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Dispersão espacial da população na Região de influência de Belo Horizonte - análise dos municípios de pequeno porte * Lídia Comini Graduanda em Geografia IGC/UFMG Marly Nogueira Professora Associada do Departamento de Geografia IGC/UFMG Carlos Lobo Professor Adjunto do Departamento de Geografia IGC/UFMG Ricardo Alexandrino Garcia Professor Adjunto do Departamento de Geografia IGC/UFMG Resumo O objetivo geral desse artigo é avaliar a magnitude e as principais características da mobilidade espacial da população na Região de Influência de Belo Horizonte (REGIC-BH, 2007), tendo como base os fluxos migratórios intermunicipais identificados nos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010. Especial ênfase é dada aos fluxos que consideram os Municípios de Pequeno Porte (MPPs), tendo em vista a necessidade de tornar inteligível a participação destes pequenos centros urbanos (população total abaixo dos 20.000 habitantes - Censo de 2010) em tais fluxos. A Região de Influência de Belo Horizonte, REGIC 2007, envolve um total de 698 municípios (conforme divisão político-administrativa em 2007), e é composta por duas Capitais Regionais B: Juiz de Fora e Montes Claros e seis Capitais Regionais C: Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga - Coronel Fabriciano - Timóteo, Teófilo Otoni, Uberaba e Varginha; adicionados aos quinze Centros Subregionais A e B e aos setenta e sete Centros de Zona A e B, somam um total de exatos cem (100) centros urbanos de mais alta hierarquia constantes da REGIC BH. Por outro lado, portanto, 598 cidades, a maioria dos centros urbanos que integram a REGIC-BH, se classificam como simples centros locais, reflexo, entre outros fatores, de sua pequena expressão socioeconômica. Assim, é que se justifica este trabalho, pois é dessa maneira, é importante investigar e analisar o peso dos fluxos migratórios que os caracterizam, sobretudo na sua relação com os polos regionais e a metrópole belohorizontina . Palavras-Chave REGIC-BH 1 ;Migrações 2 ; Municípios de Pequeno Porte 3 . * Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014. Esse trabalho divulga parte dos resultados dos projetos de pesquisa “Migrações e a mobilidade pendular da população na região de influência de Belo Horizonte” e “Mobilidade espacial da população na Região de Metropolitana de Belo Horizonte” financiados pela FAPEMIG e CNPq, respectivamente.

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Dispersão espacial da população na Região de influência de Belo Horizonte -

análise dos municípios de pequeno porte*

Lídia Comini

Graduanda em Geografia IGC/UFMG

Marly Nogueira

Professora Associada do Departamento de Geografia IGC/UFMG

Carlos Lobo

Professor Adjunto do Departamento de Geografia IGC/UFMG

Ricardo Alexandrino Garcia

Professor Adjunto do Departamento de Geografia IGC/UFMG

Resumo

O objetivo geral desse artigo é avaliar a magnitude e as principais características da mobilidade espacial da

população na Região de Influência de Belo Horizonte (REGIC-BH, 2007), tendo como base os fluxos migratórios

intermunicipais identificados nos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010. Especial ênfase é dada aos fluxos

que consideram os Municípios de Pequeno Porte (MPPs), tendo em vista a necessidade de tornar inteligível a

participação destes pequenos centros urbanos (população total abaixo dos 20.000 habitantes - Censo de 2010) em

tais fluxos. A Região de Influência de Belo Horizonte, REGIC 2007, envolve um total de 698 municípios (conforme

divisão político-administrativa em 2007), e é composta por duas Capitais Regionais B: Juiz de Fora e Montes

Claros e seis Capitais Regionais C: Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga - Coronel Fabriciano - Timóteo,

Teófilo Otoni, Uberaba e Varginha; adicionados aos quinze Centros Subregionais A e B e aos setenta e sete Centros

de Zona A e B, somam um total de exatos cem (100) centros urbanos de mais alta hierarquia constantes da REGIC

– BH. Por outro lado, portanto, 598 cidades, a maioria dos centros urbanos que integram a REGIC-BH, se

classificam como simples centros locais, reflexo, entre outros fatores, de sua pequena expressão socioeconômica.

Assim, é que se justifica este trabalho, pois é dessa maneira, é importante investigar e analisar o peso dos fluxos

migratórios que os caracterizam, sobretudo na sua relação com os polos regionais e a metrópole belohorizontina .

