direito do trabalho i material 06 -...

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1 DIREITO DO TRABALHO I – material 06 (Lázaro Luiz Mendonça Borges) 5. RELAÇÕES ESPECIAIS DE TRABALHO (continuação) Adiante veremos os seguintes tipos de relações especiais de trabalho: autônomo, eventual, avulso, de estágio, de cooperativas de mão-de-obra, trabalho voluntário e o trabalho religioso. 5.1. Contrato de trabalho autônomo: Nesse tipo de trabalho o prestador dos serviços atua como patrão de si mesmo, sem subordinação aos poderes do de comando do empregador; ele conserva a liberdade de iniciativa e de gerir sua própria atividade e, em consequência, suporta por conta própria os riscos decorrentes do negócio. Explora se ofício por conta e risco. O próprio trabalhador estabelece as regras para o oferecimento de seu serviço. O trabalho autônomo é caracterizado pelo fato de o trabalhador (prestador dos serviços) ser o responsável pela definição do tempo e do modo de execução daquilo que lhe foi contratado. A Lei 8.212/1991 - define no artigo 12, inciso V, “h”, que o trabalhador autônomo é “pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não”. Diferença entre o autônomo e o emprego – este presta serviço por conta alheia e não sofre qualquer risco de sua atividade, enquanto aquele a exerce por conta própria e risco. Exemplos: motorista de táxi, representante comercial autônomo etc. 5.2. Contrato de trabalho eventual: Trabalhador eventual é aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego. É o trabalho ocasional, ou seja, aquele que não se insere no âmbito das atividades de uma empresa. Presta serviços esporádicos a uma ou mais de uma pessoa.

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DIREITO DO TRABALHO I – material 06

(Lázaro Luiz Mendonça Borges)

5. RELAÇÕES ESPECIAIS DE TRABALHO (continuação)

Adiante veremos os seguintes tipos de relações especiais de trabalho: autônomo, eventual,

avulso, de estágio, de cooperativas de mão-de-obra, trabalho voluntário e o trabalho

religioso.

5.1. Contrato de trabalho autônomo:

Nesse tipo de trabalho o prestador dos serviços atua como patrão de si mesmo, sem

subordinação aos poderes do de comando do empregador; ele conserva a liberdade de

iniciativa e de gerir sua própria atividade e, em consequência, suporta por conta própria os

riscos decorrentes do negócio. Explora se ofício por conta e risco. O próprio trabalhador

estabelece as regras para o oferecimento de seu serviço.

O trabalho autônomo é caracterizado pelo fato de o trabalhador (prestador dos serviços) ser o

responsável pela definição do tempo e do modo de execução daquilo que lhe foi contratado.

A Lei 8.212/1991 - define no artigo 12, inciso V, “h”, que o trabalhador autônomo é “pessoa

física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com

fins lucrativos ou não”.

Diferença entre o autônomo e o emprego – este presta serviço por conta alheia e não sofre

qualquer risco de sua atividade, enquanto aquele a exerce por conta própria e risco.

Exemplos: motorista de táxi, representante comercial autônomo etc.

5.2. Contrato de trabalho eventual:

Trabalhador eventual é aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural em caráter

eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego.

É o trabalho ocasional, ou seja, aquele que não se insere no âmbito das atividades de uma

empresa. Presta serviços esporádicos a uma ou mais de uma pessoa.

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Exemplos: o trabalhador que cuida do jardim da empresa; eletricista que repara a instalação

elétrica da empresa; pessoa que vai consertar o encanamento, pintor, pedreiro etc.

5.3. Contrato de trabalho avulso:

Entende-se por avulso aquele trabalhador que, associado ou não a entidade sindical, presta

serviço de natureza urbana ou rural a diversas, sem vínculo empregatício, mas com a

intermediação obrigatória do OGMO (órgão gestor de mão de obra) ou do sindicato da

categoria.

O trabalhador avulso pode ser portuário e não portuário.

O não portuário é o avulso que presta serviços de carga e descarga de mercadorias,

trabalhando para diversos tomadores, sem vínculo de emprego, obrigatoriamente

intermediado pelo sindicato da categoria. Essa categoria é regida pela Lei n. 12.023/2009.

O portuário - é aquele que presta serviços da capatazia, estiva, conferência de carga, conserto

de carga, bloco e vigilância de embarcações na área dos portos, ou seja, para diversos

tomadores. É atualmente regido pela Lei n. 12.815/2013 (que revogou expressamente a Lei n.

8.630/93 – a lei que anteriormente regia tal relação) e intermediado pelo OGMO -(Órgão

Gestor de Mão-de-Obra).

São características do trabalhador avulso:

a) liberdade na prestação de serviço, sem vínculo de emprego;

b) pode prestar serviços a mais de um tomador de serviço;

c) o Sindicato ou o órgão gestor de mão-de-obra fazem a intermediação da

mão-de-obra, colocando os trabalhadores onde é necessário o serviço, cobrando valor pelos

serviços, já incluído os direitos trabalhistas e os encargos previdenciários e fiscais e fazendo o

rateio entre as pessoas que participaram da prestação de serviços;

d) o serviço é prestado o beneficiário em curto período.

Exemplos de trabalhadores avulsos: estivador, ensacador de café, cacau, sal e similares,

classificador, empacotador e movimentador de mercadorias, conferente e consertador de

cargas e descargas, vigia portuário, amarrador de embarcação etc.

