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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP KEIJI NAKAMURA CONJUNTO DOS NÚMEROS IRRACIONAIS: A TRAJETÓRIA DE UM CONTEÚDO NÃO INCORPORADO ÀS PRÁTICAS ESCOLARES MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA São Paulo 2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP

KEIJI NAKAMURA

CONJUNTO DOS NÚMEROS IRRACIONAIS: A TRAJETÓRIA DE

UM CONTEÚDO NÃO INCORPORADO ÀS PRÁTICAS

ESCOLARES

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA

São Paulo

2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP

KEIJI NAKAMURA

CONJUNTO DOS NÚMEROS IRRACIONAIS: A TRAJETÓRIA DE

UM CONTEÚDO NÃO INCORPORADO ÀS PRÁTICAS

ESCOLARES

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como

exigência parcial para obtenção do título de MESTRE

PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA, sob

a orientação da Prof(a). Dr(a). Ana Lúcia Manrique.

São Paulo

2008

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Banca Examinadora

________________________________________

________________________________________

________________________________________

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta

Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura: _______________________________________ Local e Data: ______________

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Este Trabalho é dedicado a todos aqueles que

tiveram a sorte de encontrar nesta linguagem

da ciência um número chamado irracional.

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AGRADECIMENTOS

Deus, família, Professor e amigo existem.

Pela humildade, competência, paciência e apoio decisivo, a minha

gratidão à Professora Doutora AAna Lúcia Manrique, orientadora deste

trabalho. Lembrarei com carinho dos momentos de orientação, muito

obrigado.

Ao Professor Doutor BBendito Antonio da Silva, que aceitou participar

da banca examinadora deste trabalho e, assim trouxe observações e

sugestões pertinentes para a finalização do estudo. A cada cruzamento

na PUC, um incentivo, obrigado por tudo.

Ao Professor Doutor AAntonio Sérgio Cobianchi que aceitou participar

na Qualificação deste trabalho e, assim trouxe observações, sugestões,

indicações bibliográficas e contribuições de forma valiosas para a

conclusão deste trabalho. A cada momento de sua preocupação no meu

trabalho, fluíram novas idéias. Jamais vou ser suficientemente

agradecido, muito obrigado mesmo.

Aos Professores Doutores: AAna Paula Jahn, Célia Maria Carolino

Pires, Cileda de Queiroz e Silva Coutinho, Laurizete Ferragut Passos,

Leila Zardo Puga, Saddo Ag Almouloud, Sandra Maria Pinto

Magina, Sônia Pitta Coelho, Vincenzo Bongiovanni, muito obrigado.

Aos colegas Professores: JJoão Batista de Andrade, Mirtes Fátima

Pasini, Ângela Maria dos Santos. A primeira viagem era um sonho de

Euclides. A segunda viagem era o sonho de Descartes. Outras viagens

eram o sonho de Nicolas Bourbaki. Enfim chegou o sonho da

Professora Ângela, Professor João Batista e da Professora Mirtes. F.

Pasini.

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A SScelisul pela ajuda financeira nesse Mestrado.

A todos os funcionários do Programa, em especial ao Francisco

Olímpio da Silva, Secretário do Programa de Estudo de Pós-

Graduação em Educação Matemática da PUC/SP que sempre se

dispôs a ajudar quando necessário.

A Professora HHeleni Sousa pela colaboração na revisão dos textos

matemáticos.

A Professora EElizabeth Kozikoski pela colaboração no abstract.

A Professora SSimone da Silva Dias Caetano pela colaboração,

incentivo e apoio moral.

A minha família: TTeresina (esposa), CClaudia (filha) e RRicardo

Nakamura (filho) pela compreensão e carinho.

A todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para a

realização deste trabalho.

O Autor

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RESUMO

O objetivo principal deste trabalho é investigar as dificuldades que surgiram ao longo da

história para o desenvolvimento do conteúdo matemático números irracionais e quais a

abordagens estão presentes nos livros didáticos. O assunto números irracionais é

considerado importante na escolaridade básica de Matemática e apresenta-se para os

alunos, nos livros didáticos, como um obstáculo a sua plena compreensão. Um dos

aspectos que pode justificar tal situação é a complexidade com que esse assunto se

manifesta. No entanto, o número irracional pode ser trabalhado em um processo

histórico-epistemológico, fazendo-se um estudo de como se tem processado a

transformação de objeto científico a objeto de ensino em uma organização praxeológica.

Essa organização é o resultado final de uma atividade matemática que apresenta dois

aspectos inseparáveis: a prática matemática, que consta de tarefas e técnicas, e o

discurso fundamentado sobre essa prática, que é constituída por tecnologias e teorias.

Nossas análises apontam que existem fatores os quais interferem no processo de ensino-

aprendizagem de números irracionais relacionados com a organização praxeológica

desse conteúdo nas coleções dos livros didáticos dos anos 70, 90 e 2000. A prova da

irracionalidade com abordagem tradicional euclidiana serviu de parâmetro para avaliar o

grau de dificuldade e analisar o tipo de tarefas, técnicas e o discurso teórico-tecnológico

para a demonstração do número irracional. A organização aponta que a maior dificuldade

está no sistema axiomático que deve satisfazer a duas condições: ser consistente, quer

dizer, os postulados não podem contradizer uns aos outros por si mesmos ou por suas

conseqüências; ser completo e suficiente, no sentido de se ter condições para provar

verdadeiras ou falsas todas proposições formuladas no contexto da teoria em questão. A

prova da irracionalidade em uma abordagem moderna dedekindiana analisada pelo tipo

de tarefas, técnicas e pelo discurso teórico-tecnológico amplia o domínio numérico,

juntando aos números racionais uma nova categoria de números irracionais que vêm

preencher as lacunas da reta numérica. Construir técnicas para modificar e ampliar o

conceito de irracionalidade de outros números é uma abordagem que explora números

na forma a+b 2 , com a e b racionais, e que contribui para a superação da idéia de que

há poucos números irracionais.

Palavras-Chave: números irracionais; organização praxeológica; análise de livro

didático; estudo histórico-epistemológico.

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ABSTRACT

The main objective of this work is to investigate the difficulties that appeared along the

history for the development of the mathematical content irrational numbers and which are

the approaches present in the text books. The subject irrational numbers is considered

important in the basic education of Mathematics and it comes for the students, in the text

books, as an obstacle to its full understanding. One of the aspects that can justify such

situation is the complexity that the subject shows. However, the irrational number can be

worked in a historical-epistemological process, by doing a study of how the transformation

of scientific object to an object of teaching in a praxeological organization has been

processing. That organization is the final result of a mathematical activity that presents

two inseparable aspects: the mathematical practice, that consists of tasks and techniques,

and the speech based on that practice that is constituted by technologies and theories.

Our analyses point that factors exist which interfere in the process of teaching-learning of

irrational numbers related with the praxeological organization of that content in the

collections of the text books of the 70s, 90s and 2000. The proof of the irrationality with

traditional Euclidian approach served as parameter to evaluate the degree of difficulty and

to analyze the type of tasks, techniques and the theoretical-technological speech for the

demonstration of the irrational number. The organization points that the most difficulty is in

the axiomatic system that should satisfy to two conditions: to be solid, it means, the

postulates cannot contradict each other for themselves or for their consequences; to be

complete and enough, in the sense of having conditions to prove true or false all

propositions formulated in the context of the theory in subject. The proof of the irrationality

in a modern Dedekind approach analyzed by the type of tasks, techniques and for the

theoretical-technological speech enlarges the numeric domain, joining to the rational

numbers a new category of irrational numbers that fill out the gaps of the numeric straight

line. To build techniques to modify and to enlarge the concept of irrationality of other

numbers is an approach that explores numbers in the form a+b 2, with rational a and b,

and that contributes to overcome the idea that there are few irrational numbers.

Keywords: irrational numbers; organization praxeological; text book analysis; I study

historical-epistemological.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 ............................................................................................................ 13

Apresentação do trabalho ................................................................................ 13

1.1. Introdução .................................................................................................... 13

1.2. Questão de Pesquisa e Objetivo .................................................................. 16

1.3. Desenvolvimento do Estudo ........................................................................ 17

CAPÍTULO 2 ............................................................................................................ 19

Considerações Históricas e Epistemológicas do número irracional ........... 19

2.1. Antigüidade .................................................................................................. 22

2.1.1. A Matemática do Antigo Egito ............................................................ 22

2.1.2. A Matemática da Babilônia ................................................................. 31

2.1.3. A Matemática Grega Antiga ............................................................... 36

2.1.3.a. Pitágoras ................................................................................ 42

2.1.3.b. Euclides ................................................................................. 45

2.1.3.c. Eudoxo ................................................................................... 46

2.1.3.d. Os Paradoxos de Zenão ........................................................ 48

2.1.3.e. Arquimedes ............................................................................ 50

2.2. Renascimento da Ciência ............................................................................ 55

2.2.1. Galileu ................................................................................................ 55

2.2.2. Cavalieri ............................................................................................. 57

2.3. Idade Moderna ............................................................................................. 58

2.3.1. Descartes ........................................................................................... 58

2.4. Século dezenove .......................................................................................... 59

2.4.1. Bolzano .............................................................................................. 59

2.4.2. Cauchy ............................................................................................... 60

2.4.3. Weierstrass ........................................................................................ 61

2.4.4. Cantor ................................................................................................. 62

2.4.5. Dedekind ............................................................................................ 66

2.5. Considerações ............................................................................................ 71

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CAPÍTULO 3 ............................................................................................................ 73

Análise das Reformas Curriculares e dos Livros Didáticos ......................... 73

3.1. Reformas do Currículo de Matemática ........................................................ 75

3.1.1. Guias Curriculares de Matemática – 1ºgrau – 1975 .......................... 75

3.1.2. Proposta Curricular para o Ensino de Matemática – Ensino

Fundamental ....................................................................................... 81

3.1.3. Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática – 5ª a 8ª série

do Ensino fundamental ....................................................................... 83

3.2. Livros Didáticos ............................................................................................ 87

3.2.1. Livros Didáticos dos Anos 70 ............................................................. 88

3.2.2. Livros Didáticos dos Anos 90 ............................................................. 91

3.2.3. Livros Didáticos dos Anos 2000 ......................................................... 93

CAPÍTULO 4 ............................................................................................................ 97

Organização Praxeológica ............................................................................... 97

4.1. Critérios para Análise ................................................................................... 98

4.2. Quadro Sinopse da Aderência às Situações ............................................... 110

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 115

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 119

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FIGURAS E QUADROS

Figura 2.1. Marcos na evolução de número irracional ............................................... 21Figura 2.1.1.1. Tronco de Pirâmide ............................................................................ 23Figura 2.1.1.2. Conjectura sobre a origem da regra de Ahmes ................................. 24Figura 2.1.1.3. Círculo de diâmetro igual a 9 ............................................................. 24Figura 2.1.1.4. Quadrado 8x8 .................................................................................... 24Figura 2.1.1.5. A sua representação simbólica .......................................................... 25Figura 2.1.1.6. Um ponto C divide o segmento AB em duas partes Desiguais Parte

Maior e Parte Menor ........................................................................... 25

Figura 2.1.1.7. A divisão áurea de um segmento(I) ................................................... 26Figura 2.1.1.8. A divisão áurea de um segmento ou divisão em média e extrema

Razão (II) ............................................................................................ 26

Figura 2.1.1.9. A Pirâmide de base quadrada ........................................................... 29Figura 2.1.1.10. Pentágono regular ........................................................................... 29Figura 2.1.2.1. A diagonal de um quadrado de um pequeno tablete da Babilônia

antiga .................................................................................................. 33

Figura 2.1.3.1. Triângulo retângulo ............................................................................ 37Figura 2.1.3.2. Do triângulo retângulo tem se a área do semicírculo de raio c é a

Soma das áreas dos semicírculos de raios a e b ............................... 38

Figura 2.1.3.3. A área da Lua hachurada .................................................................. 38Figura 2.1.3. 4. A área (L) da lua igual a área do triângulo de catetos a ................... 39Figura 2.1.3.5. O esquema de quatro componentes chamado Quadrivium .............. 40Figura 2.1.3.6. Antiga civilização da Grécia e seus marcos das descobertas ........... 42Figura 2.1.3.A.1. Triângulo retângulo (a, b e c) ......................................................... 44Figura 2.1.3.A.2. Esquema do quadrado de lado (a+b) ............................................. 44Figura 2.1.3.A.3. Demonstração do Teorema de Pitágoras ....................................... 44Figura 2.1.3.E.1. Polígono regular inscrito ................................................................. 51Figura 2.1.3.E.2. Polígono regular circunscrito .......................................................... 51

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Quadro resumo 2.1.3.E.3. A diferença entre polígono circunscrito e inscrito ............ 53Figura 2.4.4.2. A cardinalidade dos pontos do quadrado e do segmento .................. 66Figura 2.4.5.1. Exemplo um dos Cortes de Dedekind(I) ............................................ 68Figura 2.4.5.2. Exemplo dois dos Cortes de Dedekind(II) ......................................... 69Figura 2.4.5.3. Exemplo três dos Cortes de Dedekind(III) ......................................... 69Figura 3.a. Transposição didática .............................................................................. 74Figura 3.1.1.1. Guias Curriculares – Conjunto dos números irracionais .................... 78Figura 3.1.1.2. Subsídios para implementação do Guia Curricular de Matemática -

Álgebra para o 1º grau – 5ª a 8ª série - informação para o professor 79

Figura 3.1.1.3. Subsídios do Guia Curricular de matemática – Álgebra de 1º grau .. 80Figura 3.2.1.1. Curso moderno para o ensino de 1º grau .......................................... 90Quadro: resumo 1. Síntese das análises realizadas por situação nos Documentos

Oficiais ......................................................................................... 111

Quadro resumo 2. Síntese das análises realizadas por situação nas coleções de

Livros didáticos ............................................................................ 112

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CAPÍTULO 1

Apresentação do Trabalho

O avesso de um bordado não é tão bonito, mas é mais esclarecedor, pois deixa ver como são dados os pontos.

(SCHOPENHAEUER apud BRAGA, 2006, p. 5).

1.1. Introdução

No ápice do Movimento da Matemática Moderna (MMM) no Brasil, nos

anos 70, uma de nossas preocupações foi a de buscar caminhos que não

acarretassem prejuízos à aprendizagem da Matemática de nossos alunos, fato

que nos levou diversos questionamentos, entre eles:

Com que objetivo ensinamos o conteúdo números irracionais?

Para que servem os números irracionais?

Onde vamos usar os números irracionais?

Para que estudá-los?

Afinal, após ouvir uma composição de Mozart, admirar um quadro de Da Vinci ou ler um soneto de Camões, ninguém pergunta: para que serve isso? (GARBI, 2007, p. 5).

No dia-a-dia, jamais nos deparamos com uma situação onde precisamos

expressar resultados de medições com números possuindo infinitas casas

decimais. Na prática, sempre que necessitamos dessas medidas, precisamos

apenas de aproximações.

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As nossas respostas como professores para essas e outras perguntas

continuam limitadas, pois ainda não sabemos realmente o que devemos fazer

para melhorar o processo de ensino e aprendizagem desse conteúdo e, por isso,

aparentes dificuldades dos alunos do Ensino Fundamental relacionadas a alguns

conceitos e aplicação de números irracionais.

Refletindo sobre o processo de ensino implementado para esses números,

chegamos a seguinte hipótese: os obstáculos podem ser encontrados na própria

evolução histórica, principalmente na passagem do conjunto dos números

Racionais para os Reais.

Ao analisar a prática do professor em sala de aula, verificamos que

estudos sobre os saberes desse profissional parecem revelar baixos níveis de

compreensão e domínio do conhecimento matemático a ser ensinado. De acordo

com PAIS (2002), neste caso com o avanço das idéias científicas, certos

conhecimentos quando defendidos cegamente por aqueles que o detêm,

impedem a aproximação de novo saber.

A partir dessas observações, ao tentarmos refletir sobre nossa prática,

novas preocupações vimos-nos envoltos em atendemos aos interesses dos

alunos?

Conseguimos identificar as dificuldades enfrentadas pelos alunos para

aprender a Matemática?

Resolvemos, então, buscar respostas para nossos questionamentos e

fomos para o Mestrado Profissional em Ensino de Matemática na PUC-SP. De

acordo com o Histórico do Programa (PUC/SP, 2005).

A área de Educação Matemática inclui pesquisas sobre as questões de ensino e de aprendizagem e também sobre o desenvolvimento profissional do professor em sua prática. A vertente de Mestrado Profissionalizante em Ensino pode atender aos anseios de formação de professores que buscam novas formas de atualização, o que nem sempre significa de desenvolver pesquisas acadêmicas. As alternativas de formação continuada comumente oferecidas aos professores dos ensinos fundamentais e médios – cursos de pequena duração, desarticulados de sua prática – não têm produzido resultados positivos. Nesse contexto, o Mestrado Profissionalizante em Ensino, organizado com currículo que contemple sua área específica de conhecimento e sua formação didática – pedagógica, foi considerada uma alternativa potencialmente interessante.

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O Mestrado Profissionalizante em Ensino, de acordo com as normas da CAPES, tem caráter de preparação profissional na área docente, focalizando o ensino, a aprendizagem, o currículo, a escola e o sistema escolar. Deve também contribuir efetivamente para a evolução do sistema de ensino, seja pela ação direta em sala de aula, seja pela ação em espaços educativos em que a atuação do professor é fundamental: escola, comunidade, associações científicas etc.

O presente trabalho é o resultado de nossa busca. Procuramos fatores

predominantes para compreendermos as dificuldades que muitos professores e

alunos têm na compreensão dos números irracionais.

Em 2005, matriculamos-nos no Programa de Mestrado Profissional da

Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP de acordo com a linha de Pesquisas: A

Matemática na Estrutura e Formação de Professores, cujo objetivo é estudo do

papel que a Matemática desempenha na estrutura Curricular do ensino elementar

e médio e o estudo sobre a reorientação da Formação do Professor de

Matemática com ênfase nas pesquisas sobre as representações dos professores

em sua prática e sobre as relações professor-aluno-saber matemático.

O Tema do nosso trabalho é o Conjunto dos números Irracionais: a

trajetória de um conteúdo não incorporado às práticas escolares, já que os

números Irracionais são um dos mais intrigantes temas da matemática elementar,

sendo ainda hoje assunto de pesquisa.

O objetivo principal deste trabalho é investigar as dificuldades que surgiram

ao longo da história para o desenvolvimento do conteúdo matemático números

Irracionais e quais abordagens estão presentes nos livros didáticos.

Esperamos que o produto final de nosso trabalho seja significativo para os

professores, ao colocá-los em contato com essa pesquisa, conseqüentemente

aos alunos. Assim, o nosso propósito ao apresentarmos este trabalho é contribuir

para a formação do professores de matemática, educadores e educandos e levá-

los a outros ramos de conhecimentos.

De acordo com Sacristán (1998, p. 37), as teorias são vários modelos que

costumam influir na construção de um currículo antes de ser interpretado pela

comunidade de professores. A primeira conseqüência, tanto para o professor

15

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quanto para o aluno, é que o currículo não reflete a realidade em sua verdadeira

complexidade.

A organização Curricular deve criar um ambiente escolar que possa ser caracterizado como espaço em que, além de buscar dados e informações, as pessoas tenham possibilidade de construir seu conhecimento e desenvolver sua inteligência com suas múltiplas competências. O processo de construção de um currículo assim concebido só pode ser um processo em constante construção e renegociação, que leve em conta o princípio de metamorfose das redes. (PIRES, 2000, p. 203-4)

Ao refletirmos sobre nossas experiências como professores, percebemos

que, com o decorrer dos anos, as perguntas mudaram, mas as dúvidas persistem

nas cabeças dos professores de matemática.

Nas décadas de 70 a 90, os questionamentos dos professores e alunos

eram: os por quês, para que, onde vamos usar isso?

Atualmente, os professores e alunos continuam com perguntas: por que

temos dificuldades de ensinar e aprender?

1.2. Questão de pesquisa e objetivo

Considerando essa reflexão inicial, propomos então a nossa questão:

Que dificuldades surgiram ao longo da história de Matemática para o

desenvolvimento do conteúdo matemático números irracionais, e quais

abordagens estão presentes nos livros didáticos?

Logicamente, a consideração deste trabalho não é suficiente e nem temos

a pretensão de esgotar o assunto, muito ao contrário, destina-se apenas

despertar a atenção sobre o tema Números Irracionais. Acreditamos também que

uma nova abordagem do Conjunto dos números irracionais deve ser construída

especificamente voltada para a formação de professores e que tal abordagem

teria que partir fundamentalmente da problemática da apresentação conceitual e

uma visão global dos conjuntos numéricos que efetivamente instrumentalize para

o ensino.

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1.3. Desenvolvimento do Estudo

No capítulo dois faremos uma análise histórico-epistemológica dos

números irracionais, na qual constatamos que a sua evolução seguiu um caminho

muito longo e com muita dificuldade, sendo que a verificação da irracionalidade

de um dado número só é possível, naturalmente, no âmbito da própria

matemática. Nenhuma verificação empírica, nenhuma medição de grandezas, por

mais precisa que seja, provará que uma medida tem valor irracional. Os trabalhos

desenvolvidos nas Antigas civilizações do Egito, Babilônia e Grécia através dos

estudiosos como Pitágoras (586 a.C.-500 a.C.), Euclides, Eudoxo (408 a.C.-355

a.C.), Zenão e Arquimedes (287 a.C.-212 a.C.); e dos estudos de Galileu (1564-

1642), Descartes (1596-1650), Cavalieri (1598-1647), Bolzano (1781-1848),

Cauchy (1789-1857), Weiersttrass (1815-1897), Cantor (1845-1918) até chegar a

Dedekind (1831-1916), ocupam posições de destaque nessa caminhada,

separando os números Racionais em duas classes A e B para determinação do

número Irracional.

No capítulo três faremos uma investigação da evolução do conceito de

números irracionais nos livros didáticos do Ensino Fundamental e nas Reformas

do ensino mais recentes.

No capítulo quatro apresentamos uma análise dos livros didáticos,

utilizando a noção de Organização Praxeológica proposta por Chevallard (1995),

presente em sua Teoria Antropológica do Didático, que situa a atividade

matemática no conjunto das atividades humanas e das instituições sociais.

E terminamos com nossas considerações finais.

