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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A psicomotricidade no desenvolvimento escolar em crianças
de 2 a 5 anos na educação infantil
Por: BRUNA DE OLIVEIRA MENDONÇA
Orientador
Prof.ª Solange Monteiro
Rio de Janeiro
2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A psicomotricidade no desenvolvimento escolar em crianças
de 2 a 5 anos na educação infantil
Por: BRUNA DE OLIVEIRA MENDONÇA
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em psicopedagogia Institucional
Por: Bruna de Oliveira Mendonça
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AGRADECIMENTOS
Agradeço em especial ao meu marido
Felipe Mendonça que me deu muita
força para que eu fizesse uma
especialização, a meu filho Caio de
Oliveira que aguentou minha ausência,
a todos os meus amigos e parentes e
principalmente a Deus, que sem ele
nada disso seria possível.
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DEDICATÓRIA
Dedico a meu filho Caio de Oliveira, a
meu marido Felipe Mendonça, a meus
pais, amigos e familiares.
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RESUMO
O presente trabalho está baseado na importância da psicomotricidade no
desenvolvimento escolar infantil. Com o intuito de compreender o uso da
psicomotricidade como ferramenta primordial na aprendizagem de crianças de
2 a 5 anos da educação infantil.O estudo visa analisar o aspecto psicomotor na
aprendizagem infantil, considerando seu uso como fator primordial no
desenvolvimento infantil.Compreender os caminhos a serem percorridos para
alcançar a aprendizagem.
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METODOLOGIA
O trabalho aqui apresentado foi realizado através de levantamento
bibliográfico. Os dados levantados são originados de livros e sites
especializados.
O presente estudo foi fundamentado nas teorias de Fátima Alves, Vitor
da Fonseca, Jean Piaget, Vigostky, Wallon, Le Boulch entre outros.
Baseado em todo conteúdo estudado se chegou a dados importantes
que através dessa pesquisa serão vistos no decorrer do trabalho.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I -Compreendendo a psicomotricidade 10
CAPÍTULO II – A importância da psicomotricidade na aprendizagem da
criança de 2 a 5 anos da educação infantil
17
CAPÍTULO III – O desenvolvimento psicomotor da criança de 2 a 5 anos
de idade.
29
CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA 32
WEBGRAFIA 33
ÍNDICE 34
FOLHA DE AVALIAÇÃO
.
8
INTRODUÇÃO
Ao falarmos sobre psicomotricidade estamos nos referindo a tudo
que esta ligada as funções motoras, ao movimento, logo estamos tratando de
um assunto primordial na primeira etapa da educação, onde as crianças estão
entrando em um mundo muito novo, com muitas descobertas a serem feitas. A
psicomotricidade então deve fazer parte de toda a rotina escolar, pois através
dela as crianças terão não apenas desenvolvimento da área motora, mas
também da área emocional que como veremos a frente faz toda a diferença no
desenvolvimento da aprendizagem quando aplicada e desenvolvida na escola
desde a educação infantil.
Segundo Alves (2004: 25)
O desenvolvimento psicomotor, quando acontece harmoniosamente, prepara a criança para uma vida social próspera, pois já domina seu corpo e utiliza-o com desenvoltura, o que torna fácil e equilibrado seu contato com os outros. As reações afetivas e as aprendizagens psicomotoras estão interligadas. A psicomotricidade é abrangente e pode contribuir de forma plena para com os objetivos da educação.
De acordo com o que Alves diz podemos perceber que a
psicomotricidade está inteiramente ligada com a aprendizagem, que a partir de
um trabalho psicomotor desde o início da escolaridade a criança apresenta
uma estrutura mais sólida, se sente mais segura para realizar as atividades
propostas. Quando a criança passa a perceber, conhecer e reconhecer seu
corpo, ela está desenvolvendo não apenas o fator motor, mas também está
desenvolvendo seu lado afetivo e social, o que contribui muito para sua
aprendizagem.
Baseado em estudos sobre a psicomotricidade temos como intuito
compreender o uso da psicomotricidade no desenvolvimento da aprendizagem
na educação infantil, considerando seu uso como ferramenta primordial de
ensino. Partindo da premissa que a psicomotricidade é de grande importância
no desenvolvimento infantil, sendo o elo principal de aprendizagem, que a partir
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das descobertas sobre o próprio corpo a criança passa a se conhecer e
reconhecer como pessoa.
Diante do exposto e para esclarecimentos sobre a importância da
psicomotricidade para o desenvolvimento escolar de crianças com idade entre
2 e 5 anos da educação infantil, serão descritos no capítulo I deste trabalho os
fundamentos da psicomotricidade, seus conceitos funcionais e relacionais e a
psicomotricidade segundo Jean Boulch e Vitor da Fonseca. O capítulo II aborda
a importância da psicomotricidade na aprendizagem da criança de 2 a 5 anos e
a psicomotricidade segundo Henry Wallon, Vigostky e Jean Piaget. O capítulo
III trata sobre o desenvolvimento psicomotor da criança de 2 a 5 anos da
educação e infantil e como acontece esse desenvolvimento. Na conclusão
levantaremos os principais pontos discutidos no decorrer do trabalho.
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CAPÍTULO I
COMPREENDENDO A PSICOMOTRICIDADE
A psicomotricidade existe nos menores gestos e em todas as atividades que desenvolvem a motricidade da criança, visando ao conhecimento e ao domínio de seu próprio corpo. (ALVES, 2003, p. 127)
Inicialmente o termo psicomotricidade aparece nos discursos
médicos, mais especificamente neurológicos devido à necessidade de nomear
as zonas do córtex cerebral situadas além das regiões motoras.
