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Resumo do Livro de Sociedades Comerciais Paulo Olavo CunhaTRANSCRIPT
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Livro: Direito das Sociedades Comerciais Prof. Paulo Olavo Cunha 1
Capitulo I Generalidades
1. Tipicidade e autonomia da vontade
1.1. O princpio da tipicidade das sociedades comerciais e o regime jurdico
das sociedades annimas como paradigma do regime das sociedades
comerciais:
1.1.1. Contedo do princpio da tipicidade:
Tipicidade significa que s podem ser criadas como, e enquanto, sociedades comerciais
as organizaes que correspondem aos tipos previstos na lei. Mas dentro desses tipos,
e conforme ao principio da autonomia privada, a lei aceita interferncias, desde que
no sejam postos em causa os parmetros essenciais das sociedades previstas no
cdigo. A lei consagra o princpio da tipicidade em matria de sociedades, dispondo
que estas devem adoptar um dos quatro tipos nela previstos (art.1 n2 e 3CSC), que
so sociedades em nome colectivo, sociedades por quotas, sociedades annimas ou
sociedades em comandita, sendo que estas ltimas podem ser em comandita simples
ou em comandita por aces.
liberdade de organizar a respectiva actividade econmica empresarial, de natureza
mercantil, sob a forma de sociedade comercial, ir corresponder uma limitao quanto
criao desta que dever obedecer a um dos tipos de sociedade predefinidos.
1.1.2. Aparecimento e desenvolvimento dos tipos societrios:
So quatro os tipos societrios existentes e disponveis para quem pretenda estruturar
a sua actividade econmica mercantil com recurso a uma sociedade comercial.
1.1.2.1. Sociedade em nome colectivo:
A sociedade em nome colectivo, em que dois ou mais scios, juntando os respectivos
esforos e capacidades financeiras, resolvem empreender conjunta e articuladamente
uma actividade econmica e lucrativa, como se fossem uma s pessoa, respondendo,
pessoal e solidariamente sem limite, com os restantes scios, perante os credores
sociais pelas dvidas da sociedade, como se tratasse de uma actividade individual.
1.1.2.2. Sociedades em comandita:
Trata-se de um tipo social que permite a um ou mais scios (os comanditrios)
permanecer na sombra, limitando a sua responsabilidade ao capital que
disponibilizam. Por sua vez, o scio que constitui a face visvel do negcio (o
comanditado) assume a sua direco e a responsabilidade ilimitada pelos respectivos
resultados.
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Estas sociedades podem organizar-se em dois subtipos, as sociedades em comandita
simples e as sociedades em comandita por aces. As participaes sociais so
dificilmente transmissveis na sociedade sob a forma simples, sendo as partes dos
scios comanditrios transmitidas de acordo com as regras legais da sociedade por
quotas (cfr. art. 475) e encontrando-se as demais sujeitas ao consentimento dos
scios comanditados (cfr. art. 469), tal como acontece nas sociedades em comandita
por aces.
1.1.2.3. Sociedades annimas:
As sociedades annimas podem assumir diversas configuraes, consoante a estrutura
do respectivo capital, podendo:
Apresentar-se relativamente fechadas, com limitaes transmissibilidade das
respectivas participaes;
corresponder ao modelo tpico de sociedade annima, com pequena ou mdia
dimenso, tal como este tipo societrio est consagrado no CSC;
adoptar uma estrutura orgnica complexa, correspondente grande sociedade
annima, criada pela reforma de 2006, ou
constituir-se como sociedades com o capital aberto ao investimento do pblico,
designando-se abreviadamente como sociedades abertas, podendo estar, ou no,
cotadas.
As primeiras so sociedades annimas de cariz vincadamente familiar, em que o
reduzido nmero de scios optou por este tipo por razoes alheias s suas
caractersticas substantivas. As segundas correspondem sociedade annima tpica,
isto , tal como resulta, tradicionalmente, do CSC. As respectivas participaes so
livremente transmissveis e so desprovidas de elementos subjectivos. As terceiras
constituem o subtipo mais relevante criado pela reforma de 2006 - a grande sociedade
annima que, sempre que adoptar o modelo de governao clssico, dever possuir
uma fiscalizao complexa. As ultimas so as sociedades annimas conhecidas como
sociedades de ou com subscrio pblica, constitudas com apelo ao pblico ou
relativamente s quis ocorre uma oferta pbica de valores mobilirios, no so apenas
aquelas cujas participaes (aces) ou outros valores mobilirios se encontram
admitidos negociao em mercado regulamentado, maxime em bolsa de valores.
Para alm das sociedades cotadas, que so por definio abertas, existem outras
sociedades annimas, cujo capital tambm est aberto ao investimento do pblico,
embora possam apresentar, relativamente s cotadas, regras estatutrias especficas.
Enquadram-se nesta categoria de sociedades abertas todas as que se constituem ou
emitem valores mobilirios por meio de uma oferta pblica.
1.1.2.4. Sociedades por quotas:
As sociedades por quotas correspondem ao ltimo tipo social a surgir com autonomia,
permitindo organizar em estruturas pequenas e sobretudo com um nmero de
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scios reduzido (inicialmente, mnimo de dois) actividades econmicas com limitao
da responsabilidade dos scios ao capital subscrito.
1.1.2.5 As sociedades comerciais no sc. XXI; a empresa
plurisocietria:
Tal como o comerciante (individual) da viragem do sc. XIX para o sc. XX cedeu o seu
lugar s sociedades comerciais, estas, no dealbar do novo sculo, organizam-se em
grupos (jurdicos e econmicos), formando estruturas jurdicas plurisocietrias e
plurifuncionais que, gradualmente, iro ocupar no mercado uma posio cada vez mais
relevante e central.
1.1.3 O tipo social paradigmtico:
No quadro do CSC, o regime jurdico da sociedade annima assume-se como
paradigmtico do regime das sociedades comerciais (de responsabilidade limitada).
Com a publicao e a entrada em vigor do CSC, o tipo societrio de referncia, embora
apresentando uma estrutura e natureza de participaes muito diferente dos demais,
passou a ser a sociedade annima. A sociedade por quotas mantm-se, contudo, como
modelo da sociedade em nome colectivo, dada a vertente subjectiva associada
respectiva participao (189 n1CSC).
1.2. Autonomia da vontade e concorrncia:
As sociedades comerciais, em regra, movem-se livremente no mercado concorrencial
em que se integram, e em funo do qual so constitudas, praticando actos ou
celebrando contratos que no sejam legalmente proibidos. Ao faz-lo, e na
prossecuo dos seus interesses gerais e especficos, actuam no mbito de um
princpio enformador essencial de toda a actividade mercantil, que o da autonomia
privada dos respectivos sujeitos.
Autonomia privada ou autonomia da vontade constitui meios que se encontram ao
dispor dos sujeitos de direito para, da forma que se revelar mais adequada e
conveniente aos seus interesses, regerem a sua pessoa e bens, com respeito pelas
regras imperativas e cogentes que delimitam a sua actuao no mercado. No domnio
das sociedades comerciais, a autonomia da vontade permite que os interesses dos
empresrios sobrelevem, bem como de todos os que se encontram directamente
envolvidos, de entre os quais se podem referenciar os prprios trabalhadores, bem
como os clientes e os credores (64 CSC).
Quanto ao mercado ele por natureza concorrencial. A concorrncia formada pela
livre participao dos agentes econmicos, cujas faculdades criativas e de execuo
so, naturalmente, limitadas pelo direito que todos tm de aceder ao mercado. A
liberdade , tambm aqui, sinonimo de permisso genrica de actuao, sendo
admitido tudo aquilo que, em tutela de interesses alheios legtimos, no for, directa ou
indirectamente, proibido.
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1.3. A sociedade annima europeia:
A sociedade annima europeia uma sociedade criada por entidades ligadas a mais de
um estado membro da UE, devendo a respectiva sede estatutria localizar-se num
desses estados e a sociedade encontrar-se nele registada. O respectivo capital
encontra-se dividido em aces, como em qualquer sociedade nacional com idntica
natureza, e os seus accionistas tm a sua responsabilidade limitada ao capital que
subscrevem. A firma deste tipo societrio multinacional deve iniciar-se ou concluir-se
com a sigla S.E..
1.4. Nacionalidade:
As sociedades tm um vnculo a um estado, a que se reportam; tm nacionalidades. O
CSC no art.3, estabelecendo um critrio coincidente com o do art.33CC, ao definir a
lei pessoal das sociedades comerciais em funo da localizao da respectiva direco
efectiva.
1.5. Personalidade jurdica:
A sociedade comercial adquire personalidade jurdica com o registo (definitivo) do
respectivo contrato o qual tem, assim, efeitos constitutivos no direito portugus
(art.5). Com o CSC passmos a ter dois momentos distintos, em matria de
personificao: o primeiro, a escritura pblica de constituio, e o segundo (em regra),
o registo do contrato. Actualmente suficiente contrato reduzido a escrito, com
assinaturas reduzidas a escrito, com assinaturas reconhecidas presencialmente, mas a
sociedade s adquiria autonomia jurdica definitiva com o registo.
1.6. Capacidade das sociedades comerciais:
A capacidade de exerccio das pessoas colectivas e das sociedades comerciais tem que
ver com mecanismos prprios que expliquem a actuao dos respectivos direitos e
vinculaes e que essa actuao (exerccio) se processa atravs de um determinado
rgo: a administrao ou a gerncia.
No plano da capacidade de gozo, ou seja, a medida de direitos e vinculaes de que
uma dada sociedade comercial susceptvel de ser titular, de entre todos os direitos e
vinculaes possveis e compatveis com a personalidade colectiva.
O CSC diz, claramente, que a capacidade da sociedade compreende os direitos e
vinculaes necessrios ou convenientes prossecuo do seu fim, exceptuados
aqueles que lhe sejam vedados, por lei ou inseparveis da personalidade singular. Isto
, o art.6 n1CSC vem repetir aquilo que j decorria do art.160 do CC, que consagra o
princpio da especialidade do fim das pessoas colectivas.