Palavras-Chave

REGIC-BH

1 ;Migrações

2 ; Municípios de Pequeno Porte

3.

* Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP – Brasil,

de 24 a 28 de novembro de 2014.

Esse trabalho divulga parte dos resultados dos projetos de pesquisa “Migrações e a mobilidade pendular da população na

região de influência de Belo Horizonte” e “Mobilidade espacial da população na Região de Metropolitana de Belo

Horizonte” financiados pela FAPEMIG e CNPq, respectivamente.

INTRODUÇÃO

Uma das primeiras obras sobre o processo de reversão da polarização foi apresentada por

Richardson (1980). De acordo com esse autor, o crescimento continuado da concentração não leva a

um perpétuo aumento da eficiência econômica, na medida em que os benefícios marginais derivados

da escala urbana e da concentração tendem a diminuir a partir do momento em que o centro urbano

atinge um determinado tamanho de população. A dispersão espacial para fora da região central

constitui o resultado desse processo que se caracteriza pela mudança de tendência de polarização

espacial na economia nacional. Ocorrem transformações estruturais na área central, pois os núcleos

adjacentes passam a apresentar crescimento mais acelerado que o centro, momento a partir do qual,

inicia-se o processo de reversão da polarização, caracterizando-se por uma dispersão ampliada, que

atingiria também, os centros secundários. Nessas condições, a expansão mais rápida das

oportunidades de emprego fora da principal área metropolitana, promoveria a redistribuição da

população em todo o sistema urbano, refletindo as crescentes vantagens comparativas das cidades

secundárias (médias). Esse quadro constitui o reflexo da conversão dos fluxos de capital e de trabalho

para fora do núcleo (metrópole) central até cidades (médias) secundárias, promovendo o aumento das

taxas de crescimento econômico e demográfico.

As proposições sobre o possível processo de reversão da polarização no Brasil sofreram

inúmeras críticas, não obstante o estudo de Townroe e Keen (1984) sobre o caso de São Paulo. Tais

críticas se referem desde a algumas evidências empíricas, até o tipo de variáveis e a metodologia

utilizada (Azzoni, 1986; Diniz, 199; Negri, 1996; Matos, 1995). Entretanto, importa reconhecer que

boa parte da expansão da urbanização do País, nas últimas décadas, deriva dos efeitos

multiplicadores do espraiamento da concentração urbana e industrial da região Sudeste e que esse

processo estimulou o adensamento da rede urbana e os vínculos de complementaridade entre as

diversas centralidades urbanas. Santos (1997) ensina que a organização dos elementos do espaço

deve ser encarada como o resultado histórico da atuação dos atores sociais, dos fluxos de informação,

de capitais e de pessoas, por exemplo, e que tais condições permitem e alimentam o dinamismo das

formas e funções dos elementos que compõem e caracterizam o espaço. A fluidez é expressivamente

relevante aos estudos sobre as migrações internas, pois estas são, por essência, fluxos que se

manifestam e se materializam no espaço. São contingentes de migrantes que se deslocam no espaço

não sendo apenas resultado de uma realidade social e/ou condição econômica momentânea, mas,

também, causas para outros fluxos. Tais movimentos/fluxos envolvem investimentos, tecnologias,

experiências profissionais, certamente. Complementarmente, são raros os trabalhos sobre migrações

que incorporam diretamente a dimensão regional como elemento efetivo da distribuição espacial da

população.

No que se refere aos estudos sobre os níveis de hierarquia urbana e delimitação de regiões de

influência de cidades, cabe destacar as análises clássicas elaboradas pelo IBGE, nos anos de 1966,

1978 e 1993, que buscaram averiguar a intensidade dos fluxos de consumidores em busca de bens e

serviços no Brasil. Na atual proposta de divisão regional da rede urbana brasileira, apresentada na

REGIC 2007, retoma-se a concepção utilizada naqueles primeiros estudos, sendo privilegiada a

função de gestão do território, como definido por Corrêa (1995).

Nessa proposta, o recorte da Região de Influência de Belo Horizonte (REGIC-BH) envolve

um total de 698 municípios (conforme divisão político-administrativa em 2007), dos quais um total

de 598 eram centros urbanos classificados como locais (que têm pequena expressão demográfica e

socioeconômica). Os polos regionais foram discriminados em oito Capitais Regionais (B e C), que

foram: Juiz de Fora, Montes Claros, Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga-Coronel

Fabriciano-Timóteo, Teófilo Otoni, Uberaba e Varginha.

