direito das sociedades comerciais. livro pereira almeida
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Captulo IA Sociedade como Organizao Jurdica de Empresa
As sociedades comerciais so a estrutura tpica da empresa nas economias de
mercado, embora a empresa possa revestir outras formas jurdicas, como seja, ascooperativas, os ACE, as fundaes, etc. Tambm pode suceder que uma sociedade
comercial no tenha substrato empresarial por falta de dimenso.
O Cdigo Civil trata a sociedade como um contrato (art.980. CC), mas as
sociedades comerciais so tambm uma pessoa jurdica (art.5.). Nos termos do Art.1.,
as sociedades comerciais tm necessariamente por objecto a prtica de actos de
comrcio, devendo revestir um dos tipos previstos no Cdigo. A actividade comercial,
afere-se mais pela explorao empresarial do que pela prtica de actos de comrcio
previstos no CCom.
Seco IO contrato de sociedade
1) Definio de Contrato de Sociedade - Art.980. CC
Esta definio encontra-se desajustada actual realidade das sociedades
comerciais, no s quanto sua gnese contratual, mas tambm quanto ao prprio
substrato, pois admite-se a existncia de sociedades unipessoais, e o negcio
constitutivo no abarca toda a realidade societria, sobretudo a estrutura subjectiva que
criada.
O contrato de sociedade tem uma caracterstica muito prpria nas sociedades
comerciais, que o de dar origem a uma pessoa colectiva ( art.5.). Uma vez constituda
definitivamente a sociedade, as relaes passam a ser dos scios para com a sociedade
pessoa jurdica e j no mais entre eles. A sociedade, como pessoa jurdica, ganha
autonomia e sobrepe-se ao negcio constitutivo.
Elementos estruturantes do negcio constitutivo
a) Elemento Pessoal
A criao da sociedade depende sempre de uma manifestao de vontade,
destinada a criar uma entidade subjectiva com vista ao exerccio de uma actividade
econmica lucrativa.
este o cerne do instituto, que integra uma funo empresarial e uminvestimento capitalstico, independentemente da condio ntima de cada scio. Deste
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modo, o instituto susceptvel de servir um grande leque de funes e interesses, desde
um mero investimento financeiro a uma actividade empresarial (desde que se
preencham os requisitos do tipo legal).
Com a entrada na sociedade o scio adquire uma participao social (quota ouaces), que lhe confere um conjunto de posies activas e passivas para com a
sociedade.
b) Elemento Patrimonial
A obrigao de entrada constitui um elemento essencial do contrato de
sociedade. H um investimento capitalstico, por parte do scio, em que este se obriga a
entrar com bens ou servios para o exerccio da actividade social. Nas sociedades por
quotas, e nas sociedades annimas, apenas se admite entradas com bens.
Estes bens so transmitidos para a nova pessoa jurdica nascente, a sociedade,
passando a integrar o seu patrimnio. Com a constituio da sociedade os scios
perdem a titularidade desses bens e adquirem, em contrapartida, uma participao social
(quota ou aces). Ento, os credores pessoais dos scios deixam de poder perseguir os
bens das entradas (podem penhorar a participao social, quando muito).
c) Actividade Econmica
H que fazer uma interpretao adequada deste artigo, para as sociedades
comerciais, pois estas so dotadas de personalidade jurdica (art.5.) e s mediatamente
que os scios exercem a actividade comercial atravs da estrutura subjectiva da
sociedade.
Por actividade econmica, entenda-se o exerccio de qualquer actividade
destinada produo ou distribuio de bens ou servios. Uma vez que este um
conceito muito vago, e a lei no permite a criao de entidades jurdicas abstractas, tem
de ser concretizado atravs do objecto social, que uma noo essencial do contrato de
sociedade.
d) Finalidade Lucrativa
O elemento teleolgico da finalidade lucrativa constitui a natureza essencial das
sociedades comerciais e da manifestao de vontade tpica de criao ou de adeso
sociedade.H que distinguir 4 planos.
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O lucro da sociedade apesar de ser uma finalidade intrnseca, no tem de ser
necessariamente a curto prazo, nem o objectivo necessrio de cada exerccio. Isso
depende das opes estratgicas definidas pelos scios, em deliberaes sociais, e pela
administrao, sendo certo que o art.64./1 alnea b), at d prevalncia aos interessesde longo prazo.
A afectao desse lucro no tem de ser necessariamente a sua distribuio aos
scios. Os lucros da sociedade podem ser afectos a reserva, como distribudos aos
scios, ou permanecer em resultados transitados.
Art.22./1princpio supletivo de participao nos lucros em funo do valor
nominal das participaes sociais, o qual pode ser modificado nos estatutos.
Quando os lucros no so distribudos e ficam retidos em reservas, isto pode
consistir numa forma de autofinanciamento da sociedade, e em princpio, valorizar as
participaes sociais.
A valorizao das participaes sociais pode resultar de uma sobrevalorizao
dos lucros, talvez de uma forma artificial, pouco sustentada, que poder fazer incorrer a
administrao em responsabilidade perante os scios e terceiros e obrigar interveno
da entidade reguladora dos mercados (CMVM) nas sociedades cotadas.
2) Natureza Jurdica do Acto Constitutivo da Sociedade
O CSC refere por diversas vezes, contrato de sociedade para designar o acto
constitutivo da sociedade.
Commom Law 2 tipos de sociedade
Partnership (equivalente sociedade em nome colectivo, de origem contratual);
Company (Corporation nos Estados Unidos)2 dos seus tipos correspondem
sociedade por aces, e sociedade de responsabilidade limitada, no tendo origem
contratual.
Direito Continental o acto criador da sociedade sempre um contrato, no
sendo unnime a doutrina quanto a esta classificao.
