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    SOCIEDADES COMERCIAIS  –  PROF. FRANCISCO BARONA  FDUCP 

    Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 1

    INICIAÇÃO À DISCIPLINA DE SOCIEDADES COMERCIAIS

    Que tipo de empresas se podem constituir como sociedades comerciais?

    Quando às empresas agrícolas é necessário atender ao art. 230º primeiroparagrafo do C.Com e ao art. 1º CSC.

    Quanto às empresas civis, não existe a obrigatoriedade de se constituirem como

    sociedade comercial, ao contrário do que sucede nas sociedades comerciais emque vigora o Princípio da Tipicidade: têm de adoptar um dos tipos previstos noart. 1º/2 CSC (para as sociedades civis esta constituição é facultativa). Nostermos do art. 1º/2 CSC vigora um numerus clausus: só podem ser adoptadosum destes tipos.

    Quem é titular de uma sociedade civil e a constitui sobre a forma comercial é

    comerciante?

    A lei permite que as partes optem por uma determinada forma jurídica, para

    beneficiarem deste tratamento, mas isso não quer dizer que seja assimsubstancialmente.

    ELEMENTOS A CONSTAR DO CONTRATO DE SOCIEDADE – ART. 9º

    1.  DEVE SER ADOPTADA UMA FIRMA – art. 9º/1 al. c)

    Nas SQ é necessário atender ao art. 200º que consagra que nestas sociedadestem de constar a abreviatura ‘’Lda. ou limitada’’. 

    Nas SA é necessário atender ao art. 275º que consagra que nestas sociedadesdeve constar a abreviatura SA.

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    Qual a importância das abreviaturas que devem constar nas SA e SQ?

    Para apurar a responsabilidade dos sócios pelas dívidas da sociedade.

    Quanto aos tipos de responsabilidade é possível distinguir entre:

      RESPONSABILIDADE LIMITADA: os sócios só respondem até ao limitedas suas entradas;

      RESPONSABILIDADE ILIMITADA: responde o património dasociedade e, solidariamente e ilimitadamente, o património dos sócios.

    Enquanto nas SQ há registo do valor de cada acção e de quem é o seu titular(isto nos estatutos), mas não se sabe se são sócios fundadores, só o sabendo

    através do registo comercial, nas SA nem nos estatutos nem no registocomercial se sabe quem são os sócios.

    2.  SEDE – art. 9º/1 al. e)

    A sede é onde a sociedade tem a sua direcção efectiva. É importante para efeitosde comunicação, para efeitos fiscais, para saber qual a nacionalidade da pessoacolectiva (art. 3º).

    No art. 12º/2 consagra-se a deslocação da sede. Quanto a filiais, sucursais, etc se

    não estiver previsto nos estatutos existe o art. 13º.

    Pretendendo mudar a sede para outro país é necessário atender ao art. 3º/5.

    Nos termos do art. 4º, uma sociedade estrangeira poderá, a qualquer tempo,estabelecer em Portugal uma agência, mas se quiser exercer aqui actividade pormais de um ano tem de instituir representação permanente sob pena de severificar a consequência prevista no nº2.

    NOTA:  O contrato social possui (1) uma vertente de constituição de uma

    sociedade; e (2) um conteúdo normativo: estatutos (na prática encontra-seseparado do contrato de constituição). Existem elementos obrigatórios eelementos facultativos.

    3.  OBJECTO CONTRATUAL – art. 9º/1 al. d)

    O objecto contratual assenta no conjunto de actividades que a sociedade podevir a desenvolver. É diferente do objecto efectivo constante no art. 11º/3 queconsagra que os sócios é que vão deliberar quais é que são as actividades que o

    sócio virá, efectivamente, a desenvolver.

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    A lei não admite que a sociedade desenvolva uma actividade que não estejacompreendida no seu objecto contratual: isto é um problema de capacidade. Oobjecto serve para delimitar a capacidade da sociedade. Se o acto praticado nãose encontrar compreendido no objecto social, a sociedade está a agir para além

    dos poderes que tem (mas há quem questione este entendimento e siga a teoriado fim).

    Uma sociedade só poderá adquirir participações sociais noutras sociedades setiver um objecto idêntico ao da sociedade adquirente e tem de ser umasociedade de responsabilidade limitada. Se assim não for é necessária umaautorização no contrato: não faria sentido que, sem autorização, a gerênciacomprasse uma sociedade com responsabilidade ilimitada e a sociedade seresponsabilizasse por esta.

    4.  CAPITAL SOCIAL – art. 9º/1 al. f)

    O capital social é necessário para a sociedade se poder desenvolver; é oresultado da soma do valor nominal das participações de cada sócio; é umacifra numérica, sendo necessário analisar o valor de cada entrada. É diferentedo património social.

    Subscrição é diferente de realização. Entende-se por subscrição o valor daparticipação de cada sócio na sociedade. Mas é preciso saber se for realizado: se

    entregou em dinheiro ou bens com valor à sociedade (espécie). Pode acontecerque se subscreva uma quota de 25 mil euros, mas só se entregue 20 mil euroos:neste caso ocorreu um diferimento no valor de 5 mil euros da entrada naconstituição: subscrição a crédito.

    A regra é que as entradas têm de ser realizadas no momento da constituição dasociedade, mas admite-se que assim não o seja. Tal coloca o problema se não sechegar a entregar o montante da entrada diferida e de se pode ocorrer umdiferimento total.

    Diferente das entradas em dinheiro são as entradas em espécie em que para segarantir que o valor do bem entregue corresponde ao valor nominal da entradaé necessário um relatório realizado por um revisor oficial de contasindependente nos termos do art. 28º. O valor do bem pode superar o valornominal, mas nunca poderá ser inferior, sob pena de se ter de pagar o difencialem dinheiro.

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    5.  MODELO ORGÂNICO

    Nas SQ existe uma gerência e uma assembleia geral (dentro desta um órgão defiscalização, sendo que este poderá ser facultativo). Quem faz a fiscalização da

    sociedade é o ROC (realizada a revisão de contas), sendo diferente do TOC(orgão contablistico).

    A gerência, nas SQ, pode ter um só gerente ou vários, nos termos do art. 252º,sendo estes ou designados no contrato social ou designados por deliberação dossócios. Os gerentes não têm de ser sócios. Se o contrato nada disser ou os sóciosnada deliberarem, nos termos do art. 253º, todos os sócios são gerentes. A razãode ser de tal assenta no facto de as SQ serem sociedades fechadas (‘’as pessoascontam’’) existindo um caracter pessoal, ao contrário do que sucede nas SA em

    que o capital sobrepõe-se ao elemento pessoal.Nas Sociedades de Pessoas, o elemento que prevalece são os sócios, o quelevaria a que estes respondessem solidaria e ilimitadamente (SNC). NasSociedades de Capital o elemento que prevalece é o capital, não respondendo ossócios (SA). As SQ são um misto. 

    Nos termos do art. 261º consagra-se a gerência plural nas SA: por exemplo,existindo 5 gerentes, a sociedade só se vincula com a assinatura de 3.

    Nos termos do art. 262º/6, a sociedade só poderá constituir mandatários paraactos pontuais, sem necessidade de tal constar no contrato social.

    NOTA: amortizar a quota é igual a extinção da quota.

    Quanto um sócio morre é necessário atender ao art. 225º que consagra aproibição dos pactos sucessórios, sendo necessário atender à existencia declausulas absolutas ou relativas de instransmissibilidade.

    MODO DE CONSTITUIÇÃO DE UMA SOCIEDADE

    i.  MÉTODO CLÁSSICO

    PASSO 1 - PEDIDO DE CERTIFICADO DE ADMISSIBILIDADE DE FIRMA: épreciso identificar o objecto, ou seja, qual a actividade a prosseguir. Se o pedidofor deferido é concedido o certificado e os constituintes têm 90 dias paraconstituir a sociedade, antes de caducar –  art. 45º do Registo Nacional dePessoas Colectivas. Ser-lhes-á atribuido um número provisório de identificaçãode pessoa colectiva – art. 15º RNPC.

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    PRINCÍPIOS QUANTO À ADMISSIBILIDADE DE FIRMAS EDEMONOMINAÇÕES:

      PRINCÍPIO DA VERDADE (art. 32º RNPC): não pode induzir em erro

    quanto à sua actividade, dimensão desta e dos seus titulares;

      PRINCÍPIO DA NOVIDADE (art. 33º RNPC): a lei nãi quer que duasfirmas que se dediquem à mesma actividade num mesmo ambitogeográfico sejam confundidas. É preciso ver em concreto. Se o âmbitogeográfico for diferente, podem ter o mesmo nome, porque não existiráconfusão. Se o ambito geográfico for diferente mas entretanto começarema disputar o mesmo mercado (tendo nomes iguais) estamos face a umacto de concorrência desleal.

      PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE

    PASSO 2 –  ELABORAR O PROJECTO DE CONTRATO DE SOCIEDADE:incluir as menções obrigatórias (art. 9º CSC, acrescido das menções obrigatóriasde cada tipo societário).

    Nas SQ já não existe capital social (leia-se valor nominal do valor das acçõessubscritas por cada sócio) minimo obrigatório. Já só há capital social minimo

    obrigatório nas SA (50 mil euros). Nos termos do art. 202º/4 consagram-se asentradas de capital social.

    Tem de existir um documento com reconhecimento presencial de assinaturas detodos os sócios fundadores nos termos do art. 7º se forem entradas em dinheiro.Se a entrada for em espécie, sendo um bem imóvel é necessária escriturapública ou documento particular autenticado. Este último caso, nos termos doart. 28º, é necessário um relatório de avaliação do bem por um ROCindependente. Se for uma SA, quanto ao capital social enquanto menção

    obrigatória, ou se declara que o dinheiro já deu entrada na sociedade ou quedará até ao fim do primeiro exercício social. Nestas sociedades há umcomprovativo de depósito do capital social e uma declaração dos sóciosconforme este está depositado numa numa instituição de crédito (com ocontrato de constituição da sociedade, esta ainda não se encontra constituída).Têm-se de se encontrar mencionados os órgãos sociais.

