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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NA APRENDIZAGEM E NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: FLÁVIA DA SILVA ALVES Orientadora Edla Trocoli Niterói 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NA

APRENDIZAGEM E NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: FLÁVIA DA SILVA ALVES

Orientadora

Edla Trocoli

Niterói

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NA

APRENDIZAGEM E NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Educação Infantil e

desenvolvimento.

Por: Flávia da Silva Alves

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me ajudado

sempre, dando-me forças em todos os momentos de

minha vida.

A minha família pelo incentivo e amor, pois sem eles

tudo seria mais difícil.

A todas as minhas amigas pela amizade e incentivo

e em especial a Ana Paula, Lucilene e Luciana que

me estenderam a mão na hora que mais precisei.

O meu carinho a professora Edla que me orientou e

me passou segurança quando achei que não ia

conseguir.

Agradeço também a todos que acreditam na

educação e que fazem parte dela.

4

DEDICATÓRIA

Dedico a minha família por me

incentivar e apoiar nas minhas

escolhas. Também as crianças da

escola onde trabalho por ter

despertado o meu interesse pelo tema.

5

RESUMO

Esta monografia tem como tema a importância dos contos de fadas na

aprendizagem e no desenvolvimento da criança na educação infantil com

finalidade de Reconhecer à importância da literatura infantil e incentivar a

formação do hábito de leitura. A literatura infantil é um caminho que leva a

criança a desenvolver a imaginação, emoções de forma prazerosa e

significativa. Através das histórias ouvidas pela professora fazendo com que a

criança desenvolva a imaginação e a fantasia. Os contos infantis oferecem a

criança uma forma lúdica de aprender e contribuir na formação do ser humano.

.

6

METODOLOGIA

A presente pesquisa teve como base estudos bibliográficos.

Primeiramente foram selecionados livros de autores especialistas no tema e a

partir da leitura destes, foram feito a pesquisa.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................08

CAPÍTULO I - Um breve histórico dos contos de fadas....................10

CAPÍTULO II - A relevância de incentivar a leitura na educação infantil ..17

CAPÍTULO III – A importância dos contos de fadas na educação infantil...31

CONCLUSÃO.............................................................................................39

BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................41

ÍNDICE........................................................................................................42

8

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa pretende analisar a importância dos contos de fadas na

educação infantil e seu papel no processo de ensino e aprendizagem das

crianças.

“A educação infantil é considerada a primeira etapa da educação

básica” (título V, capítulo II, seção II, art. 29) e tem como princípio, antes de

tudo, propiciar experiências prazerosas para as crianças, a fim possibilitar seu

desenvolvimento social, emocional e cognitivo.

Assim, percebe-se a importância dos contos de fadas no contexto da

educação infantil, pois a criança constrói uma relação do mundo exterior para o

mundo interior, construindo valores, desenvolvendo a criatividade, a

expressão, a linguagem, o senso crítico, refletindo suas ações e valorizando a

leitura.

Através dos contos de fadas o professor tem a oportunidade de

apresentar o encantado mundo da leitura, habitado por seres incríveis e que

chamam a atenção dos pequenos, a fim de incentivar de forma lúdica a

formação do importante hábito da leitura. Pois, “há que se desenvolver o gosto

pela leitura, a fim de que possamos formar um leitor para toda a vida”

(VILLARDI,1999, P.11).

Com isso, o conto de fadas é utilizado como importante ferramenta

pedagógica na educação infantil, pois este gênero literário proporciona um

ambiente rico e de estímulos, sendo assim, um facilitador no processo de

ensino aprendizagem e o professor o mediador deste processo, incentivando o

hábito de leitura nos pequenos de forma lúdica.

“A criança é um sujeito social e histórico que pertence a uma organização familiar e que também está inserida em uma sociedade, é marcado pelo meio que se desenvolve”. (REFERENCIAL CURRICULAR, 1998)

Ou seja, a criança se desenvolve de acordo com os estímulos e

incentivos que têm, e o seu primeiro contato com o ambiente social é através

9

da família, sendo indispensável, que os pais incentivem seus filhos na

apreciação e no gosto pela leitura.

Sendo assim, a presente pesquisa será feita em perspectiva de ilustrar a

magia dos contos de fadas, seu contexto histórico, valorizar sua importância na

formação da criança na educação infantil, além de colaborar para a ampliação

do trabalho do professor dentro de sala de aula e do papel dos responsáveis

como principal incentivador, visando o pleno desenvolvimento infantil.

Portanto, para atingir os objetivos desta pesquisa os capítulos foram

distribuídos de acordo com a abrangência do tema:

No capítulo I será apresentado um breve contexto histórico da literatura

infantil, em destaque, os principais contos de fadas e seus autores.

No capítulo II será abordado a relevância de incentivar a leitura

prazerosa no ambiente infantil, enfatizando o papel do professor como

mediador e dos pais como incentivadores.

No capítulo III destaque para a importância dos contos de fadas na

educação infantil e no processo de aprendizagem da criança, incentivando o

resgate do lúdico, do gosto pela expressão oral e corporal.

10

CAPITULO I

BREVE HISTÓRICO DOS CONTOS DE FADAS

Contar histórias, desde os primórdios da humanidade, é uma atividade

importante na transmissão de conhecimentos e valores humanos. Essa

atividade mesmo sendo simples, é tão fundamental e pode permear entre se

tornar uma rotina banal ou representar um momento de grande valia na

educação das crianças. O homem, a tempos é seduzido pelas narrativas, quer

sejam elas de ordem simbólica ou realista, que diretamente ou indiretamente

falam da vida, relacionando-as com deuses ou com os próprios homens.

Dentre essas narrativas estão os contos de fadas.

Geralmente, a estrutura básica de um conto de fadas é uma narrativa curta,

dotada de tempo, espaço, clímax, enredo e o número reduzido de

personagens. São desenvolvidos dentro de um mundo de fantasia (reis,

rainhas, príncipes, bruxas, gigantes anões, animais, objetos mágicos, tempo e

espaço fora da realidade conhecida etc.). Tem como eixo gerador uma

problemática existencial, a realização do herói ou da heroína que tem de

enfrentar grandes obstáculos antes de triunfar contra o mal, geralmente

envolvendo algum tipo de magia ou encantamento. Segundo Costa (2003,

p.16) “o enredo dos contos de fadas é constituído pelos obstáculos, ou provas

que precisam ser vencidas, como um verdadeiro ritual iniciativo, para que

alcance sua auto realização existencial, seja pelo encontro de seu verdadeiro

“eu”, seja pela conquista de seu objetivo”.

O cenário predileto dos contos maravilhosos geralmente são florestas

encantadas , majestosos castelos, ficando por conta do leitor e de sua

imaginação a criação dos detalhes. Para Góes as personagens possuem

características marcantes na estrutura dos contos de fadas:

Em geral, são poucas e apresentando grande unidade; às vezes crianças, outras jovens em idade de casar. Podem proceder de uma cabana muito pobre ou de um faustoso palácio encantado. Sua origem, as características que as distinguem, o modo como atuam são sempre extremamente exageradas. Ou são excessivamente boas ou

11

medrosas, belas ou tragicamente feias, perversas ou covardes, ou valentes e nobres; ou são anõezinhos, ou gigantes, bruxas ou princesas, reis disfarçados de mendigos ou mendigos convertidos em reis e cavaleiros (GÓES, 1991,p.116).

Góes também afirma que “a presença do maravilhoso é fundamental em um

conto de fadas”. O caráter imaginativo, característica predominante do conto

de fadas é dado pela presença do maravilhoso.

A presença de animais encantados nos contos de fadas também é

frequente ora como encarnação de homens, transformados em animais pela

ação da mágica de fadas e bruxas, ora como animais com atributos humanos,

que servem para ajudar, perseguir, salvar ou julgar os homens” (SANTOS,

2002, p.121).

Quanto ao tempo dessas narrativas, não há variação. Se passam

sempre em uma terra muito distante e há muito tempo atrás, apontando para

uma realidade universal. Mostrando que não faz referência a cultura de quem a

conta ou de quem a ouve. Apresentam verbos no pretérito imperfeito e

estruturas conhecidas como “Era uma vez...”, “Há muitos e muitos anos...”,

“Manhã de verão...”. E quase sempre supõem um êxito, um “final feliz” que se

obtém de maneira idêntica.

