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FREDERICO NATHAN CEA SKWARA Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção São Paulo 2013 ANÁLISE DA ATRATIVIDADE DA INDÚSTRIA DE PROVEDORES DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS PARA INVESTIMENTOS DE PRIVATE EQUITY

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FREDERICO NATHAN CEA SKWARA

Trabalho de Formatura apresentado à Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo para

obtenção do Diploma de Engenheiro de

Produção

São Paulo 2013

ANÁLISE DA ATRATIVIDADE DA INDÚSTRIA DE PROVEDORES DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS PARA INVESTIMENTOS DE PRIVATE EQUITY

FREDERICO NATHAN CEA SKWARA

Trabalho de Formatura apresentado à Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo para

obtenção do Diploma de Engenheiro de

Produção

Orientador: Prof. Dr. João Amato Neto

São Paulo 2013

ANÁLISE DA ATRATIVIDADE DA INDÚSTRIA DE PROVEDORES DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS PARA INVESTIMENTOS DE PRIVATE EQUITY

FICHA CATALOGRÁFICA

Skwara, Frederico Nathan Cea

Análise da atratividade da indústria de provedores de servi- ços logísticos para investimento de private equity. -- São Paulo, 2013.

113 p.

Trabalho de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção.

1.Investimentos 2.Logística 3.Estratégia

I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Produção II.t.

AGRADECIMENTOS

À minha mãe e ao meu pai, pelo amor e apoio incondicional e por sempre terem acreditado no

valor da educação para minha formação.

Ao meu irmão, por ser um grande exemplo de capacidade empreendedora e perseverança há

tantos anos.

À minha tia Bete Alina, por ser não só minha tia, mas minha amiga.

A toda minha família, pelo enorme carinho.

Aos amigos que fiz durante a graduação, pelos inúmeros momentos de felicidade e por todo o

apoio em momentos de dificuldade.

Ao Professor João Amato, por sua orientação e confiança neste trabalho.

Aos professores do Departamento de Engenharia de Produção da Poli-USP, pelos momentos

de aprendizado dentro e fora da sala de aula.

À USP e seu corpo docente, por todas as oportunidades de crescimento e desenvolvimento

que me proporcionaram.

The man who grasps principles can

successfully select his own methods. The man

who tries methods, ignoring principles, is sure

to have trouble.

(Ralph Waldo Emerson)

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a atratividade da indústria de provedores de

serviços logísticos brasileira para investimentos de private equity. Além disso, o trabalho

pretende elaborar uma tese de investimentos na indústria de provedores de serviços logísticos

brasileira para investimentos dessa modalidade, baseando-se nas análises realizadas. A

abordagem metodológica engloba a revisão da literatura nas áreas da estratégia e logística. Na

área da estratégia, são discutidos os conceitos de análise estrutural de indústrias e visão

baseada em recursos da firma, entre outros. Na área da logística, são discutidos os conceitos

de logística integrada e gestão da cadeia de suprimentos, contribuindo para o entendimento da

forma de atuação dos provedores de serviços logísticos. A indústria de private equity

brasileira e sua dinâmica de funcionamento são abordadas. Em seguida, a indústria de

provedores de serviços logísticos brasileira é analisada, incluindo seu histórico, estágio atual

de desenvolvimento, oferta de serviços e ambiente competitivo. É também apresentado um

panorama da terceirização logística no Brasil. As ferramentas discutidas na revisão

bibliográfica são então aplicadas para a análise da atratividade da indústria de provedores de

serviços logísticos. Em seguida, uma tese de investimento é desenvolvida para essa indústria.

Por fim, conclui-se que a indústria de provedores de serviços logísticos brasileira é atrativa

para investimentos de private equity e recomenda-se que gestoras de private equity busquem

oportunidades de investimento em empresas focadas em serviços diferenciados de alto valor

agregado.

Palavras-chave: Avaliação de investimentos. Logística. Private equity. Estratégia.

ABSTRACT

This study aims to analyze the attractiveness of the Brazilian third-party logistics industry for

private equity investments. Furthermore, the study aims to develop an investment thesis in the

Brazilian third-party logistics industry for private equity investments, based on the analyses

realized. The methodological approach comprised a review of the literature on strategy and

logistics. In the strategy area, among others, the concepts of structural analysis of industries

and resource-based view of the firm are discussed. In the logistics area, the concepts of

integrated logistics and supply chain management are discussed, contributing to the

understanding of the services provided by third-party logistics companies. The Brazilian

private equity industry and its dynamics are addressed. Then, the Brazilian third-party

logistics industry is discussed, including its history, current stage of development, services

offered and competitive environment. In addition, an overview of logistics outsourcing in

Brazil is presented. Then, the tools introduced in the literature review are applied for the

analysis of the attractiveness of the Brazilian third-party logistics industry. Besides, an

investment thesis in the industry is developed. Finally, it is concluded that the Brazilian third-

party logistics industry is attractive for private equity investments and that private equity

managers should seek investment opportunities in companies focused on high value added,

differentiated services.

Keywords: Investment analysis. Logistics. Private equity. Strategy.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Evolução da estratégia desde os anos 1950. ............................................................ 31

Figura 2 - Modelo básico para análise estratégica. ................................................................... 32

Figura 3 - As cinco forças competitivas e os principais fatores estruturais que determinam

suas intensidades. ..................................................................................................... 35

Figura 4 - Mapa de grupos estratégicos em indústria hipotética. ............................................. 40

Figura 5 – As três estratégias competitivas genéricas de Porter (1980). .................................. 41

Figura 6 – A influência de três forças de mercado determina o valor de um recurso ou

capabilidade. ............................................................................................................ 46

Figura 7 - Relação entre recursos, capabilidades e vantagem competitiva. ............................. 48

Figura 8 - Modelo para análise da importância estratégica de recursos e capabilidades. ........ 50

Figura 9 - Esquema conceitual da logística integrada e gestão da cadeia de suprimentos. ...... 53

Figura 10 - Evolução dos provedores de serviços logísticos. ................................................... 58

Figura 11 - Histórico recente da indústria de private equity e venture capital no Brasil. ........ 62

Figura 12 - Participantes da indústria de private equity. .......................................................... 65

Figura 13 - Estrutura dos fundos de private equity normalmente utilizada no Brasil. ............. 67

Figura 14 – Principais atividades terceirizadas para provedores de serviços logísticos. ......... 75

Figura 15 - Etapas de um processo típico de terceirização logística. ....................................... 84

Figura 16 – Investimento em concessões planejadas conforme estimativa do Ministério da

Fazendo do Brasil. ............................................................................................... 119

Figura 17 – Demanda por melhorias na infraestrutura brasileira. .......................................... 120

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Evolução da captação de recursos e investimentos (em milhões de reais) em

private equity. ........................................................................................................ 71

Gráfico 2 – Composição da matriz de transportes para países selecionados. ........................... 76

Gráfico 3 - Evolução dos custos logísticos em relação ao PIB no Brasil e comparativo Brasil

versus Estados Unidos em 2010. ........................................................................... 77

Gráfico 4 - Evolução da receita dos provedores de serviços logísticos no Brasil para o período

de 1999 até 2012, em bilhões de reais. .................................................................. 89

Gráfico 5 - Comparativo das taxas de crescimento da receita combinada dos provedores de

serviços logísticos e do Produto Interno Bruto brasileiro no período de 2007 a

2012. ...................................................................................................................... 90

Gráfico 6 - Evolução da receita média (em R$ milhões) e do número de provedores de

serviços logísticos em operação no Brasil. ............................................................ 91

Gráfico 7 - Tempo de mercado dos provedores de serviços logísticos. ................................... 91

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Dimensões da estratégia competitiva. ..................................................................... 38

Quadro 2 – Provedores de serviços logísticos gerando benefícios mensuráveis para os

embarcadores. ........................................................................................................ 80

LISTA DE TABELAS

Tabela 2 - Principais motivos para a terceirização de atividades logísticas. ............................ 81

Tabela 3 - Nível de terceirização das principais atividades logísticas no Brasil. ..................... 82

Tabela 4 - Critérios na escolha de provedores de serviços logísticos. ..................................... 84

Tabela 5 – Estrutura de custos e despesas para provedores de serviços logísticos brasileiros

selecionados. .......................................................................................................... 85

Tabela 6 – Concentração de clientes para quatro provedores de serviços logísticos. .............. 96

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

3PL Third-party Logistics Provider

4PL Fourth-party Logistics Provider

ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

ABVCAP Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity

ANP Agência Nacional do Petróleo

ANTAC Agência Nacional de Transportes Aquaviários

ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestres

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

CNAE Classificação Nacional de Atividade Econômica

CNT Confederação Nacional do Transporte

CSCMP Council of Supply Chain Management Professionals

DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

EDI Electronic Data Interchange

EMPEA Emerging Markets Private Equity Association

ERP Enterprise Resource Planning

ETC Empresa de Transporte Rodoviário de Cargas

FIP Fundos de Investimentos em Participações

FMIEE Fundo de Investimentos em Empresas Emergentes

GPS Global Positioning System

ILOS Instituto de Logística e Supply Chain

NBS Nomenclatura Brasileira de Serviços

PE Private Equity

PIB Produto Interno Bruto

PIPE Private Investments in Public Equity

PREVI Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil

PSL Provedor de Serviços Logísticos

RBV Resource-based View of the Firm

RFI Request for Information

RFP Request for Proposal

SLA Service Level Agreements

TAC Transportador Autônomo de Cargas

TIC Tecnologia da Informação e Comunicação

TMS Transportation Management System

USP Universidade de São Paulo

VC Venture Capital

WMS Warehouse Management System

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 23

1.1 Formulação do problema .............................................................................................. 23

1.2 Objetivo do Trabalho de Formatura ........................................................................... 23

1.3 Justificativa do Trabalho de Formatura ..................................................................... 23

1.4 O estágio e o Trabalho de Formatura .......................................................................... 25

1.5 O curso de Engenharia de Produção e o Trabalho de Formatura ............................ 25

1.6 Estrutura do Trabalho de Formatura ......................................................................... 26

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 29

2.1 Introdução ...................................................................................................................... 29

2.2 Estratégia ........................................................................................................................ 29

2.2.1 História da estratégia ........................................................................................................... 29

2.2.2 Análise estratégica ............................................................................................................... 31

2.3 Análise estrutural de indústrias ................................................................................... 32

2.4 Análise estrutural dentro das indústrias ..................................................................... 37

2.5 Estratégias competitivas genéricas ............................................................................... 40

2.6 Visão baseada em recursos da firma ............................................................................ 42

2.6.1 Análise dos recursos e capabilidades .................................................................................. 49

2.7 Logística .......................................................................................................................... 51

2.7.1 Logística integrada .............................................................................................................. 52

2.7.2 Gestão da cadeia de suprimentos ......................................................................................... 53

2.7.3 Provedores de serviços logísticos ........................................................................................ 56

3 INDÚSTRIA DE PRIVATE EQUITY E VENTURE CAPITAL ....................................... 59

3.1 Introdução à indústria de private equity e venture capital .......................................... 59

3.2 Origem e histórico da indústria de private equity e venture capital ........................... 59

3.2.1 Histórico da indústria de private equity e venture capital no Brasil ................................... 60

3.3 Tipos de investimento .................................................................................................... 62

3.4 Participantes da indústria de private equity ................................................................. 64

3.5 Funcionamento e estrutura dos investimentos de private equity ............................... 65

3.6 Análise de oportunidades de investimento em private equity ..................................... 67

3.7 Criação de valor por gestoras de private equity........................................................... 69

3.8 Panorama e evolução do private equity no Brasil ........................................................ 70

4 INDÚSTRIA DE PROVEDORES DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS ............................... 73

4.1 Introdução ...................................................................................................................... 73

4.2 Histórico da indústria de provedores de serviços logísticos ...................................... 73

4.3 Oferta de serviços pelos provedores de serviços logísticos ........................................ 74

4.4 Infraestrutura logística no Brasil ................................................................................ 75

4.5 Tecnologia da informação e comunicação aplicada à logística ................................. 77

4.6 Terceirização logística .................................................................................................. 79

4.7 Processo de terceirização logística ............................................................................... 83

4.8 Estrutura de custos e despesas ..................................................................................... 85

4.9 Regulamentação da indústria de provedores de serviços logísticos ......................... 86

4.10 Fusões e aquisições na indústria de provedores de serviços logísticos ................... 87

4.11 Panorama e evolução da indústria de provedores de serviços logísticos ............... 89

5 ANÁLISE DA ATRATIVIDADE DA INDÚSTRIA DE PROVEDORES DE

SERVIÇOS LOGÍSTICOS ................................................................................................... 93

5.1 Introdução ...................................................................................................................... 93

5.2 Análise estrutural da indústria de provedores de serviços logísticos ....................... 93

5.2.1 Poder de negociação dos fornecedores ................................................................................ 93

5.2.2 Poder de negociação dos compradores ................................................................................ 96

5.2.3 Ameaça de serviços substitutos ............................................................................................ 98

5.2.4 Ameaça de novos entrantes .................................................................................................. 99

5.2.5 Rivalidade entre empresas existentes ................................................................................. 101

5.3 Análise da Indústria de provedores de serviços logísticos Pela Visão Baseada em

Recursos ............................................................................................................................. 103

5.3.1 Credibilidade e experiência como recursos ....................................................................... 103

5.3.2 Desenvolvimento de projetos como capabilidade .............................................................. 104

5.3.3 Sistemas de tecnologia de informação e comunicação como recurso e capabilidade ....... 106

5.4 Tese de investimento na indústria de provedores de serviços logísticos para private

equity ................................................................................................................................... 108

6 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 111

ANEXO A – Estimativa de investimentos futuros em infraestrutura no Brasil.............112

ANEXO B – Demanda por melhorias na infraestrutura brasileira.................................113

23

1 INTRODUÇÃO

1.1 Formulação do problema

No início de 2013, a gestora de fundos de private equity (PE) na qual o autor estagiou

teve acesso a uma oportunidade de investimento em uma empresa atuante na indústria de

provedores de serviços logísticos (PSL). Após receber maiores informações sobre a empresa,

a gestora realizou uma primeira análise da indústria de PSLs e, em seguida, das informações

financeiras recebidas. Baseada em uma análise preliminar da indústria, a gestora identificou

que poderia ser possível encontrar oportunidades de investimento atrativas nela. Porém, a

análise das informações financeiras da empresa indicaram problemas financeiros que

inviabilizaram aquela oportunidade de investimento em específico.

Sendo assim, a gestora gostaria de aprofundar sua compreensão sobre a indústria de

provedores de serviços logísticos, de modo que possa determinar com maior confiança a

probabilidade de existirem oportunidades de investimento atrativas nela.

1.2 Objetivo do Trabalho de Formatura

O objetivo principal do presente trabalho é analisar a atratividade da indústria de

provedores de serviços logísticos brasileira para investimentos de private equity. Além disso,

o trabalho pretende elaborar uma tese de investimentos na indústria para investimentos dessa

modalidade, baseando-se nas análises desenvolvidas. Sendo assim, deve realizar

recomendações que orientem a gestora na qual o autor realizou seu estágio tanto na

identificação quanto na análise de oportunidades de investimento na indústria de PSLs.

1.3 Justificativa do Trabalho de Formatura

De acordo com a Emerging Markets Private Equity Association (EMPEA, 2013), a

indústria de private equity brasileira tem apresentado expressivo crescimento nos últimos

anos, com fundos de PE focados no mercado brasileiro registrando volumes substanciais de

captação de recursos e de investimento nos últimos anos. Além disso, a importância da

economia brasileira para a indústria de PE de forma global fica evidente pela crescente

parcela das maiores gestoras do mundo com escritórios no país. Por exemplo, o Carlyle

Group, que possui mais de US$ 180 bilhões sob sua gestão, abriu seu escritório no Brasil em

24

2008 (THE CARLYLE GROUP, 2013) e o KKR & Co., com US$ 84 bilhões sob sua gestão,

abriu seu escritório no país no início de 2013 (KKR & CO., 2013).

As organizações gestoras de fundos de PE atuam na economia real, pois compram

participações acionárias em empresas atuantes nas mais diversas indústrias e dos mais

diversos portes. A importância da indústria de PE para a economia brasileira tem crescido nos

últimos anos, principalmente pelo volume significativo de recursos detidos por gestoras de PE

disponíveis para investimento em empresas brasileiras, estimado em 28,7 bilhões de reais em

2012 (KPMG; ABVCAP, 2013). Ainda, a indústria já é reconhecida pelo empresariado e pelo

governo brasileiro como importante fator para o desenvolvimento da economia, contribuindo

para seu crescimento e dinamismo (ABDI, 2011).

A indústria de provedores de serviços logísticos tem apresentado expressivo

crescimento e desenvolvimento nos últimos anos, aumentando seu tamanho1 de R$26,6

bilhões de reais em 2007 para R$49,0 bilhões de reais em 2012, segundo dados do Instituto de

Logística e Supply Chain (ILOS, 2013). Trata-se de uma indústria ainda bastante

fragmentada, com um grande número de companhias operando das mais diversas formas

(TECNOLOGÍSTICA, 2013a). As empresas que a integram oferecem diferentes pacotes de

serviços, que variam desde os básicos de baixo valor agregado até pacotes de soluções

integradas e de alto valor agregado. Ainda, é uma indústria que presta serviços para clientes

atuantes nos mais diversos setores da economia brasileira, contribuindo para melhorar suas

eficiências logísticas (BARROS, 2009).

Sendo assim, o presente trabalho cumpre um importante papel em três dimensões

principais. Primeiramente, por analisar em profundidade uma indústria que contribui

diretamente para a redução dos custos logísticos das empresas brasileiras, aumentando a

competitividade da indústria nacional. Ainda, trata-se de uma indústria que tem se

desenvolvido e crescido a taxas elevadas nos últimos anos (ILOS, 2013).

Em uma segunda dimensão, o trabalho se justifica por promover a aproximação da

indústria de private equity com o campo acadêmico. Ele contribui para aumentar o interesse

da academia por uma indústria que tem apresentado forte crescimento nos últimos anos, e

que, por estar intimamente ligada à economia real, apresenta diversas oportunidades

relevantes para pesquisa. Inclusive, realiza sugestões para trabalhos futuros na área.

Por fim, o desenvolvimento do trabalho permitiu que o autor aplicasse o aprendizado

adquirido ao longo da graduação em Engenharia de Produção da Escola Politécnica da

1 Medido como a somatória das receitas das empresas pertencentes à indústria.

25

Universidade de São Paulo (USP) na resolução de um problema real encontrado pela

organização na qual realizou seu estágio acadêmico. Em adição, a análise da indústria de

provedores de serviços logísticos tem o potencial de indicar oportunidades de investimento

atrativas para essa gestora.

1.4 O estágio e o Trabalho de Formatura

Durante o ano de 2013, o autor realizou seu estágio acadêmico no escritório brasileiro

de uma gestora global de fundos de private equity. O escritório possui mandato para realizar a

compra de participações no capital social de empresas brasileiras de médio ou médio-grande

porte e de capital fechado. Os investimentos dependem da aprovação do Comitê de

Investimentos, que é composto por membros da equipe do escritório matriz, localizado fora

do Brasil.

Ao longo de seu estágio, o autor atuou em diversas etapas do ciclo de investimento em

private equity, incluindo a prospecção, análise de oportunidades de investimento e

monitoramento de empresas investidas. As principais atividades desempenhadas foram

estudos e análises de mercado, análises financeiras, avaliações de empresas e apoio no

desenvolvimento da estratégia de uma das empresas investidas.

Em relação à indústria de provedores de serviços logísticos, o autor deste trabalho

participou da análise preliminar de seis diferentes oportunidades de investimento em PSLs

junto a outros membros da equipe da gestora de PE. Durante a realização das análises o autor

teve acesso às informações financeiras das empresas e participou de reuniões com diretores de

duas delas. No entanto, as análises focaram-se em aspectos financeiros, principalmente devido

à falta de um entendimento estruturado da indústria de provedores de serviços logísticos por

parte da gestora de PE.

É importante ressaltar que todas as informações referentes às seis oportunidades de

investimento em PSLs analisados pelo autor durante seu estágio são protegidas por acordos de

confidencialidade, e, portanto, sua divulgação não é permitida.

1.5 O curso de Engenharia de Produção e o Trabalho de Formatura

O desenvolvimento deste trabalho de formatura permitiu que diversas competências e

ferramentas aprendidas nas matérias da graduação em Engenharia de Produção da Escola

Politécnica da USP fossem utilizadas de forma prática. Ainda, o raciocínio lógico e a

26

abordagem sistemática para a resolução de problemas aprimorados ao longo da graduação

contribuíram para a qualidade da análise realizada.

O conteúdo de diversas matérias cursadas ao longo da graduação foi aplicado no

desenvolvimento do trabalho. Dentre essas matérias, algumas se destacam pela relevância em

relação ao tema escolhido:

• Projeto Integrado de Sistemas de Produção, por contemplar em um projeto

prático os conhecimentos adquiridos ao longo da graduação e abordar a

indústria de private equity;

• Economia de Empresas, por abordar ferramentas para análises de indústrias e

empresas;

• Engenharia Econômica e Finanças, por fornecer a base teórica para a análise

financeira de projetos e empresas;

• Gestão Estratégica da Produção, por tratar dos principais conceitos e

ferramentas de análise na área da estratégia;

• Logística e Cadeias de Suprimento, por apresentar os principais conceitos da

logística e da gestão da cadeia de suprimentos;

• Gestão de Operações em Serviços, por discutir questões organizacionais e

estratégicas para empresas prestadoras de serviços.

1.6 Estrutura do Trabalho de Formatura

Este trabalho é composto pelos seguintes capítulos:

• Capítulo 1 - Introdução: apresenta a formulação do problema, objetivo e

justificativa do trabalho de formatura e a relação que o estágio e o curso de

Engenharia de Produção têm com o trabalho;

• Capítulo 2 - Revisão bibliográfica: apresenta o quadro teórico que serviu

como base para o entendimento e solução do problema formulado na

introdução;

• Capítulo 3 - Indústria de private equity e venture capital: apresenta um

panorama da indústria de private equity e venture capital. Tem como foco o

estágio atual de desenvolvimento da indústria de PE brasileira e sua dinâmica

de funcionamento;

27

• Capítulo 4 - Indústria de provedores de serviços logísticos: aborda a

indústria de provedores de serviços logísticos brasileira, incluindo seu estágio

atual de desenvolvimento e ambiente competitivo. Em adição, apresenta os

motivadores da terceirização logística e como esse processo é usualmente

estruturado;

• Capítulo 5 - Análise da atratividade da indústria de provedores de

serviços logísticos: aplica as ferramentas apresentadas na revisão bibliográfica

e desenvolve uma tese de investimento para a indústria de PSLs;

• Capítulo 6 - Conclusão: conclui o trabalho e apresenta sugestões para estudos

futuros na área.

28

29

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Introdução

Ao longo da última década, diversos acadêmicos e praticantes da estratégia têm

buscado entender quais são os fatores que fundamentam a diferença de desempenho entre as

empresas (GRANT, 2010). Diversos modelos e teorias foram desenvolvidas buscando

explicar e por vezes determinar como fatores internos e externos às próprias empresas

influenciam seu desempenho ao longo do tempo (GHEMAWAT, 2002). Entre as diversas

abordagens teóricas desenvolvidas, alguns modelos tiveram extensa influência na área da

estratégia e encontraram ampla adoção, tanto no meio acadêmico como empresarial.

Este trabalho baseia a análise da indústria de provedores de serviços logísticos em dois

dos modelos mais difundidos na área de estratégia: a análise estrutural de indústrias e a visão

baseada em recursos da firma. Ambos os modelos são abordados em detalhe neste capítulo.

Por fim, são apresentados os conceitos de logística, logística integrada, gestão da

cadeia de suprimentos e provedor de serviços logísticos. Principalmente, a revisão dos

conceitos de logística integrada e gestão da cadeia de suprimentos permite um entendimento

mais aprofundado da oferta de serviços dos provedores de serviços logísticos e do modo pelo

qual eles podem contribuir para a redução dos custos e melhora dos níveis de serviço de seus

clientes.

2.2 Estratégia

2.2.1 História da estratégia

O conceito de estratégia remonta de milênios atrás e tem sua origem no campo militar,

no qual as estratégias eram elaboradas de forma a orientar e coordenar a utilização dos

recursos militares (GHEMAWAT, 2002). A estratégia praticada no campo militar e a

praticada no ambiente corporativo compartilham conceitos e princípios comuns como, por

exemplo, a distinção entre estratégia e tática (GRANT, 2010).

Grant (1990) traça uma evolução dos temas dominantes na gestão estratégica e

defende que os desenvolvimentos no campo se deram, principalmente, por necessidades

práticas dos praticantes de estratégia. Segundo o autor, ao longo da década de 1950, as

ferramentas de planejamento e controle financeiro serviam como forma de acompanhamento

30

anual do desempenho e avaliação de investimentos, mas eram de utilidade limitada no

desenvolvimento do negócio no longo prazo. Sendo assim, no final da década de 1950 e início

da década de 1960, o conceito de planejamento corporativo foi desenvolvido como forma de

planejamento de longo prazo para as empresas (GHEMAWAT, 2002).

