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JOÃO JORGE DOS SANTOS JUNIOR CRIMES DE TRÂNSITO E A ATUAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS PONTA GROSSA 2014

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JOÃO JORGE DOS SANTOS JUNIOR

CRIMES DE TRÂNSITO E A ATUAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS

PONTA GROSSA

2014

JOÃO JORGE DOS SANTOS JUNIOR

CRIMES DE TRÂNSITO E A ATUAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS

PONTA GROSSA

2014

Artigo Científico apresentado para a

conclusão de Curso de Pós-Graduação lato

sensu em Direito Penal e Processual Penal

para a Atividade Policial pelo Núcleo de

Pesquisa em Segurança Pública e Privada.

Orientador: Prof.ª Ms. Patrícia Regina

Piasecki Custódio.

CRIMES DE TRÂNSITO E A ATUAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS

Autor: João Jorge dos Santos Junior 1,

Orientador: Prof. Ms. Patrícia Regina Piasecki 2,

Resumo:

Os agentes do Estado, através do Poder de Polícia possuem a prerrogativa de restringir e condicionar direitos fundamentais. Essa restrição ou condicionamento dos direitos fundamentais só se justifica pela tutela de direito fundamentais maiores, mais amplos, como é o caso da segurança da coletividade, da segurança viária, da vida e da integridade física das pessoas que tem morrido ou sido lesionadas gravemente no trânsito. Ademais não devemos esquecer que Poder de Polícia tem como atributo, dentre vários, a chamada de presunção de legitimidade, presunção de veracidade, presunção de idoneidade, portanto a fala do agente de trânsito, por exemplo, quando afirma que alguém estava sem o cinto de segurança, a fala do agente de trânsito é valida, claro que não é uma presunção absoluta, pois caberá prova em contrario, mas até que se prove em contrario o ônus da prova cabe ao condutor. Por isso é que se exige dos policiais um senso de responsabilidade gigantesco, porque as sanções relativas às infrações administrativas de trânsito são extremamente rigorosas, se exigindo das autoridades um cuidado que realmente deve ser adotado. O CTB fala em ordem pública no que devemos entender ordem viária, ordem de trânsito propriamente dita no sentido da segurança das pessoas, da incolumidade da vida e da própria integridade física dos cidadãos. Nesse sentido há instrumentos suficientes para proteção da sociedade, um deles é a sanção administrativa. Órgãos criados com determinadas competências deverão exercê-las. Órgãos que não possuam essa competência para agir, no caso as guardas municipais, que passem a ter, a partir do próprio texto constitucional.

Palavras-chave: Trânsito. Infração. Poder de Polícia.

TRANSIT OPERATIONS OF AGENTS AND POWER STATE SANCTIONS

Abstract:

1 Oficial da Polícia Militar do Paraná, pós-graduando no curso de Direito Penal e Processual Penal para a

Atividade Policial pelo Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada, e-mail: [email protected]. 2 Doutoranda em Direito Penal, Professora de Ciências Criminais da Graduação e Pós Graduação da PUCPR,

Advogada Criminal e Secretária Adjunta da Associação Brasileira de Professores de Ciências Criminais.

The agents of the state, through the police power have the prerogative to restrict and constrain fundamental rights. Such restriction or restriction of fundamental rights can only be justified by the protection of, broader biggest fundamental right, as is the case of collective security, road safety, life and physical integrity of persons who have died or been seriously injured in traffic. Moreover we should not forget that police power is to attribute, among many, the call of the presumption of legitimacy, the presumption of correctness, presumption of suitability so the speech of the transit agent, for example, when someone says that was without the belt security, speaks of the transit agent is valid, of course it is not an absolute presumption because it will be proof to the contrary, but until there is proof to the contrary the burden of proof rests with the driver. That's why it requires the police a sense of gigantic responsibility, because the penalties for administrative traffic offenses are extremely stringent, requiring the authorities if a caution that should really be adopted. The CTB speaks in public policy that we must understand in order road, traffic order itself towards safety, the safety of life and one's physical integrity of citizens. In this sense there are enough instruments for the protection of society, one is the administrative penalty. Bodies created with certain powers should exercise them. Bodies that do not have such powers to act in case the municipal guards, they shall have, from the constitutional text.

Keywords: Traffic. Infraction. Police Power.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6

2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................... 7

2.1 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO .......................... 7

2.1.1 Introdução de Novas Infrações Administrativas ................................................. 8

2.1.2 Fundamentação Constitucional das Infrações Administrativas .......................... 9

2.1.3 Guardas Municipais na aplicação de multas de trãnsito................................... 10

2.1.4 Excesso de competência dos Agentes Públicos .............................................. 11

2.2 COMPETÊNCIA DO CONTRAN ......................................................................... 12

2.2.1 Competência da JARI....................................................................................... 13

2.2.2 Mudanças de habito com o advento da legislação ........................................... 14

2.3 DIREÇÃO DE VEÍCULO E BEBIDA ALCOOLICA ............................................. 15

2.4 DISPOSIÇÕES ESPECIAIS PENAIS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO ................... 18

2.4.1 Dispositivos da Parte Geral do Código de Trânsito .......................................... 19

2.4.2 Da Suspenção/Proibição de se obter a Carteira nacional de habilitação ou

Permissão para dirigir ............................................................................................... 22

2.4.3 Duração da penalidade de suspensão/proibição de dirigir ............................... 24

2.4.4 Suspensão cautelar da permissão/proibição para dirigir .................................. 25

2.4.5 Comunicação da Suspensão/Proibição para dirigir .......................................... 26

3 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 26

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 27

1 INTRODUÇÃO

O objetivo do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) em 1998 foi aplacar

aquelas estatísticas avassaladoras que vinham numa sequência cada vez maior,

apontando para o recrudescimento dos acidentes de trânsito, colocando o Brasil

numa posição lamentável perante a ordem internacional, pois o país se tornou num

campeão mundial em acidentes de trânsito em 1997. Observamos que quando o

CTB entrou em vigor, em 1998, foram criadas novas infrações administrativas com

sanções mais rigorosas caminhando na direção da repressão.

As infrações de trânsito foram replicadas no CTB, as penas foram

aumentadas, foi criado um sistema de pontuação, exatamente para fazer com que

aquele condutor de veículo não mais pudesse alegar situação econômica como fator

impeditivo de ser punido, ou seja, aquele que tem dinheiro poderia cometer infrações

porque tem dinheiro para pagar multas.

Com o sistema de pontuação a pessoa passou a temer outras

consequências além do valor a pagar. Com o advento do novo código, a pessoa que

praticar uma infração administrativa gravíssima pode ser sancionada com perda da

carteira de habilitação, suspensão do direito de dirigir ou multa reparatória por danos

materiais nos acidentes causadores de morte ou invalidez de outra pessoa, tudo isso

busca desestimular a ação dos infratores.

Surgem os delitos de trânsito, assim considerados as infrações a regras de

maior gravidade, tornando obviamente muito mais grave as sanções a serem

impostas as pessoas transgressoras das regras de trânsito.

A garantia do trânsito seguro passou a ser abordado como um direito de

cidadania, cabendo a todos a colaboração e a responsabilidade pela sua pratica.

