dieta, uso do habitat e endoparasitas fecais do lobo ... · amar o que se faz e fazer bem feito....

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA DOS VERTEBRADOS Dieta, uso do habitat e endoparasitas fecais do lobo-guará na Serra da Calçada, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais Rodrigo Lima Massara Belo Horizonte 2009

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA DOS VERTEBRADOS

Dieta, uso do habitat e endoparasitas fecais do

lobo-guará na Serra da Calçada, região metropolitana de

Belo Horizonte, Minas Gerais

Rodrigo Lima Massara

Belo Horizonte

2009

Rodrigo Lima Massara

Dieta, uso do habitat e endoparasitas fecais do lobo-

guará na Serra da Calçada, região metropolitana de Belo

Horizonte, Minas Gerais

Orientador: Dr. Adriano Garcia Chiarello

Belo Horizonte

2009

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Zoologia dos Vertebrados da

Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre em Zoologia.

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Massara, Rodrigo Lima

M414a Dieta, uso do habitat e endoparasitas fecais do lobo-guará na Serra da Calçada,

região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais / Rodrigo Lima Massara.

Belo Horizonte, 2009.

68f. : Il.

Orientador: Adriano Garcia Chiarello

Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Zoologia dos Vertebrados.

1. Guará (Mamífero) – Dieta alimentar. 2. Cerrado – Serra da Calçada –

Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG). 3. Ecoturismo. 4. Kernel,

Funções de. 5. Parasitas. 6. Impacto ambiental. I. Chiarello, Adriano Garcia. II.

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação

em Zoologia dos Vertebrados. III. Título.

CDU: 599.742.1

Rodrigo Lima Massara

Dieta, uso do habitat e endoparasitas fecais do lobo-guará na Serra da Calçada, região

metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Zoologia dos Vertebrados da

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

Defesa de dissertação em 06/05/2009

À minha tia Silvana, por me ensinar que tudo é possível

quando o esforço é digno de conquista...

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Antonio Massara Filho e Sandra Maria de Lima Massara por todo amor,

carinho e por me ensinarem a ser persistente nos meus objetivos, me ensinando o valor de

amar o que se faz e fazer bem feito. Por me formarem como pessoa ética e humana. Se hoje

estou atingindo mais uma meta da minha vida é porque vocês sempre estiveram ao meu

lado incondicionalmente. Amo vocês;

Ao meu orientador e amigo Dr. Adriano G. Chiarello, pelos ensinamentos em

conservação, pela disponibilidade em orientar, pelo exemplo de pesquisador ético e

comprometido em seu trabalho. Muito obrigado por me ensinar o real valor da pesquisa, da

importância e da responsabilidade de nós pesquisadores frente às questões biológicas;

À Ana Maria de Oliveira Paschoal (Aninha) por ser mil e uma utilidades.... ser o grande

amor de minha vida, companheira, grande amiga e pesquisadora colaboradora. Por sua

dedicação e incentivo. Esta é mais uma conquista em nossas vidas. A dissertação é nossa!;

À Julianna Santos e Luiza Siao pelo empenho, amizade, dedicação ao projeto e ajuda na

coleta de dados;

Ao amigo Dr. André Hirsh, pelos conselhos, auxílio nas análises espaciais,

profissionalismo e ética;

Ao professor Dr. Marcos Pezzi Guimarães, Juliana Santos, Udson e Maria pelo auxílio

nas análises de parasitologia;

À Dra. Professora Sônia Aparecida Talamoni por ceder para consulta sua coleção de

pequenos mamíferos;

Ao professor Dr. Alexandre Reis Percequillo pelo auxílio na identificação dos roedores;

Ao professor Dr. João Renato Stehmann pelo auxílio na identificação das amostras

vegetais;

À amiga Dra. Luciana Barreto pelo auxílio na identificação dos répteis;

Ao Dr. Robert Jonh Young pela troca de informações;

Aos meus grandes amigos Thiago Lima Massara; Maria Fernada Lima Nascimento;

Rafael Lima Nascimento; Bruna Lima Dayrell; Thiago Miceli de Oliveira Paschoal;

Matheus Miceli de Oliveira Paschoal; Ana Flávia Salgado e Nayara Gomes por

“curtirem” as aventuras do mestrado juntamente comigo e com a Ana;

Ao meu avô e minhas avós pela compreensão, carinho e apoio. Vocês são um exemplo para

mim;

À turma do café de sexta: Vó Nini, Papai, Zezinho, Mônica, Célia e Camila. Vocês são

demais!!! O melhor dia da semana sem dúvida alguma. As conversas foram fundamentais

para que pelo menos naquele momento eu me esquecesse um pouco das preocupações e

estresse do Mestrado.

À Maristela Paschoal e Luiz Paschoal pelo carinho, pelos conselhos e pela amizade;

Ao Miguel Cançado pela a amizade e pelos valiosos conselhos na identificação dos

molares dos roedores;

Ao Antônio Meira Linares e à Valeska Buchemi pela a ajuda em campo e amizade;

Ao CNPq pela bolsa concedida a mim e ao Fundo de Incentivo a Pesquisa da PUC-Minas

pela bolsa de iniciação científica concedida à Julianna Santos;

À todos os companheiros do mestrado;

Aos amigos Renato Sathler Avelar e Danielle Marquete Vitelli Avelar por terem me

iniciado na vida acadêmica;

Aos grandes amigos Tonhão, Passarinho, Marcó, Deila, Miguel Rico Barroeta, Mírian

Perilli; pelas palavras de amizade e incentivo;

A todos os meus amigos que de alguma forma contribuíram para a realização deste projeto

OBRIGADO A TODOS VOCÊS!!!!

“ Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Porém, há os que lutam toda a vida. Esses são os imprescindíveis ” (Bertolt Brecht)

Resumo

O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é considerado como “Vulnerável” na Lista da

Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Entre as principais ameaças estão a perda e

fragmentação de hábitat, invasão de espécies exóticas, doenças, ecoturismo e atividades de

mineração. A maioria dos estudos realizados com o lobo-guará até o momento foi feita em

áreas relativamente preservadas, a grande maioria em Unidades de Conservação. Apesar de

relativamente numerosos, uma leitura atenta destes trabalhos demonstra que ainda existem

importantes lacunas de conhecimento. Uma destas se refere ao estudo da espécie fora de

unidades de conservação, onde a espécie está sujeita a vários impactos de origem antrópica.

Os principais objetivos do presente estudo foram estudar a ecologia trófica, a infecção

parasitária e locais preferenciais de marcação territorial do lobo-guará em um trecho da

Serra da Calçada, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. O

local é impactado por atividades de mineração, ecoturismo e proximidade de rodovias. A

dieta do lobo-guará, quantificada a partir da análise de 95 amostras fecais coletadas de

Outubro de 2006 a Janeiro 2008, consistiu basicamente de pequenos mamíferos (presente

em 92,58% das amostras fecais e em 16,21 % dos itens) e de Solanum lycocarpum

(presente em 89,47% das amostras fecais e em 12,23% dos itens). A dieta foi semelhante

entre as estações seca e chuvosa, exceto pelo consumo de invertebrados, que foi

significativamente maior na estação chuvosa (P=0,0027), provavelmente porque nesta

época há um aumento das populações de invertebrados devido ao aumento da umidade e da

temperatura. A cobertura do solo dos locais onde as fezes foram encontradas, analisada

através de ARC-GIS, não diferiu significativamente da cobertura do solo da paisagem

analisada. Entretanto, as áreas com maior concentração de fezes, definidas a partir de

análise via método de Kernel, apresentaram uma proporção de áreas queimadas maior do

que o esperado. Isto sugere que o lobo tem preferência por estas áreas para a marcação de

seu território, provavelmente porque estas podem possuir uma alta abundância de roedores

granívoros e folívoros, como já observado em outros estudos. Os principais ovos de

parasitas encontrados nas fezes do lobo-guará foram do Filo Acanthocephala (80,95%) e da

Família Trichuridae (78,57%). A infecção de C.brachyurus por estes ovos pode estar

intrinsecamente ligada à dieta da espécie, já que os invertebrados e os roedores,

respectivamente, atuam como hospedeiros intermediários destes parasitas. Os resultados

indicam que apesar dos impactos presentes e da proximidade a um grande centro urbano, a

área de estudo abriga uma população residente de C. brachyurus com dieta muito

semelhante à de locais mais preservados, indicando que a espécie tem grande capacidade de

se adaptar aos ambientes alterados pelo homem.

Palavras-chave: área impactada, Canga, ecoturismo, Kernel, parasitas.

Abstract

The maned Wolf (Chrysocyon brachyurus) is considered „Vulnerable” in the Brazilian Red

List. Habitat loss and fragmentation, invasion of exotic species, diseases, ecotourism and

mining activities are among the main threats. Most studies about the species have been

carried out in relatively undisturbed areas, mainly nature preserves. Although relatively

numerous a careful look at these studies reveal that there are still some important gaps. One

of these refers to the study of the species outside nature preserves, where it is subject to

several anthropogenic impacts. The main objectives of the present study are to analysis the

trophic ecology, the parasite infection and the preferred sites of fecal deposition of the

maned Wolf in a tract of Calçada Ridge located in the metropolitan region of Belo

Horizonte, Minas Gerais. The study site is disturbed by mining activities, ecotourism and

road proximity. The diet, quantified through the analysis of 95 fecal samples collected from

October 2006 until January 2008, consisted basically of small mammals (92.58% of fecal

samples and 16.21 % of items) and of Solanum lycocarpum (89.47% of fecal samples and

12.23% of items). The diet was similar between seasons, except by the ingestion of

invertebrates, which was significantly higher during the rainy season (P=0.0027), probably

because insect population increase due to higher humidity and temperature during this

season. The soil cover of the places where fecal samples were found was analyzed with

ARC-GIS and did not differ significantly of the soil cover of the sampled landscape.

However, the areas with higher concentration of feces, defined via Kernel method,

presented a higher than expected proportion of burned areas. This suggests that the maned

wolf prefer these areas, probably because they harbor higher abundance of granivore and

folivore rodents, as has been observed by other authors. The main parasite eggs found in

feces were of the Phylum Acanthocephala (80.95%) and of the family Trichuridae

(78.57%). The infection of C.brachyurus by these parasites might be intrinsically linked to

the diet since invertebrates and rodents are intermediate hosts of these parasites,

respectively. The results indicate that although the study area is impacted and close to a

huge urban center, it harbors a resident population of C. brachyurus which presents a diet

very similar to that found in less disturbed places, indicating that the maned Wolf has a

high capacity of adaptation to environments disturbed by man.

Keywords: Canga, disturbed area, ecotourism, Kernel, parasites.

