direito civil - posse e propriedade

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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS DAS COISAS Direito das coisas: é um conjunto de normas que regem as relações jurídicas concernentes aos bens materiais ou imateriais suscetíveis de apropriação pelo homem; visa regulamentar as relações entre os homens e as coisas, traçando normas tanto para a aquisição, exercício, conservação e perda de poder dos homens sobre esses bens como para os meios de sua utilização econômica. Direito real: - É o ramo do direto que trata das normas que atribuem prerrogativas sobre bens materiais ou imateriais. Ë o direito que se prende à coisa, prevalecendo com a exclusão da concorrência de quem quer que seja, independendo para o seu exercício da colaboração de outrem e conferindo ao seu titular a possibilidade de ir buscar a coisa onde quer que se encontre, para sobre ela exercer o seu direito. I. DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS REAIS E PESSOAIS Nosso direito optou pela teoria clássica ou realista onde o direito real é uma relação entre o homem e a coisa, estabelecida diretamente sem intermediários (sujeito ativo, a coisa e a inflexão imediata do sujeito ativo sobre a coisa) e o direito pessoal, uma relação entre pessoas (sujeito ativo, sujeito passivo e o objeto da obrigação), repelindo a teoria personalista (o direito não é uma relação jurídica entre pessoa e coisa) e a teoria monista-objetiva ou impersonalista (despersonaliza o direito real transformando-a em uma relação pessoal). Direitos pessoais Direitos reais Quanto aos sujeitos: Dualidade de sujeitos – ativo e passivo Só um sujeito (relação homem e coisa) Quanto à ação: Atribuem a seu titular uma ação pessoal dirigida somente a um indivíduo Conferem a seu titular uma ação contra quem indistintamente detiver a coisa Quanto ao limite: Ilimitado – autonomia da vontade – permite criação de novas figuras contratuais Não pode ser objeto de livre convenção – numerus clausus tipos impostos. Quanto ao modo de gozar os direitos Exige sempre um intermediário o obrigado a prestação supõe exercício direto pelo titular do direito sobre a coisa Quanto à extinção Extingue-se pela inércia do sujeito Conserva-se até que se constitua uma situação contrária em proveito de outro titular.

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Page 1: Direito Civil - Posse e Propriedade

INTRODUÇÃO AOS DIREITOS DAS COISAS

Direito das coisas: é um conjunto de normas que regem as relações jurídicas concernentes aos bens materiais ou imateriais suscetíveis de apropriação pelo homem; visa regulamentar as relações entre os homens e as coisas, traçando normas tanto para a aquisição, exercício, conservação e perda de poder dos homens sobre esses bens como para os meios de sua utilização econômica.

Direito real: - É o ramo do direto que trata das normas que atribuem prerrogativas sobre bens materiais ou imateriais. Ë o direito que se prende à coisa, prevalecendo com a exclusão da concorrência de quem quer que seja, independendo para o seu exercício da colaboração de outrem e conferindo ao seu titular a possibilidade de ir buscar a coisa onde quer que se encontre, para sobre ela exercer o seu direito.

I. DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS REAIS E PESSOAIS

Nosso direito optou pela teoria clássica ou realista onde o direito real é uma relação entre o homem e a coisa, estabelecida diretamente sem intermediários (sujeito ativo, a coisa e a inflexão imediata do sujeito ativo sobre a coisa) e o direito pessoal, uma relação entre pessoas (sujeito ativo, sujeito passivo e o objeto da obrigação), repelindo a teoria personalista (o direito não é uma relação jurídica entre pessoa e coisa) e a teoria monista-objetiva ou impersonalista (despersonaliza o direito real transformando-a em uma relação pessoal).

Direitos pessoais Direitos reaisQuanto aos sujeitos: Dualidade de sujeitos – ativo e passivo Só um sujeito (relação homem e coisa)

Quanto à ação:Atribuem a seu titular uma ação pessoal

dirigida somente a um indivíduoConferem a seu titular uma ação contra quem

indistintamente detiver a coisa

Quanto ao limite:Ilimitado – autonomia da vontade – permite

criação de novas figuras contratuaisNão pode ser objeto de livre convenção –

numerus clausus – tipos impostos.Quanto ao modo de

gozar os direitosExige sempre um intermediário o obrigado a

prestaçãosupõe exercício direto pelo titular do direito

sobre a coisa

Quanto à extinção Extingue-se pela inércia do sujeitoConserva-se até que se constitua uma situação

contrária em proveito de outro titular.

Quanto à sequela:Consiste no poder de exigir certa prestação

que deve ser realizada por determinada pessoa, não vinculando terceiros.

Segue o seu objeto onde quer que se encontre.

Quanto ao abandono Não é possívelPossível o abandono quando o titular não quer

arcar com o ônus.Quanto à usucapião Não é possível Um dos modos aquisitivos

CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS

sobre coisa própria:propriedade - é o único, confere o título de dono ou domínio, é ilimitada ou plena, confere poderesde uso, gozo, posse, reivindicação e disposição

sobre coisa alheia:de gozo: enfiteuse, servidão predial, usufruto, uso, habitação e renda real,de garantia: penhor, hipoteca, anticrese ede aquisição: compromisso de compra e venda.

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POSSE

Situação de fato que é protegida pelo legislador. Situação de fato é protegida pois aparenta ser uma situação de direito e enquanto não se provar ao contrário, tal situação prevalecerá.

POSSE: é a detenção de uma coisa em nome próprio (diferente da mera detenção em que o detentor possui em nome de outrem, sob cujas ordens e dependências se encontram). De outro ângulo temos:

JUS POSSIENDI: relação material entre o homem e a coisa, consequente de um ato jurídico (ex.: compra e venda registrada). A situação de fato entre ele e a coisa encontra justificativa num direito preexistente.

JUS POSSESSIONIS: quando a relação de fato vem desacompanhada de um direito anterior (ex. usucapião), mas deriva efeitos importantes. Assim mesmo originará uma situação jurídica que deve ser protegida, mesmo não se originando de um direito.

TEORIAS QUE EXPLICAM A POSSE

1) Teoria subjetiva (Savigny): define a posse como o poder direto ou imediato que tem a pessoa de dispor fisicamente de um bem com a intenção de tê-lo para si e de defendê-lo contra a intervenção ou agressão de quem quer que seja; em linhas gerais para essa teoria, a posse só se configura pela união de corpus e animus, a posse é o poder imediato de dispor fisicamente do bem, com o animus rem sibi habendi, defendendo-a contra agressões de terceiros e a mera detenção não possibilita invocar os interditos possessórios, devido à ausência do animus domini.

2) Teoria objetiva (Ihering): posse é a exteriorização ou visibilidade do domínio, ou seja, a relação exterior intencional, existente normalmente entre o proprietário e sua coisa; para essa escola: a posse é condição de fato da utilização econômica da propriedade; o direito de possuir faz parte do conteúdo do direito de propriedade; a posse é o meio de proteção do domínio; a posse é uma rota que conduz à propriedade, reconhecendo, assim, a posse de um direito.

Nosso Código adotou a teoria de Ihering.

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Na sistemática de nosso código, a posse não requer nem a intenção de dono nem o poder físico sobre o bem (relação entre a pessoa e coisa), tendo em vista a função econômica desta. Os artigos 1198 e 1208 do Código Civil acrescenta dois complementos explicativos, no primeiro está esculpido o conceito de “fâmulo da posse” (detentor da posse, gestor da posse ou servidor da posse), é aquele que em virtude de sua situação de dependência econômica ou de um vínculo de subordinação em relação à outra pessoa (possuidor direto ou indireto), exerce sobre o bem , não é uma posse própria, mas a posse desta última e em nome desta, em obediência a uma ordem ou instrução. Aquele que assim se comporta presume-se detentor até prova em contrário. No segundo artigo insere-se que os atos de mera permissão (atos com anuência expressa ou concessão do

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dono revogáveis, que não se confundem com outorga nem com concessão de direito) e os atos de mera de tolerância (indulgência).

Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.

Parágrafo único - Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário.

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.

A posse se caracteriza como um mero estado de fato, que a lei protege por ser a exteriorização dapropriedade. (Silvio Rodrigues e Clóvis Bevilaqua).

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA POSSE

o corpus, exterioridade da propriedade, que consiste no estado normal das coisas, sob o qual desempenham a função econômica de servir e pelo qual o homem distingue quem possui e quem não possui;

o animus, que já está incluído no corpus, indicando o modo como o proprietário age em face do bem de que é possuidor.

OBJETO DA POSSE

Podem ser objeto da posse, as coisas corpóreas, salvo as que estiverem fora do comércio, ainda que gravadas com cláusula de inalienabilidade, as coisas acessórias se puderem ser destacadas da principal sem alteração de sua substância, as coisas coletivas, os direitos reais de fruição (uso, usufruto, etc.) e os direitos pessoais patrimoniais ou de crédito.

Quanto às coisas coletivas devemos distinguir as universalidades de fato das de direito, as primeiras são compostas de objetos individualmente passíveis de posse, assim esta recairá sobre cada um deles, as segundas, ainda que pareça ser uma abstração jurídica são passíveis de posse, pois consistem em direitos patrimoniais.

NATUREZA DA POSSE

Natureza da posse: a posse é um direito e não um fato, para a maioria de nossos civilistas é umdireito real devido ao seu exercício direto, sua oponibilidade erga omnes e sua incidência em objetoobrigatoriamente determinado.

Para Clóvis Bevilaqua e Silvio Rodrigues : a posse é um mero estado de fato, que a lei protege em atenção a propriedade, de que ela é manifestação exterior, e não figura no artigo 604 como um direito real.

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ESPÉCIES E CLASSIFICAÇÕES DA POSSE

IntroduçãoEm vista do disposto do artigo 1196 do Código Civil, podemos definir a posse como exercício de fato, de alguns poderes peculiares à propriedade.

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

DISTINÇÃO DE POSSE E PROPRIEDADE

A propriedade é a relação entre a pessoa e a coisa, que se assenta na vontade objetiva da lei, implicando um poder jurídico e criando uma relação de direito. A posse é mera relação entre a pessoa e a coisa, fundada na vontade do possuidor, criando uma relação de fato.

Possuidor: é o que tem pleno exercício de fato dos poderes constitutivos do domínio ou somente de alguns deles, como no caso dos direitos reais sobre coisa alheia, como o usufruto, etc.

Não sendo considerado possuidor quem conserva a posse em nome de terceiro, sob cuja dependência se encontra e em cumprimento de ordens ou instruções suas. (ex.: Caseiro).

CLASSIFICAÇÕES

POSSE DIRETA E INDIRETA:

Determina, essa classificação, a extensão da garantia possessória e suas consequências jurídicas. Apesar de ser por sua natureza exclusiva, inconcebível é, mais de uma posse sobre a mesma coisa, entretanto, admite o legislador que ela possa desdobra-se no campo de seu exercício.

Posse indireta: quando seu titular , afastando de si , por sua própria vontade a detenção da coisa, continua a exercer a posse mediatamente, após haver transferido a outrem a posse direta. É possuidor indireto que cede o uso do bem a outrem; assim, no usufruto, o nu-proprietário tem a posse indireta, porque concedeu ao usufrutuário o direito de possuir, conservando apenas a nua propriedade, ou seja, a substância da coisa.

Posse direta: é exercida por concessão do dono, é possuidor indireto quem recebe o bem, em razão de direito ou de contrato, sendo, portanto, temporária e derivada. A lei reconhecendo esse desdobramento da posse, traz vantagens , tanto para o possuidor direto, bem como, para o indireto, onde ambos podem recorrer aos interditos para proteger sua posição ante terceiro, e mais, recorrer à esses mesmos interditos uns contra os outros, ou seja o possuidor indireto contra o direto e vice-versa.

Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

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Assim:

Não é fâmulo;

Há duas posses paralelas e reais – a do possuidor indireto (que cede o uso) e a do possuidor direto (que recebe) – que coexistem, sendo que a direta é sempre temporária em virtude da relação transitória de direito que a ampara;

Enumeração legal é exemplificativa, abrange todos os casos em que a posse de uma coisa passa a outrem em virtude de obrigação ou direito.

Deve haver uma relação de jurídica entre os possuidores;

Possuidor direto pode quando molestado usar os interditos possessórios, até mesmo contra o possuidor indireto, já o contrário é impossível.

COMPOSSE

Compossessão ou posse comum: Desdobramento da posse quanto a simultaneidade do exercício. A composse está para a posse, assim como o condomínio está para o domínio.

Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.

A posse se manifesta pelo exercício de alguns dos poderes do domínio, nada impede que tais poderes sejam exercidos simultaneamente por mais de um possuidor, desde que, o exercício por parte de um, não impeça o exercício por parte do outro.

Ter-se-á quando, em virtude de contrato, lei, ou herança, duas ou mais pessoas se tornam possuidoras do mesmo bem, embora, por quota ideal, exercendo cada uma sua posse sem embaraçar a da outra; para que se tenha a posse comum ou compossessão será mister a pluralidade de sujeitos e a coisa ser indivisa.

Composse pro diviso: ocorre quando há uma divisão de fato, embora não haja de direito, fazendo com que cada um dos compossuidores já possua uma parte certa, se bem que o bem continua indiviso.

Composse pro indiviso: dá-se quando as pessoas que possuem em conjunto o bem têm uma parte ideal apenas, sem saber qual a parcela que compete a cada uma. A proteção possessória é conferida ao compossuidor, mesmo contra seu consorte, se este quiser impedir –lhe o exercício de sua posse.

A composse termina:

Pela divisão de direito, amigável ou judicial, continuando cada pessoa a possuir a parte certa;

Pela posse exclusiva de um dos sócios que exclua, sem oposição dos demais uma parte dela.

Composse não se confunde com a dualidade de posse (posse direta e indireta) pois nesta última o possuidor fica privado da utilização imediata da coisa e na composse todos podem utilizá-la diretamente, desde que um não exclua os outros.

POSSE JUSTA E INJUSTA

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Posse justa: é a que não é violenta, não clandestina e que não é precária;

Posse injusta: é aquela que se reveste de algum dos vícios acima apontados, ou melhor, de violência, clandestinidade ou de precariedade.

Violenta: conseguida pela força injusta, assim a lei nega ao esbulhador a proteção possessória.

Clandestina: a que se constitui às escondidas, quando alguém ocupa coisa do outro sem que ninguém perceba , tomando cautela para não ser visto, oculta seu comportamento. Posse é a exteriorização do domínio, na clandestinidade não há exteriorização, portanto, não há posse.

Precária: a posse daquele que tendo recebido a coisa da mão do proprietário, por um título que obriga a restituí-la, recusa-se injustamente a fazer a devolução, passa possuir a coisa em seu próprio nome. A precariedade macula a posse, não gerando efeitos jurídicos. A precariedade só cessa com a devolução.

Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

Apesar da posse ser injusta, ela pode ser defendida pelos interditos, não contra aquele de quem se tirou, pela violência, clandestinidade ou precariedade, mas contra terceiros que eventualmente desejem arrebatar a posse para si.

Convalescimento da posse: a posse violenta e a clandestina podem convalescer desse vício, se após cessada a violência o esbulhado não reage contra o esbulhador, que assim exerce a posse por mais de ano e dia. O mesmo se dá com a clandestinidade, se esta cessa e o possuidor passa a exteriorizar seus atos e o proprietário nada faz, por ano e dia, aquela posse que originariamente era clandestina (ou violenta) ganha juridicidade, possibilitando ao seu titular a invocação da proteção possessória. A posse precária, entretanto, não se convalida, jamais, sendo sempre viciosa.

POSSE DE BOA OU MÁ FÉ

Aqui devem ser analisados os elementos subjetivos (intrínsecos) da posse.

Posse de boa fé: quando o possuidor está convicto de que a coisa realmente lhe pertence, ignorando vício ou obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa , ou do direito possuído. CC. Art. 1201 e 1202. Não se considera posse de boa-fé, a posse de quem por erro inescusável ou ignorância grosseira desconhece o vício que mina sua posse. O legislador presume (presunção júris tantum) boa fé da posse quando o possuidor tem justo título.

Justo Título: título hábil para conferir ou transmitir direito a posse, se proviesse do verdadeiro possuidor.

Portanto na posse de boa fé há sempre um título translativo ligando o possuidor atual a seu antecessor (posse derivada), de modo que a aquisição, pelo menos aparentemente, se apresenta livre de qualquer lesão a direito alheio.

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Presume-se de boa-fé, pois o título do possuidor é justo, tal presunção admite prova em contrário, compete a parte contrária (transferência do ônus da prova) provar que a despeito dele, está o litigante ciente de não ser justa a sua posse.

A posse de boa fé torna-se posse de má fé ao tomar conhecimento o possuidor do vício que infirma a sua posse. A prova desse conhecimento e de quem argúi.

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.

Parágrafo único - O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.

Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.

Posse de má fé: é aquela que o possuidor tem ciência da ilegitimidade de seu direito de posse, em razão de vício (clandestina, precária, violenta) ou obstáculo jurídico impeditivo de sua aquisição.

POSSE AD INTERDICTA E AD USUCAPIONEM

Posse ad interdicta: é a que se pode amparar nos interditos, caso for ameaçada, turbada, esbulhada ou perdida. Confere a proteção aos interditos, para isso basta que a posse seja justa. Assim o titular dessa posse justa, pode obter proteção possessória, ainda que contra o proprietário da coisa ou terceiros. A posse injusta pode dar direito aos interditos contra terceiros desde que esses não tenham sido vítimas da violência , da clandestinidade ou precariedade, já que estes não podem arguir nada contra o possuidor.

Posse ad usucapionem: quando der origem ao usucapião da coisa desde que obedecidos os requisitos legais. É um dos modos de adquirir o domínio pela posse mansa e pacífica sobre a coisa de outrem, por um período definido em lei.

POSSE NOVA E POSSE VELHA

Posse nova: se tiver menos de ano e dia.Posse velha: se contar com mais de ano e dia.é necessário para consolidar o fato, purgando a posse dos defeitos de violência e clandestinidade. Se a posse tiver ano e dia o possuidor será sumariamente mantido na posse, até que seja convencido pelos meios ordinários Esse prazo é importante, pois contra a posse nova pode o titular do direito lançar mão do desforço imediato (CC. art. 1210, § 1º) ou obter reintegração liminar em ação própria (CPC arts. 926 e segs)

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.

§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

Observação:

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Está firmado no art. 1203, que salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida esta disposição legal contém uma presunção juris tantum, no sentido de que a posse guarda o caráter de sua aquisição; isto significa que se uma posse começou violenta, clandestina ou precária presume-se ficar com os mesmos vícios que irão acompanhá-la nas mãos dos sucessores do adquirente; do mesmo modo se adquirida de boa fé ou de má fé, direta ou indireta, entende-se que ela permanecerá assim mesmo, conservando essa qualificação; contudo sendo juris tantum, tal presunção admite prova em contrário.

Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.

MODOS AQUISITIVOS DA POSSE

Posse é uma situação de fato, (Ihering) possuidor é o que exerce os poderes inerentes ao domínio, quem se encontra em tais poder é porque adquiriu a posse. É de relevante interesse determinar com exatidão a data da aquisição da posse, para saber se trata-se de posse nova ou velha, e para fins de usucapião, a forma de aquisição da posse para se demonstrar sua legitimidade e ausência de vício.

Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.

CLASSIFICAÇÃO DOS MODOS DE AQUISIÇÃO DA POSSE

Tendo em vista a origem da posse - originário e derivado A distinção entre posse originária e derivada é importante , pois se originária , sendo nova, apresenta-se sem vícios que a maculava na mãos do antecessor, já na posse derivada o adquirente vai recebê-la com todos os vícios que tinha ao tempo do adquirente.

Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.

Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.

Aquisição originária da posse: realiza-se independentemente de translatividade, sendo, portanto, em regra, unilateral, visto que independe da anuência do antigo possuidor, ou seja, efetiva-se unicamente por vontade do adquirente sem que haja colaboração de outrem;

o A apreensão da coisa é a apropriação do bem pela qual o possuidor passa a ter

condições de dispor dele livremente, excluindo a ação de terceiros e exteriorizando, assim, seu domínio; essa apreensão é unilateral. Pode a apreensão recair:

Coisas abandonadas (res derelicta); Coisas de ninguém (res nullius); Coisas de outrem sem anuência do proprietário nesse caso, temos a posse violenta

ou clandestina, que cessada a mais de anos e dia consolidou situação de fato, passando a ser protegida pela ordem jurídica.

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A apreensão de coisas móveis ocorre quando o possuidor desloca-a para sua esfera de influência , a apreensão de coisas imóveis se dá pela ocupação. CC. art. 1263

Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.

o O exercício do direito, CC. art. 1196 e 1204 - que, objetivado na sua utilização

econômica, consiste na manifestação externa do direito que pode ser objeto da relação possessória (servidão uso). Ocorre sem oposição do proprietário. Ex.: alguém constrói aqueduto em terreno alheio, utilizando-o ostensivamente, sem oposição do proprietário, transcorrido o prazo legal, pode o possuidor invocar interdito possessório em defesa de sua situação.

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.

Aquisição derivada da posse: requer a existência de uma posse anterior, que é transmitida ao adquirente, em virtude de um título jurídico, com a anuência do possuidor primitivo, sendo, portando, bilateral; assim, pode-se adquirir a posse por qualquer um dos modos aquisitivos de direitos, ou seja, por atos jurídicos gratuitos ou onerosos, inter vivos ou causa mortis; são modos aquisitivos derivados da posse:

o tradição: pressupõe acordo de vontade É a entrega ou transferência da coisa, sendo que,

para tanto, não há necessidade de uma expressa declaração de vontade; basta que haja a intenção do tradens (o que opera a tradição) e do accipiens (o que recebe a coisa) e efetivar tal transmissão; pode ser:

efetiva ou material que se manifesta por uma entrega real do bem, como sucede quando o vendedor passa ao comprador a coisa vendida – animus e corpus;

simbólica ou ficta substitui-se a entrega material do bem por atos indicativos do propósito de transmitir a posse

tradição consensual: apresenta-se sob duas formas:o traditio longa manu: quando o adquirente não põe a mão na própria coisa. Ex.:

entrega de uma grande fazenda.o traditio brevi manu: quando já tendo a posse direta da coisa esse possuidor

adquire também a posse indiretada mesma.

o Constituto possessório (CC. art 1267, parágrafo único) ou cláusula constituti: ocorre

quando o possuidor de um bem (imóvel, móvel ou semovente) que o possui em nome próprio passa a possuí-lo em nome alheio; é uma modalidade de transferência convencional da posse, onde há conversão da posse mediata em direta ou desdobramento da posse, sem que nenhum ato exterior ateste qualquer mudança na relação entre a pessoa e a coisa.

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Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição.

Parágrafo único - Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico.

o Acessão: pela qual a posse pode ser continuada pela soma do tempo do atual possuidor

com o de seus antecessores; essa conjunção de posse abrange a:

sucessão (ocorre quando o objeto da transferência é uma universalidade, como um patrimônio, ou parte alíquota de uma universalidade) adquire-se ope legis, ou seja, desde logo, passa aos herdeiros legítimos ou testamentários sem que haja qualquer ato seu, que desfrutam da mesma posse, com os mesmos caracteres, ou seja, se a posse era viciada ou de má fé a posse do sucessor é viciada e de má fé.

união se dá na hipótese da sucessão singular, ou melhor, quando o objeto adquirido constitui coisa certa ou determinada. Quando o objeto da alienação constitui coisa certa e determinada (legatário, comprador). Constitui para si uma nova posse, embora receba a posse de outrem. Não mantém a posse no caráter que foi adquirida, entretanto, autorizado pelo artigo 1207, 2ª parte, a unir sua posse com a de seu antecessor. Ex.: se a posse é titulada justa e de boa fé o comprador pode adicionar seu tempo ao do antecessor para Usucapião. Se a posse era defeituosa o comprador pode desconsiderá-la.

Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.

Tendo em vista quem pode adquirir (subjetivamente) artigo 1205 I e II do CC:

pela própria pessoa que a pretende desde que se encontre no pleno gozo de sua capacidade de exercício ou de fato e que pratique o ato gerador da relação possessória, instituindo a exteriorização do domínio;

por representante ou procurador do que quer ser possuidor, caso em que se requer a concorrência de 2 vontades: a do representante e a do representado; (representante legal de incapaz) Procurador: representante convencional de pessoa capaz;

por terceiro sem procuração, caso em que a aquisição da posse fica na dependência da ratificação da pessoa em cujo interesse foi praticado o ato.

Pelo constituto possessório.ocorre quando aquele que possui em seu próprio nome passa em seguida a possuir em nome de outrem.

Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

INCAPAZ: pode adquirir posse através de seu próprio comportamento, pois a posse é possível se ultimar por outros meios que não os atos jurídicos – apreensão – posse é a mera situação de fato para seu estabelecimento, não se cogita da capacidade pessoal.

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PERDA DA POSSE

A posse é uma relação de fato que representa a exteriorização do domínio, possuidor é aquele que exerce alguns do poderes inerentes ao proprietário, a posse se perde desde o momento em que o possuidor de qualquer maneira, se vê impedido de exercer aqueles poderes. A enumeração legal aborda a teoria de Savigny, considerando ora a perda do animus, ora a perda do corpus, ora ambos.

Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.

Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.

Pelo abandono: que se dá quando o possuidor, intencionalmente, se afasta do bem com o escopo de se privar de sua disponibilidade física e de não mais exercer sobre ela quaisquer atos possessórios (perde corpus e animus). Abandono da posse acarreta o abandono da propriedade

Pela tradição: que além de meio de aquisição da posse pode acarretar sua extinção; é uma perda por transferência. Quando o alienante por força de negócio anteriormente concluído, transfere a coisa possuída ao adquirente. Há perda da posse pelo desaparecimento na pessoa do alienante não só o corpus como o animus rem sib habendi.

Pela perda da própria coisa: que se dá quando for absolutamente impossível encontrá-la, de modoque não mais se possa utilizá-la economicamente. Desaparece o corpus, ainda que mantenha o possuidor o animus, Não pode ser considerado o titular de uma situação de fato, de caráter material como é a posse. Vê-se privado da posse sem querer.

Pela destruição da coisa: decorrente de evento natural ou fortuito, de ato do próprio possuidor ou de terceiro; é preciso que inutilize a coisa definitivamente, impossibilitando o exercício do poder de utilizar, economicamente, o bem por parte do possuidor; a sua simples danificação não implica a perda da posse. Perda do corpus.

Pela sua inalienabilidade: por ter sido colocada fora do comércio por motivo de ordem pública, de moralidade, de higiene ou de segurança coletiva, não podendo ser, assim, possuída porque é impossível exercer, com exclusividade, os poderes inerentes ao domínio. Quando o possuidor é afastado da coisa mesmo contra sua vontade, sem obter reintegração em tempo oportuno. Há perda do corpus.

Pela posse de outrem: ainda que contra a vontade do possuidor se este não foi manutenido ou reintegrado em tempo competente; a inércia do possuidor, turbado ou esbulhado no exercício de sua posse, deixando escoar o prazo de ano e dia, acarreta perda da sua posse, dando lugar a uma nova posse em favor de outrem. Perda do corpus.

Pelo constituto possessório: Ocorre quando o alienante de certo bem, em vez de entregá-lo ao adquirente, conserva-o com anuência deste em seu poder por um outro título, como o de locatário ou de comodatário. Constituto possessório que, simultaneamente, é meio aquisitivo da posse por parte do adquirente, e de perda, em relação ao transmitente. perde o alienante a posse indireta da coisa, afasta de si o animus rem sib habendi, passa a conservar a coisa em nome de novo proprietário.

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PERDA DA POSSE DOS DIREITOS:

pela impossibilidade de seu exercício art. 1196 do CC, isto porque a impossibilidade física ou jurídica de possuir um bem leva à impossibilidade de exercer sobre ele os poderes inerentes ao domínio;

pelo desuso: de modo que, se a posse de um direito não se exercer dentro do prazo previsto, tem-se, por consequência, a sua perda para o titular.

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Perda ou furto da coisa móvel ou de título ao portador (só se aplica as coisas furtadas, e não aos outros delitos contra a propriedade) aquele que perdeu ou foi furtado coisa móvel ou título ao portador, pode reavê-los da pessoa que os detiver. Quem acha coisa alheia deve devolvê-la. Quem furta coisa alheia não se transforma em seu proprietário. Se quem furtou ou encontrou transmite a coisa a terceiro, este terceiro será réu em ação reivindicatória e privado da coisa. Se for terceiro de boa-fé, poderá ser ressarcido pelo transmitente e, se este estiver de má fé, deverá ressarcir também perdas e danos.

Perda da posse para o ausente CC. art. 1224

quando, tendo notícia da ocupação, se abstém o ausente de retomar o bem, abandonando seu direito;

quando, tentando recuperar a sua posse, for, violentamente, repelido por quem detém a coisa e se recusa, terminantemente, a entregá-la.

O ausente aqui e por exemplo a pessoa que se encontra em viagem, não o ausente em sentido técnico.

Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.

EFEITOS DA POSSE

Noção: os efeitos da posse são as consequências jurídicas por ela produzidas, em virtude de lei ou de norma jurídica, oriundas da relação de fato existente entre a pessoa e coisa.

Posse difere de detenção: posse gera efeitos no campo do direito, já a detenção simples relação de fato entre a pessoa e a coisa sem consequência de ordem jurídica.