O corpo só começa a ser estudado no século XIX, primeiro por
neurologistas e depois por psiquiatras. O nome psicomotricidade surge no ano
de 1870 devido à necessidade médica de encontrar uma área que explique
certos fenômenos clínicos.
As primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor
correspondem a um enfoque eminentemente neurológico.
A psicomotricidade vai trabalhar o indivíduo num todo,
compreendendo seu corpo, sua mente, sua história de vida, seu
desenvolvimento social e pedagógico.
A psicomotricidade existe nos mínimos gestos e em todas as
atividades que desenvolve a motricidade da criança, visando ao conhecimento
e ao domínio de seu próprio corpo.
Sabendo que o objetivo da psicomotricidade é trabalhar o corpo,
logo, entendemos que o movimento é essencial no desenvolvimento físico,
intelectual e emocional da criança, pois será através dos movimentos que a
criança será capaz de explorar o mundo a sua volta, e é a partir dessa
exploração que a criança irá desenvolver a consciência sobre si e sobre o
mundo que a cerca.
Como sabemos o desenvolvimento da criança é crescente, e
depende de influências comuns, que determinarão seu comportamento de
acordo com o meio familiar e social em que estão inseridas, por isso que cada
criança age e reage de maneiras diferentes, uns apresentam mais habilidades
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e outros menos, e isso deve ser respeitado e observado no cotidiano, pois são
os primeiros anos de vida os principais no desenvolvimento psicomotor, e é na
educação infantil, onde o olhar atento do professor pode evitar que um possível
problema futuro prejudique sua aprendizagem.
Podemos perceber então a grande importância da psicomotricidade
na vida escolar da criança, pois ela é a porta de entrada para a resolução de
vários problemas que possam vir a ocorrer no futuro da criança se não
trabalhada desde o início.
1.1 – Fundamentos da psicomotricidade
De acordo com o referencial curricular nacional (1998) no
desenvolvimento infantil a criança precisa brincar ter prazer e alegria para
crescer, precisa do jogo como forma de equilíbrio entre ela e o mundo e
através do lúdico a criança se desenvolve.
Segundo Serapião (2004) a infância é caracterizada por concentrar
as aquisições fundamentais para o desenvolvimento humano, pois é nessa
etapa da vida que o indivíduo forma a base motora para a realização de
movimento mais complexo futuramente.
Para os propósitos dos fundamentos da psicomotricidade, explico que de uma forma geral a psicomotricidade está subdividida em três grandes vertentes: a reeducação, a terapia, e a educação. A primeira se dirige mais para a soma do movimento, enquanto a segunda se preocupa com a psique do movimento. A terceira vertente esta voltada para o âmbito educacional, sendo oportuno entender que esta também possui uma divisão em duas correntes principais: psicomotricidade funcional e a psicomotricidade relacional. (FALKENBACH, 2003, p.91).
A reeducação psicomotora é designada a indivíduos que
apresentam déficit motor, busca reeducar o corpo para que este reproduza
movimentos motores de acordo com o padrão esperado.
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A terapia psicomotora é destinada a indivíduos normais ou
portadores de deficiências físicas ou mentais que apresentam dificuldades de
comunicação, de expressão corporal e de vivência simbólica.
A educação psicomotora é destinada ao desenvolvimento de todas
as potencialidades do indivíduo e é dividida em funcional e relacional.
Na psicomotricidade funcional a organização e aplicação dos
exercícios são feitos mecanicamente, sendo o professor o modelo a ser
seguido, onde as crianças são direcionadas por ele, impedindo assim a
interação entre os envolvidos, seu desenvolvimento, criatividade e autonomia.
É um processo previsível e planejado, o professor sabe exatamente
o que irá acontecer.
Segundo Negrine (1994, p.140) o enfoque da psicomotricidade
funcional prioriza o gesto técnico e exercício analítico como ferramenta
pedagógica para fazer com que a criança adquira certas competências
motrizes.
Já a psicomotricidade relacional é um processo mais espontâneo,
que consiste em atividades mais livres, propiciando o desenvolvimento da
criatividade e da interatividade entre os educandos. Nesse processo o
professor é apenas o facilitador.
Dentro do marco relacional, o mais importante para eles é trabalhar com o que a criança tem de positivo, o que ela sabe fazer, e não se preocupar com o que ela não sabe. Dizem que o melhor método para ajudar uma criança a superar suas dificuldades é conseguir que ela esqueça suas inabilidades. (NEGRINE, 1995, p. 58).
Considerando o ser humano como um todo, o processo relacional
seria o mais apropriado, no entanto o processo funcional se faz presente no
aperfeiçoamento de habilidades peculiares, porém ambas devem ser
trabalhadas dentro da escola, pois se completam e aperfeiçoam o trabalho do
educador.
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1.2 - A psicomotricidade segundo Jean Le Boulch e Vitor da
Fonseca
O francês Le Boulch defende a Psicocinética, a chamada teoria geral
do movimento, propõe meios práticos que, por meio dos movimentos,
possibilita aos professores uma base fundamental para a educação global da
criança.
Segundo Le Boulch as questões psicomotoras são de grande
importância, pois colaboram para o desenvolvimento psicomotor da criança,
logo contribuem para a evolução de sua personalidade e de seu sucesso
escolar.
De acordo com Le Boulch (1988, p. 47) a Psicocinética é uma
educação psicomotora de base que tem sequência no plano das aquisições
instrumentais e das atividades de expressão, visando desenvolver e manter a
disponibilidade corporal e mental.
