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Graça e Verdade Título original: Grace and truth Por Octavius Winslow (1808-1878) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Jun/2017

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Graça e Verdade

Título original: Grace and truth

Por Octavius Winslow (1808-1878)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Jun/2017

2

W778

Winslow, Octavius – 1808 -1878

Graça e verdade / Octavius Winslow Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2017. 54p.; 14,8 x 21cm Título original: Grace and truth 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

3

"Jesus, cheio de graça."

“1 Ora uma dentre as mulheres dos filhos dos

profetas clamou a Eliseu, dizendo: Meu marido,

teu servo, morreu; e tu sabes que o teu servo

temia ao Senhor. Agora acaba de chegar o

credor para levar-me os meus dois filhos para

serem escravos.

2 Perguntou-lhe Eliseu: Que te hei de fazer?

Dize-me o que tens em casa. E ela disse: Tua

serva não tem nada em casa, senão uma botija

de azeite.

3 Disse-lhe ele: Vai, pede emprestadas vasilhas

a todos os teus vizinhos, vasilhas vazias, não

poucas.

4 Depois entra, e fecha a porta sobre ti e sobre

teus filhos; deita azeite em todas essas vasilhas,

e põe à parte a que estiver cheia.

5 Então ela se apartou dele. Depois, fechada a

porta sobre si e sobre seus filhos, estes lhe

chegavam as vasilhas, e ela as enchia.

6 Cheias que foram as vasilhas, disse a seu filho:

Chega-me ainda uma vasilha. Mas ele

respondeu: Não há mais vasilha nenhuma. Então

o azeite parou.

7 Veio ela, pois, e o fez saber ao homem de

Deus. Disse-lhe ele: Vai, vende o azeite, e paga

a tua dívida; e tu e teus filhos vivei do resto." (2

Reis 4: 1-7)

4

Parece bom ao Espírito Santo, o Autor Divino

da Bíblia, encarnar e exibir algumas das

verdades mais importantes, espirituais e

magníficas de Sua Palavra sob a forma de tipo,

símbolo e semelhança. Nem sua sabedoria, nem

Seu amor, ao lançar assim uma cortina de

aparente obscuridade em torno de revelações

tão importantes, podem ser questionadas.

Não pode ser razoavelmente negado que Deus,

que tem o direito de revelar Sua própria mente,

e em uma forma de revelação extraordinária,

para comunicar sua vontade ao homem, poderia

tão facilmente, se assim lhe agradasse, não

somente acompanhar essa revelação com a

certeza de que Ele, e nenhum outro, fosse o

Orador; mas que também Ele poderia ter

afastado tudo o que era misterioso e obscuro

sobre cada verdade, fazendo com que ela se

erguesse, palpável e demonstrativa, banhada no

esplendor de sua própria Divulgação Divina.

Mas, tendo em vista, sem dúvida, simplificar o

sentido, aumentar a grandeza e aprofundar a

solenidade da verdade na estima da mente

5

humana, esse modo peculiar de transmiti-la é,

em parte, adotado.

Nem por estas razões somente, pois o espírito

de pesquisa séria e perseverante, é o espírito

que um bom e bem sucedido estudo da Bíblia

exige. Não é na superfície da Palavra de Deus

que a instrução mais importante é encontrada.

Embora mesmo lá, as verdades mais espirituais

e preciosas são às vezes espalhadas como

brilhantes constelações pendentes do

firmamento e visíveis a olho nu; ou, como

gemas destacadas da caverna do oceano, às

vezes são jogadas na praia e recolhidas pelo

viajante pensativo. Mas na maioria dos casos a

verdade de Deus é profunda e invisível. Uma

pesquisa superficial e descuidada não

conduzirá o investigador às suas mais ricas

revelações. A mina deve ser escavada, o

firmamento deve ser explorado, o oceano deve

ser vasculhado - em outras palavras, as

Escrituras devem ser pesquisadas com muita

oração para o ensino do Espírito e com uma

diligência continuada e paciente; ou então, suas

maiores belezas e seus tesouros mais caros

permanecerão escondidos.

6

"Toda Escritura é dada por inspiração de Deus."

E não há nenhum tipo, nem símbolo, nem

parábola, nem história, nem canção, que não

envolva alguma verdade profunda, e que não

transmita alguma lição prática profunda de

sabedoria, ou alguma palavra rica de conforto,

ou algum desdobramento precioso de JESUS, o

preço que está acima do de rubis.

A esta classe de verdade revelada pode ser

atribuída a narrativa instrutiva que sugeriu o

tópico do presente capítulo de nosso trabalho.

Toda a história é inimitável e belamente tocante.

E, se descobríssemos a doutrina do cuidado

providencial de Deus para com o Seu povo, a

ajuda oportuna e atenciosa que Ele sempre tem

estendido a eles em épocas de provação e de

emergência - limitando-nos a esses pontos,

encontraríamos um rico e amplo material na

narrativa diante de nós, para reflexão

prolongada e proveitosa.

A figura mais proeminente neste retrato simples

da vida real, em torno de quem é centralizada

toda a cena, é a viúva do profeta. Seu marido

morrendo falido, ela foi encontrada lutando

sozinha com as circunstâncias embaraçosas de

7

uma viúva desolada e empobrecida. A este traço

sombrio de sua história deve ser acrescentada

uma provação que, para o coração de uma mãe,

seria o enchimento da taça de tristeza até a

borda - os credores de seu marido tinham vindo

para reivindicar seus dois filhos como escravos,

cortando assim o seu último elo da felicidade

terrena, e de repente derrubando seus cabelos

grisalhos com tristeza ao túmulo que acabara de

fechar sobre o marido de sua juventude.

Nesta crise de sua vida, o profeta Eliseu vem à

sua porta; seus passos foram guiados ali, ele

não sabia por que, pela mão invisível, mas

sempre trabalhadora, do Deus da viúva. Um

pouco de azeite constituía toda a riqueza

temporal da viúva. Mas Deus pode abençoar, e

pode multiplicar o pouco que o justo tem.

Portanto, "o pouco que o justo tem, é melhor do

que as riquezas de muitos ímpios." Veja o poder

de Deus, e não menos o Seu amor, aumentando

para dar uma suficiência ao "pouco" dos justos,

e marcando-o com um valor infinitamente maior

do que os rendimentos mais ricos dos ímpios. E

agora Deus aumentará seus poucos recursos

para uma abundância, embora ele fizesse um

milagre para realizá-lo.

8

Ao comando do profeta, foram obtidos vários

vasos, "vasos vazios, não poucos". Então

fechando a porta, ela prossegue, atendendo ao

pedido de Eliseu, para derramar o óleo de um

vaso cheio em cada vaso vazio. Eles trouxeram

as vasilhas para ela e ela continuou a derramar.

Quando todas as vasilhas estavam cheias, ela

disse ao filho: "Traga-me outra". Mas ele

respondeu: "Não sobrou nenhuma vasilha."

Então o óleo parou de fluir. Ela foi e disse ao

homem de Deus, e ele disse: "Vai, vende o

azeite, e paga a tua dívida; e tu e teus filhos vivei

do resto."

E agora o coração da viúva cantava de alegria.

Sua dívida foi cancelada, seus filhos redimidos,

sua necessidade fornecida, e as vidas de todos

foram assim resgatadas da fome e da morte;

que resplendor iluminaria aquela humilde

habitação e que música iria fluir daqueles

corações gratos! Oh, que bom Deus temos! Ele

é um "Sol e um Escudo". Ele é uma “muito

presente ajuda na dificuldade.” Leitora, você é

viúva, somando-se à amarga angústia do luto

recente, a tristeza e o abatimento dos recursos

esgotados, as circunstâncias embaraçosas e a

pressão das reivindicações que você não pode

9

satisfazer? Console-se com esta sagrada

narrativa e com a "grande e preciosa promessa"

do seu Deus: "Deixai os seus órfãos, e os

conservarei vivos, e as suas viúvas confiem em

mim".

