determinação do comportamento tintorial de corantes naturais em substratos de algodão

189
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA Determinação do Comportamento Tintorial de Corantes Naturais em Substrato de Algodão HEIDEROSE HERPICH PICCOLI FLORIANÓPOLIS NOVEMBRO, 2008

Upload: sidneidecarvalho

Post on 14-Nov-2015

31 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Determinação Do Comportamento

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLGICO

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUMICA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA QUMICA

    Determinao do Comportamento Tintorial de Corantes Naturais em Substrato de Algodo

    HEIDEROSE HERPICH PICCOLI

    FLORIANPOLIS NOVEMBRO, 2008

  • Heiderose Herpich Piccoli

    Determinao do Comportamento Tintorial de Corantes Naturais em Substrato de Algodo

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Qumica do Centro Tecnolgico da Universidade Federal de Santa

    Catarina, como requisito obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Qumica.

    Orientador: Prof. Dr. Antnio Augusto Ulson de Souza

    Co-orientador(a): Prof. Dr. Selene M. A. Guelli Ulson de Souza

    Florianpolis Santa Catarina Novembro de 2008

  • Determinao do Comportamento Tintorial de Corantes Naturais em Substrato de Algodo

    Por

    Heiderose Herpich Piccoli

    Dissertao julgada para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Qumica, rea Fenmenos de Transporte e Meios Porosos, aprovada em sua forma final pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia Qumica da Universidade Federal de Santa Catarina. Banca Examinadora:

    _____________________________________ Prof. Dr. Antnio Augusto Ulson de Souza

    Orientador

    _____________________________________ Prof. Dr. Selene M. A. Guelli U. de Souza

    Co-orientadora

    _____________________________________ Prof. Dr. Jos Alexandre B. Valle

    Examinador externo

    _____________________________________ Prof. Dr. Ayres Ferreira Morgado

  • iv

    Ao Cleber, meu marido, e Juliana

    e Gabriella, minhas filhas, pelo

    apoio e pelos momentos de

    ausncia.

    Em especial minha me Isaura e

    ao meu pai Milton que me apoiaram

    e viabilizaram a confeco deste

    trabalho.

  • AGRADECIMENTOS

    Aos professores Antnio Augusto Ulson de Souza e Selene Maria de

    Arruda Guelli Ulson de Souza, pela dedicao e orientao neste trabalho.

    Aos colegas de trabalho na Marisol Adelrio, Cludio, Luciana e Leonete

    os quais foram muito prestativos e companheiros.

    Ao Dr. Luiz Felipe Cabral Cherem, pelo incentivo e apoio durante o

    decorrer dos estudos.

    Prof Rosemary Maffezzolli dos Reis, pela reviso ortogrfica deste

    trabalho.

    Ao Tcnico de Laboratrio do CEFET Jair Nunes, pela ajuda nos testes

    experimentais.

    Dr Helosa Lima Brando por me acompanhar em testes laboratoriais.

    empresa CENTROFLORA, por ceder os corantes para os

    experimentos.

    empresa GOLDEN QUMICA, pelo suporte tcnico, em especial

    atravs do Vitor.

    empresa MARISOL, pelo tempo liberado para este trabalho e pela

    matria-prima cedida para a realizao dos testes experimentais.

    Ao CEFET-SC Unidade Jaragu do Sul, por ceder todo o suporte fsico

    para realizao deste trabalho.

    E a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contriburam para a

    realizao e concluso deste trabalho.

  • vi

    Morre lentamente,

    quem se transforma em escravo do hbito,

    repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem no

    muda de marca....

    Morre lentamente,

    quem abandona um projeto antes de inici-lo,

    no pergunta sobre um assunto que desconhece

    ou no responde quando lhe indagam sobre algo que

    sabe.

    Evitemos a morte em doses suaves,

    recordando sempre que estar vivo exige um esforo

    muito maior que o simples fato de respirar.

    Pablo Neruda

  • vii

    SUMRIO

    LISTA DE TABELAS........................................................................................................................... IX

    LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................... XI

    LISTA DE EQUAES..................................................................................................................... XIV

    LISTA DE SMBOLOS ....................................................................................................................... XV

    RESUMO ........................................................................................................................................... XVI

    ABSTRACT ...................................................................................................................................... XVII

    1 INTRODUO........................................................................................................................18

    1.1 CONTEXTUALIZAO........................................................................................................................18 1.2 ORIGEM DO TRABALHO.....................................................................................................................19 1.3 JUSTIFICATIVA DO TRABALHO............................................................................................................20 1.4 OBJETIVOS......................................................................................................................................22 1.4.1 Objetivo geral ...................................................................................................................22 1.4.2 Objetivos especficos .......................................................................................................22 1.5 LIMITAES DO TRABALHO ...............................................................................................................23 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO...............................................................................................................23

    2 REVISO BIBLIOGRFICA..................................................................................................24

    2.1 FIBRAS TXTEIS ..............................................................................................................................24 2.2 AUXILIARES PARA PROCESSOS DE TINGIMENTO DE ALGODO............................................................24 2.3 TRATAMENTOS PRVIOS PARA FIBRA DE ALGODO ...........................................................................25 2.4 PRINCPIOS GERAIS DO TINGIMENTO ................................................................................................26 2.4.1 Fundamentos Tericos.....................................................................................................28 2.4.1.1 Influncia da Estrutura da Fibra .......................................................................................28 2.4.1.1.1 Permeabilidade ................................................................................................................29 2.4.1.1.2 Constituio Qumica da Fibra.........................................................................................29 2.4.2 Influncia da Estrutura do Corante ..................................................................................31 2.4.3 Teoria Geral do Tingimento Cintica e Termodinmica ...............................................31 2.4.3.1 Fase Cintica ...................................................................................................................32 2.4.3.2 Fase Termodinmica........................................................................................................34 2.5 CORANTES ......................................................................................................................................36 2.5.1 Histria dos Corantes e dos Tingimentos ........................................................................36 2.5.2 Definio, Propriedades e Estrutura Qumica..................................................................40 2.6 CORANTES DIRETOS........................................................................................................................44 2.6.1 Mecanismo da Substantividade dos Corantes Diretos ....................................................46 2.6.2 Ao dos Eletrlitos..........................................................................................................47 2.6.3 Efeito da Temperatura......................................................................................................49 2.6.4 Efeito da Relao de Banho ............................................................................................51 2.6.5 Efeito do pH......................................................................................................................51 2.6.6 Solidez..............................................................................................................................51 2.6.7 Propriedades de Tingimento dos Corantes Diretos .........................................................53 2.6.8 Aplicao dos Corantes Diretos.......................................................................................55 2.6.8.1 Corantes Classe A ...........................................................................................................55 2.6.8.2 Corantes Classe B ...........................................................................................................55 2.6.8.3 Corantes Classe C ...........................................................................................................56 2.7 CORANTES REATIVOS ......................................................................................................................56 2.7.1 Mecanismo da Reao dos Corantes Reativos...............................................................60 2.7.2 Aplicao dos Corantes Reativos ....................................................................................65 2.7.2.1 Corantes a Frio - Esgotamento ........................................................................................65 2.7.2.2 Corantes a Quente - Esgotamento ..................................................................................66 2.7.3 Lavagem e Ensaboamento Posterior...............................................................................69 2.8 CORANTES CUBA..........................................................................................................................70 2.8.1 Aplicao dos Corantes Cuba.......................................................................................73 2.8.1.1 Reduo do Corante ........................................................................................................73

  • viii

    2.8.1.2 Tingimento........................................................................................................................74 2.8.1.3 Oxidao ..........................................................................................................................75 2.8.1.4 Ensaboamento .................................................................................................................75 2.8.1.5 Processo por Esgotamento..............................................................................................76 2.9 CORANTES SULFUROSOS.................................................................................................................77 2.9.1 Aplicao dos Corantes Sulfurosos .................................................................................79 2.10 CORANTES NATURAIS ...............................................................................................................81 2.10.1 Comportamento Tintorial - Classificao .........................................................................81 2.10.2 Caracterstica das Substncias Corantes........................................................................82 2.10.3 Os Princpios Ativos com Propriedades Medicinais.........................................................83 2.10.4 Alfafa ................................................................................................................................84 2.10.4.1 Informaes Tcnicas ......................................................................................................85 2.10.4.2 Propriedades Medicinais ..................................................................................................86 2.10.5 Garana (Madder plant) ...................................................................................................87 2.10.5.1 Informaes Tcnicas ......................................................................................................88 2.10.5.2 Propriedades Medicinais ..................................................................................................90 2.10.6 Pau Campeche.................................................................................................................90 2.10.6.1 Informaes Tcnicas ......................................................................................................91 2.10.7 Urucum.............................................................................................................................92 2.10.7.1 Informaes Tcnicas ......................................................................................................95 2.10.7.2 Propriedades Medicinais ..................................................................................................96

    3 MATERIAIS E MTODOS .....................................................................................................98

    3.1 CARACTERIZAO DO COMPORTAMENTO TINTORIAL .......................................................................100 3.2 AVALIAO DA INFLUNCIA DO TRATAMENTO PRVIO NO RENDIMENTO DO TINGIMENTO ...................104 3.3 AVALIAO DA INFLUNCIA DA UTILIZAO DE MORDENTES NO RESULTADO (COR E SOLIDEZ) DO TINGIMENTO ........................................................................................................................................104 3.4 VERIFICAO DOS VALORES DE SOLIDEZ PARA OS TINGIMENTOS EM QUESTO ................................106 3.5 DETERMINAO DOS PARMETROS DO PROCESSO DE TINGIMENTO PARA OS CORANTES DE ALFAFA E DE URUCUM..............................................................................................................................................108 3.6 DETERMINAO DA ISOTERMA DE EQUILBRIO E DA ENTALPIA DE ADSORO PARA O CORANTE DE URUCUM NO PROCESSO DE TINGIMENTO...............................................................................................108

