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DIREITO PENAL www.fatodigital.com.br 1 HOMICÍDIO SIMPLES Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Preceito Primário: Matar: Eliminação da vida Lei 9.434/97 art. 3º (cessação da atividade encefálica) Alguém: Pessoa Humana Extrauterina após o início do parto Conceito: Eliminação da vida humana extrauterina provocada por outra pessoa. Sujeitos Ativo: Qualquer pessoa Passivo: Qualquer pessoa já nascida (extrauterina) Objeto Material: Pessoa (Título I dos crimes contra a PESSOA) Jurídico: Vida (Capítulo I dos crimes contra a VIDA) Elemento Subjetivo Dolo: Direto: o agente quis o resultado (quis matar) art. 18, I, 1ª parte, do CP. Eventual: o agente não quis, mas assumiu o risco de matar art. 18, I, 2ª parte do CP. Culpa: não quis o resultado e nem assumiu o risco de produzí-lo Imprudência Negligência Imperícia Iter Criminis Consumação: Trata-se de crime material, portanto, se consuma com a morte. (cessação da atividade encefálica) Tentativa: É possível, desde que: Tenha dolo (direto ou eventual) Tenha iniciado a execução O resultado não tenha ocorrido por circunstâncias alheias à vontade do agente OBS. 01: A tentativa pode ser Branca ou Cruenta (como aplicar a pena?) OBS. 02: A tentativa é diferente da desistência voluntária, arrependimento eficaz, pois nestes, o resultado morte não ocorre por circunstancias relativas à vontade do agente que voluntariamente não prossegue ou age para impedir o resultado. Preceito Secundário Reclusão de 06 à 20 anos HOMICÍDIO PRIVILEGIADO Caso de diminuição de pena § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. OBS.: Apesar do texto legal usar a expressão “pode” , na verdade é pacífico o entendimento de que, se reconhecido o privilégio (pelos jurados) a redução é obrigatória. (DIREITO SUBJETIVO DO RÉU) Refere-se a valor nobre, altruístico, que beneficia uma coletividade. Ex.: matar o traidor da nação/pátria; matar o traficante que chegou no calmo bairro e o transformou em uma campo de guerra Refere-se a valores pessoais, individuais, particulares do agente. Ex.: eutanásia, pai que mata o estuprador da filha, etc O art. 28 do CP, dispõe que a emoção não exclui o crime, contudo, no homicídio, se acompanhada dos outros requisitos, gera a redução da pena. Aqui exige-se uma fortíssima alteração de ânimo, ou seja, que fique perturbado, revoltado, descontrolado, “fora de si”. OBS.: Se for mera influência, não será causa de diminuição de pena, podendo ser apenas uma atenuante (art . 65, III, “c”, do CP). Aqui exige-se reação imediata, ou seja, enquanto ainda perdura a violenta emoção, ou seja, no mesmo contexto fático da provocação. Ex.: Se o agente chega em casa e flagra seu cônjuge na cama com outro e imediatamente saca a arma e atira. Contudo, também ainda estará no mesmo contexto, se ao flagrar aquela cena, ele retorna até o carro para pegar arma e volta para atirar. OBS. 01: É possível que a provocação tenha ocorrido há algum tempo, mas o agente só tenha ciência pouco antes do homicídio; OBS. 02: A demora na reação, deixando transcorrer lapso temporal considerável, pode excluir a causa de diminuição e, dependendo da situação, poderá configurar vingança. A injusta provocação pode ser realizado por diversos meios ou condutas incitantes (xingamentos, brincadeiras de mal gosto, injúrias, etc.). Injusta Provocação X Injusta Agressão (Privilégio) (Legítima Defesa) (Se presentes os demais requisitos de ambas) OBS.: Aquele que mata ao flagrar o cônjuge em adultério, de fato reage à injusta provocação da vítima (o adultério, apesar de não ser mais crime, ainda é considerado ilícito civil). Outrora essa situação já foi considerada legítima defesa da honra, o que não é mais admitido.

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DIREITO PENAL

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1

HOMICÍDIO SIMPLES

Art. 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Preceito Primário:

Matar: Eliminação da vida Lei 9.434/97 – art. 3º (cessação da atividade encefálica)

Alguém: Pessoa Humana

Extrauterina – após o início do parto

Conceito: Eliminação da vida humana extrauterina provocada por outra pessoa.

