documento protegido pela lei de direito autoral · especificamente sobre seu conceito,...

67
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO À REFORMATIO IN PEJUS E HIPOTESES DE RELATIVIZAÇÃO EM SEDE DE APELAÇÃO, DE RECURSO INOMINADO E DE REEXAME OBRIGATÓRIO. Por: Aline Marília de Andrade Orientador Prof. Dr. José Roberto Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Upload: others

Post on 10-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PRINCIacutePIO DA VEDACcedilAtildeO Agrave REFORMATIO IN PEJUS

E HIPOTESES DE RELATIVIZACcedilAtildeO EM SEDE DE APELACcedilAtildeO

DE RECURSO INOMINADO E DE REEXAME OBRIGATOacuteRIO

Por Aline Mariacutelia de Andrade

Orientador

Prof Dr Joseacute Roberto

Rio de Janeiro

2013

DOCU

MENTO

PRO

TEGID

O PEL

A LE

I DE D

IREIT

O AUTO

RAL

2

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PRINCIacutePIO DA VEDACcedilAtildeO Agrave REFORMATIO IN PEJUS

E HIPOTESES DE RELATIVIZACcedilAtildeO EM SEDE DE APELACcedilAtildeO

DE RECURSO INOMINADO E DE REEXAME OBRIGATOacuteRIO

Apresentaccedilatildeo de monografia agrave Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenccedilatildeo do grau de especialista em Direito

Processual Civil

Por Aline Marilia de Andrade

3

3

AGRADECIMENTOS

agravequeles que me inspiram e foram

fundamentais na minha vida agravequeles

que me auxiliaram nesta etapa e

agravequeles que soacute torceram por mim

4

4

DEDICATOacuteRIA

ao meu pai Joseacute Antocircnio que sempre

me apoiou e me fez herdar o gosto pela

leitura e pelos estudos agrave minha matildee

Jilvanda pelo exemplo de garra e

determinaccedilatildeo e por me ensinar como

fazer acontecer aquilo que se quer ao

meu irmatildeo Alberto a quem eu devo uma

infacircncia maravilhosa e com quem aprendi

o lado suave e feliz da minha

personalidade

5

5

RESUMO

O presente trabalho pretende demonstrar hipoacuteteses nas quais o

princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus eacute excetuado Por meio de pesquisa

histoacuterica conceito exemplos doutrinaacuterios e jurisprudenciais delimita os

institutos processuais apresentamos a regra geral e especificamos as

exceccedilotildees Ao final expomos a explicaccedilatildeo ofertada pela doutrina e pela

jurisprudecircncia como justificativa para estas exceccedilotildees

6

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada tem por escopo delinear o estudo de forma

objetiva explicitando aspectos relevantes acerca do tema como conceituaccedilatildeo

das espeacutecies apresentaccedilatildeo estruturada de informaccedilotildees antes de confrontar o

ponto controvertido

Vale consignar a exibiccedilatildeo de casos praacuteticos coletados atraveacutes de

jurisprudecircncias obtidas em nossos Tribunais de forma a exemplificar e elucidar

as questotildees apresentadas fazendo um paralelo entre os preceitos doutrinaacuterios

e a realidade

Segue-se a leitura de livros informativos textos e artigos cujo teor foi

devidamente sintetizado objetivando apreciar definiccedilotildees e posicionamentos

sobre temas atuais e interessantes de forma clara e objetiva com espeque em

diversificada pesquisa bibliograacutefica

7

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

21

28

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

35

40

33 Reexame obrigatoacuterio

331 Conceito de reexame obrigatoacuterio

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

42

42

44

34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na

hipoacutetese de Recurso Inominado

48

CONCLUSAtildeO 55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58

ANEXOS 60

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

8

8

INTRODUCcedilAtildeO

Os recursos satildeo certamente um dos temas mais abrangentes em

Processo Civil Dentre os recursos previstos em nosso ordenamento a

apelaccedilatildeo surge como um dos mais antigos e ateacute por isso um dos mais

conhecidos e utilizados recursos Relativamente agrave apelaccedilatildeo trazemos um

estudo sobre sua origem histoacuterica conceito peculiaridades e pressupostos

A apelaccedilatildeo como todo recurso encontra-se submetida aos

princiacutepios basilares do sistema recursal Destes destacamos a analise do

chamado princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus discorrendo

especificamente sobre seu conceito caracteriacutesticas e aplicaccedilatildeo e explicitando

institutos agrave ele vinculados

Apoacutes oferecer um estudo sobre a apelaccedilatildeo e sobre o princiacutepio da

vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus adentramos ao cerne da questatildeo ou seja agrave

relativizaccedilatildeo do princiacutepio trazendo hipoacuteteses nas quais o mesmo eacute excetuado

Outro recurso utilizado como objeto de pesquisa no presente

trabalho eacute o Recurso Inominado Criado por intermeacutedio da recente Lei

909995 trata-se do meio utilizado para submeter agrave reapreciaccedilatildeo as

sentenccedilas proferidas em sede de Juizado Especial Este estudo mostra as

caracteriacutesticas inerentes ao Recurso Inominado e apoacutes analisa hipoacutetese onde

tambeacutem se observa a relativizaccedilatildeo do princiacutepio na vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus

Por derradeiro adentramos na anaacutelise do chamado ldquoReexame

Obrigatoacuteriordquo onde conceituamos o instituto e apoacutes passamos a sopesar

quanto a abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus nas hipoacuteteses de aplicaccedilatildeo do reexame obrigatoacuterio

9

9

Deste modo a proposta do presente trabalho eacute a demonstraccedilatildeo de

que haacute previsatildeo legal quanto agrave relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus indicando exemplos onde esta exclusatildeo se observa e trazendo a

justificativa doutrinaacuteria e jurisprudencial agrave estas excepcionais hipoacuteteses

10

10

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio in Pejus

Inicialmente antes de embrenharmo-nos no estudo de nossa

proposta compete analisarmos doutrinariamente o instituto da reformatio in

pejus buscando melhor compreender os posicionamentos a serem adotados

Para definir o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus faremos

uso da mesma metodologia utilizada quando da conceituaccedilatildeo do recurso de

apelaccedilatildeo ou seja montaremos o conceito deste instituto atraveacutes do uso de

explicaccedilotildees e informaccedilotildees que por loacutegica mais do que somente conduzir ao

conceito traratildeo o real entendimento acerca do tema

Inicialmente faz-se necessaacuterio traduzir o nome do princiacutepio que traz

em seu bojo um vocaacutebulo em latim A expressatildeo ldquoreformatio in pejusrdquo significa

reformar para pior Assim o princiacutepio seria o da vedaccedilatildeo agrave reforma para pior

Mas que reforma Em que sentido de que em que circunstacircncia e por

quem

A proibiccedilatildeo de reformatio in peius ou da reforma para pior traduz-se

na proibiccedilatildeo da desfiguraccedilatildeo da decisatildeo que tenha sido proferida com

sucumbecircncia parcial para as partes de forma a piorar a situaccedilatildeo daquele que

recorreu Desta forma se num processo somente um dos interessados

interpotildee o recurso natildeo eacute dado ao juiz ou tribunal que o julgaraacute o direito de

desviar a decisatildeo recorrida em prejuiacutezo daquele que recorreu Em outras

11

11

palavras O oacutergatildeo julgador natildeo pode tornar pior a situaccedilatildeo daquele que

recorreu quando somente ele tenha recorrido Atente-se para o fato de que

para que possamos aplicar o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus a

decisatildeo recorrida deve conter sucumbecircncia parcial para as partes isto porque

por oacutebvio se a sucumbecircncia for total natildeo haacute como o juiz ou Tribunal a quem

foi direcionado o recurso piorar a situaccedilatildeo do recorrente

Desta forma pode-se dizer que a proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo

consiste na impossibilidade da instacircncia revisora modificar a decisatildeo judicial

atacada de forma a resultar numa situaccedilatildeo de piora para a parte recorrente O

princiacutepio tem por objetivo garantir agravequele que recorreu a manutenccedilatildeo daquilo

jaacute lhe foi concedido pelo juiacutezo a quo permitindo-se tatildeo somente ao oacutergatildeo

revisor negar provimento ao recurso confirmando o que jaacute foi concedido ou

reformar a decisatildeo recorrida beneficiando o recorrente Isto porque se a parte

contraacuteria agrave recorrente tinha por objetivo beneficiar-se com a modificaccedilatildeo do

julgado ela mesma deveria ter interposto seu proacuteprio recurso natildeo sendo justo

que aquele que pretendia a alteraccedilatildeo do julgado tenha por forccedila de seu

recurso uma piora em sua situaccedilatildeo em benefiacutecio daquele que natildeo recorreu

O princiacutepio da proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo decorre de outro

princiacutepio processual o princiacutepio da congruecircncia ou adstriccedilatildeo (CPC art 128 e

640) segundo o qual na fase recursal o oacutergatildeo revisor deve restringir sua

decisatildeo aos termos da suacuteplica constante das razotildees recursais nos mesmos

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 2: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

2

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PRINCIacutePIO DA VEDACcedilAtildeO Agrave REFORMATIO IN PEJUS

E HIPOTESES DE RELATIVIZACcedilAtildeO EM SEDE DE APELACcedilAtildeO

DE RECURSO INOMINADO E DE REEXAME OBRIGATOacuteRIO

Apresentaccedilatildeo de monografia agrave Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenccedilatildeo do grau de especialista em Direito

Processual Civil

Por Aline Marilia de Andrade

3

3

AGRADECIMENTOS

agravequeles que me inspiram e foram

fundamentais na minha vida agravequeles

que me auxiliaram nesta etapa e

agravequeles que soacute torceram por mim

4

4

DEDICATOacuteRIA

ao meu pai Joseacute Antocircnio que sempre

me apoiou e me fez herdar o gosto pela

leitura e pelos estudos agrave minha matildee

Jilvanda pelo exemplo de garra e

determinaccedilatildeo e por me ensinar como

fazer acontecer aquilo que se quer ao

meu irmatildeo Alberto a quem eu devo uma

infacircncia maravilhosa e com quem aprendi

o lado suave e feliz da minha

personalidade

5

5

RESUMO

O presente trabalho pretende demonstrar hipoacuteteses nas quais o

princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus eacute excetuado Por meio de pesquisa

histoacuterica conceito exemplos doutrinaacuterios e jurisprudenciais delimita os

institutos processuais apresentamos a regra geral e especificamos as

exceccedilotildees Ao final expomos a explicaccedilatildeo ofertada pela doutrina e pela

jurisprudecircncia como justificativa para estas exceccedilotildees

6

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada tem por escopo delinear o estudo de forma

objetiva explicitando aspectos relevantes acerca do tema como conceituaccedilatildeo

das espeacutecies apresentaccedilatildeo estruturada de informaccedilotildees antes de confrontar o

ponto controvertido

Vale consignar a exibiccedilatildeo de casos praacuteticos coletados atraveacutes de

jurisprudecircncias obtidas em nossos Tribunais de forma a exemplificar e elucidar

as questotildees apresentadas fazendo um paralelo entre os preceitos doutrinaacuterios

e a realidade

Segue-se a leitura de livros informativos textos e artigos cujo teor foi

devidamente sintetizado objetivando apreciar definiccedilotildees e posicionamentos

sobre temas atuais e interessantes de forma clara e objetiva com espeque em

diversificada pesquisa bibliograacutefica

7

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

21

28

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

35

40

33 Reexame obrigatoacuterio

331 Conceito de reexame obrigatoacuterio

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

42

42

44

34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na

hipoacutetese de Recurso Inominado

48

CONCLUSAtildeO 55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58

ANEXOS 60

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

8

8

INTRODUCcedilAtildeO

Os recursos satildeo certamente um dos temas mais abrangentes em

Processo Civil Dentre os recursos previstos em nosso ordenamento a

apelaccedilatildeo surge como um dos mais antigos e ateacute por isso um dos mais

conhecidos e utilizados recursos Relativamente agrave apelaccedilatildeo trazemos um

estudo sobre sua origem histoacuterica conceito peculiaridades e pressupostos

A apelaccedilatildeo como todo recurso encontra-se submetida aos

princiacutepios basilares do sistema recursal Destes destacamos a analise do

chamado princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus discorrendo

especificamente sobre seu conceito caracteriacutesticas e aplicaccedilatildeo e explicitando

institutos agrave ele vinculados

Apoacutes oferecer um estudo sobre a apelaccedilatildeo e sobre o princiacutepio da

vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus adentramos ao cerne da questatildeo ou seja agrave

relativizaccedilatildeo do princiacutepio trazendo hipoacuteteses nas quais o mesmo eacute excetuado

Outro recurso utilizado como objeto de pesquisa no presente

trabalho eacute o Recurso Inominado Criado por intermeacutedio da recente Lei

909995 trata-se do meio utilizado para submeter agrave reapreciaccedilatildeo as

sentenccedilas proferidas em sede de Juizado Especial Este estudo mostra as

caracteriacutesticas inerentes ao Recurso Inominado e apoacutes analisa hipoacutetese onde

tambeacutem se observa a relativizaccedilatildeo do princiacutepio na vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus

Por derradeiro adentramos na anaacutelise do chamado ldquoReexame

Obrigatoacuteriordquo onde conceituamos o instituto e apoacutes passamos a sopesar

quanto a abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus nas hipoacuteteses de aplicaccedilatildeo do reexame obrigatoacuterio

9

9

Deste modo a proposta do presente trabalho eacute a demonstraccedilatildeo de

que haacute previsatildeo legal quanto agrave relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus indicando exemplos onde esta exclusatildeo se observa e trazendo a

justificativa doutrinaacuteria e jurisprudencial agrave estas excepcionais hipoacuteteses

10

10

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio in Pejus

Inicialmente antes de embrenharmo-nos no estudo de nossa

proposta compete analisarmos doutrinariamente o instituto da reformatio in

pejus buscando melhor compreender os posicionamentos a serem adotados

Para definir o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus faremos

uso da mesma metodologia utilizada quando da conceituaccedilatildeo do recurso de

apelaccedilatildeo ou seja montaremos o conceito deste instituto atraveacutes do uso de

explicaccedilotildees e informaccedilotildees que por loacutegica mais do que somente conduzir ao

conceito traratildeo o real entendimento acerca do tema

Inicialmente faz-se necessaacuterio traduzir o nome do princiacutepio que traz

em seu bojo um vocaacutebulo em latim A expressatildeo ldquoreformatio in pejusrdquo significa

reformar para pior Assim o princiacutepio seria o da vedaccedilatildeo agrave reforma para pior

Mas que reforma Em que sentido de que em que circunstacircncia e por

quem

A proibiccedilatildeo de reformatio in peius ou da reforma para pior traduz-se

na proibiccedilatildeo da desfiguraccedilatildeo da decisatildeo que tenha sido proferida com

sucumbecircncia parcial para as partes de forma a piorar a situaccedilatildeo daquele que

recorreu Desta forma se num processo somente um dos interessados

interpotildee o recurso natildeo eacute dado ao juiz ou tribunal que o julgaraacute o direito de

desviar a decisatildeo recorrida em prejuiacutezo daquele que recorreu Em outras

11

11

palavras O oacutergatildeo julgador natildeo pode tornar pior a situaccedilatildeo daquele que

recorreu quando somente ele tenha recorrido Atente-se para o fato de que

para que possamos aplicar o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus a

decisatildeo recorrida deve conter sucumbecircncia parcial para as partes isto porque

por oacutebvio se a sucumbecircncia for total natildeo haacute como o juiz ou Tribunal a quem

foi direcionado o recurso piorar a situaccedilatildeo do recorrente

Desta forma pode-se dizer que a proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo

consiste na impossibilidade da instacircncia revisora modificar a decisatildeo judicial

atacada de forma a resultar numa situaccedilatildeo de piora para a parte recorrente O

princiacutepio tem por objetivo garantir agravequele que recorreu a manutenccedilatildeo daquilo

jaacute lhe foi concedido pelo juiacutezo a quo permitindo-se tatildeo somente ao oacutergatildeo

revisor negar provimento ao recurso confirmando o que jaacute foi concedido ou

reformar a decisatildeo recorrida beneficiando o recorrente Isto porque se a parte

contraacuteria agrave recorrente tinha por objetivo beneficiar-se com a modificaccedilatildeo do

julgado ela mesma deveria ter interposto seu proacuteprio recurso natildeo sendo justo

que aquele que pretendia a alteraccedilatildeo do julgado tenha por forccedila de seu

recurso uma piora em sua situaccedilatildeo em benefiacutecio daquele que natildeo recorreu

O princiacutepio da proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo decorre de outro

princiacutepio processual o princiacutepio da congruecircncia ou adstriccedilatildeo (CPC art 128 e

640) segundo o qual na fase recursal o oacutergatildeo revisor deve restringir sua

decisatildeo aos termos da suacuteplica constante das razotildees recursais nos mesmos

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 3: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