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ...........................................................................................113

    4.1 CARACTERIZAO DO COMPORTAMENTO TINTORIAL .......................................................................113 4.2 AVALIAO DA INFLUNCIA DO TRATAMENTO PRVIO NO RENDIMENTO DO TINGIMENTO ...................118 4.3 AVALIAO DA INFLUNCIA DA UTILIZAO DE MORDENTES NO RESULTADO (COR E SOLIDEZ) DO TINGIMENTO ........................................................................................................................................119 4.4 DETERMINAO DOS PARMETROS DO PROCESSO DE TINGIMENTO PARA OS CORANTES DE ALFAFA E DE URUCUM..............................................................................................................................................124 4.5 DETERMINAO DA ISOTERMA DE EQUILBRIO E DA ENTALPIA DE ADSORO PARA O CORANTE DE URUCUM NO PROCESSO DE TINGIMENTO...............................................................................................127

    5 CONCLUSES E SUGESTES..........................................................................................135

    6 REFERNCIAS ....................................................................................................................138

    ANEXO A...........................................................................................................................................142

    ANEXO B...........................................................................................................................................156

    ANEXO C...........................................................................................................................................166

    ANEXO D...........................................................................................................................................173

    ANEXO E...........................................................................................................................................181

    ANEXO F ...........................................................................................................................................184

    ANEXO G ..........................................................................................................................................187

  • ix

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 Evoluo dos corantes sintticos...................................................... 040

    Tabela 02 Classificao dos corantes por aplicao......................................... 044

    Tabela 03 Temperaturas de mxima exausto................................................. 050

    Tabela 04 Valores de solidez para corantes diretos.......................................... 052

    Tabela 05 Evoluo histrica dos corantes reativos.......................................... 058

    Tabela 06 Seleo de processo conforme a substantividade........................... 064

    Tabela 07 Decomposio de Rubian................................................................. 090

    Tabela 08 Procedimentos experimentais para determinao do

    comportamento tintorial.........................................................................................

    100

    Tabela 09 Principais mordentes e suas caractersticas..................................... 105

    Tabela 10 Testes utilizando mordentes............................................................. 106

    Tabela 11 Classificao do tipo de isoterma de acordo com o parmetro de

    equilbrio, RL..........................................................................................................

    110

    Tabela 12 Testes para obteno da isoterma de equilbrio............................... 111

    Tabela 13 Resultados dos procedimentos experimentais para determinao

    do comportamento tintorial do Corante de Alfafa..................................................

    113

    Tabela 14 Resultados dos procedimentos experimentais para determinao

    do comportamento tintorial do Corante de Urucum..............................................

    114

    Tabela 15 Resultados dos procedimentos experimentais para substratos

    purgados e pr-alvejados......................................................................................

    118

    Tabela 16 Resultados dos testes de solidez para os tingimentos

    mordentados..........................................................................................................

    121

    Tabela 17 Resultados dos testes para patamares de 60C e 80C................... 125

    Tabela 18 Dados para curva de calibrao Corante de Urucum....................... 127

    Tabela 19 Resultados para tingimento a 60C.................................................. 129

    Tabela 20 Resultados para tingimento a 80C.................................................. 130

    Tabela 21 Resultados ajustados para tingimento a 60C.................................. 130

    Tabela 22 Resultados ajustados para tingimento a 80C.................................. 131

    Tabela 23 Resultados para KL e C................................................................... 131

    Tabela 24 Resultados para o parmetro RL....................................................... 134

    Tabela 25 Produo de fibras naturais no Brasil (mil toneladas)...................... 145

  • x

    Tabela 26 Histria das fibras txteis naturais.................................................... 146

    Tabela 27 Composio da fibra de algodo...................................................... 150

    Tabela 28 Faixas de valores HLB e suas aplicaes........................................ 160

    Tabela 29 Grupos hidroflicos e lipoflicos......................................................... 160

  • xi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 01 - Etapas do tingimento.......................................................................... 031

    Figura 02 - Curva de esgotamento de um tingimento........................................... 033

    Figura 03 - Curvas isotrmicas comportamentos de equilbrio.......................... 035

    Figura 04 - Grupos cromforos............................................................................. 042

    Figura 05 - Grupos auxocromos............................................................................ 042

    Figura 06 - Grupos solubilizantes.......................................................................... 043

    Figura 07 - Modelo de estrutura dos corantes diretos e de sua fixao

    celulose por pontes de Hidrognio.........................................................................

    045

    Figura 08 - Isoterma para o C.I. Amarelo Direto 12 a 60C.................................. 047

    Figura 09 - Efeito da adio do eletrlito sobre a exausto de corantes diretos.. 048

    Figura 10 - Frmula C.I. Amarelo Direto 12.......................................................... 049

    Figura 11 - Frmula C.I. Azul Direto 1................................................................... 049

    Figura 12 - Efeito da temperatura sobre a exausto de alguns corantes diretos.. 050

    Figura 13 - Primeiros corantes reativos derivados de Cloreto Cianrico........... 057

    Figura 14 - Escala de reatividade.......................................................................... 059

    Figura 15 - Estrutura qumica de um corante bifuncional...................................... 060

    Figura 16 - Reaes por substituio.................................................................... 061

    Figura 17 - Reaes por adio............................................................................ 062

    Figura 18 - Curvas de esgotamento e fixao...................................................... 063

    Figura 19 - Tingimento de algodo com corantes a frio Fluorcloropirimidina.... 065

    Figura 20 - Tingimento de algodo com corantes a frio Vinilsulfnico............... 066

    Figura 21 - Tingimento de algodo com corantes a quente processo

    tradicional...............................................................................................................

    068

    Figura 22 - Tingimento de algodo com corantes a quente processo

    migrao.................................................................................................................

    068

    Figura 23 - Tingimento de algodo com corantes a quente processo All in... 069

    Figura 24 - Corante a cuba Antraquinnico.......................................................... 071

    Figura 25 - Corante ndigo e seu leuco-derivado.................................................. 072

    Figura 26 - Corante derivado do Carbazol............................................................ 072

    Figura 27 - Reao para forma leuco-derivada..................................................... 074

  • xii

    Figura 28 - Reao de oxidao........................................................................... 075

    Figura 29 - Processo de tingimento de Corante a Cuba por esgotamento........... 076

    Figura 30 - Mecanismo de reduo/oxidao de um Corante Sulfuroso.............. 077

    Figura 31 - Reduo e oxidao do Corante Sulfuroso formao de um Tiol... 078

    Figura 32 - Reao de condensao do tiol na fase oxidativa do Corante

    Sulfuroso................................................................................................................

    078

    Figura 33 - Processo de tingimento Corante Sulfuroso ecolgico........................ 079

    Figura 34 - Oxidao para pretos.......................................................................... 080

    Figura 35 - Oxidao para cores........................................................................... 080

    Figura 36 - Alfafa................................................................................................... 085

    Figura 37 - Frmula estrutural do Corante da Alfafa............................................. 086

    Figura 38 - Garana comum.................................................................................. 087

    Figura 39 - Pau Campeche................................................................................... 091

    Figura 40 - Estrutura qumica da hematoxilina...................................................... 092

    Figura 41 - Fruto do Urucuzeiro............................................................................ 093

    Figura 42 - (a) Molcula de bixina e (b) Molcula de norbixina............................ 096

    Figura 43 - Equipamento de tingimento infravermelho Metal Working.............. 098

    Figura 44 - Espectrofotmetro Datacolor 650....................................................... 099

    Figura 45 - Grficos de processos de tingimento.................................................. 102

    Figura 46 Resultados para avaliao do comportamento tintorial..................... 115

    Figura 47 - Corpos de prova para os tingimentos e testes de solidez.................. 119

    Figura 48 - Resultados de leitura espectrofotomtrica para soluo de banho

    1% de Corante de Urucum. ...................................................................................

    126

    Figura 49 - Grfico de tingimento para Corantes Naturais.................................... 126

    Figura 50 - Curva de calibrao para o Corante de Urucum................................ 128

    Figura 51 - Isoterma de Langmuir 60C............................................................. 132

    Figura 52 - Isoterma de Langmuir 80C............................................................. 132

    Figura 53 - Variao de entalpia........................................................................... 133

    Figura 54 - Classificao das fibras naturais........................................................ 143

    Figura 55 - Classificao das fibras qumicas....................................................... 144

    Figura 56 - Estrutura de um elo da cadeia de celulose......................................... 147

    Figura 57 - O algodoeiro....................................................................................... 148

    Figura 58 - Fibras de algodo presas ao capulho................................................. 149

  • xiii

    Figura 59 - Esquema celular da fibra do algodo................................................. 152

    Figura 60 - Aes oxidativas seqenciais............................................................. 155

    Figura 61 - Arranjo das foras moleculares em um lquido................................... 157

    Figura 62 - Produto tensoativo.............................................................................. 158

    Figura 63 - Corte longitudinal de uma cpsula de Urucum................................... 186

  • xiv

    LISTA DE EQUAES

    Equao 01 N Contatos/min material em movimento/ banho parado.... 026

    Equao 02 N Contatos/min material parado/ banho movimento.......... 027

    Equao 03 N Contatos/min material em movimento/ banho

    movimento......................................................................................................

    027

    Equao 04 Lei de Fick.............................................................................. 032

    Equao 05 Velocidade de tingimento....................................................... 033

    Equao 06 % Corante hidrolisado............................................................ 064

    Equao 07 Concentrao residual de sal................................................. 070

    Equao 08 Isoterma de Langmuir............................................................ 109

    Equao 09 Equao de Clausius-Clapeyron............................................ 109

    Equao 10 Equao do parmetro RL......................................................

    Equao 11 Equao da curva de calibrao para o corante Urucum......