No plano de organização e estrutura os Municípios passaram a controlar a

circulação no âmbito das vias sob sua jurisdição atenuando a hipertrofia

centralizadora do Estado, dando-se relevo ao fato de revelar o trânsito interesse,

sobretudo, local.

No tocante a fiscalização de trânsito evidencia-se a responsabilidade

solidária entre os Estados e Municípios para realizarem e aplicarem autuações e

medidas administrativas respeitadas os limites de competências.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO

Preliminarmente, antes da abordagem proposta neste capítulo, se faz

necessário chamar a atenção para os assustadores números de acidentes no país,

os quais evidentemente nos remetem a situações de guerra efetiva.

Percebe-se que nas guerras há um alarmante número de mortes entre civis e

militares. Mas será que sabemos qual o número de mortes que temos anualmente

no Brasil em decorrência dos acidentes de trânsito?

Todavia o assunto vai ainda mais adiante porque não obstante as mortes

temos um montante enorme de pessoas vitimadas com lesões corporais que

acabam falecendo depois do acidente, porem em decorrência da casualidade.

Temos ainda pessoas vitimadas com lesão em caráter permanente, o que torna os

acidentes de trânsito e suas conseqüências numa verdadeira epidemia.

Visitando as metrópoles, os grandes centros urbanos e até pequenas cidades

nos vamos encontrar grandes margens de desrespeitos a regras de trânsito e

consequentemente esses desvios de comportamento geram resultados indesejáveis

para toda a sociedade.

O Código de Trânsito de 1998 substituiu o velho Código Nacional de Trânsito.

Temos, portanto, a partir de 98, o ingresso na ordem jurídica do Código de Trânsito

Brasileiro através da Lei 9.503/1997. Esta lei entrou em vigor em janeiro de 98 já

com alguns problemas de ordem em razão de problemas relacionados à vigência. O

Ministério da Justiça chegou a anunciar na imprensa uma determinada data, todavia

ela acabou entrando em vigor efetivamente numa data anterior sugerindo a

possibilidade daquilo que nos denominamos de erro de direito, erro de proibição na

modalidade erro de vigência. Houve também um outro problema de caráter formal

por ocasião do projeto na Câmara dos Deputados.

Pois como se tratava de um Código ele deveria ter ido ao plenário, mas não

foi. Na verdade uma comissão especial foi elaborada e nomeada para dar conta

desse projeto e ela acabou não obedecendo rigorosamente o processo legislativo de

edição de normas jurídicas. Todavia, fato é que de alguma forma ele acabou sendo

recepcionado e entrou em vigência. Na medida em que encontramos algumas

poucas situações em que a norma é amplamente questionável, seja por problemas

de redação jurídica, problemas de técnicas jurídicas, texto mal elaborado, entre

outros, cabe ao agente policial interpretar e apresentar as devidas soluções.

2.1.1 Introdução de Novas Infrações Administrativas

A finalidade do Código de Trânsito Brasileiro foi atenuar a grande incidência

de acidentes de trânsito no Brasil, e retirá-lo das lamentáveis primeiras colocações

do ranking internacional de mortes e pessoas feridas no trânsito.

Com já fora dito no inicio deste trabalho, o Brasil se tornou campeão mundial

em acidente de trânsito em 1997, o que motivou a entrada em vigor do CTB em

1998 com a previsão de novas infrações administrativas e sanções mais severas

evidentemente para reprimir as transgressões observadas no trânsito. Mas

infelizmente, com essa ideologia, esse pensamento, não foi se dado a devida

importância com medidas profiláticas e também de caráter preventivo.

O Código de Trânsito plasmou-se tão somente pelo aspecto repressivo, aqui

uma grande falha. Um dado dispositivo do Código aponta a necessidade de conferir

o direito a educação de trânsito como um dever do Estado, quer dizer a matéria

trânsito deveria estar fazendo parte dos currículos do ensino fundamental, médio e

também superior de todo o País. Desde o advento do Código de Trânsito até hoje

não se viu noticia concreta da pedagogia de trânsito, do ensino de trânsito, quer

dizer, acidentes de trânsito não se evitam somente com medidas repressivas.

Acidentes de trânsito são evitados especialmente com educação e naturalmente

esse é um ponto muito falho e nos podemos visualizar isso diariamente e

lamentavelmente em nossas vidas.

Mas não somente isso, outro aspecto também muito grave é o aspecto da

engenharia. As engenharias das cidades devem contribuir para uma ordem no

trânsito, para aquilo que a CF/88 tem apontado de direito de cidadania o chamado

trânsito seguro, quer dizer, as cidades deveriam ser planejadas, pensando no

transporte, pensando na circulação de veículos, mas também pensando na

circulação e locomoção de pessoas.

Note-se que a engenharia de trânsito sequer se preocupa com tempo

passagem das pessoas pelas faixas de pedestres, ou seja, não existem estudos

científicos efetivos a esse respeito e quando existem são muito antigos e já

obsoletos. Por exemplo, para que uma pessoa possa transcorrer a faixa de

pedestres em média esse percurso de semáforo aberto para pedestre é de 22

segundos, mas nisso leva-se em conta um pessoa em estado normal de saúde, uma

pessoa de boa compleição física, esquece-se de vários aspectos, como os idosos

que apresentam maior dificuldade mesmo para o caminhar natural, também das

pessoas que carregam crianças de colo, pessoas portadoras de necessidades

especiais que possuem dificuldade em transpor as vias entre tantos outros fatores

que prestigiam os veículos em detrimento do pedestre. Isso é apenas para

demonstrar como o Estado tem muito trabalho a se fazer não ficando apenas nas

infrações de trânsito.

Observamos que infrações de trânsito foram reproduzidas no CTB, porém

com penas aumentadas. Foi previsto um sistema de pontuação visando impedir que

se considerasse apenas a situação econômica como penalização do infrator, ou

seja, com o sistema de pontuação, a pessoa passou a temer outras consequências

além do valor a pagar, ou seja, a perda da carteira de habilitação ou a suspensão do

direito de dirigir, isso à medida que pratica uma infração administrativa grave.

Esse aspecto de infração administrativa pode até ser elevado a um status de

um crime, tornando obviamente muito mais grave as sanções que possam ser

infringidas a pessoas que venham a transgredir regras de trânsito. Ao falar em

infrações administrativas, vale lembrar que temos algo em torno de 96 infrações

administrativas ao lado de 11 crimes de trânsito.

2.1.2 Fundamentação Constitucional das Infrações Administrativas

Em meio a essas 96 infrações administrativas é importante lembrar que todas

elas acabam tendo que em dada medida fundamentação constitucional, quer dizer, a

nossa Constituição Federal, no seu artigo 5º já menciona a vida com um bem

jurídico a ser tutelado e ao lado da vida no próprio caput do artigo 5º posiciona-se o

direito a segurança. É bem verdade que a palavra segurança tem vários sentidos.