3

3

AGRADECIMENTOS

agravequeles que me inspiram e foram

fundamentais na minha vida agravequeles

que me auxiliaram nesta etapa e

agravequeles que soacute torceram por mim

4

4

DEDICATOacuteRIA

ao meu pai Joseacute Antocircnio que sempre

me apoiou e me fez herdar o gosto pela

leitura e pelos estudos agrave minha matildee

Jilvanda pelo exemplo de garra e

determinaccedilatildeo e por me ensinar como

fazer acontecer aquilo que se quer ao

meu irmatildeo Alberto a quem eu devo uma

infacircncia maravilhosa e com quem aprendi

o lado suave e feliz da minha

personalidade

5

5

RESUMO

O presente trabalho pretende demonstrar hipoacuteteses nas quais o

princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus eacute excetuado Por meio de pesquisa

histoacuterica conceito exemplos doutrinaacuterios e jurisprudenciais delimita os

institutos processuais apresentamos a regra geral e especificamos as

exceccedilotildees Ao final expomos a explicaccedilatildeo ofertada pela doutrina e pela

jurisprudecircncia como justificativa para estas exceccedilotildees

6

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada tem por escopo delinear o estudo de forma

objetiva explicitando aspectos relevantes acerca do tema como conceituaccedilatildeo

das espeacutecies apresentaccedilatildeo estruturada de informaccedilotildees antes de confrontar o

ponto controvertido

Vale consignar a exibiccedilatildeo de casos praacuteticos coletados atraveacutes de

jurisprudecircncias obtidas em nossos Tribunais de forma a exemplificar e elucidar

as questotildees apresentadas fazendo um paralelo entre os preceitos doutrinaacuterios

e a realidade

Segue-se a leitura de livros informativos textos e artigos cujo teor foi

devidamente sintetizado objetivando apreciar definiccedilotildees e posicionamentos

sobre temas atuais e interessantes de forma clara e objetiva com espeque em

diversificada pesquisa bibliograacutefica

7

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

21

28

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

35

40

33 Reexame obrigatoacuterio

331 Conceito de reexame obrigatoacuterio

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

42

42

44

34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na

hipoacutetese de Recurso Inominado

48

CONCLUSAtildeO 55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58

ANEXOS 60

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

8

8

INTRODUCcedilAtildeO

Os recursos satildeo certamente um dos temas mais abrangentes em

Processo Civil Dentre os recursos previstos em nosso ordenamento a

apelaccedilatildeo surge como um dos mais antigos e ateacute por isso um dos mais

conhecidos e utilizados recursos Relativamente agrave apelaccedilatildeo trazemos um

estudo sobre sua origem histoacuterica conceito peculiaridades e pressupostos

A apelaccedilatildeo como todo recurso encontra-se submetida aos

princiacutepios basilares do sistema recursal Destes destacamos a analise do

chamado princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus discorrendo

especificamente sobre seu conceito caracteriacutesticas e aplicaccedilatildeo e explicitando

institutos agrave ele vinculados

Apoacutes oferecer um estudo sobre a apelaccedilatildeo e sobre o princiacutepio da

vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus adentramos ao cerne da questatildeo ou seja agrave

relativizaccedilatildeo do princiacutepio trazendo hipoacuteteses nas quais o mesmo eacute excetuado

Outro recurso utilizado como objeto de pesquisa no presente

trabalho eacute o Recurso Inominado Criado por intermeacutedio da recente Lei

909995 trata-se do meio utilizado para submeter agrave reapreciaccedilatildeo as

sentenccedilas proferidas em sede de Juizado Especial Este estudo mostra as

caracteriacutesticas inerentes ao Recurso Inominado e apoacutes analisa hipoacutetese onde

tambeacutem se observa a relativizaccedilatildeo do princiacutepio na vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus

Por derradeiro adentramos na anaacutelise do chamado ldquoReexame

Obrigatoacuteriordquo onde conceituamos o instituto e apoacutes passamos a sopesar

quanto a abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus nas hipoacuteteses de aplicaccedilatildeo do reexame obrigatoacuterio

9

9

Deste modo a proposta do presente trabalho eacute a demonstraccedilatildeo de

que haacute previsatildeo legal quanto agrave relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus indicando exemplos onde esta exclusatildeo se observa e trazendo a

justificativa doutrinaacuteria e jurisprudencial agrave estas excepcionais hipoacuteteses

10

10

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio in Pejus

Inicialmente antes de embrenharmo-nos no estudo de nossa

proposta compete analisarmos doutrinariamente o instituto da reformatio in

pejus buscando melhor compreender os posicionamentos a serem adotados

Para definir o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus faremos

uso da mesma metodologia utilizada quando da conceituaccedilatildeo do recurso de

apelaccedilatildeo ou seja montaremos o conceito deste instituto atraveacutes do uso de

explicaccedilotildees e informaccedilotildees que por loacutegica mais do que somente conduzir ao

conceito traratildeo o real entendimento acerca do tema

Inicialmente faz-se necessaacuterio traduzir o nome do princiacutepio que traz

em seu bojo um vocaacutebulo em latim A expressatildeo ldquoreformatio in pejusrdquo significa

reformar para pior Assim o princiacutepio seria o da vedaccedilatildeo agrave reforma para pior

Mas que reforma Em que sentido de que em que circunstacircncia e por

quem

A proibiccedilatildeo de reformatio in peius ou da reforma para pior traduz-se

na proibiccedilatildeo da desfiguraccedilatildeo da decisatildeo que tenha sido proferida com

sucumbecircncia parcial para as partes de forma a piorar a situaccedilatildeo daquele que

recorreu Desta forma se num processo somente um dos interessados

interpotildee o recurso natildeo eacute dado ao juiz ou tribunal que o julgaraacute o direito de

desviar a decisatildeo recorrida em prejuiacutezo daquele que recorreu Em outras

11

11

palavras O oacutergatildeo julgador natildeo pode tornar pior a situaccedilatildeo daquele que

recorreu quando somente ele tenha recorrido Atente-se para o fato de que

para que possamos aplicar o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus a

decisatildeo recorrida deve conter sucumbecircncia parcial para as partes isto porque

por oacutebvio se a sucumbecircncia for total natildeo haacute como o juiz ou Tribunal a quem

foi direcionado o recurso piorar a situaccedilatildeo do recorrente

Desta forma pode-se dizer que a proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo

consiste na impossibilidade da instacircncia revisora modificar a decisatildeo judicial

atacada de forma a resultar numa situaccedilatildeo de piora para a parte recorrente O

princiacutepio tem por objetivo garantir agravequele que recorreu a manutenccedilatildeo daquilo

jaacute lhe foi concedido pelo juiacutezo a quo permitindo-se tatildeo somente ao oacutergatildeo

revisor negar provimento ao recurso confirmando o que jaacute foi concedido ou

reformar a decisatildeo recorrida beneficiando o recorrente Isto porque se a parte

contraacuteria agrave recorrente tinha por objetivo beneficiar-se com a modificaccedilatildeo do

julgado ela mesma deveria ter interposto seu proacuteprio recurso natildeo sendo justo

que aquele que pretendia a alteraccedilatildeo do julgado tenha por forccedila de seu

recurso uma piora em sua situaccedilatildeo em benefiacutecio daquele que natildeo recorreu

O princiacutepio da proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo decorre de outro

princiacutepio processual o princiacutepio da congruecircncia ou adstriccedilatildeo (CPC art 128 e

640) segundo o qual na fase recursal o oacutergatildeo revisor deve restringir sua

decisatildeo aos termos da suacuteplica constante das razotildees recursais nos mesmos

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 4: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

4

4

DEDICATOacuteRIA

ao meu pai Joseacute Antocircnio que sempre

me apoiou e me fez herdar o gosto pela

leitura e pelos estudos agrave minha matildee

Jilvanda pelo exemplo de garra e

determinaccedilatildeo e por me ensinar como

fazer acontecer aquilo que se quer ao

meu irmatildeo Alberto a quem eu devo uma

infacircncia maravilhosa e com quem aprendi

o lado suave e feliz da minha

personalidade

5

5

RESUMO

O presente trabalho pretende demonstrar hipoacuteteses nas quais o

princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus eacute excetuado Por meio de pesquisa

histoacuterica conceito exemplos doutrinaacuterios e jurisprudenciais delimita os

institutos processuais apresentamos a regra geral e especificamos as

exceccedilotildees Ao final expomos a explicaccedilatildeo ofertada pela doutrina e pela

jurisprudecircncia como justificativa para estas exceccedilotildees

6

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada tem por escopo delinear o estudo de forma

objetiva explicitando aspectos relevantes acerca do tema como conceituaccedilatildeo

das espeacutecies apresentaccedilatildeo estruturada de informaccedilotildees antes de confrontar o

ponto controvertido

Vale consignar a exibiccedilatildeo de casos praacuteticos coletados atraveacutes de

jurisprudecircncias obtidas em nossos Tribunais de forma a exemplificar e elucidar

as questotildees apresentadas fazendo um paralelo entre os preceitos doutrinaacuterios

e a realidade

Segue-se a leitura de livros informativos textos e artigos cujo teor foi

devidamente sintetizado objetivando apreciar definiccedilotildees e posicionamentos

sobre temas atuais e interessantes de forma clara e objetiva com espeque em

diversificada pesquisa bibliograacutefica

7

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

21

28

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

35

40

33 Reexame obrigatoacuterio

331 Conceito de reexame obrigatoacuterio

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

42

42

44

34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na

hipoacutetese de Recurso Inominado

48

CONCLUSAtildeO 55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58

ANEXOS 60

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

8

8

INTRODUCcedilAtildeO

Os recursos satildeo certamente um dos temas mais abrangentes em

Processo Civil Dentre os recursos previstos em nosso ordenamento a

apelaccedilatildeo surge como um dos mais antigos e ateacute por isso um dos mais

conhecidos e utilizados recursos Relativamente agrave apelaccedilatildeo trazemos um

estudo sobre sua origem histoacuterica conceito peculiaridades e pressupostos

A apelaccedilatildeo como todo recurso encontra-se submetida aos

princiacutepios basilares do sistema recursal Destes destacamos a analise do

chamado princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus discorrendo

especificamente sobre seu conceito caracteriacutesticas e aplicaccedilatildeo e explicitando

institutos agrave ele vinculados

Apoacutes oferecer um estudo sobre a apelaccedilatildeo e sobre o princiacutepio da

vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus adentramos ao cerne da questatildeo ou seja agrave

relativizaccedilatildeo do princiacutepio trazendo hipoacuteteses nas quais o mesmo eacute excetuado

Outro recurso utilizado como objeto de pesquisa no presente

trabalho eacute o Recurso Inominado Criado por intermeacutedio da recente Lei

909995 trata-se do meio utilizado para submeter agrave reapreciaccedilatildeo as

sentenccedilas proferidas em sede de Juizado Especial Este estudo mostra as

caracteriacutesticas inerentes ao Recurso Inominado e apoacutes analisa hipoacutetese onde

tambeacutem se observa a relativizaccedilatildeo do princiacutepio na vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus

Por derradeiro adentramos na anaacutelise do chamado ldquoReexame

Obrigatoacuteriordquo onde conceituamos o instituto e apoacutes passamos a sopesar

quanto a abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus nas hipoacuteteses de aplicaccedilatildeo do reexame obrigatoacuterio

9

9

Deste modo a proposta do presente trabalho eacute a demonstraccedilatildeo de

que haacute previsatildeo legal quanto agrave relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus indicando exemplos onde esta exclusatildeo se observa e trazendo a

justificativa doutrinaacuteria e jurisprudencial agrave estas excepcionais hipoacuteteses

10

10

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio in Pejus

Inicialmente antes de embrenharmo-nos no estudo de nossa

proposta compete analisarmos doutrinariamente o instituto da reformatio in

pejus buscando melhor compreender os posicionamentos a serem adotados

Para definir o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus faremos

uso da mesma metodologia utilizada quando da conceituaccedilatildeo do recurso de

apelaccedilatildeo ou seja montaremos o conceito deste instituto atraveacutes do uso de

explicaccedilotildees e informaccedilotildees que por loacutegica mais do que somente conduzir ao

conceito traratildeo o real entendimento acerca do tema

Inicialmente faz-se necessaacuterio traduzir o nome do princiacutepio que traz

em seu bojo um vocaacutebulo em latim A expressatildeo ldquoreformatio in pejusrdquo significa

reformar para pior Assim o princiacutepio seria o da vedaccedilatildeo agrave reforma para pior

Mas que reforma Em que sentido de que em que circunstacircncia e por

quem

A proibiccedilatildeo de reformatio in peius ou da reforma para pior traduz-se

na proibiccedilatildeo da desfiguraccedilatildeo da decisatildeo que tenha sido proferida com

sucumbecircncia parcial para as partes de forma a piorar a situaccedilatildeo daquele que

recorreu Desta forma se num processo somente um dos interessados

interpotildee o recurso natildeo eacute dado ao juiz ou tribunal que o julgaraacute o direito de

desviar a decisatildeo recorrida em prejuiacutezo daquele que recorreu Em outras

11

11

palavras O oacutergatildeo julgador natildeo pode tornar pior a situaccedilatildeo daquele que

recorreu quando somente ele tenha recorrido Atente-se para o fato de que

para que possamos aplicar o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus a

decisatildeo recorrida deve conter sucumbecircncia parcial para as partes isto porque

por oacutebvio se a sucumbecircncia for total natildeo haacute como o juiz ou Tribunal a quem

foi direcionado o recurso piorar a situaccedilatildeo do recorrente

Desta forma pode-se dizer que a proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo

consiste na impossibilidade da instacircncia revisora modificar a decisatildeo judicial

atacada de forma a resultar numa situaccedilatildeo de piora para a parte recorrente O

princiacutepio tem por objetivo garantir agravequele que recorreu a manutenccedilatildeo daquilo

jaacute lhe foi concedido pelo juiacutezo a quo permitindo-se tatildeo somente ao oacutergatildeo

revisor negar provimento ao recurso confirmando o que jaacute foi concedido ou

reformar a decisatildeo recorrida beneficiando o recorrente Isto porque se a parte

contraacuteria agrave recorrente tinha por objetivo beneficiar-se com a modificaccedilatildeo do

julgado ela mesma deveria ter interposto seu proacuteprio recurso natildeo sendo justo

que aquele que pretendia a alteraccedilatildeo do julgado tenha por forccedila de seu

recurso uma piora em sua situaccedilatildeo em benefiacutecio daquele que natildeo recorreu

O princiacutepio da proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo decorre de outro

princiacutepio processual o princiacutepio da congruecircncia ou adstriccedilatildeo (CPC art 128 e

640) segundo o qual na fase recursal o oacutergatildeo revisor deve restringir sua

decisatildeo aos termos da suacuteplica constante das razotildees recursais nos mesmos

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 5: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

5

5

RESUMO

O presente trabalho pretende demonstrar hipoacuteteses nas quais o

princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus eacute excetuado Por meio de pesquisa

histoacuterica conceito exemplos doutrinaacuterios e jurisprudenciais delimita os

institutos processuais apresentamos a regra geral e especificamos as

exceccedilotildees Ao final expomos a explicaccedilatildeo ofertada pela doutrina e pela

jurisprudecircncia como justificativa para estas exceccedilotildees

6

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada tem por escopo delinear o estudo de forma

objetiva explicitando aspectos relevantes acerca do tema como conceituaccedilatildeo

das espeacutecies apresentaccedilatildeo estruturada de informaccedilotildees antes de confrontar o

ponto controvertido

Vale consignar a exibiccedilatildeo de casos praacuteticos coletados atraveacutes de

jurisprudecircncias obtidas em nossos Tribunais de forma a exemplificar e elucidar

as questotildees apresentadas fazendo um paralelo entre os preceitos doutrinaacuterios

e a realidade

Segue-se a leitura de livros informativos textos e artigos cujo teor foi

devidamente sintetizado objetivando apreciar definiccedilotildees e posicionamentos

sobre temas atuais e interessantes de forma clara e objetiva com espeque em

diversificada pesquisa bibliograacutefica

7

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

21

28

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

35

40

33 Reexame obrigatoacuterio

331 Conceito de reexame obrigatoacuterio

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

42

42

44

34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na

hipoacutetese de Recurso Inominado

48

CONCLUSAtildeO 55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58

ANEXOS 60

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

8

8

INTRODUCcedilAtildeO

Os recursos satildeo certamente um dos temas mais abrangentes em

Processo Civil Dentre os recursos previstos em nosso ordenamento a

apelaccedilatildeo surge como um dos mais antigos e ateacute por isso um dos mais

conhecidos e utilizados recursos Relativamente agrave apelaccedilatildeo trazemos um

estudo sobre sua origem histoacuterica conceito peculiaridades e pressupostos

A apelaccedilatildeo como todo recurso encontra-se submetida aos

princiacutepios basilares do sistema recursal Destes destacamos a analise do

chamado princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus discorrendo

especificamente sobre seu conceito caracteriacutesticas e aplicaccedilatildeo e explicitando

institutos agrave ele vinculados

Apoacutes oferecer um estudo sobre a apelaccedilatildeo e sobre o princiacutepio da

vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus adentramos ao cerne da questatildeo ou seja agrave

relativizaccedilatildeo do princiacutepio trazendo hipoacuteteses nas quais o mesmo eacute excetuado

Outro recurso utilizado como objeto de pesquisa no presente

trabalho eacute o Recurso Inominado Criado por intermeacutedio da recente Lei

909995 trata-se do meio utilizado para submeter agrave reapreciaccedilatildeo as

sentenccedilas proferidas em sede de Juizado Especial Este estudo mostra as

caracteriacutesticas inerentes ao Recurso Inominado e apoacutes analisa hipoacutetese onde

tambeacutem se observa a relativizaccedilatildeo do princiacutepio na vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus

Por derradeiro adentramos na anaacutelise do chamado ldquoReexame

Obrigatoacuteriordquo onde conceituamos o instituto e apoacutes passamos a sopesar

quanto a abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus nas hipoacuteteses de aplicaccedilatildeo do reexame obrigatoacuterio

9

9

Deste modo a proposta do presente trabalho eacute a demonstraccedilatildeo de

que haacute previsatildeo legal quanto agrave relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus indicando exemplos onde esta exclusatildeo se observa e trazendo a

justificativa doutrinaacuteria e jurisprudencial agrave estas excepcionais hipoacuteteses

10

10

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio in Pejus

Inicialmente antes de embrenharmo-nos no estudo de nossa

proposta compete analisarmos doutrinariamente o instituto da reformatio in

pejus buscando melhor compreender os posicionamentos a serem adotados

Para definir o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus faremos

uso da mesma metodologia utilizada quando da conceituaccedilatildeo do recurso de

apelaccedilatildeo ou seja montaremos o conceito deste instituto atraveacutes do uso de

explicaccedilotildees e informaccedilotildees que por loacutegica mais do que somente conduzir ao

conceito traratildeo o real entendimento acerca do tema

Inicialmente faz-se necessaacuterio traduzir o nome do princiacutepio que traz

em seu bojo um vocaacutebulo em latim A expressatildeo ldquoreformatio in pejusrdquo significa

reformar para pior Assim o princiacutepio seria o da vedaccedilatildeo agrave reforma para pior

