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Édio Raniere

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Eacutedio Raniere

Eacutedio Raniere

NuTECartografia de um Teatro

1ordf Ediccedilatildeo

BlumenauLiquidificador Produtos Culturais

2011

Para Lilianque jaacute escreve um tanto de mim

Esta obra foi licenciada com uma Licenccedila Creati-ve Commons - Atribuiccedilatildeo - Uso Natildeo Comercial - Obras Derivadas Proibidas 30 Natildeo Adaptada

Em caso de reproduccedilatildeo ou citaccedilatildeo devem ser citados o autor e a fonte

Revisatildeo Tamara BeinsProjeto Graacutefico e Editoraccedilatildeo Liquidificador Comunicaccedilatildeo e Arte

Editado porLiquidificador Produtos Culturais

Conselho editorialAline AssumpccedilatildeoCharles SteuckDaiana SchvartzGregory HaertelJamil Antocircnio DiasRicardo Machado

R197n Raniere Eacutedio NuTE cartografia de um teatro Eacutedio Raniere ndash 1 ed ndash Blumenau Liquidificador Produtos Culturais 2011 378 p il color

ISBN 978-85-63401-04-5 1 Teatro experimental I Nuacutecleo de Teatro Experimental ndash Blumenau II Tiacutetulo CDD 20 ndash 792022

Ficha Catalograacutefica elaborada pela Bibliotecaacuteria Sandra Cristina da Silva Msc ndash CRB 14945

Liquidificador Produtos Culturaiswwwliquidificadorartbr2011

Quem laacute entrou (no NuTE) e algo produziu por mais ou menos tempo ndash com maiores ou menores contribuiccedilotildees com maior ou menor talento para o que se propunha - simplesmente o fez por paixatildeo Paixatildeo pelo teatro (a grande maioria) pela muacutesica (alguns) pelas artes plaacutesticas (outros) pela danccedila (uns poucos) e por tudo isso junto (uns raros multiqualificados ou multimetidos) jaacute que dinheiro natildeo se ganhava ao contraacuterio soacute se botava Eram paixotildees arrebatadoras algumas comedidas outras tiacutemidas ateacute mais ou menos duradouras Contudo nada que estivesse sob controle (racional) de algueacutem NuTE um grandecoletivo fruto-paixatildeo Eacute () acho que foi simples assim

Wilfried Krambeck

Natildeo haacute ldquoespiacuteritordquo nem razatildeo nem pensar nem consciecircncia nem alma nem vontade nem verdade tudo isso eacute ficccedilatildeo inuacutetil () Nenhuma ldquosubstacircnciardquo antes algo que anseia em si por fortificaccedilatildeo e que apenas indiretamente quer-se ldquomanterrdquo (ele quer ultrapassar-se)

Friedrich Nietzsche

Iacutendice

Epiacutegrafe lsquoVontade dersquo 07Epiacutegrafe lsquoPoderrsquo 09

Prefaacutecio a uma Psicologia 13Prefaacutecio a uma Filosofia 19 Prefaacutecio a um Teatro 25

Proacutelogo 33

PRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015 39

Um pouco de menos senatildeo natildeo vai mais 41 Memoacuteria 43Organizaccedilatildeo Deliacuterio e Tempo 45Em busca de uma relaccedilatildeo viva com o leitor 51Um lugar onde se respira o antes do Proacutelogo 54Adaptaccedilatildeo de Trabalho Sujo 64Trabalho Sujo e Virtual 64Retorno ao Primeiro Ensaio 70

SEGuNDO ENSAIO ndash 18 DE ABRIL DE 2015 77

Composiccedilatildeo de Mundos 83

13

Prefaacutecio a uma Psicologia

Cleci Maraschin

Entro em uma sala escura Aos poucos vou distinguindo cadeiras e outros objetos o que me permite ziguezaguear entre eles sem maiores problemas Em um canto mal iluminado encontro algueacutem segurando um punhado de paacuteginas impressas Eu me aproximo

ndash Olaacute estou procurando Alexandre Venera dos Santos

ndash Sou eu mas quem eacute vocecircndash Sou a Cleci professora do Eacutedio Ele me

enviou um e-mailndash Natildeo estou entendendondash Ele estaacute finalizando um livro sobre o

Nuacutecleo de Teatro Experimentalndash Endash Ele me convida para apresentar o livrondash Endash Preciso conversar com o diretorndash Mas se leste o livro sabes que natildeo sou

mais o diretor(faccedilo de conta que natildeo ouccedilo e continuo) ndash Quando aceitei o convite pensei que

poderia fazer comentaacuterios sobre um texto Algo que estou um tanto habituada no trabalho acadecircmico Talvez pudesse falar de sua aposta conceitual da pesquisa documental realizada das vaacuterias entrevistas da utilizaccedilatildeo

TERCEIRO ENSAIO ndash 26 DE ABRIL DE 2015 113

Exuberante Cronologia Espetacular do Teatro Experimental e do Teatro Escola Nuteanescos117

QuARTO ENSAIO ndash 04 DE MAIO DE 2015 203

Composiccedilatildeo de Mundos 209

QuINTO ENSAIO ndash 08 DE MAIO DE 2015 259

Aperitivo Cecircnico 277Composiccedilatildeo de Mundos | 14ordm Jote-Titac 283Apresentaccedilatildeo dos Espetaacuteculos | 14ordm Jote-Titac 336

SExTO ENSAIO - 08 DE juLhO DE 2015 347

Posfaacutecios de um Teatro 381

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de diferentes tecnologias usadas tanto para organizar e tornar acessiacutevel o material como tambeacutem para interagir com participantes e futuros leitoresinternautas Mas quando navegava pelo texto pelas imagens pelo blog pelos viacutedeos pelo acervo fui sendo tomada pelo modo-teatro pela experiecircncia-NuTE

ndash Eacute o teatro costuma fazer dessas coisasndash Algo difiacutecil para quem escreve eacute manter o

processo no produto Geralmente os produtos os textos costumam perder a vitalidade da experiecircncia Costumam se constituir em calhamaccedilos teoacutericos repetitivos seguidos ou natildeo por descriccedilotildees que tentam representar uma realidade jaacute dada Tudo se passa como se o pesquisador-escritor pudesse produzir um relato ndash o mais neutro e o mais proacuteximo possiacutevel de uma realidade que jaacute aconteceu Mas o Eacutedio entrou em ressonacircncia com o modo NuTE de produccedilatildeo Como diz o bioacutelogo Francisco Varela um modo de conhecer enaltado encarnado

ndash Laacute vem vocecirc com filosofia tambeacutemndash Cogniccedilatildeo O legal que esse bioacutelogo

cognitivista chileno e seu professor Humberto Maturana falam que nossa fonte para qualquer explicaccedilatildeo eacute a experiecircncia Aquilo que chamamos de explicaccedilatildeo eacute uma retomada da experiecircncia passiacutevel de ser compartilhada

Uma experiecircncia que se dobra sobre si mesma e que eacute capaz de continuar produzindo efeitos de si e de mundo Existem vaacuterias dobras nessa produccedilatildeo do trabalho do Eacutedio com o NuTE

O modo-escrita que retoma o modo-teatro a reediccedilatildeo dos Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas JOTE-Titac a interaccedilatildeo no blog

ndash A questatildeo eacute a accedilatildeondash Esse chileno Francisco Varela diz que

nossa educaccedilatildeo estaacute mais ligada ao know-what ou seja o saber o quecirc Um saber falar saber mais declarativo focando os conteuacutedos mais do que os processos Em contraponto coloca o know-how o saber-fazer saber operar o enaltar

ndash Mas os acadecircmicos gostam de saber-falar

ndash Concordo Sabes o que mais admirei no modo como diriges tal como o Eacutedio nos conta Eacute que natildeo te deixas capturar e sabes como fazer-produzir como ldquofazer-saberrdquo como diz um colega carioca o Eduardo Passos O que natildeo eacute nada faacutecil manter a paixatildeo sem boicotar os processos sem boicotar a criaccedilatildeo a vida Esse eacute um desafio crucial a quem se coloca na funccedilatildeo de ensinante Propiciar ferramentas para a produccedilatildeo e natildeo para a repeticcedilatildeo Poder acompanhar processos que escapam das matildeos de quem ensina pois satildeo sempre autoproduccedilatildeo e produccedilatildeo de mundos Entatildeo aprendemos com nossos alunos um ensinante eacute tambeacutem um aprendente Talvez seja essa uma das paixotildees dos ensinantes continuar sempre aprendendo

ndash E desaprendendondash Isso Como eacute paradoxal a capacidade de

aprender natildeo Somente estamos abertos agrave

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aprendizagem agrave medida que desaprendemos modos anteriores de viver de pensar O mesmo acontece em relaccedilatildeo agrave memoacuteria como nos diz Eacutedio ldquoeacute preciso esquecer para

conseguir tomar focirclego e continuar vivendordquo (atual p 22) Talvez esse seja um efeito sutil de combate contra o ressentimento que pode advir das pequenas trageacutedias pessoais que vivemos cotidianamente Esquecer desaprender para seguir aprendendo seguir produzindo e autoproduzindo-se

ndash Tal como os ensaios em 2015ndash Outra aprendizagem do modo-

teatro Continuar a trageacutedia sem drama ou ressentimento No combate Adorei essa brincadeira com o tempo Um modo de contar a histoacuteria sem saudosismo ldquoNaquele tempo isso naquele tempo aquilordquo Atualizar a histoacuteria fazendo-a e ainda por fazer Esse jogo faz com que aqueles como eu que ldquopegam o bonde andandordquo natildeo se sintam um ldquopeixe fora drsquoaacuteguardquo (isso eacute uma homenagem agrave Tainha) Estamos sempre pegando o bonde andando pois como vocecircs nos contam estamos sempre no meio Natildeo somos o comeccedilo o princiacutepio de nada Tudo o que estatildeo inventando nos convoca ldquoVamos laacute leitoresinternautas ainda eacute tempo NuTE de outro modo do modo como possamos fazerrdquo

ndash Essa eacute a ideia do work in progressndash Eu tenho usado verbos no geruacutendio

para nomear meus trabalhos de pesquisa Justamente para dar essa ideia de ldquose produzindordquo tal como o work in progress Embora essa aposta seja uma posiccedilatildeo difiacutecil de

manter em tempos onde tudo eacute transformado em mercadoria para consumo onde se valoriza o substantivo e natildeo tanto o verbo Mas estamos tentando aprender a produzir sem sucumbir aos ditames do produtivismo Como vocecircs como o Eacutedio fazendo verbos dos substantivos

ndash Cleci vocecirc estaacute falando que adorou isso aquilohellip Tem alguma criacutetica

ndash Talvez em alguns momentos a vontade de falar ainda prevaleccedila sobre a experiecircncia Mas como vocecirc mesmo diz esse eacute um mal dos acadecircmicos Eu tambeacutem jaacute falei muito Por isso pensei em conversar contigo para saber como tomo parte nesta experiecircncia

ndash Acho que vocecirc jaacute estaacute nela(nesse momento recebo uma chamada no

celular)ndash Oi Clecindash Oi Eacutediondash Tudo bemndash Tudo Estou conversando com o Alexandre

para compor a apresentaccedilatildeondash Joia Ele te falou do coletivo OpiopticA

wwwopiopticablogspotcom e de projetos como o EletriXidade

(talvez o Eacutedio tenha feito essa referecircncia porque conhece meu trabalho sobre tecnologias e cogniccedilatildeo)

ndash Acho que natildeo dei muita chance a elendash Alexandre o Eacutedio estaacute me falando do

EletriXcidadendash Era justamente nisso que eu estava

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Prefaacutecio a uma filosofia

Celso Kraemer

Escrever aacute uma arte A arte natildeo pertence agrave escrita Eacute a escrita que pertence agrave arte O termo maior que abriga inuacutemeras outras formas de desvelamento eacute a arte Esta deve ser tomada em sua noccedilatildeo mais ampla Por isso talvez menos niacutetida Menos evidente Mas eacute por intermeacutedio dela a arte que algo adveacutem ao ser Vir ao ser Tornar-se algo aiacute Poder ser percebido como real por aqueles que jaacute estatildeo aiacute Que jaacute satildeo entes reais Se nada mais viesse ao ser do irreal para o real nosso mundo restaria na mais pura repeticcedilatildeo mecacircnica do mesmo o eternamente nada mais aleacutem do jaacute determinado do jaacute aiacute ruiacutena do encanto perdiccedilatildeo no nada mais ser

Fazer algo vir ao ser eacute algo ambiacuteguo Muito ambiacuteguo Mais ambiacuteguo do que noacutes gostamos de pensar Por um lado fazer algo vir ao ser eacute o labor do homem pelo pensamento e pelas matildeos Eacute o homem nesse sentido que eacute a condiccedilatildeo possibilitadora para que algo (novo) venha ao ser Haacute certa tranquilidade para aceitarmos que eacute a criatividade humana que faz algo vir ao ser Criamos coisas Criar coisas natildeo eacute o mesmo que fazer algo vir ao ser

Se fazer algo vir ao ser se explicasse pela simples criaccedilatildeo do homem entatildeo natildeo seria um vir ao ser Seria um puro criar Um estranho acontecimento em que do nada viria algo Do

trabalhando no momento que chegastesndash Podes me contar um pouco mais Eu me

interesso por esses causosndash Vamos tomar um cafeacutendash Pode ser em 2012 AlexandreSaiacutemos para um cafeacute

Cleci Maraschin eacute professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Trabalha como docente e orientadora em dois programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo da mesma universidade Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psi-cologia Social e Institucional e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Informaacutetica da Educaccedilatildeo Pesquisadora CNPq Temas de pesquisa Tecno-logias e Cogniccedilatildeo

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vazio do homem que natildeo explicita de onde ele mesmo proveio viria algo Impossibilidade teoacuterica para qualquer forma de raciociacutenio Do nada nada se cria

Entatildeo o criar natildeo eacute um simples criar Criar eacute fazer vir ao ser E nisto se mostra a ambiguidade do acontecimento artiacutestico A criaccedilatildeo pela arte eacute um provir de Esse de eacute mais do que o nada Temos entatildeo a duplamente ou triplamente enigmaacutetica questatildeo donde proveacutem isso que nos adveacutem por intermeacutedio da arte Por outro lado isto que adveacutem modifica-se em seu ser no momento que nos adveacutem ou permanece semelhante ao que jaacute era antes de advir Aleacutem disso o Originaacuterio donde adveacutem o algo atraveacutes da arte modifica-se em seu ser no momento em que algo sai dele para advir

Pensemos o artista natildeo como O Sujeito Supremo de onde a arte proveacutem Pensecircmo-lo antes como parte do processo originaacuterio de onde a arte proveacutem Como bem disse Martin Heidegger pensando acerca da Origem da Obra de Arte o que faz o artista eacute a obra Natildeo haacute artista se natildeo houver obra O Artista adveacutem artista conjuntamente com a obra A Obra portanto natildeo eacute simplesmente uma criaccedilatildeo do artista nem eacute a obra produtora de si mesma

Muito antes a obra eacute produtora do artista Eacute a obra que faz o artista Igualmente natildeo haacute obra sem artista Assim eacute o proacuteprio artista que se faz obra e a obra que se faz artista

Isso natildeo resolve a triplamente enigmaacutetica questatildeo Ao contraacuterio apenas nos expotildee a algo que seria o verdadeiro originaacuterio donde proveacutem

a obra e o artista que conjuntamente nos adveacutem Creio que nada nos impede de pensar esse verdadeiramente originaacuterio donde proveacutem simultaneamente artista e obra da mesma forma que pensamos a relaccedilatildeo originaacuteria da obra que adveacutem do artista e do artista que adveacutem da obra a arte ao advir traz ao ser a obra e o artista Quer dizer entatildeo que obra e artista adveacutem de algo mais originaacuterio que ambos Mas devemos considerar mais profundamente o isso que adveacutem ao advir modifica a si mesmo tornando-se algo ineacutedito mas modifica tambeacutem aquilo de onde o originaacuterio do qual adveacutem Nessa dinacircmica criadora o todo se renova torna-se continuadamente outro em relaccedilatildeo a si mesmo Portando no todo natildeo haacute novo nem velho Tudo estaacute sujeito indefinidamente ao vir-a-ser um devir criativo ao modo criador da arte

Creio que agora desvelou-se natildeo a arte como tal mas uma de suas caracteriacutesticas fundamentais A arte eacute uma dinacircmica criadora do proacuteprio ser

Dito de modo ainda mais preciso o ser eacute dinacircmico em sua natureza artiacutestica Este natildeo eacute um raciociacutenio belo com objetivo de apenas embelezar o modo de pensar Ao contraacuterio esse movimento feito no interior do proacuteprio pensamento eacute um mergulho na natureza proacutepria do raciocinar

O raciociacutenio visto dessa forma natildeo eacute um exerciacutecio formal amparado unicamente na loacutegica No raciocinar natildeose formaliza uma verdade jaacute pronta e ainda natildeo visiacutevel agrave mente

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Mais profundamente o raciociacutenio eacute uma forma tambeacutem de arte Pelo raciociacutenio algo mais originaacuterio que o proacuteprio raciociacutenio adveacutem ao ser O pensamento natildeo eacute o criador absoluto a partir do nada Ele eacute aquilo atraveacutes do qual algo mais originaacuterio adveacutem ao mundo tornando-se ser

Podemos agora conceber o que significa dizer que a escrita eacute uma forma de arte No gesto no movimento no exerciacutecio de escrever semelhante ao exerciacutecio de pintar de raciocinar de cantar de construir de encenar produzir teatro algo adveacutem ao ser A escrita semelhante ao raciociacutenio natildeo mostra algo jaacute constituiacutedo uma verdade jaacute acabada A verdadeira escrita aquela que natildeo se resume agrave transcriccedilatildeo de textos jaacute prontos eacute criadora O que ela cria O Ser Tambeacutem na escrita algo de originaacuterio vem ao ser se faz aiacute com o homem-mundo

Podemos visualizar por essa pequena fresta que as linhas acima abriram ao nosso entendimento a iacutentima relaccedilatildeo que o trabalho do Eacutedio tem com a Filosofia e com o Teatro de que ele quer tratar com seu livro

O teatro uma forma de arte produz ser O ser do teatro natildeo se esgota na representaccedilatildeo Mais fundamentalmente que isso o teatro desvela a verdade do homem um ente por intermeacutedio do qual o ser adveacutem ao mundo O teatro eacute nesse sentido uma das formas mais belas da arte Talvez nele a arte se manifeste em sua forma mais iacutentima ele cria o ainda natildeo aiacute A apresentaccedilatildeo teatral eacute um faz de conta verdadeiro em que a verdadeira representaccedilatildeo

nunca eacute A Verdade por isso jamais o teatro eacute falso pois ele natildeo pretende desmentir outras representaccedilotildees Cada peccedila cada cena cada grupo ou companhia de teatro pretende-se ser mais um em meio agrave multiplicidades de apresentaccedilotildees possiacuteveis Em si mesma cada uma delas eacute criadora no ainda natildeo aiacute Cada uma delas deixando algo vir ao ser O teatro natildeo eacute mentira por natildeo pretender a verdade mas satisfazer-se em deixar o ser vir ao real por intermeacutedio do labor da alma humana

Assim o modo de o Eacutedio manejar a escrita aproxima-se delicadamente do trabalho do proacuteprio real que ele se encarrega de recolher e apresentar Mas o Eacutedio sabe desde o princiacutepio que a histoacuteria do teatro enquanto efetividade do acontecimento jaacute veio ao ser Jaacute estaacute inscrito no real Sabe tambeacutem que a Histoacuteria que ele agora escreve natildeo se resume a contar o que aconteceu A Historiografia enquanto um gesto de escrita eacute semelhante ao teatro um gesto criador Criar e Doar Atraveacutes da escrita continuadamente algo vem ao ser

O livro que se segue eacute uma obra de arte que reuacutene uma histoacuteria mas natildeo passivamente O livro enquanto criaccedilatildeo deixa ver algo da intimidade da alma do homem Nas linhas pelas quais o texto se mostra algo muito mais iacutentimo e profundo do que o proacuteprio texto se mostra ao leitor a verdade criadora da arte seja da representaccedilatildeo seja da escrita seja do cultivo da amizade seja de uma roda de amigos com uma cerveja um vinho O livro ainda nietzscheana ou deleuzeanamente mostra

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o devir criativo que nos faz ser sem nunca mostrar-se totalmente sem nunca ocultar-se totalmente mas num jogo de criar a si mesmo na beleza criadora do homem Neste livro o teatro se faz histoacuteria e a histoacuteria se faz teatro num gesto reciacuteproco de criar e doar

Celso Kraemer eacute professor de filosofia junto ao Departamen-to de Ciecircncias Sociais e Filosofia do Centro de Ciecircncias Hu-manas e da Comunicaccedilatildeo e no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado em Educaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Universidade Regional de Blumenau (FURB)

Prefaacutecio a um Teatro

Joseacute Faleiro

Quando em outubro de 1986 cheguei a Blumenau quis inteirar-me da atividade teatral existente na cidade Vi entatildeo espetaacuteculos de Alexandre Venera dos Santos e de Wilfried Krambeck Fui logo atraiacutedo pelo trabalho consciencioso responsaacutevel cuidadoso e iacutentegro que apresentavam A anomia serena nada panfletaacuteria nada verbosa nada militante de Alexandre mas radical vivida logo provocou simpatia em mim Com seu espiacuterito metoacutedico Wilfried organizava uma estrutura que ldquodialogavardquo mdash como se diz hoje mdash com a praacutetica artiacutestica do primeiro para a qual este contava com as dependecircncias suntuosas do Teatro Carlos Gomes (TCG) ldquogrande castelo isolado bem no centro daquela cidaderdquo dotado de um palco giratoacuterio (ldquouma grande roda horizontalrdquo) e de ldquouma forte luz proveniente de todos os ladosrdquo Isso tambeacutem era fascinante em contraposiccedilatildeo agraves instalaccedilotildees que na eacutepoca a FURB possuiacutea para o seu curso de teatro a amplitude do TCG permitia respirar e sonhar com altos voos Todas as dependecircncias do ldquopalaacuteciordquo pareciam estar agrave disposiccedilatildeo daquele pequeno grupo de jovens interessados em explorar cada recanto (corredores camarins salas biblioteca bar palco) do preacutedio e em captar cada significado daquela atividade que se propunham a experimentar a exercer

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Por esses encontros e pelos que tivemos na Comissatildeo Organizadora do 1ordm Festival Universitaacuterio de Teatro de Blumenau (que coordenei com a colaboraccedilatildeo valiosa e imprescindiacutevel de tantos amadores da arte dramaacutetica) do final de 1986 a julho de 1987 Alexandre e eu tivemos a oportunidade de conversar muito sobre teatro e sobre a sua relaccedilatildeo teoacuterica e praacutetica com o tema Havia nele abertura para uma reflexatildeo que levava agrave accedilatildeo que natildeo conhecia hiato entre conceber e realizar Seu meacutetier seu ofiacutecio fluiacutea Suas inquietaccedilotildees natildeo se prendiam a um modismo Nunca tive a impressatildeo de que sua forma de fazer teatro quisesse romper com o que fora feito antes ou com uma forma obsoleta de fazer teatro que devesse ser combatida Ele estava atento ao novo sem duacutevida Mas a generosidade criativa que o animava e o seu universo artiacutestico e vital eram tatildeo grandes o fluir de sua arte era tal que ele se expressava por uma necessidade fazer teatro era para ele uma ανανκη [ananke] uma necessidade algo que natildeo podia natildeo ser Se ele desestruturava a narrativa se se voltava para o fragmento para as formas breves para a (aparente) falta de unidade se aumentava o tamanho de objetos em cena ou os tornava insoacutelitos em seu uso se incluiacutea composiccedilotildees musicais supostamente em descompasso com a situaccedilatildeo se levava os atores a agir em cena de modo natildeo figurativo natildeo mimeacutetico se tinha um domiacutenio inabitual da iluminaccedilatildeo parece-me que assim fazia porque assim lhe vinha o teatro assim lhe vinha o modo de viver e de viver teatro Natildeo por incultura ingenuidade

falta de informaccedilatildeo Por absoluta necessidade O NuTe era tonificante tonificado por seu regente O que levava os atores a produzirem este ou aquele gesto ter esta ou aquela atitude em cena Quais eram as fronteiras entre fazer qualquer coisa ou fazer algo ldquoelaboradordquo ldquobem pensadordquo ldquoconscienterdquo Sacudido o espectador poderia perguntar a outros e a si mesmo ldquoIsso eacute vaacutelidordquo ldquoNatildeo eacute vaacutelidordquo ldquoEacute teatrordquo ldquoNatildeo eacute teatrordquo ldquoQual a diferenccedila entre isso e qualquer coisardquo ldquoNa acircnsia de experimentar tudo eacute possiacutevelrdquo Agraves vezes me restava a perplexidade Mas sempre apoiei aquele grupo de pessoas que se entregavam a um ofiacutecio com tanta coragem prontidatildeo vontade alegria seriamente com prazer porque amavam o teatro com entusiasmo porque queriam fazecirc-lo e o faziam sem o excesso de consideraccedilatildeo e de deferecircncia que tolhe que paralisa que entorpece a accedilatildeo Agraves vezes retraiacutedo Alexandre gostava poreacutem de mostrar seus trabalhos queria que fossem vistos e discutidos No 2ordm Festival Universitaacuterio de Teatro de Blumenau (FUTB) conseguiu apresentar um espetaacuteculo seu o que esperava ser feito desde o 1ordm Festival Os participantes do NuTE tinham vontade de respirar arte dela se nutrir e se embriagar viver imersos nela conversar sobre ela (apesar de haver muitas interrogaccedilotildees na eacutepoca de sua fundaccedilatildeo sobre o benefiacutecio que o FUTB traria para os grupos locais creio que o nuacutemero de espetaacuteculos vistos palestras e debates assistidos conversas de bares e corredores ocorridas permitem responder que o Festival foi beneacutefico para os grupos blumenauenses)

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Se por vezes iconoclasmo havia natildeo era por caacutelculo Era por querer experimentar por ter desejo veemente de encontrar suas respostas agraves suas perguntas Essas respostas natildeo se apresentavam de forma uniacutevoca abriam-se para uma polissemia que era cultivada por todo o grupo e por seu condutor O sentido se construiacutea na accedilatildeo para a equipe do NuTE e na contemplaccedilatildeo ativa para o espectador

Seraacute que a memoacuteria me faz idealizar Penso que natildeo Seja como for quando revejo internamente o trabalho teatral do NuTE sobretudo o que antecede a apresentaccedilatildeo para o puacuteblico ou o realizado no intervalo entre um espetaacuteculo e outro o que me vem agrave mente prazerosamente satildeo corredores encerados ocupaccedilatildeo dos mais diversos locais caminhadas por noites frias para chegar pela ponte pecircnsil agrave rua Amazonas ou mais tarde agrave rua Satildeo Joseacute satisfeito apoacutes horas de fecundas atividades Lembranccedilas de um questionamento constante sobre teatro recordaccedilotildees de uma vontade de ler de devorar informaccedilotildees e de assimilaacute-las na accedilatildeo por parte dos integrantes do grupo Lembranccedilas de uma convivecircncia deles entre si e com a sua arte Teatro como ldquoVersuchrdquo como tentativa ensaio ldquoUm ensaio de esforccedilos fragmentaacuteriosrdquo como diria Kierkegaard na epiacutegrafe escolhida por Gerd Bornheim para um escrito deste uacuteltimo Minhas lembranccedilas satildeo fragmentaacuterias mas alguns momentos de espetaacuteculos permanecem muito vivos dentro de mim Ao ler a lista de conteuacutedos (redigidas por

Wilfried se natildeo me falha a memoacuteria com meu acordo) do curso que ministrei sorri diante de certo caraacuteter enciclopeacutedico De fato ele tinha um aspecto teoacuterico (nos sentaacutevamos em torno de uma grande mesa confortaacutevel) mas tambeacutem praacutetico com o corpo e a voz-do-corpo circulando pelo espaccedilo Aleacutem disso faziacuteamos experimentaccedilotildees de cenas no palco do grande auditoacuterio mdash um Auto da Barca de Gil Vicente por exemplo com a utilizaccedilatildeo de cordas quilomeacutetricas interminaacuteveis que figuravam o cais do porto Havia ainda leituras de textos que eu traduzia Lembro de ter traduzido Los Olivos de Lope de Rueda de ter gostado da traduccedilatildeo e de natildeo ter ficado com nenhuma coacutepia dela (ainda natildeo tiacutenhamos computador)

O NuTE representou para mim um momento de intensa e rica convivecircncia humana e artiacutestica Momento de ensinar e de aprender de compartilhar e de receber Um mo(vi)mento tatildeo forte assim natildeo morre natildeo acaba pulsa latente fica vivo de outro modo E pode ressurgir como agora com a cartografia que Eacutedio Raniere desenha neste livro-espetaacuteculo ou espetaacuteculo-livro sobre o NuTE Ele me desnorteia estarrece perturba como acontecia com os espetaacuteculos do grupo Eacutedio encontra o tom (ou um dos modos possiacuteveis jaacute que natildeo haacute uma verdade uacutenica) para falar do NuTE Fala ldquonuteanamenterdquo do NuTE Agrave la maneira de Juacutelio Cortaacutezar de O Jogo da Amarelinha de 62 ndash Modelo para armar ou de O Livro de Manuel Raniere convida o leitor a ter a liberdade de andar pelos corredores pelas bordas do texto

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pelos seus meandros a sair e a voltar sem medo de experimentar

Tanto o NuTE quanto Eacutedio querem ldquocriar e compartilharrdquo Aqui o sentido pode ser produzido tambeacutem pelo leitor Na forma dialoacutegica ou assumindo a primeira pessoa remetendo agrave internet ou trazendo o seu conhecimento aprofundado de vaacuterios pensadores citados com pertinecircncia e sem alarde pesquisador corajoso e consistente Eacutedio Raniere escolheu um tema com muitas ramificaccedilotildees e soube trataacute-las com pertinecircncia num exerciacutecio de estilo de valor literaacuterio e cientiacutefico Ele cria uma obra dinacircmica seacuteria e divertida documentada Jogando com a ficccedilatildeo e a realidade ele des-pista uma histoacuteria linear e alia o texto a imagens e a sons questionando constantemente a sua proacutepria produccedilatildeo na qual o olhar do autor sobre os fatos promove uma construccedilatildeo do sentido que natildeo eacute totalizante que natildeo quer ser a uacutenica possiacutevel e que como as gotas de uma cachoeira tecem uma unidade consistente ainda que sempre em movimento O texto impresso ao se espalhar pelos labirintos do ldquowwwrdquo potildee em contato com documentos valiosos que assim estatildeo salvos da perda e do esquecimento e permitiratildeo estudo e fruiccedilatildeo do tema por outras pessoas

Nos hospitais a linha reta dos aparelhos que medem a atividade cardiacuteaca indica a cessaccedilatildeo da vida a sua oscilaccedilatildeo ao contraacuterio eacute esperanccedila de vida Pujante luacutedica com a oscilaccedilatildeo caracteriacutestica da vitalidade NuTE Cartografia de um teatro de Eacutedio Raniere daacute esperanccedilas

de que a obra do Nuacutecleo Experimental de Teatro de Blumenau que teve mais de dezoito anos de atuaccedilatildeo profiacutecua continue a insuflar vida em todos aqueles que amam o teatro e querem partilhaacute-lo com seriedade e prazer

joseacute Ronaldo Faleiro eacute professor do Programa de Poacutes-Gradu-accedilatildeo em Teatro (Mestrado e Doutorado) mdash UDESC Doutor em Artes do Espetaacuteculo pela Universidade de Paris VIIINanterre Professor-pesquisador no DACPPGTUDESC

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Proacutelogo

Ao iniciar esta cartografia sobre meu heroacutei acho-me tomado de certa perplexidade Ei-la embora chame NuTE de meu heroacutei eu mesmo poreacutem sei todavia que ele nada tem de grande e por isso prevejo perguntas inevitaacuteveis como essas em que seu NuTE eacute digno de nota por que o escolheu como seu heroacutei O que lhe deu esse destaque A quem chega sua fama e por quecirc Por que eu leitor devo perder tempo estudando episoacutedios de sua vida

A uacuteltima pergunta eacute a mais fatiacutedica pois soacute posso responder Talvez o senhor mesmo note isso a partir da leitura Mas e se lerem e natildeo notarem natildeo concordarem com a notoriedade de meu NuTE Digo isso porque o prevejo com pesar Para mim ele eacute digno de nota mas duvido terminantemente que consiga demonstraacute-lo ao leitor O caso eacute que talvez ateacute se trate de um revolucionaacuterio mas um revolucionaacuterio indeciso indefinido Pensando bem seria estranho exigir clareza das pessoas numa eacutepoca como a nossa Uma coisa eacute de crer fica bastante evidente trata-se de um estranho de um excecircntrico ateacute No entanto a estranheza e a excentricidade mais prejudicam que permitem chamar a atenccedilatildeo sobretudo quando todo mundo procura unir particularidades e encontrar ao menos algum sentido comum na balbuacuterdia geral Quanto ao excecircntrico o mais das vezes eacute uma particularidade um caso isolado Natildeo eacute

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Mas se os senhores natildeo concordarem com essa uacuteltima tese e responderem ldquonatildeo eacute assimrdquo ou ldquonatildeo eacute sempre assimrdquo eacute possiacutevel que eu ateacute crie acircnimo em relaccedilatildeo agrave importacircncia de meu heroacutei NuTE Porque natildeo soacute o excecircntrico ldquonem semprerdquo eacute uma particularidade e um caso isolado como ao contraacuterio vez por outra acontece de ser justo ele talvez que traz em si a medula do todo enquanto os demais viventes de sua eacutepoca ndash todos movidos por algum vento estranho ndash dele estatildeo temporariamente afastados sabe-se laacute por qual razatildeo

De resto eu natildeo me meteria nessas explicaccedilotildees confusas e desinteressantes e comeccedilaria pura e simplesmente sem mais preacircmbulos Se gostarem acabaratildeo mesmo lendo o mal poreacutem eacute que cartografia eu tenho uma mas narrativas duas Ambas se cruzam e se complementam Arriscaria ateacute que uma natildeo acontece sem a outra A primeira narrativa aconteceraacute em 2015 ano em que meu heroacutei retornaraacute ao teatro A outra vem acontecendo in progress desde 2009 pela web Prescindir de uma das narrativas eacute impossiacutevel porque muita coisa sobre meu heroacutei ficaria incompreensiacutevel Mas dessa maneira minha dificuldade inicial se agrava ainda mais Se eu mesmo isto eacute o proacuteprio cartoacutegrafo acho que uma soacute narrativa jaacute eacute talvez um excesso para um heroacutei tatildeo modesto e indefinido entatildeo como eacute que vou aparecer com duas e como explicar tamanha presunccedilatildeo de minha parte

Atrapalhado com a soluccedilatildeo de semelhantes questotildees decido-me por deixaacute-

las sem qualquer soluccedilatildeo Eacute claro que o leitor perspicaz jaacute percebeu haacute muito tempo que desde o iniacutecio eu vinha dando esse rumo agrave coisa e apenas se afligia comigo perguntando-se por que eu gastava agrave toa palavras esteacutereis e o precioso tempo Jaacute tenho uma resposta pontual gastava palavras esteacutereis e precioso tempo em primeiro lugar por admiraccedilatildeo agrave D e em segundo por astuacutecia Vamos seja como for eu preveni de antematildeo Alias ateacute me agrada que minha cartografia tenha se dividido em duas narrativas fragmentando a ldquounidade essencial do todordquo Ao tomar conhecimento de uma delas o leitor-internauta se decidiraacute valeraacute a pena passar agrave outra Eacute claro que ningueacutem estaacute tolhido por nada pode largar o livro na segunda paacutegina pode sair do blog sem nada ndash fotos viacutedeos entrevistas ndash experimentar Acontece poreacutem que haacute leitores delicados que forccedilosamente desejaratildeo ir ateacute o fim para natildeo se enganar em sua apreciaccedilatildeo imparcial assim satildeo alguns leitores que conheccedilo Pois eacute Perante esses que fico com o coraccedilatildeo mais leve apesar de tudo a despeito de todo seu esmero e sua honestidade dou-lhes todavia o mais legiacutetimo pretexto para largar o relato jaacute no primeiro episoacutedio que encontrarem virtual ou impresso

Bem eis todo o proacutelogo Concordo plenamente que isso eacute excessivo mas como jaacute encontrei escrito que fique

E agora matildeos agrave obra

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cena do espetaacuteculo rsquoaacuteguas de cima para baixorsquo da esquerda para direita

pedro dias carlos crescecircncio

Foto

Ace

rvo

Nu

TE

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PRIMEIRO

ENSAIOPRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015

Quarta-feira Intempestiva() aproximadamente 15h30min

Imagem Insistente Replay

-Absurdo Isso aqui eacute absolutamente ndash fumando Alexandre Venera balanccedilava a cabeccedila em tom negativo O texto em sua matildeo esquerda sofria o dorso da outra indo e vindo aos petelecos o restante do grupo assistia um tanto impressionado um tanto entediado ao desenvolvimento do conflito dramaacutetico jaacute que segundo Lehmann esse recurso vem sendo progressivamente elidido do teatro contemporacircneo1

ndash Vocecirc natildeo gostoundash Cara vocecirc eacute muito teimoso quantas vezes

jaacute te falei que natildeo existe esse troccedilo de Seu NuTE

ndash Eacute soacute um recurso dramaacutetico Venera Que me ajudou a cartografar a histoacuteria2 Daacute mais vida brinca com o problema da identidade eacute um conceito que venho trabalhando desde O Jardim das Ilusotildees

ndash Taacute mas vocecirc escreve sobre um heroacutei Como se resolve isso cenicamente

ndash Natildeo sei talvez possamos contar um pouco

1 O teatro poacutes-dramaacute-tico

2 Conforme Suely Rol-nik in Cartografia Sen-timental ldquoPara os ge-oacutegrafos a cartografia () eacute um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de trans-formaccedilatildeo da paisagem Paisagens psicossociais tambeacutem satildeo cartografaacute-veis A cartografia nes-se caso acompanha e se faz ao mesmo tempo que o desmanchamen-to de certos mundos - sua perda de sentido - e a formaccedilatildeo de ou-tros mundos que se criam para expressar afetos contemporacircneos em relaccedilatildeo aos quais os universos vigentes tornaram-se obsoletos Sendo tarefa do cartoacute-grafo dar liacutengua para os afetos que pedem pas-sagem dele se espera basicamente que esteja mergulhado nas inten-sidades de seu tempo e que atento agraves lin-guagens que encontra devore as que lhe pa-recem elementos possiacute-veis para a composiccedilatildeo das cartografias que se fazem necessaacuterias O cartoacutegrafo eacute antes de tudo um antropoacutefagordquo

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da tua histoacuteria pessoal da mesma forma como eu fiz no

ndash Pois esse eacute que eacute o problema ndash cortandondash Eacute um heroacutei modesto nada de mais ndash risos

contidos e nervososndash Nem modesto nem meio modesto Natildeo

natildeo daacute Eu natildeo dirijo porra de espetaacuteculo nenhum sobre historinha familiar seja a minha a da tua tia ou da matildee do prefeito Aleacutem do que o NuTE eacute um coletivo isso aqui natildeo tem cabimento eu natildeo vou montar essa merda ndash jogando o roteiro no chatildeo e fazendo menccedilatildeo de abandonar o ensaio

ndash Tudo bem Calma Deixa eu explicar um pouco melhor ndash Venera acende outro cigarro olha para o lado Wilfried Krambeck toma a palavra

ndash Eu concordo com Alexandre acho que natildeo podemos montar um espetaacuteculo que inicia sobre um plaacutegio vamos acabar respondendo por isso

ndash Plaacutegiondash Natildeo eacute plaacutegio chama-se colagem Heiner

Muumlller utilizava o proacuteprio NuTE fez alguns experimentos trata-se de uma colagem Eacute o meacutetodo da colagem

ndash Colagem Mas que colagem vocecirc utilizou apenas um texto

ndash Sim Eacute quase uma citaccedilatildeo mas funciona com variaccedilotildees extremamente sutis apenas o leitor mais atento percebe

ndash Citaccedilatildeo que natildeo indica o nome do autor Colagem que utiliza apenas um texto Desculpe eu natildeo conhecia esse estilo

ndash Mas vocecirc estaacute me ofendendo eacute oacutebvio que eu indico o nome do autor

ndash Onde Onde estaacute escrito que esse trecho que acabamos de ler eacute a abertura de Os Irmatildeos Karamaacutezov onde estaacute escrito que o verdadeiro autor eacute Dostoieacutevski e que a traduccedilatildeo que vocecirc utilizou eacute de Paulo Bezerra Agora se for uma colagem onde estatildeo os outros textos Vocecirc utilizou apenas um texto original modificando pequenos fragmentos

ndash Bom talvez se trate entatildeo de uma acoplagem ou de uma acoplagem de fragmentos natildeo sei bem ainda

ndash Olha Eacutedio ndash Venera retoma ndash semana passada quando vocecirc esteve laacute em casa eu comentei contigo que fiquei muito contente e honrado ateacute com teu esforccedilo para escrever a histoacuteria do NuTE mas eu nunca imaginaria que vocecirc iria forccedilar a coisa desse jeito Vocecirc sabe que estou distante do teatro haacute um bom tempo que depois de tudo o que aconteceu eu natildeo podia mais voltar na verdade nunca tive a menor vontade de voltar Eu estou aqui hoje com o grupo porque vocecircs me pressionaram muito Por vontade proacutepria natildeo viria Vou te falar uma coisa soacute tem um jeito de a gente continuar com isso

Um pouco de menos senatildeo natildeo vai mais

Caro leitor vamos diminuir um pouco a velocidade Como algueacutem que sobe galopando uma montanha e agora contemplando os

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quilocircmetros percorridos se esforccedila para encontrar entre as pedras laacute embaixo uma trilha como algueacutem que danccedila freneticamente madrugada adentro e num rodopio se daacute conta de que dentro de algumas horas estaraacute dormindo iniciando sutilmente a preparaccedilatildeo como um solo de guitarra que atinge a nota mais aguda e procura por uma escala menor Descer diminuir respirar Como um gato que no susto trepa o galho mais alto da aacutervore e agora quer voltar ao chatildeo mas natildeo sabe exatamente onde pisar como algueacutem que trabalha de segunda a saacutebado obrigado a levantar bem cedo e laacute pelas tantas acorda num domingo

Satildeo tantas coisas que preciso lhes contar tantas Contar por exemplo dos espetaacuteculos produzidos pelo NuTE da escola de teatro do JOTE-Titac de como foi que chegamos ndash ou melhor que chegaremos a este primeiro ensaio em 2015 Acho que este ponto merece uma pequena explicaccedilatildeo eu prefiro utilizar musicalmente falando as ressonacircncias gramaticais do passado por haacutebito por ironia ou para lhes proteger de frequentes estranhamentos Por isso na primeira frase da cena em questatildeo aparece ldquofumando Alexandre Venera balanccedilava a cabeccedila em tom negativordquo enquanto o correto seria dizer que ldquofumando Alexandre Venera balanccedilaraacute a cabeccedila em tom negativordquo Visto que hoje eacute 21 de abril de 2010 e que estes ensaios aconteceratildeo apenas daqui a cinco anos Trata-se portanto de uma biografia do devir De um futuro proacuteximo eacute verdade mas de um futuro Dessa forma quero lhes pedir

licenccedila para utilizar um formato gramatical natildeo condizente com o periacuteodo em questatildeo o passado aqui serviraacute como mero ponto de apoio nada mais O passado como um lugar seguro de onde se pode partir e ao mesmo tempo um porto aberto sempre agrave espera

Ah Como satildeo leves as conjunccedilotildees do preteacuterito imperfeito Talvez justamente por ser imperfeito Cada vez mais me convenccedilo de que a imperfeiccedilatildeo eacute sempre mais bonita Ao mesmo tempo sei que alguns leitores podem questionar tais utilizaccedilotildees dizendo que me bastaria conjugar esta escrita no futuro do presente ldquofumando Alexandre Venera balanccedilaria a cabeccedila em tom negativordquo Formato que aleacutem de confuso natildeo faz nenhum acoplamento com memoacuteria E como se trata de Puxa Eacute verdade eu jaacute ia me esquecendo da memoacuteria

Memoacuteria

Em O Jardim das Ilusotildees3 me apoiei em alguns conceitos-memoacuteria de Bergson boa parte desse livro funciona tendo Mateacuteria e Memoacuteria como engrenagem Conservo a sensaccedilatildeo de que aquele momento na paacutegina 7 onde Bergson diz que o ceacuterebro natildeo armazena imagens nem lembranccedilas continua produzindo bons agenciamentos e por isso uacutetil tambeacutem aqui Natildeo pretendo repetir toda discussatildeo jaacute realizada em O Jardim das Ilusotildees minha intenccedilatildeo em avanccedilar sobre esse ponto em especiacutefico eacute a de permitir que vocecirc caro leitor compreenda de forma raacutepida e acessiacutevel a concepccedilatildeo de

caro leitora maioria dos

arquivos e informaccedilotildees

disponiacuteveis em links da internet

estatildeo tambeacutem diponiacuteveis no

dvd multimidia lsquoexperimentando

nutersquo anexo a este livro fique atento ao iacutecone abaixo

3 ver o livro disponiacutevel em

wwwnutecombrjardimpdf

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memoacuteria com a qual venho trabalhando e que estaraacute nos atravessando durante estas leituras-escrituras-NuTE

Quem vai nos ajudar dessa vez satildeo dois bioacutelogos chilenos Francisco Valera e Humberto Maturana Apesar de natildeo citarem Bergson chegam a conclusotildees bastante proacuteximas desta enunciada em Mateacuteria e Memoacuteria Tanto eacute que no segundo livro que escreveram juntos ndash A Aacutervore do Conhecimento as bases bioloacutegicas da compreensatildeo humana ndash a impressatildeo que passa eacute a de haver um aprofundamento da questatildeo jaacute que para Maturana e Varela natildeo apenas as imagens e as lembranccedilas estariam fora mas a proacutepria mente ldquo() natildeo eacute algo que estaacute dentro de meu cracircnio Natildeo eacute um fluido do meu ceacuterebro a consciecircncia e o mental pertencem ao domiacutenio de acoplamento social e eacute nele que ocorre a sua dinacircmicardquo4

Pois que seja mas e daiacute ndash diria o leitor mais ansioso ndash Daiacute que no caso de uma memoacuteria-NuTE a memoacuteria possiacutevel de acessar a memoacuteria que por mais esforccedilo que vocecircs e eu faccedilamos apareceraacute nestas paacuteginas estaraacute mergulhada em palavras imagens sons cheiros cores experimentaccedilotildees NuTE Natildeo se trata de explorar o problema de uma forma poeacutetica como disseram alguns criacuteticos sobre meu primeiro livro mas de perceber que essa memoacuteria que nos acostumamos a reverenciar como propriedade de um dentro objetiva linear e pronta para ser recuperada natildeo pertence a um sujeito ou ao dentro da consciecircncia de alguns sujeitos Que ela soacute funciona acoplada a 4 paacutegina 256

linguagens muacuteltiplas e muacuteltiplas satildeo suas faces Sem isso sem esse miacutenimo em uma pesquisa como essa nada se coloca em movimento

Parece bastante oacutebvio que nosso ceacuterebro natildeo armazene palavras mesmo assim fomos acostumados a imaginar uma gaveta de massa cinzenta ocircrganica em meio a neurocircnios e dendritos acomodando expressotildees frases inteiras ateacute Dessa imagem cerebral o que nos resta eacute a atuaccedilatildeo em rede da memoacuteria Mas se as palavras natildeo estatildeo guardadas em um depoacutesito cerebral como eacute possiacutevel a um ator utilizar palavras para descrever sua experiecircncia nuteana Ou dizendo de outra forma quando um ator utiliza palavras que natildeo satildeo dele para descrever seu passado nuteano o que ele descreve Quando esse ator nos conta o que lhe parece ter sido o nuacutecleo de teatro experimental afinal como ele faz isso Como eacute possiacutevel que essas mesmas palavras que natildeo estatildeo depositadas dentro do ceacuterebro do ator sejam a base de toda invenccedilatildeo de seu relato-memoacuteria

Organizaccedilatildeo Deliacuterio e Tempo

O que atravessa nosso corpo natildeo apenas o ceacuterebro mas o sangue as arteacuterias as viacutesceras a pele todo o corpo eacute sempre uma atualizaccedilatildeo do virtual O transbordamento caoacutetico dessa passagem temporal exige uma organizaccedilatildeo Para lidar com esse constante desassossego somos forccedilados natildeo haacute como escapar sem enlouquecer a inventar sentidos Contudo mesmo o limite

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da desrazatildeo eacute meramente didaacutetico jaacute que muitas vezes eacute justamente atraveacutes da loucura que o sujeito estabelece algum sentido Para Bergson5 esse tempo em noacutes eacute um movente e uacutenico bloco Natildeo se pode dividi-lo natildeo se pode recortaacute-lo em fases periacuteodos identidades O tempo em noacutes eacute indivisiacutevel A lembranccedila em noacutes eacute permanente Somos tudo a todo tempo tudo o que experimentamos estaacute agora nesse instante fazendo barulho urros interminaacuteveis de incontaacuteveis lampejos sutis Cada pequena memoacuteria estaacute duelando com todas as demais e essa guerra desenfreada e incessante que acontece mesmo enquanto vocecirc realiza essa leitura estaacute a nos arrastar cada um de noacutes ao seu tempo pela vida

Para lidar com esse excesso de memoacuteria que somos a natureza em seu requinte de fazer a existecircncia suportaacutevel desenvolveu um mecanismo-verbo esquecer Se lembraacutessemos de tudo a todo tempo a vida seria impossiacutevel Ou seja a funccedilatildeo do ceacuterebro se eacute que ela estaacute realmente no ceacuterebro natildeo eacute lembrar mas esquecer Esquecer para poder existir Esquecer para poder experimentar a perpeacutetua presentificaccedilatildeo do passado Esquecer um pouco ao menos um pouco pois a indivisibilidade do tempo que nos carrega natildeo vai parar Eacute preciso esquecer para conseguir tomar focirclego e continuar vivendo ou melhor continuar esquecendo

Se fosse preciso falar de forma geral simplificando as coisas assim numa estrutura bastante provisoacuteria poderiacuteamos dividir a

5 O Pensamento e o Movente ensaios e conferecircncias

organizaccedilatildeo desses abismos em noacutes atraveacutes de dois grandes blocos de elaboraccedilatildeo

Modo Forma Modo ForccedilaAliviar Tonificar

Iludir Encarar

Distrair Entreter Provocar Fazer Experimentar

Lucro Poder-Potecircncia

Fugir da Realidade Aceitar o Traacutegico da Vida

Representar Enunciar Apresentar Inventar

Tais blocos permitem uma produccedilatildeo de sentido agrave vida Ajudam a passar o que pede passagem Permitem ao corpo natildeo desmontar auxiliam em sua organizaccedilatildeo em sua invenccedilatildeo em sua produccedilatildeo de sentido em meio agrave caoticidade jaacute inerente agrave vida e potencializada pelas atualizaccedilotildees do virtual

Dizendo de uma NuTE-forma a histoacuteria o roteiro a cronologia natildeo passam de um deliacuterio racional uma organizaccedilatildeo imposta que a consciecircncia fabrica para criar sentido e natildeo sucumbir natildeo desterritorializar em meio agraves sensaccedilotildees que transbordam no corpo-escritura no corpo-entrevista no corpo-foto O estatuto de verdade que muitos perseguem seja na descriccedilatildeo histoacuterica ou mesmo numa disciplina cientiacutefica como a medicina soacute se atinge quando uma determinada organizaccedilatildeo-deliacuterio torna-se a organizaccedilatildeo-deliacuterio de muitos Foi isso que ldquo() Robison Crusoeacute entendeu muito bem ao manter um calendaacuterio e ler a Biacuteblia todas as

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tardes isso soacute eacute possiacutevel se nos comportarmos como se existissem outros jaacute que eacute a rede de interaccedilotildees linguumliacutesticas que faz de noacutes o que somos Noacutes que como cientistas dizemos todas essas coisas natildeo somos diferentesrdquo6

Ou seja se a memoacuteria natildeo habita um espaccedilo objetivo dentro do ceacuterebro de onde seria possiacutevel extraiacute-la com precisatildeo se a memoacuteria se espalha em complexos sistemas interativos sociais ligados em rede se a memoacuteria depende sempre da memoacuteria dos outros para ter legitimidade entatildeo tentar recuperar uma verdadeira memoacuteria ainda mais quando de um grupo eacute no miacutenimo um trabalho fadado ao fracasso7

Ou seja um observador por mais que se esforce para descrever uma memoacuteria tem sua descriccedilatildeo regulada pelo domiacutenio da observaccedilatildeo e jamais atinge portanto o domiacutenio das operaccedilotildees nunca conseguiraacute atingir os fatos tais como acontecem eou aconteceram Para Deleuze o virtual seria este inacessiacutevel onde entre outras coisas ocorre o domiacutenio das operaccedilotildees do ontem Sendo o virtual aquilo que natildeo nos eacute dado e o atual em contraponto aquilo que nos eacute dado podemos avanccedilar sobre nosso caso8

A histoacuteria do NuTE que se tenta narrar aqui estaacute limitada ao niacutevel de uma observaccedilatildeo-atualizaccedilatildeo possiacutevel visto que os domiacutenios de suas operaccedilotildees tais como aconteceram natildeo estatildeo acessiacuteveis ndash passado inalcanccedilaacutevel NuTE-virtual Dessa forma quatro constataccedilotildees importantes

6 A Aacutervore do Conhe-cimento p 256-257

7Em De Maacutequinas e Seres Vivos Autopoie-se ndash A Organizaccedilatildeo do Vivo Maturana e Va-rela explicam que ldquoAs noccedilotildees de aquisiccedilatildeo de representaccedilotildees do am-biente ou de aquisiccedilatildeo de informaccedilatildeo sobre o ambiente em relaccedilatildeo com a aprendizagem natildeo representam qual-quer aspecto do operar do sistema nervoso O mesmo vale para no-ccedilotildees tais como memoacute-ria e lembranccedila que satildeo descriccedilotildees feitas por um observador de fenocircmenos que tecircm lu-gar em seu domiacutenio de observaccedilatildeo e natildeo no domiacutenio de operaccedilatildeo do sistema nervoso e que portanto tecircm va-lidade somente no do-miacutenio das descriccedilotildees onde ficam definidas como componentes causais na descriccedilatildeo da histoacuteria condutu-alrdquo p132

8 Esta definiccedilatildeo de Virtual e Atual se en-contra mais detalhada em O Vocabulaacuterio de Deleuze de Zourabi-chvilli

Primeiro que o passado o virtual a memoacuteria que estou procurando eacute real

Segundo que em sua forma pura em seu em si o passado permanece virtual

Terceiro que meu corpo ainda que sutilmente pode servir de ponte entre o virtual e o atual

Quarto que posso utilizar a escritura como meio de conduzir atualizaccedilotildees desse virtual

Uma escritura que acaba sendo levada a se preocupar natildeo apenas com aquilo que aconteceu mas com aquilo que o acontecimento fezfaz movimentar nos corpos das pessoas que experimentaram o acontecimento9

Assim as observaccedilotildees-atualizaccedilotildees aqui expostas pretendem uma espeacutecie de mapa-NuTE Mapa de um passado-virtual que se atualiza atraveacutes das organizaccedilotildees-deliacuterios de um observador Com razatildeo alguns leitores devem estar ridicularizando este processo de pesquisa Ao mesmo tempo acredito que os mais rigorosos podem aceitar alguns dos limites que menciono e entre estes os mais generosos provavelmente se perguntam haveria alguma forma de melhorar isso Como natildeo depender apenas das organizaccedilotildees-deliacuterios de um uacutenico observador para descrever essa histoacuteria-NuTE A resposta parece ser bastante oacutebvia convidando outros observadores agrave escrita Mas que escrita suportaria tamanha condensaccedilatildeo

Eugenio Barba em artigo intitulado Fazer Teatro eacute Pensar de Modo Paradoxal diz que ldquo() o importante natildeo era o sentido das palavras

Raniere em O Jardim das Ilusotildees 2007

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natildeo era tornar o texto inteligiacutevel mas tornaacute-lo vivordquo10 Quem sabe entatildeo se essa escritura-NuTE fosse arrastada natildeo a uma filiaccedilatildeo mas a uma alianccedila com Eugenio Barba em seu modo de trabalhar textos roteiros peccedilas Quem sabe com autorizaccedilatildeo dos pesquisadores mais claacutessicos claro pudeacutessemos tomar os fatos histoacutericos sobre o NuTE da mesma forma que Eugenio Barba toma um texto-roteiro-peccedila Dando mais importacircncia agrave intensidade do que agrave inteligibilidade Obviamente os fatos satildeo essenciais mas seria preciso encarnar esses fatos condensadamente diferente da sua realidade Confuso Tentemos um exemplo a experiecircncia do NUTe com sua Escola de Teatro11 Temos alguns fatos apontados por recortes de jornais fotos eventos programas meacutetodo de ensino entrevistas e suas transcriccedilotildees etc Contudo como tornar viva essa experiecircncia Como proporcionar a vocecirc caro leitor uma escrita que esteja aleacutem da inteligibilidade e do sentido das palavras

Alguns deslocamentos satildeo necessaacuterios Se vamos trabalhar condensando vaacuterias escritas este autor deixa de ter autoria sobre a escrituraccedilatildeo-NuTE Visto que o que ele faz acaba se aproximando mais de uma direccedilatildeo tal qual um diretor de teatro do que propriamente de uma solitaacuteria composiccedilatildeo privada Os acontecimentos seratildeo deformados quebrados estilhaccedilados para que deles se possa extrair potecircncia para que possamos descobrir uma realidade totalmente diferente da realidade que o fato histoacuterico jaacute continha em seu virtual

10 P 14

11 caro leitor vocecirc iraacute encontrar

a abreviaccedilatildeo NuTE

sempre que o texto fizer referecircncia ao

Nuacutecleo de Teatro

Experimental

bem como

NuTe

para

Nuacutecleo de Teatro Escola

ambas as grafias eram adotadas

pelo proacuteprio grupo com os mesmos

significados

ldquo() trata-se de criar um teatro em que a interpretaccedilatildeo do texto eacute atingida por uma condensaccedilatildeo extraordinaacuteria incorporada pelo ator cujas reaccedilotildees fazem com que os espectadores descubram uma realidade totalmente diferente da realidade que as palavras jaacute continham quando estavam no papel Eacute por isso que para mim as palavras satildeo essenciais Eacute a poesia do texto que devemos procurar Mas poesia significa condensaccedilatildeo Eacute preciso encarnar esse texto condensadamente () a finalidade uacuteltima de todo esse trabalho de teacutecnica de visatildeo eacute construir uma relaccedilatildeo viva com o espectadorrdquo12

Em busca de uma relaccedilatildeo viva com o leitor

Um livro natildeo comeccedila com uma paacutegina em branco mas sim com seus devires Seres larvares pululam Frases larvares paraacutegrafos inteiros cores-sons-cheiros conceitos e desejos Essas larvas do vir a ser esse download do ontem ndash jaacute que nessa pesquisa haacute uma intenccedilatildeo de descrever aquilo que aparentemente mora no passado ndash essa atualizaccedilatildeo de um virtual me parecem tatildeo importantes quanto o livro-resultado-final Muito mais difiacuteceis contudo de frear de conter neste papel-tela De registrar de possibilitar que vocecirc caro leitor-ator experimente

Sei que preciso delas sei que sem elas dificilmente atingiremos essa relaccedilatildeo proposta por Barba Ao mesmo tempo tenho tido a impressatildeo de que essas Larvas Palavras jamais obedeceratildeo ao meu comando de parar Talvez sejam nocircmades em um passeio infinito natildeo sei ao certo ainda Sim Elas passaram pelo corpo

12Fazer Teatro eacute Pensar de Modo Para-doxal Eugenio Barba p 15

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do NuTE mas agora andam desgovernadas por aiacute

Dessa forma talvez nossa uacutenica chance enquanto leitorautor seja aliar-nos com elas Se elas natildeo me obedecem mesmo sendo eu quem dirige esta escrita ou justamente por tentar dirigi-la quem sabe possamos larvar-nos e agenciar essa escritura-leitura a uma espeacutecie de Experimentaccedilatildeo de um Devir NuTE

Tento explicar um pouco melhor Durante a produccedilatildeo deste livro fui expondo em nuteparatodoswordpresscom seus preparativos Cada rascunho cada conceito cada novo pensamento que me pedia passagem teve ali um territoacuterio livre para circular encontrar amigos criacuteticas sugestotildees para se esculpir para se abandonar para se refazer Agrave medida que o Acontecimento NuTE foi se pronunciando muitas das experimentaccedilotildees se deram In Progress em desenvolvimento antes desta ediccedilatildeocostura desta formataccedilatildeo que vocecirc caro leitor tem em matildeos

Ou seja minha tentativa agora ndash Progress in Livro in Progress ndash eacute permitir que um movimento larvar da pesquisa enuncie agrave sua leitura aquilo que o registro-freio tende a paralisar

Contudo encontrei apenas uma forma de fazer isso Convidando vocecirc prezado leitor a participar melhor dizendo a continuar este Work in Progress Por favor natildeo se assuste Talvez num primeiro momento vocecirc esteja pensando que o papel de um leitor seja ler apenas ler e que isso de ser empurrado para atuar junto aos demais atores de uma pesquisa

Work in Progress natildeo estava em seu roteiro quando se interessou por este livro De certa forma vocecirc estaacute correto mas se eu puder contar com sua generosidade peccedilo que tenha calma e siga a leitura como lhe parecer mais agradaacutevel Nas proacuteximas paacuteginas vocecirc seraacute chamado a participar de uma conversa numa comunidade do Orkut fica a seu criteacuterio fazecirc-lo ou natildeo Durante todo o livro vocecirc seraacute convidado a acessar ao blog acima citado bem como a biblioteca Nutrindo13 Nesses espaccedilos vocecirc iraacute encontrar muitas das larvas que aqui tomaram forma de frases paraacutegrafos inteiros Todas as entrevistas realizadas durante a pesquisa estatildeo transcritas na iacutentegra para seu livre acesso Quando vocecirc se deparar num dos Ensaios com um recorte como um trecho de entrevista por exemplo natildeo permita que nossa interpretaccedilatildeo reduza seu entendimento sobre o que foi o NuTE baixe a entrevista no blog e veja por si mesmo do que se trata O mesmo procedimento serve aos documentos aqui fracionados todos sem exceccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis para sua consulta nessa biblioteca que criamos especialmente para hospedaacute-los Nos Segundo e Quarto Ensaios vocecirc seraacute convidado a jogar junto com os demais atores o Baralho NuTE Aproveite divirta-se Monte seu proacuteprio espetaacuteculo No Terceiro Ensaio vocecirc vai encontrar o Livreto Espetacular onde ex-nutes compartilham suas experiecircncias a respeito das principais montagens neste mesmo Ensaio junto agrave cronologia dos 185 espetaacuteculos encenados vocecirc vai encontrar endereccedilos

12 a biblioteca lsquonutrindorsquo conta atualmente com mais de trecircs mil

documentos e pode ser acessada em

wwwnutecombr

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links para assistir a apresentaccedilotildees ensaios e oficinas No Quinto Ensaio virei pessoalmente lhe convidar inclusive jaacute comprei seu ingresso gostaria muitiacutessimo de sua companhia para assistir ao JOTE-Titac Experimentando NuTE Por fim para o Sexto Ensaio seratildeo necessaacuterias algumas cervejas Recomendo que desde jaacute o prezado leitor as mantenha resfriando em seu freezer

Passo agora a lhes contar como foi que chegamos ao nosso primeiro ensaio como foi que chegamos ao comeccedilo

Um lugar onde se respira o antes do Proacutelogo

Naquela tarde eu tive certeza logo ao desligar o telefone que O Jardim das Ilusotildees seria publicado Gervaacutesio Luz emocionado com o livro transmitia a mim seu parecer positivo como conselheiro da editora Cultura em Movimento Saiacute para sorrir ao sol Natildeo sei bem se um daqueles raios amarelados em minha testa ou mesmo o recente falecimento de Carlos Jardim ndash turbilhatildeo de imagens teatrais ndash natildeo sei bem Mas foi assim que esta obsessatildeo comeccedilou

Fui arrebatado por uma cena-imagem um livro que ao utilizar a estrutura teatral para descrever a trajetoacuteria de um grupo de teatro seria tomado pelo proacuteprio grupo descrito como roteiro de seu proacuteximo espetaacuteculo Espetaacuteculo sobre si dobra-cartograacutefica Deleuze me sussurrava Fazer da Vida Uma Obra de Arte

fazer da vida uma obra de arteAssim que tive em matildeos o primeiro exemplar

de O Jardim das Ilusotildees corri agrave Equipe Vira Lata com essa proposta Para minha frustraccedilatildeo baldes de aacutegua fria Natildeo obtive o entusiasmo que esperava Juntos realizamos o lanccedilamento e um ano depois a publicaccedilatildeo de Por Uma Escrita Vira Lata ndash desdobramento de minha pesquisa onde reuacuteno a grande maioria dos textos escritos por Roberto Vergel pseudocircnimo que Carlos Jardim utilizava para escrever

Mas a imagem insistia Parecia grudada em minha respiraccedilatildeo Ao assistir um espetaacuteculo sempre ela retornava ao dar um curso sobre Michel Foucault ao ler Dostoieacutevski Aos poucos fui me convencendo de que poderia escrever esse espetaacuteculo-dobra Alguns conceitos me faltavam e essencialmente um novo grupo de teatro Comecei a me questionar sobre quem valeria a pena pesquisar que grupo me interessaria Essa pergunta permaneceu por um bom tempo

Isso Natildeo eacute Um Cococirc14 foi uma intervenccedilatildeo urbana de muitos Entre eles estavam Juliana Teodoro e Alexandre Venera Em meio agraves accedilotildees de terrorismo poeacutetico nos tornamos amigos Laacute pelas tantas (eu estava um pouco embriagado eacute verdade) foi no Farol Lanches em Blumenau resolvi contar a Alexandre o quanto o Teatro da Terra uacuteltima fase do NuTE havia sido importante para mim O quanto aquelas cenas em meio agrave Floresta-Fazendarado continuavam presentes no que eu vinha ajudando a fazer de mim

14 A accedilatildeo como um todo levou semanas Desde a construccedilatildeo dos objetos passando pelo lanccedilamento dos objetos no rio Itajaiacute-Accedilu as filmagens a ediccedilatildeo e suas proje-ccedilotildees Nesse endereccedilo vocecirc pode assistir ao viacutedeo que resultou das accedilotildeeswwwyoutubecomwatchv=kknHIVUO-NE

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PRIMEIRO

ENSAIO

Num estalo compreendi que o grupo que eu vinha procurando haacute algum tempo era o NuTE Descrevi para Alexandre meu argumento de pesquisa e ele que tambeacutem havia bebido um pouco disse que era uma ideia genial

() o Alexandre era um grande incentivador assim Com tudo entrando em ebuliccedilatildeo Ele fazia a gente fazer Um tremendo animador cultural no melhor sentido da palavra o Alexandre vibrava com essas coisas os olhos dele brilhavam ldquoVai laacute vamos fazer tem que agitar tem uma ideia legal fazrdquo e Entatildeo empolgava muito a gente a produzir e produzir cada vez mais (entrevista com Peacutepe Sedrez paacutegina 2)

Um estranho brilho nos olhos dele me fez acreditar que a ideia era realmente boa Ao mesmo tempo me disse que natildeo gostaria de se comprometer com a direccedilatildeo do espetaacuteculo da forma como eu estava propondo porque natildeo tinha mais interesse em teatro mas que ficaria honrado com essa cartografia sobre o NuTE

Na mesma semana procurei Aline e Charles velhos amigos e parceiros em projetos culturais Havia um edital aberto para pesquisa e publicaccedilatildeo pela Petrobras Eles gostaram da ideia e comeccedilamos a trabalhar na redaccedilatildeo do projeto Uma das exigecircncias desse edital era obter um Pronac junto ao Ministeacuterio da Cultura via Lei Rouanet Uma vez pronto encaminhamos o projeto e ansiosos aguardamos Depois de alguns meses veio a resposta reprovado Natildeo conseguimos aprovaccedilatildeo pela Petrobras Mais

alguns meses se passaram e como a tramitaccedilatildeo no Ministeacuterio da Cultura independe da empresa patrocinadora acabamos recebendo um Pronac Ou seja o projeto foi aceito via Lei Rouanet caberia agora ao grupo conseguir captaccedilatildeo Captaccedilatildeo que contaacutevamos fazer atraveacutes do edital da Petrobras

Todo mundo que trabalha com cultura tem pelo menos trecircs amigos que aprovaram projetos via lei Rouanet e que nunca conseguiram captar O repasse feito via imposto de renda somente pode ser dado por grandes empresas as quais geralmente estatildeo interessadas em atividades culturais de cunho comercial Desanimados engavetamos o projeto e cada qual em seu canto foi cuidar da vida Comecei a trabalhar para o governo do estado do Paranaacute e me mudei para Curitiba

Quando o prazo de captaccedilatildeo estava prestes a terminar seu Luiz meu sogro telefona dizendo que Gabriela sobrinha dele comentava de uma empresa da aacuterea de construccedilatildeo de hidreleacutetricas a qual estava no momento com uma obra no oeste de Santa Catarina esta empresa vinha avaliando projetos justamente para financiamento via Lei Rounet Sem esperanccedila alguma resolvi encaminhar o projeto e eis que por um grande acaso do destino somos contemplados

Com o patrociacutenio do grupo Baesa-Enercan tudo parecia estar resolvido Bastaria realizar a pesquisa e atraveacutes dela compor procurar pela escrita NuTE Contudo minhas atividades na Secretaria de Estado da Crianccedila e da Juventude

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PRIMEIRO

ENSAIO

me exigiam por completo A escrita foi ficando para amanhatilde Havia firmado compromisso comigo mesmo de escrever em minhas feacuterias as quais estavam programadas pra julho de 2009

Em Curitiba todo saacutebado agrave tarde num bar da esquina de casa ndash bairro Aacutegua Verde ndash tocavam bandas de Blues Era um lugar agradaacutevel para ler Nietzsche Num desses saacutebados a banda terminou mais cedo Por volta das 18 horas paguei as cervejas coloquei O Anticristo na mochila e tomei o rumo de casa Foi nesse crepuacutesculo que aconteceu Eu caminhava distraidamente pelas calccediladas da rua Amazonas quando fui consumido por um segundo arrebatamento e se eu pudesse assistir ao espetaacuteculo que conta a trajetoacuteria do NuTE antes mesmo de escrever o livro E se eu pudesse transformar parte desse espetaacuteculo no livro que iraacute servir de roteiro para o proacuteprio espetaacuteculo

Sozinho vibrando com a ideia eu ria num frenesi desvairado Gritava ldquoEacute isso Eacute isso Isso mesmordquo E voltava a gargalhar como se estivesse possuiacutedo por algum democircnio Os curitibocas transeuntes que vinham em minha direccedilatildeo se afastavam Alguns me apontavam assustados Uma senhora jaacute velhinha que passeava com seu pequeno cachorro poodle tocou-me gentilmente no braccedilo perguntando se eu estava bem Tentei lhe explicar o que estava visualizando mas ela natildeo conseguia entender o que era um JOTE-Titac

Marquei uma reuniatildeo com Charles Aline

e Venera e da mesma forma como havia feito com a bondosa senhora curitibana expliquei o que havia visto Eles compreenderam e gostaram da proposta Juntos chegamos ao conceito de JOTE-Titac Experimentando NuTE Funcionaria como todo JOTE-Titac com a diferenccedila de que os textos encaminhados teriam que tratar de um uacutenico tema o NuTE Natildeo necessariamente contar a histoacuteria do NuTE Mas de alguma forma dar passagem a ela ou a um devir NuTE permitir ressonacircncias com o NuTE estar de alguma forma afetado por ele15

Escolhemos uma data para o evento Aline e Charles cuidaram da divulgaccedilatildeo Venera e eu nos dedicamos agrave organizaccedilatildeo dos grupos Professora Noemy Kellerman Gregory Haertel e Tacircnia Rodrigues selecionaram os textos Doutor Ronaldo Faleiro Peacutepe Sedrez e Noemy Kellerman julgaram os espetaacuteculos Foi um grande sucesso Sem duacutevida eu faria tudo novamente Mas minhas feacuterias haviam terminado Voltei para Curitiba voltei a trabalhar voltei a tentar escrever em meus finais de semana Impossiacutevel Sempre esgotado natildeo conseguia produzir Essa exaustatildeo me acoplou violentamente com um antigo projeto comprar uma casa-escrita Uma casa onde escrever seria possiacutevel em qualquer horaacuterio do dia Um lugar onde natildeo houvesse interferecircncias de bares buzinas motores shows vizinhos cachorros construccedilatildeo de preacutedios ou qualquer outra modalidade ruidosa que pudesse dificultar o processo de escrita

Foi uma decisatildeo difiacutecil Em dezembro de 2009 pedi demissatildeo e comprei atraveacutes de

15 Caro leitor como vocecirc pode

perceber em nosso iacutendice haacute um

capiacutetulo destinado exclusivamente

ao jote- jitac por isso natildeo iremos

detalhar aqui seu funcionamento eou propoacutesito aleacutem do capiacutetulo tudo o que foi produzido pelo lsquojote-titac experimentando

nutersquo estaacute hospedado em

wwwnuteparatodoswordpresscomjoteti-tac

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PRIMEIRO

ENSAIO

um financiamento pela Caixa Econocircmica Federal uma casa na Praia da Tainha em Bombinhas Santa Catarina Nesse mesmo mecircs trago a mudanccedila e comeccedilo a trabalhar Natildeo na escrita mas na casa que precisava de uma seacuterie de reformas Em meados de fevereiro as coisas se ajeitam e comeccedilo a trabalhar finalmente na produccedilatildeo da escrita NuTE O isolamento da praia me permitiu uma aventura quase monaacutestica Mas em virtude de minha natildeo formaccedilatildeo em teatro inuacutemeros problemas conceituais retornavam Em busca de orientaccedilatildeo entro em contato com o Doutor Ronaldo Faleiro que muito gentilmente aceita me nortear nesse processo

Agrave medida que Faleiro analisava os capiacutetulos eles iam sendo postados no blog - wwwnuteparatodoswordpresscom - e sofriam a interferecircncia dos muacuteltiplos virtualizados ndash pessoas que criticavam elogiavam davam dicas ajustavam cenas ndash fui montando capiacutetulo a capiacutetulo este livro O conceito que utilizamos para essa composiccedilatildeo foi o de Work in Progress de uma escrita In Progress

Em outubro de 2011 uma primeira versatildeo do livro estava pronta Eu precisava agora de um diretor Como Alexandre havia sinalizado negativamente marquei uma reuniatildeo com Peacutepe Sedrez Levei o livro entreguei a ele e lhe perguntei se teria interesse em montar o espetaacuteculo Peacutepe olhava pra mim olhava para o livro permaneceu em silecircncio por quase dez minutos apenas folheando as paacuteginas Por fim uma laacutegrima lhe desceu a face esquerda

do rosto Tomado por uma carga absurda de sensaccedilotildees as quais tenho dificuldade de descrever aqui ele me disse

ndash Obrigado Eacutedio obrigado por isso Quero que vocecirc saiba o quanto significa pra mim este teu trabalho Eu me sinto mais do que feliz com tua proposta Imagine ndash falou sorrindo ndash dirigir um espetaacuteculo sobre a histoacuteria do NuTE seria maravilhoso Mas Mas me desculpa eu natildeo posso natildeo natildeo posso

Ele me entregou o livro levantou-se pedindo desculpas e saiu Atocircnito sozinho na sala da Companhia Carona de Teatro olhei para o livro em cima da mesa olhei a placa da porta ao lado Equipe Vira Lata Respirei apanhei o livro e me dirigi ao corredor de saiacuteda Descendo a rua XV de Novembro desanimado perto da igreja matriz ouccedilo algueacutem me chamando Era Peacutepe

ndash Desculpa mais uma vez eu natildeo consegui te falar o que queria te dizer Eu quero muito montar esse espetaacuteculo Mais do que vocecirc pode imaginar O que eu natildeo posso eacute dirigir Quero participar como ator Sei que muitos que participaram do NuTE tambeacutem vatildeo querer

Nesse momento Peacutepe me fez visualizar algo novo Eu natildeo havia pensado nisso Minha questatildeo era encontrar um diretor Passaria o livro a ele que escolheria os atores e montaria agrave sua maneira Mas a imagem de um espetaacuteculo com atores do proacuteprio NuTE a encenar sua proacutepria histoacuteria sem duacutevida era ainda mais interessante Fiquei contente e retomei com Peacutepe

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PRIMEIRO

ENSAIO

ndash Oacutetimo seria bem legal mesmo agradeccedilo muito tua vontade de participar eu havia pensado em ti como diretor mas se

ndash Vocecirc natildeo entende ndash cortando ndash eu natildeo posso dirigir quem precisa dirigir esse espetaacuteculo eacute o Alexandre

Nossa se me dessem Hoje em dia se o

Alexandre me convidasse pra fazer um trabalho

Pra fazer papel de cachorro mudo quieto eu ia

e olha amarradatildeo Sem sombra de duacutevida ()

Acho que seria uma legal uma montagem ateacute uma

coisa porrada mas aiacute eacute com meu amigo Alexandre

neacute (risos) () Eacute se ele quiser Eu vou a hora que

ele quiser () Acho que a Como eu te digo a vida

taacute passando a gente taacute ficando velho e poxa seria

muito Pra mim seria uma honra muito grande e

um orgulho muito grande taacute fazendo de novo um

trabalho com o Alexandre e pocirc se Deus quiser se

Peacutepe aceitar com Peacutepe Carlinhos nossa Juliana

Muller que fazia parte do NuTE e tantas outras

pessoas que passaram por ali eu acho que Tadeu

Bittencourt o proacuteprio Carlinhos que natildeo estaacute mais

aqui em Blumenau mas pocirc chamando ele volta

(entrevista com Giba paacuteginas 26-27)

ndash Mas Peacutepe eu jaacute tentei convencer Alexandre Ele estaacute irredutiacutevel Natildeo quer saber de teatro

ndash Eu sei eu sei Mas podemos bolar um plano Na verdade eu jaacute pensei em tudo Vocecirc lembra do texto escrito pelo Nira que foi selecionado para participar do JOTE-Titac Experimentando NuTE

ndash Qual O Mackbeacutete

ndash Natildeo O outro Trabalho Sujo

ndash Sim Sim O que tem

ndash Podemos utilizaacute-lo para convencer o Alexandre

ndash Como assim

ndash Claro vai precisar de uma adaptaccedilatildeo Mas acho que pode servir

ndash E quem vai adaptar

ndash Bem eu sei que o Gregory Haertel fez uma adaptaccedilatildeo desse texto chama-se a Sede do Santo foi montada com direccedilatildeo do Rafael Koehler Mas se essa adaptaccedilatildeo natildeo der conta de convencer o Alexandre talvez o proacuteprio Nira possa fazer

ndash Beleza pode dar certo

ndash Vai dar sim Com certeza Aiacute vocecirc cola aqui na sequecircncia antes do retorno ao Primeiro Ato

ndash Joia vou fazer isso entatildeo

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PRIMEIRO

ENSAIO

Adaptaccedilatildeo de Trabalho Sujo16

Argumento A gangue deve ser virtual e composta pelos fakes NuTE Os personagens elaboram suas tramas pelo Orkut Cada qual tem um perfil Ao leitor cabe jogar com os personagens no sentido de encontrar uma soluccedilatildeo para o problema em questatildeo convencer Alexandre a dirigir o espetaacuteculo sobre o NuTE Cada personagem teraacute um perfil no Orkut com login e senha As senhas seratildeo fornecidas aos leitores atraveacutes da leitura do livro Natildeo ficaraacute claro aqui no livro a resoluccedilatildeo da trama Para que o leitor saiba o que levou Alexandre a dirigir o espetaacuteculo ele teraacute que entrar no Orkut e jogar com os personagens

Trabalho Sujo e Virtual17

Personagens NAFTALINA JOHNSON NOacuteDULO CHUCK NEIDE SAPATINHO NIVALDO TRAPACcedilA NESTOR MIRONGA NEUSINHA BLAU BLAU (os quais assumem identidades fakes) NARRANTE

Cena I Eureca Epifania Iluminaccedilatildeo

NARRANTE ndash No evento Jote-Titac Experimentando NuTE a quadrilha de Naftalina Johnson se esmerava em roubar quadros sequestrar livros pichar esculturas corromper leitores e ateacute piratear telenovelas ndash tudo levado a cabo com preciosismo extremado Ateacute que chegou um momento em que eles descobriram que natildeo poderiam seguir com ambiccedilotildees tatildeo mesquinhas Algo de muito pior deveria ser

16 Trabalho Sujo de Nira da Silveira texto escrito e selecionado para o JOTE-Titac Ex-perimentando NuTE O leitor tem acesso ao texto original atraveacutes do blog wwwnutepa-ratodoswordpresscom e no Quinto En-saio deste livro

17 Adptaccedilatildeo de Nira da Silveira

feito Algo como convencer Alexandre Venera a dirigir um espetaacuteculo sobre o NuTE Um problema havia como fariam isso incoacutegnitos Como despistariam a Poliacutecia Autoral Cada vez mais as antigas missotildees pareciam brincadeira de preacute-adolescentes Foi poreacutem numa noite de abril que Naftalina chegou com a soluccedilatildeo

NAFTALINA JOHNSON ndash Caros comparsas estaacute aberta a sessatildeo Dona Blau Blau a senhorita estaacute anotando

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Estou Tudo Anotando tudo Podem olhar Taacute bem aqui Tudo anotadinho

NAFTALINA ndash Obrigado muito obrigado Queridos amigos convoquei esta reuniatildeo para dar parte de uma notiacutecia ineacutedita e inaudita a qual nunca foi vista nem ouvida e que permanece ateacute agora na obscuridatildeo das trevas desconhecidas

NEIDE SAPATINHO ndash Ui Nafta Fiquei toda arrepiadinha agora

NIVALDO TRAPACcedilA (levantando) ndash Natildeo precisa dizer mais nada

NAFTALINA ndash Como disseNIVALDO TRAPACcedilA ndash Poupe-nos Naftalina

Eu jaacute sei o que satildeo esses papeacuteis na sua matildeo NAFTALINA ndash Jaacute sabe Mas comoNIVALDO TRAPACcedilA ndash Ora vamos e

venhamos Do jeito que as coisas vatildeo soacute podem ser os papeacuteis da nossa aposentadoria De qualquer maneira obrigado por fraudar o INSS por noacutes Ateacute que saiu raacutepido

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PRIMEIRO

ENSAIO

NAFTALINA ndash NAtildeO Eacute NADA DISSO IDIOTANESTOR MIRONGA (dando um soco na

cabeccedila de Nicanor) ndash Senta aiacute ocirc imbecilNAFTALINA ndash Agraves vezes acho que estou

cercado de crianccedilas aqui Pois fiquem sabendo que o que tenho nas matildeos satildeo passagens de aviatildeo

NEIDE SAPATINHO ndash Pra onde NaftaNAFTALINA ndash Para diversas cidades do paiacutes

Precisaremos estar longe uns dos outros para despistar as autoridades e principalmente o Venera

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Ai meu Deus Eu vou viajar Meu deusinho do ceacuteu eu vou viajaaaar

NOacuteDULO CHUCK (No fundo da sala comeccedila a bater palmas levanta-se e vai ateacute a frente) ndash Muito bem Parabeacutens Nafta Seu plano eacute genial Ele soacute tem um problema

MEMBROS ndash Qual o problema ChuckNOacuteDULO CHUCK ndash O problema eacute que nosso

plano de celular preacute-pago eacute uma merda E quando precisarmos nos falar vamos gastar uma fortuna

NAFTALINA (tirando lentamente um revoacutelver do paletoacute) ndash Agora chega Eu natildeo aguento mais Eu vou matar uns dois

NESTOR MIRONGA E NEIDE SAPATINHO (segurando Naftalina) ndash Calma Nafta Vai com calma (Naftalina se recompotildee)

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Chefe meu celularzinho tambeacutem eacute uma merda

NAFTALINA ndash Estaacute tudo bem querida eu jaacute planejei tudo Desde o ano em que vocecirc nasceu tudo estava resolvido

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Eacute mesmoNAFTALINA ndash Sim meu amor Naquela

eacutepoca um grupo de nerds num paiacutes longe daqui resolveu nosso problema Eles criaram uma grande rede uma teia de alcance mundial (black)

Cena II ldquoQuem eacute elerdquo Ainda no poratildeo da gangue final da reuniatildeo

NESTOR MIRONGA ndash Mas chefe isso tudo vai custar dinheiro Eu pensei que o nosso cofre estava vazio

NAFTALINA ndash Sim eu sei meu rapaz Acontece que um cidadatildeo muito excecircntrico e amante das causas nobres ofereceu-se para nos patrocinar

MEMBROS ndash E quem eacute eleNAFTALINA ndash Algueacutem que exigiu sigilo

ultra-mega-blaster confidencial mas ao qual nos referiremos como ldquoO Leitorrdquo

MEMBROS (Vasculham a plateia com o olhar procurando por algueacutem que possa ser ldquoO Leitorrdquo)

Cena III Conspiraccedilatildeo Conluio e Confabulaccedilatildeo Perfil de fake Giba de Oliveira no Orkut Ele conversa com os comparsas os quais depois de intenso treinamento

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PRIMEIRO

ENSAIO

aprenderam a se expressar quase como os reais Natildeo foi permitido pela gangue revelar quem eacute quem

FAKE CLAUS JENSEN ndash giba ainda ta aiacuteFAKE GIBA DE OLIVEIRA ndash Giba de Oliveira

teclando perfeitamente blzFAKE CLAUS ndash blz estive ha pouco com

Alexandre Venera FAKE AacuteLVARO ndash ele na desconfiou d nadaFAKE CLAUS ndash ele desconfio sim mas naum

d mim ele disse q ontem axou o pepe meio estranho

FAKE PEPE ndash por q extranhoFAKE GIBA ndash eu sei porq eh q tu tais

exagerando nos trejeitosFAKE CLAUS ndash ele falou que achou o Pepe

muito insistenteFAKE GIBA ndash eu disse q naum era pra insisti

d+FAKE PEPE ndash mas eu nem falei da peccedila eu

soacute convidei ele pra tomar uma cerva FAKE AacuteLVARO ndash idiota o ale soacute toma

destiladoFAKE PEPE ndash natildeo deram essa parte no cursoFAKE CLAUS ndash deram sim tu falto pra ir

beberFAKE GIBA ndash vamo tentar alguma coisa

diferente kd o afonsoFAKE AFONSO ndash to aki soacute lendoFAKE GIBA ndash eacutes o proacuteximo nego te arruma

amanhatilde vais encontra com ele por acaso no farol

FAKE AFONSO ndash vlw fui

Caro leitor vocecirc chegou a uma encruzilhada em sua leitura Aqui se abrem dois caminhos distintos duas estradas possiacuteveis por onde seguir

1 ndash Continuar a leitura do livro passando diretamente agrave proacutexima paacutegina deixando essa trama sem resoluccedilatildeo

2 ndash Escolher um Fake na lista abaixo entrar com ele na comunidade Orkut e interagir conversar com os demais Fakes investigar produzir fabricar inventar uma soluccedilatildeo para a trama Ou seja nesta segunda via cabe a vocecirc caro leitor criar um desfecho para a histoacuteria Aos mais ousados bom experimento

Perfil login

O Leitor leitorfakenutegmailcom

Wilfried wilfriedfakenutegmailcom

Claus clausfakenutegmailcom

Afonso afonsofakenutegmailcom

Giba gibafakenutegmailcom

Peacutepe pepefakenutegmailcom

Silvio da Luz silvinhofakenutegmailcom

Dennis Raduumlnz denisfakenutegmailcom

Aacutelvaro alvarofakenutegmailcom

Senha somosmuitopoucosparadividir

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PRIMEIRO

ENSAIO

RETORNO AO PRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015

ndash Tenho me esforccedilado ndash Eacutedio responde a Venera ndash para fazer o melhor possiacutevel Dediquei-me em tempo integral a esta escrita pedi a conta de um bom emprego que eu tinha larguei tudo para trabalhar apenas nisso mas claro precisamos continuar aceito suas condiccedilotildees qual seria a proposta

ndash Bom primeiro eu natildeo concordo com esse proacutelogo precisa ser feito de outra forma

ndash Mas eu tive tanto trabalho para escreverndash Teve nada ndash diz Wilfried ndash vocecirc copiou dos

Irmatildeos Karamaacutezovndash Natildeo copiei eacute uma acoplagem acoplagemndash Que maneacute acoplagem isso nem existe

Copiou sim eacute soacute pegar o livro pra verndash Copiei merda nenhuma ndash Tudo bem tudo bem que seja ndash Venera

tenta mediar o conflito ndash vocecirc natildeo precisa jogar fora o proacutelogo deixa ele como estaacute e comeccedila novamente

ndash Um novo proacutelogondash Isso vai eacute confundir o leitorndash Chame de outra forma sei laacute que tal

comeccedilo primeiro ensaio replay algo assimndash Pode ser pode ser Primeiro Ensaio fica

mesmo bem interessantendash Outra coisa acho que tua escrita estaacute

um pouco distante Isso de morar na Praia da Tainha pode ter te ajudado a se concentrar

mas agora vocecirc precisa se aproximar do grupo ndash Aproximar do grupo mas como eu posso

fazer issondash Bom Natildeo quero te forccedilar a nada a escrita

eacute tua e acho que deves trabalhar da forma como te parecer melhor

ndash Como vocecircs faziam na eacutepoca do NuTEndash Na maioria das montagens a gente optava

por ter a redaccedilatildeo dos roteiros acontecendo simultaneamente aos ensaios dos espetaacuteculos

E era um processo todo extremamente luacutedico

o Alexandre brincava com a gente como se noacutes

fossemos crianccedilas assim dava material e ldquodeixa vir

o que vocecircs estiverem pensando o que estiver na

cabeccedilardquo Claro que tinha noites de natildeo render nada

a gente saiacutea meio frustrado mas tinham noites em

que a chama tava muito acesa havia cenas que

ldquoNossa isso tem que estar no espetaacuteculordquo e depois

podiam natildeo estar na ediccedilatildeo final mas a gente

levantou produziu muito material (entrevista com

Peacutepe Sedrez paacutegina 16)

ndash Natildeo sei se entendi direito se natildeo havia nenhum roteiro o que grupo ensaiava

ndash Tudo comeccedilava com um disparador cecircnico uma imagem um objeto um recorte de jornal um fragamento de texto e agrave medida que os ensaios aconteciam o roteiro ia sendo escrito

ndash Genial Adorei a ideiandash Eu tambeacutem concordo ndash diz Silvinho ndash acho

que assim o espetaacuteculo ganha em dramaturgia

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PRIMEIRO

ENSAIO

ndash Maravilha Eu vou me sentar aqui ao lado dessa mesinha algueacutem tem um laacutepis aiacute Agradecido Fico aqui assisto e descrevo Agrave medida que vocecircs forem encenando eu vou escrevendo Mandem bala podem comeccedilar

Todos se olham Nada acontecendash Vamos laacute pessoal estou esperando as

cenas dependo delas para escrever o roteirondash Olha natildeo eacute bem assim ndash Venera interveacutem

ndash eles precisam de algo que incite a criaccedilatildeo Vocecirc precisa trazer alguma coisa que dispare as cenas

ndash Entendi sou eu quem propotildee o disparador cecircnico eacute isso

ndash Exatamente e sobre este dispositivo eacute que as cenas seratildeo construiacutedas

ndash Deixa ver o que eu tenho aqui ndash revirando a mochila ndash Achei uma pergunta pode ser

ndash Lanccedila ao grupo e vamos ver o que acontece

ndash O que quer o NuTE18

18 Pergunta a partir da qual toda a escrita aqui exposta se potildee em movimento Espeacutecie de primeira questatildeo ou questatildeo essencial da pesquisa A anaacutelise de cada documento estaacute atravessada por ela cada entrevista realiza-da encontra nela uma paisagem a ser percor-rida Trata-se de um disparador metodoloacutegi-co chamado por Gilles Deleuze de Meacutetodo de Dramatizaccedilatildeo Segun-do o filosofo francecircs esse seria o meacutetodo utilizado por Nietzsche em suas Genealogias CitoldquoDesta forma de per-gunta deriva um meacute-todo Sendo dados um conceito um sen-timento uma crenccedila seratildeo tratados como os sintomas de uma vontade que quer algu-ma coisa O que quer aquele que diz isso que pensa ou experi-menta aquilo Trata-se de mostrar que natildeo poderia dizecirc-lo pensaacute-lo ou senti-lo se natildeo tivesse tal vontade tal maneira de ser O que quer aquele que fala que ama ou que cria E inversamente o que quer aquele que pre-tende o lucro de uma accedilatildeo que natildeo faz gtgt

gtgt aquele que apela para o ldquodesinteresserdquo E mesmo o homem as-ceacutetico E os utilitaris-tas com seu conceito de utilidade E Shope-nhauer quando forma o estranho conceito de negaccedilatildeo da vontade Seria a verdade Mas o que querem enfim os procuradores da verdade aqueles que dizem eu procuro a verdade - Querer natildeo eacute um ato como os demais Querer eacute a instancia ao mesmo tempo geneacutetica e criacute-tica de todas as nos-sas accedilotildees sentimen-tos e pensamentos O meacutetodo consiste no seguinte referir um conceito agrave vontade de potecircncia para dele fa-zer o sintoma de uma vontade sem a qual ele natildeo poderia nem mes-mo ser pensado (nem sentimento ser experi-mentado nem a accedilatildeo ser empreendida) Tal meacutetodo corresponde agrave questatildeo traacutegica Ele proacuteprio eacute o meacutetodo traacute-gico Ou mais precisa-mente se tirarmos do termo lsquodramarsquo todo o phatos dialeacutetico e cris-tatildeo que corresponde seu sentido eacute o meacuteto-do de dramatizaccedilatildeordquo

cena do espetaacuteculo lsquojato de amorrsquo da esquerda para direita carlos crescecircncio ivan

alvaro sabrina de moura leonel campos

Foto

Ace

rvo

Nu

TE

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SEGUNDO

ENSAIO

SEgUNDO ENSAIO ndash 18 DE ABRIL DE 2015

Sol Saacutebado() aproximadamente 14h

Imagem Insistente grande Auditoacuterio do Teatro Carlos gomes

ndash Eacute Bem Pessoal olha soacute ndash os atores que conversavam cada qual em sua esquina de afectos centralizam olhar alguns sorrindo outros ansiosos em Alexandre Venera e ele continua ndash eu fiz aqui uma pesquisa que acredito vai ajudar a gente a levantar esse espetaacuteculo ndash os atores caminham em direccedilatildeo a Venera que faz vibrar alguns papeacuteis em suas matildeos e vatildeo formando aos poucos um ciacuterculo em torno dele ndash Na verdade satildeo recortes de jornal algumas fotos trechos das entrevistas algumas coisas que eu selecionei pensando no que poderia ser um momento do NuTE entre 1984 e 1986 Noacutes natildeo vamos fazer isso mas se um dia algueacutem quiser inventar um iniacutecio um comeccedilo uma origem para esse nuacutecleo de teatro tenho a impressatildeo de que o melhor momento para esse decalque estaria nos aperitivos que vamos ver hoje Estou chamando provisoriamente esse periacuteodo de No Princiacutepio era a Muacutesica Tecircxtil Gostante Noacutes vamos trabalhar da seguinte forma vocecircs vatildeo formar pequenos grupos de

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SEGUNDO

ENSAIO

duas a trecircs pessoas ndash todos os atores se olham ndash cada grupo vai receber um jogo de aperitivos que preparei Vocecircs vatildeo ter um tempo para saboreaacute-los ndash Venera coloca uma folha de papel na boca os atores riem ndash e deveratildeo trazer para o grande grupo uma ou duas cenas disparadas construiacutedas com esses aperitivos Fica bom assim O que vocecircs acham

ndash Acho que natildeo entendi direito o espetaacuteculo vai ser apenas sobre esse periacuteodo de 84 a 86

ndash Natildeo natildeo Isso que vamos trabalhar hoje eacute apenas um platocirc Pra facilitar nosso trabalho eu dividi o territoacuterio NuTE ndash seus 18 anos de produccedilatildeo ndash em cinco platocircs

I ndash No Princiacutepio era a Muacutesica Tecircxtil GostanteII ndash Exuberante Cronologia Espetacular

Do Teatro Experimental e do Teatro Escola Nuteanescos

III ndash Do NuTE ao NUTe como um Nuacutecleo de Teatro Experimental vem a ser um Nuacutecleo de Teatro Escola

IV ndash Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas JOTE-Titac

V ndash Conversa de Bar para quem gosta de tomar umas conclusotildees bem geladas ndash ahhhaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacute

ndash O que vamos trabalhar hoje eacute apenas um destes

ndash Como vai funcionar A gente pode escolher os aperitivos

ndash Acho que sim natildeo vejo problema Na verdade o que eu tenho aqui satildeo jogos de aperitivos Cada jogo eacute composto por um ou dois recortes de jornal uma ou duas fotos de trecircs a sete trechinhos de entrevistas as atividades do NuTE de determinado ano e algumas vezes um documento aleatoacuterio que pode ser uma partitura de um curso dado uma aula coisas assim A proposta eacute que cada grupo trabalhe em torno de um desses jogos Eu tinha pensado em sortear mas se todos concordarem em escolher e ficar bom acho que pode ser sim Vamos ver se daacute certo Deixa ver quantos grupos temos Dois trecircs Satildeo trecircs grupos Eu tenho aqui cinco jogos oacutetimo vou colocar os jogos aqui e cada grupo pode manusear e escolher o seu

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SEGUNDO

ENSAIO

Caro leitor os mesmos aperitivos cecircnicos que

foram entregues aos atores estatildeo sendo entregues

a vocecirc Suas possibilidades de atuaccedilatildeo satildeo muacuteltiplas

Caso vocecirc queira criar uma cena seguindo a proposta

de Alexandre Venera basta escolher o seu jogo de

aperitivo Para acessaacute-lo haacute duas opccedilotildees

1 Porta Cartas localizado dentro do Box NuTE

cartografia de um teatro Nele vocecirc vai encontrar

aperitivos em duas cores escolha neste momento o de cor vermelha

2 DVD Experimentando NuTE onde aleacutem dos aperitivos

cecircnicos vocecirc vai descobrir a versatildeo digital do livro

esta versatildeo lhe permite acessar com apenas um

clique ndash se vocecirc estiver conectado a internet ndash todos

os endereccediloslinks contidos no livro experimente

Contudo caso lhe pareccedila mais interessante tambeacutem

eacute possiacutevel continuar sua leitura usando os jogos de

aperitivos como um apoio manuseando-os conforme

aparecem na narrativa como uma espeacutecie de parte

aberta do livro Ou ainda simplesmente esquecer

os jogos de aperitivos cecircnicos e seguir a leitura

livremente deitado em sua rede ou no sofaacute como lhe

parecer mais agradaacutevel para assim num momento

de sua preferecircncia saborear com calma as imagens-

registros que disparam a Composiccedilatildeo de Mundos nas

proacuteximas paacuteginas Entre tantas outras possibilidades

acreditamos que a melhor eacute exatamente esta que

vocecirc estaacute comeccedilando a jogar

vaacute em frente bom experimento

APERITIVOS CEcircNICOS eou nutrientes para

composiccedilatildeo de mundos

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SEGUNDO

ENSAIO

Composiccedilatildeo de Mundos

Caro leitor como vocecirc deve ter percebido acatei a sugestatildeo que me foi feita na paacutegina 71 Ou seja estou tentando descrever o que acontece durante os ensaios Caso vocecirc esteja notando que algo me passa despercebido por favor toda colaboraccedilatildeo eacute bem-vinda Tem uma caneta bem aiacute do seu lado Se bem que seria melhor um laacutepis Talvez vocecirc seja da opiniatildeo que rascunhos se escrevam a laacutepis Ou seraacute que vi isso num filme Bem de qualquer forma o que estou assistindo aqui eacute o seguinte

Cada um dos trecircs grupos ensaia num espaccedilo reservado Camarim Palco do Grande Auditoacuterio Corredor em Frente aos Banheiros Depois de alguns cigarros Alexandre comeccedila a circular entre eles

No Palco do Grande Auditoacuterio o grupo planeja suspender um ator Alexandre gosta muito da imagem pergunta como faratildeo a suspensatildeo O grupo responde que usaraacute uma corda Alexandre questiona se a corda seraacute do tipo falante ou se estaraacute dormindo Parabeniza o grupo

No Camarim os trecircs atores chutam uns aos outros Alexandre sorri e retorna em silecircncio se esforccedila para natildeo atrapalhar o momento da improvisaccedilatildeo

No Corredor um ator deitado no chatildeo balbucia espasmos proacuteximos aos de uma crise epileacuteptica Na mesma cena mas numa ponta do corredor bem em frente ao bar do teatro um segundo ator repete ldquoesses grupos vatildeo

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ENSAIO

deixar de ensaiar ensaiar ensaiar e nunca apresentarrdquo Ele usa a frase ndash sussurrando gritando em meio agrave gargalhadas ndash para se aproximar e para se distanciar do ator deitado Um terceiro ator sentado na escada ao lado do bebedouro realiza um movimento que lembra algueacutem interpretando uma canccedilatildeo popular com um violatildeo Impressionado com a cena Alexandre passa a matildeo no cabelo e no nariz Quando o grupo faz uma pausa elogia a energia com a qual estavam trabalhando Pergunta qual foi o Aperitivo Cecircnico escolhido pelo grupo e eles indicam o jogo 2 Alexandre manuseia o Aperitivo Cecircnico N2 e emite um ldquoAh Legalrdquo Por fim pede ao grupo que experimente um pouco mais com palavras-frases

Retornando ao Camarim os trecircs atores improvisam com miacutemica o que parece o trabalho de operaacuterios em uma faacutebrica Alexandre assiste a toda improvisaccedilatildeo Durante a pausa pergunta o que aconteceu com os chutes O grupo responde que era apenas uma teacutecnica de aquecimento que natildeo pretendem utilizar para a composiccedilatildeo das cenas Alexandre conta a histoacuteria de uma invenccedilatildeo polecircmica a maacutequina de dar chutes

No grande auditoacuterio dois atores improvisam uma cena romacircntica que logo se transforma em pequenos desentendimentos afetivos evoluindo para oacutedio e agressatildeo Alexandre descobre que o grupo ensaia o Aperitivo Cecircnico N3 Ainda curioso resolve questionar o fragmento disparador da cena O grupo aponta para o seguinte trecho de entrevista

() ele sempre trazia dados teoacutericos em forma de jornaizinhos panfletos xerox ou verbalizando diretamente para os grupos que dirigia E aleacutem disso era criacutetico e extremamente criativo Foi tambeacutem incontestavelmente o mentor e organizador da ideia de efetivamente comeccedilar-se a fazer teatro num preacutedio chamado de ldquoteatrordquo Portanto o Alexandre eacute sem duacutevida ndash no sentido figurado ndash o ldquopairdquo do NuTE

Eacutedio ndash Interessante E quem seria a matildee

Wilfried ndash Bem igualmente no sentido figurado eacute provaacutevel que tenha sido eu Talvez eu tenha pego a crianccedila no colo e a alimentado no momento do abandono e a mantido viva neste periacuteodo de fragilidade Com toda a ajuda do Aacutelvaro Diogo Iraci Roberto Sandra e Valdir ndash obviamente - que chegaram ateacute o fim do primeiro curso e foram os atores e as atrizes da primeira montagem genuiacutena de um grupo efetivo do NuTE ndash a ldquoPantomimasrdquo (entrevista 3 com Wilfried paacuteginas 2-3)

O diretor aprova e entusiasmado incita o grupo a abrir a cena Um dos atores toma a palavra e comenta que aquela sequecircncia havia acabado de surgir que foi a primeira tentativa-experimento com o recorte-entrevista Alexandre elogia a ldquosacada-cecircnicardquo e sugere ao grupo exploraacute-la numa velocidade menor ndash a mais lenta possiacutevel - ele repete algumas vezes ldquoa mais lenta possiacutevelrdquo para que assim aos poucos os demais fragmentos do jogo sejam incorporados

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ENSAIO

Alexandre manuseia o Aperitivo Cecircnico N3 ateacute encontrar uma foto que separada por ele do jogo eacute citada como exemplo

O diretor acredita que uma boa acoplagem desta foto com o momento que ele prefere chamar Gostante ao inveacutes de Romacircntico potencialize a cena Um ator questiona o termo Gostante Alexandre explica que Amante eacute que natildeo poderia ser porque as pessoas se gostavam mas amar seria coisa diferente jaacute o termo romacircntico pode dar uma ecircnfase desnecessaacuteria a determinado periacuteodo classificado assim pela histoacuteria das artes O grupo concorda acata as sugestotildees e comeccedila a trabalhar

No Camarim o jogo de miacutemica comeccedila a tomar forma O grupo interpreta uma equipe de teatro infantil que estaacute montando um espetaacuteculo de Maria Clara Machado Tudo leva a crer que se trata de Pluft o Fantasminha De repente em meio a esse ensaio aparecem dois novos

Iraci Potrikus Wilfried Krambeck e

Alexandre Venera dos Santos

personagens Trata-se de Wilfried Krambeck e Iraci Potrikus Um deles passa a cuidar do som e o outro a cuidar da iluminaccedilatildeo do espetaacuteculo O grupo se esforccedila para demonstrar que essa foi a entrada dos dois personagens na trupe e que ainda natildeo se trata de NuTE No espelho do camarim escrevem GATE ndash Grupo de Teatro da ADR Sulfabril

Saindo do camarim Alexandre resolve fumar mais alguns cigarros Ao fumar comenta a importacircncia que algumas empresas tecircxteis da regiatildeo tiveram no fomento da cultura local Cita como exemplo o Grupo de Teatro Amador da Artex o Grupo de Miacutemica da ADR Sulfabril fundado pelo Wilfried e o proacuteprio GATE muito influenciado e inuacutemeras vezes apoiado por Carlos Jardim Diz que pessoas importantes da cena teatral blumenauense foram trabalhadores tecircxteis Que atraveacutes de grupos como esses experimentavam teatro e mais tarde acabaram encontrando no NuTE um espaccedilo para se inventar para se Artreinventar

Eu trabalhei vinte e cinco anos na Artex na verdade eu sou um operaacuterio neacute trabalhei vinte e cinco anos na Artex aposentei ali com vinte e cinco anos na aacuterea tecircxtil Mas na eacutepoca fazia teatro na Artex e comecei a estudar eu comecei mesmo a viver o teatro estudar teatro mesmo nessa eacutepoca com Alexandre porque a partir de entatildeo era mais amador aquela coisa assim de fazer por fazer (entrevista com Aacutelvaro paacutegina 3)

Nesse sentido Alexandre complementa haacute um tanto de tecelagem de faacutebrica um tanto de

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Tecircxtil in NuTE Diz que sua proposta inicial com o Hoje Tem Teatro era simplesmente apresentar teatro Lembra que era coordenador de eventos no Teatro Carlos Gomes que os grupos passavam o ano ensaiando mas natildeo apresentavam Seu interesse maior era criar condiccedilotildees para que as encenaccedilotildees acontecessem Como se tratava de um encontro de vaacuterios grupos resolveu chamar esse coletivo para diferenciar dos grupos profissionais da cidade de Nuacutecleo de Teatro Experimental Ao mesmo tempo dentro da Sulfabril Wilfried estava ministrando cursos de miacutemica para funcionaacuterios da empresa

Com a abertura desse espaccedilo experimental Wilfried propotildee trazer para o NuTE alguns desses cursos e Alexandre aceita Muitas pessoas que participaram montando e

apresentando suas peccedilas no Hoje Tem Teatro comeccedilaram a circular no ano seguinte em torno desses cursos Os alunos que Wilfried tinha na Sulfabril tambeacutem satildeo convidados para continuar estudando teatro no NuTE e assim aos poucos comeccedila a se insinuar um nuacutecleo de pesquisa em teatro

Realizado o processo inalatoacuterio Alexandre se dirige ao Corredor Os atores carregados de energia como antes operam nas mesmas posiccedilotildees mas agora num interessante jogo dramaacutetico

Ator 1 ndash Eu entrei como aluno pra estudarAtor 3 ndash MuacutesicaAtor 1 ndash Fiquei estudandoAtor 3 ndash Piano Ator 2 ndash Foi mais ou menos uns quatro anos

adulto jaacute CasadoAtor 3 ndash Violoncelo clarineteAtor 1 ndash Estudei um monte laacute dentro aiacute

durante minha universidade eu peguei emprego laacute de bibliotecaacuterio

Ator 3 ndash Na musicotecaAtor 2 ndash Sempre me dedicando ao que eu

fazia neacute A mulher me convidou pra ser o coordenador de eventos do teatro natildeo primeiro secretaacuterio da

Ator 3 ndash Escola de Muacutesica Ator 2 ndash Acharam que seria a melhor pessoa

pra coordenar eventos artiacutesticos e culturais do teatro que tinha aacuterea de convenccedilotildees

Ator 3 ndash Daiacute durante um ano ou dois Eu fui testemunhando a dificuldade dos grupos amadores da cidade que vinham ensaiar

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ENSAIO

ensaiar e daiacute natildeo apresentavamAtor 2 ndash Ficava o uso do teatro inuacutetil neacute Ator 3 ndash Onde daiacute eu ldquoporrardquo Vou dar uma

matildeo pra elesAtor 2 ndash Eu tenho assessoria de imprensa

tenho a agenda pauta do teatro pego as datas que tatildeo mais ruins assim Nenhum empresaacuterio quer taacute sobrando

Ator 3 ndash Vou aproveitar o espaccedilo do teatroAtor 1 ndash Aiacute onde comecei a compor uma

espeacutecie de roteiro mensal de datasAtor 3 ndash Entrevista comAtor 2 ndash Alexandre VeneraAtor 1 ndash Paacutegina 26

Durante todo o processo os atores satildeo banhados por ressonacircncias fotograacuteficas do que parece ser um Coral de Clube Caccedila e Tiro Toda a cena eacute realizada num intempestivo diaacutelogo com a projeccedilatildeo desta imagem

O diretor de forma abrupta interrompe a cena Mesmo se esforccedilando para natildeo

Coral Gesangverein da Sociedade Recreativa e Cultural Salto do Norte de Blumenau Dirigido pelo maestro Kemmel-meier - sentado segu-rando o trofeacuteu Da es-querda para a direita a quarta senhora em peacute Irmgard Globig E da esquerda para a direita o quarto se-nhor uacutenico de oacuteculos Hermann Globig Avoacutes de Wilfried Krambeck uacutenica crianccedila presente na foto Registro reali-zado no Natal de 1971

transparecer um tanto de fuacuteria escorrega pelo canto esquerdo de sua boca quando pergunta o que estatildeo fazendo O grupo responde que tenta dar sequecircncia ao disparo cecircnico utilizando parte do tema platocirc ndash No Princiacutepio era a Muacutesica ndash como tom Argumentam que tanto Alexandre Venera como Wilfried Krambeck satildeo atravessados por uma intensidade musical Alexandre via composiccedilatildeo erudita que pode ser verificada em sonoplastias escritas por ele para espetaacuteculos como O Homem do Capote e Outros Seres Jato de Amor e O Olho Cliacutenico do Coralista Rouco19 e Wilfried via composiccedilatildeo popular que pode ser verificada em canccedilotildees como Natureza Solitaacuterio Elemento Bavaacuteria Bananeira sempre apresentadas em festivais da canccedilatildeo como o Festshow promovido pela Sulfabril e o FUC ndash Festival Universitaacuterio da Canccedilatildeo20 Em meio agrave defesa o grupo utiliza a maacutexima nietzschiana de que ldquoa vida sem muacutesica seria um errordquo e finaliza dizendo que talvez o NuTE seja um ovo musical

O diretor deixando transparecer o aborrecimento pergunta ao grupo como foi que conseguiram retirar o projetor multimiacutedia de dentro do seu carro jaacute que o mesmo estava trancado O grupo percebe que a cara amarrada do diretor natildeo estava conectada agrave cena mas sim agrave utilizaccedilatildeo do recurso eletrocircnico Os atores sorriem aliviados e explicam que Juliana Teodoro ex-atriz do NuTE e atual companheira de Alexandre passando e assistindo agrave cena sugeriu a utilizaccedilatildeo do recurso que prontamente foi buscar no carro e lhes emprestou

19Para ouvir Noite Ferra-da ndash trecho da sonoplastia de O Homem do Capote ndash acesse o endereccedilo wwwnutecombracervonoi-te_ferradamp3

20Wilfried Krambeck gentilmente organizou um cronograma a respeito de sua trajetoacuteria musical O documento encontra-se agrave disposiccedilatildeo em wwwnute-paratodosfileswordpresscom201009minha-trajetoria-musicalpdf

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Alexandre se convence pede desculpas pela cara amarrada e verifica com o grupo a possibilidade de assistir a cena novamente Os atores repetem toda a sequecircncia Alexandre comenta que eles estatildeo muito perto de desencadear uma partitura Fica tatildeo satisfeito com o andamento dos ensaios que resolve comemorar fumando mais um cigarrinho O grupo vai junto aproveitando a porta entreaberta ao lado do bebedouro Em meio agrave conversa Juliana Teodoro retorna e comenta com Alexandre que minutos atraacutes quando presenciou a accedilatildeo lembrou-se dos experimentos da Estereocena21 Um dos atores interessado questiona o que seria a Estereocena Juliana responde que se trata do meacutetodo de trabalho que Alexandre vinha desenvolvendo no NuTE O mesmo ator acha curioso o conceito de ldquoesteacutereordquo pergunta que relaccedilatildeo haveria com o teatro Alexandre explica

Esteacutereo como as caixas de som que satildeo levemente afastadas pra reproduzir o som que foi captado tambeacutem por dois microfones () tu sentes mais ou menos que vamos dizer a guitarra da banda de roque taacute vindo daqui o baixista taacute aqui a bateria no meio o vocal tu sentes pelo esteacutereo o volume onde estatildeo os muacutesicos de onde estaacute vindo o som neacute E esteacutereo vem de cuacutebico medida de um metro cuacutebico da madeira eacute um esteacutereo neacute E assim como o microfone capta esses dois sons e eacute o mesmo som mas ele consegue atraveacutes de um artifiacutecio mecacircnico reproduzir aquele ambiente onde a gente sabe que o aviatildeo raacuteaacuteaacuteaacuteaacute Sai daqui e passa pra laacute no esteacutereo tu sente essa passagem

21 O conceito comeccedila a ser desenvolvido em 1990 durante o Desa-fio Macbeth ndash jogos ela-borados por Alexandre para construccedilatildeo do espetaacuteculo Macbeth uma interferecircncia na histoacuteria leitor encon-tra um interessante documento dessa eacutepo-ca sobre a Estereoce-na no link wwwnutecombracervo0_sobreMacbeth_cjpg Alguns anos mais tar-de em 1997 Alexan-dre propotildee a um grupo de alunos da Escola NUTe um experimento de imersatildeo com Este-reocena Durante um mecircs inteiro permane-cem acampados no Siacute-tio Fazendarado En-contramos parte deste experimento gravado em duas fitas cassete que foram convertidas para Mp3 e disponi-bilizadas nestes qua-tro endereccedilos wwwnutecombracervofita1ladoAmp3 wwwnutecombracervofita1ladoBmp3 wwwnutecombracervofita2ladoAmp3 wwwnutecombracervofita2ladoBmp3 Caso o leitor pro-cure por uma siste-matizaccedilatildeo a respeito da Estereocena reco-mendamos o seguinte documento datado de setembro de 2000 wwwnutecombracervo99_06_26_cur-so_1jpg

A hora que a gente vai juntar com a palavra cena () A cena eacute o nuacutecleo o ponto baacutesico do teatro eacute atraveacutes de cenas que se monta uma peccedila de teatro a cena eacute o momento maacuteximo ou miacutenimo de uma accedilatildeo e entatildeo o teatro eacute baseado na cena (entrevista com Juliana Teodoro e Alexandre Venera paacuteginas 37 e 38)

Um ator pede cigarro Alexandre oferece o maccedilo Ele retira um Acende Enquanto fuma sorri Ao final do cigarro quando todos jaacute retornavam ao Corredor tenta parafrasear Nietzsche dizendo que ldquosem a muacutesica o NuTE seria um errordquo Alexandre questiona a equivalecircncia moral de certo versus errado O ator sustenta sua apropriaccedilatildeo de erro como ausecircncia Acredita que se natildeo fosse uma vontade de muacutesica em Wilfried bem como uma vontade de muacutesica em Alexandre o NuTE se viesse a existir mesmo assim seria qualquer outra coisa menos o NuTE Um ator natildeo fumante ironiza a utilizaccedilatildeo do conceito de vontade segundo ele uma aplicaccedilatildeo incoerente Os atores jaacute no Corredor iniciam um debate filosoacutefico sobre a Vontade de Poder Alexandre segue para o Palco do Grande Auditoacuterio Juliana se despede

Ao entrar pela plateia o diretor eacute surpreendido por dez cordas falantes Dois atores conversam cada qual em uma suspensatildeo com cinco cordas O primeiro se relaciona com elas de forma numeacuterica ndash suas cordas vatildeo de 1 a 5 - jaacute o segundo de forma literal ndash suas cordas vatildeo de A a E

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Ator 1 ndash E ano novo virou e Corda 3 ndash JaneiroAtor 1 ndash Fazer o quecircCorda 3 ndash Fevereiro marccedilo abrilAtor 1 ndash Ningueacutem pensava NuTECorda 1 ndash Ah vamos fazer outro Natildeo sei

o quecirc Corda 2 ndash Vamos fazer um curso de miacutemica

pantomimaCorda 4 ndash Natildeo noacutes queremos nos reunir e

manter essa ideia NuTE Ator 1 ndash O Wilfried com trecircs quatro

Continuou NuTE natildeo parou entende Por mim talvez tivesse parado

Corda 2 ndash Ou pelo Teatro Corda 4 ndash Natildeo havia muitoAtor 1 ndash Aiacute 1985 um curso tambeacutem

trouxemos o Trouxemos o pessoal do Teatro Guaiacutera pra dar aula e os professores alunos do Teatro Guaiacutera

Corda 4 ndash Entrevista com AlexandreCorda 2 ndash VeneraCorda 3 ndash Paacutegina 24

Espetaacuteculo Alegoria ao Vamos ao Teatro uma das peccedilas apresen-tadas no projeto Trecircs Terccedilas Tem Teatro em 1986 Na plateia Valdir Lopes Junior Leandro de Assis e De-liane Travasso Sus-pensos pelas cordas Dennis Raduumlnz ndash re-presentando Maacuterio ndash e Tanise Creuz ndash repre-sentando Nete

O diaacutelogo acontece envolto no que os atores nominam Saudosismo Gostante O diretor chega a questionar a interpretaccedilatildeo das cordas segundo ele um tanto forccedilada beirando o clichecirc do canastratildeo Mas o grupo sustenta que a proposta eacute justamente esta que tal encenaccedilatildeo seria proposital O diretor aceita O proacuteximo diaacutelogo gravita em tonalidades bem diferentes sensaccedilotildees de intriga quase rancor tomam conta do ar

Ator 2 ndash O Wilfried em 1984 vinha como convidado

Corda A ndash Como um grupo convidadoCorda B ndash Como teve outros gruposCorda C ndash Tu vai ver os programasCorda B ndash Soacute que a afinidade com o que eu

tava tentando fazerAtor 2 ndash Aiacute ele pegou o NuTE pra ele ele

ficou um meio ano com o NuTE soacute pra eleCorda A ndash Tipo comCorda B ndash MeuAtor 2 ndash Eu natildeo queria arrumar encrenca

sabeCorda A ndash E natildeo era NuTE era qualquer

coisa podia ser E acabou ficando NuTEAtor 2 ndash Ele ficou um Praticamente um

ano ficou na matildeo dele logo no comeccediloCorda B ndash Entrevista com Alexandre Venera

paacutegina 17

Terminado o segundo diaacutelogo o foco da cena volta a ser o Ator 1 e suas cordas numeacutericas O sentimento de intriga e rancor fica mais forte agrave medida que o diaacutelogo vai acontecendo Nas uacuteltimas frases eacute possiacutevel perceber oacutedio

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Ator 1 ndash No entender dele vocecirc fazia uma produccedilatildeo de

Corda 3 ndash ArtaudAtor 1 ndash Uma produccedilatildeo doCorda 3 ndash BrechtCorda 1 ndash E vocecirc ia aprender ia se formar

assim com ilhas digamos conhecendo sempre cada ilha uma nova ilha uma nova ilha pra ter um continente no final

Corda 2 ndash E aiacute onde a gente divergia eu achava que vocecirc tem que ter uma base depois um aprimoramento e sempre do todo

Ator 1 ndash Entatildeo quer dizer todas as linhas vocecirc vai pegar o

Corda 3 ndash Teatro gregoAtor 1 ndash OCorda 3 ndash Teatro romanoCorda 4 ndash E o baacute-baacute-baacuteCorda 3 ndash O medievalCorda 4 ndash E pam-pam-pamAtor 1 ndash E vai chegando Ateacute chegar na

NoCorda 3 ndash Absurdo Corda 4 ndash E ou OCorda 3 ndash Teatro contemporacircneoAtor 1 ndash Dependendo das linhas neacute do Corda 3 ndash Teatro Ator 1 ndash Que se fazia aqui e no oriente e no Corda 4 ndash Paacute-paacute-paacute Ator 1 ndash Eu entendia assim Corda 4 ndash Entrevista 2 com Wilfried paacutegina

17

No quarto diaacutelogo a coacutelera atinge as cordas Urros gritos um frenesi histeacuterico banhado em oacutedio e ressentimento Os dois atores e as dez cordas interagem

Ator 2 ndash Balanccedila a cabeccedila ah balanccedila a cabeccedila acorda acorda

Corda 1 ndash Corda natildeo tem cabeccedila babaca Corda A ndash (cantando) Minhoca minhoca

me daacute uma beijocaAtor 1 ndash Corda nenhuma vai me amarrar

natildeo importa se satildeo numeacutericas se satildeo literais Natildeo vou viver preso natildeo vou

Corda B ndash Mas que bobagem o que eacute a liberdade senatildeo uma prisatildeo com mais espaccedilo Aleacutem do mais vocecirc precisa de mim sem a minha estrutura sem a minha base vocecirc natildeo pode voar

Ator 2 ndash Acorda vocecirc precisa acordaAtor 1 ndash Vou voar a partir de mim mesmo e

meu voo seraacute ApocaliacutepticoCorda 2 ndash Estamos avisando eacute melhor vocecirc

colaborar porque se natildeo for por acordo vai ser por corda

Corda D ndash Vamos economizar cortes e enforcaacute-lo de uma vez por todas chega desse papo aranha

Ator 2 ndash Oh Alice acorda Acorda Alice(todas as cordas riem) Ator 1 ndash Homem Paacutessaro Corda 3 ndash BUROCRACIA Corda C ndash OrdemCorda B ndash O que permite o prazer eacute a leiCorda 2 ndash Lineares degraus da escada que

se sobe passo a passo passo a passo passo a passo

Corda A ndash Algueacutem viu o encordamento do meu violatildeo

Ator 2 ndash Acorda acorda Nossa que pesadelo terriacutevel finalmente acordei

Corda B ndash Vocecirc eacute apenas uma marionete

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quem te move satildeo as cordasAtor 1 ndash NatildeoCorda 3 ndash Noacutes Somos noacutes que movemos o

mundoCorda 1 ndash Todo Poder agraves CordasCorda A ndash (cantando Sinnerman de Nina

Simone) Power Power PowerAtor 2 ndash Do que vocecircs estatildeo brincando

Posso brincar tambeacutemCorda C ndash De acordo Atores vocecircs aceitam

ou natildeo obedecer agraves cordasAtor 2 ndash Eu aceitoAtor 1 ndash Eu lhes anuncio o Aleacutem do Ator

O que eacute a emotividade em comparaccedilatildeo com a maacutequina senatildeo riso e escaacuternio Oh meus irmatildeos existe ainda muito de emotivo em voacutes Acaso vos digo para que volteis a se emocionar Natildeo Eu vos ensino a Supermarionete O Ator eacute superaacutevel O que tens feito ateacute hoje para superar a ti mesmo O Ator eacute uma corda estendida entre a Emotividade e o Aleacutem do Ator A Supermarionete eacute o sentido do teatro fazei com que sua vontade diga a Supermarionete eacute o sentido do teatro Assim falava o Ator 1

Corda B ndash Para salvar o teatro eacute preciso destruir o teatro os atores e as atrizes devem todos morrer de peste Eleonora Duse

Corda D ndash Agora que estamos entre amigos uma pergunta se somos noacutes que movemos os atores afinal de contas quem manipula as cordas

Corda 1 ndash DeusCorda D ndash Pensei que ele estivesse mortoCorda 1 ndash Sim sim aquele Deus criado

pelos homens jaacute faz tempo dizem que morreu estrangulado por sua proacutepria compaixatildeo mas o nosso Deus a Deusa Corda eacute eterna

Corda B ndash Corda a deusa Corda(todas as cordas Corda a deusa Corda

Corda a deusa corda Corda a deusa corda)Corda 4 ndash Isto natildeo eacute uma entrevista Estamos

na paacutegina 99 do Segundo Ensaio

Visivelmente impressionado com a cena o diretor me pergunta por trecircs vezes se consegui anotar as falas Respondo que alguns trechos escaparam dada a velocidade com que os diaacutelogos aconteceram mas que anotei tudo que pude Comenta com o grupo que para uma boa parte dos estudiosos de teatro natildeo seria difiacutecil aproximar alguns espetaacuteculos do NuTE a uma esteacutetica simbolista o que realmente abriria a possibilidade de cavar essa influecircncia de Gordon Craig com conceitos como o de supermarionete Parabeniza o grupo Um dos atores questiona se a grande influecircncia simbolista do NuTE natildeo viria de Grotowski Alexandre responde que o encenador polonecircs foi essencial para muitas montagens do NuTE um dos pratos principais sem duacutevida Mas que isso natildeo diminui a importacircncia nutritiva de outras refeiccedilotildees como Gordon Craig Artaud Schechner Brecht Heiner Muumlller Meyerhold Bob Wilson

O diretor propotildee visualizar o NuTE como uma tribo de antropoacutefagos Em meio agraves gargalhadas disparadas pelo canibalismo nuteano ndash imagens de uma antropofagia teatral ndash um ator permanece sisudo Assim que a onda de riso comeccedila a baixar ele questiona se natildeo seria exatamente essa a discussatildeo que suscita a cena

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das cordas fazer pensar aquilo que nos prende e ao mesmo tempo alimenta que nos manipula e faz voar que permite criar e aprisiona Sem cordas como Artaud Grotowski Bob Wilson Craig o NuTE natildeo seria NuTE

Alexandre argumenta que pensando assim ficariacuteamos presos ndash amarradosalimentados ndash a uma dialeacutetica panoacuteptico-antropofaacutegica que pode ser uacutetil pode ajudar a levantar um espetaacuteculo mas esse natildeo seria um espetaacuteculo sobre o NuTE O ator ainda seacuterio pergunta qual o motivo disso e Alexandre comenta que esse conceito-corda nos amarra em dois problemas Um problema experimental e um problema interpretativo Com muita paciecircncia e didaacutetica houve um momento que precisou demonstrar com laranjas explica que NuTE soacute era

() experimental porque natildeo haviam leis () Hoje tem a lei e jaacute natildeo eacute mais experimental o ator hoje taacute fodido ele tem que seguir tal lei tal foacutermula ele vai empregar tal meacutetodo e o modo dele chegar laacute no final jaacute taacute demarcado Entatildeo virou mais uma espeacutecie de prisatildeo Tendo muitas ferramentas pra se aprisionar e natildeo pra se libertar () Porque qualquer forma de lei eacute forma de criar limites ou patamares ou entatildeo apoios No momento em que a pessoa taacute se apoiando ou criando apoios ela taacute segura ela taacute tranquila quer dizer nessa proteccedilatildeo existe uma espeacutecie de lei em que ela taacute sendo dominada (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 6)

Jaacute o problema interpretativo continua Alexandre surge quando a cena mesmo experimental como acabou de ser eacute direcionada por esse conceito Tomando a si mesmo como

exemplo desenvolve o argumento ldquoQuando assisti haacute pouco agrave cena de vocecircs fui arrebatado por uma centena de imagens lembranccedilas dos meus passados dos meus futuros das coisas que nunca fui e de algo que venho deixando de ser pude me abandonar por alguns instantes e isso eacute oacutetimo mas se eu estivesse assistindo agrave cena com esse conceito no bolso o que vocecircs acham que teria acontecido comigo Que experiecircncia eu poderia ter Eu seria direcionado empurrado aprisionado amarrado em uma mono-interpretaccedilatildeo Vocecircs percebem o problema disso Se vamos fazer teatro para aprisionar as pessoas nelas mesmas eacute melhor natildeo fazer Se obrigamos nossa plateia a interpretar uma cena atraveacutes de um uacutenico sentido nosso teatro natildeo serve pra nada Teatro natildeo eacute catequese O mais importante eacute que cada um possa experimentar o NuTE do seu jeito Eacute oacutebvio que esse lsquojeitorsquo de experimentar envolve uma seacuterie de coisas o cara vai fazer isso a partir do corpo que ele vem ajudando a construir pra si proacuteprio Tem um povo que chama isso de corpo sem oacutergatildeos Mas essa montagem tambeacutem eacute experimental agraves vezes natildeo daacute certo e o cara natildeo consegue nada natildeo acontece nada com ele natildeo passa nada por ele o corpo simplesmente trava Ele taacute ali assistindo a um puta espetaacuteculo e soacute consegue ficar entediado fica pensando na pizza que vai comer com os amigos depois que a peccedila terminar Noacutes natildeo podemos em detrimento ou por compaixatildeo dos que soacute conseguem pensar na pizza facilitar o acesso porque assim acabamos impondo um uacutenico acesso a todos Isso natildeo

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eacute arte eacute fascismo Agraves vezes a democracia eacute extremamente fascista Hoje eacute moda criticar o teatro comercial Nunca vi problema em se ganhar dinheiro fazendo teatro O problema eacute fazer teatro para impor verdades que ningueacutem tem certeza se satildeo mesmo verdades ou se satildeo deliacuterios compartilhados por um grande nuacutemero de pessoas Noacutes natildeo somos padres somos artistas Por isso quanto mais aberta mais ampla mais plural for nossa arte mais possibilidades de interpretaccedilatildeo teraacute o nosso puacuteblico melhor seraacute o nosso espetaacuteculo Vocecircs compreendem o que eu digordquo Em coro os atores dizem ldquoSim senhorrdquo e batem continecircncia agraves gargalhadas Alexandre natildeo gosta da brincadeira resmunga algo incompreensiacutevel e abandona o ensaio dizendo que natildeo vai mais dirigir ldquoporcaria nenhumardquo Insiste nas frases ldquovatildeo tomar no curdquo e ldquonatildeo dirijo mais essa merdardquo Os atores estupefactos sem saber o que fazer olham uns para os outros o silecircncio pesado e absurdo dura longos segundos ateacute que todos os olhares cruzando o meu cobram uma saiacuteda ou ao menos um sentido provisoacuterio ao acontecimento Eu balanccedilo as matildeos e a cabeccedila atordoado numa gesticular tentativa incapacitada de direcionar a cena Por fim digo-lhes que tambeacutem natildeo sei o que fazer Peccedilo para que aguardem alguns minutos enquanto procuro Alexandre no Corredor e no Camarim

Quando entro no Camarim encontro os atores sentados em ciacuterculo no chatildeo conversando a respeito do projeto 3 Terccedilas Tem Teatro Interrompo o diaacutelogo para

perguntar se Alexandre havia passado por ali Eles respondem que natildeo e querem saber se eu havia compreendido a diferenccedila entre o Hoje tem Teatro e o 3 Terccedilas tem Teatro Nesse instante noto que o espelho do Camarim estaacute completamente preenchido com coacutepias do mesmo cartaz

Informo o grupo sobre o sumiccedilo repentino de Alexandre e sugiro que retornem ao Palco do Grande Auditoacuterio para conversarmos os trecircs grupos juntos Saio em direccedilatildeo ao Corredor acompanhado por um dos atores que retoma a pergunta anterior Caminhando agrave procura de Alexandre digo que minha impressatildeo eacute a de que natildeo existem dois mas sim um uacutenico projeto com dois nomes diferentes Inicialmente em dezembro de 1984 era Hoje Tem Teatro e quando retomaram o projeto em 1986 chamaram de 3 Terccedilas Tem Teatro Natildeo consigo prestar muita atenccedilatildeo na conversa a cada sala que passamos entro e procuro Alexandre O ator que natildeo para de falar um segundo tenta me convencer de que o JOTE-Titac ndash Jogos de

Cartaz produzido por Flaacutevio Meirinho

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SEGUNDO

ENSAIO

Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas ndash seria uma continuaccedilatildeo desse projeto Respondo que podemos pensar numa certa influecircncia mas que existem muitas outras forccedilas atuando na invenccedilatildeo do JOTE-Titac E que teremos um momento mais adequado para fazer essa discussatildeo Ele insiste que sem aquele projeto inicial natildeo seria possiacutevel chegar ao formato dos Jogos de Teatro acredita que tambeacutem a escola de teatro do NUTe tenha origem nesse projeto

Numa respiraccedilatildeo dele consigo emitir alguns sons proacuteximos de ldquosua interpretaccedilatildeo me parece um tanto apressadardquo ele natildeo ouve e continua falando fala cada vez mais e mais raacutepido Quer me convencer a todo custo natildeo sei bem porquecirc de sua estranha teoria sobre o comeccedilo do NuTE Na opiniatildeo dele em 1984 antes do NuTE o que havia era apenas uma ideia na cabeccedila do entatildeo coordenador de eventos do Teatro Carlos Gomes o Hoje tem Teatro Esse coordenador queria provocarfomentar apresentaccedilotildees teatrais e para isso convida os grupos de teatro da cidade e sugere que cada grupo monte em apenas dois meses um texto curto para apresentar sem custo nenhum no palco do grande auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes Ele me pergunta se tenho ideia do preccedilo que o Teatro Carlos Gomes cobra por apresentaccedilatildeo nesse espaccedilo Tento responder mas ele estaacute com a boca entupida de palavras precisa falar e falando me diz que em 1985 o que aconteceu foi que o diretor do grupo de miacutemica da ADR Sulfabril Wilfried Krambeck (o mesmo que trouxe o espetaacuteculo

de encerramento do Hoje Tem Teatro) comeccedilou dentro do Teatro Carlos Gomes a desenvolver um curso de miacutemica que vinha realizando na Sulfabril Resolveu em parceria com Alexandre Venera acoplar a esse curso jaacute que o curso poderia ter o nome dele ou qualquer outro o mesmo NuTE que havia realizado o Hoje Tem Teatro Ao final desse curso os atores montam o espetaacuteculo Pantomimas e nesse ano natildeo ocorre Hoje Tem Teatro Mas o Pantomimas aparece como espetaacuteculo do NuTE Logo no ano seguinte o final do curso volta a ser o Hoje tem Teatro com a diferenccedila de ser chamado de 3 Terccedilas Tem Teatro e fundamentalmente com a diferenccedila de que agora quem se apresenta satildeo apenas os alunos do curso

O ator metralhadora cuspindo doze palavras por segundo quase sem ar pergunta um instante antes de tomar focirclego ldquoNatildeo seria muita coincidecircncia no final do curso de teatro dado pelo NuTE de 1987 aparecer o JOTE-Titac com elementos tatildeo proacuteximos do Hoje Tem Teatro tempo reduzido para montagem textos curtos apresentaccedilotildees de vaacuterios grupos em apenas um dia E com relaccedilatildeo agrave escola de teatro do NUTe sem o Hoje Tem Teatro Wilfried teria aproximado seus cursos de miacutemica do Nuacutecleo de Teatro Experimentalrdquo

Aproveito a respiraccedilatildeo do ator para mais uma vez comentar sua pressa em concluir um roteiro aberto Um roteiro que perde muito quando aprisionado num comeccedilo meio e fim de causas e efeitos Ele natildeo compreende tento novamente dizendo que apesar de um gosto

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popular pelas novelas e romances em que tudo linearmente comeccedila se desenvolve e termina em momentos precisos na vida real as tramas satildeo bem mais complexas Nem sempre uma coisa leva a outra geralmente eacute um emaranhado de redes que forccedila algo a acontecer Tomo como exemplo as atividades desenvolvidas jaacute em 1985 pelo NuTE

0905 ndash Palestra com os atores Pepita Rodrigues e Eduardo Dolabella 1305 ndash Workshop sobre O Comportamento do Elemento no Grupo Teatral (Arte em Grupo) com o Prof Thiers Camargo (do Grupo Sia Santa de CampinasSP) 0606 ndash Palestra com os atores do Grupo La Nave Vaacute [Vagrave] 2706 a 2312 ndash Curso de Miacutemica e Pantomima com o Prof Wilfried Krambeck 12 a 1409 ndash Primeiro Seminaacuterio de Teatro com o Prof Thiers Camargo 09 a 1310 ndash Performances no Estande de Mini-Teatro no IV SALAtildeO BLUMENAUENSE DA CRIANCcedilA 2312 ndash Espetaacuteculo PANTOMIMAS no GATCG

Cada um desses eventos empurrou com a forccedila que conseguia o NuTE numa direccedilatildeo Se o vetor resultante dessas forccedilas naquele ano eacute o que conhecemos hoje natildeo podemos simplificar dizendo que no ponto A comeccedila a mover algo que iraacute passar pelo ponto B e terminar em C Da mesma forma natildeo eacute possiacutevel remeter um acontecimento agrave filiaccedilatildeo direta de uma pessoa O sujeito nunca eacute origem de nada Ele eacute sempre atravessado por uma multiplicidade de forccedilas que o constituem fazendo produzir Tentei falar algo sobre a importacircncia da muacutesica e do teatro tecircxtil para o NuTE mas o ator me interrompeu sorrindo achando impossiacutevel analisar dessa forma porque se assim o fosse todo e qualquer

acontecimento estaria presente forccedilando a histoacuteria do NuTE a ser como ela eacute Eu digo que sim e mais que isso que para aleacutem das muacuteltiplas forccedilas envolvidas no acontecimento o que inventa sentido agrave cena eacute o observador Comento que tudo o que ele fez haacute pouco foi ocupar o lugar de um observador que tentava dar um sentido ao caos das linhas em movimento Ele estranha a ideia de movimento Eu explico que o passado natildeo estaacute parado que ele se move quando tentamos observaacute-lo e complemento dizendo que estou muito mais interessado em uma espeacutecie de geografia ou de arqueologia do NuTE do que propriamente em sua histoacuteria Traccedilar encontrar inventar mapas que ajudem o leitor a sobrevoar paisagens nuteanas eacute isso que estou tentando fazer O ator ironiza meu argumento Natildeo compreende como poderiam as tais forccedilas que estatildeo em disputa caminharem de matildeos dadas rumo ao mesmo vetor Rindo muito ele me pergunta como elas fecham os acordos entre elas Um tanto aborrecido com as piadinhas faccedilo de conta que natildeo ouccedilo a pergunta sempre que vejo uma possibilidade tento me distanciar procurando Alexandre aqui e acolaacute Ele repete a pergunta Novamente natildeo respondo Ele percebe que estou tentando me afastar e levantando a voz pelo pouco de distacircncia que jaacute surgia diz

Ator ndash Como podem essas tais linhas de forccedila que vocecirc diz muacuteltiplas e em duelo permanente estabelecerem um acordo para criar uma paisagem nuteana que possa ser sobrevoada

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Nesse exato instante adentramos ao Corredor A pergunta que chegou antes eacute tomada pelos atores que ali estavam aquecidos na discussatildeo conceitual como parte do jogo cecircnico Iniciam uma improvisaccedilatildeo sobre o tema Interrompo para perguntar sobre Alexandre Como jaacute esperava a resposta foi negativa Explico a situaccedilatildeo e convido o grupo para nos acompanhar ateacute o Palco do Grande Auditoacuterio contente por me afastar finalmente das perguntas fora de hora do ator falante Minha alegria contudo dura apenas umas poucas linhas Assim que comeccedilamos a caminhar mais uma vez ele retornou agrave questatildeo

Ator ndash Como podem essas tais linhas de forccedila que vocecirc diz muacuteltiplas e em duelo permanente estabelecer um acordo para criar uma paisagem nuteana que possa ser sobrevoada

Para minha surpresa um dos atores do Corredor percebendo meu cansaccedilo com a discussatildeo conseguiu costurar uma siacutentese provisoacuteria ao complexo e inesgotaacutevel tema Para esse ator as forccedilas natildeo estabelecem acordos Quem as comanda eacute uma determinada Vontade sua vetorizaccedilatildeo sua siacutentese eacute realizada por essa Vontade ldquoA forccedila eacute quem pode a vontade de potecircncia eacute quem quer () eacute sempre pela vontade de potecircncia que uma forccedila prevalece sobre outras domina-as ou comanda-as Aleacutem disso eacute a vontade de potecircncia ainda que faz com que uma forccedila obedeccedila numa relaccedilatildeo eacute pela vontade de potecircncia que ela obedecerdquo22

O ator perguntante finalmente silencia Vence nele uma forccedila menos ruidosa E assim

22 Deleuze Nietzsche e a Filosofia p 26

chegamos ao Palco do Grande Auditoacuterio Aos trecircs grupos reunidos informo que natildeo consegui encontrar Alexandre em nenhum local do teatro Compartilho a anguacutestia de natildeo saber o que fazer Um ator propotildee que os grupos apresentem uns para os outros como Alexandre inicialmente havia proposto a cena produzida Todos concordam Aproveito para melhorar minhas anotaccedilotildees Ao final das apresentaccedilotildees marco o proacuteximo ensaio para dia 26 de abril de 2015

cena da performance rsquokrsquo na frente marcelo de souza atraacutes silvio joseacute da luz

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TERCEIRO ENSAIO ndash 26 DE ABRIL DE 2015

Domingo e Chuviscos() esperando ateacute as 15h

Imagem Insistente O Excesso

Olho-lacircmina olho-estilete olho-corte olho-navalha olho-faca olho-sangue olho-foice olho-maacutequina-de-roccedilar-grama olho-estripar olho-moto-serra olho-agora-fodeu-tudo Todo o grupo me olhava Alguns chegaram atrasados eacute verdade coisa de cinco a dez minutos mas a grande maioria estava ali desde as 14 horas conforme rezava o contrato Um pouco conversamos um pouco rimos em pouco tempo natildeo havia mais nada Uma uacutenica e excessiva pergunta se espalhava fazendo ranger o silecircncio Alexandre vai continuar dirigindo o espetaacuteculo Se vai onde estaria o desgraccedilado a uma hora dessas se natildeo vai Bom melhor natildeo pensar nisso O atraso dos poucos permitiu explicar por trecircs vezes minha peregrinaccedilatildeo em busca desta resposta assim que cheguei assim que os primeiros atores atrasados chegaram assim que os segundos atores atrasados chegaram Mas agora com toda municcedilatildeo gasta natildeo tinha mais pra onde correr A lacircmina circular dos bem treinados olhares fazia cortar eram finas incisotildees agudas eu as podia sentir

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TERCEIRO

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estridentes transversalizadas em minha pele De nada adiantava repetir as mais de 20 vezes que liguei as tantas que deixei recado ou ainda que pessoalmente estive na casa de Alexandre e que de nenhuma forma consegui encontraacute-lo O silecircncio fazia buraco exigia uma resposta E infelizmente a resposta que veio precipitada e cretina eu concordo foi

ndash Bem pessoal vamos esperar ateacute as 15 horas Se Alexandre natildeo aparecer tenho uma proposta para lhes fazer

O olho-lacircmina foi cedendo lugar ao ciacutenico-olho-interrogativo Nos grupelhos frases sussurradas para que eu ouvisse sem poder ouvir eram abafadas

ndash Esse babaca natildeo vai ter coragem de ndash () mas ele mal sabe escrever quem

diraacute ndash Seria muita arrogacircncia dele acho que

precisamos ndash Na eacutepoca do NuTE sempre foi assim

Alexandre brigava com a gente abandonava os ensaios e depois retornava quem natildeo lembra disso Natildeo podemos permitir agora que esse

Sim a frase que flutuava entre as bocas atuantes me havia escapado Mas nunca me passou pela cabeccedila dirigir o grupo talvez a pressatildeo das lacircminas talvez o silecircncio difiacutecil dizer Agora aleacutem da ausecircncia de Alexandre eu tinha que consertar isso Pra melhorar soacute conseguia pensar na prestaccedilatildeo de contas do projeto no iniacutecio da turnecirc marcada para daqui a dois meses no que iriam dizer nossos

apoiadores se o espetaacuteculo natildeo saiacutesse conforme combinado Seraacute que teriacuteamos que devolver o dinheiro Seraacute que meu nome ficaria queimado para novos projetos Que merda o que fazer O reloacutegio corria 14h43min () 14h49min () 14h55min () 15h () 15h07min () Quando chegou em 15h15min eu havia me transformado num quase budista de quietudes abstratas Um dos atores percebendo resolve abrir a ferida

ndash Parece que Alexandre natildeo vem mesmo Qual seria sua proposta

ndash Na verdade natildeo tenho proposta nenhuma falei para acalmar vocecircs ou para me acalmar natildeo sei ao certo Estou muito ansioso com a prestaccedilatildeo de contas do projeto vocecircs todos estatildeo recebendo seus cachecircs em dia o aluguel desse teatro natildeo eacute barato as refeiccedilotildees as despesas com transporte muita coisa jaacute foi paga mas o que vamos fazer se esse espetaacuteculo natildeo sair Meu receio eacute de que tenhamos que devolver esse dinheiro e isso forccedilosamente vai obrigar cada um de vocecircs a devolver as parcelas que jaacute recebeu

Olho-cifra olho-fraterno olho-noacutes olho-solidariedade Finalmente o grupo me acolhe percebem que o ldquobom andamento do projetordquo natildeo depende apenas de mim Sentamos em ciacuterculo no piso madeirado do palco Conversamos A opiniatildeo era unacircnime Alexandre eacute quem deve dirigir Ningueacutem pode tomar esse lugar Combinamos aguardar seu retorno A grande maioria tinha certeza de que ele iria voltar jaacute que essa natildeo era nem a primeira

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ENSAIO

e nem a segunda vez que Alexandre fazia isso Era mesmo costume dele abandonar os ensaios e depois retornar Mas o que se pode fazer na ausecircncia de um diretor quando ningueacutem se atreve a dirigir Aos poucos foi ganhando forma uma proposta de estudo cuja finalidade seria potencializar as cenas que seriam montadas quando Alexandre retornasse

Assim eles me pediram para que lhes fornecesse algum material novo algo em que estivesse trabalhando nos uacuteltimos dias Eles dedicariam o ensaio de hoje ao estudo desse material e no proacuteximo saacutebado quando Alexandre estivesse conosco assim falavam o utilizariam para composiccedilatildeo das cenas A ideia me pareceu muito boa mas que tipo de material daria conta de uma ressonacircncia dessas A uacutenica imagem que me veio provavelmente pela proximidade havia terminado uma noite antes do ensaio foi a da cronologia dos espetaacuteculos montados pelo NuTE Brevemente expus a pesquisa ao grupo que vibrando com a imagem de acessar numa uacutenica pegada todas as montagens-NuTE insistiam na importacircncia desse material para o espetaacuteculo Como natildeo havia imprimido nenhuma coacutepia pois natildeo imaginava que algo assim pudesse acontecer liguei meu notebook gravei o arquivo num pen-drive e jaacute de saiacuteda em busca de uma graacutefica percebo um ator sacando um projetor multimiacutedia de sua mochila Ele sugere projetarmos a cronologia nas paredes brancas do teatro Achei muito bonita a metaacutefora Foi o que fizemos

EXUBERANTE CRONOLOgIA ESPETACULAR DO TEATRO

EXPERIMENTAL E DO TEATRO ESCOLA NUTEANESCOS

eou PUTA QUE PARIU ESSES CARAS MONTARAM 185 (cento e oitenta e cinco)

ESPETAacuteCULOS

1984ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS PELO

PROJETO HOJE TEM TEATRO

1 ndash Nariz NovoDireccedilatildeo Alexandre Venera e Mauro MachiTexto Robert ThomasElenco Luciana Olivia Josueacute AacutelvaroForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

2 ndash ReencontroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Rubem FonsecaElenco Bete CalinhoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

3 ndash A Dama de Copas e o Rei de CubaDireccedilatildeo Alexandre Venera e Valem RodrigoTexto Timochenco WehbiElenco Tania Verinha

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

1985PANTOMIMA

4 ndash PantomimaSinopse o espetaacuteculo conta com uma sequecircncia de quadros ndash cenas ndash que satildeo apresentadas segundo esta ordem menores abandonados (drama) protagonizado por Sandra Cardoso nascimento vida e morte das plantas relaccedilatildeo destas com os animais selvagens e intempeacuteries da natureza (drama) com participaccedilatildeo de todo elenco O terceiro quadro (drama com grande forccedila expressiva) inicia com um poema sobre a insanidade humana e o respectivo abandono social do louco recitado por Sandra Cardoso na sequecircncia apresenta-se a convivecircncia deste num ambiente manicomial Por fim os quadros cocircmicos com a maquiagem dos personagens sendo feita em cena

Direccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto Wilfried KrambeckElenco Diogo Junkes Sandra Cardoso Valdir Lopes Iraci Krambeck Aacutelvaro A Andrade Roberto SchindlerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 23 de dezembro de 1985

Importante este espetaacuteculo eacute resultado do curso de teatro e miacutemica ministrado por Wilfried Krambeck Curso que aconteceu entre 27 de junho e 23 de dezembro de 1985 com carga horaacuteria de 160 horasaula Eacute a primeira montagem do NuTE que resulta do aprendizado em teatro tendo como recurso para estudar teatro a construccedilatildeo de um espetaacuteculo

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Wilfried Krambeck no anexo Livreto Espetacular23

23 prezado leitor para as doze montagens

mais relevantes preparamos um lsquolivreto

espetacularrsquo que provavelmente

vocecirc jaacute encontrou nos anexos deste

livro O livreto eacute uma coleccedilatildeo de textos que versam sobre

os doze espetaacuteculos escolhidos

Para escrever sobre esses espetaacuteculos foram convidados atores diretores teacutecnicos poetas

que participaram eou assistiram tais montagens

Portanto sempre que

nesta cronologia aparecer o carimbo a seguir eacute sinal de que um bom artigo

lhe aguarda

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ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS PELO PROJETO 3 TERCcedilAS TEM TEATRO

5 ndash Alegoria ao Vamos ao Teatro

Direccedilatildeo Alexandre Venera dos SantosTexto Alexandre Venera dos Santos sobre parte da muacutesica Coming home to see youElenco Dennis Raduumlnz Elisete Creuz Isabel Ribeiro Maria Teresa Dias Claudio Constantin Sandra Cardoso Flavio Meirinho Deise Gonccedilalves Waldir Lopes Marlise dos Santos Alexandre Correia Deuceacutelia Travasso Deliani Travasso Evi Geisler Tanise Creuz Leandro de AssisForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986Importante diferente do ano anterior onde apenas Wilfried Krambeck ministrou aulas o curso de iniciaccedilatildeo ao teatro em 1986 eacute dado por vaacuterios professores Ao final do curso temos o 3 Terccedilas Tem Teatro (em junho) e as apresentaccedilotildees finais do curso de iniciaccedilatildeo ao teatro (em julho) com praticamente os mesmos atores-alunos Aleacutem de professor nesse ano

ldquoPandareco O Rei do Risordquo Esquete apre-sentado pelo Grupo Teatrhering o qual fora convidado pelo NuTE para se apresen-tar no encerramento do 3 Terccedilas Tem Tea-tro em 24 de junho de 1986 Elenco Antonio R Carvalho Cleusa M de Melo Custoacutedia Marcos Inecircs Pereira Joseacute Lino Frutuoso e Rosimeri Lunelli Di-reccedilatildeo Claacuteudio A Sch-midt

Wilfried Krambeck tambeacutem coordenou e organizou o curriacuteculo dos cursos

6 ndash Morte

Direccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto charges do cartunista chileno COPIElenco Adriana Kalckmann Wilfried Krambeck Aacutelvaro de AndradeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

7 ndash Segunda-feira de Cidade GrandeDireccedilatildeo direccedilatildeo coletiva Texto autoria coletiva sobre tema expostoElenco Isabel Ribeiro Tanise Cruz Deuceacutelia TravassoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

8 ndash Diversotildees EletrocircnicasDireccedilatildeo Flavio MeirinhoTexto adaptaccedilatildeo de Flaacutevio Meirinho sobre tema de Arrigo Barnabeacute

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Elenco Flavio MeirinhoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

9 ndash CanibalismoDireccedilatildeo Dennis RaduumlnzTexto Luiacutes Fernando VeriacutessimoElenco Evi Geisler Claudio Constantin Leandro de Assis Dennis RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

10 ndash O SonhoTexto adaptaccedilatildeo de Marlise dos Santos sobre muacutesica de VanusaElenco Marlise dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

11 ndash Gecircnio e Cultura

Direccedilatildeo Alexandre Venera dos SantosTexto Umberto Boccioni

Elenco Waldir Lopes Aacutelvaro de Andrade Sandra CardosoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

MOSTRA DE FINAL DE CURSO ndash PRIMEIRO SEMESTRE

12 ndash Grito dacuteAlmaDireccedilatildeo Deise GonccedilalvesTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Tanise Creuz Elisete Creuz Marlise dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

13 ndash E isso eacute vidaDireccedilatildeo IsabelAutor do Texto criaccedilatildeo coletivaElenco Deuceacutelia Deliani Leandro RosaneForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

14 ndash Ciranda ao redor da fonteDireccedilatildeo Dennis RaduumlnzAutor do Texto Dennis RaduumlnzElenco Dennis Raduumlnz Maria do Carmo Machado Lauro RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

15 ndash OutroraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

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MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

16 ndash Essa Tal de EvoluccedilatildeoDireccedilatildeo Wilfried Krambeck Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 15 de outubro de 1986Importante apresentaccedilatildeo de alunos do Curso de Miacutemica

CLASSE gLACEcirc

17 ndash Classe GlacecircSinopse Classe Glacecirc eacute um espetaacuteculo em dois atos Na primeira parte atraveacutes de uma coletacircnea de textos baseados em artigo de Luiacutes Fernando Veriacutessimo os atores se revezam nos vaacuterios momentos repetindo situaccedilotildees que como um exerciacutecio teatral mostram os problemas que as diferenccedilas de classes proporcionam na luta pela sobrevivecircncia e a esperanccedila de se elevar nos diversos niacuteveis sociais A segunda parte eacute uma reflexatildeo-praacutetica de um confronto das classes Cada um ldquovecircrdquo agrave sua maneira os problemas e as vantagens do outro E como na paraacutebola A Raposa e as Uvas cada classe se orgulha das suas desventuras e

ironiza as qualidades da outra O fio condutor de toda a proposta desse segundo ato eacute o texto ldquoO Mendigo ou o Catildeo Mortordquo de autoria de Bertold Brecht que em sua teoria teatral nos solicita refletir criticamente muito mais sobre a mensagem colocada (texto) do que sobre o meio de execuccedilatildeo (desempenho) embora um seja o complemento do outro ldquoO Mendigo ou o Catildeo Mortordquo eacute em si mesmo uma faacutebula a paraacutebola do Espelho Espelho Meu e eacute bom saber que quem estaacute no trono procura ficar informado

Direccedilatildeo Alexandre Venera Texto adaptaccedilatildeo sobre textos de Luiacutes Fernando Veriacutessimo e sobre o texto O Mendigo ou o Catildeo Morto de Bertold BrechtElenco Alan Ada Kardek Aacutelvaro de Andrade Claudio Constantino Dennis Raduumlnz Deise Gonccedilalves Deuceacutelia Travasso Elisete Creuz Isabel Ribeiro Joatildeo de Oliveira Marlise dos Santos Maria Teresa Dias Rosane Paasch Tanise Creuz Antonieta KrausForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 09 de outubro de 1986Importante ateacute onde conseguimos mapear foi a primeira vez que um grupo de teatro blumenauense montou Bertold Brecht

VEIAS CATIVAS

18 ndash Veias Cativas Sinopse um espetaacuteculo ldquomusicadordquo porque natildeo eacute cantado mas eacute dublado e falado natildeo eacute danccedilado mas eacute coreografado e interpretado Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto poemas de Rosane Magaly Martins e

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Muacutesicas de Ney Matogrosso Elenco Alan Alda Kardek Aacutelvaro de Andrade Carlos dos Santos Claus Jensen Evelis Sailer Gilmar Borges Marlise de Valbone Neli Lenzi Raquel Furtado e Rosane Magaly MartinsForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de dezembro de 1986

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Rosane Magaly Martins no anexo Livreto Espetacular

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21 CADEIRAS

19 ndash 21 Cadeiras Sinopse veja bem num espetaacuteculo a criaccedilatildeo espontacircnea para o artista eacute o tempero e para o puacuteblico eacute o divertimento O improviso eacute nosso companheiro em todas as nossas atitudes Nossa vida eacute um improviso Todos improvisam no relacionamento no trabalho no amor na briga ou no sofrimento Quando se estaacute por cima por baixo colocado de lado ou ateacute no meio natildeo se conhece precisamente o iniacutecio

noacutes nos preocupamos com o fim e soacute sabemos o que passou Assim eacute com a vida como com o espetaacuteculo ldquo21 Cadeirasrdquo Para a vida o tema do improviso eacute viver e para o espetaacuteculo ldquo21 Cadeirasrdquo o improviso eacute relacionado com o tema tiacutetulo que assenta anatomicamente a nossa proposta de sobreviver Pegue a sua cadeira e venha assistir ao nosso improviso Sente-se agrave vontade mas cuidado com a Aids que eacute o tipo de doenccedila que se pega sentando em cima Sinta-se confortavelmente sentado em nossa roda Noacutes vamos girar virar e torcer por vocecirc E isso eacute soacute o iniacutecioDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Wilfried Iraci Gilberto Helena Tete Marcia Raquel Aacutelvaro Adriana Tanise Rosane Karla Antonieta Dido Diogo Dennis Marlise Sandra Alan Ula Nataacutelia JotaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de marccedilo de 1987

O TUacuteNEL

20 ndash O Tuacutenel Sinopse em linhas gerais O Tuacutenel mostra a passagem ldquodesta para a melhorrdquo E essa passagem eacute tatildeo raacutepida que ele nem se daacute conta Excitado natildeo para de falar mas aos poucos vai enfraquecendo prestando mais atenccedilatildeo a sua volta ao amigo Jorge que vai ao seu encontro ndash compreendendo por fim sua verdadeira situaccedilatildeo Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Paer LagerkvistElenco Alex Muumlller Claus Jensen

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Helena Brown Aacutelvaro de AndradeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 29 de maio de 1987Importante inauguraccedilatildeo do Espaccedilo (O)Caso

ATENDENDO A PEDIDOS

21 ndash Atendendo a PedidosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de junho de 1987

MORCEgO PESSOA

22 ndash Morcego PessoaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 26 de outubro de 1987

O HOMEM DO CAPOTE E OUTROS SERES

23 ndash O homem do Capote e Outros SeresSinopse haacute muitos muitos anos continuamen-te se encontram num espaccedilo indeterminado vaacuterios seres Estes seres desenvolvem suas atitudes individualizadas a distacircncia de maneira impenetraacutevel e particular O encontro com outros seres eacute teacutecnico e restrito ao essencial sendo o primeiro encontro muito curto Estes seres se preocupam narcisicamente ao ver e ouvir o outro pouco tentando entendecirc-lo ou criticaacute-lo Os seres necessitam do conviacutevio social e se aproximam daqueles com os quais sentem afinidades Com a soma dos interesses ocorre a ligaccedilatildeo total onde a uniatildeo de qualquer maneira faz crescer Entretanto a desuniatildeo como um desencanto acontece afastando os seres Entre si ou entre

os seus propoacutesitos haacute a cisatildeo Esta ordem de acontecimentos tem uma sequecircncia ciacuteclica e ateacute retroacutegrada que aos poucos constroacutei ou ateacute rapidamente se transforma na essecircncia do passado E o passado atraveacutes da experiecircncia dos seres constroacutei uma ldquomedardquo individual ou coletiva ateacute onde satildeo armazenadas as experiecircncias jaacute sentidas e representadas pelos ldquofios da experiecircnciardquo A ldquomedardquo eacute o acuacutemulo de propostas realizadas onde satildeo empilhadas uma a uma numa construccedilatildeo cocircnica ldquoa piracircmide da existecircnciardquo Ao ter-se demais de um soacute fio de experiecircncia na ldquomedardquo deste ser haacute uma deformaccedilatildeo na construccedilatildeo dessa ldquomedardquo e sua consequente desestabilizaccedilatildeo Entre outros seres o Homem do Capote deu importacircncia demasiada a uma soacute atitude e faz-nos preocupar como outros seres

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera a partir de poemas de Lindolf Bell e criaccedilotildees coletivasElenco Carlos Alan Giba Juliana Sabrine Mari Jota Zeacute Joatildeo Dennis Gilberto Wilfried Iraci Do Carmo Cleacuteo Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 01 de novembro de 1987Importante primeiro espetaacuteculo assinado pelo Grupo Liturgia do Teatro que nas proacuteximas montagens iraacute aparecer como Grupo Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques Em Bomba Nucleada zine manifesto escrito por integrantes do NuTE poacutes-apresentaccedilatildeo de O Homem do Capote e Outros Seres no Fecate ndash Festival Catarinense de Teatro ndash lecirc-se ldquo() durante todo o espetaacuteculo a condiccedilatildeo de desencanto eacute flagrante e segundo Antonin Artaud em um de seus manifestos sobre as obras-primas ele nos adverte ldquoUma das razotildees da atmosfera asfixiante na qual vivemos sem escapatoacuteria possiacutevel e sem remeacutedio ndash e pela qual somos

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todos um pouco culpados mesmo os mais revolucionaacuterios dentre noacutes ndash eacute o respeito pelo que eacute escrito formulado ou pintado e que assumiu uma certa forma como se toda expressatildeo jaacute natildeo estivesse exaurida e natildeo tivesse chegado ao ponto em que eacute preciso em que as coisas estourem para que se recomeccedilasse tudo de novordquo E eacute nessa afirmaccedilatildeo de Artaud que se baseia o tema expressivo do espetaacuteculo mostrando essa singular e invulgar maneira de se interpretar a arte cecircnicardquo

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Dennis Raduumlnz no anexo Livreto Espetacular

gESTO E SENTIMENTO Agrave MODA DA CASA

24 ndash Gesto e Sentimento agrave Moda da CasaDireccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto Diogo Junckes Ceacutesar Reis Wilfried KrambeckElenco Ceacutesar Augusto Reis Diogo Fernado Junkes Iraci Potrikus Wilfried KrambeckSonoplastia Carlos ZanonForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 27 de julho de 1987

1988 ILUSTRACcedilAtildeO gESTUAL DE POESIAS

BLUMENAUENSES

25 ndash Ilustraccedilatildeo Gestual de Poesias BlumenauensesDireccedilatildeo e Narraccedilatildeo Wilfried KrambeckTextos autores blumenauenses diversos

Atores Iraci Potrikus Ceacutesar Reis e Dennis RaduumlnzIluminaccedilatildeo Carlos L Correia (Cahco)

O MOCcedilO QUE CASOU COM MULHER BRABA

26 ndash O Moccedilo que Casou com Mulher BrabaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Don Juan ManuelElenco Rosana Elke Veruska Betina Marcia Arethuza Sabrina Tacircnia Sandra Eunice Adilson Samara Nelson ArianaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 13 de junho de 1988

APOCALYPSIS CUM FIgURIS NA VISAtildeO DE SANTA CATARINA OS ANJOS E NOacuteS

27 ndash Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e NoacutesSinopse Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes eacute um espetaacuteculo de colagens das diversas passagens da vinda de Cristo visualizadas sob o acircngulo da modernidade do tempo em que vivemos

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Apocalypsis natildeo eacute um teatro convencional pela ausecircncia de diaacutelogo e trama situaccedilotildees que normalmente norteiam a comunicaccedilatildeo dramaacutetica Para o espectador processa-se uma viagem transcendental que passa pelos seus olhos com a histoacuteria que estaacute embutida em sua memoacuteria ancestral Essa montagem eacute um poema poesia pura e eacute mais faacutecil entender um poema do que explicaacute-lo O Apocalypsis se define pela expressatildeo do corpo do ator e atraveacutes dos textosfragmentos poeacuteticos de vaacuterios poetas catarinenses que servem de subsiacutedios para citaccedilotildees e desabafos emocionais Direccedilatildeo Alexandre Venera Texto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre texto de Konstanty Puzyna que discute a montagem original de Jerzy Grotowski (1967) e sobre textos de escritores e poetas catarinenses como Lindolf Bell Cruz e Souza Artemiro Zanon entre outros Elenco Aacutelvaro de Andrade Carlos Crescecircncio Claus Jensen Dennis Raduumlnz Giba de Oliveira Marcos Suchara Peacutepe SedrezForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 28 de novembro de 1988 Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesLivreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Alexandre Venera dos Santos no anexo Livreto Espetacular

1989

VARIANTE WOYZECK-MAUSER

28 ndash Variante Woyzeck-MauserSinopse com essa montagem o Grupo da

Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques efetua uma releitura de dois expoentes da dramaturgia universal Independentemente estes textos no original permitem um realinhamento de cenas de iniacutecio meio e fim que entretanto natildeo alteram o conteuacutedo da obra O que caracteriza Variante Woyzeck-Mauser como outra obra original eacute a uniatildeo de alguns temas resgatados de um e de outro texto dentro de uma outra oacutetica divergente da dos originais em que se baseia O resultado eacute uma mensagem irocircnica sobre o falso moralismo da nossa sociedade um jogo da vida para o cidadatildeo que passa a ser como uma marionete nas matildeos de uma sociedade que lhe cobra as mais absurdas atitudes

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera Giba de Oliveira e Peacutepe Sedrez sobre texto de Georg Buumlchner (Woyzek) e Heiner Muumlller (Mauser)Elenco Roberto Murphy Ivan Felicidade Aacutelvaro de Adrade Joatildeo da Matta Alex Muumlller Ernesto Santos Everton Fonseca Michelli Rocha Paulo de Araujo Sidnei Mafra Regina Simas Rita Macado Peacutepe Sedrez Marcio Mori

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Amarildo Fortunato Claus Jensen Cleide Furlani Dennis RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 22 de outubro de 1989

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Roberto Murphy no anexo Livreto Espetacular

1990

SR MEURSAULT O ESTRANgEIRO DE CAMUS

29 ndash Sr Meursault O Estrangeiro de CamusDireccedilatildeo Giba de OliveiraAutor do Texto livre-adaptaccedilatildeo de Giba de Oliveira e alunos do NuTE sobre texto de Albert CamusElenco Natalie Rodrigues Rafaela Rejane Paula Margareth MuumlllerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de outubro de 1990Grupo ARTEATROZ

PELOS QUATRO CANTOS TEATRO DA COR EM QUATRO ATOS

30 ndash Pelos quatro cantos ndash Teatro da Cor em Quatro AtosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-tal

Estreia 10 de junho de 1986

1991

MACBETHacuteS UMA INTERFEREcircNCIA NA HISTOacuteRIA

31 ndash Macbethacutes ndash uma Interferecircncia na histoacuteriaSinopse a histoacuteria descreve a ascensatildeo e queda de um homem cuja sede de poder acaba por subverter os valores sociais da vida em grupo Aborda a transgressatildeo das leis da sociedade da solidariedade do amor da universalidade Macbeth eacute a transgressatildeo do homem Esta versatildeo tem no Macbeth natildeo a cobiccedila apenas pelo poder mas principalmente pela vida Contemporaneamente critica o homem preso a si mesmo que toma decisotildees impensadas e vive em busca da vida da liberdade do sossego e impressionantemente busca ateacute mesmo o fim Em meio agrave busca desse poder desconfianccedilas e hipocrisias o ser e o natildeo ser agem conjuntamente A dualidade eacute transparente Mas eacute observaacutevel todos temos a sede de vida Ou de VIDA

Direccedilatildeo Alexandre Venera

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Texto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre texto de W ShakespeareElenco Peacutepe Sedrez Carlos Crescecircncio Giba de Oliveira Marcelo de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 20 de agosto de 1991

No blog wwwnuteparatodoswordpresscom Raymond Chandler escreve

LENDAS DO NUTE ndash PARTE LXIUm vento forte e uacutemido entrava pela janela dificutando o trabalho de taxidermia em Antonio Leopolski Marcelinho de Souza levantou fechou a maldita janela e vestiu o figurino do defunto Algueacutem bateu agrave sua porta Era sua matildee mas felizmente a porta estava trancada Marcelinho reviu todos os passos da reestreia de Macbeth para o dia seguinte Ningueacutem ndash a natildeo ser Silvio da Luz seu cuacutemplice ndash sabia que um ator seria substituiacutedo na uacuteltima hora E nem deveriam saber

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Iran da Silveira no anexo Livreto Espetacular

PIQUENIQUE NO CAMPO

32 ndash Piquenique no Campo Sinopse do confronto entre os horrores e a inconsciecircncia dos visitantes e participantes deste inusitado piquenique nasce um cocircmico (e ao mesmo tempo criacutetico) diaacutelogo absurdo O soldado Zapo encontra-se entediado no campo de batalha Para animaacute-lo seus pais resolvem fazer uma visitinha propondo um piquenique em pleno front Durante o lanche surge o inimigo Apoacutes capturaacute-lo e sem saber o que fazer com o prisioneiro convidam-no para o lancheDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Fernando ArrabalElenco Giba de Oliveira Marcelo de Souza Francinete Bittencourte Pedro Dias Cintia Gruener Patriacutecia dos Santos Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 28 de novembro de 1991Grupo Grupo Meu GrupoImportante o elenco citado eacute o da montagem de 1993

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

33 ndash Big hamletForccedila Cecircnica Preponderante Teatro escolaEstreia 1 de Julho de 1991

34 ndash Quando se Segue a Tradiccedilatildeo e Quando se RefleteForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

35 ndash A Mulher judiaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

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36 ndash Proacutelogo no Teatro de FaustoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

37 ndash Bicharada no BarrilForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Texto Wilfried KrambeckEstreia 1 de Julho de 1991

PRA NAtildeO DIZER QUE NAtildeO FALEI

38 ndash Pra Natildeo Dizer que Natildeo FaleiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 8 de dezembro de 1991

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO DEU PANE NO BLACKOUT) SEgUNDO SEMESTRE

39 ndash O TuacutenelForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1991

40 ndash No Paiacutes da AnestesiaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 19 de dezembro de 1991

41 ndash Os CegosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 19 de dezembro de 1991

1992 O PEcircNDULO

42 ndash O PecircnduloSinopse quando uma era estaacute finalizando

tornam-se visiacuteveis as grandes e numerosas hecatombes Ira de deuses () Destino cruel () Finda o seacuteculo XX e as palavras de ordem satildeo ecologia e a era de aquarius O ciclo macrocoacutesmico se repete e o homem continua bola de futebol dos deuses Eacute a consciecircncia massificante atropelando o indiviacuteduo O espetaacuteculo trata do homem neutralizado espoliado e romacircntico uma das esquecidas engrenagens nessa ldquocoisardquo que nos envolve O homem que natildeo distingue o amor do romacircntico Haacute de se adquirir ternura sem perder a dureza Que a consciecircncia aquariana seja em cada um de noacutes Tememos a besta do apocalipse e natildeo a vemos ao nosso lado ela nos contamina com o conformismo Criar eacute coisa de outro mundo A aacutegua baixou e continua-se afogado como antes das cheias A solidatildeo eacute a uacutenica coisa que nos faz parecidos

Direccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Peacutepe SedrezElenco Ciacutecero da Silva Adriana Sebastiatildeo Elisabeth Thomeacute Maicon Rossi Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 30 de junho de 1992Grupo (CO) INCIDENTES

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

43 ndash Estaccedilatildeo Agosto a exceccedilatildeo e a lendaDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Rosane Magaly Martins e Giba de OliveiraElenco Aline Antunes Elisete Possamai Erna Parquer Francinete Bittencourt Francisco Koch Jerusa de Saacute Mariana da Silva Odete

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Maria Osmar Gomes Priscila de Souza Sandra da Silva Sebastiatildeo Crispim Wlademir TreisForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1992Grupo Sugiro Jaacute

44 ndash A Morte de DantonDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto livre-adaptaccedilatildeo de textos de Bertold Brecht Georg Buumlchner William B Huie LrsquoExpressElenco Alessandra Tonelli Cristiana Venera Gabriele Bruns Itamar Burmaniere Jackson Assino James Beck Marineusa Goterra Nelson Souza Soraia de Souza Valdete SchuterForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1992Grupo Ato ComCreto

45 ndash Natildeo Carta Aberta aos Senhores NazistasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1992

46 ndash A Mente CaptaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1992

47 ndash Na Casa do Dr jacobsenDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Graziela Cicatto Jeferson Fietz Jubal Santos Lenara Santos Magali de Jesus Rafael Ruzinski Tamara Sanches Melissa da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1992Grupo PAPA BATATA (DA PESADA)

48 ndash Viagem ao Coraccedilatildeo da CidadeDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Adhemar de OliveiraElenco Ana Nunes Ana Paula Souza Andreia da Conceiccedilatildeo Elisangela Pereira Evandro Costa Janaina Nascimento Juliana Maske Juliana Garcia Luana dos Santos Osnildo Souza Pablo Lopes Verocircnica Lopes Amanda WernerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 28 de agosto de 1992Grupo Grupo do Ser ou natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

49 ndash Chapeuzinho agraves AvessasDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Peacutepe SedrezElenco Jeferson Fietz Melissa Silva Adalgisa da Silva Graziela Cicatto Carolina Trisotto Renata Muumlller Rafael Ruzinski Eugenio Lingner Peacutepe SedrezForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo PAPA BATATA (DA PESADA)

50 ndash O DragatildeoDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Ellen WolfranElenco Antonio Leopolski Juliana Garcia Pablo Lopes Osnildo Souza Amanda Werner Renaty Affonso Andressa Deschamps Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo Grupo do Ser ou Natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

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51 ndash Quando a Coisa Vira CasoDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Elias GomesElenco Ana Nunes Barbara de Aguiar Juliana Maske Pablo Lopes Andressa Deschamps Janaina Nascimento Osnildo Souza Verocircnica LopesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo Grupo do Ser ou Natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

52 ndash um Canto nas Alturas Direccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Giba de OliveiraElenco Geraldo Niada Fernanda Muumlller Renata Marques Paula Igreja Vilmar Schroeder Ameacuterico Kichelli Greicy Tambosi Aline Luchtenberg Sandra Daicampi Josiane Theiss Rubia Nascimento Joseacute da Cruz Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro 1992

53 ndash Diante dos seus olhosDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto textos de Peacutepe Sedrez Maacutercia Sedrez Luis Alberto CorreiaElenco Airton Berkenbroch Arnaldo Formentin Araci Molinari Luiz Alves Marcia Gazania Marileusa Pisa Magara Casas Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro 1992Grupo Eacutethos

PALAacuteCIO DOS URUBUS

54 ndash Palaacutecio dos urubusSinopse trata-se de uma comeacutedia desenhada

sobre uma ilha fictiacutecia ldquoo paiacutes delirante das bananas do sol e do marrdquo e cujo cenaacuterio um palaacutecio eacute a metamorfose de um terriacutevel e decadente bordel A histoacuteria passa-se em tal ilha cercada de tubarotildees por todos os lados onde se vive uma episoacutedica e eletrizante aventura poliacutetica de capa-espada Em meio a conspiraccedilotildees diversas e situaccedilotildees absurdas a comeacutedia mostra de que forma pode o poder passar de matildeos sem realmente passar de matildeos ou ainda de que forma o paradoxo pode ser vital a uma manobra conjunta entre vaacuterios poderesDireccedilatildeo Giba de Oliveira Texto livre-adaptaccedilatildeo do texto de Ricardo VieiraElenco Cristiana Venera Jackson Assino Priscila de Souza Francinete Bittencourt Alesandra Tonelli Mariana da Silva Francisco Koch Gabriele Bruns Sandra da Silva Erna Packer Itamar Burmaniere James Beck Jerusa de Saacute Marineusa Goterra Mauro Ribas Maicon Rossi Nelson Souza Odete Maria Sebastiatildeo Crispim Soraia de Souza Wlademir Treiss Giba de Oliveira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 14 de dezembro de 1992Grupo Gratilde Cruz da Cornetada Nacional

1993

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO PROJETO PULSAR SIPAT E OUTROS

55 ndash Nosso Reino Por um Bom GuerreiroEstreia 24 de marccedilo de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

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56 ndash Queda LivreEstreia 31 de marccedilo de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

57 ndash Godot Espera GodotEstreia 14 de abril de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

58 ndash Aacuteguas de Cima Para BaixoDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Wilfried KrambeckElenco Carlos Crescecircncio Silvio Joseacute da Luz Pedro DiasEstreia 05 de maio de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food Cenaacuterio por Tadeu Bittencourt

No blog wwwnuteparatodoswordpresscom Peacutepe Sedrez escreve

ldquoOi gente boa Sobre a montagem de AacuteGUAS DE CIMA PRA BAIXO comeacutedia inteligentiacutessima do Wilfried Krambeck quando tive a honra de dirigir contou com os atores Carlos Crescecircncio Pedro Dias e Silvio Joseacute da Luz O cenaacuterio do Tadeu Bittencourt como cita o Wilfried em comentaacuterio acima causou mesmo grande sensaccedilatildeo na plateacuteia do Bar Percyrsquos na Alameda Rio Branco atraindo a atenccedilatildeo dos que por aquela alameda passavam O bar ficou superlotado quando as pessoas perceberam que naquela noite natildeo chovia em Blumenau exceto dentro do Percyrsquosrdquo

59 ndash Aacutelcool a Ser Dito Estreia 09 de agosto de 1993Importante Projeto SIPAT

60 ndash As Cartas MarcadasEstreia 03 de outubro de 1993

61 ndash Cuidado com o Tamanduaacute BandeiraEstreia 17 de outubro de 1993

RODA gIgANTE

62 ndash Roda GiganteSinopse a peccedila aborda a incessante e desenfreada busca da sapiecircncia universal Quem somos Para onde vamos De onde viemos Satildeo questionamentos co-muns do ser humano No enredo de A Roda Gigante um grupo de pessoas interessado na resposta desses questionamentos e guiado por um cicerone parte numa viagem maacutegica e misteriosa para descobrir isso que daacute e potildee fim agrave vida Frutos do exerciacutecio dessa viagem surgem ldquoMelusina e

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Remodinrdquo personagens de uma lenda francesa Ele eacute um simples mortal Ela uma fada amaldiccediloada pela matildee ndash toda noite de saacutebado para domingo sofre um estranho encanto Juntos Remodin e Melusina transgridem a lei do racismo Na acircnsia de saber tudo de tudo o homem dirigindo seu poder inventivo em busca do conhecimento desde a invenccedilatildeo da roda ndash sua maior descoberta ndash vagueia numa eterna viagem rumo ao desconhecido A roda guiada por esses intreacutepidos turistas torna-se gigante siacutembolo de inventividade conhecimento e desejo de evoluccedilatildeo A peccedila ambienta-se e desenvolve-se no clima ldquopsicodeacutelicordquo do filme The Magical Mistery Tour realizado pelos BeatlesDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Alexandre Venera Elenco Aacutelvaro de Andrade Cintia Gruener Patriacutecia dos Santos Ciacutecero da Silva Marcelo de Souza Marcia Olinger Marcus Andersen Viviane Cechet Adriana Sebastiatildeo Gerusa Teixeira Michelli Ferreira Maicon Rossi Ceacutesar

Rossi Silvio da Luz Alexandre FariasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 20 de junho de 1993Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Ensaio para assistir ao ensaio geral do espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=apxF3Cdpffc

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Tchello drsquoBarros no anexo Livreto Espetacular

MOSTRA DE FINAL DE CURSOPRIMEIRO SEMESTRE

63 ndash Ele eacute Assim MesmoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto livre-adaptaccedilatildeo de textos de diversos autores blumenauenses provenientes do JOTE-TitacElenco Alessandra Heiden Elias Moura Elisangela Bertoli Hugo Baumgarten Juccedilara Balzan Niraci Jr Pethra Naves Roberta Tomelin Alice Taufer Carolina Quezada Carla Thomas Cleide de Oliveira Joatildeo Rodrigues Marileacuteia Almeida Naacutedia Sais Renata Muumlller Salete da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Charanga Natildeo Batizada

64 ndash Paz Nem Que Seja Na Porrada

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Direccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Pedro Mauriacutecio DiasElenco Adriana Amaro Ana Cristina Nunes Andreacuteia Oliveira Ariel Espiacutendola Cintia Huerves Fabio Schaefer Gerusa Matos Janaina Nascimento Joseacute Volkmann Liliane Jarschel Marcelo de Oliveira Patriacutecia Buumlrigo Taiacutes Dalfovo Valsir Elias Zuleica DorowForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Filhos da Meretriz

65 ndash O Poema para o MundoDireccedilatildeo Silvio da LuzTexto Nassau de SouzaElenco Viviane Cechet Ciacutecero da Silva Jerusa Teixeira Vilmar Schroeder Indira Pereira Luciana May Andreacutea dos Santos Juliana VendramiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Contra Senha do Lado do AvessoImportante trata-se de espetaacuteculo convidado para encerramento da mostra

SENHORAS E SENHORES

66 ndash Senhoras e SenhoresSinopse Senhoras e Senhores natildeo eacute apenas mais um espetaacuteculo teatral Eacute um protesto Um grito alto e forte contra o desrespeito com a nossa cultura Noacutes natildeo queremos cultura Noacutes exigimos Eacute dever do Estado incentivar as manifestaccedilotildees artiacutesticoculturais de seu povo sim senhoras e senhores Em nosso caso um povo que trabalha e bebe chopp natildeo encontra nestas senhoras e nestes senhores que ocupam

cargos oficiais o incentivo ou a motivaccedilatildeo para abrir suas mentes e coraccedilotildees para receber a tatildeo sonhada e legiacutetima cultura Malditos tiranos culturais ou ponham suas cabeccedilas no lugar ou tirem suas matildeos de nossos bolsos ou ergam suas bundas destas cadeiras Natildeo suportamos mais tamanho descaso tamanha omissatildeo Chega de engodos Abaixo a Tirania CulturalDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Giba de OliveiraElenco Marcelo Fernando de Souza Fran Bittencourt Cintia Gruener Alvaro Alves de Andrade Patriacutecia dos Santos Silvio da Luz Leacuteo Almeida Edilamar da Silva Alexandre Venera dos Santos Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 05 de dezembro de 1993Grupo Por Noacutes Natildeo Desatados e Grupo Meu GrupoImportante espetaacuteculo-protesto que teve origem no JOTE-Titac

LIvreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Peacutepe Sedrez no anexo Livreto Espetacular

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO SAIDEIRA TEATRAL) ndash SEgUNDO SEMESTRE

67 ndash Tudo Azul No hemisfeacuterio SulDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Marcos BorgesElenco Alessandra Heiden Hugo Baumgarten Niralci da Silveira Roberta Tomelin Sebastiatildeo de Souza Taiacutes Dalfovo Cintia Hueves Mauro Ribas Carlos Crescecircncio Silvio da Luz Juccedilara Balzan

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro 1993Grupo Nuacute Anonimato

68 ndash O Ciacuterculo de Giz CaucasianoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Bertold BrechtElenco Ana Cristina Nunes Paula Igreja Priscila de Souza Patricia Buacuterigo Joseacute Volkmann Volmar Schroeder Luciana May Cristiana Venera Nelson de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro 1993Grupo Grupo AH

69 ndash Quanto Riso Oh Quanta AlegriaDireccedilatildeo Marcelo F de SouzaTexto Marcelo F de SouzaElenco Ana Paula Girardi Sylvia Penkhun Adriana Gotzinger Eduardo Reiter Daniele Machado Emanoelle da Cunha Cristina Scheefer Karina Muumlller Susan Kotmann Elisaura da Silva Fabiana Goll Raquel Rodrigues Ana Priscila Benitez Faacutebio Marciacutelio Ingon Erdmann Rafael de Almeida Keila Peixer Claudia Feacutelix Regiane Ferreira Ticiane Menschein Karina Shmitt Fabyana Raulino Samira TschoekeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1993Grupo Cuspiu Eu Tocirc Anotando

70 ndash A Entradeira (Soacute) no ParaiacutesoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Giba de Oliveira Wilfried Krambeck e Umberto BoccioniElenco Afonso Carneiro Fabiano Schlosser

Luacutecia Siqueira Sylvia Nunes Valdecir Correia Nelson de Souza Fernanda da Silva Gabriela Socircnego Marelise Koepsel Valeacuteria Santana Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo Demo(niacutecio) Nisso

71 ndash Menino DeusDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Silvana Costa Elenco Fabiana Goll Vilmar Schroeder Juacutelia da Silva Luiacuteza da Silva Carolina Accetta Deacutebora Rossi Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo QD FamaImportante espetaacuteculo convidado para encerramento da mostra

72 ndash ClownsElenco Maicon Rossi Mauro Ribas Nelson de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo Os Clowns do NuTEImportante Espetaacuteculo convidado para encerramento da Mostra

73 ndash Abra As Asas Somos NoacutesDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Peacutepe SedrezElenco Fernando Lopes Felipe Steinert Thiago Meireles Carl Johann Blosfeld Nina Liesenberg Jamyle Krueger Katrin Gruumltzmacher Roni Lana Mareike Valentin Raquel Weiss Betina Riffel Karina Steinert Camila Pedrini Thaiacutes Meireles Manoela Blodorn Barbara Beskow

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1993Grupo Abre a cortina que eu quero entrarImportante primeira turma NuTE no municiacutepio de Pomerode

1994

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO 3 PECcedilAS 2 TIRO 5 POtildeE) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

74 ndash A histoacuteria do Manuel

75 ndash A EstaccedilatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Marcia SedrezElenco Janaina Nascimento Juliano Theis Roberta Tomelin Sebastiatildeo de Souza Sylvia PenkunForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

76 ndash Godot Espera Godot amp O Monoacutelogo da DesesperadaDireccedilatildeo Maicon RossiTexto Tania Rodrigues e Nira da SilveiraElenco Alessandra Heiden Fabiana Goll Faacutebio Schaefer Joseacute Volkman Karina Muumlller Nira Silveira Samira Tschoeke Sebastiatildeo Souza Vilmar Schroeder Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

77 ndash O BecircbadoDireccedilatildeo Maicon RossiElenco Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

Estreia 22 de maio de 1994Grupo Grupo dos ClownsImportante nuacutemero de clown

78 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Alice Taufer Fernanda da Silva Janice Vasselai Nelson Souza Sidneacuteia KoppForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO O TEATRO) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

79 ndash No SupermercadoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

80 ndash No AccedilougueDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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Estreia 11 de agosto de 199481 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

82 ndash uma espeacutecie de aulaDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

83 ndash A Cena de GildaDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo

Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

84 ndash As Rosas Morrem em Agosto amp um Canto nas AlturasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

85 ndash A Confissatildeo ou a ConfusatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

86 ndash O Farwest que natildeo enxergamosDireccedilatildeo Carlos Crescecircncio

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Texto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO PROJETO PECcedilAS BREVES E gOSTOSAS

87 ndash CinderellaDireccedilatildeo Maicon RossiTexto adaptaccedilatildeo de Tatiana BelinskiElenco Antonio Fernandes Caroline Fernandes Arabutan Santos Gisele BucherForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

88 ndash Pega FogoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Jules RenardElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

89 ndash um Caso Assombroso

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo KosovskiElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

90 ndash O Dr RoballoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Irmatildeos MarxElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

91 ndash ReveillonDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo KosovskiElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

92 ndash Na Noite de TerccedilaDireccedilatildeo Mariana da SilvaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Mocircnica da Costa Rudimar Labes Samira Tomio Marlos Vasselai Nilson Ferreira Sebastiatildeo de Souza Liana Guedes Adriana Mette Gerusa Simatildeo Edeacutesio da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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Estreia 20 de dezembro de 199493 ndash Visatildeo razatildeo emoccedilatildeo qual a soluccedilatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Krislei Deschler Josy Mayer Taiacutesa Bugmann Karin Fiedler Rosana Quintino Lidiane Wilwert Katrin Osti Tatiane Pereira Tamara Georgi Anahi Ibars Deborah Schroeder Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 20 de dezembro de 1994

94 ndash Dia de FestaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alexandre VeneraElenco Pablina Soeth Roberta Tomelin Sylvia Penkhun Ana Carolina Leite Jeane Rimes Luise Bucher Sabina Klug Caroline Sporrer Mauro Ribas Rafael Ruzinski Osnildo de Souza Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 20 de dezembro de 1994

CARNAUacuteBA

95 ndash CarnauacutebaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Binho Shaefer Joseacute Volkmann Vini Schroeder Maicon Rossi Bia Goll Janice Pezzotti Grupo Grupo Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Durante as discussotildees do Segundo Ensaio no blog wwwnuteparatodoswordpresscom aconteceu um interessante diaacutelogo sobre este espetaacuteculo

Desnomeado dizGrande WilfriedEndosso assinando embaixo na linha em que escrevo meu nome (nome acaso ldquonirardquo eacute nome) Principalmente no que diz respeito ao ex-multimetido-mor ou seja euMas quero lembrar tambeacutem de um grupo de apaixonados que infelizmente durou pouco em 1994 o grupo principal do Nute (GFLTampP-C) era formado por alguns jovens arrojados que encenaram apenas dois espetaacuteculos sob a batuta e tutela (batutela) do nosso Alex Stein Um desses espetaacuteculos natildeo chegou a ser levado a puacuteblico apenas foi filmado um ensaio geral filmagem esta perdida (acredito) A peccedila era ldquoCarnauacutebardquo (texto Gibanceira) e faziam parte no elenco Binho Schaefer Zeacute Volkmann Vini Schroeder Maicon Rossi Bia Goll Janice Pezzotti na sonoplastia ao vivo Fernando Alex e este escriba alucinado pela realidade espaccedilo-atemporal ou tempo-inespacial Infelizmente pouca gente viu esse legiacutetimo produto da mente experimentalista de AVS Quando tu falaste em ldquopaixatildeordquo amigo lembrei de cara desse exemploParte desse grupo acrescido de alunos e convidados especiais de outras cidades encenaria logo em seguida o auto de natal ldquomorte e vida severinardquo espetaacuteculo que natildeo teve um deacutecimo da energia criativa de ldquoCarnauacutebardquo Terminado o ano desfez-se o grupo e terminava ali um capiacutetulo ligeiro (liseacutergico) e obscuro mas muito significativo capiacutetulo da Histoacuteria desse monstro que tantos ajudaram a criarAbraccedilosAquele que ateacute ontem se chamava nira niralci qualquer coisa

Eacutedio Raniere comentaSalve Nira-Niralci Desnomeadofiquei bem curioso sobre essa montagem natildeo tenho nenhum documento sobre ela Estou exatamente trabalhando num capiacutetulo sobre os espetaacuteculos Poderias contar um pouco melhor com mais

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detalhes qual era a proposta e o que aconceteuabccedilsEacutedio

Desnomeado respondeRELATO DA MONTAGEM DE CARNAUacuteBA texto de Giba de Oliveira direccedilatildeo de Alexandre Venera filmada em 05 de novembro de 1994A cena passava-se dentro de uma caverna onde viviam o Irmatildeo Fogo o Irmatildeo Terra e o Irmatildeo Aacutegua ndash fanaacuteticos bestiais que na montagem lembravam um pouco os personagens de ldquoO Massacre da Serra Eleacutetricardquo de 1974 Seus objetivos comer carne humana A certo ponto eles conseguem raptar uma moccedila e estripam suas viacutesceras O enredo eacute curto e simples essa sinopse foi feita mentalmente para mais detalhes ler texto originalA montagem o espetaacuteculo natildeo tinha cenaacuterio A iluminaccedilatildeo natildeo era nem um pouco tradicional dois contra-regras seguravam os refletores nas matildeos seguindo os atores como se algueacutem os iluminasse com uma lanterna A sonoplastia era tribal feita com peccedilas de percussatildeo e latotildees O cacircmera VHS tentou acompanhar isso tudo A fita foi enviada para o Festival Catarinense de Teatro o juacuteri natildeo nos classificou pela precariedade do registro mas declarou para AVS que ficou extremamente curioso e intrigado com a filmagem No geral a peccedila assemelhava-se a um filme de terror psicoloacutegico vanguardista Na minha opiniatildeo foi a experiecircncia Nute mais radical depois do Apocalypsys Se natildeo me engano foi a uacutenica montagem deste texto feita ateacute hoje ndash o que significa que ele nunca foi levado a puacuteblico(natildeo estou certo quanto a este uacuteltimo dado pode ser confirmado pelo Giba)

MORTE E VIDA SEVERINA

96 ndash Morte e Vida SeverinaSinopse vivemos num universo atribulado cheio de nuances de espectros complexos O ser humano busca uma saiacuteda para a liberdade

seguranccedila paz fraternidade para o equiliacutebrio e o amor Apesar de toda a confusatildeo que nos cerca sabemos que buscamos uma vida plena e digna A viagem do retirante Severino do sertatildeo pernambucano ateacute os mangues do Recife nos oferece uma ampla oportunidade para refletirmos sobre o nascimento e a peregrinaccedilatildeo do grande mestre Jesus Cristo O nascimento da vida Severina nos mangues formados pelo rio Capibari e a aacutegua do oceano nos enche de esperanccedila e confianccedila num mundo melhor Oxalaacute consigamos erradicar a SEVERINIDADE neste paiacutes Trabalhamos e lutamos para isto para que tenhamos um mundo justo e unido em torno de uma grande meta a vida com dignidade

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Joatildeo Cabral de Melo NetoElenco Tarciacutesio Feller Giba de Oliveira Mariana da Silva Claus Jensen Carlos Crescecircncio Janice Pezzoti Bia Brehmer Sebastiatildeo Crispim Jenifer Pezzoti Gisele Marciacutelio Socircnia Michelon Pablina Soeth Mauro Ribas Nira Silveira Andreacute de Souza Fernando Alex Faacutebio Schaefer Beto Terra Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreacuteia 20 de dezembro de 1994Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques

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O MENSTRUADO OU A DUacuteVIDA DE HELIOgAacuteBALO

97 ndash O Menstruado ou a duacutevida de heliogaacutebaloDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Carlos CrescecircncioElenco Samira Tomio Simone Passold Sebastiatildeo de Souza Liana Guedes Janice Pezzoti Rudimar Labes Monica Costa Carla Behringer Andrea Vieira Mauro Ribas Jerusa Simatildeo Lidiane Wilwert Nilson Ferreira Robson Rosseto Jenifer Pezzoti Faacutebio Schaefer Gisele Marciacutelio Carlos Crescecircncio Marlos Vasselai Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 18 de marccedilo de 1995Grupo (CO) INCIDENTES

MOSTRA DE FINAL DE CURSO ndash PRIMEIRO SEMESTRE

98 ndash As Trapalhadas de xalaminDireccedilatildeo Janice PezzotiTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Gabriela Maluf Gustavo Alves Nadja Tiellet Rafael Steinbach Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

99 ndash uma Famiacutelia Bem unidaDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Jacques PreacutevertElenco Andreacute Manske Joatildeo Aguiar Juliana

de Souza Karina Vieira Maria Fernanda Beduschi Rafael de Almeida Roberto Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

100 ndash um Canto nas AlturasDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Giba de OliveiraElenco Aline Santos Patriacutecia Schwartz Rafael de Almeida Selena Paris Juliana Vendrami Beatriz Vigeta Pollyana Silva Renata Rodrigues Silvana MuumlllerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

101 ndash Os Cegos agraves CegasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto livre-adaptaccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sobre o texto ldquoOs Cegosrdquo de Michel Ghelderode Elenco Richard Huewes Sheilla Santos Sebastiatildeo Crispim Patriacutecia Cabral Marizete Slomp Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

O PODEROSO SAPAtildeO 102 ndash O Poderoso SapatildeoSinopse o Poderoso Sapatildeo narra a saga de um sapo que resolve se casar com uma princesa e ao contraacuterio do que se pode prever tem um final surpreendente bem diferente dos contos de fadas Com inuacutemeras cenas engraccediladas e situaccedilotildees divertidas foram criadas para o espetaacuteculo vaacuterias possibilidades de participaccedilatildeo do puacuteblico Outro aspecto interessante eacute a utilizaccedilatildeo de efeitos de sonoplastia e dublagem ao vivo dos atores

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Eacute essa mistura de efeitos e dublagem aliados agraves teacutecnicas de pantomima e clown que datildeo ao espetaacuteculo um ritmo de show divertido e interativo dirigido a crianccedilas jovens e adultosDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 07 de outubro de 1995Grupo Teatro-Show Clowns Mimos e Cia

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO FESTIVAL NuTE MOSTRA TUDO DE TEATRO

103 ndash Pequenas grandes peccedilas em um atoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

104 ndash A Condessa KatllenDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto William Butler YetsElenco Katiuscia Cordeiro Ana Carolina Leite Osnildo de Souza Krislei Oeschler Juliana Vendrami Taiacutesa Bogman Sebastiatildeo Crispim Rafael Ruzinski Pollyana da Silva Roberto da

Silva Mauro Cesar Ribas Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

105 ndash ColomboDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Michel GuelderodeElenco Robson Rosseto Samira Tomio Sebastian Vieira Rudimar Labes Andreacuteia Vieira Liana Guedes Mocircnica Costa Carla Behringer Jerusa Simatildeo Richard HuewesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO AS PECcedilAS) ndash SEgUNDO SEMESTRE

106 ndash jingle para o NatalDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Giba de OliveiraElenco Patriacutecia Venturini Eliana Kuhnen Renata Muumlller Rafael Steinbach Gabriela MalufForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

107 ndash O Teatro das MaravilhasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Miguel de CervantesElenco Adrian Marchi Ana Lygia Bacca Sebastiatildeo Crispim Mariane Ortlieb Tailann Tutunnyk Camila Cordeiro Kalinka Maronez Ana Lara Cim Mayara Damas Carlos Wovst Maria Luiza LapoliForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

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108 ndash Anjo NegroDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Nelson RodriguesElenco Patriacutecia Schwartz Denis Inaacutecio Rafael de Almeida Maria Fernanda Beduschi Pollyana da Silva Jerusa Simatildeo Renata Rodrigues Juliana Vendrami Marisa Calissi Mocircnica Costa Samira TomioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

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MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO OacuteI gENTE) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

109 ndash O Mau NecessaacuterioDireccedilatildeo Mocircnica CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Aline Ferreira Cintia Gals Osnildo de Souza Jenifer Pezotti Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

110 ndash Pai e Filho a Respeito da GuerraDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

111 ndash Na Loja de ChapeacuteusDireccedilatildeo Carlos Crescecircncio

Texto Karl ValentinElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

112 ndash Robalo Robalinho e Matildeo de Vaca AdevogadosDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Irmatildeos MarxElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

113 ndash Vida e FicccedilatildeoDireccedilatildeo Jaime Gonzaacuteles EncinaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Angela Ferrari Daniela Ulrich Esther Santana Joaquim Farias Bianca Peixoto Andressa Pinto Lenita Siegel Luciana Tridapali Maria Lucia Marquez Sandra da Silva Priscila Cordova Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

114 ndash A Festa Minha Filha e EuDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Groucho MarxElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio Couto

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

115 ndash O Pai decideDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto adaptaccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sobre texto de Sempeacute e GoscinnyElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

116 ndash Famiacutelia FelizDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

117 ndash Ida ao TeatroDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO 3 VIDAS) ndash SEgUNDO SEMESTRE

118 ndash O SuiciacutedioDireccedilatildeo Luciano CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Peter Alan Ramos Jonas Buch Denise de Almeida Daiane Saut Priscila Mafezzoli Sabrina de MouraEstreia 22 de dezembro de 1996Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

119 ndash Aids um caminho sem voltaDireccedilatildeo Luciano CostaTexto Luciano CostaElenco Cristiane Bonfim Denise de Almeida Alexandre Fernandes Carolina de Farias Joatildeo ZimmermanForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de dezembro de 1996Grupo Grupo Banco de Praccedila

120 ndash Aquele que diz sim e aquele que diz natildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Bertold BrechtElenco Mariane Quinto Diego Noghrbon Geferson da Silva Sabrina de Moura Priscila MafezzoliForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de dezembro de 1996

O CASAMENTO DOS PEQUENOS

121 ndash O Casamento dos PequenosSinopse O Casamento dos Pequenos Burgueses eacute uma farsa desenfreada escrita num tom

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TERCEIRO

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realista conduzindo quase ao absurdo A peccedila mostra uma festa de casamento O noivo elogia os moacuteveis que ele mesmo construiu Os convidados discutem Pouco a pouco o ambiente fica pesado e a verdade se revela aleacutem das aparecircncias a noiva estaacute graacutevida o noivo desconfia de sua fidelidade os moacuteveis se despedaccedilam o cenaacuterio se destroacutei No final reina certa paz Os dois estatildeo finalmente soacutes A luz se apaga ouve-se um forte barulho a cama se desmorona O texto tem violecircncia e sarcasmo na anaacutelise moral da eacutepoca O deboche ciacutenico e feroz eacute a arma usada por Brecht Valores eacuteticos de uma sociedade satildeo colocados em questatildeo de forma criacutetica (texto extraiacutedo do programa do espetaacuteculo informando a seguinte referecircncia Brecht ndash Vida e Obra Peixoto Ed Paz e Terra 1974)Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo sobre o texto O Casamento dos Pequenos Burgueses de Bertold BrechtElenco Carlos Crescecircncio Richard Huewes Carlos Wovst Luciano Costa Andreacuteia Vieira Sebastiatildeo Crispim Juliana Vendrami Luciana Tridapalli e Grupo de Clowns Mimos e Cia Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 09 de novembro de 1996

Grupo Grupo de Clowns Mimos e CiaImportante apresentaccedilatildeo de estreia no siacutetio Fazendarado

1997MOSTRA DE FINAL DE CURSO

PRIMEIRO SEMESTRE

122 ndash A RaizDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alcione ArauacutejoElenco Susana Rossi Keila RossiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997

123 ndash Garotos de RuaDireccedilatildeo Luciano CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Janaina Meneghel Ana Luisa Kobuszewski Grassi Russi Carlos PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997

124 ndash Cenas de um AcampamentoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alexandre VeneraElenco Mauro Ribas Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997Grupo Grupo de Clowns Mimos e Cia

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SEgUNDA MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

125 ndash PeruachoDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba de OliveiraTexto Bernadete da SilvaElenco Viviane Teixeira Jussara Hobus Julice da Rosa Fernando Bonatti Sabrina de MouraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

126 ndash EleonoraDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Nassau de SouzaElenco Elise Kluge Juliana Teodoro Vera Tafner Patricia Cipriani Vacircnia Tafner Mireile Gomes Marina MedeirosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

127 ndash Robalo Robalinho e Matildeo de Vaca AdevogadosDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Irmatildeos MarxElenco Janaina Meneghel Gabriela Kuehn Carlos Pereira Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997Importante espetaacuteculo jaacute encenado em 1996 sob direccedilatildeo de Carlos Crescecircncio e com outro elenco

128 ndash Cruzadas do Diabo na Terra de BabelDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Nassau de SouzaElenco Roberta Regis Carolina de Faria

Juliana Morais Charles Ewald Juliana Meneghel Gabriela KuehnForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

129 ndash um Restaurante A de OacutetimoDireccedilatildeo Giba de Oliveira e Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Julice da Rosa Jussara Hobus Fernando Bonatti Viviane TeixeiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

130 ndash Timipim do TupiniquimDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Patricia Cipriani Fabiana Fernandes Juliana Teodoro Marina Medeiros Alessandra Benvenuti Charlene Leber Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (TRIBUTO A NEI LEITE) ndash SEgUNDO SEMESTRE

131 ndash NusDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Wilfried KrambeckElenco Julice da Rosa Fernando Bonatti Silvana Silva Flaacutevia Rodrigues Mauro C RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

132 ndash uma luz na escuridatildeoDireccedilatildeo Giba de Oliveira

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Texto Erli Rosi FonsecaElenco Sheila Maccedilaneiro Fabiana Ribas Katia Morais Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

133 ndash O Afogado Afunda LentamenteDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Shirlei Marcelino Amanda Trentini Roberta de Gasperin Anice Tufaile Juliana Von CzekusForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

134 ndash A Preguiccedila na Visatildeo de um EspecialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Odebrecht Elenco Roberta Regis Juliana Teodoro Patricia Cipriani Alessandra Benvenuti Vera Tafner Vacircnia TafnerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997Importante espetaacuteculo jaacute encenado em 1994 sob mesma direccedilatildeo mas com elenco diferente

135ndash O Sentido da Vida Segundo Aluisio e MiguelitoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Nira SilveiraElenco Ceigler Marques Carla Ramos Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

136 ndash A Confissatildeo ou a ConfusatildeoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Maacutercia SedrezElenco Ceigler Marques Carla Ramos Katia Morais Fabiana Ribas Gisele Oliveira Leonel CamposForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

137 ndash NatalDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Horaacutecio Braum JrElenco Anice Tufaile Tatiana dos Santos Roberta de Gasperi Amanda Trentini Juliana Von Czekus Shirlei MarcelinoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

138 ndash Natal MaluquinhoDireccedilatildeo Polianna Silva e Andreacuteia dos SantosTexto Giba de OliveiraElenco Munick Bonassa Polli Tiago Bonfanti Fabricio Batista Janaina Meneghel Gabriela Kuehn Carlos PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

JATO DE AMOR

139 ndash jato de AmorSinopse Jato de Amor conta as accedilotildees do ser enamorado a busca do par a manutenccedilatildeo do par a sua unificaccedilatildeo Satildeo histoacuterias de amores desenhadas sobre os gestos dos apaixonados captando na accedilatildeo figuras de suas des(a)venturas Jato de Amor eacute para ser visto como Teatro Imagem um caleidoscoacutepio visual e

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ENSAIO

sonoro em que a palavra fica quase desvinculada agrave accedilatildeo nas cenas As personagens quase decalques dos ritos de amor transfiguram-se entre o real e o imaginaacuterio subvertendo-se nos amores ldquonovordquo ldquovelhordquo ldquovendidordquo e ldquotriangularrdquo Por tratar-se de imagens o desempenho cecircnico ndash geralmente norteado em accedilotildees coreograacuteficas ndash assume entretanto um sentido ginaacutestico Como enredo o roteiro das cenas adapta para o palco citaccedilotildees trechos e frases de diversos autores (poemas de Jacques Preacutevert e Antonin Artaud Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes) aleacutem de experiecircncias pessoais (do elenco colaboradores amigos) e de intuiccedilotildeesDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre o texto Jato de Sangue de Antonin ArtaudElenco Giba de Oliveira Poli Vendrami Carlos Crescecircncio Sabrina de Moura Leonel Campos Ivan Aacutelvaro Cris Muumlller Jerusa Simatildeo Rafael de Almeida Wladimir Treiss

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 21 de novembro de 1997Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Clipe para assistir ao clipe elaborado quando do lanccedilamento do espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=Z_wfitlUs1kampfeature=related

Ensaio para assistir ao Ensaio Geral do Espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=Vbb7IyWHdRQ

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Giba de Oliveira no anexo Livreto Espetacular

1998

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

140 ndash um Convento Muito LoucoDireccedilatildeo Mocircnica CostaTexto Ana C Voltolini e Ana Julia MarchiElenco Ana Paula Glasenapp Baacuterbara Schmitt Jamile Assini Juliana Medeiros Monique Becker Mayla Voss Patriacutecia GlasenappForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

141 ndash O Poeta SolitaacuterioTexto Douglas ZuninoElenco Carlos Eduardo PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

Foto

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TERCEIRO

ENSAIO

142 ndash FimDireccedilatildeo Arno Alcacircntara JrTexto Arno Paulo TarciacutesioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

143 ndash Programa Piloto Especial TV CapivarasDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba de OliveiraElenco Amanda Trentini Anice Tufaile Carlos Crescecircncio Carlos Pereira Flaacutevia Rodrigues Gabriela Kuhen Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Jamile Meneghel Janaina Meneghel Leonel Campos Poacuteli Vendrami Pollyanna Silva Rafael Almeida Roberta Regis Sebastiatildeo Crispim Shirlei Marcelino Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 24 de agosto de 1998

144 ndash Acrobacias ndash Duo AcrobaacuteticoDireccedilatildeo Mocircnica CostaElenco Afonso de Souza Alessandra Teodoro Faacutebio Cardoso Giseli Prada Luana Mocircnica Costa Soacutecrates Rufatto William Oliveira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 24 de agosto de 1998Grupo Grupo Acrobaacutetico Livres Leves e Loucos

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO PUXA BRASAS SABEMOS QUE

ESTAtildeO AIacute) ndash SEgUNDO SEMESTRE

145 ndash Na Loja de ChapeacuteusDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl Valentin

Elenco Carolina Andreoli Joatildeo Felipe BuergerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1996 sob mesma direccedilatildeo mas com elenco diferente

146 ndash EleonoraDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Nassau de SouzaElenco Talira dos Santos Sarah Beduschi Afonso de Souza Leandro Cunha Rocha Alexandre Jung Silvana CadoriForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e com elenco diferente A diretora desta montagem compotildee o elenco de 1997

147 ndash A Confissatildeo OuDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Maacutercia SedrezElenco Eloisa Borges Alexander Franzmann Joatildeo BuergerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Giba de Oliveira e com elenco diferente

148 ndash NusDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Wilfried KrambeckElenco Soacutecrates Ruffato Daniela Vogel Juceacutelia Deluca Tatiane ScozForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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TERCEIRO

ENSAIO

Estreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Giba de Oliveira com elenco diferente

149 ndash PeruachoDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Bernardete da SilvaElenco Leandro Cunha Rocha Adriana Krieck Alexandre Jung Micheli Dias Ana Paula ZuckiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e Giba de Oliveira com elenco diferente

150 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Giba de OliveiraElenco Silvana Becker Rita de Caacutessia Lopes Cristina Torri Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1994 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e com elenco diferente

O AMOR DE DOM PERLIMPLIM POR BELISSA EM SEU JARDIM

151 ndash O Amor de Dom Perlimplim por Belissa em seu jardimDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Frederico Garcia LorcaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mental

O CIO DAS FERAS

152 ndash O Cio das FerasSinopse montagem dramaacute-tico-musical e audiovisual (VT slides projeccedilotildees de 8 e 16 miliacutemetros) sobre poemas acompanhada de muacutesica ao vivo e apresentada em espaccedilo alternativo (semiarena) U m a homenagem aos dez anos do lanccedilamento do livro Poetas Independentes de Blumenau e O Fel do Cio de Rosane Magaly MartinsDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre os livros O Fel do Cio de Rosane Magaly Martins e Poetas Independentes antologia da Associaccedilatildeo de Poetas Independentes de Blumenau Elenco Anice Tufaile Mariane Quinto Sebastiatildeo Crispim Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Carlos Crescecircncio Carlos Pereira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de dezembro de 1998Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Apresentaccedilatildeo Fenatib para assistir agrave apresentaccedilatildeo do espetaacuteculo no Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau acesse o endereccedilowwwyoutubecomwatchv=s8oMh-G7nk4

Apresentaccedilatildeo Curupira para assistir agrave apresentaccedilatildeo do espetaacuteculo no Festival de Bandas Undergraud do Curupira acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=TrNOpr__aVU

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Afonso Nilson no anexo Livreto Espetacular

Foto

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TERCEIRO

ENSAIO1999

O RITUAL DE OFERENDAS

153 ndash O Ritual de OferendasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Joatildeo amp Insone PessoaElenco Sebastiatildeo Crispim Juliana Teodoro Afonso de Souza Anice Tufaile Juliana Von Czekus Janaina Meneghel Tamara Beims GuantildeabensForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaGrupo (CO)INCIDENTES

TEATRO DA TERRA

154 ndash O Camaleatildeo da Mata ndash A LendaDireccedilatildeo Alexandre Venera e Tadeu BittencourtTexto baseado em um argumento de Alexandre Venera e Tadeu BittercourtElenco Carlos Crescecircncio Juliana Teodoro Juliana Von Czekus Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 06 de Marccedilo de 1999Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesImportante esse espetaacuteculo faz parte do projeto Teatro da Terra apresentaccedilotildees que aconteciam no siacutetio Fazendarado dentro da mata

155 ndash Metafiacutesica de Caeiro ndash O VooDireccedilatildeo Alexandre Venera Texto argumento de Alexandre Venera e Daniel Curtipassi sobre poemas de Fernando PessoaElenco Carlos Crescecircncio Juliana Teodoro Juliana Von Czekus Afonso Barbosa Sebastiatildeo

Crispim e Adriana KrieckForccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 07 de agosto de 1999Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesImportante esse espetaacuteculo faz parte do projeto Teatro da Terra apresentaccedilotildees que aconteciam no siacutetio Fazendarado dentro da mata

Apresentaccedilatildeo para assistir agrave apresentaccedilatildeo deste espetaacuteculo acesse o endereccedilohttpyoutubeDdDXLwIWP3Y

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Luciano Bugmann no anexo Livreto Espetacular

A MORTA

156 ndash A MortaSinopse A Morta narra a busca de um poeta por sua musa inspiradora ateacute os confins aleacutem morte A Morta eacute um dos mais eloquentes manifestos modernistas contra as convenccedilotildeessociais impostas pela religiatildeo a moral a burguesia e que se torna um grande instigador agrave manifestaccedilatildeo artiacutestica puraDireccedilatildeo Alexandre Venera

As fotos deste espetaacute-culo foram gentilmente cedidas ao projeto pela fotoacutegrafa Maria Emiacutelia da Silva

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TERCEIRO

ENSAIO

Texto Oswald de AndradeElenco Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Carlos Crescecircncio Sebastiatildeo Crispim Afonso de Souza Analice Tufaile Janaina Meneghel Tamara Beims Guantildeabens Carlos Pereira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 28 de setembro de 1999Grupo Grupo de Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para ChoquesImportante uacuteltimo espetaacuteculo do Grupo de Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesLivreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Juliana Teodoro no anexo Livreto Espetacular

2000

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

157 ndash Restaurante MercenaacuterioDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Silvio Volpato Maicon Berg Crislene Caetano Juceacutelio Pandini Aritana Froeschlin Luiz Garcia Soares Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

158 ndash um Quarto de CasalDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Maacutercio Pereira CoutoElenco Luiz Garcia Soares Viviane de Cassio Luciana Fistarol Juliano BittencourtForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

159 ndash Bye Bye ParaiacutesoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Nassau de SouzaElenco Janete Nogueira Joseacute Luiz Cujik Joice Daiana Leite Susi da Silva Eloiacutesa Borges Priscila BarbieriForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

160 ndash Bicharada do BarrilDireccedilatildeo Alexandre Venera Texto Wilfried KrambeckElenco Luiz Garcia Soares Aritana Froeschlin Crislene Caetano Silvio Volpato Maicon Berg Juceacutelio PandiniForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000Importante texto jaacute encenado em 1991

161 ndash Vaca AmarelaDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto adaptaccedilatildeo do grupo sobre texto de autor desconhecidoElenco Marcia Schnaider Marciel Sabel Viviane Catarina Manoela Machado Fabriacutecia Hafermann Luciana Juliano Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

162 ndash O Uacuteltimo Seraacute o PrimeiroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Silvio VolpatoElenco Crislene Caetano Silvio Volpato Juceacutelio Pandini Aritana Froeschlin Luiz Garcia Soares Maicon BergForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

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TERCEIRO

ENSAIO

163 ndash Morreu deDireccedilatildeo Ariane RegisTexto Ariane RegisElenco Ricardo Koehler Ariane Regis Patriacutecia CenziForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

164 ndash O Medo que CalaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alessandra RosaElenco Alessandra Rosa Suzana Soares Elton Girelli Tiago Freitas Cintia Viventi Gabriela Koehler Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

165 ndash Pigmaleatildeo e GalateaDireccedilatildeo Mauro Ribas NetoTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera Elenco Patriacutecia Cenzi Gabriela Koehler Ricardo Koehler Luiz Garcia Soares Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000Grupo Grupo de Clowns Mimos e Cia

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

166 ndash O Livro ProibidoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Carlos CrescecircncioElenco Caroline Selhorst Jenifer Fischer Shawn Nicolai Bernardo Azevedo Marcos Sebastiatildeo Crispim

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

167 ndash O Porco e o Morto de FomeDireccedilatildeo Mauro Ribas NetoTexto Fabiano SchlosserElenco Silvio VolpatoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000Grupo Grupo Clowns Mimos e Cia

168 ndash Concerto de OrquestraDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Danuacutebia Pereira Sonia Nogara Daniela de Oliveira Ceacutelia Cleacuterice Gabriela Caminha Sebastiatildeo Crispim Tiago FreitasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

169 ndash O Mendigo ou o Catildeo MortoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Bertold BrechtElenco Janete Nogueira Ricardo Koehler Susana Stein Paulino Junior Gabriela KoehlerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000Importante texto jaacute encenado em 1986 dentro do espetaacuteculo Classe Glacecirc sob direccedilatildeo de Alexandre Venera com outro elenco

170 ndash Guernica em BlumenauDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de texto de Fernando ArrabalElenco Gabriela Koehler Joice Daiana Leite Joseacute Luiz Cujik Priscila Barbieri Tiago Freitas

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TERCEIRO

ENSAIO

Juliana RodriguesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

171 ndash O Califa da Rua do SabatildeoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Artur AzevedoElenco Silvio Volpato Juceacutelio Pandini Crislene Caetano Aritana Froeschlin Alexandra Batisti Patriacutecia LenziForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

2001Natildeo houve montagens

2002

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

172 ndash A SituaccedilatildeoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Luiacutes Fernando VeriacutessimoElenco Adriana Dellagiustina Rodrigo DemeacutetrioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

173 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Patriacutecia Mara Martins Silvio Mara Jacinto Solange WesmuthForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

Estreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 e em 1997 sob mesma direccedilatildeo mas com elencos diferentes

174 ndash PeruachoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Bernadete da SilvaElenco Ester Cunha Rodrigo Demeacutetrio Adriana Dellagiustina Elias Lana Paulo VasconcelosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1997 com direccedilatildeo de Alexandre Venera e Giba de Oliveira e em 1998 com direccedilatildeo de Juliana Teodoro as trecircs montagens possuem elencos diferentes

175 ndash A galinha que chocava pedrasDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Hermes Altemani e Nery GomideElenco Solange Wasmuth Patriacutecia Mara Martins Silvia Mara Jacinto Sebastiatildeo Crispim Mauro Ribas NetoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

176 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Ester Cunha Rodrigo Demeacutetrio Elias Lana Adriana Dellagiustina Paulo VasconcelosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 com direccedilatildeo de Alexandre Venera e em 1998 com direccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sempre com elencos diferentes

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TERCEIRO

ENSAIO

177 ndash Nosso Reino por um Bom GuerreiroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Solange Wasmuth Mauro Ribas Neto Patriacutecia Mara Martins Silvia Mara Jacinto Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

178 ndash NusDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Wilfried KrambeckElenco Adriana Dellagiustina Elias Lana Ester Cunha Paulo Vasconcelos Rodrigo DemeacutetrioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1997 com direccedilatildeo de Giba de Oliveira e em 1998 com direccedilatildeo de Juliana Teodoro sempre com elencos diferentes

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

179 ndash A Exceccedilatildeo e a LendaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Andreacuteia de Souza Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

180 ndash DelicadezaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Kosowky e Dino BuzzatiElenco Dilma da Silva Flavia Faustino

Joaquim Wolff Bruna RudolphoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

181 ndash Camaradas MeacutedicosDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Andreia de Souza Pamela Cacircndido Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

182 ndash EquivalecircnciaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Kosowky e Dino BuzzatiElenco Flavia Faustino Joaquim Wolff Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

183 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Hannah Theis Amanda Mendes Pamela Cacircndido Angela Otto Bruna RudolphoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 em 1997 e em 2002 sob mesma direccedilatildeo mas com elencos diferentes

184 ndash Melhor natildeo tecirc-los masDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Janice PezottiElenco Simone Tambosi Sebastiatildeo Crispim Angela Otto

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TERCEIRO

ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

185 ndash No Bar da ZuleicaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletiva sobre textos de Pedro DiasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

Estupefatos os atores balanccedilam a cabeccedila esfregam os olhos voltam ao cronograma Alguns durante a leitura emitem fortes gargalhadas outros se lamentam Por fim o mais corajoso dentre eles resolve arriscar

ndash Desses 185 espetaacuteculos quantos realmente satildeo do NuTE e quantos satildeo montagens do JOTE-Titac

ndash Todos sem exceccedilatildeo foram montados pelo NuTE Optei em natildeo misturar espetaacuteculos NuTE com espetaacuteculos JOTE-Titac

ndash Vocecirc quer dizer que aleacutem dessas 185 montagens ainda existem as peccedilas do JOTE-Titac

ndash Exatamente

Frenesi exclamaccedilotildees descontinuas risos e salivas explodem no ar

ndash Mas isso eacute impossiacutevel Se o grupo durou 18 anos eles teriam que montar uma meacutedia de dez espetaacuteculos por ano para atingir esse nuacutemero alucinante Deve haver algum erro

ndash Olha tem aqui vaacuterios textos ndash Bicharada do Barril Nus Funesta Noite Senhoras e Senhores Nosso Reino Por um Bom Guerreiro entre tantos outros ndash que foram escritos para o JOTE-Titac aparecem no livro Jogos de Teatro 12 anos de Teatro em Blumenau Vocecirc deve ter cometido algum equiacutevoco natildeo eacute possiacutevel

ndash Natildeo natildeo natildeo eacute nada disso quem estaacute fazendo confusatildeo satildeo vocecircs O que acontece eacute o seguinte muitos textos como esses que vocecirc

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TERCEIRO

ENSAIO

citou originalmente foram escritos para os Jogos de Teatro e consequentemente muitos deles foram montados nos Jogos de Teatro Contudo fora dos Jogos a Escola NUTe tambeacutem utilizava de forma didaacutetica esses textos Natildeo sei se vocecircs sabem mas a proposta baacutesica do curso de formaccedilatildeo dado pela Escola NUTe era de que o aluno pudesse ldquoaprender fazendordquo Assim todo semestre as turmas montavam alguns espetaacuteculos que eram encenados dentro de uma mostra de final de curso Esse tipo de montagem faz ressonacircncia com uma seacuterie de forccedilas as quais vetorizei nesse cronograma como Teatro Escola Paralela a essa composiccedilatildeo vetorial corre dentro do NuTE um tipo distinto de forccedilas as quais vetorizei como Teatro Experimental Este segundo vetor atravessa as grandes montagens do NuTE Montagens que se utilizam de textos consagrados como Macbeth por exemplo mas que por vezes tambeacutem se utilizam de textos vindos do JOTE-Titac como por exemplo Senhoras e Senhores Seria um desrespeito de minha parte catalogar Macbeth e desprezar Senhoras e Senhores jaacute que ambos satildeo espetaacuteculos-NuTE

ndash Tudo bem podemos ateacute estar de acordo com sua anaacutelise Mas por favor nos diga como eacute que vamos dar conta de montar um espetaacuteculo que apresenta a histoacuteria de 185 montagens Isso eacute irrealizaacutevel Mesmo se montarmos uma pequena cena sobre cada um deles digamos que cada cena tenha apenas dois minutos teremos ao final aproximadamente seis horas de espetaacuteculos

ndash Seis horas para o terceiro ensaio fora os demais Isso eacute loucura vamos ter um espetaacuteculo com mais de dez horas

ndash Bem Acho que vocecircs todos reconhecem uma influecircncia de Bob Wilson sobre Alexandre Venera natildeo

Black-Out Salivas secas seguem gargantas agrave dentro Dois atores se aproximam e prometendo devolver o cachecirc pago rendem homenagem ao capitatildeo Nascimento ldquopedindo para sairrdquo o excesso lhes tenciona abandonar os ensaios Percebo minha imbecilidade mais uma vez tarde demais Tento acalmar o grupo ningueacutem me ouve ningueacutem ouve ningueacutem Todos falam e gesticulam ao mesmo tempo num pandemocircnio generalizado e dramaacutetico jaacute que deixamos as cadeiras confortaacuteveis da plateia e estamos todos no palco De repente por fora algueacutem abre a porta do grande auditoacuterio A estranheza da cena agravequela altura da tarde fez calar os gestos e as matracas falantes

Eacute provaacutevel que o leitor suspeite dada agrave intempestividade do acontecido da veracidade do relato que segue Por isso faccedilo questatildeo de ressaltar que exatamente como aconteceu eacute que conto ou melhor o conto eacute exatamente o que iraacute acontecer

Pelo silecircncio da porta entra ningueacutem menos ningueacutem mais que Alexandre Venera dos Santos Ele caminha lentamente ateacute o palco calccedila jeans camiseta esverdeada chinelos Havaianas traz consigo um pequeno sorriso ao lado esquerdo da boca Sobe ao palco alguns sussurros orelhais lambem o silecircncio da porta

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TERCEIRO

ENSAIO

Ao se aproximar do grupo todos percebem um excecircntrico meio bigode de um lado ndash em contraponto a uma excecircntrica meia costeleta de barba de outro ndash no rosto de Alexandre Alguns atores se cutucam trancando o riso Por fim Alexandre diz

ndash Oi gente e aiacute porque estatildeo todos quietos eacuteeacuteeacuteeacute vocecircs gostaram do meu bigode novo eacute isso

O riso se espalha pelos quatro cantos do teatro sinto alguns quilos a menos em meus ombros Laacute pelas tantas num tom de brincadeira algueacutem resolve perguntar onde afinal de contas Alexandre esteve ateacute entatildeo e ele responde que encontrou dificuldades para fazer a barba Alguns risos depois o grupo resolve bastante animado mostrar para Alexandre a cronologia que viacutenhamos discutindo Impressionado Alexandre sorri

ndash Puxa que bacana Na minha cabeccedila era coisa de pouco mais de cinquenta espetaacuteculos Quer dizer que montamos tudo isso mesmo Que legal

ndash Sim mas estamos com medo desse excesso

ndash Medo O excesso natildeo conversa com o medo O oposto dele sim Aleacutem do quecirc isso tudo vai ficar super bom na peccedila que estamos levantando vai cair como uma luva azul

ndash Mas eacute exatamente isso o que nos assustandash Isso o quecirc a luva azul Entatildeo vamos

cortar ela Olha pessoal natildeo tem motivo pra nenhum receio na verdade enquanto assistia

agrave projeccedilatildeo me passou umas ideias que se vocecircs toparem pode ficar joiandash todas as almas olham para Alexandre Depois de uma pausa ele diz

ndash Vocecircs gostam do Bob Wilson ndash um quase desespero atravessa o grupo Sinto que eacute hora de me redimir e entro na conversa

ndash A gente chegou a fazer um caacutelculo raacutepido Venera e a conclusatildeo foi de que seria inviaacutevel e desgastante um espetaacuteculo tatildeo longo

ndash Desgastante Muito pelo contraacuterio vai ser tonificante energeacutetico ndash batendo uma matildeo na outra

ndash Por menores que sejam as cenas o volume de montagens vai impor horas ao espetaacuteculo A natildeo ser que faccedilamos um corte talvez possamos escolher os mais importantes e com eles criar as cenas para esse capiacutetulo

ndash Mas quem vai definir o criteacuterio que vamos usar para escolher esse ou aquele espetaacuteculo Eu natildeo me sinto agrave vontade pra fazer isso Natildeo Eacute o seguinte eu natildeo abro matildeo temos sim que acolher todos eles Afinal eacute NuTE para todos ou natildeo eacute

ndash Mas como como vamos falar de todos os espetaacuteculos

ndash Noacutes natildeo precisamos fazer isso Os espetaacuteculos falam por si Aleacutem do quecirc seria redundante criar uma cena para fazer falar uma cena Natildeo vejo propoacutesito nisso

ndash Entendo cada vez menosndash Natildeo se trata de entender mas de projetarndash Projetar

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TERCEIRO

ENSAIO

ndash Isso O que vocecircs acham da gente pegar esse tal de EXUBERANTE CRONOLOGIA ESPETACULAR DO TEATRO EXPERIMENTAL E DO TEATRO ESCOLA NUTEANESCOS eou PUTA QUE PARIU ESSES CARAS MONTARAM 185 (cento e oitenta e cinco) ESPETAacuteCULOS e projetar do jeito como ele estaacute

ndash Sem mudar nadandash Sim Podemos deixar assim como estaacute

Acho que ficou bom Minha sugestatildeo eacute mudar apenas o nuacutemero de projetoresprojeccedilotildees Ao inveacutes de utilizar um uacutenico projetor como vocecircs fizeram hoje podemos projetar trecircs imagens ao mesmo tempo um espetaacuteculo no centro um agrave esquerda e um agrave direita Cada projeccedilatildeo teraacute uma duraccedilatildeo de dez segundos Assim em 1 minuto teremos 18 espetaacuteculos e em pouco mais de 10 minutos fechamos os 185 O que vocecircs acham

Era uma excelente ideia Concordamos todos sem pestanejar Houve apenas uma discordacircncia Metade dos atores insistia que seria melhor mais neutro de nossa parte apenas projetar o cronograma jaacute a outra metade acreditava que durante a projeccedilatildeo deveria haver interferecircncias atores no palco encenando dialogando com a projeccedilatildeo Depois de algum debate Alexandre e a maioria do grupo se direcionam para a segunda opccedilatildeo mas o problema do criteacuterio de seleccedilatildeo dos espetaacuteculos retorna jaacute que seria impossiacutevel em dez minutos passar por todos os 185 O grupo de uma forma geral concorda que uma vez resolvida a questatildeo do criteacuterio de seleccedilatildeo as interferecircncias

cecircnicas potencializariam o espetaacuteculo Seria preciso selecionar entre oito e doze espetaacuteculos para que em cada minuto aproximadamente possa acontecer uma cena ou entatildeo elaborar uma uacutenica accedilatildeo sobre os escolhidos Durante o embate surge a proposta de questionar o leitor a esse respeito Nesse sentido a opiniatildeo do grupo acabou consensual apenas o leitor estaria autorizado a realizar essa seleccedilatildeo

Foi o que fiz Dessa enquete realizada atraveacutes do blog surgiu a lista de espetaacuteculos que compotildeem o Livreto Espetacular

201

registro do curso lsquotreinamento cotidiano do atorrsquo da esquerda para direitagiba de oliveria alexandre

venera dos santos regina simas carlos simioni peacuterola aacutelvaro alves andrade pepe sedrez milena

sentados ivan joseacute aparecido dos santos carlos crescecircncio e carlos alberto dos aantos

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QUARTO

ENSAIOQUARTO ENSAIO ndash 04 DE MAIO DE 2015

Segunda-feira de TrabalhoNo reloacutegio ponto marcam 07h30minImagem Insistente Apolo X Dioniso

ndash Bom dia Espero que estejam todos bem acordados Hoje o ensaio vai ser puxado pessoal Taacute todo mundo bem disposto ndash os atores sinalizam que sim Alexandre prossegue ndash Minha proposta eacute retomarmos o esquema de trabalho do Segundo Ensaio Achei que funcionou bem naquele dia

ndash Aquele com os aperitivosndash Exatamente o que vocecircs achamndash Boa ideiandash As cenas ficaram bem boas mesmondash Vamos utilizar os mesmos aperitivosndash Natildeo Eu montei cinco jogos novos Com

a bandeja do Segundo Ensaio natildeo daria certo pois nosso tema agora eacute outro A intenccedilatildeo hoje eacute focar toda energia na Escola de Teatro do NUTe Levantar cenas sobre a Escola

ndash Vamos poder escolher os aperitivos novamente

ndash Acho que sim natildeo vejo problema desde que haja consenso entre vocecircs Tenho apenas uma ressalva Aleacutem do jogo de aperitivos que

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QUARTO

ENSAIO

vocecircs vatildeo escolher gostaria que todos os grupos jogassem com o Aperitivo Livretante

ndash Como assimndash O Aperitivo Livretante eacute um aperitivo

anexo agrave bandeja deste ensaio Aleacutem dos cinco aperitivos que seratildeo servidos existe essa espeacutecie de Experiecircncia do Fora Eacute um sexto aperitivo que natildeo entra na bandeja da escolha A ideia eacute que cada grupo escolha um aperitivo para disparar suas cenas e junto a este quando estiverem encenando permitir ressonacircncias com o Livretante

ndash Deixa ver se entendi Funciona da mesma forma que o Segundo Ensaio mas agora ao inveacutes de um aperitivo vamos trabalhar com dois Um que a gente escolhe e outro que vocecirc jaacute definiu

ndash Eacute quase isso Vocecircs natildeo precisam dar conta de encenar todo o Livretante a ideia eacute que vocecircs o acionem sobre as cenas Que ele ajude na composiccedilatildeo que esteja acoplado de alguma forma Eacute um ldquoplusrdquo um a mais sobre aquilo que vocecircs montarem Mas claro natildeo se sintam na obrigaccedilatildeo de fazer dessa ou daquela forma O mais importante eacute criar com liberdade Os aperitivos servem para ajudar vocecircs a encontrar algo Agora se eles em algum momento dificultarem essa pesquisa abandonem sem medo joguem fora os aperitivos e passem ao prato principal

ndash Prato principalndash Claro a cena de vocecircs O aperitivo eacute

apenas uma bengala a funccedilatildeo dele eacute disparar

a cena nada maisndash Cenas sobre a Escola NUTe ndash Isso Escolacecircnicas cenicasescolaresndash E os locais de ensaio temos que usar os

mesmosndash Os locais satildeo vocecircs que escolhem A

diferenccedila eacute que desta vez vamos precisar de cinco grupos dois grupos a mais Tudo bem ndash os atores dividem olhares aos poucos vatildeo se aproximando e sem nenhuma palavra cinco grupos surgem no palco

ndash Oacutetimo Jaacute temos os cinco grupos Maravilha Mais alguma pergunta pessoal Natildeo Nada mais Entatildeo garccedilom por favor a bandeja

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QUARTO

ENSAIO

Caro leitor

convidamos vocecirc agora a provar dos nossos aperitivos cecircnicos na cor cinza

que incluem as cartas bocircnus

ldquoaperitivos livretantesrdquo

vaacute em frente bom experimento

APERITIVOS CEcircNICOSeou nutrientes para

composiccedilatildeo de mundos

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ENSAIO

Composiccedilatildeo de Mundos

Enquanto os grupos pesquisam seus espaccedilos cecircnicos Alexandre fuma um dois trecircs cigarros Consegue para ele e tambeacutem para mim um copinho de cafeacute na secretaria da Carona Escola de Teatro Seduzido pela cafeiacutena resolvo fumar um cigarro tambeacutem Ao teacutermino desse estimulante abastecimento fisioloacutegico iniciamos nossa andanccedila

Os cinco grupos selecionaram como espaccedilo de ensaio os seguintes locais

Grupo I ndash (O)Caso ndash corredor do terceiro piso do Teatro Carlos Gomes onde na deacutecada de 80 foram apresentados espetaacuteculos como O Tuacutenel

Grupo II ndash Poratildeo do Teatro ndash local onde o NUTe realizou as Oficinas de Base

Grupo III ndash Grande Auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes ndash Auditoacuterio Heinz Geyer

Grupo IV ndash Pequeno Auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes ndash Auditoacuterio Willy Sievert

Grupo V ndash Antiga Sede-Secretaria do NUTe ndash espaccedilo que deixou de existir com a reforma do Teatro Carlos Gomes em 2002

Os atores que ensaiam no espaccedilo (O)

Caso utilizam a teacutecnica do Joatildeo Bobo como aquecimento Um ator se posiciona entre outros dois e se lanccedila livremente para frente e para traacutes onde estes o apanham trazendo de volta ao centro-meio do jogo O movimento eacute revezado por todos os atores que hora fazem a rede hora o Joatildeo Bobo

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No Poratildeo do Teatro sobre uma mesinha improvisada dois atores disputam uma queda de braccedilo Os demais em volta fazem torcida gritante e apostam dinheiro no vencedor

O grupo que ensaia no Grande Auditoacuterio percorre o palco realizando o que parece ser um estudo sobre a rede eleacutetrica disponiacutevel Fazem anotaccedilotildees caacutelculos discutem a impedacircncia a amperagem

Alguns atores da plateia do Pequeno Auditoacuterio aplaudem o que parece ser um desfile de moda que se realiza atraveacutes dos demais atores no palco

Na antiga sala-sede do NUTe um uacutenico ator de peacute estaacute cercado pelos demais que o reverenciam sentados sobre seus proacuteprios calcanhares em estranhos movimentos lanccedilam os braccedilos acima da cabeccedila e curvam-se ateacute o chatildeo Quando retornam ao iniacutecio do movimento bradam em coro mestre mestre mestre

Alexandre natildeo interfere Apenas observa os grupos Por vezes sorri por vezes passa a matildeo no cabelo usando os dedos da matildeo direita como pente agraves franjas que lhe caem sobre a testa Depois dessa primeira rodada claro que um cigarrinho vai muito bem melhor ainda se acompanhado daquele cafezinho que se consegue na secretaria da Carona Escola de Teatro Uma respirada algumas tragadas e estamos prontos para continuar

Voltamos ao Poratildeo Os atores em silecircncio formam um ciacuterculo de costas Cada qual olha numa direccedilatildeo a sua frente de modo

que nenhum deles consegue olhar os demais Alexandre achou curioso Sentados em duas cadeiras improvisadas permanecemos por alguns minutos mas nada acontece A tensatildeo da queda de braccedilo havia se esvaziado Em cena apenas o silecircncio e o distanciamento entre os atores Aguardamos mais alguns minutos Nada Alexandre comeccedila a coccedilar a cabeccedila olha pra mim faz menccedilatildeo de que vai intervir levanta-se mas ao comeccedilar a falar o dorso da matildeo esquerda do primeiro ator atinge com muita forccedila a face do segundo o que faz com que o dorso da matildeo esquerda do segundo ator atinja a face do terceiro O mecanismo se repete ateacute atingir a face do primeiro ator Quando isso acontece o ator que iniciara a accedilatildeo num abrupto movimento de 180 graus nos olha com violecircncia escaacuternio e certa simpatia dizendo

Alguns de noacutes achaacutevamos que tiacutenhamos que montar espetaacuteculos com mais frequecircncia Mas quase ningueacutem tomou partido tatildeo abertamente por um dos dois projetos de NuTE jaacute que eles tinham comeccedilado mais ou menos juntos o Experimental e a Escola com Alexandre e Wilfried O Wilfried sempre mais com a ideia da escola e o Alexandre sempre com a ideia dos espetaacuteculos era mais ou menos assim (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 24)

Ao finalizar a fala numa velocidade incriacutevel o grupo desfaz a configuraccedilatildeo circular e retorna ao braccedilo de ferro agrave balbuacuterdia agrave torcida e agraves apostas Venera deixa escapar um susto Com os olhos esbugalhados escreve algo num bilhete aproxima-se dos atores e como quem faz uma aposta num dos combatentes

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A cerimocircnia continua mas agora o ator do projetor multimiacutedia veste um professoral jaleco branco Retira de um dos bolsos uma caneta laser e apontando para a imagem projetada inicia o que parece ser uma aula dedicada a uma turma de ensino meacutedio

ndash Bem como vimos em nossa uacuteltima aula a escola NUTe vinha pipocando desde os primeiros anos do Nuacutecleo de Teatro Experimental Num primeiro momento os cursos satildeo ministrados por Wilfried Krambeck que logo na sequecircncia se transforma em coordenador-pedagoacutegico possibilitando que outros membros do nuacutecleo ministrem cursos Atenccedilatildeo pessoal menos barulho por favor isso aqui pode cair na prova Noacutes vamos chamar essa primeira fase da escola NUTe de Krambeck in Cursos Sobre isso noacutes conversamos bastante em nossa uacuteltima aula espero que todos estejam lembrados Quem faltou nesse dia e natildeo quer tomar bomba no exame recomendo estudar o livro da paacutegina 85 agrave 111

ndash Jaacute a segunda fase da escola NUTe se potildee em movimento quando o nuacutecleo comeccedila a trazer importantes nomes do teatro nacional os quais ministram cursos que desencadeiam o processo sem volta agrave primeira Escola Livre de Teatro de Santa Catarina Gostaria que vocecircs anotassem tambeacutem este ponto temos certeza de ser a primeira Escola Livre de Teatro do Vale do Itajaiacute poreacutem algumas pessoas acreditam que o NUTe possa ser a primeira Escola Livre de Teatro de toda Santa Catarina Sendo ou natildeo algo fundamental que acontece nessa segunda

joga o bilhete sobre a mesa A cena natildeo para Suavemente deixamos o poratildeo Na antiga Sala-Sede do NUTe o ritual de aclamaccedilatildeo ldquomestre mestre mestrerdquo segue sem nenhuma novidade Alexandre se irrita e interrompe a cena Pergunta ao grupo se haacute algum motivo para tanta repeticcedilatildeo O grupo se dissolve em torno do uacutenico ator de peacute e se refaz em torno de Alexandre Novamente com o mesmo cerimonial repetem ldquomestre mestre mestrerdquo Ainda mais irritado Alexandre balanccedila a cabeccedila numa desaprovaccedilatildeo que mastiga fogo pelos olhos o que deixa a cena muito engraccedilada Sem poder conter acaba me saindo uma gargalhada Imediatamente o grupo abandona Alexandre e me circula dizendo ldquomestre mestre mestrerdquo Continuo rindo e Alexandre acaba achando graccedila tambeacutem Por fim um ator que estava separado do grupo liga o projetor multimiacutedia e todos os demais passam a reverenciar a imagem projetada dizendo ldquomestre mestre mestrerdquo

dr joseacute ronaldo faleiro

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fase eacute que os alunos NUTe tecircm a possibilidade de assistir a aulas de Thiers Camargo Irene Ravache Joseacute Possi Neto Roland Zwicker Jorge Cherques Walmor Chagas Pepita Rodrigues Eduardo Dolabella Vamos chamar essa Segunda Fase da Escola NUTe de Grande Mestres

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Contudo ndash retorna o ator professor - se vocecircs fizeram a tarefa de casa que deixei semana passada jaacute sabem que dentre tantos dois cursos foram fundamentais nesse processo Eles satildeo citados veementemente em quase todas as entrevistas realizadas pela pesquisa e publicadas no blog wwwnuteparatodoswordpresscom Ganha um ponto positivo na prova quem primeiro me disser o nome dos professores que deram esses cursos

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Muito bem eacute isso mesmo Trata-se em primeiro momento do curso de Aprimoramento em Teatro Universal dado por Joseacute Ronaldo Faleiro e alguns anos mais tarde o curso Treinamento Cotidiano do Ator dado por Carlos Simioni e Ricardo Pucceti

Joseacute Ronaldo Faleiro natural de Porto Alegre retorna ao Brasil depois de longa estadia na Franccedila ndash de 1972 a 1986 ndash onde defenderaacute sua tese de doutorado ndash La Formation de lacuteActeur agrave partir des Cahiers dacuteArt Dramatique de Leacuteon Chancerel et des Cadernos de Teatro dacuteO Tablado Aceita voltar por insistecircncia

de Olga Reverbel entatildeo professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que havia sido convidada a lecionar temporariamente na licenciatura em artes da Universidade Regional de Blumenau (Furb) Faleiro acaba assumindo aleacutem da pesquisa e do ensino tambeacutem a chefia da Divisatildeo de Promoccedilotildees Culturais nesta universidade Uma vez em Blumenau sofre grande impacto ao assistir O Homem do Capote e Outros Seres espetaacuteculo que lhe pareceu muito proacuteximo ao teatro contemporacircneo europeu Impressionado com o fato de um grupo de teatro amador do interior de Santa Catarina estar realizando montagens com elementos pesquisados por um teatro que vinha acompanhando em especial na Franccedila e na Alemanha passa a se aproximar do entatildeo Nuacutecleo de Teatro Experimental

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Em maio de 1987 e em marccedilo de 1988 Faleiro ministra para o NUTe o curso de Aprimoramento Teoacuterico Praacutetico em Teatro Universal o qual conforme podemos observar na inscriccedilatildeo deste aluno consistia do seguinte programa

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ndash O curso mobiliza novas forccedilas e intensifica

o combate entre as jaacute existentes ndash escolar e experimental ndash dentro do nuacutecleo Mais que isso Faleiro torna-se uma espeacutecie de mestre dos nutes

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Nutes em busca de Nutrientes encontram em Faleiro uma referecircncia teatral Passam a frequentar sua casa emprestam livros de sua biblioteca pessoal um impressionante acervo sobre teatro que superava em muito as bibliotecas da regiatildeo Cabe lembrar

que estamos na deacutecada de 80 natildeo existe internet a dificuldade de acessar produccedilotildees contemporacircneas eacute imensa a maior parte das informaccedilotildees se encontra apenas em material impresso importado e caro Generosamente esse senhor disponibiliza parte de seu tempo sua casa e sua biblioteca a esses jovens No recorte aperitivo que recebemos da entrevista realizada com Roberto Murphy jogo nuacutemero 2 eacute possiacutevel perceber isso com mais clareza

Ele trouxe uma biblioteca de teatro Todas as paredes da casa dele eram repletas de livros E tinha um palco no meio onde tudo era livro de teatro de arte em geral mas basicamente teatro O banheiro da casa dele era cheio daqueles Aquelas coisas de guardar sapatos aquilo era cheio de livros E a gente ia pra laacute passava a tarde laacute ele fazia uma torta de maccedilatilde com mel e chaacute de natildeo sei o quecirc E conversa conversa Aquilo foi nutrindo muito a gente E ele comeccedilou a ter contato com o Wilfried com todos os fundadores laacute do NuTE e comeccedilou a haver um fervo muacutetuo Aquilo ali foi revolucionaacuterio O contato do Faleiro com o Alexandre foi demais E isso provocou em todos noacutes porque eu me considero um disciacutepulo deles todos desses dois principalmente assim como Giba eacute tambeacutem como Pepe eacute (entrevista com Roberto Murphy paacuteginas 6-7)

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Um bom exemplo desse contato que Murphy nos fala eacute o espetaacuteculo Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes concebido e dirigido por Alexandre Venera contando com assessoria de Ronaldo Faleiro E assim bem nutrido este Nuacutecleo de

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Teatro Experimental teraacute condiccedilotildees alguns anos mais tarde de vir a ser Nuacutecleo de Teatro Escola Olha pessoal o barulho taacute demais Natildeo quero colocar ningueacutem pra fora hoje mas se for preciso vai pra direccedilatildeo sim senhor Os nossos amigos que jaacute estatildeo com duas advertecircncias sabem que mais uma visita ao diretor acarreta suspensatildeo correto Eacute muito chato isso de ter que ficar parando a aula pra pedir silecircncio Quero que todo mundo anote o que vou passar no quadro agora Eu disse todo mundo O colega natildeo vai anotar por quecirc Isso natildeo eacute desculpa meu caro se esqueceu do caderno em casa pega uma folha emprestada anota e depois passa a limpo Pessoal atenccedilatildeo isso aqui com certeza vai cair na prova

Ascenccedilatildeo e Queda do Impeacuterio NuTe

Primeira Fase ndash Krambeck in CursosSegunda Fase ndash Grandes Mestres

Terceira Fase ndash Nuacutecleo de Teatro EscolaQuarta Fase ndash Intrigas decadecircncia e morte

ndash Na aula de hoje estamos vendo os principais acontecimentos entre a Segunda e a Terceira Fase Mais propriamente as condiccedilotildees de possibilidade que permitiram essa passagem Jaacute conversamos sobre a importacircncia de Joseacute Ronaldo Faleiro e agora iremos falar um pouco sobre o curso dado por Carlos Simioni e Ricardo Pucceti Treinamento Cotidiano do Ator24

24 Durante a pesqui-sa encontramos um registro audiovisual deste curso o qual soma cerca de 60 mi-nutos Para assistir ao curso Treinamen-to Cotidiano do Ator acesse o endereccedilo wwwyoutubecomatchv=YBxOZogxf0A

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

Em 1991 o NuTE que estaacute passando a ser NUTe jaacute dispotildee em seu curriacuteculo de importantes montagens O Homem do Capote e outros Seres Variante Woysek-Mauser Macbethrsquos uma interferecircncia na histoacuteria A ousadia experimental bem como a insistente pesquisa em Artaud e Grotowski chamam a atenccedilatildeo do grupo fundado por Luiacutes Otaacutevio Burnier jaacute na eacutepoca referecircncia internacional em Antropologia Teatral Trata-se do Laboratoacuterio Unicamp de Movimento e Expressatildeo LUME Ou como eacute chamado atualmente Nuacutecleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp

() a gente chamou muito atenccedilatildeo do pessoal do LUME pessoal do Teatro Antropoloacutegico Eugenio Barba a gente se aproximou muito dessa linha de trabalho A gente foi Se era experimental

carlos simioni

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ali mesmo foi mais do que nunca Soacute que nessa eacutepoca exata eu acho que deixou de ser Teatro Experimental e passou a ser Teatro Escola (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 58)

ndash Como vocecircs podem perceber pela citaccedilatildeo acima esse curso intensifica as forccedilas experimentais dando-lhes vazatildeo permitindo ressonacircncias com a Antropologia Teatral Ao mesmo tempo fortalece as forccedilas escolares deixando o terreno pronto para a travessia da segunda agrave terceira fase onde se vai consolidar definitivamente o NUTe como Escola de Teatro O que parece irocircnico aqui eacute que a filiaccedilatildeo experimental se potencializa justamente como escola Dizendo de outra forma enquanto natildeo havia uma identidade a se remeter enquanto o inominaacutevel operava a experimentaccedilatildeo era caoacutetica e livre a partir do momento em que se reconhece uma filiaccedilatildeo que se constroacutei uma casa que se torna senhor proprietaacuterio da sua morada comeccedila a ser importante defendecirc-la contra os invasores e zelar por sua manutenccedilatildeo O devir experimental se reorganiza na identidade escola

() quando a gente montou Apocalypsis ainda natildeo tava dando aula natildeo Tava comeccedilando a montar a Escola Com Apocalypsis noacutes trouxemos mais um grupo de fora pra dar um curso de uma semana onde todo mundo entrava agraves sete e meia da manhatilde e saiacutea agrave uma da tarde da aula E daiacute tinha mais uma turma agrave noite pra quem natildeo podia durante o horaacuterio comercial neacute Esse curso com o LUME o Simione que eacute antropologia teatral pura Noacutes com Apocalypsis apresentamos pra levantar uma grana pra ajudar a pagar a vinda desses caras pra caacute E nessa eacutepoca comeccedilou a vir a terceira

fase que seria quando noacutes montamos a escola e comeccedilamos a dar aula (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 150)

ndash Os registros que permaneceram do curso e que estatildeo disponiacuteveis na biblioteca ndash wwwnutecombr ndash mostram a importacircncia dada ao momento Alguns que chegaram a ser datilografados possivelmente para serem utilizados em aulas posteriores carregam tiacutetulos como Anotaccedilotildees Antoloacutegicas de um dia de Trabalho Sobre Orientaccedilatildeo de Carlos Simioni e Ricardo Pucceti Outros escritos agrave matildeo cuidadosamente conservados talvez por serem a base dos demais documentos revelam um pouco a atmosfera do encontro

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O ator professor faz uma pausa bebe um gole de aacutegua em sua garrafinha de refrigerante diet depois estaciona os olhos em sua plateia Alexandre e eu encostados na parede da sala fizemos esperar Apoacutes alguns segundos percebemos que os demais atores tambeacutem estavam nos olhando Por fim dois deles balanccedilam os braccedilos e um tanto constrangidos noacutes aplaudimos o grupo Um dos atores comenta que ateacute entatildeo foi o que conseguiram produzir Alexandre parabeniza o grupo faz questatildeo de cumprimentar um a um os atores Gosta em especial dos momentos em que o professor ator quebra seu personagem falando do jogo de aperitivo nuacutemero 2 Comenta que a cena estaacute maravilhosa Todos sorriem Alexandre repete ldquoMuito bom muito bom mesmordquo Um dos atores pergunta o que poderia ser melhorado O diretor comenta que apesar de tudo funcionar muito bem a cena criada corre o risco de essencializar uma persona substancializar o ator professor num sujeito-personagem Um dos atores argumenta que a intenccedilatildeo da repeticcedilatildeo miacutetica ldquomestre mestre mestrerdquo seria justamente deslocar o personagem substancializado agraves forccedilas que o colocam em movimento Alexandre acredita que isso eacute possiacutevel que de certa forma a ironia fabrica esse desequiliacutebrio na cena que a estrutura criada pelo grupo pode permitir uma desterritorializaccedilatildeo do bloco de informaccedilotildees e abri-lo agrave experiecircncia do puacuteblico Mas para isso acontecer seria preciso ir mais a fundo injetar mais deliacuterios aos jogos retirar um tanto da mensagem da historinha

Um dos atores questiona o motivo disso pergunta se a proposta deste dia de trabalho natildeo seria justamente contar um histoacuteria a histoacuteria da escola NUTe Num tom de deboche o mesmo ator questiona como seria possiacutevel fazer isso sem servir ao puacuteblico alguns blocos de informaccedilatildeo ao menos com pedaccedilos-trechos de sujeitos de espaccedilos de tempo e finaliza dizendo que o puacuteblico precisa ter onde se agarrar para conseguir experimentar a encenaccedilatildeo O diretor discorda veementemente Numa explosatildeo de entusiasmo questiona a importacircncia da histoacuteria do NUTe para quem e para quecirc serviria contar essa histoacuteria O grupo olha para mim eu me calo Alexandre pergunta novamente Tento responder que existe relevacircncia histoacuterica em muitas coisas feitas pelo Nuacutecleo que nosso trabalho vale como um registro dessas accedilotildees para as proacuteximas geraccedilotildees do teatro Alexandre balanccedila a cabeccedila em tom negativo diz que isso tudo natildeo passa de burocracia de discurso comercial que serve para aprovar projetos como este no Ministeacuterio da Cultura ou para conseguir recursos numa empresa

Artisticamente falando continua o diretor natildeo serve para nada ldquoA arte natildeo eacute imitaccedilatildeo da vida mas a vida que eacute imitaccedilatildeo de algo essencial com o que a arte nos potildee em contatordquo25 Ele faz uma breve pausa observa o grupo por fim numa respiraccedilatildeo profeacutetica sustenta que o maior interesse da arte eacute a vida A grande pergunta que a arte nos ajuda a colocar diz ele eacute Como Viver A arte e em especial o teatro nos permite acessar mundos que as representaccedilotildees 25 Antonin Artaud

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as regras as normas cotidianas natildeo permitem Vivemos todos presos enjaulados a liberdade convencional eacute apenas uma cadeia com mais espaccedilo A funccedilatildeo da arte eacute nos ajudar a ir aleacutem dessas grades estouraacute-las romper com elas Mas isso natildeo se encontra representando uma historinha sobre o NUTe Alias natildeo haacute nada menos NuTE do que contar uma historinha sobre o NUTe O NuTE natildeo montava espetaacuteculos para entreter as pessoas muito menos para esclarecer conscientizar convencer sobre algo A proposta sempre foi libertar as pessoas libertar o pensamento o delas e o nosso Muitas vezes talvez na maioria das vezes ateacute as pessoas saiacuteam dos nossos espetaacuteculos se perguntando lsquomas o que isso quer dizerrsquo ou lsquoacho que natildeo entendi direito a mensagem do espetaacuteculorsquo ou ainda lsquoo que vocecircs queriam passar com issorsquo As pessoas estatildeo viciadas em comprimidos de significaccedilatildeo e natildeo param de pedir mais uma dose O nosso teatro negava essa dose noacutes natildeo diziacuteamos nada os nossos espetaacuteculos natildeo queriam ensinar nada queriacuteamos sim permitir agraves pessoas pensarem mas pensarem por si porque cada um precisa encontrar sentido no espetaacuteculo o sentido natildeo eacute o mesmo para todos ele natildeo estaacute pronto eacute preciso inventaacute-lo procuraacute-lo ao seu modo No fim das contas era isso que todos os nossos espetaacuteculos queriam dizer construa o seu sentido procure por ele natildeo eacute faacutecil noacutes sabemos mas estamos juntos nessa procura26 Invente um sentido para vocecirc pois natildeo haacute sentido nenhum neste espetaacuteculo assim como natildeo haacute nenhum sentido na vida Eacute preciso a todo momento fabricar criar

26 Comentaacuterio de Joseacute Ronaldo Faleiro ao revisar este trecho do ensaio ldquoOs espe-taacuteculos do AVS pro-vocavam isso por sua fragmentaccedilatildeo pela fragmentaccedilatildeo da sua estrutura narrativa pela surpresa quanto ao desempenho dos atoresrdquo

inventar Agora essa operaccedilatildeo soacute funciona quando a compartilhamos com algueacutem Por isso as macro linhas de significaccedilatildeo da vida fazem tanto sucesso Ao aprisionar as pessoas elas permitem a experiecircncia comum de estar vivo dentro de uma cela Na igreja no shopping na academia nas novelas da Rede Globo estaacute tudo pronto natildeo haacute necessidade nenhuma de criar Isso eacute o oposto do que estamos fazendo aqui pois o que queremos eacute estourar as grades da representaccedilatildeo

Um ator toma a palavra se dizendo confuso com a quebra da representaccedilatildeo proposta pelo diretor questiona se a realizaccedilatildeo disso natildeo quebraria tambeacutem a fronteira entre arte e vida Alexandre gosta muito da questatildeo dizendo que eacute exatamente isso o que acontece pois nisso que estamos trabalhando ldquo() o limite eacute muito estreito entre o que eacute vida e o que eacute arte Porque eacute uma arte na qual se decide a questatildeo ndash como viverrdquo27 Seria possiacutevel aceitar as coisas da forma como estatildeo isso tambeacutem eacute um como viver e apenas representaacute-las e nada mais Mas para isso natildeo precisamos da arte isso natildeo eacute arte isso eacute consumo Serve para os que vivem na Falta para os que vivem na Fome Para os que querem consumir existem os shoppings os restaurantes as pizzarias aqui estamos procurando por outra coisa Algo difiacutecil de atingir difiacutecil ateacute de dizer Algo que de uma forma ou de outra todos procuram Alguns procuram no dinheiro acreditam que quando tiverem muita grana vatildeo encontrar outros procuram numa pessoa num amor

27 Jerzy Grotowski Conferencia realiza-da em 1971 no Teatro Ateneum Publicada em The Theatre in Po-land Especial abril-maio 1975

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encontrariam nela outros ainda na fama no fetiche para esses estaria na accedilatildeo de ser adorado por muitos ou ainda procuram no prazer na droga na comida no sexo Quantos estocircmagos encontramos todos os dias caminhando pelas ruas em busca sempre em busca quantas genitaacutelias saem de casa e vatildeo para a festa em busca sempre em busca quantas maacutequinas-caccedila-niacutequel registram dia a dia mais e mais ansiedades monetaacuterias Talvez os uacuteltimos humanistas de plantatildeo queiram fazer algo por eles Queiram ajudaacute-los Mas noacutes que natildeo temos certeza nem da nossa busca natildeo podemos ajudar ningueacutem Natildeo temos como salvar o mundo O que conseguimos fazer eacute pouco muito pouco e esse pouco eacute continuar procurando ao nosso modo atraveacutes da arte A grande diferenccedila entre essa multidatildeo da Fome-Falta e noacutes eacute que eles procuram por algo que lhes sacie o desejo enquanto noacutes procuramos mobilizar nossas vontades para inventar mundos formas de existir de experimentar a vida Trata-se de uma guerra entre as paixotildees tristes e as alegres

O grupo compartilha um momento de grande intensidade Um dos atores pergunta o que contrapotildee nossa alegria agrave representaccedilatildeo Ou seja qual seria exatamente o problema de contarmos uma historinha de passarmos uma mensagem ao nosso puacuteblico O problema responde Alexandre eacute que ao impor ao nosso puacuteblico um mundo provisoacuterio que fabricamos para nosso conforto pessoal mundo que lhes obrigamos a engolir goela abaixo roubamos

do nosso puacuteblico o que haacute de melhor de mais revolucionaacuterio na arte a produccedilatildeo de sentido produccedilatildeo de si produccedilatildeo de mundos

Se noacutes resolvemos o problema para nosso puacuteblico noacutes o alienamos noacutes o acorrentamos agrave fraacutegil saiacuteda que conseguimos encontrar Saiacuteda que geralmente natildeo eacute tatildeo boa quanto gostariacuteamos que fosse Um ator se dizendo um pouco confuso pergunta que problema se estaria tentando resolver O diretor responde que se trata sempre de um mesmo e uacutenico problema seja para a Arte para a Religiatildeo para a Ciecircncia O problema eacute Como Viver

O diretor propotildee que todos suspendam por alguns segundos seus assentos existenciais e que mergulhem sem medo de encontrar aquilo que jaacute sabem mas que se esforccedilam para esconder de si mesmos Ou seja

I ndash Que a vida natildeo tem nenhum sentidoII ndash Que enquanto estivermos vivos inevitavelmente iremos sofrerIII ndash Que ao final dessa vida sem sentido e acometida de dores iremos todos morrer tudo terminaraacute

Dizendo de outra forma a presenccedila absoluta da morte da finitude desse animal que somos nos obriga diariamente a inventar sentidos agraves nossas vidas Essa invenccedilatildeo pode se dar de vaacuterias formas A questatildeo eacute que algumas delas nos aprisionam enquanto outras nos libertam Aqui eacute onde podemos afirmar sem medo que a arte eacute superior agrave religiatildeo e agrave ciecircncia Pois se o padre e o cientista precisam convencer a todos

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que suas respostas satildeo as melhores quando natildeo em acessos de arrogacircncia as uacutenicas possiacuteveis noacutes artistas precisamos apenas de espaccedilo para criar e doar nossa arte Vocecircs entendem por que eacute tatildeo importante esvaziar a mensagem do espetaacuteculo Se nossa intenccedilatildeo eacute libertar as pessoas e com isso libertar a noacutes mesmos a interpretaccedilatildeo tambeacutem deve ser livre Natildeo podemos direcionar se natildeo queremos ser direcionados agraves grandes respostas agraves saiacutedas hegemocircnicas que durante muito tempo acreditou-se boas para todos Sabemos hoje que cada um precisa criar sua saiacuteda e assim experimentar uma vida livre

Voltando ao nosso espetaacuteculo Se pretendemos contar uma vida se nosso trabalho aqui se resume a expressar algo que foi vivido o que precisamos fazer eacute esvaziar as mensagens Esvaziar para que o puacuteblico possa preencher como achar melhor ou como conseguir Na arte a vida natildeo se expressa resolvendo a vida Isso eacute o mais importante ldquo() a vida soacute pode ser expressa na arte pela falta de vida e pelo recurso agrave morte por meio das aparecircncias da vacuidade da ausecircncia de toda mensagemrdquo (KANTOR 2001 p 201)

Vocecircs entendem isso Os atores sinalizam que sim agradecem a palestra Alexandre dando-se conta de que haviacuteamos passado um bom tempo com eles lembra-se dos outros grupos Pergunta se ainda possuem material para continuar Um ator sorrindo muito quer compartilhar uma ideia que considera brilhante Alexandre motiva o grupo a trabalhar Saiacutemos

Ao chegar ao Grande Auditoacuterio somos surpreendidos por relacircmpagos atravessando o palco Duas sete vinte e cinco impressionantes descargas eleacutetricas formam uma espeacutecie de parreira de uva eletromagneacutetica Do centro do palco um ator completamente nu levanta-se abre os braccedilos e pede

ndash Potecircncia maacutexima Imediatamente seu corpo eacute atravessado

pelos raios obrigando-o a uma danccedila caoacutetica que parece ao mesmo tempo alimentar-se de uma dor insuportaacutevel e de uma alegria febril Desfragmentando cada parte do seu corpo o ator comeccedila a numerar as atividades realizadas pelo NUTe no ano de 1993

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Assim que finaliza a uacuteltima frase os raios enfraquecem o ator oscila procura recuperar o focirclego um segundo ator lhe traz uma toalha branca Ele rejeita faz menccedilatildeo de querer continuar Os demais atores arrastam uma corda formando um quadrado em torno do ator eleacutetrico que agora ganha luvas de boxe e passa a lutar com sua sombra Mais uma vez

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lhe trazem a toalha ele lanccedila a toalha agrave plateia em sinal de desprezo e continua lutando Tambeacutem com luvas de boxe entra no ringue o ator oponente Ambos se estudam pesquisam a melhor forma de avanccedilar sobre o adversaacuterio caminham em passos danccedilantes O oponente aproveita um deslize do ator eleacutetrico e ataca

ndash Ateacute quando vocecirc acha que vai aguentarndash Vocecircndash Eu te fiz uma pergunta idiota ateacute quando

vocecirc acha que vai aguentarndash Eu eu natildeo sei mas Mas vocecirc foi

justamente vocecirc quendash Taacute taacute taacute Jaacute sei Mas isso passou

Estamos agora em outro momentondash Outro momento Como assim Eacute a minha

vida eu soacute tenho esta vida Vocecirc me garantiu que eu poderia

ndash E vocecirc pode eacute claro que pode mas como professor Convenhamos

ndash Natildeo Natildeo Natildeo desta vez Natildeo vou mais acreditar natildeo desta vez natildeo Natildeo Eu queria fazer cinema o teatro me pareceu um bom caminho Montar espetaacuteculos eu pensei vou montar bons espetaacuteculos que me ajudem a comeccedilar o meu cinema Eu estava fazendo isso quando vocecirc apareceu Apocalypsis Variante Woizec-Mauser Macbethrsquos Claro que eram eram sim bons espetaacuteculos Mas aiacute vocecirc veio me convencer de que eu tinha responsabilidades que natildeo seria possiacutevel sobreviver assim do teatro que eu tinha famiacutelia que precisava ganhar dinheiro e que isso e aquilo Vocecirc me

convenceu de que eu deveria montar uma escola de teatro Durante vaacuterios anos eu lutei contra essa ideia Meu amigo Wilfried sempre insistiu que deveriacuteamos fazer do NuTE uma escola de teatro mas meu projeto eram os espetaacuteculos Achava que a escola iria me atrapalhar Foi vocecirc quem me convenceu vocecirc e mais ningueacutem eu nunca quis isso e agora vocecirc vem me dizer que

ndash Natildeo haacute pra onde ir aqui eacute o auge Vocecirc quer ser professor o resto da vida

ndash Quero fazer arte Nosso trato era esse Eu daria aula para ganhar um dinheirinho e em troca poderia fazer minha arte

ndash Tudo bem eu lembro do nosso acordo Mas e eu o que estou ganhando com isso

ndash Eu tenho me dedicado a planejar aula cobrar mensalidade fazer relatoacuterios de atividade prestaccedilatildeo de contas borderocirc Vocecirc natildeo estaacute contente essa merda toda ainda natildeo basta

ndash Claro que natildeondash O que mais vocecirc querndash Quero tua almandash Mefistoacutefelesndash Ah Que coisa chata olha meu querido

eu tenho vaacuterios nomes Chame como achares que Mas espera espera ndash sorrindo ndash eacute verdade teve um outro professor mas isso jaacute faz muito tempo que me chamava assim Engraccedilado Mas e entatildeo vai vender

ndash Eu natildeo sei vender significa que vou para o inferno quando morrer eacute isso

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ndash Ah Ah Ah ndash gargalhada fatal ndash Que bobiccedila hein nego Isso de inferno eacute uma grande baboseira Deus e o diabo satildeo invenccedilotildees humanas demasiadamente humanas Nada disso existe Coisas que as titias contavam aos sobrinhos peraltas para se divertirem Ateacute que foi uma boa invenccedilatildeo durou vaacuterios seacuteculos mas hoje em dia Deus estaacute morto assim como toda a parafernaacutelia metafiacutesica que o cercava O que quero saber eacute se vocecirc vai ou natildeo vai me vender essa porra de alma Tocirc ficando nervoso

ndash Taacute tudo bem Mas afinal o que seria te vender minha alma entatildeo Se Deus estaacute morto ainda existe alma

ndash Natildeo natildeo Claro que natildeo babaca Essa alma que supostamente seria sua essecircncia seu eu verdadeiro em nada me interessa essa natildeo existe nem nunca existiu O que quero satildeo tuas experiecircncias de vida a maneira como vocecirc se relaciona com o mundo teus acordos poliacuteticos teu modus vivendi Se preferes uma palavra espinozeana tua eacutetica Vocecirc aceita

Ambos retiram as luvas de boxe os demais atores desatam as cordas do ringue Sentam-se na ribalta e olham para Alexandre Constrangido ele se levanta olha para traacutes agrave porta do auditoacuterio caminha um passo em direccedilatildeo Os atores ficam atocircnitos Eu me dou conta de que a cena terminou e aplaudo o grupo todos aplaudem O diretor retorna ao local de onde assistia ao ensaio retira um cigarro do maccedilo e propotildee ao grupo conversar ao ar livre A proposta eacute bem aceita Saiacutemos

Em frente agrave antiga sala do NUTe Alexandre

acende um cigarro e lembra do cafezinho Vai ateacute a secretaria da Carona Escola de Teatro e retorna com uma garrafa de cafeacute e vaacuterios copinhos e serve a todos Parabeniza o grupo pela cena Um dos atores comenta que se trata de um trecho que a intenccedilatildeo eacute desenvolver mais a sequecircncia O diretor pede para que se mantenha a forccedila cecircnica esta teria lhe impressionado muito Elogia a atuaccedilatildeo dos atores e a brincadeira com o tema claacutessico quase clichecirc da luta interna Acredita que ao problematizar um tema ao qual constantemente se recorre seja possiacutevel falar dele e ateacute se utilizar dele para dizer algo Chama a atenccedilatildeo do grupo para o que considerou uma pequena dificuldade as imagens atravessadas pelo conceito de alma Comenta que existe uma crise na filosofia e em especial na psicologia contemporacircnea sobre esse tema Sabendo que me dedico a estudar o conceito Alexandre me pede para falar um pouco a respeito

Acendo um cigarro tomo um gole de cafeacute e comeccedilo dizendo que gostei muito da cena Ficou muito forte pra mim o funcionamento em rede do sujeito Ou seja pareceu-me que o ator eleacutetrico depende para agir de toda uma rede em sua volta Tal qual a muacutesica de um raacutedio que soacute toca quando ligamos o aparelho agrave tomada de energia na sala de nossa casa O que geralmente esquecemos eacute que essa tomada estaacute conectada a um cabo que segue aos disjuntores estes por sua vez estatildeo ligados ao reloacutegio que contabiliza e distribui energia para a casa o qual estaacute ligado agrave rede de baixa tensatildeo que estaacute ligada atraveacutes dos

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transformadores acoplados aos postes agrave rede de alta tensatildeo essa rede de alta tensatildeo estaacute ligada a uma usina de distribuiccedilatildeo de energia essa usina de distribuiccedilatildeo estaacute ligada a uma usina de geraccedilatildeo de energia onde geradores acoplados agrave correnteza da aacutegua produzem energia eleacutetrica essa aacutegua estaacute ligada a vaacuterios rios esses rios a vaacuterios coacuterregos esses coacuterregos a vaacuterias nascentes essas nascentes ao barro agrave chuva e assim ao infinito

A mesma infinitude rizomaacutetica acontece em cada um dos componentes do raacutedio de onde sai a muacutesica Cada parafuso cada pedaccedilo de plaacutestico cada componente eletrocircnico ali presente eacute antecedido por uma rede infinita que o faz agir daquela forma e natildeo de outra A rede que antecede o capacitor eletroliacutetico e o obriga a agir de tal forma que possamos ouvir um programa de jazz em tal horaacuterio e em determinada frequecircncia Algueacutem conseguiria culpar responsabilizar ou afirmar que esse capacitor eletroliacutetico escolhe atraveacutes do livre arbiacutetrio que lhe foi concedido por Deus agir dessa forma Obviamente que natildeo

A rede que antecede a accedilatildeo humana eacute igualmente infinita Nossas escolhas resultam sempre da imposiccedilatildeo dessas redes O que conseguimos fazer eacute nos colocar agrave disposiccedilatildeo de algumas redes Podemos nos aproximar de algumas linhas de forccedila e nos distanciar de outras Mas isso eacute muito diferente de escolher a muacutesica que vamos tocar Esse raacutedio que somos natildeo escolhe sozinho a muacutesica que toca Ao mesmo tempo essa escolha tambeacutem natildeo eacute

feita por um capacitor eletroliacutetico dentro dele nem pela matildeo que ajusta a frequecircncia nem pelo locutor responsaacutevel pela programaccedilatildeo nem pelo muacutesico que compocircs a canccedilatildeo

ndash Mas algo em noacutes prefere ouvir essa e natildeo aquela muacutesica ndash interrompe um ator

ndash Sim mas que algo seria esse ndash pergunto ao grupo ndash Haveria uma substacircncia uma alma agindo dentro de vocecirc Vocecircs percebem como eacute ingecircnuo o pensamento atomista Pensar aquilo que quer em noacutes como uma unidade uma substacircncia isolada um Eu eacute o mesmo que dizer que quem escolhe a muacutesica eacute o capacitor eletroliacutetico do raacutedio Quando algo quer em noacutes esse algo estaacute em muitos eacute atravessado por muitos composto por muitos Multidotildees humanas e inumanas nos habitam e nos forccedilam a querer assim e natildeo de outra forma Haveria como culpar responsabilizar criminalizar individualmente o sujeito por tocar essa e natildeo aquela muacutesica ndash da mochila retiro O Crepuacutesculo dos Iacutedolos e leio um trecho do oitavo aforismo de Os Quatro Grandes Erros

Qual pode ser a nossa doutrina Aquela para a qual ningueacutem daacute ao homem suas qualidades nem Deus nem a sociedade nem os pais ou os antepassados nem ele proacuteprio () Ningueacutem eacute responsaacutevel pelo fato de existir dessa ou daquela maneira nesta ou naquela condiccedilatildeo neste ou naquele meio () Que ningueacutem seja mais tomado como responsaacutevel que o modo de existir natildeo possa mais levar a uma prima causa que o mundo nem como sensorium nem como espiacuterito seja mais uma unidade isto e somente isto eacute a grande libertaccedilatildeo ndash eacute por isso e unicamente por isso que foi restaurada a inocecircncia

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do devir A Ideia de Deus foi ateacute agora a principal objeccedilatildeo contra a existecircncia Noacutes negamos Deus negamos em Deus a responsabilidade eacute com isso e unicamente com isso que salvamos o mundo 28

Assim se Fausto vende sua Alma a Mefistoacutefoles natildeo eacute por escolha individual mas sim por ser a uacutenica accedilatildeo possiacutevel na rede que Fausto habita Acho que vocecircs acertam quando transferem o problema do sujeito para a eacutetica No fundo eacute isso Se sou uma multidatildeo ou se um coletivo de forccedilas me carrega com quais outras multidotildees traccedilo alianccedilas Ou seja que tipo de vida experimento se me aproximo dessa linha de forccedila se me distancio daquela

E por falar em eacutetica achei muito feliz o momento em que vocecircs evidenciam que a organizaccedilatildeo da Escola NUTe natildeo se fez a partir de uma disputa entre Alexandre e Wilfried Mas sim entre forccedilas infinitamente maiores que eles Imaginar essas forccedilas combatendo em um Alexandre isolado do mundo pode ser um recurso didaacutetico bastante eficiente mas eacute onde vocecircs correm perigo em minha opiniatildeo de serem capturados pela Identidade-Eu-Alma

Seria preciso distanciar suficientemente Alexandre de NUTe para que o asseacutedio eacutetico que parte de Mefistoacutefoles pudesse se evidenciar como Asseacutedio de Apolo Ou seja eacute Apolo quem quer sobrepujar atraveacutes da razatildeo da temperanccedila da organizaccedilatildeo as forccedilas criativas e caoacuteticas de Dioniso experimental O conjunto de forccedilas que estou nominando como Dioniso resiste por um bom tempo elas insistem lutam vocecircs compotildeem imagens excelentes

28 Friedrich Nietzs-che A Vontade de Po-der Aforismo 488

nesse sentido Se no final Dioniso abandona a guerra por cansaccedilo desgaste ou por realmente ter sido ultrapassado por Apolo se Apolo vence no final mais uma vez nos damos conta de que natildeo estaacute em jogo ldquo() nenhuma lsquosubstacircnciarsquo antes algo que anseia por fortificaccedilatildeo e que apenas indiretamente quer-se lsquomanterrsquo (ele quer ultrapassar-se)rdquo29

No exato momento que finalizo a citaccedilatildeo do aforismo o grupo que ensaia na sala ao lado interrompe a conversa com seu jaacute enfadonho

ndash Mestre mestre mestreO grupo com o qual estamos conversando

natildeo gosta da intervenccedilatildeo e pede gentilmente aos intrusos que retornem ao seu local de ensaio Sem lhes dar a miacutenima importacircncia continuam

ndash Mestre mestre mestreDe repente uma explosatildeo fumaccedila gritos de

dor um ator atingido na perna chora pedindo socorro Os atores intrusos olham para o ceacuteu e clamam

ndash Mestre mestre mestre Sobre nossas cabeccedilas desce num

paraquedas multicolorido o Ator-Professor que agora porta uma metralhadora de plaacutestico e dezenas de rojotildees os quais acende e despeja agraves gargalhadas Todos se afastam procurando local seguro mas o grupo intruso continua com a cena bizarra

ndash Mestre mestre mestreAo pisar no chatildeo o Ator-Professor-

Guerrilheiro inicia uma panfletagem

29 Friedrich Nietzs-che A Vontade de Po-der Aforismo 488

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Agrave matriacutecula no curso de teatro do NUTe ele convida os assustados atores escondidos os transeuntes os funcionaacuterios do teatro ndash que a essa altura jaacute haviam chamado a poliacutecia e a toda forccedila de seus pulmotildees exigiam explicaccedilotildees bem como responsaacuteveis pelo acontecido ndash e tambeacutem os passarinhos as lantejoulas e os caminhotildees Em meio a tantos convites o Ator-Professor-Guerrilheiro insiste em entregar o cartaz a uma furiosa funcionaacuteria de crispados dedos em riste a qual inicialmente esmaga o papel A4 no chatildeo sob seus delicados sapatos azuis de nuacutemero 43 recebendo-o logo na sequecircncia em sua boca pelas matildeos do Ator-Professor-Guerrilheiro que com certa brutalidade ali o coloca fazendo com que a funcionaacuteria furiosa se cale e se alimente do material o que soacute consegue com o apoio de um elevado nuacutemero de bofetadas e da ameaccedila de trocar o papel por dois rojotildees acesos

Dada a balbuacuterdia todos os demais que ensaiavam cada qual em local distinto agrupam-se em frente agrave antiga sala do NUTe O grupo que estava no pequeno auditoacuterio reclama o cartaz utilizado na panfletagem Acusam o grupo do Ator-Professor-Guerrilheiro de roubar seu aperitivo argumentam que o cartaz estava no jogo de aperitivos de nuacutemero 4 escolhido por eles O grupo exige a devoluccedilatildeo imediata do aperitivo jaacute que passaram boa parte do ensaio trabalhando sobre ele

Infelizmente eles natildeo ouvem e continuam encenando ou o que quer que fosse aquilo que estavam fazendo O Ator-Professor-Guerrilheiro sobe nos ombros dos demais atores de seu grupo que estranhamente sossegaram a cantilena miacutetica e agora estatildeo perfilados em formaccedilatildeo de piracircmide humana Assim que chega ao topo para desespero e pavor de todos dispara sua metralhadora

() natildeo deu uma semana um mecircs depois ele tava montando um curso laacute dentro do Teatro de interpretaccedilatildeo pra cinema e TV e vem uma ordem da direccedilatildeo do teatro () vieram laacute jogaram o cartaz na minha mesa e ldquoolha noacutes temos um contrato com uma outra escola que vai fazer cursos de cinema e viacutedeo Vocecircs satildeo teatro natildeo pode ter duas escolas fazendo a mesma coisa aqui dentrordquo Foi pra mim um baque grande ldquopocirc como eu faccedilo interpretaccedilatildeo de cinema e TV haacute mais de cinco anosrdquo Tinha programas o documentaacuterio do Hermann Baumgarten eacute do terceiro curso que a gente fez Gerou um documentaacuterio neacute aniversaacuterio da TV Galega Entatildeo tinha Aiacute vem essa ldquoPocirc mas quem eacute que taacute dando esse cursordquo ldquonatildeo isso eu natildeo posso dizer diz a gerente do teatrordquo (entrevista com Alexandre Venera paacuteginas 84-85)

Ace

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Os disparos atingem dois atores o carro funeraacuterio da prefeitura e um peacute de abacate no estacionamento Com o sangue correndo pela calccedilada o motorista de smoking ndash por sinal um beliacutessimo smoking preto ndash avaliando os estragos na lataria do carro e com as folhas do abacateiro pedindo clemecircncia eu me sinto na obrigaccedilatildeo de restabelecer a ordem Atraveacutes dos poderes que me foram confiados pelo Ministeacuterio da Cultura no afinco de coordenar este projeto convoco todos os atores que compotildeem este grupo terrorista e sumariamente os demito

Numa gargalhada estrondosa o Ator-Professor-Guerrilheiro do alto de sua piracircmide humana sem a menor consideraccedilatildeo agrave minha posiccedilatildeo coordenativa aciona mais uma vez sua terriacutevel metralhadora

Houve aiacute uma coisa Um mal-estar que eu natildeo sei de onde surgiu e o Alexandre tomou a decisatildeo de mandaacute-las embora E nesse iacutenterim como na eacutepoca elas faziam parte do meu grupo do Arte Atroz ndash eu acho que aiacute surgiu essa rusga neacute ou vocecirc eacute Arte Atroz ou vocecirc eacute NuTE ndash ele as mandou embora e eu me vi e natildeo me arrependo disso jaacute conversamos vaacuterias vezes sobre isso eu me vi na obrigaccedilatildeo e faria de novo eu apoiei a saiacuteda delas saindo junto com elas E nessa eacutepoca a gente pensou ldquoporque natildeo montar uma escola de teatro que natildeo seja o NuTE que fosse nossardquo (entrevista com Giba de Oliveira paacutegina 19)

O grupo que ensaiava no pequeno

auditoacuterio exige justiccedila Levantando faixas e cartazes iniciam uma manifestaccedilatildeo em prol dos direitos aperitivantes Em marcha repetem frases de efeito como ldquoo grupo unido jamais

seraacute vencidordquo ou ldquo um dois trecircs quatro cinco mil enfia a metralhadora dentro do barrilrdquo ou ainda ldquoqueremos o nosso aperitivordquo e o mais recorrente entre todos ldquomonstro monstrengo monstrinho devolva jaacute o nosso aperitivinhordquo

Tento negociar com o grupelho terrorista oferecendo aperitivos natildeo ensaiados e ateacute mesmo algumas citaccedilotildees filosoacuteficas peccedilo que em troca eles libertem os aperitivos que estatildeo fazendo de refeacutens Alguns atores terroristas demonstram interesse na proposta A metralhadora de plaacutestico faz uma pausa Eles conversam e apoacutes alguns minutos chegam a um acordo Aceitam a proposta mas querem um helicoacuteptero para a fuga Apenas para ganhar tempo digo que vamos tentar conseguir peccedilo que mantenham a calma O grupelho terrorista ameaccedila sacrificar mais um dos aperitivos do grupo protestante caso suas exigecircncias natildeo sejam imediatamente atendidas A tensatildeo eacute enorme Alexandre me pergunta se consigo proteger a descida pela escada Digo que posso tentar mas que seria loucura descer agora o risco de ser atingido eacute grande demais Ele insiste eu monto a proteccedilatildeo Escada abaixo ele corre mas no uacuteltimo degrau o Ator-Professor-Guerrilheiro percebe a movimentaccedilatildeo e dispara sem nenhuma compaixatildeo

() uma semana antes tava trabalhando e ali os jurados o pessoal que tava no juacuteri um deles era conhecido natildeo lembro quem mas ele ldquopocirc e Alexandre nada mais de teatrordquo Ah natildeo Uma hora saiu natildeo eacute maacutegoa mas eacute o tiro que tinha pra dar neacute ldquocara foi muito tempo inuacutetil fuacutetil que eu gastei queimei minha vida e nada apareceu

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neacuterdquo Hoje a gente taacute falando de uma escola neacute mas era assim uma uma coisa que ficava muito bairrista tinha que taacute andando em cima de cascas de ovos neacute cuidando pra natildeo quebrar porque por picuinhas gente que achava que tava lutando por um mercado por alunos (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 83)

Alexandre eacute atingido no ombro direito Mesmo ferido continua correndo Consegue chegar ao ldquoTudo por R$ 199rdquo da esquina Entra na loja Poucos segundos depois retorna com um helicoacuteptero vermelho em suas matildeos Em frente ao caixa raacutepido do Bradesco grita ao grupo terrorista que estaacute com o helicoacuteptero que iraacute deixaacute-lo ali na calccedilada Pede para que mantenham a calma que estamos cumprindo com todas as exigecircncias deles e que eacute a vez deles cumprirem com o combinado

O grupo terrorista concorda Os aperitivos do grupo protestante satildeo libertados Os atores do grupo protestante se emocionam abraccedilam seus aperitivos eacute um momento de muita comoccedilatildeo soluccedilos e laacutegrimas

O grupo terrorista desce a escada atravessa a rua estaacute cerca de poucos metros do helicoacuteptero quando chega a poliacutecia armada da cabeccedila aos peacutes com bolinhas de papel Temendo ter de passar pelos mesmos exames ultrassonograacuteficos impostos a Joseacute Serra durante o pleito de 2010 os atores terroristas se entregam satildeo algemados e levados sob aplausos ao camburatildeo Um suspiro de aliacutevio perpassa todos os demais Pergunto a Alexandre se estaacute tudo bem com ele Ele responde que sim mas que

precisa fumar um cigarro Sorrindo pergunta se quero um cafeacute respondo que sim e ele mais uma vez se dirige agrave secretaria da Carona Escola de Teatro Sentado no chatildeo encostado na parede do teatro comeccedilo a rabiscar alguma coisa em meu bloco de anotaccedilotildees Um aperitivo libertado soluccedila no colo de um ator ao meu lado Uma sensaccedilatildeo de chuva forte que termina se espalha pela calccedilada Entretanto ao levantar os olhos do papel-risque-rabisque vejo caiacuteda bem em minha frente a garrafa teacutermica da Carona Escola de Teatro Grito tentando avisar Alexandre mas eacute tarde demais Ele retorna peacute ante peacute de costas de dentro da secretaria com as matildeos estendidas acima do ombro O Ator-Professor-Guerrilheiro havia conseguido escapar Caminhava lentamente Na matildeo esquerda trazia a metralhadora apontada para Alexandre e com a matildeo direita tampava a boca do aperitivo que fazia de refeacutem

Os atores do grupo protestante vatildeo ao desespero

ndash Meu aperitivo meu pequeno aperitivondash Todo mundo quieto ndash exige o Ator-

Professor-Guerrilheiro - vocecircs me enganaram confiei minha cena a vocecircs minha grande cena meu melhor momento e o que foi que vocecircs fizeram comigo

ndash Calma ningueacutemndash Eu mandei todo mundo ficar quieto

porra

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Aiacute chegou um momento em que pros alunos jaacute natildeo compensava mais pagar a mensalidade da Escola e Entatildeo eles saiacuteram e me convidaram pra sair junto neacute As coisas jaacute natildeo estavam laacute muito boas pra mim natildeo estavam ruins natildeo mas jaacute natildeo me davam muito prazer as coisas no NuTE A gente tava fazendo uma montagem nova numa ideia de montagem nova e eu estava no pique do Grupo (entrevista com Peacutepe Sedrez paacutegina 30)

A poliacutecia ouve a rajada de tiros e retorna Apoacutes alguma perseguiccedilatildeo capturam o ator que finalmente se rende e eacute levando junto aos demais Alexandre esquece o cafeacute e acende um cigarro Fuma Os atores do grupo protestante estatildeo em estado de choque Possivelmente a psiquiatria moderna diagnosticasse o quadro como siacutendrome do pacircnico Balbuciam estranhas interjeiccedilotildees Um deles acredita estar sendo acometido por ataque cardiacuteaco outro enfartando a grande maioria grita que estaacute tendo um treco Pedem socorro ambulacircncia choram compulsivamente Por sorte passava pelo local um psiquiatra de maleta preta e guarda-poacute branco que gentilmente abriu uma caixa de medicamentos e disponibilizou antidepressivos a todos Foi uma festa Apoacutes medicaacute-los o meacutedico recomenda trecircs meses de afastamento do trabalho Sem pestanejar aceitamos desejando boas melhoras aos atores

Nesse instante os atores que vieram conosco do grande auditoacuterio se aproximam e em grupo solicitam abandonar o projeto Estupefato pergunto o motivo Eles sustentam haver uma contradiccedilatildeo teoacuterica de minha parte ao empregar simultaneamente a doutrina

da inocecircncia e da irresponsabilidade de Friedrich Nietzsche e utilizar a poliacutecia como soluccedilatildeo literaacuteria a um conflito ficcional Argumento que mantenho um carinho especial pelas contradiccedilotildees por me parecerem bem mais saudaacuteveis do que as interpretaccedilotildees puritanas mas que nesse momento natildeo fora proposital minha tentativa era problematizar a importacircncia de Apolo na questatildeo Como Viver O grupo rebate dizendo que ateacute entatildeo o que eu fazia era justamente o contraacuterio segundo eles apologia a Dioniso Eu me nego a aceitar o estereoacutetipo e ao mesmo tempo analiso que o vencedor em nossa cultura foi sim Apolo Crucificado que nossa necessidade de negar a morte se deve justamente a um excesso de zelo de cuidados de proteccedilatildeo de leis para com o indiviacuteduo e que trazer Dioniso de volta nos ajudaria a aceitar a vida como ela eacute finita e traacutegica Contudo o Dioniso puro sem misturas eacute tatildeo insuportaacutevel quanto o niilismo a que chegamos via cristianismo Euriacutepedes nos mostrou em As Bacantes algumas imagens Dioniso puro nos levaria a isso matildees servindo cabeccedilas de seus proacuteprios filhos em bandejas de prata Ou seja sem a temperanccedila de Apolo os deliacuterios de Dioniso tambeacutem nos fariam mal A pergunta entatildeo passa a ser como temperaacute-los como dar espaccedilo a ambas as forccedilas Nesse sentido a poliacutecia surge na cartografia para ilustrar a soluccedilatildeo cristatilde que desde a invenccedilatildeo do Livre Arbiacutetrio por Santo Agostinho sempre foi a mesma capturar Dioniso e obrigaacute-lo a se responsabilizar individualmente por seus atos A genealogia dessa histoacuteria conhecemos

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bem vai da penitecircncia agrave penitenciaacuteria O modelo cristatildeo da culpa responsabilidade individual e penitecircncia eacute adotado pelo ldquoEstado Laicordquo que constroacutei penitenciaacuterias para punir individualmente em cada cela os culpados Ou seja seria preciso psicologicamente falando ao mesmo tempo estourar as grades que prendem Dioniso e retirar Apolo da Cruz A meu ver a questatildeo colocada por Grotowski ndash Como Viver ndash passa por aiacute Minha tese interpretaccedilatildeo ou seja laacute o nome que se queira dar a isso eacute que NuTE tenta libertar Dioniso libertar as forccedilas avassaladoras animais sexuais bizarras criativas e selvagens em noacutes e NUTe tenta permitir que essa libertaccedilatildeo aconteccedila proporcionando nutrientes fiacutesicos e intelectuais aos nutes comer vestir pagar o aluguel beber conseguir experimentar e fazer algo com um conceito

Apesar da tentativa de conciliaccedilatildeo o grupo continuou irredutiacutevel jaacute havia tomado sua decisatildeo e parecia inclusive profundamente magoado traiacutedo ateacute Despedem-se prometendo escrever uma cartografia totalmente dionisiacuteaca onde natildeo haveraacute nem sombra de Apolo ldquovamos escrever uma cartografia agrave altura do que foi o NuTE Dioniso eacute um bom deus quando natildeo eacute negadordquo eles saem dizendo

Com um grupo preso um grupo doente e outro em busca de uma narrativa pura Alexandre e eu compreendemos que era hora de fumar um cigarro Fumamos Mas e agora o que fazer Sem atores natildeo haacute como produzir um espetaacuteculo Os dois grupos restantes

percebendo nosso abatimento fazem de tudo para nos animar Malabarismos piruetas cambalhotas enquanto um deles conta a piada do papagaio que engoliu um litro de vodca outro se dirige agrave lanchonete mais proacutexima e nos traz dois copos de cafeacute Por fim fazem uma beliacutessima propaganda e nos convidam para assistir agraves cenas em que estiveram trabalhando juntos Com um sorriso amarelo sabendo do esforccedilo dos dois grupos resolvemos apesar do cansaccedilo e da anguacutestia aceitar o convite Alexandre propotildee que ambos os grupos se apresentem no mesmo local para ganharmos um pouco de tempo e de corpo O local escolhido por unanimidade foi o Espaccedilo (O)Caso

