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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PEQUENOS EXPLORADORES - O INGLÊS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Milena Caldas Moraes ORIENTADOR: Prof. Edla Trocoli Rio de Janeiro 2017 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

PEQUENOS EXPLORADORES - O INGLÊS NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

Milena Caldas Moraes

ORIENTADOR: Prof. Edla Trocoli

Rio de Janeiro 2017

DOCUMENTO P

ROTEGID

O PELA

LEID

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EITO A

UTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Educação Infantil e Desenvolvimento. Por: Milena Caldas Moraes

PEQUENOS EXPLORADORES - O INGLÊS NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

Rio de Janeiro 2017

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a família IFPJ por realizar um sonho

antigo e aos meus alunos e ao meu filho por

servirem como objeto de estudo.

4

DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a minha mãe Teresa e ao

meu marido João Roberto por me incentivarem a

voltar a estudar e por ficarem com meu filhote nos

momentos de estudo; e ao meu filho, João Victor,

por entender minha ausência, mesmo tão pequeno.

5

RESUMO

Pequenos Exploradores – O Inglês na Educação Infantil vem dar luz

a uma discussão acerca da inserção do inglês em escolas particulares de

educação infantil. Iniciamos nosso estudo com um pouco sobre História da

Educação, falamos sobre o que vem a ser esse novo projeto de inserção da

língua inglesa ainda na pré-escola, exploramos as diferenças entre

aprendizado e aquisição de uma nova língua, tratamos sobre o que é

bilinguismo e seus benefícios, e terminamos com uma discussão sobre mitos e

verdades sobre bilinguismo. Por se tratar de um tema relativamente novo,

ainda não podemos mensurar os benefícios reais às crianças que estão

participando deste momento pedagógico. Em um futuro próximo, esperamos

que mais escolas abracem a língua inglesa em seu currículo, e que os

benefícios de sua prática ainda na educação infantil venha dar bons frutos.

Palavras chave: Educação Infantil, Ensino Bilíngue, Assimilação de

Segunda Língua, Bilinguismo no Brasil.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para elaboração do presente trabalho consta

de leitura de livros, artigos, revistas, assim como coleta de dados, pesquisa

bibliográfica, pesquisa de campo e observação do objeto de estudo.

Como leitura de livros e pesquisa bibliográfica utilizamos autores

como Jeremy Harmer, Lilian Itzicovitch Leventhal, Marcello Marcelino, entre

outros.

Para pesquisa de campo e observação do objeto de estudo,

agradeço ao IFPJ pela oportunidade e aos meus alunos por serem minhas

cobaias durante este ano de pesquisa e monografia.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Algumas Considerações Sobre História da Educação 10

CAPÍTULO II

O Ensino do Inglês 21

CAPÍTULO III

O Bilinguismo na Educação Infantil 29

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA 39

ÍNDICE 40

8

INTRODUÇÃO

O inglês ensinado nas escolas brasileiras (diferentemente do que

acontece em diversos países da Europa, por exemplo) dificilmente consegue

alcançar níveis avançados de proficiência, fazendo com que os responsáveis

de nossos alunos busquem cursos extra- curriculares ao longo dos anos

escolares.

Com a crise financeira do país, muitas escolas particulares estão

investindo na inserção de um inglês mais completo, com programas bilíngues,

na tentativa de atrair novos alunos e manter o público que nela está.

Neste contexto, quem sai ganhando são as crianças. Já a partir da

educação infantil estão sendo expostas a uma nova língua, de maneira lúdica e

agradável. Sendo mais estimuladas cognitivamente, apresentam melhor

rendimento na fala, raciocínio lógico, criatividade, entre outras habilidades

específicas.

Por se tratar de uma temática relativamente nova, não encontramos

bibliografia extensa no intuito de avaliar as consequências da inserção do

inglês ainda no ensino pré escolar, não sendo possível concluir se o crescente

sucesso dos programas bilíngues provém de seu aspecto multi- lingual, ou ao

seu caráter elitista, pois as crianças de escolas mais pobres não possuem tal

oportunidade. Sendo assim, diversas das questões apresentadas ao longo

deste estudo ainda são ignoradas.

O propósito deste estudo, portanto, é investigar a implementação do

inglês nas escolas de ensino pré escolar e debater os benefícios que uma

segunda língua traz às nossas crianças.

Este trabalho é dividido em quatro partes. Na primeira encontramos

algumas considerações sobre História da Educação, culminando no surgimento

do inglês no Brasil. Na segunda parte, abordaremos o ensino de inglês e

apresentaremos as diferenças entre aquisição e aprendizagem de uma

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segunda língua. Na terceira, discutiremos o bilinguismo ainda na educação

infantil. A quarta e última parte compreenderá as considerações finais deste

trabalho.

É importante salientar mais uma vez que os estudos acerca do

ensino de inglês na educação infantil são recentes no que diz respeito à

pesquisa. Algumas colocações aqui feitas são de caráter especulativo, levando-

se em conta experiências vividas e pesquisas próprias. As discussões acerca

desta temática estão apenas começando.

10

CAPÍTULO I

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA

EDUCAÇÃO

Quando estudamos História da Educação estudamos a história de

nossa própria cultura, da nossa sociedade, pois Educação existe de diversas

formas, dependendo da civilização em que for exercida. Desta maneira

estudamos com mais ênfase a origem da Educação partindo dos princípios

culturais e sua formação nas escolas.

A educação teve sua origem sem livros, sem educador e sem

classes formadas de alunos. Posteriormente foram inseridos neste contexto

livros, alunos, educador, salas de aula e metodologias pedagógicas. A

Educação legitima a conduta do homem tornando-o mais humano, a partir do

momento em que o saber, a ideia, a cultura, crenças e ideologias passam a

fazer parte do dia- dia dos indivíduos.

No período primitivo, a Educação era restrita à família, através de

imitações das tarefas cotidianas.

O homem pré- histórico era nômade e vivia em grupos mal

relacionados e com fácil dispersão social. Ele vivia em cavernas e construções

provisórias abandonando-as a partir do momento que a caça ficava escassa.

Passando esse período ele se tornava agricultor que pouco a pouco formavam

clãs passando a se dedicar ao cultivo de cereais não abandonando a caça,

pois seria um complemento.

Era essencialmente uma educação natural, espontânea,

inconsciente, adquirida na convivência de pais e filhos adultos

e menores, sob influência ou direção dos maiores, o ser juvenil

aprendia as técnicas elementares e necessárias da vida.

