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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Disciplina Oficina de Compreensão e Produção de Textos I Belém-PA 2013

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Disciplina

Oficina de Compreensão e Produção de Textos I

Belém-PA 2013

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ LICENCIATURA EM LETRAS – MODALIDADE A DISTÂNCIA

DISCIPLINA: OFICINA DE COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS I

OBJETIVOS

Até o final desta aula, você deverá ser capaz de

• Compreender a relação entre linguagem e tecnologia no contexto da sociedade da informação.

• Apropriar-se do conceito gêneros digitais, reconhecendo a funcionalidade dos gêneros chat, e-mail, blog, rede social e fórum de discussão.

• Repensar a relação oralidade x escrita em função dos diferentes contextos de uso dos gêneros digitais.

• Relacionar a escolha dos diferentes registros de língua aos diversos contextos de uso requeridos pelos gêneros digitais.

Para início de conversa... A compreensão e a produção textual pressupõem uma apropriação de estratégias linguístico-

discursivas que levem à formação de leitores e produtores proficientes dos mais variados gêneros de texto. Esse entendimento tem norteado as ações pedagógicas empreendidas ao longo das cinco aulas já realizadas em nossa oficina: refletimos sobre noções diversas – como texto, gêneros de textos, tipos textuais, coerência, coesão e argumentatividade – com o objetivo de levá-los a desenvolver uma prática de leitura e de produção textual mais consciente, tendo em vista que é por meio da linguagem que interagimos com o outro, sempre com certos propósitos comunicativos e com vistas a produzir certos efeitos de sentido sobre o nosso interlocutor.

Ainda com base nesse entendimento, vamos agora nos apropriar de um saber que ampliará um pouco mais nossa compreensão leitora e nossa capacidade de produção textual: a noção de gêneros digitais. Abordaremos o uso e as características de alguns gêneros surgidos no contexto da tecnologia digital a fim de que nossas práticas diárias de leitura e de produção textual em ambientes virtuais sejam pautadas em estratégias que nos permitam alcançar nossos objetivos sociocomunicativos de maneira mais eficaz e satisfatória.

Para isso, iremos nos apropriar de alguns conceitos no decorrer desta aula, como hipertexto, gêneros digitais e letramento digital. Com essa abordagem, pretendemos levá-los a perceber as peculiaridades da escrita na internet, assim como a relação que se estabelece entre a escrita e a oralidade nesse espaço tecnológico de produção de textos.

TEXTO E TEXTUALIDADE: FATORES PRAGMÁTICOS, ASPECTOS SEMÂNTICOS, COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL

AULA II

Gêneros digitais: a linguagem na internet

AULA VI

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A internet, cada dia mais, se coloca como ferramenta de auxílio à aquisição das habilidades de leitura e de escrita. É justamente com o objetivo de levá-los a melhor usarem essa ferramenta em suas práticas de leitura e de escrita que nos propomos, aqui, a realizar essa reflexão sobre gêneros digitais e a escrita na internet.

Bom estudo a todos! Linguagem, tecnologia e hipertexto

A intensa disseminação das novas tecnologias tem alterado o cotidiano social, potencializando a ação humana em suas diferentes atividades rotineiras. Com o surgimento dos caixas eletrônicos, por exemplo, já não precisamos mais enfrentar longas filas para pagar a conta de luz. Aliás, podemos ir ao banco sem sair de casa. Também não é necessário mais esperarmos dias para que nossa carta chegue ao seu destino. Num simples click, o que precisamos dizer chega ao nosso interlocutor por meio de um rápido e-mail. Não poderíamos deixar de mencionar o lugar indispensável que o computador ocupa em nossas atividades de trabalho e de pesquisa.

Esses e outros exemplos, que flagram a presença da tecnologia em nosso dia a dia, nos inserem no que vem sendo denominado pelos especialistas de Revolução Digital ou Terceira Revolução Industrial, presente no cerne de uma Sociedade da Informação, em que cada vez mais assistimos à conversão de informações, antes analógicas e impressas, em códigos digitais. Esse processo torna-se vigente a partir da segunda metade do século XX, sobretudo em meados dos anos 1990 com a popularização da internet comercial.