Arrastamo-nos escadas acima Degrau a degrau e ainda mais um degrau A vida estava pesando alguns quilos a mais Alexandre emudecido volta e meia tocava com os dedos da matildeo direita nas paredes brancas do teatro De longe comeccedila a chegar uma cantilena fuacutenebre Em alguns atores haacute mais de uma laacutegrima agrave espera O deslocamento se assemelha muito a um veloacuterio Do uacuteltimo degrau que daacute acesso ao terceiro piso avistamos um caixatildeo vermelho Os atores se posicionam lado a lado e suspendem o caixatildeo passando a carregaacute-lo A cena eacute fortiacutessima Alexandre se emociona pede para ajudar um ator lhe cede uma alccedila A procissatildeo segue cantando cada vez mais alta a triste canccedilatildeo que anuncia o fim do NUTe

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Sentada no que parece ser uma apocaliacuteptica mesinha de bar onde repousam algumas garrafas vazias de cerveja ao lado de boa parte do mundo destruiacutedo empunhando a foice-clicheacute-ceifadora Dona Morte interrompe a procissatildeo para danccedilar um nuacutemero de hip hop Apesar de entediante e vulgar a performance recebe entusiaacutesticos aplausos Dona Morte fica satisfeita Permite agrave procissatildeo seguir A triste cantilena retorna Contudo alguns poucos metros adiante escutamos a famosa foice rasgando o piso do teatro Mais uma vez o cortejo eacute interrompido o caixatildeo eacute posto no chatildeo todos olham para traacutes Dona Morte balanccedila a cabeccedila em sinal afirmativo e aciona o play do portaacutetil surround system 3 em 1

Eu recordo que alguns anos depois muitos anos depois talvez em 2001 eu tomando cerveja com o Venera numa conversa muito divertida ele dizia que o iniacutecio da derrocada do NuTE o primeiro NuTE se deu quando o lsquoErsquo de experimental virou lsquoErsquo de escola Porque daiacute a tentativa de criar a escola foi nos institucionalizando nos burocratizando foi nos dando responsabilidades agraves quais nem todos estavam preparados principalmente os mais

Foto do espetaacuteculo A Morta gentilmente cedida pela fotoacutegrafa Maria Emiacutelia da Silva Para saber mais sobre a montegem consul-te o Terceiro Ensaio e o anexo Livreto Es-petacular Aparecem na Foto Juliana Von Czekus Carlos Cres-cecircncio Sebastiatildeo Crispim

jovens que eram a maioria absoluta (entrevista Dennis Raduumlnz paacutegina 25)

Stop Dona Morte volta a se sentar na mesinha Alguns atores lhes agradecem a gentileza ela acena suavemente e a caravana passa Chegando ao Espaccedilo (O)Caso o caixatildeo eacute cuidadosamente engatado na lateral esquerda onde havia para ele quatro correntes de argola duas para o centro e duas para as extremidades As correntes desciam do teto e uma vez acoplado a elas o caixatildeo criava quase espontaneamente um balanccedilo intermitente que dialogava com os movimentos do gigantesco boneco Joatildeo Bobo agrave direita do espaccedilo Entre os dois com uma luz esverdeada brotando do fundo um Tuacutenel

De dentro do Tuacutenel surge um Ator-Adolescente muito magro e franzino vestido de preto ao estilo Dark anos 80 Passeia pelo palco brinca com o Joatildeo Bobo experimenta o caixatildeo Por fim se aproxima de sua plateia e num tom quase confidencial como quem transcreve seu diaacuterio para um blog diz

Quando eu tinha quatorze anos do nada estava andando na rua XV de Novembro e vi um cartaz muito humilde em mimeoacutegrafo falando do Curso de Iniciaccedilatildeo ao Teatro e num impulso como se fosse uma epifania acabei me inscrevendo fui o inscrito 002 E lembro como se fosse hoje a primeira vez em que estive na Sala Verde no andar teacuterreo do teatro Fui recebido pelo Wilfried Krambeck e tambeacutem por aquele que depois eu saberia que eacute o Aacutelvaro Alves de Andrade Foram muito receptivos e fiz laacute esse primeiro curso de iniciaccedilatildeo ao teatro de marccedilo a julho de 1986

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Era um curso que tinha uma carga horaacuteria ateacute relativamente grande se pensarmos hoje carga de quatro meses Passaacutevamos por noccedilotildees baacutesicas de miacutemica de interpretaccedilatildeo de iluminaccedilatildeo E o curso preparava vocecirc para a experiecircncia radical que eacute colocar os peacutes pela primeira vez num palco () (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 1)

O Ator-Adolescente retorna para o Tuacutenel desaparece na luz verde Quatro atores rotacionam o Tuacutenel em sentido inverso fazendo com que iniacutecio e fim troquem de posiccedilatildeo A luz verde se apaga em seu lugar surge um rocho-azul-escuro-com-tonalidades-avermelhadas que preenche todo o espaccedilo O caixatildeo se abre range de dentro para fora uma matildeo se apoia nas laterais faz forccedila unhas arranham madeiras macabras sons estridentes aparece a segunda matildeo os braccedilos a cabeccedila O ator sai do caixatildeo atravessa o Tuacutenel para em frente ao Joatildeo Bobo e passa a espancaacute-lo com muita forccedila A cada descida atraveacutes de uma gravaccedilatildeo ruidosa o boneco fala

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Mas eu tenho que ser

educadorJoatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu tenho que ganhar

dinheiroJoatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu tenho que

ensinar Eu tenho que preencher borderocirc eu tenho que fazer a parte burocraacutetica tenho que administrar uma escola

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash E eu quero ser artista

Joatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu cheguei e comecei a dizer na minha primeira e uacutenica briga de saiacuteda do NuTE () ldquonatildeo cara eu quero ser artista a partir de agora eu natildeo quero mais preencher plano de aula escrever a lista de chamada de aluno se pagou a mensalidade quem natildeo pagou natildeo quero ver quanto foi a conta do telefone da escola porque a sala taacute suja eu tenho que acordar mais cedo pra buscar um caixatildeo de defunto pra peccedila que vai ser montada hoje agrave noite o nosso figurinordquo coisa que me tomava demais entende

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quando decidi ser artista foi muito velho jaacute mas eu passei eu acho a fazer mais arte agora

Joatildeo Bobo agrave Direita ndash Alexandre Venera em entrevista com Juliana paacutegina 67

O Ator continua surrando o Boneco ateacute furaacute-lo num pontapeacute agudo Um prolongado silvo de ar se espalha pelo ambiente refrescando a melancoacutelica sequecircncia de imagens O ator retorna para seu caixatildeo As correntes satildeo desatadas e a urna colocada no chatildeo Pela coxia direita entra em cena uma retroescavadeira amarela com a caccedilamba cheia de barro ela ergue o braccedilo e laacute de cima despeja-o lentamente sobre o caixatildeo Segue ao centro do palco apresenta uma dancinha tiacutepica desses modelos de maacutequina e sai

Os atores de ambos os grupos sentam-se no chatildeo e assim compreendemos que era

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QUARTO

ENSAIO

o final da sequecircncia Aplaudimos Alexandre agradece a disponibilidade dos atores de continuarem o trabalho mesmo depois de tudo que aconteceu Pede desculpas pelo cansaccedilo e pela impossibilidade de continuar com os ensaios comenta que natildeo tem condiccedilotildees de seguir adiante Mas antes de sair faz questatildeo de parabenizar ambos os grupos pela forma como compartilharam seus aperitivos Diz que foram muito felizes com a proposta de criar um Tuacutenel entre os aperitivos de nuacutemero 1 e 5 Eu lhe pergunto o que iremos fazer com os Aperitivos Livretantes que natildeo foram utilizados por nenhum grupo Ele me responde que natildeo consegue pensar em mais nada hoje pede para comunicar-me com ele caso eu tenha alguma ideia

Visivelmente abatido Alexandre deixa os ensaios Enquanto caminha de cabeccedila baixa procurando um uacuteltimo cigarro torto no maccedilo recebe um forte e emocionado aplauso dos atores restantes Ele se vira olha o grupo por alguns segundos Uma laacutegrima desce em seu rosto Caminha escada abaixo

Extremamente cansado mas vencido pela curiosidade aproximo-me de um ator do grupo que ensaiava no poratildeo e lhe pergunto o que havia naquele bilhete entregue pelo diretor durante a cena do braccedilo de ferro O ator retira do bolso o pedaccedilo de papel amassado e me entrega Nele eu leio

Eu acho que o NuTE falhou quando tentou ser apoliacuteneo porque todo o processo era dionisiacuteaco e na medida em que vocecirc tenta colocar Apolo

aquilo contrastava com as nossas naturezas mais primeiras Entatildeo eacute engraccedilado porque nessa dualidade apoliacuteneo e dionisiacuteaco e qual seria essa potecircncia ou impotecircncia Acho que era um grupo absolutamente dionisiacuteaco como artista que falhou muito quando tentou ser apoliacuteneo como docente (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 46)

Levanto o rosto e vejo os atores tristes emudecidos dobrando guardando o material utilizado em cena Decido ajudaacute-los Apesar de natildeo haver portas no Espaccedilo (O)Caso quando deixamos o local tive a impressatildeo de sentir um pouco o que sentiu Alexandre Venera ao fechar pela uacuteltima vez a porta do NUTe em 2002

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objeto cecircnico utilizado no espetaacuteculo lsquomaqbeacutete uma

interferecircncia na transmissatildeorsquo

Foto

Ch

arle

s S

teu

ck

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QUINTO

ENSAIOQUINTO ENSAIO ndash 08 DE MAIO DE 2015

Sexta-feira de Insocircnia03h43min

Imagem Insistente Solidatildeo

Nada Ningueacutem Nem mesmo uma negaccedilatildeo Vazio Deserto Naacuteusea Um gosto metaacutelico em minha respiraccedilatildeo fazia subir Descer Subir Descer Estranhas ondas a explodir espumas oxidaacuteveis no costatildeo de minhas veacutertebras Ao fechar os olhos sempre era arrebatado pelas imagens do uacuteltimo ensaio Meu estocircmago ou o que estivesse em seu lugar carregava minha alma aos buracos vazios de meu plexo Sem conseguir dormir passava as noites na internet Da paacutegina de e-mails ao Facebook do Facebook ao blog Nute Para Todos do blog agrave paacutegina do Orkut dos Fakes-NuTE do Orkut a um blog amigo e deste agrave paacutegina de e-mails Uma vez duas vezes toda a madrugada O ciacuterculo repetia repetia e mais uma vez recomeccedilava O que fazer Eu estava esgotado Natildeo tinha de onde arrancar forccedilas para convencer Alexandre novamente a dirigir o espetaacuteculo Pior bem pior que isso Na verdade meu assento beirava um precipiacutecio precisava continuar a montagem o projeto estava em meu nome e a prestaccedilatildeo de contas comeccedilaria logo logo a bater agrave porta

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QUINTO

ENSAIO

mas entendia agora pois experimentava em meu proacuteprio corpo um tanto dos motivos que levaram Venera a abandonar o teatro O que fazer Estava praticamente sem atores Contava com metade do elenco talvez nem isso um terccedilo do grupo Natildeo tinha recursos para continuar locando salas de ensaio nem para uma segunda seleccedilatildeo de atores os cheques jaacute haviam sido depositados Havia gastos com alimentaccedilatildeo hospedagem combustiacutevel uma boa parte das rubricas estava zerada O que fazer Eu natildeo conseguia dormir Tudo empurrava agrave mesma direccedilatildeo Parecia me restar apenas aquele caminho que haacute tanto teimava em natildeo seguir

Foi assim que exausto tomei a decisatildeo cancelar a montagem do espetaacuteculo Estava resolvido Precisava agora avisar o grupo Olhei o reloacutegio eram 05h47min Esperei ateacute as 08h30min e comecei a ligar para os atores que haviam permanecido ateacute o final do quarto ensaio Pareceu-me desrespeito com o processo terminar tudo por telefone assim natildeo lhes adiantei o assunto dizia apenas tratar-se de um ensaio agendado agraves pressas para a tarde daquela sexta-feira Por volta das 14 horas eles comeccedilaram a chegar

Como era de costume sentamos em ciacuterculo sem cadeiras Ao se perceberem como sobreviventes da montagem nada disseram sobre os demais atores Natildeo demorou muito contudo para se colocar em questatildeo a presenccedila de Alexandre Expliquei o momento que estaacutevamos atravessando retomei algumas

das principais motivaccedilotildees que desencadearam o projeto e sem muitas delongas anunciei ao grupo o encerramento das atividades Natildeo houve protesto todos compreendiam que era a uacutenica coisa possiacutevel a se fazer Um forte aperto de matildeo e uma laacutegrima escondida puseram fim aos ensaios Assisti ao uacuteltimo ator fechando a porta deitei-me no palco por um segundo e natildeo sei bem provavelmente o cansaccedilo extremo as tantas noites de insocircnia o momento conclusivo algo me fez dormir ali mesmo

Desta situaccedilatildeo Alice no Paiacutes das Teatrologias surgiram condensaccedilotildees e deslocamentos num sentido propriamente freudiano dos termos Sonhei que haviacuteamos terminado a montagem e estaacutevamos apresentando circulando com o espetaacuteculo Brasil afora Viajaacutevamos todos no Kombinutebus in Progress espeacutecie de ocircnibus em formato de Kombi ou Kombi em formato de ocircnibus que ia se fazendo agrave medida que viajava Visitamos muitas cidades quase sempre com razoaacutevel sucesso de puacuteblico e criacutetica Mas a cada apresentaccedilatildeo laacute estava eu na primeira fila anotando as cenas escrevendo o bendito roteiro Eu natildeo entendia porque continuava escrevendo mesmo depois da estreia era algo como uma obrigaccedilatildeo uma funccedilatildeo minha parte no espetaacuteculo Eu natildeo queria mais escrever estava cansado ansiava finalizar parar queria assistir ao espetaacuteculo Na passagem de uma cidade a outra um ator comenta comigo que a proacutexima apresentaccedilatildeo seria a uacuteltima A trupe comemora vamos para casa depois de tantos meses ndash ou seriam anos ndash na estrada

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QUINTO

ENSAIO

Sorrindo percebo uma chance enfim de assistir ao espetaacuteculo de nada mais fazer apenas relaxar e contemplar as cenas que com tanto esforccedilo ajudei a criar Convenccedilo a mim mesmo de que natildeo faz sentido descrever cenas de uma uacuteltima apresentaccedilatildeo tais anotaccedilotildees seriam inuacuteteis visto que todas as apresentaccedilotildees jaacute ocorreram Quando toca o primeiro sinal como de costume procuro meu lugar Tudo estaacute diferente eacute incriacutevel a sensaccedilatildeo as anotaccedilotildees que tanto fiz meras linhas escritas e reescritas vatildeo agora respirar Toca o segundo sinal meu corpo vibra Os atores se posicionam em cena Percebo a plateia completamente lotada Toca o terceiro sinal Nada O espetaacuteculo deveria comeccedilar mas os atores estatildeo paralisados todos olham para mim Uma gigantesca tela branca se abre e Alexandre aparece projetado nela O diretor agitado com dedos em riste exige que eu anote as cenas Toda a plateia olha em minha direccedilatildeo Subo no palco extremamente irritado e improviso um breve discurso onde argumento que natildeo faz o menor sentido anotar cenas de uma uacuteltima apresentaccedilatildeo A plateia entatildeo se levanta ergue os braccedilos e num macabro uniacutessono lanccedila a voz

ndash Que soacute se escrevam roteiros depois de estrearem os espetaacuteculos O melhor roteiro eacute aquele que se escreve na uacuteltima apresentaccedilatildeo

Assustado acordo encharcado de suor e palavras Provavelmente estava gritando pois algueacutem me pergunta se estaacute tudo bem e me oferece um copo drsquoaacutegua Em minha volta gargalhadas e comentaacuterios Saindo do transe

percebo aos poucos os atores dos quais havia me despedido recentemente Estou cercado por eles Envergonhado com a situaccedilatildeo e ao mesmo tempo agradecido pela acolhida natildeo consigo escapar aos risonhos pedidos de uma narrativa oniacuterica Passo a lhes contar o que se passou e foi nesse momento em meio agrave descriccedilatildeo do sonho que algo muito mas muito estranho aconteceu

ndash Perfeito eacute isso mesmondash Que incriacutevel foi exatamente por isso que

resolvemos voltarndash Mas eacute sincronicidade demais para minha

cabeccedila como eacute possiacutevelO grupo experimentava algo muito intenso

Atordoado eu natildeo compreendia absolutamente nada Frases e mais frases de urra viva conseguimos

ndash Parabeacutens cara vocecirc encontrou sabia que conseguiria

ndash Oacutetimo oacutetimo muito bom vamos tocar assim entatildeo

ndash Maravilha eacute isso mesmo eacute isso mesmoLaacute pelas tantas sufocado com a

comemoraccedilatildeo resolvo perguntarndash Mas afinal de contas do que diabos vocecircs

estatildeo falandoSilecircncio geral Todos me olham O ator mais

sorridente se decidendash Eacute uma brincadeira ou vocecirc realmente natildeo

percebeu que conseguiu encontrar a saiacutedandash Saiacuteda ndash comeccedilava a ficar irritado com a

situaccedilatildeo ndash Mas que merda de palhaccedilada eacute essa

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QUINTO

ENSAIO

Algueacutem pode me dizer o que estaacute acontecendo ndash Os atores se olham e caem na gargalhada Por alguns minutos que me pareceram horas freneticamente arregaccedilam dentes e bocas aos ares aos chatildeos a eles mesmos Eu permanecia sentado no piso madeirado do palco os atores que natildeo riam deitados riam em peacute Aos poucos um deles encontrou forccedilas para se acalmar e movido por uma compaixatildeo quase paterna sentou-se ao meu lado repousou sua matildeo esquerda em meu ombro e disse

ndash Saiacutemos daqui carregando uma forte sensaccedilatildeo de fracasso Era impossiacutevel ir embora Algueacutem natildeo lembro exatamente quem foi sugeriu uma cervejinha Fomos ao bar Depois de muito beber e muito falar nos demos conta de que o roteiro estaacute quase pronto de que faltam apenas as cenas do JOTE-Titac

ndash Sim mas o que estaacute pronto foi escrito para ser encenado por trecircs vezes o nuacutemero de atores que temos

ndash Aiacute eacute que vocecirc se engana Teu roteiro descreve as cenas que surgiram durante a Composiccedilatildeo de Mundos de cada Ensaio E nesses ensaios estaacutevamos sempre em grupos menores Alexandre nos pedia essa formaccedilatildeo em grupelhos Ou seja se pensarmos cada cena de forma isolada o roteiro que existe ateacute agora estaacute escrito para ser encenado pelo exato nuacutemero de atores que temos Certamente teremos um tanto de trabalho extra satildeo muitas cenas seria preciso fabricar energia para dar conta Mas todos queremos tentar voltamos para te dizer que queremos tentar

Nesse instante os demais atores mais calmos sentados em nossa volta repetem sorrindo

ndash Somos muito poucos para dividir queremos tentar

ndash Olha pessoal estou emocionado com isso tudo mas mesmo com esse sacrifiacutecio pessoal de cada um de vocecircs ainda estamos sem direccedilatildeo Alexandre natildeo vai voltar

ndash Mas as cenas jaacute estatildeo prontas Alexandre jaacute fez a parte dele Ele nos dirigiu e noacutes encontramos as cenas o processo de criaccedilatildeo estaacute pronto e registrado pelo roteiro Basta agora encenarmos

ndash Tudo bem tudo bem podemos ateacute conseguir encenar o que jaacute estaacute pronto Mas e o JOTE-Titac Foram treze ediccedilotildees treze anos de Jogos de Teatro eacute uma parte importante demais para simplesmente desaparecer do espetaacuteculo

ndash Vocecirc natildeo percebeu mesmo neacutendash Perceber o quecircndash Vocecirc resolveu isso no sonhondash Como assimndash Estaacute tudo pronto vocecirc soacute precisa colocar

no roteirondash Do que vocecircs estatildeo falando Noacutes nunca

ensaiamos nada sobre o JOTE-Titacndash O que acontecia no seu sonhondash Era diferente o espetaacuteculo estava

pronto eu natildeo estava anotando cenas de um ensaio mas de uma apresentaccedilatildeo da uacuteltima apresentaccedilatildeo

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ENSAIO

ndash De uma uacuteltima apresentaccedilatildeo sobre

ndash Sobre o NuTE era o nosso espetaacuteculo

ndash Entatildeo por que vocecirc natildeo faz exatamente isso

ndash Mas que piada eacute essa Natildeo faccedilo isso porque noacutes ainda natildeo terminamos o espetaacuteculo porque nunca houve uma apresentaccedilatildeo sobre Espera Espera Mas eacute claro eacute isso ndash iniciando com um sorriso e desenrolando em gritos ndash o JOTE-Titac Experimentando NuTE Natildeo temos uma apresentaccedilatildeo sobre o NuTE mas oito Mais que isso noacutes filmamos todo o evento desde o sorteio dos textos na quinta-feira agrave noite ateacute as apresentaccedilotildees no domingo Fomos aos ensaios de cada grupo registramos o processo se natildeo me engano temos ateacute uma entrevista com cada um dos grupos participantes Eacute isso Eu posso descrever tudo que foi filmado

ndash Ou editar produzir pequenos viacutedeos que possam ser projetados durante o espetaacuteculo

ndash Eacute uma linda paisagem escrever com imagem e som

ndash Maravilha talvez essa escrita imageacutetica-sonora abra o JOTE-Titac ao nosso puacuteblico permita uma efetiva experimentaccedilatildeo do processo Quase como se o JOTE-Titac pudesse dizer algo sobre si mesmo Ou seja ao descrever o processo da deacutecima quarta ediccedilatildeo do JOTE as ediccedilotildees anteriores ficaratildeo espreitando nas entrelinhas

ndash Vocecirc estaacute querendo dizer que o JOTE-titac eacute sempre igual

ndash Natildeo Longe disso Cada JOTE tem a sua singularidade ndash atuaccedilotildees textos cenas situaccedilotildees ndash nunca se repetem O deacutecimo quarto pra destacar apenas um ponto foi temaacutetico os textos deveriam necessariamente falar sobre o NuTE Isso nunca havia acontecido antes Agora o disparador com pequenos ajustes eacute basicamente sempre o mesmo

ndash Disparadorndash Estou falando do regulamento dos Jogos

de Teatro Por exemplo para que esse JOTE-Titac pudesse acontecer tivemos que montar uma comissatildeo organizadora Isso sempre se repete todo JOTE precisa de pessoas que organizem o festival Essa comissatildeo espalhou aos quatro cantos a notiacutecia de que iria acontecer entre os dias 16 e 19 de julho de 2009 na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau o 14ordm JOTE-Titac Estabeleceu datas para que os autores enviassem seus textos e para que os grupos fizessem suas inscriccedilotildees O formato permitido aos textos a composiccedilatildeo permitida aos grupos os precircmios etc Convocou um juacuteri para selecionar os textos e um juacuteri para avaliar os espetaacuteculos30 Uma vez que os textos estavam selecionados e os grupos inscritos a comissatildeo organizadora pocircde sortear os textos e os horaacuterios de apresentaccedilatildeo aos grupos inscritos o que aconteceu dia 16 agrave noite Antes do sorteio nenhum grupo sabia qual seria seu texto depois do sorteio cada grupo teve apenas dois dias para montar o espetaacuteculo jaacute que todos apresentaram no domingo dia 19

ndash Mas entatildeo quem dispara os Jogos eacute a

30 O juacuteri que selecio-nou e premiou os tex-tos foi composto por Noemi Kellermann Gregory Haertel e Tacirc-nia Rodrigues O juacuteri que avaliou e pre-miou os espetaacuteculos foi composto por Joseacute Ronaldo Faleiro Noe-mi Kellermann e Peacutepe Sedrez

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comissatildeo organizadora e natildeo o regulamentondash Claro que natildeo pois tudo que a comissatildeo

organizadora faz eacute seguir o regulamento Pra usar uma imagem dos nossos Ensaios anteriores eu diria que o regulamento eacute o Aperitivo Cecircnico dos Jogos de Teatro

ndash Bacana isso hein Que tal a gente copiar a ideia que Alexandre trouxe para o Segundo e Quarto Ensaios e propor aqui tambeacutem um Aperitivo Cecircnico

ndash Fazer do regulamento dos Jogos de Teatro nosso aperitivo cecircnico

ndash Excelentendash Sim sim vai ficar joiandash Taacute vamos colocar entatildeo Do Festival de

Teatro Universitaacuterio de Blumenau para o JOTE-Titac e do JOTE para um Espetaacuteculo NuTE Esse regulamento eacute uma viagem

Rindo sozinho eu me dou conta de que ningueacutem entendeu a piada

ndash Vocecircs natildeo sabiam que esse regulamento foi originalmente escrito para o Festival de Teatro Universitaacuterio de Blumenau

ndash O regulamento do JOTE-Titac era o regulamento do FITUB

ndash Quase isso Em 1987 quando se estava organizando a primeira ediccedilatildeo do Festival de Teatro Universitaacuterio de Blumenau Alexandre Venera que participava dos debates tomou frente agrave construccedilatildeo de um regulamento que serviria como base para o Festival Passa algum tempo ele aparece com o documento que natildeo

contemplava apenas grupos universitaacuterios mas sim todo e qualquer sujeito que de alguma forma tivesse interesse em experimentar fazer teatro Resultado o grupo organizador natildeo aprovou o regulamento Alexandre frustrado retira-se de cena A primeira ediccedilatildeo do Festival Universitaacuterio aconteceu de 27 de julho a 01 de agosto Ironicamente em dezembro deste mesmo ano o NuTE lanccedila o que acabaria se tornando um dos festivais de teatro mais livres e intensos do Brasil os Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas o nosso JOTE-Titac31

ndash Quer dizer que o Festival Internacional de Teatro Universitaacuterio de Blumenau era pra ter sido um grande JOTE-Titac

ndash Calma vocecirc estaacute reduzindo as coisas Para dizer alguma coisa sobre o FUTB ou FITUB como eacute conhecido atualmente sem falar bobagem seria preciso uma nova pesquisa talvez um novo livro digo um novo espetaacuteculo Esse evento eacute complexo demais para dois ou trecircs paraacutegrafos apressados Melhor a gente se preocupar com nossa montagem

ndash Tambeacutem acho Aliaacutes natildeo entendi ateacute agora como vai funcionar na praacutetica esse tal escrever com imagem e som

ndash Bem na verdade eu tambeacutem natildeo entendi ainda Mas se vocecircs toparem podemos dar uma espiada nas filmagens do JOTE Eu passei todas as fitas para o HD do meu notebook eacute soacute ligar e assistir ao material

ndash Bacana Mostra aiacutendash Satildeo mais de 20 horas de filmagem Tem

31 Aiacute o Festival a TV ia dar todo apoio e natildeo sei o que laacute Aiacute pocirc um cara laacute sugeriu Pascoal Carlos Mag-no que fazia mostras de Teatro Universitaacute-rias () E aiacute pocirc va-mos fazer um Festival Universitaacuterio () Aiacute eu assim ldquonatildeo mas se fi-zer outro tipo de Fes-tival eu tenho um re-gulamentordquo e fui pra casa e paacute escrevi datilografei Montei o primeiro regulamento do JOTE-Titac e en-treguei pra eles Nes-sa o Faleiro jaacute tava ali e batendo papo o Fa-leiro tambeacutem gostou e coisa mas a coisa era pra ser um pou-quinho mais glamoro-sa neacute Aiacute eu recolhi o meu regulamento Natildeo deu trecircs meses depois foi o primeiro JOTE-Titac (risos) (Entrevista com Ale-xandre Venera paacutegi-na 124)

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ENSAIO

muita coisa Por onde vocecircs gostariam de comeccedilar

ndash Que tal soacute pra variar um pouco comeccedilarmos do comeccedilo ndash risos

ndash Mas eacute uma boa mesmo Eu lembro que naquela quinta-feira agrave noite vocecircs fizeram uma recepccedilatildeo para os grupos Foi antes do sorteio dos textos Era um momento de boas-vindas algo como uma saudaccedilatildeo uma apresentaccedilatildeo dos Jogos de Teatro

ndash Deixa ver se encontro aqui ndash procurando no computador

ndash Eu lembro disso foi Alexandre quem fezndash Acho que vocecircs estatildeo se referindo a esse

momento aqui ndash mostrando as filmagensndash Esse esse mesmondash Olha que bacana sou eu ali na plateiandash Ondendash Ali ao lado da menina de vermelhondash Ok Entatildeo vamos abrir o editor de viacutedeo

recortar esse trecho aqui colar com esse esse aqui natildeo estaacute muito bom e esse tem problema no aacuteudio vamos ajustar todos nessa uacuteltima sequecircncia e finalizar Agora eacute soacute exportar e fazer o upload Estaacute pronto Jaacute podemos assistir ou baixar se preferirem diretamente na internet

wwwyoutubecomwatchv=_TcDrbZdmig

ndash Deu certo Todo mundo conseguiu assistir Se algueacutem estiver com problemas para

assistir por favor contate-nos num desses endereccedilos nuteparatodosgmailcom ou wwwnuteparatodoswordpresscom

ndash Pra mim pareceu bem tranquilo de acessar tem vaacuterias opccedilotildees Acessei clicando direto no hiperlink

ndash Ficou engraccedilada essa dobradinha Alex Stein X Alexandre Venera

ndash Tambeacutem gostei mas fiquei na duacutevida se recortar um trechinho de O Monstro de Nutenstein natildeo estraga a surpresa do espetaacuteculo

ndash Acho que natildeo bem pelo contraacuterio deixa o puacuteblico curioso a respeito dessa peccedila que levou vaacuterios precircmios inclusive o de melhor montagem

ndash Taacute divertido coloca mais um viacutedeo aiacutendash Qualndash O sorteio dos textosndash Isso O sorteio com os copos de cachaccedila

aquilo foi muito bomndash Beleza ndash depois de algumas bricolagens

digitais ndash sorteio etiacutelico pronto para acessar

wwwyoutubecomwatchv=GPwtjL1rtfY

ndash Cresce cresce crescendash Ficou bizarro com essa trilha de O Homem

do Capotendash Agora entendi Funciona melhor que eu

pensavandash Essa muacutesica fazia parte da sonoplastia de

Viacutedeo abertura Jote-Titac

Viacutedeo Jote-Titac Sorteio dos Textos

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O Homem do Capotendash Sim Sim chama-se Noite Ferrada32 Mas e

entatildeo o que vocecircs acharam vamos continuar com essa escrita imageacutetica-sonora Deu certo pra vocecircs

ndash Eu tocirc curtindo muitondash Eu tambeacutemndash Funciona cara funciona super bem Acho

que podes ir direto para o Aperitivo Cecircnico e dele para a Composiccedilatildeo de Mundos

ndash Como Aperitivo Cecircnico ficou o regulamento dos jogos de teatro

ndash Se tudo no JOTE-Titac eacute mesmo disparado por ele natildeo tem porquecirc ser outra coisa

ndash E a Composiccedilatildeo de Mundosndash Estou pensando em colocar como base

para essa Composiccedilatildeo de Mundos os oito textos que o juacuteri selecionou para o JOTE-titac Experimentando NuTE Que lhes parece

ndash Mas satildeo textos escritos por vaacuterios autoresndash Exatamentendash A Composiccedilatildeo de Mundos natildeo corre o risco

de ficar meio esquizofrecircnica Se a escrita de um autor jaacute eacute composta por centenas de milhares de pequenas almas o que dizer de uma escrita coletiva desse porte

ndash Rios de almasndash Cachoeirasndash Engarrafamento em Satildeo Paulo capitalndash Um imenso cardume de peixes no marndash Belas imagens-conceito meus caros

Pois eacute bem a poeacutetica desses fragmentos o que

32 Composiccedilatildeo de Alexandre Venera dos Santos

mais me interessa Quando olhamos uma cachoeira temos a impressatildeo de ver ali algo que chamamos cachoeira Mas na verdade a cachoeira eacute uma ilusatildeo ela natildeo existe O que haacute satildeo zilhotildees de gotiacuteculas de aacutegua descendo juntas descendo descendo sempre descendo Contudo eacute agradaacutevel olhar e ver ali uma cachoeira pensar nela como uma unidade Assim como eacute agradaacutevel pensar na unidade de um autor na unidade de uma escrita

ndash Vocecirc estaacute querendo dizer que a escrita eacute sempre coletiva uma espeacutecie de matilha

ndash Mais que isso Aleacutem de ser coletiva por natureza a escrita que se colocou em movimento para esse livro-espetaacuteculo clama por agenciamentos Ela natildeo funciona sozinha mesmo sendo sua solidatildeo composta por milhares outros milhares satildeo sempre chamados Assim fazemos Work in Progress Assim escrevemos em muacuteltiplas matildeos rizomaacuteticas

ndash Taacute mas entatildeo a ideia eacute colocar um texto depois outro e assim ateacute o uacuteltimo

ndash Natildeo era bem isso mas gostei dessa estrutura Podemos acrescentar entre um texto e outro um local para assistir aos ensaios e agraves entrevistas dos grupos um pequeno platocirc onde se concentraria o Escrever com Imagens e Sons Ou seja ao final de cada texto montamos um quadro dispondo os endereccedilos dos viacutedeos

ndash Mas e os espetaacuteculosndash Pensei em colocar os espetaacuteculos como

ldquoGranFinalerdquo num espaccedilo-plano-platocirc reservado apenas para eles Nesse local

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podemos concentrar as informaccedilotildees sobre cada montagem direccedilatildeo elenco nome do grupo etc

ndash Acho que taacute bem legalndash Sim manda balandash E noacutes podemos voltar ao boteco pedir

algumas cervejinhas e comeccedilar a adaptaccedilatildeo das cenas Tens uma coacutepia dos ensaios anteriores aiacute contigo

ndash Impressa natildeo tenho mas se algueacutem tiver um pen-drive posso copiar direto da maacutequina

ndash Eu tenho copia aqui por favorCom a coacutepia digital dos ensaios os atores

saem de cena me desejando merda No palco sozinho com minhas multidotildees percebo a bateria do notebook pedindo carga Puxo uma extensatildeo da tomada mais proacutexima ligo o carregador na energia eleacutetrica aciono o editor de texto e entatildeo as cortinas digitais se abrem

APERITIVO CEcircNICOeou nutrientes para composiccedilatildeo de mundos

caro leitor

desta vez nossos aperitivos

seratildeo servidos AQUI mesmo neste volume na sequecircncia

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REGULAMENTO DOS JOGOS DE TEATROTEXTO INTERPRETACcedilAtildeO E TEacuteCNICA NAS ARTES CEcircNICASANO 2009 ndash Experimentando NuTE

Quanto ao TExTO1 ndash Deve ser ineacutedito em liacutengua portuguesa e poderatildeo concorrer

quaisquer pessoas2 ndash Esta ediccedilatildeo do JOTE-Titac eacute temaacutetica ldquoExperimentando

NuTErdquo e para a escrita dos textos estatildeo disponiacuteveis na internet 25 disparadores (referecircncias textuais icnograacuteficas e audiovisuais) no endereccedilo wwwnuteparatodoswordpresscomjotedisparadores

3 ndash Deve ser redigido obrigatoriamente para a representaccedilatildeo (atraveacutes de teacutecnicas dramatuacutergicas) Os contos poemas etc inscritos seratildeo automaticamente considerados como ldquoTemas para Representaccedilatildeordquo cabendo ao juacuteri a decisatildeo de sua inclusatildeo ou natildeo no julgamento

4 ndash O texto como peccedila teatral deve comportar um elenco meacutedio de trecircs atores admitindo-se um maacuteximo de cinco sendo permitido entretanto um acreacutescimo de personagens caso seja possiacutevel que os atores representem mais de um personagem no mesmo texto

5 ndash O texto deve ser digitado em Fonte Arial Tamanho 10 espaccedilamento simples natildeo podendo ultrapassar o limite de uma uacutenica folha de papel ofiacutecio comum Natildeo satildeo admitidos os recursos de reduccedilotildees fotocopiadas poreacutem o papel pode ser utilizado em ldquofrente e versordquo

6 ndash No ato de inscriccedilatildeo os textos devem ser entregues em oito vias assinadas com o pseudocircnimo do autor Juntamente deve acompanhar um envelope lacrado contendo em seu interior o nome do autor o nome do texto o pseudocircnimo empregado endereccedilo e algumas consideraccedilotildees sobre sua obra Do lado de fora deste envelope deve constar apenas o pseudocircnimo e o nome da peccedila inscrita devendo ser entregue na recepccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau ndash Rua XV de Novembro 161ndash BlumenauSC aos cuidados de Carol Borba Ou enviados juntamente com a Ficha de Inscriccedilatildeo para nuteparatodosgmailcom Seratildeo aceitos como participantes os textos recebidos ateacute as 17 horas do dia 10 de julho de 2009

7 ndash Os textos seratildeo analisados por um Juacuteri Convidado levando-se em conta trecircs aspectos ldquoLeiturardquo (a literatura ndash o texto) ldquoEspetaacuteculordquo (a dramaturgia ndash a peccedila) e coerecircncia com o tema proposto (ldquoExperimentando NuTErdquo) Dia 16 de julho de

2009 agraves 19h30min seratildeo divulgados os textos preacute-selecionados considerados aptos para serem encenados no 14ordm JOTE

8 ndash Dos textos concorrentes seratildeo indicados os trecircs melhores e entre estes o premiado Outras indicaccedilotildees podem ser premiadas conforme o juacuteri visando reconhecimento aos meacuteritos dos participantes em quesitos como por exemplo ldquooriginalidade do textordquo ldquoautor revelaccedilatildeordquo etc A premiaccedilatildeo que consiste de trofeacuteu e certificado aconteceraacute com as demais no dia 19 de julho de 2009

Quanto aos INTEacuteRPRETES e TEacuteCNICOS1 ndash Deveratildeo os inteacuterpretes e teacutecnicos formar uma Equipe de

trabalho de no miacutenimo quatro e no maacuteximo dez pessoas que aleacutem de atuarem assumiratildeo as responsabilidades teacutecnicas de criaccedilatildeo e operaccedilatildeo do equipamento de palco (iluminaccedilatildeo sonoplastia cenaacuterios etc)

2 ndash As Equipes deveratildeo especificar (em ficha de inscriccedilatildeo conforme modelo disponiacutevel em wwwnuteparatodoswordpresscom bem como na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau) as funccedilotildees de seus componentes nas categorias de premiaccedilatildeo ELENCO DIRECcedilAtildeO ILUMINACcedilAtildeO SONOPLASTIA CENOGRAFIA FIGURINOS MAQUIAGEM PRODUCcedilAtildeO COREOGRAFIA FOTOGRAFIA IMAGEM-DOCUMENTAacuteRIO Ateacute quatro destas funccedilotildees artiacutesticoteacutecnicas podem ser executadas e responsabilizadas por uma mesma pessoa O prazo de inscriccedilotildees das Equipes de Inteacuterpretes e Teacutecnicos encerra-se agraves 17 horas do dia 10 de julho de 2009 Independente do formato a inscriccedilatildeo soacute teraacute validade depois que a equipe pagar a inscriccedilatildeo no valor de R$ 1000 por integrante ndash reembolsaacuteveis atraveacutes da cota de ingressos

21 ndash Cota de Ingressos cada membro da equipe receberaacute quatro (4) ingressos que poderatildeo ser comercializados a R$ 500 cada (totalizando um retorno de R$ 2000) para reembolsar o valor da inscriccedilatildeo e proporcionar agrave equipe uma ajuda de custo na montagem do seu espetaacuteculo

22 ndash Inscriccedilatildeo para efetivar a inscriccedilatildeo enviar para o e-mail nuteparatodosgmailcom ficha de inscriccedilatildeo preenchida e comprovante de depoacutesito das cotas de ingressos Apoacutes isto os ingressos da equipe poderatildeo ser retirados antecipadamente na Liquidificador Comunicaccedilatildeo e Arte (Rua Itajaiacute 3225 ndash Sala 01 ndash Vorstadt ndash Blumenau) ou retirados no dia do sorteio dos textos 16 de julho agraves 20 horas

23 ndash Conta para depoacutesito a quantia da cota de ingressos

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QUINTO

ENSAIO

deveraacute ser depositada em qualquer agecircncia da CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL ou em Casas Loteacutericas na conta agecircncia conta Guardar comprovante de depoacutesito para validar inscriccedilatildeo

3 ndash A Comissatildeo Organizadora norteada pelos curriacuteculos e intenccedilotildees de participaccedilatildeo constantes na Ficha de Inscriccedilatildeo selecionaraacute ateacute 7 (sete) Equipes como aptas a participar dos Jogos

4 ndash Quanto ao puacuteblico presente e ao bom andamento dos Jogos de Teatro as Equipes deveratildeo proporcionar o acesso ao puacuteblico ao Auditoacuterio em tempo natildeo inferior a cinco minutos do iniacutecio do espetaacuteculo assim como natildeo seraacute admitido atraso superior a cinco minutos sobre o horaacuterio previsto para a apresentaccedilatildeo Cada minuto de atraso representa menos um ponto na avaliaccedilatildeo final do Juacuteri Convidado Especial No caso do natildeo cumprimento deste item do regulamento a Equipe seraacute desclassificada

5 ndash Cada Equipe deveraacute fornecer ao puacuteblico presente em sua apresentaccedilatildeo um programa cujo conteuacutedo aleacutem de informaccedilotildees baacutesicas contenha suas observaccedilotildees sobre o espetaacuteculo Em programas cartazes faixas anuacutencios etc deve obrigatoriamente constar JOTE-titac data local e hora da apresentaccedilatildeo

Quanto aos jOGOS DE TEATRO1 ndash Os textos inscritos seratildeo numerados e sorteados para

as Equipes participantes que os representaratildeo dois dias apoacutes o sorteio (tempo em que seratildeo ensaiados e produzidos) FICA ESTABELECIDO UM LIMITE MAacuteXIMO DE SETENTA E CINCO MINUTOS PARA AS APRESENTACcedilOtildeES DE CADA EQUIPE INCLUINDO MONTAGEM E DESMONTAGEM O sorteio dos textos para as equipes participantes seraacute realizado no dia 16 de julho de 2009 agraves 20 horas na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau Nesse mesmo dia a programaccedilatildeo completa do evento e o horaacuterio para a encenaccedilatildeo das peccedilas tambeacutem seratildeo sorteados e decididos previamente para cada equipe participante Em caso de espaccedilos diferentes para as apresentaccedilotildees tambeacutem se faraacute um sorteio entre as Equipes para a ocupaccedilatildeo desses palcos

2 ndash Todos os espetaacuteculos deveratildeo ser encenados impreterivelmente no dia 19 de julho de 2009 na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau

3 ndash Dois grupos de jurados faratildeo o julgamento das categorias de INTEacuteRPRETES e TEacuteCNICOS o Juacuteri Teacutecnico seraacute composto por um integrante representante de cada Equipe concorrente que daraacute seu voto (notas de 1 a 3) em todas as categorias de premiaccedilatildeo de todos os espetaacuteculos apresentados menos naquele em que

estaraacute representado Ao final baseado na pontuaccedilatildeo geral o Juacuteri Convidado Especial se reuniraacute com a Comissatildeo Organizadora para indicar os trecircs melhores e o premiado em cada categoria TEXTO ndash MONTAGEM ndash ATOR ndash ATRIZ ndash COADJUVANTES ndash DIRECcedilAtildeO ndash ILUMINACcedilAtildeO ndash SONOPLASTIA ndash FIGURINO ndash CENAacuteRIO ndash MAQUIAGEM -COREOGRAFIA ndash PRODUCcedilAtildeO ndash FOTOGRAFIA ndash IMAGEM-DOCUMENTAacuteRIO (14 categorias) Outras categorias podem ser premiadas ao se visar o aprimoramento e incentivos dos participantes como exemplo ator-revelaccedilatildeo melhor caracterizaccedilatildeo etc

4 ndash Na categoria Fotografia seratildeo premiadas as melhores capturas fotograacuteficas das apresentaccedilotildees Em Imagem-documentaacuterio seratildeo avaliados os melhores registros dos ensaios valendo-se de qualquer miacutedia (filmagem fotografia desenho histoacuteria em quadrinho etc)

5 ndash A Equipe deveraacute entregar as Fotografias e Imagem-documentaacuterios ateacute as 1900 horas do dia 19 de julho de 2009 para a comissatildeo organizadora do JOTE em miacutedia CD ou DVD (no formato MPG ou AVI) A premiaccedilatildeo dessas categorias ocorreraacute no dia 25 de julho de 2009 em local a ser definido

6 ndash Casos omissos problemas e duacutevidas surgidas seratildeo resolvidos pela Comissatildeo Organizadora

Quanto ao DIREITO AuTORAL1 ndash Os autores dos textos das fotografias e imagens-

documentaacuterios produzidos no Jote-Titac Experimentando NuTE cederatildeo seus direitos autorais para as publicaccedilotildees do projeto NuTE Para Todos em livro e cyber-espaccedilo sendo citados sempre que utilizados e conservando seus direitos para suas proacuteprias publicaccedilotildees

Quanto agrave utilizaccedilatildeo de imagem 1 ndash Todos os inscritos no JOTE-Titac Experimentando

NuTE autorizam a utilizaccedilatildeo de seus textos e de suas imagens pessoais inclusive em meio virtual para composiccedilatildeo da pesquisa e publicaccedilotildees futuras sobre o NuTE

Informaccedilotildees e duacutevidas(47) 3340-0596 ou pelo e-mail nuteparatodosgmailcom

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QUINTO

ENSAIOComposiccedilatildeo de Mundos

CRINU E CASTITE

Por Dostuevisqui da Silva

Primeira Tonalidade ndash Kafka ndash Enquanto o puacuteblico se dirige agraves cadeiras quatro atores espalhados pela plateia os observam a certa distacircncia Esses atores-detetives-kafkinianos fazem comentaacuterios entre si sobre alguns dos sujeitos-puacuteblico Os comentaacuterios natildeo devem ser ouvidos pela plateia Em cena uma senhora idosa sentada numa cadeira A intenccedilatildeo eacute levar o puacuteblico a acreditar que esse boneco eacute mesmo uma senhora idosa Quando todas as atenccedilotildees-olhos-interesses estiverem concentrados nela inicia-se a segunda tonalidade Segunda Tonalidade ndash Dostoieacutevski ndash Muito lentamente Raskoacutelnikov caminha por detraacutes do boneco da velha Aos poucos deixa o puacuteblico perceber que dentro de seu sobretudo haacute um machado

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QUINTO

ENSAIO

Lentamente retira o machado perfilado atraacutes da cadeira levanta sobre sua cabeccedila e num golpe fortiacutessimo divide a velha e a cadeira em duas Apoacutes uma pausa inicia diaacutelogo com a plateia

Raskoacutelnikov ndash A humanidade se divide em duas de um lado temos os seres ordinaacuterios e de outro os seres extraordinaacuterios Fiquem tranquilos prometo natildeo lhes causar nenhum aborrecimento clichecirc Sei que vocecircs conhecem o meu Crime que conhecem tambeacutem o meu Castigo Eacute justamente por isso que quem escreve esse texto me utiliza Ele acredita que entre noacutes haja uma certa cumplicidade Acredita que se for eu a lhes contar alguns seratildeo capazes com um pouco de esforccedilo de perdoar O dilema eacutetico de quem escreve esse texto eacute ter junto ao NuTE experimentado momentos extremos de alegria e ser a uacutenica testemunha de um Crime Hediondo cometido por integrantes deste Nuacutecleo de Teatro Experimental Denunciar aqui atraveacutes de mim algo que nunca teve coragem de levar agrave poliacutecia foi a uacutenica forma que encontrou para resolver esse conflito Mas por favor mantenham o senso criacutetico Culpar eacute faacutecil eacute uma accedilatildeo ordinaacuteria Todos somos bons em culpar o cristianismo nos aperfeiccediloou nisso Jaacute a experimentaccedilatildeo eacute difiacutecil pouquiacutessimos conseguem Se a existecircncia ordinaacuteria necessita eminentemente da culpa da responsabilizaccedilatildeo e do ressentimento se ela soacute funciona julgando e condenando um outro como seu algoz se para respirar precisa sempre ser a viacutetima A existecircncia extraordinaacuteria necessita do

experimento Jaacute que caminhamos para um julgamento podemos ambas as existecircncias em termos de lei A lei da existecircncia ordinaacuteria prega Ele eacute Mau Logo eu Sou bom A lei da existecircncia extraordinaacuteria diz Seja bem-vindo Dioniso

Terceira Tonalidade ndash Ritual Dionisiacuteaco ndash Faixas-gritos-panfletos-projeccedilotildees-etc anunci-am ldquoNatildeo interpreta FAZrdquo ldquoApolo morre crucificadordquo ldquoDioniso Viverdquo ldquoO importante natildeo eacute o sentido das palavras natildeo eacute tornar o texto inteligiacutevel mas tornaacute-lo vivordquo ldquoEm busca do Ator Santordquo Algumas ressonacircncias com os experimentos do NuTE em fotos-imagens-textos criam um clima Ritual-NuTE Quando o crescente do ritual atingir o limite ocorre uma parada brusca

Blackout

Quarta Tonalidade ndash Julgamento-Tribunal ndash Pela plateia entra em cena o Promotor-Fritz-Oktoberfest suspensoacuterios chapeacuteu bermuda figurino claacutessico Sua entrada eacute marcada com uma melodia-oktoberfest esta melodia natildeo deve ser alegre mas sinistra se possiacutevel macabra Fritz ostenta ares germacircnicos de superioridade Possui forte sotaque alematildeo de Blumenau Seraacute o promotor do caso Deve auxiliar a plateia a se perceber como Juiz do Caso

Fritz ndash Meritiacutessimo eu vou comeccedilar ressaltando a forma como o acusado se auto-nominava ele dizia fazer teatro mas todos os conheciam por NuTE

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QUINTO

ENSAIOJuiz ndash NuTE

Fritz ndash NuTE Meritiacutessimo Onde jaacute se viu chamar PUTA a um grupo de teatro Se realmente a intenccedilatildeo era fazer teatro por que chamavam de NuTE Temos aqui um primeiro indiacutecio de que o real propoacutesito era bem outro Se Vossa Excelecircncia me permite gostaria de chamar minha primeira testemunha (Voz em off ndash Que entre a testemunha) Novamente pela plateia A testemunha eacute um Cristo-Mendigo-Crucificado Numa das matildeos presas segura um chicote na outra uma placa com os dizeres ldquoBata-me por R$ 050rdquo Faz-se uma parada em meio ao puacuteblico Cristo-Mendigo esmola seus R$ 050 ao puacuteblico Se ningueacutem da plateia pagar pelo serviccedilo um ator que deveraacute estar junto ao puacuteblico paga os 50 centavos e chicoteia com forccedila o Cristo-Mendigo que sente enorme prazer com a accedilatildeo Continua mendigando outros R$ 050 ateacute que Alematildeo Fritz se aproxima dele e diz

Fritz ndash O senhor jura dizer a verdade somente a verdade e nada mais que a verdade

Cristo ndash (que se transforma em Inri Cristo) Eu sou o caminho a verdade e a vida Ningueacutem vai ao Pai senatildeo atraveacutes de mim

Fritz ndash Meritiacutessimo a testemunha dispensa apresentaccedilotildees Se Vossa Excelecircncia consentir gostaria de passar diretamente as minhas perguntas (pausa) Vossa Santidade (para Cristo) conhece este senhor (aponta para NuTE Formaccedilatildeo de irmatildeos-irmatildes siameses muacuteltiplas cabeccedilas e um corpo)

Cristo ndash Aaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiii (que agora assume traccedilos histeacutericos-afetadiacutessimos) Sim eu conheccedilo Eacute o NuTE Ele apresentou um espetaacuteculo monstruoso chamado ldquoApocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina Os Anjos e Noacutesrdquo Uma abominaccedilatildeo um sacrileacutegio para com os textos sagrados Deveria ser queimado em praccedila puacuteblica depois esquartejado Se eu conseguisse sair dessa cruz encheria a cara dele de tabefe Fizeram piada de mim compararam minha atuaccedilatildeo com a daquele comunista Che Guevara Imprimiam sudaacuterios da minha cena do lava-peacutes minha cena onde ao inveacutes da minha imagem pessoal faziam propaganda desse comunistinha de merda Meu pai estaacute furioso furioso

Fritz ndash Temos aqui Meritiacutessimo inuacutemeras evidecircncias da montagem desse espetaacuteculo (projetar filme mostrar cartazes focirclderes material sobre a peccedila ao gosto do diretor eacute possiacutevel misturar as imagens com a montagem original de Grotowsky)

Fritz ndash (para NuTE que responde sempre sim com as cabeccedilas) O senhor ainda montou ldquoO Homem do Capote e Outros Seresrdquo natildeo eacute mesmo ldquoVariante Woyzec-Mauserrdquo ldquoMacBethsrdquo ldquoCio das Ferasrdquo ldquoCamaleatildeo da Matardquo ldquoA Mortardquo O senhor se dedicou a produzir estes e muitos outros espetaacuteculos onde criacuteticas e deboches ao nosso modelo de existecircncia eram evidenciados Mas natildeo rir de noacutes natildeo era o bastante era preciso ainda seduzir nossos filhos para que eles rissem junto com o senhor Meritiacutessimo

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QUINTO

ENSAIO

este sujeito ardilosamente construiu uma armadilha aos nossos descendentes uma arapuca uma verdadeira arapuca camuflada com a denominaccedilatildeo JOTE-titac (Pausa) Para esse tal JOTE-Titac NuTE convidava nossas crianccedilas que inocentemente apareciam achando se tratar apenas de um Festival de Teatro Mas o teatro era apenas uma isca natildeo eacute mesmo Tenho aqui comigo Meritiacutessimo alguns dos textos apresentados nesse dito Festival JOTE-Titac (Mostrar livro ldquoJogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau) textos escritos por este mostro e encenados por nossos filhos ldquoEacuteVE ADAtildeOrdquo ldquoOS FILHOS DE BLUMENAUrdquo ldquoNUSrdquo ldquoDISCURSO PELE E SEXUALIDADErdquo entre tantos e tantos outros cujas intenccedilotildees eram satirizar nossa feacute nossa moral nossa cultura germacircnica e ateacute mesmo Meritiacutessimo nossa masculinidade O senhor nunca teve formaccedilatildeo em teatro e mesmo assim criou uma escola para ldquoensinarrdquo teatro E o que se ensinava ali Se os espetaacuteculos eram todos afrontas aos valores mais preciosos muito provavelmente o que o senhor ensinava natildeo passava de

Raskoacutelnikov ndash Protesto Meritiacutessimo a promotoria estaacute induzindo meu cliente a uma resposta

Fritz ndash Ok Vou mudar minha pergunta o que quero saber eacute muito simples Sr NuTE qual o verdadeiro objetivo do senhor nesses 18 anos de atividades ldquoditasrdquo teatrais

NuTE ndash (as trecircs vozes falam de forma desordenada) Liberdade levar as pessoas a

pensar encontrar pessoas com quem pensar criticar o conservadorismo (junto agraves vozes em cena incluir trechos das entrevistas gravadas onde se fala dos objetivos do grupo)

Fritz ndash Ah Entatildeo o senhor confessa o senhor confessa Meritiacutessimo o acusado acaba de confessar o Crime

Raskoacutelnikov ndash Meritiacutessimo a segunda paacutegina em letra 10 Arial estaacute terminando Natildeo haacute mais espaccedilo para um fechamento dialogado entre os atores-personagens Restam apenas oito linhas a quem escreve este texto Regra do JOTE-Titac Experimentando NuTE A confissatildeo de meu cliente natildeo deixa duacutevidas Sei da gravidade Afinal foram 18 anos Eacute muito tempo Natildeo irei convocar sua benevolecircncia nesse sentido Que haacute um Crime meu cliente confessa que o Crime em questatildeo foi praticado pelo Sr NuTE ao tentar transformar seres ordinaacuterios em seres extraordinaacuterios concordamos com a promotoria mas tenho certeza Meritiacutessimo de que se Vossa Excelecircncia ousar experimentar a existecircncia extraordinaacuteria conosco pelo menos por alguns segundos teraacute muito mais condiccedilotildees de julgar este caso (Volta-se ao Ritual-NuTE-Dioniso contudo dessa vez o puacuteblico eacute levado a participar)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=Zrcjc_KN6rQEntrevistawwwyoutubecomwatchv=yxkdu8Kepkw

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QUINTO

ENSAIOMAQBEacuteTE UMA INTERFEREcircNCIA NA TRANSMISSAtildeO

Por Iran da Silveira

Personagens Bruxo Narrador quatro ldquomarionetesrdquo (que poderatildeo ser interpretados por atores) o Rei e a Rainha

BRUXO NARRADOR ndash Senhoras e senhores desta roda gigante boa noite () Eacute com muita honra alegria e laacutestima que vos apresento a histoacuteria de uma interferecircncia ndash uma interferecircncia na transmissatildeo de uma histoacuteria Este Rei que senta ao lado eacute Alexandre King mais conhecido como Ale-Quim Ao lado dele sua incentivadora e algoz pois seu amor o levou agrave ruiacutena e agrave morte E as quatro marionetes que deste lado gritam e se debatem satildeo o que restou de uma

longa linhagem de bons maus guerreiros que natildeo obstante terem abandonado seu Rei ainda trabalham para a Sombra dele

MARIONETE 1 ndash Meu nome eacute Sedrez pois tenho sede de vinganccedila Meu negro olhar ajuda o Homem camarada Rei Seu cetro eacute meu bastatildeo com o qual golpeio e incendeio E hoje Hoje o provarei perante todos voacutes

MARIONETE 2 ndash Meu nome eacute Crescecircncio porque eu cresci neste Reino Fui um bom serviccedilal por toda a minha vida mas quando este palco desmoronou tudo o que sobrou de um banquete de casamento foi o bacalhau pequeno-burguecircs cozido por um idiota com sal e injuacuteria do qual se saboreou nada

MARIONETE 3 ndash Meu nome eacute De Oliveira porque tenho oacuteleo nas veias oacuteleo de carnauacuteba Com o oacuteleo produzo a vela com o olho produzo a cela com o alho produzo a ceia (distribui facas de cozinha) O mecanismo eacute o proacuteprio atleta a exceccedilatildeo eacute a proacutepria lenda Os filhos de Blumenau que nasceram de 1930 para caacute iratildeo morrer (aponta para os outros) E quando os arbustos do Teatro andarem o Rei seraacute morto por uma mulher que natildeo nasceu de homem

MARIONETE 4 ndash Meu nome eacute Leopolski porque leio Polanski mas tambeacutem tenho meus Greenaways Sofri do mal de Bergman fiz a terapia de Cronemberg curei-me com Lynch Depois de tudo isso sei que nunca morrerei ndash mesmo que todo o amanhatilde conduza os tolos agrave via em poacute da maacute sorte

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ENSAIO

REI ndash Que se inicie a batalha Marionetes do Rei Podem comeccedilar o ritual (em duplas as ldquomarionetesrdquo lutam com as facas como se estivessem empunhando espadas pesadas A coreografia da luta deve ser agressiva e graciosa Resultado Marionete 1 mata Marionete 2 e Marionete 3 mata Marionete 4)

REI (de peacute) ndash Oacute valorosos primos Tendes provado que a honra anda com voacutes Como precircmio pela coragem do vencedor sobrevivente dentre meus estimados guerreiros eu oferecerei minha esposa (outra luta Marionete 3 grita ldquoTome isto falso Parnavackrdquo Marionete 1 que estava perdendo mata Marionete 3)

MARIONETE 1 ndash Meu Rei Tenho vencido todas as batalhas Mas agora estou ferido Meu braccedilo natildeo foi poupado e jaz neste chatildeo como o cal jaz no tuacutemulo

REI ndash Um guerreiro ferido natildeo eacute um guerreiro digno de seu Rei Sua puniccedilatildeo eacute a morte (o Rei o mata violenta e sanguinariamente) Enfim minha rainha Os maus guerreiros se foram Agora eacute hora de recrutar um novo exeacutercito Mas natildeo isso natildeo seraacute difiacutecil minha rainha pois jaacute tenho um lugar onde poderei encontrar centenas de bons guerreiros a internet E entatildeo Haacute haacute haacute

RAINHA ndash Tens esquecido de uma coisa meu Rei

REI (nervoso pela interrupccedilatildeo) ndash O que mulher por toda a Escoacutecia o que quereis dizer agora o quecirc

RAINHA (aproximando-se) ndash Meu pai natildeo era homem (comeccedila a golpeaacute-lo A Rainha mataraacute o Rei de uma forma ainda mais violenta requintada sanguinolenta e criativa que as mortes anteriores) Tu querias oferecer-me ao teu suacutedito Maldito Rei Ale-Quim da Rua Escoacutecia

REI (nesse iacutenterim berra e depois agoniza) ndash Por favor oacute Juliana natildeatildeooo Ahh Algueacutem me arranje uma Kombi (morre A Rainha vingada e ensanguentada com os olhos esbugalhados fica estaacutetua numa pose de ldquoCarrie a Estranhardquo)

BRUXO NARRADOR (voltando agrave cena em tom mais solene) ndash Senhoras e senhores desta roda gigante tendes visto a mais brutal e sanguinaacuteria morte da histoacuteria deste Palco Tenho certeza de que ganharaacute o Precircmio de Melhor Morte de um Rei Inspirado em Macbeth deste festival Eacute o que acontece quando um homem bom confia seu coraccedilatildeo sua cama e seu trono a uma mulher maligna E quanto aos arbustos do Teatro amigos Eu estive haacute dois minutos no Carlos Gomes e posso testemunhar que eles andaram Juro pela minha matildee Muito obrigado

REFEREcircNCIAS

AS PECcedilAS OU MONTAGENS DO NUTE (e outros grupos da cidade) citadas satildeo

ndash de Giba de Oliveira ndash nove peccedilas todas de JOTEs-titac Senhoras e Senhores Nosso Reino Por Um Bom Guerreiro Os Camaradas Meacutedicos Carnauacuteba 1930 Filhos de Blumenau

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O Mecanismo e o Atleta A Exceccedilatildeo e A Lenda Sr Parnavack ndash a maioria foi encenada com seu grupo o Arteatroz

ndash de Marcelo Fernando de Souza ndash Negro Olhar (adaptaccedilatildeo de Otelo de WS dirigida por Peacutepe Sedrez)

ndash de Alexandre Venera dos Santos ndash Macbethrsquos Uma Interferecircncia na Histoacuteria (adaptaccedilatildeo e direccedilatildeo em 1991-93 em duas versotildees a primeira com elenco numeroso e a segunda com quatro atores somente Antocircnio Leopolski Carlos Crescecircncio Giba de Oliveira e Peacutepe Sedrez) e A Roda Gigante (sendo o espetaacuteculo dirigido por Peacutepe Sedrez ainda no NuTE) Tambeacutem foram citadas de Bertolt Brecht as peccedilas O Casamento dos Pequeno-Burgueses encenada em 1996 por Silvio da Luz como O Casamento dos Pequenos (foi servido bacalhau no palco) e O Homem Ajuda O Homem espetaacuteculo de Peacutepe Sedrez de 2001 o qual adaptou dois textos do autor Os cineastas Roman Polanski (polonecircs) Peter Greenaway (inglecircs) Ingmar Bergman (sueco) David Cronemberg (canadense) e David Lynch (americano) foram citados Aleacutem de diversas citaccedilotildees textuais da proacutepria peccedila de William Shakespeare evidentemente Este texto foi escrito no presente ano em Blumenau As metaacuteforas empregadas natildeo levam consigo qualquer julgamento pessoal poliacutetico filosoacutefico ou artiacutestico agraves pessoas envolvidas na histoacuteria mas sim recriam-nas As mortes e vinganccedilas satildeo apenas recursos de accedilatildeo dramaacutetica parodiando a obra de William Shakespeare

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaiowwwyoutubecomwatchv=fpu6Rd7CvScEntrevista wwwyoutubecomwatchv=BBDIBCgvGOk

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QUINTO

ENSAIO

O DE PRETO O DE BRANCO E OS DE CORES ou um despretensioso questionamento

Por Wilfried Krambeck

A peccedila comeccedila com o ambiente totalmente escuro e em silecircncio duas luzes de ponto satildeo acesas repentinamente no palco sobre dois atores Uma peccedila qualquer que estaacute sendo encenada encerra-se naquele momento Os dois atores em cena agradecem recebem os aplausos caso os haja e fecham-se as cortinas Na sequecircncia uma luz geral eacute acesa a cortina eacute reaberta e os atores que vatildeo aparecendo agem como se o auditoacuterio estivesse vazio

O de Preto ndash (saindo das coxias para o puacuteblico) ndash Ateacute que enfim acabou esta bosta

O de Branco ndash (chegando pelo outro lado) ndash O que eacute isso Isso eacute forma de falar

O de Preto ndash Eacute Eacute que eu estou de saco cheio Satildeo ensaios pra caramba cursos workshops palestras leitura de livros anaacutelise de textos o diabo e taiacute oacute Uma merreca de puacuteblico

O de Branco ndash Tudo bem mas natildeo eacute soacute isso O teatro ganha notoriedade aparece faz histoacuteria E todos tecircm vantagens com o processo O ganho eacute tambeacutem individual Vocecirc se aprimora vocecirc evolui como ator como artista como pessoa e se prepara para outras situaccedilotildees da vida

O de Preto ndash Pra mim foi uma perda de tempo cara Eu podia ter feito tanta coisa uacutetil nesse periacuteodo todo ao inveacutes de ter ficado aqui tentando fazer natildeo sei o quecirc nessa porra Eacute foda

O de Rosa ndash (chegando) ndash Gente tou nas nuvens tou encantado tou extasiado

O de Preto ndash Que eacute isso cara Taacute viajando (para o de Branco) Parece viado

O de Branco ndash (para o de Preto) Psssiiiiiiuuuu ele estava com a gente Eacute dos nossos

O de Rosa ndash Tou feliz eacute soacute isso Acabou mas para mim foi demais Pude declamar minhas poesias pude danccedilar cantar bailar Criar figurinos maravilhosos caracterizaccedilotildees coisas mil

O de Preto ndash (para o de Branco) ndash Cara eacute coisa de boiola mesmo hein Quem diria

O de Branco ndash (para o de Preto) Deixa de ser chato Ele gostou aproveitou Oacutetimo para ele

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ENSAIO

O de Rosa ndash (para o de Preto) Eacute isso aiacute me realizei Taacute legal Tudo que se faz com prazer daacute resultado traz satisfaccedilatildeo Mas eacute soacute para aquele que se empenha ok Aliaacutes preto te deixa insosso deprecirc Se eu fosse vocecirc botaria um figurino mais alegre uma cor quente sei laacute (sai)

O de Preto ndash Puta que o pariu tem cada um Olha a do cara meu

O de Branco ndash Eacute Acho que vocecirc eacute incapaz de notar Mas existem diferentes percepccedilotildees

O de Verde ndash (chegando) Pocirc gente aprendi coisas pra caramba por aqui (o de Preto balanccedila a cabeccedila e se afasta um pouco indignado) Quando cheguei eu natildeo sabia nada dessa parada do teatro pensei que era soacute viagem Mas natildeo eacute natildeo cara Os bom da bola aiacute botaram a gente pra raciocinar pra discutir pra sacar os babados Aiacute eu fui nessa eu li alguns livros aiacute de uns caras da pesada foi demais Entrei numa peccedila aiacute show de bola mas aiacute tive que sair cara natildeo deu mais Eacute que com essa parada aiacute me motivei cara Voltei pra escola cara 1ordm Grau noturno aiacute jaacute peguei um trampo legal de dia na moral cara na moral Mas valeu cara muuuuiiiito bacana meeeesssssmo soacute posso dar o maior plaacute de coraccedilatildeo cara Valeu (sai)

O de Branco ndash Viu eacute o que eu acabei de falar o teatro mudou a vida dele E para melhor

O de Preto ndash Ohhhhhhh Fiquei impressionado com a cultura do cara O cara eacute BABACA

O de Dourado ndash (chegando) ndash Aiacute rapazes tudo bem (daacute a matildeo para ambos) Eu comecei por aqui agora que terminou mesmo vou sentir saudades Fizemos uns trabalhos com muita pesquisa por aqui coisas de primeiro mundo Tivemos professores e diretores muito bons Fomos para festivais recebemos oacutetimas criacuteticas ganhamos precircmios reconhecimento Eu devo muito a esse pessoal que lutou por aqui Companheiros amigos gente determinada Hoje estou na Globo e estou trabalhando em montagens no eixo Rio-Satildeo Paulo com diretores consagrados A base veio daqui Eacute uma pena o projeto ter acabado pena mesmo (sai)

O de Branco ndash E agora o que vocecirc me diz

O de Preto ndash Vou falar o quecirc O cara taacute na Globo taacute se achando Acontece que eu natildeo tocirc neacute

O de Branco ndash Mas me diga uma coisa eacute possiacutevel que algueacutem fique por anos a fio num projeto tenha trabalhado se dedicado participado e natildeo tenha levado nada de bom durante todo esse periacuteodo Isso natildeo seria uma forma de masoquismo Vocecirc por acaso se odeia

O de Preto ndash Ahhhh com a decepccedilatildeo que eu tocirc sentindo aqui no peito me odeio sim

O de Branco ndash Entatildeo vocecirc eacute o uacutenico Porque ningueacutem aqui deu um depoimento que natildeo fosse favoraacutevel Estatildeo todos felizes o de Rosa o de Verde o de Dourado vocecirc ouviu

O de Preto ndash Grandes merdas se alguns desses viajotildees aiacute estatildeo felizes

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QUINTO

ENSAIO

O de Branco ndash Laacute vem vocecirc com palavratildeo de novo

O de Preto ndash Merda Taiacute uma coisa que aprendi no teatro Merda pra vocecirc merda pra vocecirc

O de Branco ndash Taacute esquece o palavratildeo Mas eu gostaria de saber exatamente o que foi que te desagradou (entra o de Roxo assobiando com uma vassoura espanador sacos de lixo balde aspirador e o de Branco interrompendo a conversa com o de Preto dirige-se a ele) E Vocecirc aiacute de Roxo o que achou desse movimento teatral Pode nos dizer por favor

O de Roxo ndash Olha gente eu Natildeo acho nada de movimento algum Agora vocecircs me datildeo licenccedila pessoal Vou ter que dar uma geral aqui Vou ter que limpar o ambiente taacute legal

O de Branco ndash Taacute tudo bem desculpe Eu pensei que vocecirc fosse Deixa para laacute Mas A gente pode ficar aqui Soacute para concluir uma conversinha uma desavenccedila de opiniotildees que

O de Roxo ndash Poder pode Soacute que a coisa taacute suja por aqui Eu vou ter que pegar no pesado jaacute Senatildeo sobra pro meu lado e quem danccedila sou eu taacute legal (se vira e prepara os equipamentos)

O de Branco ndash Entatildeo me diga soacute um dos motivos pelo menos um para que eu possa entender essa tua maacutegoa Me faz esse favor

O de Preto ndash Vocecirc quer realmente saber Entatildeo deixa eu te dizer (aqui o de Roxo liga o aspirador ndash som muito alto ndash e comeccedila a trabalhar o de Preto fala grita para o de Branco tentando se

explicar mas este natildeo consegue entender nada por mais que se esforce sem comunicaccedilatildeo saem um para cada lado e o de Roxo sem dar atenccedilatildeo continua aspirando)

Fim

DISPARADORES PARA A MONTAGEMPreto = ausecircncia de luz = a criacutetica destrutiva = descompromissada = derrotistaBranco = a soma de todas as cores = o ideal coletivo = o sonho = o lado positivoCada cor = uma visatildeo peculiar = um interesse especiacutefico = ponto de vista = uma interpretaccedilatildeo

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=j3Ycc_2xEWkEntrevista wwwyoutubecomwatchv=lKU8nHwUFok

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QUINTO

ENSAIO

O MONSTRO DE NUTESTEIN

Por Wilfried Krambeck

Voz tenebrosa (acompanhada de muacutesica de terror) ndash Esta histoacuteria aconteceu num certo vale numa cidade natildeo muito pequena entremeada por um rio poluiacutedo um local amaldiccediloado por inuacutemeras cataacutestrofes naturais O povo que laacute morava era um povo trabalhador de feiccedilotildees

seacuterias que por seguranccedila de noite encerrava-se cedo em suas casas Eles divertiam-se uma vez por ano numa grande festa que laacute ocorria mas este lugar por via das duacutevidas era completamente cercado Durante o resto do ano apenas uma vez ou outra a elite deste povo vestindo suas peles caras encontrava-se num grande castelo isolado bem no centro daquela cidade para irem a um ou outro luxuoso baile ou a uma audiccedilatildeo musical Contudo procuravam voltar cedo tambeacutem Mas o que ateacute a eacutepoca dos acontecimentos que vou lhes relatar poucos sabiam eacute que ali naquele castelo quase sem cor geacutelido e de pedras frias havia inuacutemeros corredores completamente escuros sinistros apavorantes lugares nos quais se encontravam menos almas do que dentro de um tuacutemulo de um herege amaldiccediloado E foi nestes corredores sombrios que surgiu um dos nomes mais controversos da histoacuteria dessa cidade fechada em si mesma o Cientista Alex Stein Era este o nome desse homem inescrutaacutevel que criou um ldquoserrdquo que assolou aquele povo durante mais de uma deacutecada O MONSTRO DE NUTESTEIN

Alex Stein (para o puacuteblico) ndash Descobri como desenvolver o meu ldquoserrdquo diferente de tudo que jaacute foi criado neste lugar Estava tudo aqui mentalizado circulando na minha cabeccedila Li muitas obras de mestres antigos e agora finalmente cheguei laacute A ideia na essecircncia eacute simples ateacute Vou juntar restos digo pedaccedilos mal aproveitados vou submetecirc-los agrave maacutequina que descobri no centro do castelo uma maacutequina

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ENSAIO

composta de uma grande roda horizontal que farei girar tudo isso submetido a uma forte luz proveniente de todos os lados Jaacute estaacute tudo preprado os pedaccedilos a maacutequina a luz Presenciem o momento da sublime criaccedilatildeo (nasce o ldquoserrdquondash som)

Alex Stein ndash Oh minha fabulosa ldquocriaccedilatildeordquo como vocecirc ficou enorme natildeo vai ser faacutecil te nutrir Mas natildeo me importa sempre te terei como meu filho sempre te nutrirei Vou chamar-te de NUTESTEIN Agora mostre-me se consegui acertar decirc uns passos caminhe NUTESTEIN (o ldquoserrdquo caminha sempre ndash e somente ndash lateralmente para a esquerda)

Alex Stein (para o puacuteblico) ndash Eacute um dispositivo mecacircnico que incluiacute na foacutermula ele soacute anda para a esquerda e na penumbra eacute o diferencial que pensei para ele

Cientista Alematildeo (entrando) ndash Ho ho ho Vejo que o Sr criou um ser diferente hum hum interessante Mas soacute anda para a esquerda e no escuro estranho Pelo visto ele natildeo tem vontade proacutepria Me parece que o Sr esqueceu de botar um ceacuterebro no seu ldquoserrdquo hum

Alex Stein ndash Nada de ceacuterebro eu penso por ele digo para ele e ele faz Eacute bem mais seguro para ele e aleacutem disso assim ele natildeo faz nenhuma bobagem e nunca iraacute me decepcionar

Cientista Alematildeo ndash Acho que quem estaacute fazendo bobagem eacute o Sr pois a sua criaccedilatildeo natildeo eacute perfeita se natildeo tem um ceacuterebro Eu sempre carrego um ceacuterebro na minha bolsa Vou buscaacute-lo para noacutes

implantarmos na cabeccedila do seu ldquoserrdquo

Alex Stein (se antepondo ao Cientista Alematildeo) ndash Ah mein Herr onde estaacute a sua bolsa

Cientista Alematildeo ndash Estaacute na sala ao lado

Alex Stein ndash Pode deixar que EU pego para o Sr (sai volta com uma velha bolsa de couro e na hora de entregaacute-la deixa-a cair propositadamente) Oh mil desculpas mein Herr (abre-a e olha dentro) Que pena esfacelou-se todo o ceacuterebro uma pena

Cientista Alematildeo ndash Estou achando que o Sr natildeo quer ceacuterebro algum para sua ldquocriaccedilatildeozinhardquo estou muito magoado Vou-me embora e natildeo volto mais para este lado do castelo hum (sai)

Dr Cientista Francecircs (entrando) ndash Ouvi a conversa foi sem querer desculpe-me Mas se me permite uma modesta contribuiccedilatildeo um ceacuterebro eacute sempre importante num ser Permite-lhe a livre escolha do seu destino Eacute claro este ldquoserrdquo eacute de sua criaccedilatildeo e cabe-lhe a escolha Mas eu pensaria com carinho sobre o assunto pois se ele natildeo tiver um ceacuterebro seraacute sempre dependente a criaccedilatildeo natildeo seraacute completa Daacute bem mais trabalho conduzir um ser com vontade proacutepria Mas aiacute estaacute o desafio do cientista lsquoArbeit Arbeit Arbeitrsquo natildeo acha Monsieur (sai)

Alex Stein ndash Eacute Sim Natildeo Talvez Natildeo sei (pensa um pouco sobre o assunto depois se entreteacutem dando comandos ao ldquoserrdquo ndash de repente feliz recebe aplausos de todos os lados)

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QUINTO

ENSAIO

Cientista Baixinho (entrando com outros dois cientistas) ndash Sr Alex Stein chega de conversa Noacutes ndash por unanimidade ndash jaacute decidimos vamos colocar um ceacuterebro na sua criaccedilatildeo

Alex Stein ndash Mas Meu ldquoserrdquo estaacute indo bem estaacute evoluindo nunca algueacutem caminhou para a esquerda por aqui E na penumbra quem andou Natildeo custa nada para ningueacutem e todos estatildeo impressionados nunca viram nada igual jaacute estatildeo ateacute aplaudindo natildeo ouviram

Cientista Baixinho ndash Eacute Ouvimos Mas vamos melhorar o ldquoserrdquo e ateacute jaacute preparamos o ceacuterebro eacute na verdade um misto um pouco de todos os nossos ceacuterebros inclusive tem uma parte do seu ceacuterebro tambeacutem Sr Stein Soacute que somos noacutes que vamos implantar para evitar que ele se espatife pelo chatildeo O Sr entendeu Sr Stein (um manteacutem Alex Stein a distacircncia e os outros dois dominam e implantam o ceacuterebro no ldquoserrdquo e saem o ldquoserrdquo entatildeo se levanta Consciente anda para todos os lados salta corre mas tambeacutem tropeccedila bate nas paredes cai fica atordoado)

Alex Stein ndash Ei NUTESTEIN vaacute para a esquerda a esquerda (o ldquoserrdquo vai mas volta para a direita) Natildeo natildeo saia da penumbra (o ldquoserrdquo vem para a luz e Alex Stein se desespera) Nossa matildee NUTESTEIN vocecirc se tornou um MONSTRO (voltam os outros trecircs cientistas e tambeacutem comeccedilam a comandar o ldquoserrdquo e este tenta inicialmente atender a todos mas depois se torna confuso e desiste de atender os comandos de todos eles recolhendo-se num canto)

Voz tenebrosa (acompanhada de muacutesica funesta) ndash Aos poucos NUTESTEIN foi perdendo sua identidade original tinha um ceacuterebro agora mas natildeo era seu era de muitos era confuso Todos os Cientistas que no iniacutecio tanto se preocupavam com ele foram aos poucos perdendo o interesse Seu proacuteprio criador Alex Stein comeccedilou a desenvolver um novo ldquoserrdquo imaterial agora ldquoserrdquo este que ele poderia criar manipular e manter dentro de seu proacuteprio ceacuterebro sem a interferecircncia de ningueacutem E entatildeo numa noite negra de tempestade ele conduziu a ldquocriaturardquo sua primeira criaccedilatildeo ateacute o mais escuro dos calabouccedilos do castelo e laacute a acorrentou Sempre com laacutegrimas nos olhos por uns tempos ainda o alimentou agraves vezes ajudado pelo Cientista Baixinho ndash ateacute no dia em que todos foram embora abandonando os corredores escuros do castelo NUTESTEIN entatildeo jaacute esqueleacutetico desnutrido e retornando ao estado de aceacutefalo agonizou agonizou agonizou e MORREU (concomitante com a narraccedilatildeo na penumbra Alex Stein triste faz a uacuteltima visita ao ldquoserrdquo e este ndash a soacutes ndash falece abandonado)

Voz feliz eufoacuterica (entrando ndash repentinamente ndash com fundo de muacutesica animada ndash de Os Caccedila Fantasmas) ndash Mas natildeo fiquem tristes pois chegou nesta cidade um repoacuterter de metroacutepole Chegou EndGhostbuster Ele veio para caccedilar para detonar para desmistificar o NUTESTEIN Para finalmente retirar exorcizar sua alma dos corredores escuros do castelo Ele veio para saber de tudo detalhes nuances

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episoacutedios pensamentos reflexotildees e acreditem todos estatildeo falando contando rememorando especificando lembrando ateacute de coisas que nunca existiram Ateacute estranho jaacute palpita Mas eacute assim mesmo soacute alegria NUTESTEIN virou FOLCLORE Cada um conta do seu jeito cada um inventa cada um aumenta ou acrescenta NUTESTEIN natildeo era oito nem oitenta mas com certeza tinha pimenta Eacute isso aiacute EndGhostbuster provocou agora aguenta Tem coisa boa Tem miserenta Tente digerir esta baita polenta A cada dia a coisa esquenta Mas eacute assim que incrementa se alimenta (a muacutesica se sobrepotildee agrave narraccedilatildeo fim)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=FzeylLvO3ucEntrevistawwwyoutubecomwatchv=S0RvDDRd6IQ

TRABALHO SUJO

Por Iran da Silveira

Drama policial ambientado na Blumenau do ano 1999 Personagens NOacuteDULO CHUCK NAFTALINA JOHNSON NIVALDO TRAPACcedilA NESTOR MIRONGA NEIDE SAPATINHO NEUZINHA BLAUBLAU NICANOR NEW YORK NEM DE LADO NARRANTE DOGMA ZUNINDO GRITO DR JACOacute DR JACUacute JOSH PALHA NARRANTE ndash No uacuteltimo JOTE-Titac a quadrilha de Naftalina Johnson planejava um grande crime

NICANOR NEW YORK (andando num carratildeo) ndash Atenccedilatildeo Noacutedulo Chuck Atenccedilatildeo Noacutedulo

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NOacuteDULO CHUCK (tambeacutem) ndash Noacutedulo Chuck ouvindo perfeitamente

NEW YORK ndash Atenccedilatildeo Congresso dos traficantes de quadros ladrotildees de esculturas e plagiadores de livros no morro em frente a Ufos uacuteltima casa Assunto de interesse geral e urgente

NAFTALINA JOHNSON (jaacute no local) ndash Ainda bem que estatildeo todos aqui porque o assunto eacute de extrema importacircncia

NEUZINHA BLAU BLAU ndash Fala logo Nafta Fala Fala

NAFTALINA ndash Vocecircs vatildeo ficar com aacutegua na boca quando virem isso Eacute o uacuteltimo livro que Dogma Zunindo acaba de escrever

NEM DE LADO ndash Mas como vocecirc conseguiu isso

NAFTALINA ndash Foi um plano que bolei com muito carinho palmas para o Sr Nivaldo Trapaccedila responsaacutevel pela sua execuccedilatildeo

NIVALDO TRAPACcedilA (depois das palmas) ndash Foi muito faacutecil Eu esperei ele dormir e aiacute TCHUM

BLAU BLAU ndash Eu quero ver Ver Ver

NAFTALINA ndash Calma eu tirei xerox pra todos Aqui estatildeo

NEIDE SAPATINHO ndash Vocecircs tecircm consciecircncia do que temos nas matildeos Isso eacute uma porcaria mas os criacuteticos e intelectuais babam

TRAPACcedilA ndash E o resgate eacute todo nosso Iiiiccedila

CHUCK ndash Neide quanto podemos ganhar com isso

NEIDE ndash Deixa eu ver Poderiacuteamos pedir a soma das vendagens dos trecircs primeiros livros isso ia dar Uns 15 milhotildees de reais novos

NEW YORK ndash Como estaacute estipulado em nossas leis os senhores Johnson e Trapaccedila autores do sequestro ficaratildeo com 20 do lucro total cada um Os 60 restantes seratildeo divididos entre noacutes seis

NESTOR MIRONGA ndash Soacute uma coisa E se ele se recusar a pagar

NEW YORK ndash Aiacute roubamos toda a grana dele o apagamos e lanccedilamos o livro com a autorizaccedilatildeo do autor cedendo todos os direitos autorais

DE LADO ndash Mas isso vai dar uma fortuna

NEIDE ndash Nafta esse plano eacute muito bom Vocecirc eacute terriacutevel

NAFTALINA ndash Tem razatildeo minha querida Quando a arte e o crime se juntam qualquer coisa pode acontecer ateacute mesmo uma pintura impressionista Vamos ao trabalho ()

DOGMA (ao ser contactado) ndash Sou eu mesmo Em que posso ajudaacute-los

MIRONGA ndash Natildeo fale nada ou estouraremos seus miolos Noacutes temos o seu uacuteltimo texto em cativeiro

DOGMA ndash Aquele que escrevi ontem Ia jogar no lixo

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QUINTO

ENSAIO

MIRONGA (bate-lhe na cara) ndash Nunca mais despreze assim uma obra de arte canalha

DOGMA ndash O que vocecircs querem

TRAPACcedilA ndash Toda a grana da vendagem dos seus quatro livros

DOGMA ndash Satildeo soacute trecircs O meu lucro com eles foi de 75 reais

BLAU BLAU ndash Eacute pouco Eacute pouco Ai ai ai Eacute pouco

DOGMA ndash Tambeacutem acho mas foi o que ganhei na eacutepoca Lembro que deu pra pagar minhas contas no London no Tip Tim e no bar do teatro

MIRONGA (daacute-lhe um tapa) ndash O London mudou de nome imbecil Agora eacute Rodolfus

TRAPACcedilA ndash Natildeo importa Fica com essa mixaria aiacute noacutes vamos lanccedilar esse livro e ganhar uma nota preta sacou E natildeo vamos dar um centavo pra editora

DOGMA ndash Entatildeo eacute assim Eu faccedilo o trabalho sujo e vocecircs faturam

NEIDE ndash Ele tem razatildeo ele eacute o artista

CHUCK ndash Taacute bem fique com 10

DOGMA ndash Vinte

CHUCK ndash Quinze e taacute acabado E lembre-se esse livro eacute um marco sacasse UM MARCO

DOGMA ndash Taacute legal boa sorte Como tem gente iludida nesse mundo

NARRANTE ndash E agora para a apresentaccedilatildeo dos membros da gangue de Naftalina Johnson

Noacutedulo Chuck o rebelde solitaacuterio tem sua vida dividida entre pequenos roubos de obras de arte e sua matildee uma simpaacutetica velhinha Nicanor New York vigarista e golpista um gringo que na verdade nasceu em Chicago no Illinois eacute o mais elegante e menos temperamental sua calma lembra a dos quadros de Guto Bouer os quais jaacute furtou quatorze Neuzinha Blau Blau a mulher que roubou o Bofe Aacutespero de Leonardo daacute Vinte saiu do manicocircmio direto para o mundo do crime A prostituta Neide Sapatinho dedica-se ao crime para vingar a morte de seu pai um ex-diretor do grupo Kontra Senha Nivaldo Trapaccedila marginal absolutamente sem escruacutepulos e tarado sexual por mulheres que estatildeo lendo o ldquoConde de Monte Cristordquo Nestor Mironga o braccedilo negro do crime sempre pronto para golpear impiedosamente qualquer um que queira publicar um poema pelas vias da lei Nem de Lado cheirador safado tem esse nome porque gosta de comer papinha com cebola Seu maior feito foi ter violado um cemiteacuterio de naturezas mortas E Naftalina Johnson o intelectual da corrupccedilatildeo autoral expert em estupro da inspiraccedilatildeo e em sequestro do talento alheio E agora sim a continuaccedilatildeo da histoacuteria

DOGMA ndash Jaacute satildeo quatro da manhatilde daqui a pouco eu preciso ir pra rua e natildeo posso ficar aqui escrevendo essa peccedila Se desse dinheiro eu ateacute terminava Agora me deem licenccedila

NARRANTE ndash Jaacute que o autor natildeo estaacute em

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ENSAIO

condiccedilotildees aiacute vai a continuaccedilatildeo da peccedila de qualquer maneira

UM GRITO VINDO DAS COXIAS ndash Que histoacuteria eacute essa de natildeo querer terminar a peccedila Todo mundo aqui trabalha soacute intelectual eacute que natildeo

CHUCK (entrando com os outros) ndash Chefe vocecirc natildeo vai acreditar mas esse Dogma Zunindo eacute um niilista um pessimista Chega a ser perigoso

NARRANTE ndash Quem comenta sobre a personalidade do autor satildeo os psicanalistas Doutor Jacoacute e Doutor Jacuacute

DR JACOacute ndash O senhor Zunindo natildeo passa de um rebelde sem causa Eacute isso o que ele eacute Ele natildeo daacute valor ao que tem Ele natildeo merece viver Ele eacute um estorvo

DR JACUacute ndash Natildeo seja tatildeo duro com ele ele sofre tambeacutem sabia

DR JACOacute ndash Sofre nada ele gosta eacute de nos fazer de palhaccedilos Ele tira sarro o tempo todo

DR JACUacute ndash Eu acho que ele natildeo tem culpa Ele eacute assim mesmo

NARRANTE ndash Jaacute que a ciecircncia natildeo se decide vamos ver se o esoterismo ajuda Com a palavra o famoso guru Josh Palha

JOSH PALHA ndash Soacute sei de uma coisa enquanto houver um sopro de vida haveraacute em Dogma Zunindo o desejo de se renovar dia apoacutes dia Ai tenho de ligar para o Walter Mercado

NARRANTE ndash Seraacute nosso autor ressarcido pelos danos causados pela maleacutevola gangue de Naftalina Johnson Conseguiraacute realizar seu sonho de fazer uma novela para o Toni Ramos o Francisco Cuoco e o Tarciacutesio Meira chamada ldquoZerordquo Natildeo percam no proacuteximo JOTE Continuem com a gente

Nota do autor Trabalho Sujo parte de uma trama policial folhetinesca para descambar numa anaacutelise irocircnica sobre o papel da arte na vida das pessoas comuns e dos proacuteprios artistas O formato telesseacuterie funciona mais como uma metaacutefora do antigo JOTE-Titac como fica claro no iniacutecio e no fim da peccedila

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=ork4t4rP8w4Entrevista wwwyoutubecomwatchv=7gJTU-Kt5QU

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O AUTOR ESQUARTEJADO

Por Afonso Nilson

Personagens ator autor diretor algueacutem do puacuteblico figurantes com viacutesceras escondidas em suas roupas Ator ndash Ok mais um JOTE O uacuteltimo eu espero dessa vez Falo o uacuteltimo porque eu natildeo aguento mais esses textos que natildeo satildeo escritos para teatro Tem poesia tem crocircnica tem carta de amor tem confissatildeo de homossexualidade tem tudo Ateacute aula de teatro Natildeo precisam me

olhar com essa cara Natildeo vou dar aula natildeo sou professor Sou ator natildeo estatildeo vendo Mas acontece que sou um ator que natildeo aguenta mais ter que fazer das tripas coraccedilatildeo para pocircr em cena essas coisas que as pessoas acham que eacute um texto para teatro Tudo bem tudo bem Reconheccedilo que eacute bem mais faacutecil pocircr em cena um poema uma crocircnica do que um texto com falas accedilatildeo e tudo que como teatro natildeo serve nem para um arremedo Jaacute viram Como eacute que se interpreta um ldquoohrdquo em cena ldquoOh meu amorrdquo ldquoOh dorrdquo Ou pior ldquoOh me matasterdquo Jaacute pensou Me mastates O cara leva um tiro cai no chatildeo olha para seu assassino e solta essa ldquoOh me matasterdquo Natildeo daacute neacute Aiacute chega o Jote Aquele monte de texto em cima da mesa e as pessoas datildeo uma olhada num noutro jaacute descartam os monoacutelogos e quando veem uma frase de efeito laacute perdida por acaso entre um punhado de ldquoohsrdquo pronto taacute laacute o texto e eacute aquela carnificina para ter a oportunidade de dizer uma uacutenica frase que preste nesse emaranhado que satildeo os textos para o Jote Ok tudo bem Daacute pra montar tudo hoje em dia Jaacute ouviram falar de teatro poacutes-dramaacutetico Azar o de vocecircs Hoje daacute pra montar ateacute bula de remeacutedio Daacute pra adaptar receita de bolo daacute pra fazer depoimento pessoal daacute pra grunhir igual a um porco e dizer que eacute performance que eacute arte contemporacircnea Tatildeo brincando comigo Isso eacute coisa do passado Anos 50 60 70 living Asdruacutebal Barba Zeacute Celso Um pouco depois aqui em Santa Venera O Venera pode porque ele foi o primeiro Enquanto o pessoal ainda tava montando chanchada o Venera metia

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o terror fazia o que ainda era novidade nas terras da novidade Mas agora 20 anos depois rapazinho me vem com teatro performaacutetico improvisando sobre qualquer besteira que ouviu dizer de um professor que ouviu de um terceiro que nem sequer sabia do que estava falando Natildeo daacute neacute

(Da plateia levanta um cara vai raacutepido ateacute o ator e lhe daacute um empurratildeo)

Autor ndash Fala mal do meu texto mais uma vez se vocecirc eacute homem

Ator ndash O idiota taacute estragando a cena

Autor ndash Natildeo tinha nada disso no meu texto

Ator ndash Como eacute Quer dizer agora que eu natildeo posso dar uma improvisadinha sequer

Autor ndash Improvisar Vocecirc natildeo disse uma uacutenica palavra que eu tenha escrito ateacute agora

Ator ndash Vocecirc devia me ser grato por isso Ateacute bem grato se for levar em consideraccedilatildeo aquela merda que vocecirc mandou pro Jote

Autor ndash Olha aqui seu puto Se vocecirc acha que eu vou aturar isso quieto

Ator ndash Isso mostra a cara pseudocircnimo Mostra essa fuccedila incapaz de articular uma uacutenica palavra que seja teatro de verdade

Autor ndash E o quecirc pra vocecirc viado eacute teatro de verdade

Ator ndash Ora o teatro o teatro

Autor ndash O teatro natildeo eacute pra ser explicado por

um atorzinho Teatro se faz natildeo se explica Natildeo quero saber desses textos adaptados natildeo quero saber de bula de remeacutedio natildeo quero saber de nada de nada dessa merda de teatro contemporacircneo Eu quero eacute o teatratildeo Qual eacute Natildeo posso mais gostar de texto claacutessico Sim meu amigo eu escrevo ldquoohrdquo Eu uso frase de efeito no meu dia a dia Eu escrevo poema e ponho na boca de meus personagens Qual eacute Vai encarar

Ator ndash Eu hein quero saber dessa merda natildeo

Autor ndash Mas aqui no palco vocecirc vai ter que querer Taacute na chuva eacute pra se molhar meu

Ator ndash Isso eacute que eacute frase de efeito meu (entra o diretor na histoacuteria)

Diretor ndash Amigos amigos Vamos nos acalmar Natildeo precisamos ficar tatildeo exaltados eacute apenas a estreia Toda a estreia eacute meio estranha natildeo eacute (para o puacuteblico) Vocecircs vatildeo nos perdoar por esse contratempo mas na verdade tudo isso faz parte do show estaacute tudo no script

Autor ndash No texto taacute tudo no texto Era pra estar na verdade

Diretor ndash Mas vocecirc natildeo acha que isso agraves vezes ateacute ajuda a encenaccedilatildeo a ficar mais rica mais natural

Autor ndash Texto eacute texto e taacute acabado

Ator ndash Mas e a reaccedilatildeo da plateia Agora porque Vossa Excelecircncia o autor quer eu natildeo posso mais interagir

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QUINTO

ENSAIO

Diretor ndash Podemos achar um meio termo que tal um texto colaborativo criaccedilatildeo coletiva

Autor ndash Tais gozando com a minha cara natildeo eacute Natildeo existe esse negoacutecio de criaccedilatildeo coletiva tem sempre um que encabeccedila a histoacuteria

Ator ndash Ah eacute vamos ver soacute Vou chamar algueacutem da plateia (puxa algueacutem da plateacuteia)

Ator ndash O senhor me desculpe mas a gente precisa resolver essa histoacuteria O que o senhor acha Improviso faccedilo um teatro contemporacircneo sem texto texto-natildeo dramaacutetico ou volto a ser um tolaccedilo do seacuteculo XIX tendo que decorar todas as minhas falas

Algueacutem do puacuteblico ndash Olha eu natildeo sei muito bem Que eacute que eu vou dizer O autor

Autor ndash O senhor pode sentar por favor Muito obrigado pela sua participaccedilatildeo numa proacutexima vez em que seja preciso tirar a roupa a gente te chama de novo

Ator ndash Gostasse dele natildeo eacute

Autor ndash Sai pra laacute

Diretor ndash Natildeo estamos evoluindo

Ator ndash Pra evoluir temos que representar a bula

O cara do puacuteblico (fala de seu lugar) E o que eacute que o teatro tem a mais que o cinema Prefiro ir ao cinema ver uma merda qualquer do que ficar aqui nessa tortura de natildeo teatro

Diretor ndash O cara tem razatildeo teatro ruim eacute

insuportaacutevel Antes um filme fraco do que uma montagem fraca

Ator ndash Mas e aiacute e a pergunta do cara O que eacute que o teatro tem a mais que o cinema

Diretor ndash Imaginaccedilatildeo porra No cinema vocecirc vecirc o mar Caacutespio No teatro o mar natildeo precisa nem de uma gota de aacutegua para significar um oceano Quer ver Oceano

Ator ndash Vocecirc acha mesmo que eu vou me afogar natildeo eacute

Diretor ndash Era soacute pra dar um exemplo

Autor ndash Daacute pra mudar raacutepido de histoacuteria e cenaacuterio sem um uacutenico adereccedilo no teatro

Ator ndash Ah eacute

Autor ndash Aja raacutepido Peccedila podre (o ator faz um trejeito) Viu vocecirc nem precisava fazer nada bastava continuar a fazer o que estava fazendo

Diretor ndash O importante eacute o contato direto com o puacuteblico Nunca no cinema algueacutem viria ateacute a sua cadeira e faria isso (vai ateacute o cara do puacuteblico e lhe torce o nariz)

Ator ndash Muito interessante Deve ter sido uma experiecircncia muito boa para o senhor natildeo eacute Accedilatildeo em 3D

(haacute um grande silecircncio vazio)

Diretor ndash Improvise

Autor ndash Eacute vamos acabar com esse teacutedio faccedila aiacute qualquer coisa

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QUINTO

ENSAIO

(o ator pode nesse momento fazer qualquer coisa)

Diretor ndash Ateacute que foi interessante

Autor ndash Mas estava no texto

Ator ndash Natildeo senhor no texto dizia claramente ldquoo ator pode fazer qualquer coisardquo

Autor ndash Entatildeo estava no texto

Ator ndash Mas quem criou fui eu

Autor ndash Azar o seu leve o creacutedito

(mais um momento de silecircncio vazio)

Autor ndash Pra esse texto dar certo algueacutem precisa morrer ou ser traiacutedo

Ator ndash Traiacutedo tu jaacute foi corno (o autor agarra o autor pelo pescoccedilo o diretor interveacutem)

Diretor ndash Ele tem razatildeo

Ator ndash Eu natildeo disse corno

Diretor ndash Natildeo natildeo isso Mas que algo tem que acontecer tem Sei laacute a intriga sabe A tensatildeo dramaacutetica

(ator e autor se entreolham furiosamente fingindo tensatildeo caem na gargalhada)

Autor ndash Que piada

Diretor ndash Se fosse uma comeacutedia seria de chorar

Autor ndash Vamos acabar logo com essa merda

Diretor ndash Algueacutem tem que morrer

Autor ndash Jaacute sei jaacute sei ldquoa morte do autorrdquo Esse texto eacute velho meu

Diretor ndash Velho mas uacutetil

Ator ndash Conclamo todos da plateia a matar o autor (o diretor e o ator puxam pessoas da plateia para cercar o autor no meio da cena Eles o cercam lentamente eles o consomem rasgam suas roupas retiram intestinos unhas dentes cabelo ateacute natildeo sobrar nada aleacutem de carne crua e tomates sobre o palco Todos voltam aos seus lugares O autor nu senta-se junto ao puacuteblico)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=folk5Y3EvzAEntrevista wwwyoutubecomwatchv=TUZEqE5UfgY

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ENSAIO

ldquoQUE CHEIRO Eacute ESSErdquo

Por Wilfried Krambeck

A e B entram em cena debatem-se um pouco com a luz no rosto e dirigem-se ao puacuteblico

A ndash Bem Olaacute Tudo bem Noacutes viemos hoje aqui para falar sobre esse NuTE neacute

B ndash Isso sobre esse tal de NuTE

A ndash Na verdade eu nem sacava desse NuTE mas tocirc aiacute representando um Um cara que teve aiacute Digamos assim Uma breve passagem por esse NuTE aiacute e que disse Vai laacute fala com o pessoal fala das coisas que rolaram laacute tu eacute o cara (para B) Natildeo eacute

B ndash Isso aiacute Ele falou que tu eacute o cara

A ndash Bem Eacute isso Aiacute eu trouxe esse meu chapa aqui Pra natildeo falar sozinho entendeu

B ndash Ooooopa tamo junto nessa parada Toca aqui oacute Cecirc eacute meu parceiro cecirc eacute meu mano

A ndash Aiacute o cara me falou tu daacute uma sacada no blog antes de ir ateacute laacute que taacute tudo laacuteaacuteaacuteaacuteaacute cara

B ndash Ele falou olha no blog eacute isso aiacute mano

A ndash Aiacute eu disse blog cara Que porra eacute essa

B ndash Eacute Que porra eacute essa

A ndash Ele falou internet cara tu eacute burro hein Eu disse burro natildeo pega leve um pouco desinformado ateacute pode ser neacute ocircocircocirc cara

B ndash Que burro o quecirc

A ndash Bom eu sei que daiacute ele abriu laacute pra gente aquele tal de blog a gente viu umas coisa laacute e tamo aqui nessa parada pra trocaacute umas ideia aiacute

B ndash Eacute a gente viemos neacute

A ndash Pocirc uma coisa legal que eu vi cara eacute que tinha um boteco laacute e a turma mandava ver

B ndash Pocirc legal Papo furado cigarro cerveja e salgadinho Eacute

A ndash Isso aiacute Outra parada eram os barracos De vez em quando tinha nego montando um baita dum barraco no meio deles

B ndash Era tudo barraqueiro

A ndash Natildeo tudo natildeo mas parece que tinha uns cara especializado nessa parada meu

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QUINTO

ENSAIO

B ndash Cara isso era moacute zona entatildeo Mermatildeo

A ndash Sei laacute neacute Mas diz que os caras ameaccedilavam se jogar dos preacutedios invadiam preacutedio abandonado toda hora batia poliacutecia Um outro passava de carro nos pontos de ocircnibus baixava as calccedilas e mostrava a bunda pra galera Pocirc meu os cara soacute faziam merda

B ndash Taacute loco

A ndash Pra tu vecirc como os cara eram maneacutes meu eles enterravam livro zero bala Eles podiam vender fazer uma grana Mas eles enterravam assim sem plaacutestico sem nada cara

B ndash Orra meu papelzinho bom pra enrolar um bagulho Enfiado no barro cara

A ndash Entatildeo Outra parada eacute que tinha um cara que chegava no ouvido dos outros e dizia que entregava a rosquinha

B ndash O quuuuuuecirc

A ndash Eacute Dizia queacute comecirc minha rosquinha Na cara dura Tudo bem Ele vendia quer dizer Cobrava mas pocirc meu Um negoacutecio assim soacute em pensar jaacute doacutei neacute

B ndash Taacute doido meu Mas ele natildeo dava de verdade neacute

A ndash Sei laacute Neacute Tinha um outro que jogava bombinha falhada num lixeiro E nada E tinha gente mais maluca ainda que achava isso o maacuteximo Tem tapado pra tudo mesmo neacute

B ndash Pocirc meu bombinha eacute pra estourar eacute pra fazer o escarceacuteu eacute pra fazer festa

A ndash Um outro pendurou uma cadeira e deram

um precircmio natildeo sei de quecirc pro cara

B ndash Taacute me gozando

A ndash Seacuterio Aliaacutes diz que pra ganhar precircmio a turma fazia o diabo Enchiam os corno de jurado com cerveja Diz que tinha um que pra tentar ganhar um precircmio ficava trepado em cima de uma roda por mais de uma hora

B ndash Era doido

A ndash Sei laacute Mas o cara ficava

B ndash Deviam mandar ele pro pinel

A ndash Por falar nisso cara tinha uma turma inteira Cara eram uns quinze tudo misturado cara era homem mulher novo velho tudo junto Que corriam pelados no meio da noite Pelo mato pelos campos de futebol pelas cachoeiras Assim peladotildees meeeeeismo

B ndash Na boa

A ndash Na maior Diz que era ateacute feio de ver Mas cara nunca vi Eles gostavam de ficar pelados Era no mato na praia no apartamento no palco Era tudo pirado cara

B ndash Natildeo era agrave toa que batia a poliacutecia

A ndash Ahhh E tinha um tal de um metido a escritor que natildeo escrevia coisa com coisa

B ndash Como assim

A ndash Soacute falava de papo de becircbado de chuva de briguinhas daqueles barraqueiros

B ndash Ei mas natildeo foi esse cara que disse pra tu natildeo falar isso dele aqui Que ele ia te deletar deste texto

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QUINTO

ENSAIO

A ndash Falou Mas o chapa que me mandou aqui disse que natildeo tem essa Depois que a coisa ta impressa ningueacutem mais deleta porra nenhuma Fica frio

B ndash Ahhh Entatildeo taacute Mas por via das duacutevidas eu vou dar no peacute (sai)

A ndash Eacute cara acho que falamo muita merda em pouco tempo vambora (sai tambeacutem)

FIM

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=kWaN1pZovGgEntrevistawwwyoutubecomwatchv=7x_ReaLb3Io

A PEDIDOS

Por Giba de Oliveira

(Ao entrar na plateia o puacuteblico encontra no palco um muacutesico com seu violatildeo Ele estaacute ao fundo na direita sentado sobre uma simples banqueta tocando e cantando a muacutesica TERRA de Caetano Veloso Numa mesa mais deslocada agrave direita baixa sob um foco de luz estatildeo sentados Luciano e Francisco Observam o muacutesico ateacute o final da muacutesica Os dois estatildeo em silecircncio entorpecidos mas NAtildeO estatildeo embriagados ora fumando ora bebendo Aliaacutes fumam muito)

Muacutesico ndash A pedidos (comeccedila a dedilhar a proacutexima muacutesica CAacuteLICE de Chico Buarque de Hollanda)

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ENSAIO

Francisco ndash A Pedidos Por que ele falou isso

Luciano ndash Porque algueacutem pediu

Francisco ndash Foste tu

Luciano ndash Fui eu

Francisco ndash Tu eacutes um merda mesmo Essa muacutesica se chama Caacutelice

Luciano ndash Foda-se

Francisco ndash Caacutelice

Luciano ndash Taacute E esse Festival

Francisco ndash JOTE-titac Jogos Jogos

Luciano ndash Jogos Certo O que acontece Eacute um tipo de RPG

Francisco ndash Tu parece crianccedila poxa Trata-se de um concurso cecircnico de cunho cultural onde grupos e autores participam Os grupos com seus elencos e teacutecnicos e os autores por sua vez com seus textos Tendeu

Luciano ndash Putz Taacute parecendo telecurso segundo grau explicando uma soma de quadrados

Francisco ndash Entatildeo faz o seguinte o seu merda

Luciano ndash Faz o quecirc

Muacutesico ndash Um minuto de intervalo e voltamos jaacute

Francisco ndash Caraiu Na horinha neacute Vai meu filho vai Vai laacute

Luciano ndash Porra cara Tu natildeo ias falar de uma peccedila de teatro que tu ias escrever

Francisco ndash Vou falar Calma

Luciano ndash Tocirc calmo

Francisco ndash Entatildeo

Luciano ndash Vamu laacute

Francisco ndash NuTE

Luciano ndash Hatilde Que eacute isso

Francisco ndash Aiacute natildeo vai dar Tu eacutes muito ignorante porra

Luciano ndash Fala aiacute cacete Eu sou bom em entender as coisas

Francisco ndash Entende nada De cultura tu natildeo entendes nada

Garccedilom ndash (aparecendo de repente Trata-se do muacutesico disfarccedilado) Mais alguma coisa

Luciano ndash Hatilde Deixa eu ver Peraiacute Tu saberias me dizer por um acaso do destino o que significa a palavra NuTE

Garccedilom ndash Pois natildeo o Nuacutecleo de Teatro e Escola fundado Nuacutecleo de Teatro Experimental por Alexandre Venera dos Santos em 1984 tendo muitos e importantes colaboradores durante vaacuterios anos em que atuou na Sociedade Dramaacutetico Musical Teatro Carlos Gomes de Blumenau eacute foi e continua sendo uma das maiores correntes artiacutesticas legiacutetimas do sul do Brasil

Luciano ndash Hatilde

Garccedilom ndash Eacute servido com molho madeira batata frita e salada Mais alguma coisa

Francisco ndash Deixa ele O lance eacute o seguinte Luciano

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QUINTO

ENSAIO

Luciano ndash Fala aiacute Francisco

Francisco ndash Decorou o nome neacute

Luciano ndash Fala da tua peccedila caralho

Francisco ndash Entatildeo Vamos supor o seguinte aiacute o negoacutecio consiste em vocecirc escrever um texto E eu escrevi um

Luciano ndash Sim Adiante

Francisco ndash Eacute assim oacute (blackout) Hummmmmm acabou a luz (o cenaacuterio muda de lugar em 90 graus A luz volta O muacutesico volta)

Muacutesico ndash Desculpem a falha teacutecnica Com vocecircs uma muacutesica da nossa querida Juliana Muller

Francisco ndash Nossa Sou tarado nessa mulher

Luciano ndash Se concentra porra

Francisco ndash Mas ela eacute gostosa

Luciano ndash Pensa no Tadeu

Francisco ndash Aiacute tu forccedilas a amizade Tu sabes que o veacuteio Tadeu eacute gecircnio

Luciano ndash Dizem que o Tadeu eacute um Bruxo

Francisco ndash Parece que bebe Mas taacute Laacute vai Eacute assim oacute o cara eacute um detetive que vai narrando os acontecimentos num gravador como se descrevesse uma cena

Luciano ndash Como seria

Francisco ndash Fique atento A luz se apaga Ele estaacute com uma lanterna Respira ofegante (enquanto vai falando a luz muda e ele assume a personagem do detetive Existe muita fumaccedila no ambiente agora Ele carrega uma arma com

uma das matildeos e com a outra empunha uma lanterna) Vejo um caminho por aqui Vou seguir em frente Estaacute bem nublado Aqui termina a trilha Estou ouvindo um ruiacutedo acho que eacute um riacho Haacute uma pequena represa aqui Estaacute bem escorregadio Mas estaacute relativamente faacutecil de Tem algueacutem aiacute Tem algueacutem aiacute Escutei sons de passos mais adiante Parado Parado eu jaacute disse Parado ou eu atiro Ele estaacute fugindo (Anda por entre a plateia lentamente com a arma e a lanterna A fumaccedila em abundacircncia continua Logo se pode ver trecircs lanternas em meio agrave escuridatildeo sendo duas na plateia de lados opostos e outra no palco Francisco fala para a segunda lanterna na plateia) Quem eacute vocecirc Fique parado Bote sua arma no chatildeo junto com a lanterna Agora

Luciano que agora eacute outro ndash Calma Sou amigo Natildeo atire Calma por favor calma

Francisco ndash Quem eacute vocecirc

Luciano ndash Um amigo

Francisco ndash O que vocecirc fazia na casa de Elizabeth

Luciano ndash Elizabeth Eu fui avisaacute-la Algueacutem estaacute tentando matar Elizabeth (Ouve-se um tiro A terceira lanterna sai correndo em disparada Luciano cai no chatildeo)

Francisco ndash Natildeatildeatildeo

Luciano ndash Eu amava Elisabeth Jamais faria mal a ela

Francisco ndash Quem a queria morta Diga o nome

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QUINTO

ENSAIO

Luciano ndash Lorival

Francisco ndash Natildeatildeatildeatildeatildeooooooo (Novo blackout Ao voltar a luz o cenaacuterio estaacute totalmente invertido O muacutesico em sua banqueta e os dois amigos sentados agrave mesa Muacutesica Aacuteguas de marccedilo de Tom Jobim)

Luciano ndash E aiacute Acabou Ele morre e o bandido foge

Francisco ndash A arte imita a vida meu amigo

Luciano ndash Tu estaacutes mentindo Tu nunca dirias uma besteira dessas

Francisco ndash Tens razatildeo Mas somos artistas Vivemos em mundos onde tudo eacute possiacutevel posto que eacute feito de ideias de imaginaccedilatildeo sons e imagens Cores e formas

Muacutesico ndash E poesia Aacutetomos Nuacutecleos

Francisco ndash Isso mesmo E poesia porque se trata de uma homenagem ao belo ao fundamental nas nossas vidas Pra alimentar nossos espiacuteritos Jaacute tatildeo sofridos

Luciano ndash E como seraacute o tiacutetulo

Francisco ndash Eu natildeo faccedilo a menor ideia (Ficam os dois em silecircncio contemplativo)

Muacutesico ndash A pedidos (With Or Without You do U2 Os dois se olham interrompendo o fluxo de cigarros A luz vai saindo em Fade Out O cenaacuterio gira e agora todos estatildeo de costas com uma luz contra muito tecircnue Os dois continuam gesticulando na mesa como se conversassem O muacutesico continua) Queremos agradecer as

pessoas que fazem o mundo brilhar Alexandre Venera dos Santos Wilfried Krambeck Carlos Crescecircncio dos Santos Peacutepe Sedrez Siacutelvio da Luz Giba de Oliveira Niralciacute Ferreira Rosane Magaly Martins Tacircnia Rodrigues Antocircnio Leopolsky Janice Penzzotti Jeniffer Penzzotti Klaus Jensen Tadeu Bittencourt Eacutedio Raniere Joseacute Aparecido da Silva Juliana Muller Leonel Campos Wladimir Juliano Treiss Cristiane Muller Joseacute Ronaldo Faleiro Otto Aacutelvaro Tanise Diogo Pollyanna Maria da Silva Andrea dos Santos Polly Vendrami Kadu Nassau de Souza Douglas Zuninno Janaiacutena Gabriela Luciana May Denniz Raduumlnz Juceacutelia Zimmermann (aqui poderatildeo ser incluiacutedos outros nomes que provavelmente foram omitidos por puro esquecimento Na saiacuteda da plateia essa relaccedilatildeo deveraacute ser entregue com a ficha teacutecnica do elenco)

FIM

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=0LpZEZRun4MEntrevista wwwyoutubecomwatchv=jix56Qib3tg

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QUINTO

ENSAIO

APRESENTACcedilAtildeO DOS ESPETAacuteCULOS ou Quando se Experimenta

OITO OLHARES sobre o NuTE

CRINU E CASTITE

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Texto de Dostuevisqui da SilvaGrupo LEGUME PalhaccedilosDireccedilatildeo Telja RebelattoElenco Ana Peres Batista Juliana Goldfeder Charles AugustoMuacutesico Lucio LocateliProduccedilatildeo Italo ReisFotografia Glaucia MaindraImagem-documentaacuterio Glaucia Maindra Italo ReisMaquiagem Ana Peres BatistaFigurino Juliana Goldfeder Telja RebelatoIluminaccedilatildeo Charles AugustoCenografia O GrupoCoreografia Telja Rebelato Ana Peres Batista e Juliana Goldfeder

Espetaacuteculowwwyoutubecomwatchv=4hE9tk8zg7k

MAQBEacuteTE UMA INTERFEREcircNCIA NA TRANSMISSAtildeO

Texto de Iran da SilveiraGrupo Elementos em CenaDireccedilatildeo Cleber Lach Codireccedilatildeo Roberto MurphyElenco Dorly Luchini Luacutecio Mello Roberto Murphy Juliana Skutnik Adriana DellagustinaSonoplastia Rubens Iluminaccedilatildeo Rubia Cris

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=lWClvHpyisw

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O DE PRETO O DE BRANCO E OS DE CORES ou um despretensioso questionamento

Texto de Wilfried KrambeckGrupo Trupe SOU de Experimentaccedilotildees TeatraisDireccedilatildeo Geral Gisele BauerElenco Ana Acaacutecia Schuarz Schuumller Faacutebio Schmidt Fernanda Borges Raupp Kaio Gomes Bergamim Mariluce Rodrigues de FreitasSonoplastia Ramon Jerocircnimo Trajano e Carlos Alexande SchurubbeProduccedilatildeo Anna Mock

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=PVPk3U91iEQ

O MONSTRO DE NUTESTEIN

Texto Wilfried KrambeckGrupo Grupo AmaDoresDireccedilatildeo Marco Antonio de Oliveira e Samantha BernardoElenco Daniella Curtipassi Leonel Curtipassi Marco Antonio de Oliveira Mariella Kratz Samantha BernardoProduccedilatildeo Alexandre Silveira Daiana Hostins Diego Vargas Guilherme Reddin Ruan Rafael RosaFotografia Imagens e Sonoplastia Grupo AmaDores

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=zQcabJ0A8a8

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ENSAIO

TRABALHO SUJO

Texto de Iran da SilveiraGrupo KonvidadosDireccedilatildeo Rafael KoehlerElenco Angelene Lazzareti Daidrecirc Thomas Daniela Farias Edegar Starke Joanna Oliari Kriseacuteven Campana e Rafael KoehlerCoreografia Edegar StarkeSonoplastia Joanna OliariFigurino Luacute MayProduccedilatildeo Pedro Wolff e Bianca MacoppiImagem-documentaacuterio Bianca Macoppi e Rafael KoehlerIluminaccedilatildeo Joanna Oliari

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=9Bk5DUrY-eQ

O AUTOR ESQUARTEJADO

Texto de Afonso NilsonGrupo Kontra Senha do Lado AvessoDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzElenco Patriacutecia Aracelli Bieging Anna Lena Riffel Igor Trapinauska Nayara Aline Schmitt Azevedo Katherine HogeProduccedilatildeo Cristiane Serpa da Luz Katherine HogeFigurino e Cenaacuterio O GrupoMaquiagem Patriacutecia Aracelli BiegingIluminaccedilatildeo Silvio Joseacute da Luz

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=9Bk5DUrY-eQ

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QUE CHEIRO Eacute ESSE

Texto de Wilfried KrambekGrupo BadulakDireccedilatildeo Jean MassaneroElenco Aline Barth Elisangela Franccedila (Zanza) Jorge Gumz Leomar Peruzzo Suellen JunkesIluminaccedilatildeo Jean MassaneroSonoplastia Aline BarthCenografia Kethlin Luana GusawaFigurinos Bruna Aline Moraes Suellen Junkes Priscila Franzoi Elisangela FranccedilaMaquiagem Bruna Aline Moraes Priscila Franzoi Suellen Junkes Jorge GumzProduccedilatildeo Kethlin Luana GusawaFotografia Dora MoraesImagem-documentaacuterio Priscila FranzoiParticipaccedilatildeo Especial Maicon (violino)Recomendaccedilatildeo 18 anos

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=IfWQ9Jfc_ZE

A PEDIDOS

Texto de Giba de OliveiraGrupo Equipe ViacutesCera de TeatroDireccedilatildeo Maicon Robert KellerElenco Cleiton Jr Pereira da Rocha Ciacutentia Daniela Galz Ciacutentia Tribess Denis Roberto Inaacutecio Evair Graciola Mayara Luana VoltoliniMaquiagem Fabriacutecio Gustavo Gesser CardosoIluminaccedilatildeo Maicon KellerCenografia e Figurinos Equipe ViacutesCera de TeatroProduccedilatildeo Executiva Fabriacutecio Gustavo Gesser CardosoProduccedilatildeo Geral Equipe ViacutesCera de Teatro

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=U1ZpVSuj_3I

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cena do espetaacuteculo ldquoa mortardquo atriz-paacutessaro janaina meneghel

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ENSAIOSEXTO ENSAIO - 08 DE JULHO DE 2015

Ensaio Final de Quarta-feiraNo reloacutegio do bar marcam 23h12min

Imagem Insistente Estreia

Passamos os meses de maio e junho trabalhando quase que diariamente no espetaacuteculo Com a estreia marcada para 10 de julho ontem e antes de ontem tentamos um ensaio geral Apesar de um grande esforccedilo coletivo a sensaccedilatildeo que transbordava era de um espetaacuteculo ainda em desenvolvimento parecia natildeo estar pronto carecia de algo precisava ser finalizado No ensaio de hoje agrave noite mais uma vez isso se repetia O grupo um tanto ansioso com a estreia um tanto perturbado com o inacabado entreolhava-se todos os corpos mesmo os inumanos e ateacute os imoacuteveis transpiravam interrogaccedilotildees Como vai ser O que fazer O puacuteblico vai gostar Algueacutem vai nos criticar Vatildeo nos aplaudir Vai aparecer um personagem ressentido que natildeo foi entrevistado nos acusando de usar indevidamente o dinheiro puacuteblico Vai aparecer uma empresa muito impressionada com nosso trabalho querendo patrocinar um novo projeto via alguma lei de incentivo agrave cultura Vatildeo nos amar odiar desprezar Ficaratildeo entediados surpresos assustados Algueacutem vai sorrir E laacutegrimas Seraacute que

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SEXTO

ENSAIO

Laacute pelas tantas Silvinho propotildee uma intervenccedilatildeo etiacutelica O bar a essa altura do campeonato parecia ser realmente a uacutenica soluccedilatildeo possiacutevel Fomos beber

Chegando ao estabelecimento aproximamos duas mesas e solicitamos ao garccedilom a primeira rodada de cerveja pois em Blumenau mesmo no frio de julho sempre se bebe cerveja Depois da quinta ou sexta rodada algumas boas ideias comeccedilaram a surgir

ndash E se no meio da peccedila a gente explodir tudo podemos citar O Homem do Capote e mandar tudo pros ares teatro puacuteblico cadeira BUMMMM tudo voando voando ia ser lindo

ndash Eacute uma boa Faria sucesso de criacuteticandash Olha pessoal pra dizer a verdade eu

acho que faltou alguma coisa por isso estamos assim

ndash Assim como becircbados ndash risosndash Meu analista sempre diz que a falta tem

relaccedilatildeo com o Complexo de Eacutedipondash Eacutedipo Quem sabe se a gente chamasse a

tua matildee entatildeondash Natildeo porra Tocirc falando seacuterio Tipo a editora

πpa por exemplo eacute uma marca forte do NuTE Numa eacutepoca que circulava pouquiacutessimo material sobre teatro na regiatildeo o que se conseguia traduzir por sorte encontrar ou mesmo produzir publicava-se por laacute onde eacute que se fala dessas publicaccedilotildees

ndash No Quarto Ensaiondash Taacute mas pera laacute o que acontece natildeo vai aleacutem

de uma citaccedilatildeo Lembro que Alexandre havia

deixado pra gente aleacutem dos aperitivos cecircnicos um tal de Aperitivo Livretante Esse Aperitivo Livretante era sobre a editora πpa O problema eacute que ningueacutem utilizou porque aquele merda do Ator Guerrilheiro provocou uma guerra dentro do grupo a maioria dos atores abandonaram os ensaios mal conseguimos encenar o aperitivo escolhido Ou seja natildeo existe nenhuma cena sobre essas publicaccedilotildees

ndash Por isso que eu sugeri chamar a tua matildee tais entendendo agora Podemos sentar a veacuteia numa banqueta e dar uma plaquinha pra ela ficar segurando PIPA Vai ficar joia joia

ndash Eu acho que o que estaacute publicado fala de si com muito mais forccedila do que aquilo que tenta interpretaacute-lo Natildeo tinha uma rubrica no projeto destinada a impressotildees de material

ndash Sim Natildeo usamos nada ainda taacute laacute esperando

ndash Por que entatildeo a gente natildeo seleciona esse material publica em formato de livreto e distribui ao puacuteblico durante nossas apresentaccedilotildees

ndash Eacute uma boa ideiandash Eacute uma excelente ideiandash Eacute uma ideia que merece um brinde ndash Cacete acabou a cerveja Garccedilom Traz

mais quatro cervejas aqui por favorO garccedilom trouxe as cervejas Bebemos As

cervejas acabaram pedimos mais uma rodada Depois da comemoraccedilatildeo borbulhante um silecircncio travoso amargava na boca Amargou amargou ateacute que Juliana pedindo mais uma rodada saiu com essa

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SEXTO

ENSAIO

ndash Eu ainda acho que faltou pesquisa sobre a Estereocena

ndash Bobagem a Estereocena aparece no Segundo Ensaio Tem um trecho enorme da entrevista do Alexandre explicando o que eacute vocecirc ateacute participa da cena lembra Com os projetores multimiacutedia

ndash Sim sim eu sei mas tudo acontece num relacircmpago eacute raacutepido demais pra importacircncia que tem Acho que poderiacuteamos ter explorado mais

ndash O que dizer entatildeo do JOTE-Titac ndash interrompe Wilfried

ndash Natildeo Wilfried peraiacute cara Tem um Ensaio inteiro sobre o JOTE-Titac

ndash Mas eacute pouco deveria ter mais coisasndash Tipo o quecircndash Tipo uma cronologia como aquela do

Terceiro Ensaio onde apareceriam os textos premiados seus respectivos autores bem como os espetaacuteculos encenados Algo com maior embasamento histoacuterico Acho justo porque o JOTE-Titac foi uma das coisas mais intensas do NuTE

ndash Mas isso jaacute foi feitondash Ondendash No livro Jogos de Teatro 12 anos de

Teatro em Blumenau publicado pela Cultura em Movimento em 2000

ndash Sim mas eacute um tratamento totalmente diferente do que estamos dando aqui Insisto pois existem quilos de material inclusive catalogados pela pesquisa sobre as treze

ediccedilotildees do JOTE-Titac que natildeo utilizamos pra nada

ndash Olha ndash diz Peacutepe pegando um gancho ndash se for pra fazer mais um Ensaio sobre o JOTE-Titac acho que o foco entatildeo deveria ser a pulsaccedilatildeo artiacutestica que acontecia ao redor do NuTe os poetas os muacutesicos os artistas plaacutesticos os bailarinos todo aquele clima de efervescecircncia artiacutestica que rolava bem como todos os grupos de teatro que se formaram dentro do NuTE Antes de montarmos a Cia Carona de Teatro por exemplo havia o Grupo Carona para Irmatildeo Sol e Irmatildeo Lua ambos foram antecedidos pelo Grupo Meu Grupo que nasceu dentro do NuTE Tudo comeccedilou ali Sobre isso quase nada foi dito Acho que satildeo coisas que ficaram agrave margem

ndash Mas Peacutepe esse troccedilo daria outro livro digo outro espetaacuteculo

ndash Cada um desses temas daria outro espetaacuteculo por si soacute

ndash Isso eacute verdade ndash respiraccedilotildees As palavras se calam apenas os copos conversam

ndash Garccedilom traz mais quatro cervejas por favor

Depois de alguns goles emudecidos Afonso diz

ndash E se ao inveacutes de preencher com algo faltante criaacutessemos alguns buracos pra coisa toda escapar

ndash Do que vocecirc estaacute falandondash Daacute licenccedila lembrei de que preciso ir ao

banheiro

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SEXTO

ENSAIO

ndash Talvez ndash Afonso explica ndash estejamos procurando no caminho errado parece-me que o espetaacuteculo natildeo precisa de algo a mais mas sim de uma fissura por onde escapar um duto atraveacutes do qual ele possa correr para todos os lados uma linha de fuga

ndash Acho que vocecirc estaacute becircbado ndash gargalhadas

ndash Peraiacute pessoal vamos tentar entender a ideia

ndash Taacute bom Entatildeo me diz como eacute que vamos abrir buracos ndash risos ndash num espetaacuteculo

ndash Bem eu natildeo tenho exatamente uma receita pronta pra fazer isso mas se vocecircs concordarem podemos comeccedilar aceitando o fato de que o NuTE natildeo cabe em um espetaacuteculo

ndash Como assim

ndash Acho que deveriacuteamos aceitar que nossa pesquisa eacute falha fraacutegil que construiacutemos um mapa provisoacuterio um mapa que para funcionar bem precisa ser conectado a outros mapas e esses outros mapas nem existem ainda estatildeo por vir

ndash Eu natildeo concordo com isso Em minha opiniatildeo o espetaacuteculo precisa abarcar o NuTE como um todo

ndash Como um todo ou como um tolo ndash risos

ndash Quem comeu o tolo ndash mais risos

ndash O Tolo ou o Bolo ndash ningueacutem achou graccedila Constrangimentos Calados todos bebem

ndash Cara essa ideia de todo eacute meio boba vocecirc natildeo acha

ndash Bobandash Eacute Meio ingecircnua Quem eacute que consegue

realmente fazer isso A descriccedilatildeo eacute sempre parcial Para se falar sobre qualquer coisa deixamos de falar sobre inuacutemeras outras Natildeo tem jeito de escapar Lembra quando Barthes diz que escrever eacute um gesto poliacutetico que vocecirc precisa optar a cada letra a cada viacutergula por uma esteacutetica por uma eacutetica33

ndash Se estou entendo bem vocecirc estaacute querendo me convencer de que deixar a coisa pela metade eacute aceitaacutevel

ndash Mais que isso Estou tentando te dizer que o fragmento eacute muito mais interessante que a totalidade

ndash Vocecirc pode ateacute achar o fragmento mais interessante agora para que as pessoas consigam entender o que foi o NuTE elas precisam do todo O fragmento natildeo vai ajudaacute-las a aprender melhor

ndash Aprender Mas por que cargas drsquoaacutegua te preocupas em ajudar as pessoas a aprender Natildeo haacute nada para se aprender aqui O que estamos fazendo passa muito mais por uma esfera artiacutestica do que racional Isso aqui natildeo eacute catequese natildeo eacute aulinha de telecurso do segundo grau Soacute queremos servir agrave histoacuteria agrave medida que ela serve para a vida Se a histoacuteria natildeo serve para a vida ela natildeo nos serve34

ndash Ah Essa eacute boa Se a funccedilatildeo desse espetaacuteculo natildeo eacute construir um aprendizado sobre o NuTE entatildeo ele serve pra quecirc

ndash Para libertar as pessoas

33 Roland Barthes em Grau Zero da Escritu-ra

34 Friedrich Nietzs-che Da utilidade e des-vantagem da histoacuteria para a vida

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SEXTO

ENSAIO

ndash Vocecirc estaacute becircbado soacute pode ser ndash risosndash Entatildeo vou chamar algueacutem soacutebrio que fale

por mim Pode serndash Vai ser difiacutecil encontrar um por aqui

hein ndash risos Afonso apanha sua mochila preta e retira

de dentro dela um volumoso livro de capa esverdeada Folheia algumas paacuteginas ateacute chegar agrave 147 Por fim aos ouvidos ansiosos em sua volta sorrindo potildees-se a ler

Torna-se decisivo que o abandono da totalidade natildeo seja pensado como deacuteficit mas como possibilidade libertadora ndash de expressatildeo fantasia e recombinaccedilatildeo ndash que se recusa a ldquofuacuteria do entendimentordquo35

ndash Na minha opiniatildeo se essa foi se noacutes a utilizamos para levantar esse espetaacuteculo tambeacutem deve continuar sendo a poliacutetica do NuTE Mesmo sem saber mesmo quando natildeo era proposital NuTE sempre esteve work in progress Se utilizamos o mesmo recurso para montar um espetaacuteculo sobre esse tema precisamos minimamente zelar por essa estrutura Tentar falar do NuTE atraveacutes de uma totalizaccedilatildeo eacute trair o processo NuTE que sempre preferiu os fragmentos que sempre buscou libertar a si mesmo e ao mundo da fuacuteria do entendimento da grande razatildeo da consciecircncia que tudo apreende que tudo sabe que tudo ensina que tudo enjaula tranca aprisiona Natildeo podemos ter a arrogacircncia a presunccedilatildeo e a prepotecircncia de querer ensinar as pessoas o que foi o NuTE Montar uma NuTE-Biografia eacute ridiacuteculo eacute romacircntico demais

35 A expressatildeo ldquofuacuteria do entendimentordquo eacute de Jochen Horisch a ci-taccedilatildeo foi extraiacuteda de Teatro Poacutes-Dramaacutetico de Hans-Thies Leh-mann

eacute pateacutetico Se algum cheiro sabor clima tom nuteanescos chegarem agraves pessoas atraveacutes de nosso espetaacuteculo eacute justamente porque ele natildeo eacute totalitaacuterio eacute porque conseguimos de alguma forma manter o processo em aberto Natildeo podemos transformar a vida palpitante plena de energia num produto finalizado bom apenas para se expor em vitrines Aleacutem do quecirc NuTe escapa por todos os lados natildeo permite uma apropriaccedilatildeo parece haver intrincado em seu proacuteprio funcionamento uma maacutequina anarco-rizomaacutetica que estende suas paisagens-memoacuteria em muacuteltiplos sentidosdireccedilotildees NuTE natildeo se deixa apanhar governar definir catalogar restringir dizer o que eacute Assim se esta pesquisa se quer filiada ao que busca pesquisar nada melhor que anunciar suas fragilidades seus equiacutevocos suas dificuldades Nada mais natural que provocar outros pesquisadores a escrever-encenar sobre o NuTE Pois era assim que tudo funcionava dentro do NuTE Certa vez escutei Alexandre Venera dizendo que o momento mais interessante de um espetaacuteculo eacute a sua montagem Por que natildeo fazemos disso o nosso refratildeo

ndash Porque agora meu caro filoacutesofo noacutes precisamos estrear depois de amanhatilde vai acontecer a estreia deste trabalho e natildeo vai ter nenhum desses conceitosinhos bonitos no palco para nos proteger de um grande vexame

ndash Pessoal eu sei que estamos haacute um bom tempo nos dedicando a esse espetaacuteculo Sei que as pessoas viratildeo nos assistir Muitas delas estatildeo esperando assistir uma Nute-Biografia

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SEXTO

ENSAIO

uma historinha iniacutecio-meio-fim sobre o NuTE O que precisamos responder para noacutes mesmos eacute afinal de contas o que noacutes temos para dar a elas O que vamos apresentar O que temos para encenar

ndash Ensaiosndash Exatamente Vamos apresentar nossos

ensaios nossos fragmentos Nossas tentativas de montar um espetaacuteculo Ou melhor a proacutepria montagem Vamos lhes apresentar nas palavras de Venera aquilo que haacute de mais interessante num espetaacuteculo Eacute isso que vamos encenar Se estiveacutessemos escrevendo um livro e a estreia fosse sua publicaccedilatildeo seria correto dizer que mesmo depois de publicado ele continuaria em desenvolvimento Nonstop Work in Progress Jaacute que a biblioteca Nutrindo permaneceraacute aberta a novos nutrientes materiais encontrados em pesquisas que estatildeo por vir o blog NuTE Para Todos vai hospedar a publicaccedilatildeo para que todos possam livremente baixar ler comentar quando e como lhes parecer melhor Assim as discussotildees realizadas que se acumularam durante a montagem natildeo param por aqui vatildeo continuar acontecendo mesmo depois da estreia-publicaccedilatildeo Trata-se de um espetaacuteculo em devir onde natildeo interessa tanto a histoacuteria factual os proacuteprios fatos mas sim algo que a arte permite acessar e que as convenccedilotildees da vida cotidiana tendem a bloquear Nesse sentido o espetaacuteculo natildeo serve como um totalizador histoacuterico do que aconteceu mas sugere pistas de como acontecia dos principais nutrientes e dos venenos mais consumidos forccedilas natildeo menos intensas que o fizeram improdutivo em

sua uacuteltima fase ndash Olha isso taacute muito lindo tocirc ateacute ficando

emocionado natildeo sei se eacute a cerveja agraves vezes me daacute uma caganeira desgraccedilada Mas vocecirc acha mesmo que podemos sustentar o espetaacuteculo nessa coisa meio sem chatildeo que a arte permite acessar e que a vida cotidiana tende a bloquear Isso natildeo fica meio como dizer solto quase metafiacutesico um papo de becircbado natildeo

ndash Tudo eacute deliacuterio mesmo o mais seacuterio dos burocratas passa a vida a se embriagar com coacutedigos sistemas nuacutemeros Mesmo o revolucionaacuterio que tomou para si a missatildeo de melhorar o mundo conscientizando as massas iluminando a todos mesmo Don Quixote ou o mais sisudo dos empresaacuterios de terno e gravata tambeacutem o Cavaleiro Inexiste uma dona de casa lavando roupa um pescador na proa do barco ou Gurdulu em sua sopa todos deliram Natildeo existe outra saiacuteda para a existecircncia humana que natildeo seja o deliacuterio

ndash Isso tambeacutem eacute bonito mas natildeo diz merda nenhuma

ndash Natildeo diz pra ti estaacute tudo aiacute seu babaca ndash Tudo o quecircndash Vou tentar te explicar com laranjas

Presta atenccedilatildeo A vida humana impotildee um problema a todos Indiferente de classe social gecircnero etnia crenccedila grau de inteligecircncia ningueacutem ningueacutem mesmo atravessa a vida sem responder a isso Se vocecirc quiser conversar com os humanistas de plantatildeo talvez esta possa ser a condiccedilatildeo humana aquilo que nos

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difere dos outros animais Ter que responder a isso ou melhor responder a isso eacute o que passamos a vida fazendo Eacute um problema bem simples ateacute de se colocar Mas a sua resposta eacute muacuteltipla existem centenas de milhares de possibilidades E a vida de cada um de noacutes eacute exatamente aquilo que conseguimos dar como resposta a esse problema O NuTE portanto meu caro eacute uma resposta

ndash Mas do que vocecirc estaacute falando agora cacete resposta do quecirc Que maluquice de problema universal eacute esse que o NuTE responde

ndash O NuTE eacute uma resposta agrave finitude da vida uma resposta agrave morte A gente falou um pouco sobre isso no Quarto Ensaio lembra Qualquer inseto camundongo cachorro girafa avestruz percevejo ou rinoceronte eleva ao maacuteximo o grau de potecircncia em sua vida Com exceccedilatildeo do homem os animais estatildeo instintivamente equipados para fazer de sua pequena existecircncia um nuacutecleo de poder Mas nossa espeacutecie foi amaldiccediloada com a consciecircncia sabemos que vamos morrer sabemos que enquanto estivermos vivos vamos sofrer e sabemos que natildeo haacute sentido natural nisso Eis o problema humano o que fazer com isso como lidar com essa falta ou na formulaccedilatildeo proposta por Grotowski Como Viver

ndash Vocecirc estaacute insinuando que Deus natildeo existendash Natildeo Estou dizendo que Deus eacute uma

respostandash Ah Bom pensei que vocecirc fosse O quecirc

Uma resposta Vocecirc quis dizer que Deus eacute a resposta

ndash Natildeo Eu quis dizer exatamente o que disse Deus eacute uma resposta assim como a ciecircncia eacute uma reposta assim como a arte eacute uma resposta assim como a cerveja o sexo o dinheiro o trabalho o amor passar a vida economizando cada centavo para comprar aquela casa aquele carro aquela roupa satildeo respostas que nos conectam com a vida Eis o sentindo mais profundo do Religare Enquanto nos ocupamos em responder esquecemos temporariamente o problema e assim a vida se torna possiacutevel

ndash Mas isso eacute um absurdo ndash interrompendo ndash Vocecirc natildeo pode colocar Deus NuTE um carro por melhor que seja mesmo se for uma Ferrari no mesmo niacutevel de uma peccedila de roupa ou de um copo de cachaccedila

ndash Olha querido vou te contar dependendo a peccedila de roupa que eu quiser comprar pode custar o mesmo preccedilo da sua Ferrari ndash risos

ndash Ah Vatildeo agrave merda Natildeo eacute disso que estou falando e vocecircs sabem Se tudo eacute igual se tudo vale a mesma coisa se nada eacute melhor ou pior entatildeo esse espetaacuteculo eacute um presente de grego Promete levar o puacuteblico a experimentar NuTE em sua embriaguez dionisiacuteaca seu Work in Progress de intensidades e deliacuterios mas o que realmente faz eacute cavar um buraco niilista para enterrar a todos Seduz o puacuteblico tal qual o Flautista de Hamelin com belas imagens e conceitos e quando todos estatildeo dentro do espetaacuteculo abre o chatildeo e os despeja num imenso vazio Ao inveacutes de chamar NuTE Para Todos esse projeto deveria ter sido batizado de

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Niilismo Para Todosndash Garccedilom traz mais umas cinco cervejas

por favorndash Acabou meu cigarro posso pegar um dos

teusndash Claro Algueacutem mais quer Vou deixar aqui

na mesa se quiserem eacute soacute pegarDennis acende um cigarro toma um gole da

cerveja gelada que acabou de chegar e por fim quando o copo se assenta na mesa categoacuterico respira

ndash A casa comeccedila no caos sendo acaso caacutelculo coito como sacas de cal ou sinais escavados caiados nos ocos36

ndash E daiacutendash Quis dizer que soacute existe um jeito de se

ultrapassar o niilismo ndash silecircncio ndash Indo ao fundo ao mais profundo ao para

aleacutem da casa vazia Amor Fati ndash Escuta acho que estou um pouco becircbado

do que ele estaacute falando heinndash Que para superar o niilismo eacute preciso

encaraacute-lo de frente ou seja aceitar a vida como ela se apresenta Topar a finitude o sofrimento a ausecircncia de sentido como o pedreiro toma um saco de cimento para construir uma casa Se jaacute natildeo conseguimos mais nos esconder na barra da saia de um Deus morto precisamos encontrar fabricar novas respostas que nos religuem agrave vida nua agrave vida crua agrave vida finita traacutegica e incrivelmente bela Trata-se de experimentar o vazio em toda sua plenitude para ter condiccedilotildees de preenchecirc-lo com boas respostas Antes de

36 Trecho do poema Cultivo do Acaso de Dennis Raduumlnz in Li-vro de Mercuacuterio

comeccedilar a levantar paredes eacute preciso limpar o terreno preparar o aterramento e a fundaccedilatildeo colocar as vigas e aiacute sim com muito cuidado assentar tijolo a tijolo Trata-se de uma casa que nunca se termina de construir Work in Progress infinito invenccedilatildeo de si de mundo de uma vida como obra de arte

ndash A estes e apenas a estes que procuram por uma vida como obra de arte noacutes apresentaremos um espetaacuteculo como obra viva um espetaacuteculo em desenvolvimento que se pode ajudar a construir que natildeo estaacute morto mumificado pronto para ser aprendido vendido comprado numa prateleira do mercado A melhor ilusatildeo eacute a proacutepria vida amar o destino aceitaacute-lo desejar seu eterno retorno Eis nosso presente apoliacuteneo ao mundo um espetaacuteculo para todos e para ningueacutem

ndash Calma cara vocecirc estaacute ficando um tanto megalomaniacuteaco Tira a cerveja dele

ndash Acho que o efeito do Nietzsche eacute maior do que o do aacutelcool

ndash Entatildeo tira o Nietzsche delendash Mas como se faz isso Em meio a este curioso debate atocircnitos

assistimos se aproximar de nossa mesa Alexandre Venera dos Santos O diretor puxa uma cadeira ao lado de Juliana acende um cigarro e pede um cuba ao garccedilom Constrangido com o silecircncio ruidoso em sua volta pergunta-nos a quantas anda o espetaacuteculo Conta que acabara de fazer download do Quinto Ensaio o qual lhe pareceu uma soluccedilatildeo muito boa para

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o JOTE-Titac e que agora estaacute muito curioso querendo assistir agrave estreia

O exerciacutecio de anotar cenas para a composiccedilatildeo de mundos durante os Ensaios carregou-me a um estranho viacutecio desde entatildeo natildeo consigo mais conviver em grupo sem anotar tudo que se passa em minha volta Em virtude deste malefiacutecio que se apossou de minha natureza estava mais uma vez descrevendo as conversaccedilotildees que ateacute entatildeo ali se fazia naquela mesa de bar Riscos e rabiscos transportados agraves matildeos do diretor que se potildee a ler calmamente enquanto o garccedilom trazia mais duas rodadas de cerveja Bebemos fumamos Giba pediu uma porccedilatildeo de babatas fritas Por fim Alexandre se surpreende dizendo que o NuTE sempre lhe pareceu uma resposta agrave algo embora nunca tivesse se perguntado ao que ele respondia Parabeniza o grupo pela discussatildeo e questiona a validade de um instrumento que generaliza tudo a ponto de ser possiacutevel interpretar qualquer coisa a partir dele Se tudo eacute resposta o que mais me interessa ndash diz Alexandre ndash eacute saber o que produziu o que fez acontecer uma resposta NuTE suas diferenciaccedilotildees respostivas Ou seja o que faz com que a resposta NuTE seja diferente da resposta LUME Equipe Vira Lata Fecircnix O que teria levado esse grupo de pessoas a responderem dessa forma e natildeo de outra37

Novamente apenas os copos conversam Aos poucos a fumaccedila dos cigarros vai se materializando numa espessa nuvem branca Tossindo gaguejando tropicando nas letras uma voz se arrisca

37 Haacute muita publi-caccedilatildeo a respeito do Lume um livro inte-ressante eacute A Arte de Natildeo Interpretar Como Poesia Corpoacuterea do Ator de Renato Fer-racini Sobre Equipe Teatral Vira Lata ver O Jardim das Ilusotildees de Eacutedio Raniere So-bre Grupo Fecircnix natildeo encontramos nenhum livro em especiacutefico po-dem ser consultados artigos de Edith Kor-mann fundadora do grupo e Noemi Keller-man

ndash O que forccedilou esse grupo de pessoas agrave resposta NuTE chama-se Vontade de Poder

ndash Ai ai ai agora o bicho vai pegarndash Olha como diria o saacutebio deputado pior do

que taacute natildeo fica depois do buraco niilista o que vier eacute lucro

ndash Vontade de Poder ndash Alexandre natildeo aceita muito bem a soluccedilatildeo gaguejada ndash Qual seria a relaccedilatildeo da Vontade de Poder com a resposta NuTE

ndash Eacute que A Vontade de Poder se deixa mostrar em todo vivente que tudo faz natildeo para se conservar mas para se tornar mais38

ndash Heinndash Vocecirc estaacute insinuando que o que fezfaz o

NuTE ser NuTE eacute uma Vontade de Dominar de controlar de subjugar as pessoas

ndash Natildeo Natildeo eacute nada disso A Vontade de Poder a qual me refiro natildeo tem nenhuma relaccedilatildeo com algo que queira o poder ou deseje dominar Se interpretamos a Vontade de Poder no sentido de Desejo de Dominar fazemo-la forccedilosamente depender de valores estabelecidos os uacutenicos capazes de determinar quem deve ser reconhecido como o mais poderoso neste ou naquele caso neste ou naquele conflito Desse modo ficamos sem conhecer a natureza da vontade de poder como princiacutepio plaacutestico de todas as nossas avaliaccedilotildees como princiacutepio escondido para a criaccedilatildeo de novos valores natildeo reconhecidos A Vontade de Poder diz Nietzsche natildeo consiste em cobiccedilar sequer em tomar mas em criar e em doar39

38 Wolfang Muumlller-Lauter in A Doutrina da Vontade de Poder em Nietzsche p55

39 Gilles Deleuze in Nietzsche p22

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ndash Criar e Doar Sabe que esse troccedilo lembra mesmo o NuTE Algueacutem jaacute se perguntou afinal qual era a do NuTE o que eles realmente queriam Se a gente parar pra pensar os espetaacuteculos natildeo eram comerciais nunca se ganhou dinheiro nem fama ou qualquer coisa desse tipo Mas o que se ganhava entatildeo Com que moeda NuTE pagava as contas

ndash Me parece que o que estava em jogo durante os dezoito anos de atividade do NuTE era atingir niacuteveis mais altos na Vontade de Poder permitir que esses niacuteveis aumentassem o proacuteprio poder Eis o que o NuTE fezfaz por noacutes Artaud chegou bem perto de formular isso com clareza quando disse que natildeo eacute a arte que imita a vida mas a vida que imita algo essencial que a arte nos potildee em contato

ndash Natildeo sei se estou entendendo bem me parece que vocecirc estaacute querendo contrapor a vontade de poder agrave consciecircncia humana da finitude eacute isso

ndash De certa forma sim trata-se de uma questatildeo de vida ou morte Um gato natildeo precisa de arte para aumentar sua vontade de poder ele eleva ao maacuteximo grau de potencia sua vida em quase todos os instantes tambeacutem uma aacutervore uma flor ou um jacareacute assim o fazem mas para noacutes a Arte eacute algo vital nos mantecircm vivos sem sua resposta leve todos estariacuteamos bem mais proacuteximos do suiciacutedio dada a ausecircncia de sentido o sofrimento inerente agrave vida e o peso das grandes respostas

ndash Mas entatildeo natildeo seria mais acertado dizer que se trata de uma Vontade de Vida Por que

usar um termo que gera tanta confusatildeo como Vontade de Poder

ndash Porque eacute a forma mais precisa que temos para falar sobre isso Nenhum morto pode desejar mais vida pois dele a vida jaacute se esvaziou assim como aquele que estaacute vivo natildeo tem como querer mais vida jaacute que a vida estaacute nele e ele jaacute estaacute na vida Trata-se de querer ir aleacutem do que se eacute aumentar seu poder Quem participou de um JOTE-Titac sabe bem o que eacute isso

ndash JOTE-Titacndash Sim ou vocecirc acha que as pessoas passam

trecircs dias sem dormir porque querem ganhar um trofeuzinho O que estaacute em jogo realmente eacute uma absurda vontade de criar e de doar de compartilhar um espetaacuteculo Num JOTE-Titac a Vontade de Poder atravessa um escritor que tem seus escritos encenados um diretor cuja concepccedilatildeo estaacute em cena um ator que quer ir aleacutem de si mesmo que se faz cena que se doa ao puacuteblico num corpo-obra de arte

ndash Agora entendi vocecirc estaacute falando eacute daquela adrenalina que toma conta da gente durante o JOTE-Titac

ndash Natildeo Estou falando de um princiacutepio que move o mundo e que em uacuteltima instacircncia move tambeacutem a espeacutecie humana

ndash Taacute taacute taacute soacute natildeo vai comeccedilar a generalizar tudo de novo

ndash Por que vocecirc acha que estou generalizandondash Oras se a Vontade de Poder forccedila todos a

serem o que satildeo e a resposta que discutimos haacute pouco eacute necessariamente dada por todos onde fica o NuTE nisso tudo

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ndash NuTE Para Todos e para Ningueacutemndash Eu me refiro agrave pergunta do Alexandre se

tudo eacute Para Todos onde estaacute a singularidade-NuTE

ndash Pensar a singularidade de um corpo eacute pensar como a vontade de poder se manifesta nele pois eacute assim que ele responde agrave finitude Ou dizendo de outra forma pensar o processo de diferenciaccedilatildeo de um corpo eacute pensar como ele responde agrave finitude porque eacute assim que se manifesta nele A Vontade de Poder

ndash Beleza entatildeo vamos laacute ndash todos se levantam sacodem a poeira tomam rumo da porta de saiacuteda

ndash Ei seus vagabundos onde eacute que vatildeo sem pagar a conta ndash grita o garccedilom passando a matildeo num cassetete que ateacute entatildeo repousava sob o balcatildeo

ndash Putz algueacutem tem granandash Quanto eacute que deundash Taacute aqui a conta ndash o garccedilom joga a nota

sobre a mesa ndash Caramba Tudo issondash Mas isso eacute um roubo a gente natildeo bebeu

tanto assimndash Todo mundo senta aiacute e podem ir juntando

os trocados senatildeo vou chamar a poliacutecia Tatildeo pensando que eacute vir aqui encher a cara e sair de fininho eacute Beberam a noite toda e agora querem sair sem pagar

ndash Natildeo eacute isso mas eacute que tocirc achando que nove vontades e quatro respostas eacute muito dinheiro Ningueacutem aqui bebeu pra tanto

ndash Beberam sim Ana liga pra poliacutecia ndash o

garccedilom levanta o porrete em tom de ameaccedila Giba retira um canivete do bolso e o chama para briga O pessoal do ldquodeixa dissordquo age rapidamente conseguindo segurar ambos

ndash Calma aiacute meu povo se todo mundo colaborar com um pouquinho a gente consegue pagar e ir embora sem confusatildeo

A trupe passa alguns minutos a esgravatar profundamente carteiras bolsos meias Aos poucos as moedas comeccedilam a tilintar sobre a mesa

V1 ndash Vontade Musical ndash Assistimos no Segundo Ensaio agraves suas principais manifestaccedilotildees em Wilfried e Venera Para aleacutem das personas esta vontade se espalha em todo o grupo Em entrevista Dennis Raduumlnz define o NuTE como uma Banda de Rock

Acho que noacutes eacuteramos uma banda de rock na verdade soacute que noacutes natildeo tocaacutevamos faziacuteamos teatro Noacutes tiacutenhamos essa mesma energia O Faleiro recordo bem as palavras dele (ele recordou isso comigo no ano passado) dizia assim ldquoo que mais me impressionava em vocecircs era a vontade de fazer teatrordquo (paacutegina 12)

V2 ndash Vontade de Saber ndash Uma vontade de saber sobre teatro de conhecer mais de ir aleacutem daquilo que aprendeu mais que isso de ultrapassar o conhecimento da comunidade dos seus pares de todos a sua volta De criar alianccedilas com Mestres distantes estrangeiros de beber em fontes desconhecidas Esta vontade perpassa todos os Ensaios deste espetaacuteculo-

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livro Suas principais manifestaccedilotildees percorrem um longo caminho vatildeo desde os encontros iniciais que inauguram o espaccedilo NuTE passando pelos cursos de Faleiro Simioni Editora πpa Escola NUTe Internute Mesmo no JOTE-Titac e nas montagens percebe-se uma vibraccedilatildeo intensa pelo conhecimento

V3 ndash Vontade de Ensinar ndash Tal qual a taccedila de Zaratustra pronta para transbordar para derramar esta terceira vontade parte em busca de matildeos que se estendam a ela Assistimos agraves suas principais manifestaccedilotildees no Segundo Ensaio cursos de miacutemica de Wilfried ndash ainda na Sulfabril ndash e os primeiros cursos de teatro dentro do NuTE Tambeacutem assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Quarto Ensaio onde um Nuacutecleo de Teatro Experimental se transforma em Nuacutecleo de Teatro Escola e a Vontade de Ensinar cresce a tal ponto de quase sufocar a Vontade Experimental Tambeacutem eacute possiacutevel perceber suas ressonacircncias em algumas produccedilotildees escritas como exemplo a coluna que Alexandre Venera manteve por anos no Jornal de Santa Catarina e as publicaccedilotildees da Editora πpa

R1 ndash Resposta hoje tem Teatro ndash Assistimos ao desenvolvimento desta resposta no Segundo Ensaio onde Alexandre Venera como coordenador de eventos do Teatro Carlos Gomes responde agrave ausecircncia de teatro dentro do Teatro Este projeto resposta seraacute o estopim para inveccedilatildeo dois anos mais tarde do Trecircs

Terccedilas tem Teatro Ambos os projetos preparam terreno para criaccedilatildeo do JOTE-titac

V4 ndash Vontade de Encenar ndash Assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Terceiro Ensaio atraveacutes do absurdo nuacutemero de espetaacuteculos montados ndash Cento e Oitenta e Quatro - tambeacutem assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Quinto Ensaio atraveacutes do experimento JOTE-Titac Eacute interessante notar como a Vontade de Saber e a Vontade de Encenar por vezes aparecem juntas ndash a didaacutetica utilizada pela Escola NUTe por exemplo onde o aluno aprendia fazendo montando espetaacuteculos bem como vaacuterias montagens do proacuteprio NuTE onde o tempo dedicado agrave pesquisa era superior ao tempo dedicado agrave circulaccedilatildeo agraves apresentaccedilotildees do espetaacuteculo finalizado Vale aqui lembrar mais uma vez a maacutexima de Alexandre Venera segundo a qual o momento mais interessante de um espetaacuteculo eacute sua criaccedilatildeo seus ensaios

R2 ndash Resposta jOTE-Titac ndash Possiacutevel resposta ao formato que o Festival Internacional de Teatro Universitaacuterio de Blumenau acabou tomando Em artigo publicado no livro Jogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau Alexandre Venera escreve

No princiacutepio de 1986 Dalton Gonccedilalves Daniel Curtipassi Joseacute Ronaldo Faleiro e eu organizaacutevamos o festival de teatro que veio a tornar-se o importante ldquoFestival Universitaacuterio de Teatro de Blumenaurdquo promoccedilatildeo respectiva agraves personalidades acima da RBS TV Departamento de Cultura da Prefeitura

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Municipal de Blumenau FURB e Teatro Carlos GomesNuTE Incumbido da criaccedilatildeo do regulamento desse festival apresentei na eacutepoca uma opccedilatildeo de regras que meses depois veio a ser o embriatildeo para os JOTE-Titac

V5 ndash Vontade de Artista ndash Perpassa todos os Ensaios aqui apresentados Vontade de respirar arte de se artistar de inventar-se artista de sobreviver artisticamente Em entrevista Peacutepe Sedrez diz que

Eu lembro que Marcos e eu tiacutenhamos nessa eacutepoca o conflito de ter de servir o exeacutercito e a gente tava morrendo de medo Largamos nossos empregos Eu trabalhava na Ceval que hoje eacute Bunge e tinha laacute uma dita carreira promissora Larguei pra fazer o espetaacuteculo () Eu queria fazer soacute teatro e tomar conta da famiacutelia essas coisas todas Eu tinha soacute 18 anos e era uma loucura naquela eacutepoca largar Sei laacute eu sou de famiacutelia pobre e o meu salaacuterio era importantiacutessimo era entregue na matildeo da matildee ainda ela tirava quase tudo e dava uma graninha pra gente sair no fim de semana ou pagar os estudos tambeacutem e eu larguei tudo pra fazer teatro inclusive a escola Inclusive as aulas porque Noacutes ensaiaacutevamos somente agrave noite natildeo precisava talvez ter largado o emprego mas eu sabia que isso ia funcionar em seguida Eu queria achava necessaacuterio chegar no ensaio jaacute com alguma coisa trabalhada (paacutegina 8)

V6 ndash Vontade Libertaacuteria ndash uma vontade anaacuterquica de liberaccedilatildeo de si e do mundo de ausecircncia de lei Deus governo Atravessa todo o espetaacuteculo-livro em especial o Segundo o Quarto e o Sexto Ensaios Em entrevista Alexandre Venera diz que

() qualquer forma de lei eacute forma de criar limites ou patamares ou entatildeo apoios No momento em que a pessoa taacute se apoiando ou criando apoios ela taacute segura ela taacute tranquila quer dizer nessa proteccedilatildeo existe uma espeacutecie de lei em que ela taacute sendo dominada (paacutegina 6)

V7 ndash Vontade de Coletivos ndash De estar com outros de produzir junto de criar coletivamente de compor um espetaacuteculo com muacutesicos artistas plaacutesticos escultores poetas e ateacute mesmo com natildeo artistas Quando do convite agrave montagem de Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes Alexandre Venera espalha cartazes pelo Teatro Carlos Gomes onde se lecirc Somos muito poucos para Dividir A sonoplastia do Teatro da Terra era feita por uma banda com guitarras eleacutetricas bateria baixo em meio agrave floresta Em Senhoras e Senhores haacute uma performance do bailarino Edson Farias Em vaacuterios espetaacuteculos do NuTE o cenaacuterio era composto em parceria com o artista plaacutestico Tadeu Bitencourt Cio das Feras e Apocalypsis utilizam poesia catarinense No artigo que Alexandre Venera publica junto ao livro Jogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau encontramos uma interessante lista onde se nomina alguns membros destes coletivos

nas artes plaacutesticas Ceacutesar Otaciacutelio Fernando Alex Crista Sitocircnio Francis Bento Simone Tanaka Sola Ries Janete Dallabona Terezinha Heimann Tadeu Bitencourt no ballet Edson Farias Grupo de Danccedila e Sapateado do Proacute-Danccedila de Blumenau os arquitetos Leo Campos Etson e Jaime Jung os muacutesicos do Tranca Rua do Baurimbe Nana

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Hector Lagos Giovana Voigt os publicitaacuterios Claus Jensen Paulo Porche Dicesar Leandro a equipe da Graacutefica da Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau Giba Santos e em especial o Sr Bernardo Tomelin os poetas escritores dramaturgos criacuteticos jornalistas editores Tacircnia Rodrigues Tchello drsquoBarros Marcelo Steil Marcelo Ricardo drsquoAlmeida Douglas Zunino Sandra Heck Gervaacutesio Tessaleno Luz Vilson Nascimento Joel Gehlen Eliane Lisboa aleacutem dos autores incluiacutedos nesta antologia Raquel Furtado Carlos Peixer Vinci Bernadete da Silva Alceu Custoacutedio Horaacutecio Braun Jr Sidnei Mafra o pessoal do teatro (como juacuteri) Carlos Crescecircncio Carlos Jardim Silvio Joseacute da Luz Lorival Andrade Aacutelvaro Andrade Luiz Sampaio Gabriela Diaz Roberto Mallet Pita Beli Cida Milezzi Denise da Luz e o pessoal natildeo juacuteri Mauro Ribas Neto Paulo Camargo Sandra Cardoso aos teacutecnicos Luacutecio Vieira Nei Leite Luacutecia Siqueira Ivan Felicidade Jussara Barbosa os atores e diretores (dentre o grande pessoal participante muitos dos premiados) Margareth DrsquoNiss Sandra Knoll Silvana Costa Jussara Balsan Carla Mello Leo Almeida Giseli Marciacutelio Bia Brehmer Juliana Vendrami Rita Machado Francinete Bitencourt Patriacutecia Schwartz Anice Tufaille Raquel Wollert Pollyanna da Silva Sidneacuteia Kopp Regina Simas Andrea dos Santos Iraci Krambeck Paula S Igreja Alan Imianowsky James Pierre Beck Joatildeo da Mata Kalinho Santos Joseacute Aparecido Faacutebio Shaefer Roberto Morauer Pedro Dias Luis Alberto Rafael de Almeida Oto Muumlller Alexandre Diogo Junkes Nelson de Souza Marcus Suchara

Um nuacutecleo de teatro em torno do qual gravitavam artistas natildeo artistas e outros seres

V8 ndash Vontade do Novo ndash Ligada agraves respostas Hoje Tem Teatro JOTE-Titac Editora πpa e agrave grande maioria dos espetaacuteculos encenados pelo NuTE destaque para as montagens do Grupo

da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques V9 ndash Vontade de Guerra ndash Uma vontade de

jogar disputar guerrear vencer de ir aleacutem de si mesmo Assistimos agraves suas manifestaccedilotildees em especial no Quarto e no Quinto Ensaio

O tilintar das moedas sobre a mesa abre um portal por onde o Ator Guerrilheiro rompe as grades do Quarto Ensaio Surge sorrindo empostando sua metralhadora achando graccedila na cena NuTES pagando as contas Numa gargalhada infernal liga a metralhadora e dispara sobre o grupo rajadas e mais rajadas de balas O evento dura uns cinco minutos aproximadamente Quando se encerra encontramos Peacutepe descascando uma de morango Alexandre que prefere as de carambolas junta um punhado sobre a mesa e mesmo o garccedilom mastiga uma de hortelatilde O grupo muito irritado organiza-se para perseguir o Ator Guerrilheiro que a essa altura corria pelado rua XV de Novembro abaixo Muitos dos presentes consideram o Ator Guerrilheiro o verdadeiro culpado pelo fim do NuTE e assim debatem a melhor forma de punir seu crime Alexandre interveacutem a favor do Ator Guerrilheiro O diretor argumenta que o ator natildeo pode ser responsabilizado individualmente por uma cena Se o NuTE terminou eacute porque o espetaacuteculo como um todo movimentou-se nesse sentido natildeo poderia ter acontecido de outra forma O ator natildeo tem culpa porque sua accedilatildeo eacute anterior agrave invenccedilatildeo desta O ator apenas desempenha o seu papel da mesma

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forma como vocecirc neste exato momento estaacute desempenhando o seu E assim trazendo a inocecircncia de volta ao espetaacuteculo o Ensaio pode continuar

R3 ndash Resposta agrave Mediocridade ndash Impulso agrave diferenciaccedilatildeo desejo de ir aleacutem das convenccedilotildees sociais dos modelos existenciais preacute-determinados de se produzir estranho agraves normas estabelecidas Interessante perceber o quanto essa resposta estaacute ligada agrave Vontade de Coletivos e agrave Vontade do Novo Em entrevista Nira diz o seguinte

() eu morava numa cidade muito pequena e conservadora pra um adolescente como eu era Entatildeo num primeiro momento assistir o Apocalypsis me deixou muito feliz E num segundo momento me deixou depressivo porque eu vi que aquela vidinha que eu tava levando naquela cidadezinha natildeo era uma vida que eu gostaria de levar Entatildeo de 1989 pra 1993 quando eu entrei no NuTE satildeo quatro anos durou muito tempo Entatildeo nesses quatro anos a vontade de fazer alguma coisa foi crescendo soacute que eu natildeo tinha vazatildeo natildeo tinha como eu fazer nada Entatildeo um ano antes de eu entrar no NuTE eu tive uma depressatildeo muito grande muito forte que quase Enfim Mas saiacute Quando eu entro pro NuTE com 20 anos neacute era uma vida inteira de Assim querendo me expressar sem poder e que eu comeccedilo naquele momento ali Entatildeo num primeiro momento tudo o que eu fazia era muito pouco Eu queria ter Eu queria fazer teatro 24 horas por dia Mas claro natildeo daacute Aiacute no segundo ano em 1994 quando jaacute natildeo era mais soacute aluno do NuTE jaacute era um fazedor de teatro tambeacutem aiacute sim aiacute eu comeccedilo a entrar de cabeccedila mesmo e inclusive durante algum tempo eu e o Contra Senha a gente praticamente morava na casa do Ceacutesar Rossi neacute Ele e o Maicon moravam sozinhos numa casa na Itoupava Central e laacute era

o local de ensaio era uma casa cheia de quadros as paredes todas pintadas cheia de instalaccedilotildees era uma loucura Aquilo que eu sonhei a vida toda eu vivi naquele momento Foi uma experiecircncia incriacutevel (paacutegina 8)

V10 ndash Vontade Experimental ndash No Terceiro Ensaio assistimos a uma cronologia com todos os espetaacuteculos experimentais e didaacuteticos Esta dicotomia um tanto arriscada pareceu-nos oportuna para evidenciar ambas as forccedilas Ou seja seu embate demonstra o quanto a Escola NUTe serviu como trampolim agrave experimentaccedilatildeo Ou seja as aulas e os espetaacuteculos didaacuteticos eram necessaacuterios para a sobrevivecircncia dos professores mas o que realmente lhes interessava o platocirc onde vibravam suas existecircncias estava conectado ao vetor oposto Em entrevista Alexandre Venera diz

Aiacute eram vaacuterios alunos turmas o pessoal tendo que organizar aula ensinar pro cara que entrou a primeira vez que subiu no palco o quecirc que ele faz onde potildee a matildeo () E ao mesmo tempo o cara que tava ensinando isso querendo fazer a sua arte tambeacutem Entatildeo ele tinha que dar aula pra ganhar dinheiro mas ele tinha que fazer o seu teatro tambeacutem Aiacute tinha que ter o grupo iniciante dos alunos pra alimentar o sonho dos Porque ningueacutem entrou ali no NuTE pra ser professor O professor era uma forma de ganhar um troco e poder viver do teatro com uma certa garantia (paacutegina 18)

R4 ndash Resposta agrave Geraccedilatildeo Anterior ndash NuTE natildeo eacute um descendente direto da Equipe Teatral Vira Lata do Grupo Fecircnix do Ribalta do teatro feito nos clubes de caccedila e tiro ou Lira

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SEXTO

ENSAIO

Circulo Italiano do teatro blumenauense que lhe precede em uma geraccedilatildeo Suas principais alianccedilas passam por teorias de um teatro estrangeiro Grotowski Barba Bob Wilson Artaud Gordon Craig Schechner Brecht Heiner Muumlller Meyerhold pelo Grupo Lume de Campinas e por uma espeacutecie de orientaccedilatildeo dada por Joseacute Ronaldo Faleiro Contudo mesmo natildeo sendo filho ele se serviu muito bem da morte do pai A existecircncia NuTE eacute atravessada por um criacutetica feroz ao formato teatral adotado pela geraccedilatildeo anterior Tentamos aqui neste espetaacuteculo-livro problematizar essa tensatildeo atraveacutes da estrutura Work in Progress Contudo eacute possiacutevel em especial no Segundo e Quarto Ensaios compreender um pouco melhor as motivaccedilotildees desta resposta

R5 ndash Resposta ao Puacuteblico ndash Aqui um

primeiro niacutevel apontaria na direccedilatildeo de uma resposta agrave ausecircncia de puacuteblico ao Teatro Contemporacircneo NuTE estaria respondendo com formaccedilatildeo de puacuteblico agrave algo que estaria em devir Contudo ao menos eacute o que nos parece trata-se acima de tudo de uma resposta agrave ausecircncia de um povo Pessoas que consigam experimentar um determinado tipo de vida Amigos a quem presentear com o mais belo dos presentes Um povo generoso com o qual se possa compartilhar o que vem sendo produzido pois assim o poder aumenta pois assim o poder cresce ndash Poder = Criar + Doar Dizendo ainda de outra forma se aquele que ganha um presente natildeo percebe o que acabou de receber o melhor

a se fazer eacute trabalhar para inventar algueacutem que perceba Utilizar o teatro para inventar um povo que ainda nos falta40 Assistimos agraves suas principais manifestaccedilotildees no Segundo Quarto e Sexto Ensaios

O garccedilom de cara amarrada conta o dinheiro sobre a mesa Repete a operaccedilatildeo trecircs vezes ateacute se convencer Resmunga algo inaudiacutevel vai ao balcatildeo expotildee a situaccedilatildeo para Ana por fim retorna agrave mesa Contrariado como algueacutem que procura fugir de seu proacuteprio julgamento ele nos diz

ndash Sobrou uma reposta e uma vontade vatildeo querer o troco

ndash Trocondash Natildeo Claro que natildeondash Traz em cerveja

40 Livre adaptaccedilatildeo do famoso trecho de Criacutetica e Cliacutenica ldquoA sauacutede como literatura como escrita consiste em inventar um povo que falta Compete a funccedilatildeo fabuladora in-ventar um povo Natildeo se escreve com as proacuteprias lembranccedilas a menos que delas se faccedila a origem ou a des-tinaccedilatildeo coletivas de um povo por vir ain-da enterrado em suas traiccedilotildees e renegaccedilotildeesrdquo

A memoacuteria preservada

A confecccedilatildeo deste belo material artiacutestico composto por trecircs livros e um DVD eacute o produto mais expressivo do projeto ldquoNuTE para todosrdquo uma iniciativa do pesquisador Eacutedio Ra-niere em resgatar a memoacuteria do NuTE ndash Nuacutecleo de Teatro Ex-perimental cuja atuaccedilatildeo proporcionou relevantes conquistas para cultura catarinense como a formaccedilatildeo de mais de 2 mil alunos criaccedilatildeo de escolas grupos teatrais e cursos perma-nentes de teatro em vaacuterias cidades produccedilatildeo de espetaacuteculos teatrais e implantaccedilatildeo de uma biblioteca de teatro composta por um acervo de textos teatrais livros cadernos e apostilas sobre teatro

Em 18 anos de atividades encerradas em 2002 o NuTE concretizou tambeacutem outros dois projetos elogiaacuteveis a funda-ccedilatildeo em Blumenau da primeira escola de ldquolivrerdquo de teatro em Santa Catarina possibilitando o acesso de qualquer pessoa interessada estudar e praticar a arte teatral e a criaccedilatildeo do Jote-Titac ndash os Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas evento que ajudou a popularizar uma das mais antigas manifestaccedilotildees artiacutesticas

Em face da valiosa contribuiccedilatildeo do NuTE agrave cultura de Santa Catarina a BAESA (Energeacutetica Barra Grande SA) sentiu-se motivada a apoiar o projeto ldquoNuTE para todosrdquo e constata que sua participaccedilatildeo foi decisiva para a elaboraccedilatildeo deste acervo O livro ldquoNuTE Cartografia de um teatrordquo o DVD ldquoExperimentando NuTErdquo e as publicaccedilotildees ldquoEditora Pipardquo e ldquoLi-vreto Espetacularrdquo cumprem plenamente o objetivo de resga-tar em texto impresso em imagens e em formato digital a bela trajetoacuteria do NuTE

Grande satisfaccedilatildeo eacute poder apoiar projetos como o NuTE Para Todos e de certa forma fazer parte da his-toacuteria tatildeo bonita desse nuacutecleo de teatro que por 18 anos se doou para compartilhar sua arte com o puacuteblico

Atraveacutes da Lei Rouanet a ENERCAN ndash Campos No-vos Energia SA tem a possibilidade de apoiar projetos culturais importantes como esse que traz ao puacuteblico uma leitura sobre a maravilhosa experiecircncia de se fazer teatro contando as expectativas os medos os proces-sos criativos e o trabalho para apresentar da melhor forma essa arte aos espectadores fazendo o leitor sen-tir no livro as emoccedilotildees dessa arte

Fundamental para compreender a realidade a cul-tura em suas mais variadas vertentes eacute tida como uma das prioridades dentro da Poliacutetica de Responsabi-lidade Social da ENERCAN E com grande prestiacutegio e apoio eacute possiacutevel proporcionar agrave populaccedilatildeo acesso natildeo soacute ao teatro mas a espetaacuteculos de muacutesica literatura cinema e a tudo mais que a palavra cultura engloba

O livro ldquoNuTE Cartografia de um teatrordquo junto com o Box onde estaacute presente outras trecircs produccedilotildees que aliam o analoacutegico (livro) ao digital (DVD e internet) eacute um presente para a populaccedilatildeo catarinense saber um pouco mais da histoacuteria do teatro no Estado e a forte presenccedila dessa arte em Santa Catarina

A ENERCAN parabeniza o projeto NuTE Para To-dos e se mostra orgulhosa de poder apoiar iniciativas como essa que buscam intensificar a cultura dentro do Estado tornando a histoacuteria cada vez mais presente na sociedade

Carlos Alberto Bezerra de MirandaDiretor Superintendente

Para a BAESA apoiar o projeto ldquoNuTE para todosrdquo eacute mais uma demonstraccedilatildeo do quanto a empresa aprecia e valoriza a cultura em suas mais variadas expressotildees A publicaccedilatildeo deste material eacute portanto motivo de orgulho e satisfaccedilatildeo natildeo apenas por ter acreditado na proposta de seu idealizador o pesquisador Eacutedio Raniere mas sobre-tudo por saber que a histoacuteria e o legado do NuTE estatildeo agora definitivamente preservados

Carlos Alberto Bezerra de Miranda Edson Schiavotelo Diretor Superintendente Diretor de Sustentabilidade e de Relaccedilotildees com Investidores e de Relaccedilotildees Institucionais

BAESA - ENERGEacuteTICA BARRA GRANDE SA

Este livro eacute parte integrante da caixaNuTE Cartografia de um Teatro

Para saber mais sobre o NuTE e sobre a pesquisa ldquoNuTE Cartografia de um Teatrordquo acesse o blog do

projeto wwwnuteparatodoswordpresscom e o acervo virtual wwwnutecombr

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Eacutedio Raniere

NuTECartografia de um Teatro

1ordf Ediccedilatildeo

BlumenauLiquidificador Produtos Culturais

2011

Para Lilianque jaacute escreve um tanto de mim

Esta obra foi licenciada com uma Licenccedila Creati-ve Commons - Atribuiccedilatildeo - Uso Natildeo Comercial - Obras Derivadas Proibidas 30 Natildeo Adaptada

Em caso de reproduccedilatildeo ou citaccedilatildeo devem ser citados o autor e a fonte

Revisatildeo Tamara BeinsProjeto Graacutefico e Editoraccedilatildeo Liquidificador Comunicaccedilatildeo e Arte

Editado porLiquidificador Produtos Culturais

Conselho editorialAline AssumpccedilatildeoCharles SteuckDaiana SchvartzGregory HaertelJamil Antocircnio DiasRicardo Machado

R197n Raniere Eacutedio NuTE cartografia de um teatro Eacutedio Raniere ndash 1 ed ndash Blumenau Liquidificador Produtos Culturais 2011 378 p il color

ISBN 978-85-63401-04-5 1 Teatro experimental I Nuacutecleo de Teatro Experimental ndash Blumenau II Tiacutetulo CDD 20 ndash 792022

Ficha Catalograacutefica elaborada pela Bibliotecaacuteria Sandra Cristina da Silva Msc ndash CRB 14945

Liquidificador Produtos Culturaiswwwliquidificadorartbr2011

Quem laacute entrou (no NuTE) e algo produziu por mais ou menos tempo ndash com maiores ou menores contribuiccedilotildees com maior ou menor talento para o que se propunha - simplesmente o fez por paixatildeo Paixatildeo pelo teatro (a grande maioria) pela muacutesica (alguns) pelas artes plaacutesticas (outros) pela danccedila (uns poucos) e por tudo isso junto (uns raros multiqualificados ou multimetidos) jaacute que dinheiro natildeo se ganhava ao contraacuterio soacute se botava Eram paixotildees arrebatadoras algumas comedidas outras tiacutemidas ateacute mais ou menos duradouras Contudo nada que estivesse sob controle (racional) de algueacutem NuTE um grandecoletivo fruto-paixatildeo Eacute () acho que foi simples assim

Wilfried Krambeck

Natildeo haacute ldquoespiacuteritordquo nem razatildeo nem pensar nem consciecircncia nem alma nem vontade nem verdade tudo isso eacute ficccedilatildeo inuacutetil () Nenhuma ldquosubstacircnciardquo antes algo que anseia em si por fortificaccedilatildeo e que apenas indiretamente quer-se ldquomanterrdquo (ele quer ultrapassar-se)

Friedrich Nietzsche

Iacutendice

Epiacutegrafe lsquoVontade dersquo 07Epiacutegrafe lsquoPoderrsquo 09

Prefaacutecio a uma Psicologia 13Prefaacutecio a uma Filosofia 19 Prefaacutecio a um Teatro 25

Proacutelogo 33

PRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015 39

Um pouco de menos senatildeo natildeo vai mais 41 Memoacuteria 43Organizaccedilatildeo Deliacuterio e Tempo 45Em busca de uma relaccedilatildeo viva com o leitor 51Um lugar onde se respira o antes do Proacutelogo 54Adaptaccedilatildeo de Trabalho Sujo 64Trabalho Sujo e Virtual 64Retorno ao Primeiro Ensaio 70

SEGuNDO ENSAIO ndash 18 DE ABRIL DE 2015 77

Composiccedilatildeo de Mundos 83

13

Prefaacutecio a uma Psicologia

Cleci Maraschin

Entro em uma sala escura Aos poucos vou distinguindo cadeiras e outros objetos o que me permite ziguezaguear entre eles sem maiores problemas Em um canto mal iluminado encontro algueacutem segurando um punhado de paacuteginas impressas Eu me aproximo

ndash Olaacute estou procurando Alexandre Venera dos Santos

ndash Sou eu mas quem eacute vocecircndash Sou a Cleci professora do Eacutedio Ele me

enviou um e-mailndash Natildeo estou entendendondash Ele estaacute finalizando um livro sobre o

Nuacutecleo de Teatro Experimentalndash Endash Ele me convida para apresentar o livrondash Endash Preciso conversar com o diretorndash Mas se leste o livro sabes que natildeo sou

mais o diretor(faccedilo de conta que natildeo ouccedilo e continuo) ndash Quando aceitei o convite pensei que

poderia fazer comentaacuterios sobre um texto Algo que estou um tanto habituada no trabalho acadecircmico Talvez pudesse falar de sua aposta conceitual da pesquisa documental realizada das vaacuterias entrevistas da utilizaccedilatildeo

TERCEIRO ENSAIO ndash 26 DE ABRIL DE 2015 113

Exuberante Cronologia Espetacular do Teatro Experimental e do Teatro Escola Nuteanescos117

QuARTO ENSAIO ndash 04 DE MAIO DE 2015 203

Composiccedilatildeo de Mundos 209

QuINTO ENSAIO ndash 08 DE MAIO DE 2015 259

Aperitivo Cecircnico 277Composiccedilatildeo de Mundos | 14ordm Jote-Titac 283Apresentaccedilatildeo dos Espetaacuteculos | 14ordm Jote-Titac 336

SExTO ENSAIO - 08 DE juLhO DE 2015 347

Posfaacutecios de um Teatro 381

14 15

de diferentes tecnologias usadas tanto para organizar e tornar acessiacutevel o material como tambeacutem para interagir com participantes e futuros leitoresinternautas Mas quando navegava pelo texto pelas imagens pelo blog pelos viacutedeos pelo acervo fui sendo tomada pelo modo-teatro pela experiecircncia-NuTE

ndash Eacute o teatro costuma fazer dessas coisasndash Algo difiacutecil para quem escreve eacute manter o

processo no produto Geralmente os produtos os textos costumam perder a vitalidade da experiecircncia Costumam se constituir em calhamaccedilos teoacutericos repetitivos seguidos ou natildeo por descriccedilotildees que tentam representar uma realidade jaacute dada Tudo se passa como se o pesquisador-escritor pudesse produzir um relato ndash o mais neutro e o mais proacuteximo possiacutevel de uma realidade que jaacute aconteceu Mas o Eacutedio entrou em ressonacircncia com o modo NuTE de produccedilatildeo Como diz o bioacutelogo Francisco Varela um modo de conhecer enaltado encarnado

ndash Laacute vem vocecirc com filosofia tambeacutemndash Cogniccedilatildeo O legal que esse bioacutelogo

cognitivista chileno e seu professor Humberto Maturana falam que nossa fonte para qualquer explicaccedilatildeo eacute a experiecircncia Aquilo que chamamos de explicaccedilatildeo eacute uma retomada da experiecircncia passiacutevel de ser compartilhada

Uma experiecircncia que se dobra sobre si mesma e que eacute capaz de continuar produzindo efeitos de si e de mundo Existem vaacuterias dobras nessa produccedilatildeo do trabalho do Eacutedio com o NuTE

O modo-escrita que retoma o modo-teatro a reediccedilatildeo dos Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas JOTE-Titac a interaccedilatildeo no blog

ndash A questatildeo eacute a accedilatildeondash Esse chileno Francisco Varela diz que

nossa educaccedilatildeo estaacute mais ligada ao know-what ou seja o saber o quecirc Um saber falar saber mais declarativo focando os conteuacutedos mais do que os processos Em contraponto coloca o know-how o saber-fazer saber operar o enaltar

ndash Mas os acadecircmicos gostam de saber-falar

ndash Concordo Sabes o que mais admirei no modo como diriges tal como o Eacutedio nos conta Eacute que natildeo te deixas capturar e sabes como fazer-produzir como ldquofazer-saberrdquo como diz um colega carioca o Eduardo Passos O que natildeo eacute nada faacutecil manter a paixatildeo sem boicotar os processos sem boicotar a criaccedilatildeo a vida Esse eacute um desafio crucial a quem se coloca na funccedilatildeo de ensinante Propiciar ferramentas para a produccedilatildeo e natildeo para a repeticcedilatildeo Poder acompanhar processos que escapam das matildeos de quem ensina pois satildeo sempre autoproduccedilatildeo e produccedilatildeo de mundos Entatildeo aprendemos com nossos alunos um ensinante eacute tambeacutem um aprendente Talvez seja essa uma das paixotildees dos ensinantes continuar sempre aprendendo

ndash E desaprendendondash Isso Como eacute paradoxal a capacidade de

aprender natildeo Somente estamos abertos agrave

16 17

aprendizagem agrave medida que desaprendemos modos anteriores de viver de pensar O mesmo acontece em relaccedilatildeo agrave memoacuteria como nos diz Eacutedio ldquoeacute preciso esquecer para

conseguir tomar focirclego e continuar vivendordquo (atual p 22) Talvez esse seja um efeito sutil de combate contra o ressentimento que pode advir das pequenas trageacutedias pessoais que vivemos cotidianamente Esquecer desaprender para seguir aprendendo seguir produzindo e autoproduzindo-se

ndash Tal como os ensaios em 2015ndash Outra aprendizagem do modo-

teatro Continuar a trageacutedia sem drama ou ressentimento No combate Adorei essa brincadeira com o tempo Um modo de contar a histoacuteria sem saudosismo ldquoNaquele tempo isso naquele tempo aquilordquo Atualizar a histoacuteria fazendo-a e ainda por fazer Esse jogo faz com que aqueles como eu que ldquopegam o bonde andandordquo natildeo se sintam um ldquopeixe fora drsquoaacuteguardquo (isso eacute uma homenagem agrave Tainha) Estamos sempre pegando o bonde andando pois como vocecircs nos contam estamos sempre no meio Natildeo somos o comeccedilo o princiacutepio de nada Tudo o que estatildeo inventando nos convoca ldquoVamos laacute leitoresinternautas ainda eacute tempo NuTE de outro modo do modo como possamos fazerrdquo

ndash Essa eacute a ideia do work in progressndash Eu tenho usado verbos no geruacutendio

para nomear meus trabalhos de pesquisa Justamente para dar essa ideia de ldquose produzindordquo tal como o work in progress Embora essa aposta seja uma posiccedilatildeo difiacutecil de

manter em tempos onde tudo eacute transformado em mercadoria para consumo onde se valoriza o substantivo e natildeo tanto o verbo Mas estamos tentando aprender a produzir sem sucumbir aos ditames do produtivismo Como vocecircs como o Eacutedio fazendo verbos dos substantivos

ndash Cleci vocecirc estaacute falando que adorou isso aquilohellip Tem alguma criacutetica

ndash Talvez em alguns momentos a vontade de falar ainda prevaleccedila sobre a experiecircncia Mas como vocecirc mesmo diz esse eacute um mal dos acadecircmicos Eu tambeacutem jaacute falei muito Por isso pensei em conversar contigo para saber como tomo parte nesta experiecircncia

ndash Acho que vocecirc jaacute estaacute nela(nesse momento recebo uma chamada no

celular)ndash Oi Clecindash Oi Eacutediondash Tudo bemndash Tudo Estou conversando com o Alexandre

para compor a apresentaccedilatildeondash Joia Ele te falou do coletivo OpiopticA

wwwopiopticablogspotcom e de projetos como o EletriXidade

(talvez o Eacutedio tenha feito essa referecircncia porque conhece meu trabalho sobre tecnologias e cogniccedilatildeo)

ndash Acho que natildeo dei muita chance a elendash Alexandre o Eacutedio estaacute me falando do

EletriXcidadendash Era justamente nisso que eu estava

18 19

Prefaacutecio a uma filosofia

Celso Kraemer

Escrever aacute uma arte A arte natildeo pertence agrave escrita Eacute a escrita que pertence agrave arte O termo maior que abriga inuacutemeras outras formas de desvelamento eacute a arte Esta deve ser tomada em sua noccedilatildeo mais ampla Por isso talvez menos niacutetida Menos evidente Mas eacute por intermeacutedio dela a arte que algo adveacutem ao ser Vir ao ser Tornar-se algo aiacute Poder ser percebido como real por aqueles que jaacute estatildeo aiacute Que jaacute satildeo entes reais Se nada mais viesse ao ser do irreal para o real nosso mundo restaria na mais pura repeticcedilatildeo mecacircnica do mesmo o eternamente nada mais aleacutem do jaacute determinado do jaacute aiacute ruiacutena do encanto perdiccedilatildeo no nada mais ser

Fazer algo vir ao ser eacute algo ambiacuteguo Muito ambiacuteguo Mais ambiacuteguo do que noacutes gostamos de pensar Por um lado fazer algo vir ao ser eacute o labor do homem pelo pensamento e pelas matildeos Eacute o homem nesse sentido que eacute a condiccedilatildeo possibilitadora para que algo (novo) venha ao ser Haacute certa tranquilidade para aceitarmos que eacute a criatividade humana que faz algo vir ao ser Criamos coisas Criar coisas natildeo eacute o mesmo que fazer algo vir ao ser

Se fazer algo vir ao ser se explicasse pela simples criaccedilatildeo do homem entatildeo natildeo seria um vir ao ser Seria um puro criar Um estranho acontecimento em que do nada viria algo Do

trabalhando no momento que chegastesndash Podes me contar um pouco mais Eu me

interesso por esses causosndash Vamos tomar um cafeacutendash Pode ser em 2012 AlexandreSaiacutemos para um cafeacute

Cleci Maraschin eacute professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Trabalha como docente e orientadora em dois programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo da mesma universidade Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psi-cologia Social e Institucional e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Informaacutetica da Educaccedilatildeo Pesquisadora CNPq Temas de pesquisa Tecno-logias e Cogniccedilatildeo

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vazio do homem que natildeo explicita de onde ele mesmo proveio viria algo Impossibilidade teoacuterica para qualquer forma de raciociacutenio Do nada nada se cria

Entatildeo o criar natildeo eacute um simples criar Criar eacute fazer vir ao ser E nisto se mostra a ambiguidade do acontecimento artiacutestico A criaccedilatildeo pela arte eacute um provir de Esse de eacute mais do que o nada Temos entatildeo a duplamente ou triplamente enigmaacutetica questatildeo donde proveacutem isso que nos adveacutem por intermeacutedio da arte Por outro lado isto que adveacutem modifica-se em seu ser no momento que nos adveacutem ou permanece semelhante ao que jaacute era antes de advir Aleacutem disso o Originaacuterio donde adveacutem o algo atraveacutes da arte modifica-se em seu ser no momento em que algo sai dele para advir

Pensemos o artista natildeo como O Sujeito Supremo de onde a arte proveacutem Pensecircmo-lo antes como parte do processo originaacuterio de onde a arte proveacutem Como bem disse Martin Heidegger pensando acerca da Origem da Obra de Arte o que faz o artista eacute a obra Natildeo haacute artista se natildeo houver obra O Artista adveacutem artista conjuntamente com a obra A Obra portanto natildeo eacute simplesmente uma criaccedilatildeo do artista nem eacute a obra produtora de si mesma

Muito antes a obra eacute produtora do artista Eacute a obra que faz o artista Igualmente natildeo haacute obra sem artista Assim eacute o proacuteprio artista que se faz obra e a obra que se faz artista

Isso natildeo resolve a triplamente enigmaacutetica questatildeo Ao contraacuterio apenas nos expotildee a algo que seria o verdadeiro originaacuterio donde proveacutem

a obra e o artista que conjuntamente nos adveacutem Creio que nada nos impede de pensar esse verdadeiramente originaacuterio donde proveacutem simultaneamente artista e obra da mesma forma que pensamos a relaccedilatildeo originaacuteria da obra que adveacutem do artista e do artista que adveacutem da obra a arte ao advir traz ao ser a obra e o artista Quer dizer entatildeo que obra e artista adveacutem de algo mais originaacuterio que ambos Mas devemos considerar mais profundamente o isso que adveacutem ao advir modifica a si mesmo tornando-se algo ineacutedito mas modifica tambeacutem aquilo de onde o originaacuterio do qual adveacutem Nessa dinacircmica criadora o todo se renova torna-se continuadamente outro em relaccedilatildeo a si mesmo Portando no todo natildeo haacute novo nem velho Tudo estaacute sujeito indefinidamente ao vir-a-ser um devir criativo ao modo criador da arte

Creio que agora desvelou-se natildeo a arte como tal mas uma de suas caracteriacutesticas fundamentais A arte eacute uma dinacircmica criadora do proacuteprio ser

Dito de modo ainda mais preciso o ser eacute dinacircmico em sua natureza artiacutestica Este natildeo eacute um raciociacutenio belo com objetivo de apenas embelezar o modo de pensar Ao contraacuterio esse movimento feito no interior do proacuteprio pensamento eacute um mergulho na natureza proacutepria do raciocinar

O raciociacutenio visto dessa forma natildeo eacute um exerciacutecio formal amparado unicamente na loacutegica No raciocinar natildeose formaliza uma verdade jaacute pronta e ainda natildeo visiacutevel agrave mente

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Mais profundamente o raciociacutenio eacute uma forma tambeacutem de arte Pelo raciociacutenio algo mais originaacuterio que o proacuteprio raciociacutenio adveacutem ao ser O pensamento natildeo eacute o criador absoluto a partir do nada Ele eacute aquilo atraveacutes do qual algo mais originaacuterio adveacutem ao mundo tornando-se ser

Podemos agora conceber o que significa dizer que a escrita eacute uma forma de arte No gesto no movimento no exerciacutecio de escrever semelhante ao exerciacutecio de pintar de raciocinar de cantar de construir de encenar produzir teatro algo adveacutem ao ser A escrita semelhante ao raciociacutenio natildeo mostra algo jaacute constituiacutedo uma verdade jaacute acabada A verdadeira escrita aquela que natildeo se resume agrave transcriccedilatildeo de textos jaacute prontos eacute criadora O que ela cria O Ser Tambeacutem na escrita algo de originaacuterio vem ao ser se faz aiacute com o homem-mundo

Podemos visualizar por essa pequena fresta que as linhas acima abriram ao nosso entendimento a iacutentima relaccedilatildeo que o trabalho do Eacutedio tem com a Filosofia e com o Teatro de que ele quer tratar com seu livro

O teatro uma forma de arte produz ser O ser do teatro natildeo se esgota na representaccedilatildeo Mais fundamentalmente que isso o teatro desvela a verdade do homem um ente por intermeacutedio do qual o ser adveacutem ao mundo O teatro eacute nesse sentido uma das formas mais belas da arte Talvez nele a arte se manifeste em sua forma mais iacutentima ele cria o ainda natildeo aiacute A apresentaccedilatildeo teatral eacute um faz de conta verdadeiro em que a verdadeira representaccedilatildeo

nunca eacute A Verdade por isso jamais o teatro eacute falso pois ele natildeo pretende desmentir outras representaccedilotildees Cada peccedila cada cena cada grupo ou companhia de teatro pretende-se ser mais um em meio agrave multiplicidades de apresentaccedilotildees possiacuteveis Em si mesma cada uma delas eacute criadora no ainda natildeo aiacute Cada uma delas deixando algo vir ao ser O teatro natildeo eacute mentira por natildeo pretender a verdade mas satisfazer-se em deixar o ser vir ao real por intermeacutedio do labor da alma humana

Assim o modo de o Eacutedio manejar a escrita aproxima-se delicadamente do trabalho do proacuteprio real que ele se encarrega de recolher e apresentar Mas o Eacutedio sabe desde o princiacutepio que a histoacuteria do teatro enquanto efetividade do acontecimento jaacute veio ao ser Jaacute estaacute inscrito no real Sabe tambeacutem que a Histoacuteria que ele agora escreve natildeo se resume a contar o que aconteceu A Historiografia enquanto um gesto de escrita eacute semelhante ao teatro um gesto criador Criar e Doar Atraveacutes da escrita continuadamente algo vem ao ser

O livro que se segue eacute uma obra de arte que reuacutene uma histoacuteria mas natildeo passivamente O livro enquanto criaccedilatildeo deixa ver algo da intimidade da alma do homem Nas linhas pelas quais o texto se mostra algo muito mais iacutentimo e profundo do que o proacuteprio texto se mostra ao leitor a verdade criadora da arte seja da representaccedilatildeo seja da escrita seja do cultivo da amizade seja de uma roda de amigos com uma cerveja um vinho O livro ainda nietzscheana ou deleuzeanamente mostra

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o devir criativo que nos faz ser sem nunca mostrar-se totalmente sem nunca ocultar-se totalmente mas num jogo de criar a si mesmo na beleza criadora do homem Neste livro o teatro se faz histoacuteria e a histoacuteria se faz teatro num gesto reciacuteproco de criar e doar

Celso Kraemer eacute professor de filosofia junto ao Departamen-to de Ciecircncias Sociais e Filosofia do Centro de Ciecircncias Hu-manas e da Comunicaccedilatildeo e no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado em Educaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Universidade Regional de Blumenau (FURB)

Prefaacutecio a um Teatro

Joseacute Faleiro

Quando em outubro de 1986 cheguei a Blumenau quis inteirar-me da atividade teatral existente na cidade Vi entatildeo espetaacuteculos de Alexandre Venera dos Santos e de Wilfried Krambeck Fui logo atraiacutedo pelo trabalho consciencioso responsaacutevel cuidadoso e iacutentegro que apresentavam A anomia serena nada panfletaacuteria nada verbosa nada militante de Alexandre mas radical vivida logo provocou simpatia em mim Com seu espiacuterito metoacutedico Wilfried organizava uma estrutura que ldquodialogavardquo mdash como se diz hoje mdash com a praacutetica artiacutestica do primeiro para a qual este contava com as dependecircncias suntuosas do Teatro Carlos Gomes (TCG) ldquogrande castelo isolado bem no centro daquela cidaderdquo dotado de um palco giratoacuterio (ldquouma grande roda horizontalrdquo) e de ldquouma forte luz proveniente de todos os ladosrdquo Isso tambeacutem era fascinante em contraposiccedilatildeo agraves instalaccedilotildees que na eacutepoca a FURB possuiacutea para o seu curso de teatro a amplitude do TCG permitia respirar e sonhar com altos voos Todas as dependecircncias do ldquopalaacuteciordquo pareciam estar agrave disposiccedilatildeo daquele pequeno grupo de jovens interessados em explorar cada recanto (corredores camarins salas biblioteca bar palco) do preacutedio e em captar cada significado daquela atividade que se propunham a experimentar a exercer

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Por esses encontros e pelos que tivemos na Comissatildeo Organizadora do 1ordm Festival Universitaacuterio de Teatro de Blumenau (que coordenei com a colaboraccedilatildeo valiosa e imprescindiacutevel de tantos amadores da arte dramaacutetica) do final de 1986 a julho de 1987 Alexandre e eu tivemos a oportunidade de conversar muito sobre teatro e sobre a sua relaccedilatildeo teoacuterica e praacutetica com o tema Havia nele abertura para uma reflexatildeo que levava agrave accedilatildeo que natildeo conhecia hiato entre conceber e realizar Seu meacutetier seu ofiacutecio fluiacutea Suas inquietaccedilotildees natildeo se prendiam a um modismo Nunca tive a impressatildeo de que sua forma de fazer teatro quisesse romper com o que fora feito antes ou com uma forma obsoleta de fazer teatro que devesse ser combatida Ele estava atento ao novo sem duacutevida Mas a generosidade criativa que o animava e o seu universo artiacutestico e vital eram tatildeo grandes o fluir de sua arte era tal que ele se expressava por uma necessidade fazer teatro era para ele uma ανανκη [ananke] uma necessidade algo que natildeo podia natildeo ser Se ele desestruturava a narrativa se se voltava para o fragmento para as formas breves para a (aparente) falta de unidade se aumentava o tamanho de objetos em cena ou os tornava insoacutelitos em seu uso se incluiacutea composiccedilotildees musicais supostamente em descompasso com a situaccedilatildeo se levava os atores a agir em cena de modo natildeo figurativo natildeo mimeacutetico se tinha um domiacutenio inabitual da iluminaccedilatildeo parece-me que assim fazia porque assim lhe vinha o teatro assim lhe vinha o modo de viver e de viver teatro Natildeo por incultura ingenuidade

falta de informaccedilatildeo Por absoluta necessidade O NuTe era tonificante tonificado por seu regente O que levava os atores a produzirem este ou aquele gesto ter esta ou aquela atitude em cena Quais eram as fronteiras entre fazer qualquer coisa ou fazer algo ldquoelaboradordquo ldquobem pensadordquo ldquoconscienterdquo Sacudido o espectador poderia perguntar a outros e a si mesmo ldquoIsso eacute vaacutelidordquo ldquoNatildeo eacute vaacutelidordquo ldquoEacute teatrordquo ldquoNatildeo eacute teatrordquo ldquoQual a diferenccedila entre isso e qualquer coisardquo ldquoNa acircnsia de experimentar tudo eacute possiacutevelrdquo Agraves vezes me restava a perplexidade Mas sempre apoiei aquele grupo de pessoas que se entregavam a um ofiacutecio com tanta coragem prontidatildeo vontade alegria seriamente com prazer porque amavam o teatro com entusiasmo porque queriam fazecirc-lo e o faziam sem o excesso de consideraccedilatildeo e de deferecircncia que tolhe que paralisa que entorpece a accedilatildeo Agraves vezes retraiacutedo Alexandre gostava poreacutem de mostrar seus trabalhos queria que fossem vistos e discutidos No 2ordm Festival Universitaacuterio de Teatro de Blumenau (FUTB) conseguiu apresentar um espetaacuteculo seu o que esperava ser feito desde o 1ordm Festival Os participantes do NuTE tinham vontade de respirar arte dela se nutrir e se embriagar viver imersos nela conversar sobre ela (apesar de haver muitas interrogaccedilotildees na eacutepoca de sua fundaccedilatildeo sobre o benefiacutecio que o FUTB traria para os grupos locais creio que o nuacutemero de espetaacuteculos vistos palestras e debates assistidos conversas de bares e corredores ocorridas permitem responder que o Festival foi beneacutefico para os grupos blumenauenses)

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Se por vezes iconoclasmo havia natildeo era por caacutelculo Era por querer experimentar por ter desejo veemente de encontrar suas respostas agraves suas perguntas Essas respostas natildeo se apresentavam de forma uniacutevoca abriam-se para uma polissemia que era cultivada por todo o grupo e por seu condutor O sentido se construiacutea na accedilatildeo para a equipe do NuTE e na contemplaccedilatildeo ativa para o espectador

Seraacute que a memoacuteria me faz idealizar Penso que natildeo Seja como for quando revejo internamente o trabalho teatral do NuTE sobretudo o que antecede a apresentaccedilatildeo para o puacuteblico ou o realizado no intervalo entre um espetaacuteculo e outro o que me vem agrave mente prazerosamente satildeo corredores encerados ocupaccedilatildeo dos mais diversos locais caminhadas por noites frias para chegar pela ponte pecircnsil agrave rua Amazonas ou mais tarde agrave rua Satildeo Joseacute satisfeito apoacutes horas de fecundas atividades Lembranccedilas de um questionamento constante sobre teatro recordaccedilotildees de uma vontade de ler de devorar informaccedilotildees e de assimilaacute-las na accedilatildeo por parte dos integrantes do grupo Lembranccedilas de uma convivecircncia deles entre si e com a sua arte Teatro como ldquoVersuchrdquo como tentativa ensaio ldquoUm ensaio de esforccedilos fragmentaacuteriosrdquo como diria Kierkegaard na epiacutegrafe escolhida por Gerd Bornheim para um escrito deste uacuteltimo Minhas lembranccedilas satildeo fragmentaacuterias mas alguns momentos de espetaacuteculos permanecem muito vivos dentro de mim Ao ler a lista de conteuacutedos (redigidas por

Wilfried se natildeo me falha a memoacuteria com meu acordo) do curso que ministrei sorri diante de certo caraacuteter enciclopeacutedico De fato ele tinha um aspecto teoacuterico (nos sentaacutevamos em torno de uma grande mesa confortaacutevel) mas tambeacutem praacutetico com o corpo e a voz-do-corpo circulando pelo espaccedilo Aleacutem disso faziacuteamos experimentaccedilotildees de cenas no palco do grande auditoacuterio mdash um Auto da Barca de Gil Vicente por exemplo com a utilizaccedilatildeo de cordas quilomeacutetricas interminaacuteveis que figuravam o cais do porto Havia ainda leituras de textos que eu traduzia Lembro de ter traduzido Los Olivos de Lope de Rueda de ter gostado da traduccedilatildeo e de natildeo ter ficado com nenhuma coacutepia dela (ainda natildeo tiacutenhamos computador)

O NuTE representou para mim um momento de intensa e rica convivecircncia humana e artiacutestica Momento de ensinar e de aprender de compartilhar e de receber Um mo(vi)mento tatildeo forte assim natildeo morre natildeo acaba pulsa latente fica vivo de outro modo E pode ressurgir como agora com a cartografia que Eacutedio Raniere desenha neste livro-espetaacuteculo ou espetaacuteculo-livro sobre o NuTE Ele me desnorteia estarrece perturba como acontecia com os espetaacuteculos do grupo Eacutedio encontra o tom (ou um dos modos possiacuteveis jaacute que natildeo haacute uma verdade uacutenica) para falar do NuTE Fala ldquonuteanamenterdquo do NuTE Agrave la maneira de Juacutelio Cortaacutezar de O Jogo da Amarelinha de 62 ndash Modelo para armar ou de O Livro de Manuel Raniere convida o leitor a ter a liberdade de andar pelos corredores pelas bordas do texto

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pelos seus meandros a sair e a voltar sem medo de experimentar

Tanto o NuTE quanto Eacutedio querem ldquocriar e compartilharrdquo Aqui o sentido pode ser produzido tambeacutem pelo leitor Na forma dialoacutegica ou assumindo a primeira pessoa remetendo agrave internet ou trazendo o seu conhecimento aprofundado de vaacuterios pensadores citados com pertinecircncia e sem alarde pesquisador corajoso e consistente Eacutedio Raniere escolheu um tema com muitas ramificaccedilotildees e soube trataacute-las com pertinecircncia num exerciacutecio de estilo de valor literaacuterio e cientiacutefico Ele cria uma obra dinacircmica seacuteria e divertida documentada Jogando com a ficccedilatildeo e a realidade ele des-pista uma histoacuteria linear e alia o texto a imagens e a sons questionando constantemente a sua proacutepria produccedilatildeo na qual o olhar do autor sobre os fatos promove uma construccedilatildeo do sentido que natildeo eacute totalizante que natildeo quer ser a uacutenica possiacutevel e que como as gotas de uma cachoeira tecem uma unidade consistente ainda que sempre em movimento O texto impresso ao se espalhar pelos labirintos do ldquowwwrdquo potildee em contato com documentos valiosos que assim estatildeo salvos da perda e do esquecimento e permitiratildeo estudo e fruiccedilatildeo do tema por outras pessoas

Nos hospitais a linha reta dos aparelhos que medem a atividade cardiacuteaca indica a cessaccedilatildeo da vida a sua oscilaccedilatildeo ao contraacuterio eacute esperanccedila de vida Pujante luacutedica com a oscilaccedilatildeo caracteriacutestica da vitalidade NuTE Cartografia de um teatro de Eacutedio Raniere daacute esperanccedilas

de que a obra do Nuacutecleo Experimental de Teatro de Blumenau que teve mais de dezoito anos de atuaccedilatildeo profiacutecua continue a insuflar vida em todos aqueles que amam o teatro e querem partilhaacute-lo com seriedade e prazer

joseacute Ronaldo Faleiro eacute professor do Programa de Poacutes-Gradu-accedilatildeo em Teatro (Mestrado e Doutorado) mdash UDESC Doutor em Artes do Espetaacuteculo pela Universidade de Paris VIIINanterre Professor-pesquisador no DACPPGTUDESC

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Proacutelogo

Ao iniciar esta cartografia sobre meu heroacutei acho-me tomado de certa perplexidade Ei-la embora chame NuTE de meu heroacutei eu mesmo poreacutem sei todavia que ele nada tem de grande e por isso prevejo perguntas inevitaacuteveis como essas em que seu NuTE eacute digno de nota por que o escolheu como seu heroacutei O que lhe deu esse destaque A quem chega sua fama e por quecirc Por que eu leitor devo perder tempo estudando episoacutedios de sua vida

A uacuteltima pergunta eacute a mais fatiacutedica pois soacute posso responder Talvez o senhor mesmo note isso a partir da leitura Mas e se lerem e natildeo notarem natildeo concordarem com a notoriedade de meu NuTE Digo isso porque o prevejo com pesar Para mim ele eacute digno de nota mas duvido terminantemente que consiga demonstraacute-lo ao leitor O caso eacute que talvez ateacute se trate de um revolucionaacuterio mas um revolucionaacuterio indeciso indefinido Pensando bem seria estranho exigir clareza das pessoas numa eacutepoca como a nossa Uma coisa eacute de crer fica bastante evidente trata-se de um estranho de um excecircntrico ateacute No entanto a estranheza e a excentricidade mais prejudicam que permitem chamar a atenccedilatildeo sobretudo quando todo mundo procura unir particularidades e encontrar ao menos algum sentido comum na balbuacuterdia geral Quanto ao excecircntrico o mais das vezes eacute uma particularidade um caso isolado Natildeo eacute

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Mas se os senhores natildeo concordarem com essa uacuteltima tese e responderem ldquonatildeo eacute assimrdquo ou ldquonatildeo eacute sempre assimrdquo eacute possiacutevel que eu ateacute crie acircnimo em relaccedilatildeo agrave importacircncia de meu heroacutei NuTE Porque natildeo soacute o excecircntrico ldquonem semprerdquo eacute uma particularidade e um caso isolado como ao contraacuterio vez por outra acontece de ser justo ele talvez que traz em si a medula do todo enquanto os demais viventes de sua eacutepoca ndash todos movidos por algum vento estranho ndash dele estatildeo temporariamente afastados sabe-se laacute por qual razatildeo

De resto eu natildeo me meteria nessas explicaccedilotildees confusas e desinteressantes e comeccedilaria pura e simplesmente sem mais preacircmbulos Se gostarem acabaratildeo mesmo lendo o mal poreacutem eacute que cartografia eu tenho uma mas narrativas duas Ambas se cruzam e se complementam Arriscaria ateacute que uma natildeo acontece sem a outra A primeira narrativa aconteceraacute em 2015 ano em que meu heroacutei retornaraacute ao teatro A outra vem acontecendo in progress desde 2009 pela web Prescindir de uma das narrativas eacute impossiacutevel porque muita coisa sobre meu heroacutei ficaria incompreensiacutevel Mas dessa maneira minha dificuldade inicial se agrava ainda mais Se eu mesmo isto eacute o proacuteprio cartoacutegrafo acho que uma soacute narrativa jaacute eacute talvez um excesso para um heroacutei tatildeo modesto e indefinido entatildeo como eacute que vou aparecer com duas e como explicar tamanha presunccedilatildeo de minha parte

Atrapalhado com a soluccedilatildeo de semelhantes questotildees decido-me por deixaacute-

las sem qualquer soluccedilatildeo Eacute claro que o leitor perspicaz jaacute percebeu haacute muito tempo que desde o iniacutecio eu vinha dando esse rumo agrave coisa e apenas se afligia comigo perguntando-se por que eu gastava agrave toa palavras esteacutereis e o precioso tempo Jaacute tenho uma resposta pontual gastava palavras esteacutereis e precioso tempo em primeiro lugar por admiraccedilatildeo agrave D e em segundo por astuacutecia Vamos seja como for eu preveni de antematildeo Alias ateacute me agrada que minha cartografia tenha se dividido em duas narrativas fragmentando a ldquounidade essencial do todordquo Ao tomar conhecimento de uma delas o leitor-internauta se decidiraacute valeraacute a pena passar agrave outra Eacute claro que ningueacutem estaacute tolhido por nada pode largar o livro na segunda paacutegina pode sair do blog sem nada ndash fotos viacutedeos entrevistas ndash experimentar Acontece poreacutem que haacute leitores delicados que forccedilosamente desejaratildeo ir ateacute o fim para natildeo se enganar em sua apreciaccedilatildeo imparcial assim satildeo alguns leitores que conheccedilo Pois eacute Perante esses que fico com o coraccedilatildeo mais leve apesar de tudo a despeito de todo seu esmero e sua honestidade dou-lhes todavia o mais legiacutetimo pretexto para largar o relato jaacute no primeiro episoacutedio que encontrarem virtual ou impresso

Bem eis todo o proacutelogo Concordo plenamente que isso eacute excessivo mas como jaacute encontrei escrito que fique

E agora matildeos agrave obra

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cena do espetaacuteculo rsquoaacuteguas de cima para baixorsquo da esquerda para direita

pedro dias carlos crescecircncio

Foto

Ace

rvo

Nu

TE

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PRIMEIRO

ENSAIOPRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015

Quarta-feira Intempestiva() aproximadamente 15h30min

Imagem Insistente Replay

-Absurdo Isso aqui eacute absolutamente ndash fumando Alexandre Venera balanccedilava a cabeccedila em tom negativo O texto em sua matildeo esquerda sofria o dorso da outra indo e vindo aos petelecos o restante do grupo assistia um tanto impressionado um tanto entediado ao desenvolvimento do conflito dramaacutetico jaacute que segundo Lehmann esse recurso vem sendo progressivamente elidido do teatro contemporacircneo1

ndash Vocecirc natildeo gostoundash Cara vocecirc eacute muito teimoso quantas vezes

jaacute te falei que natildeo existe esse troccedilo de Seu NuTE

ndash Eacute soacute um recurso dramaacutetico Venera Que me ajudou a cartografar a histoacuteria2 Daacute mais vida brinca com o problema da identidade eacute um conceito que venho trabalhando desde O Jardim das Ilusotildees

ndash Taacute mas vocecirc escreve sobre um heroacutei Como se resolve isso cenicamente

ndash Natildeo sei talvez possamos contar um pouco

1 O teatro poacutes-dramaacute-tico

2 Conforme Suely Rol-nik in Cartografia Sen-timental ldquoPara os ge-oacutegrafos a cartografia () eacute um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de trans-formaccedilatildeo da paisagem Paisagens psicossociais tambeacutem satildeo cartografaacute-veis A cartografia nes-se caso acompanha e se faz ao mesmo tempo que o desmanchamen-to de certos mundos - sua perda de sentido - e a formaccedilatildeo de ou-tros mundos que se criam para expressar afetos contemporacircneos em relaccedilatildeo aos quais os universos vigentes tornaram-se obsoletos Sendo tarefa do cartoacute-grafo dar liacutengua para os afetos que pedem pas-sagem dele se espera basicamente que esteja mergulhado nas inten-sidades de seu tempo e que atento agraves lin-guagens que encontra devore as que lhe pa-recem elementos possiacute-veis para a composiccedilatildeo das cartografias que se fazem necessaacuterias O cartoacutegrafo eacute antes de tudo um antropoacutefagordquo

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PRIMEIRO

ENSAIO

da tua histoacuteria pessoal da mesma forma como eu fiz no

ndash Pois esse eacute que eacute o problema ndash cortandondash Eacute um heroacutei modesto nada de mais ndash risos

contidos e nervososndash Nem modesto nem meio modesto Natildeo

natildeo daacute Eu natildeo dirijo porra de espetaacuteculo nenhum sobre historinha familiar seja a minha a da tua tia ou da matildee do prefeito Aleacutem do que o NuTE eacute um coletivo isso aqui natildeo tem cabimento eu natildeo vou montar essa merda ndash jogando o roteiro no chatildeo e fazendo menccedilatildeo de abandonar o ensaio

ndash Tudo bem Calma Deixa eu explicar um pouco melhor ndash Venera acende outro cigarro olha para o lado Wilfried Krambeck toma a palavra

ndash Eu concordo com Alexandre acho que natildeo podemos montar um espetaacuteculo que inicia sobre um plaacutegio vamos acabar respondendo por isso

ndash Plaacutegiondash Natildeo eacute plaacutegio chama-se colagem Heiner

Muumlller utilizava o proacuteprio NuTE fez alguns experimentos trata-se de uma colagem Eacute o meacutetodo da colagem

ndash Colagem Mas que colagem vocecirc utilizou apenas um texto

ndash Sim Eacute quase uma citaccedilatildeo mas funciona com variaccedilotildees extremamente sutis apenas o leitor mais atento percebe

ndash Citaccedilatildeo que natildeo indica o nome do autor Colagem que utiliza apenas um texto Desculpe eu natildeo conhecia esse estilo

ndash Mas vocecirc estaacute me ofendendo eacute oacutebvio que eu indico o nome do autor

ndash Onde Onde estaacute escrito que esse trecho que acabamos de ler eacute a abertura de Os Irmatildeos Karamaacutezov onde estaacute escrito que o verdadeiro autor eacute Dostoieacutevski e que a traduccedilatildeo que vocecirc utilizou eacute de Paulo Bezerra Agora se for uma colagem onde estatildeo os outros textos Vocecirc utilizou apenas um texto original modificando pequenos fragmentos

ndash Bom talvez se trate entatildeo de uma acoplagem ou de uma acoplagem de fragmentos natildeo sei bem ainda

ndash Olha Eacutedio ndash Venera retoma ndash semana passada quando vocecirc esteve laacute em casa eu comentei contigo que fiquei muito contente e honrado ateacute com teu esforccedilo para escrever a histoacuteria do NuTE mas eu nunca imaginaria que vocecirc iria forccedilar a coisa desse jeito Vocecirc sabe que estou distante do teatro haacute um bom tempo que depois de tudo o que aconteceu eu natildeo podia mais voltar na verdade nunca tive a menor vontade de voltar Eu estou aqui hoje com o grupo porque vocecircs me pressionaram muito Por vontade proacutepria natildeo viria Vou te falar uma coisa soacute tem um jeito de a gente continuar com isso

Um pouco de menos senatildeo natildeo vai mais

Caro leitor vamos diminuir um pouco a velocidade Como algueacutem que sobe galopando uma montanha e agora contemplando os

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ENSAIO

quilocircmetros percorridos se esforccedila para encontrar entre as pedras laacute embaixo uma trilha como algueacutem que danccedila freneticamente madrugada adentro e num rodopio se daacute conta de que dentro de algumas horas estaraacute dormindo iniciando sutilmente a preparaccedilatildeo como um solo de guitarra que atinge a nota mais aguda e procura por uma escala menor Descer diminuir respirar Como um gato que no susto trepa o galho mais alto da aacutervore e agora quer voltar ao chatildeo mas natildeo sabe exatamente onde pisar como algueacutem que trabalha de segunda a saacutebado obrigado a levantar bem cedo e laacute pelas tantas acorda num domingo

Satildeo tantas coisas que preciso lhes contar tantas Contar por exemplo dos espetaacuteculos produzidos pelo NuTE da escola de teatro do JOTE-Titac de como foi que chegamos ndash ou melhor que chegaremos a este primeiro ensaio em 2015 Acho que este ponto merece uma pequena explicaccedilatildeo eu prefiro utilizar musicalmente falando as ressonacircncias gramaticais do passado por haacutebito por ironia ou para lhes proteger de frequentes estranhamentos Por isso na primeira frase da cena em questatildeo aparece ldquofumando Alexandre Venera balanccedilava a cabeccedila em tom negativordquo enquanto o correto seria dizer que ldquofumando Alexandre Venera balanccedilaraacute a cabeccedila em tom negativordquo Visto que hoje eacute 21 de abril de 2010 e que estes ensaios aconteceratildeo apenas daqui a cinco anos Trata-se portanto de uma biografia do devir De um futuro proacuteximo eacute verdade mas de um futuro Dessa forma quero lhes pedir

licenccedila para utilizar um formato gramatical natildeo condizente com o periacuteodo em questatildeo o passado aqui serviraacute como mero ponto de apoio nada mais O passado como um lugar seguro de onde se pode partir e ao mesmo tempo um porto aberto sempre agrave espera

Ah Como satildeo leves as conjunccedilotildees do preteacuterito imperfeito Talvez justamente por ser imperfeito Cada vez mais me convenccedilo de que a imperfeiccedilatildeo eacute sempre mais bonita Ao mesmo tempo sei que alguns leitores podem questionar tais utilizaccedilotildees dizendo que me bastaria conjugar esta escrita no futuro do presente ldquofumando Alexandre Venera balanccedilaria a cabeccedila em tom negativordquo Formato que aleacutem de confuso natildeo faz nenhum acoplamento com memoacuteria E como se trata de Puxa Eacute verdade eu jaacute ia me esquecendo da memoacuteria

Memoacuteria

Em O Jardim das Ilusotildees3 me apoiei em alguns conceitos-memoacuteria de Bergson boa parte desse livro funciona tendo Mateacuteria e Memoacuteria como engrenagem Conservo a sensaccedilatildeo de que aquele momento na paacutegina 7 onde Bergson diz que o ceacuterebro natildeo armazena imagens nem lembranccedilas continua produzindo bons agenciamentos e por isso uacutetil tambeacutem aqui Natildeo pretendo repetir toda discussatildeo jaacute realizada em O Jardim das Ilusotildees minha intenccedilatildeo em avanccedilar sobre esse ponto em especiacutefico eacute a de permitir que vocecirc caro leitor compreenda de forma raacutepida e acessiacutevel a concepccedilatildeo de

caro leitora maioria dos

arquivos e informaccedilotildees

disponiacuteveis em links da internet

estatildeo tambeacutem diponiacuteveis no

dvd multimidia lsquoexperimentando

nutersquo anexo a este livro fique atento ao iacutecone abaixo

3 ver o livro disponiacutevel em

wwwnutecombrjardimpdf

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PRIMEIRO

ENSAIO

memoacuteria com a qual venho trabalhando e que estaraacute nos atravessando durante estas leituras-escrituras-NuTE

Quem vai nos ajudar dessa vez satildeo dois bioacutelogos chilenos Francisco Valera e Humberto Maturana Apesar de natildeo citarem Bergson chegam a conclusotildees bastante proacuteximas desta enunciada em Mateacuteria e Memoacuteria Tanto eacute que no segundo livro que escreveram juntos ndash A Aacutervore do Conhecimento as bases bioloacutegicas da compreensatildeo humana ndash a impressatildeo que passa eacute a de haver um aprofundamento da questatildeo jaacute que para Maturana e Varela natildeo apenas as imagens e as lembranccedilas estariam fora mas a proacutepria mente ldquo() natildeo eacute algo que estaacute dentro de meu cracircnio Natildeo eacute um fluido do meu ceacuterebro a consciecircncia e o mental pertencem ao domiacutenio de acoplamento social e eacute nele que ocorre a sua dinacircmicardquo4

Pois que seja mas e daiacute ndash diria o leitor mais ansioso ndash Daiacute que no caso de uma memoacuteria-NuTE a memoacuteria possiacutevel de acessar a memoacuteria que por mais esforccedilo que vocecircs e eu faccedilamos apareceraacute nestas paacuteginas estaraacute mergulhada em palavras imagens sons cheiros cores experimentaccedilotildees NuTE Natildeo se trata de explorar o problema de uma forma poeacutetica como disseram alguns criacuteticos sobre meu primeiro livro mas de perceber que essa memoacuteria que nos acostumamos a reverenciar como propriedade de um dentro objetiva linear e pronta para ser recuperada natildeo pertence a um sujeito ou ao dentro da consciecircncia de alguns sujeitos Que ela soacute funciona acoplada a 4 paacutegina 256

linguagens muacuteltiplas e muacuteltiplas satildeo suas faces Sem isso sem esse miacutenimo em uma pesquisa como essa nada se coloca em movimento

Parece bastante oacutebvio que nosso ceacuterebro natildeo armazene palavras mesmo assim fomos acostumados a imaginar uma gaveta de massa cinzenta ocircrganica em meio a neurocircnios e dendritos acomodando expressotildees frases inteiras ateacute Dessa imagem cerebral o que nos resta eacute a atuaccedilatildeo em rede da memoacuteria Mas se as palavras natildeo estatildeo guardadas em um depoacutesito cerebral como eacute possiacutevel a um ator utilizar palavras para descrever sua experiecircncia nuteana Ou dizendo de outra forma quando um ator utiliza palavras que natildeo satildeo dele para descrever seu passado nuteano o que ele descreve Quando esse ator nos conta o que lhe parece ter sido o nuacutecleo de teatro experimental afinal como ele faz isso Como eacute possiacutevel que essas mesmas palavras que natildeo estatildeo depositadas dentro do ceacuterebro do ator sejam a base de toda invenccedilatildeo de seu relato-memoacuteria

Organizaccedilatildeo Deliacuterio e Tempo

O que atravessa nosso corpo natildeo apenas o ceacuterebro mas o sangue as arteacuterias as viacutesceras a pele todo o corpo eacute sempre uma atualizaccedilatildeo do virtual O transbordamento caoacutetico dessa passagem temporal exige uma organizaccedilatildeo Para lidar com esse constante desassossego somos forccedilados natildeo haacute como escapar sem enlouquecer a inventar sentidos Contudo mesmo o limite

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da desrazatildeo eacute meramente didaacutetico jaacute que muitas vezes eacute justamente atraveacutes da loucura que o sujeito estabelece algum sentido Para Bergson5 esse tempo em noacutes eacute um movente e uacutenico bloco Natildeo se pode dividi-lo natildeo se pode recortaacute-lo em fases periacuteodos identidades O tempo em noacutes eacute indivisiacutevel A lembranccedila em noacutes eacute permanente Somos tudo a todo tempo tudo o que experimentamos estaacute agora nesse instante fazendo barulho urros interminaacuteveis de incontaacuteveis lampejos sutis Cada pequena memoacuteria estaacute duelando com todas as demais e essa guerra desenfreada e incessante que acontece mesmo enquanto vocecirc realiza essa leitura estaacute a nos arrastar cada um de noacutes ao seu tempo pela vida

Para lidar com esse excesso de memoacuteria que somos a natureza em seu requinte de fazer a existecircncia suportaacutevel desenvolveu um mecanismo-verbo esquecer Se lembraacutessemos de tudo a todo tempo a vida seria impossiacutevel Ou seja a funccedilatildeo do ceacuterebro se eacute que ela estaacute realmente no ceacuterebro natildeo eacute lembrar mas esquecer Esquecer para poder existir Esquecer para poder experimentar a perpeacutetua presentificaccedilatildeo do passado Esquecer um pouco ao menos um pouco pois a indivisibilidade do tempo que nos carrega natildeo vai parar Eacute preciso esquecer para conseguir tomar focirclego e continuar vivendo ou melhor continuar esquecendo

Se fosse preciso falar de forma geral simplificando as coisas assim numa estrutura bastante provisoacuteria poderiacuteamos dividir a

5 O Pensamento e o Movente ensaios e conferecircncias

organizaccedilatildeo desses abismos em noacutes atraveacutes de dois grandes blocos de elaboraccedilatildeo

Modo Forma Modo ForccedilaAliviar Tonificar

Iludir Encarar

Distrair Entreter Provocar Fazer Experimentar

Lucro Poder-Potecircncia

Fugir da Realidade Aceitar o Traacutegico da Vida

Representar Enunciar Apresentar Inventar

Tais blocos permitem uma produccedilatildeo de sentido agrave vida Ajudam a passar o que pede passagem Permitem ao corpo natildeo desmontar auxiliam em sua organizaccedilatildeo em sua invenccedilatildeo em sua produccedilatildeo de sentido em meio agrave caoticidade jaacute inerente agrave vida e potencializada pelas atualizaccedilotildees do virtual

Dizendo de uma NuTE-forma a histoacuteria o roteiro a cronologia natildeo passam de um deliacuterio racional uma organizaccedilatildeo imposta que a consciecircncia fabrica para criar sentido e natildeo sucumbir natildeo desterritorializar em meio agraves sensaccedilotildees que transbordam no corpo-escritura no corpo-entrevista no corpo-foto O estatuto de verdade que muitos perseguem seja na descriccedilatildeo histoacuterica ou mesmo numa disciplina cientiacutefica como a medicina soacute se atinge quando uma determinada organizaccedilatildeo-deliacuterio torna-se a organizaccedilatildeo-deliacuterio de muitos Foi isso que ldquo() Robison Crusoeacute entendeu muito bem ao manter um calendaacuterio e ler a Biacuteblia todas as

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ENSAIO

tardes isso soacute eacute possiacutevel se nos comportarmos como se existissem outros jaacute que eacute a rede de interaccedilotildees linguumliacutesticas que faz de noacutes o que somos Noacutes que como cientistas dizemos todas essas coisas natildeo somos diferentesrdquo6

Ou seja se a memoacuteria natildeo habita um espaccedilo objetivo dentro do ceacuterebro de onde seria possiacutevel extraiacute-la com precisatildeo se a memoacuteria se espalha em complexos sistemas interativos sociais ligados em rede se a memoacuteria depende sempre da memoacuteria dos outros para ter legitimidade entatildeo tentar recuperar uma verdadeira memoacuteria ainda mais quando de um grupo eacute no miacutenimo um trabalho fadado ao fracasso7

Ou seja um observador por mais que se esforce para descrever uma memoacuteria tem sua descriccedilatildeo regulada pelo domiacutenio da observaccedilatildeo e jamais atinge portanto o domiacutenio das operaccedilotildees nunca conseguiraacute atingir os fatos tais como acontecem eou aconteceram Para Deleuze o virtual seria este inacessiacutevel onde entre outras coisas ocorre o domiacutenio das operaccedilotildees do ontem Sendo o virtual aquilo que natildeo nos eacute dado e o atual em contraponto aquilo que nos eacute dado podemos avanccedilar sobre nosso caso8

A histoacuteria do NuTE que se tenta narrar aqui estaacute limitada ao niacutevel de uma observaccedilatildeo-atualizaccedilatildeo possiacutevel visto que os domiacutenios de suas operaccedilotildees tais como aconteceram natildeo estatildeo acessiacuteveis ndash passado inalcanccedilaacutevel NuTE-virtual Dessa forma quatro constataccedilotildees importantes

6 A Aacutervore do Conhe-cimento p 256-257

7Em De Maacutequinas e Seres Vivos Autopoie-se ndash A Organizaccedilatildeo do Vivo Maturana e Va-rela explicam que ldquoAs noccedilotildees de aquisiccedilatildeo de representaccedilotildees do am-biente ou de aquisiccedilatildeo de informaccedilatildeo sobre o ambiente em relaccedilatildeo com a aprendizagem natildeo representam qual-quer aspecto do operar do sistema nervoso O mesmo vale para no-ccedilotildees tais como memoacute-ria e lembranccedila que satildeo descriccedilotildees feitas por um observador de fenocircmenos que tecircm lu-gar em seu domiacutenio de observaccedilatildeo e natildeo no domiacutenio de operaccedilatildeo do sistema nervoso e que portanto tecircm va-lidade somente no do-miacutenio das descriccedilotildees onde ficam definidas como componentes causais na descriccedilatildeo da histoacuteria condutu-alrdquo p132

8 Esta definiccedilatildeo de Virtual e Atual se en-contra mais detalhada em O Vocabulaacuterio de Deleuze de Zourabi-chvilli

Primeiro que o passado o virtual a memoacuteria que estou procurando eacute real

Segundo que em sua forma pura em seu em si o passado permanece virtual

Terceiro que meu corpo ainda que sutilmente pode servir de ponte entre o virtual e o atual

Quarto que posso utilizar a escritura como meio de conduzir atualizaccedilotildees desse virtual

Uma escritura que acaba sendo levada a se preocupar natildeo apenas com aquilo que aconteceu mas com aquilo que o acontecimento fezfaz movimentar nos corpos das pessoas que experimentaram o acontecimento9

Assim as observaccedilotildees-atualizaccedilotildees aqui expostas pretendem uma espeacutecie de mapa-NuTE Mapa de um passado-virtual que se atualiza atraveacutes das organizaccedilotildees-deliacuterios de um observador Com razatildeo alguns leitores devem estar ridicularizando este processo de pesquisa Ao mesmo tempo acredito que os mais rigorosos podem aceitar alguns dos limites que menciono e entre estes os mais generosos provavelmente se perguntam haveria alguma forma de melhorar isso Como natildeo depender apenas das organizaccedilotildees-deliacuterios de um uacutenico observador para descrever essa histoacuteria-NuTE A resposta parece ser bastante oacutebvia convidando outros observadores agrave escrita Mas que escrita suportaria tamanha condensaccedilatildeo

Eugenio Barba em artigo intitulado Fazer Teatro eacute Pensar de Modo Paradoxal diz que ldquo() o importante natildeo era o sentido das palavras

Raniere em O Jardim das Ilusotildees 2007

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PRIMEIRO

ENSAIO

natildeo era tornar o texto inteligiacutevel mas tornaacute-lo vivordquo10 Quem sabe entatildeo se essa escritura-NuTE fosse arrastada natildeo a uma filiaccedilatildeo mas a uma alianccedila com Eugenio Barba em seu modo de trabalhar textos roteiros peccedilas Quem sabe com autorizaccedilatildeo dos pesquisadores mais claacutessicos claro pudeacutessemos tomar os fatos histoacutericos sobre o NuTE da mesma forma que Eugenio Barba toma um texto-roteiro-peccedila Dando mais importacircncia agrave intensidade do que agrave inteligibilidade Obviamente os fatos satildeo essenciais mas seria preciso encarnar esses fatos condensadamente diferente da sua realidade Confuso Tentemos um exemplo a experiecircncia do NUTe com sua Escola de Teatro11 Temos alguns fatos apontados por recortes de jornais fotos eventos programas meacutetodo de ensino entrevistas e suas transcriccedilotildees etc Contudo como tornar viva essa experiecircncia Como proporcionar a vocecirc caro leitor uma escrita que esteja aleacutem da inteligibilidade e do sentido das palavras

Alguns deslocamentos satildeo necessaacuterios Se vamos trabalhar condensando vaacuterias escritas este autor deixa de ter autoria sobre a escrituraccedilatildeo-NuTE Visto que o que ele faz acaba se aproximando mais de uma direccedilatildeo tal qual um diretor de teatro do que propriamente de uma solitaacuteria composiccedilatildeo privada Os acontecimentos seratildeo deformados quebrados estilhaccedilados para que deles se possa extrair potecircncia para que possamos descobrir uma realidade totalmente diferente da realidade que o fato histoacuterico jaacute continha em seu virtual

10 P 14

11 caro leitor vocecirc iraacute encontrar

a abreviaccedilatildeo NuTE

sempre que o texto fizer referecircncia ao

Nuacutecleo de Teatro

Experimental

bem como

NuTe

para

Nuacutecleo de Teatro Escola

ambas as grafias eram adotadas

pelo proacuteprio grupo com os mesmos

significados

ldquo() trata-se de criar um teatro em que a interpretaccedilatildeo do texto eacute atingida por uma condensaccedilatildeo extraordinaacuteria incorporada pelo ator cujas reaccedilotildees fazem com que os espectadores descubram uma realidade totalmente diferente da realidade que as palavras jaacute continham quando estavam no papel Eacute por isso que para mim as palavras satildeo essenciais Eacute a poesia do texto que devemos procurar Mas poesia significa condensaccedilatildeo Eacute preciso encarnar esse texto condensadamente () a finalidade uacuteltima de todo esse trabalho de teacutecnica de visatildeo eacute construir uma relaccedilatildeo viva com o espectadorrdquo12

Em busca de uma relaccedilatildeo viva com o leitor

Um livro natildeo comeccedila com uma paacutegina em branco mas sim com seus devires Seres larvares pululam Frases larvares paraacutegrafos inteiros cores-sons-cheiros conceitos e desejos Essas larvas do vir a ser esse download do ontem ndash jaacute que nessa pesquisa haacute uma intenccedilatildeo de descrever aquilo que aparentemente mora no passado ndash essa atualizaccedilatildeo de um virtual me parecem tatildeo importantes quanto o livro-resultado-final Muito mais difiacuteceis contudo de frear de conter neste papel-tela De registrar de possibilitar que vocecirc caro leitor-ator experimente

Sei que preciso delas sei que sem elas dificilmente atingiremos essa relaccedilatildeo proposta por Barba Ao mesmo tempo tenho tido a impressatildeo de que essas Larvas Palavras jamais obedeceratildeo ao meu comando de parar Talvez sejam nocircmades em um passeio infinito natildeo sei ao certo ainda Sim Elas passaram pelo corpo

12Fazer Teatro eacute Pensar de Modo Para-doxal Eugenio Barba p 15

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PRIMEIRO

ENSAIO

do NuTE mas agora andam desgovernadas por aiacute

Dessa forma talvez nossa uacutenica chance enquanto leitorautor seja aliar-nos com elas Se elas natildeo me obedecem mesmo sendo eu quem dirige esta escrita ou justamente por tentar dirigi-la quem sabe possamos larvar-nos e agenciar essa escritura-leitura a uma espeacutecie de Experimentaccedilatildeo de um Devir NuTE

Tento explicar um pouco melhor Durante a produccedilatildeo deste livro fui expondo em nuteparatodoswordpresscom seus preparativos Cada rascunho cada conceito cada novo pensamento que me pedia passagem teve ali um territoacuterio livre para circular encontrar amigos criacuteticas sugestotildees para se esculpir para se abandonar para se refazer Agrave medida que o Acontecimento NuTE foi se pronunciando muitas das experimentaccedilotildees se deram In Progress em desenvolvimento antes desta ediccedilatildeocostura desta formataccedilatildeo que vocecirc caro leitor tem em matildeos

Ou seja minha tentativa agora ndash Progress in Livro in Progress ndash eacute permitir que um movimento larvar da pesquisa enuncie agrave sua leitura aquilo que o registro-freio tende a paralisar

Contudo encontrei apenas uma forma de fazer isso Convidando vocecirc prezado leitor a participar melhor dizendo a continuar este Work in Progress Por favor natildeo se assuste Talvez num primeiro momento vocecirc esteja pensando que o papel de um leitor seja ler apenas ler e que isso de ser empurrado para atuar junto aos demais atores de uma pesquisa

Work in Progress natildeo estava em seu roteiro quando se interessou por este livro De certa forma vocecirc estaacute correto mas se eu puder contar com sua generosidade peccedilo que tenha calma e siga a leitura como lhe parecer mais agradaacutevel Nas proacuteximas paacuteginas vocecirc seraacute chamado a participar de uma conversa numa comunidade do Orkut fica a seu criteacuterio fazecirc-lo ou natildeo Durante todo o livro vocecirc seraacute convidado a acessar ao blog acima citado bem como a biblioteca Nutrindo13 Nesses espaccedilos vocecirc iraacute encontrar muitas das larvas que aqui tomaram forma de frases paraacutegrafos inteiros Todas as entrevistas realizadas durante a pesquisa estatildeo transcritas na iacutentegra para seu livre acesso Quando vocecirc se deparar num dos Ensaios com um recorte como um trecho de entrevista por exemplo natildeo permita que nossa interpretaccedilatildeo reduza seu entendimento sobre o que foi o NuTE baixe a entrevista no blog e veja por si mesmo do que se trata O mesmo procedimento serve aos documentos aqui fracionados todos sem exceccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis para sua consulta nessa biblioteca que criamos especialmente para hospedaacute-los Nos Segundo e Quarto Ensaios vocecirc seraacute convidado a jogar junto com os demais atores o Baralho NuTE Aproveite divirta-se Monte seu proacuteprio espetaacuteculo No Terceiro Ensaio vocecirc vai encontrar o Livreto Espetacular onde ex-nutes compartilham suas experiecircncias a respeito das principais montagens neste mesmo Ensaio junto agrave cronologia dos 185 espetaacuteculos encenados vocecirc vai encontrar endereccedilos

12 a biblioteca lsquonutrindorsquo conta atualmente com mais de trecircs mil

documentos e pode ser acessada em

wwwnutecombr

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PRIMEIRO

ENSAIO

links para assistir a apresentaccedilotildees ensaios e oficinas No Quinto Ensaio virei pessoalmente lhe convidar inclusive jaacute comprei seu ingresso gostaria muitiacutessimo de sua companhia para assistir ao JOTE-Titac Experimentando NuTE Por fim para o Sexto Ensaio seratildeo necessaacuterias algumas cervejas Recomendo que desde jaacute o prezado leitor as mantenha resfriando em seu freezer

Passo agora a lhes contar como foi que chegamos ao nosso primeiro ensaio como foi que chegamos ao comeccedilo

Um lugar onde se respira o antes do Proacutelogo

Naquela tarde eu tive certeza logo ao desligar o telefone que O Jardim das Ilusotildees seria publicado Gervaacutesio Luz emocionado com o livro transmitia a mim seu parecer positivo como conselheiro da editora Cultura em Movimento Saiacute para sorrir ao sol Natildeo sei bem se um daqueles raios amarelados em minha testa ou mesmo o recente falecimento de Carlos Jardim ndash turbilhatildeo de imagens teatrais ndash natildeo sei bem Mas foi assim que esta obsessatildeo comeccedilou

Fui arrebatado por uma cena-imagem um livro que ao utilizar a estrutura teatral para descrever a trajetoacuteria de um grupo de teatro seria tomado pelo proacuteprio grupo descrito como roteiro de seu proacuteximo espetaacuteculo Espetaacuteculo sobre si dobra-cartograacutefica Deleuze me sussurrava Fazer da Vida Uma Obra de Arte

fazer da vida uma obra de arteAssim que tive em matildeos o primeiro exemplar

de O Jardim das Ilusotildees corri agrave Equipe Vira Lata com essa proposta Para minha frustraccedilatildeo baldes de aacutegua fria Natildeo obtive o entusiasmo que esperava Juntos realizamos o lanccedilamento e um ano depois a publicaccedilatildeo de Por Uma Escrita Vira Lata ndash desdobramento de minha pesquisa onde reuacuteno a grande maioria dos textos escritos por Roberto Vergel pseudocircnimo que Carlos Jardim utilizava para escrever

Mas a imagem insistia Parecia grudada em minha respiraccedilatildeo Ao assistir um espetaacuteculo sempre ela retornava ao dar um curso sobre Michel Foucault ao ler Dostoieacutevski Aos poucos fui me convencendo de que poderia escrever esse espetaacuteculo-dobra Alguns conceitos me faltavam e essencialmente um novo grupo de teatro Comecei a me questionar sobre quem valeria a pena pesquisar que grupo me interessaria Essa pergunta permaneceu por um bom tempo

Isso Natildeo eacute Um Cococirc14 foi uma intervenccedilatildeo urbana de muitos Entre eles estavam Juliana Teodoro e Alexandre Venera Em meio agraves accedilotildees de terrorismo poeacutetico nos tornamos amigos Laacute pelas tantas (eu estava um pouco embriagado eacute verdade) foi no Farol Lanches em Blumenau resolvi contar a Alexandre o quanto o Teatro da Terra uacuteltima fase do NuTE havia sido importante para mim O quanto aquelas cenas em meio agrave Floresta-Fazendarado continuavam presentes no que eu vinha ajudando a fazer de mim

14 A accedilatildeo como um todo levou semanas Desde a construccedilatildeo dos objetos passando pelo lanccedilamento dos objetos no rio Itajaiacute-Accedilu as filmagens a ediccedilatildeo e suas proje-ccedilotildees Nesse endereccedilo vocecirc pode assistir ao viacutedeo que resultou das accedilotildeeswwwyoutubecomwatchv=kknHIVUO-NE

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PRIMEIRO

ENSAIO

Num estalo compreendi que o grupo que eu vinha procurando haacute algum tempo era o NuTE Descrevi para Alexandre meu argumento de pesquisa e ele que tambeacutem havia bebido um pouco disse que era uma ideia genial

() o Alexandre era um grande incentivador assim Com tudo entrando em ebuliccedilatildeo Ele fazia a gente fazer Um tremendo animador cultural no melhor sentido da palavra o Alexandre vibrava com essas coisas os olhos dele brilhavam ldquoVai laacute vamos fazer tem que agitar tem uma ideia legal fazrdquo e Entatildeo empolgava muito a gente a produzir e produzir cada vez mais (entrevista com Peacutepe Sedrez paacutegina 2)

Um estranho brilho nos olhos dele me fez acreditar que a ideia era realmente boa Ao mesmo tempo me disse que natildeo gostaria de se comprometer com a direccedilatildeo do espetaacuteculo da forma como eu estava propondo porque natildeo tinha mais interesse em teatro mas que ficaria honrado com essa cartografia sobre o NuTE

Na mesma semana procurei Aline e Charles velhos amigos e parceiros em projetos culturais Havia um edital aberto para pesquisa e publicaccedilatildeo pela Petrobras Eles gostaram da ideia e comeccedilamos a trabalhar na redaccedilatildeo do projeto Uma das exigecircncias desse edital era obter um Pronac junto ao Ministeacuterio da Cultura via Lei Rouanet Uma vez pronto encaminhamos o projeto e ansiosos aguardamos Depois de alguns meses veio a resposta reprovado Natildeo conseguimos aprovaccedilatildeo pela Petrobras Mais

alguns meses se passaram e como a tramitaccedilatildeo no Ministeacuterio da Cultura independe da empresa patrocinadora acabamos recebendo um Pronac Ou seja o projeto foi aceito via Lei Rouanet caberia agora ao grupo conseguir captaccedilatildeo Captaccedilatildeo que contaacutevamos fazer atraveacutes do edital da Petrobras

Todo mundo que trabalha com cultura tem pelo menos trecircs amigos que aprovaram projetos via lei Rouanet e que nunca conseguiram captar O repasse feito via imposto de renda somente pode ser dado por grandes empresas as quais geralmente estatildeo interessadas em atividades culturais de cunho comercial Desanimados engavetamos o projeto e cada qual em seu canto foi cuidar da vida Comecei a trabalhar para o governo do estado do Paranaacute e me mudei para Curitiba

Quando o prazo de captaccedilatildeo estava prestes a terminar seu Luiz meu sogro telefona dizendo que Gabriela sobrinha dele comentava de uma empresa da aacuterea de construccedilatildeo de hidreleacutetricas a qual estava no momento com uma obra no oeste de Santa Catarina esta empresa vinha avaliando projetos justamente para financiamento via Lei Rounet Sem esperanccedila alguma resolvi encaminhar o projeto e eis que por um grande acaso do destino somos contemplados

Com o patrociacutenio do grupo Baesa-Enercan tudo parecia estar resolvido Bastaria realizar a pesquisa e atraveacutes dela compor procurar pela escrita NuTE Contudo minhas atividades na Secretaria de Estado da Crianccedila e da Juventude

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ENSAIO

me exigiam por completo A escrita foi ficando para amanhatilde Havia firmado compromisso comigo mesmo de escrever em minhas feacuterias as quais estavam programadas pra julho de 2009

Em Curitiba todo saacutebado agrave tarde num bar da esquina de casa ndash bairro Aacutegua Verde ndash tocavam bandas de Blues Era um lugar agradaacutevel para ler Nietzsche Num desses saacutebados a banda terminou mais cedo Por volta das 18 horas paguei as cervejas coloquei O Anticristo na mochila e tomei o rumo de casa Foi nesse crepuacutesculo que aconteceu Eu caminhava distraidamente pelas calccediladas da rua Amazonas quando fui consumido por um segundo arrebatamento e se eu pudesse assistir ao espetaacuteculo que conta a trajetoacuteria do NuTE antes mesmo de escrever o livro E se eu pudesse transformar parte desse espetaacuteculo no livro que iraacute servir de roteiro para o proacuteprio espetaacuteculo

Sozinho vibrando com a ideia eu ria num frenesi desvairado Gritava ldquoEacute isso Eacute isso Isso mesmordquo E voltava a gargalhar como se estivesse possuiacutedo por algum democircnio Os curitibocas transeuntes que vinham em minha direccedilatildeo se afastavam Alguns me apontavam assustados Uma senhora jaacute velhinha que passeava com seu pequeno cachorro poodle tocou-me gentilmente no braccedilo perguntando se eu estava bem Tentei lhe explicar o que estava visualizando mas ela natildeo conseguia entender o que era um JOTE-Titac

Marquei uma reuniatildeo com Charles Aline

e Venera e da mesma forma como havia feito com a bondosa senhora curitibana expliquei o que havia visto Eles compreenderam e gostaram da proposta Juntos chegamos ao conceito de JOTE-Titac Experimentando NuTE Funcionaria como todo JOTE-Titac com a diferenccedila de que os textos encaminhados teriam que tratar de um uacutenico tema o NuTE Natildeo necessariamente contar a histoacuteria do NuTE Mas de alguma forma dar passagem a ela ou a um devir NuTE permitir ressonacircncias com o NuTE estar de alguma forma afetado por ele15

Escolhemos uma data para o evento Aline e Charles cuidaram da divulgaccedilatildeo Venera e eu nos dedicamos agrave organizaccedilatildeo dos grupos Professora Noemy Kellerman Gregory Haertel e Tacircnia Rodrigues selecionaram os textos Doutor Ronaldo Faleiro Peacutepe Sedrez e Noemy Kellerman julgaram os espetaacuteculos Foi um grande sucesso Sem duacutevida eu faria tudo novamente Mas minhas feacuterias haviam terminado Voltei para Curitiba voltei a trabalhar voltei a tentar escrever em meus finais de semana Impossiacutevel Sempre esgotado natildeo conseguia produzir Essa exaustatildeo me acoplou violentamente com um antigo projeto comprar uma casa-escrita Uma casa onde escrever seria possiacutevel em qualquer horaacuterio do dia Um lugar onde natildeo houvesse interferecircncias de bares buzinas motores shows vizinhos cachorros construccedilatildeo de preacutedios ou qualquer outra modalidade ruidosa que pudesse dificultar o processo de escrita

Foi uma decisatildeo difiacutecil Em dezembro de 2009 pedi demissatildeo e comprei atraveacutes de

15 Caro leitor como vocecirc pode

perceber em nosso iacutendice haacute um

capiacutetulo destinado exclusivamente

ao jote- jitac por isso natildeo iremos

detalhar aqui seu funcionamento eou propoacutesito aleacutem do capiacutetulo tudo o que foi produzido pelo lsquojote-titac experimentando

nutersquo estaacute hospedado em

wwwnuteparatodoswordpresscomjoteti-tac

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PRIMEIRO

ENSAIO

um financiamento pela Caixa Econocircmica Federal uma casa na Praia da Tainha em Bombinhas Santa Catarina Nesse mesmo mecircs trago a mudanccedila e comeccedilo a trabalhar Natildeo na escrita mas na casa que precisava de uma seacuterie de reformas Em meados de fevereiro as coisas se ajeitam e comeccedilo a trabalhar finalmente na produccedilatildeo da escrita NuTE O isolamento da praia me permitiu uma aventura quase monaacutestica Mas em virtude de minha natildeo formaccedilatildeo em teatro inuacutemeros problemas conceituais retornavam Em busca de orientaccedilatildeo entro em contato com o Doutor Ronaldo Faleiro que muito gentilmente aceita me nortear nesse processo

Agrave medida que Faleiro analisava os capiacutetulos eles iam sendo postados no blog - wwwnuteparatodoswordpresscom - e sofriam a interferecircncia dos muacuteltiplos virtualizados ndash pessoas que criticavam elogiavam davam dicas ajustavam cenas ndash fui montando capiacutetulo a capiacutetulo este livro O conceito que utilizamos para essa composiccedilatildeo foi o de Work in Progress de uma escrita In Progress

Em outubro de 2011 uma primeira versatildeo do livro estava pronta Eu precisava agora de um diretor Como Alexandre havia sinalizado negativamente marquei uma reuniatildeo com Peacutepe Sedrez Levei o livro entreguei a ele e lhe perguntei se teria interesse em montar o espetaacuteculo Peacutepe olhava pra mim olhava para o livro permaneceu em silecircncio por quase dez minutos apenas folheando as paacuteginas Por fim uma laacutegrima lhe desceu a face esquerda

do rosto Tomado por uma carga absurda de sensaccedilotildees as quais tenho dificuldade de descrever aqui ele me disse

ndash Obrigado Eacutedio obrigado por isso Quero que vocecirc saiba o quanto significa pra mim este teu trabalho Eu me sinto mais do que feliz com tua proposta Imagine ndash falou sorrindo ndash dirigir um espetaacuteculo sobre a histoacuteria do NuTE seria maravilhoso Mas Mas me desculpa eu natildeo posso natildeo natildeo posso

Ele me entregou o livro levantou-se pedindo desculpas e saiu Atocircnito sozinho na sala da Companhia Carona de Teatro olhei para o livro em cima da mesa olhei a placa da porta ao lado Equipe Vira Lata Respirei apanhei o livro e me dirigi ao corredor de saiacuteda Descendo a rua XV de Novembro desanimado perto da igreja matriz ouccedilo algueacutem me chamando Era Peacutepe

ndash Desculpa mais uma vez eu natildeo consegui te falar o que queria te dizer Eu quero muito montar esse espetaacuteculo Mais do que vocecirc pode imaginar O que eu natildeo posso eacute dirigir Quero participar como ator Sei que muitos que participaram do NuTE tambeacutem vatildeo querer

Nesse momento Peacutepe me fez visualizar algo novo Eu natildeo havia pensado nisso Minha questatildeo era encontrar um diretor Passaria o livro a ele que escolheria os atores e montaria agrave sua maneira Mas a imagem de um espetaacuteculo com atores do proacuteprio NuTE a encenar sua proacutepria histoacuteria sem duacutevida era ainda mais interessante Fiquei contente e retomei com Peacutepe

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PRIMEIRO

ENSAIO

ndash Oacutetimo seria bem legal mesmo agradeccedilo muito tua vontade de participar eu havia pensado em ti como diretor mas se

ndash Vocecirc natildeo entende ndash cortando ndash eu natildeo posso dirigir quem precisa dirigir esse espetaacuteculo eacute o Alexandre

Nossa se me dessem Hoje em dia se o

Alexandre me convidasse pra fazer um trabalho

Pra fazer papel de cachorro mudo quieto eu ia

e olha amarradatildeo Sem sombra de duacutevida ()

Acho que seria uma legal uma montagem ateacute uma

coisa porrada mas aiacute eacute com meu amigo Alexandre

neacute (risos) () Eacute se ele quiser Eu vou a hora que

ele quiser () Acho que a Como eu te digo a vida

taacute passando a gente taacute ficando velho e poxa seria

muito Pra mim seria uma honra muito grande e

um orgulho muito grande taacute fazendo de novo um

trabalho com o Alexandre e pocirc se Deus quiser se

Peacutepe aceitar com Peacutepe Carlinhos nossa Juliana

Muller que fazia parte do NuTE e tantas outras

pessoas que passaram por ali eu acho que Tadeu

Bittencourt o proacuteprio Carlinhos que natildeo estaacute mais

aqui em Blumenau mas pocirc chamando ele volta

(entrevista com Giba paacuteginas 26-27)

ndash Mas Peacutepe eu jaacute tentei convencer Alexandre Ele estaacute irredutiacutevel Natildeo quer saber de teatro

ndash Eu sei eu sei Mas podemos bolar um plano Na verdade eu jaacute pensei em tudo Vocecirc lembra do texto escrito pelo Nira que foi selecionado para participar do JOTE-Titac Experimentando NuTE

ndash Qual O Mackbeacutete

ndash Natildeo O outro Trabalho Sujo

ndash Sim Sim O que tem

ndash Podemos utilizaacute-lo para convencer o Alexandre

ndash Como assim

ndash Claro vai precisar de uma adaptaccedilatildeo Mas acho que pode servir

ndash E quem vai adaptar

ndash Bem eu sei que o Gregory Haertel fez uma adaptaccedilatildeo desse texto chama-se a Sede do Santo foi montada com direccedilatildeo do Rafael Koehler Mas se essa adaptaccedilatildeo natildeo der conta de convencer o Alexandre talvez o proacuteprio Nira possa fazer

ndash Beleza pode dar certo

ndash Vai dar sim Com certeza Aiacute vocecirc cola aqui na sequecircncia antes do retorno ao Primeiro Ato

ndash Joia vou fazer isso entatildeo

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PRIMEIRO

ENSAIO

Adaptaccedilatildeo de Trabalho Sujo16

Argumento A gangue deve ser virtual e composta pelos fakes NuTE Os personagens elaboram suas tramas pelo Orkut Cada qual tem um perfil Ao leitor cabe jogar com os personagens no sentido de encontrar uma soluccedilatildeo para o problema em questatildeo convencer Alexandre a dirigir o espetaacuteculo sobre o NuTE Cada personagem teraacute um perfil no Orkut com login e senha As senhas seratildeo fornecidas aos leitores atraveacutes da leitura do livro Natildeo ficaraacute claro aqui no livro a resoluccedilatildeo da trama Para que o leitor saiba o que levou Alexandre a dirigir o espetaacuteculo ele teraacute que entrar no Orkut e jogar com os personagens

Trabalho Sujo e Virtual17

Personagens NAFTALINA JOHNSON NOacuteDULO CHUCK NEIDE SAPATINHO NIVALDO TRAPACcedilA NESTOR MIRONGA NEUSINHA BLAU BLAU (os quais assumem identidades fakes) NARRANTE

Cena I Eureca Epifania Iluminaccedilatildeo

NARRANTE ndash No evento Jote-Titac Experimentando NuTE a quadrilha de Naftalina Johnson se esmerava em roubar quadros sequestrar livros pichar esculturas corromper leitores e ateacute piratear telenovelas ndash tudo levado a cabo com preciosismo extremado Ateacute que chegou um momento em que eles descobriram que natildeo poderiam seguir com ambiccedilotildees tatildeo mesquinhas Algo de muito pior deveria ser

16 Trabalho Sujo de Nira da Silveira texto escrito e selecionado para o JOTE-Titac Ex-perimentando NuTE O leitor tem acesso ao texto original atraveacutes do blog wwwnutepa-ratodoswordpresscom e no Quinto En-saio deste livro

17 Adptaccedilatildeo de Nira da Silveira

feito Algo como convencer Alexandre Venera a dirigir um espetaacuteculo sobre o NuTE Um problema havia como fariam isso incoacutegnitos Como despistariam a Poliacutecia Autoral Cada vez mais as antigas missotildees pareciam brincadeira de preacute-adolescentes Foi poreacutem numa noite de abril que Naftalina chegou com a soluccedilatildeo

NAFTALINA JOHNSON ndash Caros comparsas estaacute aberta a sessatildeo Dona Blau Blau a senhorita estaacute anotando

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Estou Tudo Anotando tudo Podem olhar Taacute bem aqui Tudo anotadinho

NAFTALINA ndash Obrigado muito obrigado Queridos amigos convoquei esta reuniatildeo para dar parte de uma notiacutecia ineacutedita e inaudita a qual nunca foi vista nem ouvida e que permanece ateacute agora na obscuridatildeo das trevas desconhecidas

NEIDE SAPATINHO ndash Ui Nafta Fiquei toda arrepiadinha agora

NIVALDO TRAPACcedilA (levantando) ndash Natildeo precisa dizer mais nada

NAFTALINA ndash Como disseNIVALDO TRAPACcedilA ndash Poupe-nos Naftalina

Eu jaacute sei o que satildeo esses papeacuteis na sua matildeo NAFTALINA ndash Jaacute sabe Mas comoNIVALDO TRAPACcedilA ndash Ora vamos e

venhamos Do jeito que as coisas vatildeo soacute podem ser os papeacuteis da nossa aposentadoria De qualquer maneira obrigado por fraudar o INSS por noacutes Ateacute que saiu raacutepido

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PRIMEIRO

ENSAIO

NAFTALINA ndash NAtildeO Eacute NADA DISSO IDIOTANESTOR MIRONGA (dando um soco na

cabeccedila de Nicanor) ndash Senta aiacute ocirc imbecilNAFTALINA ndash Agraves vezes acho que estou

cercado de crianccedilas aqui Pois fiquem sabendo que o que tenho nas matildeos satildeo passagens de aviatildeo

NEIDE SAPATINHO ndash Pra onde NaftaNAFTALINA ndash Para diversas cidades do paiacutes

Precisaremos estar longe uns dos outros para despistar as autoridades e principalmente o Venera

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Ai meu Deus Eu vou viajar Meu deusinho do ceacuteu eu vou viajaaaar

NOacuteDULO CHUCK (No fundo da sala comeccedila a bater palmas levanta-se e vai ateacute a frente) ndash Muito bem Parabeacutens Nafta Seu plano eacute genial Ele soacute tem um problema

MEMBROS ndash Qual o problema ChuckNOacuteDULO CHUCK ndash O problema eacute que nosso

plano de celular preacute-pago eacute uma merda E quando precisarmos nos falar vamos gastar uma fortuna

NAFTALINA (tirando lentamente um revoacutelver do paletoacute) ndash Agora chega Eu natildeo aguento mais Eu vou matar uns dois

NESTOR MIRONGA E NEIDE SAPATINHO (segurando Naftalina) ndash Calma Nafta Vai com calma (Naftalina se recompotildee)

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Chefe meu celularzinho tambeacutem eacute uma merda

NAFTALINA ndash Estaacute tudo bem querida eu jaacute planejei tudo Desde o ano em que vocecirc nasceu tudo estava resolvido

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Eacute mesmoNAFTALINA ndash Sim meu amor Naquela

eacutepoca um grupo de nerds num paiacutes longe daqui resolveu nosso problema Eles criaram uma grande rede uma teia de alcance mundial (black)

Cena II ldquoQuem eacute elerdquo Ainda no poratildeo da gangue final da reuniatildeo

NESTOR MIRONGA ndash Mas chefe isso tudo vai custar dinheiro Eu pensei que o nosso cofre estava vazio

NAFTALINA ndash Sim eu sei meu rapaz Acontece que um cidadatildeo muito excecircntrico e amante das causas nobres ofereceu-se para nos patrocinar

MEMBROS ndash E quem eacute eleNAFTALINA ndash Algueacutem que exigiu sigilo

ultra-mega-blaster confidencial mas ao qual nos referiremos como ldquoO Leitorrdquo

MEMBROS (Vasculham a plateia com o olhar procurando por algueacutem que possa ser ldquoO Leitorrdquo)

Cena III Conspiraccedilatildeo Conluio e Confabulaccedilatildeo Perfil de fake Giba de Oliveira no Orkut Ele conversa com os comparsas os quais depois de intenso treinamento

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PRIMEIRO

ENSAIO

aprenderam a se expressar quase como os reais Natildeo foi permitido pela gangue revelar quem eacute quem

FAKE CLAUS JENSEN ndash giba ainda ta aiacuteFAKE GIBA DE OLIVEIRA ndash Giba de Oliveira

teclando perfeitamente blzFAKE CLAUS ndash blz estive ha pouco com

Alexandre Venera FAKE AacuteLVARO ndash ele na desconfiou d nadaFAKE CLAUS ndash ele desconfio sim mas naum

d mim ele disse q ontem axou o pepe meio estranho

FAKE PEPE ndash por q extranhoFAKE GIBA ndash eu sei porq eh q tu tais

exagerando nos trejeitosFAKE CLAUS ndash ele falou que achou o Pepe

muito insistenteFAKE GIBA ndash eu disse q naum era pra insisti

d+FAKE PEPE ndash mas eu nem falei da peccedila eu

soacute convidei ele pra tomar uma cerva FAKE AacuteLVARO ndash idiota o ale soacute toma

destiladoFAKE PEPE ndash natildeo deram essa parte no cursoFAKE CLAUS ndash deram sim tu falto pra ir

beberFAKE GIBA ndash vamo tentar alguma coisa

diferente kd o afonsoFAKE AFONSO ndash to aki soacute lendoFAKE GIBA ndash eacutes o proacuteximo nego te arruma

amanhatilde vais encontra com ele por acaso no farol

FAKE AFONSO ndash vlw fui

Caro leitor vocecirc chegou a uma encruzilhada em sua leitura Aqui se abrem dois caminhos distintos duas estradas possiacuteveis por onde seguir

1 ndash Continuar a leitura do livro passando diretamente agrave proacutexima paacutegina deixando essa trama sem resoluccedilatildeo

2 ndash Escolher um Fake na lista abaixo entrar com ele na comunidade Orkut e interagir conversar com os demais Fakes investigar produzir fabricar inventar uma soluccedilatildeo para a trama Ou seja nesta segunda via cabe a vocecirc caro leitor criar um desfecho para a histoacuteria Aos mais ousados bom experimento

Perfil login

O Leitor leitorfakenutegmailcom

Wilfried wilfriedfakenutegmailcom

Claus clausfakenutegmailcom

Afonso afonsofakenutegmailcom

Giba gibafakenutegmailcom

Peacutepe pepefakenutegmailcom

Silvio da Luz silvinhofakenutegmailcom

Dennis Raduumlnz denisfakenutegmailcom

Aacutelvaro alvarofakenutegmailcom

Senha somosmuitopoucosparadividir

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PRIMEIRO

ENSAIO

RETORNO AO PRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015

ndash Tenho me esforccedilado ndash Eacutedio responde a Venera ndash para fazer o melhor possiacutevel Dediquei-me em tempo integral a esta escrita pedi a conta de um bom emprego que eu tinha larguei tudo para trabalhar apenas nisso mas claro precisamos continuar aceito suas condiccedilotildees qual seria a proposta

ndash Bom primeiro eu natildeo concordo com esse proacutelogo precisa ser feito de outra forma

ndash Mas eu tive tanto trabalho para escreverndash Teve nada ndash diz Wilfried ndash vocecirc copiou dos

Irmatildeos Karamaacutezovndash Natildeo copiei eacute uma acoplagem acoplagemndash Que maneacute acoplagem isso nem existe

Copiou sim eacute soacute pegar o livro pra verndash Copiei merda nenhuma ndash Tudo bem tudo bem que seja ndash Venera

tenta mediar o conflito ndash vocecirc natildeo precisa jogar fora o proacutelogo deixa ele como estaacute e comeccedila novamente

ndash Um novo proacutelogondash Isso vai eacute confundir o leitorndash Chame de outra forma sei laacute que tal

comeccedilo primeiro ensaio replay algo assimndash Pode ser pode ser Primeiro Ensaio fica

mesmo bem interessantendash Outra coisa acho que tua escrita estaacute

um pouco distante Isso de morar na Praia da Tainha pode ter te ajudado a se concentrar

mas agora vocecirc precisa se aproximar do grupo ndash Aproximar do grupo mas como eu posso

fazer issondash Bom Natildeo quero te forccedilar a nada a escrita

eacute tua e acho que deves trabalhar da forma como te parecer melhor

ndash Como vocecircs faziam na eacutepoca do NuTEndash Na maioria das montagens a gente optava

por ter a redaccedilatildeo dos roteiros acontecendo simultaneamente aos ensaios dos espetaacuteculos

E era um processo todo extremamente luacutedico

o Alexandre brincava com a gente como se noacutes

fossemos crianccedilas assim dava material e ldquodeixa vir

o que vocecircs estiverem pensando o que estiver na

cabeccedilardquo Claro que tinha noites de natildeo render nada

a gente saiacutea meio frustrado mas tinham noites em

que a chama tava muito acesa havia cenas que

ldquoNossa isso tem que estar no espetaacuteculordquo e depois

podiam natildeo estar na ediccedilatildeo final mas a gente

levantou produziu muito material (entrevista com

Peacutepe Sedrez paacutegina 16)

ndash Natildeo sei se entendi direito se natildeo havia nenhum roteiro o que grupo ensaiava

ndash Tudo comeccedilava com um disparador cecircnico uma imagem um objeto um recorte de jornal um fragamento de texto e agrave medida que os ensaios aconteciam o roteiro ia sendo escrito

ndash Genial Adorei a ideiandash Eu tambeacutem concordo ndash diz Silvinho ndash acho

que assim o espetaacuteculo ganha em dramaturgia

72 73

PRIMEIRO

ENSAIO

ndash Maravilha Eu vou me sentar aqui ao lado dessa mesinha algueacutem tem um laacutepis aiacute Agradecido Fico aqui assisto e descrevo Agrave medida que vocecircs forem encenando eu vou escrevendo Mandem bala podem comeccedilar

Todos se olham Nada acontecendash Vamos laacute pessoal estou esperando as

cenas dependo delas para escrever o roteirondash Olha natildeo eacute bem assim ndash Venera interveacutem

ndash eles precisam de algo que incite a criaccedilatildeo Vocecirc precisa trazer alguma coisa que dispare as cenas

ndash Entendi sou eu quem propotildee o disparador cecircnico eacute isso

ndash Exatamente e sobre este dispositivo eacute que as cenas seratildeo construiacutedas

ndash Deixa ver o que eu tenho aqui ndash revirando a mochila ndash Achei uma pergunta pode ser

ndash Lanccedila ao grupo e vamos ver o que acontece

ndash O que quer o NuTE18

18 Pergunta a partir da qual toda a escrita aqui exposta se potildee em movimento Espeacutecie de primeira questatildeo ou questatildeo essencial da pesquisa A anaacutelise de cada documento estaacute atravessada por ela cada entrevista realiza-da encontra nela uma paisagem a ser percor-rida Trata-se de um disparador metodoloacutegi-co chamado por Gilles Deleuze de Meacutetodo de Dramatizaccedilatildeo Segun-do o filosofo francecircs esse seria o meacutetodo utilizado por Nietzsche em suas Genealogias CitoldquoDesta forma de per-gunta deriva um meacute-todo Sendo dados um conceito um sen-timento uma crenccedila seratildeo tratados como os sintomas de uma vontade que quer algu-ma coisa O que quer aquele que diz isso que pensa ou experi-menta aquilo Trata-se de mostrar que natildeo poderia dizecirc-lo pensaacute-lo ou senti-lo se natildeo tivesse tal vontade tal maneira de ser O que quer aquele que fala que ama ou que cria E inversamente o que quer aquele que pre-tende o lucro de uma accedilatildeo que natildeo faz gtgt

gtgt aquele que apela para o ldquodesinteresserdquo E mesmo o homem as-ceacutetico E os utilitaris-tas com seu conceito de utilidade E Shope-nhauer quando forma o estranho conceito de negaccedilatildeo da vontade Seria a verdade Mas o que querem enfim os procuradores da verdade aqueles que dizem eu procuro a verdade - Querer natildeo eacute um ato como os demais Querer eacute a instancia ao mesmo tempo geneacutetica e criacute-tica de todas as nos-sas accedilotildees sentimen-tos e pensamentos O meacutetodo consiste no seguinte referir um conceito agrave vontade de potecircncia para dele fa-zer o sintoma de uma vontade sem a qual ele natildeo poderia nem mes-mo ser pensado (nem sentimento ser experi-mentado nem a accedilatildeo ser empreendida) Tal meacutetodo corresponde agrave questatildeo traacutegica Ele proacuteprio eacute o meacutetodo traacute-gico Ou mais precisa-mente se tirarmos do termo lsquodramarsquo todo o phatos dialeacutetico e cris-tatildeo que corresponde seu sentido eacute o meacuteto-do de dramatizaccedilatildeordquo

cena do espetaacuteculo lsquojato de amorrsquo da esquerda para direita carlos crescecircncio ivan

alvaro sabrina de moura leonel campos

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SEGUNDO

ENSAIO

SEgUNDO ENSAIO ndash 18 DE ABRIL DE 2015

Sol Saacutebado() aproximadamente 14h

Imagem Insistente grande Auditoacuterio do Teatro Carlos gomes

ndash Eacute Bem Pessoal olha soacute ndash os atores que conversavam cada qual em sua esquina de afectos centralizam olhar alguns sorrindo outros ansiosos em Alexandre Venera e ele continua ndash eu fiz aqui uma pesquisa que acredito vai ajudar a gente a levantar esse espetaacuteculo ndash os atores caminham em direccedilatildeo a Venera que faz vibrar alguns papeacuteis em suas matildeos e vatildeo formando aos poucos um ciacuterculo em torno dele ndash Na verdade satildeo recortes de jornal algumas fotos trechos das entrevistas algumas coisas que eu selecionei pensando no que poderia ser um momento do NuTE entre 1984 e 1986 Noacutes natildeo vamos fazer isso mas se um dia algueacutem quiser inventar um iniacutecio um comeccedilo uma origem para esse nuacutecleo de teatro tenho a impressatildeo de que o melhor momento para esse decalque estaria nos aperitivos que vamos ver hoje Estou chamando provisoriamente esse periacuteodo de No Princiacutepio era a Muacutesica Tecircxtil Gostante Noacutes vamos trabalhar da seguinte forma vocecircs vatildeo formar pequenos grupos de

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SEGUNDO

ENSAIO

duas a trecircs pessoas ndash todos os atores se olham ndash cada grupo vai receber um jogo de aperitivos que preparei Vocecircs vatildeo ter um tempo para saboreaacute-los ndash Venera coloca uma folha de papel na boca os atores riem ndash e deveratildeo trazer para o grande grupo uma ou duas cenas disparadas construiacutedas com esses aperitivos Fica bom assim O que vocecircs acham

ndash Acho que natildeo entendi direito o espetaacuteculo vai ser apenas sobre esse periacuteodo de 84 a 86

ndash Natildeo natildeo Isso que vamos trabalhar hoje eacute apenas um platocirc Pra facilitar nosso trabalho eu dividi o territoacuterio NuTE ndash seus 18 anos de produccedilatildeo ndash em cinco platocircs

I ndash No Princiacutepio era a Muacutesica Tecircxtil GostanteII ndash Exuberante Cronologia Espetacular

Do Teatro Experimental e do Teatro Escola Nuteanescos

III ndash Do NuTE ao NUTe como um Nuacutecleo de Teatro Experimental vem a ser um Nuacutecleo de Teatro Escola

IV ndash Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas JOTE-Titac

V ndash Conversa de Bar para quem gosta de tomar umas conclusotildees bem geladas ndash ahhhaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacute

ndash O que vamos trabalhar hoje eacute apenas um destes

ndash Como vai funcionar A gente pode escolher os aperitivos

ndash Acho que sim natildeo vejo problema Na verdade o que eu tenho aqui satildeo jogos de aperitivos Cada jogo eacute composto por um ou dois recortes de jornal uma ou duas fotos de trecircs a sete trechinhos de entrevistas as atividades do NuTE de determinado ano e algumas vezes um documento aleatoacuterio que pode ser uma partitura de um curso dado uma aula coisas assim A proposta eacute que cada grupo trabalhe em torno de um desses jogos Eu tinha pensado em sortear mas se todos concordarem em escolher e ficar bom acho que pode ser sim Vamos ver se daacute certo Deixa ver quantos grupos temos Dois trecircs Satildeo trecircs grupos Eu tenho aqui cinco jogos oacutetimo vou colocar os jogos aqui e cada grupo pode manusear e escolher o seu

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SEGUNDO

ENSAIO

Caro leitor os mesmos aperitivos cecircnicos que

foram entregues aos atores estatildeo sendo entregues

a vocecirc Suas possibilidades de atuaccedilatildeo satildeo muacuteltiplas

Caso vocecirc queira criar uma cena seguindo a proposta

de Alexandre Venera basta escolher o seu jogo de

aperitivo Para acessaacute-lo haacute duas opccedilotildees

1 Porta Cartas localizado dentro do Box NuTE

cartografia de um teatro Nele vocecirc vai encontrar

aperitivos em duas cores escolha neste momento o de cor vermelha

2 DVD Experimentando NuTE onde aleacutem dos aperitivos

cecircnicos vocecirc vai descobrir a versatildeo digital do livro

esta versatildeo lhe permite acessar com apenas um

clique ndash se vocecirc estiver conectado a internet ndash todos

os endereccediloslinks contidos no livro experimente

Contudo caso lhe pareccedila mais interessante tambeacutem

eacute possiacutevel continuar sua leitura usando os jogos de

aperitivos como um apoio manuseando-os conforme

aparecem na narrativa como uma espeacutecie de parte

aberta do livro Ou ainda simplesmente esquecer

os jogos de aperitivos cecircnicos e seguir a leitura

livremente deitado em sua rede ou no sofaacute como lhe

parecer mais agradaacutevel para assim num momento

de sua preferecircncia saborear com calma as imagens-

registros que disparam a Composiccedilatildeo de Mundos nas

proacuteximas paacuteginas Entre tantas outras possibilidades

acreditamos que a melhor eacute exatamente esta que

vocecirc estaacute comeccedilando a jogar

vaacute em frente bom experimento

APERITIVOS CEcircNICOS eou nutrientes para

composiccedilatildeo de mundos

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SEGUNDO

ENSAIO

Composiccedilatildeo de Mundos

Caro leitor como vocecirc deve ter percebido acatei a sugestatildeo que me foi feita na paacutegina 71 Ou seja estou tentando descrever o que acontece durante os ensaios Caso vocecirc esteja notando que algo me passa despercebido por favor toda colaboraccedilatildeo eacute bem-vinda Tem uma caneta bem aiacute do seu lado Se bem que seria melhor um laacutepis Talvez vocecirc seja da opiniatildeo que rascunhos se escrevam a laacutepis Ou seraacute que vi isso num filme Bem de qualquer forma o que estou assistindo aqui eacute o seguinte

Cada um dos trecircs grupos ensaia num espaccedilo reservado Camarim Palco do Grande Auditoacuterio Corredor em Frente aos Banheiros Depois de alguns cigarros Alexandre comeccedila a circular entre eles

No Palco do Grande Auditoacuterio o grupo planeja suspender um ator Alexandre gosta muito da imagem pergunta como faratildeo a suspensatildeo O grupo responde que usaraacute uma corda Alexandre questiona se a corda seraacute do tipo falante ou se estaraacute dormindo Parabeniza o grupo

No Camarim os trecircs atores chutam uns aos outros Alexandre sorri e retorna em silecircncio se esforccedila para natildeo atrapalhar o momento da improvisaccedilatildeo

No Corredor um ator deitado no chatildeo balbucia espasmos proacuteximos aos de uma crise epileacuteptica Na mesma cena mas numa ponta do corredor bem em frente ao bar do teatro um segundo ator repete ldquoesses grupos vatildeo

84 85

SEGUNDO

ENSAIO

deixar de ensaiar ensaiar ensaiar e nunca apresentarrdquo Ele usa a frase ndash sussurrando gritando em meio agrave gargalhadas ndash para se aproximar e para se distanciar do ator deitado Um terceiro ator sentado na escada ao lado do bebedouro realiza um movimento que lembra algueacutem interpretando uma canccedilatildeo popular com um violatildeo Impressionado com a cena Alexandre passa a matildeo no cabelo e no nariz Quando o grupo faz uma pausa elogia a energia com a qual estavam trabalhando Pergunta qual foi o Aperitivo Cecircnico escolhido pelo grupo e eles indicam o jogo 2 Alexandre manuseia o Aperitivo Cecircnico N2 e emite um ldquoAh Legalrdquo Por fim pede ao grupo que experimente um pouco mais com palavras-frases

Retornando ao Camarim os trecircs atores improvisam com miacutemica o que parece o trabalho de operaacuterios em uma faacutebrica Alexandre assiste a toda improvisaccedilatildeo Durante a pausa pergunta o que aconteceu com os chutes O grupo responde que era apenas uma teacutecnica de aquecimento que natildeo pretendem utilizar para a composiccedilatildeo das cenas Alexandre conta a histoacuteria de uma invenccedilatildeo polecircmica a maacutequina de dar chutes

No grande auditoacuterio dois atores improvisam uma cena romacircntica que logo se transforma em pequenos desentendimentos afetivos evoluindo para oacutedio e agressatildeo Alexandre descobre que o grupo ensaia o Aperitivo Cecircnico N3 Ainda curioso resolve questionar o fragmento disparador da cena O grupo aponta para o seguinte trecho de entrevista

() ele sempre trazia dados teoacutericos em forma de jornaizinhos panfletos xerox ou verbalizando diretamente para os grupos que dirigia E aleacutem disso era criacutetico e extremamente criativo Foi tambeacutem incontestavelmente o mentor e organizador da ideia de efetivamente comeccedilar-se a fazer teatro num preacutedio chamado de ldquoteatrordquo Portanto o Alexandre eacute sem duacutevida ndash no sentido figurado ndash o ldquopairdquo do NuTE

Eacutedio ndash Interessante E quem seria a matildee

Wilfried ndash Bem igualmente no sentido figurado eacute provaacutevel que tenha sido eu Talvez eu tenha pego a crianccedila no colo e a alimentado no momento do abandono e a mantido viva neste periacuteodo de fragilidade Com toda a ajuda do Aacutelvaro Diogo Iraci Roberto Sandra e Valdir ndash obviamente - que chegaram ateacute o fim do primeiro curso e foram os atores e as atrizes da primeira montagem genuiacutena de um grupo efetivo do NuTE ndash a ldquoPantomimasrdquo (entrevista 3 com Wilfried paacuteginas 2-3)

O diretor aprova e entusiasmado incita o grupo a abrir a cena Um dos atores toma a palavra e comenta que aquela sequecircncia havia acabado de surgir que foi a primeira tentativa-experimento com o recorte-entrevista Alexandre elogia a ldquosacada-cecircnicardquo e sugere ao grupo exploraacute-la numa velocidade menor ndash a mais lenta possiacutevel - ele repete algumas vezes ldquoa mais lenta possiacutevelrdquo para que assim aos poucos os demais fragmentos do jogo sejam incorporados

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SEGUNDO

ENSAIO

Alexandre manuseia o Aperitivo Cecircnico N3 ateacute encontrar uma foto que separada por ele do jogo eacute citada como exemplo

O diretor acredita que uma boa acoplagem desta foto com o momento que ele prefere chamar Gostante ao inveacutes de Romacircntico potencialize a cena Um ator questiona o termo Gostante Alexandre explica que Amante eacute que natildeo poderia ser porque as pessoas se gostavam mas amar seria coisa diferente jaacute o termo romacircntico pode dar uma ecircnfase desnecessaacuteria a determinado periacuteodo classificado assim pela histoacuteria das artes O grupo concorda acata as sugestotildees e comeccedila a trabalhar

No Camarim o jogo de miacutemica comeccedila a tomar forma O grupo interpreta uma equipe de teatro infantil que estaacute montando um espetaacuteculo de Maria Clara Machado Tudo leva a crer que se trata de Pluft o Fantasminha De repente em meio a esse ensaio aparecem dois novos

Iraci Potrikus Wilfried Krambeck e

Alexandre Venera dos Santos

personagens Trata-se de Wilfried Krambeck e Iraci Potrikus Um deles passa a cuidar do som e o outro a cuidar da iluminaccedilatildeo do espetaacuteculo O grupo se esforccedila para demonstrar que essa foi a entrada dos dois personagens na trupe e que ainda natildeo se trata de NuTE No espelho do camarim escrevem GATE ndash Grupo de Teatro da ADR Sulfabril

Saindo do camarim Alexandre resolve fumar mais alguns cigarros Ao fumar comenta a importacircncia que algumas empresas tecircxteis da regiatildeo tiveram no fomento da cultura local Cita como exemplo o Grupo de Teatro Amador da Artex o Grupo de Miacutemica da ADR Sulfabril fundado pelo Wilfried e o proacuteprio GATE muito influenciado e inuacutemeras vezes apoiado por Carlos Jardim Diz que pessoas importantes da cena teatral blumenauense foram trabalhadores tecircxteis Que atraveacutes de grupos como esses experimentavam teatro e mais tarde acabaram encontrando no NuTE um espaccedilo para se inventar para se Artreinventar

Eu trabalhei vinte e cinco anos na Artex na verdade eu sou um operaacuterio neacute trabalhei vinte e cinco anos na Artex aposentei ali com vinte e cinco anos na aacuterea tecircxtil Mas na eacutepoca fazia teatro na Artex e comecei a estudar eu comecei mesmo a viver o teatro estudar teatro mesmo nessa eacutepoca com Alexandre porque a partir de entatildeo era mais amador aquela coisa assim de fazer por fazer (entrevista com Aacutelvaro paacutegina 3)

Nesse sentido Alexandre complementa haacute um tanto de tecelagem de faacutebrica um tanto de

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Tecircxtil in NuTE Diz que sua proposta inicial com o Hoje Tem Teatro era simplesmente apresentar teatro Lembra que era coordenador de eventos no Teatro Carlos Gomes que os grupos passavam o ano ensaiando mas natildeo apresentavam Seu interesse maior era criar condiccedilotildees para que as encenaccedilotildees acontecessem Como se tratava de um encontro de vaacuterios grupos resolveu chamar esse coletivo para diferenciar dos grupos profissionais da cidade de Nuacutecleo de Teatro Experimental Ao mesmo tempo dentro da Sulfabril Wilfried estava ministrando cursos de miacutemica para funcionaacuterios da empresa

Com a abertura desse espaccedilo experimental Wilfried propotildee trazer para o NuTE alguns desses cursos e Alexandre aceita Muitas pessoas que participaram montando e

apresentando suas peccedilas no Hoje Tem Teatro comeccedilaram a circular no ano seguinte em torno desses cursos Os alunos que Wilfried tinha na Sulfabril tambeacutem satildeo convidados para continuar estudando teatro no NuTE e assim aos poucos comeccedila a se insinuar um nuacutecleo de pesquisa em teatro

Realizado o processo inalatoacuterio Alexandre se dirige ao Corredor Os atores carregados de energia como antes operam nas mesmas posiccedilotildees mas agora num interessante jogo dramaacutetico

Ator 1 ndash Eu entrei como aluno pra estudarAtor 3 ndash MuacutesicaAtor 1 ndash Fiquei estudandoAtor 3 ndash Piano Ator 2 ndash Foi mais ou menos uns quatro anos

adulto jaacute CasadoAtor 3 ndash Violoncelo clarineteAtor 1 ndash Estudei um monte laacute dentro aiacute

durante minha universidade eu peguei emprego laacute de bibliotecaacuterio

Ator 3 ndash Na musicotecaAtor 2 ndash Sempre me dedicando ao que eu

fazia neacute A mulher me convidou pra ser o coordenador de eventos do teatro natildeo primeiro secretaacuterio da

Ator 3 ndash Escola de Muacutesica Ator 2 ndash Acharam que seria a melhor pessoa

pra coordenar eventos artiacutesticos e culturais do teatro que tinha aacuterea de convenccedilotildees

Ator 3 ndash Daiacute durante um ano ou dois Eu fui testemunhando a dificuldade dos grupos amadores da cidade que vinham ensaiar

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ENSAIO

ensaiar e daiacute natildeo apresentavamAtor 2 ndash Ficava o uso do teatro inuacutetil neacute Ator 3 ndash Onde daiacute eu ldquoporrardquo Vou dar uma

matildeo pra elesAtor 2 ndash Eu tenho assessoria de imprensa

tenho a agenda pauta do teatro pego as datas que tatildeo mais ruins assim Nenhum empresaacuterio quer taacute sobrando

Ator 3 ndash Vou aproveitar o espaccedilo do teatroAtor 1 ndash Aiacute onde comecei a compor uma

espeacutecie de roteiro mensal de datasAtor 3 ndash Entrevista comAtor 2 ndash Alexandre VeneraAtor 1 ndash Paacutegina 26

Durante todo o processo os atores satildeo banhados por ressonacircncias fotograacuteficas do que parece ser um Coral de Clube Caccedila e Tiro Toda a cena eacute realizada num intempestivo diaacutelogo com a projeccedilatildeo desta imagem

O diretor de forma abrupta interrompe a cena Mesmo se esforccedilando para natildeo

Coral Gesangverein da Sociedade Recreativa e Cultural Salto do Norte de Blumenau Dirigido pelo maestro Kemmel-meier - sentado segu-rando o trofeacuteu Da es-querda para a direita a quarta senhora em peacute Irmgard Globig E da esquerda para a direita o quarto se-nhor uacutenico de oacuteculos Hermann Globig Avoacutes de Wilfried Krambeck uacutenica crianccedila presente na foto Registro reali-zado no Natal de 1971

transparecer um tanto de fuacuteria escorrega pelo canto esquerdo de sua boca quando pergunta o que estatildeo fazendo O grupo responde que tenta dar sequecircncia ao disparo cecircnico utilizando parte do tema platocirc ndash No Princiacutepio era a Muacutesica ndash como tom Argumentam que tanto Alexandre Venera como Wilfried Krambeck satildeo atravessados por uma intensidade musical Alexandre via composiccedilatildeo erudita que pode ser verificada em sonoplastias escritas por ele para espetaacuteculos como O Homem do Capote e Outros Seres Jato de Amor e O Olho Cliacutenico do Coralista Rouco19 e Wilfried via composiccedilatildeo popular que pode ser verificada em canccedilotildees como Natureza Solitaacuterio Elemento Bavaacuteria Bananeira sempre apresentadas em festivais da canccedilatildeo como o Festshow promovido pela Sulfabril e o FUC ndash Festival Universitaacuterio da Canccedilatildeo20 Em meio agrave defesa o grupo utiliza a maacutexima nietzschiana de que ldquoa vida sem muacutesica seria um errordquo e finaliza dizendo que talvez o NuTE seja um ovo musical

O diretor deixando transparecer o aborrecimento pergunta ao grupo como foi que conseguiram retirar o projetor multimiacutedia de dentro do seu carro jaacute que o mesmo estava trancado O grupo percebe que a cara amarrada do diretor natildeo estava conectada agrave cena mas sim agrave utilizaccedilatildeo do recurso eletrocircnico Os atores sorriem aliviados e explicam que Juliana Teodoro ex-atriz do NuTE e atual companheira de Alexandre passando e assistindo agrave cena sugeriu a utilizaccedilatildeo do recurso que prontamente foi buscar no carro e lhes emprestou

19Para ouvir Noite Ferra-da ndash trecho da sonoplastia de O Homem do Capote ndash acesse o endereccedilo wwwnutecombracervonoi-te_ferradamp3

20Wilfried Krambeck gentilmente organizou um cronograma a respeito de sua trajetoacuteria musical O documento encontra-se agrave disposiccedilatildeo em wwwnute-paratodosfileswordpresscom201009minha-trajetoria-musicalpdf

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Alexandre se convence pede desculpas pela cara amarrada e verifica com o grupo a possibilidade de assistir a cena novamente Os atores repetem toda a sequecircncia Alexandre comenta que eles estatildeo muito perto de desencadear uma partitura Fica tatildeo satisfeito com o andamento dos ensaios que resolve comemorar fumando mais um cigarrinho O grupo vai junto aproveitando a porta entreaberta ao lado do bebedouro Em meio agrave conversa Juliana Teodoro retorna e comenta com Alexandre que minutos atraacutes quando presenciou a accedilatildeo lembrou-se dos experimentos da Estereocena21 Um dos atores interessado questiona o que seria a Estereocena Juliana responde que se trata do meacutetodo de trabalho que Alexandre vinha desenvolvendo no NuTE O mesmo ator acha curioso o conceito de ldquoesteacutereordquo pergunta que relaccedilatildeo haveria com o teatro Alexandre explica

Esteacutereo como as caixas de som que satildeo levemente afastadas pra reproduzir o som que foi captado tambeacutem por dois microfones () tu sentes mais ou menos que vamos dizer a guitarra da banda de roque taacute vindo daqui o baixista taacute aqui a bateria no meio o vocal tu sentes pelo esteacutereo o volume onde estatildeo os muacutesicos de onde estaacute vindo o som neacute E esteacutereo vem de cuacutebico medida de um metro cuacutebico da madeira eacute um esteacutereo neacute E assim como o microfone capta esses dois sons e eacute o mesmo som mas ele consegue atraveacutes de um artifiacutecio mecacircnico reproduzir aquele ambiente onde a gente sabe que o aviatildeo raacuteaacuteaacuteaacuteaacute Sai daqui e passa pra laacute no esteacutereo tu sente essa passagem

21 O conceito comeccedila a ser desenvolvido em 1990 durante o Desa-fio Macbeth ndash jogos ela-borados por Alexandre para construccedilatildeo do espetaacuteculo Macbeth uma interferecircncia na histoacuteria leitor encon-tra um interessante documento dessa eacutepo-ca sobre a Estereoce-na no link wwwnutecombracervo0_sobreMacbeth_cjpg Alguns anos mais tar-de em 1997 Alexan-dre propotildee a um grupo de alunos da Escola NUTe um experimento de imersatildeo com Este-reocena Durante um mecircs inteiro permane-cem acampados no Siacute-tio Fazendarado En-contramos parte deste experimento gravado em duas fitas cassete que foram convertidas para Mp3 e disponi-bilizadas nestes qua-tro endereccedilos wwwnutecombracervofita1ladoAmp3 wwwnutecombracervofita1ladoBmp3 wwwnutecombracervofita2ladoAmp3 wwwnutecombracervofita2ladoBmp3 Caso o leitor pro-cure por uma siste-matizaccedilatildeo a respeito da Estereocena reco-mendamos o seguinte documento datado de setembro de 2000 wwwnutecombracervo99_06_26_cur-so_1jpg

A hora que a gente vai juntar com a palavra cena () A cena eacute o nuacutecleo o ponto baacutesico do teatro eacute atraveacutes de cenas que se monta uma peccedila de teatro a cena eacute o momento maacuteximo ou miacutenimo de uma accedilatildeo e entatildeo o teatro eacute baseado na cena (entrevista com Juliana Teodoro e Alexandre Venera paacuteginas 37 e 38)

Um ator pede cigarro Alexandre oferece o maccedilo Ele retira um Acende Enquanto fuma sorri Ao final do cigarro quando todos jaacute retornavam ao Corredor tenta parafrasear Nietzsche dizendo que ldquosem a muacutesica o NuTE seria um errordquo Alexandre questiona a equivalecircncia moral de certo versus errado O ator sustenta sua apropriaccedilatildeo de erro como ausecircncia Acredita que se natildeo fosse uma vontade de muacutesica em Wilfried bem como uma vontade de muacutesica em Alexandre o NuTE se viesse a existir mesmo assim seria qualquer outra coisa menos o NuTE Um ator natildeo fumante ironiza a utilizaccedilatildeo do conceito de vontade segundo ele uma aplicaccedilatildeo incoerente Os atores jaacute no Corredor iniciam um debate filosoacutefico sobre a Vontade de Poder Alexandre segue para o Palco do Grande Auditoacuterio Juliana se despede

Ao entrar pela plateia o diretor eacute surpreendido por dez cordas falantes Dois atores conversam cada qual em uma suspensatildeo com cinco cordas O primeiro se relaciona com elas de forma numeacuterica ndash suas cordas vatildeo de 1 a 5 - jaacute o segundo de forma literal ndash suas cordas vatildeo de A a E

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SEGUNDO

ENSAIO

Ator 1 ndash E ano novo virou e Corda 3 ndash JaneiroAtor 1 ndash Fazer o quecircCorda 3 ndash Fevereiro marccedilo abrilAtor 1 ndash Ningueacutem pensava NuTECorda 1 ndash Ah vamos fazer outro Natildeo sei

o quecirc Corda 2 ndash Vamos fazer um curso de miacutemica

pantomimaCorda 4 ndash Natildeo noacutes queremos nos reunir e

manter essa ideia NuTE Ator 1 ndash O Wilfried com trecircs quatro

Continuou NuTE natildeo parou entende Por mim talvez tivesse parado

Corda 2 ndash Ou pelo Teatro Corda 4 ndash Natildeo havia muitoAtor 1 ndash Aiacute 1985 um curso tambeacutem

trouxemos o Trouxemos o pessoal do Teatro Guaiacutera pra dar aula e os professores alunos do Teatro Guaiacutera

