dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

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BÁRBARA VALVERDE CASTILHO DESIGUALDADES RACIAIS NA ESTRUTURA OCUPACIONAL E O ACESSO ÀS OCUPAÇÕES PRESTIGIADAS (2002-2009) Dissertação de Mestrado Rio de Janeiro Agosto de 2011 ENCE Escola Nacional de Ciências Estatísticas Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais

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Page 1: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

BÁRBARA VALVERDE CASTILHO

DESIGUALDADES RACIAIS NA ESTRUTURA OCUPACIONAL E O ACESSO ÀS

OCUPAÇÕES PRESTIGIADAS (2002-2009)

Dissertação de Mestrado

Rio de Janeiro

Agosto de 2011

ENCE

Escola Nacional de Ciências Estatísticas Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais

Page 2: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

BÁRBARA VALVERDE CASTILHO

DESIGUALDADES RACIAIS NA ESTRUTURA OCUPACIONAL E O ACESSO ÀS

OCUPAÇÕES PRESTIGIADAS (2002-2009)

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Estudos

Populacionais e Pesquisas Sociais da

ENCE/IBGE como requisito parcial para

obtenção do grau de Mestre em Estudos

Populacionais e Pesquisas Sociais.

Orientadora:

Profa. Dra. Moema De Poli Teixeira

(ENCE/IBGE)

Co-orientador:

Prof. Dr. Marcelo de Paula Paixão

(IE/UFRJ)

Rio de Janeiro

Agosto de 2011

ENCE

Escola Nacional de Ciências Estatísticas Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais

Page 3: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

FICHA CATALOGRÁFICA

C352p Castilho, Bárbara Hilário de Souza Valverde

Desigualdades raciais na estrutura ocupacional e o acesso às ocupações prestigiadas (2002-2009). /

Bárbara Hilário de Souza Valverde Castilho. – 2011.

121 f. : il.

Inclui bibliografia e anexos.

Orientador: Prof. Dr. Moema De Poli Teixeira

Co-orientador: Prof. Dr. Marcelo Jorge de Paula Paixão

Dissertação (Curso de Mestrado) – Escola Nacional de Ciências Estatísticas. Programa de

Pós-Graduação em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais.

1. Relações raciais - Brasil. 2. Ocupações - Estatística. 3. Desigualdades raciais. 4. Desigualdades de

gênero. 5. Indicadores sociais. I. Teixeira, Moema De Poli. II. Paixão, Marcelo Jorge de Paula. III. Escola

Nacional de Ciências Estatísticas (Brasil). IV. IBGE. V. Título.

CDU: 323.12(81)

Page 4: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

BÁRBARA VALVERDE CASTILHO

DESIGUALDADES RACIAIS NA ESTRUTURA OCUPACIONAL E O ACESSO ÀS

OCUPAÇÕES PRESTIGIADAS (2002-2009)

Rio de Janeiro, 23 de Agosto de 2011.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Moema De Poli Teixeira (Orientadora)

ENCE/IBGE

Prof. Marcelo de Paula Paixão (Co-orientador)

UFRJ

Profa. Dr. Sonoe Sugahara Pinheiro

ENCE/IBGE

Prof. Dr. Flávio dos Santos Gomes

UFRJ

Rio de Janeiro

Agosto de 2011

Page 5: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

Para a minha família, Valverdes e Castilhos.

Page 6: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família, pelo amor, cuidado e apoio. Em especial aos meus avós, aos

meus pais, aos companheiros de meus pais e aos meus tios José Marcos e PC, esses dois

pelas conversas, discos e livros.

À minha orientadora Moema, que tive a felicidade de conhecer no mestrado, e ao meu co-

orientador Marcelo Paixão, que me acompanha com dedicação desde a graduação.

Agradeço muito a ambos pela confiança, aprendizado, estímulo e amizade construída.

Ao João, pelo amor, carinho e paciência desde o meu retorno ao Rio de Janeiro e ao ritmo

da vida acadêmica.

Aos amigos de sempre, em especial, aos da Sapê e do Ylá Dudu pelos movimentos, à

Carol pela motivação, à Gabi pela presença e à Renata por sua leitura.

Aos amigos que fiz na ENCE, como Luciana, Milena, Herleif e, sobretudo, Larissa,

imprescindível e atenciosa nas primeiras leituras deste trabalho.

Ao IBGE e à CAPES, pela bolsa de estudo. Aos professores do programa de mestrado da

ENCE e ao Mauro por sua disponibilidade e grande ajuda com a base de dados.

Page 7: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

“Cósmica canção, maracatu da vida

Cósmica canção de uma gente sofrida,

Fora da questão. Já não tem mais razão

A viagem é de todos nós.

Fora da questão, nunca teve razão.

A viagem é de todos nós.”

(PC Castilho – Cósmica Canção)

Page 8: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

RESUMO

A presente dissertação objetiva estudar as desigualdades raciais no mercado de trabalho

brasileiro no período recente na esfera da estrutura das ocupações identificadas como

socialmente prestigiadas. Estas posições foram definidas pelos seus maiores níveis de

rendimento e de escolaridade – proporcionalmente maiores que as demais posições -; pelo

tipo de função exercida, de comando. O estudo examina as assimetrias entre os grupos de

cor ou raça (branca, preta e parda) a partir da análise de indicadores sociais selecionados e

de suas inserções em categorias ocupacionais, destacando as categorias que reuniam as

ocupações de dirigentes e as de profissionais de nível superior. As informações estatísticas

consideradas são da PNAD realizada em 2009, analisadas em comparação com a realizada

em 2002. Neste período houve a melhora de indicadores sociais devido à retomada do

crescimento econômico, à recuperação do mercado de trabalho e ao fortalecimento de

políticas sociais. Assim, nos indagamos se neste contexto teria ocorrido uma fundamental

mudança em relação aos períodos anteriores de nossa história, tendo concluído que isso, de

fato, não aconteceu.

Palavras-chave:

Desigualdades raciais; estrutura ocupacional; categorias ocupacionais; ocupações

prestigiadas; desigualdades de gênero; indicadores sociais.

Page 9: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................13

CAPÍTULO 1 – RELAÇÕES RACIAIS NO BRASIL: HISTÓRICO DAS

INTERPRETAÇÕES TEÓRICAS E DA EVOLUÇÃO DAS DESIGUALDADES DE

COR OU RAÇA NO MERCADO DE TRABALHO......................................................17

1.1. Relações raciais após abolição e a suposta democracia racial brasileira..................17

1.2. Freyre e a interpretação culturalista das relações raciais..........................................20

1.3. O ciclo de estudos do projeto UNESCO..................................................................22

1.4. Estudos de relações raciais a partir da década de 1980............................................26

1.5. Três momentos da evolução histórica das desigualdades raciais no mercado de

trabalho brasileiro (1872-1976)............................................................................................30

1.5.1. Ocupações de pessoas livres e ocupações de pessoas escravizadas segundo o

Censo de 1872.............................................................................................................31

1.5.2. Desigualdades raciais antes do avanço da industrialização: Estudo sobre

indicadores do mercado de trabalho do Censo de 1940..............................................34

1.5.3.. Desigualdade de cor ou raça nas posições ocupacionais na segunda metade

da década de 1970: relendo “O lugar do negro na força de

trabalho”......................................................................................................................38

1.6. Considerações finais do capítulo...................................................................................43

CAPÍTULO 2 – DESIGUALDADES RACIAIS NO MERCADO DE TRABALHO

BRASILEIRO NO PERÍODO RECENTE (2002-2009).................................................44

2.1. Breve evolução do mercado de trabalho nas últimas décadas.......................................44

2.2. Indicadores sociais segundo a cor ou raça....................................................................47

2.2.1. Características da População Economicamente Ativa......................................48

2.2.1.1. PEA ocupada e PEA sem ocupação......................................................53

2.2.1.2. Ramo de atividade e posição na ocupação...........................................55

2.2.1.3. Rendimento e escolaridade da população ocupada...............................58

Page 10: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

2.3. Desigualdades raciais na estrutura ocupacional brasileira recente: análise sobre

categorias ocupacionais........................................................................................................64

2.3.1. Estrutura ocupacional brasileira segundo as categorias do Grupamento

Ocupacional do IBGE ................................................................................................64

2.3.1.1. Estrutura ocupacional dos grupos de cor ou raça..................................67

2.3.1.2. Composição por cor ou raça e sexo das categorias ocupacionais.........71

2.3.1.3. Análise sobre os rendimentos...............................................................73

2.4. Considerações finais do capítulo...................................................................................75

CAPÍTULO 3 – DESIGUALDADES EM OCUPAÇÕES SOCIALMENTE

PRESTIGIADAS................................................................................................................76

3.1. Dirigentes em geral: cargos de chefia segundo a cor ou raça e sexo............................76

3.1.2. Dirigentes por posição na ocupação..................................................................77

3.1.3. Dirigentes do setor público, do setor privado e gerentes................................. 80

3.1.4. Dirigentes por faixas de rendimento.................................................................85

3.2. Profissionais das ciências e das artes segundo a cor ou raça e sexo.............................88

3.2.1. Profissionais das ciências e das artes: assimetrias nas diferentes carreiras.......89

3.3. Considerações finais do capítulo...................................................................................97

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................100

ANEXO..............................................................................................................................103

Page 11: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: População ocupada segundo a profissão, por condição civil e sexo – 1872.......33

Tabela 2: PEA por ramo de atividade, segundo sexo e cor ou raça (branca, preta, parda &

de cor não declarada), Brasil, 1940......................................................................................36

Tabela 3: PEA por posição na ocupação, segundo sexo e cor ou raça (branca, preta, parda

& de cor não declarada), Brasil, 1940..................................................................................37

Tabela 4: Participação média da força de trabalho negra nas categorias sócio-ocupacionais

– 1976...................................................................................................................................41

Tabela 5: Participação média da força de trabalho branca nas categorias sócio-

ocupacionais – 1976.............................................................................................................42

Tabela 6: PEA ocupada segundo a posição na ocupação, Brasil, 2002 e 2009..................47

Tabela 7: População residente segundo a cor ou raça e sexo, Brasil, 2002 e 2009............49

Tabela 8: População residente, segundo a cor ou raça e sexo, Grandes Regiões, 2009......50

Tabela 9: Composição da PEA segundo os grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e

sexo, Brasil e Grandes Regiões, 2009..................................................................................52

Tabela 10: Composição da PEA ocupada segundo os grupos de cor ou raça (branca, preta

e parda) e sexo, Brasil e Grandes Regiões, 2009.................................................................54

Tabela 11: Taxa de desocupação segundo os grupos de cor ou raça (branca, preta e parda)

e sexo, Brasil e Grandes Regiões, 2009...............................................................................55

Tabela 12: PEA ocupada por ramo de atividade, segundo cor ou raça (branca, preta e

parda) e sexo, Brasil, 2002 e 2009 (em %)..........................................................................56

Tabela 13: PEA ocupada por posição na ocupação, segundo cor ou raça (branca, preta e

parda) e sexo, Brasil, 2002 e 2009 (em %)..........................................................................57

Tabela 14: Rendimento médio real do trabalho principal da PEA ocupada segundo os

grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Grandes Regiões, 2002 e 2009 (em R$

set-2009) ..............................................................................................................................60

Tabela 15: Distribuição da PEA ocupada segundo os grupos de cor ou raça (branca, preta

e parda) e sexo, por classes de escolaridade, Brasil, 2009...................................................62

Page 12: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

Tabela 16: Distribuição da PEA ocupada por categorias do Grupamento Ocupacional,

Brasil, 2002 e 2009...............................................................................................................65

Tabela 17: Distribuição da PEA ocupada por categorias do Grupamento Ocupacional,

Grandes Regiões, 2009.........................................................................................................66

Tabela 18: Distribuição da PEA ocupada por categorias do Grupamento Ocupacional,

segundo grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002 e 2009............70

Tabela 19: Composição das categorias ocupacionais segundo os grupos de cor ou raça e

sexo, Brasil, 2002 e 2009.....................................................................................................72

Tabela 20: Rendimento médio do trabalho principal dos grupos de cor ou raça (branca,

preta e parda) e sexo, segundo as categorias ocupacionais, Brasil, 2009.............................74

Tabela 21: Composição dos Dirigentes em geral segundo a cor ou raça (branca, preta e

parda) e sexo, Brasil e Grandes Regiões, 2009....................................................................77

Tabela 22: Composição dos Profissionais das ciências e das artes segundo a cor ou raça

(branca, preta e parda) e sexo, Brasil e Grandes Regiões, 2009..........................................89

Page 13: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: PEA dos grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002-

2009......................................................................................................................................51

Gráfico 2: Distribuição percentual da PEA segundo Grandes Regiões, 2009....................51

Gráfico 3: PEA ocupada dos grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil,

2002-2009.............................................................................................................................53

Gráfico 4: Rendimento médio real do trabalho principal da PEA ocupada segundo os

grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002-2009 (em R$ set-

2009).....................................................................................................................................59

Gráfico 5: Anos médios de estudo da PEA ocupada, por cor ou raça (branca, preta e parda)

e sexo, Brasil, 2002 e 2009...................................................................................................61

Gráfico 6: Rendimento médio do trabalho principal dos grupos de cor ou raça (branca,

preta e parda) e sexo, por anos de escolaridade, Brasil, 2009..............................................63

Gráfico 7: Distribuição dos dirigentes em geral por posição na ocupação, segundo cor ou

raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2009..................................................................78

Gráfico 8: Composição dos dirigentes em geral segundo posições na ocupação

selecionadas, por cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2009..........................79

Gráfico 9: Composição dos dirigentes em geral empregadores, por cor ou raça (branca,

preta e parda) e sexo, Brasil, 2002 e 2009............................................................................80

Gráfico 10: Composição da categoria de Dirigentes segundo as subcategorias, Brasil,

2009......................................................................................................................................81

Gráfico 11: Rendimento médio dos Dirigentes em geral por subcategorias, Brasil,

2009......................................................................................................................................82

Gráfico 12: Distribuição dos Dirigentes pelas subcategorias, segundo cor ou raça (branca,

preta e parda) e sexo, Brasil, 2009.......................................................................................83

Gráfico 13: Composição por cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo das subcategorias

de Dirigentes, Brasil, 2009...................................................................................................84

Gráfico 14: Composição racial das subcategorias de Dirigentes, Brasil, 200 e 2009........85

Page 14: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

Gráfico 15: Distribuição acumulada dos dirigentes em geral por faixas de rendimento

selecionadas, segundo subcategorias, Brasil, 2009..............................................................86

Gráfico 16: Composição dos dirigentes em geral por faixas de rendimento selecionadas

(em salários mínimos), segundo subcategorias, por cor ou raça (branca, preta e parda) e

sexo, Brasil, 2009.................................................................................................................87

Gráfico 17: Composição da categoria “Profissionais das ciências e das artes segundo

subcategorias, Brasil, 2009...................................................................................................90

Gráfico 18: Rendimento médio dos Profissionais das ciências e das artes por

subcategorias, Brasil, 2009...................................................................................................91

Gráfico 19: Distribuição dos Profissionais das ciências e das artes por subcategorias,

segundo cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2009........................................92

Gráfico 20: Composição das subcategorias dos Profissionais das ciências e das artes,

segundo cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2009........................................95

Gráfico 21: Diferença (em pontos percentuais) entre a participação na subcategoria e a

participação na PEA ocupada, segundo cor ou raça (branca e preta & parda) Brasil, 2002 e

2009......................................................................................................................................97

Page 15: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

13

Introdução

O Brasil foi constituído desigualmente sob um sistema de produção escravista, onde

brancos, negros e indígenas possuíam diferentes papéis ou funções sociais que

correspondiam a grandes disparidades em condições de vida. Em particular, brancos e

negros, nos tempos da escravidão, possuíam distanciamento social intrínseco das condições

civis de livres, para os brancos, e de escravizados, para os negros – os primeiros no topo da

hierarquia social e os últimos no nível inferior. Este sistema permaneceu por séculos e,

mesmo depois de seu fim, diante da má distribuição de sua riqueza, o desenvolvimento

experimentado pelo país ocorreu de forma desigual para sua população, segundo os grupos

de cor ou raça.

As relações raciais, portanto, pertencem à natureza de nossas questões sociais e, não

por acaso, têm sido estudadas há mais de um século no Brasil. Compreendidos em fases

que se distinguem em termos de orientações, motivações e hipóteses, os estudos sobre essa

temática revelam as desigualdades entre os grupos de cor ou raça em diferentes momentos

da história e do pensamento social brasileiro.

Estudos demonstraram que, após a abolição, não obstante diante de uma sociedade

muito diferente daquela do regime escravista, o preconceito racial e os mecanismos de

discriminação se mantiveram, bem como as desiguais qualidades de vida dos grupos de

distintas características raciais – AZEVEDO (1996 [1955]); COSTA PINTO (1998

[1950]); BASTIDE & FERNANDES (2008 [1955]); NOGUEIRA (1985). E, mesmo com

as transformações do sistema produtivo, acompanhadas por períodos de crescimento

econômico e avanços políticos e sociais, a estrutura social não sofreu grandes modificações

segundo a cor ou raça – as posições sociais de maior status continuaram a ser ocupadas

majoritariamente pela população branca (HASENBALG, 1979; OLIVEIRA, PORCARO e

ARAUJO, 1985).

Na atualidade, o tema das relações raciais no Brasil vem ganhando cada vez mais

espaço dentro dos centros acadêmicos e de pesquisas, bem como na agenda de políticas

públicas. As pesquisas e as políticas têm sido favorecidas pela maior disponibilidade de

informações estatísticas por cor ou raça, que contribuem para a compreensão das

desigualdades raciais, as quais podem hoje ser observadas de forma mais analítica (SILVA,

Page 16: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

14

1999; SOARES, 2000; HENRIQUES, 2001; PAIXÃO, 2003; DIEESE, 2005; BELTRÂO

et. al., 2006; SABOIA, 2006; PAIXÃO & CARVANO, 2008; GARCIA, 2009).

Entre os espaços onde as desigualdades raciais se anunciam, muitas pesquisas

tomaram o mercado de trabalho como objeto central de investigação, demonstrando que

negros e brancos ocupavam lugares distintos na hierarquia ocupacional. Constatou-se que a

população negra possuía maiores barreiras no acesso às melhores ocupações, apresentando

as maiores taxas de desemprego e ocupando os postos de menores níveis de rendimento, de

maior precariedade e vulnerabilidade. Já os postos associados a maiores níveis de

rendimentos, e assim mais prestigiados, eram mais frequentemente ocupados pela

população branca – COSTA PINTO (1998 [1950]); BASTIDE & FERNANDES (2008

[1955]); HASENBALG (1979); OLIVEIRA, PORCARO e ARAUJO (1985).

Dos estudos que pesquisaram as desigualdades raciais no mercado de trabalho, a

presente dissertação tem Oliveira, Porcaro e Araujo (1985) como marco referencial, pela

metodologia utilizada. Realizado no âmbito do IBGE, o estudo fez a articulação entre raça

e estratificação social mediante estudo das estruturas ocupacionais de brancos, pretos e

pardos, utilizando a classificação de categorias sócio-ocupacionais construída por Souto et.

al. (1980) a partir da PNAD 1976 e de seu suplemento Mobilidade e Cor. Foram feitas

análises sobre as categorias associadas à maior prestígio social. As autoras definiram este

contingente como aqueles trabalhadores de mais alto nível de escolaridade, os

empregadores e aqueles que exerciam funções de comando e poder dentro do processo

produtivo. A pesquisa verificou que pretos e pardos quando alcançavam essas ocupações,

encontravam-se em situações desfavoráveis via níveis de rendimento muito mais baixos

em relação aos brancos.

Seguindo a mesma direção e a partir do referencial teórico acerca da questão racial e

de elementos históricos sobre as desigualdades dos grupos de cor ou raça no mercado de

trabalho, a presente dissertação estuda as desigualdades raciais na esfera da estrutura das

ocupações identificadas como socialmente prestigiadas. O estudo examina as assimetrias

entre os grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) a partir da análise de indicadores

sociais selecionados e de suas inserções em categorias ocupacionais, destacando as

categorias que reuniam as ocupações de dirigentes e as de profissionais de nível superior.

As informações estatísticas consideradas são da PNAD realizada em 2009, analisadas em

comparação com a realizada em 2002. Neste período houve a melhora de indicadores

sociais devido à retomada do crescimento econômico, à recuperação do mercado de

Page 17: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

15

trabalho e ao fortalecimento de políticas sociais, muito embora não tenha ocorrido uma

transformação que tivesse levado a uma mudança estrutural no sentido tradicionalmente

assumido pelas assimetrias de cor ou raça (IPEA, 2007; PAIXÃO e CARVANO, 2008).

De tal modo, esta dissertação é composta de três capítulos além desta introdução e

das considerações finais.

O primeiro capítulo, na primeira seção, apresenta a discussão em torno do padrão de

relações raciais no Brasil após abolição, mediante a leitura de estudos de referência sobre o

tema, como Freyre (1992 [1933]); Costa Pinto (1998 [1950]); Bastide & Fernandes (2008

[1955]); Nogueira, (1985); Hasenbalg (1979). A seção compreende a evolução dos estudos

sobre o tema das relações raciais no Brasil, como o tipo de preconceito estabelecido, o

mito da democracia racial e as desigualdades no mercado de trabalho. A segunda seção

realiza um estudo sobre três momentos da evolução histórica das desigualdades raciais. O

primeiro corresponde a um período onde o Brasil ainda se encontrava sob o sistema

escravista, nesta parte são analisadas as ocupações de pessoas livres e de pessoas

escravizadas a partir das informações do censo de 1872. O segundo momento, ano de

1940, antecede o avanço da industrialização e a transformação da base do sistema

produtivo. Nesta parte, são analisadas as inserções no mercado de trabalho de brancos,

pretos e pardos, mediante a utilização dos dados do censo daquele ano. O terceiro

momento, o ano de 1976, se insere numa década onde o país obteve expressivo

crescimento econômico. Nesta parte, a estrutura ocupacional segundo os grupos de cor ou

raça é examinada mediante a leitura do estudo “O lugar do negro na força de trabalho”

(OLIVEIRA, PORCARO e ARAUJO, 1985).

O segundo capítulo objetivou traçar um panorama das desigualdades raciais no

mercado de trabalho brasileiro no período recente. A partir do referencial teórico, a

primeira seção apresenta uma breve evolução do mercado de trabalho brasileiro nas

últimas décadas, buscando contextualizar as análises que se seguirão a cerca das

desigualdades raciais. A segunda seção analisa as assimetrias nas inserções dos grupos de

cor ou raça no mercado de trabalho através de indicadores sociais selecionados. A terceira

examina as inserções dos grupos na estrutura ocupacional a partir da utilização das

Page 18: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

16

categorias do Grupamento Ocupacional do IBGE1. São utilizados os dados das PNADs de

2002 e de 20092 nas três seções.

No terceiro capítulo são estudadas as participações, no período recente, dos grupos

de cor ou raça no Brasil nas ocupações consideradas como socialmente prestigiadas. Com

dados das PNADs de 2002 e 2009, foram feitas análises a partir das inserções dos grupos

nas categorias “Dirigentes em geral” e “Profissionais das ciências e das artes”, segundo

aspectos como a posição na ocupação, o rendimento, o setor (público e privado) e a

carreira de nível superior. Buscou-se investigar sobre o acesso nos dias atuais de pretos e

pardos aos postos que se encontram no topo da hierarquia ocupacional e assim sobre as

possíveis mudanças na estrutura dessas posições na sociedade.

Nas considerações finais foram dispostas as principais conclusões da dissertação,

buscando promover o diálogo entre as evidências estatísticas apresentadas e o debate

teórico exposto.

1 Ver anexo “Composição do Grupamento Ocupacional”.

2 Microdados obtidos no Banco Multidimensional de Estatística do IBGE (BME).

Page 19: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

17

Capítulo 1 – Relações raciais no Brasil: histórico das interpretações teóricas e da

evolução das desigualdades de cor ou raça no mercado de trabalho

As relações raciais no Brasil foram determinantes para a formação do padrão de

desigualdade social que aqui se estabeleceu, consistindo em elemento fundamental para a

compreensão de nossa sociedade.

Nesse sentido, desde os anos próximos à abolição até os dias atuais, essa temática

vem sendo estudada, especialmente sobre as relações entre brancos e negros.

Este capítulo, na primeira seção, mediante a leitura de estudos de referência sobre o

tema, discorre sobre a discussão em torno do padrão de relações raciais no Brasil após a

abolição, abordando pontos importantes dentro da temática, como a suposta democracia

racial, o tipo de preconceito estabelecido e as desigualdades raciais nas inserções

ocupacionais. Na segunda seção, através de dados históricos do IBGE, são analisados três

momentos da evolução das desigualdades raciais, em 1872, 1940 e 1976.

1.1. Relações raciais após abolição e a suposta democracia racial brasileira

O Brasil por mais de três séculos teve seu sistema produtivo e sua sociedade

fundamentados sob o regime escravista. A abolição desse regime ocorreu apenas em 1888,

no dia 13 de maio, há pouco mais de um século, sendo o último país a abolir a escravidão

no continente3. Até esta data, a distinção essencial entre os indivíduos na sociedade

consistia em sua condição civil, a qual dividia com imenso distanciamento econômico,

social e político dois grupos de indivíduos: “livres” e “escravos”. Relacionada ao

pertencimento racial, a condição de “livre” se associava à população branca, enquanto a

condição de “escravo” se associava à população negra.

Como conseqüência de medidas que tiveram como objetivo o fim do regime – a

extinção do tráfico negreiro (1850); a lei do ventre livre (1871); a lei dos sexagenários

3 Cf. PAIXÃO & CARVANO, 2008.

Page 20: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

18

(1885); e a lei de proibição dos açoites (1886) – antes mesmo da abolição a maioria dos

negros (pretos e pardos) era livre4.

A discussão em torno das relações raciais naqueles tempos de libertação da

população negra ocorria em tom de incerteza e preocupação a respeito da mistura étnica.

As ideologias em vigor no país, dentro de uma orientação científica biológica nos estudos

de raça e relações raciais, apontavam para a não valorização da raça negra. Com posição

racista e pessimista em relação ao futuro da sociedade, um lado projetava a inviabilidade

do país. Outro lado, de posição também racista, embora num tom otimista quanto ao

futuro, apontava um destino viável a partir de um processo de branqueamento gerado pela

miscigenação. Nesse sentido a miscigenação seria “(...) capaz de garantir a redenção do

Brasil, a extinção da sua questão racial e o seu conseqüente ingresso na trilha do

progresso” (BENZAQUEN DE ARAUJO, 1994, p.29).

De uma forma ou de outra, os ideais humanitários dos abolicionistas não

prevaleceram. Com muitos mecanismos de discriminação existentes e com ausência de

oportunidades de estudo, trabalho, ou acesso a terra, os negros livres, antes ou mesmo

depois da abolição da escravidão, tinham de contar com seus próprios esforços e sorte em

seu processo de integração na sociedade, como escrito por Florestan Fernandes:

“Apesar dos ideais humanitários que inspiravam as ações dos agitadores

abolicionistas, a lei que promulgou a abolição do cativeiro consagrou uma

autêntica espoliação dos escravos pelos senhores. Aos escravos foi concedida

uma liberdade teórica, sem qualquer garantia de segurança econômica ou de

assistência compulsória; aos senhores e ao Estado não foi atribuída nenhuma

obrigação com referência às pessoas dos libertos, abandonados à própria sorte

daí em diante” (BASTIDE & FERNANDES, 2008 [1955], p.65).

Destarte, se de um lado faltaram políticas para a inserção digna da população negra,

por outro lado não faltaram políticas caracteristicamente racistas, como a política de

imigração. Apresentada como solução para o problema da falta de mão-de-obra, mas ao

mesmo tempo num esforço de embranquecer o país, baseado na ideologia dominante da

época de uma suposta superioridade da população branca, o Estado estimulou por cerca de

três décadas (1888-1930) a entrada de europeus. Direcionados à região sudeste, sobretudo

a São Paulo que era o centro das transformações econômicas no início do século XX, aos

imigrantes foram possibilitadas melhores oportunidades de inserção.

4 Segundo o primeiro censo geral, realizado em 1872 pela Diretoria Geral de Estatística (DGE), era livre a

grande maioria dos pardos (87,4%) e cerca de metade dos pretos (47,1%).

Page 21: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

19

“A solução imigracionista apareceria não apenas como resposta ao problema

imediato da escassez de mão-de-obra na agricultura, mas também como parte de

um projeto de modernização a mais longo prazo, em que o branqueamento da

população nacional era altamente desejado. Se o imigracionismo forneceu bons

resultados até 1930, o movimento abolicionista, por outro lado desapareceu

com a própria escravidão” (HASENBALG, 1979, p. 154).