(LUZURIAGA, 1996)

11

Nesta linha, Luruziaga em seus trabalhos de investigação, prescreve

que a educação ocorria inconscientemente sendo adquirida no convívio da

família aprendendo técnicas de sobrevivência como o cultivo da tribo, suas

crenças, ritos e culturas, sendo o uso das armas e da linguagem os principais

meios educativos.

Com o surgimento da escrita e da linguagem falada, esse período

sofre uma alteração, gerando um novo tipo de sociedade e de ser- humano.

Surge um homem pensante, intelectual e organizado, ocasionando uma nova

fase histórica originando os conceitos de educação que até então não existiam

de forma sistematizada.

No desenvolvimento histórico da educação podemos observar

diferentes fases, sendo iniciada de forma mais organizada no antigo Egito, em

meados do primeiro milênio a.C.

Devido o Egito ser considerado atualmente pelos historiadores o

berço da cultura e da instrução, foi a primeira civilização a transmitir

organizadamente as habilidades práticas e científicas, originando escolas que

visavam transmitir esses conhecimentos sendo na época antiga a escola de

sacerdotes iera grammata, em que estudavam ciências exotéricas e sagradas,

e a escola prática em que frequentavam os futuros artesãos e/ou guerreiros.

Os ensinamentos escritos pelo pai, e lidos e decorados pelos filhos

fizeram surgir mais tarde a escola dos escribas, sendo estes respeitados pela

sociedade egípcia devido à escrita hieroglífica ser complexa e exigir muita

dedicação, tornando-os pessoas importantes e influentes.

No período da Grécia antiga, a educação continuou a se

desenvolver, ainda sendo destinada aos homens, preferencialmente, na polis

espartana, onde os valores cultuados como a atividade física, o heroísmo da

ação militar e a guerra são primordiais, pois tudo em Esparta era organizado

em torno das atividades militares, sendo que tanto os adultos quanto as

crianças pertenciam ao estado, devendo ser obedientes e adquirir disciplina.

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Jardé (1997) relata muito bem as barbáries da educação espartana,

as crianças eram educadas para a guerra, dormiam no chão, passavam fome e

uma vez ao ano os meninos eram chicoteados diante do altar de Ártemis

Órthia, sendo que este ritual possuía um caráter religioso tornando-se também

um dos meios de habituar os meninos a sentirem dor física, preparando-os

para a guerra.

As meninas possuíam uma educação semelhante à dos meninos.

Elas faziam exercícios físicos para serem fortes e robustas e assim serem

capazes de ter filhos sadios e fortes. Se a criança nascesse com qualquer tipo

de deficiência, seria sacrificada, pois não pertencia ao padrão exigido pelo

estado de Esparta.

Contudo, a polis espartana não era a única na Grécia antiga, como

também a polis ateniense que possuía uma ideologia diferente da polis

espartana em diferentes aspectos.

A elite ateniense possuía uma ideologia em que a política era o

único meio de homem adquirir dignidade. Sendo assim, foram eles que criaram

a democracia. Embora o direito de decisão não fosse concedido às mulheres,

escravos e estrangeiros, a ideia da democracia era que todos participassem

das decisões.

A civilização Grega de Atenas viveu um alto grau de intelectualidade,

envolvendo diversas formas de expressão: arte, teatro, literatura e filosofia.

Textos de filósofos como Sócrates, Aristóteles e Platão são utilizados nos dias

atuais como objeto de estudo fundamentando alguns aspectos da cultura do

Ocidente.

A partir da origem da escrita alfabética na Grécia, um meio

democrático de educação se inicia, e a escola de escrita foi tendencialmente

expandida a todos os cidadãos, surgindo o educador das letras, o

grammatistes, em meio aos da arte e do teatro.

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Desde a antiguidade os estigmas de classes são uma realidade

distinguindo “quem pode estudar de quem não pode”. A escrita alfabética se

expandia rapidamente na civilização ateniense, mas nem todas as pessoas

tiveram acesso à escola das letras como era originalmente chamada.

Com a expansão do império romano e a queda das cidades- estado

gregas, surge um período na educação acarretando uma pluralidade de

conhecimentos, em que os romanos a partir do momento que assimilavam a

cultura dos povos dominados, ampliavam seus conhecimentos, intensificando

assim novos conceitos educacionais.

A educação romana sofreu inicialmente influências da cultura Grega

mais tarde da cultura Romana, devido à conquista de territórios, sendo que a

cultura Grega teve seu apogeu na religião, filosofia e na arte. Apesar desta

influência, observaram- se algumas divergências nas características culturais e

educacionais, como a ausência de uma filosofia investigativa, o auxílio de um

estudo individual do aluno e a importância da vida em família, valores e

saberem que os romanos não tinham o costume de cultuar.

A formação intelectual dos romanos se aperfeiçoou. Os indivíduos

que antes eram escravos gregos forma conduzidos a Roma e elevados a

condição de mestres, sendo bem recebidos nas famílias ricas e ensinando

filosofia, língua e literatura Grega para os jovens romanos.

Na estrutura familiar romana, o pater familiar (pai) decidia o que se

faria, e à mãe destinava-se a educação de seus filhos, pois vigiava de perto a

vida das crianças.

Durante o século III a.C. a educação sofre modificações devido à

expansão territorial pelo Mediterrâneo, sofrendo, assim, influências de outras

culturas, principalmente a Grega, originando a educação escolar.

Neste período, diversas escolas particulares foram fundadas, nas

quais havia distinção, pois uma ensinava a língua grega, e na outra, o latim:

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sendo depois criado nas duas escolas três graus de ensino: o elementar, o

médio e o superior.

A partir do século I a.C. a educação romana modificou-se, deixando

de ser totalmente particular para se tornar municipal, apesar de o estado não

intervir de forma direta, apenas executando inspeções e auxiliando no trabalho

pedagógico como um legislador.

Após este período, a escola passou a ter um caráter imperialista,

onde os romanos partiam do princípio de que todos os povos conquistados

deveriam aceitar e reproduzir a cultura e fundamentos ideológicos romanos e

Roma como sua nacionalidade.

Ocorreram mudanças na história com o surgimento do cristianismo,

começando na teologia, que recebe influência do antigo testamento e da

religião helênica, em que constituía uma visão filosófica e atitudes e ideologias

éticas, visando o bem- estar pessoal e coletivo.

A família neste período voltou a ser o berço da educação,

reconhecendo que a igreja é um órgão de fé e orientação espiritual, tendo o

homem como uma obra divina, desvalorizando a vida terrena.

O ensino, neste período, não possuía caráter pedagógico e sim

religioso, preparando o ser- humano para o além da vida, para o batismo que

acontecia na vida adulta, instruídos pelos catequistas, considerados

professores. Os alunos aprendiam a respeitar a igreja e seus dogmas, e esse

espaço se desenvolveu transformando- se em escolas religiosas. As pessoas

aprendiam a se conformar com sua posição social: “nasceu pobre, vai morrer

pobre, pois é assim que Deus designou, e ninguém pode ir contra os desígnios

de Deus”.