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    PASSO 3 –  REGISTO (art. 3º CSC): Poderá ser em qualquer conservatóriacomercial, uma vez que já não existe o princípio da teritorialidade.

    Não sendo feito o registo, a sociedade pode começar a trabalhar?

    Sim, se houver uma cláusula estatutária que preveja tal: a sociedade assumetodos os negócios que efectuar nesse período de tempo, são assumidos ipsoiure. Se não constar tal cláusula dos estatutos, só a Administração podeassumir, um a um, cada negócio celebrado pela sociedade nesse período detempo. E, neste segundo caso, existe responsabilidade ilimitada daqueles queagem em representação da sociedade – art. 19º RNPC. Só com o registo é que asociedade adquire personalidade jurídica (o registo é constitutivo!).

    PASSO 4 – DEFERIMENTO DO REGISTO: o conservador vai mandar publicar

    cópia e vai registar. Irá ainda comunicar tal ao RNPC e ao Fisco.

    ii.  EMPRESA DE CONSTITUIÇÃO ONLINE

    De um conjunto de firmas já cerificadas e minutas já pré estabelecidas pode-seescolher. Depois submete-se o pedido a verificação online. Indicam os sóciosfundadores. É constituída em 24 horas, sendo disponibilizado o código deacesso à certidão online. Quando haja entradas em imóveis não pode ser,porque tal exige maiores formalidades.

    iii. 

    EMPRESA NA HORA

    Online, loja do cidadão, RNPC. Existe liberdade quanto ao objecto e quanto àfirma. Se não quiserem nenhuma das firmas pré formatadas terão de seguir omodelo clássico. É necessário apresentar uma declaração quanto às entradaspara o capital social (se forem em espécie têm de apresentar o relatório doROC). As entradas têm de ser realizadas até 5 dias depois disto. Vão receber umcódigo de acesso à certidão permanente. Para saber qual a situação de umasociedade é necessário recorrer à certidão do registo comercial (pede-se no

    Registo Comercial). A certidão do registo comercial é um documento cópia doque consta de livros públicos passada por uma autoridade com fé pública,tendo a mesma força que o documento verdadeiro. Com o Simplex, as certidõesdo registo comercial, passaram a estar disponíveis online, mas no entanto épreciso possuir um códifo de acesso. Quer o número de segurança social, queras declarações para o fisco, são entregues na hora.

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    RESOLUÇÃO DE HIPÓTESES PRÁTICAS

    HIPÓTESE PRÁTICA I

    António, Bernardo e Carlos, tendo decidido abrir um ginásio  fitness, sob aformajurídica de uma sociedade comercial com um capital social de € 60000,00, pretendemsaber:

    a)  Quais os requisitos e formalidades que têm de respeitar no processo deconstituição da sociedade? Qual a forma mais rápida para podereminiciar aactividade social?

    Em primeiro lugar é necessário pedirem um ceritificado de admissibilidade defirma. Nos estatutos da sociedade devem constar as menções obrigatórias (art.9º) e menções facultativas (se o quiserem). Para iniciarem a sua actividade maisrápido, teriam de estabelecer uma cláusula nos estatutos que dissesse quedeterminados actos eram possíveis de praticar antes do registo. A sociedadeassume ipse iure a responsabilidade desses actos.

    b)  Terão que realizar algum capital mínimo, admitindo que as entradasserão todasem dinheiro?

    No presente caso estamos face a uma SQ, uma vez que se fosse uma SA, nostermos do art. 273º, seriam necessários pelo menos 5 sócios, salvo as excepçõesprevistas na lei (art. 273º/3 e art. 488º).

    Nos termos do art. 201º consagra-se o capital social quanto às SQ: o capitalsocial, no que respeita às entradas terá de ser realizado ou no momento daconstituição ou até ao fim do primeiro exercício; quanto às quotas, nos termosdo art. 199º al. b) o valor mínimo será igual ao valor das quotas.

    As entradas podem ser realizadas no momento da celebração da constituição dasociedade (podem ser realizadas até ao fim do primeiro exercício) ou podem serdiferidas (nos termos do art. 203º, sendo o regime diferente).

    Porque é que actualmente as SQ podem ser constituídas por 1euro e antes existia aobrigatoriedade do capital social ser 5 mil euros?

    O balanço representa o património da sociedade, e é isto que interessa aoscredores (depositadas na conservatória do registo comercial). Se nãoapresentarem dentro de 9 meses existe um indicio de insolvencia. Aproveita àsociedade aprovar as contas a tempo e depositá-las. O exercício coincide com oano civil, portanto após aprovação das contas devem ser depositadas até Março.

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    A exigência de um capital social mínimo era um entrave à constituição desociedades. Agora pode ser livremente definido, de acordo com o que asociedade necessitará para desenvolver a sua actividade. Se estabelecerem umvalor muito baixo, os credores ficariam muito desconfiados e não lhes

    concederiam crédito. As SQ são o tipo societário mais frequente em Portugal.

    c)  A que regime de responsabilidade estarão sujeitos pelo capital nãorealizado epelas dívidas sociais?

    Tendo em consideração o disposto no art. 197º é necessário distinguir duasrealidades diferentes:

      DÍVIDAS DA SOCIEDADE: a REGRA  é que só responde, peranteterceiros, o património social (art. 197º/3). A EXCEPÇÃO  assenta no

    facto de a lei admitir que no contrato de sociedade os sócios estipulemque os sócios respondem pelas dívidas sociais. Podem estipular como éque isto ocorrerá. Mas não se trata de uma responsabilidade ilimitada. Éobrigatório que seja estipulado um plafond, sendo que só assim haveráresponsabilidade. Caso o plafond não seja delimitado, não haveráresponsabilidade.

      DÍVIDAS DO SÓCIO PARA COM A SOCIEDADE: as entradas podemser realizadas no momento do contrato de sociedade ou ser diferidas.Neste último caso, os demais sócios podem ser chmados a responder

    pela entrada em falta de um sócio.

    Como funciona a responsabilidade nas SA?

    Nas SA só aprecem os sócios fundadores na celebração do contrato desociedade, pelo que havendo transmissão deixa de existir tal menção.

    Nos termos do art. 271º o sócio limita a sua responsabilidade ao valor dasacções que subscreveu. Não se responsabiliza nem pelas dívidas sociais nempelas entradas dos outros sócios.

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    HIPÓTESE PRÁTICA II

     José Firmino pretende constituir a sociedade “Joaquim Firmino- Agriculturabiológica,Unipessoal, Limitada”. Para este efeito, elaborou uma minuta dedocumentoconstitutivo, contendo as seguintes estipulações:

    Cláusula PrimeiraO capital social é de €500.000 

    CAPITAL SOCIAL: nos termos do art. 9ª/1 al. f) o capital social constitui umamenção obrigatória do contrato de sociedade, consistindo na cifra numérica devalor constante, em dinheiro, expresso em euros, correspondente ao patrimóniode constituição da sociedade, isto é, à soma de todas as participações sociais dossócios (art. 14º).

    Nos termos do art. 202º/1, nas SQ não admitidas participações de indústria(indústria enquanto qualquer serviço, de caracter económico, só podendo taisconstituir objecto de entrada nas SNC (art. 178º), estando excluidas nas SQ (art.202º/1) e nas SA (art. 277º/1).

    Nas SQ, o capital social forma-se exclusivamente com as entradas dos sóciossendo representado unicamente por quotas nos termos do art. 197º/1. Nostermos do art. 201º a lei estabelece relativamente às SQ um capital puramentesimbólico, de apenas 1 euro/sócio.

    Nos termos do art. 199º, no contrato de SQ constará sempre o montante dasquotas e a identificação dos respectivos titulares. O contrato tem de especificaro montante das entradas efectivadas com a celebração do contrato e dasentradas diferidas. As entradas deverão concretizar-se em dinheiro ou emespécie.

    Nos termos do art. 270º - A e ss estamos face a uma sociedade unipessoal porquotas, pelo que atendendo ao art. 270º - G remete para o regime dassociedades por quotas, salvo as que pressupõem a pluralidade dos sócios, maisconcretamente para o art. 199º.

    Cláusula Segunda A entrada do sócio é constituída pelo montante de € 100.000 em dinheiro e porumprédio rústico descrito na Conservatória do Registo Predial de Portalegre

    sob o nº 1234e inscrito na respectiva matriz predial sob o nº 5678.

    Tendo em consideração já o disposto nas cláusulas seguintes, o sócio fez umaentrada de 50 mil euros e diferiu os restantes 50 mil euros, além de uma entradaem espécie (prédio rústico) no valor de 400 mil euros.

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    Coloca-se a questão de saber se pode um sócio fazer uma entrada em dinheiro eem espécie e ficar com uma só quota – art. 219º/1. Ora, as entradas em espécietêm mesmo de ser realizadas no momento da constituição da sociedade. Nostermos do art. 25º/1 a entrada ou corresponde ao valor em dinheiro ou ao valor

    atribuído aos bens no relatório do ROC. Não pode haver uma quota mista. Temde ter duas quotas mas, posteriormente, poderá unificá-las. Além disso, omomento da entrada é diferente para dinheiro e em espécie nos termos do art.26º. Deste modo seria impossível saber quando é que a entrada foi feita.

    Cláusula TerceiraO sócio declara, sob sua responsabilidade, ter depositado já o montante de

    €50.000,00em conta aberta em nome da sociedade na Caixa de Crédito Agricolade Portalegre,comprometendo-se a completar a sua entrada assim que a

    sociedade necessitar.

    Nas SQ ou se realiza a entrada no momento da constituição da sociedade ou seestipula quando é que se o fará: art. 202º. Quanto às últimas, nos termos do art.203º, tem de ficar claro a data ou um facto determinado que tem de se verificarpara que o sócio realize a entrada. Tem até 5 anos para isso acontecer, se istonão acontecer é lhe exigida. Actualmente pode ocorrer o diferimento de todo omontante. Já não existe montante mínimo. No caso, o facto (‘’assim que asociedade necessitar’’) não é certo, pelo que a cláusula seria nula.

    Cláusula Quarta

    O prédio rústico referido supra tem o valor de €400.000 e será transferido paraasociedade no prazo de 30 dias a contar da presente data.

