direito das sociedades comerciais. livro pereira almeida

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  • 7/28/2019 Direito Das Sociedades Comerciais. Livro Pereira Almeida

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    Livro Pereira de Almeida

    Susana Neto Pgina 1

    Captulo IA Sociedade como Organizao Jurdica de Empresa

    As sociedades comerciais so a estrutura tpica da empresa nas economias de

    mercado, embora a empresa possa revestir outras formas jurdicas, como seja, ascooperativas, os ACE, as fundaes, etc. Tambm pode suceder que uma sociedade

    comercial no tenha substrato empresarial por falta de dimenso.

    O Cdigo Civil trata a sociedade como um contrato (art.980. CC), mas as

    sociedades comerciais so tambm uma pessoa jurdica (art.5.). Nos termos do Art.1.,

    as sociedades comerciais tm necessariamente por objecto a prtica de actos de

    comrcio, devendo revestir um dos tipos previstos no Cdigo. A actividade comercial,

    afere-se mais pela explorao empresarial do que pela prtica de actos de comrcio

    previstos no CCom.

    Seco IO contrato de sociedade

    1) Definio de Contrato de Sociedade - Art.980. CC

    Esta definio encontra-se desajustada actual realidade das sociedades

    comerciais, no s quanto sua gnese contratual, mas tambm quanto ao prprio

    substrato, pois admite-se a existncia de sociedades unipessoais, e o negcio

    constitutivo no abarca toda a realidade societria, sobretudo a estrutura subjectiva que

    criada.

    O contrato de sociedade tem uma caracterstica muito prpria nas sociedades

    comerciais, que o de dar origem a uma pessoa colectiva ( art.5.). Uma vez constituda

    definitivamente a sociedade, as relaes passam a ser dos scios para com a sociedade

    pessoa jurdica e j no mais entre eles. A sociedade, como pessoa jurdica, ganha

    autonomia e sobrepe-se ao negcio constitutivo.

    Elementos estruturantes do negcio constitutivo

    a) Elemento Pessoal

    A criao da sociedade depende sempre de uma manifestao de vontade,

    destinada a criar uma entidade subjectiva com vista ao exerccio de uma actividade

    econmica lucrativa.

    este o cerne do instituto, que integra uma funo empresarial e uminvestimento capitalstico, independentemente da condio ntima de cada scio. Deste

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    modo, o instituto susceptvel de servir um grande leque de funes e interesses, desde

    um mero investimento financeiro a uma actividade empresarial (desde que se

    preencham os requisitos do tipo legal).

    Com a entrada na sociedade o scio adquire uma participao social (quota ouaces), que lhe confere um conjunto de posies activas e passivas para com a

    sociedade.

    b) Elemento Patrimonial

    A obrigao de entrada constitui um elemento essencial do contrato de

    sociedade. H um investimento capitalstico, por parte do scio, em que este se obriga a

    entrar com bens ou servios para o exerccio da actividade social. Nas sociedades por

    quotas, e nas sociedades annimas, apenas se admite entradas com bens.

    Estes bens so transmitidos para a nova pessoa jurdica nascente, a sociedade,

    passando a integrar o seu patrimnio. Com a constituio da sociedade os scios

    perdem a titularidade desses bens e adquirem, em contrapartida, uma participao social

    (quota ou aces). Ento, os credores pessoais dos scios deixam de poder perseguir os

    bens das entradas (podem penhorar a participao social, quando muito).

    c) Actividade Econmica

    H que fazer uma interpretao adequada deste artigo, para as sociedades

    comerciais, pois estas so dotadas de personalidade jurdica (art.5.) e s mediatamente

    que os scios exercem a actividade comercial atravs da estrutura subjectiva da

    sociedade.

    Por actividade econmica, entenda-se o exerccio de qualquer actividade

    destinada produo ou distribuio de bens ou servios. Uma vez que este um

    conceito muito vago, e a lei no permite a criao de entidades jurdicas abstractas, tem

    de ser concretizado atravs do objecto social, que uma noo essencial do contrato de

    sociedade.

    d) Finalidade Lucrativa

    O elemento teleolgico da finalidade lucrativa constitui a natureza essencial das

    sociedades comerciais e da manifestao de vontade tpica de criao ou de adeso

    sociedade.H que distinguir 4 planos.

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    O lucro da sociedade apesar de ser uma finalidade intrnseca, no tem de ser

    necessariamente a curto prazo, nem o objectivo necessrio de cada exerccio. Isso

    depende das opes estratgicas definidas pelos scios, em deliberaes sociais, e pela

    administrao, sendo certo que o art.64./1 alnea b), at d prevalncia aos interessesde longo prazo.

    A afectao desse lucro no tem de ser necessariamente a sua distribuio aos

    scios. Os lucros da sociedade podem ser afectos a reserva, como distribudos aos

    scios, ou permanecer em resultados transitados.

    Art.22./1princpio supletivo de participao nos lucros em funo do valor

    nominal das participaes sociais, o qual pode ser modificado nos estatutos.

    Quando os lucros no so distribudos e ficam retidos em reservas, isto pode

    consistir numa forma de autofinanciamento da sociedade, e em princpio, valorizar as

    participaes sociais.

    A valorizao das participaes sociais pode resultar de uma sobrevalorizao

    dos lucros, talvez de uma forma artificial, pouco sustentada, que poder fazer incorrer a

    administrao em responsabilidade perante os scios e terceiros e obrigar interveno

    da entidade reguladora dos mercados (CMVM) nas sociedades cotadas.

    2) Natureza Jurdica do Acto Constitutivo da Sociedade

    O CSC refere por diversas vezes, contrato de sociedade para designar o acto

    constitutivo da sociedade.

    Commom Law 2 tipos de sociedade

    Partnership (equivalente sociedade em nome colectivo, de origem contratual);

    Company (Corporation nos Estados Unidos)2 dos seus tipos correspondem

    sociedade por aces, e sociedade de responsabilidade limitada, no tendo origem

    contratual.

