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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE AGRONOMIA ELISEU MACIEL DINÂMICA DO BANCO DE SEMENTES DO SOLO EM ECOSSISTEMA CAMPESTRE SOB UTILIZAÇÃO AGROPECUÁRIA COM SOJA E AZEVÉM ANUAL ENG. AGR. M.Sc. FERNANDA COSTA MAIA Tese apresentada à Universidade Federal de Pelotas, sob orientação do Prof. Dr. Manoel de Souza Maia, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes, para a obtenção do título de Doutor em Ciências. PELOTAS Rio Grande do Sul – Brasil Agosto de 2005

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE AGRONOMIA ELISEU MACIEL

DINÂMICA DO BANCO DE SEMENTES DO SOLO

EM ECOSSISTEMA CAMPESTRE SOB UTILIZAÇÃO

AGROPECUÁRIA COM SOJA E AZEVÉM ANUAL

ENG. AGR. M.Sc. FERNANDA COSTA MAIA

Tese apresentada à Universidade Federal de Pelotas, sob orientação do Prof. Dr. Manoel de Souza Maia, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes, para a obtenção do título de Doutor em Ciências.

PELOTAS Rio Grande do Sul – Brasil

Agosto de 2005

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ii

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE AGRONOMIA ELISEU MACIEL

DINÂMICA DO BANCO DE SEMENTES DO SOLO

EM ECOSSISTEMAS CAMPESTRES SOB UTILIZAÇÃO

AGROPECUÁRIA COM SOJA E AZEVÉM ANUAL

ENG. AGR. M.Sc. FERNANDA COSTA MAIA

Tese apresentada à Universidade Federal de Pelotas, sob orientação do Prof. Dr. Manoel de Souza Maia, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes, para a obtenção do título de Doutor em Agronomia.

PELOTAS Rio Grande do Sul – Brasil

Agosto de 2005

iii

COMITÊ DE ORIENTAÇÃO

Orientador:

Manoel de Souza Maia Eng. Agr., Dr., Prof. Adjunto do Departamento de Fitotecnia

Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel – FAEM

Universidade Federal de Pelotas – UFPel

Co-orientadores:

Orlando Antônio Lucca Filho Eng. Agr., Dr., Prof. Adjunto do Departamento de Fitotecnia

Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel – FAEM

Universidade Federal de Pelotas – UFPel

Renato Borges de Medeiros Eng. Agr., Dr., Prof. Adjunto do Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia

Faculdade de Agronomia

Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

COMISSÃO EXAMINADORA

__________________________________________________ Francisco Amaral Villela Eng. Agrícola, Dr., Prof. Adjunto do Departamento de Física – IFM – UFPel

__________________________________________________ Orlando Antônio Lucca Filho Eng. Agr., Dr., Prof. Adjunto do Departamento de Fitotecnia – FAEM – UFPel

__________________________________________________ Renato Borges de Medeiros Eng. Agr., Dr., Prof. Adjunto do Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia – FA – UFRGS

__________________________________________________ José Pedro Pereira Trindade Eng. Agr., Dr., Pesquisador EMBRAPA Pecuária Sul

iv

Quem não compreende um olhar, tampouco compreenderá uma longa explicação...

MÁRIO QUINTANA

v

AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes pela

oportunidade de realizar o curso de Doutorado.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

pelo suporte financeiro ao projeto de pesquisa que resultou nessa tese.

A Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO), que permitiu a

realização deste trabalho de pesquisa.

Ao Professor Manoel de Souza Maia pela orientação, conhecimento, amizade e

companheirismo, como orientador e como pai, que sempre foi um grande incentivador e

a quem admiro pessoal e profissionalmente.

Ao Prof. Dr. Orlando Antônio Lucca Filho pelas importantes contribuições,

incentivo e amizade.

Aos professores e amigos Dr. Renato Borges de Medeiros e Dr. Valério De Patta

Pillar, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que prestaram importantes

colaborações ao trabalho.

As biólogas e amigas Renée Bekker e Irma Knevel, grandes orientadoras durante

o estágio proporcionado por este curso e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES) e sempre amigas, que deram contribuições

fundamentais para os artigos desta tese.

vi

Aos estagiários Rogério Berton, Leandro Caetano e Silvia Simioni,

fundamentais para a concretização deste trabalho, e aos funcionários do Laboratório

Didático de Análise de Sementes da UFPel.

Aos meus familiares, que sempre forneceram todo o apoio material e espiritual

para que pudesse finalizar este curso. A minha mãe, também pelo esforço nas correções

de linguagem do texto.

Aos meus amigos e amigas que souberam entender a importância desse trabalho

para mim e que, inclusive, contribuíram na concretização do mesmo.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram de alguma forma para a

realização desse trabalho.

Aos meus pais e minha irmã, a quem dedico este trabalho.

vii

ÍNDICE

LISTA DE TABELAS..................................................................................................... ix

LISTA DE FIGURAS....................................................................................................... x

RESUMO....................................................................................................................... xiii

ABSTRACT.................................................................................................................... xv

1. INTRODUÇÃO GERAL ........................................................................................... 1

2. DINÂMICA DO BANCO DE SEMENTES DO SOLO DE AZEVÉM ANUAL

EM SISTEMA DE SEMEADURA DIRETA COM SOJA

RESUMO.......................................................................................................................... 7

ABSTRACT...................................................................................................................... 8

INTRODUÇÃO................................................................................................................ 9

MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................ 11

RESULTADOS .............................................................................................................. 19

DISCUSSÃO .................................................................................................................. 26

CONCLUSÕES .............................................................................................................. 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 32

3. LONGEVIDADE DE SEMENTES DE AZEVÉM ANUAL EM CONDIÇÕES

NATURAIS

RESUMO........................................................................................................................ 35

ABSTRACT.................................................................................................................... 36

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 37

MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................ 39

viii

RESULTADOS .............................................................................................................. 41

DISCUSSÃO .................................................................................................................. 43

CONCLUSÕES .............................................................................................................. 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 48

4. ALTERAÇÕES NO BANCO DE SEMENTES DO SOLO DE UM

ECOSSISTEMA CAMPESTRE PROVOCADAS POR NOVE ANOS DE

MANEJO AGROPECUÁRIO INTENSIVO E POTENCIAL DE

RECUPERAÇÃO DA VEGETAÇÃO NATIVA

RESUMO........................................................................................................................ 51

ABSTRACT.................................................................................................................... 52

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 53

MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................ 57

RESULTADOS .............................................................................................................. 61

DISCUSSÃO .................................................................................................................. 71

CONCLUSÕES .............................................................................................................. 79

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 80

ANEXO .......................................................................................................................... 85

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 88

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 94

ix

LISTA DE TABELAS

DINÂMICA DO BANCO DE SEMENTES DO SOLO DE AZEVÉM ANUAL EM

SISTEMA DE SEMEADURA DIRETA COM SOJA

1. Diferenças de tamanho do banco de sementes do solo de azevém anual (0-10 cm) nas áreas de 3, 6, 8 e 9 anos de manejo................................................................................. 20

2. Diferenças de conteúdos de argila, matéria orgânica, fósforo, potássio, alumínio e cálcio em cada área da série temporal (n = 4), representando tempos de implantação do sistema agropastoril com semeadura direta sobre campo natural................................... 20

3. Número de sementes na superfície do solo, por metro quadrado, nas séries temporais de 6, 8 e 9 anos de manejo .............................................................................................. 24

4. Modelos de regressão polinomial dos dados com transformação logarítmica do banco de sementes do solo para cada série temporal (P<0,001) ............................................... 27

ALTERAÇÕES NO BANCO DE SEMENTES DO SOLO DE UM

ECOSSISTEMA CAMPESTRE PROVOCADAS POR NOVE ANOS DE

MANEJO AGROPECUÁRIO INTENSIVO E POTENCIAL DE

RECUPERAÇÃO DA VEGETAÇÃO NATIVA

1. Espécies comuns e características dos bancos de sementes do solo de 0 a 5 cm, em cada série temporal, com base na freqüência (%). Letras diferentes significam diferenças significativas na composição do banco de sementes (P<0,05)...................... 63

2. Espécies comuns e características dos bancos de sementes do solo de 5 a 10 cm, em cada área da série temporal, com base na freqüência (%). Letras diferentes significam diferenças significativas na composição do banco de sementes (P<0,05)...................... 63

x

LISTA DE FIGURAS

DINÂMICA DO BANCO DE SEMENTES DO SOLO DE AZEVÉM ANUAL EM

SISTEMA DE SEMEADURA DIRETA COM SOJA

1. Pastagem de azevém anual durante o mês de junho, com altura de aproximadamente 20 cm............................................................................................................................... 12

2. Condição da pastagem de azevém anual durante o inverno no momento da retirada dos animais ..................................................................................................................... 13

3. Azevém anual dessecado por glifosato no início de dezembro .................................. 13

4. Condição da pastagem de azevém anual no final do ciclo da soja em março ............ 14

5. Área da pastagem de azevém anual após a colheita da soja no fim de abril .............. 14

6. Amostras de solo utilizadas na análise do banco de sementes do solo....................... 16

7. Germinação das sementes de azevém anual retiradas das amostras de solo em sala climatizada ...................................................................................................................... 16

8. Diagrama de ordenação do BSS azevém (0-10 cm) ao longo do ano nas parcelas (A, B, C e D) das séries temporais de 6, 8 e 9 anos de manejo (n = 12). As variáveis pH, matéria orgânica (MO), potássio (K), sódio (Na) e cálcio (Ca) no solo apresentam correlação acima de 0,52 com o eixo X. O eixo horizontal representa 53,8% e o vertical 33,1% da variação do BSS de azevém ao longo do ano ................................................. 21

9. Diferenças no tamanho do banco de sementes do solo de azevém anual nos primeiros 5 cm de solo, ao longo do ano, nas séries temporais com 6 (A), 8 (B) e 9 (C) anos de manejo (P<0,05).............................................................................................................. 23

xi

10. Dinâmica da vegetação de azevém anual nas séries temporais de 6 (A), 8 (B) e 9 (C) anos de manejo................................................................................................................ 25

11. Curvas obtidas por análise de regressão polinomial do banco de sementes do solo de azevém anual, coletado de setembro a agosto de 2003, nas diferentes séries temporais......................................................................................................................... 27

LONGEVIDADE DE SEMENTES DE AZEVÉM ANUAL EM CONDIÇÕES

NATURAIS

1. Alterações observadas nas sementes no experimento de enterrio e diferenças significativas (P<0,05) entre os diversos períodos de exumação das mesmas, considerando-se o conjunto das variáveis estudadas ...................................................... 42

ALTERAÇÕES NO BANCO DE SEMENTES DO SOLO DE UM

ECOSSISTEMA CAMPESTRE PROVOCADAS POR NOVE ANOS DE

MANEJO AGROPECUÁRIO INTENSIVO E POTENCIAL DE

RECUPERAÇÃO DA VEGETAÇÃO NATIVA

1. Tamanho do BSS das 30 espécies com maior quantidade de sementes nas duas profundidades de solo estudadas, nas quatro áreas da série temporal. As espécies estão identificadas segundo as duas primeiras letras dos epítetos genérico e específico: Juncus bufonius, Lolium multiflorum, Gamochaeta spp., Kyllinga brevifolia, Sisyrinchium micranthum, Digitaria ciliaris, Plantago spp., Cuphea carthagenensis, Centela asiatica, Paspalum nicorae, Trifolium repens, Eragrostis neesii, Juncus cf. effusus, Lythrum hyssopifolium, Cerastium rivulare, Cyperus eragrostis, Kyllinga odorata, Fimbristylis diphylla, Cyperaceae 1, Centunculus minimus, Conyza cf. floribunda, Digitaria adscendens ...................................................................................................................... 62

2. Espécies com maior BSS nas duas profundidades de solo estudadas, na área com 3 anos de manejo. As espécies estão identificadas segundo duas as primeiras letras dos epítetos genérico e específico: Juncus bufonius, Gamochaeta spp., Plantago spp., Digitaria ciliaris, Coniza cf. floribunda, Digitaria adscendens, Kyllinga brevifolia, Sisyrinchium micranthum, Cuphea carthagenensis, Lolium multiflorum, Eragrostis neesii, Cyperus reflexus, Paspalum nicorae, Cerastium glomeratum, Trifolium repens, Eclipta megapotamica, Fimbristylis autumnalis, Cyperaceae 1 .................................... 64

3. Espécies com maior BSS nas duas profundidades de solo estudadas, na área com 6 anos de manejo. As espécies estão identificadas segundo as duas primeiras letras dos epítetos genérico e específico: Gamochaeta spp., Lolium multiflorum, Sisyrinchium micranthum, Centela asiática, Juncus bufonius, Kyllinga brevifolia, Eragrostis neesii, Centunculus minimus, Hydrocotyle exigua, Plantago spp., Soliva pterosperma, Hypoxis decumbens, Cerastium glomeratum, Oxalis cf. conorrhiza, Kyllinga vaginata, Lotus subbiflorus, Eleusine tristachya, Cyperus cf. cayennensis, Juncus capillaceus, Kyllinga odorata............................................................................................................................ 65

xii

4. Espécies com maior BSS nas duas profundidades de solo estudadas, na área com 8 anos de manejo. As espécies estão identificadas segundo as duas primeiras letras dos epítetos genérico e específico: Lolium multiflorum, Gamochaeta spp., Kyllinga odorata, Juncus bufonius, Cyperus eragrostis, Juncus capillaceus, Kyllinga brevifolia, Fimbristylis dyphilla, Cyperaceae 1, Sisyrinchium micranthum, Juncus dichotomus, Oxalis cf. conorrhiza, Centela asiática, Amaranthus lividus ssp. Polygonoides, Glandularia selloi, Kyllinga vaginata, Centunculus minimus, Dichondra sericea, Hypoxis decumbens, Cyperaceae 2 ................................................................................ 66

5. Espécies com maior BSS nas duas profundidades de solo estudadas, na área com 9 anos de manejo. As espécies estão identificadas segundo as duas primeiras letras dos epítetos genérico e específico: Juncus bufonius, Kyllinga brevifolia, Digitaria ciliaris, Lolium multiflorum, Sisyrinchium micranthum, Juncus cf. effusus, Cerastium rivulare, Plantago spp., Trifolium repens, Cuphea carthagenensis, Kyllinga odorata, Lythrum hyssopifolium, Juncus dichotomus, Eragrostis neesii, Fimbristylis autumnalis, Centunculus minimus, Cyperaceae 1, Poa annua, Gamochaeta spp. ............................ 67

6. Diagrama de ordenação da composição do BSS de 0 a 5 cm nas parcelas das quatro áreas da série temporal (3, 6, 8 e 9 anos de manejo) e linha de tendência. As espécies identificadas segundo as duas primeiras letras dos epítetos genérico e específico, em itálico: Amaranthus lividus ssp. polygonoides, Briza minor, Centela asiatica, Conyza bonariensis, C. cf. floribunda, Cuphea carthagenensis, Dichondra sericea, Digitaria ciliaris, Eclipta megapotamica, Fimbristylis autumnalis, Juncus bufonius, Lolium multiflorum, Panicum dichotomiflorum e Poa annua apresentam correlação acima de 0,50 com pelo menos um dos eixos de ordenação. O eixo horizontal representa 64,6% e o vertical 16,9% da variação da composição do BSS da série ....................................... 69

xiii

Dinâmica do banco de sementes do solo em ecossistema campestre sob utilização agropecuária com soja e azevém anual. Autora: Eng. Agr. M.Sc. Fernanda Costa Maia. Orientador: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia (UFPEL). Projeto financiado pelo CNPq.

RESUMO. O presente trabalho de tese consta de três artigos. O primeiro e o segundo

focam, respectivamente, a dinâmica e a longevidade das sementes de azevém anual

(Lolium multiflorum Lam.) no solo, em rotação com soja em sistema de semeadura

direta na palha, atualmente muito difundido na região. O terceiro artigo procura

quantificar possíveis alterações na composição e tamanho do banco de sementes do solo

(BSS) ao longo de diferentes séries temporais, buscando inferir sobre o potencial de

recuperação da vegetação campestre através do seu banco de sementes. A soja é

tradicionalmente cultivada por dois anos e, após, a área permanece mais dois anos em

pousio. As quatro áreas estudadas correspondem a diferentes séries temporais,

representando diferentes tempos de implementação desta prática de manejo. Em duas

áreas a soja foi semeada; as outras duas permaneceram em pousio. Em cada uma das

quatro parcelas consecutivas (25 x 20 m) de cada área, foram retiradas 10 amostras de

solo de 5 cm de diâmetro, mensalmente, durante um ano e divididas em duas

profundidades (0-5 e 5-10 cm), para a análise do BSS de azevém. No meio de cada

parcela, a dinâmica da pastagem também foi avaliada, utilizando-se três quadros

contíguos de 0,5 x 0,5 m para contagem de plantas e inflorescências/infrutescências, e 3

amostras da superfície do solo com 10 cm de diâmetro, para contagem de plântulas.

Para o estudo da longevidade da espécie, foram enterrados, próximo a uma das parcelas,

a 5 cm de profundidade, sacos de náilon contendo solo esterilizado e 100 sementes. Em

intervalos de três ou quatro meses, quatro sacos foram sendo exumados; as sementes

foram contadas e submetidas a testes de germinação e de viabilidade. Com uma das

coletas realizadas durante o outono (maio), foi avaliado o BSS como um todo, através

da germinação das sementes das amostras de solo em casa de vegetação, e posterior

identificação das espécies de plantas. O estudo apontou para um BSS de azevém anual

de caráter transitório, já que a maior parte das sementes não persistiu no solo por mais

de um ano. Verifica-se, com base nesses dois estudos, que a maioria das sementes se

dispersa durante o fim da primavera e início do verão (dezembro), com alta dormência

primária, germinam no outono, quando as condições de temperatura e disponibilidade

de água tornam-se adequadas. A dinâmica do BSS mostra padrões estruturais no tempo,

com um período de “armazenamento” das sementes no solo durante o verão, devido a

xiv

uma alta dormência primária, um período de “exaustão”, durante o outono e um período

de “transição”, durante o inverno e a primavera. Até o fim do outono, o BSS é

praticamente exaurido. O efeito da área cultivada e da área em pousio apresentou maior

influência no BSS de azevém do que o número de anos em que ela se repete,

principalmente em virtude da sua transitoriedade, que tornam os distúrbios de cada ano

mais importantes do que suas conseqüências de longo prazo. O estabelecimento da

pastagem por ressemeadura natural é totalmente dependente do recrutamento anual das

sementes que estão no solo, em densidades que variam de 3.363 a 22.835 sementes.m-2.

Quanto às sementes das demais espécies espontâneas, observou-se que os distúrbios

decorrentes do fato de a área estar em pousio ou com o cultivo da soja também

apresentaram maior influência no BSS do que o tempo de implementação do manejo.

Houve um predomínio de sementes de espécies de monocotiledôneas anuais, em termos

quantitativos, e de perenes, em termos qualitativos. Aponta-se aqui para uma possível

influência do uso de herbicidas na redução da densidade e da riqueza de espécies do

banco de sementes. A cada ano, possivelmente o controle químico provoca um aparente

reinício da sucessão na comunidade vegetal, embora as sementes de algumas espécies

“escapem” e, lentamente, dêem lugar ao processo de regeneração. Observou-se maior

concentração de sementes nos primeiros 5 cm de solo. Conforme aumenta o tempo de

utilização da área, o tamanho e a riqueza do BSS diminuem, com tendência de

substituição de espécies perenes por espécies anuais, em termos quantitativos, e o

conseqüente desaparecimento de espécies nativas, de importante valor forrageiro, após 6

anos.

Palavras-chave: Lolium multiflorum, Glycine max, semeadura direta, sementes

enterradas, ecologia de sementes, campo natural.

xv

Soil seed bank dynamic in fields with soybean and annual ryegrass. Author: Agr. Eng. M.Sc. Fernanda Costa Maia. Supervisor: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia (UFPEL). Project supported by CNPq.

ABSTRACT. This thesis is composed by three articles. The first and the second paper

are related to the dynamic and longevity of annual ryegrass seeds in the soil, in no

tillage systems in rotation with soybean, that have been growing in the South of Brazil.

The third one aims to quantify possible changes in the soil seed bank (SSB) of the area,

and to determine the regeneration potential of the natural grassland communities from

the seed bank. Soybean is commonly cultivated for two years and then is left in follow

for another two years. The sites correspond to four areas, representing different periods

of management, two of them with soybean and the other two resting. FFoouurr consecutive

plots (25 x 20 m) were designed in each area. Ten soil samples with 5 cm of diameter

were taken every month during one year and divided in two depths (0-5 cm and 5-10

cm). In the middle of each plot, the vegetation dynamic was also evaluated. The number

of plants and inflorescences were counted in three contiguous quadrats (0.5 x 0.5 m)

and the number of seedlings on three soil cores with 10 cm of diameter, per plot. For the

longevity experiment, bags of nylon screen containing sterilised soil with 100 seeds

each one were randomly buried in the field, 5 cm deep. Every three or four months, four

nylon bags were exhumed. Seeds were counted and tested by germination and viability.

