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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”
INQUÉRITO POLICIAL: A FASE ADMINISTRATIVA DA PERSECUÇÃO CRIMINAL
Por Jorge Luiz Alves de Sá
Rio de Janeiro 2010
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”
INQUÉRITO POLICIAL: A FASE ADMINISTRATIVA DA PERSECUÇÃO CRIMINAL
Projeto de pesquisa realizado em função do Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” no presente semestre como instrumento de avaliação. Por Jorge Luiz Alves de Sá Professor Francis Rajman
Rio de Janeiro 2010
3
RESUMO
O presente trabalho tem como finalidade mostrar de maneira sucinta
como o inquérito policial se apresenta no ordenamento jurídico brasileiro
analisando sua aplicabilidade, sua eficácia e sua eficiência.
O estudo foi realizado através de pesquisa bibliográfica, artigos
publicados em Internet, jornais e revistas jurídicas teve como objetivos
principais a abordagem de questões como o conceito de inquérito, seu
funcionamento, finalidade, trajetória histórica, a idéia de modelo garantista
adotado pela Constituição Federal (CF) de 1988, seu funcionamento e
finalidade, a identificação dos preceitos constitucionais que estão sendo
violados pelo inquérito, a abordagem sobre as interferências do juiz no
inquérito, o Ministério Público e o seu poder de investigação, a eficácia do
Inquérito Policial, defensores, críticos e possíveis soluções para a crise do
inquérito, especialmente sobre o ângulo de modificação do procedimento
funcional do inquérito e do controle externo da polícia pelo Ministério Público.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 5
CAPÍTULO I: Histórico 7
CAPITULO II: Conceito 8
CAPITULO III: Polícia Judiciária 9
CAPITULO IV: Competência, Atribuição, Finalidade e Características 10
CAPITULO V: Juizados Especiais 15
CAPITULO VI: Valor Probatório, Vícios, Dispensabilidade e
Incomunicabilidade 16
CAPITULO VII: Da “Notitia Criminis” ao Encerramento do Inquérito
Policial 20
CAPITULO VIII: Prazos e Arquivamento 32
CAPITULO IX: O Ministério Público e as Investigações Criminais 41
CAPITULO X: Extinção ou Reformulação do atual sistema, diante da
ineficácia do Inquérito Policial na elucidação dos delitos? 47
CONCLUSÃO 51
NOTAS 52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 53
5
INTRODUÇÃO
Previsto no Código de Processo Penal (CPP) o inquérito policial (IP) é
definido por Fernando Capez (1) como “o conjunto de diligências realizadas
pela polícia Judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria,
a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo”. Trata-se de um
procedimento administrativo onde o destinatário final é o Ministério Público.
Sabe-se que o CPP é de 1937 e foi influenciado pelo fascista Código de
Rocco. Assim, apesar de estarmos em pleno século XXI, ainda é utilizado um
instrumento criado para atender as necessidades da década de 30 do século
passado. Daí que, ante qualquer análise do instituto ora em questão, pode-se
dizer que as datas de sua criação, e a sua vigência na atualidade sem ter
sofrido qualquer alteração, são por sí só expressivas em mostrar que o sistema
encontra-se, no mínimo, defasado, desatualizado. Partindo-se, do pressuposto
de que o Direito está sempre em evolução, acompanhando o desenvolvimento
social. Atualmente, no Brasil, tem-se um sistema processual penal acusatório,
instituído pela Constituição Federal da República de 1988. Deste modo, torna-
se inconcebível que ainda esteja vigente um sistema precipuamente
inquisitorial, realizado para atender as necessidades da época de sua criação.
O que se quer dizer é que embora a CF de 88 tenha trazido inovações à área
do direito penal, dentre outras áreas; tais inovações não foram aplicadas ao
inquérito policial. A aplicação faz-se mais do que necessária não só pela
necessidade de enquadramento das normas ao modelo atual instituído, mas
principalmente pela falência na qual se encontra o instituto. Tal idéia – Falência
- surge pela sua total ineficácia frente às necessidades a que este deve
atender.
6O inquérito policial é o principal instrumento de trabalho do MP na
propositura da ação penal; não é o único e nem sempre é indispensável, mas
na maioria dos casos, assim ele acaba por se tornar. Como principal
instrumento do MP para que este atinja sua finalidade, e sem, contudo, estar
tendo a eficácia que deveria, conclui-se que a sociedade encontra-se
hipossuficiente. Tal qualidade social não decorre somente da ineficácia
funcional do inquérito, como também da sua forma procedimental em sí,
enquanto um procedimento inquisitivo. Assim é que, a sua
procedimentabilidade gera insegurança à sociedade, já que o indivíduo
encontra-se totalmente vulnerável dentro do sistema enquanto suspeito.
No inquérito o que se tenta provar é a culpa da pessoa suspeita,
enquanto que no processo judicial o que prevalece é a inocência do suposto
agente. A forma inquisitiva como o inquérito é realizado não garante ao
indivíduo qualquer segurança quanto à sua possibilidade de defesa e
conseqüente inocência, tendo em vista que o inquérito não admite o
contraditório e tem suas peças como sigilosas. A insegurança social surge
também pela ineficácia funcional objetiva, já que pelas práticas procedimentais
encontra-se incapaz de cumprir a sua função social.
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I. HISTÓRICO
O inquérito policial surgiu entre nós com a Lei a Lei 2.033, de setembro
de 1871, e regulamentada pelo Decreto-lei 4.824, de novembro de 1871. No
artigo 42 da referida lei, conceitua o inquérito policial como instituto que
consistia em todas as diligências necessárias para o descobrimento dos fatos
criminosos, de suas circunstâncias e de seus autores e cúmplices, devendo ser
reduzido a um instrumento escrito.
Com o advento do Código de Processo Penal de 1941, o inquérito
policial foi mantido como um instrumento de garantia do cidadão contra
abusivas acusações. Pela mesmas razões, a CF/88, por meio de seus
princípios, corroborou tal entendimento, já que para acusar alguém são
necessários elementos com fundamentos fáticos e jurídicos suficientes para ser
promovida a ação penal.
Como se observa, desde sua origem, o inquérito policial surgiu como
peça de informações, sem rito preestabelecido, com o único objetivo de apurar
o fato criminoso, estabelecendo a materialidade e a respectiva autoria.
Procedimento administrativo investigatório, hoje, previsto no Art 4º e
seguintes do CPP, o inquérito policial, de caráter até então inquisitorial, sofre
hoje discussão doutrinária sobre a possibilidade de afastamento do mecanismo
inquisitorial, para dar oportunidade ao exercício do contraditório, vale dizer,
para possibilitar que o acusado realize sua defesa pré-processual.
8
II. CONCEITO
Quanto ao conceito alguns doutrinadores definem o inquérito policial das
seguintes formas:
De acordo com Fernando da Costa Tourinho Filho e Fernando Capez (2)
“é o conjunto de diligências realizadas pela polícia Judiciária para a apuração
de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal
possa ingressar em juízo”.
Para Adalberto José Camargo Aranha (3) “inquérito policial é um
procedimento administrativo, elaborado pela polícia judiciária, inquisitório,
escrito e sigiloso, cuja a finalidade é a investigação do fato criminoso, sua
materialidade e autoria, visando fornecer elementos para que o titular da ação
penal acuse o autor do ilícito penal”.
9
III. POLÍCIA JUDICIÁRIA
De acordo com Julio Fabbrini Mirabete (4) “a Polícia é uma instituição de
direito público destinada a manter a paz pública e a segurança individual".
Divide-se da seguinte forma:
- Quanto ao lugar de atividade: terrestre, marítima ou aérea;
- Quanto à exteriorização: ostensiva e secreta;
-Quanto à organização: leiga e de carreira;
-Quanto ao objeto:
administrativa (ou de segurança): caráter preventivo; objetiva impedir a
prática de atos lesivos a bens individuais e coletivos; atua com grande
discricionariedade, independentemente de autorização judicial;
judiciária: função auxiliar à justiça (daí a designação); atua quando
os atos que a polícia administrativa pretendia impedir não foram evitados.
Possui a finalidade de apurar as infrações penais e suas respectivas
autorias, a fim de fornecer ao titular da ação penal elementos para propô-
Ia. Cabe a ela a consecução do primeiro momento da atividade repressiva
do Estado. Atribuída no âmbito estadual às polícias civis, dirigidas por
delegados de polícia de carreira, sem prejuízo de outras autoridades (CF,
art. 144, § 4º): na esfera federal, as atividades de polícia judiciária cabem,
com exclusividade à polícia federal.
10
IV. COMPETÊNCIA, ATRIBUIÇÃO,FINALIDADE E
CARACTERÍSTICAS
a) COMPETÊNCIA E ATRIBUÇÃO
Ao limitar as atividades da polícia judiciária o Art 4º do CPP cometia um
equívoco: onde se lia jurisdições, se devia ler circunscrições, que indica o
território dentro do qual as autoridades policiais tem atribuições, para
desempenhar suas atividades, de natureza eminentemente administrattivas.
Todavia, a Lei Nr 9403/95, corrigiu a imprecisão terminológica em que
tinha incidido o legislador. Assim, de acordo com a nova redação, a polícia
judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas
respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e de
sua autoria.
