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SALVADOR SEXTA-FEIRA 19/10/2018 OPINIÃO A3 www.atarde.com.br 71 3340-8991 (Cidadão Repórter) 71 99601-0020 (WhatsApp) ASSOCIADA À SIP - SOCIEDADE INTERAMERICANA DE IMPRENSA PREMIADA PELA SOCIETY FOR NEWS DESIGN MEMBRO FUNDADOR DA ANJ - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS ASSOCIADA AO IVC - INSTITUTO VERIFICADOR DE COMUNICAÇÃO SEDE: RUA PROFESSOR MILTON CAYRES DE BRITO, N.º 204, CAMINHO DAS ÁRVORES, CEP: 41.820-570, SALVADOR/BA, FALE COM A REDAÇÃO: (71)3340-8800, (71)3340-8500, FAX: (71)3340-8712 OU 3340-8713, DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA DAS 6:30 À MEIA-NOITE. SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS: DAS 9:00 ÀS 21 HORAS; SUGESTÃO DE PAUTA: CIDADAOREPORTER@GRU- POATARDE.COM.BR, (71)3340-.8991. CLASSIFICADOS POPULARES: (71)3533-0855; CIRCULAÇÃO: (71)3340-8612; CENTRAL DE ASSINATURA: (71)3533-0850. Fundado em 15/10/1912 Presidente de Honra: Renato Simões CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Presidente: João Mello Leitão Conselheiros: Ranulfo Bocayuva e Renato Simões Filho Diretora de Redação: MARIANA CARNEIRO Diretora de Produção de Conteúdo: ALEZINHA ROLDAN Diretor Controller: LUCAS LAGO Diretor de Operações: CLEBER SOARES Diretor Comercial: HÉLIO TOURINHO Gerente Industrial: ÉLIO PEREIRA JAGUAR Miguel Nabais Pernes Diretor-geral da Foco Musical em Portugal e no Brasil N o decorrer de sua vida, Hannah Arendt (1906-1975) buscou com- preender um dos mais complexos fenômenos contemporâneos: o pensar. Sobrevivente de um regime totalitário, tentou compreender as origens, a comu- nicação em massa, os tempos sombrios, mas especialmente a condição humana. Distanciando-se dialeticamente de Kant – que separava o pensamento do conhe- cimento –, a filósofa alemã se questionava sobre a conexão entre o ato de pensar (ou não) com a ação da maldade. Dois polos que não estão em oposição, mas que com- põem o nosso atual campo histórico. Aqui nos deparamos com uma questão moral: se o éthos coletivo for questionado pelo indivíduo, ao negá-lo como recurso para legitimar a violência, há um rom- pimento das tessituras sociais vigentes. Explico-me, o ato de pensar incorre sobre as ausências, desvela situações e condições que estão em análise no plano metafísico. Aquilo que Platão denunciava como o plano das ideias e o próprio Kant apontava como a essência de todas as coisas. O que não estava perceptível para o entendimento humano, conduzindo aos limites da caverna. O pensar, livre e independente no ato de julgar, nos vincula eticamente à al- teridade do outro. Reconhece, em cada indivíduo, as suas expressões de huma- nidade. Portanto, nos permite apreender como chegamos a esse ponto da história em que a inexistência do pensar resulta na banalidade do mal. No ato burocrático que procura se eximir de toda e qualquer culpa, porque se todos/as são cúmplices da ordem universal, ninguém é respon- sável por nada. O ápice do absurdo, como diria Camus, ao questionar a incessante busca por clareza, sentido e unidade em um mundo desprovido de razão. O que nos une? Não há verdadeira li- berdade sem o correspondente ato de pensar. Apesar da aparente aporia nestas linhas, o compromisso com a utopia é condição sine qua non para criar o espaço público em que todos/as possam exercer o seu papel político. Não apenas em busca de resultados, da inserção na lógica da economia empresarial, no qual a concor- rência é um estágio progressivo do su- plantar do humano (demasiado humano), mas comprometidos com a possibilidade de criar o novo. Não repetir a história sem prestar contas com o passado. Se não queremos viver sob os auspícios de uma distopia em construção, na linha tênue que separa a representação da rea- lidade, combater toda e qualquer forma de totalitarismo é um ato de pensar, de promover os alicerces da razão. De expor as caricaturas dos Eichmanns que insis- tem, na ausência de pensamento crítico, interferir na genealogia da utopia pos- sível e semear o mal. Que a razão ul- trapasse a barbárie. Que a utopia seja motor de tempos futuros. Que o pensar permita liberdade e igualdade. Antonio Carlos da Silva Núcleo de Estudos sobre Direitos Humanos da Universidade Católica do Salvador [email protected] EDITORIAL Liberdade em dois mundos O Sítio da Amizade: sinfonia para a infância Brasil: utopia ou distopia possível? atarde.com.br/portalmunicipios DESTAQUES DO PORTAL A TARDE Fórum de Turismo acontece em Morro de São Paulo Divulgação atarde.com.br/bahia Empresa inscreve para programa de estágio na Bahia Na berlinda estão os preceitos democráticos da liberdade de expressão e a gravidade de o caso ocorrer em território de embaixada O desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi, visto pela última vez há duas semanas entrando no consultado da Ará- bia Saudita (seu país natal) na Turquia, é um quebra-cabeça das relações interna- cionais, e distintos entendimentos sobre liberdade de expressão são fissuras que fazem deste jogo um problema tanto pa- ra o mundo ocidental como o árabe. E enquanto os Estados Unidos cobram respostas – primeiro com ameaças de re- presálias, depois panos quentes – e colocam a diplomacia de viés econômico que man- têm com a Arábia Saudita na corda bamba, o paradeiro desconhecido de Khashoggi ainda suscita a dificuldade do reinado sau- dita em ouvir críticas, que ecoam ainda mais rudes neste momento em que o prín- cipe herdeiro Mohammed bin Salman – o principal alvo do jornalista – promove al- gumas reformas, apesar da mão de ferro. O assassinato de Khashoggi é o provável iminente desfecho deste caso, que já pode ser considerado um escândalo. Indepen- dentemente do envolvimento da monar- quia de Riade, a conhecida falta de tato por parte dos governantes da Arábia Sau- dita vem à tona. Responder pela morte de um civil abalaria inclusive conquistas his- tóricas, como o direto das mulheres sau- ditas em tirar carteira de habilitação para dirigir, uma lei do primeiro semestre deste ano, e de poder ir a estádios de futebol, o que, no entanto, aconteceu apenas duas vezes. A parcial e inevitável intromissão dos Estados Unidos no caso, enquanto os go- vernos da Turquia e da Arábia Saudita pregam versões distintas do que acon- teceu com o jornalista, torna a situação ainda mais delicada. Trump prefere blin- dar a monarquia saudita, e o perigo é o mandatário norte-americano aceitar qualquer pressuposto sobre o desapare- cimento e forjá-lo como autoverdade em nome da diplomacia entre os países. Mas o que nunca se deve perder de vista é que na berlinda estão os preceitos de- mocráticos da liberdade de expressão de um jornalista a serviço de uma mídia norte-americana (The Washington Post) e a gravidade de desaparecer, possivelmen- te assassinado, num território neutro de embaixada. C om uma mensagem clara de tole- rância e direito à diferença, O Sítio da Amizade é uma fábula sinfônica on- de as personagens são animais represen- tados por instrumentos da orquestra. Na gênese esta obra musical – com estreia baia- na no Teatro Castro Alves, a propósito das comemorações do Dia da Criança –, tem por finalidade promover aprendizagens signi- ficativas no domínio da compreensão da música e educação. A orquestra é um veí- culo privilegiado para o acesso à música enquanto arte, quanto mais não seja, pela multiplicidade tímbrica que nos disponi- biliza em simultâneo. Uma criança não se tornará fluente na sua língua materna enquanto os adultos que a rodeiam passarem o tempo a bal- buciar para ela. Importa cercá-la de um discurso fluente que os adultos natural- mente praticam entre si. A evolução cog- nitivo-musical segue a mesma lógica. Quanto mais rica e complexa a oferta musical que rodeia a infância, maior será a sua capacidade futura para compreen- der, apreciar e interagir com esse uni- verso. Na verdade, quando vedamos à criança o acesso a música de maior eru- dição, estamos a desprovê-la de ferramen- tas para a sua apropriação, tornando-a irremediavelmente incapaz de vir a apre- ciar determinadas manifestações estéti- cas para as quais não se prepara em tem- po real. Porém, para a construção do edi- fício musical da criança, também não bas- tará certamente a simples exposição à obra de arte. O papel do educador é fundamental na facilitação da sua percepção, tal como o é para a interpretação literária. Para uma criança sem prática de audição musical, num primeiro contato, uma orquestra es- tará apenas a executar sons por ventura estranhos. Cabe-nos, como educadores, conduzi-las para um plano expressivo. Orientadas, entrarão num outro universo. Descobrirão na música uma forma de co- municação. Urge então orientar para o patamar seguinte, de compreensão estru- tural. Entender uma peça ou um extrato musical como algo palpável, com prin- cípio, meio e fim. Aqui, os processos de audição musical participada têm um papel crucial. A in- serção de uma peça musical em contexto lúdico, aliada a um criterioso reforço ci- nestésico da ideia musical, pode acelerar exponencialmente este processo de (re)conhecimento. Sem este conhecimen- to, dificilmente se estabelece o desejado elo emocional com o objeto artístico. A compreensão é o passo determinante pa- ra a emoção. A música entrar-lhe-á então no corpo através da pele. Mais do que o reflexo que isso terá na aprendizagem da matemática ou da língua portuguesa ou noutra qualquer área do conhecimento, eis a suprema utilidade da educação mu- sical: a música!