17

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CAPÍTULO 2

Considerações Históricas e Epistemológicas do Número

Irracional

Todo professor do Ensino Fundamental, Médio e Universitário deveria conhecer a história da Matemática. Há muitas razões para isto, mas ser um excelente guia

pedagógico é talvez a mais importante. (MORRIS KLINE apud CARVALHO, 1984, p. 13)

Neste capítulo temos como objetivo fazer uma viagem panorâmica histórica

que nos auxilie na reflexão a respeito da importância do tema números irracionais

como objeto de estudo.

A compreensão epistemológica da evolução do conhecimento do número

Irracional, considerando sua motivação filosófica e social tem sido um recurso

bastante válido, nos auxiliando a entender a coerência e estrutura do

conhecimento do aluno.

STRUIK aponta seis aspectos que tornam o estudo da história da

Matemática atrativo:

1) ele satisfaz o desejo de muitos de nós de sabermos como as coisas em

matemática se originaram e se desenvolveram;

2) o estudo de autores clássicos pode oferecer uma grande satisfação em

si mesmo, mas também pode ser um auxiliar no ensino e na pesquisa;

3) ele ajuda a entender nossa herança cultural, não somente através das

aplicações que a matemática teve e ainda tem na astronomia, na física

e outras ciências, mas também devido às relações que ela teve e ainda

tem com campos variados como a arte, a religião,a filosofia e as

técnicas artesanais;

19

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4) ele pode proporcionar um campo onde o especialista em matemática e

os outros campos da ciência podem encontrar interesse comum;

5) ele oferece um pano de fundo para a compreensão das tendências em

educação matemática no passado e no presente;

6) podemos ilustrar ou tornar mais interessante o seu ensino e

conversação com historietas. (STRUIK, 1985, p. 213 apud MATEUS,

2007, p. 61)

Segundo D’Ambrósio (1999), a introdução da História da Matemática para

o ensino pode ser considerada elemento motivador e, mesmo, caminho para

esclarecer idéias Matemáticas, incluindo-as em um Movimento Humanista.

Para conhecermos melhor a história dos marcos da evolução do conceito

de número irracional, começaremos a estudar as Civilizações Antigas: Egito,

Babilônia e Grécia. Parece que os gregos nunca chegaram a ter uma concepção

clara do que nós chamamos hoje de número irracional. Para tentar entender por

quê os gregos não conseguiram explicar as contradições geradas pelo fenômeno

da incomensurabilidade, por isso estudaremos alguns estudiosos gregos como

Pitágoras, Euclides, Eudoxo, os Paradoxos de Zenão e Arquimedes.

Talvez da Grécia tenham partido as primeiras grandes provocações

filosóficas da época como algo que não estava sendo compreendido ou

suficientemente explicado pelos conhecimentos já existentes. Os estudiosos

partiram na incessante busca de explicações, gerando assim novas descobertas

matemáticas que permanecem válidas até hoje como o famoso Teorema de

Pitágoras,

No período do Renascimento da Ciência, estudaremos alguns seguidores

da Rainha das Ciências italianos como Cavalieri (1635) e Galileu (1638). Nesse

período, os estudiosos em matemática enfrentaram novos paradoxos: Quantos

elementos tem o conjunto dos números naturais? E dos inteiros? E dos racionais?

E dos irracionais? O conjunto dos naturais tem o mesmo número de elementos

que o conjunto dos inteiros? Esses paradoxos não foram superados sem traumas

pelos estudiosos da matemática.

20

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Na época da Idade Moderna estudaremos a invenção da Geometria

Analítica do filósofo Descartes (1639).

No Século XIX estudaremos a evolução do Conceito do Número Irracional

com: Bolzano (1820), Dedekind (1872), Cantor (1883). As respostas a várias

provocações só foram consideradas satisfatórias no final do século XIX com os

trabalhos sobre os números irracionais de Dedekind, dentre outros.

ANTIGÜIDADE

A Conquista O Homem País A Época

Constata a existência de SEGMENTOS

INCOMENSURÁVEIS

PITÁGORAS Grécia Séc. VI a.C

A TEORIA DAS PROPORÇÕES(método de

exaustão)

EUDOXO Grécia Séc. IV a.C.

Primeira crise no conceito de INFINIDADE. ZENÃO Grécia Séc. IV a.C.

Primeira formulação do conceito LIMITE. ARQUIMEDES Grécia Séc. III a.C.

RENASCIMENTO DA CIÊNCIA

A Conquista O Homem País A Época

Primeiro uso sistemático das FRAÇÕES

CONTÍNUAS.

BOMBELLI Itália Séc. XVI D.C.

Formulação do INFINITO. CAVALIERI Itália 1635

Primeira formulação do CONJUNTO INFINITO GALILEU Itália 1638

IDADE MODERNA

A Conquista O Homem País A Época

Invenção da GEOMETRIA ANALÍTICA DESCARTES França 1639

SÉCULO DEZENOVE

A Conquista O Homem Pais A Época

Primeira Formulação da POTÊNCIA de um

conjunto

Bolzano Alemanha 1820

Primeira Teoria Científica dos IRRACIONAIS Dedekind Alemanha 1872

Segunda Teoria Científica dos

IRRACIONAIS

Cantor Alemanha 1883

Invenção do TRANSFINITO Cantor Alemanha 1883

Figura 2.1. Marcos na evolução do conceito de número irracional (DANTZIG, 1970, p. 214-5)

21

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2.1. Antigüidade

2.1.1. A Matemática do antigo Egito

O conhecimento do Antigo Egito ainda não foi completamente descoberto, mas já se sabe que eles foram mestres na medicina,

na astronomia e, principalmente, na engenharia. (GONÇALVES, nº 3, p. 11).

Os egípcios há 6.500 anos escreviam números sem se importarem com a

ordem dos símbolos e com o princípio aditivo. Usavam base dez, como fazemos

hoje, mas não adotavam notação posicional. Temos como exemplos: e

||| que correspondem ao valor vinte e três nos dias de hoje.

|||

A base dez não aparece como uma constante na evolução dos sistemas de

numeração já que outras bases também foram usadas; o mesmo acontece com a

notação posicional.

A matemática era conhecida pelos antigos egípcios como receitas práticas

que, muitas vezes, funcionavam por aproximação e eram resultados de tentativas

e erros feitos durante milênios. Conheciam o teorema que, mais tarde, passou a

chamar-se Teorema de Pitágoras e desenvolveram fórmulas para o cálculo de

áreas e volumes. Criaram um calendário de 365 dias e inventaram o relógio de sol

e a balança.

A civilização egípcia sempre foi considerada uma grande atração do ponto

de vista histórico e matemático, pois ao longo de sua fascinante trajetória

apresentou uma vasta coleção de documentos matemáticos, como os papiros de

Rhind e de Moscou. Os quais são considerados os trabalhos mais importantes da

matemática egípcia, por apresentarem o maior número de problemas, os quais

surgiram para auxiliar as atividades práticas de agricultura e engenharia.

Documento importante, que juntamente com o Papiro de Rhind formam a

base de conteúdos matemáticos, desenvolvidos pelos egípcios, é o Papiro de

Moscou, comprado em 1858, que, provavelmente foi escrito por volta de 1890

antes de Cristo e contém 25 problemas, os quais retratam a vida prática e não se

diferem muito dos encontrados no Papiro de Rhind. Contudo, há dois exemplos

neste que têm significado especial. Um deles retrata um cálculo de volume para o

22

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tronco de uma Pirâmide de base quadrada, no qual se constatou que os egípcios

tinham conhecimento da fórmula V= (a2+ab+b2).3

h, em que h era a altura do

tronco da Pirâmide, a e b eram os lados das bases quadradas. Apesar de essa

fórmula não ter sido encontrada em nenhum outro lugar, segundo ZUFFI (2004-

2005, p. 55), era evidente conhecida em essência pelos egípcios.

Figura 2.1.1.1. Tronco de Pirâmide

Segundo Boyer (1974, p. 16), os papiros tinham uma essência prática no

que diz respeito aos fundamentos e utilidades da Matemática Egípcia, a qual não

se preocupava com o aprofundamento teórico. Esses documentos poderiam se

tratar de guias para estudos e aplicações desses temas.

Ainda temos no Egito Antigo o cálculo de aproximações numéricas simples

de , que aparece no problema 50 do Papiro Rhind e trata da tentativa de

determinação da área de campo circular. A solução sugere: tire 1/9 do diâmetro e

eleve ao quadrado o resto. Disso se deduz que os egípcios aproximavam por

256/81 =3,16049... Essa aproximação remete à nossa questão de pesquisa por

apontar uma maneira de os egípcios resolverem o problema da representação

dos números irracionais, aproximando-os com fração de números inteiros.

Há indícios de que chegaram a essa solução utilizando um octógono

inscrito num quadrado de lado D cuja área, visualmente, semelhante à do círculo.

23

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A área de tal octógono é D9

7 2 ou seja, D81

63D

9x9

9x7 22 , que ele teria aproximado

para )D9

8(D

81

64 22 .

Figura 2.1.1.2. Conjectura sobre a origem da regra de Ahmes

Vejamos um exemplo numérico.

Figura 2.1.1.3. Círculo de diâmetro igual a 9 Figura 2.1.1.4. Quadrado: 8x8

24

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Área do Círculo = r 2 = )2

9(

2

u.a.

Área do Quadrado: lado x lado = 8x8 u.a.

Ao pensarmos na equivalência das áreas obtemos um valor aproximado de

:

)2

9(

2

=8x8 16,381

133

81

256

81

4x6464)

4

81(

De acordo com BROLEZZI (1996, p. 13) o antigo egípcio usava esse

recurso que poderia tornar possível contornar o problema das grandezas

irracionais, ou seja, usava números para lidar com a geometria, aproximando

numericamente o valor da área de um círculo pela área de um quadrado. De

maneira geral, utilizavam números para contagem e para medidas, sem distinção

clara nas atividades.

TAHAN (1972, p. 232) aponta que dividir um segmento AB em média e

extrema razão é dividi-lo em duas partes, AC e CB, tais que todo (AB), dividido

pela parte maior (AC), seja igual à parte maior dividida pela parte menor.

Simbolicamente temos:

Figura 2.1.1.5. A sua representação simbólica.

Figura 2.1.1.6. Um ponto C divide o segmento AB em duas partes desiguais: parte Maior e parte

Menor.

25

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Figura 2.1.1.7. A divisão áurea de um segmento, ou divisão em média e extrema razão

Um ponto C divide o segmento AB em duas partes desiguais: parte maior e

parte menor. Observamos que a parte maior é uma média entre o todo e a parte

menor; a razão é extrema porque não existe, no caso, outra solução da qual

resulte a igualdade entre as razões segmentárias. E, para o ponto C, uma posição

extrema, denomina-se média e extrema razão. Esse ponto que divide o segmento

AB em média e extrema razão é chamado ponto de ouro do segmento AB.

Estando o ponto de ouro no segmento diremos que ele é interno e, nesse caso, o

maior segmento AC é determinado de segmento áureo interno.

Figura 2.1.1.8. A divisão áurea de um segmento, ou divisão em média e extrema razão.

Se o ponto C, fora do segmento AB, isto é, o ponto de ouro externo C fica

no prolongamento do segmento AB, podemos dizer que o ponto C divide AB em

média extrema razão. O segmento AC é chamado segmento áureo externo.

Lucas Pacioli (1445-1514) descobriu que existe uma certa divisão que é a

máxima expressão harmoniosa, momento agradável ao espírito, aquela que tem a

preferência dos artistas, dos arquitetos, dos escultores e dos estudiosos em

matemática, ou seja, a divisão em média e extrema razão. Essa divisão áurea foi

criada por Leonardo da Vinci (1452-1519), segundo TAHAN (1972, p. 235-6).

Se C divide o segmento AB em média e extrema razão, ou, ainda, C ocupa

a posição de Ouro no segmento AB, se e somente se, CB

AC

AC

AB, na figura 2.1.8,

AB=AC+CB com AC>CB, logo,

26

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0)CB()AC)(CB()AC()CB()AC)(CB()AC(CB

AC

AC

CBAC 2222

,01CB

AC

)CB(

)AC(2

2

pela fórmula de Bháskara (*):

02

51

CB

AC e

2

51

CB

AC<0.

Das duas raízes dessa equação: 2

51

CB

AC e

2

51

CB

AC, a raiz

positiva é o ponto de ouro interno e a raiz negativa é o ponto de ouro externo. A

“Posição de ouro” é a expressão utilizada por BIEMBENGUT (1996) quando se

refere à posição do ponto C sobre AB , determinando a seção áurea desse

segmento (p. 13) (CORBO, 2005, p. 58).

Segundo CORBO (2005, p. 58), 2

51

CB

AC é conhecida como Razão

Áurea entre os segmentos AB e AC ou AC e CB. Por sugestão do matemático

americano Mark Barr, foi adotada a letra (Phi), para representar o número

irracional2

51, em homenagem ao escultor grego PHIDIAS (490?-430?), pois

foi observado que em suas obras há uma predileção por dimensões que atendem

à Razão Áurea.

De acordo com ÁVILA (1985, p. 11), chamamos de divisão Áurea de um

segmento, a divisão em média e extrema razão, enquanto que o número da razão

de medida (AB)=a e a medida (CA)=b da figura 2.1.1.6, b

a=

2

15 é conhecido

como razão Áurea.

A matemática e a razão Áurea em particular proporcionam um rico tesouro

de surpresas desse tipo. Se CB

ACx, substituindo em (*) x2-x-1=0. Baseada na

construção de um método interativo do tipo x=f(x), temos x=1+x

1, a fração

27

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contínua periódica que corresponde a razão Áurea é composta somente de uns,

ela converge muito lentamente.

...1

11

11

1x

A razão Áurea é, nesse sentido, mais difícil de expressar como uma fração

do que qualquer outro número irracional ou seja, é a mais irracional dos

irracionais.

Segundo LÍVIO (2006, p. 72), em 1999 o escritor francês Micdhat J. Gazelé

escreveu um assunto muito interessante no livro Gnomo: Dos faraós aos fractais;

em que dizia: “Disseram que o historiador grego Heródoto aprendeu com

sacerdotes egípcios que o quadrado da altura da Grande Pirâmide é igual à área

da sua face lateral triangular”. Então, podemos dizer que a Grande Pirâmide foi

projetada de modo que a razão entre a altura de sua face triangular e a metade

do lado da base quadrada fosse igual à Razão Áurea.

SARAIVA (2002, p. 4) apresenta um cálculo aproximado de ,

considerado Razão Áurea, para uma pirâmide.

Dados:

A altura da pirâmide é h=146,59 metros.

A aresta da base quadrada é 2.a = 230,33 metros

A metade da aresta da base é a = 115,165 metros.

S a altura da face triangular da pirâmide.

Aplicando o Teorema de Pitágoras temos:

S2 = (115,165 m)2 + (146,59 m)2

S2 = 13262,97723 m2 + 21488,6281 m2 = 34751,60533 m2

S = 186,4178246 metros

28

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a

S= 618,1

m165,115

m4178246,186

(SARAIVA, 2002, p. 4)

Figura 2.1.1.9. A pirâmide de base quadrada.

Um outro exemplo do número Áureo 2

51 pode ser observado da razão

entre os comprimentos de uma diagonal de um lado do pentágono regular.

Figura 2.1.1.10. Pentágono regular

29

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I) O ângulo ABC = 108º (ângulo interno do pentágono regular).

II) O triângulo ABC é isósceles, implica que ângulo BAC e ângulo BCA são

congruentes, ou seja, o ângulo BAC é igual ao ângulo BCA=36º. Logo

ângulo ABF = 36º.

Analogamente, ângulo ABE = ângulo DBC=36º

Portanto ângulo FBG=108º-72º=36º

Ângulo BGC=108º, ângulo BGA=72º, o que mostra que o triângulo ABG é

isósceles (1).

Também, pelo caso AA da semelhança de triângulos, tem-se a semelhança

de triângulos ABC e BGC, já que os ângulos de ambos medem 36º, 36º e 108º

Da semelhança entre os triângulos ABC e BGC, temos:

)2(BC

AC

GC

AB

Representando por l o lado e por d a diagonal do pentágono regular,

temos: AC=d, AB=BC=l;

GC=d -AG= d-l por (1)

Substituindo em (2), tem

0ldldl

d

ld

l 22 : multiplicando ambos os membros por l

12

resulta:

01l

d)

l

d(

2

2

51

2

411

l

d, considerando a medida positiva, temos:

2

51

l

d

Como não existe qualquer evidência de que os egípcios da época do

Antigo Reino tivessem algo além dos mais rudimentares elementos de

30

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matemática, a presença de e na geometria das pirâmides deve ser

conseqüência de alguns conceitos práticos e não teóricos, consistindo como um

verdadeiro enigma das pirâmides.

2.1.2. A Matemática da Babilônia

Há cerca de cinco mil anos, entre os rios Tigre e Eufrates começaram a surgir alguns dos principais avanços no mundo do

conhecimento científico. (GRECCO, nº 3, p. 16).

Ao nos referirmos à matemática da Babilônia, queremos falar sobre o tipo

de matemática cultivada na Antiga Mesopotâmia, a região entre os rios Tigres e

Eufrates ou, de maneira geral, o que é hoje o Iraque.

Os babilônios trabalhavam com um sistema de numeração sexagesimal,

base sessenta, que deu origem as nossas atuais unidades de tempo, em horas,

minutos, segundo e as unidades de ângulos, em graus, minutos e segundos.

As semelhanças entre nosso sistema de numeração e o dos babilônios são

várias: nós, como eles, empregamos um número finito de símbolos (usamos dez e

eles dois) para exibir todos os números inteiros; fazemos o valor posicional

(mudança de casa para a esquerda) ou seja, o seu valor seja multiplicado por 10,

se for o nosso; por 60, dos babilônios.

Usamos uma extensão desse princípio para exprimir certas frações, como

frações decimais e eles com frações sexagesimais, fazendo valer mesmo além da

casa das unidades a regra de que a movimentação de um algarismo uma casa

para a direita significa dividir o seu valor pela constante 10 ou 60.

Também, é certo que cada base tem as suas vantagens e desvantagens.

Uma desvantagem de ser a base maior 60 é que a tabuada de multiplicação terá

a dimensão de 59 por 59, praticamente impossível a sua memorização. Por sua

vez, são possíveis números muito grandes ou bem pequenos, de modo que seus

números cresciam muito rapidamente para um lado e decresciam muito

rapidamente em direção ao lado oposto.

31

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AABOE (1984, p. 26-7) aponta que outra grande diferença, ou seja, a falta

de equivalência à vírgula decimal é, certamente, uma deficiência no sistema de

numeração sexagesimal, embora, não tão séria quanto pode verificar à primeira

vista.

No sistema de numeração decimal, quando se trata das técnicas

operatórias das multiplicações ou divisões de números decimais em verdade, elas

não têm implicação sobre a seqüência dos dígitos do resultado, mas controlam

somente sua grandeza, isto é, sobre a posição da vírgula decimal.

No S.N.D. temos várias regras e alguns atalhos que facilitam as técnicas

operatórias, tais como: para multiplicar por 5 divida por 2 e multiplique o resultado

por 10; um número é divisível por 3 ou 9 se a soma dos algarismos é divisível por

3 ou 9. Essas técnicas simples podem ser aplicadas ao sistema sexagesimal; a

razão de que são possíveis mais regras na base sexagesimal do que no decimal

é porque a base 60 (1, 2, 3, 4, 5, 6, 10, 12, 15, 20, 30, 60) tem muito mais

divisores do que base 10 (1, 2, 5, 10). Fica assim evidente que os babilônios não

encontravam mais dificuldades com o cálculo aritmético do que nós, hoje. O

Sistema de Numeração decimal foi tratado para compreender a densidade dos

números Irracionais como procedimento, troca de um ou mais algarismos da

representação decimal infinita não periódica baseada na diagonalização de

Cantor.

Com relação aos cálculos sexagesimais, estes auxiliados por uma grande

variedade de tábuas. Existem tábuas para o cálculo de juros compostos, tábuas

de quadrados e de raízes quadradas, de cubos, e várias outras que indicam um

interesse em processos numéricos muito além das exigências da aritmética

simples, com desenvolvimentos sexagesimais finitos, segundo AABOE (1984).

Esse recurso tornava possível contornar a dificuldade das grandezas

irracionais formando uma linguagem numérica extremamente facilitada para lidar

com segmentos incomensuráveis.

Assim, por exemplo, utilizando o caso especial do que costumamos hoje

chamar de Teorema de Pitágoras, isso aconteceu uns 1200 anos antes da época

32

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em que acreditamos que Pitágoras viveu, que os babilônios sabiam que a

diagonal do quadrado é 2 vezes seu lado.

Temos como a figura 2.1.2.1 uma tradução de um pequeno tablete da

babilônia antiga de acordo com AABOE (1984, p. 34 e 35).

Vemos três números: a=30; b=(1; 24, 51, 10) e c=(42; 25, 35).

Observamos primeiramente que: c=a.b

Figura 2.1.2.1. A diagonal de um quadrado de um pequeno tablete da Babilônia antiga, segundo

AABOE (1984, p. 35).

Verificamos primeiramente o produto c=a.b e introduzimos os pontos e

vírgulas nas posições apropriadas, conforme a indicação de AABOE (1984, p. 34).

33

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C=(42; 25, 35, 0)

Se a representar o lado do quadrado, como sugerido pela figura, e c a

diagonal, então, pelo Teorema de Pitágoras, c2= a2 + a2, portanto, c2 = 2 a2

chamaremos de equação I e se temos c=a.b, elevando ao quadrado ambos os

membros, temos: c2 = a2. b2 equação II, substituindo na equação I e depois

aplicando a lei do cancelamento, temos: b2=2 2b , desse modo o valor de

b deve ser a aproximação de 2 .

.)maproximada(414212962,1000046296,0014166666,04,0160

10

60

51

60

241

)10;51;24;1(2b

32

Segundo Vitti (1999), os pesquisadores Otto Neugebauer e F. Thureau -

Dangin, que, na década 30 reconstruíram, através de pesquisa em mais de dez

mil tabletes, vários conceitos aritméticos da história da matemática Babilônica,

encontraram no tablete Plimpton 3221 uma relação de números pitagóricos

ligados por cba 222 , quando o escriba limitou-se a descrever a harmonia da

igualdade, não a relacionando a qualquer problema prático.

BOYER (1974, p. 8) também aponta os estudos de Neugebauer quanto ao

cálculo, dos babilônios, da diagonal de um quadrado, afirmando ser prova

suficiente de que o teorema pitagórico era conhecido mais de mil anos antes de

Pitágoras.

A decifração dos tabletes de argila YB-4650, AO-6484, TV-3420 e YH-567

permitiu, mesmo que de maneira precária, deduzir que os babilônios já

trabalhavam com a raiz quadrada de um número.