    110

    128

    Equao 12 Equao rearranjada da Isoterma de Langmuir..................... 131

    Equao 13 Equao da Isoterma de Langmuir 60C............................ 131

    Equao 14 Equao da Isoterma de Langmuir 80C............................ 131

  • xv

    LISTA DE SMBOLOS

    Cb concentrao de corante no banho

    Cf concentrao de corante na fibra

    C concentrao de corante mxima na fibra

    CA fibra de acetato

    CAS nmero de registro de um produto qumico no banco de dados do Chemical

    Abstracts Service.

    CEL fibra celulsica

    CH corante hidrolisado

    CMC Color Measurement Committee

    C.I. color index nmero que identifica um determinado corante

    CIE Comisso Internacional de Iluminao (do francs Commission Internationale de

    lEclairage)

    CT fibra de triacetato

    DCT diclorotriazina

    Da variao de cor no eixo vermelho-verde

    Db variao de cor no eixo azul-amarelo

    DE diferena residual de cor

    DL variao de cor no eixo da luminosidade

    E corante esgotado

    F corante fixado

    FC fora colorstica

    HLB balano lipoflico-hidroflico

    MCT - monoclorotriazina

    PA fibra de poliamida

    PAC fibra de acrlico

    PES fibra de polister

    S fibra de seda

    Tg temperatura de transio vtrea

    VS - vinilsulfnico

    WO fibra de l

  • xvi

    RESUMO

    A preocupao com o aspecto ecolgico de produtos e processos crescente nos

    dias de hoje. A degradao do meio ambiente e a utilizao indevida dos recursos

    naturais tm causado impactos extremamente nocivos ao planeta. O uso de

    produtos que, de alguma forma prejudicam a sade do homem, tambm objeto

    de estudo nas vrias reas da cincia. O processo de tingimento txtil utiliza

    produtos e processos poluentes e com alta demanda de recursos naturais. Existem

    alternativas de corantes provenientes de fontes naturais e renovveis, utilizados na

    indstria alimentcia e j utilizados no passado em artigos txteis, que poderiam

    suprir parte da demanda dos tingimentos txteis, minimizando os impactos

    ambientais e, qui, trazendo benefcios sade humana atravs de suas

    propriedades fitoterpicas. Os objetivos deste trabalho foram: Estudar o processo

    de tingimento do substrato de algodo com dois corantes naturais selecionados,

    Corantes de Alfafa e de Urucum, e determinar as melhores condies do processo,

    verificando o desempenho do produto tingido atravs de testes de solidez

    lavao e luz normatizados. Estudou-se, tambm, a influncia de diferentes

    processos de preparao, concluindo-se no ser esta etapa relevante no resultado

    do tingimento. Foi investigada a aplicao de vrios mordentes, determinando-se

    sua influncia sobre o resultado dos tingimentos, no qual significativas variaes no

    padro de cor e resistncia solidez e lavao foram observadas. Para os testes

    de avaliao do comportamento tintorial, os resultados demonstraram que ambos

    os corantes so semelhantes aos corantes diretos. O processo de tingimento

    proposto foi compatvel com os processos utilizados nesta classe de corantes. As

    concluses obtidas na avaliao do comportamento tintorial foram confirmadas com

    a obteno de Isotermas de Absoro de Langmuir e, a partir destas, do valor de

    variao de entalpia para o processo. O valor do DH para o caso do tingimento com

    Corante de Urucum foi de DH = 19 kJ/mol, indicando um processo de fisissoro.

    Palavras-chave: Corante de Alfafa, Corante de Urucum, comportamento tintorial,

    tingimento, mordentes.

  • xvii

    ABSTRACT

    The concern with the ecological aspects of industrial products and processes is

    growing nowadays. The degradation of the environment and the improper use of the

    natural resources have been causing extremely dangerous impacts to the planet.

    The use of products that prejudice health, also are research object in several

    science areas. The process of textile dyeing uses pollutant products and processes

    and with high demand of natural resources. There are alternatives of dyes obtained

    from natural and renewable sources, used in the food industry and already used in

    the past in textile substratum, that they could supply part of the demand of the

    textile dyeings, minimizing the environmental impacts and maybe bringing benefits

    to the human health through their phytoteraptics properties. The objectives of this

    work were: to study the dyeing process of the cotton substratum with two natural

    dyes selected: dyestuff obtained from Alfalfa and from Annatto, and to determine

    the best conditions of the process, verifying the acting of the dyed product through

    solidity tests to the washing and the stability to the light. It was also studied the

    influence of different preparation processes, being concluded not to be this relevant

    stage in the result of the dyeing. The application of several mordants was

    investigated being determined its influence on the result of the dyeings, where

    significant variations in the color pattern and washing resistance were observed.

    Through the tests of evaluation of the dyeing behavior, the results demonstrated

    that both dyestuffs are similar to the direct dyes. The process of proposed dyeing

    was compatible with the processes used in this class of dyes. The conclusions

    obtained in the evaluation of the dyeing behavior were confirmed with the ones

    obtained with Langmuir adsorption isotherms. The enthalpy values were determined

    for the adsorption process. The value of the enthalpy variation for the case of the

    dyeing with dyestuff from Annatto was of equal to 19 kJ/mol, indicating a

    physisorption process.

    Key-words: Alfafa dyestuff, Annatto dyestuff, dyeing behavior, dyeing process.

  • 18

    1 INTRODUO

    1.1 Contextualizao

    As empresas esto inseridas em um mercado de intensa competitividade

    global, definido por DAVENI (1985) como Hipercompetio. Um ambiente onde

    as vantagens so rapidamente criadas e erodidas.

    SCHUMPETER (1982) teoriza que a concorrncia centraliza-se na

    inovao e esta provoca um processo de destruio criativa no qual velhas

    estruturas so substitudas por novas, conduzindo a economia a nveis mais

    elevados de renda e, presumivelmente, de bem-estar social.

    No obstante a este cenrio de competitividade, surge a partir do incio

    deste sculo, um fato at ento ignorado pelos economistas e cientistas sociais: a

    preocupao com os recursos naturais e no to somente os recursos materiais,

    mas, tambm, os sociais e do capital. A julgar por seu impacto sobre o capital

    natural e social, a nova economia se parece mais com a prxima onda da Era

    Industrial do que com uma Era Ps-Industrial. A ousada afirmao de SENGE e

    CARSTED (2001).

    Segundo eles, os sistemas que regem os processos produtivos,

    inspirados nas mquinas, seguem um fluxo linear (extrair, produzir, vender, usar,

    descartar), no sustentvel em longo prazo. Para impulsionar empreendimentos

    que no prejudiquem o tecido social e ambiental e sejam financeiramente viveis,

    SENGE e CARSTED (2001) propem basear-se no modelo circular dos sistemas

    vivos: produzir, reciclar, regenerar. Trata-se de consumir os lucros energticos

    (solar, elico) em vez de devorar o capital natural (petrleo, gs) e projetar

    sistemas com desperdcio zero, nos quais o resduo de um processo seja o

    nutriente de outro.

    Assim, alm do contexto globalizado e altamente competitivo da

    atualidade, torna-se imperativa a necessidade de se inovar, levando-se em

    considerao os aspectos ambientais envolvidos.

    neste cenrio internacional de alta competitividade que est inserida a

    quarta atividade econmica mais importante do mundo: as indstrias txteis e de

    vesturio, atrs apenas de agricultura, turismo e informtica. Esta afirmao

  • 19

    sustentada por SILVA (2002), que informa, ainda, que o comrcio mundial da

    cadeia txtil movimenta mais de 350 bilhes de dlares/ano.

    Nos ltimos anos, tm ocorrido grandes alteraes no mercado txtil. As

    culturas empresariais vm se ajustando aos novos tempos. Estratgias esto

    sendo redefinidas para enfrentar os desafios da prxima dcada. A indstria txtil,

    em razo destas grandes mudanas, sofre novas presses.

    As mudanas, que tm pressionado o mercado txtil, referem-se ao

    elevado aumento de custos, novos hbitos de vida e moda, modernizao da

    comunicao visual e maior preocupao com a qualidade de vida. A maior

    politizao do homem e o aumento da comunicao tm provocado imposies

    quanto segurana e preservao do ecossistema.

    Diante deste cenrio, questiona-se: possvel encontrar matrias-primas

    naturais e processos menos agressivos para tingimento dos tecidos de malha em

    algodo, de forma a serem aplicados na prtica das indstrias txteis, a fim de

    torn-las mais competitivas?

    1.2 Origem do trabalho

    O presente trabalho origina-se na necessidade de enriquecer as atuais

    tcnicas de tingimento de tecidos de malhas em algodo existentes nas empresas

    txteis brasileiras, propiciando a estas empresas diferenciao. No somente para

    defender-se da competio global, mas principalmente, acelerar os processos de

    mudanas, tendo a utilizao de matrias-primas e insumos naturais como o

    elemento motriz e a base para um sucesso competitivo.

    Desde a antiguidade, j existiam tingimentos com corantes naturais.

    Entretanto, estes processos eram realizados de forma artesanal e destinados a

    produtos para os quais no se observava a exigncia de padres de qualidade

    como nos dias atuais. Ou melhor, estes produtos tintos com corantes naturais no

    podiam ser comparados ao desempenho dos tintos com corantes artificiais, pois

    estes ainda no existiam. A igualizao do tingimento, a reproduo da cor, a

    solidez de forma geral no podiam ser comparados. Mas, como tingir tecidos de

    malha de algodo com corantes naturais, de maneira assertiva, sem gerar

  • 20

    problemas de qualidade e atingindo nveis de exigncia aceitveis quanto aos

    padres de qualidade?

    O presente trabalho traz o desenvolvimento de um modelo que responde

    a essa necessidade, bem como a metodologia que poder ser seguida para a

    determinao de parmetros de processos para outros corantes naturais no

    estudados neste trabalho.