    Nos termos do art. 202º/4 e do art. 26º as entradas em espécie têm de serrealizadas no momento da constituição da sociedade, não podendo serdiferidas. Não pode sequer ser até ao fim do primeiro exercício social.

    Quanto aos bens que podem ser dados como entradas em espécie, têm de serbens susceptíveis de penhora nos termos do art. 20º. Mas só estes? Se um sócioquiser fazer de entrada um mero gozo de um prédio? Este é penhorável? Em

    rigor, o art. 20º devia estipular bens avaliáveis em dinheiro. O gozo de umprédio é avaliavel em dinheiro, mas a propriedade continua a ser doproprietario do prédio. E se lhe vir a ser impedido o gozo do prédio (porexemplo, atraves de uma acção de reinvindicação do bem intentada porterceiro)? Nos termos do art. 25º/4 consagra-se a consequência de tal. Assim,parece que pode haver uma entrada em espécie como esta do gozo de umacoisa. O sócio irá repor o dinheiro, se a sociedade ficar privada deste, portanto,isto não afecta a sociedade.

    No acto de constituição, o bem tinha de integrar o património da sociedade.

    Assim, o contrato de sociedade tinha de ser feito atraves de formalidadeespecial: escritura pública ou documento particular autenticado.

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    Cláusula Quinta A cessão de quotas é livre.

    Nos termos do art. 229º/2 permite-se que, no contrato de constituição da

    sociedade, se afaste o regime (supletivo) do art. 228º. Deste modo, os sóciospodem estipular que a cessão de quotas é livre.

    Cláusula Sexta A sociedade dissolve-se no prazo de dez anos a contar da presente data.

    Nos termos do art. 141º al. a) e do art. 15º, a sociedade pode ser temporária, ou seja nocontrato de sociedade as partes podem indicar uma duração para a sociedade e, findo oprazo, a sociedade dissolve-se.

    a)  Aprecie a pretensão de José Firmino, designadamente a procedência de

    umdocumento exclusivamente com este conteúdo.

    No presente caso estamos face a uma sociedade unipessoal por quotas, nostermos do art. 270º- B, podendo ser constituída, nos termos do art. 270º-A nº1por um sócio único, podendo este ser uma pessoa singular ou colectiva, caso emque estamos face a uma constituição originária, ou nos termos do nº2 quandoocorra a concentração na titularidade de um único sócio das quotas de umasociedade por quotas, caso em que estamos face a uma constituiçãosuperveniente.

    No presente caso, estamos face a uma constituição originária da sociedade,sendo que para tal se constituir é suficiente um documento particular escrito,com reconhecimento presencial de assinaturas do seu subscritor, se a obrigaçãode entrada não for realizada em bens que só sejam transmissíveis por escriturapública, caso em que o contrato deve revestir essa forma (art. 7º/1).

    A análise das cláusulas foi realizada anteriomente, pelo que se remete para lá.

    Em conclusão, com base no que foi exposto e na análise das cláusulas, oconservador deveria recusar o registo.

    b)  José Firmino contraiu, em nome pessoal, uma dívida no valor de €5000,00, quenão pagou na data do vencimento. Poderá ele oferecerprodutos biológicoscomo pagamento da dívida?

    Nos termos do art. 270º- F, os negócios celebrados entre o sócio único e asociedade devem servir a prossecução do objecto da sociedade. Quanto aosrequisitos formais devem ser, pelo menos e a não que a maior formalidade sejaexigida, celebrado por escrito. Se este e outros requisitos forem violados, onegócio é nulo.

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    Ou seja, o art. 270º- F relaciona-se com a auto contratação, na medida em quesalvaguarda a base patrimonial da sociedade unipessoal por quotas, impondouma certa transparência nas relações contratuais entre o sócio único e asociedade, a fim de os terceiros melhor podem fazer valer eventuais direitos

    contra aquela.

    Os negócios jurídicos entre o sócio e a sociedade unipessoal por quotas sãopossíveis uma vez que esta, tratando-se de uma pessoa jurídica distinta e emprincípio autónoma, não se confunde com o sócio único, devendo obeceder acertos requisitos.

    Os Requisitos são de três tipos:

      DE CARACTER MATERIAL: compatibilidade com a prossecução do

    objecto da sociedade;

      DE CARACTER FORMAL: imposição de forma escrita, se outra formamais solene não for prescrita por lei para o contrato em causa;

      DE CARACTER PUBLICITÁRIO: apresentação conjunta dosdocumentos de que consta o contrato com o relatório de gestão e dosdocumentos de prestação de contas para consulta, a todo o tempo, porqualquer interessado, na sede da sociedade.

    Na hipotese há prossecução do objecto social? Ora a dívida é contraída emnome pessoal. A sociedade não pode pagar dividas contraidas em nomeindividual dos sócios, nos termos do art. 197º/3. O Princípio da Autonomia doPatrimónio Social leva a que o património social só responda por dívidas sociaise que o património individual dos sócios não responda por dívidas sociais. Seassim não fosse, estariamos a violar o Princípio da Personalidade das PessoasColectivas. Admite-se uma excepção a isto nas Sociedades Unipessoais, porquese admite uma maior confusão entre estas entidades (sociedade e sócio), mas,apenas, se for para prosseguir o objecto da sociedade.

    Note-se que quando às sociedades unipessoais por quotas, o legislador criouum regime especial de apertado controlo e transparência que visa permitir aoscredores sociais a verificação do respeito pelo Princípio da Separação dePatrimónios, visando precaver possíveis abusos ou favorecimento do sócioúnico em detrimento da sociedade, sancionando a sua violação com aresponsabilidade ilimitada do sócio.

    O risco que se pretende acautelar é o da confusão do património pessoal dosócio com o património da sociedade, uma função de protecção das sociedadesunipessoais por quotas e dos seus credores relativamente a possíveis actos

    prevaricadores do sócio único.

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    Promove-se a separação de patrimónios entre a sociedade e o sócio e garante-sea cognoscibilidade desses actos por terceiros, que poderão aceder a elementosde informação sobre a situação patrimonial da sociedade.

    HIPÓTESE PRÁTICA IIIAníbal, Bruno, Carlos, Dionísio e Ernesto pretendem constituir asociedadedenominada “Velocidade, SA” que se dedica à comercialização deveículos automóveis,com um capital social de 15.000,00, constituído por trêsmil acções, cada uma comvalor nominal de 5€, sendo Aníbal e Bruno titularesde 1.000 acções, cada, Carlos de500 acções e Dionísio de 500 acções. A entradade Ernesto será constituída pelo seutrabalho como vendedor. Por não teremdisponibilidade imediata, foi diferida arealização de €12.000 do valornominal das entradas em dinheiro, sendo, todavia, ocapital totalmenterealizado no prazo máximo de cinco anos. De todo o modo, ficoudeterminado

    que Aníbal e Bruno responderiam pelas obrigações sociaissubsidiariamenteem relação à sociedade. Acordaram ainda que a sociedade seriaorganizadacom um conselho de administraçao e um conselho geral.

    a)  Perante estas estipulações, como deve proceder o conservador doregistocomercial?

    No presente caso estamos face a uma SA, nos termos do art. 271º e ss, maisconcretamente do art. 275º/1. A atribuição das acções aos sócios é feita atravésda subscrição de cada um.

    Nos termos do art. 277º/1 consagra-se que - tal como sucede nas SQ (art.202º/1) e ao contrário do que sucede nas SNC (art. 178º) – não são admitidascontribuições de indústria, apenas se admitindo entradas em dinheiro ou emesécie.

    RAZÃO DA EXCLUSÃO DE CONTRIBUIÇÕES DE INDÚSTRIA ENQUANTOFORMA DE ENTRADA NAS SA: seria muito dificil aferir o seu valorpatrimonial. Para além disso, estas entradas de indústria não contam para aformação do capital social, porque sendo as SA de cariz capitalista e anónimas,

    a lei resolveu abolir por completo as entradas de indústria. É uma razãos maisprática do que dogmática. É claro que um dos sócios poderá realizar funções detrabalhador ou administrador na sociedade, mas não contam como entradas.

    Nas SA permite-se um diferimento (desde que haja acordo de todos os sócios)de até 70% do valor das entradas.

    QUERELA: Cada sócio tem de realizar 30% da sua entrada ou é do global quese pode diferir 70%? E se o sócio que diferiu não fizer, depois, a entrada? NasSA não há responsabilidade solidária..

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    Uma SA constituída com o capital social mínimo (50 mil euros) pode ter as suasentradas diferidas?

    Nas SQ previa-se 5 mil euros como capital social minimo e dizia-se que se

    permitia o diferimento de entradas, desde que estivesse cumprido o capitalsocial minimo obrigatório. Havia quem entendesse que devia aplicar-seanalogicamente o disposto para as SQ às SA. Mas isto desapareceu e, assimsendo, já não há muito apoio na lei para continuar a defender isto.

    b)  Imagine que depois de formalizarem esta sociedade e antes dorespectivoregisto, Aníbal comprou, em nome da sociedade, 3 veículosautomóveis aErnesto, devendo o preço ser pago em cinco prestações de

     €500.000 cada.Entretanto foi constituída e registada a sociedade; estaresponde pelo preçoperante Ernesto? Se a compra tivesse dio feita

    antes da celebração do contratode sociedade a sua resposta seria amesma?

    A hipótese em análise versa sobre o problema das sociedades irregulares. Associedades irregulares não têm personalidade jurídica, mas constituempatrimónio autónomo. A questão é saber se este património pode assumir asobrigações anterior à sua própria personificação. As sociedades irregularesestão sujeitas a um regime muito especial, porque podem ser liquidadas.

    A lei trata as sociedades que não existem e as sociedades irregulares de formadistinta. Quanto às sociedades irregulares, os actos não são imputáveis àsociedade, porque esta não vai existir? Então a quem se imputam?

