crimes no trÂnsito

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O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

IAVM INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PS-GRADUARGESTO, EDUCAO E SEGURANA NO TRNSITO

GORBOLY DE PR LAIBER

O CDIGO DE TRNSITO BRASILEIRO, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

CONSEQNCIAS PRTICO-JURDICAS, NO CONTEXTO EVOLUTIVO DO COMBATE AO LCOOL NO TRNSITO, DO ADVENTO DA CAUSA DE AUMENTO DE PENA EM VIRTUDE DA INFLUNCIA ALCOLICA NO CRIME DE HOMICDIO CULPOSO PRATICADO NA DIREO DE VECULO AUTOMOTOR

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

VITRIA 2007 GORBOLY DE PR LAIBER

O CDIGO DE TRNSITO BRASILEIRO, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

CONSEQNCIAS PRTICO-JURDICAS, NO CONTEXTO EVOLUTIVO DO COMBATE AO LCOOL NO TRNSITO, DO ADVENTO DA CAUSA DE AUMENTO DE PENA EM VIRTUDE DA INFLUNCIA ALCOLICA NO CRIME DE HOMICDIO CULPOSO PRATICADO NA DIREO DE VECULO AUTOMOTOR

Monografia apresentada ao programa de ps graduao latu sensu em Gesto, Educao e Segurana no Trnsito, como requisito parcial para a obteno do ttulo de especialista nesta rea. Orientador: Dr. Ulysses Gusman Procurador de Justia do Estado do Esprito Santo e professor da UFES.

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

A Deus, pela existncia e oportunidade. Aos meus amados pais, avs, noiva e irm, pela formao, confiana, pacincia e carinho. Aos amigos, pela sobrevivncia.

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

Se o general se preocupa com seus soldados como se fossem crianas, eles o acompanharo at os lugares mais profundos; se ele os trata afetuosamente, como se fossem os seus prprios filhos amados, ento, eles estaro dispostos a morrer com ele na batalha. Se o general favorece os seus homens, mas no sabe us-los; os ama, mas no pode comand-los; e quando eles violam leis e regulamentos, ele no os castiga ou chama-os a ordem, tais soldados so como crianas mimadas e sero inteis para batalha. Sun Tzu

RESUMO

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

Nos tempos atuais a crescente onda de mortes provocadas no trnsito de veculos automotores preocupa, e muito, a sociedade. A populao assiste a autoridades aturdidas agindo quase que por impulso, to grande a presso social por urgentes providncias prticas. Em meio ao emaranhado legiferante, em sua maior parte dotado de pouca cientificidade crtica, percebe-se ao longo do tempo uma maior preocupao quanto ao combate da alcoolemia ao volante, responsvel por grande parte das mortes no trnsito. Nesse sentido, a fim de estudar os efeitos prticojurdicos advindos de alteraes legislativas que visam combater o uso de lcool pelo condutor de veculo automotor, imprescindvel torna-se um estudo evolutivo da legislao de trnsito brasileira, comparando-a mundialmente e, sobretudo, vislumbrando os aspectos atinentes s ltimas alteraes legais atreladas ao assunto, focando, este trabalho, as repercusses penais aduzidas pela Lei n 11.275/2006. Percebe-se ento que esse imbrglio ganha fora diante de inmeras divergncias jurdico-doutrinrias, realando discusses h muito existentes no plano do direito penal material, mas que, especificamente nesse assunto, ganham ainda mais importncia. Constantes tornam-se as tentativas de elastecer o conceito de dolo eventual, ignorando pilares jurdicos em prol de tentar suprir uma lacuna de demasiada brandura punitiva deixada pelo Cdigo de Trnsito Brasileiro quando prev os chamados crimes de trnsito. A poltica criminal brasileira correlata aos crimes de trnsito , sem sombra de dvidas, emprica em demasia, alternando alguns momentos em que considera o condutor que mata no trnsito um inescrupuloso criminoso, merecedor de egresso na vala comum das penitencirias; e outros, em que v o delito in casu de forma autnoma e especial, o qual deve ser apenado de modo alternativo devido suas especificidades. Ao fim, aps exaustiva anlise prtico-jurdica, percebe-se que a realidade do trnsito brasileiro transcende a aspectos puramente punitivos e inibidores, dependendo principalmente do subjetivismo inerente ao condutor de veculo automotor, devendo-se buscar sua real conscientizao e melhor formao tcnica, para, assim, alcanar melhores resultados prticos na preservao da vida no trnsito.

Palavras-chave: Trnsito. Veculo automotor. lcool. Condutor. Mortes no trnsito. Aes legislativas. Conseqncias prtico-jurdicas. Preservao da vida.

LISTA DE ILUSTAES

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

MAPA 1: FOTOGRAFIA 1:

ESTRADAS DO IMPRIO ROMANO ................................. 16 FOTOGRAFIA DAS RUNAS DE UMA DAS VIAS DO IMPRIO ROMANO ............................................................

17

LISTA DE GRFICOSGRFICO 1: GRFICO 2: ACIDENTES DE TRNSITO NO ESPRITO SANTO EM 2005. 74 ACIDENTES DE TRNSITO COM VTIMA NA GRANDE VITRIA POR DIA DA SEMANA (ANO DE 2004) .................... VTIMAS FATAIS DO TRNSITO NA GRANDE VITRIA POR PERODO .........................................................................

75

GRFICO 3:

76

LISTA DE TABELASTABELA 1: TABELA 2: TABELA 3: TABELA 4: TABELA 5: TABELA 6: TABELA 7: TABELA 8: TABELA 9: TABELA 10: TABELA 11: TABELA 12: EVOLUO HISTRICA DAS PENAS .................................... 18 EFEITOS DO LCOOL ............................................................. 39 EFEITOS DO LCOOL NUM INDIVDUO DE 70 KG ............... 40 FASES DA EMBRIAGUEZ ....................................................... 40 TIPOS DE EMBRIAGUEZ .. 41 O LCOOL NA LEGISLAO DE TRNSITO BRASILEIRA .. 61 LEI DO LCOOL PORTUGUESA ............................................ 62 O ALCOOL NO CDIGO DA ESTRADA DE PORTUGAL ....... 62 O LCOOL NO DIREITO INGLS ........................................... 66 O LCOOL NA LEGISLAO ALEM ..................................... 68 DADOS DA CAMPANHA MADRUGADA VIVA ...................... 76 PESQUISA JURISPRUDENCIAL ACERCA DO CONCURSO DE CRIMES DE TRNSITO NO QUE TANGE 143 INFLUNCIA ALCOOLICA .......................................................

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

Apel. Recurso de Apelao. Art. Artigo. BPRv Batalho de Polcia de Trnsito Rodovirio e Urbano. CC Cdigo Civil . CE Cdigo da Estrada. CETRAN Conselho Estadual de Trnsito. CF Constituio Federal. CNH Carteira Nacional de Habilitao. CNT Cdigo Nacional de Trnsito. CONTRAN Conselho Nacional de Trnsito. CPB Cdigo Penal Brasileiro. CPP Cdigo de Processo Penal Brasileiro. CTB Cdigo de Trnsito Brasileiro. DC Depois de Cristo. DENATRAN Departamento Nacional de Trnsito. DETRAN Departamento Estadual de Trnsito. Dg Decigrama. FUNSET Fundo Nacional de Segurana e Educao de Trnsito. HC Habeas Corpus. INOVES - Inovao na Gesto Pblica do Estado do Esprito Santo. L Litro. LCP Lei das Contravenes Penais. MP Ministrio Pblico. P. Pgina. RCNT Regulamento do Cdigo Nacional de Trnsito. SEGER Secretaria de Estado de Gesto e Recursos Humanos. SNT Sistema Nacional de Trnsito. STF Supremo Tribunal Federal. STJ Superior Tribunal de Justia. Vol. Volume. - Pargrafo.

SUMRIO

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

1. 2.

INTRODUO ................................................................................................... 11 A LEGISLAO DE TRNSITO BRASILEIRA ................................................ 152.1. ASPECTOS HISTRICOS .................................................................................... 15O DESENVOLVIMENTO DO TRNSITO NO MUNDO .................................................. 15 O TRNSITO NO BRASIL .............................................................................................. 19

2.1.1. 2.1.2.

2.2.

O CDIGO DE TRNSITO BRASILEIRO - LEI N 9.503 DE 23 DE SETEMBRODA APLICABILIDADE...................................................................................................... 20 DO CONCEITO DE TRNSITO ...................................................................................... 22 DO DIREITO AO TRNSITO SEGURO.......................................................................... 25 DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DOS COMPONENTES DO SISTEMA NACIONAL

DE 1997 ............................................................................................................................. 202.2.1. 2.2.2. 2.2.3. 2.2.4.

DE TRNSITO (SNT) ................................................................................................................... 27 2.2.5. DA PRIORIDADE EXPRESSA DEFESA DA VIDA ..................................................... 32

3.

LCOOL E DIREO ....................................................................................... 353.1. 3.2. 3.3. CONSIDERAES INICIAIS ................................................................................ 35 A INGESTO DE LCOOL E O ORGANISMO HUMANO................................... 37 ASPECTOS LEGAIS NO BRASIL ........................................................................ 42O ANTIGO CDIGO NACIONAL DE TRNSITO (CNT) ................................................ 42 O NOVO CDIGO DE TRNSITO BRASILEIRO (CTB) ................................................ 44

3.3.1. 3.3.2.

3.3.2.1. DIRIGIR SOB O EFEITO DO LCOOL INFRAO DE TRNSITO .................... 45 3.3.2.2. 3.3.2.3. DIRIGIR SOB O EFEITO DO LCOOL CRIMES DE TRNSITO ...................... 49 A PROVA DA EMBRIAGUEZ AO VOLANTE EM FACE DA LEI N 11.275, DE 7

DE FEVEREIRO DE 2006........................................................................................................ 53

4.

A LEGISLAO DE TRNSITO EM ALGUNS PASES DO MUNDO E SUAS

CONSEQENCIAS PRTICAS ............................................................................... 604.1. 4.2. 4.3. PORTUGAL ........................................................................................................... 61 INGLATERRA ....................................................................................................... 66 ALEMANHA .......................................................................................................... 68

5.

ESTATSTICAS DE ACIDENTES DE TRNSITO ............................................ 705.1. 5.2. 5.3. CONSIDERAES INICIAIS ................................................................................ 70 RETRATO ESTIMADO NO BRASIL ..................................................................... 71 ACIDENTES NO ESPRITO SANTO .................................................................... 73

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

5.3.1.

EXEMPLO DE AO PRTICA - CAMPANHA MADRUGADA VIVA ......................... 74

6.