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2. Principais caractersticas dos diversos tipos sociais:
2.1. Consideraes gerais:
2.2. Sociedades em nome colectivo:
2.2.1. Enquadramento legal e firma:
As sociedades em nome colectivo encontram-se reguladas no Ttulo II do CSC
(arts.175 a 196), aplicando-se-lhes, em certas circunstancias, por remisso da lei, o
disposto nas sociedades por quotas (189 n1). H dois tipos de scios nestas
sociedades:
a)Os scios de capital, que so aqueles que efectivamente realizam uma entrada em
dinheiro ou em espcie; e
b)Os scios de industria, que so aqueles que vo participar no exerccio da actividade,
atravs do seu trabalho.
Quanto firma (designao pela qual uma sociedade ir ser conhecida no exerccio da
respectiva actividade social), ela deve ser constituda de modo que, pela sua simples
leitura, todos aqueles que giram em volta da sociedade saibam, imediatamente, que
esto perante uma sociedade em nome colectivo. Por isso, se no identificar todos os
scios, a firma deve, no mnimo, conter o nome (ou a firma) de um deles com o
aditamento, abreviado ou por extenso, que venha a permitir identificar essa realidade
com a ideia de pluralidade, com a ideia de que, efectivamente, existem outros scios.
Mas a firma pode prefigurar em que um dos scios , por sua vez, uma outra
sociedade, designadamente de responsabilidade limitada. E, nesse caso, importa
assegurar que a firma por exemplo, Antnio Silva, Lda & outros no se confunde
com designao de outro tipo societrio. A expresso & outros revela pluralidade.
2.2.2. Regime de responsabilidade:
Cada scio responsvel para com a sociedade pela prestao da sua entrada e
responde, solidariamente com os restantes socos e ilimitadamente perante os
credores da sociedade e peas dividas desta (mesmo anteriores) (175). Deste modo,
os credores sociais tm como garantia, a responsabilidade solidria dos participantes
na sociedade. No entanto, esta responsabilidade ilimitada subsidiria, ou seja, s
tem lugar quando o patrimnio social no suficiente para fazer face s dvidas da
sociedade.
Os scios de indstria so tambm responsveis nas relaes externas (178), sendo a
sua responsabilidade subsidiria.
2.2.3. Participaes sociais:
As participaes denominam-se partes sociais e ao so representados por ttulos
(176).
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2.3. Sociedades por quotas:
2.3.1. Enquadramento legal e firma:
A sociedade por quotas regulada nos arts.179 a 270 - G, sendo-lhe directamente
aplicveis, por remisso expressa, determinadas normas das sociedades annimas.
No que respeita firma, ela pode ser formada, com ou sem sigla, e deve ser composta
pelo nome (ou firma) de todos ou alguns dos scios ou aludir actividade que a
sociedade se prope prosseguir, devendo concluir com Lda, com a finalidade de que,
ao olharmos para esta designao social, possamos identificar imediatamente o tipo
social que est em causa.
2.3.2. Regime de responsabilidade:
Cada scio responde pela sua entrada, mas solidariamente com o restantes scios at
ao montante do capital social subscrito (art.197 n1), o que permite responsabilizar
qualquer scio pela totalidade do capital subscrito.
No entanto, s a sociedade responde pelas suas dvidas perante os credores (197
n3), excepto ser os scios garantirem expressamente que se responsabilizam pelas
mesmas at determinado montante (198 n1).
2.3.3. Participaes sociais:
A parte denomina-se quota e no titulada (197 n1 e 219 n7). O seu valor mnimo
de 1 (219 n1 e 3; 250 n1).
2.4. Sociedades annimas:
2.4.1. Subtipos:
Podemos distinguir quatro subtipos de sociedades annimas, a que correspondem
regimes diferentes:
A sociedade annima (simplesmente), qualquer que seja a sua dimenso disciplinada
pelas regras do CSC, com excepo daquelas que forem unicamente aplicveis
grande sociedade annima (ou cotada);
A grande sociedade annima, qual se aplica o CSC em geral, com as especificidades
impostas em razo da respectiva dimenso;
A sociedade annima aberta (no cotada), regulada pelas disposies do CSC e sujeita
ao regime mais rigoroso do CVM (arts.13 a 19CVM);
A sociedade annima (aberta) cotada, qual se aplicam, para alm dos preceitos
normativos comuns a qualquer grande sociedade annima ou sociedade aberta, regras
prprias e especificas constantes do CSC.
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2.4.2. Enquadramento legal e firma:
As sociedades annimas so reguladas nos arts.271 a 464. Por sua vez, o regime
especfico das sociedades annimas abertas extra-se do CVM (arts.13 a 29), h
tambm que recorrer a este diploma quando se trate do regime aplicvel s
participaes e suas vicissitudes, arts.39 a 107CVM.
A firma da sociedade annima deve concluir pela expresso S.A..
2.4.3. Regime de responsabilidade:
A responsabilidade dos accionistas pelo valor da entrada individual e exclusiva
(271). Se o accionista realizar a totalidade da sua participao, ele no ter mais
qualquer responsabilidade pela actividade societria, para alm da que possa vir a
assumir especificamente a titulo puramente pessoal.
S a sociedade responsvel pelas suas dvidas (271 a contrario sensu). Limitando-se
a responsabilidade ao accionista e ao montante que subscreve, a partir de ento s a
sociedade responder pelas dvidas, uma vez que tem autonomia financeira.
2.4.4. Participaes sociais:
As participaes designam-se aces, correspondendo a fraces de capital com o
mesmo valor nominal (mnimo de 1cntimo), representadas por ttulos (livremente
transmissveis) ou meramente escriturais (271, 274, 276 n2 e 298).
2.5. Sociedades em Comandita
2.5.1. Enquadramento legal e firma:
Este tipo societrio encontra-se sistematizado nos arts.465 a 480. Podendo revestir
um de dois modelos distintos comandita simples e o de comandita por aces so-
lhe aplicveis consoante o caso, as regras das sociedades em nome colectivo ou das
sociedades annimas.
A firma deve resultar do nome ou firma de um dos scios, acrescentada com a
expresso em comandita ou em comandita por aces, consoante o caso (467).
2.5.2. Regime de responsabilidade:
Este regime composto por duas espcies de scios, com regimes de responsabilidade
diferentes (465 n1).
Os scios comanditados assumem a responsabilidade pelas dvidas da sociedade (nos
mesmos termos das sociedades em nome colectivo); os scios comanditrios no
respondem por quaisquer dvidas da sociedade, para alm do capital que
subscreveram.
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2.5.3. Participaes sociais:
Podem reconduzir-se apenas a partes sociais ou corresponder tambm a aces,
consoante o subtipo em causa (465 n3). Nas sociedades em comandita simples as
participaes so todas no tituladas e denominam-se partes sociais. Nas sociedades
em comandita por aces as participaes so aces tituladas e regidas pelos
preceitos que caracterizam o regime das sociedades annimas.
2.6. Confronto das caractersticas das sociedades por quotas e annimas
2.6.2. Diferenas do carcter jurdico-comercial:
Podemos agrupar as diferenas em duas grandes categorias: as que so bsicas e que
resultam da natureza da sociedade ou constituem uma normal projeco da mesma
e as que se consideram fundamentais, isto , verdadeiramente responsveis pela
escolha do tipo societrio para a actividade prosseguir, e que so corolrio de opes
legais subjacentes prpria delimitao dos tipos em causa.
2.6.2.1. Diferenas bsicas que se fundam na identidade
prpria do tipo social:
Esto fundamentalmente em causa os aspectos que se prendem com a estrutura e
representao das participaes sociais, com o capital mnimo e com o regime da
responsabilidade dos scios. Um outro factor radica no nmero mnimo de scios
necessrios para constituir uma sociedade por quotas ou annima: dois e cinco,
respectivamente, no obstante esta regra ter vindo a sofrer excepes.
2.6.2.2. Diferenas fundamentais:
So, em nosso entender duas, uma relativa transmissibilidade e circulao do capital
social e a outra respeitante administrao e fiscalizao das sociedades por quotas e
annimas. No entanto, tambm possvel diferenciar os tipos societrios em anlise
pela estrutura das suas participaes. Referimo-nos progressiva pessoalizao das
sociedades por quotas em face da crescente objectivao das sociedades annimas,
que se pode sintetizar na ideia de que neste tipo social os direitos e obrigaes
existem em funo da aco, visto que cada aco fundamenta um direito de
participao social.
Quanto transmissibilidade e circulao do capital social, na sociedade por quotas a
regra, hoje, da necessidade de consentimento da sociedade (isto , dos demais
scios) para a transmisso a terceiros, sendo possvel que estatutariamente se sujeite
tambm a esse consentimento a prpria transmisso para scios e familiares prximos
(cnjuge e parentes em linha recta) do scio cedente.
O CSC veio supletivamente limitar a transmissibilidade onerosa de quotas, sujeitando-a
ao consentimento da sociedade (228 n2).
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Nas sociedades annimas vigora a princpio da livre transmissibilidade das aces,
admitindo que s muito excepcionalmente possam ser introduzidas limitaes (328).
So sociedades abertas, em que as respectivas participaes se transmitem sem
limitaes.
Outra grande diferena, tem a ver com a estrutura dos respectivos rgos sociais. A
sociedade por quotas pode constituir-se com um nico rgo institucionalizado, a
gerncia. Nenhuma sociedade por quotas est ab initio sujeita a fiscalizao, embora
tal possa vir a ocorrer no decurso da sua actividade, tudo dependendo da sua
dimenso. Quanto assembleia geral s muito raramente aparece institucionalizada, a
regulamentao contratual da respectiva mesa facultativa.
Nas sociedades annimas, os scios devero optar por uma de trs modalidades de
administrao e fiscalizao que so legalmente pr-estabelecidas, qualquer uma delas
envolvendo a obrigatoriedade de interveno institucional de, pelo menos, um revisor
oficial de contas (como rgo de fiscalizao ou membro deste). Por sua vez, a
assembleia geral institucionalmente obrigatria, e traduz uma remunerao quando
no seja composta por accionistas (ou no o possa ser).
Permite concluir que os custos inerentes a uma sociedade por quotas so inferiores
aos de uma sociedade annima.