O afastamento dos negros das transformações em curso e, portanto, a configuração

das desigualdades entre brancos e negros após a abolição, se deu tanto pela distribuição

geográfica dessas duas populações, quanto pela competição desigual com os imigrantes

europeus nas regiões mais desenvolvidas no Sudeste. À época da abolição, devido à

economia do regime escravista ter sido operada predominantemente no Nordeste, a grande

maioria da população negra encontrava-se nesta região. Por outro lado, a maioria da

população branca encontrava-se no sudeste, onde se formava uma sociedade urbana e

industrial. As diferenças regionais implicaram numa integração mais fácil da população

negra nas regiões subdesenvolvidas, marcadas pela dependência senhorial e clientelismo, e

numa marginalização dessa população no Sudeste. Mesmo quando os negros começaram a

acompanhar o ritmo das transformações desta última região, a relação hierárquica entre os

grupos não foi alterada significativamente (HASENBALG, 1979).

A seguir serão vistas de forma sumarizada algumas das principais passagens de

momentos das pesquisas de relações raciais, identificadas como fundamentais por estudos

sobre o pensamento social brasileiro. O primeiro momento seria a tradição culturalista, que

teve como maior expoente Gilberto Freyre. O segundo compreende os estudos

provenientes da pesquisa promovida pela UNESCO nos anos 1950. E finalmente, o

terceiro se inicia a partir do final da década de 1970 com estudos de Hasenbalg e Valle e

Silva.

Page 22: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

20

1.2. Freyre e a interpretação culturalista das relações raciais

Na década de 1930, em oposição às ideologias racistas que embasavam os primeiros

debates de relações raciais, surgiu outra posição, inaugurada por Gilberto Freyre. Autor em

evidência nos estudos de relações raciais, Freyre, ao contrário dos autores pioneiros,

apresentou julgamento otimista em torno da mestiçagem e suas conseqüências para a

sociedade em formação, valorizando as três raças (branca, negra e indígena), formadoras

da nacionalidade brasileira.

“(...) distinguindo raça de cultura e por isto valorizando em pé de igualdade as

conrtibuições do negro, do português, e – em menor escala – do índio, nosso

autor ganha forças não só para superar o racismo que vinha ordenando

significativamente a produção intelectual brasileira mas também para tentar

construir uma outra versão da identidade nacional, em que a obsessão com o

progresso e com a razão, com a integração do país na marcha da civilização,

fosse até certo ponto substituída por uma interpretação que desse alguma

atenção à híbrida e singular articulação de tradições que aqui se verificou”

(BENZAQUEN DE ARAUJO, 1994, p.30).

A principal herança da obra de Gilberto Freyre foi a construção de uma imagem

positiva das relações raciais. A despeito do processo histórico de formação de um país de

injusta herança escravista e da permanência das desigualdades entre brancos e negros no

momento em que a estrutura socioeconômica se modificava com a industrialização e a

urbanização, acreditou-se que teria existido no Brasil após a abolição uma democracia

racial. Ao comparar com outras colonizações, o autor trouxe a noção de que a colonização

portuguesa teria sido mais branda, o que teria proporcionado uma relação harmoniosa entre

os grupos de cor ou raça.

“Os portugueses não trazem para o Brasil nem separatismos políticos, como os

espanhóis para o seu domínio americano, nem divergências religiosas, como os

ingleses e franceses para suas colônias. Os Marranos em Portugal não

constituíam o mesmo elemento intransigente de diferenciação que os Huguenotes

na França ou os Puritanos na Inglaterra; eram uma minoria imperecível em

alguns dos seus característicos, economicamente odiosa, porém não agressiva

nem perturbadora da unidade nacional: a muitos respeitos nenhuma minoria mais

acomodatícia e suave (...) O Brasil formou-se, despreocupados os seus

colonizadores da unidade ou pureza de raça. Durante quase todo o século XVI a

colônia esteve escancarada a estrangeiros, só importando às autoridades

coloniais que fossem de fé ou religião católica” (FREYRE, 1992 [1933], p.28-

29).

Para o autor, as relações entre os grupos teriam sido estabelecidas mais em função do

sistema econômico de produção e da cultura do que por alguma consciência de raça. Nesse

Page 23: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

21

sentido Freyre buscou compreender as relações entre os grupos sob o ponto de vista de

suas contribuições culturais na formação e evolução do país e atribuiu valor positivo ao

processo de miscigenação, o qual seria favorável à mobilidade social.

“É verdade que agindo sempre, entre tantos antagonismos contundentes,

amortecendo-lhes o choque ou harmonizando-os, condições de confraternização

e de mobilidade social peculiares ao Brasil: a miscigenação, a dispersão da

herança, a fácil e a freqüente mudança de profissão e de residência, o fácil e

freqüente acesso a cargos e a elevadas posições políticas e sociais de mestiços e

de filhos naturais, o cristianismo lírico à portuguesa, a tolerância moral, a

hospitalidade a estrangeiros, a intercomunicação entre as diferentes zonas do

país” (FREYRE, 1992 [1933], 54).

A representação Freyriana de uma democracia racial brasileira foi disseminada e teve

significativas implicações para a imagem interna e externa do país, havendo uma

subestimação ou até mesmo a negação do preconceito racial aqui existente. Internamente, o

mito da democracia racial, enraizado no pensamento social brasileiro, contribuiu para a

omissão do poder público no enfrentamento das mesmas. Nesse sentido, a principal crítica

aos estudos de Freyre tem sido a criação deste mito. Entretanto, como ressaltou

Benzaquen:

“Reconhecendo o valor da influência dos negros e dos índios, a reflexão

desenvolvida por Gilberto parecia lançar, finalmente, as bases de uma

verdadeira identidade coletiva, capaz de estimular a criação de um inédito

sentimento de comunidade pela explicitação de laços, até então insuspeitos,

entre os diferentes grupos que compunham a nação” (BENZAQUEN DE

ARAUJO, 1994, p.30).

Portanto, “Casa Grande & Senzala”, escrito na terceira década do século XX, marca

os estudos de relações raciais e a história do pensamento social brasileiro, sobretudo pela

visão positiva sobre a formação do povo brasileiro. O questionamento desta imagem

ocorreu numa outra fase dos estudos de relações raciais na década de 1950, que será

matéria da próxima seção.

Page 24: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

22

1.3. O ciclo de estudos do Projeto UNESCO

A imagem positiva de relações raciais no Brasil foi posta em xeque com o ciclo de

estudos patrocinados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e

Cultura (UNESCO) na década de 1950. Autores como Costa e Pinto (1998 [1953]),

Florestan Fernandes (2008 [1978]) e Oracy Nogueira (1985) revelaram em suas pesquisas

discriminação e desigualdades entre brancos e negros no Brasil, mudando o entendimento

sobre as relações raciais no país e, portanto, rompendo com a idéia de uma democracia

racial.

No cenário externo, na metade do século XX o mundo acabava de presenciar os

resultados da Segunda Guerra Mundial em função do ódio racial e o racismo era mantido

em diversas partes do mundo, especialmente nos Estados Unidos e na África do Sul.

Buscando possíveis formas de superação do racismo, no início da década de 1950, a

UNESCO organizou uma rodada de estudos sobre relações raciais. O denominado Projeto

UNESCO teve o Brasil como objeto de estudo, tanto por sua representação de democracia

racial, visando apresentar ao mundo uma experiência bem-sucedida de relações raciais,

quanto pela atuação de cientistas sociais brasileiros no processo de formulação do projeto,

como Artur Ramos e Costa Pinto (CHOR MAIO, 1999).

O Projeto UNESCO teve grande importância no desenvolvimento da pesquisa social

no Brasil no que diz respeito às preocupações metodológicas. Diferentemente dos estudos

anteriores, suas investigações tinham em comum as seguintes preocupações, como

descreveu Nogueira (1985):

Delimitação da área abrangida pela pesquisa, para possibilitar uma coleta

sistemática e intensiva de dados, assegurando uma sólida base empírica para o estudo;

Apresentação explícita dos dados, de modo a assegurar a comparabilidade com

estudos congêneres;

Comparação da “situação racial” brasileira com a de outros países, em especial,

com a dos Estados Unidos; e

Conhecimento sobre a “situação racial” do país em conjunto, pela comparação e

síntese a partir da multiplicação dos estudos de casos em diferentes pontos do território

nacional.

Page 25: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

23

A preocupação do ciclo de estudos da UNESCO em comparar a “situação racial” no

Brasil com a dos Estados Unidos, sucedia do fato de que a representação do Brasil como o

paraíso das relações raciais, onde as desigualdades sociais, econômicas e políticas não

estariam baseadas em discriminações raciais, estava associada à “situação racial” naquele

outro país, onde, diferentemente, existia uma linha social bem definida, e até bem pouco

tempo legal, que separava os grupos de cor ou raça.

De tal modo, Nogueira (1985) estudou comparativamente as relações raciais nesses

dois países a fim de caracterizar os tipos de preconceitos que diminuem a mobilidade

social dos negros e dificultam a integração dos mesmos em suas sociedades. Para o autor, o

reconhecimento do preconceito racial e a distinção das duas modalidades constituiriam

passos essenciais para o entendimento da dinâmica das situações raciais existentes.

Fundamentalmente, o autor explicitou que nos estudos de relações raciais o termo

raça teria uma associação distante de alguma definição científica, estando sim associado a

comportamento de indivíduos e de grupos que se diferenciam racialmente isto é, por

diferenças físicas hereditárias. Nesse sentido, sempre que essa diferenciação estivesse

justificando desigualdades em condições de vida e em tratamento estariam envolvidos

problemas de “relações raciais” – preconceito, discriminação, desigualdade social,

econômica, política etc. (NOGUEIRA, 1985, p.32).

Foram identificados dois tipos de preconceitos, classificados pelo autor como

“preconceito de origem” e “preconceito de marca”. O primeiro, manifestado nos Estados

Unidos, se dá pelo reconhecimento da descendência africana, estando ou não aparente nos

traços físicos do indivíduo. Este tipo de preconceito leva à discriminação declarada, e em

muitas regiões foi praticado de forma reconhecida por lei, por muitos anos após o sistema

escravista. Já o segundo tipo, no Brasil, se manifesta em relação à aparência, de acordo

com a intensidade de características físicas africanas herdadas (NOGUEIRA, 1985).

“No Brasil, o limiar entre o tipo que se atribui ao grupo discriminador e o que se

atribui ao grupo discriminado, é indefinido, variando subjetivamente, tanto em

função dos característicos de quem observa como dos de quem está sendo

julgado, bem como ainda, em função da atitude (relação de amizade, deferência,

etc.) de quem observa em relação a quem está sendo identificado, estando,

porém, a amplitude de variação dos julgamentos, em qualquer caso, limitada

pela impressão de ridículo ou de absurdo que implicará uma insofismável

discrepância entre a aparência de um indivíduo e a identificação que ele próprio

faz de si ou que outros lhe atribuem” (NOGUEIRA, 1985, p. 80).

O tipo de preconceito racial que se desenvolveu no Brasil é, portanto, muito maleável

e subjetivo, se manifestando muitas vezes de forma sutil.

Page 26: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

24

“Esse sistema é profundamente perverso, pois cria a ilusão de que o racismo

inexiste na sociedade, quando na verdade ele está profundamente arraigado na

maioria da população e nas entidades civis e estatais, moldando-lhes os

comportamentos, naturalizando as desigualdades e, afinal de contas, servindo

como um forte instrumento – ainda que invisível – de exclusão social”.

(PAIXÃO, 2003, p.28).

Outro estudo realizado no âmbito do projeto foi o de Thales de Azevedo (1996

[1955]), intitulado “As elites de cor numa cidade brasileira: um estudo de ascensão social”.

Na descrição dos objetivos do trabalho estava explicita a imagem que se tinha daquela

sociedade naquele período, como exemplo de harmonia racial5:

“Esta monografia destina-se a dar uma compreensão da dinâmica da ascensão

social das pessoas de cor em uma cidade brasileira e uma indicação dos canais

onde se processa essa mobilidade vertical. A cidade escolhida para estudo foi a

Bahia, por ser tradicionalmente considerada o melhor exemplo de harmonia

racial no Brasil” (AZEVEDO, 1996, p. 25).

O autor investigou a composição racial de grupos sociais e de profissionais de

Salvador a partir de pesquisa de campo em vários espaços sociais6. Ao estudar a esfera das

profissões liberais, o autor identificou que a partir dessas carreiras era possível aos negros

ascenderem socialmente “(...) porque no Brasil não existe universidades separadas para os

„negros‟; todas aceitam quaisquer alunos” (AZEVEDO, 1996, p.129). Todavia, o autor

reconheceu que as discriminações raciais existiam em alguns espaços da sociedade de

Salvador. Apesar de ter avaliado ser difícil separar essas discriminações das de classe, nas

conclusões o autor expôs que:

“Em princípio qualquer indivíduo pode ascender socialmente por sua fortuna,

por seus méritos intelectuais, por seus títulos profissionais, por suas qualidades

morais, ou pela combinação desses elementos, de acordo com os sistemas de

valores de uma sociedade de tipo capitalista. Contudo, no processo de

peneiramento para classificação nos estratos mais elevados da sociedade, os

indivíduos de cor experimentam certas resistências, em parte por influência dos

mencionados preconceitos e doutra parte por provirem nas classes sócio-

econômicas mais baixas. A ascensão social dos escuros como indivíduos é

freqüente e fácil de verificar. Como grupo, no entanto, as pessoas de cor vêm

ascendendo mais dificultosamente” (AZEVEDO, 1996, p.129).

5 O Projeto Unesco contemplaria, de início, apenas a Bahia (MÉTRAUX apud CHOR MAIO, 1999).

6 Por observação direta de situações reais (como em cerimônias religiosas, desfiles militares, reuniões

escolares e clubes recreativos); por meio de visitas a repartições (como as burocráticas, lojas comerciais e

outros locais de trabalho); e pelo exame de retratos (de estudantes graduados, de membros de irmandades

religiosas, de sócios de clubes recreativos e sociais, de profissionais das profissões liberais). Ademais

também foram entrevistados pretos e mestiços de uma lista que continha a maioria das pessoas de elevada

posição social e profissional (AZEVEDO, 1996).

Page 27: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

25

Também inseridos no projeto UNESCO, Costa Pinto (1998 [1950]) e Bastide &

Florestan (2008 [1955]), investigaram as relações raciais nos dois principais centros

urbanos do país, Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente, buscando compreender

como iriam se configurar essas relações diante das transformações que estavam ocorrendo

naquelas regiões.

Costa Pinto (1998 [1950]) ratificou com embasamento estatístico a existência de

preconceito e discriminação racial no Brasil ao estudar a situação da população negra na

cidade do Rio de Janeiro (antiga capital) no final da década de 1940. Para o autor, a

história e o estado presente da estratificação social estavam na essência da situação racial

brasileira, de modo que a situação dos grupos étnicos no antigo Distrito Federal e suas

relações deveriam ser compreendidas dentro do quadro de estratificação social. Assim,

diante do desenvolvimento da industrialização e das instituições liberais, o estudo

demonstrou que na medida em que à ocupação se ligava a uma idéia de superioridade de

status, os elementos de cor eram mais escassos. Como característica principal da situação

da população negra no sistema de estratificação racial no Rio de Janeiro, a pesquisa

identificou a proletarização em massa e a identificação de sua condição e de suas

aspirações com a condição e as aspirações das classes trabalhadoras.

Florestan Fernandes e Roger Bastide estudaram as relações entre brancos e negros

em São Paulo. Ao pesquisarem o centro de transformação econômica e social do país no

período, os autores buscaram compreender as formas e as funções que o preconceito e a

discriminação racial assumiam diante dessas mudanças. De acordo com o estudo, na forma

pela qual ocorreu a transição para o regime de classes, o trabalho livre, ao invés de servir

como um meio de revalorização social do negro, provocou ou o seu desajustamento ou a

sua fixação em atividades sociais de consideração semelhante aquelas pouco consideradas

quanto as que se atribuíam anteriormente aos “escravos” (BASTIDE & FERNANDES,

2008 (1955), p.140).

Contrariando as expectativas iniciais do projeto, portanto, o ciclo de estudos da

UNESCO teve como decorrência a mudança no entendimento sobre as relações raciais no

Brasil, que deixou de ser percebida como harmoniosa. As pesquisas revelaram o

preconceito e a desigualdade racial. “O conjunto de estudos do projeto da UNESCO

contribuiu de maneira decisiva para o Brasil reformular mais uma vez sua auto-imagem

como sociedade multi-racial” (HASENBALG, 1979, p.61). A partir de então, através de

Page 28: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

26

sociólogos de referência, como Florestan Fernandes – a democracia racial teria existido

apenas enquanto um mito.

“Os mitos existem para esconder a realidade. Por isso mesmo, eles revelam a

realidade íntima de uma sociedade ou de uma civilização. Como se poderia no

Brasil colonial ou imperial acreditar que a escravidão seria, aqui, por causa de

nossa „índole cristã‟, mais humana, suave e doce que em outros lugares? Ou,

então, propagar-se, no século XIX, no próprio país no qual o partido

republicano preparava-se para trair simultaneamente a ideologia e a utopia

republicana, optando pelos interesses dos fazendeiros contra os escravos, que a

ordem social nascente seria democrática? Por fim, como ficar indiferente ao

drama humano intrínseco à Abolição, que largou a massa dos ex-escravos, dos

libertos e dos ingênuos à própria sorte, como se eles fossem um simples bagaço

do antigo sistema de produção? Entretanto, a idéia da democracia racial não só

arraigou. Ela se tornou um mores, como dizem alguns sociólogos, algo

intocável, a pedra de toque da „contribuição brasileira‟ ao processo civilizatório

da Humanidade” (FERNANDES, 1980).

A metade do século passado marca, então, no âmbito das pesquisas sociais, uma

virada no que se refere ao entendimento sobre as relações raciais no país, muito embora

ainda tenha permanecido no imaginário social um tanto do mito da democracia racial. Isto

pode ser observado na percepção ainda subestimada do preconceito, nos argumentos

utilizados para justificar as desigualdades em condições de vida dos grupos raciais, bem

como na resistência de parcela da população e instituições para a implementação de

políticas de promoção da igualdade racial, como vem acontecendo nos anos mais recentes

frente às propostas do governo.

1.4. Estudos de relações raciais a partir da década de 1980

No que se refere à produção de estudos sobre as relações raciais no Brasil, Hasenbalg

(1979), Valle e Silva (1980) e Oliveira, Porcaro e Araujo (1985) marcaram o início de

outra fase desencadeada na década de 1980. Esses estudos se concentraram na

estratificação social e nos mecanismos de reprodução das desigualdades raciais, buscando

explicá-las no contexto das transformações sociais e econômicas em curso. Esses autores

se diferem dos anteriores por terem questionado não só a idéia de democracia racial de

Freyre, mas também a de que o racismo seria superado com o progresso econômico. Para

eles o racismo seria compatível com o a industrialização e o desenvolvimento econômico,

uma vez que a discriminação e o preconceito assumiriam novos significados e funções

Page 29: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

27

dentro das novas estruturas sociais. Nesse sentido, o componente racial ainda seria

significativo na estratificação social.

Ao estudar as inserções ocupacionais, Hasenbalg (1979) identificou a raça como um

dos critérios mais relevantes a operar no recrutamento para ocupar posições. O autor

demonstrou a partir dos dados dos censos de 1940 e 1950 a maior exclusão de não-brancos

nas posições ocupacionais mais elevadas. Segundo o autor: “(...) a cor de uma pessoa opera

mais fortemente como critério negativo de seleção quanto mais próximo ele chega ao topo

da hierarquia ocupacional” (HASENBALG, 1979, p.176).

Em estudo sobre a mesma esfera, “Oliveira, Porcaro e Araujo (1985), com dados da

PNAD de 1976, também demonstraram o menor acesso as ocupações de maior status e

concluíram, igualmente, que a raça ainda seria elemento fundamental a ser considerado na

divisão do trabalho no Brasil7.

Na década de 1980 houve assim a retomada de pesquisas sobre as desigualdades

raciais no Brasil. A partir de então, diversos estudos foram realizados dentro dos centros

acadêmicos e dos institutos de pesquisa e tiveram o mercado de trabalho como objeto de

investigação – SILVA (1999); HENRIQUES (2001); BELTRÃO et. al. (2006), PAIXÃO

(2003); DIEESE (2005); SUGAHARA, RITO, MENDONÇA (2006); SABOIA (2006);

PAIXÃO & CARVANO (2008); GARCIA (2009). Uma característica marcante dessa fase

tem sido o maior uso das bases oficiais de estatísticas, diante de sua maior disponibilidade.

Juntos com a atuação do movimento negro, esses trabalhos contribuíram para o maior

reconhecimento, na sociedade, da raça enquanto elemento estruturante das desigualdades

sociais no Brasil.

Silva (1999) 8 analisou as diferenças raciais nos níveis de renda utilizando dados da

PNAD de 1988, ano do centenário da abolição. Utilizando modelagem estatística, o estudo

demonstrou que os retornos à idade e escolaridade eram muito mais altos para brancos do

que para não-brancos e examinou as seguintes discriminações contra não-brancos: em

capital humano, relacionado aos bloqueios aos canais de mobilização devido à falta de

qualificações necessárias; ocupacional, referente ao impedimento em assumir ocupações de

maiores remunerações, independente de serem qualificados ou não; e de salário, que se

refere ao salário desigual por trabalho igual.

7 Este estudo compõe a segunda seção deste capítulo.

8 Atualizando as estimativas e discutindo os resultados à luz do estudo Silva (1978).

Page 30: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

28

Henriques (2001), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), fez uma

análise da evolução das condições de vida das populações branca e negra9, expressas em

um amplo conjunto de indicadores socioeconômicos, identificando o perfil e a intensidade

da desigualdade racial no Brasil na década de 1990. O estudo foi feito com base na análise

de informações da PNAD e buscou contribuir para o diagnóstico da desigualdade racial no

Brasil. Dentre as questões avaliadas, o autor verificou que a maior parte dos pobres e

indigentes no Brasil é de raça negra10

. Analisando os indicadores grau de informalidade e

grau de assalariamento, a pesquisa revelou que ao longo do período o primeiro indicador é

maior entre os trabalhadores negros do que entre os brancos, e que o segundo é sempre

maior entre os brancos.

Paixão (2003), entre outras questões, realizou um exame sobre os indicadores

referentes aos dados sobre o mercado de trabalho da pesquisa Racismo em Números,

realizada pelo CEAP/Data UFF em 2000. Segundo o autor, pesquisar o tema das

desigualdades raciais no mercado de trabalho significa buscar compreender os mecanismos

existentes que oferecem desiguais oportunidades a negros e brancos. Sob essa orientação, o

estudo verificou que os conflitos raciais no mercado de trabalho perpassam os momentos

de contratação, efetivação e promoção nas empresas. Foi evidenciado que 77% dos

entrevistados acreditavam na existência de problemas de convivência entre negros e

brancos, e que destes, cerca de metade reconheciam que esses problemas ocorriam com

maior freqüência no mercado de trabalho. A adoção de políticas de ação afirmativa no

mercado de trabalho, para o autor, se configuram então como uma questão de justiça e

cidadania.

O estudo realizado pelo DIEESE em 2005 “A mulher negra no mercado de trabalho

metropolitano: inserção marcada pela dupla discriminação” foi desenvolvido com base na

Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada em seis regiões brasileiras (Belo

Horizonte, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal). Entre os resultados da pesquisa

ressalta-se aqui o referente à maior vulnerabilidade das mulheres negras no mercado de

trabalho:

9 O autor considerou como população negra a soma de pretos e pardos.

10 A linha de indigência refere-se aos custos de uma cesta alimentar, regionalmente definida, que atenda às

necessidades de consumo calórico mínimo de um indivíduo, enquanto a linha de pobreza inclui, além dos

gastos com alimentação, um mínimo de gastos individuais com vestuário, habitação e transportes

(HENRIQUES, 2001).

Page 31: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

29

“Os maiores percentuais de vulnerabilidade da mulher negra no universo dos

trabalhadores ocupados se explicam, sobretudo, pela intensidade de sua

presença no emprego doméstico. Esta atividade, tipicamente feminina, é

desvalorizada aos olhos de grande parte da sociedade, caracterizando-se pelos

baixos salários e elevadas jornadas, além de altos índices de contratação à

margem da legalidade e ausência de contribuição à previdência” (DIEESE,

2005, p.5).

Num trabalho mais recente, Paixão e Carvano (2008) com os microdados das

PNADs, compreendidas no período 1995-2006, analisaram as evoluções da equidade racial

e de gênero no mercado de trabalho dos grupos de cor ou raça (branca e preta & parda)

desagregados por sexo. Como um dos resultados, a pesquisa demonstrou que a posição na

ocupação de empregado com carteira era mais comum entre os trabalhadores brancos do

que entre os pretos & pardos, o oposto ocorrendo para a posição de empregado sem

carteira, indicando a maior vulnerabilidade que se encontram os negros no mercado de

trabalho. Já a posição de empregadores, embora fosse pouco comum para ambos os grupos

de cor ou raça, era mais comum para os brancos. Noutra parte, foi investigado o acesso ao

poder político, através da análise da composição racial11

dos poderes executivo, legislativo

e judiciário, verificando que principalmente os homens brancos detém o poder político nas

três esferas de poder. Para os autores:

“(...) a baixa presença de negros no interior dos aparatos do poder político

representa uma forte probabilidade de que os temas que preocupam e interessam

a esta população ficarão em um plano secundário. A própria montagem da

agenda de debates políticos, no Brasil, ao longo do último século, é a prova

mais cabal neste sentido” (PAIXÃO & CARVANO, 2008, p.151).

Também recentemente, Garcia (2009) realizou estudo sobre desigualdades raciais e

segregação urbana nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador, antigas capitais do país.

Quando se ateve sobre o mercado de trabalho, o estudo investigou as inserções nas

categorias sócio-ocupacionais, utilizando as categorias do Grupamento ocupacional do

IBGE com os dados do censo 2000. Foram examinadas as diferenças nas estruturas

ocupacionais de brancos e negros (pretos e pardos), bem como as diferenças dessas

estruturas nas duas cidades. Ao examinar a categoria dos dirigentes, a autora observou que

“As ordens no trabalho empresarial continuam a ser dadas, em sua maioria, por

11 Por não haver fonte de dados sobre declaração de cor ou raça dos ocupados em cargos políticos, o estudo

optou pela metodologia da heteroclassificação que consistiu na classificação, pela equipe do LAESER, da cor

ou raça a partir das fotos disponíveis no banco de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou no portal de

cada uma daquelas esferas de poder (PAIXÃO & CARVANO, 2008).

Page 32: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

30

descendentes dos antigos senhores de escravos ou por descendentes de imigrantes

europeus” (GARCIA, 2009, p.238).

Assim, ao longo dos anos as pesquisas sobre as desigualdades raciais no Brasil, em

particular no mercado de trabalho, têm encontrado grandes assimetrias segundo a cor ou

raça.

1.5. Três momentos da evolução histórica das desigualdades raciais no mercado de

trabalho brasileiro (1872-1976)

Uma forma de olhar os momentos da história tem sido através de informações

estatísticas populacionais. Essas informações sempre muito importaram aos Estados, que

querem e precisam saber sobre o perfil socioeconômico de sua população. Como muito

bem descrito por Senra (2005):

“As estatísticas contribuem distintamente para tornar conhecidas as realidades

distantes e/ou ausentes. Conhecidas, as realidades tornam-se pensáveis, e, por

isso, potencialmente governáveis. Nesse sentido, as estatísticas configuram

tecnologias de distâncias, enquanto procedimentos formalizados de controle ou

de domínio, encaixando-se à maravilha como tecnologia de governo, dessa

forma, vindo a integrar uma determinada racionalidade instrumental” (SENRA,

2005, p.15).

Por outro lado, uma das linhas de estudos sobre as relações raciais no Brasil consistiu

no papel da modernização das estruturas socioeconômicas sobre as assimetrias de cor ou

raça, como seguida por Costa Pinto e Florestan. Dialogando com esses autores, o problema

chave seria justamente compreender como estas transformações estruturais operam sobre o

processo de integração dos negros na sociedade, não raro havendo certo otimismo que o

processo de superação da antiga ordem estamental contribuiria para a redução das

desigualdades raciais em nosso país.