Que promessa incrível é esta! Quem além de

Deus poderia falar isso? Ele falou isso, e Ele fala,

viúva enlutada, para você. É sua promessa,

exclusivamente sua, como se você fosse o único

indivíduo a quem foi dirigida. Deus está

preparado para fazer-lhe bem. "Eu jurei por

minha santidade que não vou mentir",

compromissando assim a Sua verdade e

santidade para cumprir esta e todas as outras

promessas apropriadas em sua experiência

individual e feliz. Tendo em vista esta preciosa

promessa, não poderão, pois, se elevarem

acima das suas circunstâncias atuais, com

aquilo que exclama o profeta: "Ainda que a

figueira não floresça, nem haja fruto nas vides;

ainda que falhe o produto da oliveira, e os

campos não produzam mantimento; ainda que

o rebanho seja exterminado da malhada e nos

currais não haja gado. todavia eu me alegrarei

no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação.

O Senhor Deus é minha força, ele fará os meus

pés como os da corça, e me fará andar sobre os

meus lugares altos."

10

Por mais interessante e proveitoso que possa

ser perseguir essa linha de pensamento, nosso

presente e principal projeto é considerar a

narrativa como ilustrando, em algumas de suas

principais características, as operações mais

elevadas de Deus na graça, em vez dos arranjos

subordinados de Deus na providência. O

episódio sagrado apresenta este interessante

assunto em três pontos essenciais:

- O caráter daqueles que o Senhor Jesus

reabastece com Sua graça;

- A suficiência da graça que está em Jesus para

atender a cada caso;

- A continuidade da provisão da graça até que

os grandes propósitos da graça tenham sido

cumpridos, e o mistério de Deus seja

consumado.

"Eles trouxeram as vasilhas para ela e ela

continuou a derramar o azeite. Quando todas as

vasilhas estavam cheias, ela disse ao seu filho,

“Traga-me outra.” Mas ele respondeu: "Não

sobrou um vasilha." Então o óleo parou de fluir.

E oh, que enquanto colocamos a nossa atenção

11

neste assunto tão importante, "grande graça"

possa descer tanto sobre o escritor quanto

sobre o leitor!

Os vasos que o profeta ordenou que fossem

trazidos, observe-se, que eram vasos vazios. O

vazio espiritual - a absoluta destituição de toda

santidade e graça originais - é a grande e

essencial característica de todos os que se

tornam participantes da graça de Cristo. Eles

não recebem esta graça como santos, mas como

pecadores; não como justos, mas como

culpados; não como merecedores, mas como

indignos. Eles se tornam seus destinatários

exclusivamente nas bases de sua absoluta

destituição de toda justiça natural. Com que

clareza e poder o Espírito Santo delineou sua

condição espiritual! Eles são representados

como "pobres", "cegos", "doentes", "nus",

"necessitados", "perdidos", "inimigos de Deus",

"desprezando e rejeitando a Cristo", como

"cobertos de trapos imundos", “autodestruídos",

“na carne", "sem força", "prontos a perecer",

"pecadores", "ímpios", "amantes dos prazeres",

"condenados", "sem Deus"; “incrédulos“, “sem

esperança”.

12

Melancólica, contudo verdadeira descrição do

homem caído! Que você não admita que essa

destituição natural de toda santidade seja seu

estado real, meu leitor não convertido, não

invalida o fato o mínimo. Tão longe disto, a

própria negação é apenas uma confirmação

mais forte e um agravamento mais terrível da

terrível verdade. Um maníaco negar que ele é

insano; um moribundo negar que está doente;

um falido negar que ele é insolvente; um

escravo negar que ele está em correntes - que

loucura seria isto! E, no entanto, essa loucura

moral e sua insanidade são suas, enquanto você

diz: "Eu sou rico e próspero com bens, e não

necessito de nada, e não sabe que você é

miserável, pobre, cego, e nu."

Mas embora você possa negá-la, esta é sua

condição real. Quanto a qualquer santidade e

força, sabedoria celestial, propósitos espirituais

e desejos, sua alma é um "vaso vazio". Nenhum

raio solitário da Luz Divina ilumina a sua

compreensão, nem um só pulsar da vida

espiritual pulsa na sua alma, nem uma faísca de

amor celestial brilha no seu coração. Ainda, não

há apenas a ausência de todo bem espiritual,

mas existe a existência real de todo mal

13

espiritual. A mera negação da santidade, se

podemos supor tal estado, seria menos sombria

e terrível do que o domínio positivo e supremo

do pecado. O pecado habitando em você,

Satanás dominando você, e o inferno brilhando

em seu rosto, apresenta uma imagem de aflição

que confunde toda a descrição. Você é um

suicida espiritual, pois você se destruiu. Você é

um homicida espiritual, pois sua influência

destruiu outros. Você é um deicida espiritual,

pois a tendência de seu pecado é aniquilar a

existência de Deus. Assim você está em guerra

com o Ser universal. Tal é o poder, e tal a tirania,

desse monstro chamado pecado!

Não se surpreenda, meu leitor, com minha

aplicação desta descrição terrível da natureza

humana caída para você. Não leia isto para

outro, mas leia para si mesmo. Não se afaste

dele com descrença e desprezo. É necessário

que você reconheça em si mesmo a imagem

moral do primeiro Adão, para que você possa

ser levado a buscar uma transformação na

imagem moral do Segundo Adão (Cristo). Sua

alma - repito a verdade - sua alma é este "vaso

vazio". Deus saiu dela; e quanto à existência de

qualquer santidade, é um vazio vasto e sombrio.

14

O que pode preencher Seu lugar? A Filosofia tem

tentado, e a Ciência tem tentado, e a Poesia tem

tentado, e o Mundo tem tentado, e a Riqueza

tentou, e o Poder tem tentado, e o Prazer

tentou, e a Amizade tentou - e todos falharam

em preencher o profundo vazio de sua alma!

Cada um exclama, como em desespero se

retirando, "Não está em mim!" Pensamento

presunçoso, de que qualquer bem criado,

qualquer que seja, poderia preencher um lugar

projetado para ser ocupado pelo próprio Deus!

Mas, há um processo pelo qual a alma é levada

ao conhecimento de sua miséria e vazio

espiritual. Isso ocorre naquele primeiro estágio

de conversão que denominamos de convicção

do pecado. É no período em que a "praga do

coração" é sentida, quando a lepra interior do

pecado é descoberta, e a alma está prostrada

diante de Deus e faz a oração do publicano,

"Deus seja misericordioso para comigo

pecador." Que mudança passa agora sobre a

alma! Não mais disfarçando e negando, a

surpreendente descoberta é feita e reconhecida,

"Eu sou o principal dos pecadores". Como o

ouro tornou-se escória, e o vinho em água!

Como impotente é agora a força! Quão pobres

15

as ricas riquezas! Quão repugnante e

insignificante é a grandeza orgulhosa! Um

mundo parece ter desaparecido de repente, um

universo parece ter desaparecido; e um vasto

vazio apressa-se sobre a vista, com seu oceano

escuro e sem mar e seu céu descendente e

interminável. Acordado de seu sono longo e

profundo, ele se encontra, por assim dizer,

como o ocupante solitário deste vazio, e o

viajante desolado nessa viagem oceânica cujo

destino ele não conhece! O feitiço que o

amarrou está quebrado; o encantamento que o

mantinha é dissolvido; o sonho que o fascinou

desapareceu; e a alma desperta para a

consciência, para a razão e para a vida.

Em que mundo imaginário e irreal ele tem

existido, e ele não sabia disso! Que vazio de

desejo ele tem estado a acalentar, e ele não

suspeitou disso! E todo o tempo ele se

perguntava por que a felicidade era um estranho

para seu coração, e a alegria fugia à sua

aproximação. Era "como quando um homem

faminto sonha, e eis que ele come, mas

desperta, e sua alma está vazia, ou, como

quando um homem sedento sonha, e eis que

16

bebe, mas desperta, e eis que, ele está

ressequido."

