ou habilitao.

    Objetividade jurdica

    O prestgio e a dignidade da Administrao Pblica e das decises

    judiciais.

    Sujeito Ativo

    O condenado que, intimado, deixa de apresentar a Permisso para

    Dirigir ou Carteira de Habilitao autoridade judiciria.

    Sujeito passivo

    o Estado.

    Consumao. Tentativa

    A consumao ocorre no momento em que decorre o prazo de 48 horas,

    a partir da intimao, sem que o agente entregue o documento autoridade

    judiciria.

    7- PARTICIPAO EM COMPETIO NO AUTORIZADA RACHA- art.

    308 CTB.

    Art. 308. Participar, na direo de veculo automotor, em via pblica,de corrida, disputa ou competio automobilstica no autorizada pelaautoridade competente, desde que resulte dano potencial incolumidade pblica ou privada:Penas - deteno, de seis meses a dois anos, multa e suspenso ouproibio de se obter a permisso ou a habilitao para dirigir veculoautomotor.

    Trata-se de crime de concurso necessrio, pois exige a participao de

    no mnimo dois agentes. Espectadores e passageiros que estimulem a corridasero tambm responsabilizados na condio de partcipes (art. 29 CP).

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    S se configura em via pblica e se resultar em perigo concreto.

    O tipo penal derrogou o artigo 34 do decreto-lei 3688/41 (contravenes

    penais).

    Objetividade jurdica

    Tutela-se a segurana viria e, secundariamente, a incolumidade pblica

    e privada.

    Sujeito passivo

    a coletividade e, de forma secundria e eventual, a pessoa exposta a

    risco em virtude da disputa.

    Tipo objetivo

    O ncleo do tipo a palavra participar, que pressupe que o agente se

    envolva, tome parte da disputa, estando na direo de veculo automotor.

    O fato somente caracterizar crime:

    a) Se ocorrer na via pblica;

    b) Se no houver autorizao das autoridades competentes;

    c) Se ocorrer dano potencial incolumidade pblica ou privada. Na

    realidade, a disputa entre dois veculos em altssima velocidade na

    via pblica, por si s, rebaixa o nvel de segurana viria, de forma a

    estar caracterizado o delito.

    Consumao. Tentativa

    Consuma-se no momento da disputa, corrida ou competio no

    autorizada realizada com desrespeito s normas de segurana do trnsito.A tentativa inadmissvel.

    Elemento subjetivo

    a vontade livre e consciente de participar.

    Concurso

    Se em decorrncia da disputa ocorre um acidente do qual resulta morte,haver absoro pelo crime de homicdio culposo. Dependendo do caso

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    concreto, at possvel o reconhecimento do homicdio doloso, por assumir o

    risco de causar a morte de algum.

    Ao Penal

    Ao penal pblica incondicionada. Incide lei 9099/95.

    8- DIREO SEM HABILITAO art. 309 CTB

    Art. 309. Dirigir veculo automotor, em via pblica, sem a devidaPermisso para Dirigir ou Habilitao ou, ainda, se cassado o direitode dirigir, gerando perigo de dano:Penas - deteno, de seis meses a um ano, ou multa.

    Tipo objetivo

    O ncleo do tipo dirigir, colocando o veculo em movimento.

    Para que exista o crime necessrio que seja em via pblica, e que o

    condutor do veculo no possua Permisso para Dirigir ou Habilitao, se

    apenas no portava o documento que possui, no crime, mera infrao de

    trnsito administrativa.

    Se o condutor possui CNH com categoria diversa, que no o possibilite a

    conduo, ou seja, categoria menor e com perigo de dano, constitui crime. Se

    no gerar perigo de dano infrao administrativa.

    No caso de Habilitao com prazo de validade expirado, somente se

    pode cogitar de crime se o vencimento ocorreu h mais de 30 dias (art.162, V

    CTB).

    Quando uma pessoa est dirigindo veculo automotor de forma a gerar

    perigo de dano e, ao ser parado por policiais, apresenta habilitao falsa,

    responde pelo crime do art. 309 do CTB em concurso material com o crime deuso de documento falso.

    H que lembrar que o estado de necessidade exclui o crime: quando o

    agente dirige sem habilitao para socorrer pessoa acidentada ou outras

    situaes de extrema urgncia.

    O artigo 141 do CTB, estabelece que para os ciclomotores se exige

    autorizao e no habilitao. Pode-se concluir, portanto, que a direo de

    ciclomotor sem autorizao no est abrangida pelo tipo penal.