No entanto, ao longo dos anos 1970, o impacto das crises do petróleo de 1974 e 1979 e

a crescente liberalização do comércio internacional tornaram o ambiente competitivo cada vez

mais instável e turbulento. Segundo Grant (2010), uma transição na área da estratégia ocorreu

como resultado, com os conceitos e ferramentas de gestão estratégica sendo cada vez mais

adotadas. Enquanto o planejamento corporativo tem seu foco em planos e projeções

detalhadas, a gestão estratégica se foca na competição, explorando possibilidades de

posicionamento da empresa em relação aos seus competidores de forma a maximizar o

potencial de lucro (GRANT, 2010).

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, a atenção na área da estratégia recaiu

sobre a análise do ambiente externo da empresa como fator determinante da rentabilidade das

empresas e indústrias. O trabalho de Michael Porter, desenvolvido a partir dos conceitos da

Economia Industrial, teve grande influência na área e o autor ficou conhecido como

responsável pelo desenvolvimento da escola estratégica do posicionamento (GHEMAWAT,

2002).

Já ao longo dos anos 1990, o foco no campo da estratégia mais uma vez mudou, e

diversos conceitos e ferramentas foram desenvolvidos na busca por fontes de lucro dentro da

empresa (GHEMAWAT, 2002). Foram desenvolvidas as bases de uma nova visão estratégica

que ficou conhecida por visão baseada em recursos da firma, ou resource-based view of the

firm (RBV). A ênfase mudou do ambiente externo para dentro da empresa, e as ferramentas

da RBV encorajavam as empresas a buscarem em seus recursos e capacidades fontes de

vantagem competitiva sustentável (GHEMAWAT, 2002).

Finalizando, Grant (2010) aborda como o ambiente competitivo e o cenário econômico

do novo milênio vem influenciando o desenvolvimento do campo da estratégia. Para o autor,

o ambiente de negócios turbulento e a competição global acirrada mudam o foco da estratégia,

tornando cada vez mais importante que as empresas desenvolvam flexibilidade e velocidade

para que continuamente criem vantagens competitivas temporárias.

A Figura 1 apresenta os principais temas que dominaram as discussões na área da

estratégia ao longo dos últimos 60 anos.

31

Figura 1 - Evolução da estratégia desde os anos 1950.

Fonte: adaptado de Grant (2010).

2.2.2 Análise estratégica

Grant (2010) propõe que a tarefa da estratégia de negócios seria determinar como a

empresa deve utilizar seus recursos no ambiente que atua para satisfazer seus objetivos de

longo prazo, e como ela deve se organizar para implantar essa estratégia. Para o autor, uma

estratégia bem sucedida é composta por quatro elementos:

• Objetivos simples, consistentes e de longo prazo;

• Profundo conhecimento do ambiente competitivo;

• Avaliação objetiva dos recursos;

• Implementação efetiva.

Grant (2010) apresenta então um modelo básico para análise estratégica (Figura 2), no

qual a estratégia é o elo entre a firma e o ambiente competitivo.

1950 1970 1980 1990 2000

Planejamento e Controle Financeiro

• Previsão financeira

• Planejamento de investimentos

• Avaliação de projetos baseada em fluxo de caixa descontado

Planejamento Corporativo

• Projeções de médio/longo prazo

• Técnicas de planejamento corporativo

• Diversificação/sinergias

• Departamentos de planejamento corporativo

Estratégia como Posicionamento

• Análise de indústrias

• Segmentação do mercado

• Curva de experiência

• Análise PIMS• Análise de

portfólio• UENs

Vantagem Competitiva

• Análise dos recursos e capacidades

• Maximização do valor para o acionista

• Reestruturação e reengenharia

• Alianças estratégicas

• Gestão do conhecimento

Estratégia no Novo Milênio

• Inovação estratégica

• Novos modelos de negócio

• Tecnologias disruptivas

• CSR e ÉticaEmpresarial

• Estrátegiasglobais

32

Figura 2 - Modelo básico para análise estratégica.

Fonte: adaptado de Grant (2010).

De acordo com Grant (1991, 2010), existem duas possibilidades para uma firma gerar

taxas de retorno sobre o capital investido acima de seu custo de capital. Primeiramente, a

firma pode atuar em uma indústria onde as taxas médias de retorno são atrativas. Segundo, ela

pode estabelecer uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes, permitindo que a

mesma obtenha retornos acima da taxa média da indústria onde atua. Ainda, o autor esclarece

que ambas as fontes de desempenho superior não são independentes, mas sim relacionadas. O

escopo dos negócios da empresa tem implicações para as possíveis fontes de vantagem

competitiva, enquanto que a natureza da vantagem competitiva de uma empresa determina a

gama de indústrias nas quais a empresa pode ser bem sucedida (GRANT, 2010).

Conforme será abordado nos itens 2.3 e 2.6 deste capítulo, as diversas linhas de

pensamento sobre estratégia possuem visões diferentes sobre a definição, formulação e

implementação da estratégia, bem como dos fatores que levam empresas a obter retornos

superiores. Apesar de sua simplicidade, o modelo básico proposto por Grant (2010) auxilia a

enxergar a estratégia de uma forma ampla, englobando tanto a análise da indústria onde a

empresa atua, quanto os recursos e capacidades utilizados pela mesma para competir. Ainda,

o modelo auxilia a compreensão de como as diferentes linhas de pensamento diferenciam-se

em suas abordagens da estratégia.

2.3 Análise estrutural de indústrias

O ambiente de negócios da empresa consiste em todas as influências externas que

podem influenciar suas decisões e afetar seu desempenho (GRANT, 2010). A gama de

influências ambientais às quais uma empresa está exposta é extensa e diversos sistemas para

sua classificação foram propostos. As formas de classificação mais utilizadas são por fonte –

por exemplo, em fatores políticos, econômicos, sociais, e tecnológicos - ou por proximidade –

Firma

• Objetivos e valores

• Recursos e capacidades

• Estrutura e sistemas

AmbienteCompetitivo

• Competidores

• Compradores

• Fornecedores

Estratégia

33

por exemplo, em fatores do microambiente e do macroambiente (GRANT, 2010). Sistemas

para monitoramento contínuo das diversas influências externas às quais a empresa está

exposta podem parecer desejáveis, mas resultariam em elevados custos e levariam a uma

sobrecarga de informação.

Sendo assim, Grant (2010) defende que as empresas foquem seus recursos em analisar

como as influências ambientais afetam a indústria na qual atuam, dessa forma distinguindo o

essencial do meramente importante. Para o autor, isso não quer dizer que fatores do

microambiente e macroambiente não sejam relevantes, mas sim que a importância dos

mesmos reside na forma como eles impactam o ambiente da indústria. Dessa forma, a análise

de indústrias é uma ferramenta essencial para o entendimento do ambiente competitivo e

etapa indispensável para uma estratégia bem sucedida (PORTER, 1980; GRANT, 2010).

A análise de indústrias tem como questão central a compreensão de quais fatores

determinam a rentabilidade de uma indústria. Sua premissa básica é que o nível de

rentabilidade de uma indústria não é aleatório e nem mesmo inteiramente resultado de

influências específicas à indústria, mas sim determinado sistematicamente pela estrutura da

indústria em questão (PORTER, 1980; GRANT, 2010).

O trabalho pioneiro de Porter (1980), Competitive Strategy: Techniques for analyzing

industries and competitors, influenciou de forma decisiva a prática de negócios e a pesquisa

acadêmica em estratégia. Grande parte do sucesso da obra está relacionada ao modelo das

Cinco Forças de Porter, que se tornou um marco na área de análise de indústrias, sendo ainda

amplamente utilizado pelos meios empresarial e acadêmico mesmo décadas após sua

concepção (SCHNEIDER et al., 2008). O modelo ampliou o entendimento sobre como a

competição por lucro ocorre nos diversos setores da economia, apresentando cinco forças

competitivas que definem a intensidade da concorrência e a estrutura das indústrias. De

acordo com Porter (1990, 2008), a rentabilidade de uma indústria, definida como a taxa de

retorno sobre o capital investido, seria determinada por essas cinco fontes de pressão

competitiva.

Segundo Porter (2008), para entendermos os dois aspectos essenciais na análise de

uma indústria - competição e rentabilidade - precisamos analisar sua estrutura em termos de

cinco forças competitivas. Para o autor, é a estrutura da indústria que determina esses dois

aspectos, e não questões como se a indústria produz produtos ou presta serviços, se ela é

emergente ou madura, ou se ela é tecnológica ou não. As cinco forças competitivas

determinam como o valor econômico criado pela indústria será dividido entre as empresas

participantes. O autor reconhece que diversos outros fatores podem influenciar a rentabilidade

34

da indústria no curto prazo, como o clima ou ciclos de negócios. No entanto, são as cinco

forças competitivas que determinam a rentabilidade média da indústria no médio e longo

prazo.

O modelo das Cinco Forças de Porter (2008) é composto pelas seguintes forças:

ameaça de entrada, intensidade da rivalidade entre os concorrentes existentes, pressão dos

produtos substitutos, poder de negociação dos compradores e poder de negociação dos

fornecedores. A configuração dessas forças varia de acordo com características econômicas e

técnicas da indústria em questão, conforme apresentado na Figura 3.

Ainda, Carvalho e Laurindo (2003) propõem que as cinco forças estruturais podem ser

classificadas em dois grandes grupos:

• Forças competitivas na cadeia produtiva - compostas pelo poder de

negociação dos compradores e fornecedores;

• Forças concorrenciais - compostas pela ameaça de entrada, intensidade da

rivalidade entre os concorrentes existentes e pressão dos produtos substitutos.

35

Figura 3 - As cinco forças competitivas e os principais fatores estruturais que determinam suas intensidades.

Fonte: adaptado de Grant (2010).

Segundo Porter (2008), o ponto de partida para que as empresas desenvolvam suas

estratégias é entender as cinco forças que definem o ambiente competitivo e a estrutura da

indústria na qual atuam. A estratégia competitiva pode então ser compreendida como ações

defensivas ou ofensivas com o objetivo de se criar uma posição defensável dentro da

indústria, enfrentando-se com sucesso as forças competitivas, e consequentemente obtendo-se

um retorno sobre o investimento maior para a empresa. Segundo o autor, estratégia pode ser

vista como a construção de defesas contra as forças competitivas ou a procura de uma posição

na indústria onde as forças são mais fracas. Sendo assim, o entendimento da estrutura da

indústria orienta gestores na formulação da estratégia competitiva, que pode incluir uma ou

várias das ações a seguir: posicionar a empresa para lidar da melhor forma com a

configuração atual das forças, antecipar mudanças na configuração das forças e explorá-las a

favor da empresa e influenciar a configuração das forças de modo a criar uma estrutura mais

favorável para a empresa (PORTER, 2008).

Substitutos

• Propensão dos compradores em substituir

• Preços e desempenhos relativos dos substitutos

Concorrentes na Indústria

• Concentração• Diversidade de

competidores• Diferenciação• Excesso de capacidade

e barreiras de saída• Estrutura de custos

Entrantes Potenciais

• Requisitos de capital• Economias de escala• Vantagens absolutas de custo• Diferenciação• Acesso a canais de distribuição• Barreiras legais e

governamentais• Ameaça de retaliação

Compradores

Sensibilidade ao Preço

• Custo do produto / serviço relativo ao custo total

• Diferenciação• Competição entre compradores

Poder de barganha

• Tamanho e concentração dos compradores em relação aos produtores

• Custos de mudança dos compradores• Informação disponível aos compradores• Ameaça de integração para trás

Fornecedores

Sensibilidade ao Preço

• Custo do produto / serviço relativo ao custo total

• Diferenciação• Competição entre fornecedores

Poder de barganha

• Tamanho e concentração dos fornecedores em relação aos produtores

• Custos de mudança dos fornecedores• Informação disponível aos fornecedores• Ameaça de integração para trás

Poder de negociação dos fornecedores

Ameaça de produtos / serviços substitutos

Ameaça de novos entrantes

Poder de negociação dos compradores

Rivalidade entre as empresas

existentes

36

O modelo das Cinco Forças pode então não só ajudar empresas a elaborar estratégias

buscando o melhor posicionamento dentro de suas indústrias, mas também orientá-las em

decisões de entrada e saída de negócios (MAGRETTA, 2012). A análise das forças

competitivas pode indicar ao estrategista a entrada em indústrias com futuros atrativos e

possibilidades de posicionamento superior, ou indicar a saída de indústrias com estruturas em

declínio (MAGRETTA, 2012).

Mudanças na estrutura das indústrias trazem consigo a oportunidade de se identificar e

reivindicar novas possibilidades promissoras de posicionamento estratégico, caso o

estrategista tenha um entendimento sofisticado das forças competitivas e dos fatores que as

determinam (PORTER, 2008). Novas necessidades e novas formas de servir necessidades

existentes podem surgir como consequência de alterações na configuração das forças

competitivas, e líderes estabelecidos podem não dar a devida atenção a essas oportunidades,

ou mesmo ficar presos a estratégias antigas (PORTER, 2008). De acordo com Grant (2010),

alterações na estrutura das indústrias são normalmente causadas por mudanças fundamentais

do comportamento de compra dos clientes, da tecnologia e das estratégias empresariais.

Porter (2008) afirma que as empresas podem potencialmente influenciar todas as

forças competitivas e, consequentemente, possuem a habilidade de moldar a estrutura de suas

indústrias, de forma a mudar a competição em direções nas quais elas se beneficiem. Ao

liderar a mudança, a empresa inovadora deve buscar que seus competidores a sigam, assim

alterando de forma integral a estrutura da indústria (PORTER, 2008). De acordo com Grant

(2010), o primeiro passo é identificar as principais características estruturais da indústria que

são responsáveis por restringir sua rentabilidade. O segundo passo é avaliar quais dessas

características estruturais são passíveis de alteração através de iniciativas estratégicas

apropriadas. Porter (2008) sugere duas formas pelas quais as empresas podem reformular a

estrutura de suas indústrias: alterando a divisão dos lucros a favor das empresas incumbentes

e aumentando a parcela de lucro disponível.

Ainda, Porter (2008) trata da análise estrutural de indústrias na perspectiva de

investidores, e afirma que seu modelo de cinco forças competitivas é importante para que

sejam identificadas indústrias verdadeiramente atrativas, diferenciando fatores transientes de

mudanças estruturais. De acordo com o autor, sua proposta de análise da competição por meio

das cinco forças “é uma maneira mais poderosa para alcançar sucesso genuíno em

investimentos do que as projeções financeiras e extrapolação de tendências que dominam a

análise de investimentos atualmente” (PORTER, 2008, p. 93, tradução nossa). Na visão de

investidores, o principal valor da análise de indústrias seria então seu uso para estimar

37

prováveis mudanças no ambiente competitivo e na rentabilidade de uma indústria, permitindo

que decisões de investimento sejam feitas com maior confiança.

2.4 Análise estrutural dentro das indústrias

Porter (1980) afirma que a análise estrutural dentro das indústrias é um instrumento

analítico útil na formulação da estratégia, possuindo um importante papel na compreensão do

porque dentro de uma mesma indústria determinadas empresas podem ser persistentemente

mais lucrativas que outras. De acordo com o autor, é possível caracterizar as estratégias de

todos os concorrentes significativos em uma indústria de acordo com uma série de dimensões

estratégicas, que captam as diferenças possíveis entre as alternativas estratégias adotadas

pelas empresas para competir. As diferentes dimensões estratégicas estão normalmente

relacionadas entre si, e, para uma determinada empresa normalmente formam um conjunto

internamente consistente.

A classificação das empresas ao longo das diferentes dimensões estratégicas torna

possível dividir a indústria em uma série de grupos estratégicos, que são empresas de uma

mesma indústria que adotam estratégias idênticas ou semelhantes ao longo das dimensões

estratégicas. De modo geral, existe um pequeno número de grupos estratégicos que responde

pelas principais diferenças estratégicas das empresas. É importante mencionar que,

diferentemente de segmentos de mercado e estratégias de diferenciação, grupos estratégicos

são definidos a partir das diferentes posturas estratégicas dos membros de uma determinada

indústria.

O Quadro 1 relaciona as dimensões da estratégia competitiva que em geral captam as

diferenças possíveis nas estratégias adotadas pelas empresas.

38

Quadro 1- Dimensões da estratégia competitiva.

Fonte: Porter (1980).

O conceito de grupo estratégico é uma importante ferramenta analítica na análise

estrutural, permitindo um nível de profundidade maior que na análise da indústria como um

todo. De acordo com Porter (1980), o potencial de lucro das empresas nos vários grupos

estratégicos é diferente, mesmo desconsiderando-se a capacidade das empresas de executar ou

implementar suas estratégias, pois as cinco forças competitivas afetam cada grupo de um

determinado modo.

Segundo Porter (1980), a análise estrutural dentro das indústrias deve ser realizada em

cinco passos:

• Caracterizar as estratégias dos principais membros da indústria nas

dimensões estratégicas - empresas de um mesmo grupo estratégico

normalmente possuem diversas características em comum, favorecendo o uso

dos grupos estratégicos como instrumento analítico;

• Avaliar a dimensão e a composição das barreiras de mobilidade que

protegem cada grupo estratégico - as barreiras de entrada em uma

determinada indústria dependem do grupo estratégico alvo. Além de elas

Principais dimensões estratégicas

Formas de diferenciação

Especialização Amplitude da linha de produtos, segmentos de clientes-alvo e mercados atendidos.

Identificação de marcas Grau em que a empresa busca competir com base em sua marca.

Política de canalIdentificação de marca diretamente junto ao consumidor final versus o apoio aos canais de distribuição na venda do produto.

Seleção do canal Escolha dos canais de distribuição.

Qualidade do produto Nível de qualidade do produto: matérias-primas, especificações, características, etc.

Liderença tecnológica Busca por liderança tecnológica versus comportamento imitativo.

Integração vertical Nível de integração para frente e para trás adotado.

Posição de custo Busca da posição de menor custo na fabricação e distribuição.

AtendimentoOferta de serviços auxiliares junto a sua linha de produto. Essa dimensão pode ser vista como parte da integração vertical, ou considerada em separado para fins analíticos.

Política de preço Posição de preço relativa ao mercado.

Alavancagem Grau de alavancagem financeira e operacional disponível.

Relacionamento com a matriz

Exigências impostas pela matriz no comportamenta da unidade, podendo influenciar objetivos, recursos disponíveis, entre outros.

Relacionamento com os governos do país de origem ou anfitrião

Governos podem tanto proporcionar recursos ou assistência quanto impor limitações e exigências.

39

servirem para proteger determinado grupo estratégico de novos entrantes na

indústria, fornecem barreiras de mobilidade para que empresas incumbentes

mudem de grupo estratégico;

• Avaliar o poder de negociação de fornecedores e compradores junto a

cada um dos grupos estratégicos – grupos estratégicos em uma mesma

indústria podem ter fornecedores ou compradores em comum, mas possuírem

diferentes graus de vulnerabilidade a eles. No caso de fornecedores ou

compradores diferentes, as relações de dependência e vulnerabilidade

provavelmente serão diferentes;

• Avaliar a ameaça de produtos / serviços substitutos junto a cada um dos

grupos estratégicos - grupos estratégicos diferenciam-se nos produtos /

serviços oferecidos, dessa forma possuindo diferentes vulnerabilidades a

substitutos;

• Avaliar a vulnerabilidade de cada um dos grupos estratégicos a conflitos

iniciados por outros grupos - as forças competitivas presentes em uma

indústria atuam com diferentes intensidades nos diversos grupos estratégicos,

de acordo com a interdependência no mercado, grau de diferenciação, número /

tamanho e distanciamento estratégico.

Os grupos estratégicos de uma indústria podem ser representados em um mapa, onde

duas variáveis estratégicas representam os eixos. O mapa permite a representação gráfica da

concorrência dentro de uma indústria, bem como facilita a análise das implicações que

determinadas tendências podem ter na mesma. Ainda, ele pode ser uma ferramenta útil para a

representação das direções nas quais as estratégias das empresas estão se movendo ou

poderiam se mover. Porter (1980) sugere alguns princípios para a elaboração de mapas de

grupos estratégicos:

• Utilizar as variáveis que representam as principais barreiras de mobilidade na

indústria como eixos do mapa;

• Selecionar para os eixos variáveis que se movam ao mesmo tempo, buscando

representar a diversidade de combinações estratégicas existentes na indústria;

• É possível a utilização de variáveis que não sejam contínuas ou monótonas; e,

• Caso exista mais de uma combinação de variáveis útil para a análise, mapear a

indústria repetidas vezes utilizando as diferentes combinações de variáveis

como eixos.

40

A Figura 4 ilustra um mapa de grupos estratégicos de uma indústria hipotética.

Figura 4 - Mapa de grupos estratégicos em indústria hipotética.

Fonte: Porter (1980).

2.5 Estratégias competitivas genéricas

Porter (1980) afirma existirem três estratégias competitivas genéricas internamente

consistentes, que podem ser utilizadas pelas empresas para a criação de posições competitivas

superiores e defensáveis no longo prazo: liderança no custo total, diferenciação e enfoque. O

autor esclarece que a abordagem das três estratégias genéricas permite que se parta de uma

visão ampla, para que só então se busque traduzir a estratégia genérica em uma estratégia

particular e específica.

De acordo com Porter (1980), a primeira das estratégias competitivas genéricas

consiste em se obter a liderança no custo total em uma indústria por meio da intensa atenção

administrativa e pela adoção de políticas funcionais focadas no controle de custos. A

estratégia exige a busca constante por economias de escala e instalações modernas, reduções

de custo por meio da experiência, controle rígido e constante de custos e despesas, e a

minimização de custos em áreas como P&D, atendimento ao consumidor, e marketing

Mapa dos Grupos Estratégicos para Indústria Hipot

Grupo ALinha completa,

integrada verticalmente, baixo custo de fabricação,

atendimento reduzido, qualidade

média

Alta Integração Vertical Montador

Linha Completa

Linha Reduzida

Grupo CLinha média,

montador, preço médio, alto grau de atendimento, qualidade baixa,

preço baixo Grupo BLinha reduzida,

montador, preço alto, alta tecnologia e qualidadeGrupo D

Linha reduzida, altamente

automatizada, preço baixo,

baixo grau de atendimento

41

(PORTER, 1980). A liderança no custo total quase sempre exige uma alta parcela de mercado

relativa ou o acesso privilegiado a fatores de produção.

A estratégia de diferenciação consiste na diferenciação do produto ou serviço

oferecido em uma ou mais dimensões, como: marca, tecnologia, funcionalidades, usabilidade,

entre outros (PORTER, 1980; MURRAY, 1988). Ela não permite que a empresa ignore

custos, mas os mesmos não são o foco estratégico. Ainda, as atividades necessárias para a

diferenciação são inerentemente dispendiosas, implicando custos mais elevados, em prejuízo

da posição de custo da empresa (MURRAY, 1988). Por exemplo, é comum a estratégia de

diferenciação exigir maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento ou gastos mais

elevados com o atendimento ao consumidor (PORTER, 1980).

A estratégia de enfoque consiste em se voltar ao atendimento de determinado

segmento particular (grupo comprador, parcela da linha de produtos ou mercado geográfico)

da melhor maneira possível (PORTER, 1980). A estratégia parte da premissa de que a

empresa consegue atender ao seu alvo estratégico estreito de forma mais efetiva ou eficiente

que empresas concorrendo de forma mais ampla. Sendo assim, a empresa poderia se

diferenciar por atender melhor as necessidades de seu alvo estratégico ou oferecer uma

posição de baixo custo, e até mesmo atingir ambas as posições (MURRAY, 1988).

Figura 5 – As três estratégias competitivas genéricas de Porter (1980).

Fonte: Porter (1980).

De acordo com Porter (1980), empresas dificilmente podem seguir com sucesso mais

de uma dessas estratégias conjuntamente, dado que cada uma delas exige comprometimento

total e implica em recursos, habilidades, arranjos organizacionais, procedimentos de controle

e sistemas criativos diferentes para cada uma das estratégias (PORTER, 1980; MURRAY,

Alv

o es

trat

égic

o

Apenas um segmento particular

Enfoque

No âmbito de todo a indústria Diferenciação Liderança no

custo total

Unicidade observada pelo comprador

Posição de baixo custo

Vantagem estratégica

42

1988). Empresas que falham em desenvolver sua estratégia em ao menos uma das três

direções tendem a obter retornos inferiores, dado que ao mesmo tempo em que perdem

clientes que exigem preços baixos também perdem negócios com margens altas (DESS;

DAVIS, 1984). Ainda, empresas nessa categoria tendem a possuir culturas empresariais

indefinidas e arranjos organizacionais e sistemas de apoio conflitantes (PORTER, 1980).

Finalizando, é relevante mencionar que existem dois riscos principais para as empresas

que decidem seguir uma das estratégias genéricas (PORTER, 1980). Primeiramente, a

empresa pode falhar em alcançar ou sustentar a estratégia. Segundo, a evolução da indústria

pode desgastar o valor da adoção de uma das estratégias genéricas.

No caso da estratégia de liderança no custo total, mudanças tecnológicas podem tornar

investimentos e aprendizados passados obsoletos, ou mesmo diminuir as barreiras de entrada

ao reduzir custos por meio de instalações mais modernas (PORTER, 1980). Ainda, o foco

excessivo em custos pode diminuir a capacidade da empresa de perceber novas demandas dos

compradores.