SÃO EFEITOS DA POSSE:

Proteção possessória direito ao uso dos interditos;

Percepção dos frutos;

Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa;

Indenização por benfeitorias e o direito de retenção para garantir o pagamento de seu valor;

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Posse conduz ao usucapião;

Se o direito do possuidor e contestado o ônus da prova compete ao adversário, pois que a posse se estabelece pelo fato;

Possuidor goza de posição mais favorável em atenção à propriedade, cuja defesa se completa pela posse.

Proteção possessória: outorga de meios de defesa da situação de fato, que aparenta ser uma exteriorização do domínio. Esta proteção pode ser direta (desforço imediato) ou por intermédio das Ações Possessórias.

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.

§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

§ 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.

Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era.

Art. 1.213. O disposto nos artigos antecedentes não se aplica às servidões não aparentes, salvo quando os respectivos títulos provierem do possuidor do prédio serviente, ou daqueles de quem este o houve.

OS INTERDITOS POSSESSÓRIOS: a via judicial é o meio normal de se obter a proteção possessória, sendo também, o possuidor lesado deve ser indenizado pelos danos experimentados. Sendo a posse a exteriorização do domínio, protegendo-se a posse, se está, na maioria das vezes, protegendo-se o proprietário, posto que este é quem, no geral desfruta da posse. Assim, o que a lei almeja, na verdade, é proteger o proprietário, evitando que ele tenha que recorrer ao processo de reivindicação, onde é essencial a demonstração do domínio.

É possível que ás vezes a lei acabe protegendo o próprio esbulhador da posse contra o proprietário, mas é um risco menos do que possibilitar ao proprietário o uso de um instrumento rápido e eficaz à proteção da coisa, inclusive com a possibilidade da concessão de medida liminar.

Nas ações possessórias basta que se demonstre a existência da posse e o esbulho, turbação ou receio. Já no juízo petitório, com rito ordinário, discute-se a existência de domínio e não a simples situação de fato. Interessante é que o proprietário esbulhado, se deixar transcorrer mais de ano e dia, será vencido na ação possessória, mas poderá retomar a coisa litigando sob o fundamento de ser o proprietário da mesma , através de ação reivindicatória.

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Três são, fundamentalmente, as ações possessórias:

Manutenção de posse

Reintegração de posse;

Interdito proibitório.

1 - Manutenção de posse: facultada ao possuidor que sofre turbação sem que tenha sido privado de sua posse. É o meio de que se pode servir o possuidor que sofrer turbação a fim de se manter na sua posse (CC. art. 1210, 1ª parte, e CPC, arts. 926 a 931), receber indenização dos danos sofridos e obter a cominação da pena para o caso de reincidência ou, ainda, se de má fé o turbador, remover ou demolir construção ou plantação feita em detrimento de sua posse.A ação visa que se ponha fim aos atos perturbadores.

Requisitos:

Posse do autor;

turbação por parte do réu;

data da turbação;

continuação da posse.

Turbação atual (menos de ano e dia, pois superior a esse prazo não pode a turbação ser remediada pelo juízo possessório). Turbação: é todo ato que embaraça o livre exercício da posse, haja, ou não, dano, tenha, ou não, o turbador melhor direito sobre a coisa; pode ser de fato (consiste na agressão material dirigida contra a posse) ou de direito (é a que opera judicialmente, quando o réu contesta a posse do autor, ou por via administrativa).

Se a turbação for pretérita, sem probabilidade de se repetir, o pedido limitar-se-á à indenização. É possível a concessão de medida liminar, quando se tratar de turbação nova (menos de ano e dia), nas de força velha é possível a tutela antecipada.

As ações possessórias têm caráter dúplice, dispensando-se assim, reconvenção para que o réu possa declinar um pedido condenatório contra o autor, inclusive de perdas e danos. Não cabe, a manutenção da posse nas servidões não aparentes, sendo cabível nas aparentes.

Legítima defesa: se o possuidor temer que o recurso judiciário, não tenha celeridade eficaz à proteção de seu interesse, tem a faculdade de defender-se diretamente - Reação deve seguir “incontinenti” à agressão, posto que a reação tardia se assemelha a uma vingança e não a uma defesa;

A reação deve se limitar ao indispensável para afastar o risco de esbulho, proporcional a agressão sofrida, caso contrário se configurará o excesso culposo, contra o próprio autor da turbação e não contra terceiros.

2 - Ação de reintegração de posse: é movida pelo esbulhado, a fim de recuperar a posse perdida em razão de violência, clandestinidade ou precariedade (CC art. 1210 , CPC art 926); pode o possuidor intentá-la não só contra o esbulhador, mas também contra terceiro, que recebeu a coisaesbulhada, sabendo que o era (CC. art. 1212).

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Requisitos:

Posse do autor;

Esbulho por parte do réu;

data do esbulho;

perda da posse.

Cabe aqui também a medida liminar.

Esbulho: é o ato pelo qual o possuidor se vê despojado da posse, injustamente, por violência, por clandestinidade e por abuso de confiança. Datando o esbulho de menos de ano e dia essa ação recebe o nome de ação de força nova espoliativa, iniciando-se pela expedição de mandado liminar. Se mais de ano e dia temos a ação de força velha espoliativa, onde o réu é citado para oferecer sua defesa, cabível tutela antecipada. A alegação de propriedade ou outro direito sobre a coisa, não obsta a manutenção ou reintegração da posse. É possível o desforço imediato , como já aludimos acima, na “legítima defesa”.

3 - Interdito proibitório: é a proteção preventiva da posse ante a ameaça de turbação ou esbulho, prevista no art. 1210 2ª parte do CC; assim o possuidor direto ou indireto, ameaçado de sofrer turbação ou esbulho, previne-os, obtendo mandado judicial para segurar-se da violência iminente; só produz efeitos depois de julgado por sentença.

Requisitos:

Posse do autor;

Ameaça de turbação ou esbulho por parte do réu;

Justo receio;

Nunciação de obra nova: é a ação que visa impedir que o domínio ou a posse de um bem imóvel seja prejudicada em sua natureza, substância, servidão ou fins, por obra nova no prédio vizinho (CPC, arts. 934 a 940); só cabe se a obra contígua está em vias de construção; seu principal objetivo é o embargo à obra, ou seja, impedir sua construção.

Ação de dano infecto: é uma medida preventiva utilizada pelo possuidor, que tenha fundado receio de que a ruína ou demolição ou vício de construção do prédio vizinho ao seu venha causar-lhe prejuízos, para obter, por sentença, do dono do imóvel contíguo oferecerá caução que garanta a indenização de danos futuros; não é propriamente uma ação possessória, mas sim cominatória, ante sua finalidade puramente acautelatória. Pode ser proposta, também, pelo condômino contra o coproprietário e pelo Poder Municipal quando a obra é irregular. Impede a construção e demole a existente. Não é propriamente uma ação possessória, sim cominatória, já que tem função acautelatória.

Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente.

Ação de imissão de posse: é a que tem por escopo a aquisição da posse pela via judicial; embora o novo CPC não a tenha previsto, de modo específico, o autor poderá propô-la desde que imprima

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ao feito o rito comum (ação ordinária de imissão de posse), que objetivará a obtenção da posse nos casos legais.

Embargos de terceiro senhor e possuidor: é o processo acessório que visa defender os bens daqueles que, não sendo parte numa demanda, sofrem turbação ou esbulho em sua posse ou direito, por efeito de penhora, depósito, arresto, sequestro, venda judicial, arrecadação, arrolamento,inventário, partilha ou outro ato de apreensão judicial (art. 1046, § 1º, do CPC).

Direito à percepção dos frutos: o possuidor tem direito à percepção dos frutos, que são utilidades que a coisa periodicamente produz, cuja percepção se dá sem detrimento de sua substância.

Dividem-se em:

Quanto a origem:

Naturais – renovam-se naturalmente;

Industriais – devidos ao engenho humano;

Civis – rendas.

Quanto a percepção (que é o ato material pelo qual o possuidor se torna proprietário dos frutos):

pendentes (quando unidos à coisa principal);

percebidos (quando colhidos);

estantes (quando armazenados para venda);

percepiendos (quando deviam ter sido, mas ainda não foram colhidos)

consumidos (quando, ante sua utilização pelo possuidor, não mais existem);

Pelo art. 1214 do CC, o possuidor de boa fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos tempestivamente, equiparando-se ao dono, uma vez que possui o bem; A boa-fé deve existir no momento da percepção. Não terá direito aos frutos pendentes nem aos colhidos antecipadamente, devendo restituí-los, deduzidas, as despesas de produção e custeio. A citação inicial ou a litiscontestação faz cessar a posse de boa fé, passando doravante ser considerada posse de má fé.

Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.

Parágrafo único - Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.

O art. 1216 do CC. pune o dolo, a malícia e a má fé, pois o possuidor de má fé responde por todos os prejuízos que causou pelos frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber; tem, porém, direito às despesas de produção e custeio, a fim de se evitar enriquecimento ilícito, mas não tem direito a quaisquer frutos.

Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.

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Direito à indenização das benfeitorias e direito de retenção: o possuidor tem direito à indenização das benfeitorias, que são obras ou despesas efetuadas numa coisa para conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la, bem como o direito de retenção, que é o direito que tem o devedor de uma obrigação reter o bem alheio em seu poder, para haver do credor da obrigação as despesas feitas em benefício da coisa; jus retentionis – meio direto de defesa que a lei permite ao possuidor, por meio de embargos de retenção, conservar em seu poder coisa alheia além do momento em que deveria devolver, como garantia de pagamento das despesas feita com o bem.

O possuidor de boa fé (CC . Art. 1219), privado do bem em favor do reivindicante ou evictor, tem direito de ser indenizado das benfeitorias necessárias e úteis, e de levantar, desde que não danifique a coisa, as voluptuárias;

Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.

O possuidor de má fé (CC. art. 1220) só é ressarcido do valor das benfeitorias necessárias, executadas para a conservação da coisa, já que o proprietário seria obrigado a fazê-las. Perde as úteis em favor do proprietário, não podendo levantar as voluptuárias.

Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.

O reivindicante, que tiver de pagar indenização de benfeitorias ao possuidor de boa-fé, o fará pelo seu valor atual. CC. art. 1222 2ª parte.

Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.

Responsabilidade pela deterioração e perda da coisa: o possuidor tem essa responsabilidade, sendo que o de boa fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa (CC. Art. 1217), a não ser que concorra propositadamente para que se dê a deterioração ou a perda do bem; o de má fé (CC. art. 1218) responde pela perda e deterioração, mas poderá exonerar-se dessa responsabilidade se demonstrar que esses fatos se verificariam de qualquer modo, ainda que estivesse o bem em poder do reivindicante.

Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa.

Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.

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03 - PROPRIEDADE

GENERALIDADES

Como vimos a posse é um estado de fato que exterioriza algum dos elementos da propriedade. Já a propriedade é o direito real maior e mais forte, posto que nele se enfeixam todos os elementos jus utendi, fruendi e abutendi.

Distinguir-se o direito real do pessoal é de suma importância , diante das diferenças existentes entre ambos, quais sejam:

Direitos pessoais Direitos reaisOponível erga omnes Sujeito passivo determinado

Objeto sempre determinado Basta que o objeto seja determinávelExistência atual da coisa Pode ser coisa futura

Exclusivo, não há pluralidade de sujeitos comiguais direitos

Comporta vários sujeitos com direitos idênticos

Adquire-se por usucapião Não suporta esse modoSe conserva, e até aproveita-se da inércia Extinguem-se pela inércia do sujeito

Direito de sequela Não há direto de sequelaNa falência não se sujeita ao concurso creditório sujeita-se ao concurso creditório

Titular pode abandonar a coisa,se não suportar mais seus encargos

Impossível o abandono

São suscetíveis de posse Não se sujeitam a posse.

O domínio ou propriedade, constitui o próprio núcleo e objeto do direito das coisas, representando aespinha dorsal do direito privado, posto que invariavelmente as lides têm como objeto os bens. O domínio é um direito real, posto que é exercido diretamente sobre um bem, uma coisa, independentemente da manifestação da vontade de qualquer outra pessoa. O seu titular pode gozar, usar ou dispor da coisa.

É o direito que a pessoa, física ou jurídica, tem, dentro dos limites normativos, de usar, gozar e dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindicá-lo de quem injustamente o detenha; a propriedade não é a soma desses atributos, ela é direito que compreende o poder de agir diversamente em relação ao bem, usando, gozando ou dispondo dele.

O domínio é o único dos direitos reais , que recai sobre coisa própria, posto que todos os demais são exercidos sobre coisa alheia. Representa um vínculo jurídico a unir a pessoa à coisa, todas as demais pessoas do universo estão obrigadas a respeitar tal relacionamento. Ademais há a idéia de submissão da coisa à vontade de seu titular que a exercita livremente , podendo usar gozar e dispor e ainda reaver a coisa da mão de outrem.

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS

Jus utendi: é o direito de usar a coisa, dentro das restrições legais, a fim de evitar o abuso de direito, limitando-se, portanto, o bem-estar da coletividade; o direito de usar da coisa é o de tirar dela todos os serviços que ela pode prestar, sem que haja modificação em sua substância, para si ou para terceiros

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Jus fruendi: exterioriza-se na percepção dos frutos e na utilização dos produtos da coisa; é o direito de gozar da coisa ou de explorá-la economicamente.

Jus abutendi ou disponendi: equivale ao direito de dispor da coisa ou poder de aliená-la a título oneroso (venda) ou gratuito (doação), abrangendo o poder de consumi-la e o poder de gravá-la de ônus (penhor, hipoteca, etc.) ou de submetê-la ao serviço de outrem.

Rei vindicatio: é o poder que tem o proprietário de mover ação para obter o bem de quem injustamente o detenha, em virtude do seu direito de sequela, que é uma das características do direito real.

CARACTERES DA PROPRIEDADE

O direito da propriedade é absoluto, exclusivo e perpétuo.

Caráter absoluto: devido a sua oponibilidade erga omnes, por ser o mais completo de todos os direitos reais e pelo fato de que o seu titular pode desfrutar do bem como quiser, sujeitando-se apenas às limitações legais impostas em razão do interesse público ou da coexistência do direito de propriedade de outros titulares (CC. Art 1228, §§ 1º e 2º).

Caráter exclusivo: em virtude do princípio de que a mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneamente a duas ou mais pessoas; o direito de um sobre determinado bem, exclui o direito de outro sobre o mesmo bem. Apesar da aparente contradição, a ideia de condomínio, é entendida como sendo o mesmo direito de propriedade, que se subdivide entre vários consortes que o exercem integralmente.

Caráter perpétuo: a característica da perpetuidade do domínio resulta do fato de que ele subsiste independentemente de exercício, enquanto não sobrevier causa extintiva legal ou oriunda da própria vontade do titular, não se extinguindo, portanto, pelo não uso. (alienação, perecimento, desapropriação e usucapião.