Corda 4 ndash Entrevista com AlexandreCorda 2 ndash VeneraCorda 3 ndash Paacutegina 24

Espetaacuteculo Alegoria ao Vamos ao Teatro uma das peccedilas apresen-tadas no projeto Trecircs Terccedilas Tem Teatro em 1986 Na plateia Valdir Lopes Junior Leandro de Assis e De-liane Travasso Sus-pensos pelas cordas Dennis Raduumlnz ndash re-presentando Maacuterio ndash e Tanise Creuz ndash repre-sentando Nete

O diaacutelogo acontece envolto no que os atores nominam Saudosismo Gostante O diretor chega a questionar a interpretaccedilatildeo das cordas segundo ele um tanto forccedilada beirando o clichecirc do canastratildeo Mas o grupo sustenta que a proposta eacute justamente esta que tal encenaccedilatildeo seria proposital O diretor aceita O proacuteximo diaacutelogo gravita em tonalidades bem diferentes sensaccedilotildees de intriga quase rancor tomam conta do ar

Ator 2 ndash O Wilfried em 1984 vinha como convidado

Corda A ndash Como um grupo convidadoCorda B ndash Como teve outros gruposCorda C ndash Tu vai ver os programasCorda B ndash Soacute que a afinidade com o que eu

tava tentando fazerAtor 2 ndash Aiacute ele pegou o NuTE pra ele ele

ficou um meio ano com o NuTE soacute pra eleCorda A ndash Tipo comCorda B ndash MeuAtor 2 ndash Eu natildeo queria arrumar encrenca

sabeCorda A ndash E natildeo era NuTE era qualquer

coisa podia ser E acabou ficando NuTEAtor 2 ndash Ele ficou um Praticamente um

ano ficou na matildeo dele logo no comeccediloCorda B ndash Entrevista com Alexandre Venera

paacutegina 17

Terminado o segundo diaacutelogo o foco da cena volta a ser o Ator 1 e suas cordas numeacutericas O sentimento de intriga e rancor fica mais forte agrave medida que o diaacutelogo vai acontecendo Nas uacuteltimas frases eacute possiacutevel perceber oacutedio

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ENSAIO

Ator 1 ndash No entender dele vocecirc fazia uma produccedilatildeo de

Corda 3 ndash ArtaudAtor 1 ndash Uma produccedilatildeo doCorda 3 ndash BrechtCorda 1 ndash E vocecirc ia aprender ia se formar

assim com ilhas digamos conhecendo sempre cada ilha uma nova ilha uma nova ilha pra ter um continente no final

Corda 2 ndash E aiacute onde a gente divergia eu achava que vocecirc tem que ter uma base depois um aprimoramento e sempre do todo

Ator 1 ndash Entatildeo quer dizer todas as linhas vocecirc vai pegar o

Corda 3 ndash Teatro gregoAtor 1 ndash OCorda 3 ndash Teatro romanoCorda 4 ndash E o baacute-baacute-baacuteCorda 3 ndash O medievalCorda 4 ndash E pam-pam-pamAtor 1 ndash E vai chegando Ateacute chegar na

NoCorda 3 ndash Absurdo Corda 4 ndash E ou OCorda 3 ndash Teatro contemporacircneoAtor 1 ndash Dependendo das linhas neacute do Corda 3 ndash Teatro Ator 1 ndash Que se fazia aqui e no oriente e no Corda 4 ndash Paacute-paacute-paacute Ator 1 ndash Eu entendia assim Corda 4 ndash Entrevista 2 com Wilfried paacutegina

17

No quarto diaacutelogo a coacutelera atinge as cordas Urros gritos um frenesi histeacuterico banhado em oacutedio e ressentimento Os dois atores e as dez cordas interagem

Ator 2 ndash Balanccedila a cabeccedila ah balanccedila a cabeccedila acorda acorda

Corda 1 ndash Corda natildeo tem cabeccedila babaca Corda A ndash (cantando) Minhoca minhoca

me daacute uma beijocaAtor 1 ndash Corda nenhuma vai me amarrar

natildeo importa se satildeo numeacutericas se satildeo literais Natildeo vou viver preso natildeo vou

Corda B ndash Mas que bobagem o que eacute a liberdade senatildeo uma prisatildeo com mais espaccedilo Aleacutem do mais vocecirc precisa de mim sem a minha estrutura sem a minha base vocecirc natildeo pode voar

Ator 2 ndash Acorda vocecirc precisa acordaAtor 1 ndash Vou voar a partir de mim mesmo e

meu voo seraacute ApocaliacutepticoCorda 2 ndash Estamos avisando eacute melhor vocecirc

colaborar porque se natildeo for por acordo vai ser por corda

Corda D ndash Vamos economizar cortes e enforcaacute-lo de uma vez por todas chega desse papo aranha

Ator 2 ndash Oh Alice acorda Acorda Alice(todas as cordas riem) Ator 1 ndash Homem Paacutessaro Corda 3 ndash BUROCRACIA Corda C ndash OrdemCorda B ndash O que permite o prazer eacute a leiCorda 2 ndash Lineares degraus da escada que

se sobe passo a passo passo a passo passo a passo

Corda A ndash Algueacutem viu o encordamento do meu violatildeo

Ator 2 ndash Acorda acorda Nossa que pesadelo terriacutevel finalmente acordei

Corda B ndash Vocecirc eacute apenas uma marionete

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SEGUNDO

ENSAIO

quem te move satildeo as cordasAtor 1 ndash NatildeoCorda 3 ndash Noacutes Somos noacutes que movemos o

mundoCorda 1 ndash Todo Poder agraves CordasCorda A ndash (cantando Sinnerman de Nina

Simone) Power Power PowerAtor 2 ndash Do que vocecircs estatildeo brincando

Posso brincar tambeacutemCorda C ndash De acordo Atores vocecircs aceitam

ou natildeo obedecer agraves cordasAtor 2 ndash Eu aceitoAtor 1 ndash Eu lhes anuncio o Aleacutem do Ator

O que eacute a emotividade em comparaccedilatildeo com a maacutequina senatildeo riso e escaacuternio Oh meus irmatildeos existe ainda muito de emotivo em voacutes Acaso vos digo para que volteis a se emocionar Natildeo Eu vos ensino a Supermarionete O Ator eacute superaacutevel O que tens feito ateacute hoje para superar a ti mesmo O Ator eacute uma corda estendida entre a Emotividade e o Aleacutem do Ator A Supermarionete eacute o sentido do teatro fazei com que sua vontade diga a Supermarionete eacute o sentido do teatro Assim falava o Ator 1

Corda B ndash Para salvar o teatro eacute preciso destruir o teatro os atores e as atrizes devem todos morrer de peste Eleonora Duse

Corda D ndash Agora que estamos entre amigos uma pergunta se somos noacutes que movemos os atores afinal de contas quem manipula as cordas

Corda 1 ndash DeusCorda D ndash Pensei que ele estivesse mortoCorda 1 ndash Sim sim aquele Deus criado

pelos homens jaacute faz tempo dizem que morreu estrangulado por sua proacutepria compaixatildeo mas o nosso Deus a Deusa Corda eacute eterna

Corda B ndash Corda a deusa Corda(todas as cordas Corda a deusa Corda

Corda a deusa corda Corda a deusa corda)Corda 4 ndash Isto natildeo eacute uma entrevista Estamos

na paacutegina 99 do Segundo Ensaio

Visivelmente impressionado com a cena o diretor me pergunta por trecircs vezes se consegui anotar as falas Respondo que alguns trechos escaparam dada a velocidade com que os diaacutelogos aconteceram mas que anotei tudo que pude Comenta com o grupo que para uma boa parte dos estudiosos de teatro natildeo seria difiacutecil aproximar alguns espetaacuteculos do NuTE a uma esteacutetica simbolista o que realmente abriria a possibilidade de cavar essa influecircncia de Gordon Craig com conceitos como o de supermarionete Parabeniza o grupo Um dos atores questiona se a grande influecircncia simbolista do NuTE natildeo viria de Grotowski Alexandre responde que o encenador polonecircs foi essencial para muitas montagens do NuTE um dos pratos principais sem duacutevida Mas que isso natildeo diminui a importacircncia nutritiva de outras refeiccedilotildees como Gordon Craig Artaud Schechner Brecht Heiner Muumlller Meyerhold Bob Wilson

O diretor propotildee visualizar o NuTE como uma tribo de antropoacutefagos Em meio agraves gargalhadas disparadas pelo canibalismo nuteano ndash imagens de uma antropofagia teatral ndash um ator permanece sisudo Assim que a onda de riso comeccedila a baixar ele questiona se natildeo seria exatamente essa a discussatildeo que suscita a cena

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SEGUNDO

ENSAIO

das cordas fazer pensar aquilo que nos prende e ao mesmo tempo alimenta que nos manipula e faz voar que permite criar e aprisiona Sem cordas como Artaud Grotowski Bob Wilson Craig o NuTE natildeo seria NuTE

Alexandre argumenta que pensando assim ficariacuteamos presos ndash amarradosalimentados ndash a uma dialeacutetica panoacuteptico-antropofaacutegica que pode ser uacutetil pode ajudar a levantar um espetaacuteculo mas esse natildeo seria um espetaacuteculo sobre o NuTE O ator ainda seacuterio pergunta qual o motivo disso e Alexandre comenta que esse conceito-corda nos amarra em dois problemas Um problema experimental e um problema interpretativo Com muita paciecircncia e didaacutetica houve um momento que precisou demonstrar com laranjas explica que NuTE soacute era

() experimental porque natildeo haviam leis () Hoje tem a lei e jaacute natildeo eacute mais experimental o ator hoje taacute fodido ele tem que seguir tal lei tal foacutermula ele vai empregar tal meacutetodo e o modo dele chegar laacute no final jaacute taacute demarcado Entatildeo virou mais uma espeacutecie de prisatildeo Tendo muitas ferramentas pra se aprisionar e natildeo pra se libertar () Porque qualquer forma de lei eacute forma de criar limites ou patamares ou entatildeo apoios No momento em que a pessoa taacute se apoiando ou criando apoios ela taacute segura ela taacute tranquila quer dizer nessa proteccedilatildeo existe uma espeacutecie de lei em que ela taacute sendo dominada (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 6)

Jaacute o problema interpretativo continua Alexandre surge quando a cena mesmo experimental como acabou de ser eacute direcionada por esse conceito Tomando a si mesmo como

exemplo desenvolve o argumento ldquoQuando assisti haacute pouco agrave cena de vocecircs fui arrebatado por uma centena de imagens lembranccedilas dos meus passados dos meus futuros das coisas que nunca fui e de algo que venho deixando de ser pude me abandonar por alguns instantes e isso eacute oacutetimo mas se eu estivesse assistindo agrave cena com esse conceito no bolso o que vocecircs acham que teria acontecido comigo Que experiecircncia eu poderia ter Eu seria direcionado empurrado aprisionado amarrado em uma mono-interpretaccedilatildeo Vocecircs percebem o problema disso Se vamos fazer teatro para aprisionar as pessoas nelas mesmas eacute melhor natildeo fazer Se obrigamos nossa plateia a interpretar uma cena atraveacutes de um uacutenico sentido nosso teatro natildeo serve pra nada Teatro natildeo eacute catequese O mais importante eacute que cada um possa experimentar o NuTE do seu jeito Eacute oacutebvio que esse lsquojeitorsquo de experimentar envolve uma seacuterie de coisas o cara vai fazer isso a partir do corpo que ele vem ajudando a construir pra si proacuteprio Tem um povo que chama isso de corpo sem oacutergatildeos Mas essa montagem tambeacutem eacute experimental agraves vezes natildeo daacute certo e o cara natildeo consegue nada natildeo acontece nada com ele natildeo passa nada por ele o corpo simplesmente trava Ele taacute ali assistindo a um puta espetaacuteculo e soacute consegue ficar entediado fica pensando na pizza que vai comer com os amigos depois que a peccedila terminar Noacutes natildeo podemos em detrimento ou por compaixatildeo dos que soacute conseguem pensar na pizza facilitar o acesso porque assim acabamos impondo um uacutenico acesso a todos Isso natildeo

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SEGUNDO

ENSAIO

eacute arte eacute fascismo Agraves vezes a democracia eacute extremamente fascista Hoje eacute moda criticar o teatro comercial Nunca vi problema em se ganhar dinheiro fazendo teatro O problema eacute fazer teatro para impor verdades que ningueacutem tem certeza se satildeo mesmo verdades ou se satildeo deliacuterios compartilhados por um grande nuacutemero de pessoas Noacutes natildeo somos padres somos artistas Por isso quanto mais aberta mais ampla mais plural for nossa arte mais possibilidades de interpretaccedilatildeo teraacute o nosso puacuteblico melhor seraacute o nosso espetaacuteculo Vocecircs compreendem o que eu digordquo Em coro os atores dizem ldquoSim senhorrdquo e batem continecircncia agraves gargalhadas Alexandre natildeo gosta da brincadeira resmunga algo incompreensiacutevel e abandona o ensaio dizendo que natildeo vai mais dirigir ldquoporcaria nenhumardquo Insiste nas frases ldquovatildeo tomar no curdquo e ldquonatildeo dirijo mais essa merdardquo Os atores estupefactos sem saber o que fazer olham uns para os outros o silecircncio pesado e absurdo dura longos segundos ateacute que todos os olhares cruzando o meu cobram uma saiacuteda ou ao menos um sentido provisoacuterio ao acontecimento Eu balanccedilo as matildeos e a cabeccedila atordoado numa gesticular tentativa incapacitada de direcionar a cena Por fim digo-lhes que tambeacutem natildeo sei o que fazer Peccedilo para que aguardem alguns minutos enquanto procuro Alexandre no Corredor e no Camarim

Quando entro no Camarim encontro os atores sentados em ciacuterculo no chatildeo conversando a respeito do projeto 3 Terccedilas Tem Teatro Interrompo o diaacutelogo para

perguntar se Alexandre havia passado por ali Eles respondem que natildeo e querem saber se eu havia compreendido a diferenccedila entre o Hoje tem Teatro e o 3 Terccedilas tem Teatro Nesse instante noto que o espelho do Camarim estaacute completamente preenchido com coacutepias do mesmo cartaz

Informo o grupo sobre o sumiccedilo repentino de Alexandre e sugiro que retornem ao Palco do Grande Auditoacuterio para conversarmos os trecircs grupos juntos Saio em direccedilatildeo ao Corredor acompanhado por um dos atores que retoma a pergunta anterior Caminhando agrave procura de Alexandre digo que minha impressatildeo eacute a de que natildeo existem dois mas sim um uacutenico projeto com dois nomes diferentes Inicialmente em dezembro de 1984 era Hoje Tem Teatro e quando retomaram o projeto em 1986 chamaram de 3 Terccedilas Tem Teatro Natildeo consigo prestar muita atenccedilatildeo na conversa a cada sala que passamos entro e procuro Alexandre O ator que natildeo para de falar um segundo tenta me convencer de que o JOTE-Titac ndash Jogos de

Cartaz produzido por Flaacutevio Meirinho

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SEGUNDO

ENSAIO

Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas ndash seria uma continuaccedilatildeo desse projeto Respondo que podemos pensar numa certa influecircncia mas que existem muitas outras forccedilas atuando na invenccedilatildeo do JOTE-Titac E que teremos um momento mais adequado para fazer essa discussatildeo Ele insiste que sem aquele projeto inicial natildeo seria possiacutevel chegar ao formato dos Jogos de Teatro acredita que tambeacutem a escola de teatro do NUTe tenha origem nesse projeto

Numa respiraccedilatildeo dele consigo emitir alguns sons proacuteximos de ldquosua interpretaccedilatildeo me parece um tanto apressadardquo ele natildeo ouve e continua falando fala cada vez mais e mais raacutepido Quer me convencer a todo custo natildeo sei bem porquecirc de sua estranha teoria sobre o comeccedilo do NuTE Na opiniatildeo dele em 1984 antes do NuTE o que havia era apenas uma ideia na cabeccedila do entatildeo coordenador de eventos do Teatro Carlos Gomes o Hoje tem Teatro Esse coordenador queria provocarfomentar apresentaccedilotildees teatrais e para isso convida os grupos de teatro da cidade e sugere que cada grupo monte em apenas dois meses um texto curto para apresentar sem custo nenhum no palco do grande auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes Ele me pergunta se tenho ideia do preccedilo que o Teatro Carlos Gomes cobra por apresentaccedilatildeo nesse espaccedilo Tento responder mas ele estaacute com a boca entupida de palavras precisa falar e falando me diz que em 1985 o que aconteceu foi que o diretor do grupo de miacutemica da ADR Sulfabril Wilfried Krambeck (o mesmo que trouxe o espetaacuteculo

de encerramento do Hoje Tem Teatro) comeccedilou dentro do Teatro Carlos Gomes a desenvolver um curso de miacutemica que vinha realizando na Sulfabril Resolveu em parceria com Alexandre Venera acoplar a esse curso jaacute que o curso poderia ter o nome dele ou qualquer outro o mesmo NuTE que havia realizado o Hoje Tem Teatro Ao final desse curso os atores montam o espetaacuteculo Pantomimas e nesse ano natildeo ocorre Hoje Tem Teatro Mas o Pantomimas aparece como espetaacuteculo do NuTE Logo no ano seguinte o final do curso volta a ser o Hoje tem Teatro com a diferenccedila de ser chamado de 3 Terccedilas Tem Teatro e fundamentalmente com a diferenccedila de que agora quem se apresenta satildeo apenas os alunos do curso

O ator metralhadora cuspindo doze palavras por segundo quase sem ar pergunta um instante antes de tomar focirclego ldquoNatildeo seria muita coincidecircncia no final do curso de teatro dado pelo NuTE de 1987 aparecer o JOTE-Titac com elementos tatildeo proacuteximos do Hoje Tem Teatro tempo reduzido para montagem textos curtos apresentaccedilotildees de vaacuterios grupos em apenas um dia E com relaccedilatildeo agrave escola de teatro do NUTe sem o Hoje Tem Teatro Wilfried teria aproximado seus cursos de miacutemica do Nuacutecleo de Teatro Experimentalrdquo

Aproveito a respiraccedilatildeo do ator para mais uma vez comentar sua pressa em concluir um roteiro aberto Um roteiro que perde muito quando aprisionado num comeccedilo meio e fim de causas e efeitos Ele natildeo compreende tento novamente dizendo que apesar de um gosto

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SEGUNDO

ENSAIO

popular pelas novelas e romances em que tudo linearmente comeccedila se desenvolve e termina em momentos precisos na vida real as tramas satildeo bem mais complexas Nem sempre uma coisa leva a outra geralmente eacute um emaranhado de redes que forccedila algo a acontecer Tomo como exemplo as atividades desenvolvidas jaacute em 1985 pelo NuTE

0905 ndash Palestra com os atores Pepita Rodrigues e Eduardo Dolabella 1305 ndash Workshop sobre O Comportamento do Elemento no Grupo Teatral (Arte em Grupo) com o Prof Thiers Camargo (do Grupo Sia Santa de CampinasSP) 0606 ndash Palestra com os atores do Grupo La Nave Vaacute [Vagrave] 2706 a 2312 ndash Curso de Miacutemica e Pantomima com o Prof Wilfried Krambeck 12 a 1409 ndash Primeiro Seminaacuterio de Teatro com o Prof Thiers Camargo 09 a 1310 ndash Performances no Estande de Mini-Teatro no IV SALAtildeO BLUMENAUENSE DA CRIANCcedilA 2312 ndash Espetaacuteculo PANTOMIMAS no GATCG

Cada um desses eventos empurrou com a forccedila que conseguia o NuTE numa direccedilatildeo Se o vetor resultante dessas forccedilas naquele ano eacute o que conhecemos hoje natildeo podemos simplificar dizendo que no ponto A comeccedila a mover algo que iraacute passar pelo ponto B e terminar em C Da mesma forma natildeo eacute possiacutevel remeter um acontecimento agrave filiaccedilatildeo direta de uma pessoa O sujeito nunca eacute origem de nada Ele eacute sempre atravessado por uma multiplicidade de forccedilas que o constituem fazendo produzir Tentei falar algo sobre a importacircncia da muacutesica e do teatro tecircxtil para o NuTE mas o ator me interrompeu sorrindo achando impossiacutevel analisar dessa forma porque se assim o fosse todo e qualquer

acontecimento estaria presente forccedilando a histoacuteria do NuTE a ser como ela eacute Eu digo que sim e mais que isso que para aleacutem das muacuteltiplas forccedilas envolvidas no acontecimento o que inventa sentido agrave cena eacute o observador Comento que tudo o que ele fez haacute pouco foi ocupar o lugar de um observador que tentava dar um sentido ao caos das linhas em movimento Ele estranha a ideia de movimento Eu explico que o passado natildeo estaacute parado que ele se move quando tentamos observaacute-lo e complemento dizendo que estou muito mais interessado em uma espeacutecie de geografia ou de arqueologia do NuTE do que propriamente em sua histoacuteria Traccedilar encontrar inventar mapas que ajudem o leitor a sobrevoar paisagens nuteanas eacute isso que estou tentando fazer O ator ironiza meu argumento Natildeo compreende como poderiam as tais forccedilas que estatildeo em disputa caminharem de matildeos dadas rumo ao mesmo vetor Rindo muito ele me pergunta como elas fecham os acordos entre elas Um tanto aborrecido com as piadinhas faccedilo de conta que natildeo ouccedilo a pergunta sempre que vejo uma possibilidade tento me distanciar procurando Alexandre aqui e acolaacute Ele repete a pergunta Novamente natildeo respondo Ele percebe que estou tentando me afastar e levantando a voz pelo pouco de distacircncia que jaacute surgia diz

Ator ndash Como podem essas tais linhas de forccedila que vocecirc diz muacuteltiplas e em duelo permanente estabelecerem um acordo para criar uma paisagem nuteana que possa ser sobrevoada

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Nesse exato instante adentramos ao Corredor A pergunta que chegou antes eacute tomada pelos atores que ali estavam aquecidos na discussatildeo conceitual como parte do jogo cecircnico Iniciam uma improvisaccedilatildeo sobre o tema Interrompo para perguntar sobre Alexandre Como jaacute esperava a resposta foi negativa Explico a situaccedilatildeo e convido o grupo para nos acompanhar ateacute o Palco do Grande Auditoacuterio contente por me afastar finalmente das perguntas fora de hora do ator falante Minha alegria contudo dura apenas umas poucas linhas Assim que comeccedilamos a caminhar mais uma vez ele retornou agrave questatildeo

Ator ndash Como podem essas tais linhas de forccedila que vocecirc diz muacuteltiplas e em duelo permanente estabelecer um acordo para criar uma paisagem nuteana que possa ser sobrevoada

Para minha surpresa um dos atores do Corredor percebendo meu cansaccedilo com a discussatildeo conseguiu costurar uma siacutentese provisoacuteria ao complexo e inesgotaacutevel tema Para esse ator as forccedilas natildeo estabelecem acordos Quem as comanda eacute uma determinada Vontade sua vetorizaccedilatildeo sua siacutentese eacute realizada por essa Vontade ldquoA forccedila eacute quem pode a vontade de potecircncia eacute quem quer () eacute sempre pela vontade de potecircncia que uma forccedila prevalece sobre outras domina-as ou comanda-as Aleacutem disso eacute a vontade de potecircncia ainda que faz com que uma forccedila obedeccedila numa relaccedilatildeo eacute pela vontade de potecircncia que ela obedecerdquo22

O ator perguntante finalmente silencia Vence nele uma forccedila menos ruidosa E assim

22 Deleuze Nietzsche e a Filosofia p 26

chegamos ao Palco do Grande Auditoacuterio Aos trecircs grupos reunidos informo que natildeo consegui encontrar Alexandre em nenhum local do teatro Compartilho a anguacutestia de natildeo saber o que fazer Um ator propotildee que os grupos apresentem uns para os outros como Alexandre inicialmente havia proposto a cena produzida Todos concordam Aproveito para melhorar minhas anotaccedilotildees Ao final das apresentaccedilotildees marco o proacuteximo ensaio para dia 26 de abril de 2015

cena da performance rsquokrsquo na frente marcelo de souza atraacutes silvio joseacute da luz

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TERCEIRO ENSAIO ndash 26 DE ABRIL DE 2015

Domingo e Chuviscos() esperando ateacute as 15h

Imagem Insistente O Excesso

Olho-lacircmina olho-estilete olho-corte olho-navalha olho-faca olho-sangue olho-foice olho-maacutequina-de-roccedilar-grama olho-estripar olho-moto-serra olho-agora-fodeu-tudo Todo o grupo me olhava Alguns chegaram atrasados eacute verdade coisa de cinco a dez minutos mas a grande maioria estava ali desde as 14 horas conforme rezava o contrato Um pouco conversamos um pouco rimos em pouco tempo natildeo havia mais nada Uma uacutenica e excessiva pergunta se espalhava fazendo ranger o silecircncio Alexandre vai continuar dirigindo o espetaacuteculo Se vai onde estaria o desgraccedilado a uma hora dessas se natildeo vai Bom melhor natildeo pensar nisso O atraso dos poucos permitiu explicar por trecircs vezes minha peregrinaccedilatildeo em busca desta resposta assim que cheguei assim que os primeiros atores atrasados chegaram assim que os segundos atores atrasados chegaram Mas agora com toda municcedilatildeo gasta natildeo tinha mais pra onde correr A lacircmina circular dos bem treinados olhares fazia cortar eram finas incisotildees agudas eu as podia sentir

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TERCEIRO

ENSAIO

estridentes transversalizadas em minha pele De nada adiantava repetir as mais de 20 vezes que liguei as tantas que deixei recado ou ainda que pessoalmente estive na casa de Alexandre e que de nenhuma forma consegui encontraacute-lo O silecircncio fazia buraco exigia uma resposta E infelizmente a resposta que veio precipitada e cretina eu concordo foi

ndash Bem pessoal vamos esperar ateacute as 15 horas Se Alexandre natildeo aparecer tenho uma proposta para lhes fazer

O olho-lacircmina foi cedendo lugar ao ciacutenico-olho-interrogativo Nos grupelhos frases sussurradas para que eu ouvisse sem poder ouvir eram abafadas

ndash Esse babaca natildeo vai ter coragem de ndash () mas ele mal sabe escrever quem

diraacute ndash Seria muita arrogacircncia dele acho que

precisamos ndash Na eacutepoca do NuTE sempre foi assim

Alexandre brigava com a gente abandonava os ensaios e depois retornava quem natildeo lembra disso Natildeo podemos permitir agora que esse

Sim a frase que flutuava entre as bocas atuantes me havia escapado Mas nunca me passou pela cabeccedila dirigir o grupo talvez a pressatildeo das lacircminas talvez o silecircncio difiacutecil dizer Agora aleacutem da ausecircncia de Alexandre eu tinha que consertar isso Pra melhorar soacute conseguia pensar na prestaccedilatildeo de contas do projeto no iniacutecio da turnecirc marcada para daqui a dois meses no que iriam dizer nossos

apoiadores se o espetaacuteculo natildeo saiacutesse conforme combinado Seraacute que teriacuteamos que devolver o dinheiro Seraacute que meu nome ficaria queimado para novos projetos Que merda o que fazer O reloacutegio corria 14h43min () 14h49min () 14h55min () 15h () 15h07min () Quando chegou em 15h15min eu havia me transformado num quase budista de quietudes abstratas Um dos atores percebendo resolve abrir a ferida

ndash Parece que Alexandre natildeo vem mesmo Qual seria sua proposta

ndash Na verdade natildeo tenho proposta nenhuma falei para acalmar vocecircs ou para me acalmar natildeo sei ao certo Estou muito ansioso com a prestaccedilatildeo de contas do projeto vocecircs todos estatildeo recebendo seus cachecircs em dia o aluguel desse teatro natildeo eacute barato as refeiccedilotildees as despesas com transporte muita coisa jaacute foi paga mas o que vamos fazer se esse espetaacuteculo natildeo sair Meu receio eacute de que tenhamos que devolver esse dinheiro e isso forccedilosamente vai obrigar cada um de vocecircs a devolver as parcelas que jaacute recebeu

Olho-cifra olho-fraterno olho-noacutes olho-solidariedade Finalmente o grupo me acolhe percebem que o ldquobom andamento do projetordquo natildeo depende apenas de mim Sentamos em ciacuterculo no piso madeirado do palco Conversamos A opiniatildeo era unacircnime Alexandre eacute quem deve dirigir Ningueacutem pode tomar esse lugar Combinamos aguardar seu retorno A grande maioria tinha certeza de que ele iria voltar jaacute que essa natildeo era nem a primeira

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TERCEIRO

ENSAIO

e nem a segunda vez que Alexandre fazia isso Era mesmo costume dele abandonar os ensaios e depois retornar Mas o que se pode fazer na ausecircncia de um diretor quando ningueacutem se atreve a dirigir Aos poucos foi ganhando forma uma proposta de estudo cuja finalidade seria potencializar as cenas que seriam montadas quando Alexandre retornasse

Assim eles me pediram para que lhes fornecesse algum material novo algo em que estivesse trabalhando nos uacuteltimos dias Eles dedicariam o ensaio de hoje ao estudo desse material e no proacuteximo saacutebado quando Alexandre estivesse conosco assim falavam o utilizariam para composiccedilatildeo das cenas A ideia me pareceu muito boa mas que tipo de material daria conta de uma ressonacircncia dessas A uacutenica imagem que me veio provavelmente pela proximidade havia terminado uma noite antes do ensaio foi a da cronologia dos espetaacuteculos montados pelo NuTE Brevemente expus a pesquisa ao grupo que vibrando com a imagem de acessar numa uacutenica pegada todas as montagens-NuTE insistiam na importacircncia desse material para o espetaacuteculo Como natildeo havia imprimido nenhuma coacutepia pois natildeo imaginava que algo assim pudesse acontecer liguei meu notebook gravei o arquivo num pen-drive e jaacute de saiacuteda em busca de uma graacutefica percebo um ator sacando um projetor multimiacutedia de sua mochila Ele sugere projetarmos a cronologia nas paredes brancas do teatro Achei muito bonita a metaacutefora Foi o que fizemos

EXUBERANTE CRONOLOgIA ESPETACULAR DO TEATRO

EXPERIMENTAL E DO TEATRO ESCOLA NUTEANESCOS

eou PUTA QUE PARIU ESSES CARAS MONTARAM 185 (cento e oitenta e cinco)

ESPETAacuteCULOS

1984ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS PELO

PROJETO HOJE TEM TEATRO

1 ndash Nariz NovoDireccedilatildeo Alexandre Venera e Mauro MachiTexto Robert ThomasElenco Luciana Olivia Josueacute AacutelvaroForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

2 ndash ReencontroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Rubem FonsecaElenco Bete CalinhoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

3 ndash A Dama de Copas e o Rei de CubaDireccedilatildeo Alexandre Venera e Valem RodrigoTexto Timochenco WehbiElenco Tania Verinha

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

1985PANTOMIMA

4 ndash PantomimaSinopse o espetaacuteculo conta com uma sequecircncia de quadros ndash cenas ndash que satildeo apresentadas segundo esta ordem menores abandonados (drama) protagonizado por Sandra Cardoso nascimento vida e morte das plantas relaccedilatildeo destas com os animais selvagens e intempeacuteries da natureza (drama) com participaccedilatildeo de todo elenco O terceiro quadro (drama com grande forccedila expressiva) inicia com um poema sobre a insanidade humana e o respectivo abandono social do louco recitado por Sandra Cardoso na sequecircncia apresenta-se a convivecircncia deste num ambiente manicomial Por fim os quadros cocircmicos com a maquiagem dos personagens sendo feita em cena

Direccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto Wilfried KrambeckElenco Diogo Junkes Sandra Cardoso Valdir Lopes Iraci Krambeck Aacutelvaro A Andrade Roberto SchindlerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 23 de dezembro de 1985

Importante este espetaacuteculo eacute resultado do curso de teatro e miacutemica ministrado por Wilfried Krambeck Curso que aconteceu entre 27 de junho e 23 de dezembro de 1985 com carga horaacuteria de 160 horasaula Eacute a primeira montagem do NuTE que resulta do aprendizado em teatro tendo como recurso para estudar teatro a construccedilatildeo de um espetaacuteculo

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Wilfried Krambeck no anexo Livreto Espetacular23

23 prezado leitor para as doze montagens

mais relevantes preparamos um lsquolivreto

espetacularrsquo que provavelmente

vocecirc jaacute encontrou nos anexos deste

livro O livreto eacute uma coleccedilatildeo de textos que versam sobre

os doze espetaacuteculos escolhidos

Para escrever sobre esses espetaacuteculos foram convidados atores diretores teacutecnicos poetas

que participaram eou assistiram tais montagens

Portanto sempre que

nesta cronologia aparecer o carimbo a seguir eacute sinal de que um bom artigo

lhe aguarda

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ENSAIO1986

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS PELO PROJETO 3 TERCcedilAS TEM TEATRO

5 ndash Alegoria ao Vamos ao Teatro

Direccedilatildeo Alexandre Venera dos SantosTexto Alexandre Venera dos Santos sobre parte da muacutesica Coming home to see youElenco Dennis Raduumlnz Elisete Creuz Isabel Ribeiro Maria Teresa Dias Claudio Constantin Sandra Cardoso Flavio Meirinho Deise Gonccedilalves Waldir Lopes Marlise dos Santos Alexandre Correia Deuceacutelia Travasso Deliani Travasso Evi Geisler Tanise Creuz Leandro de AssisForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986Importante diferente do ano anterior onde apenas Wilfried Krambeck ministrou aulas o curso de iniciaccedilatildeo ao teatro em 1986 eacute dado por vaacuterios professores Ao final do curso temos o 3 Terccedilas Tem Teatro (em junho) e as apresentaccedilotildees finais do curso de iniciaccedilatildeo ao teatro (em julho) com praticamente os mesmos atores-alunos Aleacutem de professor nesse ano

ldquoPandareco O Rei do Risordquo Esquete apre-sentado pelo Grupo Teatrhering o qual fora convidado pelo NuTE para se apresen-tar no encerramento do 3 Terccedilas Tem Tea-tro em 24 de junho de 1986 Elenco Antonio R Carvalho Cleusa M de Melo Custoacutedia Marcos Inecircs Pereira Joseacute Lino Frutuoso e Rosimeri Lunelli Di-reccedilatildeo Claacuteudio A Sch-midt

Wilfried Krambeck tambeacutem coordenou e organizou o curriacuteculo dos cursos

6 ndash Morte

Direccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto charges do cartunista chileno COPIElenco Adriana Kalckmann Wilfried Krambeck Aacutelvaro de AndradeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

7 ndash Segunda-feira de Cidade GrandeDireccedilatildeo direccedilatildeo coletiva Texto autoria coletiva sobre tema expostoElenco Isabel Ribeiro Tanise Cruz Deuceacutelia TravassoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

8 ndash Diversotildees EletrocircnicasDireccedilatildeo Flavio MeirinhoTexto adaptaccedilatildeo de Flaacutevio Meirinho sobre tema de Arrigo Barnabeacute

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Elenco Flavio MeirinhoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

9 ndash CanibalismoDireccedilatildeo Dennis RaduumlnzTexto Luiacutes Fernando VeriacutessimoElenco Evi Geisler Claudio Constantin Leandro de Assis Dennis RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

10 ndash O SonhoTexto adaptaccedilatildeo de Marlise dos Santos sobre muacutesica de VanusaElenco Marlise dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

11 ndash Gecircnio e Cultura

Direccedilatildeo Alexandre Venera dos SantosTexto Umberto Boccioni

Elenco Waldir Lopes Aacutelvaro de Andrade Sandra CardosoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

MOSTRA DE FINAL DE CURSO ndash PRIMEIRO SEMESTRE

12 ndash Grito dacuteAlmaDireccedilatildeo Deise GonccedilalvesTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Tanise Creuz Elisete Creuz Marlise dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

13 ndash E isso eacute vidaDireccedilatildeo IsabelAutor do Texto criaccedilatildeo coletivaElenco Deuceacutelia Deliani Leandro RosaneForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

14 ndash Ciranda ao redor da fonteDireccedilatildeo Dennis RaduumlnzAutor do Texto Dennis RaduumlnzElenco Dennis Raduumlnz Maria do Carmo Machado Lauro RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

15 ndash OutroraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

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MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

16 ndash Essa Tal de EvoluccedilatildeoDireccedilatildeo Wilfried Krambeck Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 15 de outubro de 1986Importante apresentaccedilatildeo de alunos do Curso de Miacutemica

CLASSE gLACEcirc

17 ndash Classe GlacecircSinopse Classe Glacecirc eacute um espetaacuteculo em dois atos Na primeira parte atraveacutes de uma coletacircnea de textos baseados em artigo de Luiacutes Fernando Veriacutessimo os atores se revezam nos vaacuterios momentos repetindo situaccedilotildees que como um exerciacutecio teatral mostram os problemas que as diferenccedilas de classes proporcionam na luta pela sobrevivecircncia e a esperanccedila de se elevar nos diversos niacuteveis sociais A segunda parte eacute uma reflexatildeo-praacutetica de um confronto das classes Cada um ldquovecircrdquo agrave sua maneira os problemas e as vantagens do outro E como na paraacutebola A Raposa e as Uvas cada classe se orgulha das suas desventuras e

ironiza as qualidades da outra O fio condutor de toda a proposta desse segundo ato eacute o texto ldquoO Mendigo ou o Catildeo Mortordquo de autoria de Bertold Brecht que em sua teoria teatral nos solicita refletir criticamente muito mais sobre a mensagem colocada (texto) do que sobre o meio de execuccedilatildeo (desempenho) embora um seja o complemento do outro ldquoO Mendigo ou o Catildeo Mortordquo eacute em si mesmo uma faacutebula a paraacutebola do Espelho Espelho Meu e eacute bom saber que quem estaacute no trono procura ficar informado

Direccedilatildeo Alexandre Venera Texto adaptaccedilatildeo sobre textos de Luiacutes Fernando Veriacutessimo e sobre o texto O Mendigo ou o Catildeo Morto de Bertold BrechtElenco Alan Ada Kardek Aacutelvaro de Andrade Claudio Constantino Dennis Raduumlnz Deise Gonccedilalves Deuceacutelia Travasso Elisete Creuz Isabel Ribeiro Joatildeo de Oliveira Marlise dos Santos Maria Teresa Dias Rosane Paasch Tanise Creuz Antonieta KrausForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 09 de outubro de 1986Importante ateacute onde conseguimos mapear foi a primeira vez que um grupo de teatro blumenauense montou Bertold Brecht

VEIAS CATIVAS

18 ndash Veias Cativas Sinopse um espetaacuteculo ldquomusicadordquo porque natildeo eacute cantado mas eacute dublado e falado natildeo eacute danccedilado mas eacute coreografado e interpretado Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto poemas de Rosane Magaly Martins e

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Muacutesicas de Ney Matogrosso Elenco Alan Alda Kardek Aacutelvaro de Andrade Carlos dos Santos Claus Jensen Evelis Sailer Gilmar Borges Marlise de Valbone Neli Lenzi Raquel Furtado e Rosane Magaly MartinsForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de dezembro de 1986

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Rosane Magaly Martins no anexo Livreto Espetacular

1987

21 CADEIRAS

19 ndash 21 Cadeiras Sinopse veja bem num espetaacuteculo a criaccedilatildeo espontacircnea para o artista eacute o tempero e para o puacuteblico eacute o divertimento O improviso eacute nosso companheiro em todas as nossas atitudes Nossa vida eacute um improviso Todos improvisam no relacionamento no trabalho no amor na briga ou no sofrimento Quando se estaacute por cima por baixo colocado de lado ou ateacute no meio natildeo se conhece precisamente o iniacutecio

noacutes nos preocupamos com o fim e soacute sabemos o que passou Assim eacute com a vida como com o espetaacuteculo ldquo21 Cadeirasrdquo Para a vida o tema do improviso eacute viver e para o espetaacuteculo ldquo21 Cadeirasrdquo o improviso eacute relacionado com o tema tiacutetulo que assenta anatomicamente a nossa proposta de sobreviver Pegue a sua cadeira e venha assistir ao nosso improviso Sente-se agrave vontade mas cuidado com a Aids que eacute o tipo de doenccedila que se pega sentando em cima Sinta-se confortavelmente sentado em nossa roda Noacutes vamos girar virar e torcer por vocecirc E isso eacute soacute o iniacutecioDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Wilfried Iraci Gilberto Helena Tete Marcia Raquel Aacutelvaro Adriana Tanise Rosane Karla Antonieta Dido Diogo Dennis Marlise Sandra Alan Ula Nataacutelia JotaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de marccedilo de 1987

O TUacuteNEL

20 ndash O Tuacutenel Sinopse em linhas gerais O Tuacutenel mostra a passagem ldquodesta para a melhorrdquo E essa passagem eacute tatildeo raacutepida que ele nem se daacute conta Excitado natildeo para de falar mas aos poucos vai enfraquecendo prestando mais atenccedilatildeo a sua volta ao amigo Jorge que vai ao seu encontro ndash compreendendo por fim sua verdadeira situaccedilatildeo Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Paer LagerkvistElenco Alex Muumlller Claus Jensen

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Helena Brown Aacutelvaro de AndradeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 29 de maio de 1987Importante inauguraccedilatildeo do Espaccedilo (O)Caso

ATENDENDO A PEDIDOS

21 ndash Atendendo a PedidosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de junho de 1987

MORCEgO PESSOA

22 ndash Morcego PessoaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 26 de outubro de 1987

O HOMEM DO CAPOTE E OUTROS SERES

23 ndash O homem do Capote e Outros SeresSinopse haacute muitos muitos anos continuamen-te se encontram num espaccedilo indeterminado vaacuterios seres Estes seres desenvolvem suas atitudes individualizadas a distacircncia de maneira impenetraacutevel e particular O encontro com outros seres eacute teacutecnico e restrito ao essencial sendo o primeiro encontro muito curto Estes seres se preocupam narcisicamente ao ver e ouvir o outro pouco tentando entendecirc-lo ou criticaacute-lo Os seres necessitam do conviacutevio social e se aproximam daqueles com os quais sentem afinidades Com a soma dos interesses ocorre a ligaccedilatildeo total onde a uniatildeo de qualquer maneira faz crescer Entretanto a desuniatildeo como um desencanto acontece afastando os seres Entre si ou entre

os seus propoacutesitos haacute a cisatildeo Esta ordem de acontecimentos tem uma sequecircncia ciacuteclica e ateacute retroacutegrada que aos poucos constroacutei ou ateacute rapidamente se transforma na essecircncia do passado E o passado atraveacutes da experiecircncia dos seres constroacutei uma ldquomedardquo individual ou coletiva ateacute onde satildeo armazenadas as experiecircncias jaacute sentidas e representadas pelos ldquofios da experiecircnciardquo A ldquomedardquo eacute o acuacutemulo de propostas realizadas onde satildeo empilhadas uma a uma numa construccedilatildeo cocircnica ldquoa piracircmide da existecircnciardquo Ao ter-se demais de um soacute fio de experiecircncia na ldquomedardquo deste ser haacute uma deformaccedilatildeo na construccedilatildeo dessa ldquomedardquo e sua consequente desestabilizaccedilatildeo Entre outros seres o Homem do Capote deu importacircncia demasiada a uma soacute atitude e faz-nos preocupar como outros seres

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera a partir de poemas de Lindolf Bell e criaccedilotildees coletivasElenco Carlos Alan Giba Juliana Sabrine Mari Jota Zeacute Joatildeo Dennis Gilberto Wilfried Iraci Do Carmo Cleacuteo Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 01 de novembro de 1987Importante primeiro espetaacuteculo assinado pelo Grupo Liturgia do Teatro que nas proacuteximas montagens iraacute aparecer como Grupo Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques Em Bomba Nucleada zine manifesto escrito por integrantes do NuTE poacutes-apresentaccedilatildeo de O Homem do Capote e Outros Seres no Fecate ndash Festival Catarinense de Teatro ndash lecirc-se ldquo() durante todo o espetaacuteculo a condiccedilatildeo de desencanto eacute flagrante e segundo Antonin Artaud em um de seus manifestos sobre as obras-primas ele nos adverte ldquoUma das razotildees da atmosfera asfixiante na qual vivemos sem escapatoacuteria possiacutevel e sem remeacutedio ndash e pela qual somos

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todos um pouco culpados mesmo os mais revolucionaacuterios dentre noacutes ndash eacute o respeito pelo que eacute escrito formulado ou pintado e que assumiu uma certa forma como se toda expressatildeo jaacute natildeo estivesse exaurida e natildeo tivesse chegado ao ponto em que eacute preciso em que as coisas estourem para que se recomeccedilasse tudo de novordquo E eacute nessa afirmaccedilatildeo de Artaud que se baseia o tema expressivo do espetaacuteculo mostrando essa singular e invulgar maneira de se interpretar a arte cecircnicardquo

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Dennis Raduumlnz no anexo Livreto Espetacular

gESTO E SENTIMENTO Agrave MODA DA CASA

24 ndash Gesto e Sentimento agrave Moda da CasaDireccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto Diogo Junckes Ceacutesar Reis Wilfried KrambeckElenco Ceacutesar Augusto Reis Diogo Fernado Junkes Iraci Potrikus Wilfried KrambeckSonoplastia Carlos ZanonForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 27 de julho de 1987

1988 ILUSTRACcedilAtildeO gESTUAL DE POESIAS

BLUMENAUENSES

25 ndash Ilustraccedilatildeo Gestual de Poesias BlumenauensesDireccedilatildeo e Narraccedilatildeo Wilfried KrambeckTextos autores blumenauenses diversos

Atores Iraci Potrikus Ceacutesar Reis e Dennis RaduumlnzIluminaccedilatildeo Carlos L Correia (Cahco)

O MOCcedilO QUE CASOU COM MULHER BRABA

26 ndash O Moccedilo que Casou com Mulher BrabaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Don Juan ManuelElenco Rosana Elke Veruska Betina Marcia Arethuza Sabrina Tacircnia Sandra Eunice Adilson Samara Nelson ArianaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 13 de junho de 1988

APOCALYPSIS CUM FIgURIS NA VISAtildeO DE SANTA CATARINA OS ANJOS E NOacuteS

27 ndash Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e NoacutesSinopse Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes eacute um espetaacuteculo de colagens das diversas passagens da vinda de Cristo visualizadas sob o acircngulo da modernidade do tempo em que vivemos

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Apocalypsis natildeo eacute um teatro convencional pela ausecircncia de diaacutelogo e trama situaccedilotildees que normalmente norteiam a comunicaccedilatildeo dramaacutetica Para o espectador processa-se uma viagem transcendental que passa pelos seus olhos com a histoacuteria que estaacute embutida em sua memoacuteria ancestral Essa montagem eacute um poema poesia pura e eacute mais faacutecil entender um poema do que explicaacute-lo O Apocalypsis se define pela expressatildeo do corpo do ator e atraveacutes dos textosfragmentos poeacuteticos de vaacuterios poetas catarinenses que servem de subsiacutedios para citaccedilotildees e desabafos emocionais Direccedilatildeo Alexandre Venera Texto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre texto de Konstanty Puzyna que discute a montagem original de Jerzy Grotowski (1967) e sobre textos de escritores e poetas catarinenses como Lindolf Bell Cruz e Souza Artemiro Zanon entre outros Elenco Aacutelvaro de Andrade Carlos Crescecircncio Claus Jensen Dennis Raduumlnz Giba de Oliveira Marcos Suchara Peacutepe SedrezForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 28 de novembro de 1988 Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesLivreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Alexandre Venera dos Santos no anexo Livreto Espetacular

1989

VARIANTE WOYZECK-MAUSER

28 ndash Variante Woyzeck-MauserSinopse com essa montagem o Grupo da

Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques efetua uma releitura de dois expoentes da dramaturgia universal Independentemente estes textos no original permitem um realinhamento de cenas de iniacutecio meio e fim que entretanto natildeo alteram o conteuacutedo da obra O que caracteriza Variante Woyzeck-Mauser como outra obra original eacute a uniatildeo de alguns temas resgatados de um e de outro texto dentro de uma outra oacutetica divergente da dos originais em que se baseia O resultado eacute uma mensagem irocircnica sobre o falso moralismo da nossa sociedade um jogo da vida para o cidadatildeo que passa a ser como uma marionete nas matildeos de uma sociedade que lhe cobra as mais absurdas atitudes

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera Giba de Oliveira e Peacutepe Sedrez sobre texto de Georg Buumlchner (Woyzek) e Heiner Muumlller (Mauser)Elenco Roberto Murphy Ivan Felicidade Aacutelvaro de Adrade Joatildeo da Matta Alex Muumlller Ernesto Santos Everton Fonseca Michelli Rocha Paulo de Araujo Sidnei Mafra Regina Simas Rita Macado Peacutepe Sedrez Marcio Mori

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Amarildo Fortunato Claus Jensen Cleide Furlani Dennis RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 22 de outubro de 1989

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Roberto Murphy no anexo Livreto Espetacular

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SR MEURSAULT O ESTRANgEIRO DE CAMUS

29 ndash Sr Meursault O Estrangeiro de CamusDireccedilatildeo Giba de OliveiraAutor do Texto livre-adaptaccedilatildeo de Giba de Oliveira e alunos do NuTE sobre texto de Albert CamusElenco Natalie Rodrigues Rafaela Rejane Paula Margareth MuumlllerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de outubro de 1990Grupo ARTEATROZ

PELOS QUATRO CANTOS TEATRO DA COR EM QUATRO ATOS

30 ndash Pelos quatro cantos ndash Teatro da Cor em Quatro AtosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-tal

Estreia 10 de junho de 1986

1991

MACBETHacuteS UMA INTERFEREcircNCIA NA HISTOacuteRIA

31 ndash Macbethacutes ndash uma Interferecircncia na histoacuteriaSinopse a histoacuteria descreve a ascensatildeo e queda de um homem cuja sede de poder acaba por subverter os valores sociais da vida em grupo Aborda a transgressatildeo das leis da sociedade da solidariedade do amor da universalidade Macbeth eacute a transgressatildeo do homem Esta versatildeo tem no Macbeth natildeo a cobiccedila apenas pelo poder mas principalmente pela vida Contemporaneamente critica o homem preso a si mesmo que toma decisotildees impensadas e vive em busca da vida da liberdade do sossego e impressionantemente busca ateacute mesmo o fim Em meio agrave busca desse poder desconfianccedilas e hipocrisias o ser e o natildeo ser agem conjuntamente A dualidade eacute transparente Mas eacute observaacutevel todos temos a sede de vida Ou de VIDA

Direccedilatildeo Alexandre Venera

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Texto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre texto de W ShakespeareElenco Peacutepe Sedrez Carlos Crescecircncio Giba de Oliveira Marcelo de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 20 de agosto de 1991

No blog wwwnuteparatodoswordpresscom Raymond Chandler escreve

LENDAS DO NUTE ndash PARTE LXIUm vento forte e uacutemido entrava pela janela dificutando o trabalho de taxidermia em Antonio Leopolski Marcelinho de Souza levantou fechou a maldita janela e vestiu o figurino do defunto Algueacutem bateu agrave sua porta Era sua matildee mas felizmente a porta estava trancada Marcelinho reviu todos os passos da reestreia de Macbeth para o dia seguinte Ningueacutem ndash a natildeo ser Silvio da Luz seu cuacutemplice ndash sabia que um ator seria substituiacutedo na uacuteltima hora E nem deveriam saber

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Iran da Silveira no anexo Livreto Espetacular

PIQUENIQUE NO CAMPO

32 ndash Piquenique no Campo Sinopse do confronto entre os horrores e a inconsciecircncia dos visitantes e participantes deste inusitado piquenique nasce um cocircmico (e ao mesmo tempo criacutetico) diaacutelogo absurdo O soldado Zapo encontra-se entediado no campo de batalha Para animaacute-lo seus pais resolvem fazer uma visitinha propondo um piquenique em pleno front Durante o lanche surge o inimigo Apoacutes capturaacute-lo e sem saber o que fazer com o prisioneiro convidam-no para o lancheDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Fernando ArrabalElenco Giba de Oliveira Marcelo de Souza Francinete Bittencourte Pedro Dias Cintia Gruener Patriacutecia dos Santos Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 28 de novembro de 1991Grupo Grupo Meu GrupoImportante o elenco citado eacute o da montagem de 1993

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

33 ndash Big hamletForccedila Cecircnica Preponderante Teatro escolaEstreia 1 de Julho de 1991

34 ndash Quando se Segue a Tradiccedilatildeo e Quando se RefleteForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

35 ndash A Mulher judiaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

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36 ndash Proacutelogo no Teatro de FaustoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

37 ndash Bicharada no BarrilForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Texto Wilfried KrambeckEstreia 1 de Julho de 1991

PRA NAtildeO DIZER QUE NAtildeO FALEI

38 ndash Pra Natildeo Dizer que Natildeo FaleiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 8 de dezembro de 1991

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO DEU PANE NO BLACKOUT) SEgUNDO SEMESTRE

39 ndash O TuacutenelForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1991

40 ndash No Paiacutes da AnestesiaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 19 de dezembro de 1991

41 ndash Os CegosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 19 de dezembro de 1991

1992 O PEcircNDULO

42 ndash O PecircnduloSinopse quando uma era estaacute finalizando

tornam-se visiacuteveis as grandes e numerosas hecatombes Ira de deuses () Destino cruel () Finda o seacuteculo XX e as palavras de ordem satildeo ecologia e a era de aquarius O ciclo macrocoacutesmico se repete e o homem continua bola de futebol dos deuses Eacute a consciecircncia massificante atropelando o indiviacuteduo O espetaacuteculo trata do homem neutralizado espoliado e romacircntico uma das esquecidas engrenagens nessa ldquocoisardquo que nos envolve O homem que natildeo distingue o amor do romacircntico Haacute de se adquirir ternura sem perder a dureza Que a consciecircncia aquariana seja em cada um de noacutes Tememos a besta do apocalipse e natildeo a vemos ao nosso lado ela nos contamina com o conformismo Criar eacute coisa de outro mundo A aacutegua baixou e continua-se afogado como antes das cheias A solidatildeo eacute a uacutenica coisa que nos faz parecidos

Direccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Peacutepe SedrezElenco Ciacutecero da Silva Adriana Sebastiatildeo Elisabeth Thomeacute Maicon Rossi Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 30 de junho de 1992Grupo (CO) INCIDENTES

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

43 ndash Estaccedilatildeo Agosto a exceccedilatildeo e a lendaDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Rosane Magaly Martins e Giba de OliveiraElenco Aline Antunes Elisete Possamai Erna Parquer Francinete Bittencourt Francisco Koch Jerusa de Saacute Mariana da Silva Odete

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Maria Osmar Gomes Priscila de Souza Sandra da Silva Sebastiatildeo Crispim Wlademir TreisForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1992Grupo Sugiro Jaacute

44 ndash A Morte de DantonDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto livre-adaptaccedilatildeo de textos de Bertold Brecht Georg Buumlchner William B Huie LrsquoExpressElenco Alessandra Tonelli Cristiana Venera Gabriele Bruns Itamar Burmaniere Jackson Assino James Beck Marineusa Goterra Nelson Souza Soraia de Souza Valdete SchuterForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1992Grupo Ato ComCreto

45 ndash Natildeo Carta Aberta aos Senhores NazistasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1992

46 ndash A Mente CaptaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1992

47 ndash Na Casa do Dr jacobsenDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Graziela Cicatto Jeferson Fietz Jubal Santos Lenara Santos Magali de Jesus Rafael Ruzinski Tamara Sanches Melissa da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1992Grupo PAPA BATATA (DA PESADA)

48 ndash Viagem ao Coraccedilatildeo da CidadeDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Adhemar de OliveiraElenco Ana Nunes Ana Paula Souza Andreia da Conceiccedilatildeo Elisangela Pereira Evandro Costa Janaina Nascimento Juliana Maske Juliana Garcia Luana dos Santos Osnildo Souza Pablo Lopes Verocircnica Lopes Amanda WernerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 28 de agosto de 1992Grupo Grupo do Ser ou natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

49 ndash Chapeuzinho agraves AvessasDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Peacutepe SedrezElenco Jeferson Fietz Melissa Silva Adalgisa da Silva Graziela Cicatto Carolina Trisotto Renata Muumlller Rafael Ruzinski Eugenio Lingner Peacutepe SedrezForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo PAPA BATATA (DA PESADA)

50 ndash O DragatildeoDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Ellen WolfranElenco Antonio Leopolski Juliana Garcia Pablo Lopes Osnildo Souza Amanda Werner Renaty Affonso Andressa Deschamps Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo Grupo do Ser ou Natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

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51 ndash Quando a Coisa Vira CasoDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Elias GomesElenco Ana Nunes Barbara de Aguiar Juliana Maske Pablo Lopes Andressa Deschamps Janaina Nascimento Osnildo Souza Verocircnica LopesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo Grupo do Ser ou Natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

52 ndash um Canto nas Alturas Direccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Giba de OliveiraElenco Geraldo Niada Fernanda Muumlller Renata Marques Paula Igreja Vilmar Schroeder Ameacuterico Kichelli Greicy Tambosi Aline Luchtenberg Sandra Daicampi Josiane Theiss Rubia Nascimento Joseacute da Cruz Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro 1992

53 ndash Diante dos seus olhosDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto textos de Peacutepe Sedrez Maacutercia Sedrez Luis Alberto CorreiaElenco Airton Berkenbroch Arnaldo Formentin Araci Molinari Luiz Alves Marcia Gazania Marileusa Pisa Magara Casas Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro 1992Grupo Eacutethos

PALAacuteCIO DOS URUBUS

54 ndash Palaacutecio dos urubusSinopse trata-se de uma comeacutedia desenhada

sobre uma ilha fictiacutecia ldquoo paiacutes delirante das bananas do sol e do marrdquo e cujo cenaacuterio um palaacutecio eacute a metamorfose de um terriacutevel e decadente bordel A histoacuteria passa-se em tal ilha cercada de tubarotildees por todos os lados onde se vive uma episoacutedica e eletrizante aventura poliacutetica de capa-espada Em meio a conspiraccedilotildees diversas e situaccedilotildees absurdas a comeacutedia mostra de que forma pode o poder passar de matildeos sem realmente passar de matildeos ou ainda de que forma o paradoxo pode ser vital a uma manobra conjunta entre vaacuterios poderesDireccedilatildeo Giba de Oliveira Texto livre-adaptaccedilatildeo do texto de Ricardo VieiraElenco Cristiana Venera Jackson Assino Priscila de Souza Francinete Bittencourt Alesandra Tonelli Mariana da Silva Francisco Koch Gabriele Bruns Sandra da Silva Erna Packer Itamar Burmaniere James Beck Jerusa de Saacute Marineusa Goterra Mauro Ribas Maicon Rossi Nelson Souza Odete Maria Sebastiatildeo Crispim Soraia de Souza Wlademir Treiss Giba de Oliveira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 14 de dezembro de 1992Grupo Gratilde Cruz da Cornetada Nacional

1993

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO PROJETO PULSAR SIPAT E OUTROS

55 ndash Nosso Reino Por um Bom GuerreiroEstreia 24 de marccedilo de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

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56 ndash Queda LivreEstreia 31 de marccedilo de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

57 ndash Godot Espera GodotEstreia 14 de abril de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

58 ndash Aacuteguas de Cima Para BaixoDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Wilfried KrambeckElenco Carlos Crescecircncio Silvio Joseacute da Luz Pedro DiasEstreia 05 de maio de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food Cenaacuterio por Tadeu Bittencourt

No blog wwwnuteparatodoswordpresscom Peacutepe Sedrez escreve

ldquoOi gente boa Sobre a montagem de AacuteGUAS DE CIMA PRA BAIXO comeacutedia inteligentiacutessima do Wilfried Krambeck quando tive a honra de dirigir contou com os atores Carlos Crescecircncio Pedro Dias e Silvio Joseacute da Luz O cenaacuterio do Tadeu Bittencourt como cita o Wilfried em comentaacuterio acima causou mesmo grande sensaccedilatildeo na plateacuteia do Bar Percyrsquos na Alameda Rio Branco atraindo a atenccedilatildeo dos que por aquela alameda passavam O bar ficou superlotado quando as pessoas perceberam que naquela noite natildeo chovia em Blumenau exceto dentro do Percyrsquosrdquo

59 ndash Aacutelcool a Ser Dito Estreia 09 de agosto de 1993Importante Projeto SIPAT

60 ndash As Cartas MarcadasEstreia 03 de outubro de 1993

61 ndash Cuidado com o Tamanduaacute BandeiraEstreia 17 de outubro de 1993

RODA gIgANTE

62 ndash Roda GiganteSinopse a peccedila aborda a incessante e desenfreada busca da sapiecircncia universal Quem somos Para onde vamos De onde viemos Satildeo questionamentos co-muns do ser humano No enredo de A Roda Gigante um grupo de pessoas interessado na resposta desses questionamentos e guiado por um cicerone parte numa viagem maacutegica e misteriosa para descobrir isso que daacute e potildee fim agrave vida Frutos do exerciacutecio dessa viagem surgem ldquoMelusina e

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Remodinrdquo personagens de uma lenda francesa Ele eacute um simples mortal Ela uma fada amaldiccediloada pela matildee ndash toda noite de saacutebado para domingo sofre um estranho encanto Juntos Remodin e Melusina transgridem a lei do racismo Na acircnsia de saber tudo de tudo o homem dirigindo seu poder inventivo em busca do conhecimento desde a invenccedilatildeo da roda ndash sua maior descoberta ndash vagueia numa eterna viagem rumo ao desconhecido A roda guiada por esses intreacutepidos turistas torna-se gigante siacutembolo de inventividade conhecimento e desejo de evoluccedilatildeo A peccedila ambienta-se e desenvolve-se no clima ldquopsicodeacutelicordquo do filme The Magical Mistery Tour realizado pelos BeatlesDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Alexandre Venera Elenco Aacutelvaro de Andrade Cintia Gruener Patriacutecia dos Santos Ciacutecero da Silva Marcelo de Souza Marcia Olinger Marcus Andersen Viviane Cechet Adriana Sebastiatildeo Gerusa Teixeira Michelli Ferreira Maicon Rossi Ceacutesar

Rossi Silvio da Luz Alexandre FariasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 20 de junho de 1993Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Ensaio para assistir ao ensaio geral do espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=apxF3Cdpffc

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Tchello drsquoBarros no anexo Livreto Espetacular

MOSTRA DE FINAL DE CURSOPRIMEIRO SEMESTRE

63 ndash Ele eacute Assim MesmoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto livre-adaptaccedilatildeo de textos de diversos autores blumenauenses provenientes do JOTE-TitacElenco Alessandra Heiden Elias Moura Elisangela Bertoli Hugo Baumgarten Juccedilara Balzan Niraci Jr Pethra Naves Roberta Tomelin Alice Taufer Carolina Quezada Carla Thomas Cleide de Oliveira Joatildeo Rodrigues Marileacuteia Almeida Naacutedia Sais Renata Muumlller Salete da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Charanga Natildeo Batizada

64 ndash Paz Nem Que Seja Na Porrada

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Direccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Pedro Mauriacutecio DiasElenco Adriana Amaro Ana Cristina Nunes Andreacuteia Oliveira Ariel Espiacutendola Cintia Huerves Fabio Schaefer Gerusa Matos Janaina Nascimento Joseacute Volkmann Liliane Jarschel Marcelo de Oliveira Patriacutecia Buumlrigo Taiacutes Dalfovo Valsir Elias Zuleica DorowForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Filhos da Meretriz

65 ndash O Poema para o MundoDireccedilatildeo Silvio da LuzTexto Nassau de SouzaElenco Viviane Cechet Ciacutecero da Silva Jerusa Teixeira Vilmar Schroeder Indira Pereira Luciana May Andreacutea dos Santos Juliana VendramiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Contra Senha do Lado do AvessoImportante trata-se de espetaacuteculo convidado para encerramento da mostra

SENHORAS E SENHORES

66 ndash Senhoras e SenhoresSinopse Senhoras e Senhores natildeo eacute apenas mais um espetaacuteculo teatral Eacute um protesto Um grito alto e forte contra o desrespeito com a nossa cultura Noacutes natildeo queremos cultura Noacutes exigimos Eacute dever do Estado incentivar as manifestaccedilotildees artiacutesticoculturais de seu povo sim senhoras e senhores Em nosso caso um povo que trabalha e bebe chopp natildeo encontra nestas senhoras e nestes senhores que ocupam

cargos oficiais o incentivo ou a motivaccedilatildeo para abrir suas mentes e coraccedilotildees para receber a tatildeo sonhada e legiacutetima cultura Malditos tiranos culturais ou ponham suas cabeccedilas no lugar ou tirem suas matildeos de nossos bolsos ou ergam suas bundas destas cadeiras Natildeo suportamos mais tamanho descaso tamanha omissatildeo Chega de engodos Abaixo a Tirania CulturalDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Giba de OliveiraElenco Marcelo Fernando de Souza Fran Bittencourt Cintia Gruener Alvaro Alves de Andrade Patriacutecia dos Santos Silvio da Luz Leacuteo Almeida Edilamar da Silva Alexandre Venera dos Santos Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 05 de dezembro de 1993Grupo Por Noacutes Natildeo Desatados e Grupo Meu GrupoImportante espetaacuteculo-protesto que teve origem no JOTE-Titac

LIvreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Peacutepe Sedrez no anexo Livreto Espetacular

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO SAIDEIRA TEATRAL) ndash SEgUNDO SEMESTRE

67 ndash Tudo Azul No hemisfeacuterio SulDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Marcos BorgesElenco Alessandra Heiden Hugo Baumgarten Niralci da Silveira Roberta Tomelin Sebastiatildeo de Souza Taiacutes Dalfovo Cintia Hueves Mauro Ribas Carlos Crescecircncio Silvio da Luz Juccedilara Balzan

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ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro 1993Grupo Nuacute Anonimato

68 ndash O Ciacuterculo de Giz CaucasianoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Bertold BrechtElenco Ana Cristina Nunes Paula Igreja Priscila de Souza Patricia Buacuterigo Joseacute Volkmann Volmar Schroeder Luciana May Cristiana Venera Nelson de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro 1993Grupo Grupo AH

69 ndash Quanto Riso Oh Quanta AlegriaDireccedilatildeo Marcelo F de SouzaTexto Marcelo F de SouzaElenco Ana Paula Girardi Sylvia Penkhun Adriana Gotzinger Eduardo Reiter Daniele Machado Emanoelle da Cunha Cristina Scheefer Karina Muumlller Susan Kotmann Elisaura da Silva Fabiana Goll Raquel Rodrigues Ana Priscila Benitez Faacutebio Marciacutelio Ingon Erdmann Rafael de Almeida Keila Peixer Claudia Feacutelix Regiane Ferreira Ticiane Menschein Karina Shmitt Fabyana Raulino Samira TschoekeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1993Grupo Cuspiu Eu Tocirc Anotando

70 ndash A Entradeira (Soacute) no ParaiacutesoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Giba de Oliveira Wilfried Krambeck e Umberto BoccioniElenco Afonso Carneiro Fabiano Schlosser

Luacutecia Siqueira Sylvia Nunes Valdecir Correia Nelson de Souza Fernanda da Silva Gabriela Socircnego Marelise Koepsel Valeacuteria Santana Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo Demo(niacutecio) Nisso

71 ndash Menino DeusDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Silvana Costa Elenco Fabiana Goll Vilmar Schroeder Juacutelia da Silva Luiacuteza da Silva Carolina Accetta Deacutebora Rossi Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo QD FamaImportante espetaacuteculo convidado para encerramento da mostra

72 ndash ClownsElenco Maicon Rossi Mauro Ribas Nelson de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo Os Clowns do NuTEImportante Espetaacuteculo convidado para encerramento da Mostra

73 ndash Abra As Asas Somos NoacutesDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Peacutepe SedrezElenco Fernando Lopes Felipe Steinert Thiago Meireles Carl Johann Blosfeld Nina Liesenberg Jamyle Krueger Katrin Gruumltzmacher Roni Lana Mareike Valentin Raquel Weiss Betina Riffel Karina Steinert Camila Pedrini Thaiacutes Meireles Manoela Blodorn Barbara Beskow

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ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1993Grupo Abre a cortina que eu quero entrarImportante primeira turma NuTE no municiacutepio de Pomerode

1994

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO 3 PECcedilAS 2 TIRO 5 POtildeE) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

74 ndash A histoacuteria do Manuel

75 ndash A EstaccedilatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Marcia SedrezElenco Janaina Nascimento Juliano Theis Roberta Tomelin Sebastiatildeo de Souza Sylvia PenkunForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

76 ndash Godot Espera Godot amp O Monoacutelogo da DesesperadaDireccedilatildeo Maicon RossiTexto Tania Rodrigues e Nira da SilveiraElenco Alessandra Heiden Fabiana Goll Faacutebio Schaefer Joseacute Volkman Karina Muumlller Nira Silveira Samira Tschoeke Sebastiatildeo Souza Vilmar Schroeder Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

77 ndash O BecircbadoDireccedilatildeo Maicon RossiElenco Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

Estreia 22 de maio de 1994Grupo Grupo dos ClownsImportante nuacutemero de clown

78 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Alice Taufer Fernanda da Silva Janice Vasselai Nelson Souza Sidneacuteia KoppForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO O TEATRO) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

79 ndash No SupermercadoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

80 ndash No AccedilougueDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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ENSAIO

Estreia 11 de agosto de 199481 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

82 ndash uma espeacutecie de aulaDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

83 ndash A Cena de GildaDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo

Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

84 ndash As Rosas Morrem em Agosto amp um Canto nas AlturasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

85 ndash A Confissatildeo ou a ConfusatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

86 ndash O Farwest que natildeo enxergamosDireccedilatildeo Carlos Crescecircncio

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Texto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO PROJETO PECcedilAS BREVES E gOSTOSAS

87 ndash CinderellaDireccedilatildeo Maicon RossiTexto adaptaccedilatildeo de Tatiana BelinskiElenco Antonio Fernandes Caroline Fernandes Arabutan Santos Gisele BucherForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

88 ndash Pega FogoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Jules RenardElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

89 ndash um Caso Assombroso

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo KosovskiElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

90 ndash O Dr RoballoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Irmatildeos MarxElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

91 ndash ReveillonDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo KosovskiElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

92 ndash Na Noite de TerccedilaDireccedilatildeo Mariana da SilvaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Mocircnica da Costa Rudimar Labes Samira Tomio Marlos Vasselai Nilson Ferreira Sebastiatildeo de Souza Liana Guedes Adriana Mette Gerusa Simatildeo Edeacutesio da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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ENSAIO

Estreia 20 de dezembro de 199493 ndash Visatildeo razatildeo emoccedilatildeo qual a soluccedilatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Krislei Deschler Josy Mayer Taiacutesa Bugmann Karin Fiedler Rosana Quintino Lidiane Wilwert Katrin Osti Tatiane Pereira Tamara Georgi Anahi Ibars Deborah Schroeder Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 20 de dezembro de 1994

94 ndash Dia de FestaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alexandre VeneraElenco Pablina Soeth Roberta Tomelin Sylvia Penkhun Ana Carolina Leite Jeane Rimes Luise Bucher Sabina Klug Caroline Sporrer Mauro Ribas Rafael Ruzinski Osnildo de Souza Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 20 de dezembro de 1994

CARNAUacuteBA

95 ndash CarnauacutebaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Binho Shaefer Joseacute Volkmann Vini Schroeder Maicon Rossi Bia Goll Janice Pezzotti Grupo Grupo Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Durante as discussotildees do Segundo Ensaio no blog wwwnuteparatodoswordpresscom aconteceu um interessante diaacutelogo sobre este espetaacuteculo

Desnomeado dizGrande WilfriedEndosso assinando embaixo na linha em que escrevo meu nome (nome acaso ldquonirardquo eacute nome) Principalmente no que diz respeito ao ex-multimetido-mor ou seja euMas quero lembrar tambeacutem de um grupo de apaixonados que infelizmente durou pouco em 1994 o grupo principal do Nute (GFLTampP-C) era formado por alguns jovens arrojados que encenaram apenas dois espetaacuteculos sob a batuta e tutela (batutela) do nosso Alex Stein Um desses espetaacuteculos natildeo chegou a ser levado a puacuteblico apenas foi filmado um ensaio geral filmagem esta perdida (acredito) A peccedila era ldquoCarnauacutebardquo (texto Gibanceira) e faziam parte no elenco Binho Schaefer Zeacute Volkmann Vini Schroeder Maicon Rossi Bia Goll Janice Pezzotti na sonoplastia ao vivo Fernando Alex e este escriba alucinado pela realidade espaccedilo-atemporal ou tempo-inespacial Infelizmente pouca gente viu esse legiacutetimo produto da mente experimentalista de AVS Quando tu falaste em ldquopaixatildeordquo amigo lembrei de cara desse exemploParte desse grupo acrescido de alunos e convidados especiais de outras cidades encenaria logo em seguida o auto de natal ldquomorte e vida severinardquo espetaacuteculo que natildeo teve um deacutecimo da energia criativa de ldquoCarnauacutebardquo Terminado o ano desfez-se o grupo e terminava ali um capiacutetulo ligeiro (liseacutergico) e obscuro mas muito significativo capiacutetulo da Histoacuteria desse monstro que tantos ajudaram a criarAbraccedilosAquele que ateacute ontem se chamava nira niralci qualquer coisa

Eacutedio Raniere comentaSalve Nira-Niralci Desnomeadofiquei bem curioso sobre essa montagem natildeo tenho nenhum documento sobre ela Estou exatamente trabalhando num capiacutetulo sobre os espetaacuteculos Poderias contar um pouco melhor com mais

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TERCEIRO

ENSAIO

detalhes qual era a proposta e o que aconceteuabccedilsEacutedio

Desnomeado respondeRELATO DA MONTAGEM DE CARNAUacuteBA texto de Giba de Oliveira direccedilatildeo de Alexandre Venera filmada em 05 de novembro de 1994A cena passava-se dentro de uma caverna onde viviam o Irmatildeo Fogo o Irmatildeo Terra e o Irmatildeo Aacutegua ndash fanaacuteticos bestiais que na montagem lembravam um pouco os personagens de ldquoO Massacre da Serra Eleacutetricardquo de 1974 Seus objetivos comer carne humana A certo ponto eles conseguem raptar uma moccedila e estripam suas viacutesceras O enredo eacute curto e simples essa sinopse foi feita mentalmente para mais detalhes ler texto originalA montagem o espetaacuteculo natildeo tinha cenaacuterio A iluminaccedilatildeo natildeo era nem um pouco tradicional dois contra-regras seguravam os refletores nas matildeos seguindo os atores como se algueacutem os iluminasse com uma lanterna A sonoplastia era tribal feita com peccedilas de percussatildeo e latotildees O cacircmera VHS tentou acompanhar isso tudo A fita foi enviada para o Festival Catarinense de Teatro o juacuteri natildeo nos classificou pela precariedade do registro mas declarou para AVS que ficou extremamente curioso e intrigado com a filmagem No geral a peccedila assemelhava-se a um filme de terror psicoloacutegico vanguardista Na minha opiniatildeo foi a experiecircncia Nute mais radical depois do Apocalypsys Se natildeo me engano foi a uacutenica montagem deste texto feita ateacute hoje ndash o que significa que ele nunca foi levado a puacuteblico(natildeo estou certo quanto a este uacuteltimo dado pode ser confirmado pelo Giba)

MORTE E VIDA SEVERINA

96 ndash Morte e Vida SeverinaSinopse vivemos num universo atribulado cheio de nuances de espectros complexos O ser humano busca uma saiacuteda para a liberdade

seguranccedila paz fraternidade para o equiliacutebrio e o amor Apesar de toda a confusatildeo que nos cerca sabemos que buscamos uma vida plena e digna A viagem do retirante Severino do sertatildeo pernambucano ateacute os mangues do Recife nos oferece uma ampla oportunidade para refletirmos sobre o nascimento e a peregrinaccedilatildeo do grande mestre Jesus Cristo O nascimento da vida Severina nos mangues formados pelo rio Capibari e a aacutegua do oceano nos enche de esperanccedila e confianccedila num mundo melhor Oxalaacute consigamos erradicar a SEVERINIDADE neste paiacutes Trabalhamos e lutamos para isto para que tenhamos um mundo justo e unido em torno de uma grande meta a vida com dignidade

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Joatildeo Cabral de Melo NetoElenco Tarciacutesio Feller Giba de Oliveira Mariana da Silva Claus Jensen Carlos Crescecircncio Janice Pezzoti Bia Brehmer Sebastiatildeo Crispim Jenifer Pezzoti Gisele Marciacutelio Socircnia Michelon Pablina Soeth Mauro Ribas Nira Silveira Andreacute de Souza Fernando Alex Faacutebio Schaefer Beto Terra Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreacuteia 20 de dezembro de 1994Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques

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O MENSTRUADO OU A DUacuteVIDA DE HELIOgAacuteBALO

97 ndash O Menstruado ou a duacutevida de heliogaacutebaloDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Carlos CrescecircncioElenco Samira Tomio Simone Passold Sebastiatildeo de Souza Liana Guedes Janice Pezzoti Rudimar Labes Monica Costa Carla Behringer Andrea Vieira Mauro Ribas Jerusa Simatildeo Lidiane Wilwert Nilson Ferreira Robson Rosseto Jenifer Pezzoti Faacutebio Schaefer Gisele Marciacutelio Carlos Crescecircncio Marlos Vasselai Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 18 de marccedilo de 1995Grupo (CO) INCIDENTES

MOSTRA DE FINAL DE CURSO ndash PRIMEIRO SEMESTRE

98 ndash As Trapalhadas de xalaminDireccedilatildeo Janice PezzotiTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Gabriela Maluf Gustavo Alves Nadja Tiellet Rafael Steinbach Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

99 ndash uma Famiacutelia Bem unidaDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Jacques PreacutevertElenco Andreacute Manske Joatildeo Aguiar Juliana

de Souza Karina Vieira Maria Fernanda Beduschi Rafael de Almeida Roberto Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

100 ndash um Canto nas AlturasDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Giba de OliveiraElenco Aline Santos Patriacutecia Schwartz Rafael de Almeida Selena Paris Juliana Vendrami Beatriz Vigeta Pollyana Silva Renata Rodrigues Silvana MuumlllerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

101 ndash Os Cegos agraves CegasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto livre-adaptaccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sobre o texto ldquoOs Cegosrdquo de Michel Ghelderode Elenco Richard Huewes Sheilla Santos Sebastiatildeo Crispim Patriacutecia Cabral Marizete Slomp Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

O PODEROSO SAPAtildeO 102 ndash O Poderoso SapatildeoSinopse o Poderoso Sapatildeo narra a saga de um sapo que resolve se casar com uma princesa e ao contraacuterio do que se pode prever tem um final surpreendente bem diferente dos contos de fadas Com inuacutemeras cenas engraccediladas e situaccedilotildees divertidas foram criadas para o espetaacuteculo vaacuterias possibilidades de participaccedilatildeo do puacuteblico Outro aspecto interessante eacute a utilizaccedilatildeo de efeitos de sonoplastia e dublagem ao vivo dos atores

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Eacute essa mistura de efeitos e dublagem aliados agraves teacutecnicas de pantomima e clown que datildeo ao espetaacuteculo um ritmo de show divertido e interativo dirigido a crianccedilas jovens e adultosDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 07 de outubro de 1995Grupo Teatro-Show Clowns Mimos e Cia

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO FESTIVAL NuTE MOSTRA TUDO DE TEATRO

103 ndash Pequenas grandes peccedilas em um atoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

104 ndash A Condessa KatllenDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto William Butler YetsElenco Katiuscia Cordeiro Ana Carolina Leite Osnildo de Souza Krislei Oeschler Juliana Vendrami Taiacutesa Bogman Sebastiatildeo Crispim Rafael Ruzinski Pollyana da Silva Roberto da

Silva Mauro Cesar Ribas Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

105 ndash ColomboDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Michel GuelderodeElenco Robson Rosseto Samira Tomio Sebastian Vieira Rudimar Labes Andreacuteia Vieira Liana Guedes Mocircnica Costa Carla Behringer Jerusa Simatildeo Richard HuewesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO AS PECcedilAS) ndash SEgUNDO SEMESTRE

106 ndash jingle para o NatalDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Giba de OliveiraElenco Patriacutecia Venturini Eliana Kuhnen Renata Muumlller Rafael Steinbach Gabriela MalufForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

107 ndash O Teatro das MaravilhasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Miguel de CervantesElenco Adrian Marchi Ana Lygia Bacca Sebastiatildeo Crispim Mariane Ortlieb Tailann Tutunnyk Camila Cordeiro Kalinka Maronez Ana Lara Cim Mayara Damas Carlos Wovst Maria Luiza LapoliForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

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108 ndash Anjo NegroDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Nelson RodriguesElenco Patriacutecia Schwartz Denis Inaacutecio Rafael de Almeida Maria Fernanda Beduschi Pollyana da Silva Jerusa Simatildeo Renata Rodrigues Juliana Vendrami Marisa Calissi Mocircnica Costa Samira TomioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

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MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO OacuteI gENTE) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

109 ndash O Mau NecessaacuterioDireccedilatildeo Mocircnica CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Aline Ferreira Cintia Gals Osnildo de Souza Jenifer Pezotti Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

110 ndash Pai e Filho a Respeito da GuerraDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

111 ndash Na Loja de ChapeacuteusDireccedilatildeo Carlos Crescecircncio

Texto Karl ValentinElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

112 ndash Robalo Robalinho e Matildeo de Vaca AdevogadosDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Irmatildeos MarxElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

113 ndash Vida e FicccedilatildeoDireccedilatildeo Jaime Gonzaacuteles EncinaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Angela Ferrari Daniela Ulrich Esther Santana Joaquim Farias Bianca Peixoto Andressa Pinto Lenita Siegel Luciana Tridapali Maria Lucia Marquez Sandra da Silva Priscila Cordova Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

114 ndash A Festa Minha Filha e EuDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Groucho MarxElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio Couto

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ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

115 ndash O Pai decideDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto adaptaccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sobre texto de Sempeacute e GoscinnyElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

116 ndash Famiacutelia FelizDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

117 ndash Ida ao TeatroDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO 3 VIDAS) ndash SEgUNDO SEMESTRE

118 ndash O SuiciacutedioDireccedilatildeo Luciano CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Peter Alan Ramos Jonas Buch Denise de Almeida Daiane Saut Priscila Mafezzoli Sabrina de MouraEstreia 22 de dezembro de 1996Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

119 ndash Aids um caminho sem voltaDireccedilatildeo Luciano CostaTexto Luciano CostaElenco Cristiane Bonfim Denise de Almeida Alexandre Fernandes Carolina de Farias Joatildeo ZimmermanForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de dezembro de 1996Grupo Grupo Banco de Praccedila

120 ndash Aquele que diz sim e aquele que diz natildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Bertold BrechtElenco Mariane Quinto Diego Noghrbon Geferson da Silva Sabrina de Moura Priscila MafezzoliForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de dezembro de 1996

O CASAMENTO DOS PEQUENOS

121 ndash O Casamento dos PequenosSinopse O Casamento dos Pequenos Burgueses eacute uma farsa desenfreada escrita num tom

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TERCEIRO

ENSAIO

realista conduzindo quase ao absurdo A peccedila mostra uma festa de casamento O noivo elogia os moacuteveis que ele mesmo construiu Os convidados discutem Pouco a pouco o ambiente fica pesado e a verdade se revela aleacutem das aparecircncias a noiva estaacute graacutevida o noivo desconfia de sua fidelidade os moacuteveis se despedaccedilam o cenaacuterio se destroacutei No final reina certa paz Os dois estatildeo finalmente soacutes A luz se apaga ouve-se um forte barulho a cama se desmorona O texto tem violecircncia e sarcasmo na anaacutelise moral da eacutepoca O deboche ciacutenico e feroz eacute a arma usada por Brecht Valores eacuteticos de uma sociedade satildeo colocados em questatildeo de forma criacutetica (texto extraiacutedo do programa do espetaacuteculo informando a seguinte referecircncia Brecht ndash Vida e Obra Peixoto Ed Paz e Terra 1974)Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo sobre o texto O Casamento dos Pequenos Burgueses de Bertold BrechtElenco Carlos Crescecircncio Richard Huewes Carlos Wovst Luciano Costa Andreacuteia Vieira Sebastiatildeo Crispim Juliana Vendrami Luciana Tridapalli e Grupo de Clowns Mimos e Cia Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 09 de novembro de 1996

Grupo Grupo de Clowns Mimos e CiaImportante apresentaccedilatildeo de estreia no siacutetio Fazendarado

1997MOSTRA DE FINAL DE CURSO

PRIMEIRO SEMESTRE

122 ndash A RaizDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alcione ArauacutejoElenco Susana Rossi Keila RossiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997

123 ndash Garotos de RuaDireccedilatildeo Luciano CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Janaina Meneghel Ana Luisa Kobuszewski Grassi Russi Carlos PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997

124 ndash Cenas de um AcampamentoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alexandre VeneraElenco Mauro Ribas Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997Grupo Grupo de Clowns Mimos e Cia

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ENSAIO

SEgUNDA MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

125 ndash PeruachoDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba de OliveiraTexto Bernadete da SilvaElenco Viviane Teixeira Jussara Hobus Julice da Rosa Fernando Bonatti Sabrina de MouraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

126 ndash EleonoraDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Nassau de SouzaElenco Elise Kluge Juliana Teodoro Vera Tafner Patricia Cipriani Vacircnia Tafner Mireile Gomes Marina MedeirosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

127 ndash Robalo Robalinho e Matildeo de Vaca AdevogadosDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Irmatildeos MarxElenco Janaina Meneghel Gabriela Kuehn Carlos Pereira Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997Importante espetaacuteculo jaacute encenado em 1996 sob direccedilatildeo de Carlos Crescecircncio e com outro elenco

128 ndash Cruzadas do Diabo na Terra de BabelDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Nassau de SouzaElenco Roberta Regis Carolina de Faria

Juliana Morais Charles Ewald Juliana Meneghel Gabriela KuehnForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

129 ndash um Restaurante A de OacutetimoDireccedilatildeo Giba de Oliveira e Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Julice da Rosa Jussara Hobus Fernando Bonatti Viviane TeixeiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

130 ndash Timipim do TupiniquimDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Patricia Cipriani Fabiana Fernandes Juliana Teodoro Marina Medeiros Alessandra Benvenuti Charlene Leber Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (TRIBUTO A NEI LEITE) ndash SEgUNDO SEMESTRE

131 ndash NusDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Wilfried KrambeckElenco Julice da Rosa Fernando Bonatti Silvana Silva Flaacutevia Rodrigues Mauro C RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

132 ndash uma luz na escuridatildeoDireccedilatildeo Giba de Oliveira

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TERCEIRO

ENSAIO

Texto Erli Rosi FonsecaElenco Sheila Maccedilaneiro Fabiana Ribas Katia Morais Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

133 ndash O Afogado Afunda LentamenteDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Shirlei Marcelino Amanda Trentini Roberta de Gasperin Anice Tufaile Juliana Von CzekusForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

134 ndash A Preguiccedila na Visatildeo de um EspecialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Odebrecht Elenco Roberta Regis Juliana Teodoro Patricia Cipriani Alessandra Benvenuti Vera Tafner Vacircnia TafnerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997Importante espetaacuteculo jaacute encenado em 1994 sob mesma direccedilatildeo mas com elenco diferente

135ndash O Sentido da Vida Segundo Aluisio e MiguelitoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Nira SilveiraElenco Ceigler Marques Carla Ramos Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

136 ndash A Confissatildeo ou a ConfusatildeoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Maacutercia SedrezElenco Ceigler Marques Carla Ramos Katia Morais Fabiana Ribas Gisele Oliveira Leonel CamposForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

137 ndash NatalDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Horaacutecio Braum JrElenco Anice Tufaile Tatiana dos Santos Roberta de Gasperi Amanda Trentini Juliana Von Czekus Shirlei MarcelinoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

138 ndash Natal MaluquinhoDireccedilatildeo Polianna Silva e Andreacuteia dos SantosTexto Giba de OliveiraElenco Munick Bonassa Polli Tiago Bonfanti Fabricio Batista Janaina Meneghel Gabriela Kuehn Carlos PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

JATO DE AMOR

139 ndash jato de AmorSinopse Jato de Amor conta as accedilotildees do ser enamorado a busca do par a manutenccedilatildeo do par a sua unificaccedilatildeo Satildeo histoacuterias de amores desenhadas sobre os gestos dos apaixonados captando na accedilatildeo figuras de suas des(a)venturas Jato de Amor eacute para ser visto como Teatro Imagem um caleidoscoacutepio visual e

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TERCEIRO

ENSAIO

sonoro em que a palavra fica quase desvinculada agrave accedilatildeo nas cenas As personagens quase decalques dos ritos de amor transfiguram-se entre o real e o imaginaacuterio subvertendo-se nos amores ldquonovordquo ldquovelhordquo ldquovendidordquo e ldquotriangularrdquo Por tratar-se de imagens o desempenho cecircnico ndash geralmente norteado em accedilotildees coreograacuteficas ndash assume entretanto um sentido ginaacutestico Como enredo o roteiro das cenas adapta para o palco citaccedilotildees trechos e frases de diversos autores (poemas de Jacques Preacutevert e Antonin Artaud Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes) aleacutem de experiecircncias pessoais (do elenco colaboradores amigos) e de intuiccedilotildeesDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre o texto Jato de Sangue de Antonin ArtaudElenco Giba de Oliveira Poli Vendrami Carlos Crescecircncio Sabrina de Moura Leonel Campos Ivan Aacutelvaro Cris Muumlller Jerusa Simatildeo Rafael de Almeida Wladimir Treiss

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 21 de novembro de 1997Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Clipe para assistir ao clipe elaborado quando do lanccedilamento do espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=Z_wfitlUs1kampfeature=related

Ensaio para assistir ao Ensaio Geral do Espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=Vbb7IyWHdRQ

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Giba de Oliveira no anexo Livreto Espetacular

1998

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

140 ndash um Convento Muito LoucoDireccedilatildeo Mocircnica CostaTexto Ana C Voltolini e Ana Julia MarchiElenco Ana Paula Glasenapp Baacuterbara Schmitt Jamile Assini Juliana Medeiros Monique Becker Mayla Voss Patriacutecia GlasenappForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

141 ndash O Poeta SolitaacuterioTexto Douglas ZuninoElenco Carlos Eduardo PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

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TERCEIRO

ENSAIO

142 ndash FimDireccedilatildeo Arno Alcacircntara JrTexto Arno Paulo TarciacutesioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

143 ndash Programa Piloto Especial TV CapivarasDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba de OliveiraElenco Amanda Trentini Anice Tufaile Carlos Crescecircncio Carlos Pereira Flaacutevia Rodrigues Gabriela Kuhen Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Jamile Meneghel Janaina Meneghel Leonel Campos Poacuteli Vendrami Pollyanna Silva Rafael Almeida Roberta Regis Sebastiatildeo Crispim Shirlei Marcelino Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 24 de agosto de 1998

144 ndash Acrobacias ndash Duo AcrobaacuteticoDireccedilatildeo Mocircnica CostaElenco Afonso de Souza Alessandra Teodoro Faacutebio Cardoso Giseli Prada Luana Mocircnica Costa Soacutecrates Rufatto William Oliveira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 24 de agosto de 1998Grupo Grupo Acrobaacutetico Livres Leves e Loucos

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO PUXA BRASAS SABEMOS QUE

ESTAtildeO AIacute) ndash SEgUNDO SEMESTRE

145 ndash Na Loja de ChapeacuteusDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl Valentin

Elenco Carolina Andreoli Joatildeo Felipe BuergerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1996 sob mesma direccedilatildeo mas com elenco diferente

146 ndash EleonoraDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Nassau de SouzaElenco Talira dos Santos Sarah Beduschi Afonso de Souza Leandro Cunha Rocha Alexandre Jung Silvana CadoriForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e com elenco diferente A diretora desta montagem compotildee o elenco de 1997

147 ndash A Confissatildeo OuDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Maacutercia SedrezElenco Eloisa Borges Alexander Franzmann Joatildeo BuergerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Giba de Oliveira e com elenco diferente

148 ndash NusDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Wilfried KrambeckElenco Soacutecrates Ruffato Daniela Vogel Juceacutelia Deluca Tatiane ScozForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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TERCEIRO

ENSAIO

Estreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Giba de Oliveira com elenco diferente

149 ndash PeruachoDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Bernardete da SilvaElenco Leandro Cunha Rocha Adriana Krieck Alexandre Jung Micheli Dias Ana Paula ZuckiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e Giba de Oliveira com elenco diferente

150 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Giba de OliveiraElenco Silvana Becker Rita de Caacutessia Lopes Cristina Torri Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1994 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e com elenco diferente

O AMOR DE DOM PERLIMPLIM POR BELISSA EM SEU JARDIM

151 ndash O Amor de Dom Perlimplim por Belissa em seu jardimDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Frederico Garcia LorcaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mental

O CIO DAS FERAS

152 ndash O Cio das FerasSinopse montagem dramaacute-tico-musical e audiovisual (VT slides projeccedilotildees de 8 e 16 miliacutemetros) sobre poemas acompanhada de muacutesica ao vivo e apresentada em espaccedilo alternativo (semiarena) U m a homenagem aos dez anos do lanccedilamento do livro Poetas Independentes de Blumenau e O Fel do Cio de Rosane Magaly MartinsDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre os livros O Fel do Cio de Rosane Magaly Martins e Poetas Independentes antologia da Associaccedilatildeo de Poetas Independentes de Blumenau Elenco Anice Tufaile Mariane Quinto Sebastiatildeo Crispim Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Carlos Crescecircncio Carlos Pereira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de dezembro de 1998Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Apresentaccedilatildeo Fenatib para assistir agrave apresentaccedilatildeo do espetaacuteculo no Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau acesse o endereccedilowwwyoutubecomwatchv=s8oMh-G7nk4

Apresentaccedilatildeo Curupira para assistir agrave apresentaccedilatildeo do espetaacuteculo no Festival de Bandas Undergraud do Curupira acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=TrNOpr__aVU

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Afonso Nilson no anexo Livreto Espetacular

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TERCEIRO

ENSAIO1999

O RITUAL DE OFERENDAS

153 ndash O Ritual de OferendasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Joatildeo amp Insone PessoaElenco Sebastiatildeo Crispim Juliana Teodoro Afonso de Souza Anice Tufaile Juliana Von Czekus Janaina Meneghel Tamara Beims GuantildeabensForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaGrupo (CO)INCIDENTES

TEATRO DA TERRA

154 ndash O Camaleatildeo da Mata ndash A LendaDireccedilatildeo Alexandre Venera e Tadeu BittencourtTexto baseado em um argumento de Alexandre Venera e Tadeu BittercourtElenco Carlos Crescecircncio Juliana Teodoro Juliana Von Czekus Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 06 de Marccedilo de 1999Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesImportante esse espetaacuteculo faz parte do projeto Teatro da Terra apresentaccedilotildees que aconteciam no siacutetio Fazendarado dentro da mata

155 ndash Metafiacutesica de Caeiro ndash O VooDireccedilatildeo Alexandre Venera Texto argumento de Alexandre Venera e Daniel Curtipassi sobre poemas de Fernando PessoaElenco Carlos Crescecircncio Juliana Teodoro Juliana Von Czekus Afonso Barbosa Sebastiatildeo

Crispim e Adriana KrieckForccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 07 de agosto de 1999Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesImportante esse espetaacuteculo faz parte do projeto Teatro da Terra apresentaccedilotildees que aconteciam no siacutetio Fazendarado dentro da mata

Apresentaccedilatildeo para assistir agrave apresentaccedilatildeo deste espetaacuteculo acesse o endereccedilohttpyoutubeDdDXLwIWP3Y

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Luciano Bugmann no anexo Livreto Espetacular

A MORTA

156 ndash A MortaSinopse A Morta narra a busca de um poeta por sua musa inspiradora ateacute os confins aleacutem morte A Morta eacute um dos mais eloquentes manifestos modernistas contra as convenccedilotildeessociais impostas pela religiatildeo a moral a burguesia e que se torna um grande instigador agrave manifestaccedilatildeo artiacutestica puraDireccedilatildeo Alexandre Venera

As fotos deste espetaacute-culo foram gentilmente cedidas ao projeto pela fotoacutegrafa Maria Emiacutelia da Silva

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TERCEIRO

ENSAIO

Texto Oswald de AndradeElenco Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Carlos Crescecircncio Sebastiatildeo Crispim Afonso de Souza Analice Tufaile Janaina Meneghel Tamara Beims Guantildeabens Carlos Pereira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 28 de setembro de 1999Grupo Grupo de Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para ChoquesImportante uacuteltimo espetaacuteculo do Grupo de Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesLivreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Juliana Teodoro no anexo Livreto Espetacular

2000

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

157 ndash Restaurante MercenaacuterioDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Silvio Volpato Maicon Berg Crislene Caetano Juceacutelio Pandini Aritana Froeschlin Luiz Garcia Soares Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

158 ndash um Quarto de CasalDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Maacutercio Pereira CoutoElenco Luiz Garcia Soares Viviane de Cassio Luciana Fistarol Juliano BittencourtForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

159 ndash Bye Bye ParaiacutesoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Nassau de SouzaElenco Janete Nogueira Joseacute Luiz Cujik Joice Daiana Leite Susi da Silva Eloiacutesa Borges Priscila BarbieriForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

160 ndash Bicharada do BarrilDireccedilatildeo Alexandre Venera Texto Wilfried KrambeckElenco Luiz Garcia Soares Aritana Froeschlin Crislene Caetano Silvio Volpato Maicon Berg Juceacutelio PandiniForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000Importante texto jaacute encenado em 1991

161 ndash Vaca AmarelaDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto adaptaccedilatildeo do grupo sobre texto de autor desconhecidoElenco Marcia Schnaider Marciel Sabel Viviane Catarina Manoela Machado Fabriacutecia Hafermann Luciana Juliano Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

162 ndash O Uacuteltimo Seraacute o PrimeiroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Silvio VolpatoElenco Crislene Caetano Silvio Volpato Juceacutelio Pandini Aritana Froeschlin Luiz Garcia Soares Maicon BergForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

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TERCEIRO

ENSAIO

163 ndash Morreu deDireccedilatildeo Ariane RegisTexto Ariane RegisElenco Ricardo Koehler Ariane Regis Patriacutecia CenziForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

164 ndash O Medo que CalaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alessandra RosaElenco Alessandra Rosa Suzana Soares Elton Girelli Tiago Freitas Cintia Viventi Gabriela Koehler Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

165 ndash Pigmaleatildeo e GalateaDireccedilatildeo Mauro Ribas NetoTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera Elenco Patriacutecia Cenzi Gabriela Koehler Ricardo Koehler Luiz Garcia Soares Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000Grupo Grupo de Clowns Mimos e Cia

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

166 ndash O Livro ProibidoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Carlos CrescecircncioElenco Caroline Selhorst Jenifer Fischer Shawn Nicolai Bernardo Azevedo Marcos Sebastiatildeo Crispim

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

167 ndash O Porco e o Morto de FomeDireccedilatildeo Mauro Ribas NetoTexto Fabiano SchlosserElenco Silvio VolpatoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000Grupo Grupo Clowns Mimos e Cia

168 ndash Concerto de OrquestraDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Danuacutebia Pereira Sonia Nogara Daniela de Oliveira Ceacutelia Cleacuterice Gabriela Caminha Sebastiatildeo Crispim Tiago FreitasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

169 ndash O Mendigo ou o Catildeo MortoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Bertold BrechtElenco Janete Nogueira Ricardo Koehler Susana Stein Paulino Junior Gabriela KoehlerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000Importante texto jaacute encenado em 1986 dentro do espetaacuteculo Classe Glacecirc sob direccedilatildeo de Alexandre Venera com outro elenco

170 ndash Guernica em BlumenauDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de texto de Fernando ArrabalElenco Gabriela Koehler Joice Daiana Leite Joseacute Luiz Cujik Priscila Barbieri Tiago Freitas

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TERCEIRO

ENSAIO

Juliana RodriguesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

171 ndash O Califa da Rua do SabatildeoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Artur AzevedoElenco Silvio Volpato Juceacutelio Pandini Crislene Caetano Aritana Froeschlin Alexandra Batisti Patriacutecia LenziForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

2001Natildeo houve montagens

2002

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

172 ndash A SituaccedilatildeoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Luiacutes Fernando VeriacutessimoElenco Adriana Dellagiustina Rodrigo DemeacutetrioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

173 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Patriacutecia Mara Martins Silvio Mara Jacinto Solange WesmuthForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

Estreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 e em 1997 sob mesma direccedilatildeo mas com elencos diferentes

174 ndash PeruachoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Bernadete da SilvaElenco Ester Cunha Rodrigo Demeacutetrio Adriana Dellagiustina Elias Lana Paulo VasconcelosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1997 com direccedilatildeo de Alexandre Venera e Giba de Oliveira e em 1998 com direccedilatildeo de Juliana Teodoro as trecircs montagens possuem elencos diferentes

175 ndash A galinha que chocava pedrasDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Hermes Altemani e Nery GomideElenco Solange Wasmuth Patriacutecia Mara Martins Silvia Mara Jacinto Sebastiatildeo Crispim Mauro Ribas NetoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

176 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Ester Cunha Rodrigo Demeacutetrio Elias Lana Adriana Dellagiustina Paulo VasconcelosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 com direccedilatildeo de Alexandre Venera e em 1998 com direccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sempre com elencos diferentes

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TERCEIRO

ENSAIO

177 ndash Nosso Reino por um Bom GuerreiroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Solange Wasmuth Mauro Ribas Neto Patriacutecia Mara Martins Silvia Mara Jacinto Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

178 ndash NusDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Wilfried KrambeckElenco Adriana Dellagiustina Elias Lana Ester Cunha Paulo Vasconcelos Rodrigo DemeacutetrioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1997 com direccedilatildeo de Giba de Oliveira e em 1998 com direccedilatildeo de Juliana Teodoro sempre com elencos diferentes

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

179 ndash A Exceccedilatildeo e a LendaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Andreacuteia de Souza Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

180 ndash DelicadezaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Kosowky e Dino BuzzatiElenco Dilma da Silva Flavia Faustino

Joaquim Wolff Bruna RudolphoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

181 ndash Camaradas MeacutedicosDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Andreia de Souza Pamela Cacircndido Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

182 ndash EquivalecircnciaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Kosowky e Dino BuzzatiElenco Flavia Faustino Joaquim Wolff Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

183 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Hannah Theis Amanda Mendes Pamela Cacircndido Angela Otto Bruna RudolphoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 em 1997 e em 2002 sob mesma direccedilatildeo mas com elencos diferentes

184 ndash Melhor natildeo tecirc-los masDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Janice PezottiElenco Simone Tambosi Sebastiatildeo Crispim Angela Otto

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TERCEIRO

ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

185 ndash No Bar da ZuleicaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletiva sobre textos de Pedro DiasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

Estupefatos os atores balanccedilam a cabeccedila esfregam os olhos voltam ao cronograma Alguns durante a leitura emitem fortes gargalhadas outros se lamentam Por fim o mais corajoso dentre eles resolve arriscar

ndash Desses 185 espetaacuteculos quantos realmente satildeo do NuTE e quantos satildeo montagens do JOTE-Titac

ndash Todos sem exceccedilatildeo foram montados pelo NuTE Optei em natildeo misturar espetaacuteculos NuTE com espetaacuteculos JOTE-Titac

ndash Vocecirc quer dizer que aleacutem dessas 185 montagens ainda existem as peccedilas do JOTE-Titac

ndash Exatamente

Frenesi exclamaccedilotildees descontinuas risos e salivas explodem no ar

ndash Mas isso eacute impossiacutevel Se o grupo durou 18 anos eles teriam que montar uma meacutedia de dez espetaacuteculos por ano para atingir esse nuacutemero alucinante Deve haver algum erro

ndash Olha tem aqui vaacuterios textos ndash Bicharada do Barril Nus Funesta Noite Senhoras e Senhores Nosso Reino Por um Bom Guerreiro entre tantos outros ndash que foram escritos para o JOTE-Titac aparecem no livro Jogos de Teatro 12 anos de Teatro em Blumenau Vocecirc deve ter cometido algum equiacutevoco natildeo eacute possiacutevel

ndash Natildeo natildeo natildeo eacute nada disso quem estaacute fazendo confusatildeo satildeo vocecircs O que acontece eacute o seguinte muitos textos como esses que vocecirc

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TERCEIRO

ENSAIO

citou originalmente foram escritos para os Jogos de Teatro e consequentemente muitos deles foram montados nos Jogos de Teatro Contudo fora dos Jogos a Escola NUTe tambeacutem utilizava de forma didaacutetica esses textos Natildeo sei se vocecircs sabem mas a proposta baacutesica do curso de formaccedilatildeo dado pela Escola NUTe era de que o aluno pudesse ldquoaprender fazendordquo Assim todo semestre as turmas montavam alguns espetaacuteculos que eram encenados dentro de uma mostra de final de curso Esse tipo de montagem faz ressonacircncia com uma seacuterie de forccedilas as quais vetorizei nesse cronograma como Teatro Escola Paralela a essa composiccedilatildeo vetorial corre dentro do NuTE um tipo distinto de forccedilas as quais vetorizei como Teatro Experimental Este segundo vetor atravessa as grandes montagens do NuTE Montagens que se utilizam de textos consagrados como Macbeth por exemplo mas que por vezes tambeacutem se utilizam de textos vindos do JOTE-Titac como por exemplo Senhoras e Senhores Seria um desrespeito de minha parte catalogar Macbeth e desprezar Senhoras e Senhores jaacute que ambos satildeo espetaacuteculos-NuTE

ndash Tudo bem podemos ateacute estar de acordo com sua anaacutelise Mas por favor nos diga como eacute que vamos dar conta de montar um espetaacuteculo que apresenta a histoacuteria de 185 montagens Isso eacute irrealizaacutevel Mesmo se montarmos uma pequena cena sobre cada um deles digamos que cada cena tenha apenas dois minutos teremos ao final aproximadamente seis horas de espetaacuteculos

ndash Seis horas para o terceiro ensaio fora os demais Isso eacute loucura vamos ter um espetaacuteculo com mais de dez horas

ndash Bem Acho que vocecircs todos reconhecem uma influecircncia de Bob Wilson sobre Alexandre Venera natildeo

Black-Out Salivas secas seguem gargantas agrave dentro Dois atores se aproximam e prometendo devolver o cachecirc pago rendem homenagem ao capitatildeo Nascimento ldquopedindo para sairrdquo o excesso lhes tenciona abandonar os ensaios Percebo minha imbecilidade mais uma vez tarde demais Tento acalmar o grupo ningueacutem me ouve ningueacutem ouve ningueacutem Todos falam e gesticulam ao mesmo tempo num pandemocircnio generalizado e dramaacutetico jaacute que deixamos as cadeiras confortaacuteveis da plateia e estamos todos no palco De repente por fora algueacutem abre a porta do grande auditoacuterio A estranheza da cena agravequela altura da tarde fez calar os gestos e as matracas falantes

Eacute provaacutevel que o leitor suspeite dada agrave intempestividade do acontecido da veracidade do relato que segue Por isso faccedilo questatildeo de ressaltar que exatamente como aconteceu eacute que conto ou melhor o conto eacute exatamente o que iraacute acontecer

Pelo silecircncio da porta entra ningueacutem menos ningueacutem mais que Alexandre Venera dos Santos Ele caminha lentamente ateacute o palco calccedila jeans camiseta esverdeada chinelos Havaianas traz consigo um pequeno sorriso ao lado esquerdo da boca Sobe ao palco alguns sussurros orelhais lambem o silecircncio da porta

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TERCEIRO

ENSAIO

Ao se aproximar do grupo todos percebem um excecircntrico meio bigode de um lado ndash em contraponto a uma excecircntrica meia costeleta de barba de outro ndash no rosto de Alexandre Alguns atores se cutucam trancando o riso Por fim Alexandre diz

ndash Oi gente e aiacute porque estatildeo todos quietos eacuteeacuteeacuteeacute vocecircs gostaram do meu bigode novo eacute isso

O riso se espalha pelos quatro cantos do teatro sinto alguns quilos a menos em meus ombros Laacute pelas tantas num tom de brincadeira algueacutem resolve perguntar onde afinal de contas Alexandre esteve ateacute entatildeo e ele responde que encontrou dificuldades para fazer a barba Alguns risos depois o grupo resolve bastante animado mostrar para Alexandre a cronologia que viacutenhamos discutindo Impressionado Alexandre sorri

ndash Puxa que bacana Na minha cabeccedila era coisa de pouco mais de cinquenta espetaacuteculos Quer dizer que montamos tudo isso mesmo Que legal

ndash Sim mas estamos com medo desse excesso

ndash Medo O excesso natildeo conversa com o medo O oposto dele sim Aleacutem do quecirc isso tudo vai ficar super bom na peccedila que estamos levantando vai cair como uma luva azul

ndash Mas eacute exatamente isso o que nos assustandash Isso o quecirc a luva azul Entatildeo vamos

cortar ela Olha pessoal natildeo tem motivo pra nenhum receio na verdade enquanto assistia

agrave projeccedilatildeo me passou umas ideias que se vocecircs toparem pode ficar joiandash todas as almas olham para Alexandre Depois de uma pausa ele diz

ndash Vocecircs gostam do Bob Wilson ndash um quase desespero atravessa o grupo Sinto que eacute hora de me redimir e entro na conversa

ndash A gente chegou a fazer um caacutelculo raacutepido Venera e a conclusatildeo foi de que seria inviaacutevel e desgastante um espetaacuteculo tatildeo longo

ndash Desgastante Muito pelo contraacuterio vai ser tonificante energeacutetico ndash batendo uma matildeo na outra

ndash Por menores que sejam as cenas o volume de montagens vai impor horas ao espetaacuteculo A natildeo ser que faccedilamos um corte talvez possamos escolher os mais importantes e com eles criar as cenas para esse capiacutetulo

ndash Mas quem vai definir o criteacuterio que vamos usar para escolher esse ou aquele espetaacuteculo Eu natildeo me sinto agrave vontade pra fazer isso Natildeo Eacute o seguinte eu natildeo abro matildeo temos sim que acolher todos eles Afinal eacute NuTE para todos ou natildeo eacute

ndash Mas como como vamos falar de todos os espetaacuteculos

ndash Noacutes natildeo precisamos fazer isso Os espetaacuteculos falam por si Aleacutem do quecirc seria redundante criar uma cena para fazer falar uma cena Natildeo vejo propoacutesito nisso

ndash Entendo cada vez menosndash Natildeo se trata de entender mas de projetarndash Projetar

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TERCEIRO

ENSAIO

ndash Isso O que vocecircs acham da gente pegar esse tal de EXUBERANTE CRONOLOGIA ESPETACULAR DO TEATRO EXPERIMENTAL E DO TEATRO ESCOLA NUTEANESCOS eou PUTA QUE PARIU ESSES CARAS MONTARAM 185 (cento e oitenta e cinco) ESPETAacuteCULOS e projetar do jeito como ele estaacute

ndash Sem mudar nadandash Sim Podemos deixar assim como estaacute

Acho que ficou bom Minha sugestatildeo eacute mudar apenas o nuacutemero de projetoresprojeccedilotildees Ao inveacutes de utilizar um uacutenico projetor como vocecircs fizeram hoje podemos projetar trecircs imagens ao mesmo tempo um espetaacuteculo no centro um agrave esquerda e um agrave direita Cada projeccedilatildeo teraacute uma duraccedilatildeo de dez segundos Assim em 1 minuto teremos 18 espetaacuteculos e em pouco mais de 10 minutos fechamos os 185 O que vocecircs acham

Era uma excelente ideia Concordamos todos sem pestanejar Houve apenas uma discordacircncia Metade dos atores insistia que seria melhor mais neutro de nossa parte apenas projetar o cronograma jaacute a outra metade acreditava que durante a projeccedilatildeo deveria haver interferecircncias atores no palco encenando dialogando com a projeccedilatildeo Depois de algum debate Alexandre e a maioria do grupo se direcionam para a segunda opccedilatildeo mas o problema do criteacuterio de seleccedilatildeo dos espetaacuteculos retorna jaacute que seria impossiacutevel em dez minutos passar por todos os 185 O grupo de uma forma geral concorda que uma vez resolvida a questatildeo do criteacuterio de seleccedilatildeo as interferecircncias

cecircnicas potencializariam o espetaacuteculo Seria preciso selecionar entre oito e doze espetaacuteculos para que em cada minuto aproximadamente possa acontecer uma cena ou entatildeo elaborar uma uacutenica accedilatildeo sobre os escolhidos Durante o embate surge a proposta de questionar o leitor a esse respeito Nesse sentido a opiniatildeo do grupo acabou consensual apenas o leitor estaria autorizado a realizar essa seleccedilatildeo

Foi o que fiz Dessa enquete realizada atraveacutes do blog surgiu a lista de espetaacuteculos que compotildeem o Livreto Espetacular

201

registro do curso lsquotreinamento cotidiano do atorrsquo da esquerda para direitagiba de oliveria alexandre

venera dos santos regina simas carlos simioni peacuterola aacutelvaro alves andrade pepe sedrez milena

sentados ivan joseacute aparecido dos santos carlos crescecircncio e carlos alberto dos aantos

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QUARTO

ENSAIOQUARTO ENSAIO ndash 04 DE MAIO DE 2015

Segunda-feira de TrabalhoNo reloacutegio ponto marcam 07h30minImagem Insistente Apolo X Dioniso

ndash Bom dia Espero que estejam todos bem acordados Hoje o ensaio vai ser puxado pessoal Taacute todo mundo bem disposto ndash os atores sinalizam que sim Alexandre prossegue ndash Minha proposta eacute retomarmos o esquema de trabalho do Segundo Ensaio Achei que funcionou bem naquele dia

ndash Aquele com os aperitivosndash Exatamente o que vocecircs achamndash Boa ideiandash As cenas ficaram bem boas mesmondash Vamos utilizar os mesmos aperitivosndash Natildeo Eu montei cinco jogos novos Com

a bandeja do Segundo Ensaio natildeo daria certo pois nosso tema agora eacute outro A intenccedilatildeo hoje eacute focar toda energia na Escola de Teatro do NUTe Levantar cenas sobre a Escola

ndash Vamos poder escolher os aperitivos novamente

ndash Acho que sim natildeo vejo problema desde que haja consenso entre vocecircs Tenho apenas uma ressalva Aleacutem do jogo de aperitivos que

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ENSAIO

vocecircs vatildeo escolher gostaria que todos os grupos jogassem com o Aperitivo Livretante

ndash Como assimndash O Aperitivo Livretante eacute um aperitivo

anexo agrave bandeja deste ensaio Aleacutem dos cinco aperitivos que seratildeo servidos existe essa espeacutecie de Experiecircncia do Fora Eacute um sexto aperitivo que natildeo entra na bandeja da escolha A ideia eacute que cada grupo escolha um aperitivo para disparar suas cenas e junto a este quando estiverem encenando permitir ressonacircncias com o Livretante

ndash Deixa ver se entendi Funciona da mesma forma que o Segundo Ensaio mas agora ao inveacutes de um aperitivo vamos trabalhar com dois Um que a gente escolhe e outro que vocecirc jaacute definiu

ndash Eacute quase isso Vocecircs natildeo precisam dar conta de encenar todo o Livretante a ideia eacute que vocecircs o acionem sobre as cenas Que ele ajude na composiccedilatildeo que esteja acoplado de alguma forma Eacute um ldquoplusrdquo um a mais sobre aquilo que vocecircs montarem Mas claro natildeo se sintam na obrigaccedilatildeo de fazer dessa ou daquela forma O mais importante eacute criar com liberdade Os aperitivos servem para ajudar vocecircs a encontrar algo Agora se eles em algum momento dificultarem essa pesquisa abandonem sem medo joguem fora os aperitivos e passem ao prato principal

ndash Prato principalndash Claro a cena de vocecircs O aperitivo eacute

apenas uma bengala a funccedilatildeo dele eacute disparar

a cena nada maisndash Cenas sobre a Escola NUTe ndash Isso Escolacecircnicas cenicasescolaresndash E os locais de ensaio temos que usar os

mesmosndash Os locais satildeo vocecircs que escolhem A

diferenccedila eacute que desta vez vamos precisar de cinco grupos dois grupos a mais Tudo bem ndash os atores dividem olhares aos poucos vatildeo se aproximando e sem nenhuma palavra cinco grupos surgem no palco

ndash Oacutetimo Jaacute temos os cinco grupos Maravilha Mais alguma pergunta pessoal Natildeo Nada mais Entatildeo garccedilom por favor a bandeja

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Caro leitor

convidamos vocecirc agora a provar dos nossos aperitivos cecircnicos na cor cinza

que incluem as cartas bocircnus

ldquoaperitivos livretantesrdquo

vaacute em frente bom experimento

APERITIVOS CEcircNICOSeou nutrientes para

composiccedilatildeo de mundos

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Composiccedilatildeo de Mundos

Enquanto os grupos pesquisam seus espaccedilos cecircnicos Alexandre fuma um dois trecircs cigarros Consegue para ele e tambeacutem para mim um copinho de cafeacute na secretaria da Carona Escola de Teatro Seduzido pela cafeiacutena resolvo fumar um cigarro tambeacutem Ao teacutermino desse estimulante abastecimento fisioloacutegico iniciamos nossa andanccedila

Os cinco grupos selecionaram como espaccedilo de ensaio os seguintes locais

Grupo I ndash (O)Caso ndash corredor do terceiro piso do Teatro Carlos Gomes onde na deacutecada de 80 foram apresentados espetaacuteculos como O Tuacutenel

Grupo II ndash Poratildeo do Teatro ndash local onde o NUTe realizou as Oficinas de Base

Grupo III ndash Grande Auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes ndash Auditoacuterio Heinz Geyer

Grupo IV ndash Pequeno Auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes ndash Auditoacuterio Willy Sievert

Grupo V ndash Antiga Sede-Secretaria do NUTe ndash espaccedilo que deixou de existir com a reforma do Teatro Carlos Gomes em 2002

Os atores que ensaiam no espaccedilo (O)

Caso utilizam a teacutecnica do Joatildeo Bobo como aquecimento Um ator se posiciona entre outros dois e se lanccedila livremente para frente e para traacutes onde estes o apanham trazendo de volta ao centro-meio do jogo O movimento eacute revezado por todos os atores que hora fazem a rede hora o Joatildeo Bobo

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No Poratildeo do Teatro sobre uma mesinha improvisada dois atores disputam uma queda de braccedilo Os demais em volta fazem torcida gritante e apostam dinheiro no vencedor

O grupo que ensaia no Grande Auditoacuterio percorre o palco realizando o que parece ser um estudo sobre a rede eleacutetrica disponiacutevel Fazem anotaccedilotildees caacutelculos discutem a impedacircncia a amperagem

Alguns atores da plateia do Pequeno Auditoacuterio aplaudem o que parece ser um desfile de moda que se realiza atraveacutes dos demais atores no palco

Na antiga sala-sede do NUTe um uacutenico ator de peacute estaacute cercado pelos demais que o reverenciam sentados sobre seus proacuteprios calcanhares em estranhos movimentos lanccedilam os braccedilos acima da cabeccedila e curvam-se ateacute o chatildeo Quando retornam ao iniacutecio do movimento bradam em coro mestre mestre mestre

Alexandre natildeo interfere Apenas observa os grupos Por vezes sorri por vezes passa a matildeo no cabelo usando os dedos da matildeo direita como pente agraves franjas que lhe caem sobre a testa Depois dessa primeira rodada claro que um cigarrinho vai muito bem melhor ainda se acompanhado daquele cafezinho que se consegue na secretaria da Carona Escola de Teatro Uma respirada algumas tragadas e estamos prontos para continuar

Voltamos ao Poratildeo Os atores em silecircncio formam um ciacuterculo de costas Cada qual olha numa direccedilatildeo a sua frente de modo

que nenhum deles consegue olhar os demais Alexandre achou curioso Sentados em duas cadeiras improvisadas permanecemos por alguns minutos mas nada acontece A tensatildeo da queda de braccedilo havia se esvaziado Em cena apenas o silecircncio e o distanciamento entre os atores Aguardamos mais alguns minutos Nada Alexandre comeccedila a coccedilar a cabeccedila olha pra mim faz menccedilatildeo de que vai intervir levanta-se mas ao comeccedilar a falar o dorso da matildeo esquerda do primeiro ator atinge com muita forccedila a face do segundo o que faz com que o dorso da matildeo esquerda do segundo ator atinja a face do terceiro O mecanismo se repete ateacute atingir a face do primeiro ator Quando isso acontece o ator que iniciara a accedilatildeo num abrupto movimento de 180 graus nos olha com violecircncia escaacuternio e certa simpatia dizendo

Alguns de noacutes achaacutevamos que tiacutenhamos que montar espetaacuteculos com mais frequecircncia Mas quase ningueacutem tomou partido tatildeo abertamente por um dos dois projetos de NuTE jaacute que eles tinham comeccedilado mais ou menos juntos o Experimental e a Escola com Alexandre e Wilfried O Wilfried sempre mais com a ideia da escola e o Alexandre sempre com a ideia dos espetaacuteculos era mais ou menos assim (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 24)

Ao finalizar a fala numa velocidade incriacutevel o grupo desfaz a configuraccedilatildeo circular e retorna ao braccedilo de ferro agrave balbuacuterdia agrave torcida e agraves apostas Venera deixa escapar um susto Com os olhos esbugalhados escreve algo num bilhete aproxima-se dos atores e como quem faz uma aposta num dos combatentes

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A cerimocircnia continua mas agora o ator do projetor multimiacutedia veste um professoral jaleco branco Retira de um dos bolsos uma caneta laser e apontando para a imagem projetada inicia o que parece ser uma aula dedicada a uma turma de ensino meacutedio

ndash Bem como vimos em nossa uacuteltima aula a escola NUTe vinha pipocando desde os primeiros anos do Nuacutecleo de Teatro Experimental Num primeiro momento os cursos satildeo ministrados por Wilfried Krambeck que logo na sequecircncia se transforma em coordenador-pedagoacutegico possibilitando que outros membros do nuacutecleo ministrem cursos Atenccedilatildeo pessoal menos barulho por favor isso aqui pode cair na prova Noacutes vamos chamar essa primeira fase da escola NUTe de Krambeck in Cursos Sobre isso noacutes conversamos bastante em nossa uacuteltima aula espero que todos estejam lembrados Quem faltou nesse dia e natildeo quer tomar bomba no exame recomendo estudar o livro da paacutegina 85 agrave 111

ndash Jaacute a segunda fase da escola NUTe se potildee em movimento quando o nuacutecleo comeccedila a trazer importantes nomes do teatro nacional os quais ministram cursos que desencadeiam o processo sem volta agrave primeira Escola Livre de Teatro de Santa Catarina Gostaria que vocecircs anotassem tambeacutem este ponto temos certeza de ser a primeira Escola Livre de Teatro do Vale do Itajaiacute poreacutem algumas pessoas acreditam que o NUTe possa ser a primeira Escola Livre de Teatro de toda Santa Catarina Sendo ou natildeo algo fundamental que acontece nessa segunda

joga o bilhete sobre a mesa A cena natildeo para Suavemente deixamos o poratildeo Na antiga Sala-Sede do NUTe o ritual de aclamaccedilatildeo ldquomestre mestre mestrerdquo segue sem nenhuma novidade Alexandre se irrita e interrompe a cena Pergunta ao grupo se haacute algum motivo para tanta repeticcedilatildeo O grupo se dissolve em torno do uacutenico ator de peacute e se refaz em torno de Alexandre Novamente com o mesmo cerimonial repetem ldquomestre mestre mestrerdquo Ainda mais irritado Alexandre balanccedila a cabeccedila numa desaprovaccedilatildeo que mastiga fogo pelos olhos o que deixa a cena muito engraccedilada Sem poder conter acaba me saindo uma gargalhada Imediatamente o grupo abandona Alexandre e me circula dizendo ldquomestre mestre mestrerdquo Continuo rindo e Alexandre acaba achando graccedila tambeacutem Por fim um ator que estava separado do grupo liga o projetor multimiacutedia e todos os demais passam a reverenciar a imagem projetada dizendo ldquomestre mestre mestrerdquo

dr joseacute ronaldo faleiro

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fase eacute que os alunos NUTe tecircm a possibilidade de assistir a aulas de Thiers Camargo Irene Ravache Joseacute Possi Neto Roland Zwicker Jorge Cherques Walmor Chagas Pepita Rodrigues Eduardo Dolabella Vamos chamar essa Segunda Fase da Escola NUTe de Grande Mestres

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Contudo ndash retorna o ator professor - se vocecircs fizeram a tarefa de casa que deixei semana passada jaacute sabem que dentre tantos dois cursos foram fundamentais nesse processo Eles satildeo citados veementemente em quase todas as entrevistas realizadas pela pesquisa e publicadas no blog wwwnuteparatodoswordpresscom Ganha um ponto positivo na prova quem primeiro me disser o nome dos professores que deram esses cursos

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Muito bem eacute isso mesmo Trata-se em primeiro momento do curso de Aprimoramento em Teatro Universal dado por Joseacute Ronaldo Faleiro e alguns anos mais tarde o curso Treinamento Cotidiano do Ator dado por Carlos Simioni e Ricardo Pucceti

Joseacute Ronaldo Faleiro natural de Porto Alegre retorna ao Brasil depois de longa estadia na Franccedila ndash de 1972 a 1986 ndash onde defenderaacute sua tese de doutorado ndash La Formation de lacuteActeur agrave partir des Cahiers dacuteArt Dramatique de Leacuteon Chancerel et des Cadernos de Teatro dacuteO Tablado Aceita voltar por insistecircncia

de Olga Reverbel entatildeo professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que havia sido convidada a lecionar temporariamente na licenciatura em artes da Universidade Regional de Blumenau (Furb) Faleiro acaba assumindo aleacutem da pesquisa e do ensino tambeacutem a chefia da Divisatildeo de Promoccedilotildees Culturais nesta universidade Uma vez em Blumenau sofre grande impacto ao assistir O Homem do Capote e Outros Seres espetaacuteculo que lhe pareceu muito proacuteximo ao teatro contemporacircneo europeu Impressionado com o fato de um grupo de teatro amador do interior de Santa Catarina estar realizando montagens com elementos pesquisados por um teatro que vinha acompanhando em especial na Franccedila e na Alemanha passa a se aproximar do entatildeo Nuacutecleo de Teatro Experimental

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Em maio de 1987 e em marccedilo de 1988 Faleiro ministra para o NUTe o curso de Aprimoramento Teoacuterico Praacutetico em Teatro Universal o qual conforme podemos observar na inscriccedilatildeo deste aluno consistia do seguinte programa

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ndash O curso mobiliza novas forccedilas e intensifica

o combate entre as jaacute existentes ndash escolar e experimental ndash dentro do nuacutecleo Mais que isso Faleiro torna-se uma espeacutecie de mestre dos nutes

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Nutes em busca de Nutrientes encontram em Faleiro uma referecircncia teatral Passam a frequentar sua casa emprestam livros de sua biblioteca pessoal um impressionante acervo sobre teatro que superava em muito as bibliotecas da regiatildeo Cabe lembrar

que estamos na deacutecada de 80 natildeo existe internet a dificuldade de acessar produccedilotildees contemporacircneas eacute imensa a maior parte das informaccedilotildees se encontra apenas em material impresso importado e caro Generosamente esse senhor disponibiliza parte de seu tempo sua casa e sua biblioteca a esses jovens No recorte aperitivo que recebemos da entrevista realizada com Roberto Murphy jogo nuacutemero 2 eacute possiacutevel perceber isso com mais clareza

Ele trouxe uma biblioteca de teatro Todas as paredes da casa dele eram repletas de livros E tinha um palco no meio onde tudo era livro de teatro de arte em geral mas basicamente teatro O banheiro da casa dele era cheio daqueles Aquelas coisas de guardar sapatos aquilo era cheio de livros E a gente ia pra laacute passava a tarde laacute ele fazia uma torta de maccedilatilde com mel e chaacute de natildeo sei o quecirc E conversa conversa Aquilo foi nutrindo muito a gente E ele comeccedilou a ter contato com o Wilfried com todos os fundadores laacute do NuTE e comeccedilou a haver um fervo muacutetuo Aquilo ali foi revolucionaacuterio O contato do Faleiro com o Alexandre foi demais E isso provocou em todos noacutes porque eu me considero um disciacutepulo deles todos desses dois principalmente assim como Giba eacute tambeacutem como Pepe eacute (entrevista com Roberto Murphy paacuteginas 6-7)

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Um bom exemplo desse contato que Murphy nos fala eacute o espetaacuteculo Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes concebido e dirigido por Alexandre Venera contando com assessoria de Ronaldo Faleiro E assim bem nutrido este Nuacutecleo de

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Teatro Experimental teraacute condiccedilotildees alguns anos mais tarde de vir a ser Nuacutecleo de Teatro Escola Olha pessoal o barulho taacute demais Natildeo quero colocar ningueacutem pra fora hoje mas se for preciso vai pra direccedilatildeo sim senhor Os nossos amigos que jaacute estatildeo com duas advertecircncias sabem que mais uma visita ao diretor acarreta suspensatildeo correto Eacute muito chato isso de ter que ficar parando a aula pra pedir silecircncio Quero que todo mundo anote o que vou passar no quadro agora Eu disse todo mundo O colega natildeo vai anotar por quecirc Isso natildeo eacute desculpa meu caro se esqueceu do caderno em casa pega uma folha emprestada anota e depois passa a limpo Pessoal atenccedilatildeo isso aqui com certeza vai cair na prova

Ascenccedilatildeo e Queda do Impeacuterio NuTe

Primeira Fase ndash Krambeck in CursosSegunda Fase ndash Grandes Mestres

Terceira Fase ndash Nuacutecleo de Teatro EscolaQuarta Fase ndash Intrigas decadecircncia e morte

ndash Na aula de hoje estamos vendo os principais acontecimentos entre a Segunda e a Terceira Fase Mais propriamente as condiccedilotildees de possibilidade que permitiram essa passagem Jaacute conversamos sobre a importacircncia de Joseacute Ronaldo Faleiro e agora iremos falar um pouco sobre o curso dado por Carlos Simioni e Ricardo Pucceti Treinamento Cotidiano do Ator24

24 Durante a pesqui-sa encontramos um registro audiovisual deste curso o qual soma cerca de 60 mi-nutos Para assistir ao curso Treinamen-to Cotidiano do Ator acesse o endereccedilo wwwyoutubecomatchv=YBxOZogxf0A

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

Em 1991 o NuTE que estaacute passando a ser NUTe jaacute dispotildee em seu curriacuteculo de importantes montagens O Homem do Capote e outros Seres Variante Woysek-Mauser Macbethrsquos uma interferecircncia na histoacuteria A ousadia experimental bem como a insistente pesquisa em Artaud e Grotowski chamam a atenccedilatildeo do grupo fundado por Luiacutes Otaacutevio Burnier jaacute na eacutepoca referecircncia internacional em Antropologia Teatral Trata-se do Laboratoacuterio Unicamp de Movimento e Expressatildeo LUME Ou como eacute chamado atualmente Nuacutecleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp

() a gente chamou muito atenccedilatildeo do pessoal do LUME pessoal do Teatro Antropoloacutegico Eugenio Barba a gente se aproximou muito dessa linha de trabalho A gente foi Se era experimental

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ali mesmo foi mais do que nunca Soacute que nessa eacutepoca exata eu acho que deixou de ser Teatro Experimental e passou a ser Teatro Escola (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 58)

ndash Como vocecircs podem perceber pela citaccedilatildeo acima esse curso intensifica as forccedilas experimentais dando-lhes vazatildeo permitindo ressonacircncias com a Antropologia Teatral Ao mesmo tempo fortalece as forccedilas escolares deixando o terreno pronto para a travessia da segunda agrave terceira fase onde se vai consolidar definitivamente o NUTe como Escola de Teatro O que parece irocircnico aqui eacute que a filiaccedilatildeo experimental se potencializa justamente como escola Dizendo de outra forma enquanto natildeo havia uma identidade a se remeter enquanto o inominaacutevel operava a experimentaccedilatildeo era caoacutetica e livre a partir do momento em que se reconhece uma filiaccedilatildeo que se constroacutei uma casa que se torna senhor proprietaacuterio da sua morada comeccedila a ser importante defendecirc-la contra os invasores e zelar por sua manutenccedilatildeo O devir experimental se reorganiza na identidade escola

() quando a gente montou Apocalypsis ainda natildeo tava dando aula natildeo Tava comeccedilando a montar a Escola Com Apocalypsis noacutes trouxemos mais um grupo de fora pra dar um curso de uma semana onde todo mundo entrava agraves sete e meia da manhatilde e saiacutea agrave uma da tarde da aula E daiacute tinha mais uma turma agrave noite pra quem natildeo podia durante o horaacuterio comercial neacute Esse curso com o LUME o Simione que eacute antropologia teatral pura Noacutes com Apocalypsis apresentamos pra levantar uma grana pra ajudar a pagar a vinda desses caras pra caacute E nessa eacutepoca comeccedilou a vir a terceira

fase que seria quando noacutes montamos a escola e comeccedilamos a dar aula (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 150)

ndash Os registros que permaneceram do curso e que estatildeo disponiacuteveis na biblioteca ndash wwwnutecombr ndash mostram a importacircncia dada ao momento Alguns que chegaram a ser datilografados possivelmente para serem utilizados em aulas posteriores carregam tiacutetulos como Anotaccedilotildees Antoloacutegicas de um dia de Trabalho Sobre Orientaccedilatildeo de Carlos Simioni e Ricardo Pucceti Outros escritos agrave matildeo cuidadosamente conservados talvez por serem a base dos demais documentos revelam um pouco a atmosfera do encontro

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O ator professor faz uma pausa bebe um gole de aacutegua em sua garrafinha de refrigerante diet depois estaciona os olhos em sua plateia Alexandre e eu encostados na parede da sala fizemos esperar Apoacutes alguns segundos percebemos que os demais atores tambeacutem estavam nos olhando Por fim dois deles balanccedilam os braccedilos e um tanto constrangidos noacutes aplaudimos o grupo Um dos atores comenta que ateacute entatildeo foi o que conseguiram produzir Alexandre parabeniza o grupo faz questatildeo de cumprimentar um a um os atores Gosta em especial dos momentos em que o professor ator quebra seu personagem falando do jogo de aperitivo nuacutemero 2 Comenta que a cena estaacute maravilhosa Todos sorriem Alexandre repete ldquoMuito bom muito bom mesmordquo Um dos atores pergunta o que poderia ser melhorado O diretor comenta que apesar de tudo funcionar muito bem a cena criada corre o risco de essencializar uma persona substancializar o ator professor num sujeito-personagem Um dos atores argumenta que a intenccedilatildeo da repeticcedilatildeo miacutetica ldquomestre mestre mestrerdquo seria justamente deslocar o personagem substancializado agraves forccedilas que o colocam em movimento Alexandre acredita que isso eacute possiacutevel que de certa forma a ironia fabrica esse desequiliacutebrio na cena que a estrutura criada pelo grupo pode permitir uma desterritorializaccedilatildeo do bloco de informaccedilotildees e abri-lo agrave experiecircncia do puacuteblico Mas para isso acontecer seria preciso ir mais a fundo injetar mais deliacuterios aos jogos retirar um tanto da mensagem da historinha

Um dos atores questiona o motivo disso pergunta se a proposta deste dia de trabalho natildeo seria justamente contar um histoacuteria a histoacuteria da escola NUTe Num tom de deboche o mesmo ator questiona como seria possiacutevel fazer isso sem servir ao puacuteblico alguns blocos de informaccedilatildeo ao menos com pedaccedilos-trechos de sujeitos de espaccedilos de tempo e finaliza dizendo que o puacuteblico precisa ter onde se agarrar para conseguir experimentar a encenaccedilatildeo O diretor discorda veementemente Numa explosatildeo de entusiasmo questiona a importacircncia da histoacuteria do NUTe para quem e para quecirc serviria contar essa histoacuteria O grupo olha para mim eu me calo Alexandre pergunta novamente Tento responder que existe relevacircncia histoacuterica em muitas coisas feitas pelo Nuacutecleo que nosso trabalho vale como um registro dessas accedilotildees para as proacuteximas geraccedilotildees do teatro Alexandre balanccedila a cabeccedila em tom negativo diz que isso tudo natildeo passa de burocracia de discurso comercial que serve para aprovar projetos como este no Ministeacuterio da Cultura ou para conseguir recursos numa empresa

Artisticamente falando continua o diretor natildeo serve para nada ldquoA arte natildeo eacute imitaccedilatildeo da vida mas a vida que eacute imitaccedilatildeo de algo essencial com o que a arte nos potildee em contatordquo25 Ele faz uma breve pausa observa o grupo por fim numa respiraccedilatildeo profeacutetica sustenta que o maior interesse da arte eacute a vida A grande pergunta que a arte nos ajuda a colocar diz ele eacute Como Viver A arte e em especial o teatro nos permite acessar mundos que as representaccedilotildees 25 Antonin Artaud

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as regras as normas cotidianas natildeo permitem Vivemos todos presos enjaulados a liberdade convencional eacute apenas uma cadeia com mais espaccedilo A funccedilatildeo da arte eacute nos ajudar a ir aleacutem dessas grades estouraacute-las romper com elas Mas isso natildeo se encontra representando uma historinha sobre o NUTe Alias natildeo haacute nada menos NuTE do que contar uma historinha sobre o NUTe O NuTE natildeo montava espetaacuteculos para entreter as pessoas muito menos para esclarecer conscientizar convencer sobre algo A proposta sempre foi libertar as pessoas libertar o pensamento o delas e o nosso Muitas vezes talvez na maioria das vezes ateacute as pessoas saiacuteam dos nossos espetaacuteculos se perguntando lsquomas o que isso quer dizerrsquo ou lsquoacho que natildeo entendi direito a mensagem do espetaacuteculorsquo ou ainda lsquoo que vocecircs queriam passar com issorsquo As pessoas estatildeo viciadas em comprimidos de significaccedilatildeo e natildeo param de pedir mais uma dose O nosso teatro negava essa dose noacutes natildeo diziacuteamos nada os nossos espetaacuteculos natildeo queriam ensinar nada queriacuteamos sim permitir agraves pessoas pensarem mas pensarem por si porque cada um precisa encontrar sentido no espetaacuteculo o sentido natildeo eacute o mesmo para todos ele natildeo estaacute pronto eacute preciso inventaacute-lo procuraacute-lo ao seu modo No fim das contas era isso que todos os nossos espetaacuteculos queriam dizer construa o seu sentido procure por ele natildeo eacute faacutecil noacutes sabemos mas estamos juntos nessa procura26 Invente um sentido para vocecirc pois natildeo haacute sentido nenhum neste espetaacuteculo assim como natildeo haacute nenhum sentido na vida Eacute preciso a todo momento fabricar criar

26 Comentaacuterio de Joseacute Ronaldo Faleiro ao revisar este trecho do ensaio ldquoOs espe-taacuteculos do AVS pro-vocavam isso por sua fragmentaccedilatildeo pela fragmentaccedilatildeo da sua estrutura narrativa pela surpresa quanto ao desempenho dos atoresrdquo

inventar Agora essa operaccedilatildeo soacute funciona quando a compartilhamos com algueacutem Por isso as macro linhas de significaccedilatildeo da vida fazem tanto sucesso Ao aprisionar as pessoas elas permitem a experiecircncia comum de estar vivo dentro de uma cela Na igreja no shopping na academia nas novelas da Rede Globo estaacute tudo pronto natildeo haacute necessidade nenhuma de criar Isso eacute o oposto do que estamos fazendo aqui pois o que queremos eacute estourar as grades da representaccedilatildeo

Um ator toma a palavra se dizendo confuso com a quebra da representaccedilatildeo proposta pelo diretor questiona se a realizaccedilatildeo disso natildeo quebraria tambeacutem a fronteira entre arte e vida Alexandre gosta muito da questatildeo dizendo que eacute exatamente isso o que acontece pois nisso que estamos trabalhando ldquo() o limite eacute muito estreito entre o que eacute vida e o que eacute arte Porque eacute uma arte na qual se decide a questatildeo ndash como viverrdquo27 Seria possiacutevel aceitar as coisas da forma como estatildeo isso tambeacutem eacute um como viver e apenas representaacute-las e nada mais Mas para isso natildeo precisamos da arte isso natildeo eacute arte isso eacute consumo Serve para os que vivem na Falta para os que vivem na Fome Para os que querem consumir existem os shoppings os restaurantes as pizzarias aqui estamos procurando por outra coisa Algo difiacutecil de atingir difiacutecil ateacute de dizer Algo que de uma forma ou de outra todos procuram Alguns procuram no dinheiro acreditam que quando tiverem muita grana vatildeo encontrar outros procuram numa pessoa num amor

27 Jerzy Grotowski Conferencia realiza-da em 1971 no Teatro Ateneum Publicada em The Theatre in Po-land Especial abril-maio 1975

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encontrariam nela outros ainda na fama no fetiche para esses estaria na accedilatildeo de ser adorado por muitos ou ainda procuram no prazer na droga na comida no sexo Quantos estocircmagos encontramos todos os dias caminhando pelas ruas em busca sempre em busca quantas genitaacutelias saem de casa e vatildeo para a festa em busca sempre em busca quantas maacutequinas-caccedila-niacutequel registram dia a dia mais e mais ansiedades monetaacuterias Talvez os uacuteltimos humanistas de plantatildeo queiram fazer algo por eles Queiram ajudaacute-los Mas noacutes que natildeo temos certeza nem da nossa busca natildeo podemos ajudar ningueacutem Natildeo temos como salvar o mundo O que conseguimos fazer eacute pouco muito pouco e esse pouco eacute continuar procurando ao nosso modo atraveacutes da arte A grande diferenccedila entre essa multidatildeo da Fome-Falta e noacutes eacute que eles procuram por algo que lhes sacie o desejo enquanto noacutes procuramos mobilizar nossas vontades para inventar mundos formas de existir de experimentar a vida Trata-se de uma guerra entre as paixotildees tristes e as alegres

O grupo compartilha um momento de grande intensidade Um dos atores pergunta o que contrapotildee nossa alegria agrave representaccedilatildeo Ou seja qual seria exatamente o problema de contarmos uma historinha de passarmos uma mensagem ao nosso puacuteblico O problema responde Alexandre eacute que ao impor ao nosso puacuteblico um mundo provisoacuterio que fabricamos para nosso conforto pessoal mundo que lhes obrigamos a engolir goela abaixo roubamos

do nosso puacuteblico o que haacute de melhor de mais revolucionaacuterio na arte a produccedilatildeo de sentido produccedilatildeo de si produccedilatildeo de mundos

Se noacutes resolvemos o problema para nosso puacuteblico noacutes o alienamos noacutes o acorrentamos agrave fraacutegil saiacuteda que conseguimos encontrar Saiacuteda que geralmente natildeo eacute tatildeo boa quanto gostariacuteamos que fosse Um ator se dizendo um pouco confuso pergunta que problema se estaria tentando resolver O diretor responde que se trata sempre de um mesmo e uacutenico problema seja para a Arte para a Religiatildeo para a Ciecircncia O problema eacute Como Viver

O diretor propotildee que todos suspendam por alguns segundos seus assentos existenciais e que mergulhem sem medo de encontrar aquilo que jaacute sabem mas que se esforccedilam para esconder de si mesmos Ou seja

I ndash Que a vida natildeo tem nenhum sentidoII ndash Que enquanto estivermos vivos inevitavelmente iremos sofrerIII ndash Que ao final dessa vida sem sentido e acometida de dores iremos todos morrer tudo terminaraacute

Dizendo de outra forma a presenccedila absoluta da morte da finitude desse animal que somos nos obriga diariamente a inventar sentidos agraves nossas vidas Essa invenccedilatildeo pode se dar de vaacuterias formas A questatildeo eacute que algumas delas nos aprisionam enquanto outras nos libertam Aqui eacute onde podemos afirmar sem medo que a arte eacute superior agrave religiatildeo e agrave ciecircncia Pois se o padre e o cientista precisam convencer a todos

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que suas respostas satildeo as melhores quando natildeo em acessos de arrogacircncia as uacutenicas possiacuteveis noacutes artistas precisamos apenas de espaccedilo para criar e doar nossa arte Vocecircs entendem por que eacute tatildeo importante esvaziar a mensagem do espetaacuteculo Se nossa intenccedilatildeo eacute libertar as pessoas e com isso libertar a noacutes mesmos a interpretaccedilatildeo tambeacutem deve ser livre Natildeo podemos direcionar se natildeo queremos ser direcionados agraves grandes respostas agraves saiacutedas hegemocircnicas que durante muito tempo acreditou-se boas para todos Sabemos hoje que cada um precisa criar sua saiacuteda e assim experimentar uma vida livre

Voltando ao nosso espetaacuteculo Se pretendemos contar uma vida se nosso trabalho aqui se resume a expressar algo que foi vivido o que precisamos fazer eacute esvaziar as mensagens Esvaziar para que o puacuteblico possa preencher como achar melhor ou como conseguir Na arte a vida natildeo se expressa resolvendo a vida Isso eacute o mais importante ldquo() a vida soacute pode ser expressa na arte pela falta de vida e pelo recurso agrave morte por meio das aparecircncias da vacuidade da ausecircncia de toda mensagemrdquo (KANTOR 2001 p 201)

Vocecircs entendem isso Os atores sinalizam que sim agradecem a palestra Alexandre dando-se conta de que haviacuteamos passado um bom tempo com eles lembra-se dos outros grupos Pergunta se ainda possuem material para continuar Um ator sorrindo muito quer compartilhar uma ideia que considera brilhante Alexandre motiva o grupo a trabalhar Saiacutemos

Ao chegar ao Grande Auditoacuterio somos surpreendidos por relacircmpagos atravessando o palco Duas sete vinte e cinco impressionantes descargas eleacutetricas formam uma espeacutecie de parreira de uva eletromagneacutetica Do centro do palco um ator completamente nu levanta-se abre os braccedilos e pede

ndash Potecircncia maacutexima Imediatamente seu corpo eacute atravessado

pelos raios obrigando-o a uma danccedila caoacutetica que parece ao mesmo tempo alimentar-se de uma dor insuportaacutevel e de uma alegria febril Desfragmentando cada parte do seu corpo o ator comeccedila a numerar as atividades realizadas pelo NUTe no ano de 1993

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Assim que finaliza a uacuteltima frase os raios enfraquecem o ator oscila procura recuperar o focirclego um segundo ator lhe traz uma toalha branca Ele rejeita faz menccedilatildeo de querer continuar Os demais atores arrastam uma corda formando um quadrado em torno do ator eleacutetrico que agora ganha luvas de boxe e passa a lutar com sua sombra Mais uma vez

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lhe trazem a toalha ele lanccedila a toalha agrave plateia em sinal de desprezo e continua lutando Tambeacutem com luvas de boxe entra no ringue o ator oponente Ambos se estudam pesquisam a melhor forma de avanccedilar sobre o adversaacuterio caminham em passos danccedilantes O oponente aproveita um deslize do ator eleacutetrico e ataca

ndash Ateacute quando vocecirc acha que vai aguentarndash Vocecircndash Eu te fiz uma pergunta idiota ateacute quando

vocecirc acha que vai aguentarndash Eu eu natildeo sei mas Mas vocecirc foi

justamente vocecirc quendash Taacute taacute taacute Jaacute sei Mas isso passou

Estamos agora em outro momentondash Outro momento Como assim Eacute a minha

vida eu soacute tenho esta vida Vocecirc me garantiu que eu poderia

ndash E vocecirc pode eacute claro que pode mas como professor Convenhamos

ndash Natildeo Natildeo Natildeo desta vez Natildeo vou mais acreditar natildeo desta vez natildeo Natildeo Eu queria fazer cinema o teatro me pareceu um bom caminho Montar espetaacuteculos eu pensei vou montar bons espetaacuteculos que me ajudem a comeccedilar o meu cinema Eu estava fazendo isso quando vocecirc apareceu Apocalypsis Variante Woizec-Mauser Macbethrsquos Claro que eram eram sim bons espetaacuteculos Mas aiacute vocecirc veio me convencer de que eu tinha responsabilidades que natildeo seria possiacutevel sobreviver assim do teatro que eu tinha famiacutelia que precisava ganhar dinheiro e que isso e aquilo Vocecirc me

convenceu de que eu deveria montar uma escola de teatro Durante vaacuterios anos eu lutei contra essa ideia Meu amigo Wilfried sempre insistiu que deveriacuteamos fazer do NuTE uma escola de teatro mas meu projeto eram os espetaacuteculos Achava que a escola iria me atrapalhar Foi vocecirc quem me convenceu vocecirc e mais ningueacutem eu nunca quis isso e agora vocecirc vem me dizer que

ndash Natildeo haacute pra onde ir aqui eacute o auge Vocecirc quer ser professor o resto da vida

ndash Quero fazer arte Nosso trato era esse Eu daria aula para ganhar um dinheirinho e em troca poderia fazer minha arte

ndash Tudo bem eu lembro do nosso acordo Mas e eu o que estou ganhando com isso

ndash Eu tenho me dedicado a planejar aula cobrar mensalidade fazer relatoacuterios de atividade prestaccedilatildeo de contas borderocirc Vocecirc natildeo estaacute contente essa merda toda ainda natildeo basta

ndash Claro que natildeondash O que mais vocecirc querndash Quero tua almandash Mefistoacutefelesndash Ah Que coisa chata olha meu querido

eu tenho vaacuterios nomes Chame como achares que Mas espera espera ndash sorrindo ndash eacute verdade teve um outro professor mas isso jaacute faz muito tempo que me chamava assim Engraccedilado Mas e entatildeo vai vender

ndash Eu natildeo sei vender significa que vou para o inferno quando morrer eacute isso

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ndash Ah Ah Ah ndash gargalhada fatal ndash Que bobiccedila hein nego Isso de inferno eacute uma grande baboseira Deus e o diabo satildeo invenccedilotildees humanas demasiadamente humanas Nada disso existe Coisas que as titias contavam aos sobrinhos peraltas para se divertirem Ateacute que foi uma boa invenccedilatildeo durou vaacuterios seacuteculos mas hoje em dia Deus estaacute morto assim como toda a parafernaacutelia metafiacutesica que o cercava O que quero saber eacute se vocecirc vai ou natildeo vai me vender essa porra de alma Tocirc ficando nervoso

ndash Taacute tudo bem Mas afinal o que seria te vender minha alma entatildeo Se Deus estaacute morto ainda existe alma

ndash Natildeo natildeo Claro que natildeo babaca Essa alma que supostamente seria sua essecircncia seu eu verdadeiro em nada me interessa essa natildeo existe nem nunca existiu O que quero satildeo tuas experiecircncias de vida a maneira como vocecirc se relaciona com o mundo teus acordos poliacuteticos teu modus vivendi Se preferes uma palavra espinozeana tua eacutetica Vocecirc aceita

Ambos retiram as luvas de boxe os demais atores desatam as cordas do ringue Sentam-se na ribalta e olham para Alexandre Constrangido ele se levanta olha para traacutes agrave porta do auditoacuterio caminha um passo em direccedilatildeo Os atores ficam atocircnitos Eu me dou conta de que a cena terminou e aplaudo o grupo todos aplaudem O diretor retorna ao local de onde assistia ao ensaio retira um cigarro do maccedilo e propotildee ao grupo conversar ao ar livre A proposta eacute bem aceita Saiacutemos

Em frente agrave antiga sala do NUTe Alexandre

acende um cigarro e lembra do cafezinho Vai ateacute a secretaria da Carona Escola de Teatro e retorna com uma garrafa de cafeacute e vaacuterios copinhos e serve a todos Parabeniza o grupo pela cena Um dos atores comenta que se trata de um trecho que a intenccedilatildeo eacute desenvolver mais a sequecircncia O diretor pede para que se mantenha a forccedila cecircnica esta teria lhe impressionado muito Elogia a atuaccedilatildeo dos atores e a brincadeira com o tema claacutessico quase clichecirc da luta interna Acredita que ao problematizar um tema ao qual constantemente se recorre seja possiacutevel falar dele e ateacute se utilizar dele para dizer algo Chama a atenccedilatildeo do grupo para o que considerou uma pequena dificuldade as imagens atravessadas pelo conceito de alma Comenta que existe uma crise na filosofia e em especial na psicologia contemporacircnea sobre esse tema Sabendo que me dedico a estudar o conceito Alexandre me pede para falar um pouco a respeito

Acendo um cigarro tomo um gole de cafeacute e comeccedilo dizendo que gostei muito da cena Ficou muito forte pra mim o funcionamento em rede do sujeito Ou seja pareceu-me que o ator eleacutetrico depende para agir de toda uma rede em sua volta Tal qual a muacutesica de um raacutedio que soacute toca quando ligamos o aparelho agrave tomada de energia na sala de nossa casa O que geralmente esquecemos eacute que essa tomada estaacute conectada a um cabo que segue aos disjuntores estes por sua vez estatildeo ligados ao reloacutegio que contabiliza e distribui energia para a casa o qual estaacute ligado agrave rede de baixa tensatildeo que estaacute ligada atraveacutes dos

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transformadores acoplados aos postes agrave rede de alta tensatildeo essa rede de alta tensatildeo estaacute ligada a uma usina de distribuiccedilatildeo de energia essa usina de distribuiccedilatildeo estaacute ligada a uma usina de geraccedilatildeo de energia onde geradores acoplados agrave correnteza da aacutegua produzem energia eleacutetrica essa aacutegua estaacute ligada a vaacuterios rios esses rios a vaacuterios coacuterregos esses coacuterregos a vaacuterias nascentes essas nascentes ao barro agrave chuva e assim ao infinito

A mesma infinitude rizomaacutetica acontece em cada um dos componentes do raacutedio de onde sai a muacutesica Cada parafuso cada pedaccedilo de plaacutestico cada componente eletrocircnico ali presente eacute antecedido por uma rede infinita que o faz agir daquela forma e natildeo de outra A rede que antecede o capacitor eletroliacutetico e o obriga a agir de tal forma que possamos ouvir um programa de jazz em tal horaacuterio e em determinada frequecircncia Algueacutem conseguiria culpar responsabilizar ou afirmar que esse capacitor eletroliacutetico escolhe atraveacutes do livre arbiacutetrio que lhe foi concedido por Deus agir dessa forma Obviamente que natildeo

A rede que antecede a accedilatildeo humana eacute igualmente infinita Nossas escolhas resultam sempre da imposiccedilatildeo dessas redes O que conseguimos fazer eacute nos colocar agrave disposiccedilatildeo de algumas redes Podemos nos aproximar de algumas linhas de forccedila e nos distanciar de outras Mas isso eacute muito diferente de escolher a muacutesica que vamos tocar Esse raacutedio que somos natildeo escolhe sozinho a muacutesica que toca Ao mesmo tempo essa escolha tambeacutem natildeo eacute

feita por um capacitor eletroliacutetico dentro dele nem pela matildeo que ajusta a frequecircncia nem pelo locutor responsaacutevel pela programaccedilatildeo nem pelo muacutesico que compocircs a canccedilatildeo

ndash Mas algo em noacutes prefere ouvir essa e natildeo aquela muacutesica ndash interrompe um ator

ndash Sim mas que algo seria esse ndash pergunto ao grupo ndash Haveria uma substacircncia uma alma agindo dentro de vocecirc Vocecircs percebem como eacute ingecircnuo o pensamento atomista Pensar aquilo que quer em noacutes como uma unidade uma substacircncia isolada um Eu eacute o mesmo que dizer que quem escolhe a muacutesica eacute o capacitor eletroliacutetico do raacutedio Quando algo quer em noacutes esse algo estaacute em muitos eacute atravessado por muitos composto por muitos Multidotildees humanas e inumanas nos habitam e nos forccedilam a querer assim e natildeo de outra forma Haveria como culpar responsabilizar criminalizar individualmente o sujeito por tocar essa e natildeo aquela muacutesica ndash da mochila retiro O Crepuacutesculo dos Iacutedolos e leio um trecho do oitavo aforismo de Os Quatro Grandes Erros

Qual pode ser a nossa doutrina Aquela para a qual ningueacutem daacute ao homem suas qualidades nem Deus nem a sociedade nem os pais ou os antepassados nem ele proacuteprio () Ningueacutem eacute responsaacutevel pelo fato de existir dessa ou daquela maneira nesta ou naquela condiccedilatildeo neste ou naquele meio () Que ningueacutem seja mais tomado como responsaacutevel que o modo de existir natildeo possa mais levar a uma prima causa que o mundo nem como sensorium nem como espiacuterito seja mais uma unidade isto e somente isto eacute a grande libertaccedilatildeo ndash eacute por isso e unicamente por isso que foi restaurada a inocecircncia

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do devir A Ideia de Deus foi ateacute agora a principal objeccedilatildeo contra a existecircncia Noacutes negamos Deus negamos em Deus a responsabilidade eacute com isso e unicamente com isso que salvamos o mundo 28

Assim se Fausto vende sua Alma a Mefistoacutefoles natildeo eacute por escolha individual mas sim por ser a uacutenica accedilatildeo possiacutevel na rede que Fausto habita Acho que vocecircs acertam quando transferem o problema do sujeito para a eacutetica No fundo eacute isso Se sou uma multidatildeo ou se um coletivo de forccedilas me carrega com quais outras multidotildees traccedilo alianccedilas Ou seja que tipo de vida experimento se me aproximo dessa linha de forccedila se me distancio daquela

E por falar em eacutetica achei muito feliz o momento em que vocecircs evidenciam que a organizaccedilatildeo da Escola NUTe natildeo se fez a partir de uma disputa entre Alexandre e Wilfried Mas sim entre forccedilas infinitamente maiores que eles Imaginar essas forccedilas combatendo em um Alexandre isolado do mundo pode ser um recurso didaacutetico bastante eficiente mas eacute onde vocecircs correm perigo em minha opiniatildeo de serem capturados pela Identidade-Eu-Alma

Seria preciso distanciar suficientemente Alexandre de NUTe para que o asseacutedio eacutetico que parte de Mefistoacutefoles pudesse se evidenciar como Asseacutedio de Apolo Ou seja eacute Apolo quem quer sobrepujar atraveacutes da razatildeo da temperanccedila da organizaccedilatildeo as forccedilas criativas e caoacuteticas de Dioniso experimental O conjunto de forccedilas que estou nominando como Dioniso resiste por um bom tempo elas insistem lutam vocecircs compotildeem imagens excelentes

28 Friedrich Nietzs-che A Vontade de Po-der Aforismo 488

nesse sentido Se no final Dioniso abandona a guerra por cansaccedilo desgaste ou por realmente ter sido ultrapassado por Apolo se Apolo vence no final mais uma vez nos damos conta de que natildeo estaacute em jogo ldquo() nenhuma lsquosubstacircnciarsquo antes algo que anseia por fortificaccedilatildeo e que apenas indiretamente quer-se lsquomanterrsquo (ele quer ultrapassar-se)rdquo29

No exato momento que finalizo a citaccedilatildeo do aforismo o grupo que ensaia na sala ao lado interrompe a conversa com seu jaacute enfadonho

ndash Mestre mestre mestreO grupo com o qual estamos conversando

natildeo gosta da intervenccedilatildeo e pede gentilmente aos intrusos que retornem ao seu local de ensaio Sem lhes dar a miacutenima importacircncia continuam

ndash Mestre mestre mestreDe repente uma explosatildeo fumaccedila gritos de

dor um ator atingido na perna chora pedindo socorro Os atores intrusos olham para o ceacuteu e clamam

ndash Mestre mestre mestre Sobre nossas cabeccedilas desce num

paraquedas multicolorido o Ator-Professor que agora porta uma metralhadora de plaacutestico e dezenas de rojotildees os quais acende e despeja agraves gargalhadas Todos se afastam procurando local seguro mas o grupo intruso continua com a cena bizarra

ndash Mestre mestre mestreAo pisar no chatildeo o Ator-Professor-

Guerrilheiro inicia uma panfletagem

29 Friedrich Nietzs-che A Vontade de Po-der Aforismo 488

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Agrave matriacutecula no curso de teatro do NUTe ele convida os assustados atores escondidos os transeuntes os funcionaacuterios do teatro ndash que a essa altura jaacute haviam chamado a poliacutecia e a toda forccedila de seus pulmotildees exigiam explicaccedilotildees bem como responsaacuteveis pelo acontecido ndash e tambeacutem os passarinhos as lantejoulas e os caminhotildees Em meio a tantos convites o Ator-Professor-Guerrilheiro insiste em entregar o cartaz a uma furiosa funcionaacuteria de crispados dedos em riste a qual inicialmente esmaga o papel A4 no chatildeo sob seus delicados sapatos azuis de nuacutemero 43 recebendo-o logo na sequecircncia em sua boca pelas matildeos do Ator-Professor-Guerrilheiro que com certa brutalidade ali o coloca fazendo com que a funcionaacuteria furiosa se cale e se alimente do material o que soacute consegue com o apoio de um elevado nuacutemero de bofetadas e da ameaccedila de trocar o papel por dois rojotildees acesos

Dada a balbuacuterdia todos os demais que ensaiavam cada qual em local distinto agrupam-se em frente agrave antiga sala do NUTe O grupo que estava no pequeno auditoacuterio reclama o cartaz utilizado na panfletagem Acusam o grupo do Ator-Professor-Guerrilheiro de roubar seu aperitivo argumentam que o cartaz estava no jogo de aperitivos de nuacutemero 4 escolhido por eles O grupo exige a devoluccedilatildeo imediata do aperitivo jaacute que passaram boa parte do ensaio trabalhando sobre ele

Infelizmente eles natildeo ouvem e continuam encenando ou o que quer que fosse aquilo que estavam fazendo O Ator-Professor-Guerrilheiro sobe nos ombros dos demais atores de seu grupo que estranhamente sossegaram a cantilena miacutetica e agora estatildeo perfilados em formaccedilatildeo de piracircmide humana Assim que chega ao topo para desespero e pavor de todos dispara sua metralhadora

() natildeo deu uma semana um mecircs depois ele tava montando um curso laacute dentro do Teatro de interpretaccedilatildeo pra cinema e TV e vem uma ordem da direccedilatildeo do teatro () vieram laacute jogaram o cartaz na minha mesa e ldquoolha noacutes temos um contrato com uma outra escola que vai fazer cursos de cinema e viacutedeo Vocecircs satildeo teatro natildeo pode ter duas escolas fazendo a mesma coisa aqui dentrordquo Foi pra mim um baque grande ldquopocirc como eu faccedilo interpretaccedilatildeo de cinema e TV haacute mais de cinco anosrdquo Tinha programas o documentaacuterio do Hermann Baumgarten eacute do terceiro curso que a gente fez Gerou um documentaacuterio neacute aniversaacuterio da TV Galega Entatildeo tinha Aiacute vem essa ldquoPocirc mas quem eacute que taacute dando esse cursordquo ldquonatildeo isso eu natildeo posso dizer diz a gerente do teatrordquo (entrevista com Alexandre Venera paacuteginas 84-85)

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Os disparos atingem dois atores o carro funeraacuterio da prefeitura e um peacute de abacate no estacionamento Com o sangue correndo pela calccedilada o motorista de smoking ndash por sinal um beliacutessimo smoking preto ndash avaliando os estragos na lataria do carro e com as folhas do abacateiro pedindo clemecircncia eu me sinto na obrigaccedilatildeo de restabelecer a ordem Atraveacutes dos poderes que me foram confiados pelo Ministeacuterio da Cultura no afinco de coordenar este projeto convoco todos os atores que compotildeem este grupo terrorista e sumariamente os demito

Numa gargalhada estrondosa o Ator-Professor-Guerrilheiro do alto de sua piracircmide humana sem a menor consideraccedilatildeo agrave minha posiccedilatildeo coordenativa aciona mais uma vez sua terriacutevel metralhadora

Houve aiacute uma coisa Um mal-estar que eu natildeo sei de onde surgiu e o Alexandre tomou a decisatildeo de mandaacute-las embora E nesse iacutenterim como na eacutepoca elas faziam parte do meu grupo do Arte Atroz ndash eu acho que aiacute surgiu essa rusga neacute ou vocecirc eacute Arte Atroz ou vocecirc eacute NuTE ndash ele as mandou embora e eu me vi e natildeo me arrependo disso jaacute conversamos vaacuterias vezes sobre isso eu me vi na obrigaccedilatildeo e faria de novo eu apoiei a saiacuteda delas saindo junto com elas E nessa eacutepoca a gente pensou ldquoporque natildeo montar uma escola de teatro que natildeo seja o NuTE que fosse nossardquo (entrevista com Giba de Oliveira paacutegina 19)

O grupo que ensaiava no pequeno

auditoacuterio exige justiccedila Levantando faixas e cartazes iniciam uma manifestaccedilatildeo em prol dos direitos aperitivantes Em marcha repetem frases de efeito como ldquoo grupo unido jamais

seraacute vencidordquo ou ldquo um dois trecircs quatro cinco mil enfia a metralhadora dentro do barrilrdquo ou ainda ldquoqueremos o nosso aperitivordquo e o mais recorrente entre todos ldquomonstro monstrengo monstrinho devolva jaacute o nosso aperitivinhordquo

Tento negociar com o grupelho terrorista oferecendo aperitivos natildeo ensaiados e ateacute mesmo algumas citaccedilotildees filosoacuteficas peccedilo que em troca eles libertem os aperitivos que estatildeo fazendo de refeacutens Alguns atores terroristas demonstram interesse na proposta A metralhadora de plaacutestico faz uma pausa Eles conversam e apoacutes alguns minutos chegam a um acordo Aceitam a proposta mas querem um helicoacuteptero para a fuga Apenas para ganhar tempo digo que vamos tentar conseguir peccedilo que mantenham a calma O grupelho terrorista ameaccedila sacrificar mais um dos aperitivos do grupo protestante caso suas exigecircncias natildeo sejam imediatamente atendidas A tensatildeo eacute enorme Alexandre me pergunta se consigo proteger a descida pela escada Digo que posso tentar mas que seria loucura descer agora o risco de ser atingido eacute grande demais Ele insiste eu monto a proteccedilatildeo Escada abaixo ele corre mas no uacuteltimo degrau o Ator-Professor-Guerrilheiro percebe a movimentaccedilatildeo e dispara sem nenhuma compaixatildeo

() uma semana antes tava trabalhando e ali os jurados o pessoal que tava no juacuteri um deles era conhecido natildeo lembro quem mas ele ldquopocirc e Alexandre nada mais de teatrordquo Ah natildeo Uma hora saiu natildeo eacute maacutegoa mas eacute o tiro que tinha pra dar neacute ldquocara foi muito tempo inuacutetil fuacutetil que eu gastei queimei minha vida e nada apareceu

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neacuterdquo Hoje a gente taacute falando de uma escola neacute mas era assim uma uma coisa que ficava muito bairrista tinha que taacute andando em cima de cascas de ovos neacute cuidando pra natildeo quebrar porque por picuinhas gente que achava que tava lutando por um mercado por alunos (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 83)

Alexandre eacute atingido no ombro direito Mesmo ferido continua correndo Consegue chegar ao ldquoTudo por R$ 199rdquo da esquina Entra na loja Poucos segundos depois retorna com um helicoacuteptero vermelho em suas matildeos Em frente ao caixa raacutepido do Bradesco grita ao grupo terrorista que estaacute com o helicoacuteptero que iraacute deixaacute-lo ali na calccedilada Pede para que mantenham a calma que estamos cumprindo com todas as exigecircncias deles e que eacute a vez deles cumprirem com o combinado

O grupo terrorista concorda Os aperitivos do grupo protestante satildeo libertados Os atores do grupo protestante se emocionam abraccedilam seus aperitivos eacute um momento de muita comoccedilatildeo soluccedilos e laacutegrimas

O grupo terrorista desce a escada atravessa a rua estaacute cerca de poucos metros do helicoacuteptero quando chega a poliacutecia armada da cabeccedila aos peacutes com bolinhas de papel Temendo ter de passar pelos mesmos exames ultrassonograacuteficos impostos a Joseacute Serra durante o pleito de 2010 os atores terroristas se entregam satildeo algemados e levados sob aplausos ao camburatildeo Um suspiro de aliacutevio perpassa todos os demais Pergunto a Alexandre se estaacute tudo bem com ele Ele responde que sim mas que

precisa fumar um cigarro Sorrindo pergunta se quero um cafeacute respondo que sim e ele mais uma vez se dirige agrave secretaria da Carona Escola de Teatro Sentado no chatildeo encostado na parede do teatro comeccedilo a rabiscar alguma coisa em meu bloco de anotaccedilotildees Um aperitivo libertado soluccedila no colo de um ator ao meu lado Uma sensaccedilatildeo de chuva forte que termina se espalha pela calccedilada Entretanto ao levantar os olhos do papel-risque-rabisque vejo caiacuteda bem em minha frente a garrafa teacutermica da Carona Escola de Teatro Grito tentando avisar Alexandre mas eacute tarde demais Ele retorna peacute ante peacute de costas de dentro da secretaria com as matildeos estendidas acima do ombro O Ator-Professor-Guerrilheiro havia conseguido escapar Caminhava lentamente Na matildeo esquerda trazia a metralhadora apontada para Alexandre e com a matildeo direita tampava a boca do aperitivo que fazia de refeacutem

Os atores do grupo protestante vatildeo ao desespero

ndash Meu aperitivo meu pequeno aperitivondash Todo mundo quieto ndash exige o Ator-

Professor-Guerrilheiro - vocecircs me enganaram confiei minha cena a vocecircs minha grande cena meu melhor momento e o que foi que vocecircs fizeram comigo

ndash Calma ningueacutemndash Eu mandei todo mundo ficar quieto

porra

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Aiacute chegou um momento em que pros alunos jaacute natildeo compensava mais pagar a mensalidade da Escola e Entatildeo eles saiacuteram e me convidaram pra sair junto neacute As coisas jaacute natildeo estavam laacute muito boas pra mim natildeo estavam ruins natildeo mas jaacute natildeo me davam muito prazer as coisas no NuTE A gente tava fazendo uma montagem nova numa ideia de montagem nova e eu estava no pique do Grupo (entrevista com Peacutepe Sedrez paacutegina 30)

A poliacutecia ouve a rajada de tiros e retorna Apoacutes alguma perseguiccedilatildeo capturam o ator que finalmente se rende e eacute levando junto aos demais Alexandre esquece o cafeacute e acende um cigarro Fuma Os atores do grupo protestante estatildeo em estado de choque Possivelmente a psiquiatria moderna diagnosticasse o quadro como siacutendrome do pacircnico Balbuciam estranhas interjeiccedilotildees Um deles acredita estar sendo acometido por ataque cardiacuteaco outro enfartando a grande maioria grita que estaacute tendo um treco Pedem socorro ambulacircncia choram compulsivamente Por sorte passava pelo local um psiquiatra de maleta preta e guarda-poacute branco que gentilmente abriu uma caixa de medicamentos e disponibilizou antidepressivos a todos Foi uma festa Apoacutes medicaacute-los o meacutedico recomenda trecircs meses de afastamento do trabalho Sem pestanejar aceitamos desejando boas melhoras aos atores

Nesse instante os atores que vieram conosco do grande auditoacuterio se aproximam e em grupo solicitam abandonar o projeto Estupefato pergunto o motivo Eles sustentam haver uma contradiccedilatildeo teoacuterica de minha parte ao empregar simultaneamente a doutrina

da inocecircncia e da irresponsabilidade de Friedrich Nietzsche e utilizar a poliacutecia como soluccedilatildeo literaacuteria a um conflito ficcional Argumento que mantenho um carinho especial pelas contradiccedilotildees por me parecerem bem mais saudaacuteveis do que as interpretaccedilotildees puritanas mas que nesse momento natildeo fora proposital minha tentativa era problematizar a importacircncia de Apolo na questatildeo Como Viver O grupo rebate dizendo que ateacute entatildeo o que eu fazia era justamente o contraacuterio segundo eles apologia a Dioniso Eu me nego a aceitar o estereoacutetipo e ao mesmo tempo analiso que o vencedor em nossa cultura foi sim Apolo Crucificado que nossa necessidade de negar a morte se deve justamente a um excesso de zelo de cuidados de proteccedilatildeo de leis para com o indiviacuteduo e que trazer Dioniso de volta nos ajudaria a aceitar a vida como ela eacute finita e traacutegica Contudo o Dioniso puro sem misturas eacute tatildeo insuportaacutevel quanto o niilismo a que chegamos via cristianismo Euriacutepedes nos mostrou em As Bacantes algumas imagens Dioniso puro nos levaria a isso matildees servindo cabeccedilas de seus proacuteprios filhos em bandejas de prata Ou seja sem a temperanccedila de Apolo os deliacuterios de Dioniso tambeacutem nos fariam mal A pergunta entatildeo passa a ser como temperaacute-los como dar espaccedilo a ambas as forccedilas Nesse sentido a poliacutecia surge na cartografia para ilustrar a soluccedilatildeo cristatilde que desde a invenccedilatildeo do Livre Arbiacutetrio por Santo Agostinho sempre foi a mesma capturar Dioniso e obrigaacute-lo a se responsabilizar individualmente por seus atos A genealogia dessa histoacuteria conhecemos

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bem vai da penitecircncia agrave penitenciaacuteria O modelo cristatildeo da culpa responsabilidade individual e penitecircncia eacute adotado pelo ldquoEstado Laicordquo que constroacutei penitenciaacuterias para punir individualmente em cada cela os culpados Ou seja seria preciso psicologicamente falando ao mesmo tempo estourar as grades que prendem Dioniso e retirar Apolo da Cruz A meu ver a questatildeo colocada por Grotowski ndash Como Viver ndash passa por aiacute Minha tese interpretaccedilatildeo ou seja laacute o nome que se queira dar a isso eacute que NuTE tenta libertar Dioniso libertar as forccedilas avassaladoras animais sexuais bizarras criativas e selvagens em noacutes e NUTe tenta permitir que essa libertaccedilatildeo aconteccedila proporcionando nutrientes fiacutesicos e intelectuais aos nutes comer vestir pagar o aluguel beber conseguir experimentar e fazer algo com um conceito

Apesar da tentativa de conciliaccedilatildeo o grupo continuou irredutiacutevel jaacute havia tomado sua decisatildeo e parecia inclusive profundamente magoado traiacutedo ateacute Despedem-se prometendo escrever uma cartografia totalmente dionisiacuteaca onde natildeo haveraacute nem sombra de Apolo ldquovamos escrever uma cartografia agrave altura do que foi o NuTE Dioniso eacute um bom deus quando natildeo eacute negadordquo eles saem dizendo

Com um grupo preso um grupo doente e outro em busca de uma narrativa pura Alexandre e eu compreendemos que era hora de fumar um cigarro Fumamos Mas e agora o que fazer Sem atores natildeo haacute como produzir um espetaacuteculo Os dois grupos restantes

percebendo nosso abatimento fazem de tudo para nos animar Malabarismos piruetas cambalhotas enquanto um deles conta a piada do papagaio que engoliu um litro de vodca outro se dirige agrave lanchonete mais proacutexima e nos traz dois copos de cafeacute Por fim fazem uma beliacutessima propaganda e nos convidam para assistir agraves cenas em que estiveram trabalhando juntos Com um sorriso amarelo sabendo do esforccedilo dos dois grupos resolvemos apesar do cansaccedilo e da anguacutestia aceitar o convite Alexandre propotildee que ambos os grupos se apresentem no mesmo local para ganharmos um pouco de tempo e de corpo O local escolhido por unanimidade foi o Espaccedilo (O)Caso

Arrastamo-nos escadas acima Degrau a degrau e ainda mais um degrau A vida estava pesando alguns quilos a mais Alexandre emudecido volta e meia tocava com os dedos da matildeo direita nas paredes brancas do teatro De longe comeccedila a chegar uma cantilena fuacutenebre Em alguns atores haacute mais de uma laacutegrima agrave espera O deslocamento se assemelha muito a um veloacuterio Do uacuteltimo degrau que daacute acesso ao terceiro piso avistamos um caixatildeo vermelho Os atores se posicionam lado a lado e suspendem o caixatildeo passando a carregaacute-lo A cena eacute fortiacutessima Alexandre se emociona pede para ajudar um ator lhe cede uma alccedila A procissatildeo segue cantando cada vez mais alta a triste canccedilatildeo que anuncia o fim do NUTe

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Sentada no que parece ser uma apocaliacuteptica mesinha de bar onde repousam algumas garrafas vazias de cerveja ao lado de boa parte do mundo destruiacutedo empunhando a foice-clicheacute-ceifadora Dona Morte interrompe a procissatildeo para danccedilar um nuacutemero de hip hop Apesar de entediante e vulgar a performance recebe entusiaacutesticos aplausos Dona Morte fica satisfeita Permite agrave procissatildeo seguir A triste cantilena retorna Contudo alguns poucos metros adiante escutamos a famosa foice rasgando o piso do teatro Mais uma vez o cortejo eacute interrompido o caixatildeo eacute posto no chatildeo todos olham para traacutes Dona Morte balanccedila a cabeccedila em sinal afirmativo e aciona o play do portaacutetil surround system 3 em 1

Eu recordo que alguns anos depois muitos anos depois talvez em 2001 eu tomando cerveja com o Venera numa conversa muito divertida ele dizia que o iniacutecio da derrocada do NuTE o primeiro NuTE se deu quando o lsquoErsquo de experimental virou lsquoErsquo de escola Porque daiacute a tentativa de criar a escola foi nos institucionalizando nos burocratizando foi nos dando responsabilidades agraves quais nem todos estavam preparados principalmente os mais

Foto do espetaacuteculo A Morta gentilmente cedida pela fotoacutegrafa Maria Emiacutelia da Silva Para saber mais sobre a montegem consul-te o Terceiro Ensaio e o anexo Livreto Es-petacular Aparecem na Foto Juliana Von Czekus Carlos Cres-cecircncio Sebastiatildeo Crispim

jovens que eram a maioria absoluta (entrevista Dennis Raduumlnz paacutegina 25)

Stop Dona Morte volta a se sentar na mesinha Alguns atores lhes agradecem a gentileza ela acena suavemente e a caravana passa Chegando ao Espaccedilo (O)Caso o caixatildeo eacute cuidadosamente engatado na lateral esquerda onde havia para ele quatro correntes de argola duas para o centro e duas para as extremidades As correntes desciam do teto e uma vez acoplado a elas o caixatildeo criava quase espontaneamente um balanccedilo intermitente que dialogava com os movimentos do gigantesco boneco Joatildeo Bobo agrave direita do espaccedilo Entre os dois com uma luz esverdeada brotando do fundo um Tuacutenel

De dentro do Tuacutenel surge um Ator-Adolescente muito magro e franzino vestido de preto ao estilo Dark anos 80 Passeia pelo palco brinca com o Joatildeo Bobo experimenta o caixatildeo Por fim se aproxima de sua plateia e num tom quase confidencial como quem transcreve seu diaacuterio para um blog diz

Quando eu tinha quatorze anos do nada estava andando na rua XV de Novembro e vi um cartaz muito humilde em mimeoacutegrafo falando do Curso de Iniciaccedilatildeo ao Teatro e num impulso como se fosse uma epifania acabei me inscrevendo fui o inscrito 002 E lembro como se fosse hoje a primeira vez em que estive na Sala Verde no andar teacuterreo do teatro Fui recebido pelo Wilfried Krambeck e tambeacutem por aquele que depois eu saberia que eacute o Aacutelvaro Alves de Andrade Foram muito receptivos e fiz laacute esse primeiro curso de iniciaccedilatildeo ao teatro de marccedilo a julho de 1986

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Era um curso que tinha uma carga horaacuteria ateacute relativamente grande se pensarmos hoje carga de quatro meses Passaacutevamos por noccedilotildees baacutesicas de miacutemica de interpretaccedilatildeo de iluminaccedilatildeo E o curso preparava vocecirc para a experiecircncia radical que eacute colocar os peacutes pela primeira vez num palco () (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 1)

O Ator-Adolescente retorna para o Tuacutenel desaparece na luz verde Quatro atores rotacionam o Tuacutenel em sentido inverso fazendo com que iniacutecio e fim troquem de posiccedilatildeo A luz verde se apaga em seu lugar surge um rocho-azul-escuro-com-tonalidades-avermelhadas que preenche todo o espaccedilo O caixatildeo se abre range de dentro para fora uma matildeo se apoia nas laterais faz forccedila unhas arranham madeiras macabras sons estridentes aparece a segunda matildeo os braccedilos a cabeccedila O ator sai do caixatildeo atravessa o Tuacutenel para em frente ao Joatildeo Bobo e passa a espancaacute-lo com muita forccedila A cada descida atraveacutes de uma gravaccedilatildeo ruidosa o boneco fala

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Mas eu tenho que ser

educadorJoatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu tenho que ganhar

dinheiroJoatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu tenho que

ensinar Eu tenho que preencher borderocirc eu tenho que fazer a parte burocraacutetica tenho que administrar uma escola

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash E eu quero ser artista

Joatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu cheguei e comecei a dizer na minha primeira e uacutenica briga de saiacuteda do NuTE () ldquonatildeo cara eu quero ser artista a partir de agora eu natildeo quero mais preencher plano de aula escrever a lista de chamada de aluno se pagou a mensalidade quem natildeo pagou natildeo quero ver quanto foi a conta do telefone da escola porque a sala taacute suja eu tenho que acordar mais cedo pra buscar um caixatildeo de defunto pra peccedila que vai ser montada hoje agrave noite o nosso figurinordquo coisa que me tomava demais entende

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quando decidi ser artista foi muito velho jaacute mas eu passei eu acho a fazer mais arte agora

Joatildeo Bobo agrave Direita ndash Alexandre Venera em entrevista com Juliana paacutegina 67

O Ator continua surrando o Boneco ateacute furaacute-lo num pontapeacute agudo Um prolongado silvo de ar se espalha pelo ambiente refrescando a melancoacutelica sequecircncia de imagens O ator retorna para seu caixatildeo As correntes satildeo desatadas e a urna colocada no chatildeo Pela coxia direita entra em cena uma retroescavadeira amarela com a caccedilamba cheia de barro ela ergue o braccedilo e laacute de cima despeja-o lentamente sobre o caixatildeo Segue ao centro do palco apresenta uma dancinha tiacutepica desses modelos de maacutequina e sai

Os atores de ambos os grupos sentam-se no chatildeo e assim compreendemos que era

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o final da sequecircncia Aplaudimos Alexandre agradece a disponibilidade dos atores de continuarem o trabalho mesmo depois de tudo que aconteceu Pede desculpas pelo cansaccedilo e pela impossibilidade de continuar com os ensaios comenta que natildeo tem condiccedilotildees de seguir adiante Mas antes de sair faz questatildeo de parabenizar ambos os grupos pela forma como compartilharam seus aperitivos Diz que foram muito felizes com a proposta de criar um Tuacutenel entre os aperitivos de nuacutemero 1 e 5 Eu lhe pergunto o que iremos fazer com os Aperitivos Livretantes que natildeo foram utilizados por nenhum grupo Ele me responde que natildeo consegue pensar em mais nada hoje pede para comunicar-me com ele caso eu tenha alguma ideia

Visivelmente abatido Alexandre deixa os ensaios Enquanto caminha de cabeccedila baixa procurando um uacuteltimo cigarro torto no maccedilo recebe um forte e emocionado aplauso dos atores restantes Ele se vira olha o grupo por alguns segundos Uma laacutegrima desce em seu rosto Caminha escada abaixo

Extremamente cansado mas vencido pela curiosidade aproximo-me de um ator do grupo que ensaiava no poratildeo e lhe pergunto o que havia naquele bilhete entregue pelo diretor durante a cena do braccedilo de ferro O ator retira do bolso o pedaccedilo de papel amassado e me entrega Nele eu leio

Eu acho que o NuTE falhou quando tentou ser apoliacuteneo porque todo o processo era dionisiacuteaco e na medida em que vocecirc tenta colocar Apolo

aquilo contrastava com as nossas naturezas mais primeiras Entatildeo eacute engraccedilado porque nessa dualidade apoliacuteneo e dionisiacuteaco e qual seria essa potecircncia ou impotecircncia Acho que era um grupo absolutamente dionisiacuteaco como artista que falhou muito quando tentou ser apoliacuteneo como docente (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 46)

Levanto o rosto e vejo os atores tristes emudecidos dobrando guardando o material utilizado em cena Decido ajudaacute-los Apesar de natildeo haver portas no Espaccedilo (O)Caso quando deixamos o local tive a impressatildeo de sentir um pouco o que sentiu Alexandre Venera ao fechar pela uacuteltima vez a porta do NUTe em 2002

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objeto cecircnico utilizado no espetaacuteculo lsquomaqbeacutete uma

interferecircncia na transmissatildeorsquo

Foto

Ch

arle

s S

teu

ck

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QUINTO

ENSAIOQUINTO ENSAIO ndash 08 DE MAIO DE 2015

Sexta-feira de Insocircnia03h43min

Imagem Insistente Solidatildeo

Nada Ningueacutem Nem mesmo uma negaccedilatildeo Vazio Deserto Naacuteusea Um gosto metaacutelico em minha respiraccedilatildeo fazia subir Descer Subir Descer Estranhas ondas a explodir espumas oxidaacuteveis no costatildeo de minhas veacutertebras Ao fechar os olhos sempre era arrebatado pelas imagens do uacuteltimo ensaio Meu estocircmago ou o que estivesse em seu lugar carregava minha alma aos buracos vazios de meu plexo Sem conseguir dormir passava as noites na internet Da paacutegina de e-mails ao Facebook do Facebook ao blog Nute Para Todos do blog agrave paacutegina do Orkut dos Fakes-NuTE do Orkut a um blog amigo e deste agrave paacutegina de e-mails Uma vez duas vezes toda a madrugada O ciacuterculo repetia repetia e mais uma vez recomeccedilava O que fazer Eu estava esgotado Natildeo tinha de onde arrancar forccedilas para convencer Alexandre novamente a dirigir o espetaacuteculo Pior bem pior que isso Na verdade meu assento beirava um precipiacutecio precisava continuar a montagem o projeto estava em meu nome e a prestaccedilatildeo de contas comeccedilaria logo logo a bater agrave porta

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mas entendia agora pois experimentava em meu proacuteprio corpo um tanto dos motivos que levaram Venera a abandonar o teatro O que fazer Estava praticamente sem atores Contava com metade do elenco talvez nem isso um terccedilo do grupo Natildeo tinha recursos para continuar locando salas de ensaio nem para uma segunda seleccedilatildeo de atores os cheques jaacute haviam sido depositados Havia gastos com alimentaccedilatildeo hospedagem combustiacutevel uma boa parte das rubricas estava zerada O que fazer Eu natildeo conseguia dormir Tudo empurrava agrave mesma direccedilatildeo Parecia me restar apenas aquele caminho que haacute tanto teimava em natildeo seguir

Foi assim que exausto tomei a decisatildeo cancelar a montagem do espetaacuteculo Estava resolvido Precisava agora avisar o grupo Olhei o reloacutegio eram 05h47min Esperei ateacute as 08h30min e comecei a ligar para os atores que haviam permanecido ateacute o final do quarto ensaio Pareceu-me desrespeito com o processo terminar tudo por telefone assim natildeo lhes adiantei o assunto dizia apenas tratar-se de um ensaio agendado agraves pressas para a tarde daquela sexta-feira Por volta das 14 horas eles comeccedilaram a chegar

Como era de costume sentamos em ciacuterculo sem cadeiras Ao se perceberem como sobreviventes da montagem nada disseram sobre os demais atores Natildeo demorou muito contudo para se colocar em questatildeo a presenccedila de Alexandre Expliquei o momento que estaacutevamos atravessando retomei algumas

das principais motivaccedilotildees que desencadearam o projeto e sem muitas delongas anunciei ao grupo o encerramento das atividades Natildeo houve protesto todos compreendiam que era a uacutenica coisa possiacutevel a se fazer Um forte aperto de matildeo e uma laacutegrima escondida puseram fim aos ensaios Assisti ao uacuteltimo ator fechando a porta deitei-me no palco por um segundo e natildeo sei bem provavelmente o cansaccedilo extremo as tantas noites de insocircnia o momento conclusivo algo me fez dormir ali mesmo

Desta situaccedilatildeo Alice no Paiacutes das Teatrologias surgiram condensaccedilotildees e deslocamentos num sentido propriamente freudiano dos termos Sonhei que haviacuteamos terminado a montagem e estaacutevamos apresentando circulando com o espetaacuteculo Brasil afora Viajaacutevamos todos no Kombinutebus in Progress espeacutecie de ocircnibus em formato de Kombi ou Kombi em formato de ocircnibus que ia se fazendo agrave medida que viajava Visitamos muitas cidades quase sempre com razoaacutevel sucesso de puacuteblico e criacutetica Mas a cada apresentaccedilatildeo laacute estava eu na primeira fila anotando as cenas escrevendo o bendito roteiro Eu natildeo entendia porque continuava escrevendo mesmo depois da estreia era algo como uma obrigaccedilatildeo uma funccedilatildeo minha parte no espetaacuteculo Eu natildeo queria mais escrever estava cansado ansiava finalizar parar queria assistir ao espetaacuteculo Na passagem de uma cidade a outra um ator comenta comigo que a proacutexima apresentaccedilatildeo seria a uacuteltima A trupe comemora vamos para casa depois de tantos meses ndash ou seriam anos ndash na estrada

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Sorrindo percebo uma chance enfim de assistir ao espetaacuteculo de nada mais fazer apenas relaxar e contemplar as cenas que com tanto esforccedilo ajudei a criar Convenccedilo a mim mesmo de que natildeo faz sentido descrever cenas de uma uacuteltima apresentaccedilatildeo tais anotaccedilotildees seriam inuacuteteis visto que todas as apresentaccedilotildees jaacute ocorreram Quando toca o primeiro sinal como de costume procuro meu lugar Tudo estaacute diferente eacute incriacutevel a sensaccedilatildeo as anotaccedilotildees que tanto fiz meras linhas escritas e reescritas vatildeo agora respirar Toca o segundo sinal meu corpo vibra Os atores se posicionam em cena Percebo a plateia completamente lotada Toca o terceiro sinal Nada O espetaacuteculo deveria comeccedilar mas os atores estatildeo paralisados todos olham para mim Uma gigantesca tela branca se abre e Alexandre aparece projetado nela O diretor agitado com dedos em riste exige que eu anote as cenas Toda a plateia olha em minha direccedilatildeo Subo no palco extremamente irritado e improviso um breve discurso onde argumento que natildeo faz o menor sentido anotar cenas de uma uacuteltima apresentaccedilatildeo A plateia entatildeo se levanta ergue os braccedilos e num macabro uniacutessono lanccedila a voz

ndash Que soacute se escrevam roteiros depois de estrearem os espetaacuteculos O melhor roteiro eacute aquele que se escreve na uacuteltima apresentaccedilatildeo

Assustado acordo encharcado de suor e palavras Provavelmente estava gritando pois algueacutem me pergunta se estaacute tudo bem e me oferece um copo drsquoaacutegua Em minha volta gargalhadas e comentaacuterios Saindo do transe

percebo aos poucos os atores dos quais havia me despedido recentemente Estou cercado por eles Envergonhado com a situaccedilatildeo e ao mesmo tempo agradecido pela acolhida natildeo consigo escapar aos risonhos pedidos de uma narrativa oniacuterica Passo a lhes contar o que se passou e foi nesse momento em meio agrave descriccedilatildeo do sonho que algo muito mas muito estranho aconteceu

ndash Perfeito eacute isso mesmondash Que incriacutevel foi exatamente por isso que

resolvemos voltarndash Mas eacute sincronicidade demais para minha

cabeccedila como eacute possiacutevelO grupo experimentava algo muito intenso

Atordoado eu natildeo compreendia absolutamente nada Frases e mais frases de urra viva conseguimos

ndash Parabeacutens cara vocecirc encontrou sabia que conseguiria

ndash Oacutetimo oacutetimo muito bom vamos tocar assim entatildeo

ndash Maravilha eacute isso mesmo eacute isso mesmoLaacute pelas tantas sufocado com a

comemoraccedilatildeo resolvo perguntarndash Mas afinal de contas do que diabos vocecircs

estatildeo falandoSilecircncio geral Todos me olham O ator mais

sorridente se decidendash Eacute uma brincadeira ou vocecirc realmente natildeo

percebeu que conseguiu encontrar a saiacutedandash Saiacuteda ndash comeccedilava a ficar irritado com a

situaccedilatildeo ndash Mas que merda de palhaccedilada eacute essa

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Algueacutem pode me dizer o que estaacute acontecendo ndash Os atores se olham e caem na gargalhada Por alguns minutos que me pareceram horas freneticamente arregaccedilam dentes e bocas aos ares aos chatildeos a eles mesmos Eu permanecia sentado no piso madeirado do palco os atores que natildeo riam deitados riam em peacute Aos poucos um deles encontrou forccedilas para se acalmar e movido por uma compaixatildeo quase paterna sentou-se ao meu lado repousou sua matildeo esquerda em meu ombro e disse

ndash Saiacutemos daqui carregando uma forte sensaccedilatildeo de fracasso Era impossiacutevel ir embora Algueacutem natildeo lembro exatamente quem foi sugeriu uma cervejinha Fomos ao bar Depois de muito beber e muito falar nos demos conta de que o roteiro estaacute quase pronto de que faltam apenas as cenas do JOTE-Titac

ndash Sim mas o que estaacute pronto foi escrito para ser encenado por trecircs vezes o nuacutemero de atores que temos

ndash Aiacute eacute que vocecirc se engana Teu roteiro descreve as cenas que surgiram durante a Composiccedilatildeo de Mundos de cada Ensaio E nesses ensaios estaacutevamos sempre em grupos menores Alexandre nos pedia essa formaccedilatildeo em grupelhos Ou seja se pensarmos cada cena de forma isolada o roteiro que existe ateacute agora estaacute escrito para ser encenado pelo exato nuacutemero de atores que temos Certamente teremos um tanto de trabalho extra satildeo muitas cenas seria preciso fabricar energia para dar conta Mas todos queremos tentar voltamos para te dizer que queremos tentar

Nesse instante os demais atores mais calmos sentados em nossa volta repetem sorrindo

ndash Somos muito poucos para dividir queremos tentar

ndash Olha pessoal estou emocionado com isso tudo mas mesmo com esse sacrifiacutecio pessoal de cada um de vocecircs ainda estamos sem direccedilatildeo Alexandre natildeo vai voltar

ndash Mas as cenas jaacute estatildeo prontas Alexandre jaacute fez a parte dele Ele nos dirigiu e noacutes encontramos as cenas o processo de criaccedilatildeo estaacute pronto e registrado pelo roteiro Basta agora encenarmos

ndash Tudo bem tudo bem podemos ateacute conseguir encenar o que jaacute estaacute pronto Mas e o JOTE-Titac Foram treze ediccedilotildees treze anos de Jogos de Teatro eacute uma parte importante demais para simplesmente desaparecer do espetaacuteculo

ndash Vocecirc natildeo percebeu mesmo neacutendash Perceber o quecircndash Vocecirc resolveu isso no sonhondash Como assimndash Estaacute tudo pronto vocecirc soacute precisa colocar

no roteirondash Do que vocecircs estatildeo falando Noacutes nunca

ensaiamos nada sobre o JOTE-Titacndash O que acontecia no seu sonhondash Era diferente o espetaacuteculo estava

pronto eu natildeo estava anotando cenas de um ensaio mas de uma apresentaccedilatildeo da uacuteltima apresentaccedilatildeo

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ndash De uma uacuteltima apresentaccedilatildeo sobre

ndash Sobre o NuTE era o nosso espetaacuteculo

ndash Entatildeo por que vocecirc natildeo faz exatamente isso

ndash Mas que piada eacute essa Natildeo faccedilo isso porque noacutes ainda natildeo terminamos o espetaacuteculo porque nunca houve uma apresentaccedilatildeo sobre Espera Espera Mas eacute claro eacute isso ndash iniciando com um sorriso e desenrolando em gritos ndash o JOTE-Titac Experimentando NuTE Natildeo temos uma apresentaccedilatildeo sobre o NuTE mas oito Mais que isso noacutes filmamos todo o evento desde o sorteio dos textos na quinta-feira agrave noite ateacute as apresentaccedilotildees no domingo Fomos aos ensaios de cada grupo registramos o processo se natildeo me engano temos ateacute uma entrevista com cada um dos grupos participantes Eacute isso Eu posso descrever tudo que foi filmado

ndash Ou editar produzir pequenos viacutedeos que possam ser projetados durante o espetaacuteculo

ndash Eacute uma linda paisagem escrever com imagem e som

ndash Maravilha talvez essa escrita imageacutetica-sonora abra o JOTE-Titac ao nosso puacuteblico permita uma efetiva experimentaccedilatildeo do processo Quase como se o JOTE-Titac pudesse dizer algo sobre si mesmo Ou seja ao descrever o processo da deacutecima quarta ediccedilatildeo do JOTE as ediccedilotildees anteriores ficaratildeo espreitando nas entrelinhas

ndash Vocecirc estaacute querendo dizer que o JOTE-titac eacute sempre igual

ndash Natildeo Longe disso Cada JOTE tem a sua singularidade ndash atuaccedilotildees textos cenas situaccedilotildees ndash nunca se repetem O deacutecimo quarto pra destacar apenas um ponto foi temaacutetico os textos deveriam necessariamente falar sobre o NuTE Isso nunca havia acontecido antes Agora o disparador com pequenos ajustes eacute basicamente sempre o mesmo

ndash Disparadorndash Estou falando do regulamento dos Jogos

de Teatro Por exemplo para que esse JOTE-Titac pudesse acontecer tivemos que montar uma comissatildeo organizadora Isso sempre se repete todo JOTE precisa de pessoas que organizem o festival Essa comissatildeo espalhou aos quatro cantos a notiacutecia de que iria acontecer entre os dias 16 e 19 de julho de 2009 na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau o 14ordm JOTE-Titac Estabeleceu datas para que os autores enviassem seus textos e para que os grupos fizessem suas inscriccedilotildees O formato permitido aos textos a composiccedilatildeo permitida aos grupos os precircmios etc Convocou um juacuteri para selecionar os textos e um juacuteri para avaliar os espetaacuteculos30 Uma vez que os textos estavam selecionados e os grupos inscritos a comissatildeo organizadora pocircde sortear os textos e os horaacuterios de apresentaccedilatildeo aos grupos inscritos o que aconteceu dia 16 agrave noite Antes do sorteio nenhum grupo sabia qual seria seu texto depois do sorteio cada grupo teve apenas dois dias para montar o espetaacuteculo jaacute que todos apresentaram no domingo dia 19

ndash Mas entatildeo quem dispara os Jogos eacute a

30 O juacuteri que selecio-nou e premiou os tex-tos foi composto por Noemi Kellermann Gregory Haertel e Tacirc-nia Rodrigues O juacuteri que avaliou e pre-miou os espetaacuteculos foi composto por Joseacute Ronaldo Faleiro Noe-mi Kellermann e Peacutepe Sedrez

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comissatildeo organizadora e natildeo o regulamentondash Claro que natildeo pois tudo que a comissatildeo

organizadora faz eacute seguir o regulamento Pra usar uma imagem dos nossos Ensaios anteriores eu diria que o regulamento eacute o Aperitivo Cecircnico dos Jogos de Teatro

ndash Bacana isso hein Que tal a gente copiar a ideia que Alexandre trouxe para o Segundo e Quarto Ensaios e propor aqui tambeacutem um Aperitivo Cecircnico

ndash Fazer do regulamento dos Jogos de Teatro nosso aperitivo cecircnico

ndash Excelentendash Sim sim vai ficar joiandash Taacute vamos colocar entatildeo Do Festival de

Teatro Universitaacuterio de Blumenau para o JOTE-Titac e do JOTE para um Espetaacuteculo NuTE Esse regulamento eacute uma viagem

Rindo sozinho eu me dou conta de que ningueacutem entendeu a piada

ndash Vocecircs natildeo sabiam que esse regulamento foi originalmente escrito para o Festival de Teatro Universitaacuterio de Blumenau

ndash O regulamento do JOTE-Titac era o regulamento do FITUB

ndash Quase isso Em 1987 quando se estava organizando a primeira ediccedilatildeo do Festival de Teatro Universitaacuterio de Blumenau Alexandre Venera que participava dos debates tomou frente agrave construccedilatildeo de um regulamento que serviria como base para o Festival Passa algum tempo ele aparece com o documento que natildeo

contemplava apenas grupos universitaacuterios mas sim todo e qualquer sujeito que de alguma forma tivesse interesse em experimentar fazer teatro Resultado o grupo organizador natildeo aprovou o regulamento Alexandre frustrado retira-se de cena A primeira ediccedilatildeo do Festival Universitaacuterio aconteceu de 27 de julho a 01 de agosto Ironicamente em dezembro deste mesmo ano o NuTE lanccedila o que acabaria se tornando um dos festivais de teatro mais livres e intensos do Brasil os Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas o nosso JOTE-Titac31

ndash Quer dizer que o Festival Internacional de Teatro Universitaacuterio de Blumenau era pra ter sido um grande JOTE-Titac

ndash Calma vocecirc estaacute reduzindo as coisas Para dizer alguma coisa sobre o FUTB ou FITUB como eacute conhecido atualmente sem falar bobagem seria preciso uma nova pesquisa talvez um novo livro digo um novo espetaacuteculo Esse evento eacute complexo demais para dois ou trecircs paraacutegrafos apressados Melhor a gente se preocupar com nossa montagem

ndash Tambeacutem acho Aliaacutes natildeo entendi ateacute agora como vai funcionar na praacutetica esse tal escrever com imagem e som

ndash Bem na verdade eu tambeacutem natildeo entendi ainda Mas se vocecircs toparem podemos dar uma espiada nas filmagens do JOTE Eu passei todas as fitas para o HD do meu notebook eacute soacute ligar e assistir ao material

ndash Bacana Mostra aiacutendash Satildeo mais de 20 horas de filmagem Tem

31 Aiacute o Festival a TV ia dar todo apoio e natildeo sei o que laacute Aiacute pocirc um cara laacute sugeriu Pascoal Carlos Mag-no que fazia mostras de Teatro Universitaacute-rias () E aiacute pocirc va-mos fazer um Festival Universitaacuterio () Aiacute eu assim ldquonatildeo mas se fi-zer outro tipo de Fes-tival eu tenho um re-gulamentordquo e fui pra casa e paacute escrevi datilografei Montei o primeiro regulamento do JOTE-Titac e en-treguei pra eles Nes-sa o Faleiro jaacute tava ali e batendo papo o Fa-leiro tambeacutem gostou e coisa mas a coisa era pra ser um pou-quinho mais glamoro-sa neacute Aiacute eu recolhi o meu regulamento Natildeo deu trecircs meses depois foi o primeiro JOTE-Titac (risos) (Entrevista com Ale-xandre Venera paacutegi-na 124)

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muita coisa Por onde vocecircs gostariam de comeccedilar

ndash Que tal soacute pra variar um pouco comeccedilarmos do comeccedilo ndash risos

ndash Mas eacute uma boa mesmo Eu lembro que naquela quinta-feira agrave noite vocecircs fizeram uma recepccedilatildeo para os grupos Foi antes do sorteio dos textos Era um momento de boas-vindas algo como uma saudaccedilatildeo uma apresentaccedilatildeo dos Jogos de Teatro

ndash Deixa ver se encontro aqui ndash procurando no computador

ndash Eu lembro disso foi Alexandre quem fezndash Acho que vocecircs estatildeo se referindo a esse

momento aqui ndash mostrando as filmagensndash Esse esse mesmondash Olha que bacana sou eu ali na plateiandash Ondendash Ali ao lado da menina de vermelhondash Ok Entatildeo vamos abrir o editor de viacutedeo

recortar esse trecho aqui colar com esse esse aqui natildeo estaacute muito bom e esse tem problema no aacuteudio vamos ajustar todos nessa uacuteltima sequecircncia e finalizar Agora eacute soacute exportar e fazer o upload Estaacute pronto Jaacute podemos assistir ou baixar se preferirem diretamente na internet

wwwyoutubecomwatchv=_TcDrbZdmig

ndash Deu certo Todo mundo conseguiu assistir Se algueacutem estiver com problemas para

assistir por favor contate-nos num desses endereccedilos nuteparatodosgmailcom ou wwwnuteparatodoswordpresscom

ndash Pra mim pareceu bem tranquilo de acessar tem vaacuterias opccedilotildees Acessei clicando direto no hiperlink

ndash Ficou engraccedilada essa dobradinha Alex Stein X Alexandre Venera

ndash Tambeacutem gostei mas fiquei na duacutevida se recortar um trechinho de O Monstro de Nutenstein natildeo estraga a surpresa do espetaacuteculo

ndash Acho que natildeo bem pelo contraacuterio deixa o puacuteblico curioso a respeito dessa peccedila que levou vaacuterios precircmios inclusive o de melhor montagem

ndash Taacute divertido coloca mais um viacutedeo aiacutendash Qualndash O sorteio dos textosndash Isso O sorteio com os copos de cachaccedila

aquilo foi muito bomndash Beleza ndash depois de algumas bricolagens

digitais ndash sorteio etiacutelico pronto para acessar

wwwyoutubecomwatchv=GPwtjL1rtfY

ndash Cresce cresce crescendash Ficou bizarro com essa trilha de O Homem

do Capotendash Agora entendi Funciona melhor que eu

pensavandash Essa muacutesica fazia parte da sonoplastia de

Viacutedeo abertura Jote-Titac

Viacutedeo Jote-Titac Sorteio dos Textos

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O Homem do Capotendash Sim Sim chama-se Noite Ferrada32 Mas e

entatildeo o que vocecircs acharam vamos continuar com essa escrita imageacutetica-sonora Deu certo pra vocecircs

ndash Eu tocirc curtindo muitondash Eu tambeacutemndash Funciona cara funciona super bem Acho

que podes ir direto para o Aperitivo Cecircnico e dele para a Composiccedilatildeo de Mundos

ndash Como Aperitivo Cecircnico ficou o regulamento dos jogos de teatro

ndash Se tudo no JOTE-Titac eacute mesmo disparado por ele natildeo tem porquecirc ser outra coisa

ndash E a Composiccedilatildeo de Mundosndash Estou pensando em colocar como base

para essa Composiccedilatildeo de Mundos os oito textos que o juacuteri selecionou para o JOTE-titac Experimentando NuTE Que lhes parece

ndash Mas satildeo textos escritos por vaacuterios autoresndash Exatamentendash A Composiccedilatildeo de Mundos natildeo corre o risco

de ficar meio esquizofrecircnica Se a escrita de um autor jaacute eacute composta por centenas de milhares de pequenas almas o que dizer de uma escrita coletiva desse porte

ndash Rios de almasndash Cachoeirasndash Engarrafamento em Satildeo Paulo capitalndash Um imenso cardume de peixes no marndash Belas imagens-conceito meus caros

Pois eacute bem a poeacutetica desses fragmentos o que

32 Composiccedilatildeo de Alexandre Venera dos Santos

mais me interessa Quando olhamos uma cachoeira temos a impressatildeo de ver ali algo que chamamos cachoeira Mas na verdade a cachoeira eacute uma ilusatildeo ela natildeo existe O que haacute satildeo zilhotildees de gotiacuteculas de aacutegua descendo juntas descendo descendo sempre descendo Contudo eacute agradaacutevel olhar e ver ali uma cachoeira pensar nela como uma unidade Assim como eacute agradaacutevel pensar na unidade de um autor na unidade de uma escrita

ndash Vocecirc estaacute querendo dizer que a escrita eacute sempre coletiva uma espeacutecie de matilha

ndash Mais que isso Aleacutem de ser coletiva por natureza a escrita que se colocou em movimento para esse livro-espetaacuteculo clama por agenciamentos Ela natildeo funciona sozinha mesmo sendo sua solidatildeo composta por milhares outros milhares satildeo sempre chamados Assim fazemos Work in Progress Assim escrevemos em muacuteltiplas matildeos rizomaacuteticas

ndash Taacute mas entatildeo a ideia eacute colocar um texto depois outro e assim ateacute o uacuteltimo

ndash Natildeo era bem isso mas gostei dessa estrutura Podemos acrescentar entre um texto e outro um local para assistir aos ensaios e agraves entrevistas dos grupos um pequeno platocirc onde se concentraria o Escrever com Imagens e Sons Ou seja ao final de cada texto montamos um quadro dispondo os endereccedilos dos viacutedeos

ndash Mas e os espetaacuteculosndash Pensei em colocar os espetaacuteculos como

ldquoGranFinalerdquo num espaccedilo-plano-platocirc reservado apenas para eles Nesse local

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QUINTO

ENSAIO

podemos concentrar as informaccedilotildees sobre cada montagem direccedilatildeo elenco nome do grupo etc

ndash Acho que taacute bem legalndash Sim manda balandash E noacutes podemos voltar ao boteco pedir

algumas cervejinhas e comeccedilar a adaptaccedilatildeo das cenas Tens uma coacutepia dos ensaios anteriores aiacute contigo

ndash Impressa natildeo tenho mas se algueacutem tiver um pen-drive posso copiar direto da maacutequina

ndash Eu tenho copia aqui por favorCom a coacutepia digital dos ensaios os atores

saem de cena me desejando merda No palco sozinho com minhas multidotildees percebo a bateria do notebook pedindo carga Puxo uma extensatildeo da tomada mais proacutexima ligo o carregador na energia eleacutetrica aciono o editor de texto e entatildeo as cortinas digitais se abrem

APERITIVO CEcircNICOeou nutrientes para composiccedilatildeo de mundos

caro leitor

desta vez nossos aperitivos

seratildeo servidos AQUI mesmo neste volume na sequecircncia

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QUINTO

ENSAIO

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QUINTO

ENSAIO

REGULAMENTO DOS JOGOS DE TEATROTEXTO INTERPRETACcedilAtildeO E TEacuteCNICA NAS ARTES CEcircNICASANO 2009 ndash Experimentando NuTE

Quanto ao TExTO1 ndash Deve ser ineacutedito em liacutengua portuguesa e poderatildeo concorrer

quaisquer pessoas2 ndash Esta ediccedilatildeo do JOTE-Titac eacute temaacutetica ldquoExperimentando

NuTErdquo e para a escrita dos textos estatildeo disponiacuteveis na internet 25 disparadores (referecircncias textuais icnograacuteficas e audiovisuais) no endereccedilo wwwnuteparatodoswordpresscomjotedisparadores

3 ndash Deve ser redigido obrigatoriamente para a representaccedilatildeo (atraveacutes de teacutecnicas dramatuacutergicas) Os contos poemas etc inscritos seratildeo automaticamente considerados como ldquoTemas para Representaccedilatildeordquo cabendo ao juacuteri a decisatildeo de sua inclusatildeo ou natildeo no julgamento

4 ndash O texto como peccedila teatral deve comportar um elenco meacutedio de trecircs atores admitindo-se um maacuteximo de cinco sendo permitido entretanto um acreacutescimo de personagens caso seja possiacutevel que os atores representem mais de um personagem no mesmo texto

5 ndash O texto deve ser digitado em Fonte Arial Tamanho 10 espaccedilamento simples natildeo podendo ultrapassar o limite de uma uacutenica folha de papel ofiacutecio comum Natildeo satildeo admitidos os recursos de reduccedilotildees fotocopiadas poreacutem o papel pode ser utilizado em ldquofrente e versordquo

6 ndash No ato de inscriccedilatildeo os textos devem ser entregues em oito vias assinadas com o pseudocircnimo do autor Juntamente deve acompanhar um envelope lacrado contendo em seu interior o nome do autor o nome do texto o pseudocircnimo empregado endereccedilo e algumas consideraccedilotildees sobre sua obra Do lado de fora deste envelope deve constar apenas o pseudocircnimo e o nome da peccedila inscrita devendo ser entregue na recepccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau ndash Rua XV de Novembro 161ndash BlumenauSC aos cuidados de Carol Borba Ou enviados juntamente com a Ficha de Inscriccedilatildeo para nuteparatodosgmailcom Seratildeo aceitos como participantes os textos recebidos ateacute as 17 horas do dia 10 de julho de 2009

7 ndash Os textos seratildeo analisados por um Juacuteri Convidado levando-se em conta trecircs aspectos ldquoLeiturardquo (a literatura ndash o texto) ldquoEspetaacuteculordquo (a dramaturgia ndash a peccedila) e coerecircncia com o tema proposto (ldquoExperimentando NuTErdquo) Dia 16 de julho de

2009 agraves 19h30min seratildeo divulgados os textos preacute-selecionados considerados aptos para serem encenados no 14ordm JOTE

8 ndash Dos textos concorrentes seratildeo indicados os trecircs melhores e entre estes o premiado Outras indicaccedilotildees podem ser premiadas conforme o juacuteri visando reconhecimento aos meacuteritos dos participantes em quesitos como por exemplo ldquooriginalidade do textordquo ldquoautor revelaccedilatildeordquo etc A premiaccedilatildeo que consiste de trofeacuteu e certificado aconteceraacute com as demais no dia 19 de julho de 2009

Quanto aos INTEacuteRPRETES e TEacuteCNICOS1 ndash Deveratildeo os inteacuterpretes e teacutecnicos formar uma Equipe de

trabalho de no miacutenimo quatro e no maacuteximo dez pessoas que aleacutem de atuarem assumiratildeo as responsabilidades teacutecnicas de criaccedilatildeo e operaccedilatildeo do equipamento de palco (iluminaccedilatildeo sonoplastia cenaacuterios etc)

2 ndash As Equipes deveratildeo especificar (em ficha de inscriccedilatildeo conforme modelo disponiacutevel em wwwnuteparatodoswordpresscom bem como na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau) as funccedilotildees de seus componentes nas categorias de premiaccedilatildeo ELENCO DIRECcedilAtildeO ILUMINACcedilAtildeO SONOPLASTIA CENOGRAFIA FIGURINOS MAQUIAGEM PRODUCcedilAtildeO COREOGRAFIA FOTOGRAFIA IMAGEM-DOCUMENTAacuteRIO Ateacute quatro destas funccedilotildees artiacutesticoteacutecnicas podem ser executadas e responsabilizadas por uma mesma pessoa O prazo de inscriccedilotildees das Equipes de Inteacuterpretes e Teacutecnicos encerra-se agraves 17 horas do dia 10 de julho de 2009 Independente do formato a inscriccedilatildeo soacute teraacute validade depois que a equipe pagar a inscriccedilatildeo no valor de R$ 1000 por integrante ndash reembolsaacuteveis atraveacutes da cota de ingressos

21 ndash Cota de Ingressos cada membro da equipe receberaacute quatro (4) ingressos que poderatildeo ser comercializados a R$ 500 cada (totalizando um retorno de R$ 2000) para reembolsar o valor da inscriccedilatildeo e proporcionar agrave equipe uma ajuda de custo na montagem do seu espetaacuteculo

22 ndash Inscriccedilatildeo para efetivar a inscriccedilatildeo enviar para o e-mail nuteparatodosgmailcom ficha de inscriccedilatildeo preenchida e comprovante de depoacutesito das cotas de ingressos Apoacutes isto os ingressos da equipe poderatildeo ser retirados antecipadamente na Liquidificador Comunicaccedilatildeo e Arte (Rua Itajaiacute 3225 ndash Sala 01 ndash Vorstadt ndash Blumenau) ou retirados no dia do sorteio dos textos 16 de julho agraves 20 horas

23 ndash Conta para depoacutesito a quantia da cota de ingressos

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ENSAIO

deveraacute ser depositada em qualquer agecircncia da CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL ou em Casas Loteacutericas na conta agecircncia conta Guardar comprovante de depoacutesito para validar inscriccedilatildeo

3 ndash A Comissatildeo Organizadora norteada pelos curriacuteculos e intenccedilotildees de participaccedilatildeo constantes na Ficha de Inscriccedilatildeo selecionaraacute ateacute 7 (sete) Equipes como aptas a participar dos Jogos

4 ndash Quanto ao puacuteblico presente e ao bom andamento dos Jogos de Teatro as Equipes deveratildeo proporcionar o acesso ao puacuteblico ao Auditoacuterio em tempo natildeo inferior a cinco minutos do iniacutecio do espetaacuteculo assim como natildeo seraacute admitido atraso superior a cinco minutos sobre o horaacuterio previsto para a apresentaccedilatildeo Cada minuto de atraso representa menos um ponto na avaliaccedilatildeo final do Juacuteri Convidado Especial No caso do natildeo cumprimento deste item do regulamento a Equipe seraacute desclassificada

5 ndash Cada Equipe deveraacute fornecer ao puacuteblico presente em sua apresentaccedilatildeo um programa cujo conteuacutedo aleacutem de informaccedilotildees baacutesicas contenha suas observaccedilotildees sobre o espetaacuteculo Em programas cartazes faixas anuacutencios etc deve obrigatoriamente constar JOTE-titac data local e hora da apresentaccedilatildeo

Quanto aos jOGOS DE TEATRO1 ndash Os textos inscritos seratildeo numerados e sorteados para

as Equipes participantes que os representaratildeo dois dias apoacutes o sorteio (tempo em que seratildeo ensaiados e produzidos) FICA ESTABELECIDO UM LIMITE MAacuteXIMO DE SETENTA E CINCO MINUTOS PARA AS APRESENTACcedilOtildeES DE CADA EQUIPE INCLUINDO MONTAGEM E DESMONTAGEM O sorteio dos textos para as equipes participantes seraacute realizado no dia 16 de julho de 2009 agraves 20 horas na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau Nesse mesmo dia a programaccedilatildeo completa do evento e o horaacuterio para a encenaccedilatildeo das peccedilas tambeacutem seratildeo sorteados e decididos previamente para cada equipe participante Em caso de espaccedilos diferentes para as apresentaccedilotildees tambeacutem se faraacute um sorteio entre as Equipes para a ocupaccedilatildeo desses palcos

2 ndash Todos os espetaacuteculos deveratildeo ser encenados impreterivelmente no dia 19 de julho de 2009 na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau

3 ndash Dois grupos de jurados faratildeo o julgamento das categorias de INTEacuteRPRETES e TEacuteCNICOS o Juacuteri Teacutecnico seraacute composto por um integrante representante de cada Equipe concorrente que daraacute seu voto (notas de 1 a 3) em todas as categorias de premiaccedilatildeo de todos os espetaacuteculos apresentados menos naquele em que

estaraacute representado Ao final baseado na pontuaccedilatildeo geral o Juacuteri Convidado Especial se reuniraacute com a Comissatildeo Organizadora para indicar os trecircs melhores e o premiado em cada categoria TEXTO ndash MONTAGEM ndash ATOR ndash ATRIZ ndash COADJUVANTES ndash DIRECcedilAtildeO ndash ILUMINACcedilAtildeO ndash SONOPLASTIA ndash FIGURINO ndash CENAacuteRIO ndash MAQUIAGEM -COREOGRAFIA ndash PRODUCcedilAtildeO ndash FOTOGRAFIA ndash IMAGEM-DOCUMENTAacuteRIO (14 categorias) Outras categorias podem ser premiadas ao se visar o aprimoramento e incentivos dos participantes como exemplo ator-revelaccedilatildeo melhor caracterizaccedilatildeo etc

4 ndash Na categoria Fotografia seratildeo premiadas as melhores capturas fotograacuteficas das apresentaccedilotildees Em Imagem-documentaacuterio seratildeo avaliados os melhores registros dos ensaios valendo-se de qualquer miacutedia (filmagem fotografia desenho histoacuteria em quadrinho etc)

5 ndash A Equipe deveraacute entregar as Fotografias e Imagem-documentaacuterios ateacute as 1900 horas do dia 19 de julho de 2009 para a comissatildeo organizadora do JOTE em miacutedia CD ou DVD (no formato MPG ou AVI) A premiaccedilatildeo dessas categorias ocorreraacute no dia 25 de julho de 2009 em local a ser definido

6 ndash Casos omissos problemas e duacutevidas surgidas seratildeo resolvidos pela Comissatildeo Organizadora

Quanto ao DIREITO AuTORAL1 ndash Os autores dos textos das fotografias e imagens-

documentaacuterios produzidos no Jote-Titac Experimentando NuTE cederatildeo seus direitos autorais para as publicaccedilotildees do projeto NuTE Para Todos em livro e cyber-espaccedilo sendo citados sempre que utilizados e conservando seus direitos para suas proacuteprias publicaccedilotildees

Quanto agrave utilizaccedilatildeo de imagem 1 ndash Todos os inscritos no JOTE-Titac Experimentando

NuTE autorizam a utilizaccedilatildeo de seus textos e de suas imagens pessoais inclusive em meio virtual para composiccedilatildeo da pesquisa e publicaccedilotildees futuras sobre o NuTE

Informaccedilotildees e duacutevidas(47) 3340-0596 ou pelo e-mail nuteparatodosgmailcom

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QUINTO

ENSAIOComposiccedilatildeo de Mundos

CRINU E CASTITE

Por Dostuevisqui da Silva

Primeira Tonalidade ndash Kafka ndash Enquanto o puacuteblico se dirige agraves cadeiras quatro atores espalhados pela plateia os observam a certa distacircncia Esses atores-detetives-kafkinianos fazem comentaacuterios entre si sobre alguns dos sujeitos-puacuteblico Os comentaacuterios natildeo devem ser ouvidos pela plateia Em cena uma senhora idosa sentada numa cadeira A intenccedilatildeo eacute levar o puacuteblico a acreditar que esse boneco eacute mesmo uma senhora idosa Quando todas as atenccedilotildees-olhos-interesses estiverem concentrados nela inicia-se a segunda tonalidade Segunda Tonalidade ndash Dostoieacutevski ndash Muito lentamente Raskoacutelnikov caminha por detraacutes do boneco da velha Aos poucos deixa o puacuteblico perceber que dentro de seu sobretudo haacute um machado

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ENSAIO

Lentamente retira o machado perfilado atraacutes da cadeira levanta sobre sua cabeccedila e num golpe fortiacutessimo divide a velha e a cadeira em duas Apoacutes uma pausa inicia diaacutelogo com a plateia

Raskoacutelnikov ndash A humanidade se divide em duas de um lado temos os seres ordinaacuterios e de outro os seres extraordinaacuterios Fiquem tranquilos prometo natildeo lhes causar nenhum aborrecimento clichecirc Sei que vocecircs conhecem o meu Crime que conhecem tambeacutem o meu Castigo Eacute justamente por isso que quem escreve esse texto me utiliza Ele acredita que entre noacutes haja uma certa cumplicidade Acredita que se for eu a lhes contar alguns seratildeo capazes com um pouco de esforccedilo de perdoar O dilema eacutetico de quem escreve esse texto eacute ter junto ao NuTE experimentado momentos extremos de alegria e ser a uacutenica testemunha de um Crime Hediondo cometido por integrantes deste Nuacutecleo de Teatro Experimental Denunciar aqui atraveacutes de mim algo que nunca teve coragem de levar agrave poliacutecia foi a uacutenica forma que encontrou para resolver esse conflito Mas por favor mantenham o senso criacutetico Culpar eacute faacutecil eacute uma accedilatildeo ordinaacuteria Todos somos bons em culpar o cristianismo nos aperfeiccediloou nisso Jaacute a experimentaccedilatildeo eacute difiacutecil pouquiacutessimos conseguem Se a existecircncia ordinaacuteria necessita eminentemente da culpa da responsabilizaccedilatildeo e do ressentimento se ela soacute funciona julgando e condenando um outro como seu algoz se para respirar precisa sempre ser a viacutetima A existecircncia extraordinaacuteria necessita do

experimento Jaacute que caminhamos para um julgamento podemos ambas as existecircncias em termos de lei A lei da existecircncia ordinaacuteria prega Ele eacute Mau Logo eu Sou bom A lei da existecircncia extraordinaacuteria diz Seja bem-vindo Dioniso

Terceira Tonalidade ndash Ritual Dionisiacuteaco ndash Faixas-gritos-panfletos-projeccedilotildees-etc anunci-am ldquoNatildeo interpreta FAZrdquo ldquoApolo morre crucificadordquo ldquoDioniso Viverdquo ldquoO importante natildeo eacute o sentido das palavras natildeo eacute tornar o texto inteligiacutevel mas tornaacute-lo vivordquo ldquoEm busca do Ator Santordquo Algumas ressonacircncias com os experimentos do NuTE em fotos-imagens-textos criam um clima Ritual-NuTE Quando o crescente do ritual atingir o limite ocorre uma parada brusca

Blackout

Quarta Tonalidade ndash Julgamento-Tribunal ndash Pela plateia entra em cena o Promotor-Fritz-Oktoberfest suspensoacuterios chapeacuteu bermuda figurino claacutessico Sua entrada eacute marcada com uma melodia-oktoberfest esta melodia natildeo deve ser alegre mas sinistra se possiacutevel macabra Fritz ostenta ares germacircnicos de superioridade Possui forte sotaque alematildeo de Blumenau Seraacute o promotor do caso Deve auxiliar a plateia a se perceber como Juiz do Caso

Fritz ndash Meritiacutessimo eu vou comeccedilar ressaltando a forma como o acusado se auto-nominava ele dizia fazer teatro mas todos os conheciam por NuTE

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QUINTO

ENSAIOJuiz ndash NuTE

Fritz ndash NuTE Meritiacutessimo Onde jaacute se viu chamar PUTA a um grupo de teatro Se realmente a intenccedilatildeo era fazer teatro por que chamavam de NuTE Temos aqui um primeiro indiacutecio de que o real propoacutesito era bem outro Se Vossa Excelecircncia me permite gostaria de chamar minha primeira testemunha (Voz em off ndash Que entre a testemunha) Novamente pela plateia A testemunha eacute um Cristo-Mendigo-Crucificado Numa das matildeos presas segura um chicote na outra uma placa com os dizeres ldquoBata-me por R$ 050rdquo Faz-se uma parada em meio ao puacuteblico Cristo-Mendigo esmola seus R$ 050 ao puacuteblico Se ningueacutem da plateia pagar pelo serviccedilo um ator que deveraacute estar junto ao puacuteblico paga os 50 centavos e chicoteia com forccedila o Cristo-Mendigo que sente enorme prazer com a accedilatildeo Continua mendigando outros R$ 050 ateacute que Alematildeo Fritz se aproxima dele e diz

Fritz ndash O senhor jura dizer a verdade somente a verdade e nada mais que a verdade

Cristo ndash (que se transforma em Inri Cristo) Eu sou o caminho a verdade e a vida Ningueacutem vai ao Pai senatildeo atraveacutes de mim

Fritz ndash Meritiacutessimo a testemunha dispensa apresentaccedilotildees Se Vossa Excelecircncia consentir gostaria de passar diretamente as minhas perguntas (pausa) Vossa Santidade (para Cristo) conhece este senhor (aponta para NuTE Formaccedilatildeo de irmatildeos-irmatildes siameses muacuteltiplas cabeccedilas e um corpo)

Cristo ndash Aaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiii (que agora assume traccedilos histeacutericos-afetadiacutessimos) Sim eu conheccedilo Eacute o NuTE Ele apresentou um espetaacuteculo monstruoso chamado ldquoApocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina Os Anjos e Noacutesrdquo Uma abominaccedilatildeo um sacrileacutegio para com os textos sagrados Deveria ser queimado em praccedila puacuteblica depois esquartejado Se eu conseguisse sair dessa cruz encheria a cara dele de tabefe Fizeram piada de mim compararam minha atuaccedilatildeo com a daquele comunista Che Guevara Imprimiam sudaacuterios da minha cena do lava-peacutes minha cena onde ao inveacutes da minha imagem pessoal faziam propaganda desse comunistinha de merda Meu pai estaacute furioso furioso

Fritz ndash Temos aqui Meritiacutessimo inuacutemeras evidecircncias da montagem desse espetaacuteculo (projetar filme mostrar cartazes focirclderes material sobre a peccedila ao gosto do diretor eacute possiacutevel misturar as imagens com a montagem original de Grotowsky)

Fritz ndash (para NuTE que responde sempre sim com as cabeccedilas) O senhor ainda montou ldquoO Homem do Capote e Outros Seresrdquo natildeo eacute mesmo ldquoVariante Woyzec-Mauserrdquo ldquoMacBethsrdquo ldquoCio das Ferasrdquo ldquoCamaleatildeo da Matardquo ldquoA Mortardquo O senhor se dedicou a produzir estes e muitos outros espetaacuteculos onde criacuteticas e deboches ao nosso modelo de existecircncia eram evidenciados Mas natildeo rir de noacutes natildeo era o bastante era preciso ainda seduzir nossos filhos para que eles rissem junto com o senhor Meritiacutessimo

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ENSAIO

este sujeito ardilosamente construiu uma armadilha aos nossos descendentes uma arapuca uma verdadeira arapuca camuflada com a denominaccedilatildeo JOTE-titac (Pausa) Para esse tal JOTE-Titac NuTE convidava nossas crianccedilas que inocentemente apareciam achando se tratar apenas de um Festival de Teatro Mas o teatro era apenas uma isca natildeo eacute mesmo Tenho aqui comigo Meritiacutessimo alguns dos textos apresentados nesse dito Festival JOTE-Titac (Mostrar livro ldquoJogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau) textos escritos por este mostro e encenados por nossos filhos ldquoEacuteVE ADAtildeOrdquo ldquoOS FILHOS DE BLUMENAUrdquo ldquoNUSrdquo ldquoDISCURSO PELE E SEXUALIDADErdquo entre tantos e tantos outros cujas intenccedilotildees eram satirizar nossa feacute nossa moral nossa cultura germacircnica e ateacute mesmo Meritiacutessimo nossa masculinidade O senhor nunca teve formaccedilatildeo em teatro e mesmo assim criou uma escola para ldquoensinarrdquo teatro E o que se ensinava ali Se os espetaacuteculos eram todos afrontas aos valores mais preciosos muito provavelmente o que o senhor ensinava natildeo passava de

Raskoacutelnikov ndash Protesto Meritiacutessimo a promotoria estaacute induzindo meu cliente a uma resposta

Fritz ndash Ok Vou mudar minha pergunta o que quero saber eacute muito simples Sr NuTE qual o verdadeiro objetivo do senhor nesses 18 anos de atividades ldquoditasrdquo teatrais

NuTE ndash (as trecircs vozes falam de forma desordenada) Liberdade levar as pessoas a

pensar encontrar pessoas com quem pensar criticar o conservadorismo (junto agraves vozes em cena incluir trechos das entrevistas gravadas onde se fala dos objetivos do grupo)

Fritz ndash Ah Entatildeo o senhor confessa o senhor confessa Meritiacutessimo o acusado acaba de confessar o Crime

Raskoacutelnikov ndash Meritiacutessimo a segunda paacutegina em letra 10 Arial estaacute terminando Natildeo haacute mais espaccedilo para um fechamento dialogado entre os atores-personagens Restam apenas oito linhas a quem escreve este texto Regra do JOTE-Titac Experimentando NuTE A confissatildeo de meu cliente natildeo deixa duacutevidas Sei da gravidade Afinal foram 18 anos Eacute muito tempo Natildeo irei convocar sua benevolecircncia nesse sentido Que haacute um Crime meu cliente confessa que o Crime em questatildeo foi praticado pelo Sr NuTE ao tentar transformar seres ordinaacuterios em seres extraordinaacuterios concordamos com a promotoria mas tenho certeza Meritiacutessimo de que se Vossa Excelecircncia ousar experimentar a existecircncia extraordinaacuteria conosco pelo menos por alguns segundos teraacute muito mais condiccedilotildees de julgar este caso (Volta-se ao Ritual-NuTE-Dioniso contudo dessa vez o puacuteblico eacute levado a participar)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=Zrcjc_KN6rQEntrevistawwwyoutubecomwatchv=yxkdu8Kepkw

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QUINTO

ENSAIOMAQBEacuteTE UMA INTERFEREcircNCIA NA TRANSMISSAtildeO

Por Iran da Silveira

Personagens Bruxo Narrador quatro ldquomarionetesrdquo (que poderatildeo ser interpretados por atores) o Rei e a Rainha

BRUXO NARRADOR ndash Senhoras e senhores desta roda gigante boa noite () Eacute com muita honra alegria e laacutestima que vos apresento a histoacuteria de uma interferecircncia ndash uma interferecircncia na transmissatildeo de uma histoacuteria Este Rei que senta ao lado eacute Alexandre King mais conhecido como Ale-Quim Ao lado dele sua incentivadora e algoz pois seu amor o levou agrave ruiacutena e agrave morte E as quatro marionetes que deste lado gritam e se debatem satildeo o que restou de uma

longa linhagem de bons maus guerreiros que natildeo obstante terem abandonado seu Rei ainda trabalham para a Sombra dele

MARIONETE 1 ndash Meu nome eacute Sedrez pois tenho sede de vinganccedila Meu negro olhar ajuda o Homem camarada Rei Seu cetro eacute meu bastatildeo com o qual golpeio e incendeio E hoje Hoje o provarei perante todos voacutes

MARIONETE 2 ndash Meu nome eacute Crescecircncio porque eu cresci neste Reino Fui um bom serviccedilal por toda a minha vida mas quando este palco desmoronou tudo o que sobrou de um banquete de casamento foi o bacalhau pequeno-burguecircs cozido por um idiota com sal e injuacuteria do qual se saboreou nada

MARIONETE 3 ndash Meu nome eacute De Oliveira porque tenho oacuteleo nas veias oacuteleo de carnauacuteba Com o oacuteleo produzo a vela com o olho produzo a cela com o alho produzo a ceia (distribui facas de cozinha) O mecanismo eacute o proacuteprio atleta a exceccedilatildeo eacute a proacutepria lenda Os filhos de Blumenau que nasceram de 1930 para caacute iratildeo morrer (aponta para os outros) E quando os arbustos do Teatro andarem o Rei seraacute morto por uma mulher que natildeo nasceu de homem

MARIONETE 4 ndash Meu nome eacute Leopolski porque leio Polanski mas tambeacutem tenho meus Greenaways Sofri do mal de Bergman fiz a terapia de Cronemberg curei-me com Lynch Depois de tudo isso sei que nunca morrerei ndash mesmo que todo o amanhatilde conduza os tolos agrave via em poacute da maacute sorte

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REI ndash Que se inicie a batalha Marionetes do Rei Podem comeccedilar o ritual (em duplas as ldquomarionetesrdquo lutam com as facas como se estivessem empunhando espadas pesadas A coreografia da luta deve ser agressiva e graciosa Resultado Marionete 1 mata Marionete 2 e Marionete 3 mata Marionete 4)

REI (de peacute) ndash Oacute valorosos primos Tendes provado que a honra anda com voacutes Como precircmio pela coragem do vencedor sobrevivente dentre meus estimados guerreiros eu oferecerei minha esposa (outra luta Marionete 3 grita ldquoTome isto falso Parnavackrdquo Marionete 1 que estava perdendo mata Marionete 3)

MARIONETE 1 ndash Meu Rei Tenho vencido todas as batalhas Mas agora estou ferido Meu braccedilo natildeo foi poupado e jaz neste chatildeo como o cal jaz no tuacutemulo

REI ndash Um guerreiro ferido natildeo eacute um guerreiro digno de seu Rei Sua puniccedilatildeo eacute a morte (o Rei o mata violenta e sanguinariamente) Enfim minha rainha Os maus guerreiros se foram Agora eacute hora de recrutar um novo exeacutercito Mas natildeo isso natildeo seraacute difiacutecil minha rainha pois jaacute tenho um lugar onde poderei encontrar centenas de bons guerreiros a internet E entatildeo Haacute haacute haacute

RAINHA ndash Tens esquecido de uma coisa meu Rei

REI (nervoso pela interrupccedilatildeo) ndash O que mulher por toda a Escoacutecia o que quereis dizer agora o quecirc

RAINHA (aproximando-se) ndash Meu pai natildeo era homem (comeccedila a golpeaacute-lo A Rainha mataraacute o Rei de uma forma ainda mais violenta requintada sanguinolenta e criativa que as mortes anteriores) Tu querias oferecer-me ao teu suacutedito Maldito Rei Ale-Quim da Rua Escoacutecia

REI (nesse iacutenterim berra e depois agoniza) ndash Por favor oacute Juliana natildeatildeooo Ahh Algueacutem me arranje uma Kombi (morre A Rainha vingada e ensanguentada com os olhos esbugalhados fica estaacutetua numa pose de ldquoCarrie a Estranhardquo)

BRUXO NARRADOR (voltando agrave cena em tom mais solene) ndash Senhoras e senhores desta roda gigante tendes visto a mais brutal e sanguinaacuteria morte da histoacuteria deste Palco Tenho certeza de que ganharaacute o Precircmio de Melhor Morte de um Rei Inspirado em Macbeth deste festival Eacute o que acontece quando um homem bom confia seu coraccedilatildeo sua cama e seu trono a uma mulher maligna E quanto aos arbustos do Teatro amigos Eu estive haacute dois minutos no Carlos Gomes e posso testemunhar que eles andaram Juro pela minha matildee Muito obrigado

REFEREcircNCIAS

AS PECcedilAS OU MONTAGENS DO NUTE (e outros grupos da cidade) citadas satildeo

ndash de Giba de Oliveira ndash nove peccedilas todas de JOTEs-titac Senhoras e Senhores Nosso Reino Por Um Bom Guerreiro Os Camaradas Meacutedicos Carnauacuteba 1930 Filhos de Blumenau

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O Mecanismo e o Atleta A Exceccedilatildeo e A Lenda Sr Parnavack ndash a maioria foi encenada com seu grupo o Arteatroz

ndash de Marcelo Fernando de Souza ndash Negro Olhar (adaptaccedilatildeo de Otelo de WS dirigida por Peacutepe Sedrez)

ndash de Alexandre Venera dos Santos ndash Macbethrsquos Uma Interferecircncia na Histoacuteria (adaptaccedilatildeo e direccedilatildeo em 1991-93 em duas versotildees a primeira com elenco numeroso e a segunda com quatro atores somente Antocircnio Leopolski Carlos Crescecircncio Giba de Oliveira e Peacutepe Sedrez) e A Roda Gigante (sendo o espetaacuteculo dirigido por Peacutepe Sedrez ainda no NuTE) Tambeacutem foram citadas de Bertolt Brecht as peccedilas O Casamento dos Pequeno-Burgueses encenada em 1996 por Silvio da Luz como O Casamento dos Pequenos (foi servido bacalhau no palco) e O Homem Ajuda O Homem espetaacuteculo de Peacutepe Sedrez de 2001 o qual adaptou dois textos do autor Os cineastas Roman Polanski (polonecircs) Peter Greenaway (inglecircs) Ingmar Bergman (sueco) David Cronemberg (canadense) e David Lynch (americano) foram citados Aleacutem de diversas citaccedilotildees textuais da proacutepria peccedila de William Shakespeare evidentemente Este texto foi escrito no presente ano em Blumenau As metaacuteforas empregadas natildeo levam consigo qualquer julgamento pessoal poliacutetico filosoacutefico ou artiacutestico agraves pessoas envolvidas na histoacuteria mas sim recriam-nas As mortes e vinganccedilas satildeo apenas recursos de accedilatildeo dramaacutetica parodiando a obra de William Shakespeare

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaiowwwyoutubecomwatchv=fpu6Rd7CvScEntrevista wwwyoutubecomwatchv=BBDIBCgvGOk

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QUINTO

ENSAIO

O DE PRETO O DE BRANCO E OS DE CORES ou um despretensioso questionamento

Por Wilfried Krambeck

A peccedila comeccedila com o ambiente totalmente escuro e em silecircncio duas luzes de ponto satildeo acesas repentinamente no palco sobre dois atores Uma peccedila qualquer que estaacute sendo encenada encerra-se naquele momento Os dois atores em cena agradecem recebem os aplausos caso os haja e fecham-se as cortinas Na sequecircncia uma luz geral eacute acesa a cortina eacute reaberta e os atores que vatildeo aparecendo agem como se o auditoacuterio estivesse vazio

O de Preto ndash (saindo das coxias para o puacuteblico) ndash Ateacute que enfim acabou esta bosta

O de Branco ndash (chegando pelo outro lado) ndash O que eacute isso Isso eacute forma de falar

O de Preto ndash Eacute Eacute que eu estou de saco cheio Satildeo ensaios pra caramba cursos workshops palestras leitura de livros anaacutelise de textos o diabo e taiacute oacute Uma merreca de puacuteblico

O de Branco ndash Tudo bem mas natildeo eacute soacute isso O teatro ganha notoriedade aparece faz histoacuteria E todos tecircm vantagens com o processo O ganho eacute tambeacutem individual Vocecirc se aprimora vocecirc evolui como ator como artista como pessoa e se prepara para outras situaccedilotildees da vida

O de Preto ndash Pra mim foi uma perda de tempo cara Eu podia ter feito tanta coisa uacutetil nesse periacuteodo todo ao inveacutes de ter ficado aqui tentando fazer natildeo sei o quecirc nessa porra Eacute foda

O de Rosa ndash (chegando) ndash Gente tou nas nuvens tou encantado tou extasiado

O de Preto ndash Que eacute isso cara Taacute viajando (para o de Branco) Parece viado

O de Branco ndash (para o de Preto) Psssiiiiiiuuuu ele estava com a gente Eacute dos nossos

O de Rosa ndash Tou feliz eacute soacute isso Acabou mas para mim foi demais Pude declamar minhas poesias pude danccedilar cantar bailar Criar figurinos maravilhosos caracterizaccedilotildees coisas mil

O de Preto ndash (para o de Branco) ndash Cara eacute coisa de boiola mesmo hein Quem diria

O de Branco ndash (para o de Preto) Deixa de ser chato Ele gostou aproveitou Oacutetimo para ele

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O de Rosa ndash (para o de Preto) Eacute isso aiacute me realizei Taacute legal Tudo que se faz com prazer daacute resultado traz satisfaccedilatildeo Mas eacute soacute para aquele que se empenha ok Aliaacutes preto te deixa insosso deprecirc Se eu fosse vocecirc botaria um figurino mais alegre uma cor quente sei laacute (sai)

O de Preto ndash Puta que o pariu tem cada um Olha a do cara meu

O de Branco ndash Eacute Acho que vocecirc eacute incapaz de notar Mas existem diferentes percepccedilotildees

O de Verde ndash (chegando) Pocirc gente aprendi coisas pra caramba por aqui (o de Preto balanccedila a cabeccedila e se afasta um pouco indignado) Quando cheguei eu natildeo sabia nada dessa parada do teatro pensei que era soacute viagem Mas natildeo eacute natildeo cara Os bom da bola aiacute botaram a gente pra raciocinar pra discutir pra sacar os babados Aiacute eu fui nessa eu li alguns livros aiacute de uns caras da pesada foi demais Entrei numa peccedila aiacute show de bola mas aiacute tive que sair cara natildeo deu mais Eacute que com essa parada aiacute me motivei cara Voltei pra escola cara 1ordm Grau noturno aiacute jaacute peguei um trampo legal de dia na moral cara na moral Mas valeu cara muuuuiiiito bacana meeeesssssmo soacute posso dar o maior plaacute de coraccedilatildeo cara Valeu (sai)

O de Branco ndash Viu eacute o que eu acabei de falar o teatro mudou a vida dele E para melhor

O de Preto ndash Ohhhhhhh Fiquei impressionado com a cultura do cara O cara eacute BABACA

O de Dourado ndash (chegando) ndash Aiacute rapazes tudo bem (daacute a matildeo para ambos) Eu comecei por aqui agora que terminou mesmo vou sentir saudades Fizemos uns trabalhos com muita pesquisa por aqui coisas de primeiro mundo Tivemos professores e diretores muito bons Fomos para festivais recebemos oacutetimas criacuteticas ganhamos precircmios reconhecimento Eu devo muito a esse pessoal que lutou por aqui Companheiros amigos gente determinada Hoje estou na Globo e estou trabalhando em montagens no eixo Rio-Satildeo Paulo com diretores consagrados A base veio daqui Eacute uma pena o projeto ter acabado pena mesmo (sai)

O de Branco ndash E agora o que vocecirc me diz

O de Preto ndash Vou falar o quecirc O cara taacute na Globo taacute se achando Acontece que eu natildeo tocirc neacute

O de Branco ndash Mas me diga uma coisa eacute possiacutevel que algueacutem fique por anos a fio num projeto tenha trabalhado se dedicado participado e natildeo tenha levado nada de bom durante todo esse periacuteodo Isso natildeo seria uma forma de masoquismo Vocecirc por acaso se odeia

O de Preto ndash Ahhhh com a decepccedilatildeo que eu tocirc sentindo aqui no peito me odeio sim

O de Branco ndash Entatildeo vocecirc eacute o uacutenico Porque ningueacutem aqui deu um depoimento que natildeo fosse favoraacutevel Estatildeo todos felizes o de Rosa o de Verde o de Dourado vocecirc ouviu

O de Preto ndash Grandes merdas se alguns desses viajotildees aiacute estatildeo felizes

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ENSAIO

O de Branco ndash Laacute vem vocecirc com palavratildeo de novo

O de Preto ndash Merda Taiacute uma coisa que aprendi no teatro Merda pra vocecirc merda pra vocecirc

O de Branco ndash Taacute esquece o palavratildeo Mas eu gostaria de saber exatamente o que foi que te desagradou (entra o de Roxo assobiando com uma vassoura espanador sacos de lixo balde aspirador e o de Branco interrompendo a conversa com o de Preto dirige-se a ele) E Vocecirc aiacute de Roxo o que achou desse movimento teatral Pode nos dizer por favor

O de Roxo ndash Olha gente eu Natildeo acho nada de movimento algum Agora vocecircs me datildeo licenccedila pessoal Vou ter que dar uma geral aqui Vou ter que limpar o ambiente taacute legal

O de Branco ndash Taacute tudo bem desculpe Eu pensei que vocecirc fosse Deixa para laacute Mas A gente pode ficar aqui Soacute para concluir uma conversinha uma desavenccedila de opiniotildees que

O de Roxo ndash Poder pode Soacute que a coisa taacute suja por aqui Eu vou ter que pegar no pesado jaacute Senatildeo sobra pro meu lado e quem danccedila sou eu taacute legal (se vira e prepara os equipamentos)

O de Branco ndash Entatildeo me diga soacute um dos motivos pelo menos um para que eu possa entender essa tua maacutegoa Me faz esse favor

O de Preto ndash Vocecirc quer realmente saber Entatildeo deixa eu te dizer (aqui o de Roxo liga o aspirador ndash som muito alto ndash e comeccedila a trabalhar o de Preto fala grita para o de Branco tentando se

explicar mas este natildeo consegue entender nada por mais que se esforce sem comunicaccedilatildeo saem um para cada lado e o de Roxo sem dar atenccedilatildeo continua aspirando)

Fim

DISPARADORES PARA A MONTAGEMPreto = ausecircncia de luz = a criacutetica destrutiva = descompromissada = derrotistaBranco = a soma de todas as cores = o ideal coletivo = o sonho = o lado positivoCada cor = uma visatildeo peculiar = um interesse especiacutefico = ponto de vista = uma interpretaccedilatildeo

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=j3Ycc_2xEWkEntrevista wwwyoutubecomwatchv=lKU8nHwUFok

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ENSAIO

O MONSTRO DE NUTESTEIN

Por Wilfried Krambeck

Voz tenebrosa (acompanhada de muacutesica de terror) ndash Esta histoacuteria aconteceu num certo vale numa cidade natildeo muito pequena entremeada por um rio poluiacutedo um local amaldiccediloado por inuacutemeras cataacutestrofes naturais O povo que laacute morava era um povo trabalhador de feiccedilotildees

seacuterias que por seguranccedila de noite encerrava-se cedo em suas casas Eles divertiam-se uma vez por ano numa grande festa que laacute ocorria mas este lugar por via das duacutevidas era completamente cercado Durante o resto do ano apenas uma vez ou outra a elite deste povo vestindo suas peles caras encontrava-se num grande castelo isolado bem no centro daquela cidade para irem a um ou outro luxuoso baile ou a uma audiccedilatildeo musical Contudo procuravam voltar cedo tambeacutem Mas o que ateacute a eacutepoca dos acontecimentos que vou lhes relatar poucos sabiam eacute que ali naquele castelo quase sem cor geacutelido e de pedras frias havia inuacutemeros corredores completamente escuros sinistros apavorantes lugares nos quais se encontravam menos almas do que dentro de um tuacutemulo de um herege amaldiccediloado E foi nestes corredores sombrios que surgiu um dos nomes mais controversos da histoacuteria dessa cidade fechada em si mesma o Cientista Alex Stein Era este o nome desse homem inescrutaacutevel que criou um ldquoserrdquo que assolou aquele povo durante mais de uma deacutecada O MONSTRO DE NUTESTEIN

Alex Stein (para o puacuteblico) ndash Descobri como desenvolver o meu ldquoserrdquo diferente de tudo que jaacute foi criado neste lugar Estava tudo aqui mentalizado circulando na minha cabeccedila Li muitas obras de mestres antigos e agora finalmente cheguei laacute A ideia na essecircncia eacute simples ateacute Vou juntar restos digo pedaccedilos mal aproveitados vou submetecirc-los agrave maacutequina que descobri no centro do castelo uma maacutequina

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composta de uma grande roda horizontal que farei girar tudo isso submetido a uma forte luz proveniente de todos os lados Jaacute estaacute tudo preprado os pedaccedilos a maacutequina a luz Presenciem o momento da sublime criaccedilatildeo (nasce o ldquoserrdquondash som)

Alex Stein ndash Oh minha fabulosa ldquocriaccedilatildeordquo como vocecirc ficou enorme natildeo vai ser faacutecil te nutrir Mas natildeo me importa sempre te terei como meu filho sempre te nutrirei Vou chamar-te de NUTESTEIN Agora mostre-me se consegui acertar decirc uns passos caminhe NUTESTEIN (o ldquoserrdquo caminha sempre ndash e somente ndash lateralmente para a esquerda)

Alex Stein (para o puacuteblico) ndash Eacute um dispositivo mecacircnico que incluiacute na foacutermula ele soacute anda para a esquerda e na penumbra eacute o diferencial que pensei para ele

Cientista Alematildeo (entrando) ndash Ho ho ho Vejo que o Sr criou um ser diferente hum hum interessante Mas soacute anda para a esquerda e no escuro estranho Pelo visto ele natildeo tem vontade proacutepria Me parece que o Sr esqueceu de botar um ceacuterebro no seu ldquoserrdquo hum

Alex Stein ndash Nada de ceacuterebro eu penso por ele digo para ele e ele faz Eacute bem mais seguro para ele e aleacutem disso assim ele natildeo faz nenhuma bobagem e nunca iraacute me decepcionar

Cientista Alematildeo ndash Acho que quem estaacute fazendo bobagem eacute o Sr pois a sua criaccedilatildeo natildeo eacute perfeita se natildeo tem um ceacuterebro Eu sempre carrego um ceacuterebro na minha bolsa Vou buscaacute-lo para noacutes

implantarmos na cabeccedila do seu ldquoserrdquo

Alex Stein (se antepondo ao Cientista Alematildeo) ndash Ah mein Herr onde estaacute a sua bolsa

Cientista Alematildeo ndash Estaacute na sala ao lado

Alex Stein ndash Pode deixar que EU pego para o Sr (sai volta com uma velha bolsa de couro e na hora de entregaacute-la deixa-a cair propositadamente) Oh mil desculpas mein Herr (abre-a e olha dentro) Que pena esfacelou-se todo o ceacuterebro uma pena

Cientista Alematildeo ndash Estou achando que o Sr natildeo quer ceacuterebro algum para sua ldquocriaccedilatildeozinhardquo estou muito magoado Vou-me embora e natildeo volto mais para este lado do castelo hum (sai)

Dr Cientista Francecircs (entrando) ndash Ouvi a conversa foi sem querer desculpe-me Mas se me permite uma modesta contribuiccedilatildeo um ceacuterebro eacute sempre importante num ser Permite-lhe a livre escolha do seu destino Eacute claro este ldquoserrdquo eacute de sua criaccedilatildeo e cabe-lhe a escolha Mas eu pensaria com carinho sobre o assunto pois se ele natildeo tiver um ceacuterebro seraacute sempre dependente a criaccedilatildeo natildeo seraacute completa Daacute bem mais trabalho conduzir um ser com vontade proacutepria Mas aiacute estaacute o desafio do cientista lsquoArbeit Arbeit Arbeitrsquo natildeo acha Monsieur (sai)

Alex Stein ndash Eacute Sim Natildeo Talvez Natildeo sei (pensa um pouco sobre o assunto depois se entreteacutem dando comandos ao ldquoserrdquo ndash de repente feliz recebe aplausos de todos os lados)

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Cientista Baixinho (entrando com outros dois cientistas) ndash Sr Alex Stein chega de conversa Noacutes ndash por unanimidade ndash jaacute decidimos vamos colocar um ceacuterebro na sua criaccedilatildeo

Alex Stein ndash Mas Meu ldquoserrdquo estaacute indo bem estaacute evoluindo nunca algueacutem caminhou para a esquerda por aqui E na penumbra quem andou Natildeo custa nada para ningueacutem e todos estatildeo impressionados nunca viram nada igual jaacute estatildeo ateacute aplaudindo natildeo ouviram

Cientista Baixinho ndash Eacute Ouvimos Mas vamos melhorar o ldquoserrdquo e ateacute jaacute preparamos o ceacuterebro eacute na verdade um misto um pouco de todos os nossos ceacuterebros inclusive tem uma parte do seu ceacuterebro tambeacutem Sr Stein Soacute que somos noacutes que vamos implantar para evitar que ele se espatife pelo chatildeo O Sr entendeu Sr Stein (um manteacutem Alex Stein a distacircncia e os outros dois dominam e implantam o ceacuterebro no ldquoserrdquo e saem o ldquoserrdquo entatildeo se levanta Consciente anda para todos os lados salta corre mas tambeacutem tropeccedila bate nas paredes cai fica atordoado)

Alex Stein ndash Ei NUTESTEIN vaacute para a esquerda a esquerda (o ldquoserrdquo vai mas volta para a direita) Natildeo natildeo saia da penumbra (o ldquoserrdquo vem para a luz e Alex Stein se desespera) Nossa matildee NUTESTEIN vocecirc se tornou um MONSTRO (voltam os outros trecircs cientistas e tambeacutem comeccedilam a comandar o ldquoserrdquo e este tenta inicialmente atender a todos mas depois se torna confuso e desiste de atender os comandos de todos eles recolhendo-se num canto)

Voz tenebrosa (acompanhada de muacutesica funesta) ndash Aos poucos NUTESTEIN foi perdendo sua identidade original tinha um ceacuterebro agora mas natildeo era seu era de muitos era confuso Todos os Cientistas que no iniacutecio tanto se preocupavam com ele foram aos poucos perdendo o interesse Seu proacuteprio criador Alex Stein comeccedilou a desenvolver um novo ldquoserrdquo imaterial agora ldquoserrdquo este que ele poderia criar manipular e manter dentro de seu proacuteprio ceacuterebro sem a interferecircncia de ningueacutem E entatildeo numa noite negra de tempestade ele conduziu a ldquocriaturardquo sua primeira criaccedilatildeo ateacute o mais escuro dos calabouccedilos do castelo e laacute a acorrentou Sempre com laacutegrimas nos olhos por uns tempos ainda o alimentou agraves vezes ajudado pelo Cientista Baixinho ndash ateacute no dia em que todos foram embora abandonando os corredores escuros do castelo NUTESTEIN entatildeo jaacute esqueleacutetico desnutrido e retornando ao estado de aceacutefalo agonizou agonizou agonizou e MORREU (concomitante com a narraccedilatildeo na penumbra Alex Stein triste faz a uacuteltima visita ao ldquoserrdquo e este ndash a soacutes ndash falece abandonado)

Voz feliz eufoacuterica (entrando ndash repentinamente ndash com fundo de muacutesica animada ndash de Os Caccedila Fantasmas) ndash Mas natildeo fiquem tristes pois chegou nesta cidade um repoacuterter de metroacutepole Chegou EndGhostbuster Ele veio para caccedilar para detonar para desmistificar o NUTESTEIN Para finalmente retirar exorcizar sua alma dos corredores escuros do castelo Ele veio para saber de tudo detalhes nuances

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episoacutedios pensamentos reflexotildees e acreditem todos estatildeo falando contando rememorando especificando lembrando ateacute de coisas que nunca existiram Ateacute estranho jaacute palpita Mas eacute assim mesmo soacute alegria NUTESTEIN virou FOLCLORE Cada um conta do seu jeito cada um inventa cada um aumenta ou acrescenta NUTESTEIN natildeo era oito nem oitenta mas com certeza tinha pimenta Eacute isso aiacute EndGhostbuster provocou agora aguenta Tem coisa boa Tem miserenta Tente digerir esta baita polenta A cada dia a coisa esquenta Mas eacute assim que incrementa se alimenta (a muacutesica se sobrepotildee agrave narraccedilatildeo fim)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=FzeylLvO3ucEntrevistawwwyoutubecomwatchv=S0RvDDRd6IQ

TRABALHO SUJO

Por Iran da Silveira

Drama policial ambientado na Blumenau do ano 1999 Personagens NOacuteDULO CHUCK NAFTALINA JOHNSON NIVALDO TRAPACcedilA NESTOR MIRONGA NEIDE SAPATINHO NEUZINHA BLAUBLAU NICANOR NEW YORK NEM DE LADO NARRANTE DOGMA ZUNINDO GRITO DR JACOacute DR JACUacute JOSH PALHA NARRANTE ndash No uacuteltimo JOTE-Titac a quadrilha de Naftalina Johnson planejava um grande crime

NICANOR NEW YORK (andando num carratildeo) ndash Atenccedilatildeo Noacutedulo Chuck Atenccedilatildeo Noacutedulo

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NOacuteDULO CHUCK (tambeacutem) ndash Noacutedulo Chuck ouvindo perfeitamente

NEW YORK ndash Atenccedilatildeo Congresso dos traficantes de quadros ladrotildees de esculturas e plagiadores de livros no morro em frente a Ufos uacuteltima casa Assunto de interesse geral e urgente

NAFTALINA JOHNSON (jaacute no local) ndash Ainda bem que estatildeo todos aqui porque o assunto eacute de extrema importacircncia

NEUZINHA BLAU BLAU ndash Fala logo Nafta Fala Fala

NAFTALINA ndash Vocecircs vatildeo ficar com aacutegua na boca quando virem isso Eacute o uacuteltimo livro que Dogma Zunindo acaba de escrever

NEM DE LADO ndash Mas como vocecirc conseguiu isso

NAFTALINA ndash Foi um plano que bolei com muito carinho palmas para o Sr Nivaldo Trapaccedila responsaacutevel pela sua execuccedilatildeo

NIVALDO TRAPACcedilA (depois das palmas) ndash Foi muito faacutecil Eu esperei ele dormir e aiacute TCHUM

BLAU BLAU ndash Eu quero ver Ver Ver

NAFTALINA ndash Calma eu tirei xerox pra todos Aqui estatildeo

NEIDE SAPATINHO ndash Vocecircs tecircm consciecircncia do que temos nas matildeos Isso eacute uma porcaria mas os criacuteticos e intelectuais babam

TRAPACcedilA ndash E o resgate eacute todo nosso Iiiiccedila

CHUCK ndash Neide quanto podemos ganhar com isso

NEIDE ndash Deixa eu ver Poderiacuteamos pedir a soma das vendagens dos trecircs primeiros livros isso ia dar Uns 15 milhotildees de reais novos

NEW YORK ndash Como estaacute estipulado em nossas leis os senhores Johnson e Trapaccedila autores do sequestro ficaratildeo com 20 do lucro total cada um Os 60 restantes seratildeo divididos entre noacutes seis

NESTOR MIRONGA ndash Soacute uma coisa E se ele se recusar a pagar

NEW YORK ndash Aiacute roubamos toda a grana dele o apagamos e lanccedilamos o livro com a autorizaccedilatildeo do autor cedendo todos os direitos autorais

DE LADO ndash Mas isso vai dar uma fortuna

NEIDE ndash Nafta esse plano eacute muito bom Vocecirc eacute terriacutevel

NAFTALINA ndash Tem razatildeo minha querida Quando a arte e o crime se juntam qualquer coisa pode acontecer ateacute mesmo uma pintura impressionista Vamos ao trabalho ()

DOGMA (ao ser contactado) ndash Sou eu mesmo Em que posso ajudaacute-los

MIRONGA ndash Natildeo fale nada ou estouraremos seus miolos Noacutes temos o seu uacuteltimo texto em cativeiro

DOGMA ndash Aquele que escrevi ontem Ia jogar no lixo

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MIRONGA (bate-lhe na cara) ndash Nunca mais despreze assim uma obra de arte canalha

DOGMA ndash O que vocecircs querem

TRAPACcedilA ndash Toda a grana da vendagem dos seus quatro livros

DOGMA ndash Satildeo soacute trecircs O meu lucro com eles foi de 75 reais

BLAU BLAU ndash Eacute pouco Eacute pouco Ai ai ai Eacute pouco

DOGMA ndash Tambeacutem acho mas foi o que ganhei na eacutepoca Lembro que deu pra pagar minhas contas no London no Tip Tim e no bar do teatro

MIRONGA (daacute-lhe um tapa) ndash O London mudou de nome imbecil Agora eacute Rodolfus

TRAPACcedilA ndash Natildeo importa Fica com essa mixaria aiacute noacutes vamos lanccedilar esse livro e ganhar uma nota preta sacou E natildeo vamos dar um centavo pra editora

DOGMA ndash Entatildeo eacute assim Eu faccedilo o trabalho sujo e vocecircs faturam

NEIDE ndash Ele tem razatildeo ele eacute o artista

CHUCK ndash Taacute bem fique com 10

DOGMA ndash Vinte

CHUCK ndash Quinze e taacute acabado E lembre-se esse livro eacute um marco sacasse UM MARCO

DOGMA ndash Taacute legal boa sorte Como tem gente iludida nesse mundo

NARRANTE ndash E agora para a apresentaccedilatildeo dos membros da gangue de Naftalina Johnson

Noacutedulo Chuck o rebelde solitaacuterio tem sua vida dividida entre pequenos roubos de obras de arte e sua matildee uma simpaacutetica velhinha Nicanor New York vigarista e golpista um gringo que na verdade nasceu em Chicago no Illinois eacute o mais elegante e menos temperamental sua calma lembra a dos quadros de Guto Bouer os quais jaacute furtou quatorze Neuzinha Blau Blau a mulher que roubou o Bofe Aacutespero de Leonardo daacute Vinte saiu do manicocircmio direto para o mundo do crime A prostituta Neide Sapatinho dedica-se ao crime para vingar a morte de seu pai um ex-diretor do grupo Kontra Senha Nivaldo Trapaccedila marginal absolutamente sem escruacutepulos e tarado sexual por mulheres que estatildeo lendo o ldquoConde de Monte Cristordquo Nestor Mironga o braccedilo negro do crime sempre pronto para golpear impiedosamente qualquer um que queira publicar um poema pelas vias da lei Nem de Lado cheirador safado tem esse nome porque gosta de comer papinha com cebola Seu maior feito foi ter violado um cemiteacuterio de naturezas mortas E Naftalina Johnson o intelectual da corrupccedilatildeo autoral expert em estupro da inspiraccedilatildeo e em sequestro do talento alheio E agora sim a continuaccedilatildeo da histoacuteria

DOGMA ndash Jaacute satildeo quatro da manhatilde daqui a pouco eu preciso ir pra rua e natildeo posso ficar aqui escrevendo essa peccedila Se desse dinheiro eu ateacute terminava Agora me deem licenccedila

NARRANTE ndash Jaacute que o autor natildeo estaacute em

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condiccedilotildees aiacute vai a continuaccedilatildeo da peccedila de qualquer maneira

UM GRITO VINDO DAS COXIAS ndash Que histoacuteria eacute essa de natildeo querer terminar a peccedila Todo mundo aqui trabalha soacute intelectual eacute que natildeo

CHUCK (entrando com os outros) ndash Chefe vocecirc natildeo vai acreditar mas esse Dogma Zunindo eacute um niilista um pessimista Chega a ser perigoso

NARRANTE ndash Quem comenta sobre a personalidade do autor satildeo os psicanalistas Doutor Jacoacute e Doutor Jacuacute

DR JACOacute ndash O senhor Zunindo natildeo passa de um rebelde sem causa Eacute isso o que ele eacute Ele natildeo daacute valor ao que tem Ele natildeo merece viver Ele eacute um estorvo

DR JACUacute ndash Natildeo seja tatildeo duro com ele ele sofre tambeacutem sabia

DR JACOacute ndash Sofre nada ele gosta eacute de nos fazer de palhaccedilos Ele tira sarro o tempo todo

DR JACUacute ndash Eu acho que ele natildeo tem culpa Ele eacute assim mesmo

NARRANTE ndash Jaacute que a ciecircncia natildeo se decide vamos ver se o esoterismo ajuda Com a palavra o famoso guru Josh Palha

JOSH PALHA ndash Soacute sei de uma coisa enquanto houver um sopro de vida haveraacute em Dogma Zunindo o desejo de se renovar dia apoacutes dia Ai tenho de ligar para o Walter Mercado

NARRANTE ndash Seraacute nosso autor ressarcido pelos danos causados pela maleacutevola gangue de Naftalina Johnson Conseguiraacute realizar seu sonho de fazer uma novela para o Toni Ramos o Francisco Cuoco e o Tarciacutesio Meira chamada ldquoZerordquo Natildeo percam no proacuteximo JOTE Continuem com a gente

Nota do autor Trabalho Sujo parte de uma trama policial folhetinesca para descambar numa anaacutelise irocircnica sobre o papel da arte na vida das pessoas comuns e dos proacuteprios artistas O formato telesseacuterie funciona mais como uma metaacutefora do antigo JOTE-Titac como fica claro no iniacutecio e no fim da peccedila

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=ork4t4rP8w4Entrevista wwwyoutubecomwatchv=7gJTU-Kt5QU

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O AUTOR ESQUARTEJADO

Por Afonso Nilson

Personagens ator autor diretor algueacutem do puacuteblico figurantes com viacutesceras escondidas em suas roupas Ator ndash Ok mais um JOTE O uacuteltimo eu espero dessa vez Falo o uacuteltimo porque eu natildeo aguento mais esses textos que natildeo satildeo escritos para teatro Tem poesia tem crocircnica tem carta de amor tem confissatildeo de homossexualidade tem tudo Ateacute aula de teatro Natildeo precisam me

olhar com essa cara Natildeo vou dar aula natildeo sou professor Sou ator natildeo estatildeo vendo Mas acontece que sou um ator que natildeo aguenta mais ter que fazer das tripas coraccedilatildeo para pocircr em cena essas coisas que as pessoas acham que eacute um texto para teatro Tudo bem tudo bem Reconheccedilo que eacute bem mais faacutecil pocircr em cena um poema uma crocircnica do que um texto com falas accedilatildeo e tudo que como teatro natildeo serve nem para um arremedo Jaacute viram Como eacute que se interpreta um ldquoohrdquo em cena ldquoOh meu amorrdquo ldquoOh dorrdquo Ou pior ldquoOh me matasterdquo Jaacute pensou Me mastates O cara leva um tiro cai no chatildeo olha para seu assassino e solta essa ldquoOh me matasterdquo Natildeo daacute neacute Aiacute chega o Jote Aquele monte de texto em cima da mesa e as pessoas datildeo uma olhada num noutro jaacute descartam os monoacutelogos e quando veem uma frase de efeito laacute perdida por acaso entre um punhado de ldquoohsrdquo pronto taacute laacute o texto e eacute aquela carnificina para ter a oportunidade de dizer uma uacutenica frase que preste nesse emaranhado que satildeo os textos para o Jote Ok tudo bem Daacute pra montar tudo hoje em dia Jaacute ouviram falar de teatro poacutes-dramaacutetico Azar o de vocecircs Hoje daacute pra montar ateacute bula de remeacutedio Daacute pra adaptar receita de bolo daacute pra fazer depoimento pessoal daacute pra grunhir igual a um porco e dizer que eacute performance que eacute arte contemporacircnea Tatildeo brincando comigo Isso eacute coisa do passado Anos 50 60 70 living Asdruacutebal Barba Zeacute Celso Um pouco depois aqui em Santa Venera O Venera pode porque ele foi o primeiro Enquanto o pessoal ainda tava montando chanchada o Venera metia

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o terror fazia o que ainda era novidade nas terras da novidade Mas agora 20 anos depois rapazinho me vem com teatro performaacutetico improvisando sobre qualquer besteira que ouviu dizer de um professor que ouviu de um terceiro que nem sequer sabia do que estava falando Natildeo daacute neacute

(Da plateia levanta um cara vai raacutepido ateacute o ator e lhe daacute um empurratildeo)

Autor ndash Fala mal do meu texto mais uma vez se vocecirc eacute homem

Ator ndash O idiota taacute estragando a cena

Autor ndash Natildeo tinha nada disso no meu texto

Ator ndash Como eacute Quer dizer agora que eu natildeo posso dar uma improvisadinha sequer

Autor ndash Improvisar Vocecirc natildeo disse uma uacutenica palavra que eu tenha escrito ateacute agora

Ator ndash Vocecirc devia me ser grato por isso Ateacute bem grato se for levar em consideraccedilatildeo aquela merda que vocecirc mandou pro Jote

Autor ndash Olha aqui seu puto Se vocecirc acha que eu vou aturar isso quieto

Ator ndash Isso mostra a cara pseudocircnimo Mostra essa fuccedila incapaz de articular uma uacutenica palavra que seja teatro de verdade

Autor ndash E o quecirc pra vocecirc viado eacute teatro de verdade

Ator ndash Ora o teatro o teatro

Autor ndash O teatro natildeo eacute pra ser explicado por

um atorzinho Teatro se faz natildeo se explica Natildeo quero saber desses textos adaptados natildeo quero saber de bula de remeacutedio natildeo quero saber de nada de nada dessa merda de teatro contemporacircneo Eu quero eacute o teatratildeo Qual eacute Natildeo posso mais gostar de texto claacutessico Sim meu amigo eu escrevo ldquoohrdquo Eu uso frase de efeito no meu dia a dia Eu escrevo poema e ponho na boca de meus personagens Qual eacute Vai encarar

Ator ndash Eu hein quero saber dessa merda natildeo

Autor ndash Mas aqui no palco vocecirc vai ter que querer Taacute na chuva eacute pra se molhar meu

Ator ndash Isso eacute que eacute frase de efeito meu (entra o diretor na histoacuteria)

Diretor ndash Amigos amigos Vamos nos acalmar Natildeo precisamos ficar tatildeo exaltados eacute apenas a estreia Toda a estreia eacute meio estranha natildeo eacute (para o puacuteblico) Vocecircs vatildeo nos perdoar por esse contratempo mas na verdade tudo isso faz parte do show estaacute tudo no script

Autor ndash No texto taacute tudo no texto Era pra estar na verdade

Diretor ndash Mas vocecirc natildeo acha que isso agraves vezes ateacute ajuda a encenaccedilatildeo a ficar mais rica mais natural

Autor ndash Texto eacute texto e taacute acabado

Ator ndash Mas e a reaccedilatildeo da plateia Agora porque Vossa Excelecircncia o autor quer eu natildeo posso mais interagir

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Diretor ndash Podemos achar um meio termo que tal um texto colaborativo criaccedilatildeo coletiva

Autor ndash Tais gozando com a minha cara natildeo eacute Natildeo existe esse negoacutecio de criaccedilatildeo coletiva tem sempre um que encabeccedila a histoacuteria

Ator ndash Ah eacute vamos ver soacute Vou chamar algueacutem da plateia (puxa algueacutem da plateacuteia)

Ator ndash O senhor me desculpe mas a gente precisa resolver essa histoacuteria O que o senhor acha Improviso faccedilo um teatro contemporacircneo sem texto texto-natildeo dramaacutetico ou volto a ser um tolaccedilo do seacuteculo XIX tendo que decorar todas as minhas falas

Algueacutem do puacuteblico ndash Olha eu natildeo sei muito bem Que eacute que eu vou dizer O autor

Autor ndash O senhor pode sentar por favor Muito obrigado pela sua participaccedilatildeo numa proacutexima vez em que seja preciso tirar a roupa a gente te chama de novo

Ator ndash Gostasse dele natildeo eacute

Autor ndash Sai pra laacute

Diretor ndash Natildeo estamos evoluindo

Ator ndash Pra evoluir temos que representar a bula

O cara do puacuteblico (fala de seu lugar) E o que eacute que o teatro tem a mais que o cinema Prefiro ir ao cinema ver uma merda qualquer do que ficar aqui nessa tortura de natildeo teatro

Diretor ndash O cara tem razatildeo teatro ruim eacute

insuportaacutevel Antes um filme fraco do que uma montagem fraca

Ator ndash Mas e aiacute e a pergunta do cara O que eacute que o teatro tem a mais que o cinema

Diretor ndash Imaginaccedilatildeo porra No cinema vocecirc vecirc o mar Caacutespio No teatro o mar natildeo precisa nem de uma gota de aacutegua para significar um oceano Quer ver Oceano

Ator ndash Vocecirc acha mesmo que eu vou me afogar natildeo eacute

Diretor ndash Era soacute pra dar um exemplo

Autor ndash Daacute pra mudar raacutepido de histoacuteria e cenaacuterio sem um uacutenico adereccedilo no teatro

Ator ndash Ah eacute

Autor ndash Aja raacutepido Peccedila podre (o ator faz um trejeito) Viu vocecirc nem precisava fazer nada bastava continuar a fazer o que estava fazendo

Diretor ndash O importante eacute o contato direto com o puacuteblico Nunca no cinema algueacutem viria ateacute a sua cadeira e faria isso (vai ateacute o cara do puacuteblico e lhe torce o nariz)

Ator ndash Muito interessante Deve ter sido uma experiecircncia muito boa para o senhor natildeo eacute Accedilatildeo em 3D

(haacute um grande silecircncio vazio)

Diretor ndash Improvise

Autor ndash Eacute vamos acabar com esse teacutedio faccedila aiacute qualquer coisa

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QUINTO

ENSAIO

(o ator pode nesse momento fazer qualquer coisa)

Diretor ndash Ateacute que foi interessante

Autor ndash Mas estava no texto

Ator ndash Natildeo senhor no texto dizia claramente ldquoo ator pode fazer qualquer coisardquo

Autor ndash Entatildeo estava no texto

Ator ndash Mas quem criou fui eu

Autor ndash Azar o seu leve o creacutedito

(mais um momento de silecircncio vazio)

Autor ndash Pra esse texto dar certo algueacutem precisa morrer ou ser traiacutedo

Ator ndash Traiacutedo tu jaacute foi corno (o autor agarra o autor pelo pescoccedilo o diretor interveacutem)

Diretor ndash Ele tem razatildeo

Ator ndash Eu natildeo disse corno

Diretor ndash Natildeo natildeo isso Mas que algo tem que acontecer tem Sei laacute a intriga sabe A tensatildeo dramaacutetica

(ator e autor se entreolham furiosamente fingindo tensatildeo caem na gargalhada)

Autor ndash Que piada

Diretor ndash Se fosse uma comeacutedia seria de chorar

Autor ndash Vamos acabar logo com essa merda

Diretor ndash Algueacutem tem que morrer

Autor ndash Jaacute sei jaacute sei ldquoa morte do autorrdquo Esse texto eacute velho meu

Diretor ndash Velho mas uacutetil

Ator ndash Conclamo todos da plateia a matar o autor (o diretor e o ator puxam pessoas da plateia para cercar o autor no meio da cena Eles o cercam lentamente eles o consomem rasgam suas roupas retiram intestinos unhas dentes cabelo ateacute natildeo sobrar nada aleacutem de carne crua e tomates sobre o palco Todos voltam aos seus lugares O autor nu senta-se junto ao puacuteblico)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=folk5Y3EvzAEntrevista wwwyoutubecomwatchv=TUZEqE5UfgY

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QUINTO

ENSAIO

ldquoQUE CHEIRO Eacute ESSErdquo

Por Wilfried Krambeck

A e B entram em cena debatem-se um pouco com a luz no rosto e dirigem-se ao puacuteblico

A ndash Bem Olaacute Tudo bem Noacutes viemos hoje aqui para falar sobre esse NuTE neacute

B ndash Isso sobre esse tal de NuTE

A ndash Na verdade eu nem sacava desse NuTE mas tocirc aiacute representando um Um cara que teve aiacute Digamos assim Uma breve passagem por esse NuTE aiacute e que disse Vai laacute fala com o pessoal fala das coisas que rolaram laacute tu eacute o cara (para B) Natildeo eacute

B ndash Isso aiacute Ele falou que tu eacute o cara

A ndash Bem Eacute isso Aiacute eu trouxe esse meu chapa aqui Pra natildeo falar sozinho entendeu

B ndash Ooooopa tamo junto nessa parada Toca aqui oacute Cecirc eacute meu parceiro cecirc eacute meu mano

A ndash Aiacute o cara me falou tu daacute uma sacada no blog antes de ir ateacute laacute que taacute tudo laacuteaacuteaacuteaacuteaacute cara

B ndash Ele falou olha no blog eacute isso aiacute mano

A ndash Aiacute eu disse blog cara Que porra eacute essa

B ndash Eacute Que porra eacute essa

A ndash Ele falou internet cara tu eacute burro hein Eu disse burro natildeo pega leve um pouco desinformado ateacute pode ser neacute ocircocircocirc cara

B ndash Que burro o quecirc

A ndash Bom eu sei que daiacute ele abriu laacute pra gente aquele tal de blog a gente viu umas coisa laacute e tamo aqui nessa parada pra trocaacute umas ideia aiacute

B ndash Eacute a gente viemos neacute

A ndash Pocirc uma coisa legal que eu vi cara eacute que tinha um boteco laacute e a turma mandava ver

B ndash Pocirc legal Papo furado cigarro cerveja e salgadinho Eacute

A ndash Isso aiacute Outra parada eram os barracos De vez em quando tinha nego montando um baita dum barraco no meio deles

B ndash Era tudo barraqueiro

A ndash Natildeo tudo natildeo mas parece que tinha uns cara especializado nessa parada meu

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QUINTO

ENSAIO

B ndash Cara isso era moacute zona entatildeo Mermatildeo

A ndash Sei laacute neacute Mas diz que os caras ameaccedilavam se jogar dos preacutedios invadiam preacutedio abandonado toda hora batia poliacutecia Um outro passava de carro nos pontos de ocircnibus baixava as calccedilas e mostrava a bunda pra galera Pocirc meu os cara soacute faziam merda

B ndash Taacute loco

A ndash Pra tu vecirc como os cara eram maneacutes meu eles enterravam livro zero bala Eles podiam vender fazer uma grana Mas eles enterravam assim sem plaacutestico sem nada cara

B ndash Orra meu papelzinho bom pra enrolar um bagulho Enfiado no barro cara

A ndash Entatildeo Outra parada eacute que tinha um cara que chegava no ouvido dos outros e dizia que entregava a rosquinha

B ndash O quuuuuuecirc

A ndash Eacute Dizia queacute comecirc minha rosquinha Na cara dura Tudo bem Ele vendia quer dizer Cobrava mas pocirc meu Um negoacutecio assim soacute em pensar jaacute doacutei neacute

B ndash Taacute doido meu Mas ele natildeo dava de verdade neacute

A ndash Sei laacute Neacute Tinha um outro que jogava bombinha falhada num lixeiro E nada E tinha gente mais maluca ainda que achava isso o maacuteximo Tem tapado pra tudo mesmo neacute

B ndash Pocirc meu bombinha eacute pra estourar eacute pra fazer o escarceacuteu eacute pra fazer festa

A ndash Um outro pendurou uma cadeira e deram

um precircmio natildeo sei de quecirc pro cara

B ndash Taacute me gozando

A ndash Seacuterio Aliaacutes diz que pra ganhar precircmio a turma fazia o diabo Enchiam os corno de jurado com cerveja Diz que tinha um que pra tentar ganhar um precircmio ficava trepado em cima de uma roda por mais de uma hora

B ndash Era doido

A ndash Sei laacute Mas o cara ficava

B ndash Deviam mandar ele pro pinel

A ndash Por falar nisso cara tinha uma turma inteira Cara eram uns quinze tudo misturado cara era homem mulher novo velho tudo junto Que corriam pelados no meio da noite Pelo mato pelos campos de futebol pelas cachoeiras Assim peladotildees meeeeeismo

B ndash Na boa

A ndash Na maior Diz que era ateacute feio de ver Mas cara nunca vi Eles gostavam de ficar pelados Era no mato na praia no apartamento no palco Era tudo pirado cara

B ndash Natildeo era agrave toa que batia a poliacutecia

A ndash Ahhh E tinha um tal de um metido a escritor que natildeo escrevia coisa com coisa

B ndash Como assim

A ndash Soacute falava de papo de becircbado de chuva de briguinhas daqueles barraqueiros

B ndash Ei mas natildeo foi esse cara que disse pra tu natildeo falar isso dele aqui Que ele ia te deletar deste texto

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QUINTO

ENSAIO

A ndash Falou Mas o chapa que me mandou aqui disse que natildeo tem essa Depois que a coisa ta impressa ningueacutem mais deleta porra nenhuma Fica frio

B ndash Ahhh Entatildeo taacute Mas por via das duacutevidas eu vou dar no peacute (sai)

A ndash Eacute cara acho que falamo muita merda em pouco tempo vambora (sai tambeacutem)

FIM

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=kWaN1pZovGgEntrevistawwwyoutubecomwatchv=7x_ReaLb3Io

A PEDIDOS

Por Giba de Oliveira

(Ao entrar na plateia o puacuteblico encontra no palco um muacutesico com seu violatildeo Ele estaacute ao fundo na direita sentado sobre uma simples banqueta tocando e cantando a muacutesica TERRA de Caetano Veloso Numa mesa mais deslocada agrave direita baixa sob um foco de luz estatildeo sentados Luciano e Francisco Observam o muacutesico ateacute o final da muacutesica Os dois estatildeo em silecircncio entorpecidos mas NAtildeO estatildeo embriagados ora fumando ora bebendo Aliaacutes fumam muito)

Muacutesico ndash A pedidos (comeccedila a dedilhar a proacutexima muacutesica CAacuteLICE de Chico Buarque de Hollanda)

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QUINTO

ENSAIO

Francisco ndash A Pedidos Por que ele falou isso

Luciano ndash Porque algueacutem pediu

Francisco ndash Foste tu

Luciano ndash Fui eu

Francisco ndash Tu eacutes um merda mesmo Essa muacutesica se chama Caacutelice

Luciano ndash Foda-se

Francisco ndash Caacutelice

Luciano ndash Taacute E esse Festival

Francisco ndash JOTE-titac Jogos Jogos

Luciano ndash Jogos Certo O que acontece Eacute um tipo de RPG

Francisco ndash Tu parece crianccedila poxa Trata-se de um concurso cecircnico de cunho cultural onde grupos e autores participam Os grupos com seus elencos e teacutecnicos e os autores por sua vez com seus textos Tendeu

Luciano ndash Putz Taacute parecendo telecurso segundo grau explicando uma soma de quadrados

Francisco ndash Entatildeo faz o seguinte o seu merda

Luciano ndash Faz o quecirc

Muacutesico ndash Um minuto de intervalo e voltamos jaacute

Francisco ndash Caraiu Na horinha neacute Vai meu filho vai Vai laacute

Luciano ndash Porra cara Tu natildeo ias falar de uma peccedila de teatro que tu ias escrever

Francisco ndash Vou falar Calma

Luciano ndash Tocirc calmo

Francisco ndash Entatildeo

Luciano ndash Vamu laacute

Francisco ndash NuTE

Luciano ndash Hatilde Que eacute isso

Francisco ndash Aiacute natildeo vai dar Tu eacutes muito ignorante porra

Luciano ndash Fala aiacute cacete Eu sou bom em entender as coisas

Francisco ndash Entende nada De cultura tu natildeo entendes nada

Garccedilom ndash (aparecendo de repente Trata-se do muacutesico disfarccedilado) Mais alguma coisa

Luciano ndash Hatilde Deixa eu ver Peraiacute Tu saberias me dizer por um acaso do destino o que significa a palavra NuTE

Garccedilom ndash Pois natildeo o Nuacutecleo de Teatro e Escola fundado Nuacutecleo de Teatro Experimental por Alexandre Venera dos Santos em 1984 tendo muitos e importantes colaboradores durante vaacuterios anos em que atuou na Sociedade Dramaacutetico Musical Teatro Carlos Gomes de Blumenau eacute foi e continua sendo uma das maiores correntes artiacutesticas legiacutetimas do sul do Brasil

Luciano ndash Hatilde

Garccedilom ndash Eacute servido com molho madeira batata frita e salada Mais alguma coisa

Francisco ndash Deixa ele O lance eacute o seguinte Luciano

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QUINTO

ENSAIO

Luciano ndash Fala aiacute Francisco

Francisco ndash Decorou o nome neacute

Luciano ndash Fala da tua peccedila caralho

Francisco ndash Entatildeo Vamos supor o seguinte aiacute o negoacutecio consiste em vocecirc escrever um texto E eu escrevi um

Luciano ndash Sim Adiante

Francisco ndash Eacute assim oacute (blackout) Hummmmmm acabou a luz (o cenaacuterio muda de lugar em 90 graus A luz volta O muacutesico volta)

Muacutesico ndash Desculpem a falha teacutecnica Com vocecircs uma muacutesica da nossa querida Juliana Muller

Francisco ndash Nossa Sou tarado nessa mulher

Luciano ndash Se concentra porra

Francisco ndash Mas ela eacute gostosa

Luciano ndash Pensa no Tadeu

Francisco ndash Aiacute tu forccedilas a amizade Tu sabes que o veacuteio Tadeu eacute gecircnio

Luciano ndash Dizem que o Tadeu eacute um Bruxo

Francisco ndash Parece que bebe Mas taacute Laacute vai Eacute assim oacute o cara eacute um detetive que vai narrando os acontecimentos num gravador como se descrevesse uma cena

Luciano ndash Como seria

Francisco ndash Fique atento A luz se apaga Ele estaacute com uma lanterna Respira ofegante (enquanto vai falando a luz muda e ele assume a personagem do detetive Existe muita fumaccedila no ambiente agora Ele carrega uma arma com

uma das matildeos e com a outra empunha uma lanterna) Vejo um caminho por aqui Vou seguir em frente Estaacute bem nublado Aqui termina a trilha Estou ouvindo um ruiacutedo acho que eacute um riacho Haacute uma pequena represa aqui Estaacute bem escorregadio Mas estaacute relativamente faacutecil de Tem algueacutem aiacute Tem algueacutem aiacute Escutei sons de passos mais adiante Parado Parado eu jaacute disse Parado ou eu atiro Ele estaacute fugindo (Anda por entre a plateia lentamente com a arma e a lanterna A fumaccedila em abundacircncia continua Logo se pode ver trecircs lanternas em meio agrave escuridatildeo sendo duas na plateia de lados opostos e outra no palco Francisco fala para a segunda lanterna na plateia) Quem eacute vocecirc Fique parado Bote sua arma no chatildeo junto com a lanterna Agora

Luciano que agora eacute outro ndash Calma Sou amigo Natildeo atire Calma por favor calma

Francisco ndash Quem eacute vocecirc

Luciano ndash Um amigo

Francisco ndash O que vocecirc fazia na casa de Elizabeth

Luciano ndash Elizabeth Eu fui avisaacute-la Algueacutem estaacute tentando matar Elizabeth (Ouve-se um tiro A terceira lanterna sai correndo em disparada Luciano cai no chatildeo)

Francisco ndash Natildeatildeatildeo

Luciano ndash Eu amava Elisabeth Jamais faria mal a ela

Francisco ndash Quem a queria morta Diga o nome

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QUINTO

ENSAIO

Luciano ndash Lorival

Francisco ndash Natildeatildeatildeatildeatildeooooooo (Novo blackout Ao voltar a luz o cenaacuterio estaacute totalmente invertido O muacutesico em sua banqueta e os dois amigos sentados agrave mesa Muacutesica Aacuteguas de marccedilo de Tom Jobim)

Luciano ndash E aiacute Acabou Ele morre e o bandido foge

Francisco ndash A arte imita a vida meu amigo

Luciano ndash Tu estaacutes mentindo Tu nunca dirias uma besteira dessas

Francisco ndash Tens razatildeo Mas somos artistas Vivemos em mundos onde tudo eacute possiacutevel posto que eacute feito de ideias de imaginaccedilatildeo sons e imagens Cores e formas

Muacutesico ndash E poesia Aacutetomos Nuacutecleos

Francisco ndash Isso mesmo E poesia porque se trata de uma homenagem ao belo ao fundamental nas nossas vidas Pra alimentar nossos espiacuteritos Jaacute tatildeo sofridos

Luciano ndash E como seraacute o tiacutetulo

Francisco ndash Eu natildeo faccedilo a menor ideia (Ficam os dois em silecircncio contemplativo)

Muacutesico ndash A pedidos (With Or Without You do U2 Os dois se olham interrompendo o fluxo de cigarros A luz vai saindo em Fade Out O cenaacuterio gira e agora todos estatildeo de costas com uma luz contra muito tecircnue Os dois continuam gesticulando na mesa como se conversassem O muacutesico continua) Queremos agradecer as

pessoas que fazem o mundo brilhar Alexandre Venera dos Santos Wilfried Krambeck Carlos Crescecircncio dos Santos Peacutepe Sedrez Siacutelvio da Luz Giba de Oliveira Niralciacute Ferreira Rosane Magaly Martins Tacircnia Rodrigues Antocircnio Leopolsky Janice Penzzotti Jeniffer Penzzotti Klaus Jensen Tadeu Bittencourt Eacutedio Raniere Joseacute Aparecido da Silva Juliana Muller Leonel Campos Wladimir Juliano Treiss Cristiane Muller Joseacute Ronaldo Faleiro Otto Aacutelvaro Tanise Diogo Pollyanna Maria da Silva Andrea dos Santos Polly Vendrami Kadu Nassau de Souza Douglas Zuninno Janaiacutena Gabriela Luciana May Denniz Raduumlnz Juceacutelia Zimmermann (aqui poderatildeo ser incluiacutedos outros nomes que provavelmente foram omitidos por puro esquecimento Na saiacuteda da plateia essa relaccedilatildeo deveraacute ser entregue com a ficha teacutecnica do elenco)

FIM

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=0LpZEZRun4MEntrevista wwwyoutubecomwatchv=jix56Qib3tg

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QUINTO

ENSAIO

APRESENTACcedilAtildeO DOS ESPETAacuteCULOS ou Quando se Experimenta

OITO OLHARES sobre o NuTE

CRINU E CASTITE

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Texto de Dostuevisqui da SilvaGrupo LEGUME PalhaccedilosDireccedilatildeo Telja RebelattoElenco Ana Peres Batista Juliana Goldfeder Charles AugustoMuacutesico Lucio LocateliProduccedilatildeo Italo ReisFotografia Glaucia MaindraImagem-documentaacuterio Glaucia Maindra Italo ReisMaquiagem Ana Peres BatistaFigurino Juliana Goldfeder Telja RebelatoIluminaccedilatildeo Charles AugustoCenografia O GrupoCoreografia Telja Rebelato Ana Peres Batista e Juliana Goldfeder

Espetaacuteculowwwyoutubecomwatchv=4hE9tk8zg7k

MAQBEacuteTE UMA INTERFEREcircNCIA NA TRANSMISSAtildeO

Texto de Iran da SilveiraGrupo Elementos em CenaDireccedilatildeo Cleber Lach Codireccedilatildeo Roberto MurphyElenco Dorly Luchini Luacutecio Mello Roberto Murphy Juliana Skutnik Adriana DellagustinaSonoplastia Rubens Iluminaccedilatildeo Rubia Cris

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=lWClvHpyisw

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O DE PRETO O DE BRANCO E OS DE CORES ou um despretensioso questionamento

Texto de Wilfried KrambeckGrupo Trupe SOU de Experimentaccedilotildees TeatraisDireccedilatildeo Geral Gisele BauerElenco Ana Acaacutecia Schuarz Schuumller Faacutebio Schmidt Fernanda Borges Raupp Kaio Gomes Bergamim Mariluce Rodrigues de FreitasSonoplastia Ramon Jerocircnimo Trajano e Carlos Alexande SchurubbeProduccedilatildeo Anna Mock

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=PVPk3U91iEQ

O MONSTRO DE NUTESTEIN

Texto Wilfried KrambeckGrupo Grupo AmaDoresDireccedilatildeo Marco Antonio de Oliveira e Samantha BernardoElenco Daniella Curtipassi Leonel Curtipassi Marco Antonio de Oliveira Mariella Kratz Samantha BernardoProduccedilatildeo Alexandre Silveira Daiana Hostins Diego Vargas Guilherme Reddin Ruan Rafael RosaFotografia Imagens e Sonoplastia Grupo AmaDores

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=zQcabJ0A8a8

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QUINTO

ENSAIO

TRABALHO SUJO

Texto de Iran da SilveiraGrupo KonvidadosDireccedilatildeo Rafael KoehlerElenco Angelene Lazzareti Daidrecirc Thomas Daniela Farias Edegar Starke Joanna Oliari Kriseacuteven Campana e Rafael KoehlerCoreografia Edegar StarkeSonoplastia Joanna OliariFigurino Luacute MayProduccedilatildeo Pedro Wolff e Bianca MacoppiImagem-documentaacuterio Bianca Macoppi e Rafael KoehlerIluminaccedilatildeo Joanna Oliari

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=9Bk5DUrY-eQ

O AUTOR ESQUARTEJADO

Texto de Afonso NilsonGrupo Kontra Senha do Lado AvessoDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzElenco Patriacutecia Aracelli Bieging Anna Lena Riffel Igor Trapinauska Nayara Aline Schmitt Azevedo Katherine HogeProduccedilatildeo Cristiane Serpa da Luz Katherine HogeFigurino e Cenaacuterio O GrupoMaquiagem Patriacutecia Aracelli BiegingIluminaccedilatildeo Silvio Joseacute da Luz