Já no caso da estratégia da diferenciação, o principal risco é o do diferencial de custo

entre os concorrentes de baixo custo e os baseados na diferenciação tornar-se demasiadamente

elevado, de modo que os compradores sacrifiquem o valor adicional dos produtos

diferenciados em troca da economia de custos (PORTER, 1980). Outros riscos incluem os

compradores começarem a atribuir menor valor aos fatores nos quais a diferenciação se

baseava, ou a imitação desses mesmos fatores por concorrentes de baixo custo (MURRAY,

1988). A estratégia de enfoque também traz riscos, sendo o principal deles o do diferencial de

custos entre os concorrentes que atendem ao mercado como um todo e os focados em um

segmento particular se ampliar demasiadamente, de modo a anular as vantagens alcançadas

por se atender a um segmento em particular (PORTER, 1980). Ainda, concorrentes podem

identificar submercados dentro do segmento estratégico no qual a empresa está focada,

desfocalizando a mesma (PORTER, 1980).

2.6 Visão baseada em recursos da firma

Ao longo do final dos anos 1970 e início dos anos 1980, o ambiente externo a firma

foi foco central da literatura sobre estratégia. Conforme abordado nos itens anteriores,

predominou a análise estrutural das indústrias e da competição, sob a visão de que o retorno

sobre o capital investido seria dependente da posição competitiva escolhida pela empresa

dentro da indústria. No entanto, a partir do final dos anos 1980 e início dos anos 1990, o foco

43

alterou-se para os aspectos internos à firma. De acordo com a visão baseada em recursos da

firma, ou resource-based view of the firm (RBV), a vantagem competitiva é vista como

dependente da exploração de recursos e capabilidades únicas da empresa. A RBV enxerga

cada empresa como diferentes coleções de ativos físicos e intangíveis e capabilidades

(COLLIS; MONTGOMERY, 2008).

A visão baseada em recursos combina as perspectivas da análise interna com a análise

externa da firma para explicar como os recursos de uma empresa determinam seu desempenho

em um ambiente competitivo dinâmico (COLLIS; MONTGOMERY, 2008). De acordo com a

RBV, não existem companhias idênticas, dado que cada companhia passou por experiências

particulares, adquiriu determinados ativos e competências e construiu sua própria cultura

organizacional.

De acordo com Grant (2010), a mudança do foco do ambiente externo da empresa para

o ambiente interno, analisando recursos e capabilidades, foi o resultado de dois fatores.

Primeiramente, os ambientes externos das empresas tornaram-se mais turbulentos e instáveis

desde o final dos anos 1980, favorecendo os recursos e capabilidades como uma base mais

segura para a formulação da estratégia. Quanto maior for a taxa de mudança no ambiente

externo de uma empresa, mais relevante se torna o ambiente interno na formulação de

estratégias que levem a lucros acima da média.

Em segundo lugar, Grant afirma que ficou cada vez mais claro que a vantagem

competitiva, ao invés da atratividade da indústria, é a fonte primária da lucratividade acima da

média. Estudos procurando determinar os fatores por trás das diferenças de lucratividade entre

empresas tiveram resultados bastante diferentes entre si, mas todos concluíram que fatores

relacionados à indústria são responsáveis por menos de 20% da variação no retorno sobre

ativos entre empresas (GRANT, 2010). Fatores como a globalização, desregulação e

outsourcing acirraram a pressão competitiva nos mais diversos setores. Como resultado,

poucas indústrias oferecem um ambiente competitivo confortável e estável.

A visão baseada em recursos, bem como o foco no ambiente interno da firma, de

modo geral, tem profundas implicações na formulação da estratégia competitiva. Quando a

estratégia se limita a escolha de indústrias estruturalmente atrativas e no posicionamento

competitivo, a tendência é que as empresas adotem posturas estratégicas similares. No

entanto, o foco da visão baseada em recursos recai sobre as diferenças e unicidades de cada

firma. Entretanto, diversos autores ressaltam que a visão baseada em recursos da firma não

pretende se distanciar da análise estrutural das indústrias e do foco no ambiente externo da

44

empresa, mas sim complementá-los (MAHONEY; PANDIAN, 1992; COLLIS;

MONTGOMERY, 2008).

De acordo com Grant (1991), a visão baseada em recursos tem seus princípios nas

antigas teorias sobre lucros e competição associados a influentes economistas, como Ricardo

(1891), Schumpeter (1934) e Penrose (1959). No entanto, o grande interesse por parte de

pesquisadores e praticantes bem como o enorme volume de publicações sobre o tema levou a

considerável confusão na terminologia utilizada. Competência, competência central, ativos

visíveis e invisíveis, ativos estratégicos, estoque de ativos estratégicos, recursos, habilidades,

e outros são utilizados para se referir a componentes estratégicos dos mais diferentes tipos

(BOGAERT et al., 1994).

Wernerfelt (1984) apresenta uma definição ampla de recursos, definindo-os como os

ativos tangíveis e intangíveis que estão vinculados de forma quase permanentemente à

empresa. Exemplos de recursos seriam marcas, conhecimento tecnológico, emprego de

profissionais qualificados, contratos comerciais, maquinário, capital, etc. Barney (1991)

também apresenta uma visão ampla de recursos, que para ele englobam todos ativos,

capabilidades, processos organizacionais, atributos da firma, informação e conhecimento que

permitem à empresa conceber e adotar estratégias que melhorem sua eficácia e eficiência.

Ainda, ele propõe a divisão dos recursos nas categorias de capital físico, humano e

organizacional.

Barney (1991) também define os conceitos de vantagem competitiva e vantagem

competitiva sustentável. De acordo com o autor, uma empresa possui vantagem competitiva

quando adota uma estratégia de criação de valor que não é simultaneamente adotada por

nenhum atual ou potencial concorrente. Indo além, a vantagem competitiva é dita sustentável

quando nenhum atual ou potencial concorrente consegue duplicar os benefícios dessa

estratégia. Segundo Barney (1991), nem todos os recursos têm o potencial de gerar vantagem

competitiva sustentável para a empresa. Para que um recurso tenha esse potencial, ele deve

possuir quatro atributos:

• Ser valioso - o recurso deve explorar oportunidades e neutralizar ameaças do

ambiente em que a empresa atua;

• Ser raro entre atuais e potenciais competidores - desde que o número de

empresas que possui um recurso valioso (ou conjunto de recursos) seja inferior

ao número necessário para criar uma dinâmica perfeitamente competitiva na

indústria, o recurso possuirá o potencial de gerar vantagem competitiva;

45

• Ser imperfeitamente imitável - um recurso só poderá gerar vantagem

competitiva sustentável se empresas que não o possuem não conseguirem obtê-

lo por imitação;

• Não ser substituível - caso existam recursos estrategicamente equivalentes

que não sejam raros ou perfeitamente imitáveis, outras empresas poderão

adotar a mesma estratégia e a vantagem competitiva de determinado recurso

valioso, raro e imperfeitamente imitável não será sustentável.

Para Grant (2010), a vantagem competitiva envolve formular e executar a estratégia

que explore da melhor forma as diferenças de recursos e capabilidades da empresa em relação

aos seus concorrentes. Ainda, a sustentabilidade da vantagem competitiva exige que as

empresas resolvam deficiências nos recursos disponíveis, e construam capabilidades com foco

no longo prazo (GRANT, 1991, 2010).

Collis e Montgomery (2008) afirmam que a vantagem competitiva pode ser atribuída à

posse de recursos valiosos que permitem à empresa realizar atividades de forma melhor ou

mais barata que competidores. Assim, o desempenho superior ao dos concorrentes seria

resultado do desenvolvimento de um conjunto de recursos competitivamente distinto e do

emprego dos mesmos em uma estratégia bem elaborada.

De acordo com Collis e Montgomery (2008), o valor dos recursos é determinado pela

interação de diferentes forças de mercado, e estes não podem ser avaliados isoladamente. O

valor de um recurso depende da indústria em que o mesmo será empregado e do contexto

cronológico em que o estamos avaliando. Para que um recurso seja considerado

estrategicamente valioso, o mesmo deve ser avaliado com base em cinco testes de mercado:

• Teste da possibilidade de imitação - o recurso é difícil de ser copiado?

• Teste da durabilidade - o quão rapidamente o recursos deprecia?

• Teste da capacidade de apropriação - qual parcela do valor que o recurso

cria a empresa retém?

• Teste da possibilidade de substituição - o recurso pode ser superado por

outro recurso?

• Teste da superioridade competitiva - qual recurso é realmente melhor?

A Figura 6 apresenta as três forças de mercado propostas por Collis e Montgomery

(2008), que determinam a zona de criação de valor de um recurso: demanda, escassez e

capacidade de apropriação.

46

Figura 6 – A influência de três forças de mercado determina o valor de um recurso ou capabilidade.

Fonte: adaptado de Collis e Montgomery (2008).

Dierickx e Cool (1989) chamam de ativos estratégicos, ou críticos, os ativos que

sustentam a vantagem competitiva da firma. De acordo com os autores, ativos estratégicos

possuem três características: são não negociáveis, são imperfeitamente imitáveis e não

existem substitutos estrategicamente relevantes. Ativos estratégicos perfeitamente negociáveis

no mercado, ou passíveis de imitação, não garantem a sustentabilidade da vantagem

competitiva (DIERICKX; COOL, 1989). Os autores afirmam que muitos dos recursos

necessários para que as firmas executem suas estratégias podem ser comprados e vendidos no

que chamam de mercado de fatores estratégicos, sendo livremente negociados. No entanto,

nem todos os recursos são negociáveis e, consequentemente, muitos ativos estratégicos não

podem ser simplesmente adquiridos.

Dierickx e Cool (1989) propõem que empresas que não possuam um ativo estratégico

não negociável e necessário para suas estratégias estão limitadas a construir esse ativo.

Estoques de ativos estratégicos seriam então acumulados pela adoção de um conjunto de

políticas consistentes, que resultariam em fluxos estratégicos ao longo do tempo. Por

exemplo, uma reputação por qualidade teria de ser construída, ao invés de adquirida, por meio

de um conjunto consistente de políticas de produção, controle da qualidade e atendimento ao

consumidor ao longo do tempo. A posição competitiva da empresa e, consequentemente, sua

lucratividade potencial seriam determinadas pelo nível dos estoques de ativos estratégicos,

47

acumulados pela escolha de trajetórias temporais ótimas de fluxos estratégicos (DIERICKX e

COOL, 1989).

A diferença entre os conceitos de estoques e fluxos pode ser entendida pela metáfora

da banheira, apresentada por Dierickx e Cool (1989). Em determinado momento, o estoque de

água é indicado pelo nível de água na banheira, que por sua vez é resultado cumulativo dos

fluxos do líquido para dentro da banheira (pela torneira) e para fora dela (pelo ralo ou por um

vazamento). A metáfora é útil para compreender que, enquanto fluxos podem ser ajustados

instantaneamente, estoques não podem. Consequentemente, torna-se necessário um fluxo

estratégico consistente ao longo do tempo para que atinja determinado nível de estoque de um

ativo estratégico.

De acordo com Dierickx e Cool (1989), a sustentabilidade da posição privilegiada de

uma empresa em termos de seus ativos dependerá da facilidade com a qual seus ativos

estratégicos podem ser duplicados. Caso competidores não possam adquirir determinados

ativos no mercado, os mesmos podem imitá-los de duas formas: acumulando estoques de

ativos estratégicos similares por conta própria ou tentando substitui-los.

A possibilidade de imitação de um ativo estratégico e o custo e tempo necessários para

tal dependerão de uma série de características do processo de acumulação desse ativo.

Dierickx e Cool (1989) oferecem uma lista dessas características:

• Deseconomias da compressão do tempo (time compression diseconomics) -

refere-se à lei dos retornos decrescentes e indica que certos ativos estratégicos

não podem ser acumulados mais rapidamente pelo simples acréscimo de mais

recursos de qualquer natureza. O fator limitante para o acumulo do ativo é o

tempo, que não é compressível;

• Eficiências de massa (asset mass efficiencies) - alguns tipos de ativos são

acumulados a um menor custo quando a empresa já possui um determinado

nível em estoque. Os autores citam o caso de operadores de cartões de crédito,

onde o valor de pertencer a uma rede aumenta conforme o número total de

membros cresce;

• Interconexão dos estoques de ativos (interconnectedness of asset stocks) -

ocorre quando o processo de acumulação de um ativo estratégico depende do

nível de estoque de outro ativo;

• Erosão dos ativos (asset erosion) - da mesma forma que fábricas e

equipamentos, ativos estratégicos também podem perder valor com a passagem

48

do tempo. Por exemplo, caso as empresas não invistam continuamente em sua

marca a fidelidade de seus compradores será erodida com a passagem do

tempo; e,

• Ambiguidade causal (causal ambuiguity) - o processo de acumulação de

determinados ativos estratégicos pode não ser determinístico e contínuo.

Inclusive, em algumas indústrias, como a de fármacos, o mesmo pode ser

melhor descrito como estocástico e descontínuo. Quando o papel de diferentes

fatores no processo de acumulação de determinado ativo não pode ser descrito

com clareza, torna-se quase impossível que outras empresas o imitem.

Frequentemente, é feita uma distinção na literatura entre o que a empresa possui e o

que ela faz em relação aos seus competidores. Por exemplo, Grant (2010) distingue os

recursos das capabilidades organizacionais das empresas. Recursos são os ativos produtivos

da firma, e podem ser classificados em tangíveis, intangíveis e de capital humano. Por outro

lado, capabilidades organizacionais são compostas pela capacidade de um time de recursos

em executar alguma tarefa ou atividade. Dessa forma, os recursos da firma empregados

conjuntamente formam a base nas quais as capabilidades são desenvolvidas e estas, por sua

vez, são a fonte da vantagem competitiva. A Figura 7 apresenta a relação entre recursos,

capabilidades organizacionais, estratégia e vantagem competitiva, no contexto da indústria de

atuação.

Figura 7 - Relação entre recursos, capabilidades e vantagem competitiva.

Fonte: adaptado de Grant (2010).

Oportunidades de vantagem competitiva

na indústriaEstratégia

Capabilidades organizacionais

Vantagem competitiva

Recursos

� Tangíveis• Financeiros (caixa,

linhas de crédito, entre outros)

• Físicos (propriedades, equipamentos, entre outros)

� Intangíveis• Tecnologia (patentes,

copyrights, entre outros)• Reputação (marcas,

relacionamentos, entre outros)

• Cultura

� Humanos• Habilidades e

competências• Motivação

49

De acordo com Grant (2010), o problema da identificação das capabilidades apresenta

um grau de dificuldade consideravelmente superior ao da identificação dos recursos da

empresa. O conceito de capabilidades organizacional é complexo, dado que envolve pessoas,

equipamentos, tecnologias e outros recursos empregados de forma integrada. Ainda,

capabilidades podem ser entendidas com o resultado de processos e rotinas, e usualmente

podem ser definidas de forma mais ou menos ampla (GRANT, 2010). Por exemplo, a

capabilidade em gestão dos recursos humanos pode ser desagregada em capabilidade em

recrutamento, capabilidade em avaliação dos recursos humanos, capabilidade no

desenvolvimento de carreiras, entre outros.

Um conceito intimamente relacionado com a visão baseada em recursos é o das

competências centrais, inicialmente apresentado por Prahalad e Hamel (1990). Competências

centrais são desenvolvidas pelo aprendizado coletivo da organização, especialmente sobre

como coordenar as diversas habilidades de produção e integrar diversas tecnologias na

entrega de valor para os consumidores (PRAHALAD; HAMEL, 1990). O conceito de

competências centrais se aproximada do de capabilidades organizacionais proposto por Grant

(2010), mas inclui apenas aquelas capabilidades fundamentais para a estratégia e desempenho

da empresa. De acordo com Prahalad e Hamel (1990), competências centrais são aquelas que

fazem uma contribuição desproporcional no valor para o cliente final ou na eficiência com a

qual esse valor é entregue, bem como proporcionam a base para a expansão em novos

mercados.

As competências centrais são aperfeiçoadas com o uso, e exigem comunicação e

comprometimento para que as mesmas sejam compartilhadas entre os diversos negócios e

produtos da empresa. Prahalad e Hamel (1990) sugerem que a gestão deve desenvolver uma

arquitetura estratégica a nível corporativo que estabeleça objetivos para a construção de

competências centrais. Uma arquitetura estratégica é uma espécie de roteiro para a

identificação de quais competências centrais a empresa deve construir, incluindo as

tecnologias que constituem essas competências.

2.6.1 Análise dos recursos e capabilidades

Grant (2010) propõe um modelo para a análise dos recursos e capabilidades de uma

empresa, objetivando principalmente a avaliação do potencial dos diversos recursos e

capabilidades que compõe a empresa em gerar lucros para a mesma. De acordo com o autor,

os lucros que as empresas obtêm a partir de seus recursos e capabilidades dependem de três

50

fatores: a habilidade em estabelecer uma vantagem competitiva, a sustentabilidade dessa

vantagem competitiva e a capacidade da empresa em se apropriar dos retornos gerados pela

mesma. Por sua vez, os três fatores são diretamente determinados por diversas características

dos recursos e capabilidades em questão. A Figura 8 apresenta o modelo proposto por Grant

(2010).

Figura 8 - Modelo para análise da importância estratégica de recursos e capabilidades.

Fonte: adaptado de Grant (2010).

Para que um recurso ou capabilidade possa estabelecer uma vantagem competitiva,

este deve ser escasso e relevante (GRANT, 2010). Mesmo que determinado recurso seja

essencial para que se compita em determinada indústria, caso não seja escasso diversas

empresas poderão adotar a mesma estratégia e nenhuma terá uma vantagem competitiva sobre

as demais. Ainda, o recurso ou capabilidade deve ser relevante para a execução da estratégia a

partir da qual será obtida a vantagem competitiva.

Os lucros gerados por um recurso ou capabilidade dependem ainda da sustentabilidade

da vantagem competitiva, que está relacionada ao fato dos recursos e capabilidades serem

duráveis e não imitáveis. De acordo com Grant (2010), um recurso ou capabilidade é imitável

caso o mesmo seja transferível ou replicável. Caso o recurso ou capabilidade seja transferível,

o mesmo pode ser comprado e movido entre empresas interessadas em seu valor estratégico.

Ainda, mesmo que o recurso ou capabilidade não seja transferível, em alguns casos o mesmo

pode ser construído (GRANT, 2010). No entanto, nem sempre isso é possível. Por exemplo,

Escassez

Relevância

Durabilidade

Facilidade de transferência

Replicabilidade

Direitos de propriedade

Poder de barganha relativo

Tipo de vínculo com a firma

Extensão da vantagem

competitiva

Sustentabilidade da vantagem competitiva

Apropriabilidade

Potencial de gerar lucros

51

capabilidades baseadas em rotinas complexas e na cultura organizacional da empresa são

dificilmente replicáveis.

Enquanto os dois fatores anteriores definem o lucro gerado por um recurso ou

capabilidade, é de grande relevância determinar qual parcela desse lucro será apropriado pela

empresa. De acordo com Grant (2010), quanto menos definido for o direito de propriedade de

determinado recurso ou capabilidade, mais importante se torna o poder de barganha na

determinação da divisão dos retornos gerados entre a empresa e seus membros individuais.

Por exemplo, se a contribuição individual de um empregado para a produtividade de uma

empresa é facilmente identificável, o mesmo é móvel e suas competências podem gerar os

mesmos ganhos de produtividade em outras empresas, esse empregado possui grande poder

de barganha (GRANT, 2010). Consequentemente, ele está em uma posição favorável para se

apropriar da maior parte de sua contribuição ao valor adicionado pela empresa.

2.7 Logística

As atividades logísticas sempre fizeram parte das operações das empresas pela

necessidade de estoque, armazenagem e transporte de insumos e produtos. No entanto, por

muito tempo a logística foi tratada de forma desagregada e suas funções geridas de forma

independente e como áreas de apoio (BOWERSOX; CLOSS, 2010). Até a década de 1950

ainda não existia uma definição formal para o conceito de logística (BOWERSOX; CLOSS,

2010). Foi apenas a partir dessa época que a área logística começou a receber um nível de

atenção gerencial maior, com a introdução da abordagem de custo total e a maior preocupação

com a melhoria e ampliação dos canais de distribuição (GUIDOLIN; MONTEIRO FILHA,

2010). Ainda, a popularização de conceitos como Kanban e Just-in-Time ao longo dos anos

1980 colaborou para que as empresas buscassem uma maior coordenação e integração de suas

atividades logísticas (GUIDOLIN; MONTEIRO FILHA, 2010).

De acordo com o Council of Supply Chain Management Professionals (CSCMP,

2013), logística pode ser definida como:

O processo de planejar, implementar e controlar procedimentos que assegurem o transporte e estoque eficiente e eficaz de mercadorias, incluindo serviços e informações relacionadas, do ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender os requisitos do cliente. A definição inclui movimentos de entrada e saída, internos e externos (CSCMP, 2013, p. 177, tradução nossa).

Segundo Bowersox e Closs (2010), as funções logísticas, ou áreas tradicionais de

especialização logística, podem ser divididas em cinco categorias principais:

52

• Projeto de rede - consiste na determinação da localização e da quantidade de

instalações necessárias aos processos logísticos, determinando, por exemplo, a

localização de estoques de matérias-primas e produtos acabados;

• Informação - permite o planejamento adequado das atividades logísticas,

contribuindo para uma maior eficiência;

• Transporte - consiste na determinação da forma de movimentação das

mercadorias levando em conta o custo, a velocidade e a consistência do

transporte. Na maior parte dos casos, a velocidade está inversamente

relacionada ao custo, dado que usualmente os meios de transporte mais rápidos

são os mais caros. Já a consistência do transporte diz respeito à variação no

tempo necessário para um determinado fluxo de carga, e pode gerar incertezas

para o planejamento da empresa;

• Gestão do estoque - engloba desde a gestão do estoque de matérias-primas até

de produtos acabados. Uma gestão de estoque eficiente busca o equilíbrio ideal

entre o nível de serviço e o custo logístico, no contexto das operações da

empresa;

• Armazenagem, manuseio de materiais e embalagem - consiste em

atividades que podem ocorrer em diferentes etapas do processo produtivo,

como, por exemplo, a separação de pedidos, consolidação de cargas e

montagem de produtos.

2.7.1 Logística integrada

De acordo com Bowersox e Closs (2010), as funções logísticas dentro da empresa

podem ser combinadas em três áreas operacionais: distribuição física, apoio à manufatura e

suprimento. Segundo os autores, a logística integrada consiste na articulação das três áreas

operacionais no âmbito interno à empresa, buscando-se a coordenação dos fluxos de materiais

e informações entre as diversas atividades logísticas de forma integrada. Conforme ilustrado

pela Figura 9, o conceito de logística integrada diferencia-se do conceito de gestão da cadeia

de suprimentos (supply chain management) por limitar-se apenas aos fluxos de informação e

materiais internos à empresa, enquanto a gestão da cadeia de suprimentos busca a articulação

dos fluxos em toda a cadeia, de fornecedores a clientes finais (BOWERSOX; CLOSS, 2010).

53

Figura 9 - Esquema conceitual da logística integrada e gestão da cadeia de suprimentos.

Fonte: Guidolin e Monteiro Filha (2010).

Bowersox e Closs (2010) afirmam que muitas vezes as três áreas operacionais se

sobrepõem, mas a segmentação delas no esquema conceitual permite uma maior clareza em

relação às responsabilidades e atribuições de cada uma das áreas. Segundo Bowersox e Closs

(2010), o fluxo de materiais se inicia com os insumos enviados pelos fornecedores e termina

com o produto entregue ao cliente. A área de suprimento está associada à administração de

materiais e é responsável pelos insumos necessários ao processo produtivo, englobando as

atividades de compras, recebimento de materiais e separação ou montagem. A área de apoio à

manufatura está associada à movimentação de materiais e gerencia os estoques necessários ao

processo produtivo. Já a área de distribuição física está associada à armazenagem e transporte

de produtos acabados e ao processamento de pedidos. A distribuição física é responsável por

fazer o produto chegar até o cliente de acordo com as condições estabelecidas entre as partes,

vinculando fabricantes, atacadistas e varejistas.

De acordo com Bowersox e Closs (2010), o conceito de logística integrada exige a

articulação do fluxo de informações e do fluxo de materiais, permitindo a integração das

atividades logísticas internas à empresa. No entanto, tal integração não é um processo simples

e pode exigir mudanças na estrutura organizacional das empresas. Por exemplo, estruturas

organizações rígidas e excessivamente hierárquicas podem dificultar a coordenação

interfuncional necessária à integração logística (BOWERSOX; CLOSS, 2010).

2.7.2 Gestão da cadeia de suprimentos

Segundo Figueiredo, Fleury e Wanke (2013), com a busca pelas empresas por maior

eficiência e coordenação em suas operações logísticas, surge o conceito de gestão da cadeia

de suprimentos. De acordo com os autores, o conceito traz um novo modelo de negócios,

54

buscando o máximo da eficiência logística ao longo das empresas envolvidas no fornecimento

do produto, expandindo as atividades e decisões logísticas de forma a envolver todos os elos

participantes em uma relação de cooperação. Ainda, Figueiredo, Fleury e Wanke (2013)

destacam que a gestão da cadeia de suprimentos tem o potencial de proporcionar uma série de

vantagens ao aumentar a produtividade das atividades logísticas e o valor agregado dos

produtos, podendo contribuir significativamente para a redução de custos e melhorias no nível

de serviço logístico.