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    Por fim, a existncia do crime pressupe que a conduta provoque perigo

    de dano.

    A smula 720 STF, derrogou o art. 32 Lei Contravenes: O artigo 309

    do Cdigo de Trnsito Brasileiro, que reclama decorra do fato perigo de dano,

    derrogou o art.32 da Lei de Contravenes Penais no tocante direo sem

    habilitao em vias terrestres.

    Se conduzir o veculo sem habilitao, mas, sem perigo de dano, no

    crime, mera infrao administrativa.

    Trata-se de crime que efetivamente lesa o bem jurdico segurana

    viria, de forma que o sujeito passivo toda a coletividade e no pessoa certa

    e individualizada. acusao, portanto, incumbe provar que o agente no

    possua habilitao e que dirigia desrespeitando as normas de trfego, ainda

    que no tenha exposto diretamente algum a risco.

    Sujeito ativo

    a pessoa que dirige o veculo automotor sem possuir Permisso ou

    Habilitao ou com o Direito de Dirigir cassado. Trata-se de crime de mo

    prpria, que admite o concurso de pessoas apenas na modalidade de

    participao, sendo incompatvel a coautoria. participe do crime aquele que,

    por exemplo, estimula o agente a dirigir de forma anormal, ciente de que este

    no habilitado.

    Sujeito passivo

    A coletividade e, de forma eventual, a pessoa exposta a perigo pelo

    agente.

    Consumao. Tentativa

    A consumao ocorre no instante em que o agente dirige o veculo de

    forma irregular. A tentativa inadmissvel.

    Elemento subjetivo

    a livre inteno e consciente de conduzir o veculo pela via pblica de

    forma a gerar perigo de dano.

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    Absoro

    a) Se o agente provoca culposamente leses corporais ou morte

    responde por crime de leses culposas ou homicdio culposo na

    direo de veculo automotor, com a pena aumentada de 1/3 at a

    metade (arts 302 e 303, pargrafo nico, III, CTB).

    b) Se o agente, ao dirigir sem habilitao, infringe tambm os crimes

    dos arts. 306 (embriaguez), 308 (participao em competio no

    autorizada) ou 311 (excesso de velocidade), responder apenas por

    essas infraes penais, aplicando-se, pelo fato de no possuir

    habilitao, a agravante genrica do art. 298, III, do CTB.

    Ao penal: pblica incondicionada.

    9- ENTREGA DA DIREO PESSOA NO HABILITADA OU SEMCONDIES CONDUO artigo 310 CTB.

    Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direo de veculo automotora pessoa no habilitada, com habilitao cassada ou com o direito dedirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de sade, fsicaou mental, ou por embriaguez, no esteja em condies de conduzi-locom segurana:Penas - deteno, de seis meses a um ano, ou multa.

    Prevalece na doutrina que se trata de crime de perigo abstrato.

    S se configura quando o agente tem cincia do fato, sob pena de se

    admitir responsabilidade penal objetiva.

    Objetividade jurdica

    a segurana viria, no sentido de evitar a entrega de veculos a

    pessoas no habilitadas o sem condies de dirigir.

    Tipo objetivo

    So condutas de permitir, confiar ou entregar a direo de veculo

    automotor a algum, as quais possuem praticamente o mesmo significado. O

    crime pode ser praticado por ao (ex. autoriza o filho, entrega) ou omisso

    (ex. sabe que o filho ir utilizar seu veculo e no toma providncias).

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    Sujeito ativo

    qualquer pessoa que possa permitir, confiar ou entregar o veculo a

    outrem.

    Sujeito passivo

    a coletividade.

    Consumao

    Ocorre apenas quando, aps ter recebido o veculo do agente, ou a

    permisso para us-lo, o terceiro o coloca em movimento. No basta, portanto,

    que o agente permita, confie ou entregue o veculo a uma das pessoas

    elencadas na lei.

    Tentativa

    Somente ser possvel o seu reconhecimento se o terceiro foi impedido

    de dirigir em momento imediatamente anterior quele em que iria colocar o

    veculo em movimento.

    Absoro

    A jurisprudncia se divide acerca da responsabilizao de quem entrega

    veculo a terceiro que, ao conduzi-lo, comete crime culposo. Alguns julgados

    entendem que ambos respondem pelo crime culposo, hiptese em que estar

    absorvido o crime do art. 310. Outros sustentam que a simples entrega do

    automvel no configura necessariamente conduta culposa, uma vez que o

    terceiro pode at ser bom motorista, situao em que o agente ser

    responsabilizado apenas pelo novo crime do art. 310.

