domingo,23deagostode2009 prejuÍzoinvisÍvel · empresas...

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+ PREJUÍZO INVISÍVEL Karime Xavier/Folha Imagem 30,7% É o índice de furtos externos, feitos por clientes, entre as perdas do segmento de ele- troeletrônicos em 2008, se- gundo a 9ª Avaliação de Per- das do Varejo Brasileiro, feita com 77 empresas em dezem- bro do ano passado Produtos visados são pequenos e têm grande valor agregado ................................................................................................ DA REPORTAGEMLOCAL COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A lista de produtos visados é extensa, mas muitos reúnem qualidades comuns: são peque- nos e têm alto valor agregado. A explicação é simples, afir- ma Ricardo Pastore, da ESPM. São mais fáceis de carregar e de revender no mercado paralelo. Pilhas, aparelhos de barbear, acessórios para informática e para ferramentas, como brocas e serras, cosméticos, protetores solares e até aparelhos eletroe- letrônicos são bastante visados. “Televisores pequenos de LCD são grandes candidatos a engrossar a relação dos itens mais furtados”, prevê Pastore. O consultor especializado em varejo Marco Antonio Geraigi- re faz uma distinção. Para ele, os produtos-alvo de furtos ex- ternos, feitos por clientes, são os de necessidade da pessoa ou da família, como medicamen- tos, ou ainda os que têm mais procura no mercado informal. Já os de furtos internos, fei- tos por colaboradores, são ob- jetos de desejo ou que podem ser consumidos dentro da loja. ) MONITORAMENTO MONITORAMENTO MONITORAMENTO Com pedidos que chegam a 1.200 peças —e para entrega imediata—, a Dust Jeans não poderia investir em etiquetas eletrônicas, que teriam de ser retiradas uma a uma; a solução foi a instalação de câmeras, afirma a gerente de vendas Andreza Fernandes, 28 Furto representa 38% das perdas do varejo no Brasil Segmento de eletroeletrônicos é o mais afetado, seguido pelo de atacado ................................................................................................ RAQUEL BOCATO DA REPORTAGEMLOCAL NATALIECATUOGNOCONSANI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA O furto representa hoje 38,1% das perdas do varejo bra- sileiro. Dependendo do seg- mento de atuação do varejista, essa parcela pode ser ainda maior, chegando a 57,5%, como no caso de eletroeletrônicos. As consequências desse tipo de ação são claras: redução da margem de lucro e, consequen- temente, da competitividade. Mesmo assim, investir em sis- temas de segurança e de con- trole de perdas ainda não se tornou procedimento padrão. Para Patricia Vance, coorde- nadora do núcleo de prevenção de perdas do Provar/FIA (Pro- grama de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração), a falta de investimento em prevenção de perdas é uma questão cultural. Até a estabilização da econo- mia, em 1994, com o Plano Real, ganhava-se com a infla- ção. Agora, exige-se eficiência na operação para manter —ou aumentar— a margem de lucro e sobreviver no mercado. Por isso, complementa, coi- bir os furtos é uma questão de sobrevivência para o varejista. Hoje os consumidores têm mais consciência de custo, o que impede que esse prejuízo seja repassado para os preços. Mesmo assim, diz o econo- mista Marcel Solimeo, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), muitos comerciantes lançam mão desse recurso para tentar aplacar as perdas. “É inevitável. [A perda por furto] acaba compondo o preço.” Segmentos O segmento mais afetado é o de eletroeletrônicos. Mas ou- tros não ficam atrás. No ataca- do, os furtos representam 46,1% das perdas. Vestuário soma 46%; drogarias, 42,1%; supermercados, 35,4%; e mate- rial de construção, 33,8%. Os dados são da 9ª Avaliação de Perdas no Varejo Brasileiro, feita por GPP-Provar/FIA (Grupo de Prevenção de Per- das), Nielsen, Abras (Associa- ção Brasileira de Supermerca- dos) e Felisoni Consultores Associados. Entre os fatores de perda também estão erros administrativos, fornecedores e quebra operacional. Segundo Vance, do Provar- FIA, muitas grandes e médias empresas já contam com siste- mas estruturados de prevenção de perdas. Mas não é regra. “Há redes de farmácias que trabalham sem isso”, exempli- fica. E diz que, entre os peque- nos varejistas, a adoção de sis- temas de segurança ou controle está longe de ser uma diretriz. Controle Para o coordenador do Nú- cleo de Varejo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Mar- keting), Ricardo Pastore, as for- mas de controle e prevenção do furto devem ser incorporadas na gestão da empresa. “Isso começa com uma boa gestão de estoque, o que muitos varejistas ainda não têm”, fina- liza Solimeo, da ACSP. 29,2% É o índice de furtos feitos por funcionários e terceiros entre as perdas do atacado. Seguem os eletrônicos (26,8%), segun- do a 9ª Avaliação de Perdas no Varejo Brasileiro 2 negócios DOMINGO, 23 DE AGOSTO DE 2009 ef

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PREJUÍZO INVISÍVELKarime Xavier/Folha Imagem

30,7%É o índice de furtos externos,feitos por clientes, entre asperdas do segmento de ele-troeletrônicos em 2008, se-gundo a 9ª Avaliação de Per-das do Varejo Brasileiro, feitacom 77 empresas em dezem-bro do ano passado

Produtosvisadossãopequenosetêmgrandevaloragregado................................................................................................DA REPORTAGEM LOCALCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A lista de produtos visados éextensa, mas muitos reúnemqualidades comuns: são peque-nos e têm alto valor agregado.