O objetivo geral desse artigo é avaliar a magnitude e as principais características da

distribuição e migração da população na REGIC-BH, tendo como base a população residente e os

fluxos migratórios entre os Municípios de Pequeno Porte (MPPs), (considerados como aqueles com

população residente inferior 20 mil habitantes), identificados nos Censos Demográficos de 1991,

2000 e 2010.

CONCEITOS BÁSICOS E O RECORTE ESPACIAL DE ANÁLISE: ASPECTOS

METODOLÓGICOS

Os processos que envolvem os fluxos migratórios constituem parte importante de todos os

dados e informações dos censos demográficos e dos demais estudos e pesquisas realizados pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e, assim, são a principal fonte de informações

sobre a população brasileira. No que se relaciona à migração, para Carvalho e Rigotti (1998) este

conceito de migração é variável e está ligado ao tipo de pesquisa e características dos dados a serem

estudados. Assim, para a Organização das Nações Unidas (The Determinants, 1973), de acordo com

estes autores, excluem-se, na definição de migração, os movimentos cujos indivíduos não

permanecem no local de destino, devendo se considerar as mudanças permanentes de residências

entre unidades espaciais pré-definidas.

Na longa história dos censos demográficos brasileiros a migração nem sempre teve a

importância que possui hoje. Nos Censos Demográficos de 1960 e 1970, a definição de migração se

referia somente aos não-naturais do município. Em 1980, tiveram relevância as migrações

intramunicipais e, em 1991, investigaram-se, também, o município, a unidade da federação e a

residência há 5 (cinco) anos. Dessa forma, entra a noção da data-fixa para os migrantes, considerando

a importância da migração como processo social e econômico que caracteriza o território brasileiro

(Rigotti, 1998).

Na atual proposta de divisão regional da rede urbana brasileira, apresentada na REGIC 2007,

retoma-se a concepção utilizada nos primeiros estudos (IBGE, 1966, 1978 e 1993), sendo

privilegiada a função de gestão do território, como definido por Corrêa (1995). Assim, a classificação

de hierarquia na rede de cidades, REGIC 2007, simplificadamente, privilegiou dois níveis de

centralidade: a da Gestão Federal, mensurada a partir da existência de órgãos do Poder Executivo e

do Judiciário Federal e a da Gestão Empresarial, que se refere à presença de diferentes equipamentos

e serviços (comércio e serviços, instituições financeiras, ensino superior, saúde, internet, redes de

televisão aberta e conexões aéreas). O conjunto final das Regiões de Influência no território nacional

compreende um total de 711 centros de gestão, classificados em seis níveis de hierarquia, conforme

sua posição nos respectivos âmbitos da gestão federal e empresarial. O estabelecimento das áreas de

influência das cidades e a articulação das redes de cidades foram realizados de acordo com a

intensidade das ligações entre as cidades. Complementarmente, a investigação da articulação dos

centros de gestão, além dos eixos de gestão pública e de gestão empresarial, também, foram

considerados os serviços de saúde. No que tange às áreas de influência dos centros, estas foram

mensuradas a partir da intensidade das ligações entre as cidades, com base em dados secundários e

informações obtidas por questionário específico da pesquisa. Identificaram-se 12 redes de primeiro

nível. As cidades foram classificadas em cinco grandes níveis de hierarquia, tais como abaixo

descritos:

1. METRÓPOLES – são os 12 principais centros urbanos do País, que se caracterizam

por seu grande porte e por fortes relacionamentos entre si, além de, em geral, possuírem

extensa área de influência direta. O conjunto foi dividido em três subníveis, segundo a

extensão territorial e a intensidade destas relações: 1.a - Grande metrópole nacional – São

Paulo, o maior conjunto urbano do país, com 19,5 milhões de habitantes, em 2007, e

inserido no primeiro nível da gestão territorial; 1.b - Metrópole nacional – Rio de Janeiro

e Brasília, com população de 11,8 milhões e 3,2 milhões em 2007, respectivamente,

também estão no primeiro nível da gestão territorial. Juntamente com São Paulo,

constituem foco para centros localizados em todo o País; e 1.c - Metrópole – Manaus,

Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre,

com população variando de 1,6 (Manaus) a 5,1 milhões (Belo Horizonte), constituem o

segundo nível da gestão territorial. Note-se que Manaus e Goiânia, embora estejam no

terceiro nível da gestão territorial, têm porte e projeção nacional que lhes garantem a

inclusão neste conjunto.