É, portanto, o mesmo poder político que cuida da

preparação profissional dos sacerdotes, já que é como

nunca uma profissão de governo politikè tekhkè trata-se:

de uma cultura religiosa para religiosos. Mas que não

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ignora as exigências da preparação formal.

(MANACORDA, 2000)

Segundo Manacorda, a educação formal do estudo das letras era

realizada somente para os eclesiásticos que tinham como intuito uma profissão

religiosa, em que possuía métodos e técnicas de alienar o povo, impregnando-

o de ideologias e dogmas nos quais consistiam numa política de alienação.

Posteriormente surge a escola episcopal especializada na formação

de eclesiásticos, fundada por Santo Agostinho, em Hipona, na qual eram

ministrados ensinos de teologia aos aspirantes da igreja, que eram filhos dos

donos dos feudos. Estes podiam ser guerreiros ou padres para continuarem no

poder e a embutir na mente das pessoas as ideologias e estigmas de que

vivem de acordo com os desígnios de Deus, sendo eles bons ou não.

Com o fim da Idade Média, no século XV, surge uma nova fase

histórica, o Humanismo. O desenvolvimento artístico, comercial, universalista, a

mulher assumindo papel mais significativo e grandes descobertas geográficas

gerando desenvolvimento comercial, são algumas características marcantes

desta fase.

A influência humanista surge com cunho aristocrático, sendo

elaborada pela burguesia comunal substituindo a cultura das escolas

episcopais, renovando conceitos e ideologias.

A renascença não é apenas movimento erudito ou

literário, antes é a nova forma de vida, nova concepção do

homem do mundo, baseado na personalidade humana

livre e na realidade presente. A renascença rompe com a

visão ascética e triste da vida, característica da idade

média, e dá lugar a uma concepção humana, risonha, e

prazenteira da existência. (LUZURIAGA, 1996)

O humanismo foi o movimento cultural que dedicou maior atenção

às problemáticas do homem revelando novas ideologias, como a de liberdade e

16

desenvolvimento dos laços comerciais, como também descobrimentos

geográficos, trazendo novas ideias e perspectivas.

Com o descobrimento da personalidade humana, a ciência passa a

crescer novamente no âmbito material e das ciências físicas, biológicas e sociais,

ganhando maior intensidade no ensino superior em academias fundadas ao estilo

platônico.

Assim sendo, era necessário que cada ser- humano conhecesse com

profundidade sua natureza, sendo capaz de identificar as exigências sociais,

procurando uma pedagogia mais humanista.

A educação no período humanista evoluiu e sofreu mudanças até chegar

aos dias atuais, observando-se ainda maiores modificações para a adaptação do

educando de hoje.

No mundo contemporâneo a educação se torna social, mas não deixa de

salientar características políticas, pois passa a se situar entre o social, o assistencial e

o político. A escola neste período se torna um laboratório, procurando se situar no

campo educacional, se organizando de maneira que valorize os trabalhos manuais, a

agricultura, a criação, lado aos trabalhadores programados e ligados a cultura e ao

intelecto do indivíduo.

Na Idade Moderna os meios de produção se transformam de artesanal

para industrial, e esse processo de transformação do trabalho humano origina uma

nova sociedade e um novo contexto histórico. Neste contexto, o homem trabalhador

não é mais o dono da matéria- prima, nem do local de trabalho, nem tem a capacidade

de produzir sozinho o produto, passa a possuir apenas a aprendizagem de um dos

momentos do processo de produção, no qual concede a sua força de trabalho ao dono

da fábrica e em troca recebe um salário. Ele deixa de ser artesão para ser proletário.

Acontece de fato, que o desenvolvimento industrial tornado

possível pela acumulação de grandes capitais, graças à

exploração dos novos continentes descobertos e de grandes

conhecimentos científicos voltados não somente para o saber,

mas também para o fazer, traduz- se, do ponto de vista do

artesão das cooperações, num longo e inexorável processo de

expropriação. (MANACORDA, 2000)

17

A educação intelectual e a nova escola procuram abrir a mente para a

cultura geral, voltada para uma profissão.

As experiências e as atividades pessoais são valorizadas, voltadas

para um trabalho coletivo, onde a autoridade que era imposta em outros

períodos é substituída por uma prática de senso crítico e de liberdade dentro

de uma “república escolar” (MANACORDA, 2000). A democratização do ensino

é uma característica marcante dessa nova fase, consistindo em oferecer

desenvolvimento à criatividade e avanço da educação.

Atualmente se procura conciliar trabalho intelectual com os mais

diversos sistemas da sociedade, afirmando que aprender a pensar, criticar e

criar novas ideias é função do educador; e da escola, ensinar, passando a

desenvolver em seus alunos a compreensão da democracia, redimensionando

o fazer prático de como agir, como pensar e como articular o pensamento de

maneira prática.

Dessa forma, a escola se transforma em uma instituição voltada

para o saber intelectual, procurando suprir as necessidades humanas, ainda

enfatizando o ensino lógico, verbal, correspondendo à vida real. O corpo e a

mente precisam elevar todas as atividades produtivas; tanto ao lado cognitivo,

quanto ao maturativo, preparando o aluno para enfrentar os seus objetivos

sociais de maneira crítica e democrática, realizando ações que transformem a

sociedade capitalista em uma sociedade mais justa e igualitária.

1.1. O Surgimento do Inglês no Brasil

O interesse pela língua inglesa surgiu desde a vinda da Família Real

Portuguesa para o Brasil, inicialmente por oportunidades de trabalho. A

Inglaterra, aliada comercial de Portugal, abriu no Brasil comércio, gerando

empregos para quem conseguisse se comunicar na língua.

Os primeiros professores e alunos de inglês surgiram dessa

demanda de funcionários.

18

O Colégio Pedro II, fundado em 1837, foi o percussor da luta pela

manutenção das línguas modernas como o inglês e o francês no currículo

escolar; pois desde sua fundação essas línguas estrangeiras fazem parte de

seu currículo.

As primeiras aulas de inglês não possuíam metodologias distintas do

ensino de línguas clássicas como o grego e o latim. Seu ensino era focado na

leitura e na tradução de textos (o que hoje conhecemos como ensino

instrumental da língua) e ainda não ocupava grande importância no cenário da

educação, pois o francês era a língua universal para o ingresso em instituições

de nível superior.