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a) Teoria do Acto Colectivo -Doutrina Alem, e foi sustentada por Barbosa de
Magalhes
O acto colectivo um conjunto de manifestaes de vontades paralelas, de
contedo idntico, provenientes de pessoas com os mesmos interesses. Trata-se de umacto jurdico unilateral, porque existe uma s parte, composta por vrias pessoas.
Nos contratos, as manifestaes de vontade so de contedo diferente, porque
provm de pessoas com interesses opostos. Este o instrumento jurdico das vontades
em coliso.
Os partidrios desta teoria sustentam que no acto constitutivo da sociedade, os
associados tero todos os mesmos interesses e as suas manifestaes de vontade tero
um contedo idntico. No se estabelece ento, nenhuma relao jurdica entre os
scios, mas s entre estes e a sociedade.
Crticas: (Esta teoria, parece-nos de rejeitar)
1No podemos dizer que no um contrato, com fundamento na identidade de
interesses. Pois, mesmo nos contratos sinalagmticos, os contraentes tm um interesse
comum de modificar a situao patrimonial, de contrrio no estariam de acordo para
celebrar o contrato.
2 No momento da constituio da sociedade, tambm existe oposio de
interesses: os fundadores tm um interesse comum em constituir a sociedade e exercer
em conjunto uma determinada actividade econmica, mas essa comunho de interesses
no exclui a existncia duma coliso de outros interesses fundamentais e tpicos.
Exemplo: avaliao das entradas em espcie, da nomeao de rgos sociais,
distribuio de perdas e lucros, atribuio de vantagens especiais.
Cada scio querer as maiores vantagens e lucros com a menor contribuio
patrimonial.
3Relativamente ao contedo idntico, este no necessrio. Por exemplo: as
entradas no so apenas diferentes no montante, mas tambm na qualidade entradas
em dinheiro, entradas em espcie.
4 Ao afirmares que apenas se estabelecem relaes entre os scios e a
sociedade, esquecem-se que a constituio da sociedade e a atribuio de personalidade
podem no se realizar no mesmo tempo. A sociedade constituda atravs de actoescrito, mas adquire personalidade jurdica aps a inscrio no Registo Comercial
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(art.5.). Pelo menos, nesses 2 momentos, inquestionvel que existem relaes entre os
scios.
b) Teoria do Acto da Sociedade - Gierke, Ruth e FeineEstes sustentam que os contratos so apenas fonte de obrigaes e de direitos,
da que no seja possvel criarem uma pessoa jurdica nova. Assim, o acto constitutivo
da sociedade no poder ser um contrato.
No acto constitutivo da sociedade, as declaraes de vontade de cada scio no
tm autonomia, fundindo-se num s acto unilateral desde logo atribudo sociedade em
formao. Este seria a primeira manifestao de vontade da sociedade, que se criava a si
mesma.
Crticas:
preciso distinguir a constituio do substrato da sociedade e a atribuio da
personalidade jurdica. As sociedades s gozam da personalidade jurdica a partir da sua
inscrio no Registo Comercial.
Os scios criam o substrato da sociedade, sendo que a atribuio da
personalidade jurdica obra da lei. Se a sociedade no existe, como poder manifestar
uma vontade? Os associados no podero criar uma pessoa jurdica, mas a pessoa
jurdica no se poder criar a ela mesma.
Deste modo, insustentvel esta teoria, que atribui a criao da sociedade a um
acto dela prpria.
c) Teoria de Acto Misto - Soprano
Pretende que o acto constitutivo da sociedade seja um contrato nas relaes
entre os scios, mas um acto unilateral relativamente a terceiros.
Nas relaes internas existe divergncia de interesses e o acto constitutivo da
sociedade fonte de um conjunto de obrigaes e de direitos entre os scios e, portanto,
um contrato. Em relao a terceiros, os scios tm identidade de interesses e suas
manifestaes de vontade so paralelas e tm o mesmo contedo, so um acto
unilateral.
No acto constitutivo da sociedade encontramos elementos caractersticos do actounilateral e do contrato. Mas, a classificao como acto misto apenas se justificaria se o
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conjunto dos elementos no possibilitassem a classificao como acto unilateral ou
como contrato.
Oliveira Asceno o acto propriamente constitutivo da sociedade sempre
acto unilateral, a que pode acrescer, havendo interesses contrapostos, um contrato queconcilie os participantes.
d) Contrato sinalagmtico -Doutrina clssica, Jos Tavares
As obrigaes so interdependentes e recprocas: cada scio obrigar-se-ia a
realizar a sua entrada e a colaborar contanto que os outros scios tambm se obrigassem
aos mesmos deveres.
Brunetti - Nas sociedades de pessoas as obrigaes dos scios mantm-se
sinalagmticas mesmo depois da constituio da sociedade. Nas sociedades de capitais,
a reciprocidade das obrigaes s se verificaria no momento da constituio da
sociedade.
A contrapartida da obrigao de cada scio no imediata como nos contratos
bilaterais sinalagmticos, mas pelo contrrio, mediata. Este desvio no suficiente
para se afastar a noo de contrato sinalagmtico.
A reciprocidade das obrigaes (caracterstica fundamental dos contratos
sinalagmticos) exige no somente a equivalncia das prestaes, mas tambm a sua
interdependncia, isto , a existncia de umas est subordinada s dos outros, porque
so contrapartida umas das outras.
No contrato de sociedade, nem as prestaes dos scios so necessariamente
equivalentes, nem umas so contrapartida das outras.
na aplicao das regras prprias dos contratos sinalagmticos onde se
encontram as maiores diferenas relativamente ao contrato de sociedade.