2. CAPITAL REGIONAL – integram este nível 70 centros que, como as metrópoles,

também se relacionam com o estrato superior da rede urbana. Com capacidade de gestão

no nível imediatamente inferior ao das metrópoles, têm área de influência de âmbito

regional, sendo referidas como destino, para um conjunto de atividades, por grande

número de municípios.

3. CENTRO SUB-REGIONAL – integram este nível 169 centros com atividades de

gestão menos complexas, dominantemente entre os níveis 4 e 5 da gestão territorial; têm

área de atuação mais reduzida, e seus relacionamentos com centros externos à sua própria

rede dão-se, em geral, apenas com as três metrópoles nacionais.

4. CENTRO DE ZONA – nível formado por 556 cidades de menor porte e com atuação

restrita à sua área imediata; exercem funções de gestão elementares.

5. CENTRO LOCAL – as demais 4.473 cidades cuja centralidade e atuação não

extrapolam os limites do seu município, servindo apenas aos seus habitantes, têm

população predominantemente inferior a 10 mil habitantes (mediana de 8.133 habitantes).

Os municípios de pequeno porte (MPP), neste trabalho considerados, entram na classificação

acima como centros locais, pois, embora, sejam os mais numerosos, sua “redescoberta” nos estudos

como uma particularidade da urbanização brasileira, é muito recente. Apesar da dificuldade de

consenso para se definir cidades como pequenas, Corrêa (2011) coloca que é importante fazer, ao

menos, um esforço conceitual, ainda que provisório e incompleto. Há de se levar em conta que as

pequenas cidades também passam por transformações constantes em seu espaço e na sociedade,

ainda que em tempos e contextos distintos. Dessa forma, o referido autor propõe uma classificação

baseada nas diferenciações entre as pequenas cidades, denominando-as de tipos ideais, que são: os

prósperos lugares centrais, os pequenos centros funcionalmente especializados, pequenas cidades

transformadas em subúrbios-dormitórios, focos/ reservatórios de força de trabalho agrícola e os

centros dependentes de recursos externos.

Os prósperos lugares centrais estão na confluência do agrário moderno com o urbano e seriam

as áreas incorporadas à industrialização do campo. A principal atividade é a distribuição de bens e

serviços tanto para as atividades agrárias, por meio de empresas locais, mas fortemente articuladas

em escala global, como na oferta de produtos para a população local. Os pequenos centros

funcionalmente especializados são núcleos de povoamento que possuem identidade singular devido à

atividade específica que desenvolvem (peregrinação, indústrias as mais diversas, como a de celulose,

têxtil, da mineração, etc). As company town são exemplo desse tipo ideal, pois se tornam local de

uma única grande empresa ligada a algum setor específico e que, por isso, comanda toda a cidade,

muito embora o pequeno centro torna-se desarticulado, visto que seus principais fluxos se dão a

longas distâncias. Os pequenos centros/reservatórios de força de trabalho agrícola seriam mais rurais

que urbanos e se caracterizam pela concentração de trabalhadores que se veem expulsos do campo

pelo recrudescimento das estratégias de reprodução das grande propriedade e ou da agroindústria. Os

centros dependentes de recursos externos constituem em geral, estagnados e decadentes lugares

centrais, nos quais o processo migratório é notável. Sem condições de desenvolverem atividades

especializadas, estes centros vivem de recursos externos, como a pouca remessa de dinheiro enviada

aos familiares por aqueles que emigraram, ou de pensões e aposentadorias pagas pelo poder público.

Finalmente, os subúrbios-dormitórios são pequenas cidades, cuja maior parte da população possui

empregos em uma cidade maior e minimamente próxima, realizando movimento pendular – percurso

entre domicílio e local de trabalho, medidos em tempo e espaço definidos. Melhores opções de

trabalho e renda em outra cidade, associadas à falta de oferta de emprego no município de moradia,

por um lado e a melhor acessibilidade, por outro, fomentam o surgimento desse tipo de pequeno

centro ou cidade.