Segue abaixo decisão recente sobre o assunto em comento:

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO

PROCESSO TRT/SP nº 0002770-68.2013.5.02.0441 - 4ª Turma

RECURSO ORDINÁRIO

RECORRENTE: OGMO ÓRGÃO GESTOR DE MÃO DE OBRA

PORTUÁRIA DE SANTOS

RECORRIDO: ATHUS BELLINI MONGIATI

ORIGEM: 1ª VARA DO TRABALHO DE SANTOS -SP

OGMO. Responsabilidade civil. Agressão praticada pelos trabalhadores avulsos

a seu empregado. No caso em tela, o autor fazia escala da mão de obra

necessária à operação portuária, estando sujeito a pressões por parte dos

trabalhadores avulsos. Ficou evidenciado que ele permanecia em condições

inseguras de trabalho, sofrendo ameaças dos trabalhadores avulsos, chegando

ser vítima de agressão física. Era ônus do OGMO neutralizá-las,

independentemente de os trabalhadores avulsos não serem seus empregados. O

art. 33 da Lei 12.815/2013 exclui o OGMO da responsabilidade "por prejuízos

causados pelos trabalhadores portuários avulsos aos tomadores dos seus

serviços ou a terceiros", não se referindo aos seus próprios empregados. Cabe

ao empregador zelar pela segurança dos seus empregados (cláusula implícita no

contrato), garantindo a preservação da integridade física e psíquica do

trabalhador, dimensão do direito de personalidade vinculado à dignidade

humana, nos termos dos artigos 7o., XXII. 225 e 200, VIII da CF/88. A omissão

quanto a este dever caracteriza ato ilícito, ensejando a reparação civil, nos

termos dos artigos 186 e 927 do Código Civil c/c art. 8o. da CLT. Recurso não

provido.

5.4. O trabalho de estágio:

O estágio era regulado pela Lei n. 6.494/1977. Atualmente o estágio é regido pela Lei n.

11.788/2008. Ele tem finalidade pedagógica e de aprendizado. O artigo 1º da referida lei

conceitua o estágio e aponta a sua finalidade:

Art. 1o Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no

ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de

educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de

educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação

especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da

educação de jovens e adultos.

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5.4.1. Aspectos formais:

a) matrícula e frequência regular do estagiário, atestados pela instituição de

ensino, em curso superior, de educação profissional; de ensino médio; de educação especial; e

nos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e

adultos;

b) termo de compromisso firmado entre o estudante, a parte concedente do

estágio e a instituição de ensino;

c) compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelas

previstas no termo de compromisso;

d) acompanhamento efetivo do professor orientador da instituição de

ensino e supervisor da parte concedente, comprovado mediante a apresentação, em período

não superior a 06 meses de relatórios das atividades;

e) duração máxima de 02 (dois) anos, exceto quando se tratar de estagiário

portador de deficiência.

5.4.2. Tipos de estágio:

O estágio pode ser obrigatório e não-obrigatório (artigo 2º, da Lei 11.788/2008), abaixo

transcrito:

Art. 2o O estágio poderá ser obrigatório ou não-obrigatório, conforme

determinação das diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e

do projeto pedagógico do curso.

§ 1o Estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja

carga horária é requisito para aprovação e obtenção de diploma.

§ 2o Estágio não-obrigatório é aquele desenvolvido como atividade opcional,

acrescida à carga horária regular e obrigatória.

§ 3o As atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na

educação superior, desenvolvidas pelo estudante, somente poderão ser

equiparadas ao estágio em caso de previsão no projeto pedagógico do curso.

O obrigatório - é aquele definido como projeto do curso e cuja carga horária é requisito para

a aprovação e obtenção do diploma.

Não obrigatório - é desenvolvido como atividade opcional, acrescida à carga horária regular e

obrigatória.

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5.4.3. Jornada de trabalho do estagiário:

A jornada de trabalho será definida de comum acordo entre a instituição de ensino, a parte

concedente e o aluno, mas não poderá ultrapassar:

a) 04 horas diárias e 20 semanais, no caso de estudantes de educação

especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional de educação de

jovens e adultos;

b) 06 horas diárias e 30 semanais, no caso de estudantes do ensino

superior, da educação profissional de nível médio e do ensino médio regular.

5.4.4. Direitos do Estagiário:

a) bolsa ou qualquer contraprestação para o estágio não obrigatório. Para o

estágio obrigatório é facultativa a concessão de bolsa ou equivalente;

b) auxílio-transporte (para o estágio não-obrigatório);

c) seguro contra acidentes pessoais (para ambos);

d) recesso de 30 dias, preferencialmente no período das férias escolares, de

forma remunerada para o estágio remunerado, e em qualquer hipótese desde que o período de

estágio seja superior a 01 ano;

e) jornada de trabalho;

f) termo de realização do estágio com a indicação das atividades

desenvolvidas, dos períodos e da avaliação de desempenho, devidas pela parte concedente.

5.4.5. Limites para a contratação de estagiários:

Visando coibir o abuso do direito de contratar estagiários, o artigo 17 da Lei n. 11.788/2008

dispõe o seguinte:

Art. 17. O número máximo de estagiários em relação ao quadro de pessoal das

entidades concedentes de estágio deverá atender às seguintes proporções:

I – de 1 (um) a 5 (cinco) empregados: 1 (um) estagiário;

II – de 6 (seis) a 10 (dez) empregados: até 2 (dois) estagiários;

III – de 11 (onze) a 25 (vinte e cinco) empregados: até 5 (cinco) estagiários;

IV – acima de 25 (vinte e cinco) empregados: até 20% (vinte por cento) de

estagiários.