Lista de Figuras

Figura 1: Localização e número de estudos sobre ecologia, dieta e comportamento do lobo-

guará já realizados no Brasil. A área de distribuição da espécie é mostrada em cinza

(segundo Rodden et al., 2004)..............................................................................................19

Figura 2: Imagem de satélite Landsat 5 mostrando a área de estudo (localizada na Serra da

Calçada) delimitada ao norte pelos condomínios “Retiro das Pedras” (1) e “Serra dos

Manacás” (2), ao sul pelo condomínio “Alphavile” (3) e pela mina de Pau-Branco (4), a

leste pela Rodovia BR-040 (5) e a oeste pelas escarpas da Serra da Calçada (6). Retângulo

(em branco) equivale à área foco, utilizada nas análises posteriores................................... 22

Figura 3: Relevo da área de estudo (localizada na Serra da Calçada). Retângulo (em

branco) equivale à área foco, utilizada nas análises posteriores...........................................23

Figura 4: Impactos antrópicos (A- Erosão; B- Condomínio fechado; C e D- Mineração) e

vegetação típica (E,F,G,H) da Serra da Calçada...................................................................25

Figura 5: Procura por amostras fecais de lobo-guará na Serra da Calçada, entre Outubro de

2006 e Janeiro de 2008. Todas as fotos do autor exceto a primeira (Ana Maria O.

Paschoal)...............................................................................................................................27

Figura 6: Amostras fecais de lobo-guará encontradas na Serra da Calçada, durante a

realização do estudo entre Outubro de 2006 à Janeiro de 2008............................................28

Figura 7: Área foco (retângulo), gerada a partir das rotas e trilhas percorridas, durante o

período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008, usada para gerar o mapa de cobertura

vegetal e uso do solo (MCVUS)...........................................................................................35

Figura 8: Localização das amostras fecais de C.brachyurus coletadas na Serra da Calçada,

durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008.....................................................37

Figura 9: Curva de acúmulo de itens baseando-se no número de amostras de lobo-guará

coletadas na Serra da Calçada, durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008.

Em vermelho, a curva propriamente dita, baseada na estimativa de riqueza observada (Mao

Tau). Em linhas verticais pretas, o desvio padrão.................................................................41

Figura 10: Ovos de helmintos encontrados nas amostras fecais de lobo-guará na Serra da

Calçada, durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008: 1) Acantocephala, 2)

Hymenolepididae, 3) Trichuridae, 4) Toxocara sp., 5) Ancylostomidae, 6)

Physalopteridae.....................................................................................................................42

Figura 11: Área focal mostrando os tipos de cobertura vegetal e uso do solo (CVUS) da

paisagem................................................................................................................................44

Figura 12: Contornos gerados usando o método Kernel com 100% das amostras fecais de

lobo-guará coletadas na Serra da Calçada, durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro

de 2008. Tons de azul refletem maior concentração e de laranja, menor concentração de

amostras fecais......................................................................................................................45

Figura 13: Áreas núcleos definidas pelo método Kernel contendo 50% ou mais da

densidade máxima de amostras fecais (0,323 a 0,645 amostras fecais/ha) de lobo-guará

coletadas na Serra da Calçada, durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro de

2008.......................................................................................................................................46

Figura 14: Um dos cães domésticos detectados durante a realização do estudo na Serra da

Calçada, durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008......................................54

Lista de Tabelas

Tabela 1: Alguns importantes estudos já realizados sobre ecologia, dieta alimentar e

conservação do lobo-guará no Brasil....................................................................................17

Tabela 2: Freqüência de ocorrência (% fezes) e porcentagem total de ocorrência (% itens)

de cada item alimentar encontrado nas fezes de lobo-guará na Serra da Calçada, durante o

período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008.....................................................................38

Tabela 3: Massa (g), número de itens (n) e biomassa ingerida (total em g e em %) de cada

item alimentar encontrado nas fezes de lobo-guará na Serra da Calçada, durante o período

de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008..................................................................................40

Tabela 4: Freqüência de ocorrência nas fezes, número de fezes que ocorreram o táxon

(entre parênteses) e morfometria (comprimento e largura, em microns) dos endoparasitas

identificados nas fezes do lobo-guará na Serra da Calçada, durante o período de Outubro de

2006 à Janeiro de 2008..........................................................................................................42

Tabela 5: Área e respectiva porcentagem das diferentes classes de CVUS presentes na área

foco e nas áreas núcleos consideradas (0,323 a 0,645 amostras fecais/ha)...........................47

Tabela 6: Comparação na proporção de itens vegetais encontrados em outros estudos de

dieta de C.brachyurus, com o presente estudo realizado na Serra da Calçada (dados em

negrito)..................................................................................................................................51

Sumário

1-INTRODUÇÃO...............................................................................................................14

2- MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................................20

2.1- Área de estudo..............................................................................................................20

2.2- Coleta de dados.............................................................................................................26

2.3- Análise dos dados.........................................................................................................28

2.3.1- Dieta...........................................................................................................................28

2.3.2- Parasitologia...............................................................................................................31

2.3.3- Cobertura do solo.......................................................................................................32

3- RESULTADOS ............................................................................................................36

3.1- Dieta.............................................................................................................................36

3.2- Parasitologia.................................................................................................................41

3.3- Cobertura do solo.........................................................................................................43

4- DISCUSSÃO.................................................................................................................47

4.1 Dieta..............................................................................................................................47

4.2 Parasitologia..................................................................................................................52

4.3 Cobertura do solo..........................................................................................................56

5- CONCLUSÃO..............................................................................................................57

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................58

APÊNDICES....................................................................................................................66

Apêndice 1.........................................................................................................................66

Apêndice 2.........................................................................................................................67

Apêndice 3.........................................................................................................................68

14

1- INTRODUÇÃO

A perda, fragmentação e isolamento de habitats resultantes de atividades antrópicas,

constituem as maiores ameaças aos mamíferos terrestres no Brasil. Estas modificações no

ambiente são relacionadas ao desenvolvimento econômico mal planejado, através de áreas

cultivadas e urbanas, aumento da densidade populacional humana, poluição atmosférica e

aquática e aumento da malha rodoviária (Costa et al., 2005). Dentre os mamíferos, os

carnívoros são importantes componentes dos ecossistemas, controlando populações de suas

presas, contribuindo para a dispersão de sementes e influenciando na diversidade da

comunidade (Emmons, 1987; Fonseca & Robinson, 1990; Terborgh, 1992). Os grandes

carnívoros são considerados como espécies-chave por manter e restaurar a diversidade e a

resiliência dos ecossistemas (Soulé & Terborgh, 1999; Terborgh et al., 1999), entretanto,

são vulneráveis aos processos de fragmentação e altamente susceptíveis a extinção em

fragmentos pequenos e isolados (Chiarello, 1999; Chiarello, 2000; Cullen Jr. et al., 2000;

Negrão & Valladares-Pádua, 2006).

O lobo-guará, Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815), é o maior representante da

família Canidae na América do Sul (Einsenberg & Redford, 1999). É um animal com

características distintas, como orelhas e pernas bem desenvolvidas e com uma coloração

marrom avermelhada, características as quais são adaptações para o hábito cursorial e

período de atividade crepuscular e noturna (Dietz, 1984). Percorre grandes distâncias

diariamente e ocupam grandes áreas de vida, que variam de 21,7 a 132 km² (Dietz, 1984;

Carvalho & Vasconcellos, 1995; Rodrigues, 2002; Mantovani et al., 2007). No Brasil, sua

distribuição vai desde o extremo sul da bacia amazônica, passando pelo planalto central e

chegando até o Rio Grande do Sul (Einsenberg & Redford, 1999; Motta-Junior et al., 2002;

Rodden et al., 2004). Áreas agrícolas, pastagens, plantações de eucaliptos, Pinus e campos

antrópicos abandonados podem ser utilizados, tanto para forragear quanto para descansar

(Santos et al., 2003, Mantovani, 2001; Rodrigues et al., 2007; Motta-Junior et al., 2002).

Na Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de extinção, o lobo-guará é considerado

“Vulnerável” (Machado et al., 2008). Entre as principais ameaças estão perda e

fragmentação de hábitat, perda de variabilidade genética, invasão de espécies exóticas,

caça, doenças (virais, bacterianas e parasitárias), ecoturismo, falta de conhecimento da

15

população, monocultura e atividades de mineração (Machado et al., 2005;

Drummond et al., 2005). Outro fator preocupante, segundo Rodrigues (2002), é a alta taxa

de atropelamento nas malhas rodoviárias ao longo das áreas de ocorrência do lobo-guará.

Vale destacar aqui as doenças infecciosas que, associados aos impactos antrópicos

já relatados, são particularmente relevantes para a conservação da espécie (Curi, 2005).

Além disto, doenças podem ser devastadoras quando ocorrem em populações pequenas e

em declínio, que já sofrem de má nutrição, estresse ou consangüinidade (Curi, 2005).

Vários fatores ecológicos e epidemiológicos afetam a severidade e a disseminação de

doenças: letalidade da doença, modo de transmissão predominante e capacidade de infectar

múltiplos táxons. O entendimento de tais padrões pode ajudar a desenvolver medidas de

prevenção e controle de futuros surtos de doenças (Curi, 2005). A análise dos endoparasitas

fecais, por exemplo, são de baixo custo e podem gerar dados interessantes referentes ao

grau de parasitemia em uma determinada espécie, auxiliando assim na prevenção e

conseqüente proteção das espécies silvestres (Pezzi Guimarães com. pess.) Entretanto,

existem relativamente poucos estudos a respeito de parasitos de espécies silvestres

neotropicais (Dietz, 1984; Vicente et al., 1997; Maia & Gouveia, 2002; Mattos, 2003;

Curi, 2005; Mattos et al., 2005; Santos, 2008), sendo poucos trabalhos realizados em

ambiente natural (Dietz, 1984, Mattos, 2003; Curi, 2005; Mattos et al., 2005;

Santos, 2008). Sabe-se, porém, que os canídeos silvestres são potencialmente susceptíveis a

várias doenças comuns de cães domésticos (Fowler, 1986; Deem & Emmons, 2005). Nesse

contexto é de extrema importância conhecer o status epidemiológico das populações de

canídeos silvestres e de cães domésticos para prevenir e evitar possíveis óbitos e surtos

epidêmicos causados por doenças comuns a ambas (Curi, 2005; Deem & Emmons, 2005).

A utilização de ferramentas de análises espaciais, como por exemplo, o ArcGis

(ESRI, 2008), são também fundamentais para um melhor estudo do ambiente em que a

espécie está inserida, sendo possível extrair informações relacionadas à cobertura do solo,

vegetação e outros, que associados à pontos de ocorrência da espécie, geram por exemplo,

dados de preferência de sítios de utilização (Hirsch, no prelo; Jensen, 1996). Informações

como esta são importantes para a preservação e conservação de áreas onde a espécie ocorre.

A maioria dos estudos realizados com o lobo-guará até o momento foi feita em áreas

relativamente preservadas, sendo a grande maioria dessas, localizadas em Unidades de

16

Conservação (Tabela 1). A maioria desses trabalhos está relacionada a estudos de dieta

(Tabela 1). A concentração neste tipo de estudo se deve à facilidade de coleta e análise das

amostras e ao baixo custo do estudo (Ibama, 2004). Seguem-se a esta categoria estudos de

distribuição e radiotelemetria (Ibama, 2004). Apesar de relativamente numerosos, uma

leitura atenta destes trabalhos demonstra que ainda existem importantes lacunas no

conhecimento.