    Direito Continental o acto criador da sociedade sempre um contrato, no

    sendo unnime a doutrina quanto a esta classificao.

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    a) Teoria do Acto Colectivo -Doutrina Alem, e foi sustentada por Barbosa de

    Magalhes

    O acto colectivo um conjunto de manifestaes de vontades paralelas, de

    contedo idntico, provenientes de pessoas com os mesmos interesses. Trata-se de umacto jurdico unilateral, porque existe uma s parte, composta por vrias pessoas.

    Nos contratos, as manifestaes de vontade so de contedo diferente, porque

    provm de pessoas com interesses opostos. Este o instrumento jurdico das vontades

    em coliso.

    Os partidrios desta teoria sustentam que no acto constitutivo da sociedade, os

    associados tero todos os mesmos interesses e as suas manifestaes de vontade tero

    um contedo idntico. No se estabelece ento, nenhuma relao jurdica entre os

    scios, mas s entre estes e a sociedade.

    Crticas: (Esta teoria, parece-nos de rejeitar)

    1No podemos dizer que no um contrato, com fundamento na identidade de

    interesses. Pois, mesmo nos contratos sinalagmticos, os contraentes tm um interesse

    comum de modificar a situao patrimonial, de contrrio no estariam de acordo para

    celebrar o contrato.

    2 No momento da constituio da sociedade, tambm existe oposio de

    interesses: os fundadores tm um interesse comum em constituir a sociedade e exercer

    em conjunto uma determinada actividade econmica, mas essa comunho de interesses

    no exclui a existncia duma coliso de outros interesses fundamentais e tpicos.

    Exemplo: avaliao das entradas em espcie, da nomeao de rgos sociais,

    distribuio de perdas e lucros, atribuio de vantagens especiais.

    Cada scio querer as maiores vantagens e lucros com a menor contribuio

    patrimonial.

    3Relativamente ao contedo idntico, este no necessrio. Por exemplo: as

    entradas no so apenas diferentes no montante, mas tambm na qualidade entradas

    em dinheiro, entradas em espcie.

    4 Ao afirmares que apenas se estabelecem relaes entre os scios e a

    sociedade, esquecem-se que a constituio da sociedade e a atribuio de personalidade

    podem no se realizar no mesmo tempo. A sociedade constituda atravs de actoescrito, mas adquire personalidade jurdica aps a inscrio no Registo Comercial

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    (art.5.). Pelo menos, nesses 2 momentos, inquestionvel que existem relaes entre os

    scios.

    b) Teoria do Acto da Sociedade - Gierke, Ruth e FeineEstes sustentam que os contratos so apenas fonte de obrigaes e de direitos,

    da que no seja possvel criarem uma pessoa jurdica nova. Assim, o acto constitutivo

    da sociedade no poder ser um contrato.

    No acto constitutivo da sociedade, as declaraes de vontade de cada scio no

    tm autonomia, fundindo-se num s acto unilateral desde logo atribudo sociedade em

    formao. Este seria a primeira manifestao de vontade da sociedade, que se criava a si

    mesma.

    Crticas:

    preciso distinguir a constituio do substrato da sociedade e a atribuio da

    personalidade jurdica. As sociedades s gozam da personalidade jurdica a partir da sua

    inscrio no Registo Comercial.

    Os scios criam o substrato da sociedade, sendo que a atribuio da

    personalidade jurdica obra da lei. Se a sociedade no existe, como poder manifestar

    uma vontade? Os associados no podero criar uma pessoa jurdica, mas a pessoa

    jurdica no se poder criar a ela mesma.

    Deste modo, insustentvel esta teoria, que atribui a criao da sociedade a um

    acto dela prpria.

    c) Teoria de Acto Misto - Soprano

    Pretende que o acto constitutivo da sociedade seja um contrato nas relaes

    entre os scios, mas um acto unilateral relativamente a terceiros.

    Nas relaes internas existe divergncia de interesses e o acto constitutivo da

    sociedade fonte de um conjunto de obrigaes e de direitos entre os scios e, portanto,

    um contrato. Em relao a terceiros, os scios tm identidade de interesses e suas

    manifestaes de vontade so paralelas e tm o mesmo contedo, so um acto

    unilateral.

    No acto constitutivo da sociedade encontramos elementos caractersticos do actounilateral e do contrato. Mas, a classificao como acto misto apenas se justificaria se o

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    conjunto dos elementos no possibilitassem a classificao como acto unilateral ou

    como contrato.

    Oliveira Asceno o acto propriamente constitutivo da sociedade sempre

    acto unilateral, a que pode acrescer, havendo interesses contrapostos, um contrato queconcilie os participantes.

    d) Contrato sinalagmtico -Doutrina clssica, Jos Tavares

    As obrigaes so interdependentes e recprocas: cada scio obrigar-se-ia a

    realizar a sua entrada e a colaborar contanto que os outros scios tambm se obrigassem

    aos mesmos deveres.

    Brunetti - Nas sociedades de pessoas as obrigaes dos scios mantm-se

    sinalagmticas mesmo depois da constituio da sociedade. Nas sociedades de capitais,

    a reciprocidade das obrigaes s se verificaria no momento da constituio da

    sociedade.

    A contrapartida da obrigao de cada scio no imediata como nos contratos

    bilaterais sinalagmticos, mas pelo contrrio, mediata. Este desvio no suficiente

    para se afastar a noo de contrato sinalagmtico.

    A reciprocidade das obrigaes (caracterstica fundamental dos contratos

    sinalagmticos) exige no somente a equivalncia das prestaes, mas tambm a sua

    interdependncia, isto , a existncia de umas est subordinada s dos outros, porque

    so contrapartida umas das outras.

    No contrato de sociedade, nem as prestaes dos scios so necessariamente

    equivalentes, nem umas so contrapartida das outras.

    na aplicao das regras prprias dos contratos sinalagmticos onde se

    encontram as maiores diferenas relativamente ao contrato de sociedade.