With the soil cores collected in the autumn (May), the whole SSB was analysed using

the direct germination method in a greenhouse. The SSB of annual ryegrass was

characterized as being transitory, due to the majority of the seeds does not persist viable

in the soil for more than one year. The results of these two papers showed that the great

part of seed dispersion occurs at the end of spring and beginning of summer

(December), with high primary dormancy, and then they germinate in the autumn, when

temperature conditions and water requirements were suitable. SSB dynamic showed

structural patterns in time, with a “storage period” in summer, an “exhausting period”

during autumn and a “transition period” in winter and spring. At the end of the autumn,

SSB is practically exhausted. The effect of the soybean presence had more influence on

annual ryegrass SSB than the number of cropping years, mainly due to its transitory

character that make the disturbs of each year more important than their long-term

consequences. The establishment of the pasture by natural re-sowing is totally

dependent of the annual recruitment of seeds from the SSB, in densities that vary from

3,363 to 22,835 seeds.m-2. About the other spontaneous grassland species it was

xvi

observed that crop disturbance have higher influence in SSB than the accumulated

effect of cropping age in the fields. There were more seeds of annual monocot species in

quantitative terms and perennials in qualitative terms. The study pointed to a possible

influence of desiccant herbicides on SSB species richness and density reduction. Each

year, it seems that chemical control induces a sort of re-colonization, i.e., the succession

comes back to the beginning, but some species “escape” and, slowly, give place to the

regeneration process. Most of the collected seeds were at the first 5 cm of soil. As the

utilization years of the area proceeds, SSB size and species richness decrease, tending to

the substitution of perennial species by annuals in quantitative terms and the consequent

disappearance of important native species with forage value just after 6 years.

Key-words: Lolium multiflorum, Glycine max, no tillage, buried seeds, seed ecology,

grassland.

INTRODUÇÃO GERAL

No Rio Grande do Sul (RS), a vegetação campestre ocupa cerca de 10,5 milhões

de hectares, contribuindo com mais de 90% da alimentação dos cerca de 14 milhões de

bovinos e 5 milhões de ovinos criados no estado (UCPEL/ITEPA, 2001). Além disso,

constitui a base de sustentação de outros herbívoros domésticos e dos componentes da

fauna selvagem, que representam, sem dúvida, um condicionante da vegetação natural

hoje presente na área. São campos cuja produção de forragem é considerada excelente

para o período de primavera-verão, em função da diversidade de espécies e da qualidade

das mesmas, se comparadas com as pastagens naturais de qualquer outra região do

mundo. Segundo Boldrini (1997), essa vegetação é formada por, aproximadamente, 400

espécies de Poaceae e 150 de Fabaceae.

Mesmo assim, os ecossistemas de pastagem natural encontram-se em processo

de permanente degradação, em decorrência do superpastejo e/ou pastejo seletivo, da

utilização excessiva do fogo ou da simples substituição por lavouras, como acontece,

geralmente, em todo o mundo. Em 1942, cerca de 46% do estado do Rio Grande do Sul

era coberto por essa formação vegetal (Rambo, 1942), enquanto que atualmente ela

ocupa cerca de 37% do território (IBGE, 1997).

Embora se disponha de um número relativamente grande de informações sobre

identificação e classificação das plantas ocorrentes em pastagens nativas, pouco se sabe

sobre sua dinâmica e seus efeitos na restauração dessas áreas após cultivo intensivo,

principalmente com relação ao efeito de herbicidas aplicados nos sistemas de produção.

2

A distribuição da produção dos campos no RS ao longo do ano é sazonal, devido

à ocorrência de baixas temperaturas durante o inverno, com o predomínio de espécies

subtropicais (ciclo estival). Entre as práticas mais utilizadas pelos produtores para

contornar este problema está a introdução de espécies exóticas de inverno, com manejo

direcionado para a ressemeadura natural da espécie introduzida, no sentido de reduzir

custos da produção de forragem.

No caso particular do sistema de integração lavoura-pecuária, com azevém

(Lolium multiflorum Lam.) e soja (Glycine max L.) em semeadura direta na palha,

muitos produtores vêm obtendo bons resultados.

Entretanto, ainda não está bem esclarecido por quanto tempo essas áreas

permanecerão com elevados índices de produtividade e como ocorre a dinâmica das

sementes de azevém no solo que proporciona o estabelecimento de áreas de pastagem

baseadas exclusivamente na ressemeadura desta espécie.

Além das estratégias de dispersão, outro fator que faz parte dos mecanismos de

sobrevivência das espécies é a distribuição da germinação por determinado período de

tempo, prevenindo o desaparecimento ou substituição da espécie, devido às condições

ambientais adversas logo após a germinação. Portanto, nem todas as sementes

produzidas e dispersadas em determinado ano germinarão no ano seguinte. Muitas

destas sementes podem permanecer dormentes ou ter a germinação inibida após caírem

no solo (Mayer & Poljakoff-Mayber, 1989).

As sementes que caem no solo e permanecem dormentes após a disseminação

formam os chamados “banco de sementes do solo” (BSS). Segundo Milberg (1992), o

BSS é um reflexo da vegetação passada do local, sendo que as espécies não mais

presentes podem às vezes persistir como sementes no solo por décadas.

A persistência das espécies no ambiente está associada, entre outros fatores, às

suas estratégias de colonização, o que envolve o banco de sementes armazenadas no

solo (Miles, 1978), componente importante da dinâmica da vegetação. A existência de

uma numerosa e rica população de sementes no solo pode ter profundos efeitos na

dinâmica genética e populacional das plantas de uma determinada comunidade vegetal

(Cook, 1980), sendo um dos mecanismos de sobrevivência das espécies, ao longo do

tempo. Este conjunto de sementes, juntamente com estruturas vegetativas, assegura, no

caso dos ecossistemas agropastoris, a perenidade da maioria das espécies que

constituem sua diversidade florística.

3

Além da importância genética e produtiva, o BSS pode apresentar papel

fundamental na recuperação de áreas que sofreram processos de distúrbio drásticos,

sendo necessários entendimentos referentes ao manejo, conservação e influência dos

BSS na manutenção da diversidade florística e da sustentabilidade social e ecológica

desses ecossistemas.

Para plantas perenes, a semente é uma alternativa de perpetuação, mas não é tão

importante quanto para espécies anuais, onde a semente dormente é o elo crucial entre

as gerações (Harper, 1977). Sementes de espécies perenes geralmente não permanecem

viáveis no solo tanto quanto as anuais (Roberts, 1970; Pettit & Froend, 2001), que

podem ter ciclos de vida extremamente longos (Cook, 1980). O número de sementes

viáveis no solo geralmente diminui com a redução na freqüência de distúrbio e o

aumento do ciclo de vida das espécies que formam a vegetação (Thompson, 1978;

Symonides, 1986).

Várias evidências apontam que espécies do gênero Lolium tendem a não formar

BSS persistentes (Douglas, 1965; Thompson & Grime, 1979; Howe & Chancellor,

1983; López-Mariño et al., 2000), indicando que a ressemeadura observada em campos

melhorados decorre basicamente de sementes depositadas no solo na estação anterior.

Muitas espécies que acumulam grande número de sementes no solo apresentam-

se em estado de dormência ou, pelo menos, em populações parcialmente compostas por

sementes dormentes. O fato de essas espécies apresentarem um grande número de

sementes de vida longa, aliado ao polimorfismo com respeito à dormência ou ao

desenvolvimento de dormência secundária, apresenta fluxos de germinação por um

longo período de tempo. Como essas plantas produzem um grande número de sementes

pequenas, muitas, provavelmente, acabam penetrando no solo através de rachaduras ou

canais de origem biológica e distribuindo-se verticalmente a partir dos primeiros

centímetros superiores do perfil do solo (Bryant, 1989).

A composição do banco de sementes depende da produção e composição das

comunidades vegetais anterior e atual, bem como da longevidade das sementes de cada

espécie, sob as condições locais (López-Mariño et al., 2000). Em seu trabalho, Stocklin

& Fischer (1999) demonstraram que a longevidade das sementes está altamente

correlacionada com o índice de desaparecimento de determinadas espécies campestres.

A longevidade das sementes é, portanto, um importante tópico para práticas de manejo

que visem recuperação de áreas degradadas (Bekker et al., 1998a; Bekker et al., 1998b;

Bakker & Berendse, 1999), revelando a possível vulnerabilidade da vegetação à

4

extinção, inclusive à de seus bancos de sementes do solo, a necessidade de sua

conservação e possibilidades de regeneração (Bekker et al., 1998c). Entretanto, pouco

se sabe quanto aos efeitos das condições ambientais sobre a longevidade e

sobrevivência de sementes em condições naturais. Esta relação entre a composição do

banco de sementes e a vegetação é particularmente importante em áreas que sofrem

diferentes tipos de manejo (Fredrickson & Taylor, 1982, apud López-Mariño, 2000).

A importância do conhecimento da ecologia das sementes e dos bancos de

sementes para o entendimento da função e estrutura das comunidades tem sido

mencionada por muitos autores (Heydecker, 1973; Harper, 1977; Roberts, 1981; Fenner,

1985, 2000; Leck et al., 1989; Bekker, 1998; Medeiros, 2000). Em seu trabalho de tese,

Bekker (1998) menciona recentes revisões referentes a BSS (Vyvey, 1989a,b; Bernhardt

& Poschlod, 1993) e uma compilação sobre longevidade de sementes (Milberg, 1990).

Uma compilação de vários estudos sobre BSS é apresentada por Thompson et al.

(1997). Atualmente, quase não há área da ecologia vegetal moderna na qual os BSS não

estejam implicados, muitos deles com relevância direta para a ecologia de recuperação

de espécies e comunidades (Bakker et al., 1996).

Darwin, em 1859, foi provavelmente o primeiro a publicar informações

relacionadas a BSS quando, no livro A Origem das Espécies, descreve a presença de

sementes na lama do fundo de um lago. A partir de 1970, os pesquisadores se

preocuparam em estudar as relações dos BSS com a dinâmica vegetal e o seu papel na

manutenção da diversidade florística e na recuperação de ecossistemas degradados.

Estudos com a finalidade de avaliar o efeito do distúrbio (freqüência, intensidade e

amplitude) sobre a dinâmica vegetal e suas implicações com os BSS nos diferentes

ecossistemas, incluindo florestas naturais (Kellman, 1970), florestas plantadas (Hill &

Stevens, 1981), margens de lagos (Keddy & Reznicek, 1982), pântanos (Whigham et

al., 1979), dunas (Bekker et al., 1999), desertos (Reichman, 1975; Nelson & Chew,

1977; Henderson et al., 1978) e solos agrícolas (Roberts & Ricketts, 1979; Graham &

Hutchings, 1988b; Bakker & Berendse, 1999; López-Mariño et al., 2000; Vanasse &

Leroux, 2000; Favreto, 2004) têm sido realizados. Também tem se estudado o papel dos

BSS na revegetação de áreas de minas (Archbold, 1980) e florestas devastadas pelo

fogo (Archbold, 1979), demografia vegetal (Sarukhán, 1974), preservação de espécies

raras (Baskin & Baskin, 1978) e reconstrução da história vegetal (Van der Valk &

Davis, 1979). Entretanto, segundo Cook (1980), a principal carga de informação em

5

relação ao número de sementes dormentes veio de trabalhos de pesquisadores

interessados no controle de plantas concorrentes em solos cultivados.

Recentemente, devido a preocupações com a intensa degradação antrópica,

cresceu o interesse em estudar BSS com o objetivo de desenvolver modelos de predição

da sucessão vegetal mais realistas (Medeiros, 2000). Pesquisadores de vários países têm

demonstrado estreitas relações entre os BSS e a dinâmica populacional das espécies e

muitos são os trabalhos que abordam aspectos relacionados ao BSS em ecossistemas

campestres (Milberg, 1992; Boccanelli & Lewis, 1994; Bakker et al., 1997; Bekker et

al., 1997; Kalamees & Zobel, 1997; Morgan, 1998; Favreto et al., 2000; Lodge, 2001;

Maia et al., 2003; Maia et al., 2004). Apesar da reconhecida influência dos BSS na

manutenção da dinâmica populacional de ambientes de campo nativo, muito pouca

importância tem sido dada aos mesmos por parte das instituições de pesquisa do Brasil.

Os impactos do uso da terra e práticas de manejo são diferentes na vegetação e

no BSS. Os distúrbios causados pela intensificação da agricultura alteram a composição

da vegetação da área (Zanin et al., 1997), levando a um decréscimo na riqueza de

espécies, incluindo o desaparecimento de espécies características de campo.

Sendo assim, a composição de espécies do BSS no local cultivado é influenciada

pela exploração agrícola (Bakker et al., 1997; Medeiros & Steiner, 2002; Favreto,

2004). O preparo reduzido do solo, por exemplo, deixa as sementes próximas da

superfície. Segundo Yenish et al. (1992), em sistemas de semeadura direta na palha,

60% de todas as sementes presentes no perfil do solo encontram-se localizadas entre 0-1

cm de profundidade, com poucas sementes abaixo de 10 cm.

A utilização maciça de herbicidas em sistemas de semeadura direta na palha

pode estar comprometendo a heterogeneidade da florística de uma vasta região de

campos. Se as aplicações de herbicidas se sucederem a cada estação de crescimento e a

cada ano e ainda, se formulações combinadas de herbicidas forem utilizadas, é possível

pensar na hipótese de que os efeitos sobre as complexas cadeias biológicas existentes

nestes ecossistemas superem a sua resiliência, ou seja, sua habilidade para retornar à sua

composição e estrutura originais ou muito próximas destas (Holling, 1973; Goldsmith,

1978).

Pesquisas sobre a dinâmica populacional desses campos melhorados e suas

relações com os BSS a médio e longo prazo devem ser propostas. Para isto, trabalhos

abrangendo levantamentos do BSS em todas as estações do ano e observações da

dinâmica populacional da vegetação, aliados ao estudo da longevidade das sementes em

6

condições naturais, permitirão um melhor entendimento sobre a dinâmica da vegetação

campestre sob utilização agropecuária e inferências sobre o potencial de recuperação da

mesma. Tudo isto visando oferecer informações para a adoção de práticas de manejo

que otimizem a utilização econômica desses campos e assegurem a sua sustentabilidade.

7

Dinâmica do banco de sementes do solo de azevém anual em sistema de semeadura direta com soja. Autora: Eng. Agr. M.Sc. Fernanda Costa Maia. Orientador: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia (UFPel). Projeto financiado pelo CNPq.

RESUMO. O estudo buscou caracterizar a dinâmica da população de sementes de

azevém anual (Lolium multiflorum Lam.) em sistema de semeadura direta com soja, em

diferentes áreas, representando séries temporais (3, 6, 8 e 9 anos de manejo). No sul do

Brasil, em áreas de integração de agricultura e pecuária, utiliza-se cada vez mais o

sistema de semeadura direta de cultivos de verão, como a soja. A cultura de cobertura

de inverno é pastejada e manejada para ressemeadura natural. As quatro áreas estudadas

correspondem as séries temporais, representando tempos de implementação desta

prática de manejo. Em duas áreas a soja foi semeada e as outras duas permaneceram em

pousio. Quatro parcelas consecutivas (25 x 20 m) foram desenhadas em cada área.

Foram retiradas 10 amostras de solo de 5 cm de diâmetro, em cada parcela,

mensalmente, durante um ano e divididas em duas profundidades (0-5 e 5-10 cm). No

meio de cada parcela, a dinâmica da pastagem também foi avaliada, utilizando-se três

quadros contíguos de 0,5 x 0,5 m, para contagem de plantas e inflorescências, e 3

amostras da superfície do solo, com 10 cm de diâmetro, para contagem de plântulas. A

dinâmica do banco de sementes do solo mostra padrões estruturais no tempo, com um

período de “armazenamento” das sementes no solo durante o verão, um período de

“exaustão” durante o outono e um período de “transição” durante o inverno e a

primavera. O estabelecimento da pastagem por ressemeadura natural é totalmente

dependente do recrutamento anual das sementes que estão no solo. A influência das

práticas de manejo utilizadas na área no banco de sementes do solo é mais importante

do que o tempo de implementação destas práticas. As áreas onde a soja foi semeada

apresentaram maiores quantidades de sementes no solo. A maior parte das sementes

supera a dormência e germina no fim do verão e início do outono, mostrando um banco

de sementes do solo tipicamente transitório, mas com uma pequena proporção de

sementes persistente.

Palavras-chave: Lolium multiflorum, sementes enterradas, sementes de espécies

forrageiras, plantio direto.

8

Soil seed bank dynamic of annual ryegrass in no tillage system with soybean. Author: Agr. Eng. M.Sc. Fernanda Costa Maia. Supervisor: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia (UFPEL). Project supported by CNPq.

ABSTRACT. The study aimed to characterise annual ryegrass (Lolium multiflorum

Lam.) seed population dynamic in no tillage systems in rotation with soybean, in

different chronosequences (3, 6, 8 and 9 years-old). In the South of Brazil, integration

of soil cultivation and cattle grazing in the same area has been used, in no tillage

system, managing natural re-sowing of the grass. The soybean is traditionally cultivated

for two years and after that the area stays resting for two years. The four sites

correspond to the chronosequences, representing different periods of management, two

of them with soybean and the other two resting. FFoouurr consecutive plots (25 x 20 m)

were designed in each area. Ten soil samples with 5 cm of diameter were taken every

month during one year and divided in two depths (0-5 cm and 5-10 cm). In the middle

of each plot, the vegetation dynamic was also evaluated. The number of plants and

inflorescences were counted in three contiguous quadrats (0.5 x 0.5 m) and the number

of seedlings on three soil cores with 10 cm of diameter, per plot. Soil seed bank

dynamic shows structural patterns in time, with a “storage period” in summer, an

“exhausting period” during autumn and a “transition period” in winter and spring. The

establishment of the pasture by natural re-sowing is totally dependent of the annual

recruitment of seeds from the soil seed bank. The influence of the management

practices in the seed bank is more important than the number of years that these

practices have been implemented. Sites where soybean was sown showed the biggest

soil seed banks. Most part of the seeds overcome dormancy and germinate in the end of

summer and beginning of autumn, showing a typically transitory soil seed bank, but

with a small proportion of persistent seeds.

Key words: Lolium multiflorum, buried seeds, seeds of forage species, no tillage system.

INTRODUÇÃO

A distribuição da produção dos campos no sul do Brasil ao longo do ano é

tipicamente sazonal, devido à ocorrência de baixas temperaturas durante o inverno, que

prejudica o crescimento da vegetação campestre, composta predominantemente por

espécies subtropicais (Maia et al., 2003). No estado do Rio Grande do Sul, tal situação

provoca uma perda de aproximadamente 5% do total do rebanho (Maia & Primo, 1995).

O estado é um dos grandes responsáveis pela exportação brasileira de carne, sendo o

Brasil o maior exportador mundial de carne bovina desde 2003 (IBGE, 2005). Entre as

práticas mais utilizadas pelos produtores para contornar o problema da sazonalidade da

produção dos campos está a introdução de espécies exóticas de inverno, com manejo

direcionado para a ressemeadura natural da espécie introduzida, visando reduzir custos

na produção de forragem.

O azevém anual, devido à dormência de suas sementes e ao seu valor nutritivo

como alimento, é uma das gramíneas mais utilizadas no sul do Brasil em sistemas

rotativos com cultivos de verão, tanto como forrageira quanto como cobertura protetora

do solo; dispersando suas sementes antes da semeadura da soja, permite uma

ressemeadura natural. Entretanto, ainda não está claro por quanto tempo estes campos

permanecem com os altos índices de produtividade observados atualmente e como

acontece a dinâmica das sementes no solo, em áreas baseadas exclusivamente em

ressemeadura natural.

10

No caso particular da sucessão azevém e soja em semeadura direta, muitos

produtores vêm obtendo bons resultados com relação a esta prática, embora faltem

estudos que qualifiquem as decisões inerentes aos “custos de oportunidade” da

utilização do azevém para pastejo e manejo para a ressemeadura (Medeiros, 2000).

Ayala (2002) considerou importante o entendimento dos padrões de emergência e

viabilidade das sementes no solo, como uma forma de aumentar fortemente os índices

de ativação do banco de sementes de algumas espécies de importância forrageira.

O banco de sementes pode ter um importante papel nos sistemas produtivos,

tornando viável a utilização da pastagem (Silva, 2004). O sucesso econômico da

introdução de uma espécie forrageira em campo nativo depende de quanto tempo esta

espécie permanece produzindo. Em geral, a persistência está fortemente relacionada

com a adoção de adequadas práticas de manejo e com a capacidade de ressemeadura

natural através do banco de sementes do solo (Marañon, 1995; Medeiros, 2000).

Alguns autores apontam que muitas gramíneas cultivadas, incluindo Lolium spp.,

não formam bancos de sementes persistentes (Douglas, 1965; Thompson & Grime,

1979; Howe & Chancellor, 1983; López-Mariño, 2000), indicando que a ressemeadura

observada em campos melhorados decorre basicamente de sementes depositadas no solo

na estação anterior.

A grande maioria dos estudos descreve a composição, diversidade e densidade

do banco de sementes, mas poucos explicam como estes aspectos acontecem e quão

rapidamente eles se modificam (Fenner & Thompson, 2005). Pesquisas sobre dinâmica

da população desses campos melhorados e sua relação com o banco de sementes do solo

a médio e longo prazo devem ser propostas. Para isto, estudos que objetivem

caracterizar o banco de sementes em todas as estações do ano permitirão uma melhor

compreensão da dinâmica da vegetação campestre sob utilização agrícola e inferências

sobre o potencial de recuperação da mesma, oferecendo informações que possibilitem a

adoção de práticas de manejo agrícola, otimizando, assim, a utilização econômica

desses campos e assegurando sua sustentabilidade.

O presente estudo buscou caracterizar a dinâmica da população de sementes de

azevém anual em sistema de semeadura direta em rotação com soja, dentro de diferentes

séries temporais.

MATERIAL E MÉTODOS

1. Área de estudo

O trabalho foi desenvolvido no sul do Brasil, na Estância Santa Eulália, região

sudeste do estado do Rio Grande do Sul, município de Pelotas, situada a 31º 38’ 00”S e

52º 27’ 00”O.

