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A FAMÍLIA SALESIANA UM DOM, UMA RIQUEZA, UMA OPORTUNIDADE Ambito Famiglia Salesiana Sr. Maria Luisa Miranda

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A FAMÍLIA SALESIANA

UM DOM, UMA RIQUEZA,

UMA OPORTUNIDADE

Ambito Famiglia Salesiana

Sr. Maria Luisa Miranda

A FAMÍLIA SALESIANA UM DOM, UMA RIQUEZA, UMA OPORTUNIDADE

1. UMA PERSPETIVA COMUM

A partir do Concílio Vaticano II, verificou-se na Igreja, por força ou necessidade, um movimento da Vida Consagrada para os Leigos e dos Leigos para a Vida Consagrada. A relação “religiosos-leigos” está a atravessar um momento de grande vitalidade. As diversas experiências no interior das famílias religiosas levam-nos a reconhecer a chegada de uma nova primavera na vida da comunidade eclesial. É verdade que nem todos os rebentos são iguais, têm tempos diferentes, e terão ainda que enfrentar algumas dificuldades; apesar disso trata-se de um movimento que não pode voltar atrás, pois que juntamente connosco, ou também prescindindo de nós, o Espírito Santo continua e continuará a renovar a sua Igreja, superando de longe a nossa perceção mais ou menos lúcida do seu operar no decorrer da história.

1. Algumas considerações necessárias para melhor nos situarmos:

Com os leigos partilhamos: consagração batismal, missão, comunhão e carisma. Isto significa que nesta Igreja-comunhão, partilhamos igualmente responsabilidades e direitos. Estamos a voltar ao modelo da Igreja das origens, em que o único carisma e o único título de superioridade é a caridade.

A ação evangelizadora dos leigos mudou e está a mudar a vida da Igreja. A partir do Vaticano II, o reconhecimento de tal ação na comunidade eclesial determinou uma mudança na

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vida e na ação da Igreja, renovando-a, enriquecendo-a, dando-lhe novo fôlego, nova abertura.

O intercâmbio recíproco entre religiosos e leigos favorece, enriquece e consolida a vocação específica de cada um. A diferença no modo de viver a mesma vocação cristã impele-nos, enriquece-nos e encoraja-nos.

A nova identidade teológica da vida consagrada e laical, considerada na sua relação com a comum vocação cristã e carismática, pode levar-nos muito longe na construção do Reino de Deus. De facto, é suficiente olhar para as nossas comunidades educativas para notar com gratidão aquilo que o Espírito de Deus suscitou e como enriqueceu os nossos carismas com a sua presença. A inserção dos leigos começou por uma necessidade, e depois transformou-se numa força imprescindível.

É indispensável procurar uma relação que, superando a assimetria, procure a reciprocidade que se transforma em: convicção, desafio, opção e paradigma para a vida religiosa. Devemos crescer todos, religiosos e leigos, neste caminho começado em conjunto, como adultos em Cristo, onde cada um a partir do próprio carisma e no mesmo Corpo de Cristo, pode fixar o outro de olhos nos olhos em igualdade de circunstâncias, porque todos recebemos o mesmo Espírito.

O encontro entre religiosos e leigos deve realizar-se na diferente identidade carismática ainda antes da ação. Os leigos não são simples força de trabalho nem suplentes; não são uma exigência imperativa e inevitável devido à escassez de religiosos. Os leigos, tal como nós, foram chamados pelo batismo a vivê-lo através do carisma salesiano.

O carisma salesiano é uma perspetiva a partir da qual se contempla o Evangelho e faz da família carismática uma família evangélica. Devemos ter bem claro que somos, antes de mais, Igreja e não um gueto, pelo que nenhum leigo se pode sentir forçado a pertencer ou permanecer num carisma

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ou num campo apostólico pertencente a um carisma. Pode viver e partilhar com outros carismas e com outros grupos no âmbito do mesmo carisma.

Juntamente com os leigos podemos escrever uma página inédita da evangelização e do carisma. E realmente já a estamos a escrever. Deixemos caminho livre ao vento do Espírito o qual não sabemos exatamente como e por que chegou até nós, nem onde nos conduzirá; o desígnio é do Senhor e nós somos simplesmente seus servos.