Tendo em vista a reflexão acima apontada, a presente seção, a partir de dados

históricos do IBGE sobre as inserções ocupacionais, realiza um estudo sobre três

momentos da história das desigualdades raciais: em 1872, quando o Brasil ainda

vivenciava a escravidão; em 1940, quando se deu o início a profundas transformações

sobre a base do sistema produtivo com a industrialização; e 1976, que se insere numa

década onde o país obteve expressivo crescimento econômico.

Page 33: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

31

1.5.1. Ocupações de pessoas livres e ocupações de pessoas escravizadas segundo o

Censo de 1872

O quadro de relações raciais no Brasil a menos de duas décadas da abolição pode ser

observado através das informações do primeiro censo geral, realizado em 1872 pela

Diretoria Geral de Estatística (DGE). A população foi investigada, entre outros quesitos,

quanto à condição civil. “Incorporada, pela primeira e única vez, a um censo brasileiro, a

condição civil cristalizava a clivagem de uma sociedade formada por homens livres e

escravos” (OLIVEIRA, 2003, p.12).

A população também foi investigada quanto a sua cor ou raça12

(branca, parda,

cabocla ou preta).

“(...) a classificação de cor proposta pelo censo reafirmaria, sob um novo

angulo, a hierarquização fundamental da sociedade imperial - brancos x negros -

herdada dos tempos coloniais, bem como a preocupação suscitada pela

mestiçagem do branco, seja com elementos da raça negra, seja com os da raça

indígena” (OLIVEIRA, 2003, p.13).

Outro quesito levantado foi a profissão:

“Ratificando a dualidade entre senhores e escravos, tal classificação matiza e

exemplifica as posições existentes entre esses tipos polares. Assim, ao mesmo

tempo em que abre espaço para a configuração de capitalistas e proprietários,

ela revela o prestígio atribuído às carreiras letradas - o clero, a magistratura, os

„homens de letra‟, os médicos, enfim os bacharéis - numa sociedade composta

predominantemente por iletrados” (OLIVEIRA, 2003, p.13).

Nem todas as informações do censo de 1872 podem ser lidas desagregadas pela

variável cor ou raça, como é o caso das informações sobre as profissões. Entretanto, as

mesmas podem ser desagregadas pela condição civil, que se relacionava essencialmente

com o pertencimento racial – na condição de livres podiam ser encontrados indivíduos de

todas as categorias de raça, enquanto na condição de escravizados estavam presentes

apenas indivíduos pretos e pardos.

12 O quesito se apresentava como “cor” na apuração, nas listas de família, constando a instrução: “Declara-se

se a pessoa é branca, parda, cabocla ou preta, compreendidas em designação de caboclas as de raça

indígena”. Já na divulgação, no quadro geral da população, com as mesmas categorias, o quesito era

denominado por “raça” (SENRA, 2006).

Page 34: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

32

De acordo com censo de 1872, 38,1% da população era constituída por indivíduos

brancos, os quais eram todos livres, assim como todos os caboclos, os quais representavam

3,9% da população. Os pardos eram 38,3% da população e a grande maioria deles (87%)

era livre. Os pretos eram 19,7% da população, dos quais menos da metade (47,1%) era

livre. Assim, naquele ano, a maioria dos pretos e pardos era livre.

A tabela 1 dispõe dados sobre a ocupação exercida naquele ano, segundo a condição

civil e sexo.

Assim, de acordo com os dados do censo de 1872, a atividade agrícola era a principal

ocupação da população naquele ano – mais da metade da população se encontrava

realizando esta atividade, tanto os indivíduos livres, quanto os indivíduos escravizados. As

maiores participações foram encontradas sobre as ocupações masculinas e, dentro de cada

grupo de sexo, para os ocupados escravizados – realizavam atividades agrícolas cerca de

70% dos homens livres; mais de 80% dos homens escravizados; mais de 30% das mulheres

livres e mais da metade das mulheres escravizadas (57%) (tabela 1).

A força de trabalho feminina participava também expressivamente dos serviços

domésticos, quase 35% das mulheres livres e quase um quarto das mulheres escravas.

As informações sobre a profissão de operário13

evidenciam que, naquele ano,

embora no serviço agrícola se encontrasse a grande maioria dos escravos, já havia a

participação deles nessas ocupações. Esses postos estavam presentes nas ocupações de

todos os grupos – 4,5% dos homens livres; 5,8% das mulheres livres; 2,7% dos homens

escravos; e 2,3% das mulheres escravas. Os assalariados (criados e jornaleiros) também

tinham importância no total das ocupações, correspondendo a cerca de 8% das ocupações

dos grupos, com exceção para as mulheres livres, para as quais o peso era pouco mais de

4% (tabela 1).

A profissões industriais e comerciais (manufatureiros e fabricantes, comerciantes,

guarda-livros e caixeiros) eram exercidas exclusivamente por pessoas livres, sobretudo

homens – 4% dos homens livres ocupados e apenas 0,6% das mulheres livres ocupadas. As

profissões liberais (religiosos, juristas, médicos, cirurgiões, farmacêuticos, parteiros,

professores, homens de letras, empregados públicos e artistas), com exceção da profissão

de artista, também eram exercidas exclusivamente por pessoas livres, principalmente

13 Canteiros, calceteiros, mineiros e cavouqueiros; em metais; em madeiras; em tecidos; de edificações; em

couros e peles; em tinturaria; de vestuário; de chapéus; de calçados.

Page 35: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

33

homens. Os militares, capitalistas e proprietários também eram todos livres, os primeiros

apenas homens (tabela 1).

Tabela 1: População ocupada segundo a profissão, por condição civil e sexo - 1872

Profissões Livres Escravos

Homens Mulheres Homens Mulheres

Liberais 2,4% 0,4% 0,2% 0,1%

Religiosos 0,1% 0,0% 0,0% 0,0%

Juristas 0,3% 0,0% 0,0% 0,0%

Médicos 0,1% 0,0% 0,0% 0,0%

Cirurgiões 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Farmacêuticos 0,1% 0,0% 0,0% 0,0%

Parteiros 0,0% 0,1% 0,0% 0,0%

Professores e Homens de Letras 0,1% 0,1% 0,0% 0,0%

Empregados Públicos 0,4% 0,0% 0,0% 0,0%

Artistas 1,4% 0,2% 0,2% 0,1%

Militares 1,1% 0,0% 0,0% 0,0%

Marítimos 0,8% 0,0% 0,3% 0,0%

Pescadores 0,7% 0,0% 0,2% 0,0%

Capitalistas e proprietários 0,9% 0,4% 0,0% 0,0%

Industriais e Comerciais 4,3% 0,6% 0,0% 0,0%

Manufatureiros e Fabricantes 0,6% 0,2% 0,0% 0,0%

Comerciantes, guarda-livros e caixeiros 3,7% 0,4% 0,0% 0,0%

Manuais e Mecânicas 4,5% 28,1% 2,7% 10,0%

Costureiras 0,0% 22,3% 0,0% 7,6%

Operários 4,5% 5,8% 2,7% 2,3%

Agrícolas 70,5% 31,6% 81,3% 57,1%

Lavradores 64,6% 28,8% 81,3% 57,1%

Criadores 5,9% 2,8% 0,0% 0,0%

Assalariados 8,9% 4,3% 7,9% 8,5%

Criados e Jornaleiros 8,9% 4,3% 7,9% 8,5%

Serviços Domésticos 6,0% 34,5% 7,4% 24,3%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Diretoria Geral de Estatística (DGE), Censo 1872

Assim, os dados sobre as ocupações em 1872 revelam a base predominantemente

agrícola do sistema produtivo e da sociedade, bem como as desiguais inserções associadas

às características de sexo e condição civil. A liberdade e a escravidão, naturalmente,

Page 36: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

34

implicavam em diferentes possibilidades de inserção. Essas condições retratam o começo

das desigualdades entre brancos e negros no Brasil e explicam parte do desenvolvimento

desigual experimentado por esses dois grupos populacionais após a extinção da escravidão.

1.5.2. Desigualdades raciais antes do avanço da industrialização: Estudo sobre

indicadores do mercado de trabalho do Censo de 1940

Nesta seção são analisados os indicadores sobre o setor de atividade e a posição na

ocupação, segundo a cor ou raça, do censo de 194014

. Este ano antecede a fase de forte

crescimento da economia através do aprofundamento da industrialização sob o modelo de

substituição de importações, de tal modo que a atividade agrícola ainda constituía a

principal atividade da população.

Quanto às informações por cor ou raça, após ter sido retirado dos levantamentos

censitários a partir do censo de 1920, o quesito cor voltou a ser apurado no recenseamento

de 1940. Na resposta ao quesito, o censo instruía para que o recenseado fosse classificado

como “preto”, “branco” ou “amarelo” sempre que possível qualificá-lo segundo o

característico previsto. Caso contrário, a instrução era para que fosse feito um traço

horizontal no lugar da resposta (IBGE, 1950) 15

.

14 Existem ressalvas à utilização desses dados. “O conceito de população economicamente ativa no Censo de

1940, pelo fato de, diferentemente dos subseqüentes, não se referenciar mais explicitamente à ocupação

principal no enquadramento dos informantes dentro e fora da população economicamente ativa, tendeu a

estimular uma superestimação de população ativa. Isto ocorreu basicamente no caso do trabalho feminino,

que combina, com maior freqüência, atividades produtivas com atividades domésticas não-remuneradas

(principalmente no campo), pelo fato de não ter havido uma orientação mais clara sobre o que se deveria

entender por „estar trabalhando‟” (OLIVEIRA & ABRANTES, 1979). Para estimar a PEA, das atividades

domésticas, consideraríamos apenas as remuneradas. Porém, na medida em que não foi possível obter o

quantitativo de “atividades domésticas remuneradas”, segundo cor e raça, considerou-se, como uma boa

aproximação para esta parcela da PEA, o grupo dos que se encontravam na posição de ocupação de

“empregados” na categoria “Atividades domésticas, Atividades escolares”. De tal modo, para o presente

estudo, os que, nessa categoria, não estavam nesta posição de ocupação não foram considerados na PEA.

Também não foram incluídas as atividades não compreendidas, ou mal definidas, ou não declaradas, pois

estas atividades, desagregadas por cor, estavam na mesma categoria das “Condições inativas”. Com essa

metodologia, a PEA de 1940 estimada foi (em 1000 pessoas) de 14.570,0 (11.861,8 homens; 2.708,5

mulheres), enquanto a PEA de 1940, segundo (OLIVEIRA & ABRANTES, 1979), era de 14.758,6 (11.959,0

homens; 2.799,6 mulheres). 15

Em trabalho recente, Beltrão & Teixeira (no prelo) analisaram os dados das respostas alternativas ao

quesito de cor ou raça do censo de 1940, destacando: a diversidade dos termos; a já inclusão dos indígenas e

seus descendentes nas categorias “pardos” e “morenos”; e a predominância da resposta “moreno”, tanto pelo

Page 37: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

35

Daí resultou a classificação da população em três grandes grupos étnicos – pretos,

brancos e amarelos –, e a constituição de um grupo genérico sob a designação de pardos,

para os que registraram declarações outras como “caboclo”, “mulato”, “moreno”, etc., ou

se limitaram ao lançamento do traço. Somente nos casos de completa omissão da resposta

foi atribuída a designação “cor não declarada” (IBGE, 1950, p. 21).

Em relação à distribuição da População Economicamente Ativa em 1940 pelos ramos

de atividade principal, observa-se que as atividades de Agricultura, pecuária e silvicultura

possuíam grande importância na estrutura econômica do país em 1940, com pesos

significativos sobre as ocupações de todos os grupos considerados. Os maiores percentuais

foram encontrados para os homens – 65,5% para os brancos; 76,7% para os pretos e 73,5%

para os pardos & de cor não declarada. Nas ocupações das mulheres foram encontrados os

seguintes pesos: 47,1% (brancas); 41,7% (pardas); e 50,1% (pretas) (tabela 2).

Nas ocupações industriais verifica-se a participação já significativa naquele ano de

todos os grupos de cor ou raça e sexo. Para todos eles, a participação na indústria extrativa

era menor do que a participação na indústria de transformação. Nota-se, contudo, que esta

última tinha um peso maior nas atividades da população branca, enquanto a indústria

extrativa tinha um peso maior nas atividades da população preta e da população parda & de

cor não declarada (tabela 2).

Os ramos “Atividades domésticas, atividades escolares” e “Serviços, atividades

sociais” se constituíam em ocupações de grande peso para a população feminina. Enquanto

o primeiro apresentou maiores pesos para as mulheres pretas e para as pardas & de cor não

declarada, o segundo possuía um peso maior para as mulheres brancas. Chama atenção a

elevada participação das atividades domésticas e escolares sobre as ocupações das

mulheres pretas, cerca de um terço (tabela 2).

entrevistado, quanto pelo recenseador, ainda naquele ano, muito anterior ao primeiro levantamento do quesito

de forma aberta em 1976.

Page 38: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

36

Tabela 2: PEA por ramo de atividade, segundo sexo e cor ou raça (branca, preta, parda & de cor não declarada), Brasil, 1940

Ramo da atividade principal

Branca Preta Parda & de cor não

declarada

Homens

Mulheres

Homens

Mulheres

Homens

Mulheres

Agricultura, pecuária, silvicultura 65,5% 47,1% 76,7% 41,7% 73,5% 50,1%

Indústrias extrativas 2,0% 1,0% 3,6% 2,4% 5,1% 2,7%

Indústrias de transformação 10,3% 11,9% 7,9% 8,1% 7,5% 10,6%

Comércio de mercadoria 7,7% 2,6% 2,1% 0,8% 3,2% 1,1%

Comercio de imóveis, e valores mobiliários, crédito, seguros e capitalização

0,6% 0,2% 0,1% 0,0% 0,1% 0,0%

Transporte e comunicações 4,1% 0,8% 3,6% 0,1% 3,4% 0,2%

Administração pública, justiça, ensino público

2,3% 4,9% 1,0% 0,3% 1,3% 1,0%

Defesa nacional, segurança pública 1,6% 0,1% 0,8% 0,0% 1,4% 0,0%

Profissões liberais, culto, ensino particular, administração privada

0,9% 2,3% 0,1% 0,3% 0,2% 0,6%

Serviços, atividades sociais 4,3% 17,3% 2,9% 13,1% 3,4% 16,4%

Empregados em atividades domésticas, atividades escolares

0,6% 11,7% 1,2% 33,2% 0,7% 17,3%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: IBGE, Censo de 1940

Nota: 1- Não foram considerados os ocupados em atividades não compreendidas, mal definidas ou não declaradas, pois estes estavam agrupados com os inativos.

2 - Da categoria "Atividades domésticas, atividades escolares" foram considerados apenas os que tinham posição na ocupação de "empregados"

Sobre a posição na ocupação, de acordo com a publicação do censo: “Empregadores”

eram os profissionais por conta própria que possuíam auxílio de empregados assalariados;

“trabalhadores por conta própria” eram os que exerciam sua ocupação isoladamente ou

com ajuda, não diretamente remunerada, de pessoas de sua família; “empregados” eram os

que exerciam sua ocupação em benefício de outros ou a serviço de instituições, como os

funcionários públicos, recebendo remuneração em salário fixo ou por tarefa. “Membros da

família” eram as pessoas da família dos “trabalhadores por conta própria” que colaboravam

com estes sem perceber remuneração direta. “De outra posição ou de posição não

declarada” era uma categoria genérica (IBGE, 1950, p.21).

A categoria de “empregados” constituía a posição na ocupação de maior peso para

todos os grupos, com percentuais mais elevados para os homens no interior dos grupos de

cor ou raça. Já a posição de “empregadores”, que reúne aqueles que detêm a propriedade

Page 39: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

37

sobre os meios de produção, representava uma posição de peso muito pequeno. O exame

sobre esta posição revela que esta posição se fazia mais presente nas ocupações dos

homens brancos (3,7%), os pesos nas ocupações dos demais grupos eram

consideravelmente menores (tabela 3).

A posição de “trabalhadores por conta própria” era mais significativa para os

homens dentro de cada grupo de cor ou raça, enquanto a posição de “membros da família”

era mais significativa para as mulheres, sobretudo para as mulheres brancas. A posição

“Profissionais liberais” apresentou maiores participações nas ocupações dos trabalhadores

brancos, sobretudo para as mulheres brancas (2,3%) (tabela 3).

Tabela 3: PEA por posição na ocupação, segundo sexo e cor ou raça (branca, preta, parda & de cor não declarada), Brasil, 1940

Posição na ocupação

Branca Preta Parda & de cor não declarada

Homens

Mulheres

Homens

Mulheres

Homens

Mulheres

Empregados 44,3% 39,5% 53,0% 52,6% 42,8% 38,9%

Empregadores 3,7% 1,0% 1,1% 0,3% 1,6% 0,6%

Trabalhando por conta própria 33,6% 20,9% 31,7% 23,2% 38,4% 28,3%

Membros da família 17,0% 34,1% 13,5% 22,1% 16,3% 29,6%

De outra posição ou de posição não declarada

0,4% 2,2% 0,6% 1,5% 0,6% 2,0%

Profissões liberais, culto, ensino particular, administração privada

0,9% 2,3% 0,1% 0,3% 0,2% 0,6%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: IBGE, Censo 1940

Nota: Não foram considerados os ocupados em atividades não compreendidas, mal definidas ou não declaradas, pois estes estavam agrupados com os inativos. "Profissões liberais, culto, ensino particular, administração privada" foram incluídos como uma categoria de posição na ocupação, pois não possuíam posições na ocupação especificadas.

O ano de 1940 se inscreve num período onde se iniciava o processo de

industrialização e modernização do país16

. Em que pese a distribuição geográfica desigual

dos grupos de cor ou raça, onde os brancos representavam a maioria nas regiões onde esse

processo se iniciava (HASENBALG, 1979), observa-se que naquele período, o acesso aos

setores mais dinâmicos eram mais restritos à população preta e parda, bem como aos

postos mais prestigiado, como os de empregadores.

16 O processo de industrialização foi intensificado na década de 1950 com a maior participação do Estado via

a implementação do Plano de Metas. A partir deste período, a economia brasileira apresentou elevadas taxas

de crescimento (VILLELA, 2005).

Page 40: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

38

1.5.3. Desigualdade de cor ou raça nas posições ocupacionais na segunda metade da

década de 1970: relendo “O lugar do negro na força de trabalho”

Esta seção examina a estrutura ocupacional segundo os grupos de cor ou raça em

meados da década de 197017

, onde a economia brasileira apresentava elevadas taxas de

crescimento. O exame é feito mediante a leitura do estudo “O lugar do negro na força de

trabalho”, publicado em 1985 e realizado no âmbito do IBGE pelas pesquisadoras Lucia

Helena Garcia de Oliveira, Rosa Maria Porcaro e Tereza Cristina N. Araújo. O estudo teve

como objetivo analisar a articulação entre raça e estratificação social mediante a análise

das inserções dos grupos raciais (brancos, pretos e pardos18

) na estrutura ocupacional, por

entender este campo como central para as outras discussões que se inscrevem no tema das

relações raciais. Como metodologia foi utilizada a classificação de categorias sócio-

ocupacionais19

, combinando a ocupação exercida com a posição na ocupação e o setor de

atividade. Este estudo ganha destaque na presente dissertação por ter sido um dos

primeiros a utilizar categorias ocupacionais nos estudos de relações raciais no Brasil. A

seguir são apresentados alguns de seus resultados.

A primeira diferenciação das ocupações consistiu na divisão entre ocupações

manuais e não manuais. De modo que nas primeiras se encontravam duas categorias: os

“Profissionais em ocupações de nível superior, empresários e administradores”; e os

“Profissionais em ocupações de nível médio e pessoal de escritório”.

17 Nesta década, com II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), foram realizados investimentos

públicos e privados nos setores de infra-estrutura, bens de produção, energia, e exportação, completando o

processo de industrialização, transformando a estrutura produtiva e gerando forte crescimento econômico até

1980, quando este modelo de crescimento se esgotou (HERMANN, 2005). Pela ótica das ocupações, em

comparação com a década de 1940, nos anos 1970 as atividades agrícolas representavam um peso

consideravelmente menor sobre as ocupações, em favor de um maior peso das atividades industriais. Em

relação às posições na ocupação, tem-se que a posição de empregados representava peso significativamente

maior (OLIVEIRA & ABRANTES, 1979). 18

Assim como em outros estudos de relações raciais de referência, em várias partes “pretos” e “pardos”

foram reunidos sob a designação de “negros” devido às autoras considerarem que esses indivíduos possuem

uma situação socioeconômica semelhante em termos de rendimentos, educação, inserção na força de

trabalho, mobilidade social e outros indicadores. 19

A classificação utilizada foi construída por Jane Souto de Oliveira e Tereza Cristina N. Araujo. Sobre as

categorias as autoras advertiram que a classificação não pretendeu ser uma aproximação do conceito de

classes sociais e que o estudo voltou-se para a matéria das inserções na estrutura ocupacional no contexto das

formas de organização da produção na economia.

Page 41: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

39

A primeira categoria, “Profissionais em ocupações de nível superior, empresários e

administradores” representa os postos associados à maior prestígio social, onde se

encontram as pessoas de mais alto nível de escolaridade e os detentores da propriedade e

do poder sobre o gerenciamento dos meios de produção. Na análise sobre esses postos o

estudo verificou que os mesmos possuíam peso de 5,9% na força de trabalho, indicando o

afunilamento na estrutura ocupacional brasileira do período. Desagregando por cor ou raça,

foram verificados os seguintes pesos nas ocupações dos grupos: 8,5% para os brancos;

1,1% dos pretos; e 2,7% para os pardos, indicando que pretos e pardos encontravam

maiores barreiras no acesso a esses postos. A análise sobre os rendimentos revelou as

posições que pretos e pardos ocupavam nesta categoria – o rendimento médio dos mesmos

era muito inferior ao dos brancos. Nas palavras das autoras:

“Estas informações indicam que o afunilamento da estrutura ocupacional ocorre

de forma consideravelmente mais acentuada para os negros, os quais, mesmo

quando conseguem alcançar aquelas posições ocupacionais, encontram-se em

situação econômica menos favorável que a dos brancos” (OLIVEIRA,

PORCARO E ARAÚJO, 1985, p. 32).

Na categoria “Profissionais em ocupações de nível médio e pessoal de escritório”,

também não manual, encontravam-se 11,1% da força de trabalho, o que, como mencionado

pelas autoras, refletia a industrialização que dinamizou o setor de serviços, demandando

pessoal de nível médio. Encontravam-se nesta categoria 14,6% dos brancos, 3,6% dos

pretos e 7,2% dos pardos, revelando que, embora menos prestigiadas que as ocupações

anteriormente analisadas, também nessas categorias não manuais as barreiras eram maiores

para pretos e pardos.

Os “Empregados em ocupações da indústria de transformação e da produção

extrativa mineral” representava cerca de 10% do total dos ocupados. A grande maioria

estava ligada ao setor industrial, vinculados às empresas industriais que comandaram as

transformações estruturais do processo de industrialização a partir dos anos 1950. Havia

pouca diferenciação nas participações de brancos (10,7%) e negros (9,4%). Porém, o

rendimento médio dos pretos era 60% e dos pardos 75% do auferido pelos brancos,

indicando a diferenciação em função do tipo e da complexidade do estabelecimento. Já a

categoria “Empregados em ocupações da indústria da construção civil” incluía 3,5% do

total das pessoas ocupadas, entretanto, o peso nas ocupações dos brancos era de 2,7%, na

de pretos 5,1% e na de pardos 4,3%. Quanto aos rendimentos, negros recebiam em média

20% menos do que os brancos. Essas informações indicam que, apesar de todos os grupos

Page 42: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

40

terem participações semelhantes no setor secundário, os melhores postos eram ocupados

pela população branca.

Na categoria “Empregados em ocupações manuais do terciário”, encontravam-se

8,9% dos brancos, 19,7% dos pretos e 11,8% dos pardos. O nível de instrução era baixo e

semelhante entre os grupos, entretanto, os negros, em média, recebiam 65% do que

recebiam os brancos. Na categoria, os negros se encontravam em ocupações de menor

rendimento, como o emprego doméstico, que era a ocupação mais representativa do grupo

(cerca de 50%). Nos estabelecimentos mais luxuosos e sofisticados, onde o empregado

possui contato com pessoas de alta renda, poderiam estar atuando práticas discriminatórias

no recrutamento, como ressaltado pelas autoras.

Na categoria “Trabalhadores autônomos e não remunerados em ocupações manuais

urbanas”, o rendimento médio dos pardos era 55,1% e dos pretos 49,2% do rendimento

médio dos brancos. Os autônomos manuais urbanos brancos possuíam, em média,

rendimento maior do que o dos empregados manuais urbanos brancos, o que não ocorre

para os negros. As autoras sugeriram que para grande parte dos trabalhadores brancos o

trabalho autônomo seria uma possibilidade de alcançar maiores rendimentos.

As “Ocupações manuais rurais”, apesar da perda de importância do setor primário

na estrutura produtiva, ainda representavam 35,6% do total da força de trabalho. Essas

ocupações possuíam os menores níveis de rendimento e instrução e apresentaram situação

significativamente pior para os negros – 44,4% dos pretos, 42,8% dos pardos e cerca de

30% dos brancos encontravam-se nessas ocupações.

O estudo também fez análise sobre a composição racial das categorias, comparando a

participação de cada grupo racial no total da força de trabalho, com a participação dos

mesmos nas categorias. De tal modo, foi demonstrado que os negros estavam concentrados

nas ocupações manuais de menor rendimento e em menores proporções nas demais

categorias de empregados com ocupações manuais (da indústria de transformação, dos

transportes e do comércio). A sub-representação de pretos e pardos ocorria com grande

expressão nas ocupações não manuais, sobretudo nas dos profissionais de nível superior,

empresários e administradores (tabela 4).

Page 43: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

41

Tabela 4: Participação média da força de trabalho negra nas categorias sócio-ocupacionais - 1976

Categorias sócio-ocupacionais Participação na força de trabalho (%)

Pretos Pardos Negros

Participação média na força de trabalho 9,3 30,9 40,2

Acima da % na força de trabalho

Empregados na prestação de serviços 17,0 33,8 50,8

Empregados na agropecuária 16,6 37,5 54,1

Empregados na indústria da construção civil 13,9 38,8 52,7

Autônomos na Agropecuária 9,2 36,8 46,0

Abaixo da % da força de trabalho

Ocupações de nível superior, empresários, administradores 1,7 14,0 15,7

Ocupações de nível médio 3,0 20,0 23,0

Empregados em ocupações do comércio 6,1 24,7 30,8

Empregados em ocupações do transportes 6,1 30,5 36,6

Empregados em ocupações da indústria de transformação e da produção extrativa mineral

8,7 28,6 37,3

Trab. autônomos e não remunerados em ocupações da indústria de transf., construção civil, do comércio, dos transportes e da prestação de serviços

7,3 30,5 37,8

Fonte: IBGE, PNAD 1976 - Suplemento Mobilidade e Cor Nota: Tabela extraída de Oliveira, Porcaro e Araújo (1985)

Já os brancos participavam significativamente de todas as categorias, porém com

maiores representações nas ocupações não manuais e nas ocupações manuais de maior

nível de rendimento e escolaridade. Nas ocupações da agropecuária e nas categorias

empregados da construção civil, empregados da prestação de serviços, embora menores,

também eram significativas as participações de brancos (tabela 5). Sobre este ponto, as

autoras expuseram que, diante do peso dessas categorias na estrutura ocupacional, uma

parcela considerável dos brancos possuía ocupações de baixo status social, dentro do

quadro mais amplo da estrutura brasileira, onde uma elevada proporção de pessoas

auferem baixos rendimentos, havendo uma concentração de renda.

Page 44: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

42

Tabela 5: Participação média da força de trabalho branca nas categorias sócio-ocupacionais - 1976

Categorias sócio-ocupacionais Brancos

Participação média na força de trabalho 57,1

Acima da % na força de trabalho

Ocupações de nível superior, empresários, administradores 81,4

Ocupações de nível médio 75,0

Empregados em ocupações do comércio 65,6

Empregados na indústria de transformação 60,3

Empregados em ocupações do transportes 59,9

Trab. autônomos e não remunerados em ocupações da indústria de transf., construção civil, no comércio, dos transportes e da prestação de serviços

58,2

Abaixo do % da força de trabalho

Empregados na agropecuária 43,6

Empregados na construção civil 45,6

Empregados na prestação de serviços 47,2

Autônomos e não remunerados na Agropecuária 50,7

Fonte: IBGE, PNAD 1976 - Suplemento Mobilidade e Cor

Nota: Tabela extraída de Oliveira, Porcaro e Araújo (1985)

Sobre os rendimentos o estudo revelou que em todas as categorias estudadas os

negros possuíam rendimento médio significativamente inferior ao dos brancos; sendo a

categoria “Profissionais de nível superior, empresários e administradores” a que apresentou

maior diferencial quanto ao rendimento médio, com os pretos e pardos auferindo somente

36,9% e 49,6%, respectivamente, do rendimento médio dos brancos. Em análise sobre a

relação entre a escolaridade e o rendimento, para todas as categorias, foi verificado que a

relação encontrada entre os diferenciais para os anos médios de estudo entre brancos e

negros era sempre menor que a relação encontrada para os rendimentos médios, indicando

que às vezes a remuneração não guarda a mesma relação proporcional com nível de

instrução para brancos e negros. O estudo demonstrou que a qualificação educacional tinha

retorno desigual para os grupos raciais.