Podemos falar em segurança da ordem jurídica. Podemos falar em segurança do

Estado, da Nação. Seguranças das pessoas e de bens, por exemplo, mas

obviamente quando se fala em segurança viária, segurança do tráfego, segurança

do trânsito, está se falando em uma das possíveis manifestações e desdobramentos

desse direito fundamental. Esse direito torna-se ao mesmo tempo uma garantia, na

medida em que garantindo a segurança das pessoas torna-se efetivo o direito a

vida, a liberdade, a locomoção e outros tantos como o direito ao trabalho e o direito

a educação. Ao trabalhar, ao estudar, precisamos nos locomover, precisamos nos

transportar e obviamente o paradigma da Constituição Federal é o ponto de partida

do qual devemos olhar com bastante atenção.

Mas não somente o caput do artigo 5º, lembremos também que o artigo 144,

CF vai mencionar a estrutura do chamado sistema de segurança pública e esse

dispositivo é muito importante porque aponta as competências de determinados

órgãos em especial a polícia federal, a polícia rodoviária federal, as polícias militares

estaduais, polícias civis e também a polícia militar e civil do Distrito Federal,

atribuindo a cada um desses órgãos uma dada medida de competência

relativamente a aspectos do trânsito.

Aprofundando um pouco mais essa questão chegamos ao artigo 37 que cuida

da introdução do tema da administração pública no bojo da nossa Carta Magna e

especialmente no caput dessa disposição vai apontar os princípios da legalidade, da

impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência, como também

diretrizes que devem ser seguidas rigorosamente pelo gestor público, pelo

administrador público, no gerenciamento das grandes cidades e naturalmente o

Código de Trânsito é uma das ferramentas na gestão do Município, do Estado e por

que não dizer da União, mas especialmente da cidade.

Vale ainda lembrar que entre as competências legislativas, referentemente a

legislação de trânsito, a Constituição Federal aponta no artigo 22, inciso XI

atribuindo à União a competência privativa para legislar em matéria de trânsito não

olvidando que Lei complementar poderá criar no âmbito dos Estados e do Distrito

Federal, legislação pertinente em matéria de trânsito naquilo que for aplicável a

essas unidades federativas.

2.1.3 Guardas Municipais na aplicação de multas de trânsito

Esse é um tema bastante controvertido. Primeiramente é necessário saber

qual a natureza jurídica do cargo guarda municipal. Ora, o guarda municipal é um

vigilante patrimonial público. Ele não integra o sistema constitucional de segurança

pública e quem diz isso é o artigo 144, § 8º da CF/88. Esse dispositivo quando

dispõe sobre as competências dos guardas municipais, e ele prevê a criação das

guardas municipais e isso é importante, mas ele estabelece que as guardas

municipais são criadas para proteção dos próprios municipais, dos serviços

municipais. Próprio municipal é o prédio da prefeitura, a creche do município, o

cemitério do município, a escola municipal, portanto a competência constitucional

atribuída aos guardas municipais é de tão somente fazer a proteção patrimonial e

porque não dizer, via reflexa, da proteção física das pessoas que se encontram

nesses próprios.

No entanto muitos municípios têm atribuído a seus guardas municipais a

tarefa de fiscalização do trânsito e a tarefa de aplicação de multas de trânsito.

Pergunta-se, essas multas tem validade jurídica? A resposta é não. Elas não valem.

Entenda-se, a imposição de uma multa representa um ato administrativo punitivo

decorrente de um poder de polícia, não de um poder de polícia preventivo, já um

poder de polícia na sua forma repressiva e como ato jurídico que ele é, ele tem que

conter todos os elementos integrantes do ato administrativo, quais sejam:

competência, forma, finalidade, motivo e objeto. Quando se fala em “competência’”.

Caio Tácito (1959, p. 27) nos recorda “não é competente quem quer, mas é

competente quem a Lei diz que é”. Isso quer dizer que ninguém pode se arvorar

competente, ninguém pode dizer sou competente porque quero. Competência é

matéria legal, é matéria indelegável, é matéria indeclinável. Vez outra, se a Lei

dispõe, pode haver delegação, mas não havendo previsão nem mesmo esta se

torna possível. O fato é que o Código de Trânsito Brasileiro inova em dar ao

município a possibilidade de criar cargos específicos para imposição de fiscalização

de trânsito, de ações relativas ao trânsito e mesmo de imposição de multas.

Municípios preocupados com o tema criaram órgãos no âmbito da cidade para a

aplicação dessas medidas e como tal estão agindo de acordo com a Lei, de acordo

com a Constituição Federal. Porém municípios que se atreveram a fazer com que as

guardas municipais saíssem de seu campo de atuação, da sua esfera de poder de

polícia adentrando a essa seara nebulosa, porque não dizer ilegal e inconstitucional,

tiveram quando questionados judicialmente um posicionamento bastante

contundente do poder judiciário. Assim ocorreu nos Tribunais de Justiça de SP, RJ,

SC apenas para enunciar esses Estados, quer dizer, pessoas que tiveram multas

aplicadas por guardas municipais foram a justiça e tiveram tais multas invalidadas,

porque não havendo competência o ato é nulo.

2.1.4 Excesso de competência dos Agentes Públicos

O excesso de competência de um agente público acontece quando o mesmo

avança, sai, extrapola, exorbita sua competência, podendo estar ingressando até

mesmo no plano criminal. Temos um crime no Código Penal tipificado como

usurpação de função pública que não é apenas um crime que pode ser praticado por

qualquer pessoa do povo. É verdade qualquer pessoa pode praticá-lo. Qualquer

pessoa do povo que se posicione na qualidade de agente público sem o ser,

eventualmente praticando um ato, é o que diz a jurisprudência, praticando

determinado ato pratica o crime de usurpação da função pública. No entanto, vale

lembrar que servidores públicos, agentes públicos que exorbitem de suas funções

adentrando em outras searas que não lhes pertencem poderão eventualmente

também praticar o crime de usurpação, bem verdade que isso dependerá da carga

de intencionalidade, do dolo efetivo do agente de modo que agiu, obviamente o

crime deverá ser desconsiderado.

2.2 COMPETÊNCIA DO CONTRAN

Tratando das infrações administrativas, há algumas que valem a pena serem

lembradas, não do ponto da infração propriamente dita, mas da competência relativa

a alguns órgãos, isso relativamente a alguns aspectos administrativos. O Código de

Trânsito cria vários órgãos dentre eles talvez o mais importante é o Conselho

nacional de Trânsito – CONTRAN. O Código menciona que há varias competências

do CONTRAN, não é o caso aqui discorrermos sobre todas elas, mas merecem

menção especialmente no que diz respeito ao fato da edição e emissão de carteiras

de habilitação. Diz o Código de Trânsito que cabe ao CONTRAN, a competência

para a emissão de carteiras de habilitação e também de permissão para dirigir.

