direito eleitoral, 12ª edição - forumdeconcursos.com · 07/04/2008 · direito eleitoral / josé...

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  • AEDITORAATLASseresponsabilizapelosvciosdoprodutonoqueconcernesuaedio(impressoeapresentaoafimdepossibilitaraoconsumidorbemmanuse-loel-lo).Nemaeditoranemoautorassumemqualquerresponsabilidadeporeventuaisdanosouperdasapessoaoubens,decorrentesdousodapresenteobra.

    Todososdireitosreservados.NostermosdaLeiqueresguardaosdireitosautorais,proibidaareproduototalouparcialdequalquer forma ou por qualquer meio, eletrnico ou mecnico, inclusive atravs de processos xerogrficos, fotocpia egravao,sempermissoporescritodoautoredoeditor.

    ImpressonoBrasilPrintedinBrazil

    DireitosexclusivosparaoBrasilnalnguaportuguesaCopyright2016byEDITORAATLASLTDA.UmaeditoraintegrantedoGEN|GrupoEditorialNacionalRuaConselheiroNbias,1384CamposElsios01203-904SoPauloSPTel.:(11)5080-0770/(21)[email protected]/www.grupogen.com.br

    Otitularcujaobrasejafraudulentamentereproduzida,divulgadaoudequalquerformautilizadapoderrequereraapreensodosexemplaresreproduzidosouasuspensodadivulgao,semprejuzodaindenizaocabvel(art.102daLein.9.610,de19.02.1998).

    Quemvender,expuservenda,ocultar,adquirir,distribuir,tiveremdepsitoouutilizarobraoufonogramareproduzidoscomfraude, coma finalidadedevender,obterganho, vantagem,proveito, lucrodiretoou indireto,parasiouparaoutrem,sersolidariamente responsvel com o contrafator, nos termos dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores oimportadoreodistribuidoremcasodereproduonoexterior(art.104daLein.9.610/98).

    Capa:DaniloOliveira

    Datadefechamento:01/03/2016

    ProduoDigital:OneStopPublishingSolutions

    DADOSINTERNACIONAISDECATALOGAONAPUBLICAO(CIP)(CMARABRASILEIRADOLIVRO,SP,BRASIL)

    Gomes,JosJairo

    Direitoeleitoral/JosJairoGomes12.ed.SoPaulo:Atlas,2016.

    ISBN978-85-970-0579-0

    1.DireitoeleitoralLegislaoBrasil2.Recursos(Direito)BrasilI.Ttulo.

    13-01172 CDU-347.955:342.8(81)

    1.Brasil:Recursos:Direitoeleitoral347.955:342.8(81)

    mailto:[email protected]://www.grupogen.com.br

  • Nomanisgoodenoughtogovernanothermanwithoutthatothersconsent.

    (AbrahamLincoln)

  • Ester,sempre.

  • PREFCIO

    QuemlanarumolharapressadosobreoDireitoEleitoraltalvezsesintaimpelidoadarrazoaoalienista Simo Bacamarte, personagem do inexcedvel Machado de Assis. Qui fique tentado acompreenderesseramodoDireitocomoumagrandeconchaemquereinaoilgico,onoracional,naqual,todavia,jazumapequenssimaproladeracionalidade,organizaoemtodo.Talimpressoseriafortalecida no s pelo emaranhado da legislao vigente que se apresenta sinuosa, sujeita aconstantes flutuaes e repleta de lacunas , como tambmpelo casusmo comque novas regras sointroduzidasnosistema.Semcontaragrandecpiadenormascaducas,comooquarentenrioCdigoEleitoral,quedatade15dejulhode1965,tendosidopositivadonosalboresdoregimemilitar!

    Na verdade, o Direito Eleitoral ainda se encontra empenhado na construo de sua prpriaracionalidade, no desenvolvimento de sua lgica interna, de seus conceitos fundamentais e de suascategorias. Importa considerarquea realidadeemque incideequepretende regular encontra-se, elamesma,emconstantemutao.Isso,alis,peculiaraoespaopoltico.Daaperplexidadequesvezesperpassa o esprito de quem se ocupa dessa disciplina, bem como o desencontro das opinies dosdoutores.Etambmexplicaoacentuadograudesubjetivismoquenorarosedivisaemalgunsarestos.

    Se, de um lado, urge compilar e reorganizar a legislao, de outro anseia-se por umahermenuticaeleitoralatualizada,queestejaemharmoniacomosprincpiosfundamentais,comaideiade justia emvoga e comosvalores contemporneos.Cumpreprestigiarosdireitos fundamentais e acidadania,bemcomoprincpios comoanormalidadedoprocesso eleitoral, a igualdadede chances, alegitimidadedopleitoedomandato.Noregimedemocrticodedireitoimpensvelqueoexercciodopoderpoltico,aindaquetransitoriamente,nosejarevestidodeplenalegitimidade.

    Dequalquersorte,nosepodeignorarseroEleitoralumdosmaisimportantesramosdoDireito.Essencial concretizao do regime democrtico de direito desenhado na Lei Fundamental, dasoberania popular, da cidadania e dos direitos polticos, por ele passam toda a organizao e odesenvolvimento do certame eleitoral, desde o alistamento e a formao do corpo de eleitores at aproclamao dos resultados e a diplomao dos eleitos. Da observncia de suas regras exsurgem aocupao legal dos cargos poltico-eletivos, a pacfica investidura nosmandatos pblicos e o legtimoexerccio do poder estatal. Indubitavelmente, o fim maior dessa cincia consiste em propiciar alegitimidadenoexercciodopoder.

    Apartirdeumaabordagem terico-pragmtica, estaobraprocuradelinearde formasistemticaos institutos fundamentaisdoDireitoEleitoral e assentar a conexoexistente entre eles.Nodescuradas emanaes dos rgos da Justia Eleitoral, nomeadamente do Tribunal Superior Eleitoral.Conquantoseambientenadogmticajurdico-eleitoral,argumentandosempreintrassistematicamente,nochegaaseracrtica.

  • Por convenincia, o captulo inaugural cuida dos direitos polticos, j que se encontramumbilicalmenteligadosaoDireitoEleitoral.

    OAutor

  • NOTA12aEDIO

    Averdadefilhalegtimadajustia,porqueajustiadacadaumoqueseu.Eistooquefazeoquedizaverdade,aocontrriodamentira.Amentira,ouvostiraoquetendes,ouvosdoquenotendes;ouvosrouba,ouvoscondena.Averdadeno:acadaumdoseu,comoajustia.(PadreAntnioVieira.Sermodaquintadomingadequaresma).

    A presente edio foi atualizada tanto em ateno ao novo Cdigo de Processo Civil (Lei n13.105/2015),quantoreformaeleitoral(Lein13.165/2015).

    Conquantoasnormaseleitoraisprevejamprocedimentosespecficosparaasrelaesqueregulam,noofazemdeformacompleta,impondo-seacomplementaododireitoprocessualcomum.Porisso,oprocessojurisdicionaleleitoralamplamenteinformadopeloCdigodeProcessoCivil.

    Aatualizaodesta12aedionoselimitouaprocederalteraodosartigosdoCPCcitadosnotexto,mas tambm expe o sentido resultante das novas regras processuais em sua interao com oDireitoEleitoral.

    Todos os artigos doCPCmencionados no texto referem-se aoCdigo de 2015. Entretanto, halgumas citaes de jurisprudncia em que regras do CPC de 1973 so referidas na prpria citao.Nessescasos,paramaiorclareza,foramacrescentadoscolchetescomainformaodequeodispositivomencionadonotextocitadoserefereaocdigorevogado.

    Umaquestoquecertamentesurgirrefere-seaplicaoeeficciadasregrasdonovoCdigoProcessual.Trata-sedeproblemadedireitointertemporal.Oartigo1.045doCPCestabelecequeelesvigoraapsdecorrido1(um)anodadatadesuapublicaooficial.Comoapublicaooficialocorreunodia16-3-2015,avignciadoCPCsomentesedapartirde17-3-2016(sobreisso,videCC,3doart.132:Osprazosdemeseseanosexpiramnodiadeigualnmerododeincio,ounoimediato,sefaltarexatacorrespondncia.EmigualsentidoaLein810/1949).

    As regras processuais tm aplicao imediata a partir do momento em que entram em vigor,incidindo, inclusive, nos processos pendentes de julgamento. Portanto, 17-3-2016marca o incio deeficciadoCPCde2015eaextinodoCdigode1973.

    Por bvio, as novas regras processuais tambm se aplicamaosprocessos jurisdicionais eleitorais,inclusiveosqueseencontramemtramitao.

    Sobreareformaeleitoral,aLein13.165/2015alterouimportantesdispositivosnosdoCdigoEleitoral, como tambmda Lei dos Partidos Polticos (Lei n 9.096/95) e da Lei das Eleies (Lei n9.504/97). Exemplos: i) os recursos eleitorais de natureza ordinria interpostos contra decises queimpliquem perda de mandato passam a gozar de efeito suspensivo; ii) a perda de mandato passa aacarretar sempre a realizao de novas eleies, no mais sendo possvel a assuno do segundo

  • colocadonahiptesedeseremanuladosmaisde50%dosvotosvlidos.

    Esta edio tambm enriquecida com um novo captulo, que trata de campanha eleitoral.Outros captulos foram reestruturadosora sendo suprimidos itens e subitens, ora sendo apresentadosnovostemasenovasdiscusses.

    Agradeo,sempre,aacolhidaqueestaobratemmerecidodopblico,nicoresponsvelpeloseusucesso.

    OAutor

  • ABREVIATURAS

    ADC AoDeclaratriadeConstitucionalidade

    ADI AoDiretadeInconstitucionalidade

    AIJE AodeInvestigaoJudicialEleitoral

    AIME AodeImpugnaodeMandatoEletivo

    AIRC AodeImpugnaodeRegistrodeCandidatura

    CC CdigoCivilbrasileiro

    CE CdigoEleitoral

    CF ConstituioFederal

    CP CdigoPenal

    CPC CdigodeProcessoCivil

    CPP CdigodeProcessoPenal

    CR ConstituiodaRepblica

    D Decreto

    DJ DiriodeJustia

    DJe DiriodeJustiaeletrnico

    D-L Decreto-Lei

    JTSE JurisprudnciadoTribunalSuperiorEleitoral

    Jurisp Jurisprudncia

    JURISTSE RevistadeJurisprudnciadoTribunalSuperiorEleitoralTemasSelecionados

    LC LeiComplementar

    LE LeidasEleies(Leino9.504/97)

    LI LeidasInelegibilidades(LCno64/90)

    LINDB LeideIntroduosNormasdoDireitoBrasileiro

    LOMAN LeiOrgnicadaMagistraturaNacional(LCno35/79)

  • LOPP LeiOrgnicadosPartidosPolticos(Leino9.096/95)

    MP MinistrioPblico

    MPE MinistrioPblicoEleitoral

    MPF MinistrioPblicoFederal

    MProv MedidaProvisria

    MPU MinistrioPblicodaUnio

    MS MandadodeSegurana

    OAB OrdemdosAdvogadosdoBrasil

    PA ProcessoAdministrativo

    Pet Petio

    PGE Procuradoria-GeralEleitoral

    PGR Procurador-GeraldaRepblica

    PJ ProcuradoriadeJustia

    PRE ProcuradoriaRegionalEleitoral

    PSS PublicadonaSessode

    RCED RecursoContraExpediodeDiploma

    RDJ RevistadeDoutrinaeJurisprudncia

    RE RecursoExtraordinrio

    Res Resoluo

    REsp RecursoEspecial

    REspe RecursoEspecialEleitoral

    RO RecursoOrdinrio

    Rp RepresentaoEleitoral

    STF SupremoTribunalFederal

    STJ SuperiorTribunaldeJustia

    TJ TribunaldeJustia

    TRE TribunalRegionalEleitoral

    TRF TribunalRegionalFederal

    TSE TribunalSuperiorEleitoral

  • 11.1

    1.1.11.1.21.1.3

    1.21.31.4

    1.4.11.4.21.4.31.4.41.4.51.4.6

    22.12.22.32.42.5

    2.5.12.6

    33.13.23.33.43.53.6

    SUMRIO

    PREFCIO

    NOTA12EDIO

    DireitosPolticosCompreensodosdireitospolticos

    PolticaDireitopoltico,direitoconstitucionalecinciapolticaDireitospolticos

    DireitoshumanosedireitospolticosDireitosfundamentaisedireitospolticosPrivaodedireitospolticos

    ConsideraesiniciaisCancelamentodenaturalizaoIncapacidadecivilabsolutaCondenaocriminaltransitadaemjulgadoRecusadecumprirobrigaoatodosimpostaImprobidadeadministrativa

    DireitoEleitoralConceitoefundamentodoDireitoEleitoralOmicrossistemaeleitoralConceitosindeterminadosFontesdoDireitoEleitoralHermenuticaeleitoral

    ProporcionalidadeeprincpiodarazoabilidadeRelaocomoutrasdisciplinas

    PrincpiosdeDireitoEleitoralSobreprincpiosPrincpiosfundamentaisdeDireitoEleitoralDemocraciaDemocraciarepresentativaEstadoDemocrticodeDireitoSoberaniapopular