    Sob a designação genérica de sociedade irregular abarcam-se realidades muitodistintas, podendo existir as seguintes situações:

      Em que os sócios não quiseram constituir sociedade nenhuma equiseram começar a actividade comercial;

      Os sócios que já celebraram o contrato, mas não fizeram o registo e já

    começaram a dar alguns passos para a actividade comercial;

      Os sócios já acordaram na constituição da sociedade, já pediram ocertificado de admissibilidade de firma, mas ainda não fizeram ocontrato de constituição de sociedade, mas já iniciaram a actividade.

    Os casos de sociedades irregulares estão sujeitos ao art. 970º e ss CC. Umasociedade irregular está sujeita a liquidação, porque não foi observada a formalegal. O que é que se faz a essas obrigações que vão sendo criadas quando aindanão há, pelo menos, o contrato de sociedade celebrado?Nos termos do art. 36º/2

    consagra-se a situação em que já existe acordo dos sócios quanto à constituiçãoda sociedade e já existe acordo para iniciarem a actividade.

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    A sociedade já tem certificado de admissibilidade de firma e número provisóriode pessoa colectiva. Esta norma imputa os negócios aos sócios. No art. 36º/2 alei manda aplicar as regras das sociedades civis: os sócios respondem solidária eilimitadamente pelos actos praticados pela sociedade –  todos os negócios, não

    distinguindo a lei aqui, entre os que representam a sociedade e os que não.Contudo, podem opor ao credor o beneficio de excussão prévia, ou seja, sórespondem os seus bens depois de responderem os bens da sociedade. Esteartigo é diferente do art. 172º que manda liquidar a sociedade. Pode sucederque os sócios já tenham dado mais um passo em frente e já tenham celebrado ocontrato mas ainda não tenham feito o resto: mesmo tendo existindo inicio deactividade, a sociedade só se constitui verdadeiramente com o registo, pelo queainda não há sociedade e, nesse caso, rege o art. 40º.

    Verdadeiramente só temos uma sociedade irregular nos casos do art. 172º, nos

    outros casos temos uma sociedade preliminar (art. 36º) e no outro, umasociedade em formação (art. 40º).

    As sociedades irregulares podem surgir ou porque desenvolvem umaactividade em comum que devia, de acordo com o Princípio da Tipicidade,revetir a forma de uma actividade comercial ou porque não cumpriu aobrigação de adoptar um dos tipos de sociedades comerciais. A consequência éa de entrada em liquidação, nos outros casos temos uma situação materialmentediferente, porque os sócios querem, de facto, constituir a sociedade e, por isso,temos de saber como é que esses contratos de sociedade, celebrados antes do

    contrato ou do registo, vão ser regulados.

    Pode até acontecer que os sócios querem, de facto, constituir a sociedade einciiam logo a actividade, mas iniciam-na e vêem que vai dar mau resultado enão chegam sequer a celebrar o contrato de sociedade e abandonam o projectode constituição da sociedade ou nem registam: a quem se vão imputar osnegócios celebrados a uma sociedade que nunca existiu? A resposta não ésimples, mas a lei prevê no art. 19º a forma de imputar os negócios que vãosendo praticados ao longo do processo se formulação da sociedade à mesma.Ou seja, imputam-se à sociedade.

    No caso, temos um contrato de sociedade que foi celebrado entre o contrato e oregisto. O Anibal comprou ao Ernesto, em nome da sociedade; o Ernesto sabeque a sociedade não existe, porque não está registada e não pode constituirdireitos e obrigações sem mais. O legislador equilibra estas duas posições.

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    Há aqui um problema de antecipar para um momento em que neme xistia umcontrato de sociedade e imputar uma personalidade. Esta norma de retroacçãodos efeitos existe para proteger os credores que já estão a contar que nessenegócios vão responder não os sócios, mas sim a sociedade, por isso, tem de ser

    estendida a solução não só aos casos do art. 40º, mas tambem aos do art. 36º/2(sociedade preliminar).

    A lógica do art. 19º/3 é a de exonerar as pessoas, desde que a sociedade venha aassumi-las. E se se aplicar ao art. 40º não há nenhuma razão para não se aplicarao art. 36º/2: há que fazer uma interpretação extensiva.

    Nas Sociedades em Formação (art. 40º) há ou não essa responsabilidade subsidiária ouhá beneficio de excussão prévia?

    Há um aspecto importante, porque as sociedades civis têm responsabilidadeilimitada e sem personalidade jurídica aqui não há sociedade, há umpatrimónio autónomo. Nas sociedades em formação, para haver umpatrimónio, tem de haver, também, um património autónomo já formalizado e,portanto, faz sentido que se para a sociedade preliminar existe umaresponsabilidade autónoma, por maioria de razão, também há para a sociedadeem formação.

    O contrato de sociedade é diferente da sociedade preliminar, uma vez que nestahá acordo para a sua constituição e já podem ter entrado em acordo. Casos em

    que a sociedade se vem a constituir, mas não foram cumpridos os requisitos doart. 19º.

    PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA: admite o benefício de excussão prévia aoart. 40º.

    As sociedades irregulares podem existir quando:

      Os sócios acordam a sua constituição, mas mudam de ideias;  Os sócios iniciam a sua actividade, mas mudam de ideias;

     

    Os sócios fazem o contrato, mas por alguma razão desistem (ex: recusado registo).

    Quando é certo que a sociedade não se irá constituir a sociedade torna-seirregular!

    Aplica-se o art. 36º/2 e o art. 40º, fazendo aqui sentido dizer que, tanto no art.36º/2 como no art. 40º, os sócios têm o benefício de excussão prévia. Nestaaltura, as entradas já foram realizadas.

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    SOCIEDADE PRELIMINARart. 36º/2

    SOCIEDADE EM FORMAÇÃOart. 40º

    Actos praticados antes do contrato deconstituição. Tanto se aplica quer nãovenha a haver sociedade, quer venha ehaja assumpção voluntária.

    Actos praticados depois do contratode constituição e antes do registo.

    c)  Aníbal alienou as suas acções a Bruno e abandonou a sociedade emOutubro de2009. QuidJuris?

    Anibal pode alinear as suas participações sociais? Sim. Livremente? Sim. Emqualquer momento? Se não tiver havido registo, é necessário que todos ossócios concedam a sua autorização –  art. 37º/2. Se já tiver havido registo da

    sociedade, então, pode transmitir as suas acções livremente (nas SA vigora oPrincípio da Livre Transmissibilidade, em contraposição com o que se passa nasSQ). Nos termos do art. 464º/3 (concretização da regra geral do art. 142º)quando se fala em ‘’via administrativa’’ tal cabe à Conservatória do RegistoComercial.

    HIPÓTESE PRÁTICA IV

    António Terras , sócio da Sociedade “Durasempre” transmitiu à sociedade, atítulo deentrada, em suporte digital, os seus conhecimentos técnicos sobre siliconesemateriais de impermeabilização para imóveis. No pacto social tinhaficadoestabelecido que “sempre que fosse necessário” ele fariademonstrações aostrabalhadores da empresa. Porém, quando a sociedade oinstou a fazê-lo, ele nãocumpriu. Quid iuris?

    No presente caso estamos face a uma entrada em espécie, ou seja não se trata deuma entrada em dinheiro, mas sim avaliável em dinheiro (≠ contribuição deindústria).

    A especificidade das entradas em espécie assenta no facto de não poderem serdiferidas, terem de ser realizadas até à constituição da sociedade e terem de seravalidas através de um relatório elaborado por um ROC independente (art.28º/1), ou seja, quem não trabalhe na sociedade nem venha nesta a trabalhardurante dois anos (art. 28º/2).

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    Nos estatutos poder-se-ia consagrar esta estipulação (“sempre que fossenecessário ele faria demonstrações aos trabalhadores da empresa’’), sendo estauma obrigação acessória (= negócio pluricausal) e não principal (a obrigaçãoprincipal do sócio é a obrigação de entrada). As obrigações acessórias têm o

    conteúdo que os sócios estipularem e seguem o regime do negócio que estiverna sua base, independentemente de um regime que exista para estas. Nestecaso, trata-se de uma prestação de serviços.

    Coloca-se a questão de saber como é que a sociedade renumera o sócio por estaprestação. Independentemente dos lucros da sociedade, a prestação do sóciotem de ser remunerada, mas existem limites.

    Quando o sócio não cumpre esta obrigação, o incuprimento pode dar apossibilidade, à sociedade, de exigir a sua prestação (via judicial), mas isso não

    afectará a posição do sócio na sociedade, ou seja, não será excluído dasociedade (o que acontece quando o sócio não realiza a sua obrigação deentrada).

    Se o sócio emprestar dinheiro à sociedade (segue o regime dos suprimentos,apesar de ser uma obrigação acessória) o conteúdo pode seguir o regime dossuprimentos ou das obrigações suplementares. É precivo ver qual o conteúdopara ver qual o regime que seguirá.

    Nas Sociedades por Quotas em cada momento sabe-se quem são os sócios da

    sociedade, portante, sabe-se que tem de cumprir as obrigações acessórias. NasSociedades Anónimas só se sabe quem são os sócios da sociedade no momentoda sua constituição, pelo que nestes casos nos termos do art. 299º/2 a lei obrigaa que as acções sejam nominadas quando: (1) o titular esteja obrigado a realizarprestações acessórias à sociedade; (2) quando há restrições à transmissibilidadedas acções; e (3) quando as entradas são diferidas.

    Note-se que as acções nominativas traduzem o facto de nelas constar o nome dosócio; na transmissão têm que existir o endosso. Para além da entrega e doendosso, tem de constar do livro de registo das acções da sociedade, sabendo-se

    em cada momento quem é o sócio.

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    HIPÓTESE PRÁTICA V

    A sociedade Infosoft- Serviços e Produtos Informáticos, S.A. contém aseguinte cláusulanos estatutos:

    “Um- As acções da classe A deverão ser integralmente realizadas no prazo detrês anos.

     Dois- As acções da classe B deverão ser integralmente realizadas no prazo decinco ano

    Três- As entradas respeitantes às acções da classe C (acções ordinárias)deverão serintegralmente cumpridas em sete anos, conforme as disponibilidades dosrespectivostitulares “  

    Admitindo que a sociedade foi constituída há cinco anos, e que os accionistasserecusam a realizar o capital subscrito, o que deverá fazer a administração eo quepoderá suceder aos accionistas que se recusarem a realizar o capitalsubscrito.