De acordo com o CSCMP (2013), a gestão da cadeia de suprimentos engloba o

planejamento e a gestão de todas as atividades logísticas, incluindo as de busca, identificação

e seleção de fornecedores e parceiros, bem como aquelas que agreguem valor ao produto por

meio de algum tipo de transformação nas várias etapas do processo produtivo. Ainda, inclui a

coordenação e colaboração com os parceiros de canal, sejam eles fornecedores,

intermediários, provedores de serviços terceirizados ou clientes. Dessa forma, em sua

essência, a gestão da cadeia de suprimentos integra a gestão de fornecimento e demanda entre

as companhias que se relacionam.

Ainda segundo o CSCMP (2013), a gestão da cadeia de suprimentos pode ser

entendida como uma função integradora e otimizadora das principais funções e processos de

negócios, dentro e entre empresas, em um único modelo de negócios coeso e de alto

desempenho. Sendo assim, ela promove a coordenação dos processos e atividades logísticas

com e entre as áreas de marketing, vendas, design de produto, finanças e tecnologia da

informação.

De acordo com Guidolin e Monteiro Filha (2010), o conceito de gestão da cadeia de

suprimentos tem contexto mais amplo que o de logística, dado que se estende além das

operações internas e abrange as operações de outras empresas. Segundo o autor, tal dimensão

tornou-se possível por duas razões principais. Primeiramente, devido ao desenvolvimento das

tecnologias de informação e comunicação, que tornaram possível a troca de dados,

informações e o processamento de transações em tempo real entre as empresas constituintes

da cadeia de suprimentos. Em segundo lugar, pela crescente adoção de estruturas

organizacionais mais flexíveis e dinâmicas que tornaram as empresas mais focadas em suas

atividades fim. Por exemplo, o autor cita a tendência de parcerias entre companhias e

provedores de serviços exigindo elevado grau de comprometimento, coordenação e

cooperação por parte de todos os envolvidos.

Bowersox e Closs (2010) afirmam que a implementação do modelo de gestão da

cadeia de suprimentos envolve grande esforço de planejamento, negociação, cooperação e

55

monitoramento entre os diversos agentes que participam da cadeia, buscando uma maior

eficiência e o compartilhamento de riscos. O planejamento deve ser realizado de forma

conjunta e os agentes devem compartilhar o maior volume possível de informações sobre suas

atividades logísticas, reduzindo custos e evitando modificações futuras no planejamento. Os

autores afirmam que na gestão da cadeia de suprimentos cada um dos participantes da cadeia

é entendido como detentor de uma competência central, que deve ser utilizada para o aumento

da competitividade do canal.

Ainda, Bowersox e Closs (2010) propõem a divisão dos participantes da cadeia em

duas categorias principais:

• Participantes primários - empresa que participa ativamente, pois tem

responsabilidade sobre estoques e assume riscos financeiros nas transações.

Por exemplo, indústrias, atacadistas e varejistas;

• Participantes especializados - empresa provedora de serviços terceirizados

aos participantes primários, não assumindo os riscos nas transações da cadeia.

Por exemplo, os provedores de serviços logísticos, agências de publicidade,

seguradoras e representações.

De acordo com Bowersox e Closs (2010), o sucesso da gestão da cadeia de

suprimentos dependerá do exercício de uma liderança construtiva, que promova a cooperação

e suporte dos demais participantes envolvidos. Nesse sentido, Figueiredo, Fleury e Wanke

(2013) cita algumas das principais barreiras à implementação da gestão da cadeia de

suprimentos:

• Disponibilidade de bons parceiros ou provedores de serviços logísticos;

• Acionistas podem desejar resultados rápidos;

• Falta de apoio da alta gerência;

• Fatores culturais, como a resistência à troca de informações e dependência de

parceiros;

• Estabelecimento de expectativas irreais;

• Falta de conhecimento de custos;

• Medidas de desempenho e critérios de avaliação e remuneração.

Por outro lado, dada a experiência positiva de muitas companhias na implementação

da gestão da cadeia de suprimentos, pode-se identificar algumas características que

contribuem para seu sucesso (Figueiredo; Fleury; Wanke, 2013):

• Definir indicadores chave de desempenho com metas nas principais áreas;

56

• Identificar o papel de cada elo da cadeia na busca pelos objetivos e metas;

• Estabelecer a estratégia de implementação da gestão da cadeia de suprimentos

a partir do comum acordo entre os elos;

• Criar um canal de comunicação conectando todos os elos da cadeia;

• Proporcionar visibilidade em tempo real das informações no ponto de venda

para todos os elos, auxiliando na redução dos estoques ao longo da cadeia.

2.7.3 Provedores de serviços logísticos

Tanto na literatura internacional quanto na nacional, diversos termos têm sido

utilizados para referenciar a indústria de provedores de serviços logísticos ou seus diferentes

segmentos (MATTOS, 2006). Enquanto alguns termos têm sua abrangência definida com

base em aspectos como número ou nível de valor agregado dos serviços prestados, outros se

baseiam no grau de competência em gestão logística das empresas. Termos como provedor de

serviços logísticos, operador logístico, integrador logístico, empresa de logística contratada

(contract logistics provider), 3PL (third-party logistics provider) e 4PL (fourth-party logistics

provider) têm sido utilizados com diferentes significados e objetivos (FIGUEIREDO;

FLEURY; WANKE, 2013).

Nesse contexto, é essencial que se defina os principais termos utilizados neste trabalho

por duas razões principais. Primeiramente, diferentes autores podem referenciar o mesmo

termo não se baseando na mesma definição. Portanto, as definições adotadas neste trabalho

devem estar claras, de modo que a exposição, análise e interpretação do conteúdo de terceiros

não sejam prejudicadas. Em segundo lugar, este trabalho pretende analisar a indústria de

provedores de serviços logísticos (PSLs) em seus diferentes segmentos. Sendo assim, quando

do uso de um termo, é necessário que se tenha clareza em relação à abrangência do mesmo de

forma a evitar interpretações errôneas.

Como o escopo deste trabalho é a análise da indústria brasileira de provedores de

serviços logísticos, é essencial que os principais termos encontrados na literatura nacional e

empregados por participantes da indústria de PSLs - provedor de serviços logísticos, operador

logístico e integrador logístico - sejam definidos e contextualizados (LIMA, 2004):

• Provedor de serviços logísticos - empresas que prestem qualquer tipo de

serviço logístico;

57

• Operador logístico - empresas especializadas em gerenciar e executar todas

ou parte das atividades logísticas da cadeia de suprimentos de seus clientes.

Para que um provedor de serviços logísticos seja considerado um operador

logístico, o mesmo deve, no mínimo, ter competência para prestar

simultaneamente as atividades de controle de estoque, armazenagem e gestão

de transportes (TECNOLOGÍSTICA, 1999);

• Integrador logístico - empresas com competência para projetar, implementar e

executar soluções integradas na cadeia de suprimentos de seus clientes.

Focadas em equipes profissionais qualificadas, sistemas de TI eficientes e

expertise nas indústrias de seus clientes. Têm proposta de ser o único ponto de

contato com o cliente, prestando uma gama maior de serviços em cadeias de

suprimentos mais complexas e baseadas em contratos de maior prazo. Possui

relacionamento estratégico com o cliente, assumindo perfil colaborativo,

adaptativo e flexível.

Langley Jr. e Capgemini (2009) propõe uma classificação dos PSLs de acordo com os

diferentes níveis de competência em gestão logística das companhias integrantes da indústria,

ilustrada pela Figura 10. Os autores dividem a indústria de PSLs em quatro níveis crescentes

de controle e responsabilidade em relação à cadeia de suprimentos dos clientes:

• Tradicional - presta serviços básicos como armazenagem e transporte de

cargas, restringindo-se apenas a execução dos serviços. Normalmente focado

na disciplina operacional e otimização dos ativos, visando à redução de custos

para seus clientes;

• 3PL - presta tanto os serviços básicos como os serviços mais sofisticados e de

maior valor agregado. É responsável por parte do planejamento das atividades

logísticas de seus clientes, focando na melhoria dos níveis de serviço e no valor

adicionado aos produtos de seus clientes;

• 4PL / Provedor líder - assume a tomada de decisões nos níveis de

planejamento e coordenação das atividades logísticas de seus clientes, podendo

inclusive contratar os serviços de terceiros para a execução de certas

atividades;

• Gestor completo dos serviços da cadeia de suprimentos - desenvolve junto

ao seu cliente a estratégia de coordenação da cadeia de suprimentos e assume a

gestão do ciclo completo de atividades de forma integrada. Possui

58

relacionamento estratégico com o cliente, assumindo perfil colaborativo,

adaptativo e flexível.

Figura 10 - Evolução dos provedores de serviços logísticos.

Fonte: Guidolin e Monteiro Filha (2010).

59

3 INDÚSTRIA DE PRIVATE EQUITY E VENTURE CAPITAL

3.1 Introdução à indústria de private equity e venture capital

Segundo a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI, 2011), o capital

de risco, termo que engloba tanto as atividades de private equity (PE) quanto venture capital

(VC), caracteriza-se pelo investimento em empresas com elevado potencial de crescimento e

valorização, usualmente através da aquisição de participações no capital social de empresas,

com o objetivo de financiar e apoiar o seu crescimento e desenvolvimento. O investimento de

capital de risco normalmente se dá pela aquisição de ações ou outros valores mobiliários da

empresa investida, como debênture conversível, bônus de subscrição, entre outros (ABDI,

2011). Os investimentos de PE / VC apresentam maior risco e menor liquidez que

investimentos tradicionais, como a aplicação em ações de empresas listadas em bolsa, mas

isso é, de modo geral, compensado por expectativas de retorno elevadas.

O investidor em capital de risco torna-se efetivamente um sócio da empresa investida

e pode possuir um papel mais ou menos ativista na gestão da mesma, dependendo do perfil do

investidor e do tamanho da participação adquirida. O investidor de PE / VC está na mesma

posição do acionista e assume um papel de parceiro do negócio, participando diretamente do

sucesso da empresa e de seus resultados. O investidor é recompensado pelo capital investido

por meio da venda de sua participação por um valor superior ao custo, normalmente pela

alienação da participação ou desinvestimento.

Dado o perfil das atividades de PE / VC, a participação na indústria é restrita a

investidores profissionais, que podem ser tanto institucionais como individuais de alto poder

aquisitivo. Estes investidores compreendem os elevados riscos a que estão se submetendo e

podem tolerar a baixa liquidez dos investimentos, dado que usualmente a venda da

participação na empresa investida e posterior retorno financeiro acontecem apenas no médio

ou longo prazo.

As definições e características da indústria de capital de risco estão fortemente

influenciadas pelas suas origens anglo-saxônicas. Sendo assim, enquanto nos Estados Unidos

o capital de risco se diferencia em duas formas de investimento, o private equity e o venture

capital, na Europa o termo private equity é usualmente utilizado para se referir a toda

indústria de capital de risco, incluindo o venture capital (ABDI, 2011).

3.2 Origem e histórico da indústria de private equity e venture capital

60

A indústria de private equity e venture capital tem suas origens nos Estados Unidos no

fim do século XIX e primeiras décadas do século XX, momento no qual o país começou a

desenvolver-se como uma nação e economia integrada (ABDI, 2011). Famílias ricas e

influentes como os Rockefellers, Vanderbilts, Phippses, Whitneys e Bessemers começaram a

ter seus patrimônios administrados por escritórios especializados, investindo diretamente e

assessorando empresas de capital privado nos setores de petróleo, marinha mercante,

ferroviário, imobiliário, entre outros.

Em 1946, foi criada nos Estados Unidos a primeira organização formal de venture

capital, chamada Corporação Americana de Pesquisa e Desenvolvimento (American Research

and Development) (ABDI, 2011). Entre o final dos anos 1950 e o início dos anos 1970

diversas organizações gestoras de PE / VC foram estabelecidas, incluindo nomes como Intel

Capital, T.A. Associates, Kleiner Perkins Caufield & Byers e Sequoia Capital. Até essa

época, a indústria de capital de risco era basicamente um fenômeno de venture capital (ABDI,

2011). No entanto, no início da década de 1980 progressivamente a atividade de private

equity foi ganhando relevância e transações bilionárias foram concluídas. Em particular, as

operações de buyout (aquisição do controle acionário) e de leveraged buyout (operações de

buyout alavancadas com o uso de dívida) tiveram destaque, como o leveraged buyout de US$

25 bilhões da RJR Nabisco, realizado pela organização gestora Kohlberg Kravis Roberts &

Co. (ABDI, 2011).

3.2.1 Histórico da indústria de private equity e venture capital no Brasil

Em 1964, foi estabelecida a Adela Investment Company, ocasião em que se

considerou a criação da indústria de private equity e venture capital no Brasil (ABDI, 2011).

Já na década de 1970, foram tomadas as primeiras ações governamentais para o

desenvolvimento da indústria de private equity e venture capital. Em 1974, o Banco Nacional

de Desenvolvimento Econômico (BNDES) criou três subsidiárias para prover capital para

pequenas e médias empresas e, em 1976, surgiu a FINEP (Agência Brasileira de Inovação).

Na década de 1980 e começo da década de 1990, a hiperinflação e recessão econômica

que caracterizaram o período tornaram praticamente inviáveis investimentos de longo prazo

no país. De acordo com a Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity

(ABVCAP, 2013), a indústria de PE / VC só voltou a crescer e se desenvolver com o início do

Plano Real em 1994, a crescente estabilização da economia brasileira ao longo da década de

61

1990 e a edição da instrução ICVM nº 209/94. A instrução ICVM nº 209/94 regulamentou os

investimentos em pequenas e médias empresas, estabelecendo o Fundo de Investimentos em

Empresas Emergentes (FMIEE) como veículo de investimento (ABVCAP, 2013).

O período de 2001 a 2003 foi novamente marcado por dificuldades para a indústria de

PE / VC (ABDI, 2011). No âmbito internacional, a economia estava abalada pelo estouro da

bolha da Internet e pelos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001. Já no Brasil, a crise

energética de 2001 e as eleições presidenciais de 2002 elevaram a volatilidade dos mercados e

causaram elevada desvalorização do Real e elevação das taxas de juros.

Em 2003, foi editada a instrução ICVM nº 391/03 com o objetivo de regulamentar os

veículos de investimento de PE / VC constituídos no Brasil, abrindo espaço para uma maior

participação dos fundos de pensão nacionais no setor (ABDI, 2011). Anteriormente, não

existia um regime próprio previsto na legislação ou na regulamentação para fundos desse tipo.

Adicionalmente, ocorreram importantes reformas na legislação societária e a arbitragem foi

confirmada como legítima para a resolução de conflitos societários pelo Poder Judiciário.

Já no final dos anos 2000, a elevação do Brasil ao nível de Grau de Investimento

(Investment Grade) pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P), a

estabilidade econômica, a tendência declinante da taxa de juros básica, e níveis historicamente

baixos do risco-país contribuíram para a atratividade dos investimentos em PE / VC no Brasil

(ABVCAP, 2013). Ainda, a participação dos investidores institucionais nacionais tornou-se

significativa, com os maiores fundos de pensão do Brasil, tais como a Caixa de Previdência

dos Funcionários do Banco do Brasil (PREVI) e o Petros, investindo parcelas de seus recursos

em PE / VC (ABVCAP, 2013). O ambiente institucional também se desenvolveu, com uma

oferta cada vez maior de fundos e gestores mais especializados e capacitados (ABVCAP,

2013).

62

Figura 11 - Histórico recente da indústria de private equity e venture capital no Brasil.

Fonte: elaborado pelo autor baseado em Figueiredo (2009).

3.3 Tipos de investimento

De modo geral, a indústria de capital de risco no Brasil é dividida nos segmentos de

venture capital e private equity pelos participantes da indústria. Sendo assim, o termo venture

capital é usualmente utilizado para designar investimentos em empresas que se situam em

estágios iniciais de maturidade, enquanto o termo private equity é utilizado no caso de

empresas em estágios mais maduros (ABDI, 2011). No entanto, é relevante mencionar que ao

redor do mundo não existe um consenso na divisão do capital de risco em ambas as

modalidades, e em muitos casos o venture capital é incluído dentro do private equity (ABDI,

2011).

Além da segmentação da indústria de capital de risco em PE e VC, podemos

categorizar as atividades de PE / VC em diferentes tipos de investimento. A categorização

pode ser realizada de acordo com o grau de maturidade da empresa investida no contexto do

seu ciclo de vida. Ainda, a divisão pode ser feita de acordo com a forma como o investimento

é estruturado. Os investimentos de PE / VC podem ser categorizados nos seguintes tipos

(ABDI, 2011):

• Capital Semente (Seed Capital) - investimento em empresas em fase de

projeto e desenvolvimento, antes mesmo do início das operações. O capital

aportado pode ser utilizado para a realização de estudos de mercado e análises

Histórico da Indústria de Private Equity / Venture Capital no Brasil

1994 - 1997

•Plano Real•ICVM 209•Início dos primeiros fundos de Private Equity / Venture Capital

1997 - 1998

•Investimento dos fundos de Private Equity / Venture Capital nas privatizações

1999 - 2002

•Diminuição dos investimentos: desvalorização cambial, crise energética e incerteza eleitoral

2003 - 2008

•ICVM 391•Criação do Novo Mercado Bovespa

•Tese de investimento nos BRICs

•Aceleração de IPOs

•Finalização do 1º ciclo

2009 - Hoje

•Início do novo ciclo

•Maior atração e participação de gestores globais

•Atuação mais coordenada de investidores institucionais

63

de viabilidade econômico-financeira, pode apoiar o desenvolvimento e

comercialização dos produtos ou serviços da empresa, entre outros;

• Startup - investimento em empresas já operacionais, mas que ainda não

vendem seus produtos ou serviços comercialmente. Usualmente a empresa

investida está no seu primeiro ou segundo ano de funcionamento, e necessita

de capital para o desenvolvimento do produto e marketing inicial, incluindo a

realização de beta tests e prova de conceito do negócio;

• Early stage - investimento em empresas já operacionais cujos produtos ou

serviços já foram testados comercialmente. Usualmente a empresa investida

tem até quatro anos de funcionamento;

• Later stage - investimento em empresas que já atingiram a fase de

comercialização plena de seus produtos ou serviços e que necessitam de mais

capital do que podem gerar internamente para acelerar sua expansão. A

empresa pode ou não ter atingido o break-even;

• Private equity – growth - investimentos em empresas já estabelecidas com

linhas de produtos e marca consolidada. Usualmente, empresas nesse estágio

apresentam taxas de crescimento de vendas superiores a 25% ao ano;

• Private equity – later stage - investimentos em empresas já maduras e que já

passaram pela fase de crescimento mais acelerado. Usualmente, as empresas já

possuem uma posição consolidada no mercado e geram fluxos de caixa

expressivos. Em alguns casos, o capital investido será utilizado para aquisições

de empresas no mesmo setor, com a empresa servindo como base para a

consolidação do mercado;

• Distressed - investimentos em empresas que já estão ou se aproximam de uma

situação de insolvência. Usualmente, o capital investido é utilizado para a

reestruturação da empresa, com o pagamento de pendências financeiras e

redução da alavancagem.

Ainda, o investimento de PE / VC pode ocorrer por outras formas além da tradicional

aquisição de parcela do capital social da empresa:

• Mezanino - investimentos realizados por meio de instrumentos híbridos de

financiamento, também chamados de dívida subordinada, com direito de

preferência no capital social;

64

• Private Investments in Public Equity (PIPE) - investimentos em empresas já

listadas em bolsas de valores por meio da aquisição de participação acionária

relevante. Na maior parte dos casos, a organização gestora adota uma postura

de investidor ativista, contribuindo para a gestão e governança da empresa,

chegando até a participar do Conselho de Administração da companhia.

Sendo assim, o venture capital engloba os investimentos do tipo capital semente,

startup, early stage e later stage. Já o private equity incluiria os investimentos do tipo private

equity – growth, private equity – later stage, mezanino e PIPE.

3.4 Participantes da indústria de private equity

A indústria de private equity é composta por diversos participantes que interagem e

trocam entre si fluxos de informações e capital. De forma resumida, podemos listar seis

diferentes classes de participantes que possuem papel relevante na indústria de PE:

• Investidores - aqueles que investem capital por meio de fundos de

investimento de PE. Podem ser tanto indivíduos de alto poder aquisitivo quanto

investidores institucionais, nacionais ou internacionais, que em troca do

elevado risco e baixa liquidez do investimento esperam retornos elevados;

• Gestores - aqueles que fazem a gestão do patrimônio dos fundos de

investimento de PE, sendo responsáveis pela carteira de investimento.

Composto por equipes de profissionais com experiência tanto na prospecção de

novos negócios quanto na gestão e criação de valor nos investimentos já

realizados, na qualidade de membros de bancos de investimento ou de

administradoras de recursos independentes;

• Fundos de investimentos - veículos pelos quais os investimentos nas

empresas investidas são estruturados. Os gestores são responsáveis pela gestão

dos fundos de investimento;

• Prestadores de serviços - aqueles que prestam serviços ao longo do ciclo de

investimento em PE e contribuem para o andamento da operação. Podem ser

empresas de auditoria, escritórios de advocacia, consultorias estratégicas,

bancos de investimento, butique de assessoria financeira e Fusões &

Aquisições, individuais que introduzem os gestores a potenciais investimentos

(finders), entre outros;

65

• Empresas investidas - ativos que compõem a carteira de investimento do

fundo de PE. Usualmente, os gestores possuem papel ativo na gestão das

empresas investidas, contribuindo em estratégia, governança, controles,

monitoramento, entre outros;

• Empreendedores - aqueles que possuem participação acionária nas empresas

investidas, portanto influenciando na gestão das mesmas;

• Entidades de apoio e fomento - aqueles que promovem o crescimento e

desenvolvimento da indústria de PE, englobando desde atividades de pesquisa

até a capacitação de profissionais para que atuem em PE. No Brasil,

instituições como a ABVCAP, a ABDI, o BNDES e o Centro de Estudos em

PE/VC da FGV-EAESP têm papel proeminente (ABDI, 2011).

Figura 12 - Participantes da indústria de private equity.

Fonte: elaborado pelo autor.

3.5 Funcionamento e estrutura dos investimentos de private equity

Na forma mais tradicional de private equity, os investidores comprometem-se a

aportar uma quantia de capital anteriormente acordada (capital comprometido) em um veículo

de investimento gerido pela organização gestora (SNOW, 2007). Os investidores e a

organização gestora assinam previamente um acordo no qual é definido como os retornos dos

investimentos serão compartilhados entre a gestora e os investidores e quais taxas serão

cobradas (SNOW, 2007).

Na maior parte dos casos, os investidores são cobrados pela organização gestora em

uma taxa de administração e outra de desempenho (também conhecida como carried interest,

Empresas investidas

Empreendedores

Prestadores de serviços

Fundos de investimento

GestoresInvestidores

Entidades de apoio e fomento

66

carry ou taxa de desempenho). A taxa de administração tem como objetivo cobrir os custos

operacionais da organização gestora, bem como a manutenção de sua equipe no período

(ABVCAP, 2013), sendo usualmente estipulada em 2% do valor do capital comprometido

anualmente (SNOW, 2007).

A taxa de performance é estruturada de forma a representar parcela significativa da

remuneração total dos gestores, constituindo o principal instrumento de alinhamento de

interesse entre gestores e investidores (ABVCAP, 2013). Ela é cobrada sobre a rentabilidade

que exceder um nível preestabelecido (taxa preferencial). Usualmente, a taxa de performance

é determinada em 20% e só é cobrada quando o gestor retorna aos investidores um montante

superior ao capital investido no fundo corrigido pela taxa preferencial (SNOW, 2007). Por

exemplo, uma gestora pode captar R$ 1 bilhão e investir em uma série de empresas. Quando

esses investimentos são finalmente vendidos, o valor resultante é R$ 2 bilhões, ou o dobro do

montante captado. De forma simplificada, a organização irá retornar aos investidores o capital

comprometido (R$ 1 bilhão), 80% do lucro (R$ 800 mil) e cobrar 20% do lucro (R$ 200 mil)

como taxa de performance.

Por sua vez, a organização gestora assume o compromisso de avaliar diferentes

empresas, selecionar algumas para investir o capital captado, criar valor atuando ativamente

na gestão das empresas investidas e realizar o desinvestimento de maneira a maximizar o

lucro dos investidores. Os recursos podem ser aplicados por diversos instrumentos, incluindo

os híbridos. Na maior parte dos casos, o investimento se dá por participações acionárias e

dívidas subordinadas.

Apesar de existir uma estrutura utilizada nos investimentos de PE com maior

frequência, algumas outras estruturas alternativas podem ser encontradas (ABDI, 2011). Em

alguns poucos casos, os veículos de investimento não possuem comprometimento de capital

definido. Em outros casos, os próprios investidores atuam como gestores e realizam

investimentos com capital proprietário. Para que uma organização gestora seja considerada

como integrante da indústria de PE / VC não é necessário que a mesma estruture seus

investimentos exclusivamente por meio de fundos de investimento, mas sim que, após o

investimento, ela tenha participação ativa no processo decisório de gestão da empresa

investida (ABDI, 2011).