Caráter elástico: o domínio pode ser distendido ou contraído, no seu exercício, conforme lhe adicionem ou subtraiam poderes destacáveis (Orlando Gomes).

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.

§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.

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OBJETO DA PROPRIEDADE:

Poder-se-á dizer que pode ser objeto da propriedade tudo aquilo que dela não for excluído por força da lei; tanto as coisas corpóreas como as incorpóreas podem ser objeto do domínio desde que apropriáveis pelo homem, que os deseja pela sua raridade ou utilidade, , que, como sujeito da relação jurídica, poderá exercer sobre ela todos os poderes dentro dos limites impostos pela ordem jurídica. E esta cupidez, esta intenção de apropriação para utilização é que sustenta a idéia de domínio, como fundamento do regime capitalista. Mesmo no regime socialista , a idéia de propriedade prevalece, porém, não de formas individualista , mas coletiva.

A lei limita o direito de propriedade, ao justo interesse do proprietário, tanto assim que o proprietáriopoderá utilizar da coisa até a altura ou profundidade que lhe forem úteis. Preceitua o artigo 176 da CF. que as jazidas e recurso minerais constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento. CC. art.1229

Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las.

ESPÉCIES DE PROPRIEDADE

Propriedade plena: é plena quando todos os seus elementos constitutivos (direitos elementares) se acham reunidos na pessoa do proprietário, ou seja, quando seu titular pode usar, gozar e dispor do bem de modo absoluto, exclusivo e perpétuo, bem como reivindicá-lo de quem, injustamente o detenha.

Propriedade restrita ou limitada: quando se desmembra um ou alguns de seus poderes que passa a ser de outrem, caso em que se constitui o direito real sobre coisa alheia.(ônus real ou é resolúvel - propriedade resolúvel ou revogável: é a que encontra, no seu título constitutivo, uma razão de sua extinção, ou seja, as próprias partes estabelecem uma condição resolutiva).

O domínio pode ser limitado voluntariamente, pela servidão, usufruto, cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, como também pode ser limitado por decorrências naturais ou legais.

Propriedade perpétua: a que tem duração ilimitada;

Propriedade resolúvel ou revogável: a que encontra no seu título constitutivo, uma razão de sua extinção, as próprias partes estabelecem uma condição resolutiva.

Responsabilidade civil do proprietário: responde objetiva ou subjetivamente pelos prejuízos, se houver nexo de causalidade entre o dano causado pela coisa e sua conduta;

responde subjetivamente por danos causados por animais de sua propriedade, porque há presunção juris tantum de que tem obrigação de guardá-los e fiscalizá-los;

responde pelos prejuízos causados por coisa que ante sua periculosidade deve ser controlada por ele; responde pelos danos causados por coisas não perigosas.

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Há também as limitações legais provenientes do direito de vizinhança entendidas como normas de convivência social; da desapropriação fundamentada no maior interesse de utilização da coisa pela sociedade do que pelo particular.

Tutela específica do domínio:

ação de reivindicação para retomar o bem de quem o injustamente o detenha; CPC art. 95;

ação negatória se sofrer turbação no exercício de seu direito; ação declaratória para dissipar dúvidas concernentes ao domínio;

ação de indenização por prejuízo causado por ato ilícito;

ação de indenização quando sua propriedade é diminuída em razão de um acontecimento natural como no caso de avulsão.

AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL

Não podemos esquecer que o direito de propriedade, como direito real que é , só se transfere pela tradição ou pelo registro (que nada mais é que a tradição simbólica), de forma que a simples manifestação da vontade das partes , não é suficiente para operar a transmissão ou imposição de qualquer outro direito real sobre a coisa. No direito brasileiro o contrato não basta para transferir a propriedade.

Da mesma forma que a posse, o domínio também se adquire de forma originária (acessão e usucapião) e derivada (compra, doação).

Aquisição da originária da propriedade imobiliária: Ter-se-á quando o indivíduo faz seu o bem sem que este lhe tenha sido transferido por alguém, não havendo qualquer relação entre o domínio atual e o anterior, como ocorre com a acessão e o usucapião. Os defeitos e limitações de que se revestia nas mãos do antecessor não se transmitem.

Aquisição derivada da propriedade imobiliária: será derivada quando houver transmissibilidade de domínio por ato causa mortis ou inter vivos; tal se dá no direito hereditário e no negócio jurídico seguido de registro do título de transferência na circunscrição imobiliária competente. O domínio do sucessor vem eivado dos mesmos característicos com os mesmos defeitos e limitações de que se revestia na mão do antecessor. Este não podia transmitir mais direitos do que tinha.

Quanto a maneira como se processa a aquisição pode ser a título singular e título universal, na primeira a coisa é individuada (compra e venda de determinado imóvel ou no legado), já na segunda o adquirente sub-roga-se ao alienante numa universitas juris (herança, compra e venda de uma empresa onde adquire-se todo o ativo e todo o passivo).

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MODOS DE AQUISIÇÃO - CC ART 1227:

A enumeração é taxativa, não conhecendo a lei outros que não os ali constantes.

AQUISIÇÃO PELA TRANSCRIÇÃO (REGISTRO) DO TÍTULO:

Estão sujeitos à transcrição no respectivo registro os títulos translativos da propriedade imóvel por ato inter vivos, onerosos ou gratuitos, porque os negócios jurídicos não são hábeis para transferir o domínio de bem imóvel; sem o Registro Público não há transferência de propriedade (CC art. 1245); a transcrição só produz efeitos a partir data em que se apresentar o título ao oficial do Registro e este o prenotar no protocolo (CC, arts. 1245 a 1247; arts. 167,I, 168 e 169 da Lei 6015/73);

Presume-se relativamente pertencer o domínio àquele cujo nome estiver registrado o imóvel. O artigo 1245, prevê outros atos, extracontratuais, sujeitos a registro, como os objetos de sentença judiciais em ações de divisão, partilha , inventário, separação, divórcio, das quais poderá decorrer alteração do titular do domínio.

Os efeitos do registro do título são:

Publicidade: tornar conhecida a propriedade;

Legalidade: direito do proprietário, o registro só se efetua quando não houver irregularidades;

Força probante: fé pública do registro, presume-se que pertença a pessoa em cujo o nome se fez o assento;

Continuidade: registro modo derivado de aquisição de domínio, prende-se ele ao anterior;

Obrigatório: indispensável á aquisição da propriedade imobiliária intervivos (CC art. 1227 e 1245);

Retificação: CC. art. 1247 – registro não é imutável, pode ser modificado a pedido do interessado, se não exprimir a realidade dos fatos, com audiência das partes interessadas.

Constitutivo: sem ele o direito à propriedade não nasce.

Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código.

Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis.

§ 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel.

§ 2º Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel.

Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial do registro, e este o prenotar no protocolo.

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Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule.

Parágrafo único - Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente.

AQUISIÇÃO POR ACESSÃO

É a justaposição, colocação de uma coisa junto, encostada a outra, aumentando-se assim o volume da principal , ou ainda , mesmo sem aumentar o volume , alguma benfeitoria que venha aumentar o valor da coisa principal.

É modo originário de adquirir, em virtude do qual fica pertencendo ao proprietário tudo quanto se une ou se incorpora ao seu bem (CC . Art. 1248) (Clóvis Beviláqua); a acessão vem a ser o direito em razão do qual o proprietário de um bem passa a adquirir o domínio de tudo aquilo que a ele adere; A acessão pode decorrer de ato humano ou da natureza.

Art. 1.248. A acessão pode dar-se:I - por formação de ilhas;II - por aluvião;III - por avulsão;IV - por abandono de álveo;V - por plantações ou construções.

Possui, a acessão, duas modalidades:

a acessão natural que se dá quando a união ou incorporação de coisa acessória à principal advém de acontecimento natural (formação de ilhas, aluvião, avulsão e o abandono de álveo);

a acessão industrial ou artificial, quando resulta do trabalho do homem (plantações e as construções de obras).

Em todas as formas de acessão, temos a necessidade de dois requisitos:

Conjunção de duas coisas, até então separadas;

Caráter acessório de uma dessas coisas em confronto com a outra. A coisa acedida é a principal e a acedente a acessória.

ACESSÕES NATURAIS:

Formação de ilhas: é a acessão em rios não navegáveis ou particulares, em virtude de movimentossísmicos, de depósito paulatino de areia, cascalho ou fragmentos de terra, trazidos pela própria corrente, ou de rebaixamento de águas, deixando descoberto e a seco u ma parte do fundo ou do leito, pertencendo assim, aos proprietários ribeirinhos. Já as ilhas formadas em rios navegáveis como os próprios rios , pertencem à Pessoa Jurídica de direito público correspondente.

Para se atribuir o domínio de tais ilhas, traça-se uma linha divisória no álveo, dividindo-se assim a ilha aos proprietários dos imóveis ribeirinhos, na proporção de suas testadas . As ilhas formadas em braços de rios que invadirem terras particulares, serão dos mesmos que se viram prejudicados com

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os avanços das águas. Se formem rios navegáveis entra para o patrimônio público, gerando direito de indenização ao proprietário.

Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes:

I - as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais;

II - as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;

III - as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram.

Aluvião: dá-se quando há acréscimo paulatino de terras às margens de um rio, mediante lentos e imperceptíveis depósitos ou aterros naturais ou desvio das águas, acréscimo este que importa em aquisição de propriedade por parte do dono do imóvel a que se aderem essas terras; será própria a aluvião quando o acréscimo se forma pelos depósitos ou aterros naturais nos terrenos marginais do rio; e imprópria quando tal acréscimo se forma em razão do afastamento das águas que descobrem parte do álveo.

Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização.

Parágrafo único - O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem

Avulsão: se dá pelo repentino deslocamento de uma porção de terra por força natural violente, desprendendo-se de um prédio para se juntar a outro; o proprietário do imóvel desfalcado não perderá a parte deslocada; poderá pedir sua devolução, no prazo decadencial de 1 ano, podendo o proprietário acrescido concordar com a retirada da porção ou indenizar, guardando para si a parte acrescida, passado ano e dia, sem reclamação do interessado, a porção de terra deslocada incorpora-se ao imóvel acrescido, perdendo o desfalcado qualquer direito de reivindicação ou indenização. desde que reconhecível, mas não lhe será lícito exigir indenização.

Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado.

Parágrafo único - Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida.

Abandono de álveo: álveo é o leito do rio. Abandonando naturalmente, o rio, seu curso normal, aparece uma faixa de terra correspondente que, tanto se o rio for público ou particular, pertencerá aos proprietários ribeirinhos na proporção de suas testadas até o meio do álveo, sem qualquer direito indenizatório aos proprietários por onde o rio passar a correr, posto que a lesão foi

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proveniente de força maior e, se o rio voltar ao curso natural o leito agora abandonado voltará aos seus antigos donos. Se a alteração do rio se der por interesse público, o desapropriado deverá ser indenizado.

Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.

Acessões artificiais: são as que derivam de um comportamento ativo do homem, dentre elas as plantações e construções de obras (CC. Art. 1248, V), processando-se de móvel a imóvel; possui caráter oneroso e se submete à regra de que tudo aquilo que se incorpora ao bem em razão de uma ação qualquer, cai sob o domínio de seu proprietário ante a presunção juris tantum contida no art. 1253 do CC. Aqui segue-se a regra que o acessório segue o principal.

Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.

Trata-se, como vimos, de presunção juris tantum, é preciso verificar os casos em que as plantações e construções não pertencem, comprovadamente ao dono do solo que as incorporam: Quando o proprietário do imóvel constrói ou planta em terreno próprio com sementes ou materiais alheios, adquire a propriedade destes, mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má fé.

Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.

Quando o dono das sementes e materiais de construção plantar ou construir em terreno alheio, perderá em proveito do proprietário do imóvel as sementes, as plantações e as construções, podendo ser, até comprovada sua má fé, compelido a repor, se possível for, as coisas no estado anterior, pagando todos os prejuízos que causou, se estava de boa fé terá direito a uma indenização, embora perca as construções ou plantações.

Se a construção ou plantação vier a exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que plantou ou edificou de boa fé passará a ser o proprietário do solo, mediante pagamento de indenização, cujo quantum será fixado judicialmente se não houver acordo CC. art. 1255, parágrafo único.

Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização.

Parágrafo único - Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.

Acessão é a aquisição de uma coisa nova pelo proprietário dela – não de plantações já existentes. Boa-fé elemento imprescindível para que haja indenização na acessão.

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O artigo 1256 do CC prevê que se ambas as partes estiverem de má fé , o proprietário adquire as sementes, plantas, sendo obrigado a indenizar o seu valor. Se o proprietário presenciou ou não impugnou.

Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.

Parágrafo único - Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua.

Quando o terceiro de boa-fé planta ou edifica com semente ou material de outrem em terreno igualmente alheio, aplica-se o dito acima, sendo que o dono das sementes ou dos materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor. CC art. 1257, parágrafo único.

Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as sementes, plantas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio.

Parágrafo único - O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor.

Sobre construção em zona lindeira aplicam-se os artigos 1258 e 1259 do CC

Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.

Parágrafo único - Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.

Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.

AQUISIÇÃO POR USUCAPIÃO

É um modo de aquisição da propriedade e de outros direitos reais pela posse prolongada da coisa com a observância dos requisitos legais; É uma aquisição de domínio pela posse prolongada (ClóvisBeviláqua). O usucapião tem por fundamento a consolidação da propriedade, dando juricidade a uma situação de fato: a posse unida ao tempo; A posse é o fato objetivo, e o tempo, a força que opera a transformação do fato em direito.

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Garante a estabilidade e segurança da propriedade.

REQUISITOS DO USUCAPIÃO.

São eles pessoais, reais e formais

Requisitos pessoais: consistem nas exigências em relação ao possuidor que pretende adquirir o bem e ao proprietário que, consequentemente, o perde; há necessidade que o adquirente seja capaz e tenha qualidade para adquirir o domínio por essa maneira; O artigo 1244 do CC, informa quem pode e contra quem não se pode alegar usucapião.

Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião.

Requisitos Reais - Coisa hábil : são os bens e direitos suscetíveis de serem usucapidos, pois nem todas e nem todos os direitos podem ser adquiridos por usucapião; jamais poderão ser objeto deusucapião:

as coisas que estão fora do comércio, pela sua própria natureza;

os bens públicos que estando fora do comércio são inalienáveis;

os bens que, por razões subjetivas, apesar de se encontrarem in commercio, dele são excluídos, necessitando que o possuidor invertesse o seu título possessório; quanto aos direitos.

Somente os direitos reais que recaírem sobre bens prescritíveis podem ser adquiridos por usucapião; dentre eles, a propriedade, as servidões, a enfiteuse, o usufruto, o uso e a habitação.