    No presente caso estamos face a uma Sociedade Anónima nos termos do art.271º e ss, mais concretamente do art. 275º/1.

    Quanto ao regime das Sociedades Anónimas, de acordo com a lei, as entradasem dinheiro estipuladas no contrato de sociedade não podem ser diferidas porum prazo superior a 5 anos (art. 285º/1). Na cláusula 3 da hipótese em análiseestipula-se que as acções em causa deverão ser cumpridas em 7 anos, pelo quecomo a lei preve um maximo de 5 anos, estacláusula não seria possível. Assimsendo, quando passassem 5 anos da celebração do contrato de sociedade, esta jápodia exigir as entradas dos sócios.Note-se que as categorias de acções encontram-se consagradas no art. 302º e ss:os direitos podem ser gerais ou especiais. Se só forem atribuídos direitos geraisentão as acções são ordinárias; quando existam direitos diferentes é preciso

    formular uma categoria autónoma

    Se os sócios se recusarem a realizar as suas entradas ao fim de 5 anos possui osseguintes mecanismos a fim de ver a sua pretensão satisfeita:

      MECANISMO 1: Pela via judicial, até porque, muitas vezes, é feita aentrada através de um título ou de uma livrança e, assim sendo, asociedade já tem um título executivo para intentar a acção.

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      MECANISMO 2: nos termos do art. 285º/2, sendo regra geral tanto paraas Sociedades Anónimas como para as Sociedades por Quotas (art. 204º),o sócio só entra em mora quando a sociedade o interpela para ocumprimento da obrigação. Esta interpelação tem de ser feita através de

    um anúncio em que a sociedade fixa um prazo entre 30 a 60 dias para ocumprimento, sendo que a partir do qual o sócio, se não tiver realizado asua prestação, entra em mora (é diferente de não ter realizado a suaentrada em tempo devido), tendo consequências no seu estatuto nasociedade: não poderá receber os lucros da sociedade nos termos do art.27º/4, podendo existir compensação em relação aos lucros devidos deum exercício, mas não quando o sócio tenha outro direito quanto aquelasociedade nos termos do art. 27º/5. O sócio fica privado dos direitos aoslucros (art. 21º/1 al. a)). Não tendo cumprido no prazo estipulado pelasociedade, e consequentemente, estando o sócio em mora, coloca-se a

    questão de saber o que poderá a sociedade fazer: nos termos do art.285º/4 a sociedade concede ao sócio em mora um novo prazo para queeste efectue o pagamento da entrada acrescida dos juros, sob pena deperder as suas acções para a sociedade (interpelação admonitória). Aqui,passa a ser considerado um sócio remisso, ou seja, ou paga ou fica sujeitoa ser excluído. Note-se e relembrando os conhecimentos adquiridos emDireito das Obrigações: remissão enquanto perdão de dívida e remiçãoenquanto resgatar. Passado o prazo sem cumprir a sociedade delibera asua exclusão, sendo precisos os três actos referidos para que venha a serexcluido. Contudo, continuando a entrada por realizar o que é que a

    sociedade poderá fazer para recuperar a parte do capital social que aindanão foi realizada? Nos termos do art. 286º existe uma responsabilidadesolidária daqueles sócios que antecederam aquele na titularidade dasacções, pois não há responsabilidade solidária dos sócios nas SociedadesAnónimas. Prevê-se, assim, as situações em que durante os 5 anos doprazo do diferimento da entrada haja a transmissão das acções, pois nãopode ser a sociedade a ficar com o prejuízo. Se os antecessores nãotiverem património suficiente ou se não existirem antecessores procede-se à venda das acções o que consubstancia um mecanismo extra judicial(art. 286º/4). Atente-se ainda à hipótese consagrada no art. 286º/5

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    Imagine-se agora que em vez de se tratar de uma Sociedade Anónimaestavamos face a uma Sociedade por Quotas: se o sócio não cumpriu as suasentradas o que poderá a sociedade fazer?

    MECANISMO 1: via judicial.MECANISMO 2: nos termos do art. 203º/3 e 204º consagra-se uma viainterjudicial, ou seja o sócio só entra em mora depois de ser interpelado pelasociedade. A sociedade exige a realização da entrada num determinado prazoque pode variar entre 30 a 60 dias. Se o sócio pagar a sua entrada nesse prazo,não existe qualquer problema. Se o sócio não realizar a sua entrada nesse prazoa sociedade faz uma nova interpelação para pagar até mais 30 dias, sob pena deficar sujeito à exclusão e à perda total ou parcial da quota em favor da

    sociedade tornando-se sócio remisso.Nos termos do art. 251º al. c) e d) o sócio remisso não poderá votar nadeliberação assente na sua exclusão ou na perda total ou parcial da sua quota:encontra-se impedido de votar, uma vez que existe um conflito de interesses.Pode participar na Assembleia, mas não pode votar ou o seu voto não pode sercompatiblizado.

    Sendo o sócio excluido da sociedade coloca-se então a questão de saber como éque a sociedade vê realizada aquela entrada que se encontra em falta. Para

    responder a esta questão será necessário analisar o art. 205º e as soluções que eleconsagra quanto a este problema:

      SOLUÇÃO 1: poderá ocorrer a venda da quota do sócio excluído emhasta pública

      Se alguém pagou o valor integral, não arremata o valor total eainda há parcela em divida ou não aparece ninguém o que poderáa sociedade fazer? Há responsabilidade solidária dos antecessores

    titulares da quota. Se tal, mesmo assim, não for o suficientedemanda-se os outros sócios nos termos do art. 207º. Aresponsabilidade solidária dos antecessores e dos demais sócios éum meio complemantar. Sendo a responsabilidade solidária, osoutros sócios podem, a seguir, ir demandar, em via de regresso, osócio que não cumpriu a sua entrada. O que interessa é que asociedade não saia prejudicada. Note-se que tanto o art. 206º(responsabilidade do sócio e dos anteriores titulares da quota) e oart. 207º (responsabilidade dos outros sócios) são meioscomplementares à venda da quota.

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    Os sócios podem obrigar-se, perante terceiros, a uma determinadaconduta. Mas os terceiros têm de ter um real interesse na vida societária– fala-se em sócios futuros. O seu interesse é, pois, garantir a sua posiçãofutura. Se algum dos sócios alienar a sua participação na sociedade,

    quem a adquirir não fica, logo, submetido a este acordo. PROBLEMA:limitação de intervenientes nos acordos parassociais

      CLÁUSULA MERAMENTE ESTATUTÁRIA: vinculam não só os sóciosmas tambem os gestores que integram a sociedade naquele momento eainda todos os que venham a integrar a sociedade.

      ≠ CLÁUSULA FORMALMENTE ESTATUTÁRIA:  na forma, sãoestatutárias, mas o seu conteúdo é parassocial. Estas só vinculamos sujeitos que, naquele momento, integram a sociedade.

    Exemplo: cláusula que a lei não admite –  não vale comoestatutária, mas podem fazer valer como parassocial.

    Nos termos do art. 17º/2 não se pode estipular sobre o exercício de funções daadministração ou da fiscalização, uma vez que o legislador quis garantir que osórgãos de administração e fiscalização (art. 28º) sejam independentes face aosinteresses particulares dos sócios (o legislador quis impedir que através de umacordo parassocial não se cumprissem um dos deveres fundamentais dasociedade: deve-se prosseguir o interesse da sociedade   o que é o interessesocietário?). Não se bastou com a exigência de que prossigam o interesse social

    (art. 64º) mas declara estas clásulas nulas. E seria nula uma cláusula queestipulasse que os sócios se empenhariam (e não que garantiriam) em que osadministradores, por si nomeados iriam seguir uma determinada política por sidesignada: isto não é uma obrigação de resultado (como seria se estivesseestipulado que se obrigavam e, nesse caso, haveria incumprimento e o sócioteria de indemnizar os outros), mas a ratio da previsão parece englobar estascláusulas: obrigação de meios também é proibida (exemplo: ‘’sócioscomprometem-se a desenvolver os seus melhores esforços para (…)’’ – obrigação de meios que é proibida)

    PROF. FRANCISCO BARONA: o art. 17º/2 parece querer proibir quer asobrigações de resultado quer as obrigações de meios. Quer-se prevenir que nãoexista pressão assumida contratualmente pelos sócios quanto a estas matériasde modo a garantir a imparcialidade do órgão de administração e defiscalização.

    Nos acordos parassociais só se pode disciplinar sobre o direito de voto? Não,também se pode disciplinar sobre suprimentos e outras coisas!

    Nos termos do art. 17º/3 al. c) as vantagens especiais não podem ser concedidas

    pela sociedade, mas podem ser concedidas por outros sócios.

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    Nos termos do art. 17º/3 al. a) e b) são nulos os acordos em que os sócios seobrigam a votar de acordo com instruções da sociedade ou um dos seus órgãos(exemplo: ‘’sócio A vincula-se a votar positivamente todas as propostas feitaspela Administração ou pelo órgão de Fiscalização’’: cláusula nula). Mas se as

    instruções forem de outro sócio não há problema. Caso contrário, haveria umainversão de distribuição de competência: a função das AG ficava esvaziada deconteúdo – o legislador quer evitar que seja o órgão de administração a mandarna sociedade e nos próprios sócios.

    Nas SA a competência para deliberar sobre matérias de gestão é do órgão degestão, a não ser que este órgão peça aos sócios para deliberarem, casocontrários essas decisões são inválidas. Nas SQ os sócios podem deliberar sobrequalquer matéria. A AG é soberana.

    Ou seja, os sócios devem fiscalizar as decisões. Exemplo: em matéria parassocialque seria proibida em matéria estatutária. Nas SA trata-se de direitos especiaisque têm de ser atribuídas às acções, mas não aos sócios. Tornavam-se ascláusulas meramente parassociais.

    CONSEQUÊNCIA DA VIOLAÇÃO DE UMA CLÁUSULA PARASSOCIAL:Responsabilidade Civil por Violação do Contratual. Nos termos do art. 17º/1parte final não é susceptivel de impugnação.