Os principais veículos de investimento de PE utilizados no Brasil são os seguintes

(ABDI, 2011):

• Fundos Mútuos de Investimentos em Empresas Emergentes (FMIEE) -

instituído pela instrução CVM 209 em 1994, requer que as empresas investidas

67

tenham faturamento inferior a R$ 150 milhões e patrimônio líquido menor que

R$ 300 milhões;

• Fundos de Investimentos em Participações (FIP) - instituído pela instrução

CVM 391 em 2003, tem prazo de investimento definido conforme o

regulamento do fundo, condomínio fechado e requer que o investidor participe

do processo decisório das companhias investidas;

• Investimento direto - no qual não há a tradicional segregação entre o

investidor no fundo e a organização gestora;

• Empresas de participação - similar ao investimento direto, mas é estruturado

por meio de uma empresa de participações (holding).

Figura 13 - Estrutura dos fundos de private equity normalmente utilizada no Brasil.

Fonte: elaborado pelo autor com base em Figueiredo (2009).

3.6 Análise de oportunidades de investimento em private equity

Organizações gestoras de fundos de private equity podem basicamente originar seus

investimentos de duas formas. Na maior parte dos casos, as oportunidades são apresentadas às

organizações por bancos de investimento e boutiques de assessoria financeira. Usualmente,

uma empresa deseja receber aporte de capital de um investidor e mandata um profissional

para assessorá-la. Esse assessor, por sua vez, prepara um documento inicial, chamado teaser,

apresentando a empresa e o setor em que ela atua e o envia para uma série de investidores. Em

oposição, muitas organizações gestoras preferem evitar a competição com outros investidores

Investidores Gestores

Fundos de PE(CVM 209/391)

EmpresasInvestidas

• 90% a 99% do capital do fundo

• ~80% dos lucros• Responsabilidade

limitada ao capital

• 1% a 10% do capital do fundo

• ~20% dos lucros• Responsabilidade

ilimitada

AçõesDebênturesBônus de subscrição

68

e buscam originar novos negócios de forma proprietária. É comum que gestoras realizem

pesquisas e monitorem determinados setores e empresas na busca de oportunidades.

Gestoras de PE normalmente definem no regulamento de seus fundos suas estratégias

de investimento. Nelas, são determinados os setores, tamanhos de empresas e valor dos

negócios nos quais investimentos podem ou prioritariamente serão realizados. Dessa forma,

acredita-se que as gestoras podem aumentar os retornos para os investidores pela

especialização em determinados tipos de negócios.

A organização gestora que está considerando investir em uma empresa precisa realizar

uma avaliação profunda e detalhada dela e do seu setor de atuação. Torna-se necessário que a

gestora entenda o real valor do negócio que está comprando e o avalie adequadamente,

buscando pagar o menor preço possível de forma a viabilizar o negócio. Mesmo que uma

empresa investida cresça expressivamente e melhore sua rentabilidade, os ganhos obtidos

podem ser facilmente anulados por uma avaliação inadequada do seu valor no momento da

aquisição.

Investimentos de PE são de alto risco e baixa liquidez e por isso os investidores

exigem retornos elevados para serem compensados pelo alto risco ao qual estão expostos.

Sendo assim, a análise de empresas para investimentos de PE envolve uma compreensão

detalhada das possibilidades de crescimento e desenvolvimento da empresa. As gestoras

buscam negócios bem posicionados no seu setor de atuação, que possam crescer de forma

sustentável a taxas superiores aos seus concorrentes. Ainda, o modelo de negócios da empresa

deve ser escalável, tornando possível que esta, com o apoio da gestora, aumente suas vendas e

porte de forma expressiva.

A análise de companhias para investimentos de PE é um trabalho extenso e muitas

vezes custoso, podendo envolver consultorias e assessores externos. É um trabalho abrangente

e não se restringe apenas a questões financeiras, incluindo, por exemplo, aspectos contábeis,

legais, fiscais, ambientais e éticos. No entanto, é importante mencionar que o trabalho de

análise de empresas para investimentos de PE é feito de diferentes maneiras entre as diversas

organizações gestoras de PE. Ainda, determinada estratégia de investimento pode requerer

uma ênfase maior em determinados aspectos. Por exemplo, estratégias de aquisição de

participações minoritárias inevitavelmente exigem uma análise profunda e extensa dos sócios

controladores e da equipe de gestão da empresa.

Investidores de PE são temporários, pois precisam vender a participação acionária

adquirida dentro de um período que usualmente varia em torno de cinco anos. Sendo assim,

uma das primeiras preocupações das gestoras ao analisar preliminarmente uma empresa é em

69

relação às oportunidades de saída do investimento. A gestora busca determinar se, após o

período de investimento, existirão outros investidores interessados na compra de sua

participação na empresa. A saída pode ocorrer pela venda da participação para outros

investidores financeiros (gestoras de fundos de PE) ou para investidores estratégicos (atuantes

no setor da empresa investida ou com interesse na entrada no setor).

3.7 Criação de valor por gestoras de private equity

Uma das premissas do private equity é a de que a organização gestora, por meio de

suas competências e habilidades, pode criar valor para a empresa investida, permitindo que a

mesma cresça e se valorize. Dado o tamanho da indústria de PE e a diversidade de estratégias

adotadas pelas organizações gestoras, o nível de envolvimento e influência das gestoras na

gestão das empresas investidas pode variar bastante (ABDI, 2011). Ainda, o perfil da

organização gestora tem grande influência nas formas pelas quais esta pode criar valor às

empresas investidas. Por exemplo, o apoio do escritório brasileiro de uma organização global

de PE pode ter grande valor na elaboração e execução da estratégia de internacionalização de

uma companhia investida.

Sendo assim, além do capital financeiro, as organizações gestoras podem oferecer às

empresas que buscam um aporte de capital ou a venda de participação no capital social outras

vantagens além de meramente capital. Em muitos casos, empresas buscam a parceria com

uma gestora de private equity, pois reconhecem que ela pode ser uma importante aliada e

contribuir efetivamente no crescimento e desenvolvimento da empresa. O autor deste trabalho

presenciou os diversos modos pelos quais a gestora de PE onde ele realizou seu estágio

acadêmico busca criar valor para as empresas investidas. A seguir, são listadas as principais

formas:

• Governança corporativa - uma das principais formas de criação de valor por

meio do PE, principalmente no Brasil onde muitas empresas são familiares. A

gestora usualmente implanta importantes práticas de governança corporativa,

tais como a constituição de um Conselho de Administração, aprimoramento de

sistemas e controles internos e auditoria externa independente;

• Gestão profissional - a organização gestora é focada no crescimento e

desenvolvimento do negócio o mais rápido possível. Principalmente no Brasil,

muitas empresas são familiares e membros da família fundadora atuam na

70

gestão da mesma. Empresas podem se valorizar com a profissionalização da

gestão;

• Engenharia Financeira - grande parte dos membros da equipe da gestora

possui experiência no mercado financeiro. Dessa forma, podem ajudar

empresas investidas a reestruturar seu Balanço Patrimonial, captar recursos e

emitir dívida no mercado financeiro, estruturar fusões e aquisições, entre

outros;

• Rede de contatos - a organização gestora possui rede de contatos locais e

internacionais, dado que a mesma tem escritórios em diversos países. Sendo

assim, pode contribuir na negociação de contratos, contratação de profissionais

e até em estratégias de internacionalização e outsourcing;

• Apoio à gestão - a organização gestora se envolve diretamente na

administração da empresa investida, contribuindo tanto em questões

estratégicas quanto operacionais, por meio de reuniões com o Conselho de

Administração e com a equipe. Inclusive, dependendo da necessidade, a

gestora pode até alocar um membro de sua equipe para trabalhar

temporariamente na investida.

3.8 Panorama e evolução do private equity no Brasil

A indústria de private equity no Brasil ainda é relativamente jovem e pequena,

principalmente se comparada com a de países desenvolvidos como os Estados Unidos e

Inglaterra (ABDI, 2011). Após a estabilização macroeconômica que ocorreu no país a partir

de 2003, a indústria vem crescendo e se desenvolvendo de modo acelerado. A Crise

Econômica Mundial de 2008 e 2009 levou a uma desaceleração no ritmo de captação de

capital e investimento, mas a indústria se recuperou rapidamente e já em 2011 teve volume

recorde de captação de recursos (EMPEA, 2013).

Segundo dados da EMPEA publicados em 29 de Julho de 2013, em 2012 o volume de

investimentos de PE foi de US$ 4,4 bilhões, enquanto que em 2003 esse volume foi de apenas

US$ 321 milhões. Ainda, de acordo com a associação, em 2012 o volume de captação de

recursos para PE foi de US$ 2,6 bilhões, contrastando com os R$ 230 milhões captados em

2003. Dado o ciclo de captação, investimento e desinvestimento, após a captação recorde de

US$ 7,1 bilhões em 2011, as gestoras se concentraram em investir os recursos em caixa em

71

2012 (EMPEA, 2013). A evolução histórica do volume de investimentos e captação,

conforme mostra o Gráfico 1, evidencia o crescimento da indústria.

Gráfico 1 - Evolução da captação de recursos e investimentos (em milhões de reais) em private equity.

Fonte: elaborado com base em dados da EMPEA (2013).

A maior atratividade do mercado brasileiro para investimentos de PE é evidenciada

pela abertura de escritórios locais por parte das mais reconhecidas gestoras de PE (ABDI,

2011). Nos últimos anos, gestoras de PE de origem internacional e grande prestígio, como a 3i

Group, Carlyle Group, Warburg Pincus e Actis abriram escritórios locais. Outras

organizações optaram por estabelecer parcerias com gestoras de origem brasileira, como a

parceria da Blackstone Group com o Pátria Investimentos em 2010 e a aquisição do controle

da Gávea Investimentos pelo J.P. Morgan Chase & Co. também em 2010.

Apesar do crescimento acelerado da indústria de PE no Brasil nos últimos anos, o

nível de penetração do PE na economia brasileira, medido pela razão entre o volume de

investimento de PE e o Produto Interno Bruto do ano, indica que a indústria ainda tem espaço

para se expandir. Em 2012, a penetração do PE na economia brasileira foi de 0,18%, enquanto

que nos Estados Unidos e Reino Unido foi de 0,86% e 1,05%, respectivamente (EMPEA,

2013).

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

8.000

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Investimento Captação de recursos

Evolução da captação de recursos e investimentos em Private Equity

(em milhões de dólares)

72

73

4 INDÚSTRIA DE PROVEDORES DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS

4.1 Introdução

No período recente, houve significativo crescimento da complexidade das atividades

logísticas, com exigências cada vez maiores de níveis de serviço pelos consumidores e de

investimentos em novas tecnologias e equipamentos para ganhos de eficiência

(FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE, 2013). Nesse contexto, observou-se o crescimento de

empresas transferindo partes ou a totalidade de suas operações logísticas para empresas

especializadas na prestação desses serviços, ou seja, os provedores de serviços logísticos.

4.2 Histórico da indústria de provedores de serviços logísticos

A indústria de provedores de serviços logísticos no Brasil teve um desenvolvimento

tardio em relação aos Estados Unidos e a Europa (FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE,

2013). No Brasil, a indústria começou a se desenvolver no final dos anos 1980, com a entrada

de grupos multinacionais que iniciaram operações no país com o objetivo de oferecer o

serviço de correio (GUIDOLIN; MONTEIRO FILHA, 2010). Como exemplo, podemos citar

a chegada da TNT N.V., United Parcel Service, FedEx Logistics e Deutsche Post DHL. Já em

meados dos anos 1990, outros grupos multinacionais iniciaram operações no Brasil e

começaram a oferecer serviços logísticos mais sofisticados (FIGUEIREDO; FLEURY;

WANKE, 2013). No início, os serviços oferecidos eram direcionados para a indústria

automobilística e de bens de consumo. Dentre esses grupos, podemos citar a Schenker

Logistics, Penske Logistics, McLane, Ryder, Danzas (FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE,

2013). Em muitos casos, a entrada desses grupos se deu por meio de aquisições ou joint-

ventures com PSLs nacionais.

No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, com a estabilização da economia

brasileira, alguns grupos nacionais cresceram e se profissionalizaram, conquistando espaço na

indústria (GUIDOLIN; MONTEIRO FILHA, 2010). Dentre eles, podemos citar o Grupo Júlio

Simões, Tegma Gestão Logística, América Latina Logística, Schio e Rapidão Cometa. Ainda,

grupos nacionais e internacionais anteriormente focados no Sudeste do Brasil estenderam suas

operações para outras regiões, que começaram a crescer e a se desenvolver.

Nos últimos anos, a indústria de PSLs tem sofisticado sua oferta, impulsionada pela

demanda de seus clientes por serviços de maior valor agregado (BARROS, 2009). Ainda, a

74

indústria tem presenciado uma tendência de consolidação, resultante de diversas operações de

fusões e aquisições entre participantes da indústria e da entrada de investidores financeiros no

setor. As empresas têm buscado aumentar seu porte e melhorar sua estabilidade financeira,

tornando-se mais competitivas na disputa por contratos de clientes maiores (GUIDOLIN;

MONTEIRO FILHA, 2010).

4.3 Oferta de serviços pelos provedores de serviços logísticos

A oferta de serviços pelos PSLs é variada, e inclui desde os básicos até os de alto valor

agregado, dependendo do posicionamento competitivo da empresa e do seu nível de

competência em gestão logística (GUIDOLIN; MONTEIRO FILHA, 2010). Empresas com

uma oferta de serviços de menor valor agregado prestam serviços básicos como armazenagem

e transporte de cargas, comumente restringindo-se apenas à execução dos mesmos.

Normalmente essas empresas têm grande foco na disciplina operacional e maior eficiência na

utilização dos ativos, visando à redução de custos para seus clientes (FIGUEIREDO;

FLEURY; WANKE, 2013).

Já empresas com ofertas de serviços de maior valor agregado em grande parte também

prestam os serviços mais básicos, mas diferenciam-se por focar nos mais complexos e

sofisticados, possuindo e desenvolvendo os recursos e competências adequados para esse

enfoque. Empresas com foco em serviços de maior valor agregado podem tornar-se

responsáveis por parte do planejamento das atividades logísticas de seus clientes e até assumir

a tomada de decisões nos níveis de planejamento e coordenação das atividades logísticas,

muitas vezes subcontratando terceiros para a execução de parte dessas atividades

(FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE, 2013). Em alguns casos, os PSLs podem inclusive

assumir a gestão do ciclo completo de atividades da cadeia de suprimentos de seus clientes de

forma integrada (LANGLEY JR.; CAPGEMINI, 2009).

Sendo assim, à medida que a relação de terceirização torna-se mais complexa e

profunda, os PSLs têm a oportunidade de prestar serviços de maior valor agregado e se

envolver mais com a gestão da cadeia de suprimentos de seus clientes (COSTA; VIEIRA;

FLEURY, 2001). Conforme a Figura 14 ilustra, os PSLs podem prestar desde serviços básicos

de transporte e armazenagem, até serviços complexos e sofisticados como a gestão integrada

das atividades logísticas e a elaboração de projetos logísticos.

75

Figura 14 – Principais atividades terceirizadas para provedores de serviços logísticos.

Fonte: elaborada pelo autor com base em Costa, Vieira e Fleury (2001).

4.4 Infraestrutura logística no Brasil

De acordo com Rebelo (2011), um dos principais desafios para o Brasil nos próximos

anos será eliminar os gargalos na infraestrutura logística que limitam sua competitividade.

Durante os anos 1950 e 1960, o governo brasileiro e o setor privado focaram seus

investimentos em infraestrutura no modal rodoviário, visando estabelecer a indústria

automobilística no país (WANKE, 2010). Dessa forma, investimentos nos outros modais,

principalmente ferroviário e aquaviário, foram em parte negligenciados, criando uma grande

discrepância na matriz de transportes brasileira (WANKE, 2010). Ainda, fatores como

legislação e fiscalização inadequadas e a insegurança nas vias impactam negativamente a

eficiência do sistema de transporte e logística do país (CNT; COPPEAD, 2002).

O desbalanceamento da matriz de transportes brasileira é a principal causa da

ineficiência do sistema de transporte e logística do país (WANKE, 2010). Após décadas de

investimentos insuficientes na manutenção, expansão e modernização de sua infraestrutura

logística, o país hoje apresenta dependência excessiva no modal rodoviário e condições

inadequadas nos outros modais, impedindo um balanceamento da matriz de transportes

brasileira (Ministério dos Transportes, 2012). Conforme ilustrado pelo Gráfico 2 (limitado aos

modais rodoviário, ferroviário e hidroviário), a matriz brasileira de transportes de cargas

apresenta um desequilíbrio quando comparada à de outros países de grandes dimensões

territoriais, como Rússia, Estados Unidos e Canadá. O nível de utilização do modal rodoviário

Maior valor agregado

Transporte ou Armazenagem

Transporte e Armazenagem

Serviços intermediários

Serviços sofisticados

• Separação• Embalagem

• Etiquetagem

• (Des)unitização• (Des)consolidação

documental

• Conferência (física e documental)

• Milk-run

• Cross-docking

• Gerenciamento de frota

• Agenciamento de carga e auditoria de fretes

• Gestão integrada das atividades logísticas

• Projetos logísticos

• Gerenciamento de riscos• Gestão de estoques

• Apoio a produção (Kanban, Just-in-Time,

preparação de kits, abastecimento de linha)

• Serviço de atendimento ao consumidor

• Roteirização

76

no Brasil se assemelha ao de países de menor dimensão territorial, como a Alemanha e

França.

Gráfico 2 – Composição da matriz de transportes para países selecionados.

Fonte: elaborado pelo autor com base em dados do Ministério dos Transportes (2012).

A situação da infraestrutura logística brasileira diminui a competitividade da indústria

nacional ao elevar os custos logísticos. No relatório publicado pelo World Economic Forum

intitulado The Global Competitiveness Report 2013-2014, o Brasil ocupa a 71ª colocação no

quesito infraestrutura, de um total de 148 nações. Dentro do quesito infraestrutura, o país

ocupa posições mais desprivilegiadas em aspectos que impactam diretamente a

competitividade da indústria, como infraestrutura rodoviária (120ª), portuária (131ª),

ferroviária (103ª) e aeroviária (123ª). Ainda, no mesmo relatório, a qualidade inadequada da

infraestrutura é apontada como o fator mais problemático para a realização de negócios no

Brasil, à frente de fatores como regulação tributária, carga tributária e burocracia

governamental (WORLD ECONOMIC FORUM, 2013).

O Brasil apresenta níveis de custos logísticos em relação ao PIB consideravelmente

superiores aos apresentados pelos países desenvolvidos, como consequência da infraestrutura

logística deficiente, falta de gestão de estoques e burocracia excessiva. Conforme ilustrado

pelo Gráfico 3, o ILOS estimou em 10,6% do PIB os custos logísticos brasileiros em 2010,

incluindo atividades de transporte, estoque, armazenagem e administrativas. Já para os

Estados Unidos, o mesmo indicador foi estimado em 7,7% em 2010. As condições

inadequadas da infraestrutura brasileira e o excesso de burocracia impactam diretamente os

custos logísticos, consequentemente afetando a rentabilidade das empresas (LIMA, 2006).

8%

32%43% 49% 53% 55%

71%81%

58%

81%43%

46%45% 43%

11%

15%

17%

25%

11%25%

11% 6% 4%

34%

14%2%

17%

Rodoviário Ferroviário Hidroviário

Matriz de transportes para países selecionados (%)

77

Ainda, contribuem para o pior desempenho do país a menor participação de serviços na

economia, o menor valor agregado dos produtos e o maior custo de capital (LIMA, 2006).

Gráfico 3 - Evolução dos custos logísticos em relação ao PIB no Brasil e comparativo Brasil versus Estados Unidos em 2010.

Fonte: elaborado pelo autor com base em dados de ILOS apud Rebelo (2011).

De forma a melhorar a competitividade da infraestrutura logística do país, serão

necessários investimentos não só focados na melhoria da eficiência dos diferentes modais,

mas também na integração deles ao longo dos principais eixos logísticos (Ministério dos

Transportes, 2012). Sendo assim, torna-se necessário um planejamento integrado e de longo

prazo dos investimentos, incluindo a questão da infraestrutura de integração por meio de

projetos de terminais portuários privados, terminais de integração multimodal, terminais de

transbordo e armazenagem, entre outros (REBELO, 2011).

4.5 Tecnologia da informação e comunicação aplicada à logística

A aplicação de novas tecnologias e ferramentas de tecnologia da informação e

comunicação (TIC) na área de logística influenciou de forma definitiva a prática de negócios

dos provedores de serviços logísticos. A tecnologia da informação, seja por meio de sistemas

de software quanto por hardwares, vem desenvolvendo soluções que possibilitam a gestão

das diversas atividades da cadeia de suprimentos de forma cada vez mais integrada,

permitindo a economia de custos e a melhoria do nível de serviço logístico (GUIDOLIN;

MONTEIRO FILHA, 2010). Equipamentos como computadores de mão, rotuladores e

etiquetadores eletrônicos, identificadores por radiofrequência, rastreadores por satélite,

7,5%6,8% 6,6% 6,3%

4,7%

3,6%3,7%

3,3%3,2%

1,9%

0,6%0,6%

0,6%0,7%

0,8%

0,4%0,4%

0,4% 0,4%

0,3%

12,1%11,5%

10,9% 10,6%

7,7%

Brasil - 2004 Brasil - 2006 Brasil - 2008 Brasil - 2010 EUA - 2010

Transporte Estoque Armazenagem Administrativo

78

sistemas de segurança e outros contribuem para ganhos de eficiência e melhoria do serviço

prestado. A integração dos diversos equipamentos e dispositivos utilizados pelos PSLs por

meio de rebuscados softwares permite a coleta, processamento e análise de informações de

forma mais precisa, auxiliando a tomada de decisões e planejamento (GUIDOLIN;

MONTEIRO FILHA, 2010).

Os principais sistemas de informação utilizados na gestão da cadeia de suprimentos

pelos PSLs são:

• Enterprise Resource Planning (ERP) - o ERP, ou Sistema de Planejamento de

Necessidades da Empresa, é um sistema utilizado no planejamento e

gerenciamento de forma global dos recursos necessários para o recebimento,

atendimento e expedição dos pedidos dos clientes, bem como para a

contabilização desses pedidos e reposição dos estoques, de acordo com os

pedidos e previsões de demanda. Muitas vezes, inclui comércio eletrônico com

fornecedores. Exemplos de softwares ERP são os sistemas desenvolvidos pela

SAP, Oracle, PeopleSoft, dentre outros (CSCMP, 2013);

• Warehouse Management System (WMS) - o WMS, ou Sistema de

Gerenciamento de Armazéns, é um sistema utilizado para o gerenciamento e

suporte à execução dos processos de armazenamento, incluindo as atividades

de recebimento, estocagem, separação, expedição e gestão de estoques. Ainda,

pode suportar o uso de tecnologias como código de barras e identificação por

radiofrequência, possibilitando o monitoramento eficiente do fluxo de produtos

e a transferência de dados em tempo real entre o sistema e operadores. O WMS

permite maximizar o uso do espaço e minimizar a movimentação de materiais,

através da automatização dos processos de armazenamento (CSCMP, 2013);

• Transportation Management System (TMS) - o TMS, ou Sistema de

Gerenciamento de Transportes, é um sistema que apoia o gerenciamento do

transporte, incluindo as atividades de consolidação de carga, expedição,

rastreabilidade da frota e de produtos, auditoria de fretes, emissão de

documentos, planejamento de rotas e modais, planejamento e execução de

manutenção da frota e monitoramento de custos e nível de serviço (CSCMP,

2013).

Além dos sistemas de informação apresentados acima, os PSLs também se utilizam de

outras tecnologias auxiliares para uma maior coordenação e integração dos fluxos de

79

materiais e informações na cadeia de suprimentos. Algumas das principais tecnologias

utilizadas no mercado brasileiro são (GUIDOLIN; MONTEIRO FILHA, 2010):

• Sistemas de roteirização e agendamento - conjunto de ferramentas

computacionais que auxiliam na determinação da melhor forma para o

transporte de cargas da origem ao destino, incluindo informações como

transportadores envolvidos, melhor combinação de veículos, rotas e tempo

estimado. Podem estar integrados aos Sistemas de Informação apresentados

acima;

• Sistemas de simulação e otimização - conjunto de ferramentas

computacionais de simulação que auxiliam a tomada de decisão na

identificação da melhor alternativa dentre as possíveis para a execução de uma

atividade logística. Podem estar integrados aos Sistemas de Informação

apresentados acima;

• Sistemas de rastreamento - sistemas que permitem o monitoramento e

registro da posição das unidades de transporte da origem ao destino em tempo

real, usualmente por meio da tecnologia Global Positioning System (GPS).

Caso seja preciso, podem funcionar como sistemas de segurança,

possibilitando, por exemplo, o bloqueio do veículo de forma remota;

• Consulta pela internet e celular - consulta do status de pedidos remotamente,

pela internet ou celular;

• Electronic Data Interchange (EDI) - sistema para a transmissão eletrônica de

dados e informações de negócios entre empresas, de computador para

computador, em formato padronizado.