    Exemplos:

    Excepo de inexecuo nos contratos sinalagmticos, qualquer dos

    contraentes tem o direito de se recusar a cumprir as suas obrigaes, sempre que o outro

    no execute as que lhe competem (art.428./1 CC)consequncia da reciprocidade e da

    interdependncia das obrigaes. No contrato de sociedade, quando um dos scios se

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    recusa a cumprir as suas obrigaes, a sociedade poder exclui-lo, mas os outros scios

    no tm o direito de invocar a excepo.

    Incumprimento

    o incumprimento do contrato por um dos contraentes faculta aooutro a resoluo do contrato (art.801./2 CC). A doutrina clssica aplicava este

    princpio sociedade, dizendo que ela poderia ser dissolvida se qualquer scio no

    cumprisse as suas obrigaes. Os autores mais recentes no admitem esta causa de

    dissoluo, em consequncia das particularidades do contrato de sociedade e do

    princpio da conservao da empresa.

    Teoria do Risco nos contratos sinalagmticos, quando a prestao de uma parte

    se tornar impossvel por causa que no lhe imputvel, a outra parte fica desobrigada a

    realizar a sua prestao e poder exigir a restituio do que tiver prestado (art.795.

    CC).

    No contrato de sociedade, esta regra no pode ser aplicada e se a entrada em

    espcie se tornar impossvel por caso fortuito ou de fora maior, o scio ter de realizar

    a sua prestao em dinheiro, nos termos gerais, sem que os outros scios se possam

    desvincular das suas obrigaes, sem prejuzo da dissoluo da sociedade se o bem em

    falta for essencial para a realizao do seu objecto (art.25./3).

    Para os defensores desta teoria, estes desvios no so suficientes para afastar esta

    qualificao. Estas regras so caractersticas fundamentais dos contratos sinalagmticos

    e o seu afastamento descaracteriza-os completamente, pelo que esta teoria tambm de

    rejeitar.

    e) Contrato plurilateral -Ascarelli

    Para este, o contrato plurilateral quando nele intervm ou tm possibilidade de

    intervir mais de duas partes. O contrato de sociedade seria o exemplo mais caracterstico

    destes.

    Fernando Olavo e Ferrer Correia opem-se, pois a sociedade poder ser

    constituda por dois associados. O contrato de sociedade poder ser bilateral (se no

    existirem mais do que dois scios), ou plurilateral (se forem mais do que doisassociados). A pluralidade, no uma caracterstica essencial do contrato de sociedade,

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    e com a entrada das sociedades unipessoais, a plurilateralidade no pode ser mais

    considerada como uma caracterstica essencial do acto constitutivo da sociedade.

    f) Contrato de fim comum -Ferrer Correia e Fernando OlavoPara estes, a caracterstica essencial do contrato de sociedade a finalidade

    comum, quer o fim imediato (exerccio da actividade social), quer o fim mediato

    (partilha de lucros).

    Concluso:

    Amaro da Luz critica a teoria do contrato sinalagmtico, porque se afasta da

    viso econmica.

    Relativamente teoria do contrato plurilateral, Amaro da Luz no concorda

    com Ferrer Correia.

    Amaro da Luz, diz que os scios no se enquadram num contrato

    sinalagmtico. Tambm no possvel defender o contrato plurilateral como tal, assim

    como o contrato de fim comum.

    Amaro da Luz, defende um contrato plurilateral de fim comum.

    Contrato plurilateralum dos elementos essenciais do contrato de sociedade,

    o aumento do capital social, atravs da aquisio de novos scios, ento pode-se dizer

    que h uma vocao pluripessoal.

    Ter dois scios, ou ser exigveis dois scios, e depois passar a um scio, isto

    que uma excepo. Termos um scio e depois passar a dois scios, j normal.

    A sociedade regenera, e permite a incluso de novos membros.

    o nico contrato que permite por adeso, a constituio de um corpus

    societrio unipessoal.

    O contrato no plurilateral por ser plural a sua estrutura, mas porque est

    pessoalmente preparada para a pluralidade.

    Contrato de Fim Comum no o exerccio em comum pelos scios, o

    exerccio da actividade.

    2 objectivos: objecto mediato, e objecto imediato

    Na sociedade, todos os gerentes praticam actos jurdicos.

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    No vale a vontade dos scios, em honra a 2 princpios: Princpio da

    Conservao da Empresa e ao Princpio do Interesse Social.

    A sociedade emerge por vontade dos scios, por isto que o contrato plurilateral

    complexo, organizatrioestrutura da pessoa jurdica que nasce.Os scios quando celebram o contrato, e com as suas vontades convergentes

    (declaraes de vontade)que nasa uma nova pessoa/ uma nova entidade jurdica.

    Seco IIConceito de Empresa e Tipos de Sociedades Comerciais

    1) Conceito de Empresa

    A empresa a clula base da economia moderna. Tratando-se de matria

    essencialmente comercial, a determinao do conceito de empresa faz-se recorrendo ao

    art.230. CCom. Este exclui diversas situaes do conceito de empresa. Do elenco de

    empresas apresentado, ressalta a conjugao de factores de produo (pessoas e bens), o

    exerccio de actividades econmicas nos diversos sectores e a existncia de um

    complexo organizacional estvel.

    Logo, o legislador no nos d uma definio de empresa, mas fornece elementos

    para o intrprete indutivamente elaborar esse conceito. Com os elementos fornecidos,

    podemos elaborar um conceito de empresa comercial.

    Empresa organizao de pessoas e bens que tem por objecto o exerccio de

    uma actividade econmica em economia de mercado.

    Coutinho de Abreuempresa a unidade jurdica fundada em organizao de

    meios que constitui um instrumento de exerccio relativamente estvel e autnomo de

    uma actividade de produo para a troca.

    Conceito decompe-se em 4 elementos da empresa: organizacional, pessoal,

    patrimonial e teleolgico.

    Toda a empresa pressupe uma organizao dos factores de produo (pessoas

    e bens) com vista ao exerccio de uma actividade econmica.