Mas que reforma Em que sentido de que em que circunstacircncia e por

quem

A proibiccedilatildeo de reformatio in peius ou da reforma para pior traduz-se

na proibiccedilatildeo da desfiguraccedilatildeo da decisatildeo que tenha sido proferida com

sucumbecircncia parcial para as partes de forma a piorar a situaccedilatildeo daquele que

recorreu Desta forma se num processo somente um dos interessados

interpotildee o recurso natildeo eacute dado ao juiz ou tribunal que o julgaraacute o direito de

desviar a decisatildeo recorrida em prejuiacutezo daquele que recorreu Em outras

11

11

palavras O oacutergatildeo julgador natildeo pode tornar pior a situaccedilatildeo daquele que

recorreu quando somente ele tenha recorrido Atente-se para o fato de que

para que possamos aplicar o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus a

decisatildeo recorrida deve conter sucumbecircncia parcial para as partes isto porque

por oacutebvio se a sucumbecircncia for total natildeo haacute como o juiz ou Tribunal a quem

foi direcionado o recurso piorar a situaccedilatildeo do recorrente

Desta forma pode-se dizer que a proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo

consiste na impossibilidade da instacircncia revisora modificar a decisatildeo judicial

atacada de forma a resultar numa situaccedilatildeo de piora para a parte recorrente O

princiacutepio tem por objetivo garantir agravequele que recorreu a manutenccedilatildeo daquilo

jaacute lhe foi concedido pelo juiacutezo a quo permitindo-se tatildeo somente ao oacutergatildeo

revisor negar provimento ao recurso confirmando o que jaacute foi concedido ou

reformar a decisatildeo recorrida beneficiando o recorrente Isto porque se a parte

contraacuteria agrave recorrente tinha por objetivo beneficiar-se com a modificaccedilatildeo do

julgado ela mesma deveria ter interposto seu proacuteprio recurso natildeo sendo justo

que aquele que pretendia a alteraccedilatildeo do julgado tenha por forccedila de seu

recurso uma piora em sua situaccedilatildeo em benefiacutecio daquele que natildeo recorreu

O princiacutepio da proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo decorre de outro

princiacutepio processual o princiacutepio da congruecircncia ou adstriccedilatildeo (CPC art 128 e

640) segundo o qual na fase recursal o oacutergatildeo revisor deve restringir sua

decisatildeo aos termos da suacuteplica constante das razotildees recursais nos mesmos

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 6: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

6

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada tem por escopo delinear o estudo de forma

objetiva explicitando aspectos relevantes acerca do tema como conceituaccedilatildeo

das espeacutecies apresentaccedilatildeo estruturada de informaccedilotildees antes de confrontar o

ponto controvertido

Vale consignar a exibiccedilatildeo de casos praacuteticos coletados atraveacutes de

jurisprudecircncias obtidas em nossos Tribunais de forma a exemplificar e elucidar

as questotildees apresentadas fazendo um paralelo entre os preceitos doutrinaacuterios

e a realidade

Segue-se a leitura de livros informativos textos e artigos cujo teor foi

devidamente sintetizado objetivando apreciar definiccedilotildees e posicionamentos

sobre temas atuais e interessantes de forma clara e objetiva com espeque em

diversificada pesquisa bibliograacutefica

7

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

21

28

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

35

40

33 Reexame obrigatoacuterio

331 Conceito de reexame obrigatoacuterio

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

42

42

44

34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na

hipoacutetese de Recurso Inominado

48

CONCLUSAtildeO 55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58

ANEXOS 60

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

8

8

INTRODUCcedilAtildeO

Os recursos satildeo certamente um dos temas mais abrangentes em

Processo Civil Dentre os recursos previstos em nosso ordenamento a

apelaccedilatildeo surge como um dos mais antigos e ateacute por isso um dos mais

conhecidos e utilizados recursos Relativamente agrave apelaccedilatildeo trazemos um

estudo sobre sua origem histoacuterica conceito peculiaridades e pressupostos

A apelaccedilatildeo como todo recurso encontra-se submetida aos

princiacutepios basilares do sistema recursal Destes destacamos a analise do

chamado princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus discorrendo

especificamente sobre seu conceito caracteriacutesticas e aplicaccedilatildeo e explicitando

institutos agrave ele vinculados

Apoacutes oferecer um estudo sobre a apelaccedilatildeo e sobre o princiacutepio da

vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus adentramos ao cerne da questatildeo ou seja agrave

relativizaccedilatildeo do princiacutepio trazendo hipoacuteteses nas quais o mesmo eacute excetuado

Outro recurso utilizado como objeto de pesquisa no presente

trabalho eacute o Recurso Inominado Criado por intermeacutedio da recente Lei

909995 trata-se do meio utilizado para submeter agrave reapreciaccedilatildeo as

sentenccedilas proferidas em sede de Juizado Especial Este estudo mostra as

caracteriacutesticas inerentes ao Recurso Inominado e apoacutes analisa hipoacutetese onde

tambeacutem se observa a relativizaccedilatildeo do princiacutepio na vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus

Por derradeiro adentramos na anaacutelise do chamado ldquoReexame

Obrigatoacuteriordquo onde conceituamos o instituto e apoacutes passamos a sopesar

quanto a abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus nas hipoacuteteses de aplicaccedilatildeo do reexame obrigatoacuterio

9

9

Deste modo a proposta do presente trabalho eacute a demonstraccedilatildeo de

que haacute previsatildeo legal quanto agrave relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus indicando exemplos onde esta exclusatildeo se observa e trazendo a

justificativa doutrinaacuteria e jurisprudencial agrave estas excepcionais hipoacuteteses

10

10

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio in Pejus

Inicialmente antes de embrenharmo-nos no estudo de nossa

proposta compete analisarmos doutrinariamente o instituto da reformatio in

pejus buscando melhor compreender os posicionamentos a serem adotados

Para definir o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus faremos

uso da mesma metodologia utilizada quando da conceituaccedilatildeo do recurso de

apelaccedilatildeo ou seja montaremos o conceito deste instituto atraveacutes do uso de

explicaccedilotildees e informaccedilotildees que por loacutegica mais do que somente conduzir ao

conceito traratildeo o real entendimento acerca do tema

Inicialmente faz-se necessaacuterio traduzir o nome do princiacutepio que traz

em seu bojo um vocaacutebulo em latim A expressatildeo ldquoreformatio in pejusrdquo significa

reformar para pior Assim o princiacutepio seria o da vedaccedilatildeo agrave reforma para pior

Mas que reforma Em que sentido de que em que circunstacircncia e por

quem

A proibiccedilatildeo de reformatio in peius ou da reforma para pior traduz-se

na proibiccedilatildeo da desfiguraccedilatildeo da decisatildeo que tenha sido proferida com

sucumbecircncia parcial para as partes de forma a piorar a situaccedilatildeo daquele que

recorreu Desta forma se num processo somente um dos interessados

interpotildee o recurso natildeo eacute dado ao juiz ou tribunal que o julgaraacute o direito de

desviar a decisatildeo recorrida em prejuiacutezo daquele que recorreu Em outras

11

11

palavras O oacutergatildeo julgador natildeo pode tornar pior a situaccedilatildeo daquele que

recorreu quando somente ele tenha recorrido Atente-se para o fato de que

para que possamos aplicar o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus a

decisatildeo recorrida deve conter sucumbecircncia parcial para as partes isto porque

por oacutebvio se a sucumbecircncia for total natildeo haacute como o juiz ou Tribunal a quem

foi direcionado o recurso piorar a situaccedilatildeo do recorrente

Desta forma pode-se dizer que a proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo

consiste na impossibilidade da instacircncia revisora modificar a decisatildeo judicial

atacada de forma a resultar numa situaccedilatildeo de piora para a parte recorrente O

princiacutepio tem por objetivo garantir agravequele que recorreu a manutenccedilatildeo daquilo

jaacute lhe foi concedido pelo juiacutezo a quo permitindo-se tatildeo somente ao oacutergatildeo

revisor negar provimento ao recurso confirmando o que jaacute foi concedido ou

reformar a decisatildeo recorrida beneficiando o recorrente Isto porque se a parte

contraacuteria agrave recorrente tinha por objetivo beneficiar-se com a modificaccedilatildeo do

julgado ela mesma deveria ter interposto seu proacuteprio recurso natildeo sendo justo

que aquele que pretendia a alteraccedilatildeo do julgado tenha por forccedila de seu

recurso uma piora em sua situaccedilatildeo em benefiacutecio daquele que natildeo recorreu

O princiacutepio da proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo decorre de outro

princiacutepio processual o princiacutepio da congruecircncia ou adstriccedilatildeo (CPC art 128 e

640) segundo o qual na fase recursal o oacutergatildeo revisor deve restringir sua

decisatildeo aos termos da suacuteplica constante das razotildees recursais nos mesmos

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 7: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

7

7

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

21

28

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

35

40

33 Reexame obrigatoacuterio

331 Conceito de reexame obrigatoacuterio

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

42

42

44

34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na

hipoacutetese de Recurso Inominado

48

CONCLUSAtildeO 55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58

ANEXOS 60

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

8

8

INTRODUCcedilAtildeO

Os recursos satildeo certamente um dos temas mais abrangentes em

Processo Civil Dentre os recursos previstos em nosso ordenamento a

apelaccedilatildeo surge como um dos mais antigos e ateacute por isso um dos mais

conhecidos e utilizados recursos Relativamente agrave apelaccedilatildeo trazemos um

estudo sobre sua origem histoacuterica conceito peculiaridades e pressupostos

A apelaccedilatildeo como todo recurso encontra-se submetida aos

princiacutepios basilares do sistema recursal Destes destacamos a analise do

chamado princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus discorrendo

especificamente sobre seu conceito caracteriacutesticas e aplicaccedilatildeo e explicitando

institutos agrave ele vinculados

Apoacutes oferecer um estudo sobre a apelaccedilatildeo e sobre o princiacutepio da

vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus adentramos ao cerne da questatildeo ou seja agrave

relativizaccedilatildeo do princiacutepio trazendo hipoacuteteses nas quais o mesmo eacute excetuado

Outro recurso utilizado como objeto de pesquisa no presente

trabalho eacute o Recurso Inominado Criado por intermeacutedio da recente Lei

909995 trata-se do meio utilizado para submeter agrave reapreciaccedilatildeo as

sentenccedilas proferidas em sede de Juizado Especial Este estudo mostra as

caracteriacutesticas inerentes ao Recurso Inominado e apoacutes analisa hipoacutetese onde

tambeacutem se observa a relativizaccedilatildeo do princiacutepio na vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus

Por derradeiro adentramos na anaacutelise do chamado ldquoReexame

Obrigatoacuteriordquo onde conceituamos o instituto e apoacutes passamos a sopesar

quanto a abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus nas hipoacuteteses de aplicaccedilatildeo do reexame obrigatoacuterio

9

9

Deste modo a proposta do presente trabalho eacute a demonstraccedilatildeo de

que haacute previsatildeo legal quanto agrave relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus indicando exemplos onde esta exclusatildeo se observa e trazendo a

justificativa doutrinaacuteria e jurisprudencial agrave estas excepcionais hipoacuteteses

10

10

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio in Pejus

Inicialmente antes de embrenharmo-nos no estudo de nossa

proposta compete analisarmos doutrinariamente o instituto da reformatio in

pejus buscando melhor compreender os posicionamentos a serem adotados

Para definir o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus faremos

uso da mesma metodologia utilizada quando da conceituaccedilatildeo do recurso de

apelaccedilatildeo ou seja montaremos o conceito deste instituto atraveacutes do uso de

explicaccedilotildees e informaccedilotildees que por loacutegica mais do que somente conduzir ao

conceito traratildeo o real entendimento acerca do tema

Inicialmente faz-se necessaacuterio traduzir o nome do princiacutepio que traz

em seu bojo um vocaacutebulo em latim A expressatildeo ldquoreformatio in pejusrdquo significa

reformar para pior Assim o princiacutepio seria o da vedaccedilatildeo agrave reforma para pior

Mas que reforma Em que sentido de que em que circunstacircncia e por

quem

A proibiccedilatildeo de reformatio in peius ou da reforma para pior traduz-se

na proibiccedilatildeo da desfiguraccedilatildeo da decisatildeo que tenha sido proferida com

sucumbecircncia parcial para as partes de forma a piorar a situaccedilatildeo daquele que

recorreu Desta forma se num processo somente um dos interessados

interpotildee o recurso natildeo eacute dado ao juiz ou tribunal que o julgaraacute o direito de

desviar a decisatildeo recorrida em prejuiacutezo daquele que recorreu Em outras

11

11

palavras O oacutergatildeo julgador natildeo pode tornar pior a situaccedilatildeo daquele que

recorreu quando somente ele tenha recorrido Atente-se para o fato de que

para que possamos aplicar o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus a

decisatildeo recorrida deve conter sucumbecircncia parcial para as partes isto porque

por oacutebvio se a sucumbecircncia for total natildeo haacute como o juiz ou Tribunal a quem

foi direcionado o recurso piorar a situaccedilatildeo do recorrente

Desta forma pode-se dizer que a proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo

consiste na impossibilidade da instacircncia revisora modificar a decisatildeo judicial

atacada de forma a resultar numa situaccedilatildeo de piora para a parte recorrente O

princiacutepio tem por objetivo garantir agravequele que recorreu a manutenccedilatildeo daquilo

jaacute lhe foi concedido pelo juiacutezo a quo permitindo-se tatildeo somente ao oacutergatildeo

revisor negar provimento ao recurso confirmando o que jaacute foi concedido ou

reformar a decisatildeo recorrida beneficiando o recorrente Isto porque se a parte

contraacuteria agrave recorrente tinha por objetivo beneficiar-se com a modificaccedilatildeo do

julgado ela mesma deveria ter interposto seu proacuteprio recurso natildeo sendo justo

que aquele que pretendia a alteraccedilatildeo do julgado tenha por forccedila de seu

recurso uma piora em sua situaccedilatildeo em benefiacutecio daquele que natildeo recorreu

O princiacutepio da proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo decorre de outro

princiacutepio processual o princiacutepio da congruecircncia ou adstriccedilatildeo (CPC art 128 e

640) segundo o qual na fase recursal o oacutergatildeo revisor deve restringir sua

decisatildeo aos termos da suacuteplica constante das razotildees recursais nos mesmos

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 8: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

8

8

INTRODUCcedilAtildeO

Os recursos satildeo certamente um dos temas mais abrangentes em

Processo Civil Dentre os recursos previstos em nosso ordenamento a

apelaccedilatildeo surge como um dos mais antigos e ateacute por isso um dos mais

conhecidos e utilizados recursos Relativamente agrave apelaccedilatildeo trazemos um

estudo sobre sua origem histoacuterica conceito peculiaridades e pressupostos

A apelaccedilatildeo como todo recurso encontra-se submetida aos

princiacutepios basilares do sistema recursal Destes destacamos a analise do

chamado princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus discorrendo

especificamente sobre seu conceito caracteriacutesticas e aplicaccedilatildeo e explicitando

institutos agrave ele vinculados

Apoacutes oferecer um estudo sobre a apelaccedilatildeo e sobre o princiacutepio da

vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus adentramos ao cerne da questatildeo ou seja agrave

relativizaccedilatildeo do princiacutepio trazendo hipoacuteteses nas quais o mesmo eacute excetuado

Outro recurso utilizado como objeto de pesquisa no presente

trabalho eacute o Recurso Inominado Criado por intermeacutedio da recente Lei

909995 trata-se do meio utilizado para submeter agrave reapreciaccedilatildeo as

sentenccedilas proferidas em sede de Juizado Especial Este estudo mostra as

caracteriacutesticas inerentes ao Recurso Inominado e apoacutes analisa hipoacutetese onde

tambeacutem se observa a relativizaccedilatildeo do princiacutepio na vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus

Por derradeiro adentramos na anaacutelise do chamado ldquoReexame

Obrigatoacuteriordquo onde conceituamos o instituto e apoacutes passamos a sopesar

quanto a abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in

pejus nas hipoacuteteses de aplicaccedilatildeo do reexame obrigatoacuterio

9

9

Deste modo a proposta do presente trabalho eacute a demonstraccedilatildeo de

que haacute previsatildeo legal quanto agrave relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus indicando exemplos onde esta exclusatildeo se observa e trazendo a

justificativa doutrinaacuteria e jurisprudencial agrave estas excepcionais hipoacuteteses

10

10

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio in Pejus

Inicialmente antes de embrenharmo-nos no estudo de nossa

proposta compete analisarmos doutrinariamente o instituto da reformatio in

pejus buscando melhor compreender os posicionamentos a serem adotados

Para definir o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus faremos

uso da mesma metodologia utilizada quando da conceituaccedilatildeo do recurso de

apelaccedilatildeo ou seja montaremos o conceito deste instituto atraveacutes do uso de

explicaccedilotildees e informaccedilotildees que por loacutegica mais do que somente conduzir ao

conceito traratildeo o real entendimento acerca do tema

Inicialmente faz-se necessaacuterio traduzir o nome do princiacutepio que traz

em seu bojo um vocaacutebulo em latim A expressatildeo ldquoreformatio in pejusrdquo significa

reformar para pior Assim o princiacutepio seria o da vedaccedilatildeo agrave reforma para pior

Mas que reforma Em que sentido de que em que circunstacircncia e por

quem

A proibiccedilatildeo de reformatio in peius ou da reforma para pior traduz-se

na proibiccedilatildeo da desfiguraccedilatildeo da decisatildeo que tenha sido proferida com

sucumbecircncia parcial para as partes de forma a piorar a situaccedilatildeo daquele que

recorreu Desta forma se num processo somente um dos interessados

interpotildee o recurso natildeo eacute dado ao juiz ou tribunal que o julgaraacute o direito de

desviar a decisatildeo recorrida em prejuiacutezo daquele que recorreu Em outras

11

11

palavras O oacutergatildeo julgador natildeo pode tornar pior a situaccedilatildeo daquele que

recorreu quando somente ele tenha recorrido Atente-se para o fato de que

para que possamos aplicar o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus a

decisatildeo recorrida deve conter sucumbecircncia parcial para as partes isto porque

por oacutebvio se a sucumbecircncia for total natildeo haacute como o juiz ou Tribunal a quem

foi direcionado o recurso piorar a situaccedilatildeo do recorrente

Desta forma pode-se dizer que a proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo

consiste na impossibilidade da instacircncia revisora modificar a decisatildeo judicial

atacada de forma a resultar numa situaccedilatildeo de piora para a parte recorrente O

princiacutepio tem por objetivo garantir agravequele que recorreu a manutenccedilatildeo daquilo

jaacute lhe foi concedido pelo juiacutezo a quo permitindo-se tatildeo somente ao oacutergatildeo

revisor negar provimento ao recurso confirmando o que jaacute foi concedido ou

reformar a decisatildeo recorrida beneficiando o recorrente Isto porque se a parte

contraacuteria agrave recorrente tinha por objetivo beneficiar-se com a modificaccedilatildeo do

julgado ela mesma deveria ter interposto seu proacuteprio recurso natildeo sendo justo

que aquele que pretendia a alteraccedilatildeo do julgado tenha por forccedila de seu

recurso uma piora em sua situaccedilatildeo em benefiacutecio daquele que natildeo recorreu