Salvo algumas exceções, a atribuição para presidir o IP é outorgada aos
delegados de polícia de carreira.
b) FINALIDADE
A finalidade genericamente falando é a apuração de fato que configure
infração penal e a respectiva autoria para servir de base à ação penal ou às
providências cautelares.
11c) CARACTERÍSTICAS
- Procedimento escrito: tendo em vista as finalidades do inquérito, não se
concebe a existência de uma investigação verbal. Por isso, todas as peças do
inquérito policial serão, num só processo, reduzidas a escrito ou datilografadas
e, neste caso, rubricadas pela autoridade (CPP, art. 9º).
- Sigiloso: a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade (CPP, art. 20). O
direito genérico de obter informações dos órgãos públicos, assegurado no art.
5º, XXXIII, da Constituição Federal, pode sofrer limitações por imperativos
ditados pela segurança da sociedade e do Estado, como salienta o próprio
texto normativo. O sigilo não se estende ao representante do Ministério
Público, nem à autoridade judiciária. No caso do advogado, pode consultar os
autos de inquérito, mas, caso seja decretado judicialmente o sigilo na
investigação, não poderá acompanhar a realização de atos procedimentais (Lei
n. 8.906/94, art. 7º, XIII a XV, e § 1º - Estatuto da OAB). Mencione-se que, nas
hipóteses em que é decretado o sigilo do inquérito, o Supremo Tribunal
Federal já decidiu que a sua oponibilidade ao defensor constituído esvaziaria
garantia constitucional do acusado (CF, art. 5º, LXIII), que lhe assegura,
quando preso, e pelo menos lhe faculta, quando solto, a assistência técnica do
advogado. Segundo o STF, o direito do indiciado tem por objeto as
informações já introduzidas nos autos do inquérito, não as relativas à
decretação e às vicissitudes da execução de diligências em curso.
Visando pôr fim a qualquer discussão sobre o tema. O STF editou Súmula
vinculante Nr 14 onde diz que que: "é direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados
em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária digam respeito ao exercício do direito de defesa".
12 Esta publicidade que não se afigura plena e restrita, uma vez que se
admite, apenas a consulta a elementos já colhidos, não se permitindo o acesso
às demais diligências em trâmite. Não é demais afirmar, ainda, que o sigilo no
inquérito policial deverá ser. observado como forma de garantia da intimidade
do investigado, resguardando-se, assim, seu estado de inocência.
- Oficialidade: o inquérito policial é uma atividade investigatória feita por órgão
oficiais, não podendo ficar a cargo do particular, ainda que a titularidade da
ação penal seja atribuída ao ofendido.
- Oficiosidade: Corolário do princípio da legalidade (ou obrigatoriedade) da
ação penal pública. Significa que a atividade das autoridades policiais
independe de qualquer espécie de provocação, sendo a instauração do
inquérito obrigatória diante da notícia de uma infração penal (CPP, art. 5º, I),
ressalvado os casos de ação penal pública condicionada e de ação penal
privada (CPP. art. 5º, §§ 4º e 5º).
- Autoritariedade: exigência expressa do texto Constitucional o inquérito é
presidido por uma autoridade pública, no caso, a autoridade policial (delegado
de polícia de carreira).
- Indisponibilidade: é indisponível, pois após sua instauração não pode ser
arquivado pela autoridade policial (CPP, art. 17).
13- Inquisitivo: caracteriza-se como inquisitivo o procedimento em que as
atividades persecutórias concentram-se nas mãos de uma única autoridade, a
qual, por isso, prescinde, para a sua atuação, da provocação de quem quer
que seja, podendo e devendo agir de ofício, empreendendo, com
discricionariedade, as atividades necessárias ao esclarecimento do crime e da
sua autoria. É característica oriunda dos princípios da obrigatoriedade e da
oficialidade da ação penal. É secreto e escrito, e não se aplicam os princípios
do contraditório e da ampla defesa, pois, se não há acusação, não se fala em
defesa. Evidenciam a natureza inquisitiva do procedimento o art. 107 do
Código de Processo Penal, proibindo arguição de suspeição das autoridades
policiais, e o art. 14, que permite à autoridade policial indeferir qualquer
diligência requerida pelo ofendido ou indiciado (exceto o exame de corpo de
delito, à vista do disposto no art. 184).
O único inquérito que admite o contraditório é o instaurado pela polícia
federal, a pedido do Ministro da Justiça, visando à expulsão de estrangeiro (Lei
n. 6.815/80, art. 70). O contraditório, aliás, neste caso, é obrigatório.
A respeito do assunto eis algumas jurisprudências:
- PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA
AMPLA DEFESA NO INQUÉRITO
POLICIAL. INEXISTÊNCIA: "( ... ) Os
princípios do contraditório e da ampla
defesa não se aplicam ao inquérito
policial, que é mero procedimento
administrativo de investigação
inquisitorial" (STJ, 5ª T., rel. Min. Gilson
Dipp, j. 27-5-2003, Df, 4 ago. 2003, p.
327).
14- REPRESENTAÇÃO E INQUÉRITO
CONTRA MAGISTRADO (STJ): "Se
quando surge envolvimento de
magistrado deve o inquérito ser remetido
ao Tribunal para prosseguir, com maior
razão não se deve inverter o sentido da
Lei remetendo à Polícia representação
do Ministério Público contra magistrado"
(JSTJ, 17/154).
15
V. JUIZADOS ESPECIAIS
A CF/88 autoriza sua criação pelos Estados (art. 98, I). De acordo com o
disposto nos arts. 69 e 77, § 1º, da Lei n. 9.099/95, o inquérito policial é
substituído por um simples boletim de ocorrência circunstanciado, lavrado pela
autoridade policial (delegado de polícia), chamado de "termo circunstanciado",
no qual constará uma narração sucinta dos fatos, bem como a indicação da
vítima, do autor do fato e das testemunhas, em número máximo de três,
seguindo em anexo um boletim médico ou prova equivalente, quando
necessário para comprovar a materialidade delitiva (dispensa-se o laudo de
exame de corpo de delito). Lavrado o termo, este será imediatamente
encaminhado ao Juizado de Pequenas Causas Criminais, com competência
para julgamento das infrações de menor potencial ofensivo (contravenções
penais e crimes apenados com no máximo dois anos, ainda que previsto
procedimento especial - art. 2º, parágrafo único, da Lei n. 10.259/2001 e art. 61
da Lei n. 9.099/95, com a redação determinada pela Lei n. 11.313, de 28-6-
2006). Não haverá cognição coercitiva (prisão em flagrante) quando o autor do
fato assumir o compromisso de comparecer ao Juizado, ficando proibida a
lavratura do auto de prisão em flagrante, independentemente do pagamento de
fiança (Lei n. 9.099/95, art. 69, parágrafo único).
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VI. VALOR PROBATÓRIO, VÍCIOS, DISPENSABILIDADE E
INCOMUNICABILIDADE
a) VALOR PROBATÓRIO
O inquérito policial tem conteúdo informativo, tendo por finalidade
fornecer ao Ministério Público ou ao ofendido, conforme a natureza da
infração, os elementos necessários para a propositura da ação penal. No
entanto tem valor probatório, embora relativo, haja visto que os elementos de
informação não são colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa
e, nem na presença de um juiz de direito.
b) VÍCIOS
Não sendo o inquérito policial ato de manifestação do Poder Jurisdi-
cional, mas mero procedimento informativo destinado à formação da “opinio
delicti’ do titular da ação penal, os vícios por acaso existentes nessa fase não
acarretam nulidades processuais, isto é, não atingem a fase seguinte da
persecução penal: a da ação penal. A irregularidade poderá, entretanto, gerar
a invalidade e a ineficácia do ato inquinado, v. g., do auto de prisão em
flagrante como peça coercitiva; do reconhecimento pessoal, da busca e
apreensão etc. Neste sentido a jurisprudência diz o seguinte:
INQUÉRITO POLICIAL. NULIDADES: "A
jurisprudência dos Tribunais Superiores já
assentou o entendimento no sentido de
que, enquanto peça meramente
informativa, eventuais nulidades que
estejam a gravar o inquérito policial em
17nada repercutem no processo do réu,
momento no qual, afirme-se, será
renovado todo o conjunto da prova" (STJ,
6ª T., RHC 11.600/ RS, rel. Min. Hamilton
Carvalhido, j. 13-11-2001, Df, 1º set. 2003).
c) DISPENSABILIDADE
O inquérito policial não é fase obrigatória da persecução penal, podendo
ser dispensado caso o Ministério Público ou o ofendido já disponha de
suficientes elementos para a propositura da ação penal. No entanto, o titular da
ação penal pode abrir mão do inquérito policial, mas não pode eximir-se de
demonstrar a verossimilhança da acusação, ou seja, a justa causa da
imputação, sob pena de ver rejeitada a peça inicial. Não se concebe que a
acusação careça de um mínimo de elementos de convicção. Neste sentido os
seguintes julgados:
INQUÉRITO. DISPENSABILIDADE (STF):
"Não é essencial ao oferecimento da
denúncia a instauração de inquérito
policial, desde que a peça acusatória
esteja sustentada por documentos
suficientes à caracterização da
materialidade do crime e de indícios
suficientes da autoria" (RTf, 76/741).