Exemplos:
Excepo de inexecuo nos contratos sinalagmticos, qualquer dos
contraentes tem o direito de se recusar a cumprir as suas obrigaes, sempre que o outro
no execute as que lhe competem (art.428./1 CC)consequncia da reciprocidade e da
interdependncia das obrigaes. No contrato de sociedade, quando um dos scios se
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recusa a cumprir as suas obrigaes, a sociedade poder exclui-lo, mas os outros scios
no tm o direito de invocar a excepo.
Incumprimento
o incumprimento do contrato por um dos contraentes faculta aooutro a resoluo do contrato (art.801./2 CC). A doutrina clssica aplicava este
princpio sociedade, dizendo que ela poderia ser dissolvida se qualquer scio no
cumprisse as suas obrigaes. Os autores mais recentes no admitem esta causa de
dissoluo, em consequncia das particularidades do contrato de sociedade e do
princpio da conservao da empresa.
Teoria do Risco nos contratos sinalagmticos, quando a prestao de uma parte
se tornar impossvel por causa que no lhe imputvel, a outra parte fica desobrigada a
realizar a sua prestao e poder exigir a restituio do que tiver prestado (art.795.
CC).
No contrato de sociedade, esta regra no pode ser aplicada e se a entrada em
espcie se tornar impossvel por caso fortuito ou de fora maior, o scio ter de realizar
a sua prestao em dinheiro, nos termos gerais, sem que os outros scios se possam
desvincular das suas obrigaes, sem prejuzo da dissoluo da sociedade se o bem em
falta for essencial para a realizao do seu objecto (art.25./3).
Para os defensores desta teoria, estes desvios no so suficientes para afastar esta
qualificao. Estas regras so caractersticas fundamentais dos contratos sinalagmticos
e o seu afastamento descaracteriza-os completamente, pelo que esta teoria tambm de
rejeitar.
e) Contrato plurilateral -Ascarelli
Para este, o contrato plurilateral quando nele intervm ou tm possibilidade de
intervir mais de duas partes. O contrato de sociedade seria o exemplo mais caracterstico
destes.
Fernando Olavo e Ferrer Correia opem-se, pois a sociedade poder ser
constituda por dois associados. O contrato de sociedade poder ser bilateral (se no
existirem mais do que dois scios), ou plurilateral (se forem mais do que doisassociados). A pluralidade, no uma caracterstica essencial do contrato de sociedade,
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e com a entrada das sociedades unipessoais, a plurilateralidade no pode ser mais
considerada como uma caracterstica essencial do acto constitutivo da sociedade.
f) Contrato de fim comum -Ferrer Correia e Fernando OlavoPara estes, a caracterstica essencial do contrato de sociedade a finalidade
comum, quer o fim imediato (exerccio da actividade social), quer o fim mediato
(partilha de lucros).
Concluso:
Amaro da Luz critica a teoria do contrato sinalagmtico, porque se afasta da
viso econmica.
Relativamente teoria do contrato plurilateral, Amaro da Luz no concorda
com Ferrer Correia.
Amaro da Luz, diz que os scios no se enquadram num contrato
sinalagmtico. Tambm no possvel defender o contrato plurilateral como tal, assim
como o contrato de fim comum.
Amaro da Luz, defende um contrato plurilateral de fim comum.
Contrato plurilateralum dos elementos essenciais do contrato de sociedade,
o aumento do capital social, atravs da aquisio de novos scios, ento pode-se dizer
que h uma vocao pluripessoal.
Ter dois scios, ou ser exigveis dois scios, e depois passar a um scio, isto
que uma excepo. Termos um scio e depois passar a dois scios, j normal.
A sociedade regenera, e permite a incluso de novos membros.
o nico contrato que permite por adeso, a constituio de um corpus
societrio unipessoal.
O contrato no plurilateral por ser plural a sua estrutura, mas porque est
pessoalmente preparada para a pluralidade.
Contrato de Fim Comum no o exerccio em comum pelos scios, o
exerccio da actividade.
2 objectivos: objecto mediato, e objecto imediato
Na sociedade, todos os gerentes praticam actos jurdicos.
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No vale a vontade dos scios, em honra a 2 princpios: Princpio da
Conservao da Empresa e ao Princpio do Interesse Social.
A sociedade emerge por vontade dos scios, por isto que o contrato plurilateral
complexo, organizatrioestrutura da pessoa jurdica que nasce.Os scios quando celebram o contrato, e com as suas vontades convergentes
(declaraes de vontade)que nasa uma nova pessoa/ uma nova entidade jurdica.
Seco IIConceito de Empresa e Tipos de Sociedades Comerciais
1) Conceito de Empresa
A empresa a clula base da economia moderna. Tratando-se de matria
essencialmente comercial, a determinao do conceito de empresa faz-se recorrendo ao
art.230. CCom. Este exclui diversas situaes do conceito de empresa. Do elenco de
empresas apresentado, ressalta a conjugao de factores de produo (pessoas e bens), o
exerccio de actividades econmicas nos diversos sectores e a existncia de um
complexo organizacional estvel.
Logo, o legislador no nos d uma definio de empresa, mas fornece elementos
para o intrprete indutivamente elaborar esse conceito. Com os elementos fornecidos,
podemos elaborar um conceito de empresa comercial.
Empresa organizao de pessoas e bens que tem por objecto o exerccio de
uma actividade econmica em economia de mercado.
Coutinho de Abreuempresa a unidade jurdica fundada em organizao de
meios que constitui um instrumento de exerccio relativamente estvel e autnomo de
uma actividade de produo para a troca.
Conceito decompe-se em 4 elementos da empresa: organizacional, pessoal,
patrimonial e teleolgico.
Toda a empresa pressupe uma organizao dos factores de produo (pessoas
e bens) com vista ao exerccio de uma actividade econmica.
Esta organizao dever ter um padro hierrquico e uma certa estabilidade
temporal, isto , no se pode esgotar num acto.