Mas qual seria o lugar da linguagem diante de tantos avanços tecnológicos? A linguagem, como dimensão constituinte de todas as atividades humanas, não poderia ficar de fora dessas mudanças. Ela não apenas sofre influências das novas tecnologias como também as afeta, já que se constitui como seu elemento potencializador. É nesse sentido que podemos falar no aparecimento de uma tecnologia de linguagem, denominada Hipertexto, isto é, um texto eletrônico que, num processo de intertextualidade, traz conexões, chamadas links, com outros textos que, por sua vez, se conectam a outros, e assim por diante, formando uma grande rede de textos (COSCARELLI, 2006). Trata-se de uma tecnologia baseada principalmente na escrita e que promove, numa mesma superfície, a integração entre várias semioses (palavras, sons, imagens, gráficos, diagramas etc.), de forma simultânea e convergente, formando um todo significativo, disponibilizado aos navegadores do oceano digital (XAVIER, 2010).

Além da intertextualidade e da multisemiose, outra característica que pode ser atribuída ao hipertexto é a não linearidade. Diferentemente do texto convencional1 em que o ato de ler é condicionado pela ordem de paginação do texto, o hipertexto não impõe ao leitor uma leitura segundo a ordem hierárquica das seções que o compõem, podendo então este “transgredi-la” em favor de um percurso de leitura não sequencial e do tipo self-service.

Nesse percurso, o leitor, à medida que opta por determinados links e não por outros, e que, em alguns casos como na Wikipédia, participa efetivamente da edição das informações presentes no texto, ajuda a dar unidade semântica ao que está lendo. Alguns estudiosos dirão que o hipertexto impõe então um novo tipo de leitor, o hiperleitor, ainda mais cooperativo e com maior autonomia

1 Quanto a esta afirmação, é interessante trazer à tona a seguinte observação de Xavier (2010, p. 213): A recepção não hierárquica do texto não chega a se constituir uma revolução radical implantada pelo hipertexto, haja vista que as notas de rodapé, índices remissivos, sumários e divisão em capítulos encontrados nos livros tradicionais também oferecem ao leitor caminhos alternativos a serem trilhados, os quais podem levá-lo a fazer quebras na linearidade da leitura.

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do que aquele do texto impresso, já que se depara com textos que não se apresentam mais como um “todo” organizado em início, meio e fim.

Para melhor entendermos o conceito de hipertexto, bem como suas características acima apontadas, observemos o site de Chico Buarque [http://www.chicobuarque.com.br]. Nele, cada página possui diversas ligações que auxiliam o leitor na busca por informações específicas sobre o artista. Nele também aparecem vários tipos de semioses integradas2:

2 Exemplo retirado de http://www.nce.ufrj.br/ginape/cursohtml/conteudo/introducao/hipertexto.htm.

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Gêneros digitais: chat, e-mail, blog, rede social e fórum de discussão

Outra consequência da interferência das novas tecnologias na linguagem é o surgimento dos Gêneros Digitais. Assim como ocorreu com o advento da tecnologia da escrita, que propiciou não só o aumento do número de gêneros textuais existentes na sociedade, como também a criação de outros (tais como a carta, o bilhete e o memorando), de forma semelhante o computador e a internet permitiram recentemente a composição de novos gêneros, tais como o chat, o e-mail, o blog, a rede social e o fórum de discussão.

Sem entrar no mérito da discussão sobre se os gêneros digitais presentes no ambiente hipertextual da web são, de fato, novidade ou apenas modificações e adaptações dos que os precederam, podemos dizer que são gêneros emergentes que encontram em outros já existentes na sociedade a sua contraparte. Esses são os casos do chat, do e-mail e do blog, que teriam a conversação espontânea, a carta pessoal e o diário pessoal, respectivamente, como suas contrapartes (MARCUSCHI, 2010).

Dentre as características mais marcantes desses gêneros em ambiente virtual está a alta interatividade entre os participantes em tempo real. Inquestionável parece ser o fato de esses gêneros se basearem intensamente na tecnologia da escrita, que, aliás, tende a uma certa informalidade, menor monitoração e pouca cobrança de formalidade, justificáveis pela fluidez do meio e pela rapidez do tempo na interação, embora isso possa variar de acordo com o gênero analisado.