Sujeitos

Ativo: Qualquer pessoa

Passivo: Qualquer pessoa já nascida (extrauterina)

Objeto

Material: Pessoa (Título I – dos crimes contra a

PESSOA)

Jurídico: Vida (Capítulo I – dos crimes contra a VIDA)

Elemento Subjetivo

Dolo:

Direto: o agente quis o resultado (quis matar) – art. 18, I, 1ª parte, do CP.

Eventual: o agente não quis, mas assumiu o risco de matar – art. 18, I, 2ª parte do CP.

Culpa: não quis o resultado e nem assumiu o risco de produzí-lo

Imprudência

Negligência

Imperícia

Iter Criminis

Consumação: Trata-se de crime material, portanto, se consuma com a morte. (cessação da atividade encefálica)

Tentativa: É possível, desde que:

Tenha dolo (direto ou eventual)

Tenha iniciado a execução

O resultado não tenha ocorrido por circunstâncias alheias à vontade do agente

OBS. 01: A tentativa pode ser Branca ou Cruenta – (como aplicar a pena?)

OBS. 02: A tentativa é diferente da desistência voluntária, arrependimento eficaz, pois nestes, o

resultado morte não ocorre por circunstancias relativas à vontade do agente que voluntariamente não prossegue ou age para impedir o resultado.

Preceito Secundário

Reclusão de 06 à 20 anos

HOMICÍDIO PRIVILEGIADO

Caso de diminuição de pena

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de

violenta emoção, logo em seguida a injusta

provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de

um sexto a um terço.

OBS.: Apesar do texto legal usar a expressão “pode”,

na verdade é pacífico o entendimento de que, se reconhecido o privilégio (pelos jurados) a redução é obrigatória. (DIREITO SUBJETIVO DO RÉU)

Refere-se a valor nobre, altruístico, que beneficia uma coletividade.

Ex.: matar o traidor da nação/pátria; matar o traficante que chegou no calmo bairro e o transformou em uma campo de guerra

Refere-se a valores pessoais, individuais, particulares do agente.

Ex.: eutanásia, pai que mata o estuprador da filha, etc

O art. 28 do CP, dispõe que a emoção não exclui o crime, contudo, no homicídio, se acompanhada dos

outros requisitos, gera a redução da pena.

Aqui exige-se uma fortíssima alteração de ânimo, ou

seja, que fique perturbado, revoltado, descontrolado, “fora de si”.

OBS.: Se for mera influência, não será causa de diminuição de pena, podendo ser apenas uma atenuante (art. 65, III, “c”, do CP).

Aqui exige-se reação imediata, ou seja, enquanto ainda perdura a violenta emoção, ou seja, no mesmo contexto fático da provocação.

Ex.: Se o agente chega em casa e flagra seu cônjuge na cama com outro e imediatamente saca a arma e

atira.

Contudo, também ainda estará no mesmo contexto, se

ao flagrar aquela cena, ele retorna até o carro para pegar arma e volta para atirar.

OBS. 01: É possível que a provocação tenha ocorrido há algum tempo, mas o agente só tenha ciência pouco antes do homicídio;

OBS. 02: A demora na reação, deixando transcorrer lapso temporal considerável, pode excluir a causa de

diminuição e, dependendo da situação, poderá configurar vingança.

A injusta provocação pode ser realizado por diversos

meios ou condutas incitantes (xingamentos, brincadeiras de mal gosto, injúrias, etc.).

Injusta Provocação X Injusta Agressão

(Privilégio) (Legítima Defesa)

(Se presentes os demais requisitos de ambas)

OBS.: Aquele que mata ao flagrar o cônjuge em adultério, de fato reage à injusta provocação da vítima

(o adultério, apesar de não ser mais crime, ainda é considerado ilícito civil). Outrora essa situação já foi considerada legítima defesa da honra, o que não é

mais admitido.

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HOMICÍDIO QUALIFICADO

§ 2° Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por

outro motivo torpe;

II - por motivo fútil;

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que

possa resultar perigo comum;

IV - à traição, de emboscada, ou mediante

dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:

• Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança

Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa

condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

• Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

Promessa de recompensa: entrega posterior

Outro motivo torpe: Trata-se de um motivo repugnante,

ignóbil, vil, abjeto, imoral, etc... Ex.: motivação econômica, matar por prazer, matar porque a esposa não quis manter relação sexual, etc...

O Mandante também responde por esta qualificadora, ou somente o executor?

