dilema do engajamento e a dinÂmica da atratividade - marcelo minutti

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1 DILEMA DO ENGAJAMENTO E A DINÂMICA DA ATRATIVIDADE EM AMBIENTES DIGITAIS Marcelo Minutti RESUMO O entendimento do ecossistema social, que suporta o processo de engajamento de indivíduos autônomos em ambientes digitais, pretende oferecer alguns caminhos sobre como envolver o internauta em iniciativas de engajamento realmente eficazes. O processo de fragmentação da atenção desse indivíduo tem tornado as iniciativas de engajamento cada vez mais complexas e menos efetivas. Com a intensificação desse fenômeno nos últimos anos, tornouse mandatório a busca de modelos alternativos que tragam novas abordagens para a questão do engajamento digital. Neste contexto, o modelo do Dilema do Engajamento traz uma abordagem centrada no usuário de serviços de internet. Isso permite identificar e tratar as variáveis comportamentais que afetam diretamente as decisões de participação desse indivíduo em atividades online. A partir das variáveis associadas ao Dilema do Engajamento é possível chegarmos a uma Dinâmica da Atratividade, que é a responsável por conduzir o internauta até o momento da efetiva ação. Além disso, o uso adequado de tecnologias sociais e a compreensão da dinâmica da Rede de Confiança do indivíduo, responsável pelo filtro social de recomendações e indicações, permitem que possíveis barreiras sejam reduzidas e o percurso pelo Funil do Engajamento facilitado. Por fim, o correto entendimento da percepção de valor que o internauta tem em relação ao benefício individual oferecido a ele, permite que sejam definidas estratégias consistentes e alinhadas ao objetivos das organizações.

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DILEMA  DO  ENGAJAMENTO  E  A  DINÂMICA  DA  ATRATIVIDADE  EM  AMBIENTES  DIGITAIS  

 Marcelo  Minutti  

 

RESUMO    O  entendimento  do  ecossistema  social,  que  suporta  o  processo  de  engajamento  de   indivíduos   autônomos   em   ambientes   digitais,   pretende   oferecer   alguns  caminhos   sobre   como   envolver   o   internauta   em   iniciativas   de   engajamento  realmente  eficazes.    O   processo   de   fragmentação   da   atenção   desse   indivíduo   tem   tornado   as  iniciativas   de   engajamento   cada   vez   mais   complexas   e   menos   efetivas.   Com   a  intensificação  desse   fenômeno  nos  últimos  anos,   tornou-­‐se  mandatório  a  busca  de   modelos   alternativos   que   tragam   novas   abordagens   para   a   questão   do  engajamento  digital.      Neste   contexto,   o   modelo   do   Dilema   do   Engajamento   traz   uma   abordagem  centrada  no  usuário  de  serviços  de   internet.   Isso  permite   identificar  e  tratar  as  variáveis  comportamentais  que  afetam  diretamente  as  decisões  de  participação  desse  indivíduo  em  atividades  online.    A   partir   das   variáveis   associadas   ao   Dilema   do   Engajamento   é   possível  chegarmos  a  uma  Dinâmica  da  Atratividade,  que  é  a  responsável  por  conduzir  o  internauta  até  o  momento  da  efetiva  ação.      Além  disso,  o  uso  adequado  de  tecnologias  sociais    e  a  compreensão  da  dinâmica  da   Rede   de   Confiança   do   indivíduo,   responsável   pelo   filtro   social   de  recomendações  e  indicações,  permitem  que  possíveis  barreiras  sejam  reduzidas  e  o  percurso  pelo  Funil  do  Engajamento  facilitado.      Por  fim,  o  correto  entendimento  da  percepção  de  valor  que  o  internauta  tem  em  relação   ao   benefício   individual   oferecido   a   ele,   permite   que   sejam   definidas  estratégias  consistentes  e  alinhadas  ao  objetivos  das  organizações.      