    Esta organizao dever ter um padro hierrquico e uma certa estabilidade

    temporal, isto , no se pode esgotar num acto.

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    O que caracteriza a empresa o facto de a clientela ser atrada pela organizao

    e no concretamente pela pessoa que presta servio. A mesma actividade pode ser

    desenvolvida de forma artesanal ou empresarial.

    No elemento pessoal compreendemos quer o empresrio e os investidores de

    capitais, quer os trabalhadores.

    Qualquer destas entidades tem interesse no desenvolvimento e xito da empresa,

    seja para rentabilizao dos capitais investidos, seja para a promoo pessoal,

    estabilidade e retribuio do trabalho.

    A empresa, na concepo institucional que defendemos, deveria ser o centro de

    confluncia dos interesses do capital e do trabalho.

    Do elemento patrimonial da empresa faz parte o conjunto de bens afectos

    respectiva actividade econmica, que compreende nomeadamente instalaes,

    equipamentos, matrias-primas, processos de fabrico, marcas, patentes, etc.

    Esta unidade econmica de bens corresponde normalmente a um

    estabelecimento comercial, mas bem pode acontecer que uma empresa integre mais do

    que um estabelecimento. No h empresa, sem estabelecimento. Mas pode haver

    estabelecimento sem empresa, quando ele pertence a um pequeno comerciante, no

    empresrio.

    A empresa uma instituio, enquanto o estabelecimento uma universalidade,

    objecto de um direito de propriedade.

    O elemento teleolgico da empresa o exerccio de uma actividade econmica

    em ambiente de economia de mercado.

    Para alguns, esta actividade econmica tem de ser exercida com uma finalidade

    lucrativa. A empresa pressupe uma finalidade econmica qualificada: a realizao de

    uma vantagem patrimonial.

    O que qualifica a actividade econmica da empresa uma gesto com

    autonomia financeira segundo princpios de economicidade de modo a permitir uma

    convivncia com outros agentes econmicos em ambiente de economia de mercado.

    Podemos concluir que a definio apresentada, corresponde noo econmica

    de empresa, assim como se ajusta s empresas do art.230. CCom.

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    No obstante termos adoptado uma concepo institucional da empresa, o estado

    actual do direito no nos permite atribuir personalidade jurdica empresa, como tal.

    Tem de haver uma entidade personalizada que esteja ligada empresa por um feixe de

    direito e obrigaes, ou seja, a situao jurdica que emana da empresa como realidadejurdica.

    Esta entidade pode ser uma pessoa fsica ou uma pessoa colectiva. O art.230.

    CCom refere a existncia de empresas individuais e empresas colectivas.

    Nas empresas individuais, o empresrio , em princpio, um comerciante em

    nome individual que explore uma actividade econmica sob a forma empresarial, mas

    pode ser tambm uma sociedade unipessoal por quotas.

    No primeiro caso, todo o patrimnio do comerciante responde perante os

    credores. O estabelecimento comercial no constitui, para esse efeito, um patrimnio

    autnomo com um regime especial de responsabilidade por dvidas e, muito menos,

    limitativo da responsabilidade.

    Assim, no s os bens afectos ao estabelecimento respondem, em igualdade de

    circunstncias, por todas as dvidas do comerciante, ainda que no comerciais, como,

    tambm, o restante patrimnio no afecto ao comrcio responde pelas dvidas

    comerciais relacionados com o estabelecimento.

    Porm, o comerciante em nome individual pode limitar a sua responsabilidade

    utilizando uma estrutura jurdica da empresa que se designa por Estabelecimento

    Individual de Responsabilidade Limitada (EIRL).

    Empresas Colectivas so aquelas que esto ligadas a uma estrutura jurdica

    dotada de personalidade colectiva. O empresrio no essa estrutura jurdica, mas

    aquela ou aquelas pessoas que promoveram a sua constituio ou asseguram a sua

    direco e suportam os riscos financeiros da lea da actividade econmica.

    2) Tipos de Sociedades Comerciais

    Como podemos ver pelo art.1., as sociedades que tenham por objecto o

    exerccio de uma actividade comercial, tm de adoptar um dos tipos previstos. Vigora

    aqui o Princpio da Tipicidade ou do Numerus clausus.

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    O princpio da tipicidade consagra um limite liberdade negocial, mas as

    sociedades podem adaptar-se s necessidades e condies concretas de cada projecto

    empresarial. Ou seja, existem normas imperativas, mas tambm dispositivasart.9./3.

    As sociedades que tenham exclusivamente por objecto a prtica de actos nocomerciais, podem adoptar um daqueles tipos, ficando sujeitas lei comercial. So as

    sociedades civis sob forma comercial.

    Sociedades em Nome Colectivosociedades de responsabilidade ilimitada. Os

    scios podem responder pessoalmente com todo o seu patrimnio pelas dvidas da

    sociedade, depois de esgotado o patrimnio de esta (art.175./1).

    So sociedade de pessoas, pois o factor pessoal tem um papel fundamental, at

    porque todos os scios so solidariamente responsveis perante terceiros pelas dvidas

    da sociedade. A sociedade fechada, pois as partes sociais s podem ser cedidas com o

    consentimento unnime dos scios (art.182./1), e mesmo a transmisso mortis causa

    no automtica (art.184.).

    Vantagem: mais fcil acesso ao crdito, por causa da responsabilidade ilimitada

    dos scios.

    Sociedades por Quotas Caracterstica Principal: Elasticidade do regime

    jurdico, isto porque tem um grande nmero de normas dispositivas, que podem ser

    afastadas pelos estatutos, ajustando a sociedade s necessidades concretas de cada

    empresa, nomeadamente aproximando-as das sociedades de pessoas dificultando ou

    impedindo a transmisso das quotas, ou aproximando-as das sociedades de capitais,

    com livre transmissibilidade das quotas.

    So sociedades de responsabilidade limitada. Os scios no respondem pelas

    dvidas da sociedade, salvo se se constiturem garantes, mas so solidariamente

    responsveis pela realizao integral do capital social.