Primeiramente, se sobrepormos aos trabalhos já realizados com a espécie, a atual

distribuição da mesma, proposta por Rodden et al. (2004), percebemos que existem muitos

locais de ocorrência do lobo-guará que não foram estudados (Figura 1) e onde a coleta de

dados, seja de dieta ou de qualquer outra natureza, poderia gerar novas informações

preciosas para a conservação deste canídeo. Desta forma, o que hoje a comunidade

científica sabe sobre a espécie no Brasil, se restringe a núcleos de informações não

inteiramente representativos da distribuição do lobo-guará como um todo (Figura 1).

Outra lacuna no conhecimento refere-se ao estudo da espécie fora de unidades de

conservação, onde a mesma está sujeita a vários impactos de origem antrópica. Isto é

importante, pois nos últimos anos a presença do lobo-guará tem sido detectada em muitas

localidades alteradas ou mesmo onde outrora não existia. Recentemente, por exemplo, um

exemplar da espécie foi capturado na região de Afonso Cláudio, dentro do domínio da

Floresta Atlântica no oeste do Espírito Santo (Lourenzutti & Almeida, 2006). Não se sabe

se estas ocorrências de certa maneira inesperadas se devem a uma invasão temporária ou se

de fato a espécie está se adaptando à paisagem alterada pelo homem. Deste modo, estudos

detalhados da ecologia da espécie nestes locais poderão indicar o seu grau de flexibilidade

ecológica e conseqüentemente, fornecer uma visão mais acurada do real status

conservacionista da espécie.

17

Tabela 1: Alguns importantes estudos já realizados sobre ecologia, dieta alimentar e conservação

do lobo-guará no Brasil.

Local UC? Estado Área (ha) Enfoque Fonte

Rancho Rio Pratudão Não BA 20.000 D.A.

D.A./E.P.

Bianchi et al., 2000

Juarez & Marinho-Filho, 2002

RPPN SESC Pantanal Sim MT 106.000 E.P Trolle et al., 2007

Parque Nacional das Emas Sim GO 132.000 D.A. Jácomo et al.,2004

Fazenda Água Limpa* Sim DF 4062 D.A. Motta-Junior , et al., 1996

Estação Ecológica de Águas

Emendadas Sim DF 10.500 D.A.

Bianchi et al., 2000

Rodrigues et al.,2007

Estação Ecológica de Jataí Sim SP 4.532 D.A.

Motta-Junior,2000

Motta-Júnior et al.,2002

Estação Ecológica de Itirapina Sim SP 2.300 D.A.

Motta-Júnior et al.,2002

Bueno et al.,2002

Bueno & Motta-Júnior,2006

Estação Experimental de Itapetininga Não SP 6.706 D.A. Motta-Júnior et al.,2002

Bueno & Motta-Júnior,2004

Fazenda Fortaleza Não SP 10.000 D.A. Motta-Júnior et al.,2002

Parque Nacional Serra da Canastra Sim MG 71.525 E.P./D.A/C Dietz,1984

D.A. Motta-Júnior et al.,2002

Parque Estadual Ibitipoca Sim MG 1488 D.A. Aragona & Setz,2001

Parque Florestal Salto e Ponte Não MG 797 D.A. Motta-Júnior et al.,2002

Belentani et al.,2005

Estação Ecológica de Santa Bárbara Sim MG 2.712 D.A. Motta-Júnior et al.,2002

RPPN Galheiros Sim MG 2847 E.P./C.

Sábato et al.,2006

Coelho et al., 2007

Melo et al.,2007

RPPN Santuário do Serra do Caraça Sim MG 10.188 D.A.

E.P.

Silva & Talamoni, 2003

Silva & Talamoni, 2004

Continua

18

Continuação da Tabela 1

Local UC? Estado Área(ha) Enfoque Fonte

Fazenda São Luís Não MG 566 E.T. Santos et al.,2003

Fazenda Rancho Cauaia Não MG 1.760 E.P. Trolle et al., 2007

Parque Estadual do Cerrado Sim PR 426,62 E.T./E.P. Uchoa & Moura-Britto,2004

UC= Unidade de Conservação, segundo o Sistema de Unidade de Conservação (2000); E.P= Ecologia de

População; D.A= Dieta alimentar; C= Comportamento. *Fazenda Água Limpa: Considerada Unidade de

Conservação por fazer parte da Área de proteção ambiental (APA) das Bacias do Gama e Cabeça do Veado.

19

Figura 1: Localização e número de estudos sobre ecologia, dieta e comportamento do lobo-guará já

realizados no Brasil. A área de distribuição da espécie é mostrada em cinza (segundo Rodden et

al., 2004).

20

A Serra da Calçada, área de estudo do presente trabalho, localiza-se nos municípios

de Brumadinho e Novo Lima, Minas Gerais, na região metropolitana de Belo Horizonte. A

área em questão, de propriedade da Vale (antiga Companhia Vale do Rio Doce), é

impactada por atividades mineradoras, que detêm cavas para extração de minério de ferro

nas proximidades. Além disso, é utilizada também pela população dos vários condomínios

e chácaras existentes nas proximidades e por outros residentes de Belo Horizonte e região,

como um local de lazer, onde caminhadas com animais domésticos (cães) são freqüentes.

Ciclistas, “jipeiros” e motoqueiros também utilizam a área praticamente diariamente, mas

com maior intensidade durante os fins de semana e feriados.

Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo principal responder as

seguintes perguntas: 1) A dieta alimentar de C.brachyurus na área de estudo, se difere

àquelas encontradas em áreas mais preservadas? 2) O lobo-guará tem preferência por

alguma característica da paisagem? 3) Que endoparasitas estão presentes nesta população e

o que estes parasitas podem indicar ou sugerir? Ambas as perguntas foram respondidas

através da coleta de amostras fecais e análise de distribuição espacial destas na paisagem

estudada, que são detalhados a seguir.

2- MATERIAL E MÉTODOS

2.1- Área de estudo

O estudo foi realizado em uma área de propriedade da Vale, localizada no

Município de Brumadinho e Nova Lima, Minas Gerais, próximo à região Metropolitana de

Belo Horizonte (23k607162.105/utm7776673.701). A área é delimitada ao norte pelos

condomínios “Retiro das Pedras” e “Serra dos Manacás”, ao sul pelo condomínio

“Alphavile” e pela mina de Pau-Branco de propriedade da Mannesman, a leste pela

Rodovia BR-040 e a oeste pelas escarpas da Serra da Calçada (Figura 2), totalizando uma

área aproximada de 1.800 ha. As altitudes variam de 805 a 1578 m (Miranda, 2005;

presente estudo) (Figura 3).

A região está inserida em uma área de transição entre o Bioma Cerrado e o Bioma

Mata Atlântica, sendo considerada pelo IBGE (2004), uma área de tensão ecológica, onde

existe contato tanto entre fitofisionomias de Savana (Bioma Cerrado), quanto de Floresta

21

Estacional (Bioma da Mata Atlântica) (IBGE, 2004). O local de estudo faz parte da Serra

da Calçada, a qual se situa no Quadrilátero Ferrífero, extremo norte da Serra da Moeda

(Viana & Lombardi, 2007). Segundo Drummond et al. (2005), o Quadrilátero Ferrífero é

uma área prioritária para a conservação da biodiversidade no estado de Minas Gerais, de

importância biológica especial, além de exigir urgência de ação em curtíssimo prazo. Cabe

ressaltar o alarmante grau de ameaça a que estão submetidos os campos rupestres sobre

canga do Quadrilátero Ferrífero. A região, juntamente com a Serra dos Carajás, no Pará,

compreende aproximadamente 98% das jazidas de minério de ferro do Brasil, sendo que a

maior parte é explorada no Quadrilátero Ferrífero (Viana & Lombardi, 2007). Grandes

extensões deste ambiente já foram completamente eliminadas por atividades mineradoras e

quase a totalidade dos remanescentes, pertence a empresas de mineração ou são áreas

fortemente afetadas pela expansão imobiliária. Apenas uma unidade de conservação em

Minas Gerais, o Parque Estadual da Serra do Rola Moça, possui pequenas porções de

campos rupestres sobre canga, área insuficiente para preservar a diversidade deste ambiente

peculiar (Viana & Lombardi, 2007).

22

Figura 2: Imagem de satélite Landsat 5 mostrando a área de estudo (localizada na Serra da

Calçada) delimitada ao norte pelos condomínios “Retiro das Pedras” (1) e “Serra dos Manacás” (2),

ao sul pelo condomínio “Alphavile” (3) e pela mina de Pau-Branco (4), a leste pela Rodovia BR-

040 (5) e a oeste pelas escarpas da Serra da Calçada (6). Retângulo (em branco) equivale à área

foco, utilizada nas análises posteriores.

23

Figura 3: Relevo da área de estudo (localizada na Serra da Calçada). Retângulo (em branco)

equivale à área foco, utilizada nas análises posteriores.

Os dados referentes à fauna e flora de vertebrados da área de estudo são escassos.

Viana & Lombardi (2007) em recente estudo com a vegetação de canga na Serra da

Calçada, constataram a presença de 358 espécies distribuídas em 70 famílias, sendo as

famílias mais ricas, Poaceae (43 spp.), Asteraceae (42 spp.), Fabaceae e Myrtaceae (21 spp.

cada), Melastomataceae e Orchidaceae (18 spp. cada). O alto grau de ameaça ao qual esse

ambiente está submetido (Figura 4) e a presença expressiva de espécies ameaçadas de

24

extinção implicam na necessidade urgente de preservação de áreas que compreendem

campos rupestres sobre canga (Viana & Lombardi, 2007). Além dessa vegetação de canga

são encontradas na área de estudo, matas de galeria e capões de mata

(Viana & Lombardi, 2007) (Figura 4). De acordo com o inventário de fauna (exceto

peixes) e flora coordenado pela Fundação Biodiversitas (2007) para elaboração do Plano de

Manejo do Parque Estadual do Rola Moça, unidade de conservação localizada mais

próxima da Serra da Calçada, das 258 espécies de plantas registradas na Unidade, duas são

endêmicas (Artrocereus glaziovii e Aulonemia effusa) e dez se enquadram em alguma

categoria de ameaça no país. Entre a fauna de mamíferos foram constatadas as seguintes

espécies: Didelphis aurita, Marmosops incanus, Pseudalopex vetulus, Chrysocyon

brachyurus, Sciurus aestuans e Callicebus nigrifrons. Outro fato interessante é que três das

espécies da mastofauna registradas no estudo também se enquadram em alguma das

categorias de ameaça no país (C. brachyurus, Leopardus tigrinus e Puma concolor)

(Machado et al., 2008).

25

Figura 4: Impactos antrópicos (A- Erosão; B- Condomínio fechado; C e D- Mineração) e vegetação

típica (E,F,G,H) da área de estudo, na Serra da Calçada.

26

2.2- Coleta de dados

De Outubro de 2006 à Janeiro de 2008, trilhas e estradas já existentes na área de

estudo foram percorridas, semanalmente, a pé, de bicicleta ou de carro, procurando

ativamente por amostras fecais (Figura 5). Como a área era grande para ser amostrada (em

sua totalidade) em todas as saídas a campo, foram determinadas duas diferentes rotas de

amostragem, as quais foram amostradas igualmente todo o mês, totalizando as duas rotas,

15 quilômetros aproximadamente. As fezes de lobo encontradas (Figura 6) tiveram sua

posição registrada em GPS e em seguida eram condicionadas em sacos plásticos, com

etiquetas enumeradas. As etiquetas continham informações sobre local, data, condições da

amostra, presença de evidências associadas e se haviam sido depositadas sobre rocha ou no

solo.