18INQUÉRITO DISPENSABILIDADE (STJ): "É
imprópria a alegação de inépcia da exordial
acusatória, sob o fundamento de que não
estaria firmada em procedimento
investigatório que indicasse a participação
do paciente nos atos delituosos, se
demonstrado o elo entre as condutas dos
denunciados, inclusive em relação ao
paciente, havendo a descrição dos atos
praticados por cada um, o que resultou na
acusação pela prática dos delitos de
receptação e formação de Quadrilha. O
Órgão Ministerial não é vinculado à
existência do procedimento investigatório
policial - o qual pode ser eventualmente
dispensado para a propositura da ação
penal" (STJ, 5ªT., RHC 12.308/ES, rel. Min.
Gilson Dipp,j. 21-2-2002, tu, 8 abro 2002, p.
234).
d) INCOMUNICABILIDADE
Destina-se a impedir que a comunicação do preso com terceiros venha a
prejudicar a apuração dos fatos, podendo ser imposta quando o interesse da
sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. O art. 21 do Código de
Processo Penal prevê que a incomunicabilidade do preso não excederá de três
dias e será decretada por despacho fundamentado do juiz, a requerimento da
19autoridade policial ou do órgão do Ministério Público, respeitadas as
prerrogativas do advogado. Para muitos doutrinadores, a incomunicabilidade
do preso foi proibida pela nova ordem constitucional, que a vedou durante
estado de defesa (CF, art. 136, § 3º, IV). Ora, se não se admite a incomu-
nicabilidade durante um estado de exceção, o que não dizer da imposta em
virtude de mero inquérito policial. Também o art. 5º, LXII e LXIII, do mesmo
texto teria revogado o dispositivo infraconstitucional, já que a incomu-
nicabilidade tomaria as garantias ali consagradas inócuas. Em sentido con-
trário, Damásio E. de Jesus e Vicente Greco Filho. Vale ressaltar que a
incomunicabilidade, de qualquer forma, não se estende jamais ao advogado
(Estatuto da OAB, art. 7º, li).
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VII. DA “NOTITIA CRIMINIS” AO ENCERRAMENTO DO
INQUÉRITO
a) NOTTITIA CRIMINIS E DELATIO CRIMINIS
Dá-se o nome de notitia criminis (notícia do crime) ao conhecimento
espontâneo ou provocado, por parte da autoridade policial, de um fato apa-
rentemente criminoso. É com base nesse conhecimento que a autoridade dá
início às investigações.
- Notitia criminis de cognição direta ou imediata: também chamada de
notitia criminis espontânea ou inqualificada, ocorre quando a autoridade policial
toma conhecimento direto do fato infringente da norma por meio de suas
atividades rotineiras, de jornais, da investigação feita pela própria polícia
judiciária, por comunicação feita pela polícia preventiva o tensiva, pela
descoberta ocasional do corpo do delito, por meio de denúncia anônima etc. A
delação apócrifa (anônima) é também chamada de notícia inqualificada,
recebendo, portanto, a mesma designação do gênero ao qual pertence.
- Notitia criminis de cognição indireta ou mediata: também chamada de
notitia criminis provocada ou qualificada, ocorre quando a autoridade policial
toma conhecimento por meio de algum ato jurídico de comunicação formal do
delito, como, por exemplo, a delatio criminis - delação (CPP, art. 5º, lI, e §§ 1 º,
3º e 5º), a requisição da autoridade judiciária, do Ministério Público (CPP, art.
5º, lI) ou do Ministro da Justiça (CP, arts. 7º, § 3º, b, e 141, I, c/c o parágrafo
único do art. 145), e a representação do ofendido (CPP, art. 5º, § 4º).
- Notitia criminis de cognição coercitiva: ocorre no caso de prisão em
flagrante, em que a notícia do crime se dá com a apresentação do autor (cf.
CPP, art. 302 e incisos). É modo de instauração comum a qualquer espécie de
21infração, seja de ação pública condicionada ou incondicionada, seja de ação
penal reservada à iniciativa privada. Por isso, houve por bem o legislador tratar
dessa espécie de cognição em dispositivo legal autônomo (CPP, art. 8º).
- Delatio criminis: é a comunicação de um crime feita pela vítima ou
qualquer do povo. A doutrina distingue entre a delação simples, consistente no
mero aviso da ocorrência de um crime, sem qualquer solicitação (é uma
simples comunicação), e a delação postulatória, em que se dá notícia do fato e
se pede a instauração da persecução penal (o caso mais comum de delação
postulatória é a representação do ofendido, na ação penal pública condicio-
nada). O requerimento do ofendido ou de seu representante legal deverá
conter, sempre que possível: a narração do fato com todas as circunstâncias; a
individualização do suspeito ou a indicação de seus sinais característicos; a
exposição dos motivos da suspeição; a indicação de testemunhas e outros
meios de prova (CPP, art. 5º, Il, e § lº e alíneas). Caso a autoridade policial
indefira a instauração de inquérito, caberá recurso ao Secretário de Estado dos
Negócios da Segurança Pública ou ao Delegado-Geral de Polícia (CPP, art. 52,
§ 2º). Se o indeferimento se der no âmbito da Polícia Federal, caberá recurso
para a Superintendência desse órgão. Nos casos de ação penal pública
condicionada, o requerimento assume a forma de autorização para o início da
persecução penal, e recebe o nome de representação (cf. tópico 10.13.2). Na
ação penal exclusivamente privada, o inquérito não pode ser iniciado sem a
solicitação de quem tenha qualidade para intentá-Ia, de acordo com o que
dispõe o art. 5º, § 5º, do CPP (cf. tópico 1O.13.3).Aléin do ofendido, qualquer
do povo, ao tomar conhecimento da prática de alguma infração penal em que
caiba ação pública incondicionada, poderá comunicá-Ia, verbalmente ou por
escrito, à autoridade policial, e esta, verificando a procedência das
informações, mandará instaurar o inquérito (CPP, art. 5º, § 3º). A delação
anônima tnotitia criminis inqualificada) não deve ser repelida de plano, sendo
incorreto considerá-Ia sempre inválida; contudo, requer cautela redobrada por
parte da autoridade policial, a qual deverá, antes de tudo, investigar a
verossimilhança das informações. Há entendimento minoritário sustentando a
22inconstitucionalidade do inquérito instaurado a partir de comunicação apócrifa,
uma vez que o art. 5º, IV, da Constituição Federal veda o anonimato na
manifestação do pensamento (STJ, RSTJ, 12/417).
B) PEÇAS INAUGURAIS DO IP
- portaria: quando instaurado ex officio (ação penal pública incon-
dicionada);
- auto de prisão em flagrante (qualquer espécie de infração penal);
- requerimento do ofendido ou de seu representante (ação penal privada
e ação penal pública incondicionada. Quando se tratar de ação penal pública
condicionada à representação, o inquérito não começará por requerimento do
ofendido, pois tal requerimento será recebido como representação);
- requisição do Ministério Público ou da autoridade judiciária (ação penal
pública condicionada - quando acompanhada da representação - e
incondicionada);
- representação do ofendido ou de seu representante legal, ou requisição
do ministro da justiça (ação penal pública condicionada).
C) PROVIDÊNCIAS
Embora o inquérito policial seja um procedimento de difícil ritualização,
porquanto não tenha uma ordem prefixada para a prática dos atos, o art. 6º do
Código de Processo Penal indica algumas providências que, de regra, deverão
ser tomadas pela autoridade policial para a elucidação do crime e da sua
autoria. De início, se possível e conveniente, a autoridade policial deveria di-
rigir-se ao local, providenciando para que se não alterassem o estado e
conservação das coisas, enquanto necessário. Com a nova redação do art. 6º,
I, dada pela Lei n. 8.862, de 28 de março de 1994, a autoridade policial deverá
dirigir-se sempre ao local do crime - e não somente "quando possível" - e
23preservará o estado e conservação das coisas "até a chegada dos peritos" - e
não apenas "enquanto necessário". A regra tem correspondência no art. 169
do Código de Processo Penal, que prescreve: "Para o efeito de exame do local
onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará
imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos
peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou
esquemas elucidativos. Parágrafo único: Os peritos registrarão, no laudo, as
alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequências
dessas alterações na dinâmica dos fatos".
Em casos de acidentes de trânsito, temos a exceção à regra: a autoridade
ou o agente policial que primeiro tomar conhecimento do fato poderá
autorizar, independentemente de exame do local, a imediata remoção das
pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos envolvidos, se
estiverem na via pública prejudicando o tráfego (Lei n. 5.970/73, art. 1 º).
Deve também apreender os instrumentos e todos os objetos que tiverem
relação com o fato, "após liberados pelos peritos criminais" (cf. Lei n.
8.862/94), fazendo-os acompanhar os autos do inquérito (CPP, art. 11), e
colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias. Os instrumentos empregados na prática da infração serão
periciados, a fim de se lhes verificar a natureza e a eficiência (CPP, art. 175).
Perder-se-ão em favor da União, respeitado o direito do lesado ou do ter-
ceiro de boa-fé, os instrumentos do crime, desde que consistam em coisas
cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito (CP, art.
91, lI, a). Após, serão inutilizados ou recolhidos a museu criminal, se houver
interesse na sua conservação (CPP, art. 124).