    1.3 Justificativa do trabalho

    Para as empresas industriais de maneira geral, em especial as indstrias

    txteis, a alta eficincia e a inovao no produto fator relevante para o seu

    sucesso. Nas empresas txteis catarinenses de perfil inovador, a aplicao dos

    processos de tingimento dos tecidos de malha, com matrias-primas naturais, pode

    levar obteno de desempenho produtivo superior, diferenciao do produto e at

    ampliao de mercado, atingindo fatias antes no exploradas.

    Observa-se que, somente a partir dos anos 90, os empresrios do setor

    txtil se mostraram preocupados com o posicionamento das suas empresas

    perante a abertura do mercado internacional. Nesse mesmo perodo, o mundo

    percebe que o novo sculo a era da preservao dos recursos ambientais e da

    qualidade de vida, ou seja, aumenta-se em escala geomtrica a complexidade dos

    produtos, dos mercados e da logstica como um todo. Alm disso, a diferenciao

    dos produtos vem sendo vista como um caminho para a satisfao dos clientes,

    principalmente no mundo da moda.

    A maior valorizao pelo homem da sade e, conseqentemente da

    qualidade de vida, a modernizao da comunicao visual e maior politizao tm

    provocado imposies quanto segurana e preservao do ecossistema.

    O grande desafio destas empresas est em viabilizar matrias-primas e

    processos que minimizem os impactos ambientais, utilizem fontes naturais e

    renovveis e, ainda, possam ter como vantagem competitiva funcionalidades que,

    de alguma forma, melhorem a qualidade de vida do ser humano. Em se tratando de

    tecido tinto de malha em algodo, o processo com maior impacto ambiental e

    utilizao de recursos naturais o processo de tingimento, bem como os insumos

    utilizados nele.

  • 21

    , portanto, neste ponto que reside o desafio maior. Tornar-se-

    diferenciada a empresa que dominar os processos de tingimento com matrias-

    primas e insumos naturais como um item de vantagem competitiva frente a

    produtos convencionais, podendo explorar, inclusive, aspectos de funcionalidades

    fitoterpicas presentes em alguns corantes.

    O trabalho experimental, realizado no presente projeto, baseia-se nas

    pesquisas e ensaios efetuados na empresa e instituio em que trabalhou a

    pesquisadora: Marisol S.A. e CEFET/SC Centro Federal de Educao

    Tecnolgica de Santa Catarina - Unidade Jaragu do Sul, onde se pode construir

    uma base de dados composta por ensaios laboratoriais.

    De forma resumida, pode-se dizer que as principais justificativas que

    motivaram o presente trabalho so:

    a) Obteno de um produto txtil diferenciado;

    b) Grandes redues de consumo de produtos qumicos agressivos e

    poluentes;

    c) Alternativa de processo com menor impacto ambiental na utilizao

    dos recursos naturais;

    d) O corante natural, dependendo de sua composio, poder

    proporcionar ao produto uma atuao fitoterpica, contribuindo de

    alguma forma com a qualidade de vida do indivduo usurio do

    produto;

    e) Em especial o Urucum um corante com grande potencial produtivo

    no Brasil;

    f) O algodo, apesar de ter perdido nos ltimos 20 anos, parte da sua

    fatia de mercado, continua sendo a fibra txtil de mais consumida no

    mundo (IEMI, 2003) e

    g) As indstrias txteis da regio do Vale do Itaja e do Itapocu so

    tradicionalmente algodoeiras.

  • 22

    1.4 Objetivos

    1.4.1 Objetivo geral

    Avaliar o comportamento tintorial de corantes naturais no processo de

    tingimento de substrato de algodo. Determinar os parmetros termodinmicos do

    processo de adsoro do corante no substrato txtil.

    1.4.2 Objetivos especficos

    Os objetivos especficos esto atrelados ao entendimento de quais

    variveis, como por exemplo: tempo, temperatura, presena de eletrlito entre

    outras, e de que forma elas afetam o tingimento dos tecidos de malha em algodo

    com corantes naturais. Para o caso deste estudo aprofundou-se o trabalho

    considerando o Corante de Urucum. Assim sendo:

    a) estudar o comportamento tintorial dos Corantes de Urucum e de

    Alfafa, e identificar a que classe de corante artificial eles mais se

    aproximam;

    b) determinar os parmetros de processo de tingimento para os Corantes

    de Urucum e de Alfafa, bem como os insumos a serem utilizados a fim

    de atingir nveis de solidez da cor aceitveis;

    c) avaliar a interferncia de processos de purga e pr-alvejamento no

    resultado de cor dos tingimentos;

    d) verificar na literatura a existncia de propriedades fitoterpicas nos

    princpios ativos corantes;

    e) determinar a variao de entalpia do processo atravs da isoterma de

    Langmuir e validar numericamente os resultados obtidos no estudo do

    comportamento tintorial.

    Esta dissertao mostrar que o processo de tingimento com corantes

    naturais vivel industrialmente para ser produzido com padres de qualidade

    aceitveis e com a possibilidade de explorao de aspectos funcionais do produto

    com foco na qualidade de vida.

  • 23

    1.5 Limitaes do trabalho

    O presente estudo trabalha com limitaes ligadas amplitude da

    anlise, amostra utilizada e ao banco de dados, para representar o modelo do

    processo proposto.

    Os parmetros de processo apresentados limitam-se ao mbito dos

    Corantes de Urucum e de Alfafa em tecidos de malha em fibra 100% algodo.

    1.6 Estrutura do trabalho

    Este trabalho est estruturado em seis (6) captulos. O captulo inicial de

    INTRODUO expe a origem do trabalho, sua justificativa, o objetivo geral e os

    objetivos especficos, bem como suas limitaes.

    Os captulos seguintes esto organizados como a seguir:

    REVISO BIBLIOGRFICA, cujo embasamento terico serviu de

    orientao para os ensaios;

    MATERIAIS E MTODOS, o qual descreve os materiais e

    procedimentos utilizados;

    RESULTADOS E DISCUSSO, no qual esto dispostos os valores

    encontrados e suas interpretaes;

    CONCLUSO E SUGESTES;

    REFERNCIAS.

    Alguns embasamentos tericos encontram-se nos anexos a fim de serem

    utilizados somente para complementao dos conhecimentos.

  • 24

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    Este captulo far uma exposio dos vrios itens envolvidos no processo

    de tingimento, dando nfase aos conhecimentos a respeito dos corantes artificiais e

    naturais existentes. Outros itens, relacionados aos conhecimentos txteis, esto

    dispostos em anexo para consulta, caso o leitor sinta necessidade de

    esclarecimento. Esta reviso dos contedos necessria para que se possa

    determinar os caminhos para o estudo do Corante de Urucum e do Corante de

    Alfafa, principal foco de trabalho.

    2.1 Fibras Txteis

    Cada fibra possui caractersticas e propriedades diferentes, sejam as

    dimenses de suas cadeias moleculares, cristalinidade, cores, massa especfica,

    ponto de fuso ou transio vtrea, elasticidade, hidrofilidade e muitas outras

    propriedades que iro conferir aos tecidos aplicaes diversas. Da a grande

    importncia de se conhecer de forma profunda as fibras txteis e seus aspectos

    tcnicos, a fim de selecionar a fibra e os processos adequados para se atingir os

    objetivos desejados. Desta forma, o Anexo A contempla uma descrio terica a

    respeito de fibras naturais, em especial do Algodo. Esto sintetizadas, neste

    anexo, as propriedades e as aes qumica e fsica sobre a fibra do algodo.

    2.2 Auxiliares para Processos de Tingimento de Algodo

    Para o processamento das fibras celulsicas na Tinturaria, so

    empregados produtos auxiliares que proporcionaro uma limpeza s fibras e as

    prepararo para receber os corantes. Alguns produtos tambm auxiliam no

    transporte do corante para a fibra e na fixao destes na fibra.

    Para o processamento do algodo, os principais produtos qumicos

    auxiliares empregados so: detergentes e umectantes, dispersantes,

    seqestrantes, lcalis, cidos, eletrlitos, oxidantes, redutores, entre outros. O

  • 25

    Anexo B traz informaes a respeito dos tensoativos, mordentes e produtos

    diversos.

    2.3 Tratamentos Prvios para Fibra de Algodo

    As fibras de algodo contm de 5 a 6% de impurezas de diversos

    gneros. Alm da cor amarelada, devido aos corantes naturais e alteraes

    qumicas ocorridas na celulose, deve-se considerar que o algodo possui

    impurezas no fibrosas derivadas dos processos de extrao das fibras no

    descaroamento e na limpeza mecnica, como pedaos de caroo, restos vegetais

    de caules e folhas, etc. Estas ltimas impurezas podem chegar a compor de 10 a

    14% do peso das fibras (ALFIERI, 1991).

    Por estes motivos, mesmo considerando os processos de limpeza

    mecnica includos na fabricao dos fios, pode haver facilmente perdas da ordem

    de at 10% de massa no algodo em funo dos processos qumicos e fsicos

    envolvidos nos tratamentos prvios ao tingimento.

    Podem-se dividir as impurezas em:

    Substncias solveis em gua: de fcil eliminao por lavagem;

    Substncias do tipo gorduras e ceras: concedem ao algodo o carter

    hidrfobo e so eliminadas por cozinhamento alcalino;

    Pigmentos corantes que do ao algodo um aspecto amarelado-

    acinzentado e restos de cascas que formam pontos escuros na

    superfcie do tecido. A eliminao total destas impurezas realizada

    atravs de oxidao.

    Os tratamentos prvios so realizados com os objetivos de assegurar ao

    artigo aspecto limpo e hidrfilo e possibilitar o tingimento de forma igualizada e

    reprodutvel. Isso facilita o acesso do corante fibra, favorecendo as ligaes, o

    que, na maioria dos casos, aumenta o rendimento da cor.