BASE PRINCIPIOLGICA ................................................................................ 776.1. PRINCPIOS DO DIREITO PENAL ....................................................................... 78PRINCPIO DA LEGALIDADE OU DA RESERVA LEGAL ............................................. 79 PRINCPIO DA ANTERIORIDADE DA LEI PENAL ........................................................ 80 PRINCPIO DA IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL................................................... 80 PRINCPIO DA INTERVENO MNIMA ....................................................................... 81 PRINCPIO DA ESPECIALIDADE................................................................................... 82 PRINCPIO DA SUBSIDIARIEDADE IMPLCITA ............................................................ 83 PRINCPIO DA FRAGMENTARIEDADE......................................................................... 84 PRINCPIO DA CULPABILIDADE ................................................................................... 84 PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA ................................................................................. 85 PRINCPIO FAVOR LIBERTATIS ............................................................................... 86 PRINCPIO DA PRESUNO DE INOCNCIA ......................................................... 87 PRINCPIO DA PROPORCIONALIDADE ................................................................... 88 PRINCPIO DO NE BIS IN IDEM ................................................................................ 89

6.1.1. 6.1.2. 6.1.3. 6.1.4. 6.1.5. 6.1.6. 6.1.7. 6.1.8. 6.1.9. 6.1.10. 6.1.11. 6.1.12. 6.1.13.

6.2.

PRINCPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL ............................................. 89PRINCPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL ............................................................... 90 PRINCPIO DO CONTRADITRIO................................................................................. 91 PRINCPIO DA AMPLA DEFESA.................................................................................... 92 PRINCPIO DA VERDADE REAL ................................................................................... 93 PRINCPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL .................................................................. 94 PRINCPIO DA OBRIGATORIEDADE DA AO PENAL .............................................. 95 PRINCPIO DA INDISPONIBILIDADE ............................................................................ 96 PRINCPIO DA INICIATIVA DAS PARTES ..................................................................... 97 GARANTIA CONTRA A AUTO-INCRIMINAO............................................................ 98

6.2.1. 6.2.2. 6.2.3. 6.2.4. 6.2.5. 6.2.6. 6.2.7. 6.2.8. 6.2.9.

7.

O DOLO EVENTUAL E A CULPA CONSCIENTE NO CRIME DE HOMICDIO

CULOSO DO CTB .................................................................................................... 997.1. 7.2. 7.3. CONSIDERAES INICIAIS ................................................................................ 99 DOS CONCEITOS EM SI .................................................................................... 101 AS MORTES NO TRNSITO E O CONCEITO DE DOLO EVENTUAL ............. 107

8.

O HOMICDIO CULPOSO NA DIREO DE VECULO AUTOMOTOR ART.

302 DO CTB............................................................................................................ 1118.1. 8.2. DA LEGALIDADE DO ARTIGO 302 DA LEI 9.503/97 ....................................... 112 DO CONCEITO DE HOMICDIO CULPOSO NO TRNSITO ............................. 117

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

8.2.1. 8.2.2. 8.2.3. 8.2.4. 8.2.5. 8.2.6. 8.2.7. 8.2.8. 8.2.9. 8.2.10. 8.2.11.

OBJETO JURDICO E QUALIFICAO TPICA .......................................................... 118 IMPRECISO TCNICA NA DESCRIO DO TIPO ................................................... 119 MOMENTO CONSUMATIVO E TEMPO DO CRIME.................................................... 119 LUGAR DO CRIME ....................................................................................................... 120 ELEMENTOS DO CRIME CULPOSO DE TRNSITO ................................................. 121 MODALIDADES DA CULPA ......................................................................................... 122 CULPA CONSCIENTE E INCONSCIENTE .................................................................. 123 CULPABILIDADE NOS CRIMES CULPOSOS ............................................................. 123 PENA CUMULATIVA ..................................................................................................... 125 AGRAVANTES GENRICAS ................................................................................... 125 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA .......................................................................... 126

8.2.11.1. I - NO POSSUIR PERMISSO PARA DIRIGIR OU CARTEIRA DE HABILITAO. ....................................................................................................................... 127 8.2.11.2. II - PRATIC-LO EM FAIXA DE PEDESTRES OU NA CALADA. ..................... 127 8.2.11.3. III - DEIXAR DE PRESTAR SOCORRO, QUANDO POSSVEL FAZ-LO SEM RISCO PESSOAL, VTIMA DO ACIDENTE. ...................................................................... 127 8.2.11.4. IV - NO EXERCCIO DE SUA PROFISSO OU ATIVIDADE, ESTIVER CONDUZINDO VECULO DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS. .................................... 128 8.2.11.5. V - ESTIVER SOB A INFLUNCIA DE LCOOL OU SUBSTNCIA TXICA OU ENTORPECENTE DE EFEITOS ANLOGOS. (ACRESCENTADO PELA LEI N 11.275, DE 7 DE FEVEREIRO DE 2006) .................................................................................................... 129 8.2.12. PERDO JUDICIAL .................................................................................................. 129

9.

A CAUSA DE AUMENTO INCLUDA PELA LEI 11275/2006 NO CRIME DE

HOMICDIO PREVISTO NO ART. 302 DO CTB..................................................... 1309.1. IMPLICAES DA ALCOOLEMIA COMO CAUSA DE AUMENTO DE PENA NODAS INDAGAES ...................................................................................................... 133 DAS RESPOSTAS ........................................................................................................ 134 DA POSSIBILIDADE DE SUSTENTAO DO DOLO EVENTUAL..................... 134 DA FINALIDADE DO AUMENTO DE PENA E DOS RESULTADOS PRTICO-

HOMICDIO CULPOSO ................................................................................................... 1329.1.1. 9.1.2.

9.1.2.1. 9.1.2.2.

JURDICOS ALCANADOS .................................................................................................. 140

10. 11.

CONCLUSO .............................................................................................. 145 REFERNCIAS ............................................................................................ 150

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

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1. INTRODUO

Muito se discute no Brasil acerca da realidade do trnsito, porm, pouco efetivamente do que dali se extrai realmente aplicado. Ainda assim, a implementao do que se discute em muitos casos no surte o efeito esperado, sendo em algumas ocasies um contra-senso para com a realidade social brasileira. Notcias sobre trgicos desastres envolvendo veculos automotores j perpassam nosso cotidiano, tornando-se uma infeliz normalidade. Diverge-se muito acerca do quantum referente a mortes em acidentes de trnsito. Os nmeros variam entre 40,45 e 50 mil mortes/ano, sendo esse ltimo dado divulgado em 02 de maio de 2007, aps a palestra Trnsito: uma questo de cidadania, proferida em 26 de abril de 2007 pelo ex-diretor do Departamento Nacional de Trnsito (DENATRAN), Jos Roberto de Souza Dias, como atividade integrante do II Seminrio Nacional Movimentos Sociais, Participao e Democracia, promovido pelo Ncleo de Pesquisa em Movimentos Sociais da Universidade Federal de Santa Catarina1. Tal catastrfica estatstica de uma morte em cada 11 minutos, acaba de superar o nmero de baixas totais de norte-americanos na Guerra do Vietn, estimado em 47 mil2. Adotando esse paradigma, percebe-se a realidade do trnsito no Brasil como uma Guerra no declarada, em tempo de paz e, o pior, cada vez mais intensa. Ainda fomentando a emblemtica a que se prope o presente estudo, h de se frisar que o nmero considerado de 50 mil mortes anuais em virtude de acidentes de trnsito no Brasil, leva em conta apenas as mortes no local do acidente (60%) e aquelas ocorridas no Hospital nas primeiras 24 horas aps o evento desencadeador (40%), o que traz discusso, sem sombra de dvidas, uma cifra obscura que pode tornar esse j penoso dado ainda mais elevado, visto o nmero de bitos que ocorrem aps 24 horas do resgate e que no so aqui contabilizados.1

DIAS, Jos Roberto de Souza. Trnsito: uma questo de cidadania. Texto disponibilizado em 02 de mai. de 2007. Disponvel em: . Acesso em: 05 maio 2007. 2 ASPECTOS histricos da guerra do Vietn. c2002. Disponvel em: . Acesso em: 05 maio 2007

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Dessas mortes, 70% esto relacionadas ao consumo de lcool, sendo a maioria das vtimas jovens com idade entre 18 e 26 anos. Ampliando os horizontes, ainda h que se considerar que, numa frota nacional de aproximadamente 27 milhes de veculos, 640 mil envolvem-se anualmente em acidentes, num complexo de um acidente para cada 31 segundos, vitimando, parcialmente, outras 300 mil pessoas. O custo total derivado de acidentes de trnsito no Brasil supera a casa dos 5,3 bilhes de reais por ano3. S o afastamento temporrio ou definitivo para o trabalho a perda de produo significa 42,8% desse total. Os custos com os veculos representam 28,8%, e com o atendimento mdico-hospitalar e reabilitao das vtimas outros 15,5%. A pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), s no contabilizou os acidentes ocorridos nos trechos no urbanos das rodovias, nem a dor de vtimas e parentes, tendo sido postos a ponta do lpis todos os outros componentes de custos, desde resgates a congestionamentos. Pode-se expor, como exemplo dos nmeros narrados, o fato ocorrido na madrugada do dia 03 de setembro de 2006, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, quando cinco jovens morreram vitimados por acidente automobilstico. Dos ocupantes do veculo (total de cinco), quatro estavam com nvel alcolico acima do permitido pelo Cdigo de Trnsito Brasileiro (CTB), inclusive o motorista que apresentava teor alcolico superior a duas vezes o permitido, visto que o CTB considera embriagado o condutor que estiver sob influncia de lcool a partir de 6 decigramas (dg) por litro (l) de sangue. seguir4:Laudo de acidente na Lagoa: carro estava a mais de 100km/h Publicada em 14/09/2006 s 20h11m. O Globo Online, O Globo e TV Globo Cinco jovens morrem em acidente na Lagoa no dia 3 de setembro - Foto: Domingos Peixoto RIO - O laudo do Instituto de Criminalstica Carlos boli (ICCE) sobre o acidente que deixou cinco jovens mortos na Lagoa , divulgado nesta quinta-feira, confirmou que o carro trafegava em uma velocidade superior a 100km/h, como j havia adiantado uma perita do instituto ao jornal O Globo. Na avenida, o limite de velocidade de 70km/h. Ainda de acordo com a perita, nenhum dos cinco jovens usava cinto de segurana no momento do acidente.[...]3

ALMEIDA , Juelci de. Trnsito: legislao, doutrina, prtica, jurisprudncia, aes judiciais, processos administrativos, municipalizao. So Paulo: Ed. Primeira Impresso, 2004. p.6 e 7. 4 Notcias Automotivas, Rio de Janeiro. Disponvel em: < www.noticiasautomotivas.com.br/acidentecinco-jovens-honda-civic-lagoa-rodrigo-de-freitas/>. Acesso em: 30 abr. 2007.