    No caso, se existisse um acordo parassocial e eles chegassem à altura de votar e

    violassem o acordo parassocial qual era a competência? Pode haver execuçãoespecífica do acordo parassocial nos termos do art. 17º/1. No entanto, no casodo voto, o que se trata é de sócios votar num sentido contrário àquilo que estavaprevisto e não se poder pedir a anulação da votação. Ora, na execuçãoespecífica o que o tribunal vai fazer é substituir-se ao sócio que incumpre narealização da prestação devida, ou seja, o tribunal teria de considerar que odireito de voto seria exercido no sentido que estava estipulado no acordoparassocial, por isso, a execução específica só faz sentido antes da deliberaçãoter sido tomada ou em deliberações já tomadas, mas que ainda não produziramefeitos. Se já votou não pode ser impugnado, mesmo havendo violação do

    acordo parassocial. Uma declaração só é inválida se violar ou estatutos ou à lei.

    A execução específica, a ser possível, exige que o acto em causa não sejainfungivel, o voto é fungivel, mas para que o art. 830º CC possa ter lugar sópodemos pensar em deliberações que ainda não foram tomadas e nãoproduziram os seus efeitos, fora disso já estamos numa área de impugnação deuma acto societárfio que o art. 17º/1 não permite.Quanto às declarações de nãocumprimento ou que ainda não produziram efeitos existe uma divergênciadoutrinal:

     

    PROF. GRAÇA TRIGO: admite tal;  DOUTRINA EM GERAL: equivale à impugnação.

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    Pode considerar-se que existe aqui uma alternativa? Ou seja, tanto a sociedadecomo o sócio sozinha têm legitimidade para intentar a acção (sendo certo que onº3 do art. 257º funciona não só nos casos do direito especial à gerência)? Aquestão coloca-se com alguma pertinência quando a sociedade tem 4 sócios e 3

    deles nomeiam ‘’E’’ para gerente, mas depois 1 quer destitui-lo. Se for para AG,os 3 votarão contra e só depois é que se propoe a acção (meio subsidiário), istose for o sócio que quer a destituição do agente –  tem de passar primeiro pelocrivo da sociedade ou pode passar directamente para o nº4 e intentar a acção? Onº4 consagra um meio subsdiário ou alternativo? – QUERELA DOUTRINÁRIA

    Segundo a JURISPRUDÊNCIA MAIORITÁRIAas faculdades do nº3 e nº4 doart. 257º são faculdades alternativas. Mas a lógica das acções dos sócios contra asociedade é a de só se admitir que o sócio intente uma acção contra a sociedadeuma vez que estejam esgotadas as vias societárias para resolver o assunto.

    Quando o sócio intenta a acção contra a sociedade, se o tribunal lhe der razão,isto inverte a lógica das forças de poder dentro da sociedade, porque setemos amaioria dos sócios a votar contra a destituição do gerente, também faz poucosentido que o sócio (que detém a minoria do capital) por uma via externa váconseguir o mesmo resultado –  daí dever ser entendido como um meiosubsidiário.

    Se fosse um meio subsidiário, o sócio só poderia intentar a acção se a AG odecidisse intentar. Contudo, o nº4 do art. 257º não faz depender de nenhumadeliberação da AG. A ideia de ser um meio subsidiário faz sentido em situações

    em que não há maioria na sociedade para tomar essa resolução. Se houvermaioria já não se justifica que o sócio comece, logo, a agir sozinho –  lógica dosistema.

    Através da letra do art. 257º/3 e 4 parecem ser alternativas. Mas é dificil que osócio consiga apurar se já justa causa –  isto será feito pelo tribunal. Se aresolução for tomada em AG, define-se logo e o sócio gerente ou impugna essaresolução (porque também é sócio) ou discute-se em tribunal.

    HIPÓTESE PRÁTICA VIII

    Os sócios querem conceder a Camilo, titular de uma quota correspondente avintecinco porcento do capital social, um direito de voto duplo. Quid juris?

    Nos termos do art. 250º/1, a regra geral do voto é a de que que conte um votopor cada cêntimo do calor nominal da quota. Nos termos do art. 250º/2 a leiconsagra que pode ser concedido o voto duplo, ou seja, o voto vale o dobro. Aparticipação social para votar é una: segundo o PRINCÍPIO DA UNIDADE DEVOTO é necessário votar com a participação toda.

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    Quando, nos termos do art. 250º/2, a lei fala em ‘’não correspondam a mais de 20%do capital’’ como é que tal deve ser interpretado?

      PRIMEIRA INTERPRETAÇÃO: quando a lei estabelece o limite dos 20%

    podemops dizer que são 20% do valor da quota e, portanto, se ele temuma quota de 25% a cláusula estatutária que previsso este duplo voto énula!

      SEGUNDA INTERPRETAÇÃO: é possivel dizer que se ele tem umaquota de 25% vai-se contabiulizar o voto duplo até ao limite dos 20% e,quanto ao excedente votaria normalmente.

      TERCEIRA INTERPRETAÇÃO (na sequência da segunda): para saber sepoderia haver redução era preciso saber qual teria sido a vontade das

    partes. É a quem seriam atribuidos oss5%.

    O problema mais delicado está em saber se esse limite dos 20% diz respeito àquota ou aos votos. No limite, não se pode votar com mais de 20% do capitalsocial.

    Se se disser que os 20% é um limite à quota, significa que se ele tem 20% podeser-lhe atribuido um voto duplo e votava com 40. Mas se se referirem aos votosnão se pode dar voto duplo, porque senão estaba a dar-se-lhe muito mais.

    PROF. FRANCISCO BARONA: a lógica do preceito é de que os 20% sereferiram ao valor dos votos e não do capital social. Isto devido ao próprio teorda letra da lei quando diz ‘’no total’’ (no total do voto duplo) e devido à razãode ser da norma: atribuir maior direito de voto aos sócios com menorparticipação social (apesar de não ter mais lucro, têm mais peso nas AG –  SÓNAS SQ‼), mas não levar a uma alteração da estrutura decisória da sociedade.Nas SA o voto é político (contam-se os que estão presentes). Assim, um sóciocom uma participação social pequena passa a ter um grande peso (se os quetêm muito capital social não aparecerem) –  art. 348º.Em suma, no caso, acláusula estatutária que previsse tal seria nula, por violação de uma norma

    imperativa. Não era possível atribuir-lhe o direito especial de voto duplo,porque ele tinha mais de 20% logo não podia ser. Ele não podia votar com 45%porque não se pode dividir a participação social.

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    HIPÓTESE PRÁTICA IX

    A sociedade “ Belohorizonte, Lda” com capital social de € 250.000,00 contémumacláusula nos estatutos que determina que “os lucros líquidos apurados

    pelo balançosão aplicados nos seguintes termos: 10%, no mínimo, para ofundo de reserva legal,enquanto não estiver preenchido ou for necessárioreintegrá-lo, e o restante paradistribuição entre os sócios ou qualqueraplicação votada pela assembleia geral, a qualpoderá deliberar a absoluta nãodistribuição de lucros.

    a)  Calcule o lucro distribuível e diga qual é o seu destino provável se seapurar, nascontas de exercício de 2011, que o valor do património socialé de €350.000 eque houve um aumento patrinomial de €50.000relativamente a 2010.

    CAPITAL SOCIAL: é uma cifra numérica e há-de corresponder à soma dasparticipações sociais. Mas pode haver sócios de indústria e pode acontecer queum sócio tenha dado como entrada um valor superior ao valor nominal da suaentrada. É, pois, uma cifra numérica que serve como ponto de referência parasaber se a sociedade teve lucros ou perdas, porque é por referência ao capitalsocial que vamos apurar se a situação liquida da sociedade ficou acima ouabaixo do património social.

    PATRIMÓNIO SOCIAL: envolve um conjun to de relações jurídicas activas epassivas que compoe o fundo da sociedade.

    PATRIMÓNIO ILIQUIDO: fala-se, outras vezes, de património para designar ochamado património bruto ou patrimonio iliquido. Tem-se em vista o conjuntode direito avaliaveis em dinheiro, pertencentes a uma pessoa, abstraindo,portanto, das obrigações.

    PATRIMONIO LIQUIDO/SITUAÇÃO LIQUIDA/CAPITAL PRÓPRIO: opatrimónio por só não mede a efectiva riqueza de uma empresa. A empresapoderá estar a um passo da falência ou totalmente endividada, embora osnúmeros do seu património sejam elevados. Na verdade, é necessário conhecera riqueza liquida da pessoa ou empresa: somamse os bens e os direitos e, dessetotal, subtraem-se as obrigações. O resultado é a riqueza liquida, ou seja, a parteque sobra do patrimonio para a pessoa ou empresa.

    PATRIMÓNIO LIQUIDO = BENS + DIREITOS

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    LUCRO DE EXERCÍCIO: diferença entre a situação liquida no inicio doexercicio e o valor da situação liquida no final do exercicio. Normalmente, olucro do balanço coincide com o lucro do exercicio. Isso pode nao acontecerquando haja prejuizos transitados de um exercicio para o outro ou quando haja

    necessidade de satisfazer a reserva legal. Nesses casos, parte do lucro deexercício tem necessariamente de ser afectado, o que é logo uma disparidadeentre o lucro de exercicio e do balanço, porque verdadeiramente o que édistribuivel é o lucro do balanço.

    LUCRO DE EXERCICIO ≠ LUCRO DISTRIBUIVEL

    LUCRO DE BALANÇO: apura-se desde o inicio da actividade da sociedade atéuma determinada data –  é uma fotografia da sociedade desde o momento dasua constituição até ao momento actual; corresponde a vários exercícios. Tem

    de se ter em atenção os exercícios passados  é este o lucro distribuivel!

    LUCRO DISTRIBUIVEL: só haverá lucro distribuivel quando o activo dasociedade for superior à cifra do capital social e da reserva social, sendo queantes disso não poderá haver distribuição de quaisquer dividendos ou entregade quaiquer bens aos sócios. A tal se opoe o princípio da intangibilidade docapital social, que apenas permite distirbuir o que não for preciso para cobrirexercicios passados, integrar reservas legais ou o capital social.