O clima da região é considerado subtropical, com quatro estações do ano bem

definidas, precipitações pluviais totais anuais de 1.300 a 1.500 mm, bem distribuídas ao

longo do ano, temperaturas médias anuais de 17 ºC e possível ocorrência de geadas no

período de abril a setembro. A área apresenta relevo suavemente ondulado, solo com

textura argilosa, não bem drenado, com boas características químicas e físicas, profundo

e com excessiva compactação superficial; também apresenta forte variação nos níveis

de fósforo e potássio, de acordo com a profundidade; pH varia de 4,4 a 5,1.

A Estância Santa Eulália possui uma área física de 2500 ha, sendo 850 ha

destinados à semeadura direta de soja e azevém anual em sucessão, por ressemeadura

natural, para pastejo de gado bovino. Os quatro potreiros em estudo medem 100 ha,

aproximadamente, cada um representando um tempo de implantação do sistema de

manejo acima citado (série temporal), sendo estes 3, 6, 8 e 9 anos. Quatro parcelas

consecutivas, de 25 x 20 m cada, em faixa, foram demarcadas em cada série temporal.

12

O local foi escolhido de modo a estar situado em posições intermediárias do relevo e

com boa representação do sistema de manejo utilizado.

2. Sistema de semeadura direta na palha de azevém anual e soja

Na implantação do sistema, o azevém anual foi primeiramente semeado (30

kg.ha-1) em campo nativo dessecado. A semeadura não foi mais realizada nos outros

anos. Os potreiros são divididos com cerca elétrica e utilizados de forma rotativa para

pastejo de gado bovino, com capacidade média de 1,5 unidade animal.ha-1.ano-1,

alcançando uma produtividade comercial de aproximadamente 450 kg.ha-1.ano-1 de peso

vivo. O período de pastejo é usualmente de junho (fim do outono), conforme a FIGURA

1, a outubro (primavera), quando os animais são vendidos ou retirados para outra área

(FIGURA 2). Neste momento, são aplicados 50 kg.ha-1 de uréia, para favorecer a

recuperação das plantas, a produção de sementes e a formação de um adequado BSS,

capaz de garantir a ressemeadura natural com uma adequada população de plantas (600

plantas.m-2). No início de dezembro (fim da primavera), conforme a FIGURA 3, é feita

uma aplicação de glifosato (1,25 a 2,0 kg.ha-1 de produto comercial), permitindo a

semeadura da soja, 10 a 15 dias depois. A soja é colhida no fim de abril (FIGURA 4),

quando as plantas de azevém anual já se encontram vegetando na área, com alturas que

podem atingir 15 cm (FIGURA 5).

FIGURA 1. Pastagem de azevém anual durante o mês de junho, com altura de aproximadamente 20 cm.

13

FIGURA 2. Condição da pastagem de azevém anual durante o inverno, no momento da retirada dos animais.

FIGURA 3. Azevém anual dessecado por glifosato, no início de dezembro.

14

FIGURA 4. Condição da pastagem de azevém anual, no final do ciclo da soja, em março.

FIGURA 5. Área da pastagem de azevém anual após a colheita da soja, no fim de abril.

A soja é habitualmente cultivada por dois anos consecutivos e depois a área

permanece dois anos seguidos em pousio. No período em que a área está em pousio, o

campo natural modificado é pastejado e roçado durante o verão e o azevém anual é

pastejado durante o inverno e manejado visando continuar o sistema de ressemeadura

natural.

15

Durante o período de estudo, a soja estava sendo cultivada em duas áreas (6 e 8

anos de manejo em semeadura direta); as outras duas se encontravam em pousio (3 e 9

anos).

Antes da aplicação do glifosato para a semeadura da soja nas áreas com 6 e 8

anos, algumas sementes foram coletadas, para verificação do grau de maturidade através

do conteúdo de água.

Variáveis de fertilidade do solo de cada parcela foram analisadas.

3. Dinâmica do banco de sementes do solo

Dez amostras de solo (10 cm de profundidade x 5 cm de diâmetro) foram

retiradas em cada uma das quatro parcelas (FIGURA 6), totalizando quarenta amostras

em cada série temporal, aproximadamente a cada 30 dias, durante um ano (de dezembro

de 2002 a dezembro de 2003). Um total de 1.963 cm3 foi amostrado em cada parcela,

estando de acordo com estudos japoneses, que recomendam um volume mínimo de solo

de 400 a 600 cm3 para uma adequada estimativa do banco de sementes de campos e

pastagens (Numata et al., 1964; Hayashi & Numata, 1971).

Cada amostra foi dividida em duas profundidades (0 a 5 cm e 5 a 10 cm) e

passadas por peneiras de perfuração de 9,52 mm, para remoção de restos vegetais e

pedras, de 1,68 mm e de 0,84 mm. O resíduo concentrado, contendo as sementes, foi

examinado e as sementes de azevém anual contadas e removidas. As sementes foram

colocadas em bandejas de alumínio, contendo solo esterilizado da própria área mantido

úmido, em sala com temperatura controlada, para verificação da viabilidade (FIGURA

7). Aquelas que não germinaram foram submetidas ao teste de tetrazólio (Brasil, 1992).

As unidades amostrais foram compostas pelas médias dos resultados das dez

amostras de cada parcela, em cada profundidade.

16

FIGURA 6. Amostras de solo utilizadas na análise do banco de sementes do solo.

FIGURA 7. Germinação das sementes de azevém anual retiradas das amostras de solo, em sala climatizada.

A série de 3 anos de manejo foi amostrada somente de dezembro de 2002 a maio

de 2003, quando então não foi mais considerada no experimento, em virtude de nova

semeadura de azevém e correção da superfície do solo realizada pelo produtor, já que a

área onde a parcela se localizava apresentou problemas de alagamento e poucas

sementes sobreviveram.

17

4. Dinâmica da população de plantas

No interior de cada uma das três parcelas de cada série temporal, três quadros

contíguos, de 0,5 x 0,5 m (0,25 m2), foram utilizados para um levantamento mensal da

população de plantas de azevém, durante um ano, determinando-se o número de plantas

e de inflorescências/infrutescências, totalizando doze repetições em cada área. A média

dos valores obtidos nos três quadros em cada uma das três parcelas determinou cada

unidade amostral. De acordo com o número de inflorescências/infrutescências por metro

quadrado, observado em cada área, e o peso de mil sementes (Brasil, 1992), no fim de

novembro e início de dezembro (fim da primavera), foi determinado o número potencial

de sementes que poderiam fazer parte do banco de sementes do solo; este cálculo foi

feito através de uma estimativa do número de sementes produzidas por metro quadrado.

Os números de plântulas e de sementes na superfície do solo foram

determinados em três amostras de solo de 10 cm de diâmetro, por parcela, totalizando

doze repetições em cada série temporal, sendo cada unidade amostral formada pelos

valores médios obtidos em cada parcela.

5. Análise estatística

Análise de variância simples (ANOVA) foi realizada com os dados do banco de

sementes do solo de azevém, para a identificação de diferenças entre as séries

temporais, em cada período de coleta e entre os períodos, dentro de cada série, através

do aplicativo SPSS, utilizando-se o teste de Tukey, com 5% de probabilidade. Um teste

de homogeneidade de variâncias (Levene), também no aplicativo SPSS, foi realizado

antes da análise de variância (α de 5%). Análise de regressão também foi feita com os

mesmos dados e utilizando-se o mesmo aplicativo, buscando-se um modelo para melhor

visualização da dinâmica do BSS ao longo do ano.

Foi realizada análise multivariada dos dados do banco de sementes de azevém e

de fertilidade do solo. O teste de aleatorização dos dados de fertilidade do solo foi

realizado com o aplicativo MULTIV (Pillar, 1997), utilizando-se, como medida de

semelhança entre unidades amostrais, o Índice de Gower, já que as variáveis

18

apresentavam diferentes unidades de medida. Com este teste buscou-se identificar

diferenças significativas de fertilidade do solo das quatro séries avaliadas.

O teste de homogeneidade de variância e ANOVA também foram realizados

com estes dados, para verificar quais variáveis foram responsáveis pelas diferenças

observadas, utilizando-se o Teste de Tukey (α de 5%) do aplicativo SPSS.

Através do aplicativo SYNCA (Pillar & Orlóci, 1993), foi realizada análise de

ordenação dos dados do banco de sementes, plotando-se também, no diagrama, as

variáveis de solo com maiores índices de correlação com pelo menos um dos eixos da

ordenação. O diagrama de ordenação elaborado permitiu visualizar o posicionamento,

no espaço, de cada unidade amostral, considerando-se a quantidade de sementes de

azevém no solo, ao longo de todo o ano, e as variáveis de solo que podem influenciar

esta disposição.

RESULTADOS

No período com maior BSS, a série com 3 anos de manejo apresentou o menor

número de sementes viáveis no solo (3.363 sementes.m-2), seguida pela área com 9 anos

(6.623 sementes.m-2), ambas sem soja. As séries com 6 e 8 anos apresentaram os

maiores bancos de sementes, com 22.835 e 18.824 sementes.m-2, respectivamente,

conforme demonstrado na TABELA 1, considerando-se as duas profundidades

estudadas. Os períodos em que foram coletados os maiores números de sementes no

solo foram o início de dezembro (fim da primavera), para as séries com 6 e 9 anos, e o

fim de janeiro (verão), para as com 3 e 8 anos. Estas diferenças com relação aos

períodos devem-se, provavelmente, à retirada dos animais dos potreiros, que ocorre de

modo escalonado, pelo produtor, em função da comercialização. Se forem incorporados

a esses valores os números de sementes não viáveis, o tamanho do banco de sementes

pode variar entre 12.341 e 28.873 sementes.m-2.

Considerando-se as coletas nas quais foram verificados os maiores números de

sementes no solo e o número potencial de sementes que poderiam vir a fazer parte do

BSS, determinado através do número de inflorescências/infrutescências e o peso de mil,

a série com 3 anos de manejo apresentou um banco de sementes 56% menor; a série

com 6 anos, um banco de sementes 9% maior; com 8 anos, 4% maior e com 9 anos, um

banco 44% menor. Mais de 90% das sementes foram encontradas nos primeiros 5 cm de

solo.

20

TABELA 1. Diferenças de tamanho do banco de sementes do solo de azevém anual (0-10 cm) nas séries temporais de 3, 6, 8 e 9 anos de manejo.

Período de amostragem 3 anos 6 anos 8 anos 9 anos Setembro - 13 a 77 a 13 a Outubro - 89 a 89 a 38 a

Novembro - 22.835 c 6.203 b 2.458 a Dezembro - 13.831 b 13.398 b 6.623 a

Janeiro 3.363 a 13.194 b 18.824 b 4.941 a Fevereiro 1.605 b 3.248 b 7.909 c 319 a

Março 561 a 2.356 b 8.801 c 904 ab Abril 357 a 1.478 b 4.712 b 503 a Maio 64 a 599 a 624 a 102 a Junho - 318 a 1.541 a 217 a Julho - 166 a 128 a 38 a

Agosto - 13 a 77 a 13 a Letras diferentes na linha indicam diferenças significativas de médias a 5% de probabilidade (ANOVA seguida do Teste de Tukey) dos dados com transformação logarítmica.

Considerando-se separadamente os períodos com maior número de sementes no

solo, as áreas sem soja foram significativamente diferentes das áreas onde a soja foi

cultivada no verão.

As variáveis de composição química do solo em cada série foram

significativamente distintas. Os contrastes entre as áreas com e sem soja também

mostraram diferenças significativas de fertilidade. De acordo com o teste de

homogeneidade e análise de variância, os solos de todas as séries temporais

apresentaram diferenças significativas no conteúdo de argila, fósforo, potássio, alumínio

e cálcio, como pode ser observado na TABELA 2. O teor de matéria orgânica não

apresentou diferença significativa entre as áreas estudadas; as outras variáveis (pH,

sódio e magnésio) não foram consideradas, já que as variâncias não eram homogêneas,

de acordo com o teste de Levene.

TABELA 2. Diferenças de conteúdos de argila, matéria orgânica, fósforo, potássio, alumínio e cálcio em cada área da série temporal (n = 4), representando tempos de implantação do sistema agropastoril com semeadura direta sobre campo natural.

3 anos 6 anos 8 anos 9 anos Argila (%) 13ab 17c 15,75bc 11a

Matéria orgânica (%) 4,31a 3,38a 3,69a 4,23a Fósforo (mg/L) 10,43ab 7,33a 19,7b 11,28ab

Potássio (mg/L) 68a 135,3b 181,3b 53a

Alumínio (me/100 mL) 0,9b 0,3a 0,1a 0,08a

Cálcio (me/100 mL) 3,4a 4,05ab 5,1bc 5,48c

Letras diferentes na linha indicam diferenças significativas de médias (ANOVA seguida do Teste de Tukey).

21

O diagrama de ordenação da FIGURA 8 ilustra as diferenças do BSS de azevém

ao longo do ano, incorporando as doze coletas realizadas, e da composição química do

solo de três séries temporais (6, 8 e 9 anos). O solo da série com 3 anos de manejo

apresentou os maiores índices de alumínio e matéria orgânica; os das séries temporais

de 6 e 8 anos apresentaram os maiores conteúdos de argila; o da série de 8 anos, os

maiores índices de potássio, fósforo e magnésio, enquanto que o solo da série de 9 anos

apresentou os maiores índices de sódio e maior pH. Através da FIGURA 8 pode-se

observar possíveis influências do teor de potássio na constituição do banco de sementes

de azevém das parcelas das séries temporais de 6 e 8 anos de manejo, ambas com

cultura da soja presente no ano de avaliação, e do pH, teores de cálcio, sódio e matéria

orgânica do solo na constituição do banco das parcelas da série de 9 anos.

8D 8C8B

8A

K

CaMO

NapH 9D9C9B

9A

6D

6C

6A

6B

-20000

-15000

-10000

-5000

0

5000

10000

15000

20000

-30000 -20000 -10000 0 10000 20000 30000

FIGURA 8. Diagrama de ordenação do BSS azevém (0-10 cm) ao longo do ano nas parcelas (A, B, C e D) das séries temporais de 6, 8 e 9 anos de manejo (n = 12). As variáveis pH, matéria orgânica (MO), potássio (K), sódio (Na) e cálcio (Ca) no solo apresentam correlação acima de 0,52 com o eixo X. O eixo horizontal representa 53,8% e o vertical, 33,1% da variação do BSS de azevém ao longo do ano.

A observação da dinâmica da população de plantas de azevém anual possibilitou

um maior entendimento sobre o potencial anual de sementes que viriam constituir ou

não o BSS da área e sobre possíveis flutuações nesse fluxo de sementes anualmente

produzido.

22

No fim do verão (fim de fevereiro e março), a dormência da maior parte das

sementes que estavam no solo foi superada e, conseqüentemente, verificou-se uma

diminuição de 49% a 82% no tamanho do banco de sementes, o que coincidiu com o

início do aumento no número de plântulas. No primeiro mês do outono (abril), mais de

90% das sementes haviam germinado. Em maio, o banco de sementes tornou-se

insignificante e o número de plântulas atingiu o máximo, diminuindo posteriormente.

Um expressivo número de plantas foi observado durante este período, aumentando até o

início do inverno e diminuindo, gradativamente, até estabilizar-se logo após esse

período. No início da primavera (fim de setembro), as primeiras flores aparecem. No

fim da primavera (fim de novembro e dezembro), a deposição das sementes no solo

recomeça.

Houve diferenças significativas entre as séries temporais quanto ao tamanho do

banco de sementes de 0 a 10 cm de profundidade, do fim da primavera, quando a

dispersão das sementes se inicia, ao início do outono (pico de germinação). Não houve

diferenças do fim do outono até a próxima primavera, quando quase nenhuma semente

era encontrada no solo (TABELA 1). As sementes que se encontravam de 5 a 10 cm de

profundidade não apresentaram diferenças significativas entre as séries estudadas.

A FIGURA 9 mostra as diferenças graduais no tempo (entre as diversas coletas

ao longo do ano) do tamanho do banco de sementes nos primeiros 5 cm de solo, dentro

das séries temporais de 6, 8 e 9 anos, separadamente. As sementes que estavam de 5 a

10 cm de profundidade não foram consideradas, porque as variâncias das amostras não

foram homogêneas (Teste de Levene). Mesmo não sendo considerada em algumas

análises e nas FIGURAS 9 e 10, por não apresentar a totalidade das coletas ao longo do

ano, a série de 3 anos também apresenta diferenças significativas entre o tamanho do

banco de sementes no verão (de dezembro a março) e no outono (coleta de maio),

quando foi realizada a última coleta, neste caso.

23

0

5000

10000

15000

20000

25000

Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Maio Jun. Jul. Ag.

Período de amostragem

Sem

ente

s.m

-2

0

5000

10000

15000

20000

25000

Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Maio Jun. Jul. Ag.

Período de amostragem

Sem

ente

s.m-2

0

5000

10000

15000

20000

25000

Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Maio Jun. Jul. Ag.

Período de amostragem

Sem

ente

s.m

-2

FIGURA 9. Diferenças no tamanho do banco de sementes do solo de azevém anual nos primeiros 5 cm de solo, ao longo do ano, nas séries temporais com 6 (A), 8 (B) e 9 (C) anos de manejo (P<0,05).

Nas séries de 6 e 8 anos, houve diferenças significativas entre o período no qual

as plantas estavam florescendo, que se iniciou no fim do inverno e início da primavera

(setembro), onde quase nenhuma semente podia ser encontrada no solo, e o período no

qual iniciou-se a dispersão, no fim da primavera (fim de novembro). Durante o outono,

C

B

A

a ab

c

de de

cde cde bcd abc

a

de

de

cde cde

a a c

c c

c c bc bc ab a

abc a

a ab

e

bcd abc

abc

24

quando a maioria das sementes germina, algumas ainda se encontravam no solo (de

maio a julho). Depois de maio, quando o maior número de plântulas foi observado

(FIGURA 9), o banco de sementes começou a diminuir, tendo uma drástica redução em

junho e julho, chegando a zero em agosto.

Essas diferenças também foram significativas para a série temporal de 9 anos,

onde a soja não foi cultivada durante o período de estudo, mas a diminuição do banco

iniciou-se mais cedo (fim de março). Entretanto, o pico no número de plântulas também

ocorreu em maio (FIGURA 10).

Muitas sementes se encontravam na superfície do solo e sobre a cobertura

vegetal, conforme demonstra a TABELA 3, acompanhando a mesma dinâmica do banco

de sementes. Estas foram consideradas no total da profundidade de 0 a 5 cm.

TABELA 3. Número de sementes na superfície do solo, por metro quadrado, nas séries temporais de 6, 8 e 9 anos de manejo.

Período de amostragem 6 anos 8 anos 9 anos Setembro 0 0 0 Outubro 0 0 0

Novembro 14.621 9.263 7.915 Dezembro 104.692 173.924 117.541

Janeiro 97.594 130.029 69.582 Fevereiro 135.272 135.934 56.574

Março 172.950 141.839 43.566 Abril 159.450 221.684 254.075 Maio 145.950 270.292 21.608 Junho 0 48.650 0 Julho 0 0 0

Agosto 0 0 0

25

FIGURA 10. Dinâmica da vegetação de azevém anual nas séries temporais de 6 (A), 8 (B) e 9 (C) anos de manejo.

02000400060008000

10000120001400016000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Período de amostragemN

úmer

o.m

-2

Plantas Plântulas Inflorescências

0

20004000

60008000

1000012000

14000

16000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Período de amostragem

Núm

ero.

m-2

Plantas Plântulas Inflorescências

02000400060008000

10000120001400016000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Período de amostragem

Núm

ero.

m-2

Plantas Plântulas Inflorescências

A

B

C

Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ag.

Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ag.

Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ag.

DISCUSSÃO

As espécies anuais associadas a sistemas de semeadura direta normalmente

apresentam um banco de sementes transitório, germinando no outono e apresentando

uma dinâmica previsível (Silva, 2004), como o azevém anual nesse caso. Considerando

que a longevidade da espécie também é curta em condições naturais (Thompson et al.,

1997; ver também Artigo II), o padrão do banco de sementes do solo observado é

totalmente compreensível, onde quase todas as sementes iniciam a germinação até seis

meses após a dispersão.

O modelo cúbico mostrou ser o que melhor descreve a dinâmica do banco de

sementes do solo de azevém em todas as séries temporais e profundidades (FIGURA 11

e TABELA 4). É possível identificar três períodos distintos nesses modelos. O primeiro

período ocorre na primavera (setembro e outubro), quando as plantas iniciam o

florescimento e a formação das sementes, com praticamente nenhuma semente presente

no solo. O segundo período vai do fim da primavera até o verão (de novembro a março),

quando a dispersão e um pequeno período de dormência no solo ocorrem. Neste

período, assinalado na FIGURA 11, observa-se um alto número de sementes no solo e

também diferenças significativas no tamanho do banco de sementes entre as três séries

temporais. Com relação à dormência, Bazzigalupi (1982) relata ausência de germinação

de sementes de azevém anual imediatamente após a colheita, aumentando

gradativamente até alcançar o pico após três meses de armazenamento, o que coincide

com as condições no campo de início de germinação. O terceiro período inicia-se

quando começa a germinação, no outono (abril), mostrando uma forte redução no

27

número de sementes no solo, até alcançar valores nulos durante o inverno (agosto).

Freitas (1990) e Silva (2004) encontraram resultados similares ao estudarem a dinâmica

do banco de sementes de duas outras gramíneas: Brachiaria plantaginea e Bromus

auleticus, respectivamente. A primeira espécie é uma gramínea anual espontânea

considerada prejudicial para muitos cultivos agrícolas, e a segunda, uma espécie nativa

perene dos campos da região sul do Brasil, Uruguai e Argentina. Ambas as espécies

também apresentaram um pico de germinação das sementes do solo em março e abril; a

primeira ocorrendo em condições de adequado regime de chuvas (região do cerrado) e a

segunda, no início do outono (campos sul brasileiros).