§ 1o Para efeito desta Lei, considera-se quadro de pessoal o conjunto de

trabalhadores empregados existentes no estabelecimento do estágio.

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§ 2o Na hipótese de a parte concedente contar com várias filiais ou

estabelecimentos, os quantitativos previstos nos incisos deste artigo serão

aplicados a cada um deles.

§ 3o Quando o cálculo do percentual disposto no inciso IV do caput deste

artigo resultar em fração, poderá ser arredondado para o número inteiro

imediatamente superior.

§ 4o Não se aplica o disposto no caput deste artigo aos estágios de nível

superior e de nível médio profissional. (grifei)

5.5 - Cooperativas de mão-de-obra:

As relações de trabalho entre os cooperados não se encontram abrangidas pelo Direito do

Trabalho.

As cooperativas de trabalho são sociedades de trabalhadores autônomos de uma mesma região

geográfica que, por afinidade profissional e em número mínimo de sete (artigo 6º da Lei n.

12690/2012), aglutinam-se espontaneamente com o objetivo de oferecer em bloco – mediante

autogestão e de modo mais competitivo – seus serviços laborais com vistas à obtenção de

melhor qualificação, renda, situação socioeconômica e condições gerais de trabalho.

A regência legal das cooperativas de trabalho é dada pela Lei n. 12.690/2012, e, no que com

ela não colidir, pelas Leis n. 5.764/1971 e 10.406/2002 (Código Civil), cabendo ao Ministério

do Trabalho e Emprego, no âmbito de sua competência, a fiscalização do cumprimento das

referidas normas.

A relação estabelecida entre os cooperados é de coordenação, não havendo margem para

qualquer ato de subordinação jurídica interna. Os cooperados mantêm consigo seus

instrumentos de trabalho e não estão submetidos ao poder diretivo do contratante.

A cooperativa de trabalho pode ser de produção, quando constituída por sócios que

contribuem com trabalho para a produção em comum de bens e a cooperativa detém, a

qualquer título, os meios de produção; ou de serviço, quando constituída por sócios para a

prestação de serviços especializados a terceiros, sem a presença dos pressupostos da relação de

emprego.

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5.6 – Trabalho voluntário:

A Lei n. 9.608/1998 conceitua trabalho voluntário como a atividade não remunerada, prestada

por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins não

lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de

assistência social, inclusive mutualidade.

O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista

previdenciária ou afim.

O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade,

pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as

condições de seu exercício.

O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente

realizar no desempenho das atividades voluntárias. As despesas a serem ressarcidas deverão

estar expressamente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço voluntário.

5.7 – Trabalho religioso:

Tem sido frequente nos tribunais trabalhistas ações com pedidos de reconhecimento de

vínculo de emprego entre o que exerce trabalho religioso e a entidade religiosa a que este está

vinculado, mormente pastores e obreiros.

De forma majoritária, o TST vem entendendo que não há possibilidade de reconhecimento do

referido vínculo, uma vez que a relação entre o pastor e a Igreja é vocacional, portanto, não há

que se falar na presença do requisito da onerosidade.

Abaixo, algumas decisões sobre tal tema:

PROCESSO TRT - RO - 0001632-23.2012.5.18.0161

RELATOR : DESEMBARGADOR PLATON TEIXEIRA DE

AZEVEDO FILHO

RECORRENTE(S) : MARDONIO ROGÉRIO CARVALHO DA SILVA

ADVOGADO(S) : PEDRO HENRIQUE MEDEIROS

RECORRIDO(S) : IGREJA INTERNACIONAL DA GRAÇA DE DEUS

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ADVOGADO(S) : ALEXANDRE PEREIRA DE ANDRADE E OUTRO(S)

ORIGEM : VT DE CALDAS NOVAS

JUIZ(ÍZA) : MARIA APARECIDA PRADO FLEURY BARIANI

EMENTA : VÍNCULO DE EMPREGO. PASTOR DE IGREJA. INEXISTÊNCIA. A atividade

religiosa, como a celebração de sacramentos, a pregação em cultos, a assistência espiritual e social

de terceiros e a divulgação da palavra dita sagrada em geral, não gera vínculo de emprego com as

instituições em que os religiosos professam a fé, haja vista que se trata de atividade voluntária,

decorrente de inclinação vocacional para a atividade espiritual e insuscetível de valor econômico.

Desvirtuada a finalidade da Igreja, pela transformação desta em veículo de arrecadação de doações

para fins diversos da manutenção do próprio templo religioso ou para as obras de caridade típicas

dessas instituições, com plena ciência do líder religioso que nela prega, não tem o condão de alterar

a natureza da relação entre este e a ordem a que pertence, mas sim revela a prática de fraude deste e

dos demais membros que administram esta ordem contra a comunidade de fiéis que ali frequenta.

PROCESSO TRT - RO - 0001573-52.2011.5.18.0005

RELATOR: DESEMBARGADOR PAULO PIMENTA

RECORRENTE(S): EVANDRO ROCHA DE LIMA

ADVOGADO(S): MICHELLE SABENÇA PORTELA

RECORRIDO(S): IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

ADVOGADO(S): LUCIANA CARLA DOS SANTOS VAZ

ORIGEM: 5ª VT DE GOIÂNIA

JUIZ(ÍZA): SILENE APARECIDA COELHO

EMENTA: VÍNCULO DE EMPREGO. PASTOR. IGREJA EVANGÉLICA. INEXISTÊNCIA.