A busca e a apreensão, de que fala o art. 6º, lI, do Código de Processo
Penal, poderão ser efetuadas: no local do crime; em domicílio e na própria
pessoa.
A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou havendo
fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
24instrumentos que guardem relação com o crime, ou quando efetuada por
ocasião da busca domiciliar (CPP, art. 244).
O ofendido e as testemunhas podem ser conduzidos coercitivamente
sempre que deixarem, sem justificativa, de atender a intimações da autoridade
policial (CPP, arts. 201, parágrafo único, e 218). Quanto ao ofendido, o
ordenamento autoriza, além da condução coercitiva, a sua busca e apreensão
(CPP, art. 240, § lQ, g). De acordo com o art. 219 do Código de Processo
Penal, aplicável por analogia à primeira fase da persecução, a testemunha
faltosa poderá responder, ainda, por crime de desobediência.
Na hipótese de o ofendido, ou de a testemunha, vir a ser um membro do
Ministério Público ou da Magistratura, a autoridade deverá, quando da oitiva,
observar o disposto nos arts. 40, I, da Lei n. 8.625/93, e 33, I, da Lei
Complementar n. 35/79, segundo os quais os membros dessas instituições
gozam da prerrogativa de ser ouvidos, em qualquer processo ou inquérito, em
dia, hora e local previamente ajustados com a autoridade competente.
Deverá ser determinada a realização do exame de corpo de delito, sempre
que a infração tiver deixado vestígios, ou de quaisquer outras perícias que se
mostrarem necessárias à elucidação do ocorrido (cf. arts. 158 a 184 do CPP).
Sobre isso falaremos mais adiante, quando tratarmos de prova pericial.
A reprodução simulada dos fatos (reconstituição do crime) poderá ser feita,
contanto que não atente contra a moralidade ou a ordem pública (CPP, art. 7Q).
O indiciado poderá ser forçado a comparecer (CPP, art. 260), mas não a
participar da reconstituição, prerrogativa que lhe é garantida pelo direito ao
silêncio e seu corolário, o princípio de que ninguém está obrigado a fornecer
prova contra si (CF, art. 5Q, LXIII). Qualquer ato destinado a compeli-Ia a
integrar a reprodução simulada do crime configura atentado ao privilégio da
não incrirninação e possibilita a invalidação total dessa prova, por meio de
habeas corpus (nesse sentido: STF, RTl, 142/855).
No caso de violência doméstica ou familiar contra a mulher, o delegado de
polícia deverá adotar algumas providências específicas. Com efeito, tendo em
25vista o disposto no § 82 do art. 226 da Constituição Federal, na Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, na
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher e em outros tratados internacionais ratificados pela República
Federativa do Brasil (cf. art. 1 Q), foi editada a Lei n. 11.340, de 7 de agosto de
2006, a qual: (a) criou mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica
e familiar contra a mulher; (b) dispôs sobre a criação dos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher; (c) estabeleceu medidas de assistência
e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
Ao instaurar o inquérito policial, a autoridade policial deverá tomar todas as
providências e procedimentos especificados na Lei n. 11.340/2006.
D) INDICIAMENTO
É a imputação a alguém, no inquérito policial, da prática do ilícito penal,
sempre que houver razoáveis indícios de sua autoria. É a declaração do, até
então, mero suspeito como sendo o provável autor do fato infringente da norma
penal. Deve (ou deveria) resultar da concreta convergência de sinais que atri-
buam a provável autoria do crime a determinado, ou a determinados, suspeitos.
Com o indiciamento, todas as investigações passam a se concentrar sobre a
pessoa do indiciado. O indiciado deve ser interrogado pela autoridade policial,
que poderá, para tanto, conduzi-lo coercitivamente à sua presença, no caso de
descumprimento injustificado de intimação (CPP, art. 260). Deverão ser
observados, no interrogatório policial, os mesmos preceitos norteadores do
interrogatório a ser realizado emjuízo (CPP, arts. 185 a 196), anotando-se que
o indiciado não estará obrigado a responder às perguntas que lhe forem feitas,
pois tem o direito constitucional de permanecer calado (CF, art. 5º, LXIII), sem
que dessa opção se possa extrair qualquer presunção que o desfavoreça.
26A autoridade policial não está obrigada a providenciar para o indiciado
advogado legalmente habilitado com o fim de acompanhar o seu interrogatório,
pois o que a Constituição Federal quis, em seu art. 5º, LXIII, foi simplesmente
abrir a possibilidade para que ele, querendo, entre em contato com seu
advogado". Do mesmo modo, o delegado de polícia não é obrigado a intimar o
defensor técnico para assistir ao ato, inexistindo qualquer vício no
interrogatório realizado sem a sua presença.
O termo de interrogatório deverá ser assinado pela autoridade policial, pelo
escrivão, pelo interrogado e por duas testemunhas que hajam presenciado a
leitura (CPP, art. 6º, V). Se o interrogado não quiser, não puder ou não souber
assinar, tal circunstância deverá ser consignada no termo (CPP, art. 195,
parágrafo único).
Se o suspeito da prática da infração penal for um membro do Ministério
Público, a autoridade policial não poderá indiciá-lo. Deverá, sob pena de
responsabilidade, encaminhar imediatamente os autos do inquérito ao Pro-
curador-Geral de justiça, a quem caberá prosseguir nas investigações (Lei n.
8.625/93). Se o suspeito for membro integrante do Ministério Público da União,
os autos do inquérito deverão ser enviados ao Procurador-Geral da República
(art. 18, parágrafo único, da LC n. 75/93).
A autoridade policial deve proceder à identificação do indiciado pelo
processo datiloscópico, salvo se ele já tiver sido civilmente identificado. Vale
notar que, na hipótese de prisão em flagrante, a garantia de assistência do
advogado passou a ter plena aplicabilidade com o advento da Lei n. 11.449/07,
pois a autoridade policial estará obrigada, no prazo de 24 horas, após a prisão,
caso o autuado não informe o nome de seu advogado, a encaminhar cópia
integral do auto de prisão em flagrante para a Defensoria Pública (art. 306, § 1
º, 2ª parte). Em homenagem ao princípio do contraditório e da ampla defesa, a
Lei procurou proteger aqueles que, por ausência de recursos financeiros, não
27têm condições de arcar com os honorários de um advogado que lhes possibilite
imediata assistência jurídica.
Em relação à identificação do preso a Sumula 568 do STF estabeleceu
que:
"A identificação criminal não constitui
constrangimento ilegal, ainda que o
indiciado já tenha sido identificado
civilmente".
No entanto a CF/88 assim dispôs: "O civilmente identificado não será
submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei". Com
isso, passou a prevalecer o entendimento de que, com a nova regulamentação
da matéria, a autoridade policial não pode mais submeter pessoa civilmente
identificada, e portadora de carteira de identidade civil, ao processo de
identificação criminal.
A norma constitucional em questão é de eficácia contida, uma vez que
estabelece um princípio geral, o qual é passível de ser reduzido por meio de
dispositivo inferior. Com efeito, embora a Constituição assegure que o ci-
vilmente identificado não será submetido à identificação criminal, ressalva' a
possibilidade de o legislador infraconstitucional estabelecer algumas hipóteses
em que até mesmo o portador da cédula de identidade civil esteja obrigado a
submeter-se à identificação criminal. E tais hipóteses já foram estabelecidas.
A Lei do Crime Organizado (Lei n. 9.034/95), em seu art. 5º, preceituou: "A
identificação criminal de pessoas envolvidas com a ação praticada por
organizações criminosas será realizada independentemente da identificação
civil".
Posteriormente, a Lei n. 10.054, de 7 de dezembro de 2000, passou
também a disciplinar a identificação criminal do civilmente identificado,
surgindo, com isso, um precedente do STJ com o seguinte teor:
28"O art. 3Q, caput e incisos, da Lei n.
10.054/2000 enumerou, deforma incisiva, os
casos nos quais O civilmente identificado
deve, necessariamente, sujeitar-se à
identificação criminal, não constando, entre
eles, a hipótese em que o acusado se
envolve com a ação praticada por
organizações criminosas. Com efeito,
restou revogado o preceito contido no art.
Y da Lei n. 9.034/95, o qual exige que a
identificação criminal de pessoas
envolvidas com o crime organizado seja
realizada independentemente da existência
de identificação civil (STJ, 5ª T., RHC 2003,
DI, 10 novo 2003, p. 197).
A Lei n. 10.054/00, porém, acabou por ser revogada pela Lei n. 12.037, de
1º de outubro de 2009, a qual passou a regulamentar o art. 5º, Lvlfl, da
Constituição Federal.
O novo Diploma Legal disciplinou no art. 2º as formas em que será
atestada a identificação civil: (I) carteira de identidade; (II) carteira de trabalho;
(1II) carteira profissional; (IV) passaporte; (V) carteira de identificação
funcional; (VI) outro documento público que permita a identificação do
indiciado. E, ainda, dispôs que, para as finalidades da Lei, equiparam-se aos
documentos de identificação civis os documentos de identificação militares (cf.
parágrafo único).