As estruturas do conto apresentadas acima não são as únicas. Um

conto de fadas não precisa ser o relato de uma jornada do herói, mesmo que

seja o mais recorrente.

A literatura registra que os contos de fadas são narrativas transmitidas

oralmente de uma geração a outra. Ainda se escreve muito a respeito dessa

modalidade de literatura, gerações e mais gerações de pessoas ouvem,

ouviram e ouvirão contos de fadas numa tentativa de abordar as questões

pertinentes ao seu entendimento sejam eles psicológicos, intelectuais,

espirituais, sociais . Ao longo do tempo, a permanência dos contos de fadas

atende aos apelos humanos, pois explicam a realidade respondendo às

necessidades, angústias, medos mesmo que de forma inconsciente. Por isso,

esse gênero age como uma ponte entre o imaginário e o real, apresentando o

12

dinamismo das diferentes culturas humanas e representam à estrutura da

realidade.

Há vários registros bastante antigos sobre os contos e seu uso nas mais

diversas culturas. Embora não seja concenso entre os autores, alguns

apontam que esse gênero tenha origem céltica (século II a.C.). Hisada (1998)

aborda os escritos de Platão, nos quais mulheres mais velhas empregavam

suas histórias recheadas de simbologia na educação de crianças, cita também

o filósofo Apuleio e o seu “O Asno de Ouro”, que, em muito, lembra o conto “A

Bela e a Fera”. A mesma autora, refere-se aos papiros dos irmãos Anúbis e

Bata, onde foram encontrados registros de contos de fadas.

Inicialmente os contos eram narrados por profissionais que tinham herdado

essa função de seus antepassados como uma simples tradição, passada de

pessoa para pessoa.

Os contos de fadas como o conhecemos hoje teve origem na França sob

iniciativa de Charles Perrault (1628-1703). Entretanto, Perrault não criou as

narrativas de seus contos, editou-as para que se adequasse à audiência da

corte do rei Luís XIV (1638-1715) (COELHO, 1997). Segundo a autora:

As narrativas folclóricas contadas pelos camponeses, governantas e serventes forneceram a matéria-prima para estes contos. Apesar do distanciamento da camada popular e do desprezo pela sua cultura, a classe nobre conhecia tais narrativas por meio do inevitável contato com o comércio ou pela presença das governantas e outros serviçais em suas residências. (COELHO, 1997, p.35).

Inicialmente tais narrações, contos, não eram para as crianças, pois

continham enredo não pertencentes ao universo infantil, como mortes,

adultério, canibalismo, dentre outros assuntos pertinentes ao imaginário dos

adultos. A criança não era percebida como um ser socialmente diferente do

adulto, compartilhava com eles o mesmo tipo de roupa, os cômodos, o

trabalho e também os ambientes sociais. Os camponeses usavam da

oralidade dos contos como uma “rota de fuga”, superando a situação

humilhante a que eram submetidos, contando com a fantasia para livrdo

13

abuso da elite e satisfazerem sua fome de vingança.

Depois de coletar, Charles Perrault eliminou as passagens obscenas ou

repugnantes dos contos para manter o seu apelo literário junto aos salões

letrados parisienses. Durante a Revolução Industrial, a diminuição da morta-

lidade infantil e o aumento da expectativa de vida contribuíram para o

desenvolvimento da noção social de infância. A criança passa a ser

considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características

próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma

educação especial, uma vez configurada socialmente a criança, a Igreja, os

moralistas e os pedagogos perceberam o potencial educativo e disciplinador

dos contos. Perrault introduziu ao final de suas histórias uma moral , para que

pudessem servir para instruir moralmente, marcando de forma simbólica a

transição da sociedade com um retrato de concepção da infância que estava

se consolidando na época.

Desta forma veio ao públlico as “Histórias ou contos do tempo passado,

com suas moralidades: Contos de Mãe Gansa” (1697), dando forma editorial

para “A Bela Adormecida no Bosque”, “Chapeuzinho Vermelho”, “O Gato de

Botas”, “As Fadas”, “A Gata Borralheira”, “Henrique do Topete” e “O Pequeno

Polegar”. Portanto, antes de ter sido voltado para as crianças, o conto de fada

foi originalmente criado tendo-se em mente os leitores adultos (COELHO,

1997).

Para Sheldon Cashdan a popularização dos contos de fadas só teria

mesmo ocorrido no século XIX, em função da atividade de vendedores

ambulantes que vendiam entre outro artigos , pequenos volumes baratos

chamados de chapbooks". Estes chapbooks (ou cheap books, "livros baratos"

em inglês), eram vendidos por poucos centavos e continham histórias

simplificadas do folclore e contos de fadas expurgados das passagens mais

fortes, o que lhes facultava o acesso a um público mais amplo e menos

sofisticado.

Nesse contexto histórico da literatura infantil os contos de fadas passam de

14

inadequados à clássicos para crianças, evidenciando sua importância em

especial para o público infantil. Vale observar, no entanto, que “Quanto mais os

contos de fadas se aproximam das crianças, mais são moralizados” (RADINO,

2003, p. 78).

Estão entre os principais autores de contos de fadas: Perrault:

“Chapeuzinho Vermelho”, “A Bela Adormecida”, “O Barba Azul”, “O Gato de

Botas”, “Pequeno Polegar”, etc. Irmãos Grimm: “A gata borralheira” (que de tão

famosa recebeu mais de 300 versões pelo mundo afora), “Branca de Neve”,

“Os Músicos de Bremen”, “João e Maria”, etc. Andersen: “O Patinho Feio”

.Charles Dickens: “Oliver Twist”, “David Copperfield” .La Fontaine: “O Lobo e o

Cordeiro” .Esopo: “A lebre e a tartaruga”, “O lobo e a cegonha”, “O leão

apaixonado”. No Brasil a literatura infantil deu os primeiros passos com as

obras de Carlos Jansen (“Contos seletos das mil e uma noites”), Figueiredo

Pimentel (“Contos da Carochinha”), Coelho Neto, Olavo Bilac e Tales de

Andrade. Porém, o mais importante escritor infantil foi Monteiro Lobato. É com

ele que se inicia, de fato, a literatura infantil no Brasil.

Na atualidade, os contos tem como base os personagens clássicos como:

princesas, príncipes, mágicos, rainhas, reis e bruxas. Porém não há como

regra a divisão entre o bem e o mal: maniqueísmo. Os conflitos não são

obrigatoriamente derivados da ação de uma personagem má e isso deruba o

paradigma tradicional. Um discurso mais sedutor e menos autoritário e

utilitarista, é outro aspecto inovador dos contos atuais, bem como a quebra de

expectativa. Muitas histórias rompem com os padrões fazendo com que o leitor

se depare com fatos e atitudes inesperados para um conto de fadas. Tal fato

pode ser observado na caracterização de Cinderela na história O fantástico

mistério de Feiurinha, de Pedro Bandeira, pois sua atitude, que vemos no

fragmento abaixo, não condiz com a imagem idealizada que os Contos de

Fadas tradicionais apresentavam de seus protagonistas, fossem príncipes ou

princesas:

15

[X] a discussão já não estava mais naquele nível elegante que se espera de duas senhoras princesas de fino trato. Dona Cinderela já empunhava o sapatinho de cristal, disposta a dar uma sapatada na amiga. (BANDEIRA, 1986:23, apud SORIANO, 2009)

Na tentativa de acompanhar a mudança de valores da sociedade

vigente, muitas mudanças são observadas. A princesa trama a fuga sem

precisar do príncipe encantado e nem sonham somente com o casamento. As

novas princesas são menos romanticas e mais ousadas o que as aproxima de

seres “mais humanos” em comparação ao modelo tradicional.

Essa quebra de expectativa leva a formação de um leitor mais crítico.

Pois exige uma atitude mais crítica por parte de seu leitor. Para isso muito

contribui a metalinguagem e o diálogo do narrador com o leitor de modo a

incitá-lo à reflexão não somente sobre os temas tratados e a história narrada,

mas também sobre o próprio caráter ficcional e artístico da obra.