    TIPOS DE RESERVAS

    i. 

    RESERVAS LEGAIS: só podem ser utilizadas ou para cobrir prejuizos oupara aumentar o capital;

    ii. 

    RESERVAS ESTATUTÁRIAS: são aquelas que os sócios prevêem nosestatutos

    iii. 

    RESERVAS LICRES DE LUCROS: não são distribuidas aos sócios.

    PRINCÍPIO DA INTANGIBILIDADE DO CAPITAL SOCIAL: significa que não

    pode haver distribuição de bens aos sócios, quando em resultado dessadistribuição a situaçao liquida da sociedade ficasse inferior. Trata-se de umagarantia para os credores. Claro que a intangibilidade do capital social nãoimpede que a sociedade tenha perdas, mas isso os credores conseguem avaliarpelas contas da sociedade; o que não está nas mãos dos credores é obrigar ossócios a deliberar, a meio do ano, a distribuição de bens necessários paracompor o capital social e as reservas. O Capital Social funciona, assim, comouma cifra de retenção.

     

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    É em função do capital social que se define a estrutura de poder dentro dasociedade, porque nas relações entre os sócios o peso de cada um deles define-se em função da percentagem que cada um dele stem no capital social: servepara definir a estrutura de forças dentro da sociedade.

    Como são afectados os lucros?

    i. 

    PREJUÍZOSii.  RESERVAS

    iii.  DISTRIBUIR AOS SÓCIOS (art. 31º a 33º)

    Para serem distribuidos os lucros tem de existir uma deliberação dos sócios (emAG – anual), mas não é logo aqui que se faz a distribuição. Todos os sócios têmdireito aos lucros nos termos do art. 21º/1 al. a) e 22º. Não se pode estabelecer

    que só participem nos lucros ou que só participem nas perdas porque talconsubstancia o pacto leonino, proibido nos termos do art. 22º/3. Contudo,pode-se graduar em que percentagem é que cada sócio participa nos lucros enas perdas.

    Os sócios deliberam, anualmente, em AG, a distribuição dos lucros. Passa achamar-se dividendos (quantia em dinheiro que o sócio pode pedir à sociedadeconforme o exercício desse ano). Forma-se, com a deliberação, na esfera de cadasócio, um direito de crédito do sócio contra a sociedade. Trata-se de um direitoindividual, logo imune às deliberações sociais. Isto quer dizer que a sociedade

    não poderia depois deliberar não distribuir: direito extra corporativo. O sóciofica com o direito e pode exigir à sociedade que cumpra o direito de crédito.Esta terá um prazo para o fazer.

    Quando a sociedade se constitui a sua cifra é 0 (activo- passivo =0). Mas quandocomeça a desenvolver a sua actividade, o valor do seu património pode irvariando, podendo acontecer existirem perdas. Estas perdas transitam para oano seguinte e são reflectidas nas contas do ano seguinte. O lucro do exercíciosó respeita aquele ano, mas este não será distribuível porque existemperdas/prejuízos do ano anterior que transitaram e que vão ser cobertos pelo

    lucros de exercício deste ano. Deste modo, se ainda sobrar alguma coisa é quehá lucro distribuível.

    ERRO: quando há lucro de exercício há lucro distribuível!

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    EXEMPLO PRÁTICO

    Imagine-se que uma sociedade no momento da sua constituição tem umcapital de 10 mil euros. No fim do primeiro ano de exercício tem uma situação

    liquida de 7 mil euros. Qual foi o resultado do exercício? 

    No primeiro ano existem prejuízos de 3 mil euros, pelo que não há lucrosdistribuíveis. A situação liquida é inferior ao momento do capital social: art.33º/1.

    Imagine-se que no ano 2 existe uma situação liquida de 8 mil euros? Há ounão lucro do exercício?

    A diferença entre a situação liquida no inicio do ano (7mil euros) e a situação

    liquida no fim do ano (8mil euros) faz com que a sociedade tenha um lucro doexercício de mil euros. Contudo, de acordo com as regras do art. 32º/1 os mileuros são usados para cobrir prejuízos do ano anterior que eram de 3 mil euros.Usando os mil euros, já só existem prejuízos no valor de 2 mil euros. Ainda nãohá lucro distribuível

    No ano 3 a sociedade tem uma situação liquida de 11 mil euros. Há lucro deexercício?

    Sim porque a diferença entre a situação liquida no inicio do ano (8 mil) e a

    situação liquida no fim do ano (11 mil). Fica-se com mil, tendo em consideraçãoque dois mil foram para os prejuízos. Desses mil euros, 5% dos lucros doexercício são para a reserva legal ate que esta perfaça 20% do capital social.Deste modo, aos mil euros retira-se 50 euros (5%) o que significa que já só setem 950 que corresponde ao lucro distribuível.Os 950 euros são também o lucrodo balanço: tendo em conta a situação da sociedade desde o momento da suaconstituição so tem isto.

     Basicamente é assim..

    CAPITAL SOCIAL: 10. 000 eurosSITUAÇÃO LIQUIDA: 0

    PRIMEITO ANO DE EXERCÍCIO: situação liquida de 7 mil euros

      O capital social é superior  Nesse ano teve prejuizos no valor de 3 mil euros

    (subtrai ao capital social e eventuais reservas)

    SEGUNDO ANO: 8 mil euros – lucro de exercicio – 2 mil euros de prejuizos

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      Art. 33º/1: não existe lucro distribuivel; é necessário cobrir os prejuizos!TERCEIRO ANO: 11 mil euros – lucro de exercicio= 3 mil euros

      2 mil euros para cobrir os prejuizos transitados (sobram mil euros)

     

    5% para a reserva legal (protecção de prejuizos futuros), nos termos doart. 218º, 295º e 296º.

     Como são calculados os 5%? 

    Existem duas vias:

    i. 

    Primeiro cobre-se a reserva legal: sendo a reserva legal correspondente a20% do capital social, se assim estiver já nada mais é preciso fazer; se não

    tiver é necessário retirar todos os anos 5% do lucro de exercicio.

    ii. 

    Primeiro cobrem-se os prejuizos: se se cobrirem primeiro os prejuizos,neste exemplo, aos 3 mil euros retiravam-se os 2mil euros. Sendo o valorda reserva de 50 euros existiriam 950 euros para serem distribuidos.

    A reserva legal, que tem um limite de 20%, tendo de ser integrada anualmentecom 5% do resultado do exercício (até atingir os 20%).

    RESULTADOS TRANSITADOS: são os valores vindos do ano anterior.

    Para se saber se existirem lucros é necessário fazer a diferença entre o capitalsocial e o património liquido: se for inferior ao capital social temos perdas; sefor superior temos lucros!

    Os sócios, na AG anual, aprovam as contas e é nessas contas que está qual é olucro do exercicio e qual é o lucro do balanço. Agora se há uma regra que dizque metade do lucro é distribuivel e a sociedade chegar e disser que nao querdistribuir o lucro, o que acontece?

     JURISPRUDÊNCIA E PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA: a cláusulacontratual em que vem previsto o direito ao lucro tem de ser sempre umaclausula para melhor, que preveja uma condiçao melhor e mais favoravel, poisos art. 217º e 294º estabelecem imperativos/patamares minimos.

    Em que circunstancia é que esta regra dos 50% dos lucros distribuiveis pode serafastada? Ninguem discute que metade dos lucros distribuiveis sãodistribuidos. Para o PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA, tendo por base o art.21º/1 al. a), o art. 217º e o art. 294º, 50% é um imperativo minimo e os sócios,quer atraves de uma clausula estatutaria, quer atraves de deliberaçao de

    maioria de ¾, não podem estabelecer um montante inferior.

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    Se existir uma deliberação que diz que não sao distribuiveis no ano X os lucros?Por exemplo, atraves de uma maioria de ¾ é deliberado distribuir lucros abaixode ¾, nao existindo clausula nos estatutos em contrario. Quid iuris?

     

    Acção em tribunal: deliberação anulada com efeitos retroactivos. Mas sea sociedade tiver uma razao justificativa (de acordo com o interesse dasociedade) tal não é inválido, apesar de não haver maioria de ¾.

      Caso a deliberação seja anulada com efeitos retroactivos é convocadauma nova AG. Se o sócio maioritario votar contra o que pode o sóciominoritario fazer?

    i.  Em primeiro lugar pede a anulação parcial da deliberação, emrelação à sua parte;

    ii.  Em segundo lugar, requer a execução específica contra asociedade da parte que lhe competiria nos lucros. O sóciomaioritario nao ira receber a sua parte dos lucros. Estes ficam nasociedade. E pode pedi-los mais tarde? Sim, num exercicioposterior, mediante deliberação nesse sentido.

     Se se pedisse a anulação da deliberação não se resolveria nada, porque o sóciomaioritário voltaria a votar da mesma maneira. A execução específica tambem

    não resolve, porque não se pode obrigar a receber quem não quer e, como hásócios que não querem a distribuição dos lucros, não se lhes pode impor umbeneficio que não querem. Por outro lado, tambem não se pode impedir aquelesque querem receber os dividendos de os receberem –  a regra supletivapermite-o.

    É necessário pedir uma anulação parcial da deliberação social e,simultaneamente, tem de se pedir ao tribunal a execução especifica na parcelaque cabe ao sócio que quer os lucros, ou seja, só quanto à parte que lhecompetia nos lucros distribuiveis.

    Esta sentença é constituiva, porque os sócios têm o direito ao lucro, mas têm-noem abstracto. Enquanto direito abstracto, este só se concretiza mediante umadeliberação societária e, só aí, se forma na esfera jurídica individual do sócio umdireito de crédito ao dividendo perante a sociedade.

    Esta é a única forma de resolver o problema: não pode ser a execução específicana sua globalidade.

    PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA: considera que a cláusula nos estatutos só

    pode ser para melhor e, por isso, deliberações destas seriam nulas por violaremo art. 217º e 294º.

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    PARTE DA DOUTRINA: há uma directriz no ordenamento de que, em todas associedades, a regra é a do funcionamento por maioria e, por isso, se a maioriadeliberar num certo sentido, deverá ser esse o sentido a adoptar.