A Região de Influência de Belo Horizonte (Metrópole), definida na REGIC 2007, envolve um

total de 698 municípios (conforme divisão político-administrativa em 2007), composta por duas

Capitais Regionais B: Juiz de Fora e Montes Claros e seis Capitais Regionais C: Divinópolis,

Governador Valadares, Ipatinga - Coronel Fabriciano - Timóteo, Teófilo Otoni, Uberaba e Varginha;

adicionados aos quinze Centros Subregionais A e B e aos setenta e sete Centros de Zona A e B,

somam um total de exatos cem (100) centros urbanos de mais alta hierarquia constantes da REGIC –

BH. Por outro lado, portanto, 598 cidades, a maioria dos centros urbanos que integram a REGIC-BH,

se classificam como simples centros locais, reflexo, entre outros fatores, de sua pequena expressão

socioeconômica. (Figura 1)

Figura 1: A Região de Influência de Belo Horizonte.

Fonte: Extraído e adaptado de IBGE (2008).

Como pode-se perceber, a REGIC 2007 fornece um quadro bastante atual da organização

urbano-regional do Brasil e, muito embora, ela possa suscitar alguns questionamentos sobre

problemas metodológicos, além de apontar limitações de análise, ainda assim, ela oferece um retrato

aproximado das relações de interdependência que se estabelecem no espaço, onde os fluxos da força

de trabalho assumem um papel especialmente relevante. Tomando o município como unidade

espacial mínima de análise, de acordo com a divisão político-administrativa em cada período, os

subseqüentes recortes espaciais (agregações) permitem identificar as entradas e saídas de migrantes e

os deslocamentos pendulares nos diferentes níveis hierárquicos: envolvendo as trocas entre as

Metrópoles e Capitais regionais, bom como os Centros Locais (demais municípios). Dessa forma, o

tópico a seguir, analisa e descreve este quadro, tendo em vista as evidências dos fenômenos que os

caracterizam, tendo como base empírica a REGIC de Belo Horizonte.

EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS

Em 1991, o conjunto dos MPPs (municípios de pequeno porte) da REGIC-BH compreendia

uma população de 3.075.602, o que representava 22,37% do estoque regional. Em 2010 essa

participação reduziu-se para 20,98%, ainda que o contingente total nesses municípios tivesse crescido

para 3.551.894 habitantes. (Tabela 1)

Boa parte dessa perda relativa foi resultado da dinâmica envolvendo os MPPs e as capitais

regionais que, em sua ampla maioria, apresentaram crescimento demográfico destacado nesse mesmo

período. Como representado na Tabela 1e Figura 2, abaixo, à exceção de Montes Claros, do trio

Ipatinga/Cel. Fabriciano/Timóteo, de Governador Valadares e de Teófilo Otoni, observou-se redução

na participação da população dos MPPs nas outras cinco regiões de influência que compõem a

REGIC - BH. Nas regiões de Divinópolis e Varginha essa perda foi bastante considerável, ainda que

os municípios centrais também tivessem perdido participação (o que sugere o crescimento de outros

núcleos urbanos nas duas regiões).

Importa salientar que a queda da fecundidade, como de resto no País inteiro, no período em

análise deve ser apontada como a causa principal da configuração aqui analisada. Por outro lado, os

números relativos à taxa geométrica de crescimento dos MPPs podem expressar uma outra dimensão

do problema, ou seja, estaria tendo, entre 2000 e 2010, a migração alguma na explicação de taxas de

crescimento tão baixas e até mesmo negativas? As respostas a tal pergunta podem ser encontradas na

análise das Figuras 2 e 3.