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=9Bk5DUrY-eQ

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QUE CHEIRO Eacute ESSE

Texto de Wilfried KrambekGrupo BadulakDireccedilatildeo Jean MassaneroElenco Aline Barth Elisangela Franccedila (Zanza) Jorge Gumz Leomar Peruzzo Suellen JunkesIluminaccedilatildeo Jean MassaneroSonoplastia Aline BarthCenografia Kethlin Luana GusawaFigurinos Bruna Aline Moraes Suellen Junkes Priscila Franzoi Elisangela FranccedilaMaquiagem Bruna Aline Moraes Priscila Franzoi Suellen Junkes Jorge GumzProduccedilatildeo Kethlin Luana GusawaFotografia Dora MoraesImagem-documentaacuterio Priscila FranzoiParticipaccedilatildeo Especial Maicon (violino)Recomendaccedilatildeo 18 anos

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=IfWQ9Jfc_ZE

A PEDIDOS

Texto de Giba de OliveiraGrupo Equipe ViacutesCera de TeatroDireccedilatildeo Maicon Robert KellerElenco Cleiton Jr Pereira da Rocha Ciacutentia Daniela Galz Ciacutentia Tribess Denis Roberto Inaacutecio Evair Graciola Mayara Luana VoltoliniMaquiagem Fabriacutecio Gustavo Gesser CardosoIluminaccedilatildeo Maicon KellerCenografia e Figurinos Equipe ViacutesCera de TeatroProduccedilatildeo Executiva Fabriacutecio Gustavo Gesser CardosoProduccedilatildeo Geral Equipe ViacutesCera de Teatro

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=U1ZpVSuj_3I

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ENSAIO

cena do espetaacuteculo ldquoa mortardquo atriz-paacutessaro janaina meneghel

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SEXTO

ENSAIOSEXTO ENSAIO - 08 DE JULHO DE 2015

Ensaio Final de Quarta-feiraNo reloacutegio do bar marcam 23h12min

Imagem Insistente Estreia

Passamos os meses de maio e junho trabalhando quase que diariamente no espetaacuteculo Com a estreia marcada para 10 de julho ontem e antes de ontem tentamos um ensaio geral Apesar de um grande esforccedilo coletivo a sensaccedilatildeo que transbordava era de um espetaacuteculo ainda em desenvolvimento parecia natildeo estar pronto carecia de algo precisava ser finalizado No ensaio de hoje agrave noite mais uma vez isso se repetia O grupo um tanto ansioso com a estreia um tanto perturbado com o inacabado entreolhava-se todos os corpos mesmo os inumanos e ateacute os imoacuteveis transpiravam interrogaccedilotildees Como vai ser O que fazer O puacuteblico vai gostar Algueacutem vai nos criticar Vatildeo nos aplaudir Vai aparecer um personagem ressentido que natildeo foi entrevistado nos acusando de usar indevidamente o dinheiro puacuteblico Vai aparecer uma empresa muito impressionada com nosso trabalho querendo patrocinar um novo projeto via alguma lei de incentivo agrave cultura Vatildeo nos amar odiar desprezar Ficaratildeo entediados surpresos assustados Algueacutem vai sorrir E laacutegrimas Seraacute que

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SEXTO

ENSAIO

Laacute pelas tantas Silvinho propotildee uma intervenccedilatildeo etiacutelica O bar a essa altura do campeonato parecia ser realmente a uacutenica soluccedilatildeo possiacutevel Fomos beber

Chegando ao estabelecimento aproximamos duas mesas e solicitamos ao garccedilom a primeira rodada de cerveja pois em Blumenau mesmo no frio de julho sempre se bebe cerveja Depois da quinta ou sexta rodada algumas boas ideias comeccedilaram a surgir

ndash E se no meio da peccedila a gente explodir tudo podemos citar O Homem do Capote e mandar tudo pros ares teatro puacuteblico cadeira BUMMMM tudo voando voando ia ser lindo

ndash Eacute uma boa Faria sucesso de criacuteticandash Olha pessoal pra dizer a verdade eu

acho que faltou alguma coisa por isso estamos assim

ndash Assim como becircbados ndash risosndash Meu analista sempre diz que a falta tem

relaccedilatildeo com o Complexo de Eacutedipondash Eacutedipo Quem sabe se a gente chamasse a

tua matildee entatildeondash Natildeo porra Tocirc falando seacuterio Tipo a editora

πpa por exemplo eacute uma marca forte do NuTE Numa eacutepoca que circulava pouquiacutessimo material sobre teatro na regiatildeo o que se conseguia traduzir por sorte encontrar ou mesmo produzir publicava-se por laacute onde eacute que se fala dessas publicaccedilotildees

ndash No Quarto Ensaiondash Taacute mas pera laacute o que acontece natildeo vai aleacutem

de uma citaccedilatildeo Lembro que Alexandre havia

deixado pra gente aleacutem dos aperitivos cecircnicos um tal de Aperitivo Livretante Esse Aperitivo Livretante era sobre a editora πpa O problema eacute que ningueacutem utilizou porque aquele merda do Ator Guerrilheiro provocou uma guerra dentro do grupo a maioria dos atores abandonaram os ensaios mal conseguimos encenar o aperitivo escolhido Ou seja natildeo existe nenhuma cena sobre essas publicaccedilotildees

ndash Por isso que eu sugeri chamar a tua matildee tais entendendo agora Podemos sentar a veacuteia numa banqueta e dar uma plaquinha pra ela ficar segurando PIPA Vai ficar joia joia

ndash Eu acho que o que estaacute publicado fala de si com muito mais forccedila do que aquilo que tenta interpretaacute-lo Natildeo tinha uma rubrica no projeto destinada a impressotildees de material

ndash Sim Natildeo usamos nada ainda taacute laacute esperando

ndash Por que entatildeo a gente natildeo seleciona esse material publica em formato de livreto e distribui ao puacuteblico durante nossas apresentaccedilotildees

ndash Eacute uma boa ideiandash Eacute uma excelente ideiandash Eacute uma ideia que merece um brinde ndash Cacete acabou a cerveja Garccedilom Traz

mais quatro cervejas aqui por favorO garccedilom trouxe as cervejas Bebemos As

cervejas acabaram pedimos mais uma rodada Depois da comemoraccedilatildeo borbulhante um silecircncio travoso amargava na boca Amargou amargou ateacute que Juliana pedindo mais uma rodada saiu com essa

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SEXTO

ENSAIO

ndash Eu ainda acho que faltou pesquisa sobre a Estereocena

ndash Bobagem a Estereocena aparece no Segundo Ensaio Tem um trecho enorme da entrevista do Alexandre explicando o que eacute vocecirc ateacute participa da cena lembra Com os projetores multimiacutedia

ndash Sim sim eu sei mas tudo acontece num relacircmpago eacute raacutepido demais pra importacircncia que tem Acho que poderiacuteamos ter explorado mais

ndash O que dizer entatildeo do JOTE-Titac ndash interrompe Wilfried

ndash Natildeo Wilfried peraiacute cara Tem um Ensaio inteiro sobre o JOTE-Titac

ndash Mas eacute pouco deveria ter mais coisasndash Tipo o quecircndash Tipo uma cronologia como aquela do

Terceiro Ensaio onde apareceriam os textos premiados seus respectivos autores bem como os espetaacuteculos encenados Algo com maior embasamento histoacuterico Acho justo porque o JOTE-Titac foi uma das coisas mais intensas do NuTE

ndash Mas isso jaacute foi feitondash Ondendash No livro Jogos de Teatro 12 anos de

Teatro em Blumenau publicado pela Cultura em Movimento em 2000

ndash Sim mas eacute um tratamento totalmente diferente do que estamos dando aqui Insisto pois existem quilos de material inclusive catalogados pela pesquisa sobre as treze

ediccedilotildees do JOTE-Titac que natildeo utilizamos pra nada

ndash Olha ndash diz Peacutepe pegando um gancho ndash se for pra fazer mais um Ensaio sobre o JOTE-Titac acho que o foco entatildeo deveria ser a pulsaccedilatildeo artiacutestica que acontecia ao redor do NuTe os poetas os muacutesicos os artistas plaacutesticos os bailarinos todo aquele clima de efervescecircncia artiacutestica que rolava bem como todos os grupos de teatro que se formaram dentro do NuTE Antes de montarmos a Cia Carona de Teatro por exemplo havia o Grupo Carona para Irmatildeo Sol e Irmatildeo Lua ambos foram antecedidos pelo Grupo Meu Grupo que nasceu dentro do NuTE Tudo comeccedilou ali Sobre isso quase nada foi dito Acho que satildeo coisas que ficaram agrave margem

ndash Mas Peacutepe esse troccedilo daria outro livro digo outro espetaacuteculo

ndash Cada um desses temas daria outro espetaacuteculo por si soacute

ndash Isso eacute verdade ndash respiraccedilotildees As palavras se calam apenas os copos conversam

ndash Garccedilom traz mais quatro cervejas por favor

Depois de alguns goles emudecidos Afonso diz

ndash E se ao inveacutes de preencher com algo faltante criaacutessemos alguns buracos pra coisa toda escapar

ndash Do que vocecirc estaacute falandondash Daacute licenccedila lembrei de que preciso ir ao

banheiro

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SEXTO

ENSAIO

ndash Talvez ndash Afonso explica ndash estejamos procurando no caminho errado parece-me que o espetaacuteculo natildeo precisa de algo a mais mas sim de uma fissura por onde escapar um duto atraveacutes do qual ele possa correr para todos os lados uma linha de fuga

ndash Acho que vocecirc estaacute becircbado ndash gargalhadas

ndash Peraiacute pessoal vamos tentar entender a ideia

ndash Taacute bom Entatildeo me diz como eacute que vamos abrir buracos ndash risos ndash num espetaacuteculo

ndash Bem eu natildeo tenho exatamente uma receita pronta pra fazer isso mas se vocecircs concordarem podemos comeccedilar aceitando o fato de que o NuTE natildeo cabe em um espetaacuteculo

ndash Como assim

ndash Acho que deveriacuteamos aceitar que nossa pesquisa eacute falha fraacutegil que construiacutemos um mapa provisoacuterio um mapa que para funcionar bem precisa ser conectado a outros mapas e esses outros mapas nem existem ainda estatildeo por vir

ndash Eu natildeo concordo com isso Em minha opiniatildeo o espetaacuteculo precisa abarcar o NuTE como um todo

ndash Como um todo ou como um tolo ndash risos

ndash Quem comeu o tolo ndash mais risos

ndash O Tolo ou o Bolo ndash ningueacutem achou graccedila Constrangimentos Calados todos bebem

ndash Cara essa ideia de todo eacute meio boba vocecirc natildeo acha

ndash Bobandash Eacute Meio ingecircnua Quem eacute que consegue

realmente fazer isso A descriccedilatildeo eacute sempre parcial Para se falar sobre qualquer coisa deixamos de falar sobre inuacutemeras outras Natildeo tem jeito de escapar Lembra quando Barthes diz que escrever eacute um gesto poliacutetico que vocecirc precisa optar a cada letra a cada viacutergula por uma esteacutetica por uma eacutetica33

ndash Se estou entendo bem vocecirc estaacute querendo me convencer de que deixar a coisa pela metade eacute aceitaacutevel

ndash Mais que isso Estou tentando te dizer que o fragmento eacute muito mais interessante que a totalidade

ndash Vocecirc pode ateacute achar o fragmento mais interessante agora para que as pessoas consigam entender o que foi o NuTE elas precisam do todo O fragmento natildeo vai ajudaacute-las a aprender melhor

ndash Aprender Mas por que cargas drsquoaacutegua te preocupas em ajudar as pessoas a aprender Natildeo haacute nada para se aprender aqui O que estamos fazendo passa muito mais por uma esfera artiacutestica do que racional Isso aqui natildeo eacute catequese natildeo eacute aulinha de telecurso do segundo grau Soacute queremos servir agrave histoacuteria agrave medida que ela serve para a vida Se a histoacuteria natildeo serve para a vida ela natildeo nos serve34

ndash Ah Essa eacute boa Se a funccedilatildeo desse espetaacuteculo natildeo eacute construir um aprendizado sobre o NuTE entatildeo ele serve pra quecirc

ndash Para libertar as pessoas

33 Roland Barthes em Grau Zero da Escritu-ra

34 Friedrich Nietzs-che Da utilidade e des-vantagem da histoacuteria para a vida

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SEXTO

ENSAIO

ndash Vocecirc estaacute becircbado soacute pode ser ndash risosndash Entatildeo vou chamar algueacutem soacutebrio que fale

por mim Pode serndash Vai ser difiacutecil encontrar um por aqui

hein ndash risos Afonso apanha sua mochila preta e retira

de dentro dela um volumoso livro de capa esverdeada Folheia algumas paacuteginas ateacute chegar agrave 147 Por fim aos ouvidos ansiosos em sua volta sorrindo potildees-se a ler

Torna-se decisivo que o abandono da totalidade natildeo seja pensado como deacuteficit mas como possibilidade libertadora ndash de expressatildeo fantasia e recombinaccedilatildeo ndash que se recusa a ldquofuacuteria do entendimentordquo35

ndash Na minha opiniatildeo se essa foi se noacutes a utilizamos para levantar esse espetaacuteculo tambeacutem deve continuar sendo a poliacutetica do NuTE Mesmo sem saber mesmo quando natildeo era proposital NuTE sempre esteve work in progress Se utilizamos o mesmo recurso para montar um espetaacuteculo sobre esse tema precisamos minimamente zelar por essa estrutura Tentar falar do NuTE atraveacutes de uma totalizaccedilatildeo eacute trair o processo NuTE que sempre preferiu os fragmentos que sempre buscou libertar a si mesmo e ao mundo da fuacuteria do entendimento da grande razatildeo da consciecircncia que tudo apreende que tudo sabe que tudo ensina que tudo enjaula tranca aprisiona Natildeo podemos ter a arrogacircncia a presunccedilatildeo e a prepotecircncia de querer ensinar as pessoas o que foi o NuTE Montar uma NuTE-Biografia eacute ridiacuteculo eacute romacircntico demais

35 A expressatildeo ldquofuacuteria do entendimentordquo eacute de Jochen Horisch a ci-taccedilatildeo foi extraiacuteda de Teatro Poacutes-Dramaacutetico de Hans-Thies Leh-mann

eacute pateacutetico Se algum cheiro sabor clima tom nuteanescos chegarem agraves pessoas atraveacutes de nosso espetaacuteculo eacute justamente porque ele natildeo eacute totalitaacuterio eacute porque conseguimos de alguma forma manter o processo em aberto Natildeo podemos transformar a vida palpitante plena de energia num produto finalizado bom apenas para se expor em vitrines Aleacutem do quecirc NuTe escapa por todos os lados natildeo permite uma apropriaccedilatildeo parece haver intrincado em seu proacuteprio funcionamento uma maacutequina anarco-rizomaacutetica que estende suas paisagens-memoacuteria em muacuteltiplos sentidosdireccedilotildees NuTE natildeo se deixa apanhar governar definir catalogar restringir dizer o que eacute Assim se esta pesquisa se quer filiada ao que busca pesquisar nada melhor que anunciar suas fragilidades seus equiacutevocos suas dificuldades Nada mais natural que provocar outros pesquisadores a escrever-encenar sobre o NuTE Pois era assim que tudo funcionava dentro do NuTE Certa vez escutei Alexandre Venera dizendo que o momento mais interessante de um espetaacuteculo eacute a sua montagem Por que natildeo fazemos disso o nosso refratildeo

ndash Porque agora meu caro filoacutesofo noacutes precisamos estrear depois de amanhatilde vai acontecer a estreia deste trabalho e natildeo vai ter nenhum desses conceitosinhos bonitos no palco para nos proteger de um grande vexame

ndash Pessoal eu sei que estamos haacute um bom tempo nos dedicando a esse espetaacuteculo Sei que as pessoas viratildeo nos assistir Muitas delas estatildeo esperando assistir uma Nute-Biografia

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SEXTO

ENSAIO

uma historinha iniacutecio-meio-fim sobre o NuTE O que precisamos responder para noacutes mesmos eacute afinal de contas o que noacutes temos para dar a elas O que vamos apresentar O que temos para encenar

ndash Ensaiosndash Exatamente Vamos apresentar nossos

ensaios nossos fragmentos Nossas tentativas de montar um espetaacuteculo Ou melhor a proacutepria montagem Vamos lhes apresentar nas palavras de Venera aquilo que haacute de mais interessante num espetaacuteculo Eacute isso que vamos encenar Se estiveacutessemos escrevendo um livro e a estreia fosse sua publicaccedilatildeo seria correto dizer que mesmo depois de publicado ele continuaria em desenvolvimento Nonstop Work in Progress Jaacute que a biblioteca Nutrindo permaneceraacute aberta a novos nutrientes materiais encontrados em pesquisas que estatildeo por vir o blog NuTE Para Todos vai hospedar a publicaccedilatildeo para que todos possam livremente baixar ler comentar quando e como lhes parecer melhor Assim as discussotildees realizadas que se acumularam durante a montagem natildeo param por aqui vatildeo continuar acontecendo mesmo depois da estreia-publicaccedilatildeo Trata-se de um espetaacuteculo em devir onde natildeo interessa tanto a histoacuteria factual os proacuteprios fatos mas sim algo que a arte permite acessar e que as convenccedilotildees da vida cotidiana tendem a bloquear Nesse sentido o espetaacuteculo natildeo serve como um totalizador histoacuterico do que aconteceu mas sugere pistas de como acontecia dos principais nutrientes e dos venenos mais consumidos forccedilas natildeo menos intensas que o fizeram improdutivo em

sua uacuteltima fase ndash Olha isso taacute muito lindo tocirc ateacute ficando

emocionado natildeo sei se eacute a cerveja agraves vezes me daacute uma caganeira desgraccedilada Mas vocecirc acha mesmo que podemos sustentar o espetaacuteculo nessa coisa meio sem chatildeo que a arte permite acessar e que a vida cotidiana tende a bloquear Isso natildeo fica meio como dizer solto quase metafiacutesico um papo de becircbado natildeo

ndash Tudo eacute deliacuterio mesmo o mais seacuterio dos burocratas passa a vida a se embriagar com coacutedigos sistemas nuacutemeros Mesmo o revolucionaacuterio que tomou para si a missatildeo de melhorar o mundo conscientizando as massas iluminando a todos mesmo Don Quixote ou o mais sisudo dos empresaacuterios de terno e gravata tambeacutem o Cavaleiro Inexiste uma dona de casa lavando roupa um pescador na proa do barco ou Gurdulu em sua sopa todos deliram Natildeo existe outra saiacuteda para a existecircncia humana que natildeo seja o deliacuterio

ndash Isso tambeacutem eacute bonito mas natildeo diz merda nenhuma

ndash Natildeo diz pra ti estaacute tudo aiacute seu babaca ndash Tudo o quecircndash Vou tentar te explicar com laranjas

Presta atenccedilatildeo A vida humana impotildee um problema a todos Indiferente de classe social gecircnero etnia crenccedila grau de inteligecircncia ningueacutem ningueacutem mesmo atravessa a vida sem responder a isso Se vocecirc quiser conversar com os humanistas de plantatildeo talvez esta possa ser a condiccedilatildeo humana aquilo que nos

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SEXTO

ENSAIO

difere dos outros animais Ter que responder a isso ou melhor responder a isso eacute o que passamos a vida fazendo Eacute um problema bem simples ateacute de se colocar Mas a sua resposta eacute muacuteltipla existem centenas de milhares de possibilidades E a vida de cada um de noacutes eacute exatamente aquilo que conseguimos dar como resposta a esse problema O NuTE portanto meu caro eacute uma resposta

ndash Mas do que vocecirc estaacute falando agora cacete resposta do quecirc Que maluquice de problema universal eacute esse que o NuTE responde

ndash O NuTE eacute uma resposta agrave finitude da vida uma resposta agrave morte A gente falou um pouco sobre isso no Quarto Ensaio lembra Qualquer inseto camundongo cachorro girafa avestruz percevejo ou rinoceronte eleva ao maacuteximo o grau de potecircncia em sua vida Com exceccedilatildeo do homem os animais estatildeo instintivamente equipados para fazer de sua pequena existecircncia um nuacutecleo de poder Mas nossa espeacutecie foi amaldiccediloada com a consciecircncia sabemos que vamos morrer sabemos que enquanto estivermos vivos vamos sofrer e sabemos que natildeo haacute sentido natural nisso Eis o problema humano o que fazer com isso como lidar com essa falta ou na formulaccedilatildeo proposta por Grotowski Como Viver

ndash Vocecirc estaacute insinuando que Deus natildeo existendash Natildeo Estou dizendo que Deus eacute uma

respostandash Ah Bom pensei que vocecirc fosse O quecirc

Uma resposta Vocecirc quis dizer que Deus eacute a resposta

ndash Natildeo Eu quis dizer exatamente o que disse Deus eacute uma resposta assim como a ciecircncia eacute uma reposta assim como a arte eacute uma resposta assim como a cerveja o sexo o dinheiro o trabalho o amor passar a vida economizando cada centavo para comprar aquela casa aquele carro aquela roupa satildeo respostas que nos conectam com a vida Eis o sentindo mais profundo do Religare Enquanto nos ocupamos em responder esquecemos temporariamente o problema e assim a vida se torna possiacutevel

ndash Mas isso eacute um absurdo ndash interrompendo ndash Vocecirc natildeo pode colocar Deus NuTE um carro por melhor que seja mesmo se for uma Ferrari no mesmo niacutevel de uma peccedila de roupa ou de um copo de cachaccedila

ndash Olha querido vou te contar dependendo a peccedila de roupa que eu quiser comprar pode custar o mesmo preccedilo da sua Ferrari ndash risos

ndash Ah Vatildeo agrave merda Natildeo eacute disso que estou falando e vocecircs sabem Se tudo eacute igual se tudo vale a mesma coisa se nada eacute melhor ou pior entatildeo esse espetaacuteculo eacute um presente de grego Promete levar o puacuteblico a experimentar NuTE em sua embriaguez dionisiacuteaca seu Work in Progress de intensidades e deliacuterios mas o que realmente faz eacute cavar um buraco niilista para enterrar a todos Seduz o puacuteblico tal qual o Flautista de Hamelin com belas imagens e conceitos e quando todos estatildeo dentro do espetaacuteculo abre o chatildeo e os despeja num imenso vazio Ao inveacutes de chamar NuTE Para Todos esse projeto deveria ter sido batizado de

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SEXTO

ENSAIO

Niilismo Para Todosndash Garccedilom traz mais umas cinco cervejas

por favorndash Acabou meu cigarro posso pegar um dos

teusndash Claro Algueacutem mais quer Vou deixar aqui

na mesa se quiserem eacute soacute pegarDennis acende um cigarro toma um gole da

cerveja gelada que acabou de chegar e por fim quando o copo se assenta na mesa categoacuterico respira

ndash A casa comeccedila no caos sendo acaso caacutelculo coito como sacas de cal ou sinais escavados caiados nos ocos36

ndash E daiacutendash Quis dizer que soacute existe um jeito de se

ultrapassar o niilismo ndash silecircncio ndash Indo ao fundo ao mais profundo ao para

aleacutem da casa vazia Amor Fati ndash Escuta acho que estou um pouco becircbado

do que ele estaacute falando heinndash Que para superar o niilismo eacute preciso

encaraacute-lo de frente ou seja aceitar a vida como ela se apresenta Topar a finitude o sofrimento a ausecircncia de sentido como o pedreiro toma um saco de cimento para construir uma casa Se jaacute natildeo conseguimos mais nos esconder na barra da saia de um Deus morto precisamos encontrar fabricar novas respostas que nos religuem agrave vida nua agrave vida crua agrave vida finita traacutegica e incrivelmente bela Trata-se de experimentar o vazio em toda sua plenitude para ter condiccedilotildees de preenchecirc-lo com boas respostas Antes de

36 Trecho do poema Cultivo do Acaso de Dennis Raduumlnz in Li-vro de Mercuacuterio

comeccedilar a levantar paredes eacute preciso limpar o terreno preparar o aterramento e a fundaccedilatildeo colocar as vigas e aiacute sim com muito cuidado assentar tijolo a tijolo Trata-se de uma casa que nunca se termina de construir Work in Progress infinito invenccedilatildeo de si de mundo de uma vida como obra de arte

ndash A estes e apenas a estes que procuram por uma vida como obra de arte noacutes apresentaremos um espetaacuteculo como obra viva um espetaacuteculo em desenvolvimento que se pode ajudar a construir que natildeo estaacute morto mumificado pronto para ser aprendido vendido comprado numa prateleira do mercado A melhor ilusatildeo eacute a proacutepria vida amar o destino aceitaacute-lo desejar seu eterno retorno Eis nosso presente apoliacuteneo ao mundo um espetaacuteculo para todos e para ningueacutem

ndash Calma cara vocecirc estaacute ficando um tanto megalomaniacuteaco Tira a cerveja dele

ndash Acho que o efeito do Nietzsche eacute maior do que o do aacutelcool

ndash Entatildeo tira o Nietzsche delendash Mas como se faz isso Em meio a este curioso debate atocircnitos

assistimos se aproximar de nossa mesa Alexandre Venera dos Santos O diretor puxa uma cadeira ao lado de Juliana acende um cigarro e pede um cuba ao garccedilom Constrangido com o silecircncio ruidoso em sua volta pergunta-nos a quantas anda o espetaacuteculo Conta que acabara de fazer download do Quinto Ensaio o qual lhe pareceu uma soluccedilatildeo muito boa para

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SEXTO

ENSAIO

o JOTE-Titac e que agora estaacute muito curioso querendo assistir agrave estreia

O exerciacutecio de anotar cenas para a composiccedilatildeo de mundos durante os Ensaios carregou-me a um estranho viacutecio desde entatildeo natildeo consigo mais conviver em grupo sem anotar tudo que se passa em minha volta Em virtude deste malefiacutecio que se apossou de minha natureza estava mais uma vez descrevendo as conversaccedilotildees que ateacute entatildeo ali se fazia naquela mesa de bar Riscos e rabiscos transportados agraves matildeos do diretor que se potildee a ler calmamente enquanto o garccedilom trazia mais duas rodadas de cerveja Bebemos fumamos Giba pediu uma porccedilatildeo de babatas fritas Por fim Alexandre se surpreende dizendo que o NuTE sempre lhe pareceu uma resposta agrave algo embora nunca tivesse se perguntado ao que ele respondia Parabeniza o grupo pela discussatildeo e questiona a validade de um instrumento que generaliza tudo a ponto de ser possiacutevel interpretar qualquer coisa a partir dele Se tudo eacute resposta o que mais me interessa ndash diz Alexandre ndash eacute saber o que produziu o que fez acontecer uma resposta NuTE suas diferenciaccedilotildees respostivas Ou seja o que faz com que a resposta NuTE seja diferente da resposta LUME Equipe Vira Lata Fecircnix O que teria levado esse grupo de pessoas a responderem dessa forma e natildeo de outra37

Novamente apenas os copos conversam Aos poucos a fumaccedila dos cigarros vai se materializando numa espessa nuvem branca Tossindo gaguejando tropicando nas letras uma voz se arrisca

37 Haacute muita publi-caccedilatildeo a respeito do Lume um livro inte-ressante eacute A Arte de Natildeo Interpretar Como Poesia Corpoacuterea do Ator de Renato Fer-racini Sobre Equipe Teatral Vira Lata ver O Jardim das Ilusotildees de Eacutedio Raniere So-bre Grupo Fecircnix natildeo encontramos nenhum livro em especiacutefico po-dem ser consultados artigos de Edith Kor-mann fundadora do grupo e Noemi Keller-man

ndash O que forccedilou esse grupo de pessoas agrave resposta NuTE chama-se Vontade de Poder

ndash Ai ai ai agora o bicho vai pegarndash Olha como diria o saacutebio deputado pior do

que taacute natildeo fica depois do buraco niilista o que vier eacute lucro

ndash Vontade de Poder ndash Alexandre natildeo aceita muito bem a soluccedilatildeo gaguejada ndash Qual seria a relaccedilatildeo da Vontade de Poder com a resposta NuTE

ndash Eacute que A Vontade de Poder se deixa mostrar em todo vivente que tudo faz natildeo para se conservar mas para se tornar mais38

ndash Heinndash Vocecirc estaacute insinuando que o que fezfaz o

NuTE ser NuTE eacute uma Vontade de Dominar de controlar de subjugar as pessoas

ndash Natildeo Natildeo eacute nada disso A Vontade de Poder a qual me refiro natildeo tem nenhuma relaccedilatildeo com algo que queira o poder ou deseje dominar Se interpretamos a Vontade de Poder no sentido de Desejo de Dominar fazemo-la forccedilosamente depender de valores estabelecidos os uacutenicos capazes de determinar quem deve ser reconhecido como o mais poderoso neste ou naquele caso neste ou naquele conflito Desse modo ficamos sem conhecer a natureza da vontade de poder como princiacutepio plaacutestico de todas as nossas avaliaccedilotildees como princiacutepio escondido para a criaccedilatildeo de novos valores natildeo reconhecidos A Vontade de Poder diz Nietzsche natildeo consiste em cobiccedilar sequer em tomar mas em criar e em doar39

38 Wolfang Muumlller-Lauter in A Doutrina da Vontade de Poder em Nietzsche p55

39 Gilles Deleuze in Nietzsche p22

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SEXTO

ENSAIO

ndash Criar e Doar Sabe que esse troccedilo lembra mesmo o NuTE Algueacutem jaacute se perguntou afinal qual era a do NuTE o que eles realmente queriam Se a gente parar pra pensar os espetaacuteculos natildeo eram comerciais nunca se ganhou dinheiro nem fama ou qualquer coisa desse tipo Mas o que se ganhava entatildeo Com que moeda NuTE pagava as contas

ndash Me parece que o que estava em jogo durante os dezoito anos de atividade do NuTE era atingir niacuteveis mais altos na Vontade de Poder permitir que esses niacuteveis aumentassem o proacuteprio poder Eis o que o NuTE fezfaz por noacutes Artaud chegou bem perto de formular isso com clareza quando disse que natildeo eacute a arte que imita a vida mas a vida que imita algo essencial que a arte nos potildee em contato

ndash Natildeo sei se estou entendendo bem me parece que vocecirc estaacute querendo contrapor a vontade de poder agrave consciecircncia humana da finitude eacute isso

ndash De certa forma sim trata-se de uma questatildeo de vida ou morte Um gato natildeo precisa de arte para aumentar sua vontade de poder ele eleva ao maacuteximo grau de potencia sua vida em quase todos os instantes tambeacutem uma aacutervore uma flor ou um jacareacute assim o fazem mas para noacutes a Arte eacute algo vital nos mantecircm vivos sem sua resposta leve todos estariacuteamos bem mais proacuteximos do suiciacutedio dada a ausecircncia de sentido o sofrimento inerente agrave vida e o peso das grandes respostas

ndash Mas entatildeo natildeo seria mais acertado dizer que se trata de uma Vontade de Vida Por que

usar um termo que gera tanta confusatildeo como Vontade de Poder

ndash Porque eacute a forma mais precisa que temos para falar sobre isso Nenhum morto pode desejar mais vida pois dele a vida jaacute se esvaziou assim como aquele que estaacute vivo natildeo tem como querer mais vida jaacute que a vida estaacute nele e ele jaacute estaacute na vida Trata-se de querer ir aleacutem do que se eacute aumentar seu poder Quem participou de um JOTE-Titac sabe bem o que eacute isso

ndash JOTE-Titacndash Sim ou vocecirc acha que as pessoas passam

trecircs dias sem dormir porque querem ganhar um trofeuzinho O que estaacute em jogo realmente eacute uma absurda vontade de criar e de doar de compartilhar um espetaacuteculo Num JOTE-Titac a Vontade de Poder atravessa um escritor que tem seus escritos encenados um diretor cuja concepccedilatildeo estaacute em cena um ator que quer ir aleacutem de si mesmo que se faz cena que se doa ao puacuteblico num corpo-obra de arte

ndash Agora entendi vocecirc estaacute falando eacute daquela adrenalina que toma conta da gente durante o JOTE-Titac

ndash Natildeo Estou falando de um princiacutepio que move o mundo e que em uacuteltima instacircncia move tambeacutem a espeacutecie humana

ndash Taacute taacute taacute soacute natildeo vai comeccedilar a generalizar tudo de novo

ndash Por que vocecirc acha que estou generalizandondash Oras se a Vontade de Poder forccedila todos a

serem o que satildeo e a resposta que discutimos haacute pouco eacute necessariamente dada por todos onde fica o NuTE nisso tudo

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SEXTO

ENSAIO

ndash NuTE Para Todos e para Ningueacutemndash Eu me refiro agrave pergunta do Alexandre se

tudo eacute Para Todos onde estaacute a singularidade-NuTE

ndash Pensar a singularidade de um corpo eacute pensar como a vontade de poder se manifesta nele pois eacute assim que ele responde agrave finitude Ou dizendo de outra forma pensar o processo de diferenciaccedilatildeo de um corpo eacute pensar como ele responde agrave finitude porque eacute assim que se manifesta nele A Vontade de Poder

ndash Beleza entatildeo vamos laacute ndash todos se levantam sacodem a poeira tomam rumo da porta de saiacuteda

ndash Ei seus vagabundos onde eacute que vatildeo sem pagar a conta ndash grita o garccedilom passando a matildeo num cassetete que ateacute entatildeo repousava sob o balcatildeo

ndash Putz algueacutem tem granandash Quanto eacute que deundash Taacute aqui a conta ndash o garccedilom joga a nota

sobre a mesa ndash Caramba Tudo issondash Mas isso eacute um roubo a gente natildeo bebeu

tanto assimndash Todo mundo senta aiacute e podem ir juntando

os trocados senatildeo vou chamar a poliacutecia Tatildeo pensando que eacute vir aqui encher a cara e sair de fininho eacute Beberam a noite toda e agora querem sair sem pagar

ndash Natildeo eacute isso mas eacute que tocirc achando que nove vontades e quatro respostas eacute muito dinheiro Ningueacutem aqui bebeu pra tanto

ndash Beberam sim Ana liga pra poliacutecia ndash o

garccedilom levanta o porrete em tom de ameaccedila Giba retira um canivete do bolso e o chama para briga O pessoal do ldquodeixa dissordquo age rapidamente conseguindo segurar ambos

ndash Calma aiacute meu povo se todo mundo colaborar com um pouquinho a gente consegue pagar e ir embora sem confusatildeo

A trupe passa alguns minutos a esgravatar profundamente carteiras bolsos meias Aos poucos as moedas comeccedilam a tilintar sobre a mesa

V1 ndash Vontade Musical ndash Assistimos no Segundo Ensaio agraves suas principais manifestaccedilotildees em Wilfried e Venera Para aleacutem das personas esta vontade se espalha em todo o grupo Em entrevista Dennis Raduumlnz define o NuTE como uma Banda de Rock

Acho que noacutes eacuteramos uma banda de rock na verdade soacute que noacutes natildeo tocaacutevamos faziacuteamos teatro Noacutes tiacutenhamos essa mesma energia O Faleiro recordo bem as palavras dele (ele recordou isso comigo no ano passado) dizia assim ldquoo que mais me impressionava em vocecircs era a vontade de fazer teatrordquo (paacutegina 12)

V2 ndash Vontade de Saber ndash Uma vontade de saber sobre teatro de conhecer mais de ir aleacutem daquilo que aprendeu mais que isso de ultrapassar o conhecimento da comunidade dos seus pares de todos a sua volta De criar alianccedilas com Mestres distantes estrangeiros de beber em fontes desconhecidas Esta vontade perpassa todos os Ensaios deste espetaacuteculo-

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SEXTO

ENSAIO

livro Suas principais manifestaccedilotildees percorrem um longo caminho vatildeo desde os encontros iniciais que inauguram o espaccedilo NuTE passando pelos cursos de Faleiro Simioni Editora πpa Escola NUTe Internute Mesmo no JOTE-Titac e nas montagens percebe-se uma vibraccedilatildeo intensa pelo conhecimento

V3 ndash Vontade de Ensinar ndash Tal qual a taccedila de Zaratustra pronta para transbordar para derramar esta terceira vontade parte em busca de matildeos que se estendam a ela Assistimos agraves suas principais manifestaccedilotildees no Segundo Ensaio cursos de miacutemica de Wilfried ndash ainda na Sulfabril ndash e os primeiros cursos de teatro dentro do NuTE Tambeacutem assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Quarto Ensaio onde um Nuacutecleo de Teatro Experimental se transforma em Nuacutecleo de Teatro Escola e a Vontade de Ensinar cresce a tal ponto de quase sufocar a Vontade Experimental Tambeacutem eacute possiacutevel perceber suas ressonacircncias em algumas produccedilotildees escritas como exemplo a coluna que Alexandre Venera manteve por anos no Jornal de Santa Catarina e as publicaccedilotildees da Editora πpa

R1 ndash Resposta hoje tem Teatro ndash Assistimos ao desenvolvimento desta resposta no Segundo Ensaio onde Alexandre Venera como coordenador de eventos do Teatro Carlos Gomes responde agrave ausecircncia de teatro dentro do Teatro Este projeto resposta seraacute o estopim para inveccedilatildeo dois anos mais tarde do Trecircs

Terccedilas tem Teatro Ambos os projetos preparam terreno para criaccedilatildeo do JOTE-titac

V4 ndash Vontade de Encenar ndash Assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Terceiro Ensaio atraveacutes do absurdo nuacutemero de espetaacuteculos montados ndash Cento e Oitenta e Quatro - tambeacutem assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Quinto Ensaio atraveacutes do experimento JOTE-Titac Eacute interessante notar como a Vontade de Saber e a Vontade de Encenar por vezes aparecem juntas ndash a didaacutetica utilizada pela Escola NUTe por exemplo onde o aluno aprendia fazendo montando espetaacuteculos bem como vaacuterias montagens do proacuteprio NuTE onde o tempo dedicado agrave pesquisa era superior ao tempo dedicado agrave circulaccedilatildeo agraves apresentaccedilotildees do espetaacuteculo finalizado Vale aqui lembrar mais uma vez a maacutexima de Alexandre Venera segundo a qual o momento mais interessante de um espetaacuteculo eacute sua criaccedilatildeo seus ensaios

R2 ndash Resposta jOTE-Titac ndash Possiacutevel resposta ao formato que o Festival Internacional de Teatro Universitaacuterio de Blumenau acabou tomando Em artigo publicado no livro Jogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau Alexandre Venera escreve

No princiacutepio de 1986 Dalton Gonccedilalves Daniel Curtipassi Joseacute Ronaldo Faleiro e eu organizaacutevamos o festival de teatro que veio a tornar-se o importante ldquoFestival Universitaacuterio de Teatro de Blumenaurdquo promoccedilatildeo respectiva agraves personalidades acima da RBS TV Departamento de Cultura da Prefeitura

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SEXTO

ENSAIO

Municipal de Blumenau FURB e Teatro Carlos GomesNuTE Incumbido da criaccedilatildeo do regulamento desse festival apresentei na eacutepoca uma opccedilatildeo de regras que meses depois veio a ser o embriatildeo para os JOTE-Titac

V5 ndash Vontade de Artista ndash Perpassa todos os Ensaios aqui apresentados Vontade de respirar arte de se artistar de inventar-se artista de sobreviver artisticamente Em entrevista Peacutepe Sedrez diz que

Eu lembro que Marcos e eu tiacutenhamos nessa eacutepoca o conflito de ter de servir o exeacutercito e a gente tava morrendo de medo Largamos nossos empregos Eu trabalhava na Ceval que hoje eacute Bunge e tinha laacute uma dita carreira promissora Larguei pra fazer o espetaacuteculo () Eu queria fazer soacute teatro e tomar conta da famiacutelia essas coisas todas Eu tinha soacute 18 anos e era uma loucura naquela eacutepoca largar Sei laacute eu sou de famiacutelia pobre e o meu salaacuterio era importantiacutessimo era entregue na matildeo da matildee ainda ela tirava quase tudo e dava uma graninha pra gente sair no fim de semana ou pagar os estudos tambeacutem e eu larguei tudo pra fazer teatro inclusive a escola Inclusive as aulas porque Noacutes ensaiaacutevamos somente agrave noite natildeo precisava talvez ter largado o emprego mas eu sabia que isso ia funcionar em seguida Eu queria achava necessaacuterio chegar no ensaio jaacute com alguma coisa trabalhada (paacutegina 8)

V6 ndash Vontade Libertaacuteria ndash uma vontade anaacuterquica de liberaccedilatildeo de si e do mundo de ausecircncia de lei Deus governo Atravessa todo o espetaacuteculo-livro em especial o Segundo o Quarto e o Sexto Ensaios Em entrevista Alexandre Venera diz que

() qualquer forma de lei eacute forma de criar limites ou patamares ou entatildeo apoios No momento em que a pessoa taacute se apoiando ou criando apoios ela taacute segura ela taacute tranquila quer dizer nessa proteccedilatildeo existe uma espeacutecie de lei em que ela taacute sendo dominada (paacutegina 6)

V7 ndash Vontade de Coletivos ndash De estar com outros de produzir junto de criar coletivamente de compor um espetaacuteculo com muacutesicos artistas plaacutesticos escultores poetas e ateacute mesmo com natildeo artistas Quando do convite agrave montagem de Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes Alexandre Venera espalha cartazes pelo Teatro Carlos Gomes onde se lecirc Somos muito poucos para Dividir A sonoplastia do Teatro da Terra era feita por uma banda com guitarras eleacutetricas bateria baixo em meio agrave floresta Em Senhoras e Senhores haacute uma performance do bailarino Edson Farias Em vaacuterios espetaacuteculos do NuTE o cenaacuterio era composto em parceria com o artista plaacutestico Tadeu Bitencourt Cio das Feras e Apocalypsis utilizam poesia catarinense No artigo que Alexandre Venera publica junto ao livro Jogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau encontramos uma interessante lista onde se nomina alguns membros destes coletivos

nas artes plaacutesticas Ceacutesar Otaciacutelio Fernando Alex Crista Sitocircnio Francis Bento Simone Tanaka Sola Ries Janete Dallabona Terezinha Heimann Tadeu Bitencourt no ballet Edson Farias Grupo de Danccedila e Sapateado do Proacute-Danccedila de Blumenau os arquitetos Leo Campos Etson e Jaime Jung os muacutesicos do Tranca Rua do Baurimbe Nana

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SEXTO

ENSAIO

Hector Lagos Giovana Voigt os publicitaacuterios Claus Jensen Paulo Porche Dicesar Leandro a equipe da Graacutefica da Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau Giba Santos e em especial o Sr Bernardo Tomelin os poetas escritores dramaturgos criacuteticos jornalistas editores Tacircnia Rodrigues Tchello drsquoBarros Marcelo Steil Marcelo Ricardo drsquoAlmeida Douglas Zunino Sandra Heck Gervaacutesio Tessaleno Luz Vilson Nascimento Joel Gehlen Eliane Lisboa aleacutem dos autores incluiacutedos nesta antologia Raquel Furtado Carlos Peixer Vinci Bernadete da Silva Alceu Custoacutedio Horaacutecio Braun Jr Sidnei Mafra o pessoal do teatro (como juacuteri) Carlos Crescecircncio Carlos Jardim Silvio Joseacute da Luz Lorival Andrade Aacutelvaro Andrade Luiz Sampaio Gabriela Diaz Roberto Mallet Pita Beli Cida Milezzi Denise da Luz e o pessoal natildeo juacuteri Mauro Ribas Neto Paulo Camargo Sandra Cardoso aos teacutecnicos Luacutecio Vieira Nei Leite Luacutecia Siqueira Ivan Felicidade Jussara Barbosa os atores e diretores (dentre o grande pessoal participante muitos dos premiados) Margareth DrsquoNiss Sandra Knoll Silvana Costa Jussara Balsan Carla Mello Leo Almeida Giseli Marciacutelio Bia Brehmer Juliana Vendrami Rita Machado Francinete Bitencourt Patriacutecia Schwartz Anice Tufaille Raquel Wollert Pollyanna da Silva Sidneacuteia Kopp Regina Simas Andrea dos Santos Iraci Krambeck Paula S Igreja Alan Imianowsky James Pierre Beck Joatildeo da Mata Kalinho Santos Joseacute Aparecido Faacutebio Shaefer Roberto Morauer Pedro Dias Luis Alberto Rafael de Almeida Oto Muumlller Alexandre Diogo Junkes Nelson de Souza Marcus Suchara

Um nuacutecleo de teatro em torno do qual gravitavam artistas natildeo artistas e outros seres

V8 ndash Vontade do Novo ndash Ligada agraves respostas Hoje Tem Teatro JOTE-Titac Editora πpa e agrave grande maioria dos espetaacuteculos encenados pelo NuTE destaque para as montagens do Grupo

da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques V9 ndash Vontade de Guerra ndash Uma vontade de

jogar disputar guerrear vencer de ir aleacutem de si mesmo Assistimos agraves suas manifestaccedilotildees em especial no Quarto e no Quinto Ensaio

O tilintar das moedas sobre a mesa abre um portal por onde o Ator Guerrilheiro rompe as grades do Quarto Ensaio Surge sorrindo empostando sua metralhadora achando graccedila na cena NuTES pagando as contas Numa gargalhada infernal liga a metralhadora e dispara sobre o grupo rajadas e mais rajadas de balas O evento dura uns cinco minutos aproximadamente Quando se encerra encontramos Peacutepe descascando uma de morango Alexandre que prefere as de carambolas junta um punhado sobre a mesa e mesmo o garccedilom mastiga uma de hortelatilde O grupo muito irritado organiza-se para perseguir o Ator Guerrilheiro que a essa altura corria pelado rua XV de Novembro abaixo Muitos dos presentes consideram o Ator Guerrilheiro o verdadeiro culpado pelo fim do NuTE e assim debatem a melhor forma de punir seu crime Alexandre interveacutem a favor do Ator Guerrilheiro O diretor argumenta que o ator natildeo pode ser responsabilizado individualmente por uma cena Se o NuTE terminou eacute porque o espetaacuteculo como um todo movimentou-se nesse sentido natildeo poderia ter acontecido de outra forma O ator natildeo tem culpa porque sua accedilatildeo eacute anterior agrave invenccedilatildeo desta O ator apenas desempenha o seu papel da mesma

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SEXTO

ENSAIO

forma como vocecirc neste exato momento estaacute desempenhando o seu E assim trazendo a inocecircncia de volta ao espetaacuteculo o Ensaio pode continuar

R3 ndash Resposta agrave Mediocridade ndash Impulso agrave diferenciaccedilatildeo desejo de ir aleacutem das convenccedilotildees sociais dos modelos existenciais preacute-determinados de se produzir estranho agraves normas estabelecidas Interessante perceber o quanto essa resposta estaacute ligada agrave Vontade de Coletivos e agrave Vontade do Novo Em entrevista Nira diz o seguinte

() eu morava numa cidade muito pequena e conservadora pra um adolescente como eu era Entatildeo num primeiro momento assistir o Apocalypsis me deixou muito feliz E num segundo momento me deixou depressivo porque eu vi que aquela vidinha que eu tava levando naquela cidadezinha natildeo era uma vida que eu gostaria de levar Entatildeo de 1989 pra 1993 quando eu entrei no NuTE satildeo quatro anos durou muito tempo Entatildeo nesses quatro anos a vontade de fazer alguma coisa foi crescendo soacute que eu natildeo tinha vazatildeo natildeo tinha como eu fazer nada Entatildeo um ano antes de eu entrar no NuTE eu tive uma depressatildeo muito grande muito forte que quase Enfim Mas saiacute Quando eu entro pro NuTE com 20 anos neacute era uma vida inteira de Assim querendo me expressar sem poder e que eu comeccedilo naquele momento ali Entatildeo num primeiro momento tudo o que eu fazia era muito pouco Eu queria ter Eu queria fazer teatro 24 horas por dia Mas claro natildeo daacute Aiacute no segundo ano em 1994 quando jaacute natildeo era mais soacute aluno do NuTE jaacute era um fazedor de teatro tambeacutem aiacute sim aiacute eu comeccedilo a entrar de cabeccedila mesmo e inclusive durante algum tempo eu e o Contra Senha a gente praticamente morava na casa do Ceacutesar Rossi neacute Ele e o Maicon moravam sozinhos numa casa na Itoupava Central e laacute era

o local de ensaio era uma casa cheia de quadros as paredes todas pintadas cheia de instalaccedilotildees era uma loucura Aquilo que eu sonhei a vida toda eu vivi naquele momento Foi uma experiecircncia incriacutevel (paacutegina 8)

V10 ndash Vontade Experimental ndash No Terceiro Ensaio assistimos a uma cronologia com todos os espetaacuteculos experimentais e didaacuteticos Esta dicotomia um tanto arriscada pareceu-nos oportuna para evidenciar ambas as forccedilas Ou seja seu embate demonstra o quanto a Escola NUTe serviu como trampolim agrave experimentaccedilatildeo Ou seja as aulas e os espetaacuteculos didaacuteticos eram necessaacuterios para a sobrevivecircncia dos professores mas o que realmente lhes interessava o platocirc onde vibravam suas existecircncias estava conectado ao vetor oposto Em entrevista Alexandre Venera diz

Aiacute eram vaacuterios alunos turmas o pessoal tendo que organizar aula ensinar pro cara que entrou a primeira vez que subiu no palco o quecirc que ele faz onde potildee a matildeo () E ao mesmo tempo o cara que tava ensinando isso querendo fazer a sua arte tambeacutem Entatildeo ele tinha que dar aula pra ganhar dinheiro mas ele tinha que fazer o seu teatro tambeacutem Aiacute tinha que ter o grupo iniciante dos alunos pra alimentar o sonho dos Porque ningueacutem entrou ali no NuTE pra ser professor O professor era uma forma de ganhar um troco e poder viver do teatro com uma certa garantia (paacutegina 18)

R4 ndash Resposta agrave Geraccedilatildeo Anterior ndash NuTE natildeo eacute um descendente direto da Equipe Teatral Vira Lata do Grupo Fecircnix do Ribalta do teatro feito nos clubes de caccedila e tiro ou Lira

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SEXTO

ENSAIO

Circulo Italiano do teatro blumenauense que lhe precede em uma geraccedilatildeo Suas principais alianccedilas passam por teorias de um teatro estrangeiro Grotowski Barba Bob Wilson Artaud Gordon Craig Schechner Brecht Heiner Muumlller Meyerhold pelo Grupo Lume de Campinas e por uma espeacutecie de orientaccedilatildeo dada por Joseacute Ronaldo Faleiro Contudo mesmo natildeo sendo filho ele se serviu muito bem da morte do pai A existecircncia NuTE eacute atravessada por um criacutetica feroz ao formato teatral adotado pela geraccedilatildeo anterior Tentamos aqui neste espetaacuteculo-livro problematizar essa tensatildeo atraveacutes da estrutura Work in Progress Contudo eacute possiacutevel em especial no Segundo e Quarto Ensaios compreender um pouco melhor as motivaccedilotildees desta resposta

R5 ndash Resposta ao Puacuteblico ndash Aqui um

primeiro niacutevel apontaria na direccedilatildeo de uma resposta agrave ausecircncia de puacuteblico ao Teatro Contemporacircneo NuTE estaria respondendo com formaccedilatildeo de puacuteblico agrave algo que estaria em devir Contudo ao menos eacute o que nos parece trata-se acima de tudo de uma resposta agrave ausecircncia de um povo Pessoas que consigam experimentar um determinado tipo de vida Amigos a quem presentear com o mais belo dos presentes Um povo generoso com o qual se possa compartilhar o que vem sendo produzido pois assim o poder aumenta pois assim o poder cresce ndash Poder = Criar + Doar Dizendo ainda de outra forma se aquele que ganha um presente natildeo percebe o que acabou de receber o melhor

a se fazer eacute trabalhar para inventar algueacutem que perceba Utilizar o teatro para inventar um povo que ainda nos falta40 Assistimos agraves suas principais manifestaccedilotildees no Segundo Quarto e Sexto Ensaios

O garccedilom de cara amarrada conta o dinheiro sobre a mesa Repete a operaccedilatildeo trecircs vezes ateacute se convencer Resmunga algo inaudiacutevel vai ao balcatildeo expotildee a situaccedilatildeo para Ana por fim retorna agrave mesa Contrariado como algueacutem que procura fugir de seu proacuteprio julgamento ele nos diz

ndash Sobrou uma reposta e uma vontade vatildeo querer o troco

ndash Trocondash Natildeo Claro que natildeondash Traz em cerveja

40 Livre adaptaccedilatildeo do famoso trecho de Criacutetica e Cliacutenica ldquoA sauacutede como literatura como escrita consiste em inventar um povo que falta Compete a funccedilatildeo fabuladora in-ventar um povo Natildeo se escreve com as proacuteprias lembranccedilas a menos que delas se faccedila a origem ou a des-tinaccedilatildeo coletivas de um povo por vir ain-da enterrado em suas traiccedilotildees e renegaccedilotildeesrdquo

A memoacuteria preservada

A confecccedilatildeo deste belo material artiacutestico composto por trecircs livros e um DVD eacute o produto mais expressivo do projeto ldquoNuTE para todosrdquo uma iniciativa do pesquisador Eacutedio Ra-niere em resgatar a memoacuteria do NuTE ndash Nuacutecleo de Teatro Ex-perimental cuja atuaccedilatildeo proporcionou relevantes conquistas para cultura catarinense como a formaccedilatildeo de mais de 2 mil alunos criaccedilatildeo de escolas grupos teatrais e cursos perma-nentes de teatro em vaacuterias cidades produccedilatildeo de espetaacuteculos teatrais e implantaccedilatildeo de uma biblioteca de teatro composta por um acervo de textos teatrais livros cadernos e apostilas sobre teatro

Em 18 anos de atividades encerradas em 2002 o NuTE concretizou tambeacutem outros dois projetos elogiaacuteveis a funda-ccedilatildeo em Blumenau da primeira escola de ldquolivrerdquo de teatro em Santa Catarina possibilitando o acesso de qualquer pessoa interessada estudar e praticar a arte teatral e a criaccedilatildeo do Jote-Titac ndash os Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas evento que ajudou a popularizar uma das mais antigas manifestaccedilotildees artiacutesticas

Em face da valiosa contribuiccedilatildeo do NuTE agrave cultura de Santa Catarina a BAESA (Energeacutetica Barra Grande SA) sentiu-se motivada a apoiar o projeto ldquoNuTE para todosrdquo e constata que sua participaccedilatildeo foi decisiva para a elaboraccedilatildeo deste acervo O livro ldquoNuTE Cartografia de um teatrordquo o DVD ldquoExperimentando NuTErdquo e as publicaccedilotildees ldquoEditora Pipardquo e ldquoLi-vreto Espetacularrdquo cumprem plenamente o objetivo de resga-tar em texto impresso em imagens e em formato digital a bela trajetoacuteria do NuTE

Grande satisfaccedilatildeo eacute poder apoiar projetos como o NuTE Para Todos e de certa forma fazer parte da his-toacuteria tatildeo bonita desse nuacutecleo de teatro que por 18 anos se doou para compartilhar sua arte com o puacuteblico

Atraveacutes da Lei Rouanet a ENERCAN ndash Campos No-vos Energia SA tem a possibilidade de apoiar projetos culturais importantes como esse que traz ao puacuteblico uma leitura sobre a maravilhosa experiecircncia de se fazer teatro contando as expectativas os medos os proces-sos criativos e o trabalho para apresentar da melhor forma essa arte aos espectadores fazendo o leitor sen-tir no livro as emoccedilotildees dessa arte

Fundamental para compreender a realidade a cul-tura em suas mais variadas vertentes eacute tida como uma das prioridades dentro da Poliacutetica de Responsabi-lidade Social da ENERCAN E com grande prestiacutegio e apoio eacute possiacutevel proporcionar agrave populaccedilatildeo acesso natildeo soacute ao teatro mas a espetaacuteculos de muacutesica literatura cinema e a tudo mais que a palavra cultura engloba

O livro ldquoNuTE Cartografia de um teatrordquo junto com o Box onde estaacute presente outras trecircs produccedilotildees que aliam o analoacutegico (livro) ao digital (DVD e internet) eacute um presente para a populaccedilatildeo catarinense saber um pouco mais da histoacuteria do teatro no Estado e a forte presenccedila dessa arte em Santa Catarina

A ENERCAN parabeniza o projeto NuTE Para To-dos e se mostra orgulhosa de poder apoiar iniciativas como essa que buscam intensificar a cultura dentro do Estado tornando a histoacuteria cada vez mais presente na sociedade

Carlos Alberto Bezerra de MirandaDiretor Superintendente

Para a BAESA apoiar o projeto ldquoNuTE para todosrdquo eacute mais uma demonstraccedilatildeo do quanto a empresa aprecia e valoriza a cultura em suas mais variadas expressotildees A publicaccedilatildeo deste material eacute portanto motivo de orgulho e satisfaccedilatildeo natildeo apenas por ter acreditado na proposta de seu idealizador o pesquisador Eacutedio Raniere mas sobre-tudo por saber que a histoacuteria e o legado do NuTE estatildeo agora definitivamente preservados

Carlos Alberto Bezerra de Miranda Edson Schiavotelo Diretor Superintendente Diretor de Sustentabilidade e de Relaccedilotildees com Investidores e de Relaccedilotildees Institucionais

BAESA - ENERGEacuteTICA BARRA GRANDE SA

Este livro eacute parte integrante da caixaNuTE Cartografia de um Teatro

Para saber mais sobre o NuTE e sobre a pesquisa ldquoNuTE Cartografia de um Teatrordquo acesse o blog do

projeto wwwnuteparatodoswordpresscom e o acervo virtual wwwnutecombr

Page 3: Édio Raniere - WordPress.com · 2011. 10. 12. · Posfácios de um Teatro ..... 381. 14 15 de diferentes tecnologias usadas ... futuros leitores/internautas... Mas quando navegava

Para Lilianque jaacute escreve um tanto de mim

Esta obra foi licenciada com uma Licenccedila Creati-ve Commons - Atribuiccedilatildeo - Uso Natildeo Comercial - Obras Derivadas Proibidas 30 Natildeo Adaptada

Em caso de reproduccedilatildeo ou citaccedilatildeo devem ser citados o autor e a fonte

Revisatildeo Tamara BeinsProjeto Graacutefico e Editoraccedilatildeo Liquidificador Comunicaccedilatildeo e Arte

Editado porLiquidificador Produtos Culturais

Conselho editorialAline AssumpccedilatildeoCharles SteuckDaiana SchvartzGregory HaertelJamil Antocircnio DiasRicardo Machado

R197n Raniere Eacutedio NuTE cartografia de um teatro Eacutedio Raniere ndash 1 ed ndash Blumenau Liquidificador Produtos Culturais 2011 378 p il color

ISBN 978-85-63401-04-5 1 Teatro experimental I Nuacutecleo de Teatro Experimental ndash Blumenau II Tiacutetulo CDD 20 ndash 792022

Ficha Catalograacutefica elaborada pela Bibliotecaacuteria Sandra Cristina da Silva Msc ndash CRB 14945

Liquidificador Produtos Culturaiswwwliquidificadorartbr2011

Quem laacute entrou (no NuTE) e algo produziu por mais ou menos tempo ndash com maiores ou menores contribuiccedilotildees com maior ou menor talento para o que se propunha - simplesmente o fez por paixatildeo Paixatildeo pelo teatro (a grande maioria) pela muacutesica (alguns) pelas artes plaacutesticas (outros) pela danccedila (uns poucos) e por tudo isso junto (uns raros multiqualificados ou multimetidos) jaacute que dinheiro natildeo se ganhava ao contraacuterio soacute se botava Eram paixotildees arrebatadoras algumas comedidas outras tiacutemidas ateacute mais ou menos duradouras Contudo nada que estivesse sob controle (racional) de algueacutem NuTE um grandecoletivo fruto-paixatildeo Eacute () acho que foi simples assim

Wilfried Krambeck

Natildeo haacute ldquoespiacuteritordquo nem razatildeo nem pensar nem consciecircncia nem alma nem vontade nem verdade tudo isso eacute ficccedilatildeo inuacutetil () Nenhuma ldquosubstacircnciardquo antes algo que anseia em si por fortificaccedilatildeo e que apenas indiretamente quer-se ldquomanterrdquo (ele quer ultrapassar-se)

Friedrich Nietzsche

Iacutendice

Epiacutegrafe lsquoVontade dersquo 07Epiacutegrafe lsquoPoderrsquo 09

Prefaacutecio a uma Psicologia 13Prefaacutecio a uma Filosofia 19 Prefaacutecio a um Teatro 25

Proacutelogo 33

PRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015 39

Um pouco de menos senatildeo natildeo vai mais 41 Memoacuteria 43Organizaccedilatildeo Deliacuterio e Tempo 45Em busca de uma relaccedilatildeo viva com o leitor 51Um lugar onde se respira o antes do Proacutelogo 54Adaptaccedilatildeo de Trabalho Sujo 64Trabalho Sujo e Virtual 64Retorno ao Primeiro Ensaio 70

SEGuNDO ENSAIO ndash 18 DE ABRIL DE 2015 77

Composiccedilatildeo de Mundos 83

13

Prefaacutecio a uma Psicologia

Cleci Maraschin

Entro em uma sala escura Aos poucos vou distinguindo cadeiras e outros objetos o que me permite ziguezaguear entre eles sem maiores problemas Em um canto mal iluminado encontro algueacutem segurando um punhado de paacuteginas impressas Eu me aproximo

ndash Olaacute estou procurando Alexandre Venera dos Santos

ndash Sou eu mas quem eacute vocecircndash Sou a Cleci professora do Eacutedio Ele me

enviou um e-mailndash Natildeo estou entendendondash Ele estaacute finalizando um livro sobre o

Nuacutecleo de Teatro Experimentalndash Endash Ele me convida para apresentar o livrondash Endash Preciso conversar com o diretorndash Mas se leste o livro sabes que natildeo sou

mais o diretor(faccedilo de conta que natildeo ouccedilo e continuo) ndash Quando aceitei o convite pensei que

poderia fazer comentaacuterios sobre um texto Algo que estou um tanto habituada no trabalho acadecircmico Talvez pudesse falar de sua aposta conceitual da pesquisa documental realizada das vaacuterias entrevistas da utilizaccedilatildeo

TERCEIRO ENSAIO ndash 26 DE ABRIL DE 2015 113

Exuberante Cronologia Espetacular do Teatro Experimental e do Teatro Escola Nuteanescos117

QuARTO ENSAIO ndash 04 DE MAIO DE 2015 203

Composiccedilatildeo de Mundos 209

QuINTO ENSAIO ndash 08 DE MAIO DE 2015 259

Aperitivo Cecircnico 277Composiccedilatildeo de Mundos | 14ordm Jote-Titac 283Apresentaccedilatildeo dos Espetaacuteculos | 14ordm Jote-Titac 336

SExTO ENSAIO - 08 DE juLhO DE 2015 347

Posfaacutecios de um Teatro 381

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de diferentes tecnologias usadas tanto para organizar e tornar acessiacutevel o material como tambeacutem para interagir com participantes e futuros leitoresinternautas Mas quando navegava pelo texto pelas imagens pelo blog pelos viacutedeos pelo acervo fui sendo tomada pelo modo-teatro pela experiecircncia-NuTE

ndash Eacute o teatro costuma fazer dessas coisasndash Algo difiacutecil para quem escreve eacute manter o

processo no produto Geralmente os produtos os textos costumam perder a vitalidade da experiecircncia Costumam se constituir em calhamaccedilos teoacutericos repetitivos seguidos ou natildeo por descriccedilotildees que tentam representar uma realidade jaacute dada Tudo se passa como se o pesquisador-escritor pudesse produzir um relato ndash o mais neutro e o mais proacuteximo possiacutevel de uma realidade que jaacute aconteceu Mas o Eacutedio entrou em ressonacircncia com o modo NuTE de produccedilatildeo Como diz o bioacutelogo Francisco Varela um modo de conhecer enaltado encarnado

ndash Laacute vem vocecirc com filosofia tambeacutemndash Cogniccedilatildeo O legal que esse bioacutelogo

cognitivista chileno e seu professor Humberto Maturana falam que nossa fonte para qualquer explicaccedilatildeo eacute a experiecircncia Aquilo que chamamos de explicaccedilatildeo eacute uma retomada da experiecircncia passiacutevel de ser compartilhada

Uma experiecircncia que se dobra sobre si mesma e que eacute capaz de continuar produzindo efeitos de si e de mundo Existem vaacuterias dobras nessa produccedilatildeo do trabalho do Eacutedio com o NuTE

O modo-escrita que retoma o modo-teatro a reediccedilatildeo dos Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas JOTE-Titac a interaccedilatildeo no blog

ndash A questatildeo eacute a accedilatildeondash Esse chileno Francisco Varela diz que

nossa educaccedilatildeo estaacute mais ligada ao know-what ou seja o saber o quecirc Um saber falar saber mais declarativo focando os conteuacutedos mais do que os processos Em contraponto coloca o know-how o saber-fazer saber operar o enaltar

ndash Mas os acadecircmicos gostam de saber-falar

ndash Concordo Sabes o que mais admirei no modo como diriges tal como o Eacutedio nos conta Eacute que natildeo te deixas capturar e sabes como fazer-produzir como ldquofazer-saberrdquo como diz um colega carioca o Eduardo Passos O que natildeo eacute nada faacutecil manter a paixatildeo sem boicotar os processos sem boicotar a criaccedilatildeo a vida Esse eacute um desafio crucial a quem se coloca na funccedilatildeo de ensinante Propiciar ferramentas para a produccedilatildeo e natildeo para a repeticcedilatildeo Poder acompanhar processos que escapam das matildeos de quem ensina pois satildeo sempre autoproduccedilatildeo e produccedilatildeo de mundos Entatildeo aprendemos com nossos alunos um ensinante eacute tambeacutem um aprendente Talvez seja essa uma das paixotildees dos ensinantes continuar sempre aprendendo

ndash E desaprendendondash Isso Como eacute paradoxal a capacidade de

aprender natildeo Somente estamos abertos agrave

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aprendizagem agrave medida que desaprendemos modos anteriores de viver de pensar O mesmo acontece em relaccedilatildeo agrave memoacuteria como nos diz Eacutedio ldquoeacute preciso esquecer para

conseguir tomar focirclego e continuar vivendordquo (atual p 22) Talvez esse seja um efeito sutil de combate contra o ressentimento que pode advir das pequenas trageacutedias pessoais que vivemos cotidianamente Esquecer desaprender para seguir aprendendo seguir produzindo e autoproduzindo-se

ndash Tal como os ensaios em 2015ndash Outra aprendizagem do modo-

teatro Continuar a trageacutedia sem drama ou ressentimento No combate Adorei essa brincadeira com o tempo Um modo de contar a histoacuteria sem saudosismo ldquoNaquele tempo isso naquele tempo aquilordquo Atualizar a histoacuteria fazendo-a e ainda por fazer Esse jogo faz com que aqueles como eu que ldquopegam o bonde andandordquo natildeo se sintam um ldquopeixe fora drsquoaacuteguardquo (isso eacute uma homenagem agrave Tainha) Estamos sempre pegando o bonde andando pois como vocecircs nos contam estamos sempre no meio Natildeo somos o comeccedilo o princiacutepio de nada Tudo o que estatildeo inventando nos convoca ldquoVamos laacute leitoresinternautas ainda eacute tempo NuTE de outro modo do modo como possamos fazerrdquo

ndash Essa eacute a ideia do work in progressndash Eu tenho usado verbos no geruacutendio

para nomear meus trabalhos de pesquisa Justamente para dar essa ideia de ldquose produzindordquo tal como o work in progress Embora essa aposta seja uma posiccedilatildeo difiacutecil de

manter em tempos onde tudo eacute transformado em mercadoria para consumo onde se valoriza o substantivo e natildeo tanto o verbo Mas estamos tentando aprender a produzir sem sucumbir aos ditames do produtivismo Como vocecircs como o Eacutedio fazendo verbos dos substantivos

ndash Cleci vocecirc estaacute falando que adorou isso aquilohellip Tem alguma criacutetica

ndash Talvez em alguns momentos a vontade de falar ainda prevaleccedila sobre a experiecircncia Mas como vocecirc mesmo diz esse eacute um mal dos acadecircmicos Eu tambeacutem jaacute falei muito Por isso pensei em conversar contigo para saber como tomo parte nesta experiecircncia

ndash Acho que vocecirc jaacute estaacute nela(nesse momento recebo uma chamada no

celular)ndash Oi Clecindash Oi Eacutediondash Tudo bemndash Tudo Estou conversando com o Alexandre

para compor a apresentaccedilatildeondash Joia Ele te falou do coletivo OpiopticA

wwwopiopticablogspotcom e de projetos como o EletriXidade

(talvez o Eacutedio tenha feito essa referecircncia porque conhece meu trabalho sobre tecnologias e cogniccedilatildeo)

ndash Acho que natildeo dei muita chance a elendash Alexandre o Eacutedio estaacute me falando do

EletriXcidadendash Era justamente nisso que eu estava

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Prefaacutecio a uma filosofia

Celso Kraemer

Escrever aacute uma arte A arte natildeo pertence agrave escrita Eacute a escrita que pertence agrave arte O termo maior que abriga inuacutemeras outras formas de desvelamento eacute a arte Esta deve ser tomada em sua noccedilatildeo mais ampla Por isso talvez menos niacutetida Menos evidente Mas eacute por intermeacutedio dela a arte que algo adveacutem ao ser Vir ao ser Tornar-se algo aiacute Poder ser percebido como real por aqueles que jaacute estatildeo aiacute Que jaacute satildeo entes reais Se nada mais viesse ao ser do irreal para o real nosso mundo restaria na mais pura repeticcedilatildeo mecacircnica do mesmo o eternamente nada mais aleacutem do jaacute determinado do jaacute aiacute ruiacutena do encanto perdiccedilatildeo no nada mais ser

Fazer algo vir ao ser eacute algo ambiacuteguo Muito ambiacuteguo Mais ambiacuteguo do que noacutes gostamos de pensar Por um lado fazer algo vir ao ser eacute o labor do homem pelo pensamento e pelas matildeos Eacute o homem nesse sentido que eacute a condiccedilatildeo possibilitadora para que algo (novo) venha ao ser Haacute certa tranquilidade para aceitarmos que eacute a criatividade humana que faz algo vir ao ser Criamos coisas Criar coisas natildeo eacute o mesmo que fazer algo vir ao ser

Se fazer algo vir ao ser se explicasse pela simples criaccedilatildeo do homem entatildeo natildeo seria um vir ao ser Seria um puro criar Um estranho acontecimento em que do nada viria algo Do

trabalhando no momento que chegastesndash Podes me contar um pouco mais Eu me

interesso por esses causosndash Vamos tomar um cafeacutendash Pode ser em 2012 AlexandreSaiacutemos para um cafeacute

Cleci Maraschin eacute professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Trabalha como docente e orientadora em dois programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo da mesma universidade Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psi-cologia Social e Institucional e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Informaacutetica da Educaccedilatildeo Pesquisadora CNPq Temas de pesquisa Tecno-logias e Cogniccedilatildeo

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vazio do homem que natildeo explicita de onde ele mesmo proveio viria algo Impossibilidade teoacuterica para qualquer forma de raciociacutenio Do nada nada se cria

Entatildeo o criar natildeo eacute um simples criar Criar eacute fazer vir ao ser E nisto se mostra a ambiguidade do acontecimento artiacutestico A criaccedilatildeo pela arte eacute um provir de Esse de eacute mais do que o nada Temos entatildeo a duplamente ou triplamente enigmaacutetica questatildeo donde proveacutem isso que nos adveacutem por intermeacutedio da arte Por outro lado isto que adveacutem modifica-se em seu ser no momento que nos adveacutem ou permanece semelhante ao que jaacute era antes de advir Aleacutem disso o Originaacuterio donde adveacutem o algo atraveacutes da arte modifica-se em seu ser no momento em que algo sai dele para advir

Pensemos o artista natildeo como O Sujeito Supremo de onde a arte proveacutem Pensecircmo-lo antes como parte do processo originaacuterio de onde a arte proveacutem Como bem disse Martin Heidegger pensando acerca da Origem da Obra de Arte o que faz o artista eacute a obra Natildeo haacute artista se natildeo houver obra O Artista adveacutem artista conjuntamente com a obra A Obra portanto natildeo eacute simplesmente uma criaccedilatildeo do artista nem eacute a obra produtora de si mesma

Muito antes a obra eacute produtora do artista Eacute a obra que faz o artista Igualmente natildeo haacute obra sem artista Assim eacute o proacuteprio artista que se faz obra e a obra que se faz artista

Isso natildeo resolve a triplamente enigmaacutetica questatildeo Ao contraacuterio apenas nos expotildee a algo que seria o verdadeiro originaacuterio donde proveacutem

a obra e o artista que conjuntamente nos adveacutem Creio que nada nos impede de pensar esse verdadeiramente originaacuterio donde proveacutem simultaneamente artista e obra da mesma forma que pensamos a relaccedilatildeo originaacuteria da obra que adveacutem do artista e do artista que adveacutem da obra a arte ao advir traz ao ser a obra e o artista Quer dizer entatildeo que obra e artista adveacutem de algo mais originaacuterio que ambos Mas devemos considerar mais profundamente o isso que adveacutem ao advir modifica a si mesmo tornando-se algo ineacutedito mas modifica tambeacutem aquilo de onde o originaacuterio do qual adveacutem Nessa dinacircmica criadora o todo se renova torna-se continuadamente outro em relaccedilatildeo a si mesmo Portando no todo natildeo haacute novo nem velho Tudo estaacute sujeito indefinidamente ao vir-a-ser um devir criativo ao modo criador da arte

Creio que agora desvelou-se natildeo a arte como tal mas uma de suas caracteriacutesticas fundamentais A arte eacute uma dinacircmica criadora do proacuteprio ser

Dito de modo ainda mais preciso o ser eacute dinacircmico em sua natureza artiacutestica Este natildeo eacute um raciociacutenio belo com objetivo de apenas embelezar o modo de pensar Ao contraacuterio esse movimento feito no interior do proacuteprio pensamento eacute um mergulho na natureza proacutepria do raciocinar

O raciociacutenio visto dessa forma natildeo eacute um exerciacutecio formal amparado unicamente na loacutegica No raciocinar natildeose formaliza uma verdade jaacute pronta e ainda natildeo visiacutevel agrave mente

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Mais profundamente o raciociacutenio eacute uma forma tambeacutem de arte Pelo raciociacutenio algo mais originaacuterio que o proacuteprio raciociacutenio adveacutem ao ser O pensamento natildeo eacute o criador absoluto a partir do nada Ele eacute aquilo atraveacutes do qual algo mais originaacuterio adveacutem ao mundo tornando-se ser

Podemos agora conceber o que significa dizer que a escrita eacute uma forma de arte No gesto no movimento no exerciacutecio de escrever semelhante ao exerciacutecio de pintar de raciocinar de cantar de construir de encenar produzir teatro algo adveacutem ao ser A escrita semelhante ao raciociacutenio natildeo mostra algo jaacute constituiacutedo uma verdade jaacute acabada A verdadeira escrita aquela que natildeo se resume agrave transcriccedilatildeo de textos jaacute prontos eacute criadora O que ela cria O Ser Tambeacutem na escrita algo de originaacuterio vem ao ser se faz aiacute com o homem-mundo

Podemos visualizar por essa pequena fresta que as linhas acima abriram ao nosso entendimento a iacutentima relaccedilatildeo que o trabalho do Eacutedio tem com a Filosofia e com o Teatro de que ele quer tratar com seu livro

O teatro uma forma de arte produz ser O ser do teatro natildeo se esgota na representaccedilatildeo Mais fundamentalmente que isso o teatro desvela a verdade do homem um ente por intermeacutedio do qual o ser adveacutem ao mundo O teatro eacute nesse sentido uma das formas mais belas da arte Talvez nele a arte se manifeste em sua forma mais iacutentima ele cria o ainda natildeo aiacute A apresentaccedilatildeo teatral eacute um faz de conta verdadeiro em que a verdadeira representaccedilatildeo

nunca eacute A Verdade por isso jamais o teatro eacute falso pois ele natildeo pretende desmentir outras representaccedilotildees Cada peccedila cada cena cada grupo ou companhia de teatro pretende-se ser mais um em meio agrave multiplicidades de apresentaccedilotildees possiacuteveis Em si mesma cada uma delas eacute criadora no ainda natildeo aiacute Cada uma delas deixando algo vir ao ser O teatro natildeo eacute mentira por natildeo pretender a verdade mas satisfazer-se em deixar o ser vir ao real por intermeacutedio do labor da alma humana

Assim o modo de o Eacutedio manejar a escrita aproxima-se delicadamente do trabalho do proacuteprio real que ele se encarrega de recolher e apresentar Mas o Eacutedio sabe desde o princiacutepio que a histoacuteria do teatro enquanto efetividade do acontecimento jaacute veio ao ser Jaacute estaacute inscrito no real Sabe tambeacutem que a Histoacuteria que ele agora escreve natildeo se resume a contar o que aconteceu A Historiografia enquanto um gesto de escrita eacute semelhante ao teatro um gesto criador Criar e Doar Atraveacutes da escrita continuadamente algo vem ao ser

O livro que se segue eacute uma obra de arte que reuacutene uma histoacuteria mas natildeo passivamente O livro enquanto criaccedilatildeo deixa ver algo da intimidade da alma do homem Nas linhas pelas quais o texto se mostra algo muito mais iacutentimo e profundo do que o proacuteprio texto se mostra ao leitor a verdade criadora da arte seja da representaccedilatildeo seja da escrita seja do cultivo da amizade seja de uma roda de amigos com uma cerveja um vinho O livro ainda nietzscheana ou deleuzeanamente mostra

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o devir criativo que nos faz ser sem nunca mostrar-se totalmente sem nunca ocultar-se totalmente mas num jogo de criar a si mesmo na beleza criadora do homem Neste livro o teatro se faz histoacuteria e a histoacuteria se faz teatro num gesto reciacuteproco de criar e doar

Celso Kraemer eacute professor de filosofia junto ao Departamen-to de Ciecircncias Sociais e Filosofia do Centro de Ciecircncias Hu-manas e da Comunicaccedilatildeo e no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado em Educaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Universidade Regional de Blumenau (FURB)

Prefaacutecio a um Teatro

Joseacute Faleiro

Quando em outubro de 1986 cheguei a Blumenau quis inteirar-me da atividade teatral existente na cidade Vi entatildeo espetaacuteculos de Alexandre Venera dos Santos e de Wilfried Krambeck Fui logo atraiacutedo pelo trabalho consciencioso responsaacutevel cuidadoso e iacutentegro que apresentavam A anomia serena nada panfletaacuteria nada verbosa nada militante de Alexandre mas radical vivida logo provocou simpatia em mim Com seu espiacuterito metoacutedico Wilfried organizava uma estrutura que ldquodialogavardquo mdash como se diz hoje mdash com a praacutetica artiacutestica do primeiro para a qual este contava com as dependecircncias suntuosas do Teatro Carlos Gomes (TCG) ldquogrande castelo isolado bem no centro daquela cidaderdquo dotado de um palco giratoacuterio (ldquouma grande roda horizontalrdquo) e de ldquouma forte luz proveniente de todos os ladosrdquo Isso tambeacutem era fascinante em contraposiccedilatildeo agraves instalaccedilotildees que na eacutepoca a FURB possuiacutea para o seu curso de teatro a amplitude do TCG permitia respirar e sonhar com altos voos Todas as dependecircncias do ldquopalaacuteciordquo pareciam estar agrave disposiccedilatildeo daquele pequeno grupo de jovens interessados em explorar cada recanto (corredores camarins salas biblioteca bar palco) do preacutedio e em captar cada significado daquela atividade que se propunham a experimentar a exercer

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Por esses encontros e pelos que tivemos na Comissatildeo Organizadora do 1ordm Festival Universitaacuterio de Teatro de Blumenau (que coordenei com a colaboraccedilatildeo valiosa e imprescindiacutevel de tantos amadores da arte dramaacutetica) do final de 1986 a julho de 1987 Alexandre e eu tivemos a oportunidade de conversar muito sobre teatro e sobre a sua relaccedilatildeo teoacuterica e praacutetica com o tema Havia nele abertura para uma reflexatildeo que levava agrave accedilatildeo que natildeo conhecia hiato entre conceber e realizar Seu meacutetier seu ofiacutecio fluiacutea Suas inquietaccedilotildees natildeo se prendiam a um modismo Nunca tive a impressatildeo de que sua forma de fazer teatro quisesse romper com o que fora feito antes ou com uma forma obsoleta de fazer teatro que devesse ser combatida Ele estava atento ao novo sem duacutevida Mas a generosidade criativa que o animava e o seu universo artiacutestico e vital eram tatildeo grandes o fluir de sua arte era tal que ele se expressava por uma necessidade fazer teatro era para ele uma ανανκη [ananke] uma necessidade algo que natildeo podia natildeo ser Se ele desestruturava a narrativa se se voltava para o fragmento para as formas breves para a (aparente) falta de unidade se aumentava o tamanho de objetos em cena ou os tornava insoacutelitos em seu uso se incluiacutea composiccedilotildees musicais supostamente em descompasso com a situaccedilatildeo se levava os atores a agir em cena de modo natildeo figurativo natildeo mimeacutetico se tinha um domiacutenio inabitual da iluminaccedilatildeo parece-me que assim fazia porque assim lhe vinha o teatro assim lhe vinha o modo de viver e de viver teatro Natildeo por incultura ingenuidade

falta de informaccedilatildeo Por absoluta necessidade O NuTe era tonificante tonificado por seu regente O que levava os atores a produzirem este ou aquele gesto ter esta ou aquela atitude em cena Quais eram as fronteiras entre fazer qualquer coisa ou fazer algo ldquoelaboradordquo ldquobem pensadordquo ldquoconscienterdquo Sacudido o espectador poderia perguntar a outros e a si mesmo ldquoIsso eacute vaacutelidordquo ldquoNatildeo eacute vaacutelidordquo ldquoEacute teatrordquo ldquoNatildeo eacute teatrordquo ldquoQual a diferenccedila entre isso e qualquer coisardquo ldquoNa acircnsia de experimentar tudo eacute possiacutevelrdquo Agraves vezes me restava a perplexidade Mas sempre apoiei aquele grupo de pessoas que se entregavam a um ofiacutecio com tanta coragem prontidatildeo vontade alegria seriamente com prazer porque amavam o teatro com entusiasmo porque queriam fazecirc-lo e o faziam sem o excesso de consideraccedilatildeo e de deferecircncia que tolhe que paralisa que entorpece a accedilatildeo Agraves vezes retraiacutedo Alexandre gostava poreacutem de mostrar seus trabalhos queria que fossem vistos e discutidos No 2ordm Festival Universitaacuterio de Teatro de Blumenau (FUTB) conseguiu apresentar um espetaacuteculo seu o que esperava ser feito desde o 1ordm Festival Os participantes do NuTE tinham vontade de respirar arte dela se nutrir e se embriagar viver imersos nela conversar sobre ela (apesar de haver muitas interrogaccedilotildees na eacutepoca de sua fundaccedilatildeo sobre o benefiacutecio que o FUTB traria para os grupos locais creio que o nuacutemero de espetaacuteculos vistos palestras e debates assistidos conversas de bares e corredores ocorridas permitem responder que o Festival foi beneacutefico para os grupos blumenauenses)

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Se por vezes iconoclasmo havia natildeo era por caacutelculo Era por querer experimentar por ter desejo veemente de encontrar suas respostas agraves suas perguntas Essas respostas natildeo se apresentavam de forma uniacutevoca abriam-se para uma polissemia que era cultivada por todo o grupo e por seu condutor O sentido se construiacutea na accedilatildeo para a equipe do NuTE e na contemplaccedilatildeo ativa para o espectador

Seraacute que a memoacuteria me faz idealizar Penso que natildeo Seja como for quando revejo internamente o trabalho teatral do NuTE sobretudo o que antecede a apresentaccedilatildeo para o puacuteblico ou o realizado no intervalo entre um espetaacuteculo e outro o que me vem agrave mente prazerosamente satildeo corredores encerados ocupaccedilatildeo dos mais diversos locais caminhadas por noites frias para chegar pela ponte pecircnsil agrave rua Amazonas ou mais tarde agrave rua Satildeo Joseacute satisfeito apoacutes horas de fecundas atividades Lembranccedilas de um questionamento constante sobre teatro recordaccedilotildees de uma vontade de ler de devorar informaccedilotildees e de assimilaacute-las na accedilatildeo por parte dos integrantes do grupo Lembranccedilas de uma convivecircncia deles entre si e com a sua arte Teatro como ldquoVersuchrdquo como tentativa ensaio ldquoUm ensaio de esforccedilos fragmentaacuteriosrdquo como diria Kierkegaard na epiacutegrafe escolhida por Gerd Bornheim para um escrito deste uacuteltimo Minhas lembranccedilas satildeo fragmentaacuterias mas alguns momentos de espetaacuteculos permanecem muito vivos dentro de mim Ao ler a lista de conteuacutedos (redigidas por

Wilfried se natildeo me falha a memoacuteria com meu acordo) do curso que ministrei sorri diante de certo caraacuteter enciclopeacutedico De fato ele tinha um aspecto teoacuterico (nos sentaacutevamos em torno de uma grande mesa confortaacutevel) mas tambeacutem praacutetico com o corpo e a voz-do-corpo circulando pelo espaccedilo Aleacutem disso faziacuteamos experimentaccedilotildees de cenas no palco do grande auditoacuterio mdash um Auto da Barca de Gil Vicente por exemplo com a utilizaccedilatildeo de cordas quilomeacutetricas interminaacuteveis que figuravam o cais do porto Havia ainda leituras de textos que eu traduzia Lembro de ter traduzido Los Olivos de Lope de Rueda de ter gostado da traduccedilatildeo e de natildeo ter ficado com nenhuma coacutepia dela (ainda natildeo tiacutenhamos computador)

O NuTE representou para mim um momento de intensa e rica convivecircncia humana e artiacutestica Momento de ensinar e de aprender de compartilhar e de receber Um mo(vi)mento tatildeo forte assim natildeo morre natildeo acaba pulsa latente fica vivo de outro modo E pode ressurgir como agora com a cartografia que Eacutedio Raniere desenha neste livro-espetaacuteculo ou espetaacuteculo-livro sobre o NuTE Ele me desnorteia estarrece perturba como acontecia com os espetaacuteculos do grupo Eacutedio encontra o tom (ou um dos modos possiacuteveis jaacute que natildeo haacute uma verdade uacutenica) para falar do NuTE Fala ldquonuteanamenterdquo do NuTE Agrave la maneira de Juacutelio Cortaacutezar de O Jogo da Amarelinha de 62 ndash Modelo para armar ou de O Livro de Manuel Raniere convida o leitor a ter a liberdade de andar pelos corredores pelas bordas do texto

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pelos seus meandros a sair e a voltar sem medo de experimentar

Tanto o NuTE quanto Eacutedio querem ldquocriar e compartilharrdquo Aqui o sentido pode ser produzido tambeacutem pelo leitor Na forma dialoacutegica ou assumindo a primeira pessoa remetendo agrave internet ou trazendo o seu conhecimento aprofundado de vaacuterios pensadores citados com pertinecircncia e sem alarde pesquisador corajoso e consistente Eacutedio Raniere escolheu um tema com muitas ramificaccedilotildees e soube trataacute-las com pertinecircncia num exerciacutecio de estilo de valor literaacuterio e cientiacutefico Ele cria uma obra dinacircmica seacuteria e divertida documentada Jogando com a ficccedilatildeo e a realidade ele des-pista uma histoacuteria linear e alia o texto a imagens e a sons questionando constantemente a sua proacutepria produccedilatildeo na qual o olhar do autor sobre os fatos promove uma construccedilatildeo do sentido que natildeo eacute totalizante que natildeo quer ser a uacutenica possiacutevel e que como as gotas de uma cachoeira tecem uma unidade consistente ainda que sempre em movimento O texto impresso ao se espalhar pelos labirintos do ldquowwwrdquo potildee em contato com documentos valiosos que assim estatildeo salvos da perda e do esquecimento e permitiratildeo estudo e fruiccedilatildeo do tema por outras pessoas

Nos hospitais a linha reta dos aparelhos que medem a atividade cardiacuteaca indica a cessaccedilatildeo da vida a sua oscilaccedilatildeo ao contraacuterio eacute esperanccedila de vida Pujante luacutedica com a oscilaccedilatildeo caracteriacutestica da vitalidade NuTE Cartografia de um teatro de Eacutedio Raniere daacute esperanccedilas

de que a obra do Nuacutecleo Experimental de Teatro de Blumenau que teve mais de dezoito anos de atuaccedilatildeo profiacutecua continue a insuflar vida em todos aqueles que amam o teatro e querem partilhaacute-lo com seriedade e prazer

joseacute Ronaldo Faleiro eacute professor do Programa de Poacutes-Gradu-accedilatildeo em Teatro (Mestrado e Doutorado) mdash UDESC Doutor em Artes do Espetaacuteculo pela Universidade de Paris VIIINanterre Professor-pesquisador no DACPPGTUDESC

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Proacutelogo

Ao iniciar esta cartografia sobre meu heroacutei acho-me tomado de certa perplexidade Ei-la embora chame NuTE de meu heroacutei eu mesmo poreacutem sei todavia que ele nada tem de grande e por isso prevejo perguntas inevitaacuteveis como essas em que seu NuTE eacute digno de nota por que o escolheu como seu heroacutei O que lhe deu esse destaque A quem chega sua fama e por quecirc Por que eu leitor devo perder tempo estudando episoacutedios de sua vida

A uacuteltima pergunta eacute a mais fatiacutedica pois soacute posso responder Talvez o senhor mesmo note isso a partir da leitura Mas e se lerem e natildeo notarem natildeo concordarem com a notoriedade de meu NuTE Digo isso porque o prevejo com pesar Para mim ele eacute digno de nota mas duvido terminantemente que consiga demonstraacute-lo ao leitor O caso eacute que talvez ateacute se trate de um revolucionaacuterio mas um revolucionaacuterio indeciso indefinido Pensando bem seria estranho exigir clareza das pessoas numa eacutepoca como a nossa Uma coisa eacute de crer fica bastante evidente trata-se de um estranho de um excecircntrico ateacute No entanto a estranheza e a excentricidade mais prejudicam que permitem chamar a atenccedilatildeo sobretudo quando todo mundo procura unir particularidades e encontrar ao menos algum sentido comum na balbuacuterdia geral Quanto ao excecircntrico o mais das vezes eacute uma particularidade um caso isolado Natildeo eacute

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Mas se os senhores natildeo concordarem com essa uacuteltima tese e responderem ldquonatildeo eacute assimrdquo ou ldquonatildeo eacute sempre assimrdquo eacute possiacutevel que eu ateacute crie acircnimo em relaccedilatildeo agrave importacircncia de meu heroacutei NuTE Porque natildeo soacute o excecircntrico ldquonem semprerdquo eacute uma particularidade e um caso isolado como ao contraacuterio vez por outra acontece de ser justo ele talvez que traz em si a medula do todo enquanto os demais viventes de sua eacutepoca ndash todos movidos por algum vento estranho ndash dele estatildeo temporariamente afastados sabe-se laacute por qual razatildeo

De resto eu natildeo me meteria nessas explicaccedilotildees confusas e desinteressantes e comeccedilaria pura e simplesmente sem mais preacircmbulos Se gostarem acabaratildeo mesmo lendo o mal poreacutem eacute que cartografia eu tenho uma mas narrativas duas Ambas se cruzam e se complementam Arriscaria ateacute que uma natildeo acontece sem a outra A primeira narrativa aconteceraacute em 2015 ano em que meu heroacutei retornaraacute ao teatro A outra vem acontecendo in progress desde 2009 pela web Prescindir de uma das narrativas eacute impossiacutevel porque muita coisa sobre meu heroacutei ficaria incompreensiacutevel Mas dessa maneira minha dificuldade inicial se agrava ainda mais Se eu mesmo isto eacute o proacuteprio cartoacutegrafo acho que uma soacute narrativa jaacute eacute talvez um excesso para um heroacutei tatildeo modesto e indefinido entatildeo como eacute que vou aparecer com duas e como explicar tamanha presunccedilatildeo de minha parte

Atrapalhado com a soluccedilatildeo de semelhantes questotildees decido-me por deixaacute-

las sem qualquer soluccedilatildeo Eacute claro que o leitor perspicaz jaacute percebeu haacute muito tempo que desde o iniacutecio eu vinha dando esse rumo agrave coisa e apenas se afligia comigo perguntando-se por que eu gastava agrave toa palavras esteacutereis e o precioso tempo Jaacute tenho uma resposta pontual gastava palavras esteacutereis e precioso tempo em primeiro lugar por admiraccedilatildeo agrave D e em segundo por astuacutecia Vamos seja como for eu preveni de antematildeo Alias ateacute me agrada que minha cartografia tenha se dividido em duas narrativas fragmentando a ldquounidade essencial do todordquo Ao tomar conhecimento de uma delas o leitor-internauta se decidiraacute valeraacute a pena passar agrave outra Eacute claro que ningueacutem estaacute tolhido por nada pode largar o livro na segunda paacutegina pode sair do blog sem nada ndash fotos viacutedeos entrevistas ndash experimentar Acontece poreacutem que haacute leitores delicados que forccedilosamente desejaratildeo ir ateacute o fim para natildeo se enganar em sua apreciaccedilatildeo imparcial assim satildeo alguns leitores que conheccedilo Pois eacute Perante esses que fico com o coraccedilatildeo mais leve apesar de tudo a despeito de todo seu esmero e sua honestidade dou-lhes todavia o mais legiacutetimo pretexto para largar o relato jaacute no primeiro episoacutedio que encontrarem virtual ou impresso

Bem eis todo o proacutelogo Concordo plenamente que isso eacute excessivo mas como jaacute encontrei escrito que fique

E agora matildeos agrave obra

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cena do espetaacuteculo rsquoaacuteguas de cima para baixorsquo da esquerda para direita

pedro dias carlos crescecircncio

Foto

Ace

rvo

Nu

TE

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PRIMEIRO

ENSAIOPRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015

Quarta-feira Intempestiva() aproximadamente 15h30min

Imagem Insistente Replay

-Absurdo Isso aqui eacute absolutamente ndash fumando Alexandre Venera balanccedilava a cabeccedila em tom negativo O texto em sua matildeo esquerda sofria o dorso da outra indo e vindo aos petelecos o restante do grupo assistia um tanto impressionado um tanto entediado ao desenvolvimento do conflito dramaacutetico jaacute que segundo Lehmann esse recurso vem sendo progressivamente elidido do teatro contemporacircneo1

ndash Vocecirc natildeo gostoundash Cara vocecirc eacute muito teimoso quantas vezes

jaacute te falei que natildeo existe esse troccedilo de Seu NuTE

ndash Eacute soacute um recurso dramaacutetico Venera Que me ajudou a cartografar a histoacuteria2 Daacute mais vida brinca com o problema da identidade eacute um conceito que venho trabalhando desde O Jardim das Ilusotildees

ndash Taacute mas vocecirc escreve sobre um heroacutei Como se resolve isso cenicamente

ndash Natildeo sei talvez possamos contar um pouco

1 O teatro poacutes-dramaacute-tico

2 Conforme Suely Rol-nik in Cartografia Sen-timental ldquoPara os ge-oacutegrafos a cartografia () eacute um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de trans-formaccedilatildeo da paisagem Paisagens psicossociais tambeacutem satildeo cartografaacute-veis A cartografia nes-se caso acompanha e se faz ao mesmo tempo que o desmanchamen-to de certos mundos - sua perda de sentido - e a formaccedilatildeo de ou-tros mundos que se criam para expressar afetos contemporacircneos em relaccedilatildeo aos quais os universos vigentes tornaram-se obsoletos Sendo tarefa do cartoacute-grafo dar liacutengua para os afetos que pedem pas-sagem dele se espera basicamente que esteja mergulhado nas inten-sidades de seu tempo e que atento agraves lin-guagens que encontra devore as que lhe pa-recem elementos possiacute-veis para a composiccedilatildeo das cartografias que se fazem necessaacuterias O cartoacutegrafo eacute antes de tudo um antropoacutefagordquo

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PRIMEIRO

ENSAIO

da tua histoacuteria pessoal da mesma forma como eu fiz no

ndash Pois esse eacute que eacute o problema ndash cortandondash Eacute um heroacutei modesto nada de mais ndash risos

contidos e nervososndash Nem modesto nem meio modesto Natildeo

natildeo daacute Eu natildeo dirijo porra de espetaacuteculo nenhum sobre historinha familiar seja a minha a da tua tia ou da matildee do prefeito Aleacutem do que o NuTE eacute um coletivo isso aqui natildeo tem cabimento eu natildeo vou montar essa merda ndash jogando o roteiro no chatildeo e fazendo menccedilatildeo de abandonar o ensaio

ndash Tudo bem Calma Deixa eu explicar um pouco melhor ndash Venera acende outro cigarro olha para o lado Wilfried Krambeck toma a palavra

ndash Eu concordo com Alexandre acho que natildeo podemos montar um espetaacuteculo que inicia sobre um plaacutegio vamos acabar respondendo por isso

ndash Plaacutegiondash Natildeo eacute plaacutegio chama-se colagem Heiner

Muumlller utilizava o proacuteprio NuTE fez alguns experimentos trata-se de uma colagem Eacute o meacutetodo da colagem

ndash Colagem Mas que colagem vocecirc utilizou apenas um texto

ndash Sim Eacute quase uma citaccedilatildeo mas funciona com variaccedilotildees extremamente sutis apenas o leitor mais atento percebe

ndash Citaccedilatildeo que natildeo indica o nome do autor Colagem que utiliza apenas um texto Desculpe eu natildeo conhecia esse estilo

ndash Mas vocecirc estaacute me ofendendo eacute oacutebvio que eu indico o nome do autor

ndash Onde Onde estaacute escrito que esse trecho que acabamos de ler eacute a abertura de Os Irmatildeos Karamaacutezov onde estaacute escrito que o verdadeiro autor eacute Dostoieacutevski e que a traduccedilatildeo que vocecirc utilizou eacute de Paulo Bezerra Agora se for uma colagem onde estatildeo os outros textos Vocecirc utilizou apenas um texto original modificando pequenos fragmentos

ndash Bom talvez se trate entatildeo de uma acoplagem ou de uma acoplagem de fragmentos natildeo sei bem ainda

ndash Olha Eacutedio ndash Venera retoma ndash semana passada quando vocecirc esteve laacute em casa eu comentei contigo que fiquei muito contente e honrado ateacute com teu esforccedilo para escrever a histoacuteria do NuTE mas eu nunca imaginaria que vocecirc iria forccedilar a coisa desse jeito Vocecirc sabe que estou distante do teatro haacute um bom tempo que depois de tudo o que aconteceu eu natildeo podia mais voltar na verdade nunca tive a menor vontade de voltar Eu estou aqui hoje com o grupo porque vocecircs me pressionaram muito Por vontade proacutepria natildeo viria Vou te falar uma coisa soacute tem um jeito de a gente continuar com isso

Um pouco de menos senatildeo natildeo vai mais

Caro leitor vamos diminuir um pouco a velocidade Como algueacutem que sobe galopando uma montanha e agora contemplando os

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PRIMEIRO

ENSAIO

quilocircmetros percorridos se esforccedila para encontrar entre as pedras laacute embaixo uma trilha como algueacutem que danccedila freneticamente madrugada adentro e num rodopio se daacute conta de que dentro de algumas horas estaraacute dormindo iniciando sutilmente a preparaccedilatildeo como um solo de guitarra que atinge a nota mais aguda e procura por uma escala menor Descer diminuir respirar Como um gato que no susto trepa o galho mais alto da aacutervore e agora quer voltar ao chatildeo mas natildeo sabe exatamente onde pisar como algueacutem que trabalha de segunda a saacutebado obrigado a levantar bem cedo e laacute pelas tantas acorda num domingo

Satildeo tantas coisas que preciso lhes contar tantas Contar por exemplo dos espetaacuteculos produzidos pelo NuTE da escola de teatro do JOTE-Titac de como foi que chegamos ndash ou melhor que chegaremos a este primeiro ensaio em 2015 Acho que este ponto merece uma pequena explicaccedilatildeo eu prefiro utilizar musicalmente falando as ressonacircncias gramaticais do passado por haacutebito por ironia ou para lhes proteger de frequentes estranhamentos Por isso na primeira frase da cena em questatildeo aparece ldquofumando Alexandre Venera balanccedilava a cabeccedila em tom negativordquo enquanto o correto seria dizer que ldquofumando Alexandre Venera balanccedilaraacute a cabeccedila em tom negativordquo Visto que hoje eacute 21 de abril de 2010 e que estes ensaios aconteceratildeo apenas daqui a cinco anos Trata-se portanto de uma biografia do devir De um futuro proacuteximo eacute verdade mas de um futuro Dessa forma quero lhes pedir

licenccedila para utilizar um formato gramatical natildeo condizente com o periacuteodo em questatildeo o passado aqui serviraacute como mero ponto de apoio nada mais O passado como um lugar seguro de onde se pode partir e ao mesmo tempo um porto aberto sempre agrave espera

Ah Como satildeo leves as conjunccedilotildees do preteacuterito imperfeito Talvez justamente por ser imperfeito Cada vez mais me convenccedilo de que a imperfeiccedilatildeo eacute sempre mais bonita Ao mesmo tempo sei que alguns leitores podem questionar tais utilizaccedilotildees dizendo que me bastaria conjugar esta escrita no futuro do presente ldquofumando Alexandre Venera balanccedilaria a cabeccedila em tom negativordquo Formato que aleacutem de confuso natildeo faz nenhum acoplamento com memoacuteria E como se trata de Puxa Eacute verdade eu jaacute ia me esquecendo da memoacuteria

Memoacuteria

Em O Jardim das Ilusotildees3 me apoiei em alguns conceitos-memoacuteria de Bergson boa parte desse livro funciona tendo Mateacuteria e Memoacuteria como engrenagem Conservo a sensaccedilatildeo de que aquele momento na paacutegina 7 onde Bergson diz que o ceacuterebro natildeo armazena imagens nem lembranccedilas continua produzindo bons agenciamentos e por isso uacutetil tambeacutem aqui Natildeo pretendo repetir toda discussatildeo jaacute realizada em O Jardim das Ilusotildees minha intenccedilatildeo em avanccedilar sobre esse ponto em especiacutefico eacute a de permitir que vocecirc caro leitor compreenda de forma raacutepida e acessiacutevel a concepccedilatildeo de

caro leitora maioria dos

arquivos e informaccedilotildees

disponiacuteveis em links da internet

estatildeo tambeacutem diponiacuteveis no

dvd multimidia lsquoexperimentando

nutersquo anexo a este livro fique atento ao iacutecone abaixo

3 ver o livro disponiacutevel em

wwwnutecombrjardimpdf

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PRIMEIRO

ENSAIO

memoacuteria com a qual venho trabalhando e que estaraacute nos atravessando durante estas leituras-escrituras-NuTE

Quem vai nos ajudar dessa vez satildeo dois bioacutelogos chilenos Francisco Valera e Humberto Maturana Apesar de natildeo citarem Bergson chegam a conclusotildees bastante proacuteximas desta enunciada em Mateacuteria e Memoacuteria Tanto eacute que no segundo livro que escreveram juntos ndash A Aacutervore do Conhecimento as bases bioloacutegicas da compreensatildeo humana ndash a impressatildeo que passa eacute a de haver um aprofundamento da questatildeo jaacute que para Maturana e Varela natildeo apenas as imagens e as lembranccedilas estariam fora mas a proacutepria mente ldquo() natildeo eacute algo que estaacute dentro de meu cracircnio Natildeo eacute um fluido do meu ceacuterebro a consciecircncia e o mental pertencem ao domiacutenio de acoplamento social e eacute nele que ocorre a sua dinacircmicardquo4

Pois que seja mas e daiacute ndash diria o leitor mais ansioso ndash Daiacute que no caso de uma memoacuteria-NuTE a memoacuteria possiacutevel de acessar a memoacuteria que por mais esforccedilo que vocecircs e eu faccedilamos apareceraacute nestas paacuteginas estaraacute mergulhada em palavras imagens sons cheiros cores experimentaccedilotildees NuTE Natildeo se trata de explorar o problema de uma forma poeacutetica como disseram alguns criacuteticos sobre meu primeiro livro mas de perceber que essa memoacuteria que nos acostumamos a reverenciar como propriedade de um dentro objetiva linear e pronta para ser recuperada natildeo pertence a um sujeito ou ao dentro da consciecircncia de alguns sujeitos Que ela soacute funciona acoplada a 4 paacutegina 256

linguagens muacuteltiplas e muacuteltiplas satildeo suas faces Sem isso sem esse miacutenimo em uma pesquisa como essa nada se coloca em movimento

Parece bastante oacutebvio que nosso ceacuterebro natildeo armazene palavras mesmo assim fomos acostumados a imaginar uma gaveta de massa cinzenta ocircrganica em meio a neurocircnios e dendritos acomodando expressotildees frases inteiras ateacute Dessa imagem cerebral o que nos resta eacute a atuaccedilatildeo em rede da memoacuteria Mas se as palavras natildeo estatildeo guardadas em um depoacutesito cerebral como eacute possiacutevel a um ator utilizar palavras para descrever sua experiecircncia nuteana Ou dizendo de outra forma quando um ator utiliza palavras que natildeo satildeo dele para descrever seu passado nuteano o que ele descreve Quando esse ator nos conta o que lhe parece ter sido o nuacutecleo de teatro experimental afinal como ele faz isso Como eacute possiacutevel que essas mesmas palavras que natildeo estatildeo depositadas dentro do ceacuterebro do ator sejam a base de toda invenccedilatildeo de seu relato-memoacuteria

Organizaccedilatildeo Deliacuterio e Tempo

O que atravessa nosso corpo natildeo apenas o ceacuterebro mas o sangue as arteacuterias as viacutesceras a pele todo o corpo eacute sempre uma atualizaccedilatildeo do virtual O transbordamento caoacutetico dessa passagem temporal exige uma organizaccedilatildeo Para lidar com esse constante desassossego somos forccedilados natildeo haacute como escapar sem enlouquecer a inventar sentidos Contudo mesmo o limite

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PRIMEIRO

ENSAIO

da desrazatildeo eacute meramente didaacutetico jaacute que muitas vezes eacute justamente atraveacutes da loucura que o sujeito estabelece algum sentido Para Bergson5 esse tempo em noacutes eacute um movente e uacutenico bloco Natildeo se pode dividi-lo natildeo se pode recortaacute-lo em fases periacuteodos identidades O tempo em noacutes eacute indivisiacutevel A lembranccedila em noacutes eacute permanente Somos tudo a todo tempo tudo o que experimentamos estaacute agora nesse instante fazendo barulho urros interminaacuteveis de incontaacuteveis lampejos sutis Cada pequena memoacuteria estaacute duelando com todas as demais e essa guerra desenfreada e incessante que acontece mesmo enquanto vocecirc realiza essa leitura estaacute a nos arrastar cada um de noacutes ao seu tempo pela vida

Para lidar com esse excesso de memoacuteria que somos a natureza em seu requinte de fazer a existecircncia suportaacutevel desenvolveu um mecanismo-verbo esquecer Se lembraacutessemos de tudo a todo tempo a vida seria impossiacutevel Ou seja a funccedilatildeo do ceacuterebro se eacute que ela estaacute realmente no ceacuterebro natildeo eacute lembrar mas esquecer Esquecer para poder existir Esquecer para poder experimentar a perpeacutetua presentificaccedilatildeo do passado Esquecer um pouco ao menos um pouco pois a indivisibilidade do tempo que nos carrega natildeo vai parar Eacute preciso esquecer para conseguir tomar focirclego e continuar vivendo ou melhor continuar esquecendo

Se fosse preciso falar de forma geral simplificando as coisas assim numa estrutura bastante provisoacuteria poderiacuteamos dividir a

5 O Pensamento e o Movente ensaios e conferecircncias

organizaccedilatildeo desses abismos em noacutes atraveacutes de dois grandes blocos de elaboraccedilatildeo

Modo Forma Modo ForccedilaAliviar Tonificar

Iludir Encarar

Distrair Entreter Provocar Fazer Experimentar

Lucro Poder-Potecircncia

Fugir da Realidade Aceitar o Traacutegico da Vida

Representar Enunciar Apresentar Inventar

Tais blocos permitem uma produccedilatildeo de sentido agrave vida Ajudam a passar o que pede passagem Permitem ao corpo natildeo desmontar auxiliam em sua organizaccedilatildeo em sua invenccedilatildeo em sua produccedilatildeo de sentido em meio agrave caoticidade jaacute inerente agrave vida e potencializada pelas atualizaccedilotildees do virtual

Dizendo de uma NuTE-forma a histoacuteria o roteiro a cronologia natildeo passam de um deliacuterio racional uma organizaccedilatildeo imposta que a consciecircncia fabrica para criar sentido e natildeo sucumbir natildeo desterritorializar em meio agraves sensaccedilotildees que transbordam no corpo-escritura no corpo-entrevista no corpo-foto O estatuto de verdade que muitos perseguem seja na descriccedilatildeo histoacuterica ou mesmo numa disciplina cientiacutefica como a medicina soacute se atinge quando uma determinada organizaccedilatildeo-deliacuterio torna-se a organizaccedilatildeo-deliacuterio de muitos Foi isso que ldquo() Robison Crusoeacute entendeu muito bem ao manter um calendaacuterio e ler a Biacuteblia todas as

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ENSAIO

tardes isso soacute eacute possiacutevel se nos comportarmos como se existissem outros jaacute que eacute a rede de interaccedilotildees linguumliacutesticas que faz de noacutes o que somos Noacutes que como cientistas dizemos todas essas coisas natildeo somos diferentesrdquo6

Ou seja se a memoacuteria natildeo habita um espaccedilo objetivo dentro do ceacuterebro de onde seria possiacutevel extraiacute-la com precisatildeo se a memoacuteria se espalha em complexos sistemas interativos sociais ligados em rede se a memoacuteria depende sempre da memoacuteria dos outros para ter legitimidade entatildeo tentar recuperar uma verdadeira memoacuteria ainda mais quando de um grupo eacute no miacutenimo um trabalho fadado ao fracasso7

Ou seja um observador por mais que se esforce para descrever uma memoacuteria tem sua descriccedilatildeo regulada pelo domiacutenio da observaccedilatildeo e jamais atinge portanto o domiacutenio das operaccedilotildees nunca conseguiraacute atingir os fatos tais como acontecem eou aconteceram Para Deleuze o virtual seria este inacessiacutevel onde entre outras coisas ocorre o domiacutenio das operaccedilotildees do ontem Sendo o virtual aquilo que natildeo nos eacute dado e o atual em contraponto aquilo que nos eacute dado podemos avanccedilar sobre nosso caso8

A histoacuteria do NuTE que se tenta narrar aqui estaacute limitada ao niacutevel de uma observaccedilatildeo-atualizaccedilatildeo possiacutevel visto que os domiacutenios de suas operaccedilotildees tais como aconteceram natildeo estatildeo acessiacuteveis ndash passado inalcanccedilaacutevel NuTE-virtual Dessa forma quatro constataccedilotildees importantes

6 A Aacutervore do Conhe-cimento p 256-257

7Em De Maacutequinas e Seres Vivos Autopoie-se ndash A Organizaccedilatildeo do Vivo Maturana e Va-rela explicam que ldquoAs noccedilotildees de aquisiccedilatildeo de representaccedilotildees do am-biente ou de aquisiccedilatildeo de informaccedilatildeo sobre o ambiente em relaccedilatildeo com a aprendizagem natildeo representam qual-quer aspecto do operar do sistema nervoso O mesmo vale para no-ccedilotildees tais como memoacute-ria e lembranccedila que satildeo descriccedilotildees feitas por um observador de fenocircmenos que tecircm lu-gar em seu domiacutenio de observaccedilatildeo e natildeo no domiacutenio de operaccedilatildeo do sistema nervoso e que portanto tecircm va-lidade somente no do-miacutenio das descriccedilotildees onde ficam definidas como componentes causais na descriccedilatildeo da histoacuteria condutu-alrdquo p132

8 Esta definiccedilatildeo de Virtual e Atual se en-contra mais detalhada em O Vocabulaacuterio de Deleuze de Zourabi-chvilli

Primeiro que o passado o virtual a memoacuteria que estou procurando eacute real

Segundo que em sua forma pura em seu em si o passado permanece virtual

Terceiro que meu corpo ainda que sutilmente pode servir de ponte entre o virtual e o atual

Quarto que posso utilizar a escritura como meio de conduzir atualizaccedilotildees desse virtual

Uma escritura que acaba sendo levada a se preocupar natildeo apenas com aquilo que aconteceu mas com aquilo que o acontecimento fezfaz movimentar nos corpos das pessoas que experimentaram o acontecimento9

Assim as observaccedilotildees-atualizaccedilotildees aqui expostas pretendem uma espeacutecie de mapa-NuTE Mapa de um passado-virtual que se atualiza atraveacutes das organizaccedilotildees-deliacuterios de um observador Com razatildeo alguns leitores devem estar ridicularizando este processo de pesquisa Ao mesmo tempo acredito que os mais rigorosos podem aceitar alguns dos limites que menciono e entre estes os mais generosos provavelmente se perguntam haveria alguma forma de melhorar isso Como natildeo depender apenas das organizaccedilotildees-deliacuterios de um uacutenico observador para descrever essa histoacuteria-NuTE A resposta parece ser bastante oacutebvia convidando outros observadores agrave escrita Mas que escrita suportaria tamanha condensaccedilatildeo

Eugenio Barba em artigo intitulado Fazer Teatro eacute Pensar de Modo Paradoxal diz que ldquo() o importante natildeo era o sentido das palavras

Raniere em O Jardim das Ilusotildees 2007

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ENSAIO

natildeo era tornar o texto inteligiacutevel mas tornaacute-lo vivordquo10 Quem sabe entatildeo se essa escritura-NuTE fosse arrastada natildeo a uma filiaccedilatildeo mas a uma alianccedila com Eugenio Barba em seu modo de trabalhar textos roteiros peccedilas Quem sabe com autorizaccedilatildeo dos pesquisadores mais claacutessicos claro pudeacutessemos tomar os fatos histoacutericos sobre o NuTE da mesma forma que Eugenio Barba toma um texto-roteiro-peccedila Dando mais importacircncia agrave intensidade do que agrave inteligibilidade Obviamente os fatos satildeo essenciais mas seria preciso encarnar esses fatos condensadamente diferente da sua realidade Confuso Tentemos um exemplo a experiecircncia do NUTe com sua Escola de Teatro11 Temos alguns fatos apontados por recortes de jornais fotos eventos programas meacutetodo de ensino entrevistas e suas transcriccedilotildees etc Contudo como tornar viva essa experiecircncia Como proporcionar a vocecirc caro leitor uma escrita que esteja aleacutem da inteligibilidade e do sentido das palavras

Alguns deslocamentos satildeo necessaacuterios Se vamos trabalhar condensando vaacuterias escritas este autor deixa de ter autoria sobre a escrituraccedilatildeo-NuTE Visto que o que ele faz acaba se aproximando mais de uma direccedilatildeo tal qual um diretor de teatro do que propriamente de uma solitaacuteria composiccedilatildeo privada Os acontecimentos seratildeo deformados quebrados estilhaccedilados para que deles se possa extrair potecircncia para que possamos descobrir uma realidade totalmente diferente da realidade que o fato histoacuterico jaacute continha em seu virtual

10 P 14

11 caro leitor vocecirc iraacute encontrar

a abreviaccedilatildeo NuTE

sempre que o texto fizer referecircncia ao

Nuacutecleo de Teatro

Experimental

bem como

NuTe

para

Nuacutecleo de Teatro Escola

ambas as grafias eram adotadas

pelo proacuteprio grupo com os mesmos

significados

ldquo() trata-se de criar um teatro em que a interpretaccedilatildeo do texto eacute atingida por uma condensaccedilatildeo extraordinaacuteria incorporada pelo ator cujas reaccedilotildees fazem com que os espectadores descubram uma realidade totalmente diferente da realidade que as palavras jaacute continham quando estavam no papel Eacute por isso que para mim as palavras satildeo essenciais Eacute a poesia do texto que devemos procurar Mas poesia significa condensaccedilatildeo Eacute preciso encarnar esse texto condensadamente () a finalidade uacuteltima de todo esse trabalho de teacutecnica de visatildeo eacute construir uma relaccedilatildeo viva com o espectadorrdquo12

Em busca de uma relaccedilatildeo viva com o leitor

Um livro natildeo comeccedila com uma paacutegina em branco mas sim com seus devires Seres larvares pululam Frases larvares paraacutegrafos inteiros cores-sons-cheiros conceitos e desejos Essas larvas do vir a ser esse download do ontem ndash jaacute que nessa pesquisa haacute uma intenccedilatildeo de descrever aquilo que aparentemente mora no passado ndash essa atualizaccedilatildeo de um virtual me parecem tatildeo importantes quanto o livro-resultado-final Muito mais difiacuteceis contudo de frear de conter neste papel-tela De registrar de possibilitar que vocecirc caro leitor-ator experimente

Sei que preciso delas sei que sem elas dificilmente atingiremos essa relaccedilatildeo proposta por Barba Ao mesmo tempo tenho tido a impressatildeo de que essas Larvas Palavras jamais obedeceratildeo ao meu comando de parar Talvez sejam nocircmades em um passeio infinito natildeo sei ao certo ainda Sim Elas passaram pelo corpo

12Fazer Teatro eacute Pensar de Modo Para-doxal Eugenio Barba p 15

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ENSAIO

do NuTE mas agora andam desgovernadas por aiacute

Dessa forma talvez nossa uacutenica chance enquanto leitorautor seja aliar-nos com elas Se elas natildeo me obedecem mesmo sendo eu quem dirige esta escrita ou justamente por tentar dirigi-la quem sabe possamos larvar-nos e agenciar essa escritura-leitura a uma espeacutecie de Experimentaccedilatildeo de um Devir NuTE

Tento explicar um pouco melhor Durante a produccedilatildeo deste livro fui expondo em nuteparatodoswordpresscom seus preparativos Cada rascunho cada conceito cada novo pensamento que me pedia passagem teve ali um territoacuterio livre para circular encontrar amigos criacuteticas sugestotildees para se esculpir para se abandonar para se refazer Agrave medida que o Acontecimento NuTE foi se pronunciando muitas das experimentaccedilotildees se deram In Progress em desenvolvimento antes desta ediccedilatildeocostura desta formataccedilatildeo que vocecirc caro leitor tem em matildeos

Ou seja minha tentativa agora ndash Progress in Livro in Progress ndash eacute permitir que um movimento larvar da pesquisa enuncie agrave sua leitura aquilo que o registro-freio tende a paralisar

Contudo encontrei apenas uma forma de fazer isso Convidando vocecirc prezado leitor a participar melhor dizendo a continuar este Work in Progress Por favor natildeo se assuste Talvez num primeiro momento vocecirc esteja pensando que o papel de um leitor seja ler apenas ler e que isso de ser empurrado para atuar junto aos demais atores de uma pesquisa

Work in Progress natildeo estava em seu roteiro quando se interessou por este livro De certa forma vocecirc estaacute correto mas se eu puder contar com sua generosidade peccedilo que tenha calma e siga a leitura como lhe parecer mais agradaacutevel Nas proacuteximas paacuteginas vocecirc seraacute chamado a participar de uma conversa numa comunidade do Orkut fica a seu criteacuterio fazecirc-lo ou natildeo Durante todo o livro vocecirc seraacute convidado a acessar ao blog acima citado bem como a biblioteca Nutrindo13 Nesses espaccedilos vocecirc iraacute encontrar muitas das larvas que aqui tomaram forma de frases paraacutegrafos inteiros Todas as entrevistas realizadas durante a pesquisa estatildeo transcritas na iacutentegra para seu livre acesso Quando vocecirc se deparar num dos Ensaios com um recorte como um trecho de entrevista por exemplo natildeo permita que nossa interpretaccedilatildeo reduza seu entendimento sobre o que foi o NuTE baixe a entrevista no blog e veja por si mesmo do que se trata O mesmo procedimento serve aos documentos aqui fracionados todos sem exceccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis para sua consulta nessa biblioteca que criamos especialmente para hospedaacute-los Nos Segundo e Quarto Ensaios vocecirc seraacute convidado a jogar junto com os demais atores o Baralho NuTE Aproveite divirta-se Monte seu proacuteprio espetaacuteculo No Terceiro Ensaio vocecirc vai encontrar o Livreto Espetacular onde ex-nutes compartilham suas experiecircncias a respeito das principais montagens neste mesmo Ensaio junto agrave cronologia dos 185 espetaacuteculos encenados vocecirc vai encontrar endereccedilos

12 a biblioteca lsquonutrindorsquo conta atualmente com mais de trecircs mil

documentos e pode ser acessada em

wwwnutecombr

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ENSAIO

links para assistir a apresentaccedilotildees ensaios e oficinas No Quinto Ensaio virei pessoalmente lhe convidar inclusive jaacute comprei seu ingresso gostaria muitiacutessimo de sua companhia para assistir ao JOTE-Titac Experimentando NuTE Por fim para o Sexto Ensaio seratildeo necessaacuterias algumas cervejas Recomendo que desde jaacute o prezado leitor as mantenha resfriando em seu freezer

Passo agora a lhes contar como foi que chegamos ao nosso primeiro ensaio como foi que chegamos ao comeccedilo

Um lugar onde se respira o antes do Proacutelogo

Naquela tarde eu tive certeza logo ao desligar o telefone que O Jardim das Ilusotildees seria publicado Gervaacutesio Luz emocionado com o livro transmitia a mim seu parecer positivo como conselheiro da editora Cultura em Movimento Saiacute para sorrir ao sol Natildeo sei bem se um daqueles raios amarelados em minha testa ou mesmo o recente falecimento de Carlos Jardim ndash turbilhatildeo de imagens teatrais ndash natildeo sei bem Mas foi assim que esta obsessatildeo comeccedilou

Fui arrebatado por uma cena-imagem um livro que ao utilizar a estrutura teatral para descrever a trajetoacuteria de um grupo de teatro seria tomado pelo proacuteprio grupo descrito como roteiro de seu proacuteximo espetaacuteculo Espetaacuteculo sobre si dobra-cartograacutefica Deleuze me sussurrava Fazer da Vida Uma Obra de Arte

fazer da vida uma obra de arteAssim que tive em matildeos o primeiro exemplar

de O Jardim das Ilusotildees corri agrave Equipe Vira Lata com essa proposta Para minha frustraccedilatildeo baldes de aacutegua fria Natildeo obtive o entusiasmo que esperava Juntos realizamos o lanccedilamento e um ano depois a publicaccedilatildeo de Por Uma Escrita Vira Lata ndash desdobramento de minha pesquisa onde reuacuteno a grande maioria dos textos escritos por Roberto Vergel pseudocircnimo que Carlos Jardim utilizava para escrever

Mas a imagem insistia Parecia grudada em minha respiraccedilatildeo Ao assistir um espetaacuteculo sempre ela retornava ao dar um curso sobre Michel Foucault ao ler Dostoieacutevski Aos poucos fui me convencendo de que poderia escrever esse espetaacuteculo-dobra Alguns conceitos me faltavam e essencialmente um novo grupo de teatro Comecei a me questionar sobre quem valeria a pena pesquisar que grupo me interessaria Essa pergunta permaneceu por um bom tempo

Isso Natildeo eacute Um Cococirc14 foi uma intervenccedilatildeo urbana de muitos Entre eles estavam Juliana Teodoro e Alexandre Venera Em meio agraves accedilotildees de terrorismo poeacutetico nos tornamos amigos Laacute pelas tantas (eu estava um pouco embriagado eacute verdade) foi no Farol Lanches em Blumenau resolvi contar a Alexandre o quanto o Teatro da Terra uacuteltima fase do NuTE havia sido importante para mim O quanto aquelas cenas em meio agrave Floresta-Fazendarado continuavam presentes no que eu vinha ajudando a fazer de mim

14 A accedilatildeo como um todo levou semanas Desde a construccedilatildeo dos objetos passando pelo lanccedilamento dos objetos no rio Itajaiacute-Accedilu as filmagens a ediccedilatildeo e suas proje-ccedilotildees Nesse endereccedilo vocecirc pode assistir ao viacutedeo que resultou das accedilotildeeswwwyoutubecomwatchv=kknHIVUO-NE

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ENSAIO

Num estalo compreendi que o grupo que eu vinha procurando haacute algum tempo era o NuTE Descrevi para Alexandre meu argumento de pesquisa e ele que tambeacutem havia bebido um pouco disse que era uma ideia genial

() o Alexandre era um grande incentivador assim Com tudo entrando em ebuliccedilatildeo Ele fazia a gente fazer Um tremendo animador cultural no melhor sentido da palavra o Alexandre vibrava com essas coisas os olhos dele brilhavam ldquoVai laacute vamos fazer tem que agitar tem uma ideia legal fazrdquo e Entatildeo empolgava muito a gente a produzir e produzir cada vez mais (entrevista com Peacutepe Sedrez paacutegina 2)

Um estranho brilho nos olhos dele me fez acreditar que a ideia era realmente boa Ao mesmo tempo me disse que natildeo gostaria de se comprometer com a direccedilatildeo do espetaacuteculo da forma como eu estava propondo porque natildeo tinha mais interesse em teatro mas que ficaria honrado com essa cartografia sobre o NuTE

Na mesma semana procurei Aline e Charles velhos amigos e parceiros em projetos culturais Havia um edital aberto para pesquisa e publicaccedilatildeo pela Petrobras Eles gostaram da ideia e comeccedilamos a trabalhar na redaccedilatildeo do projeto Uma das exigecircncias desse edital era obter um Pronac junto ao Ministeacuterio da Cultura via Lei Rouanet Uma vez pronto encaminhamos o projeto e ansiosos aguardamos Depois de alguns meses veio a resposta reprovado Natildeo conseguimos aprovaccedilatildeo pela Petrobras Mais

alguns meses se passaram e como a tramitaccedilatildeo no Ministeacuterio da Cultura independe da empresa patrocinadora acabamos recebendo um Pronac Ou seja o projeto foi aceito via Lei Rouanet caberia agora ao grupo conseguir captaccedilatildeo Captaccedilatildeo que contaacutevamos fazer atraveacutes do edital da Petrobras

Todo mundo que trabalha com cultura tem pelo menos trecircs amigos que aprovaram projetos via lei Rouanet e que nunca conseguiram captar O repasse feito via imposto de renda somente pode ser dado por grandes empresas as quais geralmente estatildeo interessadas em atividades culturais de cunho comercial Desanimados engavetamos o projeto e cada qual em seu canto foi cuidar da vida Comecei a trabalhar para o governo do estado do Paranaacute e me mudei para Curitiba

Quando o prazo de captaccedilatildeo estava prestes a terminar seu Luiz meu sogro telefona dizendo que Gabriela sobrinha dele comentava de uma empresa da aacuterea de construccedilatildeo de hidreleacutetricas a qual estava no momento com uma obra no oeste de Santa Catarina esta empresa vinha avaliando projetos justamente para financiamento via Lei Rounet Sem esperanccedila alguma resolvi encaminhar o projeto e eis que por um grande acaso do destino somos contemplados

Com o patrociacutenio do grupo Baesa-Enercan tudo parecia estar resolvido Bastaria realizar a pesquisa e atraveacutes dela compor procurar pela escrita NuTE Contudo minhas atividades na Secretaria de Estado da Crianccedila e da Juventude

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ENSAIO

me exigiam por completo A escrita foi ficando para amanhatilde Havia firmado compromisso comigo mesmo de escrever em minhas feacuterias as quais estavam programadas pra julho de 2009

Em Curitiba todo saacutebado agrave tarde num bar da esquina de casa ndash bairro Aacutegua Verde ndash tocavam bandas de Blues Era um lugar agradaacutevel para ler Nietzsche Num desses saacutebados a banda terminou mais cedo Por volta das 18 horas paguei as cervejas coloquei O Anticristo na mochila e tomei o rumo de casa Foi nesse crepuacutesculo que aconteceu Eu caminhava distraidamente pelas calccediladas da rua Amazonas quando fui consumido por um segundo arrebatamento e se eu pudesse assistir ao espetaacuteculo que conta a trajetoacuteria do NuTE antes mesmo de escrever o livro E se eu pudesse transformar parte desse espetaacuteculo no livro que iraacute servir de roteiro para o proacuteprio espetaacuteculo

Sozinho vibrando com a ideia eu ria num frenesi desvairado Gritava ldquoEacute isso Eacute isso Isso mesmordquo E voltava a gargalhar como se estivesse possuiacutedo por algum democircnio Os curitibocas transeuntes que vinham em minha direccedilatildeo se afastavam Alguns me apontavam assustados Uma senhora jaacute velhinha que passeava com seu pequeno cachorro poodle tocou-me gentilmente no braccedilo perguntando se eu estava bem Tentei lhe explicar o que estava visualizando mas ela natildeo conseguia entender o que era um JOTE-Titac

Marquei uma reuniatildeo com Charles Aline

e Venera e da mesma forma como havia feito com a bondosa senhora curitibana expliquei o que havia visto Eles compreenderam e gostaram da proposta Juntos chegamos ao conceito de JOTE-Titac Experimentando NuTE Funcionaria como todo JOTE-Titac com a diferenccedila de que os textos encaminhados teriam que tratar de um uacutenico tema o NuTE Natildeo necessariamente contar a histoacuteria do NuTE Mas de alguma forma dar passagem a ela ou a um devir NuTE permitir ressonacircncias com o NuTE estar de alguma forma afetado por ele15

Escolhemos uma data para o evento Aline e Charles cuidaram da divulgaccedilatildeo Venera e eu nos dedicamos agrave organizaccedilatildeo dos grupos Professora Noemy Kellerman Gregory Haertel e Tacircnia Rodrigues selecionaram os textos Doutor Ronaldo Faleiro Peacutepe Sedrez e Noemy Kellerman julgaram os espetaacuteculos Foi um grande sucesso Sem duacutevida eu faria tudo novamente Mas minhas feacuterias haviam terminado Voltei para Curitiba voltei a trabalhar voltei a tentar escrever em meus finais de semana Impossiacutevel Sempre esgotado natildeo conseguia produzir Essa exaustatildeo me acoplou violentamente com um antigo projeto comprar uma casa-escrita Uma casa onde escrever seria possiacutevel em qualquer horaacuterio do dia Um lugar onde natildeo houvesse interferecircncias de bares buzinas motores shows vizinhos cachorros construccedilatildeo de preacutedios ou qualquer outra modalidade ruidosa que pudesse dificultar o processo de escrita

Foi uma decisatildeo difiacutecil Em dezembro de 2009 pedi demissatildeo e comprei atraveacutes de

15 Caro leitor como vocecirc pode

perceber em nosso iacutendice haacute um

capiacutetulo destinado exclusivamente

ao jote- jitac por isso natildeo iremos

detalhar aqui seu funcionamento eou propoacutesito aleacutem do capiacutetulo tudo o que foi produzido pelo lsquojote-titac experimentando

nutersquo estaacute hospedado em

wwwnuteparatodoswordpresscomjoteti-tac

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ENSAIO

um financiamento pela Caixa Econocircmica Federal uma casa na Praia da Tainha em Bombinhas Santa Catarina Nesse mesmo mecircs trago a mudanccedila e comeccedilo a trabalhar Natildeo na escrita mas na casa que precisava de uma seacuterie de reformas Em meados de fevereiro as coisas se ajeitam e comeccedilo a trabalhar finalmente na produccedilatildeo da escrita NuTE O isolamento da praia me permitiu uma aventura quase monaacutestica Mas em virtude de minha natildeo formaccedilatildeo em teatro inuacutemeros problemas conceituais retornavam Em busca de orientaccedilatildeo entro em contato com o Doutor Ronaldo Faleiro que muito gentilmente aceita me nortear nesse processo

Agrave medida que Faleiro analisava os capiacutetulos eles iam sendo postados no blog - wwwnuteparatodoswordpresscom - e sofriam a interferecircncia dos muacuteltiplos virtualizados ndash pessoas que criticavam elogiavam davam dicas ajustavam cenas ndash fui montando capiacutetulo a capiacutetulo este livro O conceito que utilizamos para essa composiccedilatildeo foi o de Work in Progress de uma escrita In Progress

Em outubro de 2011 uma primeira versatildeo do livro estava pronta Eu precisava agora de um diretor Como Alexandre havia sinalizado negativamente marquei uma reuniatildeo com Peacutepe Sedrez Levei o livro entreguei a ele e lhe perguntei se teria interesse em montar o espetaacuteculo Peacutepe olhava pra mim olhava para o livro permaneceu em silecircncio por quase dez minutos apenas folheando as paacuteginas Por fim uma laacutegrima lhe desceu a face esquerda

do rosto Tomado por uma carga absurda de sensaccedilotildees as quais tenho dificuldade de descrever aqui ele me disse

ndash Obrigado Eacutedio obrigado por isso Quero que vocecirc saiba o quanto significa pra mim este teu trabalho Eu me sinto mais do que feliz com tua proposta Imagine ndash falou sorrindo ndash dirigir um espetaacuteculo sobre a histoacuteria do NuTE seria maravilhoso Mas Mas me desculpa eu natildeo posso natildeo natildeo posso

Ele me entregou o livro levantou-se pedindo desculpas e saiu Atocircnito sozinho na sala da Companhia Carona de Teatro olhei para o livro em cima da mesa olhei a placa da porta ao lado Equipe Vira Lata Respirei apanhei o livro e me dirigi ao corredor de saiacuteda Descendo a rua XV de Novembro desanimado perto da igreja matriz ouccedilo algueacutem me chamando Era Peacutepe

ndash Desculpa mais uma vez eu natildeo consegui te falar o que queria te dizer Eu quero muito montar esse espetaacuteculo Mais do que vocecirc pode imaginar O que eu natildeo posso eacute dirigir Quero participar como ator Sei que muitos que participaram do NuTE tambeacutem vatildeo querer

Nesse momento Peacutepe me fez visualizar algo novo Eu natildeo havia pensado nisso Minha questatildeo era encontrar um diretor Passaria o livro a ele que escolheria os atores e montaria agrave sua maneira Mas a imagem de um espetaacuteculo com atores do proacuteprio NuTE a encenar sua proacutepria histoacuteria sem duacutevida era ainda mais interessante Fiquei contente e retomei com Peacutepe

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ndash Oacutetimo seria bem legal mesmo agradeccedilo muito tua vontade de participar eu havia pensado em ti como diretor mas se

ndash Vocecirc natildeo entende ndash cortando ndash eu natildeo posso dirigir quem precisa dirigir esse espetaacuteculo eacute o Alexandre

Nossa se me dessem Hoje em dia se o

Alexandre me convidasse pra fazer um trabalho

Pra fazer papel de cachorro mudo quieto eu ia

e olha amarradatildeo Sem sombra de duacutevida ()

Acho que seria uma legal uma montagem ateacute uma

coisa porrada mas aiacute eacute com meu amigo Alexandre

neacute (risos) () Eacute se ele quiser Eu vou a hora que

ele quiser () Acho que a Como eu te digo a vida

taacute passando a gente taacute ficando velho e poxa seria

muito Pra mim seria uma honra muito grande e

um orgulho muito grande taacute fazendo de novo um

trabalho com o Alexandre e pocirc se Deus quiser se

Peacutepe aceitar com Peacutepe Carlinhos nossa Juliana

Muller que fazia parte do NuTE e tantas outras

pessoas que passaram por ali eu acho que Tadeu

Bittencourt o proacuteprio Carlinhos que natildeo estaacute mais

aqui em Blumenau mas pocirc chamando ele volta

(entrevista com Giba paacuteginas 26-27)

ndash Mas Peacutepe eu jaacute tentei convencer Alexandre Ele estaacute irredutiacutevel Natildeo quer saber de teatro

ndash Eu sei eu sei Mas podemos bolar um plano Na verdade eu jaacute pensei em tudo Vocecirc lembra do texto escrito pelo Nira que foi selecionado para participar do JOTE-Titac Experimentando NuTE

ndash Qual O Mackbeacutete

ndash Natildeo O outro Trabalho Sujo

ndash Sim Sim O que tem

ndash Podemos utilizaacute-lo para convencer o Alexandre

ndash Como assim

ndash Claro vai precisar de uma adaptaccedilatildeo Mas acho que pode servir

ndash E quem vai adaptar

ndash Bem eu sei que o Gregory Haertel fez uma adaptaccedilatildeo desse texto chama-se a Sede do Santo foi montada com direccedilatildeo do Rafael Koehler Mas se essa adaptaccedilatildeo natildeo der conta de convencer o Alexandre talvez o proacuteprio Nira possa fazer

ndash Beleza pode dar certo

ndash Vai dar sim Com certeza Aiacute vocecirc cola aqui na sequecircncia antes do retorno ao Primeiro Ato

ndash Joia vou fazer isso entatildeo

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Adaptaccedilatildeo de Trabalho Sujo16

Argumento A gangue deve ser virtual e composta pelos fakes NuTE Os personagens elaboram suas tramas pelo Orkut Cada qual tem um perfil Ao leitor cabe jogar com os personagens no sentido de encontrar uma soluccedilatildeo para o problema em questatildeo convencer Alexandre a dirigir o espetaacuteculo sobre o NuTE Cada personagem teraacute um perfil no Orkut com login e senha As senhas seratildeo fornecidas aos leitores atraveacutes da leitura do livro Natildeo ficaraacute claro aqui no livro a resoluccedilatildeo da trama Para que o leitor saiba o que levou Alexandre a dirigir o espetaacuteculo ele teraacute que entrar no Orkut e jogar com os personagens

Trabalho Sujo e Virtual17

Personagens NAFTALINA JOHNSON NOacuteDULO CHUCK NEIDE SAPATINHO NIVALDO TRAPACcedilA NESTOR MIRONGA NEUSINHA BLAU BLAU (os quais assumem identidades fakes) NARRANTE

Cena I Eureca Epifania Iluminaccedilatildeo

NARRANTE ndash No evento Jote-Titac Experimentando NuTE a quadrilha de Naftalina Johnson se esmerava em roubar quadros sequestrar livros pichar esculturas corromper leitores e ateacute piratear telenovelas ndash tudo levado a cabo com preciosismo extremado Ateacute que chegou um momento em que eles descobriram que natildeo poderiam seguir com ambiccedilotildees tatildeo mesquinhas Algo de muito pior deveria ser

16 Trabalho Sujo de Nira da Silveira texto escrito e selecionado para o JOTE-Titac Ex-perimentando NuTE O leitor tem acesso ao texto original atraveacutes do blog wwwnutepa-ratodoswordpresscom e no Quinto En-saio deste livro

17 Adptaccedilatildeo de Nira da Silveira

feito Algo como convencer Alexandre Venera a dirigir um espetaacuteculo sobre o NuTE Um problema havia como fariam isso incoacutegnitos Como despistariam a Poliacutecia Autoral Cada vez mais as antigas missotildees pareciam brincadeira de preacute-adolescentes Foi poreacutem numa noite de abril que Naftalina chegou com a soluccedilatildeo

NAFTALINA JOHNSON ndash Caros comparsas estaacute aberta a sessatildeo Dona Blau Blau a senhorita estaacute anotando

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Estou Tudo Anotando tudo Podem olhar Taacute bem aqui Tudo anotadinho

NAFTALINA ndash Obrigado muito obrigado Queridos amigos convoquei esta reuniatildeo para dar parte de uma notiacutecia ineacutedita e inaudita a qual nunca foi vista nem ouvida e que permanece ateacute agora na obscuridatildeo das trevas desconhecidas

NEIDE SAPATINHO ndash Ui Nafta Fiquei toda arrepiadinha agora

NIVALDO TRAPACcedilA (levantando) ndash Natildeo precisa dizer mais nada

NAFTALINA ndash Como disseNIVALDO TRAPACcedilA ndash Poupe-nos Naftalina

Eu jaacute sei o que satildeo esses papeacuteis na sua matildeo NAFTALINA ndash Jaacute sabe Mas comoNIVALDO TRAPACcedilA ndash Ora vamos e

venhamos Do jeito que as coisas vatildeo soacute podem ser os papeacuteis da nossa aposentadoria De qualquer maneira obrigado por fraudar o INSS por noacutes Ateacute que saiu raacutepido

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NAFTALINA ndash NAtildeO Eacute NADA DISSO IDIOTANESTOR MIRONGA (dando um soco na

cabeccedila de Nicanor) ndash Senta aiacute ocirc imbecilNAFTALINA ndash Agraves vezes acho que estou

cercado de crianccedilas aqui Pois fiquem sabendo que o que tenho nas matildeos satildeo passagens de aviatildeo

NEIDE SAPATINHO ndash Pra onde NaftaNAFTALINA ndash Para diversas cidades do paiacutes

Precisaremos estar longe uns dos outros para despistar as autoridades e principalmente o Venera

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Ai meu Deus Eu vou viajar Meu deusinho do ceacuteu eu vou viajaaaar

NOacuteDULO CHUCK (No fundo da sala comeccedila a bater palmas levanta-se e vai ateacute a frente) ndash Muito bem Parabeacutens Nafta Seu plano eacute genial Ele soacute tem um problema

MEMBROS ndash Qual o problema ChuckNOacuteDULO CHUCK ndash O problema eacute que nosso

plano de celular preacute-pago eacute uma merda E quando precisarmos nos falar vamos gastar uma fortuna

NAFTALINA (tirando lentamente um revoacutelver do paletoacute) ndash Agora chega Eu natildeo aguento mais Eu vou matar uns dois

NESTOR MIRONGA E NEIDE SAPATINHO (segurando Naftalina) ndash Calma Nafta Vai com calma (Naftalina se recompotildee)

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Chefe meu celularzinho tambeacutem eacute uma merda

NAFTALINA ndash Estaacute tudo bem querida eu jaacute planejei tudo Desde o ano em que vocecirc nasceu tudo estava resolvido

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Eacute mesmoNAFTALINA ndash Sim meu amor Naquela

eacutepoca um grupo de nerds num paiacutes longe daqui resolveu nosso problema Eles criaram uma grande rede uma teia de alcance mundial (black)

Cena II ldquoQuem eacute elerdquo Ainda no poratildeo da gangue final da reuniatildeo

NESTOR MIRONGA ndash Mas chefe isso tudo vai custar dinheiro Eu pensei que o nosso cofre estava vazio

NAFTALINA ndash Sim eu sei meu rapaz Acontece que um cidadatildeo muito excecircntrico e amante das causas nobres ofereceu-se para nos patrocinar

MEMBROS ndash E quem eacute eleNAFTALINA ndash Algueacutem que exigiu sigilo

ultra-mega-blaster confidencial mas ao qual nos referiremos como ldquoO Leitorrdquo

MEMBROS (Vasculham a plateia com o olhar procurando por algueacutem que possa ser ldquoO Leitorrdquo)

Cena III Conspiraccedilatildeo Conluio e Confabulaccedilatildeo Perfil de fake Giba de Oliveira no Orkut Ele conversa com os comparsas os quais depois de intenso treinamento

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aprenderam a se expressar quase como os reais Natildeo foi permitido pela gangue revelar quem eacute quem

FAKE CLAUS JENSEN ndash giba ainda ta aiacuteFAKE GIBA DE OLIVEIRA ndash Giba de Oliveira

teclando perfeitamente blzFAKE CLAUS ndash blz estive ha pouco com

Alexandre Venera FAKE AacuteLVARO ndash ele na desconfiou d nadaFAKE CLAUS ndash ele desconfio sim mas naum

d mim ele disse q ontem axou o pepe meio estranho

FAKE PEPE ndash por q extranhoFAKE GIBA ndash eu sei porq eh q tu tais

exagerando nos trejeitosFAKE CLAUS ndash ele falou que achou o Pepe

muito insistenteFAKE GIBA ndash eu disse q naum era pra insisti

d+FAKE PEPE ndash mas eu nem falei da peccedila eu

soacute convidei ele pra tomar uma cerva FAKE AacuteLVARO ndash idiota o ale soacute toma

destiladoFAKE PEPE ndash natildeo deram essa parte no cursoFAKE CLAUS ndash deram sim tu falto pra ir

beberFAKE GIBA ndash vamo tentar alguma coisa

diferente kd o afonsoFAKE AFONSO ndash to aki soacute lendoFAKE GIBA ndash eacutes o proacuteximo nego te arruma

amanhatilde vais encontra com ele por acaso no farol

FAKE AFONSO ndash vlw fui

Caro leitor vocecirc chegou a uma encruzilhada em sua leitura Aqui se abrem dois caminhos distintos duas estradas possiacuteveis por onde seguir

1 ndash Continuar a leitura do livro passando diretamente agrave proacutexima paacutegina deixando essa trama sem resoluccedilatildeo

2 ndash Escolher um Fake na lista abaixo entrar com ele na comunidade Orkut e interagir conversar com os demais Fakes investigar produzir fabricar inventar uma soluccedilatildeo para a trama Ou seja nesta segunda via cabe a vocecirc caro leitor criar um desfecho para a histoacuteria Aos mais ousados bom experimento

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O Leitor leitorfakenutegmailcom

Wilfried wilfriedfakenutegmailcom

Claus clausfakenutegmailcom

Afonso afonsofakenutegmailcom

Giba gibafakenutegmailcom

Peacutepe pepefakenutegmailcom

Silvio da Luz silvinhofakenutegmailcom

Dennis Raduumlnz denisfakenutegmailcom

Aacutelvaro alvarofakenutegmailcom

Senha somosmuitopoucosparadividir

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PRIMEIRO

ENSAIO

RETORNO AO PRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015

ndash Tenho me esforccedilado ndash Eacutedio responde a Venera ndash para fazer o melhor possiacutevel Dediquei-me em tempo integral a esta escrita pedi a conta de um bom emprego que eu tinha larguei tudo para trabalhar apenas nisso mas claro precisamos continuar aceito suas condiccedilotildees qual seria a proposta

ndash Bom primeiro eu natildeo concordo com esse proacutelogo precisa ser feito de outra forma

ndash Mas eu tive tanto trabalho para escreverndash Teve nada ndash diz Wilfried ndash vocecirc copiou dos

Irmatildeos Karamaacutezovndash Natildeo copiei eacute uma acoplagem acoplagemndash Que maneacute acoplagem isso nem existe

Copiou sim eacute soacute pegar o livro pra verndash Copiei merda nenhuma ndash Tudo bem tudo bem que seja ndash Venera

tenta mediar o conflito ndash vocecirc natildeo precisa jogar fora o proacutelogo deixa ele como estaacute e comeccedila novamente

ndash Um novo proacutelogondash Isso vai eacute confundir o leitorndash Chame de outra forma sei laacute que tal

comeccedilo primeiro ensaio replay algo assimndash Pode ser pode ser Primeiro Ensaio fica

mesmo bem interessantendash Outra coisa acho que tua escrita estaacute

um pouco distante Isso de morar na Praia da Tainha pode ter te ajudado a se concentrar

mas agora vocecirc precisa se aproximar do grupo ndash Aproximar do grupo mas como eu posso

fazer issondash Bom Natildeo quero te forccedilar a nada a escrita

eacute tua e acho que deves trabalhar da forma como te parecer melhor

ndash Como vocecircs faziam na eacutepoca do NuTEndash Na maioria das montagens a gente optava

por ter a redaccedilatildeo dos roteiros acontecendo simultaneamente aos ensaios dos espetaacuteculos

E era um processo todo extremamente luacutedico

o Alexandre brincava com a gente como se noacutes

fossemos crianccedilas assim dava material e ldquodeixa vir

o que vocecircs estiverem pensando o que estiver na

cabeccedilardquo Claro que tinha noites de natildeo render nada

a gente saiacutea meio frustrado mas tinham noites em

que a chama tava muito acesa havia cenas que

ldquoNossa isso tem que estar no espetaacuteculordquo e depois

podiam natildeo estar na ediccedilatildeo final mas a gente

levantou produziu muito material (entrevista com

Peacutepe Sedrez paacutegina 16)

ndash Natildeo sei se entendi direito se natildeo havia nenhum roteiro o que grupo ensaiava

ndash Tudo comeccedilava com um disparador cecircnico uma imagem um objeto um recorte de jornal um fragamento de texto e agrave medida que os ensaios aconteciam o roteiro ia sendo escrito

ndash Genial Adorei a ideiandash Eu tambeacutem concordo ndash diz Silvinho ndash acho

que assim o espetaacuteculo ganha em dramaturgia

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PRIMEIRO

ENSAIO

ndash Maravilha Eu vou me sentar aqui ao lado dessa mesinha algueacutem tem um laacutepis aiacute Agradecido Fico aqui assisto e descrevo Agrave medida que vocecircs forem encenando eu vou escrevendo Mandem bala podem comeccedilar

Todos se olham Nada acontecendash Vamos laacute pessoal estou esperando as

cenas dependo delas para escrever o roteirondash Olha natildeo eacute bem assim ndash Venera interveacutem

ndash eles precisam de algo que incite a criaccedilatildeo Vocecirc precisa trazer alguma coisa que dispare as cenas

ndash Entendi sou eu quem propotildee o disparador cecircnico eacute isso

ndash Exatamente e sobre este dispositivo eacute que as cenas seratildeo construiacutedas

ndash Deixa ver o que eu tenho aqui ndash revirando a mochila ndash Achei uma pergunta pode ser

ndash Lanccedila ao grupo e vamos ver o que acontece

ndash O que quer o NuTE18

18 Pergunta a partir da qual toda a escrita aqui exposta se potildee em movimento Espeacutecie de primeira questatildeo ou questatildeo essencial da pesquisa A anaacutelise de cada documento estaacute atravessada por ela cada entrevista realiza-da encontra nela uma paisagem a ser percor-rida Trata-se de um disparador metodoloacutegi-co chamado por Gilles Deleuze de Meacutetodo de Dramatizaccedilatildeo Segun-do o filosofo francecircs esse seria o meacutetodo utilizado por Nietzsche em suas Genealogias CitoldquoDesta forma de per-gunta deriva um meacute-todo Sendo dados um conceito um sen-timento uma crenccedila seratildeo tratados como os sintomas de uma vontade que quer algu-ma coisa O que quer aquele que diz isso que pensa ou experi-menta aquilo Trata-se de mostrar que natildeo poderia dizecirc-lo pensaacute-lo ou senti-lo se natildeo tivesse tal vontade tal maneira de ser O que quer aquele que fala que ama ou que cria E inversamente o que quer aquele que pre-tende o lucro de uma accedilatildeo que natildeo faz gtgt

gtgt aquele que apela para o ldquodesinteresserdquo E mesmo o homem as-ceacutetico E os utilitaris-tas com seu conceito de utilidade E Shope-nhauer quando forma o estranho conceito de negaccedilatildeo da vontade Seria a verdade Mas o que querem enfim os procuradores da verdade aqueles que dizem eu procuro a verdade - Querer natildeo eacute um ato como os demais Querer eacute a instancia ao mesmo tempo geneacutetica e criacute-tica de todas as nos-sas accedilotildees sentimen-tos e pensamentos O meacutetodo consiste no seguinte referir um conceito agrave vontade de potecircncia para dele fa-zer o sintoma de uma vontade sem a qual ele natildeo poderia nem mes-mo ser pensado (nem sentimento ser experi-mentado nem a accedilatildeo ser empreendida) Tal meacutetodo corresponde agrave questatildeo traacutegica Ele proacuteprio eacute o meacutetodo traacute-gico Ou mais precisa-mente se tirarmos do termo lsquodramarsquo todo o phatos dialeacutetico e cris-tatildeo que corresponde seu sentido eacute o meacuteto-do de dramatizaccedilatildeordquo

cena do espetaacuteculo lsquojato de amorrsquo da esquerda para direita carlos crescecircncio ivan

alvaro sabrina de moura leonel campos

Foto

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SEGUNDO

ENSAIO

SEgUNDO ENSAIO ndash 18 DE ABRIL DE 2015

Sol Saacutebado() aproximadamente 14h

Imagem Insistente grande Auditoacuterio do Teatro Carlos gomes

ndash Eacute Bem Pessoal olha soacute ndash os atores que conversavam cada qual em sua esquina de afectos centralizam olhar alguns sorrindo outros ansiosos em Alexandre Venera e ele continua ndash eu fiz aqui uma pesquisa que acredito vai ajudar a gente a levantar esse espetaacuteculo ndash os atores caminham em direccedilatildeo a Venera que faz vibrar alguns papeacuteis em suas matildeos e vatildeo formando aos poucos um ciacuterculo em torno dele ndash Na verdade satildeo recortes de jornal algumas fotos trechos das entrevistas algumas coisas que eu selecionei pensando no que poderia ser um momento do NuTE entre 1984 e 1986 Noacutes natildeo vamos fazer isso mas se um dia algueacutem quiser inventar um iniacutecio um comeccedilo uma origem para esse nuacutecleo de teatro tenho a impressatildeo de que o melhor momento para esse decalque estaria nos aperitivos que vamos ver hoje Estou chamando provisoriamente esse periacuteodo de No Princiacutepio era a Muacutesica Tecircxtil Gostante Noacutes vamos trabalhar da seguinte forma vocecircs vatildeo formar pequenos grupos de

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SEGUNDO

ENSAIO

duas a trecircs pessoas ndash todos os atores se olham ndash cada grupo vai receber um jogo de aperitivos que preparei Vocecircs vatildeo ter um tempo para saboreaacute-los ndash Venera coloca uma folha de papel na boca os atores riem ndash e deveratildeo trazer para o grande grupo uma ou duas cenas disparadas construiacutedas com esses aperitivos Fica bom assim O que vocecircs acham

ndash Acho que natildeo entendi direito o espetaacuteculo vai ser apenas sobre esse periacuteodo de 84 a 86

ndash Natildeo natildeo Isso que vamos trabalhar hoje eacute apenas um platocirc Pra facilitar nosso trabalho eu dividi o territoacuterio NuTE ndash seus 18 anos de produccedilatildeo ndash em cinco platocircs

I ndash No Princiacutepio era a Muacutesica Tecircxtil GostanteII ndash Exuberante Cronologia Espetacular

Do Teatro Experimental e do Teatro Escola Nuteanescos

III ndash Do NuTE ao NUTe como um Nuacutecleo de Teatro Experimental vem a ser um Nuacutecleo de Teatro Escola

IV ndash Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas JOTE-Titac

V ndash Conversa de Bar para quem gosta de tomar umas conclusotildees bem geladas ndash ahhhaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacute

ndash O que vamos trabalhar hoje eacute apenas um destes

ndash Como vai funcionar A gente pode escolher os aperitivos

ndash Acho que sim natildeo vejo problema Na verdade o que eu tenho aqui satildeo jogos de aperitivos Cada jogo eacute composto por um ou dois recortes de jornal uma ou duas fotos de trecircs a sete trechinhos de entrevistas as atividades do NuTE de determinado ano e algumas vezes um documento aleatoacuterio que pode ser uma partitura de um curso dado uma aula coisas assim A proposta eacute que cada grupo trabalhe em torno de um desses jogos Eu tinha pensado em sortear mas se todos concordarem em escolher e ficar bom acho que pode ser sim Vamos ver se daacute certo Deixa ver quantos grupos temos Dois trecircs Satildeo trecircs grupos Eu tenho aqui cinco jogos oacutetimo vou colocar os jogos aqui e cada grupo pode manusear e escolher o seu

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SEGUNDO

ENSAIO

Caro leitor os mesmos aperitivos cecircnicos que

foram entregues aos atores estatildeo sendo entregues

a vocecirc Suas possibilidades de atuaccedilatildeo satildeo muacuteltiplas

Caso vocecirc queira criar uma cena seguindo a proposta

de Alexandre Venera basta escolher o seu jogo de

aperitivo Para acessaacute-lo haacute duas opccedilotildees

1 Porta Cartas localizado dentro do Box NuTE

cartografia de um teatro Nele vocecirc vai encontrar

aperitivos em duas cores escolha neste momento o de cor vermelha

2 DVD Experimentando NuTE onde aleacutem dos aperitivos

cecircnicos vocecirc vai descobrir a versatildeo digital do livro

esta versatildeo lhe permite acessar com apenas um

clique ndash se vocecirc estiver conectado a internet ndash todos

os endereccediloslinks contidos no livro experimente

Contudo caso lhe pareccedila mais interessante tambeacutem

eacute possiacutevel continuar sua leitura usando os jogos de

aperitivos como um apoio manuseando-os conforme

aparecem na narrativa como uma espeacutecie de parte

aberta do livro Ou ainda simplesmente esquecer

os jogos de aperitivos cecircnicos e seguir a leitura

livremente deitado em sua rede ou no sofaacute como lhe

parecer mais agradaacutevel para assim num momento

de sua preferecircncia saborear com calma as imagens-

registros que disparam a Composiccedilatildeo de Mundos nas

proacuteximas paacuteginas Entre tantas outras possibilidades

acreditamos que a melhor eacute exatamente esta que

vocecirc estaacute comeccedilando a jogar

vaacute em frente bom experimento

APERITIVOS CEcircNICOS eou nutrientes para

composiccedilatildeo de mundos

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SEGUNDO

ENSAIO

Composiccedilatildeo de Mundos

Caro leitor como vocecirc deve ter percebido acatei a sugestatildeo que me foi feita na paacutegina 71 Ou seja estou tentando descrever o que acontece durante os ensaios Caso vocecirc esteja notando que algo me passa despercebido por favor toda colaboraccedilatildeo eacute bem-vinda Tem uma caneta bem aiacute do seu lado Se bem que seria melhor um laacutepis Talvez vocecirc seja da opiniatildeo que rascunhos se escrevam a laacutepis Ou seraacute que vi isso num filme Bem de qualquer forma o que estou assistindo aqui eacute o seguinte

Cada um dos trecircs grupos ensaia num espaccedilo reservado Camarim Palco do Grande Auditoacuterio Corredor em Frente aos Banheiros Depois de alguns cigarros Alexandre comeccedila a circular entre eles

No Palco do Grande Auditoacuterio o grupo planeja suspender um ator Alexandre gosta muito da imagem pergunta como faratildeo a suspensatildeo O grupo responde que usaraacute uma corda Alexandre questiona se a corda seraacute do tipo falante ou se estaraacute dormindo Parabeniza o grupo

No Camarim os trecircs atores chutam uns aos outros Alexandre sorri e retorna em silecircncio se esforccedila para natildeo atrapalhar o momento da improvisaccedilatildeo

No Corredor um ator deitado no chatildeo balbucia espasmos proacuteximos aos de uma crise epileacuteptica Na mesma cena mas numa ponta do corredor bem em frente ao bar do teatro um segundo ator repete ldquoesses grupos vatildeo

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SEGUNDO

ENSAIO

deixar de ensaiar ensaiar ensaiar e nunca apresentarrdquo Ele usa a frase ndash sussurrando gritando em meio agrave gargalhadas ndash para se aproximar e para se distanciar do ator deitado Um terceiro ator sentado na escada ao lado do bebedouro realiza um movimento que lembra algueacutem interpretando uma canccedilatildeo popular com um violatildeo Impressionado com a cena Alexandre passa a matildeo no cabelo e no nariz Quando o grupo faz uma pausa elogia a energia com a qual estavam trabalhando Pergunta qual foi o Aperitivo Cecircnico escolhido pelo grupo e eles indicam o jogo 2 Alexandre manuseia o Aperitivo Cecircnico N2 e emite um ldquoAh Legalrdquo Por fim pede ao grupo que experimente um pouco mais com palavras-frases

Retornando ao Camarim os trecircs atores improvisam com miacutemica o que parece o trabalho de operaacuterios em uma faacutebrica Alexandre assiste a toda improvisaccedilatildeo Durante a pausa pergunta o que aconteceu com os chutes O grupo responde que era apenas uma teacutecnica de aquecimento que natildeo pretendem utilizar para a composiccedilatildeo das cenas Alexandre conta a histoacuteria de uma invenccedilatildeo polecircmica a maacutequina de dar chutes

No grande auditoacuterio dois atores improvisam uma cena romacircntica que logo se transforma em pequenos desentendimentos afetivos evoluindo para oacutedio e agressatildeo Alexandre descobre que o grupo ensaia o Aperitivo Cecircnico N3 Ainda curioso resolve questionar o fragmento disparador da cena O grupo aponta para o seguinte trecho de entrevista

() ele sempre trazia dados teoacutericos em forma de jornaizinhos panfletos xerox ou verbalizando diretamente para os grupos que dirigia E aleacutem disso era criacutetico e extremamente criativo Foi tambeacutem incontestavelmente o mentor e organizador da ideia de efetivamente comeccedilar-se a fazer teatro num preacutedio chamado de ldquoteatrordquo Portanto o Alexandre eacute sem duacutevida ndash no sentido figurado ndash o ldquopairdquo do NuTE

Eacutedio ndash Interessante E quem seria a matildee

Wilfried ndash Bem igualmente no sentido figurado eacute provaacutevel que tenha sido eu Talvez eu tenha pego a crianccedila no colo e a alimentado no momento do abandono e a mantido viva neste periacuteodo de fragilidade Com toda a ajuda do Aacutelvaro Diogo Iraci Roberto Sandra e Valdir ndash obviamente - que chegaram ateacute o fim do primeiro curso e foram os atores e as atrizes da primeira montagem genuiacutena de um grupo efetivo do NuTE ndash a ldquoPantomimasrdquo (entrevista 3 com Wilfried paacuteginas 2-3)

O diretor aprova e entusiasmado incita o grupo a abrir a cena Um dos atores toma a palavra e comenta que aquela sequecircncia havia acabado de surgir que foi a primeira tentativa-experimento com o recorte-entrevista Alexandre elogia a ldquosacada-cecircnicardquo e sugere ao grupo exploraacute-la numa velocidade menor ndash a mais lenta possiacutevel - ele repete algumas vezes ldquoa mais lenta possiacutevelrdquo para que assim aos poucos os demais fragmentos do jogo sejam incorporados

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SEGUNDO

ENSAIO

Alexandre manuseia o Aperitivo Cecircnico N3 ateacute encontrar uma foto que separada por ele do jogo eacute citada como exemplo

O diretor acredita que uma boa acoplagem desta foto com o momento que ele prefere chamar Gostante ao inveacutes de Romacircntico potencialize a cena Um ator questiona o termo Gostante Alexandre explica que Amante eacute que natildeo poderia ser porque as pessoas se gostavam mas amar seria coisa diferente jaacute o termo romacircntico pode dar uma ecircnfase desnecessaacuteria a determinado periacuteodo classificado assim pela histoacuteria das artes O grupo concorda acata as sugestotildees e comeccedila a trabalhar

No Camarim o jogo de miacutemica comeccedila a tomar forma O grupo interpreta uma equipe de teatro infantil que estaacute montando um espetaacuteculo de Maria Clara Machado Tudo leva a crer que se trata de Pluft o Fantasminha De repente em meio a esse ensaio aparecem dois novos

Iraci Potrikus Wilfried Krambeck e

Alexandre Venera dos Santos

personagens Trata-se de Wilfried Krambeck e Iraci Potrikus Um deles passa a cuidar do som e o outro a cuidar da iluminaccedilatildeo do espetaacuteculo O grupo se esforccedila para demonstrar que essa foi a entrada dos dois personagens na trupe e que ainda natildeo se trata de NuTE No espelho do camarim escrevem GATE ndash Grupo de Teatro da ADR Sulfabril

Saindo do camarim Alexandre resolve fumar mais alguns cigarros Ao fumar comenta a importacircncia que algumas empresas tecircxteis da regiatildeo tiveram no fomento da cultura local Cita como exemplo o Grupo de Teatro Amador da Artex o Grupo de Miacutemica da ADR Sulfabril fundado pelo Wilfried e o proacuteprio GATE muito influenciado e inuacutemeras vezes apoiado por Carlos Jardim Diz que pessoas importantes da cena teatral blumenauense foram trabalhadores tecircxteis Que atraveacutes de grupos como esses experimentavam teatro e mais tarde acabaram encontrando no NuTE um espaccedilo para se inventar para se Artreinventar

Eu trabalhei vinte e cinco anos na Artex na verdade eu sou um operaacuterio neacute trabalhei vinte e cinco anos na Artex aposentei ali com vinte e cinco anos na aacuterea tecircxtil Mas na eacutepoca fazia teatro na Artex e comecei a estudar eu comecei mesmo a viver o teatro estudar teatro mesmo nessa eacutepoca com Alexandre porque a partir de entatildeo era mais amador aquela coisa assim de fazer por fazer (entrevista com Aacutelvaro paacutegina 3)

Nesse sentido Alexandre complementa haacute um tanto de tecelagem de faacutebrica um tanto de

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Tecircxtil in NuTE Diz que sua proposta inicial com o Hoje Tem Teatro era simplesmente apresentar teatro Lembra que era coordenador de eventos no Teatro Carlos Gomes que os grupos passavam o ano ensaiando mas natildeo apresentavam Seu interesse maior era criar condiccedilotildees para que as encenaccedilotildees acontecessem Como se tratava de um encontro de vaacuterios grupos resolveu chamar esse coletivo para diferenciar dos grupos profissionais da cidade de Nuacutecleo de Teatro Experimental Ao mesmo tempo dentro da Sulfabril Wilfried estava ministrando cursos de miacutemica para funcionaacuterios da empresa

Com a abertura desse espaccedilo experimental Wilfried propotildee trazer para o NuTE alguns desses cursos e Alexandre aceita Muitas pessoas que participaram montando e

apresentando suas peccedilas no Hoje Tem Teatro comeccedilaram a circular no ano seguinte em torno desses cursos Os alunos que Wilfried tinha na Sulfabril tambeacutem satildeo convidados para continuar estudando teatro no NuTE e assim aos poucos comeccedila a se insinuar um nuacutecleo de pesquisa em teatro

Realizado o processo inalatoacuterio Alexandre se dirige ao Corredor Os atores carregados de energia como antes operam nas mesmas posiccedilotildees mas agora num interessante jogo dramaacutetico

Ator 1 ndash Eu entrei como aluno pra estudarAtor 3 ndash MuacutesicaAtor 1 ndash Fiquei estudandoAtor 3 ndash Piano Ator 2 ndash Foi mais ou menos uns quatro anos

adulto jaacute CasadoAtor 3 ndash Violoncelo clarineteAtor 1 ndash Estudei um monte laacute dentro aiacute

durante minha universidade eu peguei emprego laacute de bibliotecaacuterio

Ator 3 ndash Na musicotecaAtor 2 ndash Sempre me dedicando ao que eu

fazia neacute A mulher me convidou pra ser o coordenador de eventos do teatro natildeo primeiro secretaacuterio da

Ator 3 ndash Escola de Muacutesica Ator 2 ndash Acharam que seria a melhor pessoa

pra coordenar eventos artiacutesticos e culturais do teatro que tinha aacuterea de convenccedilotildees

Ator 3 ndash Daiacute durante um ano ou dois Eu fui testemunhando a dificuldade dos grupos amadores da cidade que vinham ensaiar

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SEGUNDO

ENSAIO

ensaiar e daiacute natildeo apresentavamAtor 2 ndash Ficava o uso do teatro inuacutetil neacute Ator 3 ndash Onde daiacute eu ldquoporrardquo Vou dar uma

matildeo pra elesAtor 2 ndash Eu tenho assessoria de imprensa

tenho a agenda pauta do teatro pego as datas que tatildeo mais ruins assim Nenhum empresaacuterio quer taacute sobrando

Ator 3 ndash Vou aproveitar o espaccedilo do teatroAtor 1 ndash Aiacute onde comecei a compor uma

espeacutecie de roteiro mensal de datasAtor 3 ndash Entrevista comAtor 2 ndash Alexandre VeneraAtor 1 ndash Paacutegina 26

Durante todo o processo os atores satildeo banhados por ressonacircncias fotograacuteficas do que parece ser um Coral de Clube Caccedila e Tiro Toda a cena eacute realizada num intempestivo diaacutelogo com a projeccedilatildeo desta imagem

O diretor de forma abrupta interrompe a cena Mesmo se esforccedilando para natildeo

Coral Gesangverein da Sociedade Recreativa e Cultural Salto do Norte de Blumenau Dirigido pelo maestro Kemmel-meier - sentado segu-rando o trofeacuteu Da es-querda para a direita a quarta senhora em peacute Irmgard Globig E da esquerda para a direita o quarto se-nhor uacutenico de oacuteculos Hermann Globig Avoacutes de Wilfried Krambeck uacutenica crianccedila presente na foto Registro reali-zado no Natal de 1971

transparecer um tanto de fuacuteria escorrega pelo canto esquerdo de sua boca quando pergunta o que estatildeo fazendo O grupo responde que tenta dar sequecircncia ao disparo cecircnico utilizando parte do tema platocirc ndash No Princiacutepio era a Muacutesica ndash como tom Argumentam que tanto Alexandre Venera como Wilfried Krambeck satildeo atravessados por uma intensidade musical Alexandre via composiccedilatildeo erudita que pode ser verificada em sonoplastias escritas por ele para espetaacuteculos como O Homem do Capote e Outros Seres Jato de Amor e O Olho Cliacutenico do Coralista Rouco19 e Wilfried via composiccedilatildeo popular que pode ser verificada em canccedilotildees como Natureza Solitaacuterio Elemento Bavaacuteria Bananeira sempre apresentadas em festivais da canccedilatildeo como o Festshow promovido pela Sulfabril e o FUC ndash Festival Universitaacuterio da Canccedilatildeo20 Em meio agrave defesa o grupo utiliza a maacutexima nietzschiana de que ldquoa vida sem muacutesica seria um errordquo e finaliza dizendo que talvez o NuTE seja um ovo musical

O diretor deixando transparecer o aborrecimento pergunta ao grupo como foi que conseguiram retirar o projetor multimiacutedia de dentro do seu carro jaacute que o mesmo estava trancado O grupo percebe que a cara amarrada do diretor natildeo estava conectada agrave cena mas sim agrave utilizaccedilatildeo do recurso eletrocircnico Os atores sorriem aliviados e explicam que Juliana Teodoro ex-atriz do NuTE e atual companheira de Alexandre passando e assistindo agrave cena sugeriu a utilizaccedilatildeo do recurso que prontamente foi buscar no carro e lhes emprestou

19Para ouvir Noite Ferra-da ndash trecho da sonoplastia de O Homem do Capote ndash acesse o endereccedilo wwwnutecombracervonoi-te_ferradamp3

20Wilfried Krambeck gentilmente organizou um cronograma a respeito de sua trajetoacuteria musical O documento encontra-se agrave disposiccedilatildeo em wwwnute-paratodosfileswordpresscom201009minha-trajetoria-musicalpdf

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ENSAIO

Alexandre se convence pede desculpas pela cara amarrada e verifica com o grupo a possibilidade de assistir a cena novamente Os atores repetem toda a sequecircncia Alexandre comenta que eles estatildeo muito perto de desencadear uma partitura Fica tatildeo satisfeito com o andamento dos ensaios que resolve comemorar fumando mais um cigarrinho O grupo vai junto aproveitando a porta entreaberta ao lado do bebedouro Em meio agrave conversa Juliana Teodoro retorna e comenta com Alexandre que minutos atraacutes quando presenciou a accedilatildeo lembrou-se dos experimentos da Estereocena21 Um dos atores interessado questiona o que seria a Estereocena Juliana responde que se trata do meacutetodo de trabalho que Alexandre vinha desenvolvendo no NuTE O mesmo ator acha curioso o conceito de ldquoesteacutereordquo pergunta que relaccedilatildeo haveria com o teatro Alexandre explica

Esteacutereo como as caixas de som que satildeo levemente afastadas pra reproduzir o som que foi captado tambeacutem por dois microfones () tu sentes mais ou menos que vamos dizer a guitarra da banda de roque taacute vindo daqui o baixista taacute aqui a bateria no meio o vocal tu sentes pelo esteacutereo o volume onde estatildeo os muacutesicos de onde estaacute vindo o som neacute E esteacutereo vem de cuacutebico medida de um metro cuacutebico da madeira eacute um esteacutereo neacute E assim como o microfone capta esses dois sons e eacute o mesmo som mas ele consegue atraveacutes de um artifiacutecio mecacircnico reproduzir aquele ambiente onde a gente sabe que o aviatildeo raacuteaacuteaacuteaacuteaacute Sai daqui e passa pra laacute no esteacutereo tu sente essa passagem

21 O conceito comeccedila a ser desenvolvido em 1990 durante o Desa-fio Macbeth ndash jogos ela-borados por Alexandre para construccedilatildeo do espetaacuteculo Macbeth uma interferecircncia na histoacuteria leitor encon-tra um interessante documento dessa eacutepo-ca sobre a Estereoce-na no link wwwnutecombracervo0_sobreMacbeth_cjpg Alguns anos mais tar-de em 1997 Alexan-dre propotildee a um grupo de alunos da Escola NUTe um experimento de imersatildeo com Este-reocena Durante um mecircs inteiro permane-cem acampados no Siacute-tio Fazendarado En-contramos parte deste experimento gravado em duas fitas cassete que foram convertidas para Mp3 e disponi-bilizadas nestes qua-tro endereccedilos wwwnutecombracervofita1ladoAmp3 wwwnutecombracervofita1ladoBmp3 wwwnutecombracervofita2ladoAmp3 wwwnutecombracervofita2ladoBmp3 Caso o leitor pro-cure por uma siste-matizaccedilatildeo a respeito da Estereocena reco-mendamos o seguinte documento datado de setembro de 2000 wwwnutecombracervo99_06_26_cur-so_1jpg

A hora que a gente vai juntar com a palavra cena () A cena eacute o nuacutecleo o ponto baacutesico do teatro eacute atraveacutes de cenas que se monta uma peccedila de teatro a cena eacute o momento maacuteximo ou miacutenimo de uma accedilatildeo e entatildeo o teatro eacute baseado na cena (entrevista com Juliana Teodoro e Alexandre Venera paacuteginas 37 e 38)

Um ator pede cigarro Alexandre oferece o maccedilo Ele retira um Acende Enquanto fuma sorri Ao final do cigarro quando todos jaacute retornavam ao Corredor tenta parafrasear Nietzsche dizendo que ldquosem a muacutesica o NuTE seria um errordquo Alexandre questiona a equivalecircncia moral de certo versus errado O ator sustenta sua apropriaccedilatildeo de erro como ausecircncia Acredita que se natildeo fosse uma vontade de muacutesica em Wilfried bem como uma vontade de muacutesica em Alexandre o NuTE se viesse a existir mesmo assim seria qualquer outra coisa menos o NuTE Um ator natildeo fumante ironiza a utilizaccedilatildeo do conceito de vontade segundo ele uma aplicaccedilatildeo incoerente Os atores jaacute no Corredor iniciam um debate filosoacutefico sobre a Vontade de Poder Alexandre segue para o Palco do Grande Auditoacuterio Juliana se despede

Ao entrar pela plateia o diretor eacute surpreendido por dez cordas falantes Dois atores conversam cada qual em uma suspensatildeo com cinco cordas O primeiro se relaciona com elas de forma numeacuterica ndash suas cordas vatildeo de 1 a 5 - jaacute o segundo de forma literal ndash suas cordas vatildeo de A a E

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SEGUNDO

ENSAIO

Ator 1 ndash E ano novo virou e Corda 3 ndash JaneiroAtor 1 ndash Fazer o quecircCorda 3 ndash Fevereiro marccedilo abrilAtor 1 ndash Ningueacutem pensava NuTECorda 1 ndash Ah vamos fazer outro Natildeo sei

o quecirc Corda 2 ndash Vamos fazer um curso de miacutemica

pantomimaCorda 4 ndash Natildeo noacutes queremos nos reunir e

manter essa ideia NuTE Ator 1 ndash O Wilfried com trecircs quatro

Continuou NuTE natildeo parou entende Por mim talvez tivesse parado

Corda 2 ndash Ou pelo Teatro Corda 4 ndash Natildeo havia muitoAtor 1 ndash Aiacute 1985 um curso tambeacutem

trouxemos o Trouxemos o pessoal do Teatro Guaiacutera pra dar aula e os professores alunos do Teatro Guaiacutera

Corda 4 ndash Entrevista com AlexandreCorda 2 ndash VeneraCorda 3 ndash Paacutegina 24

Espetaacuteculo Alegoria ao Vamos ao Teatro uma das peccedilas apresen-tadas no projeto Trecircs Terccedilas Tem Teatro em 1986 Na plateia Valdir Lopes Junior Leandro de Assis e De-liane Travasso Sus-pensos pelas cordas Dennis Raduumlnz ndash re-presentando Maacuterio ndash e Tanise Creuz ndash repre-sentando Nete

O diaacutelogo acontece envolto no que os atores nominam Saudosismo Gostante O diretor chega a questionar a interpretaccedilatildeo das cordas segundo ele um tanto forccedilada beirando o clichecirc do canastratildeo Mas o grupo sustenta que a proposta eacute justamente esta que tal encenaccedilatildeo seria proposital O diretor aceita O proacuteximo diaacutelogo gravita em tonalidades bem diferentes sensaccedilotildees de intriga quase rancor tomam conta do ar

Ator 2 ndash O Wilfried em 1984 vinha como convidado

Corda A ndash Como um grupo convidadoCorda B ndash Como teve outros gruposCorda C ndash Tu vai ver os programasCorda B ndash Soacute que a afinidade com o que eu

tava tentando fazerAtor 2 ndash Aiacute ele pegou o NuTE pra ele ele

ficou um meio ano com o NuTE soacute pra eleCorda A ndash Tipo comCorda B ndash MeuAtor 2 ndash Eu natildeo queria arrumar encrenca

sabeCorda A ndash E natildeo era NuTE era qualquer

coisa podia ser E acabou ficando NuTEAtor 2 ndash Ele ficou um Praticamente um

ano ficou na matildeo dele logo no comeccediloCorda B ndash Entrevista com Alexandre Venera

paacutegina 17

Terminado o segundo diaacutelogo o foco da cena volta a ser o Ator 1 e suas cordas numeacutericas O sentimento de intriga e rancor fica mais forte agrave medida que o diaacutelogo vai acontecendo Nas uacuteltimas frases eacute possiacutevel perceber oacutedio

Foto

Ace

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Nu

TE

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SEGUNDO

ENSAIO

Ator 1 ndash No entender dele vocecirc fazia uma produccedilatildeo de

Corda 3 ndash ArtaudAtor 1 ndash Uma produccedilatildeo doCorda 3 ndash BrechtCorda 1 ndash E vocecirc ia aprender ia se formar

assim com ilhas digamos conhecendo sempre cada ilha uma nova ilha uma nova ilha pra ter um continente no final

Corda 2 ndash E aiacute onde a gente divergia eu achava que vocecirc tem que ter uma base depois um aprimoramento e sempre do todo

Ator 1 ndash Entatildeo quer dizer todas as linhas vocecirc vai pegar o

Corda 3 ndash Teatro gregoAtor 1 ndash OCorda 3 ndash Teatro romanoCorda 4 ndash E o baacute-baacute-baacuteCorda 3 ndash O medievalCorda 4 ndash E pam-pam-pamAtor 1 ndash E vai chegando Ateacute chegar na

NoCorda 3 ndash Absurdo Corda 4 ndash E ou OCorda 3 ndash Teatro contemporacircneoAtor 1 ndash Dependendo das linhas neacute do Corda 3 ndash Teatro Ator 1 ndash Que se fazia aqui e no oriente e no Corda 4 ndash Paacute-paacute-paacute Ator 1 ndash Eu entendia assim Corda 4 ndash Entrevista 2 com Wilfried paacutegina

17

No quarto diaacutelogo a coacutelera atinge as cordas Urros gritos um frenesi histeacuterico banhado em oacutedio e ressentimento Os dois atores e as dez cordas interagem

Ator 2 ndash Balanccedila a cabeccedila ah balanccedila a cabeccedila acorda acorda

Corda 1 ndash Corda natildeo tem cabeccedila babaca Corda A ndash (cantando) Minhoca minhoca

me daacute uma beijocaAtor 1 ndash Corda nenhuma vai me amarrar

natildeo importa se satildeo numeacutericas se satildeo literais Natildeo vou viver preso natildeo vou

Corda B ndash Mas que bobagem o que eacute a liberdade senatildeo uma prisatildeo com mais espaccedilo Aleacutem do mais vocecirc precisa de mim sem a minha estrutura sem a minha base vocecirc natildeo pode voar

Ator 2 ndash Acorda vocecirc precisa acordaAtor 1 ndash Vou voar a partir de mim mesmo e

meu voo seraacute ApocaliacutepticoCorda 2 ndash Estamos avisando eacute melhor vocecirc

colaborar porque se natildeo for por acordo vai ser por corda

Corda D ndash Vamos economizar cortes e enforcaacute-lo de uma vez por todas chega desse papo aranha

Ator 2 ndash Oh Alice acorda Acorda Alice(todas as cordas riem) Ator 1 ndash Homem Paacutessaro Corda 3 ndash BUROCRACIA Corda C ndash OrdemCorda B ndash O que permite o prazer eacute a leiCorda 2 ndash Lineares degraus da escada que

se sobe passo a passo passo a passo passo a passo

Corda A ndash Algueacutem viu o encordamento do meu violatildeo

Ator 2 ndash Acorda acorda Nossa que pesadelo terriacutevel finalmente acordei

Corda B ndash Vocecirc eacute apenas uma marionete

98 99

SEGUNDO

ENSAIO

quem te move satildeo as cordasAtor 1 ndash NatildeoCorda 3 ndash Noacutes Somos noacutes que movemos o

mundoCorda 1 ndash Todo Poder agraves CordasCorda A ndash (cantando Sinnerman de Nina

Simone) Power Power PowerAtor 2 ndash Do que vocecircs estatildeo brincando

Posso brincar tambeacutemCorda C ndash De acordo Atores vocecircs aceitam

ou natildeo obedecer agraves cordasAtor 2 ndash Eu aceitoAtor 1 ndash Eu lhes anuncio o Aleacutem do Ator

O que eacute a emotividade em comparaccedilatildeo com a maacutequina senatildeo riso e escaacuternio Oh meus irmatildeos existe ainda muito de emotivo em voacutes Acaso vos digo para que volteis a se emocionar Natildeo Eu vos ensino a Supermarionete O Ator eacute superaacutevel O que tens feito ateacute hoje para superar a ti mesmo O Ator eacute uma corda estendida entre a Emotividade e o Aleacutem do Ator A Supermarionete eacute o sentido do teatro fazei com que sua vontade diga a Supermarionete eacute o sentido do teatro Assim falava o Ator 1

Corda B ndash Para salvar o teatro eacute preciso destruir o teatro os atores e as atrizes devem todos morrer de peste Eleonora Duse

Corda D ndash Agora que estamos entre amigos uma pergunta se somos noacutes que movemos os atores afinal de contas quem manipula as cordas

Corda 1 ndash DeusCorda D ndash Pensei que ele estivesse mortoCorda 1 ndash Sim sim aquele Deus criado

pelos homens jaacute faz tempo dizem que morreu estrangulado por sua proacutepria compaixatildeo mas o nosso Deus a Deusa Corda eacute eterna

Corda B ndash Corda a deusa Corda(todas as cordas Corda a deusa Corda

Corda a deusa corda Corda a deusa corda)Corda 4 ndash Isto natildeo eacute uma entrevista Estamos

na paacutegina 99 do Segundo Ensaio

Visivelmente impressionado com a cena o diretor me pergunta por trecircs vezes se consegui anotar as falas Respondo que alguns trechos escaparam dada a velocidade com que os diaacutelogos aconteceram mas que anotei tudo que pude Comenta com o grupo que para uma boa parte dos estudiosos de teatro natildeo seria difiacutecil aproximar alguns espetaacuteculos do NuTE a uma esteacutetica simbolista o que realmente abriria a possibilidade de cavar essa influecircncia de Gordon Craig com conceitos como o de supermarionete Parabeniza o grupo Um dos atores questiona se a grande influecircncia simbolista do NuTE natildeo viria de Grotowski Alexandre responde que o encenador polonecircs foi essencial para muitas montagens do NuTE um dos pratos principais sem duacutevida Mas que isso natildeo diminui a importacircncia nutritiva de outras refeiccedilotildees como Gordon Craig Artaud Schechner Brecht Heiner Muumlller Meyerhold Bob Wilson

O diretor propotildee visualizar o NuTE como uma tribo de antropoacutefagos Em meio agraves gargalhadas disparadas pelo canibalismo nuteano ndash imagens de uma antropofagia teatral ndash um ator permanece sisudo Assim que a onda de riso comeccedila a baixar ele questiona se natildeo seria exatamente essa a discussatildeo que suscita a cena

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SEGUNDO

ENSAIO

das cordas fazer pensar aquilo que nos prende e ao mesmo tempo alimenta que nos manipula e faz voar que permite criar e aprisiona Sem cordas como Artaud Grotowski Bob Wilson Craig o NuTE natildeo seria NuTE

Alexandre argumenta que pensando assim ficariacuteamos presos ndash amarradosalimentados ndash a uma dialeacutetica panoacuteptico-antropofaacutegica que pode ser uacutetil pode ajudar a levantar um espetaacuteculo mas esse natildeo seria um espetaacuteculo sobre o NuTE O ator ainda seacuterio pergunta qual o motivo disso e Alexandre comenta que esse conceito-corda nos amarra em dois problemas Um problema experimental e um problema interpretativo Com muita paciecircncia e didaacutetica houve um momento que precisou demonstrar com laranjas explica que NuTE soacute era

() experimental porque natildeo haviam leis () Hoje tem a lei e jaacute natildeo eacute mais experimental o ator hoje taacute fodido ele tem que seguir tal lei tal foacutermula ele vai empregar tal meacutetodo e o modo dele chegar laacute no final jaacute taacute demarcado Entatildeo virou mais uma espeacutecie de prisatildeo Tendo muitas ferramentas pra se aprisionar e natildeo pra se libertar () Porque qualquer forma de lei eacute forma de criar limites ou patamares ou entatildeo apoios No momento em que a pessoa taacute se apoiando ou criando apoios ela taacute segura ela taacute tranquila quer dizer nessa proteccedilatildeo existe uma espeacutecie de lei em que ela taacute sendo dominada (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 6)

Jaacute o problema interpretativo continua Alexandre surge quando a cena mesmo experimental como acabou de ser eacute direcionada por esse conceito Tomando a si mesmo como

exemplo desenvolve o argumento ldquoQuando assisti haacute pouco agrave cena de vocecircs fui arrebatado por uma centena de imagens lembranccedilas dos meus passados dos meus futuros das coisas que nunca fui e de algo que venho deixando de ser pude me abandonar por alguns instantes e isso eacute oacutetimo mas se eu estivesse assistindo agrave cena com esse conceito no bolso o que vocecircs acham que teria acontecido comigo Que experiecircncia eu poderia ter Eu seria direcionado empurrado aprisionado amarrado em uma mono-interpretaccedilatildeo Vocecircs percebem o problema disso Se vamos fazer teatro para aprisionar as pessoas nelas mesmas eacute melhor natildeo fazer Se obrigamos nossa plateia a interpretar uma cena atraveacutes de um uacutenico sentido nosso teatro natildeo serve pra nada Teatro natildeo eacute catequese O mais importante eacute que cada um possa experimentar o NuTE do seu jeito Eacute oacutebvio que esse lsquojeitorsquo de experimentar envolve uma seacuterie de coisas o cara vai fazer isso a partir do corpo que ele vem ajudando a construir pra si proacuteprio Tem um povo que chama isso de corpo sem oacutergatildeos Mas essa montagem tambeacutem eacute experimental agraves vezes natildeo daacute certo e o cara natildeo consegue nada natildeo acontece nada com ele natildeo passa nada por ele o corpo simplesmente trava Ele taacute ali assistindo a um puta espetaacuteculo e soacute consegue ficar entediado fica pensando na pizza que vai comer com os amigos depois que a peccedila terminar Noacutes natildeo podemos em detrimento ou por compaixatildeo dos que soacute conseguem pensar na pizza facilitar o acesso porque assim acabamos impondo um uacutenico acesso a todos Isso natildeo

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SEGUNDO

ENSAIO

eacute arte eacute fascismo Agraves vezes a democracia eacute extremamente fascista Hoje eacute moda criticar o teatro comercial Nunca vi problema em se ganhar dinheiro fazendo teatro O problema eacute fazer teatro para impor verdades que ningueacutem tem certeza se satildeo mesmo verdades ou se satildeo deliacuterios compartilhados por um grande nuacutemero de pessoas Noacutes natildeo somos padres somos artistas Por isso quanto mais aberta mais ampla mais plural for nossa arte mais possibilidades de interpretaccedilatildeo teraacute o nosso puacuteblico melhor seraacute o nosso espetaacuteculo Vocecircs compreendem o que eu digordquo Em coro os atores dizem ldquoSim senhorrdquo e batem continecircncia agraves gargalhadas Alexandre natildeo gosta da brincadeira resmunga algo incompreensiacutevel e abandona o ensaio dizendo que natildeo vai mais dirigir ldquoporcaria nenhumardquo Insiste nas frases ldquovatildeo tomar no curdquo e ldquonatildeo dirijo mais essa merdardquo Os atores estupefactos sem saber o que fazer olham uns para os outros o silecircncio pesado e absurdo dura longos segundos ateacute que todos os olhares cruzando o meu cobram uma saiacuteda ou ao menos um sentido provisoacuterio ao acontecimento Eu balanccedilo as matildeos e a cabeccedila atordoado numa gesticular tentativa incapacitada de direcionar a cena Por fim digo-lhes que tambeacutem natildeo sei o que fazer Peccedilo para que aguardem alguns minutos enquanto procuro Alexandre no Corredor e no Camarim

Quando entro no Camarim encontro os atores sentados em ciacuterculo no chatildeo conversando a respeito do projeto 3 Terccedilas Tem Teatro Interrompo o diaacutelogo para

perguntar se Alexandre havia passado por ali Eles respondem que natildeo e querem saber se eu havia compreendido a diferenccedila entre o Hoje tem Teatro e o 3 Terccedilas tem Teatro Nesse instante noto que o espelho do Camarim estaacute completamente preenchido com coacutepias do mesmo cartaz

Informo o grupo sobre o sumiccedilo repentino de Alexandre e sugiro que retornem ao Palco do Grande Auditoacuterio para conversarmos os trecircs grupos juntos Saio em direccedilatildeo ao Corredor acompanhado por um dos atores que retoma a pergunta anterior Caminhando agrave procura de Alexandre digo que minha impressatildeo eacute a de que natildeo existem dois mas sim um uacutenico projeto com dois nomes diferentes Inicialmente em dezembro de 1984 era Hoje Tem Teatro e quando retomaram o projeto em 1986 chamaram de 3 Terccedilas Tem Teatro Natildeo consigo prestar muita atenccedilatildeo na conversa a cada sala que passamos entro e procuro Alexandre O ator que natildeo para de falar um segundo tenta me convencer de que o JOTE-Titac ndash Jogos de

Cartaz produzido por Flaacutevio Meirinho

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SEGUNDO

ENSAIO

Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas ndash seria uma continuaccedilatildeo desse projeto Respondo que podemos pensar numa certa influecircncia mas que existem muitas outras forccedilas atuando na invenccedilatildeo do JOTE-Titac E que teremos um momento mais adequado para fazer essa discussatildeo Ele insiste que sem aquele projeto inicial natildeo seria possiacutevel chegar ao formato dos Jogos de Teatro acredita que tambeacutem a escola de teatro do NUTe tenha origem nesse projeto

Numa respiraccedilatildeo dele consigo emitir alguns sons proacuteximos de ldquosua interpretaccedilatildeo me parece um tanto apressadardquo ele natildeo ouve e continua falando fala cada vez mais e mais raacutepido Quer me convencer a todo custo natildeo sei bem porquecirc de sua estranha teoria sobre o comeccedilo do NuTE Na opiniatildeo dele em 1984 antes do NuTE o que havia era apenas uma ideia na cabeccedila do entatildeo coordenador de eventos do Teatro Carlos Gomes o Hoje tem Teatro Esse coordenador queria provocarfomentar apresentaccedilotildees teatrais e para isso convida os grupos de teatro da cidade e sugere que cada grupo monte em apenas dois meses um texto curto para apresentar sem custo nenhum no palco do grande auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes Ele me pergunta se tenho ideia do preccedilo que o Teatro Carlos Gomes cobra por apresentaccedilatildeo nesse espaccedilo Tento responder mas ele estaacute com a boca entupida de palavras precisa falar e falando me diz que em 1985 o que aconteceu foi que o diretor do grupo de miacutemica da ADR Sulfabril Wilfried Krambeck (o mesmo que trouxe o espetaacuteculo

de encerramento do Hoje Tem Teatro) comeccedilou dentro do Teatro Carlos Gomes a desenvolver um curso de miacutemica que vinha realizando na Sulfabril Resolveu em parceria com Alexandre Venera acoplar a esse curso jaacute que o curso poderia ter o nome dele ou qualquer outro o mesmo NuTE que havia realizado o Hoje Tem Teatro Ao final desse curso os atores montam o espetaacuteculo Pantomimas e nesse ano natildeo ocorre Hoje Tem Teatro Mas o Pantomimas aparece como espetaacuteculo do NuTE Logo no ano seguinte o final do curso volta a ser o Hoje tem Teatro com a diferenccedila de ser chamado de 3 Terccedilas Tem Teatro e fundamentalmente com a diferenccedila de que agora quem se apresenta satildeo apenas os alunos do curso

O ator metralhadora cuspindo doze palavras por segundo quase sem ar pergunta um instante antes de tomar focirclego ldquoNatildeo seria muita coincidecircncia no final do curso de teatro dado pelo NuTE de 1987 aparecer o JOTE-Titac com elementos tatildeo proacuteximos do Hoje Tem Teatro tempo reduzido para montagem textos curtos apresentaccedilotildees de vaacuterios grupos em apenas um dia E com relaccedilatildeo agrave escola de teatro do NUTe sem o Hoje Tem Teatro Wilfried teria aproximado seus cursos de miacutemica do Nuacutecleo de Teatro Experimentalrdquo

Aproveito a respiraccedilatildeo do ator para mais uma vez comentar sua pressa em concluir um roteiro aberto Um roteiro que perde muito quando aprisionado num comeccedilo meio e fim de causas e efeitos Ele natildeo compreende tento novamente dizendo que apesar de um gosto

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SEGUNDO

ENSAIO

popular pelas novelas e romances em que tudo linearmente comeccedila se desenvolve e termina em momentos precisos na vida real as tramas satildeo bem mais complexas Nem sempre uma coisa leva a outra geralmente eacute um emaranhado de redes que forccedila algo a acontecer Tomo como exemplo as atividades desenvolvidas jaacute em 1985 pelo NuTE

0905 ndash Palestra com os atores Pepita Rodrigues e Eduardo Dolabella 1305 ndash Workshop sobre O Comportamento do Elemento no Grupo Teatral (Arte em Grupo) com o Prof Thiers Camargo (do Grupo Sia Santa de CampinasSP) 0606 ndash Palestra com os atores do Grupo La Nave Vaacute [Vagrave] 2706 a 2312 ndash Curso de Miacutemica e Pantomima com o Prof Wilfried Krambeck 12 a 1409 ndash Primeiro Seminaacuterio de Teatro com o Prof Thiers Camargo 09 a 1310 ndash Performances no Estande de Mini-Teatro no IV SALAtildeO BLUMENAUENSE DA CRIANCcedilA 2312 ndash Espetaacuteculo PANTOMIMAS no GATCG

Cada um desses eventos empurrou com a forccedila que conseguia o NuTE numa direccedilatildeo Se o vetor resultante dessas forccedilas naquele ano eacute o que conhecemos hoje natildeo podemos simplificar dizendo que no ponto A comeccedila a mover algo que iraacute passar pelo ponto B e terminar em C Da mesma forma natildeo eacute possiacutevel remeter um acontecimento agrave filiaccedilatildeo direta de uma pessoa O sujeito nunca eacute origem de nada Ele eacute sempre atravessado por uma multiplicidade de forccedilas que o constituem fazendo produzir Tentei falar algo sobre a importacircncia da muacutesica e do teatro tecircxtil para o NuTE mas o ator me interrompeu sorrindo achando impossiacutevel analisar dessa forma porque se assim o fosse todo e qualquer

acontecimento estaria presente forccedilando a histoacuteria do NuTE a ser como ela eacute Eu digo que sim e mais que isso que para aleacutem das muacuteltiplas forccedilas envolvidas no acontecimento o que inventa sentido agrave cena eacute o observador Comento que tudo o que ele fez haacute pouco foi ocupar o lugar de um observador que tentava dar um sentido ao caos das linhas em movimento Ele estranha a ideia de movimento Eu explico que o passado natildeo estaacute parado que ele se move quando tentamos observaacute-lo e complemento dizendo que estou muito mais interessado em uma espeacutecie de geografia ou de arqueologia do NuTE do que propriamente em sua histoacuteria Traccedilar encontrar inventar mapas que ajudem o leitor a sobrevoar paisagens nuteanas eacute isso que estou tentando fazer O ator ironiza meu argumento Natildeo compreende como poderiam as tais forccedilas que estatildeo em disputa caminharem de matildeos dadas rumo ao mesmo vetor Rindo muito ele me pergunta como elas fecham os acordos entre elas Um tanto aborrecido com as piadinhas faccedilo de conta que natildeo ouccedilo a pergunta sempre que vejo uma possibilidade tento me distanciar procurando Alexandre aqui e acolaacute Ele repete a pergunta Novamente natildeo respondo Ele percebe que estou tentando me afastar e levantando a voz pelo pouco de distacircncia que jaacute surgia diz

Ator ndash Como podem essas tais linhas de forccedila que vocecirc diz muacuteltiplas e em duelo permanente estabelecerem um acordo para criar uma paisagem nuteana que possa ser sobrevoada

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ENSAIO

Nesse exato instante adentramos ao Corredor A pergunta que chegou antes eacute tomada pelos atores que ali estavam aquecidos na discussatildeo conceitual como parte do jogo cecircnico Iniciam uma improvisaccedilatildeo sobre o tema Interrompo para perguntar sobre Alexandre Como jaacute esperava a resposta foi negativa Explico a situaccedilatildeo e convido o grupo para nos acompanhar ateacute o Palco do Grande Auditoacuterio contente por me afastar finalmente das perguntas fora de hora do ator falante Minha alegria contudo dura apenas umas poucas linhas Assim que comeccedilamos a caminhar mais uma vez ele retornou agrave questatildeo

Ator ndash Como podem essas tais linhas de forccedila que vocecirc diz muacuteltiplas e em duelo permanente estabelecer um acordo para criar uma paisagem nuteana que possa ser sobrevoada

Para minha surpresa um dos atores do Corredor percebendo meu cansaccedilo com a discussatildeo conseguiu costurar uma siacutentese provisoacuteria ao complexo e inesgotaacutevel tema Para esse ator as forccedilas natildeo estabelecem acordos Quem as comanda eacute uma determinada Vontade sua vetorizaccedilatildeo sua siacutentese eacute realizada por essa Vontade ldquoA forccedila eacute quem pode a vontade de potecircncia eacute quem quer () eacute sempre pela vontade de potecircncia que uma forccedila prevalece sobre outras domina-as ou comanda-as Aleacutem disso eacute a vontade de potecircncia ainda que faz com que uma forccedila obedeccedila numa relaccedilatildeo eacute pela vontade de potecircncia que ela obedecerdquo22

O ator perguntante finalmente silencia Vence nele uma forccedila menos ruidosa E assim

22 Deleuze Nietzsche e a Filosofia p 26

chegamos ao Palco do Grande Auditoacuterio Aos trecircs grupos reunidos informo que natildeo consegui encontrar Alexandre em nenhum local do teatro Compartilho a anguacutestia de natildeo saber o que fazer Um ator propotildee que os grupos apresentem uns para os outros como Alexandre inicialmente havia proposto a cena produzida Todos concordam Aproveito para melhorar minhas anotaccedilotildees Ao final das apresentaccedilotildees marco o proacuteximo ensaio para dia 26 de abril de 2015

cena da performance rsquokrsquo na frente marcelo de souza atraacutes silvio joseacute da luz

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TERCEIRO

ENSAIO

TERCEIRO ENSAIO ndash 26 DE ABRIL DE 2015

Domingo e Chuviscos() esperando ateacute as 15h

Imagem Insistente O Excesso

Olho-lacircmina olho-estilete olho-corte olho-navalha olho-faca olho-sangue olho-foice olho-maacutequina-de-roccedilar-grama olho-estripar olho-moto-serra olho-agora-fodeu-tudo Todo o grupo me olhava Alguns chegaram atrasados eacute verdade coisa de cinco a dez minutos mas a grande maioria estava ali desde as 14 horas conforme rezava o contrato Um pouco conversamos um pouco rimos em pouco tempo natildeo havia mais nada Uma uacutenica e excessiva pergunta se espalhava fazendo ranger o silecircncio Alexandre vai continuar dirigindo o espetaacuteculo Se vai onde estaria o desgraccedilado a uma hora dessas se natildeo vai Bom melhor natildeo pensar nisso O atraso dos poucos permitiu explicar por trecircs vezes minha peregrinaccedilatildeo em busca desta resposta assim que cheguei assim que os primeiros atores atrasados chegaram assim que os segundos atores atrasados chegaram Mas agora com toda municcedilatildeo gasta natildeo tinha mais pra onde correr A lacircmina circular dos bem treinados olhares fazia cortar eram finas incisotildees agudas eu as podia sentir

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TERCEIRO

ENSAIO

estridentes transversalizadas em minha pele De nada adiantava repetir as mais de 20 vezes que liguei as tantas que deixei recado ou ainda que pessoalmente estive na casa de Alexandre e que de nenhuma forma consegui encontraacute-lo O silecircncio fazia buraco exigia uma resposta E infelizmente a resposta que veio precipitada e cretina eu concordo foi

ndash Bem pessoal vamos esperar ateacute as 15 horas Se Alexandre natildeo aparecer tenho uma proposta para lhes fazer

O olho-lacircmina foi cedendo lugar ao ciacutenico-olho-interrogativo Nos grupelhos frases sussurradas para que eu ouvisse sem poder ouvir eram abafadas

ndash Esse babaca natildeo vai ter coragem de ndash () mas ele mal sabe escrever quem

diraacute ndash Seria muita arrogacircncia dele acho que

precisamos ndash Na eacutepoca do NuTE sempre foi assim

Alexandre brigava com a gente abandonava os ensaios e depois retornava quem natildeo lembra disso Natildeo podemos permitir agora que esse

Sim a frase que flutuava entre as bocas atuantes me havia escapado Mas nunca me passou pela cabeccedila dirigir o grupo talvez a pressatildeo das lacircminas talvez o silecircncio difiacutecil dizer Agora aleacutem da ausecircncia de Alexandre eu tinha que consertar isso Pra melhorar soacute conseguia pensar na prestaccedilatildeo de contas do projeto no iniacutecio da turnecirc marcada para daqui a dois meses no que iriam dizer nossos

apoiadores se o espetaacuteculo natildeo saiacutesse conforme combinado Seraacute que teriacuteamos que devolver o dinheiro Seraacute que meu nome ficaria queimado para novos projetos Que merda o que fazer O reloacutegio corria 14h43min () 14h49min () 14h55min () 15h () 15h07min () Quando chegou em 15h15min eu havia me transformado num quase budista de quietudes abstratas Um dos atores percebendo resolve abrir a ferida

ndash Parece que Alexandre natildeo vem mesmo Qual seria sua proposta

ndash Na verdade natildeo tenho proposta nenhuma falei para acalmar vocecircs ou para me acalmar natildeo sei ao certo Estou muito ansioso com a prestaccedilatildeo de contas do projeto vocecircs todos estatildeo recebendo seus cachecircs em dia o aluguel desse teatro natildeo eacute barato as refeiccedilotildees as despesas com transporte muita coisa jaacute foi paga mas o que vamos fazer se esse espetaacuteculo natildeo sair Meu receio eacute de que tenhamos que devolver esse dinheiro e isso forccedilosamente vai obrigar cada um de vocecircs a devolver as parcelas que jaacute recebeu

Olho-cifra olho-fraterno olho-noacutes olho-solidariedade Finalmente o grupo me acolhe percebem que o ldquobom andamento do projetordquo natildeo depende apenas de mim Sentamos em ciacuterculo no piso madeirado do palco Conversamos A opiniatildeo era unacircnime Alexandre eacute quem deve dirigir Ningueacutem pode tomar esse lugar Combinamos aguardar seu retorno A grande maioria tinha certeza de que ele iria voltar jaacute que essa natildeo era nem a primeira

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TERCEIRO

ENSAIO

e nem a segunda vez que Alexandre fazia isso Era mesmo costume dele abandonar os ensaios e depois retornar Mas o que se pode fazer na ausecircncia de um diretor quando ningueacutem se atreve a dirigir Aos poucos foi ganhando forma uma proposta de estudo cuja finalidade seria potencializar as cenas que seriam montadas quando Alexandre retornasse

Assim eles me pediram para que lhes fornecesse algum material novo algo em que estivesse trabalhando nos uacuteltimos dias Eles dedicariam o ensaio de hoje ao estudo desse material e no proacuteximo saacutebado quando Alexandre estivesse conosco assim falavam o utilizariam para composiccedilatildeo das cenas A ideia me pareceu muito boa mas que tipo de material daria conta de uma ressonacircncia dessas A uacutenica imagem que me veio provavelmente pela proximidade havia terminado uma noite antes do ensaio foi a da cronologia dos espetaacuteculos montados pelo NuTE Brevemente expus a pesquisa ao grupo que vibrando com a imagem de acessar numa uacutenica pegada todas as montagens-NuTE insistiam na importacircncia desse material para o espetaacuteculo Como natildeo havia imprimido nenhuma coacutepia pois natildeo imaginava que algo assim pudesse acontecer liguei meu notebook gravei o arquivo num pen-drive e jaacute de saiacuteda em busca de uma graacutefica percebo um ator sacando um projetor multimiacutedia de sua mochila Ele sugere projetarmos a cronologia nas paredes brancas do teatro Achei muito bonita a metaacutefora Foi o que fizemos

EXUBERANTE CRONOLOgIA ESPETACULAR DO TEATRO

EXPERIMENTAL E DO TEATRO ESCOLA NUTEANESCOS

eou PUTA QUE PARIU ESSES CARAS MONTARAM 185 (cento e oitenta e cinco)

ESPETAacuteCULOS

1984ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS PELO

PROJETO HOJE TEM TEATRO

1 ndash Nariz NovoDireccedilatildeo Alexandre Venera e Mauro MachiTexto Robert ThomasElenco Luciana Olivia Josueacute AacutelvaroForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

2 ndash ReencontroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Rubem FonsecaElenco Bete CalinhoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

3 ndash A Dama de Copas e o Rei de CubaDireccedilatildeo Alexandre Venera e Valem RodrigoTexto Timochenco WehbiElenco Tania Verinha

118

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

1985PANTOMIMA

4 ndash PantomimaSinopse o espetaacuteculo conta com uma sequecircncia de quadros ndash cenas ndash que satildeo apresentadas segundo esta ordem menores abandonados (drama) protagonizado por Sandra Cardoso nascimento vida e morte das plantas relaccedilatildeo destas com os animais selvagens e intempeacuteries da natureza (drama) com participaccedilatildeo de todo elenco O terceiro quadro (drama com grande forccedila expressiva) inicia com um poema sobre a insanidade humana e o respectivo abandono social do louco recitado por Sandra Cardoso na sequecircncia apresenta-se a convivecircncia deste num ambiente manicomial Por fim os quadros cocircmicos com a maquiagem dos personagens sendo feita em cena

Direccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto Wilfried KrambeckElenco Diogo Junkes Sandra Cardoso Valdir Lopes Iraci Krambeck Aacutelvaro A Andrade Roberto SchindlerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 23 de dezembro de 1985

Importante este espetaacuteculo eacute resultado do curso de teatro e miacutemica ministrado por Wilfried Krambeck Curso que aconteceu entre 27 de junho e 23 de dezembro de 1985 com carga horaacuteria de 160 horasaula Eacute a primeira montagem do NuTE que resulta do aprendizado em teatro tendo como recurso para estudar teatro a construccedilatildeo de um espetaacuteculo

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Wilfried Krambeck no anexo Livreto Espetacular23

23 prezado leitor para as doze montagens

mais relevantes preparamos um lsquolivreto

espetacularrsquo que provavelmente

vocecirc jaacute encontrou nos anexos deste

livro O livreto eacute uma coleccedilatildeo de textos que versam sobre

os doze espetaacuteculos escolhidos

Para escrever sobre esses espetaacuteculos foram convidados atores diretores teacutecnicos poetas

que participaram eou assistiram tais montagens

Portanto sempre que

nesta cronologia aparecer o carimbo a seguir eacute sinal de que um bom artigo

lhe aguarda

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TERCEIRO

ENSAIO1986

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS PELO PROJETO 3 TERCcedilAS TEM TEATRO

5 ndash Alegoria ao Vamos ao Teatro

Direccedilatildeo Alexandre Venera dos SantosTexto Alexandre Venera dos Santos sobre parte da muacutesica Coming home to see youElenco Dennis Raduumlnz Elisete Creuz Isabel Ribeiro Maria Teresa Dias Claudio Constantin Sandra Cardoso Flavio Meirinho Deise Gonccedilalves Waldir Lopes Marlise dos Santos Alexandre Correia Deuceacutelia Travasso Deliani Travasso Evi Geisler Tanise Creuz Leandro de AssisForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986Importante diferente do ano anterior onde apenas Wilfried Krambeck ministrou aulas o curso de iniciaccedilatildeo ao teatro em 1986 eacute dado por vaacuterios professores Ao final do curso temos o 3 Terccedilas Tem Teatro (em junho) e as apresentaccedilotildees finais do curso de iniciaccedilatildeo ao teatro (em julho) com praticamente os mesmos atores-alunos Aleacutem de professor nesse ano

ldquoPandareco O Rei do Risordquo Esquete apre-sentado pelo Grupo Teatrhering o qual fora convidado pelo NuTE para se apresen-tar no encerramento do 3 Terccedilas Tem Tea-tro em 24 de junho de 1986 Elenco Antonio R Carvalho Cleusa M de Melo Custoacutedia Marcos Inecircs Pereira Joseacute Lino Frutuoso e Rosimeri Lunelli Di-reccedilatildeo Claacuteudio A Sch-midt

Wilfried Krambeck tambeacutem coordenou e organizou o curriacuteculo dos cursos

6 ndash Morte

Direccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto charges do cartunista chileno COPIElenco Adriana Kalckmann Wilfried Krambeck Aacutelvaro de AndradeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

7 ndash Segunda-feira de Cidade GrandeDireccedilatildeo direccedilatildeo coletiva Texto autoria coletiva sobre tema expostoElenco Isabel Ribeiro Tanise Cruz Deuceacutelia TravassoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

8 ndash Diversotildees EletrocircnicasDireccedilatildeo Flavio MeirinhoTexto adaptaccedilatildeo de Flaacutevio Meirinho sobre tema de Arrigo Barnabeacute

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Elenco Flavio MeirinhoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

9 ndash CanibalismoDireccedilatildeo Dennis RaduumlnzTexto Luiacutes Fernando VeriacutessimoElenco Evi Geisler Claudio Constantin Leandro de Assis Dennis RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

10 ndash O SonhoTexto adaptaccedilatildeo de Marlise dos Santos sobre muacutesica de VanusaElenco Marlise dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

11 ndash Gecircnio e Cultura

Direccedilatildeo Alexandre Venera dos SantosTexto Umberto Boccioni

Elenco Waldir Lopes Aacutelvaro de Andrade Sandra CardosoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

MOSTRA DE FINAL DE CURSO ndash PRIMEIRO SEMESTRE

12 ndash Grito dacuteAlmaDireccedilatildeo Deise GonccedilalvesTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Tanise Creuz Elisete Creuz Marlise dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

13 ndash E isso eacute vidaDireccedilatildeo IsabelAutor do Texto criaccedilatildeo coletivaElenco Deuceacutelia Deliani Leandro RosaneForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

14 ndash Ciranda ao redor da fonteDireccedilatildeo Dennis RaduumlnzAutor do Texto Dennis RaduumlnzElenco Dennis Raduumlnz Maria do Carmo Machado Lauro RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

15 ndash OutroraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

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MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

16 ndash Essa Tal de EvoluccedilatildeoDireccedilatildeo Wilfried Krambeck Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 15 de outubro de 1986Importante apresentaccedilatildeo de alunos do Curso de Miacutemica

CLASSE gLACEcirc

17 ndash Classe GlacecircSinopse Classe Glacecirc eacute um espetaacuteculo em dois atos Na primeira parte atraveacutes de uma coletacircnea de textos baseados em artigo de Luiacutes Fernando Veriacutessimo os atores se revezam nos vaacuterios momentos repetindo situaccedilotildees que como um exerciacutecio teatral mostram os problemas que as diferenccedilas de classes proporcionam na luta pela sobrevivecircncia e a esperanccedila de se elevar nos diversos niacuteveis sociais A segunda parte eacute uma reflexatildeo-praacutetica de um confronto das classes Cada um ldquovecircrdquo agrave sua maneira os problemas e as vantagens do outro E como na paraacutebola A Raposa e as Uvas cada classe se orgulha das suas desventuras e

ironiza as qualidades da outra O fio condutor de toda a proposta desse segundo ato eacute o texto ldquoO Mendigo ou o Catildeo Mortordquo de autoria de Bertold Brecht que em sua teoria teatral nos solicita refletir criticamente muito mais sobre a mensagem colocada (texto) do que sobre o meio de execuccedilatildeo (desempenho) embora um seja o complemento do outro ldquoO Mendigo ou o Catildeo Mortordquo eacute em si mesmo uma faacutebula a paraacutebola do Espelho Espelho Meu e eacute bom saber que quem estaacute no trono procura ficar informado

Direccedilatildeo Alexandre Venera Texto adaptaccedilatildeo sobre textos de Luiacutes Fernando Veriacutessimo e sobre o texto O Mendigo ou o Catildeo Morto de Bertold BrechtElenco Alan Ada Kardek Aacutelvaro de Andrade Claudio Constantino Dennis Raduumlnz Deise Gonccedilalves Deuceacutelia Travasso Elisete Creuz Isabel Ribeiro Joatildeo de Oliveira Marlise dos Santos Maria Teresa Dias Rosane Paasch Tanise Creuz Antonieta KrausForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 09 de outubro de 1986Importante ateacute onde conseguimos mapear foi a primeira vez que um grupo de teatro blumenauense montou Bertold Brecht

VEIAS CATIVAS

18 ndash Veias Cativas Sinopse um espetaacuteculo ldquomusicadordquo porque natildeo eacute cantado mas eacute dublado e falado natildeo eacute danccedilado mas eacute coreografado e interpretado Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto poemas de Rosane Magaly Martins e

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Muacutesicas de Ney Matogrosso Elenco Alan Alda Kardek Aacutelvaro de Andrade Carlos dos Santos Claus Jensen Evelis Sailer Gilmar Borges Marlise de Valbone Neli Lenzi Raquel Furtado e Rosane Magaly MartinsForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de dezembro de 1986

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Rosane Magaly Martins no anexo Livreto Espetacular

1987

21 CADEIRAS

19 ndash 21 Cadeiras Sinopse veja bem num espetaacuteculo a criaccedilatildeo espontacircnea para o artista eacute o tempero e para o puacuteblico eacute o divertimento O improviso eacute nosso companheiro em todas as nossas atitudes Nossa vida eacute um improviso Todos improvisam no relacionamento no trabalho no amor na briga ou no sofrimento Quando se estaacute por cima por baixo colocado de lado ou ateacute no meio natildeo se conhece precisamente o iniacutecio

noacutes nos preocupamos com o fim e soacute sabemos o que passou Assim eacute com a vida como com o espetaacuteculo ldquo21 Cadeirasrdquo Para a vida o tema do improviso eacute viver e para o espetaacuteculo ldquo21 Cadeirasrdquo o improviso eacute relacionado com o tema tiacutetulo que assenta anatomicamente a nossa proposta de sobreviver Pegue a sua cadeira e venha assistir ao nosso improviso Sente-se agrave vontade mas cuidado com a Aids que eacute o tipo de doenccedila que se pega sentando em cima Sinta-se confortavelmente sentado em nossa roda Noacutes vamos girar virar e torcer por vocecirc E isso eacute soacute o iniacutecioDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Wilfried Iraci Gilberto Helena Tete Marcia Raquel Aacutelvaro Adriana Tanise Rosane Karla Antonieta Dido Diogo Dennis Marlise Sandra Alan Ula Nataacutelia JotaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de marccedilo de 1987

O TUacuteNEL

20 ndash O Tuacutenel Sinopse em linhas gerais O Tuacutenel mostra a passagem ldquodesta para a melhorrdquo E essa passagem eacute tatildeo raacutepida que ele nem se daacute conta Excitado natildeo para de falar mas aos poucos vai enfraquecendo prestando mais atenccedilatildeo a sua volta ao amigo Jorge que vai ao seu encontro ndash compreendendo por fim sua verdadeira situaccedilatildeo Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Paer LagerkvistElenco Alex Muumlller Claus Jensen

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Helena Brown Aacutelvaro de AndradeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 29 de maio de 1987Importante inauguraccedilatildeo do Espaccedilo (O)Caso

ATENDENDO A PEDIDOS

21 ndash Atendendo a PedidosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de junho de 1987

MORCEgO PESSOA

22 ndash Morcego PessoaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 26 de outubro de 1987

O HOMEM DO CAPOTE E OUTROS SERES

23 ndash O homem do Capote e Outros SeresSinopse haacute muitos muitos anos continuamen-te se encontram num espaccedilo indeterminado vaacuterios seres Estes seres desenvolvem suas atitudes individualizadas a distacircncia de maneira impenetraacutevel e particular O encontro com outros seres eacute teacutecnico e restrito ao essencial sendo o primeiro encontro muito curto Estes seres se preocupam narcisicamente ao ver e ouvir o outro pouco tentando entendecirc-lo ou criticaacute-lo Os seres necessitam do conviacutevio social e se aproximam daqueles com os quais sentem afinidades Com a soma dos interesses ocorre a ligaccedilatildeo total onde a uniatildeo de qualquer maneira faz crescer Entretanto a desuniatildeo como um desencanto acontece afastando os seres Entre si ou entre

os seus propoacutesitos haacute a cisatildeo Esta ordem de acontecimentos tem uma sequecircncia ciacuteclica e ateacute retroacutegrada que aos poucos constroacutei ou ateacute rapidamente se transforma na essecircncia do passado E o passado atraveacutes da experiecircncia dos seres constroacutei uma ldquomedardquo individual ou coletiva ateacute onde satildeo armazenadas as experiecircncias jaacute sentidas e representadas pelos ldquofios da experiecircnciardquo A ldquomedardquo eacute o acuacutemulo de propostas realizadas onde satildeo empilhadas uma a uma numa construccedilatildeo cocircnica ldquoa piracircmide da existecircnciardquo Ao ter-se demais de um soacute fio de experiecircncia na ldquomedardquo deste ser haacute uma deformaccedilatildeo na construccedilatildeo dessa ldquomedardquo e sua consequente desestabilizaccedilatildeo Entre outros seres o Homem do Capote deu importacircncia demasiada a uma soacute atitude e faz-nos preocupar como outros seres

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera a partir de poemas de Lindolf Bell e criaccedilotildees coletivasElenco Carlos Alan Giba Juliana Sabrine Mari Jota Zeacute Joatildeo Dennis Gilberto Wilfried Iraci Do Carmo Cleacuteo Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 01 de novembro de 1987Importante primeiro espetaacuteculo assinado pelo Grupo Liturgia do Teatro que nas proacuteximas montagens iraacute aparecer como Grupo Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques Em Bomba Nucleada zine manifesto escrito por integrantes do NuTE poacutes-apresentaccedilatildeo de O Homem do Capote e Outros Seres no Fecate ndash Festival Catarinense de Teatro ndash lecirc-se ldquo() durante todo o espetaacuteculo a condiccedilatildeo de desencanto eacute flagrante e segundo Antonin Artaud em um de seus manifestos sobre as obras-primas ele nos adverte ldquoUma das razotildees da atmosfera asfixiante na qual vivemos sem escapatoacuteria possiacutevel e sem remeacutedio ndash e pela qual somos

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todos um pouco culpados mesmo os mais revolucionaacuterios dentre noacutes ndash eacute o respeito pelo que eacute escrito formulado ou pintado e que assumiu uma certa forma como se toda expressatildeo jaacute natildeo estivesse exaurida e natildeo tivesse chegado ao ponto em que eacute preciso em que as coisas estourem para que se recomeccedilasse tudo de novordquo E eacute nessa afirmaccedilatildeo de Artaud que se baseia o tema expressivo do espetaacuteculo mostrando essa singular e invulgar maneira de se interpretar a arte cecircnicardquo

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Dennis Raduumlnz no anexo Livreto Espetacular

gESTO E SENTIMENTO Agrave MODA DA CASA

24 ndash Gesto e Sentimento agrave Moda da CasaDireccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto Diogo Junckes Ceacutesar Reis Wilfried KrambeckElenco Ceacutesar Augusto Reis Diogo Fernado Junkes Iraci Potrikus Wilfried KrambeckSonoplastia Carlos ZanonForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 27 de julho de 1987

1988 ILUSTRACcedilAtildeO gESTUAL DE POESIAS

BLUMENAUENSES

25 ndash Ilustraccedilatildeo Gestual de Poesias BlumenauensesDireccedilatildeo e Narraccedilatildeo Wilfried KrambeckTextos autores blumenauenses diversos

Atores Iraci Potrikus Ceacutesar Reis e Dennis RaduumlnzIluminaccedilatildeo Carlos L Correia (Cahco)

O MOCcedilO QUE CASOU COM MULHER BRABA

26 ndash O Moccedilo que Casou com Mulher BrabaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Don Juan ManuelElenco Rosana Elke Veruska Betina Marcia Arethuza Sabrina Tacircnia Sandra Eunice Adilson Samara Nelson ArianaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 13 de junho de 1988

APOCALYPSIS CUM FIgURIS NA VISAtildeO DE SANTA CATARINA OS ANJOS E NOacuteS

27 ndash Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e NoacutesSinopse Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes eacute um espetaacuteculo de colagens das diversas passagens da vinda de Cristo visualizadas sob o acircngulo da modernidade do tempo em que vivemos

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Apocalypsis natildeo eacute um teatro convencional pela ausecircncia de diaacutelogo e trama situaccedilotildees que normalmente norteiam a comunicaccedilatildeo dramaacutetica Para o espectador processa-se uma viagem transcendental que passa pelos seus olhos com a histoacuteria que estaacute embutida em sua memoacuteria ancestral Essa montagem eacute um poema poesia pura e eacute mais faacutecil entender um poema do que explicaacute-lo O Apocalypsis se define pela expressatildeo do corpo do ator e atraveacutes dos textosfragmentos poeacuteticos de vaacuterios poetas catarinenses que servem de subsiacutedios para citaccedilotildees e desabafos emocionais Direccedilatildeo Alexandre Venera Texto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre texto de Konstanty Puzyna que discute a montagem original de Jerzy Grotowski (1967) e sobre textos de escritores e poetas catarinenses como Lindolf Bell Cruz e Souza Artemiro Zanon entre outros Elenco Aacutelvaro de Andrade Carlos Crescecircncio Claus Jensen Dennis Raduumlnz Giba de Oliveira Marcos Suchara Peacutepe SedrezForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 28 de novembro de 1988 Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesLivreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Alexandre Venera dos Santos no anexo Livreto Espetacular

1989

VARIANTE WOYZECK-MAUSER

28 ndash Variante Woyzeck-MauserSinopse com essa montagem o Grupo da

Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques efetua uma releitura de dois expoentes da dramaturgia universal Independentemente estes textos no original permitem um realinhamento de cenas de iniacutecio meio e fim que entretanto natildeo alteram o conteuacutedo da obra O que caracteriza Variante Woyzeck-Mauser como outra obra original eacute a uniatildeo de alguns temas resgatados de um e de outro texto dentro de uma outra oacutetica divergente da dos originais em que se baseia O resultado eacute uma mensagem irocircnica sobre o falso moralismo da nossa sociedade um jogo da vida para o cidadatildeo que passa a ser como uma marionete nas matildeos de uma sociedade que lhe cobra as mais absurdas atitudes

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera Giba de Oliveira e Peacutepe Sedrez sobre texto de Georg Buumlchner (Woyzek) e Heiner Muumlller (Mauser)Elenco Roberto Murphy Ivan Felicidade Aacutelvaro de Adrade Joatildeo da Matta Alex Muumlller Ernesto Santos Everton Fonseca Michelli Rocha Paulo de Araujo Sidnei Mafra Regina Simas Rita Macado Peacutepe Sedrez Marcio Mori

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Amarildo Fortunato Claus Jensen Cleide Furlani Dennis RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 22 de outubro de 1989

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Roberto Murphy no anexo Livreto Espetacular

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SR MEURSAULT O ESTRANgEIRO DE CAMUS

29 ndash Sr Meursault O Estrangeiro de CamusDireccedilatildeo Giba de OliveiraAutor do Texto livre-adaptaccedilatildeo de Giba de Oliveira e alunos do NuTE sobre texto de Albert CamusElenco Natalie Rodrigues Rafaela Rejane Paula Margareth MuumlllerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de outubro de 1990Grupo ARTEATROZ

PELOS QUATRO CANTOS TEATRO DA COR EM QUATRO ATOS

30 ndash Pelos quatro cantos ndash Teatro da Cor em Quatro AtosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-tal

Estreia 10 de junho de 1986

1991

MACBETHacuteS UMA INTERFEREcircNCIA NA HISTOacuteRIA

31 ndash Macbethacutes ndash uma Interferecircncia na histoacuteriaSinopse a histoacuteria descreve a ascensatildeo e queda de um homem cuja sede de poder acaba por subverter os valores sociais da vida em grupo Aborda a transgressatildeo das leis da sociedade da solidariedade do amor da universalidade Macbeth eacute a transgressatildeo do homem Esta versatildeo tem no Macbeth natildeo a cobiccedila apenas pelo poder mas principalmente pela vida Contemporaneamente critica o homem preso a si mesmo que toma decisotildees impensadas e vive em busca da vida da liberdade do sossego e impressionantemente busca ateacute mesmo o fim Em meio agrave busca desse poder desconfianccedilas e hipocrisias o ser e o natildeo ser agem conjuntamente A dualidade eacute transparente Mas eacute observaacutevel todos temos a sede de vida Ou de VIDA

Direccedilatildeo Alexandre Venera

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Texto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre texto de W ShakespeareElenco Peacutepe Sedrez Carlos Crescecircncio Giba de Oliveira Marcelo de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 20 de agosto de 1991

No blog wwwnuteparatodoswordpresscom Raymond Chandler escreve

LENDAS DO NUTE ndash PARTE LXIUm vento forte e uacutemido entrava pela janela dificutando o trabalho de taxidermia em Antonio Leopolski Marcelinho de Souza levantou fechou a maldita janela e vestiu o figurino do defunto Algueacutem bateu agrave sua porta Era sua matildee mas felizmente a porta estava trancada Marcelinho reviu todos os passos da reestreia de Macbeth para o dia seguinte Ningueacutem ndash a natildeo ser Silvio da Luz seu cuacutemplice ndash sabia que um ator seria substituiacutedo na uacuteltima hora E nem deveriam saber

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Iran da Silveira no anexo Livreto Espetacular

PIQUENIQUE NO CAMPO

32 ndash Piquenique no Campo Sinopse do confronto entre os horrores e a inconsciecircncia dos visitantes e participantes deste inusitado piquenique nasce um cocircmico (e ao mesmo tempo criacutetico) diaacutelogo absurdo O soldado Zapo encontra-se entediado no campo de batalha Para animaacute-lo seus pais resolvem fazer uma visitinha propondo um piquenique em pleno front Durante o lanche surge o inimigo Apoacutes capturaacute-lo e sem saber o que fazer com o prisioneiro convidam-no para o lancheDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Fernando ArrabalElenco Giba de Oliveira Marcelo de Souza Francinete Bittencourte Pedro Dias Cintia Gruener Patriacutecia dos Santos Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 28 de novembro de 1991Grupo Grupo Meu GrupoImportante o elenco citado eacute o da montagem de 1993

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

33 ndash Big hamletForccedila Cecircnica Preponderante Teatro escolaEstreia 1 de Julho de 1991

34 ndash Quando se Segue a Tradiccedilatildeo e Quando se RefleteForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

35 ndash A Mulher judiaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

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36 ndash Proacutelogo no Teatro de FaustoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

37 ndash Bicharada no BarrilForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Texto Wilfried KrambeckEstreia 1 de Julho de 1991

PRA NAtildeO DIZER QUE NAtildeO FALEI

38 ndash Pra Natildeo Dizer que Natildeo FaleiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 8 de dezembro de 1991

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO DEU PANE NO BLACKOUT) SEgUNDO SEMESTRE

39 ndash O TuacutenelForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1991

40 ndash No Paiacutes da AnestesiaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 19 de dezembro de 1991

41 ndash Os CegosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 19 de dezembro de 1991

1992 O PEcircNDULO

42 ndash O PecircnduloSinopse quando uma era estaacute finalizando

tornam-se visiacuteveis as grandes e numerosas hecatombes Ira de deuses () Destino cruel () Finda o seacuteculo XX e as palavras de ordem satildeo ecologia e a era de aquarius O ciclo macrocoacutesmico se repete e o homem continua bola de futebol dos deuses Eacute a consciecircncia massificante atropelando o indiviacuteduo O espetaacuteculo trata do homem neutralizado espoliado e romacircntico uma das esquecidas engrenagens nessa ldquocoisardquo que nos envolve O homem que natildeo distingue o amor do romacircntico Haacute de se adquirir ternura sem perder a dureza Que a consciecircncia aquariana seja em cada um de noacutes Tememos a besta do apocalipse e natildeo a vemos ao nosso lado ela nos contamina com o conformismo Criar eacute coisa de outro mundo A aacutegua baixou e continua-se afogado como antes das cheias A solidatildeo eacute a uacutenica coisa que nos faz parecidos

Direccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Peacutepe SedrezElenco Ciacutecero da Silva Adriana Sebastiatildeo Elisabeth Thomeacute Maicon Rossi Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 30 de junho de 1992Grupo (CO) INCIDENTES

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

43 ndash Estaccedilatildeo Agosto a exceccedilatildeo e a lendaDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Rosane Magaly Martins e Giba de OliveiraElenco Aline Antunes Elisete Possamai Erna Parquer Francinete Bittencourt Francisco Koch Jerusa de Saacute Mariana da Silva Odete

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Maria Osmar Gomes Priscila de Souza Sandra da Silva Sebastiatildeo Crispim Wlademir TreisForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1992Grupo Sugiro Jaacute

44 ndash A Morte de DantonDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto livre-adaptaccedilatildeo de textos de Bertold Brecht Georg Buumlchner William B Huie LrsquoExpressElenco Alessandra Tonelli Cristiana Venera Gabriele Bruns Itamar Burmaniere Jackson Assino James Beck Marineusa Goterra Nelson Souza Soraia de Souza Valdete SchuterForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1992Grupo Ato ComCreto

45 ndash Natildeo Carta Aberta aos Senhores NazistasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1992

46 ndash A Mente CaptaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1992

47 ndash Na Casa do Dr jacobsenDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Graziela Cicatto Jeferson Fietz Jubal Santos Lenara Santos Magali de Jesus Rafael Ruzinski Tamara Sanches Melissa da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1992Grupo PAPA BATATA (DA PESADA)

48 ndash Viagem ao Coraccedilatildeo da CidadeDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Adhemar de OliveiraElenco Ana Nunes Ana Paula Souza Andreia da Conceiccedilatildeo Elisangela Pereira Evandro Costa Janaina Nascimento Juliana Maske Juliana Garcia Luana dos Santos Osnildo Souza Pablo Lopes Verocircnica Lopes Amanda WernerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 28 de agosto de 1992Grupo Grupo do Ser ou natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

49 ndash Chapeuzinho agraves AvessasDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Peacutepe SedrezElenco Jeferson Fietz Melissa Silva Adalgisa da Silva Graziela Cicatto Carolina Trisotto Renata Muumlller Rafael Ruzinski Eugenio Lingner Peacutepe SedrezForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo PAPA BATATA (DA PESADA)

50 ndash O DragatildeoDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Ellen WolfranElenco Antonio Leopolski Juliana Garcia Pablo Lopes Osnildo Souza Amanda Werner Renaty Affonso Andressa Deschamps Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo Grupo do Ser ou Natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

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51 ndash Quando a Coisa Vira CasoDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Elias GomesElenco Ana Nunes Barbara de Aguiar Juliana Maske Pablo Lopes Andressa Deschamps Janaina Nascimento Osnildo Souza Verocircnica LopesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo Grupo do Ser ou Natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

52 ndash um Canto nas Alturas Direccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Giba de OliveiraElenco Geraldo Niada Fernanda Muumlller Renata Marques Paula Igreja Vilmar Schroeder Ameacuterico Kichelli Greicy Tambosi Aline Luchtenberg Sandra Daicampi Josiane Theiss Rubia Nascimento Joseacute da Cruz Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro 1992

53 ndash Diante dos seus olhosDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto textos de Peacutepe Sedrez Maacutercia Sedrez Luis Alberto CorreiaElenco Airton Berkenbroch Arnaldo Formentin Araci Molinari Luiz Alves Marcia Gazania Marileusa Pisa Magara Casas Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro 1992Grupo Eacutethos

PALAacuteCIO DOS URUBUS

54 ndash Palaacutecio dos urubusSinopse trata-se de uma comeacutedia desenhada

sobre uma ilha fictiacutecia ldquoo paiacutes delirante das bananas do sol e do marrdquo e cujo cenaacuterio um palaacutecio eacute a metamorfose de um terriacutevel e decadente bordel A histoacuteria passa-se em tal ilha cercada de tubarotildees por todos os lados onde se vive uma episoacutedica e eletrizante aventura poliacutetica de capa-espada Em meio a conspiraccedilotildees diversas e situaccedilotildees absurdas a comeacutedia mostra de que forma pode o poder passar de matildeos sem realmente passar de matildeos ou ainda de que forma o paradoxo pode ser vital a uma manobra conjunta entre vaacuterios poderesDireccedilatildeo Giba de Oliveira Texto livre-adaptaccedilatildeo do texto de Ricardo VieiraElenco Cristiana Venera Jackson Assino Priscila de Souza Francinete Bittencourt Alesandra Tonelli Mariana da Silva Francisco Koch Gabriele Bruns Sandra da Silva Erna Packer Itamar Burmaniere James Beck Jerusa de Saacute Marineusa Goterra Mauro Ribas Maicon Rossi Nelson Souza Odete Maria Sebastiatildeo Crispim Soraia de Souza Wlademir Treiss Giba de Oliveira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 14 de dezembro de 1992Grupo Gratilde Cruz da Cornetada Nacional

1993

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO PROJETO PULSAR SIPAT E OUTROS

55 ndash Nosso Reino Por um Bom GuerreiroEstreia 24 de marccedilo de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

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56 ndash Queda LivreEstreia 31 de marccedilo de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

57 ndash Godot Espera GodotEstreia 14 de abril de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

58 ndash Aacuteguas de Cima Para BaixoDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Wilfried KrambeckElenco Carlos Crescecircncio Silvio Joseacute da Luz Pedro DiasEstreia 05 de maio de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food Cenaacuterio por Tadeu Bittencourt

No blog wwwnuteparatodoswordpresscom Peacutepe Sedrez escreve

ldquoOi gente boa Sobre a montagem de AacuteGUAS DE CIMA PRA BAIXO comeacutedia inteligentiacutessima do Wilfried Krambeck quando tive a honra de dirigir contou com os atores Carlos Crescecircncio Pedro Dias e Silvio Joseacute da Luz O cenaacuterio do Tadeu Bittencourt como cita o Wilfried em comentaacuterio acima causou mesmo grande sensaccedilatildeo na plateacuteia do Bar Percyrsquos na Alameda Rio Branco atraindo a atenccedilatildeo dos que por aquela alameda passavam O bar ficou superlotado quando as pessoas perceberam que naquela noite natildeo chovia em Blumenau exceto dentro do Percyrsquosrdquo

59 ndash Aacutelcool a Ser Dito Estreia 09 de agosto de 1993Importante Projeto SIPAT

60 ndash As Cartas MarcadasEstreia 03 de outubro de 1993

61 ndash Cuidado com o Tamanduaacute BandeiraEstreia 17 de outubro de 1993

RODA gIgANTE

62 ndash Roda GiganteSinopse a peccedila aborda a incessante e desenfreada busca da sapiecircncia universal Quem somos Para onde vamos De onde viemos Satildeo questionamentos co-muns do ser humano No enredo de A Roda Gigante um grupo de pessoas interessado na resposta desses questionamentos e guiado por um cicerone parte numa viagem maacutegica e misteriosa para descobrir isso que daacute e potildee fim agrave vida Frutos do exerciacutecio dessa viagem surgem ldquoMelusina e

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Remodinrdquo personagens de uma lenda francesa Ele eacute um simples mortal Ela uma fada amaldiccediloada pela matildee ndash toda noite de saacutebado para domingo sofre um estranho encanto Juntos Remodin e Melusina transgridem a lei do racismo Na acircnsia de saber tudo de tudo o homem dirigindo seu poder inventivo em busca do conhecimento desde a invenccedilatildeo da roda ndash sua maior descoberta ndash vagueia numa eterna viagem rumo ao desconhecido A roda guiada por esses intreacutepidos turistas torna-se gigante siacutembolo de inventividade conhecimento e desejo de evoluccedilatildeo A peccedila ambienta-se e desenvolve-se no clima ldquopsicodeacutelicordquo do filme The Magical Mistery Tour realizado pelos BeatlesDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Alexandre Venera Elenco Aacutelvaro de Andrade Cintia Gruener Patriacutecia dos Santos Ciacutecero da Silva Marcelo de Souza Marcia Olinger Marcus Andersen Viviane Cechet Adriana Sebastiatildeo Gerusa Teixeira Michelli Ferreira Maicon Rossi Ceacutesar

Rossi Silvio da Luz Alexandre FariasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 20 de junho de 1993Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Ensaio para assistir ao ensaio geral do espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=apxF3Cdpffc

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Tchello drsquoBarros no anexo Livreto Espetacular

MOSTRA DE FINAL DE CURSOPRIMEIRO SEMESTRE

63 ndash Ele eacute Assim MesmoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto livre-adaptaccedilatildeo de textos de diversos autores blumenauenses provenientes do JOTE-TitacElenco Alessandra Heiden Elias Moura Elisangela Bertoli Hugo Baumgarten Juccedilara Balzan Niraci Jr Pethra Naves Roberta Tomelin Alice Taufer Carolina Quezada Carla Thomas Cleide de Oliveira Joatildeo Rodrigues Marileacuteia Almeida Naacutedia Sais Renata Muumlller Salete da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Charanga Natildeo Batizada

64 ndash Paz Nem Que Seja Na Porrada

Foto Acervo NuTE

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ENSAIO

Direccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Pedro Mauriacutecio DiasElenco Adriana Amaro Ana Cristina Nunes Andreacuteia Oliveira Ariel Espiacutendola Cintia Huerves Fabio Schaefer Gerusa Matos Janaina Nascimento Joseacute Volkmann Liliane Jarschel Marcelo de Oliveira Patriacutecia Buumlrigo Taiacutes Dalfovo Valsir Elias Zuleica DorowForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Filhos da Meretriz

65 ndash O Poema para o MundoDireccedilatildeo Silvio da LuzTexto Nassau de SouzaElenco Viviane Cechet Ciacutecero da Silva Jerusa Teixeira Vilmar Schroeder Indira Pereira Luciana May Andreacutea dos Santos Juliana VendramiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Contra Senha do Lado do AvessoImportante trata-se de espetaacuteculo convidado para encerramento da mostra

SENHORAS E SENHORES

66 ndash Senhoras e SenhoresSinopse Senhoras e Senhores natildeo eacute apenas mais um espetaacuteculo teatral Eacute um protesto Um grito alto e forte contra o desrespeito com a nossa cultura Noacutes natildeo queremos cultura Noacutes exigimos Eacute dever do Estado incentivar as manifestaccedilotildees artiacutesticoculturais de seu povo sim senhoras e senhores Em nosso caso um povo que trabalha e bebe chopp natildeo encontra nestas senhoras e nestes senhores que ocupam

cargos oficiais o incentivo ou a motivaccedilatildeo para abrir suas mentes e coraccedilotildees para receber a tatildeo sonhada e legiacutetima cultura Malditos tiranos culturais ou ponham suas cabeccedilas no lugar ou tirem suas matildeos de nossos bolsos ou ergam suas bundas destas cadeiras Natildeo suportamos mais tamanho descaso tamanha omissatildeo Chega de engodos Abaixo a Tirania CulturalDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Giba de OliveiraElenco Marcelo Fernando de Souza Fran Bittencourt Cintia Gruener Alvaro Alves de Andrade Patriacutecia dos Santos Silvio da Luz Leacuteo Almeida Edilamar da Silva Alexandre Venera dos Santos Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 05 de dezembro de 1993Grupo Por Noacutes Natildeo Desatados e Grupo Meu GrupoImportante espetaacuteculo-protesto que teve origem no JOTE-Titac

LIvreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Peacutepe Sedrez no anexo Livreto Espetacular

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO SAIDEIRA TEATRAL) ndash SEgUNDO SEMESTRE

67 ndash Tudo Azul No hemisfeacuterio SulDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Marcos BorgesElenco Alessandra Heiden Hugo Baumgarten Niralci da Silveira Roberta Tomelin Sebastiatildeo de Souza Taiacutes Dalfovo Cintia Hueves Mauro Ribas Carlos Crescecircncio Silvio da Luz Juccedilara Balzan

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro 1993Grupo Nuacute Anonimato

68 ndash O Ciacuterculo de Giz CaucasianoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Bertold BrechtElenco Ana Cristina Nunes Paula Igreja Priscila de Souza Patricia Buacuterigo Joseacute Volkmann Volmar Schroeder Luciana May Cristiana Venera Nelson de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro 1993Grupo Grupo AH

69 ndash Quanto Riso Oh Quanta AlegriaDireccedilatildeo Marcelo F de SouzaTexto Marcelo F de SouzaElenco Ana Paula Girardi Sylvia Penkhun Adriana Gotzinger Eduardo Reiter Daniele Machado Emanoelle da Cunha Cristina Scheefer Karina Muumlller Susan Kotmann Elisaura da Silva Fabiana Goll Raquel Rodrigues Ana Priscila Benitez Faacutebio Marciacutelio Ingon Erdmann Rafael de Almeida Keila Peixer Claudia Feacutelix Regiane Ferreira Ticiane Menschein Karina Shmitt Fabyana Raulino Samira TschoekeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1993Grupo Cuspiu Eu Tocirc Anotando

70 ndash A Entradeira (Soacute) no ParaiacutesoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Giba de Oliveira Wilfried Krambeck e Umberto BoccioniElenco Afonso Carneiro Fabiano Schlosser

Luacutecia Siqueira Sylvia Nunes Valdecir Correia Nelson de Souza Fernanda da Silva Gabriela Socircnego Marelise Koepsel Valeacuteria Santana Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo Demo(niacutecio) Nisso

71 ndash Menino DeusDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Silvana Costa Elenco Fabiana Goll Vilmar Schroeder Juacutelia da Silva Luiacuteza da Silva Carolina Accetta Deacutebora Rossi Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo QD FamaImportante espetaacuteculo convidado para encerramento da mostra

72 ndash ClownsElenco Maicon Rossi Mauro Ribas Nelson de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo Os Clowns do NuTEImportante Espetaacuteculo convidado para encerramento da Mostra

73 ndash Abra As Asas Somos NoacutesDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Peacutepe SedrezElenco Fernando Lopes Felipe Steinert Thiago Meireles Carl Johann Blosfeld Nina Liesenberg Jamyle Krueger Katrin Gruumltzmacher Roni Lana Mareike Valentin Raquel Weiss Betina Riffel Karina Steinert Camila Pedrini Thaiacutes Meireles Manoela Blodorn Barbara Beskow

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1993Grupo Abre a cortina que eu quero entrarImportante primeira turma NuTE no municiacutepio de Pomerode

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MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO 3 PECcedilAS 2 TIRO 5 POtildeE) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

74 ndash A histoacuteria do Manuel

75 ndash A EstaccedilatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Marcia SedrezElenco Janaina Nascimento Juliano Theis Roberta Tomelin Sebastiatildeo de Souza Sylvia PenkunForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

76 ndash Godot Espera Godot amp O Monoacutelogo da DesesperadaDireccedilatildeo Maicon RossiTexto Tania Rodrigues e Nira da SilveiraElenco Alessandra Heiden Fabiana Goll Faacutebio Schaefer Joseacute Volkman Karina Muumlller Nira Silveira Samira Tschoeke Sebastiatildeo Souza Vilmar Schroeder Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

77 ndash O BecircbadoDireccedilatildeo Maicon RossiElenco Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

Estreia 22 de maio de 1994Grupo Grupo dos ClownsImportante nuacutemero de clown

78 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Alice Taufer Fernanda da Silva Janice Vasselai Nelson Souza Sidneacuteia KoppForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO O TEATRO) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

79 ndash No SupermercadoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

80 ndash No AccedilougueDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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Estreia 11 de agosto de 199481 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

82 ndash uma espeacutecie de aulaDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

83 ndash A Cena de GildaDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo

Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

84 ndash As Rosas Morrem em Agosto amp um Canto nas AlturasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

85 ndash A Confissatildeo ou a ConfusatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

86 ndash O Farwest que natildeo enxergamosDireccedilatildeo Carlos Crescecircncio

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Texto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO PROJETO PECcedilAS BREVES E gOSTOSAS

87 ndash CinderellaDireccedilatildeo Maicon RossiTexto adaptaccedilatildeo de Tatiana BelinskiElenco Antonio Fernandes Caroline Fernandes Arabutan Santos Gisele BucherForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

88 ndash Pega FogoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Jules RenardElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

89 ndash um Caso Assombroso

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo KosovskiElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

90 ndash O Dr RoballoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Irmatildeos MarxElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

91 ndash ReveillonDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo KosovskiElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

92 ndash Na Noite de TerccedilaDireccedilatildeo Mariana da SilvaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Mocircnica da Costa Rudimar Labes Samira Tomio Marlos Vasselai Nilson Ferreira Sebastiatildeo de Souza Liana Guedes Adriana Mette Gerusa Simatildeo Edeacutesio da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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Estreia 20 de dezembro de 199493 ndash Visatildeo razatildeo emoccedilatildeo qual a soluccedilatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Krislei Deschler Josy Mayer Taiacutesa Bugmann Karin Fiedler Rosana Quintino Lidiane Wilwert Katrin Osti Tatiane Pereira Tamara Georgi Anahi Ibars Deborah Schroeder Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 20 de dezembro de 1994

94 ndash Dia de FestaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alexandre VeneraElenco Pablina Soeth Roberta Tomelin Sylvia Penkhun Ana Carolina Leite Jeane Rimes Luise Bucher Sabina Klug Caroline Sporrer Mauro Ribas Rafael Ruzinski Osnildo de Souza Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 20 de dezembro de 1994

CARNAUacuteBA

95 ndash CarnauacutebaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Binho Shaefer Joseacute Volkmann Vini Schroeder Maicon Rossi Bia Goll Janice Pezzotti Grupo Grupo Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Durante as discussotildees do Segundo Ensaio no blog wwwnuteparatodoswordpresscom aconteceu um interessante diaacutelogo sobre este espetaacuteculo

Desnomeado dizGrande WilfriedEndosso assinando embaixo na linha em que escrevo meu nome (nome acaso ldquonirardquo eacute nome) Principalmente no que diz respeito ao ex-multimetido-mor ou seja euMas quero lembrar tambeacutem de um grupo de apaixonados que infelizmente durou pouco em 1994 o grupo principal do Nute (GFLTampP-C) era formado por alguns jovens arrojados que encenaram apenas dois espetaacuteculos sob a batuta e tutela (batutela) do nosso Alex Stein Um desses espetaacuteculos natildeo chegou a ser levado a puacuteblico apenas foi filmado um ensaio geral filmagem esta perdida (acredito) A peccedila era ldquoCarnauacutebardquo (texto Gibanceira) e faziam parte no elenco Binho Schaefer Zeacute Volkmann Vini Schroeder Maicon Rossi Bia Goll Janice Pezzotti na sonoplastia ao vivo Fernando Alex e este escriba alucinado pela realidade espaccedilo-atemporal ou tempo-inespacial Infelizmente pouca gente viu esse legiacutetimo produto da mente experimentalista de AVS Quando tu falaste em ldquopaixatildeordquo amigo lembrei de cara desse exemploParte desse grupo acrescido de alunos e convidados especiais de outras cidades encenaria logo em seguida o auto de natal ldquomorte e vida severinardquo espetaacuteculo que natildeo teve um deacutecimo da energia criativa de ldquoCarnauacutebardquo Terminado o ano desfez-se o grupo e terminava ali um capiacutetulo ligeiro (liseacutergico) e obscuro mas muito significativo capiacutetulo da Histoacuteria desse monstro que tantos ajudaram a criarAbraccedilosAquele que ateacute ontem se chamava nira niralci qualquer coisa

Eacutedio Raniere comentaSalve Nira-Niralci Desnomeadofiquei bem curioso sobre essa montagem natildeo tenho nenhum documento sobre ela Estou exatamente trabalhando num capiacutetulo sobre os espetaacuteculos Poderias contar um pouco melhor com mais

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detalhes qual era a proposta e o que aconceteuabccedilsEacutedio

Desnomeado respondeRELATO DA MONTAGEM DE CARNAUacuteBA texto de Giba de Oliveira direccedilatildeo de Alexandre Venera filmada em 05 de novembro de 1994A cena passava-se dentro de uma caverna onde viviam o Irmatildeo Fogo o Irmatildeo Terra e o Irmatildeo Aacutegua ndash fanaacuteticos bestiais que na montagem lembravam um pouco os personagens de ldquoO Massacre da Serra Eleacutetricardquo de 1974 Seus objetivos comer carne humana A certo ponto eles conseguem raptar uma moccedila e estripam suas viacutesceras O enredo eacute curto e simples essa sinopse foi feita mentalmente para mais detalhes ler texto originalA montagem o espetaacuteculo natildeo tinha cenaacuterio A iluminaccedilatildeo natildeo era nem um pouco tradicional dois contra-regras seguravam os refletores nas matildeos seguindo os atores como se algueacutem os iluminasse com uma lanterna A sonoplastia era tribal feita com peccedilas de percussatildeo e latotildees O cacircmera VHS tentou acompanhar isso tudo A fita foi enviada para o Festival Catarinense de Teatro o juacuteri natildeo nos classificou pela precariedade do registro mas declarou para AVS que ficou extremamente curioso e intrigado com a filmagem No geral a peccedila assemelhava-se a um filme de terror psicoloacutegico vanguardista Na minha opiniatildeo foi a experiecircncia Nute mais radical depois do Apocalypsys Se natildeo me engano foi a uacutenica montagem deste texto feita ateacute hoje ndash o que significa que ele nunca foi levado a puacuteblico(natildeo estou certo quanto a este uacuteltimo dado pode ser confirmado pelo Giba)

MORTE E VIDA SEVERINA

96 ndash Morte e Vida SeverinaSinopse vivemos num universo atribulado cheio de nuances de espectros complexos O ser humano busca uma saiacuteda para a liberdade

seguranccedila paz fraternidade para o equiliacutebrio e o amor Apesar de toda a confusatildeo que nos cerca sabemos que buscamos uma vida plena e digna A viagem do retirante Severino do sertatildeo pernambucano ateacute os mangues do Recife nos oferece uma ampla oportunidade para refletirmos sobre o nascimento e a peregrinaccedilatildeo do grande mestre Jesus Cristo O nascimento da vida Severina nos mangues formados pelo rio Capibari e a aacutegua do oceano nos enche de esperanccedila e confianccedila num mundo melhor Oxalaacute consigamos erradicar a SEVERINIDADE neste paiacutes Trabalhamos e lutamos para isto para que tenhamos um mundo justo e unido em torno de uma grande meta a vida com dignidade

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Joatildeo Cabral de Melo NetoElenco Tarciacutesio Feller Giba de Oliveira Mariana da Silva Claus Jensen Carlos Crescecircncio Janice Pezzoti Bia Brehmer Sebastiatildeo Crispim Jenifer Pezzoti Gisele Marciacutelio Socircnia Michelon Pablina Soeth Mauro Ribas Nira Silveira Andreacute de Souza Fernando Alex Faacutebio Schaefer Beto Terra Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreacuteia 20 de dezembro de 1994Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques

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O MENSTRUADO OU A DUacuteVIDA DE HELIOgAacuteBALO

97 ndash O Menstruado ou a duacutevida de heliogaacutebaloDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Carlos CrescecircncioElenco Samira Tomio Simone Passold Sebastiatildeo de Souza Liana Guedes Janice Pezzoti Rudimar Labes Monica Costa Carla Behringer Andrea Vieira Mauro Ribas Jerusa Simatildeo Lidiane Wilwert Nilson Ferreira Robson Rosseto Jenifer Pezzoti Faacutebio Schaefer Gisele Marciacutelio Carlos Crescecircncio Marlos Vasselai Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 18 de marccedilo de 1995Grupo (CO) INCIDENTES

MOSTRA DE FINAL DE CURSO ndash PRIMEIRO SEMESTRE

98 ndash As Trapalhadas de xalaminDireccedilatildeo Janice PezzotiTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Gabriela Maluf Gustavo Alves Nadja Tiellet Rafael Steinbach Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

99 ndash uma Famiacutelia Bem unidaDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Jacques PreacutevertElenco Andreacute Manske Joatildeo Aguiar Juliana

de Souza Karina Vieira Maria Fernanda Beduschi Rafael de Almeida Roberto Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

100 ndash um Canto nas AlturasDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Giba de OliveiraElenco Aline Santos Patriacutecia Schwartz Rafael de Almeida Selena Paris Juliana Vendrami Beatriz Vigeta Pollyana Silva Renata Rodrigues Silvana MuumlllerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

101 ndash Os Cegos agraves CegasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto livre-adaptaccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sobre o texto ldquoOs Cegosrdquo de Michel Ghelderode Elenco Richard Huewes Sheilla Santos Sebastiatildeo Crispim Patriacutecia Cabral Marizete Slomp Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

O PODEROSO SAPAtildeO 102 ndash O Poderoso SapatildeoSinopse o Poderoso Sapatildeo narra a saga de um sapo que resolve se casar com uma princesa e ao contraacuterio do que se pode prever tem um final surpreendente bem diferente dos contos de fadas Com inuacutemeras cenas engraccediladas e situaccedilotildees divertidas foram criadas para o espetaacuteculo vaacuterias possibilidades de participaccedilatildeo do puacuteblico Outro aspecto interessante eacute a utilizaccedilatildeo de efeitos de sonoplastia e dublagem ao vivo dos atores

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Eacute essa mistura de efeitos e dublagem aliados agraves teacutecnicas de pantomima e clown que datildeo ao espetaacuteculo um ritmo de show divertido e interativo dirigido a crianccedilas jovens e adultosDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 07 de outubro de 1995Grupo Teatro-Show Clowns Mimos e Cia

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO FESTIVAL NuTE MOSTRA TUDO DE TEATRO

103 ndash Pequenas grandes peccedilas em um atoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

104 ndash A Condessa KatllenDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto William Butler YetsElenco Katiuscia Cordeiro Ana Carolina Leite Osnildo de Souza Krislei Oeschler Juliana Vendrami Taiacutesa Bogman Sebastiatildeo Crispim Rafael Ruzinski Pollyana da Silva Roberto da

Silva Mauro Cesar Ribas Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

105 ndash ColomboDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Michel GuelderodeElenco Robson Rosseto Samira Tomio Sebastian Vieira Rudimar Labes Andreacuteia Vieira Liana Guedes Mocircnica Costa Carla Behringer Jerusa Simatildeo Richard HuewesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO AS PECcedilAS) ndash SEgUNDO SEMESTRE

106 ndash jingle para o NatalDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Giba de OliveiraElenco Patriacutecia Venturini Eliana Kuhnen Renata Muumlller Rafael Steinbach Gabriela MalufForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

107 ndash O Teatro das MaravilhasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Miguel de CervantesElenco Adrian Marchi Ana Lygia Bacca Sebastiatildeo Crispim Mariane Ortlieb Tailann Tutunnyk Camila Cordeiro Kalinka Maronez Ana Lara Cim Mayara Damas Carlos Wovst Maria Luiza LapoliForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

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108 ndash Anjo NegroDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Nelson RodriguesElenco Patriacutecia Schwartz Denis Inaacutecio Rafael de Almeida Maria Fernanda Beduschi Pollyana da Silva Jerusa Simatildeo Renata Rodrigues Juliana Vendrami Marisa Calissi Mocircnica Costa Samira TomioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

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MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO OacuteI gENTE) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

109 ndash O Mau NecessaacuterioDireccedilatildeo Mocircnica CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Aline Ferreira Cintia Gals Osnildo de Souza Jenifer Pezotti Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

110 ndash Pai e Filho a Respeito da GuerraDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

111 ndash Na Loja de ChapeacuteusDireccedilatildeo Carlos Crescecircncio

Texto Karl ValentinElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

112 ndash Robalo Robalinho e Matildeo de Vaca AdevogadosDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Irmatildeos MarxElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

113 ndash Vida e FicccedilatildeoDireccedilatildeo Jaime Gonzaacuteles EncinaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Angela Ferrari Daniela Ulrich Esther Santana Joaquim Farias Bianca Peixoto Andressa Pinto Lenita Siegel Luciana Tridapali Maria Lucia Marquez Sandra da Silva Priscila Cordova Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

114 ndash A Festa Minha Filha e EuDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Groucho MarxElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio Couto

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

115 ndash O Pai decideDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto adaptaccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sobre texto de Sempeacute e GoscinnyElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

116 ndash Famiacutelia FelizDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

117 ndash Ida ao TeatroDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO 3 VIDAS) ndash SEgUNDO SEMESTRE

118 ndash O SuiciacutedioDireccedilatildeo Luciano CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Peter Alan Ramos Jonas Buch Denise de Almeida Daiane Saut Priscila Mafezzoli Sabrina de MouraEstreia 22 de dezembro de 1996Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

119 ndash Aids um caminho sem voltaDireccedilatildeo Luciano CostaTexto Luciano CostaElenco Cristiane Bonfim Denise de Almeida Alexandre Fernandes Carolina de Farias Joatildeo ZimmermanForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de dezembro de 1996Grupo Grupo Banco de Praccedila

120 ndash Aquele que diz sim e aquele que diz natildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Bertold BrechtElenco Mariane Quinto Diego Noghrbon Geferson da Silva Sabrina de Moura Priscila MafezzoliForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de dezembro de 1996

O CASAMENTO DOS PEQUENOS

121 ndash O Casamento dos PequenosSinopse O Casamento dos Pequenos Burgueses eacute uma farsa desenfreada escrita num tom

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TERCEIRO

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realista conduzindo quase ao absurdo A peccedila mostra uma festa de casamento O noivo elogia os moacuteveis que ele mesmo construiu Os convidados discutem Pouco a pouco o ambiente fica pesado e a verdade se revela aleacutem das aparecircncias a noiva estaacute graacutevida o noivo desconfia de sua fidelidade os moacuteveis se despedaccedilam o cenaacuterio se destroacutei No final reina certa paz Os dois estatildeo finalmente soacutes A luz se apaga ouve-se um forte barulho a cama se desmorona O texto tem violecircncia e sarcasmo na anaacutelise moral da eacutepoca O deboche ciacutenico e feroz eacute a arma usada por Brecht Valores eacuteticos de uma sociedade satildeo colocados em questatildeo de forma criacutetica (texto extraiacutedo do programa do espetaacuteculo informando a seguinte referecircncia Brecht ndash Vida e Obra Peixoto Ed Paz e Terra 1974)Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo sobre o texto O Casamento dos Pequenos Burgueses de Bertold BrechtElenco Carlos Crescecircncio Richard Huewes Carlos Wovst Luciano Costa Andreacuteia Vieira Sebastiatildeo Crispim Juliana Vendrami Luciana Tridapalli e Grupo de Clowns Mimos e Cia Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 09 de novembro de 1996

Grupo Grupo de Clowns Mimos e CiaImportante apresentaccedilatildeo de estreia no siacutetio Fazendarado

1997MOSTRA DE FINAL DE CURSO

PRIMEIRO SEMESTRE

122 ndash A RaizDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alcione ArauacutejoElenco Susana Rossi Keila RossiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997

123 ndash Garotos de RuaDireccedilatildeo Luciano CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Janaina Meneghel Ana Luisa Kobuszewski Grassi Russi Carlos PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997

124 ndash Cenas de um AcampamentoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alexandre VeneraElenco Mauro Ribas Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997Grupo Grupo de Clowns Mimos e Cia

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SEgUNDA MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

125 ndash PeruachoDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba de OliveiraTexto Bernadete da SilvaElenco Viviane Teixeira Jussara Hobus Julice da Rosa Fernando Bonatti Sabrina de MouraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

126 ndash EleonoraDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Nassau de SouzaElenco Elise Kluge Juliana Teodoro Vera Tafner Patricia Cipriani Vacircnia Tafner Mireile Gomes Marina MedeirosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

127 ndash Robalo Robalinho e Matildeo de Vaca AdevogadosDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Irmatildeos MarxElenco Janaina Meneghel Gabriela Kuehn Carlos Pereira Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997Importante espetaacuteculo jaacute encenado em 1996 sob direccedilatildeo de Carlos Crescecircncio e com outro elenco

128 ndash Cruzadas do Diabo na Terra de BabelDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Nassau de SouzaElenco Roberta Regis Carolina de Faria

Juliana Morais Charles Ewald Juliana Meneghel Gabriela KuehnForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

129 ndash um Restaurante A de OacutetimoDireccedilatildeo Giba de Oliveira e Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Julice da Rosa Jussara Hobus Fernando Bonatti Viviane TeixeiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

130 ndash Timipim do TupiniquimDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Patricia Cipriani Fabiana Fernandes Juliana Teodoro Marina Medeiros Alessandra Benvenuti Charlene Leber Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (TRIBUTO A NEI LEITE) ndash SEgUNDO SEMESTRE

131 ndash NusDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Wilfried KrambeckElenco Julice da Rosa Fernando Bonatti Silvana Silva Flaacutevia Rodrigues Mauro C RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

132 ndash uma luz na escuridatildeoDireccedilatildeo Giba de Oliveira

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TERCEIRO

ENSAIO

Texto Erli Rosi FonsecaElenco Sheila Maccedilaneiro Fabiana Ribas Katia Morais Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

133 ndash O Afogado Afunda LentamenteDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Shirlei Marcelino Amanda Trentini Roberta de Gasperin Anice Tufaile Juliana Von CzekusForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

134 ndash A Preguiccedila na Visatildeo de um EspecialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Odebrecht Elenco Roberta Regis Juliana Teodoro Patricia Cipriani Alessandra Benvenuti Vera Tafner Vacircnia TafnerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997Importante espetaacuteculo jaacute encenado em 1994 sob mesma direccedilatildeo mas com elenco diferente

135ndash O Sentido da Vida Segundo Aluisio e MiguelitoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Nira SilveiraElenco Ceigler Marques Carla Ramos Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

136 ndash A Confissatildeo ou a ConfusatildeoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Maacutercia SedrezElenco Ceigler Marques Carla Ramos Katia Morais Fabiana Ribas Gisele Oliveira Leonel CamposForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

137 ndash NatalDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Horaacutecio Braum JrElenco Anice Tufaile Tatiana dos Santos Roberta de Gasperi Amanda Trentini Juliana Von Czekus Shirlei MarcelinoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

138 ndash Natal MaluquinhoDireccedilatildeo Polianna Silva e Andreacuteia dos SantosTexto Giba de OliveiraElenco Munick Bonassa Polli Tiago Bonfanti Fabricio Batista Janaina Meneghel Gabriela Kuehn Carlos PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

JATO DE AMOR

139 ndash jato de AmorSinopse Jato de Amor conta as accedilotildees do ser enamorado a busca do par a manutenccedilatildeo do par a sua unificaccedilatildeo Satildeo histoacuterias de amores desenhadas sobre os gestos dos apaixonados captando na accedilatildeo figuras de suas des(a)venturas Jato de Amor eacute para ser visto como Teatro Imagem um caleidoscoacutepio visual e

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TERCEIRO

ENSAIO

sonoro em que a palavra fica quase desvinculada agrave accedilatildeo nas cenas As personagens quase decalques dos ritos de amor transfiguram-se entre o real e o imaginaacuterio subvertendo-se nos amores ldquonovordquo ldquovelhordquo ldquovendidordquo e ldquotriangularrdquo Por tratar-se de imagens o desempenho cecircnico ndash geralmente norteado em accedilotildees coreograacuteficas ndash assume entretanto um sentido ginaacutestico Como enredo o roteiro das cenas adapta para o palco citaccedilotildees trechos e frases de diversos autores (poemas de Jacques Preacutevert e Antonin Artaud Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes) aleacutem de experiecircncias pessoais (do elenco colaboradores amigos) e de intuiccedilotildeesDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre o texto Jato de Sangue de Antonin ArtaudElenco Giba de Oliveira Poli Vendrami Carlos Crescecircncio Sabrina de Moura Leonel Campos Ivan Aacutelvaro Cris Muumlller Jerusa Simatildeo Rafael de Almeida Wladimir Treiss

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 21 de novembro de 1997Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Clipe para assistir ao clipe elaborado quando do lanccedilamento do espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=Z_wfitlUs1kampfeature=related

Ensaio para assistir ao Ensaio Geral do Espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=Vbb7IyWHdRQ

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Giba de Oliveira no anexo Livreto Espetacular

1998

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

140 ndash um Convento Muito LoucoDireccedilatildeo Mocircnica CostaTexto Ana C Voltolini e Ana Julia MarchiElenco Ana Paula Glasenapp Baacuterbara Schmitt Jamile Assini Juliana Medeiros Monique Becker Mayla Voss Patriacutecia GlasenappForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

141 ndash O Poeta SolitaacuterioTexto Douglas ZuninoElenco Carlos Eduardo PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

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TERCEIRO

ENSAIO

142 ndash FimDireccedilatildeo Arno Alcacircntara JrTexto Arno Paulo TarciacutesioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

143 ndash Programa Piloto Especial TV CapivarasDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba de OliveiraElenco Amanda Trentini Anice Tufaile Carlos Crescecircncio Carlos Pereira Flaacutevia Rodrigues Gabriela Kuhen Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Jamile Meneghel Janaina Meneghel Leonel Campos Poacuteli Vendrami Pollyanna Silva Rafael Almeida Roberta Regis Sebastiatildeo Crispim Shirlei Marcelino Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 24 de agosto de 1998

144 ndash Acrobacias ndash Duo AcrobaacuteticoDireccedilatildeo Mocircnica CostaElenco Afonso de Souza Alessandra Teodoro Faacutebio Cardoso Giseli Prada Luana Mocircnica Costa Soacutecrates Rufatto William Oliveira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 24 de agosto de 1998Grupo Grupo Acrobaacutetico Livres Leves e Loucos

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO PUXA BRASAS SABEMOS QUE

ESTAtildeO AIacute) ndash SEgUNDO SEMESTRE

145 ndash Na Loja de ChapeacuteusDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl Valentin

Elenco Carolina Andreoli Joatildeo Felipe BuergerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1996 sob mesma direccedilatildeo mas com elenco diferente

146 ndash EleonoraDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Nassau de SouzaElenco Talira dos Santos Sarah Beduschi Afonso de Souza Leandro Cunha Rocha Alexandre Jung Silvana CadoriForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e com elenco diferente A diretora desta montagem compotildee o elenco de 1997

147 ndash A Confissatildeo OuDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Maacutercia SedrezElenco Eloisa Borges Alexander Franzmann Joatildeo BuergerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Giba de Oliveira e com elenco diferente

148 ndash NusDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Wilfried KrambeckElenco Soacutecrates Ruffato Daniela Vogel Juceacutelia Deluca Tatiane ScozForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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TERCEIRO

ENSAIO

Estreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Giba de Oliveira com elenco diferente

149 ndash PeruachoDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Bernardete da SilvaElenco Leandro Cunha Rocha Adriana Krieck Alexandre Jung Micheli Dias Ana Paula ZuckiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e Giba de Oliveira com elenco diferente

150 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Giba de OliveiraElenco Silvana Becker Rita de Caacutessia Lopes Cristina Torri Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1994 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e com elenco diferente

O AMOR DE DOM PERLIMPLIM POR BELISSA EM SEU JARDIM

151 ndash O Amor de Dom Perlimplim por Belissa em seu jardimDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Frederico Garcia LorcaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mental

O CIO DAS FERAS

152 ndash O Cio das FerasSinopse montagem dramaacute-tico-musical e audiovisual (VT slides projeccedilotildees de 8 e 16 miliacutemetros) sobre poemas acompanhada de muacutesica ao vivo e apresentada em espaccedilo alternativo (semiarena) U m a homenagem aos dez anos do lanccedilamento do livro Poetas Independentes de Blumenau e O Fel do Cio de Rosane Magaly MartinsDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre os livros O Fel do Cio de Rosane Magaly Martins e Poetas Independentes antologia da Associaccedilatildeo de Poetas Independentes de Blumenau Elenco Anice Tufaile Mariane Quinto Sebastiatildeo Crispim Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Carlos Crescecircncio Carlos Pereira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de dezembro de 1998Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Apresentaccedilatildeo Fenatib para assistir agrave apresentaccedilatildeo do espetaacuteculo no Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau acesse o endereccedilowwwyoutubecomwatchv=s8oMh-G7nk4

Apresentaccedilatildeo Curupira para assistir agrave apresentaccedilatildeo do espetaacuteculo no Festival de Bandas Undergraud do Curupira acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=TrNOpr__aVU

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Afonso Nilson no anexo Livreto Espetacular

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ENSAIO1999

O RITUAL DE OFERENDAS

153 ndash O Ritual de OferendasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Joatildeo amp Insone PessoaElenco Sebastiatildeo Crispim Juliana Teodoro Afonso de Souza Anice Tufaile Juliana Von Czekus Janaina Meneghel Tamara Beims GuantildeabensForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaGrupo (CO)INCIDENTES

TEATRO DA TERRA

154 ndash O Camaleatildeo da Mata ndash A LendaDireccedilatildeo Alexandre Venera e Tadeu BittencourtTexto baseado em um argumento de Alexandre Venera e Tadeu BittercourtElenco Carlos Crescecircncio Juliana Teodoro Juliana Von Czekus Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 06 de Marccedilo de 1999Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesImportante esse espetaacuteculo faz parte do projeto Teatro da Terra apresentaccedilotildees que aconteciam no siacutetio Fazendarado dentro da mata

155 ndash Metafiacutesica de Caeiro ndash O VooDireccedilatildeo Alexandre Venera Texto argumento de Alexandre Venera e Daniel Curtipassi sobre poemas de Fernando PessoaElenco Carlos Crescecircncio Juliana Teodoro Juliana Von Czekus Afonso Barbosa Sebastiatildeo

Crispim e Adriana KrieckForccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 07 de agosto de 1999Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesImportante esse espetaacuteculo faz parte do projeto Teatro da Terra apresentaccedilotildees que aconteciam no siacutetio Fazendarado dentro da mata

Apresentaccedilatildeo para assistir agrave apresentaccedilatildeo deste espetaacuteculo acesse o endereccedilohttpyoutubeDdDXLwIWP3Y

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Luciano Bugmann no anexo Livreto Espetacular

A MORTA

156 ndash A MortaSinopse A Morta narra a busca de um poeta por sua musa inspiradora ateacute os confins aleacutem morte A Morta eacute um dos mais eloquentes manifestos modernistas contra as convenccedilotildeessociais impostas pela religiatildeo a moral a burguesia e que se torna um grande instigador agrave manifestaccedilatildeo artiacutestica puraDireccedilatildeo Alexandre Venera

As fotos deste espetaacute-culo foram gentilmente cedidas ao projeto pela fotoacutegrafa Maria Emiacutelia da Silva

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TERCEIRO

ENSAIO

Texto Oswald de AndradeElenco Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Carlos Crescecircncio Sebastiatildeo Crispim Afonso de Souza Analice Tufaile Janaina Meneghel Tamara Beims Guantildeabens Carlos Pereira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 28 de setembro de 1999Grupo Grupo de Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para ChoquesImportante uacuteltimo espetaacuteculo do Grupo de Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesLivreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Juliana Teodoro no anexo Livreto Espetacular

2000

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

157 ndash Restaurante MercenaacuterioDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Silvio Volpato Maicon Berg Crislene Caetano Juceacutelio Pandini Aritana Froeschlin Luiz Garcia Soares Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

158 ndash um Quarto de CasalDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Maacutercio Pereira CoutoElenco Luiz Garcia Soares Viviane de Cassio Luciana Fistarol Juliano BittencourtForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

159 ndash Bye Bye ParaiacutesoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Nassau de SouzaElenco Janete Nogueira Joseacute Luiz Cujik Joice Daiana Leite Susi da Silva Eloiacutesa Borges Priscila BarbieriForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

160 ndash Bicharada do BarrilDireccedilatildeo Alexandre Venera Texto Wilfried KrambeckElenco Luiz Garcia Soares Aritana Froeschlin Crislene Caetano Silvio Volpato Maicon Berg Juceacutelio PandiniForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000Importante texto jaacute encenado em 1991

161 ndash Vaca AmarelaDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto adaptaccedilatildeo do grupo sobre texto de autor desconhecidoElenco Marcia Schnaider Marciel Sabel Viviane Catarina Manoela Machado Fabriacutecia Hafermann Luciana Juliano Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

162 ndash O Uacuteltimo Seraacute o PrimeiroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Silvio VolpatoElenco Crislene Caetano Silvio Volpato Juceacutelio Pandini Aritana Froeschlin Luiz Garcia Soares Maicon BergForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

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ENSAIO

163 ndash Morreu deDireccedilatildeo Ariane RegisTexto Ariane RegisElenco Ricardo Koehler Ariane Regis Patriacutecia CenziForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

164 ndash O Medo que CalaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alessandra RosaElenco Alessandra Rosa Suzana Soares Elton Girelli Tiago Freitas Cintia Viventi Gabriela Koehler Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

165 ndash Pigmaleatildeo e GalateaDireccedilatildeo Mauro Ribas NetoTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera Elenco Patriacutecia Cenzi Gabriela Koehler Ricardo Koehler Luiz Garcia Soares Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000Grupo Grupo de Clowns Mimos e Cia

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

166 ndash O Livro ProibidoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Carlos CrescecircncioElenco Caroline Selhorst Jenifer Fischer Shawn Nicolai Bernardo Azevedo Marcos Sebastiatildeo Crispim

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

167 ndash O Porco e o Morto de FomeDireccedilatildeo Mauro Ribas NetoTexto Fabiano SchlosserElenco Silvio VolpatoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000Grupo Grupo Clowns Mimos e Cia

168 ndash Concerto de OrquestraDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Danuacutebia Pereira Sonia Nogara Daniela de Oliveira Ceacutelia Cleacuterice Gabriela Caminha Sebastiatildeo Crispim Tiago FreitasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

169 ndash O Mendigo ou o Catildeo MortoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Bertold BrechtElenco Janete Nogueira Ricardo Koehler Susana Stein Paulino Junior Gabriela KoehlerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000Importante texto jaacute encenado em 1986 dentro do espetaacuteculo Classe Glacecirc sob direccedilatildeo de Alexandre Venera com outro elenco

170 ndash Guernica em BlumenauDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de texto de Fernando ArrabalElenco Gabriela Koehler Joice Daiana Leite Joseacute Luiz Cujik Priscila Barbieri Tiago Freitas

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ENSAIO

Juliana RodriguesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

171 ndash O Califa da Rua do SabatildeoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Artur AzevedoElenco Silvio Volpato Juceacutelio Pandini Crislene Caetano Aritana Froeschlin Alexandra Batisti Patriacutecia LenziForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

2001Natildeo houve montagens

2002

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

172 ndash A SituaccedilatildeoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Luiacutes Fernando VeriacutessimoElenco Adriana Dellagiustina Rodrigo DemeacutetrioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

173 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Patriacutecia Mara Martins Silvio Mara Jacinto Solange WesmuthForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

Estreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 e em 1997 sob mesma direccedilatildeo mas com elencos diferentes

174 ndash PeruachoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Bernadete da SilvaElenco Ester Cunha Rodrigo Demeacutetrio Adriana Dellagiustina Elias Lana Paulo VasconcelosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1997 com direccedilatildeo de Alexandre Venera e Giba de Oliveira e em 1998 com direccedilatildeo de Juliana Teodoro as trecircs montagens possuem elencos diferentes

175 ndash A galinha que chocava pedrasDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Hermes Altemani e Nery GomideElenco Solange Wasmuth Patriacutecia Mara Martins Silvia Mara Jacinto Sebastiatildeo Crispim Mauro Ribas NetoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

176 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Ester Cunha Rodrigo Demeacutetrio Elias Lana Adriana Dellagiustina Paulo VasconcelosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 com direccedilatildeo de Alexandre Venera e em 1998 com direccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sempre com elencos diferentes

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TERCEIRO

ENSAIO

177 ndash Nosso Reino por um Bom GuerreiroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Solange Wasmuth Mauro Ribas Neto Patriacutecia Mara Martins Silvia Mara Jacinto Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

178 ndash NusDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Wilfried KrambeckElenco Adriana Dellagiustina Elias Lana Ester Cunha Paulo Vasconcelos Rodrigo DemeacutetrioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1997 com direccedilatildeo de Giba de Oliveira e em 1998 com direccedilatildeo de Juliana Teodoro sempre com elencos diferentes

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

179 ndash A Exceccedilatildeo e a LendaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Andreacuteia de Souza Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

180 ndash DelicadezaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Kosowky e Dino BuzzatiElenco Dilma da Silva Flavia Faustino

Joaquim Wolff Bruna RudolphoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

181 ndash Camaradas MeacutedicosDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Andreia de Souza Pamela Cacircndido Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

182 ndash EquivalecircnciaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Kosowky e Dino BuzzatiElenco Flavia Faustino Joaquim Wolff Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

183 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Hannah Theis Amanda Mendes Pamela Cacircndido Angela Otto Bruna RudolphoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 em 1997 e em 2002 sob mesma direccedilatildeo mas com elencos diferentes

184 ndash Melhor natildeo tecirc-los masDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Janice PezottiElenco Simone Tambosi Sebastiatildeo Crispim Angela Otto

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TERCEIRO

ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

185 ndash No Bar da ZuleicaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletiva sobre textos de Pedro DiasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

Estupefatos os atores balanccedilam a cabeccedila esfregam os olhos voltam ao cronograma Alguns durante a leitura emitem fortes gargalhadas outros se lamentam Por fim o mais corajoso dentre eles resolve arriscar

ndash Desses 185 espetaacuteculos quantos realmente satildeo do NuTE e quantos satildeo montagens do JOTE-Titac

ndash Todos sem exceccedilatildeo foram montados pelo NuTE Optei em natildeo misturar espetaacuteculos NuTE com espetaacuteculos JOTE-Titac

ndash Vocecirc quer dizer que aleacutem dessas 185 montagens ainda existem as peccedilas do JOTE-Titac

ndash Exatamente

Frenesi exclamaccedilotildees descontinuas risos e salivas explodem no ar

ndash Mas isso eacute impossiacutevel Se o grupo durou 18 anos eles teriam que montar uma meacutedia de dez espetaacuteculos por ano para atingir esse nuacutemero alucinante Deve haver algum erro

ndash Olha tem aqui vaacuterios textos ndash Bicharada do Barril Nus Funesta Noite Senhoras e Senhores Nosso Reino Por um Bom Guerreiro entre tantos outros ndash que foram escritos para o JOTE-Titac aparecem no livro Jogos de Teatro 12 anos de Teatro em Blumenau Vocecirc deve ter cometido algum equiacutevoco natildeo eacute possiacutevel

ndash Natildeo natildeo natildeo eacute nada disso quem estaacute fazendo confusatildeo satildeo vocecircs O que acontece eacute o seguinte muitos textos como esses que vocecirc

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TERCEIRO

ENSAIO

citou originalmente foram escritos para os Jogos de Teatro e consequentemente muitos deles foram montados nos Jogos de Teatro Contudo fora dos Jogos a Escola NUTe tambeacutem utilizava de forma didaacutetica esses textos Natildeo sei se vocecircs sabem mas a proposta baacutesica do curso de formaccedilatildeo dado pela Escola NUTe era de que o aluno pudesse ldquoaprender fazendordquo Assim todo semestre as turmas montavam alguns espetaacuteculos que eram encenados dentro de uma mostra de final de curso Esse tipo de montagem faz ressonacircncia com uma seacuterie de forccedilas as quais vetorizei nesse cronograma como Teatro Escola Paralela a essa composiccedilatildeo vetorial corre dentro do NuTE um tipo distinto de forccedilas as quais vetorizei como Teatro Experimental Este segundo vetor atravessa as grandes montagens do NuTE Montagens que se utilizam de textos consagrados como Macbeth por exemplo mas que por vezes tambeacutem se utilizam de textos vindos do JOTE-Titac como por exemplo Senhoras e Senhores Seria um desrespeito de minha parte catalogar Macbeth e desprezar Senhoras e Senhores jaacute que ambos satildeo espetaacuteculos-NuTE

ndash Tudo bem podemos ateacute estar de acordo com sua anaacutelise Mas por favor nos diga como eacute que vamos dar conta de montar um espetaacuteculo que apresenta a histoacuteria de 185 montagens Isso eacute irrealizaacutevel Mesmo se montarmos uma pequena cena sobre cada um deles digamos que cada cena tenha apenas dois minutos teremos ao final aproximadamente seis horas de espetaacuteculos

ndash Seis horas para o terceiro ensaio fora os demais Isso eacute loucura vamos ter um espetaacuteculo com mais de dez horas

ndash Bem Acho que vocecircs todos reconhecem uma influecircncia de Bob Wilson sobre Alexandre Venera natildeo

Black-Out Salivas secas seguem gargantas agrave dentro Dois atores se aproximam e prometendo devolver o cachecirc pago rendem homenagem ao capitatildeo Nascimento ldquopedindo para sairrdquo o excesso lhes tenciona abandonar os ensaios Percebo minha imbecilidade mais uma vez tarde demais Tento acalmar o grupo ningueacutem me ouve ningueacutem ouve ningueacutem Todos falam e gesticulam ao mesmo tempo num pandemocircnio generalizado e dramaacutetico jaacute que deixamos as cadeiras confortaacuteveis da plateia e estamos todos no palco De repente por fora algueacutem abre a porta do grande auditoacuterio A estranheza da cena agravequela altura da tarde fez calar os gestos e as matracas falantes

Eacute provaacutevel que o leitor suspeite dada agrave intempestividade do acontecido da veracidade do relato que segue Por isso faccedilo questatildeo de ressaltar que exatamente como aconteceu eacute que conto ou melhor o conto eacute exatamente o que iraacute acontecer

Pelo silecircncio da porta entra ningueacutem menos ningueacutem mais que Alexandre Venera dos Santos Ele caminha lentamente ateacute o palco calccedila jeans camiseta esverdeada chinelos Havaianas traz consigo um pequeno sorriso ao lado esquerdo da boca Sobe ao palco alguns sussurros orelhais lambem o silecircncio da porta

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TERCEIRO

ENSAIO

Ao se aproximar do grupo todos percebem um excecircntrico meio bigode de um lado ndash em contraponto a uma excecircntrica meia costeleta de barba de outro ndash no rosto de Alexandre Alguns atores se cutucam trancando o riso Por fim Alexandre diz

ndash Oi gente e aiacute porque estatildeo todos quietos eacuteeacuteeacuteeacute vocecircs gostaram do meu bigode novo eacute isso

O riso se espalha pelos quatro cantos do teatro sinto alguns quilos a menos em meus ombros Laacute pelas tantas num tom de brincadeira algueacutem resolve perguntar onde afinal de contas Alexandre esteve ateacute entatildeo e ele responde que encontrou dificuldades para fazer a barba Alguns risos depois o grupo resolve bastante animado mostrar para Alexandre a cronologia que viacutenhamos discutindo Impressionado Alexandre sorri

ndash Puxa que bacana Na minha cabeccedila era coisa de pouco mais de cinquenta espetaacuteculos Quer dizer que montamos tudo isso mesmo Que legal

ndash Sim mas estamos com medo desse excesso

ndash Medo O excesso natildeo conversa com o medo O oposto dele sim Aleacutem do quecirc isso tudo vai ficar super bom na peccedila que estamos levantando vai cair como uma luva azul

ndash Mas eacute exatamente isso o que nos assustandash Isso o quecirc a luva azul Entatildeo vamos

cortar ela Olha pessoal natildeo tem motivo pra nenhum receio na verdade enquanto assistia

agrave projeccedilatildeo me passou umas ideias que se vocecircs toparem pode ficar joiandash todas as almas olham para Alexandre Depois de uma pausa ele diz

ndash Vocecircs gostam do Bob Wilson ndash um quase desespero atravessa o grupo Sinto que eacute hora de me redimir e entro na conversa

ndash A gente chegou a fazer um caacutelculo raacutepido Venera e a conclusatildeo foi de que seria inviaacutevel e desgastante um espetaacuteculo tatildeo longo

ndash Desgastante Muito pelo contraacuterio vai ser tonificante energeacutetico ndash batendo uma matildeo na outra

ndash Por menores que sejam as cenas o volume de montagens vai impor horas ao espetaacuteculo A natildeo ser que faccedilamos um corte talvez possamos escolher os mais importantes e com eles criar as cenas para esse capiacutetulo

ndash Mas quem vai definir o criteacuterio que vamos usar para escolher esse ou aquele espetaacuteculo Eu natildeo me sinto agrave vontade pra fazer isso Natildeo Eacute o seguinte eu natildeo abro matildeo temos sim que acolher todos eles Afinal eacute NuTE para todos ou natildeo eacute

ndash Mas como como vamos falar de todos os espetaacuteculos

ndash Noacutes natildeo precisamos fazer isso Os espetaacuteculos falam por si Aleacutem do quecirc seria redundante criar uma cena para fazer falar uma cena Natildeo vejo propoacutesito nisso

ndash Entendo cada vez menosndash Natildeo se trata de entender mas de projetarndash Projetar

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TERCEIRO

ENSAIO

ndash Isso O que vocecircs acham da gente pegar esse tal de EXUBERANTE CRONOLOGIA ESPETACULAR DO TEATRO EXPERIMENTAL E DO TEATRO ESCOLA NUTEANESCOS eou PUTA QUE PARIU ESSES CARAS MONTARAM 185 (cento e oitenta e cinco) ESPETAacuteCULOS e projetar do jeito como ele estaacute

ndash Sem mudar nadandash Sim Podemos deixar assim como estaacute

Acho que ficou bom Minha sugestatildeo eacute mudar apenas o nuacutemero de projetoresprojeccedilotildees Ao inveacutes de utilizar um uacutenico projetor como vocecircs fizeram hoje podemos projetar trecircs imagens ao mesmo tempo um espetaacuteculo no centro um agrave esquerda e um agrave direita Cada projeccedilatildeo teraacute uma duraccedilatildeo de dez segundos Assim em 1 minuto teremos 18 espetaacuteculos e em pouco mais de 10 minutos fechamos os 185 O que vocecircs acham

Era uma excelente ideia Concordamos todos sem pestanejar Houve apenas uma discordacircncia Metade dos atores insistia que seria melhor mais neutro de nossa parte apenas projetar o cronograma jaacute a outra metade acreditava que durante a projeccedilatildeo deveria haver interferecircncias atores no palco encenando dialogando com a projeccedilatildeo Depois de algum debate Alexandre e a maioria do grupo se direcionam para a segunda opccedilatildeo mas o problema do criteacuterio de seleccedilatildeo dos espetaacuteculos retorna jaacute que seria impossiacutevel em dez minutos passar por todos os 185 O grupo de uma forma geral concorda que uma vez resolvida a questatildeo do criteacuterio de seleccedilatildeo as interferecircncias

cecircnicas potencializariam o espetaacuteculo Seria preciso selecionar entre oito e doze espetaacuteculos para que em cada minuto aproximadamente possa acontecer uma cena ou entatildeo elaborar uma uacutenica accedilatildeo sobre os escolhidos Durante o embate surge a proposta de questionar o leitor a esse respeito Nesse sentido a opiniatildeo do grupo acabou consensual apenas o leitor estaria autorizado a realizar essa seleccedilatildeo

Foi o que fiz Dessa enquete realizada atraveacutes do blog surgiu a lista de espetaacuteculos que compotildeem o Livreto Espetacular

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registro do curso lsquotreinamento cotidiano do atorrsquo da esquerda para direitagiba de oliveria alexandre

venera dos santos regina simas carlos simioni peacuterola aacutelvaro alves andrade pepe sedrez milena

sentados ivan joseacute aparecido dos santos carlos crescecircncio e carlos alberto dos aantos

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ENSAIOQUARTO ENSAIO ndash 04 DE MAIO DE 2015

Segunda-feira de TrabalhoNo reloacutegio ponto marcam 07h30minImagem Insistente Apolo X Dioniso

ndash Bom dia Espero que estejam todos bem acordados Hoje o ensaio vai ser puxado pessoal Taacute todo mundo bem disposto ndash os atores sinalizam que sim Alexandre prossegue ndash Minha proposta eacute retomarmos o esquema de trabalho do Segundo Ensaio Achei que funcionou bem naquele dia

ndash Aquele com os aperitivosndash Exatamente o que vocecircs achamndash Boa ideiandash As cenas ficaram bem boas mesmondash Vamos utilizar os mesmos aperitivosndash Natildeo Eu montei cinco jogos novos Com

a bandeja do Segundo Ensaio natildeo daria certo pois nosso tema agora eacute outro A intenccedilatildeo hoje eacute focar toda energia na Escola de Teatro do NUTe Levantar cenas sobre a Escola

ndash Vamos poder escolher os aperitivos novamente

ndash Acho que sim natildeo vejo problema desde que haja consenso entre vocecircs Tenho apenas uma ressalva Aleacutem do jogo de aperitivos que

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ENSAIO

vocecircs vatildeo escolher gostaria que todos os grupos jogassem com o Aperitivo Livretante

ndash Como assimndash O Aperitivo Livretante eacute um aperitivo

anexo agrave bandeja deste ensaio Aleacutem dos cinco aperitivos que seratildeo servidos existe essa espeacutecie de Experiecircncia do Fora Eacute um sexto aperitivo que natildeo entra na bandeja da escolha A ideia eacute que cada grupo escolha um aperitivo para disparar suas cenas e junto a este quando estiverem encenando permitir ressonacircncias com o Livretante

ndash Deixa ver se entendi Funciona da mesma forma que o Segundo Ensaio mas agora ao inveacutes de um aperitivo vamos trabalhar com dois Um que a gente escolhe e outro que vocecirc jaacute definiu

ndash Eacute quase isso Vocecircs natildeo precisam dar conta de encenar todo o Livretante a ideia eacute que vocecircs o acionem sobre as cenas Que ele ajude na composiccedilatildeo que esteja acoplado de alguma forma Eacute um ldquoplusrdquo um a mais sobre aquilo que vocecircs montarem Mas claro natildeo se sintam na obrigaccedilatildeo de fazer dessa ou daquela forma O mais importante eacute criar com liberdade Os aperitivos servem para ajudar vocecircs a encontrar algo Agora se eles em algum momento dificultarem essa pesquisa abandonem sem medo joguem fora os aperitivos e passem ao prato principal

ndash Prato principalndash Claro a cena de vocecircs O aperitivo eacute

apenas uma bengala a funccedilatildeo dele eacute disparar

a cena nada maisndash Cenas sobre a Escola NUTe ndash Isso Escolacecircnicas cenicasescolaresndash E os locais de ensaio temos que usar os

mesmosndash Os locais satildeo vocecircs que escolhem A

diferenccedila eacute que desta vez vamos precisar de cinco grupos dois grupos a mais Tudo bem ndash os atores dividem olhares aos poucos vatildeo se aproximando e sem nenhuma palavra cinco grupos surgem no palco

ndash Oacutetimo Jaacute temos os cinco grupos Maravilha Mais alguma pergunta pessoal Natildeo Nada mais Entatildeo garccedilom por favor a bandeja

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Caro leitor

convidamos vocecirc agora a provar dos nossos aperitivos cecircnicos na cor cinza

que incluem as cartas bocircnus

ldquoaperitivos livretantesrdquo

vaacute em frente bom experimento

APERITIVOS CEcircNICOSeou nutrientes para

composiccedilatildeo de mundos

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Composiccedilatildeo de Mundos

Enquanto os grupos pesquisam seus espaccedilos cecircnicos Alexandre fuma um dois trecircs cigarros Consegue para ele e tambeacutem para mim um copinho de cafeacute na secretaria da Carona Escola de Teatro Seduzido pela cafeiacutena resolvo fumar um cigarro tambeacutem Ao teacutermino desse estimulante abastecimento fisioloacutegico iniciamos nossa andanccedila

Os cinco grupos selecionaram como espaccedilo de ensaio os seguintes locais

Grupo I ndash (O)Caso ndash corredor do terceiro piso do Teatro Carlos Gomes onde na deacutecada de 80 foram apresentados espetaacuteculos como O Tuacutenel

Grupo II ndash Poratildeo do Teatro ndash local onde o NUTe realizou as Oficinas de Base

Grupo III ndash Grande Auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes ndash Auditoacuterio Heinz Geyer

Grupo IV ndash Pequeno Auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes ndash Auditoacuterio Willy Sievert

