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7/21/2019 Direito, Midia e Poder - Geison Bissolotti http://slidepdf.com/reader/full/direito-midia-e-poder-geison-bissolotti 1/64 UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA CAMPUS DE XANXERÊ ÁREA DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS GEISON BISSOLOTTI DIREITO E LINGUAGEM: O poder político, o poder jurídico e o poder da massa (mídia) Xanxerê 2014

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Trabalho de Conclusão de Curso.

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA

CAMPUS DE XANXERÊ

ÁREA DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

GEISON BISSOLOTTI

DIREITO E LINGUAGEM:

O poder político, o poder jurídico e o poder da massa (mídia)

Xanxerê

2014

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GEISON BISSOLOTTI

DIREITO E LINGUAGEM:

O poder político, o poder jurídico e o poder da massa (mídia)

Trabalho de Curso apresentado como requisitopara conclusão do Curso de Bacharelado emDireito da Universidade do Oeste de SantaCatarina de Xanxerê.

Orientador: Cesar Marció

Xanxerê

2014

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GEISON BISSOLOTTI

DIREITO E LINGUAGEM:O poder político, o poder jurídico e o poder da massa (mídia)

Trabalho de Curso apresentado como requisito

para conclusão do Curso de Bacharelado emDireito da Universidade do Oeste de SantaCatarina de Xanxerê.

Aprovado em .......de .............................. de 2014

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________Orientadora: Prof. Cesar MarcióUniversidade do Oeste de Santa Catarina – Unoesc Xanxerê

_________________________________________Prof.

Universidade do Oeste de Santa Catarina – Unoesc Xanxerê

___________________________________________Prof.Universidade do Oeste de Santa Catarina – Unoesc Xanxerê

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“Aos amantes da procrastinação, que

aproveitam suas horas livres contemplando

o passar dos dias pela grande janela da vida”.

(Autoria própria)

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AGRADECIMENTOS

Sempre imaginei que produzir um trabalho científico de conclusão de cursonão seria tarefa fácil, hoje, após a conclusão do meu TCC, devo admitir, sem falsasmodéstias, que estava absolutamente correto em minhas preocupações, talvez pelotempo sempre escasso, que sei, é uma lástima de todos nós e, convenhamos, atémeio démodé, ou, quem sabe, por uma certa aversão que sempre nutri pelameticulosidade.

O fato é, que em determinado momento da minha vida, tive de parar quase

tudo o que faço e me dedicar a este trabalho, que marca a conclusão de um grandesonho, a universidade. Devo admitir que, se por um lado, a repetição, o ir e vir, o lere reler, a rotina enfim, fez meu sonho aos poucos se materializar, de outro, e porconsequência disto, abriu as portas para novas paixões, afinal, faço parte da raçahumana, nunca estamos satisfeitos. Sorte a nossa.

- Pai e Mãe, que, apesar da distância, e como sempre aliás, participaramafetuosamente nesta caminhada; pela sensacional habilidade em deixar tudo maisleve. Obrigado sempre.

- Ari, eterna namorada, definição mais ampla e verdadeira da expressão“companheira”.

- Cesar Marció, meu orientador, espero ter correspondido à sua fé quaseinacreditável em minha capacidade, obrigado pela enorme força quando maisprecisei.

- Professores, que tive a oportunidade de conhecer durante a graduação,experimentando a sensação única de evoluir a partir da evolução de cada um devocês.

- Minha irmã, Samara, meus colegas de curso e tantas outras pessoas nãomenos admiráveis que fazem eco em minha mente e de alguma forma contribuírampositivamente nesta estrada,OBRIGADO.

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“Homens realmente grandes, não nascem grandes, tornam-se grandes”.

(Francis Ford Coppola)

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RESUMO

O presente trabalho tem como principal objetivo, a investigação das formas como opoder político exerce efetivamente, por meio da linguagem (mídia), a manipulação demassas, e em como isso se reflete no Estado democrático de direito. Afinal, se é opovo quem legitima o poder, deve fazê-lo, com efetiva liberdade, sem qualquer formade interferência, sendo esta, uma das, (senão a principal) premissas da democraciaconstitucional.

Palavras chave: Democracia Constitucional. Manipulação de Massas. Mídia. PoderPolítico. Esfera Pública

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ABSTRACT

This study aims to investigate the ways in which political power exercised effectivelythrough language (media) , the manipulation of the masses , and how this is reflectedin the democratic rule of law . After all , it is the people who validates the power , itmust do so with effective freedom , without any form of interference , this being one of( if not the main ) premises of constitutional democracy .

Keywords : Constitutional Democracy . Manipulating the Masses. Media. Political

Power . Public Sphere

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 5 2. O ESTADO MODERNO E OS MODELOS DE PODER..................................... 7

2.1 DO ESTADO ABSOLUTO AO ESTADO LIBERAL .......................................................... 7

2.1.1 Democracia liberal ................................................................................................... 15

2.1.2 Liberdade e igualdade .................................................................................................. 17

2.2 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL .................................................. 18

2.2.1 Democracia Social ................................................................................................... 21

2.3 DEMOCRACIA COMO EXERCÍCIO DO PODER EM PÚBLICO ....................... 23

2.3.1 Espécies de “povo”. ................................................................................................ 26

2.3.2 Linguagem ....................................................................................................................... 30

2.3.3 A mídia (maioria/massa/propaganda) e o poder político .............................. 32

3 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E O PODER JURÍDICO .............. 42

3.3 DEMOCRACIA CONSTITUCIONAL .................................................................. 42

3.1.1 A Democracia e a Concretização de Direitos ......................................................... 45 3.1.2 Da Democracia formal à substancial ........................................................................ 48

3.1.3 Os efeitos da mídia de massa e a ineficácia da democracia constitucional .. 50

4 CONCLUSÃO .................................................................................................. 52

5 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 54

6 ANEXOS .......................................................................................................... 56

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1. INTRODUÇÃO

Já dizia Aristóteles, “o homem é um animal político”, necessita, portanto, dascoisas e das pessoas, e por ser assim, os sujeitos unem-se uns aos outros para viverem sociedade; é fato, que a natureza permite, e mais do que isso, exige que aspessoas experimentem as mais variadas formas de convívio. Os homens unem-se,desta união formam-se grupos, que por sua unem-se e formam sociedades quefinalmente constituem Estados.

Estados Absolutistas, liberais, sociais, constitucionais tudo é parte de umagrande evolução, ou poderíamos chamar de um grande ciclo? Sobre a égide dospensadores contratualistas, Hobbes, Locke e Rousseau serão abordados os temasrelativos aos três modelos de Estado propostos pelos mesmos (absolutista, liberal, esocial), terminando o primeiro capítulo com a análise da teoria de Bobbio (o exercíciodo poder em público), o estudo do poder político e o uso da mídia para a manipulaçãode massas. O objetivo é promover o resgate histórico do caminho percorrido peloEstado (Moderno) desde a sua criação até os dias atuais.

Perceber-se-á Hobbes como defensor de um governo absolutista em que osujeito renuncia seus direitos (que possuía no estado natural) para um soberano, emtroca de uma suposta vida feliz, uma vez que o estado de naturezaé predominantemente violento e inseguro, chamado por ele de: “o estado de todoscontra todos”.

Locke, opondo-se à Hobbes, desenvolve um sistema pautado no liberalismo,ou seja, ausência acentuada do Estado, acredita que o estado natural do homem éde liberdade e igualdade, entretanto, este estado harmonioso pode converter-se em

estado de guerra, já que em uma sociedade impera a tentativa de dominação de umsujeito sobre o outro. Deste modo, o pacto emerge da necessidade de manutençãodo estado natural. Ele foi também, grande defensor da vida, da liberdade e,principalmente, da propriedade, e todo o aparato estatal gira em torno desse últimodireito. Defendia a monarquia parlamentar.

Rousseau diferente de Hobbes, diz que o povo é o verdadeiro soberano, e sedistancia de Locke, porque acredita que o Estado Liberal (ausente) proposto por

Locke não é o ideal, pelo contrário, ele defende um Estado presente como garantidornão apenas da segurança, mas também de bem estar social. Para Rousseau, a

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vontade geral deve ser absoluta, era defensor portanto, da democracia direta, emboraadvertisse que quando maior um Estado mais difícil de se praticar essa democracia,para ele, ideal.

Superado este primeiro momento, os estudos seguirão norteados pela teoriade Bobbio que assim como Rousseau era defensor da democracia, entretanto,advogava o individualismo do sujeito diante do Estado, após esta etapa, buscar-se-áentender, quem é o povo? Em conformidade com os escritos de Friedrichi Muller,ficará evidenciado que existem duas principais formas de povo que são basilares parao Estado Democrático de Direito, opovo ativo , que é aquele que participa do sufrágioque dá legitimação ao poder epovo ícone , um conceito fora do plano da realidadeque é usado pelos detentores do poder para legitimar seus atos/falta decomprometimento com o povo.

Realizado o estudo em comento, será abordada a problemática damanipulação de massas, afinal, se é o povo quem legitima o poder, deve fazê-lo comresponsabilidade, e mais do que isso, com efetiva liberdade, ou seja sem qualquertipo de interferência, sendo esta uma das, senão a principal, premissas dademocracia. Contudo, o poder dominante (pré)ocupa-se em adequar à vontade dopovo às suas próprias convicções, no trabalho será abordado o clássico exemplo dapropaganda política nazista e em como reconhecemos nos tempos atuais estastentativas.

Por fim, será abordado o tema da democracia constitucional em seus aspectosformal e substancial, analisando também, os efeitos da influência política ampliadapor meio da mídia no povo, procedimento que acaba demonstra a pouca efetividadedas democracias representativas.

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2. O ESTADO MODERNO E OS MODELOS DE PODER

2.1 DO ESTADO ABSOLUTO AO ESTADO LIBERAL

A palavra Estado, com o sentido de hoje, foi utilizada pela primeira vez porNicolau Maquiavel em sua obra o Príncipe, publicada em 1531, Maquiavel dizia que:“[...] todos os Estados, todos os domínios que tiveram e têm poder sobre os homens,são estados e são ou repúblicas ou principados [...]" (MAQUIAVEL, 1935, p.7).

Conforme descrito no introito, é necessário compreender a evolução do Estadoe, principalmente, do desenvolvimento do poder em cada modelo apresentado. Para

tanto, indispensável é o estudo, em um primeiro momento, de autores como Hobbes,Locke e Rousseau.

O Inglês, Thomas Hobbes, trabalha com a teoria política contratualista deEstado, visando a redução da desordem social que tomava conta daInglaterra doséculo XVII, para tanto,seu norte era o desenvolvimento da paz social e aorganização estatal.

O direito, resume-se à força, diferenciando-se, entretanto, em dois momentos,quando os indivíduos se encontravam noestado natural e depois migrando para oestado político . Para o autor, noestado natural , o poder de cada um é medido por seupoder natural (real), o direito de um indivíduo corresponde ao direito do uso da própriaforça para manuntenção de seus interesses pessoais.

Para Hobbes, o homem não possui instinto social . Ele não é sociável pornatureza, só o será por acidente, qual seja, por meio da elaboração de um contratosocial, quando os sujeitos abdicam da sua liberdade em favor do Estado objetivandoa segurança. No que diz respeito ao homem:

[...] existe um ditado segundo o qual a sabedoria não se adquire através doslivros, mas sim dos homens. Portanto as pessoas comuns não podem darprovas de serem sábias, se comprazem em mostrar o que pensam que leramdos homens, mediante desapiedadas censuras feitas pelas costas [...] existeoutro ditado [...] conhece-te a tí mesmo, cujo sentido não entendia antes, masque agora é interpretado para a defesa contra a barbara conduta dos titularesdo poder [...] (HOBBES, 2008, p.12).

Em sua obra, “Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiásticoe civil”, Thomas Hobbes disserta que é preciso que exista um estado armado para,

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desta forma, forçar os homens ao respeito. “dessa maneira aliás, a imaginação seráregulada melhor, porque casa um receberá o soberano que determinar. [...]”(WEFFORT, 2000, p.61) O autor, compara o Estado (grande Leviatã), a um homem,entretanto, com poderes alargados

[...] A natureza (a arte com a qual Deus fez e governa o mundo) é imitada detal maneira, como em outras muitas coisas, pela arte do homem, que atépode criar um animal artificial. E, sendo a vida um movimento de membroscujo o início se verifica em alguma parte dos mesmos, porque poderíamosdizer que todos os autômatos [...] tem vida artificial? O que é na verdade umcoração se não uma mola e os nervos, que nada mais são do que diversasfibras; e as articulações, várias rodas que dão movimento ao corpo inteiro,da maneira como o artífice o propôs? [...] na realidade graças à arte se criaesse grande Leviatã que chamamos de república ou estado (HOBBES, 2008,p. 11).

A arte do homem pode até criar um animal artificial (HOBBES, 2008 p.11), apreocupação com a própria conservação seria o cerne principal da razão de existir deum Estado, “a vontade de abandonar a mísera condição de guerra, consequêncianecessária [...] das paixões naturais dos homens, se não houver um poder visível queos mantenha em respeito, forçando-os, por temor à punição, a cumprir seus pactos eo respeito às leis da natureza[...] ” (HOBBES, 2008, p.123).

Para Hobbes, (2008 p. 123) “as leis de natureza (tais como justiça, equidade,modéstia, piedade, que determina que façamos aos outros o que queremos que nosfaçam) são contrárias às nossas paixões naturais [...]”. Como garantidor de umaviabilização de vida segura, deve o Estado ser a instituição fundamental paragovernar todas as relações humanas, dado o caráter da condição natural dos homensque está sempre buscando a satisfação dos seus desejos à qualquer custo: seja deforma violenta ou egoísta; isto se dá, como consequência das paixões particularesque “contribuem para a agitação de uma nação turbulenta (HOBBES, 2008 p.63).

No pensamento hobbesiano, o Estado funda-se quando em um “pacto” feitoentre os homens para, ao mesmo tempo, todos abdicarem de sua “liberdade total”,do estado de natureza, transferindo a concentração deste poder para as mãos de umgovernante soberano (um monarca).

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[...] um Estado é considerado instituto quando uma multidão de homensconcorda e pactua, que a qualquer homem ou assembleia de homens aquem seja atribuído pela maioria o direito de representar a pessoa de todoseles (ou seja, de ser seu representante), todos sem exceção, tantos os que

votaram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão autorizartodos os atos ou decisões desse homem ou assembleia de homens, comose fossem seus próprios atos e decisões [...]” (HOBBES, 2008, p. 128).