Tabela 1: População residente e taxas de crescimento médio anual nas Unidades Espaciais da Região

de Influência de Belo Horizonte - 1991, 2000 e 2010

1991 2000 2010 1991/2000 2000/2010

Belo Horizonte 2.020.161 2.238.526 2.375.151 1,15 0,59

RM 1.889.946 2.581.213 3.039.550 3,52 1,65

RI 1.663.041 1.869.234 2.082.441 1,31 1,09

RI (MPPs) 1.490.534 1.547.554 1.535.930 0,42 -0,08

Juiz de Fora 385.996 456.796 516.247 1,89 1,23

RI 543.220 615.658 671.585 1,40 0,87

RI (MPPs) 564.425 590.750 605.668 0,51 0,25

Montes Claros 250.062 306.947 361.915 2,30 1,66

RI 899.265 689.414 702.197 -2,91 0,18

RI (MPPs) 213.992 487.241 527.646 9,57 0,80

Divinópolis 151.462 183.962 213.016 2,18 1,48

RI 80.590 176.122 249.415 9,08 3,54

RI (MPPs) 138.748 91.484 86.480 -4,52 -0,56

Governador Valadares 230.524 247.131 263.689 0,78 0,65

RI 68.703 48.606 49.353 -3,77 0,15

RI (MPPs) 245.887 265.053 271.108 0,84 0,23

Ipatinga/Coronel Fabriciano/Timóteo 325.806 381.425 424.405 1,77 1,07

RI 184.321 102.684 132.930 -6,29 2,62

RI (MPPs) 160.097 225.404 203.631 3,87 -1,01

Teófilo Otoni 140.833 129.424 134.745 -0,93 0,40

RI 364.117 274.627 277.726 -3,09 0,11

RI (MPPs) 307.468 382.016 383.375 2,44 0,04

Uberaba 211.824 252.051 295.988 1,95 1,62

RI 443.516 497.139 583.804 1,28 1,62

RI (MPPs) 236.863 274.449 284.945 1,65 0,38

Varginha 88.022 108.998 123.081 2,40 1,22

RI 165.762 256.700 277.629 4,98 0,79

RI (MPPs) 282.014 247.754 258.779 -1,43 0,44

Total (MPPs) 3.075.602 3.520.954 3.551.894 1,51 0,09

Total 13.747.198 15.528.362 16.932.429 1,36 0,87

Unidades EspaciaisPopulação Residente Taxa de Crescimento

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

De modo geral, os resultados sugerem que as perdas de população dos municípios

de pequeno porte não são desprezíveis. Ainda que Belo Horizonte permaneça sendo

referência para os imigrantes de sua própria REGIC, há sinais que indicam ganhos

importantes no crescimento dos centros regionais, tais como Juiz de Fora e Montes

Claros que têm atraído crescentes volumes de migrantes. Afinal, são duas regiões

deprimidas socioeconomicamente (Zona da Mata e Norte), fato que explica, em boa

medida, a atração exercida pelas referidas capitais regionais sobre as depauperadas

populações dos MPPs de suas respectivas regiões. (Figura 2).

Figura 2: Participação relativa da população residente nos Municípios de Pequeno Porte

(MPPs) em suas RI

Fonte: Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (dados da amostra)

Os dados conferem com a situação, acima relatada, quando se observa o saldo

migratório dos MPPs da Região de Influência de Belo Horizonte, com relação à migração

de data fixa (1995/2000 e 2010/2005), ou seja, na espacialização da migração,

considerando as datas fixas relacionadas, são expressivos os saldos negativos nas duas

datas: 53,29% e 60,92 % dos MPPs, respectivamente. Adicionalmente, saliente-se que

tais saldos negativos têm maior visibilidade nas RI de Montes Claros e de Teófilo Otoni,

enquanto nas RI de Divinópolis e de Uberaba, destacam-se, também nas duas datas, os

saldos positivos. Vale dizer que os MPPs de regiões mais dinâmicas social e

economicamente, caso das de Divinópolis e de Uberaba, possuem a maior capacidade de

atrair reter populações, ocorrendo o oposto naquelas mais deprimidas

socioeconomicamente, casos de Divinópolis e Uberaba. (Figura 3)

Figura 3: Saldo migratório dos Municípios de Pequeno Porte (MPP) localizados na

Região de Influência de Belo Horizonte – Migração de data fixa (1995/2000 e

2010/2005)

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (dados da amostra).