FIGURA 11. Curvas obtidas por análise de regressão polinomial do banco de sementes do solo de azevém anual, coletado de setembro a agosto de 2003, nas diferentes séries temporais.

TABELA 4. Modelos de regressão polinomial dos dados com transformação logarítmica do banco de sementes do solo para cada série temporal (P<0,001).

n = 40 Sementes viáveis (y) R2 6 anos y = 3.1973x-0.4618x2+0.0181x3-2.5740 0.72 8 anos y = 2.3323x-0.2879x2+0.0088x3-1.4246 0.71 9 anos y = 2.8737x-0.4354x2+0.0178x3-2.2169 0.71

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Período de amostragem

log 1

0 sem

ente

s.m

-2

6 anos 8 anos 9 anos

Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ag.

28

Este padrão foi observado em ambas as profundidades (0 a 5 e 5 a 10 cm).

Mesmo sendo um sistema de semeadura direta, a dinâmica das sementes que se

encontravam de 5 a 10 cm de profundidade no solo não foi estável, mostrando o mesmo

decréscimo no fim do outono (por volta de maio), quando nenhuma semente foi

encontrada, e o mesmo aumento no fim da primavera (fim de novembro), quando as

sementes foram dispersas, mas, claro, em menor escala, devido à pequena quantidade de

sementes encontrada nesta profundidade. Isto provavelmente se deve à máquina

utilizada na semeadura da soja, que provoca distúrbios somente nas linhas de

semeaduras, com distâncias que variam de 40 a 60 cm. A soja é semeada a 2 cm de

profundidade e o fertilizante é colocado de 5 a 7 cm, permitindo às sementes que estão

na superfície e nos primeiros centímetros de solo penetrarem mais profundamente.

Pequenas diferenças nas séries temporais das áreas com e sem soja, puderam ser

observadas durante o período de amostragem. A dinâmica do banco de sementes foi a

mesma, mas o decréscimo verificado na série sem soja (9 anos) se iniciou mais cedo

(fim de março), já que a sombra da cultura não existia neste caso. Entretanto, o pico no

número de plântulas também foi em maio (FIGURA 10), como nas outras séries

temporais. Neste período do ano, a vegetação campestre nativa ainda estava cobrindo a

área, cobertura esta formada por espécies rasteiras e prostradas, decorrentes do intenso

pastejo a que a área foi submetida. Neste ambiente, as plântulas que emergiram durante

o verão estavam diretamente expostas à forte radiação solar e morreram no estágio

inicial de vida.

A sobrevivência da semente e o tamanho do banco de sementes do solo podem

depender das condições de enterrio e de hábitat, idade da semente, densidade e

predação, além de outros fatores como herbivoria, que afetam o fluxo de entrada de

sementes no solo (Alexander & Schrag, 2003). A hipótese inicial do presente trabalho

era de que o tempo de manejo realizado no local de estudo seria o principal fator a

afetar o tamanho do banco de sementes, com a série temporal de 9 anos apresentando o

maior número de sementes no solo. Entretanto, as práticas de manejo utilizadas em cada

área foram mais importantes que o fator tempo. As áreas com soja tiveram grande

influência no BSS de azevém. A cultura da soja cria um microclima, que protege as

plântulas da gramínea no início do seu desenvolvimento, como sombreamento durante o

período final de verão, reduzindo o índice de mortalidade das plântulas.

29

Além disso, a aplicação de fertilizantes na soja promove o melhoramento da

fertilidade do solo, o que se manifesta no desenvolvimento das plantas de azevém.

Conforme relatado anteriormente, algumas das variáveis de solo analisadas promoveram

diferenças significativas nos índices de fertilidade das diferentes séries, afetando

principalmente as sem soja, como a de 9 anos. O nitrato, por exemplo, é citado como

promotor da germinação de algumas sementes não dormentes (Fenner & Thompson,

2005), além de ser uma importante fonte de nutrientes e contribuir para o rápido

crescimento das plântulas.

A resposta do nitrato é interpretada como um removedor de dormência para

alguns autores (Pons, 1989), bem como um promotor da germinação em sementes não

dormentes para outros (Fenner & Thompson, 2005). O conteúdo de nitrato interno da

semente possui uma clara correlação com a germinabilidade (Bouwmeester et al.,

1994). Entretanto, o nitrato é rapidamente lixiviado da semente para o solo, fazendo

com que o conteúdo endógeno da mesma tenha pouca importância ecológica em

comparação com a sua sensibilidade aos íons de nitrato externos (Murdoch & Carmona,

1993 apud Fenner & Thompson, 2005; Bouwmeester et al., 1994).

A resposta ao nitrato pode ser usada pela semente como um mecanismo para a

detecção de espaços vazios na vegetação, através da redução deste nutriente, provocada

pelo consumo das plantas, do efeito do distúrbio e da estação do ano (Pons, 1989). Em

muitos casos, a resposta de germinação ao nitrato é influenciada por outros fatores como

a luz e a flutuação de temperatura (Probert et al., 1987). Como estes três fatores (nitrato,

luz e temperatura) se alteram, simultaneamente, quando um espaço é criado na

vegetação, uma resposta a todos eles possivelmente formaria um mecanismo de

detecção eficiente destes espaços.

Uma plântula recém emergida também está em grande desvantagem em relação

à população de plantas já estabelecida pela captura de recursos antes da formação de

suas raízes e expansão das folhas (Fenner & Thompson, 2005), como provavelmente

ocorre na área de estudo coberta por vegetação nativa. Schafer & Chilcote (1970, apud

Baskin & Baskin, 2000) relatam ocorrência de germinação de sementes enterradas de

azevém anual, seguida de morte das plântulas antes mesmo da emergência, o que

também foi observado neste trabalho. A disponibilidade de pequenos e poucos sítios

favoráveis ao estabelecimento também pode limitar o recrutamento.

30

Essas condições refletem a situação observada no campo, onde as áreas com soja

apresentaram maiores BSS do que as áreas sem a cultura. Aquelas tiveram melhores

condições nutricionais, de acordo com a análise de fertilidade do solo; principalmente,

maiores níveis de potássio e fósforo, e também mais espaços disponíveis para o

estabelecimento das plântulas de azevém, já que o controle de plantas concorrentes foi

realizado sistematicamente, com grande eficiência. O diagrama da FIGURA 10

demonstra exatamente a influência do teor de potássio do solo, por exemplo, no banco

de sementes das séries de 6 e 8 anos, as quais receberam adubação potássica para o

cultivo da soja.

Como se pode observar, a ressemeadura natural do azevém anual é totalmente

dependente do recrutamento anual de sementes; além disso, a influência das práticas de

manejo adotadas é muito maior do que o número de anos de adoção das mesmas.

Pequenos atrasos e sazonalidades na germinação estão freqüentemente

associados a alguma forma de dormência (Thompson, 2000). O presente estudo revelou

que a maior parte das sementes de azevém superou a dormência e germinou no fim do

verão e início do outono.

Muitos modelos vêm sendo publicados na tentativa de descrever e classificar os

diferentes tipos de bancos de sementes (Csontos & Tamas, 2003). Neste trabalho foi

utilizado o modelo proposto por Thompson et al. (1997), permitindo classificar o

azevém anual como uma espécie que apresenta um BSS que varia de transitório

(sementes viáveis no solo por menos de um ano) a pouco persistente (sementes viáveis

no solo por um a cinco anos), semelhantemente a resultados obtidos em outros países

(Douglas, 1965; Howe & Chancellor, 1983; López-Mariño et al., 2000). Conforme

Thompson & Grime (1979), este padrão majoritariamente transitório do banco de

sementes está associado aos distúrbios estacionais previsíveis.

CONCLUSÕES

A dinâmica do banco de sementes de azevém anual apresenta padrão estrutural

no tempo, com um período de “armazenamento” durante o verão, um período de

“exaustão” durante o outono e um período de “transição” durante o inverno e a

primavera.

O estabelecimento da pastagem através de ressemeadura natural depende do

recrutamento anual de sementes de azevém do banco de sementes do solo.

A influência das práticas de manejo no banco de sementes de azevém é muito

mais importante do que o período de tempo de aplicação destas práticas.

O tamanho do banco de sementes de azevém está positivamente associado ao

cultivo da soja, cuja integração possibilita uma maior sobrevivência de plântulas e

antecipação na produção de forragem.

A maior parte das sementes de azevém supera a dormência e germina no fim do

verão e início do outono, mostrando um banco de sementes que varia de transitório a

pouco persistente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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35

Longevidade de sementes de azevém anual em condições naturais. Autora: Eng. Agr. M.Sc. Fernanda Costa Maia. Orientador: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia (UFPel). Projeto financiado pelo CNPq.

RESUMO. O interesse do trabalho foi estudar a longevidade das sementes de azevém

anual (Lolium multiflorum Lam.) em condições naturais como uma importante

informação ao estudo da sua dinâmica nos sistemas de semeadura direta na palha

utilizados no sul do Brasil. A espécie é manejada visando a ressemeadura natural,

permitindo a alimentação do gado durante a estação fria, em uma pastagem implantada

com custos reduzidos. O estudo da dinâmica do banco de sementes de azevém que vem

sendo realizado permitiu a classificação do banco de sementes da espécie como

transitório ou persistente a curto prazo. Entretanto, poucas informações estão

disponíveis sobre o efeito das condições ambientais na longevidade e sobrevivência das

sementes em condições naturais, especialmente quanto ao tempo que as não germinadas

podem permanecer viáveis no solo. Em fevereiro de 2003, vinte sacos de náilon

contendo solo esterilizado e 100 sementes foram aleatoriamente enterrados em área de

campo a 5 cm de profundidade. Em intervalos de três ou quatro meses, quatro sacos

foram sendo desenterrados. As sementes foram contadas e submetidas a testes de

germinação e tetrazólio. Inicialmente, as sementes apresentaram uma alta dormência

primária, a qual foi rapidamente superada. Após 108, 226, 326, 565 e 732 dias de

enterrio não houve diferenças significativas nas condições das sementes, já que a

dormência secundária das que não germinaram durante o outono foi baixa. A última

coleta foi a única que apresentou diferença significativa das demais devido à acentuada

queda na viabilidade das sementes. Em função da reduzida quantidade de sementes que

permaneceram viáveis após 732 dias de enterrio, o banco de sementes do solo foi

classificado como transitório, evidenciando que em pastagens anuais estes bancos

transitórios apresentam papel fundamental na regeneração da espécie.

Palavras-chave: Lolium multiflorum, viabilidade, dormência, sementes enterradas.

36

Longevity of annual ryegrass seeds in natural conditions. Author: Agr. Eng. M.Sc. Fernanda Costa Maia. Supervisor: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia (UFPEL). Project supported by CNPq.

ABSTRACT. The interest was the seed longevity dynamic of annual ryegrass (Lolium

multiflorum Lam.) in natural conditions as an important tool to explain its dynamic in

no tillage systems used in the South of Brazil. The species is commonly managed for

natural resowing and, in this way, allows cattle grazing with reduced costs during the

winter time. We have already studied the soil seed bank dynamic of the pasture in the

first chapter, where we could classify the seed bank of the species as transient or short-

term persistent. However, there is little concern about the effects of the environmental

conditions on the longevity and survival of seeds in natural conditions to get better

information about how long these seeds that do not germinate can survive in the soil. In

February of 2003, twenty bags of nylon screen containing sterilised soil with 100 seeds

in each were randomly buried in the field, 5 cm deep. Around every three or four

months, four sacks were exhumed. Seeds were counted and tested by a germination and

tetrazolium tests. The seeds showed high primary dormancy, that was overcame very

fast. After 108, 226, 326, 565 and 732 days of burial there were no significant

differences as the secondary dormancy of the seeds that did not germinate in autumn

was not high. The last exhumation period was significantly different from the others due

to the strong decay on seed viability. As few seeds remained viable after 732 days, the

soil seed bank was classified as transient, being evident that in annual pastures the

transitory seed banks have a main role in the regeneration of the species.

Key words: Lolium multiflorum, viability, dormancy, buried seeds.

INTRODUÇÃO

As sementes constituem uma importante alternativa para a perpetuação das

plantas, notadamente para espécies anuais, cujas sementes dormentes são o elo crucial

entre as gerações (Harper, 1977). Sementes de espécies perenes normalmente não

permanecem viáveis no solo por longos períodos como as anuais (Pettit & Froend,

2001), que podem ter ciclos de vida extremamente longos (Cook, 1980). O número de

sementes viáveis no solo normalmente diminui com a redução da freqüência dos

distúrbios (impactos sobre a vegetação do ecossistema) e o aumento da longevidade da

vegetação (Symonides, 1986).

Muitas espécies que acumulam um grande número de sementes no solo possuem

sementes dormentes ou, pelo menos, populações parcialmente dormentes. O fato de

estas espécies apresentarem alto número de sementes de vida longa, aliado aos

polimorfismos com relação à dormência ou ao desenvolvimento de uma dormência

secundária, permite fluxos de germinação por longos períodos de tempo. Como essas

plantas, em geral, produzem um grande número de pequenas sementes, muitas delas

provavelmente penetram no solo e distribuem-se verticalmente nas primeiras camadas

(Bryant, 1989).

A composição do banco de sementes do solo depende da produção e da

composição das comunidades vegetais passada e presente, bem como da longevidade

das sementes de cada espécie, em condições locais (López-Mariño et al., 2000).

Stocklin & Fischer (1999) demonstraram que a longevidade das sementes está altamente

38

correlacionada com o índice de extinção de algumas espécies campestres. A

longevidade da semente é, portanto, um importante tópico na proposição de práticas de

manejo para recuperação de áreas degradadas (Bekker et al., 1998a; Bekker et al.,

1998b; Bekker & Berendse, 1999), revelando a possível vulnerabilidade da vegetação à

extinção, incluindo seu banco de semente do solo, a necessidade de sua conservação e

possibilidades de regeneração (Bekker et al., 1998c). Essa relação entre a composição

do banco de sementes do solo e a vegetação é muito importante em áreas submetidas a

diferentes práticas de manejo (Fredrickson & Taylor, 1982 apud López-Mariño, 2000).

No caso do azevém anual (Lolium multiflorum Lam.) no sul do Brasil, o

interesse foi sobre a longevidade de suas sementes em condições naturais, como um

importante tópico para a compreensão da sua dinâmica em sistemas de semeadura

direta. A espécie é manejada neste sistema visando-se à ressemeadura natural,

permitindo, desta forma, uma redução nos custos de implantação da pastagem de

inverno, para o gado utilizado neste sistema de integração lavoura e pecuária. A

dinâmica do banco de sementes do solo desta espécie já foi abordada no primeiro

capítulo, onde se pôde classificá-la como uma espécie que apresenta um banco de

sementes transitório a pouco persistente. Entretanto, existe necessidade de mais

informações sobre os efeitos das condições ambientais na longevidade e sobrevivência

das sementes em condições naturais, o que permitiria saber por quanto tempo estas

sementes que não germinam na próxima estação de crescimento podem sobreviver no

solo.

Este estudo teve por objetivo estudar a viabilidade das sementes de azevém

anual, em condições naturais.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido na Fazenda Santa Eulália, no sudeste do estado do

Rio Grande do Sul, município de Pelotas, na região sul do Brasil, 31º 38’ 00”S e 52º 27’

00”O, de fevereiro de 2003 a setembro de 2004.

O clima da região é considerado subtropical, com quatro estações do ano bem

definidas, chuvas bem distribuídas ao longo do ano (1.300 a 1.500 mm), temperaturas

médias anuais de 17 ºC e possível ocorrência de geadas no período de abril a setembro

(15 a 20 vezes). A área apresenta relevo suavemente ondulado e solos de textura

argilosa, não bem drenados, com boas características químicas e físicas, profundos e

com camada superficial compactada. O solo apresenta forte variação nos índices de

fósforo e potássio, de acordo com a profundidade. O pH varia de 4,4 a 5,1.

Em fevereiro de 2003, vinte sacos de náilon com solo esterilizado, contendo 100

sementes de azevém anual com 80% de poder germinativo, foram aleatoriamente

enterrados a cerca de 5 cm de profundidade.

Aproximadamente a cada três meses, quatro sacos foram desenterrados. As

sementes foram contadas e avaliadas pelo teste de germinação, em caixas gerbox, com

temperatura constante de 20 ºC, segundo as Regras para Análise de Sementes (Brasil,

1992). As que não germinaram dentro de 14 dias foram submetidas ao teste de tetrazólio

(Brasil, 1992), para verificação da viabilidade.

40

Foram realizadas análises multivariadas nos dados através do aplicativo

MULTIV 2.3.4. (Pillar, 1997; Pillar, 1994-2004). A medida de semelhança utilizada foi

a distância euclidiana e um teste de aleatorização foi realizado para identificar

diferenças significativas entre os tempos de enterrio, a 5% de probabilidade.

RESULTADOS

Como se pode ver na FIGURA 1, houve diferenças significativas entre as

condições iniciais da semente e após exumação, mas não entre estas, exceto após 226 e

565 dias de enterrio.

Em fevereiro, as sementes apresentaram um alto índice de dormência (72%);

somente 8% germinaram. De acordo com o teste de tetrazólio, cerca de 80% das

sementes enterradas estavam viáveis.

Após 108 dias de enterrio, 52% das sementes não foram mais detectadas,

provavelmente devido à germinação, mas também predação ou degradação, já que 28%

de plântulas foram detectadas nas amostras. Somente 16% das sementes ainda se

encontravam presentes e viáveis, apresentando alta qualidade, retratada pelo resultado

do teste de germinação, que evidenciou 80% de poder germinativo. Um baixo nível de

dormência foi verificado nesse período, com um pequeno aumento nas exumações

restantes (FIGURA 1).

Após 326 dias de enterrio, o índice de germinação em campo diminuiu

consideravelmente e o número de sementes não viáveis aumentou. O número de

sementes viáveis ficou praticamente o mesmo, mas a qualidade diminuiu (73% de poder

germinativo).

Após 565 dias, o número de sementes viáveis diminuiu ainda mais (11%), assim

como a qualidade (67% de sementes germinadas). O número de sementes não viáveis

diminuiu fortemente. Isto provavelmente deve-se ao fato de a identificação das

42

sementes danificadas nas amostras não ser mais possível e a maioria ter passado para a

categoria denominada “perda não identificada”.

Cerca de 732 dias após o enterrio, somente 12% do número inicial de sementes

foi encontrado, sendo 2% destas viáveis. O percentual de sementes dormentes se

manteve praticamente estável (5%). A qualidade das sementes encontradas, entretanto,

declinou bastante, ficando ao redor de 24% de germinação. Das sementes submetidas ao

teste de germinação, 50% delas não germinaram devido a algum tipo de dormência

secundária.

A FIGURA 1 retrata a situação inicial das sementes e as encontradas após cada

período de exumação, evidenciando as diferenças significativas entre estes períodos,

considerando todas as variáveis analisadas.

FIGURA 1. Alterações observadas nas sementes no experimento de enterrio e diferenças significativas (P<0,05) entre os diversos períodos de exumação das mesmas, considerando-se o conjunto das variáveis estudadas.

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

0 108 226 326 565 732

Dias de enterrio

Viáveis Dormentes Não viáveis Germinadas no campo Perda não identificada

a bc b bcd c d

DISCUSSÃO

As sementes no solo podem se encontrar nos mais variados estádios fisiológicos.

Embora sementes não dormentes apresentem uma leve tendência a serem menos

persistentes, praticamente todas as combinações de persistência e dormência existem

(Thompson et al., 2003).

A superação da dormência não deve ser confundida com germinação, pois são

processos completamente diferentes, que não acontecem na mesma escala de tempo e

dependem de diferentes condições ambientais (Benech-Arnold et al., 2000). As

sementes de azevém anual apresentaram alta dormência primária, que foi rapidamente

superada, provavelmente devido às altas temperaturas do verão. Posteriormente,

germinaram. A dormência secundária das sementes que não germinaram no outono não

foi muito alta, quando submetidas às condições requeridas para a germinação, durante a

condução do teste em laboratório.

A dormência das sementes de azevém anual pode ter causas ambientais ou

genéticas, podendo ser agravada por muitos fatores desconhecidos, que variam no

tempo e espaço (Jensen & Pierpoint, 1960).

A maior parte da diminuição observada no número de sementes encontradas nas

exumações após 108 dias foi, provavelmente, devido à germinação. As sementes de

azevém anual apresentam dormência até aproximadamente quatro meses após a

maturidade fisiológica, alcançando máximos valores de germinação somente após o

terceiro mês (Jensen & Pierpoint, 1961; Bazzigalupi, 1982), o que coincide com a

44

estação do ano do primeiro período de exumação. Neste período também foi possível a

observação do maior número de plântulas em área de pastagem no local (Artigo 1).

Entretanto, a predação e a degradação das sementes também podem ter contribuído com

este resultado. As conseqüências dos padrões de predação, que são muito variáveis, na

dinâmica da população de plantas são potencialmente altas (Crawley, 2000). Em seus

estudos, Hulme (1996) mostrou que sementes relativamente grandes como Festuca

pratensis, Lolium perenne e Trifolium pratense, que apresentam tamanho e forma

similares a L. multiflorum, foram as sementes mais predadas por pequenos mamíferos

após o enterrio, comparando-se com outras espécies.

Os resultados após 226 e 565 dias de enterrio foram significativamente

diferentes, provavelmente devido à alta percentagem de germinação em campo, no

primeiro caso, e alta perda não identificada, no segundo. A alta percentagem de

germinação em campo pode ser uma conseqüência do fato de alguns sacos não se

encontrarem mais na sua posição original no solo, mas muito perto da superfície,

provavelmente devido à ação de algum animal. Os outros períodos não apresentaram

diferenças significativas, tornando evidente que a superação da dormência primária e o

estímulo à germinação pelas altas temperaturas do verão, além do baixo grau de

dormência secundária, permitem a germinação da maior parte das sementes que estão

enterradas ainda no outono.

Roberts (1988) reconhece três processos fisiológicos distintos nas sementes

afetados pela temperatura: i) temperatura, junto com o grau de umidade, determina o

índice de deterioração em todas as sementes; ii) temperatura afeta o grau de remoção da

dormência, em sementes secas, e o padrão de modificações na dormência de sementes

úmidas; iii) em sementes não dormentes, a temperatura determina o grau de germinação.

Quando as sementes de espécies anuais de inverno, como o azevém, estão em

dormência primária, logo após a dispersão, a germinação está restrita, de forma

característica, a estreitas amplitudes de baixas temperaturas (Baskin & Baskin, 2000;

Probert, 2000). Durante o período de fim de primavera e início de verão, as

temperaturas do solo normalmente são maiores do que a temperatura máxima favorável

à germinação e, portanto, as sementes não germinam. Durante o período subseqüente,

mais quente, nas condições normalmente secas de verão, modificações pós-maturação

resultam em um aumento na temperatura máxima para a germinação. Durante o início

do outono, quedas na temperatura do solo coincidem com a amplitude de temperatura

45

requerida para a germinação, além de outras condições favoráveis, como adequada

disponibilidade de água no solo (Probert, 2000).

Segundo os dados da Estação Agroclimatológica de Pelotas, durante o mês de

fevereiro de 2003, a temperatura média chegou a 24,2 °C, com máxima de 34,2 °C e

mínima de 14,2 °C. Até o mês de maio, as temperaturas caíram para uma média de 16

°C e em junho, para 14,4 °C. Nos meses de março, abril e junho, a precipitação pluvial

foi maior que as normais para a região (143,8 e 151,8 mm, respectivamente). Estas

condições adequadas de temperatura e disponibilidade de água até o mês de maio

provavelmente favoreceram a germinação da maioria das sementes.

Estudando o efeito da germinação em espécies campestres no Japão, cuja

germinação era restrita ao período de primavera até o início do verão, Washitani &

Matsuda (1990) contataram que o tempo de emergência não estava correlacionado com

a presença de dormência ou de requerimentos para remoção da dormência, mostrando

que a mesma, normalmente, possui pouca influência na determinação do tempo de

germinação.

Tem sido comprovado que altas temperaturas durante o processo de maturação

reduzem a dormência das sementes de algumas espécies. Wiesner & Grabe (1972)

verificaram que cultivares de azevém anual apresentam diferentes potencialidades para

dormência, influenciadas pelas temperaturas registradas durante a maturação. Embora a

germinação no campo seja promovida, certamente, pelas temperaturas alternadas, na

maioria das espécies, experimentos laboratoriais sugerem que as sementes, na verdade,

respondem somente ao aumento da temperatura (Fenner & Thompson, 2005).

A interação da temperatura com o nitrato e a luz pode ser responsável pela

regulação dos ciclos de dormência de várias espécies (Hilhorst & Karssen, 2000). No

modelo proposto por Hilhorst (1993, apud Hilhorst & Karssen, 2000), a cadeia que leva

à germinação inicia em um receptor protéico na membrana, que fica exposto, pela ação

da temperatura na fluidez da membrana celular. Isto facilita a ligação do nitrato,

resultando em um aumento na afinidade da proteína com o fitocromo. Uma vez ligado

ao fitocromo, o complexo do receptor protéico é ativado e induz o sinal ao processo que

leva, ao final, à germinação da semente. Este modelo, embora seja somente uma

especulação a respeito do assunto, é importante por integrar os três principais fatores

ambientais (luz, temperatura e nitrato) no mecanismo da germinação. O local e o

46

período nos quais as sementes foram enterradas parecem ter refletido as condições

necessárias para o início desse processo.

Poucas sementes permaneceram viáveis por mais de um ano e meio no solo,

com um índice de germinação de 67%. McDonald et al. (1996) observaram um

comportamento similar para L. perenne, mencionando que a espécie apresenta tanto

bancos de sementes transitórios quanto persistentes a curto prazo (viáveis de 1 a 5

anos). A maioria das observações para azevém anual classificam-no como possuindo

um banco de sementes transitório, embora possam também ser encontradas

classificações que falem até em persistentes a curto e a longo prazo (Thompson et al.,

1997).

Desta forma, é possível perceber evidências de que tanto o solo como o clima

podem influenciar a longevidade das sementes (Bekker et al., 1998b; Blaney &

Kotanen, 2001; Cavieres & Arroyo, 2001). Entretanto, esta influência não é

determinante, pois, conforme Fenner & Thompson (2005) mencionam em seu livro, a

persistência é, sobretudo, uma característica da semente, que pode ser ou não

modificada pelas condições ambientais.

Como restaram poucas sementes ainda aptas a germinar após as exumações e

como os níveis de dormência foram baixos, o estudo concorda com os trabalhos de

Thompson & Grime (1979), na Inglaterra, e de D’Angela et al. (1988), na Argentina,

que classificaram o azevém anual como uma espécie com banco de sementes transitório,

em pastagens submetidas a distúrbios sazonais (seca e pastejo, por exemplo), fazendo

parte dos mecanismos regenerativos, onde mortalidades na população estabelecida de

plantas são anualmente recuperadas durante a estação do ano particularmente favorável.

Assim sendo, é evidente que, em pastagens anuais, os bancos de sementes

transitórios possuem papel fundamental na regeneração das espécies, juntamente com a

porção mais persistente de sementes (Levassor, 1990). Com esta informação, pode-se

dizer que os sistemas de semeadura direta da região, manejados visando à ressemeadura

natural da gramínea de inverno, são vulneráveis e dependentes da produção prévia de

sementes, já que o período de dormência da espécie não é tão longo quanto se previa, e

somente poucas sementes permanecem no solo ao longo do ano.

CONCLUSÕES

Uma fração das sementes de azevém anual, dispersa no fim da primavera,

mantém-se dormente no verão, sendo que as sobreviventes germinam no outono após a

remoção da dormência, provavelmente pela ação das altas temperaturas do verão e das

condições adequadas do outono.

A dormência secundária do azevém anual é muito baixa e poucas sementes

permanecem viáveis no solo ao longo do ano.

Como poucas sementes da espécie estavam aptas a germinar após mais de um

ano de enterrio, o banco de sementes foi classificado, neste estudo, como transitório.

O sistema de semeadura direta de soja sobre azevém anual, manejado para

ressemeadura natural e pastejo da gramínea, é totalmente dependente da produção anual

de sementes, já que estas não são aptas a permanecerem viáveis por longos períodos no

solo.

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51

Alterações no banco de sementes do solo de um ecossistema campestre provocadas por nove anos de manejo agropecuário intensivo e potencial de recuperação da vegetação nativa. Autora: Eng. Agr. M.Sc. Fernanda Costa Maia. Orientador: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia (UFPel). Projeto financiado pelo CNPq.

RESUMO. Os campos naturais na região sul do Brasil ocupam grande parte do

território e são a principal fonte de alimentos dos rebanhos bovino e ovino, além de

apresentar um alto valor ecológico, pela riqueza de espécies. Entretanto, estes campos

vêm sofrendo processo de degradação devido ao pastejo intenso, ao fogo e à

substituição por áreas de lavoura. Entre os cultivos utilizados, a soja é o que apresenta

um crescimento contínuo, ocupando áreas que antes eram formadas por ecossistemas

campestres. O objetivo deste estudo foi conhecer a dinâmica do banco de sementes do

solo (BSS) em um ecossistema de campo natural após 3, 6, 8 e 9 anos de cultivo de soja,

em sistemas de semeadura direta na palha, em rotação com azevém anual, submetido a

pastejo, buscando inferir sobre o potencial de recuperação da vegetação através do BSS.

As áreas são cultivadas com soja por dois anos e depois permanecem dois anos em

pousio. Quatro parcelas consecutivas (25 x 20 m) foram desenhadas em cada área.

Foram retiradas 10 amostras de solo de 5 cm de diâmetro, em cada parcela, divididas

em duas profundidades (0-5 e 5-10 cm). Cerca de 70% das sementes encontravam-se

nos primeiros 5 cm do solo. Os BSS das quatro séries apresentaram diferenças

significativas, entretanto, a trajetória da cenosere modelada não foi unidirecional. Os

distúrbios decorrentes do fato da área estar em pousio ou com soja apresentaram maior

influência no BSS do que o tempo de implantação do manejo. Predominaram sementes

de espécies de monocotiledôneas anuais, em termos quantitativos, e de perenes, em

termos qualitativos. O BSS da área com 9 anos de manejo apresentou a menor riqueza

de espécies, mas também a maior densidade de sementes no solo. Ao longo da cenosere,

há uma diminuição no tamanho e na riqueza do BSS, com uma substituição de espécies

perenes por anuais, em termos quantitativos, e o desaparecimento de importantes

espécies campestres nativas, já após os seis anos de manejo. Há uma tendência de que a

cada ano o controle químico provoca o reinício da sucessão na comunidade vegetal, mas

algumas espécies “escapam” e, lentamente, dão lugar ao processo sucessional.

Palavras-chave: sementes enterradas, semeadura direta, campo natural, soja, azevém anual.

52

Soil seed bank changes in a grassland ecosystem due to nine years of intensive agricultural and cattle management, and recovery potential of the vegetation. Author: Agr. Eng. M.Sc. Fernanda Costa Maia. Supervisor: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia (UFPEL). Project supported by CNPq.

ABSTRACT. In the South of Brazil, natural grasslands occupies the major part of the

territory and are the main source of forage for ruminants, having also an important

ecological value represented by its high species richness. However, these vegetation

have been suffering great degradation process due to selective or intensive grazing, fire

and substitution by crop fields. Soybean is the main one that is replacing the natural

grassland. The study aimed to evaluate the soil seed bank (SSB) dynamic of a natural

grassland after 3, 6, 8 and 9 years of intensive disturbance by grazing and soybean

cultivation in no tillage system with annual ryegrass, trying to determine the potential of

recolonization from the seed bank. Soybean is traditionally cultivated for two years and

after that the area stays resting for two years. FFoouurr consecutive plots (25 x 20 m) were

designed in each area. Ten soil samples with 5 cm of diameter were taken every month

during one year and divided in two depths (0-5 cm and 5-10 cm).Almost 70% of the

seeds were in the first 5 cm of soil. The seed bank of all coenoseres showed significant

differences, however, the trajectory of the simulated coenosere was not unidirectional.

Disturbances due to the presence of soybean or follow in the warm season had more

influence in the seed bank, than the time factor. There were more seeds of annual

monocot species in quantitative terms and perennial species in qualitative terms. The

soil seed bank after 9 years of management had the smallest species richness, but the

highest density. Throughout the simulated coenosere, there was a decrease in the soil

seed bank size and species richness, with the replacement of perennial species by

annuals in quantitative terms, and the disappearance of important native grasses in 6

years. Each year, it seems that the chemical weed control restarts the succession, but

some species escape and slowly give place to a succession process.

Key-words: buried seeds, no tillage system, natural grassland, soybean, annual ryegrass.

INTRODUÇÃO

A paulatina degradação dos campos de pastagens naturais no mundo, em

decorrência do superpastejo e da simples substituição de áreas de pastagens nativas por

lavouras, tem provocado a erosão genética destes ecossistemas (Pott, 1989). No sul do

Brasil, particularmente no estado do Rio Grande do Sul (RS), este tipo de formação

vegetal também se encontra em processo de degradação. Em 1942, cerca de 46% da

área do estado era coberta pela vegetação campestre (Rambo, 1942); atualmente,

somente 37% da área é coberta por este tipo de vegetação (Boldrini, 1997), o que

corresponde a aproximadamente 10,5 milhões de hectares (IBGE, 1997).

Os campos naturais da região contribuem com mais de 90% da alimentação dos

cerca de 14 milhões de bovinos e 5 milhões de ovinos criados no estado

(UCPEL/ITEPA, 2001), além de constituir a base de sustentação de outros herbívoros

domésticos e dos componentes da fauna selvagem, que representam, sem dúvida, um

condicionante da vegetação hoje presente na área. São campos cuja produção de

forragem é considerada excelente para o período de primavera/verão, em função da

diversidade de espécies e da qualidade das mesmas, se comparadas com as pastagens

naturais de qualquer outra região do mundo, sendo formados por aproximadamente 400

espécies de Poaceae e 150 de Fabaceae (Boldrini, 1997).

A distribuição da produção dos campos no RS ao longo do ano é tipicamente

sazonal devido à ocorrência de baixas temperaturas durante o inverno, prejudicando o

crescimento da vegetação campestre, onde predominam espécies subtropicais de ciclo

estival. Entre as práticas mais utilizadas pelos produtores para contornar este problema

54

está a introdução de espécies exóticas de inverno, com manejo direcionado para a

ressemeadura natural da espécie introduzida, no sentido de reduzir os custos de

produção de forragem.

A adoção de sistemas agropastoris na região vem crescendo nos últimos anos,

possibilitando a utilização integral e intensiva da área durante o ano todo. Uma das

integrações mais utilizadas é a semeadura direta de soja (Glycine max L.) sobre os

restos culturais de azevém anual (Lolium multiflorum Lam.). Esta prática permite aos

produtores utilizarem a gramínea não só como cultura de cobertura do sistema, mas

também como pastagem de inverno para o gado bovino e ovino. A soja é uma das

culturas agrícolas mais cultivadas no país atualmente. O Brasil é o segundo maior

produtor mundial de soja e o RS é responsável por cerca de 25% da produção nacional

(IBGE, 2005).

Embora se disponha de um número relativamente grande de informações sobre

identificação e classificação das plantas ocorrentes em pastagens nativas, há

necessidade de maiores informações sobre sua dinâmica e os efeitos na restauração

destas áreas após cultivos intensivos, como os descritos anteriormente. Principalmente,

com relação ao efeito de herbicidas aplicados no sistema de produção.

O banco de sementes do solo (BSS) constitui um componente importante da

dinâmica vegetal, sendo um dos mecanismos de sobrevivência das espécies ao longo do

tempo. Este conjunto de sementes, juntamente com estruturas vegetativas, assegura, no

caso dos ecossistemas agropastoris, a perenidade da maioria das espécies que

constituem sua diversidade florística. A existência de uma grande população de

sementes no solo pode ter profundos efeitos na dinâmica genética e populacional das

plantas da superfície (Cook, 1980).

Além da importância produtiva, o BSS pode representar papel fundamental na

recuperação de áreas que sofreram processos de distúrbio drásticos. Para tal são

necessários entendimentos referentes ao manejo, conservação e influência dos BSS na

manutenção da diversidade florística e da sustentabilidade social e ecológica desses

ecossistemas.

A composição do banco de sementes depende da produção e composição das

comunidades vegetais anterior e atual, bem como da longevidade das sementes de cada

espécie, sob as condições locais (López-Mariño et al., 2000). Esta relação entre a

55

composição do banco de sementes e a vegetação é particularmente importante em áreas

que sofrem diferentes tipos de manejo (Fredrickson & Taylor, 1982, apud López-

Mariño, 2000).

Os impactos do uso da terra e das práticas de manejo são diferentes na vegetação

e no BSS. Os distúrbios causados pela intensificação da agricultura alteram a

composição da vegetação da área (Zanin et al., 1997), levando a um decréscimo na

riqueza de espécies, incluindo o desaparecimento de espécies características de campo.

A utilização maciça de herbicidas em sistemas de semeadura direta, pode estar

comprometendo a heterogeneidade da florística de uma vasta região de campos. Se as

aplicações de herbicidas se sucederem a cada estação de crescimento e a cada ano, e se

formulações combinadas de herbicidas forem utilizadas, é possível pensar na hipótese

de que os efeitos sobre as complexas cadeias biológicas existentes nestes ecossistemas

superem a sua resiliência, ou seja, sua habilidade para retornar à sua composição e

estrutura originais, ou muito próximas destas (Holling, 1973; Goldsmith, 1978).

Recentemente, devido a preocupações com a intensa degradação antrópica,

cresceu o interesse em estudar os BSS, com o objetivo de desenvolver modelos mais

realistas de predição da sucessão vegetal (Medeiros, 2000). Pesquisadores de vários

países têm demonstrado estreitas relações entre os BSS e a dinâmica populacional das

espécies. Muitos são os trabalhos que abordam aspectos relacionados ao BSS, em

ecossistemas campestres (Milberg, 1992; Boccanelli & Lewis, 1994; Bakker et al.,

1997; Bekker et al., 1997; Kalamees & Zobel, 1997; Morgan, 1998; Favreto et al.,

2000; Lodge, 2001; Maia et al., 2003 e 2004). Apesar da reconhecida influência dos

BSS na manutenção da dinâmica populacional de ambientes de campo nativo, pouca

importância tem sido dada aos mesmos, por parte das instituições de pesquisa do Brasil.

Pesquisas sobre a dinâmica populacional dos campos melhorados e suas relações

com os BSS a médio e longo prazo devem ser propostas. Para isto, trabalhos

abrangendo levantamentos do BSS em todas as estações do ano, e observações da

dinâmica populacional da vegetação, aliados a estudos de longevidade das sementes em

condições naturais, permitirão uma melhor compreensão sobre a dinâmica da vegetação

campestre, sob utilização agropecuária e inferências sobre o potencial de recuperação da

mesma. Deste modo, serão disponibilizadas informações que possibilitem a adoção de

práticas de manejo otimizadoras da utilização econômica desses campos, assegurando a

sua sustentabilidade.

56

Os objetivos deste estudo foram conhecer o tamanho e composição do BSS e

determinar alterações do mesmo ao longo do tempo, em ecossistema de campo natural

submetido a distúrbio por cultivo agrícola e pastejo, em sistemas de semeadura direta de

soja em azevém anual, em diferentes áreas, representando séries temporais, buscando

inferir sobre o potencial de recuperação da vegetação campestre através do seu banco de

sementes.

MATERIAL E MÉTODOS

1. Área de estudo

O trabalho foi desenvolvido no sul do Brasil, na Estância Santa Eulália, na

região sudeste do estado do Rio Grande do Sul, município de Pelotas, situado a 31º 38’

00”S e 52º 27’ 00”O.

O clima da região é considerado subtropical, com quatro estações do ano bem

definidas, precipitações pluviais totais anuais, de 1.300 a 1.500 mm, bem distribuídas ao

longo do ano, temperaturas médias anuais de 17 ºC e possível ocorrência de geadas no

período de abril a setembro. A área apresenta relevo suavemente ondulado e solo com

textura argilosa, não bem drenado, com boas características químicas e físicas, profundo

e com excessiva compactação superficial. O solo também apresenta forte variação nos

níveis de fósforo e potássio, de acordo com a profundidade. O pH varia de 4,4 a 5,1.

A Estância Santa Eulália possui uma área física de 2500 ha, sendo 850 ha destinados

à semeadura direta de soja e azevém anual em sucessão, por ressemeadura natural, para

pastejo de gado bovino. Os quatro potreiros em estudo medem 100 ha,

aproximadamente, cada um representando um tempo de implantação do sistema de

manejo acima citado (série temporal), sendo estes 3, 6, 8 e 9 anos. Quatro parcelas

consecutivas, de 25 x 20 m cada, em faixa, foram demarcadas em cada série temporal.

O local foi escolhido de modo a estar situado em posições intermediárias do relevo e

com boa representação do sistema de manejo utilizado.

58

Variáveis indicadoras da fertilidade do solo de cada área foram analisadas em

laboratório.

2. Sistema de semeadura direta na palha de azevém anual e soja

O azevém anual foi primeiramente semeado (30 kg.ha-1) em campo nativo

dessecado. A semeadura não foi mais realizada nos anos subseqüentes. Os potreiros são

divididos com cerca elétrica e utilizados de forma rotativa para pastejo de gado bovino,

com capacidade média de 1,5 unidade animal.ha-1.ano-1, alcançando uma produtividade

comercial de aproximadamente 450 kg. ha-1.ano-1 de peso vivo. O período de pastejo é

usualmente de junho (fim do outono) a outubro (primavera), quando os animais são

vendidos ou retirados para outra área, e o nitrogênio, na forma de uréia, é aplicada para

favorecer a recuperação das plantas para a ressemeadura natural (50 kg.ha-1). No início

de dezembro (fim da primavera), é feita uma aplicação de glifosato (1,25 a 2,0 kg.ha-1

de produto comercial), permitindo a semeadura da soja, 10 a 15 dias depois. Ela é

tradicionalmente cultivada por dois anos sucessivos, e depois a área permanece mais

dois anos em pousio, sendo mantido o pastejo. A cultura é colhida no fim de abril,

quando as plantas de azevém anual já se encontram vegetando na área, com alturas que

podem atingir 15 cm, conforme observado no campo.

3. Dinâmica do banco de sementes do solo

Dez amostras de solo (10 cm de profundidade x 5 cm de diâmetro) foram

retiradas em cada uma das quatro parcelas, totalizando quarenta amostras em cada série

temporal, no mês de maio de 2003. Cada amostra foi dividida em duas profundidades (0

a 5 cm e 5 a 10 cm). As amostras foram passadas por peneiras de perfuração de 9,52

mm, para remoção de restos vegetais e pedras. O resíduo concentrado, contendo todas

as sementes da amostra, foi distribuído em camadas sobre solo esterilizado da área, com

igual volume de vermiculita (Favreto et al., 2000), em bandejas de alumínio colocadas

em casa de vegetação. As plântulas foram então identificadas, contadas e removidas. As

59

plântulas não identificadas foram transplantadas para recipientes maiores e cultivadas,

até que estruturas reprodutivas permitissem sua identificação.