O princiacutepio da proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo decorre de outro

princiacutepio processual o princiacutepio da congruecircncia ou adstriccedilatildeo (CPC art 128 e

640) segundo o qual na fase recursal o oacutergatildeo revisor deve restringir sua

decisatildeo aos termos da suacuteplica constante das razotildees recursais nos mesmos

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 9: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

9

9

Deste modo a proposta do presente trabalho eacute a demonstraccedilatildeo de

que haacute previsatildeo legal quanto agrave relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus indicando exemplos onde esta exclusatildeo se observa e trazendo a

justificativa doutrinaacuteria e jurisprudencial agrave estas excepcionais hipoacuteteses

10

10

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio in Pejus

Inicialmente antes de embrenharmo-nos no estudo de nossa

proposta compete analisarmos doutrinariamente o instituto da reformatio in

pejus buscando melhor compreender os posicionamentos a serem adotados

Para definir o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus faremos

uso da mesma metodologia utilizada quando da conceituaccedilatildeo do recurso de

apelaccedilatildeo ou seja montaremos o conceito deste instituto atraveacutes do uso de

explicaccedilotildees e informaccedilotildees que por loacutegica mais do que somente conduzir ao

conceito traratildeo o real entendimento acerca do tema

Inicialmente faz-se necessaacuterio traduzir o nome do princiacutepio que traz

em seu bojo um vocaacutebulo em latim A expressatildeo ldquoreformatio in pejusrdquo significa

reformar para pior Assim o princiacutepio seria o da vedaccedilatildeo agrave reforma para pior

Mas que reforma Em que sentido de que em que circunstacircncia e por

quem

A proibiccedilatildeo de reformatio in peius ou da reforma para pior traduz-se

na proibiccedilatildeo da desfiguraccedilatildeo da decisatildeo que tenha sido proferida com

sucumbecircncia parcial para as partes de forma a piorar a situaccedilatildeo daquele que

recorreu Desta forma se num processo somente um dos interessados

interpotildee o recurso natildeo eacute dado ao juiz ou tribunal que o julgaraacute o direito de

desviar a decisatildeo recorrida em prejuiacutezo daquele que recorreu Em outras

11

11

palavras O oacutergatildeo julgador natildeo pode tornar pior a situaccedilatildeo daquele que

recorreu quando somente ele tenha recorrido Atente-se para o fato de que

para que possamos aplicar o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus a

decisatildeo recorrida deve conter sucumbecircncia parcial para as partes isto porque

por oacutebvio se a sucumbecircncia for total natildeo haacute como o juiz ou Tribunal a quem

foi direcionado o recurso piorar a situaccedilatildeo do recorrente

Desta forma pode-se dizer que a proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo

consiste na impossibilidade da instacircncia revisora modificar a decisatildeo judicial

atacada de forma a resultar numa situaccedilatildeo de piora para a parte recorrente O

princiacutepio tem por objetivo garantir agravequele que recorreu a manutenccedilatildeo daquilo

jaacute lhe foi concedido pelo juiacutezo a quo permitindo-se tatildeo somente ao oacutergatildeo

revisor negar provimento ao recurso confirmando o que jaacute foi concedido ou

reformar a decisatildeo recorrida beneficiando o recorrente Isto porque se a parte

contraacuteria agrave recorrente tinha por objetivo beneficiar-se com a modificaccedilatildeo do

julgado ela mesma deveria ter interposto seu proacuteprio recurso natildeo sendo justo

que aquele que pretendia a alteraccedilatildeo do julgado tenha por forccedila de seu

recurso uma piora em sua situaccedilatildeo em benefiacutecio daquele que natildeo recorreu

O princiacutepio da proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo decorre de outro

princiacutepio processual o princiacutepio da congruecircncia ou adstriccedilatildeo (CPC art 128 e

640) segundo o qual na fase recursal o oacutergatildeo revisor deve restringir sua

decisatildeo aos termos da suacuteplica constante das razotildees recursais nos mesmos

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 10: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

10

10

1 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio in Pejus

Inicialmente antes de embrenharmo-nos no estudo de nossa

proposta compete analisarmos doutrinariamente o instituto da reformatio in

pejus buscando melhor compreender os posicionamentos a serem adotados

Para definir o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus faremos

uso da mesma metodologia utilizada quando da conceituaccedilatildeo do recurso de

apelaccedilatildeo ou seja montaremos o conceito deste instituto atraveacutes do uso de

explicaccedilotildees e informaccedilotildees que por loacutegica mais do que somente conduzir ao

conceito traratildeo o real entendimento acerca do tema

Inicialmente faz-se necessaacuterio traduzir o nome do princiacutepio que traz

em seu bojo um vocaacutebulo em latim A expressatildeo ldquoreformatio in pejusrdquo significa

reformar para pior Assim o princiacutepio seria o da vedaccedilatildeo agrave reforma para pior

Mas que reforma Em que sentido de que em que circunstacircncia e por

quem

A proibiccedilatildeo de reformatio in peius ou da reforma para pior traduz-se

na proibiccedilatildeo da desfiguraccedilatildeo da decisatildeo que tenha sido proferida com

sucumbecircncia parcial para as partes de forma a piorar a situaccedilatildeo daquele que

recorreu Desta forma se num processo somente um dos interessados

interpotildee o recurso natildeo eacute dado ao juiz ou tribunal que o julgaraacute o direito de

desviar a decisatildeo recorrida em prejuiacutezo daquele que recorreu Em outras

11

11

palavras O oacutergatildeo julgador natildeo pode tornar pior a situaccedilatildeo daquele que

recorreu quando somente ele tenha recorrido Atente-se para o fato de que

para que possamos aplicar o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus a

decisatildeo recorrida deve conter sucumbecircncia parcial para as partes isto porque

por oacutebvio se a sucumbecircncia for total natildeo haacute como o juiz ou Tribunal a quem

foi direcionado o recurso piorar a situaccedilatildeo do recorrente

Desta forma pode-se dizer que a proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo

consiste na impossibilidade da instacircncia revisora modificar a decisatildeo judicial

atacada de forma a resultar numa situaccedilatildeo de piora para a parte recorrente O

princiacutepio tem por objetivo garantir agravequele que recorreu a manutenccedilatildeo daquilo

jaacute lhe foi concedido pelo juiacutezo a quo permitindo-se tatildeo somente ao oacutergatildeo

revisor negar provimento ao recurso confirmando o que jaacute foi concedido ou

reformar a decisatildeo recorrida beneficiando o recorrente Isto porque se a parte

contraacuteria agrave recorrente tinha por objetivo beneficiar-se com a modificaccedilatildeo do

julgado ela mesma deveria ter interposto seu proacuteprio recurso natildeo sendo justo

que aquele que pretendia a alteraccedilatildeo do julgado tenha por forccedila de seu

recurso uma piora em sua situaccedilatildeo em benefiacutecio daquele que natildeo recorreu

O princiacutepio da proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo decorre de outro

princiacutepio processual o princiacutepio da congruecircncia ou adstriccedilatildeo (CPC art 128 e

640) segundo o qual na fase recursal o oacutergatildeo revisor deve restringir sua

decisatildeo aos termos da suacuteplica constante das razotildees recursais nos mesmos

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 11: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

11

11

palavras O oacutergatildeo julgador natildeo pode tornar pior a situaccedilatildeo daquele que

recorreu quando somente ele tenha recorrido Atente-se para o fato de que

para que possamos aplicar o princiacutepio da vedaccedilatildeo da reformatio in pejus a

decisatildeo recorrida deve conter sucumbecircncia parcial para as partes isto porque

por oacutebvio se a sucumbecircncia for total natildeo haacute como o juiz ou Tribunal a quem

foi direcionado o recurso piorar a situaccedilatildeo do recorrente

Desta forma pode-se dizer que a proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo

consiste na impossibilidade da instacircncia revisora modificar a decisatildeo judicial

atacada de forma a resultar numa situaccedilatildeo de piora para a parte recorrente O

princiacutepio tem por objetivo garantir agravequele que recorreu a manutenccedilatildeo daquilo

jaacute lhe foi concedido pelo juiacutezo a quo permitindo-se tatildeo somente ao oacutergatildeo

revisor negar provimento ao recurso confirmando o que jaacute foi concedido ou

reformar a decisatildeo recorrida beneficiando o recorrente Isto porque se a parte

contraacuteria agrave recorrente tinha por objetivo beneficiar-se com a modificaccedilatildeo do

julgado ela mesma deveria ter interposto seu proacuteprio recurso natildeo sendo justo

que aquele que pretendia a alteraccedilatildeo do julgado tenha por forccedila de seu

recurso uma piora em sua situaccedilatildeo em benefiacutecio daquele que natildeo recorreu

O princiacutepio da proibiccedilatildeo da ldquoreformatio in pejusrdquo decorre de outro

princiacutepio processual o princiacutepio da congruecircncia ou adstriccedilatildeo (CPC art 128 e

640) segundo o qual na fase recursal o oacutergatildeo revisor deve restringir sua

decisatildeo aos termos da suacuteplica constante das razotildees recursais nos mesmos

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 12: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

12

12

termos do que ocorre com a sentenccedila do juiacutezo monocraacutetico em relaccedilatildeo aos

pedidos constantes na peticcedilatildeo inicial

Vale destacar que o princiacutepio da reformatio in pejus vigora mesmo

em caso de interposiccedilatildeo de recurso adesivo Isto porque se ocorrer a

procedecircncia do pedido contido no recurso adesivo alterando a decisatildeo para

pior significa dizer que o recurso do primeiro interessado foi julgado

improcedente Nesta hipoacutetese observamos que quem recorreu inicialmente

obteve tatildeo somente a improcedecircncia de seu recurso e natildeo uma piora em sua

situaccedilatildeo O agravamento da decisatildeo deu-se na decisatildeo proferida no recurso

interposto por seu oponente ou seja no adesivo

Pelo talho do exposto podemos concluir que para que possamos

observar a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave ldquoreformatio in pejusrdquo devemos

estar diante de hipoacutetese onde ocorra a sucumbecircncia reciacuteproca e o recurso

tenha sido interposto somente por uma das partes Neste caso o recurso natildeo

poderaacute ser julgado de forma a piorar a situaccedilatildeo de quem o interpocircs

A interposiccedilatildeo de recurso por somente uma das partes eacute relevante

porque se ambas as partes recorrerem e o juiz atender ao pedido do reacuteu

prejudicando o autor natildeo ocorre a reformatio in pejus o que ocorreu foi tatildeo

somente o acolhimento de um recurso em detrimento de outro Assim se ldquoArdquo

move accedilatildeo em face de ldquoBrdquo e nesta accedilatildeo requer a procedecircncia de seu pedido

para receber 100 O pedido eacute julgado parcialmente procedente e o Reacuteu ldquoBrdquorsquo eacute

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 13: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

13

13

condenado a pagar 80 Se o autor ldquoArdquo interpor recurso requerendo a reforma

da decisatildeo monocraacutetica e a majoraccedilatildeo da condenaccedilatildeo de 80 para 100 e ldquoBrdquo

interpotildee recurso pedindo a reforma da decisatildeo para que natildeo tenha que pagar

qualquer valor natildeo viola o principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus atender

ao pedido de ldquoArdquo e aumentar a condenaccedilatildeo para 100 Poreacutem se somente ldquoBrdquo

recorrer por respeito ao principio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus o juiz natildeo

poderaacute aumentar a condenaccedilatildeo para 100

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 14: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

14

14

2 RECURSO DE APELACcedilAtildeO

21 Origem Histoacuterica da Apelaccedilatildeo

Compulsando o material histoacuterico verificamos que inexiste na

antiguumlidade instituto similar agrave apelaccedilatildeo do qual se possa dizer que se tenha

inspirado a medida Existem poreacutem alguns antecedentes histoacutericos os quais

analisados podem explicar o aparecimento e o perfil do recurso como a

supplicativo romana a sopricaccedilatildeo portuguesa Assim encontramos o

nascedouro da essecircncia do recurso de apelaccedilatildeo no sistema processual

romano

Para cada etapa da histoacuteria de Roma encontramos um sistema

processual diferente podendo ser observado que na Monarquia o sistema

adotado correspondia ao das ldquoaccedilotildees da leirdquo (legis actiones) Durante a

Repuacuteblica utilizou-se o modelo denominado ldquoformulaacuteriordquo (per formulas)

Quando atingiu-se a fase do Impeacuterio adotou-se o sistema processual

ldquoextraordinaacuteriordquo (cognitio extraordinaria)

Haacute quem estabeleccedila a divisatildeo do processo civil romano em duas

fases processuais ao inveacutes de trecircs Neste caso denomina-se a primeira fase

de ordo judiciorum privatorum que na realidade corresponde agrave junccedilatildeo da

fase legis actiones com a fase per formulas em contraposiccedilatildeo agrave fase

posterior a da cognitio extra ordinem

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 15: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

15

15

Comum agrave ambas classificaccedilotildees a fase da cognitio extraordinaria

teve iniacutecio no seacuteculo III aC finalizando-se com as publicaccedilotildees ordenadas pelo

Imperador Justiniano (529 a 534 dC) que entre outros brindaram-nos com a

definiccedilatildeo de accedilatildeo segundo a qual a accedilatildeo nada mais eacute do que o direito de

perseguir em juiacutezo o que nos eacute devido (actio autem nihil aliud est quem ius

persequendi in iudicio quod sibi debetur) Eacute justamente nesta fase que

observamos o surgimento da supplicatio que definiria perfeitamente o caminho

a ser trilhado para o nascimento do instituto da apelaccedilatildeo delimitando sua

finalidade efeito e estrutura e pressupondo o duplo grau de jurisdiccedilatildeo

A supplicatio romana pode ser definida como uma medida que

possibilitava insurgir-se contra restriccedilotildees impostas ao direito de apelar sendo

dirigida ao Imperador ou ao Prefeito do Pretoacuterio Nos ensinamentos traccedilados

por Arruda Alvim a supplicatio ldquoteria tido lugar justamente contra as

irregularidades do procedimento constituindo-se exemplificativamente uma

delas a denegaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeordquo1

Durantes os primeiros seacuteculos do predomiacutenio barbaacuterico o instituto

da supplicatio foi preservado pelo direito canocircnico ateacute o retorno do direito

romano no seacuteculo XII Quando do renascimento do direito romano a

supplicatio foi introduzida no direito comum de paiacuteses como Itaacutelia Franccedila e

Alemanha Em Portugal sob a influencia do direito canocircnico o instituto

1 Joseacute Manoel de Arruda Alvim Correiccedilatildeo Parcial RT 45213

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 16: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

16

16

embrenhou-se ao tempo da instauraccedilatildeo da sua primeira monarquia ainda sob

a forma de queixas ao Rei Nesta eacutepoca as sopricaccedilotildees querimas ou

querimonias natildeo se caracterizavam exatamente como apelaccedilotildees mas

possuiacuteam a mesma finalidade destas

Nas ilustres palavras de Moacyr Amaral Santos nesta eacutepoca ()

sentenccedilas definitivas havia e natildeo poucas - quais as dos corregedores da

Corte dos juiacutezes das Iacutendias dos juiacutezes dos alematildees dos ingleses dos

franceses dos espanhoacuteis dos italianos dos conservadores da Universidade

de Coimbra bem como as do rei o qual atendendo agraves querimas ou

querimonias ainda em uso decidia em grau de recurso oposto contra as

sentenccedilas dos juiacutezes locais - que eram inapelaacuteveis Os inconformados com

decisotildees inapelaacuteveis se dirigiam agrave Corte implorando-lhe reparaccedilatildeo da injusticcedila

e isso tatildeo frequumlente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o

agravo ordinaacuterio com a finalidade da supplicatio romana e por meio da qual os

vencidos reclamavam agrave Casa da Suplicaccedilatildeo a reforma daquelas decisotildees

Desde entatildeo distinguiam-se os dois recursos apelaccedilatildeo interponiacutevel contra a

generalidade de sentenccedilas definitivas ou interlocutoacuterias agravo ordinaacuterio

admitido nos casos previstos em lei 2

2 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 15 ed Satildeo

Paulo Saraiva 1995 3 v

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 17: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

17

17

Em 1289 eacute criada a Universidade em Portugal sendo determinado

pelo rei Diniz que ali fosse ensinado o direito romano que passou a influenciar

as instituiccedilotildees Em 1446 foram promulgadas as Ordenaccedilotildees Afonsinas e estas

inseriram a mateacuteria das apelaccedilotildees Esta mesma mateacuteria foi estendida agraves

Ordenaccedilotildees Manoelinas em 1521 e posteriormente para as Ordenaccedilotildees

Filipinas em 1602

As Ordenaccedilotildees Filipinas vigoraram no Brasil ateacute a promulgaccedilatildeo da

Repuacuteblica quando foi editado o Regnordm737 de 1850 que em seus artigos 639-

664 efetivamente disciplinou o recurso de apelaccedilatildeo sendo o mesmo reeditado

nos Coacutedigos estaduais de processo

Em 1939 entrou em vigor o Coacutedigo de Processo Civil regulando a

mateacuteria nos artigos 820 usque 832 egrave interessante observar que o aludido

coacutedigo concedia ao recurso de apelaccedilatildeo tratamento diferenciado do que hoje

conhecemos restringindo sua aplicaccedilatildeo agraves sentenccedilas definitivas com valor

igual ou inferior a duas vezes o salaacuterio miacutenimo vigente nas capitais respectivas

dos Territoacuterios e Estados Noutro giro o Coacutedigo de ritos em vigor ampliou o

campo de atuaccedilatildeo do recurso de apelaccedilatildeo sendo este oponiacutevel contra

sentenccedilas definitivas ou terminativas qualquer que seja o valor atribuiacutedo agrave

causa

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 18: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

