discriminação e destino incerto para ex-escravas sexuais ... · quando halima sai da tenda para...

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Livres? Halima, de 15 anos, segura o bebê Hauwa, enquanto Hamsatu, de 25, costura um véu de orações, no campo de deslocados de Dalori: vítimas do Boko Haram Jane Hahn/The Washington Post PUBLICIDADE Discriminação e destino incerto para ex-escravas sexuais do Boko Haram Vida após libertação ainda sofre com percalços em sociedade restrita POR KEVIN SIEFF, DO 'WASHINGTON POST' 05/04/2016 5:00 PUBLICIDADE MAIDUGURI, Nigéria Por meses, elas foram mantidas em pequenas cabanas de palha na floresta, esperando todas as noites os estupradores retornarem. Durante a violência quase intolerável que sofriam, só pensavam em escapar ou morrer. As vítimas mais jovens tinham 8 anos. No autoproclamado califado do Boko Haram no Nordeste da Nigéria, houve uma rotina selvagem de estupro e escravidão sexual que só recentemente foi descoberta. Milhares de meninas e mulheres, contra sua vontade, foram sujeitadas a casamentos forçados e doutrinação implacável. Aquelas que resistiam MUNDO COMPARTILHAR BUSCAR g1 ge gshow famosos vídeos

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Livres? Halima, de 15 anos, segura o bebê Hauwa, enquanto Hamsatu,de 25, costura um véu de orações, no campo de deslocados de Dalori:vítimas do Boko Haram  Jane Hahn/The Washington Post

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Discriminação edestino incerto para

ex-escravas sexuais doBoko Haram

Vida após libertação ainda sofre com percalços emsociedade restrita

POR KEVIN SIEFF, DO 'WASHINGTON POST'

05/04/2016 5:00

PUBLICIDADEMAIDUGURI, Nigéria  Por meses, elas foram mantidas em

pequenas cabanas de palha na floresta, esperando todas as noites os

estupradores retornarem. Durante a violência quase intolerável que

sofriam, só pensavam em escapar ou morrer. As vítimas mais jovens

tinham 8 anos. No autoproclamado califado do Boko Haram no

Nordeste da Nigéria, houve uma rotina selvagem de estupro e

escravidão sexual que só recentemente foi descoberta. Milhares de

meninas e mulheres, contra sua vontade, foram sujeitadas a

casamentos forçados e doutrinação implacável. Aquelas que resistiam

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geralmente eram mortas a tiros.

Agora, muitas destas mulheres estão subitamente livres, resgatadas

em uma série de operações militares nigerianas, no ano passado, que

expulsou o grupo islâmico extremista da maior parte do território que

controlava. Mas isso não se transformou em alegria para as vítimas. A

maioria das que sobreviveram já não tem casas. Cidades inteiras

foram incendiadas pelos jihadistas. Os militares, sem alarde,

colocaram as mulheres em campos para quem está desalojado ou em

edifícios abandonados, onde são vigiadas por homens armados, que

desconfiam delas, rotuladas como “esposas do Boko Haram”.

Poucos poderiam ter imaginado esta situação dois anos atrás, quando

276 estudantes foram sequestradas pelo Boko Haram e o mundo

respondeu com a campanha “Bring Back Our Girls” (Tragam Nossas

Meninas de Volta). Enquanto a maioria das estudantes de Chibok

ainda está desaparecida, muitos pensaram que as outras mulheres

sequestradas seriam muito bemvindas de volta quando libertadas.

Em vez disso, são evitadas.

Durante sete meses, Hamsatu, hoje com 25 anos, e Halima, com 15,

foram escravas sexuais do Boko Haram, estupradas quase todos os

dias pela mesma unidade de combatentes na remota floresta de

Sambisa. Agora, elas vivem numa pequena tenda, num campo para

deslocados, com sacos de cimento vazios costurados formando uma

improvisada cortina. Elas falaram sob a condição de que os nomes

completos não fossem divulgados para que pudessem descrever

livremente o que ocorreu.

O mapa das mulheres e o terror na Nigéria  Editoria de arte

Quando Halima sai da tenda para pegar comida para as duas, as

outras pessoas que vivem no campo fecham a cara ou se afastam.

— Você é uma das que casaram com o Boko Haram! — berrou certa

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vez uma mulher mais velha, que depois cuspiu em Halima, segundo

conta a jovem, recordando ainda as palavras de um dos guardas,

recentemente: — “Não podemos confiar em nenhuma delas”.

As autoridades dizem ter boas razões para a desconfiança. No ano

passado, 39 dos 89 atentados suicidas do Boko Haram foram

realizados por mulheres, de acordo com o Fundo das Nações Unidas

para a Infância (Unicef): 21 delas tinham menos de 18 anos, muitas,

aparentemente, meninas sequestradas e convertidas em assassinas.

Desde janeiro, mulheresbomba já mataram centenas de pessoas em

todo o Nordeste da Nigéria, em mesquitas, mercados e até mesmo em

campos de deslocados.

‘DISCRIMINAÇÃO MINA RESPOSTA HUMANITÁRIA’

Ninguém sabe exatamente por que mulheres capturadas e estupradas

tornaramse assassinas. Talvez pela doutrinação. Talvez pelas

ameaças dos jihadistas. De qualquer forma, o trabalho de reintegração

das desalojadas tornouse muito mais complicado para as autoridades

nigerianas. E, para as sobreviventes que tentam superar um capítulo

terrível de suas vidas, existe agora uma nova agonia.

— Não há confiança aqui — conta Hamsatu, agachada em sua tenda,

usando o mesmo vestido rosa, florido, que vestia quando foi

sequestrada há 18 meses: em seus braços, o bebê fruto dos estupros

por seu captor.

“Mulheres Sambisa” são como Hamsatu e Halima passaram a ser

chamadas ao chegarem ao acampamento para desalojados de Dalori,

na periferia da cidade de Maiduguri, em abril do ano passado. Era o

nome da floresta onde foram escravizadas. As mulheres casadas à

força com extremistas foram mantidas separadas de outras pessoas

deslocadas pela guerra.

— Achamos que fizeram lavagem cerebral nestas crianças —

diz o majorgeneral Lucky Irabor, mais alta patente do Exército no

Nordeste nigeriano. — Elas tornaramse ferramentas úteis ao Boko

Haram.

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Alvos. Estudantes na saída da Escola de Formação de Professoras em Maiduguri:milhares de alunas foram sequestradas  Jane Hahn/The Washington Post

Ao contrário da maioria dos campos de refugiados ou de deslocados

no mundo, que são geridos pela ONU e por grupos internacionais de

ajuda, os campos onde as vítimas do Boko Haram vivem são

administrados pelo Exército. Do lado de fora de Dalori, um capitão

monta guarda no portão da frente. Os visitantes são revistados. Um

cartaz com fotos de suspeitos do Boko Haram está pendurado na

parede que delimita o acampamento. Trabalhadores humanitários

precisam de permissão militar para entrar nos campos.

— Submeter as vítimas à discriminação e maustratos devido à

condição de vítimas da violência do Boko Haram é a certeza de minar

toda a resposta humanitária à situação no Nordeste do país — conclui

Martin Ejidike, assessor de direitos humanos da ONU na Nigéria.

[email protected]

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