Admitida a prestação de serviço de cunho religioso, motivada eminentemente por sentimento

vocacional, não se fazem presentes os requisitos configuradores de uma típica relação

empregatícia, nos moldes da CLT, entre o pastor e a Instituição Religiosa. Recurso do reclamante a

que se nega provimento.

Data de Publicação: 18/06/2013

Órgão Julgador: Sétima Turma

Relator: Convocado Marcio Toledo Goncalves

Revisor: Paulo Roberto de Castro

Tema: RELAÇÃO DE EMPREGO - TRABALHO RELIGIOSO

Divulgação: 17/06/2013. DEJT. Página 293. Boletim: Não.

EMENTA: PASTOR EVANGÉLICO X IGREJA. RELAÇÃO DE EMPREGO. Embora o

exercício pastoreio necessite de atividade intelectual e física, o traço de união com a Igreja é,

exclusivamente, a fé religiosa, decorrente da vocação ou aptidão para envolvimento em serviço

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religioso, sem a conotação material que envolve o trabalhador comum. Recurso a que se nega

provimento.

(TRT da 3.ª Região; Processo: 01259-2012-095-03-00-0 RO; Data de Publicação: 18/06/2013;

Órgão Julgador: Sétima Turma; Relator: Convocado Marcio Toledo Goncalves; Revisor: Paulo

Roberto de Castro; Divulgação: 17/06/2013. DEJT. Página 293)

Data de Publicação: 17/04/2013

Órgão Julgador: Primeira Turma

Relator: Maria Stela Alvares da S. Campos

Revisor: Convocado Paulo Mauricio R. Pires

Tema: RELAÇÃO DE EMPREGO - TRABALHO RELIGIOSO

Divulgação: 16/04/2013. DEJT. Página 45. Boletim: Não.

EMENTA: PASTOR - RELAÇÃO DE EMPREGO NÃO CONFIGURADA. Admitida a prestação

de serviços pela reclamada, presume-se que estão presentes estes elementos, cabendo à reclamada o

ônus de demonstrar que a existência de relação jurídica distinta daquele cujo reconhecimento se

pleiteia. Desse encargo, a recorrida conseguiu se desincumbir, demonstrando que o autor mantinha

com ela vínculo de outra natureza. O reclamante exercia os misteres relacionados à fé, não

prestando serviços à recorrida. Logo, não se trata de serviço prestado em troca de salário, mas de

serviço baseado na fé e na ideia de participação dos membros da igreja.

(TRT da 3.ª Região; Processo: 01349-2012-081-03-00-9 RO; Data de Publicação: 17/04/2013;

Órgão Julgador: Primeira Turma; Relator: Maria Stela Alvares da S. Campos; Revisor: Convocado

Paulo Mauricio R. Pires; Divulgação: 16/04/2013. DEJT. Página 45)

Data de Publicação: 05/10/2012

Órgão Julgador: Primeira Turma

Relator: Convocada Erica Aparecida Pires Bessa

Revisor: Convocado Paulo Mauricio R. Pires

Tema: RELAÇÃO DE EMPREGO - TRABALHO RELIGIOSO

Divulgação: 04/10/2012. DEJT. Página 34. Boletim: Sim.

EMENTA: VÍNCULO DE EMPREGO. PASTOR. IGREJA EVANGÉLICA. A configuração do

vínculo empregatício está condicionada à presença dos requisitos elencados no art. 3º da CLT,

quais sejam, a pessoalidade, a onerosidade, a habitualidade e a subordinação jurídica, que é a pedra

de toque da relação de emprego. Se há elementos nos autos que autorizem concluir pela existência

da subordinação, não se vislumbrando, como quer fazer crer a reclamada, apenas a dedicação de

natureza exclusivamente religiosa, motivada por fatores espirituais, o reconhecimento do vínculo

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de emprego se impõe. No caso, o exercício da função de Pastor não se reverte apenas em proveito

da comunidade religiosa, com o emprego voluntário dos dons sacerdotais para a evangelização dos

fiéis, mas sim à pessoa jurídica da Igreja, que, como se defluiu dos autos, exigia a prestação de

serviços nos exatos moldes por ela determinados, inclusive com a exigência de "produção", que em

nada se coaduna com a pura e simples evangelização de fieis e convicção religiosa.

(TRT da 3.ª Região; Processo: 00210-2012-075-03-00-6 RO; Data de Publicação: 05/10/2012;

Órgão Julgador: Primeira Turma; Relator: Convocada Erica Aparecida Pires Bessa; Revisor:

Convocado Paulo Mauricio R. Pires; Divulgação: 04/10/2012. DEJT. Página 34)

Data da publicação: 05/10/2015

PROCESSO TRT - RO-0010219-34.2014.5.18.0009

RELATORA : DESEMBARGADORA KATHIA MARIA BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE

RECORRENTE(S) : IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

ADVOGADO(S) : LUCIANA CARLA DOS SANTOS VAZ

RECORRIDO(S) : JOSE RAIMUNDO LOPES

ADVOGADO(S) : LEONARDO GONÇALVES BARIANI

ORIGEM : 9ª VARA DO TRABALHO DE GOIÂNIA

JUIZ : WANDERLEY RODRIGUES DA SILVA

EMENTA

"VÍNCULO DE EMPREGO. PASTOR. IGREJA EVANGÉLICA. INEXISTÊNCIA. Admitida a

prestação de serviço de cunho religioso, motivada eminentemente por sentimento vocacional, não

se fazem presentes os requisitos configuradores de uma típica relação empregatícia, nos moldes da

CLT, entre o pastor e a Instituição Religiosa." (RO-0001573-52.2011.5.18.0005, Relator:

Desembargador Paulo Pimenta, DEJT 17/02/2012)

PROCESSO Nº TST-RR-34600-12.2008.5.01.0035

A C Ó R D Ã O

(8ª Turma)

GMMEA/mmp/acnv

RECURSO DE REVISTA - PROCESSO ELETRÔNICO – VÍNCULO EMPREGATÍCIO.