Através de convênios o citado órgão federal repassa aos Estados a competência

legal que terá a devida estrutura administrativa para a emissão da CNH e também

da PD. Importante distinguir a carteira de habilitação da permissão para dirigir. A

partir do Código de Trânsito Brasileiro o novo motorista, aquele que ingressa na

atividade de condução de veículo, uma vez aprovado em todas as baterias de

exame: psicotécnico, psicológico, médico, de condução e de conhecimento das

normas de trânsito. Uma vez vencida toda essa etapa a pessoa passa a ter a

permissão para dirigir por um ano. Durante um ano esse condutor não pode ter

infrações graves e não pode ter também um volume de infrações sob pena de

perder o direito de dirigir na medida em que ele se coloca numa espécie de estagio

probatório que antecede a sua maturação, a sua consolidação como condutor de

veículo o que só ocorrerá a partir de um ano, vencido esse um ano,

satisfatoriamente, ele adquire a carteira nacional de habilitação. Mas essa carteira

de habilitação não deve ser entendida como autorização, ou seja, não é um ato

discricionário do poder público, não é um ato que se leve em conta sua conveniência

e oportunidade. É um ato de licença que é vinculado que tendo o cidadão

preenchido todos os requisitos para a sua obtenção, o estado é obrigado a

conceder. Todavia essa pessoa pode a vir a perder a sua carteira de habilitação e o

próprio Código vai apontar as situações em que isso é possível. Por exemplo, se

houver um extrapolamento da pontuação permitida, acima de 20 pontos. Pode

também haver a suspensão do direito de dirigir com sanções aplicáveis a espécie.

O CONTRAN também tem a competência e/ou atribuição de fazer o cadastro

nacional de todos os motoristas e também o cadastro de todos os veículos

automotores em circulação no Brasil, o chamado RENAVAN, essas competência

também são objetos de convênios com os Estados/DF para que se torne efetiva a

gestão desse volume imenso que representa tanto as carteiras de habilitação quanto

as permissões para dirigir como também o próprio número de veículos postos em

circulação.

2.2.1 Competência da JARI

Com relação à JARI. O Código de Trânsito Brasileiro cria órgãos, estruturas

administrativas com determinadas competências. Ele cria a JARI que é a Junta

Administrativa de Recursos de Infrações.

Essas juntas administrativas representam uma instância para conhecimento

das infrações de trânsito. Isso quer dizer que toda vez em que uma pessoa é

multada, tem o direito como cidadão de se defender dessa acusação que contra si é

feita pelo Estado.

Para exercer esse direito deve encaminhar a JARIo do local que a multa foi

infringida, se numa rodovia estadual ao Estado, se numa rodovia federal a União, se

no município a JARI do município, para que esse órgão colegiado conheça do seu

pedido e verifique da pertinência e da viabilidade, a partir de o conhecendo, declinar

a sua condição.

Obviamente que se a JARI anula aquela punição e a faz por decisão

fundamentada, temos ali o pedido do condutor, supostamente infrator, atendido. Se

esse mesmo condutor que não se julgou infrator, recorre a JARI e ela mantém essa

decisão. Esse condutor tem o direito de ainda percorrer mais uma instância e a essa

instancia haverá coisa julgada administrativa.

Oportuno salientar que devemos tomar cuidado com a expressão “coisa

julgada”, porque a coisa julgada como nos a conhecemos só pode ser aquela

decisão de caratê judicial de caráter irrecorrível que só compete ao poder judiciário

ditar. O fenômeno da coisa julgada como instituto que impede qualquer tipo de

recurso somente é possível no âmbito do poder judiciário. A coisa julgada

administrativa significa tão somente a decisão de caráter administrativo que não

mais comporta recurso na via administrativa, porque ainda a coisa julgada

administrativa pode ainda vir a ser objeto de desfazimento, ainda pode ser objeto de

anulação, não mais na via administrativa é claro, porque já teria percorrido todo o

seu inter, todavia ela pode sim no âmbito do poder judiciário, até porque pelo

principio do acesso à justiça, nada pode deixar de ser objeto de conhecimento do

poder judiciário em especial se temos lesão de direito ou ameaça de lesão isso é um

preceito constitucional previsto no artigo 5º, XXXV e como tal esse artigo se coloca

como direito fundamental como garantia do cidadão, se preferir, no sentido de que

as decisões de caráter administrativo ainda poderão ser conhecidas pelo poder

judiciário, obviamente obedecendo as próprias regras de direito, valendo-se dizer há

um prazo para que se faça isso, ou seja, normalmente esses prazos se reportam a

prescrição quinquenal, quer dizer os cinco anos que medeiam entre a aplicação da

pena, em especial a publicidade dessa pena para o infrator até os cinco anos que

passarem a contar dali, passado esse tempo, vencida essa prescrição quinquenal,

obviamente não se manifesta mais possibilidade jurídica de que os Estado venha

decretar a nulidade de um ato administrativo e essa é a posição majoritária. Regis

Fernandes Oliveira (2001, p. 131-132) aponta que ato nulo, no âmbito administrativo,

pode ser decretada a sua condição de nulidade a qualquer tempo, mas é uma

posição isolada conquanto respeitável.

2.2.2 Mudanças de habito com o advento da legislação

Uma ênfase que foi dada no Código de Trânsito que mudou o comportamento

dos motociclistas, o lamentável modo de agir dos condutores de motocicletas, era o

de conduzir tais veículos sem capacete. O Código de Trânsito rigorosamente

determinou que todos os condutores de motocicleta deveriam usar capacete

efetivamente. Nisso, do ponto de vista pedagógico no nosso país caminhou numa

boa direção. Como também houve com relação a crianças nos bancos de trás. Ainda

com relação ao uso do cinto de segurança entre outros tantos aspectos que nesse

sentido devemos aplaudir o aspecto pedagógico que o Código de Trânsito

proporcionou.

Tivemos também o advento da Lei 12. 436/2011 sancionada pela presidente

Dilma Roussef, apesar de não se dirigir diretamente a questão do trânsito, mas

reflexamente com muita efetividade porque proíbe que motociclistas possam ser

submetidos aos seus empregadores a competições de entrega rápida, que os

empregadores, sejam pessoas físicas ou jurídicas, que sejam proibidos de

estabelecer prêmios pelo cumprimento de metas porque o sistema de entrega, seja

de documentos, seja de alimentos, seja do que for, muitas vezes ele coloca em risco

a própria vida do motociclista quando não a de terceiros envolvidos no aspecto do

trânsito. As estatísticas demonstram o aumento da mortandade de motociclistas e

ciclistas nos grandes centros urbanos. Isso se deve porque nossas cidades foram

elaboradas, desenhadas para prestigiar o veículo de 4 rodas em detrimento do

pedestre, da bicicleta que hoje é um veículo de circulação extremamente importante.

Municípios mais adiantados, mais preocupados com a cidadania no transporte têm

viabilizado alguns eixos de circulação especiais para o trânsito de bicicletas.

Nos também vivenciamos um aspecto negativo no nosso dia a dia. Em janeiro

de 1998 quando o CTB passou a vigorar não tínhamos na realidade do cidadão a

utilização do aparelho celular. No entanto hoje em dia notamos, principalmente nos

grandes eixos metropolitanos muitos condutores fazendo uso de aparelhos celulares

na condução de veículos automotores e parece não haver uma preocupação maior

com essa questão. Todavia o CTB deixa bem claro que não somente a utilização do

aparelho celular como também do fone de ouvido do aparelho celular na condução

do veículo automotor representa uma infração administrativa grave, apesar disso,

generalizando é claro, não se tem visto uma preocupação com essa norma, ou seja,

existem muitas transgressões dessa natureza, lamentavelmente.