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O que caracteriza a empresa o facto de a clientela ser atrada pela organizao
e no concretamente pela pessoa que presta servio. A mesma actividade pode ser
desenvolvida de forma artesanal ou empresarial.
No elemento pessoal compreendemos quer o empresrio e os investidores de
capitais, quer os trabalhadores.
Qualquer destas entidades tem interesse no desenvolvimento e xito da empresa,
seja para rentabilizao dos capitais investidos, seja para a promoo pessoal,
estabilidade e retribuio do trabalho.
A empresa, na concepo institucional que defendemos, deveria ser o centro de
confluncia dos interesses do capital e do trabalho.
Do elemento patrimonial da empresa faz parte o conjunto de bens afectos
respectiva actividade econmica, que compreende nomeadamente instalaes,
equipamentos, matrias-primas, processos de fabrico, marcas, patentes, etc.
Esta unidade econmica de bens corresponde normalmente a um
estabelecimento comercial, mas bem pode acontecer que uma empresa integre mais do
que um estabelecimento. No h empresa, sem estabelecimento. Mas pode haver
estabelecimento sem empresa, quando ele pertence a um pequeno comerciante, no
empresrio.
A empresa uma instituio, enquanto o estabelecimento uma universalidade,
objecto de um direito de propriedade.
O elemento teleolgico da empresa o exerccio de uma actividade econmica
em ambiente de economia de mercado.
Para alguns, esta actividade econmica tem de ser exercida com uma finalidade
lucrativa. A empresa pressupe uma finalidade econmica qualificada: a realizao de
uma vantagem patrimonial.
O que qualifica a actividade econmica da empresa uma gesto com
autonomia financeira segundo princpios de economicidade de modo a permitir uma
convivncia com outros agentes econmicos em ambiente de economia de mercado.
Podemos concluir que a definio apresentada, corresponde noo econmica
de empresa, assim como se ajusta s empresas do art.230. CCom.
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No obstante termos adoptado uma concepo institucional da empresa, o estado
actual do direito no nos permite atribuir personalidade jurdica empresa, como tal.
Tem de haver uma entidade personalizada que esteja ligada empresa por um feixe de
direito e obrigaes, ou seja, a situao jurdica que emana da empresa como realidadejurdica.
Esta entidade pode ser uma pessoa fsica ou uma pessoa colectiva. O art.230.
CCom refere a existncia de empresas individuais e empresas colectivas.
Nas empresas individuais, o empresrio , em princpio, um comerciante em
nome individual que explore uma actividade econmica sob a forma empresarial, mas
pode ser tambm uma sociedade unipessoal por quotas.
No primeiro caso, todo o patrimnio do comerciante responde perante os
credores. O estabelecimento comercial no constitui, para esse efeito, um patrimnio
autnomo com um regime especial de responsabilidade por dvidas e, muito menos,
limitativo da responsabilidade.
Assim, no s os bens afectos ao estabelecimento respondem, em igualdade de
circunstncias, por todas as dvidas do comerciante, ainda que no comerciais, como,
tambm, o restante patrimnio no afecto ao comrcio responde pelas dvidas
comerciais relacionados com o estabelecimento.
Porm, o comerciante em nome individual pode limitar a sua responsabilidade
utilizando uma estrutura jurdica da empresa que se designa por Estabelecimento
Individual de Responsabilidade Limitada (EIRL).
Empresas Colectivas so aquelas que esto ligadas a uma estrutura jurdica
dotada de personalidade colectiva. O empresrio no essa estrutura jurdica, mas
aquela ou aquelas pessoas que promoveram a sua constituio ou asseguram a sua
direco e suportam os riscos financeiros da lea da actividade econmica.
2) Tipos de Sociedades Comerciais
Como podemos ver pelo art.1., as sociedades que tenham por objecto o
exerccio de uma actividade comercial, tm de adoptar um dos tipos previstos. Vigora
aqui o Princpio da Tipicidade ou do Numerus clausus.
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O princpio da tipicidade consagra um limite liberdade negocial, mas as
sociedades podem adaptar-se s necessidades e condies concretas de cada projecto
empresarial. Ou seja, existem normas imperativas, mas tambm dispositivasart.9./3.
As sociedades que tenham exclusivamente por objecto a prtica de actos nocomerciais, podem adoptar um daqueles tipos, ficando sujeitas lei comercial. So as
sociedades civis sob forma comercial.
Sociedades em Nome Colectivosociedades de responsabilidade ilimitada. Os
scios podem responder pessoalmente com todo o seu patrimnio pelas dvidas da
sociedade, depois de esgotado o patrimnio de esta (art.175./1).
So sociedade de pessoas, pois o factor pessoal tem um papel fundamental, at
porque todos os scios so solidariamente responsveis perante terceiros pelas dvidas
da sociedade. A sociedade fechada, pois as partes sociais s podem ser cedidas com o
consentimento unnime dos scios (art.182./1), e mesmo a transmisso mortis causa
no automtica (art.184.).
Vantagem: mais fcil acesso ao crdito, por causa da responsabilidade ilimitada
dos scios.
Sociedades por Quotas Caracterstica Principal: Elasticidade do regime
jurdico, isto porque tem um grande nmero de normas dispositivas, que podem ser
afastadas pelos estatutos, ajustando a sociedade s necessidades concretas de cada
empresa, nomeadamente aproximando-as das sociedades de pessoas dificultando ou
impedindo a transmisso das quotas, ou aproximando-as das sociedades de capitais,
com livre transmissibilidade das quotas.
So sociedades de responsabilidade limitada. Os scios no respondem pelas
dvidas da sociedade, salvo se se constiturem garantes, mas so solidariamente
responsveis pela realizao integral do capital social.