    Os principais tratamentos prvios empregados so chamuscagem,

    desengomagem, purga e alvejamento. Normalmente, estas operaes so

    aplicadas em substratos crus; porm, alguns deles, como a purga e o alvejamento,

    podem ser aplicados tambm em tecidos tintos ou at em peas confeccionadas.

    No Anexo C esto descritos os principais processos.

  • 26

    2.4 Princpios Gerais do Tingimento

    O tingimento consiste em uma modificao fsica ou qumica do

    substrato, de forma que a luz refletida provoque uma percepo de cor. Os

    produtos que causam esta modificao so os corantes. O tingimento se faz,

    normalmente, em meio aquoso em um dos dois sistemas bsicos:

    Contnuo: a soluo de corante aplicada por impregnao sobre o

    material txtil e espremida mecanicamente (foulardagem). Nas

    receitas, a concentrao de corante expressa em g/L. A boa

    igualizao dos tingimentos dependente das instalaes mecnicas.

    O tingimento, em seguida, fixado de vrias formas:

    - calor seco (ar quente) Pad Dry;

    - calor mido (vapor) Pad-Steam;

    - repouso a frio Pad-Batch;

    - repouso a quente Pad-Roll;

    - banho novo Pad-Jigg.

    Esgotamento: o corante se desloca do banho para a fibra. Neste caso,

    o banho de tingimento sempre vrias vezes mais volumoso que o

    peso do substrato. Por esta razo, nas receitas, a quantidade de

    corante indicada em percentual sobre o peso do material txtil. Para

    que haja uma boa igualizao deve-se observar: o nmero de

    contatos entre banho e substrato, a velocidade de montagem e a

    migrao do corante.

    O nmero de contatos entre banho e substrato uma varivel

    parametrizada pela mquina de tingir. No tingimento por esgotamento, diferenciam-

    se trs sistemas de circulao:

    Material txtil em movimento banho parado (A): As mquinas que

    possuem este sistema so Barcas e Jiggers. O nmero de

    contatos/min entre banho e substrato dado pela Equao 01.

    mV

    C = (01)

  • 27

    onde:

    C = n de contatos/min;

    V = velocidade do substrato em metros/min;

    M = comprimento em metros do substrato.

    Material txtil parado banho em movimento (circulando) (B): As

    mquinas que possuem este sistema so turbos, armrios para fios e

    autoclaves. O nmero de contatos/min entre banho e substrato

    dado pela Equao 02.

    LF

    C = (02)

    onde:

    C = n de contatos/min;

    F = fluxo do banho em litros/min;

    L = volume do banho em litros.

    Material txtil em movimento banho em movimento (C): As

    mquinas que possuem este sistema so Jets, Jigg Flow e Over Flow.

    O nmero de contatos/min entre banho e substrato dado pela

    Equao 03.

    mV

    LF

    C = (03)

    onde:

    + banho e substrato circulam em contracorrente;

    - banho e substrato circulam no mesmo sentido.

  • 28

    O sistema A possibilita uma circulao fraca. Os sistemas B e C, devido

    s modernas tcnicas de bombeamento, provocam uma vigorosa movimentao do

    banho provocando uma melhor igualizao do tingimento.

    2.4.1 Fundamentos Tericos

    A princpio, o processo de tingimento ocorre em trs etapas:

    1 Passagem do corante do banho de tingimento para a superfcie da

    fibra.

    2 Adsoro do corante atravs de regies acessveis da fibra.

    3 Difuso do corante na fibra.

    Neste processo, devido grande interao corante/fibra, tratar-se- da

    influncia da estrutura da fibra, da influncia da estrutura do corante e da teoria

    geral do tingimento cintica e termodinmica.

    2.4.1.1 Influncia da Estrutura da Fibra

    Segundo BURDETT, a difuso dos corantes nas fibras e sua adsoro

    dependem fortemente da estrutura fsica e qumica da fibra e de sua capacidade de

    ser modificada antes ou durante o tingimento.

    Fibras txteis so polmeros de alto peso molecular, que contm regies

    em variado grau de ordem ou desordem molecular. Ao se correlacionar a estrutura

    da fibra com o comportamento tintorial, so consideradas duas principais

    caractersticas estruturais da fibra, as quais governam a capacidade de tingir:

    Permeabilidade: a facilidade com que as molculas do corante se

    difundem na fibra. Est relacionada com a estrutura fsica da fibra.

    Constituio qumica da fibra: grupos funcionais presentes nas

    cadeias moleculares da fibra.

    Estas caractersticas so em grande parte determinadas na fabricao ou

    no crescimento da fibra. Alm destas duas caractersticas, so tambm importantes

    o tratamento prvio e condies de processo (pH, temperatura, tempo, etc.) e o

    corante.

  • 29

    2.4.1.1.1 Permeabilidade

    A permeabilidade das fibras depende da proporo entre regies

    amorfas e cristalinas, da orientao molecular, do tratamento prvio e, em alguns

    casos, da temperatura de transio vtrea (Tg).

    Os corantes, devido maior facilidade de penetrao, so adsorvidos

    atravs das regies amorfas e, posteriormente, difundem-se por toda a fibra.

    Assim, uma maior proporo de regies cristalinas diminui a permeabilidade.

    Em todas as fibras variam as relaes entre regies cristalinas e regies

    amorfas. As regies cristalinas proporcionam tenacidade e rigidez, enquanto as

    amorfas proporcionam permeabilidade e flexibilidade. Esta proporo inerente

    formao nas fibras naturais enquanto pode ser controlada durante o processo de

    fabricao nas fibras qumicas.

    Fibras qumicas, em razo dos processos de estiragem em sua

    fabricao, normalmente possuem maior orientao molecular, o que dificultar a

    permeabilidade. A estiragem de filamentos de poliamida, por exemplo, causa um

    decrscimo na absoro de corantes, portanto, o grau de regularidade das cadeias

    polimricas apresenta-se em duas formas de ordem fsica diferentes, porm

    relacionadas: orientao e cristalinidade. Ambas so significativas por afetarem

    fortemente a cintica e o equilbrio da adsoro dos corantes pelas fibras.

    Tratamentos prvios, como mercerizao do algodo, cloragem da l ou

    termofixao do polister, provocam alteraes na estrutura da fibra, influenciando

    nas propriedades tintoriais.

    Na temperatura de transio vtrea ocorre mudana do estado vtreo

    para um estado flexvel. Acredita-se que, em nvel molecular, ocorre um aumento

    do grau de rotao dos segmentos polimricos e certo relaxamento na orientao

    das cadeias moleculares da fibra.

    2.4.1.1.2 Constituio Qumica da Fibra

    A presena de grupos funcionais est relacionada constituio qumica

    da fibra. Estes grupos influenciam no comportamento tintorial conforme o tipo,

    concentrao, distribuio e grau de ionizao.

  • 30

    Outro fato a ser considerado o meio aquoso, no qual ocorre a maioria

    dos processos de tingimento. O grau de intumescimento das fibras txteis imersas

    em gua relaciona-se com a composio qumica da fibra e, conseqentemente,

    com a capacidade tintorial. Por exemplo, a penetrao de corantes inicos solveis

    em gua atravs de regies acessveis muito dependente da absoro de gua.

    A facilidade de penetrao de corantes em uma fibra depende da

    interao fibra/gua. Em geral, as fibras hidroflicas, como o algodo, aceitam

    corantes inicos solveis em gua. Por outro lado, fibras hidrofbicas, como o

    polister, que no intumescem em gua, so permeveis somente a corantes no

    inicos de muito baixa hidrossolubilidade.

    As fibras hidroflicas contm grupos polares que ionizam em gua e tm

    uma proporo relativamente alta de regies amorfas, o que aumenta a

    acessibilidade aos corantes. Este aspecto de fundamental importncia. A falta de

    capacidade de inchar de algumas fibras vem da presena de poucos grupos

    polares ou da ausncia dos mesmos (polipropileno, acetato e triacetato de

    celulose) ou, ainda, da inacessibilidade de grupos polares devido alta

    cristalinidade e/ou orientao (polister, acrlico e poliamida). O regain baixssimo

    de 0,4% para fibras de polister vem da inacessibilidade dos grupos funcionais

    polares da fibra, particularmente dos grupos terminais OH em virtude de sua

    cristalinidade.

    Fibras hidrofbicas no podem ser tintas com corantes de alta

    solubilidade em gua, pois a ionizao, e assim o comportamento fortemente polar

    dos corantes, produz uma reao adversa entre corante e fibra.

    Os grupos funcionais presentes ou introduzidos na fibra influenciam na

    afinidade pelo corante. As alteraes na constituio qumica da fibra so

    acompanhadas por mudanas na estrutura fsica e, em conseqncia, estas duas

    variveis so responsveis por alteraes nas propriedades tintoriais.

    Tem-se, como exemplo desta situao, a modificao qumica da

    celulose por acetilao. A esterificao da celulose por acetilao, ou seja,

    substituio de grupos OH por grupos acetil, altera as propriedades tintoriais da

    fibra. Conforme aumenta o grau de acetilao, diminui a afinidade dos corantes

    aninicos solveis em gua (corantes diretos) e aumenta a dos corantes no

    inicos (corantes dispersos).

  • 31

    2.4.2 Influncia da Estrutura do Corante

    A estrutura qumica e espacial do corante influencia na velocidade do

    tingimento. Devido aos corantes conterem uma grande variedade de grupos

    funcionais capazes de interagir com a fibra, difcil predizer a forma de atrao das

    molculas de corante com a fibra. Ambos possuem grupos capazes de interagir por

    atrao polar ou no polar.

