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Direito Penal Parte VIII – Teoria do Delito Item 8 – Consumação e Tentativa

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Direito PenalParte VIII – Teoria do Delito

Item 8 – Consumação e Tentativa

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1.As Fases do Crime

Iter Criminis

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Iter Criminis

▣ Quando alguém decide praticar um crime, há um caminho a ser percorrido,que tem início com o planejamento e termina com o resultado.□ É o chamado iter criminis.

▣ Os crimes perpassam por quatro fases:□ Cognição: processo mental no qual se determina o resultado a ser alcançado, os meios e

modo de execução, a vítima e o interesse a ser atingido;□ Atos preparatórios: preparativos para se chegar ao resultado;□ Atos executórios: mudança fática no mundo exterior para se atingir o resultado;□ Consumação: objetivo alcançado pelo agente (perigo ou lesão ao bem jurídico).

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Iter Criminis

Cogitação

Preparação

Execução

Consumação

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2.Crime Consumado

Art. 14, I

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Crime Consumado

▣ Art. 14. “Diz-se o crime:□ I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal”.

▣ Exige a realização completa do tipo penal.

▣ Deve ser analisada segundo a estrutura do tipo legal, especialmente considerandoo bem jurídico tutelado e se o crime é de dano ou perigo.□ Ex.: para consumação, o art. 121 exige a morte da vítima, enquanto o art. 132 se

contenta com o perigo de causar a morte.

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3.Crime Tentado

Art. 14, II

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Crime Tentado

▣ Art. 14. “Diz-se o crime:□ II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à

vontade do agente.”.

▣ O sujeito considera todas as possibilidades de violar o bem jurídico, prossegue noseu comportamento por acreditar que este é suficiente para atingir seu objetivo,mas, por motivos alheios a sua vontade, o resultado não é alcançado.□ Ex. 1: alguém que matar outrem com arma de fogo, dispara, mas erra todos os

disparos.□ Ex. 2: alguém que quer matar outrem com arma branca, mas ao partir para cima

da vítima é interrompido por terceiro que lhe toma a faca;□ Ex. 3: alguém que matar outrem com veneno, que adiciona no café da vítima,

mas esta não toma a bebida por ela esfriar.

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Crime Tentado

▣ É formada por aspectos objetivos e subjetivos.□ Objetivos: os atos de execução totais ou parciais, não seguidos pela consumação;□ Subjetivos: a vontade de consumação, que não ocorre por motivos alheios a essa vontade.

▣ Punição da tentativa□ Art. 14, parágrafo único. “Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena

correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços”.□ A redução é obrigatória, e não faculdade do juiz.□ Deve levar em consideração o avanço do agente nos atos de execução e a proximidade

com a consumação: quanto mais perto de consumar o crime, menor a redução da pena.

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Crime Tentado

▣ Atos preparatórios e atos de execução□ Importante conhecer o limite entre os atos preparatórios e os atos de execução, pois

somente estes são punidos, em regra.□ Teoria puramente subjetiva▪ Superada na atualidade, pois distinguia os atos preparatórios dos executórios

com base na opinião do autor acerca do plano.▪ Permitia a punição por atos penalmente irrelevantes, como comprar uma faca.

□ Teoria objetivo-formal▪ A tentativa começa com o juízo de ação descrita no tipo em sentido estrito, ou seja,

com a plena execução do núcleo do tipo.▪ Ex.: no caso do homicídio, a tentativa apenas existiria com o início de “matar”

alguém (com o disparo, v. g.);

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Crime Tentado

▣ Atos preparatórios e atos de execução□ Teoria objetivo-material▪ Recorre a um critério material para delimitar objetivamente o início da execução;▪ Duas etapas são percorridas:• 1) considerar o plano do autor de forma objetiva, ou seja, verificar como autor

pretendia atingir o resultado;• 2) constatar a imediatez temporal, que é o momento em que efetua um ato

imediatamente anterior à exposição do bem a perigo.• Ex. 1: no roubo, se o agente pretendia subtrair a coisa mediante ameaça à

vítima com arma, o ato de ameaçar é imediatamente anterior à subtração.• Ex. 2: no homicídio, o ato de apontar a arma é imediatamente anterior à morte.

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Crime Tentado

▣ Tentativa completa (acabada) e tentativa incompleta (ou inacabada)□ Completa: quando o agente pratica todos os atos que considera necessários e suficientes

para atingir o resultado perseguido e este não se consuma por motivos alheios a suavontade.▪ Ex.: autor dispara todas as balas que possuía no cartucho, atinge a vítima, mas

esta é socorrida e não morre em razão da intervenção médica.□ Incompleta: quando o agente não esgota os atos que considera necessários e suficientes

para atingir o resultado perseguido e este não se consuma por motivos alheios a suavontade.▪ Ex.: autor que, após disparar uma das seis balas que possuía no cartucho tem

sua arma tomada por um policial que estava próximo.□ A tentativa completa sempre deve ter pena mais alta que a incompleta.

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Crime Tentado

▣ Tentativa branca e tentativa cruenta□ Branca: quando o objeto do crime não é atingido, apesar dos atos de execução praticados

pelo agente e da possibilidade de ocorrer o resultado lesivo.▪ Ex.: o agente dispara vários tiros contra a vítima, mas erra todos.