2.6.3. Perspectiva puramente tributria; breve referncia
2.6.3.1. A questo:
O problema em causa o de saber qual o tipo societrio que lhe permite (a ele scio)
minimizar custos fiscais. No plano societrio, o problema coloca-se essencialmente no
domnio dos impostos directos, uma vez que os indirectos, designadamente os
impostos sobre a despesa (IVA e imposto de selo) no distinguem tipos societrios.
Numa perspectiva puramente societria, e considerando unicamente o interesse
social, o problema consiste em verificar se a tributao directa que recai sobre uma
sociedade por quotas idntica que incide sobre uma sociedade annima.
2.6.3.2. Tributao em IRC:
A lei tributria admite que, no que h sociedade por quotas respeita, a gerncia da
sociedade possa optar por sujeitar a empresa tributao pelo lucro presumido
mediante a aplicao do regime simplificado da determinao do lucro tributvel. Tal
opo tem especiais vantagens nos casos em que os custos so pouco significativos,
sendo prefervel a sociedade optar pela tributao do rendimento presumido, porque
esta acabar por ser inferior que recairia sobre o rendimento real.
As sociedades annimas, pelo facto de se encontrarem necessariamente sujeitas
reviso legal de contas, so sempre enquadrveis no regime geral de determinao do
lucro tributvel, sendo tributadas pelos respectivos rendimentos reais declarados.
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2.6.3.3. Reflexos a nvel da tributao pessoal do scio (SPQ) e
do accionista:
Importa comear por distinguir os scios pessoas singulares daqueles que so
pessoas colectivas, maxime sociedades comerciais.
Com referncia aos scios pessoas colectivas residentes, no existem diferenas
sensveis na tributao dos lucros ou dividendos obtidos pelos mesmos, quer se trate
de sociedades annimas ou de sociedades por quotas, sendo tributados, em termos
finas, taxa geral de IRC. Quanto tributao que incidir sobre as mais-valias
realizadas pelos scios pessoas colectivas, tambm no h diferena entre as
sociedades annimas e as sociedades por quotas, concorrendo essa mais-valia para a
formao do lucro tributvel sujeito a IRC. No que toca tributao de mais-valias
realizadas com a alienao de participaes sociais merece destaque o regime
particular aplicvel aos scios pessoas colectivas que sejam holdings (SGPS),
independentemente de as mesmas revestirem a forma jurdica de sociedade por
quotas ou annima, onde se prev que as mais-valias realizadas pelas SGPS mediante a
transmisso onerosa de partes de capital de que sejam titulares, desde que detidas por
perodo no inferior a um ano, e bem assim os encargos financeiros suportados com a
sua aquisio, no concorrero para a formao do lucro tributvel (31 n2EBF).
Quanto s pessoas singulares, no que se refere tributao dos rendimentos
periodicamente (ou no) recebidos pelos scios pessoas singulares das sociedades
comerciais, no h diferenas a assinalar, devendo apenas 50% dos lucros distribudos
e rendimentos equiparveis ser englobados e considerados para efeitos e tributao,
no caso de beneficirios residentes, e desde que tais rendimentos sejam devidos por
pessoas colectivas residentes sujeitas a IRC e dele no isentas. Quando se trate de
scios pessoas singulares no residentes, encontram-se sujeitos a tributao, a uma
taxa liberatria de 20%.
Relativamente tributao das mais-valias na alienao de quotas ou aces, a regra
geral quanto a scios pessoas singulares residentes a de que tais ganhos,
representados grosso modo pela diferena positiva entre o preo da aquisio e o
valor realizado com a respectiva venda, esto sujeitos a uma tributao de 10%, por
aplicao de uma taxa liberatria. Porm, se se tratar de mais-valias provenientes da
alienao de aces detidas pelo seu titular durante mais de 12meses, desde que as
mesmas no se refiram a sociedades cujo activo seja constitudo, directamente ou
indirectamente, em mais de 50%, por bens imveis ou direitos reais sobre imveis
situados em territrio portugus, essas mais-valias ficam excludas de tributao.
Quando sejam mais-valias e no residentes, quando os mesmos procedam alienao
onerosa de partes sociais por si detidas em sociedades annimas ou em sociedades
por quotas, o mesmo ser idntico, beneficiando, regra geral, de iseno de IRS.
Quanto s transmisses mortis causa de participaes sociais, de acordo com o Cdigo
de Imposto de Selo, esta prevista iseno subjectiva de Imposto de Selo quando o
mesmo constitua um encargo do cnjuge, descendentes e ascendentes, isto , dos
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herdeiros legitimrios, nas transmisses gratuitas de que os mesmo forem
beneficirios.
2.6.4. Concluso:
A opo entre o modelo de sociedade por quotas ou o tipo de sociedade annima
deve, sobretudo, ter em conta a dimenso da actividade que o empresrio se prope
prosseguir e acautelar uma eventual abertura participao futura de terceiros no
projecto societrio.
3. Enquadramento sistemtico das sociedades comerciais no sculo XXI
3.1. Generalidades:
No mbito do regime jurdico das sociedades, sero objecto de ponderao os
seguintes princpios:
a)Tipicidade;
b)Cogente alterabilidade do contrato de sociedade, condicionada pela inoponibilidade
da criao de novas obrigaes, sem o consentimento de todos os scios;
c)Intangibilidade do capital social;
d)Igualdade de tratamento dos scios (accionistas) e tutela das minorias (nas
sociedades annimas);
e)Dissociao entre o risco do capital e a direco efectiva da sociedade.
3.2. Qualificao da substancia pela forma:
H entidades que podem assumir essncia e forma de sociedade comercial ainda que
na correspondam, de facto, a empresas comerciais.
As sociedades comerciais so comerciantes ou empresas comerciais (13 n3C.Com); e
so no s pelo simples facto de existirem ou se constiturem como tais, mesmo que
(ainda ou j) no se encontrem a exercer a actividade comercial. Por essa razo,
quando falamos de sociedades comerciais j no discutimos problemas de
qualificao, mas apenas de regime jurdico. O mesmo sucede com sociedades civis
que se organizam sob forma comercial e que, desse modo, passam a estar sujeitas ao
regime das sociedades comerciais (1 n4CSC).
Apenas no momento constitutivo cabe discutir a comercialidade da sociedade e as
eventuais limitaes que o respectivo objecto por no se poder reconduzir a uma
actividade mercantil ou dimenso, pela sua exiguidade, pode suscitar. Havendo, ou
podendo existir, risco do capital envolvido, e no correspondendo a actividade a uma
actividade civil, a sociedade poder-se- constituir como comercial. E todos os seus
actos sero, por definio, actos comerciais, no pressuposto de que cabem e se
enquadram na sua capacidade jurdica.
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3.3. Limitao da responsabilidade pessoal do scio:
Hoje as sociedades comerciais caracterizam-se sobretudo pela responsabilidade
limitada dos seus associados ao capital que cada um (sociedades annimas) ou todos,
globalmente (sociedades por quotas), subscrevem.
Presentemente, as sociedades estrangeiras que investem em Portugal, preferem
responder com o seu patrimnio a um eventual insucesso da actividade de uma
sociedade participada, o que explica a constituio de sociedades em nome colectivo.
Pelo que evitam ter que prestar garantias pessoais sociedade devido s
caractersticas deste tipo societrio.
3.4. Princpios estruturantes do sistema jurdico-societrio:
3.4.1. Tipicidade:
A autonomia dos agentes econmicos encontra-se limitada seleco do tipo negocial,
de entre quatro que o art.1 n2CSC disponibiliza. Escolhido o tipo societrio mais
adequado e conveniente prossecuo dos interesses, haver que respeitar as regras
caractersticas do mesmo, nomeadamente o contedo mnimo que dever revestir o
contrato de sociedade e a designao dos respectivos rgos.
Identificado o tipo societrio pretendido, os scios podero criar uma srie de regras,
no mbito da liberdade de estipulao de que dispem, devendo, contudo, respeitar
os princpios e limites imperativos do sistema.
Em suma, este princpio no permite a criao de sociedades de diferentes tipos ou
que congreguem caractersticas que sejam inconciliveis, porque essenciais de tipos
societrios diferentes, ou que acolham as regras que descaracterizem o tipo que foi
objecto da opo empresarial.
3.4.2. Cogente alterabilidade do contrato de sociedade e
inoponibilidade da criao de novas obrigaes sem consentimento de
todos os scios:
A sociedade comercial constituda contratualmente pelo acordo daqueles que
participam na sua fundao. Assim, s estes, na sua totalidade, poderiam alterar o
que inicialmente convencionaram. A isso obrigaria o princpio geral da intangibilidade
dos contratos (406 n1 in fine CC). Mas o contrato de sociedade tem uma dupla
natureza, razo de ser de dois momentos que se distinguem na vida da sociedade:
O momento constitutivo, em que se cria um centro autnomo de imputao de
direitos e vinculaes, mediante o acordo das vontades dos participantes na
celebrao do contrato (anteriormente outorga da escritura) (sociedade-contrato); e
A realidade dinmica e personalizada que emerge desse acordo (aps registo
definitivo do contrato) com autonomia perante terceiros (com quem se relaciona) e
perante os prprios scios, realidade essa que tem de se adaptar s constantes
mutaes do mercado, de que faz parte (sociedade-instituio).
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Fruto da vontade de todos os scios, inclusivamente quando aberta ao investimento
do pblico, a sociedade-instituio autonomiza-se do contrato inicial que a gerou, at
porque a exigncia da unanimidade daqueles para proceder a modificaes futuras
conduziria, inevitavelmente, sua paralisao. Da que a possibilidade de alterar os
estatutos (pela maioria) seja absolutamente necessria ao bom funcionamento da
sociedade. E mesmo que tal faculdade no fosse consequncia necessria do carcter
institucional da sociedade e das necessidades de deliberao dos seus rgos, a
prpria lei geral deixa uma porta aberta alterabilidade do contrato de sociedade
annima (e por quotas).
A lei societria resolve de forma positiva o imperativo de ordem lgica que temos
vindo a analisar o da alterabilidade do contrato -, estabelecendo as condies
necessrias para a sua efectivao por deliberao maioritria. E o facto de a lei
admitir que, numa sociedade por quotas, seja possvel condicionar as alteraes de
contrato vontade de um nico scio pela atribuio de um direito especial com
esse contedo (265 n2CSC) -, no pe em causa o princpio em anlise.
Existem outros obstculos legais, a partir dos quais o ordenamento jurdico pretende
conceder certeza e segurana participao societria, no inviabilizando o natural
e, frequentemente, desejvel e previsvel crescimento da sociedade,
designadamente por aumento da sua capacidade econmica, sempre que a maioria
fundamentadamente o decida. O que a lei no permite que, contra vontade de um
scio, sejam constitudas novas obrigaes que o vinculem e, em certas circunstancias,
possam pr em causa a sua subsistncia na sociedade. Por isso, existe um princpio
fundamental, acolhido no n2 do art.86CSC, segundo o qual a criao de (novas)
obrigaes em vida da sociedade s pode vincular os scios que as aprovarem
expressamente, o que significa que, para serem eficazes perante todos, devem ser por
todos aprovadas.
No possvel aos accionistas deliberarem restries ou limitaes
transmissibilidade das participaes sociais em vida da sociedade, sem que a alterao
do contrato recolha o consentimento de todos os accionistas cujas aces sejam por
ela afectadas (328 n3), ou, do mesmo modo, no ser legtimo sociedade impor
um tecto estatutrio de voto (384 n2 al.b)), por alterao do contrato, aos
accionistas que no concordarem com essa modificao. Este corolrio decorre no
apenas do princpio da boa f, mas implicitamente do princpio fundamental
estabelecido no n2 do art.86CSC.
3.4.3. Intangibilidade do capital social:
O capital social a cifra numrica de valor constante, em dinheiro, expressa em euros,
correspondente soma das entradas dos scios e ao montante que estes pretendem
afectar ao exerccio da actividade econmica que prosseguem sob a forma jurdica
societria e que, sobretudo, equivale ao valor que os scios reputam como adequado
para prosseguirem uma actividade econmica empresarial de natureza mercantil.
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Livro: Direito das Sociedades Comerciais Prof. Paulo Olavo Cunha 14
Coincidindo com o patrimnio de constituio da empresa societria, o capital social
constituir a medida da responsabilidade patrimonial dos scios que, de um modo
geral, no ficam obrigados a proceder entrega de bens para alm do montante que
subscrevem (pelo menos, nas sociedades por quotas e annimas) e no podem
receber bens da sociedade custa desse valor, que deve ficar exclusivamente afecto
ao exerccio da actividade societria, no podendo ser utilizado para satisfao de
dvidas pessoais dos scios, nem ser objecto de distribuio entre estes.
O princpio da intangibilidade do capital social traduz-se na impossibilidade de
distribuio de bens necessrios e indispensveis cobertura do capital social (32).
No significa que a cifra em que se exprime no possa ser tocada. O princpio tem a ver
com o facto de o capital dever ter uma certa correspondncia com o patrimnio
societrio e este dever ser preservado das pretenses directas dos credores pessoais
dos scios, ficando apenas ao alcance dos credores sociais. Quer dizer, o capital social
est prioritariamente afectado satisfao das dvidas sociais; portanto os credores
sociais esto graduados antes dos credores pessoais dos scios. E este um princpio
absoluto tanto das sociedades annimas como das por quotas.
3.4.4. Igualdade de tratamento e tutelas das minorias:
Constituiu prtica dominante da segunda metade do sc.XX procurar assegurar que os
scios com menor peso econmico e poltico tivessem direitos sociais
proporcionalmente iguais aos dos scios maioritrios e dominantes.
3.4.4.1. O princpio da igualdade de tratamento dos accionistas:
Princpio fundamental do direito societrio actual o que se traduz na igualdade de
tratamento dos scios em geral e dos accionistas em particular. A lgica subjacente a
este princpio a de que, na prossecuo da actividade e na realizao do interesse
social, a sociedade deve colocar todos os associados em p de igualdade. Em igualdade
de circunstncias, e considerando naturalmente a proporo da respectiva
participao no capital da sociedade, os scios devem ser objecto de tratamento
igualitrio.
A igualdade deve ser tambm suscitada quando os scios so chamados a assumir
obrigaes contratualmente estipuladas e que sejam, entretanto, tornadas exigveis
por deliberao ou, inclusivamente, quando est em causa a remunerao das
obrigaes onerosas assumidas pelos scios para com a sociedade e que pode traduzir
de facto, e consideradas as condies de mercado, reais vantagens de carcter
pessoal.
um princpio que no tem uma regulao autnoma e, nesse sentido, no assume
autonomia, apenas feito um afloramento do mesmo no art.321CSC, que faz dele um
princpio fundamental para as sociedades annimas, mas que tem de ser tido em
conta em todos os actos societrios que relacionem a sociedade com os seus scios ou
que se projectem na esfera jurdica destes.
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Livro: Direito das Sociedades Comerciais Prof. Paulo Olavo Cunha 15
3.4.4.2. Tutela das minorias (nas sociedades annimas):
Nas sociedades por quotas, os scios tm, independentemente do montante da
respectiva participao social, direitos de participao idnticos, definindo-se as
respectivas situaes jurdicas activas em funo da qualidade de associado e no do
montante da participao social.
Nas sociedades annimas os direitos so atribudos s participaes sociais e existem,
em regra, em funo destas. No sendo relevante a pessoa do scio, certos direitos
so de exerccio tendencialmente colectivo, por pressuporem a previa agregao de
participaes que representem uma determinada percentagem mnima do capital
social. Para proteco dos interesses dos accionistas minoritrios, naturalmente
afastados do poder, a lei concede-lhes a possibilidade de, mediante a titularidade de
um determinado montante mnimo do capital social, por vezes agregando as suas
participaes s de outros accionistas na mesma situao, exercerem certos direitos
que de outro modo lhe estariam negados.
3.4.5. Dissociao entre o risco do capital e a direco efectiva da
sociedade:
Significa que quem as gere no quem sofre o risco do capital investido associado
respectiva actividade.
A expresso mxima deste princpio verifica-se no mbito das sociedades annimas
que requerem maior especializao e competncia da respectiva actividade.
3.5. O interesse social:
No um princpio estruturante da sociedade comercial, constitui, antes, um fim da
prpria sociedade que, constituindo uma organizao de factores de produo,
prossegue o objectivo de proporcionar queles que a constituem ou venham a integrar
um ganho com o resultado da actividade dessa organizao. Na determinao do
interesse da sociedade, devemos atender aos interesses de longo prazo dos scios e
de todos aqueles cujo contributo indispensvel para o desempenho da actividade
societria, isto , os trabalhadores, os clientes e os credores. O relevo de todos estes
sujeitos patente no art.64CSC.
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Capitulo II
Constituio da Sociedade
Seco I (Projecto de) Contrato de sociedade e acordos parassociais
4. Menes obrigatrias e facultativas do contrato de sociedade:
4.1. Acto constitutivo, estatutos e contrato:
O CSC no fala em acto constitutivo, nem em estatutos, nem em pacto social, mas
apenas em contrato, acentuado a natureza do acto constitutivo da sociedade.
A unificao dos instrumentos de constituio e regulamentao da sociedade
consentnea com a sua (dupla) natureza jurdica: comeando por ter uma funo
primacialmente contratual, corolrio do acordo de vontades daqueles que pretendem
criar um centro autnomo de imputao de interesses, o acto passa a ter uma funo
predominantemente normativa de regulao das relaes entre os scios e,
indirectamente, pela sua publicidade, de tutela das relaes estabelecidas com
terceiros.
Os estatutos constam do contrato de fundao da sociedade, do qual deixaram de se
distinguir formal e substancialmente.
Contrato e estatutos passaram, pois, a ser termos sinnimos, enquanto lei
fundamental da sociedade, sito , conjunto de regras que asseguram a realizao dos
seus objectivos (nomeadamente actividade que se prope a prosseguir), a sua
existncia, os seus aspectos estruturais e funcionais, a concretizao da ideia que
esteve subjacente sua criao. Este significado acentuou-se definitivamente com a
reforma de 2006, porquanto as sociedades deixaram de ter de se constituir
obrigatoriamente por escritura pblica, sendo suficiente que o respectivo contrato
constitutivo seja reduzido a escrito, com assinaturas dos participantes reconhecidas
presencialmente (7 n1).
O contrato de sociedade distingue-se do regulamento, que consiste no conjunto das
normas da colectividade que disciplinam os pormenores da execuo e aplicao dos
princpios gerais bsicos estabelecidos contratualmente. Regulando aspectos da
organizao da empresa em que a sociedade constitui a forma jurdica, surge
fundamentalmente nas sociedades annimas de grande dimenso. Sendo
caracterstico da vertente empresarial da sociedade, a sua aprovao e alterao no
est sujeita a qualquer formalidade, sendo da competncia do rgo executivo, salvo
se diversamente previsto no contrato de sociedade.
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4.2. Contedo do contrato de sociedade (breve caracterizao):
O contrato visa a constituio e a disciplina da actividade da sociedade, estabelecendo
a sua denominao, sede e objecto, o capital social, rgos, direitos fundamentais dos
scios e, eventualmente, regras sobre o exerccio social e a dissoluo.
No que respeita ao contedo do contrato de sociedade comercial, h que distinguir
imediatamente dois aspectos: um relativo s respectivas menes obrigatrias, isto ,
que respeita ao que deve constar necessariamente do contrato de sociedade, e outro
referente s matrias que, com observncia das normas imperativas, os scios
pretendem ver consagradas e que se reconduzem a menes facultativas.
A inobservncia das menes obrigatrias tem consequncias mais gravosas a no
regulamentao adequada das menes facultativas, uma vez que o desrespeito das
menes obrigatrias, pode pr em causa a subsistncia da prpria sociedade,
enquanto que a vicissitude de uma meno facultativa reconduzir-se-, em principio,
irrelevncia desta, que se tem por no escrita, como sucede com todas aquelas que
no forem expressamente acolhidas no contrato social e no resultem de normas
supletivas.