Grupo V ndash Antiga Sede-Secretaria do NUTe ndash espaccedilo que deixou de existir com a reforma do Teatro Carlos Gomes em 2002

Os atores que ensaiam no espaccedilo (O)

Caso utilizam a teacutecnica do Joatildeo Bobo como aquecimento Um ator se posiciona entre outros dois e se lanccedila livremente para frente e para traacutes onde estes o apanham trazendo de volta ao centro-meio do jogo O movimento eacute revezado por todos os atores que hora fazem a rede hora o Joatildeo Bobo

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No Poratildeo do Teatro sobre uma mesinha improvisada dois atores disputam uma queda de braccedilo Os demais em volta fazem torcida gritante e apostam dinheiro no vencedor

O grupo que ensaia no Grande Auditoacuterio percorre o palco realizando o que parece ser um estudo sobre a rede eleacutetrica disponiacutevel Fazem anotaccedilotildees caacutelculos discutem a impedacircncia a amperagem

Alguns atores da plateia do Pequeno Auditoacuterio aplaudem o que parece ser um desfile de moda que se realiza atraveacutes dos demais atores no palco

Na antiga sala-sede do NUTe um uacutenico ator de peacute estaacute cercado pelos demais que o reverenciam sentados sobre seus proacuteprios calcanhares em estranhos movimentos lanccedilam os braccedilos acima da cabeccedila e curvam-se ateacute o chatildeo Quando retornam ao iniacutecio do movimento bradam em coro mestre mestre mestre

Alexandre natildeo interfere Apenas observa os grupos Por vezes sorri por vezes passa a matildeo no cabelo usando os dedos da matildeo direita como pente agraves franjas que lhe caem sobre a testa Depois dessa primeira rodada claro que um cigarrinho vai muito bem melhor ainda se acompanhado daquele cafezinho que se consegue na secretaria da Carona Escola de Teatro Uma respirada algumas tragadas e estamos prontos para continuar

Voltamos ao Poratildeo Os atores em silecircncio formam um ciacuterculo de costas Cada qual olha numa direccedilatildeo a sua frente de modo

que nenhum deles consegue olhar os demais Alexandre achou curioso Sentados em duas cadeiras improvisadas permanecemos por alguns minutos mas nada acontece A tensatildeo da queda de braccedilo havia se esvaziado Em cena apenas o silecircncio e o distanciamento entre os atores Aguardamos mais alguns minutos Nada Alexandre comeccedila a coccedilar a cabeccedila olha pra mim faz menccedilatildeo de que vai intervir levanta-se mas ao comeccedilar a falar o dorso da matildeo esquerda do primeiro ator atinge com muita forccedila a face do segundo o que faz com que o dorso da matildeo esquerda do segundo ator atinja a face do terceiro O mecanismo se repete ateacute atingir a face do primeiro ator Quando isso acontece o ator que iniciara a accedilatildeo num abrupto movimento de 180 graus nos olha com violecircncia escaacuternio e certa simpatia dizendo

Alguns de noacutes achaacutevamos que tiacutenhamos que montar espetaacuteculos com mais frequecircncia Mas quase ningueacutem tomou partido tatildeo abertamente por um dos dois projetos de NuTE jaacute que eles tinham comeccedilado mais ou menos juntos o Experimental e a Escola com Alexandre e Wilfried O Wilfried sempre mais com a ideia da escola e o Alexandre sempre com a ideia dos espetaacuteculos era mais ou menos assim (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 24)

Ao finalizar a fala numa velocidade incriacutevel o grupo desfaz a configuraccedilatildeo circular e retorna ao braccedilo de ferro agrave balbuacuterdia agrave torcida e agraves apostas Venera deixa escapar um susto Com os olhos esbugalhados escreve algo num bilhete aproxima-se dos atores e como quem faz uma aposta num dos combatentes

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A cerimocircnia continua mas agora o ator do projetor multimiacutedia veste um professoral jaleco branco Retira de um dos bolsos uma caneta laser e apontando para a imagem projetada inicia o que parece ser uma aula dedicada a uma turma de ensino meacutedio

ndash Bem como vimos em nossa uacuteltima aula a escola NUTe vinha pipocando desde os primeiros anos do Nuacutecleo de Teatro Experimental Num primeiro momento os cursos satildeo ministrados por Wilfried Krambeck que logo na sequecircncia se transforma em coordenador-pedagoacutegico possibilitando que outros membros do nuacutecleo ministrem cursos Atenccedilatildeo pessoal menos barulho por favor isso aqui pode cair na prova Noacutes vamos chamar essa primeira fase da escola NUTe de Krambeck in Cursos Sobre isso noacutes conversamos bastante em nossa uacuteltima aula espero que todos estejam lembrados Quem faltou nesse dia e natildeo quer tomar bomba no exame recomendo estudar o livro da paacutegina 85 agrave 111

ndash Jaacute a segunda fase da escola NUTe se potildee em movimento quando o nuacutecleo comeccedila a trazer importantes nomes do teatro nacional os quais ministram cursos que desencadeiam o processo sem volta agrave primeira Escola Livre de Teatro de Santa Catarina Gostaria que vocecircs anotassem tambeacutem este ponto temos certeza de ser a primeira Escola Livre de Teatro do Vale do Itajaiacute poreacutem algumas pessoas acreditam que o NUTe possa ser a primeira Escola Livre de Teatro de toda Santa Catarina Sendo ou natildeo algo fundamental que acontece nessa segunda

joga o bilhete sobre a mesa A cena natildeo para Suavemente deixamos o poratildeo Na antiga Sala-Sede do NUTe o ritual de aclamaccedilatildeo ldquomestre mestre mestrerdquo segue sem nenhuma novidade Alexandre se irrita e interrompe a cena Pergunta ao grupo se haacute algum motivo para tanta repeticcedilatildeo O grupo se dissolve em torno do uacutenico ator de peacute e se refaz em torno de Alexandre Novamente com o mesmo cerimonial repetem ldquomestre mestre mestrerdquo Ainda mais irritado Alexandre balanccedila a cabeccedila numa desaprovaccedilatildeo que mastiga fogo pelos olhos o que deixa a cena muito engraccedilada Sem poder conter acaba me saindo uma gargalhada Imediatamente o grupo abandona Alexandre e me circula dizendo ldquomestre mestre mestrerdquo Continuo rindo e Alexandre acaba achando graccedila tambeacutem Por fim um ator que estava separado do grupo liga o projetor multimiacutedia e todos os demais passam a reverenciar a imagem projetada dizendo ldquomestre mestre mestrerdquo

dr joseacute ronaldo faleiro

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fase eacute que os alunos NUTe tecircm a possibilidade de assistir a aulas de Thiers Camargo Irene Ravache Joseacute Possi Neto Roland Zwicker Jorge Cherques Walmor Chagas Pepita Rodrigues Eduardo Dolabella Vamos chamar essa Segunda Fase da Escola NUTe de Grande Mestres

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Contudo ndash retorna o ator professor - se vocecircs fizeram a tarefa de casa que deixei semana passada jaacute sabem que dentre tantos dois cursos foram fundamentais nesse processo Eles satildeo citados veementemente em quase todas as entrevistas realizadas pela pesquisa e publicadas no blog wwwnuteparatodoswordpresscom Ganha um ponto positivo na prova quem primeiro me disser o nome dos professores que deram esses cursos

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Muito bem eacute isso mesmo Trata-se em primeiro momento do curso de Aprimoramento em Teatro Universal dado por Joseacute Ronaldo Faleiro e alguns anos mais tarde o curso Treinamento Cotidiano do Ator dado por Carlos Simioni e Ricardo Pucceti

Joseacute Ronaldo Faleiro natural de Porto Alegre retorna ao Brasil depois de longa estadia na Franccedila ndash de 1972 a 1986 ndash onde defenderaacute sua tese de doutorado ndash La Formation de lacuteActeur agrave partir des Cahiers dacuteArt Dramatique de Leacuteon Chancerel et des Cadernos de Teatro dacuteO Tablado Aceita voltar por insistecircncia

de Olga Reverbel entatildeo professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que havia sido convidada a lecionar temporariamente na licenciatura em artes da Universidade Regional de Blumenau (Furb) Faleiro acaba assumindo aleacutem da pesquisa e do ensino tambeacutem a chefia da Divisatildeo de Promoccedilotildees Culturais nesta universidade Uma vez em Blumenau sofre grande impacto ao assistir O Homem do Capote e Outros Seres espetaacuteculo que lhe pareceu muito proacuteximo ao teatro contemporacircneo europeu Impressionado com o fato de um grupo de teatro amador do interior de Santa Catarina estar realizando montagens com elementos pesquisados por um teatro que vinha acompanhando em especial na Franccedila e na Alemanha passa a se aproximar do entatildeo Nuacutecleo de Teatro Experimental

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Em maio de 1987 e em marccedilo de 1988 Faleiro ministra para o NUTe o curso de Aprimoramento Teoacuterico Praacutetico em Teatro Universal o qual conforme podemos observar na inscriccedilatildeo deste aluno consistia do seguinte programa

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ndash O curso mobiliza novas forccedilas e intensifica

o combate entre as jaacute existentes ndash escolar e experimental ndash dentro do nuacutecleo Mais que isso Faleiro torna-se uma espeacutecie de mestre dos nutes

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Nutes em busca de Nutrientes encontram em Faleiro uma referecircncia teatral Passam a frequentar sua casa emprestam livros de sua biblioteca pessoal um impressionante acervo sobre teatro que superava em muito as bibliotecas da regiatildeo Cabe lembrar

que estamos na deacutecada de 80 natildeo existe internet a dificuldade de acessar produccedilotildees contemporacircneas eacute imensa a maior parte das informaccedilotildees se encontra apenas em material impresso importado e caro Generosamente esse senhor disponibiliza parte de seu tempo sua casa e sua biblioteca a esses jovens No recorte aperitivo que recebemos da entrevista realizada com Roberto Murphy jogo nuacutemero 2 eacute possiacutevel perceber isso com mais clareza

Ele trouxe uma biblioteca de teatro Todas as paredes da casa dele eram repletas de livros E tinha um palco no meio onde tudo era livro de teatro de arte em geral mas basicamente teatro O banheiro da casa dele era cheio daqueles Aquelas coisas de guardar sapatos aquilo era cheio de livros E a gente ia pra laacute passava a tarde laacute ele fazia uma torta de maccedilatilde com mel e chaacute de natildeo sei o quecirc E conversa conversa Aquilo foi nutrindo muito a gente E ele comeccedilou a ter contato com o Wilfried com todos os fundadores laacute do NuTE e comeccedilou a haver um fervo muacutetuo Aquilo ali foi revolucionaacuterio O contato do Faleiro com o Alexandre foi demais E isso provocou em todos noacutes porque eu me considero um disciacutepulo deles todos desses dois principalmente assim como Giba eacute tambeacutem como Pepe eacute (entrevista com Roberto Murphy paacuteginas 6-7)

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Um bom exemplo desse contato que Murphy nos fala eacute o espetaacuteculo Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes concebido e dirigido por Alexandre Venera contando com assessoria de Ronaldo Faleiro E assim bem nutrido este Nuacutecleo de

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Teatro Experimental teraacute condiccedilotildees alguns anos mais tarde de vir a ser Nuacutecleo de Teatro Escola Olha pessoal o barulho taacute demais Natildeo quero colocar ningueacutem pra fora hoje mas se for preciso vai pra direccedilatildeo sim senhor Os nossos amigos que jaacute estatildeo com duas advertecircncias sabem que mais uma visita ao diretor acarreta suspensatildeo correto Eacute muito chato isso de ter que ficar parando a aula pra pedir silecircncio Quero que todo mundo anote o que vou passar no quadro agora Eu disse todo mundo O colega natildeo vai anotar por quecirc Isso natildeo eacute desculpa meu caro se esqueceu do caderno em casa pega uma folha emprestada anota e depois passa a limpo Pessoal atenccedilatildeo isso aqui com certeza vai cair na prova

Ascenccedilatildeo e Queda do Impeacuterio NuTe

Primeira Fase ndash Krambeck in CursosSegunda Fase ndash Grandes Mestres

Terceira Fase ndash Nuacutecleo de Teatro EscolaQuarta Fase ndash Intrigas decadecircncia e morte

ndash Na aula de hoje estamos vendo os principais acontecimentos entre a Segunda e a Terceira Fase Mais propriamente as condiccedilotildees de possibilidade que permitiram essa passagem Jaacute conversamos sobre a importacircncia de Joseacute Ronaldo Faleiro e agora iremos falar um pouco sobre o curso dado por Carlos Simioni e Ricardo Pucceti Treinamento Cotidiano do Ator24

24 Durante a pesqui-sa encontramos um registro audiovisual deste curso o qual soma cerca de 60 mi-nutos Para assistir ao curso Treinamen-to Cotidiano do Ator acesse o endereccedilo wwwyoutubecomatchv=YBxOZogxf0A

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

Em 1991 o NuTE que estaacute passando a ser NUTe jaacute dispotildee em seu curriacuteculo de importantes montagens O Homem do Capote e outros Seres Variante Woysek-Mauser Macbethrsquos uma interferecircncia na histoacuteria A ousadia experimental bem como a insistente pesquisa em Artaud e Grotowski chamam a atenccedilatildeo do grupo fundado por Luiacutes Otaacutevio Burnier jaacute na eacutepoca referecircncia internacional em Antropologia Teatral Trata-se do Laboratoacuterio Unicamp de Movimento e Expressatildeo LUME Ou como eacute chamado atualmente Nuacutecleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp

() a gente chamou muito atenccedilatildeo do pessoal do LUME pessoal do Teatro Antropoloacutegico Eugenio Barba a gente se aproximou muito dessa linha de trabalho A gente foi Se era experimental

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ali mesmo foi mais do que nunca Soacute que nessa eacutepoca exata eu acho que deixou de ser Teatro Experimental e passou a ser Teatro Escola (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 58)

ndash Como vocecircs podem perceber pela citaccedilatildeo acima esse curso intensifica as forccedilas experimentais dando-lhes vazatildeo permitindo ressonacircncias com a Antropologia Teatral Ao mesmo tempo fortalece as forccedilas escolares deixando o terreno pronto para a travessia da segunda agrave terceira fase onde se vai consolidar definitivamente o NUTe como Escola de Teatro O que parece irocircnico aqui eacute que a filiaccedilatildeo experimental se potencializa justamente como escola Dizendo de outra forma enquanto natildeo havia uma identidade a se remeter enquanto o inominaacutevel operava a experimentaccedilatildeo era caoacutetica e livre a partir do momento em que se reconhece uma filiaccedilatildeo que se constroacutei uma casa que se torna senhor proprietaacuterio da sua morada comeccedila a ser importante defendecirc-la contra os invasores e zelar por sua manutenccedilatildeo O devir experimental se reorganiza na identidade escola

() quando a gente montou Apocalypsis ainda natildeo tava dando aula natildeo Tava comeccedilando a montar a Escola Com Apocalypsis noacutes trouxemos mais um grupo de fora pra dar um curso de uma semana onde todo mundo entrava agraves sete e meia da manhatilde e saiacutea agrave uma da tarde da aula E daiacute tinha mais uma turma agrave noite pra quem natildeo podia durante o horaacuterio comercial neacute Esse curso com o LUME o Simione que eacute antropologia teatral pura Noacutes com Apocalypsis apresentamos pra levantar uma grana pra ajudar a pagar a vinda desses caras pra caacute E nessa eacutepoca comeccedilou a vir a terceira

fase que seria quando noacutes montamos a escola e comeccedilamos a dar aula (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 150)

ndash Os registros que permaneceram do curso e que estatildeo disponiacuteveis na biblioteca ndash wwwnutecombr ndash mostram a importacircncia dada ao momento Alguns que chegaram a ser datilografados possivelmente para serem utilizados em aulas posteriores carregam tiacutetulos como Anotaccedilotildees Antoloacutegicas de um dia de Trabalho Sobre Orientaccedilatildeo de Carlos Simioni e Ricardo Pucceti Outros escritos agrave matildeo cuidadosamente conservados talvez por serem a base dos demais documentos revelam um pouco a atmosfera do encontro

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O ator professor faz uma pausa bebe um gole de aacutegua em sua garrafinha de refrigerante diet depois estaciona os olhos em sua plateia Alexandre e eu encostados na parede da sala fizemos esperar Apoacutes alguns segundos percebemos que os demais atores tambeacutem estavam nos olhando Por fim dois deles balanccedilam os braccedilos e um tanto constrangidos noacutes aplaudimos o grupo Um dos atores comenta que ateacute entatildeo foi o que conseguiram produzir Alexandre parabeniza o grupo faz questatildeo de cumprimentar um a um os atores Gosta em especial dos momentos em que o professor ator quebra seu personagem falando do jogo de aperitivo nuacutemero 2 Comenta que a cena estaacute maravilhosa Todos sorriem Alexandre repete ldquoMuito bom muito bom mesmordquo Um dos atores pergunta o que poderia ser melhorado O diretor comenta que apesar de tudo funcionar muito bem a cena criada corre o risco de essencializar uma persona substancializar o ator professor num sujeito-personagem Um dos atores argumenta que a intenccedilatildeo da repeticcedilatildeo miacutetica ldquomestre mestre mestrerdquo seria justamente deslocar o personagem substancializado agraves forccedilas que o colocam em movimento Alexandre acredita que isso eacute possiacutevel que de certa forma a ironia fabrica esse desequiliacutebrio na cena que a estrutura criada pelo grupo pode permitir uma desterritorializaccedilatildeo do bloco de informaccedilotildees e abri-lo agrave experiecircncia do puacuteblico Mas para isso acontecer seria preciso ir mais a fundo injetar mais deliacuterios aos jogos retirar um tanto da mensagem da historinha

Um dos atores questiona o motivo disso pergunta se a proposta deste dia de trabalho natildeo seria justamente contar um histoacuteria a histoacuteria da escola NUTe Num tom de deboche o mesmo ator questiona como seria possiacutevel fazer isso sem servir ao puacuteblico alguns blocos de informaccedilatildeo ao menos com pedaccedilos-trechos de sujeitos de espaccedilos de tempo e finaliza dizendo que o puacuteblico precisa ter onde se agarrar para conseguir experimentar a encenaccedilatildeo O diretor discorda veementemente Numa explosatildeo de entusiasmo questiona a importacircncia da histoacuteria do NUTe para quem e para quecirc serviria contar essa histoacuteria O grupo olha para mim eu me calo Alexandre pergunta novamente Tento responder que existe relevacircncia histoacuterica em muitas coisas feitas pelo Nuacutecleo que nosso trabalho vale como um registro dessas accedilotildees para as proacuteximas geraccedilotildees do teatro Alexandre balanccedila a cabeccedila em tom negativo diz que isso tudo natildeo passa de burocracia de discurso comercial que serve para aprovar projetos como este no Ministeacuterio da Cultura ou para conseguir recursos numa empresa

Artisticamente falando continua o diretor natildeo serve para nada ldquoA arte natildeo eacute imitaccedilatildeo da vida mas a vida que eacute imitaccedilatildeo de algo essencial com o que a arte nos potildee em contatordquo25 Ele faz uma breve pausa observa o grupo por fim numa respiraccedilatildeo profeacutetica sustenta que o maior interesse da arte eacute a vida A grande pergunta que a arte nos ajuda a colocar diz ele eacute Como Viver A arte e em especial o teatro nos permite acessar mundos que as representaccedilotildees 25 Antonin Artaud

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as regras as normas cotidianas natildeo permitem Vivemos todos presos enjaulados a liberdade convencional eacute apenas uma cadeia com mais espaccedilo A funccedilatildeo da arte eacute nos ajudar a ir aleacutem dessas grades estouraacute-las romper com elas Mas isso natildeo se encontra representando uma historinha sobre o NUTe Alias natildeo haacute nada menos NuTE do que contar uma historinha sobre o NUTe O NuTE natildeo montava espetaacuteculos para entreter as pessoas muito menos para esclarecer conscientizar convencer sobre algo A proposta sempre foi libertar as pessoas libertar o pensamento o delas e o nosso Muitas vezes talvez na maioria das vezes ateacute as pessoas saiacuteam dos nossos espetaacuteculos se perguntando lsquomas o que isso quer dizerrsquo ou lsquoacho que natildeo entendi direito a mensagem do espetaacuteculorsquo ou ainda lsquoo que vocecircs queriam passar com issorsquo As pessoas estatildeo viciadas em comprimidos de significaccedilatildeo e natildeo param de pedir mais uma dose O nosso teatro negava essa dose noacutes natildeo diziacuteamos nada os nossos espetaacuteculos natildeo queriam ensinar nada queriacuteamos sim permitir agraves pessoas pensarem mas pensarem por si porque cada um precisa encontrar sentido no espetaacuteculo o sentido natildeo eacute o mesmo para todos ele natildeo estaacute pronto eacute preciso inventaacute-lo procuraacute-lo ao seu modo No fim das contas era isso que todos os nossos espetaacuteculos queriam dizer construa o seu sentido procure por ele natildeo eacute faacutecil noacutes sabemos mas estamos juntos nessa procura26 Invente um sentido para vocecirc pois natildeo haacute sentido nenhum neste espetaacuteculo assim como natildeo haacute nenhum sentido na vida Eacute preciso a todo momento fabricar criar

26 Comentaacuterio de Joseacute Ronaldo Faleiro ao revisar este trecho do ensaio ldquoOs espe-taacuteculos do AVS pro-vocavam isso por sua fragmentaccedilatildeo pela fragmentaccedilatildeo da sua estrutura narrativa pela surpresa quanto ao desempenho dos atoresrdquo

inventar Agora essa operaccedilatildeo soacute funciona quando a compartilhamos com algueacutem Por isso as macro linhas de significaccedilatildeo da vida fazem tanto sucesso Ao aprisionar as pessoas elas permitem a experiecircncia comum de estar vivo dentro de uma cela Na igreja no shopping na academia nas novelas da Rede Globo estaacute tudo pronto natildeo haacute necessidade nenhuma de criar Isso eacute o oposto do que estamos fazendo aqui pois o que queremos eacute estourar as grades da representaccedilatildeo

Um ator toma a palavra se dizendo confuso com a quebra da representaccedilatildeo proposta pelo diretor questiona se a realizaccedilatildeo disso natildeo quebraria tambeacutem a fronteira entre arte e vida Alexandre gosta muito da questatildeo dizendo que eacute exatamente isso o que acontece pois nisso que estamos trabalhando ldquo() o limite eacute muito estreito entre o que eacute vida e o que eacute arte Porque eacute uma arte na qual se decide a questatildeo ndash como viverrdquo27 Seria possiacutevel aceitar as coisas da forma como estatildeo isso tambeacutem eacute um como viver e apenas representaacute-las e nada mais Mas para isso natildeo precisamos da arte isso natildeo eacute arte isso eacute consumo Serve para os que vivem na Falta para os que vivem na Fome Para os que querem consumir existem os shoppings os restaurantes as pizzarias aqui estamos procurando por outra coisa Algo difiacutecil de atingir difiacutecil ateacute de dizer Algo que de uma forma ou de outra todos procuram Alguns procuram no dinheiro acreditam que quando tiverem muita grana vatildeo encontrar outros procuram numa pessoa num amor

27 Jerzy Grotowski Conferencia realiza-da em 1971 no Teatro Ateneum Publicada em The Theatre in Po-land Especial abril-maio 1975

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encontrariam nela outros ainda na fama no fetiche para esses estaria na accedilatildeo de ser adorado por muitos ou ainda procuram no prazer na droga na comida no sexo Quantos estocircmagos encontramos todos os dias caminhando pelas ruas em busca sempre em busca quantas genitaacutelias saem de casa e vatildeo para a festa em busca sempre em busca quantas maacutequinas-caccedila-niacutequel registram dia a dia mais e mais ansiedades monetaacuterias Talvez os uacuteltimos humanistas de plantatildeo queiram fazer algo por eles Queiram ajudaacute-los Mas noacutes que natildeo temos certeza nem da nossa busca natildeo podemos ajudar ningueacutem Natildeo temos como salvar o mundo O que conseguimos fazer eacute pouco muito pouco e esse pouco eacute continuar procurando ao nosso modo atraveacutes da arte A grande diferenccedila entre essa multidatildeo da Fome-Falta e noacutes eacute que eles procuram por algo que lhes sacie o desejo enquanto noacutes procuramos mobilizar nossas vontades para inventar mundos formas de existir de experimentar a vida Trata-se de uma guerra entre as paixotildees tristes e as alegres

O grupo compartilha um momento de grande intensidade Um dos atores pergunta o que contrapotildee nossa alegria agrave representaccedilatildeo Ou seja qual seria exatamente o problema de contarmos uma historinha de passarmos uma mensagem ao nosso puacuteblico O problema responde Alexandre eacute que ao impor ao nosso puacuteblico um mundo provisoacuterio que fabricamos para nosso conforto pessoal mundo que lhes obrigamos a engolir goela abaixo roubamos

do nosso puacuteblico o que haacute de melhor de mais revolucionaacuterio na arte a produccedilatildeo de sentido produccedilatildeo de si produccedilatildeo de mundos

Se noacutes resolvemos o problema para nosso puacuteblico noacutes o alienamos noacutes o acorrentamos agrave fraacutegil saiacuteda que conseguimos encontrar Saiacuteda que geralmente natildeo eacute tatildeo boa quanto gostariacuteamos que fosse Um ator se dizendo um pouco confuso pergunta que problema se estaria tentando resolver O diretor responde que se trata sempre de um mesmo e uacutenico problema seja para a Arte para a Religiatildeo para a Ciecircncia O problema eacute Como Viver

O diretor propotildee que todos suspendam por alguns segundos seus assentos existenciais e que mergulhem sem medo de encontrar aquilo que jaacute sabem mas que se esforccedilam para esconder de si mesmos Ou seja

I ndash Que a vida natildeo tem nenhum sentidoII ndash Que enquanto estivermos vivos inevitavelmente iremos sofrerIII ndash Que ao final dessa vida sem sentido e acometida de dores iremos todos morrer tudo terminaraacute

Dizendo de outra forma a presenccedila absoluta da morte da finitude desse animal que somos nos obriga diariamente a inventar sentidos agraves nossas vidas Essa invenccedilatildeo pode se dar de vaacuterias formas A questatildeo eacute que algumas delas nos aprisionam enquanto outras nos libertam Aqui eacute onde podemos afirmar sem medo que a arte eacute superior agrave religiatildeo e agrave ciecircncia Pois se o padre e o cientista precisam convencer a todos

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que suas respostas satildeo as melhores quando natildeo em acessos de arrogacircncia as uacutenicas possiacuteveis noacutes artistas precisamos apenas de espaccedilo para criar e doar nossa arte Vocecircs entendem por que eacute tatildeo importante esvaziar a mensagem do espetaacuteculo Se nossa intenccedilatildeo eacute libertar as pessoas e com isso libertar a noacutes mesmos a interpretaccedilatildeo tambeacutem deve ser livre Natildeo podemos direcionar se natildeo queremos ser direcionados agraves grandes respostas agraves saiacutedas hegemocircnicas que durante muito tempo acreditou-se boas para todos Sabemos hoje que cada um precisa criar sua saiacuteda e assim experimentar uma vida livre

Voltando ao nosso espetaacuteculo Se pretendemos contar uma vida se nosso trabalho aqui se resume a expressar algo que foi vivido o que precisamos fazer eacute esvaziar as mensagens Esvaziar para que o puacuteblico possa preencher como achar melhor ou como conseguir Na arte a vida natildeo se expressa resolvendo a vida Isso eacute o mais importante ldquo() a vida soacute pode ser expressa na arte pela falta de vida e pelo recurso agrave morte por meio das aparecircncias da vacuidade da ausecircncia de toda mensagemrdquo (KANTOR 2001 p 201)

Vocecircs entendem isso Os atores sinalizam que sim agradecem a palestra Alexandre dando-se conta de que haviacuteamos passado um bom tempo com eles lembra-se dos outros grupos Pergunta se ainda possuem material para continuar Um ator sorrindo muito quer compartilhar uma ideia que considera brilhante Alexandre motiva o grupo a trabalhar Saiacutemos

Ao chegar ao Grande Auditoacuterio somos surpreendidos por relacircmpagos atravessando o palco Duas sete vinte e cinco impressionantes descargas eleacutetricas formam uma espeacutecie de parreira de uva eletromagneacutetica Do centro do palco um ator completamente nu levanta-se abre os braccedilos e pede

ndash Potecircncia maacutexima Imediatamente seu corpo eacute atravessado

pelos raios obrigando-o a uma danccedila caoacutetica que parece ao mesmo tempo alimentar-se de uma dor insuportaacutevel e de uma alegria febril Desfragmentando cada parte do seu corpo o ator comeccedila a numerar as atividades realizadas pelo NUTe no ano de 1993

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Assim que finaliza a uacuteltima frase os raios enfraquecem o ator oscila procura recuperar o focirclego um segundo ator lhe traz uma toalha branca Ele rejeita faz menccedilatildeo de querer continuar Os demais atores arrastam uma corda formando um quadrado em torno do ator eleacutetrico que agora ganha luvas de boxe e passa a lutar com sua sombra Mais uma vez

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lhe trazem a toalha ele lanccedila a toalha agrave plateia em sinal de desprezo e continua lutando Tambeacutem com luvas de boxe entra no ringue o ator oponente Ambos se estudam pesquisam a melhor forma de avanccedilar sobre o adversaacuterio caminham em passos danccedilantes O oponente aproveita um deslize do ator eleacutetrico e ataca

ndash Ateacute quando vocecirc acha que vai aguentarndash Vocecircndash Eu te fiz uma pergunta idiota ateacute quando

vocecirc acha que vai aguentarndash Eu eu natildeo sei mas Mas vocecirc foi

justamente vocecirc quendash Taacute taacute taacute Jaacute sei Mas isso passou

Estamos agora em outro momentondash Outro momento Como assim Eacute a minha

vida eu soacute tenho esta vida Vocecirc me garantiu que eu poderia

ndash E vocecirc pode eacute claro que pode mas como professor Convenhamos

ndash Natildeo Natildeo Natildeo desta vez Natildeo vou mais acreditar natildeo desta vez natildeo Natildeo Eu queria fazer cinema o teatro me pareceu um bom caminho Montar espetaacuteculos eu pensei vou montar bons espetaacuteculos que me ajudem a comeccedilar o meu cinema Eu estava fazendo isso quando vocecirc apareceu Apocalypsis Variante Woizec-Mauser Macbethrsquos Claro que eram eram sim bons espetaacuteculos Mas aiacute vocecirc veio me convencer de que eu tinha responsabilidades que natildeo seria possiacutevel sobreviver assim do teatro que eu tinha famiacutelia que precisava ganhar dinheiro e que isso e aquilo Vocecirc me

convenceu de que eu deveria montar uma escola de teatro Durante vaacuterios anos eu lutei contra essa ideia Meu amigo Wilfried sempre insistiu que deveriacuteamos fazer do NuTE uma escola de teatro mas meu projeto eram os espetaacuteculos Achava que a escola iria me atrapalhar Foi vocecirc quem me convenceu vocecirc e mais ningueacutem eu nunca quis isso e agora vocecirc vem me dizer que

ndash Natildeo haacute pra onde ir aqui eacute o auge Vocecirc quer ser professor o resto da vida

ndash Quero fazer arte Nosso trato era esse Eu daria aula para ganhar um dinheirinho e em troca poderia fazer minha arte

ndash Tudo bem eu lembro do nosso acordo Mas e eu o que estou ganhando com isso

ndash Eu tenho me dedicado a planejar aula cobrar mensalidade fazer relatoacuterios de atividade prestaccedilatildeo de contas borderocirc Vocecirc natildeo estaacute contente essa merda toda ainda natildeo basta

ndash Claro que natildeondash O que mais vocecirc querndash Quero tua almandash Mefistoacutefelesndash Ah Que coisa chata olha meu querido

eu tenho vaacuterios nomes Chame como achares que Mas espera espera ndash sorrindo ndash eacute verdade teve um outro professor mas isso jaacute faz muito tempo que me chamava assim Engraccedilado Mas e entatildeo vai vender

ndash Eu natildeo sei vender significa que vou para o inferno quando morrer eacute isso

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ndash Ah Ah Ah ndash gargalhada fatal ndash Que bobiccedila hein nego Isso de inferno eacute uma grande baboseira Deus e o diabo satildeo invenccedilotildees humanas demasiadamente humanas Nada disso existe Coisas que as titias contavam aos sobrinhos peraltas para se divertirem Ateacute que foi uma boa invenccedilatildeo durou vaacuterios seacuteculos mas hoje em dia Deus estaacute morto assim como toda a parafernaacutelia metafiacutesica que o cercava O que quero saber eacute se vocecirc vai ou natildeo vai me vender essa porra de alma Tocirc ficando nervoso

ndash Taacute tudo bem Mas afinal o que seria te vender minha alma entatildeo Se Deus estaacute morto ainda existe alma

ndash Natildeo natildeo Claro que natildeo babaca Essa alma que supostamente seria sua essecircncia seu eu verdadeiro em nada me interessa essa natildeo existe nem nunca existiu O que quero satildeo tuas experiecircncias de vida a maneira como vocecirc se relaciona com o mundo teus acordos poliacuteticos teu modus vivendi Se preferes uma palavra espinozeana tua eacutetica Vocecirc aceita

Ambos retiram as luvas de boxe os demais atores desatam as cordas do ringue Sentam-se na ribalta e olham para Alexandre Constrangido ele se levanta olha para traacutes agrave porta do auditoacuterio caminha um passo em direccedilatildeo Os atores ficam atocircnitos Eu me dou conta de que a cena terminou e aplaudo o grupo todos aplaudem O diretor retorna ao local de onde assistia ao ensaio retira um cigarro do maccedilo e propotildee ao grupo conversar ao ar livre A proposta eacute bem aceita Saiacutemos

Em frente agrave antiga sala do NUTe Alexandre

acende um cigarro e lembra do cafezinho Vai ateacute a secretaria da Carona Escola de Teatro e retorna com uma garrafa de cafeacute e vaacuterios copinhos e serve a todos Parabeniza o grupo pela cena Um dos atores comenta que se trata de um trecho que a intenccedilatildeo eacute desenvolver mais a sequecircncia O diretor pede para que se mantenha a forccedila cecircnica esta teria lhe impressionado muito Elogia a atuaccedilatildeo dos atores e a brincadeira com o tema claacutessico quase clichecirc da luta interna Acredita que ao problematizar um tema ao qual constantemente se recorre seja possiacutevel falar dele e ateacute se utilizar dele para dizer algo Chama a atenccedilatildeo do grupo para o que considerou uma pequena dificuldade as imagens atravessadas pelo conceito de alma Comenta que existe uma crise na filosofia e em especial na psicologia contemporacircnea sobre esse tema Sabendo que me dedico a estudar o conceito Alexandre me pede para falar um pouco a respeito

Acendo um cigarro tomo um gole de cafeacute e comeccedilo dizendo que gostei muito da cena Ficou muito forte pra mim o funcionamento em rede do sujeito Ou seja pareceu-me que o ator eleacutetrico depende para agir de toda uma rede em sua volta Tal qual a muacutesica de um raacutedio que soacute toca quando ligamos o aparelho agrave tomada de energia na sala de nossa casa O que geralmente esquecemos eacute que essa tomada estaacute conectada a um cabo que segue aos disjuntores estes por sua vez estatildeo ligados ao reloacutegio que contabiliza e distribui energia para a casa o qual estaacute ligado agrave rede de baixa tensatildeo que estaacute ligada atraveacutes dos

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transformadores acoplados aos postes agrave rede de alta tensatildeo essa rede de alta tensatildeo estaacute ligada a uma usina de distribuiccedilatildeo de energia essa usina de distribuiccedilatildeo estaacute ligada a uma usina de geraccedilatildeo de energia onde geradores acoplados agrave correnteza da aacutegua produzem energia eleacutetrica essa aacutegua estaacute ligada a vaacuterios rios esses rios a vaacuterios coacuterregos esses coacuterregos a vaacuterias nascentes essas nascentes ao barro agrave chuva e assim ao infinito

A mesma infinitude rizomaacutetica acontece em cada um dos componentes do raacutedio de onde sai a muacutesica Cada parafuso cada pedaccedilo de plaacutestico cada componente eletrocircnico ali presente eacute antecedido por uma rede infinita que o faz agir daquela forma e natildeo de outra A rede que antecede o capacitor eletroliacutetico e o obriga a agir de tal forma que possamos ouvir um programa de jazz em tal horaacuterio e em determinada frequecircncia Algueacutem conseguiria culpar responsabilizar ou afirmar que esse capacitor eletroliacutetico escolhe atraveacutes do livre arbiacutetrio que lhe foi concedido por Deus agir dessa forma Obviamente que natildeo

A rede que antecede a accedilatildeo humana eacute igualmente infinita Nossas escolhas resultam sempre da imposiccedilatildeo dessas redes O que conseguimos fazer eacute nos colocar agrave disposiccedilatildeo de algumas redes Podemos nos aproximar de algumas linhas de forccedila e nos distanciar de outras Mas isso eacute muito diferente de escolher a muacutesica que vamos tocar Esse raacutedio que somos natildeo escolhe sozinho a muacutesica que toca Ao mesmo tempo essa escolha tambeacutem natildeo eacute

feita por um capacitor eletroliacutetico dentro dele nem pela matildeo que ajusta a frequecircncia nem pelo locutor responsaacutevel pela programaccedilatildeo nem pelo muacutesico que compocircs a canccedilatildeo

ndash Mas algo em noacutes prefere ouvir essa e natildeo aquela muacutesica ndash interrompe um ator

ndash Sim mas que algo seria esse ndash pergunto ao grupo ndash Haveria uma substacircncia uma alma agindo dentro de vocecirc Vocecircs percebem como eacute ingecircnuo o pensamento atomista Pensar aquilo que quer em noacutes como uma unidade uma substacircncia isolada um Eu eacute o mesmo que dizer que quem escolhe a muacutesica eacute o capacitor eletroliacutetico do raacutedio Quando algo quer em noacutes esse algo estaacute em muitos eacute atravessado por muitos composto por muitos Multidotildees humanas e inumanas nos habitam e nos forccedilam a querer assim e natildeo de outra forma Haveria como culpar responsabilizar criminalizar individualmente o sujeito por tocar essa e natildeo aquela muacutesica ndash da mochila retiro O Crepuacutesculo dos Iacutedolos e leio um trecho do oitavo aforismo de Os Quatro Grandes Erros

Qual pode ser a nossa doutrina Aquela para a qual ningueacutem daacute ao homem suas qualidades nem Deus nem a sociedade nem os pais ou os antepassados nem ele proacuteprio () Ningueacutem eacute responsaacutevel pelo fato de existir dessa ou daquela maneira nesta ou naquela condiccedilatildeo neste ou naquele meio () Que ningueacutem seja mais tomado como responsaacutevel que o modo de existir natildeo possa mais levar a uma prima causa que o mundo nem como sensorium nem como espiacuterito seja mais uma unidade isto e somente isto eacute a grande libertaccedilatildeo ndash eacute por isso e unicamente por isso que foi restaurada a inocecircncia

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do devir A Ideia de Deus foi ateacute agora a principal objeccedilatildeo contra a existecircncia Noacutes negamos Deus negamos em Deus a responsabilidade eacute com isso e unicamente com isso que salvamos o mundo 28

Assim se Fausto vende sua Alma a Mefistoacutefoles natildeo eacute por escolha individual mas sim por ser a uacutenica accedilatildeo possiacutevel na rede que Fausto habita Acho que vocecircs acertam quando transferem o problema do sujeito para a eacutetica No fundo eacute isso Se sou uma multidatildeo ou se um coletivo de forccedilas me carrega com quais outras multidotildees traccedilo alianccedilas Ou seja que tipo de vida experimento se me aproximo dessa linha de forccedila se me distancio daquela

E por falar em eacutetica achei muito feliz o momento em que vocecircs evidenciam que a organizaccedilatildeo da Escola NUTe natildeo se fez a partir de uma disputa entre Alexandre e Wilfried Mas sim entre forccedilas infinitamente maiores que eles Imaginar essas forccedilas combatendo em um Alexandre isolado do mundo pode ser um recurso didaacutetico bastante eficiente mas eacute onde vocecircs correm perigo em minha opiniatildeo de serem capturados pela Identidade-Eu-Alma

Seria preciso distanciar suficientemente Alexandre de NUTe para que o asseacutedio eacutetico que parte de Mefistoacutefoles pudesse se evidenciar como Asseacutedio de Apolo Ou seja eacute Apolo quem quer sobrepujar atraveacutes da razatildeo da temperanccedila da organizaccedilatildeo as forccedilas criativas e caoacuteticas de Dioniso experimental O conjunto de forccedilas que estou nominando como Dioniso resiste por um bom tempo elas insistem lutam vocecircs compotildeem imagens excelentes

28 Friedrich Nietzs-che A Vontade de Po-der Aforismo 488

nesse sentido Se no final Dioniso abandona a guerra por cansaccedilo desgaste ou por realmente ter sido ultrapassado por Apolo se Apolo vence no final mais uma vez nos damos conta de que natildeo estaacute em jogo ldquo() nenhuma lsquosubstacircnciarsquo antes algo que anseia por fortificaccedilatildeo e que apenas indiretamente quer-se lsquomanterrsquo (ele quer ultrapassar-se)rdquo29

No exato momento que finalizo a citaccedilatildeo do aforismo o grupo que ensaia na sala ao lado interrompe a conversa com seu jaacute enfadonho

ndash Mestre mestre mestreO grupo com o qual estamos conversando

natildeo gosta da intervenccedilatildeo e pede gentilmente aos intrusos que retornem ao seu local de ensaio Sem lhes dar a miacutenima importacircncia continuam

ndash Mestre mestre mestreDe repente uma explosatildeo fumaccedila gritos de

dor um ator atingido na perna chora pedindo socorro Os atores intrusos olham para o ceacuteu e clamam

ndash Mestre mestre mestre Sobre nossas cabeccedilas desce num

paraquedas multicolorido o Ator-Professor que agora porta uma metralhadora de plaacutestico e dezenas de rojotildees os quais acende e despeja agraves gargalhadas Todos se afastam procurando local seguro mas o grupo intruso continua com a cena bizarra

ndash Mestre mestre mestreAo pisar no chatildeo o Ator-Professor-

Guerrilheiro inicia uma panfletagem

29 Friedrich Nietzs-che A Vontade de Po-der Aforismo 488

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Agrave matriacutecula no curso de teatro do NUTe ele convida os assustados atores escondidos os transeuntes os funcionaacuterios do teatro ndash que a essa altura jaacute haviam chamado a poliacutecia e a toda forccedila de seus pulmotildees exigiam explicaccedilotildees bem como responsaacuteveis pelo acontecido ndash e tambeacutem os passarinhos as lantejoulas e os caminhotildees Em meio a tantos convites o Ator-Professor-Guerrilheiro insiste em entregar o cartaz a uma furiosa funcionaacuteria de crispados dedos em riste a qual inicialmente esmaga o papel A4 no chatildeo sob seus delicados sapatos azuis de nuacutemero 43 recebendo-o logo na sequecircncia em sua boca pelas matildeos do Ator-Professor-Guerrilheiro que com certa brutalidade ali o coloca fazendo com que a funcionaacuteria furiosa se cale e se alimente do material o que soacute consegue com o apoio de um elevado nuacutemero de bofetadas e da ameaccedila de trocar o papel por dois rojotildees acesos

Dada a balbuacuterdia todos os demais que ensaiavam cada qual em local distinto agrupam-se em frente agrave antiga sala do NUTe O grupo que estava no pequeno auditoacuterio reclama o cartaz utilizado na panfletagem Acusam o grupo do Ator-Professor-Guerrilheiro de roubar seu aperitivo argumentam que o cartaz estava no jogo de aperitivos de nuacutemero 4 escolhido por eles O grupo exige a devoluccedilatildeo imediata do aperitivo jaacute que passaram boa parte do ensaio trabalhando sobre ele

Infelizmente eles natildeo ouvem e continuam encenando ou o que quer que fosse aquilo que estavam fazendo O Ator-Professor-Guerrilheiro sobe nos ombros dos demais atores de seu grupo que estranhamente sossegaram a cantilena miacutetica e agora estatildeo perfilados em formaccedilatildeo de piracircmide humana Assim que chega ao topo para desespero e pavor de todos dispara sua metralhadora

() natildeo deu uma semana um mecircs depois ele tava montando um curso laacute dentro do Teatro de interpretaccedilatildeo pra cinema e TV e vem uma ordem da direccedilatildeo do teatro () vieram laacute jogaram o cartaz na minha mesa e ldquoolha noacutes temos um contrato com uma outra escola que vai fazer cursos de cinema e viacutedeo Vocecircs satildeo teatro natildeo pode ter duas escolas fazendo a mesma coisa aqui dentrordquo Foi pra mim um baque grande ldquopocirc como eu faccedilo interpretaccedilatildeo de cinema e TV haacute mais de cinco anosrdquo Tinha programas o documentaacuterio do Hermann Baumgarten eacute do terceiro curso que a gente fez Gerou um documentaacuterio neacute aniversaacuterio da TV Galega Entatildeo tinha Aiacute vem essa ldquoPocirc mas quem eacute que taacute dando esse cursordquo ldquonatildeo isso eu natildeo posso dizer diz a gerente do teatrordquo (entrevista com Alexandre Venera paacuteginas 84-85)

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Os disparos atingem dois atores o carro funeraacuterio da prefeitura e um peacute de abacate no estacionamento Com o sangue correndo pela calccedilada o motorista de smoking ndash por sinal um beliacutessimo smoking preto ndash avaliando os estragos na lataria do carro e com as folhas do abacateiro pedindo clemecircncia eu me sinto na obrigaccedilatildeo de restabelecer a ordem Atraveacutes dos poderes que me foram confiados pelo Ministeacuterio da Cultura no afinco de coordenar este projeto convoco todos os atores que compotildeem este grupo terrorista e sumariamente os demito

Numa gargalhada estrondosa o Ator-Professor-Guerrilheiro do alto de sua piracircmide humana sem a menor consideraccedilatildeo agrave minha posiccedilatildeo coordenativa aciona mais uma vez sua terriacutevel metralhadora

Houve aiacute uma coisa Um mal-estar que eu natildeo sei de onde surgiu e o Alexandre tomou a decisatildeo de mandaacute-las embora E nesse iacutenterim como na eacutepoca elas faziam parte do meu grupo do Arte Atroz ndash eu acho que aiacute surgiu essa rusga neacute ou vocecirc eacute Arte Atroz ou vocecirc eacute NuTE ndash ele as mandou embora e eu me vi e natildeo me arrependo disso jaacute conversamos vaacuterias vezes sobre isso eu me vi na obrigaccedilatildeo e faria de novo eu apoiei a saiacuteda delas saindo junto com elas E nessa eacutepoca a gente pensou ldquoporque natildeo montar uma escola de teatro que natildeo seja o NuTE que fosse nossardquo (entrevista com Giba de Oliveira paacutegina 19)

O grupo que ensaiava no pequeno

auditoacuterio exige justiccedila Levantando faixas e cartazes iniciam uma manifestaccedilatildeo em prol dos direitos aperitivantes Em marcha repetem frases de efeito como ldquoo grupo unido jamais

seraacute vencidordquo ou ldquo um dois trecircs quatro cinco mil enfia a metralhadora dentro do barrilrdquo ou ainda ldquoqueremos o nosso aperitivordquo e o mais recorrente entre todos ldquomonstro monstrengo monstrinho devolva jaacute o nosso aperitivinhordquo

Tento negociar com o grupelho terrorista oferecendo aperitivos natildeo ensaiados e ateacute mesmo algumas citaccedilotildees filosoacuteficas peccedilo que em troca eles libertem os aperitivos que estatildeo fazendo de refeacutens Alguns atores terroristas demonstram interesse na proposta A metralhadora de plaacutestico faz uma pausa Eles conversam e apoacutes alguns minutos chegam a um acordo Aceitam a proposta mas querem um helicoacuteptero para a fuga Apenas para ganhar tempo digo que vamos tentar conseguir peccedilo que mantenham a calma O grupelho terrorista ameaccedila sacrificar mais um dos aperitivos do grupo protestante caso suas exigecircncias natildeo sejam imediatamente atendidas A tensatildeo eacute enorme Alexandre me pergunta se consigo proteger a descida pela escada Digo que posso tentar mas que seria loucura descer agora o risco de ser atingido eacute grande demais Ele insiste eu monto a proteccedilatildeo Escada abaixo ele corre mas no uacuteltimo degrau o Ator-Professor-Guerrilheiro percebe a movimentaccedilatildeo e dispara sem nenhuma compaixatildeo

() uma semana antes tava trabalhando e ali os jurados o pessoal que tava no juacuteri um deles era conhecido natildeo lembro quem mas ele ldquopocirc e Alexandre nada mais de teatrordquo Ah natildeo Uma hora saiu natildeo eacute maacutegoa mas eacute o tiro que tinha pra dar neacute ldquocara foi muito tempo inuacutetil fuacutetil que eu gastei queimei minha vida e nada apareceu

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neacuterdquo Hoje a gente taacute falando de uma escola neacute mas era assim uma uma coisa que ficava muito bairrista tinha que taacute andando em cima de cascas de ovos neacute cuidando pra natildeo quebrar porque por picuinhas gente que achava que tava lutando por um mercado por alunos (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 83)

Alexandre eacute atingido no ombro direito Mesmo ferido continua correndo Consegue chegar ao ldquoTudo por R$ 199rdquo da esquina Entra na loja Poucos segundos depois retorna com um helicoacuteptero vermelho em suas matildeos Em frente ao caixa raacutepido do Bradesco grita ao grupo terrorista que estaacute com o helicoacuteptero que iraacute deixaacute-lo ali na calccedilada Pede para que mantenham a calma que estamos cumprindo com todas as exigecircncias deles e que eacute a vez deles cumprirem com o combinado

O grupo terrorista concorda Os aperitivos do grupo protestante satildeo libertados Os atores do grupo protestante se emocionam abraccedilam seus aperitivos eacute um momento de muita comoccedilatildeo soluccedilos e laacutegrimas

O grupo terrorista desce a escada atravessa a rua estaacute cerca de poucos metros do helicoacuteptero quando chega a poliacutecia armada da cabeccedila aos peacutes com bolinhas de papel Temendo ter de passar pelos mesmos exames ultrassonograacuteficos impostos a Joseacute Serra durante o pleito de 2010 os atores terroristas se entregam satildeo algemados e levados sob aplausos ao camburatildeo Um suspiro de aliacutevio perpassa todos os demais Pergunto a Alexandre se estaacute tudo bem com ele Ele responde que sim mas que

precisa fumar um cigarro Sorrindo pergunta se quero um cafeacute respondo que sim e ele mais uma vez se dirige agrave secretaria da Carona Escola de Teatro Sentado no chatildeo encostado na parede do teatro comeccedilo a rabiscar alguma coisa em meu bloco de anotaccedilotildees Um aperitivo libertado soluccedila no colo de um ator ao meu lado Uma sensaccedilatildeo de chuva forte que termina se espalha pela calccedilada Entretanto ao levantar os olhos do papel-risque-rabisque vejo caiacuteda bem em minha frente a garrafa teacutermica da Carona Escola de Teatro Grito tentando avisar Alexandre mas eacute tarde demais Ele retorna peacute ante peacute de costas de dentro da secretaria com as matildeos estendidas acima do ombro O Ator-Professor-Guerrilheiro havia conseguido escapar Caminhava lentamente Na matildeo esquerda trazia a metralhadora apontada para Alexandre e com a matildeo direita tampava a boca do aperitivo que fazia de refeacutem

Os atores do grupo protestante vatildeo ao desespero

ndash Meu aperitivo meu pequeno aperitivondash Todo mundo quieto ndash exige o Ator-

Professor-Guerrilheiro - vocecircs me enganaram confiei minha cena a vocecircs minha grande cena meu melhor momento e o que foi que vocecircs fizeram comigo

ndash Calma ningueacutemndash Eu mandei todo mundo ficar quieto

porra

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Aiacute chegou um momento em que pros alunos jaacute natildeo compensava mais pagar a mensalidade da Escola e Entatildeo eles saiacuteram e me convidaram pra sair junto neacute As coisas jaacute natildeo estavam laacute muito boas pra mim natildeo estavam ruins natildeo mas jaacute natildeo me davam muito prazer as coisas no NuTE A gente tava fazendo uma montagem nova numa ideia de montagem nova e eu estava no pique do Grupo (entrevista com Peacutepe Sedrez paacutegina 30)

A poliacutecia ouve a rajada de tiros e retorna Apoacutes alguma perseguiccedilatildeo capturam o ator que finalmente se rende e eacute levando junto aos demais Alexandre esquece o cafeacute e acende um cigarro Fuma Os atores do grupo protestante estatildeo em estado de choque Possivelmente a psiquiatria moderna diagnosticasse o quadro como siacutendrome do pacircnico Balbuciam estranhas interjeiccedilotildees Um deles acredita estar sendo acometido por ataque cardiacuteaco outro enfartando a grande maioria grita que estaacute tendo um treco Pedem socorro ambulacircncia choram compulsivamente Por sorte passava pelo local um psiquiatra de maleta preta e guarda-poacute branco que gentilmente abriu uma caixa de medicamentos e disponibilizou antidepressivos a todos Foi uma festa Apoacutes medicaacute-los o meacutedico recomenda trecircs meses de afastamento do trabalho Sem pestanejar aceitamos desejando boas melhoras aos atores

Nesse instante os atores que vieram conosco do grande auditoacuterio se aproximam e em grupo solicitam abandonar o projeto Estupefato pergunto o motivo Eles sustentam haver uma contradiccedilatildeo teoacuterica de minha parte ao empregar simultaneamente a doutrina

da inocecircncia e da irresponsabilidade de Friedrich Nietzsche e utilizar a poliacutecia como soluccedilatildeo literaacuteria a um conflito ficcional Argumento que mantenho um carinho especial pelas contradiccedilotildees por me parecerem bem mais saudaacuteveis do que as interpretaccedilotildees puritanas mas que nesse momento natildeo fora proposital minha tentativa era problematizar a importacircncia de Apolo na questatildeo Como Viver O grupo rebate dizendo que ateacute entatildeo o que eu fazia era justamente o contraacuterio segundo eles apologia a Dioniso Eu me nego a aceitar o estereoacutetipo e ao mesmo tempo analiso que o vencedor em nossa cultura foi sim Apolo Crucificado que nossa necessidade de negar a morte se deve justamente a um excesso de zelo de cuidados de proteccedilatildeo de leis para com o indiviacuteduo e que trazer Dioniso de volta nos ajudaria a aceitar a vida como ela eacute finita e traacutegica Contudo o Dioniso puro sem misturas eacute tatildeo insuportaacutevel quanto o niilismo a que chegamos via cristianismo Euriacutepedes nos mostrou em As Bacantes algumas imagens Dioniso puro nos levaria a isso matildees servindo cabeccedilas de seus proacuteprios filhos em bandejas de prata Ou seja sem a temperanccedila de Apolo os deliacuterios de Dioniso tambeacutem nos fariam mal A pergunta entatildeo passa a ser como temperaacute-los como dar espaccedilo a ambas as forccedilas Nesse sentido a poliacutecia surge na cartografia para ilustrar a soluccedilatildeo cristatilde que desde a invenccedilatildeo do Livre Arbiacutetrio por Santo Agostinho sempre foi a mesma capturar Dioniso e obrigaacute-lo a se responsabilizar individualmente por seus atos A genealogia dessa histoacuteria conhecemos

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bem vai da penitecircncia agrave penitenciaacuteria O modelo cristatildeo da culpa responsabilidade individual e penitecircncia eacute adotado pelo ldquoEstado Laicordquo que constroacutei penitenciaacuterias para punir individualmente em cada cela os culpados Ou seja seria preciso psicologicamente falando ao mesmo tempo estourar as grades que prendem Dioniso e retirar Apolo da Cruz A meu ver a questatildeo colocada por Grotowski ndash Como Viver ndash passa por aiacute Minha tese interpretaccedilatildeo ou seja laacute o nome que se queira dar a isso eacute que NuTE tenta libertar Dioniso libertar as forccedilas avassaladoras animais sexuais bizarras criativas e selvagens em noacutes e NUTe tenta permitir que essa libertaccedilatildeo aconteccedila proporcionando nutrientes fiacutesicos e intelectuais aos nutes comer vestir pagar o aluguel beber conseguir experimentar e fazer algo com um conceito

Apesar da tentativa de conciliaccedilatildeo o grupo continuou irredutiacutevel jaacute havia tomado sua decisatildeo e parecia inclusive profundamente magoado traiacutedo ateacute Despedem-se prometendo escrever uma cartografia totalmente dionisiacuteaca onde natildeo haveraacute nem sombra de Apolo ldquovamos escrever uma cartografia agrave altura do que foi o NuTE Dioniso eacute um bom deus quando natildeo eacute negadordquo eles saem dizendo

Com um grupo preso um grupo doente e outro em busca de uma narrativa pura Alexandre e eu compreendemos que era hora de fumar um cigarro Fumamos Mas e agora o que fazer Sem atores natildeo haacute como produzir um espetaacuteculo Os dois grupos restantes

percebendo nosso abatimento fazem de tudo para nos animar Malabarismos piruetas cambalhotas enquanto um deles conta a piada do papagaio que engoliu um litro de vodca outro se dirige agrave lanchonete mais proacutexima e nos traz dois copos de cafeacute Por fim fazem uma beliacutessima propaganda e nos convidam para assistir agraves cenas em que estiveram trabalhando juntos Com um sorriso amarelo sabendo do esforccedilo dos dois grupos resolvemos apesar do cansaccedilo e da anguacutestia aceitar o convite Alexandre propotildee que ambos os grupos se apresentem no mesmo local para ganharmos um pouco de tempo e de corpo O local escolhido por unanimidade foi o Espaccedilo (O)Caso

Arrastamo-nos escadas acima Degrau a degrau e ainda mais um degrau A vida estava pesando alguns quilos a mais Alexandre emudecido volta e meia tocava com os dedos da matildeo direita nas paredes brancas do teatro De longe comeccedila a chegar uma cantilena fuacutenebre Em alguns atores haacute mais de uma laacutegrima agrave espera O deslocamento se assemelha muito a um veloacuterio Do uacuteltimo degrau que daacute acesso ao terceiro piso avistamos um caixatildeo vermelho Os atores se posicionam lado a lado e suspendem o caixatildeo passando a carregaacute-lo A cena eacute fortiacutessima Alexandre se emociona pede para ajudar um ator lhe cede uma alccedila A procissatildeo segue cantando cada vez mais alta a triste canccedilatildeo que anuncia o fim do NUTe

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Sentada no que parece ser uma apocaliacuteptica mesinha de bar onde repousam algumas garrafas vazias de cerveja ao lado de boa parte do mundo destruiacutedo empunhando a foice-clicheacute-ceifadora Dona Morte interrompe a procissatildeo para danccedilar um nuacutemero de hip hop Apesar de entediante e vulgar a performance recebe entusiaacutesticos aplausos Dona Morte fica satisfeita Permite agrave procissatildeo seguir A triste cantilena retorna Contudo alguns poucos metros adiante escutamos a famosa foice rasgando o piso do teatro Mais uma vez o cortejo eacute interrompido o caixatildeo eacute posto no chatildeo todos olham para traacutes Dona Morte balanccedila a cabeccedila em sinal afirmativo e aciona o play do portaacutetil surround system 3 em 1

Eu recordo que alguns anos depois muitos anos depois talvez em 2001 eu tomando cerveja com o Venera numa conversa muito divertida ele dizia que o iniacutecio da derrocada do NuTE o primeiro NuTE se deu quando o lsquoErsquo de experimental virou lsquoErsquo de escola Porque daiacute a tentativa de criar a escola foi nos institucionalizando nos burocratizando foi nos dando responsabilidades agraves quais nem todos estavam preparados principalmente os mais

Foto do espetaacuteculo A Morta gentilmente cedida pela fotoacutegrafa Maria Emiacutelia da Silva Para saber mais sobre a montegem consul-te o Terceiro Ensaio e o anexo Livreto Es-petacular Aparecem na Foto Juliana Von Czekus Carlos Cres-cecircncio Sebastiatildeo Crispim

jovens que eram a maioria absoluta (entrevista Dennis Raduumlnz paacutegina 25)

Stop Dona Morte volta a se sentar na mesinha Alguns atores lhes agradecem a gentileza ela acena suavemente e a caravana passa Chegando ao Espaccedilo (O)Caso o caixatildeo eacute cuidadosamente engatado na lateral esquerda onde havia para ele quatro correntes de argola duas para o centro e duas para as extremidades As correntes desciam do teto e uma vez acoplado a elas o caixatildeo criava quase espontaneamente um balanccedilo intermitente que dialogava com os movimentos do gigantesco boneco Joatildeo Bobo agrave direita do espaccedilo Entre os dois com uma luz esverdeada brotando do fundo um Tuacutenel

De dentro do Tuacutenel surge um Ator-Adolescente muito magro e franzino vestido de preto ao estilo Dark anos 80 Passeia pelo palco brinca com o Joatildeo Bobo experimenta o caixatildeo Por fim se aproxima de sua plateia e num tom quase confidencial como quem transcreve seu diaacuterio para um blog diz

Quando eu tinha quatorze anos do nada estava andando na rua XV de Novembro e vi um cartaz muito humilde em mimeoacutegrafo falando do Curso de Iniciaccedilatildeo ao Teatro e num impulso como se fosse uma epifania acabei me inscrevendo fui o inscrito 002 E lembro como se fosse hoje a primeira vez em que estive na Sala Verde no andar teacuterreo do teatro Fui recebido pelo Wilfried Krambeck e tambeacutem por aquele que depois eu saberia que eacute o Aacutelvaro Alves de Andrade Foram muito receptivos e fiz laacute esse primeiro curso de iniciaccedilatildeo ao teatro de marccedilo a julho de 1986

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Era um curso que tinha uma carga horaacuteria ateacute relativamente grande se pensarmos hoje carga de quatro meses Passaacutevamos por noccedilotildees baacutesicas de miacutemica de interpretaccedilatildeo de iluminaccedilatildeo E o curso preparava vocecirc para a experiecircncia radical que eacute colocar os peacutes pela primeira vez num palco () (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 1)

O Ator-Adolescente retorna para o Tuacutenel desaparece na luz verde Quatro atores rotacionam o Tuacutenel em sentido inverso fazendo com que iniacutecio e fim troquem de posiccedilatildeo A luz verde se apaga em seu lugar surge um rocho-azul-escuro-com-tonalidades-avermelhadas que preenche todo o espaccedilo O caixatildeo se abre range de dentro para fora uma matildeo se apoia nas laterais faz forccedila unhas arranham madeiras macabras sons estridentes aparece a segunda matildeo os braccedilos a cabeccedila O ator sai do caixatildeo atravessa o Tuacutenel para em frente ao Joatildeo Bobo e passa a espancaacute-lo com muita forccedila A cada descida atraveacutes de uma gravaccedilatildeo ruidosa o boneco fala

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Mas eu tenho que ser

educadorJoatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu tenho que ganhar

dinheiroJoatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu tenho que

ensinar Eu tenho que preencher borderocirc eu tenho que fazer a parte burocraacutetica tenho que administrar uma escola

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash E eu quero ser artista

Joatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu cheguei e comecei a dizer na minha primeira e uacutenica briga de saiacuteda do NuTE () ldquonatildeo cara eu quero ser artista a partir de agora eu natildeo quero mais preencher plano de aula escrever a lista de chamada de aluno se pagou a mensalidade quem natildeo pagou natildeo quero ver quanto foi a conta do telefone da escola porque a sala taacute suja eu tenho que acordar mais cedo pra buscar um caixatildeo de defunto pra peccedila que vai ser montada hoje agrave noite o nosso figurinordquo coisa que me tomava demais entende

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quando decidi ser artista foi muito velho jaacute mas eu passei eu acho a fazer mais arte agora

Joatildeo Bobo agrave Direita ndash Alexandre Venera em entrevista com Juliana paacutegina 67

O Ator continua surrando o Boneco ateacute furaacute-lo num pontapeacute agudo Um prolongado silvo de ar se espalha pelo ambiente refrescando a melancoacutelica sequecircncia de imagens O ator retorna para seu caixatildeo As correntes satildeo desatadas e a urna colocada no chatildeo Pela coxia direita entra em cena uma retroescavadeira amarela com a caccedilamba cheia de barro ela ergue o braccedilo e laacute de cima despeja-o lentamente sobre o caixatildeo Segue ao centro do palco apresenta uma dancinha tiacutepica desses modelos de maacutequina e sai

Os atores de ambos os grupos sentam-se no chatildeo e assim compreendemos que era

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o final da sequecircncia Aplaudimos Alexandre agradece a disponibilidade dos atores de continuarem o trabalho mesmo depois de tudo que aconteceu Pede desculpas pelo cansaccedilo e pela impossibilidade de continuar com os ensaios comenta que natildeo tem condiccedilotildees de seguir adiante Mas antes de sair faz questatildeo de parabenizar ambos os grupos pela forma como compartilharam seus aperitivos Diz que foram muito felizes com a proposta de criar um Tuacutenel entre os aperitivos de nuacutemero 1 e 5 Eu lhe pergunto o que iremos fazer com os Aperitivos Livretantes que natildeo foram utilizados por nenhum grupo Ele me responde que natildeo consegue pensar em mais nada hoje pede para comunicar-me com ele caso eu tenha alguma ideia

Visivelmente abatido Alexandre deixa os ensaios Enquanto caminha de cabeccedila baixa procurando um uacuteltimo cigarro torto no maccedilo recebe um forte e emocionado aplauso dos atores restantes Ele se vira olha o grupo por alguns segundos Uma laacutegrima desce em seu rosto Caminha escada abaixo

Extremamente cansado mas vencido pela curiosidade aproximo-me de um ator do grupo que ensaiava no poratildeo e lhe pergunto o que havia naquele bilhete entregue pelo diretor durante a cena do braccedilo de ferro O ator retira do bolso o pedaccedilo de papel amassado e me entrega Nele eu leio

Eu acho que o NuTE falhou quando tentou ser apoliacuteneo porque todo o processo era dionisiacuteaco e na medida em que vocecirc tenta colocar Apolo

aquilo contrastava com as nossas naturezas mais primeiras Entatildeo eacute engraccedilado porque nessa dualidade apoliacuteneo e dionisiacuteaco e qual seria essa potecircncia ou impotecircncia Acho que era um grupo absolutamente dionisiacuteaco como artista que falhou muito quando tentou ser apoliacuteneo como docente (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 46)

Levanto o rosto e vejo os atores tristes emudecidos dobrando guardando o material utilizado em cena Decido ajudaacute-los Apesar de natildeo haver portas no Espaccedilo (O)Caso quando deixamos o local tive a impressatildeo de sentir um pouco o que sentiu Alexandre Venera ao fechar pela uacuteltima vez a porta do NUTe em 2002

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objeto cecircnico utilizado no espetaacuteculo lsquomaqbeacutete uma

interferecircncia na transmissatildeorsquo

Foto

Ch

arle

s S

teu

ck

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QUINTO

ENSAIOQUINTO ENSAIO ndash 08 DE MAIO DE 2015

Sexta-feira de Insocircnia03h43min

Imagem Insistente Solidatildeo

Nada Ningueacutem Nem mesmo uma negaccedilatildeo Vazio Deserto Naacuteusea Um gosto metaacutelico em minha respiraccedilatildeo fazia subir Descer Subir Descer Estranhas ondas a explodir espumas oxidaacuteveis no costatildeo de minhas veacutertebras Ao fechar os olhos sempre era arrebatado pelas imagens do uacuteltimo ensaio Meu estocircmago ou o que estivesse em seu lugar carregava minha alma aos buracos vazios de meu plexo Sem conseguir dormir passava as noites na internet Da paacutegina de e-mails ao Facebook do Facebook ao blog Nute Para Todos do blog agrave paacutegina do Orkut dos Fakes-NuTE do Orkut a um blog amigo e deste agrave paacutegina de e-mails Uma vez duas vezes toda a madrugada O ciacuterculo repetia repetia e mais uma vez recomeccedilava O que fazer Eu estava esgotado Natildeo tinha de onde arrancar forccedilas para convencer Alexandre novamente a dirigir o espetaacuteculo Pior bem pior que isso Na verdade meu assento beirava um precipiacutecio precisava continuar a montagem o projeto estava em meu nome e a prestaccedilatildeo de contas comeccedilaria logo logo a bater agrave porta

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mas entendia agora pois experimentava em meu proacuteprio corpo um tanto dos motivos que levaram Venera a abandonar o teatro O que fazer Estava praticamente sem atores Contava com metade do elenco talvez nem isso um terccedilo do grupo Natildeo tinha recursos para continuar locando salas de ensaio nem para uma segunda seleccedilatildeo de atores os cheques jaacute haviam sido depositados Havia gastos com alimentaccedilatildeo hospedagem combustiacutevel uma boa parte das rubricas estava zerada O que fazer Eu natildeo conseguia dormir Tudo empurrava agrave mesma direccedilatildeo Parecia me restar apenas aquele caminho que haacute tanto teimava em natildeo seguir

Foi assim que exausto tomei a decisatildeo cancelar a montagem do espetaacuteculo Estava resolvido Precisava agora avisar o grupo Olhei o reloacutegio eram 05h47min Esperei ateacute as 08h30min e comecei a ligar para os atores que haviam permanecido ateacute o final do quarto ensaio Pareceu-me desrespeito com o processo terminar tudo por telefone assim natildeo lhes adiantei o assunto dizia apenas tratar-se de um ensaio agendado agraves pressas para a tarde daquela sexta-feira Por volta das 14 horas eles comeccedilaram a chegar

Como era de costume sentamos em ciacuterculo sem cadeiras Ao se perceberem como sobreviventes da montagem nada disseram sobre os demais atores Natildeo demorou muito contudo para se colocar em questatildeo a presenccedila de Alexandre Expliquei o momento que estaacutevamos atravessando retomei algumas

das principais motivaccedilotildees que desencadearam o projeto e sem muitas delongas anunciei ao grupo o encerramento das atividades Natildeo houve protesto todos compreendiam que era a uacutenica coisa possiacutevel a se fazer Um forte aperto de matildeo e uma laacutegrima escondida puseram fim aos ensaios Assisti ao uacuteltimo ator fechando a porta deitei-me no palco por um segundo e natildeo sei bem provavelmente o cansaccedilo extremo as tantas noites de insocircnia o momento conclusivo algo me fez dormir ali mesmo

Desta situaccedilatildeo Alice no Paiacutes das Teatrologias surgiram condensaccedilotildees e deslocamentos num sentido propriamente freudiano dos termos Sonhei que haviacuteamos terminado a montagem e estaacutevamos apresentando circulando com o espetaacuteculo Brasil afora Viajaacutevamos todos no Kombinutebus in Progress espeacutecie de ocircnibus em formato de Kombi ou Kombi em formato de ocircnibus que ia se fazendo agrave medida que viajava Visitamos muitas cidades quase sempre com razoaacutevel sucesso de puacuteblico e criacutetica Mas a cada apresentaccedilatildeo laacute estava eu na primeira fila anotando as cenas escrevendo o bendito roteiro Eu natildeo entendia porque continuava escrevendo mesmo depois da estreia era algo como uma obrigaccedilatildeo uma funccedilatildeo minha parte no espetaacuteculo Eu natildeo queria mais escrever estava cansado ansiava finalizar parar queria assistir ao espetaacuteculo Na passagem de uma cidade a outra um ator comenta comigo que a proacutexima apresentaccedilatildeo seria a uacuteltima A trupe comemora vamos para casa depois de tantos meses ndash ou seriam anos ndash na estrada

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Sorrindo percebo uma chance enfim de assistir ao espetaacuteculo de nada mais fazer apenas relaxar e contemplar as cenas que com tanto esforccedilo ajudei a criar Convenccedilo a mim mesmo de que natildeo faz sentido descrever cenas de uma uacuteltima apresentaccedilatildeo tais anotaccedilotildees seriam inuacuteteis visto que todas as apresentaccedilotildees jaacute ocorreram Quando toca o primeiro sinal como de costume procuro meu lugar Tudo estaacute diferente eacute incriacutevel a sensaccedilatildeo as anotaccedilotildees que tanto fiz meras linhas escritas e reescritas vatildeo agora respirar Toca o segundo sinal meu corpo vibra Os atores se posicionam em cena Percebo a plateia completamente lotada Toca o terceiro sinal Nada O espetaacuteculo deveria comeccedilar mas os atores estatildeo paralisados todos olham para mim Uma gigantesca tela branca se abre e Alexandre aparece projetado nela O diretor agitado com dedos em riste exige que eu anote as cenas Toda a plateia olha em minha direccedilatildeo Subo no palco extremamente irritado e improviso um breve discurso onde argumento que natildeo faz o menor sentido anotar cenas de uma uacuteltima apresentaccedilatildeo A plateia entatildeo se levanta ergue os braccedilos e num macabro uniacutessono lanccedila a voz

ndash Que soacute se escrevam roteiros depois de estrearem os espetaacuteculos O melhor roteiro eacute aquele que se escreve na uacuteltima apresentaccedilatildeo

Assustado acordo encharcado de suor e palavras Provavelmente estava gritando pois algueacutem me pergunta se estaacute tudo bem e me oferece um copo drsquoaacutegua Em minha volta gargalhadas e comentaacuterios Saindo do transe

percebo aos poucos os atores dos quais havia me despedido recentemente Estou cercado por eles Envergonhado com a situaccedilatildeo e ao mesmo tempo agradecido pela acolhida natildeo consigo escapar aos risonhos pedidos de uma narrativa oniacuterica Passo a lhes contar o que se passou e foi nesse momento em meio agrave descriccedilatildeo do sonho que algo muito mas muito estranho aconteceu

ndash Perfeito eacute isso mesmondash Que incriacutevel foi exatamente por isso que

resolvemos voltarndash Mas eacute sincronicidade demais para minha

cabeccedila como eacute possiacutevelO grupo experimentava algo muito intenso

Atordoado eu natildeo compreendia absolutamente nada Frases e mais frases de urra viva conseguimos

ndash Parabeacutens cara vocecirc encontrou sabia que conseguiria

ndash Oacutetimo oacutetimo muito bom vamos tocar assim entatildeo

ndash Maravilha eacute isso mesmo eacute isso mesmoLaacute pelas tantas sufocado com a

comemoraccedilatildeo resolvo perguntarndash Mas afinal de contas do que diabos vocecircs

estatildeo falandoSilecircncio geral Todos me olham O ator mais

sorridente se decidendash Eacute uma brincadeira ou vocecirc realmente natildeo

percebeu que conseguiu encontrar a saiacutedandash Saiacuteda ndash comeccedilava a ficar irritado com a

situaccedilatildeo ndash Mas que merda de palhaccedilada eacute essa

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Algueacutem pode me dizer o que estaacute acontecendo ndash Os atores se olham e caem na gargalhada Por alguns minutos que me pareceram horas freneticamente arregaccedilam dentes e bocas aos ares aos chatildeos a eles mesmos Eu permanecia sentado no piso madeirado do palco os atores que natildeo riam deitados riam em peacute Aos poucos um deles encontrou forccedilas para se acalmar e movido por uma compaixatildeo quase paterna sentou-se ao meu lado repousou sua matildeo esquerda em meu ombro e disse

ndash Saiacutemos daqui carregando uma forte sensaccedilatildeo de fracasso Era impossiacutevel ir embora Algueacutem natildeo lembro exatamente quem foi sugeriu uma cervejinha Fomos ao bar Depois de muito beber e muito falar nos demos conta de que o roteiro estaacute quase pronto de que faltam apenas as cenas do JOTE-Titac

ndash Sim mas o que estaacute pronto foi escrito para ser encenado por trecircs vezes o nuacutemero de atores que temos

ndash Aiacute eacute que vocecirc se engana Teu roteiro descreve as cenas que surgiram durante a Composiccedilatildeo de Mundos de cada Ensaio E nesses ensaios estaacutevamos sempre em grupos menores Alexandre nos pedia essa formaccedilatildeo em grupelhos Ou seja se pensarmos cada cena de forma isolada o roteiro que existe ateacute agora estaacute escrito para ser encenado pelo exato nuacutemero de atores que temos Certamente teremos um tanto de trabalho extra satildeo muitas cenas seria preciso fabricar energia para dar conta Mas todos queremos tentar voltamos para te dizer que queremos tentar

Nesse instante os demais atores mais calmos sentados em nossa volta repetem sorrindo

ndash Somos muito poucos para dividir queremos tentar

ndash Olha pessoal estou emocionado com isso tudo mas mesmo com esse sacrifiacutecio pessoal de cada um de vocecircs ainda estamos sem direccedilatildeo Alexandre natildeo vai voltar

ndash Mas as cenas jaacute estatildeo prontas Alexandre jaacute fez a parte dele Ele nos dirigiu e noacutes encontramos as cenas o processo de criaccedilatildeo estaacute pronto e registrado pelo roteiro Basta agora encenarmos

ndash Tudo bem tudo bem podemos ateacute conseguir encenar o que jaacute estaacute pronto Mas e o JOTE-Titac Foram treze ediccedilotildees treze anos de Jogos de Teatro eacute uma parte importante demais para simplesmente desaparecer do espetaacuteculo

ndash Vocecirc natildeo percebeu mesmo neacutendash Perceber o quecircndash Vocecirc resolveu isso no sonhondash Como assimndash Estaacute tudo pronto vocecirc soacute precisa colocar

no roteirondash Do que vocecircs estatildeo falando Noacutes nunca

ensaiamos nada sobre o JOTE-Titacndash O que acontecia no seu sonhondash Era diferente o espetaacuteculo estava

pronto eu natildeo estava anotando cenas de um ensaio mas de uma apresentaccedilatildeo da uacuteltima apresentaccedilatildeo

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ndash De uma uacuteltima apresentaccedilatildeo sobre

ndash Sobre o NuTE era o nosso espetaacuteculo

ndash Entatildeo por que vocecirc natildeo faz exatamente isso

ndash Mas que piada eacute essa Natildeo faccedilo isso porque noacutes ainda natildeo terminamos o espetaacuteculo porque nunca houve uma apresentaccedilatildeo sobre Espera Espera Mas eacute claro eacute isso ndash iniciando com um sorriso e desenrolando em gritos ndash o JOTE-Titac Experimentando NuTE Natildeo temos uma apresentaccedilatildeo sobre o NuTE mas oito Mais que isso noacutes filmamos todo o evento desde o sorteio dos textos na quinta-feira agrave noite ateacute as apresentaccedilotildees no domingo Fomos aos ensaios de cada grupo registramos o processo se natildeo me engano temos ateacute uma entrevista com cada um dos grupos participantes Eacute isso Eu posso descrever tudo que foi filmado

ndash Ou editar produzir pequenos viacutedeos que possam ser projetados durante o espetaacuteculo

ndash Eacute uma linda paisagem escrever com imagem e som

ndash Maravilha talvez essa escrita imageacutetica-sonora abra o JOTE-Titac ao nosso puacuteblico permita uma efetiva experimentaccedilatildeo do processo Quase como se o JOTE-Titac pudesse dizer algo sobre si mesmo Ou seja ao descrever o processo da deacutecima quarta ediccedilatildeo do JOTE as ediccedilotildees anteriores ficaratildeo espreitando nas entrelinhas

ndash Vocecirc estaacute querendo dizer que o JOTE-titac eacute sempre igual

ndash Natildeo Longe disso Cada JOTE tem a sua singularidade ndash atuaccedilotildees textos cenas situaccedilotildees ndash nunca se repetem O deacutecimo quarto pra destacar apenas um ponto foi temaacutetico os textos deveriam necessariamente falar sobre o NuTE Isso nunca havia acontecido antes Agora o disparador com pequenos ajustes eacute basicamente sempre o mesmo

ndash Disparadorndash Estou falando do regulamento dos Jogos

de Teatro Por exemplo para que esse JOTE-Titac pudesse acontecer tivemos que montar uma comissatildeo organizadora Isso sempre se repete todo JOTE precisa de pessoas que organizem o festival Essa comissatildeo espalhou aos quatro cantos a notiacutecia de que iria acontecer entre os dias 16 e 19 de julho de 2009 na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau o 14ordm JOTE-Titac Estabeleceu datas para que os autores enviassem seus textos e para que os grupos fizessem suas inscriccedilotildees O formato permitido aos textos a composiccedilatildeo permitida aos grupos os precircmios etc Convocou um juacuteri para selecionar os textos e um juacuteri para avaliar os espetaacuteculos30 Uma vez que os textos estavam selecionados e os grupos inscritos a comissatildeo organizadora pocircde sortear os textos e os horaacuterios de apresentaccedilatildeo aos grupos inscritos o que aconteceu dia 16 agrave noite Antes do sorteio nenhum grupo sabia qual seria seu texto depois do sorteio cada grupo teve apenas dois dias para montar o espetaacuteculo jaacute que todos apresentaram no domingo dia 19

ndash Mas entatildeo quem dispara os Jogos eacute a

30 O juacuteri que selecio-nou e premiou os tex-tos foi composto por Noemi Kellermann Gregory Haertel e Tacirc-nia Rodrigues O juacuteri que avaliou e pre-miou os espetaacuteculos foi composto por Joseacute Ronaldo Faleiro Noe-mi Kellermann e Peacutepe Sedrez

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comissatildeo organizadora e natildeo o regulamentondash Claro que natildeo pois tudo que a comissatildeo

organizadora faz eacute seguir o regulamento Pra usar uma imagem dos nossos Ensaios anteriores eu diria que o regulamento eacute o Aperitivo Cecircnico dos Jogos de Teatro

ndash Bacana isso hein Que tal a gente copiar a ideia que Alexandre trouxe para o Segundo e Quarto Ensaios e propor aqui tambeacutem um Aperitivo Cecircnico

ndash Fazer do regulamento dos Jogos de Teatro nosso aperitivo cecircnico

ndash Excelentendash Sim sim vai ficar joiandash Taacute vamos colocar entatildeo Do Festival de

Teatro Universitaacuterio de Blumenau para o JOTE-Titac e do JOTE para um Espetaacuteculo NuTE Esse regulamento eacute uma viagem

Rindo sozinho eu me dou conta de que ningueacutem entendeu a piada

ndash Vocecircs natildeo sabiam que esse regulamento foi originalmente escrito para o Festival de Teatro Universitaacuterio de Blumenau

ndash O regulamento do JOTE-Titac era o regulamento do FITUB

ndash Quase isso Em 1987 quando se estava organizando a primeira ediccedilatildeo do Festival de Teatro Universitaacuterio de Blumenau Alexandre Venera que participava dos debates tomou frente agrave construccedilatildeo de um regulamento que serviria como base para o Festival Passa algum tempo ele aparece com o documento que natildeo

contemplava apenas grupos universitaacuterios mas sim todo e qualquer sujeito que de alguma forma tivesse interesse em experimentar fazer teatro Resultado o grupo organizador natildeo aprovou o regulamento Alexandre frustrado retira-se de cena A primeira ediccedilatildeo do Festival Universitaacuterio aconteceu de 27 de julho a 01 de agosto Ironicamente em dezembro deste mesmo ano o NuTE lanccedila o que acabaria se tornando um dos festivais de teatro mais livres e intensos do Brasil os Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas o nosso JOTE-Titac31

ndash Quer dizer que o Festival Internacional de Teatro Universitaacuterio de Blumenau era pra ter sido um grande JOTE-Titac

ndash Calma vocecirc estaacute reduzindo as coisas Para dizer alguma coisa sobre o FUTB ou FITUB como eacute conhecido atualmente sem falar bobagem seria preciso uma nova pesquisa talvez um novo livro digo um novo espetaacuteculo Esse evento eacute complexo demais para dois ou trecircs paraacutegrafos apressados Melhor a gente se preocupar com nossa montagem

ndash Tambeacutem acho Aliaacutes natildeo entendi ateacute agora como vai funcionar na praacutetica esse tal escrever com imagem e som

ndash Bem na verdade eu tambeacutem natildeo entendi ainda Mas se vocecircs toparem podemos dar uma espiada nas filmagens do JOTE Eu passei todas as fitas para o HD do meu notebook eacute soacute ligar e assistir ao material

ndash Bacana Mostra aiacutendash Satildeo mais de 20 horas de filmagem Tem

31 Aiacute o Festival a TV ia dar todo apoio e natildeo sei o que laacute Aiacute pocirc um cara laacute sugeriu Pascoal Carlos Mag-no que fazia mostras de Teatro Universitaacute-rias () E aiacute pocirc va-mos fazer um Festival Universitaacuterio () Aiacute eu assim ldquonatildeo mas se fi-zer outro tipo de Fes-tival eu tenho um re-gulamentordquo e fui pra casa e paacute escrevi datilografei Montei o primeiro regulamento do JOTE-Titac e en-treguei pra eles Nes-sa o Faleiro jaacute tava ali e batendo papo o Fa-leiro tambeacutem gostou e coisa mas a coisa era pra ser um pou-quinho mais glamoro-sa neacute Aiacute eu recolhi o meu regulamento Natildeo deu trecircs meses depois foi o primeiro JOTE-Titac (risos) (Entrevista com Ale-xandre Venera paacutegi-na 124)

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QUINTO

ENSAIO

muita coisa Por onde vocecircs gostariam de comeccedilar

ndash Que tal soacute pra variar um pouco comeccedilarmos do comeccedilo ndash risos

ndash Mas eacute uma boa mesmo Eu lembro que naquela quinta-feira agrave noite vocecircs fizeram uma recepccedilatildeo para os grupos Foi antes do sorteio dos textos Era um momento de boas-vindas algo como uma saudaccedilatildeo uma apresentaccedilatildeo dos Jogos de Teatro

ndash Deixa ver se encontro aqui ndash procurando no computador

ndash Eu lembro disso foi Alexandre quem fezndash Acho que vocecircs estatildeo se referindo a esse

momento aqui ndash mostrando as filmagensndash Esse esse mesmondash Olha que bacana sou eu ali na plateiandash Ondendash Ali ao lado da menina de vermelhondash Ok Entatildeo vamos abrir o editor de viacutedeo

recortar esse trecho aqui colar com esse esse aqui natildeo estaacute muito bom e esse tem problema no aacuteudio vamos ajustar todos nessa uacuteltima sequecircncia e finalizar Agora eacute soacute exportar e fazer o upload Estaacute pronto Jaacute podemos assistir ou baixar se preferirem diretamente na internet

wwwyoutubecomwatchv=_TcDrbZdmig

ndash Deu certo Todo mundo conseguiu assistir Se algueacutem estiver com problemas para

assistir por favor contate-nos num desses endereccedilos nuteparatodosgmailcom ou wwwnuteparatodoswordpresscom

ndash Pra mim pareceu bem tranquilo de acessar tem vaacuterias opccedilotildees Acessei clicando direto no hiperlink

ndash Ficou engraccedilada essa dobradinha Alex Stein X Alexandre Venera

ndash Tambeacutem gostei mas fiquei na duacutevida se recortar um trechinho de O Monstro de Nutenstein natildeo estraga a surpresa do espetaacuteculo

ndash Acho que natildeo bem pelo contraacuterio deixa o puacuteblico curioso a respeito dessa peccedila que levou vaacuterios precircmios inclusive o de melhor montagem

ndash Taacute divertido coloca mais um viacutedeo aiacutendash Qualndash O sorteio dos textosndash Isso O sorteio com os copos de cachaccedila

aquilo foi muito bomndash Beleza ndash depois de algumas bricolagens

digitais ndash sorteio etiacutelico pronto para acessar

wwwyoutubecomwatchv=GPwtjL1rtfY

ndash Cresce cresce crescendash Ficou bizarro com essa trilha de O Homem

do Capotendash Agora entendi Funciona melhor que eu

pensavandash Essa muacutesica fazia parte da sonoplastia de

Viacutedeo abertura Jote-Titac

Viacutedeo Jote-Titac Sorteio dos Textos

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QUINTO

ENSAIO

O Homem do Capotendash Sim Sim chama-se Noite Ferrada32 Mas e

entatildeo o que vocecircs acharam vamos continuar com essa escrita imageacutetica-sonora Deu certo pra vocecircs

ndash Eu tocirc curtindo muitondash Eu tambeacutemndash Funciona cara funciona super bem Acho

que podes ir direto para o Aperitivo Cecircnico e dele para a Composiccedilatildeo de Mundos

ndash Como Aperitivo Cecircnico ficou o regulamento dos jogos de teatro

ndash Se tudo no JOTE-Titac eacute mesmo disparado por ele natildeo tem porquecirc ser outra coisa

ndash E a Composiccedilatildeo de Mundosndash Estou pensando em colocar como base

para essa Composiccedilatildeo de Mundos os oito textos que o juacuteri selecionou para o JOTE-titac Experimentando NuTE Que lhes parece

ndash Mas satildeo textos escritos por vaacuterios autoresndash Exatamentendash A Composiccedilatildeo de Mundos natildeo corre o risco

de ficar meio esquizofrecircnica Se a escrita de um autor jaacute eacute composta por centenas de milhares de pequenas almas o que dizer de uma escrita coletiva desse porte

ndash Rios de almasndash Cachoeirasndash Engarrafamento em Satildeo Paulo capitalndash Um imenso cardume de peixes no marndash Belas imagens-conceito meus caros

Pois eacute bem a poeacutetica desses fragmentos o que

32 Composiccedilatildeo de Alexandre Venera dos Santos

mais me interessa Quando olhamos uma cachoeira temos a impressatildeo de ver ali algo que chamamos cachoeira Mas na verdade a cachoeira eacute uma ilusatildeo ela natildeo existe O que haacute satildeo zilhotildees de gotiacuteculas de aacutegua descendo juntas descendo descendo sempre descendo Contudo eacute agradaacutevel olhar e ver ali uma cachoeira pensar nela como uma unidade Assim como eacute agradaacutevel pensar na unidade de um autor na unidade de uma escrita

ndash Vocecirc estaacute querendo dizer que a escrita eacute sempre coletiva uma espeacutecie de matilha

ndash Mais que isso Aleacutem de ser coletiva por natureza a escrita que se colocou em movimento para esse livro-espetaacuteculo clama por agenciamentos Ela natildeo funciona sozinha mesmo sendo sua solidatildeo composta por milhares outros milhares satildeo sempre chamados Assim fazemos Work in Progress Assim escrevemos em muacuteltiplas matildeos rizomaacuteticas

ndash Taacute mas entatildeo a ideia eacute colocar um texto depois outro e assim ateacute o uacuteltimo

ndash Natildeo era bem isso mas gostei dessa estrutura Podemos acrescentar entre um texto e outro um local para assistir aos ensaios e agraves entrevistas dos grupos um pequeno platocirc onde se concentraria o Escrever com Imagens e Sons Ou seja ao final de cada texto montamos um quadro dispondo os endereccedilos dos viacutedeos

ndash Mas e os espetaacuteculosndash Pensei em colocar os espetaacuteculos como

ldquoGranFinalerdquo num espaccedilo-plano-platocirc reservado apenas para eles Nesse local

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QUINTO

ENSAIO

podemos concentrar as informaccedilotildees sobre cada montagem direccedilatildeo elenco nome do grupo etc

ndash Acho que taacute bem legalndash Sim manda balandash E noacutes podemos voltar ao boteco pedir

algumas cervejinhas e comeccedilar a adaptaccedilatildeo das cenas Tens uma coacutepia dos ensaios anteriores aiacute contigo

ndash Impressa natildeo tenho mas se algueacutem tiver um pen-drive posso copiar direto da maacutequina

ndash Eu tenho copia aqui por favorCom a coacutepia digital dos ensaios os atores

saem de cena me desejando merda No palco sozinho com minhas multidotildees percebo a bateria do notebook pedindo carga Puxo uma extensatildeo da tomada mais proacutexima ligo o carregador na energia eleacutetrica aciono o editor de texto e entatildeo as cortinas digitais se abrem

APERITIVO CEcircNICOeou nutrientes para composiccedilatildeo de mundos

caro leitor

desta vez nossos aperitivos

seratildeo servidos AQUI mesmo neste volume na sequecircncia

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QUINTO

ENSAIO

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QUINTO

ENSAIO

REGULAMENTO DOS JOGOS DE TEATROTEXTO INTERPRETACcedilAtildeO E TEacuteCNICA NAS ARTES CEcircNICASANO 2009 ndash Experimentando NuTE

Quanto ao TExTO1 ndash Deve ser ineacutedito em liacutengua portuguesa e poderatildeo concorrer

quaisquer pessoas2 ndash Esta ediccedilatildeo do JOTE-Titac eacute temaacutetica ldquoExperimentando

NuTErdquo e para a escrita dos textos estatildeo disponiacuteveis na internet 25 disparadores (referecircncias textuais icnograacuteficas e audiovisuais) no endereccedilo wwwnuteparatodoswordpresscomjotedisparadores

3 ndash Deve ser redigido obrigatoriamente para a representaccedilatildeo (atraveacutes de teacutecnicas dramatuacutergicas) Os contos poemas etc inscritos seratildeo automaticamente considerados como ldquoTemas para Representaccedilatildeordquo cabendo ao juacuteri a decisatildeo de sua inclusatildeo ou natildeo no julgamento

4 ndash O texto como peccedila teatral deve comportar um elenco meacutedio de trecircs atores admitindo-se um maacuteximo de cinco sendo permitido entretanto um acreacutescimo de personagens caso seja possiacutevel que os atores representem mais de um personagem no mesmo texto

5 ndash O texto deve ser digitado em Fonte Arial Tamanho 10 espaccedilamento simples natildeo podendo ultrapassar o limite de uma uacutenica folha de papel ofiacutecio comum Natildeo satildeo admitidos os recursos de reduccedilotildees fotocopiadas poreacutem o papel pode ser utilizado em ldquofrente e versordquo

6 ndash No ato de inscriccedilatildeo os textos devem ser entregues em oito vias assinadas com o pseudocircnimo do autor Juntamente deve acompanhar um envelope lacrado contendo em seu interior o nome do autor o nome do texto o pseudocircnimo empregado endereccedilo e algumas consideraccedilotildees sobre sua obra Do lado de fora deste envelope deve constar apenas o pseudocircnimo e o nome da peccedila inscrita devendo ser entregue na recepccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau ndash Rua XV de Novembro 161ndash BlumenauSC aos cuidados de Carol Borba Ou enviados juntamente com a Ficha de Inscriccedilatildeo para nuteparatodosgmailcom Seratildeo aceitos como participantes os textos recebidos ateacute as 17 horas do dia 10 de julho de 2009

7 ndash Os textos seratildeo analisados por um Juacuteri Convidado levando-se em conta trecircs aspectos ldquoLeiturardquo (a literatura ndash o texto) ldquoEspetaacuteculordquo (a dramaturgia ndash a peccedila) e coerecircncia com o tema proposto (ldquoExperimentando NuTErdquo) Dia 16 de julho de

2009 agraves 19h30min seratildeo divulgados os textos preacute-selecionados considerados aptos para serem encenados no 14ordm JOTE

8 ndash Dos textos concorrentes seratildeo indicados os trecircs melhores e entre estes o premiado Outras indicaccedilotildees podem ser premiadas conforme o juacuteri visando reconhecimento aos meacuteritos dos participantes em quesitos como por exemplo ldquooriginalidade do textordquo ldquoautor revelaccedilatildeordquo etc A premiaccedilatildeo que consiste de trofeacuteu e certificado aconteceraacute com as demais no dia 19 de julho de 2009

Quanto aos INTEacuteRPRETES e TEacuteCNICOS1 ndash Deveratildeo os inteacuterpretes e teacutecnicos formar uma Equipe de

trabalho de no miacutenimo quatro e no maacuteximo dez pessoas que aleacutem de atuarem assumiratildeo as responsabilidades teacutecnicas de criaccedilatildeo e operaccedilatildeo do equipamento de palco (iluminaccedilatildeo sonoplastia cenaacuterios etc)

2 ndash As Equipes deveratildeo especificar (em ficha de inscriccedilatildeo conforme modelo disponiacutevel em wwwnuteparatodoswordpresscom bem como na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau) as funccedilotildees de seus componentes nas categorias de premiaccedilatildeo ELENCO DIRECcedilAtildeO ILUMINACcedilAtildeO SONOPLASTIA CENOGRAFIA FIGURINOS MAQUIAGEM PRODUCcedilAtildeO COREOGRAFIA FOTOGRAFIA IMAGEM-DOCUMENTAacuteRIO Ateacute quatro destas funccedilotildees artiacutesticoteacutecnicas podem ser executadas e responsabilizadas por uma mesma pessoa O prazo de inscriccedilotildees das Equipes de Inteacuterpretes e Teacutecnicos encerra-se agraves 17 horas do dia 10 de julho de 2009 Independente do formato a inscriccedilatildeo soacute teraacute validade depois que a equipe pagar a inscriccedilatildeo no valor de R$ 1000 por integrante ndash reembolsaacuteveis atraveacutes da cota de ingressos

21 ndash Cota de Ingressos cada membro da equipe receberaacute quatro (4) ingressos que poderatildeo ser comercializados a R$ 500 cada (totalizando um retorno de R$ 2000) para reembolsar o valor da inscriccedilatildeo e proporcionar agrave equipe uma ajuda de custo na montagem do seu espetaacuteculo

22 ndash Inscriccedilatildeo para efetivar a inscriccedilatildeo enviar para o e-mail nuteparatodosgmailcom ficha de inscriccedilatildeo preenchida e comprovante de depoacutesito das cotas de ingressos Apoacutes isto os ingressos da equipe poderatildeo ser retirados antecipadamente na Liquidificador Comunicaccedilatildeo e Arte (Rua Itajaiacute 3225 ndash Sala 01 ndash Vorstadt ndash Blumenau) ou retirados no dia do sorteio dos textos 16 de julho agraves 20 horas

23 ndash Conta para depoacutesito a quantia da cota de ingressos

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QUINTO

ENSAIO

deveraacute ser depositada em qualquer agecircncia da CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL ou em Casas Loteacutericas na conta agecircncia conta Guardar comprovante de depoacutesito para validar inscriccedilatildeo

3 ndash A Comissatildeo Organizadora norteada pelos curriacuteculos e intenccedilotildees de participaccedilatildeo constantes na Ficha de Inscriccedilatildeo selecionaraacute ateacute 7 (sete) Equipes como aptas a participar dos Jogos

4 ndash Quanto ao puacuteblico presente e ao bom andamento dos Jogos de Teatro as Equipes deveratildeo proporcionar o acesso ao puacuteblico ao Auditoacuterio em tempo natildeo inferior a cinco minutos do iniacutecio do espetaacuteculo assim como natildeo seraacute admitido atraso superior a cinco minutos sobre o horaacuterio previsto para a apresentaccedilatildeo Cada minuto de atraso representa menos um ponto na avaliaccedilatildeo final do Juacuteri Convidado Especial No caso do natildeo cumprimento deste item do regulamento a Equipe seraacute desclassificada

5 ndash Cada Equipe deveraacute fornecer ao puacuteblico presente em sua apresentaccedilatildeo um programa cujo conteuacutedo aleacutem de informaccedilotildees baacutesicas contenha suas observaccedilotildees sobre o espetaacuteculo Em programas cartazes faixas anuacutencios etc deve obrigatoriamente constar JOTE-titac data local e hora da apresentaccedilatildeo

Quanto aos jOGOS DE TEATRO1 ndash Os textos inscritos seratildeo numerados e sorteados para

as Equipes participantes que os representaratildeo dois dias apoacutes o sorteio (tempo em que seratildeo ensaiados e produzidos) FICA ESTABELECIDO UM LIMITE MAacuteXIMO DE SETENTA E CINCO MINUTOS PARA AS APRESENTACcedilOtildeES DE CADA EQUIPE INCLUINDO MONTAGEM E DESMONTAGEM O sorteio dos textos para as equipes participantes seraacute realizado no dia 16 de julho de 2009 agraves 20 horas na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau Nesse mesmo dia a programaccedilatildeo completa do evento e o horaacuterio para a encenaccedilatildeo das peccedilas tambeacutem seratildeo sorteados e decididos previamente para cada equipe participante Em caso de espaccedilos diferentes para as apresentaccedilotildees tambeacutem se faraacute um sorteio entre as Equipes para a ocupaccedilatildeo desses palcos

2 ndash Todos os espetaacuteculos deveratildeo ser encenados impreterivelmente no dia 19 de julho de 2009 na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau

3 ndash Dois grupos de jurados faratildeo o julgamento das categorias de INTEacuteRPRETES e TEacuteCNICOS o Juacuteri Teacutecnico seraacute composto por um integrante representante de cada Equipe concorrente que daraacute seu voto (notas de 1 a 3) em todas as categorias de premiaccedilatildeo de todos os espetaacuteculos apresentados menos naquele em que

estaraacute representado Ao final baseado na pontuaccedilatildeo geral o Juacuteri Convidado Especial se reuniraacute com a Comissatildeo Organizadora para indicar os trecircs melhores e o premiado em cada categoria TEXTO ndash MONTAGEM ndash ATOR ndash ATRIZ ndash COADJUVANTES ndash DIRECcedilAtildeO ndash ILUMINACcedilAtildeO ndash SONOPLASTIA ndash FIGURINO ndash CENAacuteRIO ndash MAQUIAGEM -COREOGRAFIA ndash PRODUCcedilAtildeO ndash FOTOGRAFIA ndash IMAGEM-DOCUMENTAacuteRIO (14 categorias) Outras categorias podem ser premiadas ao se visar o aprimoramento e incentivos dos participantes como exemplo ator-revelaccedilatildeo melhor caracterizaccedilatildeo etc

4 ndash Na categoria Fotografia seratildeo premiadas as melhores capturas fotograacuteficas das apresentaccedilotildees Em Imagem-documentaacuterio seratildeo avaliados os melhores registros dos ensaios valendo-se de qualquer miacutedia (filmagem fotografia desenho histoacuteria em quadrinho etc)

5 ndash A Equipe deveraacute entregar as Fotografias e Imagem-documentaacuterios ateacute as 1900 horas do dia 19 de julho de 2009 para a comissatildeo organizadora do JOTE em miacutedia CD ou DVD (no formato MPG ou AVI) A premiaccedilatildeo dessas categorias ocorreraacute no dia 25 de julho de 2009 em local a ser definido

6 ndash Casos omissos problemas e duacutevidas surgidas seratildeo resolvidos pela Comissatildeo Organizadora

Quanto ao DIREITO AuTORAL1 ndash Os autores dos textos das fotografias e imagens-

documentaacuterios produzidos no Jote-Titac Experimentando NuTE cederatildeo seus direitos autorais para as publicaccedilotildees do projeto NuTE Para Todos em livro e cyber-espaccedilo sendo citados sempre que utilizados e conservando seus direitos para suas proacuteprias publicaccedilotildees

Quanto agrave utilizaccedilatildeo de imagem 1 ndash Todos os inscritos no JOTE-Titac Experimentando

NuTE autorizam a utilizaccedilatildeo de seus textos e de suas imagens pessoais inclusive em meio virtual para composiccedilatildeo da pesquisa e publicaccedilotildees futuras sobre o NuTE

Informaccedilotildees e duacutevidas(47) 3340-0596 ou pelo e-mail nuteparatodosgmailcom

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QUINTO

ENSAIOComposiccedilatildeo de Mundos

CRINU E CASTITE

Por Dostuevisqui da Silva

Primeira Tonalidade ndash Kafka ndash Enquanto o puacuteblico se dirige agraves cadeiras quatro atores espalhados pela plateia os observam a certa distacircncia Esses atores-detetives-kafkinianos fazem comentaacuterios entre si sobre alguns dos sujeitos-puacuteblico Os comentaacuterios natildeo devem ser ouvidos pela plateia Em cena uma senhora idosa sentada numa cadeira A intenccedilatildeo eacute levar o puacuteblico a acreditar que esse boneco eacute mesmo uma senhora idosa Quando todas as atenccedilotildees-olhos-interesses estiverem concentrados nela inicia-se a segunda tonalidade Segunda Tonalidade ndash Dostoieacutevski ndash Muito lentamente Raskoacutelnikov caminha por detraacutes do boneco da velha Aos poucos deixa o puacuteblico perceber que dentro de seu sobretudo haacute um machado

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ENSAIO

Lentamente retira o machado perfilado atraacutes da cadeira levanta sobre sua cabeccedila e num golpe fortiacutessimo divide a velha e a cadeira em duas Apoacutes uma pausa inicia diaacutelogo com a plateia

Raskoacutelnikov ndash A humanidade se divide em duas de um lado temos os seres ordinaacuterios e de outro os seres extraordinaacuterios Fiquem tranquilos prometo natildeo lhes causar nenhum aborrecimento clichecirc Sei que vocecircs conhecem o meu Crime que conhecem tambeacutem o meu Castigo Eacute justamente por isso que quem escreve esse texto me utiliza Ele acredita que entre noacutes haja uma certa cumplicidade Acredita que se for eu a lhes contar alguns seratildeo capazes com um pouco de esforccedilo de perdoar O dilema eacutetico de quem escreve esse texto eacute ter junto ao NuTE experimentado momentos extremos de alegria e ser a uacutenica testemunha de um Crime Hediondo cometido por integrantes deste Nuacutecleo de Teatro Experimental Denunciar aqui atraveacutes de mim algo que nunca teve coragem de levar agrave poliacutecia foi a uacutenica forma que encontrou para resolver esse conflito Mas por favor mantenham o senso criacutetico Culpar eacute faacutecil eacute uma accedilatildeo ordinaacuteria Todos somos bons em culpar o cristianismo nos aperfeiccediloou nisso Jaacute a experimentaccedilatildeo eacute difiacutecil pouquiacutessimos conseguem Se a existecircncia ordinaacuteria necessita eminentemente da culpa da responsabilizaccedilatildeo e do ressentimento se ela soacute funciona julgando e condenando um outro como seu algoz se para respirar precisa sempre ser a viacutetima A existecircncia extraordinaacuteria necessita do

experimento Jaacute que caminhamos para um julgamento podemos ambas as existecircncias em termos de lei A lei da existecircncia ordinaacuteria prega Ele eacute Mau Logo eu Sou bom A lei da existecircncia extraordinaacuteria diz Seja bem-vindo Dioniso

Terceira Tonalidade ndash Ritual Dionisiacuteaco ndash Faixas-gritos-panfletos-projeccedilotildees-etc anunci-am ldquoNatildeo interpreta FAZrdquo ldquoApolo morre crucificadordquo ldquoDioniso Viverdquo ldquoO importante natildeo eacute o sentido das palavras natildeo eacute tornar o texto inteligiacutevel mas tornaacute-lo vivordquo ldquoEm busca do Ator Santordquo Algumas ressonacircncias com os experimentos do NuTE em fotos-imagens-textos criam um clima Ritual-NuTE Quando o crescente do ritual atingir o limite ocorre uma parada brusca

Blackout

Quarta Tonalidade ndash Julgamento-Tribunal ndash Pela plateia entra em cena o Promotor-Fritz-Oktoberfest suspensoacuterios chapeacuteu bermuda figurino claacutessico Sua entrada eacute marcada com uma melodia-oktoberfest esta melodia natildeo deve ser alegre mas sinistra se possiacutevel macabra Fritz ostenta ares germacircnicos de superioridade Possui forte sotaque alematildeo de Blumenau Seraacute o promotor do caso Deve auxiliar a plateia a se perceber como Juiz do Caso

Fritz ndash Meritiacutessimo eu vou comeccedilar ressaltando a forma como o acusado se auto-nominava ele dizia fazer teatro mas todos os conheciam por NuTE

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QUINTO

ENSAIOJuiz ndash NuTE

Fritz ndash NuTE Meritiacutessimo Onde jaacute se viu chamar PUTA a um grupo de teatro Se realmente a intenccedilatildeo era fazer teatro por que chamavam de NuTE Temos aqui um primeiro indiacutecio de que o real propoacutesito era bem outro Se Vossa Excelecircncia me permite gostaria de chamar minha primeira testemunha (Voz em off ndash Que entre a testemunha) Novamente pela plateia A testemunha eacute um Cristo-Mendigo-Crucificado Numa das matildeos presas segura um chicote na outra uma placa com os dizeres ldquoBata-me por R$ 050rdquo Faz-se uma parada em meio ao puacuteblico Cristo-Mendigo esmola seus R$ 050 ao puacuteblico Se ningueacutem da plateia pagar pelo serviccedilo um ator que deveraacute estar junto ao puacuteblico paga os 50 centavos e chicoteia com forccedila o Cristo-Mendigo que sente enorme prazer com a accedilatildeo Continua mendigando outros R$ 050 ateacute que Alematildeo Fritz se aproxima dele e diz

Fritz ndash O senhor jura dizer a verdade somente a verdade e nada mais que a verdade

Cristo ndash (que se transforma em Inri Cristo) Eu sou o caminho a verdade e a vida Ningueacutem vai ao Pai senatildeo atraveacutes de mim

Fritz ndash Meritiacutessimo a testemunha dispensa apresentaccedilotildees Se Vossa Excelecircncia consentir gostaria de passar diretamente as minhas perguntas (pausa) Vossa Santidade (para Cristo) conhece este senhor (aponta para NuTE Formaccedilatildeo de irmatildeos-irmatildes siameses muacuteltiplas cabeccedilas e um corpo)

Cristo ndash Aaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiii (que agora assume traccedilos histeacutericos-afetadiacutessimos) Sim eu conheccedilo Eacute o NuTE Ele apresentou um espetaacuteculo monstruoso chamado ldquoApocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina Os Anjos e Noacutesrdquo Uma abominaccedilatildeo um sacrileacutegio para com os textos sagrados Deveria ser queimado em praccedila puacuteblica depois esquartejado Se eu conseguisse sair dessa cruz encheria a cara dele de tabefe Fizeram piada de mim compararam minha atuaccedilatildeo com a daquele comunista Che Guevara Imprimiam sudaacuterios da minha cena do lava-peacutes minha cena onde ao inveacutes da minha imagem pessoal faziam propaganda desse comunistinha de merda Meu pai estaacute furioso furioso

Fritz ndash Temos aqui Meritiacutessimo inuacutemeras evidecircncias da montagem desse espetaacuteculo (projetar filme mostrar cartazes focirclderes material sobre a peccedila ao gosto do diretor eacute possiacutevel misturar as imagens com a montagem original de Grotowsky)

Fritz ndash (para NuTE que responde sempre sim com as cabeccedilas) O senhor ainda montou ldquoO Homem do Capote e Outros Seresrdquo natildeo eacute mesmo ldquoVariante Woyzec-Mauserrdquo ldquoMacBethsrdquo ldquoCio das Ferasrdquo ldquoCamaleatildeo da Matardquo ldquoA Mortardquo O senhor se dedicou a produzir estes e muitos outros espetaacuteculos onde criacuteticas e deboches ao nosso modelo de existecircncia eram evidenciados Mas natildeo rir de noacutes natildeo era o bastante era preciso ainda seduzir nossos filhos para que eles rissem junto com o senhor Meritiacutessimo

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QUINTO

ENSAIO

este sujeito ardilosamente construiu uma armadilha aos nossos descendentes uma arapuca uma verdadeira arapuca camuflada com a denominaccedilatildeo JOTE-titac (Pausa) Para esse tal JOTE-Titac NuTE convidava nossas crianccedilas que inocentemente apareciam achando se tratar apenas de um Festival de Teatro Mas o teatro era apenas uma isca natildeo eacute mesmo Tenho aqui comigo Meritiacutessimo alguns dos textos apresentados nesse dito Festival JOTE-Titac (Mostrar livro ldquoJogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau) textos escritos por este mostro e encenados por nossos filhos ldquoEacuteVE ADAtildeOrdquo ldquoOS FILHOS DE BLUMENAUrdquo ldquoNUSrdquo ldquoDISCURSO PELE E SEXUALIDADErdquo entre tantos e tantos outros cujas intenccedilotildees eram satirizar nossa feacute nossa moral nossa cultura germacircnica e ateacute mesmo Meritiacutessimo nossa masculinidade O senhor nunca teve formaccedilatildeo em teatro e mesmo assim criou uma escola para ldquoensinarrdquo teatro E o que se ensinava ali Se os espetaacuteculos eram todos afrontas aos valores mais preciosos muito provavelmente o que o senhor ensinava natildeo passava de

Raskoacutelnikov ndash Protesto Meritiacutessimo a promotoria estaacute induzindo meu cliente a uma resposta

Fritz ndash Ok Vou mudar minha pergunta o que quero saber eacute muito simples Sr NuTE qual o verdadeiro objetivo do senhor nesses 18 anos de atividades ldquoditasrdquo teatrais

NuTE ndash (as trecircs vozes falam de forma desordenada) Liberdade levar as pessoas a

pensar encontrar pessoas com quem pensar criticar o conservadorismo (junto agraves vozes em cena incluir trechos das entrevistas gravadas onde se fala dos objetivos do grupo)

Fritz ndash Ah Entatildeo o senhor confessa o senhor confessa Meritiacutessimo o acusado acaba de confessar o Crime

Raskoacutelnikov ndash Meritiacutessimo a segunda paacutegina em letra 10 Arial estaacute terminando Natildeo haacute mais espaccedilo para um fechamento dialogado entre os atores-personagens Restam apenas oito linhas a quem escreve este texto Regra do JOTE-Titac Experimentando NuTE A confissatildeo de meu cliente natildeo deixa duacutevidas Sei da gravidade Afinal foram 18 anos Eacute muito tempo Natildeo irei convocar sua benevolecircncia nesse sentido Que haacute um Crime meu cliente confessa que o Crime em questatildeo foi praticado pelo Sr NuTE ao tentar transformar seres ordinaacuterios em seres extraordinaacuterios concordamos com a promotoria mas tenho certeza Meritiacutessimo de que se Vossa Excelecircncia ousar experimentar a existecircncia extraordinaacuteria conosco pelo menos por alguns segundos teraacute muito mais condiccedilotildees de julgar este caso (Volta-se ao Ritual-NuTE-Dioniso contudo dessa vez o puacuteblico eacute levado a participar)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=Zrcjc_KN6rQEntrevistawwwyoutubecomwatchv=yxkdu8Kepkw

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QUINTO

ENSAIOMAQBEacuteTE UMA INTERFEREcircNCIA NA TRANSMISSAtildeO

Por Iran da Silveira

Personagens Bruxo Narrador quatro ldquomarionetesrdquo (que poderatildeo ser interpretados por atores) o Rei e a Rainha

BRUXO NARRADOR ndash Senhoras e senhores desta roda gigante boa noite () Eacute com muita honra alegria e laacutestima que vos apresento a histoacuteria de uma interferecircncia ndash uma interferecircncia na transmissatildeo de uma histoacuteria Este Rei que senta ao lado eacute Alexandre King mais conhecido como Ale-Quim Ao lado dele sua incentivadora e algoz pois seu amor o levou agrave ruiacutena e agrave morte E as quatro marionetes que deste lado gritam e se debatem satildeo o que restou de uma

longa linhagem de bons maus guerreiros que natildeo obstante terem abandonado seu Rei ainda trabalham para a Sombra dele

MARIONETE 1 ndash Meu nome eacute Sedrez pois tenho sede de vinganccedila Meu negro olhar ajuda o Homem camarada Rei Seu cetro eacute meu bastatildeo com o qual golpeio e incendeio E hoje Hoje o provarei perante todos voacutes

MARIONETE 2 ndash Meu nome eacute Crescecircncio porque eu cresci neste Reino Fui um bom serviccedilal por toda a minha vida mas quando este palco desmoronou tudo o que sobrou de um banquete de casamento foi o bacalhau pequeno-burguecircs cozido por um idiota com sal e injuacuteria do qual se saboreou nada

MARIONETE 3 ndash Meu nome eacute De Oliveira porque tenho oacuteleo nas veias oacuteleo de carnauacuteba Com o oacuteleo produzo a vela com o olho produzo a cela com o alho produzo a ceia (distribui facas de cozinha) O mecanismo eacute o proacuteprio atleta a exceccedilatildeo eacute a proacutepria lenda Os filhos de Blumenau que nasceram de 1930 para caacute iratildeo morrer (aponta para os outros) E quando os arbustos do Teatro andarem o Rei seraacute morto por uma mulher que natildeo nasceu de homem

MARIONETE 4 ndash Meu nome eacute Leopolski porque leio Polanski mas tambeacutem tenho meus Greenaways Sofri do mal de Bergman fiz a terapia de Cronemberg curei-me com Lynch Depois de tudo isso sei que nunca morrerei ndash mesmo que todo o amanhatilde conduza os tolos agrave via em poacute da maacute sorte

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QUINTO

ENSAIO

REI ndash Que se inicie a batalha Marionetes do Rei Podem comeccedilar o ritual (em duplas as ldquomarionetesrdquo lutam com as facas como se estivessem empunhando espadas pesadas A coreografia da luta deve ser agressiva e graciosa Resultado Marionete 1 mata Marionete 2 e Marionete 3 mata Marionete 4)

REI (de peacute) ndash Oacute valorosos primos Tendes provado que a honra anda com voacutes Como precircmio pela coragem do vencedor sobrevivente dentre meus estimados guerreiros eu oferecerei minha esposa (outra luta Marionete 3 grita ldquoTome isto falso Parnavackrdquo Marionete 1 que estava perdendo mata Marionete 3)

MARIONETE 1 ndash Meu Rei Tenho vencido todas as batalhas Mas agora estou ferido Meu braccedilo natildeo foi poupado e jaz neste chatildeo como o cal jaz no tuacutemulo

REI ndash Um guerreiro ferido natildeo eacute um guerreiro digno de seu Rei Sua puniccedilatildeo eacute a morte (o Rei o mata violenta e sanguinariamente) Enfim minha rainha Os maus guerreiros se foram Agora eacute hora de recrutar um novo exeacutercito Mas natildeo isso natildeo seraacute difiacutecil minha rainha pois jaacute tenho um lugar onde poderei encontrar centenas de bons guerreiros a internet E entatildeo Haacute haacute haacute

RAINHA ndash Tens esquecido de uma coisa meu Rei

REI (nervoso pela interrupccedilatildeo) ndash O que mulher por toda a Escoacutecia o que quereis dizer agora o quecirc

RAINHA (aproximando-se) ndash Meu pai natildeo era homem (comeccedila a golpeaacute-lo A Rainha mataraacute o Rei de uma forma ainda mais violenta requintada sanguinolenta e criativa que as mortes anteriores) Tu querias oferecer-me ao teu suacutedito Maldito Rei Ale-Quim da Rua Escoacutecia

REI (nesse iacutenterim berra e depois agoniza) ndash Por favor oacute Juliana natildeatildeooo Ahh Algueacutem me arranje uma Kombi (morre A Rainha vingada e ensanguentada com os olhos esbugalhados fica estaacutetua numa pose de ldquoCarrie a Estranhardquo)

BRUXO NARRADOR (voltando agrave cena em tom mais solene) ndash Senhoras e senhores desta roda gigante tendes visto a mais brutal e sanguinaacuteria morte da histoacuteria deste Palco Tenho certeza de que ganharaacute o Precircmio de Melhor Morte de um Rei Inspirado em Macbeth deste festival Eacute o que acontece quando um homem bom confia seu coraccedilatildeo sua cama e seu trono a uma mulher maligna E quanto aos arbustos do Teatro amigos Eu estive haacute dois minutos no Carlos Gomes e posso testemunhar que eles andaram Juro pela minha matildee Muito obrigado

REFEREcircNCIAS

AS PECcedilAS OU MONTAGENS DO NUTE (e outros grupos da cidade) citadas satildeo

ndash de Giba de Oliveira ndash nove peccedilas todas de JOTEs-titac Senhoras e Senhores Nosso Reino Por Um Bom Guerreiro Os Camaradas Meacutedicos Carnauacuteba 1930 Filhos de Blumenau

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O Mecanismo e o Atleta A Exceccedilatildeo e A Lenda Sr Parnavack ndash a maioria foi encenada com seu grupo o Arteatroz

ndash de Marcelo Fernando de Souza ndash Negro Olhar (adaptaccedilatildeo de Otelo de WS dirigida por Peacutepe Sedrez)

ndash de Alexandre Venera dos Santos ndash Macbethrsquos Uma Interferecircncia na Histoacuteria (adaptaccedilatildeo e direccedilatildeo em 1991-93 em duas versotildees a primeira com elenco numeroso e a segunda com quatro atores somente Antocircnio Leopolski Carlos Crescecircncio Giba de Oliveira e Peacutepe Sedrez) e A Roda Gigante (sendo o espetaacuteculo dirigido por Peacutepe Sedrez ainda no NuTE) Tambeacutem foram citadas de Bertolt Brecht as peccedilas O Casamento dos Pequeno-Burgueses encenada em 1996 por Silvio da Luz como O Casamento dos Pequenos (foi servido bacalhau no palco) e O Homem Ajuda O Homem espetaacuteculo de Peacutepe Sedrez de 2001 o qual adaptou dois textos do autor Os cineastas Roman Polanski (polonecircs) Peter Greenaway (inglecircs) Ingmar Bergman (sueco) David Cronemberg (canadense) e David Lynch (americano) foram citados Aleacutem de diversas citaccedilotildees textuais da proacutepria peccedila de William Shakespeare evidentemente Este texto foi escrito no presente ano em Blumenau As metaacuteforas empregadas natildeo levam consigo qualquer julgamento pessoal poliacutetico filosoacutefico ou artiacutestico agraves pessoas envolvidas na histoacuteria mas sim recriam-nas As mortes e vinganccedilas satildeo apenas recursos de accedilatildeo dramaacutetica parodiando a obra de William Shakespeare

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaiowwwyoutubecomwatchv=fpu6Rd7CvScEntrevista wwwyoutubecomwatchv=BBDIBCgvGOk

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QUINTO

ENSAIO

O DE PRETO O DE BRANCO E OS DE CORES ou um despretensioso questionamento

Por Wilfried Krambeck

A peccedila comeccedila com o ambiente totalmente escuro e em silecircncio duas luzes de ponto satildeo acesas repentinamente no palco sobre dois atores Uma peccedila qualquer que estaacute sendo encenada encerra-se naquele momento Os dois atores em cena agradecem recebem os aplausos caso os haja e fecham-se as cortinas Na sequecircncia uma luz geral eacute acesa a cortina eacute reaberta e os atores que vatildeo aparecendo agem como se o auditoacuterio estivesse vazio

O de Preto ndash (saindo das coxias para o puacuteblico) ndash Ateacute que enfim acabou esta bosta

O de Branco ndash (chegando pelo outro lado) ndash O que eacute isso Isso eacute forma de falar

O de Preto ndash Eacute Eacute que eu estou de saco cheio Satildeo ensaios pra caramba cursos workshops palestras leitura de livros anaacutelise de textos o diabo e taiacute oacute Uma merreca de puacuteblico

O de Branco ndash Tudo bem mas natildeo eacute soacute isso O teatro ganha notoriedade aparece faz histoacuteria E todos tecircm vantagens com o processo O ganho eacute tambeacutem individual Vocecirc se aprimora vocecirc evolui como ator como artista como pessoa e se prepara para outras situaccedilotildees da vida

O de Preto ndash Pra mim foi uma perda de tempo cara Eu podia ter feito tanta coisa uacutetil nesse periacuteodo todo ao inveacutes de ter ficado aqui tentando fazer natildeo sei o quecirc nessa porra Eacute foda

O de Rosa ndash (chegando) ndash Gente tou nas nuvens tou encantado tou extasiado

O de Preto ndash Que eacute isso cara Taacute viajando (para o de Branco) Parece viado

O de Branco ndash (para o de Preto) Psssiiiiiiuuuu ele estava com a gente Eacute dos nossos

O de Rosa ndash Tou feliz eacute soacute isso Acabou mas para mim foi demais Pude declamar minhas poesias pude danccedilar cantar bailar Criar figurinos maravilhosos caracterizaccedilotildees coisas mil

O de Preto ndash (para o de Branco) ndash Cara eacute coisa de boiola mesmo hein Quem diria

O de Branco ndash (para o de Preto) Deixa de ser chato Ele gostou aproveitou Oacutetimo para ele

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ENSAIO

O de Rosa ndash (para o de Preto) Eacute isso aiacute me realizei Taacute legal Tudo que se faz com prazer daacute resultado traz satisfaccedilatildeo Mas eacute soacute para aquele que se empenha ok Aliaacutes preto te deixa insosso deprecirc Se eu fosse vocecirc botaria um figurino mais alegre uma cor quente sei laacute (sai)

O de Preto ndash Puta que o pariu tem cada um Olha a do cara meu

O de Branco ndash Eacute Acho que vocecirc eacute incapaz de notar Mas existem diferentes percepccedilotildees

O de Verde ndash (chegando) Pocirc gente aprendi coisas pra caramba por aqui (o de Preto balanccedila a cabeccedila e se afasta um pouco indignado) Quando cheguei eu natildeo sabia nada dessa parada do teatro pensei que era soacute viagem Mas natildeo eacute natildeo cara Os bom da bola aiacute botaram a gente pra raciocinar pra discutir pra sacar os babados Aiacute eu fui nessa eu li alguns livros aiacute de uns caras da pesada foi demais Entrei numa peccedila aiacute show de bola mas aiacute tive que sair cara natildeo deu mais Eacute que com essa parada aiacute me motivei cara Voltei pra escola cara 1ordm Grau noturno aiacute jaacute peguei um trampo legal de dia na moral cara na moral Mas valeu cara muuuuiiiito bacana meeeesssssmo soacute posso dar o maior plaacute de coraccedilatildeo cara Valeu (sai)

O de Branco ndash Viu eacute o que eu acabei de falar o teatro mudou a vida dele E para melhor

O de Preto ndash Ohhhhhhh Fiquei impressionado com a cultura do cara O cara eacute BABACA

O de Dourado ndash (chegando) ndash Aiacute rapazes tudo bem (daacute a matildeo para ambos) Eu comecei por aqui agora que terminou mesmo vou sentir saudades Fizemos uns trabalhos com muita pesquisa por aqui coisas de primeiro mundo Tivemos professores e diretores muito bons Fomos para festivais recebemos oacutetimas criacuteticas ganhamos precircmios reconhecimento Eu devo muito a esse pessoal que lutou por aqui Companheiros amigos gente determinada Hoje estou na Globo e estou trabalhando em montagens no eixo Rio-Satildeo Paulo com diretores consagrados A base veio daqui Eacute uma pena o projeto ter acabado pena mesmo (sai)

O de Branco ndash E agora o que vocecirc me diz

O de Preto ndash Vou falar o quecirc O cara taacute na Globo taacute se achando Acontece que eu natildeo tocirc neacute

O de Branco ndash Mas me diga uma coisa eacute possiacutevel que algueacutem fique por anos a fio num projeto tenha trabalhado se dedicado participado e natildeo tenha levado nada de bom durante todo esse periacuteodo Isso natildeo seria uma forma de masoquismo Vocecirc por acaso se odeia

O de Preto ndash Ahhhh com a decepccedilatildeo que eu tocirc sentindo aqui no peito me odeio sim

O de Branco ndash Entatildeo vocecirc eacute o uacutenico Porque ningueacutem aqui deu um depoimento que natildeo fosse favoraacutevel Estatildeo todos felizes o de Rosa o de Verde o de Dourado vocecirc ouviu

O de Preto ndash Grandes merdas se alguns desses viajotildees aiacute estatildeo felizes

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QUINTO

ENSAIO

O de Branco ndash Laacute vem vocecirc com palavratildeo de novo

O de Preto ndash Merda Taiacute uma coisa que aprendi no teatro Merda pra vocecirc merda pra vocecirc

O de Branco ndash Taacute esquece o palavratildeo Mas eu gostaria de saber exatamente o que foi que te desagradou (entra o de Roxo assobiando com uma vassoura espanador sacos de lixo balde aspirador e o de Branco interrompendo a conversa com o de Preto dirige-se a ele) E Vocecirc aiacute de Roxo o que achou desse movimento teatral Pode nos dizer por favor

O de Roxo ndash Olha gente eu Natildeo acho nada de movimento algum Agora vocecircs me datildeo licenccedila pessoal Vou ter que dar uma geral aqui Vou ter que limpar o ambiente taacute legal

O de Branco ndash Taacute tudo bem desculpe Eu pensei que vocecirc fosse Deixa para laacute Mas A gente pode ficar aqui Soacute para concluir uma conversinha uma desavenccedila de opiniotildees que

O de Roxo ndash Poder pode Soacute que a coisa taacute suja por aqui Eu vou ter que pegar no pesado jaacute Senatildeo sobra pro meu lado e quem danccedila sou eu taacute legal (se vira e prepara os equipamentos)

O de Branco ndash Entatildeo me diga soacute um dos motivos pelo menos um para que eu possa entender essa tua maacutegoa Me faz esse favor

O de Preto ndash Vocecirc quer realmente saber Entatildeo deixa eu te dizer (aqui o de Roxo liga o aspirador ndash som muito alto ndash e comeccedila a trabalhar o de Preto fala grita para o de Branco tentando se

explicar mas este natildeo consegue entender nada por mais que se esforce sem comunicaccedilatildeo saem um para cada lado e o de Roxo sem dar atenccedilatildeo continua aspirando)

Fim

DISPARADORES PARA A MONTAGEMPreto = ausecircncia de luz = a criacutetica destrutiva = descompromissada = derrotistaBranco = a soma de todas as cores = o ideal coletivo = o sonho = o lado positivoCada cor = uma visatildeo peculiar = um interesse especiacutefico = ponto de vista = uma interpretaccedilatildeo

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=j3Ycc_2xEWkEntrevista wwwyoutubecomwatchv=lKU8nHwUFok

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QUINTO

ENSAIO

O MONSTRO DE NUTESTEIN

Por Wilfried Krambeck

Voz tenebrosa (acompanhada de muacutesica de terror) ndash Esta histoacuteria aconteceu num certo vale numa cidade natildeo muito pequena entremeada por um rio poluiacutedo um local amaldiccediloado por inuacutemeras cataacutestrofes naturais O povo que laacute morava era um povo trabalhador de feiccedilotildees

seacuterias que por seguranccedila de noite encerrava-se cedo em suas casas Eles divertiam-se uma vez por ano numa grande festa que laacute ocorria mas este lugar por via das duacutevidas era completamente cercado Durante o resto do ano apenas uma vez ou outra a elite deste povo vestindo suas peles caras encontrava-se num grande castelo isolado bem no centro daquela cidade para irem a um ou outro luxuoso baile ou a uma audiccedilatildeo musical Contudo procuravam voltar cedo tambeacutem Mas o que ateacute a eacutepoca dos acontecimentos que vou lhes relatar poucos sabiam eacute que ali naquele castelo quase sem cor geacutelido e de pedras frias havia inuacutemeros corredores completamente escuros sinistros apavorantes lugares nos quais se encontravam menos almas do que dentro de um tuacutemulo de um herege amaldiccediloado E foi nestes corredores sombrios que surgiu um dos nomes mais controversos da histoacuteria dessa cidade fechada em si mesma o Cientista Alex Stein Era este o nome desse homem inescrutaacutevel que criou um ldquoserrdquo que assolou aquele povo durante mais de uma deacutecada O MONSTRO DE NUTESTEIN

Alex Stein (para o puacuteblico) ndash Descobri como desenvolver o meu ldquoserrdquo diferente de tudo que jaacute foi criado neste lugar Estava tudo aqui mentalizado circulando na minha cabeccedila Li muitas obras de mestres antigos e agora finalmente cheguei laacute A ideia na essecircncia eacute simples ateacute Vou juntar restos digo pedaccedilos mal aproveitados vou submetecirc-los agrave maacutequina que descobri no centro do castelo uma maacutequina

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ENSAIO

composta de uma grande roda horizontal que farei girar tudo isso submetido a uma forte luz proveniente de todos os lados Jaacute estaacute tudo preprado os pedaccedilos a maacutequina a luz Presenciem o momento da sublime criaccedilatildeo (nasce o ldquoserrdquondash som)

Alex Stein ndash Oh minha fabulosa ldquocriaccedilatildeordquo como vocecirc ficou enorme natildeo vai ser faacutecil te nutrir Mas natildeo me importa sempre te terei como meu filho sempre te nutrirei Vou chamar-te de NUTESTEIN Agora mostre-me se consegui acertar decirc uns passos caminhe NUTESTEIN (o ldquoserrdquo caminha sempre ndash e somente ndash lateralmente para a esquerda)

Alex Stein (para o puacuteblico) ndash Eacute um dispositivo mecacircnico que incluiacute na foacutermula ele soacute anda para a esquerda e na penumbra eacute o diferencial que pensei para ele

Cientista Alematildeo (entrando) ndash Ho ho ho Vejo que o Sr criou um ser diferente hum hum interessante Mas soacute anda para a esquerda e no escuro estranho Pelo visto ele natildeo tem vontade proacutepria Me parece que o Sr esqueceu de botar um ceacuterebro no seu ldquoserrdquo hum

Alex Stein ndash Nada de ceacuterebro eu penso por ele digo para ele e ele faz Eacute bem mais seguro para ele e aleacutem disso assim ele natildeo faz nenhuma bobagem e nunca iraacute me decepcionar

Cientista Alematildeo ndash Acho que quem estaacute fazendo bobagem eacute o Sr pois a sua criaccedilatildeo natildeo eacute perfeita se natildeo tem um ceacuterebro Eu sempre carrego um ceacuterebro na minha bolsa Vou buscaacute-lo para noacutes

implantarmos na cabeccedila do seu ldquoserrdquo

Alex Stein (se antepondo ao Cientista Alematildeo) ndash Ah mein Herr onde estaacute a sua bolsa

Cientista Alematildeo ndash Estaacute na sala ao lado

Alex Stein ndash Pode deixar que EU pego para o Sr (sai volta com uma velha bolsa de couro e na hora de entregaacute-la deixa-a cair propositadamente) Oh mil desculpas mein Herr (abre-a e olha dentro) Que pena esfacelou-se todo o ceacuterebro uma pena

Cientista Alematildeo ndash Estou achando que o Sr natildeo quer ceacuterebro algum para sua ldquocriaccedilatildeozinhardquo estou muito magoado Vou-me embora e natildeo volto mais para este lado do castelo hum (sai)

Dr Cientista Francecircs (entrando) ndash Ouvi a conversa foi sem querer desculpe-me Mas se me permite uma modesta contribuiccedilatildeo um ceacuterebro eacute sempre importante num ser Permite-lhe a livre escolha do seu destino Eacute claro este ldquoserrdquo eacute de sua criaccedilatildeo e cabe-lhe a escolha Mas eu pensaria com carinho sobre o assunto pois se ele natildeo tiver um ceacuterebro seraacute sempre dependente a criaccedilatildeo natildeo seraacute completa Daacute bem mais trabalho conduzir um ser com vontade proacutepria Mas aiacute estaacute o desafio do cientista lsquoArbeit Arbeit Arbeitrsquo natildeo acha Monsieur (sai)

Alex Stein ndash Eacute Sim Natildeo Talvez Natildeo sei (pensa um pouco sobre o assunto depois se entreteacutem dando comandos ao ldquoserrdquo ndash de repente feliz recebe aplausos de todos os lados)

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QUINTO

ENSAIO

Cientista Baixinho (entrando com outros dois cientistas) ndash Sr Alex Stein chega de conversa Noacutes ndash por unanimidade ndash jaacute decidimos vamos colocar um ceacuterebro na sua criaccedilatildeo

Alex Stein ndash Mas Meu ldquoserrdquo estaacute indo bem estaacute evoluindo nunca algueacutem caminhou para a esquerda por aqui E na penumbra quem andou Natildeo custa nada para ningueacutem e todos estatildeo impressionados nunca viram nada igual jaacute estatildeo ateacute aplaudindo natildeo ouviram

Cientista Baixinho ndash Eacute Ouvimos Mas vamos melhorar o ldquoserrdquo e ateacute jaacute preparamos o ceacuterebro eacute na verdade um misto um pouco de todos os nossos ceacuterebros inclusive tem uma parte do seu ceacuterebro tambeacutem Sr Stein Soacute que somos noacutes que vamos implantar para evitar que ele se espatife pelo chatildeo O Sr entendeu Sr Stein (um manteacutem Alex Stein a distacircncia e os outros dois dominam e implantam o ceacuterebro no ldquoserrdquo e saem o ldquoserrdquo entatildeo se levanta Consciente anda para todos os lados salta corre mas tambeacutem tropeccedila bate nas paredes cai fica atordoado)

Alex Stein ndash Ei NUTESTEIN vaacute para a esquerda a esquerda (o ldquoserrdquo vai mas volta para a direita) Natildeo natildeo saia da penumbra (o ldquoserrdquo vem para a luz e Alex Stein se desespera) Nossa matildee NUTESTEIN vocecirc se tornou um MONSTRO (voltam os outros trecircs cientistas e tambeacutem comeccedilam a comandar o ldquoserrdquo e este tenta inicialmente atender a todos mas depois se torna confuso e desiste de atender os comandos de todos eles recolhendo-se num canto)

Voz tenebrosa (acompanhada de muacutesica funesta) ndash Aos poucos NUTESTEIN foi perdendo sua identidade original tinha um ceacuterebro agora mas natildeo era seu era de muitos era confuso Todos os Cientistas que no iniacutecio tanto se preocupavam com ele foram aos poucos perdendo o interesse Seu proacuteprio criador Alex Stein comeccedilou a desenvolver um novo ldquoserrdquo imaterial agora ldquoserrdquo este que ele poderia criar manipular e manter dentro de seu proacuteprio ceacuterebro sem a interferecircncia de ningueacutem E entatildeo numa noite negra de tempestade ele conduziu a ldquocriaturardquo sua primeira criaccedilatildeo ateacute o mais escuro dos calabouccedilos do castelo e laacute a acorrentou Sempre com laacutegrimas nos olhos por uns tempos ainda o alimentou agraves vezes ajudado pelo Cientista Baixinho ndash ateacute no dia em que todos foram embora abandonando os corredores escuros do castelo NUTESTEIN entatildeo jaacute esqueleacutetico desnutrido e retornando ao estado de aceacutefalo agonizou agonizou agonizou e MORREU (concomitante com a narraccedilatildeo na penumbra Alex Stein triste faz a uacuteltima visita ao ldquoserrdquo e este ndash a soacutes ndash falece abandonado)

Voz feliz eufoacuterica (entrando ndash repentinamente ndash com fundo de muacutesica animada ndash de Os Caccedila Fantasmas) ndash Mas natildeo fiquem tristes pois chegou nesta cidade um repoacuterter de metroacutepole Chegou EndGhostbuster Ele veio para caccedilar para detonar para desmistificar o NUTESTEIN Para finalmente retirar exorcizar sua alma dos corredores escuros do castelo Ele veio para saber de tudo detalhes nuances

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episoacutedios pensamentos reflexotildees e acreditem todos estatildeo falando contando rememorando especificando lembrando ateacute de coisas que nunca existiram Ateacute estranho jaacute palpita Mas eacute assim mesmo soacute alegria NUTESTEIN virou FOLCLORE Cada um conta do seu jeito cada um inventa cada um aumenta ou acrescenta NUTESTEIN natildeo era oito nem oitenta mas com certeza tinha pimenta Eacute isso aiacute EndGhostbuster provocou agora aguenta Tem coisa boa Tem miserenta Tente digerir esta baita polenta A cada dia a coisa esquenta Mas eacute assim que incrementa se alimenta (a muacutesica se sobrepotildee agrave narraccedilatildeo fim)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=FzeylLvO3ucEntrevistawwwyoutubecomwatchv=S0RvDDRd6IQ

TRABALHO SUJO

Por Iran da Silveira

Drama policial ambientado na Blumenau do ano 1999 Personagens NOacuteDULO CHUCK NAFTALINA JOHNSON NIVALDO TRAPACcedilA NESTOR MIRONGA NEIDE SAPATINHO NEUZINHA BLAUBLAU NICANOR NEW YORK NEM DE LADO NARRANTE DOGMA ZUNINDO GRITO DR JACOacute DR JACUacute JOSH PALHA NARRANTE ndash No uacuteltimo JOTE-Titac a quadrilha de Naftalina Johnson planejava um grande crime

NICANOR NEW YORK (andando num carratildeo) ndash Atenccedilatildeo Noacutedulo Chuck Atenccedilatildeo Noacutedulo

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NOacuteDULO CHUCK (tambeacutem) ndash Noacutedulo Chuck ouvindo perfeitamente

NEW YORK ndash Atenccedilatildeo Congresso dos traficantes de quadros ladrotildees de esculturas e plagiadores de livros no morro em frente a Ufos uacuteltima casa Assunto de interesse geral e urgente

NAFTALINA JOHNSON (jaacute no local) ndash Ainda bem que estatildeo todos aqui porque o assunto eacute de extrema importacircncia

NEUZINHA BLAU BLAU ndash Fala logo Nafta Fala Fala

NAFTALINA ndash Vocecircs vatildeo ficar com aacutegua na boca quando virem isso Eacute o uacuteltimo livro que Dogma Zunindo acaba de escrever

NEM DE LADO ndash Mas como vocecirc conseguiu isso

NAFTALINA ndash Foi um plano que bolei com muito carinho palmas para o Sr Nivaldo Trapaccedila responsaacutevel pela sua execuccedilatildeo

NIVALDO TRAPACcedilA (depois das palmas) ndash Foi muito faacutecil Eu esperei ele dormir e aiacute TCHUM

BLAU BLAU ndash Eu quero ver Ver Ver

NAFTALINA ndash Calma eu tirei xerox pra todos Aqui estatildeo

NEIDE SAPATINHO ndash Vocecircs tecircm consciecircncia do que temos nas matildeos Isso eacute uma porcaria mas os criacuteticos e intelectuais babam

TRAPACcedilA ndash E o resgate eacute todo nosso Iiiiccedila

CHUCK ndash Neide quanto podemos ganhar com isso

NEIDE ndash Deixa eu ver Poderiacuteamos pedir a soma das vendagens dos trecircs primeiros livros isso ia dar Uns 15 milhotildees de reais novos

NEW YORK ndash Como estaacute estipulado em nossas leis os senhores Johnson e Trapaccedila autores do sequestro ficaratildeo com 20 do lucro total cada um Os 60 restantes seratildeo divididos entre noacutes seis

NESTOR MIRONGA ndash Soacute uma coisa E se ele se recusar a pagar

NEW YORK ndash Aiacute roubamos toda a grana dele o apagamos e lanccedilamos o livro com a autorizaccedilatildeo do autor cedendo todos os direitos autorais

DE LADO ndash Mas isso vai dar uma fortuna

NEIDE ndash Nafta esse plano eacute muito bom Vocecirc eacute terriacutevel

NAFTALINA ndash Tem razatildeo minha querida Quando a arte e o crime se juntam qualquer coisa pode acontecer ateacute mesmo uma pintura impressionista Vamos ao trabalho ()

DOGMA (ao ser contactado) ndash Sou eu mesmo Em que posso ajudaacute-los

MIRONGA ndash Natildeo fale nada ou estouraremos seus miolos Noacutes temos o seu uacuteltimo texto em cativeiro

DOGMA ndash Aquele que escrevi ontem Ia jogar no lixo

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ENSAIO

MIRONGA (bate-lhe na cara) ndash Nunca mais despreze assim uma obra de arte canalha

DOGMA ndash O que vocecircs querem

TRAPACcedilA ndash Toda a grana da vendagem dos seus quatro livros

DOGMA ndash Satildeo soacute trecircs O meu lucro com eles foi de 75 reais

BLAU BLAU ndash Eacute pouco Eacute pouco Ai ai ai Eacute pouco

DOGMA ndash Tambeacutem acho mas foi o que ganhei na eacutepoca Lembro que deu pra pagar minhas contas no London no Tip Tim e no bar do teatro

MIRONGA (daacute-lhe um tapa) ndash O London mudou de nome imbecil Agora eacute Rodolfus

TRAPACcedilA ndash Natildeo importa Fica com essa mixaria aiacute noacutes vamos lanccedilar esse livro e ganhar uma nota preta sacou E natildeo vamos dar um centavo pra editora

DOGMA ndash Entatildeo eacute assim Eu faccedilo o trabalho sujo e vocecircs faturam

NEIDE ndash Ele tem razatildeo ele eacute o artista

CHUCK ndash Taacute bem fique com 10

DOGMA ndash Vinte

CHUCK ndash Quinze e taacute acabado E lembre-se esse livro eacute um marco sacasse UM MARCO

DOGMA ndash Taacute legal boa sorte Como tem gente iludida nesse mundo

NARRANTE ndash E agora para a apresentaccedilatildeo dos membros da gangue de Naftalina Johnson

Noacutedulo Chuck o rebelde solitaacuterio tem sua vida dividida entre pequenos roubos de obras de arte e sua matildee uma simpaacutetica velhinha Nicanor New York vigarista e golpista um gringo que na verdade nasceu em Chicago no Illinois eacute o mais elegante e menos temperamental sua calma lembra a dos quadros de Guto Bouer os quais jaacute furtou quatorze Neuzinha Blau Blau a mulher que roubou o Bofe Aacutespero de Leonardo daacute Vinte saiu do manicocircmio direto para o mundo do crime A prostituta Neide Sapatinho dedica-se ao crime para vingar a morte de seu pai um ex-diretor do grupo Kontra Senha Nivaldo Trapaccedila marginal absolutamente sem escruacutepulos e tarado sexual por mulheres que estatildeo lendo o ldquoConde de Monte Cristordquo Nestor Mironga o braccedilo negro do crime sempre pronto para golpear impiedosamente qualquer um que queira publicar um poema pelas vias da lei Nem de Lado cheirador safado tem esse nome porque gosta de comer papinha com cebola Seu maior feito foi ter violado um cemiteacuterio de naturezas mortas E Naftalina Johnson o intelectual da corrupccedilatildeo autoral expert em estupro da inspiraccedilatildeo e em sequestro do talento alheio E agora sim a continuaccedilatildeo da histoacuteria

DOGMA ndash Jaacute satildeo quatro da manhatilde daqui a pouco eu preciso ir pra rua e natildeo posso ficar aqui escrevendo essa peccedila Se desse dinheiro eu ateacute terminava Agora me deem licenccedila

NARRANTE ndash Jaacute que o autor natildeo estaacute em

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ENSAIO

condiccedilotildees aiacute vai a continuaccedilatildeo da peccedila de qualquer maneira

UM GRITO VINDO DAS COXIAS ndash Que histoacuteria eacute essa de natildeo querer terminar a peccedila Todo mundo aqui trabalha soacute intelectual eacute que natildeo

CHUCK (entrando com os outros) ndash Chefe vocecirc natildeo vai acreditar mas esse Dogma Zunindo eacute um niilista um pessimista Chega a ser perigoso

NARRANTE ndash Quem comenta sobre a personalidade do autor satildeo os psicanalistas Doutor Jacoacute e Doutor Jacuacute

DR JACOacute ndash O senhor Zunindo natildeo passa de um rebelde sem causa Eacute isso o que ele eacute Ele natildeo daacute valor ao que tem Ele natildeo merece viver Ele eacute um estorvo

DR JACUacute ndash Natildeo seja tatildeo duro com ele ele sofre tambeacutem sabia

DR JACOacute ndash Sofre nada ele gosta eacute de nos fazer de palhaccedilos Ele tira sarro o tempo todo

DR JACUacute ndash Eu acho que ele natildeo tem culpa Ele eacute assim mesmo

NARRANTE ndash Jaacute que a ciecircncia natildeo se decide vamos ver se o esoterismo ajuda Com a palavra o famoso guru Josh Palha

JOSH PALHA ndash Soacute sei de uma coisa enquanto houver um sopro de vida haveraacute em Dogma Zunindo o desejo de se renovar dia apoacutes dia Ai tenho de ligar para o Walter Mercado

NARRANTE ndash Seraacute nosso autor ressarcido pelos danos causados pela maleacutevola gangue de Naftalina Johnson Conseguiraacute realizar seu sonho de fazer uma novela para o Toni Ramos o Francisco Cuoco e o Tarciacutesio Meira chamada ldquoZerordquo Natildeo percam no proacuteximo JOTE Continuem com a gente

Nota do autor Trabalho Sujo parte de uma trama policial folhetinesca para descambar numa anaacutelise irocircnica sobre o papel da arte na vida das pessoas comuns e dos proacuteprios artistas O formato telesseacuterie funciona mais como uma metaacutefora do antigo JOTE-Titac como fica claro no iniacutecio e no fim da peccedila

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=ork4t4rP8w4Entrevista wwwyoutubecomwatchv=7gJTU-Kt5QU

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O AUTOR ESQUARTEJADO

Por Afonso Nilson

Personagens ator autor diretor algueacutem do puacuteblico figurantes com viacutesceras escondidas em suas roupas Ator ndash Ok mais um JOTE O uacuteltimo eu espero dessa vez Falo o uacuteltimo porque eu natildeo aguento mais esses textos que natildeo satildeo escritos para teatro Tem poesia tem crocircnica tem carta de amor tem confissatildeo de homossexualidade tem tudo Ateacute aula de teatro Natildeo precisam me

olhar com essa cara Natildeo vou dar aula natildeo sou professor Sou ator natildeo estatildeo vendo Mas acontece que sou um ator que natildeo aguenta mais ter que fazer das tripas coraccedilatildeo para pocircr em cena essas coisas que as pessoas acham que eacute um texto para teatro Tudo bem tudo bem Reconheccedilo que eacute bem mais faacutecil pocircr em cena um poema uma crocircnica do que um texto com falas accedilatildeo e tudo que como teatro natildeo serve nem para um arremedo Jaacute viram Como eacute que se interpreta um ldquoohrdquo em cena ldquoOh meu amorrdquo ldquoOh dorrdquo Ou pior ldquoOh me matasterdquo Jaacute pensou Me mastates O cara leva um tiro cai no chatildeo olha para seu assassino e solta essa ldquoOh me matasterdquo Natildeo daacute neacute Aiacute chega o Jote Aquele monte de texto em cima da mesa e as pessoas datildeo uma olhada num noutro jaacute descartam os monoacutelogos e quando veem uma frase de efeito laacute perdida por acaso entre um punhado de ldquoohsrdquo pronto taacute laacute o texto e eacute aquela carnificina para ter a oportunidade de dizer uma uacutenica frase que preste nesse emaranhado que satildeo os textos para o Jote Ok tudo bem Daacute pra montar tudo hoje em dia Jaacute ouviram falar de teatro poacutes-dramaacutetico Azar o de vocecircs Hoje daacute pra montar ateacute bula de remeacutedio Daacute pra adaptar receita de bolo daacute pra fazer depoimento pessoal daacute pra grunhir igual a um porco e dizer que eacute performance que eacute arte contemporacircnea Tatildeo brincando comigo Isso eacute coisa do passado Anos 50 60 70 living Asdruacutebal Barba Zeacute Celso Um pouco depois aqui em Santa Venera O Venera pode porque ele foi o primeiro Enquanto o pessoal ainda tava montando chanchada o Venera metia

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ENSAIO

o terror fazia o que ainda era novidade nas terras da novidade Mas agora 20 anos depois rapazinho me vem com teatro performaacutetico improvisando sobre qualquer besteira que ouviu dizer de um professor que ouviu de um terceiro que nem sequer sabia do que estava falando Natildeo daacute neacute

(Da plateia levanta um cara vai raacutepido ateacute o ator e lhe daacute um empurratildeo)

Autor ndash Fala mal do meu texto mais uma vez se vocecirc eacute homem

Ator ndash O idiota taacute estragando a cena

Autor ndash Natildeo tinha nada disso no meu texto

Ator ndash Como eacute Quer dizer agora que eu natildeo posso dar uma improvisadinha sequer

Autor ndash Improvisar Vocecirc natildeo disse uma uacutenica palavra que eu tenha escrito ateacute agora

Ator ndash Vocecirc devia me ser grato por isso Ateacute bem grato se for levar em consideraccedilatildeo aquela merda que vocecirc mandou pro Jote

Autor ndash Olha aqui seu puto Se vocecirc acha que eu vou aturar isso quieto

Ator ndash Isso mostra a cara pseudocircnimo Mostra essa fuccedila incapaz de articular uma uacutenica palavra que seja teatro de verdade

Autor ndash E o quecirc pra vocecirc viado eacute teatro de verdade

Ator ndash Ora o teatro o teatro

Autor ndash O teatro natildeo eacute pra ser explicado por

um atorzinho Teatro se faz natildeo se explica Natildeo quero saber desses textos adaptados natildeo quero saber de bula de remeacutedio natildeo quero saber de nada de nada dessa merda de teatro contemporacircneo Eu quero eacute o teatratildeo Qual eacute Natildeo posso mais gostar de texto claacutessico Sim meu amigo eu escrevo ldquoohrdquo Eu uso frase de efeito no meu dia a dia Eu escrevo poema e ponho na boca de meus personagens Qual eacute Vai encarar

Ator ndash Eu hein quero saber dessa merda natildeo

Autor ndash Mas aqui no palco vocecirc vai ter que querer Taacute na chuva eacute pra se molhar meu

Ator ndash Isso eacute que eacute frase de efeito meu (entra o diretor na histoacuteria)

Diretor ndash Amigos amigos Vamos nos acalmar Natildeo precisamos ficar tatildeo exaltados eacute apenas a estreia Toda a estreia eacute meio estranha natildeo eacute (para o puacuteblico) Vocecircs vatildeo nos perdoar por esse contratempo mas na verdade tudo isso faz parte do show estaacute tudo no script

Autor ndash No texto taacute tudo no texto Era pra estar na verdade

Diretor ndash Mas vocecirc natildeo acha que isso agraves vezes ateacute ajuda a encenaccedilatildeo a ficar mais rica mais natural

Autor ndash Texto eacute texto e taacute acabado

Ator ndash Mas e a reaccedilatildeo da plateia Agora porque Vossa Excelecircncia o autor quer eu natildeo posso mais interagir

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QUINTO

ENSAIO

Diretor ndash Podemos achar um meio termo que tal um texto colaborativo criaccedilatildeo coletiva

Autor ndash Tais gozando com a minha cara natildeo eacute Natildeo existe esse negoacutecio de criaccedilatildeo coletiva tem sempre um que encabeccedila a histoacuteria

Ator ndash Ah eacute vamos ver soacute Vou chamar algueacutem da plateia (puxa algueacutem da plateacuteia)

Ator ndash O senhor me desculpe mas a gente precisa resolver essa histoacuteria O que o senhor acha Improviso faccedilo um teatro contemporacircneo sem texto texto-natildeo dramaacutetico ou volto a ser um tolaccedilo do seacuteculo XIX tendo que decorar todas as minhas falas

Algueacutem do puacuteblico ndash Olha eu natildeo sei muito bem Que eacute que eu vou dizer O autor

Autor ndash O senhor pode sentar por favor Muito obrigado pela sua participaccedilatildeo numa proacutexima vez em que seja preciso tirar a roupa a gente te chama de novo

Ator ndash Gostasse dele natildeo eacute

Autor ndash Sai pra laacute

Diretor ndash Natildeo estamos evoluindo

Ator ndash Pra evoluir temos que representar a bula

O cara do puacuteblico (fala de seu lugar) E o que eacute que o teatro tem a mais que o cinema Prefiro ir ao cinema ver uma merda qualquer do que ficar aqui nessa tortura de natildeo teatro

Diretor ndash O cara tem razatildeo teatro ruim eacute

insuportaacutevel Antes um filme fraco do que uma montagem fraca

Ator ndash Mas e aiacute e a pergunta do cara O que eacute que o teatro tem a mais que o cinema

Diretor ndash Imaginaccedilatildeo porra No cinema vocecirc vecirc o mar Caacutespio No teatro o mar natildeo precisa nem de uma gota de aacutegua para significar um oceano Quer ver Oceano

Ator ndash Vocecirc acha mesmo que eu vou me afogar natildeo eacute

Diretor ndash Era soacute pra dar um exemplo

Autor ndash Daacute pra mudar raacutepido de histoacuteria e cenaacuterio sem um uacutenico adereccedilo no teatro

Ator ndash Ah eacute

Autor ndash Aja raacutepido Peccedila podre (o ator faz um trejeito) Viu vocecirc nem precisava fazer nada bastava continuar a fazer o que estava fazendo

Diretor ndash O importante eacute o contato direto com o puacuteblico Nunca no cinema algueacutem viria ateacute a sua cadeira e faria isso (vai ateacute o cara do puacuteblico e lhe torce o nariz)

Ator ndash Muito interessante Deve ter sido uma experiecircncia muito boa para o senhor natildeo eacute Accedilatildeo em 3D

(haacute um grande silecircncio vazio)

Diretor ndash Improvise

Autor ndash Eacute vamos acabar com esse teacutedio faccedila aiacute qualquer coisa

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QUINTO

ENSAIO

(o ator pode nesse momento fazer qualquer coisa)

Diretor ndash Ateacute que foi interessante

Autor ndash Mas estava no texto

Ator ndash Natildeo senhor no texto dizia claramente ldquoo ator pode fazer qualquer coisardquo

Autor ndash Entatildeo estava no texto

Ator ndash Mas quem criou fui eu

Autor ndash Azar o seu leve o creacutedito

(mais um momento de silecircncio vazio)

Autor ndash Pra esse texto dar certo algueacutem precisa morrer ou ser traiacutedo

Ator ndash Traiacutedo tu jaacute foi corno (o autor agarra o autor pelo pescoccedilo o diretor interveacutem)

Diretor ndash Ele tem razatildeo

Ator ndash Eu natildeo disse corno

Diretor ndash Natildeo natildeo isso Mas que algo tem que acontecer tem Sei laacute a intriga sabe A tensatildeo dramaacutetica

(ator e autor se entreolham furiosamente fingindo tensatildeo caem na gargalhada)

Autor ndash Que piada

Diretor ndash Se fosse uma comeacutedia seria de chorar

Autor ndash Vamos acabar logo com essa merda

Diretor ndash Algueacutem tem que morrer

Autor ndash Jaacute sei jaacute sei ldquoa morte do autorrdquo Esse texto eacute velho meu

Diretor ndash Velho mas uacutetil

Ator ndash Conclamo todos da plateia a matar o autor (o diretor e o ator puxam pessoas da plateia para cercar o autor no meio da cena Eles o cercam lentamente eles o consomem rasgam suas roupas retiram intestinos unhas dentes cabelo ateacute natildeo sobrar nada aleacutem de carne crua e tomates sobre o palco Todos voltam aos seus lugares O autor nu senta-se junto ao puacuteblico)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=folk5Y3EvzAEntrevista wwwyoutubecomwatchv=TUZEqE5UfgY

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ENSAIO

ldquoQUE CHEIRO Eacute ESSErdquo

Por Wilfried Krambeck

A e B entram em cena debatem-se um pouco com a luz no rosto e dirigem-se ao puacuteblico

A ndash Bem Olaacute Tudo bem Noacutes viemos hoje aqui para falar sobre esse NuTE neacute

B ndash Isso sobre esse tal de NuTE

A ndash Na verdade eu nem sacava desse NuTE mas tocirc aiacute representando um Um cara que teve aiacute Digamos assim Uma breve passagem por esse NuTE aiacute e que disse Vai laacute fala com o pessoal fala das coisas que rolaram laacute tu eacute o cara (para B) Natildeo eacute

B ndash Isso aiacute Ele falou que tu eacute o cara

A ndash Bem Eacute isso Aiacute eu trouxe esse meu chapa aqui Pra natildeo falar sozinho entendeu

B ndash Ooooopa tamo junto nessa parada Toca aqui oacute Cecirc eacute meu parceiro cecirc eacute meu mano

A ndash Aiacute o cara me falou tu daacute uma sacada no blog antes de ir ateacute laacute que taacute tudo laacuteaacuteaacuteaacuteaacute cara

B ndash Ele falou olha no blog eacute isso aiacute mano

A ndash Aiacute eu disse blog cara Que porra eacute essa

B ndash Eacute Que porra eacute essa

A ndash Ele falou internet cara tu eacute burro hein Eu disse burro natildeo pega leve um pouco desinformado ateacute pode ser neacute ocircocircocirc cara

B ndash Que burro o quecirc

A ndash Bom eu sei que daiacute ele abriu laacute pra gente aquele tal de blog a gente viu umas coisa laacute e tamo aqui nessa parada pra trocaacute umas ideia aiacute

B ndash Eacute a gente viemos neacute

A ndash Pocirc uma coisa legal que eu vi cara eacute que tinha um boteco laacute e a turma mandava ver

B ndash Pocirc legal Papo furado cigarro cerveja e salgadinho Eacute

A ndash Isso aiacute Outra parada eram os barracos De vez em quando tinha nego montando um baita dum barraco no meio deles

B ndash Era tudo barraqueiro

A ndash Natildeo tudo natildeo mas parece que tinha uns cara especializado nessa parada meu

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ENSAIO

B ndash Cara isso era moacute zona entatildeo Mermatildeo

A ndash Sei laacute neacute Mas diz que os caras ameaccedilavam se jogar dos preacutedios invadiam preacutedio abandonado toda hora batia poliacutecia Um outro passava de carro nos pontos de ocircnibus baixava as calccedilas e mostrava a bunda pra galera Pocirc meu os cara soacute faziam merda

B ndash Taacute loco

A ndash Pra tu vecirc como os cara eram maneacutes meu eles enterravam livro zero bala Eles podiam vender fazer uma grana Mas eles enterravam assim sem plaacutestico sem nada cara

B ndash Orra meu papelzinho bom pra enrolar um bagulho Enfiado no barro cara

A ndash Entatildeo Outra parada eacute que tinha um cara que chegava no ouvido dos outros e dizia que entregava a rosquinha

B ndash O quuuuuuecirc

A ndash Eacute Dizia queacute comecirc minha rosquinha Na cara dura Tudo bem Ele vendia quer dizer Cobrava mas pocirc meu Um negoacutecio assim soacute em pensar jaacute doacutei neacute

B ndash Taacute doido meu Mas ele natildeo dava de verdade neacute

A ndash Sei laacute Neacute Tinha um outro que jogava bombinha falhada num lixeiro E nada E tinha gente mais maluca ainda que achava isso o maacuteximo Tem tapado pra tudo mesmo neacute

B ndash Pocirc meu bombinha eacute pra estourar eacute pra fazer o escarceacuteu eacute pra fazer festa

A ndash Um outro pendurou uma cadeira e deram

um precircmio natildeo sei de quecirc pro cara

B ndash Taacute me gozando

A ndash Seacuterio Aliaacutes diz que pra ganhar precircmio a turma fazia o diabo Enchiam os corno de jurado com cerveja Diz que tinha um que pra tentar ganhar um precircmio ficava trepado em cima de uma roda por mais de uma hora

B ndash Era doido

A ndash Sei laacute Mas o cara ficava

B ndash Deviam mandar ele pro pinel

A ndash Por falar nisso cara tinha uma turma inteira Cara eram uns quinze tudo misturado cara era homem mulher novo velho tudo junto Que corriam pelados no meio da noite Pelo mato pelos campos de futebol pelas cachoeiras Assim peladotildees meeeeeismo

B ndash Na boa

A ndash Na maior Diz que era ateacute feio de ver Mas cara nunca vi Eles gostavam de ficar pelados Era no mato na praia no apartamento no palco Era tudo pirado cara

B ndash Natildeo era agrave toa que batia a poliacutecia

A ndash Ahhh E tinha um tal de um metido a escritor que natildeo escrevia coisa com coisa

B ndash Como assim

A ndash Soacute falava de papo de becircbado de chuva de briguinhas daqueles barraqueiros

B ndash Ei mas natildeo foi esse cara que disse pra tu natildeo falar isso dele aqui Que ele ia te deletar deste texto

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QUINTO

ENSAIO

A ndash Falou Mas o chapa que me mandou aqui disse que natildeo tem essa Depois que a coisa ta impressa ningueacutem mais deleta porra nenhuma Fica frio

B ndash Ahhh Entatildeo taacute Mas por via das duacutevidas eu vou dar no peacute (sai)

A ndash Eacute cara acho que falamo muita merda em pouco tempo vambora (sai tambeacutem)

FIM

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=kWaN1pZovGgEntrevistawwwyoutubecomwatchv=7x_ReaLb3Io

A PEDIDOS

Por Giba de Oliveira

(Ao entrar na plateia o puacuteblico encontra no palco um muacutesico com seu violatildeo Ele estaacute ao fundo na direita sentado sobre uma simples banqueta tocando e cantando a muacutesica TERRA de Caetano Veloso Numa mesa mais deslocada agrave direita baixa sob um foco de luz estatildeo sentados Luciano e Francisco Observam o muacutesico ateacute o final da muacutesica Os dois estatildeo em silecircncio entorpecidos mas NAtildeO estatildeo embriagados ora fumando ora bebendo Aliaacutes fumam muito)

Muacutesico ndash A pedidos (comeccedila a dedilhar a proacutexima muacutesica CAacuteLICE de Chico Buarque de Hollanda)

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ENSAIO

Francisco ndash A Pedidos Por que ele falou isso

Luciano ndash Porque algueacutem pediu

Francisco ndash Foste tu

Luciano ndash Fui eu

Francisco ndash Tu eacutes um merda mesmo Essa muacutesica se chama Caacutelice

Luciano ndash Foda-se

Francisco ndash Caacutelice

Luciano ndash Taacute E esse Festival

Francisco ndash JOTE-titac Jogos Jogos

Luciano ndash Jogos Certo O que acontece Eacute um tipo de RPG

Francisco ndash Tu parece crianccedila poxa Trata-se de um concurso cecircnico de cunho cultural onde grupos e autores participam Os grupos com seus elencos e teacutecnicos e os autores por sua vez com seus textos Tendeu

Luciano ndash Putz Taacute parecendo telecurso segundo grau explicando uma soma de quadrados

Francisco ndash Entatildeo faz o seguinte o seu merda

Luciano ndash Faz o quecirc

Muacutesico ndash Um minuto de intervalo e voltamos jaacute

Francisco ndash Caraiu Na horinha neacute Vai meu filho vai Vai laacute

Luciano ndash Porra cara Tu natildeo ias falar de uma peccedila de teatro que tu ias escrever

Francisco ndash Vou falar Calma

Luciano ndash Tocirc calmo

Francisco ndash Entatildeo

Luciano ndash Vamu laacute

Francisco ndash NuTE

Luciano ndash Hatilde Que eacute isso

Francisco ndash Aiacute natildeo vai dar Tu eacutes muito ignorante porra

Luciano ndash Fala aiacute cacete Eu sou bom em entender as coisas

Francisco ndash Entende nada De cultura tu natildeo entendes nada

Garccedilom ndash (aparecendo de repente Trata-se do muacutesico disfarccedilado) Mais alguma coisa

Luciano ndash Hatilde Deixa eu ver Peraiacute Tu saberias me dizer por um acaso do destino o que significa a palavra NuTE

Garccedilom ndash Pois natildeo o Nuacutecleo de Teatro e Escola fundado Nuacutecleo de Teatro Experimental por Alexandre Venera dos Santos em 1984 tendo muitos e importantes colaboradores durante vaacuterios anos em que atuou na Sociedade Dramaacutetico Musical Teatro Carlos Gomes de Blumenau eacute foi e continua sendo uma das maiores correntes artiacutesticas legiacutetimas do sul do Brasil

Luciano ndash Hatilde

Garccedilom ndash Eacute servido com molho madeira batata frita e salada Mais alguma coisa

Francisco ndash Deixa ele O lance eacute o seguinte Luciano

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ENSAIO

Luciano ndash Fala aiacute Francisco

Francisco ndash Decorou o nome neacute

Luciano ndash Fala da tua peccedila caralho

Francisco ndash Entatildeo Vamos supor o seguinte aiacute o negoacutecio consiste em vocecirc escrever um texto E eu escrevi um

Luciano ndash Sim Adiante

Francisco ndash Eacute assim oacute (blackout) Hummmmmm acabou a luz (o cenaacuterio muda de lugar em 90 graus A luz volta O muacutesico volta)

Muacutesico ndash Desculpem a falha teacutecnica Com vocecircs uma muacutesica da nossa querida Juliana Muller

Francisco ndash Nossa Sou tarado nessa mulher

Luciano ndash Se concentra porra

Francisco ndash Mas ela eacute gostosa

Luciano ndash Pensa no Tadeu

Francisco ndash Aiacute tu forccedilas a amizade Tu sabes que o veacuteio Tadeu eacute gecircnio

Luciano ndash Dizem que o Tadeu eacute um Bruxo

Francisco ndash Parece que bebe Mas taacute Laacute vai Eacute assim oacute o cara eacute um detetive que vai narrando os acontecimentos num gravador como se descrevesse uma cena

Luciano ndash Como seria

Francisco ndash Fique atento A luz se apaga Ele estaacute com uma lanterna Respira ofegante (enquanto vai falando a luz muda e ele assume a personagem do detetive Existe muita fumaccedila no ambiente agora Ele carrega uma arma com

uma das matildeos e com a outra empunha uma lanterna) Vejo um caminho por aqui Vou seguir em frente Estaacute bem nublado Aqui termina a trilha Estou ouvindo um ruiacutedo acho que eacute um riacho Haacute uma pequena represa aqui Estaacute bem escorregadio Mas estaacute relativamente faacutecil de Tem algueacutem aiacute Tem algueacutem aiacute Escutei sons de passos mais adiante Parado Parado eu jaacute disse Parado ou eu atiro Ele estaacute fugindo (Anda por entre a plateia lentamente com a arma e a lanterna A fumaccedila em abundacircncia continua Logo se pode ver trecircs lanternas em meio agrave escuridatildeo sendo duas na plateia de lados opostos e outra no palco Francisco fala para a segunda lanterna na plateia) Quem eacute vocecirc Fique parado Bote sua arma no chatildeo junto com a lanterna Agora

Luciano que agora eacute outro ndash Calma Sou amigo Natildeo atire Calma por favor calma

Francisco ndash Quem eacute vocecirc

Luciano ndash Um amigo

Francisco ndash O que vocecirc fazia na casa de Elizabeth

Luciano ndash Elizabeth Eu fui avisaacute-la Algueacutem estaacute tentando matar Elizabeth (Ouve-se um tiro A terceira lanterna sai correndo em disparada Luciano cai no chatildeo)

Francisco ndash Natildeatildeatildeo

Luciano ndash Eu amava Elisabeth Jamais faria mal a ela

Francisco ndash Quem a queria morta Diga o nome

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ENSAIO

Luciano ndash Lorival

Francisco ndash Natildeatildeatildeatildeatildeooooooo (Novo blackout Ao voltar a luz o cenaacuterio estaacute totalmente invertido O muacutesico em sua banqueta e os dois amigos sentados agrave mesa Muacutesica Aacuteguas de marccedilo de Tom Jobim)

Luciano ndash E aiacute Acabou Ele morre e o bandido foge

Francisco ndash A arte imita a vida meu amigo

Luciano ndash Tu estaacutes mentindo Tu nunca dirias uma besteira dessas

Francisco ndash Tens razatildeo Mas somos artistas Vivemos em mundos onde tudo eacute possiacutevel posto que eacute feito de ideias de imaginaccedilatildeo sons e imagens Cores e formas

Muacutesico ndash E poesia Aacutetomos Nuacutecleos

Francisco ndash Isso mesmo E poesia porque se trata de uma homenagem ao belo ao fundamental nas nossas vidas Pra alimentar nossos espiacuteritos Jaacute tatildeo sofridos

Luciano ndash E como seraacute o tiacutetulo

Francisco ndash Eu natildeo faccedilo a menor ideia (Ficam os dois em silecircncio contemplativo)

Muacutesico ndash A pedidos (With Or Without You do U2 Os dois se olham interrompendo o fluxo de cigarros A luz vai saindo em Fade Out O cenaacuterio gira e agora todos estatildeo de costas com uma luz contra muito tecircnue Os dois continuam gesticulando na mesa como se conversassem O muacutesico continua) Queremos agradecer as

pessoas que fazem o mundo brilhar Alexandre Venera dos Santos Wilfried Krambeck Carlos Crescecircncio dos Santos Peacutepe Sedrez Siacutelvio da Luz Giba de Oliveira Niralciacute Ferreira Rosane Magaly Martins Tacircnia Rodrigues Antocircnio Leopolsky Janice Penzzotti Jeniffer Penzzotti Klaus Jensen Tadeu Bittencourt Eacutedio Raniere Joseacute Aparecido da Silva Juliana Muller Leonel Campos Wladimir Juliano Treiss Cristiane Muller Joseacute Ronaldo Faleiro Otto Aacutelvaro Tanise Diogo Pollyanna Maria da Silva Andrea dos Santos Polly Vendrami Kadu Nassau de Souza Douglas Zuninno Janaiacutena Gabriela Luciana May Denniz Raduumlnz Juceacutelia Zimmermann (aqui poderatildeo ser incluiacutedos outros nomes que provavelmente foram omitidos por puro esquecimento Na saiacuteda da plateia essa relaccedilatildeo deveraacute ser entregue com a ficha teacutecnica do elenco)

FIM

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=0LpZEZRun4MEntrevista wwwyoutubecomwatchv=jix56Qib3tg

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APRESENTACcedilAtildeO DOS ESPETAacuteCULOS ou Quando se Experimenta

OITO OLHARES sobre o NuTE

CRINU E CASTITE

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Texto de Dostuevisqui da SilvaGrupo LEGUME PalhaccedilosDireccedilatildeo Telja RebelattoElenco Ana Peres Batista Juliana Goldfeder Charles AugustoMuacutesico Lucio LocateliProduccedilatildeo Italo ReisFotografia Glaucia MaindraImagem-documentaacuterio Glaucia Maindra Italo ReisMaquiagem Ana Peres BatistaFigurino Juliana Goldfeder Telja RebelatoIluminaccedilatildeo Charles AugustoCenografia O GrupoCoreografia Telja Rebelato Ana Peres Batista e Juliana Goldfeder

Espetaacuteculowwwyoutubecomwatchv=4hE9tk8zg7k

MAQBEacuteTE UMA INTERFEREcircNCIA NA TRANSMISSAtildeO

Texto de Iran da SilveiraGrupo Elementos em CenaDireccedilatildeo Cleber Lach Codireccedilatildeo Roberto MurphyElenco Dorly Luchini Luacutecio Mello Roberto Murphy Juliana Skutnik Adriana DellagustinaSonoplastia Rubens Iluminaccedilatildeo Rubia Cris

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=lWClvHpyisw

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O DE PRETO O DE BRANCO E OS DE CORES ou um despretensioso questionamento

Texto de Wilfried KrambeckGrupo Trupe SOU de Experimentaccedilotildees TeatraisDireccedilatildeo Geral Gisele BauerElenco Ana Acaacutecia Schuarz Schuumller Faacutebio Schmidt Fernanda Borges Raupp Kaio Gomes Bergamim Mariluce Rodrigues de FreitasSonoplastia Ramon Jerocircnimo Trajano e Carlos Alexande SchurubbeProduccedilatildeo Anna Mock

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=PVPk3U91iEQ

O MONSTRO DE NUTESTEIN

Texto Wilfried KrambeckGrupo Grupo AmaDoresDireccedilatildeo Marco Antonio de Oliveira e Samantha BernardoElenco Daniella Curtipassi Leonel Curtipassi Marco Antonio de Oliveira Mariella Kratz Samantha BernardoProduccedilatildeo Alexandre Silveira Daiana Hostins Diego Vargas Guilherme Reddin Ruan Rafael RosaFotografia Imagens e Sonoplastia Grupo AmaDores

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=zQcabJ0A8a8

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TRABALHO SUJO

Texto de Iran da SilveiraGrupo KonvidadosDireccedilatildeo Rafael KoehlerElenco Angelene Lazzareti Daidrecirc Thomas Daniela Farias Edegar Starke Joanna Oliari Kriseacuteven Campana e Rafael KoehlerCoreografia Edegar StarkeSonoplastia Joanna OliariFigurino Luacute MayProduccedilatildeo Pedro Wolff e Bianca MacoppiImagem-documentaacuterio Bianca Macoppi e Rafael KoehlerIluminaccedilatildeo Joanna Oliari

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=9Bk5DUrY-eQ

O AUTOR ESQUARTEJADO

Texto de Afonso NilsonGrupo Kontra Senha do Lado AvessoDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzElenco Patriacutecia Aracelli Bieging Anna Lena Riffel Igor Trapinauska Nayara Aline Schmitt Azevedo Katherine HogeProduccedilatildeo Cristiane Serpa da Luz Katherine HogeFigurino e Cenaacuterio O GrupoMaquiagem Patriacutecia Aracelli BiegingIluminaccedilatildeo Silvio Joseacute da Luz

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=9Bk5DUrY-eQ

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QUE CHEIRO Eacute ESSE

Texto de Wilfried KrambekGrupo BadulakDireccedilatildeo Jean MassaneroElenco Aline Barth Elisangela Franccedila (Zanza) Jorge Gumz Leomar Peruzzo Suellen JunkesIluminaccedilatildeo Jean MassaneroSonoplastia Aline BarthCenografia Kethlin Luana GusawaFigurinos Bruna Aline Moraes Suellen Junkes Priscila Franzoi Elisangela FranccedilaMaquiagem Bruna Aline Moraes Priscila Franzoi Suellen Junkes Jorge GumzProduccedilatildeo Kethlin Luana GusawaFotografia Dora MoraesImagem-documentaacuterio Priscila FranzoiParticipaccedilatildeo Especial Maicon (violino)Recomendaccedilatildeo 18 anos

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=IfWQ9Jfc_ZE

A PEDIDOS

Texto de Giba de OliveiraGrupo Equipe ViacutesCera de TeatroDireccedilatildeo Maicon Robert KellerElenco Cleiton Jr Pereira da Rocha Ciacutentia Daniela Galz Ciacutentia Tribess Denis Roberto Inaacutecio Evair Graciola Mayara Luana VoltoliniMaquiagem Fabriacutecio Gustavo Gesser CardosoIluminaccedilatildeo Maicon KellerCenografia e Figurinos Equipe ViacutesCera de TeatroProduccedilatildeo Executiva Fabriacutecio Gustavo Gesser CardosoProduccedilatildeo Geral Equipe ViacutesCera de Teatro

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=U1ZpVSuj_3I

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cena do espetaacuteculo ldquoa mortardquo atriz-paacutessaro janaina meneghel

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SEXTO

ENSAIOSEXTO ENSAIO - 08 DE JULHO DE 2015

Ensaio Final de Quarta-feiraNo reloacutegio do bar marcam 23h12min

Imagem Insistente Estreia

Passamos os meses de maio e junho trabalhando quase que diariamente no espetaacuteculo Com a estreia marcada para 10 de julho ontem e antes de ontem tentamos um ensaio geral Apesar de um grande esforccedilo coletivo a sensaccedilatildeo que transbordava era de um espetaacuteculo ainda em desenvolvimento parecia natildeo estar pronto carecia de algo precisava ser finalizado No ensaio de hoje agrave noite mais uma vez isso se repetia O grupo um tanto ansioso com a estreia um tanto perturbado com o inacabado entreolhava-se todos os corpos mesmo os inumanos e ateacute os imoacuteveis transpiravam interrogaccedilotildees Como vai ser O que fazer O puacuteblico vai gostar Algueacutem vai nos criticar Vatildeo nos aplaudir Vai aparecer um personagem ressentido que natildeo foi entrevistado nos acusando de usar indevidamente o dinheiro puacuteblico Vai aparecer uma empresa muito impressionada com nosso trabalho querendo patrocinar um novo projeto via alguma lei de incentivo agrave cultura Vatildeo nos amar odiar desprezar Ficaratildeo entediados surpresos assustados Algueacutem vai sorrir E laacutegrimas Seraacute que

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SEXTO

ENSAIO

Laacute pelas tantas Silvinho propotildee uma intervenccedilatildeo etiacutelica O bar a essa altura do campeonato parecia ser realmente a uacutenica soluccedilatildeo possiacutevel Fomos beber

Chegando ao estabelecimento aproximamos duas mesas e solicitamos ao garccedilom a primeira rodada de cerveja pois em Blumenau mesmo no frio de julho sempre se bebe cerveja Depois da quinta ou sexta rodada algumas boas ideias comeccedilaram a surgir

ndash E se no meio da peccedila a gente explodir tudo podemos citar O Homem do Capote e mandar tudo pros ares teatro puacuteblico cadeira BUMMMM tudo voando voando ia ser lindo

ndash Eacute uma boa Faria sucesso de criacuteticandash Olha pessoal pra dizer a verdade eu

acho que faltou alguma coisa por isso estamos assim

ndash Assim como becircbados ndash risosndash Meu analista sempre diz que a falta tem

relaccedilatildeo com o Complexo de Eacutedipondash Eacutedipo Quem sabe se a gente chamasse a

tua matildee entatildeondash Natildeo porra Tocirc falando seacuterio Tipo a editora

πpa por exemplo eacute uma marca forte do NuTE Numa eacutepoca que circulava pouquiacutessimo material sobre teatro na regiatildeo o que se conseguia traduzir por sorte encontrar ou mesmo produzir publicava-se por laacute onde eacute que se fala dessas publicaccedilotildees

ndash No Quarto Ensaiondash Taacute mas pera laacute o que acontece natildeo vai aleacutem

de uma citaccedilatildeo Lembro que Alexandre havia

deixado pra gente aleacutem dos aperitivos cecircnicos um tal de Aperitivo Livretante Esse Aperitivo Livretante era sobre a editora πpa O problema eacute que ningueacutem utilizou porque aquele merda do Ator Guerrilheiro provocou uma guerra dentro do grupo a maioria dos atores abandonaram os ensaios mal conseguimos encenar o aperitivo escolhido Ou seja natildeo existe nenhuma cena sobre essas publicaccedilotildees

ndash Por isso que eu sugeri chamar a tua matildee tais entendendo agora Podemos sentar a veacuteia numa banqueta e dar uma plaquinha pra ela ficar segurando PIPA Vai ficar joia joia

ndash Eu acho que o que estaacute publicado fala de si com muito mais forccedila do que aquilo que tenta interpretaacute-lo Natildeo tinha uma rubrica no projeto destinada a impressotildees de material

ndash Sim Natildeo usamos nada ainda taacute laacute esperando

ndash Por que entatildeo a gente natildeo seleciona esse material publica em formato de livreto e distribui ao puacuteblico durante nossas apresentaccedilotildees

ndash Eacute uma boa ideiandash Eacute uma excelente ideiandash Eacute uma ideia que merece um brinde ndash Cacete acabou a cerveja Garccedilom Traz

mais quatro cervejas aqui por favorO garccedilom trouxe as cervejas Bebemos As

cervejas acabaram pedimos mais uma rodada Depois da comemoraccedilatildeo borbulhante um silecircncio travoso amargava na boca Amargou amargou ateacute que Juliana pedindo mais uma rodada saiu com essa

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SEXTO

ENSAIO

ndash Eu ainda acho que faltou pesquisa sobre a Estereocena

ndash Bobagem a Estereocena aparece no Segundo Ensaio Tem um trecho enorme da entrevista do Alexandre explicando o que eacute vocecirc ateacute participa da cena lembra Com os projetores multimiacutedia

ndash Sim sim eu sei mas tudo acontece num relacircmpago eacute raacutepido demais pra importacircncia que tem Acho que poderiacuteamos ter explorado mais

ndash O que dizer entatildeo do JOTE-Titac ndash interrompe Wilfried

ndash Natildeo Wilfried peraiacute cara Tem um Ensaio inteiro sobre o JOTE-Titac

ndash Mas eacute pouco deveria ter mais coisasndash Tipo o quecircndash Tipo uma cronologia como aquela do

Terceiro Ensaio onde apareceriam os textos premiados seus respectivos autores bem como os espetaacuteculos encenados Algo com maior embasamento histoacuterico Acho justo porque o JOTE-Titac foi uma das coisas mais intensas do NuTE

ndash Mas isso jaacute foi feitondash Ondendash No livro Jogos de Teatro 12 anos de

Teatro em Blumenau publicado pela Cultura em Movimento em 2000

ndash Sim mas eacute um tratamento totalmente diferente do que estamos dando aqui Insisto pois existem quilos de material inclusive catalogados pela pesquisa sobre as treze

ediccedilotildees do JOTE-Titac que natildeo utilizamos pra nada

ndash Olha ndash diz Peacutepe pegando um gancho ndash se for pra fazer mais um Ensaio sobre o JOTE-Titac acho que o foco entatildeo deveria ser a pulsaccedilatildeo artiacutestica que acontecia ao redor do NuTe os poetas os muacutesicos os artistas plaacutesticos os bailarinos todo aquele clima de efervescecircncia artiacutestica que rolava bem como todos os grupos de teatro que se formaram dentro do NuTE Antes de montarmos a Cia Carona de Teatro por exemplo havia o Grupo Carona para Irmatildeo Sol e Irmatildeo Lua ambos foram antecedidos pelo Grupo Meu Grupo que nasceu dentro do NuTE Tudo comeccedilou ali Sobre isso quase nada foi dito Acho que satildeo coisas que ficaram agrave margem

ndash Mas Peacutepe esse troccedilo daria outro livro digo outro espetaacuteculo

ndash Cada um desses temas daria outro espetaacuteculo por si soacute

ndash Isso eacute verdade ndash respiraccedilotildees As palavras se calam apenas os copos conversam

ndash Garccedilom traz mais quatro cervejas por favor

Depois de alguns goles emudecidos Afonso diz

ndash E se ao inveacutes de preencher com algo faltante criaacutessemos alguns buracos pra coisa toda escapar

ndash Do que vocecirc estaacute falandondash Daacute licenccedila lembrei de que preciso ir ao

banheiro

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SEXTO

ENSAIO

ndash Talvez ndash Afonso explica ndash estejamos procurando no caminho errado parece-me que o espetaacuteculo natildeo precisa de algo a mais mas sim de uma fissura por onde escapar um duto atraveacutes do qual ele possa correr para todos os lados uma linha de fuga

ndash Acho que vocecirc estaacute becircbado ndash gargalhadas

ndash Peraiacute pessoal vamos tentar entender a ideia

ndash Taacute bom Entatildeo me diz como eacute que vamos abrir buracos ndash risos ndash num espetaacuteculo

ndash Bem eu natildeo tenho exatamente uma receita pronta pra fazer isso mas se vocecircs concordarem podemos comeccedilar aceitando o fato de que o NuTE natildeo cabe em um espetaacuteculo

ndash Como assim

ndash Acho que deveriacuteamos aceitar que nossa pesquisa eacute falha fraacutegil que construiacutemos um mapa provisoacuterio um mapa que para funcionar bem precisa ser conectado a outros mapas e esses outros mapas nem existem ainda estatildeo por vir

ndash Eu natildeo concordo com isso Em minha opiniatildeo o espetaacuteculo precisa abarcar o NuTE como um todo

ndash Como um todo ou como um tolo ndash risos

ndash Quem comeu o tolo ndash mais risos

ndash O Tolo ou o Bolo ndash ningueacutem achou graccedila Constrangimentos Calados todos bebem

ndash Cara essa ideia de todo eacute meio boba vocecirc natildeo acha

ndash Bobandash Eacute Meio ingecircnua Quem eacute que consegue

realmente fazer isso A descriccedilatildeo eacute sempre parcial Para se falar sobre qualquer coisa deixamos de falar sobre inuacutemeras outras Natildeo tem jeito de escapar Lembra quando Barthes diz que escrever eacute um gesto poliacutetico que vocecirc precisa optar a cada letra a cada viacutergula por uma esteacutetica por uma eacutetica33

ndash Se estou entendo bem vocecirc estaacute querendo me convencer de que deixar a coisa pela metade eacute aceitaacutevel

ndash Mais que isso Estou tentando te dizer que o fragmento eacute muito mais interessante que a totalidade

ndash Vocecirc pode ateacute achar o fragmento mais interessante agora para que as pessoas consigam entender o que foi o NuTE elas precisam do todo O fragmento natildeo vai ajudaacute-las a aprender melhor

ndash Aprender Mas por que cargas drsquoaacutegua te preocupas em ajudar as pessoas a aprender Natildeo haacute nada para se aprender aqui O que estamos fazendo passa muito mais por uma esfera artiacutestica do que racional Isso aqui natildeo eacute catequese natildeo eacute aulinha de telecurso do segundo grau Soacute queremos servir agrave histoacuteria agrave medida que ela serve para a vida Se a histoacuteria natildeo serve para a vida ela natildeo nos serve34

ndash Ah Essa eacute boa Se a funccedilatildeo desse espetaacuteculo natildeo eacute construir um aprendizado sobre o NuTE entatildeo ele serve pra quecirc

ndash Para libertar as pessoas

33 Roland Barthes em Grau Zero da Escritu-ra

34 Friedrich Nietzs-che Da utilidade e des-vantagem da histoacuteria para a vida

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SEXTO

ENSAIO

ndash Vocecirc estaacute becircbado soacute pode ser ndash risosndash Entatildeo vou chamar algueacutem soacutebrio que fale

por mim Pode serndash Vai ser difiacutecil encontrar um por aqui

hein ndash risos Afonso apanha sua mochila preta e retira

de dentro dela um volumoso livro de capa esverdeada Folheia algumas paacuteginas ateacute chegar agrave 147 Por fim aos ouvidos ansiosos em sua volta sorrindo potildees-se a ler

Torna-se decisivo que o abandono da totalidade natildeo seja pensado como deacuteficit mas como possibilidade libertadora ndash de expressatildeo fantasia e recombinaccedilatildeo ndash que se recusa a ldquofuacuteria do entendimentordquo35

ndash Na minha opiniatildeo se essa foi se noacutes a utilizamos para levantar esse espetaacuteculo tambeacutem deve continuar sendo a poliacutetica do NuTE Mesmo sem saber mesmo quando natildeo era proposital NuTE sempre esteve work in progress Se utilizamos o mesmo recurso para montar um espetaacuteculo sobre esse tema precisamos minimamente zelar por essa estrutura Tentar falar do NuTE atraveacutes de uma totalizaccedilatildeo eacute trair o processo NuTE que sempre preferiu os fragmentos que sempre buscou libertar a si mesmo e ao mundo da fuacuteria do entendimento da grande razatildeo da consciecircncia que tudo apreende que tudo sabe que tudo ensina que tudo enjaula tranca aprisiona Natildeo podemos ter a arrogacircncia a presunccedilatildeo e a prepotecircncia de querer ensinar as pessoas o que foi o NuTE Montar uma NuTE-Biografia eacute ridiacuteculo eacute romacircntico demais

35 A expressatildeo ldquofuacuteria do entendimentordquo eacute de Jochen Horisch a ci-taccedilatildeo foi extraiacuteda de Teatro Poacutes-Dramaacutetico de Hans-Thies Leh-mann

eacute pateacutetico Se algum cheiro sabor clima tom nuteanescos chegarem agraves pessoas atraveacutes de nosso espetaacuteculo eacute justamente porque ele natildeo eacute totalitaacuterio eacute porque conseguimos de alguma forma manter o processo em aberto Natildeo podemos transformar a vida palpitante plena de energia num produto finalizado bom apenas para se expor em vitrines Aleacutem do quecirc NuTe escapa por todos os lados natildeo permite uma apropriaccedilatildeo parece haver intrincado em seu proacuteprio funcionamento uma maacutequina anarco-rizomaacutetica que estende suas paisagens-memoacuteria em muacuteltiplos sentidosdireccedilotildees NuTE natildeo se deixa apanhar governar definir catalogar restringir dizer o que eacute Assim se esta pesquisa se quer filiada ao que busca pesquisar nada melhor que anunciar suas fragilidades seus equiacutevocos suas dificuldades Nada mais natural que provocar outros pesquisadores a escrever-encenar sobre o NuTE Pois era assim que tudo funcionava dentro do NuTE Certa vez escutei Alexandre Venera dizendo que o momento mais interessante de um espetaacuteculo eacute a sua montagem Por que natildeo fazemos disso o nosso refratildeo

ndash Porque agora meu caro filoacutesofo noacutes precisamos estrear depois de amanhatilde vai acontecer a estreia deste trabalho e natildeo vai ter nenhum desses conceitosinhos bonitos no palco para nos proteger de um grande vexame

ndash Pessoal eu sei que estamos haacute um bom tempo nos dedicando a esse espetaacuteculo Sei que as pessoas viratildeo nos assistir Muitas delas estatildeo esperando assistir uma Nute-Biografia

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SEXTO

ENSAIO

uma historinha iniacutecio-meio-fim sobre o NuTE O que precisamos responder para noacutes mesmos eacute afinal de contas o que noacutes temos para dar a elas O que vamos apresentar O que temos para encenar

ndash Ensaiosndash Exatamente Vamos apresentar nossos

ensaios nossos fragmentos Nossas tentativas de montar um espetaacuteculo Ou melhor a proacutepria montagem Vamos lhes apresentar nas palavras de Venera aquilo que haacute de mais interessante num espetaacuteculo Eacute isso que vamos encenar Se estiveacutessemos escrevendo um livro e a estreia fosse sua publicaccedilatildeo seria correto dizer que mesmo depois de publicado ele continuaria em desenvolvimento Nonstop Work in Progress Jaacute que a biblioteca Nutrindo permaneceraacute aberta a novos nutrientes materiais encontrados em pesquisas que estatildeo por vir o blog NuTE Para Todos vai hospedar a publicaccedilatildeo para que todos possam livremente baixar ler comentar quando e como lhes parecer melhor Assim as discussotildees realizadas que se acumularam durante a montagem natildeo param por aqui vatildeo continuar acontecendo mesmo depois da estreia-publicaccedilatildeo Trata-se de um espetaacuteculo em devir onde natildeo interessa tanto a histoacuteria factual os proacuteprios fatos mas sim algo que a arte permite acessar e que as convenccedilotildees da vida cotidiana tendem a bloquear Nesse sentido o espetaacuteculo natildeo serve como um totalizador histoacuterico do que aconteceu mas sugere pistas de como acontecia dos principais nutrientes e dos venenos mais consumidos forccedilas natildeo menos intensas que o fizeram improdutivo em

sua uacuteltima fase ndash Olha isso taacute muito lindo tocirc ateacute ficando

emocionado natildeo sei se eacute a cerveja agraves vezes me daacute uma caganeira desgraccedilada Mas vocecirc acha mesmo que podemos sustentar o espetaacuteculo nessa coisa meio sem chatildeo que a arte permite acessar e que a vida cotidiana tende a bloquear Isso natildeo fica meio como dizer solto quase metafiacutesico um papo de becircbado natildeo

ndash Tudo eacute deliacuterio mesmo o mais seacuterio dos burocratas passa a vida a se embriagar com coacutedigos sistemas nuacutemeros Mesmo o revolucionaacuterio que tomou para si a missatildeo de melhorar o mundo conscientizando as massas iluminando a todos mesmo Don Quixote ou o mais sisudo dos empresaacuterios de terno e gravata tambeacutem o Cavaleiro Inexiste uma dona de casa lavando roupa um pescador na proa do barco ou Gurdulu em sua sopa todos deliram Natildeo existe outra saiacuteda para a existecircncia humana que natildeo seja o deliacuterio

ndash Isso tambeacutem eacute bonito mas natildeo diz merda nenhuma

ndash Natildeo diz pra ti estaacute tudo aiacute seu babaca ndash Tudo o quecircndash Vou tentar te explicar com laranjas

Presta atenccedilatildeo A vida humana impotildee um problema a todos Indiferente de classe social gecircnero etnia crenccedila grau de inteligecircncia ningueacutem ningueacutem mesmo atravessa a vida sem responder a isso Se vocecirc quiser conversar com os humanistas de plantatildeo talvez esta possa ser a condiccedilatildeo humana aquilo que nos

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SEXTO

ENSAIO

difere dos outros animais Ter que responder a isso ou melhor responder a isso eacute o que passamos a vida fazendo Eacute um problema bem simples ateacute de se colocar Mas a sua resposta eacute muacuteltipla existem centenas de milhares de possibilidades E a vida de cada um de noacutes eacute exatamente aquilo que conseguimos dar como resposta a esse problema O NuTE portanto meu caro eacute uma resposta

ndash Mas do que vocecirc estaacute falando agora cacete resposta do quecirc Que maluquice de problema universal eacute esse que o NuTE responde

ndash O NuTE eacute uma resposta agrave finitude da vida uma resposta agrave morte A gente falou um pouco sobre isso no Quarto Ensaio lembra Qualquer inseto camundongo cachorro girafa avestruz percevejo ou rinoceronte eleva ao maacuteximo o grau de potecircncia em sua vida Com exceccedilatildeo do homem os animais estatildeo instintivamente equipados para fazer de sua pequena existecircncia um nuacutecleo de poder Mas nossa espeacutecie foi amaldiccediloada com a consciecircncia sabemos que vamos morrer sabemos que enquanto estivermos vivos vamos sofrer e sabemos que natildeo haacute sentido natural nisso Eis o problema humano o que fazer com isso como lidar com essa falta ou na formulaccedilatildeo proposta por Grotowski Como Viver

ndash Vocecirc estaacute insinuando que Deus natildeo existendash Natildeo Estou dizendo que Deus eacute uma

respostandash Ah Bom pensei que vocecirc fosse O quecirc

Uma resposta Vocecirc quis dizer que Deus eacute a resposta

ndash Natildeo Eu quis dizer exatamente o que disse Deus eacute uma resposta assim como a ciecircncia eacute uma reposta assim como a arte eacute uma resposta assim como a cerveja o sexo o dinheiro o trabalho o amor passar a vida economizando cada centavo para comprar aquela casa aquele carro aquela roupa satildeo respostas que nos conectam com a vida Eis o sentindo mais profundo do Religare Enquanto nos ocupamos em responder esquecemos temporariamente o problema e assim a vida se torna possiacutevel

ndash Mas isso eacute um absurdo ndash interrompendo ndash Vocecirc natildeo pode colocar Deus NuTE um carro por melhor que seja mesmo se for uma Ferrari no mesmo niacutevel de uma peccedila de roupa ou de um copo de cachaccedila

ndash Olha querido vou te contar dependendo a peccedila de roupa que eu quiser comprar pode custar o mesmo preccedilo da sua Ferrari ndash risos

ndash Ah Vatildeo agrave merda Natildeo eacute disso que estou falando e vocecircs sabem Se tudo eacute igual se tudo vale a mesma coisa se nada eacute melhor ou pior entatildeo esse espetaacuteculo eacute um presente de grego Promete levar o puacuteblico a experimentar NuTE em sua embriaguez dionisiacuteaca seu Work in Progress de intensidades e deliacuterios mas o que realmente faz eacute cavar um buraco niilista para enterrar a todos Seduz o puacuteblico tal qual o Flautista de Hamelin com belas imagens e conceitos e quando todos estatildeo dentro do espetaacuteculo abre o chatildeo e os despeja num imenso vazio Ao inveacutes de chamar NuTE Para Todos esse projeto deveria ter sido batizado de

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SEXTO

ENSAIO

Niilismo Para Todosndash Garccedilom traz mais umas cinco cervejas

por favorndash Acabou meu cigarro posso pegar um dos

teusndash Claro Algueacutem mais quer Vou deixar aqui

na mesa se quiserem eacute soacute pegarDennis acende um cigarro toma um gole da

cerveja gelada que acabou de chegar e por fim quando o copo se assenta na mesa categoacuterico respira

ndash A casa comeccedila no caos sendo acaso caacutelculo coito como sacas de cal ou sinais escavados caiados nos ocos36

ndash E daiacutendash Quis dizer que soacute existe um jeito de se

ultrapassar o niilismo ndash silecircncio ndash Indo ao fundo ao mais profundo ao para

aleacutem da casa vazia Amor Fati ndash Escuta acho que estou um pouco becircbado

do que ele estaacute falando heinndash Que para superar o niilismo eacute preciso

encaraacute-lo de frente ou seja aceitar a vida como ela se apresenta Topar a finitude o sofrimento a ausecircncia de sentido como o pedreiro toma um saco de cimento para construir uma casa Se jaacute natildeo conseguimos mais nos esconder na barra da saia de um Deus morto precisamos encontrar fabricar novas respostas que nos religuem agrave vida nua agrave vida crua agrave vida finita traacutegica e incrivelmente bela Trata-se de experimentar o vazio em toda sua plenitude para ter condiccedilotildees de preenchecirc-lo com boas respostas Antes de

36 Trecho do poema Cultivo do Acaso de Dennis Raduumlnz in Li-vro de Mercuacuterio

comeccedilar a levantar paredes eacute preciso limpar o terreno preparar o aterramento e a fundaccedilatildeo colocar as vigas e aiacute sim com muito cuidado assentar tijolo a tijolo Trata-se de uma casa que nunca se termina de construir Work in Progress infinito invenccedilatildeo de si de mundo de uma vida como obra de arte

ndash A estes e apenas a estes que procuram por uma vida como obra de arte noacutes apresentaremos um espetaacuteculo como obra viva um espetaacuteculo em desenvolvimento que se pode ajudar a construir que natildeo estaacute morto mumificado pronto para ser aprendido vendido comprado numa prateleira do mercado A melhor ilusatildeo eacute a proacutepria vida amar o destino aceitaacute-lo desejar seu eterno retorno Eis nosso presente apoliacuteneo ao mundo um espetaacuteculo para todos e para ningueacutem

ndash Calma cara vocecirc estaacute ficando um tanto megalomaniacuteaco Tira a cerveja dele

ndash Acho que o efeito do Nietzsche eacute maior do que o do aacutelcool

ndash Entatildeo tira o Nietzsche delendash Mas como se faz isso Em meio a este curioso debate atocircnitos

assistimos se aproximar de nossa mesa Alexandre Venera dos Santos O diretor puxa uma cadeira ao lado de Juliana acende um cigarro e pede um cuba ao garccedilom Constrangido com o silecircncio ruidoso em sua volta pergunta-nos a quantas anda o espetaacuteculo Conta que acabara de fazer download do Quinto Ensaio o qual lhe pareceu uma soluccedilatildeo muito boa para

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SEXTO

ENSAIO

o JOTE-Titac e que agora estaacute muito curioso querendo assistir agrave estreia

O exerciacutecio de anotar cenas para a composiccedilatildeo de mundos durante os Ensaios carregou-me a um estranho viacutecio desde entatildeo natildeo consigo mais conviver em grupo sem anotar tudo que se passa em minha volta Em virtude deste malefiacutecio que se apossou de minha natureza estava mais uma vez descrevendo as conversaccedilotildees que ateacute entatildeo ali se fazia naquela mesa de bar Riscos e rabiscos transportados agraves matildeos do diretor que se potildee a ler calmamente enquanto o garccedilom trazia mais duas rodadas de cerveja Bebemos fumamos Giba pediu uma porccedilatildeo de babatas fritas Por fim Alexandre se surpreende dizendo que o NuTE sempre lhe pareceu uma resposta agrave algo embora nunca tivesse se perguntado ao que ele respondia Parabeniza o grupo pela discussatildeo e questiona a validade de um instrumento que generaliza tudo a ponto de ser possiacutevel interpretar qualquer coisa a partir dele Se tudo eacute resposta o que mais me interessa ndash diz Alexandre ndash eacute saber o que produziu o que fez acontecer uma resposta NuTE suas diferenciaccedilotildees respostivas Ou seja o que faz com que a resposta NuTE seja diferente da resposta LUME Equipe Vira Lata Fecircnix O que teria levado esse grupo de pessoas a responderem dessa forma e natildeo de outra37

Novamente apenas os copos conversam Aos poucos a fumaccedila dos cigarros vai se materializando numa espessa nuvem branca Tossindo gaguejando tropicando nas letras uma voz se arrisca

37 Haacute muita publi-caccedilatildeo a respeito do Lume um livro inte-ressante eacute A Arte de Natildeo Interpretar Como Poesia Corpoacuterea do Ator de Renato Fer-racini Sobre Equipe Teatral Vira Lata ver O Jardim das Ilusotildees de Eacutedio Raniere So-bre Grupo Fecircnix natildeo encontramos nenhum livro em especiacutefico po-dem ser consultados artigos de Edith Kor-mann fundadora do grupo e Noemi Keller-man

ndash O que forccedilou esse grupo de pessoas agrave resposta NuTE chama-se Vontade de Poder

ndash Ai ai ai agora o bicho vai pegarndash Olha como diria o saacutebio deputado pior do

que taacute natildeo fica depois do buraco niilista o que vier eacute lucro

ndash Vontade de Poder ndash Alexandre natildeo aceita muito bem a soluccedilatildeo gaguejada ndash Qual seria a relaccedilatildeo da Vontade de Poder com a resposta NuTE

ndash Eacute que A Vontade de Poder se deixa mostrar em todo vivente que tudo faz natildeo para se conservar mas para se tornar mais38

ndash Heinndash Vocecirc estaacute insinuando que o que fezfaz o

NuTE ser NuTE eacute uma Vontade de Dominar de controlar de subjugar as pessoas

ndash Natildeo Natildeo eacute nada disso A Vontade de Poder a qual me refiro natildeo tem nenhuma relaccedilatildeo com algo que queira o poder ou deseje dominar Se interpretamos a Vontade de Poder no sentido de Desejo de Dominar fazemo-la forccedilosamente depender de valores estabelecidos os uacutenicos capazes de determinar quem deve ser reconhecido como o mais poderoso neste ou naquele caso neste ou naquele conflito Desse modo ficamos sem conhecer a natureza da vontade de poder como princiacutepio plaacutestico de todas as nossas avaliaccedilotildees como princiacutepio escondido para a criaccedilatildeo de novos valores natildeo reconhecidos A Vontade de Poder diz Nietzsche natildeo consiste em cobiccedilar sequer em tomar mas em criar e em doar39

38 Wolfang Muumlller-Lauter in A Doutrina da Vontade de Poder em Nietzsche p55

39 Gilles Deleuze in Nietzsche p22

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ENSAIO

ndash Criar e Doar Sabe que esse troccedilo lembra mesmo o NuTE Algueacutem jaacute se perguntou afinal qual era a do NuTE o que eles realmente queriam Se a gente parar pra pensar os espetaacuteculos natildeo eram comerciais nunca se ganhou dinheiro nem fama ou qualquer coisa desse tipo Mas o que se ganhava entatildeo Com que moeda NuTE pagava as contas

ndash Me parece que o que estava em jogo durante os dezoito anos de atividade do NuTE era atingir niacuteveis mais altos na Vontade de Poder permitir que esses niacuteveis aumentassem o proacuteprio poder Eis o que o NuTE fezfaz por noacutes Artaud chegou bem perto de formular isso com clareza quando disse que natildeo eacute a arte que imita a vida mas a vida que imita algo essencial que a arte nos potildee em contato

ndash Natildeo sei se estou entendendo bem me parece que vocecirc estaacute querendo contrapor a vontade de poder agrave consciecircncia humana da finitude eacute isso

ndash De certa forma sim trata-se de uma questatildeo de vida ou morte Um gato natildeo precisa de arte para aumentar sua vontade de poder ele eleva ao maacuteximo grau de potencia sua vida em quase todos os instantes tambeacutem uma aacutervore uma flor ou um jacareacute assim o fazem mas para noacutes a Arte eacute algo vital nos mantecircm vivos sem sua resposta leve todos estariacuteamos bem mais proacuteximos do suiciacutedio dada a ausecircncia de sentido o sofrimento inerente agrave vida e o peso das grandes respostas

ndash Mas entatildeo natildeo seria mais acertado dizer que se trata de uma Vontade de Vida Por que

usar um termo que gera tanta confusatildeo como Vontade de Poder

ndash Porque eacute a forma mais precisa que temos para falar sobre isso Nenhum morto pode desejar mais vida pois dele a vida jaacute se esvaziou assim como aquele que estaacute vivo natildeo tem como querer mais vida jaacute que a vida estaacute nele e ele jaacute estaacute na vida Trata-se de querer ir aleacutem do que se eacute aumentar seu poder Quem participou de um JOTE-Titac sabe bem o que eacute isso

ndash JOTE-Titacndash Sim ou vocecirc acha que as pessoas passam

trecircs dias sem dormir porque querem ganhar um trofeuzinho O que estaacute em jogo realmente eacute uma absurda vontade de criar e de doar de compartilhar um espetaacuteculo Num JOTE-Titac a Vontade de Poder atravessa um escritor que tem seus escritos encenados um diretor cuja concepccedilatildeo estaacute em cena um ator que quer ir aleacutem de si mesmo que se faz cena que se doa ao puacuteblico num corpo-obra de arte

ndash Agora entendi vocecirc estaacute falando eacute daquela adrenalina que toma conta da gente durante o JOTE-Titac

ndash Natildeo Estou falando de um princiacutepio que move o mundo e que em uacuteltima instacircncia move tambeacutem a espeacutecie humana

ndash Taacute taacute taacute soacute natildeo vai comeccedilar a generalizar tudo de novo

ndash Por que vocecirc acha que estou generalizandondash Oras se a Vontade de Poder forccedila todos a

serem o que satildeo e a resposta que discutimos haacute pouco eacute necessariamente dada por todos onde fica o NuTE nisso tudo

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SEXTO

ENSAIO

ndash NuTE Para Todos e para Ningueacutemndash Eu me refiro agrave pergunta do Alexandre se

tudo eacute Para Todos onde estaacute a singularidade-NuTE

ndash Pensar a singularidade de um corpo eacute pensar como a vontade de poder se manifesta nele pois eacute assim que ele responde agrave finitude Ou dizendo de outra forma pensar o processo de diferenciaccedilatildeo de um corpo eacute pensar como ele responde agrave finitude porque eacute assim que se manifesta nele A Vontade de Poder

ndash Beleza entatildeo vamos laacute ndash todos se levantam sacodem a poeira tomam rumo da porta de saiacuteda

ndash Ei seus vagabundos onde eacute que vatildeo sem pagar a conta ndash grita o garccedilom passando a matildeo num cassetete que ateacute entatildeo repousava sob o balcatildeo

ndash Putz algueacutem tem granandash Quanto eacute que deundash Taacute aqui a conta ndash o garccedilom joga a nota

sobre a mesa ndash Caramba Tudo issondash Mas isso eacute um roubo a gente natildeo bebeu

tanto assimndash Todo mundo senta aiacute e podem ir juntando

os trocados senatildeo vou chamar a poliacutecia Tatildeo pensando que eacute vir aqui encher a cara e sair de fininho eacute Beberam a noite toda e agora querem sair sem pagar

ndash Natildeo eacute isso mas eacute que tocirc achando que nove vontades e quatro respostas eacute muito dinheiro Ningueacutem aqui bebeu pra tanto

ndash Beberam sim Ana liga pra poliacutecia ndash o

garccedilom levanta o porrete em tom de ameaccedila Giba retira um canivete do bolso e o chama para briga O pessoal do ldquodeixa dissordquo age rapidamente conseguindo segurar ambos

ndash Calma aiacute meu povo se todo mundo colaborar com um pouquinho a gente consegue pagar e ir embora sem confusatildeo

A trupe passa alguns minutos a esgravatar profundamente carteiras bolsos meias Aos poucos as moedas comeccedilam a tilintar sobre a mesa

V1 ndash Vontade Musical ndash Assistimos no Segundo Ensaio agraves suas principais manifestaccedilotildees em Wilfried e Venera Para aleacutem das personas esta vontade se espalha em todo o grupo Em entrevista Dennis Raduumlnz define o NuTE como uma Banda de Rock

Acho que noacutes eacuteramos uma banda de rock na verdade soacute que noacutes natildeo tocaacutevamos faziacuteamos teatro Noacutes tiacutenhamos essa mesma energia O Faleiro recordo bem as palavras dele (ele recordou isso comigo no ano passado) dizia assim ldquoo que mais me impressionava em vocecircs era a vontade de fazer teatrordquo (paacutegina 12)

V2 ndash Vontade de Saber ndash Uma vontade de saber sobre teatro de conhecer mais de ir aleacutem daquilo que aprendeu mais que isso de ultrapassar o conhecimento da comunidade dos seus pares de todos a sua volta De criar alianccedilas com Mestres distantes estrangeiros de beber em fontes desconhecidas Esta vontade perpassa todos os Ensaios deste espetaacuteculo-

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SEXTO

ENSAIO

livro Suas principais manifestaccedilotildees percorrem um longo caminho vatildeo desde os encontros iniciais que inauguram o espaccedilo NuTE passando pelos cursos de Faleiro Simioni Editora πpa Escola NUTe Internute Mesmo no JOTE-Titac e nas montagens percebe-se uma vibraccedilatildeo intensa pelo conhecimento

V3 ndash Vontade de Ensinar ndash Tal qual a taccedila de Zaratustra pronta para transbordar para derramar esta terceira vontade parte em busca de matildeos que se estendam a ela Assistimos agraves suas principais manifestaccedilotildees no Segundo Ensaio cursos de miacutemica de Wilfried ndash ainda na Sulfabril ndash e os primeiros cursos de teatro dentro do NuTE Tambeacutem assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Quarto Ensaio onde um Nuacutecleo de Teatro Experimental se transforma em Nuacutecleo de Teatro Escola e a Vontade de Ensinar cresce a tal ponto de quase sufocar a Vontade Experimental Tambeacutem eacute possiacutevel perceber suas ressonacircncias em algumas produccedilotildees escritas como exemplo a coluna que Alexandre Venera manteve por anos no Jornal de Santa Catarina e as publicaccedilotildees da Editora πpa

R1 ndash Resposta hoje tem Teatro ndash Assistimos ao desenvolvimento desta resposta no Segundo Ensaio onde Alexandre Venera como coordenador de eventos do Teatro Carlos Gomes responde agrave ausecircncia de teatro dentro do Teatro Este projeto resposta seraacute o estopim para inveccedilatildeo dois anos mais tarde do Trecircs

Terccedilas tem Teatro Ambos os projetos preparam terreno para criaccedilatildeo do JOTE-titac

V4 ndash Vontade de Encenar ndash Assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Terceiro Ensaio atraveacutes do absurdo nuacutemero de espetaacuteculos montados ndash Cento e Oitenta e Quatro - tambeacutem assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Quinto Ensaio atraveacutes do experimento JOTE-Titac Eacute interessante notar como a Vontade de Saber e a Vontade de Encenar por vezes aparecem juntas ndash a didaacutetica utilizada pela Escola NUTe por exemplo onde o aluno aprendia fazendo montando espetaacuteculos bem como vaacuterias montagens do proacuteprio NuTE onde o tempo dedicado agrave pesquisa era superior ao tempo dedicado agrave circulaccedilatildeo agraves apresentaccedilotildees do espetaacuteculo finalizado Vale aqui lembrar mais uma vez a maacutexima de Alexandre Venera segundo a qual o momento mais interessante de um espetaacuteculo eacute sua criaccedilatildeo seus ensaios

R2 ndash Resposta jOTE-Titac ndash Possiacutevel resposta ao formato que o Festival Internacional de Teatro Universitaacuterio de Blumenau acabou tomando Em artigo publicado no livro Jogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau Alexandre Venera escreve

No princiacutepio de 1986 Dalton Gonccedilalves Daniel Curtipassi Joseacute Ronaldo Faleiro e eu organizaacutevamos o festival de teatro que veio a tornar-se o importante ldquoFestival Universitaacuterio de Teatro de Blumenaurdquo promoccedilatildeo respectiva agraves personalidades acima da RBS TV Departamento de Cultura da Prefeitura

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SEXTO

ENSAIO

Municipal de Blumenau FURB e Teatro Carlos GomesNuTE Incumbido da criaccedilatildeo do regulamento desse festival apresentei na eacutepoca uma opccedilatildeo de regras que meses depois veio a ser o embriatildeo para os JOTE-Titac

V5 ndash Vontade de Artista ndash Perpassa todos os Ensaios aqui apresentados Vontade de respirar arte de se artistar de inventar-se artista de sobreviver artisticamente Em entrevista Peacutepe Sedrez diz que

Eu lembro que Marcos e eu tiacutenhamos nessa eacutepoca o conflito de ter de servir o exeacutercito e a gente tava morrendo de medo Largamos nossos empregos Eu trabalhava na Ceval que hoje eacute Bunge e tinha laacute uma dita carreira promissora Larguei pra fazer o espetaacuteculo () Eu queria fazer soacute teatro e tomar conta da famiacutelia essas coisas todas Eu tinha soacute 18 anos e era uma loucura naquela eacutepoca largar Sei laacute eu sou de famiacutelia pobre e o meu salaacuterio era importantiacutessimo era entregue na matildeo da matildee ainda ela tirava quase tudo e dava uma graninha pra gente sair no fim de semana ou pagar os estudos tambeacutem e eu larguei tudo pra fazer teatro inclusive a escola Inclusive as aulas porque Noacutes ensaiaacutevamos somente agrave noite natildeo precisava talvez ter largado o emprego mas eu sabia que isso ia funcionar em seguida Eu queria achava necessaacuterio chegar no ensaio jaacute com alguma coisa trabalhada (paacutegina 8)

V6 ndash Vontade Libertaacuteria ndash uma vontade anaacuterquica de liberaccedilatildeo de si e do mundo de ausecircncia de lei Deus governo Atravessa todo o espetaacuteculo-livro em especial o Segundo o Quarto e o Sexto Ensaios Em entrevista Alexandre Venera diz que

() qualquer forma de lei eacute forma de criar limites ou patamares ou entatildeo apoios No momento em que a pessoa taacute se apoiando ou criando apoios ela taacute segura ela taacute tranquila quer dizer nessa proteccedilatildeo existe uma espeacutecie de lei em que ela taacute sendo dominada (paacutegina 6)

V7 ndash Vontade de Coletivos ndash De estar com outros de produzir junto de criar coletivamente de compor um espetaacuteculo com muacutesicos artistas plaacutesticos escultores poetas e ateacute mesmo com natildeo artistas Quando do convite agrave montagem de Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes Alexandre Venera espalha cartazes pelo Teatro Carlos Gomes onde se lecirc Somos muito poucos para Dividir A sonoplastia do Teatro da Terra era feita por uma banda com guitarras eleacutetricas bateria baixo em meio agrave floresta Em Senhoras e Senhores haacute uma performance do bailarino Edson Farias Em vaacuterios espetaacuteculos do NuTE o cenaacuterio era composto em parceria com o artista plaacutestico Tadeu Bitencourt Cio das Feras e Apocalypsis utilizam poesia catarinense No artigo que Alexandre Venera publica junto ao livro Jogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau encontramos uma interessante lista onde se nomina alguns membros destes coletivos

nas artes plaacutesticas Ceacutesar Otaciacutelio Fernando Alex Crista Sitocircnio Francis Bento Simone Tanaka Sola Ries Janete Dallabona Terezinha Heimann Tadeu Bitencourt no ballet Edson Farias Grupo de Danccedila e Sapateado do Proacute-Danccedila de Blumenau os arquitetos Leo Campos Etson e Jaime Jung os muacutesicos do Tranca Rua do Baurimbe Nana

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SEXTO

ENSAIO

Hector Lagos Giovana Voigt os publicitaacuterios Claus Jensen Paulo Porche Dicesar Leandro a equipe da Graacutefica da Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau Giba Santos e em especial o Sr Bernardo Tomelin os poetas escritores dramaturgos criacuteticos jornalistas editores Tacircnia Rodrigues Tchello drsquoBarros Marcelo Steil Marcelo Ricardo drsquoAlmeida Douglas Zunino Sandra Heck Gervaacutesio Tessaleno Luz Vilson Nascimento Joel Gehlen Eliane Lisboa aleacutem dos autores incluiacutedos nesta antologia Raquel Furtado Carlos Peixer Vinci Bernadete da Silva Alceu Custoacutedio Horaacutecio Braun Jr Sidnei Mafra o pessoal do teatro (como juacuteri) Carlos Crescecircncio Carlos Jardim Silvio Joseacute da Luz Lorival Andrade Aacutelvaro Andrade Luiz Sampaio Gabriela Diaz Roberto Mallet Pita Beli Cida Milezzi Denise da Luz e o pessoal natildeo juacuteri Mauro Ribas Neto Paulo Camargo Sandra Cardoso aos teacutecnicos Luacutecio Vieira Nei Leite Luacutecia Siqueira Ivan Felicidade Jussara Barbosa os atores e diretores (dentre o grande pessoal participante muitos dos premiados) Margareth DrsquoNiss Sandra Knoll Silvana Costa Jussara Balsan Carla Mello Leo Almeida Giseli Marciacutelio Bia Brehmer Juliana Vendrami Rita Machado Francinete Bitencourt Patriacutecia Schwartz Anice Tufaille Raquel Wollert Pollyanna da Silva Sidneacuteia Kopp Regina Simas Andrea dos Santos Iraci Krambeck Paula S Igreja Alan Imianowsky James Pierre Beck Joatildeo da Mata Kalinho Santos Joseacute Aparecido Faacutebio Shaefer Roberto Morauer Pedro Dias Luis Alberto Rafael de Almeida Oto Muumlller Alexandre Diogo Junkes Nelson de Souza Marcus Suchara

Um nuacutecleo de teatro em torno do qual gravitavam artistas natildeo artistas e outros seres

V8 ndash Vontade do Novo ndash Ligada agraves respostas Hoje Tem Teatro JOTE-Titac Editora πpa e agrave grande maioria dos espetaacuteculos encenados pelo NuTE destaque para as montagens do Grupo

da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques V9 ndash Vontade de Guerra ndash Uma vontade de

jogar disputar guerrear vencer de ir aleacutem de si mesmo Assistimos agraves suas manifestaccedilotildees em especial no Quarto e no Quinto Ensaio

O tilintar das moedas sobre a mesa abre um portal por onde o Ator Guerrilheiro rompe as grades do Quarto Ensaio Surge sorrindo empostando sua metralhadora achando graccedila na cena NuTES pagando as contas Numa gargalhada infernal liga a metralhadora e dispara sobre o grupo rajadas e mais rajadas de balas O evento dura uns cinco minutos aproximadamente Quando se encerra encontramos Peacutepe descascando uma de morango Alexandre que prefere as de carambolas junta um punhado sobre a mesa e mesmo o garccedilom mastiga uma de hortelatilde O grupo muito irritado organiza-se para perseguir o Ator Guerrilheiro que a essa altura corria pelado rua XV de Novembro abaixo Muitos dos presentes consideram o Ator Guerrilheiro o verdadeiro culpado pelo fim do NuTE e assim debatem a melhor forma de punir seu crime Alexandre interveacutem a favor do Ator Guerrilheiro O diretor argumenta que o ator natildeo pode ser responsabilizado individualmente por uma cena Se o NuTE terminou eacute porque o espetaacuteculo como um todo movimentou-se nesse sentido natildeo poderia ter acontecido de outra forma O ator natildeo tem culpa porque sua accedilatildeo eacute anterior agrave invenccedilatildeo desta O ator apenas desempenha o seu papel da mesma

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SEXTO

ENSAIO

forma como vocecirc neste exato momento estaacute desempenhando o seu E assim trazendo a inocecircncia de volta ao espetaacuteculo o Ensaio pode continuar

R3 ndash Resposta agrave Mediocridade ndash Impulso agrave diferenciaccedilatildeo desejo de ir aleacutem das convenccedilotildees sociais dos modelos existenciais preacute-determinados de se produzir estranho agraves normas estabelecidas Interessante perceber o quanto essa resposta estaacute ligada agrave Vontade de Coletivos e agrave Vontade do Novo Em entrevista Nira diz o seguinte

() eu morava numa cidade muito pequena e conservadora pra um adolescente como eu era Entatildeo num primeiro momento assistir o Apocalypsis me deixou muito feliz E num segundo momento me deixou depressivo porque eu vi que aquela vidinha que eu tava levando naquela cidadezinha natildeo era uma vida que eu gostaria de levar Entatildeo de 1989 pra 1993 quando eu entrei no NuTE satildeo quatro anos durou muito tempo Entatildeo nesses quatro anos a vontade de fazer alguma coisa foi crescendo soacute que eu natildeo tinha vazatildeo natildeo tinha como eu fazer nada Entatildeo um ano antes de eu entrar no NuTE eu tive uma depressatildeo muito grande muito forte que quase Enfim Mas saiacute Quando eu entro pro NuTE com 20 anos neacute era uma vida inteira de Assim querendo me expressar sem poder e que eu comeccedilo naquele momento ali Entatildeo num primeiro momento tudo o que eu fazia era muito pouco Eu queria ter Eu queria fazer teatro 24 horas por dia Mas claro natildeo daacute Aiacute no segundo ano em 1994 quando jaacute natildeo era mais soacute aluno do NuTE jaacute era um fazedor de teatro tambeacutem aiacute sim aiacute eu comeccedilo a entrar de cabeccedila mesmo e inclusive durante algum tempo eu e o Contra Senha a gente praticamente morava na casa do Ceacutesar Rossi neacute Ele e o Maicon moravam sozinhos numa casa na Itoupava Central e laacute era

o local de ensaio era uma casa cheia de quadros as paredes todas pintadas cheia de instalaccedilotildees era uma loucura Aquilo que eu sonhei a vida toda eu vivi naquele momento Foi uma experiecircncia incriacutevel (paacutegina 8)

V10 ndash Vontade Experimental ndash No Terceiro Ensaio assistimos a uma cronologia com todos os espetaacuteculos experimentais e didaacuteticos Esta dicotomia um tanto arriscada pareceu-nos oportuna para evidenciar ambas as forccedilas Ou seja seu embate demonstra o quanto a Escola NUTe serviu como trampolim agrave experimentaccedilatildeo Ou seja as aulas e os espetaacuteculos didaacuteticos eram necessaacuterios para a sobrevivecircncia dos professores mas o que realmente lhes interessava o platocirc onde vibravam suas existecircncias estava conectado ao vetor oposto Em entrevista Alexandre Venera diz

Aiacute eram vaacuterios alunos turmas o pessoal tendo que organizar aula ensinar pro cara que entrou a primeira vez que subiu no palco o quecirc que ele faz onde potildee a matildeo () E ao mesmo tempo o cara que tava ensinando isso querendo fazer a sua arte tambeacutem Entatildeo ele tinha que dar aula pra ganhar dinheiro mas ele tinha que fazer o seu teatro tambeacutem Aiacute tinha que ter o grupo iniciante dos alunos pra alimentar o sonho dos Porque ningueacutem entrou ali no NuTE pra ser professor O professor era uma forma de ganhar um troco e poder viver do teatro com uma certa garantia (paacutegina 18)

R4 ndash Resposta agrave Geraccedilatildeo Anterior ndash NuTE natildeo eacute um descendente direto da Equipe Teatral Vira Lata do Grupo Fecircnix do Ribalta do teatro feito nos clubes de caccedila e tiro ou Lira

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SEXTO

ENSAIO

Circulo Italiano do teatro blumenauense que lhe precede em uma geraccedilatildeo Suas principais alianccedilas passam por teorias de um teatro estrangeiro Grotowski Barba Bob Wilson Artaud Gordon Craig Schechner Brecht Heiner Muumlller Meyerhold pelo Grupo Lume de Campinas e por uma espeacutecie de orientaccedilatildeo dada por Joseacute Ronaldo Faleiro Contudo mesmo natildeo sendo filho ele se serviu muito bem da morte do pai A existecircncia NuTE eacute atravessada por um criacutetica feroz ao formato teatral adotado pela geraccedilatildeo anterior Tentamos aqui neste espetaacuteculo-livro problematizar essa tensatildeo atraveacutes da estrutura Work in Progress Contudo eacute possiacutevel em especial no Segundo e Quarto Ensaios compreender um pouco melhor as motivaccedilotildees desta resposta

R5 ndash Resposta ao Puacuteblico ndash Aqui um

primeiro niacutevel apontaria na direccedilatildeo de uma resposta agrave ausecircncia de puacuteblico ao Teatro Contemporacircneo NuTE estaria respondendo com formaccedilatildeo de puacuteblico agrave algo que estaria em devir Contudo ao menos eacute o que nos parece trata-se acima de tudo de uma resposta agrave ausecircncia de um povo Pessoas que consigam experimentar um determinado tipo de vida Amigos a quem presentear com o mais belo dos presentes Um povo generoso com o qual se possa compartilhar o que vem sendo produzido pois assim o poder aumenta pois assim o poder cresce ndash Poder = Criar + Doar Dizendo ainda de outra forma se aquele que ganha um presente natildeo percebe o que acabou de receber o melhor

a se fazer eacute trabalhar para inventar algueacutem que perceba Utilizar o teatro para inventar um povo que ainda nos falta40 Assistimos agraves suas principais manifestaccedilotildees no Segundo Quarto e Sexto Ensaios

O garccedilom de cara amarrada conta o dinheiro sobre a mesa Repete a operaccedilatildeo trecircs vezes ateacute se convencer Resmunga algo inaudiacutevel vai ao balcatildeo expotildee a situaccedilatildeo para Ana por fim retorna agrave mesa Contrariado como algueacutem que procura fugir de seu proacuteprio julgamento ele nos diz

ndash Sobrou uma reposta e uma vontade vatildeo querer o troco

ndash Trocondash Natildeo Claro que natildeondash Traz em cerveja

40 Livre adaptaccedilatildeo do famoso trecho de Criacutetica e Cliacutenica ldquoA sauacutede como literatura como escrita consiste em inventar um povo que falta Compete a funccedilatildeo fabuladora in-ventar um povo Natildeo se escreve com as proacuteprias lembranccedilas a menos que delas se faccedila a origem ou a des-tinaccedilatildeo coletivas de um povo por vir ain-da enterrado em suas traiccedilotildees e renegaccedilotildeesrdquo

A memoacuteria preservada

A confecccedilatildeo deste belo material artiacutestico composto por trecircs livros e um DVD eacute o produto mais expressivo do projeto ldquoNuTE para todosrdquo uma iniciativa do pesquisador Eacutedio Ra-niere em resgatar a memoacuteria do NuTE ndash Nuacutecleo de Teatro Ex-perimental cuja atuaccedilatildeo proporcionou relevantes conquistas para cultura catarinense como a formaccedilatildeo de mais de 2 mil alunos criaccedilatildeo de escolas grupos teatrais e cursos perma-nentes de teatro em vaacuterias cidades produccedilatildeo de espetaacuteculos teatrais e implantaccedilatildeo de uma biblioteca de teatro composta por um acervo de textos teatrais livros cadernos e apostilas sobre teatro

Em 18 anos de atividades encerradas em 2002 o NuTE concretizou tambeacutem outros dois projetos elogiaacuteveis a funda-ccedilatildeo em Blumenau da primeira escola de ldquolivrerdquo de teatro em Santa Catarina possibilitando o acesso de qualquer pessoa interessada estudar e praticar a arte teatral e a criaccedilatildeo do Jote-Titac ndash os Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas evento que ajudou a popularizar uma das mais antigas manifestaccedilotildees artiacutesticas

Em face da valiosa contribuiccedilatildeo do NuTE agrave cultura de Santa Catarina a BAESA (Energeacutetica Barra Grande SA) sentiu-se motivada a apoiar o projeto ldquoNuTE para todosrdquo e constata que sua participaccedilatildeo foi decisiva para a elaboraccedilatildeo deste acervo O livro ldquoNuTE Cartografia de um teatrordquo o DVD ldquoExperimentando NuTErdquo e as publicaccedilotildees ldquoEditora Pipardquo e ldquoLi-vreto Espetacularrdquo cumprem plenamente o objetivo de resga-tar em texto impresso em imagens e em formato digital a bela trajetoacuteria do NuTE

Grande satisfaccedilatildeo eacute poder apoiar projetos como o NuTE Para Todos e de certa forma fazer parte da his-toacuteria tatildeo bonita desse nuacutecleo de teatro que por 18 anos se doou para compartilhar sua arte com o puacuteblico

Atraveacutes da Lei Rouanet a ENERCAN ndash Campos No-vos Energia SA tem a possibilidade de apoiar projetos culturais importantes como esse que traz ao puacuteblico uma leitura sobre a maravilhosa experiecircncia de se fazer teatro contando as expectativas os medos os proces-sos criativos e o trabalho para apresentar da melhor forma essa arte aos espectadores fazendo o leitor sen-tir no livro as emoccedilotildees dessa arte

Fundamental para compreender a realidade a cul-tura em suas mais variadas vertentes eacute tida como uma das prioridades dentro da Poliacutetica de Responsabi-lidade Social da ENERCAN E com grande prestiacutegio e apoio eacute possiacutevel proporcionar agrave populaccedilatildeo acesso natildeo soacute ao teatro mas a espetaacuteculos de muacutesica literatura cinema e a tudo mais que a palavra cultura engloba

O livro ldquoNuTE Cartografia de um teatrordquo junto com o Box onde estaacute presente outras trecircs produccedilotildees que aliam o analoacutegico (livro) ao digital (DVD e internet) eacute um presente para a populaccedilatildeo catarinense saber um pouco mais da histoacuteria do teatro no Estado e a forte presenccedila dessa arte em Santa Catarina

A ENERCAN parabeniza o projeto NuTE Para To-dos e se mostra orgulhosa de poder apoiar iniciativas como essa que buscam intensificar a cultura dentro do Estado tornando a histoacuteria cada vez mais presente na sociedade

Carlos Alberto Bezerra de MirandaDiretor Superintendente

Para a BAESA apoiar o projeto ldquoNuTE para todosrdquo eacute mais uma demonstraccedilatildeo do quanto a empresa aprecia e valoriza a cultura em suas mais variadas expressotildees A publicaccedilatildeo deste material eacute portanto motivo de orgulho e satisfaccedilatildeo natildeo apenas por ter acreditado na proposta de seu idealizador o pesquisador Eacutedio Raniere mas sobre-tudo por saber que a histoacuteria e o legado do NuTE estatildeo agora definitivamente preservados

Carlos Alberto Bezerra de Miranda Edson Schiavotelo Diretor Superintendente Diretor de Sustentabilidade e de Relaccedilotildees com Investidores e de Relaccedilotildees Institucionais

BAESA - ENERGEacuteTICA BARRA GRANDE SA

Este livro eacute parte integrante da caixaNuTE Cartografia de um Teatro

Para saber mais sobre o NuTE e sobre a pesquisa ldquoNuTE Cartografia de um Teatrordquo acesse o blog do

projeto wwwnuteparatodoswordpresscom e o acervo virtual wwwnutecombr

Page 4: Édio Raniere - WordPress.com · 2011. 10. 12. · Posfácios de um Teatro ..... 381. 14 15 de diferentes tecnologias usadas ... futuros leitores/internautas... Mas quando navegava

Quem laacute entrou (no NuTE) e algo produziu por mais ou menos tempo ndash com maiores ou menores contribuiccedilotildees com maior ou menor talento para o que se propunha - simplesmente o fez por paixatildeo Paixatildeo pelo teatro (a grande maioria) pela muacutesica (alguns) pelas artes plaacutesticas (outros) pela danccedila (uns poucos) e por tudo isso junto (uns raros multiqualificados ou multimetidos) jaacute que dinheiro natildeo se ganhava ao contraacuterio soacute se botava Eram paixotildees arrebatadoras algumas comedidas outras tiacutemidas ateacute mais ou menos duradouras Contudo nada que estivesse sob controle (racional) de algueacutem NuTE um grandecoletivo fruto-paixatildeo Eacute () acho que foi simples assim

Wilfried Krambeck

Natildeo haacute ldquoespiacuteritordquo nem razatildeo nem pensar nem consciecircncia nem alma nem vontade nem verdade tudo isso eacute ficccedilatildeo inuacutetil () Nenhuma ldquosubstacircnciardquo antes algo que anseia em si por fortificaccedilatildeo e que apenas indiretamente quer-se ldquomanterrdquo (ele quer ultrapassar-se)

Friedrich Nietzsche

Iacutendice

Epiacutegrafe lsquoVontade dersquo 07Epiacutegrafe lsquoPoderrsquo 09

Prefaacutecio a uma Psicologia 13Prefaacutecio a uma Filosofia 19 Prefaacutecio a um Teatro 25

Proacutelogo 33

PRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015 39

Um pouco de menos senatildeo natildeo vai mais 41 Memoacuteria 43Organizaccedilatildeo Deliacuterio e Tempo 45Em busca de uma relaccedilatildeo viva com o leitor 51Um lugar onde se respira o antes do Proacutelogo 54Adaptaccedilatildeo de Trabalho Sujo 64Trabalho Sujo e Virtual 64Retorno ao Primeiro Ensaio 70

SEGuNDO ENSAIO ndash 18 DE ABRIL DE 2015 77

Composiccedilatildeo de Mundos 83

13

Prefaacutecio a uma Psicologia

Cleci Maraschin

Entro em uma sala escura Aos poucos vou distinguindo cadeiras e outros objetos o que me permite ziguezaguear entre eles sem maiores problemas Em um canto mal iluminado encontro algueacutem segurando um punhado de paacuteginas impressas Eu me aproximo

ndash Olaacute estou procurando Alexandre Venera dos Santos

ndash Sou eu mas quem eacute vocecircndash Sou a Cleci professora do Eacutedio Ele me

enviou um e-mailndash Natildeo estou entendendondash Ele estaacute finalizando um livro sobre o

Nuacutecleo de Teatro Experimentalndash Endash Ele me convida para apresentar o livrondash Endash Preciso conversar com o diretorndash Mas se leste o livro sabes que natildeo sou

mais o diretor(faccedilo de conta que natildeo ouccedilo e continuo) ndash Quando aceitei o convite pensei que

poderia fazer comentaacuterios sobre um texto Algo que estou um tanto habituada no trabalho acadecircmico Talvez pudesse falar de sua aposta conceitual da pesquisa documental realizada das vaacuterias entrevistas da utilizaccedilatildeo

TERCEIRO ENSAIO ndash 26 DE ABRIL DE 2015 113

Exuberante Cronologia Espetacular do Teatro Experimental e do Teatro Escola Nuteanescos117

QuARTO ENSAIO ndash 04 DE MAIO DE 2015 203

Composiccedilatildeo de Mundos 209

QuINTO ENSAIO ndash 08 DE MAIO DE 2015 259

Aperitivo Cecircnico 277Composiccedilatildeo de Mundos | 14ordm Jote-Titac 283Apresentaccedilatildeo dos Espetaacuteculos | 14ordm Jote-Titac 336

SExTO ENSAIO - 08 DE juLhO DE 2015 347

Posfaacutecios de um Teatro 381

14 15

de diferentes tecnologias usadas tanto para organizar e tornar acessiacutevel o material como tambeacutem para interagir com participantes e futuros leitoresinternautas Mas quando navegava pelo texto pelas imagens pelo blog pelos viacutedeos pelo acervo fui sendo tomada pelo modo-teatro pela experiecircncia-NuTE

ndash Eacute o teatro costuma fazer dessas coisasndash Algo difiacutecil para quem escreve eacute manter o

processo no produto Geralmente os produtos os textos costumam perder a vitalidade da experiecircncia Costumam se constituir em calhamaccedilos teoacutericos repetitivos seguidos ou natildeo por descriccedilotildees que tentam representar uma realidade jaacute dada Tudo se passa como se o pesquisador-escritor pudesse produzir um relato ndash o mais neutro e o mais proacuteximo possiacutevel de uma realidade que jaacute aconteceu Mas o Eacutedio entrou em ressonacircncia com o modo NuTE de produccedilatildeo Como diz o bioacutelogo Francisco Varela um modo de conhecer enaltado encarnado

ndash Laacute vem vocecirc com filosofia tambeacutemndash Cogniccedilatildeo O legal que esse bioacutelogo

cognitivista chileno e seu professor Humberto Maturana falam que nossa fonte para qualquer explicaccedilatildeo eacute a experiecircncia Aquilo que chamamos de explicaccedilatildeo eacute uma retomada da experiecircncia passiacutevel de ser compartilhada

Uma experiecircncia que se dobra sobre si mesma e que eacute capaz de continuar produzindo efeitos de si e de mundo Existem vaacuterias dobras nessa produccedilatildeo do trabalho do Eacutedio com o NuTE

O modo-escrita que retoma o modo-teatro a reediccedilatildeo dos Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas JOTE-Titac a interaccedilatildeo no blog

ndash A questatildeo eacute a accedilatildeondash Esse chileno Francisco Varela diz que

nossa educaccedilatildeo estaacute mais ligada ao know-what ou seja o saber o quecirc Um saber falar saber mais declarativo focando os conteuacutedos mais do que os processos Em contraponto coloca o know-how o saber-fazer saber operar o enaltar

ndash Mas os acadecircmicos gostam de saber-falar

ndash Concordo Sabes o que mais admirei no modo como diriges tal como o Eacutedio nos conta Eacute que natildeo te deixas capturar e sabes como fazer-produzir como ldquofazer-saberrdquo como diz um colega carioca o Eduardo Passos O que natildeo eacute nada faacutecil manter a paixatildeo sem boicotar os processos sem boicotar a criaccedilatildeo a vida Esse eacute um desafio crucial a quem se coloca na funccedilatildeo de ensinante Propiciar ferramentas para a produccedilatildeo e natildeo para a repeticcedilatildeo Poder acompanhar processos que escapam das matildeos de quem ensina pois satildeo sempre autoproduccedilatildeo e produccedilatildeo de mundos Entatildeo aprendemos com nossos alunos um ensinante eacute tambeacutem um aprendente Talvez seja essa uma das paixotildees dos ensinantes continuar sempre aprendendo

ndash E desaprendendondash Isso Como eacute paradoxal a capacidade de

aprender natildeo Somente estamos abertos agrave

16 17

aprendizagem agrave medida que desaprendemos modos anteriores de viver de pensar O mesmo acontece em relaccedilatildeo agrave memoacuteria como nos diz Eacutedio ldquoeacute preciso esquecer para

conseguir tomar focirclego e continuar vivendordquo (atual p 22) Talvez esse seja um efeito sutil de combate contra o ressentimento que pode advir das pequenas trageacutedias pessoais que vivemos cotidianamente Esquecer desaprender para seguir aprendendo seguir produzindo e autoproduzindo-se

ndash Tal como os ensaios em 2015ndash Outra aprendizagem do modo-

teatro Continuar a trageacutedia sem drama ou ressentimento No combate Adorei essa brincadeira com o tempo Um modo de contar a histoacuteria sem saudosismo ldquoNaquele tempo isso naquele tempo aquilordquo Atualizar a histoacuteria fazendo-a e ainda por fazer Esse jogo faz com que aqueles como eu que ldquopegam o bonde andandordquo natildeo se sintam um ldquopeixe fora drsquoaacuteguardquo (isso eacute uma homenagem agrave Tainha) Estamos sempre pegando o bonde andando pois como vocecircs nos contam estamos sempre no meio Natildeo somos o comeccedilo o princiacutepio de nada Tudo o que estatildeo inventando nos convoca ldquoVamos laacute leitoresinternautas ainda eacute tempo NuTE de outro modo do modo como possamos fazerrdquo

ndash Essa eacute a ideia do work in progressndash Eu tenho usado verbos no geruacutendio

para nomear meus trabalhos de pesquisa Justamente para dar essa ideia de ldquose produzindordquo tal como o work in progress Embora essa aposta seja uma posiccedilatildeo difiacutecil de

manter em tempos onde tudo eacute transformado em mercadoria para consumo onde se valoriza o substantivo e natildeo tanto o verbo Mas estamos tentando aprender a produzir sem sucumbir aos ditames do produtivismo Como vocecircs como o Eacutedio fazendo verbos dos substantivos

ndash Cleci vocecirc estaacute falando que adorou isso aquilohellip Tem alguma criacutetica

ndash Talvez em alguns momentos a vontade de falar ainda prevaleccedila sobre a experiecircncia Mas como vocecirc mesmo diz esse eacute um mal dos acadecircmicos Eu tambeacutem jaacute falei muito Por isso pensei em conversar contigo para saber como tomo parte nesta experiecircncia

ndash Acho que vocecirc jaacute estaacute nela(nesse momento recebo uma chamada no

celular)ndash Oi Clecindash Oi Eacutediondash Tudo bemndash Tudo Estou conversando com o Alexandre

para compor a apresentaccedilatildeondash Joia Ele te falou do coletivo OpiopticA

wwwopiopticablogspotcom e de projetos como o EletriXidade

(talvez o Eacutedio tenha feito essa referecircncia porque conhece meu trabalho sobre tecnologias e cogniccedilatildeo)

ndash Acho que natildeo dei muita chance a elendash Alexandre o Eacutedio estaacute me falando do

EletriXcidadendash Era justamente nisso que eu estava

18 19

Prefaacutecio a uma filosofia

Celso Kraemer

Escrever aacute uma arte A arte natildeo pertence agrave escrita Eacute a escrita que pertence agrave arte O termo maior que abriga inuacutemeras outras formas de desvelamento eacute a arte Esta deve ser tomada em sua noccedilatildeo mais ampla Por isso talvez menos niacutetida Menos evidente Mas eacute por intermeacutedio dela a arte que algo adveacutem ao ser Vir ao ser Tornar-se algo aiacute Poder ser percebido como real por aqueles que jaacute estatildeo aiacute Que jaacute satildeo entes reais Se nada mais viesse ao ser do irreal para o real nosso mundo restaria na mais pura repeticcedilatildeo mecacircnica do mesmo o eternamente nada mais aleacutem do jaacute determinado do jaacute aiacute ruiacutena do encanto perdiccedilatildeo no nada mais ser

Fazer algo vir ao ser eacute algo ambiacuteguo Muito ambiacuteguo Mais ambiacuteguo do que noacutes gostamos de pensar Por um lado fazer algo vir ao ser eacute o labor do homem pelo pensamento e pelas matildeos Eacute o homem nesse sentido que eacute a condiccedilatildeo possibilitadora para que algo (novo) venha ao ser Haacute certa tranquilidade para aceitarmos que eacute a criatividade humana que faz algo vir ao ser Criamos coisas Criar coisas natildeo eacute o mesmo que fazer algo vir ao ser

Se fazer algo vir ao ser se explicasse pela simples criaccedilatildeo do homem entatildeo natildeo seria um vir ao ser Seria um puro criar Um estranho acontecimento em que do nada viria algo Do

trabalhando no momento que chegastesndash Podes me contar um pouco mais Eu me

interesso por esses causosndash Vamos tomar um cafeacutendash Pode ser em 2012 AlexandreSaiacutemos para um cafeacute

Cleci Maraschin eacute professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Trabalha como docente e orientadora em dois programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo da mesma universidade Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psi-cologia Social e Institucional e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Informaacutetica da Educaccedilatildeo Pesquisadora CNPq Temas de pesquisa Tecno-logias e Cogniccedilatildeo

20 21

vazio do homem que natildeo explicita de onde ele mesmo proveio viria algo Impossibilidade teoacuterica para qualquer forma de raciociacutenio Do nada nada se cria

Entatildeo o criar natildeo eacute um simples criar Criar eacute fazer vir ao ser E nisto se mostra a ambiguidade do acontecimento artiacutestico A criaccedilatildeo pela arte eacute um provir de Esse de eacute mais do que o nada Temos entatildeo a duplamente ou triplamente enigmaacutetica questatildeo donde proveacutem isso que nos adveacutem por intermeacutedio da arte Por outro lado isto que adveacutem modifica-se em seu ser no momento que nos adveacutem ou permanece semelhante ao que jaacute era antes de advir Aleacutem disso o Originaacuterio donde adveacutem o algo atraveacutes da arte modifica-se em seu ser no momento em que algo sai dele para advir

Pensemos o artista natildeo como O Sujeito Supremo de onde a arte proveacutem Pensecircmo-lo antes como parte do processo originaacuterio de onde a arte proveacutem Como bem disse Martin Heidegger pensando acerca da Origem da Obra de Arte o que faz o artista eacute a obra Natildeo haacute artista se natildeo houver obra O Artista adveacutem artista conjuntamente com a obra A Obra portanto natildeo eacute simplesmente uma criaccedilatildeo do artista nem eacute a obra produtora de si mesma

Muito antes a obra eacute produtora do artista Eacute a obra que faz o artista Igualmente natildeo haacute obra sem artista Assim eacute o proacuteprio artista que se faz obra e a obra que se faz artista

Isso natildeo resolve a triplamente enigmaacutetica questatildeo Ao contraacuterio apenas nos expotildee a algo que seria o verdadeiro originaacuterio donde proveacutem

a obra e o artista que conjuntamente nos adveacutem Creio que nada nos impede de pensar esse verdadeiramente originaacuterio donde proveacutem simultaneamente artista e obra da mesma forma que pensamos a relaccedilatildeo originaacuteria da obra que adveacutem do artista e do artista que adveacutem da obra a arte ao advir traz ao ser a obra e o artista Quer dizer entatildeo que obra e artista adveacutem de algo mais originaacuterio que ambos Mas devemos considerar mais profundamente o isso que adveacutem ao advir modifica a si mesmo tornando-se algo ineacutedito mas modifica tambeacutem aquilo de onde o originaacuterio do qual adveacutem Nessa dinacircmica criadora o todo se renova torna-se continuadamente outro em relaccedilatildeo a si mesmo Portando no todo natildeo haacute novo nem velho Tudo estaacute sujeito indefinidamente ao vir-a-ser um devir criativo ao modo criador da arte

Creio que agora desvelou-se natildeo a arte como tal mas uma de suas caracteriacutesticas fundamentais A arte eacute uma dinacircmica criadora do proacuteprio ser

Dito de modo ainda mais preciso o ser eacute dinacircmico em sua natureza artiacutestica Este natildeo eacute um raciociacutenio belo com objetivo de apenas embelezar o modo de pensar Ao contraacuterio esse movimento feito no interior do proacuteprio pensamento eacute um mergulho na natureza proacutepria do raciocinar

O raciociacutenio visto dessa forma natildeo eacute um exerciacutecio formal amparado unicamente na loacutegica No raciocinar natildeose formaliza uma verdade jaacute pronta e ainda natildeo visiacutevel agrave mente

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Mais profundamente o raciociacutenio eacute uma forma tambeacutem de arte Pelo raciociacutenio algo mais originaacuterio que o proacuteprio raciociacutenio adveacutem ao ser O pensamento natildeo eacute o criador absoluto a partir do nada Ele eacute aquilo atraveacutes do qual algo mais originaacuterio adveacutem ao mundo tornando-se ser

Podemos agora conceber o que significa dizer que a escrita eacute uma forma de arte No gesto no movimento no exerciacutecio de escrever semelhante ao exerciacutecio de pintar de raciocinar de cantar de construir de encenar produzir teatro algo adveacutem ao ser A escrita semelhante ao raciociacutenio natildeo mostra algo jaacute constituiacutedo uma verdade jaacute acabada A verdadeira escrita aquela que natildeo se resume agrave transcriccedilatildeo de textos jaacute prontos eacute criadora O que ela cria O Ser Tambeacutem na escrita algo de originaacuterio vem ao ser se faz aiacute com o homem-mundo

Podemos visualizar por essa pequena fresta que as linhas acima abriram ao nosso entendimento a iacutentima relaccedilatildeo que o trabalho do Eacutedio tem com a Filosofia e com o Teatro de que ele quer tratar com seu livro

O teatro uma forma de arte produz ser O ser do teatro natildeo se esgota na representaccedilatildeo Mais fundamentalmente que isso o teatro desvela a verdade do homem um ente por intermeacutedio do qual o ser adveacutem ao mundo O teatro eacute nesse sentido uma das formas mais belas da arte Talvez nele a arte se manifeste em sua forma mais iacutentima ele cria o ainda natildeo aiacute A apresentaccedilatildeo teatral eacute um faz de conta verdadeiro em que a verdadeira representaccedilatildeo

nunca eacute A Verdade por isso jamais o teatro eacute falso pois ele natildeo pretende desmentir outras representaccedilotildees Cada peccedila cada cena cada grupo ou companhia de teatro pretende-se ser mais um em meio agrave multiplicidades de apresentaccedilotildees possiacuteveis Em si mesma cada uma delas eacute criadora no ainda natildeo aiacute Cada uma delas deixando algo vir ao ser O teatro natildeo eacute mentira por natildeo pretender a verdade mas satisfazer-se em deixar o ser vir ao real por intermeacutedio do labor da alma humana

Assim o modo de o Eacutedio manejar a escrita aproxima-se delicadamente do trabalho do proacuteprio real que ele se encarrega de recolher e apresentar Mas o Eacutedio sabe desde o princiacutepio que a histoacuteria do teatro enquanto efetividade do acontecimento jaacute veio ao ser Jaacute estaacute inscrito no real Sabe tambeacutem que a Histoacuteria que ele agora escreve natildeo se resume a contar o que aconteceu A Historiografia enquanto um gesto de escrita eacute semelhante ao teatro um gesto criador Criar e Doar Atraveacutes da escrita continuadamente algo vem ao ser

O livro que se segue eacute uma obra de arte que reuacutene uma histoacuteria mas natildeo passivamente O livro enquanto criaccedilatildeo deixa ver algo da intimidade da alma do homem Nas linhas pelas quais o texto se mostra algo muito mais iacutentimo e profundo do que o proacuteprio texto se mostra ao leitor a verdade criadora da arte seja da representaccedilatildeo seja da escrita seja do cultivo da amizade seja de uma roda de amigos com uma cerveja um vinho O livro ainda nietzscheana ou deleuzeanamente mostra

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o devir criativo que nos faz ser sem nunca mostrar-se totalmente sem nunca ocultar-se totalmente mas num jogo de criar a si mesmo na beleza criadora do homem Neste livro o teatro se faz histoacuteria e a histoacuteria se faz teatro num gesto reciacuteproco de criar e doar

Celso Kraemer eacute professor de filosofia junto ao Departamen-to de Ciecircncias Sociais e Filosofia do Centro de Ciecircncias Hu-manas e da Comunicaccedilatildeo e no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado em Educaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Universidade Regional de Blumenau (FURB)

Prefaacutecio a um Teatro

Joseacute Faleiro

Quando em outubro de 1986 cheguei a Blumenau quis inteirar-me da atividade teatral existente na cidade Vi entatildeo espetaacuteculos de Alexandre Venera dos Santos e de Wilfried Krambeck Fui logo atraiacutedo pelo trabalho consciencioso responsaacutevel cuidadoso e iacutentegro que apresentavam A anomia serena nada panfletaacuteria nada verbosa nada militante de Alexandre mas radical vivida logo provocou simpatia em mim Com seu espiacuterito metoacutedico Wilfried organizava uma estrutura que ldquodialogavardquo mdash como se diz hoje mdash com a praacutetica artiacutestica do primeiro para a qual este contava com as dependecircncias suntuosas do Teatro Carlos Gomes (TCG) ldquogrande castelo isolado bem no centro daquela cidaderdquo dotado de um palco giratoacuterio (ldquouma grande roda horizontalrdquo) e de ldquouma forte luz proveniente de todos os ladosrdquo Isso tambeacutem era fascinante em contraposiccedilatildeo agraves instalaccedilotildees que na eacutepoca a FURB possuiacutea para o seu curso de teatro a amplitude do TCG permitia respirar e sonhar com altos voos Todas as dependecircncias do ldquopalaacuteciordquo pareciam estar agrave disposiccedilatildeo daquele pequeno grupo de jovens interessados em explorar cada recanto (corredores camarins salas biblioteca bar palco) do preacutedio e em captar cada significado daquela atividade que se propunham a experimentar a exercer

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Por esses encontros e pelos que tivemos na Comissatildeo Organizadora do 1ordm Festival Universitaacuterio de Teatro de Blumenau (que coordenei com a colaboraccedilatildeo valiosa e imprescindiacutevel de tantos amadores da arte dramaacutetica) do final de 1986 a julho de 1987 Alexandre e eu tivemos a oportunidade de conversar muito sobre teatro e sobre a sua relaccedilatildeo teoacuterica e praacutetica com o tema Havia nele abertura para uma reflexatildeo que levava agrave accedilatildeo que natildeo conhecia hiato entre conceber e realizar Seu meacutetier seu ofiacutecio fluiacutea Suas inquietaccedilotildees natildeo se prendiam a um modismo Nunca tive a impressatildeo de que sua forma de fazer teatro quisesse romper com o que fora feito antes ou com uma forma obsoleta de fazer teatro que devesse ser combatida Ele estava atento ao novo sem duacutevida Mas a generosidade criativa que o animava e o seu universo artiacutestico e vital eram tatildeo grandes o fluir de sua arte era tal que ele se expressava por uma necessidade fazer teatro era para ele uma ανανκη [ananke] uma necessidade algo que natildeo podia natildeo ser Se ele desestruturava a narrativa se se voltava para o fragmento para as formas breves para a (aparente) falta de unidade se aumentava o tamanho de objetos em cena ou os tornava insoacutelitos em seu uso se incluiacutea composiccedilotildees musicais supostamente em descompasso com a situaccedilatildeo se levava os atores a agir em cena de modo natildeo figurativo natildeo mimeacutetico se tinha um domiacutenio inabitual da iluminaccedilatildeo parece-me que assim fazia porque assim lhe vinha o teatro assim lhe vinha o modo de viver e de viver teatro Natildeo por incultura ingenuidade

falta de informaccedilatildeo Por absoluta necessidade O NuTe era tonificante tonificado por seu regente O que levava os atores a produzirem este ou aquele gesto ter esta ou aquela atitude em cena Quais eram as fronteiras entre fazer qualquer coisa ou fazer algo ldquoelaboradordquo ldquobem pensadordquo ldquoconscienterdquo Sacudido o espectador poderia perguntar a outros e a si mesmo ldquoIsso eacute vaacutelidordquo ldquoNatildeo eacute vaacutelidordquo ldquoEacute teatrordquo ldquoNatildeo eacute teatrordquo ldquoQual a diferenccedila entre isso e qualquer coisardquo ldquoNa acircnsia de experimentar tudo eacute possiacutevelrdquo Agraves vezes me restava a perplexidade Mas sempre apoiei aquele grupo de pessoas que se entregavam a um ofiacutecio com tanta coragem prontidatildeo vontade alegria seriamente com prazer porque amavam o teatro com entusiasmo porque queriam fazecirc-lo e o faziam sem o excesso de consideraccedilatildeo e de deferecircncia que tolhe que paralisa que entorpece a accedilatildeo Agraves vezes retraiacutedo Alexandre gostava poreacutem de mostrar seus trabalhos queria que fossem vistos e discutidos No 2ordm Festival Universitaacuterio de Teatro de Blumenau (FUTB) conseguiu apresentar um espetaacuteculo seu o que esperava ser feito desde o 1ordm Festival Os participantes do NuTE tinham vontade de respirar arte dela se nutrir e se embriagar viver imersos nela conversar sobre ela (apesar de haver muitas interrogaccedilotildees na eacutepoca de sua fundaccedilatildeo sobre o benefiacutecio que o FUTB traria para os grupos locais creio que o nuacutemero de espetaacuteculos vistos palestras e debates assistidos conversas de bares e corredores ocorridas permitem responder que o Festival foi beneacutefico para os grupos blumenauenses)

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Se por vezes iconoclasmo havia natildeo era por caacutelculo Era por querer experimentar por ter desejo veemente de encontrar suas respostas agraves suas perguntas Essas respostas natildeo se apresentavam de forma uniacutevoca abriam-se para uma polissemia que era cultivada por todo o grupo e por seu condutor O sentido se construiacutea na accedilatildeo para a equipe do NuTE e na contemplaccedilatildeo ativa para o espectador

Seraacute que a memoacuteria me faz idealizar Penso que natildeo Seja como for quando revejo internamente o trabalho teatral do NuTE sobretudo o que antecede a apresentaccedilatildeo para o puacuteblico ou o realizado no intervalo entre um espetaacuteculo e outro o que me vem agrave mente prazerosamente satildeo corredores encerados ocupaccedilatildeo dos mais diversos locais caminhadas por noites frias para chegar pela ponte pecircnsil agrave rua Amazonas ou mais tarde agrave rua Satildeo Joseacute satisfeito apoacutes horas de fecundas atividades Lembranccedilas de um questionamento constante sobre teatro recordaccedilotildees de uma vontade de ler de devorar informaccedilotildees e de assimilaacute-las na accedilatildeo por parte dos integrantes do grupo Lembranccedilas de uma convivecircncia deles entre si e com a sua arte Teatro como ldquoVersuchrdquo como tentativa ensaio ldquoUm ensaio de esforccedilos fragmentaacuteriosrdquo como diria Kierkegaard na epiacutegrafe escolhida por Gerd Bornheim para um escrito deste uacuteltimo Minhas lembranccedilas satildeo fragmentaacuterias mas alguns momentos de espetaacuteculos permanecem muito vivos dentro de mim Ao ler a lista de conteuacutedos (redigidas por

Wilfried se natildeo me falha a memoacuteria com meu acordo) do curso que ministrei sorri diante de certo caraacuteter enciclopeacutedico De fato ele tinha um aspecto teoacuterico (nos sentaacutevamos em torno de uma grande mesa confortaacutevel) mas tambeacutem praacutetico com o corpo e a voz-do-corpo circulando pelo espaccedilo Aleacutem disso faziacuteamos experimentaccedilotildees de cenas no palco do grande auditoacuterio mdash um Auto da Barca de Gil Vicente por exemplo com a utilizaccedilatildeo de cordas quilomeacutetricas interminaacuteveis que figuravam o cais do porto Havia ainda leituras de textos que eu traduzia Lembro de ter traduzido Los Olivos de Lope de Rueda de ter gostado da traduccedilatildeo e de natildeo ter ficado com nenhuma coacutepia dela (ainda natildeo tiacutenhamos computador)

O NuTE representou para mim um momento de intensa e rica convivecircncia humana e artiacutestica Momento de ensinar e de aprender de compartilhar e de receber Um mo(vi)mento tatildeo forte assim natildeo morre natildeo acaba pulsa latente fica vivo de outro modo E pode ressurgir como agora com a cartografia que Eacutedio Raniere desenha neste livro-espetaacuteculo ou espetaacuteculo-livro sobre o NuTE Ele me desnorteia estarrece perturba como acontecia com os espetaacuteculos do grupo Eacutedio encontra o tom (ou um dos modos possiacuteveis jaacute que natildeo haacute uma verdade uacutenica) para falar do NuTE Fala ldquonuteanamenterdquo do NuTE Agrave la maneira de Juacutelio Cortaacutezar de O Jogo da Amarelinha de 62 ndash Modelo para armar ou de O Livro de Manuel Raniere convida o leitor a ter a liberdade de andar pelos corredores pelas bordas do texto

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pelos seus meandros a sair e a voltar sem medo de experimentar

Tanto o NuTE quanto Eacutedio querem ldquocriar e compartilharrdquo Aqui o sentido pode ser produzido tambeacutem pelo leitor Na forma dialoacutegica ou assumindo a primeira pessoa remetendo agrave internet ou trazendo o seu conhecimento aprofundado de vaacuterios pensadores citados com pertinecircncia e sem alarde pesquisador corajoso e consistente Eacutedio Raniere escolheu um tema com muitas ramificaccedilotildees e soube trataacute-las com pertinecircncia num exerciacutecio de estilo de valor literaacuterio e cientiacutefico Ele cria uma obra dinacircmica seacuteria e divertida documentada Jogando com a ficccedilatildeo e a realidade ele des-pista uma histoacuteria linear e alia o texto a imagens e a sons questionando constantemente a sua proacutepria produccedilatildeo na qual o olhar do autor sobre os fatos promove uma construccedilatildeo do sentido que natildeo eacute totalizante que natildeo quer ser a uacutenica possiacutevel e que como as gotas de uma cachoeira tecem uma unidade consistente ainda que sempre em movimento O texto impresso ao se espalhar pelos labirintos do ldquowwwrdquo potildee em contato com documentos valiosos que assim estatildeo salvos da perda e do esquecimento e permitiratildeo estudo e fruiccedilatildeo do tema por outras pessoas

Nos hospitais a linha reta dos aparelhos que medem a atividade cardiacuteaca indica a cessaccedilatildeo da vida a sua oscilaccedilatildeo ao contraacuterio eacute esperanccedila de vida Pujante luacutedica com a oscilaccedilatildeo caracteriacutestica da vitalidade NuTE Cartografia de um teatro de Eacutedio Raniere daacute esperanccedilas

de que a obra do Nuacutecleo Experimental de Teatro de Blumenau que teve mais de dezoito anos de atuaccedilatildeo profiacutecua continue a insuflar vida em todos aqueles que amam o teatro e querem partilhaacute-lo com seriedade e prazer

joseacute Ronaldo Faleiro eacute professor do Programa de Poacutes-Gradu-accedilatildeo em Teatro (Mestrado e Doutorado) mdash UDESC Doutor em Artes do Espetaacuteculo pela Universidade de Paris VIIINanterre Professor-pesquisador no DACPPGTUDESC

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Proacutelogo

Ao iniciar esta cartografia sobre meu heroacutei acho-me tomado de certa perplexidade Ei-la embora chame NuTE de meu heroacutei eu mesmo poreacutem sei todavia que ele nada tem de grande e por isso prevejo perguntas inevitaacuteveis como essas em que seu NuTE eacute digno de nota por que o escolheu como seu heroacutei O que lhe deu esse destaque A quem chega sua fama e por quecirc Por que eu leitor devo perder tempo estudando episoacutedios de sua vida

A uacuteltima pergunta eacute a mais fatiacutedica pois soacute posso responder Talvez o senhor mesmo note isso a partir da leitura Mas e se lerem e natildeo notarem natildeo concordarem com a notoriedade de meu NuTE Digo isso porque o prevejo com pesar Para mim ele eacute digno de nota mas duvido terminantemente que consiga demonstraacute-lo ao leitor O caso eacute que talvez ateacute se trate de um revolucionaacuterio mas um revolucionaacuterio indeciso indefinido Pensando bem seria estranho exigir clareza das pessoas numa eacutepoca como a nossa Uma coisa eacute de crer fica bastante evidente trata-se de um estranho de um excecircntrico ateacute No entanto a estranheza e a excentricidade mais prejudicam que permitem chamar a atenccedilatildeo sobretudo quando todo mundo procura unir particularidades e encontrar ao menos algum sentido comum na balbuacuterdia geral Quanto ao excecircntrico o mais das vezes eacute uma particularidade um caso isolado Natildeo eacute

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Mas se os senhores natildeo concordarem com essa uacuteltima tese e responderem ldquonatildeo eacute assimrdquo ou ldquonatildeo eacute sempre assimrdquo eacute possiacutevel que eu ateacute crie acircnimo em relaccedilatildeo agrave importacircncia de meu heroacutei NuTE Porque natildeo soacute o excecircntrico ldquonem semprerdquo eacute uma particularidade e um caso isolado como ao contraacuterio vez por outra acontece de ser justo ele talvez que traz em si a medula do todo enquanto os demais viventes de sua eacutepoca ndash todos movidos por algum vento estranho ndash dele estatildeo temporariamente afastados sabe-se laacute por qual razatildeo

De resto eu natildeo me meteria nessas explicaccedilotildees confusas e desinteressantes e comeccedilaria pura e simplesmente sem mais preacircmbulos Se gostarem acabaratildeo mesmo lendo o mal poreacutem eacute que cartografia eu tenho uma mas narrativas duas Ambas se cruzam e se complementam Arriscaria ateacute que uma natildeo acontece sem a outra A primeira narrativa aconteceraacute em 2015 ano em que meu heroacutei retornaraacute ao teatro A outra vem acontecendo in progress desde 2009 pela web Prescindir de uma das narrativas eacute impossiacutevel porque muita coisa sobre meu heroacutei ficaria incompreensiacutevel Mas dessa maneira minha dificuldade inicial se agrava ainda mais Se eu mesmo isto eacute o proacuteprio cartoacutegrafo acho que uma soacute narrativa jaacute eacute talvez um excesso para um heroacutei tatildeo modesto e indefinido entatildeo como eacute que vou aparecer com duas e como explicar tamanha presunccedilatildeo de minha parte

Atrapalhado com a soluccedilatildeo de semelhantes questotildees decido-me por deixaacute-

las sem qualquer soluccedilatildeo Eacute claro que o leitor perspicaz jaacute percebeu haacute muito tempo que desde o iniacutecio eu vinha dando esse rumo agrave coisa e apenas se afligia comigo perguntando-se por que eu gastava agrave toa palavras esteacutereis e o precioso tempo Jaacute tenho uma resposta pontual gastava palavras esteacutereis e precioso tempo em primeiro lugar por admiraccedilatildeo agrave D e em segundo por astuacutecia Vamos seja como for eu preveni de antematildeo Alias ateacute me agrada que minha cartografia tenha se dividido em duas narrativas fragmentando a ldquounidade essencial do todordquo Ao tomar conhecimento de uma delas o leitor-internauta se decidiraacute valeraacute a pena passar agrave outra Eacute claro que ningueacutem estaacute tolhido por nada pode largar o livro na segunda paacutegina pode sair do blog sem nada ndash fotos viacutedeos entrevistas ndash experimentar Acontece poreacutem que haacute leitores delicados que forccedilosamente desejaratildeo ir ateacute o fim para natildeo se enganar em sua apreciaccedilatildeo imparcial assim satildeo alguns leitores que conheccedilo Pois eacute Perante esses que fico com o coraccedilatildeo mais leve apesar de tudo a despeito de todo seu esmero e sua honestidade dou-lhes todavia o mais legiacutetimo pretexto para largar o relato jaacute no primeiro episoacutedio que encontrarem virtual ou impresso

Bem eis todo o proacutelogo Concordo plenamente que isso eacute excessivo mas como jaacute encontrei escrito que fique

E agora matildeos agrave obra

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cena do espetaacuteculo rsquoaacuteguas de cima para baixorsquo da esquerda para direita

pedro dias carlos crescecircncio

Foto

Ace

rvo

Nu

TE

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PRIMEIRO

ENSAIOPRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015

Quarta-feira Intempestiva() aproximadamente 15h30min

Imagem Insistente Replay

-Absurdo Isso aqui eacute absolutamente ndash fumando Alexandre Venera balanccedilava a cabeccedila em tom negativo O texto em sua matildeo esquerda sofria o dorso da outra indo e vindo aos petelecos o restante do grupo assistia um tanto impressionado um tanto entediado ao desenvolvimento do conflito dramaacutetico jaacute que segundo Lehmann esse recurso vem sendo progressivamente elidido do teatro contemporacircneo1

ndash Vocecirc natildeo gostoundash Cara vocecirc eacute muito teimoso quantas vezes

jaacute te falei que natildeo existe esse troccedilo de Seu NuTE

ndash Eacute soacute um recurso dramaacutetico Venera Que me ajudou a cartografar a histoacuteria2 Daacute mais vida brinca com o problema da identidade eacute um conceito que venho trabalhando desde O Jardim das Ilusotildees

ndash Taacute mas vocecirc escreve sobre um heroacutei Como se resolve isso cenicamente

ndash Natildeo sei talvez possamos contar um pouco

1 O teatro poacutes-dramaacute-tico

2 Conforme Suely Rol-nik in Cartografia Sen-timental ldquoPara os ge-oacutegrafos a cartografia () eacute um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de trans-formaccedilatildeo da paisagem Paisagens psicossociais tambeacutem satildeo cartografaacute-veis A cartografia nes-se caso acompanha e se faz ao mesmo tempo que o desmanchamen-to de certos mundos - sua perda de sentido - e a formaccedilatildeo de ou-tros mundos que se criam para expressar afetos contemporacircneos em relaccedilatildeo aos quais os universos vigentes tornaram-se obsoletos Sendo tarefa do cartoacute-grafo dar liacutengua para os afetos que pedem pas-sagem dele se espera basicamente que esteja mergulhado nas inten-sidades de seu tempo e que atento agraves lin-guagens que encontra devore as que lhe pa-recem elementos possiacute-veis para a composiccedilatildeo das cartografias que se fazem necessaacuterias O cartoacutegrafo eacute antes de tudo um antropoacutefagordquo

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PRIMEIRO

ENSAIO

da tua histoacuteria pessoal da mesma forma como eu fiz no

ndash Pois esse eacute que eacute o problema ndash cortandondash Eacute um heroacutei modesto nada de mais ndash risos

contidos e nervososndash Nem modesto nem meio modesto Natildeo

natildeo daacute Eu natildeo dirijo porra de espetaacuteculo nenhum sobre historinha familiar seja a minha a da tua tia ou da matildee do prefeito Aleacutem do que o NuTE eacute um coletivo isso aqui natildeo tem cabimento eu natildeo vou montar essa merda ndash jogando o roteiro no chatildeo e fazendo menccedilatildeo de abandonar o ensaio

ndash Tudo bem Calma Deixa eu explicar um pouco melhor ndash Venera acende outro cigarro olha para o lado Wilfried Krambeck toma a palavra

ndash Eu concordo com Alexandre acho que natildeo podemos montar um espetaacuteculo que inicia sobre um plaacutegio vamos acabar respondendo por isso

ndash Plaacutegiondash Natildeo eacute plaacutegio chama-se colagem Heiner

Muumlller utilizava o proacuteprio NuTE fez alguns experimentos trata-se de uma colagem Eacute o meacutetodo da colagem

ndash Colagem Mas que colagem vocecirc utilizou apenas um texto

ndash Sim Eacute quase uma citaccedilatildeo mas funciona com variaccedilotildees extremamente sutis apenas o leitor mais atento percebe

ndash Citaccedilatildeo que natildeo indica o nome do autor Colagem que utiliza apenas um texto Desculpe eu natildeo conhecia esse estilo

ndash Mas vocecirc estaacute me ofendendo eacute oacutebvio que eu indico o nome do autor

ndash Onde Onde estaacute escrito que esse trecho que acabamos de ler eacute a abertura de Os Irmatildeos Karamaacutezov onde estaacute escrito que o verdadeiro autor eacute Dostoieacutevski e que a traduccedilatildeo que vocecirc utilizou eacute de Paulo Bezerra Agora se for uma colagem onde estatildeo os outros textos Vocecirc utilizou apenas um texto original modificando pequenos fragmentos

ndash Bom talvez se trate entatildeo de uma acoplagem ou de uma acoplagem de fragmentos natildeo sei bem ainda

ndash Olha Eacutedio ndash Venera retoma ndash semana passada quando vocecirc esteve laacute em casa eu comentei contigo que fiquei muito contente e honrado ateacute com teu esforccedilo para escrever a histoacuteria do NuTE mas eu nunca imaginaria que vocecirc iria forccedilar a coisa desse jeito Vocecirc sabe que estou distante do teatro haacute um bom tempo que depois de tudo o que aconteceu eu natildeo podia mais voltar na verdade nunca tive a menor vontade de voltar Eu estou aqui hoje com o grupo porque vocecircs me pressionaram muito Por vontade proacutepria natildeo viria Vou te falar uma coisa soacute tem um jeito de a gente continuar com isso

Um pouco de menos senatildeo natildeo vai mais

Caro leitor vamos diminuir um pouco a velocidade Como algueacutem que sobe galopando uma montanha e agora contemplando os

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PRIMEIRO

ENSAIO

quilocircmetros percorridos se esforccedila para encontrar entre as pedras laacute embaixo uma trilha como algueacutem que danccedila freneticamente madrugada adentro e num rodopio se daacute conta de que dentro de algumas horas estaraacute dormindo iniciando sutilmente a preparaccedilatildeo como um solo de guitarra que atinge a nota mais aguda e procura por uma escala menor Descer diminuir respirar Como um gato que no susto trepa o galho mais alto da aacutervore e agora quer voltar ao chatildeo mas natildeo sabe exatamente onde pisar como algueacutem que trabalha de segunda a saacutebado obrigado a levantar bem cedo e laacute pelas tantas acorda num domingo

Satildeo tantas coisas que preciso lhes contar tantas Contar por exemplo dos espetaacuteculos produzidos pelo NuTE da escola de teatro do JOTE-Titac de como foi que chegamos ndash ou melhor que chegaremos a este primeiro ensaio em 2015 Acho que este ponto merece uma pequena explicaccedilatildeo eu prefiro utilizar musicalmente falando as ressonacircncias gramaticais do passado por haacutebito por ironia ou para lhes proteger de frequentes estranhamentos Por isso na primeira frase da cena em questatildeo aparece ldquofumando Alexandre Venera balanccedilava a cabeccedila em tom negativordquo enquanto o correto seria dizer que ldquofumando Alexandre Venera balanccedilaraacute a cabeccedila em tom negativordquo Visto que hoje eacute 21 de abril de 2010 e que estes ensaios aconteceratildeo apenas daqui a cinco anos Trata-se portanto de uma biografia do devir De um futuro proacuteximo eacute verdade mas de um futuro Dessa forma quero lhes pedir

licenccedila para utilizar um formato gramatical natildeo condizente com o periacuteodo em questatildeo o passado aqui serviraacute como mero ponto de apoio nada mais O passado como um lugar seguro de onde se pode partir e ao mesmo tempo um porto aberto sempre agrave espera

Ah Como satildeo leves as conjunccedilotildees do preteacuterito imperfeito Talvez justamente por ser imperfeito Cada vez mais me convenccedilo de que a imperfeiccedilatildeo eacute sempre mais bonita Ao mesmo tempo sei que alguns leitores podem questionar tais utilizaccedilotildees dizendo que me bastaria conjugar esta escrita no futuro do presente ldquofumando Alexandre Venera balanccedilaria a cabeccedila em tom negativordquo Formato que aleacutem de confuso natildeo faz nenhum acoplamento com memoacuteria E como se trata de Puxa Eacute verdade eu jaacute ia me esquecendo da memoacuteria

Memoacuteria

Em O Jardim das Ilusotildees3 me apoiei em alguns conceitos-memoacuteria de Bergson boa parte desse livro funciona tendo Mateacuteria e Memoacuteria como engrenagem Conservo a sensaccedilatildeo de que aquele momento na paacutegina 7 onde Bergson diz que o ceacuterebro natildeo armazena imagens nem lembranccedilas continua produzindo bons agenciamentos e por isso uacutetil tambeacutem aqui Natildeo pretendo repetir toda discussatildeo jaacute realizada em O Jardim das Ilusotildees minha intenccedilatildeo em avanccedilar sobre esse ponto em especiacutefico eacute a de permitir que vocecirc caro leitor compreenda de forma raacutepida e acessiacutevel a concepccedilatildeo de

caro leitora maioria dos

arquivos e informaccedilotildees

disponiacuteveis em links da internet

estatildeo tambeacutem diponiacuteveis no

dvd multimidia lsquoexperimentando

nutersquo anexo a este livro fique atento ao iacutecone abaixo

3 ver o livro disponiacutevel em

wwwnutecombrjardimpdf

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PRIMEIRO

ENSAIO

memoacuteria com a qual venho trabalhando e que estaraacute nos atravessando durante estas leituras-escrituras-NuTE

Quem vai nos ajudar dessa vez satildeo dois bioacutelogos chilenos Francisco Valera e Humberto Maturana Apesar de natildeo citarem Bergson chegam a conclusotildees bastante proacuteximas desta enunciada em Mateacuteria e Memoacuteria Tanto eacute que no segundo livro que escreveram juntos ndash A Aacutervore do Conhecimento as bases bioloacutegicas da compreensatildeo humana ndash a impressatildeo que passa eacute a de haver um aprofundamento da questatildeo jaacute que para Maturana e Varela natildeo apenas as imagens e as lembranccedilas estariam fora mas a proacutepria mente ldquo() natildeo eacute algo que estaacute dentro de meu cracircnio Natildeo eacute um fluido do meu ceacuterebro a consciecircncia e o mental pertencem ao domiacutenio de acoplamento social e eacute nele que ocorre a sua dinacircmicardquo4

Pois que seja mas e daiacute ndash diria o leitor mais ansioso ndash Daiacute que no caso de uma memoacuteria-NuTE a memoacuteria possiacutevel de acessar a memoacuteria que por mais esforccedilo que vocecircs e eu faccedilamos apareceraacute nestas paacuteginas estaraacute mergulhada em palavras imagens sons cheiros cores experimentaccedilotildees NuTE Natildeo se trata de explorar o problema de uma forma poeacutetica como disseram alguns criacuteticos sobre meu primeiro livro mas de perceber que essa memoacuteria que nos acostumamos a reverenciar como propriedade de um dentro objetiva linear e pronta para ser recuperada natildeo pertence a um sujeito ou ao dentro da consciecircncia de alguns sujeitos Que ela soacute funciona acoplada a 4 paacutegina 256

linguagens muacuteltiplas e muacuteltiplas satildeo suas faces Sem isso sem esse miacutenimo em uma pesquisa como essa nada se coloca em movimento

Parece bastante oacutebvio que nosso ceacuterebro natildeo armazene palavras mesmo assim fomos acostumados a imaginar uma gaveta de massa cinzenta ocircrganica em meio a neurocircnios e dendritos acomodando expressotildees frases inteiras ateacute Dessa imagem cerebral o que nos resta eacute a atuaccedilatildeo em rede da memoacuteria Mas se as palavras natildeo estatildeo guardadas em um depoacutesito cerebral como eacute possiacutevel a um ator utilizar palavras para descrever sua experiecircncia nuteana Ou dizendo de outra forma quando um ator utiliza palavras que natildeo satildeo dele para descrever seu passado nuteano o que ele descreve Quando esse ator nos conta o que lhe parece ter sido o nuacutecleo de teatro experimental afinal como ele faz isso Como eacute possiacutevel que essas mesmas palavras que natildeo estatildeo depositadas dentro do ceacuterebro do ator sejam a base de toda invenccedilatildeo de seu relato-memoacuteria

Organizaccedilatildeo Deliacuterio e Tempo

O que atravessa nosso corpo natildeo apenas o ceacuterebro mas o sangue as arteacuterias as viacutesceras a pele todo o corpo eacute sempre uma atualizaccedilatildeo do virtual O transbordamento caoacutetico dessa passagem temporal exige uma organizaccedilatildeo Para lidar com esse constante desassossego somos forccedilados natildeo haacute como escapar sem enlouquecer a inventar sentidos Contudo mesmo o limite

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PRIMEIRO

ENSAIO

da desrazatildeo eacute meramente didaacutetico jaacute que muitas vezes eacute justamente atraveacutes da loucura que o sujeito estabelece algum sentido Para Bergson5 esse tempo em noacutes eacute um movente e uacutenico bloco Natildeo se pode dividi-lo natildeo se pode recortaacute-lo em fases periacuteodos identidades O tempo em noacutes eacute indivisiacutevel A lembranccedila em noacutes eacute permanente Somos tudo a todo tempo tudo o que experimentamos estaacute agora nesse instante fazendo barulho urros interminaacuteveis de incontaacuteveis lampejos sutis Cada pequena memoacuteria estaacute duelando com todas as demais e essa guerra desenfreada e incessante que acontece mesmo enquanto vocecirc realiza essa leitura estaacute a nos arrastar cada um de noacutes ao seu tempo pela vida

Para lidar com esse excesso de memoacuteria que somos a natureza em seu requinte de fazer a existecircncia suportaacutevel desenvolveu um mecanismo-verbo esquecer Se lembraacutessemos de tudo a todo tempo a vida seria impossiacutevel Ou seja a funccedilatildeo do ceacuterebro se eacute que ela estaacute realmente no ceacuterebro natildeo eacute lembrar mas esquecer Esquecer para poder existir Esquecer para poder experimentar a perpeacutetua presentificaccedilatildeo do passado Esquecer um pouco ao menos um pouco pois a indivisibilidade do tempo que nos carrega natildeo vai parar Eacute preciso esquecer para conseguir tomar focirclego e continuar vivendo ou melhor continuar esquecendo

Se fosse preciso falar de forma geral simplificando as coisas assim numa estrutura bastante provisoacuteria poderiacuteamos dividir a

5 O Pensamento e o Movente ensaios e conferecircncias

organizaccedilatildeo desses abismos em noacutes atraveacutes de dois grandes blocos de elaboraccedilatildeo

Modo Forma Modo ForccedilaAliviar Tonificar

Iludir Encarar

Distrair Entreter Provocar Fazer Experimentar

Lucro Poder-Potecircncia

Fugir da Realidade Aceitar o Traacutegico da Vida

Representar Enunciar Apresentar Inventar

Tais blocos permitem uma produccedilatildeo de sentido agrave vida Ajudam a passar o que pede passagem Permitem ao corpo natildeo desmontar auxiliam em sua organizaccedilatildeo em sua invenccedilatildeo em sua produccedilatildeo de sentido em meio agrave caoticidade jaacute inerente agrave vida e potencializada pelas atualizaccedilotildees do virtual

Dizendo de uma NuTE-forma a histoacuteria o roteiro a cronologia natildeo passam de um deliacuterio racional uma organizaccedilatildeo imposta que a consciecircncia fabrica para criar sentido e natildeo sucumbir natildeo desterritorializar em meio agraves sensaccedilotildees que transbordam no corpo-escritura no corpo-entrevista no corpo-foto O estatuto de verdade que muitos perseguem seja na descriccedilatildeo histoacuterica ou mesmo numa disciplina cientiacutefica como a medicina soacute se atinge quando uma determinada organizaccedilatildeo-deliacuterio torna-se a organizaccedilatildeo-deliacuterio de muitos Foi isso que ldquo() Robison Crusoeacute entendeu muito bem ao manter um calendaacuterio e ler a Biacuteblia todas as

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PRIMEIRO

ENSAIO

tardes isso soacute eacute possiacutevel se nos comportarmos como se existissem outros jaacute que eacute a rede de interaccedilotildees linguumliacutesticas que faz de noacutes o que somos Noacutes que como cientistas dizemos todas essas coisas natildeo somos diferentesrdquo6

Ou seja se a memoacuteria natildeo habita um espaccedilo objetivo dentro do ceacuterebro de onde seria possiacutevel extraiacute-la com precisatildeo se a memoacuteria se espalha em complexos sistemas interativos sociais ligados em rede se a memoacuteria depende sempre da memoacuteria dos outros para ter legitimidade entatildeo tentar recuperar uma verdadeira memoacuteria ainda mais quando de um grupo eacute no miacutenimo um trabalho fadado ao fracasso7

Ou seja um observador por mais que se esforce para descrever uma memoacuteria tem sua descriccedilatildeo regulada pelo domiacutenio da observaccedilatildeo e jamais atinge portanto o domiacutenio das operaccedilotildees nunca conseguiraacute atingir os fatos tais como acontecem eou aconteceram Para Deleuze o virtual seria este inacessiacutevel onde entre outras coisas ocorre o domiacutenio das operaccedilotildees do ontem Sendo o virtual aquilo que natildeo nos eacute dado e o atual em contraponto aquilo que nos eacute dado podemos avanccedilar sobre nosso caso8

A histoacuteria do NuTE que se tenta narrar aqui estaacute limitada ao niacutevel de uma observaccedilatildeo-atualizaccedilatildeo possiacutevel visto que os domiacutenios de suas operaccedilotildees tais como aconteceram natildeo estatildeo acessiacuteveis ndash passado inalcanccedilaacutevel NuTE-virtual Dessa forma quatro constataccedilotildees importantes

6 A Aacutervore do Conhe-cimento p 256-257

7Em De Maacutequinas e Seres Vivos Autopoie-se ndash A Organizaccedilatildeo do Vivo Maturana e Va-rela explicam que ldquoAs noccedilotildees de aquisiccedilatildeo de representaccedilotildees do am-biente ou de aquisiccedilatildeo de informaccedilatildeo sobre o ambiente em relaccedilatildeo com a aprendizagem natildeo representam qual-quer aspecto do operar do sistema nervoso O mesmo vale para no-ccedilotildees tais como memoacute-ria e lembranccedila que satildeo descriccedilotildees feitas por um observador de fenocircmenos que tecircm lu-gar em seu domiacutenio de observaccedilatildeo e natildeo no domiacutenio de operaccedilatildeo do sistema nervoso e que portanto tecircm va-lidade somente no do-miacutenio das descriccedilotildees onde ficam definidas como componentes causais na descriccedilatildeo da histoacuteria condutu-alrdquo p132

8 Esta definiccedilatildeo de Virtual e Atual se en-contra mais detalhada em O Vocabulaacuterio de Deleuze de Zourabi-chvilli

Primeiro que o passado o virtual a memoacuteria que estou procurando eacute real

Segundo que em sua forma pura em seu em si o passado permanece virtual

Terceiro que meu corpo ainda que sutilmente pode servir de ponte entre o virtual e o atual

Quarto que posso utilizar a escritura como meio de conduzir atualizaccedilotildees desse virtual

Uma escritura que acaba sendo levada a se preocupar natildeo apenas com aquilo que aconteceu mas com aquilo que o acontecimento fezfaz movimentar nos corpos das pessoas que experimentaram o acontecimento9

Assim as observaccedilotildees-atualizaccedilotildees aqui expostas pretendem uma espeacutecie de mapa-NuTE Mapa de um passado-virtual que se atualiza atraveacutes das organizaccedilotildees-deliacuterios de um observador Com razatildeo alguns leitores devem estar ridicularizando este processo de pesquisa Ao mesmo tempo acredito que os mais rigorosos podem aceitar alguns dos limites que menciono e entre estes os mais generosos provavelmente se perguntam haveria alguma forma de melhorar isso Como natildeo depender apenas das organizaccedilotildees-deliacuterios de um uacutenico observador para descrever essa histoacuteria-NuTE A resposta parece ser bastante oacutebvia convidando outros observadores agrave escrita Mas que escrita suportaria tamanha condensaccedilatildeo

Eugenio Barba em artigo intitulado Fazer Teatro eacute Pensar de Modo Paradoxal diz que ldquo() o importante natildeo era o sentido das palavras

Raniere em O Jardim das Ilusotildees 2007

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ENSAIO

natildeo era tornar o texto inteligiacutevel mas tornaacute-lo vivordquo10 Quem sabe entatildeo se essa escritura-NuTE fosse arrastada natildeo a uma filiaccedilatildeo mas a uma alianccedila com Eugenio Barba em seu modo de trabalhar textos roteiros peccedilas Quem sabe com autorizaccedilatildeo dos pesquisadores mais claacutessicos claro pudeacutessemos tomar os fatos histoacutericos sobre o NuTE da mesma forma que Eugenio Barba toma um texto-roteiro-peccedila Dando mais importacircncia agrave intensidade do que agrave inteligibilidade Obviamente os fatos satildeo essenciais mas seria preciso encarnar esses fatos condensadamente diferente da sua realidade Confuso Tentemos um exemplo a experiecircncia do NUTe com sua Escola de Teatro11 Temos alguns fatos apontados por recortes de jornais fotos eventos programas meacutetodo de ensino entrevistas e suas transcriccedilotildees etc Contudo como tornar viva essa experiecircncia Como proporcionar a vocecirc caro leitor uma escrita que esteja aleacutem da inteligibilidade e do sentido das palavras

Alguns deslocamentos satildeo necessaacuterios Se vamos trabalhar condensando vaacuterias escritas este autor deixa de ter autoria sobre a escrituraccedilatildeo-NuTE Visto que o que ele faz acaba se aproximando mais de uma direccedilatildeo tal qual um diretor de teatro do que propriamente de uma solitaacuteria composiccedilatildeo privada Os acontecimentos seratildeo deformados quebrados estilhaccedilados para que deles se possa extrair potecircncia para que possamos descobrir uma realidade totalmente diferente da realidade que o fato histoacuterico jaacute continha em seu virtual

10 P 14

11 caro leitor vocecirc iraacute encontrar

a abreviaccedilatildeo NuTE

sempre que o texto fizer referecircncia ao

Nuacutecleo de Teatro

Experimental

bem como

NuTe

para

Nuacutecleo de Teatro Escola

ambas as grafias eram adotadas

pelo proacuteprio grupo com os mesmos

significados

ldquo() trata-se de criar um teatro em que a interpretaccedilatildeo do texto eacute atingida por uma condensaccedilatildeo extraordinaacuteria incorporada pelo ator cujas reaccedilotildees fazem com que os espectadores descubram uma realidade totalmente diferente da realidade que as palavras jaacute continham quando estavam no papel Eacute por isso que para mim as palavras satildeo essenciais Eacute a poesia do texto que devemos procurar Mas poesia significa condensaccedilatildeo Eacute preciso encarnar esse texto condensadamente () a finalidade uacuteltima de todo esse trabalho de teacutecnica de visatildeo eacute construir uma relaccedilatildeo viva com o espectadorrdquo12

Em busca de uma relaccedilatildeo viva com o leitor

Um livro natildeo comeccedila com uma paacutegina em branco mas sim com seus devires Seres larvares pululam Frases larvares paraacutegrafos inteiros cores-sons-cheiros conceitos e desejos Essas larvas do vir a ser esse download do ontem ndash jaacute que nessa pesquisa haacute uma intenccedilatildeo de descrever aquilo que aparentemente mora no passado ndash essa atualizaccedilatildeo de um virtual me parecem tatildeo importantes quanto o livro-resultado-final Muito mais difiacuteceis contudo de frear de conter neste papel-tela De registrar de possibilitar que vocecirc caro leitor-ator experimente

Sei que preciso delas sei que sem elas dificilmente atingiremos essa relaccedilatildeo proposta por Barba Ao mesmo tempo tenho tido a impressatildeo de que essas Larvas Palavras jamais obedeceratildeo ao meu comando de parar Talvez sejam nocircmades em um passeio infinito natildeo sei ao certo ainda Sim Elas passaram pelo corpo

12Fazer Teatro eacute Pensar de Modo Para-doxal Eugenio Barba p 15

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ENSAIO

do NuTE mas agora andam desgovernadas por aiacute

Dessa forma talvez nossa uacutenica chance enquanto leitorautor seja aliar-nos com elas Se elas natildeo me obedecem mesmo sendo eu quem dirige esta escrita ou justamente por tentar dirigi-la quem sabe possamos larvar-nos e agenciar essa escritura-leitura a uma espeacutecie de Experimentaccedilatildeo de um Devir NuTE

Tento explicar um pouco melhor Durante a produccedilatildeo deste livro fui expondo em nuteparatodoswordpresscom seus preparativos Cada rascunho cada conceito cada novo pensamento que me pedia passagem teve ali um territoacuterio livre para circular encontrar amigos criacuteticas sugestotildees para se esculpir para se abandonar para se refazer Agrave medida que o Acontecimento NuTE foi se pronunciando muitas das experimentaccedilotildees se deram In Progress em desenvolvimento antes desta ediccedilatildeocostura desta formataccedilatildeo que vocecirc caro leitor tem em matildeos

Ou seja minha tentativa agora ndash Progress in Livro in Progress ndash eacute permitir que um movimento larvar da pesquisa enuncie agrave sua leitura aquilo que o registro-freio tende a paralisar