4.6 Terceirização logística

Nos últimos anos, diversas empresas se depararam com um cenário de aumento da

complexidade de suas cadeias de suprimentos e dos recursos necessários para o desempenho

de suas atividades logísticas em nível competitivo (WANKE, 2010). Nesse contexto, muitas

identificaram a terceirização logística como forma de reduzir custos, focar recursos e atenção

gerencial no core business e melhorar o nível de serviço logístico (BARROS, 2009).

A terceirização logística permite que empresas tenham acesso no curto prazo a

recursos e expertise que provedores de serviços logísticos levaram anos para desenvolver

80

(GOI, 2013). Pela terceirização, a empresa evita o gasto de recursos financeiros e humanos no

recrutamento e treinamento de pessoas, aquisição e manutenção de ativos, implantação de

sistemas, entre outros. Dessa forma, a empresa contratante tem acesso às competências do

provedor selecionado, a um contingente de profissionais com experiência na prestação de

serviços logísticos, a sistemas operacionais e integrados e, possivelmente, às melhores

práticas do mercado (FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE, 2013). Apesar da terceirização

logística potencialmente trazer diversos benefícios à empresa contratante, seu processo

envolve uma série de riscos e o sucesso é afetado por diversos fatores (FIGUEIREDO;

FLEURY; WANKE, 2013). Conforme será abordado no item 4.7 deste capítulo, a definição a

priori de uma estratégia de terceirização logística e a realização de um processo de seleção

estruturado e criterioso pode aumentar substancialmente as chances de sucesso do processo de

terceirização logística.

O relatório 2013 17th Annual Third Party Logistics Study apresenta os resultados de

uma das pesquisas2 mais influentes na indústria mundial de provedores de serviços logísticos,

realizada por Langley Jr. e Capgemini (2013). A pesquisa indica que a demanda pelos

serviços dos PSLs deve continuar a crescer nos próximos anos, apoiada nos benefícios

mensuráveis obtidos pela terceirização. Os dados obtidos apontam que 65% dos embarcadores

reportaram aumento no uso de serviços logísticos terceirizados no último ano, enquanto que

apenas 22% indicaram estar internalizando muitas de suas atividades logísticas anteriormente

terceirizadas. Ainda, 58% dos embarcadores informaram estar reduzindo ou consolidando o

número de PSLs utilizados.

Conforme apresentado no Quadro 2, os embarcadores relatam benefícios expressivos

com a terceirização de serviços logísticos para PSLs.

Quadro 2 – Provedores de serviços logísticos gerando benefícios mensuráveis para os embarcadores.

Fonte: Langley Jr. e Capgemini (2013).

2 Pesquisa conduzida por Langley Jr. e Capgemini (2013) por meio de questionários respondidos pela Internet e

entrevistas presenciais com 1.510 empresas usuárias e não usuárias dos serviços de PSLs e 832 PSLs. As

empresas respondentes representaram diferentes países, níveis de faturamento e setores produtivos.

Item de melhoria Melhoria após terceirização

Redução de custos logísticos 15%

Redução de custos de estoque 8%

Redução de ativos logísticos fixos 26%

Taxa de atendimento do pedido Mudança de 58% para 65%

Precisão no preenchimento do pedido Mudança de 67% para 72%

81

Ainda, a pesquisa realizada por Langley Jr. e Capgemini (2013) relacionou as

principais razões apontadas por embarcadores que não utilizam serviços de PSLs para não

terceirizarem parte de suas atividades logísticas: logística é uma competência central para

nossa organização (15%); reduções de custos não seriam alcançadas (15%); logística é muito

importante para considerar terceirizá-la (12%); compromissos com o nível de serviço não

seriam alcançados (9%); filosofia corporativa exclui o uso de PSLs (8%); a empresa possui

mais expertise em logística que a maioria dos PSLs (8%); entre outros.

A pesquisa Panorama Terceirização Logística no Brasil 20093, realizada pelo

COPPEAD e analisada por Barros (2009), apresenta resultados relevantes sobre a

terceirização logística no Brasil. De acordo com a pesquisa, quando questionadas sobre os

motivos que as levaram a terceirizar atividades logísticas, as empresas apontam a redução de

custos (81%), o foco no core business (73%), o aumento dos níveis de serviço logístico (73%)

e a maior eficiência na execução das atividades operacionais (73%) dentre os principais

motivos. Os respondentes acreditam que os PSLs reduzirão os custos de suas operações

logísticas, dada a especialização e expertise dos mesmos na área. Barros (2009) cita o

exemplo do embarcador que, ao terceirizar a atividade de distribuição, espera que os PSLs

agrupem suas cargas com as de outras empresas e consigam reduzir o custo por tonelada

transportada. Ainda, a pesquisa aponta que muitas empresas acreditam que devem focar

recursos e atenção gerencial no seu core business, terceirizando atividades como a logística.

Tabela 1 - Principais motivos para a terceirização de atividades logísticas.

Fonte: adaptado de Barros (2009).

A pesquisa realizada pelo COPPEAD e analisada por Barros (2009) indicou o estágio

da terceirização logística no Brasil, medindo o nível de terceirização para as principais

atividades. Para cada uma delas, foi levantada a percentagem das empresas que as 3 Pesquisa realizada pelo COPPEAD com 115 empresas pertencentes ao grupo das mil maiores em faturamento

no Brasil, representando 14 diferentes setores da economia.

Motivo Empresas que citaram (%)

Reduzir custos 81%

Focar no core business 73%

Aumentar os níveis de serviço logístico 73%

Maior eficiência na execução das atividades operacionais 73%

Reduzir investimento em ativos 72%

Adquirir maior flexibilidade nas operações logísticas 66%

82

terceirizava, bem como a percentagem das que pretendiam começar ou aumentar a

terceirização. As atividades básicas apresentaram o maior índice de terceirização médio, em

90%. Dado que usualmente exigem um maior esforço operacional e não possuem caráter

estratégico, a terceirização desse grupo de atividades teria grande potencial de gerar

economias e melhorias no nível do serviço logístico. Já as atividades sofisticadas

apresentaram o menor índice de terceirização médio, em 38%. Por outro lado, é o grupo que

apresenta o maior potencial de crescimento médio para os próximos anos, apontando para o

desenvolvimento dos PSLs brasileiros. O baixo nível de terceirização desse grupo pode ser

explicado pelo receio dos embarcadores em delegar as atividades que possuem caráter mais

estratégico e exigem maior nível de competência em gestão logística.

Tabela 2 - Nível de terceirização das principais atividades logísticas no Brasil.

Fonte: adaptado de Barros (2009).

Além disso, a pesquisa apontou os principais motivos que levam embarcadores a

substituir um PSL, situação que já havia ocorrido com dois terços das empresas entrevistadas.

Os principais motivos mencionados foram a má qualidade dos serviços prestados (90%), a

baixa capacidade de propor novas soluções logísticas (56%), custos / preços altos (51%),

Atividade(s) Empresas que terceirizam (%)Empresas que pretendem

aumentar a terceirização (%)

Básicas 90% 8%

Transporte de suprimento 94% 8%

Transporte de distribuição 92% 14%

Desembaraço aduaneiro 88% 3%

Transporte de transferência 86% 7%

Intermediárias 50% 10%

Logística reversa 66% 10%

Armazenagem 64% 22%

Gerenciamento do transporte intermodal 61% 9%

Milk-run 42% 8%

Cross-docking 41% 5%

Auditoria de fretes 25% 6%

Sofisticadas 38% 11%

Gerenciamento de risco no transporte 79% 8%

Definição do perfil de frota 51% 10%

Definição de rotas 50% 9%

Desenvolvimento de projetos/soluções 48% 23%

Gestão integradas das operações logísticas 26% 15%

Montagem de kits 26% 8%

Serviço ao cliente 18% 8%

Gestão de estoques 10% 5%

83

baixa disponibilidade de ativos do prestador de serviço (47%) e operador pouco flexível a

mudanças (47%). Fica evidente a necessidade de um processo de seleção e contratação de

provedores de serviços logísticos estruturado, adequado à estratégia de terceirização

pretendida, de modo que as expectativas de ambas as partes em relação a custos e nível de

serviço não sejam conflitantes (BARROS, 2009).

4.7 Processo de terceirização logística

O processo de terceirização logística é diretamente influenciado pelas motivações,

necessidades e expectativas das empresas contratantes. Dessa forma, podem existir diversas

variantes no processo de seleção de provedores de serviços logísticos, que pode assumir

formas mais simples ou mais estruturadas. Em alguns casos, a empresa pode buscar um

parceiro que trará mudanças para as atividades logísticas, propor inovações e assumir o

planejamento e monitoramento das operações. No entanto, no outro extremo, existem

empresas que não desejam entregar tanta responsabilidade para o provedor e estão buscando

um provedor focado apenas na execução da atividade.

De acordo com o III Panorama da Terceirização Logística no Brasil4, realizado pela

Tigerlog e Guepardo Consultoria (2009), a maioria das empresas optam por utilizar um

processo estruturado para a seleção de PSLs. Das empresas pesquisadas, 52,9% utilizam as

ferramentas de RFI (Request for Information) e RFP (Request for Proposal), 43,5% ainda

utilizam o método tradicional de cotação simples e apenas 2,9% baseiam sua escolha de PSLs

em indicações.

A pesquisa realizada pela Tigerlog e Guepardo Consultoria (2009) ainda lista quais

são os principais critérios utilizados pelas empresas na escolha dos provedores de serviços

logísticos, conforme apresentado na Tabela 3.

4 Pesquisa conduzida pela Tigerlog e Guepardo Consultoria (2009) através de e-mail com 340 empresas,

representando 14 diferentes setores da economia brasileira.

84

Tabela 3 - Critérios na escolha de provedores de serviços logísticos.

Fonte: Tigerlog e Guepardo Consultoria (2009).

Empresas que buscam a terceirização de atividades de maior complexidade, relevância

e abrangência necessitam de um processo estruturado, de forma a minimizar o risco de se

selecionar um provedor que não possa atender as necessidades reais da contratante

(FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE, 2013). A Figura 15 ilustra a sequência de etapas de um

processo típico de terceirização de atividades logísticas, fazendo o uso das ferramentas de RFI

e RFP.

Figura 15 - Etapas de um processo típico de terceirização logística.

Fonte: elaborado pelo autor com base em Figueiredo (2005).

Após a análise das opções de fazer ou comprar, ou seja, desenvolver internamente

versus contratar um provedor de serviços logísticos, muitas empresas iniciam o processo de

terceirização logística. Em um primeiro momento, a empresa deve analisar qual o resultado

que espera com o processo. A contratante deve ter uma visão global de suas operações

logísticas no estado atual, analisando objetivamente custos, nível de serviço, limitações e

necessidades futuras (FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE, 2013). Em seguida, deve

determinar sua estratégia de terceirização, delimitando o escopo do processo a ser

terceirizado, o perfil adequado de provedor de serviços e o tamanho desejado da base de

fornecedores (FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE, 2013).

Empresas que optam por um escopo do contrato de prestação de serviços mais

abrangente buscam dar ao PSL maior visibilidade e controle da cadeia de suprimentos,

Critério Empresas que citaram (%)

Preço 79%

Experiência / atuação no segmento 66%

Histórico de desempenho 52%

Ferramentas tecnológicas 34%

Qualidade do pessoal 32%

Saúde financeira 18%

Portfólio de clientes 9%

Decisão de terceirização

Definição da estratégia

Identificação de fornecedores

RFI (Request for

Information)Visitas e

entrevistas

RFP (Request for Proposal)

Negociação e contratação

ImplementaçãoGestão do

relacionamento

85

abrindo espaço para a proposta de melhorias, inovações e sinergias operacionais

(FIGUEIREDO, 2005). Principalmente em sistemas logísticos mais complexos, a visibilidade

dos fluxos na cadeia de suprimentos e a capacidade de planejamento e otimização de forma

integrada tornam-se essencial para que o PSL possa operar no maior patamar de eficiência

possível. Já em sistemas menos complexos, usualmente o escopo do contrato é mais limitado,

valorizando-se a especialização e excelência operacional na execução de atividades

específicas (FIGUEIREDO, 2005).

Dependendo do nível de complexidade do sistema logístico em questão e amplitude do

escopo da terceirização, o processo de terceirização poderá não exigir a realização de todas as

etapas apresentadas na Figura 15. Por exemplo, a terceirização de apenas um conjunto de

atividades específicas pode ser realizada com base em cotação de preços simples, evitando as

etapas de RFI e RFP (FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE, 2013).

4.8 Estrutura de custos e despesas

A análise da estrutura de custos e despesas na indústria de provedores de serviços

logísticos permite determinar quais são os itens de custo ou despesa de maior relevância. Para

essa análise foram utilizados tanto os dados financeiros das seis diferentes oportunidades de

investimento em PSLs analisadas pelo autor deste trabalho durante seu estágio, quanto

informações financeiras divulgadas por três dos maiores PSLs brasileiros listados em bolsa de

valores: JSL (serviços dedicados à cadeia de suprimentos); Tegma Gestão Logística (serviços

de transporte); e MRS (transportadora de cargas por ferrovia). A Tabela 4 apresenta os

principais itens de custo e despesa para a JSL, Tegma Gestão Logística e MRS.

Tabela 4 – Estrutura de custos e despesas para provedores de serviços logísticos brasileiros selecionados.

Fonte: elaborado pelo autor com base em informações financeiras divulgadas pelas empresas. Nota: informações financeiras referentes ao ano fiscal de 2012.

Item JSL Tegma MRSPessoal 42% 18% 26%Terceiros 21% 69% 10%Combustíveis e lubrificantes 10% 1% 21%Peças para manutenção 9% 1% 12%Depreciação 12% 2% 16%Outros 7% 11% 15%

86

Pode-se notar que existem variações bastante significativas na estrutura de custos e

despesas das empresas, devido às diferenças na oferta de serviços. Por exemplo, é de se

esperar que um PSL focado no transporte ferroviário tenha uma proporção maior de custos

com combustíveis e lubrificantes em relação à pessoal e terceiros do que uma empresa focada

no transporte rodoviário. Ainda, o transportador ferroviário provavelmente terá uma base de

ativos fixos (locomotivas, vagões e vias permanentes) maior, implicando em uma despesas

com depreciação mais elevadas em relação ao transportador rodoviário. No entanto, os itens

de pessoal, terceiros, combustíveis e lubrificantes, peças para manutenção e depreciação

compõe cerca de 90% dos custos e despesas das empresas analisadas na Tabela 4. Ainda, as

análises de informações financeiras de PSLs realizadas pelo autor durante seu estágio

reforçam a constatação que esses são os itens relevantes na estrutura de custos e despesas de

provedores de serviços logísticos.

4.9 Regulamentação da indústria de provedores de serviços logísticos

O Ministério dos Transportes é responsável pela formulação, coordenação e

supervisão da política nacional dos transportes ferroviário, rodoviário e aquaviário e possui

entidades vinculadas para o auxílio de sua função. A Agência Nacional de Transportes

Terrestres (ANTT) e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAC) são

responsáveis por regular e fiscalizar os serviços de transporte e de infraestrutura. Já o

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) é responsável pela

implementação da política governamental para a infraestrutura de transportes terrestres e

aquaviários, envolvendo a implantação de programas e projetos públicos (MINISTÉRIO DOS

TRANSPORTES, 2012).

Mais especificamente, a ANTT é responsável por regular a prestação do serviço de

transporte rodoviário e ferroviário de cargas e passageiros, bem como a exploração da

infraestrutura, promovendo a concessão de rodovias e ferrovias. Ainda, compete à ANTT a

promoção de pesquisas e estudos relacionados à frota de caminhões, empresas constituídas e

operadores autônomos, bem como a organização e manutenção do registro nacional de

transportadores rodoviários de carga. Já a ANTAC é responsável por regular a prestação do

serviço de transporte aquaviário e a exploração da infraestrutura portuária e aquaviária.

Conforme abordado anteriormente, os PSLs estão presentes em diversas partes das

cadeias produtivas, integrando várias funções logísticas. No entanto, de acordo com Meireles

(2013), os PSLs atuantes em mais de uma atividade (como os operadores e integradores

87

logísticos) ainda não são reconhecidos como um setor de fato, dado que a atividade não

possui uma identidade oficial constituída – carecem de Classificação Nacional de Atividade

Econômica (CNAE) e codificação na Nomenclatura Brasileira de Serviços (NBS). A falta de

CNAE específica para os PSLs que prestam diferentes atividades logísticas prejudica o

planejamento estratégico, econômico, fiscal, tributário, previdenciário, trabalhista e sindical

das empresas (MEIRELES, 2013). Por exemplo, do ponto de vista fiscal, ocasiona a emissão

de diferentes notas fiscais para cada etapa da operação, com códigos fiscais diferentes para

cada uma.

Em relação ao transporte de cargas rodoviário, a lei brasileira estabelece um regime de

livre competição. No entanto, a lei 11.442/2007 define duas categorias de pessoas físicas ou

jurídicas que poderão exercer a atividade de transporte de cargas: o Transportador Autônomo

de Cargas (TAC) e a Empresa de Transporte Rodoviário de Cargas (ETC). A relação

(estabelecida por meio de um contrato) entre estes dois tipos de operadores é comercial, e não

implica em vínculo empregatício. Empresas registradas como ETC são responsáveis (em

serviços contratados) pelos prejuízos resultantes de perda, danos ou avarias às cargas sob sua

custódia, assim como por atrasos na entrega, quando este for pactuado. Em caso de acidente,

podem responder civilmente pelos danos causados ao trabalhador. Depois de um atraso de 30

dias, a carga pode ser considerada perdida. A contratação de seguro contra perdas ou danos

causados à carga é exigida para cada serviço, podendo ser feita tanto pelo contratante quanto

pelo transportador.

Em junho de 2012, entrou em vigor no Brasil a Lei 12.619/2012, conhecida

popularmente por Lei do Descanso, que regulamenta a profissão de motorista profissional de

veículos automotores estabelecendo regras rígidas de segurança. A lei definiu limites para a

jornada de trabalho dos motoristas, sejam eles profissionais contratados, comissionados,

autônomos ou regidos pela CLT. Ainda, a lei trata das formas de sua remuneração, abordando

aspectos como hora extra e de espera, adicional noturno e hora de reserva. A nova lei exigiu

uma série de adaptações operacionais e financeiras, impactando a estrutura de custos das

empresas. Estimativas realizadas pelo ILOS apontaram um aumento médio de

aproximadamente 14% no custo do transporte rodoviário em 2012 devido à adequação das

empresas à lei (LIMA, 2012).

4.10 Fusões e aquisições na indústria de provedores de serviços logísticos

88

A indústria de provedores de serviços logísticos tem atraído a atenção de gestoras de

private equity nos últimos anos, como demonstram os investimentos da Equity International e

da Tarpon na AGV Logística e do Pátria Investimentos na Veloce. Em 2008, a Equity

International comprou uma participação de 35% no capital da AGV Logística. De 2008 a

2011, a AGV investiu R$ 250 milhões em oito aquisições e multiplicou de tamanho, tendo as

aquisições representado 65% do crescimento (CUTAIT, 2013). No início de 2012, a Tarpon

investiu R$ 134 milhões por uma parcela de 51,2% do capital da AGV, tornando-se parceira

da Equity International na gestão da empresa (CUTAIT, 2013).

Já no início de 2009, a gestora de PE Pátria Investimentos investiu R$ 25 milhões na

criação da Veloce Logística a partir dos antigos contratos da Ryder Systems, disponíveis após

a companhia encerrar suas operações no Brasil. Sob a liderança do Pátria Investimentos, a

Veloce teria multiplicado por 50 vezes seu valor de mercado, atraindo a atenção de potenciais

compradores (ROCHA, 2012). Em dezembro de 2011, a Mitsui & Co., empresa de trading

japonesa, anunciou a compra de 100% da Veloce Logística por U$$ 59 milhões (LAGUNA,

2012). Ainda, diversas outras operações de fusão ou aquisição de PSLs foram anunciadas nos

últimos anos, dentre elas:

• Setembro de 2013 - aquisição da Expresso Jundiaí pela Femsa Logística

(TERZIAN, 2013);

• Setembro de 2013 - aquisição de 35,9% da Valor da Logística Integrada pela

Mitsui e um fundo de investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de

Serviço por R$ 2,7 bilhões (ÉPOCA NEGÓCIOS, 2013);

• Julho de 2013 - aquisição da McLane do Brasil pela FM Logistic

(TECNOLOGÍSTICA, 2013b);

• Maio de 2012 - aquisição da Rapidão Cometa pela FedEx (ALERIGI JR.,

2012);

• Abril de 2012 - investimento no Grupo Sequoia pelo fundo de private equity

BR Partners (TECNOLOGÍSTICA, 2012);

• Março de 2011 - aquisição de uma participação de 80% na Direct Express

Logística Integrada pela Tegma Gestão Logística por R$ 77 milhões (TEGMA

GESTÃO LOGÍSTICA, 2011);

• Maio de 2010 - aquisição da Armazéns Gerais Columbia e da EADI Sul pela

Elog (Ecorodovias) por R$ 270 milhões (ECORODOVIAS, 2010);

89

• Abril de 2009 - aquisição da Expresso Araçatuba pela TNT por EUR 54

milhões (TNT, 2009).

4.11 Panorama e evolução da indústria de provedores de serviços logísticos

A indústria de provedores de serviços logísticos tem apresentado expressivo

crescimento nos últimos anos, multiplicando de tamanho inúmeras vezes na última década. A

parcela de atividades logísticas terceirizadas pela indústria brasileira vem se expandindo e

deve continuar a crescer, à medida que as empresas reconhecem o importante papel dos PSLs

na redução de custos e melhoria do nível de serviço (BARROS, 2009). Conforme o Gráfico 4

ilustra, a receita combinada dos PSLs no Brasil cresceu de meros 1,6 bilhão de reais em 1999

para 49,0 bilhões de reais em 2012, multiplicando de tamanho em mais de 30 vezes (ILOS,

2009). No período de 1999 a 2012, a indústria de PSLs cresceu a uma taxa anual composta5

de 30,1%. Já de 2007 a 2012, mesmo com a ocorrência da Crise Econômica Mundial, a

indústria cresceu a uma taxa anual composta de 13,0%. No período de treze anos analisado,

2009 foi o único ano em que a indústria apresentou retração, mas já em 2010 se recuperou e a

receita combinada dos PSLs atingiu patamar superior ao de 2008.

Gráfico 4 - Evolução da receita dos provedores de serviços logísticos no Brasil para o período de 1999 até 2012, em bilhões de reais.

Fonte: elaborado pelo autor com base em dados de ILOS (2013).

Conforme o Gráfico 5 evidencia, a indústria de PSLs vem crescendo a taxas

consideravelmente superiores às de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil.

Sendo assim, sua expansão não tem se baseado apenas no crescimento da economia geral,

5 A taxa anual composta é definida como a média geométrica das taxas anuais durante o período considerado.

1,6 3,4 4,7 6,0 10,2

16,4 21,3 21,7

26,6

38,5 33,9

40,0

48,2 49,0

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

90

mas sim no aumento do volume de atividades logísticas terceirizadas na indústria brasileira.

Apesar da indústria de PSLs ter apresentado um crescimento em 2012 em patamar

consideravelmente inferior aos dos anos anteriores, ainda assim cresceu a uma taxa superior

ao PIB.

Gráfico 5 - Comparativo das taxas de crescimento da receita combinada dos provedores de serviços logísticos e do Produto Interno Bruto brasileiro no período de 2007 a 2012.

Fonte: elaborado pelo autor com base em dados de ILOS (2013).

A análise da evolução da receita média e do número de PSLs em operação no Brasil,

apresentada no Gráfico 6, aponta para o expressivo aumento do porte das empresas atuantes

na indústria e para o movimento de consolidação que vem ocorrendo nos últimos anos. A

receita média dos PSLs aumentou de R$ 16 milhões em 1999 para R$ 360 milhões em 2012,

apesar do número de provedores ter crescido em ritmo mais moderado, de 98 em 1999 para

136 em 2012. Esse movimento indica que as empresas competindo na indústria têm

aumentado seus portes, tanto por meio do crescimento orgânico quanto por operações de

fusão e aquisição, com alguns grupos atingindo receitas na casa dos bilhões de reais

(TECNOLOGÍSTICA, 2013a). Ainda, a receita média por funcionário dos PSLs se expandiu

de R$ 129,3 mil em 2002 para R$ 229,4 mil em 2007, e posteriormente para R$ 329,2 mil em

2012 (ILOS, 2013). Sendo assim, a análise combinada do número de PSLs e das médias de

receita e número de funcionários indica uma crescente sofisticação das empresas que integram

a indústria.

6,1% 5,2%

-0,3%

7,5%2,7% 0,9%

22,6%

44,9%

-11,9%

17,8%20,6%

1,6%

2007 2008 2009 2010 2011 2012

Crescimento PIB Crescimento PSLs

91

Gráfico 6 - Evolução da receita média (em R$ milhões) e do número de provedores de serviços logísticos em operação no Brasil.

Fonte: elaborado pelo autor com base em dados de ILOS (2013).

O Gráfico 7 apresenta a evolução do tempo de mercado dos provedores de serviços

logísticos, dividindo os PSLs em empresas com menos e com mais de quinze anos de atuação.

A análise dos dados aponta para o desenvolvimento da indústria de PSLs, dado que o tempo

de mercado e, consequentemente, a experiência das empresas integrantes tem aumentado.