Requisitos Formais – Especiais e Formais: abrange os elementos necessários e comuns do instituto : posse, lapso de tempo e a sentença judicial; quer os especiais, justo título e boa fé.

Posse: a posse para gerar o usucapião não é a mera exteriorização de um dos elementos do domínio, deve ser ela contínua, pacífica e incontestada, por todo o tempo estipulado, e com intenção de dono (animus domini). Animus domini – intenção de dono – é um requisito psíquico que se integra à posse, para afastar a possibilidade do usucapião do fâmulo da posse. A posse deve ser:

Mansa e pacífica: exercida sem contestação por quem tenha legítimo interesse (proprietário);

Contínua: exercida sem intermitência ou intervalos. Admite-se a sucessão da posse art. 1243 do CC.

Posse deve ser justa: sem os vícios da violência, clandestinidade ou precariedade.

Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.

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Tempo: mister se faz que a posse seja exercida efetivamente por todo o tempo previsto em lei, qualquer seja ele de forma ininterrupta , contínua. Há basicamente três espécies de usucapião: extraordinário, ordinário e especial, em todos os dois elementos – posse e tempo são essenciais:

Declaração por sentença: que constituirá título hábil para assento no registro de imóveis. A sentença não confere aquisição da propriedade, mas regulariza a situação do imóvel. (SR considera sentença constitutiva).

Requisitos especiais: justo título e boa-fé, abreviam o prazo prescricional. Justo título – CC art. 1242 – documento capaz de transferir domínio. Boa fé: convicção que o possuidor não está ofendendo direito alheio, ignorando um vício ou o obstáculo que impedem a aquisição do bem ou do direito possuído.

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.

Parágrafo único - Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.

ESPÉCIES DE USUCAPIÃO

Quatro são as modalidades, a saber:

Usucapião extraordinário: aquele que, por 15 anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel adquirir-lhe-á o domínio, independentemente de título de boa fé, que, em tal caso, sepresume, podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual lhe servirá de título para a transcrição no Registro de Imóveis. CC. art. 1.238.

Requisitos:

Posse mansa e pacífica, ininterrupta, exercida com animus domini;

Decurso de prazo de 15 anos ou de 10 se o possuidor estabeleceu no imóvel sua moradia habitual ou nela efetuou serviços de caráter produtivo;

Presunção júris et jure de boa fé e justo título, dispensa a apresentação do título;

Sentença judicial para aquisição de seu domínio.

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.

Parágrafo único - O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

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Usucapião ordinário: adquire também o domínio do imóvel aquele que, por 10 anos o possuir como seu, contínua e incontestadamente, com justo título e boa fé. Sendo de cinco anos o prazo se o imóvel for adquirido, onerosamente com base no registro constante no respectivo cartório, e posteriormente cancelado, desde que os possuidores estabeleceram sua moradia ou fizeram investimentos de interesse social e econômico.

Requisitos:

Posse mansa, pacífica, ininterrupta e, exercida com intenção de dono;

Decurso de dez ou cinco anos, na forma do acima aludido.

Justo título ainda que contenha algum vício ou irregularidade e boa fé, Necessário a apresentação de justo título oneroso;

Sentença judicial declaratória de domínio.

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.

Parágrafo único - Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.

Usucapião Especial – na Constituição Federal: especial: imóvel rural (pro labore): o usucapiente tornou produtiva a terra e nela estabeleceu sua morada, será preciso que:

o (CC. art. 1239) o ocupante não seja proprietário de imóvel urbano ou rural;

que tenha a posse com animus domini inoposta por 5 anos;

tenha tornado a terra produtiva com seu trabalho e de sua família, com trabalho agrícola, agropecuário, etc..

tenha nele sua moradia habitual;

que a área não seja superior a é 50 hectares;

não seja terra pública.

Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

Usucapião urbano:

imóvel urbano (usucapião urbana ou pro habitatione):

desde que não seja imóvel público e que tenha até 250 m2,

tendo exercido a posse por 5 anos sem oposição,

utilizando para moradia ,

desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural,

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presume-se boa fé (júris et jure) não se exige prova de justo título .

Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.

§ 2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL

A propriedade tem o caráter de perpetuidade, em geral, seu titular só o perde por sua própria vontade. Ordinariamente o direito de propriedade remanescerá na pessoa de seu titular ou sucessores causa mortis, indefinidamente ou até que seja legalmente afastada de seu patrimônio. Excetua essa regra quando a lei determina a extinção do direito de propriedade.

São casos de perda da propriedade imóvel - CC Art. 1275, I a V, 1276 e 1228, §§3º, 4º e 5º:

Alienação;

Renúncia;

Abandono;

Perecimento do imóvel;

Desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou interesse social

Direito de requisição de propriedade particular;

Posse pro-labore ou posse trabalho;

Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade:

I - por alienação;II - pela renúncia;III - por abandono;IV - por perecimento da coisa;V - por desapropriação.

Parágrafo único - Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis.

Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições.

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§ 1º O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize.

§ 2º Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.

§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.

§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.

Além desses, podemos arrolar:

Usucapião: meio de adquirir o domínio para o usucapiente e de perda para o antigo dono do imóvel, que negligenciou na defesa de seu direito;

Acessão: união ou incorporação de uma coisa a outra, pertencente a outrem, acarretando a aquisição de domínio deste último;

Casamento sob o regime de comunhão universal de bens;

Sentença transitada em julgado;

Implemento de condição resolutiva – nos casos de propriedade resolúvel;

Confisco, acarretado pela cultura ilegal de plantas psicotrópicas – CF art. 243.

São três modos voluntários, pelos quais o titular perde a propriedade imóvel: alienação, renúncia eabandono, pois dependem da manifestação da vontade do titular.

Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade:

I - por alienação;II - pela renúncia;III - por abandono;IV - por perecimento da coisa;V - por desapropriação.

Parágrafo único - Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis.

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Alienação: Negócio jurídico bilateral, através de contrato, é a forma de extinção subjetiva do domínio, em que o titular desse direito, por vontade própria, transmite a outrem seu direito sobre a coisa; é a transmissão de um direito de um patrimônio a outro; essa transmissão pode ser a título gratuito, como a doação, ou oneroso, como a compra e venda, troca, dação em pagamento. A alienação só não basta, necessário se faz o registro do título aquisitivo. (CC. Art. 1275, I).

Renúncia: é um ato unilateral, pelo qual o proprietário declara, expressamente, o seu intuito de abrirmão de seu direito sobre a coisa, em favor de terceira pessoa que não precisa manifestar sua aceitação (CC. Art 1275, II). Não deve acarretar prejuízo a ninguém Uma vez ultimada a renúncia deve ser registrada.

Abandono: é o ato unilateral do titular que se desfaz, voluntariamente, do seu imóvel, sem outra e qualquer formalidade, porque não quer mais continuar sendo, por várias razões, o seu dono; é necessário a intenção abdicativa; simples negligência ou descuido não a caracterizam. (CC. Art 1275, III). O abandono não contem manifestação expressa da vontade, não implicando, obviamente em registro. Difere da renuncia, pois aqui a coisa é abandonada e não favorece terceiro.

O bem abandonado permanece como res derelicta, mesmo que ocupado por terceiro durante 3 anos, se imóvel urbano ou rural, podendo o titular nesse período, arrepender-se e reivindicar a coisa, servindo-se do direito de seqüela.

Perecimento do imóvel: como não há direito sem objeto, com o perecimento deste extingue-se o direito (CC, arts. 1275, IV); esse perecimento pode decorrer de ato involuntário, se resultante de acontecimentos naturais, ou de ato voluntário do titular do domínio, como no caso de destruição. Também se perde pela acessão de imóvel a imóvel.

Desapropriação: é o procedimento pelo qual o Poder Público, compulsoriamente, por ato unilateral despoja alguém de um certo bem, fundado em necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, adquirindo-o, mediante prévia e justa indenização, pagável em dinheiro ou se o sujeito concordar, em títulos de dívida pública, com cláusula de exata correção monetária, ressalvado à União o direito de saldá-la por este meio nos casos de certas datas rurais, quando objetivar a realização de justiça social por meio de reforma agrária. CC. art.1275 V e 1228 § 3º 1ª parte.

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.

§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.

§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores

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Pode proceder à desapropriação, além das pessoas jurídicas de direito público, também os concessionários de serviços públicos ou outros estabelecimentos que exerçam funções delegadas do poder público, este mediante autorização legal. A decretação de interesse, utilidade ou necessidade, deve ser feita através de um decreto do qual acarreta a Afetação da coisa, ou seja a determinação de sua destinação pública . Declarado o bem de utilidade pública, pode o expropriante adentrar no imóvel , obter a imissão judicial na posse, se houver depositado o valor ofertado e alegado urgência, e, a partir da publicação do decreto, passa a fluir o prazo qüinqüenal para concretização da desapropriação amigável ou ajuizamento da ação correspondente sob pena de caducidade.

Pode ser objeto da desapropriação, além dos bens , também os direitos , bens incorpóreos, como osprivilégios, créditos direitos autorais, ações de S/A . Se a necessidade de utilização de espaço aéreo ou subsolo implicar em prejuízo patrimonial para o proprietário do solo, pode o referido espaço aéreo ou subsolo , ser desapropriado.

A desapropriação pode abranger área contígua necessária ao desenvolvimento da obra a que se destina, bem como, zonas que se valorizem extraordinariamente, que poderão ser revendidas para que o próprio expropriante se beneficie com a valorização acarretada pela obra, invés de incidir contribuição de melhoria.

A desapropriação pode ser feita de forma amigável, se o proprietário concordar com o valor que lhe for oferecido, sendo formalizado o ato através de escritura pública se imóvel. Já se não se acordar no preço, no prazo de 5 anos da publicação do Decreto, haverá de ser proposta ação de desapropriação, devendo a inicial indicar também o preço que se propõe a pagar. Pode o juiz designar perito para fixação razoável do valor a ser depositado para os fins de imissão de posse.

Havendo concordância do réu quanto a oferta, o juiz homologará o acordo, sendo a sentença, títulohábil ao registro imobiliário. Se não concordar, sua contestação poderá versar exclusivamente sobrevícios do processo e preço ofertado.

RETROCESSÃO: Se o expropriante não de ao imóvel o fim que se destinou, deverá devolvê-lo ao expropriado, mediante a devolução do preço pago, sem incidência do tributo, posto que não se trata de nova alienação, mas de desfazimento da primeira. Jurisprudencialmente têm-se aceito a destinação do imóvel à outra utilidade de interesse público, que certamente deverá prevalecer sobre a do particular. CC. Art. 519

Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa.

REQUISIÇÃO: é o ato pelo qual o Estado, em proveito de um interesse público, constitui alguém de modo unilateral e auto-executório, na obrigação de prestar-lhe um serviço ou ceder-lhe, transitoriamente, o uso de uma coisa, obrigando-se a indenizar os prejuízos que tal medida, efetivamente, acarretar ao obrigado. CC. art 1228 § 3º segunda parte.

POSSE PRO LABORE: artigo 1228 §§ 4º e 5º do CC – proteção especial do Código Civil, à possetrabalho posse ininterrupta e de boa fé por 5 anos traduzida em trabalho criador, seja na construção de moradia ou em investimentos de caráter produtivo ou cultural. O prazo é de mais de 5 anos, que por força do artigo 2030 sofrerá até dois anos após a entrada em vigor do Novo Código Civil, um acréscimo de 2 anos se a situação teve origem antes da vigência do dito código.

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RESTRIÇÕES AO DIREITO DE PROPRIEDADE

Fundamento das limitações: encontra-se no primado do interesse coletivo ou público sobre o individual e na função social da propriedade, visando proteger o interesse público social e o interesse privado, considerado em relação à necessidade social de coexistência pacífica; Os proprietários de nossos dias desconhecem o caráter absoluto, soberano e inatingível da propriedade. A propriedade individualista substitui-se pela propriedade de finalidade socialista.

Sua natureza é de obrigação propter rem, porque tanto o devedor como o credor são titulares de umdireito real, pois ambos os direitos incidem sobre a mesma coisa, só que não são oponíveis erga omnes nem interessam a terceiros.

Restrições em virtude de interesse social: pressupõe a ideia de subordinação do direito de propriedade privado aos interesses públicos e às conveniências sociais; são restrições imprescindíveis ao bem-estar coletivo e à própria segurança da ordem econômica e jurídica do país.

Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

II - propriedade privada;III - função social da propriedade;

Limitações ao domínio baseadas no interesse privado: inspiram-se no propósito de coexistência harmônica e pacífica de direitos, fundando-se no próprio interesse do titular do bem ou de terceiro, a quem este pretende beneficiar, não afetando, dessa forma, a extensão do exercício do direito de propriedade; caracteriza-se por sua bilateralidade ante o vínculo recíproco que estabelece.

DIREITO DE VIZINHANÇA

São limitações impostas por normas jurídicas às propriedades individuais, com o escopo de conciliar interesses de proprietários vizinhos, reduzindo os poderes inerentes ao domínio e de modo a regular a convivência social.

O direito de vizinhança tem natureza jurídica de “obrigações propter rem”, obrigando a fazer ou determinando que se faça alguma coisa em razão direta de um mandamento legal. Estas obrigações seguem a coisa, vinculando quem quer que se encontre na situação de titular, proprietário ou possuidor, transmitindo-se a título singular e extinguindo-se pelo abandono.

Uso nocivo da propriedade. Não resta dúvida de que aquele que age com dolo ou culpa, causando dano a outrem deve indenizá-lo, como preceitua o artigo 186 do CC. Da mesma forma aquele que exerce de forma abusiva seu direito (artigo 188, I), ou seja, que o exerce apenas com o objetivo de causar dano a outrem, prejudicando o vizinho, sem qualquer vantagem para o autor, retira do ato o caráter de liceidade e o coloca no campo dos atos. ilícitos.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

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Art. 188. Não constituem atos ilícitos:I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.

Parágrafo único - Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança.

Porém, problema surge quando se pratica um ato sem qualquer abusividade ou irregularidade mesmo assim acarreta desvantagem ao vizinho (aeroporto, campo de futebol padaria) - são os chamados atos lesivos. Os atos que, apesar de trazer incômodo são normais ao convívio em sociedade, devem ser suportados pelos vizinhos. Esta normalidade, suportabilidade, deve ser considerada em relação ao homem médio.

Outros há que acarretam incômodo a particulares individualmente (ex boate na sobreloja de um prédio), há que se determinar a cessação do mesmo. Já se o incômodo foi acarretado por ato que constitua interesse público, mantêm-se o ato, mas indeniza-se o lesado.

Art. 1.278. O direito a que se refere o artigo antecedente não prevalece quando as interferências forem justificadas por interesse público, caso em que o proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará ao vizinho indenização cabal.