O art. 3º da aludida Lei previu que, embora apresentado documento de
identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando: (I) o documento
apresentar rasura ou tiver indício de falsificação; (II) o documento apresentado
for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado; (III) o indiciado portar
documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si; (IV)
29a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo
despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou
mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da
defesa; (V) constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes
qualificações; (VI) o estado de conservação ou a distância temporal ou da
localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a completa
identificação dos caracteres essenciais.
Dessa forma, ao contrário do antigo Diploma legal, não há mais qualquer
menção à identificação criminal no caso de indiciamento ou acusação por
homicídio doloso, crime contra o patrimônio mediante violência ou grave
ameaça, crime de receptação qualificada, crimes contra a liberdade sexual e
falsificação de documento público. Assim, o sujeito não mais será submetido à
identificação criminal apenas pelo fato de estar sendo indiciado por este ou
aquele crime, sem qualquer circunstância que justifique a cautela. No entanto,
a Lei, de outro lado, no inciso IV possibilitou que, diante da prática de qualquer
delito, a autoridade judicial em despacho decida acerca da essencialidade da
identificação criminal, mediante representação da autoridade policial, Ministério
Público, defesa ou de ofício.
Recusando-se à identificação, nas hipóteses legais, o indiciado será
conduzido coercitivamente à presença da autoridade (CPP, art. 260), podendo,
ainda, responder por crime de desobediência.
Finalmente, dentre as providências a serem tomadas pela autoridade
policial quando do indiciamento, deverá, ainda, ser juntada aos autos a sua
folha de antecedentes, averiguada a sua vida pregressa e, se a autoridade
julgar conveniente, procedida a identificação mediante tomada fotográfica, pois,
como já assinalado, a identificação criminal compreende a datiloscópica
(impressões digitais) e a fotográfica (art. 5Q da Lei n. 12.037/2009). As
providências do inciso IX do art. 6Q do Código de Processo Penal assumem
especial relevância no momento da prol ação da sentença, pois fornecem ao
magistrado os elementos necessários à individualização da pena (CF, art. 5Q,
XLVI; CP, art. 59).
30E) ENCERRAMENTO
Concluídas as investigações, a autoridade policial deve fazer minucioso
relatório do que tiver sido apurado no inquérito policial (Art 10 CPP), sem,
contudo, expender opiniões, julgamentos ou qualquer juízo de valor, devendo,
ainda, indicar as testemunhas que não foram ouvidas (Art. 10, § 2º), bem como
as diligências não realizadas. Deverá, ainda, a autoridade justificar, em
despacho fundamentado, as razões que a levaram à classificação legal do fato,
mencionando, concretamente, as circunstâncias, sem prejuízo de posterior
alteração pelo Ministério Público, o qual não estará, evidentemente, adstrito a
essa classificação. Encerrado o inquérito e feito o relatório, os autos serão
remetidos ao juiz competente, acompanhados dos instrumentos do crime dos
objetos que interessarem à prova (Art 11 CPP), oficiando a autoridade, ao
Instituto de Identificação e Estatística, mencionando o juízo a que tiverem sido
distribuídos e os dados relativos à infração e ao indiciado (Art 23 CPP).
Do juízo, os autos devem ser remetidos ao órgão do Ministério Público,
para que este adote as medidas cabíveis.
Convém mencionar que, em agosto de 2006, foi publicada a nova Lei de
Drogas (Lei Nr 11.343/06) e que acabou por revogar expressamente as Leis Nr
6.368/76 e Nr 10.40912002, que tratavam do tema. De acordo com o seu Art
52, findo o prazo para a conclusão do inquérito policial, a autoridade de polícia
judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:
"I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que
a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da
substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se
desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a
qualificação e os antecedentes do agente; ou II - requererá sua devolução para
a realização de diligências necessárias. Parágrafo único. A remessa dos autos
far-se-á sem prejuízo de diligências complementares: I - necessárias ou úteis à
plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo
competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento; II -
31necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja titular
o agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser
encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de
instrução e julgamento". Contudo, de acordo com o art. 48, § P, da referida lei,
"o agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se
houver concurso com os crimes nós arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e
julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei n. 9.099, de 26 de setembro
de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais". Nesse caso, não
há que falar na instauração de inquérito policial, devendo ser lavrado termo
circunstanciado pela autoridade policial.
32
VIII. PRAZOS E ARQUIVAMENTO DO IP
Quando o indiciado estiver em liberdade, a autoridade policial deverá
concluir as investigações no prazo de trinta dias, contados a partir do rece-
bimento da notitia criminis de acordo com o Art 10 do CPP. Nesta hipótese, isto
é, quando o sujeito estiver solto, o § 3º do mesmo artigo permite a prorrogação
do prazo pelo juiz sempre que o inquérito não estiver concluído dentro do prazo
legal, desde que o caso seja de difícil elucidação. Não obstante a omissão do
Código de Processo Penal, o juiz, antes de fazê-lo, deverá ouvir o titular da
ação penal, o qual poderá, se concluir pela presença de suficientes elementos
de convicção, exercer desde logo o direito de ação, ou, então, propor novas
providências. Findo o inquérito, pode também o Ministério Público devolver os
autos para novas diligências, que entender imprescindíveis; a regra deve ser
aplicada por analogia, ao ofendido, sempre que se tratar de ação de sua
iniciativa.
Caso o juiz entenda que as diligências complementares são desneces-
sárias, não pode indeferir a volta dos autos à polícia, pois estaria incorrendo
em error in procedendo, e ficaria sujeito ao recurso de correição parcial (Dec.-
Lei Nr 3/69, arts. 93 a 96). O procedimento correto, neste caso, é o previsto no
art. 28 do CPP, aplicável por analogia à espécie: o juiz deve remeter os autos
ao procurador-geral de justiça, para que este insista na diligência ou nomeie,
desde logo, um outro promotor para oferecer a denúncia. Obviamente, esta
regra não poderá estender-se ao titular da ação privada. Aliás, não há qualquer
motivo para que o juiz indefira o pedido de retomo dos autos à Delegacia de
origem para novas diligências, quando a solicitação for feita pelo ofendido.
Tratando-se de ação penal pública, o juiz exerce, nesse caso (Art. 16) e no de
pedido de arquivamento (Art. 28), uma função anormal: a de fiscal do princípio
da obrigatoriedade da ação penal, o qual, como já vimos, não informa a ação
de iniciativa privada.
33Se o indiciado estiver preso, o prazo para a conclusão do inquérito é de dez
dias, contados a partir do dia seguinte à data da efetivação da prisão, dada a
sua natureza processual. Tal prazo, em regra, é improrrogável, todavia não
configura constrangimento ilegal a demora razoável na conclusão do
procedimento investigatório, tendo em vista a necessidade de diligências
imprescindíveis ou em razão do grande número de indiciados.
No caso de ser decretada a prisão temporária (Leis n. 7.960/90 e 8.072/90,
Art. 2º, § 4º), o tempo de prisão será acrescido ao prazo de encerramento do
inquérito, de modo que, além do período de prisão temporária, a autoridade
policial ainda terá mais dez dias para concluir as investigações. Terminado o
inquérito policial, eventual devolução para diligências complementares não
provocará o relaxamento da prisão, se a denúncia for oferecida dentro do
prazo de cinco dias, contados da data em que o órgão do Ministério Público
receber os autos do inquérito policial. Ultrapassado o prazo, o constrangimento
à liberdade do indiciado passa a ser ilegal, e poderá ser coibido pela via do
habeas corpus, com fundamento no art. 648, lI, do CPP.
O Ministério Público pode requisitar diretamente à autoridade policial as
diligências faltantes. Tratando-se de inquérito instaurado a requerimento do
ofendido para a apuração de crime de ação privada, uma vez concluídas as
investigações, os autos serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão
o impulso de quem de direito.
A) PRAZOS ESPECIAIS
A regra geral do CPP é excepcionada em algumas leis especiais, que,
tendo em vista a natureza da infração, fixam prazos especiais para a
conclusão do inquérito policial:
- Lei Nr 1.521/51: o prazo, estando o indiciado preso ou não, é de dez dias
(art. 10, § 12). São os casos de crimes contra a economia popular.
34- Lei Nr 11.343/06: a nova Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006), revogou
expressamente as Leis n. 6.368/76 e n. 10.409/2002, que tratavam do tema (cf.
art. 75). De acordo com o art. 51, caput, da nova lei: "o inquérito policial será
concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90
(noventa) dias, quando solto". Conforme o parágrafo único, "os prazos a que se
refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público,
mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária". Ressalve-se
que, tratando-se de conduta prevista no art. 28 da nova lei, não se imporá
prisão.
- Lei Nr 5.010/66: o prazo, estando o indiciado preso, é de quinze dias,
admitindo-se a prorrogação por mais quinze dias, a pedido, devidamente
fundamentado, da autoridade policial e deferido pelo juiz. Estando solto, o
prazo será de trinta dias.