É também inegável o fato de que permitem que a oralidade e a escrita sejam trabalhadas simultaneamente, já que é comum se escrever como se fala em chats, fóruns eletrônicos e, às vezes, em e-mails enviados para pessoas com as quais se tenha alguma intimidade. Nesse sentido, os gêneros digitais são caracterizados por um processo de hibridização que, mais do que nunca, leva à falência a antiga tese que estabelecia fronteiras estanques entre a oralidade e escrita. Esse processo também se refere à possibilidade de, no ambiente virtual, o internauta poder se servir abundantemente de elementos não verbais em suas interações, como já foi observado no funcionamento do hipertexto.

? Há algumas controvérsias a respeito da inserção do hipertexto em contextos pedagógicos. Alguns autores apontam vantagens na exploração de uma mesma informação por canais de diferentes semioses, sobretudo se se leva em conta os diferentes estilos de aprendizagem dos leitores; outros, entretanto, chamam atenção para a sobrecarga cognitiva que o excesso de informação do hipertexto pode trazer a esses leitores, que, cansados, tendem a abandonar a atividade de leitura. Esse segundo caso ocorreria especialmente entre leitores pouco experientes, que não sabem fazer escolhas diante do mar de informações com que se deparam na internet. A partir dessa observação, pense em sua prática de pesquisa e leitura na internet e responda em nosso fórum da Atividade VI:

a) Minhas práticas de pesquisa e leitura na internet têm sido satisfatórias? Por quê? b) Quais são os passos para o exercício de uma boa prática de pesquisa e de leitura na

internet?

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Quanto ao tempo implicado na interação em ambientes virtuais, podemos citar um tipo de comunicação que se dá de maneira síncrona e outro de maneira assíncrona. No primeiro caso, não há uma distância temporal entre a produção e a recepção do texto, como acontece no gênero chat em que os participantes interagem em tempo real; já no segundo caso, essa distância temporal entre o que dizem os interlocutores é verificada, a exemplo do que ocorre no gênero blog. Para melhor ilustrar algumas dessas características dos gêneros digitais, nada melhor do que apresentar alguns deles, fazendo observações sumárias quanto a seus traços básicos e seu funcionamento sociocomunicativo. Do grande leque observado na atualidade, serão apresentados aqueles considerados alvo de grande uso pelos participantes do ciberespaço e que são citados ao longo deste texto: chat, e-mail, blog, redes sociais e fórum de discussão.

Chat O chat é, atualmente, um dos gêneros mais praticados da civilização digital e apresenta,

como peculiaridade, o caráter síncrono e a relação face a face. O diálogo entre os participantes coloca a interatividade como recurso principal na troca de turnos conversacionais. É interessante observar que os participantes, em chats abertos, podem esconder suas identidades, criando apelidos virtuais (nicknames).

A linguagem utilizada nos chats reorganiza as relações entre fala e escrita na medida em que há a necessidade de se estabelecer a comunicação de forma dinâmica, semelhantemente às conversações orais espontâneas. Apresenta-se, portanto, nesse gênero, uma escrita com traços da fala e marcada pelo uso de expressões abreviadas, motivada pela necessidade de economia verbal entre os interlocutores, a qual tende a estreitar a relação fala-escrita e, também, a acentuar o grau de informalidade nesse tipo de interação.

De acordo com esses traços peculiares, são apontadas as seguintes características do gênero digital chat:

� são produções escritas no formato de diálogo; � são produções síncronas, apesar de escritas; � são produções textuais em geral curtas, não indo além de umas poucas linhas.

/

http://www.sempretops.com/dicas/fontes-letras-coloridas-para-msn-%E2%80%93-download

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E-mail (mensagem eletrônica)

O e-mail é uma forma de comunicação escrita, geralmente de caráter assíncrono, de trocas de mensagens entre usuários do computador. É comumente identificado pelos símbolos “@”, que é at (inglês) e significa “em”; “com”, que significa endereço comercial; e “br”, que informa o Brasil como endereço. O yahoo é um exemplo de provedor gratuito da web que permite a criação de uma conta de e-mail.