A explicação é simples, afir-ma Ricardo Pastore, da ESPM.São mais fáceis de carregar e derevender no mercado paralelo.

Pilhas, aparelhos de barbear,acessórios para informática epara ferramentas, como brocase serras, cosméticos, protetoressolares e até aparelhos eletroe-letrônicos são bastante visados.

“Televisores pequenos deLCD são grandes candidatos aengrossar a relação dos itensmais furtados”, prevê Pastore.

O consultor especializado emvarejo Marco Antonio Geraigi-re faz uma distinção. Para ele,os produtos-alvo de furtos ex-ternos, feitos por clientes, sãoos de necessidade da pessoa ouda família, como medicamen-tos, ou ainda os que têm maisprocura no mercado informal.

Já os de furtos internos, fei-tos por colaboradores, são ob-jetos de desejo ou que podemser consumidos dentro da loja.

))) MONITORAMENTOMONITORAMENTOMONITORAMENTOCom pedidos que chegam a 1.200 peças —e para entrega imediata—, a Dust Jeans não poderia investir em etiquetas eletrônicas,que teriam de ser retiradas uma a uma; a solução foi a instalação de câmeras, afirma a gerente de vendas Andreza Fernandes, 28

Furtorepresenta38%dasperdasdovarejonoBrasilSegmento de eletroeletrônicos é o mais afetado, seguido pelo de atacado................................................................................................RAQUEL BOCATODA REPORTAGEM LOCALNATALIE CATUOGNO CONSANICOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O furto representa hoje38,1% das perdas do varejo bra-sileiro. Dependendo do seg-mento de atuação do varejista,essa parcela pode ser aindamaior, chegando a 57,5%, comono caso de eletroeletrônicos.

As consequências desse tipode ação são claras: redução damargem de lucro e, consequen-temente, da competitividade.Mesmo assim, investir em sis-temas de segurança e de con-trole de perdas ainda não setornou procedimento padrão.

Para Patricia Vance, coorde-nadora do núcleo de prevençãode perdas do Provar/FIA (Pro-

grama de Administração doVarejo da Fundação Institutode Administração), a falta deinvestimento em prevenção deperdas é uma questão cultural.

Até a estabilização da econo-mia, em 1994, com o PlanoReal, ganhava-se com a infla-ção. Agora, exige-se eficiênciana operação para manter —ouaumentar— a margem de lucroe sobreviver no mercado.

Por isso, complementa, coi-bir os furtos é uma questão desobrevivência para o varejista.Hoje os consumidores têmmais consciência de custo, oque impede que esse prejuízoseja repassado para os preços.

Mesmo assim, diz o econo-mista Marcel Solimeo, da ACSP(Associação Comercial de SãoPaulo), muitos comercianteslançam mão desse recurso para

tentar aplacar as perdas. “Éinevitável. [A perda por furto]acaba compondo o preço.”

SegmentosO segmento mais afetado é o

de eletroeletrônicos. Mas ou-tros não ficam atrás. No ataca-do, os furtos representam46,1% das perdas. Vestuáriosoma 46%; drogarias, 42,1%;supermercados, 35,4%; e mate-rial de construção, 33,8%.

Os dados são da 9ª Avaliaçãode Perdas no Varejo Brasileiro,feita por GPP-Provar/FIA(Grupo de Prevenção de Per-das), Nielsen, Abras (Associa-ção Brasileira de Supermerca-dos) e Felisoni ConsultoresAssociados. Entre os fatores deperda também estão errosadministrativos, fornecedorese quebra operacional.

Segundo Vance, do Provar-FIA, muitas grandes e médiasempresas já contam com siste-mas estruturados de prevençãode perdas. Mas não é regra.

“Há redes de farmácias quetrabalham sem isso”, exempli-fica. E diz que, entre os peque-nos varejistas, a adoção de sis-temas de segurança ou controleestá longe de ser uma diretriz.

ControlePara o coordenador do Nú-

cleo de Varejo da ESPM (EscolaSuperior de Propaganda e Mar-keting), Ricardo Pastore, as for-mas de controle e prevenção dofurto devem ser incorporadasna gestão da empresa.

“Isso começa com uma boagestão de estoque, o que muitosvarejistas ainda não têm”, fina-liza Solimeo, da ACSP.