Na maioria das vezes a solução ideal é manter-se a causa da perturbação, determinando-se que a mesma seja tolerada pela vizinhança, ordenando-se porém o erguimento ou construção de obra tendente a diminuir ou anular o mal causado aos vizinhos.

Art. 1.279. Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as interferências, poderá o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem possíveis.

Para a solução de grande parte de conflitos de vizinhança., lança-se mão da ideia de pré-ocupação e da zona de situação dos imóveis. É óbvio que quem vai residir em local de aglomeração de Fábricas ou estabelecimentos noturnos, deve se sujeitar aos transtornos e incômodos naturais de tais regiões. O que se deve sempre considerar é se há possibilidade de fazer diminuir a perturbação, mantendo-se sua origem. Se a resposta for positiva - deverá ser preferida pelo juiz.

Os vizinhos só terão acesso à Justiça quando virem ameaçados sua segurança, saúde e sossego.Assim, ainda que as atividades do vizinho tragam danos a outros bens ou direitos, nada se poderá fazer, visto que se está diante de norma restritiva de direitos e, como tal, deve ser interpretada restritivamente, não podendo ser ampliada por analogia. Constatado o incômodo, busca-se uma sentença condenatória de obrigação de fazer ou não fazer, para ao depois, executá-la, podendo, na sentença, ser estabelecida multa diária pelo não cumprimento da obrigação.

Caução de dano infecto: Se o mau uso da propriedade constitua negligência que acarrete em perigo de desabamento ou ruína confere ao vizinho o direito de exigir que o negligente proceda a

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demolição ou reparação necessária ou preste caução que assegure a indenização dos danos iminentes, se os mesmos, efetivamente se verificarem. Aplica-se também a municipalidade]Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente.

Art. 1.281. O proprietário ou o possuidor de um prédio, em que alguém tenha direito de fazer obras, pode, no caso de dano iminente, exigir do autor delas as necessárias garantias contra o prejuízo eventual.

Árvores limítrofes: Ainda no mesmo objetivo de possibilitar a convivência pacífica entre confinantes, previu o legislador as soluções para conflitos provenientes da existência de árvores situadas nos limites dos imóveis. Prevê-se presunção relativa (juris tantum) de que a árvore cujo tronco esteja na linha divisória seja de ambos os vizinhos, tal como se fosse um muro, daí decorrendo que se for cortada, os produtos serão divididos entre os proprietários.

Art. 1.282. A árvore, cujo tronco estiver na linha divisória, presume-se pertencer em comum aos donos dos prédios confinantes.

Sendo comum a árvore, nenhum de seus donos poderá cortá-la sem anuência do outro ou exigir queseja abatida, cortada ou arrancada, deve ser partilhada entre os proprietários confrontantes, comuns as despesas com seu corte, colheita de frutos. Os frutos devem ser repartidos pela metade, quer tombem naturalmente, quer haja colheita.

Atribui ao vizinho, o direito de cortar verticalmente as raízes que invadam: o terreno, independentemente da conseqüência de tal ato, que pode até, ocasionar a morte da árvore. Será abusivo o ato e, conseqüentemente gerador de responsabilidade indenizatória se agir com dolo ou culpa, resultando do ato, dano ao proprietário da árvore ou a outrem. CC. art. 1283

Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido.

Os frutos caídos de árvore (não de propriedade comum) do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de propriedade particular. Os pendentes pertencem ao dono da árvore. Excepcionando a regra de que o acessório segue o principal e os frutos, ainda quando separados da coisa principal pertencem ao seu dono, determinou o CC que os frutos caídos da arvore nascida em terreno vizinho, pertencem ao proprietário do solo onde caírem e não ao dono da árvore. Porém para evitar prejuízo pode o dono da árvore, apanhar os frutos, antes que caiam, não tendo o vizinho qualquer direito, posto que lhe é lícito apenas, ficar com os, frutos que naturalmente venham a cair em seu terreno, sem sua participação.

Art. 1.284. Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de propriedade particular.

Passagem forçada: Direito do proprietário de prédios rústico ou urbano que não tem acesso a via pública, nascente ou porto, de, mediante pagamento de cabal indenização, reclamar do vizinho que lhe deixe passagem. Sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel mais natural ou facilmente se prestar à passagem.

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Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente ou porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário.

§ 1º Sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel mais natural e facilmente se prestar à passagem.

§ 2º Se ocorrer alienação parcial do prédio, de modo que uma das partes perca o acesso a via pública, nascente ou porto, o proprietário da outra deve tolerar a passagem.

§ 3º Aplica-se o disposto no parágrafo antecedente ainda quando, antes da alienação, existia passagem através de imóvel vizinho, não estando o proprietário deste constrangido, depois, a dar uma outra.

Considera-se encravado o imóvel sem saída para a via pública, fonte ou porto. A ideia do legislador é proteger a exploração econômica do imóvel que, de outra forma restaria inviabilizada por causa do encravamento.

Tal qual a servidão, a passagem forçada é uma prerrogativa destinada a que alguém se utilize de imóvel alheio, negócio oneroso posto que da passagem resulta direito de indenização. Porém, para que exista ensejo à passagem forçada é necessário que haja um imóvel encravado, sem saída, enquanto a servidão pode ser concedida sem este requisito, uma vez que se trata de contrato do qual resulta direito real sobre coisa alheia. Outra distinção é que a servidão, como direito real que é, necessita do registro imobiliário, enquanto a passagem forçada não depende de tal ato.

Se o proprietário ficou encravado por força de ato seu, como o de alienação de parte que lhe propiciava saída para a rua, só poderá pedir passagem forçada ao adquirente, posto que o contrário seria possibilitar que o vendedor se beneficiasse da própria torpeza.

O direito de passagem deve ser exercido, pois o não-uso, por mais de dez anos pode acarretar suaperda.

Art. 1.389. Também se extingue a servidão, ficando ao dono do prédio serviente a faculdade de fazê-la cancelar, mediante a prova da extinção:

III - pelo não uso, durante dez anos contínuos.

Se extinto o fator que determinou a existência da passagem forçada, cessa também a necessidade de sua manutenção, liberando-se assim a passagem (ex. serviente adquire o confinante que tem saída para a rua, ou abre-se rua nova).

É direito, a passagem forçada, um direito ínsito do titular legítimo, proprietário, usufrutuário, usuário ou enfiteuta. Vem entendendo a doutrina que é possível o estabelecimento de passagem forçado, tendo saída para rua ou estrada, desde que esta saída seja precária, difícil ou perigosa excessivamente onerosa.

Da passagem de cabos e tubulações: O prejudicado pode exigir que a instalação seja feita de modo menos gravoso ao prédio onerado, bem como, depois seja removida, à sua custa para outro local do imóvel. As obras de instalações de alta periculosidade devem tomar as devidas cautelas.

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Art. 1.286. Mediante recebimento de indenização que atenda, também, à desvalorização da área remanescente, o proprietário é obrigado a tolerar a passagem, através de seu imóvel, de cabos, tubulações e outros condutos subterrâneos de serviços de utilidade pública, em proveito de proprietários vizinhos, quando de outro modo for impossível ou excessivamente onerosa.

Parágrafo único - O proprietário prejudicado pode exigir que a instalação seja feita de modo menos gravoso ao prédio onerado, bem como, depois, seja removida, à sua custa, para outro local do imóvel.

Art. 1.287. Se as instalações oferecerem grave risco, será facultado ao proprietário do prédio onerado exigir a realização de obras de segurança.

Das águas - cc. Art. 1288 a 1296: Há que se buscar a interpretação sistemática do Código Civil com as normas trazidas pelo Código de Águas (Dec. 24.643/34).

O artigo 1288 1ª parte, obriga o dono do prédio inferior a receber as águas que correm naturalmentedo superior, sob pena de se causar inundação pela acumulação de águas.

Art. 1.288. O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as águas que correm naturalmente do superior, não podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio superior.

As águas levadas artificialmente ao prédio superior devem também ser recebidas pelo proprietário do prédio inferior, que deverá ser indenizado pelos prejuízos porventura ocasionados compensando-se os ganhos que possam resultar ao inferior.

Art. 1.289. Quando as águas, artificialmente levadas ao prédio superior, ou aí colhidas, correrem dele para o inferior, poderá o dono deste reclamar que se desviem, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer.

Parágrafo único - Da indenização será deduzido o valor do benefício obtido.

O dono do prédio inferior tem direito à utilização das sobras, uma vez que o superior satisfeitas suasnecessidades de consumo não poderá impedir o curso natural das águas pelos prédios inferiores.

Art. 1.290. O proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais, satisfeitas as necessidades de seu consumo, não pode impedir, ou desviar o curso natural das águas remanescentes pelos prédios inferiores.

Se o superior usar toda a água não haverá sobras, mas se houver, o inferior tem o direito de recebê-las limpas e não poluídas.

Art. 1.289. Quando as águas, artificialmente levadas ao prédio superior, ou aí colhidas, correrem dele para o inferior, poderá o dono deste reclamar que se desviem, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer.

Parágrafo único - Da indenização será deduzido o valor do benefício obtido

Art. 1.291. O possuidor do imóvel superior não poderá poluir as águas indispensáveis às primeiras necessidades da vida dos possuidores dos imóveis inferiores; as demais, que poluir, deverá

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recuperar, ressarcindo os danos que estes sofrerem, se não for possível a recuperação ou o desvio do curso artificial das águas.

Se o superior impedir o curso da água, dolosamente ou acima de suas necessidades comuns, normais dever reparar o dano causado e cessar os atos obstaculizadores, permitindo assim que o inferior sirva-se das águas.

Art. 1.292. O proprietário tem direito de construir barragens, açudes, ou outras obras para represamento de água em seu prédio; se as águas represadas invadirem prédio alheio, será o seu proprietário indenizado pelo dano sofrido, deduzido o valor do benefício obtido.

As águas pluviais (procedentes das chuvas), pertencem ao prédio onde caírem que, da mesma forma deverá usá-la para suas necessidades ordinárias e permitir que corram para os inferiores. Possibilitou o artigo 1293 CC, a passagem pelo prédio alheio, de tubulações destinadas ao abastecimento de água para proveito agrícola, industrial, para atender às primeiras necessidades davida, ao escoamento de águas supérfluas e ao enxugo ou beneficiamento de terras, mediante indenização.(aquedutos).

Art. 1.293. É permitido a quem quer que seja, mediante prévia indenização aos proprietários prejudicados, construir canais, através de prédios alheios, para receber as águas a que tenha direito, indispensáveis às primeiras necessidades da vida, e, desde que não cause prejuízo considerável à agricultura e à indústria, bem como para o escoamento de águas supérfluas ou acumuladas, ou a drenagem de terrenos.

§ 1º Ao proprietário prejudicado, em tal caso, também assiste direito a ressarcimento pelos danos que de futuro lhe advenham da infiltração ou irrupção das águas, bem como da deterioração das obras destinadas a canalizá-las.

§ 2º O proprietário prejudicado poderá exigir que seja subterrânea a canalização que atravessa áreas edificadas, pátios, hortas, jardins ou quintais.

§ 3º O aqueduto será construído de maneira que cause o menor prejuízo aos proprietários dos imóveis vizinhos, e a expensas do seu dono, a quem incumbem também as despesas de conservação.

Resumidamente são os principais direitos dos proprietários:

1. O dono do prédio superior de facilitar o escoamento das águas, mediante abertura de sulcos e drenos.

2. O dono do prédio inferior de facilitar o escoamento das águas com a abertura de canais e valetas:

a) a que tem o dono do prédio inferior de receber as águas que correm naturalmente do superior, isto é, as águas correntes por obra da natureza a as águas pluviais;

b) a que tem o dono do prédio superior de não aumentar o ímpeto das águas, reunindo-as num só cursor

c) a que tem o dono do prédio inferior de consentir que o proprietário superior penetre em seu terreno para a execução de trabalhos de conservação;

d) a do dono do prédio superior de não impedir o curso natural das águas pelos prédios inferiores;

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e) a de permitir, através de seus prédios, o aqueduto;f) a de não captar toda a água da corrente que atravessa ou banha seu terreno, para

não privar o dono do prédio vizinho da pane que lhe toca;g) a que tem o dono do prédio superior de não piorar a situação do prédio inferior, com

as obras que fizer para facilitar o escoamento das águas.

Art. 1.294. Aplica-se ao direito de aqueduto o disposto nos arts. 1.286 e 1.287.

Art. 1.295. O aqueduto não impedirá que os proprietários cerquem os imóveis e construam sobre ele, sem prejuízo para a sua segurança e conservação; os proprietários dos imóveis poderão usar das águas do aqueduto para as primeiras necessidades da vida.

Art. 1.296. Havendo no aqueduto águas supérfluas, outros poderão canalizá-las, para os fins previstos no art. 1.293, mediante pagamento de indenização aos proprietários prejudicados e ao dono do aqueduto, de importância equivalente às despesas que então seriam necessárias para a condução das águas até o ponto de derivação.

Parágrafo único - Têm preferência os proprietários dos imóveis atravessados pelo aqueduto.

Dos limites entre prédios: Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas.

§ 1º Os intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, tais como sebes vivas, cercas de arame ou de madeira, valas ou banquetas, presumem-se, até prova em contrário, pertencer a ambos os proprietários confinantes, sendo estes obrigados, de conformidade com os costumes da localidade, a concorrer, em partes iguais, para as despesas de sua construção e conservação.

§ 2º As sebes vivas, as árvores, ou plantas quaisquer, que servem de marco divisório, só podem ser cortadas, ou arrancadas, de comum acordo entre proprietários.

§ 3º A construção de tapumes especiais para impedir a passagem de animais de pequeno porte, ou para outro fim, pode ser exigida de quem provocou a necessidade deles, pelo proprietário, que não está obrigado a concorrer para as despesas.

O direito de demarcar é, segundo a lei, do proprietário que, em sentido amplo, abrange todo aquele que é titular de um direito real: o enfiteuta, o usufrutuário, o usuário, o condômino (CPC, art. 952) e o nu proprietário. Não se estende, porém, ao possuidor direto (ao credor pignoratício, ao locatário, aodepositário), nem ao sucessor de herança ainda não partilhada.

O proprietário ou qualquer um dos indivíduos que têm legitimidade pode propor, a qualquer tempo, aação demarcatória, que é imprescritível e irrenunciável. Segundo o Código Civil, os objetivos da ação demarcatória são: levantar a linha divisória entre doisprédios; aviventar rumos apagados e renovar marcos destruídos ou arruinados. O proprietário poderá ajuizar essa ação ainda que não esteja na posse do imóvel demarcando, devendo cumular a ação de demarcação com o pedido de restituição das áreas. Donde se infere que há duas espécies de demarcatória: a simples e a qualificada. A demarcatória simples tem por escopo a sinalização de

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limites, ou seja, fixar, restabelecer ou aviventar os marcos da linha divisória de dois prédios contíguos. Tem por requisitos:

contigüidade de prédios confinantes; se os prédios não forem limítrofes, descabe tal ação;

necessidade de se fixar limites novos ou aviventar os já existentes, se não houver uma certa confusão de limites na linha divisória; se existir, por exemplo, uma sebe, um córrego ou qualquer sinal visível que sirva de divisa, sendo esta conhecida a certa, descabe ação demarcatória;

a titularidade do domínio dos prédios vizinhos deve ser de pessoas diversas.