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Page 1: Divulgação EDITORIAL Liberdade em dois mundosnoosfero.ucsal.br/articles/0014/9468/atcd10031901css-1.pdf · pelo indivíduo, ao negá-lo como recurso para legitimar a violência,

SALVADOR SEXTA-FEIRA 19/10/2018 OPIN IÃO A3

www.atarde.com.br71 3340-8991

(Cidadão Repórter)

71 99601-0020(WhatsApp)

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SOCIEDADEINTERAMERICANA

DE IMPRENSA

PREMIADAPELA

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MEMBROFUNDADOR DA ANJ

- ASSOCIAÇÃONACIONAL

DE JORNAIS

ASSOCIADAAO IVC -

INSTITUTOVERIFICADOR DECOMUNICAÇÃO

SEDE: RUA PROFESSOR MILTON CAYRES DE BRITO, N.º 204, CAMINHO DASÁRVORES, CEP: 41.820-570, SALVADOR/BA, FALE COM A REDAÇÃO:(71)3340-8800, (71)3340-8500, FAX: (71)3340-8712 OU 3340-8713, DE SEGUNDA ASEXTA-FEIRA DAS 6:30 À MEIA-NOITE. SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS:DAS 9:00 ÀS 21 HORAS; SUGESTÃO DE PAUTA: [email protected], (71)3340-.8991. CLASSIFICADOS POPULARES: (71)3533-0855;CIRCULAÇÃO: (71)3340-8612; CENTRAL DE ASSINATURA: (71)3533-0850.

Fundado em 15/10/1912Presidente de Honra: Renato SimõesCONSELHO DE ADMINISTRAÇÃOPresidente: João Mello LeitãoConselheiros: Ranulfo Bocayuva e Renato Simões Filho

Diretora de Redação: MARIANA CARNEIRODiretora de Produção de Conteúdo: ALEZINHA ROLDANDiretor Controller: LUCAS LAGODiretor de Operações: CLEBER SOARESDiretor Comercial: HÉLIO TOURINHOGerente Industrial: ÉLIO PEREIRA

JAGUAR

Miguel Nabais PernesDiretor-geral da Foco Musical em Portugale no Brasil

N o decorrer de sua vida, HannahArendt (1906-1975) buscou com-preender um dos mais complexos

fenômenos contemporâneos: o pensar.Sobrevivente de um regime totalitário,tentou compreender as origens, a comu-nicação em massa, os tempos sombrios,mas especialmente a condição humana.Distanciando-se dialeticamente de Kant –que separava o pensamento do conhe-cimento –, a filósofa alemã se questionavasobre a conexão entre o ato de pensar (ounão) com a ação da maldade. Dois polosque não estão em oposição, mas que com-põem o nosso atual campo histórico.