O inglês, assim como outras línguas modernas, foram excluídas pelo

ministro em exercício Benjamin Constant após a proclamação da república em

1889, propondo um currículo mais voltado para a área científica. Com seu

afastamento, em 1892, Amaro Cavalcante se tornou o novo ministro e as

línguas modernas voltaram a ser inseridas no currículo escolar.

Na década de 30, com a II Guerra Mundial, o inglês foi ganhando

prestígio. A reforma Francisco Campos, datada de 1931, diminuiu a carga

horária das línguas clássicas e aumentou a de línguas modernas. A mudança

no que diz respeito à metodologia foi a mais significativa, pois foi implantado o

método direto (o qual veremos mais detalhadamente no capítulo II deste

estudo), pelo qual a língua estrangeira é estudada através da própria língua

materna.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) foi criada em 1961, e com ela os

antigos ginásio e científico foram transformados em 1º e 2º graus. A LDB

estabeleceu que o ensino de línguas estrangeiras é parcialmente obrigatório no

1º grau, sendo ministrada apenas em locais onde possa ser eficiente. Já em

1971, outra LDB entra em vigor, reduzindo os antigos 12 anos de estudo para

11, sendo estes distribuídos em oito anos o 1º grau e três anos o 2º. Com esta

redução o ensino das línguas estrangeiras ficou prejudicado, pois um parecer

do Conselho Federal instituiu que seriam ministradas a “título de acréscimo”, e

novamente apenas em escolas onde pudesse ser ensinada com eficiência.

19

Neste contexto o ensino de línguas foi excluído em muitas escolas

de 1º grau, e reduzido no 2º, mesmo ainda sendo obrigatório. A justificativa veio

no parecer 853/71, datado de 12 de novembro de 1971:

“Não subestimamos a importância crescente que assumem os

idiomas no mundo de hoje, que se apequena, mas também não

ignoramos a circunstância de que, na maioria de nossas

escolas, o seu ensino é feito sem um mínimo de eficácia. Para

sublinhar aquela importância, indicamos expressamente a

“língua estrangeira moderna” e, para levar em conta esta

realidade, fizêmo-la a título de recomendação, não de

obrigatoriedade, e sob as condições de autenticidade que se

impõem”. (LDB, 1971)

Em 1996 é promulgada a Nova LDB, sendo esta a regente da

educação brasileira até hoje. Nela os 1º e 2º graus são novamente renomeados

sendo agora ensino fundamental e médio. Esta lei trouxe mais importância ao

ensino de línguas no país, estabelecendo a necessidade de uma língua

estrangeira no ensino fundamental e, no ensino médio, uma obrigatória e a

segunda optativa, sendo esta ministrada de acordo com as condições da

instituição. Em 1999 surgem os Parâmetros Curriculares Brasileiros (PCNs)

para complementar a LDB de 1996. Sobre as línguas estrangeiras os PCNs

estabelecem que:

“A inclusão de uma área no currículo deve ser determinada,

entre outros fatores, pela função que desempenha na

sociedade. Em relação a uma língua estrangeira, isso requer

uma reflexão sobre o seu uso efetivo pela população. No

Brasil, tomando-se como exceção o caso do espanhol,

principalmente nos contextos das fronteiras nacionais, e o de

algumas línguas nos espaços das comunidades de imigrantes

(polonês, alemão, italiano etc.) e de grupos nativos, somente

uma pequena parcela da população tem a oportunidade de

usar línguas estrangeiras como instrumento de comunicação

oral, dentro ou fora do país. Mesmo nos grandes centros, o

número de pessoas que utilizam o conhecimento das

20

habilidades orais de uma língua estrangeira em situação de

trabalho é relativamente pequeno”.

Embora os PCNs não estabeleçam uma metodologia específica para

o ensino de línguas estrangeiras, sugerem que seja voltada para as

necessidades dos estudantes brasileiros, utilizando uma metodologia voltada

para a leitura e interpretação de textos.

Apesar de o ensino de línguas estrangeiras não ser obrigatório para

a educação infantil, a educação bilíngue, no Brasil, conquista cada vez mais

seu espaço. Seja pela crise do país, em que os pais não conseguem mais

pagar escola e atividades extra- curriculares como curso de inglês, seja pela

comodidade de ter tudo em um só local, a procura pelas escolas bilíngues

cresce consideravelmente.

21

CAPÍTULO II

O ENSINO DO INGLÊS

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), cuja última versão data

de 1996, o ensino de ao menos uma língua estrangeira (neste estudo

focaremos no inglês) é determinado apenas para o Ensino Fundamental II (5ª a

8ª séries) e Ensino Médio, com uma carga horária média de 50 minutos, 1 vez

por semana. Com esta realidade, o aprendizado e a proficiência da língua

inglesa fica comprometido, pois os alunos só terão contato com a língua

tardiamente e de maneira superficial.

Nos últimos anos, percebe-se uma tendência dentro das escolas

particulares de se oferecer o ensino do inglês já na Educação Infantil, com

carga horária aumentada – sendo ministradas aulas 5 dias da semana, com 1

hora de duração. É uma mudança significativa, tendo em vista o inglês ser

considerada como língua universal.

2.1 Quem é o Professor de Inglês?

O professor de inglês é o profissional oriundo da Faculdade de

Letras, ou formado em cursos de inglês com especialização em formação de

professores. Normalmente possui certificados internacionais que comprovem

sua proficiência na língua e/ou habilidades pedagógicas.

Em se tratando de Educação Infantil, espera-se encontrar um

profissional formado em Pedagogia com proficiência na língua inglesa o que,

infelizmente, ainda não é uma realidade em nosso país. Encontramos ora

profissionais de Letras – com domínio da Língua Inglesa, e sem formação

específica para séries iniciais; ora Pedagogos – que estudaram para trabalhar

com educação infantil e séries iniciais, mas sem proficiência na língua

estrangeira.

Com o aumento da demanda de professores especializados na

língua inglesa para ministrar aulas para Educação Infantil e Fundamental I por

22

meio de escolas particulares, nos encontramos em um momento de mudança

no perfil do educador de inglês. Muitos licenciados em Letras estão buscando

especializações em Educação Infantil, e muitos pedagogos estão retomando

seus cursos de inglês para se candidatarem a novas oportunidades de

trabalho.