2. Leigos e Magistério da Igreja

As citações poderiam ser abundantes, desde a Lumen Gentium, que oferece um novo conceito de Igreja até à Christifideles laici de S. João Paulo II. Escolherei só algumas citações da Evangelii Gaudium que são o programa do Papa Francisco:

Olhando para os leigos, uma palavra específica vai para as várias formas de antigas e novas associações e também aos movimentos eclesiais e às novas comunidades, todos expressão da riqueza dos dons que o Espírito derrama sobre a Igreja. Também a estas formas de vida e de empenho na Igreja manifestamos a nossa gratidão, exortando-os à fidelidade ao próprio carisma e à convicta comunhão eclesial, sobretudo no concreto contexto das Igrejas particulares.1

A formação dos leigos e a evangelização das categorias profissionais e intelectuais representam um importante desafio pastoral.2

1 XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos 7-28 Outubro 2012. Mensagem final

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A Igreja deverá iniciar os seus membros – sacerdotes, religiosos e leigos – nesta “arte do acompanhamento”, para que todos aprendam sempre a tirar o calçado diante da terra sagrada do outro (cfr Ex 3,5). Devemos dar ao nosso caminho o ritmo salutar da proximidade, com um olhar respeitador e cheio de compaixão mas que ao mesmo tempo cure, liberte e encoraje para amadurecer na vida cristã. O acompanhamento seria contraproducente se se tornasse uma espécie de terapia que reforça o fechamento das pessoas na sua imanência e cessa de ser uma peregrinação com Cristo para o Pai.3

Se bem que se possa dizer em geral que a vocação e a missão próprias dos fiéis leigos é a transformação das várias realidades terrenas para que toda a atividade humana seja transformada pela Evangelho, ninguém pode sentir-se exonerado da preocupação pelos pobres e pela justiça social: «A conversão espiritual, a intensidade do amor a Deus e ao próximo, o zelo pela justiça e a paz, o significado evangélico dos pobres e da pobreza são requeridos a todos».4

As outras instituições eclesiais, comunidades de base e pequenas comunidades, movimentos e outras formas de associação, são uma riqueza da Igreja que o Espírito suscita para evangelizar todos os ambientes e sectores. Muitas vezes dão um novo fervor evangelizador e uma capacidade de diálogo com o mundo que renovam a Igreja. Mas é muito salutar que não percam o contacto com esta realidade tão rica

2 Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium 1023 Ibid 1344 Ibid 170-1714

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da paróquia do lugar, e que se integrem de boa vontade na pastoral orgânica da Igreja particular.5

3. Os Leigos e a Vida Consagrada

Tanto o leigo como o religioso são estilos de vida plasmados pelo amor. Neste momento a história pede à vida religiosa que deixe os leigos serem eles mesmos, valorizando a sua vocação laical. Todos procuramos viver na liberdade, na alegria de ser sementes de um mundo novo, trazendo à Igreja o dom de um carisma que é possível viver como comunidade eclesial das várias fronteiras.

A experiência do caminho partilhado convida-nos a pedir ao Senhor que permaneça connosco, para que nos livremos reciprocamente da incoerência ou da ilusão de acreditar que estando separados podemos ser profetas melhores. Em conjunto, em solidariedade uns com os outros, podemos purificar-nos, receber nova vida e celebrar o Senhor de todos.

Religiosos e leigos, cada um no próprio e entre os seus, chamados a reforçar a própria identidade, não para nos distinguirmos mas para nos enriquecermos, reforçando a relação que gera a comunhão. Juntos no empenho comum de seguir Jesus Cristo: humanizando-nos e humanizando para que o Deus de Jesus Cristo seja credível, construindo juntos a cidade e o Reino, na consciência que o Reino é o destino e a cidade o caminho.

A carta escrita pelo Papa Francisco por ocasião do Ano da Vida Consagrada diz:

A vida consagrada é chamada a perseguir uma sincera sinergia entre todas as vocações na Igreja, a partir dos presbíteros e 5 Ibid 29

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dos leigos, de forma a fazer crescer a espiritualidade da comunhão antes de tudo no seu interior e depois na própria comunidade eclesial e para além dos seus confins. 6

Com esta minha carta dirijo-me, para além das pessoas consagradas, aos leigos que com elas partilham ideais, espírito, missão. Alguns Institutos religiosos têm uma antiga tradição a este respeito, outros uma experiência mais recente. De facto em torno de cada Família religiosa, como também nas Sociedades de Vida Apostólica e nos próprios Institutos seculares, está presente uma família maior, a "família carismática", que compreende mais Institutos que se reconhecem no mesmo carisma, e sobretudo cristãos leigos que se sentem chamados, precisamente na sua condição laical, a participar da mesma realidade carismática.