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A percia inicial verificou ainda que no havia marcas de frenagem na pista.[...] Um laudo do Instituto Mdico-Legal, divulgado esta semana, revelou que quatro dos cinco jovens estavam embriagados. O resultado do teste de alcoolemia, feito pelo Laboratrio de Toxicologia do IML, revelou que Ivan Rocha Guida, de 18 anos, o motorista do Honda Civic, tinha uma concentrao de lcool no sangue de 1,39g/L (grama por litro). Dos cinco jovens, s Ana Clara Rocha Padilha, de 17 anos, namorada de Ivan, no bebeu. Seu exame deu zero. De acordo com o Cdigo de Trnsito Brasileiro, a pessoa com ndice acima de 0,6g/L j considerada incapaz de dirigir, ou seja, est em estado de embriaguez. O exame revelou que Felipe Travassos de Azevedo Villela, de 22 anos, tinha 1,97g/L de lcool no sangue; Manoela de Billy Rocha, de 16, 0,78g/L; e Joana Kuo Chamis, de 17, 0,69g/L. (NOTCIAS AUTOMOTIVAS, 2006, grifo nosso)

Diante dessa triste realidade, a legislao brasileira concernente ao uso das vias terrestres por pessoas e veculos vem ampliando-se com grande rapidez, porm, algumas vezes de forma desconexa e desorganizada, deixando uma srie de lacunas e imprecises. A Lei n 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Cdigo de Trnsito Brasileiro (CTB), em vigor h pouco mais de 8 anos, j foi alterada sete vezes. As Leis n 9.602/98, 9.792/99, 10.350/01, 10.517/02, 10.830/03, 11.275/06 e 11.334/06 alteraram alguns artigos do CTB visando melhor adequar a legislao existente realidade do trnsito, porm, algumas delas, trazem mudanas que podem ir de encontro aos interesses da coletividade, o que ser objeto deste estudo. Esse quadro tende a ampliar-se em muito, nem curto perodo de tempo. Para isso, basta saber que, conforme pesquisa realizada pelo 1 Tenente Julyver Modesto de Arajo (2007), Conselheiro do Conselho Estadual de Trnsito de So Paulo (CETRAN/SP), existem 34 projetos de lei visando alterar o CTB em tramitao na Cmara dos Deputados, sendo que 12 destes j se encontram no Senado Federal. Outros 306 projetos foram arquivados ao final do ms de janeiro de 2007, em obedincia ao que dispe o art.105, pargrafo nico, do Regimento Interno da Cmara dos Deputados, que determina o arquivamento de todas as proposies em tramitao, finda a legislatura, salvo as: a) com pareceres favorveis de todas as comisses; b) j aprovadas em turno nico, em primeiro ou segundo turno; c) que tenham tramitado no Senado, ou dele originrias; d) de iniciativa popular; e e) de iniciativa de outro poder ou do Procurador Geral da Repblica. O desarquivamento

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pode ser feito nos primeiros 180 dias da primeira sesso legislativa da prxima legislatura, que se iniciou em 01 de fevereiro de 2007, mas somente por requerimento do autor e desde que este tenha sido reeleito, o que remonta ao nmero de 131 projetos de Lei que podero, nestas circunstncias, ser colocados novamente em pauta. Inobstante a constante mutao da Lei Central, cabe ainda indicar as mais de 230 Resolues expedidas pelo Conselho Nacional de Trnsito, CONTRAN, visando melhor disciplinar algumas das inmeras lacunas deixadas por aquela, o que comprova o constante ciclo normatizante que envolve, por necessidade, a realidade mutacional do trnsito brasileiro. Nesse contexto mutante que visa, principalmente, melhorar a qualidade de vida dos cidados em meio a prover-lhes uma maior segurana viria, o presente estudo foca-se na Lei n 11.275/06, que, ao disciplinar alguns aspectos relativos ao consumo de lcool por parte do condutor, levanta suspeitas se possui realmente o condo de incrementar a punibilidade e a severidade em relao a tal causa inquestionvel de mortes no trnsito. Mais precisamente, analisar-se- a incluso do Inciso V no art. 302 do CTB, o qual inclui a ingesto de lcool como causa de aumento de pena no crime de homicdio praticado na direo de veculo automotor. Ser tal dispositivo um real agravamento da punio ou apenas um modo de dissimular e tornar insustentvel a argumentao do dolo eventual em virtude da ingesto de bebida alcolica? Ser um acerto legislativo na tentativa de tornar certa uma pena mais rigorosa e, ao mesmo tempo, conter o demasiado elastecimento do conceito de dolo eventual? Ou ainda, ser mais um ato de uma desastrosa poltica criminal que ao tentar agravar a sano de determinado tipo penal acaba por diminuir a carga punitiva da conduta a ser combatida? Pretende-se aqui formar uma gama de informaes que tornem o questionamento supra translcido, no que, necessariamente, h de se passar por noes histricas, estudos tcnicos e estatsticos, conhecimentos gerais acerca do CTB (sobretudo analisando sua finalidade e aplicabilidade legal), alm de basilares princpios

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15

jurdicos

e

importantssimas

consideraes

doutrinrias

e

jurisprudenciais

envolvendo crimes de trnsito, dolo eventual e culpa consciente.

2. A LEGISLAO DE TRNSITO BRASILEIRA

2.1.

Aspectos Histricos

Buscando melhor compreender as atuais normas que regem a circulao do trnsito, faz-se salutar expor suas pretritas origens e evoluo.

2.1.1. O DESENVOLVIMENTO DO TRNSITO NO MUNDO

A atividade de deslocamento do homem remonta a era primitiva, quando as tribos deslocavam-se em busca de alimentos. Evoluindo, criam-se novos artefatos, tais como a roda, que passam a facilitar o transporte tribal. Com o desenvolver das civilizaes, observa-se na histria do homem a construo de grandes malhas virias, as quais possibilitavam uma circulao mais rpida e segura, como por exemplo, o sistema rodovirio do Imprio Romano. Construdo nos tempos de paz pelos soldados romanos, visava garantir a segurana, a comunicao e o desenvolvimento das provncias, alm de fazer parte de um sistema estratgico de guerra, garantindo o deslocamento das tropas de forma mais segura e eficaz. Este sistema alcanou os 80.000 kilmetros (Km) ainda por volta do

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ano 100 depois de Cristo (DC)5, facilitando em muito a notria expanso do Imprio por meio do deslocamento de seus exrcitos (que utilizavam tais vias), chegando a mais de 100.000 Km de extenso6, no auge da expanso quando o Imprio Romano chegou a ter uma extenso de 5 (cinco) milhes de Km7.

MAPA 1 - ESTRADAS DO IMPRIO ROMANO. Fonte: Atlas Histrico. 1995. p.26.

Alm do desenvolvimento de um sistema rodovirio que influenciou, em muito, os sistemas desenvolvidos por outros povos, tenham sido eles dominados ou no pelo Imprio Romano, a cultura romana se fez bastante presente, principalmente atravs do Direito, que influencia at hoje a legislao de vrios povos, como o caso do Brasil. Segundo pesquisa realizada por Tomas Cano Campos (apud HONORATO, 2004, p. 2), as principais funes da legislao romana referentes ao trnsito da poca do Imprio, constantes no Digesto, eram: (I) cuidar da conservao das vias pblicas,ATLAS Histrico. So Paulo: Editorial Marini S.A.,1995. p. 28. HONORATO, Cssio Mattos. Sanes do Cdigo de Trnsito Brasileiro. So Paulo: Ed. Millennium, 2004. p.1 7 ENCICLOPDIA Mirador Internacional. So Paulo/Rio de Janeiro: Ed. Mirador, 1995. p. 9996.6 5

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(II) manter a segurana das mesmas e (III) garantir o livre trnsito por elas, alm de outras normas voltadas necessidade de limitar a circulao dos centros habitados, por problemas de insegurana e congestionamento que os veculos ocasionavam s grandes cidades 8.

FOTOGRAFIA 1 - RUNAS DE UMA DAS VIAS DO IMPRIO ROMANO. Fonte. Atlas Histrico. 1995. p.27.

Estudos de Cssio Mattos Honorato, apontam que durante a Idade Mdia no houve uma preocupao com a manuteno das vias de comunicao e as vias pavimentadas, fazendo com que estas quase que desaparecessem por completo e, nem tampouco, qualquer interveno nas normas que regulavam a utilizao das mesmas. Somente sculos depois as naes da Europa voltaram a se preocupar com a segurana dos usurios e a conservao dos caminhos, em especial a Espanha que, preocupada com a segurana dos peregrinos que utilizavam o Caminho para Santiago de Compostella , estabeleceu, no sculo XIII, normas8 99

HONORATO, 2004, p. 2. HONORATO, 2004, p. 3.

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especficas para a utilizao das vias que foram consideradas bens pblicos, equiparadas, assim, a outras instituies medievais. Os demais pases s retomaram a construo dos caminhos a partir do sculo XVII, com destaque para a Frana, que possua os melhores sistemas de transporte terrestre do mundo. Surge em meio s normas de utilizao das vias, conseqentemente, a previso do cometimento de infraes, cujas penas eram influenciadas pelos costumes dos povos de cada poca, evoluindo desde antigas penas corporais, tais como o aoite, at as atuais penas pecunirias, restritivas de direitos e privativas de liberdade. TABELA 1 EVOLUO HISTRICA DAS PENAS Antigidade Em regra as infraes eram punidas com penas corporais e cruis, tais como o aoite (v.g., Talio e Lei das XII Tbuas.) Idade Mdia Idade Moderna A partir de 1789 Foram abolidas aos poucos as penas corporais, dando espao ao surgimento das penas administrativas. Idade Contempornea

Surgem a priso Estado e a priso eclesistica10, mas as penas corporais ainda permanecem.

penas pecunirias, restritivas de direitos e privativas de liberdade.

Fontes: HONORATO, Cssio Mattos - Sanes do Cdigo de Trnsito Brasileiro, 2004/ FOUCAULT, Michel - Vigiar e punir: nascimento da priso,1999.

A Revoluo Industrial (1760-1830), onde se criou o motor de combusto interna, foi um grande marco no desenvolvimento do trnsito. Um sculo mais tarde foi iniciada a fabricao do automvel. O avano tecnolgico causado pela Revoluo Industrial no poderia deixar de refletir sobre o fenmeno trnsito, trazendo tona fenmenos tais como: urbanizao rpida e intensa; avano das regies industriais sobre as rurais; incremento do comrcio interno e internacional; aperfeioamento dos meios de transporte; e, crescimento demogrfico11 .

10

No citado estgio da civilizao, a priso pode ser dividida, consoante Cezar Roberto Bitencourt , em priso Estado e priso eclesistica. A primeira servia para recolher os inimigos do poder e portanto do Estado, que cometessem crimes de traio poltica, podendo ser desdobrada em prisocustdia, apenas com finalidade de guardar o ru at momento da execuo, ou como deteno temporal ou perptua, esta ltima com carter de pena efetiva, a bastilha de Paris um dos exemplos. A priso eclesistica destinava-se aos membros da igreja que transgredissem determinadas normas internas e proporcionava com a prtica da orao o meio para se alcanar o arrependimento e a correo. 11 HONORATO, 2004, p. 5.

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A grande procura e o uso generalizado do automvel fez com que a sua fabricao alcanasse o auge no incio do sculo XX, quando, por conseqncia, eclodiram vrios problemas referentes sua circulao nas vias, forando adaptaes estruturais e legais, o que originou a legislao moderna de trnsito.