Assim como outros estudos realizados no período (HASENBALG, 1979; e Valle e

Silva, 1980), diante dos resultados sobre as inserções ocupacionais dos grupos raciais, “O

lugar do negro na força de trabalho” concluiu que a raça ainda seria um critério

fundamental a ser relevado no estudo da divisão social do trabalho no Brasil devido a sua

permanência como princípio classificatório.

Page 45: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

43

1.6. Considerações finais do capítulo

Os estudos referidos neste capítulo marcam diferentes fases dos estudos das relações

raciais no Brasil. A idéia de que o Brasil viveria uma democracia racial após a abolição

surgiu nos anos 1930 e foi questionada primeiramente pelo projeto UNESCO na década de

1950, quando foram demonstradas as desigualdades raciais em muitas esferas da

sociedade. Posteriormente, com o país já modernizado, pesquisas, com o maior uso de

estatísticas, demonstraram novamente as disparidades entre brancos e negros,

demonstrando que as transformações sociais e econômicas (urbanização e industrialização)

não trouxeram a superação do quadro de desigualdades raciais.

Analisando de forma sintética os três momentos históricos selecionados, observou-se

que, em todos eles, brancos e negros possuíram desiguais inserções na sociedade.

Primeiramente enquanto sob o sistema escravista, onde o trabalho braçal forçado

obviamente tinha cor. Após, passadas cinco décadas da abolição e quando sob os estágios

iniciais do processo de industrialização e modernização, pretos e pardos possuíam maiores

barreiras no acesso aos melhores postos, como nos setores mais dinâmicos e na posição

daqueles que detêm a propriedade sobre os meios de produção. Por fim, na década de

1970, apesar dos avanços da industrialização e do crescimento econômico, observou-se

que a estrutura ocupacional continuava apresentando uma linha de cor, onde a população

negra estava pouco presente nas ocupações de maiores níveis de rendimento, escolaridade

e direção.

Assim, embora tenha passado por grandes transformações socioeconômicas, com a

industrialização, urbanização e o forte crescimento da economia entre as décadas de 1940 e

1970, as desigualdades de cor ou raça não foram superadas do ponto de vista estrutural no

que se refere ao acesso às diferentes posições na hierarquia ocupacional. De tal modo, as

hipóteses mais otimistas sobre as conseqüências da modernização sobre a estrutura social

não foram confirmadas.

Nos próximos dois capítulos são analisadas as inserções dos grupos de cor ou raça no

mercado de trabalho num período mais recente, a fim de verificar se ocorreram mudanças

significativas em relação aos períodos anteriores da história em termos de acesso às

distintas posições ocupacionais, sobretudo aquelas relacionadas à maior prestígio social.

Page 46: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

44

Capítulo 2 – Desigualdades raciais no mercado de trabalho brasileiro no período

recente (2002-2009)

O presente capítulo é composto por três seções. O seu objetivo é traçar um panorama

das desigualdades raciais no mercado de trabalho brasileiro no período recente.

A primeira seção apresenta uma breve evolução do mercado de trabalho brasileiro

nas últimas décadas. A segunda seção analisa as assimetrias nas inserções dos grupos de

cor ou raça no mercado de trabalho através de indicadores sociais selecionados. A terceira

examina as inserções dos grupos na estrutura ocupacional a partir da utilização de

categorias ocupacionais.

Nas três seções foram utilizados os dados das PNADs de 2002 e de 200920

.

2.1. Breve evolução do mercado de trabalho nas últimas décadas

Esgotada a fase de crescimento iniciada na década de 1950, os anos de 1980, no que

se refere às ocupações, significaram outro estágio de distribuição da força de trabalho.

Com o colapso do projeto de industrialização pela via da Substituição de Importações, o

período significou um rompimento com a estruturação do mercado de trabalho iniciada

ainda na década de 1930. A partir da década de 1980 houve forte elevação do desemprego

e do desassalariamento da mão de obra, cada vez mais informal (POCHMANN, 2008).

Oliveira, Porcaro, e Jorge (1995) sinalizaram características recorrentes em análises

sobre as mudanças no perfil de trabalho no Brasil nos anos 1980: intensificação da

urbanização e terceirização; aumento das taxas de atividade econômica, sobretudo

feminina; precarização; e concentração dos níveis de rendimento.

Por trás destas mudanças teriam ocorrido dois processos de informalização: um

associado ao aumento do número de pessoas ocupadas fora da organização capitalista

típica – conta própria, proprietários, sócios, não remunerados ou empregados de

20 Os microdados e os cruzamentos das variáveis foram obtidos a partir do Banco Multidimensional de

Estatística do IBGE (BME).

Page 47: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

45

microempresas; e outro associado a mudanças no âmbito da própria organização do

processo de produção capitalista com o incremento das demissões, flexibilização e adoção

de novas técnicas de produção poupadoras de mão-de-obra (OLIVEIRA, 1998).

A década de 1990 significou para o mercado de trabalho a continuidade do processo

iniciado na década anterior. Neste período o Brasil modificou a orientação de sua política

econômica adotando medidas que seguiam o disposto no chamado “Consenso de

Washington” – liberalização financeira e comercial, bem como grande redução da atuação

do Estado na economia. Essas medidas neoliberais foram anunciadas como caminhos que

países em desenvolvimento como o Brasil deveriam seguir para entrar em uma trajetória de

crescimento, o que não ocorreu. Segundo Pochmann (2008), as políticas neoliberais de

desregulamentação do mercado de trabalho contribuíram para a precarização do trabalho,

sendo mais evidente a desestruturação do mercado de trabalho nos anos 1990, com

significativo aumento do desemprego e do desassalariamento. O autor acrescentou à

precarização do trabalho o crescimento das ocupações domésticas, que em 2000

apresentaram participação relativa no total das ocupações semelhante à verificada em

1950, contrastando com o comportamento dessas ocupações no período 1940-1980, onde

tiveram sua participação sobre o total das ocupações reduzida.

No período 1980-2000 houve assim uma piora na situação do mercado de trabalho

brasileiro, com queda do processo de assalariamento, sobretudo em ocupações com

registro, com um maior risco de desemprego e maiores chances de inserções em ocupações

precárias. No período mais recente esta situação se inverteu. O mercado de trabalho

brasileiro começou a apresentar sinais de recuperação ainda em 1999, quando houve a

mudança no regime cambial e o crescimento do comércio internacional. Com isso houve o

estímulo aos novos empregos, principalmente na indústria, determinados pelo aumento das

exportações. Medidas institucionais para o cumprimento da legislação trabalhista também

contribuíram para a recuperação (POCHMANN, 2008).

Em 2003, Lula assumiu a presidência e adotou postura conservadora em relação à

economia, sem modificar a política macroeconômica iniciada em 1999 (juros elevados;

regime de metas de inflação com o câmbio flutuante; e geração de superávit fiscal

primário), diante das tensões acerca das incertezas sobre o seu governo. Se de um lado

houve continuidade à política macroeconômica anterior, de outro lado, em 2004 foi

lançada a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), que

reintroduziu na agenda de políticas públicas o tema da política de desenvolvimento

Page 48: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

46

industrial como um instrumento fundamental de desenvolvimento econômico e contribuiu

para a construção de uma trajetória de desenvolvimento, favorecida, em um primeiro

momento, pelas condições internacionais (CANO & SILVA, 2010). O crescimento do

comércio internacional impulsionou a produção industrial e com ela a recuperação do

mercado de trabalho.

Assim, a primeira década do século XXI compreendeu um momento onde a

economia apresentou uma recuperação em relação às duas décadas anteriores, ocorrendo

uma virada positiva nos indicadores do mercado de trabalho, com a queda do desemprego,

crescimento das ocupações assalariadas, maior formalização do trabalho e um recuo da

terceirização, intensa nas duas décadas anteriores (POCHMANN, 2008).

Dados sobre a População Economicamente Ativa entre os anos 2002 e 2009

explicitam o momento recente do mercado de trabalho brasileiro. De acordo com o IBGE,

constituíam a PEA21

aproximadamente 87 milhões de pessoas em 2002 e 101 milhões de

pessoas em 2009, o que significou um crescimento de 16% na PEA. O crescimento da PEA

ocupada22

foi um pouco superior, 17%, partindo de aproximadamente 79 milhões de

pessoas para aproximadamente 93 milhões de pessoas. A taxa de desocupação, que

consiste na razão entre a população sem ocupação e o total da PEA, apresentou queda de

9,15% para 8,33%.

A distribuição da PEA ocupada segundo a posição na ocupação explicita também a

recuperação no período, com aumento da formalização do emprego. Os empregados com

carteira tiveram um crescimento de 5,6pp. As posições “Funcionário público estatutário” e

“Trabalhador doméstico com carteira” também cresceram, 0,75pp e 0,16pp,

respectivamente. Já as posições “Empregados sem carteira”, “Trabalhador doméstico sem

carteira” e “Não remunerado” tiveram seus pesos reduzidos sobre o total das ocupações

(tabela 6).

21 Pessoas residentes que possuíam trabalho ou não possuíam, mas tomaram alguma providência efetiva de

procura na semana de referência da PNAD. 22

Do total da PEA, constituem a população ocupada as pessoas que, no período de referência da PNAD,

tinham trabalho durante todo ou parte do período, seja exercendo trabalho remunerado, não remunerado,

trabalho na produção para o próprio consumo ou trabalho na construção para o próprio uso.

Page 49: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

47

Tabela 6: PEA ocupada segundo a posição na ocupação, Brasil, 2002 e 2009

Posição na ocupação 2002 2009

Empregado com carteira 29,28% 34,92%

Militar 0,27% 0,30%

Funcionário público estatutário 6,12% 6,86%

Outros Empregados sem carteira 18,54% 16,52%

Trabalhador doméstico com carteira 1,99% 2,15%

Trabalhador doméstico sem carteira 5,74% 5,64%

Conta-própria 22,27% 20,48%

Empregador 4,24% 4,31%

Trabalhador na produção para o próprio consumo 3,97% 4,08%

Trabalhador na construção para o próprio uso 0,19% 0,11%

Não remunerado 7,38% 4,64%

PEA ocupada 100,00% 100,00%

Fonte: IBGE, PNAD 2002 e 2009

A melhor conjuntura econômica e do mercado de trabalho foram favoráveis para a

redução das desvantagens de pretos e pardos em relação aos brancos, reduzindo as

assimetrias em muitos aspectos, como nos rendimentos, o que será visto adiante.

2.2. Indicadores sociais segundo a cor ou raça

A presente seção buscou avaliar, por meio de indicadores sociais, as assimetrias

entre os grupos de cor ou raça nos anos de 2002 e 2009. Os dados são provenientes das

PNADs23

e se referem às características de cor ou raça e sexo, aos níveis de instrução, às

condições de ocupação (ocupado e não ocupado), aos ramos de atividade, às posições na

ocupação e aos rendimentos do trabalho principal. Foram investigadas as informações dos

dois anos, para o país como um todo e por Grandes Regiões.

23 Até 2004 a PNAD não cobria a área rural da região norte. Para compatibilizar os dados dos dois anos em

estudo, nas comparações intertemporais sobre a região norte, a população rural desta região foi expurgada da

PNAD 2009. Nas comparações intertemporais sobre o Brasil como um todo, esta população foi mantida

devido a seu peso relativamente baixo na população total em 2009 (1,8%).

Page 50: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

48

2.2.1. Características da População Economicamente Ativa

Inicialmente importa observar a composição racial da população brasileira residente

no período. Em 2002, a população brasileira estimada pelo IBGE era de aproximadamente

173 milhões de habitantes e destes 53,22% tiveram como declaração a cor ou raça branca,

enquanto 5,61% a preta e 40,55% a parda. Em 2009, a população estimada foi de

aproximadamente 191 milhões de habitantes, dos quais 48,22% tiveram como declaração a

cor ou raça branca, 6,91% a preta e 44,16% a parda. Observa-se que ocorreu no período

uma queda relativa na proporção da população de declaração de cor ou raça branca (5

pontos percentuais), enquanto houve um aumento relativo na proporção daqueles com

declaração de cor ou raça preta (1,3pp) e parda (3,6pp). Este movimento ocorreu tanto para

homens quanto para mulheres. Assim, em 2009 os brancos representavam pouco menos da

metade (48,22%) da população total enquanto pretos e pardos, juntos, representavam

pouco mais da metade (51,07%) (tabela 7).

Parte do aumento do peso de pretos e pardos na população nos últimos anos

possivelmente esta relacionada a questões políticas que levaram a mudanças na percepção

do indivíduo quanto a sua cor ou raça (PAIXÃO & CARVANO, 2008) 24

.

24 As mudanças recentes nas formas de autopercepção do indivíduo e seus impactos sobre a composição

racial da população merecem maior investigação.

Page 51: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

49

Tabela 7: População residente segundo a cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002 e 2009

2002 2009

Branca

Homem 25,41% 22,90%

Mulher 27,81% 25,32%

Total 53,22% 48,22%

Preta

Homem 2,83% 3,45%

Mulher 2,78% 3,46%

Total 5,61% 6,91%

Parda

Homem 20,24% 21,99%

Mulher 20,31% 22,18%

Total 40,55% 44,16%

Outros Total 0,62% 0,71%

População total

100,00% 100,00%

Fonte: IBGE, PNAD 2002 e 2009

A região de maior concentração populacional é a Sudeste, onde se encontrava

41,95% da população brasileira em 2009. Em seguida a região Nordeste (28,17%), Sul

(14,48%), Norte (8,1%) e Centro-Oeste (7,29%). A composição racial da população é

historicamente muito distinta entre as regiões em decorrência da ocupação étnico-racial

diferenciada25

. Assim, os brancos são a grande maioria no Sul, quase 80% do total,

enquanto no Nordeste eles representam menos de 30% do total. A maior proporção de

pretos é encontrada no Nordeste (8%) e de pardos no Norte (71,21%). Pretos e pardos,

juntos, representam a grande maioria nessas duas regiões (tabela 8).

25 Existem ainda diferenças intra-regionais marcantes na medida em que há uma maior desagregação da

escala geográfica (regiões metropolitanas, capitais, municípios, bairros etc.), o que torna importante a

inclusão do quesito cor ou raça para o questionário do universo das pesquisas.

Page 52: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

50

Tabela 8: População residente, segundo a cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Grandes Regiões, 2009

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Branca

Masculino 11,13% 13,41% 26,86% 37,86% 20,11%

Feminino 12,48% 15,43% 29,81% 40,62% 21,59%

Total 23,60% 28,85% 56,67% 78,48% 41,69%

Preta

Masculino 2,45% 4,06% 3,82% 1,79% 3,45%

Feminino 2,22% 4,04% 3,92% 1,76% 3,27%

Total 4,67% 8,10% 7,74% 3,56% 6,72%

Parda

Masculino 35,95% 31,06% 17,22% 8,83% 24,96%

Feminino 35,25% 31,67% 17,41% 8,45% 25,66%

Total 71,21% 62,73% 34,63% 17,28% 50,61%

Outros Total 0,52% 0,31% 0,97% 0,68% 0,95%

População Total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

Fonte: IBGE, PNAD 2009

Entre os anos de 2002 e 2009, a PEA brasileira teve um crescimento de 16,3%, como

mencionado na primeira seção deste capítulo. A população parda foi a que apresentou

maior participação neste crescimento (64,27%), os brancos tiveram importância de 17,45%

e os pretos de 16,95% neste crescimento. Juntos, portanto, pretos e pardos representaram

mais de 80% da PEA que ingressou no mercado de trabalho brasileiro entre os anos 2002 e

2009. A população preta foi a que apresentou maior crescimento percentual de sua

População Economicamente Ativa (40,5% para os homens e 51% para as mulheres)

(gráfico 1). Essas informações acompanham aquelas sobre as mudanças na composição

racial da população total.

Page 53: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

51

Gráfico 1: PEA dos grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002-2009

49.054.437

43.549.179

51.292.484

20.355.112

22.271.267

26.230.10126.783.170

46.585.213

14.060.405

18.416.990

25.132.189

20.396.104

34.456.509

2.226.4773.361.468

3.118.347

4.381.8375.344.824

7.743.305

39.801.333

1.500.000

11.500.000

21.500.000

31.500.000

41.500.000

51.500.000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Mulheres Brancas Homens Brancos Total Brancos Mulheres Pardas Homens Pardos

Total Pardos Mulheres Pretas Homens Pretos Total Pretos Total Pretos e Pardos

Fonte: IBGE, PNAD 2002-2009

As mais de 100 milhões de pessoas economicamente ativas em 2009 se distribuíam

pelas regiões com maiores concentrações no Sudeste (42,97%) e no Nordeste (26,44%), o

que reflete o tamanho das populações nessas regiões (gráfico 2).

Gráfico 2: Distribuição percentual da PEA segundo Grandes Regiões, 2009

Fonte: IBGE, PNAD 2009

Page 54: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

52

No que se refere à composição racial, a população branca representava 48,52% da

PEA brasileira, enquanto as populações preta e parda totalizavam 50,73%, (7,66% para o

primeiro grupo e 43,07% para o segundo). Assim como para a população total, a

composição racial da PEA se configura de maneira bastante diferenciada entre as regiões.

No Sul a PEA era predominantemente composta pela população branca (78,88%), a qual

também apresentou pesos elevados no Sudeste (56,16%) e no Centro-Oeste (40,89%). O

maior peso dos pretos foi verificado na região Nordeste, onde representavam 9,51% da

PEA. Nesta região grande parte da PEA era formada por pardos (62,64%), assim como na

região Norte (70,23%) e no Centro-Oeste (50,44%) (tabela 9).

No interior de todos os grupos raciais, em todas as regiões e assim no Brasil como

um todo, as mulheres representavam menor percentual na PEA do que os homens,

indicando que embora a participação delas no mercado de trabalho seja crescente, as

mulheres ainda estão menos disponíveis às atividades na vida econômica, devido a sua

maior ligação com as tarefas na esfera privada, expressão das desigualdades de gênero na

sociedade (tabela 9).

Tabela 9: Composição da PEA segundo os grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil e Grandes Regiões, 2009

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Branca

Homem 26,49% 12,82% 15,18% 30,60% 42,80% 22,52%

Mulher 22,03% 10,57% 12,29% 25,56% 36,07% 18,37%

Total 48,52% 23,39% 27,47% 56,16% 78,88% 40,89%

Preta

Homem 4,33% 3,49% 5,43% 4,61% 2,03% 4,48%

Mulher 3,32% 2,21% 4,08% 3,69% 1,64% 3,16%

Total 7,66% 5,70% 9,51% 8,30% 3,68% 7,65%

Parda

Homem 24,86% 41,66% 36,88% 19,37% 9,81% 28,39%

Mulher 18,21% 28,57% 25,76% 15,18% 6,95% 22,05%

Total 43,07% 70,23% 62,64% 34,56% 16,76% 50,44%

PEA

100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

Fonte: IBGE, PNAD 2009

Page 55: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

53

2.2.1.1. PEA ocupada e PEA sem ocupação

Assim como no crescimento da PEA e seguindo as mudanças na composição racial

no período, os pardos também tiveram o maior peso no crescimento da população ocupada

(62,49%). Os homens brancos apresentaram a maior participação no conjunto dos

ocupados e o menor crescimento percentual no período, penas 5,83% (gráfico 3).

Gráfico 3: PEA ocupada dos grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002-2009

6.971.148

35.689.177

24.517.768

25.314.819

18.264.17920.176.297

45.491.11642.781.947

2.801.4534.058.198

1.866.506 2.912.950

4.667.959

18.757.897

23.454.081

12.263.321

16.116.042

31.021.218

39.570.123

46.541.271

1.500.000

6.500.000

11.500.000

16.500.000

21.500.000

26.500.000

31.500.000

36.500.000

41.500.000

46.500.000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Homens Brancos Mulheres Brancas Total Brancos Homens PretosMulheres Pretas Total Pretos Homens Pardos Mulheres PardasTotal Pardos Total Pretos e Pardos

Fonte: IBGE, PNAD 2002-2009

Das pessoas ocupadas no Brasil em 2009, aproximadamente a metade apresentou

declaração de cor ou raça branca e a outra metade apresentou declaração de cor ou raça

preta ou parda (7,52% pretos e 42,69% pardos). A composição racial da população

ocupada nas regiões geográficas em geral segue a composição da população total, com a

população branca constituindo a maioria nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, e a

população negra (preta e parta) constituindo a maioria nas regiões Norte e Nordeste. A

comparação das informações sobre a composição racial da população ocupada com as

informações sobre a composição racial da PEA é reveladora, sobretudo, das desigualdades

de gênero – onde os homens estavam sobre-representados dentre os ocupados, enquanto as

mulheres estavam sub-representadas. Em todas as regiões do país e para todos os grupos de

Page 56: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

54

cor ou raça, verifica-se que as mulheres possuem maiores barreiras no acesso aos postos de

trabalho (tabela 10).

Tabela 10: Composição da PEA ocupada segundo os grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil e Grandes Regiões, 2009

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Branca

Homem 27,31% 13,21% 15,68% 31,55% 43,60% 23,28%

Mulher 21,77% 10,34% 12,04% 25,18% 35,69% 18,16%

Total 49,08% 23,55% 27,73% 56,72% 79,29% 41,45%

Preta

Homem 4,38% 3,59% 5,50% 4,69% 2,00% 4,53%

Mulher 3,14% 2,10% 3,82% 3,53% 1,53% 3,00%

Total 7,52% 5,69% 9,32% 8,22% 3,53% 7,53%

Parda

Homem 25,30% 42,74% 37,80% 19,73% 9,81% 28,90%

Mulher 17,39% 27,47% 24,80% 14,40% 6,69% 21,13%

Total 42,69% 70,21% 62,60% 34,14% 16,50% 50,03%

PEA ocupada 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

Fonte: IBGE, PNAD 2009

Em 2009, cerca de 8% da PEA não possuía ocupação na semana de referência da

PNAD. A região Sudeste apresentou a maior taxa de desocupação e a região Sul

apresentou a menor taxa. A análise desagregada por sexo e cor ou raça confirma a

desvantagem das mulheres frente aos homens na busca por uma ocupação. Dentre elas, as

mulheres brancas foram as que apresentam a melhor situação, na região Sul elas chegaram

a apresentar um indicador mais favorável do que o apresentado para os homens pretos. Os

piores indicadores foram encontrados para as mulheres negras (pretas e pardas), cerca de

13% dessa população no Brasil não possuía uma ocupação em 2009 (tabela 11).

Page 57: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

55

Tabela 11: Taxa de desocupação segundo os grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil e Grandes Regiões, 2009

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Branca

Homem 5,48% 5,81% 5,86% 6,07% 4,24% 4,75%

Mulher 9,41% 10,61% 10,67% 10,25% 6,98% 8,91%

Total 7,26% 7,98% 8,01% 7,97% 5,49% 6,62%

Preta

Homem 7,39% 5,82% 7,83% 7,31% 7,60% 6,96%

Mulher 13,34% 13,37% 14,63% 12,73% 12,29% 12,72%

Total 9,97% 8,75% 10,74% 9,72% 9,70% 9,34%

Parda

Homem 6,68% 6,22% 6,59% 7,20% 5,96% 6,23%

Mulher 12,49% 12,10% 12,27% 13,55% 9,53% 11,72%

Total 9,14% 8,61% 8,93% 9,99% 7,44% 8,63%

Taxa de desocupação total 8,33% 8,58% 8,86% 8,88% 5,99% 7,89%

Fonte: IBGE, PNAD 2009

2.2.1.2. Ramo de atividade e posição na ocupação

A análise sobre a distribuição da PEA ocupada por ramo de atividade permite “(...)

entender os vínculos da população trabalhadora com os diversos setores da economia, o

que favorece a compreensão de importantes aspectos adicionais como os níveis de

rendimento e a própria qualidade de acesso ao mercado de trabalho” (PAIXÃO &

CARVANO, 2008).

Em primeiro lugar, os dados demonstram os diferentes papéis ou funções que

homens e mulheres desempenham na sociedade. As atividades agrícolas e da indústria

possuíam maiores pesos sobre as ocupações deles. Já as atividades do terciário como um

todo tinham maiores participações nas ocupações delas, por exemplo, as atividades ligadas

à educação, à saúde e aos serviços sociais e as do trabalho doméstico, as quais são

tipicamente femininas (tabela 12).

Para a população masculina verificou-se que as atividades da indústria da

transformação tinham maiores representações nas ocupações dos brancos e as atividades da

construção civil nas ocupações de pretos e pardos, indicando as melhores inserções dos

brancos no setor secundário. As atividades do terciário como a de comércio e reparação,

educação, saúde e serviços sociais eram mais comuns nas ocupações dos brancos. As

Page 58: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

56

assimetrias entre os homens pretos e pardos ocorreram principalmente nas atividades

agrícolas e na construção civil, a primeira com maior peso para os pardos e a segunda com

maior peso para os pretos (tabela 12).

Na população feminina, eram maiores as participações das atividades da indústria

da transformação, do comércio e reparação, da educação, saúde e serviços sociais para as

mulheres brancas em comparação com as mulheres pretas e pardas, para as quais os

serviços domésticos possuíam maiores pesos. Quanto às diferenças entre as mulheres

pretas e pardas, observou-se que era mais expressivo para as primeiras o serviço doméstico

e para as segundas a atividade agrícola (tabela 12).

Sobre as mudanças no período, destaca-se a queda da importância da atividade

agrícola nas ocupações de todos os grupos e o crescimento daquelas ligadas à indústria e

ao terciário (tabela 12).

Tabela 12: PEA ocupada por ramo de atividade, segundo cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002 e 2009 (em %)

Ramo de Atividade

Brancos Pretos Pardos

Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres

2002 2009 2002 2009 2002 2009 2002 2009 2002 2009 2002 2009

Agrícola 18,66 15,98

13,37 9,50

19,63 17,03

13,07 10,59

30,71 25,99

21,89 15,95

Outras atividades industriais 0,95 1,25

0,24 0,34

1,60 1,32

- 0,31

1,15 1,27

0,21 0,20

Indústria de transformação 16,65 16,97

13,47 13,84

14,01 13,77

9,30 10,05

11,97 12,86

10,23 10,99

Construção 10,06 10,30

0,51 0,56

16,79 17,65

0,36 0,30

13,36 14,29

0,37 0,42

Comércio e reparação 19,75 19,88

16,72 17,76

16,13 17,54

10,91 13,33

16,97 17,17

14,01 16,12

Alojamento e alimentação 3,43 3,33

4,19 4,45

3,03 3,57

4,39 5,86

2,96 2,99

4,62 5,18

Transp., armazenagem e comunic.

7,70 7,69

1,46 1,92

6,94 6,87

1,20 1,43

6,38 6,72

0,88 1,08

Administração pública 5,84 5,73

4,62 5,26

5,27 5,25

3,26 4,29

4,85 5,08

3,70 4,16

Educação, saúde e serviços sociais

4,06 4,75

18,80 19,11

3,11 3,27

15,28 14,01

2,51 3,06

14,03 14,20

Serviços domésticos 0,82 0,78

13,58 12,61

1,66 1,43

30,97 27,12

0,98 1,06

21,17 20,80

Outros serv. coletivos, soc. e pess.

2,99 3,03

5,53 5,95

3,68 3,55

6,87 7,04

2,64 2,78

5,31 5,77

Outras atividades 8,79 10,11

7,43 8,67

7,38 8,03

4,14 5,62

5,08 6,25

3,51 5,08

Atividades mal definidas ou não declaradas

0,31 0,19

0,07 0,03

0,77 0,70

- -

0,44 0,48

0,07 0,05

PEA ocupada 100,00 100,00

100,00 100,00

100,00 100,00

100,00 100,00

100,00 100,00

100,00 100,00

Fonte: IBGE, PNAD 2002 e 2009 Nota: "-" representam dados restritos devido ao pequeno número de observações na amostra comprometendo a precisão da estimativa.