Sociedades Annimas Sociedade de Capitais pura (aces livremente
transmissveis, embora a transmisso de aces nominativas possa estar sujeita a
restries).
Tipo caracterstico de empresa de maior dimenso. O capital mnimo de
50.000 e dever ter pelo menos 5 accionistas. Os accionistas respondem apenas pela
realizao das aces de que so titulares.
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A sua estrutura orgnica mais pesada.
Sociedades em Comandita Tipo misto, em que existem scios de
responsabilidade ilimitada (os comanditados) e scios de responsabilidade limitada (os
comanditrios). Podem ser em comandita simples, ou em comandita por aces.
Seco IIIA Personalidade Jurdica e a Capacidade de Direito
1) A Personalidade Jurdica
Guilherme Moreira colocava em questo a personalidade jurdica das sociedades
comerciais, nomeadamente das sociedades em nome colectivo, por no haver uma
separao absoluta de patrimnios. Esta questo est ultrapassada com a redaco do
art.5., relativamente s sociedades regularmente constitudas.
No entanto, existem problemas que se podem suscitar no perodo em que esta
inicia a sua actividade social, antes do registo definitivo da sociedade. Alis, aquando
do acto de constituio da sociedade, possvel haver entradas em espcie, isto ,
atravs da transmisso de bens a favor de esta, para exerccio da sua actividade, em
escritura pblica outorgada imediatamente da constituio. O Art.40. prev esta
possibilidade, sendo que no n.2 vm os actos condicionados ao registo da sociedade.
Independentemente da atribuio da personalidade jurdica, antes do registo
definitivo poder existir um patrimnio autnomo com personalidade judiciria ( art.6.
alnea a) CPC).
Os credores pessoais dos scios, apenas podero penhorar as respectivas
participaes sociais a partir do momento em que as sociedades adquirem personalidade
jurdica. Pelas dvidas da sociedade, responde apenas o patrimnio social.
A sociedade adquire personalidade jurdica a partir do seu registo definitivo na
Conservatria do Registo Comercial, passando a ser susceptvel de direitos e obrigaes
e a ter capacidade de direito.
Outra consequncia de adquirir personalidade jurdica, a existncia de um
patrimnio prprio que no se pode confundir com o capital social.
A personalidade jurdica um conceito absoluto, enquanto a capacidade de
direito relativa, isto , pode ser medida.
2) A Capacidade de Direito
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A capacidade de direito das sociedades comerciais est delimitada ao seu
objecto (art.160. do CC).
H que distinguir o objecto mediato (realizao dos lucros), do objecto imediato
(a actividade comercial concreta que a sociedade se prope exercer).O Princpio da Especialidade do Fim limita a capacidade jurdica das pessoas
colectivas aos actos necessrios ou convenientes prossecuo do seu fim (art.160.
CC), e s tem aplicao no objecto mediato, sendo que o objecto imediato apenas serve
para limitar os poderes de representao dos administradores, e s verificadas
determinadas condies.
Se o acto for uma liberalidade (acto gratuito, sem querer publicitar a sociedade,
ou promover a sua imagem), nulo por falta de capacidade da sociedade, mesmo que
aprovado e ratificado pela Assembleia-Geral. Se visar o lucro, ou quiser publicitar,
promover, j no nulo.
Se no respeitar o objecto imediato (actividade social estatutria), j no estamos
perante a incapacidade da sociedade, mas dos limites aos poderes de representao dos
administradores, rgos da sociedade (art.6./4).
Captulo IIA Limitao da Responsabilidade
Seco IDelimitao do Conceito e Excepes
As sociedades so sempre de responsabilidade ilimitada, isto , sendo pessoas
jurdicas vigora de pleno o princpio da responsabilidade de todo o patrimnio
(art.601. do CC). O que limitada a responsabilidade dos scios perante a sociedade
e os credores.
Nas sociedades annimas, os accionistas apenas respondem pela realizao das
entradas correspondentes s aces que subscreveram (art.271.).
Nas sociedades por quotas, para alm da realizao das suas entradas, em caso
de realizao parcial do capital social, os scios podero responder solidariamente pela
libertao das entradas dos outros scios (art.197./1).
Nas sociedades em nome colectivo, temos uma responsabilidade pessoal e
ilimitada dos scios (art.175./1).
So inmeras as excepes ao princpio da limitao da responsabilidade nas
sociedades comerciais, podendo estas resultar dos estatutos ou da lei.
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1) Excepes Estatutrias
a) Scios garantes da sociedade - Art.198.
Permite-se a estipulao no pacto de uma garantia dos scios pelas dvidassociais, solidria ou subsidiria, mas sempre limitada a certo montante. Os scios
funcionam como fiadores da sociedade at certo montante, com direito de regresso,
salvo estipulao em contrrio.
Finalidade deste instituto permitir um maior acesso ao crdito devido
garantia dos scios, sem necessidade de se constituir a sociedade com o capital superior
s suas necessidades funcionais.
b) Prestaes suplementares
So obrigaes dos scios de entradas em dinheiro, para alm do capital social
(sociedade por quotasart.210.).
O interesse vincular os scios nos estatutos realizao de entradas para alm
do capital social, sob pena de excluso, naquelas situaes em que se antev, no
momento da constituio da sociedade, a possibilidade de o capital social se tornar
insuficiente, para a realizao do objecto social. No se quer constituir com um capital
mais elevado, mas que teria de ser realizado no prazo mximo de 5 anos (art.203.).
c) Obrigaes de prestaes acessrias
O contrato social pode impor a todos ou a alguns dos scios a obrigao de
efectuarem prestaes para alm das entradas (sociedades por quotas e annimas).
Podem ser dinheiro, bens, ou servios, podendo ser gratuitas ou onerosas
(art.209. e 287.).
Serve para vincular os scios a suprir eventuais insuficincias do capital social,
quando o seu objecto for suprimentos.
