determinação da idade pelo exame dos dentes

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DETERMINAÇÃO DA IDADE PELO EXAME DOS DENTES Profª Lic. Maria de Lourdes Borborema Campos A partir do 65º dia da vida intra-uterina, quando aparecem os folículos dentários e até a erupção dos terceiros molares, na adolescência ou idade jovem - entre os 16 e os 25 anos de idade -, ocorre uma sucessão de estágios que se encontram perfeitamente identificados e caracterizados. Isto torna possível o cálculo da idade com uma escassa margem de erro, isto é, com boa precisão. Aproximadamente na 13ª semana da vida intra-uterina, é que ocorre a calcificação dos germes dentários. Paralelamente, a septação ou tabicamento dos maxilares, também pode ser útil para oferecer o cálculo de idade. O processo de septação ou tabicamento dos maxilares, faz com que no feto de termo existam quatro (4) septos bem visíveis em cada hemimandíbula, que delimitam cinco cavidades - alvéolos -, nas que se alojam os correspondentes esboços dentários (signo de Billard). Mandíbula de um feto de termo, borda alveolar. 1. Duas metades do osso, ainda não soldadas. - 2. Côndilo. - 3. Processo coronóide. - 4. Alvéolo dos incisivos, canino e primeiro premolar. - 5. Alvéolo do segundo premolar e primeiro molar ainda não separados (apud Testut e Latarjet, "Anatomia Humana", vol. 1, pp. 271, Barcelona : Salvat, 1947). A erupção dentária é um processo contínuo que ocorre entre o 7º e o 30º meses da vida, para a dentição caduca, e entre o 6º e o 25º anos, para a dentição permanente. Ainda que possam haver variações individuais, por volta dos 10 meses, as crianças já têm 4 dentes, ao fazer um ano, 6 dentes; aos 2 anos, 18 dentes, e ao completarem 2 anos e meio, 20 dentes. Em torno dos 6 anos tem início a erupção dos dentes permanentes, que paulatinamente vão substituindo aos caducos, até que a dentição definitiva esteja completa, quando da erupção do 3º molar, o "dente do siso". A cronologia da erupção dentária da dentição temporária (caduca), soem ser muito mais precisos que os da dentição definitiva. Assim sendo, os valores temporais que constam do parágrafo precedente, devem ser tomados apenas como valores médios. Eis que, com freqüência, se observam irregularidades na erupção, resultantes de causas diversas como: o estado nutricional, o tipo de alimentação, deficiências e carências

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Page 1: determinação da idade pelo exame dos dentes

DETERMINAÇÃO DA IDADE PELO EXAME DOS DENTES

Profª Lic. Maria de Lourdes Borborema Campos

A partir do 65º dia da vida intra-uterina, quando aparecem os folículos dentários e até a erupção dos terceiros molares, na adolescência ou idade jovem - entre os 16 e os 25 anos de idade -, ocorre uma sucessão de estágios que se encontram perfeitamente identificados e caracterizados. Isto torna possível o cálculo da idade com uma escassa margem de erro, isto é, com boa precisão. Aproximadamente na 13ª semana da vida intra-uterina, é que ocorre a calcificação dos germes dentários. Paralelamente, a septação ou tabicamento dos maxilares, também pode ser útil para oferecer o cálculo de idade.O processo de septação ou tabicamento dos maxilares, faz com que no feto de termo existam quatro (4) septos bem visíveis em cada hemimandíbula, que delimitam cinco cavidades - alvéolos -, nas que se alojam os correspondentes esboços dentários (signo de Billard).

Mandíbula de um feto de termo, borda alveolar. 1. Duas metades do osso, ainda não soldadas. - 2. Côndilo. - 3. Processo coronóide. - 4. Alvéolo dos incisivos, canino e primeiro premolar. - 5. Alvéolo do segundo premolar e primeiro molar ainda não separados (apud Testut e Latarjet, "Anatomia Humana", vol. 1, pp. 271, Barcelona : Salvat, 1947). A erupção dentária é um processo contínuo que ocorre entre o 7º e o 30º meses da vida, para a dentição caduca, e entre o 6º e o 25º anos, para a dentição permanente. Ainda que possam haver variações individuais, por volta dos 10 meses, as crianças já têm 4 dentes, ao fazer um ano, 6 dentes; aos 2 anos, 18 dentes, e ao completarem 2 anos e meio, 20 dentes. Em torno dos 6 anos tem início a erupção dos dentes permanentes, que paulatinamente vão substituindo aos caducos, até que a dentição definitiva esteja completa, quando da erupção do 3º molar, o "dente do siso".A cronologia da erupção dentária da dentição temporária (caduca), soem ser muito mais precisos que os da dentição definitiva. Assim sendo, os valores temporais que constam do parágrafo precedente, devem ser tomados apenas como valores médios. Eis que, com freqüência, se observam irregularidades na erupção, resultantes de causas diversas como: o estado nutricional, o tipo de alimentação, deficiências e carências alimentares, agentes ambientais, transtornos do crescimento, doenças metabólicas etc. Os prazos de erupção infantil referem, sempre, a crianças amamentadas com leite materno, pois que a lactação artificial, pode chegar a atrasar a erupção dos dentes em meses. De modo a calcular a idade em um caso concreto, o trabalho pode ser simplificado utilizando-se uma tabela que ofereça um quadro cronológico completo, como as seguintes: Tabela cronológica de mineralização dos dentes permanentes no Brasil(Nicodemo, Moraes e Médici Filho apud Croce e Croce Jr.)DENTE Primeir