Mas, outro passo é necessário para completar a

consciência da alma de seu vazio - o passo que

leva à cruz. A grande mudança que efetua a

conversão, tem uma relação particular e

essencial com o pecado. Antes da conversão, o

amor de Deus não tendo sido posto em contato

íntimo com a mente - a consciência e o coração,

recebendo assim suas impressões da santidade

Divina através do intelecto, continuam num

estado escuro e turbulento quanto à natureza,

à culpa, e às consequências do pecado. A esta

causa - a ignorância da lei de Deus - pode-se

atribuir a maior parte, se não todos, os erros

que sempre distraíram a Igreja Cristã, os

pecados que poluíram o mundo e os males que

afetaram nossa raça. A cegueira à santidade

divina, a qual a lei de Deus foi projetada para

refletir, é a raiz de todo pecado, e o pecado é a

fonte de todo mal. "O pecado é a transgressão

da lei". Até que a mente é levada a ver a

extensão das exigências da lei, a pureza de seus

preceitos e a inflexibilidade de suas exigências,

deve ter concepções inadequadas da santidade

17

de Deus e, consequentemente, da "excessiva

pecaminosidade do pecado".

O crente, vendo os preceitos da lei Divina

incorporados na vida de Jesus, adota-a como

sua regra; e vendo a santidade da lei Divina

exibida na morte de Jesus, começa a temer o

pecado. Em ambos, ele vê como Deus é

infinitamente santo; e, portanto, conformando-

se ao exemplo de Cristo, e pela contemplação

da morte de Cristo, o desejo profundo e ardente

de sua alma é ser "participante da santidade de

Deus" - o mais elevado, como o mais feliz, a que,

na terra ou no céu, ele pode chegar.

Mas, quem pode descrever a santa e terna

contrição que agora toma posse da alma trazida

para a cruz de Jesus? Quem, senão Deus, pode

interpretar plenamente o significado daquelas

lágrimas que fluem, daquele olhar erguido;

daquela contrição do coração, daquele suspiro

dos lábios - a linguagem de uma alma movida

para o seu centro por causa do pecado? Se as

palavras do homem podem expressar estas

emoções profundas e santas, a penitência e a

oração de Davi o fizeram. "Tende misericórdia

de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade:

18

segundo a multidão das tuas ternas

misericórdias, apaga as minhas transgressões,

lava-me completamente da minha iniquidade e

purifica-me do meu pecado, porque reconheço

as minhas transgressões e meu pecado está

sempre diante de mim. Contra ti, somente

pequei e fiz este mal diante de ti."

Tenho, querido leitor, nesta fase do nosso

assunto, que propor uma pergunta solene e de

busca do coração. Essa humilhação quanto ao

seu estado atingiu seu coração? A contrição pelo

pecado tocou seu espírito? Você está

familiarizado com aquela "tristeza divina e

arrependimento que é para a vida?" Não fique

indiferente a essa convicção. É o primeiro elo na

corrente de sua salvação. É o primeiro passo na

sua jornada para a cruz. Nenhum homem se

levantará e irá até Jesus, até que esteja

convencido de que precisa de Jesus. Um

Salvador chorando, por assim dizer, lágrimas de

sangue, só será contemplado por um pecador

que chora lágrimas de tristeza piedosa. Um

Salvador quebrantado de coração, e um pecador

de coração partido, moram juntos na mais doce

harmonia. Milhares passam pela cruz de Jesus e

nunca levantam um olhar para ela. E por que? O

19

problema é de fácil solução. Eles nunca

experimentaram um coração traspassado e

triste pelo pecado. O véu que está sobre sua

mente esconde a cruz de Cristo de sua visão. O

olhar do perdão que irradia dos olhos daquele

ser Divino sofredor, nunca encontra seu olhar

implorante de tristeza e de fé. Eles não sentiram

nenhum fardo de pecado para lançarem sobre

Jesus, nenhum sentimento de culpa para ser

lançado sobre Jesus - e assim passaram por Ele

cegamente, friamente.

Oh terrível condição! Ser carregado com um

fardo que somente Jesus pode desatar; ser

encadeado por pecados que somente Jesus

pode quebrar; sofrer de uma doença que

somente Jesus pode curar; estar morrendo uma

morte da qual somente Jesus pode livrar; descer

a um inferno cuja porta somente Jesus pode

fechar - e ainda assim permanecer insensível e

indiferente, é de fato terrível. Leitor, se este é o

seu estado, no que você está pensando, se você

está sonhando? Por qual opiáceo você está

dominado, que você é tão inconsciente? Por qual

magia você está preso, que você está tão

enfatuado? Com que delírios você está preso,

que você é tão insano? Você imagina que sua

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condição continuará sempre como é agora? Os

vapores daquele opiáceo desaparecerão, e o

feitiço do mundo se dissolverá, e a alucinação

mental desaparecerá, e essa fúria semelhante a

um cadáver e essa escuridão grave a todas as

grandes e importantes realidades da eternidade

darão lugar a outras e terríveis emoções!

Aproxima-se rapidamente um período que

mudará todo o cenário de sua existência futura

e as relações de seu ser presente. Um leito de

enfermidade e morte vai dar outro aspecto a

tudo ao seu redor; e colocará seu caráter como

um ser responsável e imortal em uma luz nova

e terrível. A Palavra de Deus fornece a resposta:

"arrependei-vos e convertei-vos." Abandonai as

suas armas, livrai-vos da hostilidade a Deus,

humilhai-vos sob a Sua poderosa mão.

Coloque as armas de sua rebelião diante da

cruz, você deve se arrepender, ou não pode ser

convertido, você deve se converter ou não pode

ser salvo. O caso inteiro se resolve nisto:

arrepender-se ou perecer!

Assim o Espírito de Deus penetra a alma,

preparando-a para a recepção da graça de

21

Cristo. Ele varre e evacua a casa. Desaloja o

habitante ilícito, destrona o soberano rival e

assim assegura espaço para o Salvador. Ele

desarma a vontade de sua rebelião contra Deus,

a mente de sua ignorância de Deus e o coração

de seu ódio a Deus. Ele abaixa as barreiras,

remove o véu e destranca a porta, na qual o

Redentor entra triunfalmente.

Ao realizar esta poderosa obra Ele age como o

Divino Precursor de Cristo. O que o Batista foi

para o nosso Senhor, "clamando no deserto,

preparai o caminho do Senhor", o Espírito Santo

está anunciando a entrada de Jesus para a alma.

Ele vai adiante e prepara o Seu caminho. A

Divindade do Espírito fornece a Ele todos os

requisitos para a obra. Encontra-se com

dificuldade, e Ele a remove - com obstrução, e

Ele a supera - com oposição, e Ele a vence. Seu

poder é onipotente, Sua influência é irresistível,

Sua graça é eficaz. Não há alma, porém cheia de

trevas, inimizade e rebelião, que Ele não possa

preparar para Cristo. Não há nenhum coração

de pedra que Ele não possa quebrar, nenhuma

parede de bronze que Ele não possa prostrar,

nenhuma montanha que Ele não possa nivelar.

Oh, que haja mais fé no poder do Espírito Santo

22

na alma do homem! Quanto limitamos, e como

desonramos a Ele na Sua obra de converter à

graça!

Os tratos providenciais de Deus frequentemente

são instrumentais na mão do Espírito Santo para

realizar este processo de esvaziamento,

preparando assim a alma para a recepção de

Cristo. O profeta assim alude a isso de maneira

impressionante: "Moabe ficou tranquilo desde a

sua mocidade, e ele se assentou em suas borras,

e não foi esvaziado de vaso em vaso". Foi assim

que Deus lidou com Noemi. Ouça suas palavras

tocantes: "Eu saí cheia, e o Senhor me trouxe de

volta para casa vazia". Assim é que o leito de

doença, ou a câmara da morte, a perda da

criatura, talvez a mais bela e a mais amada,

preparou o coração para Cristo. O tempo do luto

e da solidão, do sofrimento e da perda, têm sido

o tempo de amor do Senhor.

A Providência é a serva da graça - e as

providências de Deus com o homem são

frequentemente o prenúncio do reino da graça

na alma. Ah! Quantos cujo olhar cai sobre esta

página, podem testificar: "Assim também o

Senhor me tratou, eu estava cheio, e Ele me

23

esvaziou, eu era rico, e Ele me empobreceu, eu

era exaltado e Ele me rebaixou. Não restava uma

só vasilha, nem um único vaso, mas ele foi me

esvaziando de um vaso para outro." Feliz será

você se o resultado de todo esse esvaziamento

e humilhação for o enchimento e

enriquecimento de sua alma com maiores

comunicações de graça e verdade de Jesus.

Uma "nuvem de testemunhas" ao seu redor

testifica esse invariável princípio do

procedimento do Senhor com Seu povo - que Ele

enriquece ao empobrecê-los; fortalece

enfraquecendo-os; reabastece por

esvaziamento; e exalta, rebaixando-os.

"Senhor, por que é isso?

Você perseguirá seu verme até a morte?

É assim que o Senhor respondeu:

Eu respondo a oração pela graça e pela fé.

Estas provas interiores que eu emprego,

Para te libertar do ego e do orgulho,

24

E quebrar seus esquemas de alegria terrena,

Para que você possa buscar tudo em mim.”

Desse modo, traçando o processo pelo qual

Deus prepara a alma do homem para a

habitação de Sua graça - em outras palavras, a

partir da consideração dos "vasos vazios",

vamos dirigir nossa atenção para outra parte

sugestiva da narrativa - O ÚNCICO VASO DE

ÓLEO. Recordar-se-á que os recursos da viúva

consistiam em um único vaso de óleo, a partir

do qual todos os vasos vazios trazidos foram

enchidos. Como expressivo é o emblema! O

Senhor Jesus Cristo é o único divinamente

designado Cabeça de toda graça para a Igreja.

Escrita como com um raio de sol é esta preciosa

verdade. "E o Verbo se fez carne, e habitou entre

nós, e vimos a sua glória, a glória como do

unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade".

"E de sua plenitude temos todos recebido, e

graça sobre graça". "Agradou ao Pai que nele

habitasse toda a plenitude". "Bendito seja o

Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que

nos abençoou com todas as bênçãos espirituais

nas regiões celestiais em Cristo".

25

A liderança de Cristo estabelece a mesma

verdade. É declarado que Deus lhe deu para ser

"cabeça sobre todas as coisas à sua igreja, que

é o seu corpo, a plenitude daquele que preenche

tudo em todos." "Não retendo a Cabeça, da qual

todo o corpo, provido e organizado pelas juntas

e ligaduras, vai crescendo com o aumento

concedido por Deus." Assim claramente o

Espírito Santo estabeleceu o Senhor Jesus como

o único vaso da graça fornecido para pobres

pecadores vazios.

A aptidão dessa verdade aparecerá

instantaneamente. Era uma parte necessária da

redenção do homem, que deveria haver um

único Depositário, uma Cabeça, para a custódia

e administração desta infinita plenitude de

graça. Uma pergunta poderia ser suscitada - em

quem de todas as criaturas de Deus esta graça

seria depositada? A quem seria confiada a

guarda e a distribuição deste precioso tesouro?

Adão? É verdade que ele uma vez esteve como a

cabeça de toda a santidade e felicidade para

uma Igreja ainda não caída. Em si mesmo pobre,

como todas as criaturas dependentes em

necessidade devem ser, Deus ainda fez dele a

cabeça de toda a vida para incontáveis miríades

26

de seres. Mas, qual foi o resultado? Fraco em si

mesmo, e provando ser insuficiente para um

estado de impecabilidade, caiu; e ao cair,

aniquilou a santidade, a felicidade e a

imortalidade de um mundo. Era tal a experiência

relativa ao poder da força criada, que sempre

provaria a absoluta fraqueza e vaidade do

homem mesmo em seu melhor estado. "Por um

homem o pecado entrou no mundo, e a morte

pelo pecado." Não ao homem, então, este

precioso tesouro seria confiado. Devemos

buscar em outro lugar o ser em cujas mãos ele

deve ser colocado.

Algum anjo de grau superior e inteligência, de

beleza e força sem igual, seria o depositário da

graça de Deus para os pecadores? Ainda a

mesma objeção se apresenta. Os anjos são

apenas criaturas finitas, fracas e dependentes; e

como tal, uma parte de sua ordem abandonou

uma vez a morada de pureza e amor infinitos,

preferindo, na loucura de seu orgulho, "reinar

no inferno, em vez de servir no céu". Aos anjos

que não guardaram a sua primeira propriedade,

mas deixaram a sua própria habitação,

reservou-os em cadeias eternas, nas trevas, para

o julgamento do grande dia. Assim, fica claro

27

que Deus não podia confiar a guarda daquela

Graça que era destinada a salvar os pecadores

perdidos, e trazê-los à glória, a qualquer

simples criatura, humana ou angelical. Além de

anjos e homens, então, temos de viajar em

busca da resposta.

Virando-se de todas as criaturas, entre as quais

Ele não pôde encontrar o objeto para quem Ele

procurou, Deus "olhou dentro de si mesmo" e o

encontrou na pessoa de seu próprio Filho,

incriado e amado, habitando em Seu seio desde

toda a eternidade. Aqui estava um em todos os

aspectos apto a ser o grande depositário desta

graça divina, e digno do alto cargo de dispensá-

la em toda a sua plenitude e liberdade para as

necessidades do homem perdido. Deixando o

seio de Seu Pai, Ele desceu a nosso mundo,

entrou em uma união com Sua divindade

essencial com a natureza que Ele veio redimir, e

assim em Sua pessoa complexa se tornou a

Cabeça e o Dispensador de toda graça para Seu

corpo, a Igreja, "a plenitude daquele que

preenche todas as coisas."

Aqui, então, está o vaso que agradou a Jeová, na

aliança da graça, constituir Cabeça de toda a

28

salvação para Sua Igreja. A aptidão e a beleza do

Senhor Jesus Cristo como o único vaso de graça

para a Igreja, são óbvias. A pessoa de nosso

Senhor era da construção do Pai. Era a única

concepção da sabedoria infinita, e a mais

grandiosa. Seria, portanto, em todos os

aspectos uma obra digna de Deus. Se sobre a

mais baixa produção de Seu poder criador Deus

deixou a marca de Sua sabedoria e habilidade,

desconcertando o esforço mais profundo do

homem para imitar, quão mais ilustre Sua

grandeza apareceria na constituição daquele

Vaso ao qual Ele confiou tanto a salvação de Sua

Igreja e a vindicação de Sua própria glória! Sua

graça era demasiado divina, muito preciosa e

muito santa, para ser confiada à guarda de uma

mera criatura.

A melancólica história da excelência criada

estava ainda diante dele, escrita em cartas de

luto, lamentação e aflição. "O vaso que fez de

barro foi quebrado nas mãos do oleiro, por isso

tornou a fazer outro vaso, como parecia bom ao

oleiro fazê-lo." E nessas palavras brilhantes está

a construção deste novo e inigualável Vaso de

Graça anunciado. "A Palavra se fez carne, e

habitou entre nós, e vimos a sua glória, a glória

29

como do unigênito do pai, cheio de graça e de

verdade". Diante deste vaso de graça, paremos

por um momento para admirar em adoração a

sua grandeza e beleza.

É o "grande mistério da piedade". Os anjos são

chamados a adorá-lo. "Quando ele introduz o

primogênito no mundo, ele diz: e que todos os

anjos de Deus o adorem." Era a concepção mais

profunda da sabedoria de Deus, a obra-prima de

Seu poder e digna de sua mais profunda

homenagem, tal desvendamento da glória de

Deus que nunca haviam contemplado antes ...