Com relação à imagem do corpo, Le Boulch diz que ela representa
uma forma de equilíbrio entre as funções psicomotoras e a sua maturidade com
a finalidade de favorecer o desenvolvimento. É organizada como sendo o
centro da personalidade, a partir das relações recíprocas entre o organismo e o
meio. Para Le Boulch (1982, p.27)
A concepção de aprendizagem, na psicocinética, permite propor uma metodologia que baseia as aprendizagens motoras em um desenvolvimento metódico das aptidões psicomotoras; seu coroamento se manifesta por uma disponibilidade corporal, a tradução objetiva do corpo operatório.
Segundo Le Boulch o corpo operatório, diz respeito à fase na qual a
criança poderá atuar tanto na sua própria motricidade como no meio em que
vive, ou seja, sua motricidade já estaria alinhada com suas representações
mentais.
Para Le Boulch a família tem papel importante na motivação da
criança, porém a mesma pode exercer papel negativo quando pressiona a
criança em demasia.
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Le Boulch (1988) afirma que os pré-requisitos para a leitura e escrita
são psicomotores:
[...] a escrita é, antes de mais nada, um aprendizado motor [...] antes que a criança aprenda a ler, isto é, antes de sua entrada no curso preparatório, o trabalho psicomotor terá como objetivo proporcionar-lhe uma motricidade espontânea, coordenada e rítmica, que será o melhor aval para evitar os problemas de disgrafia. [...] Este aprendizado motor exige o desempenho da função de interiorização. [...] Percepção e representação mental do espaço na leitura e na escrita. [...] A boa visualização e a fixação das formas e, principalmente, a possibilidade de respeitar sua sucessão impõe o domínio, pelo menos implícito, de uma orientação fixa, da qual depende a ordem temporal tanto da decifração como da reprodução. O que acabamos de descrever como problema representa uma das principais causas de fracasso no aprendizado da leitura. As simples disgrafias, que podem ser vinculadas aos problemas de coordenação, representam entraves, mas raramente estão na origem de fracassos tão graves, já que não discutem a visualização das sequências gráficas. [...] Dominância lateral e aprendizagem da leitura [...] A dificuldade de orientação e o problema de leitura não passam de dois sintomas ligados á mesma causa: a dislateralidade. (LE BOULCH, 1988, p. 33)
Como podemos perceber de acordo com o autor, a psicomotricidade
é a resposta para o não comprometimento pedagógico da criança, que sendo
trabalhada desde cedo, é possível evitar prováveis dificuldades de
aprendizagens, que como vimos está diretamente ligado a aspectos
psicomotores.
Le Boulch também aborda a questão da socialização, como função
da boa evolução da imagem do corpo próprio (1988). Para ele ela acontece
desde o início do desenvolvimento psicomotor. A socialização seria construída
por meio de reflexões e de princípios afetivos que estariam ligados a imagem
que a criança tem de seu corpo, pois para se ter um bom relacionamento social
é preciso antes de tudo que a imagem do corpo esteja concretizada.
A criança desvenda o mundo através de seu corpo, e é por meio
desse corpo que ela irá conhecer sensações e situações, descobrindo tudo a
sua volta.
Para Le Boulch o desenvolvimento psicomotor é fundamental no
desenvolvimento de outras habilidades, como a alfabetização.
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Para Vitor Da Fonseca, a psicomotricidade ocupa lugar na educação
perceptivo-motora, ou seja, na educação global que se processa junto ao
movimento que de acordo com o autor é o meio pelo qual a criança se
comunica com o mundo a sua volta. A psicomotricidade então colabora para os
aspectos sócio-educativo das crianças.
De acordo com Fonseca (2008, p. 9) a psicomotricidade é definida
como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as
influências recíprocas e sistêmicas entre o psiquismo e a motricidade.
Segundo Fonseca (1989), a motricidade abrange todas as
mudanças, pelas quais o sujeito vai passar da concepção até a morte. Estamos
sempre evoluindo, logo Fonseca (1989, p. 7) afirma que neste período surgem
processos evolutivos e hierarquizados, quer num plano biológico, quer num
plano social.
Nosso cérebro se desenvolve por meio da motricidade, se não há
movimentos, não há pensamentos.
Segundo Fonseca (1989, p.9), motricidade sem cognitividade é
possível, mas cognitividade sem motricidade não o é.
O desenvolvimento da motricidade colabora para o desenvolvimento
mental do ser humano. Fonseca verificou que problemas no desenvolvimento
motor podem acarretar problemas no desenvolvimento da linguagem e da
cognição.
Vitor da Fonseca (1988) aborda que a psicomotricidade é
atualmente considerada como a relação superior da motricidade, produto de
uma relação compreensiva entre a criança e o meio. É um instrumento
exclusivo por meio do qual a consciência se forma e se materializa.
Trata-se de conceber educativa, reeducativa e terapeuticamente a psicomotricidade como um processo relacional e inteligível entre situação e ação, entre estímulos e respostas, numa linguagem mais específica, entre gnosias e praxias. Isto é, a psicomotricidade subentende uma concepção holística do ser humano, e fundamentalmente de sua aprendizagem, que tem por finalidade associar dinamicamente o ato ao pensamento, o gesto à palavra e as emoções aos símbolos e conceitos; ou, numa linguagem mais neurocientífica, associar o corpo, o cérebro e os ecossistemas envolventes, ou seja, tudo o que faz um movimento ser
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inteligente ou psiquicamente elaborado e controlado (FONSECA, 2004, p. 10)
Como vimos a psicomotricidade segundo os autores descritos acima é
de grande importância para a aprendizagem, ela é vista não apenas como um
mero recurso pedagógico, e sim como a diferença nesse processo de
desenvolvimento cognitivo.
Sabemos que é a partir de nossos movimentos que comandamos nosso
cérebro, logo é preciso que nosso corpo seja estimulado desde cedo para que
nossos pensamentos se processem de maneira satisfatória e nosso corpo
tenha um desenvolvimento maduro.