4.3. Menes obrigatrias, principais aspectos
4.3.1. Generalidades:
Nesta matria so particularmente relevantes os arts.9; 199 e 272CSC e 14CVM.
4.3.2. Tipo social e identificao das partes:
A primeira meno a relevar, em termos de requisito imprescindvel, a que decorre
do prprio princpio da tipicidade, isto , a indicao do tipo social pretendido, de
entre os quatro previstos na lei (1 n2 e 3).
Evidenciado pelo nome da prpria sociedade, isto , pela firma, no contrato de
sociedade deve promover-se a identificao das partes, isto , a referncia dos nomes
ou firmas e outros dados de identificao de todos os scios fundadores (9 n1 al.a) e
b)).
No que respeita constituio da sociedade, permitem, desde meados de 2006,
equacionar a correspondncia do acto constitutivo a um nico instrumento escrito e
no j ao desdobramento que, anteriormente, por vezes se fazia, entre escritura
pblica e documento complementar.
Nos casos em que a escritura pblica continuar a ser necessria (7 n1 in fine)
poder haver menes obrigatrias que, em relao ao contrato de sociedade, sejam
nela exaradas, podendo os estatutos, que correspondem ao contrato de sociedade em
sentido estrito, constar de um documento complementar (avulso) escritura que,
fazendo parte integrante desta, no inclua todas as menes obrigatrias. Nesses
casos, ser por referncia escritura de constituio que se poder determinar quem
que so os accionistas fundadores da sociedade.
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4.3.3. A firma:
A firma o nome ou denominao que individualiza um comerciante ou um
empresrio mercantil no exerccio da sua actividade comercial; e uma designao
que identifica tambm a empresa colectiva ou a sociedade comercial. A adopo da
firma corresponde a uma obrigao mercantil (18CCom), pelo que todos os sujeitos
de Direito Comercial devem adoptar uma firma, pela qual sero conhecidos e
identificados no exerccio da respectiva actividade econmica. E as sociedades
comerciais no fogem regra, encontrando-se obrigadas a adoptar uma firma (art.9
n1 al.c); 177; 200; 270 - B, 275 e 467).
No caso das sociedades comerciais o registo do contrato constitutivo, isto , a
sociedade s se considera constituda e adquire personalidade jurdica prpria com o
registo definitivo do contrato (5).
A firma pode assumir dois significados distintos: em sentido objectivo, ela reconduz-se
ao estabelecimento onde o comerciante desenvolve a sua actividade, que identifica (e,
nesse caso, corresponde ao nome do estabelecimento); em sentido subjectivo (e
aquele que correntemente utilizado pela lei nacional), a firma consiste no (prprio)
nome que identifica e individualiza o comerciante (sociedade) na respectiva actividade
comercial e em funo do qual ele beneficia de uma determinada tutela. Constitui o
sentido amplo de firma.
Fala-se de firma-nome quando corresponde conjugao de um ou mais nomes dos scios com a indicao de que ressalte terem estes organizado a respectiva actividade de forma colectiva. Exemplo: Aguiar & Mota, S.A.. A firma-denominao consiste na individualizao da sociedade por referncia actividade especfica que ela se prope realizar, sendo (total ou parcialmente) composta pelo objecto que caracteriza a actividade da sociedade que visa identificar. Exemplo: Companhia de Seguros Vida A Venturosa, S.A., A firma tanto pode surgir com o nome das pessoas que a integram, como corresponder actividade que o empresrio mercantil pretende prosseguir, e pode ser associada a siglas ou a expresses de fantasia. A firma pode ser mista, congregando o nome dos que integram a organizao que prossegue uma certa actividade e fazendo meno ao tipo de actividade que essas pessoas, organizadas colectivamente, possam realizar, eventualmente sob a forma jurdica societria. Nesse caso, a firma simultaneamente uma firma-nome e uma firma denominao. Podemos recorrer a exemplos diferentes em que a associao do nome actividade surge integrada, como sucede com a firma Banco Esprito Santo, S.A.. Hoje, j no h limitaes quanto s palavras a serem utilizadas na composio das
firmas, podendo as mesmas serem integradas por quaisquer vocbulos estrangeiros
(cfr. art. 10. do CSC) e j no estando sujeitas a revelar tanto quanto possvel a
actividade da sociedade, sem prejuzo de se revelar adequado existir uma
correspondncia mnima entre a denominao social e o objecto social. Surgem, assim,
firmas que, no referenciando o nome de qualquer dos scios, tambm no revelam a
actividade que a sociedade se prope prosseguir. Exemplo: Nanium, S.A..
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Os princpios caracterizadores da firma so o principio da verdade, da exclusividade ou
novidade e da unidade.
O princpio da verdade visa, garantir a conformidade entre a realidade jurdica que se
pretende organizar e a realidade social que o objecto da concretizao dessa
realidade jurdica, para que no haja discrepncias e erros das pessoas que pretendem
ter na firma uma referncia do sujeito de Direito Comercial, em geral, e da sociedade
comercial, em particular (10 n1 e 3).
O principio da exclusividade ou novidade significa que uma nova firma deve ser
distinta das j existentes, no devendo ser confundvel com estas e permitindo assim
diferenciar as empresas entre si (art. 10, n 2 do CSC). Visa evitar que venham a ser
criadas no mercado empresas com um nome semelhante ao das j existentes,
introduzindo confuso nos agentes que no mesmo se movimentam.
Por fim, o princpio da unidade corresponde ideia de que o mesmo sujeito de Direito
Comercial s pode ser conhecido no universo jurdico por nico nome, decorre do
princpio da verdade e no tem relevncia autnoma no domnio das sociedades
comerciais.
4.3.4. O objecto social:
Do contrato de sociedade tem de constar tambm o respectivo objecto (9 n1 al.d) e
11 n1 e 2). O objecto social consiste na actividade econmica especfica a
desenvolver pela sociedade (11), que, em certas circunstncias, permite determinar a
respectiva comercialidade (1 n2).
4.3.5. A sede:
4.3.5.1. Conceito:
A sede social ou domicilio da sociedade tambm uma meno essencial do contrato
de sociedade (art.9 n1 al.e) e 12); devendo corresponder ao centro de vida da
sociedade, ao local onde se tem por contactada sempre que for preciso comunicar
com ela, nomeadamente atravs de meios oficiais que consistam em comunicaes de
natureza judicial ou administrativa.
A lei exige que a sede seja estabelecida em local concretamente definido (12 n1),
no qual seja possvel estabelecer uma interaco entre os que pretendem contactar a
sociedade e os representantes desta. A sede tem, assim, uma importncia significativa,
uma vez que constitui uma referncia geogrfica fundamental da sociedade, desde
logo determinando a lei aplicvel. Nela deve funcionar a administrao e reunir a
assembleia geral, salvo se a sede no reunir condies para o efeito, nomeadamente
por ser exgua, caso em que a assembleia pode ser convocada para reunir noutro local
do territrio nacional (377 n6 al.a)).
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Livro: Direito das Sociedades Comerciais Prof. Paulo Olavo Cunha 20
4.3.5.2. Mudana de local:
A sede pode ser deslocada para qualquer lugar do territrio nacional por simples
deciso da administrao ou da gerncia sempre que o contrato de sociedade no o
impedir (12 n2).
4.3.5.3. Outras instalaes sociais:
Para alm da sede, a sociedade pode ter outras instalaes, nomeadamente sucursais,
agncias, delegaes ou escritrios, competindo ao rgo da administrao, quando
legal ou contratualmente autorizado, decidir sobre a abertura de novas instalaes.
No h que prever a possibilidade de o rgo da administrao deliberar sobre a
criao ou o encerramento de filiais, sucursais, agncias, delegaes ou quaisquer
outras formas locais de representao, quer as mesmas se situem no pas ou no
estrangeiro, se tais actos no coincidirem com a alienao, onerao ou a locao de
estabelecimento de uma sociedade por quotas (246 n2 al.c)).
4.3.5.4. Formas de representao legalmente reconhecidas:
A nacionalidade (portuguesa)da sociedade determina-se pela localizao (em Portugal)
da sede principal e efectiva da sua administrao (3 n1 1parte).
Logo, ou a sociedade estrangeira, que pretende investir em Portugal, opta por
constituir uma sociedade comercial portuguesa (com personalidade jurdica),
assumindo e beneficiando de todos os efeitos da decorrentes, nomeadamente se for
scia nica (83; 84 e 481 n2 al.c)) e gozando da limitao genrica da respectiva
responsabilidade patrimonial pela actividade da participada ou cinge-se a instituir
um estabelecimento estvel ou uma sucursal.
Estando em causa o exerccio, com carcter de permanncia, de actividade econmica
em Portugal, e havendo que determinar a forma jurdica mais adequada para o efeito,
as hipteses de escolha so as seguintes:
-- Sociedade comercial por quotas ou annima, constituda segundo o direito
portugus;
-- Sucursal de sociedade estrangeira;
--Sociedade offshore (zona franca da madeira ou da Ilha de Santa Maria); e
eventualmente
--Escritrio de representao (caso a actividade seja reduzida).
O direito substantivo portugus (CSC) apenas exige que seja estabelecida
representao permanente relativamente s sociedades estrangeiras que pretendem
exercer em Portugal a sua actividade por mais de um ano (4 n1). Essa limitao
temporal, e a obrigao decorrente do decurso do tempo, tem relevncia, porquanto a
inobservncia da instituio de representao permanente (ou estabelecimento
estvel) determina a responsabilidade ilimitada da sociedade estrangeira por todos os
actos que, em seu nome, sejam praticados em Portugal e a responsabilidade solidria
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Livro: Direito das Sociedades Comerciais Prof. Paulo Olavo Cunha 21
com ela de todas as pessoas que tenham praticado efectivamente tais actos, bem
como dos respectivos administradores.
4.3.5.5. Sucursal:
No genericamente reconhecida com autonomia pela lei das sociedades comerciais
portuguesa, embora seja objecto de regulamentao pela lei tributria e tambm por
leis especiais.