B) CONTAGEM DO PRAZO
A regra é a do Art. 798, § 1 º, do CPP, já que se trata de prazo
processual. Assim, despreza-se, na contagem, o dia inicial (termo a quo),
incluindo-se o dia final (termo ad quem). De acordo com o mestre Julio Fabbrini
Mirabete (3) “Não se aplica a regra segundo a qual a contagem do prazo cujo
termo a quo cai na sexta inicia-se somente no primeiro dia útil, porquanto na
polícia judiciária há expediente aos sábados, domingos e feriados, em tempo
integral, graças aos plantões e rodízios”. O prazo para o encerramento do
inquérito policial não pode ser contado de acordo com a regra do art. 10 do CP,
pois não tem natureza penal, já que o seu decurso em nada afetará o direito de
punir do Estado. Tal prazo só traz consequências para o processo, afinal a
prisão provisória não se impõe como satisfação do jus puniendi, mas por
conveniência processual. Integra o direito penal somente aquilo que cria,
extingue, aumenta ou diminui a pretensão punitiva estatal. Em contrapartida,
será considerado prazo processual aquele que acarretar alterações somente
35para o processo, sem repercussão quanto ao direito material. No caso da
prisão provisória, a restrição à liberdade não se dá em virtude de um aumento
da pretensão punitiva, mas de mera conveniência ou necessidade para o pro-
cesso, daí aplicarem-se as regras do Art. 798, § 1 º, do CPP. Com relação aos
assuntos acima a jurisprudência é a seguinte:
INDICIADO PRESO. EXCESSO DE PRAZO
(TJMT): "É ilegal a prisão do paciente preso
em flagrante delito cujo inquérito não tenha
sido concluído dentro do prazo de 10 dias
da instauração" (RT, 593/411).
RELATÓRIO. ALTERAÇÃO DA
CLASSIFICAÇÃO DO CRIME (TACrimSP):
"A classificação da infração penal pela
autoridade policial é sempre provisória e
não tem efeitos permanentes. Assim,
existindo elementos de convicção, pode ser
alterada, sem que se configure cons-
trangimento ilegal" (RT, 617/303).
RELATÓRIO. INOBSERVÂNCIA, PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO, DA CAPITULAÇÃO
DADA PELA AUTORIDADE POLICIAL: "( ... )
Para além da prescindibilidade do inquérito
policial em algumas hipóteses, cediço que o
órgão acusador, precisamente por ser o
dominus litis, em nada está adstrito ao
relatório da autoridade policial, podendo,
36destarte, sem que isso signifique violação
qualquer dos princípios constitucionais da
ampla defesa e do contraditório, alterar a
capitulação jurídica dada quando do
encerramento da fase inquisitorial
(Precedente da Corte). 3. Writ parcialmente
conhecido e denegado, nesta extensão"
(STJ, 6ª T., HC 19.743/SP, ReI. Min. Hamilton
Carvalhido, j. 11-6-2002, Df, 21 out. 2002, p.
402).
C) ARQUIVAMENTO
Tal providência só cabe ao juiz, a requerimento do Ministério PÚblico , que
é o exclusivo titular da ação penal pública (CF, Art. 129, I).
A autoridade policial, incumbida apenas de colher os elementos para a
formação do convencimento do titular da ação penal, não pode arquivar os
autos de inquérito, pois o ato envolve, necessariamente, a valoração do que foi
colhido. Faltando a justa causa, a autoridade policial pode (aliás, deve) deixar
de instaurar o inquérito, mas, uma vez feito, o arquivamento só se dá mediante
decisão judicial, provocada pelo Ministério Público, e de forma fundamentada,
em face do princípio da obrigatoriedade da ação penal. O juiz jamais poderá
determinar o arquivamento do inquérito, sem prévia manifestação do Ministério
Público (CF, Art. 129, I); se o fizer, da decisão caberá correição parcial.
Se o juiz discordar do pedido de arquivamento do representante minis-
terial, deverá remeter os autos ao procurador-geral de justiça, o qual poderá
oferecer denúncia, designar outro órgão do Ministério Público para fazê-lo, ou
insistir no arquivamento, quando, então, estará o juiz obrigado a atendê-lo.
37O despacho que arquivar o inquérito é irrecorrível, salvo nos casos de
crime contra a economia popular, onde cabe recurso oficial e no caso das
contravenções previstas nos arts. 58 e 60 da Lei 6259/44, quando caberá
recurso em sentido estrito.
Entendemos que o provimento do recurso não pode culminar com a
expedição de uma ordem ao promotor-requerente obrigando-o ao oferecimento
da denúncia, sob pena de oblíqua violação do Art. 129, I, da CF. Reformando a
decisão de primeiro grau, deve o tribunal remeter os autos ao Procurador-
Geral, aplicando-se, por analogia, o Art. 28 do CPP.
Convém notar que nos crimes cujo titular da ação penal seja o Ministério
Público Federal, discordando o juiz do pedido de arquivamento do inquérito
policial ou de peças de informação do representante ministerial, deverá
remeter os autos à Câmara de Coordenação e Revisão, exceto nos casos de
competência originária do Procurador-Geral.
É inadmissível o oferecimento de ação penal subsidiária da pública, no
caso de arquivamento, pois aquela só é cabível se houver inércia do órgão
ministerial (CF, art. 5º, LIX; CPP, art. 29).
Arquivado o inquérito por falta de provas, a autoridade policial poderá,
enquanto não se extinguir a punibilidade pela prescrição, proceder a novas
pesquisas, desde que surjam outras provas.
Com relação ao tópico os tribunais vêm se posicionando da seguinte
maneira:
ARQUIVAMENTO PELO JUIZ (TACrimSP):
"O inquérito policial, embora simples
informatio delicti, não pode ser arquivado
de ofício pelo juiz, pois é peça que interessa
precisamente ao órgão da acusação" (RT,
464/401).
38DESARQUIVAMENTO. "HABEAS
CORPUS" (STF): "Arquivamento. _ ovo
indiciamento requerido pelo Ministério
Público em relação ao mesmo delito,
fundado em novas provas. Material
probatório constituído unicamente de
elementos já versados no feito anterior.
Habeas corpus concedido para o
trancamento do segundo inquérito.
Aplicação da SúmuIa 524" (RT, 646/334)
.
ARQUIVAMENTO OBRIGATÓRIO PELO
JUIZ (TJMS): "Torna-se obrigatório o
arquivamento do inquérito policial
requerido pelo Ministério Público de 12
grau e ratificado pelo Procurador-Geral de
Justiça" (RT, 681/380).
AUSÊNCIA DE DESPACHO DE
ARQUIVAMENTO. AÇÃO PRIVADA
SUBSIDIÁRIA (STF): "O arquivamento de
representação de ofendido dirigida ao
Ministério Público depende de decisão
judicial a seu requerimento (do Ministério
Público). Sem essa decisão judicial, o
arquivamento (não judiciário) caracteriza
falta de denúncia no prazo legal e legitima
o ofendido ao oferecimento de queixa-
crime (ação penal privada subsidiária)"
(RT, 609/420).
39AÇÃO PRIVADA SUBSIDIÁRIA.
DESCABIMENTO QUANDO HÁ
ARQUIVAMENTO (STF): "Quando o
Ministério Público, não tendo ficado
inerte, requer, no prazo legal (art. 46 do
CPP), o arquivamento do inquérito ou da
representação não cabe a ação penal
subsidiária" (RT, 653/389).
ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO
POLICIAL. REABERTURA: "Arquivado o
inquérito ou as peças de informações a
requerimento do órgão do Ministério
Público, não pode a ação penal ser
iniciada sem novas provas. Novas provas
são aquelas que produzem alteração no
panorama probatório dentro do qual foi
concebido ou acolhido o pedido de
arquivamento, e não aquelas, apenas,
formalmente novas. Inteligência da Súmu-
la 524 do STF" (RSTJ, 67/17).
ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO
POLICIAL. SURGIMENTO DE NOVOS
ELEMENTOS DE PROVA. DEVOLUÇÃO
DOS AUTOS AO PROMOTOR.
OFERECIMENTO DA DENÚNCIA.
VIOLAÇÃO AO ARTIGO 28 DO CPP.
NULIDADE. INEXISTÊNCIA: "O Juiz, ao
receber os autos do Promotor com pedido
40de arquivamento do inquérito policial,
pode devolvê-los ao membro do 'Parquet'
para melhor análise do feito, em
consideração a novos elementos de
prova, possibilitando-lhe outra
oportunidade para a promoção da ação
penal. Inexistência de cominação de
nulidade. Recurso improvido" (STJ, 6ª T.,
RHC 14.048/RN, rel. Min. Paulo Gallotti, j.
10-6-2003, Df, 20 out. 2003, p. 299).
41
IX. O MINISTÉRIO PÚBLICO E AS INVESTIGAÇÕES
CRIMINAIS
No Brasil, a Lei Orgânica Nacional da Magistratura, Lei Complementar Nr
35/79, em seu art. 33, II e parágrafo, a Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público dos Estados, Lei Nr 8.625/93, em seu art. 41, II e parágrafo, e a Lei
Orgânica do Ministério Público da União, Lei Complementar Nr 75/93,
garantem às respectivas instituições e ao Poder Judiciário a presidência das
investigações envolvendo os seus membros. Nas demais hipóteses, ou seja,
nas infrações penais não cometidas por promotores e juízes, a questão é
polêmica.
A Lei Federal n. 8.625/93 (dos Ministérios Públicos estaduais), em seu art.