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CAPÍTULO II
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA
APRENDIZAGEM DA CRIANÇA DE 2 A 5 ANOS DA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Os primeiros anos de vida da criança são de grande importância,
acontece de forma muito rápida o desenvolvimento da inteligência, da
afetividade, das relações sociais, e a realização desse desenvolvimento irá
definir suas capacidades futuras
Seu próprio corpo é o primeiro objeto que a criança compreende,
este conhecimento é estruturado através de sensações, mobilizações e
deslocamentos.
O desenvolvimento do Esquema Corporal, Lateralidade,
Estruturação Espacial, Orientação Temporal e Pré-Escrita são os elementos
básicos da psicomotricidade que são empregados durante o processo de
aprendizagem e que são fundamentais para o desenvolvimento da
aprendizagem, logo havendo defasagem em algum deles possivelmente a
criança estará comprometendo sua aprendizagem.
O esquema corporal resulta das experiências que possuímos provenientes do corpo e das sensações que experimentamos, por exemplo: andar, sentar-se, segurar o lápis e a caneta de modo correto, com equilíbrio e com movimentos coordenados depende de uma noção adequada do esquema corporal. O esquema corporal, portanto, regula a postura e o equilíbrio. (Moraes e Santos apud ALVES, 2012, P. 55)
O desenvolvimento do esquema corporal pode ser dividido em três
etapas: corpo vivido (até três anos de idade), corpo percebido ou descoberto
(três a sete anos) e corpo representado (sete a doze anos).
A 1ª etapa corresponde à fase da inteligência sensório-motora de
Piaget que diz respeito à experiência vivida pela criança, por meio da
exploração do meio, onde seus movimentos são imitações. Isso acontece
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porque o bebê em seu primeiro ano de vida aprende a eliminar
comportamentos que para eles não são proveitosos, estabelecendo ligações
entre seus movimentos e suas sensibilidades. Logo que a criança começa a se
diferenciar do meio, fala-se em imagem do corpo, pois o “eu” torna-se integrado
e individualizado.
A etapa do corpo percebido ou descoberto devido à função de
interiorização obedece à organização do esquema corporal, que de acordo com
Le Boulch é a possibilidade de deslocar sua atenção do meio ambiente para
seu corpo próprio a fim de levar a tomada de consciência. Assim a criança
adquiri uma maior coordenação dentro de um espaço e tempo determinado,
pois passa a aprimorar e apurar seus movimentos. Seu corpo passa a ser sua
referência para se localizar e localizar os objetos em seu espaço e tempo. Já
compreende os conceitos como embaixo, acima, direita, esquerda, além de
noções temporais, como o que vem antes, depois, primeiro, último.
Esta etapa segundo Le Boulch pode ser distinguida como pré-
operatório, pois está submetido á percepção em um espaço em parte
representado, porém ainda centralizado sobre o próprio corpo.
Já na terceira etapa, a do corpo representado o esquema corporal
está estruturado, a criança já tem noção do todo e das partes de seu corpo,
conhece as posições e tem maior controle e domínio corporal.
A aprendizagem é um processo difícil que está sujeito a um conjunto
de capacidades e aptidões da criança. Uma dessas habilidades faz parte do
desenvolvimento motor. Ao iniciar o processo de leitura e escrita a criança
precisa estar preparada para acolher aquele conhecimento, por isso, há o
período pré-escolar que ajuda no desenvolvimento de algumas habilidades.
Toda ação vem antes da fala, e é por meio da fala, que a criança
associa os fatos culturais ao desenvolvimento pessoal. Quando acontecem
falhas no desenvolvimento motor poderá também ocorrer falhas na aquisição
da linguagem verbal e escrita. Quando a criança não tem um repertório de
vivências concretas que serviriam ao seu universo simbólico formado na
linguagem, isso pode afetar o seu processo de aprendizagem.
A educação através dos movimentos dá apoio a diferentes aspectos
relacionados ao ensino, como atenção, questões matemáticas, entre outros. As
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dificuldades escolares podem estar relacionadas a aspectos afetivos, sociais
ou eletivos que podem ser trabalhados com a psicomotricidade, através de
atividades que possibilitem a criança de expressar sua espontaneidade,
eliminando assim suas dificuldades de comunicação, expressão e timidez.
A criança, cujo desenvolvimento psicomotor é mal constituído, poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na direção gráfica, na distinção de letras, na ordenação de sílabas, na abstração, na análise gramatical, entre outras. (ALVES, 2012: 144).
Como podemos perceber o aspecto psicomotor está totalmente
ligada à aprendizagem, que trabalhada desde o início pode trazer muitos
benefícios na vida escolar da criança, mas que deixada de lado pode acarretar
sérios problemas de aprendizagem.
Faz-se necessário dizer que o professor tem grande importância no
processo de aprendizagem da criança, e este deve estar atento ao
desenvolvimento psicomotor de seu aluno, observando seus movimentos, para
então auxiliá-los e intervir quando necessário para que o mesmo tenha um bom
desempenho escolar no futuro.
Podemos dizer então que a psicomotricidade é vista como uma
grande oportunidade para sanar dificuldades de aprendizagem, pois auxilia no
desenvolvimento das capacidades básicas.
2.1 – Aprendizagem segundo Henry Wallon, Vigostky
e Jean Piaget
Henry Wallon é provavelmente o pioneiro da psicomotricidade, ele
relaciona o movimento ao afeto, a emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do
indivíduo.
De acordo com Wallon o movimento é a única expressão, e o
primeiro instrumento do psiquismo, e que o desenvolvimento psicológico da
criança é o resultado da oposição e substituição de atividades que precedem
umas as outras.