18

18

22 Conceito da Apelaccedilatildeo

A melhor forma de entender o conceito de um determinado instituto

processual eacute formaacute-lo logicamente utilizando-se das informaccedilotildees que temos

sobre o tema Pois bem sabemos que apelaccedilatildeo eacute um recurso mas que tipo de

recurso Como eacute cediccedilo os recursos satildeo classificados sob diversos aspectos

mas quanto agrave natureza ou quanto agrave ldquofonte legalrdquo podem ser ordinaacuterios ou

extraordinaacuterios Seraacute ldquoordinaacuteriordquo quando se originar em lei processual e

ldquoextraordinaacuteriordquo quando derivar da Constituiccedilatildeo Federal Assim conclui-se que

a Apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio

Prosseguindo na ldquomontagemrdquo do conceito mostra-se imperioso

questionar para que serve a apelaccedilatildeo A interposiccedilatildeo de apelaccedilatildeo demonstra

um inconformismo da parte em relaccedilatildeo a um ato do Juiz a sentenccedila Assim

pode-se dizer que a apelaccedilatildeo serve para impugnar a sentenccedila Mais ainda ao

impugnar a sentenccedila a parte inconformada submete toda a mateacuteria tratada no

processo agrave reexame por um segundo oacutergatildeo julgador Assim podemos concluir

ainda que a presenccedila da apelaccedilatildeo como um dos recursos possiacuteveis no

processo civil brasileiro evidencia a adoccedilatildeo pelo nosso coacutedigo de ritos do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Desta forma somando-se as conclusotildees alcanccediladas anteriormente

podemos dizer que a apelaccedilatildeo eacute um recurso ordinaacuterio utilizado para impugnar

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 19: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

19

19

especificamente um ato do juiz a sentenccedila e que demonstra a adoccedilatildeo pelo

Brasil do duplo grau de jurisdiccedilatildeo

Apesar de real e coerente o conceito alcanccedilado por loacutegica natildeo eacute

capaz de traduzir com o mesmo brilhantismo a definiccedilatildeo de apelaccedilatildeo ofertada

por nossos doutrinadores Assim trazemos agrave baila o conceito de apelaccedilatildeo nas

palavras de grandes estudiosos do processo civil

Nos ensinamentos de Moacyr Amaral Santos ldquoApelaccedilatildeo eacute o recurso

que se interpotildee da sentenccedila de juiz de primeiro grau (Coacuted Proc Civil art513)

Por meio da apelaccedilatildeo impugna-se a sentenccedila provocando-se o reexame da

causa pelo oacutergatildeo judiciaacuterio de segundo grau para o fim de se obter deste a

reforma total ou parcial da sentenccedila impugnada Diga-se pois que a apelaccedilatildeo

eacute o recurso interposto para o juiacutezo superior da sentenccedila do juiz de primeiro

grau a fim de ser obtida a sua reforma total ou parcialrdquo 3

Nas palavras de Fredie Didier e Leonardo Joseacute Carneiro da Cunha

ldquoA apelaccedilatildeo eacute o recurso por excelecircncia porquanto eacute por meio dela que se

insurge contra a sentenccedila que eacute ato judicial que aprecia ou rejeita o pedido e

que concede ou nega a tutela jurisdicional postulada A apelaccedilatildeo a teor do

que estabelece o art 513 do CPC pode ser interposta contra toda e qualquer

sentenccedila tenha ou natildeo apreciado o meacuteritordquo 4

3SANTOS Moacyr AmaralPrimeiras Linhas de Direito Processual Civil 19 edSatildeo PauloSaraiva19972 v

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 20: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

20

20

Discorrendo sobre a Apelaccedilatildeo podemos afirmar que este recurso eacute

cabiacutevel quando se pretende investir contra o ato do juiacutezo monocraacutetico que

traduz eficaacutecia extintiva do processo ou seja quando o ato do juiacutezo de origem

encerra a relaccedilatildeo juriacutedica processual Desta forma eacute possiacutevel interpor recurso

de apelaccedilatildeo em processo de conhecimento cautelar ou executoacuterio eacute possiacutevel

ainda interpocirc-la independentemente do rito eleito podendo ser este comum

ordinaacuterio comum sumaacuterio ou especial sendo no uacuteltimo caso excepcionada

em caso de procedimento diverso previsto em lei especiacutefica como por exemplo

a Justiccedila do Trabalho e os Juizados Especiais

Quando mencionamos que a apelaccedilatildeo eacute oponiacutevel a ato de juiz

monocraacutetico pretendemos deixar claro a vinculaccedilatildeo deste recurso contra ato

praticado em primeira instacircncia Isto porque se o ato for proferido pelo tribunal

em sede de accedilatildeo de competecircncia originaacuteria como por exemplo a accedilatildeo

rescisoacuteria ou o mandado de seguranccedila natildeo eacute cabiacutevel a interposiccedilatildeo do recurso

de apelaccedilatildeo e sim conforme preceito contido em nossa Carta Magna o

recurso especial ou o recurso extraordinaacuterio

Assim sendo toda vez que nos deparamos com um ato proferido

por juiz de primeira instacircncia (federal ou estadual) dotado de potencialidade de

extinguir o feito seja este uma sentenccedila que entenda pela inadmissibilidade

da accedilatildeo em consequumlecircncia da falta de determinado pressuposto processual ou

de uma das condiccedilotildees da accedilatildeo ou que indefira a peccedila vestibular ou decida

4DIDIER JR Fredie CUNHA Leonardo Joseacute Carneiro da Curso de Direito Processual Civil 5 ed SalvadorJusPodivm20083 v

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 21: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

21

21

pelo arquivamento do feito face a ineacutercia do autor ou mesmo uma sentenccedila

definitiva desde aquela que reconhece a decadecircncia ou a prescriccedilatildeo ou

aquela que julga e extingue o processo por reconhecimento do pedido pelo

reacuteu ou mesmo a sentenccedila em que o juiz aceita ou recusa a suacuteplica apoacutes

sopesar o embasamento da accedilatildeo em todas essas hipoacuteteses caberaacute apelaccedilatildeo

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 22: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

22

22

33 Reexame obrigatoacuterio 331 Conceito de Reexame obrigatoacuterio

Antes de adentrarmos ao estudo aprofundado da mateacuteria proposta

faz-se necessaacuterio um breve esboccedilo histoacuterico e conceitual sobre o instituto do

reexame obrigatoacuterio

O ldquoreexame obrigatoacuteriordquo ou ldquoremessa necessaacuteriardquo nasceu em

Portugal sob o tiacutetulo de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Na eacutepoca vigorava o processo

inquisitoacuterio e a ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo traduzia-se numa forma de frear os

poderes conferidos aos magistrados

No Brasil o instituto foi introduzido pelo artigo 822 do Coacutedigo de

Processo Civil de 1939 Neste Coacutedigo instituto da remessa obrigatoacuteria

encontrava-se no capiacutetulo relativo aos recursos e recebia a denominaccedilatildeo de

ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo Vale consignar que por natildeo apropriada esta

denominaccedilatildeo foi amplamente atacada pelos doutrinadores agrave eacutepoca pois

gerava incerteza quanto agrave sua natureza juriacutedica sendo certo que alguns

entendiam tratar-se de recurso e outros natildeo tratando como instituto processual

de caracteriacutesticas distintas

Tal celeuma foi pacificada pelo Coacutedigo de Processo Civil atual que

alterou o nome iuris do instituto de ldquoapelaccedilatildeo ex officiordquo para ldquoremessa

necessaacuteriardquo ou ldquoreexame obrigatoacuteriordquo e modificou sua localizaccedilatildeo topograacutefica

dentro do Coacutedigo removendo tal instituto do capiacutetulo dos recursos

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 23: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

23

23

Atraveacutes do estudo do instituto conclui-se com total certeza que o

mesmo natildeo pode ser considerado como um recurso como eacute cediccedilo satildeo

caracteriacutesticas e pressupostos de admissibilidade de qualquer recurso

voluntariedade tipicidade dialeticidade interesse em recorrer legitimidade

tempestividade e preparo

Comparando as caracteriacutesticas antes arroladas e agravequelas relativas

ao reexame obrigatoacuterio temos que enquanto o recurso eacute voluntaacuterio ou seja eacute

preciso que o interessado demonstre vontade de recorrer a remessa

necessaacuteria eacute uma imposiccedilatildeo legal ou seja o juiz tem o dever de remeter os

autos agrave instacircncia superior Os recursos satildeo taxativamnte expressos no Coacutedigo

de Processo Civil sendo portanto numerus clausus Jaacute o reexame obrigatoacuterio

natildeo estaacute previsto no mesmo Diploma Legal como recurso carecendo desta

forma de tipicidade Os recursos satildeo dialeacuteticos deve ser observado o

princiacutepio do contraditoacuterio O reexame obrigatoacuterio por sua vez natildeo deduz

argumentaccedilatildeo alguma ateacute porque natildeo seria loacutegico o juiz que proferiu a decisatildeo

rebelar-se contra ela Eacute necessaacuterio que o interessado tenha sucumbido para

que este possa interpor recurso O juiz no caso da remessa obrigatoacuteria natildeo

sucumbe uma vez que natildeo se relaciona com a lide Satildeo partes legiacutetimas para

recorrer aquelas previstas no artigo 499 O juiz natildeo faz parte do rol elencado

em referido dispositivo legal O recurso deve ser tempestivo Jaacute na hipoacutetese de

remessa obrigatoacuteria natildeo haacute prazoo recurso depende do preparo sendo que o

reexame obrigatoacuterio eacute isento

Desta forma resta claro que o reexame obrigatoacuterio natildeo eacute um

recurso na realidade tem natureza juriacutedica de ldquocondiccedilatildeo de eficaacutecia da

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 24: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

24

24

sentenccedilardquo uma vez que somente apoacutes o exame da mateacuteria pelo Tribunal eacute que

a decisatildeo eacute dotada de eficaacutecia e passaraacute a produzir efeitos ou seja somente

apoacutes o exame pelo Tribunal ocorreraacute a coisa julgada

A remessa necessaacuteria visa resguardar o interesse de ordem puacuteblica

e surge exclusivamente na hipoacutetese de sentenccedila de meacuterito Apoacutes a remessa

necessaacuterias no Tribunal o procedimento dado eacute idecircntico ao do recurso de

apelaccedilatildeo

Assim podemos dizer que a remessa necessaacuteria traduz-se no dever

do juiz de nas hipoacutetese estabelecidas em lei ordenar a remessa dos autos ao

Tribunal independentemente da vontade ou da interposiccedilatildeo de recurso pela

partes envolvidas para reexame da mateacuteria A coisa julgada somente iraacute

ocorrer a partir da confirmaccedilatildeo da sentenccedila pelo Tribunal

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

Jaacute estudarmos o princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave reformatio in pejus

contudo antes de adentrarmos ao cerne do presente trabalho e enfrentarmos

as hipoacuteteses inerentes agrave relativizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo deste princiacutepio se faz

necessaacuterio o estudo e conceituaccedilatildeo de outro instituto juriacutedico a ordem puacuteblica

Somente ao dominarmos a amplitude e a definiccedilatildeo das questotildees de ordem

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 25: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

25

25

puacuteblica eacute que poderemos confrontar-nos com a analise das exceccedilotildees posto

que intimamente ligadas

31 O conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

O conceito de ordem puacuteblica eacute obscuro impreciso indeterminado E

justamente esta indeterminaccedilatildeo do conteuacutedo da expressatildeo eacute que faz com que

o inteacuterprete assuma funccedilatildeo fundamental no ajuste e amplitude do significado

Como eacute cediccedilo o ordenamento paacutetrio adotou o chamado ldquosistema aberto de

normasrdquo o qual se constroacutei fundamentalmente sobre conceitos

indeterminados

Diante deste quadro se por um lado observamos a necessidade de

maior esforccedilo interpretativo por outro este processo de interpretaccedilatildeo ocasiona

um resultado social mais oportuno e contiacuteguo da realidade contextualizada

Esta indeterminaccedilatildeo do conceito pode levar inicialmente agrave uma ilusoacuteria

inseguranccedila juriacutedica dada a maior liberdade de argumentaccedilatildeo deferida ao

inteacuterprete mas melhor analisando observamos que a benesse obtida por esta

liberdade eacute maior que eventual inseguranccedila pois de forma cristalina

colhemos a eficiecircncia e o perfeito ajuste agrave historicidade dos fatos considerada

Nas saacutebias palavras de Fabio Ramazzini Bechara

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 26: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

26

26

ldquo Prosseguindo na definiccedilatildeo de ordem puacuteblica tem-se que ora ela eacute tratada

como sinocircnimo de convivecircncia ordenada segura paciacutefica e equilibrada a

dizer normal e proacutepria dos princiacutepios gerais de ordem expressados pelas

eleiccedilotildees de base que disciplinam a dinacircmica de um objeto de regulamentaccedilatildeo

puacuteblica e sobretudo de tutela preventiva contextual e sucessiva ou

repressiva

A ordem puacuteblica representa um anseio social de justiccedila assim caracterizado

por conta da preservaccedilatildeo de valores fundamentais proporcionando a

construccedilatildeo de um ambiente e contexto absolutamente favoraacuteveis ao pleno

desenvolvimento humano

Trata-se de instituto que tutela toda a vida orgacircnica do Estado de tal forma

que se mostram igualmente variadas as possibilidades de ofendecirc-la As leis de

ordem puacuteblica satildeo aquelas que em um Estado estabelecem os princiacutepios cuja

manutenccedilatildeo se considera indispensaacutevel agrave organizaccedilatildeo da vida social segundo

os preceitos de direito

()

A ordem puacuteblica nada mais eacute que o estado social que resulta da relaccedilatildeo que

se estabelece entre os representantes dos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio como governantes e os particulares como governados no sentido

da realizaccedilatildeo dos interesses de ambos A ordem puacuteblica eacute uma consequumlecircncia

da accedilatildeo de autoridade sobre os particulares para lhes regular ou modificar a

accedilatildeo Essa intervenccedilatildeo formando uma relaccedilatildeo origina um estado social que

eacute a ordem puacuteblica

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 27: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

27

27

()

A relaccedilatildeo de ordem puacuteblica constitui o paracircmetro para a interpretaccedilatildeo das leis

adaptando-as aos fatos sociais ou lhes modificando para esse mesmo fim a

respectiva inteligecircncia A ordem puacuteblica associa-se agrave ideacuteia de bem social jaacute

que este representa o desejo da autoridade que resulta da accedilatildeo sobre os

governados e cuja limitaccedilatildeo pode significar muitas das vezes ao indiviacuteduo

como um mal social

Eacute ainda a ordem puacuteblica expressatildeo da situaccedilatildeo de tranquumlilidade e

normalidade que o Estado assegura ndash ou deve assegurar ndash agraves instituiccedilotildees e a

todos os membros da sociedade consoante as normas juriacutedicas legalmente

estabelecidasrdquo 5

No dizer de Plaacutecido e Silva extraiacutemos

ldquoORDEM PUacuteBLICA Entende-se a situaccedilatildeo e o estado de legalidade normal

em que as autoridades exercem suas preciacutepuas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos as

respeitam e acatam sem constrangimento ou protesto Natildeo se confunde com a

ordem juriacutedica embora seja uma consequumlecircncia desta e tenha sua existecircncia

formal justamente dela derivadardquo 6

5 Faacutebio Ramazzini Bechara Prisatildeo Cautelar Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 97 a 100 6 SILVA de Plaacutecido eVocabulaacuterio juriacutedico III e IV v 2ordf edRio de JaneiroForense1990 p291

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 28: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

28

28

Mostra-se relevante trazer a baila os ensinamentos de Andreacuteia

Lopes de Oliveira Ferreira que conceitua questotildees ordem publica como

ldquoaquelas em que o interesse protegido eacute do Estado e da sociedade e via de

regra referem-se agrave existecircncia e admissibilidade da accedilatildeo e do processo Trata-

se de conceito vago natildeo podendo ser preenchido com uma definiccedilatildeordquo e cita

Teacutercio Sampaio Ferraz para quem ldquoeacute como se o legislador convocasse o

aplicador para configuraccedilatildeo do sentido adequadordquo 7

Desta forma podemos concluir que a ordem puacuteblica relaciona-se agrave

condiccedilotildees adjuntas agrave mateacuteria ao espaccedilo e ao tempoou seja rationae

materiae dependendo da natureza das ocorrecircncia considerada (caraacuteter

funcional) ratione loci acoplado agrave referecircncias locais ou seja usos e

costumes o que lhe transmite diversidade ratione temporis sofrendo

intervenccedilatildeo da evoluccedilatildeo dos espiacuteritos e dos procedimentos (caraacuteter evolutivo)

Como por exemplo citamos a descriminalizaccedilatildeo do cheque sem fundo os

debates sobre a descriminalizaccedilatildeo do uso de droga o recuo da ordem puacuteblica

familiar Todas as hipoacuteteses traduzem a dialeacutetica entre o permitido e o proibido

A ordem puacuteblica eacute resguardada em pelo ordenamento paacutetrio no

artigo 17 da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil que preceitua as leis atos e

sentenccedilas de outro paiacutes bem como quaisquer declaraccedilotildees de vontade natildeo

7 Andreacuteia Lopes de Oliveira Ferreira Embargos infringentes e questotildees de ordem puacuteblica Disp

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841gt Acesso em 28 de fevereiro de 2006

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 29: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

29

29

teratildeo eficaacutecia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional a ordem

puacuteblica e os bons costumes (gn)

Dos ensinamentos do insigne mestre Joseacute Carlos Barbosa Moreira

no seu artigo Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo

65157 depreende-se que o dispositivo antes mencionado abarca o ldquosistema

de limites que abre ao STF em certa medida a possibilidade de examinar o

conteuacutedo da sentenccedila estrangeira embora para fim diverso daquele que se

tem em vista nos ordenamentos juriacutedicos em que se procede ao controle da

justiccedila ou injusticcedila do julgamento Aqui se visa tatildeo-somente a recusar a

colaboraccedilatildeo da Justiccedila nacional para o cumprimento de decisotildees

incompatiacuteveis com os princiacutepios poliacuteticos eacuteticos sociais que estatildeo na base

mesma da organizaccedilatildeo do Brasil como Estado 8

Portanto podemos delimitar a ordem publica como uma condiccedilatildeo

onde se observa um estado de legalidade normal onde as autoridades atuam

dentro de suas atribuiccedilotildees e os cidadatildeos reverenciam e consentem com esta

atuaccedilatildeo

8 Moreira Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais Revista de Processo 65157

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 30: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