    Ao penal: pblica incondicionada. De menor potencial ofensivo.

    10- VELOCIDADE INCOMPATVEL artigo 311 CTB

    Art. 311. Trafegar em velocidade incompatvel com a segurana nasproximidades de escolas, hospitais, estaes de embarque e

    desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde hajagrande movimentao ou concentrao de pessoas, gerando perigode dano:

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    Penas - deteno, de seis meses a um ano, ou multa.

    O tipo penal pune o agente que trafega em velocidade incompatvel, no

    necessariamente excessiva com determinadas localidades ou situaes.

    O tipo derrogou a contraveno do art. 34 do decreto lei 3688/41 (lei

    contravenes).

    Objetividade jurdica

    a segurana viria em locais onde normalmente existe maior

    concentrao de pessoas. Secundariamente, a incolumidade da vida e da

    sade das pessoas.

    Tipo objetivo

    A conduta incriminada consiste em imprimir velocidade incompatvel com

    a segurana do local. No se exige que a prova seja feita por meio de radares

    ou equivalentes podendo as testemunhas atestar o excesso.

    A infrao penal pressupe que o fato ocorra nas redondezas de

    hospitais, escolas, estaes de embarque e desembarque, logradouros

    estreitos ou onde haja grande movimentao ou concentrao de pessoas.

    Sujeito ativo

    o condutor do veculo que imprime velocidade excessiva, ciente de

    que se encontra prximo aos locais mencionados na lei.

    Sujeito passivo

    a coletividade e, de forma secundria e eventual, a pessoa exposta a

    perigo.

    Elemento subjetivo

    a inteno livre e consciente de dirigir em velocidade excessiva, ciente

    que se encontra prximo a hospitais, escolas etc. No se exige que o agente

    tenha a inteno de expor algum a perigo.

    Consumao. Tentativa

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    A consumao ocorre no momento que o agente, imprimindo velocidade

    incompatvel, passa por os locais protegidos pela lei.

    A tentativa inadmissvel.

    Absoro

    Ocorrendo acidente do qual resulte morte ou leso culposa, ficar

    absorvido o crime em anlise.

    Ao penal

    Pblica Incondicionada. Infrao de menor potencial ofensivo.

    11- INOVAO ARTIFICIOSA art. 312 do CTB

    Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilsticocom vtima, na pendncia do respectivo procedimento policialpreparatrio, inqurito policial ou processo penal, o estado de lugar,de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, operito, ou juiz:Penas - deteno, de seis meses a um ano, ou multa.Pargrafo nico. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que noiniciados, quando da inovao, o procedimento preparatrio, oinqurito ou o processo aos quais se refere.

    crime que se especializa em relao ao do artigo 347 do CP.

    Objetividade jurdica

    Protege-se a administrao da justia.

    Tipo objetivo

    A existncia de delito pressupe, inicialmente, a ocorrncia de acidentede trnsito com vtima. Fora dessa hiptese a fraude pode configurar o crime

    comum do Cdigo Penal (art.347).

    A conduta tpica consiste na modificao do estado do lugar, de coisa ou

    de pessoa. Abrange, portanto, as aes de apagar marca de derrapagem,

    retirar placas de sinalizao, alterar o local dos carros, limpar estilhaos do

    cho, alterar o local do corpo da vtima etc.

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    Elemento subjetivo

    O tipo penal exige que a fraude ocorra com a finalidade de enganar

    policiais, peritos ou o juiz. Est implcito, entretanto, que a verdadeira inteno

    do agente evitar a sua punio ou a de terceiro causador do evento.

    Consumao. Tentativa

    Ocorre no exato momento em que o agente altera o estado do lugar,

    coisa ou pessoa, ainda que no atinja sua finalidade de enganar as

    autoridades. Trata-se de crime formal.

    possvel a tentativa quando o agente flagrado ao iniciar a fraude.

    Ao penal

    Estamos diante de um crime de ao penal pblica incondicionada.

    Trata-se de crime menor potencial ofensivo.

    Bibliografia

    CAPEZ, Fernando.Curso de Direito Penal, Legislao Penal Especial. 5ed. So Paulo: Saraiva, 2010.

    GOMES, Ordeli Savedra. Cdigo de Trnsito Brasileiro Comentado eLegislao Complementar. 5 ed. Curitiba: Juru, 2011.