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Pela motricidade, a criança exprime as suas necessidades neurovegetativas de bem-estar ou de mal-estar, que contem em si uma dimensão afetiva e interativa que se traduz em uma comunicação somática não- verbal muito complexa, muito antes do surgimento da linguagem verbal propriamente dita. (FONSECA, 2008, p: 15)
Wallon refere-se ao esquema corporal não como uma unidade
biológica ou psíquica, mas como a construção, elemento de base para o
desenvolvimento da personalidade da criança.
Segundo Fonseca (2008), Wallon teve grande participação social,
extensa produção intelectual e juntamente com Langevin, elaborou o projeto
educacional Langevin-Wallon, no qual integraram de forma original conceitos
de psicomotricidade.
É conhecido por seu trabalho sobre a Psicologia do Desenvolvimento, de postura interacionista, pois o homem seria formado não somente por influência fisiológica, mas também por influência social. Entre o indivíduo e o seu meio há uma unidade indivisível, a sociedade seria uma necessidade orgânica que determina seu desenvolvimento e consequentemente sua inteligência (FONSECA, 2008, p.15).
De acordo com Nascimento (2004, p.47)
Wallon buscou compreender o desenvolvimento infantil por meio das relações estabelecidas entre a criança e seu ambiente, privilegiando a pessoa em sua totalidade, nas suas expressões singulares e na relação com os outros. Dessa maneira, não propôs um sistema linear e organizado de etapas de evolução psíquica, mas desenvolveu sua teoria buscando compreender os objetivos da criança e os meios que ela utiliza para realizá-los, estudando cada uma das suas manifestações no conjunto de suas possibilidades. Sua teoria expõe a evolução psíquica passando de um campo a outro da atividade infantil, em textos entremeados por temos médicos e neurológicos.
Seu estudo sobre o desenvolvimento cognitivo foi centrado na
psicogênese da pessoa completa, mas seu estudo se deu a partir do
desenvolvimento psíquico da criança. Entendia que a pessoa tem de ser vista
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na sua totalidade, por todos os seus aspectos: o cognitivo, o afetivo e o motor,
um não seria mais importante que o outro.
Wallon acreditava que a cognição está alicerçada ao que ele deu o
nome de campos funcionais: o movimento, a afetividade, a inteligência e a
pessoa. O aspecto motor como aquele que se desenvolve primeiro e serve
tanto como atividade de busca de um objetivo como função de expressar algo
em relação a outro indivíduo; a afetividade atua como uma forma de mediação
das relações sociais expressadas por meio das emoções, já a inteligência
relaciona-se diretamente com as questões da linguagem e o raciocínio
simbólico, ou seja, habilidades lingüísticas e a capacidade de abstração. Por
fim, mas não de menor importância, a pessoa como o campo que coordena os
demais, e responsável pelo desenvolvimento da consciência e da identidade do
eu. Diante disso, Nascimento (2004, p.53) afirma que:
A construção da pessoa acontece na medida em que a criança, opondo-se ao outro, distancia-se do meio onde está envolvida. A sucessão de elementos de ordem afetiva e cognitiva se alterna no processo de desenvolvimento, sublinhando os aspectos subjetivos e objetivos na construção do “eu” e do mundo. O recorte corporal permite uma objetivação da imagem e, portanto, a consciência de um “eu” subjetivo, que o espelho reflete.
A questão da motricidade é bem presente na teoria walloniana,
entendida como um instrumento privilegiado de comunicação da vida psíquica.
A criança, que ainda não possui a linguagem verbal, demonstra por
meio da motricidade suas mais diversas necessidades, traduzidas, portanto, de
uma forma não verbal e com aspectos afetivos de expressão de bem ou mal
estar. Nesse sentido Fonseca (2008, p.15) esclarece:
A motricidade contém, portanto, uma dimensão psíquica, e é um deslocamento no espaço de uma totalidade motora, afetiva e cognitiva, que se apresenta em termos evolutivos segundo Wallon sob três formas essenciais: deslocamentos passivos ou exógenos, deslocamentos ativos ou autógenos e deslocamentos práxicos.
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O desenvolvimento para Wallon é um processo no qual a pessoa
passa de um estado de intenso envolvimento com o meio e no qual não se
distingue e passa a se reconhecer como diferente dele. Esse desenvolvimento
acontece com a série de estágios, oscilando entre a afetividade, na busca da
construção do eu, e a razão (inteligência/cognição) como forma de
compreender a realidade, acontecendo de forma estável, mas não de forma
linear e fixa podendo ainda assim existir retrocessos. Esses retrocessos não
fazem com que o que foi adquirido seja eliminado, mas um amplia as
competências adquiridas pelo outro.
De acordo com esse pensamento, Nascimento (2004 p.51) indica
que a descrição das etapas evidencia o que Wallon denomina princípios
funcionais – integração, preponderância e alternância -, que definem o
desenvolvimento como um processo descontínuo, marcado por rupturas e
crises.
O primeiro dos estágios é o impulsivo-emocional que compreende o
primeiro ano de vida, quando o bebê não sabe diferenciar o que é ele e o que é
o mundo. Nesta fase, ocorre a predominância da afetividade a qual norteia
suas primeiras reações, sendo que as relações com mundo físico se dão a
partir das emoções, sendo a motricidade a expressão delas, tem-se a
afetividade impulsiva, emocional, que se nutre pelo olhar, o contato físico
expressando-se pelos gestos, mímicas e posturas.
Tem o estágio do sensório-motor e projetivo que vai até os três anos
de idade, onde o interesse é voltado para a exploração sensorial e motora do
mundo físico, o que está pensando traça em atos motores, vai fazendo e
pensando ao mesmo tempo, ocorrendo o desenvolvimento da função
simbólica. Assim, o cognitivo dá margem ao ato motor, a ideia que a criança
tem, ela projeta.