Aqui nos deparamos com uma questãomoral: se o éthos coletivo for questionadopelo indivíduo, ao negá-lo como recursopara legitimar a violência, há um rom-pimento das tessituras sociais vigentes.

Explico-me, o ato de pensar incorre sobreas ausências, desvela situações e condiçõesque estão em análise no plano metafísico.Aquilo que Platão denunciava como o planodas ideias e o próprio Kant apontava como aessência de todas as coisas. O que não estavaperceptível para o entendimento humano,conduzindo aos limites da caverna.

O pensar, livre e independente no atode julgar, nos vincula eticamente à al-teridade do outro. Reconhece, em cadaindivíduo, as suas expressões de huma-nidade. Portanto, nos permite apreendercomo chegamos a esse ponto da históriaem que a inexistência do pensar resultana banalidade do mal. No ato burocráticoque procura se eximir de toda e qualquerculpa, porque se todos/as são cúmplicesda ordem universal, ninguém é respon-sável por nada. O ápice do absurdo, comodiria Camus, ao questionar a incessantebusca por clareza, sentido e unidade emum mundo desprovido de razão.

O que nos une? Não há verdadeira li-berdade sem o correspondente ato depensar. Apesar da aparente aporia nestaslinhas, o compromisso com a utopia écondição sine qua non para criar o espaçopúblico em que todos/as possam exercero seu papel político. Não apenas em buscade resultados, da inserção na lógica daeconomia empresarial, no qual a concor-rência é um estágio progressivo do su-plantar do humano (demasiado humano),mas comprometidos com a possibilidadede criar o novo. Não repetir a história semprestar contas com o passado.

Se não queremos viver sob os auspíciosde uma distopia em construção, na linhatênue que separa a representação da rea-lidade, combater toda e qualquer formade totalitarismo é um ato de pensar, depromover os alicerces da razão. De exporas caricaturas dos Eichmanns que insis-tem, na ausência de pensamento crítico,interferir na genealogia da utopia pos-sível e semear o mal. Que a razão ul-trapasse a barbárie. Que a utopia sejamotor de tempos futuros. Que o pensarpermita liberdade e igualdade.

Antonio Carlos da SilvaNúcleo de Estudos sobre Direitos Humanos daUniversidade Católica do [email protected]

EDITORIAL Liberdade em dois mundos

O Sítio da Amizade: sinfonia para a infância

Brasil: utopia oudistopia possível?

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DESTAQUESDO PORTAL

A TARDE

Fórum de Turismoacontece emMorro de São Paulo

Divulgação

atarde.com.br/bahia

Empresa inscrevepara programa deestágio na Bahia

Na berlinda estão ospreceitos democráticosda liberdade deexpressão e a gravidadede o caso ocorrer emterritório de embaixada

O desaparecimento do jornalista JamalKhashoggi, visto pela última vez há duassemanas entrando no consultado da Ará-bia Saudita (seu país natal) na Turquia, éum quebra-cabeça das relações interna-cionais, e distintos entendimentos sobreliberdade de expressão são fissuras quefazem deste jogo um problema tanto pa-ra o mundo ocidental como o árabe.

E enquanto os Estados Unidos cobramrespostas – primeiro com ameaças de re-presálias,depoispanosquentes–ecolocama diplomacia de viés econômico que man-têmcomaArábiaSauditanacordabamba,o paradeiro desconhecido de Khashoggiainda suscita a dificuldade do reinado sau-

dita em ouvir críticas, que ecoam aindamais rudes neste momento em que o prín-cipe herdeiro Mohammed bin Salman – oprincipal alvo do jornalista – promove al-gumas reformas, apesar da mão de ferro.