1 Segundo AABOE (1984, p. 167), Plimton 322 é o tablete de número 322 na coleção Plimton da Universidade de Columbia, New York.

34

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Uma aproximação da raiz quadrada de um número (N) pode ser obtida

segundo a receita prática: arbitre um valor qualquer ( ) que deverá dividir o

número do qual se pretende extrair a raiz quadrada. Resulta outro número ( ).

Some ( ) com o arbitrado ( ) e divida tudo por dois. O resultado será outro

número ( ). Divida o número pretendido (N) pelo valor anterior ( ), quando se

encontra ( ). Divida a soma dos dois resultados ( e ) por dois. Continue

até os valores convergirem.

0N

N

1N

1N

N

0N

2

3N

2N

2N 3

O texto acima pode ser trazido como segue:

X = N Raiz quadrada

No = valor aproximado da raiz quadrada de N.

N

NN

o1 Divida N pelo valor aproximado No

2NN

N1o

2 Some N1 com No e divida por 2

N

NN

23 Divida N por N2

2NN

N32

4 Some N2 com N3 e divida por 2

N

NN

45 Divida N por N4.

Continue.

Aplicando o procedimento dos babilônios, apresentamos dois exemplos,

um para um quadrado perfeito e outro para um não perfeito, encontrados em

VITTI (1999, p. 60-1)

Exemplo 1: 9x

2N0 ,

5,42

9N1 ,

;25,32

5,42N2

35

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00,32

76,225,3N

;76,225,3

9N

4

3

Exemplo 2: 21x

5825,42

54,4625,4N

54,4625,4

21N

625,42

25,54N

;25,54

21N

4N

4

3

2

1

o

21 é aproximadamente 4,58.

O ensino da Matemática na Babilônia não encontrava dificuldades na

realização de seus cálculos. Isso, pelo fato de possuírem um sistema de

numeração posicional, o que pode ser uma das razões que levaram a Matemática

dos babilônios a um desenvolvimento maior que a dos egípcios, segundo Miorim

(1998).

2.1.3. A Matemática Grega antiga

No século III a.C., a cidade fervia de intelectuais e de matemáticos, que tomaram conhecimento dos trabalhos dos

colegas enquanto ali estavam e trocaram correspondência durante a produção de suas obras.

(autor desconhecido, nº 3, p. 44)

GARBI (2003, p. 15) aponta que os egípcios e os babilônios já possuíam

expressivos conhecimentos de Aritmética e de Geometria cerca de 2.000 a.C.,

mas tudo indica que suas descobertas se deram de forma intuitiva, ou seja,

através da prática.

36

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A civilização grega que floresceu de 2000 anos a.C. até as conquistas de

Alexandre na década de 330 a.C. e foi uma das mais admiráveis em toda a

história da humanidade. Atenas foi o centro de toda atenção do mundo helênico e

continuou no tempo de Péricles, no século V a.C.

Segundo MACHADO (1995, p. 253) na sua origem e remontando ao

pensamento grego, a palavra número dizia respeito aos de hoje chamados

números naturais, os quais, de fato, permitem ligação intuitiva e imediata com a

idéia de medida. Os números podiam ser representados como segmentos de reta,

seus quadrados como área, seus cubos como volumes. De acordo com esse tipo

de pensamento, números negativos realmente não fariam sentido e menos ainda

suas raízes.

Pela primeira vez na história surgiram nas disputas políticas e sociais,

filósofos e professores que qualificavam as suas teorias. Dentre o grupo de

homens críticos, os sofistas desenvolveram uma matemática com elevado grau

de perfeição que se relaciona, como é característico, com um assunto fantástico e

pouco prático, mas teoricamente válido, as chamadas de lúnulas, as pequenas

luas ou crescentes delimitados por dois arcos circulares.

Encontrar determinadas áreas limitadas por dois arcos circulares em

função dos diâmetros está relacionado com o problema da quadratura do círculo,

que constituiu um problema central da matemática grega, segundo STRUIK

(1992, p. 75).

Apresentaremos apenas a lúnula 1 (ao todo são três) de Hipócrates:

Do triângulo retângulo tem-se que a área do semicírculo de raio c é a soma

das áreas dos semicírculos de raios a e b, tem-se:

)b2()a2()c2( 222

2b

2a

2c

bac222

222

Figura 2.1.3.1. triângulo retângulo.

37

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Multiplicando-se por a igualdade da identidade acima, tem-se:

2b

2a

2c 222

Figura 2.1.3.2 (I)

Aplicação deste resultado na lúnula, tem-se:

Figura 2.1.3.3 (II)

A área da Lua hachurada é igual à área do semicírculo de raio b menos

(um quarto da área do círculo de raio a menos a área do triângulo isósceles de

cateto a),

38

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Figura 2.1.3.4

logo,

Área da Lua = ]2a

4a[

2b 222

Pelo Teorema de Pitágoras temos: b2aaa)b2( 22222

L=2a

4b2

2b 222

, portanto, L=2a2

Conclui-se que a área (L) da lua é igual à área do triângulo de catetos a.

STRUIK (1992, p. 73) aponta que os gregos foram responsáveis pelas

primeiras noções e idéias propriamente científicas, do porquê, ou seja, uma

matemática que colocava não só a questão de como, mas também a moderna

questão científica, por que, ou ainda, fundamentadas em uma lógica de raciocínio

e baseadas na tentativa de formar definições dos termos empregados.

Segundo BROLEZZI (1996, p. 19), Nicolas Bourbaki, do grupo de

matemáticos franceses, atribui a crise dos incomensuráveis aos gregos devido ao

fato de que estavam tão convencidos de que no conceito de número não cabia

nada mais que inteiro e frações que não aceitaram que os irracionais fossem

números também.

A existência de segmentos incomensuráveis significa que os números

naturais mais a frações são insuficientes para medir todos os segmentos de reta.

A solução que se impunha, e que no final do século XIX finalmente foi adotada,

era de estender a noção do número. Era evidente que o conceito de números

irracionais está diretamente associado à noção de grandezas incomensuráveis.

Todavia os gregos não fizeram a ampliação do seu mundo numérico, apenas

reforçaram a separação entre a teoria dos números (Aritmética) e a geometria.

39

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A separação da Matemática em componentes era como sair de um

compartimento e encontrar uma resposta noutro compartimento em que não via

claramente as relações e que causava muita obscuridade e embaraço. Parece ser

o fruto do receio grego (pitagórico) de misturar a pureza dos números com as

grandezas incomensuráveis.

O esquema de quatro componentes, que mais tarde foi chamado de

Quadrivium, segundo BROLEZZI, (1996, p. 19):

Números Grandezas

Em repouso Aritmética Geometria

Em movimento Música Astronomia

Figura 2.1.3.5 - Quadrivium

COSTA (1971, p. 220) aponta que os gregos antigos conheciam um outro

campo do saber, a logística e a aritmética aplicada, que ensinava aos homens de

vida prática (como os agrimensores e militares) que precisavam fazer uso de

números em operações e cálculos relativos à geometria e à Astronomia, números

racionais vizinhos do valor verdadeiro. Desse modo, a Aritmética grega tratava do

que hoje chamamos de Teoria dos Números, e a Logística grega se referia às

operações aritméticas, geometria e astronomia que hoje é assunto da Álgebra.

Durante a segunda metade do século V a.C. (A IDADE HERÓICA)

circularam relatos sobre alguns estudiosos em matemática muito importantes.

Essa época é chamada de idade Heróica pois, talvez, nunca se tenha feito em

qualquer outra época, um ataque tão audacioso a tantos problemas matemáticos

fundamentais com recursos metodológicos tão insuficientes. Alguns exemplos:

1. Os indivisíveis;

2. Os paradoxos de Zenão;

3. A razão de grandezas incomensuráveis;

4. Validade dos métodos infinitesimais;

5. O problema da quadratura;

6. A quadratura do círculo; etc

40

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Platão (422 a.C.-347 a.C) foi importante na História da Matemática pois

explicitou uma distinção entre Aritmética(no sentido da Teoria dos números) e

logística (a técnica da computação). Seu estudo sobre a incomensurabilidade

causou um verdadeiro escândalo lógico, pois pareceu arruinar teoremas

envolvendo proporções. Mas a crise resultante da incomensurabilidade foi

enfrentada com sucesso e com a criatividade de Eudoxo(408 a.C.-355 a.C.), que

reformulou a teoria das proporções de modo a levar em conta a existência dos

números irracionais, e de Aristóteles(384 a.C.-322 a.C.), considerado o pai de

todas as ciências, discípulos de Platão.

Durante a idade Helenista (a civilização grega, que floresceu desde uns

2000 a.C. até as conquistas de Alexandre na década de 330 a.C.), três estudiosos

matemáticos se destacaram: Euclides(por volta de 300 a.C.), Arquimedes(287

a.C.-212 a.C.) e Apolônio(262 a.C.-190 a.C.). Os Elementos de Euclides e As

cônicas de Apolônio foram de longe as melhores obras em seus campos.

Arquimedes pode ser considerado pai da Física-matemática não só por seu

estudo sobre o equilíbrio de planos, mas também por outro tratado como corpos

flutuantes.

Arithmetica escrito por Diophanto (em torno de 250D.C.) reúne uma

coleção de 100 problemas resolvidos de modo original.

Ptolomeu (127-151D.C,) viveu no século II da nossa era e sua principal

obra é o Almagesto que, em árabe, significa o maior. A preocupação central

desse astrônomo era o estudo da trigonometria, que lhe permitia localizar, entre

outras coisas, a posição dos planetas na abóbada celeste.

Do nosso ancestral que inventou a roda ao grego Arquimedes, percebemos

que muita coisa mudou, a ciência evoluiu e as descobertas deixaram de ocorrer

ao acaso para serem criativas e planejadas na hora e no tempo certo.

Abaixo, temos a linha do tempo da Civilização Grega Antiga que não

estudava somente a geometria conforme as notações periódicas e suas

descobertas, mas as principais obras primas da área da matemática que

permanecem até hoje, como o famoso Teorema de Pitágoras.

41

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Figura 2.1.3.6. Antiga civilização da Grécia e seus marcos das descobertas segundo GIRARDI (nº

3, ?a, p. 5).

2.1.3.a. Pitágoras (586?a.C. - 500? a.C.)

Temos conhecimento particularmente de Pitágoras de Samos, em torno de

530 a.C., e seus seguidores, os pitagóricos, por suas realizações na matemática,

na filosofia e na religião.

Enquanto a maior parte dos sofistas dava prioridade à realidade da

mudança, os pitagóricos privilegiavam os estudos dos elementos imutáveis da

natureza e da sociedade. Na procura de leis eternas do universo, os pitagóricos

estudaram geometria, aritmética, astronomia e música, mais tarde chamado de

quadrivium. Os números (inteiros) eram divididos em classes: ímpares e pares,

primos e compostos, perfeitos, amigos, triangulares, quadrados, pentagonais, etc.

Os pitagóricos investigavam as propriedades dos números, acrescendo-lhes um

sinal do seu místicismo e convergindo a sua filosofia cósmica que tentava reduzir

todas as relações fundamentais a relações numéricas: tudo é número.

Davam a maior importância às razões entre números. A igualdade de

razões formava:

I) uma proporção aritmética: 2b = a + c;

II) uma proporção geométrica: ;c.ab2

III) uma proporção harmônica: c

1

a

1

b

2,

e interpretavam-nas filosófica e socialmente.

42

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Segundo PIRES (2006, p. 137), os irracionais apareceram também no meio

pitagórico, os quais se interessavam por figuras regulares, quadrado, triângulo

eqüilátero, pentágono, e como em cada uma aparece uma relação irracional,

percebe-se tal qual foi a confusão e quão grande foi o escândalo que durou mais

de dois mil anos.

A descoberta da irracionalidade da 2 é provavelmente da Escola

Pitagórica, segundo STRUIK (1992, p. 80), devido aos segmentos de reta

incomensuráveis.

Essa descoberta pode ter tido interesse pela média geométrica a:b=b:c,

isto é, b= c.a , parecia que servia como símbolo de nobreza aos pitagóricos. Qual

é a média geométrica de 1 e 2, dois símbolos sagrados? Essa questão centralizou

ao estudo da razão entre a diagonal e o lado do quadrado e concluiu que essa

razão não podia ser expressa por número, o que hoje chamamos de racionais

(inteiros e fracionários), os únicos que eram conhecidos naquela época.

A demonstração clássica da irracionalidade de 2 , segundo Aristóteles, é:

Suponhamos por hipótese que a razão é a : b e o máximo divisor comum

de a e b é igual a 1., isto é, a e b primos entre si. Então , pelo

que a2, e portanto a é par, digamos a=2m, m inteiro positivo. Então, b tem de ser ímpar, mas, visto que, b também tem de ser par. Mas se a é par e b é par então os dois não são primos entre si. Esta contradição provém da hipótese de que é racional. Portanto não é racional. (STRUIK, 1992, p. 80).

222ba

A descoberta de que 2 não é racional, perturbou a harmonia da

aritmética e da geometria do universo dos pitagóricos. Surgia assim uma outra

dificuldade, as provocações do filósofo Zenão de Eléia que em breve

estudaremos, ou seja, os Paradoxos de Zenão.

Entretanto, a grande contribuição dos pitagóricos à geometria grega foi o

Teorema de Pitágoras.

Seja o triângulo retângulo de catetos a e b e hipotenusa c.

43

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Figura 2.1.3.A.1

Sejam agora dois quadrados de lado (a+b)

Figura 2.1.3.A.2 (I) Figura 2.1.3.A.3 (II)

Nas figuras 2.1.3.A.2 e 2.1.3.A.3, a demonstração do Teorema de

Pitágoras, segundo (EVES, 2005, p. 103).

O primeiro quadrado está decomposto em seis partes, a saber: um

quadrado médio (área b2), um quadrado pequeno (área a2) e mais quatro

triângulos retângulos congruentes.

O segundo quadrado está decomposto em cinco partes: Um quadrado

médio (área c2) sobre a hipotenusa e quatro triângulos retângulos congruentes.

Da figura 2.1.3.A.2: a2 + b2 + 4. 2

b.a=(a+b)2 (I)

Da figura 2.1.3.A.3: . c2 + 4.2

b.a=(a+b)2 (II)

44

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Igualando I e II, temos:2

b.a.4c

2

b.a.4ba 222 aplicando a lei do

cancelamento, obtemos: cba 222 , e concluímos que:

À soma das medidas das áreas dos quadrados sobre os catetos é igual

a medida da área do quadrado sobre a hipotenusa.

2.1.3.b. Euclides

Aos onze anos comecei a estudar Euclides, tendo meu irmão como meu tutor. Foi esse um dos grandes acontecimentos de minha vida, algo tão deslumbrante como o primeiro amor. Eu não imaginava que houvesse no mundo nada tão delicioso. BERTRAND RUSSEL (1872-1970) apud GARBI (2006, p. 48).

Os Elementos de Euclides são os mais antigos textos matemáticos gregos

que nos chegam completos até os dias de hoje. Euclides conseguiu incorporar,

neste único trabalho, bem ordenado, praticamente todo o conhecimento

matemático acumulado por seus antecessores, com algumas exceções notáveis,

como as secções cônicas e a geometria esférica, e possivelmente algumas

descobertas próprias.

Nos treze livros que compõem Os Elementos, Euclides organizou a

geometria desenvolvida naquela época em único texto, apresentando duas das

três grandes descobertas gregas:

1. a teoria de Eudoxo das proporções, livro V;

2. a teoria de Teeteto dos irracionais, livro X;

3. deixando apenas a teoria dos cinco corpos regulares que ocupava lugar

de destaque na cosmologia de Platão.

Segundo BARBOSA (1985, p. 102), Euclides baseou a construção da

geometria em dez axiomas separados em duas classes. Cinco foram classificados

como “noções comuns” e os outros cinco como “postulados”. As “noções comuns”

parecem ter sido consideradas como hipóteses aceitáveis a todas as ciências,

enquanto “os postulados” eram como hipóteses aceitáveis a geometria. As cinco

noções comuns eram:

45

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1. Coisas que são iguais a uma mesma coisa são também iguais entre si;

2. Se iguais são adicionados a iguais, os resultados são iguais;

3. Se iguais são subtraídos de iguais, os restos são iguais;

4. Coisas que coincidem com outras coisas são iguais a uma outra;

5. O todo é maior do que qualquer de suas partes.

Os Postulados eram:

1. Pode-se traçar uma reta por quaisquer dois pontos;

2. Pode-se continuar uma reta infinitamente;

3. Pode-se descrever uma circunferência com qualquer centro e qualquer

raio;

4. Todos os ângulos retos são iguais;

5. Se uma reta corta duas outras retas formando ângulos colaterais

internos cuja soma é menor do que dois retos, então as duas retas, se

continuadas infinitamente, encontram-se, no lado na qual estão os

ângulos cuja soma é menor do que dois retos.

2.1.3.c. Eudoxo (408 a.C. – 355 a.C.)

Nos dias de hoje parece fácil perceber que a crise dos incomensuráveis

seria resolvida com uma simples ampliação do conceito de número, introduzindo

os chamados números irracionais, de tal modo que, fixando uma unidade de

comprimento arbitrária, qualquer segmento de reta pudesse ter uma medida

numérica. Quando o segmento considerado é comensurável com a unidade

escolhida, sua medida é um número racional (inteiro ou fracionário). Os números

irracionais representam medidas de segmentos que são incomensuráveis com a

unidade. Mas os gregos tomaram outro caminho inventando um modo de falar em

igualdade de razões mesmo no caso de grandezas incomensuráveis. Com isso

criaram toda uma teoria das proporções que só dependia dos números naturais.

O criador dessa teoria, exposta no livro V dos Elementos de Euclides, foi Eudoxo

(408-355 a.C.), matemático e astrônomo ligado à escola de Platão, que introduziu

a noção de grandeza, não como número, mas como segmento, ângulo, área,

46

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volume, e que poderia variar continuamente. Grandezas eram opostas aos

números, as quais passam de um valor para outro, como 3 para 4.

Entretanto, segundo COBIANCHI (2001, p. 101) os conceitos de razão e

proporção eram vinculados à geometria, por isso não eram usados números para

expressá-las a fim de escapar dos números irracionais. A teoria de Eudoxo

capacitava os estudiosos matemáticos gregos a fazerem um enorme progresso

na geometria. Assim, no caso de dois segmentos comensuráveis A e B, ele deve

ter percebido que dizer que A está para B, assim como m está para n, equivale a

dizer que nA=mB. Então, no caso de quatro segmentos, dizer que A está para B

assim como C está para D, significa a existência de dois números m e n tais que:

nA=mB e nC=mD.

No caso em que A e B forem incomensuráveis, igualdades do tipo nA=mB

nunca ocorrerão. Mas, dados dois números quaisquer m e n, podemos sempre

testar se nA>mB, nA=mB ou nA<mB;

E igualmente, se nC>mD, nC=mD ou nC <mD. Pois bem, esse teste é o

que Eudoxo utiliza para dar uma definição de igualdade de duas razões, A:B e

C:D, que se aplique sempre, sejam segmentos comensuráveis ou não.

É característica a definição 5 do livro V dos Elementos, de Euclides:

Diz-se que [quatro] grandezas estão na mesma razão, a primeira para a

segunda e a terceira para a quarta, quando, tomando quaisquer eqüimúltiplos da

primeira e da terceira, e tomando quaisquer eqüimúltiplos da segunda e da

quarta, os primeiros eqüimúltiplos excedem, são iguais ou são menores que os

últimos eqüimúltiplos tomados na ordem correspondentes. STRUIK (1992, p. 84).

Isto significa, na nossa notação, que A:B=C:D se nA>mB se e nC>mD,

nA=mB implica nC=mD e nA<mB só se nC<mD, sendo m e n inteiros. Para uma

tal definição tinha de ser estabelecido primeiro o chamado “axioma de

Arquimedes”, que em Os Elementos de Euclides precede a definição anterior,

como definição 4:

Diz-se que [duas] grandezas têm uma razão de uma para outra se cada

uma puder, quando multiplicada, exceder a outra. STRUIK (1992, p. 84).

47

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Segundo COBIANCHI (2001, p. 101) a Teoria das Proporções de Eudoxo

trazia graves conseqüências. Uma delas foi forçar uma forte separação entre

número e geometria, deixando somente a geometria tratar de razões

incomensuráveis. Uma outra conseqüência foi direcionar os estudiosos em

matemática para a categoria de geômetras, e a geometria tornar-se a base para

quase todo rigor matemático nos próximos dois mil anos. Embora seja genial, a

solução dada por Eudoxo ao problema dos incomensuráveis afastou os gregos de

um desenvolvimento numérico da Matemática que, a partir de então, tornou-se

geometria e os problemas aritméticos e algébricos tratados em “Os Elementos” de

maneira geométrica. A aritmética e a Álgebra somente voltariam a ganhar

importância e autonomia própria com a influência dos estudiosos árabes em

matemática a partir do século XII.

2.1.3.d. Os Paradoxos de Zenão

Um paradoxo é uma afirmação que não nos parece contraditória em si

mesma, mas que contraria fatos ou pressupostos tidos como verdadeiros

segundo SALVITTI (1996, p. 12). Um exemplo de paradoxo é o de Zenão sobre

Aquiles e a Tartaruga.

Aquiles vai disputar uma corrida contra uma tartaruga e, sendo justo, dá-lhe

uma certa vantagem. Mas, contrariando a sua expectativa e a nossa experiência,

não consegue alcançar a tartaruga. Com efeito, raciocina Zenão, quando Aquiles

atinge o ponto em que ela, a tartaruga, se encontrava quando ele iniciou a corrida

ainda não alcançou, pois ela, embora muito lenta, moveu-se para um ponto à

frente. Quando Aquiles alcançar este novo ponto, ainda não a terá atingido, ela se

encontra agora ainda mais à frente, e quando ele atingir este novo ponto, etc,...

Desta maneira, ele nunca conseguirá alcançá-la.

Nesta corrida, por meio de um recurso hábil, Zenão dividiu o intervalo de

tempo entre o momento da partida de Aquiles e o instante em que ele alcançaria

a tartaruga em muitos intervalos de tempo. Entende-se, então, que a soma de

muitos termos deve ser necessariamente infinita, o que pode ser errado.

Poderíamos, da mesma forma, dizer que 2/3 é infinito, pois: =0,6+0,06+0,006+...