No que se refere à posição na ocupação, a principal inserção no mercado de trabalho

brasileiro ocorre na situação de empregado. No período, a posição de empregado com

carteira apresentou peso maior nas ocupações dos homens e entre eles nas ocupações dos

brancos. A posição de empregados sem carteira também era mais significativa para os

Page 59: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

57

homens, entretanto, entre eles, era maior para pretos e pardos. A posição de Funcionário

público estatutário apresentou maior peso para as mulheres e entre elas para as brancas. A

posição de Trabalho doméstico também era mais comum para as mulheres, sobretudo para

pretas e pardas (tabela 13).

Os empregadores se distinguem substancialmente dos demais devido à propriedade

sobre os meios de produção e a sua associação a maior poder econômico e prestígio social.

Essa posição podia ser encontrada com maior freqüência nas ocupações da população

branca masculina. Com percentuais bastante inferiores, a posição de empregadores tinha o

segundo maior peso sobre as ocupações das mulheres brancas, as quais tinham situação

semelhante aos homens pardos (tabela 13).

Sobre as mudanças no período, destaca-se que houve o crescimento do peso das

posições de empregado, com queda da informalidade, para todos os grupos em estudo.

Outra melhora consiste na queda ocorrida para a posição de trabalhadores sem

remuneração, também para todos os grupos. Ademais, ressalta-se a redução do peso da

posição de trabalhadores domésticos, expressiva para as mulheres pretas, que ainda

possuem grande parte de suas ocupações nesta forma de inserção (tabela 13).

Tabela 13: PEA ocupada por posição na ocupação, segundo cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002 e 2009 (em %)

Ramo de Atividade

Brancos Pretos Pardos

Homens

Mulheres

Homens

Mulheres

Homens

Mulheres

2002 2009 2002 2009 2002 2009 2002 2009 2002 2009 2002 2009

Empregado com carteira 35,77 41,99

29,72 34,98

35,23 42,78

22,78 27,05

27,39 34,59

18,31 23,75

Funcionário público estatutário

4,87 5,28

9,70 10,68

4,31 4,83

7,28 8,16

3,67 4,39

7,18 8,36

Outros Empregados sem carteira

18,70 15,49

12,83 12,26

26,27 21,40

12,84 12,46

26,30 23,07

14,16 13,57

Trab. doméstico com carteira

0,39 0,37

3,94 3,70

0,69 0,55

8,94 8,47

0,29 0,47

4,16 4,79

Trab. doméstico sem carteira

0,43 0,41

9,64 8,91

0,97 0,89

22,03 18,65

0,69 0,59

17,01 16,01

Conta-própria 25,68 23,02

15,67 15,54

24,22 22,21

15,36 15,92

27,98 24,75

17,03 16,82

Empregador 7,22 7,76

3,68 3,77

2,53 2,34

0,74 0,77

3,22 3,58

1,33 1,52

Trab. na prod. p/ o próprio cons.

1,59 2,09

5,46 4,02

1,83 2,48

5,34 4,76

2,22 3,77

9,46 8,04

Trab. na construção p/ o próprio uso

0,27 0,13

0,03 0,03

0,37 0,23

- -

0,30 0,20

0,07 0,04

Não remunerado 4,58 2,89

9,29 6,07

3,07 1,79

4,60 3,72

7,53 4,15

11,28 7,09

Militar 0,49 0,56

- 0,05

0,51 0,51

0,00 -

0,40 0,43

- -

PEA ocupada 100,00 100,00

100,00 100,00

100,00 100,00

100,00 100,00

100,00 100,00

100,00 100,00

Fonte: IBGE, PNAD 2002 e 2009 Nota: "-" representam dados restritos devido ao pequeno número de observações na amostra comprometendo a precisão da estimativa.

Page 60: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

58

As informações analisadas nesta seção apontam para diferenças nas inserções dos

grupos em estudo – as posições de maior prestígio e os ramos de atividade de maior

dinamismo possuíam maior peso nas ocupações dos homens, e, dentro de cada grupo de

sexo, eram melhores as situações da população branca. As informações também apontaram

para a melhor situação do mercado de trabalho em 2009, em relação a 2002, o que será

percebido novamente nas análises sobre os rendimentos do trabalho.

2.2.1.3. Rendimento e escolaridade da população ocupada

A remuneração do trabalho consiste no principal meio de aquisição de bens e

serviços pelas famílias, sendo, portanto, muito importante para o estudo sobre as

desigualdades de condições de vida. O indicador de rendimento aqui considerado

corresponde ao rendimento médio mensal em dinheiro no trabalho principal no mês de

referência da PNAD.

O gráfico 4 apresenta a evolução deste indicador no Brasil no período 2002-2009. A

análise da série mostra que embora tenha havido uma queda no rendimento médio real de

todos os grupos entre 2002 e 2003, após este período o movimento em geral foi de

crescimento, com exceção dos rendimentos de homens brancos e mulheres pretas, os quais

voltaram a crescer apenas em 2004.

Chama atenção a disposição da curva referente aos homens brancos, em posição

muito superior as demais, onde se pode observar que em 2009 nenhum dos outros grupos

em estudo conseguiu auferir em média um rendimento real ao menos próximo ao que os

homens brancos auferiam em 2002 (R$ 1301,93). Este valor era superior ao valor recebido

pelas mulheres brancas, homens pretos, mulheres pretas, homens pardos e mulheres pardas

em 61,55%, 88,20%, 180,60%, 110,72%, 236,70%, respectivamente (gráfico 4).

De 2002 para 2009, os rendimentos de homens brancos, mulheres brancas, homens

pretos, mulheres pretas, homens pardos e mulheres pardas, cresceram, respectivamente,

9,54%, 14,93%,18,49%, 18,36%, 27,53% 35,36%, de forma que as diferenças entre os

rendimentos dos homens brancos e dos demais grupos foram reduzidas. A diferença entre

os rendimentos das mulheres brancas, que tinham o segundo maior rendimento, e o de

homens e mulheres (pretos e pardos) também foi reduzida. Em 2002, elas recebiam

Page 61: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

59

aproximadamente 108% e 74% a mais do que recebiam, respectivamente, as mulheres

pretas e as mulheres pardas. Em 2009 as diferenças caíram em 31pp em relação às pardas e

5pp em relação às pretas. A diferença entre as mulheres pretas e as mulheres pardas

também caiu significativamente no período, cerca de 15pp (gráfico 4).

Assim, houve no período um crescimento real dos rendimentos com redução das

assimetrias entre os grupos, muito embora a hierarquia tenha permanecido, com a

população branca na posição mais elevada e com os homens, dentro de cada categoria de

cor o raça, com a melhor posição.

Gráfico 4: Rendimento médio real do trabalho principal da PEA ocupada segundo os grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002-2009 (em R$ set-2009)

1.426,09

1.301,93

926,20

805,87 819,73

691,79

549,19

463,99

617,85

787,94

523,42

386,67

0,00

300,00

600,00

900,00

1.200,00

1.500,00

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Homens Brancos Mulheres Brancas Homens Pretos Mulheres Pretas Homens Pardos Mulheres Pardas

Fonte: IBGE, PNAD 2002-2009

Tanto em 2002, quanto em 2009, os maiores rendimentos médios foram

encontrados na região Centro-Oeste, enquanto os menores foram encontrados no Nordeste.

Em relação ao crescimento do rendimento médio no período para os grupos de cor ou raça

e sexo, observa-se que: para os homens brancos, os maiores ocorreram no Nordeste; para

os homens e mulheres pretas, no Norte; para as mulheres brancas, homens pardos e

mulheres pardas, no Sul. Dentro da região Norte, os maiores aumentos no rendimento

médio foram registrados para os homens e mulheres pretas (51,78% e 47,54%) e no

Nordeste para as mulheres pretas (41,03%) e mulheres pardas (45,41%). No Sudeste, os

Page 62: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

60

rendimentos que mais se elevaram foram os dos homens pardos (23,79%) e das mulheres

pardas (24,46%). No Sul, o maior crescimento foi verificado para as mulheres pardas

(57,13%), assim como no Centro-Oeste (32,06) (tabela 14).

Os maiores diferenciais nos rendimentos foram encontrados entre os homens

brancos e as mulheres pretas e pardas, em todas as regiões. As assimetrias entre eles

caíram, muito embora os diferenciais ainda sejam elevados. Em 2009, em média, no

Sudeste eles recebiam 154,62% mais do que as mulheres pretas, no Sul, recebiam 159,34%

mais do que as mulheres pardas, em 2002 esses diferenciais eram ainda maiores – 180,14%

e 232,30%, respectivamente (tabela 14).

Tabela 14: Rendimento médio real do trabalho principal da PEA ocupada segundo os grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Grandes Regiões, 2002 e 2009 (em R$ set-2009)

Branca Preta Parda

Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres

2002 2009 2002 2009 2002 2009 2002 2009 2002 2009 2002 2009

Norte 1.242,03 1.309,71 819,57 961,65 642,37 975,02 439,53 648,49 743,85 881,67 495,38 615,57

Nordeste 731,36 919,66 525,38 653,02 485,65 610,24 286,90 404,63 422,21 546,92 267,72 389,31

Sudeste 1.525,78 1.564,64 972,38 1.035,08 790,43 915,82 544,66 614,50 791,00 979,20 489,02 613,53

Sul 1.148,67 1.408,65 611,74 828,98 693,73 873,26 469,68 580,11 657,58 894,85 345,67 543,17

Centro-Oeste 1.548,48 1.755,38 981,06 1.143,07 881,22 1.038,68 564,58 712,36 875,38 1.092,11 536,82 708,92

Fonte: IBGE, PNADs 2002 e 2009 Nota: Não inclui a população rural da região Norte

Embora tenha havido a redução das assimetrias nos rendimentos, as desigualdades

existentes são ainda alarmantes. Os dados apontam para a situação mais favorável da

população branca como um todo no mercado de trabalho, sugerindo que as pessoas deste

grupo estão alocadas em postos mais prestigiados. Segundo Henriques (2001), a

heterogeneidade na escolaridade da população explica grande parte da desigualdade de

renda no Brasil e assim das desigualdades raciais. Para o autor, os indicadores de educação

seriam estratégicos para a compreensão dos horizontes potenciais de redução das

desigualdades e definição das bases para o desenvolvimento.

A escolaridade (anos médios de estudos com aprovação) constitui um indicador

sintético das condições de provimentos educacionais e padrão de vida da população, no

presente, passado e passado recente (JANNUZZI, 2004). Nota-se por este indicador a

vantagem dos brancos ocupados em termos de instrução. Dentro de cada grupo de cor ou

raça, as mulheres possuem em média um ano a mais de estudo que os homens. No período,

Page 63: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

61

todos os grupos obtiveram ganhos: 1,2 anos de estudo para homens e mulheres brancas; 1,3

e 1,4, respectivamente, para homens e mulheres pretas, e 1,4 e 1,5, respectivamente, para

homens e mulheres pardas. Assim, nos grupos de sexo houve redução dos diferenciais do

indicador de brancos, pretos e pardos. Porém, não houve redução dos diferenciais entre

homens e mulheres dentro dos grupos de cor e raça (gráfico 5).

Gráfico 5: Anos médios de estudo da PEA ocupada, por cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002 e 2009

8,5

6,4

5,2

6,2

8,7

9,7

6,9

7,8

6,6

7,7

5,6

7,5

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

Homens Brancos Mulheres Brancas Homens Pretos Mulheres Pretas Homens Pardos Mulheres Pardas

2002

2009

Fonte: IBGE, PNADs 2002 e 2009

Na distribuição dos ocupados, segundo a cor ou raça e sexo, por classes de

escolaridade, observa-se que os brancos ocupados apresentaram um maior contingente nas

classes de escolaridade mais elevada. Mais da metade das mulheres brancas ocupadas

tinham escolaridade superior a 11 anos. Os grupos de cor ou raça preta e parda estavam

mais concentrados nas classes inferiores (menos de 8 anos de estudo). Chama atenção o

número ainda expressivo de pretos e pardos sem instrução (superior a 10%) e o baixo

número destes na classe mais elevada de escolaridade (15 anos ou mais) onde se

encontravam apenas cerca de 5% de pretos ou de pardos e cerca de 16% dos brancos

(tabela 15).

Page 64: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

62

Tabela 15: Distribuição da PEA ocupada segundo os grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, por classes de escolaridade, Brasil, 2009

Classe de escolaridade Branca

Masculino Feminino Total

Sem Instrução / Menos de 1 ano 5,20% 3,58% 4,48%

De 1 a 3 anos 7,48% 5,28% 6,50%

De 4 a 7 anos 22,41% 17,90% 20,41%

De 8 a 10 anos 17,07% 14,48% 15,92%

De 11 a 14 anos 34,58% 39,38% 36,71%

15 ou mais anos 13,15% 19,24% 15,85%

Não determinado / Sem declaração 0,10% 0,14% 0,12%

Total 100,00% 100,00% 100,00%

Classe de escolaridade

Preta

Masculino Feminino Total

Sem Instrução / Menos de 1 ano 11,75% 9,19% 10,68%

De 1 a 3 anos 11,58% 9,04% 10,51%

De 4 a 7 anos 26,14% 22,58% 24,65%

De 8 a 10 anos 18,57% 17,05% 17,94%

De 11 a 14 anos 27,71% 35,27% 30,87%

15 ou mais anos 4,12% 6,53% 5,13%

Não determinado / Sem declaração 0,14% 0,35% 0,23%

Total 100,00% 100,00% 100,00%

Classe de escolaridade

Parda

Masculino Feminino Total

Sem Instrução / Menos de 1 ano 12,30% 9,04% 10,97%

De 1 a 3 anos 13,34% 9,96% 11,96%

De 4 a 7 anos 27,89% 24,26% 26,41%

De 8 a 10 anos 17,33% 16,57% 17,02%

De 11 a 14 anos 24,98% 32,41% 28,00%

15 ou mais anos 3,96% 7,47% 5,39%

Não determinado / Sem declaração 0,20% 0,30% 0,24%

Total 100,00% 100,00% 100,00%

Fonte: IBGE, PNAD 2009

No Brasil, são desiguais as oportunidades de acesso e de avanço no sistema de

ensino. Estudos apontaram a centralidade da discriminação no sistema educacional como

fator de reprodução das desigualdades raciais (SOARES et al, 2005). O quadro de

desigualdades na educação exposto tende a possibilitar melhores posições e rendimentos

no mercado de trabalho, explicando parte das assimetrias entre brancos e negros.

Entretanto, não explicam as assimetrias nos rendimentos de homens e mulheres no interior

de cada grupo de cor ou raça, sempre favorável a eles.

O gráfico 6 explicita melhor esta questão, evidenciando o retorno desigual que a

educação oferece aos grupos em estudo. É notória a situação vantajosa que os homens

Page 65: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

63

brancos possuem. Para todos os níveis de ensino, o rendimento médio deles é

significativamente superior aos demais grupos. Homens pretos e homens pardos

apresentam situação semelhante, com a segunda melhor posição. As mulheres possuem os

piores retornos, dentre elas as brancas apresentaram o maior. Pretas e pardas possuem

retornos semelhantes.

Gráfico 6: Rendimento médio do trabalho principal dos grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, por anos de escolaridade, Brasil, 2009

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 ou

mais

Homens Brancos Mulheres Brancas Homens Pretos Mulheres Pretas Homens Pardos Mulheres Pardas

Fonte: IBGE, PNAD 2009

Além de expor o retorno desigual do nível de instrução no mercado de trabalho para

os grupos, estas informações sugerem que pretos e pardos estão sujeitos a situações

similares em termos de educação e mercado de trabalho, justificando o agrupamento desses

dois grupos nas análises sobre relações raciais nessas áreas temáticas. Ademais, na década

de 1980, Oliveira, Porcaro e Araújo (1985), a partir de análise semelhante com os dados da

PNAD 1976, demonstraram que a qualificação educacional possuía retorno desigual para

os grupos raciais.

Page 66: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

64

2.3. Desigualdades raciais na estrutura ocupacional brasileira recente: análise sobre

categorias ocupacionais

A presente seção dedicou-se ao estudo das inserções dos grupos de cor ou raça na

estrutura ocupacional brasileira recente. Buscou-se investigar a evolução das assimetrias

nas ocupações de brancos, pretos e pardos, desagregados por sexo. Os dados são das

PNADs de 2002 e 2009, e a estrutura ocupacional foi analisada a partir da utilização das

categorias do Grupamento Ocupacional do IBGE26

. Foram analisadas as informações para

o Brasil como um todo e em alguns casos segundo as grandes regiões.

2.3.1. Estrutura ocupacional brasileira segundo as categorias do Grupamento

Ocupacional do IBGE

O Grupamento Ocupacional do IBGE é formado por nove grandes categorias, além

da categoria destinada às ocupações mal definidas.

De todas as categorias, destacam-se para os objetivos desta dissertação as categorias

“Dirigentes em Geral” e “Profissionais das ciências e das artes”, que reúnem ocupações de

elevado prestígio social. Ambas serão objeto de investigação no próximo capítulo, de tal

modo, serão feitas nesta seção apenas algumas considerações sobre esse conjunto de

ocupações. Cabe mencionar que essas duas categorias reúnem parcela pequena dos

ocupados. A primeira reunia cerca de 5% das ocupações no país tanto em 2002 quanto em

2009. A segunda, em 2002 representava 5,92% das ocupações, em 2009, 7,61%. Este

crescimento reflete, em grande parte, as políticas específicas para o maior ingresso de

pessoas nos níveis superiores de ensino (tabela 16).

Chama atenção a queda expressiva do peso da categoria “Trabalhadores agrícolas”

no período. Devido ao nosso desenvolvimento em base agrícola, mesmo após a

industrialização, as ocupações dessa categoria ao longo de muitos anos eram as que

concentravam a maior proporção de trabalhadores, mas cada vez mais esses postos vêm

26 Ver anexo “Composição do Grupamento Ocupacional”.

Page 67: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

65

perdendo peso na estrutura ocupacional, como pôde ser observado em seções anteriores.

Assim, embora ainda reúnam grande parte das ocupações, o peso dessa categoria caiu

muito no período, saindo de 20,51% em 2002 para 16,82% em 2009 (tabela 16).

Na categoria “Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais e de

reparação e manutenção” estão os trabalhadores das indústrias e os de reparação e

manutenção. O peso desta categoria decorre do estágio de desenvolvimento das forças

produtivas do país. Nos dois anos considerados, essa categoria possuía o maior peso na

estrutura ocupacional (em torno de 23%). Porém, sua composição aponta para uma

heterogeneidade de ocupações27

, que variam em termos de dinamismo e avanço da

atividade industrial e em qualidade e status dos postos de trabalho (tabela 16).

Tabela 16: Distribuição da PEA ocupada por categorias do Grupamento Ocupacional, Brasil, 2002 e 2009

Categorias ocupacionais 2002 2009

Dirigentes em geral 5,12% 4,95%

Profissionais das ciências e das artes 5,92% 7,61%

Técnicos de nível médio 7,21% 7,30%

Trabalhadores de serviços administrativos 7,73% 9,23%

Trabalhadores dos serviços 19,70% 20,09%

Vendedores e prestadores de serviços do comércio 9,54% 9,44%

Trabalhadores agrícolas 20,51% 16,82%

Trab. da prod. de bens e serv. industriais e de reparação e Manut. 23,31% 23,78%

Membros das forças armadas e auxiliares 0,79% 0,79%

PEA ocupada total 100,00% 100,00%

Fonte: IBGE, PNADs 2002 e 2009

Nota: A diferença entre o total e os 100% em 2002 corresponde às ocupações mal definidas

27 Ver a composição da categoria em anexo.

Page 68: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

66

O recorte regional possibilita enxergar as diferenças nas alocações das atividades

produtivas e assim as históricas desigualdades regionais. A seguir são apresentadas

algumas considerações sobre essas diferenças em 2009.

Tanto a categoria “Dirigentes em geral” quanto a categoria “Profissionais das

ciências e das artes” apresentaram menores pesos sobre as ocupações nas regiões Norte e

Nordeste. Os “Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais e de reparação e

manutenção”, em todas as regiões, exceto na região Nordeste, possuíam o maior peso

dentro da estrutura ocupacional considerada. Os maiores percentuais foram verificados nas

regiões Sudeste e Sul (25,71% e 26,28%, respectivamente). No Nordeste a categoria de

maior peso era a dos “Trabalhadores agrícolas”, 29,49%. Entre todas as categorias em

todas as regiões, este é o maior percentual encontrado, mostrando o assentamento da

estrutura produtiva do Nordeste nas atividades agrícolas (tabela 17).

Tabela 17: Distribuição da PEA ocupada por categorias do Grupamento Ocupacional, Grandes Regiões, 2009

Categorias ocupacionais Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Dirigentes em geral 4,02% 3,47% 5,44% 6,22% 5,54%

Profissionais das ciências e das artes 5,60% 5,03% 9,39% 7,80% 8,14%

Técnicos de nível médio 6,47% 6,19% 8,32% 7,20% 6,35%

Trabalhadores de serviços administrativos 7,64% 6,65% 10,84% 9,36% 10,32%

Trabalhadores dos serviços 20,13% 18,23% 21,96% 17,03% 22,38%

Vendedores e prestadores de serv. do comércio 11,82% 10,70% 8,95% 7,91% 8,77%

Trabalhadores agrícolas 20,15% 29,49% 8,61% 17,46% 14,49%

Trab. da prod. de bens e serv. Ind. e de repar. e Manut. 22,96% 19,59% 25,71% 26,28% 22,92%

Membros das forças armadas e auxiliares 1,20% 0,64% 0,78% 0,74% 1,09%

PEA ocupada total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

Fonte: IBGE, PNAD 2009

Após essas considerações gerais sobre as categorias ocupacionais, a próxima seção

examina as inserções dos grupos raciais nessas categorias.

Page 69: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

67

2.3.1.1. Estrutura ocupacional dos grupos de cor ou raça

Esta seção estuda a distribuição pelas categorias ocupacionais, segundo os grupos de

cor ou raça e sexo.

Examinando a categoria “Dirigentes em Geral”, nota-se que o seu peso sobre as

ocupações da população branca era consideravelmente superior ao que foi verificado

anteriormente para a população como um todo, ocorrendo o oposto para pretos e pardos.

Quanto à categoria “Profissionais das ciências e das artes”, destaca-se aqui apenas que o

crescimento da mesma no período (2002-2009) ocorreu na estrutura ocupacional de todos

os grupos em estudo. Os maiores crescimentos percentuais no número de ocupados na

categoria foram encontrados para as populações pretas e pardas, e dentro de cada grupo de

cor ou raça para as mulheres. Para mulheres pretas e pardas ocupadas, o número de

ocupados como “Profissionais das ciências e das artes” cresceu aproximadamente 115%,

para os homens pardos e pretos o crescimento foi de 77,93% e 64,79%, respectivamente.

Para a população branca, os percentuais foram bem menores, 42,17% para as mulheres e

30,87% para os homens. Em relação às variações dos pesos na estrutura ocupacional, as

mulheres apresentaram as maiores variações, 3,26 pontos percentuais para as brancas,

seguidas pelas mulheres pardas (2,63pp) e mulheres pretas (1,66pp), ampliando os

diferenciais entre homens e mulheres em cada grupo de cor ou raça no período (tabela 18).

Nos dois anos, “Técnicos de nível médio” apresentaram pesos maiores nas

ocupações da população branca. Isto indica que também nesses postos, que exigem uma

formação técnica específica, são maiores as barreiras encontradas para pretos e pardos. Os

menores pesos foram verificados nas ocupações das mulheres pretas e pardas (tabela 18).

A categoria “Trabalhadores de serviços administrativos” possuía maiores

representações nas ocupações femininas, os diferenciais encontrados foram relevantes

entre homens e mulheres. Em 2009, nas ocupações das mulheres, a categoria apresentou o

maior peso na ocupação das brancas (15,30%), frente ao peso de aproximadamente 11%

nas ocupações das pretas e das pardas. Nas ocupações dos homens, o maior peso foi na

ocupação dos brancos (7,32%), enquanto nas ocupações de pretos e pardos os pesos foram

de 6,40% e 5,24%, respectivamente (tabela 18).

Chama atenção as informações para a categoria “Trabalhadores dos serviços” por

apresentar elevada participação no interior das ocupações femininas, reunindo o maior

Page 70: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

68

número de mulheres em todos os grupos e cor ou raça. Algumas ocupações dessa categoria

são tipicamente femininas, como a de trabalhadores domésticos, de auxiliares de saúde, e

de atendentes de enfermagem, e concentram muitas dessas mulheres. No total das

ocupações das mulheres brancas, o peso era de aproximadamente 26% em 2002 e de 25%

em 2009, enquanto no total das ocupações das mulheres pretas e pardas os pesos eram

expressivamente maiores (49,80% em 2002 e 46,53% em 2009 para as pretas e 36,63% em

2002 e 36,71% em 2009 para as pardas), produto da grande inserção dessas mulheres

(principalmente para as pretas) no trabalho doméstico, como visto nas análises sobre o

setor de atividade e posição na ocupação, refletindo em grande medida o nível e o padrão

estrutural das desigualdades raciais no mercado de trabalho. Portanto, em 2002, cerca de

metade das mulheres pretas ocupadas se encontravam nos postos de trabalhos dos serviços,

onde apesar de ter ocorrido uma queda considerável no período, em 2009 a categoria ainda

reunia uma parcela elevada dessas mulheres (tabela 18).

As ocupações da categoria “Vendedores e prestadores de serviços do comércio”

também representam pesos maiores nas ocupações femininas. Os diferenciais não foram

muito relevantes entre as mulheres brancas e pardas, o que não pode ser dito quando

entram na comparação as mulheres pretas, para as quais o peso dessa categoria era inferior

ao das outras mulheres e até mesmo inferior ao verificado para os homens brancos. Cabe

mencionar que as ocupações do comércio estão vinculadas ao atendimento ao público e

nesse espaço, diante do tipo de preconceito estabelecido no país, que se manifesta de

acordo com a aparência, como identificado por Nogueira (1985), práticas discriminatórias

raciais na contratação podem operar, consistindo em uma barreira para as mulheres pretas,

as quais acabam por se concentrar nas ocupações dos serviços, como visto (tabela 18).

Na categoria “Trabalhadores agrícolas”, nos dois anos, os pesos eram

significativamente maiores nas ocupações dos pardos – 30,45% para os homens e 21,77%

para as mulheres em 2002 e 25,80% para os homens e 15,92% para as mulheres em 2009.

Dentro de todos os grupos de cor ou raça, os maiores percentuais foram verificados nas

ocupações dos homens e os maiores diferenciais entre homens e mulheres foram

encontrados para a população parda – em torno de 7pp em 2002 e de 10pp em 2009.

Comparando todos os grupos, destaca-se que o peso dessa categoria nas ocupações das

mulheres pardas era superior em 2002 e similar em 2009 ao peso verificado para os

homens brancos e pretos (tabela 18).

Page 71: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

69

A categoria “Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais e de reparação

e manutenção” agrupa grande parcela da população masculina, tendo reunido nos dois anos

mais de 30% dos homens ocupados de todos os grupos de cor ou raça – para a população

preta o percentual verificado superou 40% das ocupações. Dentre as mulheres, os maiores

pesos foram encontrados sobre as ocupações das mulheres brancas, enquanto dentre os

homens, os menores pesos foram verificados para os brancos. Para todos eles, a categoria

obteve crescimento no total das ocupações, mas para os pardos esse crescimento foi

consideravelmente superior (2,52pp). Para as mulheres, apenas nas ocupações das pardas a

categoria obteve crescimento, apesar de não ter sido expressivo (0,12pp) (tabela 18).

O grupo de “Membros das forças armadas e auxiliares”, por sua grande

especificidade, consiste em uma categoria de menor expressão nas ocupações como um

todo, não apresentou grandes mudanças no período. O que vale destacar aqui são os pesos

irrisórios sobre as ocupações das mulheres e os maiores pesos sobre as ocupações dos

homens pretos.