Na demarcação simples a sentença que a homologa (CPC, art. 966) se reveste de caráter meramente declaratório. Será ela qualificada, quando cumular o pedido de fixação de rumos e aviventação dos que já existem com o de restituição de glebas indevidamente ocupadas pelo dono do prédio confinante, se o interessado não quiser, antes de mover essa ação, recorrer diretamente aos interditos possessórios.

O juiz define a linha divisória, com a observância do procedimento processual (CPC, arts. 950 a 966), baseado em parecer técnico e nos títulos constitutivos dos direitos das partes litigantes. Se quase impossível fixar essa linha, procurará decidir conforme a posse justa de cada um; dar-se-á preferência a mais antiga e a não viciada. E se, ainda, não se conseguir delimitá-la, repartir-se-á a terra contestada em partes iguais entre os prédios confinantes. E se isso não possibilitar uma divisão cômoda ou economicamente útil, adjudicar-se-á a um deles, mediante indenização ao proprietário prejudicado (CC, art. 1.298).

Art. 1.298. Sendo confusos, os limites, em falta de outro meio, se determinarão de conformidade com a posse justa; e, não se achando ela provada, o terreno contestado se dividirá por partes iguais entre os prédios, ou, não sendo possível a divisão cômoda, se adjudicará a um deles, mediante indenização ao outro.

Pelo art. 1.297, § 1°, do Código Civil, presume-se, s alvo prova em contrário, que as obras divisórias pertencem aos proprietários confinantes, sendo estes obrigados, de conformidade com os costumes locais, a concorrer, em partes iguais, para as despesas de sua construção a conservação. Entretanto, tal presunção é juris tantum a não absoluta, cedendo ante prova em contrário, pois é possível que a obra divisória pertença, exclusivamente, a um dos proprietários confinantes, bastando, por exemplo, para isso, que um deles demonstre que construiu o muro em seu terreno, sem ter sido reembolsado da metade do valor dessa obra a do valor do solo correspondente.

DIREITO DE TAPAGEM

Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas.

§ 1º Os intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, tais como sebes vivas, cercas de arame ou de madeira, valas ou banquetas, presumem-se, até prova em contrário, pertencer a ambos os proprietários

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§ 2º As sebes vivas, as árvores, ou plantas quaisquer, que servem de marco divisório, só podem ser cortadas, ou arrancadas, de comum acordo entre proprietários.

§ 3º A construção de tapumes especiais para impedir a passagem de animais de pequeno porte, ou para outro fim, pode ser exigida de quem provocou a necessidade deles, pelo proprietário, que não está obrigado a concorrer para as despesas.

Dessa forma, direitos a obrigações de vizinhança, são regidos pelos seguintes princípios:

1) Presume-se que os tapumes divisórios entre propriedades confinantes sejam comuns. Porém, essa presunção é juris tantum, incumbindo o ônus probandi em contrário àquele a quem interessar tal meação. Em regra, o tapume é feito sobre a linha lindeira ou dividindo a espessura em duas partes iguais, pelos lados da linha divisória; mas se o dono do prédio o construir somente de seu lado, não há o condomínio necessário ao tapume. Entretanto, se este não conseguir provar essa sua propriedade exclusiva sobre o tapume, prevalecerá aquela presunção (CC, art. 1.297, § 1°)

2) Esse direito de tapagem está vinculado ao disposto no art. 1.297, concedendo ao proprietário o direito de obrigar seu vizinho a proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, à aviventação dos rumos apagados, mediante a repartição proporcional entre os interessados das despesas; tanto é assim que o art. 1.327do Código Civil faz remissão aos arts. 1.297, 1.298, 1.304 a 1.307 ao se referir ao condomínio de paredes, cercas, muros a valas.

O art. 1.297, § 1° (2ª parte), prescreve, igualmente, que ambos os proprietários devem concorrer em partes iguais para as despesas de construção e conservação dos tapumes. Para isso deverá haver um acordo prévio entre eles. Na falta desse acordo o interessado deverá ingressar em juízo a fim de obter o reconhecimento judicial da obrigação de contribuir pecuniariamente para a construção do tapume. Se não tomar essas providências a erguer o tapume, presume-se que o faz por conta própria, não lhe sendo, então, possível cobrar do outro sua parte nos dispêndios. Todavia, o art. 1.328 do Código Civil permite que o proprietário, que não concorreu para as despesas do tapume, possa adquirir sua meação, embolsando o vizinho que o levantou com metade do valor da construção, mediante o procedimento judicial previsto no art. 275, II, g, do Código de Processo Civil.

Além do mais, pelo art. 1.330 do Código Civil, o direito do meeiro só começa a existir a partir do momento em que ele paga ao seu vizinho o preço da meação. Enquanto não fizer isso nenhum use poderá fazer da parede, muro, vala ou cerca.

Art. 1.330. Qualquer que seja o valor da meação, enquanto aquele que pretender a divisão não o pagar ou depositar, nenhum uso poderá fazer na parede, muro, vala, cerca ou qualquer outra obra divisória.

3) Por "tapumes divisórios", diz o art. 1.297, § 1°, entendem-se as sebes vivas, as cercas de arame ou de madeira, as valas ou banquetas, ou quaisquer outros meios de separação dos terrenos. Trata-se do tapume comum, que constitui um direito do proprietário do prédio contíguo, devendo sua construção ser paga em panes iguais pelos confinantes porque é uma imposição legal.

4) A obrigação de construir tapumes especiais para cercar a propriedade para deter nos seus limites aves domésticas a animais de pequeno porte, tais como cabritos, porcos a carneiros,

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ou para outro fim pode ser exigida de quem provocou a necessidade deles, pelo proprietário, que não está obrigado a concorrer para as despesas (CC, art. 1.297, § 3°).

5) Os tapumes deverão ser construídos de acordo com as dimensões estabelecidas em posturas municipais a com os costumes de cada localidade (CC, art. 1.297, § 1°).

6) A linha do tapume deve acompanhar exatamente, no solo, a linha divisória dos prédios confinantes; se houver qualquer confusão de limites, dever-se-á primeiro proceder à sua demarcação para depois construir a obra divisória. A supressão, deslocação ou desvio de qualquer sinal indicativo da linha divisória constitui o crime de alteração de limites, previsto no art. 161 do Código Penal.

7) Quando for preciso decotar ou arrancar a cerca viva, árvore ou planta, que sirva como muro divisório, os proprietários deverão estar de comum acordo (CC, art. 1.297, § 2°).

8) Não exorbita seu direito o proprietário que colocar ofendículos, por exemplo, cacos de vidro em cima de seu muro, grades de ferro terminadas em pontas de lança, com o intuito de ferir quem tentar ingressar em sua propriedade, pois isso tem por objetivo a defesa preventiva de seu domínio.

9) Os direitos relativos à conservação, construção a indenização de tapumes poderão ser exercidos judicialmente por meio de procedimento previsto no art. 275,II, c, do Código de Processo Civil ou na Lei n. 9.099/ 95, art. 3°, I e II.

DIREITO DE CONSTRUIR.

Art. 1.299. O proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos.

O exercício do direito de construir está limitado nos regulamentos administrativos a nas disposiçõescontidas no Código Civil, em razão dos interesses da coletividade a do mútuo respeito que deve haver em relação às obrigações oriundas da vizinhança. O proprietário que erguer qualquer construção, com infringência dos regulamentos administrativos a dos direitos de vizinhança, estabelecidos no Código Civil, causando dano a alguém, terá inteira responsabilidade pelo fato, sendo obrigado a reparar o prejuízo, tal responsabilidade independe de prova de culpa

Para defender-se contra edificações que infringirem normas regulamentares a preceitos de direito civil, o prejudicado poderá, dentro do prazo decadencial de ano a dia, após a conclusão da obra, exigir que se desfaça janela, sacada, terraço ou goteira sobre o seu prédio, ou seja, propor ação demolitória (CC, arts. 1.302 a 1.312); todavia, o magistrado só ordenará a demolição da obra quando for impossível a sua conservação ou adaptação aos regulamentos administrativos e quando contiver vícios insanáveis". Além disso, quem violar aquelas normas deverá, ainda, responder pelas perdas a danos (CC, art. 1.312, in fine).Art. 1.301. É defeso abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a menos de metro e meio do terreno vizinho.

§ 1º As janelas cuja visão não incida sobre a linha divisória, bem como as perpendiculares, não poderão ser abertas a menos de setenta e cinco centímetros.

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§ 2º As disposições deste artigo não abrangem as aberturas para luz ou ventilação, não maiores de dez centímetros de largura sobre vinte de comprimento e construídas a mais de dois metros de altura de cada piso.

A edificação não pode invadir área pertencente ao vizinho, sob pena de ser embargada; entretanto, se a invasão for de pouca monta, não prejudicando a utilização econômica do imóvel invadido, o infrator não será condenado a demoli-la, mas sim a indenizar o lesado, pagando o justo valor da área que invadiu.

O confinante que construir em primeiro lugar pode assentar a parede divisória até meia-espessura no terreno vizinho sem que, por isso, perca o seu direito de haver meio valor dela, se o vizinho a travejar.

Hipótese em que o primeiro fixará a largura a profundidade do alicerce. Se a parede divisória pertencer a um dos vizinhos a não tiver capacidade para ser travejada pelo outro, não poderá este fazer-lhe alicerce ao pé, sem que preste àquele caução pelo risco a que a insuficiência da nova obra exponha a construção anterior (CC, art. 1.305 e parágrafo único).

Ante o disposto verifica-se que o dono do prédio contíguo é condômino da parede-meia, podendo usá-la até meia espessura, devendo avisar previamente os demais comunheiros das obras que irá realizar, cuidando de não pôr em risco a segurança a separação dos dois prédios. Não pode sem anuência dos outros fazer, na parede-meia, armários ou obras similares, correspondendo a outras, da mesma natureza, já feitas do lado oposto (CC, art. 1.306) nem demolir parede-meia.

É permitido ao vizinho altear parede divisória a até mesmo reconstruí-la, para que possa suportar oalteamento, desde que custeie a obra, arcando, inclusive, com as despesas de sua conservação,exceto se o outro proprietário contíguo vier a adquirir meação, também na parte aumentada, hipótese em que deverá arcar com metade dos dispêndios (CC, art. 1.307).

O proprietário deve construir seu prédio de modo que este não venha a despejar águas diretamente sobre o imóvel contíguo (CC, art. 1.300). O prejudicado terá prazo de ano a dia da conclusão da obra para pleitear que se desfaça goteira sobre seu prédio, mas se deixar escoar esse prazo, não poderá efetuar construção que impeça ou dificulte o escoamento das águas da goteira, prejudicando o prédio contíguo (CC, art. 1.302, 2ª parte).

São igualmente ilícitas as construções que poluírem ou inutilizarem, para use ordinário, o use de água de poço, ou nascente alheia, a elas preexistentes (CC, art. 1.309), bem como as escavações ou obras que tirem do poço ou nascente de outrem a água indispensável às suas necessidades normais (CC, art. 1.310). Contudo, serão permitidas se apenas diminuírem o suprimento do poço ou da fonte do vizinho, a se não forem mais profundas que as deste, em relação ao nível do lençol d' água (Cód. de Águas, arts. 96 a 98).

O art. 1.301, caput,- proíbe a abertura de janelas, a construção de beirado, terraços ou varandas a menos de metro a meio do terreno confinante, tendo por escopo impedir que a propriedade particular seja devassada pela curiosidade de vizinhos de saber das coisas que se passam dentro de uma casa, assim resguardando ou salvaguardando a intimidade das famílias da indiscrição de terceiros. Essa distância de metro a meio deverá ser contada a partir da linha divisória a não de outra janela do prédio confinante.

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Para atender a fins urbanísticos poderá a Administração Municipal impor um recuo lateral maior. O art. 1.301, como contém em seu bojo uma restrição, não deve ser interpretado extensivamente; logo, sua proibição não alcança as portas, caixilhos sem movimento a sem abertura, desde que sejam de vidros opacos.

O art. 1.303 do Código Civil proíbe, em prédio rústico ou rural, construções a menos de três metros do terreno vizinho. Não será permitida a execução de obra ou serviço que possa causar desmoronamento de terra ou comprometer a segurança do prédio vizinho, exceto se se fizer obra acautelatória. Mas, apesar da realização desta, o proprietário do prédio vizinho terá direito a uma indenização pelos prejuízos que vier a sofrer (CC, art. 1.311 a parágrafo único).

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04 - FORMAS DE AQUISIÇÃO E PERDA DA PROPRIEDADE MÓVEL

Noções gerais

Pelo Código Civil são modos aquisitivos a extintivos da propriedade mobiliária: a ocupação, a especificação, a confusão, a comistão, a adjunção, o usucapião, a tradição e a sucessão hereditária, sendo que sobre esta última não nos referiremos por se tratar de assunto pertinente ao direito das sucessões.

São considerados modos originários de aquisição a perda de propriedade móvel: a ocupação e o usucapião, porque neles não há qualquer ato volitivo de transmissibilidade, ao passo que a especificação, a confusão, a comistão, a adjunção, a tradição e a sucessão hereditária são tidas como derivados porque só se perfazem com a manifestação do ato acima mencionado.

Modos originários de aquisição a perda da propriedade móvel

Ocupação

A ocupação é o modo de aquisição originário por excelência de coisa móvel ou semovente, sem dono, por não ter sido ainda apropriada, ou por ter sido abandonada não sendo essa apropriação defesa por lei (CC, art. 1.263).

Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.

Ocupar é apropriar-se:

1. De coisa sem dono, que nunca foi objeto de assenhoreamento (res nullius);

2. De coisa sem dono, abandonada pelo seu proprietário (res derelictae), sendo que, para que haja esse abandono, toma-se necessário que haja intenção do seu dono de se despojar dela; Não a requer a existência de uma declaração expressa do dono; basta que se deduza, inequivocamente, o seu propósito de abandonar o bem do seu comportamento em relação a esse mesmo bem.

3. Parcialmente, de coisa comum (res communis omnium), por exemplo, as águas dos rios a dos mares ou fluviais não podem ser apropriadas em seu todo, mas nada impede que se aproprie de uma porção delas.