Nas inúmeras glórias com que Ele enriqueceu e

adornou o universo, não havia o seu símbolo

nem o seu tipo ... Todas as outras maravilhas

deixaram de surpreender, e todas as outras

belezas em comparação com esta, a mais

grandiosa, e sem igual de todas. Como se

estivesse penetrando na mais profunda

profundidade do infinito, e coletando todos os

seus tesouros escondidos de sabedoria e poder,

de graça e verdade, Deus pareceria ter

concentrado e encarnado, tendo se exibido na

pessoa de Seu Filho encarnado, "Deus

manifestado na carne".

30

Nisto consistiu a aptidão de Emanuel, como a

Cabeça da aliança da graça para com a Igreja. O

Divino e caro tesouro, não mais confiado à

tutela e ministério de uma criatura débil e

dependente, foi depositado nas mãos da

Deidade encarnada, a quem o Pai conhecia, Seu

“igual”, Seu “companheiro”, forte em Si mesmo;

e assim foi assegurado à Sua Igreja, um

suprimento inesgotável e eterno.

Mas, não é somente em Sua natureza Divina que

a aptidão e beleza de nosso Senhor, como o

único vaso de graça, aparecem. Sua natureza

humana, tão perfeita, tão sem pecado, tão

enriquecida e santificada com a habitação do

Espírito Santo, cooperou para torná-lo mais

justo do que os filhos dos homens. Mas, em que

consistia a excelência e a beleza principais da

humanidade de nosso Senhor? Era a glória da

sabedoria humana, da grandeza mundana, do

poder secular? Não, não nestes! Era aquilo que

o mundo menos estimava, que formava a rica

dotação da natureza inferior de nosso Senhor -

a graça que habitava Nele.

O mundo não confere dignidade a Cristo, exceto

o seu mais profundo ridículo, e seu mais

31

amargo desprezo. Em Sua propriedade temporal

Ele preferiu a pobreza à riqueza, a obscuridade

à distinção, o insulto aos aplausos, o sofrimento

à facilidade, a cruz ao trono. Tão indigente e

negligenciado era Ele, ainda que cada ponto da

terra fosse dele, e todas as criaturas se

alimentavam de Sua mão, Ele não tinha abrigo

noturno, e muitas vezes nem “pão diário”. Como

afetam aqueles que amam o Salvador e que

devem todas as suas consolações temporais à

Sua privação e toda a sua glória para a sua

humilhação, são expressões como estas: "Jesus

estava com fome"; “Jesus disse: Eu tenho sede;”

“Jesus suspirou profundamente em seu

espírito”; “Jesus gemeu dentro de si mesmo”;

“Jesus chorou;” “O Filho do homem não tem

onde reclinar a cabeça”. O Deus encarnado

rebaixou-se!

Mas, em meio a toda esta pobreza e

humilhação, Deus pareceu dizer: "Eu o farei,

meu Filho, mais glorioso que os anjos, e mais

justo do que os filhos dos homens. Eu o dotarei

imensamente com o meu Espírito, e eu o

abastecerei plenamente com a minha graça,

ungi-lo-ei com o óleo de alegria acima de seus

companheiros". E quando Ele apareceu no

32

mundo, e o olho do evangelista captou a visão,

ele exclamou com admiração: "A glória do

unigênito do Pai, cheio de graça e verdade!"

E, oh, como tudo o que Ele disse e fez, cada

palavra e ação, veio da plenitude da graça que

habitava Nele! As expressões que destilavam de

Seus lábios eram "palavras graciosas"; as

verdades que Ele ensinou, eram as doutrinas da

graça; as obras que Ele realizou, foram os

milagres da graça; os convites que Ele inspirou,

eram as promessas da graça; as bênçãos que Ele

pronunciou, foram os dons da graça - em uma

palavra, o sangue que Ele derramou, a justiça e

a redenção que Ele realizou, a salvação que Ele

proclamou, as almas que Ele salvou e o reino

que Ele prometeu, foram os derramamentos, as

conquistas, os triunfos, e as recompensas da

graça.

A partir desta contemplação do Vaso da graça,

voltamos agora nossa atenção para a GRAÇA EM

SI MESMA. A narrativa ainda é nosso guia. A

primeira ideia sugerida é a custódia e

preciosidade da graça de Jesus. Esse vaso de

azeite, como dissemos antes, era toda a riqueza

temporal que esta pobre viúva possuía. Era seu

33

único e último recurso. Esta mulher já esgotada,

deve entregar seus dois filhos à vida de um

escravo, e depois deitar e morrer. Quão preciosa

e inestimável, então, para ela seria cada gota

deste vaso de azeite! Mas de valor infinito e de

valor inestimável é a graça do Senhor Jesus. Sua

origem Divina e caráter carimbam o seu valor.

"A graça de Deus" é sua designação e sua

natureza. A redenção do homem por Jesus

Cristo é uma exposição da graça de Deus que

Deus não pode superar. E a razão é que Deus

não pode superar a si mesmo. Foi uma

investigação vã e sem proveito, se Deus poderia

ter salvado o homem por qualquer outra forma

mais gloriosa para Si mesmo. Como o método

que Ele adotou nunca poderia ter sugerido a

qualquer mente finita, especular, portanto,

sobre a possibilidade de outro expediente e

mais augusto, muitos foram ao extremo da

loucura. Deve ser o suficiente para mim que a

história da graça de Deus é apenas a história de

Si mesmo - que há mais da glória divina

desenvolvida neste plano de redenção do que eu

nunca serei capaz de compreender - embora

tivesse uma mente desenvolvida até sua

máxima capacidade. É a faculdade empregada,

34

e a própria eternidade o período designado para

o seu estudo.

E oh, quão fascinante é a sua história!

Eternamente brotou no coração do amor

infinito, esta graça lutou por sua liberdade, essa

misericórdia ofegava por uma saída. Seu amor à

santidade e sua reverência pela justiça proibiam

que ela obtivesse essa liberdade e buscasse

aquela saída à custa de qualquer um. A graça

deve aparecer em aliança com a verdade, e a

misericórdia em harmonia com a santidade.

Deus deve andar sobre as muralhas de Seu

amor, revestido de toda perfeição, e cada um

exibido em seu brilho sem sombras. Mas como

devemos descrever o expediente que se

combinaria, e onde encontraremos a pessoa que

deve exibi-los assim, em sua mais doce

harmonia e em sua glória mais rica? A resposta

está à mão. "Ninguém jamais viu Deus, o Filho

Unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a

conhecer." Esta é a chave para a graça infinita

de Deus. "Eu estou no Pai;" disse Cristo, "e o Pai

está em mim". Anúncio glorioso!

Recolhendo todas as riquezas da Sua graça, o

Pai as coloca à disposição de Seu Filho, e

35

oferece-lhe expô-las diante dos olhos de um

mundo caído. Fiel ao Seu compromisso com o

pacto, o Filho eterno aparece "feito como seus

irmãos", e anuncia que Ele veio para erguer o

véu e mostrar-nos o coração de um Deus

gracioso, que perdoa o pecado. Ao declarar que

"o Pai mesmo nos ama" e que "aquele que o

tinha visto", tão cheio de graça, "tinha visto o

Pai", afirma, mas em outras palavras, que Ele é

uma cópia, uma representação do Pai - que o

amor, a graça, a verdade, a santidade, o poder,

a compaixão, a ternura que foram exibidos nEle

com tal plenitude de suprimento e foram

distribuídos por Ele em tal afluência de gastos,

têm sua origem e sua correspondência em

Deus.