2.1.2. O TRNSITO NO BRASIL

No Brasil, a primeira legislao de trnsito surgiu em 1910, tendo por finalidade disciplinar os servios de transporte por automvel. Ela determinava, por exemplo, a verificao das condies do veculo, a fim de preservar a segurana dos usurios e pedestres. O primeiro cdigo de trnsito do Brasil, porm, s foi aprovado em 1941, quase duas dcadas aps a implantao da indstria automobilstica no Brasil. A partir da houve um grande crescimento da frota de veculos em circulao no pas. Esse fato exigiu uma reviso das leis em vigor, culminando com a aprovao da Lei n 5.108 de 21 de setembro de 1966, instituidora do Cdigo Nacional de Trnsito (CNT), o qual foi regulamentado dois anos mais tarde. Nas dcadas de 70 e 80, o nmero de acidentes no trnsito cresceu assustadoramente, ceifando muitas vidas e fazendo com que a sociedade clamasse por mais rigor nas penas impostas a infratores das leis de trnsito. Num contrasenso, a Lei n 5.108/66 no previa nenhum crime de trnsito, fazendo com que, sempre que necessrio, fosse utilizado o Cdigo Penal Brasileiro (CPB) para qualificar os crimes mais graves cometidos no trnsito, tais como homicdio e leso corporal. Foi nesse contexto, visando sobretudo a preservao da vida humana, que foi aprovado em 23 de setembro de 1997 o Novo Cdigo de Trnsito Brasileiro CTB, Lei n 9.503, que permaneceu em vacatio at o incio de 1998, trazendo consigo a previso legal dos crimes de trnsito e de penalidades mais rigorosas aos infratores.

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Como j fora visto anteriormente, o CTB j foi alterado sete vezes, tendo sido ainda complementado administrativamente por mais de 230 Resolues do Conselho Nacional de Trnsito (CONTRAN).

2.2.

O Cdigo de Trnsito Brasileiro - Lei n 9.503 de 23 de

setembro de 1997

2.2.1. DA APLICABILIDADE

O Cdigo de Trnsito Brasileiro, institudo pela Lei n 9.503/97, possui algumas especificidades j em seus primeiros artigos que, por si s, estabelecem o meio no qual se aplicar tal instrumento legal. Nesse sentido, faz-se necessrio analisar de pronto, precpua regra geral, cuja aplicao estabelecer o entorno limite do objeto de estudo. Dispe o CTB em seu art. 1: O trnsito de qualquer natureza nas vias terrestres do territrio nacional, abertas circulao, rege-se por este Cdigo. (CTB, 1997) O art. 1 do CTB trata, justamente, da sua aplicabilidade, limitando a rea de incidncia da Lei. Assim, pode-se explanar que tal diploma legal rege a utilizao, de qualquer forma, das vias pblicas. Ao mencionar "o trnsito de qualquer natureza", pretende o legislador estabelecer que, independente da maneira de utilizao da via, seja por veculos, por pedestres ou mesmo por animais (devidamente conduzidos, claro), obrigatrio o atendimento s regras devidamente impostas. Alm disso, no s o usurio da via foi colocado de maneira genrica, mas tambm a forma de utilizao, seja para movimentao ou imobilizao, termos esses integrantes do conceito de trnsito, de acordo com o Anexo I do CTB, in verbis:

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TRNSITO - movimentao e imobilizao de veculos, pessoas e animais nas vias terrestres. (CTB, 1997, grifo nosso). A limitao das vias terrestres demonstra que o CTB constitui lei especial para regular apenas este tipo de via, sendo certo que o transporte (e da no dizermos trnsito) areo ou aqutico (martimo, fluvial ou lacustre) regula-se por legislao prpria. Quanto aplicao do CTB em todo o territrio nacional, importa ressaltar que a disposio de seus limites constitui matria que cabe ao Congresso Nacional, com a sano do Presidente da Repblica, segundo o art. 48, da Constituio Federal de 1988 (CF/88). tambm na Carta Magna que encontramos o dispositivo legal que confere Unio a competncia privativa para legislar sobre trnsito e transportes art. 22, XI, CF, motivo pelo qual somente se admite uma legislao de trnsito que seja vlida, efetivamente, para todo o pas:Art. 22. Compete privativamente Unio legislar sobre: [..] XI - trnsito e transporte; [...] Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sano do Presidente da Repblica, no exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matrias de competncia da Unio, especialmente sobre:[...] (CF, 1988).

Embora no tenha sido utilizada a expresso "vias pblicas" na redao do art. 1 do CTB, preferindo o legislador o termo "vias terrestres abertas circulao", coerente entender que tais termos se equivalem, de forma que somente se aplicam as regras de trnsito, institudas pela lei, s superfcies por onde transitam veculos, pessoas e animais, compreendendo assim pista, calada, acostamento, ilha e canteiro central, quando elas estiverem inseridas no contexto de bem pblico de uso comum do povo, nos termos do art. 99, I, da Lei n 10.406/02 - Cdigo Civil (CC). O anexo I do CTB diz que via a superfcie por onde transitam veculos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calada, o acostamento, ilha e canteiro central. (CTB 1997). J o CC, em seu art. 99, inciso I, diz serem bens pblicos os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praas; (CC, 2002).

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Bem por essa razo, foi necessria a incluso, no pargrafo nico do art. 2 do CTB, que faz meno expressa das vias internas pertencentes a condomnios, numa clara exceo regra, a fim de que a lei pudesse ser aplicada em vias consideradas particulares:Art. 2 So vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as avenidas, os logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias, que tero seu uso regulamentado pelo rgo ou entidade com circunscrio sobre elas, de acordo com as peculiaridades locais e as circunstncias especiais. Pargrafo nico. Para os efeitos deste Cdigo, so consideradas vias terrestres as praias abertas circulao pblica e as vias internas pertencentes aos condomnios constitudos por unidades autnomas. (CTB, 1997).

Desta forma, com base no que fora exposto e na legislao supra, pode-se aferir que o Cdigo de Trnsito no se aplica a vias particulares ou reas internas, como propriedades privadas, estacionamentos de supermercados, shoppings e

congneres, muito embora as regras nele estabelecidas possam ser usadas, nestes locais, como referncia, por exemplo, na implantao da sinalizao de trnsito ou na orientao de trfego, conforme as normas gerais de circulao e conduta12. Cabe ressaltar que a legislao de trnsito no se encerra no CTB, mas compreende as normas em sentido amplo, representadas pelos atos normativos emanados pelos rgos de trnsito, em especial as Resolues do CONTRAN, que complementam o Cdigo de Trnsito.

2.2.2. DO CONCEITO DE TRNSITO O conceito de trnsito, consignado no art. 1, 1, do CTB, apresentado, de maneira mais sinttica, no Anexo I do Cdigo. Em ambas as definies, verifica-se que, diferentemente do que muitos imaginam, trnsito no traduz apenas a idia de movimento, mas abrange tambm a imobilizao na via pblica. Vejamos:

Publicao no Dirio Oficial do Estado de So Paulo de 04 set. 04 (Ata da 37 Sesso Extraordinria de 2004, do CETRAN/SP).

12

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Art. 1. [...] 1 Considera-se trnsito a utilizao das vias por pessoas, veculos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou no, para fins de circulao, parada, estacionamento e operao de carga ou descarga. [...] TRNSITO - movimentao e imobilizao de veculos, pessoas e animais nas vias terrestres. (CTB, 1997, grifo nosso).

Comparando-se as duas definies apresentadas, inicialmente pode-se equiparar as expresses circulao e movimentao, dando-se a idia de uma utilizao dinmica das vias. A mesma equivalncia no se aplica no entanto quando se trata do uso de maneira esttica, uma vez que o termo imobilizao, utilizado no Anexo I, mais abrangente do que as situaes elencadas no 1 do art. 1 do CTB. Verifica-se de pronto a impropriedade de somar a operao de carga ou descarga ao final do texto legal, pois est se enquadra no conceito de estacionamento, por fora legal. Vejamos:Art. 47. [...] Pargrafo nico. A operao de carga ou descarga ser regulamentada pelo rgo ou entidade com circunscrio sobre a via e considerada estacionamento. (CTB, 1997).

Analisando-se, portanto, as situaes consideradas pelo CTB como exemplos de imobilizao e considerando-se incorporada a operao de carga ou descarga ao conceito de estacionamento, teremos as seguintes espcies do gnero imobilizao:PARADA - imobilizao do veculo com a finalidade e pelo tempo estritamente necessrio para efetuar embarque ou desembarque de passageiros; ESTACIONAMENTO - imobilizao de veculos por tempo superior ao necessrio para embarque ou desembarque de passageiros; INTERRUPO DE MARCHA - imobilizao do veculo para atender circunstncia momentnea do trnsito. (CTB, 1997).

Percebe-se que tais conceitos, a comear por suas redaes, contemplam apenas a imobilizao de veculos, no havendo, na verdade, previso no Cdigo de Trnsito

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de situaes que regulem a utilizao esttica da via pblica por pessoas ou animais. O Captulo IV do CTB, que trata dos pedestres e condutores de veculos no motorizados, retrata, dos arts. 68 a 71, apenas a forma de utilizao da via para circulao dos pedestres, fazendo uma nica meno parada (de forma genrica e no como sinnimo de embarque e desembarque, logicamente), quando probe a imobilizao do pedestre sobre a pista, sem necessidade, uma vez iniciada sua travessia. A seguir:Art. 69. Para cruzar a pista de rolamento o pedestre tomar precaues de segurana, levando em conta, principalmente, a visibilidade, a distncia e a velocidade dos veculos, utilizando sempre as faixas ou passagens a ele destinadas sempre que estas existirem numa distncia de at cinqenta metros dele, observadas as seguintes disposies: [...] III - nas intersees e em suas proximidades, onde no existam faixas de travessia, os pedestres devem atravessar a via na continuao da calada, observadas as seguintes normas: [...] b) uma vez iniciada a travessia de uma pista, os pedestres no devero aumentar o seu percurso, demorar-se ou parar sobre ela sem necessidade. (CTB, 1997).

Quanto aos animais, embora a utilizao das vias por eles esteja englobada no conceito de trnsito e, portanto, regulamentada pelo CTB, cabe ressaltar que, por razes bvias, que impossibilitam a exigncia de seu cumprimento por seres irracionais, as regras no se aplicam diretamente a esses, mas sim aos seus responsveis, o que fica claro quando da anlise do disposto no art. 53, que obriga a conduo dos animais por um guia, norma esta que se complementa com a medida administrativa capitulada no artigo 269, inciso X, de recolhimento de animais que se encontrem soltos nas vias e na faixa de domnio das vias de circulao (restituindose aos seus proprietrios, aps o pagamento de multas e encargos devidos). Vejamos:Art. 53. Os animais isolados ou em grupos s podem circular nas vias quando conduzidos por um guia, observado o seguinte: [...] Art. 269. A autoridade de trnsito ou seus agentes, na esfera das competncias estabelecidas neste Cdigo e dentro de sua circunscrio, dever adotar as seguintes medidas administrativas:

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[...] X - recolhimento de animais que se encontrem soltos nas vias e na faixa de domnio das vias de circulao, restituindo-os aos seus proprietrios, aps o pagamento de multas e encargos devidos. (CTB, 1997).