    O único incoveniente quando à solução adoptada é o de arranjar maioriassuficientes e dar um destino diferente aos lucros e criar situações diferentes dossócios perante a sociedade: uns já receberam parte do capital e outros não. Alémdisso, há quem diga que pode ser mais dificil nao distribuir os tais 50% doslucros do que alterar um contrato de sociedade (aquilo que foi a base do acordode todos os sócios).

    Qual a lógica de tudo isto? Normalmente os sócios maioritários impediam adistribuição de lucros. Mas assim tambem não recebiam.. Contudo, na maioriados casos, os sócios maioritários desempenham funções de gestão e eram por

    isso remunerados. Para evitar que os sócios minoritários tivessem de intentaruma acção de anulação da deliberação abusiva, o legislador estabeleceu opatamar minimo dos 50%.

    ANÁLISE DO ART. 217º E 294º

      ART. 217º: os 50% dos lucros distribuiveis consubstanciam um minimorazoavel, havendo lucros. Trata-se de um limiar da sobrevivencia dosócio na sociedade.

     

    ART. 294º: quando se fala em clausula contratual o seu conteudo poderespeitar ao estabelecimento de distribuiçao de mais de 50% dos lucros. Epode estabelecer a necessidade de uma maioria mais reforçada para adistribuição dos lucros? Não, uma vez que tal dificulda a tomada dedecisão e paralisa a sociedade. Mas já seria possivel estabelecer umamaioria reforçada para nao distribuir a parte dos 50% que podia ou nãodistribuir.

    Exposta a teoria apliquemos agora tal ao CASO

    CAPITAL SOCIAL: 250. 000 EUROSPATRIMÓNIO SOCIAL: 350. 000 EUROS (2011)

    AUMENTO= 50.000 – SITUAÇÃO LIQUIDA DO ANO DE 2010

    2010 = 50. 000 EUROS; 10% (quanto à reserva legal: a lei estabelece 5% mas ossócios podem estabelecer mais) = 5. 000 EUROS

    45. 000 EUROS = LUCRO DISTRIBUIVEL E DE BALANÇO

    50. 000 EUROS = LUCRO DO EXERCÍCIO

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    A situação liquida no inicio do ano era de 300. 000 euros e no final do anopassou a ser de 350. 000 euros, logo, o lucro de exercício é de 50. 000 e o lucro debalanço é de 45. 000 e só este é distribuivel, sendo que a sociedade esta obrigadaa distribuir metade desse valor, ou seja. 22. 500 euros.

    A cláusula é válida? A cláusula é inovadora, nos termos em que preve 10% paraa reserva legal, mas no que diz respeito à segunda parte não diz nada, porque amaioria deliberativa limita-se a dizer aquilo que já resulta do art. 217º. Assimsendo, será valida se estiver cumprida a maioria deliberativa de ¾ do capitalsocial.

    A deliberação para a distribuição dos lucros é atraves de maioria simples. Nãose reune. Os sócios que queiram receber têm 30 dias para intenar acção deanulação parcial da deliberação (respeitante à parte que lhes compete) e

    requerer a execução específica. É preciso que o tribunal se substitua àsociedade!

    INFORMAÇÕES ADICIONAIS (QUE JÁ NÃO SE PRENDEM COM ARESOLUÇÃO DO CASO)

    A distribuição dos lucros necessita de uma deliberação em AG anual (que teráque ocorrer até 3 meses após o fim do ano de exercício –  31 de Março). Nassociedades que consolidam contas (nos grupos societários além da apresentaçãodas contas individuais é necessário apresentar as contas delas com as

    sociedades em que participam) o prazo é até 31 de Maio para a realização daAG anual: o órgão de fiscalização elabora o relatório de contas da sociedade,para este ser aprovado. Com a aprovação das contas existe uma segundadeliberação (a primeira deliberação respeita à aprovação do relatório de contas)quanto ao destino a dar aos lucros.

    A deliberação dos sócios quanto aos lucros é importante porque enquanto olucro estiver restringido aquilo que consta das contas (destas resulta um lucrode exercício distribuível), mas isso não faz gerar na esfera jurídica dos sóciosum direito a exigir a sociedade a distribuição dos lucros. É necessário uma

    deliberação de distribuição: direito ao dividendo.

    DIREITO AO DIVIDENDO: direito que se radica na esfera jurídica dos sócios,permitindo-lhe exigir da sociedade uma determinada quantia pecuniária.

    A deliberação de distribuição ira quantificar a favor de cada socio o seu direitoao dividendo, fazendo nascer na esfera jurídica de cada socio o direito de exigirda sociedade tal. É um direito de crédito que só nasce na esfera jurídica dossócios com a deliberação. Depois de tal, a sociedade não poderá revogar adeliberação de distribuição: o direito ao dividendo, tal como o direito de

    preferência, são direitos extra corporativos, ou seja, estão para lá da esfera de

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    eficácia das deliberações; como são direitos individuais que se radicam naesfera jurídica de cada sócio é como se fosse um direito pertencente a terceiro.

    Será admissível uma cláusula estatutária que diga que..?

    i.  não são distribuíveis lucros:

    ii.  a sociedade só é obrigada a distribuir 25% dos lucros distribuíveis:

    iii. 

    os sócios podem não distribuir lucros desde que seja tomado pordeliberação com maioria simples:

    Nos termos do art. 22º/3 consagra-se a proibição do pacto leonino; mas a leiadmite que possa ser alterada a regra da proporcionalidade nos termos do art.22º/1 (no contrato de sociedade podem-se consagrar regras diferentes daproporcionalidade quanto aos lucros e às perdas).

    Quando no art. 217º e 294º se fala em ‘’salvo cláusula em contrário’’ uma vezque não se está a referir às convenções para regular a proporção dos lucros (talresulta do art. 22º) está a referir-se a que? Admitindo que o art. 217º e 294º sãoregras imperativas, os sócios terão de distribuir 50% sendo que quanto aos

    restantes 50% poderá tomar uma deliberação quanto à sua distribuição ou nãopor maioria simples. Os 50% são um mínimo obrigatório ou não? PROF.PAULO OLAVO DA CUNHA: 50% são um mínimo imperativo, não sendopossível por cláusula estatutária consagrar-se um valor inferior a este sob penade nulidade.

    E pode-se alterar a maioria necessária para não distribuir? Isto é, tendo comomínimo obrigatório uma deliberação tomada por ¾ pode-se consagrar que asociedade poderá não distribuir os lucros por maioria simples (diminuição donúmero de votos necessários para aprovação de uma deliberação de não

    distribuição)? A maioria de ¾ prevista no art. 217º e 294º é uma maioria maisexigente do que aquela que é necessária para alterar os estatutos!! Em Portugal,a maior parte das sociedades nos seus estatutos tem uma cláusula que afirma‘’O destino a dar aos lucros será  através de uma deliberação tomada por maioriasimples’’. 

    Quer a regra dos 50% quer a regra dos ¾, para quem vê o art. 217º e 294º comonormas de protecção dos sócios, são regras imperativas.

    Adoptando a tese do PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA não se poderá nos

    estatutos consagrar uma cláusula quer com valor inferior  aos 50% quer comvalor inferiora ¾ dos votos correspondentes ao capital social.

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    Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 39

    Aqueles que querem que seja distribuído parte do lucro distribuível vão pedir aanulação parcial da deliberação na medida necessária para que o seu direito sejasatisfeito. Mas mesmo assim o problema não esta resolvido: anulandoparcialmente a deliberação, a única coisa que se vai conseguir é a destruição

    retroactiva daquela deliberação, continuando a faltar o pressuposto dadeliberação de distribuição. É através da execução especifica que o tribunal sevai substituir as partes e aprovar a deliberação de distribuição. Tratava-se deum direito que não esteva a ser cumprido devido as maiorias que a lei exige. Deoutra forma, os sócios ficariam numa situação de impasse e o desígnio da leificava sem efeito pratico útil.

    Se os sócios deliberarem não distribuírem o que irá suceder a esses lucros? Ficavamretidos na sociedade e integravam as reservas livres.

    PRÉMIO DE EMISSÃO AGIO: Quantia que a sociedade vai receber sem terde dar nada em contrapartida, sendo que o ágio dá origem às reservas especiais.

    As reservas legais servem para cobrir prejuízos e para incorporarem o aumentode capital estando cobertas pelo Princípio da Intangibilidade do Capital Social.As reservas legais tem um limite de 20% (mínimo); sendo superior a 20% oexcesso, na perspectiva do PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA, tem o caracterde reservas livres, sendo que estas podem ser distribuídas aos sócios.

    Note-se que o art. 31º, 32º e 33º não se referem apenas aos dividendos, mas sim

    de distribuição de quaisquer meios aos sócios. Nada impede que a sociedadedelibere distribuir bens que pertenciam à sociedade aos sócios. Havendoreservas livres na sociedade estas podem ser distribuídas aos sócios desde quese respeite o Princípio da Intangibilidade.

    b)  Diga quais as medidas que os sócios devem e podem adoptar se dascontas deexercício de 2011 resultar, inversamente, que o valorpatrimonial diminuiu para€125.000. 

    A lei admite que as sociedades possam ter perdas no exercício da sua

    actividade: o problema que surge é o de saber até que montante é que podehaver.

    A partir do momento em que as perdas resultem em metade do valor do capitalsocial, há um alerta para os credores e é necessário tomar medida para osproteger. O que se pode fazer a partir daqui?

    i. 

    Os sócios podem aumentar o capital social atraves de entradas paracobertura do capital: o problema é que os sócios estão a por dinheirodentro da sociedade e vai ser todo consumido pelas paerdas. Os sócios

    só se sentem compelidos a colocar dinheiro na sociedade a titulo deaumento de capital se esses fundos servirem para fazer investimentos;

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    ii.  Ir às reservas, para aumentar o capital;

    iii.  Diminuir o capital social;

    iv. 

    Dissover a sociedade.

    Note-se que todas as possibilidades têm de contar da convocatória.

    O art. 35º/3 consagra o regime formal quando a situação patrimonial desceupara ou abaixo de ½ do capital social. Segundo esta norma, que já foi maisrigida