29,2%É o índice de furtos feitos porfuncionários e terceiros entreas perdas do atacado. Seguemos eletrônicos (26,8%), segun-do a 9ª Avaliação de Perdas noVarejo Brasileiro

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PREJUÍZO INVISÍVEL

Solução idealdepende domapeamentode processos

CONTROLE

Conheçaalgunsequipa-mentosdesegurançadisponíveis*

Implementaçãodeprogra-madeprevençãodeperdas

1 Mensuração: apuração deindicadores de prevenção

de perdas (inventário e identi-ficação das diferenças em rela-ção ao estoque contábil)

2 Diagnóstico: análise de pro-cessos e identificação de

riscos (momentos de risco,produtos mais vulneráveis afurto e impacto financeiro queisso traz à empresa)

3 Avaliação de investimento:análise dos investimentos

necessários em recursoshumanos, tecnologia e redese-nho de processos. É precisocalcular a relação custo-bene-fício, pois nem sempre com-pensa aplicar recursos em

itens como câmeras, antenas eetiquetas de alarme

4 Implementação: definiçãode equipe e responsabili-

dades, bem como de cronogra-ma de implantação, com deta-lhamento de fases e ativida-des. Os colaboradores devemser treinados constantemente—a periodicidade dependerádo porte e da necessidade

5 Monitoramento: acompa-nhamento dos indicadores

e da adoção das práticas. Pro-dutos de alto risco devem sercontrolados separadamente,com planilhas próprias

Fontes: Patricia Vance, do Provar-FIA;Marta Alcarde, da Gateway Security; AndréLucena, da RGIS; Ricardo Pastore, da ESPM;e Marco Antonio Geraigire, da GeraigireSoluções para o Varejo

VARIADAS)Etiquetas adesivas para CDsvão de R$ 0,25 a R$ 0,43Empresário deve estudar opções

de equipamento e treinar equipe................................................................................................DA REPORTAGEM LOCALCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Prevenir-se de perdas é maisdo que instalar câmeras. Antesde fazer qualquer alteração, oempresário precisa ter mapea-dos os produtos mais furtados,o impacto no orçamento e a fre-quência com que o furto ocorre.

O mapeamento deve serabrangente, pontua o superin-tendente da Associação ECRBrasil (de estudo da cadeia pro-dutiva), Claudio Czapski. “Nãoé só na loja que ocorrem furtos.Em cada ponto de mudança dacadeia, como transporte, entre-ga e estocagem, há risco.”

Somente depois de ter ummapa completo do problema éque o empresário deve escolheros equipamentos.

“Não há uma solução padrão,algo engessado”, indica MartaAlcarde, de atendimento aocliente da Gateway Security.

Por isso, será preciso avaliarentre uma série de opções: se-gurança na porta do estabeleci-mento, câmeras, etiquetas in-teligentes (veja equipamentos

de segurança nesta página).“Não é flagrar, mas evitar que

o furto ocorra”, orienta o con-sultor Rubem Asser Novaes, daRAN Consultoria Empresarial.

Câmeras, por exemplo, “fun-cionam pelo aspecto psicológi-co, mesmo sem gravar”, ensinaMarcel Solimeo, da ACSP.

Para quem se preocupa comos custos, o executivo da Focus-Mind Walter Uvo exemplifica:“Com um investimento deR$ 800, é possível instalar qua-tro câmeras de segurança”.

AulasIndependentemente da es-

colha, há um item do qual oempresário não pode abrir mão—o treinamento da equipe.

Segundo André Lucena, ge-rente de projetos da RGIS, aorientação dada aos colabora-dores pode gerar resultados.

Quando um cliente apresen-ta “comportamento estranho”,como demorar numa seçãosem levar nada, o funcionáriopode abordá-lo. “Com simpa-tia, vale perguntar ‘posso aju-dar?’ Isso já inibe [o furto].”

PROTEÇÃO) Evita violação de caixas ecusta a partir de R$ 16,60

Fotos Divulgação

Abordagemde consumidorprecisasertemadecapacitação

CADEADOELETRÔNICO) Permite manusear o produto—a partir de R$ 100 por ponto

................................................................................................DA REPORTAGEM LOCAL

A instalação de equipamen-tos na empresa pode gerar maisdor de cabeça em vez de ser asolução para os furtos na firma.

A colocação de etiquetas ele-trônicas e antenas (barras pró-ximas às portas), por exemplo,pode gerar processos por danomoral caso a equipe não sejabem treinada para abordar oconsumidor nos momentos emque o alarme dispara.

Os funcionários devem serorientados a tratar as etiquetasnão como instrumentos dealarme ou antifurto, mas comode controle, caso o alarme soe,orienta Marta Alcarde, daGateway Security.

“Seguranças, operadores decaixa e etiquetadores têm deser orientados não só em rela-ção à abordagem dos clientesmas também à utilização dosequipamentos”, sentencia.

MOLDADOS) Box em policarbonato paraCD e DVD, a partir de R$ 3,50

ANTENAS) Há várias tecnologias —apartir de R$ 7.000 o conjunto

CFTV) Quatro câmeras, monitor egravador, a partir de R$ 4.000

CÂMERAFIXA) Dependendo do modelo, po-de custar a partir de R$ 300

ETIQUETASRÍGIDAS)Há diversos modelos —os preços variam de R$ 2 a R$ 3 a unidade

* Imagens ilustrativas; os preços não se referem ao modelo da foto, mas são uma médiados equipamentos disponíveis no mercado; preços fornecidos pela Gateway Security

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