O e-mail é um meio de comunicação interpessoal com produção de mensagens e respostas entre amigo, familiares, colegas de trabalho etc., e com rápida velocidade de transmissão. Formalmente, assemelha-se aos gêneros carta e bilhete e apresenta uma linguagem não monitorada, que, no entanto, também pode ser muito bem elaborada a partir da feitura de rascunhos, constantemente re-elaborados, antes do ato de envio.

De um modo geral, esse gênero, que é um dos mais populares do mundo, apresenta o endereço do remetente, data e hora de envio, endereço do destinatário, assunto, anexo (que permite o envio de vários tipos de dados em formato de texto word e power point, imagens, sons, vídeos etc.) e corpo da mensagem (com ou sem vocativo, texto principal e assinatura).

http://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2011/10/como-anexar-arquivos-no-yahoo-mail.html

Blog

O termo tem origem nas palavras web (rede de computadores) e log (espécie de diário de bordo dos navegadores com descrição das posições do dia), que deram origem à expressão weblog, popularizada com a abreviação blog. Alguns estudiosos apontam esse gênero como uma espécie de diário que registra impressões pessoais na internet. Diferentemente do diário, porém, o blog não é produzido em folha de papel, mas em ambiente eletrônico, estando à disposição não apenas de seu autor e amigos mais íntimos, mas também de outros participantes da rede e, às vezes, até mesmo de desconhecidos, que podem, de forma interativa e participativa, emitir comentários em relação ao texto produzido.

Há muitos autores de blogs que criam suas páginas com o intuito de tornar sua vida pública, divulgando dados autobiográficos, compartilhando pontos de vistas pessoais sobre determinados temas. Sua organização segue uma ordem cronológica de eventos, automaticamente datados, descritos em suas diferentes circunstâncias, comportando fotos, músicas e uma linguagem, geralmente, informal. A natureza de sua interação é assíncrona.

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http://blogantoniocustodio.blogspot.com.br/p/redes-sociais-um-novo-genero-textual.html

Redes sociais

As redes sociais permitem aos usuários da internet vivenciar as mais diversas relações para além das suas comunidades locais. Elas abrigam um conjunto de participantes reunidos em torno de valores e interesses compartilhados. Essas redes têm como característica principal a interatividade em tempo real. Dentre as mais conhecidas estão o Orkut, o Facebook, o Twitter, o Friendster, o LinkedIn, o MySpace e o Google+. Dentre estas, as mais usadas são o Orkut e o Facebook, atualmente acessadas por aproximadamente 70 milhões3 de usuários, que gastam, em média, 9 horas por mês visitando suas páginas.

http://www.facebook.com/AnaMariaBraga

3 Conferir informação no seguinte endereço eletrônico: http://www.comscore.com/Insights/Press_Releases/2012/1/Facebook_Blasts_into_Top_Position_in_Brazilian_Social_Networking_Market

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Fórum de discussão

Estudiosos afirmam que o fórum, mesmo antes da informatização das sociedades, sempre fora conhecido como um gênero no qual se debatiam as problemáticas de uma comunidade civil ou institucional com o propósito de encontrar soluções que beneficiassem seus membros. Em analogia, podemos dizer que o gênero fórum de discussão é um ambiente voltado ao debate de temas específicos, realizado por grupos de pessoas neles interessadas. O objetivo é fazer avançar certos conhecimentos, certas informações ou experiências em relação ao tema posto em pauta. Como uma construção coletiva, permite que as mensagens emitidas e respondidas sejam vistas e comentadas por todos os participantes do ambiente virtual.

Trata-se de um tipo de interação assíncrona, em que os interlocutores não precisam, para interagir, estar online a um só tempo. Revela uma organização em diversos tipos de estruturas (pergunta-resposta e tópicos de assuntos), apresentando em alguns casos, como no fórum de discussão da rede social Orkut, uma escrita com fortes marcas de oralidade, permeada por marcadores conversacionais e marcas de envolvimento, e enunciados curtos, muitas vezes sem densidade argumentativa.

http://www.aedmoodle.ufpa.br/mod/forum/discuss.php?d=34894

Letramento digital

O constante uso de novas ferramentas tecnológicas na sociedade da informação (computador, cartão magnético, caixa eletrônicos, internet etc.) exige por parte dos indivíduos a aprendizagem de novos comportamentos e raciocínios que lhes permitam interagir em sociedade de forma eficaz, aproveitando da melhor forma bens e serviços por ela oferecidos. Esse contexto favorece a introdução de novas práticas sociais de leitura e de escrita, trazendo à tona o conceito de Letramento Digital.