Encorajo-vos, também a vós, leigos, a viver este Ano da Vida Consagrada como uma graça que pode tornar-vos mais conscientes do dom recebido. Celebrai-o com toda a "família", para crescer e responder juntos aos chamamentos do Espírito na sociedade hodierna. Nalgumas ocasiões, quando os consagrados de diversos institutos durante este ano se encontrarem entre eles, fazei de forma a estardes presentes também vós como expressão do único dom de Deus, para conhecerdes as experiências de outras famílias carismáticas, dos outros grupos laicais e de vos enriquecerdes e apoiardes reciprocamente.7

4. Os Leigos e o carisma salesiano

Na história das nossas congregações os leigos estão presentes, desde o primeiro momento, como parte do carisma. Valdocco enriquece-se, desde o princípio, com

6 Carta Apostólica do Santo Padre Francisco a todos os consagrados por ocasião do Ano da Vida Consagrada II,37 Ibid, III,3

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leigos empenhados, homens e mulheres que criaram o “espírito de família” que é tipicamente salesiano.

Nas primeiras Constituições escritas por Dom Bosco já apareciam os salesianos externos, como parte constitutiva da Sociedade de S. Francisco de Sales. Todavia, como em muitas outras coisas, Dom Bosco antecipou os tempos, e os tempos não estavam ainda maduros para uma abertura deste tipo numa Igreja mais concebida como pirâmide do que como comunidade. Um século mais tarde, vemos a força e a vitalidade com que os leigos caminham na Igreja depois do Vaticano II, impelindo-a a recuperar a sua mais verdadeira identidade das origens. Em Mornese as coisas não foram muito diferentes. Aqui ainda mais o Instituto nasce da semente das Filhas da Imaculada, um grupo de leigas empenhadas numa ação evangelizadora e social. Por isso, sem dificuldade alguma, um grupo de leigas participam e enriquecem esta primeira comunidade desde os seus primeiros dias de vida.

Tanto os salesianos como as FMA, desde o início, serão promotores de um laicado empenhado e chamado a uma estreita colaboração. As citações sobre a Família Salesiana e as Associações das nossas Constituições são também abundantes, como veremos de seguida.

5. Os Leigos na Carta de Identidade da Família Salesiana

A Carta da Família Salesiana apresentada por D. Pascual Chávez Villanueva no dia 31 de janeiro 2012 foi a síntese da Carta de Comunhão e da Carta da Missão publicadas anteriormente. Em virtude do crescimento da Família Salesiana, esta Carta quer ser um guia para todos os grupos da Família Salesiana. Nesta Carta a participação dos leigos e das Associações leigas é oportuna e claramente apresentada.

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“A Família salesiana de Dom Bosco é uma comunidade carismática e espiritual formada por diversos Grupos, instituídos e oficialmente reconhecidos, ligados por laços de parentesco espiritual e de afinidade apostólica. Tal comunidade reconhece as diversidades. Estas são: a diferença de género, masculino e feminino; as distintas vocações específicas; os diversos ministérios exercidos ao serviço do povo de Deus; as diferentes formas de vida como religiosos ou religiosas, consagrados ou consagradas, celibatários ou casados; o projeto de vida salesiana próprio de cada Grupo e codificado nos respetivos Estatutos; o variado contexto social, cultural, religioso e eclesial em que diversos Grupos vivem e atuam”.8

“ O compromisso social e político, realizado sobretudo por Grupos de membros leigos, segundo os critérios expressos pelo Magistério da Igreja. Lemos na Gaudium et spes: «A Igreja julga digno de encómio e de consideração o trabalho daqueles que para servir os homens se dedicam ao bem da causa pública e assumem o peso das respetivas responsabilidades»; e na Christifideles laici: «Os fiéis leigos não podem de maneira nenhuma abdicar da participação na “política”, ou seja, na múltipla e variada ação económica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum”.9

“Dom Bosco relacionou-se também com muitos católicos, homens e mulheres, de várias maneiras dedicados ao bem dos jovens, à defesa e ao reforço da fé entre a gente do povo; com eles experimentou a força e a eficácia da ação conjunta. Nasceu assim a Associação dos Cooperadores salesianos (hoje ‘Salesianos Cooperadores’), empenhados em realizar nas suas famílias, nas suas comunidades cristãs de pertença e na sociedade, o comum 8 Carta de Identidade da Família Salesiana Art. 49 Idem Art. 9,3

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apostolado juvenil, popular e missionário, animados pelo mesmo espírito de Valdocco.”10

“À fundação destes três primeiros grupos Dom Bosco dedicou tempo, energias, empenho formativo e organizativo. Embora reconhecendo a diversidade dos campos de ação, sempre esteve convencido que a força apostólica da Família inteira dependia da unidade de propósitos, de espírito, de método e de estilo educativo. Sinal e garantia de tal unidade foram os vínculos jurídicos das FMA e dos Cooperadores com a Congregação salesiana e, de modo particular, com o seu Superior, o Reitor Mor.