Há 02 (duas) correntes: divergências quanto ao art. 30 do CP

Não (STJ – 5ª Turma)

Sim (STF – HC 66571 ; HC 69940 e HC 71582 / STJ – HC 78643 – 6ª Turma)

II - por motivo fútil;

Trata-se de motivo pequeno, insignificante.

Desproporção entre ação e reação.

Ex.: matar o filho pequeno porque chorava; matar o

fiscal de trânsito em razão da multa aplicada; matar o sujeito porque olhou feio, etc...

OBS. 01: Ausência de prova do Motivo – não configura motivo fútil.

OBS. 02: Forte discussão entre as partes – não configura motivo fútil.

OBS. 03: Ciúmes – pacífico na doutrina que não configura motivo fútil.

O Motivo pode ser torpe e fútil ao mesmo tempo?

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel,

ou de que possa resultar perigo comum;

Veneno – deve ser objeto de perícia;

OBS.: inoculado de forma velada, pois se for com violência, poderá configurar o meio cruel.

Asfixia – mecânica (esganadura, estrangulamento, enforcamento, sufocação, afogamento, soterramento,

sufocação indireta) ou tóxica (confinamento ou gás asfixiante);

Tortura – grave sofrimento empregado de forma lenta e gradativa até a morte;

Insidioso – dissimulado – Ex.: sabotagem dos freios do carro, do avião, etc...

Meio Cruel – ato executório é breve, embora provoque sofrimento físico;

Perigo Comum – capaz de atingir número indeterminado de pessoas;

IV - à traição, de emboscada, ou mediante

dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

O legislador entendeu que aquele que comete o crime de forma a dificultar qualquer forma de defesa da vítima.

OBS.: a Jurisprudência entende que não cabe esta qualificadora quando há dolo eventual, visto que

deve haver nítida intenção de dificultar ou inviabilizar a defesa da vítima, o que só seria possível quando o agente pretendia o resultado morte.

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:

Qualificado pela conexão com outro crime.

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:

§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:

I - violência doméstica e familiar;

Definida no art. 5º da Lei 11.340/06 (Maria da Penha)

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Nesse caso a mulher pode ser até mesmo desconhecida do agente.

Ex.: matar a mulher porque entende que mulher não pode ser motorista de ônibus, ou universitária, etc...

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da

Força Nacional de Segurança Pública , no exercício da função ou em decorrência dela , ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente

consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:

Sistema Prisional

Força Nacional de Segurança Pública

Art. 142 da CF:Exército, Marinha e Aeronáutica.

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Art. 144 da CF: PF, PRF, PFF, PC, PM, BM

E a Guarda Civil, Municipal ou Metropolitana?

Resposta: SIM - Art. 144, §8º da CF.

HOMICÍDIO CULPOSO

§ 3º Se o homicídio é culposo:

Pena - detenção, de um a três anos.

PERDÃO JUDICIAL

(Homicídio)

5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da

infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Ex.: Pai que esquece o filho dentro do carro;

OBS.: Só é admissível no homicídio CULPOSO

Auxilio, instigação ou induzimento ao Suicídio

(Participação em Suicídio)

Art. 122 - Auxilio, instigação ou induzimento ao

Suicídio (Participação em Suicídio)

122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza

grave.

Induzir: criar (fazer nascer) em alguém, a ideia se

matar.

Ex.: Líder religioso que sugere o suicídio aos seus

seguidores.

Instigar: fomentar uma ideia já existente.

Ex.: sujeito está sentando na sacada do apartamento para pular e as pessoas lá embaixo o incentivam com

gritos “pula, pula, pula...”.

Prestar-lhe auxílio: fornecer os meios para que o

suicida se mate.

Ex.: sujeito quer se matar e o agente empresta a corda,

ou a arma, ou lhe fornece o veneno, etc...

Aumento de pena

Parágrafo único - A pena é duplicada:

I - se o crime é praticado por motivo egoístico;

É o quando o indivíduo tem uma excessiva idolatria aos seus interesses, sem ter qualquer tipo de

consideração pelo dos outros. A sua punição é elevada em virtude de seu alto grau de insensibilidade.

Ex.: Induzir/Instigar/Auxiliar visando receber herança, ou assumir o cargo do suicida, etc.

Parágrafo único - A pena é duplicada:

II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer

causa, a capacidade de resistência.

OBS. 01: Se não houver a mínima capacidade

cognitiva para compreender o significado do ato suicida, será considerado homicídio.