Numa análise mais verticalizada e detalhada da problemática da emigração dos MPPs,

considerando as unidades espaciais de destino, data fixa – 2005/2010 (Tabela 2), são notáveis as

diferenças entre as dados apresentados pelas nove regiões de influência da REGIC – BH. Assim,

considerando a mesma RI, destaca-se a importância do polo como destino para os migrantes dos

MPPs, somente no trio Ipatinga/Cel. Fabriciano/Timóteo, com 25,18%, enquanto nos polos de

Teófilo Otoni, Uberaba, Varginha e Belo Horizonte, os percentuais não passam de 9,0%. Os Outros

valores entre 11,0 e 12,3% apresentados por Juiz de Fora, Montes Claros, Divinópolis e Governador

Valadares não devem ser representativos de uma maior importância no fator atração dos MPPs no

período considerado. Por outro lado, nos demais municípios (DMs), a proporção de migrantes de

MPPs é expressiva, sobretudo, na RI de Uberaba, seguida pelas RI de Juiz de Fora, Belo Horizonte e

Divinópolis. Tal quadro pode sugerir uma melhor distribuição de municípios atratores em regiões que

apresentam melhores indicadores sociais e econômicas, em oposição àquelas em que somente o polo

regional consegue atrair com maior força os migrantes de suas respectivas RI.

No caso da RI (direta) -BH, os dados revelam que a capacidade de atração de migrantes dos

MPPs somente é mais visível com relação a Divinópolis (8,84%), sendo os outros registros de pouca

visibilidade.

Finalmente, destacam-se os dados no que se relaciona ao total do Brasil, nos quais se observa

a importância de outras regiões e polos excêntricos à REGIC – BH na atração e na articulação de

populações na REGIC _BH, com relação aos seus MPPS. A única exceção fica por conta da RI de

Divinópolis (6,27%), seguida de Ipatinga/Cel. Fabriciano/Timóteo (14,47%) e, até Belo Horizonte

(20,11%). Está-se se falando do papel exercido pela Bahia, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e o

Espírito Santo, na atração de populações dos MPPs da REGIC – BH.

.

Tabela 2: Proporção da emigração dos MPPs conforme unidades espaciais de destino

Migração de Data Fixa – 2005/2010

Polo MPPs DMs BH PM MPPs DMs

Juiz de Fora 12,31 21,64 22,97 1,82 3,05 4,24 3,19 2,78 28,01

Montes Claros 13,80 10,74 15,13 3,78 6,32 2,07 1,97 6,66 39,54

Divinópolis 11,80 10,25 21,64 10,42 17,91 8,84 9,02 3,84 6,27

Governador Valadares 11,08 21,86 4,04 4,97 11,41 3,13 1,98 15,63 25,88

Ipatinga/Coronel Fabriciano/Timóteo 25,18 15,24 12,08 5,05 9,99 4,60 6,89 6,51 14,47

Teófilo Otoni 5,04 12,70 6,35 9,81 11,02 1,71 1,44 11,88 40,05

Uberaba 5,60 12,63 26,61 1,03 1,48 1,22 2,77 3,87 44,78

Varginha 6,11 24,37 14,35 1,47 0,79 3,64 4,63 3,31 41,34

Belo Horizonte 9,01 18,22 22,55 XXX 13,75 XXX XXX 16,36 20,11

MPPs por RIsMesma RI RI-BH REGIC

BHBR

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (dados da amostra).

Assim, o quadro apresentado nessa Tabela 2, revela que se deve destacar o peso, a

importância da migração, no que se relaciona aos MPPs, no interior de cada uma das nove RI da

REGIC – BH, indicando que a mobilidade é expressiva, como se viu, na escala do microrregional.

Mas, essa característica rivaliza intensamente com o que se pode verificar a escala do nacional, ou

seja, há ainda em Minas Gerais profundas e históricas articulações com as regiões excêntricas

limítrofes ao Estado, vistas as capacidades dessas regiões em atrair os migrantes mineiros

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na análise da dinâmica demográfica regional mineira é preciso reconhecer que ela é,

também, é reflexo de processos mais amplos, que envolvem as dimensões sociais, políticas e

econômicas da população brasileira, incluindo a reorganização produtiva do/no território. A análise

da dispersão espacial da população na Região de Influência de Belo Horizonte (REGIC – 2007), com

base nos fluxos migratórios no período 1991/2000 e 2010 oferece, contudo, elementos que sugerem

outras questões para investigação e apresentam esforço da análise e interpretação da dinâmica

demográfica mineira na atualidade. Corrigir desigualdades regionais e entender as dinâmicas desses

municípios, inclusive dos pequenos centros locais, deve oferecer importantes elementos ao

planejamento territorial, bem como à elaboração de políticas públicas capazes de fortalecer as

economias locais do Estado.

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