Em Dom Bosco teve origem também a Associação dos Devotos de Maria Auxiliadora (hoje ‘Associação de Maria Auxiliadora) para promover o culto ao Santíssimo Sacramento e a devoção a Maria Auxílio dos Cristãos. Em torno de Dom Bosco começaram também a reunir-se os primeiros Ex-alunos.11

Dom Bosco traçou, com a Associação dos Salesianos Cooperadores e a Associação de Maria Auxiliadora, um caminho de educação para a fé do povo, valorizando os conteúdos da religiosidade popular. Dedicou-se, além disso, a promover a comunicação social, para atingir o maior número possível de pessoas numa perspetiva educativa e evangelizadora”.12

6. Os Leigos nos últimos Capítulos Gerais das FMA

A partir do Vaticano II, nos CCGG das FMA, a figura dos leigos vai-se delineando e amadurecendo; torna-se espontaneamente parte integrante e natural da comunidade educativa. Cito alguns exemplos dos últimos dois CG:

10 Idem Art. 111 Idem Art. 112 Idem Art. 31

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“… o carisma salesiano acolhido e partilhado, incarna-se nas diversas situações educativas com modalidades sempre novas” (CG FMA XXII, 7)

“como comunidade FMA, somos ‘resposta de salvação às expectativas profundas das jovens’ em colaboração e corresponsabilidade com os leigos” (CG FMA XXII, 15).

“[Nas] comunidades educativas…. Exprimem-se múltiplas vocações, que num intercâmbio fecundo, crescem juntas como família de Deus” (CG FMA XXII, 32).

“Na nossa história carismática, a experiência do acompanhamento está presente desde o início. Essa é uma das modalidades para atuar o Sistema preventivo como comunidade que vive o espírito de família; uma comunidade onde se cuida umas das outras e, juntamente com os leigos, se olha pelos jovens que nos são confiados” (CG FMA XXII, 35).

“Viver com alegria a nossa identidade de Filhas de Maria Auxiliadora, dando novo significado às comunidades na fidelidade ao Evangelho e ao carisma – em diálogo com as outras vocações na Igreja local, sobretudo na Família salesiana – e colaborando para criar uma cultura vocacional” (CG FMA XXII, 40.1).

A experiência do CG XXIII assinala um passo muito importante para a vida do Instituto. Os leigos, juntamente com os jovens, são convocados para fazer parte do caminho do Capítulo Geral.Nos Atos do Capítulo: “Alargai o olhar. Com os jovens missionárias de esperança e de alegria”, esta sua participação foi valorizada

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assinalando uma sistematização específica das suas intervenções no interior do próprio documento.

A experiência confirma, que a sua presença e partilha na Assembleia Capitular, foi um momento de alegria e de esperança. A sua palavra foi profética para nós e encorajou-nos a continuar o caminho em conjunto.

Escolhi alguns pontos significativos dos Atos do CG XXIII onde se fala do trabalho com os leigos, da “missão partilhada” com eles e da Família Salesiana.

O encontro com os jovens e com os leigos, entre os quais diversos representantes da Família salesiana, tornou mais visível a comunidade educativa no nosso Capítulo geral. O que nos disseram ecoou como apelo a alargarmos o olhar sobre as nossas comunidades e a contarmos com eles para uma missão partilhada (CG XXIII n. 6).

O desafio da evangelização está na forma como transmitir a fé aos jovens que perderam os valores cristãos e o amor à vida. Temos de estar perto deles, entrar no seu mundo, meter-nos nele, para os acompanhar e orientar, também depois da sua saída das nossas casas (CG XXIII n. 13).