Ser letrado digital pressupõe a realização de práticas de leitura e de escrita mais amplas do que as implicadas nas formas tradicionais de alfabetização e letramento. Trata-se da capacidade de o indivíduo participar com eficiência dos eventos sociais que envolvem o uso de recursos tecnológicos e da escrita no meio digital. O não domínio dos conhecimentos mínimos para interagir

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com base nas novas tecnologias da informação e da comunicação provoca o processo de Exclusão Digital (SOARES, s/d), tematizado nas imagens abaixo:

http://tecnoeducsga.blogspot.com.br/ http://meuspensamentosmanu.blogspot.com.br/

A centralidade da escrita nos gêneros digitais torna o letramento alfabético um passaporte para a apropriação do letramento digital. Entretanto, para sair da condição de analfabeto digital, é necessário ir além do domínio do código e do exercício de práticas sofisticadas de leitura e escrita. No mínimo, é primordial entender como funcionam os sistemas de navegação; conhecer as infovias por onde trafegam as informações a serem transformadas em conhecimento; saber usar com eficiência os mecanismos de busca em sites que armazenam e disponibilizam páginas da internet que abordam determinados assuntos; localizar, filtrar e avaliar criticamente informações encontradas no meio eletrônico. Pressupõe ainda a capacidade de construir sentidos diante de textos de várias semioses (isto é, textos que mesclam palavras, elementos pictóricos e sonoros numa mesma superfície) e de manusear naturalmente com agilidade as regras da comunicação em ambiente digital (XAVIER, s/d).

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? A noção de letramento digital remete a duas outras noções que lhes são anteriores: alfabetização e letramento. Comumente, é considerado alfabetizado o indivíduo que adquiriu a tecnologia da escrita, sabe decodificar os sinais gráficos de seu idioma, mas ainda não se apropriou completamente das habilidades de leitura e escrita, restringindo-se, portanto, a processos de leitura superficiais e de escrita de textos simples (bilhetes, listas de compras etc.). O indivíduo plenamente letrado, além de dominar o código da língua, consegue estabelecer relações com informações fora do texto oral ou escrito e vinculá-las ao contexto histórico, social e político em que vive, podendo, assim, desfrutar totalmente dos benefícios das práticas socioculturais a que está constantemente exposto, bem como interferir na realidade em que aparece imerso. Vale ressaltar que é possível existir um indivíduo alfabetizado e letrado que seja um analfabeto ou iletrado digital.

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A escrita e a oralidade nos gêneros digitais: diferentes registros de língua e diversos contextos de uso sociocomunicativo

Como já mencionado neste texto, um dos aspectos essenciais da mídia virtual é a centralidade da escrita, uma vez que a internet e todos os gêneros a ela ligados são eventos textuais fundamentalmente baseados na escrita. Isso nos leva a pensar sobre que lugar ocupa a linguagem oral na internet, uma vez que nos deparamos com uma escrita muitas vezes carregada de traços da oralidade.

E, mais ainda, ficamos a refletir sobre a natureza dessa escrita, tão diferente, às vezes, daquela a que nos acostumamos a praticar no gênero ‘redação escolar’, ou daquela com a qual nos deparamos nos livros acadêmicos. Afinal, crescemos aprendendo que a escrita é o lugar da norma culta, do certo e da ordem, e que a fala é o lugar do errado e do caos gramatical.

Essa visão dicotômica entre fala e escrita é equivocada, pois, em contexto de uso da língua, fala e escrita não são formas rígidas, não ficam paradas em polos opostos, elas se movem e se imbricam. Por isso, os gêneros de textos que utilizamos em nossas práticas sociais terminam por apresentar uma linguagem híbrida, que mescla elementos da oralidade e da escrita, o que pode ser visto como resultado das condições de produção textual e dos efeitos de sentido pretendidos no ato interlocutivo no qual o gênero de texto é utilizado (MARCUSCHI, 2008).