2.2. Como Ocorre a Assimilação de Línguas?

Stephen Krashen, em sua comprehensible input hypothesis, sustenta

que a assimilação de línguas ocorre em situações reais, quando a pessoa está

exposta a uma linguagem que esteja um pouco acima (não muito) de sua

capacidade de entendimento. É natural que os adultos se dirijam às crianças

utilizando um linguajar próprio, modificado tanto no plano estrutural como no

vocabulário, para se aproximar ao nível de compreensão da criança. Já nos

ambientes em que adultos vivem, eles não recebem o mesmo tipo de

tratamento. Uma vez adultos, seu universo de pensamento e linguagem é mais

amplo; ou seja, o caminho percorrido é maior e a linguagem por eles almejada

e a eles dirigida, tende a ser mais complexa e os conceitos mais abstratos,

facilmente se situando além de seu nível de entendimento.

Desta forma, podemos concluir que os ambientes de convívio das

crianças são, por natureza, mais propícios ao aprendizado de línguas do que

os ambientes dos adultos. Daí surge o interesse das escolas em oferecer aulas

de inglês a partir da Educação Infantil, idade em que as crianças respondem

com mais facilidade e rapidez a estímulos diversos.

Vale ressaltar que as crianças são curiosas e isso, por si só, é

motivador para o aprendizado de uma nova língua.

2.3. Aquisição x Aprendizagem de Línguas

A expressão “aprendizado de línguas” abrange dois conceitos

claramente distintos, porém raramente compreendidos. Um deles é o de

receber informações a respeito da língua, transformá-las em conhecimento

através de esforço intelectual e pelo exercício da memória. O outro se refere ao

23

desenvolvimento da habilidade funcional de interagir com estrangeiros,

entendendo e falando sua língua. O primeiro conceito é denominado em inglês

de language learning, enquanto o segundo, é denominado language

acquisition, sendo que um não é decorrência natural do outro.

A distinção de acquisition e learning é uma das hipóteses

estabelecidas pelo norte-americano Stephen Krashen em sua respeitada teoria

sobre aprendizado de línguas estrangeiras.

Neste estudo, vamos nos deter apenas ao estudo da language

acquisition.

Language acquisition refere-se ao processo de assimilação natural,

intuitivo, subconsciente, fruto de interação em situações reais de convívio

humano, em que o aprendiz participa como sujeito ativo. É semelhante ao

processo de assimilação da língua mãe pelas crianças, processo este que

produz habilidade prático- funcional sobre a língua falada e não conhecimento

teórico; desenvolve familiaridade com a característica fonética da língua, sua

estruturação e seu vocabulário; é responsável pelo entendimento oral, pela

capacidade de comunicação criativa, e pela identificação de valores culturais.

Ensino e aprendizado são vistos como atividades que ocorrem num plano

pessoal- psicológico. Uma abordagem inspirada em acquisition valoriza o ato

comunicativo e desenvolve a autoconfiança do aprendiz.

Exemplo clássico de language acquisition são os adolescentes e

jovens que residem no exterior durante um ano através de programas de

intercâmbio cultural, atingindo um grau de fluência na língua estrangeira

próximo ao da língua mãe, porém, na maioria dos casos, sem nenhum

conhecimento a respeito do idioma. Não tem sequer noções de fonologia, nem

sabem o que é perfect tense, verbos modais, ou phrasal verbs embora saibam

usá-los intuitivamente.

Quando psicolinguistas, psicólogos do desenvolvimento e linguistas

pensam sobre aquisição da segunda língua, eles enfatizam o lado cognitivo do

fenômeno, os problemas que o aprendiz apresenta quando adquire um sistema

24

complexo que foi mais ou menos sobreposto ao sistema adquirido

anteriormente. Sociólogos, sócio- psicólogos, antropólogos e sociolinguistas,

por outro lado, pensam no contexto social do bilinguismo. Eles apontam que o

multilinguismo é comum em todo o mundo e que a maioria das crianças é

levada a aprender duas línguas. Apontam também que o uso da língua está

intimamente ligado à identidade cultural, aos orgulhos étnicos e nacionais, a

tarefas ou situações conversacionais específicas e a uma série de hábitos e

crenças que influenciam o processo de assimilação da segunda língua.

Estudiosos apontam ainda que ser bastante proficiente numa segunda língua

pode prejudicar a identidade pessoal do aprendiz, que falantes podem ter mais

razões para permanecerem limitados do que para se tornarem perfeitamente

bilíngues se a segunda língua tiver alguma associação negativa para eles.

A estimativa é que 60% da população mundial fale múltiplos idiomas.

Contemporaneamente e historicamente falando, é mais comum o indivíduo

falar mais de uma língua do que o contrário. É verdade, entretanto, que o

ensino de inglês em escolas brasileiras nunca foi e ainda não é realidade.

Enquanto hoje em dia o inglês é a língua mais amplamente estudada no

mundo, a 500 anos atrás era o latim, pois era a língua dominante na educação,

comércio, religião e política.

2.4. Há uma Idade Crítica para o Aprendizado de uma Segunda

Língua?

Não há dúvida de que existe uma idade crítica, a partir da qual o

aprendizado começa a ficar mais difícil. Este período parece estar situado

entre os 12 e 14 anos podendo; entretanto, variar muito conforme a pessoa e,

principalmente, conforme as características do ambiente linguístico em que o

aprendizado ocorre. As limitações que começam a se manifestar a partir da

puberdade são fundamentalmente de pronúncia.

Os principais fatores que afetam o desenvolvimento cognitivo do ser

humano, ajudando a explicar a idade crítica são: o desenvolvimento linguístico,

neuro- psicológico, cognitivo e sócio- cultural.

25

Podemos concluir, dessa forma, que ensinar inglês para crianças é a

maneira mais eficaz para termos adultos proficientes na língua, capazes de

compreender nativos, raciocinar em inglês e construir diálogos sólidos e

seguros.

2.5. Planejamento

O maior desafio do professor é fazer um bom planejamento.

Programar as atividades a serem desenvolvidas em sala de aula, e prever

problemas e soluções fazem parte de um bom planejamento.

Deve-se levar em consideração vários aspectos no momento em

que se desenvolve um planejamento. Dentre eles podemos destacar:

• O que o aluno já sabe do idioma

• Público- alvo a ser atingido

• Recursos disponíveis

• Objetivos a serem alcançados

• Número de aulas por ano

• Estratégias de ensino

• Meios para verificar a aprendizagem

O professor deve sempre adequar a carga horária aos objetivos,

tendo em mente proporcionar ao seu aluno a maior exposição possível ao

idioma. A equipe deve ter em mente o que pretende alcançar, em quanto

tempo, de que maneira pode alcançar os objetivos propostos, como e o que

fazer, quais os recursos necessários e como verificar se os objetivos foram

alcançados.

O planejamento é muito importante pois evita a rotina, contribui para

que não se perca o objetivo de vista, garante maior segurança ao professor,

26

economiza tempo e energia já que não será necessário improvisar, permite

maior dedicação ao aluno, facilitando a interação entre os mesmos.