O estágio do personalismo abrange dos três aos seis anos de idade,
cuja tarefa principal é a formação da personalidade, constroem a consciência
de si, por meio das interações sociais. A criança tenta se compreender e
compreender o mundo. Pode expressar o que sente porque já fala, ou seja, a
afetividade incorpora os recursos intelectuais, a chamada afetividade simbólica,
se expressa por palavras, ideias.
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O quarto estágio é o categorial, por volta dos seis anos de idade, o
cognitivo auxilia na entrada do mundo da alfabetização, avanços no cognitivo
que dirigem o interesse das crianças pelas coisas, para o conhecimento e
conquista do mundo externo. No plano motor os gestos são mais precisos,
elaborados mentalmente com previsão de etapas e consequências.
Para Wallon, o estudo do desenvolvimento psicomotor é o estudo
sobre como a criança e o jovem constroem a totalidade das relações
organismo-meio (FONSECA, 2008, p: 50).
A teoria de Wallon possibilitou o início do pensamento psicomotor e
a valorização do indivíduo de maneira integral, dando sugestões para muitos
outros estudiosos que se apropriaram de seus conhecimentos e contribuíram
para o desenvolvimento desse pensamento.
Na perspectiva sociointeracionista de Vygotsky a cultura torna-se
parte da natureza humana; o organismo e o meio determinam-se mutuamente
de acordo com os pressupostos do materialismo-dialético, ou seja, o biológico
e o social não estão separados, mas exercem influência entre si. Diante disso,
a perspectiva vygotskyana afirma que o homem constitui-se como tal por meio
das interações humanas (MELLO, 2004).
O homem transforma e é transformado no processo de construção
das relações com a cultura, sendo uma relação dialética com o mundo que
possibilita que o sujeito se desenvolva e se constitua. O ser humano não é
apenas o resultado das relações de seu círculo social, mas também
protagonista da construção dessas relações (MELLO, 2004). Podemos então
afirmar que o homem necessita do meio social para se desenvolver e sendo
um personagem ativo utiliza-se de sua função motora.
Quanto à psicomotricidade, Vigostky não trata especificamente
sobre esse tema, mas ficam nítidos em sua obra todos os aspectos do
desenvolvimento psicomotor. Em se tratando das funções psíquicas superiores,
as tipicamente pertencentes ao psicológico humano, por se diferenciarem dos
reflexos e de outras funções mais primárias como a atenção voluntária,
controle de comportamento, memorização ativa, pensamento abstrato e o
planejamento das ações. Dessa forma, é possível afirmar se tratar de questões
de interesse da área psicomotora, sendo que, algumas dessas funções se
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relacionam diretamente com a praxia humana como uma função psíquica
superiora.
Neste sentido, Fonseca (2008) faz uma relação ao pensamento de
Vygotsky, segundo o qual a cultura passa a incorporar a natureza dos
indivíduos e, salientando o pensamento de que as funções psíquicas são de
origem sociocultural e que emergem de funções psicológicas elementares de
origem biológica. A analogia é de que a psicomotricidade, portanto seria de
origem sociocultural que emerge da motricidade que por sua vez é biológica.
Nessa questão o autor diz que:
As funções psicológicas superiores, logo as que encerram a noção de psicomotricidade, surgem da interação de fatores motores, que são parte da matriz biológica da espécie humana, com os fatores psíquicos, que evoluíram ao longo de um prolongado processo histórico e social. (FONSECA, 2008, p.378).
Mello (2004) ao mencionar o tema desenvolvimento da inteligência
para Vygotsky, afirma que é o resultado da aprendizagem e que características
inatas do sujeito são condições indispensáveis para seu desenvolvimento, mas
que não são suficientes por não terem força motora em relação ao
desenvolvimento.
Observamos então que Vigostky abrange a psicomotricidade em sua
obra, pois se o sujeito necessita da interação com o meio para se desenvolver,
logo os aspectos psicomotores estão radicados nessa relação dialética entre
indivíduo e meio.
Segundo Piaget (1987), a origem do desenvolvimento cognitivo dá-
se do interior para o exterior, acontecendo em função da maturidade da
pessoa. Piaget diz que o ambiente poderá influenciar no desenvolvimento
cognitivo, mas seu destaque incide no papel do ambiente para o
desenvolvimento biológico, destacando a maturidade do desenvolvimento.
Piaget, ao falar sobre a aprendizagem, tem um ponto de vista
diferente do que normalmente se aplica à esta palavra. Piaget separa o
processo cognitivo inteligente em duas palavras: aprendizagem e
desenvolvimento. Para Piaget, segundo MACEDO (1994), a aprendizagem
refere-se à aquisição de uma resposta particular, aprendida em função da
25
experiência, adquirida de forma sistemática ou não. Enquanto que o
desenvolvimento seria uma aprendizagem de fato, sendo este o responsável
pela formação dos conhecimentos.
Piaget teve grandes contribuições no campo da psicomotricidade,
ele foi um dos autores que mais estudou as interações entre a motricidade e a
percepção, através de uma ampla experimentação, para ele a relação da
motricidade com a inteligência é anterior a aquisição da linguagem.
A teoria de Piaget assegura que a inteligência se estabelece a partir
da atividade motriz das crianças. Nos primeiros anos de vida, até os sete anos,
aproximadamente, a educação da criança é psicomotriz. O conhecimento e a
aprendizagem estão centrados na ação da criança sobre o meio, os demais e
as experiências através de sua ação e movimento.