Sendo assim, h de se preferir o conceito de trnsito trazido pelo Anexo I do CTB, tendo em vista que as trs formas de utilizao da via, previstas no 1 do artigo 1, no atingem as pessoas e os animais, mas apenas os veculos, o que permite concluir, de maneira bem simplista, que trnsito significa, pura e simplesmente, utilizao da via pblica (no importa por quem, no importa para qu).

2.2.3. DO DIREITO AO TRNSITO SEGURO

O prprio CTB, de forma expressa, prev como direito coletivo, a segurana no trnsito, ainda que sejam conhecidas as inmeras variveis, muitas delas subjetivas, que devem ser respeitadas para sua real implementao. Explicita-se:Art. 1. [...] 2 O trnsito, em condies seguras, um direito de todos e dever dos rgos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trnsito, a estes cabendo, no mbito das respectivas competncias, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito. (CTB, 1997, grifo nosso).

Essa norma possui amplitude de princpio, o qual se denomina princpio da universalidade do direito ao trnsito seguro, uma vez que cria um direito aplicvel a todos, indistintamente, o que no significa, entretanto, que, por ser direito, no represente igualmente uma obrigao, pois a segurana do trnsito depende, logicamente, de uma participao de toda a sociedade, no sendo possvel esperar que apenas os rgos e entidades de trnsito se responsabilizem pela garantia a esse direito. Nesse sentido, o art. 28 do CTB demonstra a preocupao do legislador, assim como em outros artigos, de impor a participao do usurio da via na garantia do

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trnsito seguro, chegando-se, at mesmo, a estabelecer uma regra para gradao da responsabilidade, nos termos do 2 do art. 29. In verbis:Art. 28. O condutor dever, a todo momento, ter domnio de seu veculo, dirigindo-o com ateno e cuidados indispensveis segurana do trnsito. Art. 29. [...] 2 Respeitadas as normas de circulao e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veculos de maior porte sero sempre responsveis pela segurana dos menores, os motorizados pelos no motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres. (CTB, 1997, grifo nosso).

A redao do 2 do artigo 1 do CTB acaba por remeter disposio constitucional que trata, justamente, da segurana pblica, conforme previso do artigo 144 da CF/88:Art. 144. A segurana pblica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, exercida para a preservao da ordem pblica e da incolumidade das pessoas e do patrimnio, atravs dos seguintes rgos:[...]. (CF, 1988).

Percebe-se o legislador constituinte, que deveria ter sido imitado neste aspecto pelo legislador de trnsito, preocupou-se em mencionar, expressamente, que, apesar de ser um direito, a segurana pblica de responsabilidade de todos, o que refora o raciocnio supramencionado. Partindo agora para o prisma das medidas a serem adotadas pelos rgos e entidades de trnsito, no mbito das respectivas competncias, inicialmente h que destacar que, de acordo com o artigo 19, inciso XII, do CTB, cabe ao DENATRAN, por meio do Fundo Nacional de Segurana e Educao de Trnsito (FUNSET) a operacionalizao da segurana e educao de trnsito, de acordo com o artigo 4 da Lei n 9.602, de 21/01/98, com o percentual de cinco por cento do valor das multas de trnsito arrecadadas, a que se refere o pargrafo nico do artigo 320 do CTB:Art. 19. Compete ao rgo mximo executivo de trnsito da Unio: de trnsito e as estatsticas do trnsito; [...]

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XII - administrar fundo de mbito nacional destinado segurana e educao de trnsito; [...] Art. 320. [...] Pargrafo nico. O percentual de cinco por cento do valor das multas de trnsito arrecadadas ser depositado, mensalmente, na conta de fundo de mbito nacional destinado segurana e educao de trnsito. (CTB, 1997, grifo nosso).

Art. 4 O Fundo Nacional de Segurana e Educao de Trnsito - FUNSET, a que se refere o pargrafo nico do art. 320 da Lei n 9.503, 23 de setembro de 1997, passa a custear as despesas do Departamento Nacional de Trnsito - DENATRAN relativas operacionalizao da segurana e educao de Trnsito. (Lei n 6.602, 1998).

A segurana do trnsito , indubitavelmente, a maior preocupao que norteia a aplicao do CTB, devendo-se lembrar que foram exatamente os ndices alarmantes de acidentes automobilsticos e sua correspondente mortalidade que motivaram as mudanas na legislao de trnsito brasileira, de forma a trazer regras mais rigorosas para a relao homem x automvel.

2.2.4. DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DOS COMPONENTES DO SISTEMA NACIONAL DE TRNSITO (SNT)

Ainda no contexto da segurana do trnsito, a responsabilidade objetiva vem tona logo no incio do CTB:Art. 1. [...] 3 - Os rgos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trnsito respondem, no mbito das respectivas competncias, objetivamente, por danos causados aos cidados em virtude de ao, omisso ou erro na execuo e manuteno de programas, projetos e servios que garantam o exerccio do direito do trnsito seguro. (CTB, 1997).

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O artigo 37, 6, da Constituio Federal - CF/88, estabelece o seguinte:Art. 37. [...] 6 - As pessoas jurdicas de direito pblico e as de direito privado prestadoras de servios pblicos respondero pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsvel nos casos de dolo ou culpa. (CF, 1988).

De igual sorte, prev o artigo 43 do Cdigo Civil (CC):Art. 43. As pessoas jurdicas de direito pblico interno so civilmente responsveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. (CC, 2002).

Proeminentemente, destaca-se a distino entre a responsabilizao penal e civil, esta ltima a que ora ser tratada e, tradicionalmente, se baseia na idia de culpa, tomada em seu sentido lato, abrangendo tambm o dolo, ou seja, todas as espcies de comportamentos contrrios ao direito, intencionais ou no, representados pela falta de diligncia na observncia da norma de conduta, estando, destarte, ligada ao especfico dever de indenizao por fatos lesivos. Historicamente, verifica-se que no Estado absolutista no havia qualquer determinao da responsabilidade objetiva para a atividade estatal, avaliando-se apenas a conduta do prprio agente, que era tida como ilcita toda vez que causasse algum prejuzo, tendo em vista que o Estado figurava como guardio da legalidade e, por isso, no se aventava qualquer eventual indenizao de sua parte, porque todos os seus atos eram tidos como legais. Aps a Revoluo Francesa, surgiu outra concepo diametralmente oposta, consignada na Teoria do risco integral para a Administrao pblica, segundo a qual todo dano causado deveria ser indenizado, ainda que ocasionado por caso fortuito, fora maior ou culpa exclusiva da vtima. No Brasil, no se admitiu a Teoria do risco integral, optando-se pela Teoria do risco administrativo, sob a idia de que todo risco deve ser alvo de garantia, independente de culpa (no sentido amplo), mas excluindo-se as situaes que acabem por separar o nexo causal entre a conduta do Estado e o dano causado ao particular, sendo a

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Constituio Federal de 1946 a primeira a estabelecer taxativamente a idia da responsabilidade objetiva da Administrao pblica, atualmente mantida pelo artigo 37, 6 da CF/88, conforme acima transcrito. Ao prescrever a responsabilidade objetiva para a Administrao pblica, pretendeu o legislador ptrio fixar maior grau de comprometimento do Estado, em relao iniciativa privada, obrigando que a Administrao exera, em sua plenitude, o dever de vigiar a atuao de seus representantes, arcando com o nus decorrente dos danos por eles causados. Assim, ainda que no haja inteno na produo do dano ou que tenha o agente assumido o risco de sua ocorrncia (caractersticas da ao dolosa), bem como ainda que no tenha o mesmo agido com imprudncia, negligncia ou impercia (constituindo-se a culpa no sentido estrito), caber Administrao pblica a responsabilidade pela reparao do mal causado, bem como por eventuais indenizaes ao prejudicado, o que caracteriza a chamada responsabilidade objetiva, bastando, para sua configurao, a existncia do nexo causal, isto , a relao entre causa e efeito, que demonstre a ao do agente pblico e o dano resultante. A responsabilidade subjetiva (em que se avalia o dolo ou a culpa) somente ser objeto de apreciao na anlise da conduta do prprio agente pblico, o qual poder sofrer ao de regresso, nos termos da parte final do artigo constitucional acima transcrito, para restituir Administrao o que esta, num primeiro momento, tenha respondido objetivamente. Esta premissa constitucional, aliada aos princpios elencados no caput do artigo 37 (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia), oferece a garantia da proteo aos direitos de todo cidado, que, em uma eventual ao judicial indenizatria, no necessita comprovar a inteno na produo do resultado danoso, limitando-se a demonstrar o liame de causalidade que impute responsabilidade Administrao pblica. A abrangncia da responsabilidade objetiva, quanto forma de conduta do agente pblico, se por ao ou omisso, divide os doutrinadores. Parte da doutrina de Direito Administrativo, em que destacamos os eminentes juristas Celso Antnio

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Bandeira de Melo e Maria Sylvia Zanella di Pietro, vem se posicionando no sentido de que a responsabilidade objetiva da Administrao pblica somente se aplica aos danos causados na forma comissiva (por ao), j que o dispositivo constitucional utiliza a expresso "causarem a terceiros...", complementando o ensinamento de que para os danos ocasionados por omisso, dever-se-ia avaliar a responsabilidade subjetiva, ou seja, se houve, efetivamente, o dolo ou a culpa do agente pblico. Embora, para Celso Antonio Bandeira de Melo, a conduta omissiva seja condio e no causa (da a concluso alcanada), outra parte considervel dos doutrinadores, entre eles o Ilustre Desembargador lvaro Lazzarini, admite a responsabilidade objetiva na forma omissiva, tendo em vista que, nas obrigaes jurdicas, possvel entender a omisso como causa do dano, naqueles casos em que aquela seja o deflagrador primrio deste. Ao largo desta discusso doutrinria, convm ressaltar que a omisso tem sido includa no contexto da responsabilidade objetiva no corpo de legislao especial, como ocorre com o direito do consumidor13 e no direito ambiental14. No trnsito, objeto do presente estudo, verifica-se que a legislao especial trouxe condio igualmente diferenciada, ao prever, no 3 do artigo 1 do Cdigo de Trnsito Brasileiro (1997), que "os rgos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trnsito respondem, no mbito das respectivas competncias, objetivamente, por danos causados aos cidados em virtude de ao, omisso ou erro na execuo e manuteno de programas, projetos e servios que garantam o exerccio do direito do trnsito seguro". Ressalta-se que, assim como a Constituio Federal cuidou de mencionar as pessoas jurdicas de direito pblico e as de direito privado prestadoras de servios pblicos, o CTB envolveu, na questo da responsabilidade objetiva, tanto os rgos, quanto as entidades componentes do Sistema Nacional de Trnsito, o que equivale dizer que a regra se aplica tanto Administrao pblica direta quanto indireta.