A sucursal no reveste personalidade jurdica, no constituindo por isso um sujeito
autnomo de direito, apesar de ter personalidade tributria. No se distinguindo
verdadeiramente da sociedade estrangeira, a que pertence e da qual constitui um
prolongamento, a sucursal depara-se com naturais limitaes legais aos negcios
jurdicos que pretenda celebrar com a sociedade estrangeira, no obstante a lei
tributria permitir que ela facture sucursal os servios prestados e que sejam
incorporados na facturao final desta, desde que devidamente comprovados. A
sociedade estrangeira assumir ento a responsabilidade total e ilimitada pela
actividade da sucursal.
4.3.6. O capital social:
O capital social tambm meno obrigatria do contrato de sociedade (9 n1 al.f)),
consistindo na cifra numrica de valor constante, em dinheiro, expressa em euros
(14), correspondente ao patrimnio de constituio da empresa, isto , soma de
todas as participaes dos scios.
Nas sociedades annimas e por quotas (tipos sociais em que no so admitidas
contribuies de indstria 277 n1 e 22 n1) o capital social forma-se
exclusivamente com as entradas dos scios, sendo representado unicamente por
aces e por quotas (271 e 197 n1). De inicio tende a ser equivalente ao patrimnio
da sociedade, mesmo enquanto os scios no realizam integralmente as suas entradas
(o capital subscrito), uma vez que o crdito que a sociedade ter sobre eles integra o
patrimnio (activo). Mas pode ser superior se sobre eles forem sobreavaliadas as
entras em espcie, ou inferior, quando as aces forem emitas com prmio (acima do
par).
A lei estabelece um capital mnimo obrigatrio de 50 000 (cinquenta mil Euros) para
as sociedades annimas (276 n3) e um capital social livre para as sociedades por
quotas, cujo valor de cada quota no pode ser inferior a 1 (201 e 219).
4.3.7. Montante da participao e natureza da entrada de cada scio;
quotas, aces e natureza da entrada e partes sociais (valor nominal,
quantidade, categorias e forma):
Nas sociedades por quotas os scios so todos iguais, no havendo diferentes
categorias de quotas. A quota no titulada, constituindo um clssico exemplo de
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Livro: Direito das Sociedades Comerciais Prof. Paulo Olavo Cunha 22
bem incorpreo, e deve revestir o montante mnimo 1. O scio tendencialmente s
dever ser titular de uma (nica) quota.
Nas sociedades annimas a participao social designao por aco, podendo ser
representada documentalmente (em ttulo) ou ser meramente escritural (aco no
titulada). A aco, enquanto participao social, deve corresponder ao montante
mnimo de 1cntimo (0.01), embora na maior parte dos casos o respectivo valor
nominal seja de 5 (cinco euros) ou de 1 (um euro). Um scio accionista pode ser
titular de tantas aces quantas as que tiver capacidade financeira para subscrever ou
adquirir. As aces, consoante os direitos que as caracterizam, agrupam-se em
categorias.
Nas sociedades em nome colectivo, as partes sociais no so tituladas (176 n2) e no
tm valor nominal, podendo os scios de indstria realizar a sua participao
exclusivamente em trabalho. A parte social nica para cada scio, distinguindo-se os
scios de capital dos scios de indstria, embora seja possvel congregas as duas
qualidades.
As entradas de capital podem ser em dinheiro ou em espcie, devendo neste caso ser
certificadas por ROC.
4.3.8. Data do encerramento anual:
Em princpio o exerccio anual coincide com o ano civil, decorrendo de 1de Janeiro a 31
de Dezembro do mesmo ano. Mas, para certas actividades que, tendo actividade
essencialmente sazonal, e para as sociedades nacionais participadas por sociedades
estrangeiras com diferentes exerccio sociais e frequentemente cotas em bolsa,
perfeitamente justificvel que o exerccio no coincida com o ano civil.
Presentemente, possvel que a sociedade adopte um exerccio social diferente do
ano civil, embora deva requer-lo expressamente s autoridades fiscais, nos termos do
disposto no art.7 do cdigo de IRC, conforme previsto nos arts.9 n1 al.i) e 65 - A
CSC. E, nesse caso, sendo o exerccio social diferente do ano civil, o mesmo dever
coincidir com o ultimo dia de um ms de calendrio, isto , dever ter,
habitualmente, inicio no dia 1 de um determinado ms e concluir-se no ltimo dia do
decimo segundo ms subsequente, devendo o mesmo constar do contrato de
sociedade (9n1 al.i)).
A lei omissa quanto durao do primeiro exerccio social, quando este corresponde
ao regime-regra, isto , coincide com o ano civil. Mas resulta da lei (9 n1 al.i) a
contrario) que, sendo o exerccio social coincidente com o ano civil, o exerccio social
se encerra a 31 de Dezembro de cada ano.
De uma disposio legal que regula a durao do mandato dos administradores (391
n3 1parte), poderemos concluir que o primeiro exerccio social termina na data
prevista para o respectivo encerramento, isto , no dia 31 de Dezembro do ano (civil)
em que teve inicio a actividade da sociedade; mesmo que tenha decorrido apenas
escassos dias desde essa data.
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Livro: Direito das Sociedades Comerciais Prof. Paulo Olavo Cunha 23
Diversamente, em relao s sociedades cujo exerccio social no coincide com o ano
civil, o primeiro exerccio ter uma durao no inferior a 6meses, nem superior a
dezoito meses, pelo que, iniciando-se mais de seis meses antes do termo previsto para
o seu encerramento se conclui nessa (correspondente ao seu termo); se a mesma
distar do de actividade menos de seis meses, ento o primeiro exerccio ter uma
durao superior a um ano, uma vez que s se conclui na data prevista para o seu
encerramento do ano seguinte (65 - A).
4.3.9. Os modelos de organizao da administrao e fiscalizao das
sociedades annimas e a administrao ss sociedades por quotas:
4.3.9.1. Estrutura de gesto e fiscalizao das sociedades
annimas:
A indicao da estrutura da administrao e fiscalizao da sociedade annima
outras das menes obrigatrias do contrato de sociedade (272 al.g)), uma vez que
neste tipo social possvel adoptar uma de trs estruturas admitidas na lei (278 n1).
Com efeito, a gesto e fiscalizao da sociedade annima pode reconduzir-se, a um de
trs modelos:
a)Conselho de administrao e conselho fiscal, eventualmente com ROC
externo (modelo clssico);
b)Conselho de administrao, compreendendo uma comisso de auditoria, e
ROC (modelo anglo saxnico); ou
c)Conselho de administrao executivo, conselho geral e de superviso e ROC
(modelo germnico).
A opo por uma das estruturas depende, essencialmente, de dois aspectos
diferenciados: a dimenso da sociedade e a existncia de controlo mais ou menos
definido do respectivo capital e direitos de voto ou relativa disperso no mercado das
participaes sociais. No que respeita dimenso, as pequenas sociedades annimas
tendero a adoptar o modelo clssico, eventualmente reduzido a administrador e
fiscal nicos, sendo incompatveis com as sociedades de modelo anglo-saxnico; as
sociedades mdias optaro entre o modelo clssico e o modelo germnico e s as
grandes sociedades elegero o modelo anglo-saxnico, embora possam escolher
qualquer dos outros. No entanto, de salientar que qualquer dos modelos adequado
a sociedades de grande dimenso, dependendo a escolha frequentemente da maior ou
menor concentrao e disperso do capital social.
4.3.9.2. Sociedades por quotas:
Neste tipo societrio no tem de haver necessariamente fiscalizao, podendo a
sociedade constituir-se contratualmente com um nico rgo institucionalizado: o
gerente ou a gerncia.
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Livro: Direito das Sociedades Comerciais Prof. Paulo Olavo Cunha 24
No momento da constituio da sociedade a fiscalizao nunca obrigatria, salvo se
o objecto social o impuser (como sucede com as SGPS 10 n2), podendo vir a impor-
se ainda que a titulo pontual, quando durante dois exerccios sociais se registarem
determinados parmetros, previstos e enunciados no art.262 n2. S nessas
circunstncias a sociedade fica obrigatoriamente sujeita a fiscalizao por ROC.
4.4. Consequncias da falta de menes obrigatrias:
Vm previstas no art.42, relativamente s sociedades annimas e por quotas;
disposio legal que prev duas solues diferentes: a nulidade do contrato (n1) e a
sanao de alguns dos vcios verificados (n2).
4.5. Menes facultativas do contrato de sociedade:
Para alm das menes obrigatrias (cuja falta pode determinar a invalidade do
prprio contrato), h que acautelar a incluso no contrato de sociedade de faculdades
que a no consagrao estatutria faz corresponder impossibilidade de
aproveitamento (sem prvia alterao do contrato, nalguns casos por unanimidade),
caso os scios (ou, a sociedade) pretendam vir a prevalecer-se dessas prerrogativas.
As menes facultativas podem ser de trs tipos: comuns aos dois tipos sociais que
estudamos ou especificas de cada um deles.
4.5.1. Menes comuns (s sociedades por quotas e annimas)
4.5.1.1. Participao em outras sociedades de diferente objecto
social e em agrupamentos complementares de empresas:
Se o contrato de sociedade no autorizar a participao da sociedade noutras
sociedades, desde que com objecto social diferente, essa participao no possvel,
ainda que esteja unicamente em causa a simples aquisio de aces (correspondente
a uma pura aplicao financeira). O que se traduz de uma leitura crua do CSC
(nomeadamente art. 11 n4 a contrario e 5), que veda literalmente a aquisio de
participaes sociais mesmo quando constitui mero investimento financeiro, se tal
possibilidade no estiver contratualmente prevista; e ainda que tal investimento seja
insignificante quando comparado com o capital da sociedade em causa. A ordem de
compra de aces em bolsa dada por um gestor de conta da sociedade corresponderia,
assim, nesse contexto, a um acto nulo (294CC), com os inconvenientes da
resultantes.
Atendendo ao disposto no art.11 (conjugao dos n4 e 5), a generalidade das
sociedades acautela a possibilidade de aquisio e subscrio de participaes sociais
em sociedades de diferente objecto, ainda que tambm de responsabilidade limitada.
