direito e criminalidade a dura e o desenrolo – efeitos práticos da nova lei de drogas

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Direito e criminalidade A Dura e o desenrolo – efeitos práticos da nova lei de drogas

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Direito e criminalidade

A Dura e o desenrolo – efeitos práticos da nova lei de drogas

• Durkheim – estudo científico do crime deve afastar a repulsa que nos causa. Crime exerce uma função social.

• Max Weber – Estado é detentor do monopólio da violência legítima

• Exercício do Ius puniendi de acordo com CRFB 88:• Art. 5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem

prévia cominação legal;• LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de

sentença penal condenatória;• LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e

fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

Formas de produção da verdade• Michel Foucault “a própria verdade tem uma história”• Saber-poder – rede (microfísica do poder)

• Poder disciplinar • “Instituições totais” – escolas, hospícios, presídios

Regime de Prova Sistema de inquérito Exame

Sec. V Idade Média Sec. XIX

Profecia; Jogo de prova Retrospectiva; testemunho Vigilância; Controle das virtualidades; periculosidade

Panóptico

Nova lei de drogas• Lei nº 11.343 de 23 de agosto de 2006 • Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad;

prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências• Revogou a lei nº 6368/76

• Aboliu pena de reclusão para o crime de consumo de drogas• Aumentou pena de reclusão para o tráfico

Lei nº 11.343/06• Art. 2o Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem

como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso.• Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a

colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas.

Autorização –Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

Recentemente, a Anvisa liberou uso do Canabidiol (CBD) para fins medicinais. Cannabidiol x Tetrahidrocannabinol (THC)

Filme: Ilegal – A vida não espera (revista Superinteressante)

Crime de consumo • Lei nº 11.343/06, Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito,

transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:• I - advertência sobre os efeitos das drogas;• II - prestação de serviços à comunidade;• III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso

educativo.

Cultivo• § 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo

pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

Crime de Tráfico• Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à

venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

• Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

• § 1o Nas mesmas penas incorre quem:• I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece,

tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;

• II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;

• III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

Consumo ou tráfico?• Lei nº 11.434/06, Art. 28, § 2o : “Para determinar se a droga

destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente”.

Projeto de pesquisa “O uso de drogas e o sistema de justiça criminal”,• Pesquisa realizada com fomento da Faperj entre novembro de 2007 e julho de

2009• Pretendeu-se observar de que modo a lei é atualizada na prática, isto é, como

efetiva o controle legal sobre o uso de substâncias ilícitas.

• três Juizados Especiais Criminais (JECrim), situados na cidade do Rio de Janeiro• uma delegacia situada na zona norte da cidade do Rio de Janeiro; • usuários de crack no chamado Complexo do Salgueiro, no município de São

Gonçalo• entrevistas com policiais militares e com pessoas de classe média, usuárias de

diferentes drogas

DA ESFERA JUDICIAL OFICIAL À ESFERAPOLICIAL OFICIOSA• Diminuição no número de registro de ocorrências por uso de drogas

após a publicação da nova lei.

• “Dura”

• O aparente descaso do poder Judiciário com a redução da entrada de usuários no sistema parece ter legitimado a atuação informal dos policiais militares que, já desde antes da nova lei, negociavam o encaminhamento, ou não, dos indivíduos flagrados para a delegacia.

• Trecho de uma entrevista realizada com uma juíza: “A nova lei de drogas é descriminalizadora na prática, mas não na lei, porque a Igreja Católica e a Evangélica não quiseram bancar. Mas como não tem pena, não tem crime. Eu vou fazer igual a uma amiga: na intimação, vai junto a advertência. Eu não vou chamar ninguém aqui pra dizer: ‘filhinho, não use drogas’. Eu sou contra, mas vou ter que fazer isso”.

Questão de prioridade – sensação de (in)segurança• Delegacia localizada em bairro de classe média, rodeada de favelas,

não tinha registro de flagrante de uso. Policiais relatam maior preocupação com roubo de carros e assaltos a transeuntes.

• Quando os pesquisadores informaram o intuito de acompanhar o registro de algum flagrante de drogas, um dos plantonistas ofereceu-se: “Se vocês quiserem eu posso ir lá fora buscar um para vocês verem”.

• “Tais negociações informais fundamentam-se na apropriação particular de um bem público de monopólio estatal, isto é, o poder delegado pelo Estado ao seu agente, esperando que ele faça cumprir a lei. Dessa forma, o encaminhamento, ou não, do usuário à delegacia transforma-se em uma mercadoria política, isto é, uma mercadoria cuja produção ou reprodução depende fundamentalmente da combinação de custos e recursos políticos, para produzir um valor de troca político ou econômico (MISSE, 1999).”

Arbitragem policial• exercício de práticas judiciárias não oficiais• Os próprios policiais encarregam-se de punir os infratores, aplicando-lhes

a pena que julgarem mais adequada, considerando a posição social do infrator e sua conduta durante o “desenrolo”, como é comumente chamado o processo de negociação dos flagrantes.

• “esculacho”

• (“Esculhamba, mas não esculacha” – Etnografia de Lenin Pires sobre vendedores ambulantes do trem da Central.)

Inquérito policial x processo penal• Auto de prisão em flagrante• notificação judicial imediata. prazo de 10 dias para os autos chegarem

ao juiz.

• Inquérito policial x processo penal• Inquisitorial (sigilo ) x Acusatório (ampla defesa )

• O inquérito policial faz parte dos autos do processo penal.