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SUMÁRIO    

RESUMO  ................................................................................................................  1  

SUMÁRIO  ...............................................................................................................  2  

FRAGMENTAÇÃO  DA  ATENÇÃO  DO  INDÍVIDUO  ......................................................  3  

DILEMA  DO  ENGAJAMENTO  E  O  CUSTO-­‐BENEFÍCIO  INDIVIDUAL  ............................  3  

FORÇAS  DE  ATRATIVIDADE  E  O  FUNIL  DO  ENGAJAMENTO  ......................................  5  

USO  ADEQUADO  DE  TECNOLOGIAS  SOCIAIS  ...........................................................  8  

A  INFLUÊNCIA  DA  REDE  DE  CONFIANÇA  .................................................................  8  

CONCLUSÃO  ...........................................................................................................  9  

REFERÊNCIAS  BIBLIOGRAFICAS  .............................................................................  12      

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FRAGMENTAÇÃO  DA  ATENÇÃO  DO  CONSUMIDOR      Para   entendermos   os   alicerces   que   sustentam   o   processo   de   engajamento   do  internauta   é   necessário   compreendermos   o   contexto   geral   do   ecossistema  midiático   atual   e   o   processo   de   fragmentação   intensiva,   pelo   qual   a   atenção  desse  indivíduo  tem  passado  nos  últimos  anos.    Por   décadas,   antes   da   adesão   massiva   do   internauta   às   mídias   sociais,   as  estratégias  de  engajamento  passavam  quase  sempre  pela  compra  da  atenção  do  público  por  meio  da  propaganda  tradicional.  Seguindo  a  receita  que  sempre  deu  certo,   a   chamada   ao   engajamento   era   repetida,   com   insistência,   em   vários  espaços   midiáticos   (TV,   rádio,   jornal,   revista)   até   que   fosse   absorvida   e  executada  pelo  público  alvo.  Nessa  época,  a  atenção  do  indivíduo  era  distribuída  entre  poucos  e   limitados  espaços  de   informação  e  comunicação.  Esses  espaços,  na   maioria   das   vezes,   se   restringiam   a   alguns   poucos   veículos   de   mídia   e  pequenos  grupos  sociais  com  os  quais  esse  indivíduo  interagia.      Nos   últimos   anos,   esse   cenário   tem   mudado   radicalmente.   Devido   à  popularização   cada   vez   maior   da   internet,   acompanhada   do   surgimento   de  ambientes  massivos  de  colaboração  online,  onde  cada  internauta  tornar-­‐se  uma  mídia   em   potencial,   produzindo   e   distribuindo   seu   próprio   conteúdo   para   sua  própria  audiência  em  um  constante  processo  de  fragmentação  da  atenção.    Assim,  o  ciberespaço  (LÉVY,  2000)  tornou-­‐se  um  quase  infinito  emaranhado  de  nós  conectados,  representados  por  indivíduos  reais,  onde  cada  um  desses  nós  é  um   canal   de   informação   autônomo   que   compete   pela   atenção   de   outros  indivíduos  iguais  a  ele.  A  perda  de  audiência  registrada  nos  últimos  tempos  pelos  veículos  de  mídia  tradicional  é  um  dos  principais  reflexos  dessa  fragmentação  da  atenção  do  indivíduo.      Os  usuários  de   internet  deixaram  de   ser   simples   internautas  para   se   tornarem  web   atores,   modificando   a   web   a   sua   maneira,   comentando,   divulgando,  propondo  serviços  e  conteúdos.  Tornando-­‐se  assim  consumidores  e  produtores  de  conteúdo  ao  mesmo  tempo.  (PISANI,  2010).    Nesse  contexto,  o  internauta  vive  uma  rotina  diária,  onde  precisa  tomar  decisões  constantes  sobre  como  distribuir  sua  atenção  e  envolvimento.  Esse  processo  de  análise   de   alternativas   e   escolhas   é   o   que   chamaremos   de   Dilema   do  Engajamento.  

DILEMA  DO  ENGAJAMENTO  E  O  CUSTO-­‐BENEFÍCIO  INDIVIDUAL    O  Dilema   do   Engajamento   Digital   (Minutti,   2011)   é   o   processo   pelo   qual   o  internauta  analisa  alternativas  e   faz  escolhas,  distribuindo  assim  sua  atenção  e  envolvimento   entre   aquelas   opções   que   trazem   o   melhor   custo-­‐benefício  individual.  