2.3 DIREÇÃO DE VEÍCULO E BEBIDA ALCOOLICA

Ainda se falando em infrações de transito, há uma que tem sido razão de

tormento em função de uma novidade que hoje parece ainda ter se mantido e que

decorre do advento, ainda em 2008, da chamada “Lei Seca”. Nesse momento cabe

abordar a infração administrativa de condução de veículo automotor sob influencia

de substância alcoólica. Vários dispositivos no Código de Trânsito tratam dessa

matéria em especial o artigo 165 que menciona especificamente a infração de

trânsito e diz textualmente que dirigir veículo automotor sob a influência de bebida

alcoólica, naturalmente também vai gerar a possibilidade da imposição de sanções

administrativas. Vale lembrar que esse artigo não pode ser aplicado isoladamente,

ou seja, ele tem que ser conjugado com outros dois dispositivos para termos um

espectro completo da sua amplitude.

O art. 165, portanto afirma é infração administrativa conduzir o veículo

estando o condutor sob a influência de substância alcoólica ou de substância

psicoativa que tenham efeitos análogos. Repare que nesse momento, não se

menciona a questão da quantificação. Mais adiante no artigo 277 do CTB é afirmado

categoricamente que todo condutor de veículo automotor que for identificado como

suspeito de estar dirigindo embriagado, ou ainda, que numa operação/blitz policial

seja identificado como tal deverá ser submetido a exame da constatação da

embriagues. É recomendado o exame de etilômetro, vulgarmente conhecido como

bafômetro, o exame hematológico, conhecido como exame de sangue, enfim, se

recomenda o uso de metodologia técnica para a aferição dessa condição. Daí a

pergunta sobre a obrigatoriedade de se submeter ao exame e a resposta é não e

nem poderia ser.

Apesar do artigo 277, CTB obrigar, ou seja, da Lei obrigar, tal dispositivo é

tido como uma infelicidade do legislador e um problema de técnica de redação

legislativa que não levou em conta que a Lei deve se submeter aos parâmetros

constitucionais e também aos Tratados Internacionais de Direitos Humanos ao qual

o Brasil faz parte como signatário. É sabido que o Brasil, como Estado, subscreveu o

pacto de São José de Costa Rica, também chamado de Convenção interamericana

de Direitos Humanos, nessa convenção em seu artigo 8º há uma disposição

expressa segundo a qual nós nos obrigamos a reconhecer que ninguém será

obrigado a reconhecer prova contra si mesmo. Ninguém é obrigado a se auto

incriminar e como tal esse é um paradigma que tanto a doutrina brasileira tem

tratado, como a jurisprudência tem prestigiado.

Todavia um alerta para os condutores deve ser colocado diante do artigo 277,

não no seu caput, quando ele fala na obrigatoriedade do bafômetro, quando ele fala

na obrigatoriedade dos exames técnicos, mas no § 2º que dispõem o seguinte: “a

infração prevista no artigo 165, poderá ser caracterizada pelo agente de trânsito

mediante obtenção de outras provas em direito admitidas acerca dos notórios sinais

de embriagues, excitação ou torpor apresentados pelo condutor”.

Conclui-se que o Estado, para a proteção da sociedade, através de seus

agentes no exercício do poder de polícia, no exercício da atividade de segurança da

coletividade, não está preso tão somente aos exames que dependem de uma

contribuição do condutor, podendo de valor de outras provas em direito admitidas,

como por exemplo, a prova testemunhal, ou seja, a prova do testemunho policial que

confere na sua fala, na sua dicção a assertiva que o condutor estava exalando odor

etílico, estava dirigindo embriagado, estava dirigindo em ziguezague, estava

comprometendo a segurança viária é suficiente para infração administrativa e

aplicação de uma medida de caráter penal.

Daí a pergunta, não se estaria havendo uma restrição a direito fundamental?

Não estaria havendo um condicionamento de um direito e que é previsto lá no

Capitulo V da CF como direito de liberdade? A resposta é não, pois devemos

entender a natureza jurídica do poder de polícia. O conceito que encontramos nos

grandes doutrinadores do poder de polícia é o exatamente de prerrogativa da

administração pública de restringir, de condicionar direitos fundamentais e essa

restrição ou condicionamento de direito fundamentais só se justifica pela tutela de

direito fundamentais maiores, mais amplos, como é o caso da segurança da

coletividade, como é o caso da segurança viária, como é o caso de direto

fundamental que tem morrido no trânsito ou que tem se tornado lesionadas

gravemente e como tal só essa pré-condição justifica o poder de polícia.

Ademais não devemos esquecer que poder de polícia tem como atributo,

dentre vários, a chamada de presunção de legitimidade, presunção de veracidade,

presunção de idoneidade, portanto a fala do agente de trânsito, por exemplo,

quando afirma que alguém estava sem o cinto de segurança, a fala do agente de

trânsito é valida, claro que não é uma presunção absoluta, pois caberá prova em

contrario, mas até que se prove em contrario o ônus da prova cabe ao condutor.

Por isso é que se exige dos policiais um senso de responsabilidade

gigantesco, porque as sanções relativas as infrações administrativas de trânsito são

extremamente rigorosas.

No caso do artigo 165 o valor chega próximo de R$ 2.000,00. Este dispositivo

fala da suspensão do direito de dirigir por um ano que também acompanha a

infração administrativa. Fala ainda do recolhimento da carteira de habilitação e da

retenção do veículo até a entrega para pessoa que se encontre efetivamente

habilitada para dirigir, além dos 7 pontos na carteira. Por isso que se exige das

autoridades um cuidado que realmente deve ser adotado.

Diante do exposto atentamos ao fato que temos um novo Código de Trânsito,

e esse novo Código de Trânsito tem sofrido alterações legislativas, algumas

precárias, algumas dificultando a sua interpretação e aplicação. Todavia os

interpretes e aplicadores do direito em qualquer condição que se encontrem devem

dar uma medida satisfatória, dar efetividade, dar concretude, dar condições de

realização da norma sob pena não poderem proteger a sociedade. Obviamente que

a Administração pública tem instrumentos eficazes, suficientes para evitar

transgressores da ordem.

O CTB fala em ordem pública no que devemos entender ordem viária, ordem

de trânsito propriamente dita no sentido da segurança das pessoas, da incolumidade

da vida e da própria integridade física dos cidadãos. Nesse sentido há instrumentos

suficientes para proteção da sociedade. Órgãos criados com determinadas

competências deverão exercê-las. Órgãos que não tem competência para agir, que

passem a ter seja a partir do próprio texto constitucional.

2.4 DISPOSIÇÕES ESPECIAIS PENAIS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO

Parte geral do Código de Trânsito: a partir do artigo 291 até o 312 do Código

de Trânsito nos temos as disposições penais, as disposições criminais.

Estas disposições têm uma divisão. Do artigo 291 até o 301 nos temos aquilo

que nos chamamos de parte geral, ou seja, as normas gerais que serão aplicáveis

aos crimes de trânsito e do artigo 302 até o artigo 312, encontraremos os crimes,

portanto a parte especial do Código de Trânsito.