OassassinatodeKhashoggiéoprovável

iminente desfecho deste caso, que já podeser considerado um escândalo. Indepen-dentemente do envolvimento da monar-quia de Riade, a conhecida falta de tatopor parte dos governantes da Arábia Sau-dita vem à tona. Responder pela morte deum civil abalaria inclusive conquistas his-tóricas, como o direto das mulheres sau-ditasemtirarcarteiradehabilitaçãoparadirigir,umaleidoprimeirosemestredesteano, e de poder ir a estádios de futebol, oque, no entanto, aconteceu apenas duasvezes.

A parcial e inevitável intromissão dosEstados Unidos no caso, enquanto os go-vernos da Turquia e da Arábia Saudita

pregam versões distintas do que acon-teceu com o jornalista, torna a situaçãoainda mais delicada. Trump prefere blin-dar a monarquia saudita, e o perigo é omandatário norte-americano aceitarqualquer pressuposto sobre o desapare-cimento e forjá-lo como autoverdade emnome da diplomacia entre os países.

Mas o que nunca se deve perder de vistaé que na berlinda estão os preceitos de-mocráticos da liberdade de expressão deum jornalista a serviço de uma mídianorte-americana (The Washington Post) ea gravidade de desaparecer, possivelmen-te assassinado, num território neutro deembaixada.

C om uma mensagem clara de tole-rância e direito à diferença, O Sítio daAmizade é uma fábula sinfônica on-

de as personagens são animais represen-tados por instrumentos da orquestra. Nagênese esta obra musical – com estreia baia-na no Teatro Castro Alves, a propósito dascomemorações do Dia da Criança –, tem porfinalidade promover aprendizagens signi-ficativas no domínio da compreensão damúsica e educação. A orquestra é um veí-culo privilegiado para o acesso à músicaenquanto arte, quanto mais não seja, pelamultiplicidade tímbrica que nos disponi-biliza em simultâneo.

Uma criança não se tornará fluente nasua língua materna enquanto os adultosque a rodeiam passarem o tempo a bal-buciar para ela. Importa cercá-la de um

discurso fluente que os adultos natural-mente praticam entre si. A evolução cog-nitivo-musical segue a mesma lógica.Quanto mais rica e complexa a ofertamusical que rodeia a infância, maior seráa sua capacidade futura para compreen-der, apreciar e interagir com esse uni-verso. Na verdade, quando vedamos àcriança o acesso a música de maior eru-dição, estamos a desprovê-la de ferramen-tas para a sua apropriação, tornando-airremediavelmente incapaz de vir a apre-ciar determinadas manifestações estéti-cas para as quais não se prepara em tem-po real. Porém, para a construção do edi-fício musical da criança, também não bas-tará certamente a simples exposição àobra de arte.

O papel do educador é fundamental nafacilitação da sua percepção, tal como o épara a interpretação literária. Para umacriança sem prática de audição musical,num primeiro contato, uma orquestra es-tará apenas a executar sons por venturaestranhos. Cabe-nos, como educadores,

conduzi-las para um plano expressivo.Orientadas, entrarão num outro universo.Descobrirão na música uma forma de co-municação. Urge então orientar para opatamar seguinte, de compreensão estru-tural. Entender uma peça ou um extratomusical como algo palpável, com prin-cípio, meio e fim.

Aqui, os processos de audição musicalparticipada têm um papel crucial. A in-serção de uma peça musical em contextolúdico, aliada a um criterioso reforço ci-nestésico da ideia musical, pode acelerarexponencialmente este processo de(re)conhecimento. Sem este conhecimen-to, dificilmente se estabelece o desejadoelo emocional com o objeto artístico. Acompreensão é o passo determinante pa-ra a emoção. A música entrar-lhe-á entãono corpo através da pele. Mais do que oreflexo que isso terá na aprendizagem damatemática ou da língua portuguesa ounoutra qualquer área do conhecimento,eis a suprema utilidade da educação mu-sical: a música!