2) Excepes Legais
a) Responsabilidade do scio nico
A unipessoalidade no causa de dissoluo automtica da sociedade, mas
propcia confuso de patrimnios, e a abusos que podem dar prejuzo aos credoressociais, uma vez que no h mais scios para controlar os actos de administrao.
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O legislador estabelece uma responsabilidade agravada para o scio nico: em
caso de falncia da sociedade, ele responder ilimitadamente pelas obrigaes sociais
contradas (art.84./1).
A violao do Art.270.-F implica a responsabilidade ilimitada (art.270./4).
b) Responsabilidade dos administradores
Arts.72. e ss.(aplicvel a todas as sociedades)
Quando os administradores com a sua conduta provoquem prejuzos sociedade,
podero responder ilimitadamente por estes, ainda que a sua responsabilidade, como
scios, perante a sociedade seja limitada.
Os administradores no exerccio das suas funes esto sujeitos a
responsabilidade civil, criminal e de mera ordenao social (arts.509. e ss. e arts.227. e
228. - casos de insolvncia dolosa ou por negligncia).
c) Responsabilidade dos scios que nomearam os administradores
O art.83. responsabiliza os scios que designaram os administradores, desde
que tenha havido culpa na sua escolha (culpa in eligendo), bem como aqueles scios
que tendo poder para os destituir, os tenham pressionado a tomar tal conduta. A
responsabilidade desses scios solidria com a dos administradores.
d) Desconsiderao da personalidade jurdica
A doutrina e a jurisprudncia criaram a figura geral e abstracta da
desconsiderao da personalidade jurdica, atravs da qual possvel atingir os
patrimnios individuais dos scios em situaes de abuso funcional do instituto. Trata-
se de situaes de responsabilidade pessoal dos scios que no esto previstas
directamente na lei.
Estas situaes podem-se reconduzir a 2 tipos (Menezes Cordeiro):
a) subcapitalizao a sociedade constitui-se com um capital social
manifestamente insuficiente para a actividade social que se prope exercer, ainda que
com recurso a financiamento externo. Os scios recorrem a suprimentos ou a prestaes
suplementares.
b) disfuno ou abuso da personalidade jurdicascios utilizam o meio tcnico
da personalidade jurdica exclusivamente para beneficiarem da limitao dapersonalidade jurdica, sem terem como finalidade principal o exerccio da sua
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actividade social. Serve-se da sociedade em proveito prprio, pagando as suas despesas
e investimentos pessoais.
e) Abuso de maioriaUm dos casos de desconsiderao da personalidade jurdica prevista na lei.
Quando uma maioria de scios toma uma deliberao no sentido da obteno de
vantagens ou benefcios em proveito prprio ou de terceiros, mas em detrimento da
sociedade ou da minoria, essa deliberao no s susceptvel de anulao (art.58./1
alnea b)), como os scios que tenham formado essa maioria respondem solidariamente
para com a sociedade ou para com os outros scios pelos prejuzos causados (art.58./3).
f) Direito Fiscal e Segurana Social
g) Responsabilidade para com os credores da sociedade subordinada
Nas sociedades em relao de grupo, como contrapartida pelo poder de dar
instrues vinculativas Administrao da sociedade subordinada, a sociedade directora
responde perante os credores da primeira (art.501.).
h) Direito do Trabalho
Captulo IIIAspectos Patrimoniais e Financeiros da Sociedade
Seco IIO Capital Social
1) A Constituio e a Salvaguarda do Capital Social
O capital social deve constar dos estatutos (art.9./1 al.f)) e constitudo pela
soma das subscries dos scios.
Estas subscries podem no estar integralmente realizadas ou liberadas no
momento da constituio.
Funes do capital social:
1A determinao da situao financeira da sociedade;
2- A quantificao dos direitos dos scios;
3A garantia de terceiros.
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A situao lquida da sociedade (se tem ganhos ou prejuzos) afere-se em funo
do capital social. Quer o direito aos lucros, quer o direito de voto, quer o direito a
subscrio preferencial de aumentos de capital social, so atribudos em funo da
percentagem de participao no capital social.O capital social a garantia comum dos credores. que o capital social figura
no balano no lado passivo e a garantia dos credores certamente constituda pelo
activo. Mas a afirmao tem sentido, dado o carcter imperativo da obrigao de
realizao das entradas (art.27.), as garantias da sua realizao efectiva, podendo os
credores subrogar-se sociedade (art.30.), e por outro lado, os princpios1 da fixidez e
da intangibilidade do capital social, que impedem que os scios distribuam os activos
necessrios para manter intacto o capital social, ou que reduzam este, para esse efeito,
sem o consentimento, expresso ou tcito, dos credores.
O capital social distingue-se do patrimnio, o qual constitui a garantia geral dos
credores (art.601. CC).
No momento da constituio da sociedade, o capital social teoricamente igual
ao patrimnio. Teoricamente porque a sociedade tem despesas de constituio, como o
art.19. permite que a sociedade assuma de pleno direito obrigaes decorrentes de
negcios celebrados pelos fundadores em nome da sociedade a constituir durante o
perodo de pr-vida da sociedade.
Este sistema pode conduzir a abusos, nomeadamente se o patrimnio se
encontrar substancialmente reduzido no momento do registo da sociedade, defraudando
os credores quanto consistncia e garantia do capital social.
Contudo, se as diferenas forem substanciais, tendo a sociedade funcionado
muito tempo sem efectuar registo, a situao poder ser considerada abusiva e
responsabilizar-se os scios, quer atravs do instituto do abuso do direito ( art.334.),
quer atravs da desconsiderao da personalidade jurdica.