    Sociedades Annimas Sociedade de Capitais pura (aces livremente

    transmissveis, embora a transmisso de aces nominativas possa estar sujeita a

    restries).

    Tipo caracterstico de empresa de maior dimenso. O capital mnimo de

    50.000 e dever ter pelo menos 5 accionistas. Os accionistas respondem apenas pela

    realizao das aces de que so titulares.

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    A sua estrutura orgnica mais pesada.

    Sociedades em Comandita Tipo misto, em que existem scios de

    responsabilidade ilimitada (os comanditados) e scios de responsabilidade limitada (os

    comanditrios). Podem ser em comandita simples, ou em comandita por aces.

    Seco IIIA Personalidade Jurdica e a Capacidade de Direito

    1) A Personalidade Jurdica

    Guilherme Moreira colocava em questo a personalidade jurdica das sociedades

    comerciais, nomeadamente das sociedades em nome colectivo, por no haver uma

    separao absoluta de patrimnios. Esta questo est ultrapassada com a redaco do

    art.5., relativamente s sociedades regularmente constitudas.

    No entanto, existem problemas que se podem suscitar no perodo em que esta

    inicia a sua actividade social, antes do registo definitivo da sociedade. Alis, aquando

    do acto de constituio da sociedade, possvel haver entradas em espcie, isto ,

    atravs da transmisso de bens a favor de esta, para exerccio da sua actividade, em

    escritura pblica outorgada imediatamente da constituio. O Art.40. prev esta

    possibilidade, sendo que no n.2 vm os actos condicionados ao registo da sociedade.

    Independentemente da atribuio da personalidade jurdica, antes do registo

    definitivo poder existir um patrimnio autnomo com personalidade judiciria ( art.6.

    alnea a) CPC).

    Os credores pessoais dos scios, apenas podero penhorar as respectivas

    participaes sociais a partir do momento em que as sociedades adquirem personalidade

    jurdica. Pelas dvidas da sociedade, responde apenas o patrimnio social.

    A sociedade adquire personalidade jurdica a partir do seu registo definitivo na

    Conservatria do Registo Comercial, passando a ser susceptvel de direitos e obrigaes

    e a ter capacidade de direito.

    Outra consequncia de adquirir personalidade jurdica, a existncia de um

    patrimnio prprio que no se pode confundir com o capital social.

    A personalidade jurdica um conceito absoluto, enquanto a capacidade de

    direito relativa, isto , pode ser medida.

    2) A Capacidade de Direito

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    A capacidade de direito das sociedades comerciais est delimitada ao seu

    objecto (art.160. do CC).

    H que distinguir o objecto mediato (realizao dos lucros), do objecto imediato

    (a actividade comercial concreta que a sociedade se prope exercer).O Princpio da Especialidade do Fim limita a capacidade jurdica das pessoas

    colectivas aos actos necessrios ou convenientes prossecuo do seu fim (art.160.

    CC), e s tem aplicao no objecto mediato, sendo que o objecto imediato apenas serve

    para limitar os poderes de representao dos administradores, e s verificadas

    determinadas condies.

    Se o acto for uma liberalidade (acto gratuito, sem querer publicitar a sociedade,

    ou promover a sua imagem), nulo por falta de capacidade da sociedade, mesmo que

    aprovado e ratificado pela Assembleia-Geral. Se visar o lucro, ou quiser publicitar,

    promover, j no nulo.

    Se no respeitar o objecto imediato (actividade social estatutria), j no estamos

    perante a incapacidade da sociedade, mas dos limites aos poderes de representao dos

    administradores, rgos da sociedade (art.6./4).

    Captulo IIA Limitao da Responsabilidade

    Seco IDelimitao do Conceito e Excepes

    As sociedades so sempre de responsabilidade ilimitada, isto , sendo pessoas

    jurdicas vigora de pleno o princpio da responsabilidade de todo o patrimnio

    (art.601. do CC). O que limitada a responsabilidade dos scios perante a sociedade

    e os credores.

    Nas sociedades annimas, os accionistas apenas respondem pela realizao das

    entradas correspondentes s aces que subscreveram (art.271.).

    Nas sociedades por quotas, para alm da realizao das suas entradas, em caso

    de realizao parcial do capital social, os scios podero responder solidariamente pela

    libertao das entradas dos outros scios (art.197./1).

    Nas sociedades em nome colectivo, temos uma responsabilidade pessoal e

    ilimitada dos scios (art.175./1).

    So inmeras as excepes ao princpio da limitao da responsabilidade nas

    sociedades comerciais, podendo estas resultar dos estatutos ou da lei.

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    1) Excepes Estatutrias

    a) Scios garantes da sociedade - Art.198.

    Permite-se a estipulao no pacto de uma garantia dos scios pelas dvidassociais, solidria ou subsidiria, mas sempre limitada a certo montante. Os scios

    funcionam como fiadores da sociedade at certo montante, com direito de regresso,

    salvo estipulao em contrrio.

    Finalidade deste instituto permitir um maior acesso ao crdito devido

    garantia dos scios, sem necessidade de se constituir a sociedade com o capital superior

    s suas necessidades funcionais.

    b) Prestaes suplementares

    So obrigaes dos scios de entradas em dinheiro, para alm do capital social

    (sociedade por quotasart.210.).

    O interesse vincular os scios nos estatutos realizao de entradas para alm

    do capital social, sob pena de excluso, naquelas situaes em que se antev, no

    momento da constituio da sociedade, a possibilidade de o capital social se tornar

    insuficiente, para a realizao do objecto social. No se quer constituir com um capital

    mais elevado, mas que teria de ser realizado no prazo mximo de 5 anos (art.203.).

    c) Obrigaes de prestaes acessrias

    O contrato social pode impor a todos ou a alguns dos scios a obrigao de

    efectuarem prestaes para alm das entradas (sociedades por quotas e annimas).

    Podem ser dinheiro, bens, ou servios, podendo ser gratuitas ou onerosas

    (art.209. e 287.).