    Na interao corante/fibra, ocorrem fenmenos fsicos e qumicos como:

    Fenmenos fsicos: atrao eltrica, estado de agregao (soluo

    molecular, soluo coloidal e disperso), intumescimento da fibra,

    adsoro do corante, difuso do corante e soluo de slido em

    slido.

    Fenmenos qumicos: ligaes por Pontes de Hidrognio, ligaes

    inicas, ligaes covalentes, produo de corante na fibra por reao

    de diazotao e copulao, solubilizao do corante por reduo com

    posterior insolubilizao por oxidao.

    2.4.3 Teoria Geral do Tingimento Cintica e Termodinmica

    Para melhor compreenso do processo de tingimento, este separado

    em duas etapas, conforme Figura 01:

    Figura 01 Etapas do tingimento.

    Fonte: Salem, V Curso de Tingimento Txtil Mdulo 1 (2000).

    Cf

    TempoTemperatura

    Cf = Corante na fibra

    TERMODINMICACINTICA

  • 32

    Fase cintica: fase em que se determina a velocidade de

    deslocamento do corante para a superfcie da fibra, a sua velocidade

    de adsoro e de difuso dentro dela e as influncias de

    concentrao de corante e eletrlitos, pH, temperatura e relao de

    banho sobre estas velocidades.

    Fase termodinmica: etapa que estuda os fatores que motivam a

    fixao do corante na fibra e que so chamados de afinidade.

    2.4.3.1 Fase Cintica

    Segundo SALEM (2000), nesta fase ocorrem a transferncia do corante

    do banho para a fibra, a adsoro deste na superfcie da fibra e a difuso para o

    interior. A difuso ocorre conforme a Lei de Fick, que dada pela Equao 04.

    dxdc

    ADdtds

    **-= (04)

    onde:

    ds/dt = velocidade de difuso;

    dc/dx = gradiente de concentrao;

    D = coeficiente de difuso;

    A = rea.

    Na fase cintica ocorre a maior parte dos problemas de tingimento. O

    fator determinante para um tingimento igualizado e bem difundido reside no

    controle da velocidade de adsoro do corante pela fibra.

    Geralmente se confunde a velocidade em que o processo ocorre e a

    grandeza da fora motriz que provoca o processo. No tingimento, admite-se como

    fora motriz a afinidade, que responsvel pela ocorrncia do fenmeno. Alm da

    afinidade, tem-se um parmetro de velocidade ou grau de resistncia difuso do

    corante no interior da fibra. A forma mais simples de expressar esta idia atravs

  • 33

    da Equao 05, onde Ft corresponde ao parmetro de afinidade e 1/R ao parmetro

    de velocidade.

    RFV tt = (05)

    onde:

    Vt = velocidade de tingimento;

    Ft = fora motriz de tingimento;

    R = resistncia penetrao das molculas de corante.

    A velocidade instantnea do tingimento, portanto, depende de dois

    fatores:

    parmetro de velocidade diretamente ligado cintica;

    parmetro de afinidade ligado termodinmica do processo.

    A velocidade de tingimento deve ser criteriosamente confeccionada em

    forma de uma curva, considerando substrato, produtos e mquina. Esta curva deve

    expressar o tempo de tingimento em funo da percentagem total de corante que

    montar ao alcanar o equilbrio (Ec), tanto quanto o tempo requerido para alcanar

    meio esgotamento (E/2). A forma desta curva depender das condies de

    tingimento, variaes de temperatura, pH, eletrlitos, etc, conforme Figura 02.

    Figura 02 Curva de esgotamento de um tingimento.

    Fonte: Salem, V Curso de Tingimento Txtil Mdulo 1 (2000)

    Tempo

    % Ec

    t 1/2

    % = E/2

    E

  • 34

    2.4.3.2 Fase Termodinmica

    As molculas de qualquer composto, sejam na forma de gs, lquido ou

    soluo, encontram-se em tal grau de liberdade de movimentao que tendem a

    distribuir-se sobre o volume mximo acessvel a elas. Ao proporcionar-lhes um

    maior volume, trataro de distribuir-se no volume total. Para reduzir o espao

    ocupado, faz-se necessria uma fora externa.

    A tendncia de um sistema passar espontaneamente de um estado de

    alta energia a outro de menor energia estudado pela termodinmica. Esta cincia

    relaciona as mudanas de energia no incio e fim de um processo, quando ocorre o

    equilbrio, no considerando as fases intermedirias.

    Em um sistema de tingimento, pareceria existir uma contradio ao

    princpio de liberdade de movimento: uma soluo relativamente diluda de corante

    se transfere em pouco tempo para um espao bem mais reduzido na fibra. Uma

    fora intervem para conduzir as molculas dos corantes a permanecer na fibra.

    Esta fora conhecida como afinidade.

    A permanncia do corante na fibra afetada por vrios fatores:

    Vibrao da estrutura molecular da fibra, a cada momento tomando

    novas configuraes;

    Constante bombardeio do corante pelas molculas de gua

    dificultando sua fixao na fibra;

    Aumento da vibrao das molculas e do bombardeio das molculas

    de gua com aumento da temperatura do sistema.

    Estes fatores influenciam no esgotamento e justificam por que o

    rendimento no total nem a solidez aos tratamentos midos absoluta.

    Aps a fase cintica, o corante entra em equilbrio entre fibra e banho, o

    que constitui a fase termodinmica. No estado de equilbrio, a relao corante fibra/

    corante banho expressa por uma constante de equilbrio K.

    Trs comportamentos de equilbrio so representados por curvas

    isotrmicas mostradas na Figura 03. Elas so afetadas de diferentes formas por

    pH, eletrlitos, auxiliares de tingimento e temperatura. Cada curva isotrmica

    exprime a relao entre corante na fibra (Cf) e corante remanescente no banho

    (Cb). Sf representa o limite de saturao quando a fibra tem stios limitados e K a

    constante de equilbrio.

  • 35

    Figura 03 Curvas isotrmicas comportamentos de equilbrio.

    Fonte: Salem, V Curso de Tingimento Txtil Mdulo 1 (2000)

    Cf

    Cb

    K = Cf/Cb

    Curva isotrmica de Nerst

    Cf

    Cb

    Cf =(K*Sf*Cb)/(1+K*Cb)

    Curva isotrmica de Langmuir

    Cf

    Cb

    K = Cf/(Cb)n

    Curva isotrmica de Freundlich

  • 36

    A curva isotrmica de Nerst a curva de equilbrio de corantes e fibras

    no inicas. A distribuio por solubilidade do corante na fibra, como nos

    corantes dispersos na fibra de polister.

    Na curva isotrmica de Langmuir, corantes e fibras tm polaridades

    opostas e interagem fortemente. Os corantes tm afinidade especfica e um limite

    de saturao a fibra tem stios limitados. Esta curva representa o equilbrio entre

    corantes cidos e l, corantes cidos e poliamida e corantes catinicos e fibras

    acrlicas.

    Na curva isotrmica de Freundlich, o corante e a fibra tm a mesma

    polaridade. A interao corante/fibra fraca e as ligaes so por pontes de

    Hidrognio e foras de Van der Waals. Esta curva representa o equilbrio entre

    corantes diretos e fibras celulsicas.

    2.5 Corantes

    Para este estudo, so de interesse os corantes aplicveis s fibras

    celulsicas, tais como corantes diretos, corantes sulfurosos, corantes tina,

    corantes azicos, corantes reativos e corantes naturais. Entretanto, os mais

    relevantes em termos de volume de aplicao, atualmente, so os corantes diretos,

    sulfurosos e reativos.

    2.5.1 Histria dos Corantes e dos Tingimentos

    Acredita-se que tingimentos j eram praticados antes de 3000 A.C. na

    China, apesar de no haver provas conclusivas. Segundo TROTMAN (1984), o

    registro mais recente vem da ndia, data de 2.500 a.C. e contm referncias de

    seda colorida e bordados dourados, das quais se conclui que tingimento era uma

    prtica j conhecida e utilizada. A tcnica de tingimento foi transmitida atravs do

    Ir para o Egito. E entre os registros das civilizaes antigas, os do Egito foram

    mais bem preservados. Atravs das pinturas de paredes nas tumbas, pode-se

    inferir que, por volta de 3.000 a.C. os egpcios faziam tapetes coloridos, os quais

    eram pendurados em suas paredes. Tambm se infere que o cardo (Centaurea

  • 37

    melitensis), planta de flores amarelas, era utilizado em 2.500 a.C. para produzir

    cores vermelhas e amarelas. Cerca de 1.450 a.C., os egpcios produziam material

    txtil de estrutura muito delicada e eram capazes de tingi-lo com uma ampla gama

    de diferentes cores. O distintivo dos patrcios Romanos Tyrian Purple - teve sua

    origem na cidade fencia de Tyre. Muitos conhecimentos do tingimento clssico

    foram escritos por Plnio, que deixou registradas receitas utilizadas nesta poca.

    H, tambm, uma oficina de tingimento escavada em Pompia. As paredes so

    decoradas com murais ilustrando como eles executavam vrias operaes.

    interessante observar que uma das ilustraes de Mercrio ,portando, uma mala

    de dinheiro, smbolo do fato de que, naqueles dias, tingimento era uma atividade

    lucrativa.

    At a metade do ltimo sculo, todos os corantes eram obtidos de fontes

    naturais. O Corante Alizarina, obtido das razes de Garana (madder plant), foi

    utilizado na ndia por muito tempo. Alguns destes produtos naturais foram

    exportados para pases vizinhos, dos quais se espalharam para a Europa.

    A maioria dos corantes naturais na poca medieval no era capaz de

    produzir cores permanentes em txteis. As fibras necessitavam ser preparadas

    para a recepo dos corantes atravs da impregnao de xidos de metais, tais

    como o alumnio, o ferro ou o estanho. Estas substncias eram conhecidas como

    mordentes. Este nome foi considerado apropriado porque se acreditava que o

    xido mordia o corante e prendia-o na fibra.