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 Entendermos  a  importância  da  relação  custo-­‐benefício  individual  no  processo  de  engajamento  do  internauta  é  fundamental  para  compreendermos  o  motivo  pelo  qual   alguns   serviços   online   conquistam  maior   envolvimento   e   participação   do  seu   público   do   que   outros.   Essa   percepção   nos   ajuda   a   entender   algumas  situações   empíricas   como,   por   exemplo,   o   motivo   do   grande   volume   de  visualizações   de   um   vídeo   no   YouTube   ou   a   grande   quantidade   de  compartilhamentos  de  uma  foto  no  Facebook.      O  custo-­‐benefício  individual  do  engajamento  digital  poderia  ser  descrito  como  o  valor   percebido   pelo   indivíduo   no   processo   de   decisão   de   engajar-­‐se   em   algo.  Com  isso,  podemos  afirmar  que  quanto  maior  o  valor  percebido  pelo  internauta,  maior  será  seu  nível  de  engajamento  em  alguma  atividade  online.      Outro   ponto   importante,   que   deve   ser   considerado,   está   associado   ao  comportamento   desses   indivíduos   quando   fazem   parte   de   grupos   ou  comunidades  online,   que  é  o   caso  de   redes   sociais   como  o  Facebook  e  Twitter.    De  acordo  com  Olson  (1971),  mesmo  que  todos  os  indivíduos  de  um  grupo  sejam  racionais   e   centrados   em   seus   próprios   interesses,   e   que   saiam   ganhando   se,  como   grupo,   agirem   para   atingir   seus   objetivos   comuns,   ainda   assim   eles   não  agirão  voluntariamente  para  promover  esses  interesses  comuns  e  grupais.      Apesar   de   Olson   não   tratar   diretamente   sobre   grupos   em   ambientes   de  colaboração  online,   ele   deixa   claro   que   os   interesses   individuais   se   sobrepõem  aos   interesses   do   grupo.   Assim,   é   fundamental   que   ações   e   iniciativas   em  ambientes   digitais   que   queiram   fomentar   o   engajamento   de   seus   públicos  precisem   prioritariamente   se   preocupar   com   o   equilíbrio   entre   a   entrega   de  benefícios   individuais   e   os   benefícios   gerados   para   o   grupo.   A   diluição   da  percepção   dos   benefícios   individuais   pelos   grupos   podem   inibir   e,   até  mesmo,  anular  o  movimento  de  engajamento.    

   

Figura:  Matriz  do  Engajamento  

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 Dessa   forma,   a   motivação   para   o   efetivo   engajamento   em   ambientes   digitais  acontece  quando  a   força  de  atração  proporcionada  pela  relação  custo-­‐benefício  apresentada  é  percebida  pelo  indivíduo  como  positiva  e  benéfica  para  ele.  A  essa  percepção   do   valor   entregue   pela   relação   custo-­‐benefício   damos   o   nome   de  Forças  de  Atratividade.  

FORÇAS  DE  ATRATIVIDADE  E  O  FUNIL  DO  ENGAJAMENTO    As   Forças   de   Atratividade   do   Engajamento   Digital   são   responsáveis   por  trazer   o   internauta   até   o   momento   efetivo   da   ação   que   concretiza   seu  envolvimento   com   uma   determina   atividade   online.   Por   exemplo,   publicar   um  comentário  relacionado  a  publicação  de  conteúdo  de  um  outro  indivíduo  em  um  blog  ou  rede  social.    De   maneira   geral,   podemos   classificar   as   forças   de   atratividade   em   duas  categorias:  sociais  e  pessoais.    As   forças   de   atratividade   sociais   estão   relacionadas   aos   benefícios   percebidos  pelo   internauta   em   sua   esfera   social.   Essas   forças   são   comuns   em   ambientes  colaborativos  online  e  aparecem  de   forma  explícita  nas   interações  públicas  que  ocorrem   nas   plataformas   de   redes   sociais.     Reconhecimento   e   sensação   de  pertencimento  são  exemplos  desse  tipo  de  força  de  atração.    As   forças   de   atratividade   pessoais   são   aquelas   que   estão   associadas   aos  benefícios  percebidos  pelo  indivíduo  em  sua  esfera  pessoal.    Satisfação  pessoal  e  ganhos  financeiros/materiais  são  exemplos  de  forças  dessa  natureza.      Por  meio  dessas  duas  forças  de  atratividade,  o  internauta  é  conduzido  e  atraído  para  o  espaço  digital  onde  ocorre  o  engajamento,  como  se  tivesse  passando  por  um  funil.    Durante  esse  percurso,  a  intensidade  das  forças  de  atratividade  podem  variar,  mas  o  engajamento  só  acontece,  de  fato,  quanto  se  atinge  o  ponto  ótimo  de  atratividade  ao  final  desse  funil.  O  deslocamento  não  linear  dentro  do  funil  de  engajamento  representa  a  dinâmica  da  atratividade  em  ambientes  digitais.    A  figura  a  seguir  demonstra  visualmente  como  seria  essa  dinâmica.    