Princpios:
1) Princpio da Exacta Formao no momento da constituio, os scios
devem realizar ou comprometer-se a realizar entradas de valor patrimonial equivalente
ao do capital social. Para garantir este princpio, o legislador impede a subscrio de
1Nas aulas prticas de Dto. das Sociedades Comerciais, pag.46. Ver pags. 43 e ss. Capital Social.
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quotas ou aces abaixo do par, isto , por valor inferior ao seu valor nominal e
regulamenta com extremo rigor a avaliao e a realizao de entradas de capital.
2) Princpio da Fixidez no significa que o capital social no possa ser
modificado, mas apenas que ele varia em funo das flutuaes do activo da sociedade.A garantia dos credores traduz-se ainda no facto de os credores se poderem opor
reduo do capital social, ou obter garantias especiais, para alm de os scios no
ficarem exonerados da realizao das respectivas entradas em caso de reduo.
O art.46. permite que os estatutos confiram poderes aos administradores das
sociedades annimas para aumentarem o capital social dentro de certos limites.
3) Princpio da Intangibilidade ou conservao do capital social (art.32.)
No permite que sejam distribudos aos scios bens da sociedade quando a situao
lquida desta, for inferior soma do capital e das reservas que a lei ou o contrato no
permitem distribuir aos scios ou se tornasse inferior a esta soma em consequncia da
distribuio.
Este princpio vai ter aplicao em vrios institutos das sociedades,
nomeadamente: art.33., arts.95./1 e 3, art.131./1 alnea b), art.220. e 316. e ss.,
art.322., arts.236. e 346., art.345., art.487., art.485..
A lei estabelece um valor mnimo do capital social para as sociedades por
quotas (5.000) e para as sociedades annimas (50.000). Todavia, estes mnimos legais
continuam a ser manifestamente insuficientes para o exerccio da generalidade das
actividades sociais e assiste-se frequentemente a um fenmeno de subcapitalizao, a
qual no consiste apenas na insuficincia dos capitais prprios, mas na prpria
incapacidade de financiamento no mercado do crdito.
Na verdade, os scios tm vantagem em constituir a sociedade com capital
insuficiente e depois emprestarem dinheiro sociedade, pois estes vencem juros e
podem ser restitudos aos scios sem sujeio ao princpio da intangibilidade do capital
social.
Este comportamento tem por vezes, efeitos perversos, que so o de obrigarem os
administradores e scios a prestarem garantias pessoais para a sociedade obter crdito,
desvirtuando o regime de limitao da responsabilidade e convertendo, na prtica, as
sociedades em sociedades em nome colectivo, no caso de todos os scios serem fiadores
ou avalistas da sociedade, ou em sociedades em comandita, quando estas garantiaspessoais apenas so prestadas pelos administradores.
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O legislador com o regime dos suprimentos, veio impedir alguns abusos e na
doutrina e jurisprudncia alem, j se ultrapassa o vu da personalidade jurdica para
atingir o patrimnio individual dos fundadores, quando estes tenham culposamente
constitudo a sociedade com capital manifestamente insuficiente para a respectivaactividade social e essa insuficincia de capital tenha sido a principal causa da falncia
da sociedade, com prejuzo para os credores, principalmente aqueles que no tinham
obrigao de conhecer os meios financeiros da sociedade.
At ao momento, estas teorias da desconsiderao da personalidade jurdica, por
causa da subcapitalizao no tm vingado na jurisprudncia portuguesa.
Seco IIIAs Reservas
Numa definio restritiva, as reservas correspondem aos lucros de explorao e
outras receitas que a sociedade delibera no distribuir a fim de reforar a sua situao
financeira.
Na definio extensiva, as reservas abrangem todo o aumento de valor do
activo, o que inclui as chamadas reservas ocultas, que resultam nomeadamente de uma
valorizao de bens do activo no contabilizada ou de um excesso de amortizaes.
As reservas podem classificar-se em reservas obrigatrias (podem resultar da
lei ou dos estatutos) e em reservas livres (criadas por deliberao da assembleia-geral).
1) Reservas Obrigatrias
a) Reserva Legal
Impe-se para as sociedades (arts.218. e 295./1) a constituio de uma reserva
legal equivalente quinta parte (20%) do capital social, mas nunca inferior a 2.500 nas
sociedades por quotas (art.218./3), a constituir progressivamente atravs da afectao
obrigatria a esse fim de uma percentagem no inferior vigsima parte (5%) dos
lucros anuais da sociedade. Esta percentagem deve calcular-se com base no lucro
distribuvel no exerccio deduzido dos resultados negativos transitados.
No podem, por conseguinte, ser distribudos aos scios os lucros necessrios
para constituir ou reconstituir a reserva legal (arts.32., 33. e 34.). A deliberao que
aprove a distribuio de lucros com violao desta regra nula (art.69./3).
A reserva legal constitui uma primeira barreira de proteco do capital social eda garantia dos credores, s podendo ser utilizada (art.296.):
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- Para cobrir a parte do prejuzo acusado no balano do exerccio que no possa
ser coberto pela utilizao de outras reservas;
- Para cobrir a parte dos prejuzos transitados do exerccio anterior que no possa
ser coberto pelo lucro do exerccio, nem pela utilizao de outras reservas;- Para incorporao no capital.
b) Reservas Equiparadas reserva legal
So as equiparadas aos seguintes valores (art.295./2):
gios obtidos em quotas ou aces, obrigaes com direito a subscrio de
aces, ou obrigaes convertveis em aces, em troca destas por aces e em entradas
em espcie.
Saldos positivos de reavaliaes monetrias que forem consentidas por lei, na
medida em que no forem necessrias para cobrir prejuzos j acusados no balano;
Importncias correspondentes a bens obtidos a ttulo gratuito, quando no lhes
tenha sido imposto destino diferente, bem como acesses e prmios que venham a ser
atribudos a ttulos pertencentes sociedade.