Oh! Quão zeloso era Ele da honra divina! Ele

poderia, se quisesse, ter buscado e assegurado

Sua própria distinção e progresso, Seu próprio

interesse e glória, além do Seu Pai. Ele poderia,

se Ele o tivesse escolhido, ter erguido Seu reino

como uma soberania rival, apresentando-Se

como único objeto de lealdade e afeto, atraindo

assim para Seu governo e Sua pessoa a

obediência e a homenagem do mundo. Mas não!

Ele não tinha nenhum interesse separado de Seu

36

Pai. O coração de Deus pulsou no seio de Jesus

- as perfeições de Deus foram incorporadas na

pessoa de Jesus - o propósito de Deus foi

realizado na missão de Jesus – e a vontade de

Deus foi feita, e a honra de Deus foi assegurada,

na vida e morte de Jesus. "Não busco a minha

própria vontade, mas a vontade daquele que me

enviou", foi uma declaração escrita em cada um

de seus atos. Ansioso de que o culto que

ofereciam à Sua Deidade, o apego que sentiam

os discípulos por Sua pessoa, a admiração que

eles apreciavam pela beleza de Seu caráter e o

esplendor de Suas obras, não se centrasse

unicamente em Si mesmo, Ele apontou

perpetuamente para Seus discípulos para cima,

para o Pai Eterno.

Parecia que tal era Seu conhecimento da graça

de Seu Pai para com os pecadores, Seu

conhecimento de Seu coração de amor, que Ele

não podia encontrar satisfação no afeto,

admiração e homenagem rendidos a Si mesmo,

mas que esse afeto, admiração e homenagem

fossem compartilhados igualmente por Seu Pai.

Com Ele foi um pensamento sempre presente -

e como poderia esquecê-lo? - que a graça do Pai

se encheu para transbordar este vaso glorioso.

37

Ele tinha acabado de deixar o seio do Pai, e isso

estava bem perto do primeiro anúncio que soou

a música de Seus lábios: "Deus amou o mundo

de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,

para que todo aquele que nele crê não pereça,

mas tenha a vida eterna." E enquanto seguia seu

caminho através da multidão admirada, muitas

vezes ele podia exclamar, em uma voz que se

erguia em solene majestade acima de seus mais

altos elogios: "Não busco a minha glória, antes

honro o meu Pai".

A mente espiritual perceberá imediatamente

que nosso objetivo nas reflexões precedentes

foi colocar o caráter de Deus como o "Senhor

Deus, misericordioso e gracioso", em sua

própria luz. É possível que esta verdade possa

parecer ao leitor como um planeta

recentemente descoberto no firmamento da

revelação. Pode ser para ele uma nova verdade,

apresentando a seus olhos uma nova e mais

gentil visão do caráter paternal e gracioso de

Deus. Deus, a fonte original de graça para os

pecadores, talvez tenha sido, até agora, apenas

uma doutrina timidamente recebida, se

recebida.

38

Nos primeiros movimentos de sua alma recém-

vivificada, você procurou e encontrou o suave

riacho de graça saindo de algum lugar isolado e

sombreado em seu caminho solitário - e "provou

que o Senhor era gracioso". Agradecido por seu

refrigério, mas ofegante por grandes esboços,

você seguiu o riacho até o córrego - e bebeu

ainda mais profundo de sua plenitude. Não

satisfeito com isso, mas desejando explorar o

mistério glorioso do suprimento, você seguiu o

curso do rio largo, transportado com alegria

para descobrir que toda a plenitude residia em

Jesus - e nela você mergulhou.

Mas aqui você descansou. Enamorado da beleza

e perdido em admirar a "largura, comprimento,

profundidade e altura" deste rio, você se

reclinou sobre a sua margem verde e

ensolarada, esquecendo que este rio era apenas

a introdução para um oceano, E que esse oceano

era nada menos que o coração do Pai,

infinitamente e eternamente cheio de graça. E

pouco pensou, enquanto bebia do riacho e

bebia do rio, e se banhava no rio da graça, que

havia uma profundidade ainda mais profunda,

que, como a visão de Ezequiel das águas

sagradas, era tão profunda que ele "não poderia

39

ter passado." "O que!" Exclama um crente: "O

coração de Jesus é uma transcrição do coração

de Deus - o Pai está cheio de perdão, de amor,

de misericórdia, de compaixão, de ternura,

como o Filho? Eu pensei em Deus e fiquei

perturbado, seus terrores me assustaram, suas

relações comigo foram severas, seu caminho foi

no redemoinho e na tempestade, e nas águas.

Tem sido uma grande profundidade. Ele me

cercou com uma nuvem espessa, Ele me

respondeu com fogo, Ele destruiu minhas

imagens agradáveis e encheu a minha taça de

coisas amargas! Como você o representa como

sendo? Ele é tão cheio de graça e de verdade?

Ele é meu Deus, meu Pai amoroso e

reconciliado?" Sim, assim mesmo! "Agradou ao

Pai que nele habitasse toda a plenitude".

E quem pode contemplar a obra de Jesus e não

se convencer do preço e da preciosidade desta

graça? Quão preciosa é a graça que perdoa, que

justifica, que adota, que santifica, que conforta,

o mais vil que crê em Jesus! E, no entanto, tudo

isso Jesus faz. Ele morreu pelos pecadores, ele

recebe pecadores, ele salva pecadores até o fim.

Ó preciosa graça, que abriu uma fonte que

limpa toda mancha; que forneceu uma túnica

40

que cobre cada ponto; que "reina pela justiça

para a vida eterna" na alma que renovou! Leitor,

você sentiu o poder, e provou a doçura desta

graça? Se assim for, você vai sentir que

nenhuma imaginação pode conceber a sua

beleza, e que nenhuma palavra pode expressar

a sua preciosidade. Você considerará Jesus

digno de seu amor mais fervoroso e de seu mais

alto louvor. Você procurará viver nele

constantemente, para extrair dele em grande

parte, e magnificá-lo santamente.

Nada deste lado do céu será tão amável em seus

olhos, ou tão querido para seu coração, como a

graça de Jesus. Ah sim! Ele é inestimável e

precioso! Há mais de Deus, e mais do céu, e

mais de santidade, e mais de felicidade,

desenvolvida e experimentada em uma gota

desta graça, do que em dez mil mundos como o

nosso. "Que os outros trabalhem para a riqueza,

e se encham de glória, e se plumem com dons.

Senhor, dá-me a sua graça, esta é toda a minha

salvação e todo o meu desejo!"

Outro atributo da graça de Jesus é sua

suficiência. O vaso de azeite da viúva era muito

ilustrativo disso. Pelo milagroso poder de Deus,

41

ele se tornou inesgotável. Encheu cada vaso. Se

tivessem sido trazidos outros vasos vazios,

recolhidos de outras habitações, e de

capacidade ainda maior, ainda haveria uma

suficiência para todos - nenhum deles teria sido

removido sem ser preenchido. Continuaria a

fluir o óleo, cessando de não fluir até que não

houvesse mais um vaso. Também não foi

questionado a quem pertenciam os vasos, e

qual o seu tamanho, forma ou cor. Bastava que

fossem vasos vazios, trazidos para serem

reabastecidos pelo único vaso de azeite.

Tal, querido leitor, é a graça de Jesus; divina em

sua natureza, infinita em seus recursos, deve

ser inesgotável em sua oferta. "De sua plenitude

temos todos recebido, e graça sobre graça"; isto

é, uma equivalência, em medida, da graça que

está em Cristo: como o papel recebe a forma do

tipo, e a cera a impressão do selo, assim o

coração amaciado e crente recebe uma

correspondência exata da graça que está em

Jesus; "Graça sobre graça."

A palavra "plenitude" nesta passagem é às vezes

empregada para expressar a ideia de

abundância. "A terra é do Senhor, e a sua

42

plenitude"; isto é, a abundância da terra é do

Senhor. Mas, neste contexto, tem um

significado ainda mais impressionante. Significa

não somente a plenitude da abundância, mas a

plenitude da redundância. Uma plenitude

redundante, uma plenitude transbordante. O

vaso não está apenas cheio até a borda, mas

corre em dez mil correntes até o limite máximo

das necessidades do homem. Tal redundância

de graça era necessária para trazer Deus e o

pecador juntos. O abismo que separava estes

dois extremos do ser era igual ao que separa o

abismo no inferno do trono supremo na glória.