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Figura:  Funil  do  Engajamento    Outro  ponto   importante  quando  analisamos  a  dinâmica  do  engajamento  digital  está  associado  aos  tipos  de  engajamento.  De  acordo  com  Li  (2011)  um  modo  de  abordar  essa  questão  é  agrupar  e  priorizar  os  tipos  de  engajamento  no  que  ela  denomina  “pirâmide  de  engajamento”.      A  pirâmide  mostra   como  o   internauta  pode   se   engajar   e   é   composta  por   cinco  níveis,   cada  um  representado  por  um  grau  mais  elevado  de  comportamento  de  engajamento.    Esse   modelo   possui   similaridade   com   o   modelo   de   avaliação   conhecido   como  Teoria   da   Desigualdade   de   Participação   (Nielsen,   2006),   também   denominado  “90-­‐9-­‐1”.   Onde   90%   representa   os   indivíduos   que   apenas   observam,   9%   são  aqueles  que  contribuem  ocasionalmente  e  apenas  1%  participa  intensamente.  

 Os  tipos  de  engajamento  podem  ser  descritos  da  seguinte  forma  (Li,  2011):    Curadoria  –  Seleção  e  tratamento  de  conteúdos  de  outros  indivíduos.  Produção  –  Produção  e  distribuição  de  conteúdo  próprio.  Comentário  –  Interação  e  participação  em  relação  a  produção  de  outros.  Compartilhamento  –  Compartilhar  e  repassar  conteúdo  de  outros.    Observação  –  Consumo  da  produção  de  outros.      

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Figura:  Pirâmide  do  engajamento      Um  estudo  realizado  pela  Global  Web  Index  (2010)  apontou  que  as  atividades  de  engajamento   do   brasileiro   estão   distribuídas   ao   longo   da   pirâmide   do  engajamento   da   seguinte   forma:   observadores   (89,3%),   compartilhadores  (79,3%),  comentadores  (54%)  e  produtores  (52,7%).    O  engajamento  pode  variar  em  tipo  e  intensidade,  mas  a  produção  própria,  que  está   representada   no   topo   da   pirâmide   do   engajamento,   possui   papel   de  destaque   no   ecossistema   de   colaboração   de   ambientes   digitais.   Por   isso,   os  indivíduos  que  apresentam  comportamento  orientado  para  a  produção  própria  são  atores  fundamentais  nesse  processo  e  funcionam  como  alavancas  para  que  o  engajamento   contamine   outros   participantes.   Sem   produtores   o   engajamento  não  existe.    O   ambiente   digital   proporciona   um   espaço   propício   para   o   engajamento,   pois  oferece  barreiras  de   fácil   transposição  em  relação  as  barreiras  encontradas  em  ambientes   não   digitais.   Na   prática,   é   muito   mais   simples,   prático   e   rápido   o  indivíduo  apoiar,  por  exemplo,  o  Movimento  Ficha  Limpa,  compartilhando  uma  publicação  sobre  o  assunto,  do  que  participar  de  uma  manifestação  de  rua.  Essa  característica  do  engajamento  digital  associada  à  proliferação  de  plataformas  de  colaboração   na   Internet   é   o   que   torna   a   viralização   de   conteúdos   digitais   algo  comum  nos  dias  atuais.    Se   por   um   lado,   promover   o   engajamento   digital   é   mais   fácil   que   envolver   as  pessoas  em   iniciativas  no  mundo   físico,  por  outro,  como   já   foi  dito,  o  ambiente  digital  pulveriza  e  dilui  a  atenção  e  o  tempo  do  indivíduo  entre  múltiplas  opções  de  engajamento.  Esse  é  um  dos  motivos  pelos  quais  muitos  assuntos  que  em  um  momento   aparecem   no   Trending   Topics   do   Twitter,   em   outro   já   foram  esquecidos.   Essa   dinâmica   efêmera   das   mídias   digitais   representa   um   dos  maiores  desafios  das  organizações  para  manter  o   interesse  e  a  participação  do  internauta  em  torno  de  suas  ações.      