O planejamento deve sempre respeitar os objetivos da escola, ser

flexível, permitindo reajustamento sem perder a continuidade do conteúdo.

2.5.1. Sugestões de Atividades

1. Histórias

Histórias podem ser contadas para ensinar dramatização, registro, rodinha de

leitura, etc. A vantagem das histórias é que não possuem faixa etária mínima;

podem ser contadas desde o berçário.

The Ant and the Grasshopper (A Cigarra e a Formiga)

Alice and the Wonderland (Alice no País das Maravilhas)

2. Ciências

Podemos ensinar ciências de maneira simples e divertida com forminhas de

gelo variadas. Basta colocar água nas forminhas e deixar gelar. Depois

mostramos a fase do degelo. Para reforçar o conhecimento, pode-se solicitar

que as crianças desenhem e expliquem a experiência.

3. Vocabulário

Para crianças pequenas uma forma fácil de ensinar vocabulário é de forma

expositiva.

Como exemplo podemos citar o ensino da temperatura/clima. Expomos as

crianças a desenhos e/ou imagens referentes a cold, hot, sunny, windy, snowy

e depois inserimos as estruturas: What's the weather like today?/How's the

weather today?

Não podemos deixar de incluir práticas relevantes para o uso do vocabulário

aprendido.

27

4. Listening

Uma das competências mais exigidas em inglês, o Listening pode ser

trabalhado por meio de músicas. Se o professor não possuir CD em seu

material didático, a Internet é sempre um bom recurso, ou professor e turma

podem inventar suas próprias músicas!

5. Jogos

Crianças adoram jogos e brincadeiras. Nada melhor do que inserir atividades

lúdicas e prazerosas na aprendizagem.

Como exemplo de jogo temos Hot Potato, que pode ser jogado pela turma toda

ao mesmo tempo. Passamos uma figura de aluno em aluno até que se pare a

música. A criança que estiver com a figura na mão precisa dizer o nome em

inglês.

6. Artes

Cartazes podem ser feitos de acordo com datas comemorativas (se forem

trabalhadas pela escola), ou para ilustrar clima, dias da semana, animais, etc.

Materiais como EVA, purpurina, tinta, cola colorida sempre fazem muito

sucesso com as turmas.

7. Vídeo

Algumas escolas são contra o uso de vídeo em sala de aula. Desde que sejam

utilizados com propósito, é uma excelente ferramenta de ensino.

Cenas de filmes ou episódios curtos de desenhos podem ser utilizados para

desenvolver vocabulário, oralidade, dramatização, além do listening.

8. Cultura

Para ensinarmos um pouco de cultura dos países ingleses, podemos promover

um dia de cozinha internacional. As crianças podem ajudar a preparar

hambúrgueres, se formos falar sobre Estados Unidos; podem preparar suco

28

verde ou salada de frutas verdes se formos tratar do dia de São Patrício, muito

difundido na Irlanda.

29

CAPÍTULO III

O BILINGUISMO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Sabe-se que as crianças são naturalmente curiosas, mas ao mesmo

tempo sabe-se que elas têm menor tempo de atenção e concentração do que

um adolescente, por exemplo; o que faz o ensino de inglês para crianças em

idade pré escolar não ser tão fácil como se pode imaginar. Tendo em vista esta

dicotomia – por que ensinar inglês para crianças? – não é uma pergunta difícil

de se encontrar nos dias de hoje.

Pedagogos do século 19 acreditavam que o bilinguismo seria

prejudicial, confundindo as crianças e até mesmo impedindo o aprendizado de

uma língua ou de outra. Felizmente estudos realizados no Canadá pelos

psicólogos Elizabeth Peal e Wallace Lambert datados da década de 1960

apontam o contrário: ser bilíngue não apenas não prejudica o aprendizado da

língua materna, como também ativa outras áreas do cérebro, melhorando o

sistema que executa funções diversas como a leitura, a matemática, e até

dirigir!

Vale ressaltar que crianças bilíngues não possuem um botão em que

ligam/desligam a língua materna da segunda língua, mas as duas se

complementam, de forma que alguns assuntos se sobressaem em uma língua

e outros, na outra. Esse é um motivo pelo qual os pais não devem pressionar

seus filhos para falarem inglês em casa, pois essa experiência pode estar

atrelada as suas experiências na escola. Além disso as crianças estabelecem

uma relação entre línguas e falantes desde muito cedo: os pais falam

português, ela se comunicará em português em casa; enquanto na escola se

comunicarão em inglês com os professores da língua.

Neste contexto temos a diferença entre cursos de inglês e escolas

bilíngues. Os cursos de inglês estão focados na forma, no ensino de gramática,

desenvolvimento linguístico, com horário fixo e pouca possibilidade de

alteração e adaptação; já os objetivos das escolas bilíngues convergem com os

30

da escola regular. A língua inglesa entra como veículo de aprendizagem, onde

a criança interage com o meio, adquire e constrói conhecimento. Escolas

bilíngues proporcionam maior contato com a língua, mais horas em sala, mas o

conteúdo ensinado vai em encontro ao conteúdo escolar, agregando

experiências.

As escolas mais tradicionais ainda ensinam línguas fazendo com

que os alunos traduzam textos, decorem gramática e listas intermináveis de

verbos regulares e irregulares. Por sorte na educação infantil essa metodologia

não pode ser exigida, pois as crianças ainda não foram alfabetizadas. As

crianças aprendem inglês da mesma forma que aprendem português: primeiro

ouvem o idioma, depois falam, escrevem, e apenas ao fim, aprendem regras

gramaticais.

No ensino da língua inglesa para educação infantil, contamos com

as teorias linguísticas e de psicologia educacional, tendo como referência Jean

Piaget e Levi Vigotsky, pais da psicologia cognitiva contemporânea. Para eles,

o conhecimento é construído em ambientes naturais de interação social,

estruturados socialmente. Baseado em experiências resultantes de sua

participação ativa no ambiente, o aprendiz constrói seu próprio aprendizado.

Neste contexto, não existe melhor ambiente para interação social do que uma

sala de educação infantil, sempre repleta de novas possibilidades e

experiências.

Mais tarde, nos anos 60, o linguista Noam Chomsky afirma que a

língua é uma atividade criativa, e não memorizada. O conceito de certo e

errado tão arraigado da metodologia tradicional de tradução e memorização

sede espaço para o conceito de aceitável e não aceitável em termos de língua.

Assim como na educação infantil, o ensino do inglês passa a ser uma

experiência construída e adquirida intuitivamente. O professor não está mais a

frente da turma como orador e detentor de todo conhecimento, está como um

facilitador e o aluno passa a ser um aprendiz ativo no processo de

aprendizagem, e não apenas um ouvinte.