Os aspectos administrativos versam sobre competência, desvio de função,

possibilidade jurídica da realização de determinados atos jurídicos, atos punitivos. Já

a parte especial entra na área propriamente dita dos crimes especialmente na parte

geral.

2.4.1 Dispositivos da Parte Geral do Código de Trânsito

Será que se aplicam sem quaisquer restrições aos crimes de trânsito as

expressões da Lei 9.099/95? O artigo 291 do Código de Trânsito Brasileiro diz:

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.

Primeiramente faz-se necessário fazer um contraponto naquilo que a Lei diz e

essa pergunta. A Lei diz da possibilidade da aplicação da Lei 9.099. Mas será que

em qualquer circunstância a Lei 9.099 será aplicada nos crimes de trânsito. É bom

lembrar que a Lei dos juizados especiais criminais diz respeito aos crimes de menor

potencial ofensivo, ou seja, ao rito sumaríssimo que será seguido se de fato tivermos

um crime de pequeno potencial ofensivo. Então a resposta não pode ser aplicada

em toda sua amplitude em todos os crimes de trânsito. Vejamos que o crime mais

grave do Código de Trânsito é o homicídio culposo no trânsito. O condutor de

veículo automotor que venha, sem observar regras de cuidado, de uma forma

desatenta, de uma forma descuidada, de uma forma imprudente, causar morte na

condução de um veículo automotor. Esse não receberá nenhum beneficio da Lei

9.099. Não receberá porque o legislador cuidadosamente previu para o crime de

homicídio culposo uma pena no seu mínimo de 2 anos e uma pena no seu máximo

de 4 anos. É sabido que crime de menor potencial ofensivo, de acordo com a

redação da Lei 9.099 e alterações que se seguiram só podem ser identificados nos

delitos cuja pena máxima seja de até inclusive 2 anos. Assim ultrapassando tal

margem já não temos crimes de menor potencial ofensivo.

Com relação ao instituto que fala da suspensão processual, da suspensão

condicional do processo encontrado no artigo 89 da Lei 9.099 que estabelece:

Artigo 89 - Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

Será que nem esse instituto pode ser aplicado ao homicídio culposo no

trânsito já que é aplicado no homicídio culposo no Código Penal. Concluímos que no

Código Penal é possível, já no Código de Trânsito não. Temos aqui uma tratativa

jurídica distinta. Enquanto no Código Penal temos uma pena mínima que permite a

concessão de tal beneficio o mesmo não ocorre no âmbito do Código de Trânsito

porque no Código de Trânsito sabemos que a pena mínima do crime de homicídio

culposo é justamente de 2 anos, um fator impeditivo da concessão da suspensão

condicional do processo.

O crime de lesão corporal culposa em regra admite praticamente todos os

benefícios, todos os institutos, todos os consectários da Lei 9.099. Admite, portanto,

a composição civil na medida em que como regra é um crime de ação penal pública

condicionada a representação. A lesão corporal culposa admite transação penal. A

lesão corporal culposa exige representação, obviamente pela natureza da ação

penal pública condicionada a representação do ofendido ou seu representante legal.

Todavia, como o artigo 291, em dada medida e em dado momento, não vai

permitir sequer a transação penal. Sequer a composição civil. Sequer a

representação do ofendido ou de seu representante legal, isso nas circunstâncias do

parágrafo 1º, incisos I, III e III do próprio artigo 291.

Observamos que o artigo 291 inaugura a parte geral do Código de Trânsito

Brasileiro e ele começa já afirmando que o crime de lesão corporal culposa como

regra se sujeitará a incidência, se sujeitará a aplicação do Código Penal , do Código

de processo penal e também da Lei 9.099/95. Mas reforçando a reprimenda da Lei

11.705/2008 (Lei Seca) confrontada com a legislação anterior diz agora o legislador:

em três circunstâncias não caberá a Lei 9.099 e ele diz isso no parágrafo primeiro

afirmando “aplica-se aos crimes de lesão corporal culposa nos crimes de trânsito o

disposto no artigo 74 da Lei dos juizados especiais. Temos nesse dispositivo a

possibilidade da composição civil. Aplica-se no crime de lesão corporal culposa a

possibilidade do artigo 76, ou seja, a transação penal. Também se aplica o artigo 88

que se refere a representação”. Daí surgem as exceções, ou seja, são ditadas as

hipóteses em que não caberá nenhum dos institutos da Lei 9.099, a não ser a

suspensão condicional do processo que caberá em qualquer hipótese, tanto na

lesão corporal culposa do Código Penal comum, tanto na lesão corporal culposa do

Código de Trânsito inclusive nas hipóteses dos três incisos do artigo 291.

No artigo 291, inciso I, do CTB, fala da lesão corporal culposa no trânsito sob

influência de álcool ou qualquer outra substância psico-ativa que cause

dependência, que determine dependência. Portanto se o condutor de veículo

automotor estava bêbado, estava embriagado, ou seja, causou lesão corporal

embriagado. Nesse tocante, não terá direito, não fará jus as benesses da Lei 9.099.

Na segunda hipótese prevista no artigo 291, inciso II do CTB, que diz:

“participando de corrida, de disputa ou competição automobilística”. É aquilo

conhecido vulgarmente por racha. Tecnicamente é uma corrida não autorizada, uma

competição automobilística para a qual não foi conferida a autorização. Observe-se

que pode haver uma corrida pública na via com autorização em situações

excepcionais e o CTB foi sensível a essa possibilidade. Mas o racha é uma situação

totalmente diferente, o racha é uma situação em que, normalmente pessoas mais

jovens, normalmente desprovidas do senso de respeito para com o próximo, de

menosprezo com a vida alheia, se colocam na direção de veículo automotor

competindo, acirrando disputa por qualquer que seja o motivo. Se por ventura o

condutor do racha, o condutor do pega, o participante dessa competição vier a

causar lesão corporal que não seja em si mesmo, obviamente, pois a auto lesão não

se verifica punível, mas em terceira pessoa. Nesse caso o infrator não terá direito as

benesses da Lei 9.099, não terá direito a transação penal, não terá direito a

composição civil, não terá direito a representação, ou seja, a ação se tornara pública

incondicionada. Somente terá direito ao sursis processual.

Na terceira hipótese, artigo 291, inciso III do CTB, transitando em velocidade

a máxima permitida para via em 50 quilômetros por hora. Imaginemos. A velocidade

para a via é de 50 km/h e o condutor está a 100 ou a velocidade permitida para a via

é de 120 e o veículo está a 170 se tal condutor vier a ferir alguém, machucar alguém

terá cometido um crime de trânsito tipificado como lesão corporal culposa e não se

aplica a Lei 9.099, pois se trata de uma exceção a regra. Aplica-se o sursis

processual é claro, mas as benesses maiores contidas nos artigos 74; 76 e 88 da Lei

9.099/95 não fará jus.