30

30

Pode-se dizer desta forma que o conceito de ordem puacuteblica traduz-

se numa representaccedilatildeo dos valores de eacutepoca e cultura juriacutedica expeciacutefica ou

seja representa os valores considerados fundamentais pela moral em vigor em

nossa cultura juriacutedica Desta forma o que se mostrar oposto a essa

ldquoconformaccedilatildeo moral baacutesicardquo seraacute considerado contraacuterio agrave ordem puacuteblica e natildeo

deveraacute receber a chancela do Oacutergatildeo competente

Eacute de inteira sabenccedila que a concretizaccedilatildeo e a delimitaccedilatildeo do que

compotildee a ordem puacuteblica eacute tarefa a ser cumprida somente pelas Cortes

nacionais com rariacutessimas exceccedilotildees onde observamos que o proacuteprio legislador

se encarrega de conformaacute-la como por exemplo a hipoacutetese de prevista no

paraacutegrafo uacutenico do artigo 39 da Lei nordm 930796

Por tudo que foi exposto conclui-se que em sede de direito

processual a ordem puacuteblica objetiva tolher o anseio das partes para

salvaguardar e equilibrar o ordenamento juriacutedico conferindo seguranccedila aos

litigantes e o acesso agrave ordem juriacutedica justa Assim os considerados ldquoelementos

importantes do processordquo podem ser considerados como ldquoelementos de ordem

puacuteblicardquo Como exemplo as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a

coisa julgada e a legitimidade de partes

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 31: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

31

31

Vale ressaltar que as questotildees de ordem puacuteblica natildeo satildeo passiveis

de preclusatildeo Isto significa que podem ser revistas a qualquer momento ou

grau de jurisdiccedilatildeo nos exatos termos do que preceitua o sect 3ordm do art 267 do

CPC ldquoO juiz conheceraacute de ofiacutecio em qualquer tempo e grau de jurisdiccedilatildeo

enquanto natildeo proferida a sentenccedila de meacuterito da mateacuteria constante dos ns IV

V e VI todavia o reacuteu que natildeo alegar na primeira oportunidade em que lhe

caiba falar nos autos responderaacute pelas custas de retardamentordquo

Vecirc-se portanto que as mateacuterias de ordem puacuteblica dizem respeito agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo e aos pressupostos de constituiccedilatildeo e de desenvolvimento

vaacutelido do processo E estes estatildeo umbilicalmente ligados aos requisitos de

admissibilidade da tutela jurisdicional Consigne-se ainda a possibilidade de

serem conhecidas ex officio pelo oacutergatildeo jurisdicional as mateacuterias de ordem

puacuteblica

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 32: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

32

32

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

Conforme mencionado no item anterior satildeo exemplos de mateacuterias

de ordem puacuteblica as nulidades absolutas a incompetecircncia absoluta a coisa

julgada e a legitimidade de partes

Nulidade absoluta

Como todo ato juriacutedico o ato processual deve apresentar sujeito

capaz objeto liacutecito e forma prescrita ou natildeo defesa em lei

Relativamente aos sujeitos ou partes processuais observamos a

necessidade de atender os seguintes requisitos materiais capacidade juriacutedica

atestada atraveacutes da maioridade assistecircncia ou representaccedilatildeo e a capacidade

postulatoacuteria com exceccedilatildeo da hipoacutetese prevista no art 36 do Coacutedigo de

Processo Civil

Com relaccedilatildeo ao objeto liacutecito temos inuacutemeros dispositivos legais a

determinar que o juiz sobrepuje qualquer ato que se oponha agrave dignidade da

justiccedila como eacute o caso do artigo 125 III do Coacutedigo de Processo Civil

No que tange agrave forma abre-se o campo onde mais se observa a

incidecircncia de nulidades Satildeo considerados absolutamente nulos os atos

processuais que apresentam sua condiccedilatildeo juriacutedica seriamente comprometida

por imperfeiccedilatildeo em seus requisitos essenciais A nulidade absoluta eacute

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 33: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

33

33

considerada viacutecio insanaacutevel e um ato maculado pela nulidade absoluta pode

ser invalidado ldquoex officiordquo ou seja por iniciativa do juiz independentemente de

provocaccedilatildeo da parte interessada

A nulidade absoluta pode ser arguumlida a qualquer tempo pois os atos

contaminados por este viacutecio satildeo insuscetiacuteveis de preclusatildeo Serve como

exemplo de ato eivado de nulidade absoluta a citaccedilatildeo com inobservacircncia das

prescriccedilotildees legais (CPC art 247) Neste caso a nulidade da citaccedilatildeo

acarretaraacute a nulidade da sentenccedila que vier a ser proferida no processo O ato

nulo natildeo eacute passiacutevel de ser sanado mas pode ser substituiacutedo por um ato vaacutelido

No exemplo anteriormente mencionado a citaccedilatildeo nula pode ser suprida pelo

ato vaacutelido de comparecimento espontacircneo do reacuteu

Vale ressaltar que toda nulidade depende de decretaccedilatildeo judicial

conforme preceitua o art 249 do Coacutedigo de Processo Civil A decretaccedilatildeo da

nulidade do ato processual traz como consequumlecircncia reputar-se sem efeito

todos os atos subsequumlentes que dele dependam nos termos do art248 do

Coacutedigo de Processo Civil

Conclui-se que a nulidade absoluta origina-se da violaccedilatildeo a

exigecircncias legais estabelecidas no interesse da ordem puacuteblica Eacute dever do juiz

distinguir ldquoex officiordquo a nulidade absoluta em qualquer fase do processo

Resumidamente pode-se dizer que a nulidade seraacute absoluta sempre que

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 34: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

34

34

houver violaccedilatildeo direta a princiacutepio constitucional como o da ampla defesa o do

contraditoacuterio e o do juiz natural

Incompetecircncia absoluta

Para que se possa entender o conceito de competecircncia absoluta se

faz necessaacuterio inicialmente relembrar o conceito de Competecircncia Segundo

Moacyr Amaral Santos competecircncia seria a medida da jurisdiccedilatildeo ou o limite

da jurisdiccedilatildeo ou o acircmbito dentro do qual pode o juiz exercer a jurisdiccedilatildeo

Como sabemos o juiz tem o dever de exercer a jurisdiccedilatildeo nos

limites de sua competecircncia Se o fizer aleacutem destes limites seraacute considerado

como juiz incompetente para o trato da mateacuteria Assim eacute o proacuteprio juiz ao

conhecer da causa que procede a primeira anaacutelise de competecircncia sendo seu

dever se verificada sua incompetecircncia para a causa declarar-se

incompetente

A incompetecircncia pode ser absoluta ou relativa Diz-se da

incompetecircncia relativa aquela passiacutevel de ser prorrogada Assim um juiz

relativamente competente poderaacute proferir sentenccedila vaacutelida no processo se as

partes interessadas natildeo suscitarem sua incompetecircncia oportunamente Jaacute a

incompetecircncia absoluta traduz-se em viacutecio insanaacutevel impossiacutevel de ser

corrigido que acarreta a nulidade agrave sentenccedila de meacuterito

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 35: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

35

35

Coisa julgada

Apoacutes proferida sentenccedila eacute cabiacutevel interpor recurso objetivando a

reforma do julgado atraveacutes do reexame da mateacuteria por outro oacutergatildeo

jurisdicional Embora nosso ordenamento juriacutedico possua volumosa gama de

recursos a parte pode optar por natildeo recorrer ou recorrendo num dado

momento processual esgotam-se as possibilidades recursais Existe ainda a

hipoacutetese da cessaccedilatildeo da possibilidade recursal pela inobservacircncia do prazo

asseverado em lei para interposiccedilatildeo do recurso pretendido ou seja pela

intempestividade Em todas as hipoacuteteses observamos a ocorrecircncia da coisa

julgada

Segundo o Vocabulaacuterio Enciclopeacutedico de Tecnologia Juriacutedica e

Brocardos Latinos Folio Bound VIEWS Rio de Janeiro 1996 CD-ROM a

expressatildeo coisa julgada significa Diz-se da sentenccedila que se tendo tornado

irretrataacutevel por natildeo haver contra ela mais qualquer recurso firmou o direito de

um dos litigantes para natildeo admitir sobre a dissidecircncia anterior qualquer outra

oposiccedilatildeo por parte do vencido ou de outrem que se sub-rogue em suas

pretensotildees

A coisa julgada eacute um instituto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em

seu artigo 5ordm inciso XXXVI a seguir transcrito a lei natildeo prejudicaraacute o direito

adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada Tambeacutem encontramos

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 36: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

36

36

previsatildeo quanto agrave coisa julgada no art 6ordm sect 3ordm da Lei de Introduccedilatildeo ao Coacutedigo

Civil que assim a define Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisatildeo

judicial de que jaacute natildeo caiba recurso

Valemo-nos dos ensinamentos de ilustres doutrinadores para

esclarecer ainda mais o conceito de coisa julgada Segundo Alexandre Freitas

Cacircmara a coisa julgada ldquo tornaria imutaacutevel a sentenccedila fazendo com que

aquele ato processual se tornasse insuscetiacutevel de alteraccedilatildeo em sua forma e

faria ainda imutaacutevel os seus efeitos (todos eles declaratoacuterios constitutivos e

condenatoacuterios)9

Para Nelson Nery Junior a formaccedilatildeo da coisa julgada ocorre da

seguinte forma Depois de ultrapassada a fase recursal quer porque natildeo se

recorreu quer porque o recurso natildeo foi conhecido por intempestividade quer

porque foram esgotados todos os meios recursais a sentenccedila transita em

julgado Isto se daacute a partir do momento em que a sentenccedila natildeo eacute mais

impugnaacutevel 10

Seguindo os ensinamentos de Celso Bastos temos que Coisa

julgada eacute a decisatildeo do juiz de recebimento ou de rejeiccedilatildeo da demanda da qual

9 10 NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribunais 1997

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 37: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

37

37

natildeo caiba mais recurso Jaacute segundo Vicente Greco Filho a coisa julgada

poderia ser definida da seguinte forma A coisa julgada portanto eacute a

imutabilidade dos efeitos da sentenccedila ou da proacutepria sentenccedila que decorre de

estarem esgotados os recursos eventualmente cabiacuteveis11

Desta forma podemos dizer que a coisa julgada mostra-se como a

outorga pelo Judiciaacuterio da tutela jurisdicional ao litigante eacute a derradeira

declaraccedilatildeo do oacutergatildeo julgador ao caso em exame finalizando a demanda e

solucionando as questotildees trazidas agrave contenda sendo esta decisatildeo irrecorriacutevel

e trazendo como consequumlecircncia a imutabilidade da decisatildeo judicialmente

expedida

Legitimidade das Partes

A legitimidade da parte ou legitimidade para a causa (ad causam)

pode ser definida nas palavras de Alfredo Buzaid em seu livro Do Agravo de

Peticcedilatildeo no Sistema do Coacutedigo de Processo Civil Satildeo Paulo Saraiva 1956

p89 como sendo a pertinecircncia subjetiva da accedilatildeo ou seja a legitimidade das

partes se refere ao aspecto subjetivo da relaccedilatildeo juriacutedica processual

Segundo Moacyr Amaral Santosrdquo o autor deveraacute ser titular do

interesse que se conteacutem na sua pretensatildeo com relaccedilatildeo ao reacuteu Assim agrave

legitimaccedilatildeo para agir em relaccedilatildeo ao reacuteu deveraacute corresponder a legitimaccedilatildeo

11 BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 38: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

38

38

para contradizer deste em relaccedilatildeo agravequele Ali legitimaccedilatildeo ativa aqui

legitimaccedilatildeo passiva12

Com a propositura da accedilatildeo temos a formaccedilatildeo da triacuteade processual

autor reacuteu e Juiz Deve integrar esta relaccedilatildeo juriacutedica as mesmas partes que

formam a relaccedilatildeo juriacutedica de direito material da qual originou-se a lide Eacute esta a

regra geral prevista em nosso ordenamento juriacutedico Ou seja soacute seraacute

legitimado para ajuizar a demanda o titular do interesse levado a juiacutezo e soacute

seraacute legitimado agrave respondecirc-la aquele com que o titular do direito possui uma

relaccedilatildeo juriacutedica

Mostra-se cristalino que autor e reacuteu devem possuir uma relaccedilatildeo

juriacutedica de direito material unindo-os para que possam ser partes legiacutetimas na

relaccedilatildeo juriacutedica processual Noutro giro observamos que como exceccedilatildeo a

esta regra temos as hipoacuteteses de legitimaccedilatildeo extraordinaacuteria e de substituiccedilatildeo

processual Estas hipoacuteteses satildeo restritas e expressamente previstas em lei e

nestes casos uma parte pleiteia em nome proacuteprio pleiteia direito alheio

Como exemplo de legitimidade extraordinaacuteria podemos citar a legitimidade

extraordinaacuteria dos sindicatos para atuar em juiacutezo defendendo os interesses de

seus associados e como exemplo de substituiccedilatildeo processual a legitimidade

do Ministeacuterio Puacuteblico de propor accedilatildeo de investigaccedilatildeo de paternidade em

defesa de interesse de menor

12 SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil p167

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 39: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

39

39

32) Teoria da Causa Madura

321) Teoria da Causa Madura ndash conceito e aplicabilidade

Inicialmente apresentaremos o conceito e aplicabilidade da Teoria

da Causa Madura Explicitando sua definiccedilatildeo e discorrendo sobre a

controveacutersia sobre sua aplicabilidade em especial quanto a sentenccedilas

terminativas de demandas com discussatildeo faacutetica elucidada pelos documentos

juntados aos autos

Quando o Juiacutezo monocraacutetico extingue o processo sem julgamento

do meacuterito o faz por meio de sentenccedila com fulcro no art267 do Coacutedigo de

Processo Civil nos termos do artigo 162paraacutegrafo 1ordm tambeacutem do Coacutedigo de

Ritos

Neste tema vale ressaltar a distinccedilatildeo de tratamento dada agrave hipoacutetese

de extinccedilatildeo do feito por reconhecimento de prescriccedilatildeo ou decadecircncia Neste

caso a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico adentra ao meacuterito da

questatildeo embora o pedido formulado na peccedila vestibular natildeo tenha sido

formalmente atendido ou negado

Pressupondo uma extinccedilatildeo do processo por reconhecimento de

prescriccedilatildeo ou decadecircncia ou seja com julgamento do meacuterito antes mesmo da

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 40: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

40

40

alteraccedilatildeo trazida com a Lei n103522001 a doutrina e a jurisprudecircncia jaacute

admitiam que o Tribunal ao desconsiderar no exame do recurso a prescriccedilatildeo

ou a decadecircncia poderia prosseguir o julgamento do recurso adentrando agrave

anaacutelise do meacuterito da questatildeo

Pois bem com o advento da Lei n103522001 o tribunal passou

em sede recursal a poder adentrar no meacuterito da questatildeo e julgar o feito

tambeacutem nas hipoacuteteses de extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito desde

que se observe nos autos todos os elementos comprobatoacuterios suficientes ao

exame da questatildeo trazida pelo autor em sua peccedila vestibular ou ainda se a

causa versar sobre mateacuteria exclusivamente de direito

A terminologia mateacuteria exclusivamente de direito necessita ser

esclarecida A sua melhor definiccedilatildeo eacute aquela que natildeo a restringe agraves hipoacuteteses

em que o contexto seja meramente juriacutedico ateacute porque inexiste lide

exclusivamente juriacutedica

Na designada causa exclusivamente de direito natildeo observamos

polecircmica faacutetica Assim eacute possiacutevel incluir neste vocaacutebulo as hipoacuteteses nas

quais mesmo havendo controveacutersia sobre fatos todos os eventos estatildeo

devidamente comprovados por documentos A seguir elencamos algumas

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 41: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

41

41

situaccedilotildees de ldquocausa exclusivamente de direitordquo indicadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil

a) Art 330 I Diz ele O juiz conheceraacute diretamente do pedido proferindo

sentenccedila quando a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito ou sendo de

direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir prova em audiecircncia

Analisando o teor do dispositivo legal observamos que a norma eacute aplicaacutevel agraves

causas onde a questatildeo de meacuterito for unicamente de direito (primeira

hipoacutetese) ou sendo de direito e de fato natildeo houver necessidade de produzir

prova em audiecircncia (segunda hipoacutetese)

Resta demonstrado portanto que a terminologia causa

exclusivamente de direito natildeo delimita de forma eficaz a mateacuteria passiacutevel de

apreciaccedilatildeo pelo oacutergatildeo a quo para julgamento do feito tendo em vista que natildeo

abrange as hipoacuteteses em que apesar de existir questionamento faacutetico inexiste

a necessidade de instruccedilatildeo probatoacuteria Conclui-se que eacute mais adequado adotar

o entendimento que permite ao magistrado o julgamento da lide

antecipadamente bastando para tanto que a causa esteja madura para

julgamento quer seja porque inexiste polecircmica faacutetica a ser debatida quer seja

porque] havendo a mateacuteria faacutetica encontra-se inegavelmente comprovada nos

autos (Nesse sentido STJ ndash 1ordf Turma ndash REsp nordm 403153SP ndash Rel Min Joseacute

Delgado ndash j 090903)

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 42: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

42

42

b) Art 515 sect 3ordm No que concerne ao direito recursal o sect 3ordm do art 515

determina a possibilidade de julgamento imediato do meacuterito pelo tribunal

quando a causa tiver sido julgada em primeira instancia por decisatildeo

terminativa Entretanto observamos que este dispositivo traduz uma restriccedilatildeo

indevida Vejamos sua escrita

Nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito (art 267) o

tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa versar questatildeo

exclusivamente de direito e estiver em condiccedilotildees de imediato julgamento

Mesmo considerando a previsatildeo normativa que versa sobre

questatildeo unicamente de direito mostrar-se-ia insensato cometer tal restriccedilatildeo

Isto porque mesmo natildeo havendo controveacutersia sobre fatos se estes restarem

bem demonstrados ao tribunal seraacute permitida a aplicaccedilatildeo do artigo A respeito

cf Theotocircnio Negratildeo e Joseacute Roberto F Gouvecirca amparados em aresto do

STJ

Tendo em vista os escopos que nortearam a inserccedilatildeo do sect 3ordm no art 515

(celeridade economia processual e efetividade do processo) sua aplicaccedilatildeo

praacutetica natildeo fica restrita agraves hipoacuteteses de causas envolvendo unicamente

questotildees de direito Desde que tenha havido o exaurimento da fase instrutoacuteria

na instacircncia inferior o julgamento do meacuterito diretamente pelo tribunal fica

autorizado mesmo que existam questotildees de fato Assim lsquoestando a mateacuteria

faacutetica jaacute esclarecida pela prova coletada pode o Tribunal julgar o meacuterito da

apelaccedilatildeo mesmo que o processo tenha sido extinto sem julgamento do meacuterito