PASTOR EVANGÉLICO. SÚMULA 126 DO TST. O Regional, examinando o conjunto fático-

probatório constante dos autos, concluiu restarem presentes os requisitos caracterizadores do

vínculo de emprego. Eventual conclusão contrária somente seria possível mediante o reexame de

fatos e provas, o que esbarra no óbice de que trata a Súmula 126 do TST. Recurso de Revista não

conhecido.

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JULGAMENTO EXTRA PETITA. COMISSÕES. Incólume o princípio da adstrição, uma vez

que o acórdão regional foi proferido em observância aos termos da exordial. Recurso de Revista

não conhecido.

MULTA PREVISTA NO ART. 477, § 8º, DA CLT. VÍNCULO EMPREGATÍCIO

RECONHECIDO EM JUÍZO. Nos termos da jurisprudência do TST, constatada a mora no

pagamento das verbas rescisórias, devida é a multa prevista pelo art. 477, § 8º, da CLT, ainda que

controvertida a existência de vínculo de emprego entre as partes ou controverso o direito à

percepção dessas verbas. A incidência da referida multa prende-se ao mero fato objetivo

concernente ao atraso no pagamento das verbas rescisórias, sem culpa do empregado. Recurso de

Revista não conhecido.

PROCESSO Nº TST-RR-1007-13.2011.5.09.0892

A C Ó R D Ã O

3ª Turma

GMAAB/gfn/lp/aab/smf

I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. PASTOR DE IGREJA.

VÍNCULO DE EMPREGO. Diante de possível violação do art. 3º da CLT, deve-se dar

provimento ao agravo de instrumento, para melhor exame do recurso de revista. Agravo de

instrumento conhecido e provido.

II – RECURSO DE REVISTA. PASTOR DE IGREJA. VÍNCULO DE EMPREGO.

CONFIGURAÇÃO. Trata-se de demanda em que pastor de igreja pretende o reconhecimento do

vínculo de emprego com a Igreja, referente ao período em que exerceu esse ofício. A Corte

Regional manteve a improcedência da reclamação, ao fundamento de que a atividade do autor é de

cunho estritamente religioso, na medida em que o ofício realizado foi motivado por uma vocação

religiosa e visava principalmente a propagação da fé. No entanto, verifica-se a existência do

vínculo de emprego. No entanto, restou apurado nos autos, pelos fatos e provas fartamente

descritos pelo Regional, que: a) os pastores precisavam estar presentes a reuniões habituais, em que

eram doutrinados (treinados) para o atendimento de campanhas de arrecadação de receitas; b) havia

horário diário definido para o exercício desse trabalho, sujeito a fiscalização e com folga semanal;

c) os depoimentos revelaram a vinculação à Central de Curitiba, onde ocorriam reuniões periódicas

com a definição de diretrizes a serem seguidas e para onde o autor deveria se reportar caso tivesse

algum problema administrativo; d) o trabalho, de natureza não eventual, destinado ao atendimento

das necessidades da instituição, consistia no

gerenciamento da igreja e na participação obrigatória em cultos e programas de rádio e televisão,

cujo fim não era a divulgação da ideologia da instituição religiosa, mas sim a arrecadação de

receita, servindo a religião apenas de meio para o convencimento dos fiéis; e, e) os pastores

trabalhavam, na verdade, pela remuneração mensal, como vendedores da ideologia religiosa da

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entidade, com obrigação de atingir quotas obrigatórias de venda de revistas e jornais, com

subordinação a metas de arrecadação, sob pena de despedida. Por outro lado, o autor não se

limitava a trabalhar mediante diretrizes institucionais gerais de exercício da fé religiosa. Atuava

cumprindo tarefas determinadas, mediante fiscalização (com controle direto e indireto de

desempenho) e de forma remunerada, cumprindo os objetivos da instituição, em que angariar

receita era o objetivo principal, que era realizado com o auxílio persuasivo da religião junto aos

fiéis. Diante desse quadro, o fundamento do Regional de que “o autor tornou-se membro da

reclamada, movido por fatores que não se coadunam com os econômicos, conforme se

extrai da ficha pastoral, à fl. 244, onde consta como motivo de sua conversão o seguinte:

"desenganado pelos médicos" não se mostra apto a afastar o vínculo. A ficha pastoral de

ingresso na instituição e de conversão à ideologia da igreja teve o seu conteúdo descaracterizado

pelos depoimentos, sendo o contrato de trabalho um contrato realidade, cuja existência decorre do

modo de prestação do trabalho e não da mera declaração formal de vontade. Esta Corte Superior,

em situações idênticas, reconheceu o vínculo de emprego de pastor de igreja. Precedentes.

Reconhecida a relação de emprego do autor com a Igreja Universal do Reino de Deus, referente ao

período em que desempenhou as funções de pastor, devem os autos retornar à origem, a fim de que

examine as verbas decorrentes dessa relação. Recurso de revista conhecido por violação do art.