Contudo encontrei apenas uma forma de fazer isso Convidando vocecirc prezado leitor a participar melhor dizendo a continuar este Work in Progress Por favor natildeo se assuste Talvez num primeiro momento vocecirc esteja pensando que o papel de um leitor seja ler apenas ler e que isso de ser empurrado para atuar junto aos demais atores de uma pesquisa

Work in Progress natildeo estava em seu roteiro quando se interessou por este livro De certa forma vocecirc estaacute correto mas se eu puder contar com sua generosidade peccedilo que tenha calma e siga a leitura como lhe parecer mais agradaacutevel Nas proacuteximas paacuteginas vocecirc seraacute chamado a participar de uma conversa numa comunidade do Orkut fica a seu criteacuterio fazecirc-lo ou natildeo Durante todo o livro vocecirc seraacute convidado a acessar ao blog acima citado bem como a biblioteca Nutrindo13 Nesses espaccedilos vocecirc iraacute encontrar muitas das larvas que aqui tomaram forma de frases paraacutegrafos inteiros Todas as entrevistas realizadas durante a pesquisa estatildeo transcritas na iacutentegra para seu livre acesso Quando vocecirc se deparar num dos Ensaios com um recorte como um trecho de entrevista por exemplo natildeo permita que nossa interpretaccedilatildeo reduza seu entendimento sobre o que foi o NuTE baixe a entrevista no blog e veja por si mesmo do que se trata O mesmo procedimento serve aos documentos aqui fracionados todos sem exceccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis para sua consulta nessa biblioteca que criamos especialmente para hospedaacute-los Nos Segundo e Quarto Ensaios vocecirc seraacute convidado a jogar junto com os demais atores o Baralho NuTE Aproveite divirta-se Monte seu proacuteprio espetaacuteculo No Terceiro Ensaio vocecirc vai encontrar o Livreto Espetacular onde ex-nutes compartilham suas experiecircncias a respeito das principais montagens neste mesmo Ensaio junto agrave cronologia dos 185 espetaacuteculos encenados vocecirc vai encontrar endereccedilos

12 a biblioteca lsquonutrindorsquo conta atualmente com mais de trecircs mil

documentos e pode ser acessada em

wwwnutecombr

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ENSAIO

links para assistir a apresentaccedilotildees ensaios e oficinas No Quinto Ensaio virei pessoalmente lhe convidar inclusive jaacute comprei seu ingresso gostaria muitiacutessimo de sua companhia para assistir ao JOTE-Titac Experimentando NuTE Por fim para o Sexto Ensaio seratildeo necessaacuterias algumas cervejas Recomendo que desde jaacute o prezado leitor as mantenha resfriando em seu freezer

Passo agora a lhes contar como foi que chegamos ao nosso primeiro ensaio como foi que chegamos ao comeccedilo

Um lugar onde se respira o antes do Proacutelogo

Naquela tarde eu tive certeza logo ao desligar o telefone que O Jardim das Ilusotildees seria publicado Gervaacutesio Luz emocionado com o livro transmitia a mim seu parecer positivo como conselheiro da editora Cultura em Movimento Saiacute para sorrir ao sol Natildeo sei bem se um daqueles raios amarelados em minha testa ou mesmo o recente falecimento de Carlos Jardim ndash turbilhatildeo de imagens teatrais ndash natildeo sei bem Mas foi assim que esta obsessatildeo comeccedilou

Fui arrebatado por uma cena-imagem um livro que ao utilizar a estrutura teatral para descrever a trajetoacuteria de um grupo de teatro seria tomado pelo proacuteprio grupo descrito como roteiro de seu proacuteximo espetaacuteculo Espetaacuteculo sobre si dobra-cartograacutefica Deleuze me sussurrava Fazer da Vida Uma Obra de Arte

fazer da vida uma obra de arteAssim que tive em matildeos o primeiro exemplar

de O Jardim das Ilusotildees corri agrave Equipe Vira Lata com essa proposta Para minha frustraccedilatildeo baldes de aacutegua fria Natildeo obtive o entusiasmo que esperava Juntos realizamos o lanccedilamento e um ano depois a publicaccedilatildeo de Por Uma Escrita Vira Lata ndash desdobramento de minha pesquisa onde reuacuteno a grande maioria dos textos escritos por Roberto Vergel pseudocircnimo que Carlos Jardim utilizava para escrever

Mas a imagem insistia Parecia grudada em minha respiraccedilatildeo Ao assistir um espetaacuteculo sempre ela retornava ao dar um curso sobre Michel Foucault ao ler Dostoieacutevski Aos poucos fui me convencendo de que poderia escrever esse espetaacuteculo-dobra Alguns conceitos me faltavam e essencialmente um novo grupo de teatro Comecei a me questionar sobre quem valeria a pena pesquisar que grupo me interessaria Essa pergunta permaneceu por um bom tempo

Isso Natildeo eacute Um Cococirc14 foi uma intervenccedilatildeo urbana de muitos Entre eles estavam Juliana Teodoro e Alexandre Venera Em meio agraves accedilotildees de terrorismo poeacutetico nos tornamos amigos Laacute pelas tantas (eu estava um pouco embriagado eacute verdade) foi no Farol Lanches em Blumenau resolvi contar a Alexandre o quanto o Teatro da Terra uacuteltima fase do NuTE havia sido importante para mim O quanto aquelas cenas em meio agrave Floresta-Fazendarado continuavam presentes no que eu vinha ajudando a fazer de mim

14 A accedilatildeo como um todo levou semanas Desde a construccedilatildeo dos objetos passando pelo lanccedilamento dos objetos no rio Itajaiacute-Accedilu as filmagens a ediccedilatildeo e suas proje-ccedilotildees Nesse endereccedilo vocecirc pode assistir ao viacutedeo que resultou das accedilotildeeswwwyoutubecomwatchv=kknHIVUO-NE

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ENSAIO

Num estalo compreendi que o grupo que eu vinha procurando haacute algum tempo era o NuTE Descrevi para Alexandre meu argumento de pesquisa e ele que tambeacutem havia bebido um pouco disse que era uma ideia genial

() o Alexandre era um grande incentivador assim Com tudo entrando em ebuliccedilatildeo Ele fazia a gente fazer Um tremendo animador cultural no melhor sentido da palavra o Alexandre vibrava com essas coisas os olhos dele brilhavam ldquoVai laacute vamos fazer tem que agitar tem uma ideia legal fazrdquo e Entatildeo empolgava muito a gente a produzir e produzir cada vez mais (entrevista com Peacutepe Sedrez paacutegina 2)

Um estranho brilho nos olhos dele me fez acreditar que a ideia era realmente boa Ao mesmo tempo me disse que natildeo gostaria de se comprometer com a direccedilatildeo do espetaacuteculo da forma como eu estava propondo porque natildeo tinha mais interesse em teatro mas que ficaria honrado com essa cartografia sobre o NuTE

Na mesma semana procurei Aline e Charles velhos amigos e parceiros em projetos culturais Havia um edital aberto para pesquisa e publicaccedilatildeo pela Petrobras Eles gostaram da ideia e comeccedilamos a trabalhar na redaccedilatildeo do projeto Uma das exigecircncias desse edital era obter um Pronac junto ao Ministeacuterio da Cultura via Lei Rouanet Uma vez pronto encaminhamos o projeto e ansiosos aguardamos Depois de alguns meses veio a resposta reprovado Natildeo conseguimos aprovaccedilatildeo pela Petrobras Mais

alguns meses se passaram e como a tramitaccedilatildeo no Ministeacuterio da Cultura independe da empresa patrocinadora acabamos recebendo um Pronac Ou seja o projeto foi aceito via Lei Rouanet caberia agora ao grupo conseguir captaccedilatildeo Captaccedilatildeo que contaacutevamos fazer atraveacutes do edital da Petrobras

Todo mundo que trabalha com cultura tem pelo menos trecircs amigos que aprovaram projetos via lei Rouanet e que nunca conseguiram captar O repasse feito via imposto de renda somente pode ser dado por grandes empresas as quais geralmente estatildeo interessadas em atividades culturais de cunho comercial Desanimados engavetamos o projeto e cada qual em seu canto foi cuidar da vida Comecei a trabalhar para o governo do estado do Paranaacute e me mudei para Curitiba

Quando o prazo de captaccedilatildeo estava prestes a terminar seu Luiz meu sogro telefona dizendo que Gabriela sobrinha dele comentava de uma empresa da aacuterea de construccedilatildeo de hidreleacutetricas a qual estava no momento com uma obra no oeste de Santa Catarina esta empresa vinha avaliando projetos justamente para financiamento via Lei Rounet Sem esperanccedila alguma resolvi encaminhar o projeto e eis que por um grande acaso do destino somos contemplados

Com o patrociacutenio do grupo Baesa-Enercan tudo parecia estar resolvido Bastaria realizar a pesquisa e atraveacutes dela compor procurar pela escrita NuTE Contudo minhas atividades na Secretaria de Estado da Crianccedila e da Juventude

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ENSAIO

me exigiam por completo A escrita foi ficando para amanhatilde Havia firmado compromisso comigo mesmo de escrever em minhas feacuterias as quais estavam programadas pra julho de 2009

Em Curitiba todo saacutebado agrave tarde num bar da esquina de casa ndash bairro Aacutegua Verde ndash tocavam bandas de Blues Era um lugar agradaacutevel para ler Nietzsche Num desses saacutebados a banda terminou mais cedo Por volta das 18 horas paguei as cervejas coloquei O Anticristo na mochila e tomei o rumo de casa Foi nesse crepuacutesculo que aconteceu Eu caminhava distraidamente pelas calccediladas da rua Amazonas quando fui consumido por um segundo arrebatamento e se eu pudesse assistir ao espetaacuteculo que conta a trajetoacuteria do NuTE antes mesmo de escrever o livro E se eu pudesse transformar parte desse espetaacuteculo no livro que iraacute servir de roteiro para o proacuteprio espetaacuteculo

Sozinho vibrando com a ideia eu ria num frenesi desvairado Gritava ldquoEacute isso Eacute isso Isso mesmordquo E voltava a gargalhar como se estivesse possuiacutedo por algum democircnio Os curitibocas transeuntes que vinham em minha direccedilatildeo se afastavam Alguns me apontavam assustados Uma senhora jaacute velhinha que passeava com seu pequeno cachorro poodle tocou-me gentilmente no braccedilo perguntando se eu estava bem Tentei lhe explicar o que estava visualizando mas ela natildeo conseguia entender o que era um JOTE-Titac

Marquei uma reuniatildeo com Charles Aline

e Venera e da mesma forma como havia feito com a bondosa senhora curitibana expliquei o que havia visto Eles compreenderam e gostaram da proposta Juntos chegamos ao conceito de JOTE-Titac Experimentando NuTE Funcionaria como todo JOTE-Titac com a diferenccedila de que os textos encaminhados teriam que tratar de um uacutenico tema o NuTE Natildeo necessariamente contar a histoacuteria do NuTE Mas de alguma forma dar passagem a ela ou a um devir NuTE permitir ressonacircncias com o NuTE estar de alguma forma afetado por ele15

Escolhemos uma data para o evento Aline e Charles cuidaram da divulgaccedilatildeo Venera e eu nos dedicamos agrave organizaccedilatildeo dos grupos Professora Noemy Kellerman Gregory Haertel e Tacircnia Rodrigues selecionaram os textos Doutor Ronaldo Faleiro Peacutepe Sedrez e Noemy Kellerman julgaram os espetaacuteculos Foi um grande sucesso Sem duacutevida eu faria tudo novamente Mas minhas feacuterias haviam terminado Voltei para Curitiba voltei a trabalhar voltei a tentar escrever em meus finais de semana Impossiacutevel Sempre esgotado natildeo conseguia produzir Essa exaustatildeo me acoplou violentamente com um antigo projeto comprar uma casa-escrita Uma casa onde escrever seria possiacutevel em qualquer horaacuterio do dia Um lugar onde natildeo houvesse interferecircncias de bares buzinas motores shows vizinhos cachorros construccedilatildeo de preacutedios ou qualquer outra modalidade ruidosa que pudesse dificultar o processo de escrita

Foi uma decisatildeo difiacutecil Em dezembro de 2009 pedi demissatildeo e comprei atraveacutes de

15 Caro leitor como vocecirc pode

perceber em nosso iacutendice haacute um

capiacutetulo destinado exclusivamente

ao jote- jitac por isso natildeo iremos

detalhar aqui seu funcionamento eou propoacutesito aleacutem do capiacutetulo tudo o que foi produzido pelo lsquojote-titac experimentando

nutersquo estaacute hospedado em

wwwnuteparatodoswordpresscomjoteti-tac

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PRIMEIRO

ENSAIO

um financiamento pela Caixa Econocircmica Federal uma casa na Praia da Tainha em Bombinhas Santa Catarina Nesse mesmo mecircs trago a mudanccedila e comeccedilo a trabalhar Natildeo na escrita mas na casa que precisava de uma seacuterie de reformas Em meados de fevereiro as coisas se ajeitam e comeccedilo a trabalhar finalmente na produccedilatildeo da escrita NuTE O isolamento da praia me permitiu uma aventura quase monaacutestica Mas em virtude de minha natildeo formaccedilatildeo em teatro inuacutemeros problemas conceituais retornavam Em busca de orientaccedilatildeo entro em contato com o Doutor Ronaldo Faleiro que muito gentilmente aceita me nortear nesse processo

Agrave medida que Faleiro analisava os capiacutetulos eles iam sendo postados no blog - wwwnuteparatodoswordpresscom - e sofriam a interferecircncia dos muacuteltiplos virtualizados ndash pessoas que criticavam elogiavam davam dicas ajustavam cenas ndash fui montando capiacutetulo a capiacutetulo este livro O conceito que utilizamos para essa composiccedilatildeo foi o de Work in Progress de uma escrita In Progress

Em outubro de 2011 uma primeira versatildeo do livro estava pronta Eu precisava agora de um diretor Como Alexandre havia sinalizado negativamente marquei uma reuniatildeo com Peacutepe Sedrez Levei o livro entreguei a ele e lhe perguntei se teria interesse em montar o espetaacuteculo Peacutepe olhava pra mim olhava para o livro permaneceu em silecircncio por quase dez minutos apenas folheando as paacuteginas Por fim uma laacutegrima lhe desceu a face esquerda

do rosto Tomado por uma carga absurda de sensaccedilotildees as quais tenho dificuldade de descrever aqui ele me disse

ndash Obrigado Eacutedio obrigado por isso Quero que vocecirc saiba o quanto significa pra mim este teu trabalho Eu me sinto mais do que feliz com tua proposta Imagine ndash falou sorrindo ndash dirigir um espetaacuteculo sobre a histoacuteria do NuTE seria maravilhoso Mas Mas me desculpa eu natildeo posso natildeo natildeo posso

Ele me entregou o livro levantou-se pedindo desculpas e saiu Atocircnito sozinho na sala da Companhia Carona de Teatro olhei para o livro em cima da mesa olhei a placa da porta ao lado Equipe Vira Lata Respirei apanhei o livro e me dirigi ao corredor de saiacuteda Descendo a rua XV de Novembro desanimado perto da igreja matriz ouccedilo algueacutem me chamando Era Peacutepe

ndash Desculpa mais uma vez eu natildeo consegui te falar o que queria te dizer Eu quero muito montar esse espetaacuteculo Mais do que vocecirc pode imaginar O que eu natildeo posso eacute dirigir Quero participar como ator Sei que muitos que participaram do NuTE tambeacutem vatildeo querer

Nesse momento Peacutepe me fez visualizar algo novo Eu natildeo havia pensado nisso Minha questatildeo era encontrar um diretor Passaria o livro a ele que escolheria os atores e montaria agrave sua maneira Mas a imagem de um espetaacuteculo com atores do proacuteprio NuTE a encenar sua proacutepria histoacuteria sem duacutevida era ainda mais interessante Fiquei contente e retomei com Peacutepe

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ndash Oacutetimo seria bem legal mesmo agradeccedilo muito tua vontade de participar eu havia pensado em ti como diretor mas se

ndash Vocecirc natildeo entende ndash cortando ndash eu natildeo posso dirigir quem precisa dirigir esse espetaacuteculo eacute o Alexandre

Nossa se me dessem Hoje em dia se o

Alexandre me convidasse pra fazer um trabalho

Pra fazer papel de cachorro mudo quieto eu ia

e olha amarradatildeo Sem sombra de duacutevida ()

Acho que seria uma legal uma montagem ateacute uma

coisa porrada mas aiacute eacute com meu amigo Alexandre

neacute (risos) () Eacute se ele quiser Eu vou a hora que

ele quiser () Acho que a Como eu te digo a vida

taacute passando a gente taacute ficando velho e poxa seria

muito Pra mim seria uma honra muito grande e

um orgulho muito grande taacute fazendo de novo um

trabalho com o Alexandre e pocirc se Deus quiser se

Peacutepe aceitar com Peacutepe Carlinhos nossa Juliana

Muller que fazia parte do NuTE e tantas outras

pessoas que passaram por ali eu acho que Tadeu

Bittencourt o proacuteprio Carlinhos que natildeo estaacute mais

aqui em Blumenau mas pocirc chamando ele volta

(entrevista com Giba paacuteginas 26-27)

ndash Mas Peacutepe eu jaacute tentei convencer Alexandre Ele estaacute irredutiacutevel Natildeo quer saber de teatro

ndash Eu sei eu sei Mas podemos bolar um plano Na verdade eu jaacute pensei em tudo Vocecirc lembra do texto escrito pelo Nira que foi selecionado para participar do JOTE-Titac Experimentando NuTE

ndash Qual O Mackbeacutete

ndash Natildeo O outro Trabalho Sujo

ndash Sim Sim O que tem

ndash Podemos utilizaacute-lo para convencer o Alexandre

ndash Como assim

ndash Claro vai precisar de uma adaptaccedilatildeo Mas acho que pode servir

ndash E quem vai adaptar

ndash Bem eu sei que o Gregory Haertel fez uma adaptaccedilatildeo desse texto chama-se a Sede do Santo foi montada com direccedilatildeo do Rafael Koehler Mas se essa adaptaccedilatildeo natildeo der conta de convencer o Alexandre talvez o proacuteprio Nira possa fazer

ndash Beleza pode dar certo

ndash Vai dar sim Com certeza Aiacute vocecirc cola aqui na sequecircncia antes do retorno ao Primeiro Ato

ndash Joia vou fazer isso entatildeo

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ENSAIO

Adaptaccedilatildeo de Trabalho Sujo16

Argumento A gangue deve ser virtual e composta pelos fakes NuTE Os personagens elaboram suas tramas pelo Orkut Cada qual tem um perfil Ao leitor cabe jogar com os personagens no sentido de encontrar uma soluccedilatildeo para o problema em questatildeo convencer Alexandre a dirigir o espetaacuteculo sobre o NuTE Cada personagem teraacute um perfil no Orkut com login e senha As senhas seratildeo fornecidas aos leitores atraveacutes da leitura do livro Natildeo ficaraacute claro aqui no livro a resoluccedilatildeo da trama Para que o leitor saiba o que levou Alexandre a dirigir o espetaacuteculo ele teraacute que entrar no Orkut e jogar com os personagens

Trabalho Sujo e Virtual17

Personagens NAFTALINA JOHNSON NOacuteDULO CHUCK NEIDE SAPATINHO NIVALDO TRAPACcedilA NESTOR MIRONGA NEUSINHA BLAU BLAU (os quais assumem identidades fakes) NARRANTE

Cena I Eureca Epifania Iluminaccedilatildeo

NARRANTE ndash No evento Jote-Titac Experimentando NuTE a quadrilha de Naftalina Johnson se esmerava em roubar quadros sequestrar livros pichar esculturas corromper leitores e ateacute piratear telenovelas ndash tudo levado a cabo com preciosismo extremado Ateacute que chegou um momento em que eles descobriram que natildeo poderiam seguir com ambiccedilotildees tatildeo mesquinhas Algo de muito pior deveria ser

16 Trabalho Sujo de Nira da Silveira texto escrito e selecionado para o JOTE-Titac Ex-perimentando NuTE O leitor tem acesso ao texto original atraveacutes do blog wwwnutepa-ratodoswordpresscom e no Quinto En-saio deste livro

17 Adptaccedilatildeo de Nira da Silveira

feito Algo como convencer Alexandre Venera a dirigir um espetaacuteculo sobre o NuTE Um problema havia como fariam isso incoacutegnitos Como despistariam a Poliacutecia Autoral Cada vez mais as antigas missotildees pareciam brincadeira de preacute-adolescentes Foi poreacutem numa noite de abril que Naftalina chegou com a soluccedilatildeo

NAFTALINA JOHNSON ndash Caros comparsas estaacute aberta a sessatildeo Dona Blau Blau a senhorita estaacute anotando

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Estou Tudo Anotando tudo Podem olhar Taacute bem aqui Tudo anotadinho

NAFTALINA ndash Obrigado muito obrigado Queridos amigos convoquei esta reuniatildeo para dar parte de uma notiacutecia ineacutedita e inaudita a qual nunca foi vista nem ouvida e que permanece ateacute agora na obscuridatildeo das trevas desconhecidas

NEIDE SAPATINHO ndash Ui Nafta Fiquei toda arrepiadinha agora

NIVALDO TRAPACcedilA (levantando) ndash Natildeo precisa dizer mais nada

NAFTALINA ndash Como disseNIVALDO TRAPACcedilA ndash Poupe-nos Naftalina

Eu jaacute sei o que satildeo esses papeacuteis na sua matildeo NAFTALINA ndash Jaacute sabe Mas comoNIVALDO TRAPACcedilA ndash Ora vamos e

venhamos Do jeito que as coisas vatildeo soacute podem ser os papeacuteis da nossa aposentadoria De qualquer maneira obrigado por fraudar o INSS por noacutes Ateacute que saiu raacutepido

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PRIMEIRO

ENSAIO

NAFTALINA ndash NAtildeO Eacute NADA DISSO IDIOTANESTOR MIRONGA (dando um soco na

cabeccedila de Nicanor) ndash Senta aiacute ocirc imbecilNAFTALINA ndash Agraves vezes acho que estou

cercado de crianccedilas aqui Pois fiquem sabendo que o que tenho nas matildeos satildeo passagens de aviatildeo

NEIDE SAPATINHO ndash Pra onde NaftaNAFTALINA ndash Para diversas cidades do paiacutes

Precisaremos estar longe uns dos outros para despistar as autoridades e principalmente o Venera

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Ai meu Deus Eu vou viajar Meu deusinho do ceacuteu eu vou viajaaaar

NOacuteDULO CHUCK (No fundo da sala comeccedila a bater palmas levanta-se e vai ateacute a frente) ndash Muito bem Parabeacutens Nafta Seu plano eacute genial Ele soacute tem um problema

MEMBROS ndash Qual o problema ChuckNOacuteDULO CHUCK ndash O problema eacute que nosso

plano de celular preacute-pago eacute uma merda E quando precisarmos nos falar vamos gastar uma fortuna

NAFTALINA (tirando lentamente um revoacutelver do paletoacute) ndash Agora chega Eu natildeo aguento mais Eu vou matar uns dois

NESTOR MIRONGA E NEIDE SAPATINHO (segurando Naftalina) ndash Calma Nafta Vai com calma (Naftalina se recompotildee)

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Chefe meu celularzinho tambeacutem eacute uma merda

NAFTALINA ndash Estaacute tudo bem querida eu jaacute planejei tudo Desde o ano em que vocecirc nasceu tudo estava resolvido

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Eacute mesmoNAFTALINA ndash Sim meu amor Naquela

eacutepoca um grupo de nerds num paiacutes longe daqui resolveu nosso problema Eles criaram uma grande rede uma teia de alcance mundial (black)

Cena II ldquoQuem eacute elerdquo Ainda no poratildeo da gangue final da reuniatildeo

NESTOR MIRONGA ndash Mas chefe isso tudo vai custar dinheiro Eu pensei que o nosso cofre estava vazio

NAFTALINA ndash Sim eu sei meu rapaz Acontece que um cidadatildeo muito excecircntrico e amante das causas nobres ofereceu-se para nos patrocinar

MEMBROS ndash E quem eacute eleNAFTALINA ndash Algueacutem que exigiu sigilo

ultra-mega-blaster confidencial mas ao qual nos referiremos como ldquoO Leitorrdquo

MEMBROS (Vasculham a plateia com o olhar procurando por algueacutem que possa ser ldquoO Leitorrdquo)

Cena III Conspiraccedilatildeo Conluio e Confabulaccedilatildeo Perfil de fake Giba de Oliveira no Orkut Ele conversa com os comparsas os quais depois de intenso treinamento

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PRIMEIRO

ENSAIO

aprenderam a se expressar quase como os reais Natildeo foi permitido pela gangue revelar quem eacute quem

FAKE CLAUS JENSEN ndash giba ainda ta aiacuteFAKE GIBA DE OLIVEIRA ndash Giba de Oliveira

teclando perfeitamente blzFAKE CLAUS ndash blz estive ha pouco com

Alexandre Venera FAKE AacuteLVARO ndash ele na desconfiou d nadaFAKE CLAUS ndash ele desconfio sim mas naum

d mim ele disse q ontem axou o pepe meio estranho

FAKE PEPE ndash por q extranhoFAKE GIBA ndash eu sei porq eh q tu tais

exagerando nos trejeitosFAKE CLAUS ndash ele falou que achou o Pepe

muito insistenteFAKE GIBA ndash eu disse q naum era pra insisti

d+FAKE PEPE ndash mas eu nem falei da peccedila eu

soacute convidei ele pra tomar uma cerva FAKE AacuteLVARO ndash idiota o ale soacute toma

destiladoFAKE PEPE ndash natildeo deram essa parte no cursoFAKE CLAUS ndash deram sim tu falto pra ir

beberFAKE GIBA ndash vamo tentar alguma coisa

diferente kd o afonsoFAKE AFONSO ndash to aki soacute lendoFAKE GIBA ndash eacutes o proacuteximo nego te arruma

amanhatilde vais encontra com ele por acaso no farol

FAKE AFONSO ndash vlw fui

Caro leitor vocecirc chegou a uma encruzilhada em sua leitura Aqui se abrem dois caminhos distintos duas estradas possiacuteveis por onde seguir

1 ndash Continuar a leitura do livro passando diretamente agrave proacutexima paacutegina deixando essa trama sem resoluccedilatildeo

2 ndash Escolher um Fake na lista abaixo entrar com ele na comunidade Orkut e interagir conversar com os demais Fakes investigar produzir fabricar inventar uma soluccedilatildeo para a trama Ou seja nesta segunda via cabe a vocecirc caro leitor criar um desfecho para a histoacuteria Aos mais ousados bom experimento

Perfil login

O Leitor leitorfakenutegmailcom

Wilfried wilfriedfakenutegmailcom

Claus clausfakenutegmailcom

Afonso afonsofakenutegmailcom

Giba gibafakenutegmailcom

Peacutepe pepefakenutegmailcom

Silvio da Luz silvinhofakenutegmailcom

Dennis Raduumlnz denisfakenutegmailcom

Aacutelvaro alvarofakenutegmailcom

Senha somosmuitopoucosparadividir

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PRIMEIRO

ENSAIO

RETORNO AO PRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015

ndash Tenho me esforccedilado ndash Eacutedio responde a Venera ndash para fazer o melhor possiacutevel Dediquei-me em tempo integral a esta escrita pedi a conta de um bom emprego que eu tinha larguei tudo para trabalhar apenas nisso mas claro precisamos continuar aceito suas condiccedilotildees qual seria a proposta

ndash Bom primeiro eu natildeo concordo com esse proacutelogo precisa ser feito de outra forma

ndash Mas eu tive tanto trabalho para escreverndash Teve nada ndash diz Wilfried ndash vocecirc copiou dos

Irmatildeos Karamaacutezovndash Natildeo copiei eacute uma acoplagem acoplagemndash Que maneacute acoplagem isso nem existe

Copiou sim eacute soacute pegar o livro pra verndash Copiei merda nenhuma ndash Tudo bem tudo bem que seja ndash Venera

tenta mediar o conflito ndash vocecirc natildeo precisa jogar fora o proacutelogo deixa ele como estaacute e comeccedila novamente

ndash Um novo proacutelogondash Isso vai eacute confundir o leitorndash Chame de outra forma sei laacute que tal

comeccedilo primeiro ensaio replay algo assimndash Pode ser pode ser Primeiro Ensaio fica

mesmo bem interessantendash Outra coisa acho que tua escrita estaacute

um pouco distante Isso de morar na Praia da Tainha pode ter te ajudado a se concentrar

mas agora vocecirc precisa se aproximar do grupo ndash Aproximar do grupo mas como eu posso

fazer issondash Bom Natildeo quero te forccedilar a nada a escrita

eacute tua e acho que deves trabalhar da forma como te parecer melhor

ndash Como vocecircs faziam na eacutepoca do NuTEndash Na maioria das montagens a gente optava

por ter a redaccedilatildeo dos roteiros acontecendo simultaneamente aos ensaios dos espetaacuteculos

E era um processo todo extremamente luacutedico

o Alexandre brincava com a gente como se noacutes

fossemos crianccedilas assim dava material e ldquodeixa vir

o que vocecircs estiverem pensando o que estiver na

cabeccedilardquo Claro que tinha noites de natildeo render nada

a gente saiacutea meio frustrado mas tinham noites em

que a chama tava muito acesa havia cenas que

ldquoNossa isso tem que estar no espetaacuteculordquo e depois

podiam natildeo estar na ediccedilatildeo final mas a gente

levantou produziu muito material (entrevista com

Peacutepe Sedrez paacutegina 16)

ndash Natildeo sei se entendi direito se natildeo havia nenhum roteiro o que grupo ensaiava

ndash Tudo comeccedilava com um disparador cecircnico uma imagem um objeto um recorte de jornal um fragamento de texto e agrave medida que os ensaios aconteciam o roteiro ia sendo escrito

ndash Genial Adorei a ideiandash Eu tambeacutem concordo ndash diz Silvinho ndash acho

que assim o espetaacuteculo ganha em dramaturgia

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PRIMEIRO

ENSAIO

ndash Maravilha Eu vou me sentar aqui ao lado dessa mesinha algueacutem tem um laacutepis aiacute Agradecido Fico aqui assisto e descrevo Agrave medida que vocecircs forem encenando eu vou escrevendo Mandem bala podem comeccedilar

Todos se olham Nada acontecendash Vamos laacute pessoal estou esperando as

cenas dependo delas para escrever o roteirondash Olha natildeo eacute bem assim ndash Venera interveacutem

ndash eles precisam de algo que incite a criaccedilatildeo Vocecirc precisa trazer alguma coisa que dispare as cenas

ndash Entendi sou eu quem propotildee o disparador cecircnico eacute isso

ndash Exatamente e sobre este dispositivo eacute que as cenas seratildeo construiacutedas

ndash Deixa ver o que eu tenho aqui ndash revirando a mochila ndash Achei uma pergunta pode ser

ndash Lanccedila ao grupo e vamos ver o que acontece

ndash O que quer o NuTE18

18 Pergunta a partir da qual toda a escrita aqui exposta se potildee em movimento Espeacutecie de primeira questatildeo ou questatildeo essencial da pesquisa A anaacutelise de cada documento estaacute atravessada por ela cada entrevista realiza-da encontra nela uma paisagem a ser percor-rida Trata-se de um disparador metodoloacutegi-co chamado por Gilles Deleuze de Meacutetodo de Dramatizaccedilatildeo Segun-do o filosofo francecircs esse seria o meacutetodo utilizado por Nietzsche em suas Genealogias CitoldquoDesta forma de per-gunta deriva um meacute-todo Sendo dados um conceito um sen-timento uma crenccedila seratildeo tratados como os sintomas de uma vontade que quer algu-ma coisa O que quer aquele que diz isso que pensa ou experi-menta aquilo Trata-se de mostrar que natildeo poderia dizecirc-lo pensaacute-lo ou senti-lo se natildeo tivesse tal vontade tal maneira de ser O que quer aquele que fala que ama ou que cria E inversamente o que quer aquele que pre-tende o lucro de uma accedilatildeo que natildeo faz gtgt

gtgt aquele que apela para o ldquodesinteresserdquo E mesmo o homem as-ceacutetico E os utilitaris-tas com seu conceito de utilidade E Shope-nhauer quando forma o estranho conceito de negaccedilatildeo da vontade Seria a verdade Mas o que querem enfim os procuradores da verdade aqueles que dizem eu procuro a verdade - Querer natildeo eacute um ato como os demais Querer eacute a instancia ao mesmo tempo geneacutetica e criacute-tica de todas as nos-sas accedilotildees sentimen-tos e pensamentos O meacutetodo consiste no seguinte referir um conceito agrave vontade de potecircncia para dele fa-zer o sintoma de uma vontade sem a qual ele natildeo poderia nem mes-mo ser pensado (nem sentimento ser experi-mentado nem a accedilatildeo ser empreendida) Tal meacutetodo corresponde agrave questatildeo traacutegica Ele proacuteprio eacute o meacutetodo traacute-gico Ou mais precisa-mente se tirarmos do termo lsquodramarsquo todo o phatos dialeacutetico e cris-tatildeo que corresponde seu sentido eacute o meacuteto-do de dramatizaccedilatildeordquo

cena do espetaacuteculo lsquojato de amorrsquo da esquerda para direita carlos crescecircncio ivan

alvaro sabrina de moura leonel campos

Foto

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SEGUNDO

ENSAIO

SEgUNDO ENSAIO ndash 18 DE ABRIL DE 2015

Sol Saacutebado() aproximadamente 14h

Imagem Insistente grande Auditoacuterio do Teatro Carlos gomes

ndash Eacute Bem Pessoal olha soacute ndash os atores que conversavam cada qual em sua esquina de afectos centralizam olhar alguns sorrindo outros ansiosos em Alexandre Venera e ele continua ndash eu fiz aqui uma pesquisa que acredito vai ajudar a gente a levantar esse espetaacuteculo ndash os atores caminham em direccedilatildeo a Venera que faz vibrar alguns papeacuteis em suas matildeos e vatildeo formando aos poucos um ciacuterculo em torno dele ndash Na verdade satildeo recortes de jornal algumas fotos trechos das entrevistas algumas coisas que eu selecionei pensando no que poderia ser um momento do NuTE entre 1984 e 1986 Noacutes natildeo vamos fazer isso mas se um dia algueacutem quiser inventar um iniacutecio um comeccedilo uma origem para esse nuacutecleo de teatro tenho a impressatildeo de que o melhor momento para esse decalque estaria nos aperitivos que vamos ver hoje Estou chamando provisoriamente esse periacuteodo de No Princiacutepio era a Muacutesica Tecircxtil Gostante Noacutes vamos trabalhar da seguinte forma vocecircs vatildeo formar pequenos grupos de

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SEGUNDO

ENSAIO

duas a trecircs pessoas ndash todos os atores se olham ndash cada grupo vai receber um jogo de aperitivos que preparei Vocecircs vatildeo ter um tempo para saboreaacute-los ndash Venera coloca uma folha de papel na boca os atores riem ndash e deveratildeo trazer para o grande grupo uma ou duas cenas disparadas construiacutedas com esses aperitivos Fica bom assim O que vocecircs acham

ndash Acho que natildeo entendi direito o espetaacuteculo vai ser apenas sobre esse periacuteodo de 84 a 86

ndash Natildeo natildeo Isso que vamos trabalhar hoje eacute apenas um platocirc Pra facilitar nosso trabalho eu dividi o territoacuterio NuTE ndash seus 18 anos de produccedilatildeo ndash em cinco platocircs

I ndash No Princiacutepio era a Muacutesica Tecircxtil GostanteII ndash Exuberante Cronologia Espetacular

Do Teatro Experimental e do Teatro Escola Nuteanescos

III ndash Do NuTE ao NUTe como um Nuacutecleo de Teatro Experimental vem a ser um Nuacutecleo de Teatro Escola

IV ndash Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas JOTE-Titac

V ndash Conversa de Bar para quem gosta de tomar umas conclusotildees bem geladas ndash ahhhaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacute

ndash O que vamos trabalhar hoje eacute apenas um destes

ndash Como vai funcionar A gente pode escolher os aperitivos

ndash Acho que sim natildeo vejo problema Na verdade o que eu tenho aqui satildeo jogos de aperitivos Cada jogo eacute composto por um ou dois recortes de jornal uma ou duas fotos de trecircs a sete trechinhos de entrevistas as atividades do NuTE de determinado ano e algumas vezes um documento aleatoacuterio que pode ser uma partitura de um curso dado uma aula coisas assim A proposta eacute que cada grupo trabalhe em torno de um desses jogos Eu tinha pensado em sortear mas se todos concordarem em escolher e ficar bom acho que pode ser sim Vamos ver se daacute certo Deixa ver quantos grupos temos Dois trecircs Satildeo trecircs grupos Eu tenho aqui cinco jogos oacutetimo vou colocar os jogos aqui e cada grupo pode manusear e escolher o seu

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SEGUNDO

ENSAIO

Caro leitor os mesmos aperitivos cecircnicos que

foram entregues aos atores estatildeo sendo entregues

a vocecirc Suas possibilidades de atuaccedilatildeo satildeo muacuteltiplas

Caso vocecirc queira criar uma cena seguindo a proposta

de Alexandre Venera basta escolher o seu jogo de

aperitivo Para acessaacute-lo haacute duas opccedilotildees

1 Porta Cartas localizado dentro do Box NuTE

cartografia de um teatro Nele vocecirc vai encontrar

aperitivos em duas cores escolha neste momento o de cor vermelha

2 DVD Experimentando NuTE onde aleacutem dos aperitivos

cecircnicos vocecirc vai descobrir a versatildeo digital do livro

esta versatildeo lhe permite acessar com apenas um

clique ndash se vocecirc estiver conectado a internet ndash todos

os endereccediloslinks contidos no livro experimente

Contudo caso lhe pareccedila mais interessante tambeacutem

eacute possiacutevel continuar sua leitura usando os jogos de

aperitivos como um apoio manuseando-os conforme

aparecem na narrativa como uma espeacutecie de parte

aberta do livro Ou ainda simplesmente esquecer

os jogos de aperitivos cecircnicos e seguir a leitura

livremente deitado em sua rede ou no sofaacute como lhe

parecer mais agradaacutevel para assim num momento

de sua preferecircncia saborear com calma as imagens-

registros que disparam a Composiccedilatildeo de Mundos nas

proacuteximas paacuteginas Entre tantas outras possibilidades

acreditamos que a melhor eacute exatamente esta que

vocecirc estaacute comeccedilando a jogar

vaacute em frente bom experimento

APERITIVOS CEcircNICOS eou nutrientes para

composiccedilatildeo de mundos

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SEGUNDO

ENSAIO

Composiccedilatildeo de Mundos

Caro leitor como vocecirc deve ter percebido acatei a sugestatildeo que me foi feita na paacutegina 71 Ou seja estou tentando descrever o que acontece durante os ensaios Caso vocecirc esteja notando que algo me passa despercebido por favor toda colaboraccedilatildeo eacute bem-vinda Tem uma caneta bem aiacute do seu lado Se bem que seria melhor um laacutepis Talvez vocecirc seja da opiniatildeo que rascunhos se escrevam a laacutepis Ou seraacute que vi isso num filme Bem de qualquer forma o que estou assistindo aqui eacute o seguinte

Cada um dos trecircs grupos ensaia num espaccedilo reservado Camarim Palco do Grande Auditoacuterio Corredor em Frente aos Banheiros Depois de alguns cigarros Alexandre comeccedila a circular entre eles

No Palco do Grande Auditoacuterio o grupo planeja suspender um ator Alexandre gosta muito da imagem pergunta como faratildeo a suspensatildeo O grupo responde que usaraacute uma corda Alexandre questiona se a corda seraacute do tipo falante ou se estaraacute dormindo Parabeniza o grupo

No Camarim os trecircs atores chutam uns aos outros Alexandre sorri e retorna em silecircncio se esforccedila para natildeo atrapalhar o momento da improvisaccedilatildeo

No Corredor um ator deitado no chatildeo balbucia espasmos proacuteximos aos de uma crise epileacuteptica Na mesma cena mas numa ponta do corredor bem em frente ao bar do teatro um segundo ator repete ldquoesses grupos vatildeo

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SEGUNDO

ENSAIO

deixar de ensaiar ensaiar ensaiar e nunca apresentarrdquo Ele usa a frase ndash sussurrando gritando em meio agrave gargalhadas ndash para se aproximar e para se distanciar do ator deitado Um terceiro ator sentado na escada ao lado do bebedouro realiza um movimento que lembra algueacutem interpretando uma canccedilatildeo popular com um violatildeo Impressionado com a cena Alexandre passa a matildeo no cabelo e no nariz Quando o grupo faz uma pausa elogia a energia com a qual estavam trabalhando Pergunta qual foi o Aperitivo Cecircnico escolhido pelo grupo e eles indicam o jogo 2 Alexandre manuseia o Aperitivo Cecircnico N2 e emite um ldquoAh Legalrdquo Por fim pede ao grupo que experimente um pouco mais com palavras-frases

Retornando ao Camarim os trecircs atores improvisam com miacutemica o que parece o trabalho de operaacuterios em uma faacutebrica Alexandre assiste a toda improvisaccedilatildeo Durante a pausa pergunta o que aconteceu com os chutes O grupo responde que era apenas uma teacutecnica de aquecimento que natildeo pretendem utilizar para a composiccedilatildeo das cenas Alexandre conta a histoacuteria de uma invenccedilatildeo polecircmica a maacutequina de dar chutes

No grande auditoacuterio dois atores improvisam uma cena romacircntica que logo se transforma em pequenos desentendimentos afetivos evoluindo para oacutedio e agressatildeo Alexandre descobre que o grupo ensaia o Aperitivo Cecircnico N3 Ainda curioso resolve questionar o fragmento disparador da cena O grupo aponta para o seguinte trecho de entrevista

() ele sempre trazia dados teoacutericos em forma de jornaizinhos panfletos xerox ou verbalizando diretamente para os grupos que dirigia E aleacutem disso era criacutetico e extremamente criativo Foi tambeacutem incontestavelmente o mentor e organizador da ideia de efetivamente comeccedilar-se a fazer teatro num preacutedio chamado de ldquoteatrordquo Portanto o Alexandre eacute sem duacutevida ndash no sentido figurado ndash o ldquopairdquo do NuTE

Eacutedio ndash Interessante E quem seria a matildee

Wilfried ndash Bem igualmente no sentido figurado eacute provaacutevel que tenha sido eu Talvez eu tenha pego a crianccedila no colo e a alimentado no momento do abandono e a mantido viva neste periacuteodo de fragilidade Com toda a ajuda do Aacutelvaro Diogo Iraci Roberto Sandra e Valdir ndash obviamente - que chegaram ateacute o fim do primeiro curso e foram os atores e as atrizes da primeira montagem genuiacutena de um grupo efetivo do NuTE ndash a ldquoPantomimasrdquo (entrevista 3 com Wilfried paacuteginas 2-3)

O diretor aprova e entusiasmado incita o grupo a abrir a cena Um dos atores toma a palavra e comenta que aquela sequecircncia havia acabado de surgir que foi a primeira tentativa-experimento com o recorte-entrevista Alexandre elogia a ldquosacada-cecircnicardquo e sugere ao grupo exploraacute-la numa velocidade menor ndash a mais lenta possiacutevel - ele repete algumas vezes ldquoa mais lenta possiacutevelrdquo para que assim aos poucos os demais fragmentos do jogo sejam incorporados

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SEGUNDO

ENSAIO

Alexandre manuseia o Aperitivo Cecircnico N3 ateacute encontrar uma foto que separada por ele do jogo eacute citada como exemplo

O diretor acredita que uma boa acoplagem desta foto com o momento que ele prefere chamar Gostante ao inveacutes de Romacircntico potencialize a cena Um ator questiona o termo Gostante Alexandre explica que Amante eacute que natildeo poderia ser porque as pessoas se gostavam mas amar seria coisa diferente jaacute o termo romacircntico pode dar uma ecircnfase desnecessaacuteria a determinado periacuteodo classificado assim pela histoacuteria das artes O grupo concorda acata as sugestotildees e comeccedila a trabalhar

No Camarim o jogo de miacutemica comeccedila a tomar forma O grupo interpreta uma equipe de teatro infantil que estaacute montando um espetaacuteculo de Maria Clara Machado Tudo leva a crer que se trata de Pluft o Fantasminha De repente em meio a esse ensaio aparecem dois novos

Iraci Potrikus Wilfried Krambeck e

Alexandre Venera dos Santos

personagens Trata-se de Wilfried Krambeck e Iraci Potrikus Um deles passa a cuidar do som e o outro a cuidar da iluminaccedilatildeo do espetaacuteculo O grupo se esforccedila para demonstrar que essa foi a entrada dos dois personagens na trupe e que ainda natildeo se trata de NuTE No espelho do camarim escrevem GATE ndash Grupo de Teatro da ADR Sulfabril

Saindo do camarim Alexandre resolve fumar mais alguns cigarros Ao fumar comenta a importacircncia que algumas empresas tecircxteis da regiatildeo tiveram no fomento da cultura local Cita como exemplo o Grupo de Teatro Amador da Artex o Grupo de Miacutemica da ADR Sulfabril fundado pelo Wilfried e o proacuteprio GATE muito influenciado e inuacutemeras vezes apoiado por Carlos Jardim Diz que pessoas importantes da cena teatral blumenauense foram trabalhadores tecircxteis Que atraveacutes de grupos como esses experimentavam teatro e mais tarde acabaram encontrando no NuTE um espaccedilo para se inventar para se Artreinventar

Eu trabalhei vinte e cinco anos na Artex na verdade eu sou um operaacuterio neacute trabalhei vinte e cinco anos na Artex aposentei ali com vinte e cinco anos na aacuterea tecircxtil Mas na eacutepoca fazia teatro na Artex e comecei a estudar eu comecei mesmo a viver o teatro estudar teatro mesmo nessa eacutepoca com Alexandre porque a partir de entatildeo era mais amador aquela coisa assim de fazer por fazer (entrevista com Aacutelvaro paacutegina 3)

Nesse sentido Alexandre complementa haacute um tanto de tecelagem de faacutebrica um tanto de

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Tecircxtil in NuTE Diz que sua proposta inicial com o Hoje Tem Teatro era simplesmente apresentar teatro Lembra que era coordenador de eventos no Teatro Carlos Gomes que os grupos passavam o ano ensaiando mas natildeo apresentavam Seu interesse maior era criar condiccedilotildees para que as encenaccedilotildees acontecessem Como se tratava de um encontro de vaacuterios grupos resolveu chamar esse coletivo para diferenciar dos grupos profissionais da cidade de Nuacutecleo de Teatro Experimental Ao mesmo tempo dentro da Sulfabril Wilfried estava ministrando cursos de miacutemica para funcionaacuterios da empresa

Com a abertura desse espaccedilo experimental Wilfried propotildee trazer para o NuTE alguns desses cursos e Alexandre aceita Muitas pessoas que participaram montando e

apresentando suas peccedilas no Hoje Tem Teatro comeccedilaram a circular no ano seguinte em torno desses cursos Os alunos que Wilfried tinha na Sulfabril tambeacutem satildeo convidados para continuar estudando teatro no NuTE e assim aos poucos comeccedila a se insinuar um nuacutecleo de pesquisa em teatro

Realizado o processo inalatoacuterio Alexandre se dirige ao Corredor Os atores carregados de energia como antes operam nas mesmas posiccedilotildees mas agora num interessante jogo dramaacutetico

Ator 1 ndash Eu entrei como aluno pra estudarAtor 3 ndash MuacutesicaAtor 1 ndash Fiquei estudandoAtor 3 ndash Piano Ator 2 ndash Foi mais ou menos uns quatro anos

adulto jaacute CasadoAtor 3 ndash Violoncelo clarineteAtor 1 ndash Estudei um monte laacute dentro aiacute

durante minha universidade eu peguei emprego laacute de bibliotecaacuterio

Ator 3 ndash Na musicotecaAtor 2 ndash Sempre me dedicando ao que eu

fazia neacute A mulher me convidou pra ser o coordenador de eventos do teatro natildeo primeiro secretaacuterio da

Ator 3 ndash Escola de Muacutesica Ator 2 ndash Acharam que seria a melhor pessoa

pra coordenar eventos artiacutesticos e culturais do teatro que tinha aacuterea de convenccedilotildees

Ator 3 ndash Daiacute durante um ano ou dois Eu fui testemunhando a dificuldade dos grupos amadores da cidade que vinham ensaiar

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SEGUNDO

ENSAIO

ensaiar e daiacute natildeo apresentavamAtor 2 ndash Ficava o uso do teatro inuacutetil neacute Ator 3 ndash Onde daiacute eu ldquoporrardquo Vou dar uma

matildeo pra elesAtor 2 ndash Eu tenho assessoria de imprensa

tenho a agenda pauta do teatro pego as datas que tatildeo mais ruins assim Nenhum empresaacuterio quer taacute sobrando

Ator 3 ndash Vou aproveitar o espaccedilo do teatroAtor 1 ndash Aiacute onde comecei a compor uma

espeacutecie de roteiro mensal de datasAtor 3 ndash Entrevista comAtor 2 ndash Alexandre VeneraAtor 1 ndash Paacutegina 26

Durante todo o processo os atores satildeo banhados por ressonacircncias fotograacuteficas do que parece ser um Coral de Clube Caccedila e Tiro Toda a cena eacute realizada num intempestivo diaacutelogo com a projeccedilatildeo desta imagem

O diretor de forma abrupta interrompe a cena Mesmo se esforccedilando para natildeo

Coral Gesangverein da Sociedade Recreativa e Cultural Salto do Norte de Blumenau Dirigido pelo maestro Kemmel-meier - sentado segu-rando o trofeacuteu Da es-querda para a direita a quarta senhora em peacute Irmgard Globig E da esquerda para a direita o quarto se-nhor uacutenico de oacuteculos Hermann Globig Avoacutes de Wilfried Krambeck uacutenica crianccedila presente na foto Registro reali-zado no Natal de 1971

transparecer um tanto de fuacuteria escorrega pelo canto esquerdo de sua boca quando pergunta o que estatildeo fazendo O grupo responde que tenta dar sequecircncia ao disparo cecircnico utilizando parte do tema platocirc ndash No Princiacutepio era a Muacutesica ndash como tom Argumentam que tanto Alexandre Venera como Wilfried Krambeck satildeo atravessados por uma intensidade musical Alexandre via composiccedilatildeo erudita que pode ser verificada em sonoplastias escritas por ele para espetaacuteculos como O Homem do Capote e Outros Seres Jato de Amor e O Olho Cliacutenico do Coralista Rouco19 e Wilfried via composiccedilatildeo popular que pode ser verificada em canccedilotildees como Natureza Solitaacuterio Elemento Bavaacuteria Bananeira sempre apresentadas em festivais da canccedilatildeo como o Festshow promovido pela Sulfabril e o FUC ndash Festival Universitaacuterio da Canccedilatildeo20 Em meio agrave defesa o grupo utiliza a maacutexima nietzschiana de que ldquoa vida sem muacutesica seria um errordquo e finaliza dizendo que talvez o NuTE seja um ovo musical

O diretor deixando transparecer o aborrecimento pergunta ao grupo como foi que conseguiram retirar o projetor multimiacutedia de dentro do seu carro jaacute que o mesmo estava trancado O grupo percebe que a cara amarrada do diretor natildeo estava conectada agrave cena mas sim agrave utilizaccedilatildeo do recurso eletrocircnico Os atores sorriem aliviados e explicam que Juliana Teodoro ex-atriz do NuTE e atual companheira de Alexandre passando e assistindo agrave cena sugeriu a utilizaccedilatildeo do recurso que prontamente foi buscar no carro e lhes emprestou

19Para ouvir Noite Ferra-da ndash trecho da sonoplastia de O Homem do Capote ndash acesse o endereccedilo wwwnutecombracervonoi-te_ferradamp3

20Wilfried Krambeck gentilmente organizou um cronograma a respeito de sua trajetoacuteria musical O documento encontra-se agrave disposiccedilatildeo em wwwnute-paratodosfileswordpresscom201009minha-trajetoria-musicalpdf

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ENSAIO

Alexandre se convence pede desculpas pela cara amarrada e verifica com o grupo a possibilidade de assistir a cena novamente Os atores repetem toda a sequecircncia Alexandre comenta que eles estatildeo muito perto de desencadear uma partitura Fica tatildeo satisfeito com o andamento dos ensaios que resolve comemorar fumando mais um cigarrinho O grupo vai junto aproveitando a porta entreaberta ao lado do bebedouro Em meio agrave conversa Juliana Teodoro retorna e comenta com Alexandre que minutos atraacutes quando presenciou a accedilatildeo lembrou-se dos experimentos da Estereocena21 Um dos atores interessado questiona o que seria a Estereocena Juliana responde que se trata do meacutetodo de trabalho que Alexandre vinha desenvolvendo no NuTE O mesmo ator acha curioso o conceito de ldquoesteacutereordquo pergunta que relaccedilatildeo haveria com o teatro Alexandre explica

Esteacutereo como as caixas de som que satildeo levemente afastadas pra reproduzir o som que foi captado tambeacutem por dois microfones () tu sentes mais ou menos que vamos dizer a guitarra da banda de roque taacute vindo daqui o baixista taacute aqui a bateria no meio o vocal tu sentes pelo esteacutereo o volume onde estatildeo os muacutesicos de onde estaacute vindo o som neacute E esteacutereo vem de cuacutebico medida de um metro cuacutebico da madeira eacute um esteacutereo neacute E assim como o microfone capta esses dois sons e eacute o mesmo som mas ele consegue atraveacutes de um artifiacutecio mecacircnico reproduzir aquele ambiente onde a gente sabe que o aviatildeo raacuteaacuteaacuteaacuteaacute Sai daqui e passa pra laacute no esteacutereo tu sente essa passagem

21 O conceito comeccedila a ser desenvolvido em 1990 durante o Desa-fio Macbeth ndash jogos ela-borados por Alexandre para construccedilatildeo do espetaacuteculo Macbeth uma interferecircncia na histoacuteria leitor encon-tra um interessante documento dessa eacutepo-ca sobre a Estereoce-na no link wwwnutecombracervo0_sobreMacbeth_cjpg Alguns anos mais tar-de em 1997 Alexan-dre propotildee a um grupo de alunos da Escola NUTe um experimento de imersatildeo com Este-reocena Durante um mecircs inteiro permane-cem acampados no Siacute-tio Fazendarado En-contramos parte deste experimento gravado em duas fitas cassete que foram convertidas para Mp3 e disponi-bilizadas nestes qua-tro endereccedilos wwwnutecombracervofita1ladoAmp3 wwwnutecombracervofita1ladoBmp3 wwwnutecombracervofita2ladoAmp3 wwwnutecombracervofita2ladoBmp3 Caso o leitor pro-cure por uma siste-matizaccedilatildeo a respeito da Estereocena reco-mendamos o seguinte documento datado de setembro de 2000 wwwnutecombracervo99_06_26_cur-so_1jpg

A hora que a gente vai juntar com a palavra cena () A cena eacute o nuacutecleo o ponto baacutesico do teatro eacute atraveacutes de cenas que se monta uma peccedila de teatro a cena eacute o momento maacuteximo ou miacutenimo de uma accedilatildeo e entatildeo o teatro eacute baseado na cena (entrevista com Juliana Teodoro e Alexandre Venera paacuteginas 37 e 38)

Um ator pede cigarro Alexandre oferece o maccedilo Ele retira um Acende Enquanto fuma sorri Ao final do cigarro quando todos jaacute retornavam ao Corredor tenta parafrasear Nietzsche dizendo que ldquosem a muacutesica o NuTE seria um errordquo Alexandre questiona a equivalecircncia moral de certo versus errado O ator sustenta sua apropriaccedilatildeo de erro como ausecircncia Acredita que se natildeo fosse uma vontade de muacutesica em Wilfried bem como uma vontade de muacutesica em Alexandre o NuTE se viesse a existir mesmo assim seria qualquer outra coisa menos o NuTE Um ator natildeo fumante ironiza a utilizaccedilatildeo do conceito de vontade segundo ele uma aplicaccedilatildeo incoerente Os atores jaacute no Corredor iniciam um debate filosoacutefico sobre a Vontade de Poder Alexandre segue para o Palco do Grande Auditoacuterio Juliana se despede

Ao entrar pela plateia o diretor eacute surpreendido por dez cordas falantes Dois atores conversam cada qual em uma suspensatildeo com cinco cordas O primeiro se relaciona com elas de forma numeacuterica ndash suas cordas vatildeo de 1 a 5 - jaacute o segundo de forma literal ndash suas cordas vatildeo de A a E

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SEGUNDO

ENSAIO

Ator 1 ndash E ano novo virou e Corda 3 ndash JaneiroAtor 1 ndash Fazer o quecircCorda 3 ndash Fevereiro marccedilo abrilAtor 1 ndash Ningueacutem pensava NuTECorda 1 ndash Ah vamos fazer outro Natildeo sei

o quecirc Corda 2 ndash Vamos fazer um curso de miacutemica

pantomimaCorda 4 ndash Natildeo noacutes queremos nos reunir e

manter essa ideia NuTE Ator 1 ndash O Wilfried com trecircs quatro

Continuou NuTE natildeo parou entende Por mim talvez tivesse parado

Corda 2 ndash Ou pelo Teatro Corda 4 ndash Natildeo havia muitoAtor 1 ndash Aiacute 1985 um curso tambeacutem

trouxemos o Trouxemos o pessoal do Teatro Guaiacutera pra dar aula e os professores alunos do Teatro Guaiacutera

Corda 4 ndash Entrevista com AlexandreCorda 2 ndash VeneraCorda 3 ndash Paacutegina 24

Espetaacuteculo Alegoria ao Vamos ao Teatro uma das peccedilas apresen-tadas no projeto Trecircs Terccedilas Tem Teatro em 1986 Na plateia Valdir Lopes Junior Leandro de Assis e De-liane Travasso Sus-pensos pelas cordas Dennis Raduumlnz ndash re-presentando Maacuterio ndash e Tanise Creuz ndash repre-sentando Nete

O diaacutelogo acontece envolto no que os atores nominam Saudosismo Gostante O diretor chega a questionar a interpretaccedilatildeo das cordas segundo ele um tanto forccedilada beirando o clichecirc do canastratildeo Mas o grupo sustenta que a proposta eacute justamente esta que tal encenaccedilatildeo seria proposital O diretor aceita O proacuteximo diaacutelogo gravita em tonalidades bem diferentes sensaccedilotildees de intriga quase rancor tomam conta do ar

Ator 2 ndash O Wilfried em 1984 vinha como convidado

Corda A ndash Como um grupo convidadoCorda B ndash Como teve outros gruposCorda C ndash Tu vai ver os programasCorda B ndash Soacute que a afinidade com o que eu

tava tentando fazerAtor 2 ndash Aiacute ele pegou o NuTE pra ele ele

ficou um meio ano com o NuTE soacute pra eleCorda A ndash Tipo comCorda B ndash MeuAtor 2 ndash Eu natildeo queria arrumar encrenca

sabeCorda A ndash E natildeo era NuTE era qualquer

coisa podia ser E acabou ficando NuTEAtor 2 ndash Ele ficou um Praticamente um

ano ficou na matildeo dele logo no comeccediloCorda B ndash Entrevista com Alexandre Venera

paacutegina 17

Terminado o segundo diaacutelogo o foco da cena volta a ser o Ator 1 e suas cordas numeacutericas O sentimento de intriga e rancor fica mais forte agrave medida que o diaacutelogo vai acontecendo Nas uacuteltimas frases eacute possiacutevel perceber oacutedio

Foto

Ace

rvo

Nu

TE

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SEGUNDO

ENSAIO

Ator 1 ndash No entender dele vocecirc fazia uma produccedilatildeo de

Corda 3 ndash ArtaudAtor 1 ndash Uma produccedilatildeo doCorda 3 ndash BrechtCorda 1 ndash E vocecirc ia aprender ia se formar

assim com ilhas digamos conhecendo sempre cada ilha uma nova ilha uma nova ilha pra ter um continente no final

Corda 2 ndash E aiacute onde a gente divergia eu achava que vocecirc tem que ter uma base depois um aprimoramento e sempre do todo

Ator 1 ndash Entatildeo quer dizer todas as linhas vocecirc vai pegar o

Corda 3 ndash Teatro gregoAtor 1 ndash OCorda 3 ndash Teatro romanoCorda 4 ndash E o baacute-baacute-baacuteCorda 3 ndash O medievalCorda 4 ndash E pam-pam-pamAtor 1 ndash E vai chegando Ateacute chegar na

NoCorda 3 ndash Absurdo Corda 4 ndash E ou OCorda 3 ndash Teatro contemporacircneoAtor 1 ndash Dependendo das linhas neacute do Corda 3 ndash Teatro Ator 1 ndash Que se fazia aqui e no oriente e no Corda 4 ndash Paacute-paacute-paacute Ator 1 ndash Eu entendia assim Corda 4 ndash Entrevista 2 com Wilfried paacutegina

17

No quarto diaacutelogo a coacutelera atinge as cordas Urros gritos um frenesi histeacuterico banhado em oacutedio e ressentimento Os dois atores e as dez cordas interagem

Ator 2 ndash Balanccedila a cabeccedila ah balanccedila a cabeccedila acorda acorda

Corda 1 ndash Corda natildeo tem cabeccedila babaca Corda A ndash (cantando) Minhoca minhoca

me daacute uma beijocaAtor 1 ndash Corda nenhuma vai me amarrar

natildeo importa se satildeo numeacutericas se satildeo literais Natildeo vou viver preso natildeo vou

Corda B ndash Mas que bobagem o que eacute a liberdade senatildeo uma prisatildeo com mais espaccedilo Aleacutem do mais vocecirc precisa de mim sem a minha estrutura sem a minha base vocecirc natildeo pode voar

Ator 2 ndash Acorda vocecirc precisa acordaAtor 1 ndash Vou voar a partir de mim mesmo e

meu voo seraacute ApocaliacutepticoCorda 2 ndash Estamos avisando eacute melhor vocecirc

colaborar porque se natildeo for por acordo vai ser por corda

Corda D ndash Vamos economizar cortes e enforcaacute-lo de uma vez por todas chega desse papo aranha

Ator 2 ndash Oh Alice acorda Acorda Alice(todas as cordas riem) Ator 1 ndash Homem Paacutessaro Corda 3 ndash BUROCRACIA Corda C ndash OrdemCorda B ndash O que permite o prazer eacute a leiCorda 2 ndash Lineares degraus da escada que

se sobe passo a passo passo a passo passo a passo

Corda A ndash Algueacutem viu o encordamento do meu violatildeo

Ator 2 ndash Acorda acorda Nossa que pesadelo terriacutevel finalmente acordei

Corda B ndash Vocecirc eacute apenas uma marionete

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SEGUNDO

ENSAIO

quem te move satildeo as cordasAtor 1 ndash NatildeoCorda 3 ndash Noacutes Somos noacutes que movemos o

mundoCorda 1 ndash Todo Poder agraves CordasCorda A ndash (cantando Sinnerman de Nina

Simone) Power Power PowerAtor 2 ndash Do que vocecircs estatildeo brincando

Posso brincar tambeacutemCorda C ndash De acordo Atores vocecircs aceitam

ou natildeo obedecer agraves cordasAtor 2 ndash Eu aceitoAtor 1 ndash Eu lhes anuncio o Aleacutem do Ator

O que eacute a emotividade em comparaccedilatildeo com a maacutequina senatildeo riso e escaacuternio Oh meus irmatildeos existe ainda muito de emotivo em voacutes Acaso vos digo para que volteis a se emocionar Natildeo Eu vos ensino a Supermarionete O Ator eacute superaacutevel O que tens feito ateacute hoje para superar a ti mesmo O Ator eacute uma corda estendida entre a Emotividade e o Aleacutem do Ator A Supermarionete eacute o sentido do teatro fazei com que sua vontade diga a Supermarionete eacute o sentido do teatro Assim falava o Ator 1

Corda B ndash Para salvar o teatro eacute preciso destruir o teatro os atores e as atrizes devem todos morrer de peste Eleonora Duse

Corda D ndash Agora que estamos entre amigos uma pergunta se somos noacutes que movemos os atores afinal de contas quem manipula as cordas

Corda 1 ndash DeusCorda D ndash Pensei que ele estivesse mortoCorda 1 ndash Sim sim aquele Deus criado

pelos homens jaacute faz tempo dizem que morreu estrangulado por sua proacutepria compaixatildeo mas o nosso Deus a Deusa Corda eacute eterna

Corda B ndash Corda a deusa Corda(todas as cordas Corda a deusa Corda

Corda a deusa corda Corda a deusa corda)Corda 4 ndash Isto natildeo eacute uma entrevista Estamos

na paacutegina 99 do Segundo Ensaio

Visivelmente impressionado com a cena o diretor me pergunta por trecircs vezes se consegui anotar as falas Respondo que alguns trechos escaparam dada a velocidade com que os diaacutelogos aconteceram mas que anotei tudo que pude Comenta com o grupo que para uma boa parte dos estudiosos de teatro natildeo seria difiacutecil aproximar alguns espetaacuteculos do NuTE a uma esteacutetica simbolista o que realmente abriria a possibilidade de cavar essa influecircncia de Gordon Craig com conceitos como o de supermarionete Parabeniza o grupo Um dos atores questiona se a grande influecircncia simbolista do NuTE natildeo viria de Grotowski Alexandre responde que o encenador polonecircs foi essencial para muitas montagens do NuTE um dos pratos principais sem duacutevida Mas que isso natildeo diminui a importacircncia nutritiva de outras refeiccedilotildees como Gordon Craig Artaud Schechner Brecht Heiner Muumlller Meyerhold Bob Wilson

O diretor propotildee visualizar o NuTE como uma tribo de antropoacutefagos Em meio agraves gargalhadas disparadas pelo canibalismo nuteano ndash imagens de uma antropofagia teatral ndash um ator permanece sisudo Assim que a onda de riso comeccedila a baixar ele questiona se natildeo seria exatamente essa a discussatildeo que suscita a cena

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SEGUNDO

ENSAIO

das cordas fazer pensar aquilo que nos prende e ao mesmo tempo alimenta que nos manipula e faz voar que permite criar e aprisiona Sem cordas como Artaud Grotowski Bob Wilson Craig o NuTE natildeo seria NuTE

Alexandre argumenta que pensando assim ficariacuteamos presos ndash amarradosalimentados ndash a uma dialeacutetica panoacuteptico-antropofaacutegica que pode ser uacutetil pode ajudar a levantar um espetaacuteculo mas esse natildeo seria um espetaacuteculo sobre o NuTE O ator ainda seacuterio pergunta qual o motivo disso e Alexandre comenta que esse conceito-corda nos amarra em dois problemas Um problema experimental e um problema interpretativo Com muita paciecircncia e didaacutetica houve um momento que precisou demonstrar com laranjas explica que NuTE soacute era

() experimental porque natildeo haviam leis () Hoje tem a lei e jaacute natildeo eacute mais experimental o ator hoje taacute fodido ele tem que seguir tal lei tal foacutermula ele vai empregar tal meacutetodo e o modo dele chegar laacute no final jaacute taacute demarcado Entatildeo virou mais uma espeacutecie de prisatildeo Tendo muitas ferramentas pra se aprisionar e natildeo pra se libertar () Porque qualquer forma de lei eacute forma de criar limites ou patamares ou entatildeo apoios No momento em que a pessoa taacute se apoiando ou criando apoios ela taacute segura ela taacute tranquila quer dizer nessa proteccedilatildeo existe uma espeacutecie de lei em que ela taacute sendo dominada (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 6)

Jaacute o problema interpretativo continua Alexandre surge quando a cena mesmo experimental como acabou de ser eacute direcionada por esse conceito Tomando a si mesmo como

exemplo desenvolve o argumento ldquoQuando assisti haacute pouco agrave cena de vocecircs fui arrebatado por uma centena de imagens lembranccedilas dos meus passados dos meus futuros das coisas que nunca fui e de algo que venho deixando de ser pude me abandonar por alguns instantes e isso eacute oacutetimo mas se eu estivesse assistindo agrave cena com esse conceito no bolso o que vocecircs acham que teria acontecido comigo Que experiecircncia eu poderia ter Eu seria direcionado empurrado aprisionado amarrado em uma mono-interpretaccedilatildeo Vocecircs percebem o problema disso Se vamos fazer teatro para aprisionar as pessoas nelas mesmas eacute melhor natildeo fazer Se obrigamos nossa plateia a interpretar uma cena atraveacutes de um uacutenico sentido nosso teatro natildeo serve pra nada Teatro natildeo eacute catequese O mais importante eacute que cada um possa experimentar o NuTE do seu jeito Eacute oacutebvio que esse lsquojeitorsquo de experimentar envolve uma seacuterie de coisas o cara vai fazer isso a partir do corpo que ele vem ajudando a construir pra si proacuteprio Tem um povo que chama isso de corpo sem oacutergatildeos Mas essa montagem tambeacutem eacute experimental agraves vezes natildeo daacute certo e o cara natildeo consegue nada natildeo acontece nada com ele natildeo passa nada por ele o corpo simplesmente trava Ele taacute ali assistindo a um puta espetaacuteculo e soacute consegue ficar entediado fica pensando na pizza que vai comer com os amigos depois que a peccedila terminar Noacutes natildeo podemos em detrimento ou por compaixatildeo dos que soacute conseguem pensar na pizza facilitar o acesso porque assim acabamos impondo um uacutenico acesso a todos Isso natildeo

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eacute arte eacute fascismo Agraves vezes a democracia eacute extremamente fascista Hoje eacute moda criticar o teatro comercial Nunca vi problema em se ganhar dinheiro fazendo teatro O problema eacute fazer teatro para impor verdades que ningueacutem tem certeza se satildeo mesmo verdades ou se satildeo deliacuterios compartilhados por um grande nuacutemero de pessoas Noacutes natildeo somos padres somos artistas Por isso quanto mais aberta mais ampla mais plural for nossa arte mais possibilidades de interpretaccedilatildeo teraacute o nosso puacuteblico melhor seraacute o nosso espetaacuteculo Vocecircs compreendem o que eu digordquo Em coro os atores dizem ldquoSim senhorrdquo e batem continecircncia agraves gargalhadas Alexandre natildeo gosta da brincadeira resmunga algo incompreensiacutevel e abandona o ensaio dizendo que natildeo vai mais dirigir ldquoporcaria nenhumardquo Insiste nas frases ldquovatildeo tomar no curdquo e ldquonatildeo dirijo mais essa merdardquo Os atores estupefactos sem saber o que fazer olham uns para os outros o silecircncio pesado e absurdo dura longos segundos ateacute que todos os olhares cruzando o meu cobram uma saiacuteda ou ao menos um sentido provisoacuterio ao acontecimento Eu balanccedilo as matildeos e a cabeccedila atordoado numa gesticular tentativa incapacitada de direcionar a cena Por fim digo-lhes que tambeacutem natildeo sei o que fazer Peccedilo para que aguardem alguns minutos enquanto procuro Alexandre no Corredor e no Camarim

Quando entro no Camarim encontro os atores sentados em ciacuterculo no chatildeo conversando a respeito do projeto 3 Terccedilas Tem Teatro Interrompo o diaacutelogo para

perguntar se Alexandre havia passado por ali Eles respondem que natildeo e querem saber se eu havia compreendido a diferenccedila entre o Hoje tem Teatro e o 3 Terccedilas tem Teatro Nesse instante noto que o espelho do Camarim estaacute completamente preenchido com coacutepias do mesmo cartaz

Informo o grupo sobre o sumiccedilo repentino de Alexandre e sugiro que retornem ao Palco do Grande Auditoacuterio para conversarmos os trecircs grupos juntos Saio em direccedilatildeo ao Corredor acompanhado por um dos atores que retoma a pergunta anterior Caminhando agrave procura de Alexandre digo que minha impressatildeo eacute a de que natildeo existem dois mas sim um uacutenico projeto com dois nomes diferentes Inicialmente em dezembro de 1984 era Hoje Tem Teatro e quando retomaram o projeto em 1986 chamaram de 3 Terccedilas Tem Teatro Natildeo consigo prestar muita atenccedilatildeo na conversa a cada sala que passamos entro e procuro Alexandre O ator que natildeo para de falar um segundo tenta me convencer de que o JOTE-Titac ndash Jogos de

Cartaz produzido por Flaacutevio Meirinho

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SEGUNDO

ENSAIO

Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas ndash seria uma continuaccedilatildeo desse projeto Respondo que podemos pensar numa certa influecircncia mas que existem muitas outras forccedilas atuando na invenccedilatildeo do JOTE-Titac E que teremos um momento mais adequado para fazer essa discussatildeo Ele insiste que sem aquele projeto inicial natildeo seria possiacutevel chegar ao formato dos Jogos de Teatro acredita que tambeacutem a escola de teatro do NUTe tenha origem nesse projeto

Numa respiraccedilatildeo dele consigo emitir alguns sons proacuteximos de ldquosua interpretaccedilatildeo me parece um tanto apressadardquo ele natildeo ouve e continua falando fala cada vez mais e mais raacutepido Quer me convencer a todo custo natildeo sei bem porquecirc de sua estranha teoria sobre o comeccedilo do NuTE Na opiniatildeo dele em 1984 antes do NuTE o que havia era apenas uma ideia na cabeccedila do entatildeo coordenador de eventos do Teatro Carlos Gomes o Hoje tem Teatro Esse coordenador queria provocarfomentar apresentaccedilotildees teatrais e para isso convida os grupos de teatro da cidade e sugere que cada grupo monte em apenas dois meses um texto curto para apresentar sem custo nenhum no palco do grande auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes Ele me pergunta se tenho ideia do preccedilo que o Teatro Carlos Gomes cobra por apresentaccedilatildeo nesse espaccedilo Tento responder mas ele estaacute com a boca entupida de palavras precisa falar e falando me diz que em 1985 o que aconteceu foi que o diretor do grupo de miacutemica da ADR Sulfabril Wilfried Krambeck (o mesmo que trouxe o espetaacuteculo

de encerramento do Hoje Tem Teatro) comeccedilou dentro do Teatro Carlos Gomes a desenvolver um curso de miacutemica que vinha realizando na Sulfabril Resolveu em parceria com Alexandre Venera acoplar a esse curso jaacute que o curso poderia ter o nome dele ou qualquer outro o mesmo NuTE que havia realizado o Hoje Tem Teatro Ao final desse curso os atores montam o espetaacuteculo Pantomimas e nesse ano natildeo ocorre Hoje Tem Teatro Mas o Pantomimas aparece como espetaacuteculo do NuTE Logo no ano seguinte o final do curso volta a ser o Hoje tem Teatro com a diferenccedila de ser chamado de 3 Terccedilas Tem Teatro e fundamentalmente com a diferenccedila de que agora quem se apresenta satildeo apenas os alunos do curso

O ator metralhadora cuspindo doze palavras por segundo quase sem ar pergunta um instante antes de tomar focirclego ldquoNatildeo seria muita coincidecircncia no final do curso de teatro dado pelo NuTE de 1987 aparecer o JOTE-Titac com elementos tatildeo proacuteximos do Hoje Tem Teatro tempo reduzido para montagem textos curtos apresentaccedilotildees de vaacuterios grupos em apenas um dia E com relaccedilatildeo agrave escola de teatro do NUTe sem o Hoje Tem Teatro Wilfried teria aproximado seus cursos de miacutemica do Nuacutecleo de Teatro Experimentalrdquo

Aproveito a respiraccedilatildeo do ator para mais uma vez comentar sua pressa em concluir um roteiro aberto Um roteiro que perde muito quando aprisionado num comeccedilo meio e fim de causas e efeitos Ele natildeo compreende tento novamente dizendo que apesar de um gosto

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popular pelas novelas e romances em que tudo linearmente comeccedila se desenvolve e termina em momentos precisos na vida real as tramas satildeo bem mais complexas Nem sempre uma coisa leva a outra geralmente eacute um emaranhado de redes que forccedila algo a acontecer Tomo como exemplo as atividades desenvolvidas jaacute em 1985 pelo NuTE

0905 ndash Palestra com os atores Pepita Rodrigues e Eduardo Dolabella 1305 ndash Workshop sobre O Comportamento do Elemento no Grupo Teatral (Arte em Grupo) com o Prof Thiers Camargo (do Grupo Sia Santa de CampinasSP) 0606 ndash Palestra com os atores do Grupo La Nave Vaacute [Vagrave] 2706 a 2312 ndash Curso de Miacutemica e Pantomima com o Prof Wilfried Krambeck 12 a 1409 ndash Primeiro Seminaacuterio de Teatro com o Prof Thiers Camargo 09 a 1310 ndash Performances no Estande de Mini-Teatro no IV SALAtildeO BLUMENAUENSE DA CRIANCcedilA 2312 ndash Espetaacuteculo PANTOMIMAS no GATCG

Cada um desses eventos empurrou com a forccedila que conseguia o NuTE numa direccedilatildeo Se o vetor resultante dessas forccedilas naquele ano eacute o que conhecemos hoje natildeo podemos simplificar dizendo que no ponto A comeccedila a mover algo que iraacute passar pelo ponto B e terminar em C Da mesma forma natildeo eacute possiacutevel remeter um acontecimento agrave filiaccedilatildeo direta de uma pessoa O sujeito nunca eacute origem de nada Ele eacute sempre atravessado por uma multiplicidade de forccedilas que o constituem fazendo produzir Tentei falar algo sobre a importacircncia da muacutesica e do teatro tecircxtil para o NuTE mas o ator me interrompeu sorrindo achando impossiacutevel analisar dessa forma porque se assim o fosse todo e qualquer

acontecimento estaria presente forccedilando a histoacuteria do NuTE a ser como ela eacute Eu digo que sim e mais que isso que para aleacutem das muacuteltiplas forccedilas envolvidas no acontecimento o que inventa sentido agrave cena eacute o observador Comento que tudo o que ele fez haacute pouco foi ocupar o lugar de um observador que tentava dar um sentido ao caos das linhas em movimento Ele estranha a ideia de movimento Eu explico que o passado natildeo estaacute parado que ele se move quando tentamos observaacute-lo e complemento dizendo que estou muito mais interessado em uma espeacutecie de geografia ou de arqueologia do NuTE do que propriamente em sua histoacuteria Traccedilar encontrar inventar mapas que ajudem o leitor a sobrevoar paisagens nuteanas eacute isso que estou tentando fazer O ator ironiza meu argumento Natildeo compreende como poderiam as tais forccedilas que estatildeo em disputa caminharem de matildeos dadas rumo ao mesmo vetor Rindo muito ele me pergunta como elas fecham os acordos entre elas Um tanto aborrecido com as piadinhas faccedilo de conta que natildeo ouccedilo a pergunta sempre que vejo uma possibilidade tento me distanciar procurando Alexandre aqui e acolaacute Ele repete a pergunta Novamente natildeo respondo Ele percebe que estou tentando me afastar e levantando a voz pelo pouco de distacircncia que jaacute surgia diz

Ator ndash Como podem essas tais linhas de forccedila que vocecirc diz muacuteltiplas e em duelo permanente estabelecerem um acordo para criar uma paisagem nuteana que possa ser sobrevoada

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SEGUNDO

ENSAIO

Nesse exato instante adentramos ao Corredor A pergunta que chegou antes eacute tomada pelos atores que ali estavam aquecidos na discussatildeo conceitual como parte do jogo cecircnico Iniciam uma improvisaccedilatildeo sobre o tema Interrompo para perguntar sobre Alexandre Como jaacute esperava a resposta foi negativa Explico a situaccedilatildeo e convido o grupo para nos acompanhar ateacute o Palco do Grande Auditoacuterio contente por me afastar finalmente das perguntas fora de hora do ator falante Minha alegria contudo dura apenas umas poucas linhas Assim que comeccedilamos a caminhar mais uma vez ele retornou agrave questatildeo

Ator ndash Como podem essas tais linhas de forccedila que vocecirc diz muacuteltiplas e em duelo permanente estabelecer um acordo para criar uma paisagem nuteana que possa ser sobrevoada

Para minha surpresa um dos atores do Corredor percebendo meu cansaccedilo com a discussatildeo conseguiu costurar uma siacutentese provisoacuteria ao complexo e inesgotaacutevel tema Para esse ator as forccedilas natildeo estabelecem acordos Quem as comanda eacute uma determinada Vontade sua vetorizaccedilatildeo sua siacutentese eacute realizada por essa Vontade ldquoA forccedila eacute quem pode a vontade de potecircncia eacute quem quer () eacute sempre pela vontade de potecircncia que uma forccedila prevalece sobre outras domina-as ou comanda-as Aleacutem disso eacute a vontade de potecircncia ainda que faz com que uma forccedila obedeccedila numa relaccedilatildeo eacute pela vontade de potecircncia que ela obedecerdquo22

O ator perguntante finalmente silencia Vence nele uma forccedila menos ruidosa E assim

22 Deleuze Nietzsche e a Filosofia p 26

chegamos ao Palco do Grande Auditoacuterio Aos trecircs grupos reunidos informo que natildeo consegui encontrar Alexandre em nenhum local do teatro Compartilho a anguacutestia de natildeo saber o que fazer Um ator propotildee que os grupos apresentem uns para os outros como Alexandre inicialmente havia proposto a cena produzida Todos concordam Aproveito para melhorar minhas anotaccedilotildees Ao final das apresentaccedilotildees marco o proacuteximo ensaio para dia 26 de abril de 2015

cena da performance rsquokrsquo na frente marcelo de souza atraacutes silvio joseacute da luz

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TERCEIRO

ENSAIO

TERCEIRO ENSAIO ndash 26 DE ABRIL DE 2015

Domingo e Chuviscos() esperando ateacute as 15h

Imagem Insistente O Excesso

Olho-lacircmina olho-estilete olho-corte olho-navalha olho-faca olho-sangue olho-foice olho-maacutequina-de-roccedilar-grama olho-estripar olho-moto-serra olho-agora-fodeu-tudo Todo o grupo me olhava Alguns chegaram atrasados eacute verdade coisa de cinco a dez minutos mas a grande maioria estava ali desde as 14 horas conforme rezava o contrato Um pouco conversamos um pouco rimos em pouco tempo natildeo havia mais nada Uma uacutenica e excessiva pergunta se espalhava fazendo ranger o silecircncio Alexandre vai continuar dirigindo o espetaacuteculo Se vai onde estaria o desgraccedilado a uma hora dessas se natildeo vai Bom melhor natildeo pensar nisso O atraso dos poucos permitiu explicar por trecircs vezes minha peregrinaccedilatildeo em busca desta resposta assim que cheguei assim que os primeiros atores atrasados chegaram assim que os segundos atores atrasados chegaram Mas agora com toda municcedilatildeo gasta natildeo tinha mais pra onde correr A lacircmina circular dos bem treinados olhares fazia cortar eram finas incisotildees agudas eu as podia sentir

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TERCEIRO

ENSAIO

estridentes transversalizadas em minha pele De nada adiantava repetir as mais de 20 vezes que liguei as tantas que deixei recado ou ainda que pessoalmente estive na casa de Alexandre e que de nenhuma forma consegui encontraacute-lo O silecircncio fazia buraco exigia uma resposta E infelizmente a resposta que veio precipitada e cretina eu concordo foi

ndash Bem pessoal vamos esperar ateacute as 15 horas Se Alexandre natildeo aparecer tenho uma proposta para lhes fazer

O olho-lacircmina foi cedendo lugar ao ciacutenico-olho-interrogativo Nos grupelhos frases sussurradas para que eu ouvisse sem poder ouvir eram abafadas

ndash Esse babaca natildeo vai ter coragem de ndash () mas ele mal sabe escrever quem

diraacute ndash Seria muita arrogacircncia dele acho que

precisamos ndash Na eacutepoca do NuTE sempre foi assim

Alexandre brigava com a gente abandonava os ensaios e depois retornava quem natildeo lembra disso Natildeo podemos permitir agora que esse

Sim a frase que flutuava entre as bocas atuantes me havia escapado Mas nunca me passou pela cabeccedila dirigir o grupo talvez a pressatildeo das lacircminas talvez o silecircncio difiacutecil dizer Agora aleacutem da ausecircncia de Alexandre eu tinha que consertar isso Pra melhorar soacute conseguia pensar na prestaccedilatildeo de contas do projeto no iniacutecio da turnecirc marcada para daqui a dois meses no que iriam dizer nossos

apoiadores se o espetaacuteculo natildeo saiacutesse conforme combinado Seraacute que teriacuteamos que devolver o dinheiro Seraacute que meu nome ficaria queimado para novos projetos Que merda o que fazer O reloacutegio corria 14h43min () 14h49min () 14h55min () 15h () 15h07min () Quando chegou em 15h15min eu havia me transformado num quase budista de quietudes abstratas Um dos atores percebendo resolve abrir a ferida

ndash Parece que Alexandre natildeo vem mesmo Qual seria sua proposta

ndash Na verdade natildeo tenho proposta nenhuma falei para acalmar vocecircs ou para me acalmar natildeo sei ao certo Estou muito ansioso com a prestaccedilatildeo de contas do projeto vocecircs todos estatildeo recebendo seus cachecircs em dia o aluguel desse teatro natildeo eacute barato as refeiccedilotildees as despesas com transporte muita coisa jaacute foi paga mas o que vamos fazer se esse espetaacuteculo natildeo sair Meu receio eacute de que tenhamos que devolver esse dinheiro e isso forccedilosamente vai obrigar cada um de vocecircs a devolver as parcelas que jaacute recebeu

Olho-cifra olho-fraterno olho-noacutes olho-solidariedade Finalmente o grupo me acolhe percebem que o ldquobom andamento do projetordquo natildeo depende apenas de mim Sentamos em ciacuterculo no piso madeirado do palco Conversamos A opiniatildeo era unacircnime Alexandre eacute quem deve dirigir Ningueacutem pode tomar esse lugar Combinamos aguardar seu retorno A grande maioria tinha certeza de que ele iria voltar jaacute que essa natildeo era nem a primeira

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ENSAIO

e nem a segunda vez que Alexandre fazia isso Era mesmo costume dele abandonar os ensaios e depois retornar Mas o que se pode fazer na ausecircncia de um diretor quando ningueacutem se atreve a dirigir Aos poucos foi ganhando forma uma proposta de estudo cuja finalidade seria potencializar as cenas que seriam montadas quando Alexandre retornasse

Assim eles me pediram para que lhes fornecesse algum material novo algo em que estivesse trabalhando nos uacuteltimos dias Eles dedicariam o ensaio de hoje ao estudo desse material e no proacuteximo saacutebado quando Alexandre estivesse conosco assim falavam o utilizariam para composiccedilatildeo das cenas A ideia me pareceu muito boa mas que tipo de material daria conta de uma ressonacircncia dessas A uacutenica imagem que me veio provavelmente pela proximidade havia terminado uma noite antes do ensaio foi a da cronologia dos espetaacuteculos montados pelo NuTE Brevemente expus a pesquisa ao grupo que vibrando com a imagem de acessar numa uacutenica pegada todas as montagens-NuTE insistiam na importacircncia desse material para o espetaacuteculo Como natildeo havia imprimido nenhuma coacutepia pois natildeo imaginava que algo assim pudesse acontecer liguei meu notebook gravei o arquivo num pen-drive e jaacute de saiacuteda em busca de uma graacutefica percebo um ator sacando um projetor multimiacutedia de sua mochila Ele sugere projetarmos a cronologia nas paredes brancas do teatro Achei muito bonita a metaacutefora Foi o que fizemos

EXUBERANTE CRONOLOgIA ESPETACULAR DO TEATRO

EXPERIMENTAL E DO TEATRO ESCOLA NUTEANESCOS

eou PUTA QUE PARIU ESSES CARAS MONTARAM 185 (cento e oitenta e cinco)

ESPETAacuteCULOS

1984ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS PELO

PROJETO HOJE TEM TEATRO

1 ndash Nariz NovoDireccedilatildeo Alexandre Venera e Mauro MachiTexto Robert ThomasElenco Luciana Olivia Josueacute AacutelvaroForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

2 ndash ReencontroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Rubem FonsecaElenco Bete CalinhoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

3 ndash A Dama de Copas e o Rei de CubaDireccedilatildeo Alexandre Venera e Valem RodrigoTexto Timochenco WehbiElenco Tania Verinha

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

1985PANTOMIMA

4 ndash PantomimaSinopse o espetaacuteculo conta com uma sequecircncia de quadros ndash cenas ndash que satildeo apresentadas segundo esta ordem menores abandonados (drama) protagonizado por Sandra Cardoso nascimento vida e morte das plantas relaccedilatildeo destas com os animais selvagens e intempeacuteries da natureza (drama) com participaccedilatildeo de todo elenco O terceiro quadro (drama com grande forccedila expressiva) inicia com um poema sobre a insanidade humana e o respectivo abandono social do louco recitado por Sandra Cardoso na sequecircncia apresenta-se a convivecircncia deste num ambiente manicomial Por fim os quadros cocircmicos com a maquiagem dos personagens sendo feita em cena

Direccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto Wilfried KrambeckElenco Diogo Junkes Sandra Cardoso Valdir Lopes Iraci Krambeck Aacutelvaro A Andrade Roberto SchindlerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 23 de dezembro de 1985

Importante este espetaacuteculo eacute resultado do curso de teatro e miacutemica ministrado por Wilfried Krambeck Curso que aconteceu entre 27 de junho e 23 de dezembro de 1985 com carga horaacuteria de 160 horasaula Eacute a primeira montagem do NuTE que resulta do aprendizado em teatro tendo como recurso para estudar teatro a construccedilatildeo de um espetaacuteculo

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Wilfried Krambeck no anexo Livreto Espetacular23

23 prezado leitor para as doze montagens

mais relevantes preparamos um lsquolivreto

espetacularrsquo que provavelmente

vocecirc jaacute encontrou nos anexos deste

livro O livreto eacute uma coleccedilatildeo de textos que versam sobre

os doze espetaacuteculos escolhidos

Para escrever sobre esses espetaacuteculos foram convidados atores diretores teacutecnicos poetas

que participaram eou assistiram tais montagens

Portanto sempre que

nesta cronologia aparecer o carimbo a seguir eacute sinal de que um bom artigo

lhe aguarda

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ENSAIO1986

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS PELO PROJETO 3 TERCcedilAS TEM TEATRO

5 ndash Alegoria ao Vamos ao Teatro

Direccedilatildeo Alexandre Venera dos SantosTexto Alexandre Venera dos Santos sobre parte da muacutesica Coming home to see youElenco Dennis Raduumlnz Elisete Creuz Isabel Ribeiro Maria Teresa Dias Claudio Constantin Sandra Cardoso Flavio Meirinho Deise Gonccedilalves Waldir Lopes Marlise dos Santos Alexandre Correia Deuceacutelia Travasso Deliani Travasso Evi Geisler Tanise Creuz Leandro de AssisForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986Importante diferente do ano anterior onde apenas Wilfried Krambeck ministrou aulas o curso de iniciaccedilatildeo ao teatro em 1986 eacute dado por vaacuterios professores Ao final do curso temos o 3 Terccedilas Tem Teatro (em junho) e as apresentaccedilotildees finais do curso de iniciaccedilatildeo ao teatro (em julho) com praticamente os mesmos atores-alunos Aleacutem de professor nesse ano

ldquoPandareco O Rei do Risordquo Esquete apre-sentado pelo Grupo Teatrhering o qual fora convidado pelo NuTE para se apresen-tar no encerramento do 3 Terccedilas Tem Tea-tro em 24 de junho de 1986 Elenco Antonio R Carvalho Cleusa M de Melo Custoacutedia Marcos Inecircs Pereira Joseacute Lino Frutuoso e Rosimeri Lunelli Di-reccedilatildeo Claacuteudio A Sch-midt

Wilfried Krambeck tambeacutem coordenou e organizou o curriacuteculo dos cursos

6 ndash Morte

Direccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto charges do cartunista chileno COPIElenco Adriana Kalckmann Wilfried Krambeck Aacutelvaro de AndradeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

7 ndash Segunda-feira de Cidade GrandeDireccedilatildeo direccedilatildeo coletiva Texto autoria coletiva sobre tema expostoElenco Isabel Ribeiro Tanise Cruz Deuceacutelia TravassoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

8 ndash Diversotildees EletrocircnicasDireccedilatildeo Flavio MeirinhoTexto adaptaccedilatildeo de Flaacutevio Meirinho sobre tema de Arrigo Barnabeacute

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Elenco Flavio MeirinhoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

9 ndash CanibalismoDireccedilatildeo Dennis RaduumlnzTexto Luiacutes Fernando VeriacutessimoElenco Evi Geisler Claudio Constantin Leandro de Assis Dennis RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

10 ndash O SonhoTexto adaptaccedilatildeo de Marlise dos Santos sobre muacutesica de VanusaElenco Marlise dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

11 ndash Gecircnio e Cultura

Direccedilatildeo Alexandre Venera dos SantosTexto Umberto Boccioni

Elenco Waldir Lopes Aacutelvaro de Andrade Sandra CardosoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

MOSTRA DE FINAL DE CURSO ndash PRIMEIRO SEMESTRE

12 ndash Grito dacuteAlmaDireccedilatildeo Deise GonccedilalvesTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Tanise Creuz Elisete Creuz Marlise dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

13 ndash E isso eacute vidaDireccedilatildeo IsabelAutor do Texto criaccedilatildeo coletivaElenco Deuceacutelia Deliani Leandro RosaneForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

14 ndash Ciranda ao redor da fonteDireccedilatildeo Dennis RaduumlnzAutor do Texto Dennis RaduumlnzElenco Dennis Raduumlnz Maria do Carmo Machado Lauro RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

15 ndash OutroraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

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MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

16 ndash Essa Tal de EvoluccedilatildeoDireccedilatildeo Wilfried Krambeck Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 15 de outubro de 1986Importante apresentaccedilatildeo de alunos do Curso de Miacutemica

CLASSE gLACEcirc

17 ndash Classe GlacecircSinopse Classe Glacecirc eacute um espetaacuteculo em dois atos Na primeira parte atraveacutes de uma coletacircnea de textos baseados em artigo de Luiacutes Fernando Veriacutessimo os atores se revezam nos vaacuterios momentos repetindo situaccedilotildees que como um exerciacutecio teatral mostram os problemas que as diferenccedilas de classes proporcionam na luta pela sobrevivecircncia e a esperanccedila de se elevar nos diversos niacuteveis sociais A segunda parte eacute uma reflexatildeo-praacutetica de um confronto das classes Cada um ldquovecircrdquo agrave sua maneira os problemas e as vantagens do outro E como na paraacutebola A Raposa e as Uvas cada classe se orgulha das suas desventuras e

ironiza as qualidades da outra O fio condutor de toda a proposta desse segundo ato eacute o texto ldquoO Mendigo ou o Catildeo Mortordquo de autoria de Bertold Brecht que em sua teoria teatral nos solicita refletir criticamente muito mais sobre a mensagem colocada (texto) do que sobre o meio de execuccedilatildeo (desempenho) embora um seja o complemento do outro ldquoO Mendigo ou o Catildeo Mortordquo eacute em si mesmo uma faacutebula a paraacutebola do Espelho Espelho Meu e eacute bom saber que quem estaacute no trono procura ficar informado

Direccedilatildeo Alexandre Venera Texto adaptaccedilatildeo sobre textos de Luiacutes Fernando Veriacutessimo e sobre o texto O Mendigo ou o Catildeo Morto de Bertold BrechtElenco Alan Ada Kardek Aacutelvaro de Andrade Claudio Constantino Dennis Raduumlnz Deise Gonccedilalves Deuceacutelia Travasso Elisete Creuz Isabel Ribeiro Joatildeo de Oliveira Marlise dos Santos Maria Teresa Dias Rosane Paasch Tanise Creuz Antonieta KrausForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 09 de outubro de 1986Importante ateacute onde conseguimos mapear foi a primeira vez que um grupo de teatro blumenauense montou Bertold Brecht

VEIAS CATIVAS

18 ndash Veias Cativas Sinopse um espetaacuteculo ldquomusicadordquo porque natildeo eacute cantado mas eacute dublado e falado natildeo eacute danccedilado mas eacute coreografado e interpretado Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto poemas de Rosane Magaly Martins e

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Muacutesicas de Ney Matogrosso Elenco Alan Alda Kardek Aacutelvaro de Andrade Carlos dos Santos Claus Jensen Evelis Sailer Gilmar Borges Marlise de Valbone Neli Lenzi Raquel Furtado e Rosane Magaly MartinsForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de dezembro de 1986

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Rosane Magaly Martins no anexo Livreto Espetacular

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21 CADEIRAS

19 ndash 21 Cadeiras Sinopse veja bem num espetaacuteculo a criaccedilatildeo espontacircnea para o artista eacute o tempero e para o puacuteblico eacute o divertimento O improviso eacute nosso companheiro em todas as nossas atitudes Nossa vida eacute um improviso Todos improvisam no relacionamento no trabalho no amor na briga ou no sofrimento Quando se estaacute por cima por baixo colocado de lado ou ateacute no meio natildeo se conhece precisamente o iniacutecio

noacutes nos preocupamos com o fim e soacute sabemos o que passou Assim eacute com a vida como com o espetaacuteculo ldquo21 Cadeirasrdquo Para a vida o tema do improviso eacute viver e para o espetaacuteculo ldquo21 Cadeirasrdquo o improviso eacute relacionado com o tema tiacutetulo que assenta anatomicamente a nossa proposta de sobreviver Pegue a sua cadeira e venha assistir ao nosso improviso Sente-se agrave vontade mas cuidado com a Aids que eacute o tipo de doenccedila que se pega sentando em cima Sinta-se confortavelmente sentado em nossa roda Noacutes vamos girar virar e torcer por vocecirc E isso eacute soacute o iniacutecioDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Wilfried Iraci Gilberto Helena Tete Marcia Raquel Aacutelvaro Adriana Tanise Rosane Karla Antonieta Dido Diogo Dennis Marlise Sandra Alan Ula Nataacutelia JotaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de marccedilo de 1987

O TUacuteNEL

20 ndash O Tuacutenel Sinopse em linhas gerais O Tuacutenel mostra a passagem ldquodesta para a melhorrdquo E essa passagem eacute tatildeo raacutepida que ele nem se daacute conta Excitado natildeo para de falar mas aos poucos vai enfraquecendo prestando mais atenccedilatildeo a sua volta ao amigo Jorge que vai ao seu encontro ndash compreendendo por fim sua verdadeira situaccedilatildeo Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Paer LagerkvistElenco Alex Muumlller Claus Jensen

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Helena Brown Aacutelvaro de AndradeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 29 de maio de 1987Importante inauguraccedilatildeo do Espaccedilo (O)Caso

ATENDENDO A PEDIDOS

21 ndash Atendendo a PedidosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de junho de 1987

MORCEgO PESSOA

22 ndash Morcego PessoaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 26 de outubro de 1987

O HOMEM DO CAPOTE E OUTROS SERES

23 ndash O homem do Capote e Outros SeresSinopse haacute muitos muitos anos continuamen-te se encontram num espaccedilo indeterminado vaacuterios seres Estes seres desenvolvem suas atitudes individualizadas a distacircncia de maneira impenetraacutevel e particular O encontro com outros seres eacute teacutecnico e restrito ao essencial sendo o primeiro encontro muito curto Estes seres se preocupam narcisicamente ao ver e ouvir o outro pouco tentando entendecirc-lo ou criticaacute-lo Os seres necessitam do conviacutevio social e se aproximam daqueles com os quais sentem afinidades Com a soma dos interesses ocorre a ligaccedilatildeo total onde a uniatildeo de qualquer maneira faz crescer Entretanto a desuniatildeo como um desencanto acontece afastando os seres Entre si ou entre

os seus propoacutesitos haacute a cisatildeo Esta ordem de acontecimentos tem uma sequecircncia ciacuteclica e ateacute retroacutegrada que aos poucos constroacutei ou ateacute rapidamente se transforma na essecircncia do passado E o passado atraveacutes da experiecircncia dos seres constroacutei uma ldquomedardquo individual ou coletiva ateacute onde satildeo armazenadas as experiecircncias jaacute sentidas e representadas pelos ldquofios da experiecircnciardquo A ldquomedardquo eacute o acuacutemulo de propostas realizadas onde satildeo empilhadas uma a uma numa construccedilatildeo cocircnica ldquoa piracircmide da existecircnciardquo Ao ter-se demais de um soacute fio de experiecircncia na ldquomedardquo deste ser haacute uma deformaccedilatildeo na construccedilatildeo dessa ldquomedardquo e sua consequente desestabilizaccedilatildeo Entre outros seres o Homem do Capote deu importacircncia demasiada a uma soacute atitude e faz-nos preocupar como outros seres

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera a partir de poemas de Lindolf Bell e criaccedilotildees coletivasElenco Carlos Alan Giba Juliana Sabrine Mari Jota Zeacute Joatildeo Dennis Gilberto Wilfried Iraci Do Carmo Cleacuteo Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 01 de novembro de 1987Importante primeiro espetaacuteculo assinado pelo Grupo Liturgia do Teatro que nas proacuteximas montagens iraacute aparecer como Grupo Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques Em Bomba Nucleada zine manifesto escrito por integrantes do NuTE poacutes-apresentaccedilatildeo de O Homem do Capote e Outros Seres no Fecate ndash Festival Catarinense de Teatro ndash lecirc-se ldquo() durante todo o espetaacuteculo a condiccedilatildeo de desencanto eacute flagrante e segundo Antonin Artaud em um de seus manifestos sobre as obras-primas ele nos adverte ldquoUma das razotildees da atmosfera asfixiante na qual vivemos sem escapatoacuteria possiacutevel e sem remeacutedio ndash e pela qual somos

Foto Acervo NuTE

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todos um pouco culpados mesmo os mais revolucionaacuterios dentre noacutes ndash eacute o respeito pelo que eacute escrito formulado ou pintado e que assumiu uma certa forma como se toda expressatildeo jaacute natildeo estivesse exaurida e natildeo tivesse chegado ao ponto em que eacute preciso em que as coisas estourem para que se recomeccedilasse tudo de novordquo E eacute nessa afirmaccedilatildeo de Artaud que se baseia o tema expressivo do espetaacuteculo mostrando essa singular e invulgar maneira de se interpretar a arte cecircnicardquo

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Dennis Raduumlnz no anexo Livreto Espetacular

gESTO E SENTIMENTO Agrave MODA DA CASA

24 ndash Gesto e Sentimento agrave Moda da CasaDireccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto Diogo Junckes Ceacutesar Reis Wilfried KrambeckElenco Ceacutesar Augusto Reis Diogo Fernado Junkes Iraci Potrikus Wilfried KrambeckSonoplastia Carlos ZanonForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 27 de julho de 1987

1988 ILUSTRACcedilAtildeO gESTUAL DE POESIAS

BLUMENAUENSES

25 ndash Ilustraccedilatildeo Gestual de Poesias BlumenauensesDireccedilatildeo e Narraccedilatildeo Wilfried KrambeckTextos autores blumenauenses diversos

Atores Iraci Potrikus Ceacutesar Reis e Dennis RaduumlnzIluminaccedilatildeo Carlos L Correia (Cahco)

O MOCcedilO QUE CASOU COM MULHER BRABA

26 ndash O Moccedilo que Casou com Mulher BrabaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Don Juan ManuelElenco Rosana Elke Veruska Betina Marcia Arethuza Sabrina Tacircnia Sandra Eunice Adilson Samara Nelson ArianaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 13 de junho de 1988

APOCALYPSIS CUM FIgURIS NA VISAtildeO DE SANTA CATARINA OS ANJOS E NOacuteS

27 ndash Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e NoacutesSinopse Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes eacute um espetaacuteculo de colagens das diversas passagens da vinda de Cristo visualizadas sob o acircngulo da modernidade do tempo em que vivemos

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Apocalypsis natildeo eacute um teatro convencional pela ausecircncia de diaacutelogo e trama situaccedilotildees que normalmente norteiam a comunicaccedilatildeo dramaacutetica Para o espectador processa-se uma viagem transcendental que passa pelos seus olhos com a histoacuteria que estaacute embutida em sua memoacuteria ancestral Essa montagem eacute um poema poesia pura e eacute mais faacutecil entender um poema do que explicaacute-lo O Apocalypsis se define pela expressatildeo do corpo do ator e atraveacutes dos textosfragmentos poeacuteticos de vaacuterios poetas catarinenses que servem de subsiacutedios para citaccedilotildees e desabafos emocionais Direccedilatildeo Alexandre Venera Texto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre texto de Konstanty Puzyna que discute a montagem original de Jerzy Grotowski (1967) e sobre textos de escritores e poetas catarinenses como Lindolf Bell Cruz e Souza Artemiro Zanon entre outros Elenco Aacutelvaro de Andrade Carlos Crescecircncio Claus Jensen Dennis Raduumlnz Giba de Oliveira Marcos Suchara Peacutepe SedrezForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 28 de novembro de 1988 Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesLivreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Alexandre Venera dos Santos no anexo Livreto Espetacular

1989

VARIANTE WOYZECK-MAUSER

28 ndash Variante Woyzeck-MauserSinopse com essa montagem o Grupo da

Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques efetua uma releitura de dois expoentes da dramaturgia universal Independentemente estes textos no original permitem um realinhamento de cenas de iniacutecio meio e fim que entretanto natildeo alteram o conteuacutedo da obra O que caracteriza Variante Woyzeck-Mauser como outra obra original eacute a uniatildeo de alguns temas resgatados de um e de outro texto dentro de uma outra oacutetica divergente da dos originais em que se baseia O resultado eacute uma mensagem irocircnica sobre o falso moralismo da nossa sociedade um jogo da vida para o cidadatildeo que passa a ser como uma marionete nas matildeos de uma sociedade que lhe cobra as mais absurdas atitudes

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera Giba de Oliveira e Peacutepe Sedrez sobre texto de Georg Buumlchner (Woyzek) e Heiner Muumlller (Mauser)Elenco Roberto Murphy Ivan Felicidade Aacutelvaro de Adrade Joatildeo da Matta Alex Muumlller Ernesto Santos Everton Fonseca Michelli Rocha Paulo de Araujo Sidnei Mafra Regina Simas Rita Macado Peacutepe Sedrez Marcio Mori

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Amarildo Fortunato Claus Jensen Cleide Furlani Dennis RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 22 de outubro de 1989

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Roberto Murphy no anexo Livreto Espetacular

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SR MEURSAULT O ESTRANgEIRO DE CAMUS

29 ndash Sr Meursault O Estrangeiro de CamusDireccedilatildeo Giba de OliveiraAutor do Texto livre-adaptaccedilatildeo de Giba de Oliveira e alunos do NuTE sobre texto de Albert CamusElenco Natalie Rodrigues Rafaela Rejane Paula Margareth MuumlllerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de outubro de 1990Grupo ARTEATROZ

PELOS QUATRO CANTOS TEATRO DA COR EM QUATRO ATOS

30 ndash Pelos quatro cantos ndash Teatro da Cor em Quatro AtosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-tal

Estreia 10 de junho de 1986

1991

MACBETHacuteS UMA INTERFEREcircNCIA NA HISTOacuteRIA

31 ndash Macbethacutes ndash uma Interferecircncia na histoacuteriaSinopse a histoacuteria descreve a ascensatildeo e queda de um homem cuja sede de poder acaba por subverter os valores sociais da vida em grupo Aborda a transgressatildeo das leis da sociedade da solidariedade do amor da universalidade Macbeth eacute a transgressatildeo do homem Esta versatildeo tem no Macbeth natildeo a cobiccedila apenas pelo poder mas principalmente pela vida Contemporaneamente critica o homem preso a si mesmo que toma decisotildees impensadas e vive em busca da vida da liberdade do sossego e impressionantemente busca ateacute mesmo o fim Em meio agrave busca desse poder desconfianccedilas e hipocrisias o ser e o natildeo ser agem conjuntamente A dualidade eacute transparente Mas eacute observaacutevel todos temos a sede de vida Ou de VIDA

Direccedilatildeo Alexandre Venera

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Texto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre texto de W ShakespeareElenco Peacutepe Sedrez Carlos Crescecircncio Giba de Oliveira Marcelo de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 20 de agosto de 1991

No blog wwwnuteparatodoswordpresscom Raymond Chandler escreve

LENDAS DO NUTE ndash PARTE LXIUm vento forte e uacutemido entrava pela janela dificutando o trabalho de taxidermia em Antonio Leopolski Marcelinho de Souza levantou fechou a maldita janela e vestiu o figurino do defunto Algueacutem bateu agrave sua porta Era sua matildee mas felizmente a porta estava trancada Marcelinho reviu todos os passos da reestreia de Macbeth para o dia seguinte Ningueacutem ndash a natildeo ser Silvio da Luz seu cuacutemplice ndash sabia que um ator seria substituiacutedo na uacuteltima hora E nem deveriam saber

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Iran da Silveira no anexo Livreto Espetacular

PIQUENIQUE NO CAMPO

32 ndash Piquenique no Campo Sinopse do confronto entre os horrores e a inconsciecircncia dos visitantes e participantes deste inusitado piquenique nasce um cocircmico (e ao mesmo tempo criacutetico) diaacutelogo absurdo O soldado Zapo encontra-se entediado no campo de batalha Para animaacute-lo seus pais resolvem fazer uma visitinha propondo um piquenique em pleno front Durante o lanche surge o inimigo Apoacutes capturaacute-lo e sem saber o que fazer com o prisioneiro convidam-no para o lancheDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Fernando ArrabalElenco Giba de Oliveira Marcelo de Souza Francinete Bittencourte Pedro Dias Cintia Gruener Patriacutecia dos Santos Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 28 de novembro de 1991Grupo Grupo Meu GrupoImportante o elenco citado eacute o da montagem de 1993

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

33 ndash Big hamletForccedila Cecircnica Preponderante Teatro escolaEstreia 1 de Julho de 1991

34 ndash Quando se Segue a Tradiccedilatildeo e Quando se RefleteForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

35 ndash A Mulher judiaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

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36 ndash Proacutelogo no Teatro de FaustoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

37 ndash Bicharada no BarrilForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Texto Wilfried KrambeckEstreia 1 de Julho de 1991

PRA NAtildeO DIZER QUE NAtildeO FALEI

38 ndash Pra Natildeo Dizer que Natildeo FaleiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 8 de dezembro de 1991

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO DEU PANE NO BLACKOUT) SEgUNDO SEMESTRE

39 ndash O TuacutenelForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1991

40 ndash No Paiacutes da AnestesiaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 19 de dezembro de 1991

41 ndash Os CegosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 19 de dezembro de 1991

1992 O PEcircNDULO

42 ndash O PecircnduloSinopse quando uma era estaacute finalizando

tornam-se visiacuteveis as grandes e numerosas hecatombes Ira de deuses () Destino cruel () Finda o seacuteculo XX e as palavras de ordem satildeo ecologia e a era de aquarius O ciclo macrocoacutesmico se repete e o homem continua bola de futebol dos deuses Eacute a consciecircncia massificante atropelando o indiviacuteduo O espetaacuteculo trata do homem neutralizado espoliado e romacircntico uma das esquecidas engrenagens nessa ldquocoisardquo que nos envolve O homem que natildeo distingue o amor do romacircntico Haacute de se adquirir ternura sem perder a dureza Que a consciecircncia aquariana seja em cada um de noacutes Tememos a besta do apocalipse e natildeo a vemos ao nosso lado ela nos contamina com o conformismo Criar eacute coisa de outro mundo A aacutegua baixou e continua-se afogado como antes das cheias A solidatildeo eacute a uacutenica coisa que nos faz parecidos

Direccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Peacutepe SedrezElenco Ciacutecero da Silva Adriana Sebastiatildeo Elisabeth Thomeacute Maicon Rossi Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 30 de junho de 1992Grupo (CO) INCIDENTES

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

43 ndash Estaccedilatildeo Agosto a exceccedilatildeo e a lendaDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Rosane Magaly Martins e Giba de OliveiraElenco Aline Antunes Elisete Possamai Erna Parquer Francinete Bittencourt Francisco Koch Jerusa de Saacute Mariana da Silva Odete

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TERCEIRO

ENSAIO

Maria Osmar Gomes Priscila de Souza Sandra da Silva Sebastiatildeo Crispim Wlademir TreisForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1992Grupo Sugiro Jaacute

44 ndash A Morte de DantonDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto livre-adaptaccedilatildeo de textos de Bertold Brecht Georg Buumlchner William B Huie LrsquoExpressElenco Alessandra Tonelli Cristiana Venera Gabriele Bruns Itamar Burmaniere Jackson Assino James Beck Marineusa Goterra Nelson Souza Soraia de Souza Valdete SchuterForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1992Grupo Ato ComCreto

45 ndash Natildeo Carta Aberta aos Senhores NazistasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1992

46 ndash A Mente CaptaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1992

47 ndash Na Casa do Dr jacobsenDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Graziela Cicatto Jeferson Fietz Jubal Santos Lenara Santos Magali de Jesus Rafael Ruzinski Tamara Sanches Melissa da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1992Grupo PAPA BATATA (DA PESADA)

48 ndash Viagem ao Coraccedilatildeo da CidadeDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Adhemar de OliveiraElenco Ana Nunes Ana Paula Souza Andreia da Conceiccedilatildeo Elisangela Pereira Evandro Costa Janaina Nascimento Juliana Maske Juliana Garcia Luana dos Santos Osnildo Souza Pablo Lopes Verocircnica Lopes Amanda WernerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 28 de agosto de 1992Grupo Grupo do Ser ou natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

49 ndash Chapeuzinho agraves AvessasDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Peacutepe SedrezElenco Jeferson Fietz Melissa Silva Adalgisa da Silva Graziela Cicatto Carolina Trisotto Renata Muumlller Rafael Ruzinski Eugenio Lingner Peacutepe SedrezForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo PAPA BATATA (DA PESADA)

50 ndash O DragatildeoDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Ellen WolfranElenco Antonio Leopolski Juliana Garcia Pablo Lopes Osnildo Souza Amanda Werner Renaty Affonso Andressa Deschamps Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo Grupo do Ser ou Natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

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TERCEIRO

ENSAIO

51 ndash Quando a Coisa Vira CasoDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Elias GomesElenco Ana Nunes Barbara de Aguiar Juliana Maske Pablo Lopes Andressa Deschamps Janaina Nascimento Osnildo Souza Verocircnica LopesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo Grupo do Ser ou Natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

52 ndash um Canto nas Alturas Direccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Giba de OliveiraElenco Geraldo Niada Fernanda Muumlller Renata Marques Paula Igreja Vilmar Schroeder Ameacuterico Kichelli Greicy Tambosi Aline Luchtenberg Sandra Daicampi Josiane Theiss Rubia Nascimento Joseacute da Cruz Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro 1992

53 ndash Diante dos seus olhosDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto textos de Peacutepe Sedrez Maacutercia Sedrez Luis Alberto CorreiaElenco Airton Berkenbroch Arnaldo Formentin Araci Molinari Luiz Alves Marcia Gazania Marileusa Pisa Magara Casas Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro 1992Grupo Eacutethos

PALAacuteCIO DOS URUBUS

54 ndash Palaacutecio dos urubusSinopse trata-se de uma comeacutedia desenhada

sobre uma ilha fictiacutecia ldquoo paiacutes delirante das bananas do sol e do marrdquo e cujo cenaacuterio um palaacutecio eacute a metamorfose de um terriacutevel e decadente bordel A histoacuteria passa-se em tal ilha cercada de tubarotildees por todos os lados onde se vive uma episoacutedica e eletrizante aventura poliacutetica de capa-espada Em meio a conspiraccedilotildees diversas e situaccedilotildees absurdas a comeacutedia mostra de que forma pode o poder passar de matildeos sem realmente passar de matildeos ou ainda de que forma o paradoxo pode ser vital a uma manobra conjunta entre vaacuterios poderesDireccedilatildeo Giba de Oliveira Texto livre-adaptaccedilatildeo do texto de Ricardo VieiraElenco Cristiana Venera Jackson Assino Priscila de Souza Francinete Bittencourt Alesandra Tonelli Mariana da Silva Francisco Koch Gabriele Bruns Sandra da Silva Erna Packer Itamar Burmaniere James Beck Jerusa de Saacute Marineusa Goterra Mauro Ribas Maicon Rossi Nelson Souza Odete Maria Sebastiatildeo Crispim Soraia de Souza Wlademir Treiss Giba de Oliveira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 14 de dezembro de 1992Grupo Gratilde Cruz da Cornetada Nacional

1993

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO PROJETO PULSAR SIPAT E OUTROS

55 ndash Nosso Reino Por um Bom GuerreiroEstreia 24 de marccedilo de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

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56 ndash Queda LivreEstreia 31 de marccedilo de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

57 ndash Godot Espera GodotEstreia 14 de abril de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

58 ndash Aacuteguas de Cima Para BaixoDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Wilfried KrambeckElenco Carlos Crescecircncio Silvio Joseacute da Luz Pedro DiasEstreia 05 de maio de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food Cenaacuterio por Tadeu Bittencourt

No blog wwwnuteparatodoswordpresscom Peacutepe Sedrez escreve

ldquoOi gente boa Sobre a montagem de AacuteGUAS DE CIMA PRA BAIXO comeacutedia inteligentiacutessima do Wilfried Krambeck quando tive a honra de dirigir contou com os atores Carlos Crescecircncio Pedro Dias e Silvio Joseacute da Luz O cenaacuterio do Tadeu Bittencourt como cita o Wilfried em comentaacuterio acima causou mesmo grande sensaccedilatildeo na plateacuteia do Bar Percyrsquos na Alameda Rio Branco atraindo a atenccedilatildeo dos que por aquela alameda passavam O bar ficou superlotado quando as pessoas perceberam que naquela noite natildeo chovia em Blumenau exceto dentro do Percyrsquosrdquo

59 ndash Aacutelcool a Ser Dito Estreia 09 de agosto de 1993Importante Projeto SIPAT

60 ndash As Cartas MarcadasEstreia 03 de outubro de 1993

61 ndash Cuidado com o Tamanduaacute BandeiraEstreia 17 de outubro de 1993

RODA gIgANTE

62 ndash Roda GiganteSinopse a peccedila aborda a incessante e desenfreada busca da sapiecircncia universal Quem somos Para onde vamos De onde viemos Satildeo questionamentos co-muns do ser humano No enredo de A Roda Gigante um grupo de pessoas interessado na resposta desses questionamentos e guiado por um cicerone parte numa viagem maacutegica e misteriosa para descobrir isso que daacute e potildee fim agrave vida Frutos do exerciacutecio dessa viagem surgem ldquoMelusina e

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Remodinrdquo personagens de uma lenda francesa Ele eacute um simples mortal Ela uma fada amaldiccediloada pela matildee ndash toda noite de saacutebado para domingo sofre um estranho encanto Juntos Remodin e Melusina transgridem a lei do racismo Na acircnsia de saber tudo de tudo o homem dirigindo seu poder inventivo em busca do conhecimento desde a invenccedilatildeo da roda ndash sua maior descoberta ndash vagueia numa eterna viagem rumo ao desconhecido A roda guiada por esses intreacutepidos turistas torna-se gigante siacutembolo de inventividade conhecimento e desejo de evoluccedilatildeo A peccedila ambienta-se e desenvolve-se no clima ldquopsicodeacutelicordquo do filme The Magical Mistery Tour realizado pelos BeatlesDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Alexandre Venera Elenco Aacutelvaro de Andrade Cintia Gruener Patriacutecia dos Santos Ciacutecero da Silva Marcelo de Souza Marcia Olinger Marcus Andersen Viviane Cechet Adriana Sebastiatildeo Gerusa Teixeira Michelli Ferreira Maicon Rossi Ceacutesar

Rossi Silvio da Luz Alexandre FariasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 20 de junho de 1993Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Ensaio para assistir ao ensaio geral do espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=apxF3Cdpffc

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Tchello drsquoBarros no anexo Livreto Espetacular

MOSTRA DE FINAL DE CURSOPRIMEIRO SEMESTRE

63 ndash Ele eacute Assim MesmoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto livre-adaptaccedilatildeo de textos de diversos autores blumenauenses provenientes do JOTE-TitacElenco Alessandra Heiden Elias Moura Elisangela Bertoli Hugo Baumgarten Juccedilara Balzan Niraci Jr Pethra Naves Roberta Tomelin Alice Taufer Carolina Quezada Carla Thomas Cleide de Oliveira Joatildeo Rodrigues Marileacuteia Almeida Naacutedia Sais Renata Muumlller Salete da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Charanga Natildeo Batizada

64 ndash Paz Nem Que Seja Na Porrada

Foto Acervo NuTE

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Direccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Pedro Mauriacutecio DiasElenco Adriana Amaro Ana Cristina Nunes Andreacuteia Oliveira Ariel Espiacutendola Cintia Huerves Fabio Schaefer Gerusa Matos Janaina Nascimento Joseacute Volkmann Liliane Jarschel Marcelo de Oliveira Patriacutecia Buumlrigo Taiacutes Dalfovo Valsir Elias Zuleica DorowForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Filhos da Meretriz

65 ndash O Poema para o MundoDireccedilatildeo Silvio da LuzTexto Nassau de SouzaElenco Viviane Cechet Ciacutecero da Silva Jerusa Teixeira Vilmar Schroeder Indira Pereira Luciana May Andreacutea dos Santos Juliana VendramiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Contra Senha do Lado do AvessoImportante trata-se de espetaacuteculo convidado para encerramento da mostra

SENHORAS E SENHORES

66 ndash Senhoras e SenhoresSinopse Senhoras e Senhores natildeo eacute apenas mais um espetaacuteculo teatral Eacute um protesto Um grito alto e forte contra o desrespeito com a nossa cultura Noacutes natildeo queremos cultura Noacutes exigimos Eacute dever do Estado incentivar as manifestaccedilotildees artiacutesticoculturais de seu povo sim senhoras e senhores Em nosso caso um povo que trabalha e bebe chopp natildeo encontra nestas senhoras e nestes senhores que ocupam

cargos oficiais o incentivo ou a motivaccedilatildeo para abrir suas mentes e coraccedilotildees para receber a tatildeo sonhada e legiacutetima cultura Malditos tiranos culturais ou ponham suas cabeccedilas no lugar ou tirem suas matildeos de nossos bolsos ou ergam suas bundas destas cadeiras Natildeo suportamos mais tamanho descaso tamanha omissatildeo Chega de engodos Abaixo a Tirania CulturalDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Giba de OliveiraElenco Marcelo Fernando de Souza Fran Bittencourt Cintia Gruener Alvaro Alves de Andrade Patriacutecia dos Santos Silvio da Luz Leacuteo Almeida Edilamar da Silva Alexandre Venera dos Santos Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 05 de dezembro de 1993Grupo Por Noacutes Natildeo Desatados e Grupo Meu GrupoImportante espetaacuteculo-protesto que teve origem no JOTE-Titac

LIvreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Peacutepe Sedrez no anexo Livreto Espetacular

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO SAIDEIRA TEATRAL) ndash SEgUNDO SEMESTRE

67 ndash Tudo Azul No hemisfeacuterio SulDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Marcos BorgesElenco Alessandra Heiden Hugo Baumgarten Niralci da Silveira Roberta Tomelin Sebastiatildeo de Souza Taiacutes Dalfovo Cintia Hueves Mauro Ribas Carlos Crescecircncio Silvio da Luz Juccedilara Balzan

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ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro 1993Grupo Nuacute Anonimato

68 ndash O Ciacuterculo de Giz CaucasianoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Bertold BrechtElenco Ana Cristina Nunes Paula Igreja Priscila de Souza Patricia Buacuterigo Joseacute Volkmann Volmar Schroeder Luciana May Cristiana Venera Nelson de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro 1993Grupo Grupo AH

69 ndash Quanto Riso Oh Quanta AlegriaDireccedilatildeo Marcelo F de SouzaTexto Marcelo F de SouzaElenco Ana Paula Girardi Sylvia Penkhun Adriana Gotzinger Eduardo Reiter Daniele Machado Emanoelle da Cunha Cristina Scheefer Karina Muumlller Susan Kotmann Elisaura da Silva Fabiana Goll Raquel Rodrigues Ana Priscila Benitez Faacutebio Marciacutelio Ingon Erdmann Rafael de Almeida Keila Peixer Claudia Feacutelix Regiane Ferreira Ticiane Menschein Karina Shmitt Fabyana Raulino Samira TschoekeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1993Grupo Cuspiu Eu Tocirc Anotando

70 ndash A Entradeira (Soacute) no ParaiacutesoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Giba de Oliveira Wilfried Krambeck e Umberto BoccioniElenco Afonso Carneiro Fabiano Schlosser

Luacutecia Siqueira Sylvia Nunes Valdecir Correia Nelson de Souza Fernanda da Silva Gabriela Socircnego Marelise Koepsel Valeacuteria Santana Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo Demo(niacutecio) Nisso

71 ndash Menino DeusDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Silvana Costa Elenco Fabiana Goll Vilmar Schroeder Juacutelia da Silva Luiacuteza da Silva Carolina Accetta Deacutebora Rossi Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo QD FamaImportante espetaacuteculo convidado para encerramento da mostra

72 ndash ClownsElenco Maicon Rossi Mauro Ribas Nelson de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo Os Clowns do NuTEImportante Espetaacuteculo convidado para encerramento da Mostra

73 ndash Abra As Asas Somos NoacutesDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Peacutepe SedrezElenco Fernando Lopes Felipe Steinert Thiago Meireles Carl Johann Blosfeld Nina Liesenberg Jamyle Krueger Katrin Gruumltzmacher Roni Lana Mareike Valentin Raquel Weiss Betina Riffel Karina Steinert Camila Pedrini Thaiacutes Meireles Manoela Blodorn Barbara Beskow

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TERCEIRO

ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1993Grupo Abre a cortina que eu quero entrarImportante primeira turma NuTE no municiacutepio de Pomerode

1994

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO 3 PECcedilAS 2 TIRO 5 POtildeE) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

74 ndash A histoacuteria do Manuel

75 ndash A EstaccedilatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Marcia SedrezElenco Janaina Nascimento Juliano Theis Roberta Tomelin Sebastiatildeo de Souza Sylvia PenkunForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

76 ndash Godot Espera Godot amp O Monoacutelogo da DesesperadaDireccedilatildeo Maicon RossiTexto Tania Rodrigues e Nira da SilveiraElenco Alessandra Heiden Fabiana Goll Faacutebio Schaefer Joseacute Volkman Karina Muumlller Nira Silveira Samira Tschoeke Sebastiatildeo Souza Vilmar Schroeder Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

77 ndash O BecircbadoDireccedilatildeo Maicon RossiElenco Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

Estreia 22 de maio de 1994Grupo Grupo dos ClownsImportante nuacutemero de clown

78 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Alice Taufer Fernanda da Silva Janice Vasselai Nelson Souza Sidneacuteia KoppForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO O TEATRO) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

79 ndash No SupermercadoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

80 ndash No AccedilougueDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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Estreia 11 de agosto de 199481 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

82 ndash uma espeacutecie de aulaDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

83 ndash A Cena de GildaDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo

Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

84 ndash As Rosas Morrem em Agosto amp um Canto nas AlturasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

85 ndash A Confissatildeo ou a ConfusatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

86 ndash O Farwest que natildeo enxergamosDireccedilatildeo Carlos Crescecircncio

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Texto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO PROJETO PECcedilAS BREVES E gOSTOSAS

87 ndash CinderellaDireccedilatildeo Maicon RossiTexto adaptaccedilatildeo de Tatiana BelinskiElenco Antonio Fernandes Caroline Fernandes Arabutan Santos Gisele BucherForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

88 ndash Pega FogoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Jules RenardElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

89 ndash um Caso Assombroso

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo KosovskiElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

90 ndash O Dr RoballoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Irmatildeos MarxElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

91 ndash ReveillonDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo KosovskiElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

92 ndash Na Noite de TerccedilaDireccedilatildeo Mariana da SilvaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Mocircnica da Costa Rudimar Labes Samira Tomio Marlos Vasselai Nilson Ferreira Sebastiatildeo de Souza Liana Guedes Adriana Mette Gerusa Simatildeo Edeacutesio da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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Estreia 20 de dezembro de 199493 ndash Visatildeo razatildeo emoccedilatildeo qual a soluccedilatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Krislei Deschler Josy Mayer Taiacutesa Bugmann Karin Fiedler Rosana Quintino Lidiane Wilwert Katrin Osti Tatiane Pereira Tamara Georgi Anahi Ibars Deborah Schroeder Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 20 de dezembro de 1994

94 ndash Dia de FestaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alexandre VeneraElenco Pablina Soeth Roberta Tomelin Sylvia Penkhun Ana Carolina Leite Jeane Rimes Luise Bucher Sabina Klug Caroline Sporrer Mauro Ribas Rafael Ruzinski Osnildo de Souza Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 20 de dezembro de 1994

CARNAUacuteBA

95 ndash CarnauacutebaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Binho Shaefer Joseacute Volkmann Vini Schroeder Maicon Rossi Bia Goll Janice Pezzotti Grupo Grupo Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Durante as discussotildees do Segundo Ensaio no blog wwwnuteparatodoswordpresscom aconteceu um interessante diaacutelogo sobre este espetaacuteculo

Desnomeado dizGrande WilfriedEndosso assinando embaixo na linha em que escrevo meu nome (nome acaso ldquonirardquo eacute nome) Principalmente no que diz respeito ao ex-multimetido-mor ou seja euMas quero lembrar tambeacutem de um grupo de apaixonados que infelizmente durou pouco em 1994 o grupo principal do Nute (GFLTampP-C) era formado por alguns jovens arrojados que encenaram apenas dois espetaacuteculos sob a batuta e tutela (batutela) do nosso Alex Stein Um desses espetaacuteculos natildeo chegou a ser levado a puacuteblico apenas foi filmado um ensaio geral filmagem esta perdida (acredito) A peccedila era ldquoCarnauacutebardquo (texto Gibanceira) e faziam parte no elenco Binho Schaefer Zeacute Volkmann Vini Schroeder Maicon Rossi Bia Goll Janice Pezzotti na sonoplastia ao vivo Fernando Alex e este escriba alucinado pela realidade espaccedilo-atemporal ou tempo-inespacial Infelizmente pouca gente viu esse legiacutetimo produto da mente experimentalista de AVS Quando tu falaste em ldquopaixatildeordquo amigo lembrei de cara desse exemploParte desse grupo acrescido de alunos e convidados especiais de outras cidades encenaria logo em seguida o auto de natal ldquomorte e vida severinardquo espetaacuteculo que natildeo teve um deacutecimo da energia criativa de ldquoCarnauacutebardquo Terminado o ano desfez-se o grupo e terminava ali um capiacutetulo ligeiro (liseacutergico) e obscuro mas muito significativo capiacutetulo da Histoacuteria desse monstro que tantos ajudaram a criarAbraccedilosAquele que ateacute ontem se chamava nira niralci qualquer coisa

Eacutedio Raniere comentaSalve Nira-Niralci Desnomeadofiquei bem curioso sobre essa montagem natildeo tenho nenhum documento sobre ela Estou exatamente trabalhando num capiacutetulo sobre os espetaacuteculos Poderias contar um pouco melhor com mais

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TERCEIRO

ENSAIO

detalhes qual era a proposta e o que aconceteuabccedilsEacutedio

Desnomeado respondeRELATO DA MONTAGEM DE CARNAUacuteBA texto de Giba de Oliveira direccedilatildeo de Alexandre Venera filmada em 05 de novembro de 1994A cena passava-se dentro de uma caverna onde viviam o Irmatildeo Fogo o Irmatildeo Terra e o Irmatildeo Aacutegua ndash fanaacuteticos bestiais que na montagem lembravam um pouco os personagens de ldquoO Massacre da Serra Eleacutetricardquo de 1974 Seus objetivos comer carne humana A certo ponto eles conseguem raptar uma moccedila e estripam suas viacutesceras O enredo eacute curto e simples essa sinopse foi feita mentalmente para mais detalhes ler texto originalA montagem o espetaacuteculo natildeo tinha cenaacuterio A iluminaccedilatildeo natildeo era nem um pouco tradicional dois contra-regras seguravam os refletores nas matildeos seguindo os atores como se algueacutem os iluminasse com uma lanterna A sonoplastia era tribal feita com peccedilas de percussatildeo e latotildees O cacircmera VHS tentou acompanhar isso tudo A fita foi enviada para o Festival Catarinense de Teatro o juacuteri natildeo nos classificou pela precariedade do registro mas declarou para AVS que ficou extremamente curioso e intrigado com a filmagem No geral a peccedila assemelhava-se a um filme de terror psicoloacutegico vanguardista Na minha opiniatildeo foi a experiecircncia Nute mais radical depois do Apocalypsys Se natildeo me engano foi a uacutenica montagem deste texto feita ateacute hoje ndash o que significa que ele nunca foi levado a puacuteblico(natildeo estou certo quanto a este uacuteltimo dado pode ser confirmado pelo Giba)

MORTE E VIDA SEVERINA

96 ndash Morte e Vida SeverinaSinopse vivemos num universo atribulado cheio de nuances de espectros complexos O ser humano busca uma saiacuteda para a liberdade

seguranccedila paz fraternidade para o equiliacutebrio e o amor Apesar de toda a confusatildeo que nos cerca sabemos que buscamos uma vida plena e digna A viagem do retirante Severino do sertatildeo pernambucano ateacute os mangues do Recife nos oferece uma ampla oportunidade para refletirmos sobre o nascimento e a peregrinaccedilatildeo do grande mestre Jesus Cristo O nascimento da vida Severina nos mangues formados pelo rio Capibari e a aacutegua do oceano nos enche de esperanccedila e confianccedila num mundo melhor Oxalaacute consigamos erradicar a SEVERINIDADE neste paiacutes Trabalhamos e lutamos para isto para que tenhamos um mundo justo e unido em torno de uma grande meta a vida com dignidade

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Joatildeo Cabral de Melo NetoElenco Tarciacutesio Feller Giba de Oliveira Mariana da Silva Claus Jensen Carlos Crescecircncio Janice Pezzoti Bia Brehmer Sebastiatildeo Crispim Jenifer Pezzoti Gisele Marciacutelio Socircnia Michelon Pablina Soeth Mauro Ribas Nira Silveira Andreacute de Souza Fernando Alex Faacutebio Schaefer Beto Terra Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreacuteia 20 de dezembro de 1994Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques

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O MENSTRUADO OU A DUacuteVIDA DE HELIOgAacuteBALO

97 ndash O Menstruado ou a duacutevida de heliogaacutebaloDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Carlos CrescecircncioElenco Samira Tomio Simone Passold Sebastiatildeo de Souza Liana Guedes Janice Pezzoti Rudimar Labes Monica Costa Carla Behringer Andrea Vieira Mauro Ribas Jerusa Simatildeo Lidiane Wilwert Nilson Ferreira Robson Rosseto Jenifer Pezzoti Faacutebio Schaefer Gisele Marciacutelio Carlos Crescecircncio Marlos Vasselai Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 18 de marccedilo de 1995Grupo (CO) INCIDENTES

MOSTRA DE FINAL DE CURSO ndash PRIMEIRO SEMESTRE

98 ndash As Trapalhadas de xalaminDireccedilatildeo Janice PezzotiTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Gabriela Maluf Gustavo Alves Nadja Tiellet Rafael Steinbach Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

99 ndash uma Famiacutelia Bem unidaDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Jacques PreacutevertElenco Andreacute Manske Joatildeo Aguiar Juliana

de Souza Karina Vieira Maria Fernanda Beduschi Rafael de Almeida Roberto Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

100 ndash um Canto nas AlturasDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Giba de OliveiraElenco Aline Santos Patriacutecia Schwartz Rafael de Almeida Selena Paris Juliana Vendrami Beatriz Vigeta Pollyana Silva Renata Rodrigues Silvana MuumlllerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

101 ndash Os Cegos agraves CegasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto livre-adaptaccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sobre o texto ldquoOs Cegosrdquo de Michel Ghelderode Elenco Richard Huewes Sheilla Santos Sebastiatildeo Crispim Patriacutecia Cabral Marizete Slomp Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

O PODEROSO SAPAtildeO 102 ndash O Poderoso SapatildeoSinopse o Poderoso Sapatildeo narra a saga de um sapo que resolve se casar com uma princesa e ao contraacuterio do que se pode prever tem um final surpreendente bem diferente dos contos de fadas Com inuacutemeras cenas engraccediladas e situaccedilotildees divertidas foram criadas para o espetaacuteculo vaacuterias possibilidades de participaccedilatildeo do puacuteblico Outro aspecto interessante eacute a utilizaccedilatildeo de efeitos de sonoplastia e dublagem ao vivo dos atores

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Eacute essa mistura de efeitos e dublagem aliados agraves teacutecnicas de pantomima e clown que datildeo ao espetaacuteculo um ritmo de show divertido e interativo dirigido a crianccedilas jovens e adultosDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 07 de outubro de 1995Grupo Teatro-Show Clowns Mimos e Cia

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO FESTIVAL NuTE MOSTRA TUDO DE TEATRO

103 ndash Pequenas grandes peccedilas em um atoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

104 ndash A Condessa KatllenDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto William Butler YetsElenco Katiuscia Cordeiro Ana Carolina Leite Osnildo de Souza Krislei Oeschler Juliana Vendrami Taiacutesa Bogman Sebastiatildeo Crispim Rafael Ruzinski Pollyana da Silva Roberto da

Silva Mauro Cesar Ribas Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

105 ndash ColomboDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Michel GuelderodeElenco Robson Rosseto Samira Tomio Sebastian Vieira Rudimar Labes Andreacuteia Vieira Liana Guedes Mocircnica Costa Carla Behringer Jerusa Simatildeo Richard HuewesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO AS PECcedilAS) ndash SEgUNDO SEMESTRE

106 ndash jingle para o NatalDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Giba de OliveiraElenco Patriacutecia Venturini Eliana Kuhnen Renata Muumlller Rafael Steinbach Gabriela MalufForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

107 ndash O Teatro das MaravilhasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Miguel de CervantesElenco Adrian Marchi Ana Lygia Bacca Sebastiatildeo Crispim Mariane Ortlieb Tailann Tutunnyk Camila Cordeiro Kalinka Maronez Ana Lara Cim Mayara Damas Carlos Wovst Maria Luiza LapoliForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

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108 ndash Anjo NegroDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Nelson RodriguesElenco Patriacutecia Schwartz Denis Inaacutecio Rafael de Almeida Maria Fernanda Beduschi Pollyana da Silva Jerusa Simatildeo Renata Rodrigues Juliana Vendrami Marisa Calissi Mocircnica Costa Samira TomioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

1996

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO OacuteI gENTE) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

109 ndash O Mau NecessaacuterioDireccedilatildeo Mocircnica CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Aline Ferreira Cintia Gals Osnildo de Souza Jenifer Pezotti Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

110 ndash Pai e Filho a Respeito da GuerraDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

111 ndash Na Loja de ChapeacuteusDireccedilatildeo Carlos Crescecircncio

Texto Karl ValentinElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

112 ndash Robalo Robalinho e Matildeo de Vaca AdevogadosDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Irmatildeos MarxElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

113 ndash Vida e FicccedilatildeoDireccedilatildeo Jaime Gonzaacuteles EncinaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Angela Ferrari Daniela Ulrich Esther Santana Joaquim Farias Bianca Peixoto Andressa Pinto Lenita Siegel Luciana Tridapali Maria Lucia Marquez Sandra da Silva Priscila Cordova Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

114 ndash A Festa Minha Filha e EuDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Groucho MarxElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio Couto

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

115 ndash O Pai decideDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto adaptaccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sobre texto de Sempeacute e GoscinnyElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

116 ndash Famiacutelia FelizDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

117 ndash Ida ao TeatroDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO 3 VIDAS) ndash SEgUNDO SEMESTRE

118 ndash O SuiciacutedioDireccedilatildeo Luciano CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Peter Alan Ramos Jonas Buch Denise de Almeida Daiane Saut Priscila Mafezzoli Sabrina de MouraEstreia 22 de dezembro de 1996Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

119 ndash Aids um caminho sem voltaDireccedilatildeo Luciano CostaTexto Luciano CostaElenco Cristiane Bonfim Denise de Almeida Alexandre Fernandes Carolina de Farias Joatildeo ZimmermanForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de dezembro de 1996Grupo Grupo Banco de Praccedila

120 ndash Aquele que diz sim e aquele que diz natildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Bertold BrechtElenco Mariane Quinto Diego Noghrbon Geferson da Silva Sabrina de Moura Priscila MafezzoliForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de dezembro de 1996

O CASAMENTO DOS PEQUENOS

121 ndash O Casamento dos PequenosSinopse O Casamento dos Pequenos Burgueses eacute uma farsa desenfreada escrita num tom

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TERCEIRO

ENSAIO

realista conduzindo quase ao absurdo A peccedila mostra uma festa de casamento O noivo elogia os moacuteveis que ele mesmo construiu Os convidados discutem Pouco a pouco o ambiente fica pesado e a verdade se revela aleacutem das aparecircncias a noiva estaacute graacutevida o noivo desconfia de sua fidelidade os moacuteveis se despedaccedilam o cenaacuterio se destroacutei No final reina certa paz Os dois estatildeo finalmente soacutes A luz se apaga ouve-se um forte barulho a cama se desmorona O texto tem violecircncia e sarcasmo na anaacutelise moral da eacutepoca O deboche ciacutenico e feroz eacute a arma usada por Brecht Valores eacuteticos de uma sociedade satildeo colocados em questatildeo de forma criacutetica (texto extraiacutedo do programa do espetaacuteculo informando a seguinte referecircncia Brecht ndash Vida e Obra Peixoto Ed Paz e Terra 1974)Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo sobre o texto O Casamento dos Pequenos Burgueses de Bertold BrechtElenco Carlos Crescecircncio Richard Huewes Carlos Wovst Luciano Costa Andreacuteia Vieira Sebastiatildeo Crispim Juliana Vendrami Luciana Tridapalli e Grupo de Clowns Mimos e Cia Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 09 de novembro de 1996

Grupo Grupo de Clowns Mimos e CiaImportante apresentaccedilatildeo de estreia no siacutetio Fazendarado

1997MOSTRA DE FINAL DE CURSO

PRIMEIRO SEMESTRE

122 ndash A RaizDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alcione ArauacutejoElenco Susana Rossi Keila RossiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997

123 ndash Garotos de RuaDireccedilatildeo Luciano CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Janaina Meneghel Ana Luisa Kobuszewski Grassi Russi Carlos PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997

124 ndash Cenas de um AcampamentoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alexandre VeneraElenco Mauro Ribas Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997Grupo Grupo de Clowns Mimos e Cia

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ENSAIO

SEgUNDA MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

125 ndash PeruachoDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba de OliveiraTexto Bernadete da SilvaElenco Viviane Teixeira Jussara Hobus Julice da Rosa Fernando Bonatti Sabrina de MouraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

126 ndash EleonoraDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Nassau de SouzaElenco Elise Kluge Juliana Teodoro Vera Tafner Patricia Cipriani Vacircnia Tafner Mireile Gomes Marina MedeirosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

127 ndash Robalo Robalinho e Matildeo de Vaca AdevogadosDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Irmatildeos MarxElenco Janaina Meneghel Gabriela Kuehn Carlos Pereira Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997Importante espetaacuteculo jaacute encenado em 1996 sob direccedilatildeo de Carlos Crescecircncio e com outro elenco

128 ndash Cruzadas do Diabo na Terra de BabelDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Nassau de SouzaElenco Roberta Regis Carolina de Faria

Juliana Morais Charles Ewald Juliana Meneghel Gabriela KuehnForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

129 ndash um Restaurante A de OacutetimoDireccedilatildeo Giba de Oliveira e Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Julice da Rosa Jussara Hobus Fernando Bonatti Viviane TeixeiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

130 ndash Timipim do TupiniquimDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Patricia Cipriani Fabiana Fernandes Juliana Teodoro Marina Medeiros Alessandra Benvenuti Charlene Leber Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (TRIBUTO A NEI LEITE) ndash SEgUNDO SEMESTRE

131 ndash NusDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Wilfried KrambeckElenco Julice da Rosa Fernando Bonatti Silvana Silva Flaacutevia Rodrigues Mauro C RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

132 ndash uma luz na escuridatildeoDireccedilatildeo Giba de Oliveira

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TERCEIRO

ENSAIO

Texto Erli Rosi FonsecaElenco Sheila Maccedilaneiro Fabiana Ribas Katia Morais Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

133 ndash O Afogado Afunda LentamenteDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Shirlei Marcelino Amanda Trentini Roberta de Gasperin Anice Tufaile Juliana Von CzekusForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

134 ndash A Preguiccedila na Visatildeo de um EspecialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Odebrecht Elenco Roberta Regis Juliana Teodoro Patricia Cipriani Alessandra Benvenuti Vera Tafner Vacircnia TafnerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997Importante espetaacuteculo jaacute encenado em 1994 sob mesma direccedilatildeo mas com elenco diferente

135ndash O Sentido da Vida Segundo Aluisio e MiguelitoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Nira SilveiraElenco Ceigler Marques Carla Ramos Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

136 ndash A Confissatildeo ou a ConfusatildeoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Maacutercia SedrezElenco Ceigler Marques Carla Ramos Katia Morais Fabiana Ribas Gisele Oliveira Leonel CamposForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

137 ndash NatalDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Horaacutecio Braum JrElenco Anice Tufaile Tatiana dos Santos Roberta de Gasperi Amanda Trentini Juliana Von Czekus Shirlei MarcelinoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

138 ndash Natal MaluquinhoDireccedilatildeo Polianna Silva e Andreacuteia dos SantosTexto Giba de OliveiraElenco Munick Bonassa Polli Tiago Bonfanti Fabricio Batista Janaina Meneghel Gabriela Kuehn Carlos PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

JATO DE AMOR

139 ndash jato de AmorSinopse Jato de Amor conta as accedilotildees do ser enamorado a busca do par a manutenccedilatildeo do par a sua unificaccedilatildeo Satildeo histoacuterias de amores desenhadas sobre os gestos dos apaixonados captando na accedilatildeo figuras de suas des(a)venturas Jato de Amor eacute para ser visto como Teatro Imagem um caleidoscoacutepio visual e

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TERCEIRO

ENSAIO

sonoro em que a palavra fica quase desvinculada agrave accedilatildeo nas cenas As personagens quase decalques dos ritos de amor transfiguram-se entre o real e o imaginaacuterio subvertendo-se nos amores ldquonovordquo ldquovelhordquo ldquovendidordquo e ldquotriangularrdquo Por tratar-se de imagens o desempenho cecircnico ndash geralmente norteado em accedilotildees coreograacuteficas ndash assume entretanto um sentido ginaacutestico Como enredo o roteiro das cenas adapta para o palco citaccedilotildees trechos e frases de diversos autores (poemas de Jacques Preacutevert e Antonin Artaud Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes) aleacutem de experiecircncias pessoais (do elenco colaboradores amigos) e de intuiccedilotildeesDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre o texto Jato de Sangue de Antonin ArtaudElenco Giba de Oliveira Poli Vendrami Carlos Crescecircncio Sabrina de Moura Leonel Campos Ivan Aacutelvaro Cris Muumlller Jerusa Simatildeo Rafael de Almeida Wladimir Treiss

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 21 de novembro de 1997Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Clipe para assistir ao clipe elaborado quando do lanccedilamento do espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=Z_wfitlUs1kampfeature=related

Ensaio para assistir ao Ensaio Geral do Espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=Vbb7IyWHdRQ

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Giba de Oliveira no anexo Livreto Espetacular

1998

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

140 ndash um Convento Muito LoucoDireccedilatildeo Mocircnica CostaTexto Ana C Voltolini e Ana Julia MarchiElenco Ana Paula Glasenapp Baacuterbara Schmitt Jamile Assini Juliana Medeiros Monique Becker Mayla Voss Patriacutecia GlasenappForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

141 ndash O Poeta SolitaacuterioTexto Douglas ZuninoElenco Carlos Eduardo PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

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142 ndash FimDireccedilatildeo Arno Alcacircntara JrTexto Arno Paulo TarciacutesioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

143 ndash Programa Piloto Especial TV CapivarasDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba de OliveiraElenco Amanda Trentini Anice Tufaile Carlos Crescecircncio Carlos Pereira Flaacutevia Rodrigues Gabriela Kuhen Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Jamile Meneghel Janaina Meneghel Leonel Campos Poacuteli Vendrami Pollyanna Silva Rafael Almeida Roberta Regis Sebastiatildeo Crispim Shirlei Marcelino Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 24 de agosto de 1998

144 ndash Acrobacias ndash Duo AcrobaacuteticoDireccedilatildeo Mocircnica CostaElenco Afonso de Souza Alessandra Teodoro Faacutebio Cardoso Giseli Prada Luana Mocircnica Costa Soacutecrates Rufatto William Oliveira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 24 de agosto de 1998Grupo Grupo Acrobaacutetico Livres Leves e Loucos

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO PUXA BRASAS SABEMOS QUE

ESTAtildeO AIacute) ndash SEgUNDO SEMESTRE

145 ndash Na Loja de ChapeacuteusDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl Valentin

Elenco Carolina Andreoli Joatildeo Felipe BuergerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1996 sob mesma direccedilatildeo mas com elenco diferente

146 ndash EleonoraDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Nassau de SouzaElenco Talira dos Santos Sarah Beduschi Afonso de Souza Leandro Cunha Rocha Alexandre Jung Silvana CadoriForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e com elenco diferente A diretora desta montagem compotildee o elenco de 1997

147 ndash A Confissatildeo OuDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Maacutercia SedrezElenco Eloisa Borges Alexander Franzmann Joatildeo BuergerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Giba de Oliveira e com elenco diferente

148 ndash NusDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Wilfried KrambeckElenco Soacutecrates Ruffato Daniela Vogel Juceacutelia Deluca Tatiane ScozForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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TERCEIRO

ENSAIO

Estreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Giba de Oliveira com elenco diferente

149 ndash PeruachoDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Bernardete da SilvaElenco Leandro Cunha Rocha Adriana Krieck Alexandre Jung Micheli Dias Ana Paula ZuckiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e Giba de Oliveira com elenco diferente

150 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Giba de OliveiraElenco Silvana Becker Rita de Caacutessia Lopes Cristina Torri Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1994 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e com elenco diferente

O AMOR DE DOM PERLIMPLIM POR BELISSA EM SEU JARDIM

151 ndash O Amor de Dom Perlimplim por Belissa em seu jardimDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Frederico Garcia LorcaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mental

O CIO DAS FERAS

152 ndash O Cio das FerasSinopse montagem dramaacute-tico-musical e audiovisual (VT slides projeccedilotildees de 8 e 16 miliacutemetros) sobre poemas acompanhada de muacutesica ao vivo e apresentada em espaccedilo alternativo (semiarena) U m a homenagem aos dez anos do lanccedilamento do livro Poetas Independentes de Blumenau e O Fel do Cio de Rosane Magaly MartinsDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre os livros O Fel do Cio de Rosane Magaly Martins e Poetas Independentes antologia da Associaccedilatildeo de Poetas Independentes de Blumenau Elenco Anice Tufaile Mariane Quinto Sebastiatildeo Crispim Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Carlos Crescecircncio Carlos Pereira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de dezembro de 1998Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Apresentaccedilatildeo Fenatib para assistir agrave apresentaccedilatildeo do espetaacuteculo no Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau acesse o endereccedilowwwyoutubecomwatchv=s8oMh-G7nk4

Apresentaccedilatildeo Curupira para assistir agrave apresentaccedilatildeo do espetaacuteculo no Festival de Bandas Undergraud do Curupira acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=TrNOpr__aVU

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Afonso Nilson no anexo Livreto Espetacular

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ENSAIO1999

O RITUAL DE OFERENDAS

153 ndash O Ritual de OferendasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Joatildeo amp Insone PessoaElenco Sebastiatildeo Crispim Juliana Teodoro Afonso de Souza Anice Tufaile Juliana Von Czekus Janaina Meneghel Tamara Beims GuantildeabensForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaGrupo (CO)INCIDENTES

TEATRO DA TERRA

154 ndash O Camaleatildeo da Mata ndash A LendaDireccedilatildeo Alexandre Venera e Tadeu BittencourtTexto baseado em um argumento de Alexandre Venera e Tadeu BittercourtElenco Carlos Crescecircncio Juliana Teodoro Juliana Von Czekus Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 06 de Marccedilo de 1999Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesImportante esse espetaacuteculo faz parte do projeto Teatro da Terra apresentaccedilotildees que aconteciam no siacutetio Fazendarado dentro da mata

155 ndash Metafiacutesica de Caeiro ndash O VooDireccedilatildeo Alexandre Venera Texto argumento de Alexandre Venera e Daniel Curtipassi sobre poemas de Fernando PessoaElenco Carlos Crescecircncio Juliana Teodoro Juliana Von Czekus Afonso Barbosa Sebastiatildeo

Crispim e Adriana KrieckForccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 07 de agosto de 1999Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesImportante esse espetaacuteculo faz parte do projeto Teatro da Terra apresentaccedilotildees que aconteciam no siacutetio Fazendarado dentro da mata

Apresentaccedilatildeo para assistir agrave apresentaccedilatildeo deste espetaacuteculo acesse o endereccedilohttpyoutubeDdDXLwIWP3Y

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Luciano Bugmann no anexo Livreto Espetacular

A MORTA

156 ndash A MortaSinopse A Morta narra a busca de um poeta por sua musa inspiradora ateacute os confins aleacutem morte A Morta eacute um dos mais eloquentes manifestos modernistas contra as convenccedilotildeessociais impostas pela religiatildeo a moral a burguesia e que se torna um grande instigador agrave manifestaccedilatildeo artiacutestica puraDireccedilatildeo Alexandre Venera

As fotos deste espetaacute-culo foram gentilmente cedidas ao projeto pela fotoacutegrafa Maria Emiacutelia da Silva

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TERCEIRO

ENSAIO

Texto Oswald de AndradeElenco Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Carlos Crescecircncio Sebastiatildeo Crispim Afonso de Souza Analice Tufaile Janaina Meneghel Tamara Beims Guantildeabens Carlos Pereira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 28 de setembro de 1999Grupo Grupo de Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para ChoquesImportante uacuteltimo espetaacuteculo do Grupo de Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesLivreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Juliana Teodoro no anexo Livreto Espetacular

2000

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

157 ndash Restaurante MercenaacuterioDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Silvio Volpato Maicon Berg Crislene Caetano Juceacutelio Pandini Aritana Froeschlin Luiz Garcia Soares Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

158 ndash um Quarto de CasalDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Maacutercio Pereira CoutoElenco Luiz Garcia Soares Viviane de Cassio Luciana Fistarol Juliano BittencourtForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

159 ndash Bye Bye ParaiacutesoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Nassau de SouzaElenco Janete Nogueira Joseacute Luiz Cujik Joice Daiana Leite Susi da Silva Eloiacutesa Borges Priscila BarbieriForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

160 ndash Bicharada do BarrilDireccedilatildeo Alexandre Venera Texto Wilfried KrambeckElenco Luiz Garcia Soares Aritana Froeschlin Crislene Caetano Silvio Volpato Maicon Berg Juceacutelio PandiniForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000Importante texto jaacute encenado em 1991

161 ndash Vaca AmarelaDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto adaptaccedilatildeo do grupo sobre texto de autor desconhecidoElenco Marcia Schnaider Marciel Sabel Viviane Catarina Manoela Machado Fabriacutecia Hafermann Luciana Juliano Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

162 ndash O Uacuteltimo Seraacute o PrimeiroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Silvio VolpatoElenco Crislene Caetano Silvio Volpato Juceacutelio Pandini Aritana Froeschlin Luiz Garcia Soares Maicon BergForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

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TERCEIRO

ENSAIO

163 ndash Morreu deDireccedilatildeo Ariane RegisTexto Ariane RegisElenco Ricardo Koehler Ariane Regis Patriacutecia CenziForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

164 ndash O Medo que CalaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alessandra RosaElenco Alessandra Rosa Suzana Soares Elton Girelli Tiago Freitas Cintia Viventi Gabriela Koehler Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

165 ndash Pigmaleatildeo e GalateaDireccedilatildeo Mauro Ribas NetoTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera Elenco Patriacutecia Cenzi Gabriela Koehler Ricardo Koehler Luiz Garcia Soares Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000Grupo Grupo de Clowns Mimos e Cia

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

166 ndash O Livro ProibidoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Carlos CrescecircncioElenco Caroline Selhorst Jenifer Fischer Shawn Nicolai Bernardo Azevedo Marcos Sebastiatildeo Crispim

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

167 ndash O Porco e o Morto de FomeDireccedilatildeo Mauro Ribas NetoTexto Fabiano SchlosserElenco Silvio VolpatoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000Grupo Grupo Clowns Mimos e Cia

168 ndash Concerto de OrquestraDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Danuacutebia Pereira Sonia Nogara Daniela de Oliveira Ceacutelia Cleacuterice Gabriela Caminha Sebastiatildeo Crispim Tiago FreitasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

169 ndash O Mendigo ou o Catildeo MortoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Bertold BrechtElenco Janete Nogueira Ricardo Koehler Susana Stein Paulino Junior Gabriela KoehlerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000Importante texto jaacute encenado em 1986 dentro do espetaacuteculo Classe Glacecirc sob direccedilatildeo de Alexandre Venera com outro elenco

170 ndash Guernica em BlumenauDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de texto de Fernando ArrabalElenco Gabriela Koehler Joice Daiana Leite Joseacute Luiz Cujik Priscila Barbieri Tiago Freitas

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ENSAIO

Juliana RodriguesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

171 ndash O Califa da Rua do SabatildeoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Artur AzevedoElenco Silvio Volpato Juceacutelio Pandini Crislene Caetano Aritana Froeschlin Alexandra Batisti Patriacutecia LenziForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

2001Natildeo houve montagens

2002

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

172 ndash A SituaccedilatildeoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Luiacutes Fernando VeriacutessimoElenco Adriana Dellagiustina Rodrigo DemeacutetrioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

173 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Patriacutecia Mara Martins Silvio Mara Jacinto Solange WesmuthForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

Estreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 e em 1997 sob mesma direccedilatildeo mas com elencos diferentes

174 ndash PeruachoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Bernadete da SilvaElenco Ester Cunha Rodrigo Demeacutetrio Adriana Dellagiustina Elias Lana Paulo VasconcelosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1997 com direccedilatildeo de Alexandre Venera e Giba de Oliveira e em 1998 com direccedilatildeo de Juliana Teodoro as trecircs montagens possuem elencos diferentes

175 ndash A galinha que chocava pedrasDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Hermes Altemani e Nery GomideElenco Solange Wasmuth Patriacutecia Mara Martins Silvia Mara Jacinto Sebastiatildeo Crispim Mauro Ribas NetoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

176 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Ester Cunha Rodrigo Demeacutetrio Elias Lana Adriana Dellagiustina Paulo VasconcelosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 com direccedilatildeo de Alexandre Venera e em 1998 com direccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sempre com elencos diferentes

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TERCEIRO

ENSAIO

177 ndash Nosso Reino por um Bom GuerreiroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Solange Wasmuth Mauro Ribas Neto Patriacutecia Mara Martins Silvia Mara Jacinto Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

178 ndash NusDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Wilfried KrambeckElenco Adriana Dellagiustina Elias Lana Ester Cunha Paulo Vasconcelos Rodrigo DemeacutetrioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1997 com direccedilatildeo de Giba de Oliveira e em 1998 com direccedilatildeo de Juliana Teodoro sempre com elencos diferentes

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

179 ndash A Exceccedilatildeo e a LendaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Andreacuteia de Souza Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

180 ndash DelicadezaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Kosowky e Dino BuzzatiElenco Dilma da Silva Flavia Faustino

Joaquim Wolff Bruna RudolphoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

181 ndash Camaradas MeacutedicosDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Andreia de Souza Pamela Cacircndido Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

182 ndash EquivalecircnciaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Kosowky e Dino BuzzatiElenco Flavia Faustino Joaquim Wolff Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

183 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Hannah Theis Amanda Mendes Pamela Cacircndido Angela Otto Bruna RudolphoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 em 1997 e em 2002 sob mesma direccedilatildeo mas com elencos diferentes

184 ndash Melhor natildeo tecirc-los masDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Janice PezottiElenco Simone Tambosi Sebastiatildeo Crispim Angela Otto

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TERCEIRO

ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

185 ndash No Bar da ZuleicaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletiva sobre textos de Pedro DiasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

Estupefatos os atores balanccedilam a cabeccedila esfregam os olhos voltam ao cronograma Alguns durante a leitura emitem fortes gargalhadas outros se lamentam Por fim o mais corajoso dentre eles resolve arriscar

ndash Desses 185 espetaacuteculos quantos realmente satildeo do NuTE e quantos satildeo montagens do JOTE-Titac

ndash Todos sem exceccedilatildeo foram montados pelo NuTE Optei em natildeo misturar espetaacuteculos NuTE com espetaacuteculos JOTE-Titac

ndash Vocecirc quer dizer que aleacutem dessas 185 montagens ainda existem as peccedilas do JOTE-Titac

ndash Exatamente

Frenesi exclamaccedilotildees descontinuas risos e salivas explodem no ar

ndash Mas isso eacute impossiacutevel Se o grupo durou 18 anos eles teriam que montar uma meacutedia de dez espetaacuteculos por ano para atingir esse nuacutemero alucinante Deve haver algum erro

ndash Olha tem aqui vaacuterios textos ndash Bicharada do Barril Nus Funesta Noite Senhoras e Senhores Nosso Reino Por um Bom Guerreiro entre tantos outros ndash que foram escritos para o JOTE-Titac aparecem no livro Jogos de Teatro 12 anos de Teatro em Blumenau Vocecirc deve ter cometido algum equiacutevoco natildeo eacute possiacutevel

ndash Natildeo natildeo natildeo eacute nada disso quem estaacute fazendo confusatildeo satildeo vocecircs O que acontece eacute o seguinte muitos textos como esses que vocecirc

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TERCEIRO

ENSAIO

citou originalmente foram escritos para os Jogos de Teatro e consequentemente muitos deles foram montados nos Jogos de Teatro Contudo fora dos Jogos a Escola NUTe tambeacutem utilizava de forma didaacutetica esses textos Natildeo sei se vocecircs sabem mas a proposta baacutesica do curso de formaccedilatildeo dado pela Escola NUTe era de que o aluno pudesse ldquoaprender fazendordquo Assim todo semestre as turmas montavam alguns espetaacuteculos que eram encenados dentro de uma mostra de final de curso Esse tipo de montagem faz ressonacircncia com uma seacuterie de forccedilas as quais vetorizei nesse cronograma como Teatro Escola Paralela a essa composiccedilatildeo vetorial corre dentro do NuTE um tipo distinto de forccedilas as quais vetorizei como Teatro Experimental Este segundo vetor atravessa as grandes montagens do NuTE Montagens que se utilizam de textos consagrados como Macbeth por exemplo mas que por vezes tambeacutem se utilizam de textos vindos do JOTE-Titac como por exemplo Senhoras e Senhores Seria um desrespeito de minha parte catalogar Macbeth e desprezar Senhoras e Senhores jaacute que ambos satildeo espetaacuteculos-NuTE

ndash Tudo bem podemos ateacute estar de acordo com sua anaacutelise Mas por favor nos diga como eacute que vamos dar conta de montar um espetaacuteculo que apresenta a histoacuteria de 185 montagens Isso eacute irrealizaacutevel Mesmo se montarmos uma pequena cena sobre cada um deles digamos que cada cena tenha apenas dois minutos teremos ao final aproximadamente seis horas de espetaacuteculos

ndash Seis horas para o terceiro ensaio fora os demais Isso eacute loucura vamos ter um espetaacuteculo com mais de dez horas

ndash Bem Acho que vocecircs todos reconhecem uma influecircncia de Bob Wilson sobre Alexandre Venera natildeo

Black-Out Salivas secas seguem gargantas agrave dentro Dois atores se aproximam e prometendo devolver o cachecirc pago rendem homenagem ao capitatildeo Nascimento ldquopedindo para sairrdquo o excesso lhes tenciona abandonar os ensaios Percebo minha imbecilidade mais uma vez tarde demais Tento acalmar o grupo ningueacutem me ouve ningueacutem ouve ningueacutem Todos falam e gesticulam ao mesmo tempo num pandemocircnio generalizado e dramaacutetico jaacute que deixamos as cadeiras confortaacuteveis da plateia e estamos todos no palco De repente por fora algueacutem abre a porta do grande auditoacuterio A estranheza da cena agravequela altura da tarde fez calar os gestos e as matracas falantes

Eacute provaacutevel que o leitor suspeite dada agrave intempestividade do acontecido da veracidade do relato que segue Por isso faccedilo questatildeo de ressaltar que exatamente como aconteceu eacute que conto ou melhor o conto eacute exatamente o que iraacute acontecer

Pelo silecircncio da porta entra ningueacutem menos ningueacutem mais que Alexandre Venera dos Santos Ele caminha lentamente ateacute o palco calccedila jeans camiseta esverdeada chinelos Havaianas traz consigo um pequeno sorriso ao lado esquerdo da boca Sobe ao palco alguns sussurros orelhais lambem o silecircncio da porta

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Ao se aproximar do grupo todos percebem um excecircntrico meio bigode de um lado ndash em contraponto a uma excecircntrica meia costeleta de barba de outro ndash no rosto de Alexandre Alguns atores se cutucam trancando o riso Por fim Alexandre diz

ndash Oi gente e aiacute porque estatildeo todos quietos eacuteeacuteeacuteeacute vocecircs gostaram do meu bigode novo eacute isso

O riso se espalha pelos quatro cantos do teatro sinto alguns quilos a menos em meus ombros Laacute pelas tantas num tom de brincadeira algueacutem resolve perguntar onde afinal de contas Alexandre esteve ateacute entatildeo e ele responde que encontrou dificuldades para fazer a barba Alguns risos depois o grupo resolve bastante animado mostrar para Alexandre a cronologia que viacutenhamos discutindo Impressionado Alexandre sorri

ndash Puxa que bacana Na minha cabeccedila era coisa de pouco mais de cinquenta espetaacuteculos Quer dizer que montamos tudo isso mesmo Que legal

ndash Sim mas estamos com medo desse excesso

ndash Medo O excesso natildeo conversa com o medo O oposto dele sim Aleacutem do quecirc isso tudo vai ficar super bom na peccedila que estamos levantando vai cair como uma luva azul

ndash Mas eacute exatamente isso o que nos assustandash Isso o quecirc a luva azul Entatildeo vamos

cortar ela Olha pessoal natildeo tem motivo pra nenhum receio na verdade enquanto assistia

agrave projeccedilatildeo me passou umas ideias que se vocecircs toparem pode ficar joiandash todas as almas olham para Alexandre Depois de uma pausa ele diz

ndash Vocecircs gostam do Bob Wilson ndash um quase desespero atravessa o grupo Sinto que eacute hora de me redimir e entro na conversa

ndash A gente chegou a fazer um caacutelculo raacutepido Venera e a conclusatildeo foi de que seria inviaacutevel e desgastante um espetaacuteculo tatildeo longo

ndash Desgastante Muito pelo contraacuterio vai ser tonificante energeacutetico ndash batendo uma matildeo na outra

ndash Por menores que sejam as cenas o volume de montagens vai impor horas ao espetaacuteculo A natildeo ser que faccedilamos um corte talvez possamos escolher os mais importantes e com eles criar as cenas para esse capiacutetulo

ndash Mas quem vai definir o criteacuterio que vamos usar para escolher esse ou aquele espetaacuteculo Eu natildeo me sinto agrave vontade pra fazer isso Natildeo Eacute o seguinte eu natildeo abro matildeo temos sim que acolher todos eles Afinal eacute NuTE para todos ou natildeo eacute

ndash Mas como como vamos falar de todos os espetaacuteculos

ndash Noacutes natildeo precisamos fazer isso Os espetaacuteculos falam por si Aleacutem do quecirc seria redundante criar uma cena para fazer falar uma cena Natildeo vejo propoacutesito nisso

ndash Entendo cada vez menosndash Natildeo se trata de entender mas de projetarndash Projetar

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ENSAIO

ndash Isso O que vocecircs acham da gente pegar esse tal de EXUBERANTE CRONOLOGIA ESPETACULAR DO TEATRO EXPERIMENTAL E DO TEATRO ESCOLA NUTEANESCOS eou PUTA QUE PARIU ESSES CARAS MONTARAM 185 (cento e oitenta e cinco) ESPETAacuteCULOS e projetar do jeito como ele estaacute

ndash Sem mudar nadandash Sim Podemos deixar assim como estaacute

Acho que ficou bom Minha sugestatildeo eacute mudar apenas o nuacutemero de projetoresprojeccedilotildees Ao inveacutes de utilizar um uacutenico projetor como vocecircs fizeram hoje podemos projetar trecircs imagens ao mesmo tempo um espetaacuteculo no centro um agrave esquerda e um agrave direita Cada projeccedilatildeo teraacute uma duraccedilatildeo de dez segundos Assim em 1 minuto teremos 18 espetaacuteculos e em pouco mais de 10 minutos fechamos os 185 O que vocecircs acham

Era uma excelente ideia Concordamos todos sem pestanejar Houve apenas uma discordacircncia Metade dos atores insistia que seria melhor mais neutro de nossa parte apenas projetar o cronograma jaacute a outra metade acreditava que durante a projeccedilatildeo deveria haver interferecircncias atores no palco encenando dialogando com a projeccedilatildeo Depois de algum debate Alexandre e a maioria do grupo se direcionam para a segunda opccedilatildeo mas o problema do criteacuterio de seleccedilatildeo dos espetaacuteculos retorna jaacute que seria impossiacutevel em dez minutos passar por todos os 185 O grupo de uma forma geral concorda que uma vez resolvida a questatildeo do criteacuterio de seleccedilatildeo as interferecircncias

cecircnicas potencializariam o espetaacuteculo Seria preciso selecionar entre oito e doze espetaacuteculos para que em cada minuto aproximadamente possa acontecer uma cena ou entatildeo elaborar uma uacutenica accedilatildeo sobre os escolhidos Durante o embate surge a proposta de questionar o leitor a esse respeito Nesse sentido a opiniatildeo do grupo acabou consensual apenas o leitor estaria autorizado a realizar essa seleccedilatildeo

Foi o que fiz Dessa enquete realizada atraveacutes do blog surgiu a lista de espetaacuteculos que compotildeem o Livreto Espetacular

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registro do curso lsquotreinamento cotidiano do atorrsquo da esquerda para direitagiba de oliveria alexandre

venera dos santos regina simas carlos simioni peacuterola aacutelvaro alves andrade pepe sedrez milena

sentados ivan joseacute aparecido dos santos carlos crescecircncio e carlos alberto dos aantos

Foto

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QUARTO

ENSAIOQUARTO ENSAIO ndash 04 DE MAIO DE 2015

Segunda-feira de TrabalhoNo reloacutegio ponto marcam 07h30minImagem Insistente Apolo X Dioniso

ndash Bom dia Espero que estejam todos bem acordados Hoje o ensaio vai ser puxado pessoal Taacute todo mundo bem disposto ndash os atores sinalizam que sim Alexandre prossegue ndash Minha proposta eacute retomarmos o esquema de trabalho do Segundo Ensaio Achei que funcionou bem naquele dia

ndash Aquele com os aperitivosndash Exatamente o que vocecircs achamndash Boa ideiandash As cenas ficaram bem boas mesmondash Vamos utilizar os mesmos aperitivosndash Natildeo Eu montei cinco jogos novos Com

a bandeja do Segundo Ensaio natildeo daria certo pois nosso tema agora eacute outro A intenccedilatildeo hoje eacute focar toda energia na Escola de Teatro do NUTe Levantar cenas sobre a Escola

ndash Vamos poder escolher os aperitivos novamente

ndash Acho que sim natildeo vejo problema desde que haja consenso entre vocecircs Tenho apenas uma ressalva Aleacutem do jogo de aperitivos que

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QUARTO

ENSAIO

vocecircs vatildeo escolher gostaria que todos os grupos jogassem com o Aperitivo Livretante

ndash Como assimndash O Aperitivo Livretante eacute um aperitivo

anexo agrave bandeja deste ensaio Aleacutem dos cinco aperitivos que seratildeo servidos existe essa espeacutecie de Experiecircncia do Fora Eacute um sexto aperitivo que natildeo entra na bandeja da escolha A ideia eacute que cada grupo escolha um aperitivo para disparar suas cenas e junto a este quando estiverem encenando permitir ressonacircncias com o Livretante

ndash Deixa ver se entendi Funciona da mesma forma que o Segundo Ensaio mas agora ao inveacutes de um aperitivo vamos trabalhar com dois Um que a gente escolhe e outro que vocecirc jaacute definiu

ndash Eacute quase isso Vocecircs natildeo precisam dar conta de encenar todo o Livretante a ideia eacute que vocecircs o acionem sobre as cenas Que ele ajude na composiccedilatildeo que esteja acoplado de alguma forma Eacute um ldquoplusrdquo um a mais sobre aquilo que vocecircs montarem Mas claro natildeo se sintam na obrigaccedilatildeo de fazer dessa ou daquela forma O mais importante eacute criar com liberdade Os aperitivos servem para ajudar vocecircs a encontrar algo Agora se eles em algum momento dificultarem essa pesquisa abandonem sem medo joguem fora os aperitivos e passem ao prato principal

ndash Prato principalndash Claro a cena de vocecircs O aperitivo eacute

apenas uma bengala a funccedilatildeo dele eacute disparar

a cena nada maisndash Cenas sobre a Escola NUTe ndash Isso Escolacecircnicas cenicasescolaresndash E os locais de ensaio temos que usar os

mesmosndash Os locais satildeo vocecircs que escolhem A

diferenccedila eacute que desta vez vamos precisar de cinco grupos dois grupos a mais Tudo bem ndash os atores dividem olhares aos poucos vatildeo se aproximando e sem nenhuma palavra cinco grupos surgem no palco

ndash Oacutetimo Jaacute temos os cinco grupos Maravilha Mais alguma pergunta pessoal Natildeo Nada mais Entatildeo garccedilom por favor a bandeja

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QUARTO

ENSAIO

Caro leitor

convidamos vocecirc agora a provar dos nossos aperitivos cecircnicos na cor cinza

que incluem as cartas bocircnus

ldquoaperitivos livretantesrdquo

vaacute em frente bom experimento

APERITIVOS CEcircNICOSeou nutrientes para

composiccedilatildeo de mundos

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QUARTO

ENSAIO

Composiccedilatildeo de Mundos

Enquanto os grupos pesquisam seus espaccedilos cecircnicos Alexandre fuma um dois trecircs cigarros Consegue para ele e tambeacutem para mim um copinho de cafeacute na secretaria da Carona Escola de Teatro Seduzido pela cafeiacutena resolvo fumar um cigarro tambeacutem Ao teacutermino desse estimulante abastecimento fisioloacutegico iniciamos nossa andanccedila

Os cinco grupos selecionaram como espaccedilo de ensaio os seguintes locais

Grupo I ndash (O)Caso ndash corredor do terceiro piso do Teatro Carlos Gomes onde na deacutecada de 80 foram apresentados espetaacuteculos como O Tuacutenel

Grupo II ndash Poratildeo do Teatro ndash local onde o NUTe realizou as Oficinas de Base

Grupo III ndash Grande Auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes ndash Auditoacuterio Heinz Geyer

Grupo IV ndash Pequeno Auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes ndash Auditoacuterio Willy Sievert

Grupo V ndash Antiga Sede-Secretaria do NUTe ndash espaccedilo que deixou de existir com a reforma do Teatro Carlos Gomes em 2002

Os atores que ensaiam no espaccedilo (O)

Caso utilizam a teacutecnica do Joatildeo Bobo como aquecimento Um ator se posiciona entre outros dois e se lanccedila livremente para frente e para traacutes onde estes o apanham trazendo de volta ao centro-meio do jogo O movimento eacute revezado por todos os atores que hora fazem a rede hora o Joatildeo Bobo

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No Poratildeo do Teatro sobre uma mesinha improvisada dois atores disputam uma queda de braccedilo Os demais em volta fazem torcida gritante e apostam dinheiro no vencedor

O grupo que ensaia no Grande Auditoacuterio percorre o palco realizando o que parece ser um estudo sobre a rede eleacutetrica disponiacutevel Fazem anotaccedilotildees caacutelculos discutem a impedacircncia a amperagem

Alguns atores da plateia do Pequeno Auditoacuterio aplaudem o que parece ser um desfile de moda que se realiza atraveacutes dos demais atores no palco

Na antiga sala-sede do NUTe um uacutenico ator de peacute estaacute cercado pelos demais que o reverenciam sentados sobre seus proacuteprios calcanhares em estranhos movimentos lanccedilam os braccedilos acima da cabeccedila e curvam-se ateacute o chatildeo Quando retornam ao iniacutecio do movimento bradam em coro mestre mestre mestre

Alexandre natildeo interfere Apenas observa os grupos Por vezes sorri por vezes passa a matildeo no cabelo usando os dedos da matildeo direita como pente agraves franjas que lhe caem sobre a testa Depois dessa primeira rodada claro que um cigarrinho vai muito bem melhor ainda se acompanhado daquele cafezinho que se consegue na secretaria da Carona Escola de Teatro Uma respirada algumas tragadas e estamos prontos para continuar

Voltamos ao Poratildeo Os atores em silecircncio formam um ciacuterculo de costas Cada qual olha numa direccedilatildeo a sua frente de modo

que nenhum deles consegue olhar os demais Alexandre achou curioso Sentados em duas cadeiras improvisadas permanecemos por alguns minutos mas nada acontece A tensatildeo da queda de braccedilo havia se esvaziado Em cena apenas o silecircncio e o distanciamento entre os atores Aguardamos mais alguns minutos Nada Alexandre comeccedila a coccedilar a cabeccedila olha pra mim faz menccedilatildeo de que vai intervir levanta-se mas ao comeccedilar a falar o dorso da matildeo esquerda do primeiro ator atinge com muita forccedila a face do segundo o que faz com que o dorso da matildeo esquerda do segundo ator atinja a face do terceiro O mecanismo se repete ateacute atingir a face do primeiro ator Quando isso acontece o ator que iniciara a accedilatildeo num abrupto movimento de 180 graus nos olha com violecircncia escaacuternio e certa simpatia dizendo

Alguns de noacutes achaacutevamos que tiacutenhamos que montar espetaacuteculos com mais frequecircncia Mas quase ningueacutem tomou partido tatildeo abertamente por um dos dois projetos de NuTE jaacute que eles tinham comeccedilado mais ou menos juntos o Experimental e a Escola com Alexandre e Wilfried O Wilfried sempre mais com a ideia da escola e o Alexandre sempre com a ideia dos espetaacuteculos era mais ou menos assim (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 24)

Ao finalizar a fala numa velocidade incriacutevel o grupo desfaz a configuraccedilatildeo circular e retorna ao braccedilo de ferro agrave balbuacuterdia agrave torcida e agraves apostas Venera deixa escapar um susto Com os olhos esbugalhados escreve algo num bilhete aproxima-se dos atores e como quem faz uma aposta num dos combatentes

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A cerimocircnia continua mas agora o ator do projetor multimiacutedia veste um professoral jaleco branco Retira de um dos bolsos uma caneta laser e apontando para a imagem projetada inicia o que parece ser uma aula dedicada a uma turma de ensino meacutedio

ndash Bem como vimos em nossa uacuteltima aula a escola NUTe vinha pipocando desde os primeiros anos do Nuacutecleo de Teatro Experimental Num primeiro momento os cursos satildeo ministrados por Wilfried Krambeck que logo na sequecircncia se transforma em coordenador-pedagoacutegico possibilitando que outros membros do nuacutecleo ministrem cursos Atenccedilatildeo pessoal menos barulho por favor isso aqui pode cair na prova Noacutes vamos chamar essa primeira fase da escola NUTe de Krambeck in Cursos Sobre isso noacutes conversamos bastante em nossa uacuteltima aula espero que todos estejam lembrados Quem faltou nesse dia e natildeo quer tomar bomba no exame recomendo estudar o livro da paacutegina 85 agrave 111

ndash Jaacute a segunda fase da escola NUTe se potildee em movimento quando o nuacutecleo comeccedila a trazer importantes nomes do teatro nacional os quais ministram cursos que desencadeiam o processo sem volta agrave primeira Escola Livre de Teatro de Santa Catarina Gostaria que vocecircs anotassem tambeacutem este ponto temos certeza de ser a primeira Escola Livre de Teatro do Vale do Itajaiacute poreacutem algumas pessoas acreditam que o NUTe possa ser a primeira Escola Livre de Teatro de toda Santa Catarina Sendo ou natildeo algo fundamental que acontece nessa segunda

joga o bilhete sobre a mesa A cena natildeo para Suavemente deixamos o poratildeo Na antiga Sala-Sede do NUTe o ritual de aclamaccedilatildeo ldquomestre mestre mestrerdquo segue sem nenhuma novidade Alexandre se irrita e interrompe a cena Pergunta ao grupo se haacute algum motivo para tanta repeticcedilatildeo O grupo se dissolve em torno do uacutenico ator de peacute e se refaz em torno de Alexandre Novamente com o mesmo cerimonial repetem ldquomestre mestre mestrerdquo Ainda mais irritado Alexandre balanccedila a cabeccedila numa desaprovaccedilatildeo que mastiga fogo pelos olhos o que deixa a cena muito engraccedilada Sem poder conter acaba me saindo uma gargalhada Imediatamente o grupo abandona Alexandre e me circula dizendo ldquomestre mestre mestrerdquo Continuo rindo e Alexandre acaba achando graccedila tambeacutem Por fim um ator que estava separado do grupo liga o projetor multimiacutedia e todos os demais passam a reverenciar a imagem projetada dizendo ldquomestre mestre mestrerdquo

dr joseacute ronaldo faleiro

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fase eacute que os alunos NUTe tecircm a possibilidade de assistir a aulas de Thiers Camargo Irene Ravache Joseacute Possi Neto Roland Zwicker Jorge Cherques Walmor Chagas Pepita Rodrigues Eduardo Dolabella Vamos chamar essa Segunda Fase da Escola NUTe de Grande Mestres

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Contudo ndash retorna o ator professor - se vocecircs fizeram a tarefa de casa que deixei semana passada jaacute sabem que dentre tantos dois cursos foram fundamentais nesse processo Eles satildeo citados veementemente em quase todas as entrevistas realizadas pela pesquisa e publicadas no blog wwwnuteparatodoswordpresscom Ganha um ponto positivo na prova quem primeiro me disser o nome dos professores que deram esses cursos

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Muito bem eacute isso mesmo Trata-se em primeiro momento do curso de Aprimoramento em Teatro Universal dado por Joseacute Ronaldo Faleiro e alguns anos mais tarde o curso Treinamento Cotidiano do Ator dado por Carlos Simioni e Ricardo Pucceti

Joseacute Ronaldo Faleiro natural de Porto Alegre retorna ao Brasil depois de longa estadia na Franccedila ndash de 1972 a 1986 ndash onde defenderaacute sua tese de doutorado ndash La Formation de lacuteActeur agrave partir des Cahiers dacuteArt Dramatique de Leacuteon Chancerel et des Cadernos de Teatro dacuteO Tablado Aceita voltar por insistecircncia

de Olga Reverbel entatildeo professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que havia sido convidada a lecionar temporariamente na licenciatura em artes da Universidade Regional de Blumenau (Furb) Faleiro acaba assumindo aleacutem da pesquisa e do ensino tambeacutem a chefia da Divisatildeo de Promoccedilotildees Culturais nesta universidade Uma vez em Blumenau sofre grande impacto ao assistir O Homem do Capote e Outros Seres espetaacuteculo que lhe pareceu muito proacuteximo ao teatro contemporacircneo europeu Impressionado com o fato de um grupo de teatro amador do interior de Santa Catarina estar realizando montagens com elementos pesquisados por um teatro que vinha acompanhando em especial na Franccedila e na Alemanha passa a se aproximar do entatildeo Nuacutecleo de Teatro Experimental

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Em maio de 1987 e em marccedilo de 1988 Faleiro ministra para o NUTe o curso de Aprimoramento Teoacuterico Praacutetico em Teatro Universal o qual conforme podemos observar na inscriccedilatildeo deste aluno consistia do seguinte programa

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ndash O curso mobiliza novas forccedilas e intensifica

o combate entre as jaacute existentes ndash escolar e experimental ndash dentro do nuacutecleo Mais que isso Faleiro torna-se uma espeacutecie de mestre dos nutes

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Nutes em busca de Nutrientes encontram em Faleiro uma referecircncia teatral Passam a frequentar sua casa emprestam livros de sua biblioteca pessoal um impressionante acervo sobre teatro que superava em muito as bibliotecas da regiatildeo Cabe lembrar

que estamos na deacutecada de 80 natildeo existe internet a dificuldade de acessar produccedilotildees contemporacircneas eacute imensa a maior parte das informaccedilotildees se encontra apenas em material impresso importado e caro Generosamente esse senhor disponibiliza parte de seu tempo sua casa e sua biblioteca a esses jovens No recorte aperitivo que recebemos da entrevista realizada com Roberto Murphy jogo nuacutemero 2 eacute possiacutevel perceber isso com mais clareza

Ele trouxe uma biblioteca de teatro Todas as paredes da casa dele eram repletas de livros E tinha um palco no meio onde tudo era livro de teatro de arte em geral mas basicamente teatro O banheiro da casa dele era cheio daqueles Aquelas coisas de guardar sapatos aquilo era cheio de livros E a gente ia pra laacute passava a tarde laacute ele fazia uma torta de maccedilatilde com mel e chaacute de natildeo sei o quecirc E conversa conversa Aquilo foi nutrindo muito a gente E ele comeccedilou a ter contato com o Wilfried com todos os fundadores laacute do NuTE e comeccedilou a haver um fervo muacutetuo Aquilo ali foi revolucionaacuterio O contato do Faleiro com o Alexandre foi demais E isso provocou em todos noacutes porque eu me considero um disciacutepulo deles todos desses dois principalmente assim como Giba eacute tambeacutem como Pepe eacute (entrevista com Roberto Murphy paacuteginas 6-7)

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Um bom exemplo desse contato que Murphy nos fala eacute o espetaacuteculo Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes concebido e dirigido por Alexandre Venera contando com assessoria de Ronaldo Faleiro E assim bem nutrido este Nuacutecleo de

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Teatro Experimental teraacute condiccedilotildees alguns anos mais tarde de vir a ser Nuacutecleo de Teatro Escola Olha pessoal o barulho taacute demais Natildeo quero colocar ningueacutem pra fora hoje mas se for preciso vai pra direccedilatildeo sim senhor Os nossos amigos que jaacute estatildeo com duas advertecircncias sabem que mais uma visita ao diretor acarreta suspensatildeo correto Eacute muito chato isso de ter que ficar parando a aula pra pedir silecircncio Quero que todo mundo anote o que vou passar no quadro agora Eu disse todo mundo O colega natildeo vai anotar por quecirc Isso natildeo eacute desculpa meu caro se esqueceu do caderno em casa pega uma folha emprestada anota e depois passa a limpo Pessoal atenccedilatildeo isso aqui com certeza vai cair na prova

Ascenccedilatildeo e Queda do Impeacuterio NuTe

Primeira Fase ndash Krambeck in CursosSegunda Fase ndash Grandes Mestres

Terceira Fase ndash Nuacutecleo de Teatro EscolaQuarta Fase ndash Intrigas decadecircncia e morte

ndash Na aula de hoje estamos vendo os principais acontecimentos entre a Segunda e a Terceira Fase Mais propriamente as condiccedilotildees de possibilidade que permitiram essa passagem Jaacute conversamos sobre a importacircncia de Joseacute Ronaldo Faleiro e agora iremos falar um pouco sobre o curso dado por Carlos Simioni e Ricardo Pucceti Treinamento Cotidiano do Ator24

24 Durante a pesqui-sa encontramos um registro audiovisual deste curso o qual soma cerca de 60 mi-nutos Para assistir ao curso Treinamen-to Cotidiano do Ator acesse o endereccedilo wwwyoutubecomatchv=YBxOZogxf0A

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

Em 1991 o NuTE que estaacute passando a ser NUTe jaacute dispotildee em seu curriacuteculo de importantes montagens O Homem do Capote e outros Seres Variante Woysek-Mauser Macbethrsquos uma interferecircncia na histoacuteria A ousadia experimental bem como a insistente pesquisa em Artaud e Grotowski chamam a atenccedilatildeo do grupo fundado por Luiacutes Otaacutevio Burnier jaacute na eacutepoca referecircncia internacional em Antropologia Teatral Trata-se do Laboratoacuterio Unicamp de Movimento e Expressatildeo LUME Ou como eacute chamado atualmente Nuacutecleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp

() a gente chamou muito atenccedilatildeo do pessoal do LUME pessoal do Teatro Antropoloacutegico Eugenio Barba a gente se aproximou muito dessa linha de trabalho A gente foi Se era experimental

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ali mesmo foi mais do que nunca Soacute que nessa eacutepoca exata eu acho que deixou de ser Teatro Experimental e passou a ser Teatro Escola (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 58)

ndash Como vocecircs podem perceber pela citaccedilatildeo acima esse curso intensifica as forccedilas experimentais dando-lhes vazatildeo permitindo ressonacircncias com a Antropologia Teatral Ao mesmo tempo fortalece as forccedilas escolares deixando o terreno pronto para a travessia da segunda agrave terceira fase onde se vai consolidar definitivamente o NUTe como Escola de Teatro O que parece irocircnico aqui eacute que a filiaccedilatildeo experimental se potencializa justamente como escola Dizendo de outra forma enquanto natildeo havia uma identidade a se remeter enquanto o inominaacutevel operava a experimentaccedilatildeo era caoacutetica e livre a partir do momento em que se reconhece uma filiaccedilatildeo que se constroacutei uma casa que se torna senhor proprietaacuterio da sua morada comeccedila a ser importante defendecirc-la contra os invasores e zelar por sua manutenccedilatildeo O devir experimental se reorganiza na identidade escola

() quando a gente montou Apocalypsis ainda natildeo tava dando aula natildeo Tava comeccedilando a montar a Escola Com Apocalypsis noacutes trouxemos mais um grupo de fora pra dar um curso de uma semana onde todo mundo entrava agraves sete e meia da manhatilde e saiacutea agrave uma da tarde da aula E daiacute tinha mais uma turma agrave noite pra quem natildeo podia durante o horaacuterio comercial neacute Esse curso com o LUME o Simione que eacute antropologia teatral pura Noacutes com Apocalypsis apresentamos pra levantar uma grana pra ajudar a pagar a vinda desses caras pra caacute E nessa eacutepoca comeccedilou a vir a terceira

fase que seria quando noacutes montamos a escola e comeccedilamos a dar aula (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 150)

ndash Os registros que permaneceram do curso e que estatildeo disponiacuteveis na biblioteca ndash wwwnutecombr ndash mostram a importacircncia dada ao momento Alguns que chegaram a ser datilografados possivelmente para serem utilizados em aulas posteriores carregam tiacutetulos como Anotaccedilotildees Antoloacutegicas de um dia de Trabalho Sobre Orientaccedilatildeo de Carlos Simioni e Ricardo Pucceti Outros escritos agrave matildeo cuidadosamente conservados talvez por serem a base dos demais documentos revelam um pouco a atmosfera do encontro

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O ator professor faz uma pausa bebe um gole de aacutegua em sua garrafinha de refrigerante diet depois estaciona os olhos em sua plateia Alexandre e eu encostados na parede da sala fizemos esperar Apoacutes alguns segundos percebemos que os demais atores tambeacutem estavam nos olhando Por fim dois deles balanccedilam os braccedilos e um tanto constrangidos noacutes aplaudimos o grupo Um dos atores comenta que ateacute entatildeo foi o que conseguiram produzir Alexandre parabeniza o grupo faz questatildeo de cumprimentar um a um os atores Gosta em especial dos momentos em que o professor ator quebra seu personagem falando do jogo de aperitivo nuacutemero 2 Comenta que a cena estaacute maravilhosa Todos sorriem Alexandre repete ldquoMuito bom muito bom mesmordquo Um dos atores pergunta o que poderia ser melhorado O diretor comenta que apesar de tudo funcionar muito bem a cena criada corre o risco de essencializar uma persona substancializar o ator professor num sujeito-personagem Um dos atores argumenta que a intenccedilatildeo da repeticcedilatildeo miacutetica ldquomestre mestre mestrerdquo seria justamente deslocar o personagem substancializado agraves forccedilas que o colocam em movimento Alexandre acredita que isso eacute possiacutevel que de certa forma a ironia fabrica esse desequiliacutebrio na cena que a estrutura criada pelo grupo pode permitir uma desterritorializaccedilatildeo do bloco de informaccedilotildees e abri-lo agrave experiecircncia do puacuteblico Mas para isso acontecer seria preciso ir mais a fundo injetar mais deliacuterios aos jogos retirar um tanto da mensagem da historinha

Um dos atores questiona o motivo disso pergunta se a proposta deste dia de trabalho natildeo seria justamente contar um histoacuteria a histoacuteria da escola NUTe Num tom de deboche o mesmo ator questiona como seria possiacutevel fazer isso sem servir ao puacuteblico alguns blocos de informaccedilatildeo ao menos com pedaccedilos-trechos de sujeitos de espaccedilos de tempo e finaliza dizendo que o puacuteblico precisa ter onde se agarrar para conseguir experimentar a encenaccedilatildeo O diretor discorda veementemente Numa explosatildeo de entusiasmo questiona a importacircncia da histoacuteria do NUTe para quem e para quecirc serviria contar essa histoacuteria O grupo olha para mim eu me calo Alexandre pergunta novamente Tento responder que existe relevacircncia histoacuterica em muitas coisas feitas pelo Nuacutecleo que nosso trabalho vale como um registro dessas accedilotildees para as proacuteximas geraccedilotildees do teatro Alexandre balanccedila a cabeccedila em tom negativo diz que isso tudo natildeo passa de burocracia de discurso comercial que serve para aprovar projetos como este no Ministeacuterio da Cultura ou para conseguir recursos numa empresa

Artisticamente falando continua o diretor natildeo serve para nada ldquoA arte natildeo eacute imitaccedilatildeo da vida mas a vida que eacute imitaccedilatildeo de algo essencial com o que a arte nos potildee em contatordquo25 Ele faz uma breve pausa observa o grupo por fim numa respiraccedilatildeo profeacutetica sustenta que o maior interesse da arte eacute a vida A grande pergunta que a arte nos ajuda a colocar diz ele eacute Como Viver A arte e em especial o teatro nos permite acessar mundos que as representaccedilotildees 25 Antonin Artaud

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as regras as normas cotidianas natildeo permitem Vivemos todos presos enjaulados a liberdade convencional eacute apenas uma cadeia com mais espaccedilo A funccedilatildeo da arte eacute nos ajudar a ir aleacutem dessas grades estouraacute-las romper com elas Mas isso natildeo se encontra representando uma historinha sobre o NUTe Alias natildeo haacute nada menos NuTE do que contar uma historinha sobre o NUTe O NuTE natildeo montava espetaacuteculos para entreter as pessoas muito menos para esclarecer conscientizar convencer sobre algo A proposta sempre foi libertar as pessoas libertar o pensamento o delas e o nosso Muitas vezes talvez na maioria das vezes ateacute as pessoas saiacuteam dos nossos espetaacuteculos se perguntando lsquomas o que isso quer dizerrsquo ou lsquoacho que natildeo entendi direito a mensagem do espetaacuteculorsquo ou ainda lsquoo que vocecircs queriam passar com issorsquo As pessoas estatildeo viciadas em comprimidos de significaccedilatildeo e natildeo param de pedir mais uma dose O nosso teatro negava essa dose noacutes natildeo diziacuteamos nada os nossos espetaacuteculos natildeo queriam ensinar nada queriacuteamos sim permitir agraves pessoas pensarem mas pensarem por si porque cada um precisa encontrar sentido no espetaacuteculo o sentido natildeo eacute o mesmo para todos ele natildeo estaacute pronto eacute preciso inventaacute-lo procuraacute-lo ao seu modo No fim das contas era isso que todos os nossos espetaacuteculos queriam dizer construa o seu sentido procure por ele natildeo eacute faacutecil noacutes sabemos mas estamos juntos nessa procura26 Invente um sentido para vocecirc pois natildeo haacute sentido nenhum neste espetaacuteculo assim como natildeo haacute nenhum sentido na vida Eacute preciso a todo momento fabricar criar

26 Comentaacuterio de Joseacute Ronaldo Faleiro ao revisar este trecho do ensaio ldquoOs espe-taacuteculos do AVS pro-vocavam isso por sua fragmentaccedilatildeo pela fragmentaccedilatildeo da sua estrutura narrativa pela surpresa quanto ao desempenho dos atoresrdquo

inventar Agora essa operaccedilatildeo soacute funciona quando a compartilhamos com algueacutem Por isso as macro linhas de significaccedilatildeo da vida fazem tanto sucesso Ao aprisionar as pessoas elas permitem a experiecircncia comum de estar vivo dentro de uma cela Na igreja no shopping na academia nas novelas da Rede Globo estaacute tudo pronto natildeo haacute necessidade nenhuma de criar Isso eacute o oposto do que estamos fazendo aqui pois o que queremos eacute estourar as grades da representaccedilatildeo

Um ator toma a palavra se dizendo confuso com a quebra da representaccedilatildeo proposta pelo diretor questiona se a realizaccedilatildeo disso natildeo quebraria tambeacutem a fronteira entre arte e vida Alexandre gosta muito da questatildeo dizendo que eacute exatamente isso o que acontece pois nisso que estamos trabalhando ldquo() o limite eacute muito estreito entre o que eacute vida e o que eacute arte Porque eacute uma arte na qual se decide a questatildeo ndash como viverrdquo27 Seria possiacutevel aceitar as coisas da forma como estatildeo isso tambeacutem eacute um como viver e apenas representaacute-las e nada mais Mas para isso natildeo precisamos da arte isso natildeo eacute arte isso eacute consumo Serve para os que vivem na Falta para os que vivem na Fome Para os que querem consumir existem os shoppings os restaurantes as pizzarias aqui estamos procurando por outra coisa Algo difiacutecil de atingir difiacutecil ateacute de dizer Algo que de uma forma ou de outra todos procuram Alguns procuram no dinheiro acreditam que quando tiverem muita grana vatildeo encontrar outros procuram numa pessoa num amor

27 Jerzy Grotowski Conferencia realiza-da em 1971 no Teatro Ateneum Publicada em The Theatre in Po-land Especial abril-maio 1975

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encontrariam nela outros ainda na fama no fetiche para esses estaria na accedilatildeo de ser adorado por muitos ou ainda procuram no prazer na droga na comida no sexo Quantos estocircmagos encontramos todos os dias caminhando pelas ruas em busca sempre em busca quantas genitaacutelias saem de casa e vatildeo para a festa em busca sempre em busca quantas maacutequinas-caccedila-niacutequel registram dia a dia mais e mais ansiedades monetaacuterias Talvez os uacuteltimos humanistas de plantatildeo queiram fazer algo por eles Queiram ajudaacute-los Mas noacutes que natildeo temos certeza nem da nossa busca natildeo podemos ajudar ningueacutem Natildeo temos como salvar o mundo O que conseguimos fazer eacute pouco muito pouco e esse pouco eacute continuar procurando ao nosso modo atraveacutes da arte A grande diferenccedila entre essa multidatildeo da Fome-Falta e noacutes eacute que eles procuram por algo que lhes sacie o desejo enquanto noacutes procuramos mobilizar nossas vontades para inventar mundos formas de existir de experimentar a vida Trata-se de uma guerra entre as paixotildees tristes e as alegres

O grupo compartilha um momento de grande intensidade Um dos atores pergunta o que contrapotildee nossa alegria agrave representaccedilatildeo Ou seja qual seria exatamente o problema de contarmos uma historinha de passarmos uma mensagem ao nosso puacuteblico O problema responde Alexandre eacute que ao impor ao nosso puacuteblico um mundo provisoacuterio que fabricamos para nosso conforto pessoal mundo que lhes obrigamos a engolir goela abaixo roubamos

do nosso puacuteblico o que haacute de melhor de mais revolucionaacuterio na arte a produccedilatildeo de sentido produccedilatildeo de si produccedilatildeo de mundos

Se noacutes resolvemos o problema para nosso puacuteblico noacutes o alienamos noacutes o acorrentamos agrave fraacutegil saiacuteda que conseguimos encontrar Saiacuteda que geralmente natildeo eacute tatildeo boa quanto gostariacuteamos que fosse Um ator se dizendo um pouco confuso pergunta que problema se estaria tentando resolver O diretor responde que se trata sempre de um mesmo e uacutenico problema seja para a Arte para a Religiatildeo para a Ciecircncia O problema eacute Como Viver

O diretor propotildee que todos suspendam por alguns segundos seus assentos existenciais e que mergulhem sem medo de encontrar aquilo que jaacute sabem mas que se esforccedilam para esconder de si mesmos Ou seja

I ndash Que a vida natildeo tem nenhum sentidoII ndash Que enquanto estivermos vivos inevitavelmente iremos sofrerIII ndash Que ao final dessa vida sem sentido e acometida de dores iremos todos morrer tudo terminaraacute

Dizendo de outra forma a presenccedila absoluta da morte da finitude desse animal que somos nos obriga diariamente a inventar sentidos agraves nossas vidas Essa invenccedilatildeo pode se dar de vaacuterias formas A questatildeo eacute que algumas delas nos aprisionam enquanto outras nos libertam Aqui eacute onde podemos afirmar sem medo que a arte eacute superior agrave religiatildeo e agrave ciecircncia Pois se o padre e o cientista precisam convencer a todos

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que suas respostas satildeo as melhores quando natildeo em acessos de arrogacircncia as uacutenicas possiacuteveis noacutes artistas precisamos apenas de espaccedilo para criar e doar nossa arte Vocecircs entendem por que eacute tatildeo importante esvaziar a mensagem do espetaacuteculo Se nossa intenccedilatildeo eacute libertar as pessoas e com isso libertar a noacutes mesmos a interpretaccedilatildeo tambeacutem deve ser livre Natildeo podemos direcionar se natildeo queremos ser direcionados agraves grandes respostas agraves saiacutedas hegemocircnicas que durante muito tempo acreditou-se boas para todos Sabemos hoje que cada um precisa criar sua saiacuteda e assim experimentar uma vida livre

Voltando ao nosso espetaacuteculo Se pretendemos contar uma vida se nosso trabalho aqui se resume a expressar algo que foi vivido o que precisamos fazer eacute esvaziar as mensagens Esvaziar para que o puacuteblico possa preencher como achar melhor ou como conseguir Na arte a vida natildeo se expressa resolvendo a vida Isso eacute o mais importante ldquo() a vida soacute pode ser expressa na arte pela falta de vida e pelo recurso agrave morte por meio das aparecircncias da vacuidade da ausecircncia de toda mensagemrdquo (KANTOR 2001 p 201)

Vocecircs entendem isso Os atores sinalizam que sim agradecem a palestra Alexandre dando-se conta de que haviacuteamos passado um bom tempo com eles lembra-se dos outros grupos Pergunta se ainda possuem material para continuar Um ator sorrindo muito quer compartilhar uma ideia que considera brilhante Alexandre motiva o grupo a trabalhar Saiacutemos

Ao chegar ao Grande Auditoacuterio somos surpreendidos por relacircmpagos atravessando o palco Duas sete vinte e cinco impressionantes descargas eleacutetricas formam uma espeacutecie de parreira de uva eletromagneacutetica Do centro do palco um ator completamente nu levanta-se abre os braccedilos e pede

ndash Potecircncia maacutexima Imediatamente seu corpo eacute atravessado

pelos raios obrigando-o a uma danccedila caoacutetica que parece ao mesmo tempo alimentar-se de uma dor insuportaacutevel e de uma alegria febril Desfragmentando cada parte do seu corpo o ator comeccedila a numerar as atividades realizadas pelo NUTe no ano de 1993

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Assim que finaliza a uacuteltima frase os raios enfraquecem o ator oscila procura recuperar o focirclego um segundo ator lhe traz uma toalha branca Ele rejeita faz menccedilatildeo de querer continuar Os demais atores arrastam uma corda formando um quadrado em torno do ator eleacutetrico que agora ganha luvas de boxe e passa a lutar com sua sombra Mais uma vez

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lhe trazem a toalha ele lanccedila a toalha agrave plateia em sinal de desprezo e continua lutando Tambeacutem com luvas de boxe entra no ringue o ator oponente Ambos se estudam pesquisam a melhor forma de avanccedilar sobre o adversaacuterio caminham em passos danccedilantes O oponente aproveita um deslize do ator eleacutetrico e ataca

ndash Ateacute quando vocecirc acha que vai aguentarndash Vocecircndash Eu te fiz uma pergunta idiota ateacute quando

vocecirc acha que vai aguentarndash Eu eu natildeo sei mas Mas vocecirc foi

justamente vocecirc quendash Taacute taacute taacute Jaacute sei Mas isso passou

Estamos agora em outro momentondash Outro momento Como assim Eacute a minha

vida eu soacute tenho esta vida Vocecirc me garantiu que eu poderia

ndash E vocecirc pode eacute claro que pode mas como professor Convenhamos

ndash Natildeo Natildeo Natildeo desta vez Natildeo vou mais acreditar natildeo desta vez natildeo Natildeo Eu queria fazer cinema o teatro me pareceu um bom caminho Montar espetaacuteculos eu pensei vou montar bons espetaacuteculos que me ajudem a comeccedilar o meu cinema Eu estava fazendo isso quando vocecirc apareceu Apocalypsis Variante Woizec-Mauser Macbethrsquos Claro que eram eram sim bons espetaacuteculos Mas aiacute vocecirc veio me convencer de que eu tinha responsabilidades que natildeo seria possiacutevel sobreviver assim do teatro que eu tinha famiacutelia que precisava ganhar dinheiro e que isso e aquilo Vocecirc me

convenceu de que eu deveria montar uma escola de teatro Durante vaacuterios anos eu lutei contra essa ideia Meu amigo Wilfried sempre insistiu que deveriacuteamos fazer do NuTE uma escola de teatro mas meu projeto eram os espetaacuteculos Achava que a escola iria me atrapalhar Foi vocecirc quem me convenceu vocecirc e mais ningueacutem eu nunca quis isso e agora vocecirc vem me dizer que

ndash Natildeo haacute pra onde ir aqui eacute o auge Vocecirc quer ser professor o resto da vida

ndash Quero fazer arte Nosso trato era esse Eu daria aula para ganhar um dinheirinho e em troca poderia fazer minha arte

ndash Tudo bem eu lembro do nosso acordo Mas e eu o que estou ganhando com isso

ndash Eu tenho me dedicado a planejar aula cobrar mensalidade fazer relatoacuterios de atividade prestaccedilatildeo de contas borderocirc Vocecirc natildeo estaacute contente essa merda toda ainda natildeo basta

ndash Claro que natildeondash O que mais vocecirc querndash Quero tua almandash Mefistoacutefelesndash Ah Que coisa chata olha meu querido

eu tenho vaacuterios nomes Chame como achares que Mas espera espera ndash sorrindo ndash eacute verdade teve um outro professor mas isso jaacute faz muito tempo que me chamava assim Engraccedilado Mas e entatildeo vai vender

ndash Eu natildeo sei vender significa que vou para o inferno quando morrer eacute isso

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ndash Ah Ah Ah ndash gargalhada fatal ndash Que bobiccedila hein nego Isso de inferno eacute uma grande baboseira Deus e o diabo satildeo invenccedilotildees humanas demasiadamente humanas Nada disso existe Coisas que as titias contavam aos sobrinhos peraltas para se divertirem Ateacute que foi uma boa invenccedilatildeo durou vaacuterios seacuteculos mas hoje em dia Deus estaacute morto assim como toda a parafernaacutelia metafiacutesica que o cercava O que quero saber eacute se vocecirc vai ou natildeo vai me vender essa porra de alma Tocirc ficando nervoso

ndash Taacute tudo bem Mas afinal o que seria te vender minha alma entatildeo Se Deus estaacute morto ainda existe alma

ndash Natildeo natildeo Claro que natildeo babaca Essa alma que supostamente seria sua essecircncia seu eu verdadeiro em nada me interessa essa natildeo existe nem nunca existiu O que quero satildeo tuas experiecircncias de vida a maneira como vocecirc se relaciona com o mundo teus acordos poliacuteticos teu modus vivendi Se preferes uma palavra espinozeana tua eacutetica Vocecirc aceita

Ambos retiram as luvas de boxe os demais atores desatam as cordas do ringue Sentam-se na ribalta e olham para Alexandre Constrangido ele se levanta olha para traacutes agrave porta do auditoacuterio caminha um passo em direccedilatildeo Os atores ficam atocircnitos Eu me dou conta de que a cena terminou e aplaudo o grupo todos aplaudem O diretor retorna ao local de onde assistia ao ensaio retira um cigarro do maccedilo e propotildee ao grupo conversar ao ar livre A proposta eacute bem aceita Saiacutemos

Em frente agrave antiga sala do NUTe Alexandre

acende um cigarro e lembra do cafezinho Vai ateacute a secretaria da Carona Escola de Teatro e retorna com uma garrafa de cafeacute e vaacuterios copinhos e serve a todos Parabeniza o grupo pela cena Um dos atores comenta que se trata de um trecho que a intenccedilatildeo eacute desenvolver mais a sequecircncia O diretor pede para que se mantenha a forccedila cecircnica esta teria lhe impressionado muito Elogia a atuaccedilatildeo dos atores e a brincadeira com o tema claacutessico quase clichecirc da luta interna Acredita que ao problematizar um tema ao qual constantemente se recorre seja possiacutevel falar dele e ateacute se utilizar dele para dizer algo Chama a atenccedilatildeo do grupo para o que considerou uma pequena dificuldade as imagens atravessadas pelo conceito de alma Comenta que existe uma crise na filosofia e em especial na psicologia contemporacircnea sobre esse tema Sabendo que me dedico a estudar o conceito Alexandre me pede para falar um pouco a respeito

Acendo um cigarro tomo um gole de cafeacute e comeccedilo dizendo que gostei muito da cena Ficou muito forte pra mim o funcionamento em rede do sujeito Ou seja pareceu-me que o ator eleacutetrico depende para agir de toda uma rede em sua volta Tal qual a muacutesica de um raacutedio que soacute toca quando ligamos o aparelho agrave tomada de energia na sala de nossa casa O que geralmente esquecemos eacute que essa tomada estaacute conectada a um cabo que segue aos disjuntores estes por sua vez estatildeo ligados ao reloacutegio que contabiliza e distribui energia para a casa o qual estaacute ligado agrave rede de baixa tensatildeo que estaacute ligada atraveacutes dos

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transformadores acoplados aos postes agrave rede de alta tensatildeo essa rede de alta tensatildeo estaacute ligada a uma usina de distribuiccedilatildeo de energia essa usina de distribuiccedilatildeo estaacute ligada a uma usina de geraccedilatildeo de energia onde geradores acoplados agrave correnteza da aacutegua produzem energia eleacutetrica essa aacutegua estaacute ligada a vaacuterios rios esses rios a vaacuterios coacuterregos esses coacuterregos a vaacuterias nascentes essas nascentes ao barro agrave chuva e assim ao infinito

A mesma infinitude rizomaacutetica acontece em cada um dos componentes do raacutedio de onde sai a muacutesica Cada parafuso cada pedaccedilo de plaacutestico cada componente eletrocircnico ali presente eacute antecedido por uma rede infinita que o faz agir daquela forma e natildeo de outra A rede que antecede o capacitor eletroliacutetico e o obriga a agir de tal forma que possamos ouvir um programa de jazz em tal horaacuterio e em determinada frequecircncia Algueacutem conseguiria culpar responsabilizar ou afirmar que esse capacitor eletroliacutetico escolhe atraveacutes do livre arbiacutetrio que lhe foi concedido por Deus agir dessa forma Obviamente que natildeo

A rede que antecede a accedilatildeo humana eacute igualmente infinita Nossas escolhas resultam sempre da imposiccedilatildeo dessas redes O que conseguimos fazer eacute nos colocar agrave disposiccedilatildeo de algumas redes Podemos nos aproximar de algumas linhas de forccedila e nos distanciar de outras Mas isso eacute muito diferente de escolher a muacutesica que vamos tocar Esse raacutedio que somos natildeo escolhe sozinho a muacutesica que toca Ao mesmo tempo essa escolha tambeacutem natildeo eacute

feita por um capacitor eletroliacutetico dentro dele nem pela matildeo que ajusta a frequecircncia nem pelo locutor responsaacutevel pela programaccedilatildeo nem pelo muacutesico que compocircs a canccedilatildeo

ndash Mas algo em noacutes prefere ouvir essa e natildeo aquela muacutesica ndash interrompe um ator

ndash Sim mas que algo seria esse ndash pergunto ao grupo ndash Haveria uma substacircncia uma alma agindo dentro de vocecirc Vocecircs percebem como eacute ingecircnuo o pensamento atomista Pensar aquilo que quer em noacutes como uma unidade uma substacircncia isolada um Eu eacute o mesmo que dizer que quem escolhe a muacutesica eacute o capacitor eletroliacutetico do raacutedio Quando algo quer em noacutes esse algo estaacute em muitos eacute atravessado por muitos composto por muitos Multidotildees humanas e inumanas nos habitam e nos forccedilam a querer assim e natildeo de outra forma Haveria como culpar responsabilizar criminalizar individualmente o sujeito por tocar essa e natildeo aquela muacutesica ndash da mochila retiro O Crepuacutesculo dos Iacutedolos e leio um trecho do oitavo aforismo de Os Quatro Grandes Erros

Qual pode ser a nossa doutrina Aquela para a qual ningueacutem daacute ao homem suas qualidades nem Deus nem a sociedade nem os pais ou os antepassados nem ele proacuteprio () Ningueacutem eacute responsaacutevel pelo fato de existir dessa ou daquela maneira nesta ou naquela condiccedilatildeo neste ou naquele meio () Que ningueacutem seja mais tomado como responsaacutevel que o modo de existir natildeo possa mais levar a uma prima causa que o mundo nem como sensorium nem como espiacuterito seja mais uma unidade isto e somente isto eacute a grande libertaccedilatildeo ndash eacute por isso e unicamente por isso que foi restaurada a inocecircncia

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do devir A Ideia de Deus foi ateacute agora a principal objeccedilatildeo contra a existecircncia Noacutes negamos Deus negamos em Deus a responsabilidade eacute com isso e unicamente com isso que salvamos o mundo 28

Assim se Fausto vende sua Alma a Mefistoacutefoles natildeo eacute por escolha individual mas sim por ser a uacutenica accedilatildeo possiacutevel na rede que Fausto habita Acho que vocecircs acertam quando transferem o problema do sujeito para a eacutetica No fundo eacute isso Se sou uma multidatildeo ou se um coletivo de forccedilas me carrega com quais outras multidotildees traccedilo alianccedilas Ou seja que tipo de vida experimento se me aproximo dessa linha de forccedila se me distancio daquela

E por falar em eacutetica achei muito feliz o momento em que vocecircs evidenciam que a organizaccedilatildeo da Escola NUTe natildeo se fez a partir de uma disputa entre Alexandre e Wilfried Mas sim entre forccedilas infinitamente maiores que eles Imaginar essas forccedilas combatendo em um Alexandre isolado do mundo pode ser um recurso didaacutetico bastante eficiente mas eacute onde vocecircs correm perigo em minha opiniatildeo de serem capturados pela Identidade-Eu-Alma

Seria preciso distanciar suficientemente Alexandre de NUTe para que o asseacutedio eacutetico que parte de Mefistoacutefoles pudesse se evidenciar como Asseacutedio de Apolo Ou seja eacute Apolo quem quer sobrepujar atraveacutes da razatildeo da temperanccedila da organizaccedilatildeo as forccedilas criativas e caoacuteticas de Dioniso experimental O conjunto de forccedilas que estou nominando como Dioniso resiste por um bom tempo elas insistem lutam vocecircs compotildeem imagens excelentes

28 Friedrich Nietzs-che A Vontade de Po-der Aforismo 488

nesse sentido Se no final Dioniso abandona a guerra por cansaccedilo desgaste ou por realmente ter sido ultrapassado por Apolo se Apolo vence no final mais uma vez nos damos conta de que natildeo estaacute em jogo ldquo() nenhuma lsquosubstacircnciarsquo antes algo que anseia por fortificaccedilatildeo e que apenas indiretamente quer-se lsquomanterrsquo (ele quer ultrapassar-se)rdquo29

No exato momento que finalizo a citaccedilatildeo do aforismo o grupo que ensaia na sala ao lado interrompe a conversa com seu jaacute enfadonho

ndash Mestre mestre mestreO grupo com o qual estamos conversando

natildeo gosta da intervenccedilatildeo e pede gentilmente aos intrusos que retornem ao seu local de ensaio Sem lhes dar a miacutenima importacircncia continuam

ndash Mestre mestre mestreDe repente uma explosatildeo fumaccedila gritos de

dor um ator atingido na perna chora pedindo socorro Os atores intrusos olham para o ceacuteu e clamam

ndash Mestre mestre mestre Sobre nossas cabeccedilas desce num

paraquedas multicolorido o Ator-Professor que agora porta uma metralhadora de plaacutestico e dezenas de rojotildees os quais acende e despeja agraves gargalhadas Todos se afastam procurando local seguro mas o grupo intruso continua com a cena bizarra

ndash Mestre mestre mestreAo pisar no chatildeo o Ator-Professor-

Guerrilheiro inicia uma panfletagem

29 Friedrich Nietzs-che A Vontade de Po-der Aforismo 488

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Agrave matriacutecula no curso de teatro do NUTe ele convida os assustados atores escondidos os transeuntes os funcionaacuterios do teatro ndash que a essa altura jaacute haviam chamado a poliacutecia e a toda forccedila de seus pulmotildees exigiam explicaccedilotildees bem como responsaacuteveis pelo acontecido ndash e tambeacutem os passarinhos as lantejoulas e os caminhotildees Em meio a tantos convites o Ator-Professor-Guerrilheiro insiste em entregar o cartaz a uma furiosa funcionaacuteria de crispados dedos em riste a qual inicialmente esmaga o papel A4 no chatildeo sob seus delicados sapatos azuis de nuacutemero 43 recebendo-o logo na sequecircncia em sua boca pelas matildeos do Ator-Professor-Guerrilheiro que com certa brutalidade ali o coloca fazendo com que a funcionaacuteria furiosa se cale e se alimente do material o que soacute consegue com o apoio de um elevado nuacutemero de bofetadas e da ameaccedila de trocar o papel por dois rojotildees acesos

Dada a balbuacuterdia todos os demais que ensaiavam cada qual em local distinto agrupam-se em frente agrave antiga sala do NUTe O grupo que estava no pequeno auditoacuterio reclama o cartaz utilizado na panfletagem Acusam o grupo do Ator-Professor-Guerrilheiro de roubar seu aperitivo argumentam que o cartaz estava no jogo de aperitivos de nuacutemero 4 escolhido por eles O grupo exige a devoluccedilatildeo imediata do aperitivo jaacute que passaram boa parte do ensaio trabalhando sobre ele

Infelizmente eles natildeo ouvem e continuam encenando ou o que quer que fosse aquilo que estavam fazendo O Ator-Professor-Guerrilheiro sobe nos ombros dos demais atores de seu grupo que estranhamente sossegaram a cantilena miacutetica e agora estatildeo perfilados em formaccedilatildeo de piracircmide humana Assim que chega ao topo para desespero e pavor de todos dispara sua metralhadora

() natildeo deu uma semana um mecircs depois ele tava montando um curso laacute dentro do Teatro de interpretaccedilatildeo pra cinema e TV e vem uma ordem da direccedilatildeo do teatro () vieram laacute jogaram o cartaz na minha mesa e ldquoolha noacutes temos um contrato com uma outra escola que vai fazer cursos de cinema e viacutedeo Vocecircs satildeo teatro natildeo pode ter duas escolas fazendo a mesma coisa aqui dentrordquo Foi pra mim um baque grande ldquopocirc como eu faccedilo interpretaccedilatildeo de cinema e TV haacute mais de cinco anosrdquo Tinha programas o documentaacuterio do Hermann Baumgarten eacute do terceiro curso que a gente fez Gerou um documentaacuterio neacute aniversaacuterio da TV Galega Entatildeo tinha Aiacute vem essa ldquoPocirc mas quem eacute que taacute dando esse cursordquo ldquonatildeo isso eu natildeo posso dizer diz a gerente do teatrordquo (entrevista com Alexandre Venera paacuteginas 84-85)

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Os disparos atingem dois atores o carro funeraacuterio da prefeitura e um peacute de abacate no estacionamento Com o sangue correndo pela calccedilada o motorista de smoking ndash por sinal um beliacutessimo smoking preto ndash avaliando os estragos na lataria do carro e com as folhas do abacateiro pedindo clemecircncia eu me sinto na obrigaccedilatildeo de restabelecer a ordem Atraveacutes dos poderes que me foram confiados pelo Ministeacuterio da Cultura no afinco de coordenar este projeto convoco todos os atores que compotildeem este grupo terrorista e sumariamente os demito

Numa gargalhada estrondosa o Ator-Professor-Guerrilheiro do alto de sua piracircmide humana sem a menor consideraccedilatildeo agrave minha posiccedilatildeo coordenativa aciona mais uma vez sua terriacutevel metralhadora

Houve aiacute uma coisa Um mal-estar que eu natildeo sei de onde surgiu e o Alexandre tomou a decisatildeo de mandaacute-las embora E nesse iacutenterim como na eacutepoca elas faziam parte do meu grupo do Arte Atroz ndash eu acho que aiacute surgiu essa rusga neacute ou vocecirc eacute Arte Atroz ou vocecirc eacute NuTE ndash ele as mandou embora e eu me vi e natildeo me arrependo disso jaacute conversamos vaacuterias vezes sobre isso eu me vi na obrigaccedilatildeo e faria de novo eu apoiei a saiacuteda delas saindo junto com elas E nessa eacutepoca a gente pensou ldquoporque natildeo montar uma escola de teatro que natildeo seja o NuTE que fosse nossardquo (entrevista com Giba de Oliveira paacutegina 19)

O grupo que ensaiava no pequeno

auditoacuterio exige justiccedila Levantando faixas e cartazes iniciam uma manifestaccedilatildeo em prol dos direitos aperitivantes Em marcha repetem frases de efeito como ldquoo grupo unido jamais

seraacute vencidordquo ou ldquo um dois trecircs quatro cinco mil enfia a metralhadora dentro do barrilrdquo ou ainda ldquoqueremos o nosso aperitivordquo e o mais recorrente entre todos ldquomonstro monstrengo monstrinho devolva jaacute o nosso aperitivinhordquo

Tento negociar com o grupelho terrorista oferecendo aperitivos natildeo ensaiados e ateacute mesmo algumas citaccedilotildees filosoacuteficas peccedilo que em troca eles libertem os aperitivos que estatildeo fazendo de refeacutens Alguns atores terroristas demonstram interesse na proposta A metralhadora de plaacutestico faz uma pausa Eles conversam e apoacutes alguns minutos chegam a um acordo Aceitam a proposta mas querem um helicoacuteptero para a fuga Apenas para ganhar tempo digo que vamos tentar conseguir peccedilo que mantenham a calma O grupelho terrorista ameaccedila sacrificar mais um dos aperitivos do grupo protestante caso suas exigecircncias natildeo sejam imediatamente atendidas A tensatildeo eacute enorme Alexandre me pergunta se consigo proteger a descida pela escada Digo que posso tentar mas que seria loucura descer agora o risco de ser atingido eacute grande demais Ele insiste eu monto a proteccedilatildeo Escada abaixo ele corre mas no uacuteltimo degrau o Ator-Professor-Guerrilheiro percebe a movimentaccedilatildeo e dispara sem nenhuma compaixatildeo

() uma semana antes tava trabalhando e ali os jurados o pessoal que tava no juacuteri um deles era conhecido natildeo lembro quem mas ele ldquopocirc e Alexandre nada mais de teatrordquo Ah natildeo Uma hora saiu natildeo eacute maacutegoa mas eacute o tiro que tinha pra dar neacute ldquocara foi muito tempo inuacutetil fuacutetil que eu gastei queimei minha vida e nada apareceu

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neacuterdquo Hoje a gente taacute falando de uma escola neacute mas era assim uma uma coisa que ficava muito bairrista tinha que taacute andando em cima de cascas de ovos neacute cuidando pra natildeo quebrar porque por picuinhas gente que achava que tava lutando por um mercado por alunos (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 83)

Alexandre eacute atingido no ombro direito Mesmo ferido continua correndo Consegue chegar ao ldquoTudo por R$ 199rdquo da esquina Entra na loja Poucos segundos depois retorna com um helicoacuteptero vermelho em suas matildeos Em frente ao caixa raacutepido do Bradesco grita ao grupo terrorista que estaacute com o helicoacuteptero que iraacute deixaacute-lo ali na calccedilada Pede para que mantenham a calma que estamos cumprindo com todas as exigecircncias deles e que eacute a vez deles cumprirem com o combinado

O grupo terrorista concorda Os aperitivos do grupo protestante satildeo libertados Os atores do grupo protestante se emocionam abraccedilam seus aperitivos eacute um momento de muita comoccedilatildeo soluccedilos e laacutegrimas

O grupo terrorista desce a escada atravessa a rua estaacute cerca de poucos metros do helicoacuteptero quando chega a poliacutecia armada da cabeccedila aos peacutes com bolinhas de papel Temendo ter de passar pelos mesmos exames ultrassonograacuteficos impostos a Joseacute Serra durante o pleito de 2010 os atores terroristas se entregam satildeo algemados e levados sob aplausos ao camburatildeo Um suspiro de aliacutevio perpassa todos os demais Pergunto a Alexandre se estaacute tudo bem com ele Ele responde que sim mas que

precisa fumar um cigarro Sorrindo pergunta se quero um cafeacute respondo que sim e ele mais uma vez se dirige agrave secretaria da Carona Escola de Teatro Sentado no chatildeo encostado na parede do teatro comeccedilo a rabiscar alguma coisa em meu bloco de anotaccedilotildees Um aperitivo libertado soluccedila no colo de um ator ao meu lado Uma sensaccedilatildeo de chuva forte que termina se espalha pela calccedilada Entretanto ao levantar os olhos do papel-risque-rabisque vejo caiacuteda bem em minha frente a garrafa teacutermica da Carona Escola de Teatro Grito tentando avisar Alexandre mas eacute tarde demais Ele retorna peacute ante peacute de costas de dentro da secretaria com as matildeos estendidas acima do ombro O Ator-Professor-Guerrilheiro havia conseguido escapar Caminhava lentamente Na matildeo esquerda trazia a metralhadora apontada para Alexandre e com a matildeo direita tampava a boca do aperitivo que fazia de refeacutem

Os atores do grupo protestante vatildeo ao desespero

ndash Meu aperitivo meu pequeno aperitivondash Todo mundo quieto ndash exige o Ator-

Professor-Guerrilheiro - vocecircs me enganaram confiei minha cena a vocecircs minha grande cena meu melhor momento e o que foi que vocecircs fizeram comigo

ndash Calma ningueacutemndash Eu mandei todo mundo ficar quieto

porra

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Aiacute chegou um momento em que pros alunos jaacute natildeo compensava mais pagar a mensalidade da Escola e Entatildeo eles saiacuteram e me convidaram pra sair junto neacute As coisas jaacute natildeo estavam laacute muito boas pra mim natildeo estavam ruins natildeo mas jaacute natildeo me davam muito prazer as coisas no NuTE A gente tava fazendo uma montagem nova numa ideia de montagem nova e eu estava no pique do Grupo (entrevista com Peacutepe Sedrez paacutegina 30)

A poliacutecia ouve a rajada de tiros e retorna Apoacutes alguma perseguiccedilatildeo capturam o ator que finalmente se rende e eacute levando junto aos demais Alexandre esquece o cafeacute e acende um cigarro Fuma Os atores do grupo protestante estatildeo em estado de choque Possivelmente a psiquiatria moderna diagnosticasse o quadro como siacutendrome do pacircnico Balbuciam estranhas interjeiccedilotildees Um deles acredita estar sendo acometido por ataque cardiacuteaco outro enfartando a grande maioria grita que estaacute tendo um treco Pedem socorro ambulacircncia choram compulsivamente Por sorte passava pelo local um psiquiatra de maleta preta e guarda-poacute branco que gentilmente abriu uma caixa de medicamentos e disponibilizou antidepressivos a todos Foi uma festa Apoacutes medicaacute-los o meacutedico recomenda trecircs meses de afastamento do trabalho Sem pestanejar aceitamos desejando boas melhoras aos atores

Nesse instante os atores que vieram conosco do grande auditoacuterio se aproximam e em grupo solicitam abandonar o projeto Estupefato pergunto o motivo Eles sustentam haver uma contradiccedilatildeo teoacuterica de minha parte ao empregar simultaneamente a doutrina

da inocecircncia e da irresponsabilidade de Friedrich Nietzsche e utilizar a poliacutecia como soluccedilatildeo literaacuteria a um conflito ficcional Argumento que mantenho um carinho especial pelas contradiccedilotildees por me parecerem bem mais saudaacuteveis do que as interpretaccedilotildees puritanas mas que nesse momento natildeo fora proposital minha tentativa era problematizar a importacircncia de Apolo na questatildeo Como Viver O grupo rebate dizendo que ateacute entatildeo o que eu fazia era justamente o contraacuterio segundo eles apologia a Dioniso Eu me nego a aceitar o estereoacutetipo e ao mesmo tempo analiso que o vencedor em nossa cultura foi sim Apolo Crucificado que nossa necessidade de negar a morte se deve justamente a um excesso de zelo de cuidados de proteccedilatildeo de leis para com o indiviacuteduo e que trazer Dioniso de volta nos ajudaria a aceitar a vida como ela eacute finita e traacutegica Contudo o Dioniso puro sem misturas eacute tatildeo insuportaacutevel quanto o niilismo a que chegamos via cristianismo Euriacutepedes nos mostrou em As Bacantes algumas imagens Dioniso puro nos levaria a isso matildees servindo cabeccedilas de seus proacuteprios filhos em bandejas de prata Ou seja sem a temperanccedila de Apolo os deliacuterios de Dioniso tambeacutem nos fariam mal A pergunta entatildeo passa a ser como temperaacute-los como dar espaccedilo a ambas as forccedilas Nesse sentido a poliacutecia surge na cartografia para ilustrar a soluccedilatildeo cristatilde que desde a invenccedilatildeo do Livre Arbiacutetrio por Santo Agostinho sempre foi a mesma capturar Dioniso e obrigaacute-lo a se responsabilizar individualmente por seus atos A genealogia dessa histoacuteria conhecemos

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bem vai da penitecircncia agrave penitenciaacuteria O modelo cristatildeo da culpa responsabilidade individual e penitecircncia eacute adotado pelo ldquoEstado Laicordquo que constroacutei penitenciaacuterias para punir individualmente em cada cela os culpados Ou seja seria preciso psicologicamente falando ao mesmo tempo estourar as grades que prendem Dioniso e retirar Apolo da Cruz A meu ver a questatildeo colocada por Grotowski ndash Como Viver ndash passa por aiacute Minha tese interpretaccedilatildeo ou seja laacute o nome que se queira dar a isso eacute que NuTE tenta libertar Dioniso libertar as forccedilas avassaladoras animais sexuais bizarras criativas e selvagens em noacutes e NUTe tenta permitir que essa libertaccedilatildeo aconteccedila proporcionando nutrientes fiacutesicos e intelectuais aos nutes comer vestir pagar o aluguel beber conseguir experimentar e fazer algo com um conceito

Apesar da tentativa de conciliaccedilatildeo o grupo continuou irredutiacutevel jaacute havia tomado sua decisatildeo e parecia inclusive profundamente magoado traiacutedo ateacute Despedem-se prometendo escrever uma cartografia totalmente dionisiacuteaca onde natildeo haveraacute nem sombra de Apolo ldquovamos escrever uma cartografia agrave altura do que foi o NuTE Dioniso eacute um bom deus quando natildeo eacute negadordquo eles saem dizendo

Com um grupo preso um grupo doente e outro em busca de uma narrativa pura Alexandre e eu compreendemos que era hora de fumar um cigarro Fumamos Mas e agora o que fazer Sem atores natildeo haacute como produzir um espetaacuteculo Os dois grupos restantes

percebendo nosso abatimento fazem de tudo para nos animar Malabarismos piruetas cambalhotas enquanto um deles conta a piada do papagaio que engoliu um litro de vodca outro se dirige agrave lanchonete mais proacutexima e nos traz dois copos de cafeacute Por fim fazem uma beliacutessima propaganda e nos convidam para assistir agraves cenas em que estiveram trabalhando juntos Com um sorriso amarelo sabendo do esforccedilo dos dois grupos resolvemos apesar do cansaccedilo e da anguacutestia aceitar o convite Alexandre propotildee que ambos os grupos se apresentem no mesmo local para ganharmos um pouco de tempo e de corpo O local escolhido por unanimidade foi o Espaccedilo (O)Caso

Arrastamo-nos escadas acima Degrau a degrau e ainda mais um degrau A vida estava pesando alguns quilos a mais Alexandre emudecido volta e meia tocava com os dedos da matildeo direita nas paredes brancas do teatro De longe comeccedila a chegar uma cantilena fuacutenebre Em alguns atores haacute mais de uma laacutegrima agrave espera O deslocamento se assemelha muito a um veloacuterio Do uacuteltimo degrau que daacute acesso ao terceiro piso avistamos um caixatildeo vermelho Os atores se posicionam lado a lado e suspendem o caixatildeo passando a carregaacute-lo A cena eacute fortiacutessima Alexandre se emociona pede para ajudar um ator lhe cede uma alccedila A procissatildeo segue cantando cada vez mais alta a triste canccedilatildeo que anuncia o fim do NUTe

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Sentada no que parece ser uma apocaliacuteptica mesinha de bar onde repousam algumas garrafas vazias de cerveja ao lado de boa parte do mundo destruiacutedo empunhando a foice-clicheacute-ceifadora Dona Morte interrompe a procissatildeo para danccedilar um nuacutemero de hip hop Apesar de entediante e vulgar a performance recebe entusiaacutesticos aplausos Dona Morte fica satisfeita Permite agrave procissatildeo seguir A triste cantilena retorna Contudo alguns poucos metros adiante escutamos a famosa foice rasgando o piso do teatro Mais uma vez o cortejo eacute interrompido o caixatildeo eacute posto no chatildeo todos olham para traacutes Dona Morte balanccedila a cabeccedila em sinal afirmativo e aciona o play do portaacutetil surround system 3 em 1

Eu recordo que alguns anos depois muitos anos depois talvez em 2001 eu tomando cerveja com o Venera numa conversa muito divertida ele dizia que o iniacutecio da derrocada do NuTE o primeiro NuTE se deu quando o lsquoErsquo de experimental virou lsquoErsquo de escola Porque daiacute a tentativa de criar a escola foi nos institucionalizando nos burocratizando foi nos dando responsabilidades agraves quais nem todos estavam preparados principalmente os mais

Foto do espetaacuteculo A Morta gentilmente cedida pela fotoacutegrafa Maria Emiacutelia da Silva Para saber mais sobre a montegem consul-te o Terceiro Ensaio e o anexo Livreto Es-petacular Aparecem na Foto Juliana Von Czekus Carlos Cres-cecircncio Sebastiatildeo Crispim

jovens que eram a maioria absoluta (entrevista Dennis Raduumlnz paacutegina 25)

Stop Dona Morte volta a se sentar na mesinha Alguns atores lhes agradecem a gentileza ela acena suavemente e a caravana passa Chegando ao Espaccedilo (O)Caso o caixatildeo eacute cuidadosamente engatado na lateral esquerda onde havia para ele quatro correntes de argola duas para o centro e duas para as extremidades As correntes desciam do teto e uma vez acoplado a elas o caixatildeo criava quase espontaneamente um balanccedilo intermitente que dialogava com os movimentos do gigantesco boneco Joatildeo Bobo agrave direita do espaccedilo Entre os dois com uma luz esverdeada brotando do fundo um Tuacutenel

De dentro do Tuacutenel surge um Ator-Adolescente muito magro e franzino vestido de preto ao estilo Dark anos 80 Passeia pelo palco brinca com o Joatildeo Bobo experimenta o caixatildeo Por fim se aproxima de sua plateia e num tom quase confidencial como quem transcreve seu diaacuterio para um blog diz

Quando eu tinha quatorze anos do nada estava andando na rua XV de Novembro e vi um cartaz muito humilde em mimeoacutegrafo falando do Curso de Iniciaccedilatildeo ao Teatro e num impulso como se fosse uma epifania acabei me inscrevendo fui o inscrito 002 E lembro como se fosse hoje a primeira vez em que estive na Sala Verde no andar teacuterreo do teatro Fui recebido pelo Wilfried Krambeck e tambeacutem por aquele que depois eu saberia que eacute o Aacutelvaro Alves de Andrade Foram muito receptivos e fiz laacute esse primeiro curso de iniciaccedilatildeo ao teatro de marccedilo a julho de 1986

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Era um curso que tinha uma carga horaacuteria ateacute relativamente grande se pensarmos hoje carga de quatro meses Passaacutevamos por noccedilotildees baacutesicas de miacutemica de interpretaccedilatildeo de iluminaccedilatildeo E o curso preparava vocecirc para a experiecircncia radical que eacute colocar os peacutes pela primeira vez num palco () (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 1)

O Ator-Adolescente retorna para o Tuacutenel desaparece na luz verde Quatro atores rotacionam o Tuacutenel em sentido inverso fazendo com que iniacutecio e fim troquem de posiccedilatildeo A luz verde se apaga em seu lugar surge um rocho-azul-escuro-com-tonalidades-avermelhadas que preenche todo o espaccedilo O caixatildeo se abre range de dentro para fora uma matildeo se apoia nas laterais faz forccedila unhas arranham madeiras macabras sons estridentes aparece a segunda matildeo os braccedilos a cabeccedila O ator sai do caixatildeo atravessa o Tuacutenel para em frente ao Joatildeo Bobo e passa a espancaacute-lo com muita forccedila A cada descida atraveacutes de uma gravaccedilatildeo ruidosa o boneco fala

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Mas eu tenho que ser

educadorJoatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu tenho que ganhar

dinheiroJoatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu tenho que

ensinar Eu tenho que preencher borderocirc eu tenho que fazer a parte burocraacutetica tenho que administrar uma escola

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash E eu quero ser artista

Joatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu cheguei e comecei a dizer na minha primeira e uacutenica briga de saiacuteda do NuTE () ldquonatildeo cara eu quero ser artista a partir de agora eu natildeo quero mais preencher plano de aula escrever a lista de chamada de aluno se pagou a mensalidade quem natildeo pagou natildeo quero ver quanto foi a conta do telefone da escola porque a sala taacute suja eu tenho que acordar mais cedo pra buscar um caixatildeo de defunto pra peccedila que vai ser montada hoje agrave noite o nosso figurinordquo coisa que me tomava demais entende

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quando decidi ser artista foi muito velho jaacute mas eu passei eu acho a fazer mais arte agora

Joatildeo Bobo agrave Direita ndash Alexandre Venera em entrevista com Juliana paacutegina 67

O Ator continua surrando o Boneco ateacute furaacute-lo num pontapeacute agudo Um prolongado silvo de ar se espalha pelo ambiente refrescando a melancoacutelica sequecircncia de imagens O ator retorna para seu caixatildeo As correntes satildeo desatadas e a urna colocada no chatildeo Pela coxia direita entra em cena uma retroescavadeira amarela com a caccedilamba cheia de barro ela ergue o braccedilo e laacute de cima despeja-o lentamente sobre o caixatildeo Segue ao centro do palco apresenta uma dancinha tiacutepica desses modelos de maacutequina e sai

Os atores de ambos os grupos sentam-se no chatildeo e assim compreendemos que era

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o final da sequecircncia Aplaudimos Alexandre agradece a disponibilidade dos atores de continuarem o trabalho mesmo depois de tudo que aconteceu Pede desculpas pelo cansaccedilo e pela impossibilidade de continuar com os ensaios comenta que natildeo tem condiccedilotildees de seguir adiante Mas antes de sair faz questatildeo de parabenizar ambos os grupos pela forma como compartilharam seus aperitivos Diz que foram muito felizes com a proposta de criar um Tuacutenel entre os aperitivos de nuacutemero 1 e 5 Eu lhe pergunto o que iremos fazer com os Aperitivos Livretantes que natildeo foram utilizados por nenhum grupo Ele me responde que natildeo consegue pensar em mais nada hoje pede para comunicar-me com ele caso eu tenha alguma ideia

Visivelmente abatido Alexandre deixa os ensaios Enquanto caminha de cabeccedila baixa procurando um uacuteltimo cigarro torto no maccedilo recebe um forte e emocionado aplauso dos atores restantes Ele se vira olha o grupo por alguns segundos Uma laacutegrima desce em seu rosto Caminha escada abaixo

Extremamente cansado mas vencido pela curiosidade aproximo-me de um ator do grupo que ensaiava no poratildeo e lhe pergunto o que havia naquele bilhete entregue pelo diretor durante a cena do braccedilo de ferro O ator retira do bolso o pedaccedilo de papel amassado e me entrega Nele eu leio

Eu acho que o NuTE falhou quando tentou ser apoliacuteneo porque todo o processo era dionisiacuteaco e na medida em que vocecirc tenta colocar Apolo

aquilo contrastava com as nossas naturezas mais primeiras Entatildeo eacute engraccedilado porque nessa dualidade apoliacuteneo e dionisiacuteaco e qual seria essa potecircncia ou impotecircncia Acho que era um grupo absolutamente dionisiacuteaco como artista que falhou muito quando tentou ser apoliacuteneo como docente (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 46)

Levanto o rosto e vejo os atores tristes emudecidos dobrando guardando o material utilizado em cena Decido ajudaacute-los Apesar de natildeo haver portas no Espaccedilo (O)Caso quando deixamos o local tive a impressatildeo de sentir um pouco o que sentiu Alexandre Venera ao fechar pela uacuteltima vez a porta do NUTe em 2002

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objeto cecircnico utilizado no espetaacuteculo lsquomaqbeacutete uma

interferecircncia na transmissatildeorsquo

Foto

Ch

arle

s S

teu

ck

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QUINTO

ENSAIOQUINTO ENSAIO ndash 08 DE MAIO DE 2015

Sexta-feira de Insocircnia03h43min

Imagem Insistente Solidatildeo

Nada Ningueacutem Nem mesmo uma negaccedilatildeo Vazio Deserto Naacuteusea Um gosto metaacutelico em minha respiraccedilatildeo fazia subir Descer Subir Descer Estranhas ondas a explodir espumas oxidaacuteveis no costatildeo de minhas veacutertebras Ao fechar os olhos sempre era arrebatado pelas imagens do uacuteltimo ensaio Meu estocircmago ou o que estivesse em seu lugar carregava minha alma aos buracos vazios de meu plexo Sem conseguir dormir passava as noites na internet Da paacutegina de e-mails ao Facebook do Facebook ao blog Nute Para Todos do blog agrave paacutegina do Orkut dos Fakes-NuTE do Orkut a um blog amigo e deste agrave paacutegina de e-mails Uma vez duas vezes toda a madrugada O ciacuterculo repetia repetia e mais uma vez recomeccedilava O que fazer Eu estava esgotado Natildeo tinha de onde arrancar forccedilas para convencer Alexandre novamente a dirigir o espetaacuteculo Pior bem pior que isso Na verdade meu assento beirava um precipiacutecio precisava continuar a montagem o projeto estava em meu nome e a prestaccedilatildeo de contas comeccedilaria logo logo a bater agrave porta

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mas entendia agora pois experimentava em meu proacuteprio corpo um tanto dos motivos que levaram Venera a abandonar o teatro O que fazer Estava praticamente sem atores Contava com metade do elenco talvez nem isso um terccedilo do grupo Natildeo tinha recursos para continuar locando salas de ensaio nem para uma segunda seleccedilatildeo de atores os cheques jaacute haviam sido depositados Havia gastos com alimentaccedilatildeo hospedagem combustiacutevel uma boa parte das rubricas estava zerada O que fazer Eu natildeo conseguia dormir Tudo empurrava agrave mesma direccedilatildeo Parecia me restar apenas aquele caminho que haacute tanto teimava em natildeo seguir

Foi assim que exausto tomei a decisatildeo cancelar a montagem do espetaacuteculo Estava resolvido Precisava agora avisar o grupo Olhei o reloacutegio eram 05h47min Esperei ateacute as 08h30min e comecei a ligar para os atores que haviam permanecido ateacute o final do quarto ensaio Pareceu-me desrespeito com o processo terminar tudo por telefone assim natildeo lhes adiantei o assunto dizia apenas tratar-se de um ensaio agendado agraves pressas para a tarde daquela sexta-feira Por volta das 14 horas eles comeccedilaram a chegar

Como era de costume sentamos em ciacuterculo sem cadeiras Ao se perceberem como sobreviventes da montagem nada disseram sobre os demais atores Natildeo demorou muito contudo para se colocar em questatildeo a presenccedila de Alexandre Expliquei o momento que estaacutevamos atravessando retomei algumas

das principais motivaccedilotildees que desencadearam o projeto e sem muitas delongas anunciei ao grupo o encerramento das atividades Natildeo houve protesto todos compreendiam que era a uacutenica coisa possiacutevel a se fazer Um forte aperto de matildeo e uma laacutegrima escondida puseram fim aos ensaios Assisti ao uacuteltimo ator fechando a porta deitei-me no palco por um segundo e natildeo sei bem provavelmente o cansaccedilo extremo as tantas noites de insocircnia o momento conclusivo algo me fez dormir ali mesmo

Desta situaccedilatildeo Alice no Paiacutes das Teatrologias surgiram condensaccedilotildees e deslocamentos num sentido propriamente freudiano dos termos Sonhei que haviacuteamos terminado a montagem e estaacutevamos apresentando circulando com o espetaacuteculo Brasil afora Viajaacutevamos todos no Kombinutebus in Progress espeacutecie de ocircnibus em formato de Kombi ou Kombi em formato de ocircnibus que ia se fazendo agrave medida que viajava Visitamos muitas cidades quase sempre com razoaacutevel sucesso de puacuteblico e criacutetica Mas a cada apresentaccedilatildeo laacute estava eu na primeira fila anotando as cenas escrevendo o bendito roteiro Eu natildeo entendia porque continuava escrevendo mesmo depois da estreia era algo como uma obrigaccedilatildeo uma funccedilatildeo minha parte no espetaacuteculo Eu natildeo queria mais escrever estava cansado ansiava finalizar parar queria assistir ao espetaacuteculo Na passagem de uma cidade a outra um ator comenta comigo que a proacutexima apresentaccedilatildeo seria a uacuteltima A trupe comemora vamos para casa depois de tantos meses ndash ou seriam anos ndash na estrada

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Sorrindo percebo uma chance enfim de assistir ao espetaacuteculo de nada mais fazer apenas relaxar e contemplar as cenas que com tanto esforccedilo ajudei a criar Convenccedilo a mim mesmo de que natildeo faz sentido descrever cenas de uma uacuteltima apresentaccedilatildeo tais anotaccedilotildees seriam inuacuteteis visto que todas as apresentaccedilotildees jaacute ocorreram Quando toca o primeiro sinal como de costume procuro meu lugar Tudo estaacute diferente eacute incriacutevel a sensaccedilatildeo as anotaccedilotildees que tanto fiz meras linhas escritas e reescritas vatildeo agora respirar Toca o segundo sinal meu corpo vibra Os atores se posicionam em cena Percebo a plateia completamente lotada Toca o terceiro sinal Nada O espetaacuteculo deveria comeccedilar mas os atores estatildeo paralisados todos olham para mim Uma gigantesca tela branca se abre e Alexandre aparece projetado nela O diretor agitado com dedos em riste exige que eu anote as cenas Toda a plateia olha em minha direccedilatildeo Subo no palco extremamente irritado e improviso um breve discurso onde argumento que natildeo faz o menor sentido anotar cenas de uma uacuteltima apresentaccedilatildeo A plateia entatildeo se levanta ergue os braccedilos e num macabro uniacutessono lanccedila a voz

ndash Que soacute se escrevam roteiros depois de estrearem os espetaacuteculos O melhor roteiro eacute aquele que se escreve na uacuteltima apresentaccedilatildeo

Assustado acordo encharcado de suor e palavras Provavelmente estava gritando pois algueacutem me pergunta se estaacute tudo bem e me oferece um copo drsquoaacutegua Em minha volta gargalhadas e comentaacuterios Saindo do transe

percebo aos poucos os atores dos quais havia me despedido recentemente Estou cercado por eles Envergonhado com a situaccedilatildeo e ao mesmo tempo agradecido pela acolhida natildeo consigo escapar aos risonhos pedidos de uma narrativa oniacuterica Passo a lhes contar o que se passou e foi nesse momento em meio agrave descriccedilatildeo do sonho que algo muito mas muito estranho aconteceu

ndash Perfeito eacute isso mesmondash Que incriacutevel foi exatamente por isso que

resolvemos voltarndash Mas eacute sincronicidade demais para minha

cabeccedila como eacute possiacutevelO grupo experimentava algo muito intenso

Atordoado eu natildeo compreendia absolutamente nada Frases e mais frases de urra viva conseguimos

ndash Parabeacutens cara vocecirc encontrou sabia que conseguiria

ndash Oacutetimo oacutetimo muito bom vamos tocar assim entatildeo

ndash Maravilha eacute isso mesmo eacute isso mesmoLaacute pelas tantas sufocado com a

comemoraccedilatildeo resolvo perguntarndash Mas afinal de contas do que diabos vocecircs

estatildeo falandoSilecircncio geral Todos me olham O ator mais

sorridente se decidendash Eacute uma brincadeira ou vocecirc realmente natildeo

percebeu que conseguiu encontrar a saiacutedandash Saiacuteda ndash comeccedilava a ficar irritado com a

situaccedilatildeo ndash Mas que merda de palhaccedilada eacute essa

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Algueacutem pode me dizer o que estaacute acontecendo ndash Os atores se olham e caem na gargalhada Por alguns minutos que me pareceram horas freneticamente arregaccedilam dentes e bocas aos ares aos chatildeos a eles mesmos Eu permanecia sentado no piso madeirado do palco os atores que natildeo riam deitados riam em peacute Aos poucos um deles encontrou forccedilas para se acalmar e movido por uma compaixatildeo quase paterna sentou-se ao meu lado repousou sua matildeo esquerda em meu ombro e disse

ndash Saiacutemos daqui carregando uma forte sensaccedilatildeo de fracasso Era impossiacutevel ir embora Algueacutem natildeo lembro exatamente quem foi sugeriu uma cervejinha Fomos ao bar Depois de muito beber e muito falar nos demos conta de que o roteiro estaacute quase pronto de que faltam apenas as cenas do JOTE-Titac

ndash Sim mas o que estaacute pronto foi escrito para ser encenado por trecircs vezes o nuacutemero de atores que temos

ndash Aiacute eacute que vocecirc se engana Teu roteiro descreve as cenas que surgiram durante a Composiccedilatildeo de Mundos de cada Ensaio E nesses ensaios estaacutevamos sempre em grupos menores Alexandre nos pedia essa formaccedilatildeo em grupelhos Ou seja se pensarmos cada cena de forma isolada o roteiro que existe ateacute agora estaacute escrito para ser encenado pelo exato nuacutemero de atores que temos Certamente teremos um tanto de trabalho extra satildeo muitas cenas seria preciso fabricar energia para dar conta Mas todos queremos tentar voltamos para te dizer que queremos tentar

Nesse instante os demais atores mais calmos sentados em nossa volta repetem sorrindo

ndash Somos muito poucos para dividir queremos tentar

ndash Olha pessoal estou emocionado com isso tudo mas mesmo com esse sacrifiacutecio pessoal de cada um de vocecircs ainda estamos sem direccedilatildeo Alexandre natildeo vai voltar

ndash Mas as cenas jaacute estatildeo prontas Alexandre jaacute fez a parte dele Ele nos dirigiu e noacutes encontramos as cenas o processo de criaccedilatildeo estaacute pronto e registrado pelo roteiro Basta agora encenarmos

ndash Tudo bem tudo bem podemos ateacute conseguir encenar o que jaacute estaacute pronto Mas e o JOTE-Titac Foram treze ediccedilotildees treze anos de Jogos de Teatro eacute uma parte importante demais para simplesmente desaparecer do espetaacuteculo

ndash Vocecirc natildeo percebeu mesmo neacutendash Perceber o quecircndash Vocecirc resolveu isso no sonhondash Como assimndash Estaacute tudo pronto vocecirc soacute precisa colocar

no roteirondash Do que vocecircs estatildeo falando Noacutes nunca

ensaiamos nada sobre o JOTE-Titacndash O que acontecia no seu sonhondash Era diferente o espetaacuteculo estava

pronto eu natildeo estava anotando cenas de um ensaio mas de uma apresentaccedilatildeo da uacuteltima apresentaccedilatildeo

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ndash De uma uacuteltima apresentaccedilatildeo sobre

ndash Sobre o NuTE era o nosso espetaacuteculo

ndash Entatildeo por que vocecirc natildeo faz exatamente isso

ndash Mas que piada eacute essa Natildeo faccedilo isso porque noacutes ainda natildeo terminamos o espetaacuteculo porque nunca houve uma apresentaccedilatildeo sobre Espera Espera Mas eacute claro eacute isso ndash iniciando com um sorriso e desenrolando em gritos ndash o JOTE-Titac Experimentando NuTE Natildeo temos uma apresentaccedilatildeo sobre o NuTE mas oito Mais que isso noacutes filmamos todo o evento desde o sorteio dos textos na quinta-feira agrave noite ateacute as apresentaccedilotildees no domingo Fomos aos ensaios de cada grupo registramos o processo se natildeo me engano temos ateacute uma entrevista com cada um dos grupos participantes Eacute isso Eu posso descrever tudo que foi filmado

ndash Ou editar produzir pequenos viacutedeos que possam ser projetados durante o espetaacuteculo

ndash Eacute uma linda paisagem escrever com imagem e som

ndash Maravilha talvez essa escrita imageacutetica-sonora abra o JOTE-Titac ao nosso puacuteblico permita uma efetiva experimentaccedilatildeo do processo Quase como se o JOTE-Titac pudesse dizer algo sobre si mesmo Ou seja ao descrever o processo da deacutecima quarta ediccedilatildeo do JOTE as ediccedilotildees anteriores ficaratildeo espreitando nas entrelinhas

ndash Vocecirc estaacute querendo dizer que o JOTE-titac eacute sempre igual

ndash Natildeo Longe disso Cada JOTE tem a sua singularidade ndash atuaccedilotildees textos cenas situaccedilotildees ndash nunca se repetem O deacutecimo quarto pra destacar apenas um ponto foi temaacutetico os textos deveriam necessariamente falar sobre o NuTE Isso nunca havia acontecido antes Agora o disparador com pequenos ajustes eacute basicamente sempre o mesmo

ndash Disparadorndash Estou falando do regulamento dos Jogos

de Teatro Por exemplo para que esse JOTE-Titac pudesse acontecer tivemos que montar uma comissatildeo organizadora Isso sempre se repete todo JOTE precisa de pessoas que organizem o festival Essa comissatildeo espalhou aos quatro cantos a notiacutecia de que iria acontecer entre os dias 16 e 19 de julho de 2009 na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau o 14ordm JOTE-Titac Estabeleceu datas para que os autores enviassem seus textos e para que os grupos fizessem suas inscriccedilotildees O formato permitido aos textos a composiccedilatildeo permitida aos grupos os precircmios etc Convocou um juacuteri para selecionar os textos e um juacuteri para avaliar os espetaacuteculos30 Uma vez que os textos estavam selecionados e os grupos inscritos a comissatildeo organizadora pocircde sortear os textos e os horaacuterios de apresentaccedilatildeo aos grupos inscritos o que aconteceu dia 16 agrave noite Antes do sorteio nenhum grupo sabia qual seria seu texto depois do sorteio cada grupo teve apenas dois dias para montar o espetaacuteculo jaacute que todos apresentaram no domingo dia 19

ndash Mas entatildeo quem dispara os Jogos eacute a

30 O juacuteri que selecio-nou e premiou os tex-tos foi composto por Noemi Kellermann Gregory Haertel e Tacirc-nia Rodrigues O juacuteri que avaliou e pre-miou os espetaacuteculos foi composto por Joseacute Ronaldo Faleiro Noe-mi Kellermann e Peacutepe Sedrez

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QUINTO

ENSAIO

comissatildeo organizadora e natildeo o regulamentondash Claro que natildeo pois tudo que a comissatildeo

organizadora faz eacute seguir o regulamento Pra usar uma imagem dos nossos Ensaios anteriores eu diria que o regulamento eacute o Aperitivo Cecircnico dos Jogos de Teatro

ndash Bacana isso hein Que tal a gente copiar a ideia que Alexandre trouxe para o Segundo e Quarto Ensaios e propor aqui tambeacutem um Aperitivo Cecircnico

ndash Fazer do regulamento dos Jogos de Teatro nosso aperitivo cecircnico

ndash Excelentendash Sim sim vai ficar joiandash Taacute vamos colocar entatildeo Do Festival de

Teatro Universitaacuterio de Blumenau para o JOTE-Titac e do JOTE para um Espetaacuteculo NuTE Esse regulamento eacute uma viagem

Rindo sozinho eu me dou conta de que ningueacutem entendeu a piada

ndash Vocecircs natildeo sabiam que esse regulamento foi originalmente escrito para o Festival de Teatro Universitaacuterio de Blumenau

ndash O regulamento do JOTE-Titac era o regulamento do FITUB

ndash Quase isso Em 1987 quando se estava organizando a primeira ediccedilatildeo do Festival de Teatro Universitaacuterio de Blumenau Alexandre Venera que participava dos debates tomou frente agrave construccedilatildeo de um regulamento que serviria como base para o Festival Passa algum tempo ele aparece com o documento que natildeo

contemplava apenas grupos universitaacuterios mas sim todo e qualquer sujeito que de alguma forma tivesse interesse em experimentar fazer teatro Resultado o grupo organizador natildeo aprovou o regulamento Alexandre frustrado retira-se de cena A primeira ediccedilatildeo do Festival Universitaacuterio aconteceu de 27 de julho a 01 de agosto Ironicamente em dezembro deste mesmo ano o NuTE lanccedila o que acabaria se tornando um dos festivais de teatro mais livres e intensos do Brasil os Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas o nosso JOTE-Titac31

ndash Quer dizer que o Festival Internacional de Teatro Universitaacuterio de Blumenau era pra ter sido um grande JOTE-Titac

ndash Calma vocecirc estaacute reduzindo as coisas Para dizer alguma coisa sobre o FUTB ou FITUB como eacute conhecido atualmente sem falar bobagem seria preciso uma nova pesquisa talvez um novo livro digo um novo espetaacuteculo Esse evento eacute complexo demais para dois ou trecircs paraacutegrafos apressados Melhor a gente se preocupar com nossa montagem

ndash Tambeacutem acho Aliaacutes natildeo entendi ateacute agora como vai funcionar na praacutetica esse tal escrever com imagem e som

ndash Bem na verdade eu tambeacutem natildeo entendi ainda Mas se vocecircs toparem podemos dar uma espiada nas filmagens do JOTE Eu passei todas as fitas para o HD do meu notebook eacute soacute ligar e assistir ao material

ndash Bacana Mostra aiacutendash Satildeo mais de 20 horas de filmagem Tem

31 Aiacute o Festival a TV ia dar todo apoio e natildeo sei o que laacute Aiacute pocirc um cara laacute sugeriu Pascoal Carlos Mag-no que fazia mostras de Teatro Universitaacute-rias () E aiacute pocirc va-mos fazer um Festival Universitaacuterio () Aiacute eu assim ldquonatildeo mas se fi-zer outro tipo de Fes-tival eu tenho um re-gulamentordquo e fui pra casa e paacute escrevi datilografei Montei o primeiro regulamento do JOTE-Titac e en-treguei pra eles Nes-sa o Faleiro jaacute tava ali e batendo papo o Fa-leiro tambeacutem gostou e coisa mas a coisa era pra ser um pou-quinho mais glamoro-sa neacute Aiacute eu recolhi o meu regulamento Natildeo deu trecircs meses depois foi o primeiro JOTE-Titac (risos) (Entrevista com Ale-xandre Venera paacutegi-na 124)

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QUINTO

ENSAIO

muita coisa Por onde vocecircs gostariam de comeccedilar

ndash Que tal soacute pra variar um pouco comeccedilarmos do comeccedilo ndash risos

ndash Mas eacute uma boa mesmo Eu lembro que naquela quinta-feira agrave noite vocecircs fizeram uma recepccedilatildeo para os grupos Foi antes do sorteio dos textos Era um momento de boas-vindas algo como uma saudaccedilatildeo uma apresentaccedilatildeo dos Jogos de Teatro

ndash Deixa ver se encontro aqui ndash procurando no computador

ndash Eu lembro disso foi Alexandre quem fezndash Acho que vocecircs estatildeo se referindo a esse

momento aqui ndash mostrando as filmagensndash Esse esse mesmondash Olha que bacana sou eu ali na plateiandash Ondendash Ali ao lado da menina de vermelhondash Ok Entatildeo vamos abrir o editor de viacutedeo

recortar esse trecho aqui colar com esse esse aqui natildeo estaacute muito bom e esse tem problema no aacuteudio vamos ajustar todos nessa uacuteltima sequecircncia e finalizar Agora eacute soacute exportar e fazer o upload Estaacute pronto Jaacute podemos assistir ou baixar se preferirem diretamente na internet

wwwyoutubecomwatchv=_TcDrbZdmig

ndash Deu certo Todo mundo conseguiu assistir Se algueacutem estiver com problemas para

assistir por favor contate-nos num desses endereccedilos nuteparatodosgmailcom ou wwwnuteparatodoswordpresscom

ndash Pra mim pareceu bem tranquilo de acessar tem vaacuterias opccedilotildees Acessei clicando direto no hiperlink

ndash Ficou engraccedilada essa dobradinha Alex Stein X Alexandre Venera

ndash Tambeacutem gostei mas fiquei na duacutevida se recortar um trechinho de O Monstro de Nutenstein natildeo estraga a surpresa do espetaacuteculo

ndash Acho que natildeo bem pelo contraacuterio deixa o puacuteblico curioso a respeito dessa peccedila que levou vaacuterios precircmios inclusive o de melhor montagem

ndash Taacute divertido coloca mais um viacutedeo aiacutendash Qualndash O sorteio dos textosndash Isso O sorteio com os copos de cachaccedila

aquilo foi muito bomndash Beleza ndash depois de algumas bricolagens

digitais ndash sorteio etiacutelico pronto para acessar

wwwyoutubecomwatchv=GPwtjL1rtfY

ndash Cresce cresce crescendash Ficou bizarro com essa trilha de O Homem

do Capotendash Agora entendi Funciona melhor que eu

pensavandash Essa muacutesica fazia parte da sonoplastia de

Viacutedeo abertura Jote-Titac

Viacutedeo Jote-Titac Sorteio dos Textos

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QUINTO

ENSAIO

O Homem do Capotendash Sim Sim chama-se Noite Ferrada32 Mas e

entatildeo o que vocecircs acharam vamos continuar com essa escrita imageacutetica-sonora Deu certo pra vocecircs

ndash Eu tocirc curtindo muitondash Eu tambeacutemndash Funciona cara funciona super bem Acho

que podes ir direto para o Aperitivo Cecircnico e dele para a Composiccedilatildeo de Mundos

ndash Como Aperitivo Cecircnico ficou o regulamento dos jogos de teatro

ndash Se tudo no JOTE-Titac eacute mesmo disparado por ele natildeo tem porquecirc ser outra coisa

ndash E a Composiccedilatildeo de Mundosndash Estou pensando em colocar como base

para essa Composiccedilatildeo de Mundos os oito textos que o juacuteri selecionou para o JOTE-titac Experimentando NuTE Que lhes parece

ndash Mas satildeo textos escritos por vaacuterios autoresndash Exatamentendash A Composiccedilatildeo de Mundos natildeo corre o risco

de ficar meio esquizofrecircnica Se a escrita de um autor jaacute eacute composta por centenas de milhares de pequenas almas o que dizer de uma escrita coletiva desse porte

ndash Rios de almasndash Cachoeirasndash Engarrafamento em Satildeo Paulo capitalndash Um imenso cardume de peixes no marndash Belas imagens-conceito meus caros

Pois eacute bem a poeacutetica desses fragmentos o que

32 Composiccedilatildeo de Alexandre Venera dos Santos

mais me interessa Quando olhamos uma cachoeira temos a impressatildeo de ver ali algo que chamamos cachoeira Mas na verdade a cachoeira eacute uma ilusatildeo ela natildeo existe O que haacute satildeo zilhotildees de gotiacuteculas de aacutegua descendo juntas descendo descendo sempre descendo Contudo eacute agradaacutevel olhar e ver ali uma cachoeira pensar nela como uma unidade Assim como eacute agradaacutevel pensar na unidade de um autor na unidade de uma escrita

ndash Vocecirc estaacute querendo dizer que a escrita eacute sempre coletiva uma espeacutecie de matilha

ndash Mais que isso Aleacutem de ser coletiva por natureza a escrita que se colocou em movimento para esse livro-espetaacuteculo clama por agenciamentos Ela natildeo funciona sozinha mesmo sendo sua solidatildeo composta por milhares outros milhares satildeo sempre chamados Assim fazemos Work in Progress Assim escrevemos em muacuteltiplas matildeos rizomaacuteticas

ndash Taacute mas entatildeo a ideia eacute colocar um texto depois outro e assim ateacute o uacuteltimo

ndash Natildeo era bem isso mas gostei dessa estrutura Podemos acrescentar entre um texto e outro um local para assistir aos ensaios e agraves entrevistas dos grupos um pequeno platocirc onde se concentraria o Escrever com Imagens e Sons Ou seja ao final de cada texto montamos um quadro dispondo os endereccedilos dos viacutedeos

ndash Mas e os espetaacuteculosndash Pensei em colocar os espetaacuteculos como

ldquoGranFinalerdquo num espaccedilo-plano-platocirc reservado apenas para eles Nesse local

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QUINTO

ENSAIO

podemos concentrar as informaccedilotildees sobre cada montagem direccedilatildeo elenco nome do grupo etc

ndash Acho que taacute bem legalndash Sim manda balandash E noacutes podemos voltar ao boteco pedir

algumas cervejinhas e comeccedilar a adaptaccedilatildeo das cenas Tens uma coacutepia dos ensaios anteriores aiacute contigo

ndash Impressa natildeo tenho mas se algueacutem tiver um pen-drive posso copiar direto da maacutequina

ndash Eu tenho copia aqui por favorCom a coacutepia digital dos ensaios os atores

saem de cena me desejando merda No palco sozinho com minhas multidotildees percebo a bateria do notebook pedindo carga Puxo uma extensatildeo da tomada mais proacutexima ligo o carregador na energia eleacutetrica aciono o editor de texto e entatildeo as cortinas digitais se abrem

APERITIVO CEcircNICOeou nutrientes para composiccedilatildeo de mundos

caro leitor

desta vez nossos aperitivos

seratildeo servidos AQUI mesmo neste volume na sequecircncia

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QUINTO

ENSAIO

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QUINTO

ENSAIO

REGULAMENTO DOS JOGOS DE TEATROTEXTO INTERPRETACcedilAtildeO E TEacuteCNICA NAS ARTES CEcircNICASANO 2009 ndash Experimentando NuTE

Quanto ao TExTO1 ndash Deve ser ineacutedito em liacutengua portuguesa e poderatildeo concorrer

quaisquer pessoas2 ndash Esta ediccedilatildeo do JOTE-Titac eacute temaacutetica ldquoExperimentando

NuTErdquo e para a escrita dos textos estatildeo disponiacuteveis na internet 25 disparadores (referecircncias textuais icnograacuteficas e audiovisuais) no endereccedilo wwwnuteparatodoswordpresscomjotedisparadores

3 ndash Deve ser redigido obrigatoriamente para a representaccedilatildeo (atraveacutes de teacutecnicas dramatuacutergicas) Os contos poemas etc inscritos seratildeo automaticamente considerados como ldquoTemas para Representaccedilatildeordquo cabendo ao juacuteri a decisatildeo de sua inclusatildeo ou natildeo no julgamento

4 ndash O texto como peccedila teatral deve comportar um elenco meacutedio de trecircs atores admitindo-se um maacuteximo de cinco sendo permitido entretanto um acreacutescimo de personagens caso seja possiacutevel que os atores representem mais de um personagem no mesmo texto

5 ndash O texto deve ser digitado em Fonte Arial Tamanho 10 espaccedilamento simples natildeo podendo ultrapassar o limite de uma uacutenica folha de papel ofiacutecio comum Natildeo satildeo admitidos os recursos de reduccedilotildees fotocopiadas poreacutem o papel pode ser utilizado em ldquofrente e versordquo

6 ndash No ato de inscriccedilatildeo os textos devem ser entregues em oito vias assinadas com o pseudocircnimo do autor Juntamente deve acompanhar um envelope lacrado contendo em seu interior o nome do autor o nome do texto o pseudocircnimo empregado endereccedilo e algumas consideraccedilotildees sobre sua obra Do lado de fora deste envelope deve constar apenas o pseudocircnimo e o nome da peccedila inscrita devendo ser entregue na recepccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau ndash Rua XV de Novembro 161ndash BlumenauSC aos cuidados de Carol Borba Ou enviados juntamente com a Ficha de Inscriccedilatildeo para nuteparatodosgmailcom Seratildeo aceitos como participantes os textos recebidos ateacute as 17 horas do dia 10 de julho de 2009

7 ndash Os textos seratildeo analisados por um Juacuteri Convidado levando-se em conta trecircs aspectos ldquoLeiturardquo (a literatura ndash o texto) ldquoEspetaacuteculordquo (a dramaturgia ndash a peccedila) e coerecircncia com o tema proposto (ldquoExperimentando NuTErdquo) Dia 16 de julho de

2009 agraves 19h30min seratildeo divulgados os textos preacute-selecionados considerados aptos para serem encenados no 14ordm JOTE

8 ndash Dos textos concorrentes seratildeo indicados os trecircs melhores e entre estes o premiado Outras indicaccedilotildees podem ser premiadas conforme o juacuteri visando reconhecimento aos meacuteritos dos participantes em quesitos como por exemplo ldquooriginalidade do textordquo ldquoautor revelaccedilatildeordquo etc A premiaccedilatildeo que consiste de trofeacuteu e certificado aconteceraacute com as demais no dia 19 de julho de 2009

Quanto aos INTEacuteRPRETES e TEacuteCNICOS1 ndash Deveratildeo os inteacuterpretes e teacutecnicos formar uma Equipe de

trabalho de no miacutenimo quatro e no maacuteximo dez pessoas que aleacutem de atuarem assumiratildeo as responsabilidades teacutecnicas de criaccedilatildeo e operaccedilatildeo do equipamento de palco (iluminaccedilatildeo sonoplastia cenaacuterios etc)

2 ndash As Equipes deveratildeo especificar (em ficha de inscriccedilatildeo conforme modelo disponiacutevel em wwwnuteparatodoswordpresscom bem como na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau) as funccedilotildees de seus componentes nas categorias de premiaccedilatildeo ELENCO DIRECcedilAtildeO ILUMINACcedilAtildeO SONOPLASTIA CENOGRAFIA FIGURINOS MAQUIAGEM PRODUCcedilAtildeO COREOGRAFIA FOTOGRAFIA IMAGEM-DOCUMENTAacuteRIO Ateacute quatro destas funccedilotildees artiacutesticoteacutecnicas podem ser executadas e responsabilizadas por uma mesma pessoa O prazo de inscriccedilotildees das Equipes de Inteacuterpretes e Teacutecnicos encerra-se agraves 17 horas do dia 10 de julho de 2009 Independente do formato a inscriccedilatildeo soacute teraacute validade depois que a equipe pagar a inscriccedilatildeo no valor de R$ 1000 por integrante ndash reembolsaacuteveis atraveacutes da cota de ingressos

21 ndash Cota de Ingressos cada membro da equipe receberaacute quatro (4) ingressos que poderatildeo ser comercializados a R$ 500 cada (totalizando um retorno de R$ 2000) para reembolsar o valor da inscriccedilatildeo e proporcionar agrave equipe uma ajuda de custo na montagem do seu espetaacuteculo

22 ndash Inscriccedilatildeo para efetivar a inscriccedilatildeo enviar para o e-mail nuteparatodosgmailcom ficha de inscriccedilatildeo preenchida e comprovante de depoacutesito das cotas de ingressos Apoacutes isto os ingressos da equipe poderatildeo ser retirados antecipadamente na Liquidificador Comunicaccedilatildeo e Arte (Rua Itajaiacute 3225 ndash Sala 01 ndash Vorstadt ndash Blumenau) ou retirados no dia do sorteio dos textos 16 de julho agraves 20 horas

23 ndash Conta para depoacutesito a quantia da cota de ingressos

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QUINTO

ENSAIO

deveraacute ser depositada em qualquer agecircncia da CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL ou em Casas Loteacutericas na conta agecircncia conta Guardar comprovante de depoacutesito para validar inscriccedilatildeo

3 ndash A Comissatildeo Organizadora norteada pelos curriacuteculos e intenccedilotildees de participaccedilatildeo constantes na Ficha de Inscriccedilatildeo selecionaraacute ateacute 7 (sete) Equipes como aptas a participar dos Jogos

4 ndash Quanto ao puacuteblico presente e ao bom andamento dos Jogos de Teatro as Equipes deveratildeo proporcionar o acesso ao puacuteblico ao Auditoacuterio em tempo natildeo inferior a cinco minutos do iniacutecio do espetaacuteculo assim como natildeo seraacute admitido atraso superior a cinco minutos sobre o horaacuterio previsto para a apresentaccedilatildeo Cada minuto de atraso representa menos um ponto na avaliaccedilatildeo final do Juacuteri Convidado Especial No caso do natildeo cumprimento deste item do regulamento a Equipe seraacute desclassificada

5 ndash Cada Equipe deveraacute fornecer ao puacuteblico presente em sua apresentaccedilatildeo um programa cujo conteuacutedo aleacutem de informaccedilotildees baacutesicas contenha suas observaccedilotildees sobre o espetaacuteculo Em programas cartazes faixas anuacutencios etc deve obrigatoriamente constar JOTE-titac data local e hora da apresentaccedilatildeo

Quanto aos jOGOS DE TEATRO1 ndash Os textos inscritos seratildeo numerados e sorteados para

as Equipes participantes que os representaratildeo dois dias apoacutes o sorteio (tempo em que seratildeo ensaiados e produzidos) FICA ESTABELECIDO UM LIMITE MAacuteXIMO DE SETENTA E CINCO MINUTOS PARA AS APRESENTACcedilOtildeES DE CADA EQUIPE INCLUINDO MONTAGEM E DESMONTAGEM O sorteio dos textos para as equipes participantes seraacute realizado no dia 16 de julho de 2009 agraves 20 horas na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau Nesse mesmo dia a programaccedilatildeo completa do evento e o horaacuterio para a encenaccedilatildeo das peccedilas tambeacutem seratildeo sorteados e decididos previamente para cada equipe participante Em caso de espaccedilos diferentes para as apresentaccedilotildees tambeacutem se faraacute um sorteio entre as Equipes para a ocupaccedilatildeo desses palcos

2 ndash Todos os espetaacuteculos deveratildeo ser encenados impreterivelmente no dia 19 de julho de 2009 na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau

3 ndash Dois grupos de jurados faratildeo o julgamento das categorias de INTEacuteRPRETES e TEacuteCNICOS o Juacuteri Teacutecnico seraacute composto por um integrante representante de cada Equipe concorrente que daraacute seu voto (notas de 1 a 3) em todas as categorias de premiaccedilatildeo de todos os espetaacuteculos apresentados menos naquele em que

estaraacute representado Ao final baseado na pontuaccedilatildeo geral o Juacuteri Convidado Especial se reuniraacute com a Comissatildeo Organizadora para indicar os trecircs melhores e o premiado em cada categoria TEXTO ndash MONTAGEM ndash ATOR ndash ATRIZ ndash COADJUVANTES ndash DIRECcedilAtildeO ndash ILUMINACcedilAtildeO ndash SONOPLASTIA ndash FIGURINO ndash CENAacuteRIO ndash MAQUIAGEM -COREOGRAFIA ndash PRODUCcedilAtildeO ndash FOTOGRAFIA ndash IMAGEM-DOCUMENTAacuteRIO (14 categorias) Outras categorias podem ser premiadas ao se visar o aprimoramento e incentivos dos participantes como exemplo ator-revelaccedilatildeo melhor caracterizaccedilatildeo etc

4 ndash Na categoria Fotografia seratildeo premiadas as melhores capturas fotograacuteficas das apresentaccedilotildees Em Imagem-documentaacuterio seratildeo avaliados os melhores registros dos ensaios valendo-se de qualquer miacutedia (filmagem fotografia desenho histoacuteria em quadrinho etc)

5 ndash A Equipe deveraacute entregar as Fotografias e Imagem-documentaacuterios ateacute as 1900 horas do dia 19 de julho de 2009 para a comissatildeo organizadora do JOTE em miacutedia CD ou DVD (no formato MPG ou AVI) A premiaccedilatildeo dessas categorias ocorreraacute no dia 25 de julho de 2009 em local a ser definido

6 ndash Casos omissos problemas e duacutevidas surgidas seratildeo resolvidos pela Comissatildeo Organizadora

Quanto ao DIREITO AuTORAL1 ndash Os autores dos textos das fotografias e imagens-

documentaacuterios produzidos no Jote-Titac Experimentando NuTE cederatildeo seus direitos autorais para as publicaccedilotildees do projeto NuTE Para Todos em livro e cyber-espaccedilo sendo citados sempre que utilizados e conservando seus direitos para suas proacuteprias publicaccedilotildees

Quanto agrave utilizaccedilatildeo de imagem 1 ndash Todos os inscritos no JOTE-Titac Experimentando

NuTE autorizam a utilizaccedilatildeo de seus textos e de suas imagens pessoais inclusive em meio virtual para composiccedilatildeo da pesquisa e publicaccedilotildees futuras sobre o NuTE

Informaccedilotildees e duacutevidas(47) 3340-0596 ou pelo e-mail nuteparatodosgmailcom

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QUINTO

ENSAIOComposiccedilatildeo de Mundos

CRINU E CASTITE

Por Dostuevisqui da Silva

Primeira Tonalidade ndash Kafka ndash Enquanto o puacuteblico se dirige agraves cadeiras quatro atores espalhados pela plateia os observam a certa distacircncia Esses atores-detetives-kafkinianos fazem comentaacuterios entre si sobre alguns dos sujeitos-puacuteblico Os comentaacuterios natildeo devem ser ouvidos pela plateia Em cena uma senhora idosa sentada numa cadeira A intenccedilatildeo eacute levar o puacuteblico a acreditar que esse boneco eacute mesmo uma senhora idosa Quando todas as atenccedilotildees-olhos-interesses estiverem concentrados nela inicia-se a segunda tonalidade Segunda Tonalidade ndash Dostoieacutevski ndash Muito lentamente Raskoacutelnikov caminha por detraacutes do boneco da velha Aos poucos deixa o puacuteblico perceber que dentro de seu sobretudo haacute um machado

Foto

Ch

arle

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teu

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QUINTO

ENSAIO

Lentamente retira o machado perfilado atraacutes da cadeira levanta sobre sua cabeccedila e num golpe fortiacutessimo divide a velha e a cadeira em duas Apoacutes uma pausa inicia diaacutelogo com a plateia

Raskoacutelnikov ndash A humanidade se divide em duas de um lado temos os seres ordinaacuterios e de outro os seres extraordinaacuterios Fiquem tranquilos prometo natildeo lhes causar nenhum aborrecimento clichecirc Sei que vocecircs conhecem o meu Crime que conhecem tambeacutem o meu Castigo Eacute justamente por isso que quem escreve esse texto me utiliza Ele acredita que entre noacutes haja uma certa cumplicidade Acredita que se for eu a lhes contar alguns seratildeo capazes com um pouco de esforccedilo de perdoar O dilema eacutetico de quem escreve esse texto eacute ter junto ao NuTE experimentado momentos extremos de alegria e ser a uacutenica testemunha de um Crime Hediondo cometido por integrantes deste Nuacutecleo de Teatro Experimental Denunciar aqui atraveacutes de mim algo que nunca teve coragem de levar agrave poliacutecia foi a uacutenica forma que encontrou para resolver esse conflito Mas por favor mantenham o senso criacutetico Culpar eacute faacutecil eacute uma accedilatildeo ordinaacuteria Todos somos bons em culpar o cristianismo nos aperfeiccediloou nisso Jaacute a experimentaccedilatildeo eacute difiacutecil pouquiacutessimos conseguem Se a existecircncia ordinaacuteria necessita eminentemente da culpa da responsabilizaccedilatildeo e do ressentimento se ela soacute funciona julgando e condenando um outro como seu algoz se para respirar precisa sempre ser a viacutetima A existecircncia extraordinaacuteria necessita do

experimento Jaacute que caminhamos para um julgamento podemos ambas as existecircncias em termos de lei A lei da existecircncia ordinaacuteria prega Ele eacute Mau Logo eu Sou bom A lei da existecircncia extraordinaacuteria diz Seja bem-vindo Dioniso

Terceira Tonalidade ndash Ritual Dionisiacuteaco ndash Faixas-gritos-panfletos-projeccedilotildees-etc anunci-am ldquoNatildeo interpreta FAZrdquo ldquoApolo morre crucificadordquo ldquoDioniso Viverdquo ldquoO importante natildeo eacute o sentido das palavras natildeo eacute tornar o texto inteligiacutevel mas tornaacute-lo vivordquo ldquoEm busca do Ator Santordquo Algumas ressonacircncias com os experimentos do NuTE em fotos-imagens-textos criam um clima Ritual-NuTE Quando o crescente do ritual atingir o limite ocorre uma parada brusca

Blackout

Quarta Tonalidade ndash Julgamento-Tribunal ndash Pela plateia entra em cena o Promotor-Fritz-Oktoberfest suspensoacuterios chapeacuteu bermuda figurino claacutessico Sua entrada eacute marcada com uma melodia-oktoberfest esta melodia natildeo deve ser alegre mas sinistra se possiacutevel macabra Fritz ostenta ares germacircnicos de superioridade Possui forte sotaque alematildeo de Blumenau Seraacute o promotor do caso Deve auxiliar a plateia a se perceber como Juiz do Caso

Fritz ndash Meritiacutessimo eu vou comeccedilar ressaltando a forma como o acusado se auto-nominava ele dizia fazer teatro mas todos os conheciam por NuTE

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QUINTO

ENSAIOJuiz ndash NuTE

Fritz ndash NuTE Meritiacutessimo Onde jaacute se viu chamar PUTA a um grupo de teatro Se realmente a intenccedilatildeo era fazer teatro por que chamavam de NuTE Temos aqui um primeiro indiacutecio de que o real propoacutesito era bem outro Se Vossa Excelecircncia me permite gostaria de chamar minha primeira testemunha (Voz em off ndash Que entre a testemunha) Novamente pela plateia A testemunha eacute um Cristo-Mendigo-Crucificado Numa das matildeos presas segura um chicote na outra uma placa com os dizeres ldquoBata-me por R$ 050rdquo Faz-se uma parada em meio ao puacuteblico Cristo-Mendigo esmola seus R$ 050 ao puacuteblico Se ningueacutem da plateia pagar pelo serviccedilo um ator que deveraacute estar junto ao puacuteblico paga os 50 centavos e chicoteia com forccedila o Cristo-Mendigo que sente enorme prazer com a accedilatildeo Continua mendigando outros R$ 050 ateacute que Alematildeo Fritz se aproxima dele e diz

Fritz ndash O senhor jura dizer a verdade somente a verdade e nada mais que a verdade

Cristo ndash (que se transforma em Inri Cristo) Eu sou o caminho a verdade e a vida Ningueacutem vai ao Pai senatildeo atraveacutes de mim

Fritz ndash Meritiacutessimo a testemunha dispensa apresentaccedilotildees Se Vossa Excelecircncia consentir gostaria de passar diretamente as minhas perguntas (pausa) Vossa Santidade (para Cristo) conhece este senhor (aponta para NuTE Formaccedilatildeo de irmatildeos-irmatildes siameses muacuteltiplas cabeccedilas e um corpo)

Cristo ndash Aaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiii (que agora assume traccedilos histeacutericos-afetadiacutessimos) Sim eu conheccedilo Eacute o NuTE Ele apresentou um espetaacuteculo monstruoso chamado ldquoApocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina Os Anjos e Noacutesrdquo Uma abominaccedilatildeo um sacrileacutegio para com os textos sagrados Deveria ser queimado em praccedila puacuteblica depois esquartejado Se eu conseguisse sair dessa cruz encheria a cara dele de tabefe Fizeram piada de mim compararam minha atuaccedilatildeo com a daquele comunista Che Guevara Imprimiam sudaacuterios da minha cena do lava-peacutes minha cena onde ao inveacutes da minha imagem pessoal faziam propaganda desse comunistinha de merda Meu pai estaacute furioso furioso

Fritz ndash Temos aqui Meritiacutessimo inuacutemeras evidecircncias da montagem desse espetaacuteculo (projetar filme mostrar cartazes focirclderes material sobre a peccedila ao gosto do diretor eacute possiacutevel misturar as imagens com a montagem original de Grotowsky)

Fritz ndash (para NuTE que responde sempre sim com as cabeccedilas) O senhor ainda montou ldquoO Homem do Capote e Outros Seresrdquo natildeo eacute mesmo ldquoVariante Woyzec-Mauserrdquo ldquoMacBethsrdquo ldquoCio das Ferasrdquo ldquoCamaleatildeo da Matardquo ldquoA Mortardquo O senhor se dedicou a produzir estes e muitos outros espetaacuteculos onde criacuteticas e deboches ao nosso modelo de existecircncia eram evidenciados Mas natildeo rir de noacutes natildeo era o bastante era preciso ainda seduzir nossos filhos para que eles rissem junto com o senhor Meritiacutessimo

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QUINTO

ENSAIO

este sujeito ardilosamente construiu uma armadilha aos nossos descendentes uma arapuca uma verdadeira arapuca camuflada com a denominaccedilatildeo JOTE-titac (Pausa) Para esse tal JOTE-Titac NuTE convidava nossas crianccedilas que inocentemente apareciam achando se tratar apenas de um Festival de Teatro Mas o teatro era apenas uma isca natildeo eacute mesmo Tenho aqui comigo Meritiacutessimo alguns dos textos apresentados nesse dito Festival JOTE-Titac (Mostrar livro ldquoJogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau) textos escritos por este mostro e encenados por nossos filhos ldquoEacuteVE ADAtildeOrdquo ldquoOS FILHOS DE BLUMENAUrdquo ldquoNUSrdquo ldquoDISCURSO PELE E SEXUALIDADErdquo entre tantos e tantos outros cujas intenccedilotildees eram satirizar nossa feacute nossa moral nossa cultura germacircnica e ateacute mesmo Meritiacutessimo nossa masculinidade O senhor nunca teve formaccedilatildeo em teatro e mesmo assim criou uma escola para ldquoensinarrdquo teatro E o que se ensinava ali Se os espetaacuteculos eram todos afrontas aos valores mais preciosos muito provavelmente o que o senhor ensinava natildeo passava de

Raskoacutelnikov ndash Protesto Meritiacutessimo a promotoria estaacute induzindo meu cliente a uma resposta

Fritz ndash Ok Vou mudar minha pergunta o que quero saber eacute muito simples Sr NuTE qual o verdadeiro objetivo do senhor nesses 18 anos de atividades ldquoditasrdquo teatrais

NuTE ndash (as trecircs vozes falam de forma desordenada) Liberdade levar as pessoas a

pensar encontrar pessoas com quem pensar criticar o conservadorismo (junto agraves vozes em cena incluir trechos das entrevistas gravadas onde se fala dos objetivos do grupo)

Fritz ndash Ah Entatildeo o senhor confessa o senhor confessa Meritiacutessimo o acusado acaba de confessar o Crime

Raskoacutelnikov ndash Meritiacutessimo a segunda paacutegina em letra 10 Arial estaacute terminando Natildeo haacute mais espaccedilo para um fechamento dialogado entre os atores-personagens Restam apenas oito linhas a quem escreve este texto Regra do JOTE-Titac Experimentando NuTE A confissatildeo de meu cliente natildeo deixa duacutevidas Sei da gravidade Afinal foram 18 anos Eacute muito tempo Natildeo irei convocar sua benevolecircncia nesse sentido Que haacute um Crime meu cliente confessa que o Crime em questatildeo foi praticado pelo Sr NuTE ao tentar transformar seres ordinaacuterios em seres extraordinaacuterios concordamos com a promotoria mas tenho certeza Meritiacutessimo de que se Vossa Excelecircncia ousar experimentar a existecircncia extraordinaacuteria conosco pelo menos por alguns segundos teraacute muito mais condiccedilotildees de julgar este caso (Volta-se ao Ritual-NuTE-Dioniso contudo dessa vez o puacuteblico eacute levado a participar)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=Zrcjc_KN6rQEntrevistawwwyoutubecomwatchv=yxkdu8Kepkw

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QUINTO

ENSAIOMAQBEacuteTE UMA INTERFEREcircNCIA NA TRANSMISSAtildeO

Por Iran da Silveira

Personagens Bruxo Narrador quatro ldquomarionetesrdquo (que poderatildeo ser interpretados por atores) o Rei e a Rainha

BRUXO NARRADOR ndash Senhoras e senhores desta roda gigante boa noite () Eacute com muita honra alegria e laacutestima que vos apresento a histoacuteria de uma interferecircncia ndash uma interferecircncia na transmissatildeo de uma histoacuteria Este Rei que senta ao lado eacute Alexandre King mais conhecido como Ale-Quim Ao lado dele sua incentivadora e algoz pois seu amor o levou agrave ruiacutena e agrave morte E as quatro marionetes que deste lado gritam e se debatem satildeo o que restou de uma

longa linhagem de bons maus guerreiros que natildeo obstante terem abandonado seu Rei ainda trabalham para a Sombra dele

MARIONETE 1 ndash Meu nome eacute Sedrez pois tenho sede de vinganccedila Meu negro olhar ajuda o Homem camarada Rei Seu cetro eacute meu bastatildeo com o qual golpeio e incendeio E hoje Hoje o provarei perante todos voacutes

MARIONETE 2 ndash Meu nome eacute Crescecircncio porque eu cresci neste Reino Fui um bom serviccedilal por toda a minha vida mas quando este palco desmoronou tudo o que sobrou de um banquete de casamento foi o bacalhau pequeno-burguecircs cozido por um idiota com sal e injuacuteria do qual se saboreou nada

MARIONETE 3 ndash Meu nome eacute De Oliveira porque tenho oacuteleo nas veias oacuteleo de carnauacuteba Com o oacuteleo produzo a vela com o olho produzo a cela com o alho produzo a ceia (distribui facas de cozinha) O mecanismo eacute o proacuteprio atleta a exceccedilatildeo eacute a proacutepria lenda Os filhos de Blumenau que nasceram de 1930 para caacute iratildeo morrer (aponta para os outros) E quando os arbustos do Teatro andarem o Rei seraacute morto por uma mulher que natildeo nasceu de homem

MARIONETE 4 ndash Meu nome eacute Leopolski porque leio Polanski mas tambeacutem tenho meus Greenaways Sofri do mal de Bergman fiz a terapia de Cronemberg curei-me com Lynch Depois de tudo isso sei que nunca morrerei ndash mesmo que todo o amanhatilde conduza os tolos agrave via em poacute da maacute sorte

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ENSAIO

REI ndash Que se inicie a batalha Marionetes do Rei Podem comeccedilar o ritual (em duplas as ldquomarionetesrdquo lutam com as facas como se estivessem empunhando espadas pesadas A coreografia da luta deve ser agressiva e graciosa Resultado Marionete 1 mata Marionete 2 e Marionete 3 mata Marionete 4)

REI (de peacute) ndash Oacute valorosos primos Tendes provado que a honra anda com voacutes Como precircmio pela coragem do vencedor sobrevivente dentre meus estimados guerreiros eu oferecerei minha esposa (outra luta Marionete 3 grita ldquoTome isto falso Parnavackrdquo Marionete 1 que estava perdendo mata Marionete 3)

MARIONETE 1 ndash Meu Rei Tenho vencido todas as batalhas Mas agora estou ferido Meu braccedilo natildeo foi poupado e jaz neste chatildeo como o cal jaz no tuacutemulo

REI ndash Um guerreiro ferido natildeo eacute um guerreiro digno de seu Rei Sua puniccedilatildeo eacute a morte (o Rei o mata violenta e sanguinariamente) Enfim minha rainha Os maus guerreiros se foram Agora eacute hora de recrutar um novo exeacutercito Mas natildeo isso natildeo seraacute difiacutecil minha rainha pois jaacute tenho um lugar onde poderei encontrar centenas de bons guerreiros a internet E entatildeo Haacute haacute haacute

RAINHA ndash Tens esquecido de uma coisa meu Rei

REI (nervoso pela interrupccedilatildeo) ndash O que mulher por toda a Escoacutecia o que quereis dizer agora o quecirc

RAINHA (aproximando-se) ndash Meu pai natildeo era homem (comeccedila a golpeaacute-lo A Rainha mataraacute o Rei de uma forma ainda mais violenta requintada sanguinolenta e criativa que as mortes anteriores) Tu querias oferecer-me ao teu suacutedito Maldito Rei Ale-Quim da Rua Escoacutecia

REI (nesse iacutenterim berra e depois agoniza) ndash Por favor oacute Juliana natildeatildeooo Ahh Algueacutem me arranje uma Kombi (morre A Rainha vingada e ensanguentada com os olhos esbugalhados fica estaacutetua numa pose de ldquoCarrie a Estranhardquo)