31

Stephen Krashen traz as teorias de Piaget, Vigotsky e Chomsky para

o ensino de línguas, fazendo distinção entre o estudo formal e assimilação

natural, e informações acumuladas e habilidades desenvolvidas. Como já

abordado no capítulo anterior, Krashen em sua teoria de language acquisition x

language learning conclui que a proficiência na língua não é resultado de

decorar gramática ou vocabulário.

Podemos concluir, assim, que ensinar língua não é uma tarefa fácil,

mas ela será aprendida se houver um ambiente apropriado, uma vez que a sua

assimilação é subconsciente. As crianças expostas desde cedo ao inglês

aprenderão por meio de histórias e brincadeiras, e em pouco tempo utilizarão

vocabulário e gramática que nunca foram ensinados formalmente e nem

cobrados exaustivamente como nos métodos tradicionais. Ao professor cabe a

criação de situações de comunicação autênticas, voltadas ao interesse e as

necessidades de cada grupo, ou cada aluno, tendo em vista que cada indivíduo

possui necessidades e interesses diferentes.

3.1. As Vantagens de Ser Bilíngue

A oferta de escolas bilíngues é cada vez maior em todo país. Em

torno dessa realidade cresce a preocupação dos pais e responsáveis em saber

se aprender uma segunda língua ainda na primeira infância é vantajoso ou não.

Muitos são os questionamentos acerca do bilinguismo, o que é normal, dado

que é uma prática relativamente nova no país e ainda há pouca informação a

respeito do tema.

Diante destas dúvidas e questionamentos podemos afirmar que todo

cérebro nasce pronto para aprender línguas, e quanto mais cedo o cérebro for

estimulado, ele responde mais imediatamente. As crianças aprendem muito

mais rápido e de maneira mais eficiente do que os adultos.

Por se tratar de uma metodologia que tem como base o lúdico e o

prazer das crianças no processo ensino-aprendizagem, aprender uma segunda

língua ajuda no desenvolvimento de diversas habilidades. O professor tem o

32

papel de ajudar a descobrir e desenvolver as habilidades específicas de cada

aluno.

Ser bilíngue traz, também, diversas vantagens cognitivas,

comunicativas e culturais. Estudos mostram que o cérebro de pessoas

bilíngues são mais desenvolvidos nas áreas que organizam e processam

linguagem. Crianças que aprendem inglês aprendem não somente outra língua,

como também História, Literaturas e a pensar no mundo como um todo,

abrindo um leque de possibilidades a sua volta.

Entre as vantagens cognitivas podemos citar a melhoria do

raciocínio e da capacidade de concentração, ativação das conexões cerebrais

– o que faz com que muitas crianças passem a usar melhor a sua primeira

língua.

Estudos afirmam que indivíduos bilíngues possuem duas

personalidades; talvez por este motivo o desenvolvimento em alunos tímidos,

com distúrbios de fala, Asperger e até autismo tenha sido tão expressivo

durante as pesquisas e observações. Crianças que pouco ou nada interagiam

com o meio e seus colegas, passaram a participar das atividades e tiveram

desenvolvimento maior do que o esperado, gerando grande expectativa para

os próximos anos.

Estudos revelam, também, que aprender novos idiomas é a maneira

mais fácil de exercitar o cérebro. Indivíduos bilíngues tem menor chances de

desenvolver doenças mentais na velhice.

3.2. Mitos e Verdades Sobre Ser Bilíngue

Existem diversos mitos e verdades acerca do bilinguismo. A seguir

exporemos os mais encontrados, com as explicações pertinentes.

• Ser bilíngue cria conflito com a língua materna.

Essa afirmação é um mito. Como exposto anteriormente, o cérebro

humano é capaz de aprender diversos idiomas de uma só vez. Um

33

ou outro será utilizado de acordo com o estímulo realizado. O que

pode ocorrer em crianças, entretanto, é misturar os dois idiomas em

uma só frase. Isso acontece não por ela estar se confundindo, mas

por aprender de maneira correta. A criança tende a escolher o

caminho mais fácil: se ela está sendo alfabetizada em português e

inglês e quer dar uma explicação, pode acessar mais rapidamente

palavras em inglês se elas foram melhor entendidas e interiorizadas.

Esse fato faz parte do processo natural de aprendizagem e, com o

tempo, distinguirá um idioma do outro utilizando-os separadamente.

• Ser bilíngue compromete o aprendizado da língua materna e

as crianças se desinteressam por ela.

Trata-se de mais um mito. O risco da criança se desinteressar pela

língua materna não existe. A língua materna é a língua dos seus

familiares e a primeira que vai aprender; sua língua do coração.

Nenhuma outra língua pode comprometer este aprendizado, tendo

em vista que o cérebro da criança armazena todos os conhecimentos

adquiridos, sem que um prejudique o outro. Estudos e experiências

comprovam que crianças a partir de 2 anos que aprendem inglês na

escola não tem qualquer dificuldade com a língua materna, pelo

contrário. Crianças que aprendem um segundo idioma passar a

utilizar melhor seu idioma de origem!

• Quando se aprende inglês na infância, é mais difícil

esquecer.

Esta é uma afirmação verdadeira. Assim como andar de bicicleta, o

conhecimento pode ficar adormecido se não utilizado, mas jamais

será esquecido. Aprender um novo idioma é a forma mais saudável e

prazerosa de exercitar o cérebro de um ser humano. Pesquisas

afirmam e comprovam que pessoas bilíngues tem menos chances de

ter doenças mentais na velhice. A infância é a melhor fase para se

aprender um novo idioma, onde o professor pode ensinar o aluno a

34

gostar de línguas e se interessar por elas, tornando-os aprendizes

felizes.

• Crianças bilíngues tem atraso na fala

Estamos diante de mais um mito. Atraso na fala mais tem a ver com o

próprio desenvolvimento da criança do que pelo fato de aprender

outro idioma. Crianças cujos pais falam idiomas diferentes podem

demorar mais a falar mas, quando se sentem preparadas, falam os

dois fluentemente. No caso de crianças que aprendem inglês no

ambiente escolar, este risco não existe. Por se tratar de uma

experiência prazerosa, as crianças se sentem estimuladas a falar e

se desenvolvem muito bem. Como visto anteriormente, crianças

bilíngues passam a utilizar melhor seu idioma de origem, tendo

avanços nos dois idiomas.