  • 3.73.83.9

    3.9.13.9.23.9.33.9.43.9.53.9.63.9.7

    3.9.7.13.103.113.123.13

    44.14.2

    4.2.14.2.24.2.34.2.4

    4.34.44.54.64.7

    55.15.25.35.45.5

    66.16.2

    PrincpiorepublicanoPrincpiofederativoSufrgiouniversal

    Quesufrgio?SufrgioecidadaniaClassificaodosufrgioSufrgioevotoVotoVotoeescrutnioVotoeletrnicoouinformatizado

    Transparnciadaurnaeletrnica:ovotoimpressoLegitimidadeMoralidadeProbidadeIgualdadeouisonomia

    JustiaEleitoralConsideraesiniciaisFunesdajustiaeleitoral

    FunoadministrativaFunojurisdicionalFunonormativaFunoconsultiva

    TribunalSuperiorEleitoralTribunalRegionalEleitoralJuzeseleitoraisJuntasEleitoraisDivisogeogrficadajustiaeleitoral

    MinistrioPblicoEleitoralConsideraesiniciaisProcurador-GeralEleitoralProcuradorRegionalEleitoralPromotorEleitoralConflitospositivosenegativosdeatribuioentremembrosdoMPEleitoral

    PartidospolticosIntroduoDefinio

  • 6.2.16.2.26.2.3

    6.36.46.56.66.76.86.96.106.11

    77.17.27.37.47.5

    88.18.28.3

    8.3.18.3.28.3.3

    8.48.58.68.78.8

    99.19.2

    9.2.19.2.29.2.3

    FunoDistinodepartidopolticoeoutrosentesColigaopartidria

    LiberdadedeorganizaoNaturezajurdicaRegistronoTSEFinanciamentopartidrioFiliaoedesfiliaopartidriaFidelidadepartidriaPerdademandatoporinfidelidadepartidriaExtinodepartidopolticoVciosdosistemapartidriobrasileiro

    SistemaseleitoraisConsideraesiniciaisSistemamajoritrioSistemaproporcionalSistemadistritalSistemamisto

    AlistamentoeleitoralConsideraesiniciaisDomiclioeleitoralAlistamentoeleitoralobrigatrio

    RealizaodoalistamentoPessoasobrigadasasealistarSigilodocadastroeleitoral

    AlistamentoeleitoralfacultativoInalistabilidadeTransfernciadedomiclioeleitoralCancelamentoeexclusoRevisodoeleitorado

    ElegibilidadeCaracterizaodaelegibilidadeCondiesdeelegibilidade

    NacionalidadebrasileiraPlenoexercciodosdireitospolticosAlistamentoeleitoral

  • 9.2.49.2.59.2.6

    9.39.49.59.69.7

    1010.110.210.310.410.5

    10.5.110.5.2

    10.610.6.110.6.210.6.310.6.410.6.5

    10.6.5.110.6.5.210.6.5.3

    10.6.5.4

    10.6.5.510.7

    10.7.110.7.210.7.3

    10.7.3.110.7.3.210.7.3.310.7.3.410.7.3.5

    DomiclioeleitoralnacircunscrioFiliaopartidriaIdademnima

    ElegibilidadedemilitarReelegibilidadeMomentodeaferiodascondiesdeelegibilidadeArguiojudicialdefaltadecondiodeelegibilidadePerdasupervenientedecondiodeelegibilidade

    Inelegibilidade.ConceitoNaturezajurdicaefundamentoPrincpiosreitoresClassificaoIncompatibilidadeedesincompatibilizao

    DesincompatibilizaoereeleioFlexibilizaodoinstitutodadesincompatibilizao?

    Inelegibilidadesconstitucionais.ConsideraesiniciaisInelegibilidadedeinalistveisInelegibilidadedeanalfabetosInelegibilidadepormotivosfuncionaisInelegibilidadereflexa:cnjuge,companheiroeparentes

    InelegibilidadereflexaderivadadematrimnioeunioestvelInelegibilidadereflexaefamliahomoafetivaInelegibilidadereflexaderivadadeparentescoporconsanguinidadeouadooato2ograuInelegibilidadereflexaderivadadeparentescoporafinidadeato2o

    grauFlexibilizaodainelegibilidadereflexa

    InelegibilidadesinfraconstitucionaisoulegaisConsideraesiniciaisALeiComplementarno64/90Inelegibilidadeslegaisabsolutas

    Perdademandatolegislativo(art.1o,I,b)Perdademandatoexecutivo(art.1o,I,c)Rennciaamandatoeletivo(art.1o,I,k)Abusodepodereconmicoepoltico(art1o,I,d)Abusodepoderpoltico(art.1o,I,h)

  • 10.7.3.6

    10.7.3.7

    10.7.3.810.7.3.910.7.3.1010.7.3.1110.7.3.1210.7.3.1310.7.3.1410.7.3.1510.7.3.16

    10.7.410.7.4.110.7.4.210.7.4.310.7.4.410.7.4.510.7.4.610.7.4.7

    10.810.8.1

    10.910.10

    10.10.110.11

    1111.111.211.3

    1212.112.2

    Abusodepoder:corrupoeleitoral,captaoilcitadesufrgio,captaoougastoilcitoderecursoemcampanha,condutavedada(art.1o,I,j)Condenaocriminal,vidapregressaepresunodeinocncia(art.1o,I,e)Indignidadedooficialato(art.1o,I,f)Rejeiodecontas(art.1o,I,g)Cargooufunoeminstituiofinanceiraliquidanda(art.1o,I,i)Improbidadeadministrativa(art.1o,I,l)Exclusodoexerccioprofissional(art.1o,I,m)Simulaodedesfazimentodevnculoconjugal(art.1o,I,n)Demissodoserviopblico(art.1o,I,o)Doaoeleitoralilegal(art.1o,I,p)AposentadoriacompulsriaeperdadecargodemagistradoemembrodoMinistrioPblico(art.1o,I,q)

    InelegibilidadeslegaisrelativasInelegibilidadeparaPresidenteeVice-PresidentedaRepblicaInelegibilidadeparaGovernadoreVice-GovernadorInelegibilidadeparaPrefeitoeVice-PrefeitoInelegibilidadeparaoSenadoInelegibilidadeparaaCmaradeDeputadosInelegibilidadeparaaCmaraMunicipalSituaesparticulares

    MomentodeaferiodascausasdeinelegibilidadeInelegibilidadessupervenientes:aferioduranteoprocessoderegistrodecandidatura?

    ArguiojudicialdeinelegibilidadeSuspensodoatogeradordeinelegibilidade

    RevogaodasuspensodoatogeradordainelegibilidadeSuspensodeinelegibilidade:oartigo26-CdaLCno64/90

    ProcessoeleitoralOqueprocessoeleitoral?PrincpiodaanualidadeouanterioridadeSalvaguardadoprocessoeleitoral

    AbusodepoderIntroduoPodereinfluncia

  • 12.312.3.112.3.212.3.3

    12.4

    1313.1

    13.1.113.1.213.1.313.1.413.1.5

    13.1.5.113.213.3

    13.3.113.3.213.3.3

    13.3.3.113.3.3.2

    13.3.413.3.513.3.613.3.713.3.813.3.9

    13.3.9.113.3.9.2

    13.413.4.113.4.2

    13.4.2.113.4.2.213.4.2.313.4.2.413.4.2.513.4.2.613.4.2.7

    AbusodepoderAbusodepodereconmicoAbusodepoderpolticoAbusodepoderpoltico-econmico

    Responsabilidadeeleitoraleabusodepoder

    RegistrodecandidaturaConvenopartidria

    CaracterizaodaconvenopartidriaInvalidadedaconvenoQuantoscandidatospodemserescolhidosemconveno?IndicaodecandidatoparavagaremanescenteesubstituioPrviaspartidriasoueleitorais

    PrimriasamericanasColigaopartidriaProcessoderegistrodecandidatura

    ConsideraesiniciaisRitoPedidoderegistro

    DocumentosnecessriosaoregistroIdentificaodocandidato

    PedidoindividualderegistrodecandidaturaCandidaturanataNmerodecandidatosquepodeserregistradoporpartidooucoligaoQuotaeleitoraldegneroVagasremanescentesSubstituiodecandidatos

    SubstituiodecandidatomajoritrioSubstituiodecandidatoproporcional

    ImpugnaoapedidoderegistrodecandidaturaNotciadeinelegibilidadeAodeImpugnaodeRegistrodeCandidatura(AIRC)

    CaracterizaodaaodeimpugnaoderegistrodecandidatoProcedimentoPrazosInciodoprocessoCompetnciaPetioinicialObjeto

  • 13.4.2.813.4.2.913.4.2.1013.4.2.1113.4.2.1213.4.2.1313.4.2.1413.4.2.1513.4.2.1613.4.2.1713.4.2.1813.4.2.19

    13.5

    1414.114.2

    14.2.114.2.2

    1515.1

    15.1.115.1.2

    15.1.2.115.1.2.215.1.2.3

    15.215.2.115.2.215.2.315.2.415.2.515.2.615.2.7

    15.3

    16

    17

    CausadepedirPartesNotificaodoimpugnadoDefesaDesistnciadaaoTutelaprovisriadeurgnciaantecipadaExtinodoprocessoJulgamentoantecipadodomritoFaseprobatria:audinciadeinstruoedilignciasAlegaesfinaisJulgamentoRecurso

    Verificaoevalidaodedadosefotografia

    CampanhaeleitoralCampanhaeleitoralecaptaodevotosDireitosedeveresdecandidatosnoprocessoeleitoral

    DireitosdecandidatoDeveresdecandidato

    FinanciamentodecampanhaeleitoraleprestaodecontasFinanciamentodecampanhaeleitoral

    ModelosdefinanciamentodecampanhaeleitoralModelobrasileirodefinanciamentodecampanhaeleitoral

    LimitedegastosdecampanhaFinanciamentopblicoFinanciamentoprivado

    PrestaodecontasdecampanhaeleitoralGeneralidadesFormasdeprestaodecontasPrestaesdeconstasparciaisefinaisProcedimentonaJustiaEleitoralSobrasdecampanhaAssunodedvidadecampanhapelopartidoConservaodosdocumentos

    Aopordoaoirregularacampanhaeleitoral

    Pesquisaeleitoral

    Propagandapoltico-eleitoral

  • 17.117.1.117.1.217.1.317.1.417.1.5

    17.217.317.4

    17.4.117.4.217.4.317.4.417.4.517.4.617.4.7

    17.4.817.4.917.4.1017.4.1117.4.1217.4.1317.4.1417.4.1517.4.1617.4.1717.4.1817.4.1917.4.2017.4.2117.4.22

    17.4.22.117.4.22.217.4.22.317.4.22.4

    17.4.2317.4.23.1

    PropagandapolticaCaracterizaodapropagandapolticaNovastecnologiascomunicacionaisFundamentosdapropagandapolticaPrincpiosdapropagandapolticaEspciesdepropagandapoltica

    PropagandapartidriaPropagandaintrapartidriaPropagandaeleitoral

    DefinioClassificaoGeneralidadesPropagandaeleitoralextemporneaouantecipadaPropagandaembempblicoPropagandaembemdeusoouacessocomumPropagandaembemcujousodependadeautorizao,cessooupermissodoPoderPblicoPropagandaembemparticularDistribuiodefolhetos,adesivos,volanteseoutrosimpressosOutdoorComcio,showmcioeeventosassemelhadosAlto-falante,carrodesom,minitrioetrioeltricoReunioemanifestaocoletivaCultoecerimniareligiososCaminhada,passeataecarreataPropagandamediantedistribuiodebensouvantagensDivulgaodeatoseatuaoparlamentarMensagensdefelicitaoeagradecimentoMdia:meiosdecomunicaosocialMdiaescritaMdiavirtualRdioeteleviso

    AspectosdapropagandanordioenatelevisoEntrevistascomcandidatosDebateDebatevirtual

    PropagandagratuitanordioenatelevisoConsideraesgerais

  • 17.4.23.217.4.23.317.4.23.417.4.23.517.4.23.617.4.23.7

    17.4.2417.4.25

    17.4.25.117.4.2617.4.2717.4.2817.4.2917.4.30

    17.517.6

    17.6.117.6.217.6.3

    17.6.3.117.6.3.217.6.3.317.6.3.417.6.3.517.6.3.617.6.3.717.6.3.817.6.3.917.6.3.1017.6.3.1117.6.3.1217.6.3.1317.6.3.1417.6.3.1517.6.3.1617.6.3.1717.6.3.1817.6.3.19

    ContedodapropagandaDistribuiodotempodepropagandaPrimeiroturnodaseleiesSegundoturnodaseleiesInexistnciadeemissorageradoradesinaisderdioetelevisoSanes

    InternetPginainstitucional

    PginainstitucionaldecandidatoareeleioouaoutrocargoeletivoViolaodedireitoautoralPropagandanodiadaseleiesPronunciamentoemcadeiaderdioouTVImunidadematerialparlamentarTelemarketingeleitoral

    PropagandainstitucionalRepresentaoporpropagandaeleitoralilcita

    Procedimentodoartigo96daLeidasEleiesCaracterizaodarepresentaoporpropagandaeleitoralilcitaAspectosprocessuaisdarepresentao

    ProcedimentoPrazosIntimaodepartes,procuradoreseMinistrioPblicoInciodoprocessoPetioinicialObjetoCausadepedirPartesPrazoparaajuizamentoDesistnciadaaoCompetnciaTutelaprovisriadeurgnciacautelarNotificaodorepresentadoDefesaIntervenoobrigatriadoMinistrioPblicoExtinodoprocessoJulgamentoantecipadodomritoFaseprobatriaAlegaesfinais