BRUXO NARRADOR (voltando agrave cena em tom mais solene) ndash Senhoras e senhores desta roda gigante tendes visto a mais brutal e sanguinaacuteria morte da histoacuteria deste Palco Tenho certeza de que ganharaacute o Precircmio de Melhor Morte de um Rei Inspirado em Macbeth deste festival Eacute o que acontece quando um homem bom confia seu coraccedilatildeo sua cama e seu trono a uma mulher maligna E quanto aos arbustos do Teatro amigos Eu estive haacute dois minutos no Carlos Gomes e posso testemunhar que eles andaram Juro pela minha matildee Muito obrigado

REFEREcircNCIAS

AS PECcedilAS OU MONTAGENS DO NUTE (e outros grupos da cidade) citadas satildeo

ndash de Giba de Oliveira ndash nove peccedilas todas de JOTEs-titac Senhoras e Senhores Nosso Reino Por Um Bom Guerreiro Os Camaradas Meacutedicos Carnauacuteba 1930 Filhos de Blumenau

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O Mecanismo e o Atleta A Exceccedilatildeo e A Lenda Sr Parnavack ndash a maioria foi encenada com seu grupo o Arteatroz

ndash de Marcelo Fernando de Souza ndash Negro Olhar (adaptaccedilatildeo de Otelo de WS dirigida por Peacutepe Sedrez)

ndash de Alexandre Venera dos Santos ndash Macbethrsquos Uma Interferecircncia na Histoacuteria (adaptaccedilatildeo e direccedilatildeo em 1991-93 em duas versotildees a primeira com elenco numeroso e a segunda com quatro atores somente Antocircnio Leopolski Carlos Crescecircncio Giba de Oliveira e Peacutepe Sedrez) e A Roda Gigante (sendo o espetaacuteculo dirigido por Peacutepe Sedrez ainda no NuTE) Tambeacutem foram citadas de Bertolt Brecht as peccedilas O Casamento dos Pequeno-Burgueses encenada em 1996 por Silvio da Luz como O Casamento dos Pequenos (foi servido bacalhau no palco) e O Homem Ajuda O Homem espetaacuteculo de Peacutepe Sedrez de 2001 o qual adaptou dois textos do autor Os cineastas Roman Polanski (polonecircs) Peter Greenaway (inglecircs) Ingmar Bergman (sueco) David Cronemberg (canadense) e David Lynch (americano) foram citados Aleacutem de diversas citaccedilotildees textuais da proacutepria peccedila de William Shakespeare evidentemente Este texto foi escrito no presente ano em Blumenau As metaacuteforas empregadas natildeo levam consigo qualquer julgamento pessoal poliacutetico filosoacutefico ou artiacutestico agraves pessoas envolvidas na histoacuteria mas sim recriam-nas As mortes e vinganccedilas satildeo apenas recursos de accedilatildeo dramaacutetica parodiando a obra de William Shakespeare

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaiowwwyoutubecomwatchv=fpu6Rd7CvScEntrevista wwwyoutubecomwatchv=BBDIBCgvGOk

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QUINTO

ENSAIO

O DE PRETO O DE BRANCO E OS DE CORES ou um despretensioso questionamento

Por Wilfried Krambeck

A peccedila comeccedila com o ambiente totalmente escuro e em silecircncio duas luzes de ponto satildeo acesas repentinamente no palco sobre dois atores Uma peccedila qualquer que estaacute sendo encenada encerra-se naquele momento Os dois atores em cena agradecem recebem os aplausos caso os haja e fecham-se as cortinas Na sequecircncia uma luz geral eacute acesa a cortina eacute reaberta e os atores que vatildeo aparecendo agem como se o auditoacuterio estivesse vazio

O de Preto ndash (saindo das coxias para o puacuteblico) ndash Ateacute que enfim acabou esta bosta

O de Branco ndash (chegando pelo outro lado) ndash O que eacute isso Isso eacute forma de falar

O de Preto ndash Eacute Eacute que eu estou de saco cheio Satildeo ensaios pra caramba cursos workshops palestras leitura de livros anaacutelise de textos o diabo e taiacute oacute Uma merreca de puacuteblico

O de Branco ndash Tudo bem mas natildeo eacute soacute isso O teatro ganha notoriedade aparece faz histoacuteria E todos tecircm vantagens com o processo O ganho eacute tambeacutem individual Vocecirc se aprimora vocecirc evolui como ator como artista como pessoa e se prepara para outras situaccedilotildees da vida

O de Preto ndash Pra mim foi uma perda de tempo cara Eu podia ter feito tanta coisa uacutetil nesse periacuteodo todo ao inveacutes de ter ficado aqui tentando fazer natildeo sei o quecirc nessa porra Eacute foda

O de Rosa ndash (chegando) ndash Gente tou nas nuvens tou encantado tou extasiado

O de Preto ndash Que eacute isso cara Taacute viajando (para o de Branco) Parece viado

O de Branco ndash (para o de Preto) Psssiiiiiiuuuu ele estava com a gente Eacute dos nossos

O de Rosa ndash Tou feliz eacute soacute isso Acabou mas para mim foi demais Pude declamar minhas poesias pude danccedilar cantar bailar Criar figurinos maravilhosos caracterizaccedilotildees coisas mil

O de Preto ndash (para o de Branco) ndash Cara eacute coisa de boiola mesmo hein Quem diria

O de Branco ndash (para o de Preto) Deixa de ser chato Ele gostou aproveitou Oacutetimo para ele

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ENSAIO

O de Rosa ndash (para o de Preto) Eacute isso aiacute me realizei Taacute legal Tudo que se faz com prazer daacute resultado traz satisfaccedilatildeo Mas eacute soacute para aquele que se empenha ok Aliaacutes preto te deixa insosso deprecirc Se eu fosse vocecirc botaria um figurino mais alegre uma cor quente sei laacute (sai)

O de Preto ndash Puta que o pariu tem cada um Olha a do cara meu

O de Branco ndash Eacute Acho que vocecirc eacute incapaz de notar Mas existem diferentes percepccedilotildees

O de Verde ndash (chegando) Pocirc gente aprendi coisas pra caramba por aqui (o de Preto balanccedila a cabeccedila e se afasta um pouco indignado) Quando cheguei eu natildeo sabia nada dessa parada do teatro pensei que era soacute viagem Mas natildeo eacute natildeo cara Os bom da bola aiacute botaram a gente pra raciocinar pra discutir pra sacar os babados Aiacute eu fui nessa eu li alguns livros aiacute de uns caras da pesada foi demais Entrei numa peccedila aiacute show de bola mas aiacute tive que sair cara natildeo deu mais Eacute que com essa parada aiacute me motivei cara Voltei pra escola cara 1ordm Grau noturno aiacute jaacute peguei um trampo legal de dia na moral cara na moral Mas valeu cara muuuuiiiito bacana meeeesssssmo soacute posso dar o maior plaacute de coraccedilatildeo cara Valeu (sai)

O de Branco ndash Viu eacute o que eu acabei de falar o teatro mudou a vida dele E para melhor

O de Preto ndash Ohhhhhhh Fiquei impressionado com a cultura do cara O cara eacute BABACA

O de Dourado ndash (chegando) ndash Aiacute rapazes tudo bem (daacute a matildeo para ambos) Eu comecei por aqui agora que terminou mesmo vou sentir saudades Fizemos uns trabalhos com muita pesquisa por aqui coisas de primeiro mundo Tivemos professores e diretores muito bons Fomos para festivais recebemos oacutetimas criacuteticas ganhamos precircmios reconhecimento Eu devo muito a esse pessoal que lutou por aqui Companheiros amigos gente determinada Hoje estou na Globo e estou trabalhando em montagens no eixo Rio-Satildeo Paulo com diretores consagrados A base veio daqui Eacute uma pena o projeto ter acabado pena mesmo (sai)

O de Branco ndash E agora o que vocecirc me diz

O de Preto ndash Vou falar o quecirc O cara taacute na Globo taacute se achando Acontece que eu natildeo tocirc neacute

O de Branco ndash Mas me diga uma coisa eacute possiacutevel que algueacutem fique por anos a fio num projeto tenha trabalhado se dedicado participado e natildeo tenha levado nada de bom durante todo esse periacuteodo Isso natildeo seria uma forma de masoquismo Vocecirc por acaso se odeia

O de Preto ndash Ahhhh com a decepccedilatildeo que eu tocirc sentindo aqui no peito me odeio sim

O de Branco ndash Entatildeo vocecirc eacute o uacutenico Porque ningueacutem aqui deu um depoimento que natildeo fosse favoraacutevel Estatildeo todos felizes o de Rosa o de Verde o de Dourado vocecirc ouviu

O de Preto ndash Grandes merdas se alguns desses viajotildees aiacute estatildeo felizes

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QUINTO

ENSAIO

O de Branco ndash Laacute vem vocecirc com palavratildeo de novo

O de Preto ndash Merda Taiacute uma coisa que aprendi no teatro Merda pra vocecirc merda pra vocecirc

O de Branco ndash Taacute esquece o palavratildeo Mas eu gostaria de saber exatamente o que foi que te desagradou (entra o de Roxo assobiando com uma vassoura espanador sacos de lixo balde aspirador e o de Branco interrompendo a conversa com o de Preto dirige-se a ele) E Vocecirc aiacute de Roxo o que achou desse movimento teatral Pode nos dizer por favor

O de Roxo ndash Olha gente eu Natildeo acho nada de movimento algum Agora vocecircs me datildeo licenccedila pessoal Vou ter que dar uma geral aqui Vou ter que limpar o ambiente taacute legal

O de Branco ndash Taacute tudo bem desculpe Eu pensei que vocecirc fosse Deixa para laacute Mas A gente pode ficar aqui Soacute para concluir uma conversinha uma desavenccedila de opiniotildees que

O de Roxo ndash Poder pode Soacute que a coisa taacute suja por aqui Eu vou ter que pegar no pesado jaacute Senatildeo sobra pro meu lado e quem danccedila sou eu taacute legal (se vira e prepara os equipamentos)

O de Branco ndash Entatildeo me diga soacute um dos motivos pelo menos um para que eu possa entender essa tua maacutegoa Me faz esse favor

O de Preto ndash Vocecirc quer realmente saber Entatildeo deixa eu te dizer (aqui o de Roxo liga o aspirador ndash som muito alto ndash e comeccedila a trabalhar o de Preto fala grita para o de Branco tentando se

explicar mas este natildeo consegue entender nada por mais que se esforce sem comunicaccedilatildeo saem um para cada lado e o de Roxo sem dar atenccedilatildeo continua aspirando)

Fim

DISPARADORES PARA A MONTAGEMPreto = ausecircncia de luz = a criacutetica destrutiva = descompromissada = derrotistaBranco = a soma de todas as cores = o ideal coletivo = o sonho = o lado positivoCada cor = uma visatildeo peculiar = um interesse especiacutefico = ponto de vista = uma interpretaccedilatildeo

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=j3Ycc_2xEWkEntrevista wwwyoutubecomwatchv=lKU8nHwUFok

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ENSAIO

O MONSTRO DE NUTESTEIN

Por Wilfried Krambeck

Voz tenebrosa (acompanhada de muacutesica de terror) ndash Esta histoacuteria aconteceu num certo vale numa cidade natildeo muito pequena entremeada por um rio poluiacutedo um local amaldiccediloado por inuacutemeras cataacutestrofes naturais O povo que laacute morava era um povo trabalhador de feiccedilotildees

seacuterias que por seguranccedila de noite encerrava-se cedo em suas casas Eles divertiam-se uma vez por ano numa grande festa que laacute ocorria mas este lugar por via das duacutevidas era completamente cercado Durante o resto do ano apenas uma vez ou outra a elite deste povo vestindo suas peles caras encontrava-se num grande castelo isolado bem no centro daquela cidade para irem a um ou outro luxuoso baile ou a uma audiccedilatildeo musical Contudo procuravam voltar cedo tambeacutem Mas o que ateacute a eacutepoca dos acontecimentos que vou lhes relatar poucos sabiam eacute que ali naquele castelo quase sem cor geacutelido e de pedras frias havia inuacutemeros corredores completamente escuros sinistros apavorantes lugares nos quais se encontravam menos almas do que dentro de um tuacutemulo de um herege amaldiccediloado E foi nestes corredores sombrios que surgiu um dos nomes mais controversos da histoacuteria dessa cidade fechada em si mesma o Cientista Alex Stein Era este o nome desse homem inescrutaacutevel que criou um ldquoserrdquo que assolou aquele povo durante mais de uma deacutecada O MONSTRO DE NUTESTEIN

Alex Stein (para o puacuteblico) ndash Descobri como desenvolver o meu ldquoserrdquo diferente de tudo que jaacute foi criado neste lugar Estava tudo aqui mentalizado circulando na minha cabeccedila Li muitas obras de mestres antigos e agora finalmente cheguei laacute A ideia na essecircncia eacute simples ateacute Vou juntar restos digo pedaccedilos mal aproveitados vou submetecirc-los agrave maacutequina que descobri no centro do castelo uma maacutequina

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composta de uma grande roda horizontal que farei girar tudo isso submetido a uma forte luz proveniente de todos os lados Jaacute estaacute tudo preprado os pedaccedilos a maacutequina a luz Presenciem o momento da sublime criaccedilatildeo (nasce o ldquoserrdquondash som)

Alex Stein ndash Oh minha fabulosa ldquocriaccedilatildeordquo como vocecirc ficou enorme natildeo vai ser faacutecil te nutrir Mas natildeo me importa sempre te terei como meu filho sempre te nutrirei Vou chamar-te de NUTESTEIN Agora mostre-me se consegui acertar decirc uns passos caminhe NUTESTEIN (o ldquoserrdquo caminha sempre ndash e somente ndash lateralmente para a esquerda)

Alex Stein (para o puacuteblico) ndash Eacute um dispositivo mecacircnico que incluiacute na foacutermula ele soacute anda para a esquerda e na penumbra eacute o diferencial que pensei para ele

Cientista Alematildeo (entrando) ndash Ho ho ho Vejo que o Sr criou um ser diferente hum hum interessante Mas soacute anda para a esquerda e no escuro estranho Pelo visto ele natildeo tem vontade proacutepria Me parece que o Sr esqueceu de botar um ceacuterebro no seu ldquoserrdquo hum

Alex Stein ndash Nada de ceacuterebro eu penso por ele digo para ele e ele faz Eacute bem mais seguro para ele e aleacutem disso assim ele natildeo faz nenhuma bobagem e nunca iraacute me decepcionar

Cientista Alematildeo ndash Acho que quem estaacute fazendo bobagem eacute o Sr pois a sua criaccedilatildeo natildeo eacute perfeita se natildeo tem um ceacuterebro Eu sempre carrego um ceacuterebro na minha bolsa Vou buscaacute-lo para noacutes

implantarmos na cabeccedila do seu ldquoserrdquo

Alex Stein (se antepondo ao Cientista Alematildeo) ndash Ah mein Herr onde estaacute a sua bolsa

Cientista Alematildeo ndash Estaacute na sala ao lado

Alex Stein ndash Pode deixar que EU pego para o Sr (sai volta com uma velha bolsa de couro e na hora de entregaacute-la deixa-a cair propositadamente) Oh mil desculpas mein Herr (abre-a e olha dentro) Que pena esfacelou-se todo o ceacuterebro uma pena

Cientista Alematildeo ndash Estou achando que o Sr natildeo quer ceacuterebro algum para sua ldquocriaccedilatildeozinhardquo estou muito magoado Vou-me embora e natildeo volto mais para este lado do castelo hum (sai)

Dr Cientista Francecircs (entrando) ndash Ouvi a conversa foi sem querer desculpe-me Mas se me permite uma modesta contribuiccedilatildeo um ceacuterebro eacute sempre importante num ser Permite-lhe a livre escolha do seu destino Eacute claro este ldquoserrdquo eacute de sua criaccedilatildeo e cabe-lhe a escolha Mas eu pensaria com carinho sobre o assunto pois se ele natildeo tiver um ceacuterebro seraacute sempre dependente a criaccedilatildeo natildeo seraacute completa Daacute bem mais trabalho conduzir um ser com vontade proacutepria Mas aiacute estaacute o desafio do cientista lsquoArbeit Arbeit Arbeitrsquo natildeo acha Monsieur (sai)

Alex Stein ndash Eacute Sim Natildeo Talvez Natildeo sei (pensa um pouco sobre o assunto depois se entreteacutem dando comandos ao ldquoserrdquo ndash de repente feliz recebe aplausos de todos os lados)

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Cientista Baixinho (entrando com outros dois cientistas) ndash Sr Alex Stein chega de conversa Noacutes ndash por unanimidade ndash jaacute decidimos vamos colocar um ceacuterebro na sua criaccedilatildeo

Alex Stein ndash Mas Meu ldquoserrdquo estaacute indo bem estaacute evoluindo nunca algueacutem caminhou para a esquerda por aqui E na penumbra quem andou Natildeo custa nada para ningueacutem e todos estatildeo impressionados nunca viram nada igual jaacute estatildeo ateacute aplaudindo natildeo ouviram

Cientista Baixinho ndash Eacute Ouvimos Mas vamos melhorar o ldquoserrdquo e ateacute jaacute preparamos o ceacuterebro eacute na verdade um misto um pouco de todos os nossos ceacuterebros inclusive tem uma parte do seu ceacuterebro tambeacutem Sr Stein Soacute que somos noacutes que vamos implantar para evitar que ele se espatife pelo chatildeo O Sr entendeu Sr Stein (um manteacutem Alex Stein a distacircncia e os outros dois dominam e implantam o ceacuterebro no ldquoserrdquo e saem o ldquoserrdquo entatildeo se levanta Consciente anda para todos os lados salta corre mas tambeacutem tropeccedila bate nas paredes cai fica atordoado)

Alex Stein ndash Ei NUTESTEIN vaacute para a esquerda a esquerda (o ldquoserrdquo vai mas volta para a direita) Natildeo natildeo saia da penumbra (o ldquoserrdquo vem para a luz e Alex Stein se desespera) Nossa matildee NUTESTEIN vocecirc se tornou um MONSTRO (voltam os outros trecircs cientistas e tambeacutem comeccedilam a comandar o ldquoserrdquo e este tenta inicialmente atender a todos mas depois se torna confuso e desiste de atender os comandos de todos eles recolhendo-se num canto)

Voz tenebrosa (acompanhada de muacutesica funesta) ndash Aos poucos NUTESTEIN foi perdendo sua identidade original tinha um ceacuterebro agora mas natildeo era seu era de muitos era confuso Todos os Cientistas que no iniacutecio tanto se preocupavam com ele foram aos poucos perdendo o interesse Seu proacuteprio criador Alex Stein comeccedilou a desenvolver um novo ldquoserrdquo imaterial agora ldquoserrdquo este que ele poderia criar manipular e manter dentro de seu proacuteprio ceacuterebro sem a interferecircncia de ningueacutem E entatildeo numa noite negra de tempestade ele conduziu a ldquocriaturardquo sua primeira criaccedilatildeo ateacute o mais escuro dos calabouccedilos do castelo e laacute a acorrentou Sempre com laacutegrimas nos olhos por uns tempos ainda o alimentou agraves vezes ajudado pelo Cientista Baixinho ndash ateacute no dia em que todos foram embora abandonando os corredores escuros do castelo NUTESTEIN entatildeo jaacute esqueleacutetico desnutrido e retornando ao estado de aceacutefalo agonizou agonizou agonizou e MORREU (concomitante com a narraccedilatildeo na penumbra Alex Stein triste faz a uacuteltima visita ao ldquoserrdquo e este ndash a soacutes ndash falece abandonado)

Voz feliz eufoacuterica (entrando ndash repentinamente ndash com fundo de muacutesica animada ndash de Os Caccedila Fantasmas) ndash Mas natildeo fiquem tristes pois chegou nesta cidade um repoacuterter de metroacutepole Chegou EndGhostbuster Ele veio para caccedilar para detonar para desmistificar o NUTESTEIN Para finalmente retirar exorcizar sua alma dos corredores escuros do castelo Ele veio para saber de tudo detalhes nuances

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episoacutedios pensamentos reflexotildees e acreditem todos estatildeo falando contando rememorando especificando lembrando ateacute de coisas que nunca existiram Ateacute estranho jaacute palpita Mas eacute assim mesmo soacute alegria NUTESTEIN virou FOLCLORE Cada um conta do seu jeito cada um inventa cada um aumenta ou acrescenta NUTESTEIN natildeo era oito nem oitenta mas com certeza tinha pimenta Eacute isso aiacute EndGhostbuster provocou agora aguenta Tem coisa boa Tem miserenta Tente digerir esta baita polenta A cada dia a coisa esquenta Mas eacute assim que incrementa se alimenta (a muacutesica se sobrepotildee agrave narraccedilatildeo fim)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=FzeylLvO3ucEntrevistawwwyoutubecomwatchv=S0RvDDRd6IQ

TRABALHO SUJO

Por Iran da Silveira

Drama policial ambientado na Blumenau do ano 1999 Personagens NOacuteDULO CHUCK NAFTALINA JOHNSON NIVALDO TRAPACcedilA NESTOR MIRONGA NEIDE SAPATINHO NEUZINHA BLAUBLAU NICANOR NEW YORK NEM DE LADO NARRANTE DOGMA ZUNINDO GRITO DR JACOacute DR JACUacute JOSH PALHA NARRANTE ndash No uacuteltimo JOTE-Titac a quadrilha de Naftalina Johnson planejava um grande crime

NICANOR NEW YORK (andando num carratildeo) ndash Atenccedilatildeo Noacutedulo Chuck Atenccedilatildeo Noacutedulo

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NOacuteDULO CHUCK (tambeacutem) ndash Noacutedulo Chuck ouvindo perfeitamente

NEW YORK ndash Atenccedilatildeo Congresso dos traficantes de quadros ladrotildees de esculturas e plagiadores de livros no morro em frente a Ufos uacuteltima casa Assunto de interesse geral e urgente

NAFTALINA JOHNSON (jaacute no local) ndash Ainda bem que estatildeo todos aqui porque o assunto eacute de extrema importacircncia

NEUZINHA BLAU BLAU ndash Fala logo Nafta Fala Fala

NAFTALINA ndash Vocecircs vatildeo ficar com aacutegua na boca quando virem isso Eacute o uacuteltimo livro que Dogma Zunindo acaba de escrever

NEM DE LADO ndash Mas como vocecirc conseguiu isso

NAFTALINA ndash Foi um plano que bolei com muito carinho palmas para o Sr Nivaldo Trapaccedila responsaacutevel pela sua execuccedilatildeo

NIVALDO TRAPACcedilA (depois das palmas) ndash Foi muito faacutecil Eu esperei ele dormir e aiacute TCHUM

BLAU BLAU ndash Eu quero ver Ver Ver

NAFTALINA ndash Calma eu tirei xerox pra todos Aqui estatildeo

NEIDE SAPATINHO ndash Vocecircs tecircm consciecircncia do que temos nas matildeos Isso eacute uma porcaria mas os criacuteticos e intelectuais babam

TRAPACcedilA ndash E o resgate eacute todo nosso Iiiiccedila

CHUCK ndash Neide quanto podemos ganhar com isso

NEIDE ndash Deixa eu ver Poderiacuteamos pedir a soma das vendagens dos trecircs primeiros livros isso ia dar Uns 15 milhotildees de reais novos

NEW YORK ndash Como estaacute estipulado em nossas leis os senhores Johnson e Trapaccedila autores do sequestro ficaratildeo com 20 do lucro total cada um Os 60 restantes seratildeo divididos entre noacutes seis

NESTOR MIRONGA ndash Soacute uma coisa E se ele se recusar a pagar

NEW YORK ndash Aiacute roubamos toda a grana dele o apagamos e lanccedilamos o livro com a autorizaccedilatildeo do autor cedendo todos os direitos autorais

DE LADO ndash Mas isso vai dar uma fortuna

NEIDE ndash Nafta esse plano eacute muito bom Vocecirc eacute terriacutevel

NAFTALINA ndash Tem razatildeo minha querida Quando a arte e o crime se juntam qualquer coisa pode acontecer ateacute mesmo uma pintura impressionista Vamos ao trabalho ()

DOGMA (ao ser contactado) ndash Sou eu mesmo Em que posso ajudaacute-los

MIRONGA ndash Natildeo fale nada ou estouraremos seus miolos Noacutes temos o seu uacuteltimo texto em cativeiro

DOGMA ndash Aquele que escrevi ontem Ia jogar no lixo

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ENSAIO

MIRONGA (bate-lhe na cara) ndash Nunca mais despreze assim uma obra de arte canalha

DOGMA ndash O que vocecircs querem

TRAPACcedilA ndash Toda a grana da vendagem dos seus quatro livros

DOGMA ndash Satildeo soacute trecircs O meu lucro com eles foi de 75 reais

BLAU BLAU ndash Eacute pouco Eacute pouco Ai ai ai Eacute pouco

DOGMA ndash Tambeacutem acho mas foi o que ganhei na eacutepoca Lembro que deu pra pagar minhas contas no London no Tip Tim e no bar do teatro

MIRONGA (daacute-lhe um tapa) ndash O London mudou de nome imbecil Agora eacute Rodolfus

TRAPACcedilA ndash Natildeo importa Fica com essa mixaria aiacute noacutes vamos lanccedilar esse livro e ganhar uma nota preta sacou E natildeo vamos dar um centavo pra editora

DOGMA ndash Entatildeo eacute assim Eu faccedilo o trabalho sujo e vocecircs faturam

NEIDE ndash Ele tem razatildeo ele eacute o artista

CHUCK ndash Taacute bem fique com 10

DOGMA ndash Vinte

CHUCK ndash Quinze e taacute acabado E lembre-se esse livro eacute um marco sacasse UM MARCO

DOGMA ndash Taacute legal boa sorte Como tem gente iludida nesse mundo

NARRANTE ndash E agora para a apresentaccedilatildeo dos membros da gangue de Naftalina Johnson

Noacutedulo Chuck o rebelde solitaacuterio tem sua vida dividida entre pequenos roubos de obras de arte e sua matildee uma simpaacutetica velhinha Nicanor New York vigarista e golpista um gringo que na verdade nasceu em Chicago no Illinois eacute o mais elegante e menos temperamental sua calma lembra a dos quadros de Guto Bouer os quais jaacute furtou quatorze Neuzinha Blau Blau a mulher que roubou o Bofe Aacutespero de Leonardo daacute Vinte saiu do manicocircmio direto para o mundo do crime A prostituta Neide Sapatinho dedica-se ao crime para vingar a morte de seu pai um ex-diretor do grupo Kontra Senha Nivaldo Trapaccedila marginal absolutamente sem escruacutepulos e tarado sexual por mulheres que estatildeo lendo o ldquoConde de Monte Cristordquo Nestor Mironga o braccedilo negro do crime sempre pronto para golpear impiedosamente qualquer um que queira publicar um poema pelas vias da lei Nem de Lado cheirador safado tem esse nome porque gosta de comer papinha com cebola Seu maior feito foi ter violado um cemiteacuterio de naturezas mortas E Naftalina Johnson o intelectual da corrupccedilatildeo autoral expert em estupro da inspiraccedilatildeo e em sequestro do talento alheio E agora sim a continuaccedilatildeo da histoacuteria

DOGMA ndash Jaacute satildeo quatro da manhatilde daqui a pouco eu preciso ir pra rua e natildeo posso ficar aqui escrevendo essa peccedila Se desse dinheiro eu ateacute terminava Agora me deem licenccedila

NARRANTE ndash Jaacute que o autor natildeo estaacute em

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condiccedilotildees aiacute vai a continuaccedilatildeo da peccedila de qualquer maneira

UM GRITO VINDO DAS COXIAS ndash Que histoacuteria eacute essa de natildeo querer terminar a peccedila Todo mundo aqui trabalha soacute intelectual eacute que natildeo

CHUCK (entrando com os outros) ndash Chefe vocecirc natildeo vai acreditar mas esse Dogma Zunindo eacute um niilista um pessimista Chega a ser perigoso

NARRANTE ndash Quem comenta sobre a personalidade do autor satildeo os psicanalistas Doutor Jacoacute e Doutor Jacuacute

DR JACOacute ndash O senhor Zunindo natildeo passa de um rebelde sem causa Eacute isso o que ele eacute Ele natildeo daacute valor ao que tem Ele natildeo merece viver Ele eacute um estorvo

DR JACUacute ndash Natildeo seja tatildeo duro com ele ele sofre tambeacutem sabia

DR JACOacute ndash Sofre nada ele gosta eacute de nos fazer de palhaccedilos Ele tira sarro o tempo todo

DR JACUacute ndash Eu acho que ele natildeo tem culpa Ele eacute assim mesmo

NARRANTE ndash Jaacute que a ciecircncia natildeo se decide vamos ver se o esoterismo ajuda Com a palavra o famoso guru Josh Palha

JOSH PALHA ndash Soacute sei de uma coisa enquanto houver um sopro de vida haveraacute em Dogma Zunindo o desejo de se renovar dia apoacutes dia Ai tenho de ligar para o Walter Mercado

NARRANTE ndash Seraacute nosso autor ressarcido pelos danos causados pela maleacutevola gangue de Naftalina Johnson Conseguiraacute realizar seu sonho de fazer uma novela para o Toni Ramos o Francisco Cuoco e o Tarciacutesio Meira chamada ldquoZerordquo Natildeo percam no proacuteximo JOTE Continuem com a gente

Nota do autor Trabalho Sujo parte de uma trama policial folhetinesca para descambar numa anaacutelise irocircnica sobre o papel da arte na vida das pessoas comuns e dos proacuteprios artistas O formato telesseacuterie funciona mais como uma metaacutefora do antigo JOTE-Titac como fica claro no iniacutecio e no fim da peccedila

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=ork4t4rP8w4Entrevista wwwyoutubecomwatchv=7gJTU-Kt5QU

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QUINTO

ENSAIO

O AUTOR ESQUARTEJADO

Por Afonso Nilson

Personagens ator autor diretor algueacutem do puacuteblico figurantes com viacutesceras escondidas em suas roupas Ator ndash Ok mais um JOTE O uacuteltimo eu espero dessa vez Falo o uacuteltimo porque eu natildeo aguento mais esses textos que natildeo satildeo escritos para teatro Tem poesia tem crocircnica tem carta de amor tem confissatildeo de homossexualidade tem tudo Ateacute aula de teatro Natildeo precisam me

olhar com essa cara Natildeo vou dar aula natildeo sou professor Sou ator natildeo estatildeo vendo Mas acontece que sou um ator que natildeo aguenta mais ter que fazer das tripas coraccedilatildeo para pocircr em cena essas coisas que as pessoas acham que eacute um texto para teatro Tudo bem tudo bem Reconheccedilo que eacute bem mais faacutecil pocircr em cena um poema uma crocircnica do que um texto com falas accedilatildeo e tudo que como teatro natildeo serve nem para um arremedo Jaacute viram Como eacute que se interpreta um ldquoohrdquo em cena ldquoOh meu amorrdquo ldquoOh dorrdquo Ou pior ldquoOh me matasterdquo Jaacute pensou Me mastates O cara leva um tiro cai no chatildeo olha para seu assassino e solta essa ldquoOh me matasterdquo Natildeo daacute neacute Aiacute chega o Jote Aquele monte de texto em cima da mesa e as pessoas datildeo uma olhada num noutro jaacute descartam os monoacutelogos e quando veem uma frase de efeito laacute perdida por acaso entre um punhado de ldquoohsrdquo pronto taacute laacute o texto e eacute aquela carnificina para ter a oportunidade de dizer uma uacutenica frase que preste nesse emaranhado que satildeo os textos para o Jote Ok tudo bem Daacute pra montar tudo hoje em dia Jaacute ouviram falar de teatro poacutes-dramaacutetico Azar o de vocecircs Hoje daacute pra montar ateacute bula de remeacutedio Daacute pra adaptar receita de bolo daacute pra fazer depoimento pessoal daacute pra grunhir igual a um porco e dizer que eacute performance que eacute arte contemporacircnea Tatildeo brincando comigo Isso eacute coisa do passado Anos 50 60 70 living Asdruacutebal Barba Zeacute Celso Um pouco depois aqui em Santa Venera O Venera pode porque ele foi o primeiro Enquanto o pessoal ainda tava montando chanchada o Venera metia

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o terror fazia o que ainda era novidade nas terras da novidade Mas agora 20 anos depois rapazinho me vem com teatro performaacutetico improvisando sobre qualquer besteira que ouviu dizer de um professor que ouviu de um terceiro que nem sequer sabia do que estava falando Natildeo daacute neacute

(Da plateia levanta um cara vai raacutepido ateacute o ator e lhe daacute um empurratildeo)

Autor ndash Fala mal do meu texto mais uma vez se vocecirc eacute homem

Ator ndash O idiota taacute estragando a cena

Autor ndash Natildeo tinha nada disso no meu texto

Ator ndash Como eacute Quer dizer agora que eu natildeo posso dar uma improvisadinha sequer

Autor ndash Improvisar Vocecirc natildeo disse uma uacutenica palavra que eu tenha escrito ateacute agora

Ator ndash Vocecirc devia me ser grato por isso Ateacute bem grato se for levar em consideraccedilatildeo aquela merda que vocecirc mandou pro Jote

Autor ndash Olha aqui seu puto Se vocecirc acha que eu vou aturar isso quieto

Ator ndash Isso mostra a cara pseudocircnimo Mostra essa fuccedila incapaz de articular uma uacutenica palavra que seja teatro de verdade

Autor ndash E o quecirc pra vocecirc viado eacute teatro de verdade

Ator ndash Ora o teatro o teatro

Autor ndash O teatro natildeo eacute pra ser explicado por

um atorzinho Teatro se faz natildeo se explica Natildeo quero saber desses textos adaptados natildeo quero saber de bula de remeacutedio natildeo quero saber de nada de nada dessa merda de teatro contemporacircneo Eu quero eacute o teatratildeo Qual eacute Natildeo posso mais gostar de texto claacutessico Sim meu amigo eu escrevo ldquoohrdquo Eu uso frase de efeito no meu dia a dia Eu escrevo poema e ponho na boca de meus personagens Qual eacute Vai encarar

Ator ndash Eu hein quero saber dessa merda natildeo

Autor ndash Mas aqui no palco vocecirc vai ter que querer Taacute na chuva eacute pra se molhar meu

Ator ndash Isso eacute que eacute frase de efeito meu (entra o diretor na histoacuteria)

Diretor ndash Amigos amigos Vamos nos acalmar Natildeo precisamos ficar tatildeo exaltados eacute apenas a estreia Toda a estreia eacute meio estranha natildeo eacute (para o puacuteblico) Vocecircs vatildeo nos perdoar por esse contratempo mas na verdade tudo isso faz parte do show estaacute tudo no script

Autor ndash No texto taacute tudo no texto Era pra estar na verdade

Diretor ndash Mas vocecirc natildeo acha que isso agraves vezes ateacute ajuda a encenaccedilatildeo a ficar mais rica mais natural

Autor ndash Texto eacute texto e taacute acabado

Ator ndash Mas e a reaccedilatildeo da plateia Agora porque Vossa Excelecircncia o autor quer eu natildeo posso mais interagir

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ENSAIO

Diretor ndash Podemos achar um meio termo que tal um texto colaborativo criaccedilatildeo coletiva

Autor ndash Tais gozando com a minha cara natildeo eacute Natildeo existe esse negoacutecio de criaccedilatildeo coletiva tem sempre um que encabeccedila a histoacuteria

Ator ndash Ah eacute vamos ver soacute Vou chamar algueacutem da plateia (puxa algueacutem da plateacuteia)

Ator ndash O senhor me desculpe mas a gente precisa resolver essa histoacuteria O que o senhor acha Improviso faccedilo um teatro contemporacircneo sem texto texto-natildeo dramaacutetico ou volto a ser um tolaccedilo do seacuteculo XIX tendo que decorar todas as minhas falas

Algueacutem do puacuteblico ndash Olha eu natildeo sei muito bem Que eacute que eu vou dizer O autor

Autor ndash O senhor pode sentar por favor Muito obrigado pela sua participaccedilatildeo numa proacutexima vez em que seja preciso tirar a roupa a gente te chama de novo

Ator ndash Gostasse dele natildeo eacute

Autor ndash Sai pra laacute

Diretor ndash Natildeo estamos evoluindo

Ator ndash Pra evoluir temos que representar a bula

O cara do puacuteblico (fala de seu lugar) E o que eacute que o teatro tem a mais que o cinema Prefiro ir ao cinema ver uma merda qualquer do que ficar aqui nessa tortura de natildeo teatro

Diretor ndash O cara tem razatildeo teatro ruim eacute

insuportaacutevel Antes um filme fraco do que uma montagem fraca

Ator ndash Mas e aiacute e a pergunta do cara O que eacute que o teatro tem a mais que o cinema

Diretor ndash Imaginaccedilatildeo porra No cinema vocecirc vecirc o mar Caacutespio No teatro o mar natildeo precisa nem de uma gota de aacutegua para significar um oceano Quer ver Oceano

Ator ndash Vocecirc acha mesmo que eu vou me afogar natildeo eacute

Diretor ndash Era soacute pra dar um exemplo

Autor ndash Daacute pra mudar raacutepido de histoacuteria e cenaacuterio sem um uacutenico adereccedilo no teatro

Ator ndash Ah eacute

Autor ndash Aja raacutepido Peccedila podre (o ator faz um trejeito) Viu vocecirc nem precisava fazer nada bastava continuar a fazer o que estava fazendo

Diretor ndash O importante eacute o contato direto com o puacuteblico Nunca no cinema algueacutem viria ateacute a sua cadeira e faria isso (vai ateacute o cara do puacuteblico e lhe torce o nariz)

Ator ndash Muito interessante Deve ter sido uma experiecircncia muito boa para o senhor natildeo eacute Accedilatildeo em 3D

(haacute um grande silecircncio vazio)

Diretor ndash Improvise

Autor ndash Eacute vamos acabar com esse teacutedio faccedila aiacute qualquer coisa

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ENSAIO

(o ator pode nesse momento fazer qualquer coisa)

Diretor ndash Ateacute que foi interessante

Autor ndash Mas estava no texto

Ator ndash Natildeo senhor no texto dizia claramente ldquoo ator pode fazer qualquer coisardquo

Autor ndash Entatildeo estava no texto

Ator ndash Mas quem criou fui eu

Autor ndash Azar o seu leve o creacutedito

(mais um momento de silecircncio vazio)

Autor ndash Pra esse texto dar certo algueacutem precisa morrer ou ser traiacutedo

Ator ndash Traiacutedo tu jaacute foi corno (o autor agarra o autor pelo pescoccedilo o diretor interveacutem)

Diretor ndash Ele tem razatildeo

Ator ndash Eu natildeo disse corno

Diretor ndash Natildeo natildeo isso Mas que algo tem que acontecer tem Sei laacute a intriga sabe A tensatildeo dramaacutetica

(ator e autor se entreolham furiosamente fingindo tensatildeo caem na gargalhada)

Autor ndash Que piada

Diretor ndash Se fosse uma comeacutedia seria de chorar

Autor ndash Vamos acabar logo com essa merda

Diretor ndash Algueacutem tem que morrer

Autor ndash Jaacute sei jaacute sei ldquoa morte do autorrdquo Esse texto eacute velho meu

Diretor ndash Velho mas uacutetil

Ator ndash Conclamo todos da plateia a matar o autor (o diretor e o ator puxam pessoas da plateia para cercar o autor no meio da cena Eles o cercam lentamente eles o consomem rasgam suas roupas retiram intestinos unhas dentes cabelo ateacute natildeo sobrar nada aleacutem de carne crua e tomates sobre o palco Todos voltam aos seus lugares O autor nu senta-se junto ao puacuteblico)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=folk5Y3EvzAEntrevista wwwyoutubecomwatchv=TUZEqE5UfgY

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ENSAIO

ldquoQUE CHEIRO Eacute ESSErdquo

Por Wilfried Krambeck

A e B entram em cena debatem-se um pouco com a luz no rosto e dirigem-se ao puacuteblico

A ndash Bem Olaacute Tudo bem Noacutes viemos hoje aqui para falar sobre esse NuTE neacute

B ndash Isso sobre esse tal de NuTE

A ndash Na verdade eu nem sacava desse NuTE mas tocirc aiacute representando um Um cara que teve aiacute Digamos assim Uma breve passagem por esse NuTE aiacute e que disse Vai laacute fala com o pessoal fala das coisas que rolaram laacute tu eacute o cara (para B) Natildeo eacute

B ndash Isso aiacute Ele falou que tu eacute o cara

A ndash Bem Eacute isso Aiacute eu trouxe esse meu chapa aqui Pra natildeo falar sozinho entendeu

B ndash Ooooopa tamo junto nessa parada Toca aqui oacute Cecirc eacute meu parceiro cecirc eacute meu mano

A ndash Aiacute o cara me falou tu daacute uma sacada no blog antes de ir ateacute laacute que taacute tudo laacuteaacuteaacuteaacuteaacute cara

B ndash Ele falou olha no blog eacute isso aiacute mano

A ndash Aiacute eu disse blog cara Que porra eacute essa

B ndash Eacute Que porra eacute essa

A ndash Ele falou internet cara tu eacute burro hein Eu disse burro natildeo pega leve um pouco desinformado ateacute pode ser neacute ocircocircocirc cara

B ndash Que burro o quecirc

A ndash Bom eu sei que daiacute ele abriu laacute pra gente aquele tal de blog a gente viu umas coisa laacute e tamo aqui nessa parada pra trocaacute umas ideia aiacute

B ndash Eacute a gente viemos neacute

A ndash Pocirc uma coisa legal que eu vi cara eacute que tinha um boteco laacute e a turma mandava ver

B ndash Pocirc legal Papo furado cigarro cerveja e salgadinho Eacute

A ndash Isso aiacute Outra parada eram os barracos De vez em quando tinha nego montando um baita dum barraco no meio deles

B ndash Era tudo barraqueiro

A ndash Natildeo tudo natildeo mas parece que tinha uns cara especializado nessa parada meu

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ENSAIO

B ndash Cara isso era moacute zona entatildeo Mermatildeo

A ndash Sei laacute neacute Mas diz que os caras ameaccedilavam se jogar dos preacutedios invadiam preacutedio abandonado toda hora batia poliacutecia Um outro passava de carro nos pontos de ocircnibus baixava as calccedilas e mostrava a bunda pra galera Pocirc meu os cara soacute faziam merda

B ndash Taacute loco

A ndash Pra tu vecirc como os cara eram maneacutes meu eles enterravam livro zero bala Eles podiam vender fazer uma grana Mas eles enterravam assim sem plaacutestico sem nada cara

B ndash Orra meu papelzinho bom pra enrolar um bagulho Enfiado no barro cara

A ndash Entatildeo Outra parada eacute que tinha um cara que chegava no ouvido dos outros e dizia que entregava a rosquinha

B ndash O quuuuuuecirc

A ndash Eacute Dizia queacute comecirc minha rosquinha Na cara dura Tudo bem Ele vendia quer dizer Cobrava mas pocirc meu Um negoacutecio assim soacute em pensar jaacute doacutei neacute

B ndash Taacute doido meu Mas ele natildeo dava de verdade neacute

A ndash Sei laacute Neacute Tinha um outro que jogava bombinha falhada num lixeiro E nada E tinha gente mais maluca ainda que achava isso o maacuteximo Tem tapado pra tudo mesmo neacute

B ndash Pocirc meu bombinha eacute pra estourar eacute pra fazer o escarceacuteu eacute pra fazer festa

A ndash Um outro pendurou uma cadeira e deram

um precircmio natildeo sei de quecirc pro cara

B ndash Taacute me gozando

A ndash Seacuterio Aliaacutes diz que pra ganhar precircmio a turma fazia o diabo Enchiam os corno de jurado com cerveja Diz que tinha um que pra tentar ganhar um precircmio ficava trepado em cima de uma roda por mais de uma hora

B ndash Era doido

A ndash Sei laacute Mas o cara ficava

B ndash Deviam mandar ele pro pinel

A ndash Por falar nisso cara tinha uma turma inteira Cara eram uns quinze tudo misturado cara era homem mulher novo velho tudo junto Que corriam pelados no meio da noite Pelo mato pelos campos de futebol pelas cachoeiras Assim peladotildees meeeeeismo

B ndash Na boa

A ndash Na maior Diz que era ateacute feio de ver Mas cara nunca vi Eles gostavam de ficar pelados Era no mato na praia no apartamento no palco Era tudo pirado cara

B ndash Natildeo era agrave toa que batia a poliacutecia

A ndash Ahhh E tinha um tal de um metido a escritor que natildeo escrevia coisa com coisa

B ndash Como assim

A ndash Soacute falava de papo de becircbado de chuva de briguinhas daqueles barraqueiros

B ndash Ei mas natildeo foi esse cara que disse pra tu natildeo falar isso dele aqui Que ele ia te deletar deste texto

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QUINTO

ENSAIO

A ndash Falou Mas o chapa que me mandou aqui disse que natildeo tem essa Depois que a coisa ta impressa ningueacutem mais deleta porra nenhuma Fica frio

B ndash Ahhh Entatildeo taacute Mas por via das duacutevidas eu vou dar no peacute (sai)

A ndash Eacute cara acho que falamo muita merda em pouco tempo vambora (sai tambeacutem)

FIM

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=kWaN1pZovGgEntrevistawwwyoutubecomwatchv=7x_ReaLb3Io

A PEDIDOS

Por Giba de Oliveira

(Ao entrar na plateia o puacuteblico encontra no palco um muacutesico com seu violatildeo Ele estaacute ao fundo na direita sentado sobre uma simples banqueta tocando e cantando a muacutesica TERRA de Caetano Veloso Numa mesa mais deslocada agrave direita baixa sob um foco de luz estatildeo sentados Luciano e Francisco Observam o muacutesico ateacute o final da muacutesica Os dois estatildeo em silecircncio entorpecidos mas NAtildeO estatildeo embriagados ora fumando ora bebendo Aliaacutes fumam muito)

Muacutesico ndash A pedidos (comeccedila a dedilhar a proacutexima muacutesica CAacuteLICE de Chico Buarque de Hollanda)

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ENSAIO

Francisco ndash A Pedidos Por que ele falou isso

Luciano ndash Porque algueacutem pediu

Francisco ndash Foste tu

Luciano ndash Fui eu

Francisco ndash Tu eacutes um merda mesmo Essa muacutesica se chama Caacutelice

Luciano ndash Foda-se

Francisco ndash Caacutelice

Luciano ndash Taacute E esse Festival

Francisco ndash JOTE-titac Jogos Jogos

Luciano ndash Jogos Certo O que acontece Eacute um tipo de RPG

Francisco ndash Tu parece crianccedila poxa Trata-se de um concurso cecircnico de cunho cultural onde grupos e autores participam Os grupos com seus elencos e teacutecnicos e os autores por sua vez com seus textos Tendeu

Luciano ndash Putz Taacute parecendo telecurso segundo grau explicando uma soma de quadrados

Francisco ndash Entatildeo faz o seguinte o seu merda

Luciano ndash Faz o quecirc

Muacutesico ndash Um minuto de intervalo e voltamos jaacute

Francisco ndash Caraiu Na horinha neacute Vai meu filho vai Vai laacute

Luciano ndash Porra cara Tu natildeo ias falar de uma peccedila de teatro que tu ias escrever

Francisco ndash Vou falar Calma

Luciano ndash Tocirc calmo

Francisco ndash Entatildeo

Luciano ndash Vamu laacute

Francisco ndash NuTE

Luciano ndash Hatilde Que eacute isso

Francisco ndash Aiacute natildeo vai dar Tu eacutes muito ignorante porra

Luciano ndash Fala aiacute cacete Eu sou bom em entender as coisas

Francisco ndash Entende nada De cultura tu natildeo entendes nada

Garccedilom ndash (aparecendo de repente Trata-se do muacutesico disfarccedilado) Mais alguma coisa

Luciano ndash Hatilde Deixa eu ver Peraiacute Tu saberias me dizer por um acaso do destino o que significa a palavra NuTE

Garccedilom ndash Pois natildeo o Nuacutecleo de Teatro e Escola fundado Nuacutecleo de Teatro Experimental por Alexandre Venera dos Santos em 1984 tendo muitos e importantes colaboradores durante vaacuterios anos em que atuou na Sociedade Dramaacutetico Musical Teatro Carlos Gomes de Blumenau eacute foi e continua sendo uma das maiores correntes artiacutesticas legiacutetimas do sul do Brasil

Luciano ndash Hatilde

Garccedilom ndash Eacute servido com molho madeira batata frita e salada Mais alguma coisa

Francisco ndash Deixa ele O lance eacute o seguinte Luciano

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QUINTO

ENSAIO

Luciano ndash Fala aiacute Francisco

Francisco ndash Decorou o nome neacute

Luciano ndash Fala da tua peccedila caralho

Francisco ndash Entatildeo Vamos supor o seguinte aiacute o negoacutecio consiste em vocecirc escrever um texto E eu escrevi um

Luciano ndash Sim Adiante

Francisco ndash Eacute assim oacute (blackout) Hummmmmm acabou a luz (o cenaacuterio muda de lugar em 90 graus A luz volta O muacutesico volta)

Muacutesico ndash Desculpem a falha teacutecnica Com vocecircs uma muacutesica da nossa querida Juliana Muller

Francisco ndash Nossa Sou tarado nessa mulher

Luciano ndash Se concentra porra

Francisco ndash Mas ela eacute gostosa

Luciano ndash Pensa no Tadeu

Francisco ndash Aiacute tu forccedilas a amizade Tu sabes que o veacuteio Tadeu eacute gecircnio

Luciano ndash Dizem que o Tadeu eacute um Bruxo

Francisco ndash Parece que bebe Mas taacute Laacute vai Eacute assim oacute o cara eacute um detetive que vai narrando os acontecimentos num gravador como se descrevesse uma cena

Luciano ndash Como seria

Francisco ndash Fique atento A luz se apaga Ele estaacute com uma lanterna Respira ofegante (enquanto vai falando a luz muda e ele assume a personagem do detetive Existe muita fumaccedila no ambiente agora Ele carrega uma arma com

uma das matildeos e com a outra empunha uma lanterna) Vejo um caminho por aqui Vou seguir em frente Estaacute bem nublado Aqui termina a trilha Estou ouvindo um ruiacutedo acho que eacute um riacho Haacute uma pequena represa aqui Estaacute bem escorregadio Mas estaacute relativamente faacutecil de Tem algueacutem aiacute Tem algueacutem aiacute Escutei sons de passos mais adiante Parado Parado eu jaacute disse Parado ou eu atiro Ele estaacute fugindo (Anda por entre a plateia lentamente com a arma e a lanterna A fumaccedila em abundacircncia continua Logo se pode ver trecircs lanternas em meio agrave escuridatildeo sendo duas na plateia de lados opostos e outra no palco Francisco fala para a segunda lanterna na plateia) Quem eacute vocecirc Fique parado Bote sua arma no chatildeo junto com a lanterna Agora

Luciano que agora eacute outro ndash Calma Sou amigo Natildeo atire Calma por favor calma

Francisco ndash Quem eacute vocecirc

Luciano ndash Um amigo

Francisco ndash O que vocecirc fazia na casa de Elizabeth

Luciano ndash Elizabeth Eu fui avisaacute-la Algueacutem estaacute tentando matar Elizabeth (Ouve-se um tiro A terceira lanterna sai correndo em disparada Luciano cai no chatildeo)

Francisco ndash Natildeatildeatildeo

Luciano ndash Eu amava Elisabeth Jamais faria mal a ela

Francisco ndash Quem a queria morta Diga o nome

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ENSAIO

Luciano ndash Lorival

Francisco ndash Natildeatildeatildeatildeatildeooooooo (Novo blackout Ao voltar a luz o cenaacuterio estaacute totalmente invertido O muacutesico em sua banqueta e os dois amigos sentados agrave mesa Muacutesica Aacuteguas de marccedilo de Tom Jobim)

Luciano ndash E aiacute Acabou Ele morre e o bandido foge

Francisco ndash A arte imita a vida meu amigo

Luciano ndash Tu estaacutes mentindo Tu nunca dirias uma besteira dessas

Francisco ndash Tens razatildeo Mas somos artistas Vivemos em mundos onde tudo eacute possiacutevel posto que eacute feito de ideias de imaginaccedilatildeo sons e imagens Cores e formas

Muacutesico ndash E poesia Aacutetomos Nuacutecleos

Francisco ndash Isso mesmo E poesia porque se trata de uma homenagem ao belo ao fundamental nas nossas vidas Pra alimentar nossos espiacuteritos Jaacute tatildeo sofridos

Luciano ndash E como seraacute o tiacutetulo

Francisco ndash Eu natildeo faccedilo a menor ideia (Ficam os dois em silecircncio contemplativo)

Muacutesico ndash A pedidos (With Or Without You do U2 Os dois se olham interrompendo o fluxo de cigarros A luz vai saindo em Fade Out O cenaacuterio gira e agora todos estatildeo de costas com uma luz contra muito tecircnue Os dois continuam gesticulando na mesa como se conversassem O muacutesico continua) Queremos agradecer as

pessoas que fazem o mundo brilhar Alexandre Venera dos Santos Wilfried Krambeck Carlos Crescecircncio dos Santos Peacutepe Sedrez Siacutelvio da Luz Giba de Oliveira Niralciacute Ferreira Rosane Magaly Martins Tacircnia Rodrigues Antocircnio Leopolsky Janice Penzzotti Jeniffer Penzzotti Klaus Jensen Tadeu Bittencourt Eacutedio Raniere Joseacute Aparecido da Silva Juliana Muller Leonel Campos Wladimir Juliano Treiss Cristiane Muller Joseacute Ronaldo Faleiro Otto Aacutelvaro Tanise Diogo Pollyanna Maria da Silva Andrea dos Santos Polly Vendrami Kadu Nassau de Souza Douglas Zuninno Janaiacutena Gabriela Luciana May Denniz Raduumlnz Juceacutelia Zimmermann (aqui poderatildeo ser incluiacutedos outros nomes que provavelmente foram omitidos por puro esquecimento Na saiacuteda da plateia essa relaccedilatildeo deveraacute ser entregue com a ficha teacutecnica do elenco)

FIM

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=0LpZEZRun4MEntrevista wwwyoutubecomwatchv=jix56Qib3tg

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ENSAIO

APRESENTACcedilAtildeO DOS ESPETAacuteCULOS ou Quando se Experimenta

OITO OLHARES sobre o NuTE

CRINU E CASTITE

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Texto de Dostuevisqui da SilvaGrupo LEGUME PalhaccedilosDireccedilatildeo Telja RebelattoElenco Ana Peres Batista Juliana Goldfeder Charles AugustoMuacutesico Lucio LocateliProduccedilatildeo Italo ReisFotografia Glaucia MaindraImagem-documentaacuterio Glaucia Maindra Italo ReisMaquiagem Ana Peres BatistaFigurino Juliana Goldfeder Telja RebelatoIluminaccedilatildeo Charles AugustoCenografia O GrupoCoreografia Telja Rebelato Ana Peres Batista e Juliana Goldfeder

Espetaacuteculowwwyoutubecomwatchv=4hE9tk8zg7k

MAQBEacuteTE UMA INTERFEREcircNCIA NA TRANSMISSAtildeO

Texto de Iran da SilveiraGrupo Elementos em CenaDireccedilatildeo Cleber Lach Codireccedilatildeo Roberto MurphyElenco Dorly Luchini Luacutecio Mello Roberto Murphy Juliana Skutnik Adriana DellagustinaSonoplastia Rubens Iluminaccedilatildeo Rubia Cris

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=lWClvHpyisw

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O DE PRETO O DE BRANCO E OS DE CORES ou um despretensioso questionamento

Texto de Wilfried KrambeckGrupo Trupe SOU de Experimentaccedilotildees TeatraisDireccedilatildeo Geral Gisele BauerElenco Ana Acaacutecia Schuarz Schuumller Faacutebio Schmidt Fernanda Borges Raupp Kaio Gomes Bergamim Mariluce Rodrigues de FreitasSonoplastia Ramon Jerocircnimo Trajano e Carlos Alexande SchurubbeProduccedilatildeo Anna Mock

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=PVPk3U91iEQ

O MONSTRO DE NUTESTEIN

Texto Wilfried KrambeckGrupo Grupo AmaDoresDireccedilatildeo Marco Antonio de Oliveira e Samantha BernardoElenco Daniella Curtipassi Leonel Curtipassi Marco Antonio de Oliveira Mariella Kratz Samantha BernardoProduccedilatildeo Alexandre Silveira Daiana Hostins Diego Vargas Guilherme Reddin Ruan Rafael RosaFotografia Imagens e Sonoplastia Grupo AmaDores

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=zQcabJ0A8a8

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TRABALHO SUJO

Texto de Iran da SilveiraGrupo KonvidadosDireccedilatildeo Rafael KoehlerElenco Angelene Lazzareti Daidrecirc Thomas Daniela Farias Edegar Starke Joanna Oliari Kriseacuteven Campana e Rafael KoehlerCoreografia Edegar StarkeSonoplastia Joanna OliariFigurino Luacute MayProduccedilatildeo Pedro Wolff e Bianca MacoppiImagem-documentaacuterio Bianca Macoppi e Rafael KoehlerIluminaccedilatildeo Joanna Oliari

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=9Bk5DUrY-eQ

O AUTOR ESQUARTEJADO

Texto de Afonso NilsonGrupo Kontra Senha do Lado AvessoDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzElenco Patriacutecia Aracelli Bieging Anna Lena Riffel Igor Trapinauska Nayara Aline Schmitt Azevedo Katherine HogeProduccedilatildeo Cristiane Serpa da Luz Katherine HogeFigurino e Cenaacuterio O GrupoMaquiagem Patriacutecia Aracelli BiegingIluminaccedilatildeo Silvio Joseacute da Luz

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=9Bk5DUrY-eQ

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QUINTO

ENSAIO

QUE CHEIRO Eacute ESSE

Texto de Wilfried KrambekGrupo BadulakDireccedilatildeo Jean MassaneroElenco Aline Barth Elisangela Franccedila (Zanza) Jorge Gumz Leomar Peruzzo Suellen JunkesIluminaccedilatildeo Jean MassaneroSonoplastia Aline BarthCenografia Kethlin Luana GusawaFigurinos Bruna Aline Moraes Suellen Junkes Priscila Franzoi Elisangela FranccedilaMaquiagem Bruna Aline Moraes Priscila Franzoi Suellen Junkes Jorge GumzProduccedilatildeo Kethlin Luana GusawaFotografia Dora MoraesImagem-documentaacuterio Priscila FranzoiParticipaccedilatildeo Especial Maicon (violino)Recomendaccedilatildeo 18 anos

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=IfWQ9Jfc_ZE

A PEDIDOS

Texto de Giba de OliveiraGrupo Equipe ViacutesCera de TeatroDireccedilatildeo Maicon Robert KellerElenco Cleiton Jr Pereira da Rocha Ciacutentia Daniela Galz Ciacutentia Tribess Denis Roberto Inaacutecio Evair Graciola Mayara Luana VoltoliniMaquiagem Fabriacutecio Gustavo Gesser CardosoIluminaccedilatildeo Maicon KellerCenografia e Figurinos Equipe ViacutesCera de TeatroProduccedilatildeo Executiva Fabriacutecio Gustavo Gesser CardosoProduccedilatildeo Geral Equipe ViacutesCera de Teatro

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=U1ZpVSuj_3I

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cena do espetaacuteculo ldquoa mortardquo atriz-paacutessaro janaina meneghel

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SEXTO

ENSAIOSEXTO ENSAIO - 08 DE JULHO DE 2015

Ensaio Final de Quarta-feiraNo reloacutegio do bar marcam 23h12min

Imagem Insistente Estreia

Passamos os meses de maio e junho trabalhando quase que diariamente no espetaacuteculo Com a estreia marcada para 10 de julho ontem e antes de ontem tentamos um ensaio geral Apesar de um grande esforccedilo coletivo a sensaccedilatildeo que transbordava era de um espetaacuteculo ainda em desenvolvimento parecia natildeo estar pronto carecia de algo precisava ser finalizado No ensaio de hoje agrave noite mais uma vez isso se repetia O grupo um tanto ansioso com a estreia um tanto perturbado com o inacabado entreolhava-se todos os corpos mesmo os inumanos e ateacute os imoacuteveis transpiravam interrogaccedilotildees Como vai ser O que fazer O puacuteblico vai gostar Algueacutem vai nos criticar Vatildeo nos aplaudir Vai aparecer um personagem ressentido que natildeo foi entrevistado nos acusando de usar indevidamente o dinheiro puacuteblico Vai aparecer uma empresa muito impressionada com nosso trabalho querendo patrocinar um novo projeto via alguma lei de incentivo agrave cultura Vatildeo nos amar odiar desprezar Ficaratildeo entediados surpresos assustados Algueacutem vai sorrir E laacutegrimas Seraacute que

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Laacute pelas tantas Silvinho propotildee uma intervenccedilatildeo etiacutelica O bar a essa altura do campeonato parecia ser realmente a uacutenica soluccedilatildeo possiacutevel Fomos beber

Chegando ao estabelecimento aproximamos duas mesas e solicitamos ao garccedilom a primeira rodada de cerveja pois em Blumenau mesmo no frio de julho sempre se bebe cerveja Depois da quinta ou sexta rodada algumas boas ideias comeccedilaram a surgir

ndash E se no meio da peccedila a gente explodir tudo podemos citar O Homem do Capote e mandar tudo pros ares teatro puacuteblico cadeira BUMMMM tudo voando voando ia ser lindo

ndash Eacute uma boa Faria sucesso de criacuteticandash Olha pessoal pra dizer a verdade eu

acho que faltou alguma coisa por isso estamos assim

ndash Assim como becircbados ndash risosndash Meu analista sempre diz que a falta tem

relaccedilatildeo com o Complexo de Eacutedipondash Eacutedipo Quem sabe se a gente chamasse a

tua matildee entatildeondash Natildeo porra Tocirc falando seacuterio Tipo a editora

πpa por exemplo eacute uma marca forte do NuTE Numa eacutepoca que circulava pouquiacutessimo material sobre teatro na regiatildeo o que se conseguia traduzir por sorte encontrar ou mesmo produzir publicava-se por laacute onde eacute que se fala dessas publicaccedilotildees

ndash No Quarto Ensaiondash Taacute mas pera laacute o que acontece natildeo vai aleacutem

de uma citaccedilatildeo Lembro que Alexandre havia

deixado pra gente aleacutem dos aperitivos cecircnicos um tal de Aperitivo Livretante Esse Aperitivo Livretante era sobre a editora πpa O problema eacute que ningueacutem utilizou porque aquele merda do Ator Guerrilheiro provocou uma guerra dentro do grupo a maioria dos atores abandonaram os ensaios mal conseguimos encenar o aperitivo escolhido Ou seja natildeo existe nenhuma cena sobre essas publicaccedilotildees

ndash Por isso que eu sugeri chamar a tua matildee tais entendendo agora Podemos sentar a veacuteia numa banqueta e dar uma plaquinha pra ela ficar segurando PIPA Vai ficar joia joia

ndash Eu acho que o que estaacute publicado fala de si com muito mais forccedila do que aquilo que tenta interpretaacute-lo Natildeo tinha uma rubrica no projeto destinada a impressotildees de material

ndash Sim Natildeo usamos nada ainda taacute laacute esperando

ndash Por que entatildeo a gente natildeo seleciona esse material publica em formato de livreto e distribui ao puacuteblico durante nossas apresentaccedilotildees

ndash Eacute uma boa ideiandash Eacute uma excelente ideiandash Eacute uma ideia que merece um brinde ndash Cacete acabou a cerveja Garccedilom Traz

mais quatro cervejas aqui por favorO garccedilom trouxe as cervejas Bebemos As

cervejas acabaram pedimos mais uma rodada Depois da comemoraccedilatildeo borbulhante um silecircncio travoso amargava na boca Amargou amargou ateacute que Juliana pedindo mais uma rodada saiu com essa

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ENSAIO

ndash Eu ainda acho que faltou pesquisa sobre a Estereocena

ndash Bobagem a Estereocena aparece no Segundo Ensaio Tem um trecho enorme da entrevista do Alexandre explicando o que eacute vocecirc ateacute participa da cena lembra Com os projetores multimiacutedia

ndash Sim sim eu sei mas tudo acontece num relacircmpago eacute raacutepido demais pra importacircncia que tem Acho que poderiacuteamos ter explorado mais

ndash O que dizer entatildeo do JOTE-Titac ndash interrompe Wilfried

ndash Natildeo Wilfried peraiacute cara Tem um Ensaio inteiro sobre o JOTE-Titac

ndash Mas eacute pouco deveria ter mais coisasndash Tipo o quecircndash Tipo uma cronologia como aquela do

Terceiro Ensaio onde apareceriam os textos premiados seus respectivos autores bem como os espetaacuteculos encenados Algo com maior embasamento histoacuterico Acho justo porque o JOTE-Titac foi uma das coisas mais intensas do NuTE

ndash Mas isso jaacute foi feitondash Ondendash No livro Jogos de Teatro 12 anos de

Teatro em Blumenau publicado pela Cultura em Movimento em 2000

ndash Sim mas eacute um tratamento totalmente diferente do que estamos dando aqui Insisto pois existem quilos de material inclusive catalogados pela pesquisa sobre as treze

ediccedilotildees do JOTE-Titac que natildeo utilizamos pra nada

ndash Olha ndash diz Peacutepe pegando um gancho ndash se for pra fazer mais um Ensaio sobre o JOTE-Titac acho que o foco entatildeo deveria ser a pulsaccedilatildeo artiacutestica que acontecia ao redor do NuTe os poetas os muacutesicos os artistas plaacutesticos os bailarinos todo aquele clima de efervescecircncia artiacutestica que rolava bem como todos os grupos de teatro que se formaram dentro do NuTE Antes de montarmos a Cia Carona de Teatro por exemplo havia o Grupo Carona para Irmatildeo Sol e Irmatildeo Lua ambos foram antecedidos pelo Grupo Meu Grupo que nasceu dentro do NuTE Tudo comeccedilou ali Sobre isso quase nada foi dito Acho que satildeo coisas que ficaram agrave margem

ndash Mas Peacutepe esse troccedilo daria outro livro digo outro espetaacuteculo

ndash Cada um desses temas daria outro espetaacuteculo por si soacute

ndash Isso eacute verdade ndash respiraccedilotildees As palavras se calam apenas os copos conversam

ndash Garccedilom traz mais quatro cervejas por favor

Depois de alguns goles emudecidos Afonso diz

ndash E se ao inveacutes de preencher com algo faltante criaacutessemos alguns buracos pra coisa toda escapar

ndash Do que vocecirc estaacute falandondash Daacute licenccedila lembrei de que preciso ir ao

banheiro

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ENSAIO

ndash Talvez ndash Afonso explica ndash estejamos procurando no caminho errado parece-me que o espetaacuteculo natildeo precisa de algo a mais mas sim de uma fissura por onde escapar um duto atraveacutes do qual ele possa correr para todos os lados uma linha de fuga

ndash Acho que vocecirc estaacute becircbado ndash gargalhadas

ndash Peraiacute pessoal vamos tentar entender a ideia

ndash Taacute bom Entatildeo me diz como eacute que vamos abrir buracos ndash risos ndash num espetaacuteculo

ndash Bem eu natildeo tenho exatamente uma receita pronta pra fazer isso mas se vocecircs concordarem podemos comeccedilar aceitando o fato de que o NuTE natildeo cabe em um espetaacuteculo

ndash Como assim

ndash Acho que deveriacuteamos aceitar que nossa pesquisa eacute falha fraacutegil que construiacutemos um mapa provisoacuterio um mapa que para funcionar bem precisa ser conectado a outros mapas e esses outros mapas nem existem ainda estatildeo por vir

ndash Eu natildeo concordo com isso Em minha opiniatildeo o espetaacuteculo precisa abarcar o NuTE como um todo

ndash Como um todo ou como um tolo ndash risos

ndash Quem comeu o tolo ndash mais risos

ndash O Tolo ou o Bolo ndash ningueacutem achou graccedila Constrangimentos Calados todos bebem

ndash Cara essa ideia de todo eacute meio boba vocecirc natildeo acha

ndash Bobandash Eacute Meio ingecircnua Quem eacute que consegue

realmente fazer isso A descriccedilatildeo eacute sempre parcial Para se falar sobre qualquer coisa deixamos de falar sobre inuacutemeras outras Natildeo tem jeito de escapar Lembra quando Barthes diz que escrever eacute um gesto poliacutetico que vocecirc precisa optar a cada letra a cada viacutergula por uma esteacutetica por uma eacutetica33

ndash Se estou entendo bem vocecirc estaacute querendo me convencer de que deixar a coisa pela metade eacute aceitaacutevel

ndash Mais que isso Estou tentando te dizer que o fragmento eacute muito mais interessante que a totalidade

ndash Vocecirc pode ateacute achar o fragmento mais interessante agora para que as pessoas consigam entender o que foi o NuTE elas precisam do todo O fragmento natildeo vai ajudaacute-las a aprender melhor

ndash Aprender Mas por que cargas drsquoaacutegua te preocupas em ajudar as pessoas a aprender Natildeo haacute nada para se aprender aqui O que estamos fazendo passa muito mais por uma esfera artiacutestica do que racional Isso aqui natildeo eacute catequese natildeo eacute aulinha de telecurso do segundo grau Soacute queremos servir agrave histoacuteria agrave medida que ela serve para a vida Se a histoacuteria natildeo serve para a vida ela natildeo nos serve34

ndash Ah Essa eacute boa Se a funccedilatildeo desse espetaacuteculo natildeo eacute construir um aprendizado sobre o NuTE entatildeo ele serve pra quecirc

ndash Para libertar as pessoas

33 Roland Barthes em Grau Zero da Escritu-ra

34 Friedrich Nietzs-che Da utilidade e des-vantagem da histoacuteria para a vida

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ENSAIO

ndash Vocecirc estaacute becircbado soacute pode ser ndash risosndash Entatildeo vou chamar algueacutem soacutebrio que fale

por mim Pode serndash Vai ser difiacutecil encontrar um por aqui

hein ndash risos Afonso apanha sua mochila preta e retira

de dentro dela um volumoso livro de capa esverdeada Folheia algumas paacuteginas ateacute chegar agrave 147 Por fim aos ouvidos ansiosos em sua volta sorrindo potildees-se a ler

Torna-se decisivo que o abandono da totalidade natildeo seja pensado como deacuteficit mas como possibilidade libertadora ndash de expressatildeo fantasia e recombinaccedilatildeo ndash que se recusa a ldquofuacuteria do entendimentordquo35

ndash Na minha opiniatildeo se essa foi se noacutes a utilizamos para levantar esse espetaacuteculo tambeacutem deve continuar sendo a poliacutetica do NuTE Mesmo sem saber mesmo quando natildeo era proposital NuTE sempre esteve work in progress Se utilizamos o mesmo recurso para montar um espetaacuteculo sobre esse tema precisamos minimamente zelar por essa estrutura Tentar falar do NuTE atraveacutes de uma totalizaccedilatildeo eacute trair o processo NuTE que sempre preferiu os fragmentos que sempre buscou libertar a si mesmo e ao mundo da fuacuteria do entendimento da grande razatildeo da consciecircncia que tudo apreende que tudo sabe que tudo ensina que tudo enjaula tranca aprisiona Natildeo podemos ter a arrogacircncia a presunccedilatildeo e a prepotecircncia de querer ensinar as pessoas o que foi o NuTE Montar uma NuTE-Biografia eacute ridiacuteculo eacute romacircntico demais

35 A expressatildeo ldquofuacuteria do entendimentordquo eacute de Jochen Horisch a ci-taccedilatildeo foi extraiacuteda de Teatro Poacutes-Dramaacutetico de Hans-Thies Leh-mann

eacute pateacutetico Se algum cheiro sabor clima tom nuteanescos chegarem agraves pessoas atraveacutes de nosso espetaacuteculo eacute justamente porque ele natildeo eacute totalitaacuterio eacute porque conseguimos de alguma forma manter o processo em aberto Natildeo podemos transformar a vida palpitante plena de energia num produto finalizado bom apenas para se expor em vitrines Aleacutem do quecirc NuTe escapa por todos os lados natildeo permite uma apropriaccedilatildeo parece haver intrincado em seu proacuteprio funcionamento uma maacutequina anarco-rizomaacutetica que estende suas paisagens-memoacuteria em muacuteltiplos sentidosdireccedilotildees NuTE natildeo se deixa apanhar governar definir catalogar restringir dizer o que eacute Assim se esta pesquisa se quer filiada ao que busca pesquisar nada melhor que anunciar suas fragilidades seus equiacutevocos suas dificuldades Nada mais natural que provocar outros pesquisadores a escrever-encenar sobre o NuTE Pois era assim que tudo funcionava dentro do NuTE Certa vez escutei Alexandre Venera dizendo que o momento mais interessante de um espetaacuteculo eacute a sua montagem Por que natildeo fazemos disso o nosso refratildeo

ndash Porque agora meu caro filoacutesofo noacutes precisamos estrear depois de amanhatilde vai acontecer a estreia deste trabalho e natildeo vai ter nenhum desses conceitosinhos bonitos no palco para nos proteger de um grande vexame

ndash Pessoal eu sei que estamos haacute um bom tempo nos dedicando a esse espetaacuteculo Sei que as pessoas viratildeo nos assistir Muitas delas estatildeo esperando assistir uma Nute-Biografia

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ENSAIO

uma historinha iniacutecio-meio-fim sobre o NuTE O que precisamos responder para noacutes mesmos eacute afinal de contas o que noacutes temos para dar a elas O que vamos apresentar O que temos para encenar

ndash Ensaiosndash Exatamente Vamos apresentar nossos

ensaios nossos fragmentos Nossas tentativas de montar um espetaacuteculo Ou melhor a proacutepria montagem Vamos lhes apresentar nas palavras de Venera aquilo que haacute de mais interessante num espetaacuteculo Eacute isso que vamos encenar Se estiveacutessemos escrevendo um livro e a estreia fosse sua publicaccedilatildeo seria correto dizer que mesmo depois de publicado ele continuaria em desenvolvimento Nonstop Work in Progress Jaacute que a biblioteca Nutrindo permaneceraacute aberta a novos nutrientes materiais encontrados em pesquisas que estatildeo por vir o blog NuTE Para Todos vai hospedar a publicaccedilatildeo para que todos possam livremente baixar ler comentar quando e como lhes parecer melhor Assim as discussotildees realizadas que se acumularam durante a montagem natildeo param por aqui vatildeo continuar acontecendo mesmo depois da estreia-publicaccedilatildeo Trata-se de um espetaacuteculo em devir onde natildeo interessa tanto a histoacuteria factual os proacuteprios fatos mas sim algo que a arte permite acessar e que as convenccedilotildees da vida cotidiana tendem a bloquear Nesse sentido o espetaacuteculo natildeo serve como um totalizador histoacuterico do que aconteceu mas sugere pistas de como acontecia dos principais nutrientes e dos venenos mais consumidos forccedilas natildeo menos intensas que o fizeram improdutivo em

sua uacuteltima fase ndash Olha isso taacute muito lindo tocirc ateacute ficando

emocionado natildeo sei se eacute a cerveja agraves vezes me daacute uma caganeira desgraccedilada Mas vocecirc acha mesmo que podemos sustentar o espetaacuteculo nessa coisa meio sem chatildeo que a arte permite acessar e que a vida cotidiana tende a bloquear Isso natildeo fica meio como dizer solto quase metafiacutesico um papo de becircbado natildeo

ndash Tudo eacute deliacuterio mesmo o mais seacuterio dos burocratas passa a vida a se embriagar com coacutedigos sistemas nuacutemeros Mesmo o revolucionaacuterio que tomou para si a missatildeo de melhorar o mundo conscientizando as massas iluminando a todos mesmo Don Quixote ou o mais sisudo dos empresaacuterios de terno e gravata tambeacutem o Cavaleiro Inexiste uma dona de casa lavando roupa um pescador na proa do barco ou Gurdulu em sua sopa todos deliram Natildeo existe outra saiacuteda para a existecircncia humana que natildeo seja o deliacuterio

ndash Isso tambeacutem eacute bonito mas natildeo diz merda nenhuma

ndash Natildeo diz pra ti estaacute tudo aiacute seu babaca ndash Tudo o quecircndash Vou tentar te explicar com laranjas

Presta atenccedilatildeo A vida humana impotildee um problema a todos Indiferente de classe social gecircnero etnia crenccedila grau de inteligecircncia ningueacutem ningueacutem mesmo atravessa a vida sem responder a isso Se vocecirc quiser conversar com os humanistas de plantatildeo talvez esta possa ser a condiccedilatildeo humana aquilo que nos

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difere dos outros animais Ter que responder a isso ou melhor responder a isso eacute o que passamos a vida fazendo Eacute um problema bem simples ateacute de se colocar Mas a sua resposta eacute muacuteltipla existem centenas de milhares de possibilidades E a vida de cada um de noacutes eacute exatamente aquilo que conseguimos dar como resposta a esse problema O NuTE portanto meu caro eacute uma resposta

ndash Mas do que vocecirc estaacute falando agora cacete resposta do quecirc Que maluquice de problema universal eacute esse que o NuTE responde

ndash O NuTE eacute uma resposta agrave finitude da vida uma resposta agrave morte A gente falou um pouco sobre isso no Quarto Ensaio lembra Qualquer inseto camundongo cachorro girafa avestruz percevejo ou rinoceronte eleva ao maacuteximo o grau de potecircncia em sua vida Com exceccedilatildeo do homem os animais estatildeo instintivamente equipados para fazer de sua pequena existecircncia um nuacutecleo de poder Mas nossa espeacutecie foi amaldiccediloada com a consciecircncia sabemos que vamos morrer sabemos que enquanto estivermos vivos vamos sofrer e sabemos que natildeo haacute sentido natural nisso Eis o problema humano o que fazer com isso como lidar com essa falta ou na formulaccedilatildeo proposta por Grotowski Como Viver

ndash Vocecirc estaacute insinuando que Deus natildeo existendash Natildeo Estou dizendo que Deus eacute uma

respostandash Ah Bom pensei que vocecirc fosse O quecirc

Uma resposta Vocecirc quis dizer que Deus eacute a resposta

ndash Natildeo Eu quis dizer exatamente o que disse Deus eacute uma resposta assim como a ciecircncia eacute uma reposta assim como a arte eacute uma resposta assim como a cerveja o sexo o dinheiro o trabalho o amor passar a vida economizando cada centavo para comprar aquela casa aquele carro aquela roupa satildeo respostas que nos conectam com a vida Eis o sentindo mais profundo do Religare Enquanto nos ocupamos em responder esquecemos temporariamente o problema e assim a vida se torna possiacutevel

ndash Mas isso eacute um absurdo ndash interrompendo ndash Vocecirc natildeo pode colocar Deus NuTE um carro por melhor que seja mesmo se for uma Ferrari no mesmo niacutevel de uma peccedila de roupa ou de um copo de cachaccedila

ndash Olha querido vou te contar dependendo a peccedila de roupa que eu quiser comprar pode custar o mesmo preccedilo da sua Ferrari ndash risos

ndash Ah Vatildeo agrave merda Natildeo eacute disso que estou falando e vocecircs sabem Se tudo eacute igual se tudo vale a mesma coisa se nada eacute melhor ou pior entatildeo esse espetaacuteculo eacute um presente de grego Promete levar o puacuteblico a experimentar NuTE em sua embriaguez dionisiacuteaca seu Work in Progress de intensidades e deliacuterios mas o que realmente faz eacute cavar um buraco niilista para enterrar a todos Seduz o puacuteblico tal qual o Flautista de Hamelin com belas imagens e conceitos e quando todos estatildeo dentro do espetaacuteculo abre o chatildeo e os despeja num imenso vazio Ao inveacutes de chamar NuTE Para Todos esse projeto deveria ter sido batizado de

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Niilismo Para Todosndash Garccedilom traz mais umas cinco cervejas

por favorndash Acabou meu cigarro posso pegar um dos

teusndash Claro Algueacutem mais quer Vou deixar aqui

na mesa se quiserem eacute soacute pegarDennis acende um cigarro toma um gole da

cerveja gelada que acabou de chegar e por fim quando o copo se assenta na mesa categoacuterico respira

ndash A casa comeccedila no caos sendo acaso caacutelculo coito como sacas de cal ou sinais escavados caiados nos ocos36

ndash E daiacutendash Quis dizer que soacute existe um jeito de se

ultrapassar o niilismo ndash silecircncio ndash Indo ao fundo ao mais profundo ao para

aleacutem da casa vazia Amor Fati ndash Escuta acho que estou um pouco becircbado

do que ele estaacute falando heinndash Que para superar o niilismo eacute preciso

encaraacute-lo de frente ou seja aceitar a vida como ela se apresenta Topar a finitude o sofrimento a ausecircncia de sentido como o pedreiro toma um saco de cimento para construir uma casa Se jaacute natildeo conseguimos mais nos esconder na barra da saia de um Deus morto precisamos encontrar fabricar novas respostas que nos religuem agrave vida nua agrave vida crua agrave vida finita traacutegica e incrivelmente bela Trata-se de experimentar o vazio em toda sua plenitude para ter condiccedilotildees de preenchecirc-lo com boas respostas Antes de

36 Trecho do poema Cultivo do Acaso de Dennis Raduumlnz in Li-vro de Mercuacuterio

comeccedilar a levantar paredes eacute preciso limpar o terreno preparar o aterramento e a fundaccedilatildeo colocar as vigas e aiacute sim com muito cuidado assentar tijolo a tijolo Trata-se de uma casa que nunca se termina de construir Work in Progress infinito invenccedilatildeo de si de mundo de uma vida como obra de arte

ndash A estes e apenas a estes que procuram por uma vida como obra de arte noacutes apresentaremos um espetaacuteculo como obra viva um espetaacuteculo em desenvolvimento que se pode ajudar a construir que natildeo estaacute morto mumificado pronto para ser aprendido vendido comprado numa prateleira do mercado A melhor ilusatildeo eacute a proacutepria vida amar o destino aceitaacute-lo desejar seu eterno retorno Eis nosso presente apoliacuteneo ao mundo um espetaacuteculo para todos e para ningueacutem

ndash Calma cara vocecirc estaacute ficando um tanto megalomaniacuteaco Tira a cerveja dele

ndash Acho que o efeito do Nietzsche eacute maior do que o do aacutelcool

ndash Entatildeo tira o Nietzsche delendash Mas como se faz isso Em meio a este curioso debate atocircnitos

assistimos se aproximar de nossa mesa Alexandre Venera dos Santos O diretor puxa uma cadeira ao lado de Juliana acende um cigarro e pede um cuba ao garccedilom Constrangido com o silecircncio ruidoso em sua volta pergunta-nos a quantas anda o espetaacuteculo Conta que acabara de fazer download do Quinto Ensaio o qual lhe pareceu uma soluccedilatildeo muito boa para

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o JOTE-Titac e que agora estaacute muito curioso querendo assistir agrave estreia

O exerciacutecio de anotar cenas para a composiccedilatildeo de mundos durante os Ensaios carregou-me a um estranho viacutecio desde entatildeo natildeo consigo mais conviver em grupo sem anotar tudo que se passa em minha volta Em virtude deste malefiacutecio que se apossou de minha natureza estava mais uma vez descrevendo as conversaccedilotildees que ateacute entatildeo ali se fazia naquela mesa de bar Riscos e rabiscos transportados agraves matildeos do diretor que se potildee a ler calmamente enquanto o garccedilom trazia mais duas rodadas de cerveja Bebemos fumamos Giba pediu uma porccedilatildeo de babatas fritas Por fim Alexandre se surpreende dizendo que o NuTE sempre lhe pareceu uma resposta agrave algo embora nunca tivesse se perguntado ao que ele respondia Parabeniza o grupo pela discussatildeo e questiona a validade de um instrumento que generaliza tudo a ponto de ser possiacutevel interpretar qualquer coisa a partir dele Se tudo eacute resposta o que mais me interessa ndash diz Alexandre ndash eacute saber o que produziu o que fez acontecer uma resposta NuTE suas diferenciaccedilotildees respostivas Ou seja o que faz com que a resposta NuTE seja diferente da resposta LUME Equipe Vira Lata Fecircnix O que teria levado esse grupo de pessoas a responderem dessa forma e natildeo de outra37

Novamente apenas os copos conversam Aos poucos a fumaccedila dos cigarros vai se materializando numa espessa nuvem branca Tossindo gaguejando tropicando nas letras uma voz se arrisca

37 Haacute muita publi-caccedilatildeo a respeito do Lume um livro inte-ressante eacute A Arte de Natildeo Interpretar Como Poesia Corpoacuterea do Ator de Renato Fer-racini Sobre Equipe Teatral Vira Lata ver O Jardim das Ilusotildees de Eacutedio Raniere So-bre Grupo Fecircnix natildeo encontramos nenhum livro em especiacutefico po-dem ser consultados artigos de Edith Kor-mann fundadora do grupo e Noemi Keller-man

ndash O que forccedilou esse grupo de pessoas agrave resposta NuTE chama-se Vontade de Poder

ndash Ai ai ai agora o bicho vai pegarndash Olha como diria o saacutebio deputado pior do

que taacute natildeo fica depois do buraco niilista o que vier eacute lucro

ndash Vontade de Poder ndash Alexandre natildeo aceita muito bem a soluccedilatildeo gaguejada ndash Qual seria a relaccedilatildeo da Vontade de Poder com a resposta NuTE

ndash Eacute que A Vontade de Poder se deixa mostrar em todo vivente que tudo faz natildeo para se conservar mas para se tornar mais38

ndash Heinndash Vocecirc estaacute insinuando que o que fezfaz o

NuTE ser NuTE eacute uma Vontade de Dominar de controlar de subjugar as pessoas

ndash Natildeo Natildeo eacute nada disso A Vontade de Poder a qual me refiro natildeo tem nenhuma relaccedilatildeo com algo que queira o poder ou deseje dominar Se interpretamos a Vontade de Poder no sentido de Desejo de Dominar fazemo-la forccedilosamente depender de valores estabelecidos os uacutenicos capazes de determinar quem deve ser reconhecido como o mais poderoso neste ou naquele caso neste ou naquele conflito Desse modo ficamos sem conhecer a natureza da vontade de poder como princiacutepio plaacutestico de todas as nossas avaliaccedilotildees como princiacutepio escondido para a criaccedilatildeo de novos valores natildeo reconhecidos A Vontade de Poder diz Nietzsche natildeo consiste em cobiccedilar sequer em tomar mas em criar e em doar39

38 Wolfang Muumlller-Lauter in A Doutrina da Vontade de Poder em Nietzsche p55

39 Gilles Deleuze in Nietzsche p22

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ndash Criar e Doar Sabe que esse troccedilo lembra mesmo o NuTE Algueacutem jaacute se perguntou afinal qual era a do NuTE o que eles realmente queriam Se a gente parar pra pensar os espetaacuteculos natildeo eram comerciais nunca se ganhou dinheiro nem fama ou qualquer coisa desse tipo Mas o que se ganhava entatildeo Com que moeda NuTE pagava as contas

ndash Me parece que o que estava em jogo durante os dezoito anos de atividade do NuTE era atingir niacuteveis mais altos na Vontade de Poder permitir que esses niacuteveis aumentassem o proacuteprio poder Eis o que o NuTE fezfaz por noacutes Artaud chegou bem perto de formular isso com clareza quando disse que natildeo eacute a arte que imita a vida mas a vida que imita algo essencial que a arte nos potildee em contato

ndash Natildeo sei se estou entendendo bem me parece que vocecirc estaacute querendo contrapor a vontade de poder agrave consciecircncia humana da finitude eacute isso

ndash De certa forma sim trata-se de uma questatildeo de vida ou morte Um gato natildeo precisa de arte para aumentar sua vontade de poder ele eleva ao maacuteximo grau de potencia sua vida em quase todos os instantes tambeacutem uma aacutervore uma flor ou um jacareacute assim o fazem mas para noacutes a Arte eacute algo vital nos mantecircm vivos sem sua resposta leve todos estariacuteamos bem mais proacuteximos do suiciacutedio dada a ausecircncia de sentido o sofrimento inerente agrave vida e o peso das grandes respostas

ndash Mas entatildeo natildeo seria mais acertado dizer que se trata de uma Vontade de Vida Por que

usar um termo que gera tanta confusatildeo como Vontade de Poder

ndash Porque eacute a forma mais precisa que temos para falar sobre isso Nenhum morto pode desejar mais vida pois dele a vida jaacute se esvaziou assim como aquele que estaacute vivo natildeo tem como querer mais vida jaacute que a vida estaacute nele e ele jaacute estaacute na vida Trata-se de querer ir aleacutem do que se eacute aumentar seu poder Quem participou de um JOTE-Titac sabe bem o que eacute isso

ndash JOTE-Titacndash Sim ou vocecirc acha que as pessoas passam

trecircs dias sem dormir porque querem ganhar um trofeuzinho O que estaacute em jogo realmente eacute uma absurda vontade de criar e de doar de compartilhar um espetaacuteculo Num JOTE-Titac a Vontade de Poder atravessa um escritor que tem seus escritos encenados um diretor cuja concepccedilatildeo estaacute em cena um ator que quer ir aleacutem de si mesmo que se faz cena que se doa ao puacuteblico num corpo-obra de arte

ndash Agora entendi vocecirc estaacute falando eacute daquela adrenalina que toma conta da gente durante o JOTE-Titac

ndash Natildeo Estou falando de um princiacutepio que move o mundo e que em uacuteltima instacircncia move tambeacutem a espeacutecie humana

ndash Taacute taacute taacute soacute natildeo vai comeccedilar a generalizar tudo de novo

ndash Por que vocecirc acha que estou generalizandondash Oras se a Vontade de Poder forccedila todos a

serem o que satildeo e a resposta que discutimos haacute pouco eacute necessariamente dada por todos onde fica o NuTE nisso tudo

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ndash NuTE Para Todos e para Ningueacutemndash Eu me refiro agrave pergunta do Alexandre se

tudo eacute Para Todos onde estaacute a singularidade-NuTE

ndash Pensar a singularidade de um corpo eacute pensar como a vontade de poder se manifesta nele pois eacute assim que ele responde agrave finitude Ou dizendo de outra forma pensar o processo de diferenciaccedilatildeo de um corpo eacute pensar como ele responde agrave finitude porque eacute assim que se manifesta nele A Vontade de Poder

ndash Beleza entatildeo vamos laacute ndash todos se levantam sacodem a poeira tomam rumo da porta de saiacuteda

ndash Ei seus vagabundos onde eacute que vatildeo sem pagar a conta ndash grita o garccedilom passando a matildeo num cassetete que ateacute entatildeo repousava sob o balcatildeo

ndash Putz algueacutem tem granandash Quanto eacute que deundash Taacute aqui a conta ndash o garccedilom joga a nota

sobre a mesa ndash Caramba Tudo issondash Mas isso eacute um roubo a gente natildeo bebeu

tanto assimndash Todo mundo senta aiacute e podem ir juntando

os trocados senatildeo vou chamar a poliacutecia Tatildeo pensando que eacute vir aqui encher a cara e sair de fininho eacute Beberam a noite toda e agora querem sair sem pagar

ndash Natildeo eacute isso mas eacute que tocirc achando que nove vontades e quatro respostas eacute muito dinheiro Ningueacutem aqui bebeu pra tanto

ndash Beberam sim Ana liga pra poliacutecia ndash o

garccedilom levanta o porrete em tom de ameaccedila Giba retira um canivete do bolso e o chama para briga O pessoal do ldquodeixa dissordquo age rapidamente conseguindo segurar ambos

ndash Calma aiacute meu povo se todo mundo colaborar com um pouquinho a gente consegue pagar e ir embora sem confusatildeo

A trupe passa alguns minutos a esgravatar profundamente carteiras bolsos meias Aos poucos as moedas comeccedilam a tilintar sobre a mesa

V1 ndash Vontade Musical ndash Assistimos no Segundo Ensaio agraves suas principais manifestaccedilotildees em Wilfried e Venera Para aleacutem das personas esta vontade se espalha em todo o grupo Em entrevista Dennis Raduumlnz define o NuTE como uma Banda de Rock

Acho que noacutes eacuteramos uma banda de rock na verdade soacute que noacutes natildeo tocaacutevamos faziacuteamos teatro Noacutes tiacutenhamos essa mesma energia O Faleiro recordo bem as palavras dele (ele recordou isso comigo no ano passado) dizia assim ldquoo que mais me impressionava em vocecircs era a vontade de fazer teatrordquo (paacutegina 12)

V2 ndash Vontade de Saber ndash Uma vontade de saber sobre teatro de conhecer mais de ir aleacutem daquilo que aprendeu mais que isso de ultrapassar o conhecimento da comunidade dos seus pares de todos a sua volta De criar alianccedilas com Mestres distantes estrangeiros de beber em fontes desconhecidas Esta vontade perpassa todos os Ensaios deste espetaacuteculo-

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SEXTO

ENSAIO

livro Suas principais manifestaccedilotildees percorrem um longo caminho vatildeo desde os encontros iniciais que inauguram o espaccedilo NuTE passando pelos cursos de Faleiro Simioni Editora πpa Escola NUTe Internute Mesmo no JOTE-Titac e nas montagens percebe-se uma vibraccedilatildeo intensa pelo conhecimento

V3 ndash Vontade de Ensinar ndash Tal qual a taccedila de Zaratustra pronta para transbordar para derramar esta terceira vontade parte em busca de matildeos que se estendam a ela Assistimos agraves suas principais manifestaccedilotildees no Segundo Ensaio cursos de miacutemica de Wilfried ndash ainda na Sulfabril ndash e os primeiros cursos de teatro dentro do NuTE Tambeacutem assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Quarto Ensaio onde um Nuacutecleo de Teatro Experimental se transforma em Nuacutecleo de Teatro Escola e a Vontade de Ensinar cresce a tal ponto de quase sufocar a Vontade Experimental Tambeacutem eacute possiacutevel perceber suas ressonacircncias em algumas produccedilotildees escritas como exemplo a coluna que Alexandre Venera manteve por anos no Jornal de Santa Catarina e as publicaccedilotildees da Editora πpa

R1 ndash Resposta hoje tem Teatro ndash Assistimos ao desenvolvimento desta resposta no Segundo Ensaio onde Alexandre Venera como coordenador de eventos do Teatro Carlos Gomes responde agrave ausecircncia de teatro dentro do Teatro Este projeto resposta seraacute o estopim para inveccedilatildeo dois anos mais tarde do Trecircs

Terccedilas tem Teatro Ambos os projetos preparam terreno para criaccedilatildeo do JOTE-titac

V4 ndash Vontade de Encenar ndash Assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Terceiro Ensaio atraveacutes do absurdo nuacutemero de espetaacuteculos montados ndash Cento e Oitenta e Quatro - tambeacutem assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Quinto Ensaio atraveacutes do experimento JOTE-Titac Eacute interessante notar como a Vontade de Saber e a Vontade de Encenar por vezes aparecem juntas ndash a didaacutetica utilizada pela Escola NUTe por exemplo onde o aluno aprendia fazendo montando espetaacuteculos bem como vaacuterias montagens do proacuteprio NuTE onde o tempo dedicado agrave pesquisa era superior ao tempo dedicado agrave circulaccedilatildeo agraves apresentaccedilotildees do espetaacuteculo finalizado Vale aqui lembrar mais uma vez a maacutexima de Alexandre Venera segundo a qual o momento mais interessante de um espetaacuteculo eacute sua criaccedilatildeo seus ensaios

R2 ndash Resposta jOTE-Titac ndash Possiacutevel resposta ao formato que o Festival Internacional de Teatro Universitaacuterio de Blumenau acabou tomando Em artigo publicado no livro Jogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau Alexandre Venera escreve

No princiacutepio de 1986 Dalton Gonccedilalves Daniel Curtipassi Joseacute Ronaldo Faleiro e eu organizaacutevamos o festival de teatro que veio a tornar-se o importante ldquoFestival Universitaacuterio de Teatro de Blumenaurdquo promoccedilatildeo respectiva agraves personalidades acima da RBS TV Departamento de Cultura da Prefeitura

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SEXTO

ENSAIO

Municipal de Blumenau FURB e Teatro Carlos GomesNuTE Incumbido da criaccedilatildeo do regulamento desse festival apresentei na eacutepoca uma opccedilatildeo de regras que meses depois veio a ser o embriatildeo para os JOTE-Titac

V5 ndash Vontade de Artista ndash Perpassa todos os Ensaios aqui apresentados Vontade de respirar arte de se artistar de inventar-se artista de sobreviver artisticamente Em entrevista Peacutepe Sedrez diz que

Eu lembro que Marcos e eu tiacutenhamos nessa eacutepoca o conflito de ter de servir o exeacutercito e a gente tava morrendo de medo Largamos nossos empregos Eu trabalhava na Ceval que hoje eacute Bunge e tinha laacute uma dita carreira promissora Larguei pra fazer o espetaacuteculo () Eu queria fazer soacute teatro e tomar conta da famiacutelia essas coisas todas Eu tinha soacute 18 anos e era uma loucura naquela eacutepoca largar Sei laacute eu sou de famiacutelia pobre e o meu salaacuterio era importantiacutessimo era entregue na matildeo da matildee ainda ela tirava quase tudo e dava uma graninha pra gente sair no fim de semana ou pagar os estudos tambeacutem e eu larguei tudo pra fazer teatro inclusive a escola Inclusive as aulas porque Noacutes ensaiaacutevamos somente agrave noite natildeo precisava talvez ter largado o emprego mas eu sabia que isso ia funcionar em seguida Eu queria achava necessaacuterio chegar no ensaio jaacute com alguma coisa trabalhada (paacutegina 8)

V6 ndash Vontade Libertaacuteria ndash uma vontade anaacuterquica de liberaccedilatildeo de si e do mundo de ausecircncia de lei Deus governo Atravessa todo o espetaacuteculo-livro em especial o Segundo o Quarto e o Sexto Ensaios Em entrevista Alexandre Venera diz que

() qualquer forma de lei eacute forma de criar limites ou patamares ou entatildeo apoios No momento em que a pessoa taacute se apoiando ou criando apoios ela taacute segura ela taacute tranquila quer dizer nessa proteccedilatildeo existe uma espeacutecie de lei em que ela taacute sendo dominada (paacutegina 6)

V7 ndash Vontade de Coletivos ndash De estar com outros de produzir junto de criar coletivamente de compor um espetaacuteculo com muacutesicos artistas plaacutesticos escultores poetas e ateacute mesmo com natildeo artistas Quando do convite agrave montagem de Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes Alexandre Venera espalha cartazes pelo Teatro Carlos Gomes onde se lecirc Somos muito poucos para Dividir A sonoplastia do Teatro da Terra era feita por uma banda com guitarras eleacutetricas bateria baixo em meio agrave floresta Em Senhoras e Senhores haacute uma performance do bailarino Edson Farias Em vaacuterios espetaacuteculos do NuTE o cenaacuterio era composto em parceria com o artista plaacutestico Tadeu Bitencourt Cio das Feras e Apocalypsis utilizam poesia catarinense No artigo que Alexandre Venera publica junto ao livro Jogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau encontramos uma interessante lista onde se nomina alguns membros destes coletivos

nas artes plaacutesticas Ceacutesar Otaciacutelio Fernando Alex Crista Sitocircnio Francis Bento Simone Tanaka Sola Ries Janete Dallabona Terezinha Heimann Tadeu Bitencourt no ballet Edson Farias Grupo de Danccedila e Sapateado do Proacute-Danccedila de Blumenau os arquitetos Leo Campos Etson e Jaime Jung os muacutesicos do Tranca Rua do Baurimbe Nana

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SEXTO

ENSAIO

Hector Lagos Giovana Voigt os publicitaacuterios Claus Jensen Paulo Porche Dicesar Leandro a equipe da Graacutefica da Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau Giba Santos e em especial o Sr Bernardo Tomelin os poetas escritores dramaturgos criacuteticos jornalistas editores Tacircnia Rodrigues Tchello drsquoBarros Marcelo Steil Marcelo Ricardo drsquoAlmeida Douglas Zunino Sandra Heck Gervaacutesio Tessaleno Luz Vilson Nascimento Joel Gehlen Eliane Lisboa aleacutem dos autores incluiacutedos nesta antologia Raquel Furtado Carlos Peixer Vinci Bernadete da Silva Alceu Custoacutedio Horaacutecio Braun Jr Sidnei Mafra o pessoal do teatro (como juacuteri) Carlos Crescecircncio Carlos Jardim Silvio Joseacute da Luz Lorival Andrade Aacutelvaro Andrade Luiz Sampaio Gabriela Diaz Roberto Mallet Pita Beli Cida Milezzi Denise da Luz e o pessoal natildeo juacuteri Mauro Ribas Neto Paulo Camargo Sandra Cardoso aos teacutecnicos Luacutecio Vieira Nei Leite Luacutecia Siqueira Ivan Felicidade Jussara Barbosa os atores e diretores (dentre o grande pessoal participante muitos dos premiados) Margareth DrsquoNiss Sandra Knoll Silvana Costa Jussara Balsan Carla Mello Leo Almeida Giseli Marciacutelio Bia Brehmer Juliana Vendrami Rita Machado Francinete Bitencourt Patriacutecia Schwartz Anice Tufaille Raquel Wollert Pollyanna da Silva Sidneacuteia Kopp Regina Simas Andrea dos Santos Iraci Krambeck Paula S Igreja Alan Imianowsky James Pierre Beck Joatildeo da Mata Kalinho Santos Joseacute Aparecido Faacutebio Shaefer Roberto Morauer Pedro Dias Luis Alberto Rafael de Almeida Oto Muumlller Alexandre Diogo Junkes Nelson de Souza Marcus Suchara

Um nuacutecleo de teatro em torno do qual gravitavam artistas natildeo artistas e outros seres

V8 ndash Vontade do Novo ndash Ligada agraves respostas Hoje Tem Teatro JOTE-Titac Editora πpa e agrave grande maioria dos espetaacuteculos encenados pelo NuTE destaque para as montagens do Grupo

da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques V9 ndash Vontade de Guerra ndash Uma vontade de

jogar disputar guerrear vencer de ir aleacutem de si mesmo Assistimos agraves suas manifestaccedilotildees em especial no Quarto e no Quinto Ensaio

O tilintar das moedas sobre a mesa abre um portal por onde o Ator Guerrilheiro rompe as grades do Quarto Ensaio Surge sorrindo empostando sua metralhadora achando graccedila na cena NuTES pagando as contas Numa gargalhada infernal liga a metralhadora e dispara sobre o grupo rajadas e mais rajadas de balas O evento dura uns cinco minutos aproximadamente Quando se encerra encontramos Peacutepe descascando uma de morango Alexandre que prefere as de carambolas junta um punhado sobre a mesa e mesmo o garccedilom mastiga uma de hortelatilde O grupo muito irritado organiza-se para perseguir o Ator Guerrilheiro que a essa altura corria pelado rua XV de Novembro abaixo Muitos dos presentes consideram o Ator Guerrilheiro o verdadeiro culpado pelo fim do NuTE e assim debatem a melhor forma de punir seu crime Alexandre interveacutem a favor do Ator Guerrilheiro O diretor argumenta que o ator natildeo pode ser responsabilizado individualmente por uma cena Se o NuTE terminou eacute porque o espetaacuteculo como um todo movimentou-se nesse sentido natildeo poderia ter acontecido de outra forma O ator natildeo tem culpa porque sua accedilatildeo eacute anterior agrave invenccedilatildeo desta O ator apenas desempenha o seu papel da mesma

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SEXTO

ENSAIO

forma como vocecirc neste exato momento estaacute desempenhando o seu E assim trazendo a inocecircncia de volta ao espetaacuteculo o Ensaio pode continuar

R3 ndash Resposta agrave Mediocridade ndash Impulso agrave diferenciaccedilatildeo desejo de ir aleacutem das convenccedilotildees sociais dos modelos existenciais preacute-determinados de se produzir estranho agraves normas estabelecidas Interessante perceber o quanto essa resposta estaacute ligada agrave Vontade de Coletivos e agrave Vontade do Novo Em entrevista Nira diz o seguinte

() eu morava numa cidade muito pequena e conservadora pra um adolescente como eu era Entatildeo num primeiro momento assistir o Apocalypsis me deixou muito feliz E num segundo momento me deixou depressivo porque eu vi que aquela vidinha que eu tava levando naquela cidadezinha natildeo era uma vida que eu gostaria de levar Entatildeo de 1989 pra 1993 quando eu entrei no NuTE satildeo quatro anos durou muito tempo Entatildeo nesses quatro anos a vontade de fazer alguma coisa foi crescendo soacute que eu natildeo tinha vazatildeo natildeo tinha como eu fazer nada Entatildeo um ano antes de eu entrar no NuTE eu tive uma depressatildeo muito grande muito forte que quase Enfim Mas saiacute Quando eu entro pro NuTE com 20 anos neacute era uma vida inteira de Assim querendo me expressar sem poder e que eu comeccedilo naquele momento ali Entatildeo num primeiro momento tudo o que eu fazia era muito pouco Eu queria ter Eu queria fazer teatro 24 horas por dia Mas claro natildeo daacute Aiacute no segundo ano em 1994 quando jaacute natildeo era mais soacute aluno do NuTE jaacute era um fazedor de teatro tambeacutem aiacute sim aiacute eu comeccedilo a entrar de cabeccedila mesmo e inclusive durante algum tempo eu e o Contra Senha a gente praticamente morava na casa do Ceacutesar Rossi neacute Ele e o Maicon moravam sozinhos numa casa na Itoupava Central e laacute era

o local de ensaio era uma casa cheia de quadros as paredes todas pintadas cheia de instalaccedilotildees era uma loucura Aquilo que eu sonhei a vida toda eu vivi naquele momento Foi uma experiecircncia incriacutevel (paacutegina 8)

V10 ndash Vontade Experimental ndash No Terceiro Ensaio assistimos a uma cronologia com todos os espetaacuteculos experimentais e didaacuteticos Esta dicotomia um tanto arriscada pareceu-nos oportuna para evidenciar ambas as forccedilas Ou seja seu embate demonstra o quanto a Escola NUTe serviu como trampolim agrave experimentaccedilatildeo Ou seja as aulas e os espetaacuteculos didaacuteticos eram necessaacuterios para a sobrevivecircncia dos professores mas o que realmente lhes interessava o platocirc onde vibravam suas existecircncias estava conectado ao vetor oposto Em entrevista Alexandre Venera diz

Aiacute eram vaacuterios alunos turmas o pessoal tendo que organizar aula ensinar pro cara que entrou a primeira vez que subiu no palco o quecirc que ele faz onde potildee a matildeo () E ao mesmo tempo o cara que tava ensinando isso querendo fazer a sua arte tambeacutem Entatildeo ele tinha que dar aula pra ganhar dinheiro mas ele tinha que fazer o seu teatro tambeacutem Aiacute tinha que ter o grupo iniciante dos alunos pra alimentar o sonho dos Porque ningueacutem entrou ali no NuTE pra ser professor O professor era uma forma de ganhar um troco e poder viver do teatro com uma certa garantia (paacutegina 18)

R4 ndash Resposta agrave Geraccedilatildeo Anterior ndash NuTE natildeo eacute um descendente direto da Equipe Teatral Vira Lata do Grupo Fecircnix do Ribalta do teatro feito nos clubes de caccedila e tiro ou Lira

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SEXTO

ENSAIO

Circulo Italiano do teatro blumenauense que lhe precede em uma geraccedilatildeo Suas principais alianccedilas passam por teorias de um teatro estrangeiro Grotowski Barba Bob Wilson Artaud Gordon Craig Schechner Brecht Heiner Muumlller Meyerhold pelo Grupo Lume de Campinas e por uma espeacutecie de orientaccedilatildeo dada por Joseacute Ronaldo Faleiro Contudo mesmo natildeo sendo filho ele se serviu muito bem da morte do pai A existecircncia NuTE eacute atravessada por um criacutetica feroz ao formato teatral adotado pela geraccedilatildeo anterior Tentamos aqui neste espetaacuteculo-livro problematizar essa tensatildeo atraveacutes da estrutura Work in Progress Contudo eacute possiacutevel em especial no Segundo e Quarto Ensaios compreender um pouco melhor as motivaccedilotildees desta resposta

R5 ndash Resposta ao Puacuteblico ndash Aqui um

primeiro niacutevel apontaria na direccedilatildeo de uma resposta agrave ausecircncia de puacuteblico ao Teatro Contemporacircneo NuTE estaria respondendo com formaccedilatildeo de puacuteblico agrave algo que estaria em devir Contudo ao menos eacute o que nos parece trata-se acima de tudo de uma resposta agrave ausecircncia de um povo Pessoas que consigam experimentar um determinado tipo de vida Amigos a quem presentear com o mais belo dos presentes Um povo generoso com o qual se possa compartilhar o que vem sendo produzido pois assim o poder aumenta pois assim o poder cresce ndash Poder = Criar + Doar Dizendo ainda de outra forma se aquele que ganha um presente natildeo percebe o que acabou de receber o melhor

a se fazer eacute trabalhar para inventar algueacutem que perceba Utilizar o teatro para inventar um povo que ainda nos falta40 Assistimos agraves suas principais manifestaccedilotildees no Segundo Quarto e Sexto Ensaios

O garccedilom de cara amarrada conta o dinheiro sobre a mesa Repete a operaccedilatildeo trecircs vezes ateacute se convencer Resmunga algo inaudiacutevel vai ao balcatildeo expotildee a situaccedilatildeo para Ana por fim retorna agrave mesa Contrariado como algueacutem que procura fugir de seu proacuteprio julgamento ele nos diz

ndash Sobrou uma reposta e uma vontade vatildeo querer o troco

ndash Trocondash Natildeo Claro que natildeondash Traz em cerveja

40 Livre adaptaccedilatildeo do famoso trecho de Criacutetica e Cliacutenica ldquoA sauacutede como literatura como escrita consiste em inventar um povo que falta Compete a funccedilatildeo fabuladora in-ventar um povo Natildeo se escreve com as proacuteprias lembranccedilas a menos que delas se faccedila a origem ou a des-tinaccedilatildeo coletivas de um povo por vir ain-da enterrado em suas traiccedilotildees e renegaccedilotildeesrdquo

A memoacuteria preservada

A confecccedilatildeo deste belo material artiacutestico composto por trecircs livros e um DVD eacute o produto mais expressivo do projeto ldquoNuTE para todosrdquo uma iniciativa do pesquisador Eacutedio Ra-niere em resgatar a memoacuteria do NuTE ndash Nuacutecleo de Teatro Ex-perimental cuja atuaccedilatildeo proporcionou relevantes conquistas para cultura catarinense como a formaccedilatildeo de mais de 2 mil alunos criaccedilatildeo de escolas grupos teatrais e cursos perma-nentes de teatro em vaacuterias cidades produccedilatildeo de espetaacuteculos teatrais e implantaccedilatildeo de uma biblioteca de teatro composta por um acervo de textos teatrais livros cadernos e apostilas sobre teatro

Em 18 anos de atividades encerradas em 2002 o NuTE concretizou tambeacutem outros dois projetos elogiaacuteveis a funda-ccedilatildeo em Blumenau da primeira escola de ldquolivrerdquo de teatro em Santa Catarina possibilitando o acesso de qualquer pessoa interessada estudar e praticar a arte teatral e a criaccedilatildeo do Jote-Titac ndash os Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas evento que ajudou a popularizar uma das mais antigas manifestaccedilotildees artiacutesticas

Em face da valiosa contribuiccedilatildeo do NuTE agrave cultura de Santa Catarina a BAESA (Energeacutetica Barra Grande SA) sentiu-se motivada a apoiar o projeto ldquoNuTE para todosrdquo e constata que sua participaccedilatildeo foi decisiva para a elaboraccedilatildeo deste acervo O livro ldquoNuTE Cartografia de um teatrordquo o DVD ldquoExperimentando NuTErdquo e as publicaccedilotildees ldquoEditora Pipardquo e ldquoLi-vreto Espetacularrdquo cumprem plenamente o objetivo de resga-tar em texto impresso em imagens e em formato digital a bela trajetoacuteria do NuTE

Grande satisfaccedilatildeo eacute poder apoiar projetos como o NuTE Para Todos e de certa forma fazer parte da his-toacuteria tatildeo bonita desse nuacutecleo de teatro que por 18 anos se doou para compartilhar sua arte com o puacuteblico

Atraveacutes da Lei Rouanet a ENERCAN ndash Campos No-vos Energia SA tem a possibilidade de apoiar projetos culturais importantes como esse que traz ao puacuteblico uma leitura sobre a maravilhosa experiecircncia de se fazer teatro contando as expectativas os medos os proces-sos criativos e o trabalho para apresentar da melhor forma essa arte aos espectadores fazendo o leitor sen-tir no livro as emoccedilotildees dessa arte

Fundamental para compreender a realidade a cul-tura em suas mais variadas vertentes eacute tida como uma das prioridades dentro da Poliacutetica de Responsabi-lidade Social da ENERCAN E com grande prestiacutegio e apoio eacute possiacutevel proporcionar agrave populaccedilatildeo acesso natildeo soacute ao teatro mas a espetaacuteculos de muacutesica literatura cinema e a tudo mais que a palavra cultura engloba

O livro ldquoNuTE Cartografia de um teatrordquo junto com o Box onde estaacute presente outras trecircs produccedilotildees que aliam o analoacutegico (livro) ao digital (DVD e internet) eacute um presente para a populaccedilatildeo catarinense saber um pouco mais da histoacuteria do teatro no Estado e a forte presenccedila dessa arte em Santa Catarina

A ENERCAN parabeniza o projeto NuTE Para To-dos e se mostra orgulhosa de poder apoiar iniciativas como essa que buscam intensificar a cultura dentro do Estado tornando a histoacuteria cada vez mais presente na sociedade

Carlos Alberto Bezerra de MirandaDiretor Superintendente

Para a BAESA apoiar o projeto ldquoNuTE para todosrdquo eacute mais uma demonstraccedilatildeo do quanto a empresa aprecia e valoriza a cultura em suas mais variadas expressotildees A publicaccedilatildeo deste material eacute portanto motivo de orgulho e satisfaccedilatildeo natildeo apenas por ter acreditado na proposta de seu idealizador o pesquisador Eacutedio Raniere mas sobre-tudo por saber que a histoacuteria e o legado do NuTE estatildeo agora definitivamente preservados

Carlos Alberto Bezerra de Miranda Edson Schiavotelo Diretor Superintendente Diretor de Sustentabilidade e de Relaccedilotildees com Investidores e de Relaccedilotildees Institucionais

BAESA - ENERGEacuteTICA BARRA GRANDE SA

Este livro eacute parte integrante da caixaNuTE Cartografia de um Teatro

Para saber mais sobre o NuTE e sobre a pesquisa ldquoNuTE Cartografia de um Teatrordquo acesse o blog do

projeto wwwnuteparatodoswordpresscom e o acervo virtual wwwnutecombr

Page 5: Édio Raniere - WordPress.com · 2011. 10. 12. · Posfácios de um Teatro ..... 381. 14 15 de diferentes tecnologias usadas ... futuros leitores/internautas... Mas quando navegava

Natildeo haacute ldquoespiacuteritordquo nem razatildeo nem pensar nem consciecircncia nem alma nem vontade nem verdade tudo isso eacute ficccedilatildeo inuacutetil () Nenhuma ldquosubstacircnciardquo antes algo que anseia em si por fortificaccedilatildeo e que apenas indiretamente quer-se ldquomanterrdquo (ele quer ultrapassar-se)

Friedrich Nietzsche

Iacutendice

Epiacutegrafe lsquoVontade dersquo 07Epiacutegrafe lsquoPoderrsquo 09

Prefaacutecio a uma Psicologia 13Prefaacutecio a uma Filosofia 19 Prefaacutecio a um Teatro 25

Proacutelogo 33

PRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015 39

Um pouco de menos senatildeo natildeo vai mais 41 Memoacuteria 43Organizaccedilatildeo Deliacuterio e Tempo 45Em busca de uma relaccedilatildeo viva com o leitor 51Um lugar onde se respira o antes do Proacutelogo 54Adaptaccedilatildeo de Trabalho Sujo 64Trabalho Sujo e Virtual 64Retorno ao Primeiro Ensaio 70

SEGuNDO ENSAIO ndash 18 DE ABRIL DE 2015 77

Composiccedilatildeo de Mundos 83

13

Prefaacutecio a uma Psicologia

Cleci Maraschin

Entro em uma sala escura Aos poucos vou distinguindo cadeiras e outros objetos o que me permite ziguezaguear entre eles sem maiores problemas Em um canto mal iluminado encontro algueacutem segurando um punhado de paacuteginas impressas Eu me aproximo

ndash Olaacute estou procurando Alexandre Venera dos Santos

ndash Sou eu mas quem eacute vocecircndash Sou a Cleci professora do Eacutedio Ele me

enviou um e-mailndash Natildeo estou entendendondash Ele estaacute finalizando um livro sobre o

Nuacutecleo de Teatro Experimentalndash Endash Ele me convida para apresentar o livrondash Endash Preciso conversar com o diretorndash Mas se leste o livro sabes que natildeo sou

mais o diretor(faccedilo de conta que natildeo ouccedilo e continuo) ndash Quando aceitei o convite pensei que

poderia fazer comentaacuterios sobre um texto Algo que estou um tanto habituada no trabalho acadecircmico Talvez pudesse falar de sua aposta conceitual da pesquisa documental realizada das vaacuterias entrevistas da utilizaccedilatildeo

TERCEIRO ENSAIO ndash 26 DE ABRIL DE 2015 113

Exuberante Cronologia Espetacular do Teatro Experimental e do Teatro Escola Nuteanescos117

QuARTO ENSAIO ndash 04 DE MAIO DE 2015 203

Composiccedilatildeo de Mundos 209

QuINTO ENSAIO ndash 08 DE MAIO DE 2015 259

Aperitivo Cecircnico 277Composiccedilatildeo de Mundos | 14ordm Jote-Titac 283Apresentaccedilatildeo dos Espetaacuteculos | 14ordm Jote-Titac 336

SExTO ENSAIO - 08 DE juLhO DE 2015 347

Posfaacutecios de um Teatro 381

14 15

de diferentes tecnologias usadas tanto para organizar e tornar acessiacutevel o material como tambeacutem para interagir com participantes e futuros leitoresinternautas Mas quando navegava pelo texto pelas imagens pelo blog pelos viacutedeos pelo acervo fui sendo tomada pelo modo-teatro pela experiecircncia-NuTE

ndash Eacute o teatro costuma fazer dessas coisasndash Algo difiacutecil para quem escreve eacute manter o

processo no produto Geralmente os produtos os textos costumam perder a vitalidade da experiecircncia Costumam se constituir em calhamaccedilos teoacutericos repetitivos seguidos ou natildeo por descriccedilotildees que tentam representar uma realidade jaacute dada Tudo se passa como se o pesquisador-escritor pudesse produzir um relato ndash o mais neutro e o mais proacuteximo possiacutevel de uma realidade que jaacute aconteceu Mas o Eacutedio entrou em ressonacircncia com o modo NuTE de produccedilatildeo Como diz o bioacutelogo Francisco Varela um modo de conhecer enaltado encarnado

ndash Laacute vem vocecirc com filosofia tambeacutemndash Cogniccedilatildeo O legal que esse bioacutelogo

cognitivista chileno e seu professor Humberto Maturana falam que nossa fonte para qualquer explicaccedilatildeo eacute a experiecircncia Aquilo que chamamos de explicaccedilatildeo eacute uma retomada da experiecircncia passiacutevel de ser compartilhada

Uma experiecircncia que se dobra sobre si mesma e que eacute capaz de continuar produzindo efeitos de si e de mundo Existem vaacuterias dobras nessa produccedilatildeo do trabalho do Eacutedio com o NuTE

O modo-escrita que retoma o modo-teatro a reediccedilatildeo dos Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas JOTE-Titac a interaccedilatildeo no blog

ndash A questatildeo eacute a accedilatildeondash Esse chileno Francisco Varela diz que

nossa educaccedilatildeo estaacute mais ligada ao know-what ou seja o saber o quecirc Um saber falar saber mais declarativo focando os conteuacutedos mais do que os processos Em contraponto coloca o know-how o saber-fazer saber operar o enaltar

ndash Mas os acadecircmicos gostam de saber-falar

ndash Concordo Sabes o que mais admirei no modo como diriges tal como o Eacutedio nos conta Eacute que natildeo te deixas capturar e sabes como fazer-produzir como ldquofazer-saberrdquo como diz um colega carioca o Eduardo Passos O que natildeo eacute nada faacutecil manter a paixatildeo sem boicotar os processos sem boicotar a criaccedilatildeo a vida Esse eacute um desafio crucial a quem se coloca na funccedilatildeo de ensinante Propiciar ferramentas para a produccedilatildeo e natildeo para a repeticcedilatildeo Poder acompanhar processos que escapam das matildeos de quem ensina pois satildeo sempre autoproduccedilatildeo e produccedilatildeo de mundos Entatildeo aprendemos com nossos alunos um ensinante eacute tambeacutem um aprendente Talvez seja essa uma das paixotildees dos ensinantes continuar sempre aprendendo

ndash E desaprendendondash Isso Como eacute paradoxal a capacidade de

aprender natildeo Somente estamos abertos agrave

16 17

aprendizagem agrave medida que desaprendemos modos anteriores de viver de pensar O mesmo acontece em relaccedilatildeo agrave memoacuteria como nos diz Eacutedio ldquoeacute preciso esquecer para

conseguir tomar focirclego e continuar vivendordquo (atual p 22) Talvez esse seja um efeito sutil de combate contra o ressentimento que pode advir das pequenas trageacutedias pessoais que vivemos cotidianamente Esquecer desaprender para seguir aprendendo seguir produzindo e autoproduzindo-se

ndash Tal como os ensaios em 2015ndash Outra aprendizagem do modo-

teatro Continuar a trageacutedia sem drama ou ressentimento No combate Adorei essa brincadeira com o tempo Um modo de contar a histoacuteria sem saudosismo ldquoNaquele tempo isso naquele tempo aquilordquo Atualizar a histoacuteria fazendo-a e ainda por fazer Esse jogo faz com que aqueles como eu que ldquopegam o bonde andandordquo natildeo se sintam um ldquopeixe fora drsquoaacuteguardquo (isso eacute uma homenagem agrave Tainha) Estamos sempre pegando o bonde andando pois como vocecircs nos contam estamos sempre no meio Natildeo somos o comeccedilo o princiacutepio de nada Tudo o que estatildeo inventando nos convoca ldquoVamos laacute leitoresinternautas ainda eacute tempo NuTE de outro modo do modo como possamos fazerrdquo

ndash Essa eacute a ideia do work in progressndash Eu tenho usado verbos no geruacutendio

para nomear meus trabalhos de pesquisa Justamente para dar essa ideia de ldquose produzindordquo tal como o work in progress Embora essa aposta seja uma posiccedilatildeo difiacutecil de

manter em tempos onde tudo eacute transformado em mercadoria para consumo onde se valoriza o substantivo e natildeo tanto o verbo Mas estamos tentando aprender a produzir sem sucumbir aos ditames do produtivismo Como vocecircs como o Eacutedio fazendo verbos dos substantivos

ndash Cleci vocecirc estaacute falando que adorou isso aquilohellip Tem alguma criacutetica

ndash Talvez em alguns momentos a vontade de falar ainda prevaleccedila sobre a experiecircncia Mas como vocecirc mesmo diz esse eacute um mal dos acadecircmicos Eu tambeacutem jaacute falei muito Por isso pensei em conversar contigo para saber como tomo parte nesta experiecircncia

ndash Acho que vocecirc jaacute estaacute nela(nesse momento recebo uma chamada no

celular)ndash Oi Clecindash Oi Eacutediondash Tudo bemndash Tudo Estou conversando com o Alexandre

para compor a apresentaccedilatildeondash Joia Ele te falou do coletivo OpiopticA

wwwopiopticablogspotcom e de projetos como o EletriXidade

(talvez o Eacutedio tenha feito essa referecircncia porque conhece meu trabalho sobre tecnologias e cogniccedilatildeo)

ndash Acho que natildeo dei muita chance a elendash Alexandre o Eacutedio estaacute me falando do

EletriXcidadendash Era justamente nisso que eu estava

18 19

Prefaacutecio a uma filosofia

Celso Kraemer

Escrever aacute uma arte A arte natildeo pertence agrave escrita Eacute a escrita que pertence agrave arte O termo maior que abriga inuacutemeras outras formas de desvelamento eacute a arte Esta deve ser tomada em sua noccedilatildeo mais ampla Por isso talvez menos niacutetida Menos evidente Mas eacute por intermeacutedio dela a arte que algo adveacutem ao ser Vir ao ser Tornar-se algo aiacute Poder ser percebido como real por aqueles que jaacute estatildeo aiacute Que jaacute satildeo entes reais Se nada mais viesse ao ser do irreal para o real nosso mundo restaria na mais pura repeticcedilatildeo mecacircnica do mesmo o eternamente nada mais aleacutem do jaacute determinado do jaacute aiacute ruiacutena do encanto perdiccedilatildeo no nada mais ser

Fazer algo vir ao ser eacute algo ambiacuteguo Muito ambiacuteguo Mais ambiacuteguo do que noacutes gostamos de pensar Por um lado fazer algo vir ao ser eacute o labor do homem pelo pensamento e pelas matildeos Eacute o homem nesse sentido que eacute a condiccedilatildeo possibilitadora para que algo (novo) venha ao ser Haacute certa tranquilidade para aceitarmos que eacute a criatividade humana que faz algo vir ao ser Criamos coisas Criar coisas natildeo eacute o mesmo que fazer algo vir ao ser

Se fazer algo vir ao ser se explicasse pela simples criaccedilatildeo do homem entatildeo natildeo seria um vir ao ser Seria um puro criar Um estranho acontecimento em que do nada viria algo Do

trabalhando no momento que chegastesndash Podes me contar um pouco mais Eu me

interesso por esses causosndash Vamos tomar um cafeacutendash Pode ser em 2012 AlexandreSaiacutemos para um cafeacute

Cleci Maraschin eacute professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Trabalha como docente e orientadora em dois programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo da mesma universidade Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psi-cologia Social e Institucional e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Informaacutetica da Educaccedilatildeo Pesquisadora CNPq Temas de pesquisa Tecno-logias e Cogniccedilatildeo

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vazio do homem que natildeo explicita de onde ele mesmo proveio viria algo Impossibilidade teoacuterica para qualquer forma de raciociacutenio Do nada nada se cria

Entatildeo o criar natildeo eacute um simples criar Criar eacute fazer vir ao ser E nisto se mostra a ambiguidade do acontecimento artiacutestico A criaccedilatildeo pela arte eacute um provir de Esse de eacute mais do que o nada Temos entatildeo a duplamente ou triplamente enigmaacutetica questatildeo donde proveacutem isso que nos adveacutem por intermeacutedio da arte Por outro lado isto que adveacutem modifica-se em seu ser no momento que nos adveacutem ou permanece semelhante ao que jaacute era antes de advir Aleacutem disso o Originaacuterio donde adveacutem o algo atraveacutes da arte modifica-se em seu ser no momento em que algo sai dele para advir

Pensemos o artista natildeo como O Sujeito Supremo de onde a arte proveacutem Pensecircmo-lo antes como parte do processo originaacuterio de onde a arte proveacutem Como bem disse Martin Heidegger pensando acerca da Origem da Obra de Arte o que faz o artista eacute a obra Natildeo haacute artista se natildeo houver obra O Artista adveacutem artista conjuntamente com a obra A Obra portanto natildeo eacute simplesmente uma criaccedilatildeo do artista nem eacute a obra produtora de si mesma

Muito antes a obra eacute produtora do artista Eacute a obra que faz o artista Igualmente natildeo haacute obra sem artista Assim eacute o proacuteprio artista que se faz obra e a obra que se faz artista

Isso natildeo resolve a triplamente enigmaacutetica questatildeo Ao contraacuterio apenas nos expotildee a algo que seria o verdadeiro originaacuterio donde proveacutem

a obra e o artista que conjuntamente nos adveacutem Creio que nada nos impede de pensar esse verdadeiramente originaacuterio donde proveacutem simultaneamente artista e obra da mesma forma que pensamos a relaccedilatildeo originaacuteria da obra que adveacutem do artista e do artista que adveacutem da obra a arte ao advir traz ao ser a obra e o artista Quer dizer entatildeo que obra e artista adveacutem de algo mais originaacuterio que ambos Mas devemos considerar mais profundamente o isso que adveacutem ao advir modifica a si mesmo tornando-se algo ineacutedito mas modifica tambeacutem aquilo de onde o originaacuterio do qual adveacutem Nessa dinacircmica criadora o todo se renova torna-se continuadamente outro em relaccedilatildeo a si mesmo Portando no todo natildeo haacute novo nem velho Tudo estaacute sujeito indefinidamente ao vir-a-ser um devir criativo ao modo criador da arte

Creio que agora desvelou-se natildeo a arte como tal mas uma de suas caracteriacutesticas fundamentais A arte eacute uma dinacircmica criadora do proacuteprio ser

Dito de modo ainda mais preciso o ser eacute dinacircmico em sua natureza artiacutestica Este natildeo eacute um raciociacutenio belo com objetivo de apenas embelezar o modo de pensar Ao contraacuterio esse movimento feito no interior do proacuteprio pensamento eacute um mergulho na natureza proacutepria do raciocinar

O raciociacutenio visto dessa forma natildeo eacute um exerciacutecio formal amparado unicamente na loacutegica No raciocinar natildeose formaliza uma verdade jaacute pronta e ainda natildeo visiacutevel agrave mente

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Mais profundamente o raciociacutenio eacute uma forma tambeacutem de arte Pelo raciociacutenio algo mais originaacuterio que o proacuteprio raciociacutenio adveacutem ao ser O pensamento natildeo eacute o criador absoluto a partir do nada Ele eacute aquilo atraveacutes do qual algo mais originaacuterio adveacutem ao mundo tornando-se ser

Podemos agora conceber o que significa dizer que a escrita eacute uma forma de arte No gesto no movimento no exerciacutecio de escrever semelhante ao exerciacutecio de pintar de raciocinar de cantar de construir de encenar produzir teatro algo adveacutem ao ser A escrita semelhante ao raciociacutenio natildeo mostra algo jaacute constituiacutedo uma verdade jaacute acabada A verdadeira escrita aquela que natildeo se resume agrave transcriccedilatildeo de textos jaacute prontos eacute criadora O que ela cria O Ser Tambeacutem na escrita algo de originaacuterio vem ao ser se faz aiacute com o homem-mundo

Podemos visualizar por essa pequena fresta que as linhas acima abriram ao nosso entendimento a iacutentima relaccedilatildeo que o trabalho do Eacutedio tem com a Filosofia e com o Teatro de que ele quer tratar com seu livro

O teatro uma forma de arte produz ser O ser do teatro natildeo se esgota na representaccedilatildeo Mais fundamentalmente que isso o teatro desvela a verdade do homem um ente por intermeacutedio do qual o ser adveacutem ao mundo O teatro eacute nesse sentido uma das formas mais belas da arte Talvez nele a arte se manifeste em sua forma mais iacutentima ele cria o ainda natildeo aiacute A apresentaccedilatildeo teatral eacute um faz de conta verdadeiro em que a verdadeira representaccedilatildeo

nunca eacute A Verdade por isso jamais o teatro eacute falso pois ele natildeo pretende desmentir outras representaccedilotildees Cada peccedila cada cena cada grupo ou companhia de teatro pretende-se ser mais um em meio agrave multiplicidades de apresentaccedilotildees possiacuteveis Em si mesma cada uma delas eacute criadora no ainda natildeo aiacute Cada uma delas deixando algo vir ao ser O teatro natildeo eacute mentira por natildeo pretender a verdade mas satisfazer-se em deixar o ser vir ao real por intermeacutedio do labor da alma humana

Assim o modo de o Eacutedio manejar a escrita aproxima-se delicadamente do trabalho do proacuteprio real que ele se encarrega de recolher e apresentar Mas o Eacutedio sabe desde o princiacutepio que a histoacuteria do teatro enquanto efetividade do acontecimento jaacute veio ao ser Jaacute estaacute inscrito no real Sabe tambeacutem que a Histoacuteria que ele agora escreve natildeo se resume a contar o que aconteceu A Historiografia enquanto um gesto de escrita eacute semelhante ao teatro um gesto criador Criar e Doar Atraveacutes da escrita continuadamente algo vem ao ser

O livro que se segue eacute uma obra de arte que reuacutene uma histoacuteria mas natildeo passivamente O livro enquanto criaccedilatildeo deixa ver algo da intimidade da alma do homem Nas linhas pelas quais o texto se mostra algo muito mais iacutentimo e profundo do que o proacuteprio texto se mostra ao leitor a verdade criadora da arte seja da representaccedilatildeo seja da escrita seja do cultivo da amizade seja de uma roda de amigos com uma cerveja um vinho O livro ainda nietzscheana ou deleuzeanamente mostra

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o devir criativo que nos faz ser sem nunca mostrar-se totalmente sem nunca ocultar-se totalmente mas num jogo de criar a si mesmo na beleza criadora do homem Neste livro o teatro se faz histoacuteria e a histoacuteria se faz teatro num gesto reciacuteproco de criar e doar

Celso Kraemer eacute professor de filosofia junto ao Departamen-to de Ciecircncias Sociais e Filosofia do Centro de Ciecircncias Hu-manas e da Comunicaccedilatildeo e no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado em Educaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Universidade Regional de Blumenau (FURB)

Prefaacutecio a um Teatro

Joseacute Faleiro

Quando em outubro de 1986 cheguei a Blumenau quis inteirar-me da atividade teatral existente na cidade Vi entatildeo espetaacuteculos de Alexandre Venera dos Santos e de Wilfried Krambeck Fui logo atraiacutedo pelo trabalho consciencioso responsaacutevel cuidadoso e iacutentegro que apresentavam A anomia serena nada panfletaacuteria nada verbosa nada militante de Alexandre mas radical vivida logo provocou simpatia em mim Com seu espiacuterito metoacutedico Wilfried organizava uma estrutura que ldquodialogavardquo mdash como se diz hoje mdash com a praacutetica artiacutestica do primeiro para a qual este contava com as dependecircncias suntuosas do Teatro Carlos Gomes (TCG) ldquogrande castelo isolado bem no centro daquela cidaderdquo dotado de um palco giratoacuterio (ldquouma grande roda horizontalrdquo) e de ldquouma forte luz proveniente de todos os ladosrdquo Isso tambeacutem era fascinante em contraposiccedilatildeo agraves instalaccedilotildees que na eacutepoca a FURB possuiacutea para o seu curso de teatro a amplitude do TCG permitia respirar e sonhar com altos voos Todas as dependecircncias do ldquopalaacuteciordquo pareciam estar agrave disposiccedilatildeo daquele pequeno grupo de jovens interessados em explorar cada recanto (corredores camarins salas biblioteca bar palco) do preacutedio e em captar cada significado daquela atividade que se propunham a experimentar a exercer

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Por esses encontros e pelos que tivemos na Comissatildeo Organizadora do 1ordm Festival Universitaacuterio de Teatro de Blumenau (que coordenei com a colaboraccedilatildeo valiosa e imprescindiacutevel de tantos amadores da arte dramaacutetica) do final de 1986 a julho de 1987 Alexandre e eu tivemos a oportunidade de conversar muito sobre teatro e sobre a sua relaccedilatildeo teoacuterica e praacutetica com o tema Havia nele abertura para uma reflexatildeo que levava agrave accedilatildeo que natildeo conhecia hiato entre conceber e realizar Seu meacutetier seu ofiacutecio fluiacutea Suas inquietaccedilotildees natildeo se prendiam a um modismo Nunca tive a impressatildeo de que sua forma de fazer teatro quisesse romper com o que fora feito antes ou com uma forma obsoleta de fazer teatro que devesse ser combatida Ele estava atento ao novo sem duacutevida Mas a generosidade criativa que o animava e o seu universo artiacutestico e vital eram tatildeo grandes o fluir de sua arte era tal que ele se expressava por uma necessidade fazer teatro era para ele uma ανανκη [ananke] uma necessidade algo que natildeo podia natildeo ser Se ele desestruturava a narrativa se se voltava para o fragmento para as formas breves para a (aparente) falta de unidade se aumentava o tamanho de objetos em cena ou os tornava insoacutelitos em seu uso se incluiacutea composiccedilotildees musicais supostamente em descompasso com a situaccedilatildeo se levava os atores a agir em cena de modo natildeo figurativo natildeo mimeacutetico se tinha um domiacutenio inabitual da iluminaccedilatildeo parece-me que assim fazia porque assim lhe vinha o teatro assim lhe vinha o modo de viver e de viver teatro Natildeo por incultura ingenuidade

falta de informaccedilatildeo Por absoluta necessidade O NuTe era tonificante tonificado por seu regente O que levava os atores a produzirem este ou aquele gesto ter esta ou aquela atitude em cena Quais eram as fronteiras entre fazer qualquer coisa ou fazer algo ldquoelaboradordquo ldquobem pensadordquo ldquoconscienterdquo Sacudido o espectador poderia perguntar a outros e a si mesmo ldquoIsso eacute vaacutelidordquo ldquoNatildeo eacute vaacutelidordquo ldquoEacute teatrordquo ldquoNatildeo eacute teatrordquo ldquoQual a diferenccedila entre isso e qualquer coisardquo ldquoNa acircnsia de experimentar tudo eacute possiacutevelrdquo Agraves vezes me restava a perplexidade Mas sempre apoiei aquele grupo de pessoas que se entregavam a um ofiacutecio com tanta coragem prontidatildeo vontade alegria seriamente com prazer porque amavam o teatro com entusiasmo porque queriam fazecirc-lo e o faziam sem o excesso de consideraccedilatildeo e de deferecircncia que tolhe que paralisa que entorpece a accedilatildeo Agraves vezes retraiacutedo Alexandre gostava poreacutem de mostrar seus trabalhos queria que fossem vistos e discutidos No 2ordm Festival Universitaacuterio de Teatro de Blumenau (FUTB) conseguiu apresentar um espetaacuteculo seu o que esperava ser feito desde o 1ordm Festival Os participantes do NuTE tinham vontade de respirar arte dela se nutrir e se embriagar viver imersos nela conversar sobre ela (apesar de haver muitas interrogaccedilotildees na eacutepoca de sua fundaccedilatildeo sobre o benefiacutecio que o FUTB traria para os grupos locais creio que o nuacutemero de espetaacuteculos vistos palestras e debates assistidos conversas de bares e corredores ocorridas permitem responder que o Festival foi beneacutefico para os grupos blumenauenses)

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Se por vezes iconoclasmo havia natildeo era por caacutelculo Era por querer experimentar por ter desejo veemente de encontrar suas respostas agraves suas perguntas Essas respostas natildeo se apresentavam de forma uniacutevoca abriam-se para uma polissemia que era cultivada por todo o grupo e por seu condutor O sentido se construiacutea na accedilatildeo para a equipe do NuTE e na contemplaccedilatildeo ativa para o espectador

Seraacute que a memoacuteria me faz idealizar Penso que natildeo Seja como for quando revejo internamente o trabalho teatral do NuTE sobretudo o que antecede a apresentaccedilatildeo para o puacuteblico ou o realizado no intervalo entre um espetaacuteculo e outro o que me vem agrave mente prazerosamente satildeo corredores encerados ocupaccedilatildeo dos mais diversos locais caminhadas por noites frias para chegar pela ponte pecircnsil agrave rua Amazonas ou mais tarde agrave rua Satildeo Joseacute satisfeito apoacutes horas de fecundas atividades Lembranccedilas de um questionamento constante sobre teatro recordaccedilotildees de uma vontade de ler de devorar informaccedilotildees e de assimilaacute-las na accedilatildeo por parte dos integrantes do grupo Lembranccedilas de uma convivecircncia deles entre si e com a sua arte Teatro como ldquoVersuchrdquo como tentativa ensaio ldquoUm ensaio de esforccedilos fragmentaacuteriosrdquo como diria Kierkegaard na epiacutegrafe escolhida por Gerd Bornheim para um escrito deste uacuteltimo Minhas lembranccedilas satildeo fragmentaacuterias mas alguns momentos de espetaacuteculos permanecem muito vivos dentro de mim Ao ler a lista de conteuacutedos (redigidas por

Wilfried se natildeo me falha a memoacuteria com meu acordo) do curso que ministrei sorri diante de certo caraacuteter enciclopeacutedico De fato ele tinha um aspecto teoacuterico (nos sentaacutevamos em torno de uma grande mesa confortaacutevel) mas tambeacutem praacutetico com o corpo e a voz-do-corpo circulando pelo espaccedilo Aleacutem disso faziacuteamos experimentaccedilotildees de cenas no palco do grande auditoacuterio mdash um Auto da Barca de Gil Vicente por exemplo com a utilizaccedilatildeo de cordas quilomeacutetricas interminaacuteveis que figuravam o cais do porto Havia ainda leituras de textos que eu traduzia Lembro de ter traduzido Los Olivos de Lope de Rueda de ter gostado da traduccedilatildeo e de natildeo ter ficado com nenhuma coacutepia dela (ainda natildeo tiacutenhamos computador)

O NuTE representou para mim um momento de intensa e rica convivecircncia humana e artiacutestica Momento de ensinar e de aprender de compartilhar e de receber Um mo(vi)mento tatildeo forte assim natildeo morre natildeo acaba pulsa latente fica vivo de outro modo E pode ressurgir como agora com a cartografia que Eacutedio Raniere desenha neste livro-espetaacuteculo ou espetaacuteculo-livro sobre o NuTE Ele me desnorteia estarrece perturba como acontecia com os espetaacuteculos do grupo Eacutedio encontra o tom (ou um dos modos possiacuteveis jaacute que natildeo haacute uma verdade uacutenica) para falar do NuTE Fala ldquonuteanamenterdquo do NuTE Agrave la maneira de Juacutelio Cortaacutezar de O Jogo da Amarelinha de 62 ndash Modelo para armar ou de O Livro de Manuel Raniere convida o leitor a ter a liberdade de andar pelos corredores pelas bordas do texto

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pelos seus meandros a sair e a voltar sem medo de experimentar

Tanto o NuTE quanto Eacutedio querem ldquocriar e compartilharrdquo Aqui o sentido pode ser produzido tambeacutem pelo leitor Na forma dialoacutegica ou assumindo a primeira pessoa remetendo agrave internet ou trazendo o seu conhecimento aprofundado de vaacuterios pensadores citados com pertinecircncia e sem alarde pesquisador corajoso e consistente Eacutedio Raniere escolheu um tema com muitas ramificaccedilotildees e soube trataacute-las com pertinecircncia num exerciacutecio de estilo de valor literaacuterio e cientiacutefico Ele cria uma obra dinacircmica seacuteria e divertida documentada Jogando com a ficccedilatildeo e a realidade ele des-pista uma histoacuteria linear e alia o texto a imagens e a sons questionando constantemente a sua proacutepria produccedilatildeo na qual o olhar do autor sobre os fatos promove uma construccedilatildeo do sentido que natildeo eacute totalizante que natildeo quer ser a uacutenica possiacutevel e que como as gotas de uma cachoeira tecem uma unidade consistente ainda que sempre em movimento O texto impresso ao se espalhar pelos labirintos do ldquowwwrdquo potildee em contato com documentos valiosos que assim estatildeo salvos da perda e do esquecimento e permitiratildeo estudo e fruiccedilatildeo do tema por outras pessoas

Nos hospitais a linha reta dos aparelhos que medem a atividade cardiacuteaca indica a cessaccedilatildeo da vida a sua oscilaccedilatildeo ao contraacuterio eacute esperanccedila de vida Pujante luacutedica com a oscilaccedilatildeo caracteriacutestica da vitalidade NuTE Cartografia de um teatro de Eacutedio Raniere daacute esperanccedilas

de que a obra do Nuacutecleo Experimental de Teatro de Blumenau que teve mais de dezoito anos de atuaccedilatildeo profiacutecua continue a insuflar vida em todos aqueles que amam o teatro e querem partilhaacute-lo com seriedade e prazer

joseacute Ronaldo Faleiro eacute professor do Programa de Poacutes-Gradu-accedilatildeo em Teatro (Mestrado e Doutorado) mdash UDESC Doutor em Artes do Espetaacuteculo pela Universidade de Paris VIIINanterre Professor-pesquisador no DACPPGTUDESC

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Proacutelogo

Ao iniciar esta cartografia sobre meu heroacutei acho-me tomado de certa perplexidade Ei-la embora chame NuTE de meu heroacutei eu mesmo poreacutem sei todavia que ele nada tem de grande e por isso prevejo perguntas inevitaacuteveis como essas em que seu NuTE eacute digno de nota por que o escolheu como seu heroacutei O que lhe deu esse destaque A quem chega sua fama e por quecirc Por que eu leitor devo perder tempo estudando episoacutedios de sua vida

A uacuteltima pergunta eacute a mais fatiacutedica pois soacute posso responder Talvez o senhor mesmo note isso a partir da leitura Mas e se lerem e natildeo notarem natildeo concordarem com a notoriedade de meu NuTE Digo isso porque o prevejo com pesar Para mim ele eacute digno de nota mas duvido terminantemente que consiga demonstraacute-lo ao leitor O caso eacute que talvez ateacute se trate de um revolucionaacuterio mas um revolucionaacuterio indeciso indefinido Pensando bem seria estranho exigir clareza das pessoas numa eacutepoca como a nossa Uma coisa eacute de crer fica bastante evidente trata-se de um estranho de um excecircntrico ateacute No entanto a estranheza e a excentricidade mais prejudicam que permitem chamar a atenccedilatildeo sobretudo quando todo mundo procura unir particularidades e encontrar ao menos algum sentido comum na balbuacuterdia geral Quanto ao excecircntrico o mais das vezes eacute uma particularidade um caso isolado Natildeo eacute

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Mas se os senhores natildeo concordarem com essa uacuteltima tese e responderem ldquonatildeo eacute assimrdquo ou ldquonatildeo eacute sempre assimrdquo eacute possiacutevel que eu ateacute crie acircnimo em relaccedilatildeo agrave importacircncia de meu heroacutei NuTE Porque natildeo soacute o excecircntrico ldquonem semprerdquo eacute uma particularidade e um caso isolado como ao contraacuterio vez por outra acontece de ser justo ele talvez que traz em si a medula do todo enquanto os demais viventes de sua eacutepoca ndash todos movidos por algum vento estranho ndash dele estatildeo temporariamente afastados sabe-se laacute por qual razatildeo

De resto eu natildeo me meteria nessas explicaccedilotildees confusas e desinteressantes e comeccedilaria pura e simplesmente sem mais preacircmbulos Se gostarem acabaratildeo mesmo lendo o mal poreacutem eacute que cartografia eu tenho uma mas narrativas duas Ambas se cruzam e se complementam Arriscaria ateacute que uma natildeo acontece sem a outra A primeira narrativa aconteceraacute em 2015 ano em que meu heroacutei retornaraacute ao teatro A outra vem acontecendo in progress desde 2009 pela web Prescindir de uma das narrativas eacute impossiacutevel porque muita coisa sobre meu heroacutei ficaria incompreensiacutevel Mas dessa maneira minha dificuldade inicial se agrava ainda mais Se eu mesmo isto eacute o proacuteprio cartoacutegrafo acho que uma soacute narrativa jaacute eacute talvez um excesso para um heroacutei tatildeo modesto e indefinido entatildeo como eacute que vou aparecer com duas e como explicar tamanha presunccedilatildeo de minha parte

Atrapalhado com a soluccedilatildeo de semelhantes questotildees decido-me por deixaacute-

las sem qualquer soluccedilatildeo Eacute claro que o leitor perspicaz jaacute percebeu haacute muito tempo que desde o iniacutecio eu vinha dando esse rumo agrave coisa e apenas se afligia comigo perguntando-se por que eu gastava agrave toa palavras esteacutereis e o precioso tempo Jaacute tenho uma resposta pontual gastava palavras esteacutereis e precioso tempo em primeiro lugar por admiraccedilatildeo agrave D e em segundo por astuacutecia Vamos seja como for eu preveni de antematildeo Alias ateacute me agrada que minha cartografia tenha se dividido em duas narrativas fragmentando a ldquounidade essencial do todordquo Ao tomar conhecimento de uma delas o leitor-internauta se decidiraacute valeraacute a pena passar agrave outra Eacute claro que ningueacutem estaacute tolhido por nada pode largar o livro na segunda paacutegina pode sair do blog sem nada ndash fotos viacutedeos entrevistas ndash experimentar Acontece poreacutem que haacute leitores delicados que forccedilosamente desejaratildeo ir ateacute o fim para natildeo se enganar em sua apreciaccedilatildeo imparcial assim satildeo alguns leitores que conheccedilo Pois eacute Perante esses que fico com o coraccedilatildeo mais leve apesar de tudo a despeito de todo seu esmero e sua honestidade dou-lhes todavia o mais legiacutetimo pretexto para largar o relato jaacute no primeiro episoacutedio que encontrarem virtual ou impresso

Bem eis todo o proacutelogo Concordo plenamente que isso eacute excessivo mas como jaacute encontrei escrito que fique

E agora matildeos agrave obra

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cena do espetaacuteculo rsquoaacuteguas de cima para baixorsquo da esquerda para direita

pedro dias carlos crescecircncio

Foto

Ace

rvo

Nu

TE

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PRIMEIRO

ENSAIOPRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015

Quarta-feira Intempestiva() aproximadamente 15h30min

Imagem Insistente Replay

-Absurdo Isso aqui eacute absolutamente ndash fumando Alexandre Venera balanccedilava a cabeccedila em tom negativo O texto em sua matildeo esquerda sofria o dorso da outra indo e vindo aos petelecos o restante do grupo assistia um tanto impressionado um tanto entediado ao desenvolvimento do conflito dramaacutetico jaacute que segundo Lehmann esse recurso vem sendo progressivamente elidido do teatro contemporacircneo1

ndash Vocecirc natildeo gostoundash Cara vocecirc eacute muito teimoso quantas vezes

jaacute te falei que natildeo existe esse troccedilo de Seu NuTE

ndash Eacute soacute um recurso dramaacutetico Venera Que me ajudou a cartografar a histoacuteria2 Daacute mais vida brinca com o problema da identidade eacute um conceito que venho trabalhando desde O Jardim das Ilusotildees

ndash Taacute mas vocecirc escreve sobre um heroacutei Como se resolve isso cenicamente

ndash Natildeo sei talvez possamos contar um pouco

1 O teatro poacutes-dramaacute-tico

2 Conforme Suely Rol-nik in Cartografia Sen-timental ldquoPara os ge-oacutegrafos a cartografia () eacute um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de trans-formaccedilatildeo da paisagem Paisagens psicossociais tambeacutem satildeo cartografaacute-veis A cartografia nes-se caso acompanha e se faz ao mesmo tempo que o desmanchamen-to de certos mundos - sua perda de sentido - e a formaccedilatildeo de ou-tros mundos que se criam para expressar afetos contemporacircneos em relaccedilatildeo aos quais os universos vigentes tornaram-se obsoletos Sendo tarefa do cartoacute-grafo dar liacutengua para os afetos que pedem pas-sagem dele se espera basicamente que esteja mergulhado nas inten-sidades de seu tempo e que atento agraves lin-guagens que encontra devore as que lhe pa-recem elementos possiacute-veis para a composiccedilatildeo das cartografias que se fazem necessaacuterias O cartoacutegrafo eacute antes de tudo um antropoacutefagordquo

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PRIMEIRO

ENSAIO

da tua histoacuteria pessoal da mesma forma como eu fiz no

ndash Pois esse eacute que eacute o problema ndash cortandondash Eacute um heroacutei modesto nada de mais ndash risos

contidos e nervososndash Nem modesto nem meio modesto Natildeo

natildeo daacute Eu natildeo dirijo porra de espetaacuteculo nenhum sobre historinha familiar seja a minha a da tua tia ou da matildee do prefeito Aleacutem do que o NuTE eacute um coletivo isso aqui natildeo tem cabimento eu natildeo vou montar essa merda ndash jogando o roteiro no chatildeo e fazendo menccedilatildeo de abandonar o ensaio

ndash Tudo bem Calma Deixa eu explicar um pouco melhor ndash Venera acende outro cigarro olha para o lado Wilfried Krambeck toma a palavra

ndash Eu concordo com Alexandre acho que natildeo podemos montar um espetaacuteculo que inicia sobre um plaacutegio vamos acabar respondendo por isso

ndash Plaacutegiondash Natildeo eacute plaacutegio chama-se colagem Heiner

Muumlller utilizava o proacuteprio NuTE fez alguns experimentos trata-se de uma colagem Eacute o meacutetodo da colagem

ndash Colagem Mas que colagem vocecirc utilizou apenas um texto

ndash Sim Eacute quase uma citaccedilatildeo mas funciona com variaccedilotildees extremamente sutis apenas o leitor mais atento percebe

ndash Citaccedilatildeo que natildeo indica o nome do autor Colagem que utiliza apenas um texto Desculpe eu natildeo conhecia esse estilo

ndash Mas vocecirc estaacute me ofendendo eacute oacutebvio que eu indico o nome do autor

ndash Onde Onde estaacute escrito que esse trecho que acabamos de ler eacute a abertura de Os Irmatildeos Karamaacutezov onde estaacute escrito que o verdadeiro autor eacute Dostoieacutevski e que a traduccedilatildeo que vocecirc utilizou eacute de Paulo Bezerra Agora se for uma colagem onde estatildeo os outros textos Vocecirc utilizou apenas um texto original modificando pequenos fragmentos

ndash Bom talvez se trate entatildeo de uma acoplagem ou de uma acoplagem de fragmentos natildeo sei bem ainda

ndash Olha Eacutedio ndash Venera retoma ndash semana passada quando vocecirc esteve laacute em casa eu comentei contigo que fiquei muito contente e honrado ateacute com teu esforccedilo para escrever a histoacuteria do NuTE mas eu nunca imaginaria que vocecirc iria forccedilar a coisa desse jeito Vocecirc sabe que estou distante do teatro haacute um bom tempo que depois de tudo o que aconteceu eu natildeo podia mais voltar na verdade nunca tive a menor vontade de voltar Eu estou aqui hoje com o grupo porque vocecircs me pressionaram muito Por vontade proacutepria natildeo viria Vou te falar uma coisa soacute tem um jeito de a gente continuar com isso

Um pouco de menos senatildeo natildeo vai mais

Caro leitor vamos diminuir um pouco a velocidade Como algueacutem que sobe galopando uma montanha e agora contemplando os

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PRIMEIRO

ENSAIO

quilocircmetros percorridos se esforccedila para encontrar entre as pedras laacute embaixo uma trilha como algueacutem que danccedila freneticamente madrugada adentro e num rodopio se daacute conta de que dentro de algumas horas estaraacute dormindo iniciando sutilmente a preparaccedilatildeo como um solo de guitarra que atinge a nota mais aguda e procura por uma escala menor Descer diminuir respirar Como um gato que no susto trepa o galho mais alto da aacutervore e agora quer voltar ao chatildeo mas natildeo sabe exatamente onde pisar como algueacutem que trabalha de segunda a saacutebado obrigado a levantar bem cedo e laacute pelas tantas acorda num domingo

Satildeo tantas coisas que preciso lhes contar tantas Contar por exemplo dos espetaacuteculos produzidos pelo NuTE da escola de teatro do JOTE-Titac de como foi que chegamos ndash ou melhor que chegaremos a este primeiro ensaio em 2015 Acho que este ponto merece uma pequena explicaccedilatildeo eu prefiro utilizar musicalmente falando as ressonacircncias gramaticais do passado por haacutebito por ironia ou para lhes proteger de frequentes estranhamentos Por isso na primeira frase da cena em questatildeo aparece ldquofumando Alexandre Venera balanccedilava a cabeccedila em tom negativordquo enquanto o correto seria dizer que ldquofumando Alexandre Venera balanccedilaraacute a cabeccedila em tom negativordquo Visto que hoje eacute 21 de abril de 2010 e que estes ensaios aconteceratildeo apenas daqui a cinco anos Trata-se portanto de uma biografia do devir De um futuro proacuteximo eacute verdade mas de um futuro Dessa forma quero lhes pedir

licenccedila para utilizar um formato gramatical natildeo condizente com o periacuteodo em questatildeo o passado aqui serviraacute como mero ponto de apoio nada mais O passado como um lugar seguro de onde se pode partir e ao mesmo tempo um porto aberto sempre agrave espera

Ah Como satildeo leves as conjunccedilotildees do preteacuterito imperfeito Talvez justamente por ser imperfeito Cada vez mais me convenccedilo de que a imperfeiccedilatildeo eacute sempre mais bonita Ao mesmo tempo sei que alguns leitores podem questionar tais utilizaccedilotildees dizendo que me bastaria conjugar esta escrita no futuro do presente ldquofumando Alexandre Venera balanccedilaria a cabeccedila em tom negativordquo Formato que aleacutem de confuso natildeo faz nenhum acoplamento com memoacuteria E como se trata de Puxa Eacute verdade eu jaacute ia me esquecendo da memoacuteria

Memoacuteria

Em O Jardim das Ilusotildees3 me apoiei em alguns conceitos-memoacuteria de Bergson boa parte desse livro funciona tendo Mateacuteria e Memoacuteria como engrenagem Conservo a sensaccedilatildeo de que aquele momento na paacutegina 7 onde Bergson diz que o ceacuterebro natildeo armazena imagens nem lembranccedilas continua produzindo bons agenciamentos e por isso uacutetil tambeacutem aqui Natildeo pretendo repetir toda discussatildeo jaacute realizada em O Jardim das Ilusotildees minha intenccedilatildeo em avanccedilar sobre esse ponto em especiacutefico eacute a de permitir que vocecirc caro leitor compreenda de forma raacutepida e acessiacutevel a concepccedilatildeo de

caro leitora maioria dos

arquivos e informaccedilotildees

disponiacuteveis em links da internet

estatildeo tambeacutem diponiacuteveis no

dvd multimidia lsquoexperimentando

nutersquo anexo a este livro fique atento ao iacutecone abaixo

3 ver o livro disponiacutevel em

wwwnutecombrjardimpdf

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PRIMEIRO

ENSAIO

memoacuteria com a qual venho trabalhando e que estaraacute nos atravessando durante estas leituras-escrituras-NuTE

Quem vai nos ajudar dessa vez satildeo dois bioacutelogos chilenos Francisco Valera e Humberto Maturana Apesar de natildeo citarem Bergson chegam a conclusotildees bastante proacuteximas desta enunciada em Mateacuteria e Memoacuteria Tanto eacute que no segundo livro que escreveram juntos ndash A Aacutervore do Conhecimento as bases bioloacutegicas da compreensatildeo humana ndash a impressatildeo que passa eacute a de haver um aprofundamento da questatildeo jaacute que para Maturana e Varela natildeo apenas as imagens e as lembranccedilas estariam fora mas a proacutepria mente ldquo() natildeo eacute algo que estaacute dentro de meu cracircnio Natildeo eacute um fluido do meu ceacuterebro a consciecircncia e o mental pertencem ao domiacutenio de acoplamento social e eacute nele que ocorre a sua dinacircmicardquo4

Pois que seja mas e daiacute ndash diria o leitor mais ansioso ndash Daiacute que no caso de uma memoacuteria-NuTE a memoacuteria possiacutevel de acessar a memoacuteria que por mais esforccedilo que vocecircs e eu faccedilamos apareceraacute nestas paacuteginas estaraacute mergulhada em palavras imagens sons cheiros cores experimentaccedilotildees NuTE Natildeo se trata de explorar o problema de uma forma poeacutetica como disseram alguns criacuteticos sobre meu primeiro livro mas de perceber que essa memoacuteria que nos acostumamos a reverenciar como propriedade de um dentro objetiva linear e pronta para ser recuperada natildeo pertence a um sujeito ou ao dentro da consciecircncia de alguns sujeitos Que ela soacute funciona acoplada a 4 paacutegina 256

linguagens muacuteltiplas e muacuteltiplas satildeo suas faces Sem isso sem esse miacutenimo em uma pesquisa como essa nada se coloca em movimento

Parece bastante oacutebvio que nosso ceacuterebro natildeo armazene palavras mesmo assim fomos acostumados a imaginar uma gaveta de massa cinzenta ocircrganica em meio a neurocircnios e dendritos acomodando expressotildees frases inteiras ateacute Dessa imagem cerebral o que nos resta eacute a atuaccedilatildeo em rede da memoacuteria Mas se as palavras natildeo estatildeo guardadas em um depoacutesito cerebral como eacute possiacutevel a um ator utilizar palavras para descrever sua experiecircncia nuteana Ou dizendo de outra forma quando um ator utiliza palavras que natildeo satildeo dele para descrever seu passado nuteano o que ele descreve Quando esse ator nos conta o que lhe parece ter sido o nuacutecleo de teatro experimental afinal como ele faz isso Como eacute possiacutevel que essas mesmas palavras que natildeo estatildeo depositadas dentro do ceacuterebro do ator sejam a base de toda invenccedilatildeo de seu relato-memoacuteria

Organizaccedilatildeo Deliacuterio e Tempo

O que atravessa nosso corpo natildeo apenas o ceacuterebro mas o sangue as arteacuterias as viacutesceras a pele todo o corpo eacute sempre uma atualizaccedilatildeo do virtual O transbordamento caoacutetico dessa passagem temporal exige uma organizaccedilatildeo Para lidar com esse constante desassossego somos forccedilados natildeo haacute como escapar sem enlouquecer a inventar sentidos Contudo mesmo o limite

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ENSAIO

da desrazatildeo eacute meramente didaacutetico jaacute que muitas vezes eacute justamente atraveacutes da loucura que o sujeito estabelece algum sentido Para Bergson5 esse tempo em noacutes eacute um movente e uacutenico bloco Natildeo se pode dividi-lo natildeo se pode recortaacute-lo em fases periacuteodos identidades O tempo em noacutes eacute indivisiacutevel A lembranccedila em noacutes eacute permanente Somos tudo a todo tempo tudo o que experimentamos estaacute agora nesse instante fazendo barulho urros interminaacuteveis de incontaacuteveis lampejos sutis Cada pequena memoacuteria estaacute duelando com todas as demais e essa guerra desenfreada e incessante que acontece mesmo enquanto vocecirc realiza essa leitura estaacute a nos arrastar cada um de noacutes ao seu tempo pela vida

Para lidar com esse excesso de memoacuteria que somos a natureza em seu requinte de fazer a existecircncia suportaacutevel desenvolveu um mecanismo-verbo esquecer Se lembraacutessemos de tudo a todo tempo a vida seria impossiacutevel Ou seja a funccedilatildeo do ceacuterebro se eacute que ela estaacute realmente no ceacuterebro natildeo eacute lembrar mas esquecer Esquecer para poder existir Esquecer para poder experimentar a perpeacutetua presentificaccedilatildeo do passado Esquecer um pouco ao menos um pouco pois a indivisibilidade do tempo que nos carrega natildeo vai parar Eacute preciso esquecer para conseguir tomar focirclego e continuar vivendo ou melhor continuar esquecendo

Se fosse preciso falar de forma geral simplificando as coisas assim numa estrutura bastante provisoacuteria poderiacuteamos dividir a

5 O Pensamento e o Movente ensaios e conferecircncias

organizaccedilatildeo desses abismos em noacutes atraveacutes de dois grandes blocos de elaboraccedilatildeo

Modo Forma Modo ForccedilaAliviar Tonificar

Iludir Encarar

Distrair Entreter Provocar Fazer Experimentar

Lucro Poder-Potecircncia

Fugir da Realidade Aceitar o Traacutegico da Vida

Representar Enunciar Apresentar Inventar

Tais blocos permitem uma produccedilatildeo de sentido agrave vida Ajudam a passar o que pede passagem Permitem ao corpo natildeo desmontar auxiliam em sua organizaccedilatildeo em sua invenccedilatildeo em sua produccedilatildeo de sentido em meio agrave caoticidade jaacute inerente agrave vida e potencializada pelas atualizaccedilotildees do virtual

Dizendo de uma NuTE-forma a histoacuteria o roteiro a cronologia natildeo passam de um deliacuterio racional uma organizaccedilatildeo imposta que a consciecircncia fabrica para criar sentido e natildeo sucumbir natildeo desterritorializar em meio agraves sensaccedilotildees que transbordam no corpo-escritura no corpo-entrevista no corpo-foto O estatuto de verdade que muitos perseguem seja na descriccedilatildeo histoacuterica ou mesmo numa disciplina cientiacutefica como a medicina soacute se atinge quando uma determinada organizaccedilatildeo-deliacuterio torna-se a organizaccedilatildeo-deliacuterio de muitos Foi isso que ldquo() Robison Crusoeacute entendeu muito bem ao manter um calendaacuterio e ler a Biacuteblia todas as

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ENSAIO

tardes isso soacute eacute possiacutevel se nos comportarmos como se existissem outros jaacute que eacute a rede de interaccedilotildees linguumliacutesticas que faz de noacutes o que somos Noacutes que como cientistas dizemos todas essas coisas natildeo somos diferentesrdquo6

Ou seja se a memoacuteria natildeo habita um espaccedilo objetivo dentro do ceacuterebro de onde seria possiacutevel extraiacute-la com precisatildeo se a memoacuteria se espalha em complexos sistemas interativos sociais ligados em rede se a memoacuteria depende sempre da memoacuteria dos outros para ter legitimidade entatildeo tentar recuperar uma verdadeira memoacuteria ainda mais quando de um grupo eacute no miacutenimo um trabalho fadado ao fracasso7

Ou seja um observador por mais que se esforce para descrever uma memoacuteria tem sua descriccedilatildeo regulada pelo domiacutenio da observaccedilatildeo e jamais atinge portanto o domiacutenio das operaccedilotildees nunca conseguiraacute atingir os fatos tais como acontecem eou aconteceram Para Deleuze o virtual seria este inacessiacutevel onde entre outras coisas ocorre o domiacutenio das operaccedilotildees do ontem Sendo o virtual aquilo que natildeo nos eacute dado e o atual em contraponto aquilo que nos eacute dado podemos avanccedilar sobre nosso caso8

A histoacuteria do NuTE que se tenta narrar aqui estaacute limitada ao niacutevel de uma observaccedilatildeo-atualizaccedilatildeo possiacutevel visto que os domiacutenios de suas operaccedilotildees tais como aconteceram natildeo estatildeo acessiacuteveis ndash passado inalcanccedilaacutevel NuTE-virtual Dessa forma quatro constataccedilotildees importantes

6 A Aacutervore do Conhe-cimento p 256-257

7Em De Maacutequinas e Seres Vivos Autopoie-se ndash A Organizaccedilatildeo do Vivo Maturana e Va-rela explicam que ldquoAs noccedilotildees de aquisiccedilatildeo de representaccedilotildees do am-biente ou de aquisiccedilatildeo de informaccedilatildeo sobre o ambiente em relaccedilatildeo com a aprendizagem natildeo representam qual-quer aspecto do operar do sistema nervoso O mesmo vale para no-ccedilotildees tais como memoacute-ria e lembranccedila que satildeo descriccedilotildees feitas por um observador de fenocircmenos que tecircm lu-gar em seu domiacutenio de observaccedilatildeo e natildeo no domiacutenio de operaccedilatildeo do sistema nervoso e que portanto tecircm va-lidade somente no do-miacutenio das descriccedilotildees onde ficam definidas como componentes causais na descriccedilatildeo da histoacuteria condutu-alrdquo p132

8 Esta definiccedilatildeo de Virtual e Atual se en-contra mais detalhada em O Vocabulaacuterio de Deleuze de Zourabi-chvilli

Primeiro que o passado o virtual a memoacuteria que estou procurando eacute real

Segundo que em sua forma pura em seu em si o passado permanece virtual

Terceiro que meu corpo ainda que sutilmente pode servir de ponte entre o virtual e o atual

Quarto que posso utilizar a escritura como meio de conduzir atualizaccedilotildees desse virtual

Uma escritura que acaba sendo levada a se preocupar natildeo apenas com aquilo que aconteceu mas com aquilo que o acontecimento fezfaz movimentar nos corpos das pessoas que experimentaram o acontecimento9

Assim as observaccedilotildees-atualizaccedilotildees aqui expostas pretendem uma espeacutecie de mapa-NuTE Mapa de um passado-virtual que se atualiza atraveacutes das organizaccedilotildees-deliacuterios de um observador Com razatildeo alguns leitores devem estar ridicularizando este processo de pesquisa Ao mesmo tempo acredito que os mais rigorosos podem aceitar alguns dos limites que menciono e entre estes os mais generosos provavelmente se perguntam haveria alguma forma de melhorar isso Como natildeo depender apenas das organizaccedilotildees-deliacuterios de um uacutenico observador para descrever essa histoacuteria-NuTE A resposta parece ser bastante oacutebvia convidando outros observadores agrave escrita Mas que escrita suportaria tamanha condensaccedilatildeo

Eugenio Barba em artigo intitulado Fazer Teatro eacute Pensar de Modo Paradoxal diz que ldquo() o importante natildeo era o sentido das palavras

Raniere em O Jardim das Ilusotildees 2007

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natildeo era tornar o texto inteligiacutevel mas tornaacute-lo vivordquo10 Quem sabe entatildeo se essa escritura-NuTE fosse arrastada natildeo a uma filiaccedilatildeo mas a uma alianccedila com Eugenio Barba em seu modo de trabalhar textos roteiros peccedilas Quem sabe com autorizaccedilatildeo dos pesquisadores mais claacutessicos claro pudeacutessemos tomar os fatos histoacutericos sobre o NuTE da mesma forma que Eugenio Barba toma um texto-roteiro-peccedila Dando mais importacircncia agrave intensidade do que agrave inteligibilidade Obviamente os fatos satildeo essenciais mas seria preciso encarnar esses fatos condensadamente diferente da sua realidade Confuso Tentemos um exemplo a experiecircncia do NUTe com sua Escola de Teatro11 Temos alguns fatos apontados por recortes de jornais fotos eventos programas meacutetodo de ensino entrevistas e suas transcriccedilotildees etc Contudo como tornar viva essa experiecircncia Como proporcionar a vocecirc caro leitor uma escrita que esteja aleacutem da inteligibilidade e do sentido das palavras

Alguns deslocamentos satildeo necessaacuterios Se vamos trabalhar condensando vaacuterias escritas este autor deixa de ter autoria sobre a escrituraccedilatildeo-NuTE Visto que o que ele faz acaba se aproximando mais de uma direccedilatildeo tal qual um diretor de teatro do que propriamente de uma solitaacuteria composiccedilatildeo privada Os acontecimentos seratildeo deformados quebrados estilhaccedilados para que deles se possa extrair potecircncia para que possamos descobrir uma realidade totalmente diferente da realidade que o fato histoacuterico jaacute continha em seu virtual

10 P 14

11 caro leitor vocecirc iraacute encontrar

a abreviaccedilatildeo NuTE

sempre que o texto fizer referecircncia ao

Nuacutecleo de Teatro

Experimental

bem como

NuTe

para

Nuacutecleo de Teatro Escola

ambas as grafias eram adotadas

pelo proacuteprio grupo com os mesmos

significados

ldquo() trata-se de criar um teatro em que a interpretaccedilatildeo do texto eacute atingida por uma condensaccedilatildeo extraordinaacuteria incorporada pelo ator cujas reaccedilotildees fazem com que os espectadores descubram uma realidade totalmente diferente da realidade que as palavras jaacute continham quando estavam no papel Eacute por isso que para mim as palavras satildeo essenciais Eacute a poesia do texto que devemos procurar Mas poesia significa condensaccedilatildeo Eacute preciso encarnar esse texto condensadamente () a finalidade uacuteltima de todo esse trabalho de teacutecnica de visatildeo eacute construir uma relaccedilatildeo viva com o espectadorrdquo12

Em busca de uma relaccedilatildeo viva com o leitor

Um livro natildeo comeccedila com uma paacutegina em branco mas sim com seus devires Seres larvares pululam Frases larvares paraacutegrafos inteiros cores-sons-cheiros conceitos e desejos Essas larvas do vir a ser esse download do ontem ndash jaacute que nessa pesquisa haacute uma intenccedilatildeo de descrever aquilo que aparentemente mora no passado ndash essa atualizaccedilatildeo de um virtual me parecem tatildeo importantes quanto o livro-resultado-final Muito mais difiacuteceis contudo de frear de conter neste papel-tela De registrar de possibilitar que vocecirc caro leitor-ator experimente

Sei que preciso delas sei que sem elas dificilmente atingiremos essa relaccedilatildeo proposta por Barba Ao mesmo tempo tenho tido a impressatildeo de que essas Larvas Palavras jamais obedeceratildeo ao meu comando de parar Talvez sejam nocircmades em um passeio infinito natildeo sei ao certo ainda Sim Elas passaram pelo corpo

12Fazer Teatro eacute Pensar de Modo Para-doxal Eugenio Barba p 15

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do NuTE mas agora andam desgovernadas por aiacute

Dessa forma talvez nossa uacutenica chance enquanto leitorautor seja aliar-nos com elas Se elas natildeo me obedecem mesmo sendo eu quem dirige esta escrita ou justamente por tentar dirigi-la quem sabe possamos larvar-nos e agenciar essa escritura-leitura a uma espeacutecie de Experimentaccedilatildeo de um Devir NuTE

Tento explicar um pouco melhor Durante a produccedilatildeo deste livro fui expondo em nuteparatodoswordpresscom seus preparativos Cada rascunho cada conceito cada novo pensamento que me pedia passagem teve ali um territoacuterio livre para circular encontrar amigos criacuteticas sugestotildees para se esculpir para se abandonar para se refazer Agrave medida que o Acontecimento NuTE foi se pronunciando muitas das experimentaccedilotildees se deram In Progress em desenvolvimento antes desta ediccedilatildeocostura desta formataccedilatildeo que vocecirc caro leitor tem em matildeos

Ou seja minha tentativa agora ndash Progress in Livro in Progress ndash eacute permitir que um movimento larvar da pesquisa enuncie agrave sua leitura aquilo que o registro-freio tende a paralisar

Contudo encontrei apenas uma forma de fazer isso Convidando vocecirc prezado leitor a participar melhor dizendo a continuar este Work in Progress Por favor natildeo se assuste Talvez num primeiro momento vocecirc esteja pensando que o papel de um leitor seja ler apenas ler e que isso de ser empurrado para atuar junto aos demais atores de uma pesquisa

Work in Progress natildeo estava em seu roteiro quando se interessou por este livro De certa forma vocecirc estaacute correto mas se eu puder contar com sua generosidade peccedilo que tenha calma e siga a leitura como lhe parecer mais agradaacutevel Nas proacuteximas paacuteginas vocecirc seraacute chamado a participar de uma conversa numa comunidade do Orkut fica a seu criteacuterio fazecirc-lo ou natildeo Durante todo o livro vocecirc seraacute convidado a acessar ao blog acima citado bem como a biblioteca Nutrindo13 Nesses espaccedilos vocecirc iraacute encontrar muitas das larvas que aqui tomaram forma de frases paraacutegrafos inteiros Todas as entrevistas realizadas durante a pesquisa estatildeo transcritas na iacutentegra para seu livre acesso Quando vocecirc se deparar num dos Ensaios com um recorte como um trecho de entrevista por exemplo natildeo permita que nossa interpretaccedilatildeo reduza seu entendimento sobre o que foi o NuTE baixe a entrevista no blog e veja por si mesmo do que se trata O mesmo procedimento serve aos documentos aqui fracionados todos sem exceccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis para sua consulta nessa biblioteca que criamos especialmente para hospedaacute-los Nos Segundo e Quarto Ensaios vocecirc seraacute convidado a jogar junto com os demais atores o Baralho NuTE Aproveite divirta-se Monte seu proacuteprio espetaacuteculo No Terceiro Ensaio vocecirc vai encontrar o Livreto Espetacular onde ex-nutes compartilham suas experiecircncias a respeito das principais montagens neste mesmo Ensaio junto agrave cronologia dos 185 espetaacuteculos encenados vocecirc vai encontrar endereccedilos

12 a biblioteca lsquonutrindorsquo conta atualmente com mais de trecircs mil

documentos e pode ser acessada em

wwwnutecombr

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links para assistir a apresentaccedilotildees ensaios e oficinas No Quinto Ensaio virei pessoalmente lhe convidar inclusive jaacute comprei seu ingresso gostaria muitiacutessimo de sua companhia para assistir ao JOTE-Titac Experimentando NuTE Por fim para o Sexto Ensaio seratildeo necessaacuterias algumas cervejas Recomendo que desde jaacute o prezado leitor as mantenha resfriando em seu freezer

Passo agora a lhes contar como foi que chegamos ao nosso primeiro ensaio como foi que chegamos ao comeccedilo

Um lugar onde se respira o antes do Proacutelogo

Naquela tarde eu tive certeza logo ao desligar o telefone que O Jardim das Ilusotildees seria publicado Gervaacutesio Luz emocionado com o livro transmitia a mim seu parecer positivo como conselheiro da editora Cultura em Movimento Saiacute para sorrir ao sol Natildeo sei bem se um daqueles raios amarelados em minha testa ou mesmo o recente falecimento de Carlos Jardim ndash turbilhatildeo de imagens teatrais ndash natildeo sei bem Mas foi assim que esta obsessatildeo comeccedilou

Fui arrebatado por uma cena-imagem um livro que ao utilizar a estrutura teatral para descrever a trajetoacuteria de um grupo de teatro seria tomado pelo proacuteprio grupo descrito como roteiro de seu proacuteximo espetaacuteculo Espetaacuteculo sobre si dobra-cartograacutefica Deleuze me sussurrava Fazer da Vida Uma Obra de Arte

fazer da vida uma obra de arteAssim que tive em matildeos o primeiro exemplar

de O Jardim das Ilusotildees corri agrave Equipe Vira Lata com essa proposta Para minha frustraccedilatildeo baldes de aacutegua fria Natildeo obtive o entusiasmo que esperava Juntos realizamos o lanccedilamento e um ano depois a publicaccedilatildeo de Por Uma Escrita Vira Lata ndash desdobramento de minha pesquisa onde reuacuteno a grande maioria dos textos escritos por Roberto Vergel pseudocircnimo que Carlos Jardim utilizava para escrever

Mas a imagem insistia Parecia grudada em minha respiraccedilatildeo Ao assistir um espetaacuteculo sempre ela retornava ao dar um curso sobre Michel Foucault ao ler Dostoieacutevski Aos poucos fui me convencendo de que poderia escrever esse espetaacuteculo-dobra Alguns conceitos me faltavam e essencialmente um novo grupo de teatro Comecei a me questionar sobre quem valeria a pena pesquisar que grupo me interessaria Essa pergunta permaneceu por um bom tempo

Isso Natildeo eacute Um Cococirc14 foi uma intervenccedilatildeo urbana de muitos Entre eles estavam Juliana Teodoro e Alexandre Venera Em meio agraves accedilotildees de terrorismo poeacutetico nos tornamos amigos Laacute pelas tantas (eu estava um pouco embriagado eacute verdade) foi no Farol Lanches em Blumenau resolvi contar a Alexandre o quanto o Teatro da Terra uacuteltima fase do NuTE havia sido importante para mim O quanto aquelas cenas em meio agrave Floresta-Fazendarado continuavam presentes no que eu vinha ajudando a fazer de mim

14 A accedilatildeo como um todo levou semanas Desde a construccedilatildeo dos objetos passando pelo lanccedilamento dos objetos no rio Itajaiacute-Accedilu as filmagens a ediccedilatildeo e suas proje-ccedilotildees Nesse endereccedilo vocecirc pode assistir ao viacutedeo que resultou das accedilotildeeswwwyoutubecomwatchv=kknHIVUO-NE

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Num estalo compreendi que o grupo que eu vinha procurando haacute algum tempo era o NuTE Descrevi para Alexandre meu argumento de pesquisa e ele que tambeacutem havia bebido um pouco disse que era uma ideia genial

() o Alexandre era um grande incentivador assim Com tudo entrando em ebuliccedilatildeo Ele fazia a gente fazer Um tremendo animador cultural no melhor sentido da palavra o Alexandre vibrava com essas coisas os olhos dele brilhavam ldquoVai laacute vamos fazer tem que agitar tem uma ideia legal fazrdquo e Entatildeo empolgava muito a gente a produzir e produzir cada vez mais (entrevista com Peacutepe Sedrez paacutegina 2)

Um estranho brilho nos olhos dele me fez acreditar que a ideia era realmente boa Ao mesmo tempo me disse que natildeo gostaria de se comprometer com a direccedilatildeo do espetaacuteculo da forma como eu estava propondo porque natildeo tinha mais interesse em teatro mas que ficaria honrado com essa cartografia sobre o NuTE

Na mesma semana procurei Aline e Charles velhos amigos e parceiros em projetos culturais Havia um edital aberto para pesquisa e publicaccedilatildeo pela Petrobras Eles gostaram da ideia e comeccedilamos a trabalhar na redaccedilatildeo do projeto Uma das exigecircncias desse edital era obter um Pronac junto ao Ministeacuterio da Cultura via Lei Rouanet Uma vez pronto encaminhamos o projeto e ansiosos aguardamos Depois de alguns meses veio a resposta reprovado Natildeo conseguimos aprovaccedilatildeo pela Petrobras Mais

alguns meses se passaram e como a tramitaccedilatildeo no Ministeacuterio da Cultura independe da empresa patrocinadora acabamos recebendo um Pronac Ou seja o projeto foi aceito via Lei Rouanet caberia agora ao grupo conseguir captaccedilatildeo Captaccedilatildeo que contaacutevamos fazer atraveacutes do edital da Petrobras

Todo mundo que trabalha com cultura tem pelo menos trecircs amigos que aprovaram projetos via lei Rouanet e que nunca conseguiram captar O repasse feito via imposto de renda somente pode ser dado por grandes empresas as quais geralmente estatildeo interessadas em atividades culturais de cunho comercial Desanimados engavetamos o projeto e cada qual em seu canto foi cuidar da vida Comecei a trabalhar para o governo do estado do Paranaacute e me mudei para Curitiba

Quando o prazo de captaccedilatildeo estava prestes a terminar seu Luiz meu sogro telefona dizendo que Gabriela sobrinha dele comentava de uma empresa da aacuterea de construccedilatildeo de hidreleacutetricas a qual estava no momento com uma obra no oeste de Santa Catarina esta empresa vinha avaliando projetos justamente para financiamento via Lei Rounet Sem esperanccedila alguma resolvi encaminhar o projeto e eis que por um grande acaso do destino somos contemplados

Com o patrociacutenio do grupo Baesa-Enercan tudo parecia estar resolvido Bastaria realizar a pesquisa e atraveacutes dela compor procurar pela escrita NuTE Contudo minhas atividades na Secretaria de Estado da Crianccedila e da Juventude

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me exigiam por completo A escrita foi ficando para amanhatilde Havia firmado compromisso comigo mesmo de escrever em minhas feacuterias as quais estavam programadas pra julho de 2009

Em Curitiba todo saacutebado agrave tarde num bar da esquina de casa ndash bairro Aacutegua Verde ndash tocavam bandas de Blues Era um lugar agradaacutevel para ler Nietzsche Num desses saacutebados a banda terminou mais cedo Por volta das 18 horas paguei as cervejas coloquei O Anticristo na mochila e tomei o rumo de casa Foi nesse crepuacutesculo que aconteceu Eu caminhava distraidamente pelas calccediladas da rua Amazonas quando fui consumido por um segundo arrebatamento e se eu pudesse assistir ao espetaacuteculo que conta a trajetoacuteria do NuTE antes mesmo de escrever o livro E se eu pudesse transformar parte desse espetaacuteculo no livro que iraacute servir de roteiro para o proacuteprio espetaacuteculo

Sozinho vibrando com a ideia eu ria num frenesi desvairado Gritava ldquoEacute isso Eacute isso Isso mesmordquo E voltava a gargalhar como se estivesse possuiacutedo por algum democircnio Os curitibocas transeuntes que vinham em minha direccedilatildeo se afastavam Alguns me apontavam assustados Uma senhora jaacute velhinha que passeava com seu pequeno cachorro poodle tocou-me gentilmente no braccedilo perguntando se eu estava bem Tentei lhe explicar o que estava visualizando mas ela natildeo conseguia entender o que era um JOTE-Titac

Marquei uma reuniatildeo com Charles Aline

e Venera e da mesma forma como havia feito com a bondosa senhora curitibana expliquei o que havia visto Eles compreenderam e gostaram da proposta Juntos chegamos ao conceito de JOTE-Titac Experimentando NuTE Funcionaria como todo JOTE-Titac com a diferenccedila de que os textos encaminhados teriam que tratar de um uacutenico tema o NuTE Natildeo necessariamente contar a histoacuteria do NuTE Mas de alguma forma dar passagem a ela ou a um devir NuTE permitir ressonacircncias com o NuTE estar de alguma forma afetado por ele15

Escolhemos uma data para o evento Aline e Charles cuidaram da divulgaccedilatildeo Venera e eu nos dedicamos agrave organizaccedilatildeo dos grupos Professora Noemy Kellerman Gregory Haertel e Tacircnia Rodrigues selecionaram os textos Doutor Ronaldo Faleiro Peacutepe Sedrez e Noemy Kellerman julgaram os espetaacuteculos Foi um grande sucesso Sem duacutevida eu faria tudo novamente Mas minhas feacuterias haviam terminado Voltei para Curitiba voltei a trabalhar voltei a tentar escrever em meus finais de semana Impossiacutevel Sempre esgotado natildeo conseguia produzir Essa exaustatildeo me acoplou violentamente com um antigo projeto comprar uma casa-escrita Uma casa onde escrever seria possiacutevel em qualquer horaacuterio do dia Um lugar onde natildeo houvesse interferecircncias de bares buzinas motores shows vizinhos cachorros construccedilatildeo de preacutedios ou qualquer outra modalidade ruidosa que pudesse dificultar o processo de escrita

Foi uma decisatildeo difiacutecil Em dezembro de 2009 pedi demissatildeo e comprei atraveacutes de

15 Caro leitor como vocecirc pode

perceber em nosso iacutendice haacute um

capiacutetulo destinado exclusivamente

ao jote- jitac por isso natildeo iremos

detalhar aqui seu funcionamento eou propoacutesito aleacutem do capiacutetulo tudo o que foi produzido pelo lsquojote-titac experimentando

nutersquo estaacute hospedado em

wwwnuteparatodoswordpresscomjoteti-tac

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um financiamento pela Caixa Econocircmica Federal uma casa na Praia da Tainha em Bombinhas Santa Catarina Nesse mesmo mecircs trago a mudanccedila e comeccedilo a trabalhar Natildeo na escrita mas na casa que precisava de uma seacuterie de reformas Em meados de fevereiro as coisas se ajeitam e comeccedilo a trabalhar finalmente na produccedilatildeo da escrita NuTE O isolamento da praia me permitiu uma aventura quase monaacutestica Mas em virtude de minha natildeo formaccedilatildeo em teatro inuacutemeros problemas conceituais retornavam Em busca de orientaccedilatildeo entro em contato com o Doutor Ronaldo Faleiro que muito gentilmente aceita me nortear nesse processo

Agrave medida que Faleiro analisava os capiacutetulos eles iam sendo postados no blog - wwwnuteparatodoswordpresscom - e sofriam a interferecircncia dos muacuteltiplos virtualizados ndash pessoas que criticavam elogiavam davam dicas ajustavam cenas ndash fui montando capiacutetulo a capiacutetulo este livro O conceito que utilizamos para essa composiccedilatildeo foi o de Work in Progress de uma escrita In Progress

Em outubro de 2011 uma primeira versatildeo do livro estava pronta Eu precisava agora de um diretor Como Alexandre havia sinalizado negativamente marquei uma reuniatildeo com Peacutepe Sedrez Levei o livro entreguei a ele e lhe perguntei se teria interesse em montar o espetaacuteculo Peacutepe olhava pra mim olhava para o livro permaneceu em silecircncio por quase dez minutos apenas folheando as paacuteginas Por fim uma laacutegrima lhe desceu a face esquerda

do rosto Tomado por uma carga absurda de sensaccedilotildees as quais tenho dificuldade de descrever aqui ele me disse

ndash Obrigado Eacutedio obrigado por isso Quero que vocecirc saiba o quanto significa pra mim este teu trabalho Eu me sinto mais do que feliz com tua proposta Imagine ndash falou sorrindo ndash dirigir um espetaacuteculo sobre a histoacuteria do NuTE seria maravilhoso Mas Mas me desculpa eu natildeo posso natildeo natildeo posso

Ele me entregou o livro levantou-se pedindo desculpas e saiu Atocircnito sozinho na sala da Companhia Carona de Teatro olhei para o livro em cima da mesa olhei a placa da porta ao lado Equipe Vira Lata Respirei apanhei o livro e me dirigi ao corredor de saiacuteda Descendo a rua XV de Novembro desanimado perto da igreja matriz ouccedilo algueacutem me chamando Era Peacutepe

ndash Desculpa mais uma vez eu natildeo consegui te falar o que queria te dizer Eu quero muito montar esse espetaacuteculo Mais do que vocecirc pode imaginar O que eu natildeo posso eacute dirigir Quero participar como ator Sei que muitos que participaram do NuTE tambeacutem vatildeo querer

Nesse momento Peacutepe me fez visualizar algo novo Eu natildeo havia pensado nisso Minha questatildeo era encontrar um diretor Passaria o livro a ele que escolheria os atores e montaria agrave sua maneira Mas a imagem de um espetaacuteculo com atores do proacuteprio NuTE a encenar sua proacutepria histoacuteria sem duacutevida era ainda mais interessante Fiquei contente e retomei com Peacutepe

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ndash Oacutetimo seria bem legal mesmo agradeccedilo muito tua vontade de participar eu havia pensado em ti como diretor mas se

ndash Vocecirc natildeo entende ndash cortando ndash eu natildeo posso dirigir quem precisa dirigir esse espetaacuteculo eacute o Alexandre

Nossa se me dessem Hoje em dia se o

Alexandre me convidasse pra fazer um trabalho

Pra fazer papel de cachorro mudo quieto eu ia

e olha amarradatildeo Sem sombra de duacutevida ()

Acho que seria uma legal uma montagem ateacute uma

coisa porrada mas aiacute eacute com meu amigo Alexandre

neacute (risos) () Eacute se ele quiser Eu vou a hora que

ele quiser () Acho que a Como eu te digo a vida

taacute passando a gente taacute ficando velho e poxa seria

muito Pra mim seria uma honra muito grande e

um orgulho muito grande taacute fazendo de novo um

trabalho com o Alexandre e pocirc se Deus quiser se

Peacutepe aceitar com Peacutepe Carlinhos nossa Juliana

Muller que fazia parte do NuTE e tantas outras

pessoas que passaram por ali eu acho que Tadeu

Bittencourt o proacuteprio Carlinhos que natildeo estaacute mais

aqui em Blumenau mas pocirc chamando ele volta

(entrevista com Giba paacuteginas 26-27)

ndash Mas Peacutepe eu jaacute tentei convencer Alexandre Ele estaacute irredutiacutevel Natildeo quer saber de teatro

ndash Eu sei eu sei Mas podemos bolar um plano Na verdade eu jaacute pensei em tudo Vocecirc lembra do texto escrito pelo Nira que foi selecionado para participar do JOTE-Titac Experimentando NuTE

ndash Qual O Mackbeacutete

ndash Natildeo O outro Trabalho Sujo

ndash Sim Sim O que tem

ndash Podemos utilizaacute-lo para convencer o Alexandre

ndash Como assim

ndash Claro vai precisar de uma adaptaccedilatildeo Mas acho que pode servir

ndash E quem vai adaptar

ndash Bem eu sei que o Gregory Haertel fez uma adaptaccedilatildeo desse texto chama-se a Sede do Santo foi montada com direccedilatildeo do Rafael Koehler Mas se essa adaptaccedilatildeo natildeo der conta de convencer o Alexandre talvez o proacuteprio Nira possa fazer

ndash Beleza pode dar certo

ndash Vai dar sim Com certeza Aiacute vocecirc cola aqui na sequecircncia antes do retorno ao Primeiro Ato

ndash Joia vou fazer isso entatildeo

64 65

PRIMEIRO

ENSAIO

Adaptaccedilatildeo de Trabalho Sujo16

Argumento A gangue deve ser virtual e composta pelos fakes NuTE Os personagens elaboram suas tramas pelo Orkut Cada qual tem um perfil Ao leitor cabe jogar com os personagens no sentido de encontrar uma soluccedilatildeo para o problema em questatildeo convencer Alexandre a dirigir o espetaacuteculo sobre o NuTE Cada personagem teraacute um perfil no Orkut com login e senha As senhas seratildeo fornecidas aos leitores atraveacutes da leitura do livro Natildeo ficaraacute claro aqui no livro a resoluccedilatildeo da trama Para que o leitor saiba o que levou Alexandre a dirigir o espetaacuteculo ele teraacute que entrar no Orkut e jogar com os personagens

Trabalho Sujo e Virtual17

Personagens NAFTALINA JOHNSON NOacuteDULO CHUCK NEIDE SAPATINHO NIVALDO TRAPACcedilA NESTOR MIRONGA NEUSINHA BLAU BLAU (os quais assumem identidades fakes) NARRANTE

Cena I Eureca Epifania Iluminaccedilatildeo

NARRANTE ndash No evento Jote-Titac Experimentando NuTE a quadrilha de Naftalina Johnson se esmerava em roubar quadros sequestrar livros pichar esculturas corromper leitores e ateacute piratear telenovelas ndash tudo levado a cabo com preciosismo extremado Ateacute que chegou um momento em que eles descobriram que natildeo poderiam seguir com ambiccedilotildees tatildeo mesquinhas Algo de muito pior deveria ser

16 Trabalho Sujo de Nira da Silveira texto escrito e selecionado para o JOTE-Titac Ex-perimentando NuTE O leitor tem acesso ao texto original atraveacutes do blog wwwnutepa-ratodoswordpresscom e no Quinto En-saio deste livro

17 Adptaccedilatildeo de Nira da Silveira

feito Algo como convencer Alexandre Venera a dirigir um espetaacuteculo sobre o NuTE Um problema havia como fariam isso incoacutegnitos Como despistariam a Poliacutecia Autoral Cada vez mais as antigas missotildees pareciam brincadeira de preacute-adolescentes Foi poreacutem numa noite de abril que Naftalina chegou com a soluccedilatildeo

NAFTALINA JOHNSON ndash Caros comparsas estaacute aberta a sessatildeo Dona Blau Blau a senhorita estaacute anotando

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Estou Tudo Anotando tudo Podem olhar Taacute bem aqui Tudo anotadinho

NAFTALINA ndash Obrigado muito obrigado Queridos amigos convoquei esta reuniatildeo para dar parte de uma notiacutecia ineacutedita e inaudita a qual nunca foi vista nem ouvida e que permanece ateacute agora na obscuridatildeo das trevas desconhecidas

NEIDE SAPATINHO ndash Ui Nafta Fiquei toda arrepiadinha agora

NIVALDO TRAPACcedilA (levantando) ndash Natildeo precisa dizer mais nada

NAFTALINA ndash Como disseNIVALDO TRAPACcedilA ndash Poupe-nos Naftalina

Eu jaacute sei o que satildeo esses papeacuteis na sua matildeo NAFTALINA ndash Jaacute sabe Mas comoNIVALDO TRAPACcedilA ndash Ora vamos e

venhamos Do jeito que as coisas vatildeo soacute podem ser os papeacuteis da nossa aposentadoria De qualquer maneira obrigado por fraudar o INSS por noacutes Ateacute que saiu raacutepido

66 67

PRIMEIRO

ENSAIO

NAFTALINA ndash NAtildeO Eacute NADA DISSO IDIOTANESTOR MIRONGA (dando um soco na

cabeccedila de Nicanor) ndash Senta aiacute ocirc imbecilNAFTALINA ndash Agraves vezes acho que estou

cercado de crianccedilas aqui Pois fiquem sabendo que o que tenho nas matildeos satildeo passagens de aviatildeo

NEIDE SAPATINHO ndash Pra onde NaftaNAFTALINA ndash Para diversas cidades do paiacutes

Precisaremos estar longe uns dos outros para despistar as autoridades e principalmente o Venera

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Ai meu Deus Eu vou viajar Meu deusinho do ceacuteu eu vou viajaaaar

NOacuteDULO CHUCK (No fundo da sala comeccedila a bater palmas levanta-se e vai ateacute a frente) ndash Muito bem Parabeacutens Nafta Seu plano eacute genial Ele soacute tem um problema

MEMBROS ndash Qual o problema ChuckNOacuteDULO CHUCK ndash O problema eacute que nosso

plano de celular preacute-pago eacute uma merda E quando precisarmos nos falar vamos gastar uma fortuna

NAFTALINA (tirando lentamente um revoacutelver do paletoacute) ndash Agora chega Eu natildeo aguento mais Eu vou matar uns dois

NESTOR MIRONGA E NEIDE SAPATINHO (segurando Naftalina) ndash Calma Nafta Vai com calma (Naftalina se recompotildee)

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Chefe meu celularzinho tambeacutem eacute uma merda

NAFTALINA ndash Estaacute tudo bem querida eu jaacute planejei tudo Desde o ano em que vocecirc nasceu tudo estava resolvido

NEUSINHA BLAU BLAU ndash Eacute mesmoNAFTALINA ndash Sim meu amor Naquela

eacutepoca um grupo de nerds num paiacutes longe daqui resolveu nosso problema Eles criaram uma grande rede uma teia de alcance mundial (black)

Cena II ldquoQuem eacute elerdquo Ainda no poratildeo da gangue final da reuniatildeo

NESTOR MIRONGA ndash Mas chefe isso tudo vai custar dinheiro Eu pensei que o nosso cofre estava vazio

NAFTALINA ndash Sim eu sei meu rapaz Acontece que um cidadatildeo muito excecircntrico e amante das causas nobres ofereceu-se para nos patrocinar

MEMBROS ndash E quem eacute eleNAFTALINA ndash Algueacutem que exigiu sigilo

ultra-mega-blaster confidencial mas ao qual nos referiremos como ldquoO Leitorrdquo

MEMBROS (Vasculham a plateia com o olhar procurando por algueacutem que possa ser ldquoO Leitorrdquo)

Cena III Conspiraccedilatildeo Conluio e Confabulaccedilatildeo Perfil de fake Giba de Oliveira no Orkut Ele conversa com os comparsas os quais depois de intenso treinamento

68 69

PRIMEIRO

ENSAIO

aprenderam a se expressar quase como os reais Natildeo foi permitido pela gangue revelar quem eacute quem

FAKE CLAUS JENSEN ndash giba ainda ta aiacuteFAKE GIBA DE OLIVEIRA ndash Giba de Oliveira

teclando perfeitamente blzFAKE CLAUS ndash blz estive ha pouco com

Alexandre Venera FAKE AacuteLVARO ndash ele na desconfiou d nadaFAKE CLAUS ndash ele desconfio sim mas naum

d mim ele disse q ontem axou o pepe meio estranho

FAKE PEPE ndash por q extranhoFAKE GIBA ndash eu sei porq eh q tu tais

exagerando nos trejeitosFAKE CLAUS ndash ele falou que achou o Pepe

muito insistenteFAKE GIBA ndash eu disse q naum era pra insisti

d+FAKE PEPE ndash mas eu nem falei da peccedila eu

soacute convidei ele pra tomar uma cerva FAKE AacuteLVARO ndash idiota o ale soacute toma

destiladoFAKE PEPE ndash natildeo deram essa parte no cursoFAKE CLAUS ndash deram sim tu falto pra ir

beberFAKE GIBA ndash vamo tentar alguma coisa

diferente kd o afonsoFAKE AFONSO ndash to aki soacute lendoFAKE GIBA ndash eacutes o proacuteximo nego te arruma

amanhatilde vais encontra com ele por acaso no farol

FAKE AFONSO ndash vlw fui

Caro leitor vocecirc chegou a uma encruzilhada em sua leitura Aqui se abrem dois caminhos distintos duas estradas possiacuteveis por onde seguir

1 ndash Continuar a leitura do livro passando diretamente agrave proacutexima paacutegina deixando essa trama sem resoluccedilatildeo

2 ndash Escolher um Fake na lista abaixo entrar com ele na comunidade Orkut e interagir conversar com os demais Fakes investigar produzir fabricar inventar uma soluccedilatildeo para a trama Ou seja nesta segunda via cabe a vocecirc caro leitor criar um desfecho para a histoacuteria Aos mais ousados bom experimento

Perfil login

O Leitor leitorfakenutegmailcom

Wilfried wilfriedfakenutegmailcom

Claus clausfakenutegmailcom

Afonso afonsofakenutegmailcom

Giba gibafakenutegmailcom

Peacutepe pepefakenutegmailcom

Silvio da Luz silvinhofakenutegmailcom

Dennis Raduumlnz denisfakenutegmailcom

Aacutelvaro alvarofakenutegmailcom

Senha somosmuitopoucosparadividir

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PRIMEIRO

ENSAIO

RETORNO AO PRIMEIRO ENSAIO ndash 01 DE ABRIL DE 2015

ndash Tenho me esforccedilado ndash Eacutedio responde a Venera ndash para fazer o melhor possiacutevel Dediquei-me em tempo integral a esta escrita pedi a conta de um bom emprego que eu tinha larguei tudo para trabalhar apenas nisso mas claro precisamos continuar aceito suas condiccedilotildees qual seria a proposta

ndash Bom primeiro eu natildeo concordo com esse proacutelogo precisa ser feito de outra forma

ndash Mas eu tive tanto trabalho para escreverndash Teve nada ndash diz Wilfried ndash vocecirc copiou dos

Irmatildeos Karamaacutezovndash Natildeo copiei eacute uma acoplagem acoplagemndash Que maneacute acoplagem isso nem existe

Copiou sim eacute soacute pegar o livro pra verndash Copiei merda nenhuma ndash Tudo bem tudo bem que seja ndash Venera

tenta mediar o conflito ndash vocecirc natildeo precisa jogar fora o proacutelogo deixa ele como estaacute e comeccedila novamente

ndash Um novo proacutelogondash Isso vai eacute confundir o leitorndash Chame de outra forma sei laacute que tal

comeccedilo primeiro ensaio replay algo assimndash Pode ser pode ser Primeiro Ensaio fica

mesmo bem interessantendash Outra coisa acho que tua escrita estaacute

um pouco distante Isso de morar na Praia da Tainha pode ter te ajudado a se concentrar

mas agora vocecirc precisa se aproximar do grupo ndash Aproximar do grupo mas como eu posso

fazer issondash Bom Natildeo quero te forccedilar a nada a escrita

eacute tua e acho que deves trabalhar da forma como te parecer melhor

ndash Como vocecircs faziam na eacutepoca do NuTEndash Na maioria das montagens a gente optava

por ter a redaccedilatildeo dos roteiros acontecendo simultaneamente aos ensaios dos espetaacuteculos

E era um processo todo extremamente luacutedico

o Alexandre brincava com a gente como se noacutes

fossemos crianccedilas assim dava material e ldquodeixa vir

o que vocecircs estiverem pensando o que estiver na

cabeccedilardquo Claro que tinha noites de natildeo render nada

a gente saiacutea meio frustrado mas tinham noites em

que a chama tava muito acesa havia cenas que

ldquoNossa isso tem que estar no espetaacuteculordquo e depois

podiam natildeo estar na ediccedilatildeo final mas a gente

levantou produziu muito material (entrevista com

Peacutepe Sedrez paacutegina 16)

ndash Natildeo sei se entendi direito se natildeo havia nenhum roteiro o que grupo ensaiava

ndash Tudo comeccedilava com um disparador cecircnico uma imagem um objeto um recorte de jornal um fragamento de texto e agrave medida que os ensaios aconteciam o roteiro ia sendo escrito

ndash Genial Adorei a ideiandash Eu tambeacutem concordo ndash diz Silvinho ndash acho

que assim o espetaacuteculo ganha em dramaturgia

72 73

PRIMEIRO

ENSAIO

ndash Maravilha Eu vou me sentar aqui ao lado dessa mesinha algueacutem tem um laacutepis aiacute Agradecido Fico aqui assisto e descrevo Agrave medida que vocecircs forem encenando eu vou escrevendo Mandem bala podem comeccedilar

Todos se olham Nada acontecendash Vamos laacute pessoal estou esperando as

cenas dependo delas para escrever o roteirondash Olha natildeo eacute bem assim ndash Venera interveacutem

ndash eles precisam de algo que incite a criaccedilatildeo Vocecirc precisa trazer alguma coisa que dispare as cenas

ndash Entendi sou eu quem propotildee o disparador cecircnico eacute isso

ndash Exatamente e sobre este dispositivo eacute que as cenas seratildeo construiacutedas

ndash Deixa ver o que eu tenho aqui ndash revirando a mochila ndash Achei uma pergunta pode ser

ndash Lanccedila ao grupo e vamos ver o que acontece

ndash O que quer o NuTE18

18 Pergunta a partir da qual toda a escrita aqui exposta se potildee em movimento Espeacutecie de primeira questatildeo ou questatildeo essencial da pesquisa A anaacutelise de cada documento estaacute atravessada por ela cada entrevista realiza-da encontra nela uma paisagem a ser percor-rida Trata-se de um disparador metodoloacutegi-co chamado por Gilles Deleuze de Meacutetodo de Dramatizaccedilatildeo Segun-do o filosofo francecircs esse seria o meacutetodo utilizado por Nietzsche em suas Genealogias CitoldquoDesta forma de per-gunta deriva um meacute-todo Sendo dados um conceito um sen-timento uma crenccedila seratildeo tratados como os sintomas de uma vontade que quer algu-ma coisa O que quer aquele que diz isso que pensa ou experi-menta aquilo Trata-se de mostrar que natildeo poderia dizecirc-lo pensaacute-lo ou senti-lo se natildeo tivesse tal vontade tal maneira de ser O que quer aquele que fala que ama ou que cria E inversamente o que quer aquele que pre-tende o lucro de uma accedilatildeo que natildeo faz gtgt

gtgt aquele que apela para o ldquodesinteresserdquo E mesmo o homem as-ceacutetico E os utilitaris-tas com seu conceito de utilidade E Shope-nhauer quando forma o estranho conceito de negaccedilatildeo da vontade Seria a verdade Mas o que querem enfim os procuradores da verdade aqueles que dizem eu procuro a verdade - Querer natildeo eacute um ato como os demais Querer eacute a instancia ao mesmo tempo geneacutetica e criacute-tica de todas as nos-sas accedilotildees sentimen-tos e pensamentos O meacutetodo consiste no seguinte referir um conceito agrave vontade de potecircncia para dele fa-zer o sintoma de uma vontade sem a qual ele natildeo poderia nem mes-mo ser pensado (nem sentimento ser experi-mentado nem a accedilatildeo ser empreendida) Tal meacutetodo corresponde agrave questatildeo traacutegica Ele proacuteprio eacute o meacutetodo traacute-gico Ou mais precisa-mente se tirarmos do termo lsquodramarsquo todo o phatos dialeacutetico e cris-tatildeo que corresponde seu sentido eacute o meacuteto-do de dramatizaccedilatildeordquo

cena do espetaacuteculo lsquojato de amorrsquo da esquerda para direita carlos crescecircncio ivan

alvaro sabrina de moura leonel campos

Foto

Ace

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Nu

TE

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SEGUNDO

ENSAIO

SEgUNDO ENSAIO ndash 18 DE ABRIL DE 2015

Sol Saacutebado() aproximadamente 14h

Imagem Insistente grande Auditoacuterio do Teatro Carlos gomes

ndash Eacute Bem Pessoal olha soacute ndash os atores que conversavam cada qual em sua esquina de afectos centralizam olhar alguns sorrindo outros ansiosos em Alexandre Venera e ele continua ndash eu fiz aqui uma pesquisa que acredito vai ajudar a gente a levantar esse espetaacuteculo ndash os atores caminham em direccedilatildeo a Venera que faz vibrar alguns papeacuteis em suas matildeos e vatildeo formando aos poucos um ciacuterculo em torno dele ndash Na verdade satildeo recortes de jornal algumas fotos trechos das entrevistas algumas coisas que eu selecionei pensando no que poderia ser um momento do NuTE entre 1984 e 1986 Noacutes natildeo vamos fazer isso mas se um dia algueacutem quiser inventar um iniacutecio um comeccedilo uma origem para esse nuacutecleo de teatro tenho a impressatildeo de que o melhor momento para esse decalque estaria nos aperitivos que vamos ver hoje Estou chamando provisoriamente esse periacuteodo de No Princiacutepio era a Muacutesica Tecircxtil Gostante Noacutes vamos trabalhar da seguinte forma vocecircs vatildeo formar pequenos grupos de

78 79

SEGUNDO

ENSAIO

duas a trecircs pessoas ndash todos os atores se olham ndash cada grupo vai receber um jogo de aperitivos que preparei Vocecircs vatildeo ter um tempo para saboreaacute-los ndash Venera coloca uma folha de papel na boca os atores riem ndash e deveratildeo trazer para o grande grupo uma ou duas cenas disparadas construiacutedas com esses aperitivos Fica bom assim O que vocecircs acham

ndash Acho que natildeo entendi direito o espetaacuteculo vai ser apenas sobre esse periacuteodo de 84 a 86

ndash Natildeo natildeo Isso que vamos trabalhar hoje eacute apenas um platocirc Pra facilitar nosso trabalho eu dividi o territoacuterio NuTE ndash seus 18 anos de produccedilatildeo ndash em cinco platocircs

I ndash No Princiacutepio era a Muacutesica Tecircxtil GostanteII ndash Exuberante Cronologia Espetacular

Do Teatro Experimental e do Teatro Escola Nuteanescos

III ndash Do NuTE ao NUTe como um Nuacutecleo de Teatro Experimental vem a ser um Nuacutecleo de Teatro Escola

IV ndash Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas JOTE-Titac

V ndash Conversa de Bar para quem gosta de tomar umas conclusotildees bem geladas ndash ahhhaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacuteaacute

ndash O que vamos trabalhar hoje eacute apenas um destes

ndash Como vai funcionar A gente pode escolher os aperitivos

ndash Acho que sim natildeo vejo problema Na verdade o que eu tenho aqui satildeo jogos de aperitivos Cada jogo eacute composto por um ou dois recortes de jornal uma ou duas fotos de trecircs a sete trechinhos de entrevistas as atividades do NuTE de determinado ano e algumas vezes um documento aleatoacuterio que pode ser uma partitura de um curso dado uma aula coisas assim A proposta eacute que cada grupo trabalhe em torno de um desses jogos Eu tinha pensado em sortear mas se todos concordarem em escolher e ficar bom acho que pode ser sim Vamos ver se daacute certo Deixa ver quantos grupos temos Dois trecircs Satildeo trecircs grupos Eu tenho aqui cinco jogos oacutetimo vou colocar os jogos aqui e cada grupo pode manusear e escolher o seu

80 81

SEGUNDO

ENSAIO

Caro leitor os mesmos aperitivos cecircnicos que

foram entregues aos atores estatildeo sendo entregues

a vocecirc Suas possibilidades de atuaccedilatildeo satildeo muacuteltiplas

Caso vocecirc queira criar uma cena seguindo a proposta

de Alexandre Venera basta escolher o seu jogo de

aperitivo Para acessaacute-lo haacute duas opccedilotildees

1 Porta Cartas localizado dentro do Box NuTE

cartografia de um teatro Nele vocecirc vai encontrar

aperitivos em duas cores escolha neste momento o de cor vermelha

2 DVD Experimentando NuTE onde aleacutem dos aperitivos

cecircnicos vocecirc vai descobrir a versatildeo digital do livro

esta versatildeo lhe permite acessar com apenas um

clique ndash se vocecirc estiver conectado a internet ndash todos

os endereccediloslinks contidos no livro experimente

Contudo caso lhe pareccedila mais interessante tambeacutem

eacute possiacutevel continuar sua leitura usando os jogos de

aperitivos como um apoio manuseando-os conforme

aparecem na narrativa como uma espeacutecie de parte

aberta do livro Ou ainda simplesmente esquecer

os jogos de aperitivos cecircnicos e seguir a leitura

livremente deitado em sua rede ou no sofaacute como lhe

parecer mais agradaacutevel para assim num momento

de sua preferecircncia saborear com calma as imagens-

registros que disparam a Composiccedilatildeo de Mundos nas

proacuteximas paacuteginas Entre tantas outras possibilidades

acreditamos que a melhor eacute exatamente esta que

vocecirc estaacute comeccedilando a jogar

vaacute em frente bom experimento

APERITIVOS CEcircNICOS eou nutrientes para

composiccedilatildeo de mundos

83

SEGUNDO

ENSAIO

Composiccedilatildeo de Mundos

Caro leitor como vocecirc deve ter percebido acatei a sugestatildeo que me foi feita na paacutegina 71 Ou seja estou tentando descrever o que acontece durante os ensaios Caso vocecirc esteja notando que algo me passa despercebido por favor toda colaboraccedilatildeo eacute bem-vinda Tem uma caneta bem aiacute do seu lado Se bem que seria melhor um laacutepis Talvez vocecirc seja da opiniatildeo que rascunhos se escrevam a laacutepis Ou seraacute que vi isso num filme Bem de qualquer forma o que estou assistindo aqui eacute o seguinte

Cada um dos trecircs grupos ensaia num espaccedilo reservado Camarim Palco do Grande Auditoacuterio Corredor em Frente aos Banheiros Depois de alguns cigarros Alexandre comeccedila a circular entre eles

No Palco do Grande Auditoacuterio o grupo planeja suspender um ator Alexandre gosta muito da imagem pergunta como faratildeo a suspensatildeo O grupo responde que usaraacute uma corda Alexandre questiona se a corda seraacute do tipo falante ou se estaraacute dormindo Parabeniza o grupo

No Camarim os trecircs atores chutam uns aos outros Alexandre sorri e retorna em silecircncio se esforccedila para natildeo atrapalhar o momento da improvisaccedilatildeo

No Corredor um ator deitado no chatildeo balbucia espasmos proacuteximos aos de uma crise epileacuteptica Na mesma cena mas numa ponta do corredor bem em frente ao bar do teatro um segundo ator repete ldquoesses grupos vatildeo

84 85

SEGUNDO

ENSAIO

deixar de ensaiar ensaiar ensaiar e nunca apresentarrdquo Ele usa a frase ndash sussurrando gritando em meio agrave gargalhadas ndash para se aproximar e para se distanciar do ator deitado Um terceiro ator sentado na escada ao lado do bebedouro realiza um movimento que lembra algueacutem interpretando uma canccedilatildeo popular com um violatildeo Impressionado com a cena Alexandre passa a matildeo no cabelo e no nariz Quando o grupo faz uma pausa elogia a energia com a qual estavam trabalhando Pergunta qual foi o Aperitivo Cecircnico escolhido pelo grupo e eles indicam o jogo 2 Alexandre manuseia o Aperitivo Cecircnico N2 e emite um ldquoAh Legalrdquo Por fim pede ao grupo que experimente um pouco mais com palavras-frases

Retornando ao Camarim os trecircs atores improvisam com miacutemica o que parece o trabalho de operaacuterios em uma faacutebrica Alexandre assiste a toda improvisaccedilatildeo Durante a pausa pergunta o que aconteceu com os chutes O grupo responde que era apenas uma teacutecnica de aquecimento que natildeo pretendem utilizar para a composiccedilatildeo das cenas Alexandre conta a histoacuteria de uma invenccedilatildeo polecircmica a maacutequina de dar chutes

No grande auditoacuterio dois atores improvisam uma cena romacircntica que logo se transforma em pequenos desentendimentos afetivos evoluindo para oacutedio e agressatildeo Alexandre descobre que o grupo ensaia o Aperitivo Cecircnico N3 Ainda curioso resolve questionar o fragmento disparador da cena O grupo aponta para o seguinte trecho de entrevista

() ele sempre trazia dados teoacutericos em forma de jornaizinhos panfletos xerox ou verbalizando diretamente para os grupos que dirigia E aleacutem disso era criacutetico e extremamente criativo Foi tambeacutem incontestavelmente o mentor e organizador da ideia de efetivamente comeccedilar-se a fazer teatro num preacutedio chamado de ldquoteatrordquo Portanto o Alexandre eacute sem duacutevida ndash no sentido figurado ndash o ldquopairdquo do NuTE

Eacutedio ndash Interessante E quem seria a matildee

Wilfried ndash Bem igualmente no sentido figurado eacute provaacutevel que tenha sido eu Talvez eu tenha pego a crianccedila no colo e a alimentado no momento do abandono e a mantido viva neste periacuteodo de fragilidade Com toda a ajuda do Aacutelvaro Diogo Iraci Roberto Sandra e Valdir ndash obviamente - que chegaram ateacute o fim do primeiro curso e foram os atores e as atrizes da primeira montagem genuiacutena de um grupo efetivo do NuTE ndash a ldquoPantomimasrdquo (entrevista 3 com Wilfried paacuteginas 2-3)

O diretor aprova e entusiasmado incita o grupo a abrir a cena Um dos atores toma a palavra e comenta que aquela sequecircncia havia acabado de surgir que foi a primeira tentativa-experimento com o recorte-entrevista Alexandre elogia a ldquosacada-cecircnicardquo e sugere ao grupo exploraacute-la numa velocidade menor ndash a mais lenta possiacutevel - ele repete algumas vezes ldquoa mais lenta possiacutevelrdquo para que assim aos poucos os demais fragmentos do jogo sejam incorporados

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SEGUNDO

ENSAIO

Alexandre manuseia o Aperitivo Cecircnico N3 ateacute encontrar uma foto que separada por ele do jogo eacute citada como exemplo

O diretor acredita que uma boa acoplagem desta foto com o momento que ele prefere chamar Gostante ao inveacutes de Romacircntico potencialize a cena Um ator questiona o termo Gostante Alexandre explica que Amante eacute que natildeo poderia ser porque as pessoas se gostavam mas amar seria coisa diferente jaacute o termo romacircntico pode dar uma ecircnfase desnecessaacuteria a determinado periacuteodo classificado assim pela histoacuteria das artes O grupo concorda acata as sugestotildees e comeccedila a trabalhar

No Camarim o jogo de miacutemica comeccedila a tomar forma O grupo interpreta uma equipe de teatro infantil que estaacute montando um espetaacuteculo de Maria Clara Machado Tudo leva a crer que se trata de Pluft o Fantasminha De repente em meio a esse ensaio aparecem dois novos

Iraci Potrikus Wilfried Krambeck e

Alexandre Venera dos Santos

personagens Trata-se de Wilfried Krambeck e Iraci Potrikus Um deles passa a cuidar do som e o outro a cuidar da iluminaccedilatildeo do espetaacuteculo O grupo se esforccedila para demonstrar que essa foi a entrada dos dois personagens na trupe e que ainda natildeo se trata de NuTE No espelho do camarim escrevem GATE ndash Grupo de Teatro da ADR Sulfabril

Saindo do camarim Alexandre resolve fumar mais alguns cigarros Ao fumar comenta a importacircncia que algumas empresas tecircxteis da regiatildeo tiveram no fomento da cultura local Cita como exemplo o Grupo de Teatro Amador da Artex o Grupo de Miacutemica da ADR Sulfabril fundado pelo Wilfried e o proacuteprio GATE muito influenciado e inuacutemeras vezes apoiado por Carlos Jardim Diz que pessoas importantes da cena teatral blumenauense foram trabalhadores tecircxteis Que atraveacutes de grupos como esses experimentavam teatro e mais tarde acabaram encontrando no NuTE um espaccedilo para se inventar para se Artreinventar

Eu trabalhei vinte e cinco anos na Artex na verdade eu sou um operaacuterio neacute trabalhei vinte e cinco anos na Artex aposentei ali com vinte e cinco anos na aacuterea tecircxtil Mas na eacutepoca fazia teatro na Artex e comecei a estudar eu comecei mesmo a viver o teatro estudar teatro mesmo nessa eacutepoca com Alexandre porque a partir de entatildeo era mais amador aquela coisa assim de fazer por fazer (entrevista com Aacutelvaro paacutegina 3)

Nesse sentido Alexandre complementa haacute um tanto de tecelagem de faacutebrica um tanto de

Foto

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SEGUNDO

ENSAIO

Tecircxtil in NuTE Diz que sua proposta inicial com o Hoje Tem Teatro era simplesmente apresentar teatro Lembra que era coordenador de eventos no Teatro Carlos Gomes que os grupos passavam o ano ensaiando mas natildeo apresentavam Seu interesse maior era criar condiccedilotildees para que as encenaccedilotildees acontecessem Como se tratava de um encontro de vaacuterios grupos resolveu chamar esse coletivo para diferenciar dos grupos profissionais da cidade de Nuacutecleo de Teatro Experimental Ao mesmo tempo dentro da Sulfabril Wilfried estava ministrando cursos de miacutemica para funcionaacuterios da empresa

Com a abertura desse espaccedilo experimental Wilfried propotildee trazer para o NuTE alguns desses cursos e Alexandre aceita Muitas pessoas que participaram montando e

apresentando suas peccedilas no Hoje Tem Teatro comeccedilaram a circular no ano seguinte em torno desses cursos Os alunos que Wilfried tinha na Sulfabril tambeacutem satildeo convidados para continuar estudando teatro no NuTE e assim aos poucos comeccedila a se insinuar um nuacutecleo de pesquisa em teatro

Realizado o processo inalatoacuterio Alexandre se dirige ao Corredor Os atores carregados de energia como antes operam nas mesmas posiccedilotildees mas agora num interessante jogo dramaacutetico

Ator 1 ndash Eu entrei como aluno pra estudarAtor 3 ndash MuacutesicaAtor 1 ndash Fiquei estudandoAtor 3 ndash Piano Ator 2 ndash Foi mais ou menos uns quatro anos

adulto jaacute CasadoAtor 3 ndash Violoncelo clarineteAtor 1 ndash Estudei um monte laacute dentro aiacute

durante minha universidade eu peguei emprego laacute de bibliotecaacuterio

Ator 3 ndash Na musicotecaAtor 2 ndash Sempre me dedicando ao que eu

fazia neacute A mulher me convidou pra ser o coordenador de eventos do teatro natildeo primeiro secretaacuterio da

Ator 3 ndash Escola de Muacutesica Ator 2 ndash Acharam que seria a melhor pessoa

pra coordenar eventos artiacutesticos e culturais do teatro que tinha aacuterea de convenccedilotildees

Ator 3 ndash Daiacute durante um ano ou dois Eu fui testemunhando a dificuldade dos grupos amadores da cidade que vinham ensaiar

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SEGUNDO

ENSAIO

ensaiar e daiacute natildeo apresentavamAtor 2 ndash Ficava o uso do teatro inuacutetil neacute Ator 3 ndash Onde daiacute eu ldquoporrardquo Vou dar uma

matildeo pra elesAtor 2 ndash Eu tenho assessoria de imprensa

tenho a agenda pauta do teatro pego as datas que tatildeo mais ruins assim Nenhum empresaacuterio quer taacute sobrando

Ator 3 ndash Vou aproveitar o espaccedilo do teatroAtor 1 ndash Aiacute onde comecei a compor uma

espeacutecie de roteiro mensal de datasAtor 3 ndash Entrevista comAtor 2 ndash Alexandre VeneraAtor 1 ndash Paacutegina 26

Durante todo o processo os atores satildeo banhados por ressonacircncias fotograacuteficas do que parece ser um Coral de Clube Caccedila e Tiro Toda a cena eacute realizada num intempestivo diaacutelogo com a projeccedilatildeo desta imagem

O diretor de forma abrupta interrompe a cena Mesmo se esforccedilando para natildeo

Coral Gesangverein da Sociedade Recreativa e Cultural Salto do Norte de Blumenau Dirigido pelo maestro Kemmel-meier - sentado segu-rando o trofeacuteu Da es-querda para a direita a quarta senhora em peacute Irmgard Globig E da esquerda para a direita o quarto se-nhor uacutenico de oacuteculos Hermann Globig Avoacutes de Wilfried Krambeck uacutenica crianccedila presente na foto Registro reali-zado no Natal de 1971

transparecer um tanto de fuacuteria escorrega pelo canto esquerdo de sua boca quando pergunta o que estatildeo fazendo O grupo responde que tenta dar sequecircncia ao disparo cecircnico utilizando parte do tema platocirc ndash No Princiacutepio era a Muacutesica ndash como tom Argumentam que tanto Alexandre Venera como Wilfried Krambeck satildeo atravessados por uma intensidade musical Alexandre via composiccedilatildeo erudita que pode ser verificada em sonoplastias escritas por ele para espetaacuteculos como O Homem do Capote e Outros Seres Jato de Amor e O Olho Cliacutenico do Coralista Rouco19 e Wilfried via composiccedilatildeo popular que pode ser verificada em canccedilotildees como Natureza Solitaacuterio Elemento Bavaacuteria Bananeira sempre apresentadas em festivais da canccedilatildeo como o Festshow promovido pela Sulfabril e o FUC ndash Festival Universitaacuterio da Canccedilatildeo20 Em meio agrave defesa o grupo utiliza a maacutexima nietzschiana de que ldquoa vida sem muacutesica seria um errordquo e finaliza dizendo que talvez o NuTE seja um ovo musical

O diretor deixando transparecer o aborrecimento pergunta ao grupo como foi que conseguiram retirar o projetor multimiacutedia de dentro do seu carro jaacute que o mesmo estava trancado O grupo percebe que a cara amarrada do diretor natildeo estava conectada agrave cena mas sim agrave utilizaccedilatildeo do recurso eletrocircnico Os atores sorriem aliviados e explicam que Juliana Teodoro ex-atriz do NuTE e atual companheira de Alexandre passando e assistindo agrave cena sugeriu a utilizaccedilatildeo do recurso que prontamente foi buscar no carro e lhes emprestou

19Para ouvir Noite Ferra-da ndash trecho da sonoplastia de O Homem do Capote ndash acesse o endereccedilo wwwnutecombracervonoi-te_ferradamp3

20Wilfried Krambeck gentilmente organizou um cronograma a respeito de sua trajetoacuteria musical O documento encontra-se agrave disposiccedilatildeo em wwwnute-paratodosfileswordpresscom201009minha-trajetoria-musicalpdf

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ENSAIO

Alexandre se convence pede desculpas pela cara amarrada e verifica com o grupo a possibilidade de assistir a cena novamente Os atores repetem toda a sequecircncia Alexandre comenta que eles estatildeo muito perto de desencadear uma partitura Fica tatildeo satisfeito com o andamento dos ensaios que resolve comemorar fumando mais um cigarrinho O grupo vai junto aproveitando a porta entreaberta ao lado do bebedouro Em meio agrave conversa Juliana Teodoro retorna e comenta com Alexandre que minutos atraacutes quando presenciou a accedilatildeo lembrou-se dos experimentos da Estereocena21 Um dos atores interessado questiona o que seria a Estereocena Juliana responde que se trata do meacutetodo de trabalho que Alexandre vinha desenvolvendo no NuTE O mesmo ator acha curioso o conceito de ldquoesteacutereordquo pergunta que relaccedilatildeo haveria com o teatro Alexandre explica

Esteacutereo como as caixas de som que satildeo levemente afastadas pra reproduzir o som que foi captado tambeacutem por dois microfones () tu sentes mais ou menos que vamos dizer a guitarra da banda de roque taacute vindo daqui o baixista taacute aqui a bateria no meio o vocal tu sentes pelo esteacutereo o volume onde estatildeo os muacutesicos de onde estaacute vindo o som neacute E esteacutereo vem de cuacutebico medida de um metro cuacutebico da madeira eacute um esteacutereo neacute E assim como o microfone capta esses dois sons e eacute o mesmo som mas ele consegue atraveacutes de um artifiacutecio mecacircnico reproduzir aquele ambiente onde a gente sabe que o aviatildeo raacuteaacuteaacuteaacuteaacute Sai daqui e passa pra laacute no esteacutereo tu sente essa passagem

21 O conceito comeccedila a ser desenvolvido em 1990 durante o Desa-fio Macbeth ndash jogos ela-borados por Alexandre para construccedilatildeo do espetaacuteculo Macbeth uma interferecircncia na histoacuteria leitor encon-tra um interessante documento dessa eacutepo-ca sobre a Estereoce-na no link wwwnutecombracervo0_sobreMacbeth_cjpg Alguns anos mais tar-de em 1997 Alexan-dre propotildee a um grupo de alunos da Escola NUTe um experimento de imersatildeo com Este-reocena Durante um mecircs inteiro permane-cem acampados no Siacute-tio Fazendarado En-contramos parte deste experimento gravado em duas fitas cassete que foram convertidas para Mp3 e disponi-bilizadas nestes qua-tro endereccedilos wwwnutecombracervofita1ladoAmp3 wwwnutecombracervofita1ladoBmp3 wwwnutecombracervofita2ladoAmp3 wwwnutecombracervofita2ladoBmp3 Caso o leitor pro-cure por uma siste-matizaccedilatildeo a respeito da Estereocena reco-mendamos o seguinte documento datado de setembro de 2000 wwwnutecombracervo99_06_26_cur-so_1jpg

A hora que a gente vai juntar com a palavra cena () A cena eacute o nuacutecleo o ponto baacutesico do teatro eacute atraveacutes de cenas que se monta uma peccedila de teatro a cena eacute o momento maacuteximo ou miacutenimo de uma accedilatildeo e entatildeo o teatro eacute baseado na cena (entrevista com Juliana Teodoro e Alexandre Venera paacuteginas 37 e 38)

Um ator pede cigarro Alexandre oferece o maccedilo Ele retira um Acende Enquanto fuma sorri Ao final do cigarro quando todos jaacute retornavam ao Corredor tenta parafrasear Nietzsche dizendo que ldquosem a muacutesica o NuTE seria um errordquo Alexandre questiona a equivalecircncia moral de certo versus errado O ator sustenta sua apropriaccedilatildeo de erro como ausecircncia Acredita que se natildeo fosse uma vontade de muacutesica em Wilfried bem como uma vontade de muacutesica em Alexandre o NuTE se viesse a existir mesmo assim seria qualquer outra coisa menos o NuTE Um ator natildeo fumante ironiza a utilizaccedilatildeo do conceito de vontade segundo ele uma aplicaccedilatildeo incoerente Os atores jaacute no Corredor iniciam um debate filosoacutefico sobre a Vontade de Poder Alexandre segue para o Palco do Grande Auditoacuterio Juliana se despede

Ao entrar pela plateia o diretor eacute surpreendido por dez cordas falantes Dois atores conversam cada qual em uma suspensatildeo com cinco cordas O primeiro se relaciona com elas de forma numeacuterica ndash suas cordas vatildeo de 1 a 5 - jaacute o segundo de forma literal ndash suas cordas vatildeo de A a E

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SEGUNDO

ENSAIO

Ator 1 ndash E ano novo virou e Corda 3 ndash JaneiroAtor 1 ndash Fazer o quecircCorda 3 ndash Fevereiro marccedilo abrilAtor 1 ndash Ningueacutem pensava NuTECorda 1 ndash Ah vamos fazer outro Natildeo sei

o quecirc Corda 2 ndash Vamos fazer um curso de miacutemica

pantomimaCorda 4 ndash Natildeo noacutes queremos nos reunir e

manter essa ideia NuTE Ator 1 ndash O Wilfried com trecircs quatro

Continuou NuTE natildeo parou entende Por mim talvez tivesse parado

Corda 2 ndash Ou pelo Teatro Corda 4 ndash Natildeo havia muitoAtor 1 ndash Aiacute 1985 um curso tambeacutem

trouxemos o Trouxemos o pessoal do Teatro Guaiacutera pra dar aula e os professores alunos do Teatro Guaiacutera

Corda 4 ndash Entrevista com AlexandreCorda 2 ndash VeneraCorda 3 ndash Paacutegina 24

Espetaacuteculo Alegoria ao Vamos ao Teatro uma das peccedilas apresen-tadas no projeto Trecircs Terccedilas Tem Teatro em 1986 Na plateia Valdir Lopes Junior Leandro de Assis e De-liane Travasso Sus-pensos pelas cordas Dennis Raduumlnz ndash re-presentando Maacuterio ndash e Tanise Creuz ndash repre-sentando Nete

O diaacutelogo acontece envolto no que os atores nominam Saudosismo Gostante O diretor chega a questionar a interpretaccedilatildeo das cordas segundo ele um tanto forccedilada beirando o clichecirc do canastratildeo Mas o grupo sustenta que a proposta eacute justamente esta que tal encenaccedilatildeo seria proposital O diretor aceita O proacuteximo diaacutelogo gravita em tonalidades bem diferentes sensaccedilotildees de intriga quase rancor tomam conta do ar

Ator 2 ndash O Wilfried em 1984 vinha como convidado

Corda A ndash Como um grupo convidadoCorda B ndash Como teve outros gruposCorda C ndash Tu vai ver os programasCorda B ndash Soacute que a afinidade com o que eu

tava tentando fazerAtor 2 ndash Aiacute ele pegou o NuTE pra ele ele

ficou um meio ano com o NuTE soacute pra eleCorda A ndash Tipo comCorda B ndash MeuAtor 2 ndash Eu natildeo queria arrumar encrenca

sabeCorda A ndash E natildeo era NuTE era qualquer

coisa podia ser E acabou ficando NuTEAtor 2 ndash Ele ficou um Praticamente um

ano ficou na matildeo dele logo no comeccediloCorda B ndash Entrevista com Alexandre Venera

paacutegina 17

Terminado o segundo diaacutelogo o foco da cena volta a ser o Ator 1 e suas cordas numeacutericas O sentimento de intriga e rancor fica mais forte agrave medida que o diaacutelogo vai acontecendo Nas uacuteltimas frases eacute possiacutevel perceber oacutedio

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Ator 1 ndash No entender dele vocecirc fazia uma produccedilatildeo de

Corda 3 ndash ArtaudAtor 1 ndash Uma produccedilatildeo doCorda 3 ndash BrechtCorda 1 ndash E vocecirc ia aprender ia se formar

assim com ilhas digamos conhecendo sempre cada ilha uma nova ilha uma nova ilha pra ter um continente no final

Corda 2 ndash E aiacute onde a gente divergia eu achava que vocecirc tem que ter uma base depois um aprimoramento e sempre do todo

Ator 1 ndash Entatildeo quer dizer todas as linhas vocecirc vai pegar o

Corda 3 ndash Teatro gregoAtor 1 ndash OCorda 3 ndash Teatro romanoCorda 4 ndash E o baacute-baacute-baacuteCorda 3 ndash O medievalCorda 4 ndash E pam-pam-pamAtor 1 ndash E vai chegando Ateacute chegar na

NoCorda 3 ndash Absurdo Corda 4 ndash E ou OCorda 3 ndash Teatro contemporacircneoAtor 1 ndash Dependendo das linhas neacute do Corda 3 ndash Teatro Ator 1 ndash Que se fazia aqui e no oriente e no Corda 4 ndash Paacute-paacute-paacute Ator 1 ndash Eu entendia assim Corda 4 ndash Entrevista 2 com Wilfried paacutegina

17

No quarto diaacutelogo a coacutelera atinge as cordas Urros gritos um frenesi histeacuterico banhado em oacutedio e ressentimento Os dois atores e as dez cordas interagem

Ator 2 ndash Balanccedila a cabeccedila ah balanccedila a cabeccedila acorda acorda

Corda 1 ndash Corda natildeo tem cabeccedila babaca Corda A ndash (cantando) Minhoca minhoca

me daacute uma beijocaAtor 1 ndash Corda nenhuma vai me amarrar

natildeo importa se satildeo numeacutericas se satildeo literais Natildeo vou viver preso natildeo vou

Corda B ndash Mas que bobagem o que eacute a liberdade senatildeo uma prisatildeo com mais espaccedilo Aleacutem do mais vocecirc precisa de mim sem a minha estrutura sem a minha base vocecirc natildeo pode voar

Ator 2 ndash Acorda vocecirc precisa acordaAtor 1 ndash Vou voar a partir de mim mesmo e

meu voo seraacute ApocaliacutepticoCorda 2 ndash Estamos avisando eacute melhor vocecirc

colaborar porque se natildeo for por acordo vai ser por corda

Corda D ndash Vamos economizar cortes e enforcaacute-lo de uma vez por todas chega desse papo aranha

Ator 2 ndash Oh Alice acorda Acorda Alice(todas as cordas riem) Ator 1 ndash Homem Paacutessaro Corda 3 ndash BUROCRACIA Corda C ndash OrdemCorda B ndash O que permite o prazer eacute a leiCorda 2 ndash Lineares degraus da escada que

se sobe passo a passo passo a passo passo a passo

Corda A ndash Algueacutem viu o encordamento do meu violatildeo

Ator 2 ndash Acorda acorda Nossa que pesadelo terriacutevel finalmente acordei

Corda B ndash Vocecirc eacute apenas uma marionete

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quem te move satildeo as cordasAtor 1 ndash NatildeoCorda 3 ndash Noacutes Somos noacutes que movemos o

mundoCorda 1 ndash Todo Poder agraves CordasCorda A ndash (cantando Sinnerman de Nina

Simone) Power Power PowerAtor 2 ndash Do que vocecircs estatildeo brincando

Posso brincar tambeacutemCorda C ndash De acordo Atores vocecircs aceitam

ou natildeo obedecer agraves cordasAtor 2 ndash Eu aceitoAtor 1 ndash Eu lhes anuncio o Aleacutem do Ator

O que eacute a emotividade em comparaccedilatildeo com a maacutequina senatildeo riso e escaacuternio Oh meus irmatildeos existe ainda muito de emotivo em voacutes Acaso vos digo para que volteis a se emocionar Natildeo Eu vos ensino a Supermarionete O Ator eacute superaacutevel O que tens feito ateacute hoje para superar a ti mesmo O Ator eacute uma corda estendida entre a Emotividade e o Aleacutem do Ator A Supermarionete eacute o sentido do teatro fazei com que sua vontade diga a Supermarionete eacute o sentido do teatro Assim falava o Ator 1

Corda B ndash Para salvar o teatro eacute preciso destruir o teatro os atores e as atrizes devem todos morrer de peste Eleonora Duse

Corda D ndash Agora que estamos entre amigos uma pergunta se somos noacutes que movemos os atores afinal de contas quem manipula as cordas

Corda 1 ndash DeusCorda D ndash Pensei que ele estivesse mortoCorda 1 ndash Sim sim aquele Deus criado

pelos homens jaacute faz tempo dizem que morreu estrangulado por sua proacutepria compaixatildeo mas o nosso Deus a Deusa Corda eacute eterna

Corda B ndash Corda a deusa Corda(todas as cordas Corda a deusa Corda

Corda a deusa corda Corda a deusa corda)Corda 4 ndash Isto natildeo eacute uma entrevista Estamos

na paacutegina 99 do Segundo Ensaio

Visivelmente impressionado com a cena o diretor me pergunta por trecircs vezes se consegui anotar as falas Respondo que alguns trechos escaparam dada a velocidade com que os diaacutelogos aconteceram mas que anotei tudo que pude Comenta com o grupo que para uma boa parte dos estudiosos de teatro natildeo seria difiacutecil aproximar alguns espetaacuteculos do NuTE a uma esteacutetica simbolista o que realmente abriria a possibilidade de cavar essa influecircncia de Gordon Craig com conceitos como o de supermarionete Parabeniza o grupo Um dos atores questiona se a grande influecircncia simbolista do NuTE natildeo viria de Grotowski Alexandre responde que o encenador polonecircs foi essencial para muitas montagens do NuTE um dos pratos principais sem duacutevida Mas que isso natildeo diminui a importacircncia nutritiva de outras refeiccedilotildees como Gordon Craig Artaud Schechner Brecht Heiner Muumlller Meyerhold Bob Wilson

O diretor propotildee visualizar o NuTE como uma tribo de antropoacutefagos Em meio agraves gargalhadas disparadas pelo canibalismo nuteano ndash imagens de uma antropofagia teatral ndash um ator permanece sisudo Assim que a onda de riso comeccedila a baixar ele questiona se natildeo seria exatamente essa a discussatildeo que suscita a cena

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das cordas fazer pensar aquilo que nos prende e ao mesmo tempo alimenta que nos manipula e faz voar que permite criar e aprisiona Sem cordas como Artaud Grotowski Bob Wilson Craig o NuTE natildeo seria NuTE

Alexandre argumenta que pensando assim ficariacuteamos presos ndash amarradosalimentados ndash a uma dialeacutetica panoacuteptico-antropofaacutegica que pode ser uacutetil pode ajudar a levantar um espetaacuteculo mas esse natildeo seria um espetaacuteculo sobre o NuTE O ator ainda seacuterio pergunta qual o motivo disso e Alexandre comenta que esse conceito-corda nos amarra em dois problemas Um problema experimental e um problema interpretativo Com muita paciecircncia e didaacutetica houve um momento que precisou demonstrar com laranjas explica que NuTE soacute era

() experimental porque natildeo haviam leis () Hoje tem a lei e jaacute natildeo eacute mais experimental o ator hoje taacute fodido ele tem que seguir tal lei tal foacutermula ele vai empregar tal meacutetodo e o modo dele chegar laacute no final jaacute taacute demarcado Entatildeo virou mais uma espeacutecie de prisatildeo Tendo muitas ferramentas pra se aprisionar e natildeo pra se libertar () Porque qualquer forma de lei eacute forma de criar limites ou patamares ou entatildeo apoios No momento em que a pessoa taacute se apoiando ou criando apoios ela taacute segura ela taacute tranquila quer dizer nessa proteccedilatildeo existe uma espeacutecie de lei em que ela taacute sendo dominada (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 6)

Jaacute o problema interpretativo continua Alexandre surge quando a cena mesmo experimental como acabou de ser eacute direcionada por esse conceito Tomando a si mesmo como

exemplo desenvolve o argumento ldquoQuando assisti haacute pouco agrave cena de vocecircs fui arrebatado por uma centena de imagens lembranccedilas dos meus passados dos meus futuros das coisas que nunca fui e de algo que venho deixando de ser pude me abandonar por alguns instantes e isso eacute oacutetimo mas se eu estivesse assistindo agrave cena com esse conceito no bolso o que vocecircs acham que teria acontecido comigo Que experiecircncia eu poderia ter Eu seria direcionado empurrado aprisionado amarrado em uma mono-interpretaccedilatildeo Vocecircs percebem o problema disso Se vamos fazer teatro para aprisionar as pessoas nelas mesmas eacute melhor natildeo fazer Se obrigamos nossa plateia a interpretar uma cena atraveacutes de um uacutenico sentido nosso teatro natildeo serve pra nada Teatro natildeo eacute catequese O mais importante eacute que cada um possa experimentar o NuTE do seu jeito Eacute oacutebvio que esse lsquojeitorsquo de experimentar envolve uma seacuterie de coisas o cara vai fazer isso a partir do corpo que ele vem ajudando a construir pra si proacuteprio Tem um povo que chama isso de corpo sem oacutergatildeos Mas essa montagem tambeacutem eacute experimental agraves vezes natildeo daacute certo e o cara natildeo consegue nada natildeo acontece nada com ele natildeo passa nada por ele o corpo simplesmente trava Ele taacute ali assistindo a um puta espetaacuteculo e soacute consegue ficar entediado fica pensando na pizza que vai comer com os amigos depois que a peccedila terminar Noacutes natildeo podemos em detrimento ou por compaixatildeo dos que soacute conseguem pensar na pizza facilitar o acesso porque assim acabamos impondo um uacutenico acesso a todos Isso natildeo

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eacute arte eacute fascismo Agraves vezes a democracia eacute extremamente fascista Hoje eacute moda criticar o teatro comercial Nunca vi problema em se ganhar dinheiro fazendo teatro O problema eacute fazer teatro para impor verdades que ningueacutem tem certeza se satildeo mesmo verdades ou se satildeo deliacuterios compartilhados por um grande nuacutemero de pessoas Noacutes natildeo somos padres somos artistas Por isso quanto mais aberta mais ampla mais plural for nossa arte mais possibilidades de interpretaccedilatildeo teraacute o nosso puacuteblico melhor seraacute o nosso espetaacuteculo Vocecircs compreendem o que eu digordquo Em coro os atores dizem ldquoSim senhorrdquo e batem continecircncia agraves gargalhadas Alexandre natildeo gosta da brincadeira resmunga algo incompreensiacutevel e abandona o ensaio dizendo que natildeo vai mais dirigir ldquoporcaria nenhumardquo Insiste nas frases ldquovatildeo tomar no curdquo e ldquonatildeo dirijo mais essa merdardquo Os atores estupefactos sem saber o que fazer olham uns para os outros o silecircncio pesado e absurdo dura longos segundos ateacute que todos os olhares cruzando o meu cobram uma saiacuteda ou ao menos um sentido provisoacuterio ao acontecimento Eu balanccedilo as matildeos e a cabeccedila atordoado numa gesticular tentativa incapacitada de direcionar a cena Por fim digo-lhes que tambeacutem natildeo sei o que fazer Peccedilo para que aguardem alguns minutos enquanto procuro Alexandre no Corredor e no Camarim

Quando entro no Camarim encontro os atores sentados em ciacuterculo no chatildeo conversando a respeito do projeto 3 Terccedilas Tem Teatro Interrompo o diaacutelogo para

perguntar se Alexandre havia passado por ali Eles respondem que natildeo e querem saber se eu havia compreendido a diferenccedila entre o Hoje tem Teatro e o 3 Terccedilas tem Teatro Nesse instante noto que o espelho do Camarim estaacute completamente preenchido com coacutepias do mesmo cartaz

Informo o grupo sobre o sumiccedilo repentino de Alexandre e sugiro que retornem ao Palco do Grande Auditoacuterio para conversarmos os trecircs grupos juntos Saio em direccedilatildeo ao Corredor acompanhado por um dos atores que retoma a pergunta anterior Caminhando agrave procura de Alexandre digo que minha impressatildeo eacute a de que natildeo existem dois mas sim um uacutenico projeto com dois nomes diferentes Inicialmente em dezembro de 1984 era Hoje Tem Teatro e quando retomaram o projeto em 1986 chamaram de 3 Terccedilas Tem Teatro Natildeo consigo prestar muita atenccedilatildeo na conversa a cada sala que passamos entro e procuro Alexandre O ator que natildeo para de falar um segundo tenta me convencer de que o JOTE-Titac ndash Jogos de

Cartaz produzido por Flaacutevio Meirinho

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SEGUNDO

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Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas ndash seria uma continuaccedilatildeo desse projeto Respondo que podemos pensar numa certa influecircncia mas que existem muitas outras forccedilas atuando na invenccedilatildeo do JOTE-Titac E que teremos um momento mais adequado para fazer essa discussatildeo Ele insiste que sem aquele projeto inicial natildeo seria possiacutevel chegar ao formato dos Jogos de Teatro acredita que tambeacutem a escola de teatro do NUTe tenha origem nesse projeto

Numa respiraccedilatildeo dele consigo emitir alguns sons proacuteximos de ldquosua interpretaccedilatildeo me parece um tanto apressadardquo ele natildeo ouve e continua falando fala cada vez mais e mais raacutepido Quer me convencer a todo custo natildeo sei bem porquecirc de sua estranha teoria sobre o comeccedilo do NuTE Na opiniatildeo dele em 1984 antes do NuTE o que havia era apenas uma ideia na cabeccedila do entatildeo coordenador de eventos do Teatro Carlos Gomes o Hoje tem Teatro Esse coordenador queria provocarfomentar apresentaccedilotildees teatrais e para isso convida os grupos de teatro da cidade e sugere que cada grupo monte em apenas dois meses um texto curto para apresentar sem custo nenhum no palco do grande auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes Ele me pergunta se tenho ideia do preccedilo que o Teatro Carlos Gomes cobra por apresentaccedilatildeo nesse espaccedilo Tento responder mas ele estaacute com a boca entupida de palavras precisa falar e falando me diz que em 1985 o que aconteceu foi que o diretor do grupo de miacutemica da ADR Sulfabril Wilfried Krambeck (o mesmo que trouxe o espetaacuteculo

de encerramento do Hoje Tem Teatro) comeccedilou dentro do Teatro Carlos Gomes a desenvolver um curso de miacutemica que vinha realizando na Sulfabril Resolveu em parceria com Alexandre Venera acoplar a esse curso jaacute que o curso poderia ter o nome dele ou qualquer outro o mesmo NuTE que havia realizado o Hoje Tem Teatro Ao final desse curso os atores montam o espetaacuteculo Pantomimas e nesse ano natildeo ocorre Hoje Tem Teatro Mas o Pantomimas aparece como espetaacuteculo do NuTE Logo no ano seguinte o final do curso volta a ser o Hoje tem Teatro com a diferenccedila de ser chamado de 3 Terccedilas Tem Teatro e fundamentalmente com a diferenccedila de que agora quem se apresenta satildeo apenas os alunos do curso

O ator metralhadora cuspindo doze palavras por segundo quase sem ar pergunta um instante antes de tomar focirclego ldquoNatildeo seria muita coincidecircncia no final do curso de teatro dado pelo NuTE de 1987 aparecer o JOTE-Titac com elementos tatildeo proacuteximos do Hoje Tem Teatro tempo reduzido para montagem textos curtos apresentaccedilotildees de vaacuterios grupos em apenas um dia E com relaccedilatildeo agrave escola de teatro do NUTe sem o Hoje Tem Teatro Wilfried teria aproximado seus cursos de miacutemica do Nuacutecleo de Teatro Experimentalrdquo

Aproveito a respiraccedilatildeo do ator para mais uma vez comentar sua pressa em concluir um roteiro aberto Um roteiro que perde muito quando aprisionado num comeccedilo meio e fim de causas e efeitos Ele natildeo compreende tento novamente dizendo que apesar de um gosto

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popular pelas novelas e romances em que tudo linearmente comeccedila se desenvolve e termina em momentos precisos na vida real as tramas satildeo bem mais complexas Nem sempre uma coisa leva a outra geralmente eacute um emaranhado de redes que forccedila algo a acontecer Tomo como exemplo as atividades desenvolvidas jaacute em 1985 pelo NuTE

0905 ndash Palestra com os atores Pepita Rodrigues e Eduardo Dolabella 1305 ndash Workshop sobre O Comportamento do Elemento no Grupo Teatral (Arte em Grupo) com o Prof Thiers Camargo (do Grupo Sia Santa de CampinasSP) 0606 ndash Palestra com os atores do Grupo La Nave Vaacute [Vagrave] 2706 a 2312 ndash Curso de Miacutemica e Pantomima com o Prof Wilfried Krambeck 12 a 1409 ndash Primeiro Seminaacuterio de Teatro com o Prof Thiers Camargo 09 a 1310 ndash Performances no Estande de Mini-Teatro no IV SALAtildeO BLUMENAUENSE DA CRIANCcedilA 2312 ndash Espetaacuteculo PANTOMIMAS no GATCG

Cada um desses eventos empurrou com a forccedila que conseguia o NuTE numa direccedilatildeo Se o vetor resultante dessas forccedilas naquele ano eacute o que conhecemos hoje natildeo podemos simplificar dizendo que no ponto A comeccedila a mover algo que iraacute passar pelo ponto B e terminar em C Da mesma forma natildeo eacute possiacutevel remeter um acontecimento agrave filiaccedilatildeo direta de uma pessoa O sujeito nunca eacute origem de nada Ele eacute sempre atravessado por uma multiplicidade de forccedilas que o constituem fazendo produzir Tentei falar algo sobre a importacircncia da muacutesica e do teatro tecircxtil para o NuTE mas o ator me interrompeu sorrindo achando impossiacutevel analisar dessa forma porque se assim o fosse todo e qualquer

acontecimento estaria presente forccedilando a histoacuteria do NuTE a ser como ela eacute Eu digo que sim e mais que isso que para aleacutem das muacuteltiplas forccedilas envolvidas no acontecimento o que inventa sentido agrave cena eacute o observador Comento que tudo o que ele fez haacute pouco foi ocupar o lugar de um observador que tentava dar um sentido ao caos das linhas em movimento Ele estranha a ideia de movimento Eu explico que o passado natildeo estaacute parado que ele se move quando tentamos observaacute-lo e complemento dizendo que estou muito mais interessado em uma espeacutecie de geografia ou de arqueologia do NuTE do que propriamente em sua histoacuteria Traccedilar encontrar inventar mapas que ajudem o leitor a sobrevoar paisagens nuteanas eacute isso que estou tentando fazer O ator ironiza meu argumento Natildeo compreende como poderiam as tais forccedilas que estatildeo em disputa caminharem de matildeos dadas rumo ao mesmo vetor Rindo muito ele me pergunta como elas fecham os acordos entre elas Um tanto aborrecido com as piadinhas faccedilo de conta que natildeo ouccedilo a pergunta sempre que vejo uma possibilidade tento me distanciar procurando Alexandre aqui e acolaacute Ele repete a pergunta Novamente natildeo respondo Ele percebe que estou tentando me afastar e levantando a voz pelo pouco de distacircncia que jaacute surgia diz

Ator ndash Como podem essas tais linhas de forccedila que vocecirc diz muacuteltiplas e em duelo permanente estabelecerem um acordo para criar uma paisagem nuteana que possa ser sobrevoada

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SEGUNDO

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Nesse exato instante adentramos ao Corredor A pergunta que chegou antes eacute tomada pelos atores que ali estavam aquecidos na discussatildeo conceitual como parte do jogo cecircnico Iniciam uma improvisaccedilatildeo sobre o tema Interrompo para perguntar sobre Alexandre Como jaacute esperava a resposta foi negativa Explico a situaccedilatildeo e convido o grupo para nos acompanhar ateacute o Palco do Grande Auditoacuterio contente por me afastar finalmente das perguntas fora de hora do ator falante Minha alegria contudo dura apenas umas poucas linhas Assim que comeccedilamos a caminhar mais uma vez ele retornou agrave questatildeo

Ator ndash Como podem essas tais linhas de forccedila que vocecirc diz muacuteltiplas e em duelo permanente estabelecer um acordo para criar uma paisagem nuteana que possa ser sobrevoada

Para minha surpresa um dos atores do Corredor percebendo meu cansaccedilo com a discussatildeo conseguiu costurar uma siacutentese provisoacuteria ao complexo e inesgotaacutevel tema Para esse ator as forccedilas natildeo estabelecem acordos Quem as comanda eacute uma determinada Vontade sua vetorizaccedilatildeo sua siacutentese eacute realizada por essa Vontade ldquoA forccedila eacute quem pode a vontade de potecircncia eacute quem quer () eacute sempre pela vontade de potecircncia que uma forccedila prevalece sobre outras domina-as ou comanda-as Aleacutem disso eacute a vontade de potecircncia ainda que faz com que uma forccedila obedeccedila numa relaccedilatildeo eacute pela vontade de potecircncia que ela obedecerdquo22

O ator perguntante finalmente silencia Vence nele uma forccedila menos ruidosa E assim

22 Deleuze Nietzsche e a Filosofia p 26

chegamos ao Palco do Grande Auditoacuterio Aos trecircs grupos reunidos informo que natildeo consegui encontrar Alexandre em nenhum local do teatro Compartilho a anguacutestia de natildeo saber o que fazer Um ator propotildee que os grupos apresentem uns para os outros como Alexandre inicialmente havia proposto a cena produzida Todos concordam Aproveito para melhorar minhas anotaccedilotildees Ao final das apresentaccedilotildees marco o proacuteximo ensaio para dia 26 de abril de 2015

cena da performance rsquokrsquo na frente marcelo de souza atraacutes silvio joseacute da luz

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TERCEIRO ENSAIO ndash 26 DE ABRIL DE 2015

Domingo e Chuviscos() esperando ateacute as 15h

Imagem Insistente O Excesso

Olho-lacircmina olho-estilete olho-corte olho-navalha olho-faca olho-sangue olho-foice olho-maacutequina-de-roccedilar-grama olho-estripar olho-moto-serra olho-agora-fodeu-tudo Todo o grupo me olhava Alguns chegaram atrasados eacute verdade coisa de cinco a dez minutos mas a grande maioria estava ali desde as 14 horas conforme rezava o contrato Um pouco conversamos um pouco rimos em pouco tempo natildeo havia mais nada Uma uacutenica e excessiva pergunta se espalhava fazendo ranger o silecircncio Alexandre vai continuar dirigindo o espetaacuteculo Se vai onde estaria o desgraccedilado a uma hora dessas se natildeo vai Bom melhor natildeo pensar nisso O atraso dos poucos permitiu explicar por trecircs vezes minha peregrinaccedilatildeo em busca desta resposta assim que cheguei assim que os primeiros atores atrasados chegaram assim que os segundos atores atrasados chegaram Mas agora com toda municcedilatildeo gasta natildeo tinha mais pra onde correr A lacircmina circular dos bem treinados olhares fazia cortar eram finas incisotildees agudas eu as podia sentir

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estridentes transversalizadas em minha pele De nada adiantava repetir as mais de 20 vezes que liguei as tantas que deixei recado ou ainda que pessoalmente estive na casa de Alexandre e que de nenhuma forma consegui encontraacute-lo O silecircncio fazia buraco exigia uma resposta E infelizmente a resposta que veio precipitada e cretina eu concordo foi

ndash Bem pessoal vamos esperar ateacute as 15 horas Se Alexandre natildeo aparecer tenho uma proposta para lhes fazer

O olho-lacircmina foi cedendo lugar ao ciacutenico-olho-interrogativo Nos grupelhos frases sussurradas para que eu ouvisse sem poder ouvir eram abafadas

ndash Esse babaca natildeo vai ter coragem de ndash () mas ele mal sabe escrever quem

diraacute ndash Seria muita arrogacircncia dele acho que

precisamos ndash Na eacutepoca do NuTE sempre foi assim

Alexandre brigava com a gente abandonava os ensaios e depois retornava quem natildeo lembra disso Natildeo podemos permitir agora que esse

Sim a frase que flutuava entre as bocas atuantes me havia escapado Mas nunca me passou pela cabeccedila dirigir o grupo talvez a pressatildeo das lacircminas talvez o silecircncio difiacutecil dizer Agora aleacutem da ausecircncia de Alexandre eu tinha que consertar isso Pra melhorar soacute conseguia pensar na prestaccedilatildeo de contas do projeto no iniacutecio da turnecirc marcada para daqui a dois meses no que iriam dizer nossos

apoiadores se o espetaacuteculo natildeo saiacutesse conforme combinado Seraacute que teriacuteamos que devolver o dinheiro Seraacute que meu nome ficaria queimado para novos projetos Que merda o que fazer O reloacutegio corria 14h43min () 14h49min () 14h55min () 15h () 15h07min () Quando chegou em 15h15min eu havia me transformado num quase budista de quietudes abstratas Um dos atores percebendo resolve abrir a ferida

ndash Parece que Alexandre natildeo vem mesmo Qual seria sua proposta

ndash Na verdade natildeo tenho proposta nenhuma falei para acalmar vocecircs ou para me acalmar natildeo sei ao certo Estou muito ansioso com a prestaccedilatildeo de contas do projeto vocecircs todos estatildeo recebendo seus cachecircs em dia o aluguel desse teatro natildeo eacute barato as refeiccedilotildees as despesas com transporte muita coisa jaacute foi paga mas o que vamos fazer se esse espetaacuteculo natildeo sair Meu receio eacute de que tenhamos que devolver esse dinheiro e isso forccedilosamente vai obrigar cada um de vocecircs a devolver as parcelas que jaacute recebeu

Olho-cifra olho-fraterno olho-noacutes olho-solidariedade Finalmente o grupo me acolhe percebem que o ldquobom andamento do projetordquo natildeo depende apenas de mim Sentamos em ciacuterculo no piso madeirado do palco Conversamos A opiniatildeo era unacircnime Alexandre eacute quem deve dirigir Ningueacutem pode tomar esse lugar Combinamos aguardar seu retorno A grande maioria tinha certeza de que ele iria voltar jaacute que essa natildeo era nem a primeira

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ENSAIO

e nem a segunda vez que Alexandre fazia isso Era mesmo costume dele abandonar os ensaios e depois retornar Mas o que se pode fazer na ausecircncia de um diretor quando ningueacutem se atreve a dirigir Aos poucos foi ganhando forma uma proposta de estudo cuja finalidade seria potencializar as cenas que seriam montadas quando Alexandre retornasse

Assim eles me pediram para que lhes fornecesse algum material novo algo em que estivesse trabalhando nos uacuteltimos dias Eles dedicariam o ensaio de hoje ao estudo desse material e no proacuteximo saacutebado quando Alexandre estivesse conosco assim falavam o utilizariam para composiccedilatildeo das cenas A ideia me pareceu muito boa mas que tipo de material daria conta de uma ressonacircncia dessas A uacutenica imagem que me veio provavelmente pela proximidade havia terminado uma noite antes do ensaio foi a da cronologia dos espetaacuteculos montados pelo NuTE Brevemente expus a pesquisa ao grupo que vibrando com a imagem de acessar numa uacutenica pegada todas as montagens-NuTE insistiam na importacircncia desse material para o espetaacuteculo Como natildeo havia imprimido nenhuma coacutepia pois natildeo imaginava que algo assim pudesse acontecer liguei meu notebook gravei o arquivo num pen-drive e jaacute de saiacuteda em busca de uma graacutefica percebo um ator sacando um projetor multimiacutedia de sua mochila Ele sugere projetarmos a cronologia nas paredes brancas do teatro Achei muito bonita a metaacutefora Foi o que fizemos

EXUBERANTE CRONOLOgIA ESPETACULAR DO TEATRO

EXPERIMENTAL E DO TEATRO ESCOLA NUTEANESCOS

eou PUTA QUE PARIU ESSES CARAS MONTARAM 185 (cento e oitenta e cinco)

ESPETAacuteCULOS

1984ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS PELO

PROJETO HOJE TEM TEATRO

1 ndash Nariz NovoDireccedilatildeo Alexandre Venera e Mauro MachiTexto Robert ThomasElenco Luciana Olivia Josueacute AacutelvaroForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

2 ndash ReencontroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Rubem FonsecaElenco Bete CalinhoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

3 ndash A Dama de Copas e o Rei de CubaDireccedilatildeo Alexandre Venera e Valem RodrigoTexto Timochenco WehbiElenco Tania Verinha

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de dezembro de 1984

1985PANTOMIMA

4 ndash PantomimaSinopse o espetaacuteculo conta com uma sequecircncia de quadros ndash cenas ndash que satildeo apresentadas segundo esta ordem menores abandonados (drama) protagonizado por Sandra Cardoso nascimento vida e morte das plantas relaccedilatildeo destas com os animais selvagens e intempeacuteries da natureza (drama) com participaccedilatildeo de todo elenco O terceiro quadro (drama com grande forccedila expressiva) inicia com um poema sobre a insanidade humana e o respectivo abandono social do louco recitado por Sandra Cardoso na sequecircncia apresenta-se a convivecircncia deste num ambiente manicomial Por fim os quadros cocircmicos com a maquiagem dos personagens sendo feita em cena

Direccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto Wilfried KrambeckElenco Diogo Junkes Sandra Cardoso Valdir Lopes Iraci Krambeck Aacutelvaro A Andrade Roberto SchindlerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 23 de dezembro de 1985

Importante este espetaacuteculo eacute resultado do curso de teatro e miacutemica ministrado por Wilfried Krambeck Curso que aconteceu entre 27 de junho e 23 de dezembro de 1985 com carga horaacuteria de 160 horasaula Eacute a primeira montagem do NuTE que resulta do aprendizado em teatro tendo como recurso para estudar teatro a construccedilatildeo de um espetaacuteculo

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Wilfried Krambeck no anexo Livreto Espetacular23

23 prezado leitor para as doze montagens

mais relevantes preparamos um lsquolivreto

espetacularrsquo que provavelmente

vocecirc jaacute encontrou nos anexos deste

livro O livreto eacute uma coleccedilatildeo de textos que versam sobre

os doze espetaacuteculos escolhidos

Para escrever sobre esses espetaacuteculos foram convidados atores diretores teacutecnicos poetas

que participaram eou assistiram tais montagens

Portanto sempre que

nesta cronologia aparecer o carimbo a seguir eacute sinal de que um bom artigo

lhe aguarda

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ENSAIO1986

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS PELO PROJETO 3 TERCcedilAS TEM TEATRO

5 ndash Alegoria ao Vamos ao Teatro

Direccedilatildeo Alexandre Venera dos SantosTexto Alexandre Venera dos Santos sobre parte da muacutesica Coming home to see youElenco Dennis Raduumlnz Elisete Creuz Isabel Ribeiro Maria Teresa Dias Claudio Constantin Sandra Cardoso Flavio Meirinho Deise Gonccedilalves Waldir Lopes Marlise dos Santos Alexandre Correia Deuceacutelia Travasso Deliani Travasso Evi Geisler Tanise Creuz Leandro de AssisForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986Importante diferente do ano anterior onde apenas Wilfried Krambeck ministrou aulas o curso de iniciaccedilatildeo ao teatro em 1986 eacute dado por vaacuterios professores Ao final do curso temos o 3 Terccedilas Tem Teatro (em junho) e as apresentaccedilotildees finais do curso de iniciaccedilatildeo ao teatro (em julho) com praticamente os mesmos atores-alunos Aleacutem de professor nesse ano

ldquoPandareco O Rei do Risordquo Esquete apre-sentado pelo Grupo Teatrhering o qual fora convidado pelo NuTE para se apresen-tar no encerramento do 3 Terccedilas Tem Tea-tro em 24 de junho de 1986 Elenco Antonio R Carvalho Cleusa M de Melo Custoacutedia Marcos Inecircs Pereira Joseacute Lino Frutuoso e Rosimeri Lunelli Di-reccedilatildeo Claacuteudio A Sch-midt

Wilfried Krambeck tambeacutem coordenou e organizou o curriacuteculo dos cursos

6 ndash Morte

Direccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto charges do cartunista chileno COPIElenco Adriana Kalckmann Wilfried Krambeck Aacutelvaro de AndradeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

7 ndash Segunda-feira de Cidade GrandeDireccedilatildeo direccedilatildeo coletiva Texto autoria coletiva sobre tema expostoElenco Isabel Ribeiro Tanise Cruz Deuceacutelia TravassoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

8 ndash Diversotildees EletrocircnicasDireccedilatildeo Flavio MeirinhoTexto adaptaccedilatildeo de Flaacutevio Meirinho sobre tema de Arrigo Barnabeacute

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Elenco Flavio MeirinhoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

9 ndash CanibalismoDireccedilatildeo Dennis RaduumlnzTexto Luiacutes Fernando VeriacutessimoElenco Evi Geisler Claudio Constantin Leandro de Assis Dennis RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

10 ndash O SonhoTexto adaptaccedilatildeo de Marlise dos Santos sobre muacutesica de VanusaElenco Marlise dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

11 ndash Gecircnio e Cultura

Direccedilatildeo Alexandre Venera dos SantosTexto Umberto Boccioni

Elenco Waldir Lopes Aacutelvaro de Andrade Sandra CardosoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de junho de 1986

MOSTRA DE FINAL DE CURSO ndash PRIMEIRO SEMESTRE

12 ndash Grito dacuteAlmaDireccedilatildeo Deise GonccedilalvesTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Tanise Creuz Elisete Creuz Marlise dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

13 ndash E isso eacute vidaDireccedilatildeo IsabelAutor do Texto criaccedilatildeo coletivaElenco Deuceacutelia Deliani Leandro RosaneForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

14 ndash Ciranda ao redor da fonteDireccedilatildeo Dennis RaduumlnzAutor do Texto Dennis RaduumlnzElenco Dennis Raduumlnz Maria do Carmo Machado Lauro RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

15 ndash OutroraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 31 de julho de 1986

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MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

16 ndash Essa Tal de EvoluccedilatildeoDireccedilatildeo Wilfried Krambeck Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 15 de outubro de 1986Importante apresentaccedilatildeo de alunos do Curso de Miacutemica

CLASSE gLACEcirc

17 ndash Classe GlacecircSinopse Classe Glacecirc eacute um espetaacuteculo em dois atos Na primeira parte atraveacutes de uma coletacircnea de textos baseados em artigo de Luiacutes Fernando Veriacutessimo os atores se revezam nos vaacuterios momentos repetindo situaccedilotildees que como um exerciacutecio teatral mostram os problemas que as diferenccedilas de classes proporcionam na luta pela sobrevivecircncia e a esperanccedila de se elevar nos diversos niacuteveis sociais A segunda parte eacute uma reflexatildeo-praacutetica de um confronto das classes Cada um ldquovecircrdquo agrave sua maneira os problemas e as vantagens do outro E como na paraacutebola A Raposa e as Uvas cada classe se orgulha das suas desventuras e

ironiza as qualidades da outra O fio condutor de toda a proposta desse segundo ato eacute o texto ldquoO Mendigo ou o Catildeo Mortordquo de autoria de Bertold Brecht que em sua teoria teatral nos solicita refletir criticamente muito mais sobre a mensagem colocada (texto) do que sobre o meio de execuccedilatildeo (desempenho) embora um seja o complemento do outro ldquoO Mendigo ou o Catildeo Mortordquo eacute em si mesmo uma faacutebula a paraacutebola do Espelho Espelho Meu e eacute bom saber que quem estaacute no trono procura ficar informado

Direccedilatildeo Alexandre Venera Texto adaptaccedilatildeo sobre textos de Luiacutes Fernando Veriacutessimo e sobre o texto O Mendigo ou o Catildeo Morto de Bertold BrechtElenco Alan Ada Kardek Aacutelvaro de Andrade Claudio Constantino Dennis Raduumlnz Deise Gonccedilalves Deuceacutelia Travasso Elisete Creuz Isabel Ribeiro Joatildeo de Oliveira Marlise dos Santos Maria Teresa Dias Rosane Paasch Tanise Creuz Antonieta KrausForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 09 de outubro de 1986Importante ateacute onde conseguimos mapear foi a primeira vez que um grupo de teatro blumenauense montou Bertold Brecht

VEIAS CATIVAS

18 ndash Veias Cativas Sinopse um espetaacuteculo ldquomusicadordquo porque natildeo eacute cantado mas eacute dublado e falado natildeo eacute danccedilado mas eacute coreografado e interpretado Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto poemas de Rosane Magaly Martins e

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Muacutesicas de Ney Matogrosso Elenco Alan Alda Kardek Aacutelvaro de Andrade Carlos dos Santos Claus Jensen Evelis Sailer Gilmar Borges Marlise de Valbone Neli Lenzi Raquel Furtado e Rosane Magaly MartinsForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de dezembro de 1986

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Rosane Magaly Martins no anexo Livreto Espetacular

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21 CADEIRAS

19 ndash 21 Cadeiras Sinopse veja bem num espetaacuteculo a criaccedilatildeo espontacircnea para o artista eacute o tempero e para o puacuteblico eacute o divertimento O improviso eacute nosso companheiro em todas as nossas atitudes Nossa vida eacute um improviso Todos improvisam no relacionamento no trabalho no amor na briga ou no sofrimento Quando se estaacute por cima por baixo colocado de lado ou ateacute no meio natildeo se conhece precisamente o iniacutecio

noacutes nos preocupamos com o fim e soacute sabemos o que passou Assim eacute com a vida como com o espetaacuteculo ldquo21 Cadeirasrdquo Para a vida o tema do improviso eacute viver e para o espetaacuteculo ldquo21 Cadeirasrdquo o improviso eacute relacionado com o tema tiacutetulo que assenta anatomicamente a nossa proposta de sobreviver Pegue a sua cadeira e venha assistir ao nosso improviso Sente-se agrave vontade mas cuidado com a Aids que eacute o tipo de doenccedila que se pega sentando em cima Sinta-se confortavelmente sentado em nossa roda Noacutes vamos girar virar e torcer por vocecirc E isso eacute soacute o iniacutecioDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Wilfried Iraci Gilberto Helena Tete Marcia Raquel Aacutelvaro Adriana Tanise Rosane Karla Antonieta Dido Diogo Dennis Marlise Sandra Alan Ula Nataacutelia JotaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 10 de marccedilo de 1987

O TUacuteNEL

20 ndash O Tuacutenel Sinopse em linhas gerais O Tuacutenel mostra a passagem ldquodesta para a melhorrdquo E essa passagem eacute tatildeo raacutepida que ele nem se daacute conta Excitado natildeo para de falar mas aos poucos vai enfraquecendo prestando mais atenccedilatildeo a sua volta ao amigo Jorge que vai ao seu encontro ndash compreendendo por fim sua verdadeira situaccedilatildeo Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Paer LagerkvistElenco Alex Muumlller Claus Jensen

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Helena Brown Aacutelvaro de AndradeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 29 de maio de 1987Importante inauguraccedilatildeo do Espaccedilo (O)Caso

ATENDENDO A PEDIDOS

21 ndash Atendendo a PedidosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de junho de 1987

MORCEgO PESSOA

22 ndash Morcego PessoaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 26 de outubro de 1987

O HOMEM DO CAPOTE E OUTROS SERES

23 ndash O homem do Capote e Outros SeresSinopse haacute muitos muitos anos continuamen-te se encontram num espaccedilo indeterminado vaacuterios seres Estes seres desenvolvem suas atitudes individualizadas a distacircncia de maneira impenetraacutevel e particular O encontro com outros seres eacute teacutecnico e restrito ao essencial sendo o primeiro encontro muito curto Estes seres se preocupam narcisicamente ao ver e ouvir o outro pouco tentando entendecirc-lo ou criticaacute-lo Os seres necessitam do conviacutevio social e se aproximam daqueles com os quais sentem afinidades Com a soma dos interesses ocorre a ligaccedilatildeo total onde a uniatildeo de qualquer maneira faz crescer Entretanto a desuniatildeo como um desencanto acontece afastando os seres Entre si ou entre

os seus propoacutesitos haacute a cisatildeo Esta ordem de acontecimentos tem uma sequecircncia ciacuteclica e ateacute retroacutegrada que aos poucos constroacutei ou ateacute rapidamente se transforma na essecircncia do passado E o passado atraveacutes da experiecircncia dos seres constroacutei uma ldquomedardquo individual ou coletiva ateacute onde satildeo armazenadas as experiecircncias jaacute sentidas e representadas pelos ldquofios da experiecircnciardquo A ldquomedardquo eacute o acuacutemulo de propostas realizadas onde satildeo empilhadas uma a uma numa construccedilatildeo cocircnica ldquoa piracircmide da existecircnciardquo Ao ter-se demais de um soacute fio de experiecircncia na ldquomedardquo deste ser haacute uma deformaccedilatildeo na construccedilatildeo dessa ldquomedardquo e sua consequente desestabilizaccedilatildeo Entre outros seres o Homem do Capote deu importacircncia demasiada a uma soacute atitude e faz-nos preocupar como outros seres

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera a partir de poemas de Lindolf Bell e criaccedilotildees coletivasElenco Carlos Alan Giba Juliana Sabrine Mari Jota Zeacute Joatildeo Dennis Gilberto Wilfried Iraci Do Carmo Cleacuteo Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 01 de novembro de 1987Importante primeiro espetaacuteculo assinado pelo Grupo Liturgia do Teatro que nas proacuteximas montagens iraacute aparecer como Grupo Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques Em Bomba Nucleada zine manifesto escrito por integrantes do NuTE poacutes-apresentaccedilatildeo de O Homem do Capote e Outros Seres no Fecate ndash Festival Catarinense de Teatro ndash lecirc-se ldquo() durante todo o espetaacuteculo a condiccedilatildeo de desencanto eacute flagrante e segundo Antonin Artaud em um de seus manifestos sobre as obras-primas ele nos adverte ldquoUma das razotildees da atmosfera asfixiante na qual vivemos sem escapatoacuteria possiacutevel e sem remeacutedio ndash e pela qual somos

Foto Acervo NuTE

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todos um pouco culpados mesmo os mais revolucionaacuterios dentre noacutes ndash eacute o respeito pelo que eacute escrito formulado ou pintado e que assumiu uma certa forma como se toda expressatildeo jaacute natildeo estivesse exaurida e natildeo tivesse chegado ao ponto em que eacute preciso em que as coisas estourem para que se recomeccedilasse tudo de novordquo E eacute nessa afirmaccedilatildeo de Artaud que se baseia o tema expressivo do espetaacuteculo mostrando essa singular e invulgar maneira de se interpretar a arte cecircnicardquo

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Dennis Raduumlnz no anexo Livreto Espetacular

gESTO E SENTIMENTO Agrave MODA DA CASA

24 ndash Gesto e Sentimento agrave Moda da CasaDireccedilatildeo Wilfried KrambeckTexto Diogo Junckes Ceacutesar Reis Wilfried KrambeckElenco Ceacutesar Augusto Reis Diogo Fernado Junkes Iraci Potrikus Wilfried KrambeckSonoplastia Carlos ZanonForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 27 de julho de 1987

1988 ILUSTRACcedilAtildeO gESTUAL DE POESIAS

BLUMENAUENSES

25 ndash Ilustraccedilatildeo Gestual de Poesias BlumenauensesDireccedilatildeo e Narraccedilatildeo Wilfried KrambeckTextos autores blumenauenses diversos

Atores Iraci Potrikus Ceacutesar Reis e Dennis RaduumlnzIluminaccedilatildeo Carlos L Correia (Cahco)

O MOCcedilO QUE CASOU COM MULHER BRABA

26 ndash O Moccedilo que Casou com Mulher BrabaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Don Juan ManuelElenco Rosana Elke Veruska Betina Marcia Arethuza Sabrina Tacircnia Sandra Eunice Adilson Samara Nelson ArianaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 13 de junho de 1988

APOCALYPSIS CUM FIgURIS NA VISAtildeO DE SANTA CATARINA OS ANJOS E NOacuteS

27 ndash Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e NoacutesSinopse Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes eacute um espetaacuteculo de colagens das diversas passagens da vinda de Cristo visualizadas sob o acircngulo da modernidade do tempo em que vivemos

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Apocalypsis natildeo eacute um teatro convencional pela ausecircncia de diaacutelogo e trama situaccedilotildees que normalmente norteiam a comunicaccedilatildeo dramaacutetica Para o espectador processa-se uma viagem transcendental que passa pelos seus olhos com a histoacuteria que estaacute embutida em sua memoacuteria ancestral Essa montagem eacute um poema poesia pura e eacute mais faacutecil entender um poema do que explicaacute-lo O Apocalypsis se define pela expressatildeo do corpo do ator e atraveacutes dos textosfragmentos poeacuteticos de vaacuterios poetas catarinenses que servem de subsiacutedios para citaccedilotildees e desabafos emocionais Direccedilatildeo Alexandre Venera Texto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre texto de Konstanty Puzyna que discute a montagem original de Jerzy Grotowski (1967) e sobre textos de escritores e poetas catarinenses como Lindolf Bell Cruz e Souza Artemiro Zanon entre outros Elenco Aacutelvaro de Andrade Carlos Crescecircncio Claus Jensen Dennis Raduumlnz Giba de Oliveira Marcos Suchara Peacutepe SedrezForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 28 de novembro de 1988 Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesLivreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Alexandre Venera dos Santos no anexo Livreto Espetacular

1989

VARIANTE WOYZECK-MAUSER

28 ndash Variante Woyzeck-MauserSinopse com essa montagem o Grupo da

Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques efetua uma releitura de dois expoentes da dramaturgia universal Independentemente estes textos no original permitem um realinhamento de cenas de iniacutecio meio e fim que entretanto natildeo alteram o conteuacutedo da obra O que caracteriza Variante Woyzeck-Mauser como outra obra original eacute a uniatildeo de alguns temas resgatados de um e de outro texto dentro de uma outra oacutetica divergente da dos originais em que se baseia O resultado eacute uma mensagem irocircnica sobre o falso moralismo da nossa sociedade um jogo da vida para o cidadatildeo que passa a ser como uma marionete nas matildeos de uma sociedade que lhe cobra as mais absurdas atitudes

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera Giba de Oliveira e Peacutepe Sedrez sobre texto de Georg Buumlchner (Woyzek) e Heiner Muumlller (Mauser)Elenco Roberto Murphy Ivan Felicidade Aacutelvaro de Adrade Joatildeo da Matta Alex Muumlller Ernesto Santos Everton Fonseca Michelli Rocha Paulo de Araujo Sidnei Mafra Regina Simas Rita Macado Peacutepe Sedrez Marcio Mori

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Amarildo Fortunato Claus Jensen Cleide Furlani Dennis RaduumlnzForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 22 de outubro de 1989

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Roberto Murphy no anexo Livreto Espetacular

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SR MEURSAULT O ESTRANgEIRO DE CAMUS

29 ndash Sr Meursault O Estrangeiro de CamusDireccedilatildeo Giba de OliveiraAutor do Texto livre-adaptaccedilatildeo de Giba de Oliveira e alunos do NuTE sobre texto de Albert CamusElenco Natalie Rodrigues Rafaela Rejane Paula Margareth MuumlllerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de outubro de 1990Grupo ARTEATROZ

PELOS QUATRO CANTOS TEATRO DA COR EM QUATRO ATOS

30 ndash Pelos quatro cantos ndash Teatro da Cor em Quatro AtosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-tal

Estreia 10 de junho de 1986

1991

MACBETHacuteS UMA INTERFEREcircNCIA NA HISTOacuteRIA

31 ndash Macbethacutes ndash uma Interferecircncia na histoacuteriaSinopse a histoacuteria descreve a ascensatildeo e queda de um homem cuja sede de poder acaba por subverter os valores sociais da vida em grupo Aborda a transgressatildeo das leis da sociedade da solidariedade do amor da universalidade Macbeth eacute a transgressatildeo do homem Esta versatildeo tem no Macbeth natildeo a cobiccedila apenas pelo poder mas principalmente pela vida Contemporaneamente critica o homem preso a si mesmo que toma decisotildees impensadas e vive em busca da vida da liberdade do sossego e impressionantemente busca ateacute mesmo o fim Em meio agrave busca desse poder desconfianccedilas e hipocrisias o ser e o natildeo ser agem conjuntamente A dualidade eacute transparente Mas eacute observaacutevel todos temos a sede de vida Ou de VIDA

Direccedilatildeo Alexandre Venera

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Texto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre texto de W ShakespeareElenco Peacutepe Sedrez Carlos Crescecircncio Giba de Oliveira Marcelo de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experimen-talEstreia 20 de agosto de 1991

No blog wwwnuteparatodoswordpresscom Raymond Chandler escreve

LENDAS DO NUTE ndash PARTE LXIUm vento forte e uacutemido entrava pela janela dificutando o trabalho de taxidermia em Antonio Leopolski Marcelinho de Souza levantou fechou a maldita janela e vestiu o figurino do defunto Algueacutem bateu agrave sua porta Era sua matildee mas felizmente a porta estava trancada Marcelinho reviu todos os passos da reestreia de Macbeth para o dia seguinte Ningueacutem ndash a natildeo ser Silvio da Luz seu cuacutemplice ndash sabia que um ator seria substituiacutedo na uacuteltima hora E nem deveriam saber

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Iran da Silveira no anexo Livreto Espetacular

PIQUENIQUE NO CAMPO

32 ndash Piquenique no Campo Sinopse do confronto entre os horrores e a inconsciecircncia dos visitantes e participantes deste inusitado piquenique nasce um cocircmico (e ao mesmo tempo criacutetico) diaacutelogo absurdo O soldado Zapo encontra-se entediado no campo de batalha Para animaacute-lo seus pais resolvem fazer uma visitinha propondo um piquenique em pleno front Durante o lanche surge o inimigo Apoacutes capturaacute-lo e sem saber o que fazer com o prisioneiro convidam-no para o lancheDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Fernando ArrabalElenco Giba de Oliveira Marcelo de Souza Francinete Bittencourte Pedro Dias Cintia Gruener Patriacutecia dos Santos Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 28 de novembro de 1991Grupo Grupo Meu GrupoImportante o elenco citado eacute o da montagem de 1993

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

33 ndash Big hamletForccedila Cecircnica Preponderante Teatro escolaEstreia 1 de Julho de 1991

34 ndash Quando se Segue a Tradiccedilatildeo e Quando se RefleteForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

35 ndash A Mulher judiaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

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36 ndash Proacutelogo no Teatro de FaustoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 1 de Julho de 1991

37 ndash Bicharada no BarrilForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Texto Wilfried KrambeckEstreia 1 de Julho de 1991

PRA NAtildeO DIZER QUE NAtildeO FALEI

38 ndash Pra Natildeo Dizer que Natildeo FaleiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 8 de dezembro de 1991

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO DEU PANE NO BLACKOUT) SEgUNDO SEMESTRE

39 ndash O TuacutenelForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1991

40 ndash No Paiacutes da AnestesiaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 19 de dezembro de 1991

41 ndash Os CegosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola Estreia 19 de dezembro de 1991

1992 O PEcircNDULO

42 ndash O PecircnduloSinopse quando uma era estaacute finalizando

tornam-se visiacuteveis as grandes e numerosas hecatombes Ira de deuses () Destino cruel () Finda o seacuteculo XX e as palavras de ordem satildeo ecologia e a era de aquarius O ciclo macrocoacutesmico se repete e o homem continua bola de futebol dos deuses Eacute a consciecircncia massificante atropelando o indiviacuteduo O espetaacuteculo trata do homem neutralizado espoliado e romacircntico uma das esquecidas engrenagens nessa ldquocoisardquo que nos envolve O homem que natildeo distingue o amor do romacircntico Haacute de se adquirir ternura sem perder a dureza Que a consciecircncia aquariana seja em cada um de noacutes Tememos a besta do apocalipse e natildeo a vemos ao nosso lado ela nos contamina com o conformismo Criar eacute coisa de outro mundo A aacutegua baixou e continua-se afogado como antes das cheias A solidatildeo eacute a uacutenica coisa que nos faz parecidos

Direccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Peacutepe SedrezElenco Ciacutecero da Silva Adriana Sebastiatildeo Elisabeth Thomeacute Maicon Rossi Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 30 de junho de 1992Grupo (CO) INCIDENTES

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

43 ndash Estaccedilatildeo Agosto a exceccedilatildeo e a lendaDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Rosane Magaly Martins e Giba de OliveiraElenco Aline Antunes Elisete Possamai Erna Parquer Francinete Bittencourt Francisco Koch Jerusa de Saacute Mariana da Silva Odete

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TERCEIRO

ENSAIO

Maria Osmar Gomes Priscila de Souza Sandra da Silva Sebastiatildeo Crispim Wlademir TreisForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1992Grupo Sugiro Jaacute

44 ndash A Morte de DantonDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto livre-adaptaccedilatildeo de textos de Bertold Brecht Georg Buumlchner William B Huie LrsquoExpressElenco Alessandra Tonelli Cristiana Venera Gabriele Bruns Itamar Burmaniere Jackson Assino James Beck Marineusa Goterra Nelson Souza Soraia de Souza Valdete SchuterForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1992Grupo Ato ComCreto

45 ndash Natildeo Carta Aberta aos Senhores NazistasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1992

46 ndash A Mente CaptaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1992

47 ndash Na Casa do Dr jacobsenDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Graziela Cicatto Jeferson Fietz Jubal Santos Lenara Santos Magali de Jesus Rafael Ruzinski Tamara Sanches Melissa da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1992Grupo PAPA BATATA (DA PESADA)

48 ndash Viagem ao Coraccedilatildeo da CidadeDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Adhemar de OliveiraElenco Ana Nunes Ana Paula Souza Andreia da Conceiccedilatildeo Elisangela Pereira Evandro Costa Janaina Nascimento Juliana Maske Juliana Garcia Luana dos Santos Osnildo Souza Pablo Lopes Verocircnica Lopes Amanda WernerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 28 de agosto de 1992Grupo Grupo do Ser ou natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

49 ndash Chapeuzinho agraves AvessasDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Peacutepe SedrezElenco Jeferson Fietz Melissa Silva Adalgisa da Silva Graziela Cicatto Carolina Trisotto Renata Muumlller Rafael Ruzinski Eugenio Lingner Peacutepe SedrezForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo PAPA BATATA (DA PESADA)

50 ndash O DragatildeoDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Ellen WolfranElenco Antonio Leopolski Juliana Garcia Pablo Lopes Osnildo Souza Amanda Werner Renaty Affonso Andressa Deschamps Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo Grupo do Ser ou Natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

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TERCEIRO

ENSAIO

51 ndash Quando a Coisa Vira CasoDireccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Elias GomesElenco Ana Nunes Barbara de Aguiar Juliana Maske Pablo Lopes Andressa Deschamps Janaina Nascimento Osnildo Souza Verocircnica LopesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 27 de novembro de 1992Grupo Grupo do Ser ou Natildeo Ser ndash Um Tributo a Shakespeare

52 ndash um Canto nas Alturas Direccedilatildeo Antonio LeopolskiTexto Giba de OliveiraElenco Geraldo Niada Fernanda Muumlller Renata Marques Paula Igreja Vilmar Schroeder Ameacuterico Kichelli Greicy Tambosi Aline Luchtenberg Sandra Daicampi Josiane Theiss Rubia Nascimento Joseacute da Cruz Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro 1992

53 ndash Diante dos seus olhosDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto textos de Peacutepe Sedrez Maacutercia Sedrez Luis Alberto CorreiaElenco Airton Berkenbroch Arnaldo Formentin Araci Molinari Luiz Alves Marcia Gazania Marileusa Pisa Magara Casas Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro 1992Grupo Eacutethos

PALAacuteCIO DOS URUBUS

54 ndash Palaacutecio dos urubusSinopse trata-se de uma comeacutedia desenhada

sobre uma ilha fictiacutecia ldquoo paiacutes delirante das bananas do sol e do marrdquo e cujo cenaacuterio um palaacutecio eacute a metamorfose de um terriacutevel e decadente bordel A histoacuteria passa-se em tal ilha cercada de tubarotildees por todos os lados onde se vive uma episoacutedica e eletrizante aventura poliacutetica de capa-espada Em meio a conspiraccedilotildees diversas e situaccedilotildees absurdas a comeacutedia mostra de que forma pode o poder passar de matildeos sem realmente passar de matildeos ou ainda de que forma o paradoxo pode ser vital a uma manobra conjunta entre vaacuterios poderesDireccedilatildeo Giba de Oliveira Texto livre-adaptaccedilatildeo do texto de Ricardo VieiraElenco Cristiana Venera Jackson Assino Priscila de Souza Francinete Bittencourt Alesandra Tonelli Mariana da Silva Francisco Koch Gabriele Bruns Sandra da Silva Erna Packer Itamar Burmaniere James Beck Jerusa de Saacute Marineusa Goterra Mauro Ribas Maicon Rossi Nelson Souza Odete Maria Sebastiatildeo Crispim Soraia de Souza Wlademir Treiss Giba de Oliveira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 14 de dezembro de 1992Grupo Gratilde Cruz da Cornetada Nacional

1993

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO PROJETO PULSAR SIPAT E OUTROS

55 ndash Nosso Reino Por um Bom GuerreiroEstreia 24 de marccedilo de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

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TERCEIRO

ENSAIO

56 ndash Queda LivreEstreia 31 de marccedilo de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

57 ndash Godot Espera GodotEstreia 14 de abril de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food

58 ndash Aacuteguas de Cima Para BaixoDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Wilfried KrambeckElenco Carlos Crescecircncio Silvio Joseacute da Luz Pedro DiasEstreia 05 de maio de 1993Importante espetaacuteculo-intervenccedilatildeo apresen-tado no Restaurante Percyrsquos Fast Food Cenaacuterio por Tadeu Bittencourt

No blog wwwnuteparatodoswordpresscom Peacutepe Sedrez escreve

ldquoOi gente boa Sobre a montagem de AacuteGUAS DE CIMA PRA BAIXO comeacutedia inteligentiacutessima do Wilfried Krambeck quando tive a honra de dirigir contou com os atores Carlos Crescecircncio Pedro Dias e Silvio Joseacute da Luz O cenaacuterio do Tadeu Bittencourt como cita o Wilfried em comentaacuterio acima causou mesmo grande sensaccedilatildeo na plateacuteia do Bar Percyrsquos na Alameda Rio Branco atraindo a atenccedilatildeo dos que por aquela alameda passavam O bar ficou superlotado quando as pessoas perceberam que naquela noite natildeo chovia em Blumenau exceto dentro do Percyrsquosrdquo

59 ndash Aacutelcool a Ser Dito Estreia 09 de agosto de 1993Importante Projeto SIPAT

60 ndash As Cartas MarcadasEstreia 03 de outubro de 1993

61 ndash Cuidado com o Tamanduaacute BandeiraEstreia 17 de outubro de 1993

RODA gIgANTE

62 ndash Roda GiganteSinopse a peccedila aborda a incessante e desenfreada busca da sapiecircncia universal Quem somos Para onde vamos De onde viemos Satildeo questionamentos co-muns do ser humano No enredo de A Roda Gigante um grupo de pessoas interessado na resposta desses questionamentos e guiado por um cicerone parte numa viagem maacutegica e misteriosa para descobrir isso que daacute e potildee fim agrave vida Frutos do exerciacutecio dessa viagem surgem ldquoMelusina e

Foto

Ace

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Nu

TE

Acervo NuTE

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ENSAIO

Remodinrdquo personagens de uma lenda francesa Ele eacute um simples mortal Ela uma fada amaldiccediloada pela matildee ndash toda noite de saacutebado para domingo sofre um estranho encanto Juntos Remodin e Melusina transgridem a lei do racismo Na acircnsia de saber tudo de tudo o homem dirigindo seu poder inventivo em busca do conhecimento desde a invenccedilatildeo da roda ndash sua maior descoberta ndash vagueia numa eterna viagem rumo ao desconhecido A roda guiada por esses intreacutepidos turistas torna-se gigante siacutembolo de inventividade conhecimento e desejo de evoluccedilatildeo A peccedila ambienta-se e desenvolve-se no clima ldquopsicodeacutelicordquo do filme The Magical Mistery Tour realizado pelos BeatlesDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Alexandre Venera Elenco Aacutelvaro de Andrade Cintia Gruener Patriacutecia dos Santos Ciacutecero da Silva Marcelo de Souza Marcia Olinger Marcus Andersen Viviane Cechet Adriana Sebastiatildeo Gerusa Teixeira Michelli Ferreira Maicon Rossi Ceacutesar

Rossi Silvio da Luz Alexandre FariasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 20 de junho de 1993Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Ensaio para assistir ao ensaio geral do espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=apxF3Cdpffc