Enquanto 37% dos PSLs tinham até cinco anos de atuação em 2002, em 2012 apenas 12% se

enquadravam nessa categoria (ILOS, 2013). No entanto, essa indústria é ainda relativamente

jovem no Brasil, dado que aproximadamente 63% dos provedores de serviços logísticos

tinham menos que 15 anos de atuação em 2012 (ILOS, 2013).

Gráfico 7 - Tempo de mercado dos provedores de serviços logísticos.

Fonte: elaborado pelo autor com base em dados de ILOS (2013).

Finalmente, o uso de sistemas de TIC é cada vez mais difundido na indústria de PSLs.

De acordo com dados do ILOS (2013), em 2012 84% dos PSLs utilizavam sistema ERP, 90%

16

360

98

136

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0

50

100

150

200

250

300

350

400

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Receita/PSL (em R$ milhões) Número de PSLs (eixo direito)

86% 86% 88% 83% 86% 80% 79% 73% 76% 72%63%

14% 14% 12% 17% 14% 20% 21% 27% 24% 28%37%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Até 15 anos Acima de 15 anos

92

o sistema WMS, 90% o sistema TMS, 77% faziam uso de algum sistema de simulação e

otimização e 87% possuíam sistema para consulta pela Internet.

93

5 ANÁLISE DA ATRATIVIDADE DA INDÚSTRIA DE PROVEDORES DE

SERVIÇOS LOGÍSTICOS

5.1 Introdução

Neste capítulo foi realizada a análise da atratividade da indústria de provedores de

serviços logísticos com base nos conceitos e ferramentas discutidos ao longo do capítulo 0. É

relevante ressaltar que a análise tem como contexto um investimento de private equity.

Portanto, torna-se necessário que ela considere a dinâmica de funcionamento e

especificidades da indústria de PE, apresentadas ao longo do capítulo 3.

Durante o período de estágio acadêmico, o autor deste trabalho participou da análise

preliminar de seis diferentes oportunidades de investimento em PSLs junto a outros membros

da equipe da gestora de PE. No entanto, as análises focaram-se em aspectos financeiros das

empresas, devido à decisões internas de priorização de projetos e alocação de recursos.

Durante a realização das análises o autor teve acesso às informações financeiras das empresas

e participou de reuniões com diretores de duas delas.

Foram utilizadas tanto fontes primárias quanto secundárias de dados para a realização

da análise da atratividade da indústria de provedores de serviços logísticos. Em relação às

fontes primárias, o autor deste trabalho participou de reuniões com diretores de duas das

empresas avaliadas durante a realização de seu estágio. Ainda, o autor teve a oportunidade de

discutir e aprimorar sua análise da indústria de PSLs com membros da equipe da gestora de

PE onde realizou o estágio, todos com significativa experiência na avaliação de indústrias e

empresas para investimentos de private equity.

Em relação às fontes secundárias de dados, a análise baseou-se primariamente

naqueles apresentados ao longo do capítulo 0 e em algumas referências adicionais citadas ao

longo deste capítulo. Ainda, o autor utilizou-se da inteligência interna da gestora de PE para o

aperfeiçoamento de sua análise, acessando memorandos de investimento e análises sobre a

indústria de PSLs elaboradas anteriormente à sua entrada na empresa.

5.2 Análise estrutural da indústria de provedores de serviços logísticos

5.2.1 Poder de negociação dos fornecedores

94

A análise do poder de negociação dos fornecedores na indústria de provedores de

serviços logísticos realizada neste item considerou os principais itens de custo, despesa e

investimento das empresas atuantes na indústria. Em seguida, foram avaliados o poder de

barganha e a sensibilidade ao preço dos fornecedores desses itens. Para a realização desta

análise, foram utilizados tanto os dados financeiros das seis diferentes oportunidades de

investimento analisadas pelo autor deste trabalho, quanto dados financeiros divulgados por

três dos maiores PSLs brasileiros listados em bolsa de valores: JSL; Tegma Gestão Logística;

e MRS Logística.

Baseando-se na análise realizada no item 8 do capítulo 4, pode-se afirmar que os

principais itens de custo e despesa dos PSLs são: pessoal, terceiros, combustíveis,

lubrificantes e peças para manutenção. A importância de cada um desses itens na estrutura de

custos e despesas de uma empresa em específico apresenta significativa variação, dependendo

da oferta de serviços e modelo de negócios da empresa. No entanto, as análises realizadas

pelo autor durante seu estágio a partir de informações financeiras de PSLs reforçam que esses

quatro itens são os itens relevantes na estrutura de custos e despesas para PSLs.

Em relação ao item de pessoal, podemos afirmar que os empregados dos PSLs

possuem um poder de negociação alto por três razões principais. Em primeiro lugar, não

existe uma forma pela qual o PSL possa substituir os serviços prestados pelos seus

empregados. Em segundo lugar, somado ao fato da taxa de desemprego no Brasil estar no

menor patamar dos últimos anos, existe uma escassez de mão de obra qualificada no país,

principalmente nos níveis operacional e técnico (SARAIVA, 2013; CARDONA, 2011). Isso

acaba por resultar em um aumento da dependência dos PSLs em relação a seus empregados,

dado que as empresas buscam retê-los para evitar novos gastos com recrutamento e

treinamento. Por último, empregados de diferentes empresas atuantes na mesma região ou

indústria são vinculados a entidades que os representam, aumentando o poder de negociação

dos empregados em negociações de reajustes salariais. Por exemplo, a NTC & Logística

(Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística) congrega mais de cinquenta

entidades patronais relacionadas ao transporte de cargas ou logística, incluindo federações,

sindicatos e associações especializadas (NTC & LOGÍSTICA, 2013).

Já o item terceiros refere-se aos custos e despesas dos PSLs com a subcontratação de

parte de suas atividades. Por exemplo, a Tegma Gestão e Logística subcontrata parte

significativa de suas atividades de transporte para carreteiros (agregados), que são

remunerados de acordo com a distância percorrida (TEGMA GESTÃO LOGÍSTICA, 2012).

Podemos afirmar que os terceiros possuem poder de negociação baixo, por duas razões

95

principais. Em primeiro lugar, normalmente os PSLs subcontratam serviços de menor valor

agregado e que requerem pouca expertise. Portanto, os terceiros podem ser substituídos com

certa facilidade e a um baixo custo de mudança. Em segundo lugar, de modo geral os PSLs

possuem escala significativamente maior que as empresas ou individuais subcontratados e,

consequentemente, seus contratos representam parcela significativa da receita dos terceiros.

Em relação aos itens combustíveis e lubrificantes, podemos afirmar que seus

fornecedores têm baixo poder de negociação. Ambos são padronizados e existe pouca

diferenciação entre os diversos fornecedores. No caso dos combustíveis, no Brasil os preços

de gasolina e óleo diesel cobrados por distribuidores são fiscalizados pela Agência Nacional

do Petróleo (ANP) e a margem de negociação junto às distribuidoras é limitada (AGÊNCIA

ESTADO, 2013). Já em relação às peças para manutenção, também podemos afirmar que seus

fornecedores têm baixo poder de negociação, principalmente por representar uma parcela

pequena dos custos e despesas dos PSLs. Ainda, os contratos firmados por PSLs normalmente

incluem cláusulas de reajuste anual que, em alguns casos, é baseado em uma cesta específica

de indicadores que reflete os custos da operação contratada (TIGERLOG; GUEPARDO

CONSULTORIA, 2009).

Além dos custos e despesas, a análise do poder de negociação dos fornecedores deve

considerar os fornecedores de bens de capital e sistemas de tecnologia da informação e

comunicação (TIC). No caso de bens de capital, os principais investimentos realizados pelos

PSLs são em veículos automotores (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) e em

máquina e equipamentos. O poder de negociação de fornecedores de bens de capital é baixo,

pois os PSLs possuem escala para realizar pedidos significativos junto a eles, bem como

normalmente existe pouca diferenciação tanto em veículos automotores quanto em máquinas

e equipamentos. Nos casos em que o PSL necessita de um projeto customizado, o poder de

negociação do fornecedor pode se elevar. No entanto, dificilmente este terá alto poder de

negociação, devido ao tamanho significativo do pedido do PSL e custo de mudança do

fornecedor, que já desenvolveu o projeto.

Em relação aos sistemas de tecnologia da informação e comunicação (TIC), seus

fornecedores possuem alto poder de negociação junto ao PSL. De modo geral, os sistemas de

TIC apresentam alto grau de diferenciação e requerem significativos investimentos de

recursos materiais e humanos, elevando os custos de mudança para o PSL. Devido à alta

sofisticação e complexidade de muitos desses sistemas, os PSLs contratam serviços de

suporte pós-venda na operação, manutenção e gestão dos sistemas (FISCHER, 2013). Ainda,

no caso de alguns softwares específicos, o mercado é altamente concentrado em alguns

96

fornecedores que possuem escala global. Por exemplo, o mercado de sistemas ERP no Brasil

é dominado pelas empresas TOTVS, SAP e Oracle, que juntas possuem uma participação de

mercado no Brasil estimada em 81% (MEIRELLES, 2013).

Pelas razões apresentadas acima, pode-se afirmar que o poder de negociação dos

fornecedores na indústria de provedores de serviços logísticos é moderado.

5.2.2 Poder de negociação dos compradores

O autor deste trabalho analisou a concentração de clientes de seis diferentes

oportunidades de investimento em empresas atuantes na indústria de provedores de serviços

logísticos brasileira. Conforme apresentado pela Tabela 5, a análise da concentração de

clientes de quatro dessas empresas concluiu níveis excessivos de concentração de clientes.

Notamos que, em média, os três principais clientes das empresas representam 73% do

faturamento em 2012, o que implica em um grande poder de barganha desses clientes. Ainda,

no caso da Empresa A, o principal cliente respondeu por 62% do faturamento da empresa em

2012.

Tabela 5 – Concentração de clientes para quatro provedores de serviços logísticos.

Fonte: elaborado pelo autor com base em informações fornecidas pelas empresas. Notas: a concentração é medida como a percentagem do faturamento da empresa que o cliente representou no ano. Informações financeiras referentes ao ano fiscal de 2012.

Conforme apresentado no item 11 do capítulo do 4, a análise da evolução da receita

média e do número de PSLs em operação no Brasil aponta para o expressivo aumento do

porte das empresas e o movimento de consolidação que vem ocorrendo nos últimos anos.

Esse movimento de aumento do porte dos PSLs está diretamente relacionado a um aumento

da base de clientes das empresas atuantes na indústria. Portanto, a concentração média de

clientes dos PSLs deve diminuir nos próximos anos, amenizando o poder de barganha dos

clientes. No entanto, mesmo que essa tendência se concretize, os níveis de concentração de

clientes ainda devem se manter em patamares elevados, em média.

Categoria Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

Principal cliente 62% 31% 36% 33%

Três principais clientes 79% 73% 74% 65%

Cinco principais clientes 85% 89% 78% 75%

Dez principais clientes 94% 98% 94% ...

97

Os custos de mudança de provedor de serviço logístico são elevados, reduzindo o

poder de barganha dos clientes. Segundo o panorama realizado pela Tigerlog e Guepardo

Consultoria (2009), a maior parte dos contratos firmados junto à PSLs têm prazo de três anos

ou mais e envolvem multas no caso de rescisão antecipada. Especialmente no caso de projetos

que demandem significativos investimentos iniciais, os contratos normalmente incluem

proteções e compromissos que diminuem os riscos do PSL. Por exemplo, os contratos da JSL

possuem cláusulas de garantia de recebimento de volume mínimo e, em caso de

cancelamento, a obrigatoriedade da compra dos ativos específicos ao projeto e a aplicação de

multas (JSL, 2012). Ainda, o processo de substituição de PSL usualmente leva a um período

de menor eficiência e maior instabilidade. O PSL que assumir as operações necessitará de um

período para aprender sobre as funções logísticas de seu cliente, para que então possa

progressivamente melhorar a qualidade dos serviços prestados (GOI, 2013).

Os serviços prestados pelos PSLs podem variar desde os básicos, de menor valor

agregado, até os sofisticados, de maior valor agregado. No caso de serviços básicos, como o

de transporte rodoviário, existem menores possibilidades de diferenciação, aumentando o

poder de barganha dos compradores. Já nos serviços sofisticados, como a elaboração de

projetos logísticos, a diferenciação é grande entre PSLs. Nesses casos, aspectos como

inovações introduzidas e melhorias propostas para o processo ganham grande importância,

reduzindo o poder de barganha dos compradores. Por outro lado, serviços mais sofisticados e

complexos usualmente implicam em investimentos inicias de recursos materiais e humanos

significativos. Caso o PSL não reduza seus riscos por meio de contratos com dispositivos de

proteção (por exemplo, multas no caso de rescisão antecipada), estará em uma posição de

maior dependência em relação ao seu cliente, aumentando o poder de barganha deste.

Compradores podem ameaçar a integração para trás, internalizando as atividades

logísticas anteriormente terceirizadas. No entanto, conforme abordado em maior detalhe no

item 2.3 deste capítulo, essa ameaça é baixa. Ainda, a própria competição entre empresas

existentes na indústria já atua de modo a pressionar PSLs que não gerem melhorias

mensuráveis para seus clientes a redefinirem suas estratégias.

Dado que os PSLs prestam serviços logísticos para as mais variadas indústrias,

podemos afirmar que eles não têm necessária exposição à indústrias com baixos níveis de

crescimento e de retorno sobre o capital investido, ou seja, com maior sensibilidade ao preço.

De acordo com ILOS (2012), o custo logístico representou em média 8,5% da receita líquida

das empresas brasileiras em 2011. Ainda, o nível do serviço logístico prestado pelas empresas

tem impacto direto na qualidade e satisfação do consumidor, por exemplo, diminuindo atrasos

98

e erros na entrega de produtos. Sendo assim, a sensibilidade ao preço dos clientes dos PSLs é

reduzida dado que os PSLs podem contribuir na redução do custo logístico das empresas, bem

como melhorar os níveis de serviço logístico.

De modo geral, a terceirização de atividades logísticas para PSLs gera reduções de

custo para a contratante, caso contrário existe um grande incentivo para a internalização

dessas atividades logísticas. Na terceirização de atividades de baixo valor agregado, como

transporte, os compradores ainda são razoavelmente sensíveis ao preço e baseiam sua escolha

de provedor principalmente nesse quesito. No entanto, conforme o escopo da terceirização

torna-se mais complexo e amplo, aspectos como experiência e histórico de desempenho,

tecnologias empregadas, capacitação dos recursos humanos e saúde financeira ganham

relevância, inclusive podendo tornar-se mais importantes que o preço na escolha do provedor.

Pelas razões apresentadas acima, pode-se afirmar que na indústria de provedores de

serviços logísticos o poder de barganha dos compradores é moderado e a sensibilidade ao

preço baixa, resultando em um poder de negociação dos compradores moderado.

5.2.3 Ameaça de serviços substitutos

O serviço substituto ao prestado pelos provedores de serviços logísticos pode ser

entendido como a execução pela própria empresa de suas atividades logísticas, mediante a

internalização de parte ou da totalidade das atividades anteriormente terceirizadas. De modo

mais amplo, o serviço substituto também pode ser entendido como a opção por empresas que

nunca terceirizam parte de suas atividades logísticas de continuar a não terceirizar.

O expressivo desenvolvimento da indústria de PSLs ao longo da última década,

abordado em maior detalhe ao longo do item 11 do capítulo 4 deste trabalho, indica que os

benefícios esperados pelas empresas com a terceirização têm se realizado. De acordo com a

pesquisa Panorama Terceirização Logística no Brasil 20096, realizada pelo COPPEAD e

analisada por Barros (2009), os principais motivos que levam as empresas à terceirização de

atividades logísticas são a redução de custos (81%), o foco no core business (73%), o aumento

dos níveis de serviço logístico (73%) e a maior eficiência na execução das atividades

operacionais (73%). Ainda, a pesquisa realizada por Langley Jr. e Capgemini (2013) aponta

que a demanda mundial pelos serviços dos PSLs deve continuar a crescer nos próximos anos,

apoiada nos benefícios mensuráveis obtidos pela terceirização. Em especial, ainda existe

6 A pesquisa Panorama Terceirização Logística no Brasil 2009 é discutida em maior profundidade no item 6 do

capítulo 4 deste trabalho.

99

grande potencial de crescimento na terceirização de atividades logísticas sofisticas, à medida

que as empresas identificarem PSLs com as competências adequadas para essas atividades de

maior complexidade (BARROS, 2009).

Sendo assim, pode-se afirmar que a ameaça de serviços substitutos para a indústria de

provedores de serviços logísticos é baixa.

5.2.4 Ameaça de novos entrantes

De acordo com o III Panorama da Terceirização Logística no Brasil7, realizado pela

Tigerlog e Guepardo Consultoria (2009), os principais critérios na escolha de provedores de

serviços logísticos são o preço (79%), experiência/atuação no segmento (66%), histórico de

desempenho (52%), ferramentas tecnológicas (34%) e qualidade do pessoal (32%).

Dependendo do processo de terceirização em questão, alguns critérios tornam-se mais ou

menos relevantes. À medida que a complexidade e abrangência do escopo da terceirização

aumentam, cresce a importância de aspectos como a experiência, infraestrutura, robustez

financeira e qualificação de pessoal do PSL.

A principal barreira de entrada na indústria de PSLs decorre do processo de

terceirização e dos critérios utilizados pelas empresas na seleção do fornecedor. Além do

critério de preço, outros aspectos mais qualitativos como a experiência e histórico de

desempenho da empresa têm relevância no processo decisório, limitando a competitividade de

novos entrantes. Além disso, PSLs que já prestam algum serviço para a empresa podem ser

favorecidos no processo de terceirização, dado o histórico de relacionamento e conhecimento

prático das operações. Ainda, empresas incumbentes tendem a ser mais eficientes que novas

entrantes na indústria, podendo oferecer melhores preços e condições a seus clientes. Dado o

maior tempo de atuação, empresas incumbentes de modo geral apresentam processos e rotinas

definidos com maior clareza, bem como sistemas de TIC já em estágio mais avançado de

integração com as operações da empresa. Ainda, as empresas incumbentes tendem a possuir

maior competência no planejamento e operação de soluções logísticas do que novos entrantes,

devido à experiência acumulada.

Os PSLs também apresentam economias de escala significantes, à medida que a maior

escala aumenta a capacidade de investimento e a robustez financeira da empresa. Empresas de

maior porte usualmente têm mais recursos para investir em sistemas mais avançados e

7 O III Panorama da Terceirização Logística no Brasil é discutido em maior profundidade no item 6 do capítulo 4

deste trabalho.

100

robustos de TIC e programas de treinamento e desenvolvimento para seus empregados.

Ainda, a maior robustez financeira e carteira de clientes que normalmente decorrem do maior

porte permitem que o PSL participe da concorrência por contratos mais atrativos (GOI, 2013).

Além disso, empresas maiores são impactadas em menor grau por variações na demanda e

perda de clientes. No entanto, a maior escala também traz problemas de integração,

coordenação e supervisão para o PSL. Caso a empresa não esteja crescendo a partir de

processos claros e difundidos, a maior escala pode resultar em quedas na qualidade do serviço

e até no cancelamento de contratos.

Em adição, o governo tem atuado de modo a aumentar as barreiras de entrada,

reforçando a regulação e supervisão da indústria de PSLs. Por exemplo, a Lei 12.619/2012

(Lei do Descanso) regulamentou a profissão de motorista profissional de veículos

automotores e estabeleceu regras rígidas de segurança, aumentando os custos da atividade de

transporte de cargas.

Os custos de mudança de provedor de serviço logístico são elevados. Segundo o

panorama realizado pela Tigerlog e Guepardo Consultoria (2009), a maior parte dos contratos

firmados junto à PSLs tem prazo de três anos ou mais e envolve multas no caso de rescisão

antecipada. Especialmente no caso de projetos que envolvam significativos investimentos

iniciais, os contratos normalmente incluem proteções e compromissos que diminuem os riscos

do PSL (LACERDA; RIBEIRO, 2003). Por exemplo, os contratos da JSL possuem cláusulas

de garantia de recebimento de volume mínimo e, em caso de cancelamento, a obrigatoriedade

da compra dos ativos específicos ao projeto e a aplicação de multas (JSL, 2012). Ainda, o

processo de substituição de PSL usualmente leva a um período de menor eficiência e maior

instabilidade. O PSL que assumir as operações inicialmente terá que aprender sobre as

operações logísticas de seu cliente, para que então possa progressivamente melhorar a

qualidade dos serviços prestados (GOI, 2013).

Incumbentes devem reagir a novos entrantes na indústria, mas não se deve esperar

uma retaliação vigorosa. Tendo-se em vista que o ritmo de crescimento da indústria deve se

manter nos próximos anos, novos entrantes não necessariamente irão limitar o crescimento

dos incumbentes. No entanto, nos últimos anos, diversas operações de fusões e aquisições têm

ocorrido entre participantes da indústria de PSLs, com empresas comprando concorrentes de

menor porte buscando ampliar sua presença geográfica e base de clientes ou mesmo expandir

seu portfólio de serviços. Incumbentes podem acessar linhas especiais de crédito para

viabilizar operações de fusões e aquisições, utilizando-se de suas maiores bases de ativos

como garantia nos empréstimos.

101

Pelas razões apresentadas acima, pode-se afirmar que a ameaça de novos entrantes na

indústria de provedores de serviços logísticos é baixa.

5.2.5 Rivalidade entre empresas existentes

A indústria de provedores de serviços logísticos tem apresentado taxas de crescimento

bastante atrativas nos últimos anos, expandindo-se de meros 1,6 bilhões de reais em 1999 para

49,0 bilhões de reais em 2012, multiplicando de tamanho em mais de 30 vezes (ILOS, 2013).

Ainda, nos últimos cinco anos a indústria cresceu a uma taxa anual composta de 13,0%. Cerca

de 63% dos provedores de serviços logísticos têm menos que 15 anos de atuação (ILOS,

2013), demonstrando que essa é uma indústria relativamente jovem, com significativo espaço

para crescer e se desenvolver. Essa tendência deve contribuir para amenizar a intensidade da

rivalidade na indústria, à medida que as empresas podem crescer baseadas no crescimento da

indústria e não necessariamente em aumentos de participação de mercado.

Apesar de o crescimento acelerado reduzir a intensidade da rivalidade na indústria de

PSLs, outros fatores contribuem na direção aposta, aumentando a rivalidade. Trata-se de uma

indústria ainda razoavelmente fragmentada, sem a presença de líderes claros que promovam e

incentivem práticas desejáveis para ela como um todo (TECNOLOGÍSTICA, 2013a). Em

adição, parcela razoável dos PSLs são empresas de origem familiar e geridas por membros da

família do fundador (TECNOLOGÍSTICA, 2013a). Nesses casos, a empresa pode se guiar por

objetivos que não a maximização do retorno para seus acionistas ou mesmo adotar práticas

prejudiciais à indústria como um todo, em muitos dos casos devido à falta de profissionalismo

na gestão (BERK; DEMARZO, 2011). Como exemplo, pode-se citar o ciclo vicioso do

transporte rodoviário de cargas (CNT; COPPEAD, 2002). As poucas barreiras de entrada no

segmento motivam autônomos a atuar como transportadores, e as altas barreiras de saída

dificultam sua saída. Sendo assim, cria-se um excesso de oferta e se estabelecem práticas

danosas como baixa manutenção e renovação da frota, transporte acima do peso máximo

permitido e jornadas excessivas de trabalho. Por fim, essas práticas diminuem o frete,

realimentando o aumento de oferta e motivando práticas predatórias, criando externalidades

indesejáveis (CNT; COPPEAD, 2002).

Alguns serviços oferecidos pelos PSLs exigem investimentos iniciais significativos,

elevando as barreiras de saída e podendo ocasionar excesso de capacidade na indústria. No

caso da prestação de serviços de armazenagem, as barreiras de saída são altas, dado que a

atividade requer investimentos significativos em armazéns, equipamento e sistemas. Já nos

102

serviços de transporte, o PSL pode aumentar sua flexibilidade ao optar por terceirizar parte de

sua frota com o uso de agregados, diminuindo sua capacidade ociosa em momentos de menor

demanda.

No caso dos serviços de alto valor agregado, normalmente é necessário que o PSL

desenvolva uma solução customizada para o cliente, exigindo investimentos inicias em ativos

específicos. Nesses casos, as barreiras de saída são altas, dado que o PSL já investiu recursos

materiais e humanos no projeto, podendo até ter recrutado novos empregados ou gasto em

programas específicos de treinamento. Caso o PSL não reduza seus riscos por meio de

cláusula contratual estipulando volumes mínimos, estará em posição de vulnerabilidade em

relação à demanda de seu cliente. Sendo assim, o PSL tenderá a continuar operando mesmo

com retornos baixos ou negativos, buscando em algum momento futuro recuperar seu

investimento inicial.

A base da competição na indústria de PSLs se dá primariamente por preço, mas

conforme o escopo da terceirização torna-se mais amplo e complexo outros aspectos ganham

relevância na escolha do PSL. Nos casos em que o escopo da terceirização envolve apenas a

execução de atividades de menor valor agregado, os compradores baseiam sua escolha

principalmente no preço. No entanto, à medida que o escopo da terceirização começa a

requerer maior competência em gestão logística, outros aspectos ganham relevância, como a

experiência, reputação, infraestrutura, robustez financeira e qualificação de pessoal do PSL.