Com relação a esse uso da linguagem com maior ou menor grau de formalidade, a maioria de nós já se deparou com a expressão “adequação linguística” e sabe que não se pode escrever da mesma forma em todas as situações de interação. Por isso, a questão que se coloca aqui – principalmente em relação aos gêneros digitais, nosso tema de estudo – é compreender que as diferenças de comportamento linguístico decorrem não da dicotomia fala x escrita, mas da diversidade de gêneros e de contextos comunicativos que permeiam nossas práticas linguageiras.

Tomemos primeiramente como exemplo o gênero digital e-mail. Utilizado em comunicações informais, como para convidar amigos próximos para comemorar nosso aniversário, o texto pode incorporar traços de uma linguagem mais próxima da fala, como em: “Aê, galera, amanhã é meu aniversário e quero comemorar essa data especial junto com vocês. Tô esperando todo mundo. Não vão dar furo, hein?”.

Em comunicações formais, entretanto, o e-mail requer do produtor do texto maiores cuidados, como, por exemplo, atenção à correção gramatical, uso de expressões adequadas ao contexto formal de produção e objetividade na exposição das ideias. Quem de nós, ao escrever, por exemplo, um e-mail para um empresário local em busca de patrocínio para a festa de formatura, usaria como saudação “oi, cara” ou, como fórmula de despedida, “um abração”? Ou, ainda, usaria o enunciado “a galera da facul tá querendo teu apoio pra festa”? Com certeza, essa não seria, devido ao contexto de produção, nossa opção de escrita. E, ainda, no facebook, você costuma observar os mesmos procedimentos de escrita ao deixar um recado para um colega e ao postar uma mensagem de aniversário para uma professora sua ou para seu chefe no trabalho? Provavelmente não, o que reforça a afirmação feita mais acima de que não se pode escrever da mesma forma em todos os gêneros e em todos os contextos comunicativos.

A escrita no meio cibernético suscita, dessa forma, questões que nos levam a repensar a relação fala - escrita e a considerar modos mistos e heterogêneos de construção textual. Obriga-nos, sobretudo, a rever a tradicional oposição dicotômica entre o texto falado e o texto escrito e a

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perceber essa construção mista e híbrida de diferentes modalidades de expressão como uma característica marcante nos usos da linguagem nos meios eletrônicos.

Mais dois exemplos diferentes podem também ilustrar como essa nova tecnologia está incorporando e modificando práticas linguísticas já existentes: a interação nas salas de bate papo e a construção do hipertexto. No primeiro caso, observamos o uso da linguagem em situações de diálogo em tempo real, um tipo de interação apontado até recentemente como o protótipo da modalidade oral. No segundo caso, observamos a construção de um novo tipo de texto, que não só explora e expande os recursos expressivos desenvolvidos pela escrita, como também mescla, de uma forma inovadora, diferentes semioses.

Há que se relembrar, como já comentado anteriormente, que, de forma geral, a escrita nos gêneros digitais tende a certa informalidade, até mesmo pela necessidade de muito se dizer em um curto espaço de tempo. É comum encontrarmos a expressão “internetês” como referência a essa linguagem digital usada principalmente pelos jovens, que apresenta como características primordiais um mínimo de pontuação, uma ortografia peculiar, abundância de siglas, abreviaturas não convencionais e estruturas frasais fora dos padrões tradicionais.

Alguns padrões podem ser observados na escrita de gêneros digitais, como a abreviação da linguagem, especialmente a da web, e a adoção de padrões da fala, uma vez que o interlocutor, em uma conversa on line, faz-se presente em tempo real, apesar da distância física. Seguindo-se a agilidade de uma conversa face a face, escrevem-se oxítonas com acento agudo sem acento e com ‘h’ no final, como ‘cafeh’; e usam-se, em um acordo tácito, determinadas palavras, como ‘vc’, em vez de ‘você’, ‘tc’, em vez de ‘teclar’, e “T+”, no lugar de “Até mais”. Outros elementos que fazem parte desse sistema de comunicação são as representações de emoção, geradas para compensar a ausência física do interlocutor, a exemplo do sorriso, como em :-) ou :o).