Uma vez aceito, o pacto não poderá ser desfeito, “os súditos de um monarcanão podem, sem a sua licença, renunciar à monarquia [...] nem transferir sua pessoa,daquele que a sustenta para outro homem ou assembleia de homens [...]” (HOBBES,2008, p. 128). Aquele que atentar contra o soberano será morto ou castigado, a

sanção, segundo Hobbes, é provocada pelo próprio indivíduo uma vez que este estádescumprindo com o pacto, “quando alguns homens, desobedecendo ao seusoberano, pretendem um novo pacto, não com os homens, mas com Deus, istotambém é injusto, pois não existe pacto com Deus, se não por intermédio de seusmediadores que representam a pessoa divina [...] (HOBBES, 2008, p.129).

O significado da palavra liberdade para Hobbes, (2008, p. 154), em sentidopróprio é a ausência de oposição ou de barreiras externas às ações que cooperampara a preservação da vida. A liberdade é um direito, e opõe-se à lei e à obrigação.“Nenhum homem é livre para resistir à força do Estado, em defesa de outrem, sejaculpado ou inocente, porque essa liberdade priva o soberano dos meios para protegerseus súditos [...]” (HOBBES, 208, p. 160). Não se pode induzir qualquer liberdade davontade, de desejo ou da inclinação. A expressãoLivre Arbítrio somente permite-sequando atribuída às suas ações, e não às suas vontades, “[...] quando as palavraslivre e liberdade, são aplicadas a qualquer coisa diferente de um corpo, abusa-se dalinguagem, porque o que não está sujeito a movimento não está sujeito aimpedimentos [...]” (HOBBES, 2008, p. 154).

O poder de um homem (HOBBES, 2008, p. 70), consiste nos meios que dispõepara alcançar, no futuro, algum bem evidente, que pode ser tanto Original (natural)como instrumental. Aparência, força, prudência, habilidade, eloquência, liberdade enobreza estão no grupo dos bens naturais, enquanto que instrumentais “[...] são ospoderes que se adquirem através dessas faculdades ou pela sorte e servem comomeios ou instrumentos para alcançar reputação, riquezas, amigos, e os secretos

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desígnios de Deus que os homens chamam de boa sorte [...]” (HOBBES, 2008, p. 70).Segundo Hobbes o maior de todos os poderes humanos é a união de forças.

Já o poder (no Estado ideal de Hobbes), é uno e indivisível, e exercido por umrepresentante, o soberano não participa do pacto, está sobre ele. O pacto é celebradoentre os súditos, que transferem o seu direito de se governarem a esse homem ouassembleia de homens, nota-se que, o contrato feito não impõe ao Estado nenhumaobrigação, senão a de garantir a paz e a tranquilidade daqueles que compactuarampara sua criação. “Soberania é uma alma artificial que dá vida e movimento a todo ocorpo [...]” (HOBBES, 2008, p. 11), ou seja, o homem artificial que, como vimos,refere-se ao Estado. Segundo Hobbes, existem três formas de governo:

[...] MONARQUIA quando o governo tem como representante um só homem,e DEMOCRACIA (ou governo popular), se a representação se faz por umaassembleia de todos os que se uniram. É ARISTOCRACIA nos casos emque a assembleia é constituída por apenas uma parte dos homens [...],entretanto, “a diferença entre essas três espécies de governo está naconveniência ou aptidão para garantir a paz e a segurança do povo,atendendo ao fim para que foi criado e não na diferença do poder [...]”(HOBBES, 2008, p.136 -137).

Em todos os sistemas de governo defendidos por Hobbes está presente arenúncia de um poder ilimitado do indivíduo ao Estado-Leviatã, diferente de Locke,que defendia a participação efetiva dos cidadãos (compreendida como a eliteburguesa) nas decisões inerentes ao Estado.

O autor publicou a sua obra clássica que acabamos de discorrer:o Leviatã, após os horrores de uma sangrenta guerra civil, entre a coroa e o parlamento inglês,ocorrendo a vitória das forças parlamentares. Este evento ficou conhecido como arevolução puritana, Hobbes partidário da coroa inglesa estava refugiado na França,publicando o livro nesta mesma época. O livro é uma apologia à um Estado todo-poderoso fiador da paz e da segurança dos súditos. (WEFFORT, 2000 p.82).

Foi um período de muitos conflitos e troca de governos na Inglaterra, semprepor meio de guerras, por conta disso, alguns anos depois Locke, que estava refugiadona Holanda, volta ao país, (nesta época os liberalistas haviam retornado ao poder eimplantado definitivamente uma monarquia limitada na Inglaterra), é neste contestoque publica suas principais obras, entre elas: dois tratados sobre o governo civil.(WEFFORT, 2000, p.81/82).

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Logicamente, as ideias dos dois pensadores são divergentes, isso se dátambém pela história de vida de cada um, (Hobbes era defensor da monarquia eLocke era filho de revolucionários burgueses), enquanto que o estado natural deHobbes é caótico, compreendido por ele como “a guerra de todos contra todos”, oestado natural de Locke seria um modo onde reina a “liberdade e a igualdade”. ParaLocke, a liberdade é inerente à natureza humana, e não concedida por qualquer tipode governo:

[...] Evitar esse estado de guerra (no qual não há apelo senão aos céus, epara o qual pode conduzir a menor das diferenças, se não houver juiz paradecidir entre os litigantes) é a grande razão pela qual os homens se unemem sociedade e abandonam o estado de natureza. Ali onde existeautoridade, um poder sobre a Terra, do qual se possa obter amparo por meiode apelo, a continuação do estado de guerra se vê excluída e a controvérsiaé decidida por esse poder [...]” (LOCKE, 2005, p. 400).

Embora seja defensor da igualdade entre os homens, Locke era de famíliaburguesa, defendia, portanto, a propriedade e era a favor da escravidão. Além dedefensor da liberdade e da tolerância religiosas, Locke é considerado o pai doempirismo, doutrina segundo a qual todo conhecimento deriva da experiência.(WEFFORT, 2000, p. 83).

Não ligava a escravidão à uma raça, mas, aos derrotados na guerra. De acordocom Locke, os inimigos e capturados na guerra poderiam ser mortos, mas, como suasvidas são mantidas, devem trocar a liberdade pela escravidão. Em sua obra,Dois

tratados sobre o governo , Locke (ao contrário de Hobbes), preceitua que a soberanianão deve residir no Estado, mas sim na população, esta sim a verdadeira fonte dopoder estatal:

Sendo todos os homens [...] naturalmente livres, iguais e independentes,ninguém pode ser provado dessa condição nem ser colocado sob o poderpolítico de outrem sem seu próprio consentimento. A única maneira pela qualuma pessoa qualquer pode abdicar de uma liberdade natural e revestir-se doelo da sociedade civil é concordando com outros homens em juntar-se e unir-se em uma comunidade, para viverem confortável, segura e pacificamente unscom os outros, num gozo, seguro de duas propriedades a com maiorsegurança, contra aqueles que dela não fazem parte. (LOCKE, 2005, p.468).

Para Locke, um número qualquer de homens (pelo consentimento de cadaindivíduo) pode formar uma comunidade, um corpo único, aqueles indivíduos que não

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compactuaram permanecem em seu estado natural, as regras, portanto, são paraaqueles que compactuaram, esses sim com a obrigação de se curvar ante a vontadeda maioria “[...] pois quando a maioria não pode decidir pelos demais, não pode agircomo um corpo único e, consequentemente, tornará de pronto a ser dissolvida [...]”(LOCKE, 2005, p. 471). Via duas formas de um sujeito aderir à uma sociedade, deforma expressa e tácita, o consentimento expresso faz dele imediatamente ummembro perfeito da sociedade. No consentimento tácito é diferente:

A dificuldade está naquilo que deve ser considerado um consentimentotácito, e até que ponto alguém deve ser considerado como tendo consentido,e com isso tendo-se submetido a algum governo, nos casos em que não otenha expressado de modo algum. Respondo que todo o homem que tenha

alguma posse ou usufrua de qualquer parte dos domínios de um governo dá,com isso seu consentimento tácito e está tão obrigado a obediência das leisdesse governo, durante esse usufruto, quanto qualquer outro que viva sob omesmo governo. (LOCKE,2005, p. 491-492).

Como já destacado, o estado natural humano em Locke é contemplado tantopela liberdade como pela igualdade, neste sentido, por que razão um indivíduorenunciaria a estas vantagens para se submeter a um governo? Segundo Locke, noestado de natureza (embora os homens possuam o poder executivo da lei danatureza), impera a indiferença quanto às violações de propriedade há ainda aausência de imparcialidade fruto dos julgamentos em causa própria contribuindo paraa insegurança desse estado, podendo transformar-se em estado de guerra, onde quea força é utilizada em desacordo com a lei natural:

[...] embora tivesse tal direito no estado de natureza, o exercício do mesmoé bastante incerto e está constantemente exposto à violação por parte dosoutros, pois que sendo todos reis na mesma proporção que ele, cada homemum igual ao seu, por não serem eles em sua maioria, estritos observadoresda equidade e da justiça, o usufruto que lhe cabe da propriedade é bastanteincerto e inseguro.

O fim maior e principal (LOCKE, 2005, p.495) para que os homens se reúnamem sociedade é proteção da propriedade, dado que o estado natural carece de uma

série de fatores fundamentais à manutenção da propriedade. Como lei estabelecida,

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juiz conhecido e imparcial e poder para sustentar as indigências que evitam umestado de guerra. No estado civil, os direitos naturais, portanto, inerentes à qualquerser humano tais quais: a vida, a liberdade, e os bens, estão melhor protegidos sob oamparo da lei.

[...] em primeiro lugar, carece de lei estabelecida, fixa e conhecida, recebidae aceita mediante o consentimento comum [...] em segundo lugar carece oestado de natureza de um juiz conhecido e imparcial, com autoridade parasolucionar todas as diferenças de acordo com a lei estabelecida. [...] emterceiro lugar carece de um poder para apoiar e sustentar a sentença quando justa e dar a ela a devida execução [...] É assim que os homens não -obstante todos os privilégios do estado de natureza-, dada a má condiçãoem que nele vivem, rapidamente são levados a se unirem em sociedade [...](LOCKE, 2005, p. 496-497).

Assim, a passagem do estado de natureza para uma sociedade organizadapolítica ou civil, acontece quando os membros do estado dão seu consentimentounanime para a entrada deste estado civil. (WEFFORT, 2000, p.86). O grande fim dopacto é a proteção da propriedade, visto que, somente com uma organização estatalé possível garantir (por meio da coerção) os direitos dos seus membros:

As inconveniências as que se veem expostos em razão do exercício irregulare incerto do poder que um detém de castigaras transgressões de terceirosimpelem-nos a se refugiarem sob as leis estabelecidas de um governo e anele buscarem a conservação de sua propriedade. É isso que leva cada quala renunciar o seu poder individual, de castigar para que este passe a serexercido por um único indivíduo designado para tal fim. (LOCKE, 2005, p.497).

John Locke, já advertia que o desejo de chegar ao poder é mais forte que afragilidade humana, logo, não convém que as mesmas pessoas que detêm o poderde legislar tenham também em suas mãos o poder de executar as leis: [...] o legislativonão é apenas o poder supremo da sociedade política, como também é sagrado einalterável nas mãos em que a comunidade o tenha antes depositado [..] (LOCKE.2005, p. 503). Portanto, é o poder legislativo aquele que detém o direito de fixar asdiretrizes de como a força de uma sociedade política será empregada.

Locke defende ainda, a separação dos poderes estatais em:Legislativo (quecomo vimos é o poder supremo) eexecutivo , que para o autor é um direito natural

dos estados, por se tratar daquele que corresponde ao poder que o homem trazia

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naturalmente antes do pacto. Em um estado, este poder é perfeitamente legitimado enecessário para se fazer cumprir as normas emanadas do poder supremo, olegislativo “[...] como as leis elaboras de imediato e em pouco tempo têm forçaconstante e duradoura [...] é necessário haver um poder permanente, que cuide daexecução das leis que são elaboras e permanecem vigentes [...]” (LOCKE, 2005, p.515).

Mesmo que os membros da sociedade política não tenham participadoativamente no processo de atribuição do poder, ou seja, compactuado para isto,podem, pode decisão da maioria, destituir um governo caso este não cumpra comsua finalidade para qual foi criado, para isso, basta que retirem do governo oconsentimento manifestado quando aderiram ao pacto.

O poder do executivo é atribuído (por meio do consentimento da maioria dosmembros da comunidade) à uma autoridade formalmente constituída não é realizada,de forma irrevogável pelos membros da sociedade política, ficando condicionada àfinalidade para qual a autoridade foi instituída, isto é, à garantia do gozo pacífico dosdireitos naturais de todos os homens, cuja preservação é derivada diretamente da leinatural, sobrepondo-se, portanto, à autoridade constituída [...] quando um númeroqualquer de homens formou, pelo consentimento de cada indivíduo, umacomunidade, dessa forma, um corpo único, com poder de agir como um corpo único,o que se dá apenas pela vontade e determinação da maioria. (LOCKE, 2005, p. 469).Locke ressalva que a forma mais comum e quase único da dissolução do governo sedá por uma invasão estrangeira.

[...] A maneira mais comum quase única, pela qual essa união é dissolvida éa invasão de uma força estrangeira que empreende uma conquista. Poisneste caso (por não ser capaz de manter-se e sustentar-se como um corpoúnico, integral e independente) a união pertencente a este corpo e em que

este consistia deve necessariamente cessar e, portanto, todos retornam aoestado em que se encontravam antes, com a liberdade de agir por si mesmoe prover a própria segurança como julgarem mais adequado em algumaoutra sociedade [...] (LOCKE, 2005, p. 571-572).

Locke, como já foi especificado era filho de burgueses, desta forma, é deentender sua teoria em defesa da propriedade e a favor das liberdades individuais ede um estado de intervenção mínima, desta forma, com as revoltas da elite ascensãoexplodindo, criaram-se as condições necessárias e o apoio da classe burguesa, parauma nova forma de se pensar o Estado, desta forma, suas teorias norteadoras e de

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certa forma adequada ao momento, Locke destacou-se como o grande teórico doEstado liberal.