  • 17.6.3.2017.6.3.21

    17.717.7.117.7.2

    1818.118.218.318.418.518.6

    1919.119.2

    19.2.119.2.1.119.2.1.219.2.1.3

    19.319.4

    2020.120.2

    2121.121.221.321.4

    21.4.121.4.2

    21.4.2.121.4.2.221.4.2.321.4.2.421.4.2.5

    JulgamentoRecurso

    DireitoderespostaCaracterizaododireitoderespostaAspectosprocessuaisdopedidodedireitoderesposta

    EleioIntroduoGarantiaseleitoraisPreparaodaseleiesOdiadaeleio:votaoApuraoetotalizaodosvotosProclamaodosresultados

    Invalidade:nulidadeeanulabilidadedevotos611ConsideraesiniciaisInvalidadenodireitoeleitoral

    DelineamentodainvalidadenoDireitoEleitoralInexistnciaNulidadeAnulabilidade

    PrazosparaarguioEfeitodainvalidade

    Diplomao.CaracterizaodadiplomaoCandidatoeleitocompedidoderegistrosubjudice

    AesjudiciaiseleitoraisIntroduoPrincpiosprocessuaisAesjudiciaiseleitoraisAIJEporabusodepoder

    CaracterizaodaAIJEporabusodepoderAspectosprocessuaisdaAIJE

    ProcedimentoPrazosIntimaodepartes,procuradoreseMinistrioPblicoInciodoprocessoPetioinicial

  • 21.4.2.621.4.2.721.4.2.821.4.2.921.4.2.1021.4.2.1121.4.2.1221.4.2.1321.4.2.1421.4.2.1521.4.2.1621.4.2.1721.4.2.1821.4.2.1921.4.2.2021.4.2.2121.4.2.2221.4.2.2321.4.2.2421.4.2.2521.4.2.2621.4.2.2721.4.2.2821.4.2.2921.4.2.30

    21.521.5.121.5.2

    21.621.6.121.6.2

    21.721.7.121.7.2

    21.7.2.121.7.2.221.7.2.3

    ObjetoCausadepedirPartesPrazoparaajuizamentoLitispendnciaecoisajulgadaDesistnciadaaoCompetnciaTutelaprovisriadeurgnciaantecipadaTutelaprovisriadeurgnciacautelarNotificaodorepresentadoDefesaArguiodeincompetnciaArguiodeimparcialidadedojuiz:impedimentoesuspeioExtinodoprocessoJulgamentoantecipadodomritoFaseprobatriaDilignciasAlegaesfinaisRelatrioJulgamentoAnulaodavotaoRecursoEfeitosdorecursoJuzoderetrataoRecursoadesivo

    AoporcaptaoougastoilcitoderecursoparafinseleitoraisLE,artigo30-ACaracterizaodacaptaoougastoilcitoderecursosAspectosprocessuais

    AoporcaptaoilcitadesufrgioLE,artigo41-ACaracterizaodacaptaoilcitadesufrgioAspectosprocessuais

    AoporcondutavedadaaagentespblicosLE,artigos73a78CaracterizaodacondutavedadaEspciesdecondutasvedadas

    Cessoouusodebenspblicosart.73,IUsodemateriaisouserviospblicosart.73,IICessoouusodeservidorpblicoparacomitdecampanhaeleitoralart.73,III

  • 21.7.2.421.7.2.5

    21.7.2.621.7.2.721.7.2.821.7.2.9

    21.7.2.1021.7.2.1121.7.2.1221.7.2.1321.7.2.1421.7.2.15

    21.7.321.8

    21.8.121.8.2

    21.9

    2222.1

    22.1.122.1.2

    22.222.2.1

    22.2.1.122.2.1.222.2.1.322.2.1.422.2.1.522.2.1.622.2.1.722.2.1.822.2.1.922.2.1.1022.2.1.1122.2.1.1222.2.1.13

    Usopromocionaldebensouserviospblicosart.73,IVNomeao,admisso,transfernciaoudispensadeservidorpblicoart.73,VTransfernciavoluntriaderecursosart.73,VI,aPropagandainstitucionalemperodoeleitoralart.73,VI,bPronunciamentoemcadeiaderdioetelevisoart.73,VI,cDistribuiogratuitadebens,valoresoubenefciospelaAdministraoPblicaart.73,10Infringiro1odoart.37daCFart.74Despesasexcessivascompropagandainstitucionalart.73,VIIRevisogeralderemuneraodeservidoresart.73,VIIIContrataodeshowartsticoeminauguraodeobraartComparecimentodecandidatoeminauguraodeobrapblicaartSanesdascondutasvedadas

    AspectosprocessuaisCmulodeaes

    CmulodepedidosemumamesmademandaReuniodeaesconexas

    Extensodacausapetendieprincpiodacongruncia

    AodeImpugnaodeMandatoEletivo(AIME)Caracterizaodaaodeimpugnaodemandatoeletivo

    CompreensodaAIMEInelegibilidadeeAIME788

    AspectosprocessuaisdaAIMEProcedimento

    SegredodejustiaPetioinicialObjetoCausadepedirPartesPrazosLitispendnciaecoisajulgadaDesistnciadaaoCompetnciaTutelaprovisriadeurgnciadenaturezacautelarCitaoDefesaArguiodeincompetncia

  • 22.2.1.1422.2.1.1522.2.1.1622.2.1.1722.2.1.1822.2.1.1922.2.1.2022.2.1.2122.2.1.22

    2323.123.223.323.4

    2424.1

    24.1.124.2

    24.2.124.2.2

    24.324.3.1

    24.3.1.124.3.1.2

    24.3.2

    24.3.324.3.4

    2525.125.2

    26

    Arguiodeimparcialidadedojuiz:impedimentoesuspeioExtinodoprocessosemresoluodomritoJulgamentoantecipadodomritoFaseprobatria:audinciadeinstruoedilignciasAlegaesfinaisJulgamentoRecursoJuzoderetrataoInvalidaodavotaoerealizaodenovaseleies

    RecursoContraExpediodeDiploma(RCED)Caracterizaodorecursocontraexpediododiploma(RCED).NaturezajurdicadoRCEDRecepodoRCEDpelaConstituioFederalde1988Aspectosprocessuais

    PerdademandatoeletivoeeleiosuplementarConsideraesiniciais

    CausanoeleitoraldeextinodemandatoCausaeleitoraldeextinodemandatoeletivo

    CassaodediplomaoumandatoporabusodepodereinvalidaodavotaoIndeferimentooucassaoderegistrodecandidaturaeinvalidaodavotao

    EleiosuplementarnopleitomajoritrioOartigo224doCdigoEleitoral

    Invalidaodavotao:ocaputdoartdoCEPerdademandatomajoritrio:o3odoart.224doCE

    Eleiosuplementar:novoprocessoeleitoraloumerarenovaodoescrutnioanterior?EleiosuplementardiretaeindiretaAocausadordainvalidaodaeleiovedadodisputaronovopleitosuplementar

    SanoeleitoralesuaexecuoSaneseleitoraisExecuodemultaeleitoral

    Aorescisriaeleitoral

    RefernciasRepertriosdejurisprudncia

  • 1.1

    1.1.1

    1

    DIREITOSPOLTICOS

    COMPREENSODOSDIREITOSPOLTICOS

    Poltica

    Apalavrapolticoapresentavariegadossignificadosnaculturaocidental.Nodiaadia,associada cerimnia, cortesia ou urbanidade no trato interpessoal; identifica-se com a habilidade norelacionar-secomooutro.Tambmdenotaaartedetratarcomsutilezaejeitotemasdifceis,polmicosoudelicados.Expressa,ainda,ousoouempregodepoderparaodesenvolvimentodeatividadesouaorganizao de setores da vida social; nesse sentido que se fala em poltica econmica, financeira,ambiental,esportiva,desade.Emgeral,otermousadotantonaesferapblica(ex.:polticaestatal,polticapblica,polticadegoverno),quantonaprivada(e.g.:polticadedeterminadaempresa,polticade boa vizinhana). Possui igualmente sentido pejorativo, consistente no emprego de astcia oumaquiavelismo nas aes desenvolvidas, sobretudo para obteno de resultados sem a necessriaponderaoticadosmeiosempregados.

    Outra, entretanto, sua conotao tcnico-cientfica, onde encontra-se ligada ideia de poder.Mastambmnesseterrenonounvoca,apresentandopluralidadedesentidos.

    Nomundogrego,apolticaeracompreendidacomoavidapblicadoscidados,emoposiovidaprivadaentima.Eraoespaoemqueseestabeleciaodebatelivreepblicopelapalavraeondeasdecisescoletivaseramtomadas.Compreendia-seapolticacomoaartededefiniraesnasociedade,aes essas que no apenas influenciavam o comportamento das pessoas, mas determinavam toda aexistncia individual.Oviverpoltico significavaparaosgregosaprpria essnciadavida, sendoestainconcebvelforadapolis.

    Em sua tica a Nicmacos, Aristteles (1992, p. 1094a e 1094b) afirma que a cincia polticaestabeleceoquedevemosfazereaquilodequedevemosabster-nos.Suafinalidadeobemdohomem,ouseja,afelicidade.Devedescreveromodocomoohomemalcanaafelicidade.Estadependedeseseguir certa maneira de viver. Nesse sentido, o termo poltico significa o mesmo que tica e moral,conduzindoaoestudoindividualdaaoedocarter.

    Todavia,emoutrotexto,Poltica,Aristteles(1985,p.1253a1280b)empregaotermoenfocadocomsignificadodiverso.Consideraqueohomemumanimalsocial;onicoquetemodomdafala.Sua vida e sua felicidade so condicionadas pelo ambiente, pelos costumes, pelas leis e instituies.Isoladamente, o indivduono autossuficiente, existindo um impulso natural para que participe dacomunidade. A cidade, nessa perspectiva, formada no apenas com vistas a assegurar a vida, mastambmparaassegurarumavidamelhor, livreedigna.Nessecontexto,poltica consistenoestudodo

  • Estado, do governo, das instituies sociais, das Constituies estatais. a cincia que pretendedesvendaramelhororganizaosocialamelhorConstituioestatal,demodoqueohomempossaalcanar o bem, a felicidade. Assim, a cincia poltica deve descrever a forma ideal de Estado, bemcomoamelhorformadeEstadopossvelnapresenadecertascircunstncias.

    Note-seque,emAristteles,ambosossignificadosdapalavrapolticaencontram-seentrelaados.A poltica tem por misso estabelecer, primeiro, a maneira de viver que leva ao bem, felicidade;depois,devedescreverotipodeConstituio,aformadeEstado,oregimeeosistemadegovernoqueasseguremessemododevida.

    A poltica relaciona-se a tudo o que diz respeito vida coletiva, sendo indissocivel da vidahumana,dacultura,damoral,dareligio.Emgeral,elacompreendidacomoasrelaesdasociedadecivil,doEstado,queproveemumquadronoqualaspessoaspodemproduzireconsumir,associar-seeinteragir umas com as outras, cultuar ou noDeus e se expressar artisticamente. Trata-se, por outrolado, de esfera de poder, constituda socialmente, na qual se agregam mltiplos e, por vezes,contraditriosinteresses.

    Porpodercompreende-seofenmenopeloqualumente(pessoaougrupo)determina,modificaou influenciadecisivamenteo comportamentodeoutrem.Varia o fundamentodopoder conforme acultura e os valores em vigor. Nesse sentido, repousar na fora fsica, na religio, em juzos tico-morais, em qualidades estticas, dependendo do apreo que a comunidade tenha por tais fatores.Assim,opoderestarcomquemenfeixaroselementosmaisvalorizados.Encontrando-sepulverizadasnasociedade,asrelaesdepodersosemprerelaessociais,e,pois,travadasentrepessoas.

    Assim, a par do poltico, diversos outros poderes coexistem na sociedade, entre os quais sedestacam o poder econmico e o ideolgico. Aquele se funda na propriedade ou posse de benseconomicamenteapreciveis,osquais soempregadoscomomeiode influiroudeterminaracondutade outras pessoas. J o poder ideolgico se firma em informaes, conhecimentos, doutrinas e atcdigos de conduta, que so usados para influenciar o comportamento alheio, de sorte a induzir oudeterminaromodoindividualdeagir.

    Ospodereseconmicoeideolgiconoseconfundemcomopoltico.SegundoBobbio(2000,p.221-222),opoderpolticosecaracterizapelousodafora,dacoero,comexclusividadeemrelaoaosoutros grupos que atuam num determinado contexto social. Nas relaes interindividuais, apesar doestadodesubordinaocriadopelopodereconmico(oqueseevidencia,e.g.,nasrelaesdetrabalho,comdestaqueparaaqueseestabeleceentreempregadoreempregado)edaadesopassivaaosvaloresideolgicos transmitidospelaclassedominante, apenasoempregoda fora fsicaconsegue impedirainsubordinao e domar toda forma de desobedincia. Domesmomodo, nas relaes entre grupospolticos independentes,o instrumentodecisivoqueumgrupodispepara imporaprpriavontadeaumoutrogrupoousodafora,isto,aguerra.Deveras,opoderpolticoopodersupremonumasociedade organizada, a ele subordinando-se todos os demais.Mas a possibilidade de usar a fora apenasumacondioparaaexistnciadopoderpoltico,nosignificandoquesedevasemprerecorrer

  • 1.1.2

    1.1.3

    aela.