    O Corante Alizarina, proveniente da Garnaa, a qual era cultivada por

    toda Europa e leste da ndia, produzia um vermelho leve se aplicado com xido de

    alumnio, ou um roxo quase preto, se aplicado com xido de ferro.

    O descobrimento do hemisfrio ocidental e a abertura de rotas de

    navegao para as Amricas trouxeram novos corantes naturais para o mercado

    da Europa. Entre eles est o Pau-Brasil, que contm um corante solvel em gua,

    que produz vermelho com a utilizao de xido de alumnio, marrom com xido de

    ferro e rosa com xido de estanho.

    Outro corante, a Cochonilha, veio da Europa para o Mxico, e era obtido

    do inseto fmea da espcie Coccus cacti, produzindo uma cor vermelha intensa

    com xido de alumnio.

    No ano de 1856, um evento modificou as prticas de tingimento. A nova

    era foi iniciada por Willian Perkin, filho de um construtor de Londres, que estava

  • 38

    inicialmente destinado a seguir os passos de seu pai. Ele foi enviado Escola da

    Cidade de Londres, uma das poucas que ensinava cincias nestes tempos. Seu

    professor notou sua aptido para qumica e o recomendou para continuao dos

    estudos com o cientista alemo Hoffmann.

    Hoffmann dirigiu seus estudos para a sntese do quinino e Perkin

    executou a reao. Em seus experimentos, ele oxidou anilina com bicromato de

    potssio e obteve um precipitado preto. Quando este material foi extrado com

    etanol, uma soluo prpura foi obtida, e mais alguns experimentos convenceram-

    no que ele havia produzido um corante. Esta substncia derivou de um produto

    inicial orgnico simples, obtido a partir de uma destilao de hulha. Acidentalmente

    Perkin havia sintetizado a malvena.

    Os primeiros corantes sintticos pertenceram classificao de bsicos

    ou catinicos, assim chamados pois o on colorido era um ction. Em 1892,

    Nicholson produziu o cido sulfnico, criando uma nova classe de corantes cidos

    ou aninicos.

    A Alizarina possui referncias que indicam que foi um dos corantes

    naturais mais utilizados nos tempos medievais. Em 1868, Graebe e Liebermann na

    Alemanha, e Perkin, na Inglaterra, quase simultaneamente descobriram mtodos

    de sintetizar a Alizarina. Perkin iniciou a produo de Alizarina em 1869 e Graebe e

    Liebermann, um ano mais tarde.

    Em 1858, uma descoberta importante foi realizada por Peter Griess. Ele

    descobriu a reao de diazotao. Quando aminas primrias so tratadas com

    cido ntrico, elas formam sais diazos como ilustrado na equao a seguir:

    [ ] OHClNNHCHNOHClNHHC 2562256 2.. +=++ -+M

    A propriedade importante deste composto que ele ir se ligar com

    aminas aromticas e derivados de hidrxidos para formar produtos altamente

    coloridos, os quais, quando solubilizados por sulfonao, do origem a uma grande

    gama de corantes conhecidos como corantes azo. Um exemplo deste tipo de

    reao dado pelo exemplo a seguir:

    ( ) [ ] ( ) HClHCNNHCNCHHCNNClHCNCH ++ +- 564623565623 .:...... M

  • 39

    O corante Laranja II (C.I. Laranja 7) um exemplo de um corante cido

    preparado pela ligao do cido sulfanlico diazotado com -naftol:

    At 1884, todos os corantes sintticos existentes no eram substantivos

    para o algodo, o qual era tinto por processos complexos e longos. Havia a

    necessidade de mtodos simples para produo de roupas em massa com o

    advento da Revoluo Industrial. Nesta poca, Bttiger preparou Vermelho Congo

    e descobriu que este corante tingia o algodo simplesmente fervendo o substrato

    em uma soluo de corante. Logo surgiram vrios corantes similares, chamados

    corantes diretos, os quais so utilizados at hoje em muitas aplicaes. O ponto

    fraco desta classe de corantes era a falta de solidez lavagem e a outros

    tratamentos midos.

    Muitas pesquisas foram realizadas a fim de obter corantes para celulose

    com maior resistncia a tratamentos midos. Em 1954, Ratte e Stevens

    descobriram os corantes que continham grupos diclorotriazinil, os quais formavam

    ligaes covalentes com a celulose atravs do aumento do pH. Esses eram os

    primeiros corantes reativos, que eram especficos para celulose. Com o avano das

    investigaes, outros grupos reativos foram incorporados s molculas de

    corantes, estendendo a aplicao destes corantes s fibras proticas.

    Na Tabela 01 tem-se um resumo dos principais eventos da evoluo dos

    corantes sintticos. Atualmente, so muitas as opes de corantes com excelentes

    valores para as propriedades de solidez a tratamentos midos, solidez luz, etc.,

    com processos simplificados para as diversas fibras existentes no mercado.

    SO3H N+ NCl- +

    OH

    SO3H

    N = N

    OH

    + HCl

    cido sulfanlico diazotado -naftol Laranja II

  • 40

    Tabela 01 Evoluo dos corantes sintticos.

    Ano Ocorrncia

    1856 Sntese da Malvena (Perkin)

    1858 Reao de diazotao (Griess)

    1859 Sntese da Magenta (Verguin)

    1862 Reao de sulfonao (Nicholson)

    1873 1 Corante sulfuroso (Croissant e Brentoniere)

    1876 Sntese da Crisoidina: 1 corante azo

    1880 Sntese da Alizarina

    1880 1 Corante azico (Thomas e Robert Holiday)

    1884 1 Corante direto Vermelho Congo

    1894 Sntese do ndigo

    1901 1 Corante Tina

    1922 Corantes indigosois (tina pr-reduzidos)

    1924 Corantes dispersos

    1935 Corantes de ftalocianina

    1956 Corantes reativos: DCT

    1960 Corantes catinicos modificados

    Fonte: Salem, 2000.

    2.5.2 Definio, Propriedades e Estrutura Qumica

    Segundo SALEM (2000), matrias corantes so compostos orgnicos

    capazes de colorir substratos txteis ou no txteis, de forma que a cor seja

    relativamente resistente degradao causada pela luz e slida a tratamentos

    midos.

    Conforme ARAJO E CASTRO (1987), as substncias corantes tm a

    propriedade de absorver somente determinadas radiaes, difundindo as restantes,

    provocando a sensao de cor.

    Elas podem ser classificadas em:

  • 41

    Corantes: substncias solveis ou dispersveis no meio de aplicao.

    No tingimento, so adsorvidos e difundem para o interior da fibra. H

    interaes fsico-qumicas entre corante e fibra.

    Pigmentos: substncias insolveis em gua. So aplicados na

    superfcie da fibra e fixados mediante resinas sintticas.

    Algumas propriedades relacionadas aos corantes foram definidas para

    que se possa avaliar o comportamento tintorial destes e encontrar o melhor

    processo de tingimento. So elas:

    Substantividade: a capacidade do corante de se deslocar do banho

    de tingimento para a fibra.

    Reatividade: a capacidade de reagir com a fibra. A reatividade

    medida pela velocidade da reao em funo da concentrao de

    lcali e da temperatura. Quanto maior a concentrao de alcalina ou a

    temperatura que o corante necessita para reagir, menor a sua

    reatividade.

    Alm delas, outras propriedades so necessrias para que o corante

    seja til para aplicao txtil. Entre elas, tem-se: cor intensa, afinidade

    (substantividade ou reatividade), solubilidade permanente/temporria ou

    dispersabilidade, difundibilidade e solidez.

    Tambm a constituio qumica dos corantes possui alguns aspectos

    importantes que influenciam no processo de tingimento e na solidez luz e a

    tratamentos midos. O tamanho da molcula, os grupos funcionais presentes, a

    planeidade e o nmero de grupos inicos interferem na difuso da mesma pela

    fibra e, conseqentemente, na solidez do substrato tinto.

    Os grupos funcionais so divididos em:

    Grupos cromforos: so responsveis pela cor. Na Figura 04, esto

    alguns exemplos.

  • 42

    Figura 04 Grupos cromforos.

    Fonte: Salem, V Curso de Tingimento Txtil Mdulo 1 (2000)

    Grupos auxocromos: intensificam as cores e proporcionam afinidade

    tintorial. Na Figura 05, tem-se exemplos destes grupos.

    Figura 05 Grupos auxocromos.

    Fonte: Salem, V Curso de Tingimento Txtil Mdulo 1 (2000)

    Grupos solubilizantes: so grupos que proporcionam solubilidade

    permanente ou temporria. Na Figura 06 tem-se os exemplos de cada

    situao.

    - NH2

    - NHR ou - NR2

    - COOH

    - OH

    Amino

    Amino substitudo

    Carboxlico

    Hidroxlico

    N

    N

    N

    N - O O

    N - N -

    P-quinona O-quinona Azo Azoxi Nitro Nitroso

  • 43

    Figura 06 Grupos solubilizantes.

    Fonte: Salem, V Curso de Tingimento Txtil Mdulo 1 (2000)

    Grupos que proporcionam ligaes com a fibra: so grupos que se

    ligam fisicamente (pontes de hidrognio ou Foras de Van der Waals),

    quimicamente (ligaes covalentes) ou atravs de insolubilizao do

    corante no interior da fibra, mediante oxidao do grupo

    temporariamente solvel.

    No que diz respeito classificao dos corantes, para os qumicos

    interessa, fundamentalmente, a constituio qumica, enquanto que para os txteis

    interessa o comportamento tintorial, relacionado com a aplicao s diferentes

    fibras txteis. A classificao pela estrutura qumica dada conforme o grupo

    principal, como por exemplo: nitrofenol, nitrosofenol, azo, trifenilmetano,

    antraquinona, ftalocianina, vinilsulfnico, pirimidina, triazina, entre outros. A

    classificao pela aplicao a mais comumente encontrada e est demonstrada

    na Tabela 02.