As coordenadas geográficas (latitude e longitude) de cada amostra fecal foram

obtidas empregando-se um equipamento de GPS (Global Positioning System), modelo

Garmin GPS MAP 76CSx. Da mesma forma, as trilhas e estradas percorridas (“tracks”)

durante a coleta das amostras foram também mapeados com o GPS. Levando em conta que

nunca houve um levantamento da fauna de mamíferos de médio e grande porte na área de

estudo e que a mesma é considerada de importância biológica especial

(Drummond et al., 2005), foram colecionados todos os tipos de evidências que

comprovaram a presença de espécies deste grupo durante o estudo. Sendo assim,

visualizações, vocalizações, fezes, pegadas e carcaças foram utilizadas para a identificação

e confirmação das espécies na área. Os guias utilizados para a identificação de vestígios

foram o de Becker & Dalponte (1991), Borges & Tomás (2004) e

Oliveira & Cassaro (2005). O grau de ameaça das espécies identificadas seguiu a

classificação proposta por Machado et al. (2008). A lista destas espécies, assim como o tipo

de vestígio associado, o grau de ameaça de cada uma e os locais onde as evidências foram

coletadas, podem ser visualizados nos apêndices.

27

Figura 5: Procura por amostras fecais de lobo-guará na Serra da Calçada, entre Outubro de 2006 e

Janeiro de 2008. Todas as fotos do autor exceto a primeira (Ana Maria O. Paschoal).

28

Figura 6: Amostras fecais de lobo-guará encontradas na Serra da Calçada, durante a realização do

estudo entre Outubro de 2006 à Janeiro de 2008.

2.3- Análise dos dados

2.3.1- Dieta

As amostras fecais foram armazenadas temporariamente em freezer. Posteriormente,

no laboratório do Programa de Pós-graduação em Zoologia de Vertebrados da PUC-Minas,

as amostras foram processadas. As amostras eram lavadas, secas em estufas (a 60 ºC por 48

horas) e separadas em peneiras plásticas de malha fina. Os itens (pêlos, escamas, sementes,

dentes, etc) eram separados, identificados ao menor nível taxonômico possível e

contabilizados (Conforme Motta-júnior et al., 1996).

A análise dos dentes dos pequenos mamíferos foi fundamental para a identificação

destes nas fezes coletadas (Motta-Júnior et al., 1996). Os molares dos pequenos mamíferos

foram identificados com o auxílio de uma coleção de referência da Dra. Sônia Aparecida

29

Talamoni, do Programa de Pós-graduação em Zoologia dos Vertebrados da PUC-Minas e

do Dr. Alexandre Reis Percequillo, do Departamento de Ciências Biológicas da

Universidade de São Paulo, Piracicaba. Os itens vegetais, como sementes e cascas, foram

identificados com o auxílio do Dr. João Renato Stehmann, do Departamento de Botânica da

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. Já os répteis foram identificados

com o auxílio da Dra. Luciana Barreto, do Programa de Pós-graduação em Zoologia dos

Vertebrados da PUC-Minas.

Os pêlos recuperados nas fezes foram comparados com a coleção de referência do

Programa de Pós-graduação em Zoologia dos Vertebrados da PUC-Minas, através da

análise da microestrutura dos pêlos-guarda (padrão cuticular e medular)

(ver Quadros & Monteiro-Filho, 2006a; Quadros & Monteiro-Filho, 2006b). Vale ainda

frisar que a metodologia da análise da microestrutura do pêlo funcionou apenas como uma

metodologia complementar. As fezes que não possuíam pêlos do predador (raras amostras)

foram identificadas através de pegadas associadas, características dos sítios de deposição

fecal e odor característico. Aquelas amostras, as quais não puderam ser identificadas como

sendo de fato de C.brachyurus, foram descartadas das análises.

Para calcular o número mínimo de indivíduos consumidos, as partes não digeridas

como ossos, dentes e sementes das amostras foram contadas (Emmons, 1987). A biomassa

consumida foi estimada contando o número de indivíduos encontrados nas fezes e

multiplicando este número pelo peso médio encontrado na literatura para cada espécie

(Emmons, 1987; Motta-Junior et al., 1996; Reis et al., 2006; Bonvicino et al.,2008).

Quando a identificação de um item vertebrado foi possibilitada apenas até o nível de

gênero, utilizou-se a média dos pesos descritos para as prováveis espécies que teoricamente

poderiam ocorrer na área de estudo (área de distribuição da mesma). Para tal foi utilizado

Reis et al. (2006) e Bonvincino et al. (2008). Para o gênero Ophiodes sp., devido à escassez

de informações na literatura, utilizou-se os dados de A.Linares (com. pess.) para o cálculo

de biomassa ingerida. Os demais vertebrados, os quais não foram identificados em nível de

gênero ou de espécie, não entraram para o cálculo de biomassa ingerida. Já considerando os

invertebrados, devido à difícil identificação em um menor nível taxonômico, não foi gerada

a estimativa de biomassa.

30

O número total de sementes e o peso de cada fruto foram comparados com o

número de sementes encontradas para se estimar o número e a biomassa do fruto ingerido

(Dietz, 1984; Castro et al., 1994; Rodrigues et al., 2007). No entanto, apenas para o fruto

da lobeira (Solanum lycocarpum), o qual foi identificado até o nível de espécie, foi possível

a estimativa de biomassa ingerida. Para tal, foi realizada uma proporção na estimativa da

biomassa do mesmo, sendo que quando eram encontradas 300 sementes (média encontrada

em um fruto da lobeira) ou mais por amostra fecal, o item era dado como ingerido

completamente. Abaixo deste número foi considerado o consumo parcial do fruto e assim,

estimada, através de uma regra de três simples, sua massa ingerida em gramas (g). Os dados

da lobeira (S. lycocarpum), como o número mínimo de sementes e massa média dos frutos

foram obtidos da literatura (Lorenzi, 1992; Almeida, 1998; Rodrigues et al., 2001;

Lorenzi & Matos, 2003; Rodrigues et al., 2007). Não foi estimada a biomassa para o item

gramínea e para os poucos itens de origem antrópica encontrados, como pedaços de

alumínio e plásticos. A ingestão proposital ou acidental de gramínea é controversa e

geralmente este item é encontrado em pequena proporção nas fezes (Dietz, 1984;

Bueno et al., 2002; Santos et al., 2003; Silva & Talamoni, 2003; Rodrigues et al., 2007).

Do mesmo modo, os itens antrópicos encontrados, como pedaços de alumínio e plástico,

não tiveram sua biomassa estimada.

A importância de um item na dieta foi calculada como a freqüência de ocorrência

(porcentagem do total de fezes nas quais determinado item foi encontrado) (adaptado de

Motta-Junior et al., 2002 e Bueno & Motta-Junior, 2005) e como a porcentagem total de

ocorrência (número de vezes que um item específico foi encontrado como porcentagem de

todos os itens encontrados) (adaptado de Dietz,1984 e Ciucci et al., 1996). A ingestão

completa da presa somente foi considerada quando dentes, garras, e ossos de várias regiões

do corpo eram encontrados na amostra (Motta-Junior et al., 1996).

A freqüência absoluta do número de amostras coletadas em cada época do ano

(Estação seca: abril a setembro; Estação chuvosa: outubro a março) foi mensurada e

comparada pelo método do Qui-quadrado de proporções esperadas iguais (Zarr, 1999;

Ayres, 2007). Para a análise das freqüências absolutas dos itens encontrados em cada época

do ano, foi utilizado o método do Qui-quadrado (Tabela de contingência; Zarr, 1999;

Ayres, 2007). Posteriormente, foi realizado um terceiro teste do Qui-quadrado (Partição)

31

(Zarr,1999; Ayres, 2007), com o intuito de individualizar o item ou itens que apresentaram

diferença significativa entre as estações. As análises estatísticas foram feitas no pacote

estatístico BioEstat 5.0 (Ayres, 2007).

A suficiência da amostragem foi analisada através de uma curva do coletor (riqueza

observada ou "sobs"), na qual o número de amostras coletadas foi representado no eixo “x”

e o número acumulado de itens no eixo "y" do gráfico. No entanto, foi utilizada a função

Mao Tau para se gerar estimativas estatísticas a partir da Sobs (para mais detalhes, veja

Colwell et al., 2004). Utilizou-se o programa EstimateSWin versão 8.0 (Colwell, 2006).

2.3.2- Parasitologia

Das 95 amostras fecais coletadas em campo, 42 foram utilizadas para a análise de

endoparasitas fecais. Destas 42 amostras, aproximadamente 10 g era condicionada em tubo

falcon previamente identificado, com cautela para evitar a contaminação do material. Estas

10g eram retiradas das amostras fecais com o auxílio de uma colher esterilizada. A parte

mais superficial das fezes (que fica em contato com o epitélio intestinal do lobo) que eram

coletadas, de modo a potencializar ao máximo as análises. Posteriormente, estas amostras

eram refrigeradas e levadas para o laboratório de helmintologia da Universidade Federal de

Minas Gerais, coordenado pelo Professor Dr. Marcos Pezzi Guimarães, onde as amostras

eram processadas e analisadas. Três métodos foram utilizados para maximizar a detecção

dos ovos de helmintos: A sedimentação simples de Hoffman, a sedimentação álcool-éter e a

flutuação de Willis (Adaptado de Neves, 2004).

Quando as amostras chegavam ao laboratório, eram imediatamente processadas.

Estas eram colocadas em copos de plástico, juntamente com um pouco de água. Com a

ajuda de um bastão de vidro, as amostras eram amolecidas e depois coadas com uma

peneira de malha fina e gazes. A partir desta água coada, eram iniciadas as três

metodologias:

1. Sedimentação álcool-éter: Da água resultante do coamento, quatro mililitros

eram colocados em um tubo falcon de 20 mL, e o restante era completo com

éter. Em seguida o tubo era colocado em centrífuga, com 2500 rotações por

minuto, para que o processo de sedimentação fosse acelerado.

32

Posteriormente, o tubo era retirado da centrífuga e o anel de gordura

formado na parte superior, era descolado do tubo, saindo assim, todo o

líquido e ficando somente o material sedimentado. A partir deste material

resultante, eram preparadas as lâminas e levadas ao microscópio para

análise;

2. Sedimentação Simples de Hoffman: Outra parte da água resultante do

coamento era colocada em um cálice de sedimentação, adicionado água e

aguardados de 45 a 60 minutos para que ocorresse a sedimentação

espontânea de corpos pesados, como os ovos. Em seguida, com a ajuda de

uma pipeta, era coletado o material depositado no fundo do cálice e

preparadas lâminas, as quais eram levadas ao microscópio para análise;

3. Flutuação de Willis: Com uma pipeta, um pouco da água coada da amostra

era colocada em um pequeno frasco e em seguida, este frasco era completo

com uma solução salina saturada, até que se formasse um menisco de

solução na boca do mesmo. Em seguida, era colocada uma lamínula em cima

do frasco e aguardados cinco minutos, tempo necessário para que o material

sólido, mais leve que a solução, flutuasse e aderisse à lamínula no topo do

frasco. Posteriormente, eram preparadas as lâminas e levadas ao microscópio

para análise;

Quando eram encontrados ovos de helmintos nas amostras fecais, cinco exemplares

de cada táxon eram escolhidos e mensurados (comprimento e largura) em micrometros

(µm). Para o cálculo das médias e desvio padrão das medidas mensuradas, utilizou-se o

BioEstat 5.0 (Ayres, 2007). Estas medidas foram essenciais para a correta identificação dos

táxons, os quais foram identificados ao menor nível taxonômico possível. Vale frisar que

no estudo parasitológico realizado, somente análises qualitativas foram realizadas.

2.3.3- Cobertura do solo

Os pontos de coleta de amostras fecais, as estradas e as trilhas percorridas foram

importados para o sistema de informações geográficas ArcGIS 9.2 (ESRI, 2008),

georreferenciados e sobrepostos aos demais mapas da base cartográfica. Como base

33

cartográfica digital foram usadas as cartas topográficas do IBGE (IBGE, 2003) na escala de

1:50.000 (com curvas de nível com eqüidistância de 20 m), bem como ortofotocartas

padrão CEMIG, na escala de 1:10.000 (com resolução espacial de 1 m). Além destes foi

utilizada também uma imagem de satélite Landsat 5 de 07/05/2008, com resolução espacial

de 30 m (INPE, 2008).

Como o protocolo de coleta das amostras fecais não envolveu igualmente toda a

área de estudo, optou-se por gerar as análises espaciais apenas onde as coletas foram

sistematicamente priorizadas (“tracks” percorridos). Para tal, a imagem Landsat 5 utilizada

foi recortada, com o intuito de se destacar apenas a área efetivamente amostrada no

presente estudo. Desta forma, foi gerado um retângulo de aproximadamente 2 x 8 km,

incluindo as estradas e trilhas percorridas. A área deste retângulo de 1609,98 ha de extensão

foi denominada de área foco (AF) (Figura 7). Com o intuito de se caracterizar a AF, foi

realizado o Mapa de Cobertura Vegetal e Uso do Solo (MCVUS) da mesma. O MCVUS foi

gerado a partir da interpretação e classificação da imagem Landsat 5, através da técnica de

classificação supervisionada e o algoritmo de máxima verossimilhança do Programa

ERDAS Imagine 9 (ERDAS, 1997), seguindo metodologia estabelecida por Jensen (1996)

e Hirsch (no prelo). Feito isto, foi possível analisar a AF quanto ao percentual e área (ha)

ocupada por cada categoria de cobertura vegetal e/ou uso do solo (CVUS) presente na

mesma. O MCVUS foi feito pelo Dr. André Hirsch.

Para saber se a cobertura do solo dos locais contendo amostras fecais difere dos

demais que não apresentaram amostras fecais na AF, foi realizado um primeiro Teste-G

(Zarr, 1999; Ayres, 2007). Para isto, uma malha de quadrículas de 1 ha foi sobreposta a AF.

Para cada quadrícula gerada foram mensuradas as áreas (em ha) ocupadas por cada classe

de cobertura do solo (CVUS). A hipótese testada foi: não há diferença na CVUS entre

locais contendo amostras fecais e locais não contendo amostras fecais na AF.

A seguir uma segunda análise foi feita contrastando a cobertura do solo presente

nas áreas de maior concentração de amostras fecais (áreas núcleares) com a cobertura do

solo das áreas não nucleares. A identificação das áreas nucleares dos sítios de deposição

fecal na AF foi feita utilizando o estimador não paramétrico de Kernel, com 100% das

amostras fecais (Jacob & Rudran, 2003). Este estimador utiliza um grupo particular de

funções de probabilidade de densidade, chamadas de “kernels” e representadas

34

graficamente por pequenos morros arredondados, associadas a cada uma das localizações

amostradas. Todo “kernel” possui um volume igual a um, porém sua forma e largura da

base (h) são definidas pelo pesquisador. No presente estudo o h utilizado foi de 500 metros.

A partir da combinação das funções (“kernels”) de cada localização (pontos de deposição

fecal), obteve-se uma estimativa da real função de densidade da distribuição dos pontos,

sendo a estimativa da densidade em qualquer ponto da distribuição, equivalente à média de

todos os “kernels” que nele se sobrepõem. Com auxílio de um “grid”, pôde-se então

descrever contornos de probabilidade de densidade e estimar áreas núcleos de uso,

baseando-se na porcentagem desejada da distribuição de utilização (Worton, 1987;

Worton, 1989; Seaman & Powell, 1996). Para gerar as análises foram empregadas as

mesmas técnicas de modelagem espacial utilizadas por Hirsch (no prelo), com base no

módulo Spatial Analyst do ArcGIS 9.2. A hipótese testada nesta segunda análise foi: a

cobertura do solo nos locais de maior concentração fecal (kernel que corresponde a 50% ou

mais da densidade máxima de fezes, isto é, entre 0,323 e 0,645 amostras fecais/ha) não

difere da cobertura do solo fora destes núcleos (AF restante). Foi usado o teste G para esta

análise (Zarr, 1999; Ayres, 2007).

Para analisar se o lobo-guará deposita suas fezes de maneira diferenciada nas áreas

nucleares, foi elaborada uma terceira hipótese: a freqüência de amostras fecais sobre rochas

é semelhante nas áreas de maior concentração fecal (isto é, entre 0,323 e 0,645 amostras

fecais/ha) e nas demais áreas da AF. Esta hipótese foi testada também com o Teste G de

amostras independentes (Zaar, 1999; Ayres, 2007). Vale frisar que as freqüências esperadas

foram calculadas com base na área total da AF. Para a realização dos testes estatísticos

acima relacionados, foi utilizado o programa BioEstat 5.0 (Ayres, 2007).

35

Figura 7: Área foco (retângulo), gerada a partir das rotas e trilhas percorridas, durante o período de

Outubro de 2006 à Janeiro de 2008, usada para gerar o mapa de cobertura vegetal e uso do solo

(MCVUS).

36

3- RESULTADOS

3.1- Dieta

Foram coletadas 95 amostras fecais durante o período do estudo (Figura 8), nas

quais foram encontrados 17 itens animais e cinco itens vegetais. Foram encontrados

também dois itens antrópicos (papel alumínio e plástico), os quais provavelmente foram

provenientes de lixo. Não houve diferença estatística significativa entre o número de

amostras coletadas na estação seca (55) e na estação chuvosa (40) (X2=2,368; G.L.=1;

P=0,1509).

Em relação aos itens vegetais, a lobeira (S.lycocarpum) foi a que apresentou a

maior freqüência de ocorrência nas amostras fecais coletadas (89,47% das fezes), sendo a

gramínea, o segundo item vegetal mais freqüente nas amostras (60,00% das fezes)

(Tabela 2). Em relação aos itens animais, a Classe Mammalia também apresentou uma alta

freqüência nas amostras fecais (93,63%), com destaque para Necromys lasiurus (37,89%

das fezes). As aves foram também outro item animal muito consumido pelo lobo (66,31%).

(Tabela 2). Já em termos de porcentagem total de ocorrência, o item mais importante foram

os invertebrados (49,78% dos itens) (Tabela 2). A Classe Mammalia foi a que apresentou

maior biomassa ingerida (19254,19 g), com destaque para a Cavia sp. (7205,00 g)

(Tabela 3). O segundo item com maior biomassa consumida foi a lobeira (S.lycocarpum)

com 18687,90 g (Tabela 3).

Não foi encontrada diferença significativa no padrão geral de consumo de

itens entre as duas estações (X2=10,429; G.L=5; P=0,0639), apesar do nível de

significância do teste indicar uma diferença marginalmente significativa. Entretanto,

quando se compara item por item entre as duas estações (Qui-quadrado de Partição), houve

diferença significativa no consumo de invertebrados (X2=8,973; G.L=1; P=0,0027), que foi

mais consumido na época chuvosa. A curva de acúmulo de itens consumidos mostra forte

taxa de crescimento nas primeiras 20-30 amostras, decaindo a partir de então sem,

entretanto, atingir uma assíntota com o total de amostras analisadas (Figura 9).

37

Figura 8: Localização das amostras fecais de C.brachyurus coletadas na Serra da Calçada, durante

o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008.

38

Tabela 2: Freqüência de ocorrência (% fezes) e porcentagem total de ocorrência (% itens) de cada

item alimentar encontrado nas fezes de lobo-guará na Serra da Calçada, durante o período de

Outubro de 2006 à Janeiro de 2008.

Itens % Fezes n % de itens n

Animais

Classe Mammalia

Ordem Rodentia

Necromys lasiurus 37,89 36 8,62 62

Calomys sp. 13,68 13 1,80 13

Cavia sp. 11,57 11 1,52 11

Oligoryzomys sp. 10,52 10 1,52 11

Oxymycterus sp. 7,36 7 1,25 9

Galea spixii 4,21 4 0,55 4

Hylaeamys megacephalus 2,10 2 0,27 2

Ordem Didelphimorphia

Gracilinanus sp. 3,15 3 0,41 3

Didelphis albiventris 2,10 2 0,27 2

Ordem Carnivora

Galictis sp. 1,05 1 0,13 1

Subtotal Mammalia 93,63 89 16,34 118

Classe Aves 66,31 63 8,90 64

Subtotal Aves 66,31 63 8,90 64

Classe Insecta

Ordem Hymenoptera

Formiga 23,15 22 33,79 243

Ordem Coleoptera 18,94 18 11,68 84

Subtotal Insecta 42,09 40 45,47 327

Continua

39

Continuação da Tabela 2

Itens % Fezes n % de itens n

Classe Reptilia

Subordem Lacertilia

Outros 14,73 14 1,94 14

Ophiodes sp. 1,05 1 0,13 1

Subordem Serpentes

Família Colubridae 10,5 10 1,39 10

Subtotal Reptilia 26,30 25 3,46 25

Classe Arachnida

Carrapato 14,73 14 4,31 31

Subtotal Arachnida 14,73 14 4,31 31

Total animais - - 78,48 565

Vegetais

Classe Magnoliopsida

Ordem Solanales

Solanum lycocarpum 89,47 85 12,23 88

Solanum sp. 4,21 4 0,55 4

Ordem Gentianales

Família Rubiaceae 1,05 1 0,13 1

Ordem Myrtales

Família Myrtaceae 1,05 1 0,13 1

Subtotal 95,78 91 13,04 94

Gramínea 60,00 57 8,06 58

Subtotal 60,00 57 8,06 58

Total vegetais - - 21,10 152

Lixo

Papel alumínio 1,05 1 0,13 1

Plástico 1,05 1 0,13 1

Total lixo - - 0,26 2

Total geral - 95 100,0 719

40

Tabela 3: Massa (g), número de itens (n) e biomassa ingerida (total em g e em %) de cada item

alimentar encontrado nas fezes de lobo-guará na Serra da Calçada, durante o período de Outubro de

2006 à Janeiro de 2008.