    Serve para vincular os scios a suprir eventuais insuficincias do capital social,

    quando o seu objecto for suprimentos.

    2) Excepes Legais

    a) Responsabilidade do scio nico

    A unipessoalidade no causa de dissoluo automtica da sociedade, mas

    propcia confuso de patrimnios, e a abusos que podem dar prejuzo aos credoressociais, uma vez que no h mais scios para controlar os actos de administrao.

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    O legislador estabelece uma responsabilidade agravada para o scio nico: em

    caso de falncia da sociedade, ele responder ilimitadamente pelas obrigaes sociais

    contradas (art.84./1).

    A violao do Art.270.-F implica a responsabilidade ilimitada (art.270./4).

    b) Responsabilidade dos administradores

    Arts.72. e ss.(aplicvel a todas as sociedades)

    Quando os administradores com a sua conduta provoquem prejuzos sociedade,

    podero responder ilimitadamente por estes, ainda que a sua responsabilidade, como

    scios, perante a sociedade seja limitada.

    Os administradores no exerccio das suas funes esto sujeitos a

    responsabilidade civil, criminal e de mera ordenao social (arts.509. e ss. e arts.227. e

    228. - casos de insolvncia dolosa ou por negligncia).

    c) Responsabilidade dos scios que nomearam os administradores

    O art.83. responsabiliza os scios que designaram os administradores, desde

    que tenha havido culpa na sua escolha (culpa in eligendo), bem como aqueles scios

    que tendo poder para os destituir, os tenham pressionado a tomar tal conduta. A

    responsabilidade desses scios solidria com a dos administradores.

    d) Desconsiderao da personalidade jurdica

    A doutrina e a jurisprudncia criaram a figura geral e abstracta da

    desconsiderao da personalidade jurdica, atravs da qual possvel atingir os

    patrimnios individuais dos scios em situaes de abuso funcional do instituto. Trata-

    se de situaes de responsabilidade pessoal dos scios que no esto previstas

    directamente na lei.

    Estas situaes podem-se reconduzir a 2 tipos (Menezes Cordeiro):

    a) subcapitalizao a sociedade constitui-se com um capital social

    manifestamente insuficiente para a actividade social que se prope exercer, ainda que

    com recurso a financiamento externo. Os scios recorrem a suprimentos ou a prestaes

    suplementares.

    b) disfuno ou abuso da personalidade jurdicascios utilizam o meio tcnico

    da personalidade jurdica exclusivamente para beneficiarem da limitao dapersonalidade jurdica, sem terem como finalidade principal o exerccio da sua

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    actividade social. Serve-se da sociedade em proveito prprio, pagando as suas despesas

    e investimentos pessoais.

    e) Abuso de maioriaUm dos casos de desconsiderao da personalidade jurdica prevista na lei.

    Quando uma maioria de scios toma uma deliberao no sentido da obteno de

    vantagens ou benefcios em proveito prprio ou de terceiros, mas em detrimento da

    sociedade ou da minoria, essa deliberao no s susceptvel de anulao (art.58./1

    alnea b)), como os scios que tenham formado essa maioria respondem solidariamente

    para com a sociedade ou para com os outros scios pelos prejuzos causados (art.58./3).

    f) Direito Fiscal e Segurana Social

    g) Responsabilidade para com os credores da sociedade subordinada

    Nas sociedades em relao de grupo, como contrapartida pelo poder de dar

    instrues vinculativas Administrao da sociedade subordinada, a sociedade directora

    responde perante os credores da primeira (art.501.).

    h) Direito do Trabalho

    Captulo IIIAspectos Patrimoniais e Financeiros da Sociedade

    Seco IIO Capital Social

    1) A Constituio e a Salvaguarda do Capital Social

    O capital social deve constar dos estatutos (art.9./1 al.f)) e constitudo pela

    soma das subscries dos scios.

    Estas subscries podem no estar integralmente realizadas ou liberadas no

    momento da constituio.

    Funes do capital social:

    1A determinao da situao financeira da sociedade;

    2- A quantificao dos direitos dos scios;

    3A garantia de terceiros.

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    A situao lquida da sociedade (se tem ganhos ou prejuzos) afere-se em funo

    do capital social. Quer o direito aos lucros, quer o direito de voto, quer o direito a

    subscrio preferencial de aumentos de capital social, so atribudos em funo da

    percentagem de participao no capital social.O capital social a garantia comum dos credores. que o capital social figura

    no balano no lado passivo e a garantia dos credores certamente constituda pelo

    activo. Mas a afirmao tem sentido, dado o carcter imperativo da obrigao de

    realizao das entradas (art.27.), as garantias da sua realizao efectiva, podendo os

    credores subrogar-se sociedade (art.30.), e por outro lado, os princpios1 da fixidez e

    da intangibilidade do capital social, que impedem que os scios distribuam os activos

    necessrios para manter intacto o capital social, ou que reduzam este, para esse efeito,

    sem o consentimento, expresso ou tcito, dos credores.

    O capital social distingue-se do patrimnio, o qual constitui a garantia geral dos

    credores (art.601. CC).

    No momento da constituio da sociedade, o capital social teoricamente igual

    ao patrimnio. Teoricamente porque a sociedade tem despesas de constituio, como o

    art.19. permite que a sociedade assuma de pleno direito obrigaes decorrentes de

    negcios celebrados pelos fundadores em nome da sociedade a constituir durante o

    perodo de pr-vida da sociedade.

    Este sistema pode conduzir a abusos, nomeadamente se o patrimnio se

    encontrar substancialmente reduzido no momento do registo da sociedade, defraudando

    os credores quanto consistncia e garantia do capital social.

    Contudo, se as diferenas forem substanciais, tendo a sociedade funcionado

    muito tempo sem efectuar registo, a situao poder ser considerada abusiva e

    responsabilizar-se os scios, quer atravs do instituto do abuso do direito ( art.334.),

    quer atravs da desconsiderao da personalidade jurdica.