Inclusive, o processo de terceirização pode ser estruturado de acordo com modelos nos quais

existe uma relação direta entre a remuneração do PSL e a qualidade e eficiência de seu

serviço, como os acordos baseados em Service Level Agreements (SLA) e os mecanismos de

compartilhamento de ganhos (LACERDA; RIBEIRO, 2003).

Por fim, a competição baseada em preço é favorecida nos segmentos focados em

serviços que exigem investimentos iniciais significativos ou cuja operação tenha uma

proporção de custos fixos elevada. Nesses casos, PSLs podem continuar operando mesmo

tendo retornos nulos ou negativos, buscando cobrir seus custos fixos e aguardando a melhora

do volume de negócios. Dessa forma, as barreiras de saída elevadas podem levar ao excesso

de capacidade na indústria, e até à adoção de práticas agressivas de preço por parte de PSLs

visando recuperar investimentos passados ou cobrir os custos fixos.

Os serviços prestados pelos PSLs podem variar desde os básicos, de menor valor

agregado, até os sofisticados, de maior valor agregado. No caso de serviços básicos, como o

transporte rodoviário, existem menores possibilidades de diferenciação, favorecendo a

competição baseada no preço. Já no caso de serviços sofisticados, como a elaboração de

103

projetos logísticos, a diferenciação é grande entre empresas. Nesses casos, aspectos como

inovações introduzidas e melhorias propostas para o processo ganham grande importância,

favorecendo a competição baseada em outras dimensões além do preço.

Pelas razões apresentadas acima, pode-se afirmar que a rivalidade entre empresas

existentes na indústria de provedores de serviços logísticos é moderada.

5.3 Análise da Indústria de provedores de serviços logísticos Pela Visão Baseada em

Recursos

Empresas atuantes na indústria de provedores de serviços logísticos, como quaisquer

companhias, podem ser entendidas como um conjunto de ativos fixos e intangíveis e de

capabilidades (COLLIS; MONTGOMERY, 2008). De acordo com a visão baseada em

recursos da firma, a habilidade da empresa em estabelecer uma vantagem competitiva baseada

em seus recursos e capabilidades, em sustentar essa vantagem competitiva e em se apropriar

dos retornos gerados determinarão os lucros gerados pelos recursos e capabilidades da

empresa (GRANT, 2010).

A seguir, o potencial de três dos principais recursos e capabilidades dos PSLs em gerar

lucros para a empresa são analisados com base na visão baseada em recursos da firma.

5.3.1 Credibilidade e experiência como recursos

Credibilidade e experiência são recursos escassos na indústria de provedores de

serviços logísticos, construídos ao longo da história da firma. As empresas não conseguem

sistematicamente gerenciar e influenciar o processo de acumulação desses recursos. Ainda,

devido às deseconomias da compressão do tempo, o acúmulo de credibilidade e experiência

não pode ser significativamente acelerado, sendo limitado pelo tempo.

Na maior parte dos processos de terceirização logística, as empresas solicitam dados

concretos que atestem a experiência e credibilidade dos PSLs (FIGUEIREDO, 2005). No

entanto, a disponibilidade de informações sobre os diferentes PSLs é limitada, principalmente

devido ao histórico recente de desenvolvimento da indústria. Ainda, PSLs têm dificuldade de

apresentar evidências de seus históricos de desempenho, dado que seus clientes restringem a

divulgação de informações referentes às suas operações, principalmente por receio de que

concorrentes tenham acesso aos dados (BARROS, 2009). Sendo assim, PSLs reconhecidos

104

pelo mercado como possuindo credibilidade e experiência sólidas possuem um grande

diferencial em relação à concorrência.

A credibilidade e experiência dos provedores de serviços logísticos são critérios de

grande importância em processos de seleção (FIGUEIREDO, 2005). Empresas buscando a

terceirização de partes de suas atividades logísticas estão se expondo a riscos significativos de

interrupções e ineficiências em suas cadeias de suprimentos. Sendo assim, é de se esperar que

avaliem criteriosamente a credibilidade e experiência do PSL como forma de reduzir os riscos

a que estão se expondo.

As vantagens competitivas estabelecidas a partir da credibilidade e experiência do PSL

são sustentáveis, pois esses recursos são duráveis, de difícil transferência entre empresas e

imperfeitamente replicáveis. A credibilidade e experiência dos PSLs são duráveis, pois esses

recursos são acumulados com a passagem do tempo. À medida que o PSL desenvolva mais

projetos e expanda sua base de clientes, espera-se que sua experiência e credibilidade perante

o mercado aumentem.

Em adição, a credibilidade e experiência do PSL são dificilmente transferíveis. Ambos

os recursos são de alta complexidade social, pois as empresas não conseguem

sistematicamente gerenciá-los e influenciá-los (BARNEY, 2001). Uma das formas pelas quais

um concorrente poderia comprar esses recursos seria pela aquisição de uma companhia que já

os possui. No entanto, por se tratarem de recursos altamente específicos à firma e socialmente

complexos, o valor deles se depreciaria com a transferência (BARNEY, 2001).

Como credibilidade e experiência são recursos construídos continuamente ao longo da

história da empresa, eles só poderiam ser replicados mediante custos desproporcionais.

Devido às deseconomias da compressão do tempo, o acúmulo de credibilidade e experiência

não pode ser significativamente acelerado pelo simples investimento de mais recursos de

qualquer natureza. O fator limitante para o acumulo desses recursos é o tempo, que não é

compressível (DIERICKX; COOL, 1989).

Por fim, podemos esperar que grande parcela dos lucros gerados pela credibilidade e

experiência seja retida pelo provedor de serviços logísticos, por se tratarem de recursos

inerentes a empresa. Sendo assim, ambos são recursos com grande potencial de estabelecer

uma vantagem competitiva sustentável para o PSL, gerando lucros que em grande parte são

retidos pela empresa.

5.3.2 Desenvolvimento de projetos como capabilidade

105

De modo simplificado, nas etapas iniciais dos processos de terceirização logística, a

contratante disponibiliza uma série de dados sobre suas operações que são utilizados pelos

PSLs na elaboração de suas propostas (FIGUEIREDO, 2005). Após a análise das diversas

propostas e a seleção dos PSLs, os contratos são negociados e assinados (FIGUEIREDO,

2005).

Dessa forma, a capabilidade em desenvolvimento de projetos é de grande relevância

para os PSLs, dado que impacta diretamente na elaboração de propostas e estruturação de

contratos e irá definir a qualidade dos projetos, avaliada em termos das dimensões relevantes

para o processo de terceirização (FIGUEIREDO, 2005). Por exemplo, as propostas podem ser

avaliadas segundo o dimensionamento de pessoas e equipamentos, inovações introduzidas,

melhorias propostas, entre outros (FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE, 2013).

Consequentemente, essa capabilidade influencia significativamente a competitividade das

propostas do PSL em processos de seleção.

Além disso, após a análise e seleção das propostas recebidas, o contratante e o PSL

selecionado assinam um contrato que estabelece os termos e as condições da prestação do

serviço, incluindo itens como prazo, preços, reajustes anuais de preços, escopo dos serviços a

serem prestados, indicadores e metas de desempenho, entre outros (LACERDA; RIBEIRO,

2003). A capabilidade em desenvolvimento de projetos irá então definir a qualidade das

premissas operacionais e econômicas utilizadas pelo PSL na precificação do projeto

desenvolvido, impactando o retorno à ser obtido após o início das operações.

De acordo com a pesquisa Panorama Terceirização Logística no Brasil 20098,

realizada pelo COPPEAD e analisada por Barros (2009), cerca de dois terços dos

entrevistados já haviam tido que substituir um PSL. Os dois principais motivos citados por

essas empresas como motivadores da substituição foram a má qualidade dos serviços

prestados (90%) e a baixa capacidade de propor novas soluções logísticas (56%). Barros

(2009) aponta que diversos PSLs submetem propostas a processos de seleção baseadas em

uma percepção incorreta da operação a ser executada, ou então não conseguem cumprir com

os níveis de serviços prometidos. Esses dados indicam que a capabilidade em

desenvolvimento de projetos ainda é escassa na indústria de PSLs brasileira, levando a

propostas mal estruturadas ou com base em premissas falhas.

A capabilidade em desenvolvimento de projetos é durável, inclusive podendo ser

aprimorada com o acúmulo de experiências pelo envolvimento da empresa em novos projetos.

8 Pesquisa conduzida com 115 empresas pertencentes ao grupo das mil maiores em faturamento no Brasil,

representando 14 diferentes setores da economia.

106

Além de durável, essa capabilidade é imperfeitamente imitável, podendo estabelecer uma

vantagem competitiva sustentável. Trata-se de uma capabilidade que não pode ser transferida

facilmente, dado que é específica à empresa e se baseia em um sistema social complexo.

Ainda que a equipe ligada ao desenvolvimento de projetos pudesse ser transferida, a

dependência desses indivíduos na cultura organizacional e na rede de relacionamentos entre

funções e divisões da empresa (especialmente com a área de operações) tornaria quase

impossível recriar essa capabilidade em outras empresas.

Além disso, a capabilidade em desenvolvimento de projetos é dificilmente replicável,

por se basear em processos e rotinas organizacionais socialmente complexas. Apesar da

qualidade no desenvolvimento de projetos se basear em uma série de ferramentas e

metodologias que podem ser replicadas, poucas empresas possuem as relações sociais e a

cultura que permitem o desenvolvimento dessa capabilidade. O processo de acúmulo dessa

capabilidade pode ser descrito principalmente pelas características de deseconomias da

compressão do tempo e interconexão dos estoques de ativos, o que implica que ela só pode ser

replicada mediante custos desproporcionais. Deseconomias da compressão do tempo indicam

que o fator limitante para o acúmulo da capabilidade em desenvolvimento de projetos é o

tempo, que não é compressível (DIERICKX; COOL, 1989). Ainda, a característica de

interconexão dos estoques de ativos se refere ao fato que o processo de acumulação dessa

capabilidade depende do nível de estoque da capabilidade em gestão das operações. A área de

operações é de grande importância no desenvolvimento de projetos, dado que ela usualmente

participa da definição das premissas operacionais nas quais o projeto irá se basear

(FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE, 2013).

Por fim, podemos esperar que parcela relevante dos lucros gerados pela capabilidade

em desenvolvimento de projetos seja retida pelo provedor de serviços logísticos. Na maior

parte dos casos, essa capabilidade será mais dependente de um sistema de procedimentos e

rotinas socialmente complexas do que de indivíduos específicos. No entanto, em alguns casos

ela pode estar baseada em maior grau nos conhecimentos e competências de indivíduos

ligados ao desenvolvimento de projetos. Nesses casos, o poder de barganha desses indivíduos

pode limitar a parcela dos lucros gerados pela capabilidade em desenvolvimento de projetos

que a empresa retém.

5.3.3 Sistemas de tecnologia de informação e comunicação como recurso e capabilidade

107

Os sistemas de tecnologia de informação e comunicação não são recursos escassos na

indústria de provedores de serviços logísticos. De acordo com ILOS (2013),

aproximadamente 83% dos PSLs utilizam sistema ERP, 93% utilizam sistema WMS e 84%

possuem sistema para consulta pela Internet. Por outro lado, esses sistemas são de grande

relevância na indústria de PSLs, contribuindo no aumento da eficiência e da qualidade do

serviço prestado. Aspectos da infraestrutura do PSL, incluindo recursos de TIC, são avaliados

durante o processo de terceirização logística (ORLANDI; FIGUEIREDO, 2004;

FIGUEIREDO, 2005). Sendo assim, os sistemas de TIC são recursos relevantes e

praticamente se tornaram uma exigência para competir na indústria de PSLs. No entanto, por

estarem amplamente disponível, não possuem a habilidade de estabelecer vantagens

competitivas.

Por outro lado, sistemas de TIC que estejam profundamente interligados ao processo

decisório gerencial da empresa podem constituir uma fonte de vantagem competitiva. Nesses

casos, torna-se mais adequado tratar da capabilidade em sistemas de tecnologia da informação

e comunicação, entendida como um processo e rotina organizacional dentro do PSL. Trata-se

de uma capabilidade escassa, dada a raridade de tal nível de integração entre individuais e

entre individuais e tecnologias. Além disso, a capabilidade é relevante por criar um fluxo

eficiente de informações a nível gerencial, permitir a análise de um alto volume de

informações rapidamente e promover o compartilhamento eficiente dessas informações pela

organização.

A capabilidade em sistemas de tecnologia da informação e comunicação, por não

tratar apenas da implementação do sistema e sim da integração entre individuais e tecnologia,

tem o potencial de sustentar a vantagem competitiva que cria. Enquanto a rapidez das

inovações tecnológicas pode diminuir a durabilidade de sistemas de TIC, a durabilidade da

vantagem competitiva construída pela criação de uma estreita interface tecnologia-gestão é

mais duradoura.

Além de durável, a capabilidade em sistemas de TIC é imperfeitamente imitável,

podendo estabelecer uma vantagem competitiva sustentável. Trata-se de uma capabilidade

específica a empresa baseada em um sistema social complexo, que não pode ser transferida.

Ainda que a equipe de gestão pudesse ser transferida, a dependência dessa equipe na cultura

organizacional e na rede de relacionamentos entre funções e divisões da empresa tornaria

quase impossível recriar a capabilidade em sistemas de TIC. Também, essa capabilidade é

dificilmente replicável, por se basear em processos e rotinas organizacionais socialmente

complexas (BARNEY, 2001). O processo de acúmulo dela pode ser descrito principalmente

108

pela característica de eficiências de massa, o que implica em custos desproporcionais para que

concorrentes a repliquem (DIERICKX; COOL, 1989). Eficiências de massa contribuem para

que a empresa já detentora da capabilidade em sistemas de TIC implementem inovações

tecnológicas mais facilmente e aprimorem sua capabilidade de modo mais acelerado.

Por fim, podemos esperar que grande parcela dos lucros gerados pela capabilidade em

sistemas de TIC seja retida pelo provedor de serviços logísticos. Trata-se de uma capabilidade

organizacional pouco dependente dos conhecimentos e competências de empregados

específicos, e sim da incorporação desses conhecimentos e competências em um sistema de

procedimentos e rotinas socialmente complexas. Sendo assim, o poder de barganha da equipe

de gestão da empresa em relação aos lucros gerados pela capabilidade em sistemas de TIC é

baixo. Sendo assim, a capabilidade em sistemas de TIC tem grande potencial de estabelecer

uma vantagem competitiva sustentável para o provedor de serviços logísticos, gerando lucros

que em grande parte são retidos pela empresa.

5.4 Tese de investimento na indústria de provedores de serviços logísticos para private

equity

A tese de investimento na indústria de provedores de serviços logísticos tem o objetivo

de indicar quais são as oportunidades potencialmente mais atrativas para investimentos de

private equity na indústria. Mais especificamente, este item pretende realizar recomendações

que orientem a gestora na qual o autor realizou seu estágio tanto na originação9 quanto na

análise de oportunidades de investimento na indústria de PSLs. Sendo assim, todas as

recomendações realizadas a seguir possuem como contexto um investimento de private

equity.

A indústria de provedores de serviços logísticos tem apresentado taxas de crescimento

bastante atrativas nos últimos anos, expandindo-se de meros 1,6 bilhões de reais em 1999 para

49,0 bilhões de reais em 2012, multiplicando de tamanho em mais de 30 vezes (ILOS, 2013).

Ainda, nos últimos cinco anos a indústria cresceu a uma taxa de crescimento anual composta10

de 13,0%. Cerca de 63% dos provedores de serviços logísticos têm menos que 15 anos de

atuação (ILOS, 2013), demonstrando que essa é uma indústria relativamente jovem, com

significativo espaço para crescer e se desenvolver. 9 Originação é o termo utilizado por profissionais atuantes na indústria de private equity para se referir à

identificação de negócios que têm grande potencial de se tornarem oportunidades de investimento. 10

A taxa de crescimento anual composta é definida como a média geométrica das taxas de crescimento anuais

durante o período considerado.

109

É importante ressaltar que o crescimento deve ser mais acelerado no segmento de

serviços sofisticados, apoiado pelo menor nível de terceirização logística nesse segmento e

pela maior propensão das empresas em terceirizar atividades logísticas de maior valor

agregado à medida que reconhecem os benefícios gerados pela terceirização de atividades de

menor valor agregado. Ainda, o desenvolvimento da indústria de PSLs tem resultado em

companhias mais bem preparadas em termos de recursos e capabilidades para a prestação de

serviços mais complexos (BARROS, 2009).

As oportunidades mais atrativas para investimentos de private equity na indústria de

provedores de serviços logísticos são as empresas focadas em serviços de maior valor

agregado e com maiores possibilidades de diferenciação. Esse segmento do mercado deve

apresentar melhores taxas de retorno sobre o capital investido, devido ao menor poder de

negociação de compradores e a menor rivalidade entre empresas existentes. Por envolver

projetos de terceirização com escopos mais abrangentes e complexos, o custo de mudança é

maior. Também, pelas maiores possibilidades de diferenciação do serviço, a competição não

ocorre estritamente por preço. Além disso, como mencionado anteriormente, é o segmento

que deve apresentar maiores taxas de crescimento, amenizando a rivalidade entre empresas

existentes.

Projetos de terceirização logística mais complexos são regidos por contratos que, caso

bem estruturados, garantem um nível adequado de retorno ao longo do projeto e incluem

cláusulas de proteção limitando os prejuízos em caso de término antecipado. Além disso, à

medida que o escopo da terceirização começa a requerer maior competência em gestão

logística, outros aspectos como a credibilidade, experiência, infraestrutura, robustez financeira

e qualificação de pessoal do PSL ganham relevância no processo decisório.

Empresas de maior porte são mais competitivas na indústria de PSLs devido aos

ganhos de escala e à maior capacidade de investimento. De modo geral, empresas maiores

podem direcionar mais recursos para programas de recrutamento e treinamento. Ainda,

possuem maior capacidade de investimento em sistemas de tecnologia da informação e

comunicação e em máquinas e equipamentos, possivelmente resultando em melhor nível de

eficiência. Sistemas de TIC já são amplamente utilizados na indústria, com 83% dos PSLs

utilizando ERP, 93% utilizando WMS e 84% utilizando sistemas para consulta pela Internet

(ILOS, 2013). No entanto, sistemas de TIC que estejam profundamente interligados ao

processo decisório gerencial da empresa são escassos na indústria e podem constituir uma

vantagem competitiva sustentável.

110

Estratégias de crescimento por meio de aquisições são uma importante forma de

ampliar a base de clientes e a presença geográfica dos PSLs, acelerando o crescimento da

empresa. Inclusive, diversas aquisições têm sido anunciadas na indústria recentemente, como,

por exemplo, a aquisição da Expresso Jundiaí pela Femsa Logística e da Rapidão Cometa pela

FedEx em 2013. Ainda, capabilidades em sistemas de TIC e desenvolvimento de projetos

possuem importante papel nessa estratégia, estabelecendo uma plataforma sólida para a

integração de aquisições.

É importante mencionar que a gestora de PE na qual o autor realizou seu estágio tem

como estratégia o investimento em empresas médias e média-grandes, conforme a

classificação adotada pelo BNDES (2011). Dessa forma, é de se esperar que existam limitadas

oportunidades de investimento para a gestora na indústria de provedores de serviços

logísticos, especialmente pela preferência por empresas focadas em serviços diferenciados e

de maior valor agregado.

Além disso, a gestora busca ser uma investidora proativa, no sentido de investir tanto

capital financeiro quanto capital humano nas empresas. Por exemplo, a gestora apoia as

empresas investidas na definição e execução de suas estratégias, por meio do envolvimento de

membros de sua equipe tanto no nível estratégico quanto operacional. Sendo assim, uma das

possibilidades seria o investimento em uma empresa que não necessariamente esteja focada

em serviços de maior valor agregado, com o trabalho posterior junto a ela na redefinição e

implementação de uma nova estratégia.

111

6 CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objetivo principal analisar a atratividade da indústria de

provedores de serviços logísticos brasileira para investimentos de private equity. Além disso,

o trabalho pretendeu também elaborar uma tese de investimentos na indústria, propondo

recomendações de investimento para a gestora de fundos de PE na qual o autor estagiou.

As análises realizadas para a indústria de provedores de serviços logísticos basearam-

se nos conceitos e ferramentas discutidos ao longo da revisão bibliográfica, abordando tanto

aspectos estruturais quanto fontes de vantagens competitivas sustentáveis na indústria. A

partir do entendimento da forma de atuação da indústria de private equity e do estudo e

análise da indústria de provedores de serviços logísticos, foram feitas recomendações de

modo a orientar a gestora tanto na identificação quanto na análise de oportunidades de

investimento na indústria de PSLs.

Verificou-se que a indústria de provedores de serviços logísticos tem apresentado

taxas de crescimento bastante atrativas, crescendo a uma taxa anual composta de 13,0% de

2007 a 2012 (ILOS, 2013). Ainda, cerca de 63% dos provedores de serviços logísticos têm

menos de quinze anos de atuação (ILOS, 2013), mostrando que essa é uma indústria

relativamente jovem, com significativo espaço para crescer e se desenvolver. Além disso, a

análise da indústria indicou que o crescimento deve ser mais acelerado no segmento de

serviços sofisticados, apoiado pela maior propensão das empresas em terceirizar atividades

logísticas de maior valor agregado, à medida que reconhecem os benefícios gerados pela

terceirização de atividades de menor valor agregado.

O trabalho identificou que as oportunidades mais atrativas para investimentos de

private equity na indústria de provedores de serviços logísticos são as empresas focadas em

serviços de maior valor agregado e com maiores possibilidades de diferenciação. As análises

realizadas sugerem que esse segmento deve apresentar melhores taxas de retorno sobre o

capital investido devido ao menor poder de negociação de compradores e à menor rivalidade

entre empresas existentes.

Em adição, o trabalhou apontou que empresas de maior porte tendem a ser mais

competitivas na indústria de PSLs devido aos ganhos de escala e à maior capacidade de

investimento. De modo geral, empresas de maior porte podem direcionar mais recursos para

programas de recrutamento e treinamento e possuem maior capacidade de investimento em

sistemas de tecnologia da informação e comunicação e em máquinas e equipamentos mais

modernos. Ainda, as análises realizadas indicaram o valor da credibilidade e experiência

112

entendidas como recursos e do desenvolvimento de projetos e sistemas de TIC entendidos

como capabilidades para os PSLs, pelo fato desses recursos e capabilidades possuírem o

potencial de estabelecer vantagens competitivas sustentáveis.

Espera-se que o trabalho contribua para ampliar o entendimento da indústria de

provedores de serviços logísticos brasileira por parte da gestora na qual o autor realizou seu

estágio. Sendo assim, ao aprofundar sua compreensão das principais oportunidades e desafios

da indústria, a gestora estará melhor posicionada para identificar oportunidades atrativas de

investimento nela. De modo mais amplo, acredita-se também que o trabalho possa colaborar

para aumentar o interesse de outros investidores pela indústria de PSLs, contribuindo para seu

crescimento e dinamismo. A expansão da indústria de PSLs, por sua vez, pode beneficiar toda

a economia brasileira, principalmente por contribuir para a redução dos custos e melhora dos

níveis de serviços logísticos de seus clientes. Além disso, os PSL realizam investimentos

significativos em instalações, equipamentos e sistemas de TIC, beneficiando a indústria a

montante.

No entanto, é necessário ressaltar que devido à indústria de PSLs no Brasil ter se

desenvolvido significativamente apenas nos últimos anos, a disponibilidade de informações

sobre ela e sobre as empresas que a compõe é ainda pequena. Além disso, o acesso aos dados

completos de vários estudos e pesquisas disponíveis no mercado é pago, o que limitou o

desenvolvimento deste trabalho. Sendo assim, um aprofundamento do trabalho poderia ser

realizado mediante a compra dos estudos e pesquisas mais relevantes, como as publicações

sobre o tema do Instituto ILOS e COPPEAD.

Finalmente, sugere-se a realização de novos estudos buscando aprofundar a

compreensão do segmento da indústria de PSLs focado em serviços diferenciados e de alto

valor agregado, identificado como de maior atratividade para investimentos de private equity.

Seria então possível o aprofundamento da compreensão do estágio de desenvolvimento e do

ambiente competitivo desse segmento da indústria de PSLs brasileira. Nesse sentido, seria de

grande relevância identificar as principais empresas atuantes no segmento e suas estratégias

competitivas, incluindo a análise de informações como diferenciais competitivos, proposta de

valor e métricas financeiras das empresas identificadas.

113

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ANEXO A – Estimativa de investimentos futuros em infraestrutura no Brasil

Grandes programas de infraestrutura em infraestrutura foram anunciados pelo governo

brasileiro ao longo dos últimos dois anos. O valor dos investimentos envolvidos nesses

programas será próximo de R$ 470 bilhões nos próximos anos, não incluindo as grandes

obras de infraestrutura urbana necessárias para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de

2016 (MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2013).

Figura 16 – Investimento em concessões planejadas conforme estimativa do Ministério da Fazenda do Brasil.

Fonte: Ministério da Fazenda (2013). Nota: * Inclui a concessão de aeroportos.

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ANEXO B – Demanda por melhorias na infraestrutura brasileira

Figura 17 – Demanda por melhorias na infraestrutura brasileira.

Fonte: Ministério da Fazenda (2013).