    Modernamente,consolidou-sealigaodepolticacomgoverno.Assim,otermoassociadoao que concerne polis, ao Estado, ao governo, arte ou cincia de governar, de administrar a respblica, de influenciar o governo, suas aes ou o processo de tomada de decises.Nesse sentido, osocilogoinglsGiddens(2005,p.342,573)asseveraquepolticaomeiopeloqualopoderutilizadoe contestadopara influenciar anatureza e o contedodas atividades governamentais.Assinalaque aesfera poltica incluiasatividadesdaquelesqueestonogoverno,mas tambmasaese interessesconcorrentesdemuitosoutrosgruposeindivduos.

    Estado,emdefiniolapidar,asociedadepoliticamenteorganizada.atotalidadedasociedadepoltica, formalmente organizada sob a forma jurdica, com vistas a assegurar certa ordem social e aintegraodetodosparaobemcomum.Trata-sedeenteabstrato,deexistnciaideal,noqualopoderenraizadoeinstitucionalizado.Constituemseuselementos:poderpoltico,povoeterritrio.

    Ogovernodenotaafacedinmica,ativa,doEstado.Trata-sedoconjuntodepessoas,instituiesergosqueimpulsionamavidapblica,realizandoavontadepolticadogrupoinvestidonopoder.Ogoverno,emsuma,exerceopoderpolticoenfeixadonoEstado.

    OuniversopolticoabrangeadireodoEstadonosplanosexternoeinterno,agestoderecursospblicos, adefinioeodesenvolvimentodepolticaspblicas, a implementaodeprojetos sociais eeconmicos, o acesso a cargos pblicos, a realizao de atividades legislativas e jurisdicionais, aresoluodeconflitosentreindivduosegrupos,entreoutrascoisas.

    Direitopoltico,direitoconstitucionalecinciapoltica

    Nesseamploquadro,DireitoPolticooramodoDireitoPblicocujoobjetosoosprincpioseas normas que regulam a organizao e o funcionamento do Estado e do governo, disciplinando oexerccioeoacessoaopoderestatal.Encontra-se,pois, compreendidonoDireitoConstitucional, cujoobjetoconsistenoestudodaconstituiodoEstado,naqual encontram-se reguladasno saordempoltica,comotambmasocial,aeconmicaeosdireitosfundamentais.

    A cincia poltica tambm se ocupa do fenmeno poltico, fazendo-o, contudo, em outradimenso,demaneiraamplaecommaiorgraudeabstrao.SemserestringiraaspectosnormativosouorganizacionaisdedeterminadoEstadoouadeterminadapoca,cuidatalcinciamaispropriamentedeestudaropoderpoltico, suas formasdedistribuiona sociedade, bemcomo seu funcionamentoouoperacionalizao. Para alm de concepes jurdico-normativas, a ela tambm aportam ideiasfilosficas, morais, psicolgicas (psicologia social) e sociolgicas, as quais lhe alargam sobremodo oespectro.

    Direitospolticos

    Denominam-se direitos polticos ou cvicos as prerrogativas e os deveres inerentes cidadania.

  • Englobam o direito de participar direta ou indiretamente do governo, da organizao e dofuncionamentodoEstado.

    Conforme ensina Ferreira (1989, p. 288-289), direitos polticos so aquelas prerrogativas quepermitem ao cidado participar na formao e comando do governo. So previstos na ConstituioFederal, que estabelece um conjunto sistemtico de normas respeitantes atuao da soberaniapopular.

    Extrai-se do Captulo IV, do Ttulo II, da Constituio Federal, que os direitos polticosdisciplinamasdiversasmanifestaesdasoberaniapopular,aqualseconcretizapelosufrgiouniversal,pelovotodiretoesecreto(comvalorigualparatodososvotantes),peloplebiscito,referendoeiniciativapopular.

    pelosdireitospolticosqueaspessoas individualecoletivamente intervmeparticipamnogoverno.Tais direitosno so conferidos indistintamente a todos oshabitantes do territrio estatal isto,atodaapopulao,massaosnacionaisquepreenchamdeterminadosrequisitosexpressosnaConstituioouseja,aopovo.

    Note-sequeessetermopovonodeixadeservago,prestando-seamanipulaesideolgicas.No chamado sculo de Pricles (sculo V a. C.), em que Atenas conheceu o esplendor de suademocracia, o povo no chegava a 10% da populao, sendo constitudo apenas pela classe dosatenienses livres; no o integravam comerciantes, artesos, mulheres, escravos e estrangeiros. EssaconceporestritivaerageneralizadanosEstadosantigos,inclusiveemRoma,ondeaplebenodetinhadireitoscivisnempolticos.Aarespublicaeraosoloromano,distribudoentreasfamliasfundadorasdacivitas,osPatresouPaisFundadores,deondesurgiramosPatrcios,nicosaquemeramconferidosdireitoscivisecidadania;durantemuitotempoaplebesefaziaouvirpelavozsolitriadeseuTribuno,ochamadoTribunodaPlebe.Paraosrevolucionriosfrancesesde1789,opovonoincluaorei,nema nobreza, tampouco o clero, mas apenas os integrantes do Terceiro Estado profissionais liberais,burgueses,operriosecamponeses.Naticacomunista(marxista),opovorestringe-seclasseoperria,deleestandoexcludostodososqueseoponhamouresistamatalregime.

    As democracias contemporneas assentam sua legitimidade na ideia de povo, na soberaniapopularexercidapelosufrgiouniversaleperidico.AotempoemqueopovointegraefundamentaoEstado Democrtico de Direito, tambm objeto de suas emanaes. Mas bom frisar que essaintegraoideolgico-liberalnotemevitadoumapronunciadadivisodeclasseseumaforteexclusosocial.queaordemcapitalistacontemporneasoubemanteraesferapoltico-socialbemseparadadaeconmico-financeira. Prova disso o fato de osmercados nem sempre se abalarem seriamente poreventuais crises polticas. Como resultado, tem-se uma pfia distribuio de rendas (queinvariavelmente se concentra no topo), um grande nmero de pessoas alijadas dos subsistemaseconmico, trabalhista, de sade, educacional, jurdico, previdencirio, assistencial, entre outros. Aocontrrio do que possa parecer, esse no um problema restrito a pases pobres, perifricos, poistambmosricosdelepadecem.ConformeassinalaMller(2000,p.92):

  • AextensodoempobrecimentoedadesintegraonosEUAinfelizmentejnonecessitademenoespecial.NaFranaaexclusosetornouhanosotemadominantedapolticasocial.NaAlemanha a situao , ao que tudo indica, avaliadapelo governo federal de talmodo,queelesenegaatagora[]apublicarumrelatriosobreapobrezanopas.

    Nessesentido,asseveraGiddens(2007,p.256-257):

    OsEstadosUnidosrevelam-seomaisdesigualdetodosospasesindustrializadosemtermosde distribuio de renda. A proporo de renda auferida pelo 1% no topo aumentousubstancialmenteao longodasltimasduasou trsdcadas,aopassoqueosdabaseviramsuas rendas mdias estagnarem ou declinarem. Definida como 50% ou menos da rendamediana, apobrezanosEstadosUnidosno inciodadcadade1990era cincovezesmaiorquenaNoruegaouna Sucia 20%paraosEstadosUnidos, em contraste comos 4%dosoutros dois pases. A incidncia de pobreza no Canad e na Austrlia tambm alta,respectivamente14%e13%.

    Estemesmoautorassinalaque,apesardeonveldedesigualdadederendanospasesdaUnioEuropeiasermenorqueodosEUA,

    apobrezageneralizadanaUE, segundocifras emedidasoficiais.Usando-seo critriodemetadeoumenosdarendamediana,57milhesdepessoasviviamnapobrezanasnaesdaUEem1998.Cercadedoisterosdelasestavamnasmaioressociedades:Frana,Itlia,ReinoUnidoeAlemanha.

    Em linguagem tcnico-constitucional, povo constitui um conceito operativo, designando oconjunto dos indivduos a que se reconhece o direito de participar na formao da vontade estatal,elegendo ou sendo eleitos, ou seja, votando ou sendo votados com vistas a ocupar cargos poltico-eletivos.Povo,nesse sentido, a entidademtica qual asdecises coletivas so imputadas.Note-se,porm, que as decises coletivas no so tomadas por todo o povo, seno pelamaioria, ou seja, pelafraocujavontadeprevalecenaseleies.

    Chama-secidadoapessoadetentoradedireitospolticos,podendo,pois,participardoprocessogovernamental, elegendo ou sendo eleito para cargos pblicos. Como ensina Silva (2006, p. 347), acidadania um atributo jurdico-poltico que o nacional obtm desde omomento em que se tornaeleitor.

    verdadeque,nosdomniosdacinciasocial,otermocidadaniaapresentasignificadobemmaisamploqueoaquiassinalado.Denotaoprpriodireitovidadignaeplenaparticipaonasociedadedetodososhabitantesdoterritrioestatal.Nessaperspectiva,acidadaniasignificaquetodossolivrese iguaisperanteoordenamento legal, sendovedadaadiscriminao injustificada; todos tmdireitosade, locomoo, livreexpressodopensamento,crena,reunio,associao,habitao,educaode

  • 1.2

    qualidade, ao lazer, ao trabalho. Enfim, em sentido amplo, a cidadania enfeixa os direitos civis,polticos, sociais e econmicos, sendo certo que sua aquisio se d antesmesmo do nascimento doindivduo, j que o nascituro, tambm ele, ostenta direitos de personalidade, tendo resguardados ospatrimoniais. No entanto, no Direito Eleitoral os termos cidadania e cidado so empregados emsentidorestrito,abarcandotosojussuffragiieojushonorum,isto,osdireitosdevotareservotado.

    Cidadania e nacionalidade so conceitos que no devem ser confundidos. Enquanto aquela status ligado ao regime poltico, esta j um status do indivduo perante o Estado. Assim,tecnicamente,oindivduopodeserbrasileiro(nacionalidade)enemporissosercidado(cidadania),hajavistanopodervotarnemservotado(ex.:criana,pessoaabsolutamenteincapaz).

    Os direitos polticos ligam-se ideia de democracia.Nesta, sobressaem a soberania popular e alivreparticipaodetodosnasatividadesestatais.Ademocracia,hoje,figuranostratadosinternacionaiscomodireitohumanoefundamental.

    DIREITOSHUMANOSEDIREITOSPOLTICOS antiga a preocupao com o delineamento de um efetivo esquema de proteo da pessoa

    humana. A doutrina dos direitos humanos desenvolveu-se a partir da evoluo histrica dessemovimento.

    Ojusnaturalismomodernoconcebiaosdireitosdohomemcomoeternos,imutveis,vigentesemtodos os tempos, lugares e naes. A declarao desses direitos significou, no campo simblico, aemancipaodohomem,porafirmarsualiberdadefundamental.Teveosentidodelivr-lodasamarrasopressivasdecertosgrupossociais,comoordensreligiosasefamiliares.

    Segundo Alexy (2007, p. 45 ss), os direitos do homem distinguem-se de outros direitos pelacombinaodecincofatores,poisso:(i)universais: todososhomens(considerados individualmente)so seus titulares; (ii)morais: sua validade no depende de positivao, pois so anteriores ordemjurdica; (iii) preferenciais: o Direito Positivo deve se orientar por eles e criar esquemas legais paraotimiz-los e proteg-los; (iv) fundamentais: sua violao ou no satisfao acarreta gravesconsequnciaspessoa; (v)abstratos:por isso,podehavercolisoentreeles,oquedeveserresolvidopelaponderao.

    Expoentes da primeira gerao de direitos, em que sobressai a liberdade, figuram os direitospolticosnasprincipaisdeclaraesdedireitoshumanos,sendoconsagradosjnasprimeirasdelas.

    Deveras, a Declarao de Direitos do Bom Povo da Virgnia, de 12 de junho de 1776, deautoriadeGeorgeMason,dispeemseuartigo6o:

    Aseleiesderepresentantesdopovoemassembleiasdevemserlivres,etodosaquelesquetenhamdedicaocomunidadeeconscinciabastantedointeressecomumpermanentetmdireitodevoto,enopodemsertributadosouexpropriadosporutilidadepblica,semoseuconsentimentoouodeseusrepresentanteseleitos,nempodemsersubmetidosanenhumalei

  • 1.3

    qualnotenhamdado,damesmaforma,oseuconsentimentoparaobempblico.

    esse igualmente o sentido expresso na Declarao de Independncia dos Estados Unidos daAmrica, ocorrida em 4 de julho de 1776, j que, na histria moderna, nela que os princpiosdemocrticossoporprimeiroafirmados.

    Porsuavez,aDeclaraoFrancesadosDireitosdoHomemedoCidado,de1789,asseveraemseu artigo 6o: A lei a expresso da vontade geral. Todos os cidados tm o direito de concorrer,pessoalmenteouatravsdemandatrios,paraasuaformao.

    RezaoartigoXXIdaDeclaraoUniversaldosDireitosdoHomem,de1948:

    1.Todohomemtemodireitode tomarpossenogovernode seupas,diretamenteouporintermdio de representantes livremente escolhidos. 2. Todo homem tem igual direito deacesso ao servio pblico de seu pas. 3. A vontade do povo ser a base da autoridade dogoverno;estavontadeserexpressaemeleiesperidicaselegtimas,porsufrgiouniversal,porvotosecretoouprocessoequivalentequeassegurealiberdadedovoto.

    Ademais,oartigo25doPactoInternacionalsobreDireitosCivisePolticos,de1966ratificadopeloBrasilpeloDecreto-Legislativono226/91epromulgadopeloDecretono592/92,estabelece:

    Todo cidado ter o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas de discriminaomencionadas no artigo 2o e sem restries infundadas: (a) de participar da conduo dosassuntospblicos,diretamenteoupormeiode representantes livremente escolhidos; (b)devotar e de ser eleito em eleies peridicas, autnticas, realizadas por sufrgio universal eigualitrio eporvoto secreto,quegarantamamanifestaodavontadedos eleitores; (c)deteracesso,emcondiesgeraisdeigualdade,sfunespblicasdeseupas.

    Comentando esse ltimo dispositivo, observa Comparato (2005, p. 317) que a se encontramcompendiadososprincipaisdireitoshumanos referentesparticipaodocidadonogovernode seupas.aafirmaododireitodemocraciacomodireitohumano.

    DIREITOSFUNDAMENTAISEDIREITOSPOLTICOSDireitos humanos expresso ampla, de matiz universalista, sendo corrente nos textos

    internacionais,sobretudonasdeclaraesdedireitos,conformealudido.

    Jaexpressodireitosfundamentaisteveseuusoconsagradonasconstituiesestatais,noDireitoPblico, traduzindo o rol concreto de direitos humanos acolhidos nos textos constitucionais. Apositivao de tais direitos no ordenamento jurdico estatal faz com que sejam institucionalizados,sendoessamedidaessencialparaotimizaraproteodeles.

    AsseguraCanotilho(1996,p.517)queasexpressesdireitosdohomemedireitosfundamentais

  • 1.4

    1.4.1

    so frequentemente utilizadas como sinnimas. Segundo sua origem e seu significado, poderamosdistingui-las da seguintemaneira: direitos do homem so direitos vlidos para todos os povos e emtodos os tempos (dimenso jusnaturalista-universalista); direitos fundamentais so os direitos dohomem, jurdico-institucionalmente garantidos e limitados espao-temporalmente. Os direitos dohomemnascemdaprprianaturezahumanaeda seucarter inviolvel, atemporal euniversal; josdireitosfundamentaisseriamdireitosobjetivamentevigentesemumaordemconcreta.

    OTtuloIIdaConstituioFederalde1988quereza:DosDireitoseGarantiasFundamentaisabrangequatroesferasdedireitosfundamentais,asaber:(1)direitosedeveresindividuaisecoletivos(art.5o);(2)direitossociais(arts.6oa11);(3)nacionalidade(arts.12e13);(4)direitospolticos(arts.14a17).deseconcluir,pois,queosdireitospolticossituam-seentreosdireitosfundamentais.

    PRIVAODEDIREITOSPOLTICOS

    Consideraesiniciais

    LevantamentofeitopeloTribunalSuperiorEleitoralnosalboresde2007,divulgadoemmarodomesmoano, revelaque503.002brasileiros estavamprivadosdedireitospolticosnaocasio.Amaiorparte deles (376.949) por fora de condenao criminal; 72.627, em virtude de prestao de serviomilitar (os chamados conscritos); 42.401, em razode interdiopor incapacidade absoluta; 972, pormotivode condenaoem improbidadeadministrativa; 296,por teremoptadopor exercerosdireitospolticosemPortugal;176,porseteremrecusadoaexercerobrigaoatodosimposta(serviomilitar);9.581,semcausaidentificada.

    Privar tirarousubtrairalgodealgum,que ficadestitudooudespojadodobemsubtrado.Obem em questo so os direitos polticos. A Constituio prev duas formas de privao de direitospolticos: perda e suspenso. Probe, ademais, a cassao desses mesmos direitos. Veja-se o textoconstitucional:

    Art. 15. vedada a cassao de direitos polticos, cuja perda ou suspenso s se dar noscasosde:

    Icancelamentodanaturalizaoporsentenatransitadaemjulgado;

    IIincapacidadecivilabsoluta;

    IIIcondenaocriminaltransitadaemjulgado,enquantoduraremseusefeitos;

    IVrecusadecumprirobrigaoatodosimpostaouprestaoalternativa,nostermosdoart.5o,VIII;

    Vimprobidadeadministrativa,nostermosdoart.37,4o.

    A cassao de direitos polticos foi expediente largamente empregado pelo governomilitar paraafastar opositores do regime. O Ato Institucional no 1, editado em 9 de abril de 1964, autorizava a

  • cassaodemandatoslegislativos.Cassarsignificadesfazeroudesconstituiratoperfeito,anteriormentepraticado, retirando-lhe a existncia e, pois, a eficcia.Apesar de se tratar de termo tcnico-jurdico,ficouestigmatizado.

    Aseuturno,perderdeixardeter,possuir,deterougozaralgo;ficarprivado.Comobvio,sse perde o que se tem. A ideia de perda liga-se de definitividade; a perda sempre permanente,emborasepossarecuperaroqueseperdeu.

    JasuspensonadefiniodeCretellaJnior(1989,v.2,p.1118)interrupotemporriadaquiloqueestemcurso,cessandoquandoterminamosefeitosdeatooumedidaanterior.Trata-se,portanto,deprivaotemporriadedireitospolticos.Spodesersuspensoalgoquejexistiaeestavaemcurso.Assim,seapessoaaindanodetinhadireitospolticos,nopodehaversuspenso.

    ALeiMaiornofalaemimpedimento,emborasepossacogitardele.Consisteoimpedimentoemobstculoaquisiodosdireitospolticos,demaneiraqueapessoanochegaaalcan-losenquantono removido o bice.Haver impedimento, e. g., quando o absolutamente incapaz portar anomaliacongnita,permanecendonesseestadoatatingiraidadeadulta.

    Partedadoutrina temconsideradoos incisos I (cancelamentodenaturalizao)e IV(escusadeconscincia) do citado artigo 15 da Constituio como hipteses de perda de direitos polticos. Asdemais so de suspenso. Assim era na Constituio de 1967, cujo artigo 144 separava os casos desuspenso(inc.I)dosdeperda(inc.II).Nessesentido,pronunciam-seFerreiraFilho(2005,p.115)eMoraes(2002,p.256).Noentanto,CretellaJnior(1989,v.2,p.1122,no169)afirmaque,naescusade conscincia, pode haver perda ou suspenso. Cremos, porm, que essa hiptese (e tambm a deincapacidade)desuspensooudeimpedimento,nodeperda.

    Aperdaouasuspensodedireitospolticospodemacarretarvriasconsequnciasjurdicas,comoocancelamentodoalistamentoeaexclusodocorpodeeleitores(CE,art.71,II),ocancelamentodafiliaopartidria (LOPP, art. 22, II), a perdademandato eletivo (CF, art. 55, IV, 3o), a perda decargoou funopblica (CF, art. 37, I, c.c. Leino 8.112/90, art. 5o, II e III), a impossibilidadede seajuizaraopopular(CF,art.5o,LXXIII),oimpedimentoparavotarouservotado(CF,art.14,3o,II)eparaexercerainiciativapopular(CF,art.61,2o).

    A excluso do corpo de eleitores no automtica, devendo ser observado o procedimentotraadonoartigo77doCdigoEleitoral.Todavia,umavezcessadaacausadocancelamento,poderointeressado requerer novamente sua qualificao e inscrio no corpo eleitoral (CE, art. 81),recuperando,assim,suacidadania.

    No tocante a deputados federais e senadores (e tambm a deputados estaduais e distritais, porforadodispostonosarts.27,1o, e32,3o,daCF), a concretizaodaperdadosdireitospolticosacarretaadomandato.MasaperdademandatolegislativodevenecessariamenteserprecedidadeatoeditadopelaMesadaCasarespectiva,queagedeofciooumedianteprovocaodequalquerdeseusmembros, oudepartidopoltico com representaonoCongressoNacional, assegurada ampladefesa(CF, art. 55, IV, 3o). A necessidade de haver pronunciamento da Mesa denota respeito

  • 1.4.2

    independnciadosPoderese,pois,doParlamento.

    A perda demandato constitui efeito necessrio da ausncia de direito poltico, sendo, por isso,apenasdeclarada pelaMesada respectivaCasaLegislativa.Essergonogozadediscricionariedade(ouliberdade)paradecidirsedeclaraounoaperdadomandatodoparlamentar,poistrata-sedeatovinculado.Limita-seeleaconfeccionarepublicaradeclarao.que,conformejassentouoPretrioExcelso, da suspenso de direitos polticos resulta por simesma a perda domandato eletivo ou docargodoagentepoltico (STFREno418876/MT1aT.Rel.Min.SeplvedaPertenceDJ 4-6-2004,p.48).

    De qualquer sorte, afrontaria a razo e a tica amanuteno domandato de parlamentar queperdeuoutevesuspensosseusdireitospolticos.fcilimaginarocontrassensoqueseriaasituaodealgum que pudesse participar de processo legislativo, debatendo, votando e contribuindo para aaprovaodeleis,masnogozassedanacionalidadebrasileiraounemsequerpudessevotaremeleiesgeraisoumunicipaisporqueseencontracomainscrioeleitoralcancelada.

    Cancelamentodenaturalizao

    Nacionalidade o vnculo que liga um indivduo a determinado Estado. Pela naturalizao, oestrangeirorecebedoEstadoconcedenteostatusdenacional.

    Aaquisiodanacionalidadebrasileiraporestrangeirorege-sepeloartigo12,II,daConstituio,peloqualsobrasileirosnaturalizados:

    a)osque,na formada lei, adquiramanacionalidadebrasileira, exigidasaosoriginriosdepasesde lnguaportuguesaapenas residnciaporumano ininterruptoe idoneidademoral;b)osestrangeirosdequalquernacionalidaderesidentesnaRepblicaFederativadoBrasilhmais de quinze anos ininterruptos e sem condenao penal, desde que requeiram anacionalidadebrasileira.

    Aregulamentaodessedispositivoencontra-senaLeino 6.815/80, que estabeleceos requisitosparaaconcessodanaturalizao,conformeconstadeseuartigo111.OatoadministrativoqueconfereaoestrangeiroostatusdenacionaldecompetnciadoPoderExecutivo,nomeadamentedoMinistriodaJustia.

    A lei no poder estabelecer distino entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casosprevistosnaConstituio.Nessa ressalva encontra-seopreenchimentode certos cargosnoorganismoestatal, pois so privativos de brasileiro nato os cargos: I de Presidente e Vice-Presidente daRepblica;IIdePresidentedaCmaradosDeputados;IIIdePresidentedoSenadoFederal;IVde Ministro do Supremo Tribunal Federal; V da carreira diplomtica; VI de oficial das ForasArmadas;VIIdeMinistrodeEstadodaDefesa (CF,art.12,2o e3o).Quanto aosportuguesescomresidnciapermanentenoPas,sehouverreciprocidadeemfavordebrasileiros,seroatribudosos

  • 1.4.3

    direitosinerentesaobrasileiro,salvooscasosprevistosnestaConstituio(CF,art.12,1o).

    ImpenderegistrarqueaoutorgaabrasileirodogozodedireitospolticosemPortugal importarsuspensodessesmesmosdireitosnoBrasil.OEstatutodaIgualdade(Decretono3.927/2001),firmadoentre Brasil e Portugal, prev que os que optarem por exercer os direitos polticos no Estado deresidnciaterosuspensooexerccionoEstadodenacionalidade.esseigualmenteosentidodoartigo51,4o,daResoluoTSEno21.538/2003.

    O cancelamento da naturalizao traduz o rompimento do vnculo jurdico existente entre oindivduo e o Estado. O artigo 12, 4o, I, da Constituio determina a perda da nacionalidade dobrasileiro naturalizado que tiver cancelada sua naturalizao em virtude de atividade nociva aointeressenacional.Comoconsequncia,elereassumeostatusdeestrangeiro.

    Somente por deciso judicial se pode cancelar naturalizao. Nesse sentido: STF RMS no

    27840/DFPlenoDJe27-8-2013.

    da Justia Federal a competncia para as causas referentes nacionalidade e naturalizao(CF,art.109,X).

    Ademais, o Ministrio Pblico Federal tem legitimidade para promover ao visando aocancelamentodenaturalizao,emvirtudedeatividadenocivaaointeressenacional(LCno75/90,art.6o,IX).

    Tambm ser declarada a perda da nacionalidade do brasileiro nato que adquirir outranacionalidade,salvonoscasos:(a)dereconhecimentodenacionalidadeoriginriapela leiestrangeira;(b) de imposio de naturalizao, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estadoestrangeiro,comocondioparapermannciaemseuterritrioouparaoexercciodedireitoscivis.

    Aperdadanacionalidadebrasileiraacarretaipsofactoaperdadosdireitospolticos.