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Tchello drsquoBarros no anexo Livreto Espetacular

MOSTRA DE FINAL DE CURSOPRIMEIRO SEMESTRE

63 ndash Ele eacute Assim MesmoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto livre-adaptaccedilatildeo de textos de diversos autores blumenauenses provenientes do JOTE-TitacElenco Alessandra Heiden Elias Moura Elisangela Bertoli Hugo Baumgarten Juccedilara Balzan Niraci Jr Pethra Naves Roberta Tomelin Alice Taufer Carolina Quezada Carla Thomas Cleide de Oliveira Joatildeo Rodrigues Marileacuteia Almeida Naacutedia Sais Renata Muumlller Salete da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Charanga Natildeo Batizada

64 ndash Paz Nem Que Seja Na Porrada

Foto Acervo NuTE

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TERCEIRO

ENSAIO

Direccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Pedro Mauriacutecio DiasElenco Adriana Amaro Ana Cristina Nunes Andreacuteia Oliveira Ariel Espiacutendola Cintia Huerves Fabio Schaefer Gerusa Matos Janaina Nascimento Joseacute Volkmann Liliane Jarschel Marcelo de Oliveira Patriacutecia Buumlrigo Taiacutes Dalfovo Valsir Elias Zuleica DorowForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Filhos da Meretriz

65 ndash O Poema para o MundoDireccedilatildeo Silvio da LuzTexto Nassau de SouzaElenco Viviane Cechet Ciacutecero da Silva Jerusa Teixeira Vilmar Schroeder Indira Pereira Luciana May Andreacutea dos Santos Juliana VendramiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 22 de agosto de 1993Grupo Contra Senha do Lado do AvessoImportante trata-se de espetaacuteculo convidado para encerramento da mostra

SENHORAS E SENHORES

66 ndash Senhoras e SenhoresSinopse Senhoras e Senhores natildeo eacute apenas mais um espetaacuteculo teatral Eacute um protesto Um grito alto e forte contra o desrespeito com a nossa cultura Noacutes natildeo queremos cultura Noacutes exigimos Eacute dever do Estado incentivar as manifestaccedilotildees artiacutesticoculturais de seu povo sim senhoras e senhores Em nosso caso um povo que trabalha e bebe chopp natildeo encontra nestas senhoras e nestes senhores que ocupam

cargos oficiais o incentivo ou a motivaccedilatildeo para abrir suas mentes e coraccedilotildees para receber a tatildeo sonhada e legiacutetima cultura Malditos tiranos culturais ou ponham suas cabeccedilas no lugar ou tirem suas matildeos de nossos bolsos ou ergam suas bundas destas cadeiras Natildeo suportamos mais tamanho descaso tamanha omissatildeo Chega de engodos Abaixo a Tirania CulturalDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Giba de OliveiraElenco Marcelo Fernando de Souza Fran Bittencourt Cintia Gruener Alvaro Alves de Andrade Patriacutecia dos Santos Silvio da Luz Leacuteo Almeida Edilamar da Silva Alexandre Venera dos Santos Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 05 de dezembro de 1993Grupo Por Noacutes Natildeo Desatados e Grupo Meu GrupoImportante espetaacuteculo-protesto que teve origem no JOTE-Titac

LIvreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Peacutepe Sedrez no anexo Livreto Espetacular

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO SAIDEIRA TEATRAL) ndash SEgUNDO SEMESTRE

67 ndash Tudo Azul No hemisfeacuterio SulDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Marcos BorgesElenco Alessandra Heiden Hugo Baumgarten Niralci da Silveira Roberta Tomelin Sebastiatildeo de Souza Taiacutes Dalfovo Cintia Hueves Mauro Ribas Carlos Crescecircncio Silvio da Luz Juccedilara Balzan

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TERCEIRO

ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro 1993Grupo Nuacute Anonimato

68 ndash O Ciacuterculo de Giz CaucasianoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Bertold BrechtElenco Ana Cristina Nunes Paula Igreja Priscila de Souza Patricia Buacuterigo Joseacute Volkmann Volmar Schroeder Luciana May Cristiana Venera Nelson de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro 1993Grupo Grupo AH

69 ndash Quanto Riso Oh Quanta AlegriaDireccedilatildeo Marcelo F de SouzaTexto Marcelo F de SouzaElenco Ana Paula Girardi Sylvia Penkhun Adriana Gotzinger Eduardo Reiter Daniele Machado Emanoelle da Cunha Cristina Scheefer Karina Muumlller Susan Kotmann Elisaura da Silva Fabiana Goll Raquel Rodrigues Ana Priscila Benitez Faacutebio Marciacutelio Ingon Erdmann Rafael de Almeida Keila Peixer Claudia Feacutelix Regiane Ferreira Ticiane Menschein Karina Shmitt Fabyana Raulino Samira TschoekeForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1993Grupo Cuspiu Eu Tocirc Anotando

70 ndash A Entradeira (Soacute) no ParaiacutesoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Giba de Oliveira Wilfried Krambeck e Umberto BoccioniElenco Afonso Carneiro Fabiano Schlosser

Luacutecia Siqueira Sylvia Nunes Valdecir Correia Nelson de Souza Fernanda da Silva Gabriela Socircnego Marelise Koepsel Valeacuteria Santana Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo Demo(niacutecio) Nisso

71 ndash Menino DeusDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Silvana Costa Elenco Fabiana Goll Vilmar Schroeder Juacutelia da Silva Luiacuteza da Silva Carolina Accetta Deacutebora Rossi Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo QD FamaImportante espetaacuteculo convidado para encerramento da mostra

72 ndash ClownsElenco Maicon Rossi Mauro Ribas Nelson de SouzaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro 1993Grupo Os Clowns do NuTEImportante Espetaacuteculo convidado para encerramento da Mostra

73 ndash Abra As Asas Somos NoacutesDireccedilatildeo Peacutepe SedrezTexto Peacutepe SedrezElenco Fernando Lopes Felipe Steinert Thiago Meireles Carl Johann Blosfeld Nina Liesenberg Jamyle Krueger Katrin Gruumltzmacher Roni Lana Mareike Valentin Raquel Weiss Betina Riffel Karina Steinert Camila Pedrini Thaiacutes Meireles Manoela Blodorn Barbara Beskow

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TERCEIRO

ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1993Grupo Abre a cortina que eu quero entrarImportante primeira turma NuTE no municiacutepio de Pomerode

1994

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO 3 PECcedilAS 2 TIRO 5 POtildeE) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

74 ndash A histoacuteria do Manuel

75 ndash A EstaccedilatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Marcia SedrezElenco Janaina Nascimento Juliano Theis Roberta Tomelin Sebastiatildeo de Souza Sylvia PenkunForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

76 ndash Godot Espera Godot amp O Monoacutelogo da DesesperadaDireccedilatildeo Maicon RossiTexto Tania Rodrigues e Nira da SilveiraElenco Alessandra Heiden Fabiana Goll Faacutebio Schaefer Joseacute Volkman Karina Muumlller Nira Silveira Samira Tschoeke Sebastiatildeo Souza Vilmar Schroeder Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

77 ndash O BecircbadoDireccedilatildeo Maicon RossiElenco Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

Estreia 22 de maio de 1994Grupo Grupo dos ClownsImportante nuacutemero de clown

78 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Alice Taufer Fernanda da Silva Janice Vasselai Nelson Souza Sidneacuteia KoppForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de maio de 1994

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO O TEATRO) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

79 ndash No SupermercadoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

80 ndash No AccedilougueDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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TERCEIRO

ENSAIO

Estreia 11 de agosto de 199481 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Ana Ligia Bacca Antonio Fernandes Alexsandro Santos Benni Zanie Camila Cordeiro Carla Corsini Erick Boing Ernesto V Santos Franco Souza Gisele Caresia Ludmila Kander Patriacutecia Pereira Paula Gonccedilalves Rafael AlmeidaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

82 ndash uma espeacutecie de aulaDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

83 ndash A Cena de GildaDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo

Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

84 ndash As Rosas Morrem em Agosto amp um Canto nas AlturasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

85 ndash A Confissatildeo ou a ConfusatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

86 ndash O Farwest que natildeo enxergamosDireccedilatildeo Carlos Crescecircncio

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ENSAIO

Texto autores diversos Giba de Oliveira Maacutercia Sedrez Wilfried Krambeck criaccedilotildees coletivas do grupo e adaptaccedilotildees de Carlos CrescecircncioElenco Nelson de Souza Gisele Marciacutelio Sonia Michelon Leonardo Lucas Jeniffer Pezzoti Adriana Arauacutejo Karoline Sengler Jucilene Pitz Ana Leite Regiana Cordeiro Alana Trauczynski Osnildo de Souza Leonardo Venera Rafael Ruzinski Romeica Wippel Elise Sprung Carolina da SilvaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 11 de agosto de 1994

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO PROJETO PECcedilAS BREVES E gOSTOSAS

87 ndash CinderellaDireccedilatildeo Maicon RossiTexto adaptaccedilatildeo de Tatiana BelinskiElenco Antonio Fernandes Caroline Fernandes Arabutan Santos Gisele BucherForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

88 ndash Pega FogoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Jules RenardElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

89 ndash um Caso Assombroso

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo KosovskiElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

90 ndash O Dr RoballoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Irmatildeos MarxElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

91 ndash ReveillonDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo KosovskiElenco Ana Ligia Bacca Benni Zanin Camila Cordeiro Ernesto V Santos Carla Corsini Gisele Caresia Rafael Almeida Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 1994

92 ndash Na Noite de TerccedilaDireccedilatildeo Mariana da SilvaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Mocircnica da Costa Rudimar Labes Samira Tomio Marlos Vasselai Nilson Ferreira Sebastiatildeo de Souza Liana Guedes Adriana Mette Gerusa Simatildeo Edeacutesio da Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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Estreia 20 de dezembro de 199493 ndash Visatildeo razatildeo emoccedilatildeo qual a soluccedilatildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Krislei Deschler Josy Mayer Taiacutesa Bugmann Karin Fiedler Rosana Quintino Lidiane Wilwert Katrin Osti Tatiane Pereira Tamara Georgi Anahi Ibars Deborah Schroeder Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 20 de dezembro de 1994

94 ndash Dia de FestaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alexandre VeneraElenco Pablina Soeth Roberta Tomelin Sylvia Penkhun Ana Carolina Leite Jeane Rimes Luise Bucher Sabina Klug Caroline Sporrer Mauro Ribas Rafael Ruzinski Osnildo de Souza Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 20 de dezembro de 1994

CARNAUacuteBA

95 ndash CarnauacutebaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Binho Shaefer Joseacute Volkmann Vini Schroeder Maicon Rossi Bia Goll Janice Pezzotti Grupo Grupo Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Durante as discussotildees do Segundo Ensaio no blog wwwnuteparatodoswordpresscom aconteceu um interessante diaacutelogo sobre este espetaacuteculo

Desnomeado dizGrande WilfriedEndosso assinando embaixo na linha em que escrevo meu nome (nome acaso ldquonirardquo eacute nome) Principalmente no que diz respeito ao ex-multimetido-mor ou seja euMas quero lembrar tambeacutem de um grupo de apaixonados que infelizmente durou pouco em 1994 o grupo principal do Nute (GFLTampP-C) era formado por alguns jovens arrojados que encenaram apenas dois espetaacuteculos sob a batuta e tutela (batutela) do nosso Alex Stein Um desses espetaacuteculos natildeo chegou a ser levado a puacuteblico apenas foi filmado um ensaio geral filmagem esta perdida (acredito) A peccedila era ldquoCarnauacutebardquo (texto Gibanceira) e faziam parte no elenco Binho Schaefer Zeacute Volkmann Vini Schroeder Maicon Rossi Bia Goll Janice Pezzotti na sonoplastia ao vivo Fernando Alex e este escriba alucinado pela realidade espaccedilo-atemporal ou tempo-inespacial Infelizmente pouca gente viu esse legiacutetimo produto da mente experimentalista de AVS Quando tu falaste em ldquopaixatildeordquo amigo lembrei de cara desse exemploParte desse grupo acrescido de alunos e convidados especiais de outras cidades encenaria logo em seguida o auto de natal ldquomorte e vida severinardquo espetaacuteculo que natildeo teve um deacutecimo da energia criativa de ldquoCarnauacutebardquo Terminado o ano desfez-se o grupo e terminava ali um capiacutetulo ligeiro (liseacutergico) e obscuro mas muito significativo capiacutetulo da Histoacuteria desse monstro que tantos ajudaram a criarAbraccedilosAquele que ateacute ontem se chamava nira niralci qualquer coisa

Eacutedio Raniere comentaSalve Nira-Niralci Desnomeadofiquei bem curioso sobre essa montagem natildeo tenho nenhum documento sobre ela Estou exatamente trabalhando num capiacutetulo sobre os espetaacuteculos Poderias contar um pouco melhor com mais

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TERCEIRO

ENSAIO

detalhes qual era a proposta e o que aconceteuabccedilsEacutedio

Desnomeado respondeRELATO DA MONTAGEM DE CARNAUacuteBA texto de Giba de Oliveira direccedilatildeo de Alexandre Venera filmada em 05 de novembro de 1994A cena passava-se dentro de uma caverna onde viviam o Irmatildeo Fogo o Irmatildeo Terra e o Irmatildeo Aacutegua ndash fanaacuteticos bestiais que na montagem lembravam um pouco os personagens de ldquoO Massacre da Serra Eleacutetricardquo de 1974 Seus objetivos comer carne humana A certo ponto eles conseguem raptar uma moccedila e estripam suas viacutesceras O enredo eacute curto e simples essa sinopse foi feita mentalmente para mais detalhes ler texto originalA montagem o espetaacuteculo natildeo tinha cenaacuterio A iluminaccedilatildeo natildeo era nem um pouco tradicional dois contra-regras seguravam os refletores nas matildeos seguindo os atores como se algueacutem os iluminasse com uma lanterna A sonoplastia era tribal feita com peccedilas de percussatildeo e latotildees O cacircmera VHS tentou acompanhar isso tudo A fita foi enviada para o Festival Catarinense de Teatro o juacuteri natildeo nos classificou pela precariedade do registro mas declarou para AVS que ficou extremamente curioso e intrigado com a filmagem No geral a peccedila assemelhava-se a um filme de terror psicoloacutegico vanguardista Na minha opiniatildeo foi a experiecircncia Nute mais radical depois do Apocalypsys Se natildeo me engano foi a uacutenica montagem deste texto feita ateacute hoje ndash o que significa que ele nunca foi levado a puacuteblico(natildeo estou certo quanto a este uacuteltimo dado pode ser confirmado pelo Giba)

MORTE E VIDA SEVERINA

96 ndash Morte e Vida SeverinaSinopse vivemos num universo atribulado cheio de nuances de espectros complexos O ser humano busca uma saiacuteda para a liberdade

seguranccedila paz fraternidade para o equiliacutebrio e o amor Apesar de toda a confusatildeo que nos cerca sabemos que buscamos uma vida plena e digna A viagem do retirante Severino do sertatildeo pernambucano ateacute os mangues do Recife nos oferece uma ampla oportunidade para refletirmos sobre o nascimento e a peregrinaccedilatildeo do grande mestre Jesus Cristo O nascimento da vida Severina nos mangues formados pelo rio Capibari e a aacutegua do oceano nos enche de esperanccedila e confianccedila num mundo melhor Oxalaacute consigamos erradicar a SEVERINIDADE neste paiacutes Trabalhamos e lutamos para isto para que tenhamos um mundo justo e unido em torno de uma grande meta a vida com dignidade

Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Joatildeo Cabral de Melo NetoElenco Tarciacutesio Feller Giba de Oliveira Mariana da Silva Claus Jensen Carlos Crescecircncio Janice Pezzoti Bia Brehmer Sebastiatildeo Crispim Jenifer Pezzoti Gisele Marciacutelio Socircnia Michelon Pablina Soeth Mauro Ribas Nira Silveira Andreacute de Souza Fernando Alex Faacutebio Schaefer Beto Terra Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreacuteia 20 de dezembro de 1994Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques

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O MENSTRUADO OU A DUacuteVIDA DE HELIOgAacuteBALO

97 ndash O Menstruado ou a duacutevida de heliogaacutebaloDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Carlos CrescecircncioElenco Samira Tomio Simone Passold Sebastiatildeo de Souza Liana Guedes Janice Pezzoti Rudimar Labes Monica Costa Carla Behringer Andrea Vieira Mauro Ribas Jerusa Simatildeo Lidiane Wilwert Nilson Ferreira Robson Rosseto Jenifer Pezzoti Faacutebio Schaefer Gisele Marciacutelio Carlos Crescecircncio Marlos Vasselai Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 18 de marccedilo de 1995Grupo (CO) INCIDENTES

MOSTRA DE FINAL DE CURSO ndash PRIMEIRO SEMESTRE

98 ndash As Trapalhadas de xalaminDireccedilatildeo Janice PezzotiTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Gabriela Maluf Gustavo Alves Nadja Tiellet Rafael Steinbach Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

99 ndash uma Famiacutelia Bem unidaDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Jacques PreacutevertElenco Andreacute Manske Joatildeo Aguiar Juliana

de Souza Karina Vieira Maria Fernanda Beduschi Rafael de Almeida Roberto Silva Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

100 ndash um Canto nas AlturasDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Giba de OliveiraElenco Aline Santos Patriacutecia Schwartz Rafael de Almeida Selena Paris Juliana Vendrami Beatriz Vigeta Pollyana Silva Renata Rodrigues Silvana MuumlllerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

101 ndash Os Cegos agraves CegasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto livre-adaptaccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sobre o texto ldquoOs Cegosrdquo de Michel Ghelderode Elenco Richard Huewes Sheilla Santos Sebastiatildeo Crispim Patriacutecia Cabral Marizete Slomp Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 05 de agosto de 1995

O PODEROSO SAPAtildeO 102 ndash O Poderoso SapatildeoSinopse o Poderoso Sapatildeo narra a saga de um sapo que resolve se casar com uma princesa e ao contraacuterio do que se pode prever tem um final surpreendente bem diferente dos contos de fadas Com inuacutemeras cenas engraccediladas e situaccedilotildees divertidas foram criadas para o espetaacuteculo vaacuterias possibilidades de participaccedilatildeo do puacuteblico Outro aspecto interessante eacute a utilizaccedilatildeo de efeitos de sonoplastia e dublagem ao vivo dos atores

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Eacute essa mistura de efeitos e dublagem aliados agraves teacutecnicas de pantomima e clown que datildeo ao espetaacuteculo um ritmo de show divertido e interativo dirigido a crianccedilas jovens e adultosDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba dos SantosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 07 de outubro de 1995Grupo Teatro-Show Clowns Mimos e Cia

ESPETAacuteCULOS APRESENTADOS NO FESTIVAL NuTE MOSTRA TUDO DE TEATRO

103 ndash Pequenas grandes peccedilas em um atoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

104 ndash A Condessa KatllenDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto William Butler YetsElenco Katiuscia Cordeiro Ana Carolina Leite Osnildo de Souza Krislei Oeschler Juliana Vendrami Taiacutesa Bogman Sebastiatildeo Crispim Rafael Ruzinski Pollyana da Silva Roberto da

Silva Mauro Cesar Ribas Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

105 ndash ColomboDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Michel GuelderodeElenco Robson Rosseto Samira Tomio Sebastian Vieira Rudimar Labes Andreacuteia Vieira Liana Guedes Mocircnica Costa Carla Behringer Jerusa Simatildeo Richard HuewesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de outubro de 1995

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO AS PECcedilAS) ndash SEgUNDO SEMESTRE

106 ndash jingle para o NatalDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Giba de OliveiraElenco Patriacutecia Venturini Eliana Kuhnen Renata Muumlller Rafael Steinbach Gabriela MalufForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

107 ndash O Teatro das MaravilhasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Miguel de CervantesElenco Adrian Marchi Ana Lygia Bacca Sebastiatildeo Crispim Mariane Ortlieb Tailann Tutunnyk Camila Cordeiro Kalinka Maronez Ana Lara Cim Mayara Damas Carlos Wovst Maria Luiza LapoliForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

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108 ndash Anjo NegroDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzTexto Nelson RodriguesElenco Patriacutecia Schwartz Denis Inaacutecio Rafael de Almeida Maria Fernanda Beduschi Pollyana da Silva Jerusa Simatildeo Renata Rodrigues Juliana Vendrami Marisa Calissi Mocircnica Costa Samira TomioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 19 de dezembro de 1995

1996

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO OacuteI gENTE) ndash PRIMEIRO SEMESTRE

109 ndash O Mau NecessaacuterioDireccedilatildeo Mocircnica CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Aline Ferreira Cintia Gals Osnildo de Souza Jenifer Pezotti Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

110 ndash Pai e Filho a Respeito da GuerraDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

111 ndash Na Loja de ChapeacuteusDireccedilatildeo Carlos Crescecircncio

Texto Karl ValentinElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

112 ndash Robalo Robalinho e Matildeo de Vaca AdevogadosDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Irmatildeos MarxElenco Sabrina de Moura Ivan dos Santos Priscila Mafezzolli Geferson da Silva Edna Franceschi Diego Nogherbon Guilherme de OliveiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

113 ndash Vida e FicccedilatildeoDireccedilatildeo Jaime Gonzaacuteles EncinaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Angela Ferrari Daniela Ulrich Esther Santana Joaquim Farias Bianca Peixoto Andressa Pinto Lenita Siegel Luciana Tridapali Maria Lucia Marquez Sandra da Silva Priscila Cordova Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

114 ndash A Festa Minha Filha e EuDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Groucho MarxElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio Couto

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Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

115 ndash O Pai decideDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto adaptaccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sobre texto de Sempeacute e GoscinnyElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

116 ndash Famiacutelia FelizDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

117 ndash Ida ao TeatroDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Viviane Navarro Linz Gerson Ebel Sabine Fiedler Mirella Ribeiro Flaacutevia Rodrigues Letiacutecia Reichert Juliana Mafezzoli Adriana Krieck Ana Paula da Silva Luciana Bianchi Silvana Silva Maacutercio CoutoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 18 de agosto de 1996

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO 3 VIDAS) ndash SEgUNDO SEMESTRE

118 ndash O SuiciacutedioDireccedilatildeo Luciano CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Peter Alan Ramos Jonas Buch Denise de Almeida Daiane Saut Priscila Mafezzoli Sabrina de MouraEstreia 22 de dezembro de 1996Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

119 ndash Aids um caminho sem voltaDireccedilatildeo Luciano CostaTexto Luciano CostaElenco Cristiane Bonfim Denise de Almeida Alexandre Fernandes Carolina de Farias Joatildeo ZimmermanForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de dezembro de 1996Grupo Grupo Banco de Praccedila

120 ndash Aquele que diz sim e aquele que diz natildeoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Bertold BrechtElenco Mariane Quinto Diego Noghrbon Geferson da Silva Sabrina de Moura Priscila MafezzoliForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 22 de dezembro de 1996

O CASAMENTO DOS PEQUENOS

121 ndash O Casamento dos PequenosSinopse O Casamento dos Pequenos Burgueses eacute uma farsa desenfreada escrita num tom

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TERCEIRO

ENSAIO

realista conduzindo quase ao absurdo A peccedila mostra uma festa de casamento O noivo elogia os moacuteveis que ele mesmo construiu Os convidados discutem Pouco a pouco o ambiente fica pesado e a verdade se revela aleacutem das aparecircncias a noiva estaacute graacutevida o noivo desconfia de sua fidelidade os moacuteveis se despedaccedilam o cenaacuterio se destroacutei No final reina certa paz Os dois estatildeo finalmente soacutes A luz se apaga ouve-se um forte barulho a cama se desmorona O texto tem violecircncia e sarcasmo na anaacutelise moral da eacutepoca O deboche ciacutenico e feroz eacute a arma usada por Brecht Valores eacuteticos de uma sociedade satildeo colocados em questatildeo de forma criacutetica (texto extraiacutedo do programa do espetaacuteculo informando a seguinte referecircncia Brecht ndash Vida e Obra Peixoto Ed Paz e Terra 1974)Direccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo sobre o texto O Casamento dos Pequenos Burgueses de Bertold BrechtElenco Carlos Crescecircncio Richard Huewes Carlos Wovst Luciano Costa Andreacuteia Vieira Sebastiatildeo Crispim Juliana Vendrami Luciana Tridapalli e Grupo de Clowns Mimos e Cia Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 09 de novembro de 1996

Grupo Grupo de Clowns Mimos e CiaImportante apresentaccedilatildeo de estreia no siacutetio Fazendarado

1997MOSTRA DE FINAL DE CURSO

PRIMEIRO SEMESTRE

122 ndash A RaizDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alcione ArauacutejoElenco Susana Rossi Keila RossiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997

123 ndash Garotos de RuaDireccedilatildeo Luciano CostaTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Janaina Meneghel Ana Luisa Kobuszewski Grassi Russi Carlos PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997

124 ndash Cenas de um AcampamentoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alexandre VeneraElenco Mauro Ribas Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 09 de marccedilo de 1997Grupo Grupo de Clowns Mimos e Cia

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SEgUNDA MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

125 ndash PeruachoDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba de OliveiraTexto Bernadete da SilvaElenco Viviane Teixeira Jussara Hobus Julice da Rosa Fernando Bonatti Sabrina de MouraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

126 ndash EleonoraDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Nassau de SouzaElenco Elise Kluge Juliana Teodoro Vera Tafner Patricia Cipriani Vacircnia Tafner Mireile Gomes Marina MedeirosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

127 ndash Robalo Robalinho e Matildeo de Vaca AdevogadosDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Irmatildeos MarxElenco Janaina Meneghel Gabriela Kuehn Carlos Pereira Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997Importante espetaacuteculo jaacute encenado em 1996 sob direccedilatildeo de Carlos Crescecircncio e com outro elenco

128 ndash Cruzadas do Diabo na Terra de BabelDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Nassau de SouzaElenco Roberta Regis Carolina de Faria

Juliana Morais Charles Ewald Juliana Meneghel Gabriela KuehnForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

129 ndash um Restaurante A de OacutetimoDireccedilatildeo Giba de Oliveira e Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletiva Elenco Julice da Rosa Jussara Hobus Fernando Bonatti Viviane TeixeiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

130 ndash Timipim do TupiniquimDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Patricia Cipriani Fabiana Fernandes Juliana Teodoro Marina Medeiros Alessandra Benvenuti Charlene Leber Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 10 de agosto de 1997

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (TRIBUTO A NEI LEITE) ndash SEgUNDO SEMESTRE

131 ndash NusDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Wilfried KrambeckElenco Julice da Rosa Fernando Bonatti Silvana Silva Flaacutevia Rodrigues Mauro C RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

132 ndash uma luz na escuridatildeoDireccedilatildeo Giba de Oliveira

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ENSAIO

Texto Erli Rosi FonsecaElenco Sheila Maccedilaneiro Fabiana Ribas Katia Morais Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

133 ndash O Afogado Afunda LentamenteDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Shirlei Marcelino Amanda Trentini Roberta de Gasperin Anice Tufaile Juliana Von CzekusForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

134 ndash A Preguiccedila na Visatildeo de um EspecialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Odebrecht Elenco Roberta Regis Juliana Teodoro Patricia Cipriani Alessandra Benvenuti Vera Tafner Vacircnia TafnerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997Importante espetaacuteculo jaacute encenado em 1994 sob mesma direccedilatildeo mas com elenco diferente

135ndash O Sentido da Vida Segundo Aluisio e MiguelitoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Nira SilveiraElenco Ceigler Marques Carla Ramos Mauro RibasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

136 ndash A Confissatildeo ou a ConfusatildeoDireccedilatildeo Giba de OliveiraTexto Maacutercia SedrezElenco Ceigler Marques Carla Ramos Katia Morais Fabiana Ribas Gisele Oliveira Leonel CamposForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

137 ndash NatalDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Horaacutecio Braum JrElenco Anice Tufaile Tatiana dos Santos Roberta de Gasperi Amanda Trentini Juliana Von Czekus Shirlei MarcelinoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

138 ndash Natal MaluquinhoDireccedilatildeo Polianna Silva e Andreacuteia dos SantosTexto Giba de OliveiraElenco Munick Bonassa Polli Tiago Bonfanti Fabricio Batista Janaina Meneghel Gabriela Kuehn Carlos PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 14 de dezembro de 1997

JATO DE AMOR

139 ndash jato de AmorSinopse Jato de Amor conta as accedilotildees do ser enamorado a busca do par a manutenccedilatildeo do par a sua unificaccedilatildeo Satildeo histoacuterias de amores desenhadas sobre os gestos dos apaixonados captando na accedilatildeo figuras de suas des(a)venturas Jato de Amor eacute para ser visto como Teatro Imagem um caleidoscoacutepio visual e

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sonoro em que a palavra fica quase desvinculada agrave accedilatildeo nas cenas As personagens quase decalques dos ritos de amor transfiguram-se entre o real e o imaginaacuterio subvertendo-se nos amores ldquonovordquo ldquovelhordquo ldquovendidordquo e ldquotriangularrdquo Por tratar-se de imagens o desempenho cecircnico ndash geralmente norteado em accedilotildees coreograacuteficas ndash assume entretanto um sentido ginaacutestico Como enredo o roteiro das cenas adapta para o palco citaccedilotildees trechos e frases de diversos autores (poemas de Jacques Preacutevert e Antonin Artaud Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes) aleacutem de experiecircncias pessoais (do elenco colaboradores amigos) e de intuiccedilotildeesDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto livre-adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre o texto Jato de Sangue de Antonin ArtaudElenco Giba de Oliveira Poli Vendrami Carlos Crescecircncio Sabrina de Moura Leonel Campos Ivan Aacutelvaro Cris Muumlller Jerusa Simatildeo Rafael de Almeida Wladimir Treiss

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 21 de novembro de 1997Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Clipe para assistir ao clipe elaborado quando do lanccedilamento do espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=Z_wfitlUs1kampfeature=related

Ensaio para assistir ao Ensaio Geral do Espetaacuteculo acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=Vbb7IyWHdRQ

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Giba de Oliveira no anexo Livreto Espetacular

1998

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

140 ndash um Convento Muito LoucoDireccedilatildeo Mocircnica CostaTexto Ana C Voltolini e Ana Julia MarchiElenco Ana Paula Glasenapp Baacuterbara Schmitt Jamile Assini Juliana Medeiros Monique Becker Mayla Voss Patriacutecia GlasenappForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

141 ndash O Poeta SolitaacuterioTexto Douglas ZuninoElenco Carlos Eduardo PereiraForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

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142 ndash FimDireccedilatildeo Arno Alcacircntara JrTexto Arno Paulo TarciacutesioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 24 de agosto de 1998

143 ndash Programa Piloto Especial TV CapivarasDireccedilatildeo Alexandre Venera e Giba de OliveiraElenco Amanda Trentini Anice Tufaile Carlos Crescecircncio Carlos Pereira Flaacutevia Rodrigues Gabriela Kuhen Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Jamile Meneghel Janaina Meneghel Leonel Campos Poacuteli Vendrami Pollyanna Silva Rafael Almeida Roberta Regis Sebastiatildeo Crispim Shirlei Marcelino Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 24 de agosto de 1998

144 ndash Acrobacias ndash Duo AcrobaacuteticoDireccedilatildeo Mocircnica CostaElenco Afonso de Souza Alessandra Teodoro Faacutebio Cardoso Giseli Prada Luana Mocircnica Costa Soacutecrates Rufatto William Oliveira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 24 de agosto de 1998Grupo Grupo Acrobaacutetico Livres Leves e Loucos

MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO PUXA BRASAS SABEMOS QUE

ESTAtildeO AIacute) ndash SEgUNDO SEMESTRE

145 ndash Na Loja de ChapeacuteusDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl Valentin

Elenco Carolina Andreoli Joatildeo Felipe BuergerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1996 sob mesma direccedilatildeo mas com elenco diferente

146 ndash EleonoraDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Nassau de SouzaElenco Talira dos Santos Sarah Beduschi Afonso de Souza Leandro Cunha Rocha Alexandre Jung Silvana CadoriForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e com elenco diferente A diretora desta montagem compotildee o elenco de 1997

147 ndash A Confissatildeo OuDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Maacutercia SedrezElenco Eloisa Borges Alexander Franzmann Joatildeo BuergerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Giba de Oliveira e com elenco diferente

148 ndash NusDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Wilfried KrambeckElenco Soacutecrates Ruffato Daniela Vogel Juceacutelia Deluca Tatiane ScozForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

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ENSAIO

Estreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Giba de Oliveira com elenco diferente

149 ndash PeruachoDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Bernardete da SilvaElenco Leandro Cunha Rocha Adriana Krieck Alexandre Jung Micheli Dias Ana Paula ZuckiForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1997 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e Giba de Oliveira com elenco diferente

150 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Giba de OliveiraElenco Silvana Becker Rita de Caacutessia Lopes Cristina Torri Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de dezembro de 1998Importante texto jaacute encenado em 1994 sob direccedilatildeo de Alexandre Venera e com elenco diferente

O AMOR DE DOM PERLIMPLIM POR BELISSA EM SEU JARDIM

151 ndash O Amor de Dom Perlimplim por Belissa em seu jardimDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Frederico Garcia LorcaForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mental

O CIO DAS FERAS

152 ndash O Cio das FerasSinopse montagem dramaacute-tico-musical e audiovisual (VT slides projeccedilotildees de 8 e 16 miliacutemetros) sobre poemas acompanhada de muacutesica ao vivo e apresentada em espaccedilo alternativo (semiarena) U m a homenagem aos dez anos do lanccedilamento do livro Poetas Independentes de Blumenau e O Fel do Cio de Rosane Magaly MartinsDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera sobre os livros O Fel do Cio de Rosane Magaly Martins e Poetas Independentes antologia da Associaccedilatildeo de Poetas Independentes de Blumenau Elenco Anice Tufaile Mariane Quinto Sebastiatildeo Crispim Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Carlos Crescecircncio Carlos Pereira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 16 de dezembro de 1998Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-Choques

Apresentaccedilatildeo Fenatib para assistir agrave apresentaccedilatildeo do espetaacuteculo no Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau acesse o endereccedilowwwyoutubecomwatchv=s8oMh-G7nk4

Apresentaccedilatildeo Curupira para assistir agrave apresentaccedilatildeo do espetaacuteculo no Festival de Bandas Undergraud do Curupira acesse o endereccedilo wwwyoutubecomwatchv=TrNOpr__aVU

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Afonso Nilson no anexo Livreto Espetacular

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O RITUAL DE OFERENDAS

153 ndash O Ritual de OferendasDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Joatildeo amp Insone PessoaElenco Sebastiatildeo Crispim Juliana Teodoro Afonso de Souza Anice Tufaile Juliana Von Czekus Janaina Meneghel Tamara Beims GuantildeabensForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaGrupo (CO)INCIDENTES

TEATRO DA TERRA

154 ndash O Camaleatildeo da Mata ndash A LendaDireccedilatildeo Alexandre Venera e Tadeu BittencourtTexto baseado em um argumento de Alexandre Venera e Tadeu BittercourtElenco Carlos Crescecircncio Juliana Teodoro Juliana Von Czekus Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Experi-mentalEstreia 06 de Marccedilo de 1999Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesImportante esse espetaacuteculo faz parte do projeto Teatro da Terra apresentaccedilotildees que aconteciam no siacutetio Fazendarado dentro da mata

155 ndash Metafiacutesica de Caeiro ndash O VooDireccedilatildeo Alexandre Venera Texto argumento de Alexandre Venera e Daniel Curtipassi sobre poemas de Fernando PessoaElenco Carlos Crescecircncio Juliana Teodoro Juliana Von Czekus Afonso Barbosa Sebastiatildeo

Crispim e Adriana KrieckForccedila Cecircnica Preponderante Teatro ExperimentalEstreia 07 de agosto de 1999Grupo Grupo da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesImportante esse espetaacuteculo faz parte do projeto Teatro da Terra apresentaccedilotildees que aconteciam no siacutetio Fazendarado dentro da mata

Apresentaccedilatildeo para assistir agrave apresentaccedilatildeo deste espetaacuteculo acesse o endereccedilohttpyoutubeDdDXLwIWP3Y

Livreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Luciano Bugmann no anexo Livreto Espetacular

A MORTA

156 ndash A MortaSinopse A Morta narra a busca de um poeta por sua musa inspiradora ateacute os confins aleacutem morte A Morta eacute um dos mais eloquentes manifestos modernistas contra as convenccedilotildeessociais impostas pela religiatildeo a moral a burguesia e que se torna um grande instigador agrave manifestaccedilatildeo artiacutestica puraDireccedilatildeo Alexandre Venera

As fotos deste espetaacute-culo foram gentilmente cedidas ao projeto pela fotoacutegrafa Maria Emiacutelia da Silva

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Texto Oswald de AndradeElenco Juliana Von Czekus Juliana Teodoro Carlos Crescecircncio Sebastiatildeo Crispim Afonso de Souza Analice Tufaile Janaina Meneghel Tamara Beims Guantildeabens Carlos Pereira Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 28 de setembro de 1999Grupo Grupo de Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para ChoquesImportante uacuteltimo espetaacuteculo do Grupo de Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-ChoquesLivreto Espetacular para saber mais sobre a montagem consulte o artigo de Juliana Teodoro no anexo Livreto Espetacular

2000

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

157 ndash Restaurante MercenaacuterioDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletivaElenco Silvio Volpato Maicon Berg Crislene Caetano Juceacutelio Pandini Aritana Froeschlin Luiz Garcia Soares Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

158 ndash um Quarto de CasalDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto Maacutercio Pereira CoutoElenco Luiz Garcia Soares Viviane de Cassio Luciana Fistarol Juliano BittencourtForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

159 ndash Bye Bye ParaiacutesoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Nassau de SouzaElenco Janete Nogueira Joseacute Luiz Cujik Joice Daiana Leite Susi da Silva Eloiacutesa Borges Priscila BarbieriForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

160 ndash Bicharada do BarrilDireccedilatildeo Alexandre Venera Texto Wilfried KrambeckElenco Luiz Garcia Soares Aritana Froeschlin Crislene Caetano Silvio Volpato Maicon Berg Juceacutelio PandiniForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000Importante texto jaacute encenado em 1991

161 ndash Vaca AmarelaDireccedilatildeo Juliana TeodoroTexto adaptaccedilatildeo do grupo sobre texto de autor desconhecidoElenco Marcia Schnaider Marciel Sabel Viviane Catarina Manoela Machado Fabriacutecia Hafermann Luciana Juliano Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

162 ndash O Uacuteltimo Seraacute o PrimeiroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Silvio VolpatoElenco Crislene Caetano Silvio Volpato Juceacutelio Pandini Aritana Froeschlin Luiz Garcia Soares Maicon BergForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

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TERCEIRO

ENSAIO

163 ndash Morreu deDireccedilatildeo Ariane RegisTexto Ariane RegisElenco Ricardo Koehler Ariane Regis Patriacutecia CenziForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

164 ndash O Medo que CalaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Alessandra RosaElenco Alessandra Rosa Suzana Soares Elton Girelli Tiago Freitas Cintia Viventi Gabriela Koehler Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000

165 ndash Pigmaleatildeo e GalateaDireccedilatildeo Mauro Ribas NetoTexto adaptaccedilatildeo de Alexandre Venera Elenco Patriacutecia Cenzi Gabriela Koehler Ricardo Koehler Luiz Garcia Soares Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 30 de julho de 2000Grupo Grupo de Clowns Mimos e Cia

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

166 ndash O Livro ProibidoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Carlos CrescecircncioElenco Caroline Selhorst Jenifer Fischer Shawn Nicolai Bernardo Azevedo Marcos Sebastiatildeo Crispim

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

167 ndash O Porco e o Morto de FomeDireccedilatildeo Mauro Ribas NetoTexto Fabiano SchlosserElenco Silvio VolpatoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000Grupo Grupo Clowns Mimos e Cia

168 ndash Concerto de OrquestraDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Karl ValentinElenco Danuacutebia Pereira Sonia Nogara Daniela de Oliveira Ceacutelia Cleacuterice Gabriela Caminha Sebastiatildeo Crispim Tiago FreitasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

169 ndash O Mendigo ou o Catildeo MortoDireccedilatildeo Carlos CrescecircncioTexto Bertold BrechtElenco Janete Nogueira Ricardo Koehler Susana Stein Paulino Junior Gabriela KoehlerForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000Importante texto jaacute encenado em 1986 dentro do espetaacuteculo Classe Glacecirc sob direccedilatildeo de Alexandre Venera com outro elenco

170 ndash Guernica em BlumenauDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto adaptaccedilatildeo de texto de Fernando ArrabalElenco Gabriela Koehler Joice Daiana Leite Joseacute Luiz Cujik Priscila Barbieri Tiago Freitas

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TERCEIRO

ENSAIO

Juliana RodriguesForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

171 ndash O Califa da Rua do SabatildeoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Artur AzevedoElenco Silvio Volpato Juceacutelio Pandini Crislene Caetano Aritana Froeschlin Alexandra Batisti Patriacutecia LenziForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 17 de dezembro de 2000

2001Natildeo houve montagens

2002

MOSTRA DE FINAL DE CURSO PRIMEIRO SEMESTRE

172 ndash A SituaccedilatildeoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Luiacutes Fernando VeriacutessimoElenco Adriana Dellagiustina Rodrigo DemeacutetrioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

173 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Patriacutecia Mara Martins Silvio Mara Jacinto Solange WesmuthForccedila Cecircnica Preponderante Teatro Escola

Estreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 e em 1997 sob mesma direccedilatildeo mas com elencos diferentes

174 ndash PeruachoDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Bernadete da SilvaElenco Ester Cunha Rodrigo Demeacutetrio Adriana Dellagiustina Elias Lana Paulo VasconcelosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1997 com direccedilatildeo de Alexandre Venera e Giba de Oliveira e em 1998 com direccedilatildeo de Juliana Teodoro as trecircs montagens possuem elencos diferentes

175 ndash A galinha que chocava pedrasDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Hermes Altemani e Nery GomideElenco Solange Wasmuth Patriacutecia Mara Martins Silvia Mara Jacinto Sebastiatildeo Crispim Mauro Ribas NetoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

176 ndash Madame BlatyDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Ester Cunha Rodrigo Demeacutetrio Elias Lana Adriana Dellagiustina Paulo VasconcelosForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 com direccedilatildeo de Alexandre Venera e em 1998 com direccedilatildeo de Carlos Crescecircncio sempre com elencos diferentes

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TERCEIRO

ENSAIO

177 ndash Nosso Reino por um Bom GuerreiroDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Solange Wasmuth Mauro Ribas Neto Patriacutecia Mara Martins Silvia Mara Jacinto Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002

178 ndash NusDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Wilfried KrambeckElenco Adriana Dellagiustina Elias Lana Ester Cunha Paulo Vasconcelos Rodrigo DemeacutetrioForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 16 de agosto de 2002Importante texto jaacute encenado em 1997 com direccedilatildeo de Giba de Oliveira e em 1998 com direccedilatildeo de Juliana Teodoro sempre com elencos diferentes

MOSTRA DE FINAL DE CURSO SEgUNDO SEMESTRE

179 ndash A Exceccedilatildeo e a LendaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Andreacuteia de Souza Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

180 ndash DelicadezaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Kosowky e Dino BuzzatiElenco Dilma da Silva Flavia Faustino

Joaquim Wolff Bruna RudolphoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

181 ndash Camaradas MeacutedicosDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Giba de OliveiraElenco Andreia de Souza Pamela Cacircndido Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

182 ndash EquivalecircnciaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo Kosowky e Dino BuzzatiElenco Flavia Faustino Joaquim Wolff Sebastiatildeo CrispimForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

183 ndash A preguiccedila na visatildeo de um especialistaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Ricardo OdebrechtElenco Hannah Theis Amanda Mendes Pamela Cacircndido Angela Otto Bruna RudolphoForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002Importante texto jaacute encenado em 1994 em 1997 e em 2002 sob mesma direccedilatildeo mas com elencos diferentes

184 ndash Melhor natildeo tecirc-los masDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto Janice PezottiElenco Simone Tambosi Sebastiatildeo Crispim Angela Otto

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ENSAIO

Forccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

185 ndash No Bar da ZuleicaDireccedilatildeo Alexandre VeneraTexto criaccedilatildeo coletiva sobre textos de Pedro DiasForccedila Cecircnica Preponderante Teatro EscolaEstreia 21 de dezembro de 2002

Estupefatos os atores balanccedilam a cabeccedila esfregam os olhos voltam ao cronograma Alguns durante a leitura emitem fortes gargalhadas outros se lamentam Por fim o mais corajoso dentre eles resolve arriscar

ndash Desses 185 espetaacuteculos quantos realmente satildeo do NuTE e quantos satildeo montagens do JOTE-Titac

ndash Todos sem exceccedilatildeo foram montados pelo NuTE Optei em natildeo misturar espetaacuteculos NuTE com espetaacuteculos JOTE-Titac

ndash Vocecirc quer dizer que aleacutem dessas 185 montagens ainda existem as peccedilas do JOTE-Titac

ndash Exatamente

Frenesi exclamaccedilotildees descontinuas risos e salivas explodem no ar

ndash Mas isso eacute impossiacutevel Se o grupo durou 18 anos eles teriam que montar uma meacutedia de dez espetaacuteculos por ano para atingir esse nuacutemero alucinante Deve haver algum erro

ndash Olha tem aqui vaacuterios textos ndash Bicharada do Barril Nus Funesta Noite Senhoras e Senhores Nosso Reino Por um Bom Guerreiro entre tantos outros ndash que foram escritos para o JOTE-Titac aparecem no livro Jogos de Teatro 12 anos de Teatro em Blumenau Vocecirc deve ter cometido algum equiacutevoco natildeo eacute possiacutevel

ndash Natildeo natildeo natildeo eacute nada disso quem estaacute fazendo confusatildeo satildeo vocecircs O que acontece eacute o seguinte muitos textos como esses que vocecirc

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citou originalmente foram escritos para os Jogos de Teatro e consequentemente muitos deles foram montados nos Jogos de Teatro Contudo fora dos Jogos a Escola NUTe tambeacutem utilizava de forma didaacutetica esses textos Natildeo sei se vocecircs sabem mas a proposta baacutesica do curso de formaccedilatildeo dado pela Escola NUTe era de que o aluno pudesse ldquoaprender fazendordquo Assim todo semestre as turmas montavam alguns espetaacuteculos que eram encenados dentro de uma mostra de final de curso Esse tipo de montagem faz ressonacircncia com uma seacuterie de forccedilas as quais vetorizei nesse cronograma como Teatro Escola Paralela a essa composiccedilatildeo vetorial corre dentro do NuTE um tipo distinto de forccedilas as quais vetorizei como Teatro Experimental Este segundo vetor atravessa as grandes montagens do NuTE Montagens que se utilizam de textos consagrados como Macbeth por exemplo mas que por vezes tambeacutem se utilizam de textos vindos do JOTE-Titac como por exemplo Senhoras e Senhores Seria um desrespeito de minha parte catalogar Macbeth e desprezar Senhoras e Senhores jaacute que ambos satildeo espetaacuteculos-NuTE

ndash Tudo bem podemos ateacute estar de acordo com sua anaacutelise Mas por favor nos diga como eacute que vamos dar conta de montar um espetaacuteculo que apresenta a histoacuteria de 185 montagens Isso eacute irrealizaacutevel Mesmo se montarmos uma pequena cena sobre cada um deles digamos que cada cena tenha apenas dois minutos teremos ao final aproximadamente seis horas de espetaacuteculos

ndash Seis horas para o terceiro ensaio fora os demais Isso eacute loucura vamos ter um espetaacuteculo com mais de dez horas

ndash Bem Acho que vocecircs todos reconhecem uma influecircncia de Bob Wilson sobre Alexandre Venera natildeo

Black-Out Salivas secas seguem gargantas agrave dentro Dois atores se aproximam e prometendo devolver o cachecirc pago rendem homenagem ao capitatildeo Nascimento ldquopedindo para sairrdquo o excesso lhes tenciona abandonar os ensaios Percebo minha imbecilidade mais uma vez tarde demais Tento acalmar o grupo ningueacutem me ouve ningueacutem ouve ningueacutem Todos falam e gesticulam ao mesmo tempo num pandemocircnio generalizado e dramaacutetico jaacute que deixamos as cadeiras confortaacuteveis da plateia e estamos todos no palco De repente por fora algueacutem abre a porta do grande auditoacuterio A estranheza da cena agravequela altura da tarde fez calar os gestos e as matracas falantes

Eacute provaacutevel que o leitor suspeite dada agrave intempestividade do acontecido da veracidade do relato que segue Por isso faccedilo questatildeo de ressaltar que exatamente como aconteceu eacute que conto ou melhor o conto eacute exatamente o que iraacute acontecer

Pelo silecircncio da porta entra ningueacutem menos ningueacutem mais que Alexandre Venera dos Santos Ele caminha lentamente ateacute o palco calccedila jeans camiseta esverdeada chinelos Havaianas traz consigo um pequeno sorriso ao lado esquerdo da boca Sobe ao palco alguns sussurros orelhais lambem o silecircncio da porta

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Ao se aproximar do grupo todos percebem um excecircntrico meio bigode de um lado ndash em contraponto a uma excecircntrica meia costeleta de barba de outro ndash no rosto de Alexandre Alguns atores se cutucam trancando o riso Por fim Alexandre diz

ndash Oi gente e aiacute porque estatildeo todos quietos eacuteeacuteeacuteeacute vocecircs gostaram do meu bigode novo eacute isso

O riso se espalha pelos quatro cantos do teatro sinto alguns quilos a menos em meus ombros Laacute pelas tantas num tom de brincadeira algueacutem resolve perguntar onde afinal de contas Alexandre esteve ateacute entatildeo e ele responde que encontrou dificuldades para fazer a barba Alguns risos depois o grupo resolve bastante animado mostrar para Alexandre a cronologia que viacutenhamos discutindo Impressionado Alexandre sorri

ndash Puxa que bacana Na minha cabeccedila era coisa de pouco mais de cinquenta espetaacuteculos Quer dizer que montamos tudo isso mesmo Que legal

ndash Sim mas estamos com medo desse excesso

ndash Medo O excesso natildeo conversa com o medo O oposto dele sim Aleacutem do quecirc isso tudo vai ficar super bom na peccedila que estamos levantando vai cair como uma luva azul

ndash Mas eacute exatamente isso o que nos assustandash Isso o quecirc a luva azul Entatildeo vamos

cortar ela Olha pessoal natildeo tem motivo pra nenhum receio na verdade enquanto assistia

agrave projeccedilatildeo me passou umas ideias que se vocecircs toparem pode ficar joiandash todas as almas olham para Alexandre Depois de uma pausa ele diz

ndash Vocecircs gostam do Bob Wilson ndash um quase desespero atravessa o grupo Sinto que eacute hora de me redimir e entro na conversa

ndash A gente chegou a fazer um caacutelculo raacutepido Venera e a conclusatildeo foi de que seria inviaacutevel e desgastante um espetaacuteculo tatildeo longo

ndash Desgastante Muito pelo contraacuterio vai ser tonificante energeacutetico ndash batendo uma matildeo na outra

ndash Por menores que sejam as cenas o volume de montagens vai impor horas ao espetaacuteculo A natildeo ser que faccedilamos um corte talvez possamos escolher os mais importantes e com eles criar as cenas para esse capiacutetulo

ndash Mas quem vai definir o criteacuterio que vamos usar para escolher esse ou aquele espetaacuteculo Eu natildeo me sinto agrave vontade pra fazer isso Natildeo Eacute o seguinte eu natildeo abro matildeo temos sim que acolher todos eles Afinal eacute NuTE para todos ou natildeo eacute

ndash Mas como como vamos falar de todos os espetaacuteculos

ndash Noacutes natildeo precisamos fazer isso Os espetaacuteculos falam por si Aleacutem do quecirc seria redundante criar uma cena para fazer falar uma cena Natildeo vejo propoacutesito nisso

ndash Entendo cada vez menosndash Natildeo se trata de entender mas de projetarndash Projetar

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ENSAIO

ndash Isso O que vocecircs acham da gente pegar esse tal de EXUBERANTE CRONOLOGIA ESPETACULAR DO TEATRO EXPERIMENTAL E DO TEATRO ESCOLA NUTEANESCOS eou PUTA QUE PARIU ESSES CARAS MONTARAM 185 (cento e oitenta e cinco) ESPETAacuteCULOS e projetar do jeito como ele estaacute

ndash Sem mudar nadandash Sim Podemos deixar assim como estaacute

Acho que ficou bom Minha sugestatildeo eacute mudar apenas o nuacutemero de projetoresprojeccedilotildees Ao inveacutes de utilizar um uacutenico projetor como vocecircs fizeram hoje podemos projetar trecircs imagens ao mesmo tempo um espetaacuteculo no centro um agrave esquerda e um agrave direita Cada projeccedilatildeo teraacute uma duraccedilatildeo de dez segundos Assim em 1 minuto teremos 18 espetaacuteculos e em pouco mais de 10 minutos fechamos os 185 O que vocecircs acham

Era uma excelente ideia Concordamos todos sem pestanejar Houve apenas uma discordacircncia Metade dos atores insistia que seria melhor mais neutro de nossa parte apenas projetar o cronograma jaacute a outra metade acreditava que durante a projeccedilatildeo deveria haver interferecircncias atores no palco encenando dialogando com a projeccedilatildeo Depois de algum debate Alexandre e a maioria do grupo se direcionam para a segunda opccedilatildeo mas o problema do criteacuterio de seleccedilatildeo dos espetaacuteculos retorna jaacute que seria impossiacutevel em dez minutos passar por todos os 185 O grupo de uma forma geral concorda que uma vez resolvida a questatildeo do criteacuterio de seleccedilatildeo as interferecircncias

cecircnicas potencializariam o espetaacuteculo Seria preciso selecionar entre oito e doze espetaacuteculos para que em cada minuto aproximadamente possa acontecer uma cena ou entatildeo elaborar uma uacutenica accedilatildeo sobre os escolhidos Durante o embate surge a proposta de questionar o leitor a esse respeito Nesse sentido a opiniatildeo do grupo acabou consensual apenas o leitor estaria autorizado a realizar essa seleccedilatildeo

Foi o que fiz Dessa enquete realizada atraveacutes do blog surgiu a lista de espetaacuteculos que compotildeem o Livreto Espetacular

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registro do curso lsquotreinamento cotidiano do atorrsquo da esquerda para direitagiba de oliveria alexandre

venera dos santos regina simas carlos simioni peacuterola aacutelvaro alves andrade pepe sedrez milena

sentados ivan joseacute aparecido dos santos carlos crescecircncio e carlos alberto dos aantos

Foto

Ace

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QUARTO

ENSAIOQUARTO ENSAIO ndash 04 DE MAIO DE 2015

Segunda-feira de TrabalhoNo reloacutegio ponto marcam 07h30minImagem Insistente Apolo X Dioniso

ndash Bom dia Espero que estejam todos bem acordados Hoje o ensaio vai ser puxado pessoal Taacute todo mundo bem disposto ndash os atores sinalizam que sim Alexandre prossegue ndash Minha proposta eacute retomarmos o esquema de trabalho do Segundo Ensaio Achei que funcionou bem naquele dia

ndash Aquele com os aperitivosndash Exatamente o que vocecircs achamndash Boa ideiandash As cenas ficaram bem boas mesmondash Vamos utilizar os mesmos aperitivosndash Natildeo Eu montei cinco jogos novos Com

a bandeja do Segundo Ensaio natildeo daria certo pois nosso tema agora eacute outro A intenccedilatildeo hoje eacute focar toda energia na Escola de Teatro do NUTe Levantar cenas sobre a Escola

ndash Vamos poder escolher os aperitivos novamente

ndash Acho que sim natildeo vejo problema desde que haja consenso entre vocecircs Tenho apenas uma ressalva Aleacutem do jogo de aperitivos que

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QUARTO

ENSAIO

vocecircs vatildeo escolher gostaria que todos os grupos jogassem com o Aperitivo Livretante

ndash Como assimndash O Aperitivo Livretante eacute um aperitivo

anexo agrave bandeja deste ensaio Aleacutem dos cinco aperitivos que seratildeo servidos existe essa espeacutecie de Experiecircncia do Fora Eacute um sexto aperitivo que natildeo entra na bandeja da escolha A ideia eacute que cada grupo escolha um aperitivo para disparar suas cenas e junto a este quando estiverem encenando permitir ressonacircncias com o Livretante

ndash Deixa ver se entendi Funciona da mesma forma que o Segundo Ensaio mas agora ao inveacutes de um aperitivo vamos trabalhar com dois Um que a gente escolhe e outro que vocecirc jaacute definiu

ndash Eacute quase isso Vocecircs natildeo precisam dar conta de encenar todo o Livretante a ideia eacute que vocecircs o acionem sobre as cenas Que ele ajude na composiccedilatildeo que esteja acoplado de alguma forma Eacute um ldquoplusrdquo um a mais sobre aquilo que vocecircs montarem Mas claro natildeo se sintam na obrigaccedilatildeo de fazer dessa ou daquela forma O mais importante eacute criar com liberdade Os aperitivos servem para ajudar vocecircs a encontrar algo Agora se eles em algum momento dificultarem essa pesquisa abandonem sem medo joguem fora os aperitivos e passem ao prato principal

ndash Prato principalndash Claro a cena de vocecircs O aperitivo eacute

apenas uma bengala a funccedilatildeo dele eacute disparar

a cena nada maisndash Cenas sobre a Escola NUTe ndash Isso Escolacecircnicas cenicasescolaresndash E os locais de ensaio temos que usar os

mesmosndash Os locais satildeo vocecircs que escolhem A

diferenccedila eacute que desta vez vamos precisar de cinco grupos dois grupos a mais Tudo bem ndash os atores dividem olhares aos poucos vatildeo se aproximando e sem nenhuma palavra cinco grupos surgem no palco

ndash Oacutetimo Jaacute temos os cinco grupos Maravilha Mais alguma pergunta pessoal Natildeo Nada mais Entatildeo garccedilom por favor a bandeja

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QUARTO

ENSAIO

Caro leitor

convidamos vocecirc agora a provar dos nossos aperitivos cecircnicos na cor cinza

que incluem as cartas bocircnus

ldquoaperitivos livretantesrdquo

vaacute em frente bom experimento

APERITIVOS CEcircNICOSeou nutrientes para

composiccedilatildeo de mundos

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QUARTO

ENSAIO

Composiccedilatildeo de Mundos

Enquanto os grupos pesquisam seus espaccedilos cecircnicos Alexandre fuma um dois trecircs cigarros Consegue para ele e tambeacutem para mim um copinho de cafeacute na secretaria da Carona Escola de Teatro Seduzido pela cafeiacutena resolvo fumar um cigarro tambeacutem Ao teacutermino desse estimulante abastecimento fisioloacutegico iniciamos nossa andanccedila

Os cinco grupos selecionaram como espaccedilo de ensaio os seguintes locais

Grupo I ndash (O)Caso ndash corredor do terceiro piso do Teatro Carlos Gomes onde na deacutecada de 80 foram apresentados espetaacuteculos como O Tuacutenel

Grupo II ndash Poratildeo do Teatro ndash local onde o NUTe realizou as Oficinas de Base

Grupo III ndash Grande Auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes ndash Auditoacuterio Heinz Geyer

Grupo IV ndash Pequeno Auditoacuterio do Teatro Carlos Gomes ndash Auditoacuterio Willy Sievert

Grupo V ndash Antiga Sede-Secretaria do NUTe ndash espaccedilo que deixou de existir com a reforma do Teatro Carlos Gomes em 2002

Os atores que ensaiam no espaccedilo (O)

Caso utilizam a teacutecnica do Joatildeo Bobo como aquecimento Um ator se posiciona entre outros dois e se lanccedila livremente para frente e para traacutes onde estes o apanham trazendo de volta ao centro-meio do jogo O movimento eacute revezado por todos os atores que hora fazem a rede hora o Joatildeo Bobo

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ENSAIO

No Poratildeo do Teatro sobre uma mesinha improvisada dois atores disputam uma queda de braccedilo Os demais em volta fazem torcida gritante e apostam dinheiro no vencedor

O grupo que ensaia no Grande Auditoacuterio percorre o palco realizando o que parece ser um estudo sobre a rede eleacutetrica disponiacutevel Fazem anotaccedilotildees caacutelculos discutem a impedacircncia a amperagem

Alguns atores da plateia do Pequeno Auditoacuterio aplaudem o que parece ser um desfile de moda que se realiza atraveacutes dos demais atores no palco

Na antiga sala-sede do NUTe um uacutenico ator de peacute estaacute cercado pelos demais que o reverenciam sentados sobre seus proacuteprios calcanhares em estranhos movimentos lanccedilam os braccedilos acima da cabeccedila e curvam-se ateacute o chatildeo Quando retornam ao iniacutecio do movimento bradam em coro mestre mestre mestre

Alexandre natildeo interfere Apenas observa os grupos Por vezes sorri por vezes passa a matildeo no cabelo usando os dedos da matildeo direita como pente agraves franjas que lhe caem sobre a testa Depois dessa primeira rodada claro que um cigarrinho vai muito bem melhor ainda se acompanhado daquele cafezinho que se consegue na secretaria da Carona Escola de Teatro Uma respirada algumas tragadas e estamos prontos para continuar

Voltamos ao Poratildeo Os atores em silecircncio formam um ciacuterculo de costas Cada qual olha numa direccedilatildeo a sua frente de modo

que nenhum deles consegue olhar os demais Alexandre achou curioso Sentados em duas cadeiras improvisadas permanecemos por alguns minutos mas nada acontece A tensatildeo da queda de braccedilo havia se esvaziado Em cena apenas o silecircncio e o distanciamento entre os atores Aguardamos mais alguns minutos Nada Alexandre comeccedila a coccedilar a cabeccedila olha pra mim faz menccedilatildeo de que vai intervir levanta-se mas ao comeccedilar a falar o dorso da matildeo esquerda do primeiro ator atinge com muita forccedila a face do segundo o que faz com que o dorso da matildeo esquerda do segundo ator atinja a face do terceiro O mecanismo se repete ateacute atingir a face do primeiro ator Quando isso acontece o ator que iniciara a accedilatildeo num abrupto movimento de 180 graus nos olha com violecircncia escaacuternio e certa simpatia dizendo

Alguns de noacutes achaacutevamos que tiacutenhamos que montar espetaacuteculos com mais frequecircncia Mas quase ningueacutem tomou partido tatildeo abertamente por um dos dois projetos de NuTE jaacute que eles tinham comeccedilado mais ou menos juntos o Experimental e a Escola com Alexandre e Wilfried O Wilfried sempre mais com a ideia da escola e o Alexandre sempre com a ideia dos espetaacuteculos era mais ou menos assim (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 24)

Ao finalizar a fala numa velocidade incriacutevel o grupo desfaz a configuraccedilatildeo circular e retorna ao braccedilo de ferro agrave balbuacuterdia agrave torcida e agraves apostas Venera deixa escapar um susto Com os olhos esbugalhados escreve algo num bilhete aproxima-se dos atores e como quem faz uma aposta num dos combatentes

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A cerimocircnia continua mas agora o ator do projetor multimiacutedia veste um professoral jaleco branco Retira de um dos bolsos uma caneta laser e apontando para a imagem projetada inicia o que parece ser uma aula dedicada a uma turma de ensino meacutedio

ndash Bem como vimos em nossa uacuteltima aula a escola NUTe vinha pipocando desde os primeiros anos do Nuacutecleo de Teatro Experimental Num primeiro momento os cursos satildeo ministrados por Wilfried Krambeck que logo na sequecircncia se transforma em coordenador-pedagoacutegico possibilitando que outros membros do nuacutecleo ministrem cursos Atenccedilatildeo pessoal menos barulho por favor isso aqui pode cair na prova Noacutes vamos chamar essa primeira fase da escola NUTe de Krambeck in Cursos Sobre isso noacutes conversamos bastante em nossa uacuteltima aula espero que todos estejam lembrados Quem faltou nesse dia e natildeo quer tomar bomba no exame recomendo estudar o livro da paacutegina 85 agrave 111

ndash Jaacute a segunda fase da escola NUTe se potildee em movimento quando o nuacutecleo comeccedila a trazer importantes nomes do teatro nacional os quais ministram cursos que desencadeiam o processo sem volta agrave primeira Escola Livre de Teatro de Santa Catarina Gostaria que vocecircs anotassem tambeacutem este ponto temos certeza de ser a primeira Escola Livre de Teatro do Vale do Itajaiacute poreacutem algumas pessoas acreditam que o NUTe possa ser a primeira Escola Livre de Teatro de toda Santa Catarina Sendo ou natildeo algo fundamental que acontece nessa segunda

joga o bilhete sobre a mesa A cena natildeo para Suavemente deixamos o poratildeo Na antiga Sala-Sede do NUTe o ritual de aclamaccedilatildeo ldquomestre mestre mestrerdquo segue sem nenhuma novidade Alexandre se irrita e interrompe a cena Pergunta ao grupo se haacute algum motivo para tanta repeticcedilatildeo O grupo se dissolve em torno do uacutenico ator de peacute e se refaz em torno de Alexandre Novamente com o mesmo cerimonial repetem ldquomestre mestre mestrerdquo Ainda mais irritado Alexandre balanccedila a cabeccedila numa desaprovaccedilatildeo que mastiga fogo pelos olhos o que deixa a cena muito engraccedilada Sem poder conter acaba me saindo uma gargalhada Imediatamente o grupo abandona Alexandre e me circula dizendo ldquomestre mestre mestrerdquo Continuo rindo e Alexandre acaba achando graccedila tambeacutem Por fim um ator que estava separado do grupo liga o projetor multimiacutedia e todos os demais passam a reverenciar a imagem projetada dizendo ldquomestre mestre mestrerdquo

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fase eacute que os alunos NUTe tecircm a possibilidade de assistir a aulas de Thiers Camargo Irene Ravache Joseacute Possi Neto Roland Zwicker Jorge Cherques Walmor Chagas Pepita Rodrigues Eduardo Dolabella Vamos chamar essa Segunda Fase da Escola NUTe de Grande Mestres

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Contudo ndash retorna o ator professor - se vocecircs fizeram a tarefa de casa que deixei semana passada jaacute sabem que dentre tantos dois cursos foram fundamentais nesse processo Eles satildeo citados veementemente em quase todas as entrevistas realizadas pela pesquisa e publicadas no blog wwwnuteparatodoswordpresscom Ganha um ponto positivo na prova quem primeiro me disser o nome dos professores que deram esses cursos

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Muito bem eacute isso mesmo Trata-se em primeiro momento do curso de Aprimoramento em Teatro Universal dado por Joseacute Ronaldo Faleiro e alguns anos mais tarde o curso Treinamento Cotidiano do Ator dado por Carlos Simioni e Ricardo Pucceti

Joseacute Ronaldo Faleiro natural de Porto Alegre retorna ao Brasil depois de longa estadia na Franccedila ndash de 1972 a 1986 ndash onde defenderaacute sua tese de doutorado ndash La Formation de lacuteActeur agrave partir des Cahiers dacuteArt Dramatique de Leacuteon Chancerel et des Cadernos de Teatro dacuteO Tablado Aceita voltar por insistecircncia

de Olga Reverbel entatildeo professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que havia sido convidada a lecionar temporariamente na licenciatura em artes da Universidade Regional de Blumenau (Furb) Faleiro acaba assumindo aleacutem da pesquisa e do ensino tambeacutem a chefia da Divisatildeo de Promoccedilotildees Culturais nesta universidade Uma vez em Blumenau sofre grande impacto ao assistir O Homem do Capote e Outros Seres espetaacuteculo que lhe pareceu muito proacuteximo ao teatro contemporacircneo europeu Impressionado com o fato de um grupo de teatro amador do interior de Santa Catarina estar realizando montagens com elementos pesquisados por um teatro que vinha acompanhando em especial na Franccedila e na Alemanha passa a se aproximar do entatildeo Nuacutecleo de Teatro Experimental

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Em maio de 1987 e em marccedilo de 1988 Faleiro ministra para o NUTe o curso de Aprimoramento Teoacuterico Praacutetico em Teatro Universal o qual conforme podemos observar na inscriccedilatildeo deste aluno consistia do seguinte programa

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ndash O curso mobiliza novas forccedilas e intensifica

o combate entre as jaacute existentes ndash escolar e experimental ndash dentro do nuacutecleo Mais que isso Faleiro torna-se uma espeacutecie de mestre dos nutes

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Nutes em busca de Nutrientes encontram em Faleiro uma referecircncia teatral Passam a frequentar sua casa emprestam livros de sua biblioteca pessoal um impressionante acervo sobre teatro que superava em muito as bibliotecas da regiatildeo Cabe lembrar

que estamos na deacutecada de 80 natildeo existe internet a dificuldade de acessar produccedilotildees contemporacircneas eacute imensa a maior parte das informaccedilotildees se encontra apenas em material impresso importado e caro Generosamente esse senhor disponibiliza parte de seu tempo sua casa e sua biblioteca a esses jovens No recorte aperitivo que recebemos da entrevista realizada com Roberto Murphy jogo nuacutemero 2 eacute possiacutevel perceber isso com mais clareza

Ele trouxe uma biblioteca de teatro Todas as paredes da casa dele eram repletas de livros E tinha um palco no meio onde tudo era livro de teatro de arte em geral mas basicamente teatro O banheiro da casa dele era cheio daqueles Aquelas coisas de guardar sapatos aquilo era cheio de livros E a gente ia pra laacute passava a tarde laacute ele fazia uma torta de maccedilatilde com mel e chaacute de natildeo sei o quecirc E conversa conversa Aquilo foi nutrindo muito a gente E ele comeccedilou a ter contato com o Wilfried com todos os fundadores laacute do NuTE e comeccedilou a haver um fervo muacutetuo Aquilo ali foi revolucionaacuterio O contato do Faleiro com o Alexandre foi demais E isso provocou em todos noacutes porque eu me considero um disciacutepulo deles todos desses dois principalmente assim como Giba eacute tambeacutem como Pepe eacute (entrevista com Roberto Murphy paacuteginas 6-7)

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

ndash Um bom exemplo desse contato que Murphy nos fala eacute o espetaacuteculo Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes concebido e dirigido por Alexandre Venera contando com assessoria de Ronaldo Faleiro E assim bem nutrido este Nuacutecleo de

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Teatro Experimental teraacute condiccedilotildees alguns anos mais tarde de vir a ser Nuacutecleo de Teatro Escola Olha pessoal o barulho taacute demais Natildeo quero colocar ningueacutem pra fora hoje mas se for preciso vai pra direccedilatildeo sim senhor Os nossos amigos que jaacute estatildeo com duas advertecircncias sabem que mais uma visita ao diretor acarreta suspensatildeo correto Eacute muito chato isso de ter que ficar parando a aula pra pedir silecircncio Quero que todo mundo anote o que vou passar no quadro agora Eu disse todo mundo O colega natildeo vai anotar por quecirc Isso natildeo eacute desculpa meu caro se esqueceu do caderno em casa pega uma folha emprestada anota e depois passa a limpo Pessoal atenccedilatildeo isso aqui com certeza vai cair na prova

Ascenccedilatildeo e Queda do Impeacuterio NuTe

Primeira Fase ndash Krambeck in CursosSegunda Fase ndash Grandes Mestres

Terceira Fase ndash Nuacutecleo de Teatro EscolaQuarta Fase ndash Intrigas decadecircncia e morte

ndash Na aula de hoje estamos vendo os principais acontecimentos entre a Segunda e a Terceira Fase Mais propriamente as condiccedilotildees de possibilidade que permitiram essa passagem Jaacute conversamos sobre a importacircncia de Joseacute Ronaldo Faleiro e agora iremos falar um pouco sobre o curso dado por Carlos Simioni e Ricardo Pucceti Treinamento Cotidiano do Ator24

24 Durante a pesqui-sa encontramos um registro audiovisual deste curso o qual soma cerca de 60 mi-nutos Para assistir ao curso Treinamen-to Cotidiano do Ator acesse o endereccedilo wwwyoutubecomatchv=YBxOZogxf0A

ndash Mestre mestre mestre ndash clamam os demais atores em torno da imagem projetada

Em 1991 o NuTE que estaacute passando a ser NUTe jaacute dispotildee em seu curriacuteculo de importantes montagens O Homem do Capote e outros Seres Variante Woysek-Mauser Macbethrsquos uma interferecircncia na histoacuteria A ousadia experimental bem como a insistente pesquisa em Artaud e Grotowski chamam a atenccedilatildeo do grupo fundado por Luiacutes Otaacutevio Burnier jaacute na eacutepoca referecircncia internacional em Antropologia Teatral Trata-se do Laboratoacuterio Unicamp de Movimento e Expressatildeo LUME Ou como eacute chamado atualmente Nuacutecleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp

() a gente chamou muito atenccedilatildeo do pessoal do LUME pessoal do Teatro Antropoloacutegico Eugenio Barba a gente se aproximou muito dessa linha de trabalho A gente foi Se era experimental

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ali mesmo foi mais do que nunca Soacute que nessa eacutepoca exata eu acho que deixou de ser Teatro Experimental e passou a ser Teatro Escola (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 58)

ndash Como vocecircs podem perceber pela citaccedilatildeo acima esse curso intensifica as forccedilas experimentais dando-lhes vazatildeo permitindo ressonacircncias com a Antropologia Teatral Ao mesmo tempo fortalece as forccedilas escolares deixando o terreno pronto para a travessia da segunda agrave terceira fase onde se vai consolidar definitivamente o NUTe como Escola de Teatro O que parece irocircnico aqui eacute que a filiaccedilatildeo experimental se potencializa justamente como escola Dizendo de outra forma enquanto natildeo havia uma identidade a se remeter enquanto o inominaacutevel operava a experimentaccedilatildeo era caoacutetica e livre a partir do momento em que se reconhece uma filiaccedilatildeo que se constroacutei uma casa que se torna senhor proprietaacuterio da sua morada comeccedila a ser importante defendecirc-la contra os invasores e zelar por sua manutenccedilatildeo O devir experimental se reorganiza na identidade escola

() quando a gente montou Apocalypsis ainda natildeo tava dando aula natildeo Tava comeccedilando a montar a Escola Com Apocalypsis noacutes trouxemos mais um grupo de fora pra dar um curso de uma semana onde todo mundo entrava agraves sete e meia da manhatilde e saiacutea agrave uma da tarde da aula E daiacute tinha mais uma turma agrave noite pra quem natildeo podia durante o horaacuterio comercial neacute Esse curso com o LUME o Simione que eacute antropologia teatral pura Noacutes com Apocalypsis apresentamos pra levantar uma grana pra ajudar a pagar a vinda desses caras pra caacute E nessa eacutepoca comeccedilou a vir a terceira

fase que seria quando noacutes montamos a escola e comeccedilamos a dar aula (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 150)

ndash Os registros que permaneceram do curso e que estatildeo disponiacuteveis na biblioteca ndash wwwnutecombr ndash mostram a importacircncia dada ao momento Alguns que chegaram a ser datilografados possivelmente para serem utilizados em aulas posteriores carregam tiacutetulos como Anotaccedilotildees Antoloacutegicas de um dia de Trabalho Sobre Orientaccedilatildeo de Carlos Simioni e Ricardo Pucceti Outros escritos agrave matildeo cuidadosamente conservados talvez por serem a base dos demais documentos revelam um pouco a atmosfera do encontro

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O ator professor faz uma pausa bebe um gole de aacutegua em sua garrafinha de refrigerante diet depois estaciona os olhos em sua plateia Alexandre e eu encostados na parede da sala fizemos esperar Apoacutes alguns segundos percebemos que os demais atores tambeacutem estavam nos olhando Por fim dois deles balanccedilam os braccedilos e um tanto constrangidos noacutes aplaudimos o grupo Um dos atores comenta que ateacute entatildeo foi o que conseguiram produzir Alexandre parabeniza o grupo faz questatildeo de cumprimentar um a um os atores Gosta em especial dos momentos em que o professor ator quebra seu personagem falando do jogo de aperitivo nuacutemero 2 Comenta que a cena estaacute maravilhosa Todos sorriem Alexandre repete ldquoMuito bom muito bom mesmordquo Um dos atores pergunta o que poderia ser melhorado O diretor comenta que apesar de tudo funcionar muito bem a cena criada corre o risco de essencializar uma persona substancializar o ator professor num sujeito-personagem Um dos atores argumenta que a intenccedilatildeo da repeticcedilatildeo miacutetica ldquomestre mestre mestrerdquo seria justamente deslocar o personagem substancializado agraves forccedilas que o colocam em movimento Alexandre acredita que isso eacute possiacutevel que de certa forma a ironia fabrica esse desequiliacutebrio na cena que a estrutura criada pelo grupo pode permitir uma desterritorializaccedilatildeo do bloco de informaccedilotildees e abri-lo agrave experiecircncia do puacuteblico Mas para isso acontecer seria preciso ir mais a fundo injetar mais deliacuterios aos jogos retirar um tanto da mensagem da historinha

Um dos atores questiona o motivo disso pergunta se a proposta deste dia de trabalho natildeo seria justamente contar um histoacuteria a histoacuteria da escola NUTe Num tom de deboche o mesmo ator questiona como seria possiacutevel fazer isso sem servir ao puacuteblico alguns blocos de informaccedilatildeo ao menos com pedaccedilos-trechos de sujeitos de espaccedilos de tempo e finaliza dizendo que o puacuteblico precisa ter onde se agarrar para conseguir experimentar a encenaccedilatildeo O diretor discorda veementemente Numa explosatildeo de entusiasmo questiona a importacircncia da histoacuteria do NUTe para quem e para quecirc serviria contar essa histoacuteria O grupo olha para mim eu me calo Alexandre pergunta novamente Tento responder que existe relevacircncia histoacuterica em muitas coisas feitas pelo Nuacutecleo que nosso trabalho vale como um registro dessas accedilotildees para as proacuteximas geraccedilotildees do teatro Alexandre balanccedila a cabeccedila em tom negativo diz que isso tudo natildeo passa de burocracia de discurso comercial que serve para aprovar projetos como este no Ministeacuterio da Cultura ou para conseguir recursos numa empresa

Artisticamente falando continua o diretor natildeo serve para nada ldquoA arte natildeo eacute imitaccedilatildeo da vida mas a vida que eacute imitaccedilatildeo de algo essencial com o que a arte nos potildee em contatordquo25 Ele faz uma breve pausa observa o grupo por fim numa respiraccedilatildeo profeacutetica sustenta que o maior interesse da arte eacute a vida A grande pergunta que a arte nos ajuda a colocar diz ele eacute Como Viver A arte e em especial o teatro nos permite acessar mundos que as representaccedilotildees 25 Antonin Artaud

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as regras as normas cotidianas natildeo permitem Vivemos todos presos enjaulados a liberdade convencional eacute apenas uma cadeia com mais espaccedilo A funccedilatildeo da arte eacute nos ajudar a ir aleacutem dessas grades estouraacute-las romper com elas Mas isso natildeo se encontra representando uma historinha sobre o NUTe Alias natildeo haacute nada menos NuTE do que contar uma historinha sobre o NUTe O NuTE natildeo montava espetaacuteculos para entreter as pessoas muito menos para esclarecer conscientizar convencer sobre algo A proposta sempre foi libertar as pessoas libertar o pensamento o delas e o nosso Muitas vezes talvez na maioria das vezes ateacute as pessoas saiacuteam dos nossos espetaacuteculos se perguntando lsquomas o que isso quer dizerrsquo ou lsquoacho que natildeo entendi direito a mensagem do espetaacuteculorsquo ou ainda lsquoo que vocecircs queriam passar com issorsquo As pessoas estatildeo viciadas em comprimidos de significaccedilatildeo e natildeo param de pedir mais uma dose O nosso teatro negava essa dose noacutes natildeo diziacuteamos nada os nossos espetaacuteculos natildeo queriam ensinar nada queriacuteamos sim permitir agraves pessoas pensarem mas pensarem por si porque cada um precisa encontrar sentido no espetaacuteculo o sentido natildeo eacute o mesmo para todos ele natildeo estaacute pronto eacute preciso inventaacute-lo procuraacute-lo ao seu modo No fim das contas era isso que todos os nossos espetaacuteculos queriam dizer construa o seu sentido procure por ele natildeo eacute faacutecil noacutes sabemos mas estamos juntos nessa procura26 Invente um sentido para vocecirc pois natildeo haacute sentido nenhum neste espetaacuteculo assim como natildeo haacute nenhum sentido na vida Eacute preciso a todo momento fabricar criar

26 Comentaacuterio de Joseacute Ronaldo Faleiro ao revisar este trecho do ensaio ldquoOs espe-taacuteculos do AVS pro-vocavam isso por sua fragmentaccedilatildeo pela fragmentaccedilatildeo da sua estrutura narrativa pela surpresa quanto ao desempenho dos atoresrdquo

inventar Agora essa operaccedilatildeo soacute funciona quando a compartilhamos com algueacutem Por isso as macro linhas de significaccedilatildeo da vida fazem tanto sucesso Ao aprisionar as pessoas elas permitem a experiecircncia comum de estar vivo dentro de uma cela Na igreja no shopping na academia nas novelas da Rede Globo estaacute tudo pronto natildeo haacute necessidade nenhuma de criar Isso eacute o oposto do que estamos fazendo aqui pois o que queremos eacute estourar as grades da representaccedilatildeo

Um ator toma a palavra se dizendo confuso com a quebra da representaccedilatildeo proposta pelo diretor questiona se a realizaccedilatildeo disso natildeo quebraria tambeacutem a fronteira entre arte e vida Alexandre gosta muito da questatildeo dizendo que eacute exatamente isso o que acontece pois nisso que estamos trabalhando ldquo() o limite eacute muito estreito entre o que eacute vida e o que eacute arte Porque eacute uma arte na qual se decide a questatildeo ndash como viverrdquo27 Seria possiacutevel aceitar as coisas da forma como estatildeo isso tambeacutem eacute um como viver e apenas representaacute-las e nada mais Mas para isso natildeo precisamos da arte isso natildeo eacute arte isso eacute consumo Serve para os que vivem na Falta para os que vivem na Fome Para os que querem consumir existem os shoppings os restaurantes as pizzarias aqui estamos procurando por outra coisa Algo difiacutecil de atingir difiacutecil ateacute de dizer Algo que de uma forma ou de outra todos procuram Alguns procuram no dinheiro acreditam que quando tiverem muita grana vatildeo encontrar outros procuram numa pessoa num amor

27 Jerzy Grotowski Conferencia realiza-da em 1971 no Teatro Ateneum Publicada em The Theatre in Po-land Especial abril-maio 1975

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encontrariam nela outros ainda na fama no fetiche para esses estaria na accedilatildeo de ser adorado por muitos ou ainda procuram no prazer na droga na comida no sexo Quantos estocircmagos encontramos todos os dias caminhando pelas ruas em busca sempre em busca quantas genitaacutelias saem de casa e vatildeo para a festa em busca sempre em busca quantas maacutequinas-caccedila-niacutequel registram dia a dia mais e mais ansiedades monetaacuterias Talvez os uacuteltimos humanistas de plantatildeo queiram fazer algo por eles Queiram ajudaacute-los Mas noacutes que natildeo temos certeza nem da nossa busca natildeo podemos ajudar ningueacutem Natildeo temos como salvar o mundo O que conseguimos fazer eacute pouco muito pouco e esse pouco eacute continuar procurando ao nosso modo atraveacutes da arte A grande diferenccedila entre essa multidatildeo da Fome-Falta e noacutes eacute que eles procuram por algo que lhes sacie o desejo enquanto noacutes procuramos mobilizar nossas vontades para inventar mundos formas de existir de experimentar a vida Trata-se de uma guerra entre as paixotildees tristes e as alegres

O grupo compartilha um momento de grande intensidade Um dos atores pergunta o que contrapotildee nossa alegria agrave representaccedilatildeo Ou seja qual seria exatamente o problema de contarmos uma historinha de passarmos uma mensagem ao nosso puacuteblico O problema responde Alexandre eacute que ao impor ao nosso puacuteblico um mundo provisoacuterio que fabricamos para nosso conforto pessoal mundo que lhes obrigamos a engolir goela abaixo roubamos

do nosso puacuteblico o que haacute de melhor de mais revolucionaacuterio na arte a produccedilatildeo de sentido produccedilatildeo de si produccedilatildeo de mundos

Se noacutes resolvemos o problema para nosso puacuteblico noacutes o alienamos noacutes o acorrentamos agrave fraacutegil saiacuteda que conseguimos encontrar Saiacuteda que geralmente natildeo eacute tatildeo boa quanto gostariacuteamos que fosse Um ator se dizendo um pouco confuso pergunta que problema se estaria tentando resolver O diretor responde que se trata sempre de um mesmo e uacutenico problema seja para a Arte para a Religiatildeo para a Ciecircncia O problema eacute Como Viver

O diretor propotildee que todos suspendam por alguns segundos seus assentos existenciais e que mergulhem sem medo de encontrar aquilo que jaacute sabem mas que se esforccedilam para esconder de si mesmos Ou seja

I ndash Que a vida natildeo tem nenhum sentidoII ndash Que enquanto estivermos vivos inevitavelmente iremos sofrerIII ndash Que ao final dessa vida sem sentido e acometida de dores iremos todos morrer tudo terminaraacute

Dizendo de outra forma a presenccedila absoluta da morte da finitude desse animal que somos nos obriga diariamente a inventar sentidos agraves nossas vidas Essa invenccedilatildeo pode se dar de vaacuterias formas A questatildeo eacute que algumas delas nos aprisionam enquanto outras nos libertam Aqui eacute onde podemos afirmar sem medo que a arte eacute superior agrave religiatildeo e agrave ciecircncia Pois se o padre e o cientista precisam convencer a todos

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que suas respostas satildeo as melhores quando natildeo em acessos de arrogacircncia as uacutenicas possiacuteveis noacutes artistas precisamos apenas de espaccedilo para criar e doar nossa arte Vocecircs entendem por que eacute tatildeo importante esvaziar a mensagem do espetaacuteculo Se nossa intenccedilatildeo eacute libertar as pessoas e com isso libertar a noacutes mesmos a interpretaccedilatildeo tambeacutem deve ser livre Natildeo podemos direcionar se natildeo queremos ser direcionados agraves grandes respostas agraves saiacutedas hegemocircnicas que durante muito tempo acreditou-se boas para todos Sabemos hoje que cada um precisa criar sua saiacuteda e assim experimentar uma vida livre

Voltando ao nosso espetaacuteculo Se pretendemos contar uma vida se nosso trabalho aqui se resume a expressar algo que foi vivido o que precisamos fazer eacute esvaziar as mensagens Esvaziar para que o puacuteblico possa preencher como achar melhor ou como conseguir Na arte a vida natildeo se expressa resolvendo a vida Isso eacute o mais importante ldquo() a vida soacute pode ser expressa na arte pela falta de vida e pelo recurso agrave morte por meio das aparecircncias da vacuidade da ausecircncia de toda mensagemrdquo (KANTOR 2001 p 201)

Vocecircs entendem isso Os atores sinalizam que sim agradecem a palestra Alexandre dando-se conta de que haviacuteamos passado um bom tempo com eles lembra-se dos outros grupos Pergunta se ainda possuem material para continuar Um ator sorrindo muito quer compartilhar uma ideia que considera brilhante Alexandre motiva o grupo a trabalhar Saiacutemos

Ao chegar ao Grande Auditoacuterio somos surpreendidos por relacircmpagos atravessando o palco Duas sete vinte e cinco impressionantes descargas eleacutetricas formam uma espeacutecie de parreira de uva eletromagneacutetica Do centro do palco um ator completamente nu levanta-se abre os braccedilos e pede

ndash Potecircncia maacutexima Imediatamente seu corpo eacute atravessado

pelos raios obrigando-o a uma danccedila caoacutetica que parece ao mesmo tempo alimentar-se de uma dor insuportaacutevel e de uma alegria febril Desfragmentando cada parte do seu corpo o ator comeccedila a numerar as atividades realizadas pelo NUTe no ano de 1993

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Assim que finaliza a uacuteltima frase os raios enfraquecem o ator oscila procura recuperar o focirclego um segundo ator lhe traz uma toalha branca Ele rejeita faz menccedilatildeo de querer continuar Os demais atores arrastam uma corda formando um quadrado em torno do ator eleacutetrico que agora ganha luvas de boxe e passa a lutar com sua sombra Mais uma vez

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lhe trazem a toalha ele lanccedila a toalha agrave plateia em sinal de desprezo e continua lutando Tambeacutem com luvas de boxe entra no ringue o ator oponente Ambos se estudam pesquisam a melhor forma de avanccedilar sobre o adversaacuterio caminham em passos danccedilantes O oponente aproveita um deslize do ator eleacutetrico e ataca

ndash Ateacute quando vocecirc acha que vai aguentarndash Vocecircndash Eu te fiz uma pergunta idiota ateacute quando

vocecirc acha que vai aguentarndash Eu eu natildeo sei mas Mas vocecirc foi

justamente vocecirc quendash Taacute taacute taacute Jaacute sei Mas isso passou

Estamos agora em outro momentondash Outro momento Como assim Eacute a minha

vida eu soacute tenho esta vida Vocecirc me garantiu que eu poderia

ndash E vocecirc pode eacute claro que pode mas como professor Convenhamos

ndash Natildeo Natildeo Natildeo desta vez Natildeo vou mais acreditar natildeo desta vez natildeo Natildeo Eu queria fazer cinema o teatro me pareceu um bom caminho Montar espetaacuteculos eu pensei vou montar bons espetaacuteculos que me ajudem a comeccedilar o meu cinema Eu estava fazendo isso quando vocecirc apareceu Apocalypsis Variante Woizec-Mauser Macbethrsquos Claro que eram eram sim bons espetaacuteculos Mas aiacute vocecirc veio me convencer de que eu tinha responsabilidades que natildeo seria possiacutevel sobreviver assim do teatro que eu tinha famiacutelia que precisava ganhar dinheiro e que isso e aquilo Vocecirc me

convenceu de que eu deveria montar uma escola de teatro Durante vaacuterios anos eu lutei contra essa ideia Meu amigo Wilfried sempre insistiu que deveriacuteamos fazer do NuTE uma escola de teatro mas meu projeto eram os espetaacuteculos Achava que a escola iria me atrapalhar Foi vocecirc quem me convenceu vocecirc e mais ningueacutem eu nunca quis isso e agora vocecirc vem me dizer que

ndash Natildeo haacute pra onde ir aqui eacute o auge Vocecirc quer ser professor o resto da vida

ndash Quero fazer arte Nosso trato era esse Eu daria aula para ganhar um dinheirinho e em troca poderia fazer minha arte

ndash Tudo bem eu lembro do nosso acordo Mas e eu o que estou ganhando com isso

ndash Eu tenho me dedicado a planejar aula cobrar mensalidade fazer relatoacuterios de atividade prestaccedilatildeo de contas borderocirc Vocecirc natildeo estaacute contente essa merda toda ainda natildeo basta

ndash Claro que natildeondash O que mais vocecirc querndash Quero tua almandash Mefistoacutefelesndash Ah Que coisa chata olha meu querido

eu tenho vaacuterios nomes Chame como achares que Mas espera espera ndash sorrindo ndash eacute verdade teve um outro professor mas isso jaacute faz muito tempo que me chamava assim Engraccedilado Mas e entatildeo vai vender

ndash Eu natildeo sei vender significa que vou para o inferno quando morrer eacute isso

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ndash Ah Ah Ah ndash gargalhada fatal ndash Que bobiccedila hein nego Isso de inferno eacute uma grande baboseira Deus e o diabo satildeo invenccedilotildees humanas demasiadamente humanas Nada disso existe Coisas que as titias contavam aos sobrinhos peraltas para se divertirem Ateacute que foi uma boa invenccedilatildeo durou vaacuterios seacuteculos mas hoje em dia Deus estaacute morto assim como toda a parafernaacutelia metafiacutesica que o cercava O que quero saber eacute se vocecirc vai ou natildeo vai me vender essa porra de alma Tocirc ficando nervoso

ndash Taacute tudo bem Mas afinal o que seria te vender minha alma entatildeo Se Deus estaacute morto ainda existe alma

ndash Natildeo natildeo Claro que natildeo babaca Essa alma que supostamente seria sua essecircncia seu eu verdadeiro em nada me interessa essa natildeo existe nem nunca existiu O que quero satildeo tuas experiecircncias de vida a maneira como vocecirc se relaciona com o mundo teus acordos poliacuteticos teu modus vivendi Se preferes uma palavra espinozeana tua eacutetica Vocecirc aceita

Ambos retiram as luvas de boxe os demais atores desatam as cordas do ringue Sentam-se na ribalta e olham para Alexandre Constrangido ele se levanta olha para traacutes agrave porta do auditoacuterio caminha um passo em direccedilatildeo Os atores ficam atocircnitos Eu me dou conta de que a cena terminou e aplaudo o grupo todos aplaudem O diretor retorna ao local de onde assistia ao ensaio retira um cigarro do maccedilo e propotildee ao grupo conversar ao ar livre A proposta eacute bem aceita Saiacutemos

Em frente agrave antiga sala do NUTe Alexandre

acende um cigarro e lembra do cafezinho Vai ateacute a secretaria da Carona Escola de Teatro e retorna com uma garrafa de cafeacute e vaacuterios copinhos e serve a todos Parabeniza o grupo pela cena Um dos atores comenta que se trata de um trecho que a intenccedilatildeo eacute desenvolver mais a sequecircncia O diretor pede para que se mantenha a forccedila cecircnica esta teria lhe impressionado muito Elogia a atuaccedilatildeo dos atores e a brincadeira com o tema claacutessico quase clichecirc da luta interna Acredita que ao problematizar um tema ao qual constantemente se recorre seja possiacutevel falar dele e ateacute se utilizar dele para dizer algo Chama a atenccedilatildeo do grupo para o que considerou uma pequena dificuldade as imagens atravessadas pelo conceito de alma Comenta que existe uma crise na filosofia e em especial na psicologia contemporacircnea sobre esse tema Sabendo que me dedico a estudar o conceito Alexandre me pede para falar um pouco a respeito

Acendo um cigarro tomo um gole de cafeacute e comeccedilo dizendo que gostei muito da cena Ficou muito forte pra mim o funcionamento em rede do sujeito Ou seja pareceu-me que o ator eleacutetrico depende para agir de toda uma rede em sua volta Tal qual a muacutesica de um raacutedio que soacute toca quando ligamos o aparelho agrave tomada de energia na sala de nossa casa O que geralmente esquecemos eacute que essa tomada estaacute conectada a um cabo que segue aos disjuntores estes por sua vez estatildeo ligados ao reloacutegio que contabiliza e distribui energia para a casa o qual estaacute ligado agrave rede de baixa tensatildeo que estaacute ligada atraveacutes dos

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transformadores acoplados aos postes agrave rede de alta tensatildeo essa rede de alta tensatildeo estaacute ligada a uma usina de distribuiccedilatildeo de energia essa usina de distribuiccedilatildeo estaacute ligada a uma usina de geraccedilatildeo de energia onde geradores acoplados agrave correnteza da aacutegua produzem energia eleacutetrica essa aacutegua estaacute ligada a vaacuterios rios esses rios a vaacuterios coacuterregos esses coacuterregos a vaacuterias nascentes essas nascentes ao barro agrave chuva e assim ao infinito

A mesma infinitude rizomaacutetica acontece em cada um dos componentes do raacutedio de onde sai a muacutesica Cada parafuso cada pedaccedilo de plaacutestico cada componente eletrocircnico ali presente eacute antecedido por uma rede infinita que o faz agir daquela forma e natildeo de outra A rede que antecede o capacitor eletroliacutetico e o obriga a agir de tal forma que possamos ouvir um programa de jazz em tal horaacuterio e em determinada frequecircncia Algueacutem conseguiria culpar responsabilizar ou afirmar que esse capacitor eletroliacutetico escolhe atraveacutes do livre arbiacutetrio que lhe foi concedido por Deus agir dessa forma Obviamente que natildeo

A rede que antecede a accedilatildeo humana eacute igualmente infinita Nossas escolhas resultam sempre da imposiccedilatildeo dessas redes O que conseguimos fazer eacute nos colocar agrave disposiccedilatildeo de algumas redes Podemos nos aproximar de algumas linhas de forccedila e nos distanciar de outras Mas isso eacute muito diferente de escolher a muacutesica que vamos tocar Esse raacutedio que somos natildeo escolhe sozinho a muacutesica que toca Ao mesmo tempo essa escolha tambeacutem natildeo eacute

feita por um capacitor eletroliacutetico dentro dele nem pela matildeo que ajusta a frequecircncia nem pelo locutor responsaacutevel pela programaccedilatildeo nem pelo muacutesico que compocircs a canccedilatildeo

ndash Mas algo em noacutes prefere ouvir essa e natildeo aquela muacutesica ndash interrompe um ator

ndash Sim mas que algo seria esse ndash pergunto ao grupo ndash Haveria uma substacircncia uma alma agindo dentro de vocecirc Vocecircs percebem como eacute ingecircnuo o pensamento atomista Pensar aquilo que quer em noacutes como uma unidade uma substacircncia isolada um Eu eacute o mesmo que dizer que quem escolhe a muacutesica eacute o capacitor eletroliacutetico do raacutedio Quando algo quer em noacutes esse algo estaacute em muitos eacute atravessado por muitos composto por muitos Multidotildees humanas e inumanas nos habitam e nos forccedilam a querer assim e natildeo de outra forma Haveria como culpar responsabilizar criminalizar individualmente o sujeito por tocar essa e natildeo aquela muacutesica ndash da mochila retiro O Crepuacutesculo dos Iacutedolos e leio um trecho do oitavo aforismo de Os Quatro Grandes Erros

Qual pode ser a nossa doutrina Aquela para a qual ningueacutem daacute ao homem suas qualidades nem Deus nem a sociedade nem os pais ou os antepassados nem ele proacuteprio () Ningueacutem eacute responsaacutevel pelo fato de existir dessa ou daquela maneira nesta ou naquela condiccedilatildeo neste ou naquele meio () Que ningueacutem seja mais tomado como responsaacutevel que o modo de existir natildeo possa mais levar a uma prima causa que o mundo nem como sensorium nem como espiacuterito seja mais uma unidade isto e somente isto eacute a grande libertaccedilatildeo ndash eacute por isso e unicamente por isso que foi restaurada a inocecircncia

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do devir A Ideia de Deus foi ateacute agora a principal objeccedilatildeo contra a existecircncia Noacutes negamos Deus negamos em Deus a responsabilidade eacute com isso e unicamente com isso que salvamos o mundo 28

Assim se Fausto vende sua Alma a Mefistoacutefoles natildeo eacute por escolha individual mas sim por ser a uacutenica accedilatildeo possiacutevel na rede que Fausto habita Acho que vocecircs acertam quando transferem o problema do sujeito para a eacutetica No fundo eacute isso Se sou uma multidatildeo ou se um coletivo de forccedilas me carrega com quais outras multidotildees traccedilo alianccedilas Ou seja que tipo de vida experimento se me aproximo dessa linha de forccedila se me distancio daquela

E por falar em eacutetica achei muito feliz o momento em que vocecircs evidenciam que a organizaccedilatildeo da Escola NUTe natildeo se fez a partir de uma disputa entre Alexandre e Wilfried Mas sim entre forccedilas infinitamente maiores que eles Imaginar essas forccedilas combatendo em um Alexandre isolado do mundo pode ser um recurso didaacutetico bastante eficiente mas eacute onde vocecircs correm perigo em minha opiniatildeo de serem capturados pela Identidade-Eu-Alma

Seria preciso distanciar suficientemente Alexandre de NUTe para que o asseacutedio eacutetico que parte de Mefistoacutefoles pudesse se evidenciar como Asseacutedio de Apolo Ou seja eacute Apolo quem quer sobrepujar atraveacutes da razatildeo da temperanccedila da organizaccedilatildeo as forccedilas criativas e caoacuteticas de Dioniso experimental O conjunto de forccedilas que estou nominando como Dioniso resiste por um bom tempo elas insistem lutam vocecircs compotildeem imagens excelentes

28 Friedrich Nietzs-che A Vontade de Po-der Aforismo 488

nesse sentido Se no final Dioniso abandona a guerra por cansaccedilo desgaste ou por realmente ter sido ultrapassado por Apolo se Apolo vence no final mais uma vez nos damos conta de que natildeo estaacute em jogo ldquo() nenhuma lsquosubstacircnciarsquo antes algo que anseia por fortificaccedilatildeo e que apenas indiretamente quer-se lsquomanterrsquo (ele quer ultrapassar-se)rdquo29

No exato momento que finalizo a citaccedilatildeo do aforismo o grupo que ensaia na sala ao lado interrompe a conversa com seu jaacute enfadonho

ndash Mestre mestre mestreO grupo com o qual estamos conversando

natildeo gosta da intervenccedilatildeo e pede gentilmente aos intrusos que retornem ao seu local de ensaio Sem lhes dar a miacutenima importacircncia continuam

ndash Mestre mestre mestreDe repente uma explosatildeo fumaccedila gritos de

dor um ator atingido na perna chora pedindo socorro Os atores intrusos olham para o ceacuteu e clamam

ndash Mestre mestre mestre Sobre nossas cabeccedilas desce num

paraquedas multicolorido o Ator-Professor que agora porta uma metralhadora de plaacutestico e dezenas de rojotildees os quais acende e despeja agraves gargalhadas Todos se afastam procurando local seguro mas o grupo intruso continua com a cena bizarra

ndash Mestre mestre mestreAo pisar no chatildeo o Ator-Professor-

Guerrilheiro inicia uma panfletagem

29 Friedrich Nietzs-che A Vontade de Po-der Aforismo 488

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Agrave matriacutecula no curso de teatro do NUTe ele convida os assustados atores escondidos os transeuntes os funcionaacuterios do teatro ndash que a essa altura jaacute haviam chamado a poliacutecia e a toda forccedila de seus pulmotildees exigiam explicaccedilotildees bem como responsaacuteveis pelo acontecido ndash e tambeacutem os passarinhos as lantejoulas e os caminhotildees Em meio a tantos convites o Ator-Professor-Guerrilheiro insiste em entregar o cartaz a uma furiosa funcionaacuteria de crispados dedos em riste a qual inicialmente esmaga o papel A4 no chatildeo sob seus delicados sapatos azuis de nuacutemero 43 recebendo-o logo na sequecircncia em sua boca pelas matildeos do Ator-Professor-Guerrilheiro que com certa brutalidade ali o coloca fazendo com que a funcionaacuteria furiosa se cale e se alimente do material o que soacute consegue com o apoio de um elevado nuacutemero de bofetadas e da ameaccedila de trocar o papel por dois rojotildees acesos

Dada a balbuacuterdia todos os demais que ensaiavam cada qual em local distinto agrupam-se em frente agrave antiga sala do NUTe O grupo que estava no pequeno auditoacuterio reclama o cartaz utilizado na panfletagem Acusam o grupo do Ator-Professor-Guerrilheiro de roubar seu aperitivo argumentam que o cartaz estava no jogo de aperitivos de nuacutemero 4 escolhido por eles O grupo exige a devoluccedilatildeo imediata do aperitivo jaacute que passaram boa parte do ensaio trabalhando sobre ele

Infelizmente eles natildeo ouvem e continuam encenando ou o que quer que fosse aquilo que estavam fazendo O Ator-Professor-Guerrilheiro sobe nos ombros dos demais atores de seu grupo que estranhamente sossegaram a cantilena miacutetica e agora estatildeo perfilados em formaccedilatildeo de piracircmide humana Assim que chega ao topo para desespero e pavor de todos dispara sua metralhadora

() natildeo deu uma semana um mecircs depois ele tava montando um curso laacute dentro do Teatro de interpretaccedilatildeo pra cinema e TV e vem uma ordem da direccedilatildeo do teatro () vieram laacute jogaram o cartaz na minha mesa e ldquoolha noacutes temos um contrato com uma outra escola que vai fazer cursos de cinema e viacutedeo Vocecircs satildeo teatro natildeo pode ter duas escolas fazendo a mesma coisa aqui dentrordquo Foi pra mim um baque grande ldquopocirc como eu faccedilo interpretaccedilatildeo de cinema e TV haacute mais de cinco anosrdquo Tinha programas o documentaacuterio do Hermann Baumgarten eacute do terceiro curso que a gente fez Gerou um documentaacuterio neacute aniversaacuterio da TV Galega Entatildeo tinha Aiacute vem essa ldquoPocirc mas quem eacute que taacute dando esse cursordquo ldquonatildeo isso eu natildeo posso dizer diz a gerente do teatrordquo (entrevista com Alexandre Venera paacuteginas 84-85)

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Os disparos atingem dois atores o carro funeraacuterio da prefeitura e um peacute de abacate no estacionamento Com o sangue correndo pela calccedilada o motorista de smoking ndash por sinal um beliacutessimo smoking preto ndash avaliando os estragos na lataria do carro e com as folhas do abacateiro pedindo clemecircncia eu me sinto na obrigaccedilatildeo de restabelecer a ordem Atraveacutes dos poderes que me foram confiados pelo Ministeacuterio da Cultura no afinco de coordenar este projeto convoco todos os atores que compotildeem este grupo terrorista e sumariamente os demito

Numa gargalhada estrondosa o Ator-Professor-Guerrilheiro do alto de sua piracircmide humana sem a menor consideraccedilatildeo agrave minha posiccedilatildeo coordenativa aciona mais uma vez sua terriacutevel metralhadora

Houve aiacute uma coisa Um mal-estar que eu natildeo sei de onde surgiu e o Alexandre tomou a decisatildeo de mandaacute-las embora E nesse iacutenterim como na eacutepoca elas faziam parte do meu grupo do Arte Atroz ndash eu acho que aiacute surgiu essa rusga neacute ou vocecirc eacute Arte Atroz ou vocecirc eacute NuTE ndash ele as mandou embora e eu me vi e natildeo me arrependo disso jaacute conversamos vaacuterias vezes sobre isso eu me vi na obrigaccedilatildeo e faria de novo eu apoiei a saiacuteda delas saindo junto com elas E nessa eacutepoca a gente pensou ldquoporque natildeo montar uma escola de teatro que natildeo seja o NuTE que fosse nossardquo (entrevista com Giba de Oliveira paacutegina 19)

O grupo que ensaiava no pequeno

auditoacuterio exige justiccedila Levantando faixas e cartazes iniciam uma manifestaccedilatildeo em prol dos direitos aperitivantes Em marcha repetem frases de efeito como ldquoo grupo unido jamais

seraacute vencidordquo ou ldquo um dois trecircs quatro cinco mil enfia a metralhadora dentro do barrilrdquo ou ainda ldquoqueremos o nosso aperitivordquo e o mais recorrente entre todos ldquomonstro monstrengo monstrinho devolva jaacute o nosso aperitivinhordquo

Tento negociar com o grupelho terrorista oferecendo aperitivos natildeo ensaiados e ateacute mesmo algumas citaccedilotildees filosoacuteficas peccedilo que em troca eles libertem os aperitivos que estatildeo fazendo de refeacutens Alguns atores terroristas demonstram interesse na proposta A metralhadora de plaacutestico faz uma pausa Eles conversam e apoacutes alguns minutos chegam a um acordo Aceitam a proposta mas querem um helicoacuteptero para a fuga Apenas para ganhar tempo digo que vamos tentar conseguir peccedilo que mantenham a calma O grupelho terrorista ameaccedila sacrificar mais um dos aperitivos do grupo protestante caso suas exigecircncias natildeo sejam imediatamente atendidas A tensatildeo eacute enorme Alexandre me pergunta se consigo proteger a descida pela escada Digo que posso tentar mas que seria loucura descer agora o risco de ser atingido eacute grande demais Ele insiste eu monto a proteccedilatildeo Escada abaixo ele corre mas no uacuteltimo degrau o Ator-Professor-Guerrilheiro percebe a movimentaccedilatildeo e dispara sem nenhuma compaixatildeo

() uma semana antes tava trabalhando e ali os jurados o pessoal que tava no juacuteri um deles era conhecido natildeo lembro quem mas ele ldquopocirc e Alexandre nada mais de teatrordquo Ah natildeo Uma hora saiu natildeo eacute maacutegoa mas eacute o tiro que tinha pra dar neacute ldquocara foi muito tempo inuacutetil fuacutetil que eu gastei queimei minha vida e nada apareceu

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neacuterdquo Hoje a gente taacute falando de uma escola neacute mas era assim uma uma coisa que ficava muito bairrista tinha que taacute andando em cima de cascas de ovos neacute cuidando pra natildeo quebrar porque por picuinhas gente que achava que tava lutando por um mercado por alunos (entrevista com Alexandre Venera paacutegina 83)

Alexandre eacute atingido no ombro direito Mesmo ferido continua correndo Consegue chegar ao ldquoTudo por R$ 199rdquo da esquina Entra na loja Poucos segundos depois retorna com um helicoacuteptero vermelho em suas matildeos Em frente ao caixa raacutepido do Bradesco grita ao grupo terrorista que estaacute com o helicoacuteptero que iraacute deixaacute-lo ali na calccedilada Pede para que mantenham a calma que estamos cumprindo com todas as exigecircncias deles e que eacute a vez deles cumprirem com o combinado

O grupo terrorista concorda Os aperitivos do grupo protestante satildeo libertados Os atores do grupo protestante se emocionam abraccedilam seus aperitivos eacute um momento de muita comoccedilatildeo soluccedilos e laacutegrimas

O grupo terrorista desce a escada atravessa a rua estaacute cerca de poucos metros do helicoacuteptero quando chega a poliacutecia armada da cabeccedila aos peacutes com bolinhas de papel Temendo ter de passar pelos mesmos exames ultrassonograacuteficos impostos a Joseacute Serra durante o pleito de 2010 os atores terroristas se entregam satildeo algemados e levados sob aplausos ao camburatildeo Um suspiro de aliacutevio perpassa todos os demais Pergunto a Alexandre se estaacute tudo bem com ele Ele responde que sim mas que

precisa fumar um cigarro Sorrindo pergunta se quero um cafeacute respondo que sim e ele mais uma vez se dirige agrave secretaria da Carona Escola de Teatro Sentado no chatildeo encostado na parede do teatro comeccedilo a rabiscar alguma coisa em meu bloco de anotaccedilotildees Um aperitivo libertado soluccedila no colo de um ator ao meu lado Uma sensaccedilatildeo de chuva forte que termina se espalha pela calccedilada Entretanto ao levantar os olhos do papel-risque-rabisque vejo caiacuteda bem em minha frente a garrafa teacutermica da Carona Escola de Teatro Grito tentando avisar Alexandre mas eacute tarde demais Ele retorna peacute ante peacute de costas de dentro da secretaria com as matildeos estendidas acima do ombro O Ator-Professor-Guerrilheiro havia conseguido escapar Caminhava lentamente Na matildeo esquerda trazia a metralhadora apontada para Alexandre e com a matildeo direita tampava a boca do aperitivo que fazia de refeacutem

Os atores do grupo protestante vatildeo ao desespero

ndash Meu aperitivo meu pequeno aperitivondash Todo mundo quieto ndash exige o Ator-

Professor-Guerrilheiro - vocecircs me enganaram confiei minha cena a vocecircs minha grande cena meu melhor momento e o que foi que vocecircs fizeram comigo

ndash Calma ningueacutemndash Eu mandei todo mundo ficar quieto

porra

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Aiacute chegou um momento em que pros alunos jaacute natildeo compensava mais pagar a mensalidade da Escola e Entatildeo eles saiacuteram e me convidaram pra sair junto neacute As coisas jaacute natildeo estavam laacute muito boas pra mim natildeo estavam ruins natildeo mas jaacute natildeo me davam muito prazer as coisas no NuTE A gente tava fazendo uma montagem nova numa ideia de montagem nova e eu estava no pique do Grupo (entrevista com Peacutepe Sedrez paacutegina 30)

A poliacutecia ouve a rajada de tiros e retorna Apoacutes alguma perseguiccedilatildeo capturam o ator que finalmente se rende e eacute levando junto aos demais Alexandre esquece o cafeacute e acende um cigarro Fuma Os atores do grupo protestante estatildeo em estado de choque Possivelmente a psiquiatria moderna diagnosticasse o quadro como siacutendrome do pacircnico Balbuciam estranhas interjeiccedilotildees Um deles acredita estar sendo acometido por ataque cardiacuteaco outro enfartando a grande maioria grita que estaacute tendo um treco Pedem socorro ambulacircncia choram compulsivamente Por sorte passava pelo local um psiquiatra de maleta preta e guarda-poacute branco que gentilmente abriu uma caixa de medicamentos e disponibilizou antidepressivos a todos Foi uma festa Apoacutes medicaacute-los o meacutedico recomenda trecircs meses de afastamento do trabalho Sem pestanejar aceitamos desejando boas melhoras aos atores

Nesse instante os atores que vieram conosco do grande auditoacuterio se aproximam e em grupo solicitam abandonar o projeto Estupefato pergunto o motivo Eles sustentam haver uma contradiccedilatildeo teoacuterica de minha parte ao empregar simultaneamente a doutrina

da inocecircncia e da irresponsabilidade de Friedrich Nietzsche e utilizar a poliacutecia como soluccedilatildeo literaacuteria a um conflito ficcional Argumento que mantenho um carinho especial pelas contradiccedilotildees por me parecerem bem mais saudaacuteveis do que as interpretaccedilotildees puritanas mas que nesse momento natildeo fora proposital minha tentativa era problematizar a importacircncia de Apolo na questatildeo Como Viver O grupo rebate dizendo que ateacute entatildeo o que eu fazia era justamente o contraacuterio segundo eles apologia a Dioniso Eu me nego a aceitar o estereoacutetipo e ao mesmo tempo analiso que o vencedor em nossa cultura foi sim Apolo Crucificado que nossa necessidade de negar a morte se deve justamente a um excesso de zelo de cuidados de proteccedilatildeo de leis para com o indiviacuteduo e que trazer Dioniso de volta nos ajudaria a aceitar a vida como ela eacute finita e traacutegica Contudo o Dioniso puro sem misturas eacute tatildeo insuportaacutevel quanto o niilismo a que chegamos via cristianismo Euriacutepedes nos mostrou em As Bacantes algumas imagens Dioniso puro nos levaria a isso matildees servindo cabeccedilas de seus proacuteprios filhos em bandejas de prata Ou seja sem a temperanccedila de Apolo os deliacuterios de Dioniso tambeacutem nos fariam mal A pergunta entatildeo passa a ser como temperaacute-los como dar espaccedilo a ambas as forccedilas Nesse sentido a poliacutecia surge na cartografia para ilustrar a soluccedilatildeo cristatilde que desde a invenccedilatildeo do Livre Arbiacutetrio por Santo Agostinho sempre foi a mesma capturar Dioniso e obrigaacute-lo a se responsabilizar individualmente por seus atos A genealogia dessa histoacuteria conhecemos

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bem vai da penitecircncia agrave penitenciaacuteria O modelo cristatildeo da culpa responsabilidade individual e penitecircncia eacute adotado pelo ldquoEstado Laicordquo que constroacutei penitenciaacuterias para punir individualmente em cada cela os culpados Ou seja seria preciso psicologicamente falando ao mesmo tempo estourar as grades que prendem Dioniso e retirar Apolo da Cruz A meu ver a questatildeo colocada por Grotowski ndash Como Viver ndash passa por aiacute Minha tese interpretaccedilatildeo ou seja laacute o nome que se queira dar a isso eacute que NuTE tenta libertar Dioniso libertar as forccedilas avassaladoras animais sexuais bizarras criativas e selvagens em noacutes e NUTe tenta permitir que essa libertaccedilatildeo aconteccedila proporcionando nutrientes fiacutesicos e intelectuais aos nutes comer vestir pagar o aluguel beber conseguir experimentar e fazer algo com um conceito

Apesar da tentativa de conciliaccedilatildeo o grupo continuou irredutiacutevel jaacute havia tomado sua decisatildeo e parecia inclusive profundamente magoado traiacutedo ateacute Despedem-se prometendo escrever uma cartografia totalmente dionisiacuteaca onde natildeo haveraacute nem sombra de Apolo ldquovamos escrever uma cartografia agrave altura do que foi o NuTE Dioniso eacute um bom deus quando natildeo eacute negadordquo eles saem dizendo

Com um grupo preso um grupo doente e outro em busca de uma narrativa pura Alexandre e eu compreendemos que era hora de fumar um cigarro Fumamos Mas e agora o que fazer Sem atores natildeo haacute como produzir um espetaacuteculo Os dois grupos restantes

percebendo nosso abatimento fazem de tudo para nos animar Malabarismos piruetas cambalhotas enquanto um deles conta a piada do papagaio que engoliu um litro de vodca outro se dirige agrave lanchonete mais proacutexima e nos traz dois copos de cafeacute Por fim fazem uma beliacutessima propaganda e nos convidam para assistir agraves cenas em que estiveram trabalhando juntos Com um sorriso amarelo sabendo do esforccedilo dos dois grupos resolvemos apesar do cansaccedilo e da anguacutestia aceitar o convite Alexandre propotildee que ambos os grupos se apresentem no mesmo local para ganharmos um pouco de tempo e de corpo O local escolhido por unanimidade foi o Espaccedilo (O)Caso

Arrastamo-nos escadas acima Degrau a degrau e ainda mais um degrau A vida estava pesando alguns quilos a mais Alexandre emudecido volta e meia tocava com os dedos da matildeo direita nas paredes brancas do teatro De longe comeccedila a chegar uma cantilena fuacutenebre Em alguns atores haacute mais de uma laacutegrima agrave espera O deslocamento se assemelha muito a um veloacuterio Do uacuteltimo degrau que daacute acesso ao terceiro piso avistamos um caixatildeo vermelho Os atores se posicionam lado a lado e suspendem o caixatildeo passando a carregaacute-lo A cena eacute fortiacutessima Alexandre se emociona pede para ajudar um ator lhe cede uma alccedila A procissatildeo segue cantando cada vez mais alta a triste canccedilatildeo que anuncia o fim do NUTe

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Sentada no que parece ser uma apocaliacuteptica mesinha de bar onde repousam algumas garrafas vazias de cerveja ao lado de boa parte do mundo destruiacutedo empunhando a foice-clicheacute-ceifadora Dona Morte interrompe a procissatildeo para danccedilar um nuacutemero de hip hop Apesar de entediante e vulgar a performance recebe entusiaacutesticos aplausos Dona Morte fica satisfeita Permite agrave procissatildeo seguir A triste cantilena retorna Contudo alguns poucos metros adiante escutamos a famosa foice rasgando o piso do teatro Mais uma vez o cortejo eacute interrompido o caixatildeo eacute posto no chatildeo todos olham para traacutes Dona Morte balanccedila a cabeccedila em sinal afirmativo e aciona o play do portaacutetil surround system 3 em 1

Eu recordo que alguns anos depois muitos anos depois talvez em 2001 eu tomando cerveja com o Venera numa conversa muito divertida ele dizia que o iniacutecio da derrocada do NuTE o primeiro NuTE se deu quando o lsquoErsquo de experimental virou lsquoErsquo de escola Porque daiacute a tentativa de criar a escola foi nos institucionalizando nos burocratizando foi nos dando responsabilidades agraves quais nem todos estavam preparados principalmente os mais

Foto do espetaacuteculo A Morta gentilmente cedida pela fotoacutegrafa Maria Emiacutelia da Silva Para saber mais sobre a montegem consul-te o Terceiro Ensaio e o anexo Livreto Es-petacular Aparecem na Foto Juliana Von Czekus Carlos Cres-cecircncio Sebastiatildeo Crispim

jovens que eram a maioria absoluta (entrevista Dennis Raduumlnz paacutegina 25)

Stop Dona Morte volta a se sentar na mesinha Alguns atores lhes agradecem a gentileza ela acena suavemente e a caravana passa Chegando ao Espaccedilo (O)Caso o caixatildeo eacute cuidadosamente engatado na lateral esquerda onde havia para ele quatro correntes de argola duas para o centro e duas para as extremidades As correntes desciam do teto e uma vez acoplado a elas o caixatildeo criava quase espontaneamente um balanccedilo intermitente que dialogava com os movimentos do gigantesco boneco Joatildeo Bobo agrave direita do espaccedilo Entre os dois com uma luz esverdeada brotando do fundo um Tuacutenel

De dentro do Tuacutenel surge um Ator-Adolescente muito magro e franzino vestido de preto ao estilo Dark anos 80 Passeia pelo palco brinca com o Joatildeo Bobo experimenta o caixatildeo Por fim se aproxima de sua plateia e num tom quase confidencial como quem transcreve seu diaacuterio para um blog diz

Quando eu tinha quatorze anos do nada estava andando na rua XV de Novembro e vi um cartaz muito humilde em mimeoacutegrafo falando do Curso de Iniciaccedilatildeo ao Teatro e num impulso como se fosse uma epifania acabei me inscrevendo fui o inscrito 002 E lembro como se fosse hoje a primeira vez em que estive na Sala Verde no andar teacuterreo do teatro Fui recebido pelo Wilfried Krambeck e tambeacutem por aquele que depois eu saberia que eacute o Aacutelvaro Alves de Andrade Foram muito receptivos e fiz laacute esse primeiro curso de iniciaccedilatildeo ao teatro de marccedilo a julho de 1986

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Era um curso que tinha uma carga horaacuteria ateacute relativamente grande se pensarmos hoje carga de quatro meses Passaacutevamos por noccedilotildees baacutesicas de miacutemica de interpretaccedilatildeo de iluminaccedilatildeo E o curso preparava vocecirc para a experiecircncia radical que eacute colocar os peacutes pela primeira vez num palco () (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 1)

O Ator-Adolescente retorna para o Tuacutenel desaparece na luz verde Quatro atores rotacionam o Tuacutenel em sentido inverso fazendo com que iniacutecio e fim troquem de posiccedilatildeo A luz verde se apaga em seu lugar surge um rocho-azul-escuro-com-tonalidades-avermelhadas que preenche todo o espaccedilo O caixatildeo se abre range de dentro para fora uma matildeo se apoia nas laterais faz forccedila unhas arranham madeiras macabras sons estridentes aparece a segunda matildeo os braccedilos a cabeccedila O ator sai do caixatildeo atravessa o Tuacutenel para em frente ao Joatildeo Bobo e passa a espancaacute-lo com muita forccedila A cada descida atraveacutes de uma gravaccedilatildeo ruidosa o boneco fala

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Mas eu tenho que ser

educadorJoatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu tenho que ganhar

dinheiroJoatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quero ser artistaJoatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu tenho que

ensinar Eu tenho que preencher borderocirc eu tenho que fazer a parte burocraacutetica tenho que administrar uma escola

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash E eu quero ser artista

Joatildeo Bobo agrave Direita ndash Eu cheguei e comecei a dizer na minha primeira e uacutenica briga de saiacuteda do NuTE () ldquonatildeo cara eu quero ser artista a partir de agora eu natildeo quero mais preencher plano de aula escrever a lista de chamada de aluno se pagou a mensalidade quem natildeo pagou natildeo quero ver quanto foi a conta do telefone da escola porque a sala taacute suja eu tenho que acordar mais cedo pra buscar um caixatildeo de defunto pra peccedila que vai ser montada hoje agrave noite o nosso figurinordquo coisa que me tomava demais entende

Joatildeo Bobo agrave Esquerda ndash Eu quando decidi ser artista foi muito velho jaacute mas eu passei eu acho a fazer mais arte agora

Joatildeo Bobo agrave Direita ndash Alexandre Venera em entrevista com Juliana paacutegina 67

O Ator continua surrando o Boneco ateacute furaacute-lo num pontapeacute agudo Um prolongado silvo de ar se espalha pelo ambiente refrescando a melancoacutelica sequecircncia de imagens O ator retorna para seu caixatildeo As correntes satildeo desatadas e a urna colocada no chatildeo Pela coxia direita entra em cena uma retroescavadeira amarela com a caccedilamba cheia de barro ela ergue o braccedilo e laacute de cima despeja-o lentamente sobre o caixatildeo Segue ao centro do palco apresenta uma dancinha tiacutepica desses modelos de maacutequina e sai

Os atores de ambos os grupos sentam-se no chatildeo e assim compreendemos que era

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o final da sequecircncia Aplaudimos Alexandre agradece a disponibilidade dos atores de continuarem o trabalho mesmo depois de tudo que aconteceu Pede desculpas pelo cansaccedilo e pela impossibilidade de continuar com os ensaios comenta que natildeo tem condiccedilotildees de seguir adiante Mas antes de sair faz questatildeo de parabenizar ambos os grupos pela forma como compartilharam seus aperitivos Diz que foram muito felizes com a proposta de criar um Tuacutenel entre os aperitivos de nuacutemero 1 e 5 Eu lhe pergunto o que iremos fazer com os Aperitivos Livretantes que natildeo foram utilizados por nenhum grupo Ele me responde que natildeo consegue pensar em mais nada hoje pede para comunicar-me com ele caso eu tenha alguma ideia

Visivelmente abatido Alexandre deixa os ensaios Enquanto caminha de cabeccedila baixa procurando um uacuteltimo cigarro torto no maccedilo recebe um forte e emocionado aplauso dos atores restantes Ele se vira olha o grupo por alguns segundos Uma laacutegrima desce em seu rosto Caminha escada abaixo

Extremamente cansado mas vencido pela curiosidade aproximo-me de um ator do grupo que ensaiava no poratildeo e lhe pergunto o que havia naquele bilhete entregue pelo diretor durante a cena do braccedilo de ferro O ator retira do bolso o pedaccedilo de papel amassado e me entrega Nele eu leio

Eu acho que o NuTE falhou quando tentou ser apoliacuteneo porque todo o processo era dionisiacuteaco e na medida em que vocecirc tenta colocar Apolo

aquilo contrastava com as nossas naturezas mais primeiras Entatildeo eacute engraccedilado porque nessa dualidade apoliacuteneo e dionisiacuteaco e qual seria essa potecircncia ou impotecircncia Acho que era um grupo absolutamente dionisiacuteaco como artista que falhou muito quando tentou ser apoliacuteneo como docente (entrevista com Dennis Raduumlnz paacutegina 46)

Levanto o rosto e vejo os atores tristes emudecidos dobrando guardando o material utilizado em cena Decido ajudaacute-los Apesar de natildeo haver portas no Espaccedilo (O)Caso quando deixamos o local tive a impressatildeo de sentir um pouco o que sentiu Alexandre Venera ao fechar pela uacuteltima vez a porta do NUTe em 2002

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objeto cecircnico utilizado no espetaacuteculo lsquomaqbeacutete uma

interferecircncia na transmissatildeorsquo

Foto

Ch

arle

s S

teu

ck

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ENSAIOQUINTO ENSAIO ndash 08 DE MAIO DE 2015

Sexta-feira de Insocircnia03h43min

Imagem Insistente Solidatildeo

Nada Ningueacutem Nem mesmo uma negaccedilatildeo Vazio Deserto Naacuteusea Um gosto metaacutelico em minha respiraccedilatildeo fazia subir Descer Subir Descer Estranhas ondas a explodir espumas oxidaacuteveis no costatildeo de minhas veacutertebras Ao fechar os olhos sempre era arrebatado pelas imagens do uacuteltimo ensaio Meu estocircmago ou o que estivesse em seu lugar carregava minha alma aos buracos vazios de meu plexo Sem conseguir dormir passava as noites na internet Da paacutegina de e-mails ao Facebook do Facebook ao blog Nute Para Todos do blog agrave paacutegina do Orkut dos Fakes-NuTE do Orkut a um blog amigo e deste agrave paacutegina de e-mails Uma vez duas vezes toda a madrugada O ciacuterculo repetia repetia e mais uma vez recomeccedilava O que fazer Eu estava esgotado Natildeo tinha de onde arrancar forccedilas para convencer Alexandre novamente a dirigir o espetaacuteculo Pior bem pior que isso Na verdade meu assento beirava um precipiacutecio precisava continuar a montagem o projeto estava em meu nome e a prestaccedilatildeo de contas comeccedilaria logo logo a bater agrave porta

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mas entendia agora pois experimentava em meu proacuteprio corpo um tanto dos motivos que levaram Venera a abandonar o teatro O que fazer Estava praticamente sem atores Contava com metade do elenco talvez nem isso um terccedilo do grupo Natildeo tinha recursos para continuar locando salas de ensaio nem para uma segunda seleccedilatildeo de atores os cheques jaacute haviam sido depositados Havia gastos com alimentaccedilatildeo hospedagem combustiacutevel uma boa parte das rubricas estava zerada O que fazer Eu natildeo conseguia dormir Tudo empurrava agrave mesma direccedilatildeo Parecia me restar apenas aquele caminho que haacute tanto teimava em natildeo seguir

Foi assim que exausto tomei a decisatildeo cancelar a montagem do espetaacuteculo Estava resolvido Precisava agora avisar o grupo Olhei o reloacutegio eram 05h47min Esperei ateacute as 08h30min e comecei a ligar para os atores que haviam permanecido ateacute o final do quarto ensaio Pareceu-me desrespeito com o processo terminar tudo por telefone assim natildeo lhes adiantei o assunto dizia apenas tratar-se de um ensaio agendado agraves pressas para a tarde daquela sexta-feira Por volta das 14 horas eles comeccedilaram a chegar

Como era de costume sentamos em ciacuterculo sem cadeiras Ao se perceberem como sobreviventes da montagem nada disseram sobre os demais atores Natildeo demorou muito contudo para se colocar em questatildeo a presenccedila de Alexandre Expliquei o momento que estaacutevamos atravessando retomei algumas

das principais motivaccedilotildees que desencadearam o projeto e sem muitas delongas anunciei ao grupo o encerramento das atividades Natildeo houve protesto todos compreendiam que era a uacutenica coisa possiacutevel a se fazer Um forte aperto de matildeo e uma laacutegrima escondida puseram fim aos ensaios Assisti ao uacuteltimo ator fechando a porta deitei-me no palco por um segundo e natildeo sei bem provavelmente o cansaccedilo extremo as tantas noites de insocircnia o momento conclusivo algo me fez dormir ali mesmo

Desta situaccedilatildeo Alice no Paiacutes das Teatrologias surgiram condensaccedilotildees e deslocamentos num sentido propriamente freudiano dos termos Sonhei que haviacuteamos terminado a montagem e estaacutevamos apresentando circulando com o espetaacuteculo Brasil afora Viajaacutevamos todos no Kombinutebus in Progress espeacutecie de ocircnibus em formato de Kombi ou Kombi em formato de ocircnibus que ia se fazendo agrave medida que viajava Visitamos muitas cidades quase sempre com razoaacutevel sucesso de puacuteblico e criacutetica Mas a cada apresentaccedilatildeo laacute estava eu na primeira fila anotando as cenas escrevendo o bendito roteiro Eu natildeo entendia porque continuava escrevendo mesmo depois da estreia era algo como uma obrigaccedilatildeo uma funccedilatildeo minha parte no espetaacuteculo Eu natildeo queria mais escrever estava cansado ansiava finalizar parar queria assistir ao espetaacuteculo Na passagem de uma cidade a outra um ator comenta comigo que a proacutexima apresentaccedilatildeo seria a uacuteltima A trupe comemora vamos para casa depois de tantos meses ndash ou seriam anos ndash na estrada

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Sorrindo percebo uma chance enfim de assistir ao espetaacuteculo de nada mais fazer apenas relaxar e contemplar as cenas que com tanto esforccedilo ajudei a criar Convenccedilo a mim mesmo de que natildeo faz sentido descrever cenas de uma uacuteltima apresentaccedilatildeo tais anotaccedilotildees seriam inuacuteteis visto que todas as apresentaccedilotildees jaacute ocorreram Quando toca o primeiro sinal como de costume procuro meu lugar Tudo estaacute diferente eacute incriacutevel a sensaccedilatildeo as anotaccedilotildees que tanto fiz meras linhas escritas e reescritas vatildeo agora respirar Toca o segundo sinal meu corpo vibra Os atores se posicionam em cena Percebo a plateia completamente lotada Toca o terceiro sinal Nada O espetaacuteculo deveria comeccedilar mas os atores estatildeo paralisados todos olham para mim Uma gigantesca tela branca se abre e Alexandre aparece projetado nela O diretor agitado com dedos em riste exige que eu anote as cenas Toda a plateia olha em minha direccedilatildeo Subo no palco extremamente irritado e improviso um breve discurso onde argumento que natildeo faz o menor sentido anotar cenas de uma uacuteltima apresentaccedilatildeo A plateia entatildeo se levanta ergue os braccedilos e num macabro uniacutessono lanccedila a voz

ndash Que soacute se escrevam roteiros depois de estrearem os espetaacuteculos O melhor roteiro eacute aquele que se escreve na uacuteltima apresentaccedilatildeo

Assustado acordo encharcado de suor e palavras Provavelmente estava gritando pois algueacutem me pergunta se estaacute tudo bem e me oferece um copo drsquoaacutegua Em minha volta gargalhadas e comentaacuterios Saindo do transe

percebo aos poucos os atores dos quais havia me despedido recentemente Estou cercado por eles Envergonhado com a situaccedilatildeo e ao mesmo tempo agradecido pela acolhida natildeo consigo escapar aos risonhos pedidos de uma narrativa oniacuterica Passo a lhes contar o que se passou e foi nesse momento em meio agrave descriccedilatildeo do sonho que algo muito mas muito estranho aconteceu

ndash Perfeito eacute isso mesmondash Que incriacutevel foi exatamente por isso que

resolvemos voltarndash Mas eacute sincronicidade demais para minha

cabeccedila como eacute possiacutevelO grupo experimentava algo muito intenso

Atordoado eu natildeo compreendia absolutamente nada Frases e mais frases de urra viva conseguimos

ndash Parabeacutens cara vocecirc encontrou sabia que conseguiria

ndash Oacutetimo oacutetimo muito bom vamos tocar assim entatildeo

ndash Maravilha eacute isso mesmo eacute isso mesmoLaacute pelas tantas sufocado com a

comemoraccedilatildeo resolvo perguntarndash Mas afinal de contas do que diabos vocecircs

estatildeo falandoSilecircncio geral Todos me olham O ator mais

sorridente se decidendash Eacute uma brincadeira ou vocecirc realmente natildeo

percebeu que conseguiu encontrar a saiacutedandash Saiacuteda ndash comeccedilava a ficar irritado com a

situaccedilatildeo ndash Mas que merda de palhaccedilada eacute essa

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ENSAIO

Algueacutem pode me dizer o que estaacute acontecendo ndash Os atores se olham e caem na gargalhada Por alguns minutos que me pareceram horas freneticamente arregaccedilam dentes e bocas aos ares aos chatildeos a eles mesmos Eu permanecia sentado no piso madeirado do palco os atores que natildeo riam deitados riam em peacute Aos poucos um deles encontrou forccedilas para se acalmar e movido por uma compaixatildeo quase paterna sentou-se ao meu lado repousou sua matildeo esquerda em meu ombro e disse

ndash Saiacutemos daqui carregando uma forte sensaccedilatildeo de fracasso Era impossiacutevel ir embora Algueacutem natildeo lembro exatamente quem foi sugeriu uma cervejinha Fomos ao bar Depois de muito beber e muito falar nos demos conta de que o roteiro estaacute quase pronto de que faltam apenas as cenas do JOTE-Titac

ndash Sim mas o que estaacute pronto foi escrito para ser encenado por trecircs vezes o nuacutemero de atores que temos

ndash Aiacute eacute que vocecirc se engana Teu roteiro descreve as cenas que surgiram durante a Composiccedilatildeo de Mundos de cada Ensaio E nesses ensaios estaacutevamos sempre em grupos menores Alexandre nos pedia essa formaccedilatildeo em grupelhos Ou seja se pensarmos cada cena de forma isolada o roteiro que existe ateacute agora estaacute escrito para ser encenado pelo exato nuacutemero de atores que temos Certamente teremos um tanto de trabalho extra satildeo muitas cenas seria preciso fabricar energia para dar conta Mas todos queremos tentar voltamos para te dizer que queremos tentar

Nesse instante os demais atores mais calmos sentados em nossa volta repetem sorrindo

ndash Somos muito poucos para dividir queremos tentar

ndash Olha pessoal estou emocionado com isso tudo mas mesmo com esse sacrifiacutecio pessoal de cada um de vocecircs ainda estamos sem direccedilatildeo Alexandre natildeo vai voltar

ndash Mas as cenas jaacute estatildeo prontas Alexandre jaacute fez a parte dele Ele nos dirigiu e noacutes encontramos as cenas o processo de criaccedilatildeo estaacute pronto e registrado pelo roteiro Basta agora encenarmos

ndash Tudo bem tudo bem podemos ateacute conseguir encenar o que jaacute estaacute pronto Mas e o JOTE-Titac Foram treze ediccedilotildees treze anos de Jogos de Teatro eacute uma parte importante demais para simplesmente desaparecer do espetaacuteculo

ndash Vocecirc natildeo percebeu mesmo neacutendash Perceber o quecircndash Vocecirc resolveu isso no sonhondash Como assimndash Estaacute tudo pronto vocecirc soacute precisa colocar

no roteirondash Do que vocecircs estatildeo falando Noacutes nunca

ensaiamos nada sobre o JOTE-Titacndash O que acontecia no seu sonhondash Era diferente o espetaacuteculo estava

pronto eu natildeo estava anotando cenas de um ensaio mas de uma apresentaccedilatildeo da uacuteltima apresentaccedilatildeo

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QUINTO

ENSAIO

ndash De uma uacuteltima apresentaccedilatildeo sobre

ndash Sobre o NuTE era o nosso espetaacuteculo

ndash Entatildeo por que vocecirc natildeo faz exatamente isso

ndash Mas que piada eacute essa Natildeo faccedilo isso porque noacutes ainda natildeo terminamos o espetaacuteculo porque nunca houve uma apresentaccedilatildeo sobre Espera Espera Mas eacute claro eacute isso ndash iniciando com um sorriso e desenrolando em gritos ndash o JOTE-Titac Experimentando NuTE Natildeo temos uma apresentaccedilatildeo sobre o NuTE mas oito Mais que isso noacutes filmamos todo o evento desde o sorteio dos textos na quinta-feira agrave noite ateacute as apresentaccedilotildees no domingo Fomos aos ensaios de cada grupo registramos o processo se natildeo me engano temos ateacute uma entrevista com cada um dos grupos participantes Eacute isso Eu posso descrever tudo que foi filmado

ndash Ou editar produzir pequenos viacutedeos que possam ser projetados durante o espetaacuteculo

ndash Eacute uma linda paisagem escrever com imagem e som

ndash Maravilha talvez essa escrita imageacutetica-sonora abra o JOTE-Titac ao nosso puacuteblico permita uma efetiva experimentaccedilatildeo do processo Quase como se o JOTE-Titac pudesse dizer algo sobre si mesmo Ou seja ao descrever o processo da deacutecima quarta ediccedilatildeo do JOTE as ediccedilotildees anteriores ficaratildeo espreitando nas entrelinhas

ndash Vocecirc estaacute querendo dizer que o JOTE-titac eacute sempre igual

ndash Natildeo Longe disso Cada JOTE tem a sua singularidade ndash atuaccedilotildees textos cenas situaccedilotildees ndash nunca se repetem O deacutecimo quarto pra destacar apenas um ponto foi temaacutetico os textos deveriam necessariamente falar sobre o NuTE Isso nunca havia acontecido antes Agora o disparador com pequenos ajustes eacute basicamente sempre o mesmo

ndash Disparadorndash Estou falando do regulamento dos Jogos

de Teatro Por exemplo para que esse JOTE-Titac pudesse acontecer tivemos que montar uma comissatildeo organizadora Isso sempre se repete todo JOTE precisa de pessoas que organizem o festival Essa comissatildeo espalhou aos quatro cantos a notiacutecia de que iria acontecer entre os dias 16 e 19 de julho de 2009 na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau o 14ordm JOTE-Titac Estabeleceu datas para que os autores enviassem seus textos e para que os grupos fizessem suas inscriccedilotildees O formato permitido aos textos a composiccedilatildeo permitida aos grupos os precircmios etc Convocou um juacuteri para selecionar os textos e um juacuteri para avaliar os espetaacuteculos30 Uma vez que os textos estavam selecionados e os grupos inscritos a comissatildeo organizadora pocircde sortear os textos e os horaacuterios de apresentaccedilatildeo aos grupos inscritos o que aconteceu dia 16 agrave noite Antes do sorteio nenhum grupo sabia qual seria seu texto depois do sorteio cada grupo teve apenas dois dias para montar o espetaacuteculo jaacute que todos apresentaram no domingo dia 19

ndash Mas entatildeo quem dispara os Jogos eacute a

30 O juacuteri que selecio-nou e premiou os tex-tos foi composto por Noemi Kellermann Gregory Haertel e Tacirc-nia Rodrigues O juacuteri que avaliou e pre-miou os espetaacuteculos foi composto por Joseacute Ronaldo Faleiro Noe-mi Kellermann e Peacutepe Sedrez

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QUINTO

ENSAIO

comissatildeo organizadora e natildeo o regulamentondash Claro que natildeo pois tudo que a comissatildeo

organizadora faz eacute seguir o regulamento Pra usar uma imagem dos nossos Ensaios anteriores eu diria que o regulamento eacute o Aperitivo Cecircnico dos Jogos de Teatro

ndash Bacana isso hein Que tal a gente copiar a ideia que Alexandre trouxe para o Segundo e Quarto Ensaios e propor aqui tambeacutem um Aperitivo Cecircnico

ndash Fazer do regulamento dos Jogos de Teatro nosso aperitivo cecircnico

ndash Excelentendash Sim sim vai ficar joiandash Taacute vamos colocar entatildeo Do Festival de

Teatro Universitaacuterio de Blumenau para o JOTE-Titac e do JOTE para um Espetaacuteculo NuTE Esse regulamento eacute uma viagem

Rindo sozinho eu me dou conta de que ningueacutem entendeu a piada

ndash Vocecircs natildeo sabiam que esse regulamento foi originalmente escrito para o Festival de Teatro Universitaacuterio de Blumenau

ndash O regulamento do JOTE-Titac era o regulamento do FITUB

ndash Quase isso Em 1987 quando se estava organizando a primeira ediccedilatildeo do Festival de Teatro Universitaacuterio de Blumenau Alexandre Venera que participava dos debates tomou frente agrave construccedilatildeo de um regulamento que serviria como base para o Festival Passa algum tempo ele aparece com o documento que natildeo

contemplava apenas grupos universitaacuterios mas sim todo e qualquer sujeito que de alguma forma tivesse interesse em experimentar fazer teatro Resultado o grupo organizador natildeo aprovou o regulamento Alexandre frustrado retira-se de cena A primeira ediccedilatildeo do Festival Universitaacuterio aconteceu de 27 de julho a 01 de agosto Ironicamente em dezembro deste mesmo ano o NuTE lanccedila o que acabaria se tornando um dos festivais de teatro mais livres e intensos do Brasil os Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas o nosso JOTE-Titac31

ndash Quer dizer que o Festival Internacional de Teatro Universitaacuterio de Blumenau era pra ter sido um grande JOTE-Titac

ndash Calma vocecirc estaacute reduzindo as coisas Para dizer alguma coisa sobre o FUTB ou FITUB como eacute conhecido atualmente sem falar bobagem seria preciso uma nova pesquisa talvez um novo livro digo um novo espetaacuteculo Esse evento eacute complexo demais para dois ou trecircs paraacutegrafos apressados Melhor a gente se preocupar com nossa montagem

ndash Tambeacutem acho Aliaacutes natildeo entendi ateacute agora como vai funcionar na praacutetica esse tal escrever com imagem e som

ndash Bem na verdade eu tambeacutem natildeo entendi ainda Mas se vocecircs toparem podemos dar uma espiada nas filmagens do JOTE Eu passei todas as fitas para o HD do meu notebook eacute soacute ligar e assistir ao material

ndash Bacana Mostra aiacutendash Satildeo mais de 20 horas de filmagem Tem

31 Aiacute o Festival a TV ia dar todo apoio e natildeo sei o que laacute Aiacute pocirc um cara laacute sugeriu Pascoal Carlos Mag-no que fazia mostras de Teatro Universitaacute-rias () E aiacute pocirc va-mos fazer um Festival Universitaacuterio () Aiacute eu assim ldquonatildeo mas se fi-zer outro tipo de Fes-tival eu tenho um re-gulamentordquo e fui pra casa e paacute escrevi datilografei Montei o primeiro regulamento do JOTE-Titac e en-treguei pra eles Nes-sa o Faleiro jaacute tava ali e batendo papo o Fa-leiro tambeacutem gostou e coisa mas a coisa era pra ser um pou-quinho mais glamoro-sa neacute Aiacute eu recolhi o meu regulamento Natildeo deu trecircs meses depois foi o primeiro JOTE-Titac (risos) (Entrevista com Ale-xandre Venera paacutegi-na 124)

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QUINTO

ENSAIO

muita coisa Por onde vocecircs gostariam de comeccedilar

ndash Que tal soacute pra variar um pouco comeccedilarmos do comeccedilo ndash risos

ndash Mas eacute uma boa mesmo Eu lembro que naquela quinta-feira agrave noite vocecircs fizeram uma recepccedilatildeo para os grupos Foi antes do sorteio dos textos Era um momento de boas-vindas algo como uma saudaccedilatildeo uma apresentaccedilatildeo dos Jogos de Teatro

ndash Deixa ver se encontro aqui ndash procurando no computador

ndash Eu lembro disso foi Alexandre quem fezndash Acho que vocecircs estatildeo se referindo a esse

momento aqui ndash mostrando as filmagensndash Esse esse mesmondash Olha que bacana sou eu ali na plateiandash Ondendash Ali ao lado da menina de vermelhondash Ok Entatildeo vamos abrir o editor de viacutedeo

recortar esse trecho aqui colar com esse esse aqui natildeo estaacute muito bom e esse tem problema no aacuteudio vamos ajustar todos nessa uacuteltima sequecircncia e finalizar Agora eacute soacute exportar e fazer o upload Estaacute pronto Jaacute podemos assistir ou baixar se preferirem diretamente na internet

wwwyoutubecomwatchv=_TcDrbZdmig

ndash Deu certo Todo mundo conseguiu assistir Se algueacutem estiver com problemas para

assistir por favor contate-nos num desses endereccedilos nuteparatodosgmailcom ou wwwnuteparatodoswordpresscom

ndash Pra mim pareceu bem tranquilo de acessar tem vaacuterias opccedilotildees Acessei clicando direto no hiperlink

ndash Ficou engraccedilada essa dobradinha Alex Stein X Alexandre Venera

ndash Tambeacutem gostei mas fiquei na duacutevida se recortar um trechinho de O Monstro de Nutenstein natildeo estraga a surpresa do espetaacuteculo

ndash Acho que natildeo bem pelo contraacuterio deixa o puacuteblico curioso a respeito dessa peccedila que levou vaacuterios precircmios inclusive o de melhor montagem

ndash Taacute divertido coloca mais um viacutedeo aiacutendash Qualndash O sorteio dos textosndash Isso O sorteio com os copos de cachaccedila

aquilo foi muito bomndash Beleza ndash depois de algumas bricolagens

digitais ndash sorteio etiacutelico pronto para acessar

wwwyoutubecomwatchv=GPwtjL1rtfY

ndash Cresce cresce crescendash Ficou bizarro com essa trilha de O Homem

do Capotendash Agora entendi Funciona melhor que eu

pensavandash Essa muacutesica fazia parte da sonoplastia de

Viacutedeo abertura Jote-Titac

Viacutedeo Jote-Titac Sorteio dos Textos

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QUINTO

ENSAIO

O Homem do Capotendash Sim Sim chama-se Noite Ferrada32 Mas e

entatildeo o que vocecircs acharam vamos continuar com essa escrita imageacutetica-sonora Deu certo pra vocecircs

ndash Eu tocirc curtindo muitondash Eu tambeacutemndash Funciona cara funciona super bem Acho

que podes ir direto para o Aperitivo Cecircnico e dele para a Composiccedilatildeo de Mundos

ndash Como Aperitivo Cecircnico ficou o regulamento dos jogos de teatro

ndash Se tudo no JOTE-Titac eacute mesmo disparado por ele natildeo tem porquecirc ser outra coisa

ndash E a Composiccedilatildeo de Mundosndash Estou pensando em colocar como base

para essa Composiccedilatildeo de Mundos os oito textos que o juacuteri selecionou para o JOTE-titac Experimentando NuTE Que lhes parece

ndash Mas satildeo textos escritos por vaacuterios autoresndash Exatamentendash A Composiccedilatildeo de Mundos natildeo corre o risco

de ficar meio esquizofrecircnica Se a escrita de um autor jaacute eacute composta por centenas de milhares de pequenas almas o que dizer de uma escrita coletiva desse porte

ndash Rios de almasndash Cachoeirasndash Engarrafamento em Satildeo Paulo capitalndash Um imenso cardume de peixes no marndash Belas imagens-conceito meus caros

Pois eacute bem a poeacutetica desses fragmentos o que

32 Composiccedilatildeo de Alexandre Venera dos Santos

mais me interessa Quando olhamos uma cachoeira temos a impressatildeo de ver ali algo que chamamos cachoeira Mas na verdade a cachoeira eacute uma ilusatildeo ela natildeo existe O que haacute satildeo zilhotildees de gotiacuteculas de aacutegua descendo juntas descendo descendo sempre descendo Contudo eacute agradaacutevel olhar e ver ali uma cachoeira pensar nela como uma unidade Assim como eacute agradaacutevel pensar na unidade de um autor na unidade de uma escrita

ndash Vocecirc estaacute querendo dizer que a escrita eacute sempre coletiva uma espeacutecie de matilha

ndash Mais que isso Aleacutem de ser coletiva por natureza a escrita que se colocou em movimento para esse livro-espetaacuteculo clama por agenciamentos Ela natildeo funciona sozinha mesmo sendo sua solidatildeo composta por milhares outros milhares satildeo sempre chamados Assim fazemos Work in Progress Assim escrevemos em muacuteltiplas matildeos rizomaacuteticas

ndash Taacute mas entatildeo a ideia eacute colocar um texto depois outro e assim ateacute o uacuteltimo

ndash Natildeo era bem isso mas gostei dessa estrutura Podemos acrescentar entre um texto e outro um local para assistir aos ensaios e agraves entrevistas dos grupos um pequeno platocirc onde se concentraria o Escrever com Imagens e Sons Ou seja ao final de cada texto montamos um quadro dispondo os endereccedilos dos viacutedeos

ndash Mas e os espetaacuteculosndash Pensei em colocar os espetaacuteculos como

ldquoGranFinalerdquo num espaccedilo-plano-platocirc reservado apenas para eles Nesse local

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QUINTO

ENSAIO

podemos concentrar as informaccedilotildees sobre cada montagem direccedilatildeo elenco nome do grupo etc

ndash Acho que taacute bem legalndash Sim manda balandash E noacutes podemos voltar ao boteco pedir

algumas cervejinhas e comeccedilar a adaptaccedilatildeo das cenas Tens uma coacutepia dos ensaios anteriores aiacute contigo

ndash Impressa natildeo tenho mas se algueacutem tiver um pen-drive posso copiar direto da maacutequina

ndash Eu tenho copia aqui por favorCom a coacutepia digital dos ensaios os atores

saem de cena me desejando merda No palco sozinho com minhas multidotildees percebo a bateria do notebook pedindo carga Puxo uma extensatildeo da tomada mais proacutexima ligo o carregador na energia eleacutetrica aciono o editor de texto e entatildeo as cortinas digitais se abrem

APERITIVO CEcircNICOeou nutrientes para composiccedilatildeo de mundos

caro leitor

desta vez nossos aperitivos

seratildeo servidos AQUI mesmo neste volume na sequecircncia

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ENSAIO

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ENSAIO

REGULAMENTO DOS JOGOS DE TEATROTEXTO INTERPRETACcedilAtildeO E TEacuteCNICA NAS ARTES CEcircNICASANO 2009 ndash Experimentando NuTE

Quanto ao TExTO1 ndash Deve ser ineacutedito em liacutengua portuguesa e poderatildeo concorrer

quaisquer pessoas2 ndash Esta ediccedilatildeo do JOTE-Titac eacute temaacutetica ldquoExperimentando

NuTErdquo e para a escrita dos textos estatildeo disponiacuteveis na internet 25 disparadores (referecircncias textuais icnograacuteficas e audiovisuais) no endereccedilo wwwnuteparatodoswordpresscomjotedisparadores

3 ndash Deve ser redigido obrigatoriamente para a representaccedilatildeo (atraveacutes de teacutecnicas dramatuacutergicas) Os contos poemas etc inscritos seratildeo automaticamente considerados como ldquoTemas para Representaccedilatildeordquo cabendo ao juacuteri a decisatildeo de sua inclusatildeo ou natildeo no julgamento

4 ndash O texto como peccedila teatral deve comportar um elenco meacutedio de trecircs atores admitindo-se um maacuteximo de cinco sendo permitido entretanto um acreacutescimo de personagens caso seja possiacutevel que os atores representem mais de um personagem no mesmo texto

5 ndash O texto deve ser digitado em Fonte Arial Tamanho 10 espaccedilamento simples natildeo podendo ultrapassar o limite de uma uacutenica folha de papel ofiacutecio comum Natildeo satildeo admitidos os recursos de reduccedilotildees fotocopiadas poreacutem o papel pode ser utilizado em ldquofrente e versordquo

6 ndash No ato de inscriccedilatildeo os textos devem ser entregues em oito vias assinadas com o pseudocircnimo do autor Juntamente deve acompanhar um envelope lacrado contendo em seu interior o nome do autor o nome do texto o pseudocircnimo empregado endereccedilo e algumas consideraccedilotildees sobre sua obra Do lado de fora deste envelope deve constar apenas o pseudocircnimo e o nome da peccedila inscrita devendo ser entregue na recepccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau ndash Rua XV de Novembro 161ndash BlumenauSC aos cuidados de Carol Borba Ou enviados juntamente com a Ficha de Inscriccedilatildeo para nuteparatodosgmailcom Seratildeo aceitos como participantes os textos recebidos ateacute as 17 horas do dia 10 de julho de 2009

7 ndash Os textos seratildeo analisados por um Juacuteri Convidado levando-se em conta trecircs aspectos ldquoLeiturardquo (a literatura ndash o texto) ldquoEspetaacuteculordquo (a dramaturgia ndash a peccedila) e coerecircncia com o tema proposto (ldquoExperimentando NuTErdquo) Dia 16 de julho de

2009 agraves 19h30min seratildeo divulgados os textos preacute-selecionados considerados aptos para serem encenados no 14ordm JOTE

8 ndash Dos textos concorrentes seratildeo indicados os trecircs melhores e entre estes o premiado Outras indicaccedilotildees podem ser premiadas conforme o juacuteri visando reconhecimento aos meacuteritos dos participantes em quesitos como por exemplo ldquooriginalidade do textordquo ldquoautor revelaccedilatildeordquo etc A premiaccedilatildeo que consiste de trofeacuteu e certificado aconteceraacute com as demais no dia 19 de julho de 2009

Quanto aos INTEacuteRPRETES e TEacuteCNICOS1 ndash Deveratildeo os inteacuterpretes e teacutecnicos formar uma Equipe de

trabalho de no miacutenimo quatro e no maacuteximo dez pessoas que aleacutem de atuarem assumiratildeo as responsabilidades teacutecnicas de criaccedilatildeo e operaccedilatildeo do equipamento de palco (iluminaccedilatildeo sonoplastia cenaacuterios etc)

2 ndash As Equipes deveratildeo especificar (em ficha de inscriccedilatildeo conforme modelo disponiacutevel em wwwnuteparatodoswordpresscom bem como na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau) as funccedilotildees de seus componentes nas categorias de premiaccedilatildeo ELENCO DIRECcedilAtildeO ILUMINACcedilAtildeO SONOPLASTIA CENOGRAFIA FIGURINOS MAQUIAGEM PRODUCcedilAtildeO COREOGRAFIA FOTOGRAFIA IMAGEM-DOCUMENTAacuteRIO Ateacute quatro destas funccedilotildees artiacutesticoteacutecnicas podem ser executadas e responsabilizadas por uma mesma pessoa O prazo de inscriccedilotildees das Equipes de Inteacuterpretes e Teacutecnicos encerra-se agraves 17 horas do dia 10 de julho de 2009 Independente do formato a inscriccedilatildeo soacute teraacute validade depois que a equipe pagar a inscriccedilatildeo no valor de R$ 1000 por integrante ndash reembolsaacuteveis atraveacutes da cota de ingressos

21 ndash Cota de Ingressos cada membro da equipe receberaacute quatro (4) ingressos que poderatildeo ser comercializados a R$ 500 cada (totalizando um retorno de R$ 2000) para reembolsar o valor da inscriccedilatildeo e proporcionar agrave equipe uma ajuda de custo na montagem do seu espetaacuteculo

22 ndash Inscriccedilatildeo para efetivar a inscriccedilatildeo enviar para o e-mail nuteparatodosgmailcom ficha de inscriccedilatildeo preenchida e comprovante de depoacutesito das cotas de ingressos Apoacutes isto os ingressos da equipe poderatildeo ser retirados antecipadamente na Liquidificador Comunicaccedilatildeo e Arte (Rua Itajaiacute 3225 ndash Sala 01 ndash Vorstadt ndash Blumenau) ou retirados no dia do sorteio dos textos 16 de julho agraves 20 horas

23 ndash Conta para depoacutesito a quantia da cota de ingressos

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QUINTO

ENSAIO

deveraacute ser depositada em qualquer agecircncia da CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL ou em Casas Loteacutericas na conta agecircncia conta Guardar comprovante de depoacutesito para validar inscriccedilatildeo

3 ndash A Comissatildeo Organizadora norteada pelos curriacuteculos e intenccedilotildees de participaccedilatildeo constantes na Ficha de Inscriccedilatildeo selecionaraacute ateacute 7 (sete) Equipes como aptas a participar dos Jogos

4 ndash Quanto ao puacuteblico presente e ao bom andamento dos Jogos de Teatro as Equipes deveratildeo proporcionar o acesso ao puacuteblico ao Auditoacuterio em tempo natildeo inferior a cinco minutos do iniacutecio do espetaacuteculo assim como natildeo seraacute admitido atraso superior a cinco minutos sobre o horaacuterio previsto para a apresentaccedilatildeo Cada minuto de atraso representa menos um ponto na avaliaccedilatildeo final do Juacuteri Convidado Especial No caso do natildeo cumprimento deste item do regulamento a Equipe seraacute desclassificada

5 ndash Cada Equipe deveraacute fornecer ao puacuteblico presente em sua apresentaccedilatildeo um programa cujo conteuacutedo aleacutem de informaccedilotildees baacutesicas contenha suas observaccedilotildees sobre o espetaacuteculo Em programas cartazes faixas anuacutencios etc deve obrigatoriamente constar JOTE-titac data local e hora da apresentaccedilatildeo

Quanto aos jOGOS DE TEATRO1 ndash Os textos inscritos seratildeo numerados e sorteados para

as Equipes participantes que os representaratildeo dois dias apoacutes o sorteio (tempo em que seratildeo ensaiados e produzidos) FICA ESTABELECIDO UM LIMITE MAacuteXIMO DE SETENTA E CINCO MINUTOS PARA AS APRESENTACcedilOtildeES DE CADA EQUIPE INCLUINDO MONTAGEM E DESMONTAGEM O sorteio dos textos para as equipes participantes seraacute realizado no dia 16 de julho de 2009 agraves 20 horas na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau Nesse mesmo dia a programaccedilatildeo completa do evento e o horaacuterio para a encenaccedilatildeo das peccedilas tambeacutem seratildeo sorteados e decididos previamente para cada equipe participante Em caso de espaccedilos diferentes para as apresentaccedilotildees tambeacutem se faraacute um sorteio entre as Equipes para a ocupaccedilatildeo desses palcos

2 ndash Todos os espetaacuteculos deveratildeo ser encenados impreterivelmente no dia 19 de julho de 2009 na Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau

3 ndash Dois grupos de jurados faratildeo o julgamento das categorias de INTEacuteRPRETES e TEacuteCNICOS o Juacuteri Teacutecnico seraacute composto por um integrante representante de cada Equipe concorrente que daraacute seu voto (notas de 1 a 3) em todas as categorias de premiaccedilatildeo de todos os espetaacuteculos apresentados menos naquele em que

estaraacute representado Ao final baseado na pontuaccedilatildeo geral o Juacuteri Convidado Especial se reuniraacute com a Comissatildeo Organizadora para indicar os trecircs melhores e o premiado em cada categoria TEXTO ndash MONTAGEM ndash ATOR ndash ATRIZ ndash COADJUVANTES ndash DIRECcedilAtildeO ndash ILUMINACcedilAtildeO ndash SONOPLASTIA ndash FIGURINO ndash CENAacuteRIO ndash MAQUIAGEM -COREOGRAFIA ndash PRODUCcedilAtildeO ndash FOTOGRAFIA ndash IMAGEM-DOCUMENTAacuteRIO (14 categorias) Outras categorias podem ser premiadas ao se visar o aprimoramento e incentivos dos participantes como exemplo ator-revelaccedilatildeo melhor caracterizaccedilatildeo etc

4 ndash Na categoria Fotografia seratildeo premiadas as melhores capturas fotograacuteficas das apresentaccedilotildees Em Imagem-documentaacuterio seratildeo avaliados os melhores registros dos ensaios valendo-se de qualquer miacutedia (filmagem fotografia desenho histoacuteria em quadrinho etc)

5 ndash A Equipe deveraacute entregar as Fotografias e Imagem-documentaacuterios ateacute as 1900 horas do dia 19 de julho de 2009 para a comissatildeo organizadora do JOTE em miacutedia CD ou DVD (no formato MPG ou AVI) A premiaccedilatildeo dessas categorias ocorreraacute no dia 25 de julho de 2009 em local a ser definido

6 ndash Casos omissos problemas e duacutevidas surgidas seratildeo resolvidos pela Comissatildeo Organizadora

Quanto ao DIREITO AuTORAL1 ndash Os autores dos textos das fotografias e imagens-

documentaacuterios produzidos no Jote-Titac Experimentando NuTE cederatildeo seus direitos autorais para as publicaccedilotildees do projeto NuTE Para Todos em livro e cyber-espaccedilo sendo citados sempre que utilizados e conservando seus direitos para suas proacuteprias publicaccedilotildees

Quanto agrave utilizaccedilatildeo de imagem 1 ndash Todos os inscritos no JOTE-Titac Experimentando

NuTE autorizam a utilizaccedilatildeo de seus textos e de suas imagens pessoais inclusive em meio virtual para composiccedilatildeo da pesquisa e publicaccedilotildees futuras sobre o NuTE

Informaccedilotildees e duacutevidas(47) 3340-0596 ou pelo e-mail nuteparatodosgmailcom

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QUINTO

ENSAIOComposiccedilatildeo de Mundos

CRINU E CASTITE

Por Dostuevisqui da Silva

Primeira Tonalidade ndash Kafka ndash Enquanto o puacuteblico se dirige agraves cadeiras quatro atores espalhados pela plateia os observam a certa distacircncia Esses atores-detetives-kafkinianos fazem comentaacuterios entre si sobre alguns dos sujeitos-puacuteblico Os comentaacuterios natildeo devem ser ouvidos pela plateia Em cena uma senhora idosa sentada numa cadeira A intenccedilatildeo eacute levar o puacuteblico a acreditar que esse boneco eacute mesmo uma senhora idosa Quando todas as atenccedilotildees-olhos-interesses estiverem concentrados nela inicia-se a segunda tonalidade Segunda Tonalidade ndash Dostoieacutevski ndash Muito lentamente Raskoacutelnikov caminha por detraacutes do boneco da velha Aos poucos deixa o puacuteblico perceber que dentro de seu sobretudo haacute um machado

Foto

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QUINTO

ENSAIO

Lentamente retira o machado perfilado atraacutes da cadeira levanta sobre sua cabeccedila e num golpe fortiacutessimo divide a velha e a cadeira em duas Apoacutes uma pausa inicia diaacutelogo com a plateia

Raskoacutelnikov ndash A humanidade se divide em duas de um lado temos os seres ordinaacuterios e de outro os seres extraordinaacuterios Fiquem tranquilos prometo natildeo lhes causar nenhum aborrecimento clichecirc Sei que vocecircs conhecem o meu Crime que conhecem tambeacutem o meu Castigo Eacute justamente por isso que quem escreve esse texto me utiliza Ele acredita que entre noacutes haja uma certa cumplicidade Acredita que se for eu a lhes contar alguns seratildeo capazes com um pouco de esforccedilo de perdoar O dilema eacutetico de quem escreve esse texto eacute ter junto ao NuTE experimentado momentos extremos de alegria e ser a uacutenica testemunha de um Crime Hediondo cometido por integrantes deste Nuacutecleo de Teatro Experimental Denunciar aqui atraveacutes de mim algo que nunca teve coragem de levar agrave poliacutecia foi a uacutenica forma que encontrou para resolver esse conflito Mas por favor mantenham o senso criacutetico Culpar eacute faacutecil eacute uma accedilatildeo ordinaacuteria Todos somos bons em culpar o cristianismo nos aperfeiccediloou nisso Jaacute a experimentaccedilatildeo eacute difiacutecil pouquiacutessimos conseguem Se a existecircncia ordinaacuteria necessita eminentemente da culpa da responsabilizaccedilatildeo e do ressentimento se ela soacute funciona julgando e condenando um outro como seu algoz se para respirar precisa sempre ser a viacutetima A existecircncia extraordinaacuteria necessita do

experimento Jaacute que caminhamos para um julgamento podemos ambas as existecircncias em termos de lei A lei da existecircncia ordinaacuteria prega Ele eacute Mau Logo eu Sou bom A lei da existecircncia extraordinaacuteria diz Seja bem-vindo Dioniso

Terceira Tonalidade ndash Ritual Dionisiacuteaco ndash Faixas-gritos-panfletos-projeccedilotildees-etc anunci-am ldquoNatildeo interpreta FAZrdquo ldquoApolo morre crucificadordquo ldquoDioniso Viverdquo ldquoO importante natildeo eacute o sentido das palavras natildeo eacute tornar o texto inteligiacutevel mas tornaacute-lo vivordquo ldquoEm busca do Ator Santordquo Algumas ressonacircncias com os experimentos do NuTE em fotos-imagens-textos criam um clima Ritual-NuTE Quando o crescente do ritual atingir o limite ocorre uma parada brusca

Blackout

Quarta Tonalidade ndash Julgamento-Tribunal ndash Pela plateia entra em cena o Promotor-Fritz-Oktoberfest suspensoacuterios chapeacuteu bermuda figurino claacutessico Sua entrada eacute marcada com uma melodia-oktoberfest esta melodia natildeo deve ser alegre mas sinistra se possiacutevel macabra Fritz ostenta ares germacircnicos de superioridade Possui forte sotaque alematildeo de Blumenau Seraacute o promotor do caso Deve auxiliar a plateia a se perceber como Juiz do Caso

Fritz ndash Meritiacutessimo eu vou comeccedilar ressaltando a forma como o acusado se auto-nominava ele dizia fazer teatro mas todos os conheciam por NuTE

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QUINTO

ENSAIOJuiz ndash NuTE

Fritz ndash NuTE Meritiacutessimo Onde jaacute se viu chamar PUTA a um grupo de teatro Se realmente a intenccedilatildeo era fazer teatro por que chamavam de NuTE Temos aqui um primeiro indiacutecio de que o real propoacutesito era bem outro Se Vossa Excelecircncia me permite gostaria de chamar minha primeira testemunha (Voz em off ndash Que entre a testemunha) Novamente pela plateia A testemunha eacute um Cristo-Mendigo-Crucificado Numa das matildeos presas segura um chicote na outra uma placa com os dizeres ldquoBata-me por R$ 050rdquo Faz-se uma parada em meio ao puacuteblico Cristo-Mendigo esmola seus R$ 050 ao puacuteblico Se ningueacutem da plateia pagar pelo serviccedilo um ator que deveraacute estar junto ao puacuteblico paga os 50 centavos e chicoteia com forccedila o Cristo-Mendigo que sente enorme prazer com a accedilatildeo Continua mendigando outros R$ 050 ateacute que Alematildeo Fritz se aproxima dele e diz

Fritz ndash O senhor jura dizer a verdade somente a verdade e nada mais que a verdade

Cristo ndash (que se transforma em Inri Cristo) Eu sou o caminho a verdade e a vida Ningueacutem vai ao Pai senatildeo atraveacutes de mim

Fritz ndash Meritiacutessimo a testemunha dispensa apresentaccedilotildees Se Vossa Excelecircncia consentir gostaria de passar diretamente as minhas perguntas (pausa) Vossa Santidade (para Cristo) conhece este senhor (aponta para NuTE Formaccedilatildeo de irmatildeos-irmatildes siameses muacuteltiplas cabeccedilas e um corpo)

Cristo ndash Aaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiii (que agora assume traccedilos histeacutericos-afetadiacutessimos) Sim eu conheccedilo Eacute o NuTE Ele apresentou um espetaacuteculo monstruoso chamado ldquoApocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina Os Anjos e Noacutesrdquo Uma abominaccedilatildeo um sacrileacutegio para com os textos sagrados Deveria ser queimado em praccedila puacuteblica depois esquartejado Se eu conseguisse sair dessa cruz encheria a cara dele de tabefe Fizeram piada de mim compararam minha atuaccedilatildeo com a daquele comunista Che Guevara Imprimiam sudaacuterios da minha cena do lava-peacutes minha cena onde ao inveacutes da minha imagem pessoal faziam propaganda desse comunistinha de merda Meu pai estaacute furioso furioso

Fritz ndash Temos aqui Meritiacutessimo inuacutemeras evidecircncias da montagem desse espetaacuteculo (projetar filme mostrar cartazes focirclderes material sobre a peccedila ao gosto do diretor eacute possiacutevel misturar as imagens com a montagem original de Grotowsky)

Fritz ndash (para NuTE que responde sempre sim com as cabeccedilas) O senhor ainda montou ldquoO Homem do Capote e Outros Seresrdquo natildeo eacute mesmo ldquoVariante Woyzec-Mauserrdquo ldquoMacBethsrdquo ldquoCio das Ferasrdquo ldquoCamaleatildeo da Matardquo ldquoA Mortardquo O senhor se dedicou a produzir estes e muitos outros espetaacuteculos onde criacuteticas e deboches ao nosso modelo de existecircncia eram evidenciados Mas natildeo rir de noacutes natildeo era o bastante era preciso ainda seduzir nossos filhos para que eles rissem junto com o senhor Meritiacutessimo

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QUINTO

ENSAIO

este sujeito ardilosamente construiu uma armadilha aos nossos descendentes uma arapuca uma verdadeira arapuca camuflada com a denominaccedilatildeo JOTE-titac (Pausa) Para esse tal JOTE-Titac NuTE convidava nossas crianccedilas que inocentemente apareciam achando se tratar apenas de um Festival de Teatro Mas o teatro era apenas uma isca natildeo eacute mesmo Tenho aqui comigo Meritiacutessimo alguns dos textos apresentados nesse dito Festival JOTE-Titac (Mostrar livro ldquoJogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau) textos escritos por este mostro e encenados por nossos filhos ldquoEacuteVE ADAtildeOrdquo ldquoOS FILHOS DE BLUMENAUrdquo ldquoNUSrdquo ldquoDISCURSO PELE E SEXUALIDADErdquo entre tantos e tantos outros cujas intenccedilotildees eram satirizar nossa feacute nossa moral nossa cultura germacircnica e ateacute mesmo Meritiacutessimo nossa masculinidade O senhor nunca teve formaccedilatildeo em teatro e mesmo assim criou uma escola para ldquoensinarrdquo teatro E o que se ensinava ali Se os espetaacuteculos eram todos afrontas aos valores mais preciosos muito provavelmente o que o senhor ensinava natildeo passava de

Raskoacutelnikov ndash Protesto Meritiacutessimo a promotoria estaacute induzindo meu cliente a uma resposta

Fritz ndash Ok Vou mudar minha pergunta o que quero saber eacute muito simples Sr NuTE qual o verdadeiro objetivo do senhor nesses 18 anos de atividades ldquoditasrdquo teatrais

NuTE ndash (as trecircs vozes falam de forma desordenada) Liberdade levar as pessoas a

pensar encontrar pessoas com quem pensar criticar o conservadorismo (junto agraves vozes em cena incluir trechos das entrevistas gravadas onde se fala dos objetivos do grupo)

Fritz ndash Ah Entatildeo o senhor confessa o senhor confessa Meritiacutessimo o acusado acaba de confessar o Crime

Raskoacutelnikov ndash Meritiacutessimo a segunda paacutegina em letra 10 Arial estaacute terminando Natildeo haacute mais espaccedilo para um fechamento dialogado entre os atores-personagens Restam apenas oito linhas a quem escreve este texto Regra do JOTE-Titac Experimentando NuTE A confissatildeo de meu cliente natildeo deixa duacutevidas Sei da gravidade Afinal foram 18 anos Eacute muito tempo Natildeo irei convocar sua benevolecircncia nesse sentido Que haacute um Crime meu cliente confessa que o Crime em questatildeo foi praticado pelo Sr NuTE ao tentar transformar seres ordinaacuterios em seres extraordinaacuterios concordamos com a promotoria mas tenho certeza Meritiacutessimo de que se Vossa Excelecircncia ousar experimentar a existecircncia extraordinaacuteria conosco pelo menos por alguns segundos teraacute muito mais condiccedilotildees de julgar este caso (Volta-se ao Ritual-NuTE-Dioniso contudo dessa vez o puacuteblico eacute levado a participar)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=Zrcjc_KN6rQEntrevistawwwyoutubecomwatchv=yxkdu8Kepkw

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QUINTO

ENSAIOMAQBEacuteTE UMA INTERFEREcircNCIA NA TRANSMISSAtildeO

Por Iran da Silveira

Personagens Bruxo Narrador quatro ldquomarionetesrdquo (que poderatildeo ser interpretados por atores) o Rei e a Rainha

BRUXO NARRADOR ndash Senhoras e senhores desta roda gigante boa noite () Eacute com muita honra alegria e laacutestima que vos apresento a histoacuteria de uma interferecircncia ndash uma interferecircncia na transmissatildeo de uma histoacuteria Este Rei que senta ao lado eacute Alexandre King mais conhecido como Ale-Quim Ao lado dele sua incentivadora e algoz pois seu amor o levou agrave ruiacutena e agrave morte E as quatro marionetes que deste lado gritam e se debatem satildeo o que restou de uma

longa linhagem de bons maus guerreiros que natildeo obstante terem abandonado seu Rei ainda trabalham para a Sombra dele

MARIONETE 1 ndash Meu nome eacute Sedrez pois tenho sede de vinganccedila Meu negro olhar ajuda o Homem camarada Rei Seu cetro eacute meu bastatildeo com o qual golpeio e incendeio E hoje Hoje o provarei perante todos voacutes

MARIONETE 2 ndash Meu nome eacute Crescecircncio porque eu cresci neste Reino Fui um bom serviccedilal por toda a minha vida mas quando este palco desmoronou tudo o que sobrou de um banquete de casamento foi o bacalhau pequeno-burguecircs cozido por um idiota com sal e injuacuteria do qual se saboreou nada

MARIONETE 3 ndash Meu nome eacute De Oliveira porque tenho oacuteleo nas veias oacuteleo de carnauacuteba Com o oacuteleo produzo a vela com o olho produzo a cela com o alho produzo a ceia (distribui facas de cozinha) O mecanismo eacute o proacuteprio atleta a exceccedilatildeo eacute a proacutepria lenda Os filhos de Blumenau que nasceram de 1930 para caacute iratildeo morrer (aponta para os outros) E quando os arbustos do Teatro andarem o Rei seraacute morto por uma mulher que natildeo nasceu de homem

MARIONETE 4 ndash Meu nome eacute Leopolski porque leio Polanski mas tambeacutem tenho meus Greenaways Sofri do mal de Bergman fiz a terapia de Cronemberg curei-me com Lynch Depois de tudo isso sei que nunca morrerei ndash mesmo que todo o amanhatilde conduza os tolos agrave via em poacute da maacute sorte

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ENSAIO

REI ndash Que se inicie a batalha Marionetes do Rei Podem comeccedilar o ritual (em duplas as ldquomarionetesrdquo lutam com as facas como se estivessem empunhando espadas pesadas A coreografia da luta deve ser agressiva e graciosa Resultado Marionete 1 mata Marionete 2 e Marionete 3 mata Marionete 4)

REI (de peacute) ndash Oacute valorosos primos Tendes provado que a honra anda com voacutes Como precircmio pela coragem do vencedor sobrevivente dentre meus estimados guerreiros eu oferecerei minha esposa (outra luta Marionete 3 grita ldquoTome isto falso Parnavackrdquo Marionete 1 que estava perdendo mata Marionete 3)

MARIONETE 1 ndash Meu Rei Tenho vencido todas as batalhas Mas agora estou ferido Meu braccedilo natildeo foi poupado e jaz neste chatildeo como o cal jaz no tuacutemulo

REI ndash Um guerreiro ferido natildeo eacute um guerreiro digno de seu Rei Sua puniccedilatildeo eacute a morte (o Rei o mata violenta e sanguinariamente) Enfim minha rainha Os maus guerreiros se foram Agora eacute hora de recrutar um novo exeacutercito Mas natildeo isso natildeo seraacute difiacutecil minha rainha pois jaacute tenho um lugar onde poderei encontrar centenas de bons guerreiros a internet E entatildeo Haacute haacute haacute

RAINHA ndash Tens esquecido de uma coisa meu Rei

REI (nervoso pela interrupccedilatildeo) ndash O que mulher por toda a Escoacutecia o que quereis dizer agora o quecirc

RAINHA (aproximando-se) ndash Meu pai natildeo era homem (comeccedila a golpeaacute-lo A Rainha mataraacute o Rei de uma forma ainda mais violenta requintada sanguinolenta e criativa que as mortes anteriores) Tu querias oferecer-me ao teu suacutedito Maldito Rei Ale-Quim da Rua Escoacutecia

REI (nesse iacutenterim berra e depois agoniza) ndash Por favor oacute Juliana natildeatildeooo Ahh Algueacutem me arranje uma Kombi (morre A Rainha vingada e ensanguentada com os olhos esbugalhados fica estaacutetua numa pose de ldquoCarrie a Estranhardquo)

BRUXO NARRADOR (voltando agrave cena em tom mais solene) ndash Senhoras e senhores desta roda gigante tendes visto a mais brutal e sanguinaacuteria morte da histoacuteria deste Palco Tenho certeza de que ganharaacute o Precircmio de Melhor Morte de um Rei Inspirado em Macbeth deste festival Eacute o que acontece quando um homem bom confia seu coraccedilatildeo sua cama e seu trono a uma mulher maligna E quanto aos arbustos do Teatro amigos Eu estive haacute dois minutos no Carlos Gomes e posso testemunhar que eles andaram Juro pela minha matildee Muito obrigado

REFEREcircNCIAS

AS PECcedilAS OU MONTAGENS DO NUTE (e outros grupos da cidade) citadas satildeo

ndash de Giba de Oliveira ndash nove peccedilas todas de JOTEs-titac Senhoras e Senhores Nosso Reino Por Um Bom Guerreiro Os Camaradas Meacutedicos Carnauacuteba 1930 Filhos de Blumenau

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O Mecanismo e o Atleta A Exceccedilatildeo e A Lenda Sr Parnavack ndash a maioria foi encenada com seu grupo o Arteatroz

ndash de Marcelo Fernando de Souza ndash Negro Olhar (adaptaccedilatildeo de Otelo de WS dirigida por Peacutepe Sedrez)

ndash de Alexandre Venera dos Santos ndash Macbethrsquos Uma Interferecircncia na Histoacuteria (adaptaccedilatildeo e direccedilatildeo em 1991-93 em duas versotildees a primeira com elenco numeroso e a segunda com quatro atores somente Antocircnio Leopolski Carlos Crescecircncio Giba de Oliveira e Peacutepe Sedrez) e A Roda Gigante (sendo o espetaacuteculo dirigido por Peacutepe Sedrez ainda no NuTE) Tambeacutem foram citadas de Bertolt Brecht as peccedilas O Casamento dos Pequeno-Burgueses encenada em 1996 por Silvio da Luz como O Casamento dos Pequenos (foi servido bacalhau no palco) e O Homem Ajuda O Homem espetaacuteculo de Peacutepe Sedrez de 2001 o qual adaptou dois textos do autor Os cineastas Roman Polanski (polonecircs) Peter Greenaway (inglecircs) Ingmar Bergman (sueco) David Cronemberg (canadense) e David Lynch (americano) foram citados Aleacutem de diversas citaccedilotildees textuais da proacutepria peccedila de William Shakespeare evidentemente Este texto foi escrito no presente ano em Blumenau As metaacuteforas empregadas natildeo levam consigo qualquer julgamento pessoal poliacutetico filosoacutefico ou artiacutestico agraves pessoas envolvidas na histoacuteria mas sim recriam-nas As mortes e vinganccedilas satildeo apenas recursos de accedilatildeo dramaacutetica parodiando a obra de William Shakespeare

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaiowwwyoutubecomwatchv=fpu6Rd7CvScEntrevista wwwyoutubecomwatchv=BBDIBCgvGOk

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QUINTO

ENSAIO

O DE PRETO O DE BRANCO E OS DE CORES ou um despretensioso questionamento

Por Wilfried Krambeck

A peccedila comeccedila com o ambiente totalmente escuro e em silecircncio duas luzes de ponto satildeo acesas repentinamente no palco sobre dois atores Uma peccedila qualquer que estaacute sendo encenada encerra-se naquele momento Os dois atores em cena agradecem recebem os aplausos caso os haja e fecham-se as cortinas Na sequecircncia uma luz geral eacute acesa a cortina eacute reaberta e os atores que vatildeo aparecendo agem como se o auditoacuterio estivesse vazio

O de Preto ndash (saindo das coxias para o puacuteblico) ndash Ateacute que enfim acabou esta bosta

O de Branco ndash (chegando pelo outro lado) ndash O que eacute isso Isso eacute forma de falar

O de Preto ndash Eacute Eacute que eu estou de saco cheio Satildeo ensaios pra caramba cursos workshops palestras leitura de livros anaacutelise de textos o diabo e taiacute oacute Uma merreca de puacuteblico

O de Branco ndash Tudo bem mas natildeo eacute soacute isso O teatro ganha notoriedade aparece faz histoacuteria E todos tecircm vantagens com o processo O ganho eacute tambeacutem individual Vocecirc se aprimora vocecirc evolui como ator como artista como pessoa e se prepara para outras situaccedilotildees da vida

O de Preto ndash Pra mim foi uma perda de tempo cara Eu podia ter feito tanta coisa uacutetil nesse periacuteodo todo ao inveacutes de ter ficado aqui tentando fazer natildeo sei o quecirc nessa porra Eacute foda

O de Rosa ndash (chegando) ndash Gente tou nas nuvens tou encantado tou extasiado

O de Preto ndash Que eacute isso cara Taacute viajando (para o de Branco) Parece viado

O de Branco ndash (para o de Preto) Psssiiiiiiuuuu ele estava com a gente Eacute dos nossos

O de Rosa ndash Tou feliz eacute soacute isso Acabou mas para mim foi demais Pude declamar minhas poesias pude danccedilar cantar bailar Criar figurinos maravilhosos caracterizaccedilotildees coisas mil

O de Preto ndash (para o de Branco) ndash Cara eacute coisa de boiola mesmo hein Quem diria

O de Branco ndash (para o de Preto) Deixa de ser chato Ele gostou aproveitou Oacutetimo para ele

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ENSAIO

O de Rosa ndash (para o de Preto) Eacute isso aiacute me realizei Taacute legal Tudo que se faz com prazer daacute resultado traz satisfaccedilatildeo Mas eacute soacute para aquele que se empenha ok Aliaacutes preto te deixa insosso deprecirc Se eu fosse vocecirc botaria um figurino mais alegre uma cor quente sei laacute (sai)

O de Preto ndash Puta que o pariu tem cada um Olha a do cara meu

O de Branco ndash Eacute Acho que vocecirc eacute incapaz de notar Mas existem diferentes percepccedilotildees

O de Verde ndash (chegando) Pocirc gente aprendi coisas pra caramba por aqui (o de Preto balanccedila a cabeccedila e se afasta um pouco indignado) Quando cheguei eu natildeo sabia nada dessa parada do teatro pensei que era soacute viagem Mas natildeo eacute natildeo cara Os bom da bola aiacute botaram a gente pra raciocinar pra discutir pra sacar os babados Aiacute eu fui nessa eu li alguns livros aiacute de uns caras da pesada foi demais Entrei numa peccedila aiacute show de bola mas aiacute tive que sair cara natildeo deu mais Eacute que com essa parada aiacute me motivei cara Voltei pra escola cara 1ordm Grau noturno aiacute jaacute peguei um trampo legal de dia na moral cara na moral Mas valeu cara muuuuiiiito bacana meeeesssssmo soacute posso dar o maior plaacute de coraccedilatildeo cara Valeu (sai)

O de Branco ndash Viu eacute o que eu acabei de falar o teatro mudou a vida dele E para melhor

O de Preto ndash Ohhhhhhh Fiquei impressionado com a cultura do cara O cara eacute BABACA

O de Dourado ndash (chegando) ndash Aiacute rapazes tudo bem (daacute a matildeo para ambos) Eu comecei por aqui agora que terminou mesmo vou sentir saudades Fizemos uns trabalhos com muita pesquisa por aqui coisas de primeiro mundo Tivemos professores e diretores muito bons Fomos para festivais recebemos oacutetimas criacuteticas ganhamos precircmios reconhecimento Eu devo muito a esse pessoal que lutou por aqui Companheiros amigos gente determinada Hoje estou na Globo e estou trabalhando em montagens no eixo Rio-Satildeo Paulo com diretores consagrados A base veio daqui Eacute uma pena o projeto ter acabado pena mesmo (sai)

O de Branco ndash E agora o que vocecirc me diz

O de Preto ndash Vou falar o quecirc O cara taacute na Globo taacute se achando Acontece que eu natildeo tocirc neacute

O de Branco ndash Mas me diga uma coisa eacute possiacutevel que algueacutem fique por anos a fio num projeto tenha trabalhado se dedicado participado e natildeo tenha levado nada de bom durante todo esse periacuteodo Isso natildeo seria uma forma de masoquismo Vocecirc por acaso se odeia

O de Preto ndash Ahhhh com a decepccedilatildeo que eu tocirc sentindo aqui no peito me odeio sim

O de Branco ndash Entatildeo vocecirc eacute o uacutenico Porque ningueacutem aqui deu um depoimento que natildeo fosse favoraacutevel Estatildeo todos felizes o de Rosa o de Verde o de Dourado vocecirc ouviu

O de Preto ndash Grandes merdas se alguns desses viajotildees aiacute estatildeo felizes

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QUINTO

ENSAIO

O de Branco ndash Laacute vem vocecirc com palavratildeo de novo

O de Preto ndash Merda Taiacute uma coisa que aprendi no teatro Merda pra vocecirc merda pra vocecirc

O de Branco ndash Taacute esquece o palavratildeo Mas eu gostaria de saber exatamente o que foi que te desagradou (entra o de Roxo assobiando com uma vassoura espanador sacos de lixo balde aspirador e o de Branco interrompendo a conversa com o de Preto dirige-se a ele) E Vocecirc aiacute de Roxo o que achou desse movimento teatral Pode nos dizer por favor

O de Roxo ndash Olha gente eu Natildeo acho nada de movimento algum Agora vocecircs me datildeo licenccedila pessoal Vou ter que dar uma geral aqui Vou ter que limpar o ambiente taacute legal

O de Branco ndash Taacute tudo bem desculpe Eu pensei que vocecirc fosse Deixa para laacute Mas A gente pode ficar aqui Soacute para concluir uma conversinha uma desavenccedila de opiniotildees que

O de Roxo ndash Poder pode Soacute que a coisa taacute suja por aqui Eu vou ter que pegar no pesado jaacute Senatildeo sobra pro meu lado e quem danccedila sou eu taacute legal (se vira e prepara os equipamentos)

O de Branco ndash Entatildeo me diga soacute um dos motivos pelo menos um para que eu possa entender essa tua maacutegoa Me faz esse favor

O de Preto ndash Vocecirc quer realmente saber Entatildeo deixa eu te dizer (aqui o de Roxo liga o aspirador ndash som muito alto ndash e comeccedila a trabalhar o de Preto fala grita para o de Branco tentando se

explicar mas este natildeo consegue entender nada por mais que se esforce sem comunicaccedilatildeo saem um para cada lado e o de Roxo sem dar atenccedilatildeo continua aspirando)

Fim

DISPARADORES PARA A MONTAGEMPreto = ausecircncia de luz = a criacutetica destrutiva = descompromissada = derrotistaBranco = a soma de todas as cores = o ideal coletivo = o sonho = o lado positivoCada cor = uma visatildeo peculiar = um interesse especiacutefico = ponto de vista = uma interpretaccedilatildeo

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=j3Ycc_2xEWkEntrevista wwwyoutubecomwatchv=lKU8nHwUFok

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O MONSTRO DE NUTESTEIN

Por Wilfried Krambeck

Voz tenebrosa (acompanhada de muacutesica de terror) ndash Esta histoacuteria aconteceu num certo vale numa cidade natildeo muito pequena entremeada por um rio poluiacutedo um local amaldiccediloado por inuacutemeras cataacutestrofes naturais O povo que laacute morava era um povo trabalhador de feiccedilotildees

seacuterias que por seguranccedila de noite encerrava-se cedo em suas casas Eles divertiam-se uma vez por ano numa grande festa que laacute ocorria mas este lugar por via das duacutevidas era completamente cercado Durante o resto do ano apenas uma vez ou outra a elite deste povo vestindo suas peles caras encontrava-se num grande castelo isolado bem no centro daquela cidade para irem a um ou outro luxuoso baile ou a uma audiccedilatildeo musical Contudo procuravam voltar cedo tambeacutem Mas o que ateacute a eacutepoca dos acontecimentos que vou lhes relatar poucos sabiam eacute que ali naquele castelo quase sem cor geacutelido e de pedras frias havia inuacutemeros corredores completamente escuros sinistros apavorantes lugares nos quais se encontravam menos almas do que dentro de um tuacutemulo de um herege amaldiccediloado E foi nestes corredores sombrios que surgiu um dos nomes mais controversos da histoacuteria dessa cidade fechada em si mesma o Cientista Alex Stein Era este o nome desse homem inescrutaacutevel que criou um ldquoserrdquo que assolou aquele povo durante mais de uma deacutecada O MONSTRO DE NUTESTEIN

Alex Stein (para o puacuteblico) ndash Descobri como desenvolver o meu ldquoserrdquo diferente de tudo que jaacute foi criado neste lugar Estava tudo aqui mentalizado circulando na minha cabeccedila Li muitas obras de mestres antigos e agora finalmente cheguei laacute A ideia na essecircncia eacute simples ateacute Vou juntar restos digo pedaccedilos mal aproveitados vou submetecirc-los agrave maacutequina que descobri no centro do castelo uma maacutequina

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composta de uma grande roda horizontal que farei girar tudo isso submetido a uma forte luz proveniente de todos os lados Jaacute estaacute tudo preprado os pedaccedilos a maacutequina a luz Presenciem o momento da sublime criaccedilatildeo (nasce o ldquoserrdquondash som)

Alex Stein ndash Oh minha fabulosa ldquocriaccedilatildeordquo como vocecirc ficou enorme natildeo vai ser faacutecil te nutrir Mas natildeo me importa sempre te terei como meu filho sempre te nutrirei Vou chamar-te de NUTESTEIN Agora mostre-me se consegui acertar decirc uns passos caminhe NUTESTEIN (o ldquoserrdquo caminha sempre ndash e somente ndash lateralmente para a esquerda)

Alex Stein (para o puacuteblico) ndash Eacute um dispositivo mecacircnico que incluiacute na foacutermula ele soacute anda para a esquerda e na penumbra eacute o diferencial que pensei para ele

Cientista Alematildeo (entrando) ndash Ho ho ho Vejo que o Sr criou um ser diferente hum hum interessante Mas soacute anda para a esquerda e no escuro estranho Pelo visto ele natildeo tem vontade proacutepria Me parece que o Sr esqueceu de botar um ceacuterebro no seu ldquoserrdquo hum

Alex Stein ndash Nada de ceacuterebro eu penso por ele digo para ele e ele faz Eacute bem mais seguro para ele e aleacutem disso assim ele natildeo faz nenhuma bobagem e nunca iraacute me decepcionar

Cientista Alematildeo ndash Acho que quem estaacute fazendo bobagem eacute o Sr pois a sua criaccedilatildeo natildeo eacute perfeita se natildeo tem um ceacuterebro Eu sempre carrego um ceacuterebro na minha bolsa Vou buscaacute-lo para noacutes

implantarmos na cabeccedila do seu ldquoserrdquo

Alex Stein (se antepondo ao Cientista Alematildeo) ndash Ah mein Herr onde estaacute a sua bolsa

Cientista Alematildeo ndash Estaacute na sala ao lado

Alex Stein ndash Pode deixar que EU pego para o Sr (sai volta com uma velha bolsa de couro e na hora de entregaacute-la deixa-a cair propositadamente) Oh mil desculpas mein Herr (abre-a e olha dentro) Que pena esfacelou-se todo o ceacuterebro uma pena

Cientista Alematildeo ndash Estou achando que o Sr natildeo quer ceacuterebro algum para sua ldquocriaccedilatildeozinhardquo estou muito magoado Vou-me embora e natildeo volto mais para este lado do castelo hum (sai)

Dr Cientista Francecircs (entrando) ndash Ouvi a conversa foi sem querer desculpe-me Mas se me permite uma modesta contribuiccedilatildeo um ceacuterebro eacute sempre importante num ser Permite-lhe a livre escolha do seu destino Eacute claro este ldquoserrdquo eacute de sua criaccedilatildeo e cabe-lhe a escolha Mas eu pensaria com carinho sobre o assunto pois se ele natildeo tiver um ceacuterebro seraacute sempre dependente a criaccedilatildeo natildeo seraacute completa Daacute bem mais trabalho conduzir um ser com vontade proacutepria Mas aiacute estaacute o desafio do cientista lsquoArbeit Arbeit Arbeitrsquo natildeo acha Monsieur (sai)

Alex Stein ndash Eacute Sim Natildeo Talvez Natildeo sei (pensa um pouco sobre o assunto depois se entreteacutem dando comandos ao ldquoserrdquo ndash de repente feliz recebe aplausos de todos os lados)

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Cientista Baixinho (entrando com outros dois cientistas) ndash Sr Alex Stein chega de conversa Noacutes ndash por unanimidade ndash jaacute decidimos vamos colocar um ceacuterebro na sua criaccedilatildeo

Alex Stein ndash Mas Meu ldquoserrdquo estaacute indo bem estaacute evoluindo nunca algueacutem caminhou para a esquerda por aqui E na penumbra quem andou Natildeo custa nada para ningueacutem e todos estatildeo impressionados nunca viram nada igual jaacute estatildeo ateacute aplaudindo natildeo ouviram

Cientista Baixinho ndash Eacute Ouvimos Mas vamos melhorar o ldquoserrdquo e ateacute jaacute preparamos o ceacuterebro eacute na verdade um misto um pouco de todos os nossos ceacuterebros inclusive tem uma parte do seu ceacuterebro tambeacutem Sr Stein Soacute que somos noacutes que vamos implantar para evitar que ele se espatife pelo chatildeo O Sr entendeu Sr Stein (um manteacutem Alex Stein a distacircncia e os outros dois dominam e implantam o ceacuterebro no ldquoserrdquo e saem o ldquoserrdquo entatildeo se levanta Consciente anda para todos os lados salta corre mas tambeacutem tropeccedila bate nas paredes cai fica atordoado)

Alex Stein ndash Ei NUTESTEIN vaacute para a esquerda a esquerda (o ldquoserrdquo vai mas volta para a direita) Natildeo natildeo saia da penumbra (o ldquoserrdquo vem para a luz e Alex Stein se desespera) Nossa matildee NUTESTEIN vocecirc se tornou um MONSTRO (voltam os outros trecircs cientistas e tambeacutem comeccedilam a comandar o ldquoserrdquo e este tenta inicialmente atender a todos mas depois se torna confuso e desiste de atender os comandos de todos eles recolhendo-se num canto)

Voz tenebrosa (acompanhada de muacutesica funesta) ndash Aos poucos NUTESTEIN foi perdendo sua identidade original tinha um ceacuterebro agora mas natildeo era seu era de muitos era confuso Todos os Cientistas que no iniacutecio tanto se preocupavam com ele foram aos poucos perdendo o interesse Seu proacuteprio criador Alex Stein comeccedilou a desenvolver um novo ldquoserrdquo imaterial agora ldquoserrdquo este que ele poderia criar manipular e manter dentro de seu proacuteprio ceacuterebro sem a interferecircncia de ningueacutem E entatildeo numa noite negra de tempestade ele conduziu a ldquocriaturardquo sua primeira criaccedilatildeo ateacute o mais escuro dos calabouccedilos do castelo e laacute a acorrentou Sempre com laacutegrimas nos olhos por uns tempos ainda o alimentou agraves vezes ajudado pelo Cientista Baixinho ndash ateacute no dia em que todos foram embora abandonando os corredores escuros do castelo NUTESTEIN entatildeo jaacute esqueleacutetico desnutrido e retornando ao estado de aceacutefalo agonizou agonizou agonizou e MORREU (concomitante com a narraccedilatildeo na penumbra Alex Stein triste faz a uacuteltima visita ao ldquoserrdquo e este ndash a soacutes ndash falece abandonado)

Voz feliz eufoacuterica (entrando ndash repentinamente ndash com fundo de muacutesica animada ndash de Os Caccedila Fantasmas) ndash Mas natildeo fiquem tristes pois chegou nesta cidade um repoacuterter de metroacutepole Chegou EndGhostbuster Ele veio para caccedilar para detonar para desmistificar o NUTESTEIN Para finalmente retirar exorcizar sua alma dos corredores escuros do castelo Ele veio para saber de tudo detalhes nuances

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episoacutedios pensamentos reflexotildees e acreditem todos estatildeo falando contando rememorando especificando lembrando ateacute de coisas que nunca existiram Ateacute estranho jaacute palpita Mas eacute assim mesmo soacute alegria NUTESTEIN virou FOLCLORE Cada um conta do seu jeito cada um inventa cada um aumenta ou acrescenta NUTESTEIN natildeo era oito nem oitenta mas com certeza tinha pimenta Eacute isso aiacute EndGhostbuster provocou agora aguenta Tem coisa boa Tem miserenta Tente digerir esta baita polenta A cada dia a coisa esquenta Mas eacute assim que incrementa se alimenta (a muacutesica se sobrepotildee agrave narraccedilatildeo fim)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=FzeylLvO3ucEntrevistawwwyoutubecomwatchv=S0RvDDRd6IQ

TRABALHO SUJO

Por Iran da Silveira

Drama policial ambientado na Blumenau do ano 1999 Personagens NOacuteDULO CHUCK NAFTALINA JOHNSON NIVALDO TRAPACcedilA NESTOR MIRONGA NEIDE SAPATINHO NEUZINHA BLAUBLAU NICANOR NEW YORK NEM DE LADO NARRANTE DOGMA ZUNINDO GRITO DR JACOacute DR JACUacute JOSH PALHA NARRANTE ndash No uacuteltimo JOTE-Titac a quadrilha de Naftalina Johnson planejava um grande crime

NICANOR NEW YORK (andando num carratildeo) ndash Atenccedilatildeo Noacutedulo Chuck Atenccedilatildeo Noacutedulo

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NOacuteDULO CHUCK (tambeacutem) ndash Noacutedulo Chuck ouvindo perfeitamente

NEW YORK ndash Atenccedilatildeo Congresso dos traficantes de quadros ladrotildees de esculturas e plagiadores de livros no morro em frente a Ufos uacuteltima casa Assunto de interesse geral e urgente

NAFTALINA JOHNSON (jaacute no local) ndash Ainda bem que estatildeo todos aqui porque o assunto eacute de extrema importacircncia

NEUZINHA BLAU BLAU ndash Fala logo Nafta Fala Fala

NAFTALINA ndash Vocecircs vatildeo ficar com aacutegua na boca quando virem isso Eacute o uacuteltimo livro que Dogma Zunindo acaba de escrever

NEM DE LADO ndash Mas como vocecirc conseguiu isso

NAFTALINA ndash Foi um plano que bolei com muito carinho palmas para o Sr Nivaldo Trapaccedila responsaacutevel pela sua execuccedilatildeo

NIVALDO TRAPACcedilA (depois das palmas) ndash Foi muito faacutecil Eu esperei ele dormir e aiacute TCHUM

BLAU BLAU ndash Eu quero ver Ver Ver

NAFTALINA ndash Calma eu tirei xerox pra todos Aqui estatildeo

NEIDE SAPATINHO ndash Vocecircs tecircm consciecircncia do que temos nas matildeos Isso eacute uma porcaria mas os criacuteticos e intelectuais babam

TRAPACcedilA ndash E o resgate eacute todo nosso Iiiiccedila

CHUCK ndash Neide quanto podemos ganhar com isso

NEIDE ndash Deixa eu ver Poderiacuteamos pedir a soma das vendagens dos trecircs primeiros livros isso ia dar Uns 15 milhotildees de reais novos

NEW YORK ndash Como estaacute estipulado em nossas leis os senhores Johnson e Trapaccedila autores do sequestro ficaratildeo com 20 do lucro total cada um Os 60 restantes seratildeo divididos entre noacutes seis

NESTOR MIRONGA ndash Soacute uma coisa E se ele se recusar a pagar

NEW YORK ndash Aiacute roubamos toda a grana dele o apagamos e lanccedilamos o livro com a autorizaccedilatildeo do autor cedendo todos os direitos autorais

DE LADO ndash Mas isso vai dar uma fortuna

NEIDE ndash Nafta esse plano eacute muito bom Vocecirc eacute terriacutevel

NAFTALINA ndash Tem razatildeo minha querida Quando a arte e o crime se juntam qualquer coisa pode acontecer ateacute mesmo uma pintura impressionista Vamos ao trabalho ()

DOGMA (ao ser contactado) ndash Sou eu mesmo Em que posso ajudaacute-los

MIRONGA ndash Natildeo fale nada ou estouraremos seus miolos Noacutes temos o seu uacuteltimo texto em cativeiro

DOGMA ndash Aquele que escrevi ontem Ia jogar no lixo

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QUINTO

ENSAIO

MIRONGA (bate-lhe na cara) ndash Nunca mais despreze assim uma obra de arte canalha

DOGMA ndash O que vocecircs querem

TRAPACcedilA ndash Toda a grana da vendagem dos seus quatro livros

DOGMA ndash Satildeo soacute trecircs O meu lucro com eles foi de 75 reais

BLAU BLAU ndash Eacute pouco Eacute pouco Ai ai ai Eacute pouco

DOGMA ndash Tambeacutem acho mas foi o que ganhei na eacutepoca Lembro que deu pra pagar minhas contas no London no Tip Tim e no bar do teatro

MIRONGA (daacute-lhe um tapa) ndash O London mudou de nome imbecil Agora eacute Rodolfus

TRAPACcedilA ndash Natildeo importa Fica com essa mixaria aiacute noacutes vamos lanccedilar esse livro e ganhar uma nota preta sacou E natildeo vamos dar um centavo pra editora

DOGMA ndash Entatildeo eacute assim Eu faccedilo o trabalho sujo e vocecircs faturam

NEIDE ndash Ele tem razatildeo ele eacute o artista

CHUCK ndash Taacute bem fique com 10

DOGMA ndash Vinte

CHUCK ndash Quinze e taacute acabado E lembre-se esse livro eacute um marco sacasse UM MARCO

DOGMA ndash Taacute legal boa sorte Como tem gente iludida nesse mundo

NARRANTE ndash E agora para a apresentaccedilatildeo dos membros da gangue de Naftalina Johnson

Noacutedulo Chuck o rebelde solitaacuterio tem sua vida dividida entre pequenos roubos de obras de arte e sua matildee uma simpaacutetica velhinha Nicanor New York vigarista e golpista um gringo que na verdade nasceu em Chicago no Illinois eacute o mais elegante e menos temperamental sua calma lembra a dos quadros de Guto Bouer os quais jaacute furtou quatorze Neuzinha Blau Blau a mulher que roubou o Bofe Aacutespero de Leonardo daacute Vinte saiu do manicocircmio direto para o mundo do crime A prostituta Neide Sapatinho dedica-se ao crime para vingar a morte de seu pai um ex-diretor do grupo Kontra Senha Nivaldo Trapaccedila marginal absolutamente sem escruacutepulos e tarado sexual por mulheres que estatildeo lendo o ldquoConde de Monte Cristordquo Nestor Mironga o braccedilo negro do crime sempre pronto para golpear impiedosamente qualquer um que queira publicar um poema pelas vias da lei Nem de Lado cheirador safado tem esse nome porque gosta de comer papinha com cebola Seu maior feito foi ter violado um cemiteacuterio de naturezas mortas E Naftalina Johnson o intelectual da corrupccedilatildeo autoral expert em estupro da inspiraccedilatildeo e em sequestro do talento alheio E agora sim a continuaccedilatildeo da histoacuteria

DOGMA ndash Jaacute satildeo quatro da manhatilde daqui a pouco eu preciso ir pra rua e natildeo posso ficar aqui escrevendo essa peccedila Se desse dinheiro eu ateacute terminava Agora me deem licenccedila

NARRANTE ndash Jaacute que o autor natildeo estaacute em

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QUINTO

ENSAIO

condiccedilotildees aiacute vai a continuaccedilatildeo da peccedila de qualquer maneira

UM GRITO VINDO DAS COXIAS ndash Que histoacuteria eacute essa de natildeo querer terminar a peccedila Todo mundo aqui trabalha soacute intelectual eacute que natildeo

CHUCK (entrando com os outros) ndash Chefe vocecirc natildeo vai acreditar mas esse Dogma Zunindo eacute um niilista um pessimista Chega a ser perigoso

NARRANTE ndash Quem comenta sobre a personalidade do autor satildeo os psicanalistas Doutor Jacoacute e Doutor Jacuacute

DR JACOacute ndash O senhor Zunindo natildeo passa de um rebelde sem causa Eacute isso o que ele eacute Ele natildeo daacute valor ao que tem Ele natildeo merece viver Ele eacute um estorvo

DR JACUacute ndash Natildeo seja tatildeo duro com ele ele sofre tambeacutem sabia

DR JACOacute ndash Sofre nada ele gosta eacute de nos fazer de palhaccedilos Ele tira sarro o tempo todo

DR JACUacute ndash Eu acho que ele natildeo tem culpa Ele eacute assim mesmo

NARRANTE ndash Jaacute que a ciecircncia natildeo se decide vamos ver se o esoterismo ajuda Com a palavra o famoso guru Josh Palha

JOSH PALHA ndash Soacute sei de uma coisa enquanto houver um sopro de vida haveraacute em Dogma Zunindo o desejo de se renovar dia apoacutes dia Ai tenho de ligar para o Walter Mercado

NARRANTE ndash Seraacute nosso autor ressarcido pelos danos causados pela maleacutevola gangue de Naftalina Johnson Conseguiraacute realizar seu sonho de fazer uma novela para o Toni Ramos o Francisco Cuoco e o Tarciacutesio Meira chamada ldquoZerordquo Natildeo percam no proacuteximo JOTE Continuem com a gente

Nota do autor Trabalho Sujo parte de uma trama policial folhetinesca para descambar numa anaacutelise irocircnica sobre o papel da arte na vida das pessoas comuns e dos proacuteprios artistas O formato telesseacuterie funciona mais como uma metaacutefora do antigo JOTE-Titac como fica claro no iniacutecio e no fim da peccedila

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=ork4t4rP8w4Entrevista wwwyoutubecomwatchv=7gJTU-Kt5QU

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QUINTO

ENSAIO

O AUTOR ESQUARTEJADO

Por Afonso Nilson

Personagens ator autor diretor algueacutem do puacuteblico figurantes com viacutesceras escondidas em suas roupas Ator ndash Ok mais um JOTE O uacuteltimo eu espero dessa vez Falo o uacuteltimo porque eu natildeo aguento mais esses textos que natildeo satildeo escritos para teatro Tem poesia tem crocircnica tem carta de amor tem confissatildeo de homossexualidade tem tudo Ateacute aula de teatro Natildeo precisam me

olhar com essa cara Natildeo vou dar aula natildeo sou professor Sou ator natildeo estatildeo vendo Mas acontece que sou um ator que natildeo aguenta mais ter que fazer das tripas coraccedilatildeo para pocircr em cena essas coisas que as pessoas acham que eacute um texto para teatro Tudo bem tudo bem Reconheccedilo que eacute bem mais faacutecil pocircr em cena um poema uma crocircnica do que um texto com falas accedilatildeo e tudo que como teatro natildeo serve nem para um arremedo Jaacute viram Como eacute que se interpreta um ldquoohrdquo em cena ldquoOh meu amorrdquo ldquoOh dorrdquo Ou pior ldquoOh me matasterdquo Jaacute pensou Me mastates O cara leva um tiro cai no chatildeo olha para seu assassino e solta essa ldquoOh me matasterdquo Natildeo daacute neacute Aiacute chega o Jote Aquele monte de texto em cima da mesa e as pessoas datildeo uma olhada num noutro jaacute descartam os monoacutelogos e quando veem uma frase de efeito laacute perdida por acaso entre um punhado de ldquoohsrdquo pronto taacute laacute o texto e eacute aquela carnificina para ter a oportunidade de dizer uma uacutenica frase que preste nesse emaranhado que satildeo os textos para o Jote Ok tudo bem Daacute pra montar tudo hoje em dia Jaacute ouviram falar de teatro poacutes-dramaacutetico Azar o de vocecircs Hoje daacute pra montar ateacute bula de remeacutedio Daacute pra adaptar receita de bolo daacute pra fazer depoimento pessoal daacute pra grunhir igual a um porco e dizer que eacute performance que eacute arte contemporacircnea Tatildeo brincando comigo Isso eacute coisa do passado Anos 50 60 70 living Asdruacutebal Barba Zeacute Celso Um pouco depois aqui em Santa Venera O Venera pode porque ele foi o primeiro Enquanto o pessoal ainda tava montando chanchada o Venera metia

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ENSAIO

o terror fazia o que ainda era novidade nas terras da novidade Mas agora 20 anos depois rapazinho me vem com teatro performaacutetico improvisando sobre qualquer besteira que ouviu dizer de um professor que ouviu de um terceiro que nem sequer sabia do que estava falando Natildeo daacute neacute

(Da plateia levanta um cara vai raacutepido ateacute o ator e lhe daacute um empurratildeo)

Autor ndash Fala mal do meu texto mais uma vez se vocecirc eacute homem

Ator ndash O idiota taacute estragando a cena

Autor ndash Natildeo tinha nada disso no meu texto

Ator ndash Como eacute Quer dizer agora que eu natildeo posso dar uma improvisadinha sequer

Autor ndash Improvisar Vocecirc natildeo disse uma uacutenica palavra que eu tenha escrito ateacute agora

Ator ndash Vocecirc devia me ser grato por isso Ateacute bem grato se for levar em consideraccedilatildeo aquela merda que vocecirc mandou pro Jote

Autor ndash Olha aqui seu puto Se vocecirc acha que eu vou aturar isso quieto

Ator ndash Isso mostra a cara pseudocircnimo Mostra essa fuccedila incapaz de articular uma uacutenica palavra que seja teatro de verdade

Autor ndash E o quecirc pra vocecirc viado eacute teatro de verdade

Ator ndash Ora o teatro o teatro

Autor ndash O teatro natildeo eacute pra ser explicado por

um atorzinho Teatro se faz natildeo se explica Natildeo quero saber desses textos adaptados natildeo quero saber de bula de remeacutedio natildeo quero saber de nada de nada dessa merda de teatro contemporacircneo Eu quero eacute o teatratildeo Qual eacute Natildeo posso mais gostar de texto claacutessico Sim meu amigo eu escrevo ldquoohrdquo Eu uso frase de efeito no meu dia a dia Eu escrevo poema e ponho na boca de meus personagens Qual eacute Vai encarar

Ator ndash Eu hein quero saber dessa merda natildeo

Autor ndash Mas aqui no palco vocecirc vai ter que querer Taacute na chuva eacute pra se molhar meu

Ator ndash Isso eacute que eacute frase de efeito meu (entra o diretor na histoacuteria)

Diretor ndash Amigos amigos Vamos nos acalmar Natildeo precisamos ficar tatildeo exaltados eacute apenas a estreia Toda a estreia eacute meio estranha natildeo eacute (para o puacuteblico) Vocecircs vatildeo nos perdoar por esse contratempo mas na verdade tudo isso faz parte do show estaacute tudo no script

Autor ndash No texto taacute tudo no texto Era pra estar na verdade

Diretor ndash Mas vocecirc natildeo acha que isso agraves vezes ateacute ajuda a encenaccedilatildeo a ficar mais rica mais natural

Autor ndash Texto eacute texto e taacute acabado

Ator ndash Mas e a reaccedilatildeo da plateia Agora porque Vossa Excelecircncia o autor quer eu natildeo posso mais interagir

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QUINTO

ENSAIO

Diretor ndash Podemos achar um meio termo que tal um texto colaborativo criaccedilatildeo coletiva

Autor ndash Tais gozando com a minha cara natildeo eacute Natildeo existe esse negoacutecio de criaccedilatildeo coletiva tem sempre um que encabeccedila a histoacuteria

Ator ndash Ah eacute vamos ver soacute Vou chamar algueacutem da plateia (puxa algueacutem da plateacuteia)

Ator ndash O senhor me desculpe mas a gente precisa resolver essa histoacuteria O que o senhor acha Improviso faccedilo um teatro contemporacircneo sem texto texto-natildeo dramaacutetico ou volto a ser um tolaccedilo do seacuteculo XIX tendo que decorar todas as minhas falas

Algueacutem do puacuteblico ndash Olha eu natildeo sei muito bem Que eacute que eu vou dizer O autor

Autor ndash O senhor pode sentar por favor Muito obrigado pela sua participaccedilatildeo numa proacutexima vez em que seja preciso tirar a roupa a gente te chama de novo

Ator ndash Gostasse dele natildeo eacute

Autor ndash Sai pra laacute

Diretor ndash Natildeo estamos evoluindo

Ator ndash Pra evoluir temos que representar a bula

O cara do puacuteblico (fala de seu lugar) E o que eacute que o teatro tem a mais que o cinema Prefiro ir ao cinema ver uma merda qualquer do que ficar aqui nessa tortura de natildeo teatro

Diretor ndash O cara tem razatildeo teatro ruim eacute

insuportaacutevel Antes um filme fraco do que uma montagem fraca

Ator ndash Mas e aiacute e a pergunta do cara O que eacute que o teatro tem a mais que o cinema

Diretor ndash Imaginaccedilatildeo porra No cinema vocecirc vecirc o mar Caacutespio No teatro o mar natildeo precisa nem de uma gota de aacutegua para significar um oceano Quer ver Oceano

Ator ndash Vocecirc acha mesmo que eu vou me afogar natildeo eacute

Diretor ndash Era soacute pra dar um exemplo

Autor ndash Daacute pra mudar raacutepido de histoacuteria e cenaacuterio sem um uacutenico adereccedilo no teatro

Ator ndash Ah eacute

Autor ndash Aja raacutepido Peccedila podre (o ator faz um trejeito) Viu vocecirc nem precisava fazer nada bastava continuar a fazer o que estava fazendo

Diretor ndash O importante eacute o contato direto com o puacuteblico Nunca no cinema algueacutem viria ateacute a sua cadeira e faria isso (vai ateacute o cara do puacuteblico e lhe torce o nariz)

Ator ndash Muito interessante Deve ter sido uma experiecircncia muito boa para o senhor natildeo eacute Accedilatildeo em 3D

(haacute um grande silecircncio vazio)

Diretor ndash Improvise

Autor ndash Eacute vamos acabar com esse teacutedio faccedila aiacute qualquer coisa

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QUINTO

ENSAIO

(o ator pode nesse momento fazer qualquer coisa)

Diretor ndash Ateacute que foi interessante

Autor ndash Mas estava no texto

Ator ndash Natildeo senhor no texto dizia claramente ldquoo ator pode fazer qualquer coisardquo

Autor ndash Entatildeo estava no texto

Ator ndash Mas quem criou fui eu

Autor ndash Azar o seu leve o creacutedito

(mais um momento de silecircncio vazio)

Autor ndash Pra esse texto dar certo algueacutem precisa morrer ou ser traiacutedo

Ator ndash Traiacutedo tu jaacute foi corno (o autor agarra o autor pelo pescoccedilo o diretor interveacutem)

Diretor ndash Ele tem razatildeo

Ator ndash Eu natildeo disse corno

Diretor ndash Natildeo natildeo isso Mas que algo tem que acontecer tem Sei laacute a intriga sabe A tensatildeo dramaacutetica

(ator e autor se entreolham furiosamente fingindo tensatildeo caem na gargalhada)

Autor ndash Que piada

Diretor ndash Se fosse uma comeacutedia seria de chorar

Autor ndash Vamos acabar logo com essa merda

Diretor ndash Algueacutem tem que morrer

Autor ndash Jaacute sei jaacute sei ldquoa morte do autorrdquo Esse texto eacute velho meu

Diretor ndash Velho mas uacutetil

Ator ndash Conclamo todos da plateia a matar o autor (o diretor e o ator puxam pessoas da plateia para cercar o autor no meio da cena Eles o cercam lentamente eles o consomem rasgam suas roupas retiram intestinos unhas dentes cabelo ateacute natildeo sobrar nada aleacutem de carne crua e tomates sobre o palco Todos voltam aos seus lugares O autor nu senta-se junto ao puacuteblico)

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=folk5Y3EvzAEntrevista wwwyoutubecomwatchv=TUZEqE5UfgY

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QUINTO

ENSAIO

ldquoQUE CHEIRO Eacute ESSErdquo

Por Wilfried Krambeck

A e B entram em cena debatem-se um pouco com a luz no rosto e dirigem-se ao puacuteblico

A ndash Bem Olaacute Tudo bem Noacutes viemos hoje aqui para falar sobre esse NuTE neacute

B ndash Isso sobre esse tal de NuTE

A ndash Na verdade eu nem sacava desse NuTE mas tocirc aiacute representando um Um cara que teve aiacute Digamos assim Uma breve passagem por esse NuTE aiacute e que disse Vai laacute fala com o pessoal fala das coisas que rolaram laacute tu eacute o cara (para B) Natildeo eacute

B ndash Isso aiacute Ele falou que tu eacute o cara

A ndash Bem Eacute isso Aiacute eu trouxe esse meu chapa aqui Pra natildeo falar sozinho entendeu

B ndash Ooooopa tamo junto nessa parada Toca aqui oacute Cecirc eacute meu parceiro cecirc eacute meu mano

A ndash Aiacute o cara me falou tu daacute uma sacada no blog antes de ir ateacute laacute que taacute tudo laacuteaacuteaacuteaacuteaacute cara

B ndash Ele falou olha no blog eacute isso aiacute mano

A ndash Aiacute eu disse blog cara Que porra eacute essa

B ndash Eacute Que porra eacute essa

A ndash Ele falou internet cara tu eacute burro hein Eu disse burro natildeo pega leve um pouco desinformado ateacute pode ser neacute ocircocircocirc cara

B ndash Que burro o quecirc

A ndash Bom eu sei que daiacute ele abriu laacute pra gente aquele tal de blog a gente viu umas coisa laacute e tamo aqui nessa parada pra trocaacute umas ideia aiacute

B ndash Eacute a gente viemos neacute

A ndash Pocirc uma coisa legal que eu vi cara eacute que tinha um boteco laacute e a turma mandava ver

B ndash Pocirc legal Papo furado cigarro cerveja e salgadinho Eacute

A ndash Isso aiacute Outra parada eram os barracos De vez em quando tinha nego montando um baita dum barraco no meio deles

B ndash Era tudo barraqueiro

A ndash Natildeo tudo natildeo mas parece que tinha uns cara especializado nessa parada meu

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QUINTO

ENSAIO

B ndash Cara isso era moacute zona entatildeo Mermatildeo

A ndash Sei laacute neacute Mas diz que os caras ameaccedilavam se jogar dos preacutedios invadiam preacutedio abandonado toda hora batia poliacutecia Um outro passava de carro nos pontos de ocircnibus baixava as calccedilas e mostrava a bunda pra galera Pocirc meu os cara soacute faziam merda

B ndash Taacute loco

A ndash Pra tu vecirc como os cara eram maneacutes meu eles enterravam livro zero bala Eles podiam vender fazer uma grana Mas eles enterravam assim sem plaacutestico sem nada cara

B ndash Orra meu papelzinho bom pra enrolar um bagulho Enfiado no barro cara

A ndash Entatildeo Outra parada eacute que tinha um cara que chegava no ouvido dos outros e dizia que entregava a rosquinha

B ndash O quuuuuuecirc

A ndash Eacute Dizia queacute comecirc minha rosquinha Na cara dura Tudo bem Ele vendia quer dizer Cobrava mas pocirc meu Um negoacutecio assim soacute em pensar jaacute doacutei neacute

B ndash Taacute doido meu Mas ele natildeo dava de verdade neacute

A ndash Sei laacute Neacute Tinha um outro que jogava bombinha falhada num lixeiro E nada E tinha gente mais maluca ainda que achava isso o maacuteximo Tem tapado pra tudo mesmo neacute

B ndash Pocirc meu bombinha eacute pra estourar eacute pra fazer o escarceacuteu eacute pra fazer festa

A ndash Um outro pendurou uma cadeira e deram

um precircmio natildeo sei de quecirc pro cara

B ndash Taacute me gozando

A ndash Seacuterio Aliaacutes diz que pra ganhar precircmio a turma fazia o diabo Enchiam os corno de jurado com cerveja Diz que tinha um que pra tentar ganhar um precircmio ficava trepado em cima de uma roda por mais de uma hora

B ndash Era doido

A ndash Sei laacute Mas o cara ficava

B ndash Deviam mandar ele pro pinel

A ndash Por falar nisso cara tinha uma turma inteira Cara eram uns quinze tudo misturado cara era homem mulher novo velho tudo junto Que corriam pelados no meio da noite Pelo mato pelos campos de futebol pelas cachoeiras Assim peladotildees meeeeeismo

B ndash Na boa

A ndash Na maior Diz que era ateacute feio de ver Mas cara nunca vi Eles gostavam de ficar pelados Era no mato na praia no apartamento no palco Era tudo pirado cara

B ndash Natildeo era agrave toa que batia a poliacutecia

A ndash Ahhh E tinha um tal de um metido a escritor que natildeo escrevia coisa com coisa

B ndash Como assim

A ndash Soacute falava de papo de becircbado de chuva de briguinhas daqueles barraqueiros

B ndash Ei mas natildeo foi esse cara que disse pra tu natildeo falar isso dele aqui Que ele ia te deletar deste texto

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QUINTO

ENSAIO

A ndash Falou Mas o chapa que me mandou aqui disse que natildeo tem essa Depois que a coisa ta impressa ningueacutem mais deleta porra nenhuma Fica frio

B ndash Ahhh Entatildeo taacute Mas por via das duacutevidas eu vou dar no peacute (sai)

A ndash Eacute cara acho que falamo muita merda em pouco tempo vambora (sai tambeacutem)

FIM

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=kWaN1pZovGgEntrevistawwwyoutubecomwatchv=7x_ReaLb3Io

A PEDIDOS

Por Giba de Oliveira

(Ao entrar na plateia o puacuteblico encontra no palco um muacutesico com seu violatildeo Ele estaacute ao fundo na direita sentado sobre uma simples banqueta tocando e cantando a muacutesica TERRA de Caetano Veloso Numa mesa mais deslocada agrave direita baixa sob um foco de luz estatildeo sentados Luciano e Francisco Observam o muacutesico ateacute o final da muacutesica Os dois estatildeo em silecircncio entorpecidos mas NAtildeO estatildeo embriagados ora fumando ora bebendo Aliaacutes fumam muito)

Muacutesico ndash A pedidos (comeccedila a dedilhar a proacutexima muacutesica CAacuteLICE de Chico Buarque de Hollanda)

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QUINTO

ENSAIO

Francisco ndash A Pedidos Por que ele falou isso

Luciano ndash Porque algueacutem pediu

Francisco ndash Foste tu

Luciano ndash Fui eu

Francisco ndash Tu eacutes um merda mesmo Essa muacutesica se chama Caacutelice

Luciano ndash Foda-se

Francisco ndash Caacutelice

Luciano ndash Taacute E esse Festival

Francisco ndash JOTE-titac Jogos Jogos

Luciano ndash Jogos Certo O que acontece Eacute um tipo de RPG

Francisco ndash Tu parece crianccedila poxa Trata-se de um concurso cecircnico de cunho cultural onde grupos e autores participam Os grupos com seus elencos e teacutecnicos e os autores por sua vez com seus textos Tendeu

Luciano ndash Putz Taacute parecendo telecurso segundo grau explicando uma soma de quadrados

Francisco ndash Entatildeo faz o seguinte o seu merda

Luciano ndash Faz o quecirc

Muacutesico ndash Um minuto de intervalo e voltamos jaacute

Francisco ndash Caraiu Na horinha neacute Vai meu filho vai Vai laacute

Luciano ndash Porra cara Tu natildeo ias falar de uma peccedila de teatro que tu ias escrever

Francisco ndash Vou falar Calma

Luciano ndash Tocirc calmo

Francisco ndash Entatildeo

Luciano ndash Vamu laacute

Francisco ndash NuTE

Luciano ndash Hatilde Que eacute isso

Francisco ndash Aiacute natildeo vai dar Tu eacutes muito ignorante porra

Luciano ndash Fala aiacute cacete Eu sou bom em entender as coisas

Francisco ndash Entende nada De cultura tu natildeo entendes nada

Garccedilom ndash (aparecendo de repente Trata-se do muacutesico disfarccedilado) Mais alguma coisa

Luciano ndash Hatilde Deixa eu ver Peraiacute Tu saberias me dizer por um acaso do destino o que significa a palavra NuTE

Garccedilom ndash Pois natildeo o Nuacutecleo de Teatro e Escola fundado Nuacutecleo de Teatro Experimental por Alexandre Venera dos Santos em 1984 tendo muitos e importantes colaboradores durante vaacuterios anos em que atuou na Sociedade Dramaacutetico Musical Teatro Carlos Gomes de Blumenau eacute foi e continua sendo uma das maiores correntes artiacutesticas legiacutetimas do sul do Brasil

Luciano ndash Hatilde

Garccedilom ndash Eacute servido com molho madeira batata frita e salada Mais alguma coisa

Francisco ndash Deixa ele O lance eacute o seguinte Luciano

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QUINTO

ENSAIO

Luciano ndash Fala aiacute Francisco

Francisco ndash Decorou o nome neacute

Luciano ndash Fala da tua peccedila caralho

Francisco ndash Entatildeo Vamos supor o seguinte aiacute o negoacutecio consiste em vocecirc escrever um texto E eu escrevi um

Luciano ndash Sim Adiante

Francisco ndash Eacute assim oacute (blackout) Hummmmmm acabou a luz (o cenaacuterio muda de lugar em 90 graus A luz volta O muacutesico volta)

Muacutesico ndash Desculpem a falha teacutecnica Com vocecircs uma muacutesica da nossa querida Juliana Muller

Francisco ndash Nossa Sou tarado nessa mulher

Luciano ndash Se concentra porra

Francisco ndash Mas ela eacute gostosa

Luciano ndash Pensa no Tadeu

Francisco ndash Aiacute tu forccedilas a amizade Tu sabes que o veacuteio Tadeu eacute gecircnio

Luciano ndash Dizem que o Tadeu eacute um Bruxo

Francisco ndash Parece que bebe Mas taacute Laacute vai Eacute assim oacute o cara eacute um detetive que vai narrando os acontecimentos num gravador como se descrevesse uma cena

Luciano ndash Como seria

Francisco ndash Fique atento A luz se apaga Ele estaacute com uma lanterna Respira ofegante (enquanto vai falando a luz muda e ele assume a personagem do detetive Existe muita fumaccedila no ambiente agora Ele carrega uma arma com

uma das matildeos e com a outra empunha uma lanterna) Vejo um caminho por aqui Vou seguir em frente Estaacute bem nublado Aqui termina a trilha Estou ouvindo um ruiacutedo acho que eacute um riacho Haacute uma pequena represa aqui Estaacute bem escorregadio Mas estaacute relativamente faacutecil de Tem algueacutem aiacute Tem algueacutem aiacute Escutei sons de passos mais adiante Parado Parado eu jaacute disse Parado ou eu atiro Ele estaacute fugindo (Anda por entre a plateia lentamente com a arma e a lanterna A fumaccedila em abundacircncia continua Logo se pode ver trecircs lanternas em meio agrave escuridatildeo sendo duas na plateia de lados opostos e outra no palco Francisco fala para a segunda lanterna na plateia) Quem eacute vocecirc Fique parado Bote sua arma no chatildeo junto com a lanterna Agora

Luciano que agora eacute outro ndash Calma Sou amigo Natildeo atire Calma por favor calma

Francisco ndash Quem eacute vocecirc

Luciano ndash Um amigo

Francisco ndash O que vocecirc fazia na casa de Elizabeth

Luciano ndash Elizabeth Eu fui avisaacute-la Algueacutem estaacute tentando matar Elizabeth (Ouve-se um tiro A terceira lanterna sai correndo em disparada Luciano cai no chatildeo)

Francisco ndash Natildeatildeatildeo

Luciano ndash Eu amava Elisabeth Jamais faria mal a ela

Francisco ndash Quem a queria morta Diga o nome

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QUINTO

ENSAIO

Luciano ndash Lorival

Francisco ndash Natildeatildeatildeatildeatildeooooooo (Novo blackout Ao voltar a luz o cenaacuterio estaacute totalmente invertido O muacutesico em sua banqueta e os dois amigos sentados agrave mesa Muacutesica Aacuteguas de marccedilo de Tom Jobim)

Luciano ndash E aiacute Acabou Ele morre e o bandido foge

Francisco ndash A arte imita a vida meu amigo

Luciano ndash Tu estaacutes mentindo Tu nunca dirias uma besteira dessas

Francisco ndash Tens razatildeo Mas somos artistas Vivemos em mundos onde tudo eacute possiacutevel posto que eacute feito de ideias de imaginaccedilatildeo sons e imagens Cores e formas

Muacutesico ndash E poesia Aacutetomos Nuacutecleos

Francisco ndash Isso mesmo E poesia porque se trata de uma homenagem ao belo ao fundamental nas nossas vidas Pra alimentar nossos espiacuteritos Jaacute tatildeo sofridos

Luciano ndash E como seraacute o tiacutetulo

Francisco ndash Eu natildeo faccedilo a menor ideia (Ficam os dois em silecircncio contemplativo)

Muacutesico ndash A pedidos (With Or Without You do U2 Os dois se olham interrompendo o fluxo de cigarros A luz vai saindo em Fade Out O cenaacuterio gira e agora todos estatildeo de costas com uma luz contra muito tecircnue Os dois continuam gesticulando na mesa como se conversassem O muacutesico continua) Queremos agradecer as

pessoas que fazem o mundo brilhar Alexandre Venera dos Santos Wilfried Krambeck Carlos Crescecircncio dos Santos Peacutepe Sedrez Siacutelvio da Luz Giba de Oliveira Niralciacute Ferreira Rosane Magaly Martins Tacircnia Rodrigues Antocircnio Leopolsky Janice Penzzotti Jeniffer Penzzotti Klaus Jensen Tadeu Bittencourt Eacutedio Raniere Joseacute Aparecido da Silva Juliana Muller Leonel Campos Wladimir Juliano Treiss Cristiane Muller Joseacute Ronaldo Faleiro Otto Aacutelvaro Tanise Diogo Pollyanna Maria da Silva Andrea dos Santos Polly Vendrami Kadu Nassau de Souza Douglas Zuninno Janaiacutena Gabriela Luciana May Denniz Raduumlnz Juceacutelia Zimmermann (aqui poderatildeo ser incluiacutedos outros nomes que provavelmente foram omitidos por puro esquecimento Na saiacuteda da plateia essa relaccedilatildeo deveraacute ser entregue com a ficha teacutecnica do elenco)

FIM

ONDE SE ESCREVE COM IMAgENS E SONSEnsaio wwwyoutubecomwatchv=0LpZEZRun4MEntrevista wwwyoutubecomwatchv=jix56Qib3tg

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QUINTO

ENSAIO

APRESENTACcedilAtildeO DOS ESPETAacuteCULOS ou Quando se Experimenta

OITO OLHARES sobre o NuTE

CRINU E CASTITE

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Texto de Dostuevisqui da SilvaGrupo LEGUME PalhaccedilosDireccedilatildeo Telja RebelattoElenco Ana Peres Batista Juliana Goldfeder Charles AugustoMuacutesico Lucio LocateliProduccedilatildeo Italo ReisFotografia Glaucia MaindraImagem-documentaacuterio Glaucia Maindra Italo ReisMaquiagem Ana Peres BatistaFigurino Juliana Goldfeder Telja RebelatoIluminaccedilatildeo Charles AugustoCenografia O GrupoCoreografia Telja Rebelato Ana Peres Batista e Juliana Goldfeder

Espetaacuteculowwwyoutubecomwatchv=4hE9tk8zg7k

MAQBEacuteTE UMA INTERFEREcircNCIA NA TRANSMISSAtildeO

Texto de Iran da SilveiraGrupo Elementos em CenaDireccedilatildeo Cleber Lach Codireccedilatildeo Roberto MurphyElenco Dorly Luchini Luacutecio Mello Roberto Murphy Juliana Skutnik Adriana DellagustinaSonoplastia Rubens Iluminaccedilatildeo Rubia Cris

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=lWClvHpyisw

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O DE PRETO O DE BRANCO E OS DE CORES ou um despretensioso questionamento

Texto de Wilfried KrambeckGrupo Trupe SOU de Experimentaccedilotildees TeatraisDireccedilatildeo Geral Gisele BauerElenco Ana Acaacutecia Schuarz Schuumller Faacutebio Schmidt Fernanda Borges Raupp Kaio Gomes Bergamim Mariluce Rodrigues de FreitasSonoplastia Ramon Jerocircnimo Trajano e Carlos Alexande SchurubbeProduccedilatildeo Anna Mock

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=PVPk3U91iEQ

O MONSTRO DE NUTESTEIN

Texto Wilfried KrambeckGrupo Grupo AmaDoresDireccedilatildeo Marco Antonio de Oliveira e Samantha BernardoElenco Daniella Curtipassi Leonel Curtipassi Marco Antonio de Oliveira Mariella Kratz Samantha BernardoProduccedilatildeo Alexandre Silveira Daiana Hostins Diego Vargas Guilherme Reddin Ruan Rafael RosaFotografia Imagens e Sonoplastia Grupo AmaDores

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=zQcabJ0A8a8

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QUINTO

ENSAIO

TRABALHO SUJO

Texto de Iran da SilveiraGrupo KonvidadosDireccedilatildeo Rafael KoehlerElenco Angelene Lazzareti Daidrecirc Thomas Daniela Farias Edegar Starke Joanna Oliari Kriseacuteven Campana e Rafael KoehlerCoreografia Edegar StarkeSonoplastia Joanna OliariFigurino Luacute MayProduccedilatildeo Pedro Wolff e Bianca MacoppiImagem-documentaacuterio Bianca Macoppi e Rafael KoehlerIluminaccedilatildeo Joanna Oliari

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=9Bk5DUrY-eQ

O AUTOR ESQUARTEJADO

Texto de Afonso NilsonGrupo Kontra Senha do Lado AvessoDireccedilatildeo Silvio Joseacute da LuzElenco Patriacutecia Aracelli Bieging Anna Lena Riffel Igor Trapinauska Nayara Aline Schmitt Azevedo Katherine HogeProduccedilatildeo Cristiane Serpa da Luz Katherine HogeFigurino e Cenaacuterio O GrupoMaquiagem Patriacutecia Aracelli BiegingIluminaccedilatildeo Silvio Joseacute da Luz

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=9Bk5DUrY-eQ

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QUE CHEIRO Eacute ESSE

Texto de Wilfried KrambekGrupo BadulakDireccedilatildeo Jean MassaneroElenco Aline Barth Elisangela Franccedila (Zanza) Jorge Gumz Leomar Peruzzo Suellen JunkesIluminaccedilatildeo Jean MassaneroSonoplastia Aline BarthCenografia Kethlin Luana GusawaFigurinos Bruna Aline Moraes Suellen Junkes Priscila Franzoi Elisangela FranccedilaMaquiagem Bruna Aline Moraes Priscila Franzoi Suellen Junkes Jorge GumzProduccedilatildeo Kethlin Luana GusawaFotografia Dora MoraesImagem-documentaacuterio Priscila FranzoiParticipaccedilatildeo Especial Maicon (violino)Recomendaccedilatildeo 18 anos

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=IfWQ9Jfc_ZE

A PEDIDOS

Texto de Giba de OliveiraGrupo Equipe ViacutesCera de TeatroDireccedilatildeo Maicon Robert KellerElenco Cleiton Jr Pereira da Rocha Ciacutentia Daniela Galz Ciacutentia Tribess Denis Roberto Inaacutecio Evair Graciola Mayara Luana VoltoliniMaquiagem Fabriacutecio Gustavo Gesser CardosoIluminaccedilatildeo Maicon KellerCenografia e Figurinos Equipe ViacutesCera de TeatroProduccedilatildeo Executiva Fabriacutecio Gustavo Gesser CardosoProduccedilatildeo Geral Equipe ViacutesCera de Teatro

Espetaacuteculo wwwyoutubecomwatchv=U1ZpVSuj_3I

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QUINTO

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cena do espetaacuteculo ldquoa mortardquo atriz-paacutessaro janaina meneghel

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SEXTO

ENSAIOSEXTO ENSAIO - 08 DE JULHO DE 2015

Ensaio Final de Quarta-feiraNo reloacutegio do bar marcam 23h12min

Imagem Insistente Estreia

Passamos os meses de maio e junho trabalhando quase que diariamente no espetaacuteculo Com a estreia marcada para 10 de julho ontem e antes de ontem tentamos um ensaio geral Apesar de um grande esforccedilo coletivo a sensaccedilatildeo que transbordava era de um espetaacuteculo ainda em desenvolvimento parecia natildeo estar pronto carecia de algo precisava ser finalizado No ensaio de hoje agrave noite mais uma vez isso se repetia O grupo um tanto ansioso com a estreia um tanto perturbado com o inacabado entreolhava-se todos os corpos mesmo os inumanos e ateacute os imoacuteveis transpiravam interrogaccedilotildees Como vai ser O que fazer O puacuteblico vai gostar Algueacutem vai nos criticar Vatildeo nos aplaudir Vai aparecer um personagem ressentido que natildeo foi entrevistado nos acusando de usar indevidamente o dinheiro puacuteblico Vai aparecer uma empresa muito impressionada com nosso trabalho querendo patrocinar um novo projeto via alguma lei de incentivo agrave cultura Vatildeo nos amar odiar desprezar Ficaratildeo entediados surpresos assustados Algueacutem vai sorrir E laacutegrimas Seraacute que

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SEXTO

ENSAIO

Laacute pelas tantas Silvinho propotildee uma intervenccedilatildeo etiacutelica O bar a essa altura do campeonato parecia ser realmente a uacutenica soluccedilatildeo possiacutevel Fomos beber

Chegando ao estabelecimento aproximamos duas mesas e solicitamos ao garccedilom a primeira rodada de cerveja pois em Blumenau mesmo no frio de julho sempre se bebe cerveja Depois da quinta ou sexta rodada algumas boas ideias comeccedilaram a surgir

ndash E se no meio da peccedila a gente explodir tudo podemos citar O Homem do Capote e mandar tudo pros ares teatro puacuteblico cadeira BUMMMM tudo voando voando ia ser lindo

ndash Eacute uma boa Faria sucesso de criacuteticandash Olha pessoal pra dizer a verdade eu

acho que faltou alguma coisa por isso estamos assim

ndash Assim como becircbados ndash risosndash Meu analista sempre diz que a falta tem

relaccedilatildeo com o Complexo de Eacutedipondash Eacutedipo Quem sabe se a gente chamasse a

tua matildee entatildeondash Natildeo porra Tocirc falando seacuterio Tipo a editora

πpa por exemplo eacute uma marca forte do NuTE Numa eacutepoca que circulava pouquiacutessimo material sobre teatro na regiatildeo o que se conseguia traduzir por sorte encontrar ou mesmo produzir publicava-se por laacute onde eacute que se fala dessas publicaccedilotildees

ndash No Quarto Ensaiondash Taacute mas pera laacute o que acontece natildeo vai aleacutem

de uma citaccedilatildeo Lembro que Alexandre havia

deixado pra gente aleacutem dos aperitivos cecircnicos um tal de Aperitivo Livretante Esse Aperitivo Livretante era sobre a editora πpa O problema eacute que ningueacutem utilizou porque aquele merda do Ator Guerrilheiro provocou uma guerra dentro do grupo a maioria dos atores abandonaram os ensaios mal conseguimos encenar o aperitivo escolhido Ou seja natildeo existe nenhuma cena sobre essas publicaccedilotildees

ndash Por isso que eu sugeri chamar a tua matildee tais entendendo agora Podemos sentar a veacuteia numa banqueta e dar uma plaquinha pra ela ficar segurando PIPA Vai ficar joia joia

ndash Eu acho que o que estaacute publicado fala de si com muito mais forccedila do que aquilo que tenta interpretaacute-lo Natildeo tinha uma rubrica no projeto destinada a impressotildees de material

ndash Sim Natildeo usamos nada ainda taacute laacute esperando

ndash Por que entatildeo a gente natildeo seleciona esse material publica em formato de livreto e distribui ao puacuteblico durante nossas apresentaccedilotildees

ndash Eacute uma boa ideiandash Eacute uma excelente ideiandash Eacute uma ideia que merece um brinde ndash Cacete acabou a cerveja Garccedilom Traz

mais quatro cervejas aqui por favorO garccedilom trouxe as cervejas Bebemos As

cervejas acabaram pedimos mais uma rodada Depois da comemoraccedilatildeo borbulhante um silecircncio travoso amargava na boca Amargou amargou ateacute que Juliana pedindo mais uma rodada saiu com essa

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SEXTO

ENSAIO

ndash Eu ainda acho que faltou pesquisa sobre a Estereocena

ndash Bobagem a Estereocena aparece no Segundo Ensaio Tem um trecho enorme da entrevista do Alexandre explicando o que eacute vocecirc ateacute participa da cena lembra Com os projetores multimiacutedia

ndash Sim sim eu sei mas tudo acontece num relacircmpago eacute raacutepido demais pra importacircncia que tem Acho que poderiacuteamos ter explorado mais

ndash O que dizer entatildeo do JOTE-Titac ndash interrompe Wilfried

ndash Natildeo Wilfried peraiacute cara Tem um Ensaio inteiro sobre o JOTE-Titac

ndash Mas eacute pouco deveria ter mais coisasndash Tipo o quecircndash Tipo uma cronologia como aquela do

Terceiro Ensaio onde apareceriam os textos premiados seus respectivos autores bem como os espetaacuteculos encenados Algo com maior embasamento histoacuterico Acho justo porque o JOTE-Titac foi uma das coisas mais intensas do NuTE

ndash Mas isso jaacute foi feitondash Ondendash No livro Jogos de Teatro 12 anos de

Teatro em Blumenau publicado pela Cultura em Movimento em 2000

ndash Sim mas eacute um tratamento totalmente diferente do que estamos dando aqui Insisto pois existem quilos de material inclusive catalogados pela pesquisa sobre as treze

ediccedilotildees do JOTE-Titac que natildeo utilizamos pra nada

ndash Olha ndash diz Peacutepe pegando um gancho ndash se for pra fazer mais um Ensaio sobre o JOTE-Titac acho que o foco entatildeo deveria ser a pulsaccedilatildeo artiacutestica que acontecia ao redor do NuTe os poetas os muacutesicos os artistas plaacutesticos os bailarinos todo aquele clima de efervescecircncia artiacutestica que rolava bem como todos os grupos de teatro que se formaram dentro do NuTE Antes de montarmos a Cia Carona de Teatro por exemplo havia o Grupo Carona para Irmatildeo Sol e Irmatildeo Lua ambos foram antecedidos pelo Grupo Meu Grupo que nasceu dentro do NuTE Tudo comeccedilou ali Sobre isso quase nada foi dito Acho que satildeo coisas que ficaram agrave margem

ndash Mas Peacutepe esse troccedilo daria outro livro digo outro espetaacuteculo

ndash Cada um desses temas daria outro espetaacuteculo por si soacute

ndash Isso eacute verdade ndash respiraccedilotildees As palavras se calam apenas os copos conversam

ndash Garccedilom traz mais quatro cervejas por favor

Depois de alguns goles emudecidos Afonso diz

ndash E se ao inveacutes de preencher com algo faltante criaacutessemos alguns buracos pra coisa toda escapar

ndash Do que vocecirc estaacute falandondash Daacute licenccedila lembrei de que preciso ir ao

banheiro

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SEXTO

ENSAIO

ndash Talvez ndash Afonso explica ndash estejamos procurando no caminho errado parece-me que o espetaacuteculo natildeo precisa de algo a mais mas sim de uma fissura por onde escapar um duto atraveacutes do qual ele possa correr para todos os lados uma linha de fuga

ndash Acho que vocecirc estaacute becircbado ndash gargalhadas

ndash Peraiacute pessoal vamos tentar entender a ideia

ndash Taacute bom Entatildeo me diz como eacute que vamos abrir buracos ndash risos ndash num espetaacuteculo

ndash Bem eu natildeo tenho exatamente uma receita pronta pra fazer isso mas se vocecircs concordarem podemos comeccedilar aceitando o fato de que o NuTE natildeo cabe em um espetaacuteculo

ndash Como assim

ndash Acho que deveriacuteamos aceitar que nossa pesquisa eacute falha fraacutegil que construiacutemos um mapa provisoacuterio um mapa que para funcionar bem precisa ser conectado a outros mapas e esses outros mapas nem existem ainda estatildeo por vir

ndash Eu natildeo concordo com isso Em minha opiniatildeo o espetaacuteculo precisa abarcar o NuTE como um todo

ndash Como um todo ou como um tolo ndash risos

ndash Quem comeu o tolo ndash mais risos

ndash O Tolo ou o Bolo ndash ningueacutem achou graccedila Constrangimentos Calados todos bebem

ndash Cara essa ideia de todo eacute meio boba vocecirc natildeo acha

ndash Bobandash Eacute Meio ingecircnua Quem eacute que consegue

realmente fazer isso A descriccedilatildeo eacute sempre parcial Para se falar sobre qualquer coisa deixamos de falar sobre inuacutemeras outras Natildeo tem jeito de escapar Lembra quando Barthes diz que escrever eacute um gesto poliacutetico que vocecirc precisa optar a cada letra a cada viacutergula por uma esteacutetica por uma eacutetica33

ndash Se estou entendo bem vocecirc estaacute querendo me convencer de que deixar a coisa pela metade eacute aceitaacutevel

ndash Mais que isso Estou tentando te dizer que o fragmento eacute muito mais interessante que a totalidade

ndash Vocecirc pode ateacute achar o fragmento mais interessante agora para que as pessoas consigam entender o que foi o NuTE elas precisam do todo O fragmento natildeo vai ajudaacute-las a aprender melhor

ndash Aprender Mas por que cargas drsquoaacutegua te preocupas em ajudar as pessoas a aprender Natildeo haacute nada para se aprender aqui O que estamos fazendo passa muito mais por uma esfera artiacutestica do que racional Isso aqui natildeo eacute catequese natildeo eacute aulinha de telecurso do segundo grau Soacute queremos servir agrave histoacuteria agrave medida que ela serve para a vida Se a histoacuteria natildeo serve para a vida ela natildeo nos serve34

ndash Ah Essa eacute boa Se a funccedilatildeo desse espetaacuteculo natildeo eacute construir um aprendizado sobre o NuTE entatildeo ele serve pra quecirc

ndash Para libertar as pessoas

33 Roland Barthes em Grau Zero da Escritu-ra

34 Friedrich Nietzs-che Da utilidade e des-vantagem da histoacuteria para a vida

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SEXTO

ENSAIO

ndash Vocecirc estaacute becircbado soacute pode ser ndash risosndash Entatildeo vou chamar algueacutem soacutebrio que fale

por mim Pode serndash Vai ser difiacutecil encontrar um por aqui

hein ndash risos Afonso apanha sua mochila preta e retira

de dentro dela um volumoso livro de capa esverdeada Folheia algumas paacuteginas ateacute chegar agrave 147 Por fim aos ouvidos ansiosos em sua volta sorrindo potildees-se a ler

Torna-se decisivo que o abandono da totalidade natildeo seja pensado como deacuteficit mas como possibilidade libertadora ndash de expressatildeo fantasia e recombinaccedilatildeo ndash que se recusa a ldquofuacuteria do entendimentordquo35

ndash Na minha opiniatildeo se essa foi se noacutes a utilizamos para levantar esse espetaacuteculo tambeacutem deve continuar sendo a poliacutetica do NuTE Mesmo sem saber mesmo quando natildeo era proposital NuTE sempre esteve work in progress Se utilizamos o mesmo recurso para montar um espetaacuteculo sobre esse tema precisamos minimamente zelar por essa estrutura Tentar falar do NuTE atraveacutes de uma totalizaccedilatildeo eacute trair o processo NuTE que sempre preferiu os fragmentos que sempre buscou libertar a si mesmo e ao mundo da fuacuteria do entendimento da grande razatildeo da consciecircncia que tudo apreende que tudo sabe que tudo ensina que tudo enjaula tranca aprisiona Natildeo podemos ter a arrogacircncia a presunccedilatildeo e a prepotecircncia de querer ensinar as pessoas o que foi o NuTE Montar uma NuTE-Biografia eacute ridiacuteculo eacute romacircntico demais

35 A expressatildeo ldquofuacuteria do entendimentordquo eacute de Jochen Horisch a ci-taccedilatildeo foi extraiacuteda de Teatro Poacutes-Dramaacutetico de Hans-Thies Leh-mann

eacute pateacutetico Se algum cheiro sabor clima tom nuteanescos chegarem agraves pessoas atraveacutes de nosso espetaacuteculo eacute justamente porque ele natildeo eacute totalitaacuterio eacute porque conseguimos de alguma forma manter o processo em aberto Natildeo podemos transformar a vida palpitante plena de energia num produto finalizado bom apenas para se expor em vitrines Aleacutem do quecirc NuTe escapa por todos os lados natildeo permite uma apropriaccedilatildeo parece haver intrincado em seu proacuteprio funcionamento uma maacutequina anarco-rizomaacutetica que estende suas paisagens-memoacuteria em muacuteltiplos sentidosdireccedilotildees NuTE natildeo se deixa apanhar governar definir catalogar restringir dizer o que eacute Assim se esta pesquisa se quer filiada ao que busca pesquisar nada melhor que anunciar suas fragilidades seus equiacutevocos suas dificuldades Nada mais natural que provocar outros pesquisadores a escrever-encenar sobre o NuTE Pois era assim que tudo funcionava dentro do NuTE Certa vez escutei Alexandre Venera dizendo que o momento mais interessante de um espetaacuteculo eacute a sua montagem Por que natildeo fazemos disso o nosso refratildeo

ndash Porque agora meu caro filoacutesofo noacutes precisamos estrear depois de amanhatilde vai acontecer a estreia deste trabalho e natildeo vai ter nenhum desses conceitosinhos bonitos no palco para nos proteger de um grande vexame

ndash Pessoal eu sei que estamos haacute um bom tempo nos dedicando a esse espetaacuteculo Sei que as pessoas viratildeo nos assistir Muitas delas estatildeo esperando assistir uma Nute-Biografia

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SEXTO

ENSAIO

uma historinha iniacutecio-meio-fim sobre o NuTE O que precisamos responder para noacutes mesmos eacute afinal de contas o que noacutes temos para dar a elas O que vamos apresentar O que temos para encenar

ndash Ensaiosndash Exatamente Vamos apresentar nossos

ensaios nossos fragmentos Nossas tentativas de montar um espetaacuteculo Ou melhor a proacutepria montagem Vamos lhes apresentar nas palavras de Venera aquilo que haacute de mais interessante num espetaacuteculo Eacute isso que vamos encenar Se estiveacutessemos escrevendo um livro e a estreia fosse sua publicaccedilatildeo seria correto dizer que mesmo depois de publicado ele continuaria em desenvolvimento Nonstop Work in Progress Jaacute que a biblioteca Nutrindo permaneceraacute aberta a novos nutrientes materiais encontrados em pesquisas que estatildeo por vir o blog NuTE Para Todos vai hospedar a publicaccedilatildeo para que todos possam livremente baixar ler comentar quando e como lhes parecer melhor Assim as discussotildees realizadas que se acumularam durante a montagem natildeo param por aqui vatildeo continuar acontecendo mesmo depois da estreia-publicaccedilatildeo Trata-se de um espetaacuteculo em devir onde natildeo interessa tanto a histoacuteria factual os proacuteprios fatos mas sim algo que a arte permite acessar e que as convenccedilotildees da vida cotidiana tendem a bloquear Nesse sentido o espetaacuteculo natildeo serve como um totalizador histoacuterico do que aconteceu mas sugere pistas de como acontecia dos principais nutrientes e dos venenos mais consumidos forccedilas natildeo menos intensas que o fizeram improdutivo em

sua uacuteltima fase ndash Olha isso taacute muito lindo tocirc ateacute ficando

emocionado natildeo sei se eacute a cerveja agraves vezes me daacute uma caganeira desgraccedilada Mas vocecirc acha mesmo que podemos sustentar o espetaacuteculo nessa coisa meio sem chatildeo que a arte permite acessar e que a vida cotidiana tende a bloquear Isso natildeo fica meio como dizer solto quase metafiacutesico um papo de becircbado natildeo

ndash Tudo eacute deliacuterio mesmo o mais seacuterio dos burocratas passa a vida a se embriagar com coacutedigos sistemas nuacutemeros Mesmo o revolucionaacuterio que tomou para si a missatildeo de melhorar o mundo conscientizando as massas iluminando a todos mesmo Don Quixote ou o mais sisudo dos empresaacuterios de terno e gravata tambeacutem o Cavaleiro Inexiste uma dona de casa lavando roupa um pescador na proa do barco ou Gurdulu em sua sopa todos deliram Natildeo existe outra saiacuteda para a existecircncia humana que natildeo seja o deliacuterio

ndash Isso tambeacutem eacute bonito mas natildeo diz merda nenhuma

ndash Natildeo diz pra ti estaacute tudo aiacute seu babaca ndash Tudo o quecircndash Vou tentar te explicar com laranjas

Presta atenccedilatildeo A vida humana impotildee um problema a todos Indiferente de classe social gecircnero etnia crenccedila grau de inteligecircncia ningueacutem ningueacutem mesmo atravessa a vida sem responder a isso Se vocecirc quiser conversar com os humanistas de plantatildeo talvez esta possa ser a condiccedilatildeo humana aquilo que nos

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ENSAIO

difere dos outros animais Ter que responder a isso ou melhor responder a isso eacute o que passamos a vida fazendo Eacute um problema bem simples ateacute de se colocar Mas a sua resposta eacute muacuteltipla existem centenas de milhares de possibilidades E a vida de cada um de noacutes eacute exatamente aquilo que conseguimos dar como resposta a esse problema O NuTE portanto meu caro eacute uma resposta

ndash Mas do que vocecirc estaacute falando agora cacete resposta do quecirc Que maluquice de problema universal eacute esse que o NuTE responde

ndash O NuTE eacute uma resposta agrave finitude da vida uma resposta agrave morte A gente falou um pouco sobre isso no Quarto Ensaio lembra Qualquer inseto camundongo cachorro girafa avestruz percevejo ou rinoceronte eleva ao maacuteximo o grau de potecircncia em sua vida Com exceccedilatildeo do homem os animais estatildeo instintivamente equipados para fazer de sua pequena existecircncia um nuacutecleo de poder Mas nossa espeacutecie foi amaldiccediloada com a consciecircncia sabemos que vamos morrer sabemos que enquanto estivermos vivos vamos sofrer e sabemos que natildeo haacute sentido natural nisso Eis o problema humano o que fazer com isso como lidar com essa falta ou na formulaccedilatildeo proposta por Grotowski Como Viver

ndash Vocecirc estaacute insinuando que Deus natildeo existendash Natildeo Estou dizendo que Deus eacute uma

respostandash Ah Bom pensei que vocecirc fosse O quecirc

Uma resposta Vocecirc quis dizer que Deus eacute a resposta

ndash Natildeo Eu quis dizer exatamente o que disse Deus eacute uma resposta assim como a ciecircncia eacute uma reposta assim como a arte eacute uma resposta assim como a cerveja o sexo o dinheiro o trabalho o amor passar a vida economizando cada centavo para comprar aquela casa aquele carro aquela roupa satildeo respostas que nos conectam com a vida Eis o sentindo mais profundo do Religare Enquanto nos ocupamos em responder esquecemos temporariamente o problema e assim a vida se torna possiacutevel

ndash Mas isso eacute um absurdo ndash interrompendo ndash Vocecirc natildeo pode colocar Deus NuTE um carro por melhor que seja mesmo se for uma Ferrari no mesmo niacutevel de uma peccedila de roupa ou de um copo de cachaccedila

ndash Olha querido vou te contar dependendo a peccedila de roupa que eu quiser comprar pode custar o mesmo preccedilo da sua Ferrari ndash risos

ndash Ah Vatildeo agrave merda Natildeo eacute disso que estou falando e vocecircs sabem Se tudo eacute igual se tudo vale a mesma coisa se nada eacute melhor ou pior entatildeo esse espetaacuteculo eacute um presente de grego Promete levar o puacuteblico a experimentar NuTE em sua embriaguez dionisiacuteaca seu Work in Progress de intensidades e deliacuterios mas o que realmente faz eacute cavar um buraco niilista para enterrar a todos Seduz o puacuteblico tal qual o Flautista de Hamelin com belas imagens e conceitos e quando todos estatildeo dentro do espetaacuteculo abre o chatildeo e os despeja num imenso vazio Ao inveacutes de chamar NuTE Para Todos esse projeto deveria ter sido batizado de

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SEXTO

ENSAIO

Niilismo Para Todosndash Garccedilom traz mais umas cinco cervejas

por favorndash Acabou meu cigarro posso pegar um dos

teusndash Claro Algueacutem mais quer Vou deixar aqui

na mesa se quiserem eacute soacute pegarDennis acende um cigarro toma um gole da

cerveja gelada que acabou de chegar e por fim quando o copo se assenta na mesa categoacuterico respira

ndash A casa comeccedila no caos sendo acaso caacutelculo coito como sacas de cal ou sinais escavados caiados nos ocos36

ndash E daiacutendash Quis dizer que soacute existe um jeito de se

ultrapassar o niilismo ndash silecircncio ndash Indo ao fundo ao mais profundo ao para

aleacutem da casa vazia Amor Fati ndash Escuta acho que estou um pouco becircbado

do que ele estaacute falando heinndash Que para superar o niilismo eacute preciso

encaraacute-lo de frente ou seja aceitar a vida como ela se apresenta Topar a finitude o sofrimento a ausecircncia de sentido como o pedreiro toma um saco de cimento para construir uma casa Se jaacute natildeo conseguimos mais nos esconder na barra da saia de um Deus morto precisamos encontrar fabricar novas respostas que nos religuem agrave vida nua agrave vida crua agrave vida finita traacutegica e incrivelmente bela Trata-se de experimentar o vazio em toda sua plenitude para ter condiccedilotildees de preenchecirc-lo com boas respostas Antes de

36 Trecho do poema Cultivo do Acaso de Dennis Raduumlnz in Li-vro de Mercuacuterio

comeccedilar a levantar paredes eacute preciso limpar o terreno preparar o aterramento e a fundaccedilatildeo colocar as vigas e aiacute sim com muito cuidado assentar tijolo a tijolo Trata-se de uma casa que nunca se termina de construir Work in Progress infinito invenccedilatildeo de si de mundo de uma vida como obra de arte

ndash A estes e apenas a estes que procuram por uma vida como obra de arte noacutes apresentaremos um espetaacuteculo como obra viva um espetaacuteculo em desenvolvimento que se pode ajudar a construir que natildeo estaacute morto mumificado pronto para ser aprendido vendido comprado numa prateleira do mercado A melhor ilusatildeo eacute a proacutepria vida amar o destino aceitaacute-lo desejar seu eterno retorno Eis nosso presente apoliacuteneo ao mundo um espetaacuteculo para todos e para ningueacutem

ndash Calma cara vocecirc estaacute ficando um tanto megalomaniacuteaco Tira a cerveja dele

ndash Acho que o efeito do Nietzsche eacute maior do que o do aacutelcool

ndash Entatildeo tira o Nietzsche delendash Mas como se faz isso Em meio a este curioso debate atocircnitos

assistimos se aproximar de nossa mesa Alexandre Venera dos Santos O diretor puxa uma cadeira ao lado de Juliana acende um cigarro e pede um cuba ao garccedilom Constrangido com o silecircncio ruidoso em sua volta pergunta-nos a quantas anda o espetaacuteculo Conta que acabara de fazer download do Quinto Ensaio o qual lhe pareceu uma soluccedilatildeo muito boa para

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o JOTE-Titac e que agora estaacute muito curioso querendo assistir agrave estreia

O exerciacutecio de anotar cenas para a composiccedilatildeo de mundos durante os Ensaios carregou-me a um estranho viacutecio desde entatildeo natildeo consigo mais conviver em grupo sem anotar tudo que se passa em minha volta Em virtude deste malefiacutecio que se apossou de minha natureza estava mais uma vez descrevendo as conversaccedilotildees que ateacute entatildeo ali se fazia naquela mesa de bar Riscos e rabiscos transportados agraves matildeos do diretor que se potildee a ler calmamente enquanto o garccedilom trazia mais duas rodadas de cerveja Bebemos fumamos Giba pediu uma porccedilatildeo de babatas fritas Por fim Alexandre se surpreende dizendo que o NuTE sempre lhe pareceu uma resposta agrave algo embora nunca tivesse se perguntado ao que ele respondia Parabeniza o grupo pela discussatildeo e questiona a validade de um instrumento que generaliza tudo a ponto de ser possiacutevel interpretar qualquer coisa a partir dele Se tudo eacute resposta o que mais me interessa ndash diz Alexandre ndash eacute saber o que produziu o que fez acontecer uma resposta NuTE suas diferenciaccedilotildees respostivas Ou seja o que faz com que a resposta NuTE seja diferente da resposta LUME Equipe Vira Lata Fecircnix O que teria levado esse grupo de pessoas a responderem dessa forma e natildeo de outra37

Novamente apenas os copos conversam Aos poucos a fumaccedila dos cigarros vai se materializando numa espessa nuvem branca Tossindo gaguejando tropicando nas letras uma voz se arrisca

37 Haacute muita publi-caccedilatildeo a respeito do Lume um livro inte-ressante eacute A Arte de Natildeo Interpretar Como Poesia Corpoacuterea do Ator de Renato Fer-racini Sobre Equipe Teatral Vira Lata ver O Jardim das Ilusotildees de Eacutedio Raniere So-bre Grupo Fecircnix natildeo encontramos nenhum livro em especiacutefico po-dem ser consultados artigos de Edith Kor-mann fundadora do grupo e Noemi Keller-man

ndash O que forccedilou esse grupo de pessoas agrave resposta NuTE chama-se Vontade de Poder

ndash Ai ai ai agora o bicho vai pegarndash Olha como diria o saacutebio deputado pior do

que taacute natildeo fica depois do buraco niilista o que vier eacute lucro

ndash Vontade de Poder ndash Alexandre natildeo aceita muito bem a soluccedilatildeo gaguejada ndash Qual seria a relaccedilatildeo da Vontade de Poder com a resposta NuTE

ndash Eacute que A Vontade de Poder se deixa mostrar em todo vivente que tudo faz natildeo para se conservar mas para se tornar mais38

ndash Heinndash Vocecirc estaacute insinuando que o que fezfaz o

NuTE ser NuTE eacute uma Vontade de Dominar de controlar de subjugar as pessoas

ndash Natildeo Natildeo eacute nada disso A Vontade de Poder a qual me refiro natildeo tem nenhuma relaccedilatildeo com algo que queira o poder ou deseje dominar Se interpretamos a Vontade de Poder no sentido de Desejo de Dominar fazemo-la forccedilosamente depender de valores estabelecidos os uacutenicos capazes de determinar quem deve ser reconhecido como o mais poderoso neste ou naquele caso neste ou naquele conflito Desse modo ficamos sem conhecer a natureza da vontade de poder como princiacutepio plaacutestico de todas as nossas avaliaccedilotildees como princiacutepio escondido para a criaccedilatildeo de novos valores natildeo reconhecidos A Vontade de Poder diz Nietzsche natildeo consiste em cobiccedilar sequer em tomar mas em criar e em doar39

38 Wolfang Muumlller-Lauter in A Doutrina da Vontade de Poder em Nietzsche p55

39 Gilles Deleuze in Nietzsche p22

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SEXTO

ENSAIO

ndash Criar e Doar Sabe que esse troccedilo lembra mesmo o NuTE Algueacutem jaacute se perguntou afinal qual era a do NuTE o que eles realmente queriam Se a gente parar pra pensar os espetaacuteculos natildeo eram comerciais nunca se ganhou dinheiro nem fama ou qualquer coisa desse tipo Mas o que se ganhava entatildeo Com que moeda NuTE pagava as contas

ndash Me parece que o que estava em jogo durante os dezoito anos de atividade do NuTE era atingir niacuteveis mais altos na Vontade de Poder permitir que esses niacuteveis aumentassem o proacuteprio poder Eis o que o NuTE fezfaz por noacutes Artaud chegou bem perto de formular isso com clareza quando disse que natildeo eacute a arte que imita a vida mas a vida que imita algo essencial que a arte nos potildee em contato

ndash Natildeo sei se estou entendendo bem me parece que vocecirc estaacute querendo contrapor a vontade de poder agrave consciecircncia humana da finitude eacute isso

ndash De certa forma sim trata-se de uma questatildeo de vida ou morte Um gato natildeo precisa de arte para aumentar sua vontade de poder ele eleva ao maacuteximo grau de potencia sua vida em quase todos os instantes tambeacutem uma aacutervore uma flor ou um jacareacute assim o fazem mas para noacutes a Arte eacute algo vital nos mantecircm vivos sem sua resposta leve todos estariacuteamos bem mais proacuteximos do suiciacutedio dada a ausecircncia de sentido o sofrimento inerente agrave vida e o peso das grandes respostas

ndash Mas entatildeo natildeo seria mais acertado dizer que se trata de uma Vontade de Vida Por que

usar um termo que gera tanta confusatildeo como Vontade de Poder

ndash Porque eacute a forma mais precisa que temos para falar sobre isso Nenhum morto pode desejar mais vida pois dele a vida jaacute se esvaziou assim como aquele que estaacute vivo natildeo tem como querer mais vida jaacute que a vida estaacute nele e ele jaacute estaacute na vida Trata-se de querer ir aleacutem do que se eacute aumentar seu poder Quem participou de um JOTE-Titac sabe bem o que eacute isso

ndash JOTE-Titacndash Sim ou vocecirc acha que as pessoas passam

trecircs dias sem dormir porque querem ganhar um trofeuzinho O que estaacute em jogo realmente eacute uma absurda vontade de criar e de doar de compartilhar um espetaacuteculo Num JOTE-Titac a Vontade de Poder atravessa um escritor que tem seus escritos encenados um diretor cuja concepccedilatildeo estaacute em cena um ator que quer ir aleacutem de si mesmo que se faz cena que se doa ao puacuteblico num corpo-obra de arte

ndash Agora entendi vocecirc estaacute falando eacute daquela adrenalina que toma conta da gente durante o JOTE-Titac

ndash Natildeo Estou falando de um princiacutepio que move o mundo e que em uacuteltima instacircncia move tambeacutem a espeacutecie humana

ndash Taacute taacute taacute soacute natildeo vai comeccedilar a generalizar tudo de novo

ndash Por que vocecirc acha que estou generalizandondash Oras se a Vontade de Poder forccedila todos a

serem o que satildeo e a resposta que discutimos haacute pouco eacute necessariamente dada por todos onde fica o NuTE nisso tudo

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SEXTO

ENSAIO

ndash NuTE Para Todos e para Ningueacutemndash Eu me refiro agrave pergunta do Alexandre se

tudo eacute Para Todos onde estaacute a singularidade-NuTE

ndash Pensar a singularidade de um corpo eacute pensar como a vontade de poder se manifesta nele pois eacute assim que ele responde agrave finitude Ou dizendo de outra forma pensar o processo de diferenciaccedilatildeo de um corpo eacute pensar como ele responde agrave finitude porque eacute assim que se manifesta nele A Vontade de Poder

ndash Beleza entatildeo vamos laacute ndash todos se levantam sacodem a poeira tomam rumo da porta de saiacuteda

ndash Ei seus vagabundos onde eacute que vatildeo sem pagar a conta ndash grita o garccedilom passando a matildeo num cassetete que ateacute entatildeo repousava sob o balcatildeo

ndash Putz algueacutem tem granandash Quanto eacute que deundash Taacute aqui a conta ndash o garccedilom joga a nota

sobre a mesa ndash Caramba Tudo issondash Mas isso eacute um roubo a gente natildeo bebeu

tanto assimndash Todo mundo senta aiacute e podem ir juntando

os trocados senatildeo vou chamar a poliacutecia Tatildeo pensando que eacute vir aqui encher a cara e sair de fininho eacute Beberam a noite toda e agora querem sair sem pagar

ndash Natildeo eacute isso mas eacute que tocirc achando que nove vontades e quatro respostas eacute muito dinheiro Ningueacutem aqui bebeu pra tanto

ndash Beberam sim Ana liga pra poliacutecia ndash o

garccedilom levanta o porrete em tom de ameaccedila Giba retira um canivete do bolso e o chama para briga O pessoal do ldquodeixa dissordquo age rapidamente conseguindo segurar ambos

ndash Calma aiacute meu povo se todo mundo colaborar com um pouquinho a gente consegue pagar e ir embora sem confusatildeo

A trupe passa alguns minutos a esgravatar profundamente carteiras bolsos meias Aos poucos as moedas comeccedilam a tilintar sobre a mesa

V1 ndash Vontade Musical ndash Assistimos no Segundo Ensaio agraves suas principais manifestaccedilotildees em Wilfried e Venera Para aleacutem das personas esta vontade se espalha em todo o grupo Em entrevista Dennis Raduumlnz define o NuTE como uma Banda de Rock

Acho que noacutes eacuteramos uma banda de rock na verdade soacute que noacutes natildeo tocaacutevamos faziacuteamos teatro Noacutes tiacutenhamos essa mesma energia O Faleiro recordo bem as palavras dele (ele recordou isso comigo no ano passado) dizia assim ldquoo que mais me impressionava em vocecircs era a vontade de fazer teatrordquo (paacutegina 12)

V2 ndash Vontade de Saber ndash Uma vontade de saber sobre teatro de conhecer mais de ir aleacutem daquilo que aprendeu mais que isso de ultrapassar o conhecimento da comunidade dos seus pares de todos a sua volta De criar alianccedilas com Mestres distantes estrangeiros de beber em fontes desconhecidas Esta vontade perpassa todos os Ensaios deste espetaacuteculo-

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SEXTO

ENSAIO

livro Suas principais manifestaccedilotildees percorrem um longo caminho vatildeo desde os encontros iniciais que inauguram o espaccedilo NuTE passando pelos cursos de Faleiro Simioni Editora πpa Escola NUTe Internute Mesmo no JOTE-Titac e nas montagens percebe-se uma vibraccedilatildeo intensa pelo conhecimento

V3 ndash Vontade de Ensinar ndash Tal qual a taccedila de Zaratustra pronta para transbordar para derramar esta terceira vontade parte em busca de matildeos que se estendam a ela Assistimos agraves suas principais manifestaccedilotildees no Segundo Ensaio cursos de miacutemica de Wilfried ndash ainda na Sulfabril ndash e os primeiros cursos de teatro dentro do NuTE Tambeacutem assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Quarto Ensaio onde um Nuacutecleo de Teatro Experimental se transforma em Nuacutecleo de Teatro Escola e a Vontade de Ensinar cresce a tal ponto de quase sufocar a Vontade Experimental Tambeacutem eacute possiacutevel perceber suas ressonacircncias em algumas produccedilotildees escritas como exemplo a coluna que Alexandre Venera manteve por anos no Jornal de Santa Catarina e as publicaccedilotildees da Editora πpa

R1 ndash Resposta hoje tem Teatro ndash Assistimos ao desenvolvimento desta resposta no Segundo Ensaio onde Alexandre Venera como coordenador de eventos do Teatro Carlos Gomes responde agrave ausecircncia de teatro dentro do Teatro Este projeto resposta seraacute o estopim para inveccedilatildeo dois anos mais tarde do Trecircs

Terccedilas tem Teatro Ambos os projetos preparam terreno para criaccedilatildeo do JOTE-titac

V4 ndash Vontade de Encenar ndash Assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Terceiro Ensaio atraveacutes do absurdo nuacutemero de espetaacuteculos montados ndash Cento e Oitenta e Quatro - tambeacutem assistimos agraves suas manifestaccedilotildees no Quinto Ensaio atraveacutes do experimento JOTE-Titac Eacute interessante notar como a Vontade de Saber e a Vontade de Encenar por vezes aparecem juntas ndash a didaacutetica utilizada pela Escola NUTe por exemplo onde o aluno aprendia fazendo montando espetaacuteculos bem como vaacuterias montagens do proacuteprio NuTE onde o tempo dedicado agrave pesquisa era superior ao tempo dedicado agrave circulaccedilatildeo agraves apresentaccedilotildees do espetaacuteculo finalizado Vale aqui lembrar mais uma vez a maacutexima de Alexandre Venera segundo a qual o momento mais interessante de um espetaacuteculo eacute sua criaccedilatildeo seus ensaios

R2 ndash Resposta jOTE-Titac ndash Possiacutevel resposta ao formato que o Festival Internacional de Teatro Universitaacuterio de Blumenau acabou tomando Em artigo publicado no livro Jogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau Alexandre Venera escreve

No princiacutepio de 1986 Dalton Gonccedilalves Daniel Curtipassi Joseacute Ronaldo Faleiro e eu organizaacutevamos o festival de teatro que veio a tornar-se o importante ldquoFestival Universitaacuterio de Teatro de Blumenaurdquo promoccedilatildeo respectiva agraves personalidades acima da RBS TV Departamento de Cultura da Prefeitura

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SEXTO

ENSAIO

Municipal de Blumenau FURB e Teatro Carlos GomesNuTE Incumbido da criaccedilatildeo do regulamento desse festival apresentei na eacutepoca uma opccedilatildeo de regras que meses depois veio a ser o embriatildeo para os JOTE-Titac

V5 ndash Vontade de Artista ndash Perpassa todos os Ensaios aqui apresentados Vontade de respirar arte de se artistar de inventar-se artista de sobreviver artisticamente Em entrevista Peacutepe Sedrez diz que

Eu lembro que Marcos e eu tiacutenhamos nessa eacutepoca o conflito de ter de servir o exeacutercito e a gente tava morrendo de medo Largamos nossos empregos Eu trabalhava na Ceval que hoje eacute Bunge e tinha laacute uma dita carreira promissora Larguei pra fazer o espetaacuteculo () Eu queria fazer soacute teatro e tomar conta da famiacutelia essas coisas todas Eu tinha soacute 18 anos e era uma loucura naquela eacutepoca largar Sei laacute eu sou de famiacutelia pobre e o meu salaacuterio era importantiacutessimo era entregue na matildeo da matildee ainda ela tirava quase tudo e dava uma graninha pra gente sair no fim de semana ou pagar os estudos tambeacutem e eu larguei tudo pra fazer teatro inclusive a escola Inclusive as aulas porque Noacutes ensaiaacutevamos somente agrave noite natildeo precisava talvez ter largado o emprego mas eu sabia que isso ia funcionar em seguida Eu queria achava necessaacuterio chegar no ensaio jaacute com alguma coisa trabalhada (paacutegina 8)

V6 ndash Vontade Libertaacuteria ndash uma vontade anaacuterquica de liberaccedilatildeo de si e do mundo de ausecircncia de lei Deus governo Atravessa todo o espetaacuteculo-livro em especial o Segundo o Quarto e o Sexto Ensaios Em entrevista Alexandre Venera diz que

() qualquer forma de lei eacute forma de criar limites ou patamares ou entatildeo apoios No momento em que a pessoa taacute se apoiando ou criando apoios ela taacute segura ela taacute tranquila quer dizer nessa proteccedilatildeo existe uma espeacutecie de lei em que ela taacute sendo dominada (paacutegina 6)

V7 ndash Vontade de Coletivos ndash De estar com outros de produzir junto de criar coletivamente de compor um espetaacuteculo com muacutesicos artistas plaacutesticos escultores poetas e ateacute mesmo com natildeo artistas Quando do convite agrave montagem de Apocalypsis Cum Figuris na Visatildeo de Santa Catarina os Anjos e Noacutes Alexandre Venera espalha cartazes pelo Teatro Carlos Gomes onde se lecirc Somos muito poucos para Dividir A sonoplastia do Teatro da Terra era feita por uma banda com guitarras eleacutetricas bateria baixo em meio agrave floresta Em Senhoras e Senhores haacute uma performance do bailarino Edson Farias Em vaacuterios espetaacuteculos do NuTE o cenaacuterio era composto em parceria com o artista plaacutestico Tadeu Bitencourt Cio das Feras e Apocalypsis utilizam poesia catarinense No artigo que Alexandre Venera publica junto ao livro Jogos de Teatro 12 anos de teatro em Blumenau encontramos uma interessante lista onde se nomina alguns membros destes coletivos

nas artes plaacutesticas Ceacutesar Otaciacutelio Fernando Alex Crista Sitocircnio Francis Bento Simone Tanaka Sola Ries Janete Dallabona Terezinha Heimann Tadeu Bitencourt no ballet Edson Farias Grupo de Danccedila e Sapateado do Proacute-Danccedila de Blumenau os arquitetos Leo Campos Etson e Jaime Jung os muacutesicos do Tranca Rua do Baurimbe Nana

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SEXTO

ENSAIO

Hector Lagos Giovana Voigt os publicitaacuterios Claus Jensen Paulo Porche Dicesar Leandro a equipe da Graacutefica da Fundaccedilatildeo Cultural de Blumenau Giba Santos e em especial o Sr Bernardo Tomelin os poetas escritores dramaturgos criacuteticos jornalistas editores Tacircnia Rodrigues Tchello drsquoBarros Marcelo Steil Marcelo Ricardo drsquoAlmeida Douglas Zunino Sandra Heck Gervaacutesio Tessaleno Luz Vilson Nascimento Joel Gehlen Eliane Lisboa aleacutem dos autores incluiacutedos nesta antologia Raquel Furtado Carlos Peixer Vinci Bernadete da Silva Alceu Custoacutedio Horaacutecio Braun Jr Sidnei Mafra o pessoal do teatro (como juacuteri) Carlos Crescecircncio Carlos Jardim Silvio Joseacute da Luz Lorival Andrade Aacutelvaro Andrade Luiz Sampaio Gabriela Diaz Roberto Mallet Pita Beli Cida Milezzi Denise da Luz e o pessoal natildeo juacuteri Mauro Ribas Neto Paulo Camargo Sandra Cardoso aos teacutecnicos Luacutecio Vieira Nei Leite Luacutecia Siqueira Ivan Felicidade Jussara Barbosa os atores e diretores (dentre o grande pessoal participante muitos dos premiados) Margareth DrsquoNiss Sandra Knoll Silvana Costa Jussara Balsan Carla Mello Leo Almeida Giseli Marciacutelio Bia Brehmer Juliana Vendrami Rita Machado Francinete Bitencourt Patriacutecia Schwartz Anice Tufaille Raquel Wollert Pollyanna da Silva Sidneacuteia Kopp Regina Simas Andrea dos Santos Iraci Krambeck Paula S Igreja Alan Imianowsky James Pierre Beck Joatildeo da Mata Kalinho Santos Joseacute Aparecido Faacutebio Shaefer Roberto Morauer Pedro Dias Luis Alberto Rafael de Almeida Oto Muumlller Alexandre Diogo Junkes Nelson de Souza Marcus Suchara

Um nuacutecleo de teatro em torno do qual gravitavam artistas natildeo artistas e outros seres

V8 ndash Vontade do Novo ndash Ligada agraves respostas Hoje Tem Teatro JOTE-Titac Editora πpa e agrave grande maioria dos espetaacuteculos encenados pelo NuTE destaque para as montagens do Grupo

da Fusatildeo Liturgia do Teatro e Para-choques V9 ndash Vontade de Guerra ndash Uma vontade de

jogar disputar guerrear vencer de ir aleacutem de si mesmo Assistimos agraves suas manifestaccedilotildees em especial no Quarto e no Quinto Ensaio

O tilintar das moedas sobre a mesa abre um portal por onde o Ator Guerrilheiro rompe as grades do Quarto Ensaio Surge sorrindo empostando sua metralhadora achando graccedila na cena NuTES pagando as contas Numa gargalhada infernal liga a metralhadora e dispara sobre o grupo rajadas e mais rajadas de balas O evento dura uns cinco minutos aproximadamente Quando se encerra encontramos Peacutepe descascando uma de morango Alexandre que prefere as de carambolas junta um punhado sobre a mesa e mesmo o garccedilom mastiga uma de hortelatilde O grupo muito irritado organiza-se para perseguir o Ator Guerrilheiro que a essa altura corria pelado rua XV de Novembro abaixo Muitos dos presentes consideram o Ator Guerrilheiro o verdadeiro culpado pelo fim do NuTE e assim debatem a melhor forma de punir seu crime Alexandre interveacutem a favor do Ator Guerrilheiro O diretor argumenta que o ator natildeo pode ser responsabilizado individualmente por uma cena Se o NuTE terminou eacute porque o espetaacuteculo como um todo movimentou-se nesse sentido natildeo poderia ter acontecido de outra forma O ator natildeo tem culpa porque sua accedilatildeo eacute anterior agrave invenccedilatildeo desta O ator apenas desempenha o seu papel da mesma

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SEXTO

ENSAIO

forma como vocecirc neste exato momento estaacute desempenhando o seu E assim trazendo a inocecircncia de volta ao espetaacuteculo o Ensaio pode continuar

R3 ndash Resposta agrave Mediocridade ndash Impulso agrave diferenciaccedilatildeo desejo de ir aleacutem das convenccedilotildees sociais dos modelos existenciais preacute-determinados de se produzir estranho agraves normas estabelecidas Interessante perceber o quanto essa resposta estaacute ligada agrave Vontade de Coletivos e agrave Vontade do Novo Em entrevista Nira diz o seguinte

() eu morava numa cidade muito pequena e conservadora pra um adolescente como eu era Entatildeo num primeiro momento assistir o Apocalypsis me deixou muito feliz E num segundo momento me deixou depressivo porque eu vi que aquela vidinha que eu tava levando naquela cidadezinha natildeo era uma vida que eu gostaria de levar Entatildeo de 1989 pra 1993 quando eu entrei no NuTE satildeo quatro anos durou muito tempo Entatildeo nesses quatro anos a vontade de fazer alguma coisa foi crescendo soacute que eu natildeo tinha vazatildeo natildeo tinha como eu fazer nada Entatildeo um ano antes de eu entrar no NuTE eu tive uma depressatildeo muito grande muito forte que quase Enfim Mas saiacute Quando eu entro pro NuTE com 20 anos neacute era uma vida inteira de Assim querendo me expressar sem poder e que eu comeccedilo naquele momento ali Entatildeo num primeiro momento tudo o que eu fazia era muito pouco Eu queria ter Eu queria fazer teatro 24 horas por dia Mas claro natildeo daacute Aiacute no segundo ano em 1994 quando jaacute natildeo era mais soacute aluno do NuTE jaacute era um fazedor de teatro tambeacutem aiacute sim aiacute eu comeccedilo a entrar de cabeccedila mesmo e inclusive durante algum tempo eu e o Contra Senha a gente praticamente morava na casa do Ceacutesar Rossi neacute Ele e o Maicon moravam sozinhos numa casa na Itoupava Central e laacute era

o local de ensaio era uma casa cheia de quadros as paredes todas pintadas cheia de instalaccedilotildees era uma loucura Aquilo que eu sonhei a vida toda eu vivi naquele momento Foi uma experiecircncia incriacutevel (paacutegina 8)

V10 ndash Vontade Experimental ndash No Terceiro Ensaio assistimos a uma cronologia com todos os espetaacuteculos experimentais e didaacuteticos Esta dicotomia um tanto arriscada pareceu-nos oportuna para evidenciar ambas as forccedilas Ou seja seu embate demonstra o quanto a Escola NUTe serviu como trampolim agrave experimentaccedilatildeo Ou seja as aulas e os espetaacuteculos didaacuteticos eram necessaacuterios para a sobrevivecircncia dos professores mas o que realmente lhes interessava o platocirc onde vibravam suas existecircncias estava conectado ao vetor oposto Em entrevista Alexandre Venera diz

Aiacute eram vaacuterios alunos turmas o pessoal tendo que organizar aula ensinar pro cara que entrou a primeira vez que subiu no palco o quecirc que ele faz onde potildee a matildeo () E ao mesmo tempo o cara que tava ensinando isso querendo fazer a sua arte tambeacutem Entatildeo ele tinha que dar aula pra ganhar dinheiro mas ele tinha que fazer o seu teatro tambeacutem Aiacute tinha que ter o grupo iniciante dos alunos pra alimentar o sonho dos Porque ningueacutem entrou ali no NuTE pra ser professor O professor era uma forma de ganhar um troco e poder viver do teatro com uma certa garantia (paacutegina 18)

R4 ndash Resposta agrave Geraccedilatildeo Anterior ndash NuTE natildeo eacute um descendente direto da Equipe Teatral Vira Lata do Grupo Fecircnix do Ribalta do teatro feito nos clubes de caccedila e tiro ou Lira

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SEXTO

ENSAIO

Circulo Italiano do teatro blumenauense que lhe precede em uma geraccedilatildeo Suas principais alianccedilas passam por teorias de um teatro estrangeiro Grotowski Barba Bob Wilson Artaud Gordon Craig Schechner Brecht Heiner Muumlller Meyerhold pelo Grupo Lume de Campinas e por uma espeacutecie de orientaccedilatildeo dada por Joseacute Ronaldo Faleiro Contudo mesmo natildeo sendo filho ele se serviu muito bem da morte do pai A existecircncia NuTE eacute atravessada por um criacutetica feroz ao formato teatral adotado pela geraccedilatildeo anterior Tentamos aqui neste espetaacuteculo-livro problematizar essa tensatildeo atraveacutes da estrutura Work in Progress Contudo eacute possiacutevel em especial no Segundo e Quarto Ensaios compreender um pouco melhor as motivaccedilotildees desta resposta

R5 ndash Resposta ao Puacuteblico ndash Aqui um

primeiro niacutevel apontaria na direccedilatildeo de uma resposta agrave ausecircncia de puacuteblico ao Teatro Contemporacircneo NuTE estaria respondendo com formaccedilatildeo de puacuteblico agrave algo que estaria em devir Contudo ao menos eacute o que nos parece trata-se acima de tudo de uma resposta agrave ausecircncia de um povo Pessoas que consigam experimentar um determinado tipo de vida Amigos a quem presentear com o mais belo dos presentes Um povo generoso com o qual se possa compartilhar o que vem sendo produzido pois assim o poder aumenta pois assim o poder cresce ndash Poder = Criar + Doar Dizendo ainda de outra forma se aquele que ganha um presente natildeo percebe o que acabou de receber o melhor

a se fazer eacute trabalhar para inventar algueacutem que perceba Utilizar o teatro para inventar um povo que ainda nos falta40 Assistimos agraves suas principais manifestaccedilotildees no Segundo Quarto e Sexto Ensaios

O garccedilom de cara amarrada conta o dinheiro sobre a mesa Repete a operaccedilatildeo trecircs vezes ateacute se convencer Resmunga algo inaudiacutevel vai ao balcatildeo expotildee a situaccedilatildeo para Ana por fim retorna agrave mesa Contrariado como algueacutem que procura fugir de seu proacuteprio julgamento ele nos diz

ndash Sobrou uma reposta e uma vontade vatildeo querer o troco

ndash Trocondash Natildeo Claro que natildeondash Traz em cerveja

40 Livre adaptaccedilatildeo do famoso trecho de Criacutetica e Cliacutenica ldquoA sauacutede como literatura como escrita consiste em inventar um povo que falta Compete a funccedilatildeo fabuladora in-ventar um povo Natildeo se escreve com as proacuteprias lembranccedilas a menos que delas se faccedila a origem ou a des-tinaccedilatildeo coletivas de um povo por vir ain-da enterrado em suas traiccedilotildees e renegaccedilotildeesrdquo

A memoacuteria preservada

A confecccedilatildeo deste belo material artiacutestico composto por trecircs livros e um DVD eacute o produto mais expressivo do projeto ldquoNuTE para todosrdquo uma iniciativa do pesquisador Eacutedio Ra-niere em resgatar a memoacuteria do NuTE ndash Nuacutecleo de Teatro Ex-perimental cuja atuaccedilatildeo proporcionou relevantes conquistas para cultura catarinense como a formaccedilatildeo de mais de 2 mil alunos criaccedilatildeo de escolas grupos teatrais e cursos perma-nentes de teatro em vaacuterias cidades produccedilatildeo de espetaacuteculos teatrais e implantaccedilatildeo de uma biblioteca de teatro composta por um acervo de textos teatrais livros cadernos e apostilas sobre teatro

Em 18 anos de atividades encerradas em 2002 o NuTE concretizou tambeacutem outros dois projetos elogiaacuteveis a funda-ccedilatildeo em Blumenau da primeira escola de ldquolivrerdquo de teatro em Santa Catarina possibilitando o acesso de qualquer pessoa interessada estudar e praticar a arte teatral e a criaccedilatildeo do Jote-Titac ndash os Jogos de Teatro Texto Interpretaccedilatildeo e Teacutecnica nas Artes Cecircnicas evento que ajudou a popularizar uma das mais antigas manifestaccedilotildees artiacutesticas

Em face da valiosa contribuiccedilatildeo do NuTE agrave cultura de Santa Catarina a BAESA (Energeacutetica Barra Grande SA) sentiu-se motivada a apoiar o projeto ldquoNuTE para todosrdquo e constata que sua participaccedilatildeo foi decisiva para a elaboraccedilatildeo deste acervo O livro ldquoNuTE Cartografia de um teatrordquo o DVD ldquoExperimentando NuTErdquo e as publicaccedilotildees ldquoEditora Pipardquo e ldquoLi-vreto Espetacularrdquo cumprem plenamente o objetivo de resga-tar em texto impresso em imagens e em formato digital a bela trajetoacuteria do NuTE

Grande satisfaccedilatildeo eacute poder apoiar projetos como o NuTE Para Todos e de certa forma fazer parte da his-toacuteria tatildeo bonita desse nuacutecleo de teatro que por 18 anos se doou para compartilhar sua arte com o puacuteblico

Atraveacutes da Lei Rouanet a ENERCAN ndash Campos No-vos Energia SA tem a possibilidade de apoiar projetos culturais importantes como esse que traz ao puacuteblico uma leitura sobre a maravilhosa experiecircncia de se fazer teatro contando as expectativas os medos os proces-sos criativos e o trabalho para apresentar da melhor forma essa arte aos espectadores fazendo o leitor sen-tir no livro as emoccedilotildees dessa arte

Fundamental para compreender a realidade a cul-tura em suas mais variadas vertentes eacute tida como uma das prioridades dentro da Poliacutetica de Responsabi-lidade Social da ENERCAN E com grande prestiacutegio e apoio eacute possiacutevel proporcionar agrave populaccedilatildeo acesso natildeo soacute ao teatro mas a espetaacuteculos de muacutesica literatura cinema e a tudo mais que a palavra cultura engloba

O livro ldquoNuTE Cartografia de um teatrordquo junto com o Box onde estaacute presente outras trecircs produccedilotildees que aliam o analoacutegico (livro) ao digital (DVD e internet) eacute um presente para a populaccedilatildeo catarinense saber um pouco mais da histoacuteria do teatro no Estado e a forte presenccedila dessa arte em Santa Catarina

A ENERCAN parabeniza o projeto NuTE Para To-dos e se mostra orgulhosa de poder apoiar iniciativas como essa que buscam intensificar a cultura dentro do Estado tornando a histoacuteria cada vez mais presente na sociedade

Carlos Alberto Bezerra de MirandaDiretor Superintendente

Para a BAESA apoiar o projeto ldquoNuTE para todosrdquo eacute mais uma demonstraccedilatildeo do quanto a empresa aprecia e valoriza a cultura em suas mais variadas expressotildees A publicaccedilatildeo deste material eacute portanto motivo de orgulho e satisfaccedilatildeo natildeo apenas por ter acreditado na proposta de seu idealizador o pesquisador Eacutedio Raniere mas sobre-tudo por saber que a histoacuteria e o legado do NuTE estatildeo agora definitivamente preservados

Carlos Alberto Bezerra de Miranda Edson Schiavotelo Diretor Superintendente Diretor de Sustentabilidade e de Relaccedilotildees com Investidores e de Relaccedilotildees Institucionais

BAESA - ENERGEacuteTICA BARRA GRANDE SA

Este livro eacute parte integrante da caixaNuTE Cartografia de um Teatro

Para saber mais sobre o NuTE e sobre a pesquisa ldquoNuTE Cartografia de um Teatrordquo acesse o blog do

projeto wwwnuteparatodoswordpresscom e o acervo virtual wwwnutecombr

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