terra dura
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Ação CivilTRANSCRIPT
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Promotoria de Justia Regional Ambiental com sede em Valena/BAEXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CVEL DA
COMARCA DE VALENA/BA.
O MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DA BAHIA, por seu Promotor deJustia infrafirmado, vem, perante Vossa Excelncia, lastreado nos autos anexos do Inqurito
Civil de nmero 597.0.113433/2015 e com fundamento nos arts.129, inciso III, da
Constituio Federal, e 138, III, da Constituio Estadual, na Lei n 7.347/85, no art.25, inciso
IV, alnea a, da Lei n 8.625/93, e no art.72, inciso IV, alnea b, da Lei Complementar
Estadual n 11/96, propor a presente
AO CIVIL PBLICA COM PEDIDO LIMINAR em face de
1) ASS EMPREENDIMENTOS LTDA, pessoa jurdica de direito privado,
inscrita no CNPJ sob o nmero 01.720.715/0001-81, com sede na Avenida Jos Andrade
Soares, 10, Valena/BA, CEP 45.400-000, doravante denominada PRIMEIRA ACIONADA;
2) AILTON REIS SANTOS, brasileiro, natural de Valena/BA, filho de Agenorbrasileiro, natural de Valena/BA, filho de Agenor
Mendes dos Santos e de Noeme Reis dos Santos, RG 65270274 SSP/BA, CPF 050.954.415-Mendes dos Santos e de Noeme Reis dos Santos, RG 65270274 SSP/BA, CPF 050.954.415-
00, nascido em 24/05/1953, casado, funcionrio pblico aposentado, residente e domiciliado00, nascido em 24/05/1953, casado, funcionrio pblico aposentado, residente e domiciliado
na Rua Francisco Cosme Muniz, 03, Jardim Grimaldi, Valena/BAna Rua Francisco Cosme Muniz, 03, Jardim Grimaldi, Valena/BA, CEP 45.400-000
doravante denominado SEGUNDO ACIONADO; e
Promotoria de Justia Regional Ambiental com sede em Valena/BARua Lus Eduardo Magalhes, 258, Jardim Grimaldi, Valena/BA - CEP 45.400-000
Telefax (75) 3641-2172/6511 E-mail [email protected]
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3) ALDENIZE SILVA SANTOS, brasileira, natural de Natal/RN, filha debrasileira, natural de Natal/RN, filha de
Manoel Rosa e Silva e de Angelita Soares da Silva, RG 187.743 -SSP/RN, CPF 074.767.364-Manoel Rosa e Silva e de Angelita Soares da Silva, RG 187.743 -SSP/RN, CPF 074.767.364-
00, nascida em 23/02/1955, casada, professora, residente e domiciliada na Rua Francisco00, nascida em 23/02/1955, casada, professora, residente e domiciliada na Rua Francisco
Cosme Muniz, 03, Jardim Grimaldi, Valena/BACosme Muniz, 03, Jardim Grimaldi, Valena/BA, CEP 45.400-000, doravante denominada
TERCEIRA ACIONADA, pelas razes fticas e jurdicas a seguir elencadas:
1 INTRODUO.
Em razo de representao formulada pelo Conselho de Defesa do Meio Ambiente
do Municpio de Valena, que noticiou possvel implantao irregular de empreendimento
denominado Loteamento Terra Dura, na Rodovia BA 001 sentido Valena-Tapero, no
territrio do Municpio de Valena/BA, com grande movimentao de barro e pedras,
queimadas, supresso de vegetao, aterramento de nascente, extrao mineral e at desviode corpo hdrico, este rgo ministerial instaurou o Inqurito Civil de nmero
597.0.113433/2015 para apurar o fato (vide autos do IC em anexo, em especial a portaria de
fls. 02 e 03 e a citada representao nas fls. 06 e 07).
Encerradas as diligncias investigatrias, restou constatado, efetivamente, que a
Primeira Acionada, sob as ordens do Segundo Acionado e da Terceira Acionada, na posio
de responsveis de fato pelo empreendimento mencionado, efetivamente iniciou a
implantao de loteamento sem licena ambiental no local indicado, alm de ter suprimido
indevidamente vegetao secundria nativa do Bioma Mata Atlntica, em estgio mdio;
aterrado e desviado trechos de curso d'gua; e instalado rede precria de drenagem de guas
pluviais. Outrossim, os elementos de convico carreados aos autos apontaram que os Rus
tambm no obtiveram autorizao administrativa para proceder ao parcelamento do solo no
local de implantao do empreendimento.
Diante de tais evidncias, este rgo ministerial props aos Acionados a
celebrao de Termo de Ajustamento de Conduta para promover a regularizao ambiental,
assim como a restaurao e compensao dos danos identificados nestes autos, no qual
tambm figuraria o Municpio de Valena na condio de interveniente, condicionando, no
entanto, para dar seguimento s tratativas, que os ora Acionados, por preveno, paralisassem
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as obras, para no agravar danos ao meio ambiente. Todavia, como ser adiante demonstrado,
inobstante os Rus da presente ao tenham informado interesse na celebrao do ajuste, as
informaes tcnicas carreadas aos autos, de outro lado, apontaram que no houve paralisao
das atividades de implantao do empreendimento aludido.
Assim sendo, no restou alternativa ao Parquet seno propor a presente ao para,
com base na fundamentao contida nesta pea exordial, requerer ao Poder Judicirio que
determine aos Acionados a restaurao, compensao e/ou indenizao pelos ilcitos
identificados nos autos, bem assim para pleitear providncia liminar junto a esse rgo
julgador para determinar aos Acionados que paralisem imediatamente as obras de implantao
do Loteamento Terra Dura, evitando agravar os danos ambientais causados, com base nos
fatos e fundamentos jurdicos a seguir explanados.
2 FATOS
Os elementos de convico carreados aos autos apontam que os Acionados, aoimplantarem irregularmente o Loteamento Terra Dura, na BA 001 Sentido ValenaTapero, no Municpio de Valena/BA, cometeram graves danos ambientais diversos, alm denegarem vigncia s normas jurdicas que tratam da matria.
Com efeito, como se depreende do Parecer Tcnico Ambiental de fls. 44 a 53,proferido pela biloga Isabelle Silva de Oliveira, da Secretaria de Meio Ambiente de Valena,no dia 12 de agosto de 2015, foi realizada inspeo no local pela equipe do rgoadministrativo citado e, na oportunidade, foi constatado que o empreendimento em questono possui licena ambiental, nem autorizao administrativa para parcelamento do solo; almde ter sido realizada, pelos Acionados, para sua implantao, supresso indevida de vegetaodo Bioma Mata Atlntica, em estgio mdio, em rea aproximada de 02 (dois) hectares;aterramento e desvio de curso d'gua; implantao irregular de rede de drenagem, dentreoutros danos e irregularidades. Veja-se o trecho do citado Parecer a seguir reproduzido:
Verificou-se a existncia de vrios pontos de drenagem de guas pluviais
onde j foram implantadas manilhas de dimetro visivelmente reduzido
para o volume de gua captado. Estas manilhas esto sendo utilizadas
para recolhimento de guas pluviais onde j foram implantadas mamilhas
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de dimetro visivelmente reduzido para o volume de gua captado. Estas
manilhas esto sendo utilizadas para recolhimento da gua escoada que
drenam at um riacho localizado na margem oposta da rodovia, alterando
assim o padro natural de drenagem do terreno. ()
No processo de abertura das vias de acesso, foram identificados
aterramento de trs cursos hdricos na rea dos empreendimentos nos
pontos S13o 23'40,9 e W 30o 05'23,6 (riacho) e 13,23'39,9 e W
39o,05'36,2 (rio de 10m de largura aproximada). No ponto S13o 23'40,3
e W 39o 04'49,3 foi identificado represamento de um riacho, o que criou
um lago artificial, totalmente desprovido de mata ciliar (,..)
Foi verificado que houve supresso de vegetao nativa do bioma Mata
Atlntica possivelmente de estgio mdio de regenerao, numa extenso
aproximada de 02 (dois) hectares ()
No houve emisso de licena ambiental pelo Municpio de Valena para
a pessoa ASS Empreendimentos LTDA ou qualquer de seus
representantes legais para implantao do Loteamento Terra Dura.
A Prefeitura de Valena no concedeu qualquer autorizao
administrativa para o loteamento citado.
Na atualidade esto sendo realizadas atividades para implantao do
Loteamento Terra Dura.
As intervenes ambientais verificadas no meio ambiente do local para
implantao do empreendimento so: aterramento dos riachos, alterao
do relevo do local para construo de vias e localizao dos lotes atravs
de terraplanagem, alterao no padro de drenagem do local, supresso de
vegetao nativa, incluindo reas de preservao permanente.
Com base nas constataes tcnicas deduzidas no Parecer Tcnico acimamencionado, o Ministrio Pblico, no dia 13 de agosto de 2015, designou audinciaextrajudicial, convidando os responsveis de fato e de direito pelo empreendimento, oraAcionados, e representantes da Prefeitura Municipal de Valena. Na oportunidade, foiproposta ao Segundo Acionado e Terceira Acionada (que se apresentaram comoresponsveis de fato pela Primeira Acionada e pelo empreendimento sobre o qual versa estaao) celebrao de Termo de Ajustamento Conduta para que promovessem a regularizaoambiental e fundiria, bem como para restaurao e compensao dos danos ambientaisconstatados. Outrossim, foi assinalado prazo razovel para que se manifestassem sobre a
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proposta aludida (vide fl. 54 dos autos do IC 597.0.113433/2015).
Ainda na citada audincia extrajudicial, os Rus da presente ao afirmaram queestavam obedecendo ordem de paralisao da obra, emanada da Prefeitura de Valena e oMinistrio Pblico, por seu turno, em razo de ter sido aventada a possibilidade de celebraode Termo de Ajustamento de Conduta, informou que, naquele momento, deixaria de adotarprovidncia judicial em relao ao caso em tela, desde que obedecida a aludida ordemadministrativa (vide documentao de fls. 30 a 33 e 54 dos autos do IC).
No dia 19 de agosto de 2015, equipe da Base Ambiental do Ministrio Pblico naCosta do Dend esteve no local de implantao do empreendimento sobre o qual versam estesautos e constatou que, naquele momento, as obras estavam paralisadas (vide fls. 55 e 56).
Todavia, em momento posterior, mais precisamente em 01 de setembro de 2015, abiloga Lindiane Freire de Santana Lima, da Central de Apoio Tcnico do Ministrio Pblicodo Estado da Bahia (CEAT-MP/BA), realizou nova inspeo no local citado e constatou quefoi dada continuidade obra, em desrespeito ao ato administrativo do Municpio de Valena,bem assim que os danos ambientais apontados foram agravados pela ao dos Rus,aumentando-se, por exemplo, a rea de supresso indevida de vegetao do Bioma MataAtlntica em estgio mdio de, aproximadamente, dois hectares para mais de trs hectares.Veja-se o trecho do Parecer Tcnico emitido pela CEAT, inserto nas fls. 60 a 70 doexpediente ministerial anexo:
Em campo, observou-se que est em fase de implantao um loteamento
na Fazenda Terra Dura II, na qual h intervenes tais como: a) abertura
de vias de acesso, inclusive com vias cortando cursos dgua (Fotos 01,
02 e 03); b) demarcao de lotes; c) terraplenagem com material de
emprstimo (material mineral proveniente de outro local) e consequente
aterramento de trechos de cursos dgua, d) instalao precria de rede de
drenagem de guas pluviais; d) supresso de vegetao nativa do Bioma
Mata Atlntica. Vale ressaltar que no h no local qualquer sinalizao
indicando autorizaes do poder pblico para a realizao dessas
intervenes.
No momento da inspeo, foi percorrido todo o trecho onde houve recente
supresso de vegetao e foi constatado que as intervenes relativas ao
desmatamento encontravam-se em curso devido a certas aes, como
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exemplos, retirada de madeira e beneficiamento da mesma para
explorao econmica, e abertura de nova via de acesso, conforme
apontou Sra. Gudia Andrade, a qual esteve anteriormente na mesma rea.
Alm disso, nesse Procedimento Ministerial SIMP n 597.0.113433/2015
consta a informao (fls. 45 a 53) de que a rea de vegetao suprimida,
observada em 12 de agosto de 2015, era estimada em 2 hectares e,
conforme constatao na vistoria realizada em 01 de setembro de 2015,
essa rea foi ampliada, como demonstrado abaixo. Esses fatos indicam a
continuidade da implantao do loteamento em questo.
Em relao, verificao de supresso de vegetao nativa do Bioma
Mata Atlntica, caracterizada pela fisionomia Floresta Ombrfila Densa,
foram constatados os seguintes fatos (Fotos 04 a 12):
1. A rea de vegetao suprimida de 3,03 hectares, conforme Mapa em
anexo, elaborado pelo Centro Integrado de Geoinformao (CIGEO) deste
Parquet a partir das coordenadas geogrficas coletadas no momento da
inspeo com aparelho de GPS Garmin (GPSmap 62st);
2. A vegetao suprimida caracterizada como vegetao secundria em
estgio mdio de regenerao, conforme verificao de parmetros
contidos na Resoluo CONAMA n 05/1994 (que define vegetao
primria e secundria nos estgios inicial, mdio e avanado de
regenerao da Mata Atlntica para o Estado da Bahia). Observou-se que:
a) a fitofisionomia da vegetao adjacente predominantemente arbrea
(com altura em torno de doze metros), apresenta dossel fechado e
estratificao com presena de bosque e subosque, demonstrando que a
vegetao suprimida, situada em rea contnua como se observa no Mapa
em anexo, possua essas mesmas caractersticas; b) que os troncos de
rvores abatidas apresentavam dimetro mdio de 22,7 cm (nesse caso,
vale dizer que, por estarem abatidas as rvores, no foi mensurado o
dimetro altura do peito - DAP, mas essa limitao no invalida a
afirmao de que as rvores abatidas apresentavam, em mdia, dimetro
compatvel com vegetao em estgio mdio de regenerao, haja vista
que a citada Resoluo CONAMA atribui um DAP mdio entre 8
centmetros a 18 centmetros vegetao em estgio mdio de
regenerao); c) que a composio florstica da rea suprimida
apresentava espcies vegetais nativas de formaes florestais atlnticas,
tais como, sucupira (Bowdichia sp.), pau-pombo (Tapirira sp.), murici
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(Byrsonima sp.), murta (Myrcia sp.), dentre outras; d) que havia
serrapilheira e epfitas na rea onde houve supresso.
3. Encontravam-se dispostos na rea inspecionada 37,5 m3 de madeira
nativa, proveniente da referida supresso.
Figura 01 Implantao de via de acesso, com terraplenagem e barramento de curso dgua.
Figura 02 Implantao de via de acesso, cortando rio; provocou represamento de gua montante.
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Figura 03 Represamento do Rio indicado na figura 02.
Figura 04 Madeira nativa empilhada para aproveitamento econmico e retirada da rea onde foi constatada recente supresso de vegetao.
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Figura 10 Vegetao suprimida recentemente com rvoresabatidas dispostas sonbre o solo; observar o porte rboreo davegetao adjacente.
Assim sendo, ainda que os Rus da presente ao tenham chegado a informar quedesejavam discutir a possibilidade de celebrao de Termo de Ajustamento de Conduta (fl.59), ao Ministrio Pblico, diante da conduta dos ora Demandados, de desobedecer ordemadministrativa de paralisao de implantao do empreendimento, ocasionando agravamentoconstante do dano ambiental, no restou alternativa seno propor a presente ao, a fim depleitear ao Poder Judicirio que os Rus venham a promover a restaurao, compensao eindenizao de tais danos, bem como que, em carter liminar, seja determinada imediataparalisao da obra, para evitar dano ainda maiores ao meio ambiente -- tudo isso com basenos fatos aqui narrados e nos fundamentos jurdicos que passa a expor.
3 FUNDAMENTOS JURDICOS
3.1 AUSNCIA DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL DOEMPREENDIMENTO.
O ambiente, compreendendo os fenmenos fsicos, biolgicos e sociais, com osquais se encontram envolvidos os homens, bem jurdico elevado categoria de direitofundamental vida. H muito tempo, vem o Legislador preocupado com esse direito,registrando-se aqui a edio do Decreto n 23.793 de 23 de janeiro de 1934, tambmconhecido como Cdigo Florestal, que atribuiu ao Estado e ao cidado a proteo das matasciliares, proibindo quaisquer espcies de atividades nocivas fauna e flora.
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A proteo ambiental ganhou reforo nos dias atuais, com o advento daConstituio Federal de 1988, onde foi estabelecido, em seu artigo 225, caput, o seguinte:
Art. 225 - Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de
vida, impondo-se ao poder pblico e coletividade o dever de defend-lo
e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.
Uma das formas mais importantes de proteo ao meio ambiente a exigncia deum procedimento prvio de licenciamento para a instalao de obra ou atividadepotencialmente causadora de significativa degradao, visando conferir eficcia a um dosprincpios do direito ambiental, qual seja o princpio da preveno.
Nesta linha de inteleco, a Lei Federal de nmero 6.938/1981, recepcionada pela
Magna Carta vigente, estabeleceu, em seu art. 9.o, inciso IV, que o licenciamento das
atividades potencialmente poluidoras um dos instrumentos da Poltica Nacional de Meio
Ambiente, e, em seu art. 10, que a construo, instalao, ampliao e funcionamento de
atividades efetiva ou potencialmente poluidoras ou que possam vir a causar degradao de
meio ambiente devem ser submetidas a prvio licenciamento ambiental junto ao rgo pblico
competente.
Constatando-se, portanto, que o Direito Positivo Brasileiro consagra, h dcadas, a
exigncia de licenciamento ambiental para atividades potencialmente poluidoras ou que
possam vir a causar degradao ao meio ambiente, a fim de que sejam estabelecidos
condicionantes para, preventivamente, mitigar impactos ambientais negativos, v-se que o
empreendimento Loteamento Terra Dura, de responsabilidade dos Acionados, ao iniciar sua
implantao sem a necessria licena, como demonstrado no tpico anterior, negou vigncia
s normas jurdicas que versam acerca do assunto.
Todavia, em que pese no ter obtido licena ambiental, os Rus, consoante se
evidencia do parecer tcnico de fls. 44 a 53, da Secretaria de Meio Ambiente de Valena, e do
parecer tcnico de fls. 60 a 70, da CEAT-MP/BA, j realizaram atividades diversas de
implantao do loteamento, a exemplo de abertura de vias, supresso indevida de vegetao,
terraplanagem e aterramento de cursos d'gua, sem que tenham sido estabelecidas
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condicionantes para a mitigao dos impactos ambientais e da ocupao do solo, nem
delimitadas as reas no edificveis, em razo da funo ambiental que exercem.
Cumpre registrar que o dano ao meio ambiente decorrente da ausncia de
licenciamento ambiental e, consequentemente, de condicionantes para se minimizarem os
impactos ao meio ambiente com a implantao do empreendimento agrava-se, ainda mais,
pelo fato de existirem, na locao do empreendimento, remanescentes do Bioma Mata
Atlntica em estgio mdio de regenerao e, pelo menos, trs cursos hdricos que foram
objeto de desvio ou aterramento irregular pelos Rus.
Portanto, em razo disso, fragmentos de vegetao nativa esto sendo postas em
risco, mananciais hdricos comprometidos, dentre outros aspectos, como j evidenciado no
tpico anterior.
3.2 ILICITUDE DA SUPRESSO DE VEGETAO SECUNDRIANATIVA DO BIOMA ATLNTICA EM ESTGIO MDIO.
Consoante apontado no Parecer Tcnico de fls. 45 a 53 dos autos do IC, da
Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Valena, para implantao irregular do
Loteamento Terra Dura, os Acionados, em um momento inicial, promoveram supresso
indevida de, aproximadamente 2 hectares de vegetao do Bioma Mata Atlntica em estgio
mdio de regenerao e, posteriormente, em menos de um ms, esta rea de derrubada ilegal
aumentou para 3,03 hectares, conforme indicado na manifestao tcnica de fls. 60 a 70 dos
autos do IC, da CEAT-MP/BA.
Portanto, tendo sido constatado que os Rus efetuaram supresso de vegetao
nativa do Bioma Mata Atlntica sem autorizao administrativa do ente pblico competente e
em desacordo com as prescries contidas na Lei 11.428/2006, inexorvel concluir que estes
devem ser obrigados a promover a restaurao ambiental de toda a rea que foi objeto de
supresso ilcita ou, em caso de impossibilidade material, a compensao ecolgica de tais
danos.
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3.3 ILICITUDE DO ATERRAMENTO E DESVIO IRREGULAR DECURSO D'GUA.
Os pareceres tcnicos aludidos tambm apontaram que os Acionados, para
implantar o empreendimento multicitado, tambm aterraram e desviaram cursos d'gua, alm
de terem construdo irregular sistema de drenagem de guas pluviais.
Nesse sentido, a Lei Estadual 11.612/2010, no seu art. 18, com redao alterada
pela Lei 12.377/2011, estabelece que ficam sujeitos outorga de direito de uso de recursos
hdricos ou manifestao prvia do rgo executor da Poltica Estadual de Recursos
Hdricos as atividades ou empreendimentos que captem ou derivem guas superficiais, bem
como que causem interferncia em corpo hdrico.
Considerando, no entanto, que os Acionados promoveram os atos aqui indicados,
sem formular o necessrio requerimento ou sem realizar qualquer cadastro junto aos entes
pblicos competentes, conforme a hiptese, resta inequvoco que negaram vigncia regra
insculpida no art. 18 da Lei Estadual 11.612/2000.
Assim sendo, os Rus devem ser compelidos pelo Poder Judicirio a promovem a
restaurao ambiental de toda a rea que foi objeto de aterramento, desvio e de implantao
irregular de sistema de drenagem ou, caso materialmente impossvel, a efetuar compensao
ecolgica do dano.
3.4 PARCELAMENTO DO SOLO REALIZADO EM DESACORDO COM
AS NORMAS JURDICAS VIGENTES.
A par dos ilcitos ambientais acima indicados, os Rus, ao implantarem o
empreendimento citado, tambm inobservaram as regras existentes no Direito Positivo
Brasileiro a respeito do parcelamento do solo, j tradicionalmente estabelecidas no
ordenamento jurdico ptrio.
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Como se pode depreender de uma simples leitura da narrativa ftica contida no
tpico anterior e na documentao constante dos autos do Inqurito Civil, especialmente
aquela constante das suas fls. 44 a 53, o empreendimento sub judice implica parcelamento darea em lotes e possui finalidade urbanstica.
Ocorre que os elementos de convico carreados aos autos apontam que a locao
do empreendimento situa-se em rea rural, onde, por fora da regra insculpida no art. 3o da Lei
6.766/89, proibida a implantao de loteamentos e condomnios para fins habitacionais e de
comrcio.
De qualquer sorte, ainda que se considere que o empreendimento est em rea
tipicamente urbana, cumpre ressaltar que, em casos tais, para implementar o parcelamento do
solo, faz-se necessria a sua aprovao pelo ente municipal, na forma contemplada no art. 10,
da Lei 6.766/79, o que inocorreu no caso em tela.
Ademais, na mesma linha de inteleco, igualmente imperiosa a previso e a
implementao de equipamentos pblicos diversos pelo empreendedor, na forma prevista pela
Lei 6.766/79, o que tambm no aconteceu na hiptese ora sub judice.
V-se, portanto, que o parcelamento do solo empreendido pelos Rus irregular,
porque sua implantao vem acontecendo de forma contrria ao que determina a legislao
que rege a matria.
5 PAGAMENTO DE INDENIZAO POR DANO MORAL COLETIVO.
A par de tudo que foi assinalado, ressalte-se que, no caso sob exame, cabe
indenizao pelos danos morais coletivos provocados pelos Rus.
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Paulo Affonso Leme Machado, em sua obra Direito Ambiental Brasileiro (10ed.,
Malheiros. Pg.328), citando Francisco Jos Marques Sampaio, leciona que no apenas a
agresso natureza que deve ser objeto de reparao, mas a privao, imposta coletividade,
do equilbrio ecolgico, do bem-estar e da qualidade de vida que aquele recurso ambiental
proporciona, em conjunto com os demais. E continua afirmando que desse modo, a
reparao do dano ambiental deve compreender, tambm, o perodo em que a coletividade
ficar privada daquele bem e dos efeitos benficos que ele produzia, por si mesmo e em
decorrncia de sua interao.
Como bem observado em deciso do Superior Tribunal de Justia, aquele que
perpetua a leso ao meio ambiente cometida por outrem est, ele mesmo, praticando oilcito (REsp 343.741-PR 2 T. STJ j. 04.06.2002 rel. Min. Franciulli Netto DJU
07.10.2002).
Considerando que os Acionados, responsveis pelo dever previsto
constitucionalmente de preservar o meio ambiente, at o presente momento, assim no
procederam, devem indenizar os danos ambientais extrapatrimoniais coletivos.
Danos morais coletivos devem ser entendidos como a injusta leso da esfera mo-
ral de uma dada comunidade, ou seja, a violao antijurdica de um determinado crculo de
valores coletivos. Quando se fala em dano moral coletivo, est-se fazendo meno ao fato de
que o patrimnio valorativo de uma certa comunidade (maior ou menor), idealmente conside-
rado, foi agredido de maneira absolutamente injustificvel do ponto de vista jurdico: quer isso
dizer, em ltima instncia, que se feriu a prpria cultura, em seu aspecto imaterial (Carlos
Alberto Bittar Filho, em Do Dano Moral Coletivo no Atual Contexto Jurdico Brasileiro In:
Revista de Direito do Consumidor n 12, out/dez/94).
Assim, devero os Acionados ser condenados ao pagamento de uma determinada
quantia em dinheiro, em patamar no inferior ao montante de R$ 500.000,00 (quinhentos mil
reais), dada a extenso do dano aqui narrado, sob o ttulo de indenizao, pelos danos
praticados contra o bem coletivo e pela dor e o desgosto experimentado por todos os cidados
que se encontram expostos s leses (patrimoniais e extrapatrimoniais) ambientais advindas
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de sua conduta infratora.
6 DOS FUNDAMENTOS PARA DEFERIMENTO DO PLEITO LIMINAR
Como visto, os Rus vm implantado o empreendimento Loteamento Terra
Dura, sem licena ambiental e sem autorizao administrativa para efetuar parcelamento do
solo.
Ademais, tambm restou demonstrado que, para implantar o referido
empreendimento, os Acionados vm suprimindo fragmentos significativos de vegetao
nativa do Bioma Mata Atlntica, sem autorizao legal para tanto, bem como provocado
aterramento, desvios e intervenes irregulares em cursos hdricos.
A par dos danos ambientais, cumpre frisar que embora no detenham as licenas e
autorizaes ambientais e administrativas necessrias, os Acionados continuam com a obra de
implantao do Loteamento Terra Dura (vide documentao de fls. 60 a 70 dos autos do IC
597.0.133433/2015), podendo, por isso, gerar prejuzo econmico aos consumidores que
eventualmente venham a adquirir lotes do empreendimento, no caso de o Poder Judicirio
julgar que este foi, de fato, implantado irregularmente, o que certamente acontecer diante das
evidncias colacionadas aos autos e j demonstradas.
Desta forma, seja para se evitar que se agravem os danos ao meio ambiente (visto
que os Rus continuam a praticar atos de implantao do empreendimento, sem licena e
autorizao ambiental para tanto), seja para evitar que comercializem lotes de um
empreendimento irregular, com prejuzo aos consumidores, faz-se necessria a concesso de
medida liminar, nos autos desta ao civil pblica, com fundamento no art. 12 da Lei
7.347/85, para que seja determinada aos Acionados a paralisao imediata de qualquer
atividade tendente implantao do empreendimento (incluindo obra civil de qualquer
natureza, supresso de vegetao nativa, veiculao de anncio publicitrio, comercializao
de lotes, dentre outros desta natureza) at o julgamento final desta lide.
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Ante a evidncia de que leso ambiental esteja sendo praticada, no pode manter-
se inerte o Poder Judicirio, mormente considerando-se que, neste tema, o que se pretende
mesmo a preservao, sendo medida transversa e reflexa eventual pagamento pecunirio
indenizatrio.
Certo que as caractersticas naturais de bens de valores ambientais
incomensurveis normalmente no so passveis de recuperao, justifica-se ainda mais a
necessidade da paralisao da atividade.
Admitindo-se, apenas para argumentar, que os documentos tcnicos apresentados
pelo Ministrio Pblico a esse Juzo estejam incorretos, os Acionados poderiam dar
continuidade ao empreendimento em momento posterior.
No entanto, prosseguindo a degradao ambiental, ao final, certamente mais nada
se ter a preservar, proporcionando a paliativa indenizao ao Fundo do Meio Ambiente. A
exuberante beleza, sua funo ecolgica, paisagstica e a relevncia para o ecossistema da
vegetao da rea de implantao do empreendimento irregular faro apenas parte da
lembrana da sociedade, atravs de frias recordaes, compondo o grande conjunto de bens
devastados da regio, que, alm do mais, depende dessas riquezas para sobreviver.
Por tudo isto, v-se que resta presente o periculum in mora no caso vertente.
Por seu turno, o fumus boni iuris exsurge pelas razes expostas nos tpicosanteriores que, inequivocamente, apontam a ilicitude da implantao do empreendimento
Loteamento Terra Dura pelos Acionados, consoante se infere da leitura dos tpicos
anteriores desta petio inicial.
Assim sendo, imperioso que esse Juzo conceda medida liminar, para determinar
aos Acionados que se abstenham de dar continuidade a qualquer atividade tendente
implantao do empreendimento (incluindo obra civil de qualquer natureza, supresso de
vegetao nativa, veiculao de anncio publicitrio, comercializao de lotes, dentre outros
desta natureza) at o julgamento final desta lide.
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7 REQUERIMENTOS E PEDIDOS PRINCIPAIS.
Diante exposto, requer a Vossa Excelncia:
a) a concesso de medida liminar inaudita altera pars, determinando-se aosAcionados que se abstenham do seguinte:
I) dar continuidade a qualquer atividade tendente implantao do
empreendimento em tela (incluindo obra civil de qualquer natureza, supresso de vegetao
nativa, dentre outros desta natureza), at o julgamento final desta lide, sob pena de
desobedincia e de pagamento de multa diria em valor a ser fixado por esse Juzo; e
II) veicular anncio publicitrio, comercializar lotes, dentre outros desta natureza,
alusivo ao empreendimento em tela, at o julgamento final desta lide, sob pena de
desobedincia e de pagamento de multa diria em valor a ser fixado por esse Juzo, oficiando-
se ao Cartrio de Registro de Imveis de Valena, para que conste o inteiro teor da deciso
liminar acima requerida margem da matrcula do imvel aludido na documentao de fls.
31, 32 e 44 a 53, onde se pretende implantar o empreendimento Loteamento Terra Dura;
b) a citao dos Acionados para, querendo, contestarem a presente ao, no prazo
legal, arcando, caso contrrio, com a declarao da revelia;
c) a produo de todos os meios de prova permitidos em Direito, especialmente o
depoimento pessoal dos Acionados (no caso da PRIMEIRA ACIONADA, do seu
representante legal), prova documental, pericial e testemunhal, cujo rol ser apresentado
dentro do prazo legal;
d) a condenao dos Acionados a restaurarem, mediante apresentao e execuo
de um Projeto de Recomposio de rea Degradada e Alterada a ser aprovado por esse Juzo
ou por ente pblico competente, e, na sua impossibilidade material, a compensarem
monetariamente em valor a ser apurado por esse Juzo em favor do Fundo Municipal de Meio
Ambiente de Mara, os danos ambientais provocados pela supresso indevida de vegetao
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nativa do Bioma Mata Atlntica em estgio mdio e pelo aterramento, desvio, demais
intervenes indevidas em cursos d'gua e outros no meio ambiente narradas nesta petio
inicial;
e) a condenao dos Acionados a indenizarem a coletividade, pela privao dos
recursos ambientais em questo, no pagamento de valor no inferior R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais) ao Fundo Municipal de Meio Ambiente de Mara/BA; e
f) a dispensa de pagamento das custas processuais iniciais, uma vez que se trata de
ao proposta pelo Ministrio Pblico.
D-se causa o valor estimado de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)
De Mata de So Joo para Valena/BA, 07 de outubro de 2015.
Oto Almeida Oliveira JniorPromotor de Justia 2o Substituto.
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