48

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existe infinidade de termos do lado direito. O argumento referente à Aquiles e a

tartaruga envolve uma progressão geométrica. De acordo com Zenão, Aquiles

nunca alcançará a tartaruga, pois a vantagem dela diminui na progressão

geométrica, mas, a soma de números infinitos de termos pode ser finita.

Em tempos modernos, a seqüência no primeiro argumento de Zenão é uma

progressão geométrica decrescente infinita: ,...Essa progressão gera

a

16

1,

8

1,

4

1,

2

1

série: ;...16

15,

que converge para 1. Podemos argumentar que a soma:

16

1

8

1

4

1

2

1s;

8

7

8

1

4

1

2

1s;

4

3

4

1

2

1s;

2

1s 4321

...16

1

8

1

4

1

2

1

representa o número finito 1, apesar do argumento de Zenão, de que a soma se

estende por um número infinito de termos. Com esta introdução dos conceitos de

convergência e limite pelos matemáticos fica enfraquecido o argumento de Zenão

de que a soma de uma série infinita ou de uma seqüência infinita de números

deve, necessariamente, ser infinita, de acordo com COBIANCHI (2001, p. 99).

Os outros paradoxos de Zenão usam o mesmo tipo de raciocínio, como por

exemplo a demonstração de que o movimento é impossível, pois se uma flecha

não se move em um instante, então não pode mover-se durante um intervalo de

tempo. Zenão adota a hipótese alternativa que o tempo e o espaço não são

infinitamente divisíveis, isto é, existe uma menor unidade indivisível de tempo e de

espaço. Os paradoxos envolviam problema do domínio da matemática que

contém hoje assuntos como a continuidade, processos de passagem do limite e

uma introdução apropriada ao sistema dos números reais. O objetivo principal de

Zenão era provavelmente defender seu sistema filosófico ou de Parmênides

(c.500 a.C.), mostrando como seria muito mais fácil chegar a conclusões ridículas

a partir das hipóteses dos sistemas rivais. Sua argumentação funciona também

como um exemplo cauteloso aos matemáticos, que mostra como um raciocínio

sobre limites deve ser cuidadosamente examinado, antes que seja considerado

convincente.

Os argumentos de Zenão tornaram clara a incompatibilidade entre o mundo

contínuo e a teoria das mônadas. COBIANCHI (2001, p. 97) aponta que esta

incompatibilidade já havia sido revelada pelo fato de existirem alguns valores que

49

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não podem ser representados por razões de números inteiros, que são números

Irracionais. Para Zenão era negar a tese dos pitagóricos, mas não justificar a

impossibilidade do movimento.

Segundo COBIANCHI (2001) a hipótese pitagórica era que a soma dos

números crescentes de segmentos, ainda que decrescentes, cada vez menores,

deve tender para o infinito, porque cada um conteria um número inteiro de átomos

dotados de dimensões, que seria equivalente a efetuar a soma de infinitos

números inteiros, que tendem para o infinito.

A corrente dos pitagóricos acreditava na existência de uma unidade de

medida absoluta. A medida, a menor unidade de todas, era chamada de mônada.

Assim uma quantidade de tempo, por exemplo, poderia ser dividida em um certo

número unidade tempo, que a comporiam. Essa unidade, por sua vez, não

poderia mais ser subdividida. Havia uma dúvida sobre isso já que apesar da

crença pitagórica não ser aceita por todos, não se tinha um argumento

convincente para negá-la.

Assim, Zenão jogou por terra a afirmação dos pitagóricos mostrando que

se admitirmos a existência de uma menor unidade absoluta cairemos num

absurdo. Por outro lado, a crise não estaria completamente resolvida se fosse

admitido que uma certa quantidade de tempo pudesse ser subdividida

indefinidamente até um mínimo que seria nula, porque isso levaria à contradição

de que somar essas partes nulas para reconstituir o todo daria como resultado

algo de medida zero que não o valor da medida de partida. Essas formas de

pensar, que levaram sempre a contradições, plantaram as bases para o conceito

de limite e o conceito de números reais. A partir dela, podemos dizer que não

existe a menor medida de tempo ou não existe a menor medida de segmento, etc.

2.1.3.e. Arquimedes (287 a.C.– 212 a.C.)

Arquimedes (287-212 a.C.), o maior estudioso em matemática do período

helenístico e de toda a antiguidade, viveu em Siracusa como conselheiro do rei

Hierão. As mais importantes contribuições dele foram feitas no domínio que hoje

chamamos de Cálculo Diferencial Integral: teoremas sobre áreas de figuras

50

Page 51: dissertacao keiji nakamura · Figura 2.1.3.1. Triângulo retângulo ..... 37 Figura 2.1.3.2. Do triângulo retângulo tem se a área do semicírculo de raio c é a Soma das áreas

planas e sobre volumes de corpos sólidos. Na Medição do círculo encontrou uma

aproximação da circunferência do círculo pelo uso de polígonos regulares

inscritos e circunscritos, levando esta aproximação a polígonos de 96 lados. Foi o

primeiro a obter uma aproximação razoável de por números racionais e provou

que:7

13

71

103 , usando dois polígonos regulares de 96 lados, um inscrito

e outro circunscrito a um círculo de raio 1.

Segundo IMENES (1979, p. 87-90), para calcular o perímetro de quaisquer

polígonos regulares, inscritos e circunscritos numa circunferência de raio 1,

devemos considerar as figuras 1 e 2, respectivamente.

Figura 2.1.3.E.1 Figura 2.1.3.E.2

Na figura 2.1.3.E.1, seja o lado do polígono regular inscrito de n lados.

Temos:

l n

AM=2ln

AÔM=n

º180

2n

º360

2

AÔB

sen2l

12l

r2l

n

º180 n

nn

.:n

º180sen.2ln

donde: pn=2nsenn

º180, Perímetro do polígono regular inscrito de n lados. pn

51

Page 52: dissertacao keiji nakamura · Figura 2.1.3.1. Triângulo retângulo ..... 37 Figura 2.1.3.2. Do triângulo retângulo tem se a área do semicírculo de raio c é a Soma das áreas

E, sendo Ln o lado do polígono regular circunscrito de n lados, da figura 2,

tem-se:

AM=2Ln

AÔM=n

º180

tg2L

12L

r2L

n

º180 n

nn

n

º180tg2Ln

portanto: Pn=2n.tgn

º180, Perímetro do polígono regular circunscrito de n

lados.

Pn

Note que o perímetro do polígono regular inscrito é igual ao produto do

número n.senn

º180 por 2, sendo que esse número 2 foi obtido por 2.r, com r=1 o

raio da circunferência. O número n.senn

º180 depende exclusivamente do

polígono regular.

Na figura 2.1.3.E.2, nota-se que o perímetro do polígono regular

circunscrito é igual ao produto do número n.tgn

º180 por 2, sendo que esse

número 2 foi obtido por 2.r, o raio da circunferência. O número n.tgn

º180 depende

exclusivamente do polígono regular.

Com o auxílio de uma calculadora científica, podemos obter os valores de

n.sen2

p

n

º180 n e os valores de n.tg 2

Pn

º180 n , para vários polígonos.

Estes valores constam no Quadro resumo abaixo:

52

Page 53: dissertacao keiji nakamura · Figura 2.1.3.1. Triângulo retângulo ..... 37 Figura 2.1.3.2. Do triângulo retângulo tem se a área do semicírculo de raio c é a Soma das áreas

n 2

pn (inscrito)2

Pn (circunscrito)2

p

2P nn

(Circunscrito)-(inscrito)

3 2,598 5,196 2,598

4 2,828 4,000 1,172

5 2,939 3,633 0,694

6 3,000 3,464 0,464

12 3,106 3,215 0,109

24 3,133 3,160 0,027

48 3,139 3,146 0,007

96 3,141 3,143 0,002

Quadro resumo 3.1.3.E.3

Portanto, 3,141< <3,143. A média aritmética desses dois valores é 3,142.

O valor correto de é 3,14145... O símbolo não foi usado na antiguidade e no

sentido moderno foi usado por William Jones em 1706, um amigo de Isaac

Newton, mas foi adotado por Euler e usado em sua Introductio em 1748.

Da tabela podemos concluir que, sendo , respectivamente, os

perímetros dos polígonos regulares de n lados, inscritos e circunscritos a uma

circunferência de raio r, e sendo C o perímetros dessa mesma circunferência,

tem-se:

Pep nn

PCp nn

Alem disso, qualquer que seja n, tem-se: r2

Pr2

C

r2

p nn

Conclui-se então que: 3,141<r2

C 3,143; para n=96.

Logo, 3,141 < < 3,143.

Nota-se que a demonstração acima foi uma aplicação do método de

exaustão para se obter um valor limite de . Obteve-se o valor de a partir de

um par de polígonos regulares: inscrito e circunscrito, como se podem obter os

perímetros dos polígonos regulares inscritos e circunscritos com o dobro do

números de lados. Aplicando-se sucessivas vezes esse processo, pode-se

53

Page 54: dissertacao keiji nakamura · Figura 2.1.3.1. Triângulo retângulo ..... 37 Figura 2.1.3.2. Do triângulo retângulo tem se a área do semicírculo de raio c é a Soma das áreas

calcular os perímetros dos polígonos regulares inscritos e circunscritos de 12, 24,

48, 96 lados e, dessa forma, obter cada vez mais próximo do valor limite de .

Começando com um triângulo, polígonos regulares, e duplicando o número de

lados até que Arquimedes alcançou polígonos de 96 lados. Os perímetros

sucessivos dos polígonos inscritos formam uma seqüência, e os dos circunscritos

formam outra. Se o processo fosse contínuo, as duas seqüências convergiriam

para o mesmo limite que é o comprimento da circunferência. Se o raio dessa

última fosse a unidade, o limite comum seria . Assim, usando o processo de

raciocínio por absurdo, Arquimedes encontrou uma aproximação da

circunferência do círculo pelo uso dos polígonos regulares inscritos e

circunscritos. Esta demonstração apresenta duas seqüências, e ambas são

constituídas por números Racionais, de acordo com COBIANCHI (2001).

O “método de exaustão” será muito importante para a idéia de limite,

porque se apóia na noção de que duas grandezas variáveis se aproximarão do

estado de igualdade se sua diferença tornar-se quase nula. Esse método, que se

constitui em um avanço muito importante ao estudo da continuidade, levou

Arquimedes a uma posição considerável no cálculo diferencial e integral, que o

usou esse método em várias circunstâncias para estimar a quadratura da

parábola, o perímetro da circunferência e área do círculo.

Outra obra importante de Arquimedes foi “O Método”, descoberto

casualmente por Heiberg em 1906, é um dos poucos documentos da história da

Matemática, que menciona procedimentos para a descoberta de teoremas. Por

ele, sabemos que Arquimedes pesava e media mentalmente curvas, superfícies e

volumes, o que muitas vezes sugeria as relações que mais tarde provava com

todo o rigor matemático. A obra O Método tratava do assunto de Continuidade.

Em todos os trabalhos, Arquimedes combinou uma originalidade de

raciocínio surpreendente com uma mestria de técnica de cálculo e rigor nas

demonstrações.

O primeiro trabalho sobre o cálculo do foi desenvolvido por meio de

trigonometria, enquanto que Arquimedes usou o processo para o cálculo do

comprimento da circunferência, que é apresentado na obra sobre as medidas do

círculo e que é considerada a primeira tentativa verdadeiramente científica de

54

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calcular-se o valor aproximado de , já que ele começou provando que a área

daquela figura é igual à de um triângulo cuja base é o comprimento da

circunferência e cuja altura é o raio do círculo.

Podemos dizer que o número certamente o irracional mais conhecido é

definido a área limitada por um círculo de raio 1. A demonstração de que é um

número irracional, apesar de não ser trivial, pode ser feita usando-se apenas o

cálculo diferencial elementar. A primeira demonstração de que é irracional só

foi obtida em 1761 por J.H. Lambert, de forma não completamente rigorosa,

usando frações contínuas, tendo sido finalmente obtida de modo rigoroso pelo

famoso matemático A. M. Legendre e publicada em 1855. O fabuloso matemático

grego Arquimedes foi o primeiro a obter uma aproximação razoável de por

números racionais. Ele provou que 7

13

71

103 , usando dois polígonos

regulares de 96 lados, um inscrito e outro circunscrito a um círculo de raio 1. No

século XVIII, o matemático suíço Leonard Euler demonstrou essa

igualdade: ...2

1

2

1

2

1

2

1.

2

1

2

1

2

1

2

12

2

1

2.2. Renascimento da Ciência

2.2.1. Galileu

Galileu Galilei (1564-1642) – humanista e estudioso em matemática, física

e astronomia era dono de um intelecto incomparável.

Foi seduzido ao estudo matemático do movimento e à relação entre a

distância, velocidade e aceleração e foi encontrar um método matemático de

tratamento adequado dos processos infinitos.

Galileu nunca deu explicação de suas idéias sobre os cálculos, deixando

isto para seus alunos Torricelli e Cavalieri. Suas idéias matemáticas eram sempre

originais como transparece da sua observação: “nem o número de quadrados é

menor do que o da totalidade dos números, nem o último é maior do que o

primeiro”, segundo STRUIK (1992, p. 160).

55

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GUZMÁN (1986, p. 103) aponta que os pitagóricos, no século VI a.C.,

pensaram que não seria preciso sair essencialmente dos números naturais para

interpretar matematicamente a realidade. Eles verificaram que no próprio símbolo

de sua fraternidade religiosa, o pentagrama, se escondia um monstro

incompreensível chamado número irracional, o número áureo, e

conseqüentemente a idéia do infinito. É possível que os gregos se depararam

com a idéia de infinito por causa dos recorrentes paradoxos atribuídos ao filósofo

Zenão de Eléa (495 – 435 a.C.). As idéias de infinitamente pequeno estavam

muito longe de serem resolvidas, já que as grandezas infinitamente pequenas são

aquelas as quais todo múltiplo fica inferior a unidade e as grandezas infinitamente

grandes, aquelas que são maiores que todo número qualquer de unidades, isto é,

aquelas as quais todo o conjunto finito de unidades constitui apenas uma parte.

A mesma confusão voltou a surgir com os paradoxos de Galileu sobre

infinitamente grande. A situação pareceu ficar bem encaminhada em finais do

século XIX, quando Weierstrass, Cantor e Dedekind conseguiram reinterpretar e

atualizar as velhas teorias gregas.

Observe a equação: 1...8

1

4

1

2

1, ou, em notação mais sofisticada,

. Do lado esquerdo parece que temos algo incompleto, a soma infinita; o

do lado direito temos finitude, um complemento. Nesse caso, há uma tensão entre

os dois lados, que é uma fonte de poder e um paradoxo.

121n

n

O infinito constituiu-se, então, um conceito intimidador, conflitante com a

nossa intuição e causou espanto a Galileu ao descobrir que os conjuntos infinitos

não se comportavam da mesma maneira que os finitos, o caso dos conjuntos

enumeráveis entre conjunto dos números quadrados perfeitos e conjunto dos

números inteiros positivos.

Parece que os estudiosos em matemática alimentam-se substancialmente

todas as vezes que um paradoxo é enunciado e saem em busca incessante de

explicação, enriquecendo, assim, a matemática.

56

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2.2.2. Cavalieri (1598-1647)

BONAVENTURA CAVALIERI, discípulo de Galileu, desenvolveu a noção

de indivisíveis, mas que se mostrou inadequada para o cálculo. Entretanto,

Cavalieri conseguiu obter áreas limitadas através de curvas como y=xm, onde m é

um inteiro positivo.

Em seu livro Geometria indivisibilus continuorum, publicado em 1635,

Cavalieri estabeleceu uma forma simples de cálculo o ponto gerando a reta e a

reta gerando o plano através do movimento. Então, adicionou segmentos de reta

para obter uma área e segmentos de plano para obter um volume mas quando

Torricelli lhe mostrou que desta forma se podia provar que qualquer triângulo é

dividido por uma altura em duas partes iguais, ele substituiu “linha” por “faixa”, ou

seja, uma linha de pequena espessura, e assim voltou-se a uma teoria “atômica”

(o mundo é constituído de elementos indivisíveis). As suas idéias sobre linhas que

construíam uma área conduziram-no ao correto princípio de Cavalieri, o qual

afirma que sólidos de alturas iguais terão mesmo volume se as secções planas de

alturas iguais tiverem a mesma área, o que permite realizar o equivalente da

integração de polinômio.

Embora alguns estudiosos em matemática tenham rejeitado

completamente o uso dos indivisíveis de Cavalieri, outros, certos de que eles

constituíam uma ferramenta poderosa no processo de resolução de problemas,

tentaram modificá-los de tal modo a poderem justificar o seu uso.

STRUIK (1992, p. 167) aponta que o aparecimento do livro de Cavalieri

estimulou um número considerável de matemáticos, em diferentes países, a

estudar problemas que envolviam infinitesimais (quantidades infinitamente

pequenas).

Os Indivisíveis de Cavalieri foram modelo para os mais importantes livros

escritos neste período de antecipação a Arithmetica infinitorum (1655), de John

Wallis (1616-1703). O título do seu livro mostra que Wallis tencionava ultrapassar

Cavalieri na sua Geometria Indivisibilibus; era a nova arithmética (álgebra) que

Wallis queria aplicar, não a antiga geometria. Nesse processo, Wallis estendeu a

álgebra numa verdadeira análise – foi o primeiro matemático a fazê-lo. Com os

57

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seus métodos dos processos infinitesimais obteve novos resultados e o introduziu

séries infinitas e produtos infinitos e usou com grande competência expoentes

imaginários, negativos e fracionários.

2.3. Idade Moderna

2.3.1. René Descartes (1596-1650)

WAGNER (1991, p. 9) aponta que o século XVII foi importantíssimo para a

história da Matemática nesse período. Começava a existir um grande intercâmbio

entre os matemáticos e formavam-se grupos de cientistas na França, Itália e

Inglaterra, podendo-se citar René Descartes.

Assim nasceu a ciência moderna que foi precedida e acompanhada por um

desenvolvimento do pensamento filosófico que deu origem a uma formulação

extrema do dualismo espírito/matéria, que veio à tona através da filosofia de René

Descartes. Para ele, a visão da natureza derivava de uma divisão fundamental em

dois reinos separados e independentes: o da mente e o da matéria.

A divisão cartesiana permitiu aos cientistas tratar a matéria como algo

morto e inteiramente separado de si mesmos, vendo o mundo material como uma

vasta quantidade de objetos reunidos numa máquina de grandes proporções.

Essa visão mecanicista do mundo foi sustentada por Isaac Newton, que elaborou

sua Mecânica a partir de tais fundamentos, tornando-a o alicerce da Física

Clássica.

A filosofia de Descartes não se mostrou importante apenas em termos do

desenvolvimento da Física Clássica já que exerce, até hoje, influência sobre o

modo de pensar ocidental.

Com a evolução do Cálculo e participando da renovação total da

matemática, os pensadores pouco a pouco iam libertando-se da antiga visão

aristotélica e surgiu uma nova matemática que haveria de se tornar o exemplo

clássico do pensamento quantitativo e lógico.

58

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STRUIK (1992, p. 162, 165) aponta que esta evolução da matemática foi

estimulada pela publicação de La Géométrie (1637), de Descartes, que introduziu

todo o campo da geometria clássica no domínio da ação dos algebristas.

Descartes publicou La Géométrie como uma aplicação do seu método

geral de unificação racionalista, nesse caso de unificação da álgebra e da

geometria. O mérito do livro, de acordo com o ponto de vista geralmente aceito,

consiste principalmente na criação da chamada “geometria analítica”.

DANTZIG (1970, p. 172) aponta que Descartes e Fermat buscaram a

solução na álgebra, algebrizando, assim, a geometria. Um problema de geometria

podia ter um processo de manipulação da álgebra para ter resultado na geometria

analítica. Assim, todos os famosos problemas da antiguidade, qualquer problema

que levasse a uma equação do primeiro grau era capaz de uma solução

geométrica apenas com régua; que a construção com compasso e régua era

equivalente a uma equação quadrática; mas se um problema levasse a uma

equação irredutível de grau mais alto do que o segundo, sua solução não seria

possível apenas com régua e compasso.

As propriedades da álgebra já admitiam implicitamente os irracionais em

termos de igualdade com grandezas racionais, cuja produção obtinha os mesmos

resultados que os gregos - comprometidos com o máximo rigor e limitados pelo

medo aos números irracionais e ao infinito.

2.4. Século dezenove

2.4.1. Bolzano

Bernardo Bolzano (1781-1848) foi um padre theco afastado pela igreja por

sustentar pontos de vista progressistas sobre teologia, e que publicou o livro

Paradoxos do Infinito, cuja obra e idéias receberam pouca atenção dos

matemáticos da época.

59

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Bolzano comenta que se pensássemos em termos de números de

elementos para conjuntos infinitos, teríamos um paradoxo, já que um conjunto

infinito poderia ser semelhante a um subconjunto próprio (como o conjunto dos

Naturais e dos naturais ímpares por exemplo).

Na perspectiva dos “Paradoxos” há necessidade de dissociar o conceito de

número do de grandeza, ao menos por duas razões:

A primeira permite definir as grandezas infinitamente grandes como

aquelas que são maiores que todo número qualquer de unidade, isto é, aquelas

as quais todo conjunto finito de unidades constitui apenas uma parte; a segunda,

as grandezas infinitamente pequenas como aquelas as quais todo múltiplo fica

inferior à unidade. Diríamos, em linguagem do dia-a-dia, que além dos números

inteiros esse conjunto compreende o que nós chamamos números racionais, os

números irracionais, e enfim os infinitamente grandes e os infinitamente

pequenos. Em outros termos, o conjunto das grandezas constitui uma extensão

do conjunto dos números reais (que compreende os inteiros, as frações e os

irracionais) acrescentando-se os infinitamente grandes e os infinitamente

pequenos.

A diferença entre número e grandeza ajuda a resolver o paradoxo do maior

número e outros do mesmo tipo. O conjunto, atualmente chamado por naturais,

de todos os números naturais é o exemplo de uma grandeza (pluralidade) infinita

que não é um número, pois, um número é uma “pluralidade numerável”, uma

grandeza finita.

2.4.2. Augustin-Luis Cauchy (1789-1857)

Cauchy é a figura mais influente da Matemática na França de sua época

por várias décadas. Primeiramente apresentou um novo estilo de rigor que formou

o princípio-guia para grande parte do desenvolvimento da Análise no século XIX.

Segundo, ele usou esse enfoque para definir a derivada como um limite, e fez

uma combinação dos conceitos de função e de limite nos fundamentos do cálculo,

que foi reconhecido no século XVIII.