Nenhum ser finito poderia aniquilá-lo. Todos os

recursos da sabedoria, do poder e da

benevolência de todos os anjos no céu, não

poderiam alcançá-lo. Mas a graça redundante

que está em Cristo Jesus cruzou este abismo, e

Deus e o homem se encontram, e são

reconciliados em um Mediador.

E agora, a partir das alturas gloriosas da graça

perdoadora em que ele está, o pecador pode

olhar para baixo sobre um inferno merecido,

mas um inferno vencido. Tal redundante

plenitude de graça nunca foi vista até que Jesus

apareceu. Os patriarcas e profetas viram esta

43

graça, mas não como nós somos privilegiados

em vê-la. Eles perceberam sua suficiência, mas

não sua redundância. A verdade foi revelada a

eles, mas aos poucos. A luz irradiava em suas

mentes, mas em raios solitários. A graça

destilou, em vez de fluir. Eles tinham o orvalho

ao invés dos chuveiros da graça. E, contudo, era

suficiente para atender seu caso.

Quando Jeová abriu esta fonte de graça a dois

dos maiores pecadores que o mundo jamais viu,

e declarou que "a semente da mulher deve ferir

a cabeça da serpente", fraca e parcial como foi

a descoberta, era suficiente para levantar as

fronteiras escuras do desespero e do inferno, na

região ensolarada da esperança e do céu. Assim,

os santos da antiga dispensação viram essa

graça, mas não tão claramente como a vemos.

Eles habitavam no meio das sombras, nós no

pleno brilho da glória. Eles viveram no

crepúsculo da graça, mas nós em seu meio-dia.

Eles tinham a lei, mas temos o Evangelho. Eles

tinham graça nas mãos de Moisés, mas temos

graça nas mãos de Jesus. Eles eram os "filhos da

serva", mas somos os "filhos da mulher livre".

Eles tinham o "espírito de escravidão para o

44

temor", mas temos o "Espírito de adoção" para

o amor.

E uma passagem explicará a razão desta grande

diferença: "Deus, que em diversas ocasiões e de

diversas maneiras falou no passado aos pais

pelos profetas, nestes últimos dias nos falou

por seu Filho". A nós por seu Filho! "A lei foi

dada por Moisés, mas a graça e a verdade

vieram por Jesus Cristo". Tal leitor é a plenitude

de Jesus, este Divino Vaso de Graça. E agora, Se

esta graça foi suficiente para Deus - suficiente

para permitir que Ele estendesse a misericórdia

ao máximo, aos pecadores mais vis e ainda

assim permanecesse estritamente justo, então,

pergunto, não é suficiente, meu leitor, para

você?

Se Deus, com base nessa graça, puder avançar

e estender Sua mão de reconciliação para você,

você não pode por meio desta graça, estender

sua mão de fé a Deus? Se não há dificuldade, ou

relutância, por parte de Deus, por que haveria

da parte do homem? E Deus já hesitou? Ele já

recusou, com base nos méritos de Cristo, salvar

o pecador penitente, que, ouvindo que o Rei dos

céus é um Rei misericordioso, e se lançou sobre

45

essa misericórdia, como os servos de Ben-

Hadade, com sacos nos lombos, e cinzas sobre

suas cabeças - humildemente agindo por toda a

vida? Nunca! É o prazer de Deus, como é Sua

glória, provar o poder e a suficiência de Sua

graça em Cristo Jesus para salvar o homem até

o extremo grau de sua culpa e aflição.

Como transborda de graça salvadora, o coração

de Deus aparece nestas palavras: "Buscai ao

Senhor enquanto se pode achar, invocai-o

enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu

caminho, e o homem maligno os seus

pensamentos; volte-se ao Senhor, que se

compadecerá dele; e para o nosso Deus, porque

é generoso em perdoar." Oh, coloque o seu vaso

vazio abaixo desta Fonte transbordante de

graça, e não o remova até que, em sua medida,

torne-se “a plenitude daquele que preenche

todas as coisas.”

Já observei que, quando os vasos foram trazidos

sob o comando do profeta, nenhuma

investigação foi proposta. Havia, sem dúvida,

uma variedade marcada de forma e capacidade

nesses vasos - contudo, todos receberam o

azeite de uma mesma fonte.

46

Crentes em Jesus! Santos do Altíssimo! De

diferentes nomes e denominações vocês podem

ser, ainda, compondo, como vocês fazem,

senão um corpo, e uma igreja, "de sua plenitude

temos todos recebido". Chegamos a Jesus,

alguns com maiores e outros com menores

capacidades; nós viemos - alguns mais vis e

inúteis do que outros - chegamos com

diferentes graus de conhecimento, convicção e

fé, mas Jesus recebeu todos, acolheu e encheu

todos. Ele não nos fez tais perguntas - em que

religião fomos treinados? Em que igreja fomos

educados? A que família pertencemos? Ou qual

foi a medida de nossa capacidade de receber?

Bastava que Ele discernisse em nós o trabalho

de Seu próprio Espírito - bastava que Ele visse

que precisávamos dele, desejávamos,

olhávamos para Ele; que sentimos que ninguém,

a não ser Ele mesmo, poderia encontrar o nosso

caso e satisfazer os desejos de nossos corações

desejosos. Ele não questionou, não contestou,

não se recusou - mas, atraindo-nos para Si

mesmo; todos vis, miseráveis, pobres e vazios

como nós; derramou o fluxo de Sua graça

salvadora em nossas almas, enchendo-nos de

"alegria inefável e cheia de glória".

47

Momento de felicidade! Crentes em Jesus! "De

sua plenitude temos todos recebido". Todos

membros de um corpo, todos filhos de uma

família - judeus e gentios, homens e mulheres,

escravos e livres - seu clima, cor e linguagem

diferentes - todos escolhidos de Deus, todos

dados pelo Pai, todos comprados pelo Filho,

todos chamados pelo Espírito, todos, em virtude

da sua união com Cristo, participantes

igualmente desta plenitude. Onde, está então, a

vanglória de um contra o outro? Ela é excluída.

Onde estão as divisões, as invejas, os ciúmes,

as mágoas de coração e as separações na

família de Deus? Que eles não sejam uma vez

nomeados entre vós, mas que sejam repudiados

e desaprovados, quando se tornam os

receptores e os devedores da graça de Jesus.

Antes de passar ao nosso último tópico, permita

uma palavra de exortação, sugerida pela

importância e preciosidade do nosso tema.

Como esta graça tem feito muito para a sua

alma, tenha o objetivo de fazer grandes coisas

para a honra desta graça. Cuidado com o

sombreamento de seu brilho. Como há aqueles

que abusam da doutrina da graça, seja seu

esforço constante para exaltar o princípio da

48

graça. Profunda e eternamente você é seu

devedor. A graça livre colocou você sob a mais

solene e eterna obrigação de ser santo.

A única coisa que faz você diferir do ser mais vil

que polui a terra, ou do mais negro dos

demônios que rói suas correntes no inferno, é a

graça livre de Deus. Então esforce-se para

glorificá-la por uma vida de santidade

aprofundada. Ao cultivar um temperamento

manso e cristão, perseguindo uma caminhada

humilde e ajuizada, e colocando-se para a

felicidade do homem e para a glória de Deus,

prove, para a eterna confusão de todos os seus

inimigos e caluniadores, que a "Graça de Deus

que traz salvação, apareceu a todos os homens,

e ensina-nos que, negando a impiedade e as

concupiscências mundanas, devemos viver

sóbria, justa e piedosamente neste mundo

presente."

Seja o corajoso e santo campeão desta graça,

glorificando-a em seu princípio e ilustrando

praticamente seu poder santificador. Onde

outros a pervertem, você deve reivindicá-la.