a evidencia de mi- neraliza-ção

1/3 da coroa

2/3 da coroa

Coroa completa

Início da formação radicular

1/3 da raiz

2/3 da raíz

Término apical

SUPERIORES incisivo central 5 - 7 8 - 15 19 - 30 36 - 57 60 - 78 75 - 90 87 - 108 100 -

116 incisivo lateral 9 - 15 24 -30 33 - 57 54 - 72 72 - 88 84 - 102 96 - 112 105 -

117 Canino 5 - 6 12 - 33 36 - 60 60 - 78 76 - 87 90 - 114 111 - 126 -

Page 2: determinação da idade pelo exame dos dentes

141 156 Primeiro pré-molar 27 - 36 48 - 66 57 - 75 78 - 96 87 - 108 102 -

126 117 - 133

129 - 159

Segundo pré-molar 36 - 54 51 - 66 66 - 84 78 - 102 93 - 117 105 - 129

117 - 144

141 - 159

Primeiro molar 1 - 6 6 - 16 18 - 30 36 - 48 54 - 66 66- 84 75 - 96 90 - 104 Segundo moIar 39 - 57 52 - 66 69 - 84 81 - 102 102 -

126 120 - 135

129 - 153

150 - 162

Terceiro molar 90 - 132

96 - 138

102 - 156

138 - 174

162 - 193

180 - 204

192 - 234

216 - 246

INFERIORES Incisivo central 3,9 - 61 9 - 12 18 -- 27 28 - 45 48 - 68 60 - 78 76 - 96 90 - 102 Incisivo lateral 4,6 - 58 7 - 12 18 - 30 18 - 66 54 - 78 68 - 88 80 - 99 92- 102 Canino 4 - 7 8 - 30 24 - 54 51 - 72 69 - 93 84 - 108 105 -

135 129 - 156

Primeiro pré-molar 27 - 36 45 - 60 51 - 72 69 - 90 84 - 102 102 - 126

114- 141 132 - 156

Segundo pré-molar 33 - 54 48 - 63 66 - 81 78 - 96 93 - 144 108 - 132

117 - 144

141 - 159

Primeiro molar 1 - 6 6 - 12 18 - 28 18 - 45 54 - 66 57 - 81 78 - 96 90 - 104 Segundo molar 39 - 60 51 - 66 7 2 - 87 84 - 105 102 -

126 117 - 135

129 - 153

150 - 165

Terceiro Molar 90 - 132

96 - 138

102 - 156

138 - 174

162 - 198

180 - 204

192 - 234

216 - 246

No indivíduo adulto, o estudo dos dentes permite verificar modificações que sofrem, e que podem ser de utilidade para a determinação da idade do indivíduo. Referida involução dentária, inicia-se por mudanças da côr, onde o esmalte, de branco torna-se amarelado. O processo de reabsorção da borda alveolar, tanto da maxila, quanto da mandíbula, vai, aos poucos, deixando em evidência o colo dos dentes e, por vezes, até parte da raiz, o que faz com os dentes pareçam mais compridos.Não apenas os dentes temporários caem com a idade, os chamados definitivos, também o fazem, em idades mais avançadas do indivíduo. Com efeito, a queda dos dentes definitivos por efeito da idade, começa pelos premolares superiores, seguindo-se pelos incisivos inferiores. Os caninos superiores, mostram-se as peças mais resistentes à queda espontânea. Com o desaparecimento dos dentes, tem início a reabsorção dos alvéolos o que, como é óbvio, introduz modificações significativas na mandíbula.

Com efeito, o forame mentoniano, que se encontra eqüidistante, das bordas superior e inferior da mandíbula, por efeito deste processo de reabsorção fica cada vez mais próximo da borda superior.

Mandíbula de idoso, vista pela face lateral direita. 1. Côndilo. - 2. Processo coronóide. - 3. Forame mentoniano. - 4. Borda Alveolar. - 5. Ângulo mandibular (gônio). As linhas pontilhadas indicam o contorno da mesma mandíbula na idade adulta. Vê-se, claramente, que por causa da reabsorção, a altura do corpo do osso tem se reduzido à metade; que o ângulo da mandíbula é mais obtuso, que a proeminência do mento é mais pronunciada; que o forame mentoniano localiza-se quase na borda alveolar do osso. A linha vermelha indica o tanto que o forame mandibular tem se "marginalizado". (apud Testut e Latarjet, "Anatomia Humana", vol. 1, pp. 272, Barcelona : Salvat, 1947, modificado). Da mesma maneira, o ângulo formado pela linha que acompanha a borda posterior do ramo ascendente da mandíbula, com a linha que acompanha a borda inferior do ramo horizontal de

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citado osso, aumenta paulatinamente, sendo certo que dos valores entre 95º e 100º, próprios do homem adulto, o ângulo aumenta gradativamente passando a medir entre 130º e 140º graus. A perda precoce dos dentes, bem como a não colocação da respectiva prótese, são elementos que podem fazer com que as modificações mandibulares senis, já se façam presentes antes mesmo dos 50 anos de idade.