OBS. 02: Menor = abaixo de 18 anos de idade máxima,

contudo, há divergência sobre a idade mínima:

1ª Corrente: abaixo de 14 anos = homicídio (analogia

ao antigo art. 224, atual 217-A (vulnerabilidade).

2ª Corrente: a incapacidade cognitiva deve ser

analisada caso a caso.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES (art. 122)

: Auxílio por omissão – Responde pelo art. 122 do CP,

quem tinha o dever jurídico de agir e não o faz.

Ex.: Bombeiro que vendo o suicida no topo do prédio,

não faz nada para salvá-lo.

Obs. 02: Nexo Causal – Se não houver nexo causal,

não há responsabilidade pelo crime

Ex.: sujeito empresta a arma, mas o suicida se enforca.

Aquele que empresou a arma não responde pelo art. 122 do CP, por ausência de nexo causal entre a sua conduta e o resultado;

Obs. 03: Participação em Participação em Suicídio – coautoria e participação.

Ex.: Mateus induz Marcos a Instigar Judas a suicidar-se. Marcos é autor do crime do art. 122, enquanto

Mateus é partícipe.

INFANTICÍDIO

Art. 123 – Infanticídio 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o

próprio filho, durante o parto ou logo após:

Pena - detenção, de dois a seis anos.

Estado Puerperal:

alteração psíquica (temporária) decorrente de intensa dor física, perda de sangue, grande esforço, alteração hormonal, que pode acarretar breve sentimento de

rejeição àquele que está nascendo ou recém-nascido (visto como responsável pelo sofrimento).

“Conjunto de alterações físicas e psíquicas que ocorrem no organismo da mulher em razão do fenômeno do parto”.

Próprio Filho:

Descendente da própria agente

Elemento Temporal:

Durante o parto ou logo depois do nascimento.

“configura-se durante o parto; o período que vai desde

a ruptura das membranas até a expulsão do feto e da placenta, enquanto o logo após seria o interstício imediatamente após o parto”

Possibilidade de Coautoria e Participação:

Art. 30 do CP – estado puerperal e ser a mãe da vítima são elementares do infanticídio.

Ex.: Coautoria - Mãe pratica ato executório e alguém auxilia;

Ex.: Participação – apenas a mãe pratica ato executório e alguém a estimula;

Ex.: Ato executório praticado por terceiro e mãe só incentiva – não há infanticídio;

ABORTO

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Autoaborto - Art. 124, 1ª parte, do CP;

Aborto Consentido - art. 124, 2ª parte, do CP;

Aborto provocado por 3º sem consentimento da

gestante - art. 125 do CP;

Aborto provocado por 3º com consentimento da

gestante - art. 126 do CP;

Aborto Qualificado (MAJORADO) – Causa Especial

de Aumento de Pena - art. 127 do CP;

Aborto “legalizado” – Causas de exclusão da ilicitude

– art. 128 do CP;

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir

que outrem lho provoque:

Pena - detenção, de um a três anos.

Autoaborto: a própria gestante realiza a manobra abortiva;

Ex.: quedas intencionais, esforços excessivos (a fim de provocar aborto), brinquedos contraindicados para

grávidas (montanha russa);

Tentativa de Suicídio da grávida: não se pune a

autolesão;

Morte do Feto:

1ª Corrente – Fato atípico, porque ao praticar o ato suicida não tinha intenção de praticar aborto;

2ª Corrente – agiu com dolo eventual e deve ser punida por autoaborto;

Consentimento: a gestante consente e 3º realiza a manobra abortiva;

Art. 124 para a gestante e art. 126 para quem realiza a manobra abortiva (exceção à teoria monista – art. 29

do CP).

Aborto provocado por 3º SEM consentimento

Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos.

É a forma mais gravosa do crime – a ausência do consentimento constitui elementar do tipo penal. Não há necessidade de dissentimento:

Ex.: Agressão à grávida para causar aborto; Amante que coloca substancia abortiva na sopa da concubina,

sem que ela saiba;

Dissentimento Real:

Fraude: emprego de ardil capaz de induzir a gestante a erro.

Ex.: médico que, a pretexto de realizar exames de rotina na gestante, realiza manobra abortiva;

Grave Ameaça: é a promessa de um mal grave, inevitável ou irresistível;

Ex.: Marido desempregado que ameaça se matar se a mulher não abortar a criança ou pai que ameaça

expulsar a filha (grávida) de casa se ela não abortar;

Violência: emprego de força física.