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4.5.1.2. Autorizao para emisso de obrigaes:
Caso os scios pretendam deixar em aberto a possibilidade de a sociedade poder vir a
emitir obrigaes, essencial que eles deixem em aberto essa possibilidade,
autorizando a assembleia geral a deliberar a emisso de um emprstimo obrigacionista
(272 al.f) e 350 n1 in fine). A faculdade legalmente estabelecida, no CSC, aplicvel
s sociedades por quotas, por efeito do disposto no artigo nico do DL n160/87 de 3
de Abril, que veio corrigir uma omisso do legislador.
Subsiste fundamentalmente o problema que o de apurar se constitui meno
facultativa do contrato de sociedade admitir que a competncia para a deliberao de
uma emisso de obrigaes tambm do conselho de administrao. A resposta
dever ser afirmativa, inclinando-se a lei para estabelecer em favor do conselho de
administrao uma competncia alternativa (350 n1 in fine), sempre que o contrato
de sociedade preveja essa faculdade.
No que respeita eventual competncia da gerncia para deliberar (ou decidir) a
eventual emisso de obrigaes e aplicao a este tipo societrio do disposto no
art.350 n1 in fine, de modo que o lanamento do emprstimo obrigacionista possa
ficar organicamente dependente da administrao da sociedade, afigura-se ser
suficiente a previso contratual da autorizao para emisso de obrigaes e a
competncia da gerncia para o efeito, ainda que tal concluso no deixe de causar
uma certa perplexidade.
Em paralelo com a autorizao estatutria para emisso de obrigaes, no se v
como inconveniente que o contrato de sociedade inclua igualmente, e a propsito da
emisso de obrigaes, uma autorizao para a criao de outros instrumentos
financeiros.
4.5.1.3. Clusulas sobre distribuio de lucros:
A lei no estabelece regras imperativas sobre a distribuio de lucros limitando-se a
propor uma soluo supletiva, nos arts.217 n1 e 294 n1 que, no entender do
professor, confere aos scios e accionistas o direito a receber uma certa parte do lucro
distribuvel.
No obstante, habitual os contratos de sociedade remeterem para a livre
discricionariedade dos scios a eventual (no) distribuio de lucros peridicos. No
entanto, atendendo s regras supletivas constantes dos arts.217 n1 e 294 n1,
fazendo uma leitura restritiva das mesmas pode retirar-se da lei a garantia da
distribuio peridica de uma parte (mnima) dos lucros do exerccio.
4.5.1.4. (Clusulas que estabelecem a exigibilidade de
realizao de) prestaes acessrias:
Na vertente das obrigaes, haver que prever a possibilidade de o contrato vir a
impor a determinados scios, ou totalidade dos mesmos, a obrigao de efectuar
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prestaes acessrias, quer nas sociedades por quotas, quer nas sociedades annimas,
nos termos dos arts.209 e 287.
Qualquer das disposies tem o cuidado de referir que se tais obrigaes se
configuram como um contrato tpico, elas seguem o regime desse mesmo contrato.
O contrato mais tpico de obrigao de prestaes acessrias o chamado contrato de
suprimento. Neste caso, os ditos suprimentos so emprstimos que os scios fazem
sociedade e que passam a ser eventualmente obrigatrios quando exigidos pela
sociedade se previstos no respectivo contrato.
Nas sociedades annimas, a estipulao de prestaes acessrias implica que as
aces sejam nominativas (299 n2 al.c)).
4.5.1.5. (Clusulas sobre) alienao do direito de preferncia na
subscrio de aumentos de capital por entradas em dinheiro:
Quando est em causa um aumento do capital social, os scios tm o direito de
preferncia de o subscreverem, proporcionalmente s participaes que j detm. Tal
direito permite-lhes manter uma participao social proporcional que anteriormente
eram titulares.
Acontece que os scios ou accionistas podem no estar interessados em subscrever,
na totalidade ou em parte, o aumento de capital social, podendo optar por ceder a
terceiros esse direito, mediante uma determinada contrapartida. possvel regular
estatutariamente a alienao do direito de preferncia na subscrio de aumentos de
capital (267 e 458 n3).
4.5.1.6. (Clusulas sobre) nomeao de gerentes,
administradores, membros do conselho geral ou liquidatrios:
Pode aproveitar-se o contrato de sociedade para imediatamente indicar as pessoas
que vo desempenhar determinadas funes e evitar assim realizar uma assembleia
geral com a finalidade de eleger os titulares dos rgos sociais.
Os arts.252 n2, 391 n1 e 435 n1 so os preceitos legais que, respectivamente,
prevem a nomeao contratual de gerentes, a designao de administradores ou de
membros do conselho geral, e o art.151 n1, relativamente possibilidade de
indicao dos liquidatrios, em caso de liquidao da sociedade.
4.5.1.7. Designao do secretrio da sociedade, quando a
mesma facultativa:
Em certos casos, a nomeao de um secretrio da sociedade corresponde a uma
exigncia legal; noutros, tal designao ser meramente facultativa (446 - D) e
permitir delimitar com algum cuidado as funes do secretrio nessa circunstncia.
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4.5.1.8. Atribuio de vantagens especiais aos scios:
As vantagens especiais concedidas a scios (fundadores), em razo da constituio da
sociedade, devem ser exaradas no prprio contrato de sociedade (16 n1), pelo que
se pretendermos que tal acontea deveremos inserir a previso contratual
correspondente.
4.5.1.9. Direitos especiais:
A atribuio de direitos especiais tem de decorrer do prprio contrato social (24 n1),
correspondendo a preceitos estatutrios facultativos e traduzindo-se na criao de
categorias de aces nas sociedades annimas (302).
4.5.1.10. Amortizao de participaes sociais:
Tambm a amortizao de quotas e de aces (com reduo do capital social) pode
constituir objecto de clusulas facultativas que, a no serem acolhidas, impedem a
sociedade de proceder extino de participaes.
4.5.2. Clusulas facultativas especficas das sociedades por quotas:
Algumas matrias no so susceptveis de serem clausuladas em sociedades annimas,
por no se enquadrarem na caracterizao desse tipo societrio. Encontram-se nessa
situao:
4.5.2.1. Responsabilidade perante credores sociais:
Nas sociedades por quota, e constituindo excepo clssica limitao da
responsabilidade dos scios, pode ainda ser clausulada a obrigatoriedade destes
assumirem perante os credores sociais, at um certo montante, e solidariamente com
a sociedade ou em termos meramente subsidirios em relao a esta e a efectivar
apenas na fase da liquidao (198n1, 2 e 3), a satisfao das dvidas sociais.
Trata-se a possibilidade de alargar a responsabilidade dos scios, elevando o
respectivo limite, dentro de certos parmetros contratualmente previstos.
4.5.2.2. Obrigaes de prestaes suplementares:
As obrigaes de prestaes suplementares de capital, que constituem verdadeiros
reforos em dinheiro, sempre que a sociedade se encontra em situao de
subcapitalizao, e consequentemente em dificuldade para cumprir as suas obrigaes
so tpicas das sociedades por quotas (210 - 213), obedecendo a uma
regulamentao eminentemente subjectiva. No obstante, no repugna admitir que
este tipo de obrigaes seja clausulado numa sociedade annima, pese embora a sai
aparente incompatibilidade com a estrutura das participaes sociais caractersticas
desta. Estas prestaes no vencem juros e, sempre que o scio se recusar a prest-
las, sendo contratualmente autorizadas e favoravelmente deliberadas, ele incorre no
risco de ser excludo. Por esta razo, o incumprimento de prestaes suplementares de
capital pode constituir uma forma de afastar scios.
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4.5.3. Regras facultativas exclusivas das sociedades annimas:
Trata-se das menes facultativas que so caractersticas e tpicas de sociedades
annimas.
4.5.3.1. Autorizao para distribuio antecipada de
dividendos:
possvel clausular contratualmente a autorizao para administrao da sociedade,
por uma s vez, na segunda metade do exerccio e mediante parecer favorvel do
rgo de fiscalizao, distribuir dividendos, por conta dos lucros a apurar nesse
exerccio (297).
A questo traduz-se no seguinte: se no final do 1semestre e pela percepo dos
resultados at ento obtidos, houver a convico de que a sociedade ir, nesse
exerccio, gerar lucros substanciais, porque no procurar atribuir de imediato aos
accionistas uma certa quantia por conta dos lucros finais do exerccio. Nessa
distribuio haver que preservar a intangibilidade de distribuio antecipada de
dividendos, nas sociedades annimas posteriores a 1 de Novembro de 1986, se ta
faculdade no se encontrar clausulada estatutariamente.
Esta clausula no necessria nas sociedades annimas existentes antes da entrada
em vigor do CSC, que previu para essas sociedades um regime especfico, caracterizado
pela desnecessidade de autorizao contratual (537).
4.5.3.2. Aumento do capital social deliberado pelo rgo de
administrao:
Este tipo de clusula corresponde a uma das situaes de competncia cumulativa da
assembleia geral, ou dos accionistas considerados no seu conjunto, e do rgo de
administrao (456 e 85 n1).
possvel, desde a entrada em vigor do CSC, autorizar o conselho de administrao a,
durante um certo prazo mximo (de 5anos, se nada for contratualmente estipulado),
decidir operaes de aumento do capital social por entradas em dinheiro, desde que
se estabelea o limite at ao qual dispe dessa faculdade (456 n2).
Trata-se da excepo regra da competncia exclusiva dos accionistas para
deliberarem alteraes do contrato de sociedade (85 n1 parte inicial e 373 n2
parte inicial). Os accionistas no prescindem dos (seus) direitos sociais e podem, em
qualquer momento, e no obstante tal autorizao contratual, deliberar um aumento
do capital social que, eventualmente, esgote a prpria autorizao e elevar o capital
at ao respectivo montante mximo ou ultrapassar mesmo tal limite.
4.5.4. Outras regras estatutrias:
Para alm das menes facultativas acima referidas, podem integrar contratos de
sociedade por quotas ou annima, todas as clausulas que em geral:
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a)Afastem normas legais supletivas (constituem exemplos, entre outros, os de
clausulas sobre cesso de quotas que estabeleam um regime diferente do legalmente
estabelecido, no art.228 n2, limitando transmisses entre scios e, ou, entre
familiares prximos (cnjuges e parentes na linha recta) ou estabelecendo a total
liberdade para a transmisso de participaes sociais.
b)Concretizem disposies legais permissivas (nestes casos, o CSC prev a
possibilidade de o contrato social autorizar determinadas prticas. Se os scios no
aproveitarem essa faculdade, ento entende-se que eles prescindem da mesma.