Os Contos de Fadas atuais possuem temas mais polêmicos e

presentes no cotidiano. A realidade representada é mais próxima dos

leitores,porque aborda temas como a exclusão social e o preconceito ,

questões como o comportamento/papel da mulher em sociedade ou mesmo a

exclusão/diferença social.

Um outro fator que diferencia os contos atuais dos tradicionais é a

ausencia do mágico. Os conflitos dos personagens são solucionados pela ação

crítica dos próprios personagens. Valorizando a iniciativa das crianças,

transmitindo-lhes a ideia de que elas podem ser capazes de resolver seus

problemas de forma autônoma.

Os contos de fadas tradicionais visavam impor um modelo de

comportamento a ser seguido que é apontado por Perrotti (1986) da seguinte

forma:

O discurso utilitário procurou sempre oferecer a crianças e jovens atitudes morais e padrões de conduta a serem seguidos, ordenando os elementos narrativos em função de tal finalidade exterior. Tais atitudes e padrões, evidentemente,

16

inseriram-se na ordem da sociedade que os promoveu, uma vez que tal discurso buscou não somente e adaptá-lo a um determinado modelo social: o burguês. (PERROTTI, 1986, p.117)

Com isso as histórias adquiriam esse tom moralista, mencionado por

Perrotti (1986). O que nos contos atuais vem se desfazendo. Esse novo estilo

de se fazer literatura, incluindo os contos de fadas, surge na década de 70, a

fim de trazer ao público infantojuvenil não apenas uma literatura voltada ao

ensino, mas também com o objetivo de construir histórias que valorizassem a

natureza humanizadora da obra de arte literária.

Desta forma, os contos de fadas, fazem com que o leitor aprenda a

conviver com “o seu mundo interno” e a compreender que os problemas

fazem parte da vida, mas podem ser superados.

17

CAPITULO II A RELEVÂNCIA DE INCENTIVAR A LEITURA NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

A leitura iniciada na educação infantil abre espaço para a busca do

prazer de ler. O ato de o professor contar histórias para as crianças amplia seu

vocabulário e ainda pode desenvolver diversas formas de linguagem

propiciando também com ela o imaginário, a forma lúdica de forma prazerosa.

Porém, como e quais recursos podem ser utilizados com o intuito de despertar

na criança o gosto pela leitura sem tirar-lhe o prazer, o lúdico?

Começamos falando sobre a própria história da leitura que nos mostra

que este é um problema antigo, pois, inicialmente a leitura era para elite e só

com os passar dos anos ela também foi sendo dominada pela massa, ou

menos favorecidos. Sobre isso Perroti menciona:

Até então, era quase natural conceber a leitura como comportamento restrito a pequenas parcelas da população pertencentes às elites. Enquanto comportamento geral, das massas, o fenômeno é novo no Brasil, estando talvez ainda no que poderíamos chamar de “faseheroica”. Em outras palavras, lutamos com níveis prévios, como alfabetização da imensa massa de brasileiros que não conseguiram e não consegue ir à escola, lutamos com uma infraestrutura educacional e cultural extremamente precária, lutamos com hábitos e atitudes arraigadas na cultura e que não são vencidos com facilidade.(1990, p. 13)

:

É necessário um estímulo em torno da leitura, porque ao longo do

tempo ela tem tido um aspecto alfabetizador com objetivo de se aprender a ler

decifrando apenas o código da escrita. Por isso se faz necessário mudar essa

visão de leitura para conhecer a escrita, desenvolvendo metodologias que

despertam o gosto por esta. Conforme Manguel (1997, p. 89)

Em todas sociedades letradas, aprender a ler tem algo de iniciação de passagem ritualizada para fora de um estado de dependência e comunicação rudimentar. A criança, aprendendo a ler, é admitida na memória comunal por meio de livros ,familiarizando-se com um

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passado comum que ela renova, em maior ou menor grau, a cada leitura.

Em todas as sociedades letradas, aprender a ler tem algo de iniciação

de passagem, porque criança, aprendendo a ler, é admitida na memória

comunal por meio de livros, familiarizando-se com um passado comum que ela

renova, em maior ou menor grau, a cada leitura. O estímulo à leitura deve ser

iniciado com o hábito de ler em família, fazendo da leitura algo cotidiano, pois

esse é um processo que a torna algo simples e natural. Porém a realidade se

mostra outra. A família não participa da educação para a leitura. e o ato de ler

deveria ser praticado de forma a se um prazer, em busca do conhecimento

intelectual, moral e social. Percebemos que nossa realidade social ainda é

marcada pelo alto índice de adultos que não leem, tornando-se alienados

diante do contexto social em que vivem. Uma prática educativa onde a leitura é

incentivada desde a educação infantil, pelos professores, estará oferecendo

estímulos para que as crianças tenham prazer em ler. Isto faz com que ao

entrarem no primeiro ano do Ensino Fundamental já tenham estímulos para o

desenvolvimento de bons leitores, tornando um fator determinante para o

sucesso da leitura pela vida adulta. Como afirma Terzi (1995, p. 14) sobre os

efeitos da aprendizagem da leitura precoce no desempenho escolar.

Segundo eles, o domínio da leitura antes de a criança iniciar a primeira série é um fator determinante de seu bom desenvolvimento como leitora. Ou seja, o fato de a criança estar inserida numa cultura letrada tem uma influencia positiva significativa em seu progresso em leituras nas primeiras séries escolares.

Para obter êxito é necessário considerar a leitura como um todo, atribuindo

uma prática de aprendizagem que considere também todo o contexto em que o

aluno está inserido. Sendo assim o professor de educação infantil deve estar

preparado para uma prática diária sobre a leitura, oferecendo condições de

desenvolvimento do letramento das crianças, tornando sua prática educativa,

mais que uma arte de contar história somente. Não adianta somente saber ler

e escrever é preciso também saber fazer uso do ler e escrever, saber

19

responder às exigências de leitura e escrita que a sociedade faz a todo

instante. Conforme Brito (2005, p. 16)

O grande desafio da educação infantil está exatamente em, em vez de se preocupar em ensinar as letras, numa perspectiva redutora de alfabetização (ou de letramento), construir as bases para que as crianças possam participar criticamente da cultura escrita, conviver com essa organização do discurso escrito e experimentar de diferentes formas os modos de pensar escrito.

Partindo do pressuposto que leitura e escrita precisam de um contínuo

exercício. Verificamos então que a leitura é um processo a ser praticado

desde a tenra infância e que essa prática deve estar presente no início da vida

escolar,. E este primeiro contato deve ser estruturado por uma metodologia

prazerosa, ligada com seu desenvolvimento natural e o da criança. Pois ela é

um sujeito histórico e participante ativo nas transformações ocorridas na

sociedade. Por isso é necessário se estabelecer uma reflexão sobre a prática

educativa que a respeite com sua bagagem cultural. Assim essa prática

planejada e desenvolvida em torno da ludicidade, pode tornar a escola de

educação infantil um espaço mais humano e feliz.

Devemos considerar que existem várias concepções de infâncias e

crianças, desta forma, estamos refletindo sobre as possibilidades de melhorar

a prática educativa com leituras oferecidas a crianças de realidades diferentes.

isso traz uma melhoria na qualidade de ensino, pois conhecer melhor esse

aluno implica na escolha de livros que auxiliem no incentivo da leitura por

prazer. Além disso, a escolha de livros resulta em novos conhecimentos sobre

as crianças de hoje, facilitando a interação do professor com seu aluno, pois é

através da interação com o meio físico e social que a criança vai se

desenvolver de forma única e integrada. Não se deve considerar a criança

como um ser sem conhecimento, pois ela é um sujeito histórico, que traz

consigo toda uma bagagem cultural. Então a prática educativa deve ter como

intuito de desenvolver uma visão diferenciada da criança desta idealizada. E

necessário a ampliação do conhecimento sobre as concepções de infância,

para que desta forma possamos ter melhor compreensão do desenvolvimento

20

infantil. Colocando de lado as percepções errôneas propagadas que temos

de criança. Assim como relata Didonet ([2002], p. 92) devemos “deixar de lado

ideias de “neutralidade”, “objetividade” e “ingenuidade” diante dos temas da

criança e da sua educação”.