    Incapacidadecivilabsoluta

    Ahiptese emapreo remete ao artigo 3o, II, do vigenteCdigoCivil.A incapacidade absolutaimplicaacompletavedaodoindivduoparaoexercciodeatosdavidacivil,jqueelesetornainaptoparaconduzir-secomindependncia,autonomiaeeficincianavida,demaneiraaregersuapessoaeseus bens. O incapaz atua por meio de seus representantes legais, que realizam os atos por ele.Conforme salientei emoutraobra (Gomes, 2006, seo3.4.3), atualmente,paraqueumapessoa sejaconsideradaabsolutamenteincapaz,

    nobastaaexistnciadeenfermidadeoudeficinciamental,poisa lei exige, ainda,queelanotenhaonecessriodiscernimentoparaaprticadeatosdavidacivil.Emoutrostermos,necessrio que o indivduo apresente condies inferiores relativamente acuidadeintelectiva, restando afetado significativamente seu entendimento ou a expresso de suavontade, de sorte que esteja inapto para reger sua prpria vida com independncia eautonomia.

  • 1.4.4

    Tornando-se incapaz a pessoa e sendo decretada sua interdio, seus direitos polticos ficarosuspensos.Rezaoartigo1.773doCdigoCivilqueasentenaquedeclaraa interdioproduzefeitosdesdelogo,emborasujeitaarecurso.Ofatodenoseexigirotrnsitoemjulgadodasentenaparaoefeitode suspensodosdireitospolticosdo interditonoatenta contraa ideiade soberaniapopular,porquanto ele no poderia exerc-los, dado seu estado de sade. A questo aqui eminentementeprtica.

    A hiptese em apreo refere-se a suspenso de direitos polticos e no a perda, pois, uma vezrecobradaacapacidadedeexerccio, taisdireitosserorestabelecidos(CE,art.81).Noentanto,eseapessoa j nascer portando doena que a torne incapaz at a fase adulta oumesmo por toda a vida?Nesse caso, imprprio falar-se de suspenso, que pressupe o gozo anterior de direitos polticos.Tampouco se pode falar de perda, pois no se perde o queno se tem.Mais correto ser pensar emimpedimento,poisaincapacidadecongnitafatorobstativoparaaaquisiodosdireitospolticos.

    Ojuizcvelquedecretara interdiodevercomunicaresse fatoao juizeleitoralouaoTRE,demaneira que seja cancelado o alistamento do interditado, com a consequente excluso do rol deeleitores(CE,art.71,IIe2o).

    Condenaocriminaltransitadaemjulgado

    Reza o artigo 15, inciso III, da Constituio Federal que a condenao criminal transitada emjulgado determina a suspenso de direitos polticos enquanto perdurarem seus efeitos. Trata-se denormaautoaplicvel,conformepacficoentendimentojurisprudencial.

    []SuspensodeDireitosPolticosCondenaoPenalIrrecorrvelSubsistnciadeseusEfeitosAutoaplicabilidadedoart.15,III,daConstituioAnormainscritanoart.15,III,daConstituioreveste-sedeautoaplicabilidade, independendo,paraefeitodesua imediataincidncia, de qualquer ato de intermediao legislativa. Essa circunstncia legitima asdecises da Justia Eleitoral que declaram aplicvel, nos casos de condenao penalirrecorrvel e enquanto durarem os seus efeitos, como ocorre na vigncia do perodo deprova do sursis , a sano constitucional concernente privao de direitos polticos dosentenciado.Precedente:REno179.502-SP(Pleno),Rel.Min.MoreiraAlves.Doutrina(STF AgRRMS no 22.470/SP 1a T. Rel. Min. Celso de Mello DJ 27-9-1996, p. 36158).Administrativo. Concurso Pblico. Posse. Gozo de Direitos Polticos. Bons Antecedentes.CandidatoCondenadoporSentenaTransitadaemJulgado.Impossibilidade.IOSupremoTribunalFederal jpacificouo entendimentoquanto autoaplicabilidadedo art. 15, incisoIII, da Constituio Federal. II Havendo legislao especfica exigindo o pleno gozo dosdireitospolticosebonsantecedentesparaapossenoserviopblico,nohdireitolquidoecertonomeaodocandidatoquenocumpriucomtaisrequisitos,portersidocondenadocomsentenatransitadaemjulgado.Recursodesprovido(STJRMSno16.884/SE5aT.Rel.Min.FelixFischerDJ14-2-2005,p.217).

  • 1.O art. 15, III, daCF/88 auto-aplicvel, constituindo a suspensodosdireitospolticosefeito automtico da condenao. 2. A condenao criminal transitada em julgado suficienteimediatasuspensodosdireitospolticos,aindaqueapenaprivativadeliberdadetenha sido posteriormente substituda por uma restritiva de direitos. 3. Agravo regimentaldesprovido(TSEAgR-REspeno65172/SPDJe,t.98,28-5-2014,p.82-83).Recurso Especial. Eleies 2004. Regimental. Registro. Condenao criminal transitada emjulgado.Direitos polticos.CF/88, art. 15, III.Autoaplicabilidade. autoaplicvel o art. 15,III,CF.Condenaocriminaltransitadaemjulgadosuspendeosdireitospolticospelotempoquedurarapena.Nega-seprovimentoaagravoquenoinfirmaosfundamentosdadecisoimpugnada(TSEAREspeno22.461/MSPSS21-9-2004).

    A suspenso de direitos polticos constitui efeito secundrio da sentena criminal condenatria,exsurgindodiretaeautomaticamentecomseutrnsitoemjulgado,independentementedanaturezaoudo montante da pena aplicada in concreto. Por isso, no necessrio que venha gravada na partedispositivadodecisum.

    Talqualoregistrodacandidaturaeadiplomaodoeleito,a investiduranocargoeoexercciode mandato poltico-eletivo pressupem que o mandatrio esteja no gozo dos direitos polticos.Pretende-sequeoscargospblico-eletivossejamocupadosporcidadosinsuspeitos,sobreosquaisnopairem dvidas quanto integridade tico-jurdica, honestidade e honradez. Visa-se, com isso,asseguraralegitimidadeeadignidadedarepresentaopopular,poisoParlamentoe,deresto,todooaparatoestatalnopodetransformar-seemabrigodedelinquentes.

    Cumpreindagarseasuspensodedireitospolticosdecorrentedecondenaocriminaltransitadaem julgado implica a perda automtica de mandato eletivo. A indagao justifica-se diante daespecificidade que reveste a sentena penal condenatria e seus efeitos, bem como do especialtratamentonormativoconferidomatria.

    Noqueconcerneadeputadofederalousenador(etambmadeputadoestadualoudistrital,porforadodispostonosarts.27,1o,e32,3o,daCF),rezaoart.55,VI,2odaConstituioFederal:aperdadomandatoserdecididapelaCmaradosDeputadosoupeloSenadoFederal,pormaioriaabsoluta,mediante provocao da respectivaMesa ou de partido poltico representado noCongressoNacional, asseguradaampladefesa.A redaodessedispositivo foi alteradapelaECno 76/2013quesuprimiu o carter secreto da votao; essa, agora, aberta. Logo, na hiptese de haver condenaocriminal,aperdadomandatonoseconcretizadeformainstantnea,poistalefeitodependedeatoaserpraticadoulteriormentepelorgoLegislativoaquepertenceocondenado.

    O citado 2o, art. 55, daCF enseja a interpretaodequeno caso especficode condenaocriminalaCmaradosDeputadosouoSenadodecidiro,pormaioriaabsolutadevotos,aperdadomandatodeseusrespectivosmembros.Portanto,esseefeitonodecorreriadiretae imediatamentedacondenaocriminalimpostapeloPoderJudicirio,masdoatoemanadodaquelasCasas.Desortequeoatojudicialconstituiriaapenasumrequisitooupontodepartidaparaanliseejulgamentopolticodo

  • PoderLegislativo.

    Entretanto,essaregracolidecomoutradeigualestatura,asaber,aprevistano3o,IV,art.55c.c.art.15,III,ambosdaConstituioFederal.Aqui,conformesalientadohpouco,nohpropriamentedecisoporpartedoLegislativo,masmeradeclarao epublicaodoatodeperdadomandato. Issoporqueacondenaocriminal(entreoutrascausas)provocaasuspensodosdireitospolticos(CF,art.15,III),eessasuspenso,sporsi,determinaaincidnciadoincisoIVedo3odomesmoart.55daConstituio,osquaissexigemadeclaraodaMesadaCasarespectiva,declaraoessaquepodesedar ex officio ou decorrer de provocao de qualquer de seus membros ou de partido polticorepresentado no Congresso Nacional. No h, aqui, discricionariedade (ou liberdade) do PoderLegislativo para decidir se declara ou no a perda domandato do parlamentar que se encontra comseus direitos polticos suspensos, pois trata-se de ato vinculado, demaneira que aCasa Legislativa selimitaadeclararaperdadomandatoepublicarorespectivoato.

    No julgamento da Ao Penal no 470, o plenrio do Supremo Tribunal Federal, pela estreitamaioria de 5 a 4, na sesso realizada em 17-12-2012, firmou a interpretao de que, havendocondenao criminal emanada do Pretrio Excelso (mormente na hiptese de crime contra aadministraopblica),aperdadomandatoparlamentardoacusadoexsurgediretaeautomaticamentedo trnsito em julgado do decisum. Mesa da Casa Legislativa cabe apenas declarar a perda domandatoenodecidi-la.Distinguiu-se,portanto, adecisodadeclarao. Issoporque a resoluo (=deciso)sobreaperdadomandatoinerenteaoexercciodajurisdio.

    [] Perda domandato eletivo. Competncia do Supremo Tribunal Federal. Ausncia deviolao do princpio da separao de poderes e funes. Exerccio da funo jurisdicional.Condenao dos rus. Detentores de mandato eletivo pela prtica de crimes contra aAdministraoPblica.Penaaplicadanostermosestabelecidosnalegislaopenalpertinente.1.OSupremoTribunalFederalrecebeudoPoderConstituinteoriginrioacompetnciaparaprocessare julgarosparlamentaresfederaisacusadosdaprticade infraespenaiscomuns.Como consequncia, ao Supremo Tribunal Federal que compete a aplicao das penascominadasemlei,emcasodecondenao.Aperdadomandatoeletivoumapenaacessriadapenaprincipal(privativade liberdadeourestritivadedireitos),edeveserdecretadapelorgo que exerce a funo jurisdicional, como um dos efeitos da condenao, quandopresentesosrequisitoslegaisparatanto.2.DiferentementedaCartaoutorgadade1969,nostermos da qual as hipteses de perda ou suspenso de direitos polticos deveriam serdisciplinadas por Lei Complementar (art. 149, 3o), o que atribua eficcia contida aomencionadodispositivoconstitucional,aatualConstituioestabeleceuoscasosdeperdaoususpensodosdireitospolticosemnormadeeficciaplena(art.15,III).Emconsequncia,ocondenado criminalmente, por deciso transitada em julgado, tem seus direitos polticossuspensospelotempoqueduraremosefeitosdacondenao.3.Aprevisocontidanoartigo92, I e II, do Cdigo Penal, reflexo direto do disposto no art. 15, III, da Constituio

  • Federal. Assim, uma vez condenado criminalmente um ru detentor de mandato eletivo,caber ao Poder Judicirio decidir, em definitivo, sobre a perda domandato.No cabe aoPoder Legislativo deliberar sobre aspectos de deciso condenatria criminal, emanada doPoder Judicirio, proferida em detrimento de membro do Congresso Nacional. AConstituio no submete a deciso do Poder Judicirio complementao por ato dequalqueroutrorgoouPoderdaRepblica.Nohsentenajurisdicionalcujalegitimidadeou eficcia esteja condicionada aprovao pelos rgos do Poder Poltico. A sentenacondenatria no a revelao do parecer de umas das projees do poder estatal, mas amanifestao integral e completa da instncia constitucionalmente competente parasancionar,emcarterdefinitivo,asaestpicas,antijurdicaseculpveis.Entendimentoquese extrai do artigo 15, III, combinado como artigo 55, IV, 3o, ambos daConstituio daRepblica.Afastadaaincidnciado2odoart.55daLeiMaior,quandoaperdadomandatoparlamentar for decretada pelo Poder Judicirio, como um dos efeitos da condenaocriminaltransitadaemjulgado.AoPoderLegislativocabe,apenas,darfielexecuodecisoda Justiaedeclararaperdadomandato,na formapreconizadanadeciso jurisdicional.4.RepugnanossaConstituiooexercciodomandatoparlamentarquandorecaia,sobreoseutitular, a reprovao penal definitiva do Estado, suspendendo-lhe o exerccio de direitospolticos e decretando-lhe a perda do mandato eletivo. A perda dos direitos polticos consequncia da existncia da coisa julgada. Consequentemente, no cabe ao PoderLegislativo outra conduta seno a declarao da extino do mandato (RE 225.019, Rel.Min. Nelson Jobim). Concluso de ordem tica consolidada a partir de precedentes doSupremoTribunalFederaleextradadaConstituioFederaledasleisqueregemoexercciodo poder poltico-representativo, a conferir encadeamento lgico e substncia material deciso no sentido da decretao da perda domandato eletivo. Concluso que tambm seconstriapartirdalgicasistemticadaConstituio,queenunciaacidadania,acapacidadeparaoexercciodedireitospolticoseopreenchimentoplenodascondiesdeelegibilidadecomo pressupostos sucessivos para a participao completa na formao da vontade e naconduo da vida poltica do Estado. 5.No caso, os rus parlamentares foram condenadospelaprtica,entreoutros,decrimescontraaAdministraoPblica.Condutajuridicamenteincompatvel com os deveres inerentes ao cargo. Circunstncias que impem a perda domandato comomedida adequada, necessria e proporcional. 6.Decretada a suspenso dosdireitos polticos de todos os rus, nos termos do art. 15, III, da Constituio Federal.Unnime. 7.Decretada, pormaioria, a perda dosmandatos dos rus titulares demandatoeletivo. [] (STFAPno 470/MGPleno Rel.Min. JoaquimBarbosa DJe 74, 22-4-2013).