Todavia a outros crimes previstos no Código de Trânsito. Todos os demais

crimes do CTB, por regra, há aplicação da Lei 9.099/95 em toda a sua amplitude

com exceção ao crime de embriagues na condução do veículo automotor porque a

recente alteração de 2008 decorrente do advento da Lei 11.705, a vulgarmente

chamada “Lei Seca” fez com que, e propositalmente, tivesse essa preocupação qual

seja, não incidência da tratativa da Lei 9.099 no crime de embriagues, obviamente

este crime está fora do alcance, em especial pelo plus de sua pena, ou seja, a pena

de embriagues no trânsito a pena máxima é de 3 anos e como tal ela está fora do

alcance dos chamados crimes de menor potencial ofensivo na medida em que a

própria Lei os define como delitos cuja pena será no máximo até inclusive 2 anos.

O parágrafo 2º do artigo 291 do CTB diz que nas hipóteses do parágrafo 1º

deve ser instaurado inquérito policial, totalmente desnecessário dizer isso porque no

âmbito da Lei 9.099 normalmente não se instaura inquérito policial, mas sim o termo

circunstanciado. Essa é a regra da lesão corporal culposa. Então se se diz que não

se aplica os institutos da Lei 9.099, por obvio entende-se que não se instaura termo

circunstanciado e sim o inquérito policial. Mas porque o legislador colocou esse

dispositivo. Aparentemente quis ele espancar qualquer duvida a respeito, ou seja,

quis deixar mais cristalino do que evidente o fato de que nessa hipótese, uma das

hipóteses do parágrafo 1º, incisos I, II e III, não é o caso de se valer do termo

circunstanciado, mas sim é o caso de se utilizar o inquérito policial.

2.4.2 Da Suspenção/Proibição de se obter a Carteira nacional de habilitação ou

Permissão para dirigir

Ao comentar o artigo 292 temos a seguinte redação: “a suspensão ou a

proibição de se obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor pode

ser pode ser imposta como penalidade principal, isolada ou cumulativamente com

outras penalidades”. Isso é uma novidade que trouxe a parte especial do Código de

Trânsito porque se formos ao Código Penal , ao Código comum, observaremos que

no preceito primário, ou seja, quando se descreve a conduta proibida, por exemplo,

matar alguém segue-se o preceito secundário – pena – normalmente privativa de

liberdade ou uma pena pecuniária. Como regra é o que temos no Código Penal

comum – pena de homicídio 6 a 20 anos – pena privativa de liberdade. Se for pra

outro delito, pena de tanto a tanto e multa ou multa, portanto na técnica normal do

Código Penal nós nos valemos de pena privativa de liberdade e de penas restritivas

de direito somente em caráter substitutivo. Aqui o que fez o legislador no Código de

Trânsito. Ele inovou criando a possibilidade da pena cumulativa, ou seja, o juiz de

direito pode além de aplicar a pena privativa de liberdade que já esta prevista na

norma, ele pode aplicar, e esse é um poder discricionário do julgador, quer dizer ele

não está obrigado a aplicar essa medida cumulativa. Ele pode fazer inclusive de

forma isolada ou de forma cumulativa com outras penalidades. Todavia, não

podemos esquecer, que em alguns crimes de trânsito, mais precisamente em cinco

deles, o juiz não fará o juízo discricionário, porque nesse caso ele obrigado a seguir

o que diz a norma. A norma diz nesse caso que além da pena privativa de liberdade

ele deverá aplicar a pena de suspensão de direção de veículo automotor ou de

proibição de dirigir veículo automotor. Mas qual a diferença entre suspensão para

direção de veículo automotor de proibição para direção de veículo automotor. A

suspensão é uma medida que se impõe a um condutor habilitado, ele já é habilitado,

já passou pelos processos de habilitação e, portanto, está licenciado para dirigir,

então nesse caso se suspende, ou seja, o juiz aplica a penalidade de suspensão do

direito de continuar dirigindo. Já a proibição se destina aquele que não é habilitado,

que estava dirigindo sem carteira de habilitação. Não sem portar, mas sem tê-la,

sem nunca ter tido tal carteira de habilitação, portanto um não habilitado estará

proibido de dirigir. Quais são os cinco crimes que o juiz é obrigado a aplicar tais

penalidades? O juiz é obrigado aplicar no homicídio culposo porque no homicídio

culposo no trânsito esta pena já está prevista no preceito secundário, juntamente

com a pena privativa de liberdade. Ela também está prevista no crime de lesão

corporal culposa de trânsito. Tanto no homicídio como na lesão corporal culposa

vemos a previsão da suspensão ou proibição para dirigir. O mesmo ocorrerá no

crime de embriagues. Ocorrerá também na competição não autorizada conhecida

como racha. Ocorrerá ainda no crime de violação da determinação de não dirigir, ou

seja, desobediência qualificada do condutor que tendo sido proibido de dirigir,

continua dirigindo. Portanto nesses cinco crimes o juiz é obrigado. Em todos os

demais crimes do CTB o juiz terá a faculdade, o poder discricionário de avaliar se

aplica ou não, em caráter cumulativo, essa nova pena ou penalidade. É chamada de

nova pena “em of” porque o Código Penal já previa esta hipótese apresentando-a,

não como pena, muito menos como pena acessória e saliente-se que devemos

evitar esse termo pena acessória, pois a pena acessória não existe no ordenamento

jurídico penal. Esse termo pena acessória foi banido na reforma de 1984. Então

devemos usar o termo “efeitos da condenação” previstos no artigo 92 e seguintes do

Código Penal, o juiz já podia aplicar essa medida, como também como pena

alternativa previstas no artigo 44 e seguintes do CP pode também o juiz impor pena

alternativa. A novidade então, do CTB, está na cumulatividade, ou seja, na

possibilidade de cumular a pena privativa de liberdade com a pena restritiva de

direito.

Interessante dizer que isso não avilta um direito fundamental. Afirma-se que

não só não avilta, como ainda é consentâneo de tratados internacionais. A

Convenção de Viena, no seu artigo 42, do qual o Brasil é signatário permite também

que se possa retirar a autorização para se dirigir e diga-se são medidas frequentes

em muitos outros Países como Suécia, EUA, Noruega e de todo o Reino Unido

especialmente quando se cuida da infração, de se detectar a condição de

embriagado de quem conduz um determinado veículo.

2.4.3 Duração da penalidade de suspensão/proibição de dirigir

O artigo 293 do Código de Trânsito Brasileiro traz uma nota na qual devemos

tomar cuidado. Ele diz: “a penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a

permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor tem a duração de 2 meses a

5 anos”. Então a norma diz que essa nova penalidade tem que ter um prazo, lógico,

pois o CP é inspirado pelo principio da legalidade. Alias o direito penal é inspirado

pelo principio da legalidade. E o principio da legalidade possui desdobramento e

corolários. Um dos desdobramentos ou corolários do principio da legalidade é o

principio da taxatividade segundo o qual a pena tem que ser clara, precisa, objetiva

e concisa. Mas acima de tudo clara, para que o cidadão possa saber de antemão o

que poderá ocorrer com ele caso ele venha a transgredir a norma. Diz, portanto a

Lei agora que a pena tem que ter um mínimo e um máximo. O mínimo de 2 meses e

o máximo de 5 anos. A pergunta é a seguinte: seria possível admitir que uma

pessoa condenada a pena de lesão corporal culposa no seu mínimo, seis meses, e

punida no máximo relativamente a penalidade de suspensão para continuar dirigindo

em cinco anos? Seria isso possível? A resposta é que em tese sim. A Lei abre essa

possibilidade dentro da discricionariedade judicial. Todavia devemos nos lembrar

das lições primarias de elaboração de pena. As lições primeiras a respeito da

dosimetria da pena e não nos esqueçamos da importância do principio da

proporcionalidade segundo o qual se o juiz aplica a pena privativa de liberdade no

seu mínimo por obvio ele também deverá aplicar a pena restritiva de direito ou no

seu mínimo ou próximo do mínimo, não sendo razoável, mas vilipendiador do

principio da proporcionalidade aplicar-se uma pena mínima privativa de liberdade e

uma pena máxima restritiva de direito. É preciso buscar o equilíbrio da decisão e

obviamente se por ventura o magistrado equivocadamente impor a decisão

destoante dessa orientação essa medida pode ser, com toda certeza, corrigida pelas

instancias superiores, haja vista que o principio implícito da proporcionalidade assim

o recomenda.