3º da CLT e provido, no particular.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Os honorários assistenciais são devidos somente quando

preenchidos os requisitos da Lei nº 5.584/70, na forma das Súmulas nº 219 e 329 do TST e OJ nº

305 da SBDI-1/TST. Assim, tem-se como pressuposto para o deferimento dos aludidos honorários

a assistência pelo sindicato da categoria profissional e a percepção de salário inferior ou igual à

dobra do salário mínimo ou a prova da situação econômica insuficiente ao sustento próprio ou de

sua família. Constata-se, no caso, a ausência da assistência sindical. Diante desse contexto, a

decisão recorrida está em conformidade com as Súmulas 219 e 319 desta Corte, motivo pelo qual

incide o óbice do art. 896, § 4º, da CLT (Lei 9.756/98). Recurso de revista não conhecido.

6. A TERCEIRIZAÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO

Sob o prisma empresarial, a necessidade de especialização, o desenvolvimento de novas

técnicas de administração para melhor gestão dos negócios e aumento de produtividade e a

redução de custos fomentam a contratação de serviços prestados por outras empresas, no

lugar daqueles que poderiam ser prestados pelos seus próprios empregados, expediente que

pode trazer problemas trabalhistas e que se denomina terceirização.

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6.1. Conceito de terceirização:

Entende-se terceirização como o “processo de descentralização das atividades da empresa, no

sentido de desconcentrá-las para que sejam desempenhadas em conjunto por diversos centros

de prestação de serviços e não mais de modo unificado numa só instituição”. (Amauri

Mascaro Nascimento)

Terceirização é o fenômeno pelo qual se dissocia a relação econômica de trabalho da relação

justrabalhista que lhe seria correspondente. (Maurício Godinho Delgado)

O referido autor explica que “por tal fenômeno insere-se o trabalhador no processo produtivo

do tomador de serviços sem que se estendam a este os laços justrabalhistas, que se preservam

fixados com uma entidade interveniente”. Ele diz ainda que “a terceirização provoca uma

relação trilateral em face da contratação de força de trabalho no mercado capitalista: o obreiro,

prestador de serviços, que realiza suas atividades materiais e intelectuais junto à empresa

tomadora de serviços; a empresa terceirizante, que contrata este obreiro, firmando com ele os

vínculos jurídicos trabalhistas pertinentes; a empresa tomadora de serviços, que recebe a

prestação do labor, mas não assume a posição clássica de empregadora desse trabalhador

envolvido”.

6.2. Terceirização lícita e ilícita:

Há uma distinção, no Direito do Trabalho, entre terceirização lícita e ilícita. Ressalta-se,

todavia, que as hipóteses de terceirização lícita são excetivas.

6.2.1. Terceirização lícita: as situações-tipo de terceirização lícita estão

claramente assentadas pelo texto da Súmula 331 do TST.

a) situações que autorizem contratação de trabalho temporário

(Súmula 331, I). São as situações expressamente especificadas pela Lei nº 6.019/1974

(necessidades transitórias de substituição de pessoal regular e permanente da empresa

tomadora ou se trata de necessidade resultante de acréscimo extraordinário de serviços dessa

empresa). Os direitos dos trabalhadores temporários estão elencados no artigo 12 da referida

lei.

b) atividades de vigilância – regidas pela Lei 7.102/1983 (Súmula 331,

III, 1ª parte). Não apenas o segmento bancário, mas quaisquer segmentos do mercado de

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trabalho, que contratem serviços de vigilância mediante empresas especializadas (que

obedeçam às normas de legislação específica, anteriormente dirigida apenas a empresas de

vigilância bancária) poderão, no tocante a esse tipo de força de trabalho e serviços

especializados, valer-se do instrumento jurídico da terceirização.

Vigilante x Vigia – vigia é empregado não especializado, que se vincula ao próprio ente

tomador de seus serviços (trabalha, em geral, em condomínios, guarda de obras, pequenas

lojas etc.). Vigilante é membro de categoria especial, diferenciada – ao contrário do vigia, que

se submete às regras da categoria definida pela atividade do empregador, bem como quanto à

formação e treinamento da força de trabalho.

c) atividades de conservação e limpeza (Súmula 331, III, 2ª parte).

Esse rol de atividades foi um dos primeiros a ensejar práticas terceirizantes no mercado de

trabalho privado do país.

d) serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador. Esse

grupo envolve atividades não expressamente discriminadas, mas que se caracterizam pela

circunstância inequívoca de serem atividades que não se ajustam ao núcleo das atividades

empresariais do tomador de serviços – não se ajustam, pois, às atividades-fim do tomador.

6.2.2. Terceirização ilícita: excluídas as quatro situações-tipo acima

demonstradas, que ensejam a terceirização lícita no Direito brasileiro, não há no nosso

ordenamento jurídico algum preceito legal a dar validade trabalhista a contratos mediante os

quais uma pessoa física preste serviços não-eventuais, onerosos, pessoais e subordinados a

outrem, sem que esse tomador responda juridicamente pela relação laboral estabelecida. Não

se trata de se discutir, nesses casos, se a empresa terceirizante é licitamente constituída e

patrimonialmente idônea, já que o núcleo da temática examinada não diz respeito à

responsabilidade trabalhista, mas a vínculo de emprego.

6.3. Atividade-fim e atividade-meio:

6.3.1. Atividade-fim: atividades-fim, segundo Maurício Godinho Delgado,

podem ser conceituadas como as funções e tarefas empresariais e laborais que se ajustam ao

núcleo da dinâmica empresarial do tomador dos serviços, compondo a essência dessa

dinâmica e contribuindo inclusive para a definição de seu posicionamento e classificação no

contexto empresarial e econômico. São, portanto, atividades nucleares e definitórias da

essência da dinâmica empresarial do tomador dos serviços.