    Todavia,esseltimoentendimentofoirevogadopeloprprioSTFno julgamentodaAoPenalno 565/RO, ocorrido na sesso plenria dos dias 7 e 8-8-2013. Dessa feita, tambm por maioria devotos,afirmouoPretrioExcelsocompetirrespectivaCasaLegislativadecidirsobreaeventualperda

  • demandatoparlamentar(nocaso,desenador),porforadodispostonoartigo55,VI,2o,daCF.Demaneira que o especfico efeito atinente perda de mandato poltico no decorre direta eautomaticamentedoatojurisdicional.essaainterpretaotendencialdaquelaCorteSuprema.

    No que concerne a vereadores e detentores de mandato executivo (prefeito, governador,presidente da Repblica e seus respectivos vices) inexistem regras excepcionais como as dos aludidosartigos27,1o,32,3o,e55,2oe3o,todosdaLeiMaior.Eexceesinterpretam-serestritivamente.Valefrisarqueosilncioconstitucionalaquirelevante,eloquente,nohavendodesefalaremlacunaa ser colmatada. Em tais casos, o trnsito em julgado da condenao criminal implica privao dedireitospolticoseperdademandato.

    Nessesentido,colhem-senajurisprudnciadaCorteSupremaosseguintesarestos:

    (i) [] Da suspenso de direitos polticos efeito da condenao criminal transitada emjulgadoressalvadaahipteseexcepcionaldoart.55,2o, daConstituio resultapor simesmaaperdadomandatoeletivooudocargodoagentepoltico(STFREno418.876/MT1aT.Rel.Min.SeplvedaPertenceDJ4-6-2004,p.48);

    (ii) []Condenao criminal transitada em julgadoaps apossedo candidato eleito (CF,art. 15, III). Perda dos direitos polticos: consequncia da existncia da coisa julgada. ACmaradevereadoresnotemcompetnciaparainiciaredecidirsobreaperdademandatode prefeito eleito. Basta uma comunicao Cmara deVereadores, extrada nos autos doprocesso criminal. Recebida a comunicao, o Presidente da Cmara de Vereadores, deimediato, declarar a extino domandato doPrefeito, assumindo o cargo oVice-Prefeito,salvose,poroutromotivo,nopossaexercerafuno.NocabeaoPresidentedaCmaradeVereadores outra conduta seno a declarao da extino do mandato. Recursoextraordinrioconhecidoemparteenessaparteprovido(STFREno225.019/GOPlenoRel.Min.NelsonJobimDJ22-11-1999,p.133);

    (iii) []O propsito revelado pelo embargante, de impedir a consumao do trnsito emjulgadodedecisopenalcondenatriavalendo-se,paraesseefeito,dautilizaosucessivaeprocrastinatriadeembargosdeclaratriosincabveisconstituifimilcitoquedesqualificaocomportamentoprocessualdaparte recorrente eque autoriza, emconsequncia,o imediatocumprimento do acrdo emanado do Tribunal a quo, viabilizando, desde logo, tanto aexecuodapenaprivativadeliberdade,quantoaprivaotemporriadosdireitospolticosdosentenciado (CF, art. 15, III), inclusive a perda do mandato eletivo por este titularizado.Precedentes(STFAgEDAIno177.313/MG1aT.Rel.Min.CelsodeMelloDJ14-11-1996,p.44488).

    Note-se, porm, que em tais hipteses a concretizao da perda de mandato com o efetivoafastamento do agente pblico se d a partir de declarao emanada do respectivo rgo legislativo.Este nodecide a perda domandato, mas apenas a declara e torna pblica, inexistindo espao para

  • revisooudiscussodosfundamentosdadecisocondenatria.OatodoLegislativovinculadoenodiscricionrio.Talsoluoencontrafundamentonoprincpiodedivisodospoderes.

    Por outro lado, no se pode olvidar a previso constante do artigo 92, I, doCdigoPenal, queestabelece como efeito secundrio da condenao a perda de mandato eletivo: (a) quando aplicadapenaprivativadeliberdadeportempoigualousuperioraumano,noscrimespraticadoscomabusodepoderouviolaodedeverparacomaAdministraoPblica;(b)quandoforaplicadapenaprivativadeliberdadeportemposuperiora4(quatro)anosnosdemaiscasos.Nasearapenal,aperdadecargopblico ou mandato poltico deve ser motivadamente declarada na sentena. Antes de impor essasano, o juiz deve sopesar fatores como a natureza do evento e sua lesividade, o grau de culpa doagente, a necessidade de aplicao da sano no caso concreto. O aludido dispositivo regulanomeadamente a perda de mandato no mbito e para os fins do Direito Penal, e no a perda dedireitospolticos.Ocorre,porm,queasincidnciadosaludidosartigos15,III,55,IV,VI,2oe3o

    daConstituioFederalporsisafetaomandato.

    Semprequetransitaremjulgadocondenaopenal,o juizdavaracriminaldevecomunicaressefatoaojuizeleitoralparaofimdecancelamentodainscrioedeexclusodocondenadodocorpodeeleitores (CE, art. 71, II). No se pode negar o exagero de se determinar a excluso do eleitor, poisbastariaquehouvesseasuspensodesuainscrio.

    Alguns autores insurgem-se contra a exigncia de trnsito em julgado da sentena penalcondenatria para fins eleitorais, considerando mais consentnea a s condenao, regra, alis,esposadanoartigo135,1o, II,daConstituiode1946.Nessa linha,DjalmaPinto(2005,p.84-85)asseveraqueapresunodeinocncia,atotrnsitoemjulgadodasentenapenal,parafinseleitorais,umaaberraorepelidapeloDireitoRomano,pelaDeclaraodosDireitosdoHomemedoCidadoe em qualquer lugar onde haja preocupao com a boa aplicao dos recursos pblicos, j quesignifica a constitucionalizao da impunidade diante da eternizao dos processos no Brasil. Noentanto,orequisitoemapreoestemharmoniacomodireitofundamentalinscritonoartigo5o,LVII,daLeiMaior.

    Aexpressocondenaocriminal,constantedodispositivoconstitucional,genrica,abrangendoa contraveno penal. Nesse diapaso, assentou-se na jurisprudncia o entendimento de que: Adisposio constitucional, prevendo a suspenso dos direitos polticos, ao referir-se condenaocriminal transitadaemjulgado,abrangenosaqueladecorrentedaprticadecrime,mas tambmadecontravenopenal(TSEREspeno13.293/MGPSS7-11-1996).

    No importa a natureza da pena aplicada, pois, emqualquer caso, ficaro suspensos os direitospolticos. Logo, irrelevante: (1) que a pena aplicada seja restritiva de direitos; (2) que seja somentepecuniria; (3) queo ru seja beneficiado com sursis (CP, art. 77); (4) que tenha logrado livramentocondicional (CP, art. 83); (5) que a pena seja cumprida no regime de priso aberto, albergue oudomiciliar. Igualmente irrelevante perquirirquantoao elemento subjetivodo tipopenal,havendoasuspensodedireitospolticosnacondenaotantoporilcitodolosoquantoporculposo.

  • E quanto sentena penal absolutria imprpria? Nesse caso, a despeito da absolvio, haplicao de medida de segurana, a qual ostenta natureza condenatria. Por isso, tambm nessahiptesehaversuspensodedireitospolticos.

    Esehouvertransaopenal,conformeprevisoconstantedoartigo76daLeino9.099/95?Note-se que a proposta de transao deve ser feita antes da denncia; a aceitao e a homologao daproposta no causam reincidncia, sendo isso registrado apenas para impedir nova concesso dessemesmobenefciono lapsodecincoanos;ademais,a imposiodesanonoconstardecertidodeantecedentes criminais. Embora possa haver a aplicao de pena restritiva de direito ou multa, ahomologao judicial da transao no significa condenao criminal. No havendo condenaojudicialtransitadaemjulgado,osdireitospolticosdequemaceitaatransaopenalnosoatingidos,e,pois,nosesuspendem.

    E quanto ao sursis processual? Impe-se, nesse caso, amesma soluo dada transao penal.Previstonoartigo89daLeino9.099/95,essamedidasustaocursodoprocesso,e,expiradooprazosemrevogao,deveserdecretadasuaextino.Extintooprocesso,impossvelsetornaacondenao.

    Osefeitosdasuspensodosdireitospolticossomentecessamcomocumprimentoouaextinoda pena. o que reza a Smula no 9 do TSE: A suspenso de direitos polticos decorrente decondenao criminal transitada em julgado cessa com o cumprimento ou a extino da pena,independendodereabilitaoouprovadereparaodedanos.Logo,aproposituraderevisocriminal(CPP, art. 621) por si s no faz cessar os efeitos da condenao, demaneira a restaurar os direitospolticos.

    Olegisladorfoimaisseveroemrelaoaalgunsdelitos,pois,conformedispeoartigo1o,I,e,daLCno64/90,soinelegveisparaqualquercargo

    osqueforemcondenados,emdecisotransitadaemjulgadoouproferidaporrgojudicialcolegiado, desde a condenao at o transcurso do prazo de 8 (oito) anos aps ocumprimento da pena, pelos crimes: 1. contra a economia popular, a f pblica, aadministrao pblica e o patrimnio pblico; 2. contra o patrimnio privado, o sistemafinanceiro,omercadodecapitaiseosprevistosnaleiqueregulaafalncia;3.contraomeioambiente e a sade pblica; 4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa deliberdade;5.deabusodeautoridade,noscasosemquehouvercondenaoperdadocargoou inabilitao para o exerccio de funo pblica; 6. de lavagem ou ocultao de bens,direitosevalores;7.detrficodeentorpecentesedrogasafins,racismo,tortura,terrorismoehediondos; 8. de reduo condio anloga de escravo; 9. contra a vida e a dignidadesexual;e10.praticadospororganizaocriminosa,quadrilhaoubando.

    Assim,notocanteaessasinfraes,oagentetambmficarinelegvelpeloprazode8anos,apsocumprimentoouaextinodapena.

  • 1.4.5 Recusadecumprirobrigaoatodosimposta

    Dispe o artigo 5o,VIII, daConstituio que ningum ser privado de direitos pormotivo decrena religiosa oude convico filosfica oupoltica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigaolegalatodosimpostaerecusar-seacumprirprestaoalternativa,fixadaemlei.

    J o artigo 15, inciso IV, daConstituioprev a suspensodedireitos polticosnahiptesedealgumserecusaracumprirobrigaoatodosimpostaouprestaoalternativa,nostermosdoart.5o,VIII.

    Cuidamtaisdispositivosdadenominadaescusaouobjeodeconscincia,normalmentefundadaemcrenaouconvicoreligiosa,tica,filosficaoupoltica.

    Entre as obrigaes legais a todos impostas destacam-se o exerccio da funo de jurado e aprestaodeserviomilitar.

    Noque concerne ao jurado, dispeo artigo 436doCdigodeProcessoPenal ser obrigatrio oserviodo jri paraos cidadosmaioresde 18 (dezoito) anosdenotria idoneidade.Desse servionenhumcidadopoderserexcludooudeixardeseralistadoemrazodecorouetnia,raa,credo,sexo,profisso,classesocialoueconmica,origemougraudeinstruo(1o).Note-se,porm,queoart. 437 doCPP prev vrias hipteses de iseno, sendo que o inciso X contm uma clusula geraldesobrigandoosquedemonstraremjustoimpedimento.

    A recusa injustificada ao serviodo jri poder acarretar multano valorde 1 (um) a 10 (dez)salrios-mnimos,acritriodojuiz,deacordocomacondioeconmicadojurado(CPP,art.436,2o).

    Noentanto,fundando-searecusaemconvicoreligiosa,filosficaoupoltica,rezaoartigo438do CPP que o cidado incide no dever de prestar servio alternativo, sob pena de suspenso dosdireitos polticos, enquanto no prestar o servio imposto.Nesse caso, no h sano demulta. Porservio alternativo entende-se o exerccio de atividades de carter administrativo, assistencial,filantrpicooumesmoprodutivo,noPoderJudicirio,naDefensoriaPblica,noMinistrioPblicoouementidadeconveniadaparaessesfins(1o);orollegalexemplificativo,podendoserdeterminadaaprestaoemoutrosrgosquenoosindicados.

    Pelo2odoaludidoartigo438,oserviodeveser fixadopelo juizatendendoaosprincpiosdaproporcionalidade e da razoabilidade. de se censurar a vagueza dessa norma, porque no veiculacritrio seguro para a fixao do prazo de prestao do servio. Como diz Nucci (2011, p. 772),ningum pode ser obrigado a realizar qualquer espcie de servio a rgos estatais por perodoindeterminadoesemqualquerparmetroconcreto.Invivelsetornadeixaracadajuizfixaroqueachaconveniente[].Sugereoautorqueojuradodeveprestarservioalternativoporapenasumdia,poisnormalmenteesseotempodedicadosessodejulgamento.