    At meados do sculo XIX, apenas eram utilizados os corantes naturais,

    cujo nome estava relacionado com a planta/animal/mineral do qual eram extrados.

    Com o aparecimento dos corantes sintticos, a nomenclatura ficou mais complexa.

    Criou-se, ento o Color Index, uma espcie de dicionrio dos corantes, no qual

    esto relacionados os corantes comerciais existentes.

    Grupo sulfnico: corantes cidos, corantes diretos, corantes reativos.

    Solubilidade Permanente

    N+ Cl- Aminas quaternrias: corantes

    catinicos.

    Solubilidade Temporria

    SO3 Na+

    C C

    O Na+ O

    (O)

    (H)

    Grupo enlico (leuco solvel)

    Grupo cetnico (insolvel)

  • 44

    Tabela 02 Classificao dos corantes por aplicao.

    Corantes CEL WO S CA CT PA PES PAC

    Diretos X (X) X (X)

    Reativos X (X) X (X)

    Sulfurosos X

    Azicos X

    A Tina X

    Leuco steres X

    Bsicos N N N N N N N N

    Catinicos X

    cidos X X X

    Complexos metlicos X X X

    Cromo X X

    Dispersos X X (X) X (X)

    Pigmentos X

    Legenda:

    X = Aplicado

    (X) = Sortimento limitado. Aplicado com restries quanto solidez ou afinidade.

    N = No recomendado para txteis.

    Fonte: Salem, V Curso de Tingimento Txtil Mdulo 1 (2000)

    2.6 Corantes Diretos

    Os corantes diretos so tambm conhecidos como corantes substantivos,

    devido grande substantividade em relao fibra celulsica. A maioria so

    compostos azicos sulfonados e muitos deles tambm tingem fibras proticas. So

    muito similares aos corantes cidos em sua constituio, porm em geral, possuem

    cadeias mais longas, no havendo uma clara demarcao entre estas duas

    classes. Existem molculas simples monoazo ou poliazo, bem como molculas

    complexas derivadas de ftalocianina, como no C.I. Azul Direto 86.

    Segundo SALEM (2000), um corante direto, para ser substantivo para

    com a celulose, deve atender aos seguintes requisitos:

    Linearidade: O corante deve situar-se paralelamente celulose para

    poder estabelecer as ligaes por pontes de Hidrognio. Para isso

    precisa ter uma estrutura linear, conforme Figura 07.

  • 45

    Coplanaridade: Pelo mesmo motivo citado no item anterior, a

    molcula do corante deve estar inteiramente no mesmo plano,

    conforme Figura 07.

    Pontes de Hidrognio: O corante deve ter grupos qumicos que

    possibilitem as ligaes por pontes de Hidrognio. Tais grupos podem

    ser amnicos, fenlicos, azicos ou amdicos, conforme indicao (3)

    na Figura 07.

    Sistemas conjugados de duplas ligaes (grupos azo): Estes sistemas

    favorecem a linearidade e a coplanaridade, conforme indicao (4) na

    Figura 07.

    Grupos solubilizantes: So grupos sulfnicos localizados em posio

    oposta aos grupos que fazem as pontes de hidrognio, conforme

    indicao (5) na Figura 07.

    Figura 07 Modelo de estrutura dos corantes diretos e de sua fixao

    celulose por pontes de Hidrognio.

    Fonte: Salem, V Curso de Tingimento Txtil Mdulo 1 (2000)

    - N=N - - N=N -

    SO3Na

    NH

    H

    SO3Na

    NH

    H

    O-

    H

    H

    OH

    H

    OH

    H

    OH

    H

    OH

    O

    O

    CH2OH

    H

    CH2OH

    H

    O

    H H

    H

    H

    OH

    O-

    H

    CH2OH

    H O

    H

    OH

    O

    H

    (5) (5) (4) (4)

    (3) (3)

    (1)

    Corante

    Celulose

    (2)

  • 46

    2.6.1 Mecanismo da Substantividade dos Corantes Diretos

    Segundo TROTMAN (1984), uma explicao satisfatria para o

    tingimento de celulose com corantes diretos tem apresentado muitas dificuldades.

    As primeiras proposies assumiam que a formao das pontes de Hidrognio

    eram as responsveis pela ligao corante-fibra. Novos estudos trouxeram

    evidncias que, alm destas, grupos hidroxilas para os quais se assumia

    participarem na formao das pontes de hidrognio, esto firmemente ligados a

    uma fina camada de molculas de gua que podem causar interferncia. Este fato

    foi confirmado experimentalmente atravs de medidas de monocamadas de

    superfcie corantes diazo ativos sobre gua contendo celobiose. H, tambm, a

    possibilidade de ocorrerem ligaes fracas cido-base entre os grupos hidroxilas da

    celulose e os grupos amino das molculas do corante.

    Mais recentemente, tem sido dada nfase ao comportamento da

    molcula do corante dentro da fibra. A absoro de luz passando atravs de uma

    fase proporcional ao nmero de molculas situadas no caminho. Pela forma da

    curva de absoro versus concentrao, possvel calcular o grau de agregao

    das molculas. Com estas observaes, evidenciou-se que as molculas de

    corante esto mais agregadas na fibra que em soluo. Isso significa que o corante

    entra na fibra em um estado menos agregado e dentro da fibra, torna-se mais

    agregado, ou seja, o corante pode somente migrar irreversivelmente, tornando-se

    permanentemente fechado. A existncia de agregados na fibra foi confirmada por

    microscopia eletrnica.

    A relao entre a configurao molecular do corante, permitindo uma

    orientao que plana em relao superfcie da fibra, sugere que foras de Van

    der Waals provavelmente possuem uma participao importante. Interaes

    hidrofbicas podem tambm contribuir para a ligao do corante celulose.

    Entretanto, no h explanao satisfatria que cubra todos os casos de tingimento

    de celulose com corantes diretos.

    A isoterma de adsoro para o C.I. Amarelo Direto 12, mostrada na

    Figura 08, tpica para a maioria dos corantes diretos e corresponde a uma

    isoterma de equilbrio de Freundlich.

  • 47

    0

    4

    8

    12

    0,00

    0

    0,12

    5

    0,25

    0

    0,37

    5

    0,50

    0

    0,62

    5

    0,75

    0

    Concentrao no banho (g/l)

    Co

    nce

    ntr

    ao

    no

    cel

    ofa

    ne

    (g/k

    g)

    Figura 08 Isoterma para o C.I. Amarelo Direto 12 a 60C.

    Fonte: TROTMAN, E.R. Dyeing and Chemical Technology of Textile

    Fibers. 6. Ed. Charles Griffin & Company Limited, England, 1984.

    Isso indica que, para corantes diretos, oportunidades para pontes de

    hidrognio e foras de Van de Waals ligarem o corante so praticamente ilimitadas.

    A limitao que imposta a disponibilidade de superfcie para ligao, mas isso

    no termina abruptamente, porque, assim que as reas acessveis tornam-se

    preenchidas, mais reas inacessveis gradualmente tm que ser ocupadas.

    2.6.2 Ao dos Eletrlitos

    A adio de eletrlito ao banho de tingimento tende a promover exausto

    dos corantes diretos, apesar de o efeito ser diferente para os diversos corantes.

    Isto pode ser visto na Figura 09, na qual se tem o percentual de exausto com

    diferentes quantidades de Sulfato de Sdio Anidro para o corante A e para o

    corante B.

  • 48

    A

    B

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    0 10 20 30 40

    Sulfato de sdio anidro (%)E

    xau

    sto

    (%

    )

    Figura 09 Efeito da adio do eletrlito sobre a exausto de corantes

    diretos.

    Fonte: TROTMAN, E.R. Dyeing and Chemical Technology of Textile

    Fibers. 6. Ed. Charles Griffin & Company Limited, England, 1984.

    Na Figura 09 pode-se observar que o corante A no muito sensvel ao

    sal, mas o corante B bastante afetado, tendo um acrscimo significativo no

    percentual de exausto.

    Fibras celulsicas assumem carga negativa quando imersas em gua e,

    assim, repelem os ons negativos do corante. A misso dos eletrlitos neutros

    fundamental, especialmente nos tingimentos intensos, dado que fornecem ons

    positivos que reduzem ou neutralizam a carga negativa das fibras celulsicas em

    dissoluo. Assim, facilitam a aproximao dos ons de corante, permitindo que

    pontes de Hidrognio ou foras de Van der Waals se tornem efetivas.

    Quanto maior a eletronegatividade do on do corante, maior ser a

    repulso exercida pela fibra. esperado que a efetividade do eletrlito, ao

    promover a exausto, dever variar diretamente com o nmero de grupos

    sulfnicos na molcula. O nion do C.I. Amarelo Direto 12, cuja frmula est na

    Figura 10, tem duas cargas e tingir o algodo profundamente sem a adio de

    eletrlito.

  • 49

    Figura 10 Frmula C.I. Amarelo Direto 12.

    Fonte: TROTMAN, E.R. Dyeing and Chemical Technology of Textile

    Fibers. 6. Ed. Charles Griffin & Company Limited, England, 1984.

    O C. I. Azul Direto 1, cuja frmula est representada na Figura 11, possui

    quatro grupos cidos sulfnicos na molcula. Este corante somente suja a

    celulose antes da adio do eletrlito. Aps, o corante possui uma boa exausto.

    Figura 11 Frmula C.I. Azul Direto 1.

    Fonte: TROTMAN, E.R. Dyeing and Chemical Technology of Textile

    Fibers. 6. Ed. Charles Griffin & Company Limited, England, 1984.

    2.6.3 Efeito da Temperatura

    O aumento da temperatura diminui a quantidade de corante adsorvida

    pela fibra no equilbr