Itens Massa(g) n Biomassa

ingerida (g)

Biomassa

ingerida (%)

Animais

Classe Mammalia

Ordem Rodentia

Cavia sp. 655,00 11 7205,00 18,97

Necromys lasiurus 60,00 62 3720,00 9,79

Galea spixii 321,00 4 1284,00 3,38

Oxymycterus sp. 80,63 9 725,69 1,91

Calomys sp. 21,35 13 277,55 0,73

Oligoryzomys sp. 19,40 11 213,40 0,56

Hylaeamys megacephalus 45,40 2 90,80 0,24

Ordem Didelphimorphia

Didelphis albiventris 1625,00 2 3250,00 8,56

Gracilinanus sp. 29,25 3 87,75 0,23

Ordem Carnivora

Galictis sp. 2400,00 1 2400,00 6,32

Subtotal _ 118 19254,19 50,69

Classe Reptilia

Subordem Lacertilia

Ophiodes sp. 19,88 1 19,88 0,05

Subtotal _ 1 19,88 0,05

Total animais _ 119 19274,07 50,74

Vegetais

Classe Magnoliopsida

Ordem Solanales

Solanum lycocarpum 630 88 18687,90 49,22

Subtotal _ 88 18687,90 49,22

Total vegetais _ 88 18687,90 49,22

Total geral _ 207 37961.97 100

41

Figura 9: Curva de acúmulo de itens baseando-se no número de amostras de lobo-guará coletadas

na Serra da Calçada, durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008. Em vermelho, a

curva propriamente dita, baseada na estimativa de riqueza observada (Mao Tau). Em linhas verticais

pretas, o desvio padrão.

3.2- Parasitologia

Foram analisadas 42 amostras fecais do lobo-guará, onde foram identificados seis

táxons de endoparasitas fecais, sendo o Filo Acantocephala e a família Trichuridae, os mais

freqüentemente encontrados nas fezes (Tabela 4 e Figura 10).

42

Tabela 4: Freqüência de ocorrência nas fezes, número de fezes que ocorreram o táxon (entre

parênteses) e morfometria (comprimento e largura, em microns) dos endoparasitas identificados nas

fezes do lobo-guará na Serra da Calçada, durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008.

Filo/Classe Ordem/Família Gênero Frequência Morfometria

(n) Média e DP*

Acanthocephala/- _ _ 80,95(34) C:83,18±4,81

L:49,01±4,15

Nematoda/

Adenophorea

Trichurida/

Trichuridae

_ 78,57(33) C:62,92±6,44

L:29,52±3,87

Nematoda/

Secernentea

Strongylida/

Ancylostomidae

_ 35,71(15) C:61,05±8,99

L:39,02±7,80

Nematoda/

Secernentea

Spirurida/

Physalopteridae

_ 30,95(13) C:43,13±7,34

L:26,61±2,62

Nematoda/

Secernentea

Ascaridida/

Toxocaridae

Toxocara sp. 28,57(12) C:68,00±3,72

L:60,73±3,53

Platyhelminthes/

Cestoda

Ciclophyllida/

Hymenolepididae

_ 16,66(7) C:79,55±8,28

L:63,69±6,45

*DP= Desvio Padrão

Figura 10: Ovos de helmintos encontrados nas amostras fecais de lobo-guará na Serra da Calçada,

durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008: 1) Acantocephala, 2) Hymenolepididae,

3) Trichuridae, 4) Toxocara sp., 5) Ancylostomidae, 6) Physalopteridae.

43

3.3- Cobertura do solo

Quase um terço (27,61%) do Mapa de Cobertura Vegetal e uso do solo da AF é

constituído por áreas antropizadas e/ou perturbadas (área urbana, área queimada e rede

viária) (Figura 11e Tabela 5). No entanto, a maior concentração na área é de vegetação

nativa (67,98%), composta principalmente por campos de altitude e campos rochosos

(59,62%) (Tabela 5). Uma pequena porcentagem refere-se à hidrografia (4,41%). Não

houve diferença significativa no padrão de cobertura do solo das células contendo amostras

fecais em comparação com as células não contendo amostras na AF (Teste G=12,54;

G.L=7; P=0,08).

O Kernel 100% realizado gerou três diferentes áreas núcleos (Figura 12), as quais

também apresentaram diferentes padrões de cobertura do solo (Tabela 5). O lobo-guará

mostrou uma maior tendência à deposição fecal nas áreas que sofreram queimadas

(Teste G= 19, 0676; G.L= 7; P=0,0080). Também foi observado que a freqüência de fezes

sobre rochas foi significativamente maior nas áreas nucleares do que fora delas (Teste G

com correção de Yates=42,8371; G.L= 1; P<0,0001). (Figura 13).

44

Figura 11: Área focal mostrando os tipos de cobertura vegetal e uso do solo (CVUS) da paisagem.

45

Figura 12: Contornos gerados usando o método Kernel com 100% das amostras fecais de lobo-

guará coletadas na Serra da Calçada, durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008. Tons

de azul refletem maior concentração e de laranja, menor concentração de amostras fecais.

46

Figura 13: Áreas núcleos definidas pelo método Kernel contendo 50% ou mais da densidade

máxima de amostras fecais (0,323 a 0,645 amostras fecais/ha) de lobo-guará coletadas na Serra da

Calçada, durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008.

47

Tabela 5: Área e respectiva porcentagem das diferentes classes de CVUS presentes na área foco e

nas áreas núcleos consideradas (0,323 a 0,645 amostras fecais/ha).

ÁREA FOCO (AF) ÁREAS NÚCLEOS

CLASSES ha % ha %

Campos de altitude 578,09 35,91 27.32 33,69

Campos rochosos 381,65 23,71 12,53 15,45

Rede viária 208,55 12,95 13,25 16,34

Mata semidecidual 126,71 7,87 5,40 6,66

Área urbana 119,99 7,45 _ _

Área queimada 116,12 7,21 22,03 27,17

Hidografia 70,92 4,41 0,54 0,66

Campos limpos 7,95 0,49 _ _

ÁREA TOTAL 1609,98 100 81,07 100

4- DISCUSSÃO

4.1 - Dieta

Segundo alguns autores, no mínimo 59 amostras fecais são necessárias para

identificar remanescentes de presas principais que ocorrem em mais de 5 % das fezes

(Trites & Joy, 2005). No entanto, estes mesmo autores indicam que pelo menos 94

amostras fecais sejam utilizadas quando se quer comparar dietas entre diferentes áreas ou

ao longo de um determinado tempo (Trites & Joy, 2005). A partir da curva de acúmulo de

itens consumidos, pode-se observar que o final de uma ascensão abrupta da mesma se deu

logo no início da amostragem (entre 15 e 20 amostras, aproximadamente). Embora a curva

não tenha se estabilizado ao final da amostragem, a acentuada diminuição do ritmo de

aumento da mesma sugere que a quantidade de fezes amostradas incluiu pelo menos os

itens mais comuns e importantes da dieta da população de lobos da área de estudo.

Os itens mais importantes em termos de freqüência de ocorrência nas fezes de

C. brachyurus na Serra da Calçada foram, respectivamente entre os vegetais, a lobeira

(89,47%) e a gramínea (60,00%). Entre os animais, destacaram-se os mamíferos (93,63%),

48

sendo Necromys lasiurus o item mais importante (37,89%) e posteriormente, as aves

(66,31%). Trabalhos pretéritos demonstram que em algumas localidades a lobeira é o item

mais abundante na dieta de C. brachyurus (Motta-Júnior et al., 1996;

Juarez & Marinho-filho, 2002; Santos et al., 2003; Rodrigues et al., 2007). Já em outras

regiões, os mamíferos, em especial os pequenos roedores, são o item mais abundante na

dieta (Bueno et al., 2002; Jácomo et al., 2004; Belentani et al., 2005;

Uchoa & Moura-Britto, 2004; Bueno & Motta-Júnior, 2006). Aves também são apontadas

como importantes na dieta de C. brachyurus (Dietz, 1984;

Carvallho & Vasconcellos, 1995; Motta-Júnior et al., 1996; Silva & Talamoni, 2003). A

ingestão de gramíneas já foi observada com freqüência em outros trabalhos (Dietz, 1984;

Bueno et al., 2002 Santos et al., 2003; Silva & Talamoni, 2003; Rodrigues et al., 2007). A

alta ingestão deste item no presente estudo pode estar relacionada à eficácia (auxílio) do

mesmo no processo de digestão, já que a gramínea não é assimilada, do ponto de vista

nutricional, pelo lobo-guará. (Dietz, 1984; Bueno et al., 2002).

O roedor N.lasiurus já foi citado como o item mais abundante, ou como um dos

mais freqüentes encontrados na dieta de C. brachyurus (Belentani et al., 2005;

Rodrigues et al., 2007). Este pequeno mamífero é comum em áreas abertas do cerrado e usa

apenas o chão, sendo desta forma, estritamente terrícola (Marinho-Filho et al., 2002;

Vieira et al., 2005). O segundo roedor mais consumido por C. brachyurus na área de estudo

foi Calomys sp., animal este também muito comum em áreas mais abertas

(Marinho-Filho et al., 2002). O hábito destes dois roedores reforça a idéia de que

C. brachyurus passe um maior tempo forrageando em áreas mais abertas, como neste caso,

áreas que sofreram alteração na sua estrutura devido à incidência do fogo.

Em termos de porcentagem total de ocorrência, invertebrado foi o item mais

importante na dieta de C. brachyurus na área de estudo (49,78%). Este item também foi o

único que estatisticamente, foi mais consumido na época chuvosa que na época seca.

Invertebrados já foram encontrados em grande abundância em outros trabalhos com o

mesmo enfoque (Dietz, 1984; Aragona & Setz, 2001; Santos et al., 2003). Do mesmo modo

que no presente estudo, uma maior abundância deste item foi constatada na época chuvosa

em outros estudos (Dietz, 1984, Santos et al., 2003), provavelmente porque nesta época há

49

aumento das populações devido ao aumento da umidade e da temperatura, fatores cruciais

para os insetos de maneira geral (Martins & Barbeitos, 2000; Rodrigues, 2004).

A hipótese de que estes artrópodes tenham aparecido nas fezes após a coleta das

mesmas não tem suporte nas evidências, já que estes itens se encontravam muito

descaracterizados, indicando que passaram de fato por processos de mastigação e digestão.

Dentre os invertebrados, as formigas foram as mais consumidas (33,79 % dos itens).

Algumas destas formigas encontradas nas fezes foram identificadas como sendo rainhas do

gênero Atta sp., conhecidas vulgarmente como tanajuras (Baccaro, 2006). Estas formigas

possuem um elevado tamanho corporal e um alto teor protéico (Costa-Neto, 2003;

Costa-Neto & Ramos-Elorduy, 2006). Coincidentemente, a época de revoada do gênero se

dá em estação chuvosa (Della Lúcia & Bento, 1993; Bueno et al., 2002), estação esta onde

as formigas foram mais consumidas por C. brachyurus (veja resultados). Vale ressaltar que

possivelmente os carrapatos encontrados nas fezes tenham sido provenientes de uma

ingestão acidental durante auto-limpeza, já que na literatura não existem relatos que

comprovem que este item faça parte da dieta de C.brachyurus.