Cdigo de Defesa do Consumidor: Art. 14. O fornecedor de servios responde, independentemente da existncia de culpa, pela repareo dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos prestaao dos servios, [...] 14 Lei n 6.938/81: Art. 14, [...] 1: Sem obstar a aplicao das penalidades previstas neste artigo, o poluidor obrigado, independentemente da existncia de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. [...]

13

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Na atividade dos rgos e entidades de trnsito, entendemos que o legislador preocupou-se em mencionar, expressamente, a omisso e o erro na execuo e manuteno de programas, projetos e servios, justamente pelo dever legal que possui o Sistema Nacional de Trnsito, no sentido de garantir o direito ao trnsito seguro. Outro dispositivo legal que merece destaque o dever de indenizar, tratado no artigo 927 do Cdigo Civil, nos seguintes termos:Art. 927. Aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo. Pargrafo nico. Haver obrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. (CC,2002).

Sob este aspecto, refora-se o demonstrado posicionamento, quanto incluso da conduta omissiva na responsabilidade objetiva dos rgos de trnsito, acerca do fato de que, pela obrigatoriedade de submisso da Administrao pblica ao princpio constitucional da legalidade, toda omisso acaba por refletir em descumprimento da prpria lei, o que, por si s, configura ato ilcito e, portanto, indenizvel. Se para os atos lcitos, posio pacfica da doutrina o cabimento da responsabilidade objetiva do Estado, com muito mais rigor o ser em relao aos atos que contrariem a prpria lei. Infelizmente, no so raros os casos de omisses e erros nas atividades dos rgos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trnsito, o que deve ser visto com muita preocupao e cautela por seus dirigentes, os quais devem envidar esforos para elimin-los, diante do que nos resta, em vista de todo o exposto, concitar os rgos e entidades de trnsito ao cumprimento irrestrito do disposto no CTB, em especial quanto s suas competncias, delineadas dos artigos 12 a 24, a fim de que eventuais aes, omisses ou erros no acarretem, para a Administrao pblica, a responsabilidade objetiva pelos danos causados sociedade.

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2.2.5. DA PRIORIDADE EXPRESSA DEFESA DA VIDA

No eclodem dvidas, numa simples anlise do direito ptrio, quando suscita-se o irrestrito grau de preocupao com o direito vida, tido como o bem maior a ser tutelado. O CTB seguiu tal linha, visto o grande nmero de vidas que anualmente so perdidas em virtude de derivaes do trnsito. In verbis:Art. 1. [...] 5 Os rgos e entidades de trnsito pertencentes ao Sistema Nacional de Trnsito daro prioridade em suas aes defesa da vida, nela includa a preservao da sade e do meio-ambiente. (CTB, 1997).

Disposio semelhante prevista no 1 do artigo 269 do CTB, segundo o qual:Art. 269. [...] 1 A ordem, o consentimento, a fiscalizao, as medidas administrativas e coercitivas adotadas pelas autoridades de trnsito e seus agentes tero por objetivo prioritrio a proteo vida e incolumidade fsica da pessoa. (CTB, 1997).

Percebe-se, em tais dispositivos, a constante preocupao do legislador em vincular as atividades de trnsito, de forma abrangente, garantia do direito ao trnsito seguro, dever dos rgos de trnsito, nos termos do j explanado 2 do artigo 1 CTB. Inclu-se ainda a proteo ao meio-ambiente nas questes de trnsito, seguindo ao encontro da cada vez mais presente regulamentao do setor, como pode ser visto na Constituio Federal de 1988, que reservou Captulo especfico (Captulo VI do Ttulo VIII), do qual se destaca em nosso estudo o seu artigo 225:Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes. (CF, 1988).

Ainda na Carta Magna, vale destacar o direito fundamental previsto no artigo 5, inciso LXXIII, bem como a prescrio trazida no artigo 23, inciso VI, assim dispostos:

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Art. 5. [...] LXXIII - Qualquer cidado parte legtima para propor ao popular que vise a anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m-f, isento de custas judiciais e do nus da sucumbncia [...] Art. 23. [...] VI - competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios [...] proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas. (CF, 1988).

Neste diapaso e a fim de garantir a constante preservao da sade e do meio ambiente na elaborao de normas complementares ao CTB, tratou o legislador de estabelecer, na composio do Conselho Nacional de Trnsito, um representante do Ministrio do Meio Ambiente e da Amaznia Legal e outro do Ministrio da Sade, conforme incisos VI e XXII do artigo 10 do CTB. Vejamos:Art. 10. O Conselho Nacional de Trnsito - CONTRAN, com sede no Distrito Federal e presidido pelo dirigente do rgo mximo executivo de trnsito da Unio, tem a seguinte composio: [...] VI - um representante do Ministrio do Meio Ambiente e da Amaznia Legal; [...] XXII - um representante do Ministrio da Sade. (CTB, 1997, grifos nossos).

Quanto ao Ministrio da Sade, houve por bem, ainda, criar obrigaes no mbito da educao para o trnsito, nos termos dos artigos 77 e 78 CTB:Art. 77. No mbito da educao para o trnsito caber ao Ministrio da Sade, mediante proposta do CONTRAN, estabelecer campanha nacional esclarecendo condutas a serem seguidas nos primeiros socorros em caso de acidente de trnsito. Pargrafo nico. As campanhas tero carter permanente por intermdio do Sistema nico de Sade - SUS, sendo intensificadas nos perodos e na forma estabelecidos no art. 76. Art. 78. Os Ministrios da Sade, da Educao e do Desporto, do Trabalho, dos Transportes e da Justia, por intermdio do CONTRAN, desenvolvero e implementaro programas destinados preveno de acidentes. (CTB, 1997, grifos nossos).

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A formao de condutores passou a representar outro importante momento em que os conceitos de preservao do meio ambiente foram inseridos, resultando na redao do 1 do artigo 148, regramento atualmente constante da Resoluo do CONTRAN n 168/04, que estabelece o contedo programtico a ser obedecido no curso terico para obteno da Carteira Nacional de Habilitao:Art. 148. 1 A formao de condutores dever incluir, obrigatoriamente, curso de direo defensiva e de conceitos bsicos de proteo ao meio ambiente relacionados com o trnsito. (CTB, 1997, grifo nosso).

At mesmo os importadores, montadoras, encarroadoras e fabricantes de veculos e autopeas passaram a ter tratamento taxativo na lei de trnsito, no sentido de prescrever sua responsabilidade por danos causados aos usurios, a terceiros e ao meio ambiente, decorrentes de falhas oriundas de projetos e da qualidade dos materiais e equipamentos utilizados na sua fabricao:Art. 113. Os importadores, as montadoras, as encarroadoras e fabricantes de veculos e autopeas so responsveis civil e criminalmente por danos causados aos usurios, a terceiros, e ao meio ambiente, decorrentes de falhas oriundas de projetos e da qualidade dos materiais e equipamentos utilizados na sua fabricao. (CTB, 1997, grifo nosso).

Outra regra importante refere-se a inspeo veicular para controle de poluentes, ainda que ainda tenha sido na prtica implementada na grande maioria dos Estados brasileiros:Art. 104. Os veculos em circulao tero suas condies de segurana, de controle de emisso de gases poluentes e de rudo avaliadas mediante inspeo, que ser obrigatria, na forma e periodicidade estabelecidas pelo CONTRAN para os itens de segurana e pelo CONAMA para emisso de gases poluentes e rudo. (CTB, 1997).

Por fim, aps todo esse arcabouo jurdico, pode-se perceber que a legislao de trnsito brasileira possui um aparato legal voltado para a preservao da vida humana e do meio ambiente, ainda que carea a realidade de iniciativas concretas e implementao eficiente.

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3. LCOOL E DIREO3.1. Consideraes Iniciais

H uma grande variedade de bebidas alcolicas espalhadas pelo mundo, fazendo do lcool a substncia psicoativa mais popular do planeta. Obtido por fermentao ou destilao da glicose presente em cereais, razes e frutas, o etanol (ou lcool etlico) consumido exclusivamente por via oral. O Brasil detm o primeiro lugar do mundo no consumo de destilados de cachaa e o quinto maior produtor de cerveja da qual, s a Ambev, produz 35 milhes de garrafas por dia15. O lcool a droga preferida dos brasileiros (68,7% do total), seguido pelo tabaco, maconha, cola, estimulantes, ansiolticos, cocana e xaropes, nesta ordem. No Pas, 90% das internaes em hospitais psiquitricos por dependncia de drogas, acontecem devido ao lcool. O alcoolismo a terceira doena que mais mata no mundo. Alm disso, causa 350 doenas (fsicas e psiquitricas) e torna dependentes da droga um de cada dez usurios de lcool. Historicamente as pessoas consomem lcool, e essa prtica aceita tica e moralmente em nossa sociedade. O consumo de lcool uma questo cultural e se feita de forma moderada no causa estranheza a ningum da sociedade. De modo geral, a coletividade acaba por encarar o consumo de lcool associado direo de veculos como sendo algo normal: poucos ficam estarrecidos quando um cidado visivelmente embriagado toma posse de veiculo automotor. No entanto, quando esse mesmo cidado, metros a frente, invade um ponto de nibus e atropela cinco ou seis pessoas, essa situao se inverte. Aquelas mesmas pessoas que nada fizeram para impedir que aquele embriagado tomasse posse de um veculo, passam ento a querer agredi-lo, a fazer justia com as prprias mos e a dizer que a penalidade prevista no CTB muito branda para esses infratores.REVISTA Planto Mdico - Drogas, Alcoolismo e Tabagismo, Editora Biologia e Sade, Rio de Janeiro:1998, pg.67. Disponvel em . Acesso em 20 abr. 2007.15

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Todavia, a potencialidade para ocorrncia da tragdia j existia no momento em que aquele cidado dera partida em seu veculo, ou seja, algo deveria ser feito, naquele momento, para impedir que o cidado tomasse posse do veculo e assim se evitaria uma tragdia. Percebe-se ento uma real dicotomia: ao mesmo tempo em que consumo de bebida alcolica permitida no seio social, as tragdias (conseqncia) provocadas por condutores embriagados (causa) so abominadas por essa mesma sociedade. O Estado, em funo da aceitao da bebida alcolica pela sociedade, no probe o porte, o consumo nem a comercializao desse produto, com rarssimas excees (eleies e venda para menores de 18 anos). Todavia, hodiernamente envida esforos na implantao de restries legais a tais prticas. O Brasil tem produzido, ao longo dos anos, uma gama de normas legais com o intuito de restringir tanto a comercializao quanto o consumo desmedido de lcool. Na vigncia do antigo Cdigo de Trnsito no existia nada que obrigasse o condutor de veiculo a ser submetido ao teste de bafmetro. O que existia era uma penalidade prevista no Regulamento do Cdigo Nacional de Trnsito que estabelecia penalidade para o condutor que fosse flagrado com teor alcolico acima de 8 decigramas (dg) de lcool por litro (L) de sangue. A alegao dos estudiosos do direito, a poca, era o artigo 5, II, da CF/1988: ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei; Na conduo de um veculo necessria uma manipulao adequada do volante, pedais (coordenao bimanual e visomotora), prever os acontecimentos (capacidade e velocidade de antecipao), bom nvel de ateno, resistncia monotonia e agilidade na resposta ante estmulos complexos. O lcool intervm em todas essas funcionalidades do corpo humano e, at por isso, responsvel em cerca de 70%16 dos acidentes de trnsito considerados graves. Preocupados com a situao, visando alcanar assim a to almejada paz social, direito de todos e dever do Estado, os legisladores ptrios, ao institurem o novo

PORTAL DO TRNSITO BRASILEIRO. . Acesso em: 10 mai. 2007.