Variações do ângulo mandibular em função da idade. Da esquerda para direita: no recém nascido, no adulto e no velho.DETERMINAÇÃO DA IDADE PELO ÃNGULO MANDIBULAR(Ernestino Lopes apud Croce e Croce Jr.)Mínimo

Máximo Médio Idade (anos)

110 º 135 º 130 º 5 a 10 110 º 130 º 125 º 11 a 15 110 º 125 º 120 º 16 a 20 110 º 120 º 115 º 21 a 25 105 º 120 º 110 º 26 a 35 105 º 120 º 110º 36 a 45

PONSOLD (1955) estabeleceu que: "Na mastigação normal, até os 30 anos, só o esmalte normal sofre desgaste. Aos 40 anos, a dentina fica descoberta, porém a própria mastigação estimula a formação de nova dentina - a dentina secundária -, a qual protege a polpa. Esta dentina de reação dá um colorido mais escuro à superfície triturante. Até os 50 anos, esse desgaste vai aumentando. Ao chegar aos 60 anos, pode estar afetada toda a secção transversal dos dentes. Então, a côr da dentina secundária muda de castanho claro a castanho escuro. Estas indicações para a determinação da idade são sempre aproximadas."

Esquema, modificado de PONSOLD, para determinação da idade pelo desgaste da coroa, acima dois 30 anos de idade.

GUSTAFSON (1950), seguido por DALITZ (1962) e MILES (1963), estabeleceram critérios múltiplos que levam em consideração, não apenas o fenômeno do desgaste que sofrem os dentes, como também as estruturas e tecidos circunvizinhos. No seu trabalho "princeps", GUSTAFSON fixou seis processos evolutivos, que devem ser considerados simultaneamente ou em conjunto. Estes, como pode observar-se na figura, são:

Esquema de quatro estágios dos seis propostos por Gustafson: A, abrasão; S, dentina secundária; P, paradontose; C, cemento de aposição.

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1. Abrasão: das bordas incisais ou das superfícies oclusais, como conseqüência da mastigação. 2. Paradontose: mudanças que se observam nos tecidos de suporte dos dentes. 3. Dentina secundária: a cavidade pulpar vai aos poucos sendo preenchida, concêntricamente, por um tecido duro, que se origina da própria parede dentinária interna da raiz. 4. Aposição de cemento: o cemento é o tecido responsável pela fixação do dente no alvéolo. E certo, contudo, que o cemento aumenta progressivamente sua densidade, na medida em que ocorrem mudanças de posição dos dentes. 5. Reabsorção da raiz: observam-se, na raiz, áreas onde o cemento e a dentina são reabsorvidas por células especiais, os osteoclastos, sob a influência de fatores hormonais, nutricionais ou psicossomáticos diversos. 6. Transparência da raiz: é decorrência do preenchimento e mineralização dos canais dentinários que, assim, se tornam invisíveis, aumentando a transparência da raiz. Cada um destes seis processos, em função de sua intensidade, pode marcar pontos de 0 a 3, de acordo com a tabela a seguir, sendo certo que a somatória dos pontos outorgados a cada dente, acaba por dar um valor numérico. AO Ausência de desgaste. AI Desgaste leve atingindo o esmalte. A2 Desgaste que atinge a dentina. A3 Desgaste que atinge a polpa. PO Ausência de periodontose. PI Início de periodontose. P2 A periodontose atinge mais de 1/3 da raiz. P3 Atinge mais de 2/3 da raiz. SO Ausência de dentina secundária. SI Início de formação da dentina secundária. S2 A dentina secundária preenche metade da cavidade pulpar. S3 A dentina secundária preenche quase completamente a cavidade pulpar. CO Apenas cemento normal. C 1 Depósito de cemento maior que o normal. C2 Grande camada de cemento. C3 Abundante camada de cemento. RO Inexistência de reabsorção. R 1 Pequena reabsorção em manchas isoladas. R2 Grau mais adiantado de reabsorção. R3 Grande área de reabsorção de dentina e de cemento. TO Ausência de transparência. T 1 Transparência visível. T2 Transparência atinge 1/3 da raiz. T3 Transparência atinge 2/3 da raiz. Quando é conhecida a idade dos dentes examinados, é possível correlacionar ambas as variantes através de um diagrama de dispersão e o final traçado da reta de regressão. Através de esta correlação, é possível determinar a idade com um erro de ±5 anos.Quando contamos com um caso real os dentes podem ser analisados por este método e, finalmente, verifica-se a idade lançando os valores obtidos sobre o diagrama pré-estabelecido, inclusive não tendo dados locais, com o dos próprios Frykholm e Gustafson: