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Texto que trata sobre a criminalidade.TRANSCRIPT
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CRIMINALIDADE E ESCRAVIDÃO EM UM MUNICÍPIO CAFEEIRODE MINAS GERAIS — JUIZ DE FORA, SÉCULO XIX
CRIMINALITY AND SLAVERY IN COFFEE-PRODUCER VILLAGE : JUIZ DE FORA (MINAS GERAIS — BRASIL, !"#$ CENTURY
E LIONE S ILVA GUIMARÃES•
R%&')
O artigo discute a criminalidade escrava no principalMunicípio cafeeiro de Minas Gerais na segunda metade doséculo XIX. A fonte primária fundamental para a pesquisaforam os processos criminais. Inicialmente, realizo umlevantamento quantitativo da criminalidade geral ocorridano Município entre !"#$!%#, considerando os registrospreservados pelo tempo e tendo por &ase a classi'ca()o do*+digo *riminal, num total de .- documentos./osteriormente, foram isolados os crimes em que cativos'guraram como réus e0ou vítimas. *om o o&1etivo de
complementar a análise qualitativa, destaco e comentoalguns crimes, signi'cativos para a compreens)o do temaproposto.
P*+**&-C$*%&
*riminalidade, escravid)o, cafeicultura, século XIX, MinasGerais.
A.&#*#
23is article e4amines t3e criminalit5 and slaver5 in 6uiz de 7ora, t3e most important co8ee$producer village int3e state of Minas Gerais, 9rasil, in t3e second 3alf t3e %t3
centur5. As a 'rst step, a s3ort discussion on criminalit5trend in 6uiz de 7ora is presented, on t3e &asis of ,-criminal process :!"#$!%#;. 23ose in <3ic3 slaves are att3e same time victims and defendant. 23e latter deserved adetailed anal5sis, in order to focusing t3e main interestt3eme.
/rofessora /esquisadora do Arquivo =ist+rico da *idade de 6uiz de 7ora
:/refeitura de 6uiz de 7ora $ MG;.
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/%0 1)2&:
*riminalit5, slaver5, co8ee$producer, %t3 centur5, MinasGerais :9rasil;.
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I3#)2'45):
> o&1etivo deste artigo discutir a criminalidade escrava no principal
Município cafeeiro da ?ona da Mata Mineira :sudeste de Minas Gerais;@
6uiz de 7ora. A ocupa()o das terras pr+4imas a 6uiz de 7ora remonta
a&ertura do *amin3o Bovo C estrada que ligava a regi)o mineradora
*apital do Império C por Garcia Dodrigues /aes :E#%;. A localidade
vivenciou uma gradual e4pans)o de suas atividades econFmicas,
primeiramente ligada ao comércio de tropas e produ()o de gneros.
Hntre !-#$!E# a cultura da ru&iácea e4pandiu$se na ?ona da Mata
Mineira. 6uiz de 7ora assumiu o posto de principal produtor de café de
Minas Gerais, concentrando a maior popula()o escrava da /rovíncia.
Beste artigo, as datas$limites a&rangem os anos de !-# e !!!. O
ano inicial corresponde ao início da e4pans)o da lavoura cafeeira em 6uiz
de 7ora e, ao mesmo tempo, data do 'm do trá'co transatlntico.
2am&ém foi em !-# que a /ar+quia de Janto AntFnio do 6uiz de 7ora foi
elevada categoria de vila, com a denomina()o de Janto AntFnio do
/arai&una. A data 'nal corresponde ao 'm o'cial da escravid)o no 9rasil.
O artigo compKe$se de trs se(Kes. A primeira apresenta um
pequeno 3ist+rico do desenvolvimento cafeeiro de 6uiz de 7ora e sua
e4pans)o ao longo do século XIX. A segunda apresenta um levantamento
quantitativo0qualitativo da tendncia da criminalidade ocorrida no
Município. 7inalmente, a terceira se()o a&orda a criminalidade sofrida e
praticada por escravos. Ao longo do te4to, demonstro como os diferentes personagens C
sen3ores, escravos, advogados e demais 1uristas C operaram a lei
visando atingir interesses especí'cos. Apresento uma leitura das
entrelin3as do processo criminal, e4plorando o 1ogo das contradi(Kes e
das possi&ilidades. Lestas páginas emerge o cativo como ser social. Bos
processos criminais encontrei 3omens e mul3eres que, em&ora
1 O te4to ora apresentado constitui parte de min3a disserta()o de mestrado@ V6)+7386*%3#% 9*8%6)& 2% 8*#6%6): J'6 2% F)*, &%;'32* %#*2% 2) &<8'+) XIX .Biter+i@ 77, N##.
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dominados, apresentam$se como seres dotados de su&1etividade, que
lutaram, sofreram, resistiramN e amaram. *onvido o leitor a acompan3ar$
me neste te4to, para 1untos 'carmos atentos e ouvirmos as vozes, durante
tantos anos silenciosas :ou silenciadas;, que timidamente esperam
aqueles que se interessem em ouvi$las.
2 O conceito de resistncia empregado, em rela()o aos cativos, é o de'nido por Maria=elena Mac3ado :%!E@ N#; P... resistir signi'ca, :...; impor determinados limites ao
poder do sen3or, onerá$lo em sua amplitude, colocar mostra suas inconsistnciasQ. Osescravos resistiram de forma e4plícita :crimes contra sen3ores e seus prepostos, fugas,suicídios; e, a maioria, de forma velada :estragando instrumentos de tra&al3o, fazendoPcorpo moleQ etc.;.
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!= C%3>6) 2% #%3&?%&
6uiz de 7ora localiza$se na ?ona da Mata C Judeste de Minas
Gerais. A e4pans)o da economia cafeeira em 6uiz de 7ora ocorreu no
período de !-#$E#. 6á em !--$- o Município despontava como o
principal produtor de café da ?ona da Mata Mineira, mantendo$se entre
os maiores produtores de Minas Gerais até as duas primeiras décadas do
século XX :/IDHJ, Anderson, %%"@ "0;. O desenvolvimento cafeeiro
em 6uiz de 7ora coincidiu com o período de crise do sistema escravista
:'m do trá'co transatlntico, pressKes e4ternas e internas contra a
escravid)o, Reis a&olicionistas etc.;. Hntretanto, foi o &ra(o escravo o
responsável pela grande produ()o cafeeira do Município. A reposi()o da
m)o$de$o&ra escrava na regi)o deu$se &asicamente através do trá'co
interno, interprovincial e intraprovincial :ver@ ABLDALH, DFmulo Garcia,
%%@ !#$%- S MA*=ALO. *láudio =eleno, %%%;.
Levido e4pans)o das lavouras cafeeiras, na segunda metade
do século XIX, a regi)o sudeste tornou$se grande importadora de m)o$de$
o&ra escrava. A aquisi()o de cativos era realizada, prioritariamente, por
proprietários de porte médio e grande :que possuíam acima de dez
cativos; e que di'cilmente iriam alienar por venda um escravo adquirido
:MA22OJ, =e&e Maria de *astro, %%- S JRHBHJ, Do&ert, %%%;. Hm
6uiz de 7ora, a m)o$de$o&ra mancípia foi predominantemente composta
por escravos crioulos. A popula()o escrava de 6uiz de 7ora, em !E",
totalizava %."- elementos, sendo .-#E do se4o masculino e E.! do
se4o feminino :GIMADTHJ, Hlione, N##@ -%;. Hstes cativos estavam
empregados, ma1oritariamente nas lavouras de café.
> recorrente na 3istoriogra'a so&re a escravid)o no 9rasil,
produzida nos Ultimos vinte anos, que apesar dos rigores do cativeiro, os
escravos crioulos esta&eleceram redes de solidariedade, família e
compadrioV estratégias de so&revivncia, o&tendo algumas conquistas no
interior do cativeiro :posse de terras, fun()o de feitor, administrador
etc.;, o que ocorreu, principalmente, nas grandes escravarias. Mas arecente produ()o 3istoriográ'ca tam&ém evidencia a presen(a da
criminalidade envolvendo sen3ores e escravos, 3omens livres e mancípios
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e parceiros de cativeiro :MA*=ALO, Maria =elena /. 2., %!E S *AJ2DO,
=e&e Maria Mattos. %%-;.
A violncia e o conWito" foram estudados através das manifesta(Kes
criminais denunciadas 1usti(a e nos registros preservados pelo tempo.
Ao quanti'car a criminalidade envolvendo cativos, no Município de 6uiz
de 7ora :!-#$!!;, considerando a classi'ca()o do *+digo *riminal
:!"#;, veri'quei uma tendncia ao predomínio dos crimes de 3omicídioV
fato que pode ser e4plicado se considerarmos que os sen3ores de
escravos resolviam internamente as disputas entre seus cativos,
entregando para o 1ulgamento da 1usti(a apenas os casos mais graves.
A violncia inerente ao sistema perpassou as rela(Kes entre cativos,
manifestando$se na comunidade escrava. Ao lado dos la(os de
solidariedade e da luta cotidiana e velada contra o escravismo, e4plodiu,
em determinadas circunstncias, a violncia entre compan3eiros de
cativeiro. A luta pela diferencia()o possível no interior do grupo, ou pela
a'rma()o perante o mesmo, esteve na origem de muitos dos delitos
envolvendo parceiros de escravid)o. Os autos permitiram$me penetrar nocotidiano escravista de 6uiz de 7ora, entrando pela porta dos fundos...
camin3ando pelas senzalas. B)o o&stante todos os cuidados necessários
ao tra&al3ar com processos criminais, mesmo sa&endo que as falas dos
personagens foram 'ltradas por uma gama de intermediários, ainda
assim, s)o estas as fontes que mais nos apro4imam do mundo dos
escravizados. 7oi e4plorando as contradi(Kes das falas dos personagens
com os quais me deparei, que procurei reconstruir seus mundos. Los
3 P V6)+7386* C /or violncia entende$se a interven()o física de um indivíduo ou grupocontra outro indivíduo ou grupo :ou tam&ém contra si mesmo;. /ara que 3a1a iolnciaé preciso que a interven()o física se1a voluntária :...;. Além disso, a interven()o física,na qual a violncia consiste, tem por 'nalidade destruir, ofender e coagir. :...;Geralmente a violncia é e4ercida contra a vontade da vítima.Q :9O99IO, Bo&erto,%%N, p. N%$N%N.; PC)3@6#) C H4iste um acordo so&re o fato de que o *onWito éuma forma de intera()o entre indivíduos, grupos, organiza(Kes e coletividades queimplica c3oques para o acesso e a distri&ui()o de recursos escassos. :...; A violnciapode ser considerada um instrumento utilizável num *onWito social ou político, masn)o o Unico e nem necessariamente o mais e'caz. :...; Listinguir o *onWito com &asenos o&1etivos n)o é fácil, se n)o se faz referncia a uma verdadeira teoria que
atualmente n)o e4iste. > possível compreender e analisar os o&1etivos dos *onWitossomente na &ase de um con3ecimento mais profundo da sociedade concreta em que os vários conWitos emergem e se manifestam.Q :Idem, p. NN-$NNE;. Hstes s)o os conceitosde violncia e conWito que estarei empregando ao longo deste estudo.
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autos emergiram o dia$a$dia de 3omens e mul3eres em suas mUltiplas
atividades@ tra&al3o, família, lazer e amor.
A interpenetra()o entre os mundos dos proprietários e dos escravos
pFde ser o&servada. Jen3ores lan(aram m)o de suas redes de inWuncia,
prestígio e poder para o&ter os resultados dese1adosV para impedir o
andamento dos processosV para omitir delitosV para defender seus
interesses econFmicos. 6uristas interpretaram as leis no conte4to de uma
sociedade li&eral nas idéias e escravista na prática, equacionando esta
diversidade. Hscravos dissimularam, valeram$se das rivalidades
sen3oriais, impuseram limites de tolerncia. Desistiram de formas
mUltiplas.
= T%327386*& 2* C663*+62*2% % J'6 2% F)*
/ara tentar compreender os signi'cados dos crimes e conWitos
sofridos e0ou praticados por escravos, em 6uiz de 7ora e regi)o,
apresento, primeiramente, um levantamento quantitativo da
documenta()o criminal :!"#$!%#;. Lemonstro o nUmero de infra(Kes
e a sua distri&ui()o pelos diversos tipos de delitos :ta&. ;. Bademarca()o cronol+gica o ano !"# corresponde ao documento criminal
mais antigo localizado no acervoV enquanto que em !%# entrou em vigor
o novo *+digo *riminal 9rasileiro. Jeguindo a orienta()o do *+digo
*riminal 9rasileiro do período Imperial, optei por agrupar os delitos em
quatro grandes grupos, a sa&er@
!= C6%& P.+68)&: J)o aqueles que referiam$se aos crimes
políticos, que ofendiam a Pintegridade e a e4istncia do Império e dospoderes políticos instituídosY :9AJIRH, Marcelo Otávio Beri de *ampos.
%%E@ %E;, que feriam os direitos do cidad)o ou corrompiam a
administra()o pU&lica. Aqueles que por suas tendncias, caracteres,
atrocidades ou conseqZncias afetavam principalmente os interesses
sociais.
4 Ao reconstituir os padrKes de criminalidade na regi)o recuando alguns anos em meu
recorte inicial :!-#; e avan(ando um pouco no recorte 'nal :!!!;, considerandoinclusive um período em que 6uiz de 7ora pertencia a 9ar&acena, tive por o&1etivoproporcionar uma mel3or avalia()o destes padrKes, no período de vigncia do *+digo*riminal de !"#.
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= C6%& P*#68'+*%&: Aqueles que tin3am condi(Kes e
conseqZncias que importavam mais uma les)o individual do que geral.
J)o os crimes cometidos contra a pessoa e0ou contra a propriedade.
= C6%& P)+686*6&: *rimes que dizem respeito desordem, s
contraven(Kes, aos pequenos delitos. J)o crimes de menor potencial
ofensivo.
= O'#)& D)8'%3#)&: Hste con1unto comporta os documentos
que n)o puderam ser enquadrados nos trs grupos anteriores, como por
e4emplo, os inquéritos relativos a suicídio e morte natural.
6orge de 7igueiredo Lias e Manoel da *osta Andrade, ao a&ordaremo pro&lema das estatísticas criminais, alertaram para o fato de que as
mesmas referem$se s estatísticas ofciais, uma vez que ocorre um
profundo desa1uste entre a ocorrncia do crime e o seu registro. Muitos
delitos nem c3egam a nascer como fato estatístico, ou se1a, n)o s)o
apresentados e0ou aceitos pelo sistema 1udiciário. > o fenFmeno que os
1uristas denominam de cira negra ou criminalidade oculta, e e4cedem,
signi'cativamente criminalidade o'cial :LIAJ, 6orge de 7igueiredo S ABLDALH, Manoel da *osta, %%N@ "#$".;.-
9oris 7austo tam&ém alertou para o pro&lema da su&$
representatividade das estatísticas criminais@
Y... as estatísticas referentes a prisKes, ou a processos criminais,correspondem ao nível da atividade policial e 1udiciária, variávelem fun()o da e'cácia. A quest)o da e'cácia n)o é apenastécnica, mas está ligada discrimina()o social e s op(Kes dapolítica representativa, so&retudo no campo das contraven(Kes.*ertas condutas passíveis a&stratamente de san()o s+ setornam puníveis quando se referem aos po&res :7AJ2O, 9oris.%!@ N#;.Y
Ao analisar a documenta()o criminal, de 6uiz de 7ora, veri'quei
uma tendncia crescente da criminalidade medida que o século XIX
avan(ava, e uma predominncia dos crimes contra a pessoa, em rela()o
aos delitos contra a propriedade :ta&. ;. Jeguindo a tendncia geral da5 Hm&ora o te4to destes autores re'ra$se a dados recentes, pode$se considerar que omesmo acontecia 1á no período Imperial, conforme demonstro ao longo desta pesquisa.
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criminalidade, os crimes envolvendo escravos aumentaram,
principalmente ap+s !!#. Isso pode ser creditado, por um lado, a um
acirramento das tensKes oriundas das leis a&olicionistas, e que
perpassaram a comunidade cativa. /or outro, pode ser resultado da
política sen3orial, que tendeu a entregar o cativo criminoso para
1ulgamento com maior freqZncia, medida que o Hstado ela&orava leis
de modera()o, regulamentando o tratamento que deveria ser dispensado
aos escravos e adentrando as fazendas, procurando impor limites aos
sen3ores de terras e de 3omens. 2am&ém n)o se pode ignorar que o
Município de 6uiz de 7ora vivenciou um desenvolvimento econFmico e
ur&ano, e conseqZente concentra()o populacional C tanto de 3omens
livres quanto de escravos :RA*HDLA, AntFnio =. L., %%%;, incluindo$se a
c3egada dos imigrantes :principalmente alem)es e italianos; e os
conWitos entre as diversas nacionalidades :étnicos, religiosos, luta pelo
mercado de tra&al3o etc.;.
TABELA ! — TABELA GERAL DOS PADRES E
TENDNCIAS DA CRIMINALIDADE EM JUIZ DE FORA !H"H
CRIMES PBLICOSTIPODÉCADA !H !KH K!H !H !H !"H TOTAL
*ontra o direitopolítico
C C C # # C #N
*ontra a seguran(aLo império
# # # " "
*ontra a ordem ea administra()o
C C N #% % -
*ontra o tesouroe a propriedade
C # #N # C # #-
CRIMES PARTICULARESI= C)3#* * L6.%2*2% I32662'*+
TIPODÉCADA !H !KH K!H !H !H !"H TOTALcontra a li&erdade C C #" # #N #N II= C)3#* * S%;'*34* 632662'*+
!= C)3#* * S%;'*34* 2* P%&&)* % 2* V62*TIPODÉCADA !H !KH K!H !H !H !"H TOTAL
=omicídio # #" E "% !# !# NN#Infanticídio C C C C C # #tentativa de3omicídio
# # N# #
A&orto C C C C #N # #"7erimentos e ofensasfísicas
#" " - !# - " "%!
amea(as #N #N #E # # # N%entrada em casaal3eia
C C # #N #" C #
= C)3#* * S%;'*34* 2* )3*TIPODÉCADA !H !KH K!H !H !H !"H TOTAL
Hstupro C C # # # #E #Dapto C C C # C #N #"*alUnia e in1Uria #" #" " % - !-
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= C)3#* * S%;'*34* 2) E&#*2) C66+ % D)<D)TIPODÉCADA !H !KH K!H !H !H !"H TOTAL
Adultério C C C C # C #*ele&ra()o dematrimFnio contra asReis do Império
C C C C # C #
III= C)3#* * P)96%2*2%TIPODÉCADA !H !KH K!H !H !H !"H TOTAL
7urto #N # " N NN " #9ancarrota eHstelionato
C C #E #" #% #E N
Lano #N #N E E "IV= C)3#* * P%&&)* % * P)96%2*2%
TIPODÉCADA !H !KH K!H !H !H !"H TOTALDou&o C C N " !%
CRIMES POLICIAISTIPODÉCADA !H !KH K!H !H !H !"H TOTAL
A1untamentos ilícitos C C C C # #N #"uso de armasproi&idas
# # " # #! #% ""
uso de nomes
supostos
C C # C C #N #"
OUTROS DOCUMENTOSTIPODÉCADA !H !KH K!H !H !H !"H TOTAL
*ontra as /osturasMunicipais
C C #" # # %
suicídio # # # #E N- # -diversos #! #" #- "" - -! -N
TOTAIS POR DÉCADASTIPODÉCADA !H !KH K!H !H !H !"H TOTAL
TOTAL N! "! %- """ -! -N .-
F)3#%: ACJF= 7undo 9en1amim *olucci. /rocessos *riminais do /eríodo Imperial,!"#$!%#.
[uanto preponderncia dos crimes contra a pessoa, em rela()oaos crimes contra a propriedade, Maria 23ereza *ardoso sugere que
PMuitos desses processos relatam o rompimento de rela(Kes de
solidariedade entre aqueles que, vivendo nas fím&rias do sistema,
disputam entre si &ens materiais, rela(Kes afetivas estruturantes e &ens
sim&+licos, derivando muitas vezes em situa(Kes de e4trema agress)oQ
:*ADLOJO, Maria 2ereza /ereira. %%E@ #$;.
*oncentrando a maior popula()o de cativos da /rovíncia de Minas
Gerais, 6uiz de 7ora foi palco da violncia cometida e sofrida por
escravos. Beste período 'caram preservados " registros de delitos
praticados por mancípios e - crimes em que cativos foram vítimas.
Lestes Ultimos, foram crimes que tiveram escravos simultaneamente
como vítimas0réus.
2emos ! delitos de crimes contra a essoa praticados por
cativos. Lestes, "# foram cometidos contra sen3ores, administradores e
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feitores C sendo NN enquadrados na Rei de !"- e os demais no *+digo
*riminal. Outros E foram praticados contra 3omens livres,
possivelmente, em sua maioria, 3omens livres po&res. Jomam$se a estes
os crimes envolvendo parceiros de escravid)o.
= E&8*)& P*86%3#%& % S'%6#)& 2% D%+6#)
Ao pesquisar os processos criminais em que cativos 'guraram como
vítimas, principalmente de seus sen3ores ou de feitores e capatazes, uma
quest)o se impFs. [uantos foram os escravos, que, vitimados pelos maus
tratos de seus sen3ores ou seus representantes diretos :administradores,
feitores e capatazes;, n)o puderam denunciá$los A'nal, a lei impedia$os
de denunciar ou de testemun3ar contra seus proprietários, salvo os casos
em que estivessem amparados pela opini)o pU&lica dos 3omens livres
:GODHBLHD, 6aco&, %!-@ %;. H os que conseguiram fugir e se
apresentar aos delegados ou su&delegados, quei4ando$se de maus tratos
e sevícias, quando foram ouvidos, quantos inquéritos se a&riram para
apurar as quei4as0denUncias e quantos se transformaram em processos
Bo Município em estudo, dos N% casos de delitos classi'cados como
ofensas físicas ou maus tratos, praticados por 3omens livres contra
escravos, N foram ordenados ou e4ecutados por sen3ores e seus
prepostosV sendo, estes, acusados como suspeitos :A=*67. /rocessos
*riminais de Ofensas 7ísicas;. Lestes, sete ocorrncias foram
consideradas improcedentes, dois 'caram inconclusos, dois réus foram
a&solvidos e um foi condenado. Hm alguns casos, os castigos físicos
aplicados pelo sen3or e seus representantes e, s vezes, até por escravos
a mando destes, redundaram em morte. Le trinta casos de 3omicídio, em
que escravos foram vítimas de 3omens livres, seis tiveram como suspeitos
os proprietários dos mesmos. Lestes, dois 'caram inconclusos, dois foram
1ulgados improcedentes e dois foram a&solvidos :A=*67. /rocessos
*riminais de =omicídio;.
6 Rei que previa 1ulgamento sumário para escravos que matassem ou ferissem seussen3ores, familiares destes ou seus prepostos.
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A grande maioria dos castigos físicos imoderados compuseram a
cira negra. Acredito que muitos outros até c3egaram ao con3ecimento
dos 3omens da lei, mas n)o constituíram inquérito, auto de corpo$de$
delito ou processo, assim como as informa(Kes contidas no auto de corpo
delito no pequeno Hrnesto nos dei4a inferir :A=*67. /rocesso de Ofensas
7ísicas, N#0#0!E";.
Hm N# de 1un3o de !E" o escravo Hrnesto :N anos; fugiu da casa
de seu sen3or, no Município de 6uiz de 7ora, e apresentou$se cadeia da
cidade. [uei4ou$se de maus tratos, de sofrer surras aplicadas com
&acal3au, amarrado escada da casa de seu proprietário. O castigo foi
aplicado por outro cativo e assistido por Marcelino de 9rito, o
proprietário. O delegado pediu um e4ame de corpo de delito, o qual
constatou que Hrnesto apresentava cicatrizes na parte posterior do
tronco, de mais de dois anos, e ferimentos purulentos nas nádegas,
resultantes dos maus tratos recentes. Dealizou$se um auto de perguntas
ao ofendido.
Hnviado o processo ao /romotor /U&lico, para oferecer denUncia, omesmo entendeu que n)o 3avia crime e, portanto, nada a ser denunciado.
Leclarou, ainda, que o auto de corpo de delito estava irregular, pois n)o
se ateve a responder aos quesitos apresentados, e4trapolou ao constatar
sevícias antigas. H, a &em dos interesses dos proprietários de escravos e
da sociedade, aconsel3ou aos delegados, em casos similares, a n)o
Pprocederem t)o irregularmente, enviem tais escravos imediatamente a
seus sen3ores, recomendando a estes modera()oQ. ale a pena con3ecer
um pouco mais da conclus)o do /romotor@
YOs castigos desta ordem todavia foram, s)o e ser)o toleradosentre n+s até que se e4tinga a classe escrava, e essa tolerncianasce da necessidade que 3á em conservar$se o prestígio dosen3or para com o escravo, a 'm de que a o&edincia doescravo n)o desapare(a, porque ent)o teríamos uma verdadeiraconWagra()o com pre1uízo de todos os proprietários e dasociedade :...; Além disso, n)o sendo a denUncia do escravocontra o sen3or aceitável perante o espírito de nossa lei, meparece inUtil em tais casos um auto de perguntas como o defol3as, que para nada prestando, tendo somente o \ilegível] dadeso&edincia do escravo contra os sen3ores, e dá lugar a que
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todos os dias, por fUteis prete4tos, ve1am$se estes proprietáriosprivados dos servi(os de seus escravos, que \pressurosos]correm para as autoridades, 1ulgando que por esta forma podem
vingar se.Y
Os propalados castigos moderados, quando n)o foram cumpridos,
geralmente, n)o ocasionaram pre1uízos aos sen3ores. Los N casos de
quei4a de maus tratos em escravos, preservados pelo tempo, nove n)o
foram adiante :os considerados improcedentes e os inconclusos;. H estes
representam apenas a parcela dos casos ocorridos que c3egaram a ser
registrados. /ossivelmente, o procedimento mais comum foi os delegados
e su&delegados seguirem orienta(Kes como as do /romotor
supracitado... devolverem o escravo a seu proprietário sem mais
delongas, a 'm de poupar$l3es os pre1uízos acarretados pela ausncia ao
tra&al3o. Daras foram as a(Kes movidas contra sen3ores que castigaram
imoderadamente seus cativos. O que n)o quer dizer que, na prática, os
castigos e4acer&ados n)o ocorreram. Além disso, denUncias por
agressKes físicas deveriam ser custeadas pelo quei4oso, a menos que se
comprovasse a sua gravidade para a sociedade ou a misera&ilidade doofendido.
Hm 1aneiro de !!!, AntFnio *assiano Augusto de /aula foi acusado
de 3aver mandado aplicar castigos e4cessivos no escravo 6osé,
pertencente a seus so&rin3os C Manuel AntFnio de Assis e 6osé 7rancisco
de Assis. Ap+s ter sido seviciado, no arraial do *3ácara :pertencente a
6uiz de 7ora;, 6osé evadiu$se e apresentou$se delegacia de Dio Bovo,
onde o processo teve início, sendo depois transferido para 6uiz de 7ora.
Interrogado, AntFnio *assiano e4plicou que, como era seu costume, todos
os anos, no ms de outu&ro, ap+s a capina de sua lavoura, ofereceu um
1antar com pagode a seus cativos. Hstavam presentes comemora()o
alguns escravos de seus so&rin3os. Lurante o acontecimento, dois
7 P7azer pagode@ fazer fun(Kes e divertimento de comezarra, e dan(as, cantares eprazeres licenciosos :...;Q :JIRA, AntFnio de Moraes, !-!;. Jtanle5 Jtein comenta quePAs noites de sá&ado e invariavelmente os dias santos C os escravos denominavam$nosdias de pagode :...;.Q :J2HIB, Jtanle5 6, %!-@ N";.
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escravos dos mesmos desentenderam$se, e 6osé amea(ou a vida de
Agostin3o :A=*67. /rocesso *rime de Ofensas 7ísicas, "#0#0!!!;.
6osé 7rancisco quei4ou$se ao tio do mau comportamento do escravo
e este aconsel3ou$o a mandar$l3e 6osé, para aplicar$l3e um corretivo.
*laro que AntFnio *assiano n)o admitiu ter surrado ou mandado castigar
6osé, além do aconsel3ável. Lisse que apenas prendeu uma corrente
argola que o cativo trazia ao pesco(o.! Bo entanto, o auto de corpo de
delito constatou surra de &acal3au. Os depoimentos das testemun3as
con'rmaram os castigos. Mais do que isto... o depoimento de AntFnio
Luque, um pr+spero fazendeiro da regi)o, comprometeu o acusado.
Luque a'rmou que tendo sofrido um atentado de morte, praticado por
um de seus cativos, entregou o mesmo 1usti(a. Ja&edor do fato, AntFnio
*assiano, encontrando$se com ele no arraial, teceu o seguinte
comentário@
Y... perguntou$l3e se com efeito a testemun3a \Luque] 3aviaentregado seu escravo criminoso 1usti(a, ao que respondeu atestemun3a que sim, ent)o replicou, AntFnio *assiano de /aula,
dizendo que a testemun3a 3avia procedido mal, por que a 1usti(a o que queria era comer din3eiro, e que ele testemun3adevia ter feito, o que ele AntFnio *assiano fez com 6osé, escravode seu so&rin3o Manuel AntFnio de Assis, isto é, surrado com&acal3au ...Y
O processo foi arquivado e a Municipalidade condenada nas custas,
pois o /romotor /U&lico concluiu que Pn)o ac3ando provada a
misera&ilidade do ofendido, nada ten3o a requerer por parte da 6usti(a
/U&licaQ. Lecis)o muito coerente por sinal, a'nal, o escravo 6osé era uma
mercadoria qual estava negado o status de pessoa. *a&ia a seu
proprietário, Manuel AntFnio de Assis, o oendido, quei4ar$se de seu
ofensor. A rela()o de parentesco entre AntFnio *assiano :o ofensor; e
Manuel AntFnio :o ofendido;, assim como a ascendncia e o prestígio do
8 Desultado de parcela da pena que cumpria pelo 3omicídio do feitor de 6oaquim AntFniodos Jantos, na fazenda de AntFnio 6osé de Assis, pai de Manuel AntFnio e 6osé7rancisco. O artigo # do *+digo *riminal do Império esta&elecia que P Je o réo fFr
escravo, e incorrer em pena, que n)o se1a a capital, ou de galés, será condenado na dea(oites, e, depois de os so8rer, será entregue a seu sen3or, que se o&rigará a traze$locom um ferro, pelo tempo e maneira que o 6uiz designarQ. C26;) C663*+ 2)I9<6) 2) B*&6+, p. -#.
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primeiro conduziram o desfec3o desta 3ist+ria@ o arquivamento do
processo^
O 3omicídio do escravo 2e+p3ilo, ocorrido em mar(o de !!,
tam&ém é elucidativo das contradi(Kes do aparato 1urídico do escravismo
moderno. 2e+p3ilo, P'el da casaQ, era escravo de dona 7rancisca
m&elina Bazaret3, pequena proprietária em argem Grande :Listrito de
6uiz de 7ora;. Hm um domingo de !!#, a sen3ora e o sin3ozin3o foram
missa, no arraial, com a escravaria. Alegando n)o estar sentindo$se &em,
o 'el 2e+p3ilo 'cou cuidando da propriedade e dos escravos que
permaneceram na casa. [uando regressaram da missa, dona 7rancisca
m&elina e o 'l3o AntFnio 6osé dos Jantos Bazaret3 n)o encontraram
2e+p3ilo, que 3avia evadido$se. [uatro anos passaram$se até que um
mascate italiano encontrou 2e+p3ilo, em /orto Bovo do *un3a :/rovíncia
do Dio de 6aneiro; e o devolveu a seus proprietários :A=*67. /rocesso de
*rime de =omicídio, N!0#"0!!;.
O camin3o de volta, longo e so& sol forte, 2e+p3ilo fez a pé. Rogo
ap+s ser entregue, o sen3or mo(o mandou o escravo Marcellino aplicaruma surra com c3icote em 2e+p3ilo, para Pservir de e4emploQ aos demais
escravos. Bo dia seguinte, o escravo aman3eceu morto. A&riu$se um
processo contra AntFnio 6osé dos Jantos Bazaret3 :mandante; e o
escravo Marcellino :mandatário;. *ondenados em primeira instncia, o
advogado dos réus recorreu e eles foram a&solvidos em senten(a 'nal.
Jenten(a que traduz as contradi(Kes e tensKes de sua época. *omo no
caso do pequeno escravo Hrnesto, tam&ém aqui o representante da Rei, o
1uiz, recon3eceu a necessidade dos castigos físicos como meio de conter e
disciplinar o grande contingente de escravos que cotidianamente eram
e4plorados em tra&al3os Pso&renaturaisQ, Pfor(adosQ e PdesumanosQ. H
ainda que ten3a resultado na morte do fel 2e+p3ilo P... o réu cometeu o
crime no e4ercício e prática de um ato lícitoQ.
2am&ém Maria fugiu da casa de seus proprietários, em 6uiz de 7ora.
Apresentou$se cadeia da cidade, em a&ril de !E", reclamando maustratos e sevícias, praticados nela e num seu 'l3o menor, por sua sen3ora,
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dona Maria m&elina da Hncarna()o. Ao apresentar$se, a escrava
encontrava$se ferida e ensangZentada. Maria era reincidente na fuga e
na quei4a. m ano antes ela 1á 3avia adotado o mesmo procedimento,
mas nesta primeira ocasi)o foi devolvida a seus proprietários sem que se
tivesse a&erto inquérito para apurar as quei4as :A=*67. /rocesso de
Ofensas 7ísicas, N"0#0!E";.
Maria, escrava casada com um 3omem forro, alegou que por
ocasi)o da primeira fuga encontrava$se grávida, e ao ser devolvida a seus
sen3ores apan3ou tanto que sofreu um a&orto dias depois. Jegundo a
quei4osa, ela e o 'l3o apan3avam todos os dias. Hram tantos os maus
tratos Pque por isso pedia interven()o das autoridades para que fosse
vendida a outro qualquer sen3or para evitar que ela suicidasseQ. Ao ser
ouvido, o proprietário alegou que ele e a esposa tratavam seus escravos
com &ondade e 3umanidade e que descon3ecia quem poderia ser o autor
dos ferimentos, PLisse mais que o Unico motivo destas repetidas fugas
s)o por que sendo ela casada com um 3omem forro, tam&ém quer ser
livreQ.
A testemun3a Manuel 6oaquim Alves de Oliveira, vizin3o do sen3or
da escrava, contou que por várias vezes ouviu gritos na casa, como se
alguém sofresse castigos e que, em outras circunstncias, 1á 3avia
apadrin3ado a escrava Maria.% Bo desenrolar do processo, entretanto, o
/romotor disse n)o ter provas &astantes para denunciar dona Maria
m&elina da Hncarna()o. Alegou que, desta feita, os castigos foram
leves. [uanto s sevícias antigas C os castigos que resultaram no a&orto
de um ano antes C n)o poderiam mais serem detectadas. O delegado,
9 Hra comum que escravos evasores, criminosos ou que cometessem qualquer outro atoque pudesse redundar em puni()o, &uscassem a prote()o de pessoa inWuente 1unto aseu proprietário a 'm de intervir por eles, visando minorar os castigos que l3es seriamaplicados. Mar5 _arasc3, comentando as fugas de escravos no Dio de 6aneiro, naprimeira metade do século XIX, refere$se aos Papadrin3amentosQ da maneira seguinte@P... um costume `comum pelo qual os fugitivos podiam `arrepender$se e entregar$se,evitando assim o castigo severo. *ansado de viver como fugitivo, mas temeroso dac3i&ata, um escravo podia ir até uma pessoa poderosa ou inWuente C um vizin3o,sen3or rico, padre ou mem&ro de uma irmandade religiosa C e pedir a ela que
intercedesse em seu favor. Je essa pessoa, con3ecida como padrin3o, concordasse ema1udá$lo, ia pessoalmente falar com o dono do escravo, ou pedia por carta seu perd)o.Ignorar a interven()o do padrin3o e punir o escravo era considerado um insulto.Q:_ADAJ*=, Mar5 *., N.###@ "$;.
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porém, aconsel3ou a venda da escrava Maria, &aseado no fato de 1á ter
sido dona m&elina da Hncarna()o, anos antes, acusada de castigos
violentos em uma preta vel3a de sua propriedade.
Outro e4emplo signi'cativo foi a denUncia apresentada por Manuel
AntFnio da Jilva contra dona AntFnia Ruísa =orta 9ar&osa, em mar(o de
!EN. Hla era proprietária da 7azenda *afezal e viUva do consel3eiro
Ruiz AntFnio 9ar&osa. Lona AntFnia foi acusada de mandar aplicar
castigos, palmat+ria e surra de &acal3au, num escravo de sua
propriedade, causando sua morte. Hm sua carta$denUncia Manuel AntFnio
contou que o caso tendia a passar desaperce&ido, porque dona AntFnia
Ruiza era m)e do /romotor /U&lico. /or certo, o delegado de polícia n)o
iria P1ogar as cristas contra esta autoridadeQ. As testemun3as foram
c3amada a depor reservadamente e atestaram a P3umanidadeQ e
P&ondadeQ de dona AntFnia. Alegaram descon3ecer o acusador Manuel
AntFnio da Jilva :A=*67. /rocesso *rime de =omicídio, 0#"0!EN;.
Lados contradit+rios permitem questionar a !umanidade e
"ondade dos =orta 9ar&osa#
A testemun3a Mariano Gomes, vizin3o dedona Antonia 3á dezoito anos, contou que a dita sen3ora era Pum amorQ e
que sempre atendia a padrin3o quando os escravos dela fugiam. H que,
além do mais, a Pdita sen3ora n)o tem administrador e nem feitor forroQ.
Je dona Antonia era um amor , por que seus escravos fugiam para &uscar
padrin3o Hscravos que procuravam apadrin3amento estavam &uscando
quem intercedesse por eles 1unto a seus sen3ores, visando escapar de
castigos, ou pelo menos minorá$los. Je os escravos da 7azenda *afezal
tin3am o costume de &uscar padrin3o é porque nesta propriedade,
provavelmente, 3avia a prática da aplica()o de castigos físicos.
O fato de n)o 3aver feitor ou administrador livres na propriedade
dos =orta 9ar&osa n)o a&ona a !umanidade e "ondade de seus
proprietários. O feitor era o elemento regulador do tra&al3o e
mantenedor da disciplina no interior das unidades produtivas. Rivre ou
escravo era esta a sua fun()o@ supervisionar os tra&al3os e e4ercer a violncia :RADA, Jilvia =. %!!@$%;. B)o e4iste comprova()o
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empírica de que feitores$escravos tratassem com mais 3umanidade os
seus parceiros. Mesmo considerando que era$l3es necessário um &om
relacionamento com seus su&ordinados, compan3eiros de infortUnio, tem$
se que considerar que a manuten()o do privilégio alcan(ado dependia da
possi&ilidade de manter a produtividade e a disciplina de seus
compan3eiros, o que for(ava$l3es a agir com rigor.
B)o &astassem os dados 1á e4plicitados, c3amou min3a aten()o o
crime ocorrido na 7azenda *afezal em !-. 7rederico, africano, escravo
da fazenda dos =orta 9ar&osa, foi acusado da morte de seu parceiro
6oaquim, preto vel3o, quase cego e responsável pela vigilncia do café
col3ido. 6oaquim 3avia acusado 7rederico por furto de café. O acusado
ter$se$ia evadido e retornado, mais tarde, para vingar$se. 6ulgado,
7rederico foi condenado a galés perpétuas :A=*67. /rocesso de *rime de
=omicídio, NE0#E0!-;. A 3ist+ria poderia ter encerrado$se aqui, em&ora
com uma curiosidade na senten(a, quando comparada a tantos outros
processos envolvendo crimes entre parceiros de cativeiro no mesmo
período. Hstran3amente, a pena de 7rederico n)o foi convertida a a(oites
e ferros aos pés ou ao pesco(o por período determinado, como
geralmente acontecia com escravos criminosos, principalmente se o
crime fosse contra outro cativo. /or que os =orta 9ar&osa, família de
prestígio, :o marido de dona AntFnia Ruísa 3avia sido um *onsel3eiro do
Império, seu 'l3o, Ruiz Hugnio, era um advogado, que mais tarde
c3egou a promotor pU&lico e presidente de /rovíncia;, n)o tentaram
converter a pena de 7rederico em a(oites e ferros :conforme o artigo #
do *+digo *riminal; A'nal, ele era do se4o masculino e declarou ter N-
anos, portanto, uma pe(a valiosa.#
10 AUFJF= 7undo 7+rum 9en1amim *olucci. Inventários post mortem. Lo *onsel3eiroRuiz AntFnio 9ar&osa, referncia N"", cai4a N#9. Bo inventário do *onsel3eiro Ruiz AntFnio 9ar&osa, marido de dona AntFnia Ruiza =orta 9ar&osa e pai de Ruiz Hugnio=orta 9ar&osa, a&erto em #00!, na parte de rela()o de &ens, aparece um Unicoescravo de nome 7rederico, idade declarada de N- anos, avaliado em @"##b### :umconto e trezentos mil réis; e, tam&ém um Unico escravo 6oaquim, idade declarada de #anos, avaliado em @###b### :um conto de réis;, provavelmente os mesmos envolvidosno processos de !-. Apesar de 7rederico dizer por várias vezes, quando interrogado,
ignorar a sua idade e, mais tarde declarar ter N- anos, isto no processo de !-,acredito ser a mesma pessoa uma vez que os cálculos das idades eram feitos porapro4ima()o e declarado de acordo com as convenincias do momento. 2am&ém n)oconsta do inventário que 7rederico fosse portador de alguma doen(a ou defeito físico.
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ma das testemun3as que depFs neste processo foi Manuel *arlos
Marcondes, 3omem livre, administrador da 7azenda *afezal, em !-.
Hste dado contraria as informa(Kes de Mariano Gomes, testemun3a no
processo anteriormente mencionado, de que na 7azenda *afezal n)o
3avia o costume de se empregar administradores e feitores livres. &vio
que este costume, de usar feitores e administradores escravos, pode ter
sido adquirido nos sete anos que separam os dois processos.
A 3ist+ria de 7rederico é retomada em !E!, quando seu curador
envia uma peti()o de gra(a ao Imperador.
Y... o suplicante residiu com seu sen3or na fazenda cafeial :sic.;distante algumas mil3as da cidade do /arai&una \antigo nomede 6uiz de 7ora] /rovíncia de Minas Gerais, lugar onde gozavade maior estima de seus sen3ores, despeitado com um seuparceiro de nome 6oaquim, desapareceu este e porque fossemuito reprovada conduta :sic; e odiado pelos sen3ores. Liaspassados sou&e$se que ele tin3a morrido recaindo gravessuspeitas em outros da casa, mas como o suplicante eraintrigado com ele e os que maiores indícios tin3am deculpa&ilidade, faziam mais falta fazenda do que o suplicante aqual deu em resultar a condena()o em galés perpétuas.
=á aqui porém um mistério que o suplicante n)o podeinvestigar, pois ap+s este fato desastroso, um sussurro geral seespal3ou por toda a fazenda contra alguém da família e istoainda mais se prova pelo su&orno costumado a praticar de atostais. Assim que a li&erdade foi prometida ao suplicante se esteconfessasse o delito.
7osse como fosse o suplicante é quem está na pris)o a doze anose portanto s+ ele é criminoso incapaz de semel3ante atentado edisposto somente para sofrer 3umil3a(Kes do cárcere a que porsua cruel desventura se ac3a para sempre lan(ado.
Jen3or^ [uem pede n)o pode acusar@ o processo dirá o que faltaao magnnimo cora()o de . M. Imperial, falaram :sic; tam&émas lágrimas e os solu(os dum desgra(ado que com gemidospartidos do fundo dalma.
/ede pelo amor de Leus, /erd)o, /erd)o.Y :A=*67. /eti()o deGra(a do escravo 7rederico, arquivada 1unto com o /rocesso de*rime de =omicídio, NE0#E0!-;.
O curador de 7rederico dei4a entrever a 3ip+tese de que o
responsável pela morte de 6oaquim ten3a sido um de seus sen3ores, queO pre(o médio de um escravo da fai4a etária de 7rederico, em !", era de @--#b###:um conto e quin3entos e cinqZenta mil réis;. Hm rela()o ao pre(o médio de escravos ver@ ABLDALH, DFmulo Garcia, %%-@ -%.
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l3e ofereceu a li&erdade em troca da sua responsa&ilidade pelo crime
ocorrido. 6amais sa&eremos quem, de fato, matou 6oaquim, o que 'ca
claro é que a família =orta 9ar&osa, como tantas outras famílias
escravistas, n)o primava pela &ondade e 3umanidade no tratamento dado
a seus escravos. H ainda, a 3ip+tese de que 7rederico ten3a assumido a
culpa por um crime de seus sen3ores a&re a possi&ilidade de que ele n)o
ten3a sido o Unico cativo a enco&rir delitos de seus proprietários em
troca de promessas de li&erdade ou outros ri$il%gios. 2odavia, o uso de
castigos físicos imoderados n)o eram corriqueiros. B)o interessava ao
proprietário a mutila()o ou a perda de uma e&a de %"ano e, além do
mais, geradora de riqueza. Mas a racionalidade econFmica n)o foi
su'ciente para evitar casos dessa natureza.
Hm !E%, AntFnio Augusto ieira castigou dois escravos seus,
Ad)o e 6o)o. Os dois escravos, recém$adquiridos, fugiram da propriedade
de AntFnio Augusto, que saiu na captura dos mesmos. 6o)o foi capturado
nos su&Ur&ios da cidade. Jo& ol3ares de diversas testemun3as, foi
amarrado, surrado, pisoteado e amea(ado de ser 1ogado ponte a&ai4o, o
que n)o se efetivou devido interven()o dos presentes :A=*67.
/rocessos *rime de =omicídio, #"0N0!E%;.
Lias depois, Ad)o retornou propriedade, apadrin3ado pelo
*apit)o AntFnio Lias :fazendeiro de muito prestígio na regi)o;, pela
sen3ora de AntFnio Augusto ieira e pelo feitor da fazenda.
Lesrespeitando os padrin3os, o proprietário enviou o cativo para a ro(a e,
1untamente com mais quatro escravos seus, surrou$o imoderadamente.
Apesar de muito castigado, Ad)o tra&al3ou o resto daquele dia. Ba
man3) seguinte, enfermou$se e faleceu cinco dias depois. A&riu$se
processo para apurar os fatos, sendo denunciado AntFnio Augusto ieira
e os co$réus, os escravos 23omé, 23eodoro, Jeverino e icente.
2estemun3as de prestígio na localidade con'rmaram os fatos e alegaram
ser voz pU&lica que AntFnio Augusto ieira tratava mal seus escravos. Os
réus foram denunciados por 3omicídio, menos o proprietário, que faleceu
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antes da data da denUncia. 7rancisca Augusta 7erreira *ampos, esposa
de ieira, contratou advogado para defender seus escravos. O advogado
solicitou para os mesmos as escusas do artigo # parágrafo "o do *+digo
*riminal@
YB)o 3á negar que, na 3ip+tese dos autos, viram$se osindiciados na alternativa ou de deso&edecerem ao seu sen3orincorrendo assim nas mesmas san3as e rigores de que eramtestemun3as ou se faltasse prática das &ar&aridadescometidas. A perspectiva que se alternaria deso&edincia dosindiciados era desumano martírio de que era vítima o seuparceiro C o infeliz Ad)o C. Bestas condi(Kes o medoirresistível de que fala o artigo # parágrafo "o, medo irresistível
que leva de vencida uma coragem ordinária, inWuindo muitonaturalmente no nimo dos denunciados, n)o l3es permitiaproceder de outra sorte.Y :A=*67. /rocessos *rime de=omicídio, #"0N0!E%. nfase no original;.
O promotor n)o aceitou o recurso, mas os escravos foram
a&solvidos pelo 6Uri de senten(a, em # de 1ul3o de !!#.
TABELA : ESCRAVOS OBJETOS DE DELITOS —
CONDIQÃO DOS SUSPEITOS
C)32645) 2) <' '*3#62*2% P)8%3#*;%=omens livres ! N,"!Hscravos " "",##=omens livres e escravos - #,NT)#*+ 8) 62%3#68*45) !H" !HHB)o identi'cados 2O2AR -
F)3#%: ACJF= 7undo 9en1amim *olucci. /rocessos *riminais do /eríodo Imperial.
[uanto aos delitos praticados por escravos, os mesmos aumentaram
progressivamente ao longo da segunda metade do século XIX. [uais
3ip+teses podem$se apresentar para este aumento da criminalidade
11 AntFnio Augusto ieira foi assassinado em # de mar(o !!#. Hle era o segundomarido de 7rancisca Augusta 7erreira *ampos. As evidencias indicam que este crimeenvolveu amores ilícitos e trai(Kes. Desponderam a processos, como suspeitos,parentes da mul3er da vítima e um escravo dos mesmos. =á dois processos relativos aeste 3omicídio, o primeiro deles acusando Jaturnino 6osé ianna, ictorino de *arval3o
e o escravo Ga&riel, datado de de mar(o!!#V o segunda acusando AntFnio Mendes7erreira, datado de # de dezem&ro !!-. ACJF= 7undo 7+rum 9en1amin *olluci./rocessos *riminais do /eríodo Imperial. /rocesso de *rime de =omicídio, 0#"0!!#e #0N0!!-.
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escrava Ora, a e4pans)o da lavoura cafeeira em 6uiz de 7ora ocorreu no
período !-#$!E#. A crescente concentra()o de cativos é uma
e4plica()o plausível. Ao longo da segunda metade do século XIX os
sen3ores de escravos passaram a enfrentar pressKes e4ternas e internas
contra a escravid)o, vendo crescer a resistncia mancípia através de
fugas, 3omicídios de proprietários e seus representantes diretos. Os
sen3ores de escravos foram impelidos, pelas circunstncias, a entregar
com maior freqZncia o escravo criminoso para a 1usti(a. =á que se
considerar que os sen3ores escravistas possuíam o direito privado de
punir seus cativos no interior das fazendas. *on1ugado esse direito com o
interesse do proprietário e a racionalidade econFmica do sistema, muitos
sen3ores de escravos resolveram internamente parte dos conWitos
envolvendo cativos :MA*=ALO, Maria =elena /. 2., %!E@ N!;.
Maria =elena Mac3ado tomou como parmetro para avaliar o
efetivo crescimento da criminalidade escrava, em *ampinas e 2au&até, a
evolu()o dos crimes enquadrados na Rei de # de 1un3o de !"-, aqueles
que atingiam diretamente a autoridade sen3orial@
YA 3ip+tese da e4istncia de uma amplia()o efetiva dos crimesde escravos, neste período, &aseia$se na considera()o dos3omicídios contra sen3ores e feitores medida que estes foramperce&idos, tanto pelos sen3ores quanto pelo aparel3o
1udiciário, como crimes limites, uma vez que atentavamfrontalmente contra os princípios da sociedade escravista.*onscientes da fragilidade dos mecanismos paternalistas de quedispun3am, os sen3ores, desde sempre, temeram os ataques deseus cativosY. :MA*=ALO, Maria =elena /. 2., %!E@ "$"E;.
Hm 6uiz de 7ora, tem$se "# delitos cometidos por escravos contra
sen3ores, administradores e feitores C NN denunciados, segundo
previsto na Rei de # de 1un3o de !"-, e #! denunciados, por delitos
previstos no *+digo *riminal C entre !-" e !!". Lestes, # referem$se
a ferimentos graves e N a 3omicídios e0ou tentativas de morte. Las NN
denUncias, por previs)o na Rei de !"-, " rece&eram senten(as, # o
foram com &ase no artigo %" do *+digo /enal :relativo a 3omicídio;, #denunciado foi a&solvido e #N denUncias 'caram inconclusas. B)o 3á
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registro de nen3um caso de feitor$escravo que, tendo sido morto por seus
parceiros, teve seu 3omicídio denunciado na Rei de !"-. Los NN casos de
crimes denunciados na Rei de # de 1un3o de !"-, dois referem$se a
3omicídio do proprietário, os demais incidiram so&re feitores e
administradores. Os resultados s)o coerentes considerando$se que o
feitor era o representante direto dos interesses sen3oriais e estava mais
pr+4imo do cativo, marcando presen(a na vigilncia constante so&re o
mesmo nos servi(os do eito, corrigindo$os e castigando$os dia$a$dia. Os
crimes contra a pessoa destacaram$se so&re os demais. Hntretanto, tem
que se considerar que as pequenas contraven(Kes ou delitos menores,
so& a +tica escravista, foram punidos pelos pr+prios sen3ores.
Hm diversos casos de furto e outros crimes contra a propriedade,
os sen3ores denunciaram 3omens livres como receptores de produtos
su&traídos por seus cativos :A=*67. /rocessos de *rimes *ontra a
/ropriedade;. Alguns processos de lesKes corporais ou 3omicídio
mencionam casos de furtos praticados por escravos contra seus
proprietários. O *+digo de /osturas de !-E, esta&elecia multa e pris)o
para os comerciantes que negociassem com cativos sem que estes
apresentassem uma licen(a escrita de pessoa de "oa % :A=*67. *+digo
de /osturas Municipais de !-E. 7undo *mara Municipal no Império.
Jérie "0;. Hste dispositivo legal, porém, n)o foi e'caz. /ode$se inferir
que o sen3or escravista n)o fosse denunciar e entregar 6usti(a um
escravo seu que viesse a furtar produtos de sua propriedade.
TABELA : CRIMES PRATICADOS POR ESCRAVOS — JUIZDE FORA (!KH-
D<8*2*
CRIMES CONTRA A PESSOA CRIMESCONTRA A
PROPRIEDA DE
OUTROSCRIMES
T)#*+;%*+
ítimas enquadradasno art. o da Rei de #de 1un3o de !"-
Outras vítimas
sen3or
feitor Ju&total
=omem livre
escra vo
su&total
total
=omens livres0'rmas0casascomerciais
Rivre
!-0# C # " " C !!0E# C - - - # N- "# - C "-!E0!# ! % N " - E -!!0!! E ! NN N% - C "2O2AR N N# NN E - % ! N "
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F)3#%: ACJF= 7undo 7+rum 9en1amim *olucci. /rocessos *riminais do períodoImperial, !-#$!!!.
[uanto aos crimes contra a pessoa, praticados por cativos, veri'ca$
se que as principais vítimas dos escravos foram os 3omens livres,
seguidos dos escravos e por 'm dos sen3ores e seu correlatos. Bote$se
que os crimes de escravos contra sen3ores e0ou seus administradores e
feitores mantiveram$se elevados na Ultima década da escravid)o,
evidenciando que as tensKes sen3or0escravo, em 6uiz de 7ora, n)o
diminuíram nos Ultimos anos da escravid)o, n)o o&stante ter ocorrido um
decréscimo na criminalidade geral praticada por escravos.
Je a &ase do escravismo foi a coa()o, 3á que se considerar,
contudo, que a for(a, por si s+, n)o teria mantido a escravid)o por tantos
anos. =ouve, ao lado da amea(a, uma política sen3orial de domina()o,
&aseada num Psistema diferencial de incentivos C no intuito de tornar os
cativos dependentes e reféns de suas pr+prias solidariedades e pro1etos
domésticosQ :JRHBHJ, Do&ert, %%E@ N"E;. Incluem$se nesta rede de
incentivos a constitui()o de famílias C que tornavam os escravosespecialmente vulneráveis, di'cultando as fugas individuais por e4emplo
C a possi&ilidade da forma()o de um pecUlio, a economia pr+pria dos
escravos, la(os de compadrio etc.
GRFICO !: CRIMES PRATICADOS POR ESCRAVOS EM JUIZ DE FORA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
F)3#%: ACJF= 7undo 9en1amim *olucci. /rocessos *riminais do período Imperial,
!-#0!!!.