A criança é parte integrante da história da humanidade e suas mudanças e

os acontecimentos sociais, culturais e políticos influenciam a sociedade, sendo

assim, a criança é parte integrante desta realidade em constante mudança.

Assim, quando analisamos a criança como sujeito ativo do seu processo

histórico, percebemos a influência que a família, o adulto e a instituição de

educação infantil têm sobre ela. Essas experiências advindas desta interação

têm contribuição muito significativa para o desenvolvimento da criança As

mediações do adulto devem permitir a criança construir sua identidade assim

como afirma Didonet ([2002], p. 96):

O importante é que ao mesmo objetivo central seja buscado por todas as políticas e por todas as propostas pedagógicas - o desenvolvimento integral integrado da criança, na perspectiva do direito à educação desde o nascimento. Integral por envolver os aspectos físico, social, emocional e cognitivo. Integrado como parte do contexto de interações sociais e ambientais da criança, por intermédio da mediação dos adultos, entre eles o educador, e das outras crianças, constrói sua identidade, seus conhecimentos, seu comportamento, sua integração social.

A criança é um sujeito social inserido num contexto onde se dá a

educação, assim a educação infantil é importante para a vida da criança.

Entretanto, é necessária uma articulação entre família e escola com intuito de

exercer o bem-estar da criança, e dar condições para se desenvolver

facilitando o processo educativo. Segundo Didonet ([2002], p. 92).

Como sujeito social, a criança é parte intrínseca de uma família, membro da comunidade, inserida, numa sociedade. Seu desenvolvimento, bem como sua educação, acontecem na família, no seu ambiente socioeconômico, cultural e político e no centro pré- escolar e não “assepticamente” em um deles, segundo objetivos individualistas e idealistas. Família e centro

21

pré-escolar, portanto devem estar bem articulados, tentando uma educação coerente. Objetivos comuns e estratégias complementares facilitam o processo educativo e não traumatizam a criança.

A união entre escola e família, pode ser um meio pelo qual os

professores podem se unir aos pais no processo de valorização de estímulo as

leituras, iniciadas em casa. Por isso é necessário dar continuidade a leitura na

escola, pois esta ação pode vir a ser um recurso utilizado para alcançar a

autonomia e a cidadania da criança. A educação precisa voltar-se também

para a utilização dos conhecimentos prévios do aluno, como uma primeira

leitura da sua realidade. Podendo assim se desenvolvido um trabalho

sistematizado, utilizando também as teorias de desenvolvimento da criança,

para melhor compreende-la em sua atualidade, assim como relata Friedmann

(2005, p. 11):

É importante contextualizar a criança à qual estou referindo-me, pois é este dado diferencial e fundamental para o meu trabalho. Junto às contribuições das teorias sobre desenvolvimento infantil, que partem de uma criança idealizada, para realizar suas afirmações, podemos ter um panorama mais próximo da criança real com a qual nós convivemos.

E importante para o professor refletir sobre a criança de hoje, sem

desconsiderar sua trajetória. Desta forma não tomará toda teoria como

conhecimento fechado e único, mas sim, uma educação em que professor e

aluno crescem juntos em sua aprendizagem, tornando-a significativa e

respeitando a individualidade de cada criança. Para ser compreensível, o

universo infantil deve ter a bagagem cultural, as informações, os

conhecimentos e as vivências que cada criança traz com ela respeitadas e

compreendidas. As práticas educativas na educação infantil devem receber

contribuição de atividades lúdicas desenvolvimento intelectual, social, moral e

cognitivo. Estas devem ser planejadas e desenvolvidas de modo que as

crianças possam interagir em um espaço mais humano e feliz com o

provimento de ações que valorizem de forma significativa a criança enquanto

22

cidadã, considerando sempre sua condição de sujeito ativo no processo da sua

aprendizagem e valorizar sua cidadania, ou seja, ter um novo olhar para a

criança como proposto pela ECA em 1990 e apresentado por Leite Filho (2001

p. 31-32).

O ECA, ao regulamentar o art. 227 da Constituição Federal, insere as crianças no mundo dos direitos, mais especificamente no mundo dos Direitos humanos, reconhecendo-as como pessoas em condições peculiares de desenvolvimento, não as considerando como adultos e garantindo-lhes os seus direitos, assegurados em lei especial. Essa lei contribui com a construção de uma nova forma de olhar a criança – a visão de criança como cidadã. Pelo ECA, a criança é considerada como sujeito de direito. Direito ao afeto, direito de brincar, direito de querer, direito de não querer, direito de conhecer, direito de sonhar e de opinar.

Com utilização do lúdico o universo infantil será mais facilmente

atingido. Neste sentido, criança poderá aprender brincando, divertindo-se

através de jogos brincadeiras, leituras de histórias infantis, entre outros

recursos que cabe ao educador criar. O lúdico deve ser valorizado no ambiente

de sala de aula e fora dele também, isso dará possibilidade de uma condição

motivadora, num ambiente agradável para aprender. Através das brincadeiras,

a criança pode reproduzir e recriar, ordenar o mundo à sua volta, além de lhe

proporcionar as mais diferentes descobertas. E essas experiências podem ser

vivenciadas também através de leituras que irão levá-la para o mundo da

fantasia, da criação, do faz-de-conta, no qual ela consegue expressar-se de

forma natural e criativa, criando vínculos afetivos com a história. Por isso,

muitas vezes as crianças gostam de ouvir as histórias preferidas várias vezes

como relata Batista (2007, p. 115-116). Ele diz que as crianças pedem para

ouvir, repetidas vezes, aquelas histórias nas quais encontram um maior vínculo

como o momento afetivo pelo qual estão passando.

Se faz necessário o respeito pela opinião das crianças , pois elas tem

suas próprias ideias ´´é é importante saber ouvi-las para que a aprendizagem

inicial seja um alicerce para desenvolvimento de sua personalidade, por isso a

escola que trabalha com a infância deve.

23

[...] garantir os alicerces essenciais para o desenvolvimento de uma aprendizagem inicial consistente. Para isto, é fundamental a prática de atividades que levem a criança a relacionar-se, ser e tornar-se, pensar, imaginar, compreender, movimentar-se e expressar-se, participando e contribuindo na construção do conhecimento. As crianças aprofundam a sua compreensão jogando, conversando, planejando, perguntando, experimentando testando, repetindo e refletindo (MENDONÇA, 2007, p. 67).

Desta forma, trabalho a ser realizado na educação infantil precisa ser

voltado a ludicidade através de um processo dinâmico e contínuo em que o

papel do professor é perceber as necessidades de cada aluno, oportunizando

sempre recursos variados para contribuir de forma significativa para a

aprendizagem deste, pois as brincadeiras exercem um papel importante na

construção de identidade da criança. Com isso, acreditamos que a leitura

praticada como uma brincadeira, ou seja, com intuito lúdico, deve favorecer o

interesse do aluno e ao mesmo tempo ser prazeroso para ele. E a narrativa é

uma das formas lúdicas de envolver a criança e também pode contribuir para

um crescimento intelectual Batista afirma que:

O aspecto lúdico da narrativa assegura, não só a gratificação do receptor, mas também, faz-lhe um elogio intelectual, na medida em que suas previsões aproximam de soluções do como. Fica, assim, evidenciado que o prazer advindo do jogo ficcional ultrapassa as fronteiras da simples gratificação competitiva, ao mostrar que as estruturas organizadas em narrativa são construtoras de sentido. (2007, p. 107)

Quando ouvem uma história as crianças , mesmo que inconsciente,

manifestam o que vivenciam das leituras. E essas experiências muitas vezes

são presenciadas em suas brincadeiras, formando conceitos que serão

utilizados na sua vida adulta, pois é através das brincadeiras e leituras que as

crianças extravasam seus desejos e sentimentos, aprendem a respeitar o outro

se socializando e resgatando sua cultura. Ao se emocionar coma história a

criança usa a imaginação e se projeta nela. Então, a narrativa como afirma

Batista (2007, p. 107), pode fazer com que ao viver os conflitos e angústias

dos personagens de uma história, o receptor pode multiplicar as suas próprias

24

alternativas de experiência do mundo. O personagem pode, então, emprestar

ao receptor sua grandeza e seus limites, vislumbrando outras formas de viver e

ver o mundo.