60

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Cauchy foi, também, o responsável pela mudança de atitude na Análise e

apresentou o seu novo enfoque sobre esse conceito em seus livros. Forneceu

uma fundamentação completa dos conceitos de cálculo e incluiu muitos exemplos

de um novo tipo de raciocínio, especialmente em relação a problemas de

convergência de seqüências e séries.

Como aponta COBIANCHI (2001, p. 157), deve-se a Cauchy a idéia de que

a existência do limite de uma seqüência numérica determina a lei segundo a qual

se formam os termos da própria seqüência, sem que intervenham razões de

ordem geométrica. Ele definiu o número irracional como limite de uma seqüência

de números racionais, parecendo-lhe evidente a existência desse limite. Por

exemplo, a seqüência )n1

1(an

n define o número e .

Outro elemento para a sua definição de limite é a questão da interpretação

do termo “infinitamente pequeno”, o que capacitou também a formular uma

definição mais precisa de continuidade.

Quando os valores numéricos sucessivos de uma variável diminuem

indefinidamente de modo a tornarem-se menores que qualquer número dado,

dizemos que a variável se torna “infinitamente pequena” ou uma quantidade

infinitamente pequena. O limite de tal variável é zero. Segundo Cauchy, uma

quantidade infinitamente pequena não é zero, nem é uma quantidade constante

menor do que qualquer quantidade finita, mas é uma variável que se aproxima de

zero; na verdade, idéias vagas de uma quantidade que se torna cada vez menor

estavam na base de todas as explicações sobre infinitésimos como

indefinidamente pequenos.

2.4.3. Karl Wilhelm Theodor Weierstrass (1815-1897)

Karl Weiertrass estudou Direito por quatro anos na Universidade de Bonn,

passando em seguida para a Matemática. Abandonou os estudos antes de se

doutorar, tornando-se professor do ensino secundário em Braunsberg, de 1841 a

1854.

61

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STRUIK (1992) aponta que a fama de Weierstrass baseou-se no seu

raciocínio extremamente cuidadoso e no rigor, que é visível não apenas na sua

teoria das funções, mas também no seu cálculo das variações. Clarificou as

noções de mínimo de uma função e de derivadas e, com isto, eliminou o que

estava vago nos conceitos fundamentais do cálculo. Ele era a consciência

matemática por excelência metodológica e lógica. Outro exemplo do seu

raciocínio meticuloso foi a descoberta da convergência uniforme, já que com ele

começou a redução dos princípios da análise aos conceitos aritméticos mais

simples, o que nós chamamos hoje de aritmetização da matemática.

Atualmente em Análise, os tipos de desenvolvimento de raciocínio que se

baseiam no conceito de número irracional e no limite em geral é essencialmente

um mérito dessa atividade científica de Weierstrass. Devemos-lhe o fato de existir

unanimidade nos resultados das questões mais complicadas relativamente à

teoria das equações diferenciais e integrais, apesar das combinações mais

audaciosas e diversificadas com a aplicação sobre a transposição de limites.

ÁVILA (2001, p. 129) aponta que nas Notas dos cursos de Weierstrass

aparecem as primeiras noções topológicas, em particular a definição de

“vizinhança” de um ponto, a definição de continuidade em termos de desigualdade

envolvendo e, e vários resultados sobre funções contínuas em intervalos

fechados. Em particular, o chamado “Teorema de Bolzano-Weierstrass”: “Toda

seqüência limitada ( possui uma subseqüência convergente” está entre esses

resultados, o qual ele formulou originalmente para conjuntos infinitos e limitados,

e não para seqüências. O Teorema diz que todo conjunto numérico infinito e

limitado possui ao menos um ponto de acumulação.

)an

Weierstrass, através de seus cursos, exerceu decisiva influência na

modernização da Análise.

2.4.4. Georg Ferdinand Ludwig Philipp Cantor (1845-1918)

Georg Cantor nasceu em São Petersburgo, Rússia, em 3 de março de

1845. Estudou matemática na Universidade de Berlim, entre seus professores

estavam Karl Weierstrass, Ernst Eduard Kummer e Leopold Kronecker.

62

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Ele percebeu que desde o tempo de Zenão, de Eléia (cerca de 450 a.C.), a

idéia do infinito é bastante sutil e perigosa, já que, por meio dela, podem-se

facilmente produzir alguns paradoxos de difícil explicação. No início do século

XVII, Galileu (1564-1642) notou um fato que lhe chamou atenção: nem o número

de quadrados é menor do que o da totalidade dos números, nem o último é maior

que o primeiro.

Como a cada número da linha superior corresponde um e um só número

da linha inferior e reciprocamente, não temos dificuldades em aceitar que ambas

têm a mesma quantidade de elementos. Entretanto, todos os números da linha

inferior também podem ser encontrados na linha superior, ou seja, como bem

observou Galileu no conjunto infinito dos naturais a parte é igual ao todo. Isso

bate de frente com a noção comum de Euclides, válida para quantidades finitas,

segundo a qual a parte é sempre menor do que o todo.

Segundo GARBI (2006, p. 285), com o Cálculo muitas discussões sobre

infinito, quantidades infinitamente grandes ou pequenas eram usadas para avaliar

limites. Desde o tempo de Zenão, de Eléia (450 a.C.) os estudiosos matemáticos

afirmavam que o infinito real é algo que não existe, havendo apenas um infinito

potencial, ou seja, a possibilidade de se fazer com que certas quantidades sejam

tão grandes quanto desejarmos. Em 1831, Gauss escreveu: “O infinito é apenas

uma figura de linguagem”, uma forma abreviada para a afirmação de que existem

limites dos quais certas relações podem se aproximar tanto quanto nós

desejarmos, desde que permitamos que outras magnitudes cresçam sem

qualquer restrição. Em relação ao infinito, os matemáticos ficaram mais

cautelosos porque estavam conscientes de que qualquer descuido poderia levar a

grandes erros. O estudo de Cantor foi sobre o tamanho dos conjuntos com

infinitos elementos, por exemplo existem infinitos números naturais e infinitos

números irracionais. Haveria alguma forma de se comparar estas duas

infinidades, de se saber se uma é maior do que a outra? Cantor entendeu que a

63

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possibilidade de se estabelecer uma correspondência biunívoca entre os

elementos de dois conjuntos finitos assegura que ambos têm o mesmo número de

elementos. Cantor decidiu estender esse mesmo critério para os conjuntos

infinitos de tal modo que todo conjunto que pudesse ser colocado em

correspondência biunívoca com o conjunto dos naturais era enumerável. Criou

também um número cardinal “transfinito” correspondente à infinidade dos

números naturais, chamando-o de (álef-zero, de álef, a primeira letra do alfabeto

hebraico). Por hipótese, se todos os conjuntos são enumeráveis, existiria apenas

um transfinito. Na verdade, esta era a idéia de Cantor na primeira etapa de sua

obra prima: enumerar os números reais era um dos pontos mais importantes de

seu programa; e a teoria dos números transfinitos deve seu nascimento a essa

tentativa do “contar o continuum”, segundo DANTZIG (1970, p. 191).

Em 1874, Cantor atestou que era impossível alinhar todos os números

reais numa seqüência enumerável. Entretanto, a demonstração disso só surgiu

em 1883, quando lhe aprimorou esta demonstração da não enumerabilidade do

conjunto dos números reais. Nela considerou somente as representações

decimais infinitas de cada número, como por exemplo: 0,5=0,4999..., para que

cada um deles tenha apenas uma única representação decimal. Um esboço das

principais idéias contidas em tal demonstração, é descrito a seguir:

O princípio geral consiste em presumir que todos os números reais foram

colocados hierarquicamente e supõe-se que fosse possível estabelecer uma

correspondência biunívoca entre os números do intervalo [0; 1], ou seja, os

números deste intervalo são elementos de uma seqüência escritos em suas

representações decimais da seguinte forma:

)9a0(onde

........................................

...a...aaa,0a

........................................

......................................

...a...aaa,0a

...a...aaa,0a

ij

nn3n2n1nn

n22322212

n11312111

64

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GARBI (2006) aponta que Cantor mostra, através de um processo

diagonal, que é possível produzir outros números, os quais apesar de reais não

estão entre os enumerados. Ora, construindo qualquer número do tipo 0,

, tal que ...,bbb 321 etc,b.ab,ab 3222111 , ele estará entre 0 e 1 e diferirá por

pelo menos um dígito de qualquer número da lista, que deveria conter todos os

reais daquele intervalo, se eles fossem contáveis. Portanto, não o são. Assim, a

cardinalidade do “contínuo” dos números reais não é 0 . Cantor chamou-a de c

(de contínuo) ou 1 , uma segunda ordem de “número transfinito”.

Quando dois conjuntos são ambos infinitos, não pode existir nenhuma

função sobrejetora f: N em R. Em particular se não existe nenhuma

correspondência biunívoca entre N e R, diz-se então que a cardinalidade de N é

estritamente menor do que a do R.

Transfinito é a existência de um número que fosse infinito, porém o menor

número maior do que todos os números finitos. Embora não haja o maior número

dos números – pode-se sempre somar 1 a qualquer número e obter um maior, há

a possibilidade da existência de um número maior do que todos os números

finitos.

Se A e B são duas coleções finitas, cada uma delas contendo o mesmo

número de elementos estão obviamente têm a mesma potência e também têm o

mesmo número cardinal.

Comprovada a existência dos dois transfinitos, Cantor questiona se haveria

algum transfinito entre ambos ou outros além de 1 . Pareceu-lhe evidente que

um transfinito maior do que 1 [a cardinalidade do segmento de reta unitário]

seria achado no conjunto dos infinitos pontos de um quadrado de lado unitário.

Cantor descobriu uma prova e uma forma de se estabelecer uma

correspondência biunívoca entre os pontos de tal quadrado e os pontos de tal

segmento. Seja um quadrado de lado unitário, um ponto P(x, y) genérico interno a

ele e um segmento de reta unitário com um ponto Q.

65

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Suponhamos que as coordenadas de P sejam e

onde os e os são dígitos de zero a nove. Se criarmos um

número ele estará entre zero e um e corresponderá a

um único ponto Q sobre o segmento unitário. Reciprocamente dado um ponto Q

qualquer por sua coordenada linear

...xxx,0x321

...ynn

...yyy,0y321

x,0q1

x1

x...n

y1

...n

yyxy221

x...yxyxyx,0q332211

, os dígitos

podem ser desembaralhados de volta, de modo a formar as coordenadas de

um ponto P interno ao quadrado e assim está estabelecida uma correspondência

biunívoca, como aponta GARBI (2006).

yxii

Figura 2.4.4.2

Esta também é uma das idéias primitivas de Cantor. Os pontos contidos

num segmento de comprimento 1 têm a mesma potência que os da linha definida,

e os pontos contidos dentro do quadrado de lado 1 têm a mesma potência que os

do plano indefinido. Para isso será suficiente mostrar que podemos estabelecer

uma correspondência um a um entre a região desse quadrado e o segmento,

segundo DANTZIG (1970).

2.4.5. Richard Dedekind (1831-1916)

Richard Dedekind (1831-1916) foi colega de Georg Cantor e estudou em

Göttingen, onde foi aluno de Gauss e Dirichlet. Em 1858 tornou-se professor em

Zurique, transferindo-se em 1862 para Brunswick, sua terra natal, onde

permaneceu pelo resto de sua vida.

66

Page 67: dissertacao keiji nakamura · Figura 2.1.3.1. Triângulo retângulo ..... 37 Figura 2.1.3.2. Do triângulo retângulo tem se a área do semicírculo de raio c é a Soma das áreas

Em 1858, no início de sua carreira como professor, percebeu a falta de

fundamentação adequada para os números reais, principalmente quando teve de

provar que uma função crescente e limitada tem limite. Na reconstrução dos

números reais foi buscar inspiração na antiga teoria das proporções de Eudoxo.

Assim, em 1887 Dedekind escreve. “... e se interpretamos número como

razão de duas grandezas, há de se convir que tal interpretação já aparece de

maneira bem clara na célebre definição dada por Euclides sobre igualdade de

razões. Aí reside a origem de minha teoria (...) e muitas outras tentativas de

construir os fundamentos dos números reais” (ÁVILA, 2001, p. 29).

(...) há muito tempo pensei, em vão, nestas coisas até que encontrei o que procurava. A minha descoberta será julgada de maneira diferente por pessoas diferentes mas acredito que a maioria dela a achará trivial..

No parágrafo anterior salientou-se que cada ponto p contido numa reta divide essa reta em duas partes tais que cada ponto de uma das partes fica à esquerda de cada ponto da outra parte. Afirmo que a essência da continuidade está na inversa, isto é, no seguinte princípio: se todos os pontos de uma reta pertencem a duas classes tais que cada ponto da primeira classe fica à esquerda de cada ponto da outra classe, então existe um e só um ponto que determina esta divisão em duas partes.” Richard Dedekind(GARDING, 1981, p. 145)

COBIANCHI (2001) aponta que para garantir sua definição de

“Continuidade” de maneira puramente aritmética, Dedekind aplicou procedimentos

iguais para o Conjunto dos números Racionais Q e para uma reta geométrica

contínua r, que constavam além de Continuidade, as propriedades de ordenação,

de enumerabilidade, de infinidade e de densidade. Foi estabelecido, também, um

morfismo entre o Conjunto dos números racionais Q e para uma reta geométrica

contínua r.

A comparação do domínio dos números racionais Q com a reta geométrica

contínua r levou ao reconhecimento da existência de lacunas de uma certa

imperfeição ou descontinuidade do conjunto Q e, ao mesmo tempo a reta

geométrica contínua r de perfeição, ausências de lacunas, continuidade.

Assim, deve-se a Dedekind uma nova concepção puramente aritmética do

número irracional.

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Consideremos o conjunto de todos os números racionais Q.

Pode-se repartir o conjunto dos números racionais de uma infinidade de

maneiras, em dois conjuntos R1 e R2, tais que cada racional pertença ou a R1 ou

a R2, qualquer número de R1 seja inferior a qualquer número de R2. Dedekind

chama de Corte esses conjuntos dos números racionais.

Três casos ocorrem, e apenas três, os quais mutuamente se excluem:

1) Em R1, existe um número r1 superior a todos os outros números desse

conjunto, e neste caso não existe em R2 nenhum número que seja

inferior a todos os outros números de R2. Exemplo: Considere um corte

(R1, R2) na reta numérica racional de modo que à classe R1 pertençam

todos os números racionais menores ou iguais a zero, e à classe R2

todos os racionais maiores que zero.

Figura 2.4.5.1. exemplo 1

Seja R1 o conjunto formado pelos racionais negativos e zero; R2

compreende todos os racionais positivos, dos quais nenhum é inferior a todos os

outros. Nesse caso, dizemos que (R1, R2) define o número real 0, que é também

um número racional.

2) Em R2, existe um número r2 inferior a todos os outros números desse

conjunto, e neste caso não existe em R1, nenhum número que seja

superior a todos os outros números de R1. Exemplo: Considere um

corte (R1, R2) na reta numérica racional de modo que à classe R1

pertençam todos os racionais menores que zero e à classe R2, todos os

racionais maiores ou igual a zero.

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Figura 2.4.5.2. exemplo 2

Nesse caso, dizemos que (R1, R2) define o número real 0, que é também

racional.

3) Não existe em R1 um número que seja superior a todos os outros de R1,

nem em R2 um número que seja inferior a todos os outros de R2.

Exemplo: Considere um corte (R1, R2) na reta numérica racional de

modo que à classe R1 pertençam todos os números racionais cujo

quadrado é menor que 3 e à classe R2, todos os racionais cujo

quadrado é maior que 3.

Observe que (R1, R2) define um corte sobre Q, pois qualquer número

racional ou pertence à classe R1 ou pertence à classe R2. Além disso, não existe

nenhum racional que pertença as duas classes ao mesmo tempo.

Figura 2.4.5.3. exemplo 3

Não existe nenhum número racional que seja o maior de todos os de R1,

nem nenhum que seja menor de todos os de R2, porque nenhum número racional

tem 3 para quadrado.

No exemplo 1 e 2, os conjuntos R1 e R2 caracterizam o número racional

r1=r2=0. No exemplo 3, por extensão, R1 e R2 definem um número qualificado de

irracional.

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Para Dedekind, qualquer número racional ou irracional é o símbolo de um

corte no sistema dos números racionais, assim, cada corte aberto, ou corte do

terceiro tipo, se identifica a um número irracional.

Observe que o que faz Dedekind não é nada mais do que ampliar o

domínio numérico, dos números racionais, que era conhecido pelos gregos

juntando a esses números racionais uma nova categoria de números, os números

irracionais, que vêm preencher as lacunas cuja existência os gregos já haviam

constatado. Ao conjunto dos números racionais e irracionais, Dedekind dá o nome

de conjunto dos números reais, e à reta contendo os racionais e irracionais de

reta numerada real.

Assim, Dedekind conclui que, segundo MIGUEL (2005, p. 115):

1) Existem mais pontos na reta que números racionais;

2) O conjunto dos números racionais não é adequado para se aplicar

aritmeticamente a continuidade da reta;

3) Logo, é absolutamente necessário criar novos números para que o

domínio numérico seja tão completo quanto a reta, isto é, para que

possua a mesma continuidade da reta.

De acordo com a teoria de Dedekind, esse é o único aspecto que distingue

os dois tipos de números: é característica de um número racional pertencer a uma

das classes e é também característica dos irracionais não pertencer a nenhuma.

DANTZIG (1970, p. 156) aponta que, por mais paradoxal que possa

parecer, o presente é verdadeiramente irracional, usando-se a palavra no sentido

de Dedekind, pois, apesar de agir como partição, não é nem parte do passado,

nem do futuro. Na verdade, numa Aritmética baseada apenas no tempo, se tal

Aritmética fosse possível, o irracional seria encarado como um dado, enquanto

todos os esforços de nossa lógica seriam dirigidos para o estabelecimento da

existência de números racionais.

COBIANCHI (2001, p. 194) aponta que através dos “Cortes de Dedekind”

foi explicado de uma maneira puramente aritmética o conjunto dos números reais,

justificado também a continuidade, e a noção de número irracional adquirindo

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sentido geral, rigoroso, e colocando um ponto final em mais de vinte século de

polêmicas, dúvidas e brigas filosóficas.

2.5. Considerações

As primeiras descobertas do ser humano foram frutos de tentativa e erro e

não de uma prática desenvolvida do método científico como o conhecemos hoje.

Entre o quinto e o sexto século a.C., os gregos descobriram que os

segmentos incomensuráveis são indispensáveis em geometria, e esta foi uma das

mais importantes contribuições à civilização.

Este trabalho tenta compreender a construção do conhecimento do número

Irracional, quais os grandes conflitos filosóficos da época, e como foram feitas as

principais descobertas que permanecem válidas até hoje.

O primeiro caso de duas grandezas, que não guardam ente si uma relação

de inteiro a inteiro, foi encontrado pelos pitagóricos no lado e na diagonal de um

quadrado. A demonstração da sua incomensurabilidade foi encontrada em Os

Elementos de Euclides, mas Aristóteles dizia ser conhecida de Pitágoras.

Entendemos, então, que os gregos nunca chegaram a ter uma idéia clara

do que nós chamamos hoje de número irracional.

Foi Descartes que estabeleceu assim uma identidade das operações sobre

grandezas e das operações sobre números: do cálculo geométrico e do cálculo

algébrico. O irracional não lhe parece mais considerado numerus fictus (números

fictícios), mas como numerus verus (números com significados), por isso que se

torna necessário representar por números todos os estados de uma grandeza de

espécie determinada.

Só no final do século XIX que a noção de número irracional adquiriu

sentido geral, rigoroso e puramente aritmético, independente da intuição

geométrica. O ponto de vista cartesiano é ainda o do número como medida da

grandeza; os números reais concebem-se como medindo segmentos de uma reta,

na qual foram escolhidos uma origem e um segmento unidade já os irracionais

correspondem aos segmentos incomensuráveis ao segmento unidade.

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Essa interpretação métrica apresenta uma certa dificuldade. É preciso

mostrar que se tem o direito de efetuar sobre os números generalizados as

operações da aritmética, cujas regras foram estabelecidas para os números

racionais ou, em outros termos, que a cada símbolo obtido pela combinação das

expressões que representam os irracionais, corresponde efetivamente um certo

segmento. Isso exige o apelo à noção da continuidade geométrica, o que se

traduz por um postulado conhecido por postulado de Cantor-Dedekind.

O Postulado de Dedekind-Cantor: É possível associar a qualquer ponto na

reta um único número real e, inversamente, qualquer número real pode ser

representado de maneira única por um ponto numa reta, hoje conhecido como

Axioma segundo GARBI (2006, p. 290).

Para Dedekind, qualquer número racional ou irracional é o símbolo de um

corte no sistema dos números racionais. Cada corte aberto, ou corte do terceiro

tipo, se identifica com um número irracional.

Em outros termos, número real, racional ou irracional pode ser considerado

como par de conjuntos infinitos de números racionais, e como o número racional

se exprime em termos do número inteiro, a concepção de Dedekind nos permite

finalmente conceber o número irracional como uma arquitetura de números

inteiros.

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CAPÍTULO 3

Análise das reformas curriculares e dos livros didáticos

Nesta parte do estudo, apresentaremos uma análise de reformas

curriculares e de livros didáticos.

Os livros didáticos contêm exercícios, definições, exemplos, observações e

demonstrações que são apresentados em uma linguagem a ser usada na

comunicação com a classe. Muitas vezes, o professor aprende no livro didático

aquilo que vai ensinar a seus alunos sendo que o livro é umas das maiores fontes

do saber para os alunos. A maioria dos professores procura os livros didáticos

para a elaboração de seu plano de aulas e de ensino, não utilizando os

documentos oficiais (LIMA, 2001, p. 45).

Para escolha dos livros didáticos para análise tomou como base os livros

mais indicados pelos professores da nossa região Vale do Ribeira. Levamos em

conta também a opinião de alguns professores nossos conhecidos. Para análise

dos livros didáticos do Ensino Fundamental, separamo-os de acordo com as

reformas Curriculares, isto é, livros dos anos 70 pela oublicação dos Guias

Curriculares, livros dos anos 90, pela publicação da Proposta Curricular para o

ensino da matemática do 1º grau e livros dos anos 2000 devido aos Parâmetros

Curriculares Nacionais de matemática do Ensino fundamental.

Segundo os PCN (1998, p. 21), os documentos oficiais mais recentes não

são conhecidos pelos professores, que muitas vezes não sabem de sua

importância e nem o que motivou sua elaboração. Percebe-se ainda que as idéias

ricas e inovadoras, veiculadas nesses documentos não chegam aos professores

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ou são incorporadas superficialmente com diversas falhas de interpretação, não

provocando as mudanças esperadas e desejadas.