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Nesse   contexto,   os   principais   fatores   que   contribuem   para   que   o   engajamento  persista  são:  o  uso  adequado  de  tecnologias  sociais  (McAfee,  2009)  e  a  influência  de  outros  indivíduos  conectados.    

USO  ADEQUADO  DE  TECNOLOGIAS  SOCIAIS      No   caso   das   tecnologias   sociais,   McAfee   (2009)   cita   três   tendências   que  produzem  ferramentas  melhores  para  o  engajamento,  que  podem  ser  resumidas  da  seguinte  forma:        Plataformas  gratuitas  e  fáceis  de  comunicação  e  interação.  Quanto  maior  a  facilidade  do  internauta  se  comunicar  e  interagir  menor  serão  as  barreiras  e  maior  será  o  estímulo  ao  engajamento.  Ex.:  publicação  de  conteúdos  em  poucos  passos.      Estruturas  impostas  flexíveis  e  adaptáveis.  A   redução   da   quantidade   de   regras   e   restrições   para   que   o   indivíduo   interaja  com   a   plataforma   e   com   outros   usuários   estimula   sua   participação.   Ex.:  ampliação  de  direitos  de  produção  e  publicação  de  conteúdos.    Mecanismos  para  deixar  a  estrutura  emergir.  As   ferramentas   devem   oferecer   mecanismos   que   ajudem   a   estrutura   social  emergir   com   base   na   produção   e   interação   dos   indivíduos   participantes.   Esse  processo   pode   ser   chamado  de   folksonomia   (Peters,   2009)   em   contraponto   ao  conceito  de  taxonomia.  Ex.:  nuvem  de  tags.    Outro   fator   que   contribui   para   o   engajamento   digital   é   a   influência   de   outros  indivíduos   conectados.   Nesse   caso,   as   forças   de   atratividade   sociais,  mencionadas   anteriormente,   podem   ser   estimuladas   e   até   potencializadas  quando   indivíduos   com   influência   social   superior   em   temas   ou   assuntos  específicos   fazem   recomendações   ou   sugerem   preferências.   Normalmente,  nesses  casos,  a  influência  está  associada  a  credibilidade  do  influenciador  perante  o  influenciado.      Com  a  fragmentação  da  atenção  do  internauta,  em  decorrência  do  grande  volume  de   informações   do   ambiente   digital,   muitos   participantes   de   plataformas  colaborativas  online  utilizam  os  influenciadores  presentes  em  suas  redes  sociais  digitais  como  filtro  para  selecionar  as  possibilidades  de  engajamento.  Chamamos  essa  camada  de  filtragem  social  de  Rede  de  Confiança.    

A  INFLUÊNCIA  DA  REDE  DE  CONFIANÇA    A  Rede  de  Confiança  (Minutti,  2011)  do  indivíduo  funciona  como  um  filtro  que  seleciona   as   opções   de   engajamento   (conteúdos)   disponíveis.   Um   exemplo  prático  desse  fenômeno  é  o  feed  de  atualizações  (timeline)  de  plataformas  sociais  como   Facebook   e   Twitter.   Nesse   tipo   de   rede,   toda   oferta   de   conteúdo   para  

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engajamento   chega   até   o   indivíduo   após   passar   pela   filtragem   de   sua   rede   de  amigos,  sua  rede  de  confiança.    

   

Figura:  Rede  de  confiança  do  internauta    Neste   cenário,   um   dos   principais   desafios   das   empresas   que   precisam   se  relacionar  com  seus  públicos  nas  mídias  sociais  é  conseguir  entrar  na  timeline.    É  comum   dizer   que   se   a   empresa   não   aparece   na   timeline   das   pessoas,   ela   não  existe.  Pois  para  ser  lembrado,  você  antes  precisa  ser  visto.  Aquelas  marcas  que  não   conseguem   atingir   esse   objetivo   vêm   suas   iniciativas   relacionamento   e  engajamento  se  tornarem  inócuas.  