    Princpios:

    1) Princpio da Exacta Formao no momento da constituio, os scios

    devem realizar ou comprometer-se a realizar entradas de valor patrimonial equivalente

    ao do capital social. Para garantir este princpio, o legislador impede a subscrio de

    1Nas aulas prticas de Dto. das Sociedades Comerciais, pag.46. Ver pags. 43 e ss. Capital Social.

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    quotas ou aces abaixo do par, isto , por valor inferior ao seu valor nominal e

    regulamenta com extremo rigor a avaliao e a realizao de entradas de capital.

    2) Princpio da Fixidez no significa que o capital social no possa ser

    modificado, mas apenas que ele varia em funo das flutuaes do activo da sociedade.A garantia dos credores traduz-se ainda no facto de os credores se poderem opor

    reduo do capital social, ou obter garantias especiais, para alm de os scios no

    ficarem exonerados da realizao das respectivas entradas em caso de reduo.

    O art.46. permite que os estatutos confiram poderes aos administradores das

    sociedades annimas para aumentarem o capital social dentro de certos limites.

    3) Princpio da Intangibilidade ou conservao do capital social (art.32.)

    No permite que sejam distribudos aos scios bens da sociedade quando a situao

    lquida desta, for inferior soma do capital e das reservas que a lei ou o contrato no

    permitem distribuir aos scios ou se tornasse inferior a esta soma em consequncia da

    distribuio.

    Este princpio vai ter aplicao em vrios institutos das sociedades,

    nomeadamente: art.33., arts.95./1 e 3, art.131./1 alnea b), art.220. e 316. e ss.,

    art.322., arts.236. e 346., art.345., art.487., art.485..

    A lei estabelece um valor mnimo do capital social para as sociedades por

    quotas (5.000) e para as sociedades annimas (50.000). Todavia, estes mnimos legais

    continuam a ser manifestamente insuficientes para o exerccio da generalidade das

    actividades sociais e assiste-se frequentemente a um fenmeno de subcapitalizao, a

    qual no consiste apenas na insuficincia dos capitais prprios, mas na prpria

    incapacidade de financiamento no mercado do crdito.

    Na verdade, os scios tm vantagem em constituir a sociedade com capital

    insuficiente e depois emprestarem dinheiro sociedade, pois estes vencem juros e

    podem ser restitudos aos scios sem sujeio ao princpio da intangibilidade do capital

    social.

    Este comportamento tem por vezes, efeitos perversos, que so o de obrigarem os

    administradores e scios a prestarem garantias pessoais para a sociedade obter crdito,

    desvirtuando o regime de limitao da responsabilidade e convertendo, na prtica, as

    sociedades em sociedades em nome colectivo, no caso de todos os scios serem fiadores

    ou avalistas da sociedade, ou em sociedades em comandita, quando estas garantiaspessoais apenas so prestadas pelos administradores.

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    O legislador com o regime dos suprimentos, veio impedir alguns abusos e na

    doutrina e jurisprudncia alem, j se ultrapassa o vu da personalidade jurdica para

    atingir o patrimnio individual dos fundadores, quando estes tenham culposamente

    constitudo a sociedade com capital manifestamente insuficiente para a respectivaactividade social e essa insuficincia de capital tenha sido a principal causa da falncia

    da sociedade, com prejuzo para os credores, principalmente aqueles que no tinham

    obrigao de conhecer os meios financeiros da sociedade.

    At ao momento, estas teorias da desconsiderao da personalidade jurdica, por

    causa da subcapitalizao no tm vingado na jurisprudncia portuguesa.

    Seco IIIAs Reservas

    Numa definio restritiva, as reservas correspondem aos lucros de explorao e

    outras receitas que a sociedade delibera no distribuir a fim de reforar a sua situao

    financeira.

    Na definio extensiva, as reservas abrangem todo o aumento de valor do

    activo, o que inclui as chamadas reservas ocultas, que resultam nomeadamente de uma

    valorizao de bens do activo no contabilizada ou de um excesso de amortizaes.

    As reservas podem classificar-se em reservas obrigatrias (podem resultar da

    lei ou dos estatutos) e em reservas livres (criadas por deliberao da assembleia-geral).

    1) Reservas Obrigatrias

    a) Reserva Legal

    Impe-se para as sociedades (arts.218. e 295./1) a constituio de uma reserva

    legal equivalente quinta parte (20%) do capital social, mas nunca inferior a 2.500 nas

    sociedades por quotas (art.218./3), a constituir progressivamente atravs da afectao

    obrigatria a esse fim de uma percentagem no inferior vigsima parte (5%) dos

    lucros anuais da sociedade. Esta percentagem deve calcular-se com base no lucro

    distribuvel no exerccio deduzido dos resultados negativos transitados.

    No podem, por conseguinte, ser distribudos aos scios os lucros necessrios

    para constituir ou reconstituir a reserva legal (arts.32., 33. e 34.). A deliberao que

    aprove a distribuio de lucros com violao desta regra nula (art.69./3).

    A reserva legal constitui uma primeira barreira de proteco do capital social eda garantia dos credores, s podendo ser utilizada (art.296.):

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    - Para cobrir a parte do prejuzo acusado no balano do exerccio que no possa

    ser coberto pela utilizao de outras reservas;

    - Para cobrir a parte dos prejuzos transitados do exerccio anterior que no possa

    ser coberto pelo lucro do exerccio, nem pela utilizao de outras reservas;- Para incorporao no capital.

    b) Reservas Equiparadas reserva legal

    So as equiparadas aos seguintes valores (art.295./2):

    gios obtidos em quotas ou aces, obrigaes com direito a subscrio de

    aces, ou obrigaes convertveis em aces, em troca destas por aces e em entradas

    em espcie.

    Saldos positivos de reavaliaes monetrias que forem consentidas por lei, na

    medida em que no forem necessrias para cobrir prejuzos j acusados no balano;

    Importncias correspondentes a bens obtidos a ttulo gratuito, quando no lhes

    tenha sido imposto destino diferente, bem como acesses e prmios que venham a ser

    atribudos a ttulos pertencentes sociedade.