A força de uma proposta e de uma ação evangelizadora e social radica-se na capacidade de nos coordenarmos e de estarmos unidos, como também de nos formarmos juntos. Por isso todos precisamos de partilhar orientações concretas e reforçarmos as relações entre os diversos membros da Família salesiana, desenvolvendo sinergias, parcerias estratégicas, metodológicas e operacionais. O amor preventivo é para nós testemunho verdadeiro e concreto de evangelização (CG XXIII n. 14).

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Confiai em nós para planearmos juntos as mudanças: considerai-nos interlocutores e protagonistas, não apenas destinatários, criando espaços de diálogo para vivermos o mandamento do amor em espírito de família (CG XXIII n. 18).

Redescobri o valor da colaboração com os Salesianos, não só a nível de atividades e de pastoral, mas também a nível da construção da grande casa da Família salesiana, em rede com as comunidades educativas, sinal de uma comunhão criativa de que tanto precisamos na sociedade e na Igreja (CG XXIII n. 18).

A comunidade é impelida a testemunhar a vida evangélica formando-se conjuntamente, FMA e leigos, para a missão partilhada; é chamada a ir ao encontro dos outros com os próprios jovens que nos ajudam a compreender e viver o Evangelho de acordo com o carisma salesiano; a sair com eles para anunciar Jesus (CG XXIII n. 27).

Onde for possível, envolver no discernimento e nas escolhas relativas à significatividade das nossas presenças, os recursos existentes no território: Igreja local, Família salesiana, especialmente as ex-alunas, ex-alunos, o Vides ou outros organismos de voluntariado, Direitos Humanos, outros grupos ou movimentos eclesiais (CG XXIII n. 61.3).

Cuidar com maior determinação a formação de comunidades vocacionais e favorecer, em cada comunidade, a cultura vocacional, tendo em conta as diversas vocações na sociedade e na Igreja, com particular atenção para as da Família salesiana. Ativar nas presenças educativas caminhos sistemáticos adequados e inculturados, prestando atenção ao

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discernimento e ao acompanhamento vocacional dos jovens (CG XXIII n. 61.8).

O maior serviço que podemos oferecer é a educação, porque acompanha o ser humano à sua plenitude. A ação educativa torna-se mais incisiva trabalhando em rede, de modo particular com outros grupos da Família salesiana, mas também a nível intercongregacional e em colaboração com outros recursos do território (CG XXIII n. 62).

Trabalhar como comunidade educativa para uma presença educativa profética no território, e na Igreja, em sinergia com a Família salesiana e outros organismos empenhados na educação e na promoção da justiça, da paz, da economia solidária, da defesa da vida, dos direitos humanos e da integridade da criação (CG XXIII n. 66.8).

Em continuidade com a intuição de Dom Bosco e de madre Mazzarello acreditamos ser este o tempo de dar nova significatividade e iniciar em alguns contextos, uma missão partilhada com os leigos que demonstrem aceitação dos valores humanos propostos, mesmo que não sejam cristãos. Particularmente para falarmos aos jovens do Evangelho, sentimos que os melhores interlocutores são os próprios jovens que mais facilmente falam a linguagem de muitos que não têm familiaridade com a fé e com os valores cristãos. É tempo, por isso, de estarmos disponíveis para nos deixarmos transformar pela relação com eles. (CG XXIII n. 58).

A ação educativa em rede implica hoje redefinir as nossas presenças e repensá-las em nova perspetiva de preventividade/prevenção. Em contextos de novas pobrezas o empenho educativo pela justiça, a paz e a integridade da criação, a defesa da vida, são sinais que nos tornam

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credíveis perante todos e abrem-nos para uma missão partilhada. Nestes novos contextos somos chamadas a viver a caridade em perspetiva social segundo a Doutrina Social da Igreja. Só comunidades fortes e ricas de paixão educativa podem promover uma ideia original e apoiar empresas criativas dos indivíduos e das instituições (CG XXIII n. 63).

7. Família Salesiana, futuro do carisma salesiano

Ao fim deste percurso é importante recordar que nascemos, como uma Família, do coração de Dom Bosco e estamos unidos, leigos e religiosos, para uma única missão. Esta modalidade de missão foi amplamente reconfirmada em Mornese com a presença de leigas que colaboraram com as nossas primeiras Irmãs desde o início na ação educativa com as meninas e com os jovens com responsabilidades específicas como a Condessa Emília Mosca, primeira responsável dos estudos no Instituto. Não podemos esquecer também as senhoras que iam à nossa primeira Casa para o Retiro espiritual. É significativo sublinhar que, precisamente durante os Exercícios espirituais de um grupo de senhoras, se realizou a Profissão religiosa do primeiro grupo das FMA.