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Os processos utilizados neste capítulo s)o ricos em e4emplos da
convivncia da coa()o com a concess)o. AntFnio Augusto *assiano de
/aula ofereceu um 1antar com pagode a seus escravos para comemorar a
capina de sua lavoura, uma visível manifesta()o de incentivo. Mas n)o
3esitou em mandar castigar 6osé para além da modera()o, manifesta()o
da sua prepotncia e ar&itrariedade. 23e+p3ilo era um escravo que 3avia
conquistado certa distin()o na comunidade qual pertencia,N o P'el da
casaQ, digno da con'an(a de seus sen3ores, responsável pela escravaria
na ausncia dos mesmos ... mas quando teve a oportunidade, fugiu. /agou
com a vida a ousadia, mas nem mesmo sua família foi motivo &astante
para impedi$lo de &uscar a li&erdade possível.
Maria, a escrava que insistia em fugir e quei4ar$se da sen3ora, era
casada com um 3omem forro. B)o sei se ao casar$se, o marido de Maria
:Ad)o; 1á era livre ou se sua li&erdade foi adquirida depois, concess)o dos
sen3ores ou resultado de compra por ele pr+prio. Le qualquer forma, 3á
em todas estas 3ip+teses manifesta()o de favores. Je Ad)o adquiriu a
li&erdade com pecUlio pr+prio, os sen3ores deram$l3e condi(Kes de
formar seu pecUlio. Je ele a conquistou por "ene$ol'ncia de seus
sen3ores, estes concederam$l3e uma gra&a. Je Ad)o nunca pertenceu a
AntFnio 6oaquim Gon(alves :o proprietário de Maria;, ainda assim, eles
concederam um favor a Maria, autorizando seu casamento com um
li&erto. Mas Maria era cativa ... n)o podia acompan3ar o marido. Além
disso, era maltratada com regularidade, a crer em suas alega(Kes e nas
testemun3as.
B)o foram registrados, ou pelo menos n)o 'cou preservado,
nen3um delito cometido por escravo na primeira metade do século XIX.
Hntre !-$!# tem$se ! registros, elevando$se para "- no período
!$E#. A década seguinte, !E$!#, registrou - casos, resultado do
acirramento das tensKes que afetavam o sistema escravista neste período.
Os Ultimos anos da escravid)o tam&ém registraram um nUmero
12 Hm !E%, 23e+p3ilo tin3a N! anos, era roceiro, casado com RUcia, cozin3eira de Nanos, e pai de 7eliz, de % anos. RUcia possuía mais um 'l3o, Ad)o, que ent)o contava -anos. AUFJF= 7undo 7+rum 9en1amim *olucci. Inventários post mortem. /artil3a Amigável e Inventário dos &ens de 6osé dos Jantos Bazaret3, referncia E%, cai4a A.
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signi'cativo de delitos de escravos, " casos. Os crimes cometidos por
mancípios, em 6uiz de 7ora, foram predominantemente delitos contra a
pessoa. Mesmo admitindo que muitos autos perderam$se ao longo do
tempo, resultado do descaso de nossos administradores para com os
arquivos pU&licos, tem$se que admitir a &ai4a representatividade dos
crimes de escravos que foram registrados pelo poder 1udicial. Ao
considerar os processos criminais preservados, notei um nUmero
signi'cativo de delitos em que mancípios aparecem simultaneamente
como vítimas e como réus, denunciando a manifesta()o da violncia
entre a popula()o servil. Os crimes registrados, em que escravos
aparecem como vítimas, foram crimes contra a pessoa, coerente com a
situa()o 1urídica do escravo. Hscravos eram mercadorias, n)o
proprietários. Os principais algozes dos escravos foram os 3omens livres,
seguidos de seus pr+prios parceiros.
CONSIDERAQES FINAIS:
A recente produ()o 3istoriogra'a &rasileira :Ultimos vinte anos;
tem$se preocupado com o resgate de temas e fontes que até ent)o 3aviam
merecido pouca considera()o dos estudiosos. Bovas fontes foram
incorporadas investiga()o, tais como os inventários ost mortem e os
processos criminais, despertando o interesse para assuntos relacionados
=ist+ria Jocial. Bo caso especí'co da produ()o 3istoriográ'ca so&re a
escravid)o no 9rasil, os pesquisadores preocuparam$se em resgatar o
cativo enquanto su1eito 3ist+rico, recuperando sua a()o, estratégias de
so&revivncia e luta.
Bos processos criminais, os pesquisadores encontram um arsenal
variado de possi&ilidades de respostas s questKes que os inquietam. Je a
primeira *onstitui()o do 9rasil :!N; ignorou o elemento servil, assim
como o 3omem livre po&re, o *+digo *riminal contemplou a todos.
/oucos eram os que podiam aplicar a Rei, porém, todos os segmentos
sociais estavam su1eitos a infringi$la. /ortanto, os processos criminais
s)o, sem dUvida, documentos que fornecem a&undantes e ricas
informa(Kes so&re os diversos grupos sociais. Bo caso especí'co dos
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cativos, permitem$nos seguir um pouco mais de perto seu cotidiano. *om
&ase nos depoimentos dos escravos :na condi()o de réu, vítima ou
testemun3a informante; e daqueles que conviviam com eles,
acompan3amos seus atos, resgatamos a resistncia e4plícita ou velada do
cativo.
Leparamo$nos, assim, com as contradi(Kes da sociedade escravista
&rasileira. Os grupos dominantes apropriaram$se do voca&ulário li&eral
:&urgus europeu;, mas o circunscreveu aos limites de uma sociedade
que permaneceu escravista e monarquista. Hsaas contradi(Kes saltam aos
ol3os nos argumentos dos advogados, promotores e nas senten(as
proferidas pelos magistrados. *ondenava$se a escravid)o, mas defendia$
se, em fun()o desta, os tratamentos dispensados aos cativos.
O estudo da criminalidade e da escravid)o, na regi)o cafeeira de
6uiz de 7ora :MG;, permitiu$me penetrar no cotidiano dos cativos,
desvendando sua resistncia e4plícita, manifesta na criminalidade :os
delitos contra sen3ores e seus correlatos; e a resistncia cotidiana. /ude
perce&er as di'culdades encontradas por eles para denunciarem osmaus$tratos de sen3ores ou seus representantes diretos. > +&vio que me
deparei com algumas vit+rias dos cativos frente a seus opressores, mas
foram raras. 2odavia, as fontes criminais me mostraram as frestas para
penetrar no mundo dos escravos e con3ecer aspectos antes ignorados.
A e4pans)o cafeeira ocorrida na regi)o de 6uiz de 7ora, na segunda
metade do século XIX, proporcionou uma capitaliza()o que foi
parcialmente reinvestida num comple4o cafeeiro, tendo a cidade de 6uizde 7ora assumido a posi()o de p+lo cultural e comercial da regi)o. O
desenvolvimento econFmico e ur&ano atraiu para o Município um
contingente signi'cativo de 3omens dos mais diferentes segmentos
sociais. =omens ricos em &usca de mel3ores investimentos na lavoura
e0ou nas atividades ur&anasV pequenos e médios proprietáriosV 3omens
po&res procura de oportunidades e cativos. Hscravos, cu1os &ra(os
seriam utilizados na produ()o cafeeira, que geraram a riqueza queproporcionou o desenvolvimento da cidade de 6uiz de 7ora# 6untamente
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com o progresso material cresceu vertiginosamente a ocorrncia da
criminalidade C praticada por 3omens livres, li&ertos e cativos. =ouve
um predomínio dos crimes contra pessoa :3omicídio, tentativa de
3omicídio, ofensas físicas;. Hste crescimento da criminalidade foi
resultado do aumento das tensKes entre sen3ores e escravos, dos
conWitos entre tra&al3adores livres po&res e das disputas internas entre a
escravaria.
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AD[IO =ist+rico da *idade de 6uiz de 7ora
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J2ABRHk, 6. Jtein. Vassouras* um Municíio "rasileiro do ca%, 89B@8J@@# Dio de 6aneiro@ Bova 7ronteira, %!-.
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