Os mamíferos foram os mais consumidos em biomassa (19254,19 g), sendo que a

espécie predominante foi a Cavia sp. (7205,00 g). Apesar de esta espécie possuir a maior

biomassa animal ingerida, apenas 11 indivíduos da mesma foram consumidos por

C.brachyurus, número muito inferior ao de indivíduos de N.lasiurus consumidos (62). Os

mamíferos, em termos de biomassa ingerida, são um dos itens mais representativos em

trabalhos já realizados em outras áreas (Dietz, 1984; Morato, 2001;

Silva & Talamoni, 2003; Belentani et al., 2005). A lobeira (S.lycocarpum) merece

destaque, sendo que foi o item que sozinho, teve a maior biomassa consumida dentre todos

os itens observados (18687,90 g). S. lycocarpum já foi citada também em outros trabalhos

como o item mais representativo em termos de biomassa (Dietz, 1984;

Motta-Júnior et al., 1996; Juarez & Marinho-Filho, 2002; Santos et al., 2003;

Belentani et al., 2005).

Por ser uma área degradada, alguns itens antrópicos foram freqüentemente

encontrados nas amostras fecais. O item alumínio parece ser proveniente de uma marmita

usada por funcionários, que freqüentemente eram vistos fazendo refeições no local. Esta

50

hipótese é reforçada pelo fato que na mesma amostra foi encontrada também um caroço de

azeitona.

A princípio, o número de itens vegetais encontrados na dieta de C.brachyurus na

área de estudo, apresentou uma menor diversidade e riqueza, quando comparado com

outros trabalhos realizados em ambientes mais preservados ou não tão impactados

(Dietz, 1984; Motta Jr. et al., 1996; Aragona & Setz, 2001; Bueno et al., 2002;

Juarez & Marinho-Filho, 2002; Motta Jr. et al., 2002; Santos et al., 2003;

Silva & Talamoni, 2003; Bueno & Motta Jr., 2004; Jácomo et al., 2004;

Belentani et al., 2005; Rodrigues et al., 2007). Porém, analisando proporcionalmente o

número de itens vegetais coletados nestes trabalhos acima citados, ou seja, dividindo o

número de itens vegetais encontrados pelo número de amostras fecais totais, observa-se na

verdade, que o número de itens vegetais encontrados no presente estudo (5) está dentro do

esperado (Tabela 6). Em síntese, pode-se concluir que a dieta de C.brachyurus no local de

estudo não se diferencia qualitativamente da dieta encontrada em outras localidades mais

preservadas ou com menor incidência de impactos antrópicos (Dietz, 1984; Aragona &

Setz, 2001; Bueno et al., 2002; Silva & Talamoni, 2003; Bueno & Motta-Júnior, 2004;

Jácomo et al., 2004; Belentani et al., 2005; Bueno & Motta-Júnior, 2006;

Rodrigues et al.,2007). Isto significa pelo menos duas possibilidades, não necessariamente

excludentes. Ou a área de estudo, embora alterada, ainda possui condições de prover

alimentos naturais aos lobos, ou estes estão obtendo seus alimentos em outros locais menos

degradados das proximidades. Somente um estudo com rádio-telemetria poderia indicar

mais precisamente a importância relativa da área de estudo na área de vida destes animais.

De fato existem áreas menos perturbadas principalmente a leste e a nordeste da área de

estudo. A Estação Ecológica Córrego dos Fechos e o Parque Estadual da Serra do Rola

Moça são as unidades de conservação mais próximas, distando cerca de 0,5 km e 2 km,

respectivamente. Tendo em vista a grande extensão das áreas de vida dos lobos estudados

em outras localidades (variando de 21,7 a 132 km2), é provável que os animais que estejam

utilizando a área de estudo, estejam usando também estas áreas próximas menos

perturbadas.

Por outro lado, os dados também indicam que a área de estudo é usada

freqüentemente pelos lobos, já que não houve uma única campanha em que fezes deixaram

51

de ser encontradas pela equipe na área de estudo. Além disso, a disposição espacial das

fezes mostrou uma nítida concentração em pontos específicos da área, indicados pelo

Kernel na forma de núcleos. Tanto a assiduidade, como a concentração de amostras em

pontos fixos, são uma forte indicação de que os indivíduos que estão usando a área exibem

fidelidade de sítio (Powell, 2000). A fidelidade de sítio é uma das condições necessárias

para a manutenção de uma área de vida e indica que os benefícios nela obtidos (alimento,

abrigo, rotas de fuga ou parceiros sexuais, entre outros) devem exceder aos custos de sua

manutenção (Powell, 2000). Se um animal não consegue sobreviver usando recursos locais,

ele deve procurar outra área, onde os benefícios superam os custos ou então, ele exibe

comportamento nômade, sem fidelidade de sítio (Powell, 2000). Ou seja, a área de estudo

não parece ter pouca importância ou importância temporalmente restrita para os lobos. E

isto, é bom lembrar, apesar dos freqüentes impactos gerados direta ou indiretamente pela

forte presença humana no local e proximidades. Dentro deste contexto, é provável que

parcela significativa dos alimentos encontrados nas fezes, tenha sido obtida no interior da

área foco.

Tabela 6: Comparação na proporção de itens vegetais encontrados em outros estudos de dieta de

C.brachyurus, com o presente estudo realizado na Serra da Calçada (dados em negrito).

Estudos de dieta realizados

N de amostras

coletadas

N de itens

vegetais

encontrados

Proporção de itens

vegetais*

Motta Jr. et al., 2002 1737 14 0.01

Jácomo et al., 2004 1673 18 0.01

Dietz, 1984 740 21 0.03

Bueno & Motta Jr., 2004 438 22 0.05

Presente estudo 95 5 0.05

Silva & Talamoni, 2003 230 13 0.06

Rodrigues et al., 2007 328 24 0.07

Santos et al., 2003 150 11 0.07

Bueno et al., 2002 325 24 0.07

Motta Jr. et al., 1996 105 10 0.10

Belentani et al., 2005 46 5 0.11

Juarez & Marinho Filho, 2002 70 13 0.19

Aragona & Setz, 2001 141 35 0.25

*N de itens vegetais encontrados / N de amostras coletadas.

52

4.2 – Parasitologia

Os estudos parasitológicos de endoparasitas realizados no Brasil se dividem em dois

tipos, sendo um realizado “post mortem” e o outro através de exames coproparasitológicos

(Labruna et al., 2006; Santos, 2008). Nas necropsias é possível a identificação dos

helmintos até o nível de espécie ou gênero. Porém, grande parte dos trabalhos sobre

helmintos de canídeos silvestres não se refere à identificação específica dos parasitos

encontrados, sendo necessária a obtenção de vermes adultos para atingir tal objetivo.

O presente estudo realizou somente análise de amostras fecais em C. brachyurus, já que

não era intenção a captura e o sacrifício da espécie considerada vulnerável

(Machado et al., 2008). Sendo assim, não foi possível atingir a identificação espécie-

específica dos ovos de helmintos presentes em C. brachyurus (Mundim et al., 1991;

Santos, 2008).

Toda comunidade de helmintos encontrados nas amostras fecais já foram reportados

para C. brachyurus em trabalhos anteriores (Dietz, 1984; Mattos, 2003; Curi, 2005;

Santos, 2008). Porém, a abundância destes táxons variou de localidade para localidade

(Dietz, 1984; Mattos, 2003; Curi, 2005; Santos, 2008), o que provavelmente está

relacionado com as características bióticas de cada local.

O táxon mais abundante encontrado nas amostras analisadas foi o Filo

Acanthocephala (80,95%). Ovos com as mesmas características morfológicas já foram

encontrados em fezes de lobos-guarás procedentes da Serra do Curral, Galheiros

(Santos, 2008) e Serra do Cipó, em MG (Curi, 2005; Santos, 2008), levando a crer que

talvez esse acantocéfalo seja prevalente nessa espécie. O filo Acanthocephala possui ciclo

evolutivo indireto, envolvendo artrópodes terrestres (coleópteros coprófagos

principalmente) ou aquáticos como hospedeiros intermediários (Urquhart, 1987). Já os

roedores, funcionam como hospedeiros paratênicos de formas larvais de acantocéfalos

(Petrochenko, 1971). Apesar de Curi (2005), relatar que a infecção de lobos-guarás por este

helminto seja resultante da ingestão de artrópodes e Santos (2008) acreditar que a infecção

se deva a ingestão de roedores acredita-se, na verdade, que a infecção possa ocorrer tanto

pela ingestão de artrópodes como de roedores, pois ambos são itens bastante encontrados na

dieta desse canídeo no presente estudo e em outros trabalhos (Dietz, 1984;

53

Aragona & Setz, 2001; Juarez & Marinho-Filho, 2002; Silva & Talamoni, 2003; Jácomo et

al., 2004; Belentani et al., 2005; Bueno & Motta-Junior, 2006).

O segundo táxon mais abundante foi a família Trichuridae (78,57%). Ovos da

família Trichuridae já foram encontrados em fezes de C. brachyurus em outros trabalhos

(Dietz, 1984; Mattos, 2003; Curi 2005; Santos, 2008). Segundo Soulsby (1968), as espécies

encontradas dessa família em canídeos são Trichuris vulpis (Frölich, 1789), Capillaria

hepatica e C. plica (Rudolphi, 1819). Os dados morfométricos dos ovos encontrados nas

amostras fecais estão de acordo com os descritos para C. hepatica (Soulsby, 1968;

Santos, 2008). Essa espécie parasita principalmente o parênquima hepático de roedores

silvestres e não silvestres (Soulsby, 1968; Ilha & Barros, 2000). Nesse órgão, estes

permanecem imaturos, se tornando infectantes somente em condições ideais no ambiente.

A passagem dos ovos para o ambiente se dá de duas formas. A primeira, quando o fígado

de um hospedeiro é ingerido por um predador e este os elimina em suas fezes. Nesse caso o

ovo não sofre nenhuma alteração no sistema digestório do predador, ficando infectante

somente quando alcança o meio externo. A segunda forma se dá em virtude da

decomposição de carcaças de hospedeiros no ambiente (Soulsby, 1968;

Ilha & Barros, 2000; Ruas et al., 2003). Neste contexto, é provável que os ovos da família

Trichuridae encontrados nas amostras fecais de lobo-guará sejam de C. hepatica, uma vez

que os roedores formam o principal item animal encontrado na dieta de C. brachyurus no

presente estudo, podendo explicar assim a alta prevalência deste tricurídeo nesse canídeo.