Ex.: homicídio de mulher grávida, com conhecimento da gravidez pelo homicida;

Dissentimento Presumido:

Gestante menor de 14 anos, alienada ou débil mental (ausência de capacidade);

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da

gestante:

Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é

alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.

Consentimento Válido:

quando a gestante detém capacidade para consentir.

Consentimento Inválido:

quando ocorrem os casos de dissentimento real ou presumido do art. 125 do CP.

ABORTO – Qualificado (Majorado)

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em

consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer

dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Abrangência: só se aplica às formas tipificadas nos

artigos 125 e 126 do CP, ficando excluídas as condutas do art. 124 do CP (obviamente porque a gestante é quem sofrerá a lesão grave ou morte,

assim, aplica-se apenas ao terceiro);

OBS.: Partícipe do art. 124 do CP – Ex.: sujeito

instiga o autoaborto e aconselha a gestante a utilizar quantidade excessiva de medicamento, causando-lhe a morte (participação em autoaborto + homicídio

culposo);

ABORTO – Legalizado

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto Necessário (ou terapêutico): Gravidez que

traz risco à vida da gestante (espécie de estado de necessidade, sem a necessidade de perigo atual).

Risco atual: é dispensável o consentimento da gestante, em razão do estado em que se encontra e a possibilidade dos parentes serem movidos apenas por

interesse patrimonial;

Risco Futuro: parecer de 02 (dois) médicos (diversos

do que realizará a manobra abortiva) lavrado em 03 (três) vias, sendo uma enviada ao CRM e outra ao diretor clínico do hospital – necessário consentimento

(se possível).

Ex.: câncer no útero, tuberculose, anemia profunda,

leucemia, diabetes, etc.

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Aborto Sentimental (ou humanitário ou ético): Gravidez decorrente de estupro.

Consentimento: há necessidade de prévio consentimento da gestante ou seu representante legal;

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Prova do Estupro: prova idônea do estupro (BO,

testemunhas colhidos na DEPOL, atestado médico – lesões advindas da conjunção carnal)

OBS: No estupro de vulnerável basta a prova da conjunção carnal.

Aborto Eugenésico (ou eugênico ou piedoso):

Feto Anecencéfalo (ou anencefálico): ADPF nº 54 –

STF decidiu declarar inconstitucional a interpretação que o aborto de feto anenceféfalo é considerado conduta típica (crime);

ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro quanto às religiões.

Considerações.

FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA

GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA – SAÚDE – DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS FUNDAMENTAIS

– CRIME – INEXISTÊNCIA. Mostra-se inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez de feto anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e

128, incisos I e II, do Código Penal. (ADPF 54 – STF. Rel. Marco Aurélio)

OBS.: Feto com anomalia (Sindome de Down, deformindade física, etc): não admitido.

Aborto Social (ou econômico): Família com muitos filhos e sem condições financeiras de custear outro filho – não admitido.

ADPF 54 – STF

ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica,

surgindo absolutamente neutro quanto às religiões. Considerações.

FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA – SAÚDE – DIGNIDADE –

AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRIME – INEXISTÊNCIA. Mostra-se inconstitucional interpretação de a interrupção da

gravidez de feto anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal.

Relator: Min. Marco Aurélio

Autor da ADPF: Confederação Nacional dos

Trabalhadores da Saúde – CNTS

Advogado: Luiz Roberto Barroso

Temas comuns às espécies de aborto

Objeto Jurídico:

Autoaborto e Aborto Consentido – vida humana

intrauterina (feto);

Aborto Provocado por Terceiro (com e sem

consentimento): vida humana intrauterina (feto) + vida e incolumidade física e psíquica da própria gestante;

Objetividade Jurídica – a preservação da vida intrauterina (trata-se de crime simples);

Elemento Subjetivo – Dolo (direto ou eventual) - não existe modalidade culposa;

Temas comuns às espécies de aborto

Sujeito ativo:

Autoria:

Autoaborto: a manobra abortiva cabe apenas à gestante (crime de mão própria);

Consentimento ao aborto: cabe apenas à gestante (crime de mão própria);

Coautoria:

Aborto provocado por terceiro (com ou sem

consentimento): qualquer pessoa pode realizar a manobra abortiva(crime comum);

Sujeito ativo:

Participação:

Autoaborto: é crime de mão própria (a manobra abortiva cabe apenas à gestante), portanto, não é

possível coautoria, apenas participação é possíve l na hipótese em que o terceiro apenas induz, instiga ou auxilia (de maneira secundária) a gestante a praticar o

aborto. Ex: namorado instiga namorada a realizar auto aborto ou fornece meios para a gestante executar aborto em si mesma.