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Portanto, atividade-fim deve ser entendida como a tarefa intimamente relacionada ao objetivo

social da empresa, normalmente identificado em seus estatutos constitutivos.

6.3.2. Atividade-meio: atividades-meio, também conforme ensina o

mesmo autor, são aquelas funções e tarefas empresariais e laborais que não se ajustam ao

núcleo da dinâmica empresarial do tomador dos serviços, nem compõem a essência dessa

dinâmica ou contribuem para a definição de seu posicionamento no contexto empresarial e

econômico mais amplo. São, portanto, atividades periféricas à essência da dinâmica

empresarial do tomador dos serviços. Ilustrativamente, são as atividades de transporte,

conservação e limpeza. Podem ser também outras atividades meramente instrumentais, de

estrito apoio logístico ao empreendimento (serviço de alimentação aos empregados do

estabelecimento etc.).

6.4. Súmula 331 do TST:

Assim estabelece a súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho:

SÚMULA 331. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.

LEGALIDADE (nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à

redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011

I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se

o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho

temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).

II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não

gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta,

indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988).

III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de

vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como

a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que

inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,

implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas

obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também

do título executivo judicial.

V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem

subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua

conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de

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21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações

contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida

responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações

trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada.

VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as

verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral.

Há que se ponderar, todavia, a possibilidade de incomunicabilidade de condutas e de

responsabilidades. Há condutas isoladas praticadas ou pela empresa prestadora ou pela

empresa cliente contra o empregado terceirizado que são absolutamente incomunicáveis.

Essas condutas, que não permitem a extensão da responsabilização além da pessoa do lesante,

têm por pressuposto indispensável a prática de ato que seja do exclusivo conhecimento do

praticante do ato violador.

Por exemplo, a empresa prestadora contrata trabalhadores com a promessa de pagamento de

salário “por-fora” e coloca-os à disposição de uma empresa tomadora não ciente de tal

situação. Não é razoável entender que esta última seja responsabilizada subsidiariamente por

eventual inadimplemento da empresa prestadora.

Data de Publicação: 27/10/2010

Órgão Julgador: Nona Turma

Relator: Ricardo Antonio Mohallem

Revisor: Joao Bosco Pinto Lara

Tema: DANO MORAL - RESPONSABILIDADE

Divulgação: 26/10/2010. DEJT. Página 108. Boletim: Não.

EMENTA: TOMADORA DE SERVIÇOS. DANO MORAL. FATO GERADOR OCORRIDO

APÓS A RESCISÃO CONTRATUAL. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE. A tomadora

de serviços não responde por danos morais posteriores à rescisão contratual e relacionados ao

descumprimento dos deveres pós-contratuais.

(TRT da 3.ª Região; Processo: 00503-2010-079-03-00-7 RO; Data de Publicação: 27/10/2010;

Órgão Julgador: Nona Turma; Relator: Ricardo Antonio Mohallem; Revisor: Joao Bosco Pinto

Lara; Divulgação: 26/10/2010. DEJT. Página 108)

Entretanto, segue abaixo decisão em sentido contrário:

PROCESSO TRT/SP N.º 0001366-28.2013.5.02.0361 12ª Turma

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ORIGEM: 01ª VARA DO TRABALHO DE MAUÁ

RECURSO ORDINÁRIO

1. RECORRENTE: VITOPEL DO BRASIL LTDA

2. RECORRENTE: BRASKEM QPAR S/A

3. RECORRENTE: JOSÉ VALÉRIO NETO

1. RECORRIDO: CA BENJAMIM PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS LTDA

EMENTA: TERCEIRIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO ÚLTIMO

TOMADOR DA CADEIA. CÁLCULO PROPORCIONAL DAS VERBAS RESCISÓRIAS.

INVIABILIDADE. Ao praticar a terceirização de serviços, a empresa deve estar ciente de que está

trazendo um trabalhador estranho para dentro de seus muros, trabalhador este que é empregado de

uma empresa alheia ao seu controle etc. Se o contrato daquele trabalhador com a empresa de

prestação de serviço é longo, corre-se o risco de haver resilição justamente num contrato de

prestação de serviços (de cunho empresarial) com curto interregno, vindo a última empresa

tomadora a responder por todas as verbas devidas e não pagas pela empregadora, concernentes ao

período respectivo do contrato, incluindo títulos que refletem o tempo de serviço, obviamente.

Terceirizar é correr riscos, os quais não podem ser suportados pelo trabalhador. Quando dizemos

riscos, estamos nos referindo, inclusive, a arcar com verbas que eventualmente possam ter surgido

em contratos firmados com outros tomadores (multa do FGTS, aviso prévio proporcional,

indenização do seguro-desemprego etc.). O que não seria razoável é exigir que o empregado fizesse

uma tabela de proporção de responsabilidade de cada tomador entre as verbas trabalhistas devidas

na resilição, ou mesmo, levar tal prática para a liquidação, tornando-se ainda mais morosa a

execução trabalhista.

6.5. Responsabilidade solidária e subsidiária:

‘Responsabilidade’ tem o significado de responsabilizar-se, vir garantido, assegurar, assumir o

pagamento do que se obrigou, ou do ato que praticou.