Exemplos: amortizao de aces com reduo do capital social 346 n1 e 3 - ; a
remio de aces privilegiadas 345 n1 e 2 - ; a convocao de assembleias gerais
apenas por carta registada, quando as aces so todas nominativas 377 n3 in fine
- ; etc);
c)Correspondam faculdade de auto-regulamentao de interesses dos scios
e accionista e que no violem os princpios caracterizadores do sistema jurdico-
societrio ou infrinjam as normas imperativas que o integram, ou que simplesmente
esclaream e pormenorizem aspectos de regime em que a lei omissa ou obscura (os
scios e accionistas podem incluir no contrato de sociedade regras que no colidam
com os princpios enformadores do sistema jurdico societrio e com as normas
imperativas que o caracterizam, bem como regular contratualmente matrias em que
a lei omissa, eventualmente de forma intencional, ou em que a respectiva redaco
suscita dvidas. Constitui exemplo da primeira situao a criao de rgos sociais
estatutrios (facultativos), do gnero conselho consultivo, a qual deve ser feita sem
prejuzo da designao legal dos rgos obrigatrios, cujo respeito decorre do
principio da tipicidade. Encontram-se no segundo caso todas as situaes societrias
que os scios pretendam ver reconduzidas ao contrato, com a finalidade de lhes
conferirem eficcia erga omnes).
Noutros casos, a lei no foi omissa, mas o regime que instituiu deixa lugar a algumas
dvidas, tornando-se adequado torn-lo claro atravs de regra contratual.
O problema que subsiste o de saber o que em relao matria que, constando de
preceitos legais dispositivos, no foi aproveitada contratualmente. H uma soluo
que salta logo vista e que se traduz na alterao do contrato de sociedade. Como
regra pressupe e implica, para alm da prpria deliberao, um acto com forma
especial (escrita), registo e publicaes subsequentes, tudo com custos financeiros. A
soluo encontra-se no n3 do art.9.
4.5.5. O art.9 n3 CSC; interpretao adoptada:
4.5.5.1. Significado e importncia:
O art.9 diz no seu n3 que os preceitos dispositivos desta lei s podem ser
derrogados pelo contrato de sociedade, mas acrescenta a no ser que este
expressamente admita a derrogao por deliberao dos scios.
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Livro: Direito das Sociedades Comerciais Prof. Paulo Olavo Cunha 30
Segundo este artigo, e como regra, as deliberaes dos scios (accionistas) no
derrogam os preceitos dispositivos do Cdigo. Logo, ou o contrato de sociedade (e a
prpria lei, por maioria de razo) admite expressamente a derrogao dessas regras
por deliberao dos scios, ou elas assumem um carcter injuntivo. E, neste caso,
necessrio ser alterar primeiramente o contrato de sociedade, introduzindo-lhe uma
permisso nesse sentido. Mas, na sua parte final, a norma admite que o contrato de
sociedade possa expressamente admitir a derrogao dessas regras por deliberao
dos scios.
4.5.5.2. Consequncias:
As deliberaes tomadas com violao do disposto no n3 do art.9 sero anulveis
(58 n1 al.a)), se a situao especfica em causa no se adequar a nulidade.
5. Acordos Parassociais
5.1. Noo e natureza:
Os acordos parassociais so contratos ou convenes celebrados por todos ou alguns
scios (ou futuros scios), pelos quais estes, nessa qualidade, se obrigam a uma
conduta que no seja proibida por lei (17 n1) e, mais concretamente, a exercer em
determinados termos os direitos inerentes s suas participaes sociais. Parte desta
noo retira-se do disposto na prpria lei das sociedades comerciais (17 n1), que
trata destes acordos, e a referncia conduta que no seja proibida por lei resulta da
aplicao do disposto no art.280 n1CC.
5.2. Eficcia, incidncia e oportunidade do acordo parassocial:
Sendo celebrados pelos scios (ou por parte deles) ou tendo em vista a aquisio
dessa qualidade, por pessoas que se venham a tornar scios - , mas margem da
sociedade, os acordos parassociais no vinculam a sociedade, qual so impunveis,
no constituindo consequentemente base de impugnao de deliberaes sociais.
No sendo oponveis sociedade, tais acordos apenas so geradores de relaes
obrigacionais entre os respectivos subscritores, atribuindo-lhes responsabilidade
solidria relativamente conduta de pessoas que, por fora dos mesmos, sejam
designadas para funes de administrao (83 n1).
Como negcios jurdicos de natureza contratual, os acordos parassociais tambm no
produzem efeitos perante terceiros, no constituindo base para impugnao de actos
sociais.
A verdadeira justificao dos acordos parassociais prende-se com o objectivo de os
scios regularem matrias que pretendem no ver reveladas e que no querem que o
pblico, em geral, conhea. Dessa finalidade resultou, em especial relativamente a
determinadas sociedades comerciais especiais (instituies de crdito e financeiras) o
dever de revelar a existncia dos acordos e o respectivo contedo quando, por efeito
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Livro: Direito das Sociedades Comerciais Prof. Paulo Olavo Cunha 31
do mesmo, se pudessem considerar alteradas as regras que traduzem uma
determinada deteno ou controlo de participaes no mbito de uma certa
sociedade. Assim, nos termos da lei de enquadramento bancrio (Regime geral das
instituies de credito e das sociedades financeiras 111), todos os acordos
parassociais entre accionistas relativos ao exerccio do direito de voto devem ser
registados no Banco de Portugal.
No tocante ao seu contedo, os acordos visando ou no esconder dos demais scios
e terceiros, assuntos mais ou menos relevantes da vida societria respeitam
geralmente ao exerccio do direito de voto (17 n2) e designao de membros de
rgos sociais. Mas no se ficam por aqui, podendo ser relativos a aspectos que se
prendem com a prpria organizao da sociedade, ou ser meramente prospectivos,
relativamente eventualidade de abertura da sociedade a novos capitais, ainda que
em termos de mero financiamento. Qualquer que seja o contedo, haver obviamente
que observar as limitaes resultantes da eficcia e incidncia dos acordos
parassociais, sendo determinante, quanto a este aspecto, o disposto nos arts.17 n2
in fine e 3; e 83.
Quando que se celebra um acordo parassocial, sito , qual o momento em que
ocorre a respectiva negociao e concluso? Um acordo parassocial pode surgir antes
da prpria constituio da sociedade, com vista mesma ou mais do que isso, para
regular o relacionamento entre os scios durante a vida da sociedade (ou parte dela).
Ele forma-se tambm em vida da prpria sociedade, para regular aspectos duradouros
ou pontuais do relacionamento entre os scios, to diversos como o direito de
preferncia na aquisio de participaes sociais, sindicatos de voto, meros acordos de
no concorrncia (sobre aspecto especifico da actividade da sociedade), a abertura do
capital social a terceiros e o relacionamento dos novos scios com os existentes ou
com alguns deles. Pode corresponder a uma contrapartida pela alterao das
expectativas dos scios originrios ou j existentes no momento da admisso de novos
scios. Com efeito, muitas vezes os novos scios admitem conceder aos que j o so
direitos que no tem sentido permitir que passem a terceiros se as participaes
forem alienadas. No sendo objecto de regulamentao estatutria e constando
unicamente de acordo parassocial, tais prerrogativas no se transmitem com as
participaes e desaparecem com a extino da ligao do respectivo subscritor
sociedade.
5.3. Matrias excludas:
Todas as clusulas de um acordo parassocial que violarem uma disposio legal
imperativa sero nulas, por aplicao do regime geral da invalidade dos negcios
jurdicos (294CC).
No que se refere s limitaes especificas em matria de acordos parassociais, so
nulos os acordos:
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Livro: Direito das Sociedades Comerciais Prof. Paulo Olavo Cunha 32
-- que respeitem conduta (actuao) dos respectivos intervenientes ou de
outras pessoas no exerccio de funes de administrao ou de fiscalizao (17 n2 in
fine e 294CC); ou
-- pelos quais um scio se obriga a votar
seguindo sempre as instrues da sociedade o de um dos seus rgos;
aprovando sempre as propostas feitas por estes;
exercendo o direito de voto ou abstendo-se de o exercer em
contrapartida de vantagens especiais (17 n3).
Da primeira limitao resulta claramente que as pessoas no podem ser
condicionadas, na sua actuao, em prejuzo da sociedade. As suas funes devem ser
exercidas, com cuidado e lealdade, em termos criteriosos e diligentes (64). Neste
caso, no est em causa o direito de voto, mas a prtica de determinados actos no
desempenho de certas funes.
Diferentemente, no art.17 n3 esto em causa acordos que impem o exerccio do
voto num sentido que a lei probe. Assim, a primeira limitao nesta matria visa evitar
a hegemonizao de uma sociedade por um dos seus rgos, nomeadamente pelo
rgo de administrao; a segunda limitao constitui uma especificao da primeira;
e a terceira pretende impedir que o voto seja comprado, isto , que um scio, a
troco de uma certa benesse manifeste a sua opinio num determinado sentido
predeterminado.
Assim, se o acordo parassocial puser em causa, ainda que indirectamente, um principio
fundamental do direito societrio, como seja o da igualdade de tratamento dos
accionistas, ento este principio ir-se- impor relativamente clusula parassocial que
se dever ter por no escrita.
5.4. Estruturao de acordo parassocial:
Como outros instrumentos de natureza contratual, os acordos parassociais
estruturam-se frequentemente em pressupostos, definies e clusulas, abrangendo
diversas matrias, consoante os interesses em jogo, e so normalmente aplicveis a
(futuros) accionistas, sendo raros no mbito da sociedade por quotas.
Seco II Formas e actos de constituio
6. Formas de constituio de sociedades comerciais: subscrio particular e apelo ao
pblico
6.1. Generalidades:
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6.1.1. Constituio particular de sociedades e o aparecimento da
co