Um dos aspectos abordados neste trabalho refere-se a tentar compreender

as transformações sofridas pelo saber quando passa do campo científico para a

Escola.

Essas idéias apareceram na definição dada por Chevallard apud PAIS

(2002, p. 19).

Um conteúdo do conhecimento, tendo sido designado como saber a ensinar, sofre então um conjunto de transformações adaptativas que vão torna-lo apto a tomar lugar entre os objetos de ensino. O trabalho que, de um objeto de saber ensinar faz um objeto de ensino, é chamado de transposição didática.

Figura 3.a. Transposição didática: Conceito que expressa o processo de transformação em categorias (SANT’ANNA, BITTENCOURT e OLSSON, 2007, p. 78)

A transposição didática é um conceito que expressa o processo de

transformação entre três categorias: o saber sábio, o saber a ensinar e o saber

ensinado, aquele que verdadeiramente acontece em sala de aula.

Pela FIGURA 3.a acima notamos que, o processo de transposição didática

permite compreender a passagem do saber dos matemáticos (saber sábio) ao

saber a ensinar ou a saber ensinado, e este processo é encaminhado em várias

etapas. Uma das etapas passa-se ao nível da noosfera e da organização do

currículo. O papel de noosfera se relaciona com a transposição institucional, ou

seja, com a transposição dos saberes de forma que estes possam se configurar

enquanto objetos de ensino nas instituições. (ASSUDE, 1992, p. 95).

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Apresentaremos a seguir uma análise de documentos oficiais curriculares e

de livros didáticos dos anos 70, 90 e 2000, centrada em um objeto de ensino,

números irracionais.

3.1. Reformas do currículo de matemática

Iremos apresentar uma análise nos seguintes documentos:

Guia Curricular de matemática do 1º grau e Subsídios para

implementação do Guia Curricular de matemática - Álgebra para o 1º

grau – 5ª a 8ª séries – informações para o professor;

Proposta Curricular para o ensino de Matemática do 1º grau e

Experiências Matemáticas da 8ª série; e

Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino

Fundamental de Matemática.

3.1.1. Guias curriculares de Matemática – 1º grau – 1975

Subsídios para implementação do Guia Curricular de matemática-Álgebra

para o 1ºgrau – 5ª a 8ª séries – informações para professor

Na década de 70, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo –

SEESP, por meio de Coordenadoria de Ensino e Normas Pedagógicas – CENP,

elaborou, além dos Guias Curriculares (1976), os Subsídios para implementação

dos Guias Curriculares (1977) e a Geometria Experimental (1978).

Entretanto, no âmbito de Delegacia de Ensino (DE), antiga denominação à

Diretoria de Ensino, apontava-se a dificuldade de comunicação com as Unidades

Escolares no que se referia às discussões sobre implantação de novas propostas.

Assim a CENP, órgão central da SEESP, encarregada de promover um canal

competente de comunicação entre os órgãos centrais e a rede escolar, propôs a

criação da Monitoria (1976), hoje denominada Assistente Técnica Pedagógica

(ATP), com o objetivo de dar apoio pedagógico regional à ação supervisora na

implementação do currículo de matemática.

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Assim, os programas de conteúdo matemático eram divulgados por

professores de universidades brasileiras e os Guias por professores divulgadores

da Delegacia de Ensino e do Curso de Metodologia da Matemática - materiais

estruturados.

Os subsídios para implementação do Guia Curricular de matemática –

Álgebra para o 1º grau - 5ª a 8ª séries – informações para professor, serviram

como instrumentos nos quais o professor podia buscar o conhecimento, já que

fora concebido com objetivo de auxiliá-lo com algumas informações referentes a

certos conceitos subjacentes à maioria dos assuntos abordados no Guia

Curricular.

Até a década de 70, predominava no Brasil uma orientação curricular que

se caracterizava por apresentar uma ordem hierárquica de conteúdos que

deveriam ser ensinados, geralmente sem incluir aspectos importantes como

objetivos, metodologia, sugestões de atividades etc.

No início dos anos 70, o ensino de Matemática no Brasil, assim como em

outros países, foi influenciado por um movimento de renovação, a nível da

organização do saber e do ensinar foi à reforma, sendo conhecido como

Movimento da Matemática Moderna.

A Matemática Moderna nasceu como um movimento educacional inscrito numa política de modernização econômica e foi posta na linha de frente do ensino por ser considerar que, juntamente com a Área de Ciências, ela constituía uma via de acesso privilegiada para o pensamento científico e tecnológico. Para tanto se procurou renovar a Matemática desenvolvida na escola da Matemática como é vista pelos estudiosos e pesquisadores. (PCN, 1998, p. 19).

O contexto inicial deste movimento era muito diferente do que prevaleceu

nas propostas curriculares. Acreditava-se que era possível um ensino proposto

que se fundamentava em grandes estruturas que organizavam o conhecimento

matemático contemporâneo e enfatizava a teoria dos conjuntos, as estruturas

algébricas, a topologia, etc. Esse movimento provocou, em vários países,

inclusive no Brasil, discussões amplas e reformas no currículo de Matemática.

Houve, ainda, tentativa de uso de novas técnicas de ensino, com o objetivo

de favorecer a aprendizagem. Diversas criações didáticas surgiram para tentar

76

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melhorar esta proposta, como foi o caso dos diagramas de Venn, que passou a

constituir um novo objeto de ensino. No entanto, essas reformas deixaram de

considerar um ponto básico que viria tornar-se seu maior problema: o que

propunha, estava fora do alcance dos alunos, principalmente das séries finais do

ensino fundamental.

O ensino passou a ter preocupações excessivas com formalizações,

distanciando-se das questões práticas. A linguagem da teoria dos conjuntos, por

exemplo, enfatizava o ensino de símbolos e de uma terminologia complexa

comprometendo o aprendizado do cálculo numérico, da geometria e das medidas.

Os números eram tratados a partir de sua organização em conjuntos numéricos,

passando-se dos naturais aos inteiros, aos Racionais, aos Reais, tendo como fio

condutor as propriedades estruturais que caracterizavam tais conjuntos deixando

de lado a ampliação dos conjuntos numéricos e o estudo da evolução da noção

do número, principalmente dos irracionais.

Na figura 3.1.1.1 notamos que o conteúdo Números irracionais tem como

objetivo associar aos números irracionais as representações decimais infinitas e

não periódica. Essa caracterização dos irracionais pode criar obstáculos à

compreensão da noção de irracionalidade e da própria natureza do contínuo

numérico.

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Figura 3.1.1.1. Guias Curriculares – Conjunto dos números irracionais.

Os números racionais e irracionais têm um tratamento integrado na

aplicação do dia-a-dia, na utilização da tecnologia. Essa afirmação demanda um

entendimento um pouco mais aprofundado de que os números racionais podem

ser escritos como fração e os irracionais, não.

Os Guias trazem várias definições e aplicações para os números racionais

e suas propriedades (densidade, ordenação, etc) enquanto os números irracionais

vêm com pequena definição e sem explicação dadas as suas propriedades

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(densidade, ordenação, etc), com tratamento isolado e não parecendo existir

conexão entre os conteúdos num único momento.

Entendemos, em primeiro lugar, que o professor precisa fundamentalmente

conceber os irracionais como números, em segundo lugar, que o professor

precisa saber a diferença entre números racionais e irracionais e que os racionais

completam os irracionais, e, finalmente, precisa saber que são objetos criados

com alguma finalidade, ou alguma necessidade humana.

Os subsídios do Guia Curricular de matemática dão umas informações a

respeito da necessidade de ampliação do conjunto numérico através da equação

x2=r e justificando que existem lacunas nos conjuntos números racionais.

Apresentam na figura 3.1.1.2 que não existe o racional q

p que seja a medida da

diagonal de um quadrado de L unidade de lado, isto é, a equação x2-r=0 não tem

solução em Q.

Figura 3.1.1.2. Subsídios para implementação do Guia Curricular de Matemática-Álgebra para o 1º grau - 5ª a 8ª séries - informações para o professor.

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A figura 3.1.1.3 mostra, usando a representação decimal e aproximações,

uma seqüência de racionais menores que 2 e uma seqüência de racionais

maiores que 2 , ambas com limite 2 .

Figura 3.1.1.3. Subsídios do Guia Curricular de matemática-Álgebra para 1º grau

Percebemos que o ensino era realizado de modo centrado no professor

que expõe, demonstra ou prova rigorosamente tudo no quadro-negro. O aluno,

salvo algumas poucas atividades alternativas, continua sendo considerado

80

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passivo, tendo de imitar a linguagem e os raciocínios lógico-estruturais ditado pelo

professor (FIORENTINI, 1995).

3.1.2. Proposta Curricular para o Ensino de Matemática – Ensino

Fundamental – 1997

A proposta Curricular para o ensino de matemática – Ensino fundamental

do Estado de São Paulo, elaborada pela Coordenadoria de Estudos e Normas

Pedagógicas - CENP, da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo foi

publicada durante os anos 80/90.

Em decorrência da contraposição às idéias do Movimento da Matemática

Moderna a concepção de currículo também havia sido alterada significativamente,

em lugar de uma concepção que privilegiava o tecnicismo e o formalismo no

ensino da matemática, passava a defender os princípios da tendência pedagógica

conhecida como construtivista.

O construtivismo adotado pela Proposta Curricular levava em conta que o

conhecimento matemático deveria valorizar mais o processo do que o produto. A

preocupação maior era o desenvolvimento de estruturas mentais dos alunos e,

desse modo, a importância do conteúdo em si era bastante relativa.

A Proposta Curricular para o ensino da matemática - Ensino fundamental,

as Experiências matemáticas, a Prática Pedagógica de matemática, as Atividades

Matemáticas são instrumentos em que o professor pode buscar o saber sábio e o

saber a ensinar.

O volume 4 das Experiências Matemáticas (1994, p. 14-5) tem em seu

prefácio:

O papel do professor é portanto, fundamental, em todos os aspectos, seja na ordenação das atividades, seja na ampliação ou redução da abordagem de um dado assunto, seja em relação ao fato de não submeter todos os alunos mesmo ritmo etc..

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É importante destacar que numa proposta em que os objetivos, os conteúdos e a metodologia se redefinem, a avaliação não pode restringir-se meramente à aplicação de provas e testes, mas utilizar-se de um amplo espectro de indicadores. Eles podem incluir a observação do aluno quando trabalha individualmente e seu posicionamento frente a um grupo; seu desempenho quando realiza provas com resultada mostrando competência para buscar as informações que interessam e também quando realiza provas em que o que se pretende identificar é o nível de sistematização e de assimilação de um dado conceito.

Entendemos que a Proposta Curricular para o ensino da matemática do 1º

grau foi considerada importante principalmente pelo modelo de modificações no

ensino da matemática e também pela ampla divulgação em todo o território

Nacional e sua influência na elaboração de propostas curriculares em outros

estados. Suas Diretrizes e sugestões a respeito da organização do conhecimento

matemático escolar influenciaram diretamente as propostas de diversos estados

até os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, principalmente quanto à

organização dos conteúdos por temas. a integração entre os temas num currículo

espiral e entre diferentes disciplinas e a Matemática.

Embora os números possam ser estudados a partir de sua organização em

conjuntos numéricos, passando-se dos Naturais aos Inteiros, aos Racionais, aos

Reais, tendo como fio condutor às propriedades estruturais que caracterizam tais

conjuntos, a Proposta Curricular apresenta esse conteúdo de uma maneira

diferente. Propõe-se acompanhar a evolução da noção de número, a partir de

contagem ou de medida, sem ter ainda as propriedades claramente divisadas,

deixando se guiar pelo fio condutor que a história propicia e trocando assim uma

sistematização prematura por uma abordagem mais rica em significados

(MIGUEL e MIORIM, 2005).

A Proposta Curricular dos anos 90 e as Experiências Matemáticas da

oitava série não trazem um maior aprofundamento do conceito de irracionalidade.

Tem-se que: D

C, chamando de C o comprimento da circunferência e de

D a medida do diâmetro da mesma unidade de medida. O número ,

apresentado dessa maneira, é pouco provável que um aluno diga que é um

número irracional.

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O aluno também tende a associar ao número irracional a idéia de número

aproximado, número de forma decimal infinita. Por exemplo, quando

determinamos por meio de uma calculadora o número 5 , obtemos o valor

aproximado 2,236067977.

Percebemos que na Proposta Curricular a abordagem do conjunto dos

números racionais sempre aparece antes do conjunto dos números irracionais. Na

ampliação do campo numérico, tanto a Proposta quanto as Experiências

Matemáticas dão ênfase ao conceito, aprofundamento e aplicação do conjunto

dos racionais e tratam o conteúdo dos irracionais, com recuperação do processo

histórico da produção desse conhecimento. Criam-se situações com a construção

de um quadrado de lado unitário e pergunta-se a medida da diagonal desse

quadrado, o que coloca em questão a postura do professor e a do aluno.

Para a implantação da Proposta Curricular, o professor necessita ter

postura de orientador e motivador da aprendizagem na construção de

conhecimento matemático, numa tarefa de erros e acertos. O erro que o aluno

comete ao realizar um exercício de matemática, passa a ser visto não de forma

negativa, ruim e que deva ser imediatamente corrigido pelo professor, ao

contrário, para o construtivismo, o erro é sinônimo de manifestação positiva de

grande valor pedagógico, refletindo um tipo de postura diferente que o professor

deveria ter diante do erro.(FIORENTINI, 1995).

3.1.3. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) 5ª a 8ª SÉRIE – Ensino

Fundamental

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) foram desenvolvidos a partir

dos anos noventa, praticamente dez anos depois das reformulações curriculares

que marcaram a década de 80, especificamente em São Paulo com a

apresentação da Proposta Curricular para o Ensino de 1º Grau. Os PCN, sob

influência de órgãos de financiamento internacionais, têm o intuito de orientar e

garantir a coerência entre as práticas educativas e os novos investimentos no

sistema educacional, além de terem a intenção de constituir, portanto, uma

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política curricular, com ênfase no desenvolvimento de capacidades, habilidades e

competências, visando à integração dos alunos no mundo social contemporâneo.

PIRES (2003) relaciona as várias tensões e questões existentes na época:

Como construir referências nacionais de modo a enfrentar antigos problemas da educação brasileira e ao mesmo tempo encarar novos desafios colocados pela conjuntura mundial e pelas novas características da sociedade, como a urbanização crescente? O que significa indicar pontos comuns do processo educativo em todas as regiões, mas, ao mesmo tempo, respeitar as desigualdades da realidade brasileira? Como equacionar problemas referentes à possibilidade de acesso aos centros de produção de conhecimento, tanto das áreas curriculares quanto da área pedagógica, e que se refletem na formação dos professores que colocaram as idéias curriculares em prática? Que Matemática deve ser ensinada às crianças e jovens de hoje e com que finalidade? De que modo teorias: didático e metodológico deve ser incorporado ao debate curricular, sem que sejam distorcidas e traga prejuízos a aprendizagem dos alunos?.

Os PCN trazem sugestões, objetivos, conteúdos e uma fundamentação

teórica dentro de cada área, com intuito de contribuir com o trabalho do professor.

Nessa proposta, optou-se por um tratamento específico das áreas, contemplando

também a integração entre elas, além de serem incorporadas às áreas de

conhecimento algumas questões sociais consideradas mais importantes, como

ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural, a serem

abordadas enquanto temas transversais. Além disso, os PCN sugerem a

organização do ensino através de ciclos formados pelo agrupamento de séries

segundo (SANT’ANNA, BITTENCOURT e OLSSON, 2007).

Os PCN mantiveram algumas semelhanças com a Proposta Curricular para

o ensino da Matemática de São Paulo, principalmente no caso da organização

curricular por grandes temas, mas também introduziram novos aspectos, ao

considerar novas áreas de pesquisa, como é o caso do debate a respeito das

novas tecnologias, da preocupação com a inclusão dos componentes sociais e

culturais, do aprofundamento do debate relativo ao papel do erro na

aprendizagem, como também da postura do professor com relação à valorização

dos conhecimentos prévios e das hipóteses que os alunos investigam nos

problemas. Assim, os PCN apresentam um discurso moderno na direção de uma

política curricular nacional.

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Os PCN estimulam o desenvolvimento do pensar matemático com a idéia

de que qualquer aluno é capaz de fazer matemática em sala de aula, envolvendo

cada um no processo de produção do conhecimento, a fim de garantir sentido ao

que é feito. Para tanto, é preciso despertar a análise crítica de valores e de idéias,

com atividades que façam parte de um contexto significativo para o aluno.

Quando a atividade tem significado para o aluno, amplia e resulta em

novas relações que ele estabeleceu entre os diferentes temas matemáticos e

também entre estes e as demais áreas do conhecimento e as situações do dia-a-

dia.

O estabelecimento de relações é fundamental para que o aluno

compreenda efetivamente os conteúdos matemáticos, que se tornam uma

ferramenta poderosa para resolver problemas e para a aprendizagem/construção

de novos conhecimentos.

Entretanto, tradicionalmente, o professor reproduz e apresenta o conteúdo

oralmente, partindo de elementos primitivos, definições para prosseguir com a

teoria e a demonstração. Só após esta apresentação completa é que aparecem

os exercícios de aprendizagem, fixação e aplicação, o que pressupõe que o aluno

aprenda pela reprodução. Assim, considera-se que uma reprodução correta

evidência se ocorreu a aprendizagem.

Essa prática de ensino tem se mostrado não eficiente porque não basta ao

professor passar ou dar aos alunos os conteúdos prontos e acabados, que já

foram descobertos e se apresentam sistematizados nos livros didáticos. Sob essa

concepção, é suficiente que o professor apenas conheça a matéria que irá

ensinar, cabendo ao aluno copiar e repetir.

Naturalmente, à medida que se redefine o papel do aluno diante do saber,

é preciso redimensionar também o papel do professor que ensina Matemática no

ensino fundamental.

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Ao trabalhar com essas relações nos terceiro e quarto ciclos o professor deve levar em conta que os alunos adolescentes; jovens atuam mais em grupo do que individualmente e, por isso, a interlocução direta com um determinado aluno é mais fácil de se estabelecer, principalmente diante de outros alunos. Tal fato exige do professor uma profunda compreensão das mudanças pelas quais eles estão passando, além da perseverança e criatividade para organizar e conduzir as situações de ensino de modo que garanta suas participações e interesses. (PCN, 1998, p. 39).

Segundo os PCN de matemática (1998), o professor deve desempenhar

diferentes papéis, organizador, facilitador, mediador, incentivador, avaliador.

Entretanto, segundo PIRES (2003) a descentralização na tomada de

decisões curriculares nas diferentes regiões brasileiras acarretou problemas

bastante graves. Ao deixar essa atribuição aos estados e municípios, o reflexo

das desigualdades regionais nos currículos ficava evidente: regiões mais

desenvolvidas economicamente e socialmente, com maior acesso à produção de

conhecimentos científicos, reuniam melhores condições de elaborar projetos

curriculares contemporâneos, incluindo avanços das pesquisas tanto das áreas

de conhecimento específico como das áreas didático-pedagógicas. Em

compensação, as demais continuavam reproduzindo listas de conteúdos sem

maior reflexão sobre a sua importância ou não. Esse contraste foi claramente

notado em estudo feito pela Fundação Carlos Chagas em 1996, que buscava

identificar o que se ensinava nas diferentes regiões brasileiras a partir da análise

de documentos curriculares oficiais.

No quarto ciclo, além da consolidação dos números e suas operações já

conhecidas pelos alunos, existe a necessidade de ampliar os significados dos

números pela identificação da existência de números não-racionais.

Os PCN (1998) recomendam aos professores que proponham aos alunos a

análise, interpretação, formulação e resolução de novas situações-problema,

envolvendo os números (Naturais, Inteiros e Racionais) e os diferentes

significados das operações, e que sejam valorizadas as resoluções aritméticas

tanto quanto as algébricas.

Dessa forma, assumem a resolução de problemas como um de seus

pilares e buscam argumentos relacionados ao desenvolvimento histórico da

Matemática para justificar a importância do trabalho com problemas históricos.

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A própria História da Matemática mostra que ela foi construída como resposta a perguntas provenientes de diferentes origens e contextos, motivadas por problemas de ordem prática (divisão de terras, cálculo de créditos), por problemas vinculados a outras ciências (física, astronomia), bem como por problemas relacionados a investigações internas à própria matemática. (BRASIL, 1998, p. 40).

Segundo MIGUEL e MIORIM (2005, p. 53) podemos entender ser possível

buscar na História da Matemática apoio para se atingir objetivos pedagógicos que

levem os alunos a perceberem, por exemplo:

1. a matemática como uma criação humana;

2. as razões pelas quais as pessoas fazem matemáticas;

3. as necessidades práticas, sociais, econômicas e físicas que servem de

estímulo ao desenvolvimento das idéias matemáticas;

4. as conexões existentes entre matemática e filosofia, matemática e

religião, matemática e lógica, etc;

5. a curiosidade estritamente intelectual que pode levar à generalização e

extensão de idéias e teorias;

6. as percepções que os matemáticos têm do próprio objeto da

matemática, as quais mudam e se desenvolvem ao longo do tempo;

7. a natureza de uma estrutura, de uma axiomatização e de uma prova.

3.2. Livros Didáticos

Nos PCN (1998, p. 20-1) encontramos que:

No Brasil, o Movimento Matemático Moderno, veiculado principalmente pelos livros didáticos, teve grande influência, durante longo período, só vindo a refluir a partir da constatação de inadequação de alguns de seus princípios básicos e das distorções e dos exageros ocorridos.

(...) Não tendo oportunidade e condições para aprimorar sua formação e não dispondo de outros recursos para desenvolver as práticas da sala de aula, os professores apóiam-se quase exclusivamente nos livros didáticos, que, muitas vezes, são de qualidade insatisfatória.

Recentemente, o Plano Nacional dos livros didáticos (PNLD), projeto de

avaliação institucional dos livros didáticos, veio a institucionalizar a vinculação

existente entre a política nacional de distribuição de livros didáticos e as práticas

escolares, por meio de uma seleção criteriosa dos livros a serem recomendados

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para uso didático nas escolas. Neste contexto, a influência dos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) tornou-se ainda mais relevante e constitui um dos

aspectos considerados na presente análise.

A função do livro didático no Brasil, enquanto instrumento de mediação de

tendências curriculares, tem sido objeto de estudos em diversas áreas, inclusive

em Educação Matemática. Essas análises indicam alguns problemas existentes

nos livros didáticos e ao mesmo tempo modificações e influências presentes

nesses materiais.