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 43: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

43

43

por ilegitimidade passiva do apeladorsquo (STJ - 4ordf T REsp 533980-MG rel Min

Ceacutesar Rocha j 21803 p 374) Nestes termos o pressuposto para a

incidecircncia do art 515 sect 3ordm eacute o de que a causa esteja madura para o

julgamento No mesmo sentido RT 829210 (Coacutedigo de Processo Civil e

legislaccedilatildeo processual em vigor p 628 nota 11d do art 515)

No mesmo sentido

O art 515 sect 3ordm do CPC incluiacutedo pela Lei nordm 103522001 veio para permitir

que o Tribunal nos casos de extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito

pudesse julgar desde logo a lide em se tratando de questatildeo exclusivamente

de direito ou quando devidamente instruiacutedo o feito (lsquocausa madurarsquo) (STJ ndash 2ordf

Turma ndash REsp nordm 722410SP ndash Rel Min Eliana Calmon ndash j 150805)

c) Art 740 paraacutegrafo uacutenico Relativamente ao processo executivo prevecirc o

Coacutedigo no paraacutegrafo uacutenico do art 740 Natildeo se realizaraacute a audiecircncia se os

embargos versarem sobre mateacuteria de direito ou sendo de direito e de fato a

prova for exclusivamente documental caso em que o juiz proferiraacute sentenccedila no

prazo de 10 (dez) dias

Depreendemos aqui a aplicaccedilatildeo de melhor teacutecnica que aquela

prevista no art 515 sect 3ordm pois nesta hipoacutetese natildeo se faz a anteriormente

criticada restriccedilatildeo abordando a teoria da causa madura Este preceito

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 44: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

44

44

normativo permite o julgamento antecipado mesmo quando haja controveacutersia

faacutetica Bastando para tanto a demonstraccedilatildeo cabal sobre os fatos narrados

d) Art 832 III Jaacute no processo cautelar preceitua o Coacutedigo em seu art 832

III O juiz proferiraacute imediatamente a sentenccedila () se a mateacuteria for somente de

direito ou sendo de direito e de fato jaacute natildeo houver necessidade de outra

prova

No mesmo sentido do artigo estudado no item anterior tambeacutem

nesta hipoacutetese visualizamos a ausecircncia de restriccedilatildeo do julgamento antecipado

agraves situaccedilotildees em que haja somente a controveacutersia juriacutedica Sabiamente este

artigo permite o imediato julgamento na hipoacutetese de existecircncia de controveacutersia

de fato sendo cabiacutevel somente a prova documental Assim sendo traz em si

tal como o art 330 I e o art 740 paraacutegrafo uacutenico a aplicaccedilatildeo da teoria da

causa madura

322) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo agrave

teoria da causa madura quando da apreciaccedilatildeo de mateacuteria de ordem

puacuteblica

Conforme jaacute esclarecemos com a aplicaccedilatildeo da teoria da causa

madura ocorre o ldquotransporterdquo ou seja a devoluccedilatildeo de toda a mateacuteria do

primeiro para o segundo grau inclusive as chamadas mateacuterias de ordem

puacuteblica

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 45: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

45

45

Pois bem passemos a analise da seguinte hipoacutetese O autor ldquoArdquo

distribui uma demanda em face do reacuteu ldquoBrdquo O juiacutezo monocraacutetico profere

sentenccedila e o processo eacute extinto sem julgamento do meacuterito por ilegitimidade da

parte autora Inconformado ldquoArdquo interpotildee recurso de apelaccedilatildeo e o processo eacute

encaminhado ao Tribunal Ao receber o recurso o tribunal reconhece a

legitimidade das partes e adentra no meacuterito da questatildeo procedendo o

julgamento pois consta nos autos todos os elementos comprobatoacuterios

suficientes ao exame da questatildeo trazida por ldquoArdquo Contudo ao proferir sua

decisatildeo o Tribunal julga improcedente o pedido de ldquoArdquo

O que se observa no exemplo eacute que devido agrave interposiccedilatildeo de seu

recurso a situaccedilatildeo de ldquoArdquo foi agravada Isto porque como eacute cediccedilo quando da

extinccedilatildeo do feito sem julgamento do meacuterito o autor pode intentar nova accedilatildeo

corrigindo o viacutecio que gerou a extinccedilatildeo e pleiteando o julgamento do meacuterito

pois natildeo haacute definiccedilatildeo quanto ao mesmo Jaacute na hipoacutetese ao recorrer ldquoArdquo que

ateacute entatildeo possuiacutea somente um processo extinto passou a ter uma sentenccedila

de improcedecircncia

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 46: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

46

46

332 Da abrangecircncia da aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio in

pejus em sede de reexame obrigatoacuterio

A abrangecircncia do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de

ldquoreexame obrigatoacuteriordquo natildeo eacute consenso em se tratando de error in judicando

hipoacutetese onde se observa equiacutevoco na decisatildeo ou erro no julgamento na

analise do direito material controvertido Trata-se na verdade de acerto ou

desacerto na analise da causa e natildeo de invalidade da decisatildeo Noutro giro

natildeo mais se discute a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor nas chamadas

questotildees de ordem puacuteblica na ocorrecircncia de erro in procedendo mesmo que

natildeo arguumlidas pelos interessados Isto eacute possiacutevel porque nesta hipoacutetese se

cogita a nulidade processual e natildeo de acerto ou desacerto na avaliaccedilatildeo da

causa

Analisaremos desta forma a alteraccedilatildeo da sentenccedila somente sob a

oacutetica do error in judicando Conforme entendimento firmado pelo Superior

Tribunal de Justiccedila (Suacutemula 45) e pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

114913 e 1081266 RT 598260 584272 e 478229) o ldquoreexame obrigatoacuteriordquo

eacute estabelecido em favor do ente puacuteblico assim sendo natildeo poderia o Tribunal

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 47: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

47

47

agravar a situaccedilatildeo daquele como resultado da remessa oficial em face do

princiacutepio da proibiccedilatildeo da reformatio in pejus

Todavia doutrinariamente existe acalorada discussatildeo acerca do

tema Segundo Nelson Nery Juacutenior eacute possiacutevel o agravamento da situaccedilatildeo da

Fazenda Puacuteblica pelo Tribunal em sede de remessa necessaacuteria Pelos

]ensinamentos do insigne mestre tal agravamento natildeo poderia ser entendido

como reformatio in pejus pois tratar-se-ia tatildeo somente da ldquoincidecircncia do

interesse puacuteblico do reexame integral da sentenccedilardquo pela aplicaccedilatildeo do efeito

translativo ao qual se submetem as questotildees de ordem puacuteblica

Adotando tal entendimento eacute possiacutevel encontrar julgamentos

isolados que adotam a possibilidade de ser piorada a situaccedilatildeo da Fazenda

Puacuteblica em sede de remessa necessaacuteria Estes julgamentos trazem como

fundamentaccedilatildeo do julgado a orientaccedilatildeo de que tal agravamento natildeo

caracterizaria reformatio in pejus pois a remessa necessaacuteria eacute uma

manifestaccedilatildeo do princiacutepio inquisitoacuterio e desta forma o oacutergatildeo revisor estaria tatildeo

somente aperfeiccediloando a decisatildeo A piora na condenaccedilatildeo do ente puacuteblica

seria uma consequumlecircncia deste aperfeiccediloamento

Outro argumento utilizado por aqueles que defendem a possibilidade

da piora na condenaccedilatildeo do ente publico em sede de remessa necessaacuteria reza

no sentido de que o agravamento na condenaccedilatildeo eacute a reformatio in pejus e

esta eacute proibida somente para os recursos como a remessa necessaacuteria natildeo

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 48: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

48

48

possui natureza juriacutedica de recurso seria possiacutevel sua aplicaccedilatildeo Neste

dispasatildeo trazemos o ensinamento de Barbosa Moreira segundo o qual a

proibiccedilatildeo da reformatio in pejus eacute um instituto inerente aos recursos e natildeo

sendo a remessa obrigatoacuteria uma espeacutecie de recurso na sua seara natildeo haacute que

se falar em proibiccedilatildeo de reforma para pior

Tambeacutem Nelson Nery Juacutenior adota a mesma linha de raciociacutenio

segundo ele natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus em sede de remessa

oficial uma vez que o princiacutepio proibitivo da reformatio in pejus decorre

diretamente do princiacutepio dispositivo inerente aos recursos a remessa oficial

natildeo eacute espeacutecie recursal tanto que natildeo eacute informada pelo princiacutepio dispositivo e

sim pelo inquisitoacuterio em que ressalta a incidecircncia do interesse puacuteblico no

reexame integral da sentenccedila

Tem-se que a remessa necessaacuteria prevista no art 475 do Coacutedigo

do Processo Civil (CPC) e em outros diplomas normativos como por exemplo

Lei nordm 153351 (Lei da Accedilatildeo de Mandado de Seguranccedila) Lei 471765 (Lei da

Accedilatildeo Popular) e o Decreto-Lei nordm 7791969 (dispotildee sobre a aplicaccedilatildeo de

normas processuais trabalhistas) traduz-se como mais um dos injustificaacuteveis

privileacutegios processuais do Poder Puacuteblico violando a isonomia processual

Doutrina e jurisprudecircncia pacificam o entendimento que nega

natureza recursal agrave remessa necessaacuteria classificando-a como instituto sui

generis que objetiva o reexame da condenaccedilatildeo imposta por sentenccedila agrave

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 49: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

49

49

Fazenda Puacuteblica especialmente nas hipoacuteteses do art475 do CPC e a

proteccedilatildeo do interesse geral nas demais hipoacuteteses

Apesar de amplamente majoritaacuteria haja vista o respaldo na

jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila (STJ) e do Superior Tribunal

Federal (STF) no sentido da impossibilidade de piora da condenaccedilatildeo em

remessa necessaacuteria vez que que consistiria em afronta ao prestigiado

princiacutepio da non reformatio in pejus tem se debatido cada vez mais a

possibilidade de agravamento da condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica ou

ao interesse puacuteblico em caso remessa necessaacuteria crescendo o nuacutemero de

julgados adotando entendimento contraacuterio

34) A Exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus em relaccedilatildeo a

recurso inominado

Os Juizados Especiais foram criados pela Lei nordm 909995 a qual

consagrou princiacutepios como o da celeridade simplicidade informalidade e

economia processual possibilitando o julgamento raacutepido do litiacutegio quando este

jaacute natildeo falece na proacutepria audiecircncia de conciliaccedilatildeo

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 50: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

50

50

Uma das vantagens inerentes agraves demandas propostas em sede de

Juizados Especiais eacute a isenccedilatildeo inicial do pagamento de custas e a

facultatividade de assistecircncia (art 9ordf) bem como a inexistecircncia de condenaccedilatildeo

em honoraacuterios de sucumbecircncia em primeira instancia

Pautando pela celeridade nos Juizados Especiais existe somente a

previsatildeo legal de dois recursos o recurso inominado e os embargos de

declaraccedilatildeo O primeiro ou seja o recurso Inominado eacute aquele cabiacutevel contra a

sentenccedila proferida em sede de Juizados Especiais Consigne-se que em

hipoacuteteses excepcionais eacute possiacutevel ainda o manejo do mandado de seguranccedila e

da reclamaccedilatildeo

Nos interessa o estudo do recurso inominado ou melhor das

eventuais consequumlecircncias de sua interposiccedilatildeo que conforme demonstraremos

excetua o princiacutepio na non reformatio in pejus

Da leitura da lei depreende-se facilmente que o objetivo do

legislador eacute o desestiacutemulo ao recurso tanto pela isenccedilatildeo de custas somente

em primeira instancia quanto pela eventual condenaccedilatildeo em honoraacuterios de

sucumbecircncia em segunda

A sucumbecircncia somente em segunda instancia eacute a consequumlecircncia

dada agravequele que interpotildee recurso e natildeo obteacutem ecircxito ou seja com a

manutenccedilatildeo integral da sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico Como eacute

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 51: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

51

51

cediccedilo com a interposiccedilatildeo de recurso da-se iniacutecio agrave uma nova instacircncia com

evidente retardamento da prestaccedilatildeo jurisdicional Nesta nova fase a

constituiccedilatildeo de um advogado para patrociacutenio da causa eacute obrigatoacuteria e

independentemente do valor da causa

Com efeito aqui se observa uma das caracteriacutesticas do princiacutepio da

causalidade no Juizado Especial Civel Impotildee-se a condenaccedilatildeo em honoraacuterios

advocatiacutecios e despesas processuais agravequele que motivou atraveacutes da

interposiccedilatildeo de recurso a instauraccedilatildeo da lide judicial perpetuando o litiacutegio na

fase recursal poreacutem sem obter ecircxito

Neste diapasatildeo o Superior Tribunal de Justiccedila vem admitindo a

sucumbecircncia ateacute nas hipoacuteteses em que ocorre a perda do objeto da accedilatildeo com

a extinccedilatildeo do processo sem julgamento do meacuterito conforme demonstramos

atraveacutes da jurisprudecircncia transcrita a seguir

ldquoRECURSO ESPECIAL ALIacuteNEA A ACcedilAtildeO DE IMISSAtildeO NA

POSSE SUPERVENIENTE PERDA DO OBJETO DA ACcedilAtildeO PELA

DESOCUPACcedilAtildeO VOLUNTAacuteRIA DO IMOacuteVEL COMPREENSAtildeO DO

PRINCIacutePIO DA SUCUMBEcircNCIA Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DA CAUSALIDADEEacute

consabido que o princiacutepio da sucumbecircncia deve ser compreendido sob o matiz

do princiacutepio da causalidade de modo que mesmo natildeo-evidente a parte

vencedora impotildee-se a condenaccedilatildeo de honoraacuterios advocatiacutecios e despesas

processuais agravequele que deu origem agrave instauraccedilatildeo da lide judicial infrutiacuteferaNo

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 52: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

52

52

particular a perda do objeto da accedilatildeo ocorreu em vista da desocupaccedilatildeo

voluntaacuteria do imoacutevel residencial pelo reacuteu cuja imissatildeo na posse pleiteava a

CEF em juiacutezo anterior agrave prolaccedilatildeo da sentenccedila de modo que se evidencia a

ausecircncia de interesse processual a implicar na extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito na forma do art 267 IV do CPCAgrave luz do princiacutepio da

causalidade (Veranlassungsprinzip) as despesas processuais e os honoraacuterios

advocatiacutecios recaem sobre a parte que deu causa agrave extinccedilatildeo do processo sem

julgamento do meacuterito ou agrave que seria perdedora se o magistrado chegasse a

julgar o meacuterito da causa Grifei

Trazemos agrave balia os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni que

adota o mesmo entendimento ao comentar a Lei do Juizado Especial Civel

ldquoO acesso a essa instacircncia recursal depende do atendimento a certas

condiccedilotildees natildeo exigiacuteveis na instacircncia ordinaacuteria Assim devem as partes estar

assistidas por advogado (art 41 sect 2o da Lei 909995) A instacircncia recursal

depende ao contraacuterio do que ocorre em primeiro grau do pagamento das

despesas respectivas e mesmo daquelas atinentes agrave instacircncia ordinaacuteria

(ressalvada a hipoacutetese de assistecircncia juriacutedica gratuita) sendo que no juiacutezo

recursal o recorrente vencido deveraacute pagar honoraacuterios advocatiacutecios (art 42

sect 1o art 54 paraacutegrafo uacutenico e art 55 Lei 909995)rdquo (gn) 13

13 MARINONI Luiz Guilherme Manual do Processo de Conhecimento 3ordf ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2004 p 762

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 53: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

53

53

Neste mesmo sentido posiciona-se Eduardo Sodreacute cujas palavras

transcrevemos a seguir

ldquo() Em outras palavras se o vencido

conformar-se com a derrota abdicando dos

instrumentos recursais ficaraacute isento do pagamento de

custas e honoraacuterios advocatiacutecios Caso recorra e natildeo

obtenha ecircxito arcaraacute com tais despesasrdquo (gn)

ldquoTrata-se de teacutecnica legislativa bastante louvaacutevel na

medida em que funciona como verdadeiro desestiacutemulo

ao manejo de recursos infundados ou meramente

protelatoacuteriosrdquo14 (gn)

Como jaacute mencionado anteriormente eacute possiacutevel o ajuizamento de

demanda em sede de Juizado Especial com a isenccedilatildeo inicial do pagamento

de custas e sem a necessidade do patrociacutenio da causa por advogado o que

confere ao autor a benesse de propor a accedilatildeo sem suportar qualquer ocircnus

Ocorre que sendo seu pedido julgado improcedente ou procedente

em parte e tendo o autor o desejo de interpor recurso este deveraacute proceder o

recolhimento das custas e a contrataccedilatildeo de patrono para sua interposiccedilatildeo Jaacute

vislumbramos na hipoacutetese que antes mesmo do julgamento do recurso a

14 SODREacute Eduardo Procedimentos Especiais Legislaccedilatildeo Extravagante O sistema recursal

dos Juizados Especiais Ciacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2003 p 532

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 54: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

54

54

parte autora jaacute sofre um agravamento de sua situaccedilatildeo pois agora

obrigatoriamente teraacute que suportar tais gastos

Pois bem interposto o recurso inominado e sendo o mesmo natildeo

acolhido com a decisatildeo de manutenccedilatildeo da sentenccedila a parte recorrente que

lanccedilou matildeo isoladamente do recurso seraacute ainda condenada ao pagamento

dos honoraacuterios de sucumbecircncia

Isto porque por expressa disposiccedilatildeo legal somente natildeo haveraacute

sucumbecircncia no primeiro grau do Juizado Especial Ciacutevel ressalvadas as

hipoacuteteses de litigacircncia de maacute-feacute Contudo em segundo grau aquele que

interpocircs o recurso caso seja vencido em sua pretensatildeo pagaraacute as custas e

honoraacuterios de advogado que seratildeo fixados entre 10 e 20 do valor da

condenaccedilatildeo ou natildeo havendo condenaccedilatildeo sobre o valor corrigido da causa

(art 55)