□ Cruenta: quando o objeto do crime é atingido pelo agente.▪ Ex.: um dos disparos atinge a vítima, mas não em região fatal, de forma que

esta não falece.□ Distinção importante na fixação da pena.▪ “De acordo com a jurisprudência desta Corte Superior, o percentual de redução da pena

decorrente da tentativa guarda relação com a proximidade do momento consumativo. Nocaso, embora os agentes tenham efetuado vários disparos de arma de fogo, certo é quenenhum dos projéteis atingiram as vítimas- tentativa branca -, devendo a pena serreduzida no percentual máximo (2/3).” (STJ, AgRg no Resp 116.748-1, Rel. Min.Jorge Mussi, DJ 14/09/2012).

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Crime Tentado

Não admitem tentativa

Culposos

Habituais

Unissubsistentes

Omissivos próprios

Preterdolosos

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Tentativa e Dolo Eventual?

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4.Crime Impossível

Tentativa inidônea

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Crime Impossível

▣ Art. 17. “Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta domeio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.”.

▣ Só se pune a tentativa quando o resultado é possível. Quando o resultadoperseguido não pode ser atingido pelo agente, a tentativa não é punível.□ Ex.: agente julga liberar anthrax na atmosfera, quando, na verdade, joga pó de

cal.

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Crime Impossível

▣ Impropriedade absoluta do meio□ Os meios eleitos pelo agente são absolutamente ineficazes para alcançar o resultado

pretendido.□ A forma escolhida para a execução do crime é insuficiente para se chegar ao resultado.□ Ex. 1: agente que tenta disparar contra a vítima arma sem munição ou com balas

de festim.□ Ex. 2: gestante que ingere aspirina julgando ser um remédio abortivo.□ Ex. 3: pessoa que tenta matar outra através de trabalhos de bruxaria, vodu,

magia, etc.□ “É inviável o reconhecimento de crime impossível quando o contexto fático-probatório

permite concluir que o meio utilizado, em tese, era potencialmente apto para atingir o fimalmejado pelo agente.” (STJ, EDcl no AgRG no Resp 980.972, Rel. Min. RogérioSchietti Cruz, DJ 04/08/2014).

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Crime Impossível

▣ Impropriedade absoluta do objeto□ O objeto sob o qual recai a conduta não permite que o resultado perseguido seja

alcançado.□ Ex. 1: A encontra B deitado na cama deste e dispara contra ele. Contudo, B

havia falecido meia hora antes, em decorrência de ataque cardíaco.□ Ex. 2: mulher ingere remédio abortivo, achando que está grávida, quando na

verdade não está.

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Crime Impossível e Sistema de Vigilância?

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5.Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz

Art. 15

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Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz

▣ A tentativa ocorre quando a consumação do delito não ocorre por motivosalheios à vontade do agente.

▣ Tratamento diverso dá o CP às situações em que o autor, voluntariamente,já não persegue a consumação.

▣ Art. 15. “O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ouimpede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.”.

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Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz

▣ É fundamental a voluntariedade do agente.□ O agente não pode ser coagido ou enganado para desistir do resultado.□ Voluntariedade não significa espontaneidade: pode ser convencido por alguém a desistir.

▣ Medidas de política criminal para estimular agentes que iniciem a execução docrime a desistirem de perseguir sua consumação.□ “Ponte de ouro”, na expressão de Franz v. Liszt.

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Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz

▣ Desistência voluntária□ Agente interrompe voluntariamente os atos de execução antes de os esgotar.□ Durante a execução do crime, não mais prossegue naquilo que iniciou, interrompendo seu

comportamento.□ Ex.: agente que deseja matar a vítima com golpes de faca mas, após dar o

primeiro golpe e perceber o sofrimento da vítima, interrompe os golpes.▪ Responderá por lesão corporal grave, não por homicídio tentado.

□ Diferença da desistência voluntária e tentativa▪ Tentativa: agente deseja o resultado, mas não pode atingi-lo (quero, mas não posso);▪ Desistência voluntária: agente pode atingir o resultado, mas não o deseja mais (posso,

mas não quero).

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Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz

▣ Arrependimento eficaz□ Agente executa todos os atos que considera necessários para alcançar a consumação, mas

antes que o resultado se realize, voluntariamente adota as providências para evita-lo.□ Ex.: A dispara todas as balas que detinha contra B, mas após isso chama

atendimento médico, que impede a morte da vítima.▪ Responderá por lesão corporal grave, não por homicídio tentado.

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6.Arrependimento Posterior

Art. 16

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Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz

▣ Art. 16. “Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparadoo dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por atovoluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.”.

▣ Causa obrigatória de redução de pena.

▣ Ausência de grave ameaça ou violência à pessoa□ Violência física ou moral;□ Nos casos de crimes culposos, é admissível mesmo nos casos de violência (ex.: lesão

corporal culposa);□ Violência contra a coisa não impede a configuração.

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Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz

▣ Reparação do dano ou restituição da coisa□ STJ entende que a reparação do dano deve ser integral (Resp 1.282.696, Rel.

Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJ 13/12/2012).□ Apenas os danos materiais.□ E se o bem for infungível?▪ Ex.: quadro único de um pintor famoso?

▣ Limite temporal□ Até o recebimento da denúncia ou queixa. Ultrapassado esse prazo, pode configurar

uma minorante (art. 65, III, “b”).□ A fração de redução varia a depender da maior ou menor celeridade por parte do agente

para ressarcir a vítima (STJ, Resp 130.256-6, Rel. Min. Maria Thereza de AssisMoura, DJ 04/08/2014).

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