O terceiro táxon mais abundante foi a família Ancylostomidae (35,71%). Essa

família apresenta parasitos presentes em canídeos e felídeos silvestres e domésticos nos

trópicos (Urquhart, 1998, Ragozo et al., 2002). Os ancilóstomos se fixam na mucosa

intestinal para se alimentar de sangue do hospedeiro, mudando constantemente de lugar,

deixando assim pequenas ulcerações que permanecem sangrando ainda por algum tempo

após sua saída do local. Estas perdas contínuas de sangue, somadas ao volume ingerido

pelos parasitos, além de substâncias tóxicas produzidas por eles, determinam uma anemia

de grau variável. Além disso, ininterruptas agressões à mucosa intestinal resultam em

grave enterite, perturbação na assimilação de nutrientes, podendo também se constituir em

porta de entrada de infecções secundárias (Corrêa, 1971). A infecção é mais intensa em

cães novos e aqueles que a adquiriram pela forma transplacentária, estão sujeitos a anemia

54

grave, coma e morte em até três semanas após o nascimento (Soulsby, 1968). Não se pode

afirmar se os lobos-guarás da região de estudo são hospedeiros naturais dos parasitos ou se

a infecção é proveniente dos cães e gatos domésticos simpátricos. A segunda opção parece

ser a mais provável, já que foi confirmada a presença cães domésticos na área de estudo

(Figura 14). Ancilóstomos foram também encontrados em alta freqüência (de 40 a 80%)

nas fezes de lobo guará em outros estudos realizados (Dietz, 1984; Mattos, 2003;

Curi, 2005; Santos 2008). De fato um parasito de transmissão transplacentária e

transmamária, que pode levar o animal a óbito em poucos dias de vida e que pode estar

sendo transmitido por cães domésticos, merece preocupação, principalmente por C.

brachyurus ser considerado como espécie ameaçada de extinção (Machado et al., 2008).

O aumento do número de cães em áreas naturais pode interferir em vários aspectos

referentes à dinâmica das comunidades biológicas (Kay, 1998; Paschoal, 2008), além de

serem potenciais vetores de diversas doenças, como as causadas por helmintos, raiva,

leishmaniose, cinomose, parvovirus, giárdia e cisto muscular, sendo estas as maiores

conseqüências da interação da fauna silvestre com os cães (Alexander & Appel 1994;

Rhodes et al., 1997; Laurenson et al., 1998; Sime,1999; Cleveland et al., 2000;

Butler & Du Toit, 2004; Curi, 2005; Santos, 2008).

Figura 14 : Um dos cães domésticos detectados durante a realização do estudo na Serra da Calçada,

durante o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008 .

55

Em menor freqüência, três outros táxons foram também encontrados nas fezes de

C. brachyurus. A infecção por ovos da família Physalopteridae (30,95%) já haviam sido

descritos para a espécie por Costa & Freitas (1967), Vicente et al. (1997), Curi (2005) e

Santos (2008). A infecção por Toxocara sp. (28,57%) também já havia sido relatada para a

espécie por Dietz (1984), Mussart et al. (2003) e Santos (2008). É um parasito comum de

cães no mundo todo (Urquhart, 1998). A éspécie Toxocara canis infecta canídeos de

maneira geral. Como os ovos de Toxocara sp. encontrados no presente estudo apresentam

morfologia de acordo com as descritas para T. canis (Soulsby, 1968), é provável que o

táxon encontrado seja a espécie em questão. Essa espécie é mais prevalente em cães jovens,

devido à infecção transplacentária e transmamária. A imunidade é desenvolvida ao longo

da vida e esta diminui o estabelecimento, bem como a fecundidade do parasito em cães

adultos (Soulsby, 1968; Urquhart, 1998). Talvez a prevalência concentrada em apenas uma

faixa etária explique a baixa ocorrência (28,57%) desse helminto nas amostras fecais de C.

brachyurus coletadas. Esta informação sugere que na área de estudo haja pelo menos um

indivíduo jovem, talvez acompanhado pelos pais. Este dado reforçaria os resultados do

Kernel, que indicou a presença de três núcleos de deposição fecal na área de estudo.

A família Hymenolepididae foi a que teve a menor freqüência de ocorrência nas

fezes (16,66%). Essa família apresenta espécies que ocorrem em aves e roedores, e seu

ciclo requer hospedeiros intermediários como alguns invertebrados, entre eles pulgas e

coleópteros (Soulsby, 1968). Sendo assim, existem duas hipóteses a serem levantadas: uma

delas é que de fato o C. brachyurus possa ter desenvolvido o parasitismo por predação de

aves, roedores e coleópteros. Outra, por ingestão acidental de invertebrados como pulgas.

Hymenolepidae já foi reportada em lobo-guará e cachorro-do-mato na região da Serra do

Cipó (Curi, 2005; Santos, 2008) e em lobo-guará na região nordeste do estado de São Paulo

(Mattos, 2003).

Para Dietz (1984) parasitos gastrintestinais constituem a principal causa de

debilidade e morte natural em lobo-guará. Já Carvalho & Vasconcellos (1995) afirmam que

os parasitos, incluindo aqueles do trato digestivo, não são grande problema para a

sobrevivência desse animal. Na verdade, quando a parasitemia está presente em grande

quantidade, a mesma pode apresentar uma ameaça eminente à sobrevivência de canídeos

(Ruas et al., 2003). Vale frisar que no presente estudo não houve a análise quantitativa dos

56

ovos dos endoparasitas, sendo impossível saber o grau de parasitemia e o nível de saúde

dos lobos-guarás que habitam o local. Deste modo estudos mais detalhados são

fundamentais para o melhor entendimento das questões parasitárias locais, sejam àquelas

relacionadas ao C. brachyurus, ou aos demais canídeos silvestres e domésticos.

4.3- Cobertura do solo

Cerca de 70% da área foco apresenta cobertura por vegetação nativa, típica do

Bioma Cerrado. Entretanto a grande extensão de campos graminosos indica que parte

significativa da área considerada como coberta por vegetação nativa trata-se, na verdade, de

área natural que foi degradada no passado, por pastoreio, fogo ou mesmo por agricultura.

Ou seja, a extensão de degradação da área de estudo é, na realidade, maior do que os 30%

constituídos predominantemente por áreas degradadas ou transformadas pelas atividades

humanas, onde se destacam rede viária, áreas urbanas e áreas queimadas. A caracterização

desta área de estudo mostra, portanto, o alto grau de impacto presente na mesma, o que

comprova que o estudo de fato foi realizado em uma área relativamente mais impactada do

que a maioria dos trabalhos já realizados com C.brachyurus (veja Tabela 1).

Os indivíduos de C.brachyurus marcam seu território através de fezes, sendo esta

marcação mais evidente na maioria das vezes, quando as fezes são depositadas em locais

altos, como, por exemplo, sobre rochas (Dietz, 1984; Santos et al., 2003;

Silva & Talamoni, 2003; Coelho et al., 2008). Pelas análises realizadas pelo Kernel 100%

duas hipóteses podem ser aventadas. A primeira é que exista na área de estudo, pelo menos

um indivíduo de C.brachyurus com três centros de atividades (áreas de demarcação

territorial). A segunda e mais provável, é que existam na área pelo menos dois indivíduos

de C.brachyurus, sendo um adulto (com três centros de atividade) e um jovem. A hipótese

de que exista um indivíduo jovem na área é reforçada pelas análises parasitológicas, as

quais demonstram uma provável infecção por T.canis em C.brachyurus, parasita este mais

comum em indivíduos jovens, conforme mencionado acima. Conseqüentemente, a presença

de um jovem na área é um indício de que exista também pelo menos um indivíduo adulto,

já que C.brachyurus em época de reprodução formam casais monogâmicos, os quais são

tolerantes ao filhote, exercendo ainda um alto cuidado parental com o mesmo (Dietz, 1984;

Melo et al., 2007; Jácomo et al., 2009).

57

Ainda dentro das áreas núcleos consideradas, o lobo mostrou uma tendência maior

de marcação nas áreas queimadas. Estas áreas sofreram algum tipo de impacto causado pelo

fogo nos últimos cinco anos (A. Chiarello com pess.). Áreas com estas características

tendem a possuir uma explosão populacional de pequenos mamíferos terrestres, de hábito

granívoro e folívoro, já que apresentam uma grande quantidade de plantas herbáceas

(Vieira 2002, Briani et al., 2004; Henriques et al., 2006). Vale ressaltar ainda que gêneros

como Calomys sp., são mais freqüentes em estágios iniciais pós-queimada (menor que dois

anos), já espécies como Necromys lasiurus, são muito freqüentes em estágios

intermediários pós-queimada (de dois a três anos) (Briani et al., 2004;

Henriques et al., 2006). Este fator reforça ainda mais a maior utilização destas áreas por

C. brachyurus, já que os roedores mais consumidos por esta espécie na área de estudo

foram respectivamente, Necromys lasiurus e Calomys sp. (veja detalhes na dieta).

5- CONCLUSÃO

• O lobo parece utilizar com freqüência a área de estudo, já que fezes foram

encontradas em todas as saídas de campo durante todo o estudo;

• De modo geral, a dieta de C.brachyurus no local de estudo foi similar àquelas

encontradas em áreas mais preservadas.

• A espécie utiliza locais que já passaram por algum distúrbio causado pelo fogo;

• Os endoparasitas encontrados não se diferiram daqueles já descritos para áreas mais

preservadas.

• Um dos endoparasitas encontrados nas fezes (Família Acylostomidae) parece estar

sendo transmitido pelo cão doméstico;

• Áreas próximas a centros urbanos e com perturbações antrópicas podem estar sendo

utilizadas pela espécie do mesmo modo que a presente área de estudo.

58

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APÊNDICES

Apêndice 1: Mamíferos de médio e grande porte confirmados na Serra da Calçada, durante o

período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008. Tipos de evidências: CA - carcaça; FE - fezes; PE -

pegada; VI- visualização. Categorias de ameaça de acordo com Machado et al (2008): NA - não

ameaçado;VU – vulnerável.

Espécie Tipo de vestígio Grau de

ameaça

Ordem Cingulata

Família Dasypodidae

Dasypus novemcinctus CA NA

Ordem Pilosa

Família Myrmecophagidae

Tamandua tetradactyla PE NA

Ordem Carnivora

Família Canidae

Cerdocyon thous PE, FE NA

Chrysocyon brachyurus PE, FE, VI VU

Família Felidae

Felidae não identificado PE _

Puma yagouaroundi VI NA

Família Mephitidae

Conepatus semistriatus PE NA

Família Mustelidae

Eira Barbara VI NA

Família Procyonidae

Procyon cancrivorus PE NA

Ordem Lagomorpha

Família Leporidae

Sylvilagus brasiliensis PE, FE,VI

NA

Ordem Artiodactyla

Família Cervidae

Mazama sp. PE NA

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Apêndice 2: Imagem de satélite Landsat 5 mostrando os locais de coleta dos vestígios de algumas

espécies de mamíferos encontradas na Serra da Calçada, durante o período de Outubro de 2006 à

Janeiro de 2008: 1- Conepatus semistriatus; 2- Mazama sp.; 3- Procyon cancrivorus; 4- Cerdocyon

thous; 5- Sylvilagus brasiliensis; 6- Felidae não identificado; 7- Dasypus novemcinctus; 8-

Tamandua tetradactyla.

68

Apêndice 3: Vestígios de algumas espécies de mamíferos encontradas na Serra da Calçada, durante

o período de Outubro de 2006 à Janeiro de 2008: 1- fezes de Chrysocyon brachyurus; 2- pegadas de

Chrysocyon brachyurus; 3- pegada de Mazama sp.; 4- pegada de Procyon cancrivororus; 5- pegada

de Conepatus semistriatus; 6- pegada de Felidae não identificado; 7- fezes de Sylvilagus

brasiliensis; 8- fezes de Cerdocyon thous; 9- pegada de Tamandua tetradactyla. Todas as fotos do

autor, exceto a 9 (A.G. Chiarello).