Os tempos que vivemos não se podem compreender sem a presença dos leigos na missão. Não podemos pensar nos leigos unicamente como força no trabalho, que nós já não conseguimos abarcar, mas como uma componente eclesial e carismática que afunda as raízes nos inícios da Igreja e do carisma salesiano.

Não podemos pensar no futuro sem esta “cumplicidade” e sinergia querida pelo próprioEspírito Santo, que é Aquele que concede os carismas. Nós FMA somos chamadas neste momento a “Alargar o olhar” para tantos leigos que sentem dentro do seu coração e no espírito o chamamento a partilhar a missão salesiana. Juntos na formação, na oração na planificação. Juntos é semente de futuro.

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A escolha e a formação das Delegadas das Ex-alunas/nos das FMA, dos SSCC e animadoras ADMA é uma responsabilidade direta das Provinciais. Devemos ser clarividentes, não nos limitarmos ao presente, sobre o que temos hoje, mas pensar o que fazer no futuro para que este carisma continue com qualidade e dinamismo pelas gerações futuras, através de um adequado equilíbrio de obras partilhadas entre FMA e leigos. O Espírito de Deus concede a vocação e o carisma; a nós cabe a responsabilidade de o cultivar e fazê-lo crescer. Tudo o que fizermos para formar leigos a nível carismático, para dar vitalidade às Associações a nós confiadas como FMA: Ex-alunos das FMA, SSCC, ADMA, é promessa de um futuro rico de esperança onde muitos jovens poderão encontrar, nas nossas comunidades educativas, uma casa e um sentido para a vida.

Temos imensa sorte de ter tantos leigos e jovens nas nossas casas, colaborando também nas nossas obras: não desperdicemos esta messe abundante que o Senhor põe nas nossas mãos. Façamos propostas clarividentes a nível vocacional em sentido amplo. Por outra parte, o objetivo principal da Associação dos Ex-alunos FMA, SSCC e ADMA é o da atenção à própria família, o que está precisamente em sintonia com o que a Igreja e o Instituto nos pedem hoje como resposta à emergência educativa. O percurso educativo da Pastoral Juvenil atinge a sua plenitude quando culmina com uma proposta vocacional. A Família Salesiana, por dom de Deus, oferece uma multiplicidade de vocações com diversos níveis de empenho onde cada um pode encontrar o próprio percurso de santidade com o qual se identificar.

8. Maria acompanha o nosso caminho de Família Salesiana

No sonho dos nove anos Jesus apresenta Maria, sua Mãe, como Mestra de sabedoria, para que nos tome pela mão. É oportuno

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recordar a primeira lição oferecida ao pequeno João Bosco: Este é o campo onde deves trabalhar. Torna-te humilde, forte e robusto.

Como Fundador de uma Família Apostólica, empenhada na educação e na evangelização dos jovens, Dom Bosco, difundiu a devoção à Virgem com o título de Auxiliadora dos cristãos. No quadro idealizado por Dom Bosco para a Basílica, e relendo a descrição proposta pelo pintor para a realização do seu quadro, Maria Auxiliadora aparece no seu mistério de maternidade eclesial e no seu papel de educadora e ajuda poderosa. Na sua escola e sob a sua direção e proteção aprendamos a arte de acompanhar os leigos no estilo dos nossos Fundadores e experimentaremos a verdade das palavras de Dom Bosco: “Maria fez tudo” e “Nossa Senhora está aqui e passeia nesta casa”. Que Ela continue a dar-nos coragem e criatividade para dar novas cores ao esquema da Família Salesiana que Dom Bosco traçou e que Maria Mazzarello com o seu génio feminino enriqueceu. Deste modo as nossas casas poderão ser o reflexo de uma Igreja carismática e profética.

Concluímos este percurso com um breve mas significativo poema de D. Pedro Casaldáliga, Bispo:

É noite Mas é a nossa hora

É noiteMas é todo o tempo Que temos nas nossas mãosPara construir o futuro

É noiteMas somos nósEsta hora do entardecer

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É noiteMas é prelúdio do diaSe continuarmos a lutar.

Esta é a nossa hora, é a hora da Família Salesiana e não podemos deixá-la passar; talvez amanhã seja demasiado tarde.

Sr. Ma. Luisa Miranda L.Conselheira para o Âmbito da Família Salesiana FMA.

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