Onde outros a negam, você deve confessá-la.

Onde outros pisam com desprezo debaixo de

49

seus pés, você deve levantá-la mansamente no

alto, como o legado mais custoso de Deus, a

mais rica herança do homem. "E glorificavam a

Deus a meu respeito."

Gostaria também de adverti-los para terem

cuidado de não colocar qualquer limite para a

graça de Jesus. Sejam quais forem suas

circunstâncias, lembrem-se de que "Deus é

capaz de fazer abundar toda a graça para vocês,

para que, tendo sempre toda a suficiência em

todas as coisas, abundem em toda boa obra".

Não faça concessões pelo pecado, não traga

desculpas para a inatividade - não encolha-se de

nenhuma cruz, não se desanime em dificuldade,

não dê lugar a nenhuma tentação, não ceda a

qualquer dor excessiva, pois Jesus falou, e Ele

agora fala a você: "Minha graça é suficiente para

você.” Visto que, então, a graça de Jesus é

ilimitada, leve um vaso de grande capacidade

com você em suas jornadas, para a única fonte

de provisão, a fim de que possa receber em

abundância. Lembre-se que, como um crente no

Senhor Jesus, "Todas as coisas são por amor de

vós, para que a abundante graça, mediante a

ação de graças de muitos, redunde para a glória

de Deus."

50

Deixe sua vida ser uma viagem perpétua a esta

graça. Não fique satisfeito com o que você já

recebeu. Vá, novamente e mais uma vez, a este

Recipiente Divino, levando cada corrupção

como ela é desenvolvida, cada pecado como

sentido, cada tristeza como ela surge, a Jesus;

lembrando-se de seu encorajamento, que

apesar de ter recebido muito, ainda assim "ele

dá mais graça", e está preparado para dar-lhe

muito mais do que você já recebeu.

Regozije-se que o vazio do vaso não é um

argumento contra o enchimento do mesmo. Se

o Espírito de Deus lhes fez "pobres em espírito",

e operou em vocês "fome e sede de justiça",

então busquem a graça de Jesus. Ele não quer o

vaso vazio. "Ele enche o faminto de coisas boas,

e os ricos ele envia vazios." Ele convida, Ele

atrai, Ele recebe senão o vazio. Ele terá toda a

glória de nossa salvação. Ele magnificará Sua

graça no nada da criatura. Seu vazio

eternamente glorificará Sua plenitude. Com o

exemplo e as palavras diante de mim daquele

que se intitulou o principal dos pecadores, eu

não hesito em encorajar o maior pecador a vir a

Cristo. "Ainda que outrora eu era blasfemador,

perseguidor, e injuriador; mas alcancei

51

misericórdia, porque o fiz por ignorância, na

incredulidade; e a graça de nosso Senhor

superabundou com a fé e o amor que há em

Cristo Jesus. Fiel é esta palavra e digna de toda

a aceitação; que Cristo Jesus veio ao mundo

para salvar os pecadores, dos quais sou eu o

principal." Verdadeiramente poderia exclamar,

"pela graça de Deus eu sou o que sou".

Guardem-se, pois, para não se dirigirem a Cristo

para a salvação em qualquer outro caráter senão

no de um pecador vazio. Se os vasos tivessem

sido levados para Eliseu, a não ser que

estivessem vazios, instantaneamente os

recusaria. Nada deve se misturar com o óleo.

Nada deve sombrear o brilho do milagre. E

assim é com a graça de Jesus. Gênio brilhante,

erudição profunda, a benevolência e ética mais

pura da religião natural, nada valem em matéria

de salvação da alma. O vaso deve ser esvaziado

de tudo antes de chegar a Cristo. Deve ser posto

de lado como um fundamento de aceitação. O

único fundamento admissível com Cristo é que,

sem Sua graça, perecerá para sempre. "Senhor,

salva-me, ou eu pereço!"

52

Nós somos conduzidos agora a nosso tópico

final. Há um dia aproximando-se quando "todo

vaso de misericórdia" estará preenchido, A

GRAÇA DEIXARÁ DE FLUIR; não haverá mais

derramamento de graça, porque não haverá

mais recipientes. "E ele lhe disse: Não há mais

um vaso, e o óleo parou." Até então, essa graça

continuará multiplicando seus súditos,

aumentando suas conquistas e aumentando a

glória do Salvador.

Então, empreguemos as nossas mais nobres

energias e nossos melhores esforços,

espalhando por todas as terras o conhecimento

deste Redentor, tão cheio de graça e de verdade.

Que a notícia se espalhe, e que as viúvas e os

sem azeite a ouçam, que os que estão prontos

a perecer a ouçam, que a mais distante e a mais

degradada tribo do mundo a escute, deixe o

escravo em suas correntes, o índio em sua selva,

o groenlandês em meio a suas neves e os

chineses curvando-se em seu templo - sim,

deixe um mundo arruinado e faminto, saber que

há para todos os penitentes uma plenitude de

graça salvadora em Cristo Jesus, e que "quem

quiser, pode vir e participar da água da vida

livremente".

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Oh! Por que os cristãos não estão mais

despertos para essa empresa divina? Por que

não estamos consagrando mais talento e mais

tempo, mais propriedade e mais influência

pessoal, à obra de difundir o conhecimento de

Cristo?

"Glórias será o seu diadema,

E canções de êxtases desconhecidos,

Que formam para Deus uma bela joia,

Brilhando no eterno trono."

Mas deixe-nos por um momento transportar

nossos pensamentos para o futuro. O futuro!

Oh, quão brilhante é, e cheio de bênçãos, para

os "vasos de misericórdia preparados de

antemão para a glória!" A graça cessando na

terra, é agora seguida por um peso excessivo e

eterno de glória. Aquele que provou que o

Senhor é misericordioso, certamente verá que o

Senhor é glorioso! "Como é que podemos

saber?" É muitas vezes uma pergunta trêmula:

"Será que nossos amigos estão com Jesus?" Se

eles participassem, no grau mais limitado, da

graça de Jesus, sua segurança estaria além de

54

qualquer dúvida. A graça que eles possuíam era

a semente, o germe, as primícias da glória. A luz

que iluminava suas almas, era a aurora do

crepúsculo do Céu. Era totalmente impossível

que esse germe pudesse morrer, ou que aquela

luz pudesse ser extinta. Era tão imperecível e

tão imortal como o próprio Deus: a fraca graça

lutou com o pecado e a débil luz lutou com a

escuridão, mas ambos foram vencidos por fim:

lá estão, sobre o mar de vidro, cantando os altos

louvores da graça que os trouxe ali, ali estão, na

casa do Pai, nas mansões do Salvador, não

voltam a lutar, não mais choram, não têm mais

fome e sede, porque aquele que lhes deu graça

agora lhes dá glória.

"Graça é glória militante, e glória é graça

triunfante, graça é glória iniciada, glória é graça

aperfeiçoada, graça é o primeiro grau de glória,

glória é o mais alto grau de graça". Levantem

suas cabeças, almas graciosas! O Céu está

diante de vocês, e sua redenção completa se

aproxima. O Senhor está próximo. Sua vinda

está próxima. Essa "esperança abençoada" da

igreja, Sua "aparição gloriosa", logo se realizará,

estourando em sua alma em todo seu esplendor

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feliz, e então você será perfeitamente como, e

para sempre como o Senhor.

Mas você deve ir a Ele, antes que Ele volte para

você - pois se Jesus não vem por você, Ele

enviará por você - não tema descer o vale

escuro, já pisado por seu Senhor e Salvador. A

graça moribunda está ligada na aliança da

graça; e Jesus, cheio de graça, até o último

momento, estará lá para dispensá-la à sua

necessidade, Sua mão esquerda sobre sua

cabeça, e sua mão direita abraçando você.

"Antes que refresque o dia e fujam as sombras,

irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso."