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ADONAI GOMES FINEZA AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS POR CEMITÉRIOS: ESTUDO DE CASO DE TABULEIRO - MG Dissertação apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, para obtenção do título de Magister Scientiae. VIÇOSA MINAS GERAIS – BRASIL 2008

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  • ADONAI GOMES FINEZA

    AVALIAO DA CONTAMINAO DE GUAS SUBTERRNEAS POR CEMITRIOS:

    ESTUDO DE CASO DE TABULEIRO - MG

    Dissertao apresentada Universidade Federal de Viosa, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, para obteno do ttulo de Magister Scientiae.

    VIOSA MINAS GERAIS BRASIL

    2008

  • ADONAI GOMES FINEZA

    AVALIAO DA CONTAMINAO DE GUAS SUBTERRNEAS POR CEMITRIOS:

    ESTUDO DE CASO DE TABULEIRO - MG

    Dissertao apresentada Universidade Federal de Viosa, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, para obteno do ttulo de Magister Scientiae.

    APROVADA: 11 de julho de 2008.

    ____________________________

    Prof. Gustavo Ferreira Simes

    ____________________________

    Prof. Demtrius David da Silva

    ____________________________

    Prof. Rafael Kopschitz Xavier Bastos

    (Coorientador)

    ____________________________

    Prof. Izabel Christina A. D. Azevedo

    (Coorientadora)

    ________________________________

    Prof. Eduardo Antnio Gomes Marques

    (Orientador)

  • ii

    Primeiramente dedico este trabalho ao meu Senhor e Salvador Jesus

    Cristo, pois sem ele nada seria possvel; meus sonhos seriam apenas um

    vazio, minha mente seria insana, meus projetos grandes fracassos, meu futuro

    miservel e minha vida sem sentido algum.

    A minha amada esposa Rafaela, que tem sido uma companheira

    esplndida, com seu amor, carinho, ateno, afeto, presena etc.,

    simplesmente a metade que me faltava para ser completo.

    A minha famlia que apesar da distncia sempre me apoiou e me deu

    fora para continuar lutando atravs de seu amor e carinho, principalmente nos

    momentos mais difceis da minha vida acadmica.

    Ao meu orientador e padrinho, professor Eduardo Antnio Gomes

    Marques, pois sem ele minha Dissertao seria apenas trabalho e no

    aprendizado.

  • iii

    As coisas que o olho no viu, e o ouvido no ouviu, e no subiram ao corao do homem, so as que Deus preparou para os que o amam.

    I Corntios 2:9

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, meu Aba Pai, criador de tudo que se pode e no se pode ver.

    A minha adorvel esposa Rafaela, o maior presente que Deus me deu.

    Aos meus pais Adilson e Aparecida, que sem dvida alguma foram os

    engenheiros principais na construo do meu carter. Atravs do

    incontestvel amor que sempre demonstraram.

    A minha irm Aline (nina), pela sua amizade e apoio.

    Ao meu orientador, o professor Eduardo Antnio Gomes Marques, pela

    dedicao profissional e incentivo em meus trabalhos, pela participao em

    minha vida acadmica e sobre tudo pela sua amizade.

    A CAPES por ter me concedido a bolsa de mestrado.

    A FAPEMIG pelo apoio e financiamento no desenvolvimento do projeto.

    Universidade Federal de Viosa, mais precisamente ao Departamento

    de Engenharia Civil, pela minha excelente formao profissional.

    A Diviso de gua e Esgoto da UFV pelo apoio nas anlises.

    Ao Pr. Marcos, Pra. Luciene e meus amados irmos da Igreja Batista

    Nacional de Viosa que mesmo fora do contexto acadmico me

    proporcionaram uma vida repleta de amigos sem os quais a vida se torna

    amarga e sem as alegrias dirias.

    Ao Felipe, bolsista de iniciao cientfica, que esteve presente em todas

    as anlises laboratoriais.

  • v

    SUMRIO

    RESUMO...........................................................................................................................vii

    ABSTRACT.......................................................................................................................viii

    1. INTRODUO...............................................................................................................1 2. OBJETIVOS...................................................................................................................2 3. REVISO BIBLIOGRFICA..............................................................................................3

    3.1. CEMITRIOS E SADE PBLICA: UM BREVE HISTRICO........................................3

    3.2. TCNICAS DE SEPULTAMENTO DE CADVERES.....................................................4

    3.3. INTERAES CADVER-SOLO E PRODUO DE NECROCHORUME..........................6

    3.4.CARACTERSTICAS DOS EFLUENTES CADAVRICOS (NECROCHORUME) E CONTAMINAO DE GUAS SUBTERRNEAS........................................................8

    3.5. QUALIDADE DE GUAS SUBTERRNEAS..............................................................11

    3.5.1. ASPECTOS NORMATIVOS.........................................................................11

    3.5.2. PARMETROS INDICADORES DA QUALIDADE DA GUA.............................14

    4. CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO......................................................................20

    4.1. CARACTERSTICAS GERAIS DA CIDADE E DO CEMITRIO DE TABULEIRO-MG.......20

    4.2. CLIMA...............................................................................................................21

    4.2.1. PRECIPITAO.......................................................................................22

    4.2.2. BALANO HDRICO.................................................................................23

    4.3. RECURSOS HDRICOS........................................................................................24

    4.4. PEDOLOGIA.......................................................................................................26

    4.5. GEOMORFOLOGIA..............................................................................................27

    4.6. GEOLOGIA.........................................................................................................27

    5. MATERIAL E MTODOS................................................................................................29

    5.1. POOS DE MONITORAMENTO.............................................................................29

    5.2. COLETA DE AMOSTRAS.......................................................................................32

    5.3. PARMETROS ANALISADOS E MTODOS EMPREGADOS........................................33

    6. RESULTADOS..............................................................................................................35

    6.1. PRIMEIRA CAMPANHA.........................................................................................35

    6.2. SEGUNGA CAMPANHA.........................................................................................35

    6.3. TERCEIRA CAMPANHA.........................................................................................36

    6.4. QUARTA CAMPANHA...........................................................................................36

  • vi

    6.5. QUINTA CAMPANHA............................................................................................36

    6.6. SEXTA CAMPANHA..............................................................................................36

    6.7. STIMA CAMPANHA............................................................................................37

    7. DISCUSSO................................................................................................................39 8. CONCLUSO...............................................................................................................49 9. REFERNCIA BIBLIOGRFICA......................................................................................50

  • vii

    RESUMO

    FINEZA, Adonai Gomes, M. Sc., Universidade Federal de Viosa, julho de 2008. Avaliao da contaminao de guas subterrneas por cemitrios: estudo de caso de Tabuleiro - MG. Orientador: Eduardo Antonio Gomes Marques. Coorientadores: Rafael Kopschitz Xavier Bastos e Izabel Christina Duarte Azevedo.

    O presente trabalho apresenta os resultados de um estudo de caso realizado no

    cemitrio da cidade de Tabuleiro (MG), localizado na plancie de inundao do Rio Formoso e

    em seu entorno. Nestas anlises foram analisadas amostras de gua subterrnea coletadas em

    poos de monitoramento instalados dentro da rea do cemitrio e em seu entorno, pelas quais

    foi acompanhado o grau de contaminao do aqfero. Foram avaliados os parmetros: nitrato,

    nitrognio amoniacal, DBO, DQO, pH, condutividade hidrulica, condutividade eltrica,

    temperatura, fsforo, clcio, sdio, potssio, magnsio, coliformes totais e Escherichia Coli, em

    sete campanhas mensais realizadas no perodo de agosto de 2007 a maro de 2008. Foi

    encontrado valores elevados de condutividade eltrica (tpicos de guas salinas ou guas

    residurias) no poo de monitoramento 5 a jusante do cemitrio, valores estes associados

    presena elevada de amnia, clcio, magnsio e sdio. A estes parmetros soma-se a presena

    elevada de Escherichia coli. Concluindo-se, portanto, que cemitrios podem constituir fonte de

    poluio/contaminao de guas subterrneas, por escoamento de necrochorume.

  • viii

    ABSTRACT

    FINEZA, Adonai Gomes, M. Sc., Universidade Federal de Viosa, July, 2008. Evaluation of contamination of groundwater by graveyards: a case study Tabuleiro - MG. Advisor: Eduardo Antonio Gomes Marques. Co-advisors: Rafael Kopschitz Xavier Bastos and Izabel Christina Duarte Azevedo.

    This work presents the results of a case study carried out at Tabuleiro graveyard,

    located at Minas Gerais State, southeast Brazil. The graveyard is located at Formoso river flood

    plain. Several chemical and physical analyses were done at underground water collected at

    monitoring wells installed inside the graveyard and on its surrounds. Monitoring wells were

    positioned so possible aquifer contamination from the graveyard could be detected. The

    following parameters were analyzed: nitrate, ammoniated nitrogen, BOD, QOD, pH, electrical

    conductivity, temperature, total phosphorus, calcium, magnesium, sodium, total coliforms and

    E. coli. Water sampling was made monthly from august, 2007 to march, 2008, resulting in

    seven different samples from each well. High electrical conductivity values typically found in

    saline or residual water were found at well number 5, located below the cemetery on

    underground flow direction. These values are associated with high values for ammoniated

    nitrogen, calcium, magnesium, sodium and E. coli. As a conclusion, graveyards can behavior as

    a source of pollution/contamination of underground water by flowing of burial leakage.

  • 1

    1. INTRODUCO

    O processo de decomposio do corpo humano adulto, leva em mdia trs anos e gera um lquido

    viscoso, com colorao acinzentada, denominado necrochorume, constitudo de gua, sais minerais,

    protenas e cerca de 470 substncias orgnicas, incluindo duas diaminas, muito txicas, a cadaverina e a

    putrescina, alm de vrus e bactrias. (MIGLIORINI, 1994).

    O impacto mais importante causado pelo necrochorume est no risco de contaminao das guas

    superficiais e subterrneas por microrganismos e substncias qumicas liberadas durante o processo de

    decomposio dos cadveres. Alm disso, a contaminao pode se dar por constituintes das urnas,

    principalmente metais pesados presentes nas alas e dobradias, vernizes e tintas utilizadas na madeira,

    ou por substncias utilizadas como conservantes, tais como formaldedo e arsnio.

    Pelo exposto, torna-se imprescindvel que a localizao e construo de cemitrios obedeam a

    critrios adequados, de forma a minimizar potenciais impactos negativos, ambientais e de sade pblica.

    Nesse sentido, desde a dcada de 1950, Bergamo (1954) j defendia a necessidade de estudos geolgicos,

    hidrogeolgicos e sanitrios para avaliar as possveis contaminaes por necrochorume dos solos, das

    guas subterrneas e superficiais. Torna-se, assim, necessria a elaborao de estudos tcnicos e

    cientficos de forma a subsidiar a proposio de medidas mitigadoras para reas impactadas e propor

    medidas preventivas para a implantao de novos empreendimentos.

  • 2

    2. OBJETIVOS

    O principal objetivo do presente trabalho verificar a possibilidade de contaminao da gua

    subterrnea na rea de influncia de um cemitrio localizado na cidade de Tabuleiro - MG, por meio de

    estudos geolgicos e hidrogeolgicos e do monitoramento da qualidade da gua.

  • 3

    3. REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1. CEMITRIOS E SADE PBLICA: UM BREVE HISTRICO

    O termo cemitrio tem origem grega (Koumeterian = onde eu durmo). Com o advento do

    Cristianismo, o termo assumiu o sentido de local destinado ao repouso final ps-morte, com significado

    apenas para os lugares onde acontece o enterramento dos cadveres (cadver = carne dada aos

    vermes).

    De acordo com registros histricos disponveis, em especial aqueles da Idade Mdia, os mortos de

    situao scio-econnomico-poltica mais privilegiada eram sepultados nas igrejas ou em suas imediaes,

    enquanto o povo era sepultado nos campos.

    Entre a Idade Mdia e meados do sculo XVIII, no ocidente catlico (em especial na Frana),

    predominou uma relao de proximidade entre vivos e os mortos. Os cadveres humanos eram enterrados

    nas igrejas ou em cemitrios contguos geridos pelos sacerdotes, absolutamente integrados vida da

    comunidade.

    Embora protegidos por leis governamentais e religiosas, os cemitrios serviam, freqentemente,

    vrios outros fins, tais como locais de pastagem de animais, feiras, jogos, festas, atalhos, depsitos de

    lixo, moradia de mendigos e indigentes, refgio de leprosos, mictrio e sanitrio pblico. Caso exemplo

    cita-se o do antigo cemitrio parisiense de Saint Innocents, uma dessas necrpoles vulnerveis incrustadas

    no corao da cidade, foco principal de epidemias, servindo a mais de vinte parquias. Ali, as casas dos

    vivos quase tocavam os tmulos dos mortos, sendo que os mercadores de tecidos, livros, ferramentas,

    cavalos, forragem etc., espalhavam os seus produtos de venda entre as sepulturas, num grande mercado

    livre a cu aberto

    Durante o sculo XVIII, desenvolveu-se uma atitude hostil proximidade com os moribundos e

    com os mortos. Os mdicos da poca recomendavam o seu isolamento, por motivos se sade pblica.

    Verificou-se, entre outras coisas, uma redefinio das noes de poluio ritual, pureza e perigo

    passaram a ser definidos a partir de critrios mdicos, em escala maior do que os critrios religiosos.

    Nessas circunstncias, havia somente uma soluo a ser adotada: proibir os enterros nas igrejas e

    transferir os cemitrios paroquiais para fora das vilas e das cidades. Essa nova atitude fundamentava-se na

    doutrina dos miasmas, desenvolvida pela cincia do sculo XVIII, com base na qual acreditava-se que a

    matria orgnica em decomposio, especialmente a de origem animal, sob a influncia de elementos

    atmosfricos (temperatura, umidade, direo dos ventos etc.), formava vapores ou miasmas nocivos

    sade, infectando o ar que se respirava. Os cadveres humanos eram considerados entre as causas

    principais da formao dos miasmas mefticos, afetando com particular virulncia a sade dos vivos,

    porque eram depositados em igrejas e cemitrios paroquiais nos centros urbanos. Com a descoberta dos

    miasmas, observou-se o mau odor exalado pela decomposio cadavrica.

    Com a promulgao de novas legislaes que pretendiam modificar o consagrado costume de

    enterrar os mortos nas igrejas, ocorreram vrios protestos na Europa e tambm no Brasil. Por exemplo,

    em 1836, na cidade de Salvador, Bahia, ocorreu uma revolta contra um cemitrio local, a qual ficou

    conhecida como Cemiterada. Pedia-se a anulao da lei que proibia os enterros nas igrejas e concedia o

  • 4

    monoplio do sepultamento igreja. A multido, aps manifestao de vulto na Praa do Palcio, tomou a

    direo do cemitrio, distante cerca de trs quilmetros do centro da cidade, munida de machados,

    alavancas, ps e picaretas, destruindo em menos de uma hora o cemitrio. A polcia local avaliou a

    multido em mais de 3.000 pessoas. Tal como na Bahia, na Europa houve resistncia fsica mudana das

    regras funerrias, encaradas como uma ameaa aos interesses da igreja, insuflada por doutrinas

    exticas. (REIS, 1991).

    Se a prtica de sepultamento de cadveres humanos antiga na histria da humanidade, a

    preocupao com possveis conseqncias ambientais e de sade pblica mais recente, apesar de alguns

    relatos histricos sobre a possibilidade de contaminao das guas subterrneas. Por exemplo, Mulder

    (1954) citado por Bower (1978), registra que guas subterrneas destinadas ao consumo humano estavam

    contaminadas por cemitrios nas proximidades de Berlim, no perodo de 1863 a 1867, com a proliferao

    de febre tifide; menciona tambm que nas proximidades do cemitrio de Paris se constatou a captao de

    guas subterrneas mal cheirosas e de sabor adocicado, principalmente em pocas quentes. De acordo

    com alguns higienistas franceses, numerosas cidades na Frana devem sua endemia de febre tifide

    posio dos cemitrios em relao s guas de abastecimento (PERSON, 1979).

    De fato, desde o sculo passado tem-se associado a incidncia de endemias contaminao do

    subsolo, gerada pela operao dos cemitrios e hoje h consenso geral sobre o potencial contaminador

    dos efluentes da decomposio cadavrica, em especial no que diz respeito ao lenol fretico e sua

    explotao para o consumo humano, nas circunvizinhanas das necrpoles. Este consenso, em grande

    parte, corroborado pela analogia do que ocorre nas reas de disposio de resduos slidos orgnicos no

    solo (lixo e seu chorume).

    At alguns anos atrs, os cemitrios no eram includos nas listas de fontes tradicionais de

    contaminao, mas hoje se reconhece que reas contaminadas por estes empreendimentos constituem

    graves problemas scio-ambientais.

    No Brasil, at o ano 2003 no existia regulamentao especfica para implantao e operao de

    cemitrios e isso, certamente, contribuiu para que muitas vezes fossem instalados em reas inadequadas.

    Com o surgimento da resoluo CONAMA 355/2003, que obriga a realizao de estudos geolgicos,

    hidrogeolgicos e ambientais para implantao e operao de cemitrios, essa situao tende a se

    modificar.

    3.2. TCNICAS DE SEPULTAMENTO DE CADVERES

    Os sepultamentos em cemitrios so feitos por inumao (diretamente no solo) ou por tumulao

    (em jazigos).

    O enterro por inumao uma tcnica empregada em muitos povos antigos, medievais, modernos

    ou contemporneos e consiste na deposio do corpo em cova aberta e depois aterrada ou na colocao

    superfcie, mas apondo-se um espesso monte de terra e pedras, ou ainda no depsito numa cavidade ou

    mesmo caixa devidamente acautelada ou resguardada (DIAS, 1963). A Figura 1 mostra um exemplo de

    enterro por inumao no cemitrio de Tabuleiro.

  • 5

    Figura 1 - Exemplo de inumao no cemitrio de Tabuleiro.

    As inumaes no solo tm por objetivo a decomposio e o desaparecimento dos corpos.

    Informaes de carter pedolgico mostram ser a camada superior (camada orgnica), onde se

    desenvolve a mais intensa atividade micro-bioqumica, aquela que tem a melhor capacidade de oxidao.

    Como conseqncia, seria esta a mais favorvel para a destruio dos cadveres. Entretanto, por vrias

    razes, como a presena de animais escavadores, higiene pblica, confinamento de produtos em

    decomposio, se torna necessrio enterrar os cadveres a maiores profundidades.

    O enterramento por tumulao feito atravs de carneiros, construdos de alvenaria ou concreto

    na forma de caixas retangulares, que recebem os caixes em gaveta, teoricamente bem seladas, de forma

    a impedir a emanao para o exterior dos gases provenientes da decomposio dos corpos. Essas

    construes so parcialmente ou totalmente subterrneas. Por envolver o empilhamento das gavetas, esse

    processo de sepultamento se faz a maiores profundidades que a inumao, sendo assim mais prximos ao

    lenol fretico. A Figura 2 mostra um exemplo dessa forma de enterro no cemitrio de Tabuleiro.

    Figura 2 - Exemplo de tumulao no cemitrio de Tabuleiro.

  • 6

    3.3. INTERAES CADVER-SOLO E PRODUO DE NECROCHORUME

    Um cadver ao ser sepultado est sujeito a fenmenos transformativos do tipo destrutivo e

    conservador. Dentre os primeiros destacam-se a autlise, a putrefao e a macerao. Aos outros

    pertencem a mumificao e a saponificao.

    A putrefao de um cadver inicia-se com as bactrias endgenas intestinais, do tipo saprfitas,

    principalmente enterobactrias. A essa fase anaerbia segue-se o aparecimento de bactrias aerbias-

    anaerbias facultativas da famlia Neisseriaceae e Pseudomonadaceae e outras anaerbias de gnero

    Clostridium. Esses microrganismos so originrios do cadver e do terreno circundante.

    No processo da putrefao h dois perodos fundamentais, o gasoso e o coliqativo. No primeiro

    desenvolvem-se gases no interior do cadver responsveis pelo inchamento e posterior rebentamento do

    corpo com a formao de lquidos humorosos que podem atingir valores da ordem de 30-40L. Esse perodo

    pode demorar de uma a quatro semanas ou se prolongar por mais tempo, dentro das variaes em que

    atuam os mltiplos fatores que influem na evoluo putrefativa. reas com intensa precipitao

    pluviomtrica e com o nvel do lenol fretico prximo superfcie so muito vulnerveis a esse tipo de

    contaminao.

    No perodo coliqativo, de durao mais longa (dois a oito meses), tem lugar a dissoluo ptrida.

    Nesse perodo, alm dos germes putrefativos, h tambm grande presena de larvas e insetos que

    contribuem para a destruio do cadver.

    H um conjunto de circunstncias que concorrem para acelerar ou retardar o processo dos

    fenmenos putrefativos. Umas so intrnsecas, pertinentes ao corpo e causa mortis, e outras

    extrnsecas, ligadas ao ambiente onde se situa o cadver.

    Em relao aos elementos ambientais, a temperatura, a umidade e o grau de ventilao so alguns

    fatores que mais influem no progresso da putrefao. As oscilaes da temperatura ambiente e do calor

    ainda existente no cadver, alm de influrem na evaporao da gua contida no corpo, tm grande

    participao no desenvolvimento das fermentaes, enquanto que temperaturas baixas agem como

    retardador da decomposio. Se a umidade equilibrada acelera o processo, as correntes de ar quente e

    seco impedem a putrefao, favorecendo a mumificao. Por outro lado, o excesso de umidade favorece

    outros fenmenos transformativos, como a saponificao.

    A saponificao o processo que transforma o cadver em substncia untosa, mole ou quebradia,

    motivado pelo contato em terrenos alagadios que impedem os fenmenos de oxidao. Em alguns casos,

    essa transformao parece dar-se devido ao emprego excessivo de drogas medicinais em certos tipos de

    tratamento. As causas parecem residir no excesso de umidade proveniente da infiltrao de guas de

    chuva e ou no nvel fretico muito alto. O solo argiloso, poroso e impermevel, quando saturado de gua,

    facilita este fenmeno, que pode iniciar-se entre um e dois meses. O excesso de umidade inibe a atuao

    de microrganismos degradadores de matria orgnica. Quimicamente, a saponificao a transformao

    da gordura em sabo. Segundo Muoz (1992), a gordura no tecido adiposo est armazenada na forma de

    glicerol e cidos graxos triglicerdeos. Determinadas condies ambientais favorecem a decomposio

    dos triglicerdeos, liberando cidos graxos, que se unem a alguns minerais do organismo, como o clcio,

  • 7

    magnsio e outros, formando o sabo.

    As mumificaes naturais ou espontneas aparecem em condies de clima quente, com

    temperatura invarivel. Segundo Fvero (1980), a mumificao est relacionada falta de umidade

    suficiente para permitir o desenvolvimento dos germes putrefativos. Ademais, ocorre, por vezes, o

    arejamento intensivo do local onde o cadver se encontra. A elevao da temperatura e a facilidade que o

    terreno pode apresentar na absoro dos lquidos que do cadver surgem, favorecem a mumificao. As

    temperaturas elevadas e os terrenos arenosos de regies desrticas so propcios mumificao. Segundo

    alguns pesquisadores os solos ricos em nitrato de potssio, tambm so propcios mumificao, devido

    ao antissptica desse sal.

    Do ponto de vista de contaminao da gua e do solo, o processo de decomposio mais importante

    a putrefao, durando, em mdia, trs anos. Durante a decomposio o corpo humano passa a ser um

    ecossistema formado por vrus, bactrias, microrganismos patognicos e outros que podem vir a

    contaminar os mananciais de gua.

    Outro problema que afeta o lenol fretico, em determinadas condies geolgicas e observando um

    grande nmero de cemitrios j estudados, o da decomposio parcial estacionria, gerando fenmenos

    conservativos, como a saponificao e a mumificao. Ambos, obviamente, atrapalham a consecuo da

    decomposio dos corpos e neutralizao dos efluentes, prolongam a permanncia dos corpos semi-

    decompostos e mantm o perigo de decomposio latente, dado a oferta de vetores disponveis e

    mobilizveis.

    Sabe-se que 75% do corpo humano so constitudas por gua, combinadas com substncias

    orgnicas e inorgnicas. Aps a morte, na chamada fase coliqativa ou humorosa, a qual se inicia logo

    aps a fase gasosa, com durao de dois a oito meses (ou mais, dependendo das condies geolgicas),

    os corpos em decomposio liberam um lquido funerrio caracterstico, conhecido por necrochorume, de

    maneira intermitente, em volume total varivel entre 30 e 40L. Segundo a FEAM (2003), necrochorume

    eliminado durante o primeiro ano aps o sepultamento.

    No meio natural, o necrochorume decompe-se em substncias mais simples, ao longo de

    determinado perodo de tempo, em que a capacidade de depurao natural do solo, traduzida pelo seu

    teor em argilas ativas, tem papel importante. Em consonncia, processa-se uma filtrao lenta dos

    percolados, coadjuvada pela oxidao. Dependendo da profundidade do lenol fretico, a carga

    microbiolgica do necrochorume (vrus e bactrias) eliminada, no acarretando problemas de

    contaminao. Bower (1978) conduziu estudos em um cemitrio da Alemanha Ocidental, demonstrando o

    elevado poder de autodepurao do solo aluvionar (Tabela 1).

    Tabela 1 - Diminuio das bactrias ao longo da profundidade. Distncia dos tmulos aos pontos de

    amostragem da gua subterrnea

    Reduo no nmero de bactrias, com o afastamento da

    amostragem, relativa aos tmulos

    0,50 m 8000

    2,50 m 6000

    3,50 m 3600

    4,50 m 1200

    5,50 m 180

  • 8

    Fonte: Ground water hydrology, 1978.

    O solo, em especial a zona no-saturada, desempenha um papel muito importante na reteno dos

    microrganismos patognicos mediante um conjunto de fatores fsicos e qumicos ambientais, que afetam a

    infiltrao e o movimento destes micrbios.

    A capacidade de reteno mantm uma relao inversa com a permeabilidade, ou seja, os

    processos de reteno de organismos so mais eficientes nos solos argilosos do que nas areias e

    cascalhos. Neste sentido, os aqferos formados por grandes interstcios, por fraturas e canais de

    dissoluo (Karts) esto deficientemente protegidos.

    De acordo com Romero (1970), que sumarizou os resultados de muitos estudos sobre o

    movimento de bactrias em gua subterrneas, o percurso mximo dos contaminantes biolgicos em

    condies ordinrias varia entre 15,0 a 30,0 m em meios saturados, podendo percorrer maiores distncias

    em guas com nutrientes. Em condies favorveis, esses organismos podem sobreviver por at cinco

    anos, mas em geral morrem antes de sessenta ou cem dias. Isto se refere principalmente a terrenos

    granulares finos. Em meios muito grosseiros e em rochas fraturadas, os percursos dos microrganismos so

    maiores e, em reas carstificadas, estes podem percorrer centenas de metros.

    Todavia, em determinadas condies geolgicas, o necrochorume pode atingir o lenol fretico

    praticamente ntegro, com suas cargas contaminantes qumicas e microbiolgicas. Os vetores introduzidos

    no lenol fretico, graas ao seu escoamento, podem ser disseminados nos entornos imediato e mediato

    das necrpoles, podendo atingir grandes distncias, caso as condies hidrogeolgicas assim o permitam.

    Como as distncias percorridas pelos microrganismos dependem de um nmero complexo de

    fatores, como medida preventiva e para cemitrios a serem construdos em reas elevadas de terrenos

    com caractersticas permeveis, recomenda-se que o nvel fretico tenha uma profundidade mnima de

    3,50 m para sepultamentos em cova simples, com 1,55 m de fundo, e 4,50 m para enterramento em

    tmulos (tipo catacumba), com 3,80 m de profundidade.

    Segundo Migliorini (1994), a geologia da regio para implantao de cemitrios deve ser estudada

    atravs de mapas geolgicos e topogrficos, trabalhos publicados, fotografias areas e trabalhos de

    campo. Devem ser feitas sondagens para os ensaios de permeabilidade, determinao do nvel do lenol

    fretico, da direo e sentido do fluxo e caracterizao do perfil geolgico da rea. Tambm deve ser

    evitada a utilizao de regies cujos solos sejam muitos permeveis (areia e cascalho), ou constitudos por

    materiais muito finos (silte e argila), onde prevalecem condies anaerbicas, e ainda terrenos formados

    por rochas fraturadas, sendo portanto, o ideal, terrenos com granulometria bem distribuda. Miotto (1990)

    elaborou uma metodologia para seleo de reas para implantao de cemitrios, utilizando como

    instrumento as informaes geolgicas, geotcnicas e hidrolgicas da regio.

    3.4. CARACTERSTICAS DOS EFLUENTES CADAVRICOS (NECROCHORUME) E CONTAMINAO DE GUAS SUBTERRNEAS

    O necrochorume um liquido mais viscoso que a gua, de cor acinzentada a acastanhada, com

    cheiro acre e ftido, com densidade mdia de 1,23 g/cm3; constitudo por 60% de gua, 30% de sais

    minerais e 10 % de substncias orgnicas degradveis (Figura 3).

  • 9

    Ao ocorrer aporte de necrochorume solvel em gua no aqfero, dadas as relaes de viscosidade

    e densidade, podem se formar manchas poluidoras migrantes (plumas de poluio), as quais disseminam-

    se pelo subsolo saturado como uma nuvem, com velocidade de trnsito varivel, podendo atingir distncias

    quilomtricas a partir da origem (fonte pontual).

    Mendes et al (1989) utilizaram tcnicas geofsicas para avaliar a contaminao em cemitrios e

    correlacionaram anomalias de condutividade eltrica aparente, em estudos eletromagnticos, com a

    contaminao originada da decomposio dos sepultamentos, citada em WHO (2004), detectando o

    aumento da condutividade eltrica e sais minerais nas guas subterrneas prximas de sepultamentos

    recentes no cemitrio Botany na Austrlia.

    Figura 3 - Composio do Necrochorume.

    A toxicidade qumica do necrochorume diludo na gua fretica relaciona-se, principalmente, a

    teores anmalos de compostos das cadeias do fsforo e do nitrognio, metais pesados e aminas, dentre as

    quais destacam-se duas diaminas muito txicas: a putrescina (1,4 Butanodiamina) e a cadaverina (1,5

    Pentanodiamina), que so txicas, cujas propriedades podem ser vistas na Tabela 2.

    Tabela 2 - Propriedades da cadaverina e da putrescina. Propriedade Cadaverina (C5H14N2) Putrescina (C4H12N2)

    Massa molecular 102,18 88,15

    Densidade 0,873 g/cm3 0,877 g/cm3

    Ponto de fuso 260 280C 270 280C

    Ponto de ebulio 1780 1800C 1580 1600C

    N20D ndice de refrao 1,4582 1,4569

    Solubilidade em gua (230280) Elevada Elevada

    Toxicidade Elevada Elevada

    Colorao Pardacenta Pardacenta

    Odor Corrosivo Corrosivo

    Fonte: SILVA (1998).

  • 10

    De acordo com Ottman (1987) pouco se sabe sobre a composio microbiolgica do

    necrochorume. Devido a sua composio qumica, possvel encontrar grande quantidade de bactrias

    degradadoras de matria orgnica (bactrias heterotrficas), de protenas (bactrias proteolticas) e lipdios

    (bactrias lipolticas). Segundo o mesmo autor, podem ser encontradas bactrias que so normalmente

    excretadas por seres humanos e animais, como Escherichia coli, Enterobacter, Klebsiella e Citrobacter

    (bactrias do grupo coliforme), Streptococus faecalis (hoje reclassificada como Entererococcus faecalis);

    Clostridium perfringes e Clostridium welchii, entre outras.

    O necrochorume, permite a sobrevivncia e a proliferao dos microrganismos presentes nos

    cadveres em putrefao, sejam os naturais ou os patognicos. Segundo Pacheco (1991), os organismos

    patognicos presentes no necrochorume tm pouca resistncia s condies de oxigenao e ausncia

    relativa de umidade nos solos. Afirma ainda o autor que, se a capacidade de reteno de microrganismos

    no solo for reduzida, eles podero ser incorporados s guas subterrneas ou superficiais, com capacidade

    maior ou menor de se manterem ativos, dependendo da oxigenao das guas e de sua velocidade de

    escoamento; sabe-se que as guas subterrneas so pobres em oxignio dissolvido (zona saturada),

    favorecendo, portanto, a sobrevivncia dos organismos patognicos.

    Estudos de Schraps (1972), citado por Bower (1978), realizados na Alemanha Ocidental em um

    cemitrio localizado em terrenos de aluvio no consolidados, comprovaram a existncia de contaminao

    bacteriolgica, tendo sido constatado tambm que o nmero de bactrias diminui rapidamente com a

    distncia dos tmulos, devido capacidade do solo reter microrganismos.

    No Brasil, especialmente a partir da dcada de 1980 e por iniciativa do Centro de Pesquisas de

    guas Subterrneas (CEPAS), do Instituto de Geocincia da Universidade de So Paulo, foram realizadas

    vrias pesquisas sobre contaminao das guas subterrneas por cemitrios.

    Pacheco (1986) e Pacheco et al. (1991) comprovaram contaminao bacteriolgica das guas

    subterrneas dos cemitrios Vila Formosa (So Paulo SP), Vila Nova Cachoeirinha (So Paulo SP) e

    Areia Branca (Santos SP), detectando a presena de coliformes totais, coliformes fecais, estreptococos

    fecais, clostrdios sulfito-redutores e outros originados da decomposio dos corpos sepultados por

    inumao.

    MIGLIORINI (1994) publicou um estudo hidroqumico das guas subterrneas do Cemitrio Vila

    Formosa (So Paulo-SP), concluindo que:

    A presena do cemitrio contribuiu para elevar a concentrao total de ons (slidos totais dissolvidos) nas guas subterrneas da rea, sendo a fonte mais provvel do ction que mais se

    elevou (Ca+) a cal utilizada no cemitrio;

    As guas apresentaram concentrao excessiva de produtos nitrogenados, que tm sua origem mais provvel no processo de decomposio dos corpos, com participao da contaminao

    bacteriolgica;

    A presena do cemitrio provocou o aparecimento dos seguintes metais: mangans, cromo, ferro, prata e alumnio, em nveis acima dos valores mximos permissveis na gua para consumo

    humano. Esses metais se originaram provavelmente das tintas, vernizes e guarnies desprendidas

  • 11

    dos caixes.

    Matos (2000), estudando o cemitrio de Vila Nova Cachoeirinha no municpio de So Paulo,

    detectou a presena de bactrias heterotrficas, bactrias proteolticas, clostrdios sulfito-redutores,

    eterovrus e adenovrus nas guas subterrneas do aqfero local. Segundo esse autor, a contaminao

    dos mananciais pode se dar pela chuva e pelo contato do manancial com urnas enterradas diretamente no

    solo. Em perodos de pluviosidades intensas, as urnas podem ser invadidas pela gua, causando

    percolao do lquido para o aqfero mais prximo. Alm disso, a chuva pode ocasionar a elevao do

    nvel das guas subterrneas, que podem atingir as sepulturas.

    3.5. QUALIDADE DE GUAS SUBTERRNEAS

    3.5.1. ASPECTOS NORMATIVOS

    As caractersticas apresentadas pela gua, determinadas pelo conjunto de substncias nela

    presentes, refletem sua qualidade. gua pura um conceito hipottico, uma vez que a gua apresenta

    elevada capacidade de dissoluo e de transporte e, em seu percurso, superficial ou subterrneo, pode

    incorporar um grande nmero de substncias. Portanto, por processos naturais ou decorrentes de

    atividades antrpicas, as caractersticas da gua podem ser substancialmente alteradas, a ponto de

    comprometer determinados usos. Assim, qualidade da gua um atributo dinmico no tempo e no espao

    e encontra-se, acima de tudo, relacionado com os usos de uma determinada fonte - a mesma gua pode

    ser considerada boa para um determinado fim (por exemplo, para uso industrial) e ruim para outro (por

    exemplo, para o consumo humano). De forma anloga, o conceito de poluio deve ser entendido como

    perda de qualidade da gua, ou seja, alteraes em suas caractersticas que comprometam um ou mais

    usos do manancial. Por sua vez, contaminao em geral entendida como um fenmeno de poluio que

    apresente risco sade (Bastos et al., 2003).

    Desde a dcada de 1980 a legislao ambiental brasileira conta com critrios de classificao de

    guas superficiais em funo dos usos preponderantes (sistema de classes de qualidade), bem como com

    padres de lanamento de efluentes em corpos receptores (BRASIL, 2005). Entretanto somente em 2008 o

    pas passou a contar com instrumento anlogo para as guas subterrneas, a Resoluo CONAMA No 396,

    que dispe sobre a classificao e diretrizes ambientais para o enquadramento, preveno e controle da

    poluio das guas subterrnea (BRASIL, 2008). De acordo com a Resoluo CONAMA No 396 / 2008, as

    guas subterrneas so classificadas em:

    (i) Classe Especial: guas dos aqferos, conjunto de aqferos ou poro desses destinadas

    preservao de ecossistemas em unidades de conservao de proteo integral e as que

    contribuam diretamente para os trechos de corpos de gua superficial enquadrados como

    classe especial;

    (ii) Classe 1: guas dos aqferos, conjunto de aqferos ou poro desses, sem alterao de sua

    qualidade por atividades antrpicas, e que no exigem tratamento para quaisquer usos

    preponderantes devido s suas caractersticas hidrogeoqumicas naturais;

  • 12

    (iii) Classe 2: guas dos aqferos, conjunto de aqferos ou poro desses, sem alterao de sua

    qualidade por atividades antrpicas, e que podem exigir tratamento adequado, dependendo do

    uso preponderante, devido s suas caractersticas hidrogeoqumicas naturais;

    (iv) Classe 3: guas dos aqferos, conjunto de aqferos ou poro desses, com alterao de sua

    qualidade por atividades antrpicas, para as quais no necessrio o tratamento em funo

    dessas alteraes, mas que podem exigir tratamento adequado, dependendo do uso

    preponderante, devido s suas caractersticas hidrogeoqumicas naturais;

    (v) Classe 4: guas dos aqferos, conjunto de aqferos ou poro desses, com alterao de sua

    qualidade por atividades antrpicas, e que somente possam ser utilizadas, sem tratamento,

    para o uso preponderante menos restritivo;

    (vi) Classe 5: guas dos aqferos, conjunto de aqferos ou poro desses, que possam estar com

    alterao de sua qualidade por atividades antrpicas, destinadas a atividades que no tm

    requisitos de qualidade para uso.

    Na Resoluo CONAMA No 396 / 2008 encontram-se tambm as seguintes disposies:

    (i) Os Valores Mximos Permitidos VMP (limite mximo permitido de um dado parmetro),

    especfico para cada uso da gua subterrnea para o respectivo uso das guas subterrneas

    devero ser observados quando da sua utilizao, com ou sem tratamento,

    independentemente da classe de enquadramento;

    (ii) As guas subterrneas da Classe Especial devero ter suas condies de qualidade naturais

    mantidas;

    (iii) Os padres das Classes 1 a 4 devero ser estabelecidos com base nos Valores de Referncia

    de Qualidade-VRQ (concentrao ou valor de um dado parmetro que define a qualidade

    natural da gua subterrnea, determinados pelos rgos competentes), e nos Valores Mximos

    Permitidos para cada uso preponderante, observados os Limites de Quantificao Praticveis

    LQPs;

    (iv) Os parmetros que apresentarem VMP para apenas um uso sero vlidos para todos os outros

    usos, enquanto VMPs especficos no forem estabelecidos pelo rgo competente;

    (v) As guas subterrneas de Classe 1 apresentam, para todos os parmetros, VRQs abaixo ou

    igual dos Valores Mximos Permitidos mais Restritivos dos usos preponderantes;

    (vi) As guas subterrneas de Classe 2 apresentam, em pelo menos um dos parmetros,Valor de

    Referncia de Qualidade - VRQ superior ao seu respectivo Valor Mximo Permitido mais

    Restritivo - VMPr+ dos usos preponderantes;

    (vii) As guas subterrneas de Classe 3 devero atender ao Valor Mximo Permitido mais Restritivo

    - VMPr+ entre os usos preponderantes, para cada um dos parmetros, exceto quando for

    condio natural da gua;

    (viii) As guas subterrneas de Classe 4 devero atender aos Valores Mximos Permitidos menos

    Restritivos - VMPr- entre os usos preponderantes, para cada um dos parmetros, exceto

    quando for condio natural da gua;

  • 13

    (ix) As guas subterrneas de Classe 5 no tero condies e padres de qualidade (conforme

    critrios utilizados na Resoluo);

    (x) Os parmetros a serem selecionados para subsidiar a proposta de enquadramento das guas

    subterrneas em classes devero ser escolhidos em funo dos usos preponderantes, das

    caractersticas hidrogeolgicas, hidrogeoqumicas, das fontes de poluio e outros critrios

    tcnicos definidos pelo rgo competente;

    (xi) Dentre os parmetros selecionados, devero ser considerados, no mnimo, Slidos Totais

    Dissolvidos, nitrato e coliformes termotolerantes;

    (xii) Os rgos competentes devero monitorar os parmetros necessrios ao acompanhamento da

    condio de qualidade da gua subterrnea, com base naqueles selecionados conforme os

    itens (x) e (xi), bem como pH, turbidez, condutividade eltrica e medio de nvel de gua.

    No Anexo I da Resoluo CONAMA No 396 / 2008 encontra-se uma lista de parmetros com maior

    probabilidade de ocorrncia em guas subterrneas (incluindo substncias inorgnicas, orgnicas,

    agrotxicos e microrganismos indicadores de contaminao), seus respectivos Valores Mximos Permitidos

    (VMP) para cada um dos usos considerados como preponderantes e os limites de quantificao praticveis

    (LQP), considerados como aceitveis para aplicao da referida Resoluo.

    Apresentam-se a seguir os VMPs apenas daqueles parmetros objeto de monitoramento neste

    trabalho (Tabela 3), seguidos de breves consideraes sobre o significado de cada um.

    Tabela 3 - Valores Mximos Permitidos (VMP) de alguns parmetros considerados como de probabilidade de ocorrncia em guas subterrneas, de acordo com os usos preponderantes, (Resoluo CONAMA No 396 / 2008).

    Usos Preponderantes da gua Parmetros Consumo

    humano Dessedentao

    de animais Irrigao Recreao

    Nitrato (mg N-NO3 L-1) 10 90 - 10

    Sdio (mg L-1) 200 - - 300

    Slidos dissolvidos totais (mg L-1) 1.000 - - -

    E.coli (NMP por 100 mL) Ausente 200 800

    Depreende-se que no somente para os parmetros citados na Tabela 3, bem como para os

    demais listados na resoluo CONAMA NO 396 / 2008, que os VMPs estabelecidos para cada uso

    preponderante encontrem correspondncia com: (i) consumo humano Portaria MS NO 518 /2004, que

    estabelece o padro de potabilidade da gua (Brasil, 2004), (ii) dessedentao de animais - Resoluo

    CONAMA N 357 / 2005, que dispe sobre a classificao e enquadramento dos corpos de gua

    superficiais; (iii) irrigao - Resoluo CONAMA N 357 / 2005 e, ou, as diretrizes da FAO para a qualidade

    da gua para irrigao (AYERS e Westcot, 1991), (iv) recreao - Resoluo CONAMA N 357 / 2005 e, ou

    Resoluo CONAMA N 274 / 2000, que dispe sobre a balneabilidade (Brasil, 2000).

  • 14

    3.5.2. PARMETROS INDICADORES DA QUALIDADE DA GUA

    Potencial hidrogeninico (pH)

    O pH da gua a medida da atividade dos ons hidrognio e expressa a intensidade de condies

    cidas (pH < 7,0) ou alcalinas (pH > 7,0). Como o pH expresso em escala logartmica, ao incremento e

    decrscimo de uma unidade de pH correspondem, respectivamente, um aumento de dez vezes em

    alcalinidade e acidez. O valor do pH influi na solubilidade de diversas substncias, na forma em que os

    compostos qumicos se apresentam na gua (livre ou ionizada) e em sua toxicidade (SAWYER et al., 2003).

    A maioria das guas naturais superficiais tende a apresentar um pH prximo da neutralidade

    devido a sua capacidade de tamponamento (resistncia a alteraes de pH devida a introduo / presena

    de cidos ou bases). Entretanto, as prprias caractersticas do solo ou a presena de cidos hmicos,

    podem contribuir para a reduo natural do pH. Assim que muitas guas subterrneas podem apresentar

    pH baixo (BASTOS et al., 2003).

    Para a maioria dos usos da gua, incluindo aqueles previstos nas diversas classes da Resoluo

    CONAMA N 357 / 2005, e o abastecimento para consumo humano, recomendam-se valores de pH em

    faixas de 6-9.

    Temperatura

    A amplitude trmica anual das guas subterrneas em geral baixa (de 1 a 2C) e independe da

    temperatura atmosfrica, a no ser nos aquferos pouco profundos, onde a temperatura um pouco

    superior da superfcie. Em profundidade, depende do grau geotrmico, podendo sofrer maiores

    elevaes provocadas por giser, vulcanismos, radioatividade, etc. (FEITOSA e MANOEL FILHO, 1997).

    Condutividade eltrica e slidos dissolvidos totais

    A condutividade eltrica da gua representa sua capacidade de transmitir corrente eltrica em

    funo da presena de substncias dissolvidas, principalmente inorgnicas, que se dissociam em ctions e

    nions. Simplificadamente, a condutividade representa a concentrao de ons, estando, portanto

    associada concentrao de slidos dissolvidos totais (SDT) e salinidade. A associao entre CE e SDT

    teria de ser determinadas caso a caso, pois varia com o tipo de ons presentes e sua concentrao.

    Genericamente, pode-se estimar que (RHOADES et al., 2000):

    SDT (mg L-1) 640 CE (dS m-1) para 0,1 < CE < 5,0 dS m-1

    SDT (mg L-1) 800 CE (dS m-1) para CE > 5,0 dS m-1

    Em guas naturais podem-se encontrar faixas de condutividade na ordem de 10 - 100 S cm-1. guas residurias domsticas e industriais podem apresentar valores acima de 1.000 S cm-1. Assim, a condutividade pode ser utilizada como um indicador auxiliar de poluio das guas, muito embora existam

    outros parmetros mais especficos para tal. Por sua vez, diversas culturas agrcolas, bem como o solo

    irrigado, so sensveis ao excesso de sais na gua, sendo a condutividade eltrica um dos principais

  • 15

    parmetros de controle da qualidade da gua para a irrigao: valores de CE > 3.000 S cm-1, em geral, so considerados limitantes para esse uso (AYERS e WESTCOT, 1991).

    Por questes organolpticas a Portaria MS No 518 /2004 estabelece como padro de aceitao

    para consumo, um limite, em termos de SDT de 1.000 mg L-1 (BRASIL, 2008).

    Demanda bioqumica de oxignio (DBO) e demanda qumica de oxignio (DQO)

    A DBO a quantidade de oxignio necessria para a estabilizao bioqumica de uma quantidade

    de matria orgnica presente em uma amostra, sendo, portanto uma medida indireta da matria orgnica

    biodegradvel em condies padronizadas: 20oC, cinco dias; nessas condies a medida de DBO

    representa uma frao (cerca de 2/3) da matria orgnica de mais fcil biodegradabilidade, a matria

    carboncea. A DQO a medida do oxignio requerido para a estabilizao da matria orgnica com uso de

    um oxidante qumico. , portanto, tambm uma medida indireta da quantidade de matria orgnica e

    aproxima-se, mais que a DBO, da quantidade total (von SPERLING, 2005).

    DBO e a DQO so dos principais parmetros de avaliao do grau de poluio e servem aos

    critrios de classificao de guas superficiais da Resoluo CONAMA N 357 / 2005. guas subterrneas,

    por serem mais protegidas do aporte externo de matria orgnica, tendem, naturalmente, a apresentar

    valores mais baixos de DBO e DQO e, talvez por isso, esses parmetros no constem na Resoluo

    CONAMA No 396 / 2008.

    Potssio

    O potssio (K) ocorre em pequenas quantidades ou est ausente nas guas subterrneas, por

    participar de processos de troca inica, por ser facilmente adsorvido pelas argilas e por ser utilizado pelos

    vegetais como macronutriente. Os teores de potssio nas guas subterrneas so, em geral, inferiores a

    10 mg L-1, sendo mais freqentes valores entre 1 e 5 mg L-1 (FEITOSA, 1997).

    A Portaria MS No 518 /2004 no estabelece limite para potssio como padro de potabilidade.

    Sdio, clcio e magnsio

    O Sdio (Na) o sexto elemento mais abundante na terra e est presente na maioria das guas

    naturais. Sua concentrao em guas subterrneas varia, em geral, entre 0,1 e 100 mg L-1 (MANOEL

    FILHO, 1997).

    Nas guas utilizadas para irrigao, o sdio um dos principais parmetros de controle. Em linhas

    gerais, o sdio produz um efeito dispersante nas partculas finas do solo, contribuindo para sua obstruo;

    o clcio, vice-versa, contribui para uma melhor estrutura do solo. Alm disso, os efeitos do excesso de Na

    so potencializados quando a relao Ca/Mg menor que a unidade; isto porque o excesso de Mg no solo

    pode induzir deficincia de Ca. Assim, a proporo de sdio em relao ao clcio e magnsio nas guas

    de irrigao um fator fundamental na manuteno da boa capacidade de infiltrao do solo. A relao

    entre esses trs ctions (Na:Ca:Mg) expressa pelo parmetro Relao de Adsoro de Sdio RAS

    (AYERS e WESTCOT, 1991; RHOADES et al., 2000).

  • 16

    RAS = Na+ / [(Ca+2 + Mg+2 / 2)] 1/2 (mmolc L-1)0,5

    Em que:

    Na+ = concentrao de sdio na gua de irrigao (mmolc L-1)

    Ca+2 = concentrao de clcio na gua de irrigao (mmolc L-1)

    Mg+2 = concentrao de magnsio na gua de irrigao (mmolc L-1)

    De fato, tanto a salinidade quanto a sodicidade da gua afetam a velocidade de infiltrao da gua

    no solo. guas com baixa salinidade tendem a dissolver os sais e minerais do solo (inclusive o clcio),

    lixiviando-os. Isto, somado contnua aplicao de gua com elevada RAS (elevada proporo de sdio em

    relao ao clcio), constitui a pior combinao para a estabilidade dos agregados do solo e estrutura das

    camadas superficiais. Portanto, os problemas de infiltrao so avaliados, em conjunto, por meio da

    salinidade (CE) e sodicidade da gua (RAS). (AYERS e WESTCOT, 1991; RHOADES et al., 2000).

    Sdio em excesso tambm, em si, txico a diversas culturas, genericamente, em valores de RAS

    acima de 3 (mmolc L-1)0,5 (AYERS e WESTCOT, 1991).

    Na gua para consumo humano, limites de sdio so estabelecidos apenas por razes

    organolpticas, a Portaria MS No 518 /2004 estabelece um limite de 200 mg L-1 (BRASIL, 2008).

    Do ponto de vista econmico, o sdio pode tambm ser causa de obstruo de canalizaes e

    equipamentos; uma concentrao mxima de 2 a 3 mg L-1 recomendada em guas de alimentao de

    caldeiras (MIERZWA E HESPANHOL, 2005).

    Ao entrar em contato com o solo a gua enriquecida com gs carbnico (originado pela ao

    bacteriana) e tem seu poder de agressividade aumentado (devido ao equilbrio gs carbnico cido

    carbnico), adquirindo assim condies para dissolver os ctions bivalentes, como Ca2+ e Mg2+, alm dos

    nions associados a esses (bicarbonato, sulfato, cloreto, silicato, nitrato, etc.), os quais conferem gua

    caractersticas conhecidas como dureza (SAWYER et al., 2003).

    A dureza reflete a natureza da formao geolgica com a qual a gua esteve em contato. Em

    geral, as guas superficiais so mais brandas do que as subterrneas e as guas duras so encontradas

    nas zonas de acentuada formao calcria. As guas podem ser classificadas em termos de grau de

    dureza, como segue. A dureza pode ainda ser classificada em relao aos ons metlicos (dureza clcio,

    dureza magnsio) ou em relao aos nions associados aos ctions metlicos (dureza carbonato ou no-

    carbonato)(SAWYER et al., 2003).

    guas moles < 75 mg CaCO3L -1 guas moderadamente moles: 75 150 mg CaCO3L -1 guas duras: 150 300 mg CaCO3L -1 guas muito duras: > 300 mg CaCO3L -1

    Os grandes inconvenientes causados por guas duras so a dificuldade de formao de espuma

    com o sabo. O maior consumo de sabo e a formao de incrustaes de carbonato ou silicato de clcio

    e, ou magnsio, que abaixam a condutividade trmica e promovem a corroso interna de caldeiras e

  • 17

    outras unidades onde ocorre elevao de temperatura (MIERZWA e HESPANHOL, 2005).

    No so conhecidos efeitos deletrios da dureza da gua sobre a sade. O padro de potabilidade

    brasileiro estabelece como padro de aceitao para consumo um limite de dureza total em 500 mg L-1,

    por motivos econmicos e pelo sabor pouco agradvel de tais guas (BRASIL, 2008).

    Nitrognio e fsforo

    O texto a seguir , essencialmente, compilado de Bastos et al (2003).

    No ciclo biogeoqumico do nitrognio, em ambientes aerbios ocorre a nitrificao ou oxidao

    bioqumica (mineralizao) das formas de nitrognio, de amnia a nitratos (NO3-); em ambientes

    anaerbios ocorre a desnitrificao, ou reduo das formas de nitrognio, de NO3- a nitritos (NO2-) e a

    nitrognio gs (N2).

    Portanto, a forma predominante do nitrognio pode fornecer informaes sobre o estgio de

    poluio da gua: a poluio mais recente est associada presena de nitrognio orgnico e amnia,

    enquanto a poluio mais remota, no tempo ou no espao, est associada presena de nitrato.

    A amnia encontrada em diversos produtos industrializados, tais como fertilizantes e produtos de

    limpeza. No ciclo do nitrognio produzida, principalmente, a partir da desaminao de compostos

    orgnicos e da hidrlise da uria. , portanto, encontrada em esgotos sanitrios, efluentes industriais e

    agropecurios e guas superficiais. Sua concentrao em guas subterrneas geralmente baixa por

    causa de sua adsoro aos slidos particulados e argila e por no ser prontamente lixivivel no solo.

    guas superficiais geralmente contm traos de nitrato, mas a concentrao dessa forma de

    nitrognio pode atingir nveis elevados em guas subterrneas, decorrente da nitrificao no solo e

    lixiviao.

    O nitrito a forma de nitrognio em estado de oxidao intermedirio entre o nitrato e a amnia,

    rapidamente conversvel e, portanto, mais raramente encontrado em amostras de gua.

    A amnia livre e as formas oxidadas de nitrognio so txicas vida aqutica e, portanto,

    constituem parmetros de avaliao de qualidade de guas superficiais (amnia livre, nitrito e nitrato), ou

    padro de lanamento de efluentes (amnia) de legislaes estaduais e federal. Por extenso, so tambm

    parmetros fundamentais de controle de qualidade da gua na aqicultura.

    No que diz respeito qualidade da gua para consumo humano, as formas de interesse para a

    sade so o nitrito e o nitrato (contribuem para a doena methemoglobinemia - sndrome do beb azul -

    comprometimento do transporte de oxignio na corrente sangnea), cujas concentraes limite como

    padro de potabilidade so, respectivamente, 1 mg L-1 e 10 mg L-1 (como N). A amnia, por problemas de

    odor, faz parte tambm do padro de potabilidade como padro de aceitao para consumo (1,5 mg L-1).

    No ambiente aqutico, o fsforo (P) pode se apresentar nas formas orgnica ou inorgnica, solvel

    (matria orgnica dissolvida ou sais de fsforo) ou particulada (biomassa ou compostos minerais). Em

    guas naturais ocorre quase sempre na forma de fosfato (PO43-).

    Em guas no poludas as concentraes so em geral baixas (0,01-0,05 mg L-1), porm as

    atividades antropognicas podem ser fontes de considerveis cargas de fsforo - esgotos sanitrios,

    dejetos de animais, detergentes, fertilizantes e pesticidas.

  • 18

    Em guas com elevados teores de Ca e pH, tendem a formar-se fosfatos de clcio que se

    precipitam no sedimento. De forma anloga, precipitados de fsforo e ferro podem formar-se em gua

    com elevados teores de OD. Em contrapartida, em ambiente redutor, o fsforo pode ser liberado em forma

    insolvel massa dgua.

    No solo, o fsforo facilmente fixado ou insolubilizado e, devido reduzida mobilidade do fosfato

    no solo, as perdas por lixiviao so desprezveis (NOVAIS e SMYTH, 1999). Portanto, em guas

    subterrneas os teores de fsforo tendem a ser baixos.

    O contedo de P total, expresso em P2O5 varia, em geral, entre 0,12 e 0,15%, raramente

    excedendo 0,5%. Normalmente, os solos de textura mais fina (argilosos) contm mais P que os arenosos.

    Em solos cidos, a fixao do fsforo pode se dar pela precipitao como fosfatos insolveis, pela adsoro

    por xidos hidratados (em ambos os casos, principalmente atravs da reao do fosfato solvel com o Fe,

    Al e Mn) ou pela reao com argilas silicatadas. Em solos alcalinos, alm da fixao por argilas, pode

    ocorrer a formao de fosfatos de clcio pouco solveis ou a precipitao sobre a superfcie de partculas

    de CaCO3 (MELLO et al. 1983).

    Em resumo, a ausncia, ou a presena em baixas concentraes, de compostos de Nitrognio e

    Fsforo um dos principais indicadores da manuteno de condies oligotrficas do aqfero, indicando

    que no est ocorrendo influncia de necrochorume.

    Bactrias do grupo coliforme

    Bactrias do grupo coliforme so tradicionalmente utilizadas como indicadores de contaminao da

    gua, podendo ser divididas nos seguintes subgrupos (BRASIL, 2008; WHO 2004).

    (i) coliformes totais - bacilos gram-negativos, aerbios ou anaerbios facultativos, no

    formadores de esporos, oxidase-negativos, capazes de desenvolver na presena de sais

    biliares ou agentes tensoativos que fermentam a lactose com produo de cido, gs e aldedo

    a 35,0 0,5oC em 24-48 horas, e que podem apresentar atividade da enzima -galactosidase.

    A maioria das bactrias do grupo coliforme pertence aos gneros Escherichia, Citrobacter,

    Klebsiella e Enterobacter, embora vrios outros gneros e espcies pertenam ao grupo;

    (ii) coliformes termotolerantes - subgrupo das bactrias do grupo coliforme que fermentam a

    lactose a 44,5 0,2oC em 24 horas; tendo como principal representante a Escherichia coli, de

    origem exclusivamente fecal;

    (iii) Escherichia Coli - bactria do grupo coliforme que fermenta a lactose e manitol, com produo

    de cido e gs a 44,5 0,2oC em 24 horas, produz indol a partir do triptofano, oxidase

    negativa, no hidrolisa a uria e apresenta atividade das enzimas -galactosidase e -

    glicoronidase, sendo considerada o mais especfico indicador de contaminao fecal recente e

    de eventual presena de organismos patognicos.

    Por inclurem gneros e espcies de vida livre (componentes da flora natural de solos, gua e

    plantas), na avaliao da qualidade de guas naturais, os coliformes totais (CT) tm valor sanitrio limitado.

    O subgrupo dos coliformes termotolerantes (CTer) (anteriormente denominados coliformes fecais) tambm

  • 19

    inclui gneros e espcies de vida livre, porm em propores menores que os CT; apesar disso, e com base

    no fato de que dentre os cerca de 106-108 CTer por 100 ml, usualmente presentes nos esgotos sanitrios

    predomina a Escherichia coli (esta sim, uma bactria de origem fecal), esses organismos ainda tm sido

    largamente utilizados como indicadores de poluio de guas naturais. Entretanto, o indicador mais preciso

    de contaminao, portanto, da presena potencial de organismos patognicos, ser sempre a E. coli (WHO,

    2004).

    Bastos et al. (2000), com base na anlise de mais de cem amostras de manancial superficial,

    registram que as densidades de CT, CTer e E.coli, tendem a apresentar-se, respectivamente, em ordem

    decrescente de 1 unidade logartmica. Em guas subterrneas (poos rasos escavados e poos profundos),

    os autores destacam que: (i) CT e CTer podem no apresentar qualquer significado sanitrio,

    principalmente quando presentes em baixas densidades; (ii) quanto mais protegida a fonte de gua, mais

    os CT e CTer mantm o atributo de indicadores de contaminao; (iii) E. coli foi detectada,

    preponderantemente, quando as densidades de CT e CTer eram mais elevadas e, ou, de ordens de

    grandeza prximas entre si.

    De acordo com Keswick et al, (1982), a utilizao dessas bactrias para o estudo do transporte de

    contaminantes em cemitrios e, em geral, nas guas subterrneas, deve ser considerada com cuidado,

    uma vez que outros contaminantes mais persistentes, como vrus, podem ser transportados no meio

    poroso para distncias maiores.

  • 20

    4. CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO

    4.1. CARACTERSTICAS GERAIS DA CIDADE E DO CEMITRIO DE TABULEIRO-MG

    O municpio de Tabuleiro est situado na Zona da Mata-MG, a cerca de 60 km de Juiz de Fora e a

    cerca de 110 km de Viosa, nas coordenadas geogrficas de 21 21 21de latitude sul e 43 14 52 de

    longitude oeste (Figura 4). O municpio ocupa uma rea de 211 km2 e conta com uma populao estimada

    em 4.061 habitantes (IBGE, 2007). A atividade principal a agropecuria, sendo os principais produtos

    agrcolas a banana, a laranja, o maracuj, a tangerina e o caf, enquanto que as principais atividades

    pecurias so as criaes de frangos e de gado de leite.

    Figura 4 - Mapa mostrando a localizao de Tabuleiro em relao Viosa e Juiz de Fora, e as principais rodovias da regio (DNIT, 2005).

    O cemitrio (Figura 5), de pequeno porte, possui uma rea de aproximadamente 15.000m2 e est

    situado na regio central da cidade, s margens da rodovia MG-133; circundado por residncias, imveis

    comerciais, posto de sade e pelo Rio Formoso (Figura 6).

    O cemitrio municipal de Tabuleiro - MG foi escolhido para realizao desta pesquisa, por se tratar

    de uma necrpole do tipo t radicional e pelo nvel fretico encontrar-se a pouca profundidade, existindo,

    portanto, a possibilidade de contaminao do aqfero por substncias qumicas, bactrias e outros

    microrganismos advindos dos lquidos humorais e dos caixes.

    Tabuleiro

    Viosa

    Juiz de Fora

  • 21

    Figura 5 - Vista parcial do cemitrio de Tabuleiro.

    Figura 6 - Vista parcial da rea de estudo, mostrando a calha do Rio Formoso e a localizao do cemitrio de Tabuleiro - MG.

    4.2. CLIMA

    Foram utilizados dados climatolgicos da estao de Coronel Pacheco para o perodo 1961 a 1990

    (INMET), localizada no municpio de mesmo nome e distante, aproximadamente, 25 km em linha reta do

    municpio de Tabuleiro sendo, portanto, considerados representativa do clima da rea de estudo.

    O mecanismo de circulao das massas de ar do Continente Americano provoca, no estado de

    Minas Gerais, dois grandes regimes climticos: o de inverno, que pode ser considerado como frio e seco e

    o de vero, considerado como quente e chuvoso.

    Cemitrio Rio Formoso

  • 22

    A massa Tropical Atlntica tem ao durante todo ano, quente e mida, penetrando no

    continente pelo leste. As temperaturas elevadas e medianas provm das intensas radiaes solares das

    latitudes tropicais e a elevada umidade relativa da intensa evaporao martima.

    A massa Polar, com origem nas altas latitudes da regio polar de superfcies geladas, fria, mida

    e ativa durante todo o ano. No inverno responsvel pelas baixas temperaturas e no vero o confronto

    com a massa Tropical Atlntica e com as correntes de Oeste, produz instabilidade, resultando em elevados

    ndices pluviomtricos dirios.

    As correntes de Oeste ocorrem em meados de primavera e outono, quando o aquecimento do

    continente gera centro de baixa presso. Em confronto com as outras massas, provoca linhas de

    instabilidade que se deslocam de oeste para leste com extrema rapidez ventos moderados e fortes,

    produzindo fortes precipitaes.

    O clima na regio de Tabuleiro do tipo CWa - Clima de inverno seco e vero chuvoso e, apesar

    de ser um clima ameno, apresenta variaes de temperatura entre 36C e 11C. O ms mais seco tem

    precipitao inferior dcima parte da precipitao do ms mais chuvoso (INMET, 2008).

    4.2.1. PRECIPITAO

    O regime pluviomtrico da regio caracteriza-se por um perodo chuvoso de seis a sete meses, de

    outubro at maro ou abril, sendo setembro e abril meses de transio e os meses de janeiro e dezembro

    os mais chuvosos.

    A precipitao mdia anual na rea de estudo gira em torno de 1.580 mm. O perodo chuvoso

    corresponde ao perodo mais quente do ano. A Figura 7 mostra os valores mdio mensais de precipitao

    total para a estao mais prxima (Coronel Pacheco), no perodo de 1961 a 1990, enquanto a Figura 8

    mostra o valor da precipitao mxima para 24 horas na mesma estao e para o mesmo perodo.

    Figura 7 - Valores de precipitao mensais medidos na estao de Coronel Pacheco, no perodo de 1961 a 1990.

  • 23

    Figura 8 - Valores de precipitao mxima em 24 horas medidos na estao de Coronel Pacheco, no perodo de 1961 a 1990.

    O trimestre mais chuvoso, novembro-dezembro-janeiro, com precipitaes entre 207,0 e 311,0

    mm, responsvel por cerca de 51% da precipitao total anual. O perodo seco prolonga-se por quatro

    meses, de maio a agosto, com uma precipitao mdia entre 21,2 e 47,0 mm, sendo o trimestre mais

    seco, junho-julho-agosto, com 21,2 a 26,7 mm de chuva.

    4.2.2. BALANO HDRICO

    Os resultados do balano hdrico aqui apresentado foram obtidos no site do INMET (Fonte). Os

    valores dos excedentes e das deficincias hdricas foram extrados dos balanos hdricos calculados pelo

    mtodo de Thornthwaite & Mather (1955), considerando como 100 mm a capacidade de reteno de gua

    no solo. A Figura 9 mostra os grficos representativos do balano hdrico da estao de Coronel Pacheco,

    constatando-se que h deficincia hdrica mdia anual entre 100 e 200 mm, ocorrida principalmente no

    perodo de maio a setembro, com mais intensidade em agosto e setembro.

    Perodo 1961 1990

    Figura 9 - Balano hdrico climatolgico da estao de Coronel Pacheco (INMET, 2008).

  • 24

    4.3. RECURSOS HDRICOS

    O cemitrio em estudo est localizado na bacia hidrogrfica do Rio Paraba do Sul, cujos principais

    afluentes mais prximos rea so os rios Pomba e Novo, ambos passando em municpios fronteirios

    Tabuleiro e de mesmo nome dos respectivos rios. Os principais rios que passam dentro do municpio de

    Tabuleiro so o Ribeiro Queira-Deus e o Rio Formoso. O Rio Formoso, que passa prximo rea do

    cemitrio, a cerca de 70 m de distncia, o principal manancial de Tabuleiro e afluente do Rio Pomba. O

    mapa da Figura 10 mostra a localizao do municpio de Tabuleiro na bacia do Rio Paraba do Sul,

    enquanto a Figura 11 mostra um detalhe da rea do municpio de Tabuleiro.

  • 25

    Figura 10 - Mapa de parte da bacia do Rio Paraba do Sul-PS2 (IGAM, 2007).

  • 26

    Figura 11 - Mapa de detalhe da bacia do Rio Paraba do Sul, mostrando o Rio Formoso, e o Cemitrio de Tabuleiro em vermelho (IGAM, 2007).

    4.4. PEDOLOGIA

    Na regio do empreendimento, de acordo com a EMBRAPA (Figura 12), ocorrem Latossolos

    Vermelho-Amarelo Distrficos, Latossolos Vermelhos Escuros, Cambissolo Hplico, Areias Quartzosas e

    Argilossolo Vermelho-Amarelo. Entretanto, especificamente na rea do cemitrio, ocorrem Gleissolos, com

    textura arenosa a argilosa, de cor cinza. Estes solos ocorrem em toda a plancie de inundao do Rio

    Formoso, parcialmente visvel na fotografia da Figura 6.

    LVA7: Latossolo VermelhoAmarelo Distrfico + PVA (Argissolo Vermelho-Amarelo) Distrfico. Figura 12 - Mapa pedolgico da regio com detalhe do Cemitrio (vermelho) (EMBRAPA, 2001).

    RioPomba

    Cemitrio RioFormoso

    Cemitrio Tabuleiro-MG

  • 27

    4.5. GEOMORFOLOGIA

    Na imagem de satlite a seguir (Figura 13) possvel observar a forma do relevo da regio da rea

    de estudo. O cemitrio est situado no vale do Rio Formoso, bem prximo sua calha, sobre a plancie de

    inundao, possuindo assim um relevo plano. Esta rea encontra-se cercada por morros, com pores com

    elevadas inclinaes, nos quais se encontra um grande nmero de nascentes. O relevo do municpio tem

    predominncia do tipo montanhoso (60%), seguido pelo plano (25%) e ondulado (15%).

    Figura 13 - Imagem de satlite mostrando o relevo da regio onde se insere o cemitrio (Google Earth-2008).

    4.6. GEOLOGIA

    A rea de estudo localiza-se em regio de ocorrncia de ortognaisses e gnaisse grantico/granitide

    com freqentes intercalaes de rochas supracrustais e de embasamento mesoarqueano (Figura 16). Na

    regio de Tabuleiro predominam dois litotipos, o anfibolito e o hornblenda-biotita gnaisse, ambos

    metamrficas de alto grau. Entretanto, na rea do cemitrio, ocorrem sedimentos quaternrios

    aluvionares, depositados pelo Rio Formoso, compostos por camadas intercaladas de areia e argila.

  • 28

    Ortognaisses e grantico/granodiortico Figura 14 - Mapa geolgico da regio de estudo (CPRM, 2007).

    Cemitrio

    Escala 1 : 5.103

  • 29

    5. MATERIAL E MTODOS

    5.1. POOS DE MONITORAMENTO

    Para o monitoramento da posio do N.A. (nvel de gua), sua variao sazonal e a coleta de

    amostras de gua para anlises de qualidade de gua, foram instalados cinco poos de monitoramento. A

    implantao dos poos seguiu a norma Construo de Poo para Captao de gua Subterrnea NBR

    12.244/NB1290 (ABNT, 1992).

    Na rea de estudo foi realizado um levantamento plani-altimtrico detalhado, com a finalidade de

    gerar um Modelo Digital de Elevao - MDE, e permitir melhor avaliao da declividade local, para que

    desta forma fossem determinados poos de montante e de jusante. Na Figura 15 observa-se o

    levantamento plani-altimtrico em AutoCAD e na Figura 16 o MDE gerado pelo levantamento, ambos

    limitados rea do cemitrio, rodovia MG-133 at o Rio Formoso. Em ambos os mapas podemos verificar

    o direcionamento preferencial do fluxo subterrneo, atravs das setas vermelhas.

    O nico poo que no est localizado dentro da rea do cemitrio o poo de nmero cinco,

    sendo o mesmo localizado dentro da rea do posto de sade do municpio.

  • 30

    440

    440

    440

    445

    445

    445

    445

    445

    442 442

    442

    442

    442

    442

    Figura 15 - Mapa topogrfico de detalhe da rea do cemitrio e seu entorno, com a localizao dos poos de monitoramento utilizados na pesquisa.

    30 15 0 30 metros

    Rio Formoso

    1 2

    3

    4 5

    Rodovia MG-133

  • 31

    Figura 16 - MDE - Modelo Digital de Elevao da regio do cemitrio.

    Os poos foram escavados percusso e neles foram inseridos tubos de PVC rgido com dimetro

    de 3, com ponteira filtrante tambm em PVC rgido, envolto em geotxtil. O espao anelar entre o furo e o

    tubo de PVC foi preenchido com areia lavada e foi feita uma laje de cimento, como proteo sanitria.

    Todos os poos foram mantidos fechados com tampa com cadeado, para evitar entrada de gua e

    vandalismo. A Tabela 4 mostra a profundidade dos cinco poos de monitoramento.

    1 2

    3

    4

    5

    Rio Formoso

  • 32

    Tabela 4 Profundidade dos poos de monitoramento. POOS DE MONITORAMENTO PROFUNDIDADE DO POO (m)

    P1 2,0 P2 3,5 P3 3,5 P4 4,5 P5 3,0

    A Figura 17 mostra um dos poos de monitoramento.

    Figura 17 - Poo de monitoramento.

    5.2. COLETA DE AMOSTRAS

    As amostras de gua subterrnea foram coletadas, nos cinco poos de monitoramento,

    mensalmente ao longo de sete campanhas, no perodo de agosto de 2007 a maro de 2008, abrangendo

    assim tanto o perodo de estiagem quanto o perodo de chuvas.

    A coleta foi realizada por meio de amostradores tipo Bailers, como mostrado na (Figura 18), aps o

    esgotamento dos poos, tambm realizado com um amostrador com tipo Bailer. Foram tomados cuidados

    com a coleta, armazenamento e transporte das amostras de gua, a fim de no provocar alteraes na

    qualidade fsica, qumica e bacteriolgica das amostras. Para tanto as amostras foram coletas com

    amostradores diferentes para cada poo e para cada campanha, de modo a evitar contaminao de um

    poo para outro. Alm disso, as guas eram acondicionadas em frascos descartveis de polietileno de 500

    mL e preservadas sob refrigerao com gelo em caixa trmica at o transporte, no mesmo dia, ao

    laboratrio.

  • 33

    Figura 18 - Processo de coleta das amostras usando bailers.

    5.3. PARMETROS ANALISADOS E MTODOS EMPREGADOS

    Em cada amostra foram analisados os seguintes parmetros: temperatura, pH, condutividade

    eltrica, nitrognio (nitrognio amoniacal e nitrato), fsforo total, sdio, potssio, clcio, mangans, DBO,

    DQO e bactrias do grupo coliforme. A determinao desses parmetros obedeceu, essencialmente, as

    disposies do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, WEF, AWWA,

    1998) de acordo com os procedimentos e tcnicas especificados na Tabela 5. A determinao de

    coliformes foi realizada com o emprego de mtodo cromognico e o meio de cultura Colilert (mtodo de

    substrato enzimtico).

    A determinao de temperatura, condutividade eltrica e pH foi realizada em campo. As anlises

    de fsforo, nitrognio, clcio, mangans, DBO, DQO e bactrias do grupo coliforme foram realizadas no

    Laboratrio de Controle de Qualidade da gua da Diviso de gua e Esgoto (DAG/UFV) e as de sdio e

    potssio no Laboratrio do Departamento de Solos (DPS/UFV).

    Alm disso, foi determinada a condutividade hidrulica do solo do cemitrio, de acordo com a

    ABNT NBR 14545:2000 - Determinao do coeficiente de permeabilidade de solos argilosos a carga

    varivel. Esta Norma prescreve os mtodos para determinao do coeficiente de permeabilidade a carga

    varivel, com a gua percolando atravs do solo em regime de escoamento laminar.

  • 34

    Figura 19 - Processo de medio de pH, temperatura e condutividade eltrica em campo.

    Tabela 5 - Mtodos e tcnicas utilizados nas anlises de qualidade da gua.

    Parmetro Tcnica analtica Equipamento / reagentes / meio de cultura Mtodo

    Temperatura - pHmetro / condutivmetro OAKTON WD-35630-69 2550 (SM)

    pH Potenciometria pHmetro / condutivmetro OAKTON WD-35630-69 4500 H+ (SM)

    Condutividade eltrica Condutimetria pHmetro / condutivmetro OAKTON WD-35630-69 2510 (SM)

    Fsforo Espectrofotometria Hach DR2000 4500 P D (SM) Nitrognio amoniacal Espectrofotometria Hach DR2000 4500 NH3 (SM) Nitrato Espectrofotometria Hach DR2000 N NO3 LR (Hach) Sdio Fotometria de chama Nitroperclrico 3500 Na (SM) Potssio Fotometria de chama Nitroperclrico 3500 K (SM) Clcio Titulometria - 3500 Ca (SM) Magnsio Titulometria - 3500 Mg (SM) DBO Titulometria - 5210 B (SM) DQO Espectrofotometria Merck TR300/Hach DR2000 5220 D (SM) Coliformes Substrato enzimtico Colilert 9223 (SM)

    Fonte: Standard Methods. APHA, AWWA, WEF (1998).

  • 35

    6. RESULTADOS

    A seguir so apresentados os resultados das sete campanhas de monitoramento realizadas entre

    os meses de agosto de 2007 a maro de 2008. Na Tabela 6 mostrado as campanhas e seus respectivos

    meses de ao, procurou-se realizar as coletas sempre prximo ao dia 10 de cada ms.

    Tabela 6 Campanhas com suas respectivas datas. CAMPANHAS DATA 1 Campanha 10/08/2007 2 Campanha 12/09/2007 3 Campanha 17/10/2007 4 Campanha 05/12/2007 5 Campanha 10/01/2008 6 Campanha 10/02/2008 7 Campanha 10/03/2008

    6.1. PRIMEIRA CAMPANHA

    A primeira campanha foi realizada no ms de agosto de 2007. Sendo os resultados apresentados

    na Tabela 7. As amostras coletadas apresentaram um alto teor de argila, que no pode ser retirada para

    no descaracterizar as amostras.

    Tabela 7 - 1a campanha, agosto de 2007.

    POOS (C) pH (S.m-1) N-NO3 (mg.L-1) DQO

    (mg.L-1) P

    (mg.L-1) Ca

    (mg.L-1) Mg

    (mg.L-1) Na

    (mg.L-1) K

    (mg.L-1) P1 23,5 7,21 265,0 3,0 60,0 0,01 21,2 5,9 13,2 110,0 P2 23,4 6,90 181,2 4,0 85,0 0,14 14,4 4,3 11,4 83,60 P3 23,4 7,03 234,0 6,0 111,0 0,03 39,7 6,2 NR NR P4 22,7 6,64 164,7 6,0 126,0 0,02 20,4 3,6 6,8 83,6 P5 21,4 7,11 1174,0 6,0 82,4 NR 31,7 2,8 81,4 70,4

    NR: no realizado.

    6.2. SEGUNDA CAMPANHA

    A segunda campanha foi realizada no ms de setembro de 2007. Sendo os resultados

    apresentados na Tabela 8. Nessa campanha tambm foi registrada a profundidade do lenol fretico nos

    postos analisados (ltima coluna da tabela); alm disso, foi coletada uma amostra-controle de um poo

    situado montante do cemitrio, denominada aqui de BRANCO.

    Tabela 8 - 2a campanha, setembro de 2007. POOS (C) pH (S.m-1) N-NO3 (mg.L-1)

    N-NH3 (mg.L-1)

    DBO (mg.L-1)

    DQO (mg.L-1)

    P (mg.L-1)

    Ca (mg.L-1)

    Mg (mg.L-1)

    Na (mg.L-1)

    K (mg.L-1) (m)

    P1 24,8 6,42 249,0 4,0 < 5,0 0 75,2 0,04 20,4 14,8 2,8 9,8 1,22 P2 24,7 6,12 203,0 3,8 < 5,0 2 27,3 0,08 18,8 11,2 2,2 5,0 3,11 P3 24,7 6,70 227,0 5,2 < 5,0 2 268,4 0,19 38,5 11,7 3,4 9,4 2,95 P4 24,7 6,05 143,1 8,0 < 5,0 1 110,5 0,05 20,4 NR 2,2 4,2 3,90 P5 23,2 7,08 1378,0 1,5 73,5 6 126,6 0,09 35,3 NR 1,6 1,4 2,38

    Branco 22,2 7,92 166,2 1,6 < 5,0 1 57,1 0,11 16 16 12,0 3,2 NR NR: no realizado.

  • 36

    6.3. TERCEIRA CAMPANHA

    A terceira campanha foi realizada no ms de outubro de 2007. Sendo os resultados apresentados

    na Tabela 9.

    Tabela 9 - 3a campanha, outubro de 2007. POOS (C) pH (S.m-1) N-NO3 (mg.L-1)

    N-NH3 (mg.L-1)

    DBO (mg.L-1)

    DQO (mg.L-1)

    P (mg.L-1)

    Ca (mg.L-1)

    Mg (mg.L-1)

    Na (mg.L-1)

    K (mg.L-1)

    P1 25,6 6,70 282,0 4,4 < 5,0 3 27,3 0,06 32,9 0,9 10,4 5,2 P2 24,3 6,05 197,0 3,1 < 5,0 NR 57,1 0,09 23,2 NR 5,2 2,8 P3 24,7 6,63 214,0 2,4 < 5,0 3 27,3 0,10 38,1 NR 1,8 0,8 P4 23,8 5,75 117,0 7,6 < 5,0 2 27,3 0,06 15,2 NR 2,0 0,8 P5 23,9 6,88 984,0 7,4 NR 10 110,5 0,09 60,9 5,2 15,6 5,8

    NR: no realizado.

    6.4. QUARTA CAMPANHA

    A quarta campanha foi realizada no ms de dezembro de 2007, marcada pelo incio do perodo de

    chuvas. Nessa campanha tiveram incio as anlises bacteriolgicas. Sendo os resultados apresentados na

    Tabela 10.

    Tabela 10 - 4a campanha, dezembro de 2007. POOS (C) pH (S.m-1) N-NO3 (mg.L-1)

    N-NH3 (mg.L-1)

    DBO (mg.L-1)

    P (mg.L-1)

    Ca (mg.L-1)

    Mg (mg.L-1)

    Na (mg.L-1)

    K (mg.L-1)

    Coliformes totais (NMP por 100mL)

    E coli (NMP por 100mL)

    P1 25,4 6,74 250,0 3,3 < 5,0 3 0,02 24,8 5,3 10,25 4,00 < 1,0 < 1,0 P2 24,2 6,35 184,0 4,8 < 5,0 3 0,03 15,6 1,2 8,75 3,75 < 1,0 < 1,0 P3 24,4 6,82 217,0 4,6 < 5,0 6 0,03 34,9 1,0 3,25 0,75 < 1,0 < 1,0 P4 24,0 6,00 117,5 6,1 < 5,0 5 0,01 13,6 0,5 4,50 0,50 2,0 < 1,0 P5 24,4 6,65 860,0 0,5 45,74 2 0,11 44,5 17,0 21,5 7,00 1,011 x 103 7,56 x 102

    6.5. QUINTA CAMPANHA

    A quinta campanha foi realizada no ms de janeiro de 2008. Sendo os resultados apresentados na

    Tabela 11.

    Tabela 11 - 5a campanha, janeiro de 2008. POOS (C) pH (S.m-1) N-NO3 (mg.L-1)

    N-NH3 (mg.L-1)

    DQO (mg.L-1)

    P (mg.L-1)

    Ca (mg.L-1)

    Mg (mg.L-1)

    Na (mg.L-1)

    K (mg.L-1)

    Coliformes totais (NMP por 100mL)

    E coli (NMP por 100mL)

    P1 25,1 6,69 244,0 4,8 < 5,0 110,7 0,01 16,4 4,1 10,40 3,20 < 1,0 < 1,0 P2 25,3 6,65 162,0 4,3 < 5,0 111,3 0,03 12,4 0,5 5,20 2,20 < 1,0 < 1,0 P3 25,8 6,85 231,0 6,2 < 5,0 111,3 0,03 36,1 1,5 3,40 0,40 < 1,0 < 1,0 P4 25,0 6,05 162,0 9,2 < 5,0 110,4 0,01 16,8 1,5 4,80 0,60 2,28 x 101 < 1,0 P5 24,5 6,81 768,0 0,6 68,88 109,4 0,17 38,5 4,4 14,60 4,20 2,495 x 102 4,8 x 101

    6.6. SEXTA CAMPANHA

    A sexta campanha foi realizada no ms de fevereiro de 2008. Nessa campanha, assim como na

    segunda, foi registrada a altura do lenol fretico nos poos analisados, alm da coletada de amostra no

    poo-controle BRANCO. Sendo os resultados apresentados na Tabela 12.

  • 37

    Tabela 12 - 6a campanha, fevereiro de 2008. POOS (C) pH (S.m-1) N-NO3 (mg.L-1)

    N-NH3 (mg.L-1)

    DQO (mg.L-1)

    P (mg.L-1)

    Ca (mg.L-1)

    Mg (mg.L-1)

    Coliformes totais (NMP por 100mL)

    E coli (NMP por 100mL) (m)

    P1 24,8 6,39 238,0 5,2 < 5,0 110,4 0,01 12,0 1,0 1,0 < 1,0 0,68 P2 25,4 6,35 156,3 4,1 < 5,0 107,8 0,02 8,4 1,9 < 1,0 < 1,0 2,19 P3 25,6 6,56 226,0 4,9 < 5,0 110,7 0,11 29,7 1,0 1,0 < 1,0 2,42 P4 25,2 5,68 153,1 9,8 < 5,0 110,0 0,01 9,2 0,2 1,0 < 1,0 3,28 P5 24,7 6,78 881,0 0,3 33,3 98,0 0,09 44,9 5,7 2,82 x 101 7,4 1,60

    BRANCO 30,8 6,45 154,3 0,4 < 5,0 109,8 0,01 11,2 1,7 NR NR NR NR: no realizado.

    6.7. SEXTIMA CAMPANHA

    A stima campanha foi realizada no ms de maro de 2008. Sendo os resultados apresentados na

    Tabela 13.

    Tabela 13 - 7a campanha, maro de 2008.

    POOS N-NO3 (mg.L-1) DBO

    (mg.L-1) DQO

    (mg.L-1) P

    (mg.L-1) Ca

    (mg.L-1) Mg

    (mg.L-1) P1 4,9 2 108,5 0,07 17,6 3,4 P2 3,8 1 108,7 0,02 11,6 0,7 P3 5,0 3 109,4 0,13 33,7 0,5 P4 9,8 2 109,6 0,03 14,8 0,2 P5 0,5 8 106,3 0,27 40,1 3,2

    BRANCO 0,6 3 109,8 0 16,0 1,0

    Na sexta campanha, foram realizados dois furos de sondagem dentro da rea do cemitrio para a

    realizao do ensaio de condutividade hidrulica do solo saturado (permeabilidade) a 1,5; 2,5 e 3,5 metros

    de profundidade. A Figura 20 apresenta os resultados da permeabilidade 01 (1,5 m) e permeabilidade 02

    (2,5 m); a Figura 21 o da permeabilidade 03 (3,5 m).

    Figura 20 Condutividade hidrulica do solo saturado de profundidades 1,5m e 2,5m em furos de sondagem no cemitrio de Tabuleiro - MG, fevereiro de 2008.

  • 38

    Figura 21 - Condutividade hidrulica do solo saturado de profundidade 3,5m em furo de sondagem no cemitrio de Tabuleiro - MG, fevereiro de 2008.

    Na Figura 20 pode ser observado um material com maior concentrao de argila devido sua menor

    capacidade de condutividade hidrulica e, portanto mais impermevel que o material da Figura 21.

    Observa-se ento que na rea do cemitrio o solo vai tornando-se mais permevel com a profundidade, o

    que pode ser explicado pela elevada heterogeneidade granulomtrica comum neste tipo de depsito ali

    predominante, por se tratar de uma bacia aluvionar.

  • 39

    7. DISCUSSO

    A fim de facilitar a discusso, os resultados de qualidade da gua apresentados no item anterior

    so reorganizados nas Figuras 22 a 36, por parmetro, poos e campanhas de monitoramento.

    Antecedendo a discusso sobre a qualidade da gua nos poos de monitoramento, apresentam-se

    na Figura 22 as informaes sobre o nvel do lenol fretico nos referidos poos.

    Verifica-se que na segunda campanha (setembro de 2007), quando foi medida pela primeira vez a

    profundidade do lenol fretico, o nvel da gua se encontrava muito prximo da superfcie do terreno. Na

    sexta campanha (fevereiro de 2008), o nvel do lenol fretico estava cerca de 70 cm acima da cota

    medida na primeira determinao. Isso comprova a pequena distncia entre o NA e o fundo das covas, e

    que a mesma varia consideravelmente ao longo do ano hidrolgico.

    Figura 22 - Profundidade do lenol fretico superfcie do terreno nos poos de monitoramento no cemitrio de Tabuleiro - MG, setembro de 2007 (2 campanha) e fevereiro de 2008 (6 campanha).

    Os valores de temperatura da gua nos poos de monitoramento variaram entre 21,4 a 25,4C,

    (Figura 23), exceto no poo-controle (branco) na sexta campanha, onde foi registrada temperatura de

    30,8C. Embora se perceba ligeira tendncia de elevao de temperatura da gua nos meses mais quentes

    (agosto 2007 a maro de 2008), os resultados so consistentes com o entendimento de que a amplitude

    trmica anual das guas subterrneas, em geral, baixa (FEITOSA e MANOEL FILHO, 1997)

  • 40

    Figura 23 - Temperatura da gua nos poos de monitoramento ao longo das campanhas de amostragem, Tabuleiro - MG, agosto de 2007 a fevereiro de 2008.

    Na maioria dos poos e ao longo das campanhas de monitoramento, os valores de pH da gua

    mantiveram-se em torno de 6,0 a 7,0, no diferindo, ao menos na 6 campanha, dos valores encontrados

    no poo-controle, fora da rea do cemitrio; na 2 campanha a gua desse poo apresentou pH mais

    elevado (Figura 24). Em resumo, os dados de pH no permitem maiores inferncias sobre eventuais

    impactos do cemitrio sobre o aqufero.

    Figura 24 - pH da gua nos poos de monitoramento ao longo das campanhas de amostragem, Tabuleiro - MG, agosto de 2007 a fevereiro de 2008.

    Em contrapartida, os dados de condutividade eltrica (CE) claramente indicam tais impactos,

    notadamente no poo 5, localizado a jusante do cemitrio, na direo do fluxo superficial e subterrneo

  • 41

    (Figura 25). Nos poos 1 a 4, assim como no poo-controle (branco), a CE variou em torno de 120 a 280

    S cm-1, valores que denotam baixa salinidade da gua. No poo 5 a CE esteve bem mais elevada,

    variando em torno de 770 a 1380 S cm-1, valores estes tpicos de guas salinas ou guas residurias

    (RHOADES et al., 2000; METCALF e EDDY, 2004). No se notam, entretanto, efeitos ntidos da poca de

    chuvas.

    A condutividade eltrica da gua representa a atividade inica (simplificadamente, concentrao)

    em funo da presena de substncias dissolvidas, que se dissociam em ctions e nions. Note-se que os

    valores mais elevados de CE no poo 5 parecem estar associados s concentraes, tambm mais elevadas

    de amnia, clcio, magnsio e sdio (Figuras 26, 29,30 e 31); o teor de amnia foi ainda maior do que a

    normalmente encontrada em esgotos municipais (von Sperling e Chernicharo, 2005). Estes resultados

    indicam impactos evidentes do cemitrio no aqufero local.

    Assumindo as relaes entre CE e SDT citadas no item 3.5.2, poder-se-ia estimar teores de SDT da

    ordem de 490 e 880 mg L-1, valores um pouco elevados mas ainda abaixo do limite estabelecido como

    padro de aceitao para consumo humano (1.000 mg L-1).

    Figura 25 - Condutividade Eltrica da gua nos poos de monitoramento ao longo das campanhas de amostragem, Tabuleiro - MG, agosto de 2007 a fevereiro de 2008.

    Nitrognio amoniacal (amnia) somente foi detectado no poo 5, tendo permanecido em todas as

    demais amostras abaixo do limite de deteco do mtodo utilizado (5 mg L-1) (Figura 26). Os valores

    detectados no poo 5 so elevados, tpicos, por exemplo, do encontrado em esgotos sanitrios (Von

    SPERLING, 2005) e muito acima do estabelecido como padro de aceitao para consumo (1,5 mg L-1).

    Esses resultados sinalizam, portanto, ntidos impac