Foram realizados dois ciclos de germinação, com a finalidade de forçar a

exaustão do BSS. A fim de remover a dormência entre cada ciclo de germinação, as

bandejas permaneceram secas por um período de sete dias (Favreto et al., 2000; Maia et

al., 2003 e 2004).

4. Análise estatística

Na análise dos dados foram adotados procedimentos de análise multivariada, que

englobam síntese das informações obtidas, busca exploratória de padrões de variação do

BSS, correlações com fatores ambientais e estudo de efeitos específicos por testes de

aleatorização, através dos aplicativos MULTIV (Pillar, 1997) e SYNCSA (Pillar &

Orlóci, 1993).

Através do teste de aleatorização (Pillar & Orlóci, 1996), disponibilizado pelo

aplicativo MULTIV, utilizando-se como medida de semelhança a distância euclidiana

entre as unidades amostrais, buscou-se detectar diferenças significativas na composição

do BSS e de variáveis químicas do solo das quatro séries, nas duas profundidades

avaliadas, com base em um índice de significância de 5%. Os dados do BSS de 0 a 5 cm

foram transformados vetorialmente, através da normalização, dentro de variáveis, e os

de 5 a 10 cm foram transformados com raiz quadrada.

O aplicativo SYNCSA forneceu a freqüência e a dominância das espécies em

cada série, em cada uma das profundidades. Também foram realizadas análises de

ordenação das unidades amostrais, através de coordenadas principais, utilizando-se

como medida de semelhança a distância euclidiana, e correlação das variáveis de solo

com os eixos da ordenação. Os diagramas de ordenação elaborados permitiram uma

visualização do posicionamento de cada unidade amostral no espaço, considerando-se a

composição e tamanho do banco de sementes, em cada uma das profundidades

estudadas, e as variáveis de solo que podem influenciar esta disposição.

60

Com este mesmo aplicativo, utilizaram-se as séries temporais estudadas na

tentativa de elaboração de modelo baseado em cadeias de Markov (Orlóci et al., 1993;

Quadros & Pillar, 2001). Para isto, os bancos de sementes de diferentes idades, das

diferentes séries, representaram uma série temporal modelada, tratada como cenosere,

ou seja, o conjunto de estados do BSS no tempo.

RESULTADOS

1. Tamanho e composição do BSS

Foram encontradas 96 espécies nas quatro séries temporais (ANEXO), 30 delas

exclusivamente nos primeiros 5 cm e 11, de 5 a 10 cm de profundidade. Cerca de 70%

das sementes estavam na profundidade de 0 a 5 cm, representando um valor médio de

786.098 sementes.m-2. Aproximadamente 52% das espécies presentes no BSS eram

perenes, e 34% eram anuais. As outras espécies apresentaram variação relativamente a

duração de vida, conforme as condições ambientais nas quais estão vegetando, sendo

10% perenes ou anuais e 3% anuais ou bianuais1. As espécies perenes predominaram

em ambas as profundidades estudadas. Entretanto, a maior quantidade de sementes foi

de espécies anuais.

A maioria das espécies encontradas pertence às famílias Poaceae, Asteraceae,

Cyperaceae e Juncaceae. As 30 espécies com maior BSS em todas as séries temporais,

nas duas profundidades estudadas, estão identificadas na FIGURA 1. As famílias

Poaceae, Cyperaceae e Apiaceae predominaram na profundidade de 0 a 5 cm. Espécies

das famílias Amaranthaceae, Caryophillaceae, Hypoxidaceae, Iridaceae, Lamiaceae,

Lythraceae, Malvaceae, Plantaginaceae, Polygonaceae, Rubiaceae, Solanaceae,

Urticaceae e Verbenaceae foram encontradas exclusivamente na profundidade de 0 a 5

1 Espécies que podem apresentar duração de vida tanto anual como perene, dependendo das condições ambientais nas quais se encontrem vegetando.

62

cm. A família Juncaceae predominou na profundidade de 5 a 10 cm, e espécies das

famílias Primulaceae e Scrophulariaceae foram exclusivas desta profundidade.

A riqueza em cada área foi semelhante, ao redor de 60 espécies, excetuando-se a

área com 9 anos de manejo, que apresentou 49 espécies, ou seja, uma redução de 18,3%.

Os bancos de sementes das séries temporais apresentaram diferença

significativa, nas duas profundidades. Entre as duas profundidades estudadas, também

se verificaram diferenças significativas nos bancos das quatro séries. Além disso, foi

possível verificar uma interação altamente significativa entre o número de anos de

implantação do manejo e a profundidade do BSS.

As espécies comuns e as características dos BSS das séries temporais, nas

profundidades de 0 a 5 e 5 a 10 cm, estão apresentadas nas TABELAS 1 e 2,

respectivamente. Observa-se que a maioria das espécies comuns às quatro áreas é anual.

FIGURA 1. Tamanho do BSS das 30 espécies com maior quantidade de sementes, nas duas profundidades de solo estudadas, nas quatro séries temporais. As espécies estão identificadas segundo as duas primeiras letras dos epítetos genérico e específico: Juncus bufonius, Lolium multiflorum, Gamochaeta spp., Kyllinga brevifolia, Sisyrinchium micranthum, Digitaria ciliaris, Plantago spp., Cuphea carthagenensis, Centela asiatica, Paspalum nicorae, Trifolium repens, Eragrostis neesii, Juncus cf. effusus, Lythrum hyssopifolium, Cerastium rivulare, Cyperus eragrostis, Kyllinga odorata, Fimbristylis diphylla, Cyperaceae 1, Centunculus minimus, Conyza cf. floribunda, Digitaria adscendens.

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

180000

Jubu

Lom

u

Gas

p

Kybr

Sim

i

Dic

i

Plsp

Cuc

a

Cea

s

Pan

i

Trre

Ern

e

Jucf

Lyhy Cer

i

Cye

r

Kyod FIdi

Cyp

Cem

i

Coc

f

Dia

d

Sem

ente

s.m-2

0-5 cm 5-10 cm

63

TABELA 1. Espécies comuns e características dos bancos de sementes do solo de 0 a 5 cm, em cada série temporal, com base na freqüência (%). Letras diferentes significam diferenças significativas na composição do banco de sementes (P<0,05).

3 anosa

(n = 4) 6 anosb

(n = 4) 8 anosc

(n = 4) 9 anosd

(n = 4) Espécies comuns: freqüência de 100% em mais de uma área.

Lolium multiflorum 100 100 100 100 Gamochaeta spp. 100 100 100 100

Kyllinga brevifolia 100 100 100 100 Sisyrinchium micranthum 100 100 100 100

Digitaria ciliaris 100 100 100 100 Juncus bufonius 100 100 100 100

Cerastium glomeratum 100 100 100 75 Plantago spp. 100 100 25 100

Centunculus minimus 100 75 75 100 Eragrostis neesii 100 50 50 100

Oxalis cf. conorhiza 75 100 100 75 Espécies características: freqüência de 100% em uma das áreas.

Fimbristylis autumnalis 100 75 25 75 Centela asiatica 50 100 25 Sida rhombifolia 50 100 25 Trifolium repens 75 75 50 100

Juncus dichotomus 75 50 50 100 Eclipta megapotamica 75 50 100 Lythrum hyssopifolium 75 100

TABELA 2. Espécies comuns e características dos bancos de sementes do solo de 5 a 10 cm, em cada série temporal, com base na freqüência (%). Letras diferentes significam diferenças significativas na composição do banco de sementes (P<0,05).

3 anosa

(n = 4) 6 anosb

(n = 4) 8 anosc

(n = 4) 9 anosd

(n = 4) Espécies comuns: freqüência de 100% em mais de uma área.

Sisyrinchium micranthum 100 100 100 100 Juncus bufonius 100 100 75 100 Digitaria ciliaris 100 75 100 50 Gamochaeta spp. 50 100 100 25

Espécies características: freqüência de 100% em uma das áreas. Centunculus minimus 100 50 75 75

Fimbristylis autumnalis 100 25 50 Juncus dichotomus 100 25 75 25 Kyllinga brevifolia 100 50 75 50

Oxalis cf. conorhiza 75 100 75 50 Hydrocotyle exígua 25 100 25 25

64

Na série de 3 anos de manejo foram encontradas 60 espécies, com 71% das

sementes nos primeiros 5 cm de profundidade. Cerca de 60% das 50 espécies

encontradas no BSS de 0 a 5 cm de profundidade, nesta área, pertencem às famílias

Poaceae (13), Asteraceae (8), Cyperaceae (5) e Juncaceae (4), com predominância de

perenes (49%). Cerca de 49% das espécies possuem duração de vida perene, 33% anual,

13% anual ou perene e 4% anual ou bianual, nesta profundidade. As espécies da família

Juncaceae foram as que apresentaram maior BSS, neste caso (235.355 sementes.m-2),

seguidas pelas de Poaceae (130.924 sementes.m-2), Asteraceae (110.292 sementes.m-2)

e Cyperaceae (80.405 sementes.m-2). Na profundidade de 5 a 10 cm foram encontradas

38 espécies (pequena predominância de anuais), nessa mesma área, sendo 54% delas

das famílias Cyperaceae (8 espécies e 40.501 sementes.m-2), Asteraceae (6 espécies,

56.547 sementes.m-2), Poaceae (6 espécies, 77.263 sementes.m-2), que também

apresentou o maior número de sementes no solo nesta profundidade, e Juncaceae (4

espécies, 40.160 sementes.m-2). Neste caso, 46% das espécies possuem duração de vida

anual. As 20 espécies com maior número de sementes no solo nas duas profundidades

estudadas, na série de 3 anos de manejo, estão identificadas na FIGURA 2.

FIGURA 2. Espécies com maior BSS, nas duas profundidades de solo estudadas, na série temporal de 3 anos de manejo. As espécies estão identificadas segundo as duas primeiras letras dos epítetos genérico e específico: Juncus bufonius, Gamochaeta spp., Plantago spp., Digitaria ciliaris, Coniza cf. floribunda, Digitaria adscendens, Kyllinga brevifolia, Sisyrinchium micranthum, Cuphea carthagenensis, Lolium multiflorum, Eragrostis neesii, Cyperus reflexus, Paspalum nicorae, Cerastium glomeratum, Trifolium repens, Eclipta megapotamica, Fimbristylis autumnalis, Cyperaceae 1.

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

Jubu

Gas

p

Plsp Dic

i

Coc

f

Dia

d

Kyb

r

Sim

i

Cuc

a

Lom

u

Ern

e

Cyr

e

Pan

i

Ceg

l

Trre

Ecm

e

Fiau

Cy1

Cea

s

Cob

o

Sem

ente

s.m-2

0-5 cm 5-10 cm

65

Na série de 6 anos de manejo foram encontradas 58 espécies, com 75% das

sementes nos primeiros 5 cm de profundidade. Cerca de 58% das 49 espécies

encontradas no BSS de 0 a 5 cm de profundidade, nesta área, pertencem às famílias

Cyperaceae (10), Poaceae (9), Asteraceae (5) e Juncaceae (5). As espécies da família

Poaceae foram as que apresentaram maior BSS, neste caso (101.886 sementes.m-2),

seguidas pelas de Asteraceae (88.131 sementes.m-2), Cyperaceae (49.840 sementes.m-2)

e Iridaceae (41.518 sementes.m-2). Na profundidade de 5 a 10 cm foram encontradas 36

espécies, nesta mesma área, sendo 61% delas das famílias Cyperaceae (8 espécies e

18.001 sementes.m-2), Poaceae (8 espécies, 10.190 sementes.m-2) e Juncaceae (6

espécies, 19.359 sementes.m-2). As três espécies de Asteraceae encontradas nesta

profundidade apresentaram o maior BSS, com uma média de 37.188 sementes.m-2. As

espécies perenes predominaram em ambas as profundidades, principalmente na maior.

As vinte espécies com maior número de sementes no solo, nas duas profundidades

estudadas, nesta área, estão mostradas na FIGURA 3.

FIGURA 3. Espécies com maior BSS, nas duas profundidades de solo estudadas, na série de 6 anos de manejo. As espécies estão identificadas segundo as duas primeiras letras dos epítetos genérico e específico: Gamochaeta spp., Lolium multiflorum, Sisyrinchium micranthum, Centela asiática, Juncus bufonius, Kyllinga brevifolia, Eragrostis neesii, Centunculus minimus, Hydrocotyle exigua, Plantago spp., Soliva pterosperma, Hypoxis decumbens, Cerastium glomeratum, Oxalis cf. conorrhiza, Kyllinga vaginata, Lotus subbiflorus, Eleusine tristachya, Cyperus cf. cayennensis, Juncus capillaceus, Kyllinga odorata.

Na série de 8 anos de manejo foram encontradas 60 espécies, com 78% das

sementes nos primeiros 5 cm de profundidade. Cerca de 59% das 45 espécies

encontradas no BSS de 0 a 5 cm de profundidade, nesta área, pertencem às famílias

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

Gas

p

Lom

u

Sim

i

Cea

s

Jubu

Kyb

r

Ern

e

Cem

i

Hye

x

Pls

p

Sop

t

Hyd

e

Ceg

l

Oxc

f

Kyv

a

Losu Eltr

Cyc

f

Juca

Kyo

d

Sem

ente

s.m-2

0-5 cm 5-10 cm

66

Cyperaceae (12), Poaceae (7) e Asteraceae (7). As espécies da família Poaceae foram

as que apresentaram maior BSS, neste caso (293.939 sementes.m-2), seguidas pelas de

Cyperaceae (69.453 sementes.m-2) e Asteraceae (65.972 sementes.m-2). Na

profundidade de 5 a 10 cm foram encontradas 36 espécies nesta mesma área, sendo 60%

delas das famílias Cyperaceae (7 espécies e 31.584 sementes.m-2), Poaceae (7 espécies,

18.170 sementes.m-2), Juncaceae (4 espécies, 21.736 sementes.m-2) e Apiaceae (4

espécies, 14.263 sementes.m-2). Houve predominância de espécies perenes em ambas as

profundidades, principalmente na de 5 a 10 cm. A FIGURA 4 mostra as 20 espécies

com maior número de sementes no solo, nas duas profundidades estudadas, nesta área.

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000

Lom

u

Gas

p

Kyod

Jubu

Cye

r

Juca

Kybr FIdi

Cy1

Sim

i

Judi

Oxc

f

Cea

s

Amli

Gls

e

Kyva

Cem

i

Dis

e

Hyd

e

Cy2

Sem

ente

s.m-2

0-5 cm 5-10 cm

FIGURA 4. Espécies com maior BSS, nas duas profundidades de solo estudadas, na série de 8 anos de manejo. As espécies estão identificadas segundo as duas primeiras letras dos epítetos genérico e específico: Lolium multiflorum, Gamochaeta spp., Kyllinga odorata, Juncus bufonius, Cyperus eragrostis, Juncus capillaceus, Kyllinga brevifolia, Fimbristylis dyphilla, Cyperaceae 1, Sisyrinchium micranthum, Juncus dichotomus, Oxalis cf. conorrhiza, Centela asiática, Amaranthus lividus ssp. Polygonoides, Glandularia selloi, Kyllinga vaginata, Centunculus minimus, Dichondra sericea, Hypoxis decumbens, Cyperaceae 2.

Na área com 9 anos de manejo foram encontradas 49 espécies, com 70% das

sementes nos primeiros 5 cm de profundidade. Cerca de 55% das 42 espécies

encontradas no BSS de 0 a 5 cm de profundidade, nesta área, pertencem às famílias

Poaceae (7), Cyperaceae (6), Asteraceae (5) e Juncaceae (5). As espécies da família

Juncaceae foram as que apresentaram maior BSS, neste caso (203.686 sementes.m-2),

seguidas pelas de Poaceae (165.393 sementes.m-2) e Cyperaceae (114.451 sementes.m-

2). As 5 espécies de Asteraceae apresentaram um dos menores BSS (27.424 sementes.

67

m-2) em comparação com outras famílias como Lythraceae, Iridaceae, Caryophillaceae,

Plantaginaceae e Fabaceae, que apresentaram mais sementes no solo. Na profundidade

de 5 a 10 cm foram encontradas 26 espécies nesta mesma área, sendo 47% delas das

famílias Cyperaceae (9 espécies e 196.723 sementes.m-2) e Apiaceae (3 espécies, 9.680

sementes.m-2). As espécies de Cyperaceae foram as que apresentaram maior BSS nesta

profundidade, seguidas de 2 espécies de Juncaceae (63.848 sementes.m-2) e de

Sisyrinchium micranthum (18.085 sementes.m-2), da família Iridaceae. Sementes de

espécies com duração de vida anual apresentaram pequena predominância nos primeiros

5 cm de solo, enquanto que as perenes predominaram na maior profundidade (5 a 10

cm). As 20 espécies com maior número de sementes no solo nas duas profundidades

estudadas, nesta área, podem ser visualizadas na FIGURA 5.

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

Jubu

Kybr Dic

i

Lom

u

Sim

i

Jucf

Cer

i

Plsp

Trre

Cuc

a

Kyod

Lyhy Judi

Erne

Fiau

Cem

i

Cy1

Poan

Gas

p

NãI

d

Sem

ente

s.m-2

0-5 cm 5-10 cm

FIGURA 5. Espécies com maior BSS, nas duas profundidades de solo estudadas, na série de 9 anos de manejo. As espécies estão identificadas segundo as duas primeiras letras dos epítetos genérico e específico: Juncus bufonius, Kyllinga brevifolia, Digitaria ciliaris, Lolium multiflorum, Sisyrinchium micranthum, Juncus cf. effusus, Cerastium rivulare, Plantago spp., Trifolium repens, Cuphea carthagenensis, Kyllinga odorata, Lythrum hyssopifolium, Juncus dichotomus, Eragrostis neesii, Fimbristylis autumnalis, Centunculus minimus, Cyperaceae 1, Poa annua, Gamochaeta spp.

68

2. Dinâmica do BSS

As chamadas cadeias de Markov são utilizadas com o propósito de modelar tanto

o passado quanto o futuro. Uma cenosere é puramente markoviana quando a descrição

de seus estados podem ser derivados dos estados anteriores e da matriz transicional

conhecida, que expressa o nível pelo qual cada população cede lugar a outra, quando a

cenosere se move de um de seus estados para o próximo (anos). O modelo seria

utilizado para a predição da trajetória do BSS, extrapolando para um futuro de 20 anos

as tendências observadas, e abreviando-se o tempo necessário para observação dos

efeitos do manejo utilizado na área sobre o BSS e a recuperação do ecossistema natural.

Em virtude de o modelo markoviano exigir intervalos regulares de observação, foi

realizada a interpolação dos dados anteriormente à análise, obtendo-se uma série

modelada de 3 a 9 anos, em intervalos de um ano. Posteriormente, verifica-se se a

cenosere é estacionária, ou seja, se mantém seu alvo em estado constante, ou dinâmica

(em movimento), ou seja, se vai reajustando o alvo de tempos em tempos; neste último

caso, a cenosere é dita caótica, onde cada estado (ano) transita para outro através de

uma matriz de transição diferente, não podendo ser expressa pelo modelo markoviano.

O estado de caos pode ser simulado por permutações aleatórias das unidades amostrais

observadas, gerando valores de estresse (Orlóci et al., 1993). O estresse aumenta

conforme as transições se tornam caóticas. A hipótese nula testada é de que a cenosere é

indireta, não direcionada, caótica. Neste caso, o valor de estresse obtido foi alto, com

P>0,10. Desta forma, como a proporção dos valores de estresse simulados menor ou

igual ao observado foi maior que o α (0,10) assumido, a hipótese nula foi aceita e o

modelo não pôde ser utilizado para representar a trajetória caótica do BSS.

Através da análise de ordenação, pode-se visualizar a semelhança entre o BSS

das áreas com 3 e 9 anos de manejo e entre o das áreas com 6 e 8 anos, o que evidenciou

a trajetória dinâmica e instável do BSS da área referida anteriormente.

Os solos das quatro áreas apresentaram diferenças significativas de fertilidade. O

contraste entre os solos das áreas com soja e das em pousio apresentaram diferenças

significativas (P<0,05), principalmente devido à adubação utilizada na área cultivada.

69

O diagrama de ordenação da FIGURA 6 ilustra a composição do BSS das

parcelas estudadas, na profundidade de 0 a 5 cm, juntamente com as espécies de maior

correlação com os eixos da ordenação. O diagrama ilustra apenas o banco de sementes

dos primeiros 5 cm de profundidade de solo, devido à grande predominância das

sementes nesta camada. Verifica-se que os bancos das séries de 3 e 9 anos de

implantação, ambas com campo natural modificado no momento da coleta e onde não

foram feitas aplicações de herbicida, apresentaram alta correlação com as espécies Briza

minor, Conyza cf. floribunda, Cuphea carthagenensis, Eclipta megapotamica, Digitaria

ciliaris, Fimbristylis autumnalis, Juncus bufonius, Panicum dichotomiflorum e Poa

annua e com os teores de alumínio e sódio no solo. Os bancos de sementes das séries de

6 e 8 anos de manejo, ambas com cultura da soja no momento da coleta, caracterizaram-

se pela presença de sementes de Amaranthus lividus, Centela asiatica, Dichondra

sericea e Lolium multiflorum, e pelos teores de magnésio, fósforo e potássio no solo.

FIGURA 6. Diagrama de ordenação da composição do BSS de 0 a 5 cm, nas parcelas das quatro séries temporais (3, 6, 8 e 9 anos de manejo), e linha de tendência. As espécies identificadas, segundo as duas primeiras letras dos epítetos genérico e específico, em itálico: Amaranthus lividus ssp. polygonoides, Briza minor, Centela asiatica, Conyza bonariensis, C. cf. floribunda, Cuphea carthagenensis, Dichondra sericea, Digitaria ciliaris, Eclipta megapotamica, Fimbristylis autumnalis, Juncus bufonius, Lolium multiflorum, Panicum dichotomiflorum e Poa annua apresentam correlação acima de 0,50 com pelo menos um dos eixos de ordenação. O eixo horizontal representa 64,6%, e o vertical, 16,9% da variação da composição do BSS da série.

3D

9D9A

6A6B

6D3A

6C

8A8D

8B

8C

9C 9B3B3C

JubuPoanBrmiPadi Cocf

FiauCoboDici

EcmeCuca

Ceas

AmliDise

Lomu

-200000

-150000

-100000

-50000

0

50000

100000

150000

-300000 -200000 -100000 0 100000 200000 300000 400000

70

Sementes de Amaranthus lividus e Dichondra sericea foram encontradas

somente na série de 8 anos de manejo, enquanto que de Briza minor, Conyza cf.

floribunda e Panicum dichotomiflorum foram encontradas somente no início da

cenosere (3 anos). Sementes de Conyza bonariensis foram encontradas nas séries de 3 e

6 anos somente. Sementes das espécies Cuphea carthagenensis, Digitaria ciliaris e

Juncus bufonius estavam presentes no banco de sementes de todas as áreas, aumentando

no decorrer da cenosere. Sementes de Eclipta megapotamica e Fimbristylis autumnalis

também foram encontradas em todas as áreas, mas diminuíram conforme aumentava o

tempo de implantação do manejo. Sementes de Poa annua mantiveram-se em número

constante no solo no decorrer da cenosere, até os 9 anos. O banco de sementes de

Lolium multiflorum (azevém anual) foi maior nas séries de 6 e 8 anos (ver Artigo I).

A presença de algumas espécies como aveia-preta (Avena strigosa) e trevo

vermelho (Trifolium pratense), na série de 3 anos de manejo, deve-se a uma semeadura

realizada após o primeiro cultivo de soja. As sementes de aveia-preta foram encontradas

somente na profundidade de 5 a 10 cm e as de trevo vermelho, em ambas,

predominando nos primeiros 5 cm. O trevo branco (T. repens) também foi semeado

nessa mesma época, mas se perpetuou por mais tempo, estando presente em toda a

cenosere, nas duas profundidades.

Outras espécies como Borreria capitata, Cerastium rivulare, Crysanthemum

myconis, Gratiola peruviana, Hydrocotyle verticillata, Hypochaeris chillensis, Hypoxis

decumbens, Juncus dichotomus, J. dombeyanus, J. cf. effusus, Kyllinga brevifolia, K.

odorata, K. vaginata, Lythrum hyssopifolium, Oxalis sp., Panicum decipiens, P.

racemosum, Rhynchospora rugosa, Sisyrinchium micranthum, Solanum americanum,

Soliva pterosperma e Trifolium repens aumentaram seus bancos de sementes ao longo

da cenosere. Por outro lado, espécies como Baccharis trimera, Briza minor, Chaptalia

nutans, Conyza bonariensis, C. cf. floribunda, Cyperus spp., Digitaria adscendens,

Fimbristylis dichotoma, F. diphylla, Lotus subbiflorus, Luzula campestris, Panicum

aristellum, P. dichotomiflorum, Paspalum nicorae, P. urvillei, Pluchea sagittalis,

Polygonum hydropiperoides, Setaria sphacelata, Verbena litoralis e Wahlenbergia

linarioides tendem a desaparecer conforme os anos de manejo repetido.

As demais espécies tendem a diminuir seus bancos de sementes na cenosere.

DISCUSSÃO

Os principais distúrbios que influenciaram as diferenças dos BSS das quatro

áreas foram o uso agrícola, a intensa densidade de plântulas de azevém anual,

direcionada pelo manejo praticado no local e o pastejo, tanto do azevém, no inverno,

como do campo natural modificado, no verão. A influência do tempo de manejo parece

não ter sido tão marcante na composição e tamanho do banco de sementes quanto as

práticas agrícolas utilizadas a cada dois anos e o pastejo constante. Menalled et al.

(2001) fizeram observação semelhante com a composição de espécies na vegetação

infestante de cultivos agrícolas, que variou em função do manejo utilizado, mas sem

uma influência do tempo de avaliação.

Em virtude dessa trajetória caótica da cenosere do banco de sementes, não se

pôde utilizar o modelo markoviano inicialmente proposto. Este nível de caos observado

pode ser resultante principalmente da hipótese levantada no parágrafo anterior, além das

diferenças de relevo e de solo das áreas estudadas, que parecem ser preponderantes

sobre o tempo de implementação do manejo.

As menores diferenças observadas entre o BSS das áreas de 3 e 9 anos e o das

áreas de 6 e 8 anos de manejo também evidenciam essa impossibilidade de modelagem

unidirecional. As áreas com 3 e 9 anos de manejo se encontravam em situação de pousio

de segundo ano, no momento da coleta, onde o único distúrbio, além do pastejo do

azevém anual com baixa densidade e do campo natural, era a roçada mecânica;

enquanto isso, as áreas com 6 e 8 anos encontravam-se com a cultura da soja, quando

também foram realizadas diversas outras práticas de distúrbio, como adubação do solo e

72

uso de herbicidas, seguindo-se a emergência do BSS de azevém anual com altíssima

população, pastejado com alta carga animal, no período de inverno até meados de

novembro.

Em virtude do manejo intensivo utilizado, com agricultura e pecuária,

simultaneamente, houve um predomínio no BSS de espécies monocotiledôneas anuais,

em termos quantitativos, e de espécies de monocotiledôneas perenes, em termos

qualitativos. Sementes de espécies perenes geralmente não permanecem viáveis no solo

tanto quanto as anuais (Roberts, 1970; Pettit & Froend, 2001), que podem ter ciclos de

vida extremamente longos (Cook, 1980), entretanto, esta não é uma regra geral.

Segundo Fenner & Thompson (2005), alguns hábitats como os campos não são

necessariamente associados com uma persistência alta ou baixa das sementes,

principalmente porque tais comunidades vegetais são compatíveis com uma ampla gama

de regimes de distúrbios (pastejo, seca, fogo, etc.). Neste caso, os distúrbios promovidos

por este tipo de manejo agropecuário intensivo parecem estar favorecendo espécies com

bancos de sementes transitórios. Os BSS transitórios podem ter sua composição e

tamanho fortemente modificados de um ano para o outro. Em virtude disto, o fato de a

área se encontrar em um período de pousio ou de cultivo de soja pode apresentar uma

influência mais marcante no BSS do que o tempo de implementação deste manejo.

Esta influência também pode ser observada com relação ao tamanho do BSS. As

áreas onde a soja estava sendo cultivada no momento (6 e 8 anos) apresentaram as

menores quantidades de sementes no solo. Amplas variações observadas na densidade

do banco de sementes também foram relatadas por Roberts & Neilson (1981),

Schweizer & Zimdahl (1984), Cardina et al. (1991), Mayor & Dessaint (1998), Vanasse

& Leroux (2000), Menalled et al. (2001) e Medeiros & Steiner (2002), que trabalharam

em sistemas de cultivo com uso de herbicidas. Um resultado comum destes estudos foi

que o uso de herbicidas e outras práticas de manejo podem reduzir a densidade do banco

de sementes, assim como ocorreu nas áreas de 6 e 8 anos, onde herbicidas foram

utilizados intensa e recentemente no controle de plantas indesejáveis. A alta densidade

observada na área de 9 anos pode-se dever ao fato de há dois anos não estarem sendo

feitas aplicações de herbicidas ou/e a oscilações de curto prazo, que provocam

diferenças na dormência das sementes, devido a condições climáticas específicas do

período, conforme a hipótese relatada por Menalled et al. (2001). Mayor & Dessaint

(1998) também concordam com esta hipótese de forte influência ambiental

73

determinando a germinabilidade do banco de sementes. Os autores observaram que a

densidade do banco de sementes pode variar em mais de 100%, de um ano para outro.

O fenômeno conhecido como “dinâmica de espaços abertos na comunidade

vegetal” tem sido descrito por vários autores (Daubenmire, 1988; Glenn-Lewin & Van

der Maarel, 1992; Bullock, 2000). Os distúrbios causados pelo uso de herbicidas,

durante o cultivo da soja, e pelo pastejo promovem o aparecimento de solo descoberto e

uma maior heterogeneidade espacial e temporal (Denslow, 1987), formando microsítios

de recrutamento constante (Boldrini, 1993) e diminuindo o tamanho do BSS, conforme

evidenciado nas áreas de 6 e 8 anos, mas determinando um possível aumento da riqueza

florística da vegetação (Focht, 2001; Maia et al., 2003). Em ambientes com alta

freqüência de sítios regenerativos, o número de espécies, de início de sucessão aumenta,

determinando uma maior diversidade de espécies pela redução da presença de espécies

dominantes (Connell, 1980).

É a imprevisibilidade do distúrbio, ao invés da sua severidade, que seleciona as

sementes persistentes (Peco et al, 1998; Fenner & Thompson, 2005). Distúrbios

moderados podem promover a diversidade de espécies pela redução da dominância das

mais vigorosas, prevenindo a exclusão competitiva, assim como distúrbios mais

drásticos podem reduzir a diversidade, prevenindo a regeneração de espécies de vida

longa (Fenner & Thompson, 2005). A área com 9 anos demonstrou claramente esta

tendência, pois foi a que apresentou a menor riqueza de espécies. Além disto, neste

caso, houve um aumento na riqueza de espécies anuais em comparação com as outras

áreas, promovendo uma equiparação com o número de espécies perenes.

Isto evidencia o maior tempo de utilização agropecuária ao qual a área vem

sendo submetida, onde as espécies anuais na vegetação tendem a adquirir uma maior

importância, pela sua relação com a severidade do distúrbio em termos temporais

amplos (Zanin et al., 1997). Esta relação pode-se refletir no banco de sementes, que

também possui a tendência de aumentar o número de sementes de espécies anuais e a

correspondência com a vegetação, quanto maior o distúrbio (Lewis, 1973; Harper, 1977;

Levassor et al., 1990; Boccanely & Lewis, 1994; Fenner & Thompson, 2005).

Entretanto, esta hipótese deve ser vista com ressalva, neste caso, já que o efeito do

tempo em uma escala mais ampla é questionável, e o fato de predominarem espécies

anuais pode somente refletir uma diminuição dos espaços abertos na vegetação quando

cessa o cultivo da soja e a área entra em pousio.

74

A diminuição brusca na riqueza de espécies do banco de sementes, a partir de

nove anos, pode estar também relacionada a variáveis de fertilidade do solo. A partir da

composição de espécies encontrada no banco de sementes, das parcelas com 3 anos de

manejo (53 espécies), verificou-se uma queda já no próximo período, que seriam as

áreas com 6 anos (46 espécies). Posteriormente, parece que o efeito da fertilidade do

solo, devido às adubações sucessivas realizadas durante o cultivo da soja, altera

novamente a composição de espécies, com um novo aumento na riqueza (53).

O diagrama de ordenação da FIGURA 6 ilustra a relação da composição do

banco de sementes das parcelas das séries de 6 e 8 anos com os solos mais férteis,

evidenciada pelas altas correlações com as variáveis fósforo, potássio e magnésio. O

teor de fósforo é reportado como possuindo um maior efeito sobre a composição de

espécies do que sobre a densidade (Albrecht & Auerswald, 2003). Já na área de 9 anos,

que se encontrava no segundo ano sem adubação pelo fato de estar em pousio, foram

encontradas somente 43 espécies em um solo com maiores teores de alumínio e sódio,

apesar de apresentar a maior densidade de sementes.

Albrecht & Auerswald (2003) correlacionam altos números de sementes com

solos de baixa fertilidade. A presença de compostos orgânicos, devido à grande

concentração de raízes das plantas de azevém (4.000 a 10.000 plantas.m-2), também

pode influenciar na redução do tamanho do BSS, devido à germinação. O etileno, por

exemplo, é um composto constituinte da atmosfera do solo, que é produzido por muitos

tipos de bactérias. Fenner & Thompson (2005) mencionam o composto como sendo um

estimulador da germinação de algumas poucas espécies. O significado ecológico do

etileno do solo para a germinação das sementes no campo não é ainda conhecido. Um

sinergismo entre o etileno e o nitrato é visto em algumas espécies (Saini et al., 1986). A

habilidade de responder a ambos os compostos simultaneamente pode possibilitar à

semente mecanismos de detecção do fluxo de atividade microbiana, indicativo de solos

com recente perturbação (Fenner & Thompson, 2005).

Bakker et al (1997) enfatizam que a composição de espécies do BSS no local

cultivado é influenciada pela exploração agrícola. Sistemas de semeadura direta, em

comparação com sistemas de manejo de solo tradicionais, com lavração e gradagem,

apresentam uma certa sucessão ecológica em direção a comunidades mais maduras, com

mais espécies perenes presentes na vegetação, em termos qualitativos, e, em termos

quantitativos, a comunidades características de espécies pioneiras de sucessão

75

secundária (Zanin et al., 1997; Favreto, 2004), como observado neste estudo (maior

riqueza de espécies perenes e maior quantidade de sementes de espécies anuais no

BSS). Menalled et al. (2001) também relatam sobre a predominância de sementes de

espécies de monocotiledôneas anuais no solo, principalmente da família Poaceae, em

sistemas de semeadura direta.

O preparo reduzido do solo também deixa as sementes próximas da superfície.

Observou-se que 70 a 78% das sementes encontravam-se nos primeiros 5 cm de

profundidade, indicando que o estabelecimento da vegetação natural através de

sementes de camadas mais profundas é pouco provável. Segundo Yenish et al. (1992),

em sistemas de semeadura direta, 60% de todas as sementes presentes no perfil do solo

encontram-se localizadas entre 0-1 cm de profundidade, com poucas sementes abaixo de

10 cm. Em ecossistemas naturais de campo, vários estudos também mencionam uma

predominância das sementes nas camadas superiores, como em Bekker et al. (1999).

O manejo empregado no local visa favorecer a ressemeadura natural do azevém

anual. Quando não se considera esta espécie nas avaliações, o banco de sementes das

áreas com soja sofrem grandes alterações nas proporções de espécies anuais e perenes,

inclusive passando a um domínio de perenes na área com 8 anos de manejo, em ambas

as profundidades, e na profundidade de 5 a 10 cm, na área com 9 anos. Na profundidade

de 5 a 10 cm, mesmo considerando-se o banco de sementes de azevém anual, as

sementes de espécies perenes passaram a predominar sobre as de anuais, nas áreas de 8

e 9 anos. Em virtude da intensa relação conhecida de espécies anuais na vegetação em

ambientes com alto grau de distúrbio como os agrícolas, como a área com 8 anos (Zanin

et al, 1997; Fenner & Thompson, 2005), o recrutamento pode ter sido estimulado pelo

grande número de espaços abertos, causando uma redução na quantidade de sementes

de espécies anuais no solo. Bullock (2000) relata vários estudos que evidenciaram uma

maior emergência plântulas de espécies com sementes pequenas, em espaços abertos na

vegetação, do que de sementes grandes. Sabe-se que espécies anuais tendem a ter

sementes pequenas (Fenner & Thompson, 2005), o que é outra evidência para a hipótese

de um maior recrutamento destas.

Mesmo sendo um sistema de manejo de semeadura direta, a presença de uma

maior quantidade de sementes de espécies perenes em maiores profundidades, pode

indicar este grande recrutamento de sementes de espécies anuais mencionado, nessas

áreas que sofreram distúrbios por mais tempo, com um provável predomínio destas na

76

vegetação. Nos primeiros centímetros, na área com 9 anos, devido ao tempo de pousio

(segundo ano no momento da coleta) e à existência de poucos espaços abertos na

vegetação campestre natural, o recrutamento das espécies, entre estas as anuais, na

superfície diminuiu, sendo somente visualizado em maiores profundidades.

Outra possível interpretação é de que devido ao maior tempo sem ocorrer

revolvimento do solo, as espécies perenes estejam sendo favorecidas. Entretanto, esta

última hipótese é pouco provável, devido às práticas de controle de plantas indesejáveis,

com herbicida, que são realizadas durante o período em que as áreas estão sendo

cultivadas com soja.

Torna-se evidente que, conforme o distúrbio diminui, mesmo que por alguns

anos somente, parece haver um direcionamento para um banco de sementes de espécies

perenes, com menor densidade, possivelmente de caráter transitório. Isto pode refletir

uma estratégia de sobrevivência da vegetação, com rápida reocupação dos espaços

abertos de solo provocados pelo cultivo da soja ou pastejo intenso. A resiliência

observada, entretanto, pode ocasionar grande erosão genética, pois o pastejo intenso é

mantido e, logo em seguida (após dois anos), o cultivo da soja retorna, alterando

novamente a composição e tamanho do BSS. Alguns trabalhos apontam o banco de

sementes como sendo o principal responsável pela recolonização de áreas campestres

após distúrbio (Zimmergren, 1980; Pakeman et al., 1998).

O tamanho do banco de sementes geralmente diminui com a redução da

freqüência de distúrbio e o aumento da longevidade das espécies que formam a

vegetação (Thompson, 1978; Symonides, 1986). O fato de as duas áreas em pousio (3 e

9 anos de manejo) apresentarem os maiores BSS é outro indício para o que foi afirmado

anteriormente sobre o caráter transitório do mesmo, sendo determinado pelas práticas de

manejo.

Segundo o projeto RADAMBRASIL (Teixeira et al., 1986), a vegetação da

região da Serra do Sudeste, onde se localiza a área de estudo, corresponde à savana,

com arbustos e árvores isoladas no estrato superior. O estrato inferior é constituído

especialmente por gramíneas. Entre as várias espécies que ocorrem na região estão

Adesmia punctata, Andropogon lateralis, A. selloanus, A. ternatus, Aristida jubata, A.

filifolia, A. spegazzini, A. circinalis, A. vernustula, Axonopus affinis, Baccharis

coridifolia, B. trimera, Briza subaristata, Chloris polydactyla, Clitoria nana,

Desmodium incanum, Eriosema tacuaremboense, Eryngium horridum, Galactia neesii,

77

Hypochaeris spp., Hypoxis decumbens, Lathyrus pubescens, Luziola peruviana,

Paspalum compressifolium, P. notatum, P. nicorae, P. urvillei, Piptochaetium

montevidense, Schizachyrium tenerum, Rhynchosia diversifolia, Stipa filifolia e

Trifolium polymorphum (Boldrini, 1997).

Observou-se que a maioria das espécies encontradas no BSS não são espécies

campestres e sim de plantas consideradas invasoras (Brachiaria plantaginea, Solanum

sisymbrifolium, S. americanum, Sida spp., etc.). Isto pode-se dever ao longo período

pelo qual a área vem sendo submetida ao cultivo da soja. Algumas sementes de espécies

campestres podem ser inclusive, de plantas não mais presentes na vegetação (Milberg,

1992), mas, embora muitas possuam uma dispersão limitada (Verkaar et al., 1983;

Spence, 1990), a dispersão recente de áreas adjacentes não pode ser excluída.

É importante mencionar que a entrada do gado bovino não se deu de forma

constante e uniforme em todas as áreas, estando dependente da condição da pastagem, o

que pode influenciar a dispersão zoocórica e o depósito de sementes no solo. Sabe-se

que a maior parte das sementes são dispersas próximas à planta-mãe (Wilson &

Traveset, 2000), mas outra parte importante é ingerida pelos herbívoros, transportadas e

expulsas nos excrementos. Marañon (1995) relata vários estudos sobre o papel das

sementes com dispersão endozoocórica, em campos espanhóis. Estes estudos

contabilizaram mais de 20 sementes.cm-2 de 46 espécies campestres no esterco das

vacas, durante a primavera, o que presume um banco concentrado de 200.000

sementes.cm-2 no solo. Malo & Suárez (1995) concluíram que uma vaca pode dispersar

cerca de 300.000 sementes por dia. O potencial de recuperação da vegetação pelo BSS

pode ser drasticamente afetado com o tempo de utilização da área, principalmente pela

diminuição da riqueza das espécies que formam o banco de sementes, conforme

evidenciado na área de 9 anos de manejo, mais intensivamente utilizada em escala

temporal. Em sistemas de cultivo onde o uso de herbicidas é a ferramenta principal de

controle de plantas indesejáveis, a diversidade de espécies no banco de sementes pode

ser drasticamente afetada (Menalled et al., 2001; Medeiros & Steiner, 2002).

As diferenças significativas entre os bancos de sementes das quatro séries

confirmam certa alteração na composição de espécies e número de sementes ao longo

do tempo, conforme relatado anteriormente. Entretanto, da mesma forma como ocorreu

em Bekker et al. (1997), a maioria das variáveis de solo quantificadas não explica de

forma significativa a variação observada no banco de sementes das quatro áreas, exceto

78

fósforo, potássio, magnésio, alumínio e sódio, que apresentaram uma boa correlação

com a variação do BSS. Embora essas variáveis possam aparentemente parecer de

reduzida significância no processo, elas podem ser, ao contrário, de alta relevância e

determinantes na resposta da vegetação.

O aumento na abundância de sementes de espécies anuais em sistemas de

semeadura direta na palha, com aplicação constante de herbicida, também vem sendo

observado em vários trabalhos (Forcella & Lindstrom, 1988; Buhler & Oplinger, 1990;

McCloskey et al., 1996; Swanton et al., 1999; Menalled et al., 2001). Já no início da

avaliação, após 3 anos de implementação do manejo utilizado na fazenda, não se

verificou a presença de várias espécies citadas por Boldrini (1997), como características

dos campos da região no BSS. Algumas espécies das famílias Cyperaceae e Poaceae

aumentaram seus bancos de sementes, enquanto que famílias como Asteraceae e

Apiaceae apresentaram forte diminuição.

Conforme progrediu a cenosere, o tamanho e a riqueza do banco de sementes

diminuiu, com uma substituição de espécies perenes por espécies anuais, em termos

quantitativos, e o conseqüente desaparecimento de espécies nativas de importante valor

forrageiro, como as do gênero Paspalum, já após 6 anos de manejo.

De acordo com estudo relatado por Zanin et al. (1997) sobre a dinâmica da

vegetação de plantas indesejáveis sob diferentes sistemas de cultivo, a combinação da

ausência e redução dos distúrbios causados pelo controle químico com herbicidas

dessecantes e competição com as plantas de azevém anual, capazes de produzirem

sucessões secundárias anualmente, afetou o banco de sementes. Isto ocorreu,

provavelmente, como um reflexo da alteração ocorrida na comunidade vegetal, em duas

diferentes direções evolutivas: uma tipicamente sucessional e outra de recolonização

repetida. A cada ano, o controle químico provoca o reinício da sucessão na comunidade

vegetal, mas algumas espécies “escapam” e, lentamente, dão lugar ao processo

sucessional.

CONCLUSÕES

A condição atual de manejo da área (pousio ou cultivo da soja) apresenta maior

influência na composição e tamanho do BSS do que o tempo de implementação dos

manejos.

A redução do distúrbio pelo pousio, mesmo que somente por dois anos, induz a

um direcionamento para um banco de sementes de espécies perenes, com menor

densidade, possivelmente de caráter transitório, visando a uma rápida reocupação dos

espaços abertos no solo, provocados pelo cultivo agrícola ou pelo pastejo intenso.

Ao longo da cenosere há uma diminuição no tamanho e na riqueza do banco de

sementes, com uma substituição de espécies perenes por espécies anuais, em termos

quantitativos, e o desaparecimento de importantes espécies campestres nativas, já após

seis anos de manejo.

A maior quantidade de sementes encontra-se nos primeiros 5 cm de

profundidade do solo.

Embora o BSS das quatro séries temporais tenha apresentado diferenças

significativas, a trajetória da cenosere não é unidirecional.

Predominaram nos bancos de sementes, em termos quantitativos, espécies de

monocotiledôneas anuais e, em termos qualitativos, de monocotiledôneas perenes.

As áreas com solos mais férteis, com recente aplicação de fertilizantes,

apresentaram uma maior riqueza, enquanto as áreas menos férteis apresentaram maior

densidade de sementes no solo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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85

ANEXO

1. Número de sementes por metro quadrado das espécies encontradas no BSS ao longo da cenosere, de 3 a 9 anos, nas profundidades de 0-5 e de 5-10 cm.

0 - 5 cm 5 - 10 cm Espécie 3 6 8 9 3 6 8 9

Agrostis montevidensis 0 0 0 0 0 255 0 0 Amaranthus lividus ssp. polygonoides 0 0 4330 0 0 0 2802 0 Apium leptophyllum 0 0 0 0 0 0 255 0 Avena strigosa 0 0 0 0 255 0 0 0 Baccharis trimera 0 0 0 0 0 255 0 0 Borreria capitata 0 0 764 255 0 0 0 0 Brachiaria plantaginea 0 255 0 0 0 0 0 0 Briza minor 255 0 0 0 0 0 0 0 Bulbostylis capillaris 0 2038 0 255 2547 2038 0 1783 Centela asiatica 2038 29292 0 509 5094 7641 1528 764 Centunculus minimus 7641 11971 3057 10698 8915 4075 3311 5604 Cerastium glomeratum 16556 7132 2292 1528 764 4840 255 255 Cerastium rivulare 2038 4330 255 19103 2547 0 0 2802 Chaptalia nutans 255 0 255 0 509 0 0 0 Conyza bonariensis 9934 509 0 0 0 0 0 0 Conyza cf. floribunda 255 0 0 0 9424 0 0 0 Crysanthemum myconis 0 0 0 255 0 0 0 0 Cuphea carthagenensis 16047 255 0 33113 509 255 0 1274 Cyperus cf. cayennensis 0 2547 255 0 0 764 0 0 Cyperus eragrostis 0 0 5349 0 0 0 0 0 Cyperus laetus 0 0 0 0 0 0 255 0 Cyperus meyenianus 0 0 255 0 0 0 0 0 Cyperus reflexus 8915 1528 0 1274 0 0 0 0 Dichondra sericea 0 0 1274 0 0 509 2038 0 Digitaria adscendens 0 255 0 0 9424 0 0 0 Digitaria ciliaris 50433 3057 3821 64697 29547 1019 3057 509 Eclipta megapotamica 9934 0 764 7132 255 255 0 0 Eleocharis maculosa 0 255 0 0 0 0 0 0 Eleocharis minima 0 0 255 0 0 255 0 0

86

ANEXO 1 (cont.) 0 - 5 cm 5 - 10 cm Espécie

3 6 8 9 3 6 8 9 Eleusine tristachya 255 2802 1274 0 0 255 764 0 Eragrostis lugens 0 0 0 0 0 255 0 0 Eragrostis neesii 18849 8151 764 15792 0 509 1274 0 Fimbristylis autumnalis 12990 1019 255 6368 7896 509 0 7387 Fimbristylis dichotoma 509 1783 0 0 1528 1528 255 0 Fimbristylis diphylla 0 0 2547 0 0 1019 0 0 Gamochaeta spp. 61640 73867 59348 9424 6368 35150 9170 764 Glandularia selloi 0 0 1274 0 0 0 0 0 Gratiola peruviana 255 0 0 255 0 0 0 1528 Hydrocotyle exigua 764 5349 1274 255 255 7896 1528 1274 Hydrocotyle verticillata 0 0 0 0 0 0 0 764 Hypochaeris albiflora 0 255 255 0 0 0 255 0 Hypochaeris chillensis 255 255 0 1019 0 0 0 0 Hypoxis decumbens 764 4840 1274 0 0 509 2038 1019 Juncus bufonius 225166 29037 5858 167601 29801 10188 5094 100611 Juncus capillaceus 0 3821 1783 1019 1783 1019 5094 0 Juncus dichotomus 2038 1274 3057 1783 2038 255 2802 5349 Juncus dombeyanus 0 764 255 255 0 1019 0 0 Juncus cf. effusus 4840 509 0 23434 3566 764 255 31839 Kyllinga brevifolia 34641 18594 5094 89404 13245 1274 7641 20886 Kyllinga odorata 0 1274 5604 764 0 0 4585 20122 Kyllinga vaginata 0 4075 2038 0 255 255 1274 509 Lolium multiflorum 20377 69791 281966 64697 4075 2038 6368 2802 Lotus subbiflorus 0 2038 0 0 0 0 0 0 Luzula campestris 255 0 0 0 0 255 0 0 Lythrum hyssopifolium 0 2802 0 21905 0 0 1019 0 Mecardonia tenella 0 0 0 0 0 0 509 0 Ornithopus micranthus 0 0 0 0 0 0 255 0 Oxalis cf. conorrhiza 2292 8660 6113 4840 1783 6368 2292 1783 Oxalis corniculata 0 0 0 255 0 509 0 0 Panicum aristellum 255 0 0 0 0 0 0 0 Panicum decipiens 255 0 0 1019 0 0 0 0 Panicum dichotomiflorum 509 0 0 0 509 0 0 0 Panicum racemosum 0 0 0 3311 0 0 0 0 Paspalum nicorae 8406 0 0 0 0 0 0 0 Paspalum urvillei 764 0 0 0 0 0 0 0 Piptochaetium montevidense 0 0 0 0 0 0 255 0 Plantago spp. 52216 10443 764 34131 5858 255 0 0 Pluchea sagittalis 255 0 255 0 509 0 0 0 Poa annua 4840 255 255 4840 0 0 0 0 Polygonum hydropiperoides 764 0 0 0 0 0 0 0 Polygonum cf. punctatum 6113 255 0 2292 509 0 0 0 Relbunium richardianum 764 0 0 255 0 0 255 0 Rhynchospora globularis 0 0 0 0 1783 0 255 764 Rhynchospora microcarpa 0 0 255 0 255 0 0 0 Rhynchospora rugosa 0 0 0 0 0 0 0 255 Rhynchospora tenuis 0 0 255 0 0 0 0 0 Richardia brasiliensis 0 0 1019 0 0 0 0 0 Setaria sphacelata 509 0 0 0 0 0 0 0 Sida rhombifolia 509 0 2038 509 255 0 764 0 Sida sp. 0 255 0 0 0 0 0 0

87

ANEXO 1 (cont.) 0 - 5 cm 5 - 10 cm Espécie

3 6 8 9 3 6 8 9 Sisyrinchium micranthum 32094 41518 8151 44575 17066 10188 7641 18085 Solanum americanum 0 255 1274 255 0 0 0 0 Soliva pterosperma 0 5094 509 4330 255 0 0 0 Sporobolus indicus 0 764 509 0 0 255 255 0 Trifolium pratense 764 0 0 0 509 0 0 0 Trifolium repens 11462 3311 764 33367 7132 0 1019 764 Urtica dioica 0 255 0 0 0 0 0 0 Verbena litoralis 764 255 0 0 0 0 0 0 Wahlenbergia linarioides 255 255 0 0 0 0 0 0 Campanulaceae 255 255 0 764 1528 0 0 0 Cyperaceae 1 9679 255 2292 9934 5858 0 0 1528 Cyperaceae 2 0 0 0 0 0 0 1019 0 Lamiaceae 255 0 0 0 0 0 0 0 Poaceae 1783 255 255 1019 1274 255 255 0 Indeterminada 1 255 0 0 1019 0 0 0 0 Indeterminada 2 764 0 0 3566 0 0 0 0

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme mencionado por Bekker (1998), nos anos 90, os bancos de sementes

finalmente foram aceitos como parte da comunidade vegetal, como primeiramente

sugerido por Major & Pyott (1966).

Os BSS de comunidades campestres são pouco estudados no Brasil, onde

predominam estudos em ecossistemas florestais e em ambientes agrícolas; este último

com a abordagem da área de plantas concorrentes daninhas. Espera-se que esse trabalho

possa contribuir com algumas informações sobre a dinâmica e a funcionalidade dos

bancos de sementes de comunidades campestres alteradas pelo cultivo agrícola, como

um importante recurso a ser observado neste ecossistema.

O primeiro e o segundo artigo focaram a dinâmica e a longevidade das sementes

de azevém anual no solo, respectivamente, em sistemas de semeadura direta, em rotação

com soja, atualmente muito difundidos na região. Muitas controvérsias podem ser vistas

com relação à classificação do banco de sementes desta e de várias outras espécies, no

tocante à sua longevidade. Em Thompson et al. (1997), há uma compilação de dados

sobre os BSS de uma ampla gama de espécies do noroeste da Europa, entre elas, o

azevém anual, mostrando classificações, para esta última, que variam desde um banco

de sementes persistente, até um transitório. As informações obtidas nesse trabalho

concordam com a maioria dos estudos retratados pelo autor, apontando a espécie como

apresentando um banco de sementes de caráter transitório, já que a maior parte das

sementes não persistiu no solo por mais de um ano (somente 11% das sementes foram

encontradas após 565 dias de enterrio). Pouco mais de dois anos após o enterrio,

89

somente 2% das sementes foram encontradas. Verifica-se, com base nestes dois estudos,

que a maioria das sementes é dispersa, durante o fim da primavera e início do verão

(dezembro), com alta dormência primária, e germinam no outono, quando as condições

de temperatura e disponibilidade de água tornam-se adequadas. Até o fim do outono, o

BSS é praticamente exaurido.

A prática de manejo utilizada, com dois anos de cultivo de soja e dois anos de

pousio, apresentou maior influência no tamanho do BSS de azevém do que o número de

anos nos quais esta prática vem sendo utilizada, principalmente em virtude da sua

transitoriedade, que tornam os distúrbios de cada ano mais importantes do que suas

conseqüências de longo prazo.

Apesar do referido manejo ser bem sucedido em termos produtivos,

principalmente por proporcionar duas fontes de renda para o produtor – uma oriunda da

lavoura e outra da produção de carne –, diminuindo os custos de implantação da

pastagem e antecipando o pastejo, em virtude da intensividade e do manejo visando a

ressemeadura natural da gramínea, esse caráter transitório das sementes de azevém no

solo evidencia a necessidade da reposição anual do BSS para assegurar pastagens

subseqüentes. As sementes são depositadas na estação anterior, em densidades que

variam de 3.363 a 22.835 sementes.m-2. Isto representa uma quantidade de sementes

equivalente a 67 até 456 kg.ha-1, considerando-se um peso de 1000 sementes de 2

gramas, o que está bem acima das quantidades normais recomendadas para semeadura,

que variam de 25 a 30 kg.ha-1.

A área cultivada com soja vem crescendo a cada ano na região e no país como

um todo. Cada vez mais áreas de campo estão sendo ocupadas com essa cultura,

levando ao gradativo desaparecimento de espécies campestres.

O terceiro artigo procurou quantificar possíveis alterações na composição e

tamanho do BSS da área, buscando inferir sobre o potencial de recuperação da

vegetação campestre, através do seu banco de sementes.

Alguns estudos têm demonstrado que o BSS possui um papel significativo na

colonização após pequenos distúrbios, enquanto outros mostram que este papel é

irrelevante (Thompson, 2000).

90

Bakker (1989) e Van der Valk & Verhoeven (1988), por exemplo, apontam para

um possível potencial regenerativo do BSS, em casos onde as espécies tenham

desaparecido da vegetação estabelecida. A maioria das espécies campestres tende a

formar bancos de sementes que variam de transitórios a persistentes de curto prazo,

normalmente dominados por espécies pioneiras persistentes, por longos períodos, e

espécies ruderais (Bakker, 1989). Durante a sucessão, não ocorrendo distúrbios no solo,

as espécies ruderais podem permanecer presentes no banco de sementes por um longo

período de tempo, mas quando elas desaparecem da vegetação estabelecida e das áreas

adjacentes, a acumulação das sementes no solo cessa e, com o tempo, a dominância

dessas no banco de sementes termina (Chancellor, 1986). As espécies pioneiras e

ruderais, entretanto, podem influenciar negativamente as perspectivas de regeneração

das comunidades campestres, pela rápida ocupação de espaços abertos na vegetação,

aumentando seu poder competitivo sobre as espécies alvo (Graham & Hutchings,

1988b; Strykstra et al., 1998).

Utilizando uma comunidade alvo, Bekker (1998) mediu quantitativamente o

potencial de recuperação da vegetação pelo BSS e, assim como Kirkham & Kent

(1997), concluiu que o potencial de regeneração de comunidades campestres degradadas

pode diminuir conforme o passar do tempo, e que processos de drenagem e de

fertilização podem afetar a sobrevivência das sementes no solo.

Kalamees & Zobel (2002) argumentam que parte do problema está nos

diferentes métodos experimentais. Alguns pesquisadores têm criado espaços vazios por

remoção da vegetação, mas causaram pouco distúrbio no solo, observando assim uma

pequena importância do BSS (Bullock et al., 1994; Edwards & Crawley, 1999a). Um

experimento totalmente fatorial, em um campo de pedra calcária, com solo alterado a

uma profundidade de 10 cm, revelou que 36% dos colonizadores dos espaços de 10 x 10

cm originaram-se do BSS, 46%, da chuva de sementes (mas somente de 12% das

plantas a mais de 0,5 m do espaço vazio) e 18% invadiram vegetativamente (Kalamees

& Zobel, 2002). Pakeman et al. (1998) encontraram resultados similares em um campo

de solo ácido, no leste da Inglaterra. Edwards & Crawley (1999b) sugerem que, em

locais com distúrbio, o recrutamento, normalmente, seria dominado pela corrente chuva

de sementes. Entretanto, na ausência desta, o distúrbio aumentou o recrutamento

somente nas espécies com bancos de sementes persistentes.

91

Alguns experimentos vêm confirmando a pouca importância da chuva de

sementes na colonização de pequenos espaços abertos, na vegetação campestre (Marks

& Mohler, 1985; Milberg, 1993). Os trabalhos de Zimmergren (1980) e Pakeman et al.

(1998) apontam o banco de sementes como sendo o principal responsável pela

recolonização de áreas campestres, após distúrbio. Estes resultados sugerem que o

banco de sementes pode ter uma contribuição fundamental na regeneração, quando da

ausência de distúrbio ou se o distúrbio ocorreu em um período que houve chuva de

sementes pequena.

Desta forma, fica claro que o padrão e a diversidade do BSS pode depender dos

eventos após a dispersão, pelo menos tanto quanto da dispersão por si mesma. Tais

eventos podem ter efeitos altamente idiossincráticos, tanto nos padrões de composição,

quanto espacial, dos BSS.

O clima, nutrientes e herbivoria são os principais determinantes da composição

dos campos e comunidades relacionadas (Thompson, 2000). A maioria dos estudos tem

concluído que o crescimento vegetativo, a chuva de sementes e o banco de sementes

persistente estão todos envolvidos, em vários graus, na colonização de espaços abertos,

na vegetação campestre. Embora o banco de sementes persistente tenha freqüentemente

a menor importância numérica, como fonte de colonizadores, sua contribuição pode ser

dramaticamente alterada por uma sutil mudança na severidade do distúrbio e na locação

e tempo de criação do espaço aberto (Thompson et al., 1996).

Alguns hábitats, incluindo muitos, mas nem todos os campos, apresentam

oportunidades sazonais razoáveis para o estabelecimento de plântulas, normalmente, no

fim do período seco ou de baixas temperaturas. Tais oportunidades são melhores

aproveitadas por um BSS transitório, com germinação mais ou menos sincronizada com

o início do período favorável para o desenvolvimento vegetativo das espécies em

questão. Estes tipos de bancos de sementes estão associados à previsibilidade da

ocorrência de distúrbios.

Neste caso, os principais distúrbios são o cultivo da soja, a alta densidade de

plântulas de azevém (já que a área é manejada para propiciar a ressemeadura dessa

espécie, com grande densidade de sementes no solo) e o pastejo. O cultivo da soja

implica não só na presença da cultura, mas, também, em distúrbios causados pelo uso de

herbicidas dessecantes e fertilização.

92

A influência na composição e tamanho do BSS, das práticas de manejo

utilizadas a cada dois anos, com o cultivo da soja, e o pastejo constante, foi maior do

que o tempo de manejo, assim como em Menalled et al. (2001). Houve um predomínio

de espécies monocotiledôneas anuais ,quantitativamente, e de perenes, qualitativamente.

O BSS da área de estudo apresentou uma trajetória dinâmica, não sendo possível

sua representação através do “modelo markoviano”. Estas variações, possivelmente,

devem-se às diferentes estratégias de sobrevivência das espécies em virtude do manejo

alternado e da provável presença de um grande banco de sementes transitório, que pode

apresentar grandes variações de densidade de um ano para outro (Roberts & Neilson,

1981; Schweizer & Zimdahl, 1984; Cardina et al., 1991; Mayor & Dessaint, 1998;

Vanasse & Leroux, 2000; Menalled et al., 2001). Além disso, a entrada do gado bovino

nas áreas dependeu da condição da pastagem de cada local, ou seja, não se deu

uniformemente, o que pode ter influído na dispersão zoocórica das sementes e,

conseqüentemente, no depósito das mesmas no solo.

Aponta-se aqui para uma possível influência do uso de herbicidas, na redução da

densidade e da riqueza de espécies do banco de sementes, assim como nos estudos

acima citados. A maior presença de espaços abertos no solo, nas áreas com soja,

promove um recrutamento constante, que contribuiu para a diminuição do BSS. A cada

ano, o controle químico parece provocar o reinício da sucessão na comunidade vegetal,

com o “escape” de algumas espécies que, gradativamente, seguem o processo

sucessional.

Estudos recentes têm examinado a associação da vegetação e do BSS com

variáveis relacionadas à fertilidade do solo (Favreto, 2004). A influência da fertilidade

do solo também pode ser observada, com maiores bancos de sementes nas áreas com

solos menos férteis, assim como em Albrecht & Auerswald (2003).

Conforme o distúrbio diminuiu, houve uma tendência à formação de um banco

de sementes de espécies perenes, com menor densidade, possivelmente de caráter

transitório, provavelmente, visando a rápida reocupação de espaços abertos no solo,

provocados pelo cultivo da soja ou pastejo intenso.

A maior quantidade de sementes anuais, assim como a maior concentração de

sementes nos primeiros centímetros de solo, em sistema de semeadura direta, com uso

de herbicida, foram observadas também por vários autores (Forcella & Lindstrom,

93

1988; Buhler & Oplinger, 1990; Yenish et al,.1992; McCloskey et al., 1996; Bekker et

al., 1999; Swanton et al., 1999; Menalled et al., 2001; Favreto, 2004).

Apesar de não constarem as características do banco de sementes de uma área de

vegetação nativa, já após três anos de manejo, não se verifica a presença de muitas das

espécies campestres características da região.

Conforme aumenta o tempo de utilização da área, o tamanho e a riqueza do BSS

diminuem, com uma tendência de substituição de espécies perenes por espécies anuais,

em termos quantitativos, e o conseqüente desaparecimento de nativas de importante

valor forrageiro, como as do gênero Paspalum, após 6 anos.

Sendo assim, é importante que sejam feitos estudos por um maior período de

tempo em áreas agropastoris, enfocando a dinâmica da vegetação, do banco de sementes

e da chuva de sementes, abordando aspectos relativos à dispersão, para que possam ser

obtidos resultados mais completos, contribuindo na geração de indicações para o uso

sustentável e para a recuperação desse importante recurso natural que são os campos,

que ocupam grande parte da região.

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