OBS: há posicionamento na jurisprudência que nesse caso responderia pelo art. 126 do CP.

Consentimento ao aborto: é crime de mão própria (o ato permissivo cabe apenas à gestante), portanto, não

é possível coautoria, apenas participação na hipótese em que o terceiro apenas induz, instiga ou auxilia a gestante a consentir o aborto.

Ex: terceiro convence a gestante consentir que outra pessoa realize a manobra abortiva.

Sujeito passivo:

Autoaborto e Consentimento ao aborto: somente o feto;

Aborto provocado por terceiro (com ou sem consentimento): o feto e também a gestante ;

Meios de Execução:

Meios Químicos: substâncias não propriamente

abortivas, mas que atual via intoxicação,, como o arsênico, fósforo, mercúrio, quinina, estricnina, ópio, etc;

Meios Psíquicos: susto, terror, sugestão, etc;

Meios Físicos:

Mecânicos - Ex: Curetagem;

Térmicos - Ex: aplicação de bolsas de água quente e fria no ventre;

Elétricos – Ex: emprego de choques (corrente galvânica ou farádica);

Omissão: quando o sujeito tem a posição de garantidor do direito – Ex.: médico, parteira, enfermeira, etc, que,

percebendo o iminente aborto espontâneo ou acidental, não tomam as medidas disponíveis para evitá-lo (respondem pela prática omissiva de aborto);

Consumação: consuma-se com a morte do embrião/feto (crime material);

DIU (Dispositivo Intrauterino) – há dois sistemas:

1º - Impede a fixação do óvulo já fecundado no útero;

Exercício regular do direito - o uso do dispositivo é

permitido por lei (causa de exclusão da ilicitude);

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Imputação Objetiva – o fato não é típico pois o Estado

não pode autorizar as pessoas a usar o DIU e ao mesmo tempo criminalizar a conduta.

Teoria Social da Ação (Hans Weszel) – o uso do DIU é socialmente aceita, considerada normal, adequada, correta, permitida, portanto, atípica ante a ausência de

inadequação social.

2º - Impede a própria fecundação – mais moderno -

Pílula do Dia Seguinte: aplica-se o mesmo raciocínio do DIU.

Tentativa: é possível em todas as figuras do aborto quando, por circunstancias alheias à vontade do agente, não há eliminação da vida (dentro do útero ou

mesmo no nascimento precoce, com vida);

Na tentativa de aborto é possível que o feto permaneça

vivo dentro do útero ou seja expulso com vida e sobreviva;

Se o feto é expulso com vida, mas morre depois, será considerado aborto consumado, desde que demonstrado que a morte decorreu da manobra

abortiva;

Ex.: Golpe abortivo que atingiu o corpo do feto –

imaturidade. Nesse caso a regra do art. 4º do CP prevê que o crime é cometimento no momento da ação, ainda que o resultado ocorra posteriormente (o dolo

era voltado para o aborto);

Se a manobra abortiva provocar a expulsão do feto

com vida e, em seguida, for realizada nova agressão contra o recém nascido – haverá tentativa de aborto em concurso material com homicídio ou infanticídio

(dependendo das condições);

Nexo Causal: a morte do feto deve decorrer da

manobra abortiva, se houver outra agressão ao feto, haverá concurso material

Crime Impossível:

Emprego de meio absolutamente inidôneo – ingerir

medicamentos incapazes de provocar aborto, realizar rezas, práticas supersticiosas – art. 17 do CP;

Emprego de meio relativamente inidôneo – ingerir substância capaz de provocar aborto, mas em quantidade insuficiente – responderá por aborto na

forma tentada;

Absoluta impropriedade do objeto – se o feto já estava

morto quando do início da manobra abortiva, ou se sequer havia gravidez – não há crime;

Gêmeos: se o agente não sabia que eram gêmeos, responderá por crime único, mas se sabia responderá por 02 (dois) crimes de aborto em concurso formal;

Ação Penal – pública incondicionada (competência do Tribunal do Júri).

Observações Importantes

Homicídio doloso ou Latrocínio de mulher grávida e aborto:

Se sabia da gravidez – homicídio + aborto sem consentimento (no mínimo, por dolo eventual)

Se não sabia da gravidez – homicídio (punir pelo aborto seria responsabilidade objetiva)