2.1.1 Democracia liberal

Vida, igualdade e propriedade, em uma Inglaterra até então dominada pelavigilância do Estado, essa foi a proposta de Locke quando pensou nos fundamentosdo Estado liberal, a sociedade (burguesia) pedia uma resposta, a burguesia foi umaclasse muito organizada e foi aos poucos viu seu poder se equiparar ao antesabsoluto poder da monarquia.

Os direitos naturais dos indivíduos, defendidos por Locke: vida, igualdade epropriedade, formam a base do pensamento liberal. O liberalismo basicamente, émarcado pela ausência acentuada do Estado na vida das pessoas, é, por assim dizer,um Estado da intervenção mínima, Bobbio, (2000 p.7) preceitua que o estado Liberal,não é necessariamente uma democracia, pelo contrário, para o autor esta forma deestado é inerente às classes possuidoras, para o autor o estado liberal clássico deLocke foi posto em crise pela abertura do processo de democratização, representadopelo processo que passa o sufrágio até o sufrágio universal máximo.

O pressuposto filosófico do Estado liberal, entendido como Estado limitado econtraposição ao Estado absoluto, é a doutrina dos direitos do homemelaborada [ela escola do direito natural (ou jusnaturalismo): doutrina segundoa qual todos os homens, indiscriminadamente, têm por natureza e, portanto,independente de sai própria vontade, e menos ainda da vontade de algunspoucos [...] certos direitos fundamentais , como o direito à vida, à liberdade, àsegurança, à felicidade – direitos esses que o estado [...] deve respeitar, eportanto não invadir e ao mesmo tempo proteger contra toda possível invasãopor parte dos outros. (BOBBIO, 2000, p.11).

O estado liberal, começa a se originar, historicamente, quando o poderabsoluto de um rei passa aos poucos por um processo de enfraquecimento, destemodo surge a oportunidade de haver revoltas, a exemplo do que ocorreu na Inglaterrano século XVII e na França no fim do século XVIII. (BOBBIO, 2000, p.14). Entretanto,não devemos confundir democracia com liberalismo, afinal, os princípios de igualdade(iniciados com Locke) já trabalhados em tópicos anteriores e vinculados ao

surgimento do Estado liberal, não estão vinculados ao surgimento do igualitarismodemocrático. Este persegue [...] o ideal de uma certa equalização estranha à tradição

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do pensamento liberal. (BOBBIO, 2000, p. 42). Como já mencionado, historicamentedemocracia e liberalismo estão destinados a não se encontrar, entretanto, uma éconsequência da outra, desta forma:

[...] não só o liberalismo é compatível com a democracia, mas a democraciapode ser considerada como o natural desenvolvimento do Estado liberalapenas se tomada não pelo lado de seu ideal igualitário, mas pelo lado de suaformula política que é como se viu a soberania popular. O único modo de tornarpossível o exercício da soberania popular é a atribuição ao maior número decidadãos do direito de participar direta e indiretamente na tomada de decisõescoletivas, é a maior extensão dos direitos políticos até o limite último dosufrágio universal. (BOBBIO, 2000, p.42/43).

Mesmo que alguns autores tenham tentado suprimir o direito à voto de muitos(é o caso de Locke que considerava cidadãos apenas os detentores de propriedade),todavia, Bobbio, explica que “o sufrágio universal nunca foi em linha de princípio,contrário nem ao estado de direito nem ao estado mínimo (2000, p.43), afinal, para oautor, não há melhor remédio contra o abuso de poder do que a participação direitaou indireta dos cidadãos, no maior número possível para a formação das leis, nesteaspecto, direitos políticos funcionam como uma extensão da liberdade e dos direitos

civis. Deste modo, percebe-se que inevitavelmente, no decorrer da história,democracia e liberalismo foram se aproximando, tanto é verdade, que hoje, apenasEstados nascidos das revoluções liberais são democráticos e apenas os estadosdemocráticos protegem os direitos do homem (BOBBIO, 2000, p. 44). Menezes,citando Daniela Cademartori, afirma que:

“[...] o estado liberal está relacionado tanto a dissolução dos laços entre poderpolítico e poder religioso, quanto a emancipação do poder econômico e,relação ao poder político, com fundamento em Nicola Matteucci e NorbertoBobbio, a autora propõe uma definição satisfatória do liberalismo que exige adelimitação do seu maior valor, a liberdade, sendo esse viés mais importanteque o estudo dos partidos políticos que surgiram durante o século XIX(MENEZES, 2012, p. 73).

Os ideais democráticos e liberais vieram gradualmente se conectando, demodo que um complementa o outro, e, se de um lado os direitos de liberdade foramcondição necessária para a aplicação do jogo democrático, igualmente importante foi

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a democracia para a garantia das liberdades individuais, contribuíram para essaassertiva, algumas aproximações históricas entre as duas como o contratualismo, onascimento da economia política e o desenvolvimento da utilitarista (MENEZES,2012, p. 74-75).

Entretanto, nos últimos tempos, Segundo o próprio Bobbio – liberalismo edemocracia começam a dar sinais de que não mais completamente compatíveis, aopasso que [...] a democracia foi levada às extremas consequências da democraciade massa, ou melhor, dos partidos de massa, cujo produto é o estado assistencial.(BOBBIO. 2000, p. 141).

2.1.2 Liberdade e igualdade

Para o autor os valores da liberdade e da igualdade então ligados à ideia dohomem como pessoa, os dois pertencem ao conceito de pessoa humana já que paraele o homem como pessoa deve ser, livre enquanto indivíduo e enquanto ser social,deve estar com os demais indivíduos numa relação de igualdade. (BOBBIO, 1996,p.7) Dentro deste contexto, os mecanismos constitucionais que delimitam os Estadosde direito existem com o intuito de defender o indivíduo de todo e qualquer abuso de

poder, neste sentido, são, garantias de liberdade, ou como prefere chamar o autor,liberdades negativas, que são aquelas entendidas “[...] como esfera de ação em queo indivíduo não está obrigado por quem detém o poder coativo a fazer aquilo que nãodeseja. Há uma acepção de liberdade – que é a acepção prevalecente na tradiçãoliberal. Para Daniela Mesquita Leutchuk de Cademartori (2001, p.15/16):

O termo “liberdade” pode ser entendido de duas formas distintas: comofaculdade de realizar ou não certas ações sem ser impedido por outrem(inclusive o poder estatal) e como poder de obedecer apenas às normasimpostas pela própria pessoa. Quem visa aumentar cada vez mais a esferadas ações não impedidas é liberal e quem persegue ações que tendem aaumentar o número das ações reguladas mediante o processo de autoregulamentação, é democrata.

Como vimos, estado liberal é aquele em que o poder público está restrito aomínimo possível, por outro lado, entende-se por estado democrático, “[...] aquele emque mais numerosos são os órgãos de auto-governo. Os mecanismos constitucionais

do estado de direito objetivam a defesa dos indivíduos contra os abusos do poder(Cademartori, 2001, p.16).

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Corroborando com Bobbio, a autora cita, o que constitui [...] a defesa daliberdade negativa, entendida como esfera de ação em que o indivíduo não estáobrigado por quem detém o poder coativo a fazer aquilo que deseja ou não estáimpedido de fazer aquilo que deseja. (Cademartori, 2001, p.16). A autora concluimencionando que este entendimento de liberdade opõe-se ao poder, sendo com eleincompatível, deste modo, à medida que aumenta o poder, diminui a liberdade.

2.2 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL

No século XVIII, Rousseau marca, o início de uma inovadora forma de sepensar na política, principalmente propondo o exercício da soberania pelo povo, comocondição primeira para sua libertação. Nascido em família pobre, Rousseau,naturalmente, ficava às margens de outros grandes pensadores de sua época,mesmo assim, isso não limitou a grandiosidade e o alcance da sua obra. (WEFFORT,2000, p.193), sendo ele um contratualista assim como Hobbes e Locke, acreditavaque um estado se forma por meio de um contrato entre os homens, porém, se por umlado o filósofo comunga de certas reflexões com outros autores da tradicional escolado direito natural, por outro, não economiza críticas aos mesmos. A motivação dopensamento de Housseau [...] está no primeiro parágrafo no capitulo I, do livro I, doContrato: “o homem nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado. O que secrê senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo do que eles. (WEFFORT, 2000,p.193-194)

Difere-se, de Hobbes por considerar opovo como o verdadeiro soberano, paraele deve haver um equilíbrio entre a liberdade natural dos indivíduos e a autoridadeexercida sobre eles. Em seu conceito, um governo só consegue manter sua

legitimidade quando responde os anseios do povo (verdadeiro soberano). Ogovernante não é o soberano, e sim mero representante da soberania popular.

O estado de natureza corresponde ao estado original dos homens, no qualnão se observa a submissão à qualquer tipo de controle ou governo. Os conflitos sãoinerentes à esta condição, decorrentes da luta pela autopreservação:

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Suponho que os homens que cheguem a este ponto, em que os obstáculosque impedem sua conservação no estado de natureza, levam, por suaresistência, para as forças que cada indivíduo pode empregar para se manternesse estado. Esse estado positivo, então, não pode substituir a o gênerohumano pereceria se não mudasse sua maneira de ser [...] (ROUSSEAU,2012, p.39)

O Homem, segundo Rousseau, que em seu estado natural é generoso,transforma-se em perverso ao conviver socialmente,O Contrato Social permiteanalisar a tentativa de condução deste indivíduo, à uma sociedade organizada econsequentemente mais justa, afastando, desta maneira, a maldade dos homens [...]A ordem social é um direito sagrado, que serve de base a todos os outros. Entretanto,este direito não vem apenas da natureza; baseia-se, pois, nas convenções [...](ROUSSEAU, 2012, cap. I, livro I)

Para o autor, o homem não pode produzir novas forças, somente unir e dirigiraquelas existentes, ou seja, administrar uma soma de forças. O pacto social, vem danecessidade de cooperação entre os homens para combater as forças da natureza.A questão a ser analisada é a seguinte: como garantir a segurança e o bem-estar davida em sociedade e, ao mesmo tempo assegurar aos indivíduos seus principaisinstrumentos de conservação o uso da força e liberdade? Para Rousseau:

Encontrar uma forma de associação, que defenda e proteja com toda a forçacomum a pessoa e pela qual um se uniria a todos, obedecendo, entretantosó a si mesmo e permanecendo tão livre quanto antes”. Tal é o problemafundamental ao qual o contrato social; fornece a solução [...]” (ROUSSEAU,2012, p. 39-40)

Defende o autor que o contrato social deve observar asoberania política da

maioria , para ele, cada indivíduo contrata consigo mesmo “[...] empenhando sob duplorespeito; a saber, como membro do soberano, em relação aos particulares e como

membro do estado em relação ao soberano [...]” (ROUSSEAU, 2012, p.43). Paraalcançar uma forma superior de liberdade o homem deve abdicar de suaindependência:

[...] embora se prive, nesse estado, de várias vantagens, que lhe provem danatureza, ele as ganha tão grandes, suas faculdades se exercem e sedesenvolvem, as ideias se alargam, os sentimentos enobrecem, toda suaalma se eleva a tal ponte que, se os abusos dessa nova condição não odegradarem, muitas vezes, abaixo da que saiu, deveria bendizer, semsessar, o feliz instante que dela o arrancou para sempre, e que, de um animal

estúpido e limitado, fez dele um ser inteligente e um homem [...](ROUSSEAU, 2012, p.47)

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Rousseau preceitua que o pacto social, não destrói a igualdade natural doshomens, mas, a substitui, (por meio do pacto social), pela igualdade moral e legítima,dificilmente alcançada no estado original, onde a diferença física é fator relevante. Ocontrato social torna todos os homens “[...] iguais por convenção ou por direito [...]”(ROUSSEAU, 2012, p. 92). Entretanto, observa que, quanto mais sofisticada asociedade se torna, maior é a tendência dos homens a se corromper.

Neste sentido a soberania é inalienável e indivisível e do pacto social emergemos conceitos que dão vida ao corpo político; a legislação corresponde ao movimentoe vontade. “Toda justiça vem de Deus, somente Ele é sua fonte; mas se nóssoubéssemos recebê-la de tão alto, não teríamos necessidade nem de governo nemdas de leis (ROUSSEAU, 2012, p.73).

O poder legislativo, diz Rousseau, pertence ao povo “e não pode pertencersenão à ele”. O governo é um corpo intermediário estabelecido entre súditos e osoberano. Os membros desse corpo são os magistrados ou reis, ou seja,governadores. Já defendia Rousseau que quem faz a lei não pode aplica-la, mesmosendo conexos os poderes legislativo e executivo, entretanto, considera importanteque, enquanto reunidos, todos os homens sejam um só corpo no intuito de se buscaralcançar o bem estar social:

[...] quando o vínculo social começa a afrouxar e o Estado a enfraquecer,quando os interesses particulares principiam a fazer-se sentir e as pequenassociedades a influir sobre a grande, o interesse comum se altera e encontraopositores; a humanidade não reina mais nos votos; a vontade geral deixa deser a vontade todos; erguem-se contradições, debates, e a melhor opinião nãoé aceita sem disputas. (ROUSSEAU, 2012, p.73)

Rousseau defende que a soberania não pode ser representada, “[...] elaconsiste essencialmente, na vontade geral e a vontade de modo algum se representa”

(Rousseau, 2012, p. 131). No que se refere ao sufrágio, o autor defende que avontade de todos os membros da sociedade é absoluta, porque, não sendo destaforma, não haveria razões inclusive para que estes se sujeitassem às decisões, destemodo o autor afirma que em um processo de decisão, os membros do estado devemdeixar de lado as suas vontades particulares em nome da coletividade, entretanto,como é impossível chegar a uma unanimidade à respeito de determinado assunto, oautor sugere que a decisão, quando mais importante, proporcionalmente deve ficar a

mais próxima possível da maioria absoluta [...] a diferença de um único voto rompe aigualdade; um único opositor quebra a unanimidade (ROUSSEAU, 2012, p. 118-119)

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Um bom governo, deve conservar a prosperidade de seus membros, ainda deacordo com a teoria de Rousseau descrita em: “O Contrato Social”, o Estado e oindivíduo unem-se de maneira indissolúvel para crescerem juntos, desfazendo-se deuma série de vantagens encontradas no estado natural, para juntos, criarem umambiente de evolução e civilização. Por isso, Rousseau, defende um Estado forte,que seja também eficiente, garantindo a verdadeira liberdade, sempre baseando-sena vontade geral, que segundo o autor “é indestrutível”.