    Quanto ao serviomilitar, em seu artigo 143, 1o, a LeiMaior impera ser ele obrigatrio nostermosdalei,competindosForasArmadasatribuirservioalternativoaosque,emtempodepaz,

  • 1.4.6

    aps alistados, alegarem imperativo de conscincia, entendendo-se como tal o decorrente de crenareligiosaedeconvicofilosficaoupoltica,paraseeximiremdeatividadesdecarteressencialmentemilitar.ALeino8.239/91regulamentaotema.Aobrigaoparacomoserviomilitarcomeanodia1odejaneirodoanoemqueapessoacompletar18anosdeidade(Leino4.375/64,art.5o).

    Oalistamentoeleitoralobrigatrioparaosmaioresde18anos,sendofacultativoparaosmaioresde16emenoresde18anos(CF,art.14,1o,IeII,c).Destarte,muitaspessoasqueestonaiminnciadeprestarserviomilitar jgozamdosdireitospolticos,encontrando-sealistadascomoeleitores.Masficaro privadas desses mesmos direitos caso se recusem a prestar o servio ou a cumprir obrigaoalternativa.Nesse caso, a suspenso dos direitos polticos s cessar com o cumprimento, a qualquertempo,dasobrigaesdevidas(Leino8.239/91,art.4o,2o).Todavia,seaquelequeserecusaaprestarservio militar ou alternativo ainda no estiver alistado como eleitor, no ser esse um caso desuspenso nem de perda de direitos polticos, mas, sim, de impedimento. Conforme acentuado, oimpedimentoconsisteemobstculoaquisiodedireitos.Estar,pois,impedidodesetornarcidado,atquerealizeaobrigaoalternativa.

    Improbidadeadministrativa

    Outra hiptese de suspenso de direitos polticos prevista no artigo 15, V, da Constituio.Trata-se da improbidade administrativa. Emmonografia sobre o tema (GOMES, 2002, p. 245, 254),registreiqueaimprobidadeconsistenaaodesvestidadehonestidade,deboa-felealdadeparacomo ente estatal, compreendendo os atos que, praticados por agente pblico, ferem a moralidadeadministrativa.

    Prev o artigo 37, 4o, da Lei Maior: Os atos de improbidade administrativa importaro asuspenso dos direitos polticos, a perda da funo pblica, a indisponibilidade dos bens e oressarcimentoaoerrio,naformaegradaoprevistasemlei,semprejuzodaaopenalcabvel.EssedispositivofoiregulamentadopelaLeino8.429/92,queestabelecetrsespciesdeatosdeimprobidade:osqueimportamenriquecimentoilcito(art.9o),osquecausamlesoaopatrimniopblico(art.10)eosqueatentamcontraosprincpiosdaAdministraoPblica(art.11).

    Como consequncia da ao mproba, o artigo 12 da norma em apreo estipula vrias sanes,entre as quais destaca-se a suspenso de direitos polticos por at dez anos. Transitando em julgadosentena judicial que condene algum pela prtica de ato dessa natureza, cpia dela deve serencaminhadaao juiz eleitoralparaos registrosdevidos.Ultrapassadoaquele lapso,volta-seausufruirdosdireitospolticos.

    O conhecimento e o julgamentode aesde improbidade administrativa encontram-se afetos JustiaComumFederalouEstadual,noEleitoral.Note-se,porm,que,emcertassituaes,osfatosquefundamentamaodeimprobidadepodemigualmenteembasaraoeleitoral,estadecompetnciada Justia Eleitoral. A condenao por improbidade apresenta natureza civil-administrativa.Diferentementedoqueocorrecomacondenaocriminal, a suspensodosdireitospolticosdevevir

  • expressanasentenaquejulgarprocedenteopedidoinicial.Rezaoartigo20daLeino8.429/92queaperdadefunopblicaeasuspensodedireitospolticossseefetivamcomotrnsitoemjulgadodasentenacondenatria.

  • 2.1

    2

    DIREITOELEITORAL

    CONCEITOEFUNDAMENTODODIREITOELEITORALDireito Eleitoral o ramo do Direito Pblico cujo objeto so os institutos, as normas e os

    procedimentosqueregulamoexercciododireito fundamentaldesufrgiocomvistasconcretizaodasoberaniapopular,validaodaocupaodecargospolticoselegitimaodoexercciodopoderestatal.

    SegundoMaligner (2007,p.11),oEleitoral o ramodoDireitoquepermiteconferir contedoconcretoaoprincpiodasoberaniapopular(Cestdonclabranchedudroitquipermetdedonneruncontenu concret laffirmation de principe suivant laquelle la souverainet nationale appartient aupeuple). Para os professores Jean-YvesVincent eMichel deVilliers (citados porMaligner, 2007, p.17),trata-sedoconjuntoderegrasquedefinemopoderdesufrgioeorganizamoseuexerccio(pardroit lectoral, il faut entendre lensemble des rgles qui dfinissent le pouvoir de suffrage et enamnagentlexercice).

    Depois de assinalar que o objetivo da legislao eleitoral sempre lograr la autenticidad decualquier eleccin, a jurista portenha Pedicone de Valls (2001, p. 88, 94, 95) reala o grandedesenvolvimento que o Direito Eleitoral tem experimentado nas democracias contemporneas.Asseveraquesetemformadounaespeciedederechoelectoralcomn(otransnacional),queobedecea iguales principios generales y se proyeta, por eso, en todos los ordenamientos que pertenecen alEstadodeDerechoconstitucionaldemocrtico.Paraela,oDireitoEleitoral constitui el conjuntodenormas reguladoras de la titularidad y del ejercicio del derecho al sufragio, activo y pasivo; de laorganizacinde laeleccin;delsistemaelectoral;de las institucionesy losorganismosquetienenasucargoeldesarrollodelprocesoelectoral,ydelcontroldelaregularidaddeeseprocesoylaveracidaddesusresultados.

    Aobservnciadospreceitos eleitorais confere legitimidade a eleies,plebiscitos e referendos, oque enseja o acessopacfico, sem contestaes, aos cargos eletivos, tornando autnticos omandato, arepresentaopopulareoexercciodopoderpoltico.

    Entre os bens jurdico-polticos resguardados por essa disciplina, destacam-se a democracia, alegitimidadedoacessoedoexercciodopoderestatal,arepresentatividadedoeleito,asinceridadedaseleies,anormalidadedopleitoeaigualdadedeoportunidadesentreosconcorrentes.

    Insere-se o Eleitoral nos domnios doDireito Pblico Interno. Como se sabe,Direito Pblico aquele cujas relaes envolvem a participao do Estado, como poder poltico soberano. Trata-se docomplexodenormas e princpios jurdicos que organiza as relaes entre entes pblicos, estrutura osrgoseosserviosadministrativos,organizaoexercciodasatividadespoltico-administrativas,tudo

  • 2.2

    vista do interesse pblico e do bem comum. O Direito Eleitoral justificado pelo prprio regimedemocrtico.

    Observa Viana Pereira (2008, p. 15) que, apesar de se apresentar como conjunto normativoorganizadordadelegaoconsentidadoexercciodopoder,oDireitoEleitoralparece tersemantidona penumbra, emum territrio fosco emque predomina uma espcie de desprezo terico, emesmolegislativo,relativamenteavriosdeseusinstitutos.

    Deveras, uma apreciao crtica revela que oDireito Eleitoral, como cincia, ainda se encontraempenhado no desenvolvimento de seu mtodo e contedo. Como se sabe, o mtodo cientfico sempre o racional, fundado na razo logos , sendo essa a base fundamental para a explicao defenmenose resoluode conflitos. imprescindvel,portanto,o empregodeargumentao lgica, aapresentaodemotivaoracionaleademonstraodecausaseefeitos.Isso,porm,nemsempreseapresentanessa sea ra, ondeno incomumque a argumentao lgico-jurdica seja substituda pormeros inconformismos ou evidentes sofismas. Isso contribui para o decisionismo eleitoral, bem comoparaainseguranaquegrassanessaseara.Poroutrolado,noqueconcerneaocontedo,aindapairamalgumas incertezas como a de saber se a matria atinente a partidos polticos (o chamado DireitoPartidrio) integra ou no oDireito Eleitoral, e h tambmmuitas lacunas, o que particularmentegravenosmbitosprocessualedaresponsabilidadeeleitoral.

    Urge,pois,atualizaresseimportanteramodoconhecimento,demaneiraaatenderospostuladosda cincia jurdica, sobretudonoque concerne teoria jurdica e hermenutica contemporneas.Emais: preciso que o Direito Eleitoral tenha eficcia social, propiciando respostas claras, efetivas esegurasparademandaseconflitossociopolticos.Issoimplicaingentetrabalhomultidisciplinar,noqualsejam lanadas as bases de uma nova cincia eleitoral que tenha mtodo, contedo, princpios eobjetivosbemdelineados.Implica,tambm,queoscidadossejamtratadoscomopessoaslivres,dignase responsveis, artfices e senhoresde seusdestinos sobos aspectos individual e coletivono comoindivduoscarentes,ignoranteseeternamentedependentesdetutelaestatal.

    OMICROSSISTEMAELEITORALA teoria jurdica contempornea compreende o Direito como um complexo sistema,

    dinamicamenteorganizadoe compostodeelementosque realizam funesespecficas.O sistema temcomo atributo a existncia de ordem e estabilidade internas. , pois, racional. Isso, contudo, nosignifica necessariamente fechamento, porquanto os diversos elementos mantm-se em permanenteinterao e dilogo entre si, sobretudo em virtude da adoo de clusulas abertas, conceitosindeterminados e princpios. No centro do sistema encontra-se a Constituio Poltica, que, para seempregarumaexpressocorrente,compesuatbuaaxiolgica.

    Omicrossistema jurdico integraosistema.Oprefixomicro,dogregomikrs, significapequeno,curto,dediminutaproporo.Destarte,literalmente,microssistemaremeteaumsistemadeproporesmenoresqueoutro,noqualseencontrainserido.

  • 2.3

    A ideia de microssistema a que melhor tem traduzido o fenmeno jurdico hodierno. Naverdade,trata-sedeumdisciplinamentosetorialdedeterminadamatria.

    Paraqueumsetordouniversojurdicosejainseridonacategoriademicrossistema,devepossuirprincpios e diretrizes prprios, ordenados em ateno ao objeto regulado, que lhe assegurem acoernciainternadeseuselementose,comisso,identidadeprpria.Ademais,pressupeaexistnciadeprticas sociais especficas, s quais correspondam um universo discursivo e textual determinado aampararasrelaesjurdicasocorrentes.

    ODireitoEleitoralatendea tais requisitos.Nele seencontraencerrada todaamatria ligadaaoexercciodedireitospolticoseorganizaodaseleies.Enfeixaprincpios,normaseregrasatinentesavriosramosdoDireito,comoconstitucional,administrativo,penal,processualpenal,processualcivil.

    CONCEITOSINDETERMINADOSDadasuarelevncianoDireitoEleitoral,importadizeralgoacercadosconceitosindeterminados.

    Compreende-se por conceito a representao intelectual e abstrata de um objeto. Assim, ele sempre preenchido ou constitudo por uma ideia a respeito de algo. Para que um ser sejaadequadamente identificado, conhecido, deve-se descrev-lo com preciso, realando-se suas notasessenciais.

    No obstante, os conceitos jurdicos no so sempre precisos, variando, inclusive, o grau depreciso que apresentam. Ao lado de noes claras e objetivas, convivem outras, indeterminadas,fluidas. A vagueza semntica refere-se ausncia, no termo ou na expresso empregados, de traosntidos ou bem definidos.A falta de clareza, de preciso, invariavelmente conduz ambiguidade desentidos,oque, almdeprovocarcertaperplexidadeno intrprete, fomentaa insegurana jurdica.quetaisconceitosnoadmitemjuzosdotipotudoounada(comonocasodeconceitosnumricos),operando antes na esfera do mais oumenos.Da desenharem quadros em que no h uma nicasoluocorreta,masvriasigualmentedefensveis,plausveiserazoveis.DatambmaimportnciadoraciocnioanalgicoemDireito.

    Consoante pontificaBergel (2003, p. 216), tais conceitos elsticos so indispensveis aoDireito,poislhepermitemdisciplinaradequadamenteavidasocialemsuaricadiversidade,oquespossvelapartirdenoeslargaseindefinidas.

    Note-se,porm,que,adespeitodavagueza,essesconceitossosemprepassveisdedeterminao.Isso ocorrer toda vez que forem reclamados em determinado caso prtico. Portanto, o intrprete,diantedascircunstnciasfticas,docontextodoeventoedosvaloresemjogo,queestarencarregadodeexplicitareprecisarseuscontedos.

    Para tanto,devero intrpreteapoiar-seemparmetrosobjetivos,claros,presentesnarealidadesociocultural,comoosvalores,ospreceitostico-moraisjcristalizados,osusos,aschamadasregrasdeexperincia,oscostumes,afinalidade,asconsequncias.Destasorte,opoderdojuizampliado,uma

  • 2.4

    vezque lheoutorgadamaior liberdadenoprocessodedeterminaododireitoaoapreciaroscasossubmetidos a julgamento. Permite-se-lhe, luz do mesmo preceito legal, valorar diferentemente asituao e chegar a resultados diversos. Fcil, ento, constatar a grave responsabilidade social domagistradoaodepararcomconceitosindeterminados.

    NoDireitoEleitoralh inmerosconceit