A responsabilidade será solidária quando em uma mesma obrigação houver mais de um

responsável pelo seu cumprimento. Caso se esteja diante de uma situação na qual a

responsabilidade é solidária, poderá o credor exigir o cumprimento da responsabilidade de

ambos os devedores ou de apenas um deles, cabendo àquele que cumprir a obrigação o direito

de regresso contra o devedor solidário.

Na responsabilidade subsidiária a obrigação não é compartilhada entre dois ou mais

devedores. Há apenas um devedor principal. Todavia, na hipótese do não cumprimento da

obrigação por parte deste, outro sujeito responderá subsidiariamente pela obrigação.

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No caso da terceirização, a tomadora que contrata o serviço terceirizado responde

subsidiariamente pelas obrigações não cumpridas pela empresa responsável pela contratação

do empregado. Essa responsabilidade se justifica, pois apesar de não ser o contratante direto

do empregado, a empresa que utiliza da terceirização se beneficia da mão de obra do

trabalhador terceirizado, devendo então arcar com os riscos de sua atividade. Esse é o

entendimento claramente exposto na Súmula 331 do TST.

Importante lembrar que a jurisprudência firmou que a responsabilidade subsidiária do

tomador de serviços, em situações de terceirização, somente poderá ser declarada caso esse

tomador componha o polo passivo da lide trabalhista instaurada.

6.6. Culpa in eligendo e culpa in vigilando:

A culpa é dita in eligendo (ou in eligendum) quando decorre da má escolha do preposto e in

vigilando (ou in vigilandum) quando da falta de atenção com o procedimento de outrem pelo qual

o responsável deve pagar.

Maurício Godinho Delgado enfatiza que se a entidade estatal pratica terceirização com

empresa inidônea (isto é, empresa que se torne inadimplente com relação a direitos

trabalhistas) comete culpa in eligendo (má escolha do contratante), mesmo que tenha firmado a

seleção por meio de processo licitatório. Ainda que não se admita essa primeira dimensão da

culpa, incide, no caso, outra dimensão, no mínimo da culpa in vigilando (má fiscalização das

obrigações contratuais e seus efeitos). Passa, desse modo, o ente do Estado a responder pelas

verbas trabalhistas devidas pelo empregador terceirizante no período de efetiva terceirização

(inciso IV da Súmula 331, TST).

Completa o doutrinador que, assim, quer em face da responsabilidade objetiva do Estado,

quer em face de sua responsabilidade subjetiva, inerente a qualquer pessoa jurídica, as

entidades estatais respondem, sim, pelos valores resultantes dos direitos trabalhistas devidos

pelos empregadores envolvidos com contratos terceirizantes com tais entidades.

6.7. Da tramitação do projeto de lei que regulamenta a terceirização:

Abaixo, notícia veiculada no sítio eletrônico do Senado Federal:

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O novo presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Martins Filho, defendeu

nesta terça-feira (23) a aprovação de um marco regulatório da terceirização. Ele discutiu o tema em

visita ao presidente do Senado, Renan Calheiros, acompanhado do corregedor-geral da Justiça do

Trabalho, Renato de Lacerda Paiva.

A terceirização é tema do PLC 30/2015, que tramita no Senado, já tendo sido aprovado na Câmara

dos Deputados. Segundo Ives Gandra, uma aproximação maior do Congresso com o Judiciário

trabalhista pode ajudar a destravar o tema e produzir uma lei que dê segurança jurídica nesse

campo.

- Hoje temos apenas uma súmula do TST que trata da terceirização. A Súmula 331 diz o que é

possível fazer ou não, se é atividade-fim ou atividade-meio. Enquanto não tivermos uma legislação

explicando quais direitos devem ser garantidos ao trabalhador, o que é possível ou não terceirizar,

um juiz vai decidir de um jeito e outro juiz, de outro. As empresas e o próprio setor público ficam

desnorteados. Se conseguirmos uma lei melhor trabalhada, que dê explicações melhores a alguns

marcos mais definidos, poderemos dar mais segurança não só às empresas, mas aos trabalhadores

— argumentou.

Para o jurista, quem mais sofre com a falta de regulamentação, hoje, é o trabalhador do setor

público.

— As empresas acabam sumindo. Ficam os mesmos trabalhadores com uniformes diferentes. E no

setor privado não se sabe o que é possível terceirizar, se é atividade-fim em alguma modalidade ou

apenas a atividade-meio.

Segundo Renan Calheiros, é fundamental estabilizar as relações de terceirização no Brasil.

— A regulamentação da terceirização é importante para as empresas e para os trabalhadores. Essa

posição eu sempre defendi, continuo a defender. Isso é modernidade. É uma questão de fato que já

existe, que precisa ser regulamentada, para acabar com essa insegurança que inclusive dificulta

investimentos. É esse o debate que temos que fazer.

Criação de cargos

Outro assunto tratado na audiência entre os presidentes do Senado e do TST foi o projeto que cria

cargos de provimento efetivo e em comissão no quadro de pessoal do TST (PLC 100/2015). De

acordo com o presidente do TST, hoje existe uma defasagem de servidores no tribunal.

— Estamos com aproximadamente 300 mil processos para serem julgados e não temos servidores

suficientes para dar apoio aos ministros. Estamos pagando horas extras para os servidores.

Posse

No encontro, Ives Gandra convidou Renan Calheiros para sua posse, a ser realizada na próxima

quinta-feira (25). Ele substitui o ministro Antônio José de Barros Levenhagen na presidência do

TST.

Com informações da Assessoria de Imprensa da Presidência do Senado