Segundo Piaget, a inteligência é uma acomodação ao meio
ambiente e para que ela se desenvolva é preciso que o indivíduo descubra o
meio em que está inserido.
O movimento se consolida através da coordenação dos sistemas
sensório-motores e a linguagem está baseada nesse sistema com estruturas
assimiladoras. A linguagem é uma progressiva construção mental que usa a
imagem, o símbolo e por último o sinal.
[...] as atividades sensório-motoras passam, com a integração da experiência, a atividades perceptivo-motoras, tornando possível a interiorização das imagens mentais que por sua vez, constituirão, como primeiras estruturas operacionais, o suporte da linguagem e da reflexão (DANTAS, 1992, apud FONSECA, 2008, p. 81).
O movimento constrói um sistema de esquemas de assimilação e
forma o real a partir da estrutura espaço temporais e causais, formando
funções simbólicas que produzem a linguagem e essa dá origem à
representação e ao pensamento.
Efetivamente, ao dar-se uma estrutura cognitiva à ação e a motricidade, a inteligência tem de coordenar a ação, de forma a acomodar-se ao objeto ou ao real. A criança, acomodando-se ao real e aos objetos, conhece-os, simboliza-os pode representá-los. Mais uma vez, a motricidade é a estrutura de
26
troca que permitirá à criança assimilar e acomodar-se ao real e aos objetos. O pensamento da criança é inteligente quando se apóia no real ou nos objetos, pois só pela ação e pela motricidade poderá assimilá-los e acomodá-los (FONSECA, 2008, p. 84).
Os objetos do conhecimento têm características e particularidades
que nem sempre são assimiladas pela pessoa. Assim, uma criança que já
construiu o esquema de sugar, com maior facilidade usa a mamadeira, mas
terá que mudar o esquema para chupeta, comer com colher, etc. Também será
mais fácil para essa criança, ela já tem esquemas assimilados.
Piaget chama este processo de acomodação, onde a criança amplia
ou modifica um esquema de assimilação, ainda que seja estimulado pelo
objeto, é também possível graças à atividade do sujeito, pois é este que se
transforma para a elaboração de novos conhecimentos.
Com sucessivas aproximações, construindo acomodações e
assimilações, completa-se o processo a que Piaget chamou de adaptação.
Cada adaptação formada e alcançada, o esquema assimilador se torna
consolidado e disponível para que a pessoa alcance novas acomodações.
Segundo WAZLAVICK (1993), pode-se dizer que a adaptação é um
equilíbrio permanente entre a assimilação e a acomodação.
Segundo Piaget (WADSWORTH, 1996), a teoria da equilibração, de
uma maneira geral, trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a
acomodação, logo, é entendida como um mecanismo auto-regulador,
necessária para garantir à criança uma interação eficiente dela com o meio-
ambiente.
A importância da teoria da equilibração, é vista especialmente frente
a dois postulados organizados por PIAGET (1975, p.14):
Primeiro Postulado : Todo esquema de assimilação tende a alimentar-se, isto é, a incorporar elementos que lhe são exteriores e compatíveis com a sua natureza. Segundo Postulado : Todo esquema de assimilação é obrigado a se acomodar aos elementos que assimila, isto é, a se modificar em função de suas particularidades, mas, sem com isso, perder sua continuidade (portanto, seu fechamento
27
enquanto ciclo de processos interdependentes), nem seus poderes anteriores de assimilação.
O pensamento vai se tornando cada vez mais complicado e
abrangente, interagindo com objetos do conhecimento cada vez mais
diferentes e abstratos.
A educação é um processo necessário, é importante considerar o
principal objetivo da educação que é autonomia, tanto intelectual como moral.
A criança utiliza o sistema, através de sua própria estrutura mental,
onde Piaget ressalta a lógica, a moral, a linguagem e a compreensão de regras
sociais que não são inatas, que não são impostas de dentro para fora e sim
construídas pelo sujeito ao longo do desenvolvimento, através de estágios
diferentes um do outro.
Piaget, quando fala de sua teoria sobre o desenvolvimento da
criança, a relata, basicamente, em 4 estados, que ele próprio chama de fases
de transição (PIAGET, 1975). Essas 4 fases são :
• Sensório-motor (0 – 2 anos);
• Pré-operatório (2 – 7,8 anos);
• Operatório-concreto (8 – 11 anos);
• Operatório-formal (8 – 14 anos);
No estágio sensório- motor o bebê começa a construir esquemas de
ação para assimilar mentalmente o meio.
Na fase do pré-operatório aparece na criança a capacidade de
substituir um objeto ou acontecimento por uma representação, sendo possível
graças a função simbólica.
Na fase do operatório-concreto a criança desenvolve noções de
tempo, espaço, velocidade, ordem... já é capaz de relacionar diferentes
aspectos e abstrair dados da realidade.
O operatório-formal é a fase onde as estruturas cognitivas da criança
alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento. A criança já é capaz de
abstrair totalmente, pensar com lógica, formar hipóteses e buscar soluções.
A identificação entre Wallon e Piaget está na preocupação em
estabelecer estágios no desenvolvimento do indivíduo quanto ao aspecto motor
28
e cognitivo. Piaget desenvolveu estes estágios de forma sucessiva e Wallon de
forma dialética.
Ambos discordam quanto ao objetivo de estudo. Piaget focou o
desenvolvimento, logo precisou entender o desenvolvimento da criança, já
Wallon, se interessou desde o início pelo desenvolvimento psicológico da
criança e depois o desenvolvimento do conhecimento.
Percebemos que mesmo com diferenças no início de seus estudos,
o resultado foi importante, pois trouxe boas contribuições para o
desenvolvimento do conhecimento e da aprendizagem.