    As reservas equiparadas reserva legal s podem ter a mesma utilizao que

    referirmos para a reserva legal (art.295./2).

    c) Reservas Estatutrias

    Os estatutos podem estipular valores para a reserva legal superiores aos mnimos

    legais (art.295./1), ou podem vincular os scios constituio de reservas para fins

    determinados, ou, simplesmente estabelecer que parte dos lucros no so distribudos,

    desde que no afecte o direito dos scios distribuio peridica de lucros.

    A Assembleia-geral est obrigada constituio destas, salvo alterao dos

    estatutos pela forma legal.

    2) Reservas Livres

    A Assembleia-geral pode deliberar afectar os lucros a reservas livres, por razes

    de tcnica financeira, mediante proposta fundamentada da Administrao (art.66./2 f)).

    Esta deliberao tem de respeitar as maiorias (arts.217./1, 294./1), podendo

    colidir com os direitos dos scios distribuio peridica de lucros se no estiver

    devidamente fundamentada, e assim ser impugnada por abuso de maioria.

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    Captulo IVAs Sociedades Comerciais Irregulares (SA e SQ)

    1) Vcios do Contrato

    Tendo o acto constitutivo da sociedade natureza negocial, est naturalmentesujeito aos vcios que afectam os negcios jurdicos e contratos em geral. Mas, as

    caractersticas especiais do contrato de sociedade determinam excepes ao regime

    geral. O regime varia conforme o vcio do contrato ou do negcio jurdico seja

    verificado antes ou depois do registo.

    a) Antes do registo

    Enquanto o contrato de sociedade no estiver definitivamente registado, a

    invalidade do contrato ou de uma das declaraes negociais rege-se pelas disposies

    aplicveis aos negcios jurdicos nulos ou anulveis.

    A nulidade ou anulabilidade de uma participao no determina a invalidade de

    todo o contrato de sociedade, salvo quando se mostre que este no teria sido concludo

    sem a parte viciada (art.292. CC). Mas, a invalidade do contrato de sociedade s

    produz efeitos ex nunc, dando lugar liquidao da sociedade (arts.41./1, 52./1 e

    165.). Salvam-se assim, os negcios jurdicos concludos anteriormente declarao de

    nulidade ou de anulao do contrato social (art.52./2).

    Salienta-se que a invalidade decorrente de vcio de vontade ou de usura s

    oponvel aos demais scios, enquanto a incapacidade oponvel tanto a estes como a

    terceiros (art.41./2). Nesta conformidade, o incapaz no obrigado a completar a sua

    contribuio e pode reaver aquilo que prestou, enquanto nos outros vcios os scios

    tero de realizar ou completar as suas entradas se elas forem necessrias para satisfazer

    os credores sociais (arts.52./4 e 5).

    b) Depois do registo

    Os vcios da vontade e a usura so regidos pelo regime geral quanto sua

    verificao, no dando lugar anulabilidade, apenas conferem ao scio afectado o

    direito exonerao (arts.45./1 e 240.).

    A incapacidade de um dos scios d lugar anulabilidade parcial (art.45./2).

    Seria indesejvel que detectado o vcio a sociedade permanecesse numa situao

    instvel at caducidade da aco. Ento, o legislador confere a qualquer interessado afaculdade de interpelar o scio afectado para este exercer o seu direito de anulao ou

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    Uma vez que j h formalizao do contrato aplicam-se nas relaes internas, as

    disposies do pacto social e do CSC (art.37./1).

    Nas relaes externas, pelas dvidas contradas em nome da sociedade, responde

    em primeira linha o patrimnio social e depois respondem solidariamente eilimitadamente todos os que agirem em representao dela, bem como todos os scios

    que tais negcios autorizaram; os outros scios respondem at importncias das suas

    entradas, acrescidas das quantias que tenham recebido a ttulo de lucros ou distribuio

    de reservas (art.40./1).

    Mal se compreenderia que os credores sociais perdessem a garantia preferencial

    do patrimnio autnomo, que j existia antes do acto constitutivo.

    Por patrimnio autnomo entende-se todos os bens que na escritura de

    constituio foram transmitidos para a sociedade, bem como todos aqueles que em

    nome dela forem adquiridos ou que efectivamente foram postos em comum. Este

    regime no tem aplicao quando os negcios foram expressamente condicionados ao

    registo da sociedade e assumpo por esta dos respectivos efeitos (art.40./2).

    Aps a constituio definitiva da sociedade, esta assume retroactivamente de

    pleno direito os direitos e as obrigaes emergentes de negcios jurdicos concludos

    antes da celebrao do contrato de sociedade, que neste estejam especificados e

    expressamente ratificados, e os concludos aps o contrato ao abrigo da autorizao

    dada expressamente neste (art.19./1 al.c) e d)).

    VerArt.19./2, 3 e 4.

    Esta limitao particularmente gravosa para aqueles que agiram em nome da

    sociedade, porquanto esses negcios so precisamente aqueles que h vantagem em

    celebrar no perodo pr-vida da sociedade, dada a morosidade do processo de

    constituio.

    3) Sociedades de Facto

    Aquelas em que as prprias partes no sabem ao certo a figura jurdica que pauta

    as relaes econmicas duradouras que entre elas estabeleceram.

    H que averiguar se estamos perante um contrato de sociedade, e esto

    verificados todos os requisitos dos art.980. CC, ou se estamos perante uma figura afim.

    Se concluirmos pela existncia de um contrato de sociedade, aplicam-se nas

    relaes internas, as disposies que regem as sociedades civis (art.36./2). Nas relaesexternas, a sociedade s ter existncia se adoptar um dos tipos, sem o que no haver

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    aparncia de sociedade. Nesse caso, aplicar-se-o igualmente as disposies que regem

    as sociedades civis, mas todos os scios respondero solidria e ilimitadamente pelas

    obrigaes contradas nesses termos por qualquer deles (art.36./1 e 2).