26, prevê a possibilidade de o Parquet requisitar informações, exames periciais
e documentos, promover inspeções e diligências investigatórias e notificar
pessoas para prestar depoimentos, podendo determinar a sua condução
coercitiva. A Lei Complementar Federal Nr 75/93 (do MP da União), em seu
Art. 8º, assegura expressamente o poder de realizar diretamente diligências
investigatórias. Na jurisprudência, porém, há divergência. A 2ª Turma do STF
posicionou-se pela impossibilidade de o Ministério Público investigar
diretamente no âmbito criminal, devendo limitar-se a requisitar tais
investigações da autoridade policial, de acordo com o que dispõe a
Constituição Federal, em seu Art. 144, §§ 1º e 4º (cf. RE 205.473-9, rel. Min.
Carlos Velloso, DJU, 19 mar 1999).
Já em sentido contrário, autorizando ao Ministério Público o desempenho
de atividades investigatórias na esfera penal: STF, 1ª T., HC 75.769, DJU, 28
novo 1997, p. 62220. Também autorizando essa interpretação, o Plenário do
STF, ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1.571/97, publicada no
DJU, 25 set. 1998 e no Informativo do STF, n. 64, entendeu que " pode o
Ministério Público proceder às investigações penais cabíveis, requisitando
informações e documentos para instruir seus procedimentos administrativos
42preparatórios da ação penal (CF, art. 129, VI)". Ainda nesse sentido: STF, ADIn
1517, Tribunal Pleno, j. 30-4-1997, Informativo do STF, n. 69 (cf. Ian Grosner,
Ministério Público, cit., p. 70-7).
Em maio de 2003, a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do Recurso Ordinário em Habeas Corpus n. 81-326- 7/DF, por
unanimidade, em acórdão relatado pelo Ministro Nelson Jobim, entendeu que o
Ministério Público não pode fazer investigação criminal, sob o argumento de
que "... o controle externo da polícia concedido ao Ministério Público pela
Constituição, foi regulamentado pela Resolução n. 52/97 do Conselho Superior
do Ministério Público Federal. Esses diplomas, no entanto, não lhes deferiram
poderes para instaurar inquérito policial. A Constituição Federal de 1988 dotou
o Ministério Público de poder de requisitar diligências investigatórias e a
instauração do inquérito policial. A norma constitucional não completou, porém,
a possibilidade de o mesmo realizar e presidir o inquérito policial. Não cabe,
portanto, aos seus membros inquirir diretamente pessoas suspeitas de autoria
de crime, mas sim requisitar diligências nesse sentido à autoridade competente
... ". A mesma acrescentou ainda que "a legitimidade histórica para a
condução do inquérito policial e a realização de diligências investigatórias é de
atribuição exclusiva da polícia".
A questão, no entanto, ainda está longe de ser pacificada e muita
polêmica está por vir. O STF estava enfrentando a questão, ao julgar o Habeas
Corpus impetrado pelo parlamentar Remi Trinta (PU AM), em um caso que
apura desvio de verbas do Ministério da Saúde. Dois ministros, Marco Aurélio
de Mello e Nelson Jobim, votaram pela impossibilidade, enquanto os Ministros
Carlos Brito, Joaquim Barbosa e Eros Roberto Grau entenderam pela
possibilidade. O julgamento havia sido suspenso em virtude de um pedido de
vista do Ministro Cezar Peluso. Ocorre, contudo, que o parlamentar não foi
reeleito, tendo perdido, assim, o foro por prerrogativa de função, restando
prejudicado o julgamento do HC pelo Plenário do STF.
43A discussão, no entanto, recomeçou em duas Ações Diretas de
Inconstitucionalidade propostas pela OAB (ADIn 3.836) e pela Associação dos
Delegados de Polícia - Adepol (ADIn 3.806), nas quais se contesta a
Resolução n. 1312006 do Conselho Nacional do Ministério Público, a qual
regulamentou a investigação criminal conduzida por membros do Ministério
Público. Dentro desse cenário, o Ministério Público surge como "instituição
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordemjurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis" (CF, art. 127).
As discussões em torno da crise do inquérito policial permitem a
proposição de análises acerca do papel do Ministério Público como instituição
capaz de garantir o devido processo legal a partir da fase do inquérito. O
Ministério Público no Brasil constitui-se em um dos órgãos previstos na
Constituição Federal de 1988 cujas "funções são essenciais à justiça", estando
ligado ao poder executivo.
Diante de um tema tão controverso os julgados a seguir mostram, ainda,
que as Cortes não pacificaram o assunto:
ATOS INVESTIGATÓRIOS PRATICADOS
PELO MINISTÉRIO PÚBLICO.
POSSIBILIDADE. TITULAR DA AÇÃO
PENAL E DISPENSABILIDADE DO
INQUÉRITO POLICIAL: "- Consoante
entendimento já adotado pelo Superior
Tribunal de Justiça, o Ministério Público
não está adstrito a requisitar diligências
investigatórias. Sendo o titular da ação
penal pública não está proibido de praticar
atos tendentes à elucidação de eventual
conduta delitiva, mormente quando há
44indícios do envolvimento no delito de
integrantes da própria polícia. ORDEM
DENEGADA" (STJ, 5ªT., HC 29. 160/SP, rel.
Min. Laurita Vaz,j. 9-9-2003, Df, 6 out. 2003,
p. 297).
PODER INVESTIGATIVO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO: "- A questão acerca da
possibilidade do Ministério Público
desenvolver atividade investigatória
objetivando colher elementos de prova que
subsidiem a instauração de futura ação
penal, é tema incontroverso perante esta eg.
Turma. Como se sabe, a Constituição
Federal, em seu art. 129, I, atribui,
privativamente, ao Ministério Público
promover a ação penal pública. Essa
atividade depende, para o seu efetivo
exercício, da colheita de elementos que
demonstrem a certeza da existência do
crime e indícios de que o denunciado é o
seu autor. Entender-se que a investigação
desses fatos é atribuição exclusiva da
polícia judiciária, seria incorrer-se em
impropriedade, já que o titular da Ação é o
Órgão Ministerial. Cabe, portanto, a este, o
exame da necessidade ou não de novas
colheitas de provas, uma vez que, tratando-
se o inquérito de peça meramente
informativa, pode o MP entendê-Ia
dispensável na medida em que detenha
informações suficientes para a propositura
45da ação penal. - Ora, se o inquérito é
dispensável, e assim o diz expressamente o
art. 39, § 5Q, do CPP, e se o Ministério
Público pode denunciar com base apenas
nos elementos que tem, nada há que
imponha a exclusividade às polícias para
investigar os fatos criminosos sujeitos à
ação penal pública. - A Lei Complementar n.
75/90, em seu art. 8Q, inciso IV, diz competir
ao Ministério Público, para o exercício das
suas atribuições institucionais, realizar
inspeções e diligências investigatórias.
Compete-lhe, ainda, notificar testemunhas
(inciso I), requisitar informações, exames,
perícias e documentos às autoridades da
Administração Pública direta e indireta
(inciso 11) e requisitar informações e do-
cumentos a entidades privadas (inciso IV). -
Ordem denegada" (STJ, 5ª T, HC 27.1l3!MG,
rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 17-6-2003, Df,
29 set. 2003, p. 293).
ARQUIVAMENTO REQUERIDO PELO
PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA.
"Inquérito e peças consubstanciadoras de
notitia criminis. Arquivamento requerido
pelo Procurador-Geral da República, que
não vislumbra a ocorrência de ilícito penal.
Ausência de formação da opinio delicti.
Irrecusabilidade desse pedido de
arquivamento. Decisão do Relator que
defere a postulação deduzida pelo Chefe do
46Ministério Público. Ato decisório
irrecorrível. Recurso não conhecido.
Arquivamento de Inquérito, a pedido do
Procurador-Geral da República, por
ausência de opinio delicti. Irrecorribilidade
da decisão que o defere. Requisitos que
condicionam a reabertura das investigações
penais. É irrecorrível a decisão que acolhe
pedido de arquivamento de inquérito
policial ou de peças consubstanciadoras de
notitia criminis (RT 422/316), quando
deduzido pelo Procurador-Geral da
República, motivado pelo fato de não dispor
de elementos que lhe possibilitem o
reconhecimento da existência de infração
penal, pois essa promoção - precisamente
por emanar do próprio Chefe do Ministério
Público - traduz providência de atendimento
irrecusável pelo Supremo Tribunal Federal,
ressalvada, no entanto, a possibilidade de
reabertura das investigações criminais
(CPP, art. 18 - Súmula 524 do STF), desde
que, havendo provas substancialmente
novas (RTJ 91/831 - RT 540/393 - RT
674/356, v.g.), a prescrição da pretensão
punitiva do Estado ainda não tenha
ocorrido. Doutrina. Precedentes. ( ... )" (STF,
Pleno, Pet. 2.820 AgRglRN, rel. Min. Celso
de Mello, j. 25-3-2004, DJ, 7 maio 2004, p. 7).
47
X. EXTINÇÃO OU REFORMULAÇÃO DO ATUAL SISTEMA,
DIANTE DA INEFICÁCIA DO INQUÉRITO POLICIAL NA
ELUCIDAÇÃO DOS DELITOS?
Atualmente, vive-se o que se pode chamar de crise do inquérito policial.