3.2.1. Livros didáticos dos anos 70

Analisamos duas coleções:

Coleção A – Matemática para o 1º grau – 7ª e 8ª série, de autoria de

Lydia Conde Lamparelli, Adolfo Walter P. Canton, Pedro Alberto

Morettin e Dalva Fontes Indiani, do ano de 1973.

Coleção B – Curso moderno de matemática para o ensino de 1º grau –

7ª e 8ª série, de autoria de Anna Averbuch, Franca Cohen Gottlieb,

Lucília Bechara Sanchez, Manhúcia Perelberg Liberman, supervisão de

L.H. Jacy Monteiro, do ano de 1977.

Nessas Coleções de livros didáticos analisados encontramos

recomendações para que o aluno faça suas atividades e anotações no próprio

livro. Observamos que as recomendações de atividades foram exatamente na

ordem de apresentação dos assuntos.

Encontramos um padrão recorrente nas coleções A e B. O texto contém

informações sobre o tema, apresenta introdução ou definição, propriedades e

procedimentos de cálculo. Além disso, cada um de seus capítulos:

(i) Expõe o “conhecimento pronto e acabado” e em seguida atividades de

fixação;

(ii) Aprofunda os conceitos na linguagem matemática, baseada na teoria

dos conjuntos, apresentando e discutindo quase tudo sobre o assunto;

(iii) Apresenta uma ordem linear dos conteúdos.

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Das características apontadas nas coleções A e B, a linearidade é a que

mais chamou nossa atenção pelos seguintes motivos:

a. parecem reproduzir implicitamente o modelo euclidiano, partem de

elementos primitivos: introdução, demonstração, fixação de exercícios e

aprofundamento;

b. no estudo dos temas, parte-se dos mais fáceis para os mais difíceis;

c. os conteúdos foram elaborados como conhecimentos prontos e

acabados de tal modo que o professor e o aluno ocupam uma posição

secundária, constituindo-se meros executores de um processo cuja

concepção, planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de

especialistas.

O livro didático da 7ª série da coleção A apresenta os números Irracionais

logo após atividades de números Racionais na forma fracionária, correspondendo

a uma representação decimal infinita e periódica. Os autores expõem o

conhecimento pronto sobre esses números Irracionais, dizendo que não possuem

uma representação decimal infinita e periódica, e em seguida, apresentam

exercícios de fixação.

No livro da 8ª série da coleção A, os autores fazem o estudo dos

segmentos comensuráveis e incomensuráveis e, em seguida, exercícios com

caráter de fixação.

No livro da 7ª série da coleção B, os números Irracionais apareceram

através de uma classificação de números decimais ilimitados que podem ser

dízimas periódicas ou não, já os decimais ilimitados que não são dízimas

periódicas representam números chamados Irracionais.

Também é feita a demonstração por absurdo de que a equação 2x2

não tem solução e que pode ser escrita como quociente de dois inteiros e em

seguida, são apresentados exercícios de aplicação.

No livro da 8ª série da coleção B, os autores dão ênfase a representação

de números Irracionais na reta numérica, sendo que nos exercícios preliminares,

tentam passar que existem segmentos de reta que não podem ser medidos

através de um número Racional.

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Observamos que os autores do livro didático da 8ª série da Coleção B

ainda possuem vestígios do modelo enciclopédico ao tentarem esgotar o assunto

de números Irracionais em unidade estanque de cada volume. Em nenhum

momento é destacada a relação do segmento incomensurável com o número

Irracional.

Na Figura 3.2.1.1, a atividade é formada de seqüência de triângulos

retângulos isósceles de lado 1, ESPIRAL PITAGÓRICA, para alguns valores de n,

a medida hn é racional quando (n+1) é quadrado perfeito e, para outros, a medida

de hn, não é racional quando (n+1) não é quadrado perfeito.

Figura 3.2.1.1. Curso Moderno para o ensino de 1º grau (AVERBUCH, GOTTLIEB, SANCHEZ, LIBERMAN, MONTEIRO, 1977, p. 6)

Nossa análise apontou que as coleções priorizam objetivos que se

restringem ao treino como desenvolvimento de habilidades estritamente técnicas.

Os conteúdos, sob esse enfoque, aparecem dispostos em passos seqüenciais em

forma de instrução programada, onde o aluno deve realizar uma série de

exercícios do tipo siga o modelo.

Esses livros foram elaborados numa perspectiva tradicional, respeitando a

linearidade apresentada no Movimento da Matemática Moderna, com

conhecimento pronto, isolado e exercícios de fixação sem respeitar o ritmo de

cada aluno.

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Essas considerações mostram que os autores centraram-se em uma

pedagogia tecnicista, com objetivos instrucionais e em técnicas de ensino com

que garantem o alcance dos objetivos propostos.

3.2.2. Livros Didáticos dos anos 90

Analisamos duas coleções:

Coleção C – Matemática: Conceitos e História – 1ºgrau – 7ª e 8ª séries,

de autoria de Scipione Di Pierro Netto, do ano de 1997.

Coleção D – Matemática e Vida; 1ºgrau – 7ª e 8ª série, de autoria de

Vincenzo Bongiovanni, Olímpio Rudinin Vissoto Leite, José Luiz

Tavares Laureano, do ano de 1997.

As coleções C e D analisadas parecem que foram elaborados sobre outra

visão, diferente dos anos 70 embora não tenham rompido seus compromissos

com a linearidade. Mesma não estando mais ligadas às estruturas matemáticas,

percebe-se uma mudança significativa em relação à linguagem matemática

utilizada na representação dos conceitos. Esta modificação se deve muito

provavelmente às tendências construtivistas presentes nos documentos oficiais

curriculares.

Nesta perspectiva, identifica-se também o objetivo de aproximar o

conhecimento matemático do cotidiano dos alunos, o que se evidencia nos textos

através de uma linguagem mais coloquial na apresentação dos conteúdos, assim

como na tentativa de atualização dos enunciados dos problemas construindo

conexões entre os temas e evitando em muitos pontos o conhecimento pronto e

isolado.

Nessas Coleções, o estudo de um tema não se limita a um só capítulo, ao

contrário, é retomado várias vezes ao longo das séries, com apresentações

diferentes, que buscam se adaptar à evolução da maturidade e da experiência

matemática dos alunos.

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Os autores dos livros didáticos atendem a orientação da história no estudo

dos números pelo fio condutor que a esta propicia.

No livro didático da 7ª série da Coleção C, o autor começa com ampliações

dos conjuntos numéricos de Naturais a Reais. Ao tratar de números Racionais

são explorados temas como densidade, distribuição dos números Racionais e

decimais periódicas na reta numérica.

Os Irracionais são introduzidos como que se não pudessem ser escritos na

forma de frações com numerador inteiro e denominador inteiro diferente de zero,

porque suas representações decimais são infinitas e não-periódica, conforme a

citação abaixo:

Se 2 tivesse um resultado exato, como 2 =1,4142135, então a última casa decimal seria um destes algarismos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 ou 9.

Acontece que, se 2 fosse 1,414213 ou 1,4142135, ou outro número qualquer, veja o que ocorreria: 1,414213 x 1,414213 = ..........9; 1,4142135 x 1,4142135 =.........5; 1,41421352 x 1,41421352 = ..........4. E jamais ocorreria o valor 2 ou 2,000...00 exato, pois:

1 x 1= 1; 2 x 2 = 4; 3 x 3 = 9; 4 x 4 = 16; 5 x 5 = 25; 6 x 6 = 36; 7 x 7 = 49; 8x 8 = 64; 9 x 9 = 81.

Neste caso, o irracional 2 nunca terá uma expansão finita, nem terá uma expansão infinita e periódica, pois se fosse um número decimal de expansão infinita e periódica como 1,414213562... resultaria 1

900000000

1272792206

900000000

3727922061

900000000

41421356414213562.

Assim, seria racional. (SCIPIONE DI PIERRO NETTO, 1997, p. 16).

O autor apresenta contos semelhantes ao de Malba Tahan, adequados à

prática pedagógica.

No livro da 8ª série da coleção C, o autor apresenta outras histórias sobre:

os pitagóricos e o 1º paradoxo de Zenão, as mônadas, Arquimedes e o cálculo do

número pi; os números pitagóricos, a diagonal e o lado dos quadrados, a corrida

de Aquiles e a Tartaruga - 2º paradoxo de Zenão.

No livro da 7ª série da coleção D, os autores fazem uma revisão dos

números Naturais, dos inteiros, dos Racionais e do descobrimento dos números

Irracionais, sempre usando recursos históricos. Para os autores, a alternativa pelo

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fio condutor que a história propicia forneceria a abordagem mais interessante para

tornar o estudo dos números irracionais mais significativo.

Bongiovanni, Vissoto e Lauriano (1997) comentam que os egípcios para

evitar que, após as cheias, um agricultor perdesse parte de suas terras para outro

mantinha funcionários par medir e desmarcar suas terras. Esses trabalhadores

usavam uma corda com treze nós distribuídos em intervalos iguais. Desse modo,

o intervalo entre dois nós funcionava como unidade de medida. A corda era fixada

ao chão de três estacas em pontos estratégicos. Se a corda ficasse bem esticada,

o anglo formado na segunda estaca media 90º de acordo com as medidas 3, 4 e 5

intervalos de nós. Os egípcios precisavam obter um ângulo reto para marcações

de suas terras, porque os terrenos geralmente eram retangulares. A primeira idéia

de aplicação do Teorema de Pitágoras.

No livro da 8ª série da coleção D, os autores fazem novamente uma

revisão do conjunto dos naturais, dos inteiros, dos racionais e dos números

irracionais com aprofundamento cada vez maior e com desenvolvimento cíclico,

em espiral, de acordo com as sugestões da Proposta Curricular para o ensino da

matemática/SEESP.

Bongiovanni, Vissoto e Lauriano (1997). Procuram trabalhar com os

números Naturais e suas propriedades, recordando os inteiros sobre regras de

sinais e mudança de referencial, direção e sentido, reconhecimento e a sua

definição de racional com as propriedades, e brincando com números Irracionais

para calcular na prática ou na calculadora o número famoso como pi e raiz

quadrada de 2.

3.2.3. Livros didáticos dos anos 2000

Analisamos duas coleções:

Coleção E – Matemática hoje é feito assim – Ensino fundamental – 7ª e

8ª séries, de autoria de Antônio José Lopes, do ano 2000.

Coleção F – Tudo é matemática – Ensino Fundamental – 8ª série, de

autoria de Luiz Roberto Dante, do ano 2005.

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Ao analisarmos as coleções E e F verificamos que atendem explicitamente

a proposta pedagógica e estão fundamentadas nos mesmos princípios

norteadores dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Os textos foram elaborados,

de tal modo, que evitam a linearidade e constroem conexões, fugindo de

conhecimento pronto. Além de seqüências didáticas específicas, existem seções

que propiciam diálogo e debates entre alunos e entre estes e o professor, bem

como a reflexão sobre conhecimentos extra-escolares.

O autor da coleção E, no livro da 8ª série do ensino fundamental, faz uma

revisão sobre os conjuntos numéricos os números naturais e suas propriedades,

dos múltiplos e dos divisores, os números inteiros, da propriedade de fechamento

para os naturais e inteiros, da enumerabilidade dos naturais e inteiros, do

conjunto Q dos números racionais, da ordenação dos racionais, dos decimais

finitos e infinitos (dízimas periódicas) e da representação decimal infinita e

periódica.

O autor introduz os irracionais por meio da história da matemática do

século IV a.C. e pela classificação dos números: infinita e periódica de número

racional e a infinita e não periódica de números irracionais. Afirma, ainda que hoje

temos respostas para maior parte das questões como essas, uma vez que

sabemos que:

Os irracionais são infinitos.

A expansão decimal dos irracionais é infinita e não-periódica e podemos

estabelecer uma correspondência entre os pontos de uma reta e os números

irracionais.

LOPES (2000) prova que os irracionais são infinitos pela demonstração de

que p é um número irracional sempre que p for um número primo. Sabe-se que

pela teoria dos números que o conjunto dos números primos é infinito, logo, pode-

se tirar a conclusão que o conjunto dos números irracionais é infinito.

Esse autor apresenta atividades com os Paradoxos dos infinitos (conjuntos

infinitos) e o uso de um número irracional no dia-a-dia.

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Lopes (2000) os conjuntos numéricos a partir de números naturais e suas

propriedades, par e ímpar, voltando ao assunto de números inteiros com

conjuntos enumeráveis e com m.m.c. (a, b) e m.d.c. (a., b), O conjunto dos

Racionais Q e sua definição, conjunto ordenado, e finalmente com números

irracionais com questionamentos: quantos são números irracionais? Como

representa-los? Que números são os racionais? Como se distribuem?

Comparando racionais com irracionais e suas densidades, usando um número

irracional, comprimento da circunferência, a quadratura do círculo e o pai da

calculadora.

O autor do livro da 8ª série da coleção F faz uma revisão geral nos

conjuntos numéricos dos naturais até os números racionais, semelhantes ao do

livro da coleção E.

Para a introdução dos números irracionais utilizou o número e o número

2 .

DANTE (2005, p. 17) aproxima os racionais do irracional e do irracional

2 para mostrar que a expansão decimal dos irracionais é infinita e não-

periódicas através de aproximações racionais sucessivas.

No primeiro momento, o autor classifica os números pelo padrão que não

se repete após a vírgula de números irracionais. Como exemplo dado:

0,10100100010000...O número é formado na parte inteiro que é zero e uma parte

não inteira formada de um1 0 um, um 1 dois 0, um 1 três 0, um 1 quatro 0, etc.

a) O notável número .

3< <4; 3,1< <3,2; 3,14< ;...15,3

b) O número 2 .

O autor descreve que o número 2 é a medida da diagonal do quadrado

de lado mede 1 unidade de comprimento.

A explicação vem por meio de comunicação perguntas e respostas:

- Como seria 2 na forma decimal?

- Vamos respondê-la por tentativas e aproximações.

95

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Se 221421 . Fazendo tentativas com uso da calculadora

temos:

25,2)5,1(

96,1)4,1(

69,1)3,1(

44,1)2,1(

2

2

2

2

Assim, 1,4< 5,12 . Tentando mais uma aproximação, temos:

0164,2)42,1(

9881,1)41,1(2

2

Logo, 42,1241,1 , continuando com o processo, poderemos chegar a

valores como: 2 1,414213562.

Para a construção do conjunto dos números irracionais, esses autores

procuraram incorporar algumas indicações presentes nos PCN de matemática em

relação à abordagem do conhecimento matemático, mas fazem de maneira

diferente.

96

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CAPÍTULO 4

Organização Praxeológica

Utilizaremos a noção de Organização Praxeológica proposta por Yves

Chevallard, presente em sua Teoria Antropologia do didático, para analisarmos

atividades desenvolvidas com números irracionais.

Numa atividade matemática como em qualquer atividade, existem duas

partes dependentes. De um lado estão as TAREFAS e as TÉCNICAS, e de outro,

estão as TECNOLOGIAS e as TEORIAS que são compostas de elementos que

permitem justificar e entender o que é feito, isto é, uma reflexão sobre a prática.

Para responder a uma determinada questão é necessário organizar uma

praxeologia matemática, que é constituída por tipo de problema, uma ou várias

técnicas, sua tecnologia e a teoria correspondente (CHEVALLARD, 2001, p. 275).

A tarefa envolve dois momentos diferentes ao mesmo tempo, o do

professor e o dos alunos nos problemas envolvendo números irracionais, sendo

que cada tipo de problema envolve uma técnica. Essa técnica é justificada pela

“tecnologia”, que além do torná-la compreensível, traz elementos que podem

transformar essa técnica, o momento tecnológico-teórico para dar ênfase aos dois

níveis de justificativa: a tecnologia, que se mantém mais próxima da técnica, e a

teoria, um pouco mais distante.

Justificada pela tecnologia, a técnica traz elementos que podem modifica-la

e ampliar seu alcance, superando suas limitações e permitindo, às vezes, a

97

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produção de uma nova técnica. Por sua vez a “teoria” é a explicação da

tecnologia e serve para interpretá-la, justificá-la e demonstrá-la.

Outro elemento da Organização Praxeológica que utilizamos em nossa

análise é chamado de Discurso Técnico-Tecnológico que consiste em utilizar três

momentos do estudo, isto é, a teoria e a tecnologia em relação a uma técnica de

forma simultânea (MAIA, 2007).

O bloco [tarefa/técnica] é considerado o saber-fazer, ao passo que

[tecnologia/teoria] é considerado o saber. Nesta perspectiva, no estudo da análise

do conceito de números irracionais, não se pergunta o que é número irracional,

mas quais são os tipos de tarefas a serem executadas e de técnicas envolvidas e

quais são as respectivas justificativas tecnológicas e teóricas. Assim, o conceito

matemático de número irracional emerge dessa praxeologia.

4.1. Critérios para análise

Na avaliação do tipo de tarefa, pretendemos verificar se ela está bem

identificada, se sua razão de ser está explicitada, se é adequada para os alunos

da série a que se destina e se o conjunto de tarefas fornece uma visão das

situações matemáticas mais utilizadas. Na avaliação da técnica, verificaremos se

ela é disponibilizada nos livros e, em caso afirmativo, se de maneira completa, ou

seja, passo a passo, ou somente esboçada. Na avaliação do bloco

tecnologia/teoria, se está disponível pelo menos no manual do professor e, em

caso afirmativo, como são dadas as justificativas tecnológicas.

Realizaremos essa análise considerando algumas situações nos livros

didáticos utilizados no capítulo anterior e incluiremos, ainda, as verificações se

estão seguindo ou não as orientações contidas nos documentos oficiais.

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Situação 1: A prova da irracionalidade de n c , onde c é racional positivo e n

inteiro positivo.

Abordagem tradicional (euclidiana)

Os livros didáticos anteriores à década de 70 parecem reproduzir

implicitamente o modelo euclidiano, pois geralmente partem de elementos

primitivos e definições para prosseguir com a teoria (teoremas e demonstrações)

Só após esta apresentação completa é que aparecem os exercícios de aplicação.

Para o entendimento dessa prova da irracionalidade é preciso ter

conhecimento básico de:

1. Números Naturais e inteiros:

Primos;

Unicidade da decomposição em fatores primos;

Inteiros pares e ímpares;

Propriedades de fechamento;

M.d.c. (a, b) e m.m.c (a, b);

Propriedades da divisibilidade.

2. Números racionais:

Definição de números racionais;

Representações decimais finitas e infinitas;

Dízimas periódicas;

3. Equações.

“Demonstre que n c não é racional”.

A tarefa proposta consiste em demonstrar que n c não é um número

racional de acordo com uma abordagem tradicional. A técnica a ser utilizada

consiste no fato de que os inteiros pares e ímpares são fechados em relação à

multiplicação. E, em particular, uma potência enésima de um inteiro par é par e

uma potência enésima de um inteiro ímpar é ímpar. O discurso teórico-

tecnológico compreende que nenhuma solução da equação b

acn pode ser

99

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escrita como quociente de dois inteiros, Para isso, utiliza-se um raciocínio por

redução ao absurdo.

Uma variação dessa situação é considerar o seguinte enunciado:

“Demonstre que 3 5 não é racional.”

A tarefa demonstrar de acordo com a abordagem euclidiana tradicional,

isto é, demonstração indireta, raciocinando por absurdo.

A técnica sabemos que os inteiros pares são fechados em relação à

multiplicação, o mesmo acontecendo com os inteiros ímpares. Em particular, o

cubo de um inteiro par é par e o cubo de um inteiro ímpar é ímpar.

O discurso Teórico-Tecnológico

suponhamos, agora, que 3 5 fosse um número racional, isto é, b

a53

onde a e b são inteiros. Suponhamos ainda, e isto é essencial para o argumento,

queb

a seja uma fração irredutível, ou seja, que a e b sejam primos entre si, que a

e b não têm divisores comuns. Elevando ao cubo a equação acima e

simplificando, obtemos, b5a,b

a5 333

3. Dessa igualdade podemos concluir

que, como a não é divisível por b, tem que ser divisível por 5. Como a é divisível

por 5 temos, inevitavelmente, a=5m. Agora faremos o mesmo com b.

De a3=5.b3, segue que 5.b3 é divisível por a. Como a e b não tem divisores

comuns, então 5 é divisível por a, logo a=1 ou a=5.

Se a=1 então não existe valor inteiro para b tal que 1=5.b3.

Se a=5 então também não existe valor inteiro para b tal que 53=5.b3, pois a

e b são primos entre si, ou seja, b não pode ser divisível por 5.

Mas, agora chegamos à conclusão de que a é inteiro ímpar (a=1 ou a=5) e

b não é inteiro, enquanto a e b foram, inicialmente, supostos primos entre

si. Esta contradição nos leva à conclusão de que não é possível escrever

3 5 na forma b

a com a e b inteiros e, portanto, 3 5 é irracional.

100

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Verificamos que a demonstração tem como primeira necessidade expor um

conteúdo conhecido dos alunos, porém o assunto exige muito conhecimento de

aritmética e da teoria dos números.

Do ponto de vista cognitivo, o aluno tem dificuldade para compreender a

prova da irracionalidade por envolver um raciocínio por absurdo.

Analisamos os livros didáticos da coleção A, a única que usou essa

situação1 como a demonstração de acordo com a abordagem euclidiana

tradicional, ou seja, demonstração indireta raciocinando por absurdo.

Todos os documentos oficiais das Reformas da Educação recomendam ou

indiretamente quanto a demonstração indireta euclidiana, situação 1, considerado

como referência a noção de rigor em matemática.

Situação 2: A prova da irracionalidade de n c , onde c e n são inteiros

positivos.

Abordagem Moderna (dedekindiana).

Em uma abordagem moderna dos números reais, a partir dos cortes de

Dedekind, observamos que:

1. Existem mais pontos na linha reta do que números racionais;

2. O conjunto dos números racionais não é adequado para aplicarmos

aritmeticamente a continuidade da reta;

3. É absolutamente necessário criar novos números para que o domínio

numérico seja tão completo quanto à reta.

Demonstre que n c não é racional.

A Tarefa consiste em demonstrar de acordo com a abordagem

dedekindiana moderna. E, a técnica considera um corte (A, B) na reta numérica

racional de modo que a Classe A pertençam todos os números racionais cuja

potência de n é menor que c e à classe B, todos racionais cuja potência de n é

maior que c. O discurso teórico-tecnológico compreende que se o número de

separação entre duas classes A e B não pertence à classe A, nem a classe B,

então o número não é racional. Ele será um número irracional.