Embora a linguagem digital apresente esse caráter híbrido e os padrões acima mencionados, não podemos, de forma alguma, sobrepor esses fatores ao uso contextual dessa linguagem, o que pressupõe termos a consciência de que, a depender do contexto sociocomunicativo em que estamos produzindo nosso texto, impõe-se como necessária a observância aos elementos do ambiente virtual de nossa produção: Quem somos nós nesse contexto comunicativo? Quem é nosso interlocutor? Que propósito interlocutivo está aí envolvido? Que efeito de sentido pretendemos alcançar nessa interlocução?

Tomemos como exemplo o gênero digital fórum, que se volta para a discussão de um grupo pertencente a uma mesma comunidade. O que orientará o uso de uma linguagem mais cuidada será justamente o ambiente em que são trocadas as mensagens. Em outras palavras, o contexto comunicativo mais formal ou menos formal em que ocorrem essas trocas influi diretamente sobre o uso de uma escrita mais elaborada ou mais descuidada pelos interlocutores.

No caso, por exemplo, do nosso fórum de discussão, temos de considerar que estamos em um contexto acadêmico de produção textual, que tem como interlocutores alunos e professores do curso de Letras da Universidade Federal do Pará, que postam mensagens com objetivos específicos de, respectivamente, solicitar e fornecer orientações/explicações acerca dos assuntos diversos abordados na disciplina. É assim que cada um de nós, tendo em vista um determinado efeito de sentido, organiza textualmente seu discurso, por meio de uma escrita que deve ser bem elaborada, de forma a alcançar sucesso no evento comunicativo de que, conjuntamente, participamos.

Se, entretanto, o fórum de discussão de que fizéssemos parte fosse um fórum, por exemplo, do gênero rede social, como o orkut, nossas trocas de mensagens se dariam em um ambiente virtual mais descontraído, informal, em que nós, como amigos, despidos de nossos papéis de alunos e professores da universidade e fora, consequentemente, do contexto acadêmico de produção textual

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(um contexto formal, portanto), trataríamos de assuntos diversos, teríamos outros propósitos interlocutivos e pretenderíamos suscitar outros efeitos de sentido uns sobre os outros. Nossa escrita, dessa forma, tenderia a ser mais descontraída e, provavelmente, incorporaria alguns padrões daqueles mais acima descritos, como o uso de abreviações e de expressões próprias da fala.

Toda essa reflexão aqui trazida teve o objetivo de nos levar a pensar mais detidamente sobre essa nova forma de escrita eletrônica e, também, de leitura hipertextual, que, pelo parcial desconhecimento de nossa parte, ainda, por vezes, nos assusta. Afinal, a internet, passando a entrelaçar de uma maneira nova a oralidade e a escrita, coloca-nos diante de outra relação com o texto, inserindo-nos em um espaço virtual que é, certamente, um dos futuros da leitura e da escrita, e que, por isso, merece toda a nossa atenção.

���� V A M O S A O F Ó R U M

Após fazer uma leitura cuidadosa da atividade VI e refletir sobre a relação entre a escolha de registro de língua e contexto de uso de gêneros digitais, responda no fórum Discutindo sobre a atividade VI a seguinte pergunta: Que relação pode ser feita entre o conteúdo estudado nesta atividade e uso que faço do gênero fórum de discussão no curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Pará?

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Referências ANDRADE. M. L. C. V. O. Textos construídos na internet: oralidade ou escrita? Disponível em <http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/maluv015.pdf>. Acesso em 01 maio 2013.

COSCARELLI, Carla Viana. Entre textos e hipertextos. In: COSCARELLI, Carla Viana. Novas tecnologias, novos textos, novas formas de pensar. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. Freitas, M. T. A. Linguagem de internet e celular. Disponível em: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/linguagem-internet-celular/idioma-escrita-abreviada-jovens-adolescentes.shtml. Acesso em 01 maio 2013.

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