Os estudos mostram, no entanto, que a insatisfação com tal instituto não é
nada atual. Em 1924 o presidente da comissão redatora do anteprojeto que se
converteu no Código de Processo Penal para o Distrito Federal, Candido
Mendes, informava da preocupação com a fase preliminar e a necessidade de
restringir as funções da polícia aos seus verdadeiros fins: a vigilância, a
prevenção, a manutenção da ordem e auxílio a justiça. Em 1936, o anteprojeto
organizado pela comissão composta por Bento Faria, Plínio Casado e Gama
Cerqueira suprimia o inquérito policial e instituía o sistema da instrução judicial.
Tendo em vista a amplitude da crise do inquérito onde muitos falam
sobre a extinção do instituto, outros sugerem a alteração do órgão responsável,
é necessário, antes de qualquer proposta de mudança, entender o que é a
crise do inquérito policial e o que e a quem ela está prejudicando, além de se
entender o porque e como ela ocorre.
Embora a Constituição Federal defina que o controle do inquérito será
exercido pelo Ministério Público, isto de fato não ocorre da maneira como
deveria, pois o MP, como titular da ação penal deveria ter plena gerência,
participação e controle dos atos do inquérito, pois em sendo este ineficaz,
prejudicada está a ação penal e conseqüentemente a sociedade.
Em 14 de outubro de 2002, foi publicada uma matéria no jornal Folha de
São Paulo, no caderno Cotidiano que esclarece bem o que é a crise do
inquérito. Diz a reportagem que o Projeto Delegacia Legal que em 2001, deu
origem às delegacias sem carceragem e informatizadas no Rio de Janeiro, não
conseguiu alcançar dentre outros, o objetivo de aumentar a eficiência da
48investigação policial. Os índices mostram que na 5a DP, no centro, apenas em
35% dos inquéritos foi possível uma elucidação dos crimes. Isto porque
anteriormente o índice médio de elucidação era de aproximadamente 7%.
Levando-se em consideração os dados da reportagem de que as
Delegacias Legais respondem por 50% das ocorrências criminais no Estado do
Rio de Janeiro e de que menos de 40% dos casos são elucidados ainda que
sob a existência das delegacias legais, chega-se um dado capaz de chocar
qualquer cidadão, na medida que se constata que o que existe atualmente é
quase que completa impunidade. A situação é extremamente alarmante. Até
porque muitos dos crimes que não são de ação penal pública nem chegam a
virar inquérito, sendo arquivados ainda enquanto VPI.
A perplexidade vai além, quando se verifica que esses inquéritos que
são elucidados e remetidos à promotoria para a abertura da ação penal,
quando da sentença poucos são os processos que geram a condenação do
réu. Tal fato se dá porque apesar de muitas vezes estarem no inquérito as
provas necessárias à condenação, pois esclarecem o crime como um todo e
sua autoria; tal procedimento administrativo não pode e não é utilizado na fase
judicial, havendo exceção somente ao que se refere às provas irrepetíveis tais
quais as provas periciais, dentre elas o exame de corpo de delito. Os dados
mostram que apesar da melhora, no aproveitamento com a criação das
Delegacias Legais ainda não é esta a solução para a crise do inquérito policial.
O inquérito policial está impregnado de atos inquisitórios e por isso não
pode ser utilizado no sistema judicial acusatório que caracteriza-se pelo
contraditório e ampla defesa.
É indispensável o estudo das práticas policiais com a sua própria cultura
policial para compreender-se a cultura jurídica brasileira e a crise do inquérito
policial.
A atuação policial se dá em todas as classes sociais da sociedade desde
a mais baixa até a mais alta. Ocorre que o dia-a-dia policial é consumido pelo
49contato com a classe mais pobre da sociedade. Tal camada social está à
margem da sociedade seguindo suas próprias leis e costumes, que muitas ou
na maioria das vezes choca-se com os critérios legais definidos pela
sociedade.
O distanciamento entre o crime cometido pelas classes sociais mais
elevadas e os crimes cometidos pelas classes mais baixas se dá não pelo
crime em si, ou pela forma como cometido, mas pela banalização dele entre os
menos favorecidos como fruto de suas próprias leis e éticas sociais como
marginalizados pelo sistema hierarquizado. Decorre daí a necessidade policial
de se inserir neste submundo.
A polícia tem a função de prevenir e reprimir a criminalidade, nesta
oposição de funções, entre prever o futuro identificando a atuação de potencial
criminoso e prevenir a conduta; e a função de reprimir o crime praticado no
passado, inseridos numa oposição social de leis e realidades, todas abrangidas
em um único universo jurídico é que ela se perde, pois se deixa consumir por
regras e leis que estão à margem da sociedade, inserindo-se no rol do
submundo social justamente porque enxerga ser esta a única forma de atender
às necessidades jurídicas e sociais do mundo real, o que acaba por gerar uma
nova oposição. E enquanto todas as outras oposições são aceitas e
legitimadas pela sociedade, esta última, é por ela repelida não só socialmente
como juridicamente, ou seja, a tarefa policial está embutida em um
emaranhado social e jurídico que aos poucos deverá ser solucionado.
Diz-se que a polícia se insere no submundo social na medida em que se
utiliza de métodos discricionários, arbitrários, que constituem abuso de direito
no universo legal para poder atingir seus objetivos. Agem assim por
acreditarem que tais indivíduos devem ser tratados pela mesma "lei" que
"impõem". Ao agirem assim, utilizam-se de juízo de valor pessoal, de
preconceitos, racismo, etc. – questões muito arraigadas na sociedade legal.
A necessidade de fazer justiça com as próprias mãos trazidas pelo
descrédito no sistema judiciário gera a insegurança do sistema policial. Não só
50no sentido de aplicação da legalidade em si enquanto meio eficaz de se chegar
à verdade, mas também quanto ao medo que as pessoas inocentes tem da
policia pois esta está permeada de seus próprios valores que soam incoerentes
ao cidadão comum, de forma a fazer com que não cooperem como trabalho da
polícia. E não só isso, os réus que confessam a sua atuação em sede policial,
normalmente em juízo acusam a polícia de ter utilizado métodos ilegais e
principalmente a tortura física para fazer com que eles falassem.
A atuação da polícia é imediata enquanto a atuação do juiz somente
será futura. Desta forma, deve-se e muito questionar a atuação da polícia, a
especialização e a sua localização no ordenamento jurídico brasileiro. Já não é
tarde para que a polícia perceba a importância da sua função e papel no
ordenamento jurídico brasileiro enquanto investigadora, subindo um degrau na
hierarquia judicial, trabalhando lado-a-lado com o Ministério Público,
desenvolvendo unicamente a sua função específica e especializada de colheita
de provas, deixando a cargo do Ministério Público a administração e
conjugação de tais procedimentos na medida em que a ação penal por ele será
proposta. Deve-se ter cuidado para não interpretar o trabalho do Ministério
Público como investigador, longe disso, tal atividade pertence à polícia, mas
como participante de algo de lhe pertence e lhe servirá de base no futuro.
A questão do hiato entre as investigações da polícia e fiel cumprimento
de suas funções por parte do Ministério Público não é uma característica do
sistema brasileiro. Alguns países da Europa também enfrentam debates no
intuito de redefinir as funções e as atribuições do órgão acusador.
51
CONCLUSÃO
Pelo enquadramento que foi dado à questão, verifica-se que o presente estudo toca o ponto nevrálgico na gestão das polícias judiciárias, colocando à mostra, de forma oblíqua, a tradicional rivalidade entre agentes, delegados, e mais recente, o ministério público.
Por um lado agentes e o ministério público defendem a posição de que o atual modelo de investigação policial vem colocando às escâncaras sua ineficácia e morosidade, atributos que vem favorecendo a impunidade no país.
Do outro lado os delegados, respaldados pelo CPP e pela CF, defendem a sua sobrevivência alegando ser o inquérito Policial é a mola propulsora de todo o processo.
Conclui-se, portanto, que a solução para a superação da crise do atual sistema depende de uma reestruturação do inquérito, tendo em vista o controle externo do inquérito policial realizado pelo Ministério Público.
Ao discorrer as linhas do presente trabalho fica fácil de reconhecer que o sistema adotado em nosso país deixa muito a desejar quanto à eficácia e agilidade das investigações e, acredito eu, que o maior obstáculo para alcançar estes objetivos decorre da falta de maior integração não somente das categorias funcionais da Polícia Judiciária e do Ministério Público como também de seus integrantes, onde incluo também os membros do Poder Judiciário.
52
NOTAS
(1) CAPEZ, Fernando. Curso processo penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
19 p.
(1) TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 22. ed. São Paulo:
Saraiva, 2000. 1 v. 17 p.
(2) MIRABETE, Júlio Fabrini. Processo Penal. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2000. 35
p.
(3) MIRABETE, Júlio Fabrini. Processo Penal. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2000. 35
p.
53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AYRES, Fernando Arduini. Como produzir uma monografia. 7 ed. Rio de
Janeiro: Wark, 2008.
CAPEZ, Fernando. Curso processo penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense,
2009.
GOMES, Luiz Flávio. RT Mini códigos: código penal código de processo penal
constituição federal. 11 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
MIRABETE, Júlio Fabrini. Processo Penal. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2000.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 22. ed. São Paulo:
Saraiva, 2000. 1 v.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 2001.