A contação de história proporciona diversão através de dinâmicas que

seduzem, utilizam à voz envolvendo a criança na história do princípio ao fim da

mesma. Assim a aprendizagem com leitura deve ser enriquecedora, em que as

crianças possam se desenvolver como sujeitos ativos e criativos da sua

aprendizagem, tornando-se o principal agente desta construção. Portanto, é

fundamental na educação infantil a responsabilidade de todos os envolvidos de

proporcionarem condições para uma prática educativa comprometida com a

leitura e com ludicidade. Didonet relata que a ludicidade :

é uma característica essencial da criança. Tudo para ela é um jogo. O brinquedo é sua forma própria de relacionar-se com o mundo. Pelo brinquedo ela mergulha no significado dos objetos e das situações, apreende-os, incorpora-os ao seu conhecimento e a seu mundo. Brincar é a coisa mais séria, mais absorvente de uma criança. É brincando que ela se desenvolve física e psiquicamente. Todas as atividades educativas em instituições devem ter um caráter lúdico.([2002], p. 94).

O lúdico não é algo inato, e sim uma interação com o outro e desta forma, aproxima professor e aluno, que por sua vez, faz do brincar um aprendizado para a vida. De acordo com Paschoal (2007, p.95) é na organização do conhecimento empírico da criança, devemos considerar as situações de aprendizagem que são geradas na sala de aula, nas brincadeiras, nas conversas, na hora do conto, entre outros. É, nestes momentos, que ela começa a entender melhor o seu viver e expõe sua maneira infantil de ler/ver o mundo.

Uma proposta educativa voltada para a ludicidade faz com que o ato de ler se torne algo divertido, ou seja, o livro pode ser utilizado como um recurso que possa algo divertido a envolver essa ludicidade. Neste contexto, o livro se torna um meio pelo qual, a criança possa brincar e enriquecer sua imaginação, usar a criatividade, desenvolver diversas formas de interação e comunicação, podendo ser um recurso de grande valia para enriquecer o cotidiano infantil nas instituições de educação infantil. Essas ações iniciadas desde a educação infantil, podem despertar desde cedo o interesse da criança para a forma como

25

irá agir e estar no mundo, compreendendo e interpretando a si próprio e a sua realidade.

A leitura iniciada nesta fase pode ser primordial para aquisição do prazer

de ler, pois as crianças passam pela “fase mágica” em que sua imaginação

torna-se criadora. O professor neste processo pode ser o mediador dessa

construção tornando a aprendizagem da leitura de fato prazerosa e significativa

para criança. É na interação com o meio que se estabelece o início do

desenvolvimento infantil.

Paulo Freire (2001) relata em seu livro A importância do ato de ler, que

também construímos as nossas experiências através das interações com o

mundo e que nossos alicerces são construídos pela relação estabelecida na

interação social, assim conhecemos o espaço que estamos vivendo. Essa é

uma leitura informal que a criança faz do mundo e ela se dá na interação

principalmente com a família, ou até mesmo por meio de histórias inventadas,

ou seja, mitos vivenciados. Desta forma relata Abramovich (1997, p. 16).

O primeiro contato da criança com um texto é feito oralmente, através da voz da mãe, do pai, ou dos avós, contando contos de fada, trechos da bíblia, histórias inventadas (tendo a criança ou os pais como personagens), livros atuais e curtinhos, poemas sonoros e outros mais... contados durante o dia- numa tarde de chuva, ou domingo- ou num momento de aconchego, à noite, antes de dormir, a criança se preparando para um sono gostoso e reparador, e para um sonho rico, embalado por uma voz. Pesquisas na área da linguagem tendem a reconhecer que o processo de letramento está associado tanto à construção do discurso oral como discurso escrito. Principalmente nos meios urbanos, a grande parte das crianças, desde pequenas, estão em contato com a linguagem escrita por meio de seus diferentes portadores de texto, como livros, jornais, embalagens, cartazes, placas de ônibus etc., iniciando-se no conhecimento desses materiais gráficos antes mesmo de ingressarem na instituição educativa, não esperando a permissão dos adultos para começarem a pensar sobre a escrita e seus usos.

26

Todo contato social da criança vai ser responsável pelo seu

conhecimento de leitura. No entanto, é a família quem estabelece uma relação

muito forte na vivência de todo ser humano, com influências boas ou ruins e a

partir deste contato com a família, a criança pode descobrir toda uma leitura de

imagens a sua volta. Tudo que a cerca oferece subsídios para sua informação,

ou seja, a criança começa a perceber o mundo através de informações escritas

em propagandas, outdoor, rótulos, tornando parte de seu conhecimento do

mundo letrado. Conforme consta em RCNEI (BRASIL, 1998, p. 121, v.3) afirma

que.

Toda criança ao chegar à escola já traz consigo um conhecimento que

diferencia de criança para criança, conforme as possibilidades de letramento

oferecidas pelas famílias, comunidades e o meio social em que vivem. Esse

conhecimento pode ser utilizado pelo professor, pois é ele quem vai

sistematizá-lo, atribuindo significado a essa leitura de mundo de forma crítica e

prazerosa, desta forma ele poderá estar contribuindo para a formação de um

bom leitor. E a educação infantil tem um papel importante e fundamental para

essa formação.

Portanto, ao chegar às instituições de educação infantil a leitura deve

fazer parte da aprendizagem do aluno, com intuito de estimular principalmente

a sua criticidade e a sua autonomia . Os professores por sua vez, precisam

utilizar vários recursos e metodologias para atribuir à leitura significado,

contribuindo assim para construção de bons leitores. Se for estimulada na

educação infantil, a leitura poderá contribuir para melhorar o processo de

letramento da criança, desde que o professor esteja apto para essa tarefa.

Sobre isso, destaca o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 135, v. 3):

O ato da leitura é um ato cultural e social. Quando o professor faz uma seleção prévia da história que irá contar para as crianças, independente da idade delas, dando atenção para a inteligibilidade e riqueza do texto, para a nitidez e beleza das ilustrações, ele permite às crianças construírem um sentimento de curiosidade pelo livro (ou revista, gibi, etc.) e pela escrita. A importância dos livros e demais portadores de textos é incorporada pelas crianças, também, quando o

27

professor organiza o ambiente de tal forma que haja um local especial para livros, gibis, revistas etc. que seja aconchegante e no qual as crianças possam manipulá-los e “lê-los” seja em momentos organizados ou espontaneamente.

Estimular a leitura é um dos caminhos para alcançar o prazer de ler. As

histórias infantis ajudam a desenvolver na criança uma série de fatores

fundamentais ao seu crescimento enquanto sujeito social. Através da

construção de sua autonomia enquanto sujeito consciente da importância da

leitura, ele poderá analisar a sociedade de forma a participar ativamente dela,

com uma visão crítica da realidade a qual está inserido, contribuindo para

compreensão de si próprio e do mundo. Entretanto, a leitura deve ser algo

prazeroso e que desperte o interesse do indivíduo pela alegria de estar lendo e

participando da leitura. De acordo com Abramovich (1997, p. 17):

É também suscitar o imaginário, é ter curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões (como as personagens fizeram...) É uma possibilidade de descobrir um mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos - dum? Jeito ou de outro através de problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não) pela personagens de cada história (cada um a seu modo)... É a cada vez ir se identificando com outra personagem (cada qual no momento que corresponde àquele que está sendo vivido pela criança)... e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a resolução delas [...].

Segundo Coelho (1986, p.16) para os pré-escolares, as histórias devem

ter enredos simples, vivo e atraente, contendo situações que se aproximem o

mais possível da vida da criança, de sua vivência afetiva e doméstica, de seu

meio social, de brinquedos e animais que a rodeiam, humanizados. Assim, ela

pode integrar-se com os personagens, consegue “viver” os enredos e sentir-se

no “lugar” em que os episódios narrados ocorrem. Na educação infantil a

criança não sabe ler formalmente, ela não fará a leitura propriamente

conhecida nos meios letrados, ou seja, não vai ler a escrita em si, portanto,

percebemos a importância da leitura que a criança faz das imagens, ou seja,

do letramento oferecido pelo seu social. O professor conhecendo seu aluno

28

pode fazer a sistematização, aproveitando os conhecimentos prévios trazidos

pelas crianças.