As reservas equiparadas reserva legal s podem ter a mesma utilizao que
referirmos para a reserva legal (art.295./2).
c) Reservas Estatutrias
Os estatutos podem estipular valores para a reserva legal superiores aos mnimos
legais (art.295./1), ou podem vincular os scios constituio de reservas para fins
determinados, ou, simplesmente estabelecer que parte dos lucros no so distribudos,
desde que no afecte o direito dos scios distribuio peridica de lucros.
A Assembleia-geral est obrigada constituio destas, salvo alterao dos
estatutos pela forma legal.
2) Reservas Livres
A Assembleia-geral pode deliberar afectar os lucros a reservas livres, por razes
de tcnica financeira, mediante proposta fundamentada da Administrao (art.66./2 f)).
Esta deliberao tem de respeitar as maiorias (arts.217./1, 294./1), podendo
colidir com os direitos dos scios distribuio peridica de lucros se no estiver
devidamente fundamentada, e assim ser impugnada por abuso de maioria.
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Captulo IVAs Sociedades Comerciais Irregulares (SA e SQ)
1) Vcios do Contrato
Tendo o acto constitutivo da sociedade natureza negocial, est naturalmentesujeito aos vcios que afectam os negcios jurdicos e contratos em geral. Mas, as
caractersticas especiais do contrato de sociedade determinam excepes ao regime
geral. O regime varia conforme o vcio do contrato ou do negcio jurdico seja
verificado antes ou depois do registo.
a) Antes do registo
Enquanto o contrato de sociedade no estiver definitivamente registado, a
invalidade do contrato ou de uma das declaraes negociais rege-se pelas disposies
aplicveis aos negcios jurdicos nulos ou anulveis.
A nulidade ou anulabilidade de uma participao no determina a invalidade de
todo o contrato de sociedade, salvo quando se mostre que este no teria sido concludo
sem a parte viciada (art.292. CC). Mas, a invalidade do contrato de sociedade s
produz efeitos ex nunc, dando lugar liquidao da sociedade (arts.41./1, 52./1 e
165.). Salvam-se assim, os negcios jurdicos concludos anteriormente declarao de
nulidade ou de anulao do contrato social (art.52./2).
Salienta-se que a invalidade decorrente de vcio de vontade ou de usura s
oponvel aos demais scios, enquanto a incapacidade oponvel tanto a estes como a
terceiros (art.41./2). Nesta conformidade, o incapaz no obrigado a completar a sua
contribuio e pode reaver aquilo que prestou, enquanto nos outros vcios os scios
tero de realizar ou completar as suas entradas se elas forem necessrias para satisfazer
os credores sociais (arts.52./4 e 5).
b) Depois do registo
Os vcios da vontade e a usura so regidos pelo regime geral quanto sua
verificao, no dando lugar anulabilidade, apenas conferem ao scio afectado o
direito exonerao (arts.45./1 e 240.).
A incapacidade de um dos scios d lugar anulabilidade parcial (art.45./2).
Seria indesejvel que detectado o vcio a sociedade permanecesse numa situao
instvel at caducidade da aco. Ento, o legislador confere a qualquer interessado afaculdade de interpelar o scio afectado para este exercer o seu direito de anulao ou
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Uma vez que j h formalizao do contrato aplicam-se nas relaes internas, as
disposies do pacto social e do CSC (art.37./1).
Nas relaes externas, pelas dvidas contradas em nome da sociedade, responde
em primeira linha o patrimnio social e depois respondem solidariamente eilimitadamente todos os que agirem em representao dela, bem como todos os scios
que tais negcios autorizaram; os outros scios respondem at importncias das suas
entradas, acrescidas das quantias que tenham recebido a ttulo de lucros ou distribuio
de reservas (art.40./1).
Mal se compreenderia que os credores sociais perdessem a garantia preferencial
do patrimnio autnomo, que j existia antes do acto constitutivo.
Por patrimnio autnomo entende-se todos os bens que na escritura de
constituio foram transmitidos para a sociedade, bem como todos aqueles que em
nome dela forem adquiridos ou que efectivamente foram postos em comum. Este
regime no tem aplicao quando os negcios foram expressamente condicionados ao
registo da sociedade e assumpo por esta dos respectivos efeitos (art.40./2).
Aps a constituio definitiva da sociedade, esta assume retroactivamente de
pleno direito os direitos e as obrigaes emergentes de negcios jurdicos concludos
antes da celebrao do contrato de sociedade, que neste estejam especificados e
expressamente ratificados, e os concludos aps o contrato ao abrigo da autorizao
dada expressamente neste (art.19./1 al.c) e d)).
VerArt.19./2, 3 e 4.
Esta limitao particularmente gravosa para aqueles que agiram em nome da
sociedade, porquanto esses negcios so precisamente aqueles que h vantagem em
celebrar no perodo pr-vida da sociedade, dada a morosidade do processo de
constituio.
3) Sociedades de Facto
Aquelas em que as prprias partes no sabem ao certo a figura jurdica que pauta
as relaes econmicas duradouras que entre elas estabeleceram.
H que averiguar se estamos perante um contrato de sociedade, e esto
verificados todos os requisitos dos art.980. CC, ou se estamos perante uma figura afim.
Se concluirmos pela existncia de um contrato de sociedade, aplicam-se nas
relaes internas, as disposies que regem as sociedades civis (art.36./2). Nas relaesexternas, a sociedade s ter existncia se adoptar um dos tipos, sem o que no haver
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aparncia de sociedade. Nesse caso, aplicar-se-o igualmente as disposies que regem
as sociedades civis, mas todos os scios respondero solidria e ilimitadamente pelas
obrigaes contradas nesses termos por qualquer deles (art.36./1 e 2).