Page 72: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

70

Tabela 18: Distribuição da PEA ocupada por categorias do Grupamento Ocupacional, segundo grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002 e 2009

2002 Branca Preta Parda

Categorias ocupacionais Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

Dirigentes em geral 8,25% 5,57% 2,46% 1,47% 3,16% 2,04%

Profissionais das ciências e das artes 6,12% 11,38% 2,54% 4,39% 1,97% 4,10%

Técnicos de nível médio 7,98% 9,02% 4,83% 7,52% 4,58% 7,42%

Trabalhadores de serviços administrativos 6,62% 13,14% 4,91% 7,45% 4,18% 8,00%

Trabalhadores dos serviços 10,29% 26,09% 16,66% 49,80% 12,28% 36,63%

Vend. e prest. de serviço. do comércio 8,55% 11,37% 7,14% 8,53% 8,36% 11,26%

Trabalhadores agrícolas 18,37% 13,30% 19,54% 13,12% 30,45% 21,77%

Trab. da prod. de bens e serv. Ind. e de repar. e Manut. 32,30% 9,76% 40,12% 7,51% 33,68% 8,60%

Membros das forças armadas e auxiliares 1,31% 0,08% 1,65% - 1,26% 0,05%

PEA ocupada total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

2009 Branca Preta Parda

Categorias ocupacionais Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

Dirigentes em geral 8,02% 5,95% 2,72% 1,65% 3,23% 2,36%

Profissionais das ciências e das artes 7,76% 14,64% 2,89% 6,05% 2,80% 6,73%

Técnicos de nível médio 8,91% 8,42% 5,98% 6,84% 5,36% 6,49%

Trabalhadores de serviços administrativos 7,32% 15,30% 6,40% 11,28% 5,24% 10,74%

Trabalhadores dos serviços 10,04% 25,35% 16,44% 46,53% 12,49% 36,71%

Vend. e prest. de serviço. do comércio 8,25% 11,36% 6,57% 9,47% 7,59% 12,23%

Trabalhadores agrícolas 15,78% 9,44% 16,69% 10,63% 25,80% 15,92%

Trab. da prod. de bens e serv. Ind. e de repar. e Manut. 32,62% 9,40% 40,91% 7,48% 36,19% 8,72%

Membros das forças armadas e auxiliares 1,29% 0,15% 1,40% - 1,29% 0,09%

PEA ocupada total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

Fonte: IBGE, PNADs 2002 e 2009 Nota: A diferença entre o total e os 100% em 2002 corresponde às ocupações mal definidas. "-" representam dados restritos devido ao pequeno número de observações na amostra, comprometendo a precisão da estimativa.

Page 73: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

71

2.3.1.2. Composição por cor ou raça e sexo das categorias ocupacionais

Esta seção aborda as composições das categorias ocupacionais em estudo, segundo

a cor ou raça e sexo.

A categoria “Dirigentes em Geral”, nos dois anos em estudo, era composta

majoritariamente pela população branca, que estava sobre-representada nos postos de

chefia, principalmente os homens. Os outros grupos estavam todos sub-representados.

Situação semelhante se verifica para a categoria “Profissionais das ciências e das artes”,

onde apenas a população branca estava sobre-representada, entretanto para os homens

brancos essa circunstância não era tão significativa (tabela 19).

Na categoria “Trabalhadores dos serviços” os homens estavam sub-representados e

as mulheres, sobre-representadas. Para as mulheres pretas, o peso na categoria era superior

ao dobro do peso delas na população ocupada, nos dois anos. Nas ocupações agrícolas,

somente os homens pardos estavam sobre-representados em 2009, com peso 13,52pp

acima do peso na PEA ocupada. As ocupações da categoria “Trabalhadores da produção de

bens e serviços industriais e de reparação e manutenção” são em sua grande maioria

preenchidas pela população masculina, cerca de 80% nos dois anos. As diferenças entre as

participações na categoria e na PEA ocupada eram expressivas. Entretanto, os homens

brancos tiveram seu peso reduzido, reduzindo sua sobre-representação. Por outro lado, os

pesos de homens pretos e pardos dentro da categoria cresceram, elevando a sobre-

representação dos mesmos (tabela 19).

Page 74: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

72

Tabela 19: Composição das categorias ocupacionais segundo os grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002 e 2009

2002 Branca Preta Parda

Categorias ocupacionais Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

Dirigentes em geral 50,07% 25,19% 1,71% 0,68% 14,68% 6,18%

Profissionais das ciências e das artes 32,11% 44,44% 1,52% 1,75% 7,91% 10,74%

Técnicos de nível médio 34,34% 28,90% 2,38% 2,46% 15,08% 15,97%

Trabalhadores de serviços administrativos 26,58% 39,32% 2,25% 2,28% 12,85% 16,08%

Trabalhadores dos serviços 16,21% 30,61% 3,00% 5,97% 14,80% 28,86%

Vend. e prest. de serviço. do comércio 27,81% 27,54% 2,65% 2,11% 20,80% 18,32%

Trabalhadores agrícolas 27,79% 14,99% 3,38% 1,51% 35,26% 16,48%

Trabalhadores na produção de bens e serviços e de repar. e manutenção

43,01% 9,68% 6,10% 0,76% 34,31% 5,73%

Membros das forças armadas e auxiliares 51,34% 2,21% 7,35% - 37,56% 1,04%

Participação na PEA ocupada 31,03% 23,12% 3,55% 2,36% 23,74% 15,52%

2009 Branca Preta Parda

Categorias ocupacionais Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

Dirigentes em geral 44,24% 26,17% 2,40% 1,05% 16,50% 8,30%

Profissionais das ciências e das artes 27,85% 41,87% 1,66% 2,50% 9,33% 15,37%

Técnicos de nível médio 33,37% 25,13% 3,59% 2,95% 18,58% 15,46%

Trabalhadores de serviços administrativos 21,66% 36,09% 3,04% 3,84% 14,36% 20,25%

Trabalhadores dos serviços 13,66% 27,47% 3,58% 7,28% 15,74% 31,78%

Vend. e prest. de serviço. do comércio 23,85% 26,18% 3,05% 3,15% 20,35% 22,52%

Trabalhadores agrícolas 25,63% 12,21% 4,35% 1,99% 38,83% 16,46%

Trabalhadores na produção de bens e serviços e de repar. e manutenção

37,48% 8,61% 7,53% 0,99% 38,52% 6,37%

Membros das forças armadas e auxiliares 44,40% 4,00% 7,76% - 41,18% 2,02%

Participação na PEA ocupada 27,31% 21,77% 4,38% 3,14% 25,30% 17,39%

Fonte: IBGE, PNADs 2002 e 2009 Nota: "-" representam dados restritos devido ao pequeno número de observações na amostra, comprometendo a precisão da estimativa.

Page 75: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

73

As análises realizadas apontam para o fato de que os conjuntos de ocupações aqui

estudados se diferenciam em termos das características de cor ou raça e sexo de quem os

ocupa. Nas ocupações dos trabalhadores dos serviços as mulheres são a maioria, na

indústria são quase todos homens, nos postos de dirigentes e nas profissões de nível

superior são quase todos brancos. O mercado de trabalho hoje reflete as desigualdades

raciais e de gênero históricas existentes na sociedade brasileira.

2.3.1.3. Análise sobre os rendimentos

Em primeiro lugar importa destacar as diferenças em termos de rendimento das

categorias, que consiste em um dos aspectos que tornam alguns postos mais prestigiados

do que outros. “Dirigentes em geral”, “Profissionais das ciências e das artes” e “Membros

das forças armadas e auxiliares” possuíam, para todos os grupos de cor ou raça e sexo,

rendimentos médios muito superiores às demais categorias. Depois destes, vinham, para

todos os grupos, a categoria “Técnicos de nível médio” e “Trabalhadores dos serviços

administrativos”, nesta ordem (tabela 20).

Em seguida, para a população masculina, o maior rendimento médio foi verificado

para os “Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais e de reparação e

manutenção”, logo após para os “Vendedores e prestadores de serviços do comércio”,

“Trabalhadores dos serviços” e por último “Trabalhadores agrícolas”. Para a população

feminina, com exceção das mulheres pretas, a diferença em relação aos homens é que a

categoria “Vendedores e prestadores de serviços do comércio” apresentou maior

rendimento médio do que a categoria “Trabalhadores da produção de bens e serviços

industriais e de reparação e manutenção”. As mulheres pretas foram as que apresentaram

um desenho mais distinto, após a categoria “Trabalhadores de serviços administrativos”,

eram maiores os rendimentos médios da categoria “Trabalhadores dos serviços”,

“Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais e de reparação e manutenção”,

“Vendedores e prestadores de serviços do comércio” e “Trabalhadores agrícolas”, nesta

ordem (tabela 20).

Em relação às assimetrias entre os rendimentos médios dos grupos, as maiores

diferenças entre os rendimentos ocorreram nas categorias “Dirigentes em geral” e

Page 76: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

74

“Profissionais das ciências e das artes”, a abertura dessas categorias no próximo capítulo

explicita essas diferenças. Assim, em todas as categorias são maiores os rendimentos

médios dos homens brancos. Indicando que para o total de ocupados os mesmos possuem

melhores rendimentos não só pela maior proporção nas categorias associadas a maiores

rendimentos, mas também porque no interior das categorias seus rendimentos são maiores

do que o verificado para os demais grupos. A comparação entre os rendimentos de

mulheres brancas e de homens pretos ou pardos mostra que em todas as categorias, com

exceção da categoria “Membros das forças armadas e auxiliares”, os rendimentos auferidos

por eles são maiores do que os auferidos por elas, indicando que para o total dos ocupados,

as mulheres brancas recebem mais por estarem alocadas em maior proporção nas

categorias associadas a maiores rendimentos (tabela 20).

Tabela 20: Rendimento médio do trabalho principal dos grupos de cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, segundo as categorias ocupacionais, Brasil, 2009

Categorias ocupacionais Branca Preta Parda

Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino

Dirigentes em geral 3.574,72 2.334,56 2.528,92 1.394,80 2.716,12 1.648,84

Profissionais das ciências e das artes 3.534,94 1.937,62 2.456,35 1.465,98 2.443,56 1.456,78

Técnicos de nível médio 1.840,76 1.218,95 1.216,16 887,97 1.333,93 836,48

Trabalhadores de serviços administrativos

1.146,45 873,54 947,77 717,00 920,86 729,55

Trabalhadores dos serviços 788,96 513,25 629,70 450,72 624,91 413,58

Vendedores e prestadores de serviços do comércio

958,10 609,23 641,96 444,23 682,65 432,67

Trabalhadores agrícolas 661,71 125,61 338,36 86,67 316,51 60,18

Trab. prod bens/serviços repar manutenção

1.000,23 562,04 770,88 446,18 758,36 431,94

Membros das forças armadas e auxiliares

2.174,50 2.278,33 2.078,94 - 2.015,30 1.934,96

Fonte: IBGE, PNAD 2009

Nota: "-" representam dados restritos devido ao pequeno número de observações na amostra, comprometendo a precisão da estimativa

Entre os homens e entre as mulheres, são sempre maiores os rendimentos dos

brancos. As diferenças entre os rendimentos de pretos e pardos são pequenas, em nenhuma

categoria, dentro de cada grupo de sexo, pretos apresentaram rendimento médio superior a

10% ao apresentado pelos pardos e vice-versa. Chama atenção os dados da categoria

“Trabalhadores agrícolas, onde dentro do grupo masculino, os brancos receberam em

média aproximadamente o dobro do que foi recebido por pretos e pardos, no grupo

feminino a situação era similar.

Page 77: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

75

2.4. Considerações finais do capítulo

As análises ao longo do capítulo demonstraram que, assim como no período

desenvolvimentista não ocorreu a tão sonhada superação das assimetrias de cor ou raça,

também não foi no período recente de crise (anos 1980 e 1990) e recuperação econômica

(a partir do início deste século) sob os marcos do Consenso de Washington, que as

desigualdades foram superadas. Contudo, como verificado a partir dos indicadores

selecionados, o período (2002-2009) foi marcado por uma redução das desvantagens dos

pretos e pardos em relação aos brancos, provavelmente decorrentes de políticas como o

Salário Mínimo (PAIXÃO & CARVANO, 2008), bem como pela maior exposição da

economia brasileira, à reestruturação das grandes empresas que contribuiu para o

achatamento do leque salarial, e, de modo indireto, para a redução das assimetrias de cor

ou raça no mercado de trabalho brasileiro.

O quadro de desigualdades analisado neste capítulo reflete as desigualdades de

gênero e de raça, que parece ainda “reservar” lugares distintos para homens e mulheres de

diferentes características de cor ou raça. Esses lugares se equivalem a espaços desiguais na

sociedade, uma vez que essas ocupações se distinguem, entre outros fatores, em níveis de

rendimento, o qual consiste em elemento fundamental na construção das desigualdades

sociais.

O próximo capítulo dá continuidade a esse debate, se dedicando às inserções dos

grupos em estudo na esfera de ocupações identificadas como socialmente prestigiadas.

Page 78: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

76

Capítulo 3 – Desigualdades em ocupações socialmente prestigiadas

Das categorias que compõem o Grupamento ocupacional do IBGE, examinadas no

capítulo anterior, “Dirigentes em geral” e “Profissionais das ciências e das artes” reúnem

ocupações de elevado prestígio social, devido aos seus maiores níveis de rendimento e de

escolaridade – proporcionalmente maiores que as demais posições –; e ao tipo de função

exercida, de comando. De tal modo, o presente capítulo estuda as desigualdades raciais na

esfera da estrutura das ocupações socialmente prestigiadas a partir da análise sobre as

inserções dos grupos de cor ou raça e sexo nessas duas categorias, desagregadas por suas

subcategorias, para melhor compreender as formas de acesso dos grupos de cor ou raça a

essas posições nos dias atuais. Para a categoria dos dirigentes buscou-se verificar as

diferenças entre as participações em cargos de maior e menor grau de direção e entre os

postos dos setores privado e público, onde se encontram os cargos políticos. Para os

profissionais das ciências e das artes, o objetivo foi verificar as inserções à luz das

diferentes carreiras de nível superior.

3.1. Dirigentes em geral: cargos de chefia segundo a cor ou raça e sexo

A categoria “Dirigentes em geral” foi identificada como de elevado prestígio social

por corresponder àquelas posições de comando, os chamados cargos de chefia – são

membros superiores e dirigentes do poder público, dirigentes de empresas, de organizações

e gerentes.

Foi visto no capítulo anterior que esses postos ocupavam uma parcela pequena do

total de ocupados, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, e que os mesmos eram

constituídos predominantemente pela população branca, sobretudo masculina, que em

2002 ocupava cerca de metade dos postos de dirigentes, as mulheres brancas ocupavam um

quarto deles.

Apesar da distribuição geográfica desigual ainda afastar os negros de determinadas

possibilidades de inserção, as assimetrias ocorrem em todas as regiões. Mesmo onde

representam a grande maioria da população, pretos e pardos ocupam esses postos em

Page 79: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

77

proporção reduzida. Assim, a população branca masculina estava expressivamente sobre-

representada nessas ocupações no Brasil independentemente da localização geográfica. Em

relação às desigualdades de gênero, observa-se que dentro de cada grupo de cor ou raça as

mulheres possuem participações muito inferiores a dos homens (tabela 21).

Tabela 21: Composição dos Dirigentes em geral segundo a cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil e Grandes Regiões, 2009

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul

Centro-Oeste

Branca

Homem 44,24% 26,15% 30,15% 47,76% 57,02% 38,04%

Mulher 26,17% 16,64% 17,01% 28,83% 33,64% 20,44%

Total 70,41% 42,79% 47,16% 76,60% 90,67% 58,48%

Preta

Homem 2,40% 3,34% 4,58% 2,00% 0,59% 3,57%

Mulher 1,05% 1,81% 1,75% 0,85% - 1,64%

Total 3,45% 5,15% 6,33% 2,84% 0,59% 5,21%

Parda

Homem 16,50% 33,57% 28,04% 12,85% 5,68% 25,03%

Mulher 8,30% 17,66% 17,84% 5,83% 1,74% 10,08%

Total 24,79% 51,23% 45,88% 18,67% 7,42% 35,11%

Total Dirigentes 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

Fonte: PNAD 2009 Nota: "-" representam dados restritos devido ao pequeno número de observações na amostra,

comprometendo a precisão da estimativa

3.1.2. Dirigentes por posição na ocupação

Nos estudos sobre a estrutura ocupacional, um dos principais critérios utilizados para

caracterizar as ocupações tem sido a separação entre a posição na ocupação de

empregadores e a de empregados. Tal relação “consiste na principal divisão da sociedade

capitalista (LAGO & RIBEIRO, 2000). Aqui foi realizado o cruzamento da categoria

“Dirigentes em geral” com a variável “Posição na ocupação”, que resultou na distribuição

dos dirigentes por seis grupos de posição: empregadores; empregado com carteira;

funcionário público estatutário; outros empregados sem carteira; conta própria; e não

remunerado.

Page 80: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

78

Em 2009, aproximadamente metade dos dirigentes era empregador. Desagregando os

dados por cor ou raça e sexo, chama atenção o baixo peso desta posição nos postos de

dirigente da população preta frente aos demais grupos populacionais. Chamam atenção

também, dentro de cada grupo de cor ou raça, os maiores percentuais desta posição nos

postos dos homens. Quanto à posição de empregados com carteira, observa-se que para a

população preta esta posição possuía o maior peso, enquanto para os demais esta posição

possuía o segundo maior peso. A posição “Funcionário público estatutário” apresentou o

menor peso no grupo dos dirigentes brancos, e dentro de cada grupo de cor ou raça possuía

maior peso nos postos de dirigente ocupados por mulheres. Por fim, a situação de

empregado sem carteira era menos comum para os dirigentes brancos do que para pretos e

pardos, indicando a maior informalidade que estes estão sujeitos. Neste caso, os pretos

apresentaram a pior situação, 11,43% dos homens pretos dirigentes e 15,63% das mulheres

pretas dirigentes eram empregados sem carteira (gráfico 7).

Gráfico 7: Distribuição dos dirigentes em geral por posição na ocupação, segundo cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2009

55,40

45,27

53,29

45,13

50,95

41,78

25,88

38,64

32,9930,46

32,4935,82

38,89

30,19

6,069,61

11,18

8,134,28

10,87

4,828,21

10,5511,43 10,55

15,63

8,276,71

1,801,154,24

5,532,50

1,12 0,180

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres (total)

Branca Preta Parda Dirigentes em geral

Empregador Empregado com carteira Funcionário público estatutário Outros Empregados sem carteira Outros

Fonte: IBGE, PNAD 2009 Nota: Na categoria “outros” foram agrupadas as posições “conta própria”; e “não remunerado”, as quais possuíam pouca representatividade desagregadas por cor ou raça e sexo.

A sobre-representação da população branca, sobretudo masculina, na categoria

“Dirigentes em geral”, já havia sido evidenciada no capítulo anterior. Analisando o

Page 81: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

79

cruzamento desta categoria com a variável posição na ocupação, sob o ponto de vista da

composição das posições, observa-se que esta sobre-representação ocorria de forma intensa

nas posições de empregadores e empregados com carteira assinada. Na posição de

empregadores os homens brancos representavam quase metade, junto com as mulheres

brancas este grupo de cor ou raça totalizava aproximadamente 70% dos dirigentes

empregadores. Na posição de empregados com carteira eles correspondiam a

aproximadamente 72% dos ocupados. Nota-se que a sobre-representação deste grupo

também ocorreu onde a situação de trabalho é mais precária – na posição de empregados

sem carteira –, muito embora a sobre-representação da população branca verificada neste

caso tenha sido consideravelmente menor – onde eram 62,52% (gráfico 8).

Gráfico 8: Composição dos dirigentes em geral segundo posições na ocupação selecionadas, por cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2009

48,11%43,57%

36,15%31,26%

23,25%28,42%

26,37% 35,12%

2,83%

3,35%

4,31%

17,26% 15,10%

21,20%13,12%

7,35% 7,66%10,67%

13,17%

1,82%1,93%

1,99%

0,53% 1,32%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Empregador Empregado com carteira Outros Empregados sem carteira Funcionário público estatutário

Branca Homens Branca Mulheres Preta Homens Preta Mulheres Parda Homens Parda Mulheres

Fonte: IBGE, PNAD 2009

O gráfico 9 ilustra as mudanças nas participações dos grupos de cor ou raça e sexo

nas ocupações de dirigentes empregadores entre os anos 2002 e 2009. Nota-se que os

homens brancos foram o único grupo a ter sua participação reduzida (em torno de 5 pontos

percentuais), o que correspondeu ao aumento da participação dos demais. A participação

dos pardos cresceu em 3pp para os homens e em 2pp para as mulheres. Parte dessa

mudança pode estar refletindo as mudanças na composição racial da população.

Page 82: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

80

Gráfico 9: Composição dos dirigentes em geral empregadores, por cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2002 e 2009

53,41%

23,11%

1,63%0,37%

14,30%

5,33%

48,11%

23,25%

1,82%0,53%

17,26%

7,35%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Homens brancos Mulheres brancas homens pretos Mulheres pretas Homens pardos Mulheres pardas

2002 2009

Fonte: IBGE, PNADs 2002 e 2009

As análises sobre a posição na ocupação dos dirigentes evidenciou que o maior

acesso aos cargos de chefia para pretos e pardos acontecem nas posições de empregados

sem carteira (situação mais precária) e de funcionário público estatutário, onde o acesso

costuma ocorrer de forma mais democrática. Apesar de ter ocorrido a sobre-representação

da população branca em todas as posições, verificou-se que isto ocorreu mais intensamente

nas posições de empregados com carteira e empregadores. Nesta última posição verificou-

se também a queda da participação dos homens de declaração de cor ou raça branca.

3.1.3. Dirigentes do setor público, do setor privado e gerentes

A abertura da categoria “Dirigentes em geral” resulta em três subcategorias:

“Membros superiores e dirigentes do poder público”; “Dirigentes de empresas e

organizações (exceto do poder público)”; e “Gerentes”. As duas primeiras denotam a

separação dos cargos executivos dos setores público e privado, já a última se destaca das

primeiras pelo seu menor grau de poder de decisão associado, se situando em posição

Page 83: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

81

inferior na hierarquia dessas ocupações. A seguir apresenta-se o exame da categoria dos

dirigentes desagregada por suas subcategorias.

Inicialmente, como esperado, observa-se que a grande maioria dos dirigentes era

gerente, cerca de três quartos deles. Os dirigentes do poder público representavam 5,30% e

os dirigentes de empresas e organizações, 20,14% (gráfico 10).

Gráfico 10: Composição da categoria de Dirigentes segundo as subcategorias, Brasil, 2009

74,56%

5,30%

20,14%

Membros superiores do poder público e dirigentes de organizações de interesse público

Dirigentes de empresas e organizações

Gerentes

Fonte: IBGE, PNAD 2009

As subcategorias podem também ser caracterizadas e assim diferenciadas pelos seus

níveis de rendimento. Em 2009, os Dirigentes de empresas e organizações recebiam em

média cerca de cinco mil reais, 80% superior ao rendimento médio dos Dirigentes do setor

público e 116% superior ao rendimento médio dos gerentes. Essas informações revelam

que os dirigentes de empresas possuem uma situação mais vantajosa que os demais em

termos de rendimentos (gráfico 11).

Page 84: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

82

Gráfico 11: Rendimento médio dos Dirigentes em geral por subcategorias, Brasil, 2009

5.021,83

2.322,02

2.793,33

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

Dirigentes de empresas e organizações (exceto

de interesse público)

Membros superiores do poder público e

dirigentes de org. de interesse público

Gerentes

Fonte: IBGE, PNAD 2009

A distribuição pelas subcategorias desagregada por cor ou raça e sexo aponta para a

inserção diferenciada dos grupos na categoria “Dirigentes em geral”. Em 2009, como

esperado, todos os grupos tinham a maior parte dos postos de chefia na subcategoria de

gerentes. Porém, eram significativas as diferenças nas distribuições – os menores pesos dos

cargos de gerência (de menor rendimento médio) foram encontrados para os homens e

mulheres brancas, para os quais os postos de dirigentes do setor privado (de maior

rendimento médio) tinham maiores pesos. Observa-se que o maior percentual encontrado

foi para os homens pardos como “Gerentes” (79,53%) e o menor para os homens brancos

como “Membros superiores e dirigentes do poder público” (4,46%), valor que corresponde

a uma maior participação da categoria de “Dirigentes de empresas e organizações” nas

ocupações dos homens brancos, em relação aos demais (gráfico 12).

Page 85: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

83

4,46%

5,31%

8,28%

8,97%

6,57%

6,62%

23,32%

20,17%

13,95%

15,84%

13,90%

17,49%

72,23%

74,53%

77,77%

75,20%

79,53%

75,89%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Homens brancos

Mulheres brancas

Homens pretos

Mulheres pretas

Homens pardos

Mulheres Pardas

Membros superiores do poder público e dirigentes de organizações de interesse público

Dirigentes de empresas e organizações

Gerentes

Gráfico 12: Distribuição dos Dirigentes pelas subcategorias, segundo a cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2009

Fonte: IBGE, PNAD 2009

O próximo gráfico exibe a composição por cor e sexo das três subcategorias em

2009. Verifica-se que em todas elas os pesos dos homens brancos eram muito superiores

ao peso dos mesmos na população ocupada, onde correspondiam a 27,31% (ver tabela 10).

Para as mulheres brancas foram verificados os segundos maiores pesos, também acima do

peso delas dentre os ocupados que era de 21,77% (tabela 10). Porém, a sobre-representação

delas foi muito inferior a dos homens brancos. Assim, em todas as subcategorias havia o

predomínio da população branca – 63,46% dos “Membros e dirigentes do poder público”,

77,43% dos “Dirigentes de empresas e organizações” e 68,01% dos “Gerentes” –

indicando a assimétrica distribuição dos cargos de chefia (gráfico 13).

Embora a desigualdade se expresse em todas as subcategorias, nota-se que a

assimetria era consideravelmente mais forte nos postos de dirigentes do setor privado, onde

os homens brancos representavam cerca da metade dos ocupados. Comparando esses

postos com os de direção do setor público, tem-se um diferencial de 14pp entre as

participações dos homens brancos nestas subcategorias, indicando que são menores as

barreiras enfrentadas por pretos e pardos no acesso aos cargos públicos de chefia (gráfico

13).

Page 86: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

84

Gráfico 13: Composição por cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo das subcategorias de Dirigentes, Brasil, 2009

Fonte: IBGE, PNAD 2009

Embora as barreiras no setor público pareçam ser menores para pretos e pardos, elas

existes, como bem ressaltou Paixão (2005, p.59), “Igualmente importante é salientar a

existência do racismo institucional, isto é, formas de discriminação perpetradas pelo

Estado nos seus processos de seleção e promoção de funcionários públicos (mormente para

os postos mais graduados e bem pagos) (...)”.

A comparação com o ano 2002 demonstra que daquele ano para 2009 houve um

movimento no sentido de uma maior diversidade no interior desses postos, com o

crescimento, em todas as subcategorias, do peso de pretos e pardos, o que correspondeu a

uma queda do peso de brancos. Deste modo, houve queda nos diferenciais entre as

participações desses dois grupos em 8,81 pontos percentuais na categoria dos dirigentes de

empresas e organizações, 10pp na categoria dos gerentes e 9,29pp na categoria dos

Membros e dirigentes do poder público. Essas variações implicaram em uma queda do

diferencial nas participações de aproximadamente 10pp na categoria de “Dirigentes em

geral” (gráfico 14).

37,23%

51,22%

42,86%

26,23%

26,20%

26,16%

20,47%

11,38%

17,59%

10,37% 7,21% 8,45%

2,51%

3,76%

1,66%

1,05%

1,77%

0,82%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Membros superiores do poder público e

dirigentes de organizações de interesse público

Dirigentes de empresas e organizações Gerentes

Homens brancos Mulheres brancas Homens pretos Mulheres pretas Homens pardos Mulheres Pardas outros

Page 87: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

85

Gráfico 14: Composição racial das subcategorias de Dirigentes, Brasil, 2002 e 2009

81,25%77,43%

74,22%69,01% 67,03%

63,46%

16,09%21,08%

24,41%29,60%

30,65% 36,37%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2002 2009 2002 2009 2002 2009

Dirigentes de empresas e organizações Gerentes Membros superiores do poder público e dirigentes de

organizações de interesse público

Brancos Pretos e pardos outros

Fonte: IBGE, PNADs 2002 e 2009

Assim, ainda há uma predominância da população branca nos cargos de chefia.

Houve no período 2002-2009 uma mudança na composição racial desses cargos. Muito

embora tal alteração possa em grande medida ter acompanhado as mudanças na

composição de cor da população.