A leitura é um dos mecanismos a ser utilizado pelo professor para atingir

seu aluno. Lendo para seus alunos os professores irão despertar vários

sentimentos, curiosidades, e levar a criança a descobrir outros mundos, o de

contos de fadas, por exemplo, levantando hipóteses, resolvendo situações-

problemas, temas importantes para seu desenvolvimento nesta fase de sua

vida. O professor tem papel essencial neste primeiro contato da criança com

o livro, é ele quem vai deixar a leitura interessante, aguçando a imaginação do

seu ouvinte. Conforme o RCNEI (BRASIL, 1998, p.135):

A leitura pelo professor de textos escritos, em voz alta, em situações que permitem a atenção e a escuta das crianças, seja na sala, no parque debaixo de uma árvore, antes de dormir, numa atividade específica para tal fim etc., fornece às crianças um repertório rico em oralidade e em sua relação com a escrita.

Cabe a ele a tarefa de apresentar uma diversidade de livros que

promovam o interesse da criança e ampliem suas capacidades comunicativas.

Ela poderá expor suas ideias, aprendendo a valorizar a leitura de um bom livro.

O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 141,

v. 3) aponta a forma de como o professor pode estimular a leitura. Segundo

ele, a criança que ainda não sabe ler convencionalmente pode fazê-lo por meio

da escuta da leitura do professor, ainda que não possa decifrar todas e cada

uma das palavras. Ouvir um texto é uma forma de leitura e permite a criança

se colocar no papel de leitora, mediada pela professora. Brito (2005, p. 19)

acrescenta que:

Ao ler com os ouvidos, a criança não apenas se experimenta na interação, na interlocução, no discurso escrito organizado, com suas modulações prosódicas próprias, como também aprende a voz escrita, aprende a sintaxe escrita e aprende as palavras escritas. Somente assim podemos considerar que a alfabetização (ou letramento) é uma condição fundamental da educação infantil.

29

O estímulo á leitura está na base, ou seja, a educação infantil. Quando o

professor contribui com seu papel nessa perspectiva, facilita o

desenvolvimento de um trabalho totalmente voltado a uma leitura prazerosa,

visando à autonomia da criança. A construção da leitura envolve todo um

processo de compreensão da aprendizagem da criança e dos fatores

determinantes para o seu sucesso ou fracasso. É nesse contexto de

compreensão da construção de leitores que as experiências de letramento das

crianças, influenciam seu desenvolvimento posterior de leitura nos anos

iniciais, partindo deste pressuposto em que a educação infantil tem seu papel

na contribuição e na introdução da criança ao mundo da leitura. Conforme

Faria (2004, p. 22):

O aprendizado da leitura não dispensa, desde o início da alfabetização, os livros para crianças. O trabalho de automatização da decodificação deve ser concomitante com o da leitura de textos variados. Daí, na iniciação literária desde a pré-escola, a importância dos livros de imagem, com ou sem texto escrito, no trabalho com narrativas. Eles podem ser uma grande alavanca na aquisição da leitura, para além da simples decodificação.

No entanto, é primordial que o professor faça seu papel na educação

infantil, começando pelo simples ato de ler histórias para seus alunos, levando-

os para o mundo da escrita, alimentando a imaginação e o despertar pela

leitura prazerosa, apreciando cada momento em que a história é lida.

A criança através do professor construirá sua iniciação a leitura, valorizando

esta como um meio de comunicação, pois é com o estímulo a leitura que a

criança começa a compreender o processo da escrita como um meio de

comunicar-se com o mundo. Assim relata Abramovich (1997, p. 16):

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser um leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo [...].

30

O desafio do prazer de ler iniciado na educação infantil está em buscar todo

um envolvimento com o mundo da leitura, entre a escola e a família. Desta

forma, com uma ação conjunta da escola e da família, a leitura pode surgir na

vida das crianças de forma simples e natural. Essa ação coletiva,

compartilhada, pode mudar a realidade brasileira onde há um alto índice de

pessoas que não gostam de ler, tornando o prazer de ler uma realidade, ou

seja, o “gostar de ler” seja um privilégio de todos.

31

CAPITULO III

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

A sociedade atual depende do sucesso do sistema educacional e da sua

importância, e as ciências como Psicanálise, Psicologia e pediatria trouxeram

grandes contribuições para o desenvolvimento da sociedade. No inicio dos

tempos modernos houve o reaparecimento da preocupação com a educação, e

um das melhores formas de desenvolver esse processo de aprendizagem

principalmente nas crianças seria a socialização. O desenvolvimento da identidade e da autonomia estão intimamente

relacionados com os processos de socialização. Nas interações sociais se dá a

ampliação dos laços afetivos que as crianças podem estabelecer com as

outras crianças e com os adultos, contribuindo pra que o reconhecimento de

outro e a constatação das diferenças entre as pessoas sejam valorizadas e

aproveitadas para o enriquecimento de si próprios.

Neste contexto, os contos de fadas que sempre estiveram presentes

nas sociedades começara a contribui de forma muito satisfatória para a

educação. Neles é possível encontrar valores que se referem ao

acontecimento da vida, mesmo que ao analisarmos sua linguagem fantasiosa

possamos considerá-la mistificadora, como defendem alguns. A linguagem do

conto é encantadora, construída apropriadamente para falar ao interior da alma

infantil, obedecendo apenas às leis da verossimilhança da ficção. Contudo,

está ligada ao que realmente acontece no mundo. Bettelheim (1980) afirma

que os contos de fadas, melhor do que qualquer outra história infantil ensinam

a lidar com os problemas interiores e achar soluções certas em qualquer

sociedade em que se esteja inserido. A criança, como ser participante e

atuante da sociedade, aprenderá a enfrentar e aceitar sua condição, desde

que seus recursos interiores lhe permitam. Conforme descreve em

32

Para dominar os problemas psicológicos do crescimento - superar dominar os problemas psicológicos do crescimento - superar decepções narcisistas, dilemas edípicos, rivalidades fraternas, ser capaz de abandonar dependências infantis: obter um sentimento de individualidade e de autovalorização e um sentido de obrigação moral acriança necessita entender o que está se passando dentro de seu eu inconsciente. Ela pode atingir essa compreensão, e com isto a habilidade de lidar com as coisas não através da compreensão racional da natureza e conteúdo de seu inconsciente, mas familiarizando-se com ele através de devaneios prolongados ruminando, reorganizando e fantasiando sobre elementos adequados da estória em resposta a pressões inconscientes. Com isto, a criança adequa o conteúdo inconsciente às fantasias conscientes, o que a capacita a lidar com este conteúdo (BETTELHEIM, 1980, p. 16).

Ao escutar uma história, as crianças entram na narrativa e compartilham

as sensações dos personagens. Assim esse seria o momento de ampliar o

repertorio e dar maior organização ao pensamento.

Para Abramovich (1991), os contos de fadas falam de auto descobertas

e da descoberta da própria identidade, o que é fundamental para o

crescimento das crianças os contos auxiliam no processo de construção da

identidade da criança e no desenvolvimento de suas habilidades sociais,

culturais e educativas, por que é uma literatura e com isso pode estimular a

consciência critica do leitor. O aspecto psicológico também é um fator de

grande relevância no desenvolvimento das habilidades e por isso é um fator

que deve ser levado em consideração tanto na escola como nas relações

sociais fora da escola. Por isso, Bettelheim afirma que para que seja possível

dominar os problemas psicológicos do crescimento, separar as decepções

narcisistas, os dilemas edípicos, as rivalidades fraternas, ser capaz de

abandonar dependências infantis, obter um sentimento de individualidade, de

auto valorização, e um sentido de obrigação moral a criança necessita

entender o que se está passando dentro de seu eu inconsciente. Isso não se

dá de modo racional, mas familiarizando-se com ele através de devaneios

prolongados - ruminando, reorganizando e fantasiando sobre elementos

adequados da estória em resposta a pressões inconscientes. Com isto, a

criança se torna capaz de lidar com essas adversidades. Por tanto:

33

É aqui que os contos de fadas têm um valor inigualável, conquanto oferecem novas dimensões à imaginação da criança que ela não poderia descobrir verdadeiramente por si só. Ajuda mais importante: a forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens à criança com as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida. (Bettelheim, 1980, p. 16)

Assim está confirmada a importância dos contos de fadas para a

formação da personalidade da criança e o seu desenvolvimento no processo

de socialização, já que eles têm a capacidade de levar a criança a perceber

outras dimensões, a usar a imaginação e principalmente a se descobrir, se

reconhecer como parte integrante daquela história, onde ela pode ser

qualquer um dos personagens, basta quer e imaginar.