CONCLUSÃO    Utilizando   a  premissa  básica  que  o   engajamento  digital   é  motivado   a  partir   da  percepção   de   valor   que   o   internauta   tem   em   relação   ao   benefício   individual  oferecido  a  ele,  o  primeiro  passo  na  construção  de  estratégias  de  engajamento  é  identificar  quais  são  os  benefícios   individuais  que  despertam  os   INTERESSES  e  MOTIVAÇÕES  de  seu  público  alvo.  Esse  é  o  insumo  principal  para  que  quaisquer  iniciativa  de  engajamento  utilizadas  alcancem  a  efetividade  esperada.      Após   o   mapeamento   dos   benefícios   individuais   e   a   definição   das   forças   de  atratividade  sociais  e  pessoais  que  possuem  maior  impacto  sobre  as  decisões  de  engajamento  do  público,  é  necessário  “aplainar  o  caminho”  para  o  engajamento,  reduzindo  barreiras  e  esforços  necessários.  Isso  deve  ser  feito  com  a  escolha  das  melhores   tecnologias   sociais   e   com  os   estímulos   adequados  para  a   ativação  da  rede  de  confiança  do  público  alvo.  Por  fim,  devem  ser  selecionadas  estratégias  de  engajamento   digital   que   ajudem   na   condução   do   público   através   do   Funil   do  Engajamento.        

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 A   implementação   da   estratégia   é   um   outro   ponto   que   deve   ser   tratado   com  atenção,  pois  ambientes  digitais  possuem  características  e  dinâmicas  singulares.  Com   isso,   recomenda-­‐se   a   utilização   de   frameworks   e   modelos   adequados   a  natureza  desse  tipo  de  projeto.    Um  exemplo  desse  tipo  de  framework  é  o  Modelo  Estrela,   ou   Modelo   dos   5   Fatores   (Minutti,   2011),   que   atende   os   requisitos  necessários.   Este   modelo   “fornece   um  método   simples   e   direto   que   evidencia  os  principais   fatores   que   influenciam   a   eficácia   de   uma   estratégia   digital   e,  conforme   o   uso   tem   demostrado,   reduz   significativamente   os   esforços   com  estratégias  inadequadas  ou  equivocadas”  (Minutti,  2011).                      

Figura:  Modelo  Estrela  /  Modelo  dos  5  Fatores        O  modelo   se   baseia   nos   seguintes   fatores   que   devem   ser   levados   em   conta   na  implementação  de  uma  estratégia  digital  eficaz:    Stakeholders  /  Para  quem?  Para   quem   a   estratégia   será   elaborada?  Qual   é   o   consumidor   alvo?   Como   esse  consumidor  se  comporta  no  ambiente  digital  e  o  que  espera-­‐se  dele  para  que  a  estratégia  alcance  sucesso.    Colaboração  /  Com  quem?  Qual  o  perfil  do  público  que  orbita  seu  público  alvo?  Quem  são  os  amigos  do  seu  consumidor  alvo?  Quais  ações  que  poderiam  estimular  o  engajamento  da  rede  de  relacionamento  do  seu  cliente?  Quais  os  hábitos  de  consumo  de  conteúdo  digital  da   rede   de   amigos   do   público   alvo   da   estratégia?   Como   será   promovida   a  colaboração  entre  o  público  alvo  e  seus  amigos?    

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Relevância  /  O  que?  O  que  será  oferecido,  ou  feito,  para  que  seu  público  alvo  seja  envolvido  por  sua  estratégia?  Qual  a  relevância  do  seu  conteúdo  para  o  público  alvo?    Interatividade  /  Como?  Como  a  estratégia  pretende  motivar  a  interação  do  público  alvo  com  a  mensagem  que   você   pretende   passar?   Como   será   a   dinâmica   dessa   interatividade?   O  engajamento  será  promovido  apenas  no  meio  digital?  A  experiência  de  interação  é  adequada  ao  comportamento  digital  do  seu  público  alvo?    Canal  /  Onde?  Onde   será   implementada   a   estratégia?   Quais   os   canais   ou   plataformas   digitais  serão  utilizados?  Quais  as  plataformas  de  mídias  digitais  mais  adequadas  para  o  sucesso  da  estratégia?    Este  modelo  não  tem  o  intuito  de  sugerir  uma  norma  rígida  para  implementação  de   estratégias   digitais,   mas   sim   auxiliar   na   construção   mental   do   melhor  caminho.      

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