2.2.1 Democracia Social

Como percebemos, foi Rousseau quem deu a partida para a formulação doEstado social, um estado bem diferente do Estado liberal (burguês) de Locke e doEstado do absolutista de Hobbes, percebe-se aqui, uma clara evolução nascaracterísticas do Estado levando-se em consideração os três modelos, que hoje, vê-se como uma sequência lógica, a ordem natural das coisas, bem diferente daquelaépoca em que os autores em suas respectivas épocas e realidades sociais. Buscaram(e conseguiram), com suas teses, mudar a história e foram decisivos para políticacomo a conhecemos. Tratando especificamente do Estado Social, para PauloBonavides (2007, p.165), não há como desvincular o século XVIII de Rousseau, jáque:

[...] sua considerável ação no plano das ideias só se há de comparar àquelaque veio de Karl Marx [...] Rousseau deu a democracia moderna a sua teoriapura, Marx emprestou ao socialismo a feição científica de que carecia,libertando-o das velhas utópicas, comuns a todos os predecessores. Antes edepois de Rousseau, a reação ao poder estabelecido foi sempre a reação deuma classe, no liberalismo, a reação da burguesia capitalista. No marxismo, areação da classe operária. (BONAVIDES, 2007, p 165-166).

Desta forma pode-se entender que tanto o liberalismo quando o socialismoadvém de movimentos de classes organizadas em privilégio de seus direitos. EmLocke a ideia nuclear é a proteção do indivíduo, “[...] premissa essencial do sistemacapitalista. (BONAVIDES, 2007, p 168). Rousseau defende que o poder não édesprezível, pelo contrário, deve ser entregue ao seu titular legítimo, o povo. Poroutro lado, fazendo um comparativo entre Rousseau e Marx, Bonavides elucida muito

bem os fatos observando que os dois são pessimistas, pois partem de exameprofundamente crítico e negativo da sociedade para refazê-la ou reformá-la. (2007,

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169), O Objetivo para ambas é um novo Homem. “O contrato social sacode o homemdo século XVIII, com a mesma intensidade com que o manifesto comunista abala oséculo XX. (BONAVIDES, 2007, 169).

Abordou-se neste trabalho, a transição do estado absoluto para o liberal, eagora o foco se volta para a transição do estado liberal para o Estado Social cada umsuperando o outro, como modelo. Para Bonavides (2007, p.203), estado socialsignifica Intervencionismo, patronagem, paternalismo e não se confunde com osocialismo, os dois coexistem.

Deste modo explica o autor:

Na democracia moderna oferece problemas capitais, ligados às contradiçõesinternas do elemento político sobre que se apoiam (as massas) e à hipótesede um desvirtuamento do poder, por parte dos governantes, pelo fato depossuírem o controle da função social e ficarem sujeitos à tentação, daídecorrente, de o utilizarem a favor próprio (caminho da corrupção e daplutocracia) ou no interesse do avassalamento do indivíduo (estrada dototalitarismo). (BONAVIDES ,2007, P. 203).

A liberdade pregada por Locke, sozinha não conseguiu promover uma vidadigna àqueles que compactuaram a favor do Estado, e como sabemos, qualquerpoder, precisa ou ter o controle ou o apoio da grande massa, neste viés, a transição

do Estado Liberal para o Estado Social deu-se pela falta de apoio e principalmente daobrigação de se superar o individualismo que imperava naquele momento, para PauloBonavides (2007 p. 1888): o velho liberalismo, na estranheza de sua formulaçãohabitual, não pode resolver o problema essencial da ordem econômica das vastascamadas proletárias da sociedade, e por isso entrou em crise. Outro fato a serdestacado era que a liberdade restrita de direitos políticos também mostrou-seineficaz, não oferecendo as respostas para as contradições sociais daquela época,

reconhecia-se neste momento, não de forma pacífica, a importância doreconhecimento geral da vontade política, com o mínimo de restrição, insto é,mediante sufrágio universal [...] (BONAVIDES, 2007, p.188), nascia neste momento,a democracia Social.

O Estado social da democracia, disserta Bonavides, diferencia-se do Estadosocial dos sistemas totalitários, por oferecer a garantia tutelar dos direitos dapersonalidade, possui então, uma importante característica: uma genuína vocação

jurídico-constitucional.

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Desta forma, e para concluir, o Estado social democrático, está, para o estadoliberal, assim como este foi para o Estado Absoluto, uma evolução de percepção eatitude que emana sempre do poder do povo, no intuito de superar as lacunasprovocadas pelo distanciamento entre o poder posto com as vontades/necessidadespopulares.

2.3 DEMOCRACIA COMO EXERCÍCIO DO PODER EM PÚBLICO

Passamos a analisar as teorias de Bobbio acerca do exercício do poder empúblico, de essencial importância, para a fundamentação teórica deste trabalho, umavez que, trata a respeito da transparência dos atos do poder público, esta condiçãoao certo, deveria alcançar, pelo menos, níveis médios de satisfação, isso significariaque os governos não teriam o que esconder e a população por sua vez não teria otemor da corrupção e outras consequências da falta de transparência do poderpúblico.

Bobbio sempre se ocupou dos paradoxos da democracia, das dificuldades queeste sistema de governo costuma encontrar para o que le chama de correta aplicaçãodo método democrático, para quem, reconheça, na democracia, um modelo ideal degoverno. (BOBBIO, 2000, p. 97).

Ele entende a democracia como um sistema em constante evolução, diversosaspectos influenciaram para criar a democracia da forma como a conhecemos hoje,a mercê de obstáculos não esperados, ou um insucesso da democracia. “Todas são

situações a partir das quais não se pode falar precisamente de “degeneração” dademocracia, mas sim de adaptação natural dos princípios abstratos à realidade [...](BOBBIO, 200, p.20). Os obstáculos citados por Bobbio são “as promessas não-cumpridas”, que contrastam entre a democracia ideal (aquela concebida pelos seusfundadores) e a democracia real (que é esta em que vivemos cotidianamente).

Entre as promessas não cumpridas há “a sobrevivência do poder invisível, apermanência das oligarquias, a supressão dos corpos intermediários, a revanche da

representação dos interesses, a participação interrompida, o cidadão não-educado(ou mal-educado). (BOBBIO, 2000, p.20). Algumas destas promessas desde o início

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fundiam-se emilusão , pois não poderiam ser objetivamente consolidadas outras eramesperanças mal resolvidas e as últimas chocaram-se com obstáculos imprevistos.Dentre todas destacamos duas delas: o cidadão não educado e a sobrevivência deum poder invisível que pousa sobre o poder constituído:

É clara a sua apreensão quanto a existência de um poder invisível quepermanece acima ou abaixo do poder visível, tal preocupação funda-se naexpectativa de que o poder invisível pode corromper aqueles que tem a competênciade decidir quanto aos assuntos de interesse da coletividade. Para Bobbio, nada podepermanecer confinado no espaço do mistério e mais, o governo do poder público deveser exercido em público, “[...] o caráter público do poder, entendido como não secreto,como aberto ao público [...] (BOBBIO, 2000, p. 98/100). Esta é a síntese dopensamento de Bobbio. Para o autor esta é característica é o que diferencia o estadoabsoluto do estado constitucional, para o autor, além desta premissa básica devehaver ainda para efeitos democráticos, [...] a proximidade entre o governante e ogovernado”. (BOBBIO, 2000, p. 102). Bobbio acentua a importância da publicidadedos atos do poder público:

[...] quem contribuiu para esclarecer o nexo entre opinião pública epublicidade do poder foi Kant, que pode com justiça ser considerado o pontode partida de todo discurso sobre a necessidade da visibilidade do poder,uma necessidade que é para kant não apenas política, mas moral.(BOBBIO,2000, p. 103).

Bobbio escreve, que Kant defendia ainda o uso público da própria razão, emais do que que qualquer outro contribuiu para esclarecer o nexo entre opiniãopública e publicidade do poder “[...] que pode com justiça ser considerado o ponto departida de todo o discurso sobre a necessidade de visibilidade do poder umanecessidade que é pra Kant não apensa política, mas moral [...]” (BOBBIO. 2000, p.103). Bobbio, não fosse a publicidade dos atos, nunca chegaria para juízo da massa,os escândalos que lê-se nos jornais, todos os dias. A importância dada à publicidadedo poder é um aspecto da polemica iluminista contra o estado absoluto (BOBBIO,2000, p. 106). Pode-se dizer então que a publicidade é um dos pilares da democracia.

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Nas sociedades de massa, os mais direitos herdeiros da mentira útil são ossistemas ideológicos e seus derivados [...] Os escritores democráticos sempreexecraram a “falsidade” do príncipe com a mesma fúria e a mesmaperseverança com que os escritores antidemocráticos tem invectivado contraa eloquência enganadora dos demagogos [...] o tema mais interessante, como qual é possível realmente colocar à prova a capacidade do poder visível

derrotar o poder invisível, é o da publicidade dos atos do poder, que, comovimos, representa o verdadeiro momento de reviravolta na transformação doestado moderno de Estado Absoluto em absoluto Estado de direito. (BOBBIO,2000, p.116/117).

Uma das promessas não cumpridas pela democracia, que vem ao encontro datemática proposta por este trabalho se refere aocidadão não-educado . No sentidode educação para a cidadania. Mencionando Jonh Stuart e sua obraconsiderações

sobre o governo representativo, Bobbio destaca [...] que ele divide os cidadãos em

ativos e passivos e esclarece que, em geral, os governantes preferem os segundos(pois é mais fácil dominar súditos dóceis ou indiferentes), mas a democracia precisados primeiros. (BOBBIO. 2000, p. 44). Não há como suprimir a necessidade daeducação em um regime democrático:

[...] a educação para a democracia surgiria no próprio exercício da praticademocrática. Concomitantemente, não antes, não antes como prescreve omodelo jacobino, segundo o qual primeiro vem a ditadura revolucionaria eapenas depois num segundo tempo, o reino da virtude. Não para o bomdemocrata, o reino da virtude [...] é a própria democracia, que, entendendo avirtude como amor pela coisa pública, dela não pode provar-se e ao mesmotempo a promove, a alimenta e a promove. (BOBBIO, 2000, p. 44).

As discussões acerca da democracia nos últimos dois séculos, jamaisdeixaram de abranger o fato de que o único modo de se fazer com que um súdito setransforme em cidadão e assim contribua para a democracia é de lhe atribuircidadania ativa, [...] a educação para a cidadania foi um dos temas preferidos daciência política americana nos anos cinquenta. (BOBBIO, 2000, p. 44)

Bobbio chama a atenção para as democracias já há muito consolidadas e suaapatia política e indica três fatores que vem contribuindo para o enfraquecimento dademocracia. O primeiro é que na medida que as sociedades passaram a ter umsistema econômico mais complexo, se fez necessário a intervenção de experts decada área, deixando de lado o cidadão comum, o segundo obstáculo foi o crescimentodo aparato burocrático “[...] em uma sociedade democrática o poder vai da base aovértice e numa sociedade burocrática, ao contrário, vai do vértice à base [...](BOBBIO, 2000, p. 47). O terceiro obstáculo está ligado ao sistema de rendimento

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democrático, um problema que nos últimos tempos ganhou espaço que é aingovernabilidade da democracia (BOBBIO, 2000, p. 48), que deriva do fato que oEstado liberal primeiro e o seu alargamento no Estado democrático depois,contribuíram para emancipar a sociedade civil do sistema político, este processo fezcom que a sociedade civil tornasse cada vez mais, uma fonte inesgotável dedemandas dirigidas ao governo.

Apesar de tudo, o autor chama a atenção para o fato de que nos últimosquarenta anos aumentaram os estados democráticos no mundo. Para finalizar aquestão Bobbio argumenta que “[...] nenhuma guerra explodiu até agora entreEstados dirigidos por regimes democráticos (BOBBIO, 2000, p. 50) o que quer dizersegundo o autor, isso não quer dizer que estas nações não fizeram guerras, elasapenas não o fizeram entre si. Para concluir, Bobbio entende que Kant poderia estarcerto, quando defendeu que “para se alcançar a paz entra as nações a constituiçãode cada estado deve ser republicana”.

2.3.1 Espécies de “povo”.

O poder, emana do povo, o povo é (ou pelo menos deveria ser) a premissa

originadora e norteadora da organização do Estado, desde Hobbes, passando porLocke e Rousseau, não haveria contrato se não houvesse povo, nem tampoucoEstados e muito menos os governos e seus governantes. Mas afinal, que povo éesse? O espaço para a resposta é breve dada a relevância e a complexidade destetema, entretanto algumas premissas basilares e importantes serão possíveis.

Um governo democrático, no Estado moderno, tem como tema nuclear o“povo”, mas, afinal, como entender esta força que tem o poder de erguer e derrubar

governos, acabar com regimes totalitários ou mesmo legitimá-los?

As constituições falam com frequência do povo e gostam de falar dele. A razãoestá no fato de que precisam legitimar-se. A invocação do povo deve fornecera legitimação. Se o presente estuda analisa sobriamente os modos deutilização da palavra povo no contexto constitucional, ele toca o cerne sensíveldo fator político (...), a grande narrativa do Estado moderno, a sua teodicéia.(MÜLLER, 2003, p. 33).

É inevitável mencionar que, não se pode afastar o termo “democracia”, do

termo “povo”, uma vez que é o povo quem desempenha a função nuclear nademocracia, ou seja, é ele quem dá legitimidade ao poder, por meio do voto, embora

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seja a democracia uma criação dos gregos, o termo “povo” foi utilizado pela primeiravez pelos estadunidenses:

A primeira utilização consequente do conceito de povo titular de soberaniademocrática, nos termos modernos, aparece com os norte americanos. Antesmesmo da declaração de independência que, por “respeito decente pelasopiniões do gênero humano”, principiava dando razoes pelas quais “um povovê-se na necessidade de romper os laços políticos que o ligavam a outro”,Thomas Jefferson atribuía ao povo um papel preeminente naconstitucionalização do país. (MULLER, 2003, p.20).

Friedrich Müller salienta que: “Povo não é um conceito descritivo, masvisivelmente constitucional. Sustenta ainda que “não é um conceito simples nem umconceito empírico; povo é um conceito artificial, composto, valorativo; mais ainda, é esempre foi um conceito de combate” (MÜLLER, 2003, P. 118). Este é o cerne de suateoria, que parte de uma evolução conceitual em torno de umpovo ativo , tema queserá abordado ainda no decorrer desde título.