16

Disponvel

em:

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Cdigo de Trnsito Brasileiro, lei 9.503/97, deram mais um passo no sentido de tentar resolver, ou pelo menos minimizar, a problemtica do consumo de bebida alcolica associado direo de veculo. Na prtica, houve a queda do teor mximo permitido ao condutor para menos de 6 decigramas de lcool por litro de sangue, alm da previso de penalidades mais rigorosas, que vo desde o valor pecunirio da multa R$ 957,70 at a suspenso e cassao do direito de dirigir do condutor, originando-se inclusive o crime de dirigir sob a influncia de lcool.

3.2.

A ingesto de lcool e o Organismo Humano

Os principais efeitos do lcool ocorrem no sistema nervoso central (SNC), onde suas aes depressoras assemelham-se s dos anestsicos volteis. Os efeitos da intoxicao aguda pelo etanol no homem so bem conhecidos e incluem: uma fala arrastada, incoordenao motora, aumento da autoconfiana e euforia. O efeito sobre o humor varia de pessoa para pessoa, e a maioria delas torna-se mais ruidosa e desembaraada. Alguns, contudo, ficam mais morosos e contidos. Em nveis elevados de intoxicao, o humor tende a ficar instvel, com euforia e melancolia, agresso e submisso. O desempenho intelectual e motor e a discriminao sensitiva so tambm prejudicados. O lcool gera uma sensao de calor; aumenta a saliva e o suco gstrico e o uso freqente pode gerar leso no estmago e gastrite crnica17. O lcool depressivo e sua ao pode induzir ao sono. A idia que se faz do lcool como produto estimulante falsa. Na verdade, a sensao estimulante provocada pelo lcool, nada mais de que a diminuio da inibio. A ao depressiva do lcool no crebro e no sistema nervoso central reduz a capacidade mental e fsica diminuindo a habilidade para a realizao de tarefas mais complexas, como por exemplo conduzir veculo.

17

FARMACOLOGIA, 3.ed., So Paulo: Ed. Guanabara Koogan, 1997. p.520.

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A absoro do lcool pelo organismo bastante rpida, 90% ocorre na primeira hora aps a ingesto. Todavia, o mesmo no ocorre com processo de eliminao, que demora de 6 (seis) a 8 (oito) horas e realizado por meio do fgado (90%), da respirao (8%) e da transpirao (2%)18. Abaixo seguem relacionados alguns mitos correlatos embriaguez alcolica, retirados da Internet19:Vou tomar caf forte - Apesar de estimulante, o caf de nada altera o estado de embriaguez. Vou tomar banho frio - gua fria apenas d a sensao de acordar no instante da ducha. Os efeitos do lcool, porm, permanecem inalterados. Vou tomar vento - Os efeitos do lcool no se dissipam com um ventinho. S o passar do tempo elimina o lcool do organismo. Vou comer antes de beber - Os efeitos do lcool variam de pessoa para pessoa, mas uma coisa certa: o lcool sempre produzir alteraes em sua percepo, ainda que voc esteja muito bem alimentado. Vou tomar um remdio - A cincia no conseguiu produzir qualquer droga que elimine os efeitos do lcool. Nenhum comprimido, nenhuma receita milagrosa. Vou beber porque conheo o meu limite - Ningum est to acostumado a beber a ponto de ficar livre dos efeitos do lcool. difcil saber exatamente a hora de parar. At porque a primeira funo a ser comprometida pela bebida a capacidade crtica. Vou beber esse tipo de bebida porque mais fraca. - No existem bebidas fracas. O que determina o estado de alcoolemia a quantidade de lcool ingerido. Ingerir 340ml de usque ou cachaa no faz muita diferena. O certo que, quem bebe, diminui os reflexos e no pode, de maneira alguma, dirigir.

O nico remdio o tempo: As medidas citadas anteriormente apenas produzem bbados despertos, mas to bbados quanto antes. (homepage: . Acesso em: 03 mai 2007).

A seguir, as tabelas20, utilizando a unidade do CTB (decigramas de lcool por litro de sangue), demonstraro alguns efeitos do lcool no organismo humano:

18 19

Disponvel em: . Acesso em: 03 maio 2007. Ibdem. 20 Disponvel em: . Acesso em: 03 maio 2007.

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TABELA 2 EFEITOS DO LCOOL

EFEITOS DO LCOOL (dg/L)DOSE EFEITOS incio da embriaguez ou do estado de euforia intoxicao grave coma alcolica morte por insuficincia respiratria

4 15 30 50

Fonte: http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/etanol2.htm

TABELA 3 EFEITOS DO LCOOL NUM INDIVDUO DE 70 KG

EFEITOS DO LCOOL NUM INDIVDUO DE 70 KGDOSE (dg/L) EQUIVALENTE 1 copo cerveja, 1 clice pequeno de vinho, 1 dose usque ou de outra bebida destilada 2 copos cerveja, 1 clice grande de vinho, 2 doses de bebida destilada 3 ou 4 copos de cerveja, 3 copos de vinho, 3 doses de usque EFEITOS As funes mentais comeam a ficar comprometidas. A percepo da distncia e da velocidade so prejudicadas. O grau de vigilncia diminui, assim como o campo visual. O controle cerebral relaxa, dando a sensao de calma e satisfao. Reflexos retardados, dificuldades de adaptao da viso a diferenas de luminosidade; superestimao das possibilidades e minimizao de riscos; e tendncia agressividade. Dificuldades de controlar automveis; incapacidade de concentrao e falhas de coordenao neuromuscular. Embriaguez, torpor alcolico, dupla viso. Embriaguez profunda. Coma alcolico.

2a3

3,1 a 5

5,1 a 8

8,1 a 15 15,1 a 20 20,1 a 50 > 50

grandes quantidades de bebida alcolica grandes quantidades de bebida alcolica grandes quantidades de bebida alcolica grandes quantidades de bebida alcolica

Fonte: http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/etanol2.htm

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Muito embora os efeitos da ingesto de lcool divergem subjetivamente, de pessoa para pessoa, percebe-se que a proporo de

4 dg de lcool por litro de sangue, o

que para um indivduo de 70 Kg de peso pode ser representado como a ingesto de dois copos de cerveja, j influi no estado psquico do ser, gerando euforia, prejuzo nas percepes de distncia e velocidade, diminuio do grau de vigilncia e do campo visual. Na medida em que essa proporo aumenta, os riscos a seguem de forma direta, gerando graves conseqncias clnicas e psquicas, superestimao das

possibilidades e minimizao de riscos, falhas de coordenao neuromuscular e dupla viso. Conhecidos alguns dos efeitos da ingesto de lcool, h necessidade de orden-los conforme tipos de embriaguez considerados pela legislao penal brasileira, para os quais, inicialmente, faz-se mister entender a seguinte subdiviso21:

TABELA 4 FASES DA EMBRIAGUEZ

FASES DA EMBRIAGUEZEXCITAO euforia, loquacidade, diminuio da capacidade de autocrtica confuso mental, falta de coordenao motora, irritabilidade o brio cai e dorme havendo anestesia e relaxamento dos esfncteres, culminando com o estado de coma

DEPRESSO FASE DO SONO

Fonte: Revista Planto Mdico (Ed.Biologia e Sade, RJ,1998).

Assim sendo, pode-se listar os seguintes tipos de embriaguez22:

21 22

REVISTA Planto Mdico. Rio de Janeiro: Ed.Biologia e Sade, 1998. p. 21. REVISTA PLANTO MDICO, 1998. p. 23.

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TABELA 5 TIPOS DE EMBRIAGUEZ

TIPOS DE EMBRIAGUEZINCOMPLETA COMPLETA SIMPLES PATOLGICA VOLUNTRIA CULPOSA ACIDENTAL (INVOLUNTRIA) PREORDENADA quando na fase de excitao quando nas fases de depresso ou do sono quando no traz conseqncias maiores quando produz delrios, paranias ou agressividade quando o sujeito bebe com a inteno de se embriagar quando no voluntria mas vem a se embriagar por descuido quando no voluntria e nem culposa (caso fortuito ou de fora maior) quando o indivduo se embriaga de propsito para cometer um crime

Fonte: Revista Planto Mdico (Ed.Biologia e Sade, RJ,1998).

O Inciso II do art. 28 do Cdigo Penal (CP) diz que a imputabilidade penal no excluda pela embriaguez voluntria ou culposa. Da mesma forma que o caput do art. 26, o 1 do inciso II do art. 28 do Cdigo Penal diz ser isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou fora maior (acidental), era, ao tempo da ao ou omisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. A embriaguez preordenada encontra sua previso na alnea l do inciso II do art. 61 CP, como uma circunstncia agravante. A aplicao das normas do Cdigo de Trnsito Brasileiro, deve modo geral, segue a sistemtica e as regras gerais do Cdigo Penal, muito embora o enfoque seja no conduo do veculo automotor, qualquer que seja o tipo de embriaguez. Isto posto, aps analise dos efeitos do lcool no organismo humano, assim como fases e tipos de embriaguez, h de se iniciar uma discusso sobre os aspectos

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

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legais especficos da explosiva combinao de lcool e direo de veculo automotor, quando em via pblica.

3.3.

Aspectos Legais no Brasil

Segundo os estudiosos do trnsito, o primeiro acidente automobilstico no Brasil foi obra do poeta Olavo Bilac, que nos idos de 1897, a bordo de seu veiculo a vapor, colidiu contra um rvore em um alameda do Rio de Janeiro23. E considerando sua fama de bomio, a probabilidade de ter ingerido bebida alcolica antes do acidente bastante grande. Naquela poca, certamente, no existia nenhuma legislao que regulamentasse o trnsito de veculos e pessoas pelas vias terrestres. Isso iria ocorrer mais tarde, em 1941, com o Decreto-Lei n 3.651, que foi revogado em 1966, pela Lei n 5.108, e seu regulamento, o Decreto n 62.127, de 16 de janeiro de 1968. Hoje o trnsito de veculos, pessoas e animais em vias pblicas terrestre regulamentado pela Lei n 9.503, de 23 de setembro de 1997, e as mais de 230 resolues do Conselho Nacional de Trnsito.