101

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O conhecimento básico para entendermos essa prova de Irracionalidade

são: definição de números racionais; representações decimais finitas e infinitas,

representações decimais infinitas e não periódicas, potências, equações e

inequações em Q.

Uma variação dessa situação é considerar o seguinte enunciado:

Demonstre que 3 5 não é racional.

A Tarefa demonstrar de acordo com abordagem dedekindiana moderna.

A técnica demonstrar através dos cortes de Dedekind.

O discurso teórico-tecnológico observe que (A, B) define o corte sobre

Q, pois qualquer número racional, ou pertence à classe A ou pertence à classe B.

Portanto, não existe nenhum racional que pertença a ambas as classes ao

mesmo tempo.

Para provar a irracionalidade, escrevemos x= 3 5 . Se elevarmos ao cubo,

temos: x3=5, consideremos alguns valores de x tais que:

5x3

x 1 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,709X3 1 1,331 1,728 2,197 2,744 3,375 4,096 4,913 4,991

5x3

x 1,79 1,78 1,77 1,76 1,75 1,74 1,73 1,72 1,71X3 5,74 5,64 5,54 5,45 5,35 5,26 5,17 5,08 5,0002

Classe A={1; 1,1; 1,2; 1,3; 1,4; 1,5; 1,6; 1,7; 1,709...}

Classe B={1,79; 1,78; 1,77; 1,76; 1,75; 1,74; 1,73; 1,72; 1,71...}

Notamos que:

1. Todos os números racionais estão distribuídos nestas duas classes;

2. Os cubos dos números racionais da primeira classe são menores que 5,

crescentes e cada vez mais próximos de 5, enquanto os cubos dos

números racionais da segunda são maiores do que 5, decrescentes e

também cada vez mais próximos de 5;

102

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3. A diferença entre dois valores correspondentes, um da primeira e outro

da segunda classe, vai se tornando cada vez menor, nunca chegando,

porém, a ser nulo.

Nestas condições, o número 3 5 está separando essas duas classes de

números racionais, não pertencendo, portanto, ao campo racional, por não ser

possível encontrar um número racional cujo cubo seja igual a 5. As duas classes

de números racionais, com as propriedades enunciadas, serviram para definir

3 5 . Portanto, 3 5 é número irracional.

Do ponto de vista cognitivo, o aluno parece ter condição de processar essa

demonstração.

Ao examinarmos os livros didáticos das coleções analisadas tivemos

agradável surpresa, já que a prova da irracionalidade de n c já não ocorre na

velha abordagem tradicional, mas uma abordagem dedekindiana moderna

considerado a situação 2.

Os documentos das Reformas Educacionais indicam ou recomendam uma

abordagem moderna para justificar a irracionalidade. Dedekind elaborou uma

teoria dos números reais mais elaborada, no final do século XIX.

Situação 3 - A prova da irracionalidade de n c , onde c e n são inteiros

positivos.

Abordagem moderna pela equação polinomial.

Para verificar a irracionalidade de um número dado faremos uma pesquisa

de raízes racionais na equação polinomial.

Nas equações polinomiais , quando a, b, c e d

são números inteiros, ocorre a seguinte propriedade; se um número racional

)0a(0dx.cxbxa 23

q

p

(sendo p e q primos entre si) é raiz da equação polinomial, então p é divisor de d,

e q é divisor de a. Observamos que, substituindo x por p/q na equação acima,

temos:

103

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0d)q

p(.c)

q

p(.b)

q

p.(a

23

Efetuando cálculos nessa equação, podemos chegar às seguintes

conclusões:

qdcpqbpq

pa)ª1 2

3

Como o segundo membro é um número inteiro, então q tem que ser divisor

de a, pois p e q são primos entre si.

2ª)p

qdq.cbpqp.a

322

Como o primeiro membro é um número inteiro, então p tem que ser divisor

de d, pois p e q são primos entre si.

“Prove que n c não é racional.”

A tarefa demonstrar de acordo com a abordagem moderna, e

considerando a equação polinomial: xn=c.

A técnica um número da forma n c , onde c e n são inteiros positivos, ou é

irracional ou é um inteiro; no segundo caso, c é uma n-ésima potência de um

inteiro.

Dada equação polinomial: xn-c=0, a=1 e d=-c aplicando a seguinte

propriedade: q é divisor de a, isto é, q=1, e p é divisor de d, então }c,1{q

p.

O discurso teórico-tecnológico: fazer uma verificação se existe uma raiz

racional ou mais.

Uma variação dessa situação é considerar o seguinte enunciado:

“Prove que 3 5 não é racional.”

A tarefa consiste em provar que 3 5 não é racional utilizando uma

equação polinomial.

104

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A técnica consiste que, ou 3 5 é uma raiz de x3-5=0, ou esta equação tem

uma raiz racional, que tem que ser 1 ou 5, considerando a=1 e d=- 5.

O discurso técnico-tecnológico compreende que os divisores de a={-1,

1} e divisores de d={-1,1, -5, 5}

p é divisor de 5:, então p é –1, 1, -5 ou 5.

q é divisor de 1, então q é –1 ou 1.

Logo, para p/q temos as seguintes possibilidades: -1, 1, -5, 5.

Como (-1)3-5 0; 13-5 0; (-5)3-5 0; 53-5 0, então x3-5=0 não tem raiz

inteira, logo não tem raiz racional, de modo que 3 5 é um número irracional.

Do ponto de vista cognitivo, o aluno não terá dificuldade para processar

esta demonstração.

Ao examinarmos livros didáticos tivemos agradável surpresa, já que a

prova da irracionalidade de n c ocorre em todas as coleções numa abordagem

moderna pela equação polinomial dando sentido ao conhecimento matemático e

também ao saber escolar.

Todos os documentos oficiais das Reformas Educacionais recomendam a

utilização da abordagem mais moderna principalmente pela equação polinomial

valorizando a contextualização como objeto a ensinar na formação de jovens.

Situação 4: Construir uma técnica para provar a irracionalidade de outros

números

Situação 4 construir uma técnica para provar a irracionalidade.

A tarefa consiste em construir uma técnica para determinar se um número

dado é ou não irracional.

A técnica considera como ponto de partida que 3 é irracional. Se 3 é

irracional, então a sua metade 2

3 é irracional. Se somarmos

2

5, a soma

105

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2

35

2

3

2

5 é irracional. Então 2 vezes 35

2

35 também será e o

mesmo com 5+ 353 . Portanto, se sabemos que 3 não é racional, então

2

35 também não será racional.

O discurso técnico-Tecnológico utiliza o teorema: “se a e b são números

racionais, com b diferente de zero, e se x é um número irracional, então a+bx

também é irracional”.

Uma variação dessa situação é considerar o seguinte enunciado:

“Prove que 7- 3 não é racional.”

Como 3 é irracional, então 7- 3 é irracional. De outra maneira,

suponhamos que 7- 3 fosse um número racional, digamos r, isto é, r = 7- 3 ,

isolando a 3 , temos: 3 =7-r. Mas, números racionais são fechados em relação

às quatro operações: adição, subtração, multiplicação e divisão (exceto por zero)

e, portanto, 7-r é um número racional. Mas 3 é irracional e, assim, chegamos a

uma contradição. Concluímos, então, que 7- 3 é irracional.

Para esta demonstração é necessário conhecermos alguns irracionais e a

propriedade de fechamento das quatro operações para os racionais e assim

chegarmos a uma contradição.

Do ponto de vista cognitivo, o aluno será capaz de realizar as

demonstrações sem dificuldades com conhecimento de números racionais que

são fechados em relação à quatro operações: adição, subtração, multiplicação e

divisão(exceto por zero).

Ao analisarmos os livros didáticos das coleções, alguns autores como das

coleções B e C deixaram de utilizar a situação 4, na construção de uma técnica

para provar a irracionalidade de outros números.

Nem todos os documentos oficiais das Reformas Educacionais deixaram

de mencionar ou utilizar a situação 4 na construção de uma técnica para provar a

irracionalidade de outros números.

106

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Situação 5: Outras caracterizações de número irracional

Outras caracterizações de número irracional.

A tarefa é propor uma outra forma de caracterizar o número irracional. A

maioria dos livros didáticos de matemática traz as caracterizações do número

irracional como:

a. número irracional não é racional, e portanto não pode ser escrito na

forma de fração;

b. número cuja representação decimal é infinita e não-periódica.

A técnica aponta que, enquanto os termos número racional e fração

ordinária são, às vezes, usados como sinônimo, a palavra fração, sozinha, é

usada para denominar qualquer expressão algébrica com numerador e

denominador. (NIVEN, 1984).

O discurso técnico-tecnológico considera que qualquer número, com

representação decimal infinita periódica, apesar de não ter fim para o número de

termos, a soma tem um valor bem definido. O número por ter representação

decimal não-periódica, também corresponde a um determinado ponto da reta real.

É aquele para o qual converge a seqüência de pontos, ponto correspondente a

um ponto irracional.

A palavra “racional” se refere-se à razão de números inteiros e “irracional”

indica a ausência de uma tal razão.

Do ponto de vista cognitivo, a dificuldade do aluno está na linguagem de

todo dia, ao associar número irracional como tudo aquilo que não é familiar.

Todos os livros didáticos analisados trazem essas caracterizações dos

números irracionais sem explicações e detalhes do significado da palavra ou com

frase solta.

Todas as Reformas Educacionais trazem indireta ou diretamente as

caracterizações do número irracional. Nessa passagem de uma reforma para

outra, parece que criam um certo número de obstáculos. Parece que esses

obstáculos não se constituem na falta de conhecimento, mas pelo contrário, são

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conhecimentos antigos cristalizados pelo tempo, que resistem à instalação de

novas concepções que ameaçam a estabilidade intelectual de quem detêm esse

conhecimento.

Situação 6: Segmentos comensuráveis e Segmentos incomensuráveis

Segmentos comensuráveis e Segmentos incomensuráveis.

A tarefa consiste em descrever quando eles são chamados de segmentos

comensuráveis e quando de segmentos incomensuráveis.

Trataremos de duas técnicas a primeira pela razão de segmentos; e a segunda,

utilizando o método de subtrações sucessivas, conhecido como máximo divisor

comum entre dois segmentos dados.

O discurso técnico-Tecnológico compreende que:

1. Dados dois segmentos quaisquer, se a razão de suas medidas tomadas

com a mesma unidade for um número racional, os segmentos são

chamados comensuráveis e, se esta razão for um número irracional os

segmentos são incomensuráveis.

2. Sempre que for possível encontrar o maior divisor comum entre dois

segmentos, eles serão chamados de segmentos comensuráveis, pois é

possível expressar a medida de um deles utilizando o outro como

unidade de medidas. Se não for possível encontrar o maior divisor

comum entre dois segmentos, isto é, repetindo o processo e não

encontrar uma diferença zero, então eles são chamados de segmentos

incomensuráveis.

Do ponto de vista cognitivo, a dificuldade do aluno está na conceituação do

número racional como resultado da medição de uma grandeza, que coloca a

ênfase no aspecto do racional como expressão da medição de uma grandeza

escolhida como unidade. Essa expressão é um número inteiro ou fracionário,

chamado preferencialmente de número racional, caso contrário de número

irracional.

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Apenas a coleção A introduziu as atividades com segmentos

comensuráveis e incomensuráveis para melhorar a definição de números

racionais e números irracionais.

Dos documentos oficiais apenas o GUIA CURRICULAR deixou de apontar

a necessidade e a importância do estudo dos segmentos comensuráveis e

incomensuráveis para definir números racionais e irracionais respectivamente.

Situação 7: Infinito e representação decimal

A igualdade 0,333...=0,3+0,03+0,003+...=3

1 é verdadeira?

A tarefa consiste em identificar a dificuldade para interpretar essas duas

igualdades.

A técnica compreende em mostrar que a representação decimal infinita

por envolver a idéia de limite, não tem uma forma simples.

O discurso Teórico-Tecnológico considera que se

0,3+0,03+0,003+...=0,333... então representa a soma de infinitas parcelas. Por

um lado, o resultado de uma soma é concebido como o número finito 3

1 que se

obtém no final do processo de somar e, por outro lado, é impossível chegar ao

final. Nesse caso, a soma estende-se por um número infinito de parcelas.

Do ponto de vista cognitivo, a dificuldade do aluno está na compreensão da

idéia de limite envolvendo representação decimal infinita. Notamos que o símbolo

de reticências causa instabilidade nas respostas.

Ao examinarmos livros didáticos percebemos que não ocorrem abordagens

do infinito e representação decimal, sendo que essas ausências enfraquecem

sensivelmente as definições de números racionais e irracionais.

Os documentos oficiais analisados não apontaram para esses detalhes. O

infinito e a representação decimal sempre foram obstáculos epistemológicos e

problemas para os estudantes, bem como para os professores de matemática.

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Situação 8: Conceito de irracionalidade

Corte uma folha de papel sulfite em dois pedaços ao acaso. É sempre

possível exprimir a razão entre os tamanhos desses dois pedaços (as áreas ou

comprimentos deles) por um número racional?

A Tarefa consiste em aprofundar o conceito de irracionalidade.

A técnica considera a necessidade de reconhecimento dos segmentos

comensuráveis e incomensuráveis, e também a quantidade infinita de números

irracionais e racionais.

O discurso Teórico-Tecnológico compreende que a razão entre dois

números reais é irracional se um deles ou ambos for irracional.

Esta atividade tem como aprofundamento o conceito de irracionalidade

desmistificando a idéia que número irracional não pode ser escrito como fração.

Do ponto de vista cognitivo, a dificuldade do estudante está na

compreensão do conceito de irracionalidade.

Ao analisarmos os livros didáticos não encontramos atividades

relacionadas a esse conceito de irracionalidade.

Também não houve apontamento desse conceito de irracionalidade nos

documentos oficiais. Com a ausência desse objeto a ensinar, criam-se diferentes

fontes de dificuldades na aprendizagem escolar.

4.2 Quadro sinopse da aderência às situações

O Quadro resumo 1 apresenta uma síntese da análise realizada nas

coleções de livros didáticos, Os itens assinalados com um X indicam que o

capítulo do livro didático é aderente ao critério.

110

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SITUAÇÃO GUIA CURRICULAR PROPOSTA CURRICULAR

PARÂMETROS CURRICULARES

NACIONAIS 1-Prova da irracionalidade de n c - abordagem tradicional (euclidiana)

X X X

2-A prova da irracionalidade

de n c -abordagem Moderna(dedekindiana)

X X X

3-A prova da irracionalidade

de n c -abordagem Moderna pela equação polinomial

X X X

4-Construir uma técnica para provar a irracionalidade de outros números.

X X

5- Outras caracterizações de número irracional X X X6-Segmentos comensuráveis e segmentos incomensuráveis X X7- infinito e representação decimal 8- Conceito de irracionalidade

Quadro resumo 1. síntese das análises realizadas por situação nos documentos oficiais.

Analisando o quadro resumo 1 constatamos as situações 7 e 8 não estão

preenchidas. Acreditamos que as duas abordagens são de suma importância para

a construção do conceito de números irracionais. Os PCN de matemática do

Ensino fundamental apontam que a comprovação da irracionalidade de um

número dado só tem uma possibilidade, no âmbito da própria matemática (PCN,

1998, p. 106).

O GUIA CURRICULAR foi o único que deixou de mencionar na situação 6,

enfraquecendo ainda mais a ligação com números racionais e irracionais

respectivamente.

A situação 4 não foi apontada no GUIA CURRICULAR, mostrando que

para essa justificativa basta saber que os números racionais são fechados em

relação as quatro operações.

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SITUAÇÃO COL. A COL. B COL. C COL. D COL. E COL. F

1-Prova da irracionalidade de n c - abordagem tradicional (euclidiana)

X

2-A prova da irracionalidade de n c-abordagem Moderna (dedekindiana)

X X X X X X

3-A prova da irracionalidade de n c-abordagem Moderna pela equação polinomial

X X X X X X

4-Construir uma técnica para provar a irracionalidade de outros números. X X X X5- Outras caracterizações de número irracional X X X X X X6-Segmentos comensuráveis e segmentos incomensuráveis X7- infinito e representação decimal 8- Conceito de irracionalidade

Quadro resumo 2. síntese da análise por situação nas coleções de livros didáticos

Examinando os livros didáticos constatamos as situações 7 e 8 não estão

preenchidas. Talvez a maior dificuldade da situação 7 envolva a idéia de limite,

que não é tão simples para o aluno.

A situação 8 é uma atividade para verificar a possibilidade da

incomensurabilidade presente no dia-a-dia.

Analisando os livros didáticos, somente a coleção A comentou a situação 6,

que parece não considerar a possibilidade de incomensurabilidade de segmentos

e também a relação confusa com a irracionalidade.

Na situação 4, somente as coleções B e C não apontaram uma técnica

para provar a irracionalidade de um número dado. Para isso bastaria saber que os

números racionais são fechados em relação as quatro operações fundamentais.

A situação 1, foi apontada por apenas a coleção A, as demais coleções não

apontaram para essa abordagem, que é considerada ultrapassada e de difícil

entendimento por parte dos alunos.

A finalidade desse trabalho foi a de estudar os fenômenos relacionados ao

ensino e a aprendizagem do conteúdo de números irracionais nas séries finais do

ensino fundamental.

Nas coleções de livros didáticos analisados, apenas a coleção A

apresentou a abordagem tradicional euclidiana, por ter sido elaborado no período

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da Matemática Moderna. As coleções dos outros períodos mudaram bastante,

principalmente devido a influência da Proposta Curricular para o ensino da

matemática e dos Parâmetros Curriculares Nacionais.

A demonstração da irracionalidade com abordagens alternativas modernas

também foram destaque de nossa análise para a compreensão alguns aspectos

relacionados ao processo de ensino e aprendizagem de números irracionais.

Apontamos que:

As idéias matemáticas evoluem, nesse caso, o conceito de número

irracional não é estático, é um conhecimento historicamente construído

e que se reconstrói para cada professor;

Um mesmo objeto matemático como números irracionais, permite

diversas abordagens de ensino, que repercutem em nossa ação

pedagógica na sala de aula;

Uma vez que os conceitos matemáticos, como números irracionais, se

transformam, evoluem, modificam e ganham novos significados, sua

compreensão exige que se volte sempre a eles, em diferentes

momentos da aprendizagem.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir de nossos estudos, a nos propusemos responder a seguinte

questão de pesquisa: Que dificuldades surgiram ao longo da história da

Matemática para o desenvolvimento do conteúdo matemático, números

irracionais, e quais abordagens estão presentes nos livros didáticos?

Para tentarmos responder a essa questão, realizamos uma análise

histórico-epistemológica dos números irracionais e verificamos que a descoberta

dos incomensuráveis, na antiguidade, representou um momento de crise no

desenvolvimento da Matemática, a qual foi superada ainda no século IV a.C. por

Eudoxo da escola Platônica. Este autor desenvolveu uma teoria das proporções

que permitiu superar a dificuldade dos incomensuráveis sem a necessidade de

números irracionais, a qual pretendia contornar o problema de expressar a razão

entre segmentos incomensuráveis, que é um número irracional, pois os

estudiosos gregos da época aceitavam a existência de números inteiros e alguns

Racionais.

Depois de mais de dois milênios, Richard Dedekind construiu uma teoria

rigorosa dos números reais e vários estudiosos em matemática colaboraram

nesta conquista, desde as Antigas Civilizações, o Renascimento da Ciência, a

Idade Moderna e o século dezenove.

Cantor, um desses matemáticos que colaborou com o desenvolvimento

dos números reais, denominou o infinito dos números inteiros e dos racionais de

. Ele sabia que os números irracionais, os transcendentes em particular, eram

mais abundantes que os racionais, ou seja, que aqueles números não podiam ser

postos em correspondência biunívoca com os racionais. Continuando, por um

0

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método simples, Cantor provou que os números reais não são contáveis e

chamou a potência daquele conjunto de C (de contínuo) ou 1 .

Nos documentos curriculares oficiais, os números irracionais são tratados

em uma organização linear, por meio de acumulação nos conjuntos numéricos, ou

seja, primeiro os naturais, depois os inteiros, depois os racionais e por último os

irracionais. O tipo de abordagem dada ao seu ensino continua sendo o axiomático

euclidiano, enquanto outros tipos de abordagens poderiam ser mais aproveitados

pelos alunos e professores na sala de aula.

A maioria desses documentos propõe acompanhar a evolução dos

números irracionais através do fio condutor que a história propicia, trocando uma

sistematização prematura por uma abordagem mais rica em significados. A

História da Matemática mostra que os conceitos matemáticos foram construídos

como respostas a perguntas provenientes de diferentes origens e contextos,

motivadas por problemas de ordem prática, bem como por problemas

relacionados a investigações internas à própria matemática.

Nas coleções mais recentes, nas atividades com números irracionais, os

autores estão construindo conexões entre os temas, evitando a idéia de

conhecimento pronto, propõem a evolução dos números irracionais através do fio

condutor que a história propicia dentro da sala de aula. O estudo do tema

irracional é retomado várias vezes ao longo dos volumes, buscando acompanhar

a evolução do aluno e das experiências matemáticas desenvolvidas.

Entretanto, em nossa análise encontramos outras maneiras de abordar o

conteúdo matemático. Segundo Singh (1999), a idéia de demonstração

matemática clássica começa com uma série de axiomas, declarações que

julgamos ser verdadeiras. Então, através de argumentação lógica, é possível

chegar a uma conclusão: Se os axiomas estiverem corretos e a lógica for

impecável, então a conclusão será inegável o teorema.

Os teoremas matemáticos dependem deste processo lógico e uma vez

demonstrados serão considerados verdades. A prova matemática é absoluta, o

que faz com que essa ciência Matemática seja considerada exata, ou seja produz

conclusões indubitavelmente corretas.

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Essa maneira de ver a matemática é sentida nos livros didáticos da década

de 70. A partir da década de 80 começa-se a perceber um certo abandono dessa

abordagem tradicional euclidiana para abordagens mais modernas, como a

dedekindiana, que utiliza equação polinomial, além de outras caracterizações de

número irracional.

Percebemos em nossa análise que os números naturais, inteiros e

racionais são bastante trabalhados nos livros didáticos, mas os irracionais são

tratados de forma muito superficial.

O principal fator que nos motivou a realizar esse trabalho foi exatamente o

desejo de apontar e esclarecer dificuldades de ensinar e aprender sobre o

conjunto dos números irracionais. Conseguimos muito pouco, mas aprendemos

muito com esse trabalho.

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