• Ser bilíngue pode causar traumas nas crianças

Mais um mito. Crianças não apresentem resistência ou tem

interferência no processo de aprendizagem, o que torna o método

fácil, natural e alegre. Só encontramos traumas se o ensino ocorrer

de forma não apropriada. O correto em termos de ensino para

crianças, é ser lúdico, divertido e leve, fazendo com que a criança

aprenda sem se dar conta do que está acontecendo, se relacionando

com o idioma como algo fácil e divertido.

• Aprender inglês na infância evita o sotaque da língua

materna

A afirmação acima é verdadeira. Quanto mais cedo aprendermos uma

nova língua, menor sotaque teremos da língua materna. Isso ocorre

pois o sistema fonador ainda está em formação, podendo reproduzir

qualquer som. Conforme vamos crescendo, essa capacidade vai

diminuindo, até se perder. Nosso cérebro bloqueia certos sons, pois

não fazem parte da língua materna.Diferentemente do que ocorre nos

35

adultos, as crianças tem maior capacidade de distinguir sons e

fonemas permitindo, assim, perfeição na pronúncia da língua.

• Crianças cometem erros gramaticais se aprenderem dois

idiomas ao mesmo tempo

Um dos mitos mais encontrados na pesquisa. Cada idioma

possuiu suas próprias regras gramaticais e tais regras são

ensinadas separadamente. Em se tratando de crianças, o ensino

é feito respeitando a ordem natural de aprendizado, ou seja,

primeiro aprendemos a falar, depois a escrever, e somente

depois aprendemos as regras gramaticais. Quando tal momento

chegar, a gramática de português será ensinada na aula de

português, e a gramática de inglês, na aula de inglês. A

gramática é a última etapa do processo de aprendizagem de

qualquer língua, portanto não existe influência de uma sobre a

outra.

• Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) não

devem/precisam participar das aulas de inglês

Mito. Além da participação das crianças com TEA nas diversas

atividades da escola ser assegurada por lei, o desenvolvimento

delas costuma ser muito bom se o professor conseguir fazê-las

ter interesse nas aulas. Por se tratar de uma aula lúdica, com

muitas brincadeiras, histórias e com muito uso da arte, é

imprescindível que todos os alunos façam parte da mesma, sem

distinção.

• Professores de inglês para educação infantil precisam gostar

de crianças

Trata-se de uma afirmação verdadeira. Não basta ter

licenciatura, ter estudado fora do país, domínio da língua e os

melhores conceitos em provas de proficiência internacional se o

36

professor não gosta de crianças. É imprescindível que o

professor tenha aptidão para crianças em idade pré- escolar e

que esteja disposto a somar não apenas língua, mas

experiências positivas.

• Crianças com distúrbio de fala não desenvolvem nas aulas,

pois precisam se expressar verbalmente

A afirmação acima é mito. Além do bilinguismo ativar funções

cerebrais que ajudam no desenvolvimento da fala, as atividades

são formatadas de acordo com a necessidade do grupo. A

criança pode se expressar de diversas maneiras, não apenas na

fala. Música, dança, teatro e diversas formas de arte funcionam

como ferramentas de desenvolvimento e avaliação.

37

CONCLUSÃO

Neste trabalho abordamos a História da Educação desde a pré-

história até os dias atuais, culminando com o surgimento do interesse por

aprender a língua inglesa aqui no Brasil. Passamos por diversos

questionamentos acerca do ensino do inglês, quem é o profissional adequado

para trabalhar com inglês na educação infantil, falamos sobre a assimilação de

uma segunda língua, assim como a diferença entre aquisição e aprendizagem.

Demos luz a um debate recente sobre bilinguismo não apenas no Brasil, como

em nossa pré-escola e concluímos que tem se tornado uma mais valia para

nossos alunos, seja por estarem se tornando indivíduos bilíngues, futuros

participantes ativos deste mundo globalizado, seja por vantagens cognitivas e

desenvolvimento dentro de sua própria escolaridade.

Todos os objetivos que tínhamos proposto em nosso estudo foram

concluídos por intermédio de pesquisas, experiências em sala de aula e

observação. Durante todo o ano acompanhamos o desenvolvimento das

crianças desde o maternal I até o pré II, e superaram nossos objetivos, em se

tratando do 1º ano de programa. Nos surpreendemos alegremente com

crianças com atraso na fala e crianças TEA que descobriram a partir das aulas

de inglês um novo olhar para o mundo e nós, professores, uma nova maneira

de os inserir no contexto da escolaridade.

Este estudo foi muito importante para meu aprofundamento no tema.

Muitos questionamentos próprios puderam ser investigados e sanados,

paradigmas foram quebrados, e tudo isso me fez querer continuar trabalhando

neste programa e acompanhar a evolução dos alunos até o ensino

fundamental. O inglês na educação infantil afinal não era uma missão

impossível, mas uma tarefa que se tornou prazerosa e com grande retorno

pessoal e profissional. As crianças adoraram descobrir este mundo novo e

responderam de maneira simples e espontânea a todas as atividades

propostas. Em se tratando de uma matéria que não está inserida na grade

curricular, só nos resta esperar pelo dia em que o direito de nossas crianças

38

aprenderem uma segunda língua seja assegurado por lei, e não apenas

privilégio de classes mais abastadas.

39

BIBLIOGRAFIA

HARMER, Jeremy. The Practice of English Language Teaching. Longman:

sem ano.

JARDÉ, Auguste. A Grécia Antiga e a Vida Grega. São Paulo: EPU/EDUSP,

1997.

LEVENTHAL, Lilian Itzicovitch. Inglês é 10! O Ensino de Inglês na

Educação Infantil. São Paulo: Disal, 2006.

LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo:

Nacional, 1996.

MANACORDA, Mário Alighiero. História da Educação: da Antiguidade aos

Nossos Dias. São Paulo: Cortez, 2000.

MARCELINO, Marcello. Bilinguismo no Brasil: Significado e Expectativas.

São Paulo: LAEL/PUC-SP, 2009.

40

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 01 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Algumas Considerações Sobre a História da Educação 10

1.1. O Surgimento do Inglês no Brasil 17

CAPÍTULO II

O Ensino do Inglês 21

2.1. Quem é o Professor de Inglês? 21

2.2. Como Ocorre a Assimilação de Línguas? 22

2.3. Aquisição x Aprendizagem de Línguas 22

2.4. Há uma Idade Crítica para o Aprendizado de Línguas? 24

2.5 Planejamento 25

2.5.1 Sugestão de Atividades 26

CAPÍTULO III

O Bilinguismo na Educação Infantil 29

3.1. As Vantagens de Ser Bilíngue 31

3.2. Mitos e Verdades Sobre Ser Bilíngue 32

CONCLUSÃO 37 BIBLIOGRAFIA 39