A ocupação apresenta-se sob três formas:

a) a ocupação propriamente dita (CC, art. 1.263), que tem por objeto seres vivos a coisas inanimadas. Suas principais manifestações são a caça e a pesca. A caça constitui um "direito subjetivo público". Desde que se obedeça aos regulamentos administrativos a leis especiais , a caça poderá ser exercida nas terras públicas ou particulares, com a devida licença de seu dono (Lei n. 6.001/73, art. 18, § 1°). Com isso procurou-se proteger o direito de caça, sem, contudo, atingir o direito de propriedade daqueles em cujos terrenos ele se efetiva ou se exercita.

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b) a descoberta, que é relativa a coisas perdidas (CC, arts. 1.233 a 1.237); A descoberta vem a ser o achado de coisa móvel perdida pelo proprietário, com a obrigação de restituí-la a seu dono ou legítimo possuidor (CC, art. 1.233; CPC, arts. 1.170 a 1.173 a s.). Não o conhecendo, o descobridor fará tudo por encontrá-lo, comunicando o fato aos conhecidos, consultando anúncios em jornais, publicando avisos pela imprensa etc.

E se apesar disso não conseguir encontrá-lo, deverá entregar o objeto achado à autoridade competente do lugar (CC, art. 1.233, parágrafo único), que dará conhecimento da descoberta através da imprensa a outros meios de informação, somente expedindo editais' se o seu valor os comportar (CC, art. 1.236). A violação desse artigo pode enquadrar-se no delito de apropriação de coisa achada, previsto no art. 169, parágrafo único, II, do Código Penal.

O descobridor não adquire a propriedade do objeto que encontrou, se após lapso de tempo de sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não aparecer seu dono; a autoridade que recebeu o objeto vendê-lo-á em hasta pública, deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor.

Pertencerá o remanescente ao município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido (CC, art. 1.237); todavia, sendo de diminuto valor, o município poderá abandonar a coisa em favor de quem a encontrou (CC, art. 1.237, parágrafo único).

O processo dessa venda está regulado nos arts. 1.170 a s..do Código de Processo Civil, que também é aplicável aos objetos deixados em hotéis, oficinas etc. O único direito que assiste ao descobridor é o de receber um prêmio ou recompensa, denominada achádego, acrescida da indenização a que tem direito pelas despesas que efetuou com a conservação a transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la.

O Código Civil determina no art. 1.234 a parágrafo único que tal recompensa não poderá ser inferior a 5% do valor da coisa achada, a que se deve considerar o esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono ou o possuidor legítimo, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos.

Todavia, o seu proprietário não tem nenhuma obrigação de pagar tal gratificação porque o art. 1.234, in fine, do Código Civil lhe autoriza o abandono da coisa para exonerar-se dessas obrigações, hipótese em que se terá aquisição de propriedade do objeto pelo descobridor. Por outro lado, o descobridor responderá por todos os prejuízos que causou, dolosamente, ao proprietário ou possuidor legítimo (art. 1.235). Os deveres que a lei impõe ao descobridor atingem somente aquele que, espontaneamente, recolhe a coisa perdida.

c) o tesouro, concernente à coisa achada (CC, arts. 1.264 a 1.266). O tesouro é o depósito antigo de coisas preciosas, oculto, de cujo dono não haja memória, conforme o disposto no art. 1.264, 1ª parte, do Código Civil. Se se puder justificar o domínio não há tesouro; por exemplo, se alguém conseguir provar que o achado lhe pertence, dizendo que se tratava de um guardado sobre o qual tem o dono todos os direitos. Para que se configure o tesouro é mister a presença dos seguintes:

ser um depósito de coisas móveis preciosas, feito por mão humana, pois não há tesouro se o acúmulo de objetos valiosos se der por fenômeno natural, por exemplo, se se encontrar num rio um depósito aluvional de pedras preciosas roladas pela erosão, como não o é também uma antiga obra de arte incorporada a um imóvel.

não restar memória de seu proprietário;

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estar oculto;

ser seu encontro meramente casual (CC, art. 1.264, in fine). De fato, não há que se falar em tesouro se se penetrar em terreno alheio, intencionalmente, para efetuar pesquisas nesse sentido. O problema da achada é saber a quem pertence o tesouro encontrado.

O tesouro achado pelo proprietário em seu próprio imóvel pertence-lhe exclusivamente. Se for encontrado pela pessoa a quem o proprietário do prédio incumbiu de pesquisar a de procurar algum tesouro, pertencerá ao dono do prédio por inteiro, o mesmo ocorrendo se for achado por aquele, que sem a autorização do proprietário do terreno, intencionalmente o pesquisava (CC, art. 1.265), porque ninguém tem direito de invadir propriedade alheia para escavar solo em busca de riqueza.

Assim dispõe o art. 1.265 porque o tesouro é um acessório do solo, aderindo-se a ele. E como o dono do principal o é também do acessório, pertencerá o rico depósito ao proprietário do imóvel ou a operário especialmente contratado para tal fim. Porém, se for encontrado, casualmente, em prédio alheio, será dividido em panes (CC, art. 1.264, 2ª parte). Se várias forem as pessoas que o encontrarem, de modo casual, receberá o prêmio aquele que o encontrou primeiro.

Constitui crime achar tesouro em prédio alheio, apropriando-se, no todo ou em parte, de quinhão a que faz jus o proprietário do prédio (CP, art. 169, parágrafo único, I).

UsucapiãoA usucapião é modo de aquisição originária de bens móveis. O fundamento em que se baseia a usucapião de bens móveis é o mesmo que inspira o dos imóveis, ou seja, a necessidade de dar juridicidade a situações de fato que se alongaram no tempo; por isso seus conceitos são idênticos, exceto no que se refere aos prazos que, em relação às coisas móveis, são mais curtos, ante a dificuldade de sua individualização a facilidade de sua circulação.

Ter-se-á a usucapião ordinária quando alguém possuir como sua uma coisa móvel, ininterruptamente a sem oposição, durante 3 anos (CC, art. 1.260). Para que se configure tal espécie de usucapião não basta a mera posse, esta terá que ser contínua a pacífica, exercida com animus domini que tenha por base justo título a boa fé (CC, art. 1.260, in fine), durante o exíguo lapso de 3 anos. Quando se tiver posse ininterrupta a pacífica, pelo decurso do prazo de 5 anos, sem que haja justo título a boa fé, o possuidor adquirirá o domínio do bem móvel por meio da usucapião extraordinária (CC, art. 1.261).

De tal maneira se entrelaçam a usucapião mobiliária e a imobiliária que o Código remete aos arts. 1.243 a 1.244 a solução das questões ali previstas como aplicáveis à usucapião de coisas móveis (CC, art. 1.262). Há leis que contêm exceções à usucapião de coisas móveis. P ex.: o Decreto n. 22.468/33, que no seu art. 2° "considera como pertencentes à Fazenda Nacional t odos os objetos de valor recolhidos aos cofres dos depósitos públicos a não reclamados dentro do prazo de 5 anos, contados da data de depósito", e a Lei n. 370/37, modificada pela Lei n. 2.313/54 a regulamentada pelo Decreto n. 40.395/56, que no art. 1° dispõe sobre dinheiro a ob jetos de valor depositados em estabelecimentos comerciais a bancários, considerando-os abandonados, quando a conta tiver ficado sem movimento a os objetos não houverem sido reclamados durante 30 anos, contados do depósito.

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Modos derivados de aquisição a perda da propriedade móvel

Especificação

A especificação é o modo de adquirir a propriedade mediante transformação de coisa móvel em espécie nova, em virtude do trabalho ou da indústria do especificador, desde que não seja possível reduzi-la à sua forma primitiva. Essa definição está baseada no art. 1.269 do Código Civil.

Há quem a considere como uma espécie de acessão, porém não se pode acolher esse entendimento porque acessão requer união ou incorporação de uma coisa a outra, o que não ocorre na especificação, que é a transformação definitiva da matéria-prima em espécie nova, por meio de ato humano.

Claro está que se a matéria-prima pertencer ao especificador, este será o dono da obra que criou, pois já o era do material que utilizou para criá-la. Problema nenhum há quando, embora surja uma espécie nova, ela possa voltar à forma anterior sem qualquer dano (como, por exemplo, quando se transformam barras de ouro em barras menores), caso em que se a reduz à forma anterior, devolvendo-se ao dono a às expensas do especificador, aquilo que originariamente era de sua propriedade (CC, art. 1.269).

Para que haja, realmente, a especificação é imprescindível que a matéria-prima não pertença ao especificador, que seja transformada numa coisa nova a que não possa voltar à forma anterior ou que essa redução se apresente como danosa. Com isso surge a questão: A quem pertencerá o domínio da coisa nova?

Nosso sistema jurídico apresenta as seguintes soluções:

1. pelo art. 1.269 do Código Civil, se a matéria-prima pertencer só em parte ao especificador a não puder voltar à sua forma anterior: a propriedade da coisa nova é do especificador;

2. se o material pertencer apenas em parte ao especificador, podendo ser restituído à forma anterior: o dono da matéria-prima não perde a propriedade (art. 1.269);

3. pelo art. 1.270 e § 1ª, se toda a matéria-prima for de outrem a não puder ser reduzida à forma precedente, pertencerá a coisa nova ao especificador se ele estiver de boa fé; entretanto, se estiver de má fé, perderá a coisa nova em favor do dono do material;

4. pelo § 1º do art. 1.270, se o material pertencer totalmente a outrem a puder voltar à forma anterior: a coisa nova será do dono da matéria-prima;

5. segundo o § 2° do art. 1.270, se o material for inteiramente pertencente a outrem, podendo ou não ser reduzido à forma precedente, estando ou não o especificador de boa fé, excedendo-se o preço da mão-de-obra consideravelmente ao valor da matéria-prima, a espécie nova será do especificador, tendo-se em vista o interesse social de se preservar, por exemplo, uma obra de arte de grande valor.

Entretanto, o art. 1.271 requer que a aquisição da propriedade em qualquer desses casos seja acompanhada de uma indenização aos que foram prejudicados com o fato. Quando o especificador obtém o domínio da coisa nova, terá de indenizar, em qualquer hipótese, o dono da matéria-prima, pelo valor do material, bem como compor as perdas a danos. Se, ao contrário, foi o dono do material que adquiriu a espécie nova, isento estará de indenizar o especificador se a especificação foi feita de má fé, pois se fosse obrigado a isso, estar-se-ia estimulando apropriação de coisas alheias pelo

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especificador, malicioso, que nada teria a perder: ou receberia o domínio da coisa nova ou receberia a indenização por um trabalho não encomendado, contrariando o princípio de que ninguém pode locupletar-se ilicitamente.

Confusão, comistão a adjunção

Quando coisas pertencentes a pessoas diversas se mesclarem de tal forma que seria impossívelsepará-las, tem-se:

a confusão, se a mistura se der entre coisas líquidas;a comistão, se se der entre coisas secas ou sólidas. adjunção, quando, tão-somente, houver uma justaposição de uma coisa a outra, que não mais tome possível destacar a acessória da principal, sem deterioração.

Só há uma espécie de acessão na confusão e na comistão; na adjunção opera-se apenas uma união, porém todas pressupõem mescla de bens pertencentes a proprietários diversos, efetivada sem a anuência deles, mistura esta que ainda não poderá dar origem a coisa nova (CC, art. 1.274) pois, então, ter-se-ia uma especificação.

Se tal mescla for intencional, feita com o expresso consentimento dos proprietários das coisas misturadas, eles mesmos deverão decidir a quem pertencerá o produto da mistura. Se involuntária, por advir de acontecimento alheio à vontade dos donos das coisas mescladas ou por obras de terceiros de boa fé, determina a lei que:

se as coisas puderem ser separadas, sem deterioração, possibilitando a cada proprietário a identificação do que lhe pertence, cada qual continuará a ter o domínio sobre a mesma coisa que lhe pertencia antes da mistura (CC, art. 1.272);

se, contudo, for impossível tal separação, ou se ela exigir dispêndios excessivos, o todo subsiste indiviso, constituindo-se um condomínio forçado, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor do bem (CC, art. 1.272, § 1°);

se, porém, uma das coisas puder ser considerada principal, o respectivo dono sê-lo-á do todo, indenizando os outros (CC, art. 1.272, § 2°).

Se a mesclagem se operou de má fé, a parte que não concorreu para que ela se efetivasse poderá escolher entre guardar o todo, pagando a porção que não for sua, ou, então, renunciar a que lhe pertence, mediante recebimento da indenização completa (CC, art. 1.273). Pode, portanto, optar entre o condomínio é a cabal indenização a que faz jus.

Tradição

A tradição vem a ser a entrega da coisa móvel ao adquirente, com a intenção de lhe transferir o domínio, em razão de título translativo de propriedade. O contrato, por si só, não é apto para transferir o domínio, contém apenas um direito pessoal; só com a tradição é que essa declaração translatícia de vontade se transforma em direito real (CC, arts. 1.267 a 1.226).

A tradição envolve a imissão do adquirente na posse da coisa mobiliária, não sendo, contudo, proibido o constituto possessório (CC, art. 1.267, parágrafo único). A tradição consiste na efetiva entrega material da coisa, ou no ato representativo da transferência, em que não há uma real entrega, mas um ato equivalente, como a entrega das chaves do lugar onde o bem se encontra;

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pode, ainda, se ultimar pelo constituto possessório, quando o alienante, em vez de entregar a coisa vendida, a conserva para si por um outro título como o de locatário, ou seja, quando o possuidor em nome próprio passa a possuir em razão de acordo, em nome do adquirente.

Todavia, a tradição só terá o poder de transferir a propriedade da coisa se o tradens for capaz e for o titular do domínio. Se for feita por quem não é proprietário, a tradição não produz o efeito jurídico de transferência de propriedade, exceto se a coisa oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono (CC, art. 1.268, caput).

Mas, se o adquirente estiver de boa fé e o alienante adquirir, posteriormente, o domínio, considerar-se-á revalidada a transferência a operado o efeito da tradição, desde o momento do seu ato (CC, art. 1.268, § 1°), ou seja, ex tunc. Alienação levada a efeito por quem não é dono constitui crime de estelionato previsto no art. 171, § 2°, do Código Penal. Nada impede, ainda, que o alienante realize a tradição por meio de um representante, munido com poderes bastantes para isso, pois se estes lhe faltarem, nenhuma consequência jurídica resultará da tradição.

Pelo art. 1.267, parágrafo único, valerá como tradição, produzindo os mesmos efeitos desta, a cessão que lhe fizer o alienante de seu direito à restituição de coisa que se encontrar na posse de terceiro, hipótese em que a aquisição da posse indireta equivale à tradição, como sucede no caso do constituto possessório.

A tradição também não transfere o domínio quando tiver por título um negócio jurídico nulo (CC, art.1.268, § 2°). Isto é assim porque a tradição requer vo ntade, que se manifesta no contrato, a ato, que se dá na tradição. Se não houver vontade não há tradição hábil para transferir propriedade