dona regina: descobrindo a riqueza da diversidade produtiva

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Alagoas Ano 5 | nº 34 |Setembro| 2011 Olho D’água do Casado - Alagoas Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Dona Regina: descobrindo a riqueza da diversidade produtiva 1 Escondidas atrás de latas de água, chefes de suas famílias enquanto seus maridos procuram emprego fora durante boa parte do ano, responsáveis pela educação dos filhos e mesmo assim pouco reconhecidas por sua luta diária. O retrato da mulher do semiárido mudou um pouco, já não se vêem tantas equilibristas da água. Elas já não ficam escondidas em seus lares. Ocupam associações, participam de cursos, são agricultoras, apicultoras, artesãs e continuam chefes de suas famílias, educando seus filhos e cuidando dos seus lares. Dona Regineide Rodrigues, de 39 anos, conhecida como Regina é uma dessas mulheres, que vive no semiárido alagoano. Muito se fala em jornada dupla, mas dona Regina não mantém uma jornada dupla, ou tripla. Ela é agricultora, apicultora, mãe, trabalha como agente de saúde e é dona de casa no tempo livre, como ela mesma fala. Como mãe e dona de casa é chefe da família. Cuida da pequena Ivia Laura e do jovem Thiago. “Não sobra muito tempo para cuidar da casa, mas o Thiago me ajuda muito”. Conta dona Regina, que mora com sua família na comunidade Letreiro, município de Olho D'água do Casado, desde que se casou com seu Rosival França. O esposo é pedreiro e trabalha em uma grande construção em uma cidade vizinha. “Ele nunca gostou muito do trabalho da roça, gosta de ter uma renda certa no final do mês”, afirma dona Regina, ao lembrar que o marido passa muito tempo trabalhando fora. A agente de saúde trabalha de segunda a sexta feira, acompanha as famílias da própria comunidade e algumas de comunidades vizinhas. “O salário não é muito, mas é uma coisa certa ao final do mês, afirma dona Regina. É o trabalho de agente que ocupa maior parte do seu tempo. Na apicultura, dona Regina começou no ano de 2004. Através de sua participação nas reuniões do Forum de Desenvolvimento Local Sustentável ou fórum DLIS. Teve a oportunidade de frequentar alguns cursos de apicultura e se apaixonou pela atividade.

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Alagoas

Ano 5 | nº 34 |Setembro| 2011Olho D’água do Casado - Alagoas

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Dona Regina: descobrindo a riqueza da diversidade produtiva

1

Fonte Arial corpo 10

largura tarja 1cm

Escondidas atrás de latas de água, chefes de suas famílias enquanto seus maridos procuram emprego fora durante boa parte do ano, responsáveis pela educação dos filhos e mesmo assim pouco reconhecidas por sua luta diária.

O retrato da mulher do semiárido mudou um pouco, já não se vêem tantas equilibristas da água. Elas já não ficam escondidas em seus lares. Ocupam associações, participam de cursos, são agricultoras, apicultoras, artesãs e continuam chefes de suas famílias, educando seus filhos e cuidando dos seus lares.

Dona Regineide Rodrigues, de 39 anos, conhecida como Regina é uma dessas mulheres, que vive no semiárido alagoano. Muito se fala em jornada dupla, mas dona Regina não mantém uma jornada dupla, ou tripla. Ela é agricultora, apicultora, mãe, trabalha como agente de saúde e é dona de casa no tempo livre, como ela mesma fala.

Como mãe e dona de casa é chefe da família. Cuida da pequena Ivia Laura e do jovem Thiago. “Não sobra muito tempo para cuidar da casa, mas o Thiago me ajuda muito”. Conta dona Regina, que mora com sua família na comunidade Letreiro, município de Olho D'água do Casado, desde que se casou com seu Rosival França.

O esposo é pedreiro e trabalha em uma grande construção em uma cidade vizinha. “Ele nunca gostou muito do trabalho da roça, gosta de ter uma renda certa no final do mês”, afirma dona Regina, ao lembrar que o marido passa muito tempo trabalhando fora.

A agente de saúde trabalha de segunda a sexta feira, acompanha as famílias da própria comunidade e algumas de comunidades vizinhas. “O salário não é muito, mas é uma coisa certa ao final do mês, afirma dona Regina. É o trabalho de agente que ocupa maior parte do seu tempo.

Na apicultura, dona Regina começou no ano de 2004. Através de sua participação nas reuniões do Forum de Desenvolvimento Local Sustentável ou fórum DLIS. Teve a oportunidade de frequentar alguns cursos de apicultura e se apaixonou pela atividade.

“A apicultura mudou minha vida. Com ela eu pude comprar quase tudo que tenho hoje. Comprei geladeira, moto, batedeira. É outra qualidade de vida.” Conta dona Regina, que chegou a tirar 700 quilos de mel em um ano. Produção que ela vende a partir da Cooperativa dos Produtores de Mel, Derivados e Insumos Apícolas, a Coopeapis.

Agricultora, dona Regina sempre foi. Ajudava a família e aprendeu desde cedo a gostar de lidar com a agricultura. Junto com a família trabalha, em cerca de 70 tarefas com a roça de feijão e milho e também mantém uma área de preservação, por conta das abelhas.

Mas não é somente com a roça de feijão e milho que a agricultora mantém sua propriedade. Com a conquista de uma cisterna calçadão, ela pode desenvolver ainda outra atividade que sempre gostou. O cultivo de fruteiras e hortaliças era o que faltava para dona Regina diversificar ainda mais sua propriedade.

Com a cisterna calçadão ela cultiva fruteiras como maracujá, banana, acerola, manga, goiaba, entre outras. Também mantém um plantio de hortaliças como coentro, cebolinha, pimentão, tomate. Produção que ela chegou a vender em 2010.

Mas o trabalho, não para por ai. A família ainda tem uma produção variada de pequenos animais. Além das abelhas, ela cuida também de uma criação de galinhas e de ovelhas. A maior produção atual é com as galinhas que são 70 ao todo e servem basicamente para a alimentação da família e para distribuir com alguns vizinhos.

Para realizar toda essa jornada diária, dona Regina conta com a ajuda dedicada do filho Thiago, de 16 anos. Os dois fazem tudo juntos, cuidam das plantações, dos animas, da apicultura e da casa. “Quando estou no meu trabalho, ele cuida de tudo” diz dona Regina ao falar do importante apoio que recebe do filho. Segundo dona Regina, toda essa vontade de fazer várias coisas, produzir com diversidade veio com a participação nos espaços de organização da comunidade. Ela participa da associação comunitária, participou de vários cursos, várias feiras de empreendedores e sempre que tem a oportunidade procura aprender mais sobre tudo que faz.

“Eu não posso imaginar como seria a vida sem todas essas oportunidades. A gente participa, aprende, é outra vida. Mudou os horizontes, hoje temos uma nova cabeça”. Conclui dona Regina, ao mostrar que aquela mulher forte e resistente do semiárido também pode ser uma empreendedora e, sobretudo, uma aprendiz.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

largura tarja inferior2ª página 2,8cm

Alagoas

largura 4,2cm

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