3.1.4. Dirigentes por faixas de rendimento

Foi visto na análise sobre os rendimentos médios das categorias ocupacionais as

discrepâncias entre os rendimentos auferidos pelos grupos de cor ou raça e sexo ocupados

na categoria “Dirigentes em geral”, onde os homens brancos recebiam em média

remunerações muito superiores aos demais grupos. O segundo maior rendimento médio foi

verificado para os homens pardos, seguidos pelos homens pretos, mulheres brancas,

mulheres pardas e mulheres pretas. Vale destacar que, embora ingressem com maior

escolaridade e tenham maior acesso a esses postos, observou-se que as mulheres brancas

auferiam em média remunerações menores do que os homens pretos e pardos. A seguir são

Page 88: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

86

apresentadas análises sobre os rendimentos realizadas através do cruzamento das

subcategorias de dirigentes e a variável “rendimento do trabalho principal”.

O gráfico 15 dispõe a porcentagem acumulada dos Dirigentes em Geral por

rendimento mensal (em salários mínimos)28

segundo as suas subcategorias. Verifica-se que

as subcategorias possuíam distribuições distintas pelas faixas salariais selecionadas – a

proporção de dirigentes do setor privado em faixas mais elevadas era significativamente

superior às proporções dos demais grupos. Enquanto mais de 30% dos dirigentes do setor

privado recebiam mais de 10 salários mínimos, menos de 20% dos dirigentes do setor

público e pouco mais de 10% dos gerentes se encontravam nesta faixa salarial. Isto explica

parte dos diferenciais nos rendimentos dos grupos na categoria favorável aos homens

brancos, analisados anteriormente, uma vez que a sobre-representação dos mesmos é mais

forte no setor privado.

Gráfico 15: Distribuição acumulada dos dirigentes em geral por faixas de rendimento selecionadas, segundo subcategorias, Brasil, 2009

58,26%

95,33%

80,86%

87,87%

66,98%

37,18%

66,59%

88,45%

97,47% 100,00%

60,22%

95,42%

83,71%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Até 1 Até 5 Até 10 Até 20 Mais de 20

Membros superiores do poder público e dirigentes de organizações de interesse público

Dirigentes de empresas e organizações (exceto de interesse público)

Gerentes

Dirigentes em geral

Fonte: IBGE, PNAD 2009

28 Na data de referência da PNAD 2009, o salário mínimo correspondia a R$ 465,00.

Page 89: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

87

O gráfico anterior revela também que os postos de dirigentes eram bastante

heterogêneos no que se refere aos rendimentos recebidos. Diante disto, considerou-se

pertinente a realização de recortes por faixas salariais a fim de estudar o acesso aos postos

de direção mais prestigiados. O recorte por faixas salariais revela que na medida em que se

avança para faixas salariais superiores aumenta a participação da população branca.

Desagregando por sexo, nota-se que isso acontece apenas para os homens brancos, que

estão sobre-representados em todas as faixas. Os homens brancos são aproximadamente

36% daqueles que se encontram na faixa de rendimento de até 5 salários mínimos, contudo

são aproximadamente 73% daqueles que se encontram na faixa de rendimento de mais de

20 salário mínimos (gráfico 16).

Gráfico 16: Composição dos dirigentes em geral por faixas de rendimento selecionadas (em salários mínimos), segundo subcategorias, por cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2009

36,48%

50,81%

60,66%

73,90%

28,56%

24,67%

18,79%

14,90%

2,76%

2,12%

1,46%

19,18%

14,61% 12,55%

6,89%10,67%

5,62% 3,81%1,68%

0,88% 2,17% 4,20% 2,64%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Até 5 sm Mais de 5 até 10 sm Mais de 10 até 20 sm Mais de 20 sm

Homens brancos Mulheres brancas Homens pretos Mulheres pretas Homens pardos Mulheres pardas Outros

Fonte: IBGE, PNAD 2009 Nota: Homens e mulheres pretas foram reunidos no grupo “outros” nas faixas onde a amostra não era representativa de suas populações.

Na categoria “Dirigentes em geral” é muito superior a participação da população

branca, sobretudo masculina. Nesta seção, mediante a desagregação por posição na

ocupação, por subcategorias (dirigentes do setor público; dirigentes do setor privado; e

Page 90: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

88

gerentes) e por faixas salariais, verificou-se que a sobre-representação dos homens brancos

era maior nas posições de empregadores e de empregados com carteira, no setor privado e

nas faixas superiores de rendimento. Isto indica que no Brasil, os cargos de chefia mais

prestigiados ainda são tipicamente ocupados pela à população branca masculina e que o

acesso de pretos e pardos aos cargos de chefia ocorre principalmente nas situações mais

vulneráveis, nos postos de menor grau de direção e de menores níveis de rendimento.

3.2. Profissionais das ciências e das artes segundo a cor ou raça e sexo

A categoria “Profissionais das ciências e das artes” foi identificada como

socialmente prestigiada devido aos seus elevados níveis de rendimento e escolaridade. Esta

categoria agrupa postos que exigem a formação de nível superior (das áreas biológicas,

jurídicas, sociais e humanas), as de professores da educação infantil (com formação de

nível superior) e as de artistas e religiosos. Como observado no capítulo anterior, muito

embora esteja ocorrendo um maior acesso a esses níveis, como decorrência de políticas

públicas específicas para este fim, essas profissões possuem peso ainda relativamente

pequeno dentro do total das ocupações no país, principalmente nas regiões Norte e

Nordeste, o que está relacionado com o reduzido número de pessoas que avançam no

sistema educacional e alcançam os níveis superiores de ensino.

Como as barreiras no acesso aos níveis superiores de ensino são maiores para

pretos e pardos, tem-se que a participação deles nessas ocupações é muito inferior à

participação de brancos. Em relação às mudanças entre os anos 2002-2009, foi visto que

houve crescimento do peso destes postos sobre o total das ocupações e que esse conjunto

de ocupações passou a ter maior importância dentro das ocupações de todos os grupos em

estudo, sendo que no interior de cada grupo de cor e raça, o avanço foi maior para as

mulheres.

A tabela 22 explicita como estavam distribuídas em 2009 as ocupações dos

“Profissionais das ciências e das artes” no Brasil e nas grandes regiões do país segundo os

grupos de cor ou raça e sexo. Os dados demonstram que as assimetrias ocorrem em todas

as regiões – mesmo onde representam a grande maioria da população, pretos e pardos

ocupam esses postos em proporção reduzida. Assim, a população branca, neste caso

Page 91: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

89

principalmente a feminina, estava sobre-representada nessas ocupações independentemente

da localização geográfica.

Tabela 22: Composição dos Profissionais das ciências e das artes segundo a cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil e Grandes Regiões, 2009

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul

Centro-Oeste

Branca

Homem 27,85% 13,73% 17,71% 31,77% 32,74% 23,77%

Mulher 41,87% 23,29% 29,12% 44,49% 56,41% 35,34%

Total 69,72% 37,02% 46,82% 76,26% 89,15% 59,11%

Preta

Homem 1,66% 2,19% 2,23% 1,65% 0,80% 1,93%

Mulher 2,50% 2,85% 3,99% 2,39% - 2,87%

Total 4,16% 5,04% 6,22% 4,04% 0,80% 4,80%

Parda

Homem 9,33% 21,31% 17,61% 6,69% 2,97% 13,46%

Mulher 15,37% 35,67% 28,98% 11,32% 4,25% 21,33%

Total 24,70% 56,99% 46,59% 18,01% 7,22% 34,79%

Total Dirigentes 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

Fonte: PNAD 2009

Nota: "-" representam dados restritos devido ao pequeno número de observações na amostra, comprometendo a precisão da estimativa

3.2.1. Profissionais das ciências e das artes: assimetrias nas diferentes carreiras

A seguir são apresentadas informações sobre a composição da categoria

“Profissionais das ciências e das artes” desagregada por suas subcategorias, as quais se

relacionam com as diferentes escolhas de carreiras universitárias. Buscou-se averiguar se a

sobre-representação da população branca ocorre de forma semelhante segundo os postos

associados às diferentes formações.

Em primeiro lugar, observa-se os diferentes pesos das subcategorias em 2009, com

os “Professores do ensino (com nível superior)” apresentando a maior participação dentro

da categoria (36,45%). O segundo e o terceiro maior peso foram, respectivamente, das

subcategorias “Profissionais das ciências sociais e humanas” (17,63%) e “Profissionais das

ciências biológicas” (15,54%). As outras subcategorias apresentaram percentuais

relativamente menores (gráfico 17).

Page 92: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

90

Gráfico 17: Composição da categoria “Profissionais das ciências e das artes segundo subcategorias, Brasil, 2009

10,51%

15,54%

36,45%

8,55%

17,63%

11,24%0,08%

Profissionais das ciências exatas, físicas e da engenharia Profissionais das ciências biológicas, da saúde e afins

Profissionais do ensino (com formação de nível superior) Profissionais das ciências jurídicas

Profissionais das ciências sociais e humanas Comunicadores, artistas e religiosos

Outros

Fonte: IBGE, PNAD 2009

A maior participação das mulheres na categoria como um todo está relacionada ao

maior peso da subcategoria dos docentes, uma vez que tradicionalmente esta carreira tem

sido seguida pelas mulheres. Esta questão será visualizada mais adiante quando analisadas

as composições das subcategorias.

O rendimento médio das subcategorias evidencia grandes disparidades entre as

carreiras, produto das atividades que as mesmas estão relacionadas. Assim, os profissionais

das ciências jurídicas e das ciências exatas possuíam os maiores rendimentos, seguidos

pelos profissionais das ciências biológicas e saúde e das ciências sociais e humanas. Os

rendimentos dos profissionais do ensino (com nível superior) e dos comunicadores, artistas

e religiosos eram expressivamente menores (gráfico 18).

Page 93: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

91

Gráfico 18: Rendimento médio dos Profissionais das ciências e das artes por subcategorias, Brasil, 2009

3.797,483.734,43

3.117,96

2.594,58

1.607,12

1.037,23

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

Prof. das ciências

jurídicas

Prof. das ciências

exatas, físicas e da eng.

Prof. das ciên. biológ.,

da saúde e afins

Prof. das ciências

sociais e humanas

Prof. do ensino (com

nível superior)

Comunicadores, artistas

e religiosos

Fonte: IBGE, PNAD 2009

O gráfico a seguir mostra a distribuição da população ocupada dos grupos de cor ou

raça e sexo segundo as subcategorias da categoria “Profissionais das ciências e das artes”

em 2009. Como pode ser observado, as distribuições dos grupos ocorrem de forma

diferenciada, explicando, à luz dos desiguais rendimentos associados às carreiras, parte dos

diferenciais nos rendimentos médios dos ocupados na categoria como um todo, vistos no

capítulo anterior.

A começar pela subcategoria dos professores, que apresentou o maior peso sobre o

total das ocupações da categoria. Nota-se, como esperado, que a carreira de docente é mais

presente nas ocupações femininas – 43,15% para as mulheres brancas, 53,92% para as

pretas e 55,37% para as pardas. Esta carreira apresentou o maior peso sobre as ocupações

da categoria “Profissionais das ciências e das artes” de todos os grupos, exceto sobre as

ocupações dos homens brancos, onde representavam 18,28% do total, correspondendo à

terceira subcategoria de maior peso. Para outros homens, pretos e pardos, a ocupação de

docente de nível superior apresentou pesos de 28,02% e 28,78%, respectivamente. Os

homens brancos apresentaram uma distribuição mais uniforme pelas subcategorias (gráfico

19).

Page 94: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

92

Observa-se que a carreira de profissionais das ciências exatas, físicas e da engenharia

eram mais presentes nas ocupações dos homens, o valor verificado para os homens brancos

(21,99%) foi muito superior aos verificados para os outros homens (12,78% para os pretos

e 15,95% para os pardos). No grupo feminino, o maior peso foi verificado para as brancas,

menos de 5% (gráfico 19).

Os profissionais das ciências biológicas, saúde e afins possuíam menores pesos para

os homens em comparação às mulheres, dentro de cada grupo de cor ou raça. Entre todos

os grupos, essa subcategoria apresentou o menor peso para os pretos – menos de 4% dos

homens pretos profissionais das ciências e das artes são dessas áreas, onde estão biólogos,

agrônomos, médicos, dentistas, veterinários, farmacêuticos, enfermeiros, fisioterapeutas e

nutricionistas (gráfico 19).

Chamam atenção também os elevados pesos das ocupações de comunicadores,

artistas e religiosos para pretos e pardos, frente aos pesos na população branca. Depois das

carreiras de docentes, estas profissões parecem ser a principal porta de ingresso de pretos e

pardos na categoria de profissionais das ciências e das artes (gráfico 19).

Gráfico 19: Distribuição dos Profissionais das ciências e das artes por subcategorias, segundo cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2009

12,78%

2,91%

15,95%

2,25%

16,47%

18,14% 3,84%

8,32%

9,44%

11,74%

18,28%43,15%

28,02%

53,92%28,78%

55,37%

13,55%

7,17%

13,26%

5,84%

9,68%

2,96%

19,29%18,03%

18,92%

13,75%

16,87%

14,42%

10,18% 8,83%

23,19%

15,27%19,24%

13,25%

21,99%

4,67%0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres

Branca Preta Parda

Prof. policientíficos Prof. das ciências exatas, físicas e da engenharia Prof. das ciências biológicas, da saúde e afins

Prof. do ensino (com formação de nível superior) Prof. das ciências jurídicas Prof. das ciências sociais e humanas

Comunicadores, artistas e religiosos

Fonte: IBGE, PNAD 2009

Page 95: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

93

A composição por cor ou raça e sexo em 2009 revela que não há diversidade racial

no interior dessas subcategorias, onde a população branca se faz presente de forma

majoritária em todas elas.

Do ponto de vista da diversidade de gênero, a subcategoria “Profissionais das

ciências exatas, físicas e da engenharia” constitui um espaço masculino de profissão, onde

os homens correspondem a 74,43% dos ocupados. Do ponto de vista da diversidade racial,

a subcategoria constitui um espaço onde há o predomínio da população branca (76,87%

dos postos). Homens brancos, mais do que as mulheres brancas, predominam neste

conjunto de ocupações, sendo o único grupo a estar sobre-representado, ocupando 58,27%

desses postos. As mulheres brancas apresentaram a segunda maior participação (18,61%) e

os homens pardos a terceira (14,15%) (gráfico 20). Comparando esses valores com as

participações dos mesmos na PEA ocupada, nota-se a maior sub-representação dos homens

pardos, que correspondiam a cerca de um quarto da PEA ocupada, enquanto elas

correspondiam a 21,77%.

A subcategoria “Profissionais das ciências biológicas, da saúde e afins” em 2009

também constituía um ambiente onde a população branca se fazia presente de forma

preponderante em relação às demais – os brancos eram 78,37% dos ocupados neste

conjunto de ocupações. As mulheres brancas sozinhas constituíam quase metade dos

ocupados (48,86%), os homens brancos, cerca de 30%, ambos estavam sobre-

representados. Observa-se também que dentro de cada grupo de cor ou raça eram maiores

as participações das mulheres, entretanto, apesar das mulheres pretas e pardas totalizarem

mais de 20% da PEA ocupada, elas representam apenas 13% dos ocupados nesta

subcategoria de ocupações (gráfico 20).

Na subcategoria “Profissionais das ciências jurídicas”, em relação à diversidade de

gênero, a divisão das ocupações entre homens e mulheres não foi desigual de maneira

expressiva, com eles totalizando aproximadamente 57% dos ocupados. No entanto, em

relação à composição racial, esta subcategoria foi a que apresentou maior participação de

brancos, que podiam ser encontrados em quase 80% desses postos em 2009. Dos cerca de

20% dos postos restantes, aproximadamente a metade era ocupada pelos homens pardos

(10,56%), embora estes fossem 25% da PEA ocupada naquele ano. Para a população preta

e parda foram verificadas participações muito pequenas neste grupo de ocupações, frente

as suas participações no total da população ocupada (gráfico 20).

Page 96: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

94

Na subcategoria “Profissionais das ciências sociais e humanas” os brancos

representavam 73,29%. As assimetrias de gênero não eram tão significativas quanto às de

raça, as mulheres representavam pouco mais da metade dos ocupados neste conjunto de

ocupações (gráfico 20).

A subcategoria “Profissionais do ensino (com formação de nível superior)” foi a

que apresentou o maior peso dentro da categoria “Profissionais das ciências e das artes”,

como visto. Esta subcategoria mostrou ser a de maior diversidade em termos de

composição racial, em relação às anteriores. A sobre-representação da população branca

neste caso ocorreu num nível menor do que os verificados anteriormente, os brancos

totalizavam 63,53% dos ocupados nesta subcategoria. O que chama atenção aqui é a sobre-

representação das mulheres, assim como foram maiores as importâncias das carreiras de

docentes nas ocupações das mulheres, são maiores os pesos delas nessas carreiras –

76,61% dos profissionais do ensino eram do sexo feminino. Assim, a maior diversidade na

composição racial nesta subcategoria se deve às participações das mulheres pretas (3,69%)

e mulheres pardas (23,35%), que neste caso não se encontravam sub-representadas. Por

outro lado, todos os homens estavam sub-representados (gráfico 20).

Por fim, “Comunicadores, artistas e religiosos” demonstrou ser a subcategoria de

maior acesso para pretos e pardos, que em 2009 estavam em 40,91% desses postos, a

população branca, em 58,12%. Em relação às questões de gênero, as mulheres formavam

pouco mais da metade dos ocupados e todos os homens apresentaram menores

participações do que a apresentada na PEA ocupada. Este conjunto de ocupações se

diferencia dos demais por não exigir a formação de nível superior, explicando parte da

maior diversidade na composição racial, uma vez sabido que são maiores as barreiras

enfrentadas pela população preta e parda no acesso aos níveis superiores de ensino.

Ademais, vale destacar aqui a heterogeneidade no que se refere às ocupações dessa

subcategoria, que engloba desde profissionais da área da comunicação, artistas e também

religiosos (gráfico 20).

Page 97: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

95

Gráfico 20: Composição das subcategorias dos Profissionais das ciências e das artes, segundo cor ou raça (branca, preta e parda) e sexo, Brasil, 2009

58,27%

29,51%

13,97%

44,13%

30,47%25,23%

18,61%

48,86%

49,56%

35,10%

42,82%

32,89%

2,02% 0,41%

1,28%

2,58%

1,78%

3,43%

0,69% 1,34%

3,69%

1,71%

1,95%

3,39%

14,15%

5,66%

7,36%

10,56%

8,92%

15,97%

3,29%

11,61%

23,35%

5,32%

12,58%18,13%

2,99% 2,60% 0,78%0,60%

1,48% 0,97%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Prof . das ciências exatas, f ísicas e da

engenharia

Prof . das ciências biológicas, da saúde e

af ins

Prof . do ensino (com formação de nível

superior)

Prof . das ciências jurídicas

Prof . das ciências sociais e humanas

Comunicadores, artistas e religiosos

Branca Homens Branca Mulheres Preta Homens Preta Mulheres Parda Homens Parda Mulheres Outros

Fonte: IBGE, PNAD 2009

Em relação às escolhas de carreiras por homens e mulheres, os dados apontam para

a maior concentração de mulheres nas áreas de educação, biológicas, saúde, sociais e

humanas; e para a maior concentração dos homens nas áreas das ciências exatas, físicas e

da engenharia, quanto a isso:

“Tais preferências, construídas a partir da socialização diferenciada de meninos

e meninas, resultam em uma segregação que vai além do ambiente universitário.

A separação das carreiras reflete, em larga medida, a própria divisão sexual do

trabalho – traduzindo-se em “carreiras femininas”, mais vinculadas às áreas

sociais, portanto de “cuidado”, e as carreiras “masculinas”, identificadas com as

ciências exatas, mais técnicas. A essa separação corresponde uma divisão em

termos de hierarquia e reconhecimento social e salarial: enquanto as áreas ditas

“femininas” acabam constituindo-se nas carreiras menos valorizadas

socialmente, aquelas ocupadas em sua maioria por homens revelam-se espaços

com maior remuneração e prestígio social. Isso ajuda a explicar as elevadas

diferenças salariais verificadas ainda hoje entre homens e mulheres” (IPEA,

2007, p.53).

Ademais, os resultados para a subcategoria dos docentes (com nível superior) vão de

encontro ao estudo de Beltrão e Teixeira (2005), que investigou o viés de cor e gênero nas

carreiras universitárias através do acompanhamento da população de nível superior no

Brasil desde o Censo de 1960 até o Censo de 2000, procurando identificar as tendências de

Page 98: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

96

crescimento na participação de mulheres e de pretos e pardos nas diferentes carreiras

universitárias e verificar até que ponto este mercado universitário coloca mulheres e negros

em patamares próximos de escolha e possibilidades. Os autores constataram, com algumas

exceções, que quanto mais feminina a carreira, maior a proporção de pretos, pardos e

indígenas, o inverso acontecendo com brancos e amarelos. Assim, das carreiras de nível

superior que compõe a categoria “Profissionais das ciências e das artes”, a subcategoria

mais feminina foi a de docentes (com nível superior), que correspondeu à subcategoria de

maiores participações de pretos e pardos.

Como já mencionado, no período 2002-2009, houve o aumento do peso da categoria

“Profissionais das ciências e das artes” sobre o conjunto das ocupações no Brasil. Aqui são

apresentadas as modificações ocorridas neste período em relação às assimetrias na

composição racial das subcategorias, mediante o exame sobre as diferenças entre os pesos

dos grupos de cor ou raça nas subcategorias e seus pesos no interior da PEA ocupada,

apresentada no gráfico 21. Constata-se que apesar de ainda haver maior representação da

população branca em todas as subcategorias em 2009, essa situação é um pouco melhor do

que a encontrada em 2002, onde eram maiores os níveis de sobre-representação da

população branca. A queda na participação desta população correspondeu a um aumento

da participação da população preta e parda. Nas profissões das ciências jurídicas, por

exemplo, os brancos tiveram em 2009 uma participação cerca de 30,15 pontos percentuais

acima de sua participação na PEA ocupada, contudo, em 2002, esse diferencial era ainda

maior, 31,60pp. Por outro lado, para os pretos e pardos, a participação na categoria era

cerca de 30,05pp menor do que sua participação na PEA ocupada em 2009, situação um

pouco melhor do que a verificada em 2002 (32,20pp abaixo) (gráfico 21).

Page 99: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

97

Gráfico 21: Diferença (em pontos percentuais) entre a participação na subcategoria e a participação na PEA ocupada, segundo cor ou raça (branca e preta & parda) Brasil, 2002 e 2009

27,79

29,29

14,45

30,15

24,21

9,04

27,95

29,92

17,93

31,60

25,67

12,02

-30,07

-31,19

-14,52

-30,05

-24,99

-9,30

-30,74

-32,47

-17,97

-32,20

-26,36

-12,28

-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40

Ciências exatas, físicas e engenharia

Ciências biológicas, saúde e afins

Prof. do ensino

Ciências jurídicas

Ciências sociais e humanas

Comunicadores, artistas e religiosos

Branca 2009 Branca 2002 Preta & Parda 2009 Preta & Parda 2002

Fonte: IBGE, PNADs 2002 e 2009

Assim, apesar de terem ocorrido algumas mudanças, elas não foram expressivas para

que a estrutura dessas ocupações prestigiadas fosse transformada. Pretos e pardos

permanecem com pouco acesso a esses espaços.

3.3. Considerações finais do capítulo

O estudo sobre as categorias “Dirigentes em geral” e “Profissionais das ciências e

das artes”, que agrupam ocupações de elevado prestígio social, revelou a participação

muito reduzida da população de cor ou raça preta e parda nesses postos. Verificou-se que

pretos e pardos, quando conseguem acessar esses espaços, o conseguem nas situações mais

desvantajosas no que se refere a rendimentos, nível de comando e posição na ocupação.

A composição racial dessas ocupações divulga o quadro estrutural de desigualdades

raciais no Brasil contemporâneo, onde os espaços no topo da hierarquia ocupacional são

ocupados principalmente pela população branca.

Page 100: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

98

Considerações finais

O Brasil por séculos se assentou sobre um sistema escravista de exploração do

trabalho braçal forçado da população negra e após este sistema, embora tenha

experimentado transformações políticas, sociais e econômicas positivas, não foi capaz de

superar as desigualdades entre as pessoas que se distinguem em características de cor ou

raça.

No primeiro capítulo buscou-se demonstrar como ocorreu ao longo da história o

debate sobre o tema das relações raciais e como foram configuradas as desigualdades

raciais no Brasil após abolição, enfatizando as assimetrias no mercado de trabalho. A partir

de estudos de referência dentro da temática, como os de Gilberto Freire (1930), Oracy

Nogueira (1985), Bastide & Fernandes (2008 [1955]) e Hasenbalg (1979), foi demonstrada

a evolução do entendimento sobre as relações raciais no país – de uma representação de

democracia racial para uma sociedade onde a raça é entendida como elemento estruturante

das desigualdades. Foi demonstrado também que em todos os momentos selecionados da

história, do ponto de vista estrutural, as disparidades entre brancos, pretos e pardos nas

inserções ocupacionais não sofreram grandes alterações. Nos estágios iniciais da

industrialização, onde a base socioeconômica começava a se transformar, ainda que diante

de uma sociedade muito diferente da escravista, brancos e negros continuaram a ocupar

posições distintas na hierarquia ocupacional, como uma extensão das relações entre senhor

e escravo. Mesmo os períodos de expressivo crescimento econômico, ocorridos desde a

metade do século passado, e a modernização, que já podia ser plenamente constatada na

década de 1970, não foram capazes de transformar a estrutura existente.

O início dos anos 1980 significou um rompimento com a fase de crescimento

verificada nas décadas anteriores. Instaurou-se uma crise econômica com efeitos perversos

sobre o mercado de trabalho, com o aumento do desemprego e a precarização. A melhora

veio a ocorrer somente no início deste século – com a recuperação da indústria;

crescimento do comércio internacional; crescimento econômico; e, no mercado de

trabalho, aumento do emprego e maior formalização. A análise de indicadores sociais

segundo cor ou raça e sexo neste período mais recente apontou para a redução de alguns

diferenciais, como sobre os rendimentos e a escolaridade, muito embora não tenha

sugerido mudanças significativas relativas à estrutura do mercado de trabalho. Nas

Page 101: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

99

considerações feitas sobre as inserções ocupacionais, de encontro com estudos

anteriormente citados, verificou-se que a população branca se encontrava em maiores

proporções nas ocupações mais prestigiadas, o oposto ocorrendo com os pretos e pardos.

Ao analisar mais especificamente as ocupações prestigiadas por um olhar mais

desagregado – os postos de dirigentes e de profissionais de nível superior –, observou-se

que pretos e pardos, quando conseguem acessar esses espaços, o conseguem nas situações

mais desvantajosas no que se refere a rendimentos, nível de comando e propriedade sobre

os meios de produção. O quadro encontrado de desigualdades raciais na esfera da estrutura

desses postos expõe as relações raciais no Brasil contemporâneo, onde o topo da hierarquia

ocupacional ainda é majoritariamente ocupado pela população branca.

Portanto, as assimetrias entre homens e mulheres (brancos, pretos e pardos) estão

na raiz das desigualdades socioeconômicas brasileiras e perduram há séculos. Considera-se

aqui que o enfrentamento desta questão deva ocorrer a partir da adoção de políticas

públicas específicas para este fim. Embora o bom andamento da economia pareça ser

fundamental no processo, bem como a adoção de políticas sociais de caráter universal,

como pode ser observado ao longo de nossa história, não é da natureza dessas forças

promover a igualdade racial.

Quanto ao acesso aos postos socialmente prestigiados, a adoção de políticas públicas

nesta esfera, além caminhar no sentido de corrigir devidamente as históricas desigualdades

entre os grupos raciais, possibilita a configuração de uma representação mais democrática

da população nesses espaços, o que importa não só à população negra, mas ao

desenvolvimento de todo o país enquanto uma sociedade mais justa.