3.3.1. O ANTIGO CDIGO NACIONAL DE TRNSITO (CNT)

No Brasil, a antiga Legislao de Trnsito definia como penalidade para o condutor em estado de embriaguez alcolica: multa do grupo I (gravssima) e apreenso do

23

Disponvel em: . Acesso em: 03 mai. 2007

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veculo e da Carteira Nacional de Habilitao (CNH)24. Definia ainda o limite mximo de alcoolemia para motoristas como sendo de 08 (oito) decigramas de lcool por litro de sangue25, mas no existia previso de punio penal para tal conduta de modo isolado, somente havendo para os eventos conseqentes, como homicdio e leso corporal culposos na direo de veculo automotor. O nico texto da antiga Legislao que abria margem a uma possvel responsabilizao penal do infrator que conduzisse veculo automotor embriagado era o 5 do artigo 199 do Regulamento do Cdigo Nacional de Trnsito26 (RCNT), que estatua:Art. 199 - A apreenso do documento de habilitao far-se- quando o condutor: II - dirigir em estado de embriaguez alcolica ou sob efeito de substncia txica de qualquer natureza, devidamente comprovada; 5 - Nos casos dos itens I, II, III, V, VII, VIII, XI e XII o agente da autoridade de trnsito dever diligenciar a apresentao do condutor autoridade policial competente, a fim de que resolva sobre a apurao da conseqente responsabilidade penal. (RCNT, 1968, grifo nosso)

No caso do 5 acima, poderia o legislador estar pensando nas contravenes penais de direo perigosa ou embriaguez, previstas respectivamente nos artigos 34 e 62 da Lei de Contravenes Penais (LCP)27, que na prtica pouco ou nenhum efeito trazia, no sentido de inibir o consumo de lcool por condutores de veculos.Art. 34. Dirigir veculos na via pblica, ou embarcaes em guas pblicas, pondo em perigo a segurana alheia: Pena priso simples, de quinze das a trs meses, ou multa, de trezentos mil ris a dois contos de ris.

Art. 62. Apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo que cause escndalo ou ponha em perigo a segurana prpria ou alheia: Pena priso simples, de quinze dias a trs meses, ou multa, de duzentos mil ris a dois contos de ris. (LCP, 1941) O Decreto n 62.127, de 16 de janeiro de 1968 Regulamento do Cdigo Nacional de Trnsito, em seu Art. 181, inciso III, estipula que proibido a todo condutor de veculo: [...] III - dirigir em estado de embriaguez alcolica ou sob o efeito de substncia txica de efeito anlogo. Penalidade: Grupo I e apreenso da CNH e do veculo. 25 Resoluo CONTRAN n 737 de 12 de set. 1989. Art. 2 - Fica estabelecido que a concentrao de oito decigramas de lcool por litro de sangue, ou de 0,4 mg por litro de ar expelido dos pulmes, comprovam que o condutor de veculo se acha sob influncia do estado de embriaguez alcolica.[...] 26 Decreto n 62.127, de 16 de janeiro de 1968. 27 Decreto n 3.688, de 03 de outubro de 1941.24

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3.3.2. O NOVO CDIGO DE TRNSITO BRASILEIRO (CTB)

A Lei n 9.503, de 23 de setembro de 1997, instituiu o novo Cdigo de Trnsito Brasileiro (CTB), que trouxe uma srie de inovaes no que diz respeito ao combate embriaguez ao volante. Essa lei a terceira gerao de normas norteadoras do trnsito no Brasil. A primeira foi publicada em 1941 e segunda em 1966. A publicao de trs cdigos de trnsito em apenas 51 anos relaciona-se, basicamente, ao crescimento das cidades e conseqente aumento dos meios de transporte motorizados, resultando, no mesmo sentido, um incremento considervel de mortes e leses no trnsito. A embriaguez ao volante, sabidamente, uma das principais causas de acidentes e mortes no trnsito brasileiro. O lcool e as demais substncias de efeitos embriagantes atuam diretamente sobre o sistema nervoso central, diminuindo sensivelmente a capacidade de reao diante das adversidades surgidas durante as viagens. Diante deste cenrio, o legislador ptrio, ao elaborar a lei n 9.503, de 21 de setembro de 1997 (CTB), reservou recrudescido tratamento quele que surpreendido dirigindo veculo automotor sob efeito de lcool ou de substncia entorpecente, txica ou de efeitos anlogos, tipificando a sua conduta como infrao administrativa28 e, tendo gerado perigo de dano, tambm como crime de trnsito29.

Art. 165 do CTB: Dirigir sob a influncia de lcool ou de qualquer substncia entorpecente ou que determine dependncia fsica ou psquica. Pargrafo nico: A infrao tambm poder ser apurada na forma do art. 277. Infrao: gravssima. Penalidade: multa (cinco vezes) e suspenso do direito de dirigir. Medida Administrativa: reteno do veculo at a apresentao de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitao. 29 Art. 306 do CTB: Conduzir veculo automotor, na via pblica, sob a influncia de lcool ou substncia de efeitos anlogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem. Penas: deteno, de seis meses a trs anos, multa e suspenso ou proibio de se obter a permisso ou habilitao para dirigir veculo automotor.

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3.3.2.1. Dirigir Sob o Efeito do lcool Infrao de Trnsito

O art. 165 do CTB estabelece a conduta infracional, a penalidade e a medida administrativa aplicveis queles que associam a ingesto de bebida alcolica e conduo de veculo:Art 165 - Dirigir sob a influncia de lcool ou de qualquer substncia entorpecente ou que determine dependncia fsica ou psquica: (Redao dada pela Lei n 11.275, de 2006) Infrao - gravssima; Penalidade - multa (cinco vezes) e suspenso do direito de dirigir; Medida administrativa - reteno do veculo at a apresentao de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitao. Pargrafo nico. A embriaguez tambm poder ser apurada na forma do art. 277. (CTB, 2007).

Em fevereiro de 2006, a Lei n 11.275 alterou vrios artigos referentes a embriaguez ao volante e do art. 165 retirou a parte que estabelecia o nvel de lcool no sangue considerado embriaguez alcolica:Art. 165. Dirigir sob a influncia de lcool, em nvel superior a seis decigramas por litro de sangue, ou de qualquer substncia entorpecente ou que determine dependncia fsica ou psquica. Redao anterior do CTB - (CTB, 1997, grifo nosso).

Todavia o fato de a lei anteriormente mencionada ter retirado parte referente ao nvel de lcool no sangue no implica que qualquer nvel de lcool seja suficiente para o enquadramento na infrao do art. 165. O art. 276 do CTB, em pleno vigor, estabelece o nvel de lcool no sangue que impede a conduo de veculo automotor:Art. 276. A concentrao de seis decigramas de lcool por litro de sangue comprova que o condutor se acha impedido de dirigir veculo automotor. Pargrafo nico. O CONTRAN estipular os ndices equivalentes para os demais testes de alcoolemia. (CTB, 1997).

Conforme previu o pargrafo nico do art. 276, o CONTRAN regulamentou os ndices equivalentes para o teste de alcoolemia, por meio do etilmetro ou

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bafmetro, e quais os testes capazes de constatar o nvel de lcool no organismo humano, conforme art. 1 da Resoluo 81/1998, de 19 de novembro de 1998:Art.1o A comprovao de que o condutor se acha impedido de dirigir veculo automotor, sob suspeita de haver excedido os limites de seis decigramas de lcool por litro de sangue, ou de haver usado substncia entorpecente, ser confirmado com os seguintes procedimentos: I - teste em aparelho de ar alveolar (bafmetro) com a concentrao igual ou superior a 0,3mg por litro de ar expelido dos pulmes; II - exame clnico com laudo conclusivo e firmado pelo mdico examinador da Polcia Judiciria; III- exames realizados por laboratrios especializados indicados pelo rgo de trnsito competente ou pela Polcia Judiciria, em caso de uso da substancia entorpecente, txica ou de efeitos anlogos, de acordo com as caractersticas tcnicas cientficas. (RESOLUO N 81 DO CONTRAN, 1998, grifo nosso).

Em 20 de outubro de 2006, o CONTRAN revogou a Resoluo 81/1998 por meio da Resoluo 206/2006. a atualizao fez-se necessria visto as inmeras lacunas deixadas pela Resoluo anterior, principalmente no que tange a outros meios de prova que no o teste do etilmetro. O art. 1 da Resoluo 206/2006 j enumera uma srie de meios a serem utilizados para a constatao da embriaguez:Art. 1 A confirmao de que o condutor se encontra dirigindo sob a influncia de lcool ou de qualquer substncia entorpecente ou que determine dependncia fsica ou psquica, se dar por, pelo menos, um dos seguintes procedimentos: I - teste de alcoolemia com a concentrao de lcool igual ou superior a seis decigramas de lcool por litro de sangue; II - teste em aparelho de ar alveolar pulmonar (etilmetro) que resulte na concentrao de lcool igual ou superior a 0,3mg por litro de ar expelido dos pulmes; III - exame clnico com laudo conclusivo e firmado pelo mdico examinador da Polcia Judiciria; IV - exames realizados por laboratrios especializados, indicados pelo rgo ou entidade de trnsito competente ou pela Polcia Judiciria, em caso de uso de substncia entorpecente, txica ou de efeitos anlogos. (REOLUO N 206 DO CONTRAN, 2006, grifo nosso)

O art. 269 do CTB estabelece que a autoridade de trnsito e seus agentes esto legitimados, entre outras atividades, a realizar o teste de alcoolemia em condutor que esteja sob suspeita de ter ingerido bebida alcolica:

O CTB, O LCOOL E AS MORTES NO TRNSITO

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Art. 269. A autoridade de trnsito ou seus agentes, na esfera das competncias estabelecidas neste Cdigo e dentro de sua circunscrio, dever adotar as seguintes medidas administrativas: [...] IX - realizao de teste de dosagem de alcoolemia ou percia de substncia entorpecente ou que determine dependncia fsica ou psquica. - (CTB, 1997, grifo nosso)

Nesse sentido, a Resoluo 206 estabelece uma gama de procedimentos a serem seguidos, normatizando com clareza a utilizao do etilmetro na constatao da embriaguez:Art. 6. O medidor de alcoolemia- etilmetro- deve observar os seguintes requisitos: I ter seu modelo aprovado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial INMETRO, atendendo a legislao metrolgica em vigor e aos requisitos estabelecidos nesta Resoluo; II ser aprovado na verificao metrolgica inicial realizada pelo INMETRO ou rgo da Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade - RBMLQ; III - ser aprovado na verificao peridica anual realizada pelo INMETRO ou RBMLQ; IV - ser aprovado em inspeo em servio ou eventual, conforme determina a legislao metrolgica vigente.

Art. 7. As condies de utilizao do medidor de alcoolemia etilmetrodevem obedecer a esta resoluo e legislao metrolgica em vigor. (RESOLUO N 206 DO CONTRAN, 2006).

A anlise dos dispositivos supramencionados deixa clara a inteno do legislador de dotar a Administrao Pblica, por via dos rgos executivos que compem a administrao do trnsito, de meios efetivos de combate ao estado de embriaguez ao volante. Em se tratando de combate alcoolemia ao volante, surge com destaque o ar