29
CAPÍTULO III – O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA
CRIANÇA DE 2 A 5 ANOS DE IDADE
A psicomotricidade ocupa um lugar importante na educação infantil,
principalmente na primeira infância, pois se reconhece que existe uma grande
interdependência entre os desenvolvimentos motores, afetivos e intelectuais.
As fases do desenvolvimento psicomotor devem ser consideradas
como resultado de um processo reacional e relacional complexo e não somente
conforme quadro de maturação neurológica.
Quando falamos sobre o desenvolvimento psicomotor, temos que
levar em conta as reações do ser ao ambiente que o cerca e as semelhanças
com os demais.
O desenvolvimento é contínuo. A criança desenvolve-se de maneira consecutiva desde os primeiros dias de vida. Sabemos que cada criança é única e as fases do desenvolvimento são comuns a todas as crianças, porém as mobilidades físicas, as diferentes maneiras de ser, o meio e o meio ambiente familiar indicam que crianças com idades iguais podem comportar-se de maneiras diferentes. (ALVES, 2012, P.99).
De acordo com as fases do desenvolvimento infantil aos dois anos
surgem as primeiras manifestações simbólicas, onde a criança constrói o
primeiro rascunho do seu esquema corporal e descobre o mundo exterior.
Nesta fase, é necessário tocar, manusear, subir, descer, entrar, sair,
ou seja, vivenciar várias experiências para que ela possa aprender as formas,
as dimensões, as direções, as orientações, as superfícies, os volumes e, assim
melhor ajustar-se às situações completas.
O desenvolvimento corporal aumenta o desenvolvimento e o
conhecimento do real, enriquecendo ainda mais a criança e evolui sua
linguagem.
Aos três anos a criança descobre o outro diante dela e começa a
compor seu “eu social”.
30
Aos cinco anos, algumas partes do corpo não estão com maturação
completa, o que ocasiona inúmeras sincinesias.
O meio em que a criança vive também é muito importante para o seu
desenvolvimento escolar, ele deve ser um meio favorável para que sua
maturação seja normal e sua inteligência seja desenvolvida, logo o bom
desempenho da criança irá depender de como a mesma foi preparada em seu
meio familiar.
O movimento, assim como o exercício, é essencial no
desenvolvimento físico, intelectual e emocional da criança, pois permite que a
mesma explore o mundo exterior através de experiências concretas, em que
são construídas as noções básicas para o desenvolvimento intelectual.
De acordo com Alves (2012, p.19)
O importante não é a criança realizar uma corrida de obstáculos, o mais rápido possível, mas sim desenvolver seu corpo e sua mente de maneira equilibrada. A partir do momento em que certas aquisições, como a linguagem, por exemplo, se desenvolvem rapidamente, os progressos em outras áreas estacionam, é preciso compreender que a criança não pode centrar seus esforços em todos os aspectos ao mesmo tempo.
É necessário que a educação seja pensada de forma que atenda a
criança de acordo com sua idade, suas necessidades e seus interesses e não
apenas com objetivo específico.
A psicomotricidade tem como função estimular os movimentos da
criança, logo ela vai motivar a capacidade de sensações por meio do corpo,
onde a criança aprende a organizar e cultivar a aptidão de seus movimentos,
percebendo seu corpo e conhecendo seus movimentos.
É através de seus movimentos que a criança articula sua
afetividade, desejos e suas possibilidades de comunicação.
31
CONCLUSÃO
De acordo com a pesquisa realizada é possível concluir que a
psicomotricidade não é só importante, mas sim fator primordial no
desenvolvimento escolar da criança.
O presente estudo mostra que o movimento está presente em todas as
fases de nossa vida, logo entende-se que o trabalho psicomotor deve fazer
parte do processo de desenvolvimento da criança desde cedo, tendo seu início
em seu meio familiar, pois como vimos a família é o primeiro educador da
criança, e sendo esta estimulada desde cedo, só tem a evoluir cada vez mais
seu potencial motor.
Através desse trabalho, buscou-se analisar, identificar e conhecer um
pouco mais sobre a importância da psicomotricidade no desenvolvimento
escolar infantil de acordo com estudos de diversos autores.
Vimos que todos os autores aqui mencionados trouxeram grandes
contribuições para psicomotricidade, onde pode-se perceber que no geral todos
consideram a psicomotricidade essencial no processo de aprendizagem, pois
como foi dito, pode haver motricidade sem cognição, mas não há cognição sem
motricidade.
De acordo com o estudo apresentado vimos que muitas das
dificuldades de leitura e escrita estão ligadas a problemas relacionados a
atividades motoras.
A psicomotricidade é a junção do aspecto motor com o aspecto
cognitivo, logo, através do trabalho psicomotor a criança terá um
desenvolvimento cognitivo mais satisfatório, evitando assim possíveis
dificuldades de aprendizagem.
Entende-se assim que a psicomotricidade é parte da construção do
“eu” da criança, seu esquema corporal é uma construção contínua, logo é
componente de base para o desenvolvimento total da criança.
32
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Acesso em 19/01/13 as 18:10.
35
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO
8
CAPÍTULO I 10
Compreendendo a psicomotricidade 10
1.1 - Fundamentos da psicomotricidade 11
1.2 - A psicomotricidade segundo Jean Le Boulch e Vitor da Fonseca 13
CAPÍTULO II
A importância da psicomotricidade na aprendizagem da criança de 2 a 5
anos da educação infantil.
17
2.1 - Aprendizagem segundo Henry Wallon, Vigostky e Jean Piaget
19
CAPÍTULO III 29
O desenvolvimento psicomotor da criança de 2 a 5 anos de idade.
29
CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 32
WEB GRAFIA 34
ÍNDICE 35