Por fazer parte da literatura infantil, os contos, através de suas

narrações possibilitam que os pequenos ouvintes criem interesses pela leitura,

sendo assim importante que ao realizar uma contaçao de histórias o objetivo

principal seja o de levar as crianças a desenvolverem a sua própria

expressividade verbal ou sua criatividade latente, e consequentemente haverá

uma dinamização na sua capacidade de observação e reflexão em face do

mundo que o rodeia. Eles ainda tornam as crianças conscientes da complexa

realidade em transformação que é a sociedade, em que eles devem atuar

quando chegar a sua vez de participar ativamente do processo em curso.

Os contos de fadas, assim como obras de arte, têm muitos aspectos dignos

de serem explorados em acréscimo ao significado psicológico e impacto a que

o livro está destinado. A herança cultural de um povo encontra comunicação

com a mente infantil através deles, como destaca Betteleheim:

Esta é exatamente a mensagem que os contos de fada transmitem à criança de forma múltipla: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana - mas que se a pessoa não se intimida, mas se defronta de modo firme com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas ela dominará todos os obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa (BETTELEHEIM,1980, p ,14)

O aproveitamento e o desenvolvimento da leitura tem muita ajuda dos

contos de fadas. A contação de história tem o papel de incentivar a leitura e a

fruição da literatura como arte, objetivando-se transmitir valores que

34

determinam atitudes éticas, que possibilitam a melhor convivência no ambiente

escolar. A visão mágica dos contos de fadas deixou de ser algo privativo das

crianças, para ser consumida pelos adultos. Muitos contos de fadas podem

parecer infantil, divertido ou absurdo, na realidade, carregam uma significativa

herança de sentidos ocultos e essenciais para a nossa vida.

Essas narrativas abrem espaços para que as crianças deixem fluir o

imaginário e despertem a curiosidade, que logo é respondida no seu decorrer.

É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses,

das soluções que todos vivem e atravessam, de um jeito ou de outro, através

dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados e resolvidos pelos

personagens. A maioria dos problemas e ansiedades infantis, como a

necessidade do amor, do medo e do desamparo, da rejeição e da morte, são

colocados nos contos em lugares fora do tempo e do espaço, mas muito reais

para crianças. A solução geralmente encontrada na história e quase sempre

leva a um final feliz, indica a forma de se construir um relacionamento

satisfatório com as pessoas ao redor.

É possível percebe o quanto a literatura tem importância para a

evolução da criança, entretanto é bom se verificar como ela é trabalhada em

sala de aula. Estão os professores preparados para trabalhar com este

importante recurso didático?

Contar histórias é comum no contexto escolar há muitos anos. Porém, a

valorização do gênero como um instrumento de auxílio no processo de

desenvolvimento individual dos alunos, tanto dentro da escola, como também

nas suas relações sociais em outros espaços, ainda não é tão comum.

geralmente são utilizados como recreação.

Se faz necessário que contos de fadas sejam valorizados por terem o

papel de incentivar a leitura e a fruição da literatura como arte, objetivando

transmitir valores que determinam atitudes éticas, que possibilitam a melhor

convivência no ambiente escolar e fora dele. A escuta dos contos faz com que

as crianças experimentam estados afetivos diferentes daqueles que a vida real

35

pode lhes proporcionar. Assim a presença deste tipo de literatura infantil na

escola representa um estimulo forte a aprendizagem e a leitura. Adquirindo

gosto pela leitura a criança poderá passar a escrever melhor, e terá um

repertorio amplo de informações.

No mundo atual a literatura infantil surge como uma fonte de

conhecimento que enriquece a formação da criança desde o seu primeiro

contato coma com as histórias infantis. De acordo com o RCNEI:

É também por meio da possibilidade de formular suas próprias questões, buscar respostas, imaginar soluções, formular explicações, expressar suas opiniões, interpretações e concepções de mundo, confrontar seu modo de pensar com os de outras crianças e adultos, e de relacionar seus conhecimentos e idéias a contextos mais amplos, que a criança poderá construir conhecimentos cada vez mais elaborados”.(BRASIL, 1998, p.172).47

Assim se torna relevante salientar que o professor tem um papel

essencial, pois dentro do contexto da literatura a função pedagógica implica na

ação educativa do livro sobre a criança. Através das histórias infantis o

professor pode despertar a criatividade, a autonomia e a criticidade da criança.

Portanto, a contação de histórias ajuda a desenvolver nas crianças uma

postura investigativa tornado-as assim capazes de construir planejamentos que

considerem a pluralidade, diversidade étnica, religiosa, cultural, identidade e

autonomia, ou seja, que levem a um conhecimento do mundo.

A autora Amarilis Pavoni relata em seu livro os Contos e os mitos no

ensino, algumas experiências que teve com a contação dos contos de fadas

em sala de aula:

As histórias de fadas e de mitos atraiam as crianças, levando-as a se interessarem pela leitura. A conseqüência desta prática foi o desenvolvimento da expressão oral e escrita, a ponto do rendimento melhorar também nas outras disciplinas. Sabe-se que um dos grandes problemas dos professores é que os alunos não sabem ler instruções, não entendem o que se pergunta. Além disso, observei melhor entrosamento social entre os alunos e destes com a professora. (PAVONI, 1989, p.10).

Amarilis constatou que as histórias tinham um efeito duplo, por que,

36

além de harmonizarem, por si mesmas, as crianças, davam-lhes possibilidades

de aprenderem a escrever e ler bem, trazendo, como consequência, uma

melhora nos estudos em geral. Outro aspecto bastante relevante observado

por Pavoni na contação dos contos de fadas é que modificaram a

predisposição das crianças em relação a ela, por que ela era vista como

alguém que sempre ia trazer-lhes boas novidades, coisas agradáveis.

Em vista disso, entende-se que a criança precisa vivenciar o mundo do

faz-de-conta, da ludicidade, da magia, do encantamento, e os contos de fadas

proporcionam um momento lúdico movido de imaginação. Desta forma, é

possível desenvolver habilidades, por meio da observação que lhes

possibilitem contar suas histórias de maneira mais elaborada, criando assim o

hábito de ouvir histórias, como também o respeito á pessoa, que se dispõe a

falar, estimulando o diálogo entre as próprias crianças e o adulto educador,

encorajando-as a examinar e explicar suas opiniões.

Por meio das histórias e seus discursos, as crianças podem fazer uma

reflexão da sua própria conduta e do meio em que vive, na verdade a contação

de histórias é uma forma de manifestação cultural. A literatura infantil deve

estar marcada pelo interesse literário e deve proporcionar à criança o exercício

da imaginação, exemplos de moral e momentos de prazer espiritual além de

destacar o belo, portanto um livro, que reúne essas características é

considerado uma ótima literatura infantil.

Sendo professor uma peça fundamental na iniciação das crianças com a

literatura dos contos de fadas, ele deve saber o como se faz. Como relata

Abramovich (1991) em seu livro de literatura infantil (gostosuras e bobices). De

acordo com ela para contar qualquer historia é bom saber como se faz, por

que nelas se descobrem palavras novas, se entra em contato com a musica e

a com a sonoridade das frases, dos nomes, se capta o ritmo, a cadência do

conto, fluindo como uma canção, pois contar histórias é uma arte e ela que

equilibra o que é ouvido com o que é sentido é o uso simples e harmônico da

voz.