Page 102: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

100

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Page 105: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

103

ANEXO – Composição dos Grupamentos Ocupacionais

DIRIGENTES EM GERAL

Membros superiores e dirigentes do poder público

1111 Legisladores

1112 Dirigentes gerais da administração pública

1113 Ministros de tribunais

1122 Dirigentes de produção e operações da administração pública

1123 Dirigentes das áreas de apoio da administração pública

1130 Chefes de pequenas populações

1140 Dirigentes e administradores de organizações de interesse público

Dirigentes de empresas e organizações (exceto de interesse público)

1210 Diretores gerais

1219 Dirigentes de empresas - empregadores com mais de 5 empregados

1220 Diretores de áreas de produção e operações

1230 Diretores de áreas de apoio

Gerentes

1310 Gerentes de produção e operações

1320 Gerentes de áreas de apoio

PROFISSIONAIS DAS CIÊNCIAS E DAS ARTES

Profissionais policientíficos

2011 Profissionais da bioengenharia, biotecnologia e engenharia genética

2012 Profissionais da metrologia

2021 Engenheiros mecatrônicos

Profissionais das ciências exatas, físicas e da engenharia

2111 Profissionais da matemática

2112 Profissionais da estatística

2121 Especialistas em computação

2122 Engenheiros em computação - desenvolvedores de software

Page 106: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

104

2123 Especialistas em informática

2124 Analistas de sistemas

2125 Programadores de informática

2131 Físicos

2132 Químicos

2133 Profissionais do espaço e da atmosfera

2134 Geólogos e geofísicos

2140 Engenheiros de materiais

2141 Arquitetos

2142 Engenheiros civis e afins

2143 Engenheiros eletroeletrônicos e afins

2144 Engenheiros mecânicos

2145 Engenheiros químicos

2146 Engenheiros metalúrgicos

2147 Engenheiros de minas

2148 Engenheiros agrimensores e de cartografia

2149 Outros engenheiros, arquitetos e afins

2151 Oficiais de convés

2152 Oficiais de máquinas

2153 Profissionais da navegação aérea

Profissionais das ciências biológicas, da saúde e afins

2211 Biólogos e afins

2221 Agrônomos e afins

2231 Médicos

2232 Cirurgiões-dentistas

2233 Veterinários

2234 Farmacêuticos

2235 Enfermeiros de nível superior e afins

2236 Fisioterapeutas e afins

2237 Nutricionistas

Profissionais do ensino (com formação de nível superior)

2311 Professores (com formação de nível superior) da educação infantil

2312 Professores (com formação de nível superior) de disciplinas da educação geral de 1a

à 4a séries do ensino fundamental

2313 Professores (com formação de nível superior) de disciplinas da educação geral de 5a

à 8a séries do ensino fundamental

2321 Professores (com formação de nível superior) de disciplinas da educação geral do

ensino médio

Page 107: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

105

2330 Professores e instrutores (com formação de nível superior) do ensino profissional

2340 Professores do ensino superior

2391 Professores de educação física

2392 Professores de alunos com deficiências físicas e mentais

2394 Programadores, avaliadores e orientadores de ensino

Profissionais das ciências jurídicas

2410 Advogados

2412 Procuradores de empresas e autarquias

2419 Outros advogados autônomos e de empresas

2421 Juizes e desembargadores

2422 Promotores, defensores públicos e afins

2423 Delegados de polícia

Profissionais das ciências sociais e humanas

2511 Profissionais em pesquisa e análise antropológica e sociológica

2512 Profissionais em pesquisa e análise econômica

2513 Profissionais em pesquisa e análise histórica e geográfica

2514 Filósofos e cientistas políticos

2515 Psicólogos e psicanalistas

2516 Assistentes sociais e economistas domésticos

2521 Administradores

2522 Contadores e auditores

2523 Secretárias executivas e bilingües

2524 Profissionais de recursos humanos

2525 Profissionais da administração econômico-financeira

2531 Profissionais de marketing, publicidade e comercialização

Comunicadores, artistas e religiosos

2611 Profissionais do jornalismo

2612 Profissionais da informação

2613 Arquivologistas e museólogos

2614 Filólogos, tradutores e intérpretes

2615 Escritores e redatores

2616 Especialistas em editoração

2617 Locutores e comentaristas

2621 Produtores de espetáculos

2622 Coreógrafos e bailarinos

2623 Atores, diretores de espetáculos e afins

2624 Compositores, músicos e cantores

2625 Desenhistas industriais (designer), escultores, pintores e afins

Page 108: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

106

2627 Decoradores de interiores e cenógrafos

2631 Ministros de cultos religiosos, missionários e afins

TÉCNICOS DE NÍVEL MÉDIO

Técnicos polivalentes

3001 Técnicos de mecatrônica

3003 Técnicos em eletromecânica

3011 Laboratorista industrial

3012 Técnicos de apoio à bioengenharia

Técnicos de nível médio das ciências físicas, químicas, engenharia e afins

3111 Técnicos químicos

3112 Técnicos petroquímicos

3113 Técnicos em materiais de cerâmica e vidro

3114 Técnicos em fabricação de produtos plásticos e de borracha

3115 Técnicos em controle ambiental, utilidades e tratamento de efluentes

3116 Técnicos têxteis

3117 Coloristas

3121 Técnicos em construção civil - edificações

3122 Técnicos em construção civil - obras de infraestrutura

3123 Técnicos em topografia, agrimensura e hidrografia

3131 Técnicos em eletricidade e eletrotécnicos

3132 Eletrotécnicos na manutenção de máquinas e equipamentos

3134 Técnicos em eletrônica

3135 Técnicos em telecomunicações e telefonia

3136 Técnicos em calibração e instrumentação

3137 Técnicos em fotônica

3141 Técnicos mecânicos na fabricação e montagem de máquinas, sistemas e

instrumentos

3142 Técnicos mecânicos (ferramentas)

3143 Técnicos em mecânica veicular

3144 Técnicos mecânicos na manutenção de máquinas, sistemas e instrumentos

3146 Técnicos em metalurgia (estruturas metálicas)

3147 Técnicos em siderurgia

3161 Técnicos em geologia, geotecnologia e geofísica

3162 Técnicos em geodésia e cartografia

3163 Técnicos em mineração

3171 Técnicos em programação

Page 109: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

107

3172 Técnicos em operação de computadores

3189 Desenhistas técnicos e modelistas

3191 Técnicos do vestuário

3192 Técnicos do mobiliário e afins

Técnicos de nível médio das ciências biológicas, bioquímicas, da saúde e afins

3201 Técnicos em biologia

3210 Técnicos agropecuários

3211 Técnicos agrícolas

3212 Técnicos da pecuária

3213 Técnicos florestais

3214 Técnicos da piscicultura

3221 Técnicos em fisioterapia e afins

3222 Técnicos e auxiliares de enfermagem

3223 Ortoptistas e óticos

3224 Técnicos de odontologia

3225 Técnicos da fabricação de aparelhos locomotores

3231 Técnicos em veterinária

3232 Técnicos zootecnistas

3241 Operadores de equipamentos médicos e odontológicos

3242 Técnicos de laboratório de análises clínicas

3250 Testadores sensoriais

3251 Técnicos em farmácia

3252 Técnicos em produção e conservação de alimentos

3253 Técnicos de apoio à biotecnologia

3281 Embalsamadores e taxidermistas

Professores leigos e de nível médio

3311 Professores (com formação de nível médio) na educação infantil

3312 Professores (com formação de nível médio) no ensino fundamental

3313 Professores (com formação de nível médio) no ensino profissionalizante

3321 Professores leigos na educação infantil e no ensino fundamental

3322 Professores leigos no ensino profissionalizante

3331 Instrutores e professores de escolas livres

3341 Inspetores de alunos e afins

Técnicos de nível médio em serviços de transportes

Page 110: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

108

3411 Pilotos de aviação comercial, navegadores, mecânicos de vôo e afins

3412 Técnicos marítimos, fluviários e regionais de convés

3413 Técnicos marítimos, fluviários e regionais de máquinas

3421 Técnicos em transportes intermodais

3422 Técnicos em transportes (aduaneiros)

3423 Técnicos em transportes rodoviários

3424 Técnicos em transportes metroferroviários

3425 Técnicos em transportes aeroviários

3426 Técnicos em transportes de vias navegáveis

Técnicos de nível médio nas ciências administrativas

3511 Técnicos em contabilidade

3512 Técnicos em estatística

3513 Técnicos em administração

3514 Serventuários da justiça e afins

3515 Técnicos e fiscais de tributação e arrecadação

3516 Técnicos de segurança de trabalho

3517 Técnicos e analistas de seguros e afins

3518 Inspetores de polícia e detetives

3522 Agentes da saúde e do meio ambiente

3523 Agentes de inspeção de pesos e medidas

3524 Agentes de fiscalização de espetáculos e meios de comunicação

3525 Agentes sindicais e de inspeção do trabalho

3531 Agentes de bolsa, câmbio e outros serviços financeiros

3532 Técnicos de operações e serviços bancários

3541 Representantes comerciais e técnicos de vendas

3542 Compradores

3543 Técnicos em exportação e importação

3544 Leiloeiros e avaliadores

3545 Corretores de seguro

3546 Corretores de imóveis

3547 Corretores de título e valores

3548 Técnicos em turismo

Técnicos em nível médio dos serviços culturais, das comunicações e dos desportos

3711 Técnicos em biblioteconomia

3712 Técnicos em museologia

3713 Técnicos em artes gráficas

3721 Cinegrafistas

3722 Fotógrafos

3723 Técnicos em operação de máquinas de transmissão de dados

Page 111: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

109

3731 Técnicos em operação de estação de rádio

3732 Técnicos em operação de estação de televisão

3741 Técnicos em operação de aparelhos de sonorização

3742 Técnicos em operação de aparelhos de cenografia

3743 Técnicos em operação de aparelhos de projeção

3751 Decoradores e vitrinistas de nível médio

3761 Bailarinos de danças populares

3762 Músicos e cantores populares

3763 Palhaços, acrobatas e afins

3764 Apresentadores de espetáculos

3765 Modelos

3771 Técnicos esportivos

3772 Atletas profissionais

3773 Árbitros desportivos

Outros técnicos de nível médio

3911 Técnicos de planejamento de produção

3912 Técnicos de controle de produção

TRABALHADORES DE SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS

Escriturários

4101 Supervisores de serviços administrativos (exceto contabilidade e controle)

4102 Supervisores de serviços contábeis, financeiros e de controle

4110 Escriturários em geral, agentes, assistentes e auxiliares administrativos

4121 Secretários de expediente e estenógrafos

4122 Operadores de máquinas de escritório

4123 Contínuos

4131 Escriturários de contabilidade

4132 Escriturários de finanças

4141 Almoxarifes e armazenistas

4142 Escriturários de apoio à produção

4151 Escriturários de serviços de biblioteca e documentação

4152 Carteiros e afins

Page 112: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

110

Trabalhadores de atendimento ao público

4201 Supervisores de trabalhadores de atendimento ao público

4211 Caixas e bilheteiros (exceto caixas de banco)

4212 Caixas de banco e operadores de câmbio

4213 Coletores de apostas e de jogos

4214 Cobradores e afins (exceto nos transportes públicos)

4221 Recepcionistas

4222 Telefonistas

4223 Operadores de telemarketing

4231 Despachantes de documentos

4241 Entrevistadores, recenseadores e afins

TRABALHADORES DOS SERVIÇOS

Trabalhadores dos serviços

5101 Supervisores dos serviços de transporte, turismo, hotelaria e administração de

edifícios

5102 Supervisores dos serviços de saúde e cuidados pessoais

5103 Supervisores dos serviços de proteção, segurança e outros serviços

5111 Trabalhadores dos serviços direto aos passageiros

5112 Fiscais e cobradores dos transportes públicos

5114 Guias de turismo

5121 Trabalhadores dos serviços domésticos em geral

5131 Mordomos e governantas

5132 Cozinheiros

5133 Camareiros, roupeiros e afins

5134 Garçons, barmen e copeiros

5141 Trabalhadores nos serviços de administração de edifícios

5142 Trabalhadores nos serviços de manutenção e conservação de edifícios e logradouros

5151 Atendentes de enfermagem, parteiras práticas e afins

5152 Auxiliares de laboratório de saúde

5161 Trabalhadores nos serviços de higiene e embelezamento

5162 Atendentes de creche e acompanhantes de idosos

5165 Trabalhadores dos serviços funerários

Page 113: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

111

5166 Trabalhadores auxiliares dos serviços funerários

5167 Astrólogos e adivinhos

5169 Tintureiros, lavadeiros e afins, à máquina e à mão

5171 Bombeiros (exceto do corpo de bombeiros militar)

5172 Policiais e guardas de trânsito

5173 Vigilantes e guardas de segurança

5174 Guardas e vigias

5191 Entregadores externos (exceto carteiros)

5192 Catadores de sucata

5198 Trabalhadores do sexo

5199 Outros trabalhadores dos serviços

VENDEDORES E PRESTADORES DE SERVIÇOS DO COMÉRCIO

Vendedores e prestadores de serviços do comércio

5201 Supervisores de vendas e de prestação de serviços do comércio

5211 Vendedores e demonstradores em lojas ou mercados

5221 Repositores e remarcadores do comércio

5231 Instaladores de produtos e acessórios

5241 Vendedores a domicílio

5242 Vendedores em quiosques e barracas

5243 Vendedores ambulantes

TRABALHADORES AGRÍCOLAS

Produtores na exploração agropecuária

6110 Produtores agropecuários em geral

6129 Produtores agrícolas

6139 Produtores na pecuária

Trabalhadores na exploração agropecuária

6201 Supervisores na exploração agropecuária

6210 Trabalhadores na agropecuária em geral

6229 Trabalhadores agrícolas

Page 114: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

112

6239 Trabalhadores na pecuária

Pescadores, caçadores e extrativistas florestais

6301 Supervisores na exploração florestal, caça e pesca

6319 Pescadores e caçadores

6329 Extrativistas florestais

Trabalhadores da mecanização agropecuária e florestal

6410 Trabalhadores da mecanização agropecuária

6420 Trabalhadores da mecanização florestal

6430 Trabalhadores da irrigação e drenagem

TRABALHADORES DA PRODUÇÃO DE BENS E SERVIÇOS INDUSTRIAIS E

DE REPARAÇÃO E MANUTENÇÃO

Trabalhadores da indústria extrativa e da construção civil

7101 Supervisores da extração mineral

7102 Supervisores da construção civil

7111 Trabalhadores da extração de minerais sólidos - mineiros e afins

7112 Trabalhadores da extração minerais de sólidos - operadores de máquina

7113 Trabalhadores da extração de minerais líquidos e gasosos

7114 Garimpeiros e operadores de salinas

7121 Trabalhadores de beneficiamento de minérios

7122 Trabalhadores de beneficiamento de pedras

7151 Trabalhadores de terraplenagem e fundações

7152 Trabalhadores de estruturas de alvenaria

7153 Trabalhadores de estruturas de concreto armado

7154 Trabalhadores na operação de máquinas de concreto armado

7155 Trabalhadores de montagem de estruturas de madeira, metal e compósitos (obras

civis e afins)

7156 Trabalhadores de instalações elétricas

7157 Trabalhadores de instalações de materiais isolantes

7161 Revestidores de concreto armado (revestimentos rígidos)

7162 Telhadores (revestimentos rígidos)

7163 Vidraceiros (revestimentos rígidos)

Page 115: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

113

7164 Estucadores e gesseiros

7165 Aplicadores de revestimentos cerâmicos, pastilhas, pedras e madeiras

7166 Pintores de obras e revestidores de interiores (revestimentos flexíveis)

7170 Ajudantes de obras civis

Trabalhadores da transformação de metais e de compósitos

7201 Supervisores de usinagem, conformação e tratamento de metais

7202 Supervisores de montagem metalmecânica

7211 Ferramenteiros e afins

7212 Preparadores e operadores de máquinas - ferramenta convencional

7213 Operadores de usinagem convencional (produção em série)

7214 Afiadores e polidores de metais

7215 Operadores de máquinas e centros de usinagem CNC

7221 Trabalhadores de forjamento de metais

7222 Trabalhadores de fundição de metais e de compósitos

7223 Trabalhadores de moldagem de metais e de compósitos

7224 Trabalhadores de trefilação, estiramento e extrusão de metais e de compósitos

7231 Trabalhadores de tratamento térmico de metais e de compósitos

7232 Trabalhadores de tratamento de superfícies de metais e de compósitos

(termoquímicos)

7233 Trabalhadores de pintura de equipamentos, veículos, estruturas metálicas e de

compósitos

7241 Encanadores e instaladores de tubulações

7242 Trabalhadores de traçagem e montagem de estrutura metálica e de compósitos

7243 Trabalhadores de soldagem e corte de metais e de compósitos

7244 Trabalhadores de caldeiraria e serralheria

7245 Operadores de máquinas de conformação de metais

7246 Aparelhadores e emendadores de cabos (exceto cabos elétricos e de

telecomunicações)

7250 Ajustadores mecânicos polivalentes

7251 Montadores de aparelhos e acessórios mecânicos em linhas de montagem

7252 Montadores de maquinas industriais

7253 Montadores de máquinas pesadas

7254 Montadores de motores e turbinas

7255 Montadores de veículos automotores (linha de montagem)

7256 Montadores de sistemas e estruturas de aeronaves

7257 Montadores de instalações de ventilação e refrigeração

Trabalhadores da fabricação e instalação eletroeletrônica

7301 Supervisores de montagens e instalações eletroeletrônicas

Page 116: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

114

7311 Montadores de equipamentos eletroeletrônicos

7312 Montadores de aparelhos de telecomunicações

7313 Instaladores-reparadores de aparelhos de telecomunicações

7321 Instaladores-reparadores de linhas e cabos elétricos, telefônicos e de comunicação de

dados

Montadores de aparelhos e instrumentos de precisão e musicais

7401 Supervisores de mecânica de precisão e instrumentos musicais

7411 Mecânicos de instrumentos de precisão (exceto técnicos)

7421 Confeccionadores de instrumentos musicais

Joalheiros, vidreiros, ceramistas e afins

7501 Supervisores de joalheria e afins

7502 Supervisores de vidraria, cerâmica e afins

7519 Joalheiros e artesãos de metais preciosos e semi-preciosos

7521 Sopradores e moldadores de vidros e afins

7522 Cortadores, polidores, jateadores e gravadores de vidros e afins

7523 Ceramistas (preparação e fabricação)

7524 Vidreiros e ceramistas (acabamento e decoração)

Trabalhadores das indústrias têxteis, do curtimento, do vestuário e das artes gráficas

7601 Supervisores da indústria têxtil

7602 Supervisores da indústria do curtimento

7603 Supervisores da indústria de confecção de roupas

7604 Supervisores da indústria de confecção de calçados

7605 Supervisores da confecção de artefatos de tecidos, couros e afins

7606 Supervisores das artes gráficas

7610 Trabalhadores polivalentes das indústrias têxteis

7611 Trabalhadores da preparação da tecelagem

7612 Operadores da preparação da tecelagem

7613 Operadores de tear e máquinas similares

7614 Trabalhadores de acabamento, tingimento e estamparia das indústrias têxteis

7618 Inspetores e revisores de produção têxtil

7620 Trabalhadores polivalentes do curtimento de couros e peles

7621 Trabalhadores da preparação de peles

7622 Trabalhadores do curtimento de couros e peles

7623 Trabalhadores do acabamento de couros e peles

7630 Trabalhadores polivalentes das indústrias da confecção de roupas

Page 117: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

115

7631 Trabalhadores da preparação da confecção de roupas

7632 Operadores de máquinas de costura de roupas

7633 Operadores de máquinas de costuras - acabamento de roupas

7640 Trabalhadores polivalentes da confecção de calçados

7641 Trabalhadores da preparação da confecção de calçados

7642 Operadores de máquinas de costurar calçados

7643 Operadores de acabamento de calçados

7650 Trabalhadores polivalentes da confecção de artefatos de tecidos e couros

7651 Trabalhadores da preparação de artefatos de tecidos e couros

7652 Trabalhadores da fabricação de artefatos de tecidos e couros

7653 Operadores de máquinas na fabricação de artefatos de tecidos e couros

7654 Trabalhadores do acabamento de artefatos de tecidos e couros

7660 Trabalhadores polivalentes das artes gráficas

7661 Trabalhadores da pré-impressão gráfica

7662 Trabalhadores da impressão gráfica

7663 Trabalhadores do acabamento gráfico

7664 Trabalhadores de laboratório fotográfico

7681 Trabalhadores artesanais da tecelagem

7682 Trabalhadores artesanais da confecção de roupas

7683 Trabalhadores artesanais da confecção de calçados e artefatos de couro e peles

7686 Trabalhadores tipográficos, linotipistas e afins

7687 Encadernadores e recuperadores de livros (pequenos lotes ou a unidade)

Trabalhadores das indústrias de madeira e do mobiliário

7701 Supervisores da indústria da madeira, mobiliário e da carpintaria veicular

7711 Marceneiros e afins

7721 Trabalhadores de tratamento e preparação de madeiras

7731 Operadores de máquinas de desdobramento de madeiras

7732 Operadores de laminação, aglomeração e prensagem de chapas

7733 Preparadores e operadores de usinagem de madeiras convencional

7734 Operadores de máquinas de madeira (produção em série)

7735 Operadores de máquinas e centros de usinagem de madeira CNC

7741 Montadores de móveis e artefatos de madeira

7751 Trabalhadores do acabamento de madeira e do mobiliário

7764 Confeccionadores de artefatos de madeira, móveis de vime e afins

7771 Carpinteiros navais e de aeronaves

7772 Carpinteiros de carrocerias e carretas

Page 118: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

116

Trabalhadores de funções transversais

7801 Supervisores de embalagem e etiquetagem

7811 Operadores de robôs industriais

7813 Operadores de veículos operados e controlados remotamente (ROV, RCV)

7817 Trabalhadores subaquáticos

7820 Condutores e operadores polivalentes

7821 Operadores de equipamentos de elevação

7822 Operadores de equipamentos de movimentação de cargas

7823 Condutores de veículos sobre rodas (transporte particular)

7824 Condutores de veículos sobre rodas (transporte coletivo)

7825 Condutores de veículos sobre rodas (distribuidor de mercadorias)

7826 Condutores de veículos sobre trilhos

7827 Trabalhadores na navegação marítima fluvial e regional

7828 Condutores de veículos de tração animal e de pedais

7831 Trabalhadores de manobras de transporte sobre trilhos

7832 Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias

7841 Trabalhadores de embalagem e de etiquetagem

7842 Alimentadores de linhas de produção

Trabalhadores das indústrias de processos contínuos e outras indústrias

8101 Supervisores das indústrias químicas, petroquímicas e afins

8102 Supervisores da indústria de plásticos e borracha

8103 Supervisores da indústria de produtos farmacêuticos, cosméticos e afins

8110 Operadores polivalentes de instalações químicas, petroquímicas e afins

8111 Operadores de moagem e mistura de materiais (tratamentos químicos e afins)

8112 Operadores de processos termoquímicos e afins

8113 Operadores de filtragem e separação

8114 Operadores destilação e reação

8115 Operadores de produção e refino de petróleo e gás

8116 Operadores de coqueificação

8117 Operadores de instalações e máquinas de produtos plásticos, de borracha e parafinas

8118 Operadores de máquinas e instalações de produtos farmacêuticos, cosméticos e afins

8121 Trabalhadores da fabricação de munição e explosivos químicos

8131 Operadores de outras instalações químicas, petroquímicas e afins

8181 Laboratoristas industriais auxiliares

Trabalhadores de instalações siderúrgicas e de materiais de construção

Page 119: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

117

8201 Supervisores da siderurgia

8202 Supervisores de materiais de construção (vidro, cerâmica e compósitos)

8211 Operadores de instalações de sinterização

8212 Operadores de fornos de 1a fusão e aciaria

8213 Operadores de laminação

8214 Operadores de acabamento de chapas e metais

8221 Forneiro metalúrgicos (2a fusão e reaquecimento)

8231 Operadores de preparação de massas para vidro, cerâmica, porcelana e materiais de

construção

8232 Operadores de instalações e equipamentos de fabricação de cerâmicas, vidros e

porcelanas

8233 Operadores de instalações e equipamentos de fabricação de materiais de construção

8281 Trabalhadores artesanais de materiais de construção

Trabalhadores de instalações e máquinas de fabricação de celulose, papel, papelão e

artefatos

8301 Supervisores da fabricação de celulose e papel

8311 Preparadores de pasta para fabricação de papel

8321 Operadores de máquinas de fabricar papel e papelão

8339 Confeccionadores de produtos de papel e papelão

Trabalhadores da fabricação de alimentos, bebidas e fumo

8401 Supervisores da fabricação de alimentos, bebidas e fumo

8411 Moleiros

8412 Trabalhadores do refino do sal

8413 Trabalhadores da fabricação e refino do açúcar

8416 Trabalhadores da preparação de café, cacau e produtos afins

8417 Trabalhadores da fabricação de cachaça, cerveja, vinhos e outras bebidas

8421 Preparadores de fumo

8423 Cigarreiros

8429 Charuteiros e trabalhadores artesanais da indústria do fumo

8484 Degustadores

8485 Magarefes e afins

8491 Trabalhadores de fabricação e conservação de alimentos (inclusive artesanais)

8492 Trabalhadores da pasteurização do leite, fabricação de laticínios e afins (inclusive

artesanais)

8493 Padeiros, confeiteiros e afins e operadores na fabricação de pães, massas e doces

Page 120: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

118

Operadores de instalações de produção e distribuição de energia, utilidades,

captação, tratamento e distribuição de água

8601 Supervisores de instalações de produção e distribuição de energia, utilidades,

captação, tratamento e distribuição de água

8611 Operadores de instalações de geração de energia térmica, elétrica e nuclear

8612 Operadores de instalações de distribuição de energia térmica, elétrica e nuclear

8621 Operadores de máquinas a vapor e caldeiras

8622 Operadores de instalações de captação e distribuição de águas

8623 Operadores de instalações de captação e tratamento de esgotos

8624 Operadores de instalações de captação, engarrafamento e distribuição de gases

8625 Operadores de instalações de refrigeração e ar condicionado

Outros trabalhadores elementares industriais

8711 Outros trabalhadores elementares industriais

Trabalhadores de reparação e manutenção mecânica

9101 Supervisores da reparação e manutenção de máquinas e equipamentos industriais,

comerciais e residenciais

9102 Supervisores da reparação e manutenção veicular

9109 Supervisores de outros trabalhadores da reparação, conservação e manutenção

9111 Mecânicos de manutenção de bombas, motores, compressores e equipamentos de

transmissão

9112 Mecânicos de manutenção de aparelhos térmicos, de climatização e de refrigeração

(exceto técnicos)

9113 Mecânicos de manutenção de máquinas industriais

9131 Mecânicos de manutenção de máquinas pesadas e equipamentos agrícolas

9141 Mecânicos de manutenção aeronáutica

9142 Mecânicos de manutenção naval (em terra)

9143 Mecânicos de manutenção de metroferroviária

9144 Mecânicos de manutenção de veículos automotores

9151 Reparadores de instrumentos de medição

9152 Reparadores de instrumentos musicais

9153 Reparadores de equipamentos e instrumentos médico-hospitalares

9154 Reparadores de equipamentos fotográficos

9191 Lubrificadores

9192 Trabalhadores de manutenção de máquinas pequenas

9193 Mecânicos de manutenção de bicicletas e equipamentos esportivos e de ginástica

Polimantenedores

Page 121: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

119

9501 Supervisores de manutenção eletroeletrônica industrial, comercial e residencial

9502 Supervisores de manutenção eletroeletrônica veicular

9503 Supervisores de manutenção eletromecânica

9511 Eletricistas-eletrônicos de manutenção industrial

9513 Instaladores e mantenedores de sistemas de alarmes de segurança e de incêndio

9531 Eletricistas-eletrônicos de manutenção veicular (aérea, terrestre e naval)

9541 Mantenedores de elevadores, escadas e portas automáticas

9542 Reparadores de aparelhos eletrodomésticos

9543 Reparadores de equipamentos de escritório

Outros trabalhadores da conservação, manutenção e reparação

9911 Conservadores de vias permanentes (trilhos)

9912 Mantenedores de equipamentos de lazer

9913 Mantenedores de carroçarias de veículos

9914 Mantenedores de edificações

9921 Trabalhadores elementares de serviços de manutenção

9922 Trabalhadores elementares de conservação de vias permanentes

MEMBROS DAS FORÇAS ARMADAS E AUXILIARES

Militares da aeronáutica

0100 Militares da aeronáutica

Militares do exército

0200 Militares do exército

Militares da marinha

0300 Militares da marinha

Policiais militares

0401 Coronéis, tenentes-coronéis e majores da polícia militar

0402 Capitães da polícia militar

0403 Tenentes da polícia militar

0411 Praças especiais da polícia militar

0412 Subtenentes e sargentos da polícia militar

0413 Cabos e soldados da polícia militar

Bombeiros militares

0501 Coronéis, tenentes-coronéis e majores de bombeiro militar

Page 122: Dissertação desigualdades raciais na estrutura ocupacional...barbara castilho

120

0502 Capitães do corpo de bombeiros

0503 Tenente do corpo de bombeiros

0511 Praças especiais de bombeiro

0512 Subtenentes e sargentos do corpo de bombeiros

0513 Cabos e soldados do corpo de bombeiros

OCUPAÇÕES MALDEFINIDAS

9988 Ocupações maldefinidas