O artigo 293 do CTB continua dizendo que transitado em julgado a sentença

condenatória o réu será intimado a entregar ao poder judiciário em 48h a carteira

nacional de habilitação ou a permissão para dirigir. Obviamente que despojado

desse documento, despido dessa licença o condutor já encontra transgredindo a

norma se por ventura for encontrado na direção de veículo automotor, portanto já de

plano terá problemas com a fiscalização.

O parágrafo 2º continua afirmando que a penalidade de suspensão não vai

ser começada, não terá inicio enquanto o condenado estiver preso. É obvio que se o

condutor estiver preso não poderá dirigir dentro do presídio e ainda que fizesse

dentro do presídio ali não é via pública. Mas de qualquer forma o inicio desta pena

poderá ser computado a partir do momento em que o condenado preso é posto em

liberdade. Podendo dirigir fica vedado o exercício na medida em que esta submetido

a pena restritiva de direito.

2.4.4 Suspensão cautelar da permissão/proibição para dirigir

O artigo 294 do CTB traz uma inovação muito interessante que é o fato de

que agora, ou seja, a partir do advento do Código de Trânsito o magistrado pode

impor a medida de proibição de dirigir ou de suspensão do direito de dirigir como

medida cautelar em qualquer fase pré-processual ou intra-processual. Uma fase

inquisitorial, ou seja, no inquérito policial ou mesmo na fase processual propriamente

dita ainda que não tenha havido trânsito em julgado e isso é chamado de medida

cautelar. Será que existe aqui um problema? Sabendo do advento da Lei

12.403/2011 que tem causado um alvoroço nos meios jurídicos, entre aqueles que

estudam o direito penal e o direito processual penal porque essa Lei inovou a ordem

jurídica penal trazendo a noticia de novas medidas cautelares além das medidas

cautelares no processo penal. Há um dispositivo nessa Lei que elenca, que enuncia

quais são as medidas cautelares e começa-se ali falando do comparecimento

obrigatório perante ao juiz; proibição de frequentar determinados lugares; proibição

de estar próximo a determinadas pessoas; recolhimento domiciliar; aplicação de

fiança também reconhecida como medida cautelar e a grande novidade que é a

monitoração eletrônica. Será que esta nova Lei das medidas cautelares em algum

momento afeta o Código de Trânsito em face do fato em que ela já preconiza, já

dispõem quais são as medidas cautelares. A resposta aqui é negativa porque não

podemos nos esquecer que esta é uma Lei de caráter exemplificativo. O rol que se

encontra nas Leis das novas medidas cautelares é um rol exemplificativo. Não é um

rol exaustivo, não se trata de numerus clausus, quer dizer, existem outras medidas

cautelares previstas em Leis especiais, por exemplo: proibição de dirigir, suspensão

do direito de dirigir nos crimes de trânsito. Será que somente esse exemplo?

Vejamos a Lei Maria da Penha. Na Lei Maria da Penha há um rol de medidas de

proteção à mulher. Há um rol de medidas que se impõem ao agressor da mulher que

também são medidas cautelares que continuam em vigor, portanto a Lei geral não

revogou as especiais e nem poderia fazê-lo por questão de preceito primário de

interpretação da norma jurídica que “Lei geral não revoga Lei especial”. Assim as

medidas cautelares continuam plenas e em vigor. O artigo 294, parágrafo único do

CTB fala do recurso em sentido estrito, como recurso cabível da decisão que

decreta essa medida cautelar.

2.4.5 Comunicação da Suspensão/Proibição para dirigir

O artigo 295 do Código de Trânsito diz: “a suspensão para dirigir veículo

automotor ou a proibição de se obter tal permissão ou habilitação será sempre

comunicada pela autoridade judiciária aos órgãos administrativos, ao CONTRAN e

tudo mais”. Isso nada mais é que uma medida de controle do cidadão.

3 CONCLUSÃO

Foram abordados nesse estudo os crimes de transito e a atuação dos

agentes do Estado que atuam no trânsito e através do poder de polícia, possuem a

prerrogativa de restringir, de condicionar direitos fundamentais. Essa restrição ou

condicionamento de direito fundamentais só se justifica pela tutela de direito

fundamentais maiores, mais amplos, como é o caso da segurança da coletividade,

da segurança viária, do direito fundamental a vida, uma vez que muitas pessoas tem

morrido no trânsito ou ficado lesionadas gravemente.

Ademais não devemos nos esquecer de que o poder de polícia tem como

atributo, dentre vários, a chamada de presunção de legitimidade, presunção de

veracidade, presunção de idoneidade, portanto a fala do agente de trânsito, por

exemplo, quando afirma que alguém estava sem o cinto de segurança, a fala do

agente de trânsito é valida, claro que não é uma presunção absoluta, pois caberá

prova em contrario, mas até que se prove em contrario o ônus da prova cabe ao

condutor.

Por isso é que se exige dos policiais um senso de responsabilidade

gigantesco, porque as sanções relativas às infrações administrativas de trânsito são

extremamente rigorosas, se exigindo das autoridades um cuidado que realmente

deve ser adotado.

O CTB fala em ordem pública no que devemos entender ordem viária, ordem

de trânsito propriamente dita no sentido da segurança das pessoas, da incolumidade

da vida e da própria integridade física dos cidadãos. Nesse sentido há instrumentos

suficientes para proteção da sociedade. Órgãos criados com determinadas

competências deverão exercê-las.

É com essas ponderações que conclui-se o trabalho de análise dos preceitos

do Código de Trânsito e a atuação de seus agentes. Obviamente que foi se

debruçado nos aspectos mais importantes, mais relevantes, ou seja, àqueles que

têm gerado mais questionamentos, discussões e polêmicas.

Cabe salientar que o objetivo do trabalho não foi estancar o assunto, encerrar

as discussões possíveis sobre o tema, mas despertar uma reflexão, uma análise

crítica, ou seja, um pensamento voltado para a leitura do direito com o olhar na

Constituição Federal. É somente com essa dimensão global que teremos uma

interpretação adequada do direito e uma declinação de justiça efetiva para o caso

concreto.

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