37

E preciso por parte do professor a preocupação de quando for ler um

conto de fadas para as crianças não fazer de qualquer jeito pegando o primeiro

volume que se vê na estante, pois de acordo com Abramovich não é algo

positivo que no decorre da leitura, se demonstre que não está familiarizado

com uma ou outra palavra (ou com várias), o professor não pode demonstrar

dificuldade ao pronunciar o nome de um determinado personagem ou lugar,

mostrar que não percebeu o jeito como o autor construiu suas frases e ir dando

pausas nos lugares errados. O único fator que não pode ocorrer na contação

de historias em sala de aula é o educador ficar escandalizado com uma

determinada fala, ou gaguejar por que não esperava encontrar um palavrão,

uma palavra desconhecida uma gíria nova, ou ate mesmo uma expressão que

o adulto leitor não usa normalmente, porque se isso acontecer vai se criar

uma sensação de mal estar e os alunos podem não se sentir a vontade para

escutar o resto da história, portanto antes de ser lido para as crianças o conto

de fadas precisa ser lido pelo professor e segundo Abramovich é importante ler

o livro antes e bem lido pra que se possa sentir quais as emoções que são

possíveis serem despertadas no decorrer da leitura. Assim quando chegar a

hora de narrar à história o professor terá a capacidade de passar uma emoção

verdadeira, aquela que vem lá do fundo do coração e por isso vai chegar de

verdade a criança. Segundo a autora:

Claro que se pode contar qualquer história à criança: comprida, curta de muito antigamente ou de dias de hoje, contos de fadas, de fantasmas, realistas, lendas, histórias em forma de poesias ou de prosas... Qualquer uma desde que ela seja conhecida pelo contador... O critério de seleção é do narrador e o que pode suceder depois depende do quando ele conhece suas crianças, o momento que estão vivendo, os referenciais de que necessitam e do quanto saiba aproveitar o texto (FANNY, 1991, p. 20).

Um ambiente lúdico é muito importante para criar um clima de

envolvimento, de encanto, e é importante que o professor saiba dar pausas,

criar intervalos, respeitar o tempo imaginário de cada criança construir seu

cenário, visualizar seus monstros, criar seus dragões, adentrar pela casa,

vestir a princesa, sentir o galope do cavalo, imaginar o tamanho do bandido e

38

outras coisas.

Os contos de fadas dão as crianças a possibilidade de viver uma

infância mais plena e consequentemente tornam-se adultos mais harmoniosos.

Na verdade a escola é o local onde as crianças têm a oportunidade de

desenvolver seus aspectos perceptivos, cognitivos, sociais e culturais, isso por

que esses momentos passados na sala de aula são de muita importância para

o desenvolvimento da sua sociabilidade e inteligência. Segundo o RCNEI, as

crianças refletem e gradativamente tomam consciência do mundo de diferentes

maneiras em cada etapa do seu desenvolvimento. As transformações que

ocorrem em seu pensamento se dão simultaneamente ao desenvolvimento da

linguagem e de suas capacidades de expressões. À medida que crescem se

deparam com fenômenos, fatos e objetos do mundo: perguntam reúnem

informações organizam explicações e arriscam respostas: ocorrem mudanças

fundamentais no seu modo de conceber a natureza e a cultura. (BRASIL,

1998, p.169).

Os contos de fadas são assim para os professores uma grande

oportunidade de contribuírem para o desenvolvimento dos alunos e de acordo

com Coelho a contação de histórias pode ser de maneira lúdica, fácil, e

subliminar, por que ela atua sobre seu pequenos leitores, levando-os a

perceber e a interrogar a si mesmos e ao mundo que os rodeia, orientando

seus interesses, suas aspirações, sua necessidade de auto afirmação, ao lhes

propor objetivos, ideais ou formas possíveis (ou desejáveis) de participação no

mundo que os rodeia. (COELHO, 2003, p. 123). Ainda de acordo com Coelho

é por intermédio de sua consciência cultural que os seres humanos se

desenvolvem e se realizam de maneira integral e que por isso é fácil

compreendermos a importância do papel que a literatura pode desempenhar

para os seres em formação, os “mutantes culturais”. Por que é a literatura

dentre as manifestações de arte, a que atua de maneira mais profunda e

essencial para dar forma e divulgar os valores culturais que dinamizam uma

sociedade ou uma civilização. (COELHO, 2003, p 122). E os contos de fadas

tem com certeza um papel de destaque nesse mundo da literatura.

39

CONCLUSÃO

O tema escolhido neste estudo monográfico foi desenvolvido com uma

grande expectativa de poder mostrar o valor da literatura infantil,

principalmente o gênero conto de fadas.

Esse trabalho foi construído com uma abordagem de referencial teórico,

e procurou destacar as principais fontes sobre a origem, o desenvolvimento e a

contribuição dos contos de fadas para a formação da criança com destaque na

educação infantil.

Buscou-se explicar de maneira breve, a contextualização histórica dos

contos de fadas onde e como surgiram, quais os principais autores e

inicialmente a quem se destinavam, bem como sua estrutura e arquétipos mais

comuns. Verificou-se que inicialmente estes contos não eram voltados para as

crianças, mas com a democratização do mundo letrado eles foram pouco a

pouco se anexando ao mundo infantil.

Com base na pesquisa realizada pode se compreender que contar

histórias não é apenas abrir um livro e ler um monte de palavras ou mostrar

várias figuras as crianças e sim despertar sua curiosidade, estimular sua

imaginação, desenvolver seu intelecto e suas habilidades, porque enquanto

diverte a criança, o conto de fadas o desenvolvimento de sua personalidade.

Foi possível entender que nas histórias o encantamento não vem do

significado psicológico de um conto, ou seja, uma moral subentendida, mas de

suas qualidades literárias, pois o próprio conto em si pode ser considerado

uma obra de arte que pode ter um significado distinto em cada criança, visto

que atualmente as crianças são vistas como um ser social, que apresenta

diferentes vivencias.

Um aspecto bastante relevante identificado no decorrer da pesquisa é

que as crianças se encantam pelos contos de fadas porque eles lhes dirigem

40

para a descoberta de sua identidade e comunicação e também sugerem as

experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais a formação do

caráter.

Com base em todas as discussões realizadas no contexto teórico deste

trabalho tornou-se claro que os contos de fadas contribuem significativamente

para o desenvolvimento das crianças, considerando o aspecto cognitivo e da

construção da personalidade.

Por causa da pesquisa foi possível compreender que o trabalhar com a

fantasia dos contos de fadas, é algo de fundamental importância no processo

do desenvolvimento da aprendizagem das crianças, porque favorece a

socialização e o desenvolvimento das habilidades. Os contos proporcionam a

oportunidade de a criança utilizar seu inconsciente, condição básica para se

conhecer o significado profundo da vida.

Complementamos que a sabedoria o potencial de ludicidade e a

imaginação criadora presentes nos contos de fadas, expõem seu potencial rico

que ajudam as crianças a encontrarem o caminho e a desenvolverem suas

potencialidades.

41

BIBLIOGRAFIA

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil Gostosuras e Bobices.

2º edição. São Paulo, Scipione, 1991.

BETTELEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de

Janeiro, Paz e Terra, 1978.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de

Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil. Brasília: MEC/ SEF, 1998

COELHO, Nely Novais. Literatura Infantil. O Conto de Fadas

Símbolos Mitos e Arquétipos. 2º edição. São Paulo, Ática. 1991.

COELHO, Betty. Contar Histórias uma arte sem idade. São

Paulo, Ática, 1997.

OLIVEIRA, Silvio Luiz. Tratado de Metodologia Científica:

projetos de pesquisas, TGI, TCC, monografias, dissertações e

teses; revisão São Paulo, EPU, 1989.58

PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. 24ª ed. Rio de

Janeiro: Forense Universitária, 2007.

REVISTA, Nova Escola, nº 217 São Paulo, Abril, 2008.

42

REVISTA, Nova Escola, nº 215 São Paulo, Setembro, 2008.

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Um Breve Histórico dos Contos de Fadas 10

CAPITULO II

A Relevância de Incentivar a Leitura na Educação Infantil 17

CAPITULO III

A Importância dos Contos de Fadas na Educação Infantil 31

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 41

ÍNDICE 42