Como dito acima,A “democracia” como a conhecemos hoje, emergiu naGrécia, sobretudo da ideia de que as decisões deveriam ser debatidas e decididas deforma consensual, demo – “povo” e cratos – “regime”, as duas somadas formam aexpressão “democracia”, que é o governo do povo para o povo. Segundo Fábio

Konder Comparato:

(...) povo não é um conceito descritivo, mas claramente operacional. Não setrata de designar, com esse termo, uma realidade definida e inconfundível davida social, para efeito de classificação sociológica, por exemplo, mas sim deencontrar, no universo jurídico-político, um sujeito para a atribuição de certasprerrogativas e responsabilidades coletivas. (MULLER, 2003, p,13/14).

Mas, afinal, quem é o povo? Esta é a indagação que permeia a obra de Muller.Seriam todas pessoas que vivem de fato no país? Somente aquelas que vivemlegalmente no país? Aqueles que possuem titularidade de direitos de nacionalidade?Os titulares de direitos civis? Os eleitores? Apenas adultos? Apenas os membros dedeterminados grupos étnicos, religiosos ou sociais?

O autor aponta que o termo pode ser dividido em quatro aspectos: “povo ativo”,“povo como instância global de atribuição de legitimidade”, “povo como ícone” e “povocomo destinatário das prestações civilizatórias do Estado”

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O Povo ativo é aquele grupo de indivíduos que participam efetivamente doprocesso eleitoral: “Por força da prescrição expressa as constituições somentecontabilizam como povo ativo os titulares de direito de nacionalidade; isso resulta aomenos da sistemática do texto (e.g. diretamente na CB, Título II, Capítulo IV, Art. 14º§§ 2 e 3;) [...] (MÜLLER, 2003 p.56).Povo como instância global de atribuição de

legitimidade são pessoas que estão submetidas ao ordenamento jurídico e o fazemsem qualquer tipo de questionamento, e desta forma, legitima tanto os representantesquanto os legisladores;

[...] o povo não é apenas – de forma mediana – a fonte ativa da instituição denormas por meio de eleições bem como - de forma imediata – por meio dereferendos legislativos; ele é de qualquer modo o destinatário das prescrições,em conexão com deveres, direitos e funções de proteção. Ele justifica esseordenamento jurídico num sentido mais amplo como ordenamentodemocrático, à medida que o aceita globalmente, não se revoltando contra omesmo [...] com a democracia o povo ativo elege seus representantes; dotrabalho dos mesmos resultam (entre outras cousas) os textos das normas;estes são, por sua vez, implementados nas diferentes funções do aparelho deEstado; os destinatários, os atingidos por tais atos são potencialmente todos,a saber, o “povo” enquanto população. Tudo isso forma uma espécie de ciclo[Kreislauf] de atos de legitimação, que em nenhum lugar pode ser interrompido(de modo não democrático), esse é o lado democrático que foi denominadoestrutura de legitimação. Mas afirmar que os agentes jurídicos estariamdemocraticamente vinculados e que aqui o povo ativo estaria atuante, ainda

que de forma mediana, não é a mesma coisa. É verdade que o ciclo dalegitimação não foi interrompido a esta altura de forma não-democrática, masfoi interrompido, parece plausível ver neste caso o papel do povo de outramaneira, como instancia global de atribuição de legitimidade democrática. Énesse sentido que são prolatadas decisões judiciais “em nome do povo”.(MULLER, 2003, p. 60/61).

Povo como ícone é aquele que estão fora do processo democrático, osexcluídos, mas, que são tidos como unificados ao conceito de povo, o ícone éintocável, portanto não diz respeito às pessoas vivas, sobre este tópico e o tópico

povo ativo se discorrerá com mais profundidade adiante, dada a importânciaconceitual deste tema:

O povo como ícone. Erigido em sistema, induz a práticas extremadas. Aiconização consiste em abandonar o povo em sí mesmo; em “desrealizar”[entrealisieren] a população, em mitifica-la (naturalmente já não se trata hámuito tempo dessa população), em hipostasiá-la de forma pseudo-sacral e eminstituí-la assim como padroeira tutelar abstrata, tornada inofensiva para opoder da violência – “notre bom peuple”. (MULLER, 2003, p.67).

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Povo como destinatário das prestações civilizatórias do Estado nada mais é doque aqueles que recebem toda a assistência Estatal, além de deveres tem por obviodireitos:

O mero fato de que as pessoas se encontram no território de um Estado é tudomenos irrelevante. Compete-lhes juridicamente, a qualidade do ser humano, adignidade humana, a personalidade jurídica. Elas são protegidas pelo direitoconstitucional e pelo direito infraconstitucional vigente [...] gozam da proteção jurídica, têm direito à oitiva perante os tribunais, são protegidas pelos direitoshumanos que inibem a ação ilegal do estado, por prescrições de diretos dapolícia e muito mais [...] as prescrições normais de direito civil, penal eadministrativo – não geram para essas pessoas apenas deveres e ônus; elas

também beneficiam-nas. (MULLER, 2003, p. 75/76).

De fato, o tema “povo” é importante, tanto é verdade, que vem insculpido noTítulo I, Art. 1º da Constituição Brasileira de 1988, promulgada junto com o documentointegral pelos “representantes do povo brasileiro”, citando que “todo poder emana dopovo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou indiretamente, nos termosdesta constituição” (CB Art. 1º, parágrafo único). (MÜLLER, 2003, P. 47). Deste

modo, engloba todos aqueles que se encontram no território brasileiro; abrangendomesmo aqueles que não possuem direitos eleitorais, e ainda aqueles excluídos emarginalizados podem socorrer-se no Judiciário:

Todas a razoes do exercício democrático do poder e da violência, todas asrazoes das críticas dependem desse ponto de partida. A explanação, bemcomo a justificação, movem-se habitualmente no campo das técnicas derepresentação de instituições e procedimentos. Só assim “o povo” entra nocampo visual; ou ainda nos momentos nos quais a delimitação (da “nação”, da“sociedade”) está em jogo. (MÜLLER, 2003, P. 47)

Insistentemente é necessário terminar este título destacando a importância doentendimento acerca do que efetivamente é:povo ativo , e povo ícone , PauloBonavides, destaca que historicamente estes elementos carregam as característicasmais importantes para o entendimento acerca estado democrático de direito, e suainteração com o poder e com as pessoas, a democracia representativa, naturalmente,realça ainda mais as características nucleares dos dois conceitos, uma vez que o“povo ativo”, após desempenhar sua cidadania legitimando o poder por meio do voto,

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acaba por transformar-se em “povo ícone”, isso porque dentro do sistemarepresentativo as condições para um exercício mais efetivo da democracia sãolimitadas e requerem um engajamento político que ultrapasse os limites do exercíciocomum da cidadania, deste modo, um povo apenas deixará de ser ícone se passar aapoderar-se efetivamente das ferramentas que o aproximam do centro das decisões,tais como: audiências públicas, referendos, plebiscitos e etc..

Para Muller, a legitimidade do sistema democrático, mais do que definiçõespolíticas e jurídicas deve nortear-se sobretudo pelo respeito ao povo, em leva-lo àsério, em trata-lo como uma realidade e não como uma ficção dentro de um mundoreal, como é o caso do povo ícone.

2.3.2 Linguagem

Antes de aprofundarmos o estudo referente à propaganda e o poder político éfundamental destacar o papel da linguagem no desenvolvimento humano. Afinal é pormeio da linguagem que evoluímos. Cada indivíduo que nasce, tem a oportunidade,por meio da linguagem de começar sua história a partir da evolução dos que vieramantes, Hobbes defende que a linguagem é a mais nobre e útil das invenções, alinguagem ganha com o advento de tecnologias cada vez mais novas formas decomunicação, para Hobbes, A invenção daimprensa, conquanto engenhosa,comparada com a invenção dasletras é coisa de somenos importância, o autor afirmaque a invenção é proveitosa já que “preserva a memória dos tempos passados e unea humanidade dispersa por tantas e tão distantes regiões da Terra [...] (HOBBES,

2003, p.32), entretanto afirma que a mais nobre das invenções foi a linguagem:

[...] que consiste emnomes ou designações e nas suas conexões, pelas quaisos homens registram os seus pensamentos, os recordam, depois depassarem, e também os manifestam ns aos outros para a utilidade econvivência recíprocas, sem o que não haveria entre os homens nemrepública, nem sociedade, nem contrato, nem paz, tal como não existem entreos leões, os ursos e os lobos. (HOBBES, 2003, p.32).

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Para Hobbes, o uso geral da linguagem consiste em passar o nosso discursomental para um discurso verbal, ou a cadeia dos nossos pensamentos para umacadeia de palavras (HOBBES, 2003, p. 33), incorporando à consciência,conhecimentos acumulados durante milênios, o que é uma grande vantagem do pontode vista evolutivo de qualquer espécie. Hobbes destaca que os usos especiais dalinguagem são em primeiro lugar registrar por meio de meditação aquilo que se vê,em segundo transmitir aos demais o conhecimento, em terceiro fazer os outrosconhecerem nossas vontades e propósitos para depois “nos agradar e nos deleitar eaos outros, jogando com nossas palavras, por prazer. (HOBBES, 2003, p.33). ”Naspalavras do linguista , filósofo e ativista político norte-americano, Noam Chomsky:

[...] a faculdade de linguagem entra de modo crucial em cada um dos aspectosda vida, do pensamento e da interação humanos. Ela é, em grande parte,responsável pelo fato de, sozinhos no universo biológico, os seres humanosterem uma história, uma diversidade e evolução cultural de algumacomplexidade e riqueza, e mesmo sucesso biológico, no sentido técnico deseu número ser enorme. (CHOMSKY, 1998, p.18)

Quando um homem, ao ouvir qualquer discurso, tem aquelespensamentos para cujo significado as palavras desse discurso e a sua conexão foramordenadas e constituídas, então dizemos que ele o compreendeu, não sendo oentendimento outra coisa senão a concepção causada pelo discurso. (HOBBES,2003, p.37). No decurso do tempo, o discurso foi usado pelos homens tanto para obem quanto para o mau, para despertar paixões ideológicas, para libertar e paraescravizar povos. Para Evaldo Becker1:

1 Evaldo Becker é Pós-doutor em Filosofia pela USP. Professor do Departamento de Filosofia da

UFS. Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da História e Modernidade

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[...] é a partir das elaborações e das relações vivenciadas na e pela língua deconvenção que o homem pode progredir, seja para o bem ou para o mal. Alíngua sofre as influências do clima e das condições nas quais ela nasce e seressente das mudanças sofridas pelo governo e pelas contingências históricasdo povo que a fala. As línguas guardam as particularidades dos povos que asfalam e se alteram de acordo com as mudanças ocorridas nos povos falantes.

Essa relação intrínseca entre o caráter das línguas e dos povos é apresentadatanto por Condillac quanto por Rousseau, apesar das diferenças que podemaí ser percebidas. (BECKER, EVALDO, Política e linguagem em Rousseau eCondillac.<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-512X2011000100003>. Acesso em: 13 de novembro de 2014).

Becker afirma, que o caráter do povo, da língua por ele falada e o seu modode governo estão intimamente relacionados. Para Condillac, segundo Becker, duas

coisas contribuem para o caráter dos povos: primeiro é o clima e depois o governo.Para Condilac, citado por Becker "o caráter de um povo sofre praticamente asmesmas variações que seu governo e não se fixa enquanto este não tenha assumidouma forma constante". Por sua vez, o governo, influindo sobre o caráter dos povos,influi também sobre o caráter das línguas.2 Entretanto, Quando fala-se em linguagem,o pensamento não deve se restringir à fala propriamente dita, mas, também todos osmeio cognitivos a linguagem corporal, visual, enfim, tudo isso é importante para a

compreensão de como a linguagem interage com o intelecto humano, porém, estenão é o intuito deste trabalho, aqui tentou-se uma breve introdução acerca daformação da linguagem apenas para conceituar o quão importante esta é para odesenvolvimento humano, os publicitário dominam as técnicas da linguagem há muitotempo, e o poder político, faz usos destes artifícios com o objetivo pouco democráticosde controle de massas.

2.3.3 A mídia (maioria/massa/propaganda) e o poder político

O povo, como já dito, possui um papel fundamental nas democracias e, nãoraro, vê suas vontades sucumbirem diante do poder constituído de seusrepresentantes, deste modo, contra o povo, ou melhor, contra a sua livre vontade,sobreponham-se toda a sorte de manipulações: políticas, midiáticas e sociais, cada

2 (BECKER, EVALDO, Política e linguagem em Rousseau Condillac.<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-512X2011000100003>. Acesso em: 13de novembro de 2014).

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uma interferindo na outra, é um mecanismo que funciona como uma engrenagem,quando uma não funciona, compromete o todo. Aí que habita a grande incógnita dademocracia representativa: a genuína vontade do povo pode não ser a mesma da dosseus representantes.

Walter Beijamin, no epílogo de seu célebre ensaio “A obra de arte no tempode suas técnicas de reprodução”, chama a atenção para a importância dasmassas na história presente e para a dificuldade que o facismo encontrava deatender a seus anseios básicos. Nas palavras de Benjamin, basta lembrar queo facismo nem cogitava em alterar o regime de propriedade. Ao pretenderorganizar as massas, o facismo não admitia que elas fizessem valer os seusdireitos, mas que apenas “se “expressassem”. O resultado disso tudo, dizBenjamin, é que o facismo “tente naturalmente a uma estetização da vidapolítica”. [...] Hitler costumava dizer ser a arte produto da grandeza políticanacional. [...] povo, arte e Estado, nas palavras de Stege, um critico nazista demúsica, constituíam um trinômio inseparável, com resultados inéditos.(LENHARO, 2006, p.36/37)

O poder - ao menos assim aparenta - desperta em seus detentores o desejoquase que irresistível pelo controle, uma vez que, com o povo sob seu domínio, émuito mais fácil executar planejamentos, perpetuando-se no poder. Para Bobbio(2000, p. 155) “Ter poder significa ter a capacidade de premiar ou punir, isto é, obtercomportamentos desejados, ou prometendo, e estando em condições de dar,recompensas”. Certamente que cada governo estabelece as leis de acordo com a suaconveniência. Por isso a importância de se entender as motivações por traz datentativa incessante de manipulação de massas, não raro, estas ações são motivadasem prol de benefícios próprios, completamente ao contrário dos preceitosdemocráticos. Os representantes, valendo-se do conhecimento empregando técnicaspersuasivas de linguagem para por meio da mídia para “moldar” a vontade do povo àsua.

São inúmeras as considerações a que o escritor Adolf Hitler teceu em MeinKampf sobre o tema da propaganda de massas. Há pelo menos dois pontosque merecem ser ressaltados, por sua importância: o primeiro diz respeito àprópria visão de Hitler sobre o que vincular, levando em conta o que elepensava sobre as condições médias do receptor a ser atingindo. O segundodiz respeito `a técnica mesmo, que chegou a níveis impressionantes deaproveitamento, tanto na etapa de preparação para o poder, quanto após asua conquista. (LENHARO, 2006, p.47)

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Um dos instrumentos mais conhecidos e eficazes para manipulação de massasé a propaganda. Grandes ditaduras se ergueram ao redor do mundo valendo-se destaformidável ferramenta persuasiva, com o nazismo esta relação fica ainda mais clara,ao passo que se não fosse pela propaganda, o nazismo certamente não haveriaalcançado voos tão altos e hoje a história seria completamente diferente:

O observador cuidadoso dos acontecimentos políticos, sempre me interessouvivamente a maneira por que se fazia a propaganda um instrumento manejado,com grande habilidade, justamente pelas organizações comunistas.Compreendi desde logo, que a aplicação adequada de uma propaganda é umaverdadeira arte, quase que inteiramente desconhecida dos partidosburgueses. (...). A que resultados formidáveis uma propaganda adequadapode conduzir, a guerra já tinha nos mostrado. (HITLER, 1983, P. 119)

Hitler, como o demonstrado no trecho acima, percebeu, desde logo,como manipular a força vital que permeia o povo, utilizando-se para tanto, dapropaganda que fundamentava suas devastadoras teorias utópicas tristementeconhecidas por todos nós. Após o nazismo se estabelecer na Alemanha em 1933,

Adolf Hitler instituiu o chamado Ministério do Reich, departamento responsável pelapropaganda do governo com o intuito de criar no povo alemão o apoio necessáriopara exercer livremente os planos governamentais, para tanto utilizava-se dapanfletagem, do teatro, da música, e do rádio.3

O essencial da propaganda era atingir o coração das grandes massas,compreender seu mundo maniqueísta, representar seus sentimentos. A massaseria como as mulheres, cujo a sensibilidade não captaria os argumentos denatureza abstrata, mas seria tocada “por uma vaga sentimental nostalgia poralgo forte que as complete”. (LENHARO, 2006, p.48)

O ditador observou com aqueles conhecia como inimigos (comunistas),as técnicas de propaganda de guerra, chegando à conclusão de que a propagandaalemã não era eficaz. Examinando atentamente o resultado da propaganda de guerra

3Disponível em: http://www.ushmm.org/wl /pt!r/"rti le.php#$o%ule&%'10005202 . ( prop"g"n%" políti "n")ist"* " ess"%o em 10/11/2014

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alemã, chegava-se à conclusão de que era ineficiente na forma e psicologicamenteerrada na essência”. (HITLER, 1983, p.119)

O fim da propaganda não é a educação cientifica de cada um, e sem, chamara atenção da massa sobre determinados fatos, necessidades, etc., cujaimportância só assim cai no círculo visual da massa. A arte estáexclusivamente em fazer isso de uma maneira tão perfeita que provoque aconvicção de verdade de um fato, da necessidade de um processo, e da justeza de algo necessário, etc. (...) Toda propaganda deve ser popular eestabelecer o seu nível espiritual de acordo com a capacidade decompreensão do mais ignorante dentre aqueles à quem ela pretende se dirigir.(HITLER, 1983, P.121)

Hitler argumenta que propaganda é arte, e que, um povo que não temhonra, pode facilmente, perder a sua liberdade, por isso procurava despertar naspessoas ideias nacionalistas, de honra e glória, neste sentido, adverte que apropaganda deve ser dirigida à massa menos culta. Para os intelectuais, ou paraaqueles que, hoje, infelizmente assim se consideram, não se deve tratar depropaganda e sim de instrução cientifica (Hitler, 1983, p. 121). É de se reparar namanipulação psicológica da massa, como forma a alcançar um fim esperado, neste

viés, a propaganda deve ser um meio e não um fim em si.

A arte da propaganda reside justamente na compreenção da mentalidade edos sentmentos da grande massa. Ela encontra, por forma psicologicamentecerta, o caminho para a atenção é para o coração do povo. que nossos sabidosnão compreendao isso, a causa está na preguiça mental ou no seu orgulho.(HITLER, 1983, p.121)

O autor destaca ainda que o povo tem uma capacidade de compreensãolimitada, entretanto possui uma grande capacidade em esquecer, talvez seja por issoque Maquiavel, que em sua obra “O Príncipe” escreve que: "o conquistador deveexaminar todas as ofensas que precisa fazer, para perpetuá-las todas de uma só veze não ter que renová-las todos os dias. Para o autor, portanto, é um erro repetir amaldade constantemente, entretanto, o bem deve ser feio aos poucos, para [...] incutirconfiança nos homens e ganhar seu apoio através de benefícios. (...) As injúriasdevem ser feitas a fim de que (...) ofendam menos, enquanto os benefícios devem serfeitos pouco a pouco, para serem melhor apreciados." (MAQUIAVEL, cap. VIII p.61)

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Ainda no campo psicológico, segundo Hitler propaganda devia restringir-se apoucos pontos, para não provocar uma atividade dispersiva, já que a multidão, nãoconsegue guardar o assunto quando é muito dispersivo, há de se lembrar que apanfletagem foi a grande forma encontrada pelo nazismo para difusão de ideias, quequando não bem acertadas poderiam provocar o efeito contrário, “Tudo isso era aconsequência de se entregar esse serviço de propaganda ao primeiro asno que seencontrava, em vez de compreender que para este serviço é necessário um profundoconhecedor da alma humana. (HITLER, 1983, p. 122). Qualquer ocasião podia serutilizada como meio de manipulação social pela agência de propaganda nazista:

Quando Wessel, chefe das AS em Berlim, um típico proxeneta, foi assassinadopor um militante comunista , numa disputa por uma prostituta, Goebbelstrabalhou o evento de modo a converter Wessel no grande mártir domovimento nazista. Toda sua agonia foi acompanhada detalhadamente pelaimprensa nazista durante semanas, de fevereiro a janeiro de 1930. Um hinofoi composto em sua homenagem [...] durante o cortejo fúnebre [...] milharesde pessoas vestindo a tarja e luto, postaram-se nas ruas e calçadas.(LENHARO, 2006, p.39)

Para Hitler, a maioria das pessoas tem índole feminina e se deixam levar mais

pela emoção do que pela razão, ele afirma que não são sentimentos complicados,mas simples de entender. “São positivos ou negativos: amor ou ódio, justiça ouinjustiça, verdade ou mentira, porém nunca é um meio termo (HITLER, 1983, p.123),segundo o autor, tudo isso foi compreendido pelos ingleses que utilizaram destaausência de razão, para potencializar a sua propaganda. A prova do conhecimentoque os ingleses haviam percebido, segundo Hitler, foram as divulgações dascrueldades que o exército alemão, cometeu.

Essa tática serviu para assegurar, de maneira absoluta, a resistência no front,mesmo na ocasião das maiores derrotas. Além disso persistiu-se na afirmaçãode que o inimigo alemão era o único culpado pelo rompimento de hostilidades.Foi a mentira repetida e repisada constantemente, propositadamente, com ofito de influir na grande massa do povo, sempre propensa a extremos.(HITLER, 1983 p.123)

Em uma das passagens de sua obra, Hitler afirma que: só mesmo nossosestadistas falhos de espírito poderiam imaginar que com esse pacifismo anódino e

cheirando a flor e de laranja se conseguisse despertar o entusiasmo de alguém ao

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ponto de arrastá-lo ao sacrifício até da vida (1983, p124), numa clara crítica à falhapropaganda alemã antes de sua ascensão ao poder.

Outra medida eficaz de propaganda foi a produção de cinema nazista, sendoque, pela sua importância, encontrava-se estreitamente vinculada ao crescimento dopróprio partido. Durante a campanha eleitoral de 1930, os nazistas receberam o apoioda imprensa do partido nacional (LENHARO, 2006, p.52). Deste modo Hitler ganhouespaço nos meios de comunicação, especialmente na televisão. “O ministro dapropaganda, Joseph Goebbels declarou que a produção cinemato-gráfica era umadas fontes mais potentes da época para divulgar o antissemitismo e o nazismo.(BERTÃO, 2010, p.14) Ainda de acordo com Lenharo, a escala eleitoral teve muitohaver com a utilização do cinema que na época era o meio mais moderno decomunicação para se atingir a massa:

[...] de acordo com a afirmação de Gobbels, “através de seu efeitopenetrante e durável” [...] foram produzidos 1.350 longas-metragem nosdoze anos de domínio nazista. [...] Dizer que filmes comerciais fossemapolíticos não passa perto da verdade. A sua maneira, eles exprimiam osvalores do regime. (LENHARO, 2006, p.52/53).

A propaganda nazista preparava o povo para uma guerra, insistia em

perseguições, reais ou imaginárias, colocando as etnias alemãs como vítimas. “Estaspropagandas procuravam gerar lealdade política e uma “consciência racial” entre aspopulações de etnia alemã que viviam no leste europeu, em especial Polônia eTchecoslováquia. [...]4, percebe-se facilmente, a tentativa de distorcer a realidade dosfatos, uma vez que o objetivo da propaganda era mostrar que as demandas daAlemanha poderiam ser justificadas. Como vimos antes, a grande “virtude” de Hitler,foi ter percebido prontamente o poder da persuasão da propaganda, quando bemdirigida, ele as empregou a seu favor o tempo inteiro, do início ao fim de seus diascomo líder alemão.

4 Disponível em: http://www.ushmm.org/wl /pt!r/"rti le.php#$o%ule&%'10005202 . ( prop"g"n%" políti "n")ist"* " ess"%o em 10/11/2014.

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O regime nazista até o final utilizou a propaganda de forma efetiva paramobilizar a população alemã no apoio à sua guerra de conquistas. Apropaganda era também essencial para dar a motivação àqueles queexecutavam os extermínios em massa de judeus e de outras vítimas do regimenazista. Também serviu para assegurar o consentimento de outras milhões depessoas a permanecerem como espectadoras frente à perseguição racial e ao

extermínio em massa de que eram testemunhas indiretas. ( BECKER,EVALDO, Política e linguagem em Rousseau e Condillac.<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-512X2011000100003>. Acesso em: 13 de novembro de 2014).

Dando um salto da propaganda política alemã para, as novas estratégias demanipulação de massas, e neste intuito, Noam Chomsky, linguista e cientista políticoestadunidense, é essencial para os estudos, sua contribuição para a linguísticaempregada nos dias atuais é generosa, uma breve, porém, certeira enumeração detópicos acerca da manipulação de massas roda o mundo pela web neste pequenoartigo ele elenca as “10 estratégias de manipulação”, usadas pela mídia5, segundo oautor, um dos métodos é - criar problemas, depois oferecer soluções:

+..., também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema,uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que esteseja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixarque se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizaratentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis desegurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma criseeconômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dosdireitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.6

Há ainda outras formas de jogos psicológicos que percebemos diuturnamenteem veículos de comunicação, porém, para o autor, umas das mais eficazesferramentas é a estratégia da distração “que consiste em desviar a atenção do públicodos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas eeconômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações ede informações insignificantes, Chomsky, destaca-se ainda, a técnica da gradação:

5

-st"s t ni "s n o s o us"%"s "pen"s pel" mí%i"* m"s* t"m! m por: org"ni)" es e on mi "s* governos* eempres"s priv"%"s ue preten%er "tingir em heio o intele to %"s pesso"s.

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Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-lagradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira quecondições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foramimpostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações,precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já nãoasseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado

uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez. Disponível em:<http://www.institutojoaogoulart.org.br/noticia.php?id=1861>.Chomsky,Noam.10 estratégias de manipulação” através da mídia. Acesso em: 11 de novembrode 2014).

Citando outras formas de manipulação pode-se destacardirigir-se ao

público como crianças de baixa idade , como vimos Hitler já usava esta estratégia nonazismo, e hoje é habitual esta estratégia, assistimos nas últimas eleiçõespresidências (2014), tal artificio escancarado em propagandas políticas

(imbecilizadas) de praticamente todos os partidos. Destaca-se, outrossim,utilizar oaspecto emocional muito mais do que a reflexão , como vimos, Hitler tambémmenciona esta técnica,manter o público na ignorância e na mediocridade e estimular

o público a ser complacente na mediocridade . Bobbio defende que o povo nãoeducado, como uma das promessas não cumpridas pela democracia),reforçar a

revolta pela autoculpabilidade, que basicamente consiste em fazer o indivíduoacreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da

insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Efinalmente,conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem , notranscorrer dos últimos 50 anos, para Chomsky, os avanços acelerados da ciênciatêm gerado uma crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelaspossuídas e utilizadas pelas elites dominantes7. Todas as outras Estratégias deManipulação Midiática estão anexadas à este trabalho. É necessário mencionar, queo intuito da presente pesquisa, não é assumir os dogmas de qualquer ideologiapartidária, mas sim, analisar as conexões entre governo (poder) e mídia (linguagem)e como esta relação interfere em um Estado Democrático de Direito. Mesmo porque,a manipulação de massas, não foi um privilégio exclusivamente de nazistas mastambém de comunistas, essa interferência não cessa com democratas ourepublicanos, ou mesmo com aqueles partidos que se auto conclamam como deesquerda ou de direita, é do poder constituído que estamos falando.

7

Disponível em: <http://www.institutojoaogoulart.org.br/noticia.php?id=1861>. Acesso em: 11 denovembro de 2014).

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Nas últimas décadas, assistimos a uma grande evolução tecnológica tambémda mídia eletrônica, e o poder político, logicamente pega carona neste bondetecnológico, utilizando com destreza das novas ferramentas de comunicaçãodisponíveis para atingir o povo e sua liberdade.

Depois da panfletagem, do rádio, do cinema, da televisão e outras mídiasprovenientes de tempos passados, assistimos em meados dos anos 80 a chegadados computadores e da internet e, de lá pra cá, sua popularização, vimos ainda maisrecentemente o advento dossmartphones. São bens de consumo bastante desejadose que estão inteiramente inseridos no nosso dia a dia transformando completamenteo hábito das pessoas.

Há aqui, uma mudança de paradigma perigosa, em tempos nem tão remotosassim, o homem e a mídia eram duas coisas distintas, fácil de perceber, ao passo deque, hoje, homem e mídia fazem, cada vez mais, parte de um mesmo corpo, a mídiaestá Para O homem, mas. Está No homem. Isso quer dizer que, se antes umapropaganda era dirigida para todos de forma indeterminada, hoje, por meio das novasmídias ela está com o homem onde esse está (em casa, no trabalho, na cama, nobanheiro, em eventos sociais, etc...), e além do mais, absorve um conhecimentotamanho dos hábitos de cada sujeito, que mesmo antes deste indivíduo desejar algo,um dispositivo eletrônico já saberá por ele. Desta forma, a propaganda pode serpersonalizada para cada indivíduo, alcançando níveis de persuasão nunca antesalcançados. Por essas e outras que algumas redes sociais, por exemplo, tem um valorde mercado quase que inestimável.

Depois de três mil anos de explosão, graças às tecnologias fragmentárias emecânicas, o mundo está implodindo. Durante as idades mecânicasprojetamos nossos corpos no espaço. Hoje, depois de mais de um século detecnologia elétrica , projetamos nosso próprio sistema nervoso central numabraço global, abolindo tempo e espaço [...] estamos nos aproximandorapidamente da fase final das extensões do homem [...] ( MARSCHALL, 2003,p.17)

Estereótipos dos novos e dos velhos tempos, é para se pensar. Rousseauacredita que a verdadeira democracia é impraticável, embora deva-se sempreprocurá-la, segundo o autor esta não seria possível principalmente pelo tamanho dosEstados, e no fato da dificuldade de reunir o povo, mas hoje, com essas novas

ferramentas, um Estado de proporções continentais como o Brasil, não poderia, destepondo de vista, ser considerado pequeno? Afinal, todos estamos conectados à uma

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grande rede, por outro lado, qual será a influência destas mídias como meio depersuasão de massas, daqui para frente, nos Estados, na democracia na paz mundial,afinal, se o nazismo conseguiu um amplo apoio da maioria do povo alemão e polarizouo mundo em uma guerra sem precedentes, do que seria capaz com estas novíssimase amplas ferramentas que decifram a ciência humana?

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3 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E O PODER JURÍDICO

3.3 DEMOCRACIA CONSTITUCIONAL

Antes de tudo é necessário destacar que o constitucionalismo abordadoneste tópico é o jurídico, mesmo porque o constitucionalismo político, segundoFerrajoli, é um modelo já antigo, mais ligado à limitação do poder por meio dasconstituições rígidas do segundo pós guerra (ROSA, et at., 2012, p.14), abre-se estetópico e destaca-se sua importância, porque é por meio do constitucionalismo jurídico,que foi possível a positivação de direitos que antes ocupavam apenas o campo dos

princípios da justiça. É uma forma de se atenuar a frieza da letra da lei característicado positivismo jurídico. Um complemento segundo Ferrajoli. Com oconstitucionalismo, e a teoria principialista, abriu-se espaço para princípios ético-político como igualdade, dignidade das pessoas e os direitos fundamentais, ou seja,uma das linhas delineadoras do positivismo, a separação entre direito e moraldesaparece. Ferrajoli destaca outro aspecto desta teoria:

[...] a concepção de que grande parte das normas constitucionais, a começarpelos direitos fundamentais, não mais como regras suscetíveis de ponderaçãoou balanceamento, porque se encontram, entre eles, virtualmente um conflito[...] não pode pode ser entendido exclusivamente como um sistema de normas, mas também como uma prática jurídica. (ROSA, et at., 2012, p.20)

O constitucionalismo que ganhou força a partir das revoluções dosséculos XVII e XVIII, sobretudo a revolução francesa, firmou-se no mundo ocidental.No século XIII, a Magna Carta , já assinalava os preceitos básicos do

constitucionalismo: como o Estado com poderes limitados e a declaração dos"Direitos Fundamentais da Pessoa Humana". Nas palavras de Elias Jacob:

[...] o paradigma da democracia constitucional nasceu no quinquênio 1945 –1949, período posterior à derrota dos regimes nazifascistas. Ainda que tenhamtido maior influência na Alemanha e na Itália aas circunstancias culturais epolíticas protegidas na cartas das nações unidas de 1945 e na declaraçãouniversal dos direitos humanos de 1948 expandiram-se como modelos degrande parte dos regimes democráticos contemporâneos graças ao novoconteúdo das constituições escritas. Após aquele período, elas passaram aincluir, em seu texto, a garantia da divisão dos poderes dos direitos

fundamentais de daquilo que Ferrajoli caracteriza como a verdadeira invençãodo século XX: a garantia de rigidez constitucional. (MENEZES, 2012, 100)

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Este modelo de Estado se contrapõe aos regimes absolutistas onde umsujeito é detentor de todo o poder do Estado, para Ferrajoli: Há muitas concepçõesdiferentes de constituição e constitucionalismo. Uma característica comum entre elaspode ser identificada na ideia de submissão dos poderes públicos, inclusive o PoderLegislativo, a uma série de normas superiores como são aquelas que, nas atuaisconstituições, sancionam direitos fundamentais. (ROSA, et at., 2012, p.13) Ainda naspalavras de Ferrajoli:

O constitucionalismo equivale, como sistema jurídico, a um conjunto de limitese de vínculos substanciais, além de formais, rigidamente impostos a todas asfontes normativas pelas normas supraordenadas; e, comoteoria do direito , auma concepção de validade das leis que não está mais ancorada apenas naconformidade das suas formas de produção a normas procedimentais sobrea sua elaboração, mas também na coerência dos seus conteúdos com osprincípios de justiça, constitucionalmente estabelecidos. (ROSA, et at., 2012,p.13).

Já, uma constituição democrática, pode ser definida como um modelolimite que serve para determinar o nível democrático dos ordenamentos jurídicos. Adivisão dos poderes é uma importante norma de reconhecimento da democracia

constitucional. A democracia e o liberalismo, segundo Ferrajoli, estão umbilicalmenteligados, entretanto, quando ademocracia é apenas formal e o liberalismo é entendidomeramente como ausência dos limites do poder do estado, não há o que se falar emconstitucionalismo e consequentemente em democracia constitucional, esta somenteocorre quando há uma sujeição de todo e qualquer poder (público ou privado) àscartas constitucionais.

Política e mercado configuram-se, desse modo, como esfera do decidível,rigidamente delimitada pelos direitos fundamentais, os quais, justamente porestarem garantidos a todos e subtraídos da disponibilidade do mercado e dapolítica, determinam a esfera do que deve ou não deve ser decidido, sem quenenhuma maioria, nem mesmo a unanimidade – possa decidir legitimamenteviolá-los ou não satisfazê-los (FERRAJOLI, 2008, citado por MENEZES, 2012,p. 99/100 ).

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Para Menezes (2012, p.110), citando Ferrajoli, “a separação orgânica do poderé uma norma de competência relativa às funções de uma instituição que estabeleceque os funcionários autores dos atos com que essas funções são exercidas não sãodesignados por funcionários de outras instituições. Ferrajoli, (ROSA, et at., 2012,p.13), defende que o constitucionalismo pode ser concebido de duas maneirasopostas: se por um lado ele pode ser entendido como a superação de um sentidotendencialmente jusnaturalista, por outro também pode ser compreendido como suaexpansão e ou seu complemento. A primeira concepção, frequentemente etiquetadade “neoconstitucionalista”, é seguramente a mais difundida. (ROSA, et at., 2012,p.22),

Podemos falar de um nexo entre democracia e positivismo jurídico que secompleta com a democracia constitucional. Este nexo entre democracia epositivismo geralmente é ignorado. Entretanto devemos reconhecer quesomente a rígida disciplina positivista da produção jurídica está em grau dedemocratizar tanto a sua forma quanto os seus conteúdos. (ROSA, et at.,2012, p.23).

Sinaliza, o autor, para a conexão que existe entre a democracia e opositivismo jurídico. Para ele, o positivismo se completa com a democracia

constitucional. Neste entendimento, somente o conteúdo positivado da cultura jurídicaé capaz de ampliar a forma e o conteúdo da produção de normas jurídicas.

[...] comofilosofia e como teoria política , o Constitucionalismo positivista ougarantista consiste em uma teoria da democracia, elaborada não apenas comouma genérica e abstrata teoria do bom governo democrático, mas sim comouma teoria da democracia substancial, além de formal, ancoradaempiricamente no paradigma de direito ora ilustrado (FERRAJOLI, 2012, p.25).

Como podemos destacar ao longo do trabalho, é unanimidade entre osescritores democráticos, que deve haver, a efetiva participação popular no processodemocrático como um todo, não apenas nas eleições, a influência destas técnicas demanipulação de massas no Estado democrático é concreta, uma vez que um partidopolítico embora com poderes limitados pela constituição, consegue a legitimação dopovo (povo ativo/ícone), para processos que vão de encontro à vontade popular e

consequentemente da democracia.

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Embora a democracia constitucional apareça como uma grande ferramentagarantidora de direitos ela ainda se mostra ineficaz em alguns aspectos, entre osquais, pode-se destacar às dificuldades de transparência no que se refere aoexercício do poder em público (teoria de Bobbio), outro fator de destaque é aparticipação do povo na democracia (ou falta dela), ainda que a constituição garantaem nosso pais, além da democracia representativa, também a democracia direta pormeio de plebiscitos, referendos, consultas populares, tais expedientes não passamde meras formalidades, quando trazidos para o plano da realidade, visto que, poucose leva em consideração, quando no processo legislativo.

3.1.1 A Democracia e a Concretização de Direitos

Um sistema político somente pode ser considerado como democrático sehouver uma efetiva concretização de direitos, e observar além das suascaracterísticas formais, aquelas inerentes aos direitos humanos, garantindo àsminorias o direito de resistir contra os representantes da maioria, desta forma, todasas democracias constitucionais, são pró minoria.

O constitucionalismo, diz Luigi Ferrajoli, é inegavelmente um fenômeno emestado permanente de evolução, ocasionando uma série de repercussões naspróprias práticas constitucionais. A democracia atual pode não encontrar a respostapara suas demandas no constitucionalismo formal. No Brasil com constituição de1988, uma série de promessas insculpidas em seu texto não ganharam amparomaterial para sua concretização, este é um motivo relevante e colaborativo para ofenômeno do protagonismo do judiciário em nosso país.

O constitucionalismo rígido, como escrevi inúmeras vezes, não é umasuperação, mas sim um reforço do positivismo jurídico [...] representa,portanto, um complemento tanto do positivismo jurídico como o do Estado deDireito: do positivismo jurídico porque positiva não apenas o “ser”, mastambém o “dever ser” do direito; e do Estado de Direito, porque comporta asubmissão, inclusive da atividade legislativa, ao direito do controle deconstitucionalidade. (ROSA, et at., 2012, p.22/23)

Para Ferrajolli, o garantismo é a outra face do constitucionalismo, o autor édefensor da divisão de direito e moral, sendo, desta forma, uma consequência do

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princípio da legalidade, Na tentativa de se garantir que a atividade jurisdicional sejasubmetida única e exclusivamente à lei.

Na verdade, para Ferrajoli, positivismo jurídico vem entendido, simplesmente,como o modelo que reconhece como direito qualquer conjunto de normaspostas ou produzidas por quem está autorizado à produzi-las, independentedos seus conteúdos e, portanto, de sua eventual injustiça. (ROSA, et at., 2012,p.22/23).

Nos últimos tempos o ativismo judicial ganhou força como umatendência mundial, que é ainda mais acentuada no Brasil, o dever garantidor doEstado, que é defendido por Ferrajoli, não raro, toma forma por meio da justiça, paraAndré Karam Trindade8 ocorreu [...] a expansão do Poder Judiciário [...] após a

segunda guerra mundial e o fenômeno da judicialização da política , (ROSA, et at.,2012, p.109). Karam ensina que o resultado é a culminação de uma viradaconstitucional na América Latina, ou seja, a transição do passivismo para o ativismo judicial. (ROSA, et at., 2012, p.109).

Independente da forma como se apresente, o ativismo judicial ultrapassa asfronteiras dacommon law, na medida em que o constitucionalismo do segundopós-guerra é reconhecido pela positivação de uma série de princípios e, ainda,pela ampliação dos espaços de jurisdição, de maneira que muitos teóricospassaram a falar em direito judicial no interior dacivil law. (ROSA, et at., 2012,p.112).

Para o autor o exercício do judiciário para além de suas fronteiras ultrapassaos limites do sistemacommon law ao passo em que “o constitucionalismo do segundopós guerra é reconhecido pela positivação [...] de princípios e [...] ampliação dosespaços jurisdicionais muitos teóricos passaram a falar em direito judicial no interiorda civil law . (ROSA, et at., 2012, p. 112).

De fato este protagonismo do poder judiciário é uma medida que visa aconcretização de direitos e particularmente da democracia constitucional, entretanto,existem outras formas de se garantir o exercício livre da democracia. Como exemplopode-se citar a democracia participativa.

8 Segundo o autor, o texto que está incluso na obra: Garantismo, Hermenêutica e

(neo)constitucionalismo - UM DEBATE COM LUIGI FERRAJOLI, faz parte de suas pesquisas dedoutoramento, especialmente do debate com Luigi Ferrajoli e Lenio Streck durante o IV SimpósioNacional de Direito Constitucional, realizado entre os dias 20 e 22 de maio de 2010 em Curitiba-PR.

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A democracia liberal conforme J.J. Camon De Passos9, foi fruto da dissoluçãoentro os poderes políticos e econômicos, já a democracia social aparece como umatentativa de reaproximação de ambos, desta forma, o estado assume além das tarefasde promoção, coordenação e planejamento, mas ele próprio se fazendo produtor eempresário.

Marchamos, agora, para um terceiro tempo – o da democracia participativa.Por ela tenta-se manter a interação entre o econômico e o político e suaformulação jurídica, mas porfia-se por superar o exarcebamento do Estado emdetrimento da liberdade, recuperando-se, para a sociedade, um poder decontrole que a democracia liberal e a social democracia não previam nemefetivaram, salvo pelo mecanismo do voto e pela pressão da opinião pública,que se revelaram insuficientes e insatisfatórios. (GRINOVER, 1988. p.92).

O referido autor entende que a vocação democrática do mundo moderno jánasceu comprometida, submersa na compreensão do mundo e do homem postapelas expectativas econômicas e políticas da burguesia emergente. [...] Inexistepureza no direito. O jurídico coabita, necessariamente, com o político e com oeconômico. Toda teoria tem conteúdo ideológico. Inclusive a teoria pura do direito [...](GRINOVER, 1988. p.83).

Para Bonavides, o Estado democrático partcipativo é o futuro do

constitucionalismo, esta teoria seria parte da solução para algumas problemáticas dademocracia, entre elas o afastamento das pessoas da política e a crise darepresentatividade, segundo, e é de fundamental importância que um Estadodemocrático de direito, observe sempre a soberania popular

[...] o princípio da soberania popular compendia as regras básicas de governoe de organização estrutural do ordenamento jurídico, sendo, ao mesmo passo,fonte de todo o poder que legitima a autoridade e se exerce nos limitesconsensuais do contrato social. Encarna o princípio do governo democrático esoberano, cujo sujeito e destinatário na concretude do sistema e o cidadão [...]Em suma, o princípio da soberania popular é a carta de navegação dacidadania rumo às conquistas democráticas, tanto para esta como para asfuturas gerações. (BONAVIDES, 2001 p.10/11/12).

9 J.J. Camon De Passos é colaborador na obra: PARTICIPAÇÃO E PROCESSO, São Paulo: Revista

dos Tribunais, 1988.

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Bonavides, pondera que: “Povo é aquela parte da população capaz departicipar, através de eleições, do processo democrático, dentro de um sistemavariável [...]” (BONAVIDES, 2001, p.52). Entende ainda que não existe democraciasem participação e, se de um lado, é o povo quem legitima o poder, por outro lado, àele deve se submeter. O autor parte da concepção de democracia que foi aplicadapor Lincoln, como sendo “governo do povo, pelo povo e para o povo”:

O povo da democracia participativa e o povo que iluminou a cabeça de Lincolnquando ele definiu democracia - o governo do povo, para o povo e pelo povo.Ha demagogia nisso? Não. Ha verdade e certeza. Os hipócritas da classedominante ocultaram nas vestes representativas da vontade popular, falseadadurante séculos, sua sagrada aliança com o capitalismo. Usufrutuários de umpoder usurpado, intentam hoje, mediante a implantação ideológica doneoliberalismo, revogar a dialética e a história, paralisando o mundo naeternidade da globalização comostatus quo da injustiça e das desigualdadessociais. (BONAVIDES, 2001, p.14).

BONAVIDES, acredita que o Estado democrático participativo, incorpora a sias qualidades da liberdade e da igualdade, e aperfeiçoa a democracia no sentido departicipação [...] O Estado democrático-participativo libertará povos da periferia,transformando-se em trincheira de sobrevivência, desafio e oposição as infiltraçõesletais da diátese globalizadora que mina o organismo das sociedades do TerceiroMundo. E entendem-se por Estado democrático participativo, logicamente aparticipacao

3.1.2 Da Democracia formal à substancial

Para Bobbio, a política enquanto prática humana, deve conduzir à reflexãoquanto ao conceito de poder. O poder se conecta à ideia de posse de meios para se

obter vantagem de um homem sobre os outros. Deste modo, o poder político serealiza por meio do poder que um homem pode exercer sobre outros, a exemplo darelação entre governante e governados.

O autor, defende que "a linguagem política moderna conhece também osignificado de democracia como regime caracterizado pelos fins ou valores emdireção aos quais um determinado grupo político tende e opera. (BOBBIO, 1987,p.157). Estes fins ou valores, são princípios adotados para dividir a democracia entreformal e substancial, regime não democrático e democrático, “assim, foi introduzida a

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distinção entre democracia formal, que diz respeito precisamente à forma de governo,e democracia substancial, que diz respeito ao conteúdo desta forma. (BOBBIO, 1987,p.157). Temos que a primeira tem como característica a universalização decomportamentos, de uma maneira prática, exemplifica-se que na democraciaparticipativa o representante toma decisões com conteúdo difuso, seus atos sãodirecionados para todo o povo, enquanto que a segunda baseia-se principalmente emideais democráticos sempre pendendo ao igualitarismo. Assim, democracia formal éo governo do povo e a substancial é o governo para o povo.

A legitimidade histórica, porém, não autoriza a crer que tenham, não obstantea identidade do termo, um elemento conotativo comum. Tanto é verdade quepode ocorrer historicamente uma democracia formal que não consiga manteras principais promessas contidas num programa de democracia substancial e,vice-versa, uma democracia substancial que se sustente e se desenvolvaatravés do exercício não democrático do poder. (BOBBIO, 1987, p.157/158).

Algumas perguntas são necessárias para entender a democracia além do queuma forma de governo, Quem governa? E Como governa? Para Bobbio, a linguagempolítica moderna conhece também o significado de democracia como regimecaracterizado pelos fins ou valores em direção aos quais um determinado grupopolítico tende e opera.

O princípio destes fins ou valores, adotado para distinguir não mais apenasformalmente mas também conteudisticamente um regime democrático de umregime não democrático, é a igualdade, não a igualdade jurídica introduzidanas Constituições liberais mesmo quando estas não eram formalmentedemocráticas, mas a igualdade social e econômica (ao menos em parte).Assim foi introduzida a distinção entre democracia formal, que diz respeitoprecisamente à forma de governo, e democracia substancial, que diz respeito

ao conteúdo desta forma. (BOBBIO, 2007, p.157)

Para Bobbio, há de se separar em favor de liberdade o que é concreto com oque não passa de promessa. Estes dois conceitos podem ser encontradas emsintonia na teoria democrática de Rousseau “já que o ideal igualitário que a inspirase realiza na formação da vontade geral, e portanto são ambos historicamentelegítimos”. Bobbio não concorda com tal teoria porque para ele pode ocorrerhistoricamente uma democracia formal que não consiga manter as principaispromessas contidas num programa de democracia substancial e, vice-versa, uma

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democracia substancial que se sustente e se desenvolva através do exercício nãodemocrático do poder. (Bobbio, 2007,p.158), para o autor uma democracia queconsiga ao mesmo tempo ser formal e substancia seria perfeita, entretanto é muitopouco provável que um regime tão perfeito vire realidade.

3.1.3 Os efeitos da mídia de massa e a ineficácia da democracia constitucional

Muito se fala em crise da representatividade esta não é uma preocupaçãoapenas nosso país, mas do mundo, assistimos à pouco, em veículos de comunicaçãode abrangência nacional, grandes protestos e enorme insatisfação popular com ospoderes constituídos, mesmo assim, constatou-se mais tarde, com o fim do processoeleitoral, que aquelas vontades populares se esvaziaram, é como gritar à um surdo,não se consegue a resposta.

O fato é que a mídia de massa, como comentamos, possui uma interferênciasignificativa na democracia constitucional, porque como o visto no decorrer destetrabalho, a mídia exerce sobre a população, por meio da linguagem um poder nãoinstitucionalizado. Para Nicolla Matteucci, citado por Menezes (2012, p.123), a opiniãopública é uma expressão que carrega duplo sentido: na sua formação, é “pública” por

ter origem fora da esfera privada, ou seja, no debate público de ideias; no seu objeto,é pública por tratar de assunto de determinada comunidade.

Para Venício A. de Lima “a mídia ocupa uma posição de centralidade nassociedades contemporâneas permeando diferentes processos e esferas da atividadehumana, em particular, a esfera da política.

A noção de centralidade tem sido aplicada nas ciências sociais

igualmente a pessoas, instituições e idéias-valores. Ela implica aexistência de seu oposto, vale dizer, o periférico, o marginal, oexcluído, mas, ao mesmo tempo, admite gradações deproximidade e afastamento. Pessoas, instituições e idéias-valores podem ser mais ou menos centrais. (LIMA, 2008, p. 42)

Ainda de acordo com o autor [...] política nos regimes democráticos é (oudeveria ser) uma atividade eminentemente pública e visível. E é a mídia – e somenteela – que define o que é público no mundo contemporâneo. (LIMA, 2008, 45) A própriaideia do que constitui o “ato público” se modifica a partir da existência da mídia. Antes

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de seu desenvolvimento, um “ato público” implicava compartilhamento de um lugar(espaço) comum, como no caso das praças da Grécia antiga; ou seja necessitava dapresença física do outro; Com a advento da mídia, um ato ou evento para ser “público”ficou mais limitado à um lugar comum. Desta forma o povo pode estar distante noconcerne ao tempo e no espaço. “Dessa forma, a mídia suplementa a formatradicional de constituição do “público” mas também a estende, transforma e substitui.O “público” agora é midiatizado. (LIMA,2008, p. 45)

Neste viés, Menezes afirma, que a opinião pública pode ser considerada comoo resultado natural da participação ativa do povo na esfera política, [...] e damanifestação e divulgação das próprias ideias den, portanto, sendo intimamenteligada ao pluralismo e liberdade de expressão. (Menezes, 2012, p. 121)

Como já vimos a opinião pública como já vimos pode ser infantilizada,controlada, direcionada, com o intuito de cercar o único e verdadeiro inimigo do poder,o imaginário popular. Noam Chomsky, fala que “uma importante figura da indústriadas relações publicas dos EUA, Edward Bernays, chegou inclusive, a escrever, emum manual de relações públicas de 1928, que “a manipulação consciente e inteligentedos hábitos e opiniões organizados das massas é um componente importante dademocracia (MENEZES, 2012, 127)

Na verdade mídia e poder estão intimamente ligados, o poder constituído nãoraro une-se à mídia, para um monstruoso jogo de interesses, onde os únicosbeneficiados são os proprietários das mídias, e os representantes do povo. Ainterferência da mídia nas democracias constitucionais é clara, afinal, a mídia agecomo influenciadora, e mais do que isso, as vezes também como determinadora docomportamento da massa, (povo ativo/ícone), que é quem dá legitimidade adeterminado governo, ou seja, é uma influência privada agindo no núcleo da

democracia constitucional.

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4 CONCLUSÃO

Depois de analisar os modelos de estado moderno e as formas como estesexercem o poder, após a análise das formas de povo e qual a sua relação com amídia e com a democracia pode-se dizer que estamos inseridos um sistema deinversão de valores.

Como pode-se perceber, as genuínas vontades populares, pouco sãoobservadas, pelos donos do poder, o poder parece mesmo ter seus donos, e estes,objetivamente, não são o povo, mas, isso necessariamente algo ruim?

Alguns sinalizarão negativamente, já que para estes indivíduos o povo nãopossui o discernimento necessário para fazer o melhor uso do poder legitimador quelhe é conferido, outros responderão que sim, uma vez que a soberania da vontadepovo é um dos pilares da própria democracia.

O fato é que governos são formados por pessoas e as pessoasirremediavelmente cometem falhas, entretanto, nas sociedades (pelo menos assimaparenta), alguns nasceram para liderar, outros para serem liderados, uma discussão

bem sucedida, deve ser conduzida para melhor forma destes indivíduos exerceremseu papel enquanto cidadãos. Uma das promessas não cumpridas da democracia,segundo Bobbio é o cidadão não-educado, quando um sujeito não possui asinformações necessárias para ser um cidadão com um razoável nível deentendimento do sistema, acaba por ficar vulnerável à diversas formas deinterferências psicológicas, coerção moral entre outras medidas pouco democráticas.

Há aqui uma discrepância absoluta entre o poder político frente ao poder damassa, é claro que o povo organizado tem o poder o absoluto em sua, entretanto, é justamente esta organização do povo que é atingida, no intuito de manter o povosobre controle, desorganiza-se antes a própria mente do indivíduo, programando seusubconsciente (por meio da linguagem), para restringir a dissidência antes mesmoque ela comece a ganhar forma, isto se dá, como vimos pelas técnicas demanipulação de massas através da mídia.

O Estado Democrático de Direito, como mencionado no decorrer do trabalhoé, além de garantidor de direitos, um limitador do poder do Estado, em que todos ospoderes se submeterem a determinada carta constitucional, entretanto, o grande

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problema acontece na periferia do poder, ou mesmo antes dele. Quando a legitimavontade popular é violada, temos que concordar, que essa violação pode terlegitimado um projeto de poder muito diferente daquela que o povo imaginou. Nãopodemos chamar isso de democracia, nem tampouco de democracia constitucional.

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5 REFERÊNCIAS

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____________.Estado, Governo, Sociedade; Por Uma Teoria Geral Da Política ,tradução de Marco Aurélio Nogueira. 17 ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

____________.O Futuro Da Democracia, tradução de Marco Aurélio Nogueira. 10ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

____________.Igualdade E Liberdade, tradução de Nelson Coutinho. São Paulo:Ediouro, 1995.

CADEMARTORI, Daniela M. L. de.O Diálogo Democrático: Alain Touraine,Norberto Bobbio e Robert Dahl, Curitiba: Juruá, 2006.

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ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social: Princípios Do Direito Político.3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

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6 ANEXOS

Chomsky e as 10 Estratégias de Manipulação Midiática: O linguistaestadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação”através da mídia:

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste emdesviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididaspelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações decontínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração éigualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelosconhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, daneurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dosverdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter opúblico ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta àgranja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerrastranqüilas')”.

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.

Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema,uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este sejao mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que sedesenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentadossangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticasem prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitarcomo um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dosserviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-lagradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira quecondições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostasdurante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade,

flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos

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decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessemsido aplicadas de uma só vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la comosendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para umaaplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifícioimediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida,porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que“tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dámais tempo ao público para acostumar-se com a ideia de mudança e de aceitá-lacom resignação quando chegue o momento.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos,personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos àdebilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficientemental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende aadotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se elativesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá,com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de umsentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armassilenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curtocircuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais,a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente

para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ouinduzir comportamentos.

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodosutilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada àsclasses sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que

a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais

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superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.

Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto.

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça,por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seusesforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o indivíduo seauto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seusefeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SECONHECEM.

No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm geradocrescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas eutilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia

aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano,tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecermelhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significaque, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande podersobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

Disponível: http://www.institutojoaogoulart.org.br/noticia.php?id=1861, acessado em02/11/2014 às 23:30 hrs.