A tiacutetulo de exemplo transcrevemos a seguir decisatildeo proferida pela

Turma Recursal Ciacutevel do Rio de Janeiro Na hipoacutetese o pedido autoral fora

julgado improcedente pelo juiacutezo monocraacutetico Insatisfeito com o resultado o

autor interpocircs recurso inominado Ao conhecer do recurso a Turma Recursal

negou provimento ao mesmo mantendo integralmente a sentenccedila e

condenando o recorrente nas custas e honoraacuterios advocatiacutecios

ldquoJuiz(a) MARCIO QUINTES GONCALVES

RELATOacuteRIO Vistos etc JOSEacute CARLOS DE OLIVEIRA CEacuteSAR LIMA ajuizou reclamaccedilatildeo em face de BANCO IBI - ADMINISTRAJORA E

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 55: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

55

55

PROMOTORA LTDA sob o argumento de que o fornecedor vem cobrando juros extorsivos a tiacutetulo de encargos contratuais o que eacute indevido Requereu a antecipaccedilatildeo da tutela para que o Recorrido se abstenha de incluir seu nome em cadastros de restriccedilatildeo ao creacutedito e confirmada a liminar sejam declaradas nulas as claacuteusulas abusivas limitados os juros a 12 (doze por cento) ao ano recalculado o deacutebito e a condenaccedilatildeo do banco no pagamento de indenizaccedilatildeo por danos morais O Banco IBI arguumliu preliminar de incompetecircncia do JEC eis que a causa eacute complexa a demandar a realizaccedilatildeo de prova pericial para o seu deslinde e no meacuterito que eacute liacutecita a cobranccedila dos encargos contratuais natildeo estando sujeito agrave limitaccedilatildeo de 12 (doze por cento) na cobranccedila de juros por ser instituiccedilatildeo financeira sendo liacutecita igualmente a claacuteusula mandato aleacutem de ser imprestaacutevel a planilha juntada pelo Recorrente-reclamante bem como incabiacutevel a condenaccedilatildeo no pagamento de danos morais O ilustre julgador de 1ordm grau rejeitou a preliminar pois natildeo eacute necessaacuteria a realizaccedilatildeo de periacutecia sendo que ir inclusive o consumidor juntou planilha contendo os valores cuja cobranccedila entende correta e julgou improcedente o pedido (fls 6369) tendo em vista que as claacuteusulas contratuais questionadas foram redigidas dentro dos paracircmetros exigidos pelo CPDC sendo vaacutelida a claacuteusula mandato aleacutem do que as instituiccedilotildees financeiras natildeo se sujeitam a limite de juros de 12 (doze por cento) ao ano e considerando que os Tribunais paacutetrios vecircm admitindo como liacutecito o repasse dos custos na captaccedilatildeo de recursos para a obtenccedilatildeo do financiamento em favor do consumidor natildeo estando o mesmo jungido ao referido percentual ritual Recurso do Reclamante agraves fls 97116 Sustenta a nulidade da claacuteusula mandato e cobranccedila abusiva de juros pois as administradoras de cartotildees de creacutedito natildeo integram sistema financeiro nacional Requer o provimento do recurso para que a sentenccedila seja reformada julgando-se procedente o pedido As contra-razotildees de fls 122126 prestigiam o julgado O recurso eacute adequado e tempestivo tendo sido deferida a gratuidade (cf fls 120) pelo que dele o conheccedilo Acordam os juizes que integram a Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Ciacuteveis de votos em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentenccedila por seus proacuteprios fundamentos sendo liacutecito o repasse dos custos pela obtenccedilatildeo do financiamento em prol do consumidor aleacutem do que o mandato natildeo eacute em tese outorgado no interesse da administradora de cartotildees de creacutedito constituindo o meio essencial para a viabilidade do negoacutecio ora em questatildeo Condenado o recorrente no pagamento das custas processuais e honoraacuterios advocatiacutecios fixados em 20 (vinte por cento) do valor da condenaccedilatildeo A presente suacutemula de julgamento fica valendo como acoacuterdatildeo na forma do art 46 da Lei nordm 909995rdquo (gn)

Pela analise de todo o exposto e da leitura da hipoacutetese

trazida como exemplo resta evidente que o processamento e julgamento do

recurso inominado em sede de juizado especial pode gerar o agravamento da

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 56: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

56

56

situaccedilatildeo inicial do uacutenico recorrente traduzindo-se em evidente exceccedilatildeo ao

princiacutepio da non reformatio in pejus

CONCLUSAtildeO

A apelaccedilatildeo eacute um dos recursos previstos em nosso ordenamento

juriacutedico e possui suas origens no direito romano Utilizada com o objetivo de

reformar as sentenccedilas proferidas em primeira instancia submete-se como

qualquer outro recurso ao princiacutepio da non reformatio in pejus Segundo este

princiacutepio natildeo eacute possiacutevel agravar a situaccedilatildeo daquele que recorre isoladamente

em caso de sucumbecircncia parcial Isto porque natildeo seria justo admitirmos a

possibilidade da parte que se conformou com a sua sucumbecircncia parcial natildeo

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 57: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

57

57

interpondo recurso fosse beneficiada com o recurso interposto pela outra

parte

Contudo o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo eacute absoluto

Comprovamos no decorrer deste trabalho monograacutefico que existem hipoacuteteses

em que o recorrente tem sua situaccedilatildeo agravada pela interposiccedilatildeo exclusiva de

seu recurso

Egrave o que ocorre por exemplo quanto agrave possibilidade de serem

conhecidas de officio as questotildees de ordem puacuteblica relacionadas agraves hipoacuteteses

de error in procedendo Nesta hipoacutetese mostra-se evidente a possibilidade de

modificaccedilatildeo do julgado pois esta independe da manifestaccedilatildeo de qualquer dos

interessados natildeo sendo relevante quem seraacute prejudicado ou beneficiado com

a decisatildeo

Quando interposto o recurso de apelaccedilatildeo por forccedila do efeito

translativo a instacircncia superior passa a analisar o respectivo recurso tambeacutem

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Neste caso independentemente da

extensatildeo da impugnaccedilatildeo as questotildees de ordem puacuteblica satildeo transferidas ao

tribunal e esta nova analise pode causar a relativizaccedilatildeo do princiacutepio da non

reformatio in pejus Isto porque se temos o efeito translativo e com ele a

apreciaccedilatildeo das questotildees de ordem puacuteblica pelo tribunal as condiccedilotildees da accedilatildeo

e pressupostos processuais seratildeo reexaminados e caso se verifique que uma

condiccedilatildeo da accedilatildeo ou um pressuposto processual ausente e natildeo foi objeto de

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 58: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

58

58

verificaccedilatildeo no primeiro grau com o reconhecimento desta ausecircncia em

segundo grau teremos por vias de consequumlecircncia uma reforma a pior

Vale ressaltar que inexiste consenso quanto aos limites da

aplicabilidade do princiacutepio da non reformatio in pejus em sede de ldquoreexame

obrigatoacuteriordquo quando se observa error in judicando situaccedilatildeo assinalada por

equiacutevoco na decisatildeo ou em outras palavras erro no julgamento na anaacutelise do

direito material controvertido tratando-se destarte de acerto ou desacerto no

julgamento da lide e natildeo de invalidade No entanto na ocorrecircncia de erro in

procedendo mostra-se cristalina a possibilidade de atuaccedilatildeo do oacutergatildeo revisor

em relaccedilatildeo agraves questotildees de ordem puacuteblica Havendo erro in procedendo

mesmo que natildeo questionado pelas partes o oacutergatildeo julgador estaraacute livre para

analisar as questotildees de ordem publica e de decretar a nulidade processual

Outra exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus eacute a hipoacutetese

de interposiccedilatildeo de recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel

Neste caso sendo confirmada a sentenccedila proferida pelo juiacutezo monocraacutetico a

turma recursal faraacute constar em seu acoacuterdatildeo a condenaccedilatildeo ao pagamento das

custas processuais e fixaraacute percentual a ser pago a tiacutetulo de honoraacuterios

advocatiacutecios Desta forma quem interpocircs o recurso mesmo que isoladamente

seraacute onerado caso a sentenccedila seja mantida

Assim podemos dizer que o princiacutepio da non reformatio in pejus natildeo

eacute absoluto uma vez que observamos a possibilidade de relativizaccedilatildeo do

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 59: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

59

59

instituto quando da anaacutelise de mateacuterias de ordem puacuteblica e na hipoacutetese do

recurso inominado em sede de Juizado Especial Ciacutevel havendo ainda quem

admita a possibilidade de relativizaccedilatildeo do principio em sede de remessa

necessaacuteria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BASTOS C R Curso de Direito Constitucional 22ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva 2001 p 209

CAcircMARA Alexandre Freitas Liccedilotildees de Direito Processual Civil 16 ed vol1

Rio de Janeiro Lumen Juris 2007

DE Plaacutecido e Silva Vocabulaacuterio Juriacutedico Vols III e IV p 291

DIDIER JR Fredie CARNEIRO DA CUNHA Leonardo Joseacute Curso de Direito

Processual Civil 5 ed vol3 Bahia Juspodvm 2008

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 60: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

60

60

DONIZETTI Elpiacutedio Curso de Direito Processual Civil 7 ed Rio de Janeiro

Lumen Juris 2007

FUX Luiacutes Curso de Direito Processual Civil Rio de Janeiro Forense 2001

GRECO FILHO Vicente Direito Processual Civil Brasileiro 15 ed v 2 Satildeo

Paulo Saraiva 2002

MACHADO Antocircnio Claacuteudio da Costa Coacutedigo de Processo Civil Interpretado

5 ed Barueri-SP Manole 2006

MARINONI Luiz Guilherme ARENHART Seacutergio Cruz Manual do Processo de

Conhecimento Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2001

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil

10 ed vol v5 Rio de Janeiro Forense 2002

MOREIRA Joseacute Carlos Barbosa Problemas relativos a litiacutegios internacionais

Revista de Processo 65157

NERY JR Nelson NERY Rosa Maria de Andrade Coacutedigo de Processo Civil

Comentado 7 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

NERY JUNIOR N NERY R M A Coacutedigo de processo civil comentado e

legislaccedilatildeo processual civil extravagante em vigor 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1997 p 677

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 18 ed

v1 Saraiva 1995

SANTOS Moacyr Amaral Primeiras Linhas de Direito Processual Civil 16 ed

v2 Saraiva 1995

THEODORO JUacuteNIOR Humberto Curso de Direito Processual Civil 10 ed v

1 Rio de Janeiro Forense 1992

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 61: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

61

61

www httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=867820052008

wwwboletimjuridicocombrdoutrinatexto 16052008

wwwpraetoriumcombr 02062003

httpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=2841 28022006

ANEXOS - JURISPRUDEcircNCIA

Exemplos de jurisprudecircncia quanto agrave aplicaccedilatildeo do princiacutepio da non reformatio

in pejus

Processo

REsp 594461 RS RECURSO ESPECIAL 20030171273-9 Relator(a)

Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

07082007

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 62: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

62

62

Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 24092007 p 272 Ementa

PROCESSUAL CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA AUTORIZACcedilAtildeO PARA A IMPRESSAtildeO DE DOCUMENTOS FISCAIS RECURSO DE APELACcedilAtildeO INTERPOSTO SOMENTE PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SITUACcedilAtildeO DO ENTE PUacuteBLICO AGRAVADA OFENSA AO PRINCIacutePIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS INCIDEcircNCIA DA SUacuteMULA 45STJ 1 Incorre em ofensa ao princiacutepio da non reformatio in pejus o aresto que agrava a situaccedilatildeo do uacutenico recorrente Na hipoacutetese em que a sentenccedila concedeu a ordem e determinou a prestaccedilatildeo de garantia e natildeo havendo recurso da impetrante no que tange agrave ilegalidade da medida eacute defeso ao Tribunal excluiacute-la pois somente o Estado do Rio Grande do Sul recorreu 2 A Suacutemula 45 do STJ dispotildee que no reexame necessaacuterio eacute defeso ao Tribunal agravar a condenaccedilatildeo imposta agrave Fazenda Puacuteblica 3 Recurso Especial provido Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade deu provimento ao Recurso nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Eliana Calmon Joatildeo Otaacutevio de Noronha Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins votaram com o Sr Ministro Relator Resumo Estruturado

VEJA A EMENTA E DEMAIS INFORMACcedilOtildeES Referecircncia Legislativa

LEGFED SUM SUM(STJ) SUacuteMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA SUM000045 Veja

(REMESSA NECESSAacuteRIA - REFORMATIO IN PEJUS) STJ - RESP 713609-MT RESP 783537-RJ

Sucessivos

Documento 1

Iacutentegra do Acoacuterdatildeo

Acompanhamento Processual

Resultado sem Formataccedilatildeo ImprimirSalvar

Processo

EDcl no RMS 15188 MT EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA 20020100439-7

Relator(a)

Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 63: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

63

63

Oacutergatildeo Julgador

T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento

22042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 05052008 p 1 Ementa

PROCESSUAL CIVIL ndash RECURSO ORDINAacuteRIO EM MANDADO DE SEGURANCcedilA ndash EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ndash REFORMATIO IN PEJUS ndash INEXISTEcircNCIA 1 Obscuridade reconhecida para esclarecer a questatildeo embargada no acoacuterdatildeo recorrido 2 Fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo embargado que natildeo significa inversatildeo do julgado decidido no Tribunal de origem mas tatildeo-somente retoacuterica para fundamentar a negativa de provimento do recurso ordinaacuterio em mandado de seguranccedila 3 Inexistente portanto a reformatio in pejus pois a decisatildeo proferida no Tribunal de origem natildeo foi por enquanto alterada Embargos de declaraccedilatildeo acolhidos sem efeitos modificativos apenas para aclarar o acoacuterdatildeo embargado

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade acolheu os embargos de declaraccedilatildeo sem efeitos modificativos nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a)-Relator(a) Os Srs Ministros Herman Benjamin Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ordf Regiatildeo) Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr Ministro Relator

Resumo Estruturado

Aguardando anaacutelise

Processo

EDcl no REsp 837235 DF EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO NO RECURSO ESPECIAL 20060082754-9

Relator(a)

Ministro FRANCISCO FALCAtildeO (1116) Oacutergatildeo Julgador

T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento

08042008 Data da PublicaccedilatildeoFonte

DJ 28042008 p 1 Ementa

EXECUCcedilAtildeO FISCAL EXCECcedilAtildeO DE PREacute-EXECUTIVIDADE CONDENACcedilAtildeO EM

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 64: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

64

64

HONORAacuteRIOS ADVOCATIacuteCIOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO ERRO MATERIAL REFORMATIO IN PEJUS OU JULGAMENTO EXTRA PETITA INEXISTEcircNCIA I - Os embargos de declaraccedilatildeo constituem recurso de riacutegidos contornos processuais consoante disciplinamento imerso no art 535 do CPC exigindo-se para seu acolhimento estejam presentes os pressupostos legais de cabimento II - Inocorre a hipoacutetese de erro material do decisum tendo os embargantes apenas ressaltado o intuito de ver modificado o acoacuterdatildeo embargado no qual ficou explicitamente definido que eacute perfeitamente cabiacutevel na hipoacutetese de acolhimento parcial de exceccedilatildeo de preacute-executividade apresentada no executivo fiscal a condenaccedilatildeo do excepto ao pagamento da verba honoraacuteria proporcional agrave parte excluiacuteda da execuccedilatildeo ainda que o feito executoacuterio natildeo seja extinto uma vez que foi realizado o contraditoacuterio Precedentes Resp nordm 868183RS Rel p Ac Min LUIZ FUX DJ de 11062007 REsp nordm 306962SC Rel Min JOAtildeO OTAacuteVIO DE NORONHA DJ de 21032006 REsp nordm 696177PB Rel Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO DJ de 22082005 AgRg no REsp nordm 670038RS Rel Min JOSEacute DELGADO DJ de 18042005 e AgRg no REsp nordm 631478MG Rel Min NANCY ANDRIGUI DJ de 13092004 III- Natildeo haacute que se falar em reformatio in pejus ou julgamento extra petita pois o apelo especial foi submetido agrave apreciaccedilatildeo do Colegiado desta Colenda Corte tendo sido amplamente respeitados os princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa das partes uma vez que a decisatildeo monocraacutetica anteriormente proferida nos autos em epiacutegrafe foi tornada sem efeitos o que significa dizer que natildeo haacute reforma do decisum se este foi retirado do mundo juriacutedico IV - Embargos de declaraccedilatildeo rejeitados

Acoacuterdatildeo

Vistos relatados e discutidos os autos em que satildeo partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiccedila A Turma por unanimidade rejeitou os embargos de declaraccedilatildeo nos termos do voto do Sr Ministro Relator Os Srs Ministros Luiz Fux Teori Albino Zavascki Denise Arruda (Presidenta) e Joseacute Delgado votaram com o Sr Ministro Relator

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 65: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

65

65

IacuteNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATOacuteRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMAacuteRIO 07

INTRODUCcedilAtildeO 08

1 Recuso de Apelaccedilatildeo

1 1 Origem histoacuterica da Apelaccedilatildeo

1 2 Conceito de Apelaccedilatildeo

09

09

09

2 O princiacutepio da vedaccedilatildeo agrave Reformatio In Pejus 13

3 Das hipoacuteteses de relativizaccedilatildeo ao princiacutepio da non

Reformatio in Pejus

17

31 Conceito de questatildeo de ordem puacuteblica

311 Mateacuterias de ordem puacuteblica

21

28

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 66: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

66

66

312 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non Reformatio in

Pejus em relaccedilatildeo agraves mateacuterias de ordem publica

35

32 Teoria da Causa Madura

321 Teoria da Causa Madura ndash conceito e

aplicabilidade

322 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in

pejus em relaccedilatildeo agrave Teoria da Causa Madura e

agraves mateacuterias de ordem publica

35

40

33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus

na hipoacutetese de Recurso Inominado

CONCLUSAtildeO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

IacuteNDICE

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
Page 67: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · especificamente sobre seu conceito, características e aplicação e explicitando institutos à ele vinculados. Após oferecer um

67

67

FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO

Nome da Instituiccedilatildeo

Tiacutetulo da Monografia

Autor

Data da entrega

Avaliado por Conceito

  • AGRADECIMENTOS
  • SUMAacuteRIO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 Reexame obrigatoacuterio
  • 34 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
  • 32 Teoria da Causa Madura
  • 33 A exceccedilatildeo ao princiacutepio da non reformatio in pejus na hipoacutetese de Recurso Inominado
  • CONCLUSAtildeO
  • BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
  • ANEXOS
  • IacuteNDICE
  • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO
    • FOLHA DE AVALIACcedilAtildeO